Unidade - Capítulo 1

Unidade - Capítulo 1

Estudo do livro Avadhut Gita

Unidade - Capítulo 1

Introdução

O Bhagavad Gita, "O cântico do Senhor", é o mais famoso texto hindu conhecido no Ocidente, porém, na índia outros Gitas são igualmente famosos e respeitados. O Avadhut é um deles.

Ele é um dos poucos livros que os Yogues preservam quando da proximidade da realização espiritual e mesmo após...

Ele é, como o nome diz, "A Canção do Asceta", as palavras de um Mestre; Dattatreya, que ouviu a Voz do Silêncio, transcendeu o tempo e nos traz a sabedoria da Idade do Ouro até a nossa Idade do Ferro, Kaly Yuga.

Ele é um clássico de Vedanta, um livro imperdível para toda e qualquer pessoa que se interesse por filosofia oriental e Yoga.

Ele é um, dos "livros de cabeceira" da humanidade, é a Sabedoria Antiga Viva.

O Ocidente parece finalmente estar se abrindo para uma perspectiva não-materialista, não-fragmentada do homem e da natureza. Termos como Holístico, Totalidade, Transpessoal, já fazem parte do cotidiano.

Na tentativa de aprofundar o conhecimento da filosofia Oriental e ao mesmo tempo de mostrar os mitos formadores do Ocidente moderno, apresentamos ao leitor brasileiro clássicos medievais com fundo místico, esotérico e também jóias Vedantinas como o Avadhut Gita, e pinçadas de realidade como O Zen e a Arte do Pastoreio do Touro.

O Avadhut Gita do Mahatma Dattatreya é um daqueles livros cuja origem histórica está submersa no tempo.

O seu autor teria vivido na Idade do Ouro (Satyuga) e desde a mais tenra idade demonstrava pendores de asceta e reiterada tendência religiosa.

Sua família era nobre, seu pai o Rei Atri e sua Mãe Anasuya, mulher piedosa tal como o marido. A Rainha teve três filhos: o primeiro foi Dattatreya, o segundo Durvasa e o terceiro Chandrama.

Os três Irmãos tinham características das três Gunas (qualidades da matéria, na filosofia hindu). Chandrama era dominado pela qualidade de Raja (brilho, força, atividade), Durvasa era influenciado pela qualidade de Tamas (trevas, inatividade, lentidão) mas Dattatreya era a personificação de Satva (pureza, sabedoria, luz).

Dattatreya reinou após a morte de seu pai e seu governo foi o mais benigno que o seu país teve; porém ele renunciou a tudo e se tomou monge errante (tal qual Buda) ensinando, a todos os que estivessem preparados, o caminho da libertação.

 A palavra "Gita" quer dizer "canção" e "Avadhut" significa "asceta, renunciante, grande alma" (mahatma). Existem muitos Gitas na tradição indiana, sendo no Ocidente o mais conhecido o "Bhagavad Gita", mas na índia outros Gitas são também muito conhecidos e apreciados; entre eles podemos citar o "Shiva Gita", o "Rama Gita", e o "Devi Gita".

O Avadhut é texto clássico vedantino destinado aos yogues mais avançados; a Vedanta é um dos seis principais Darshanas, pontos de vista da filosofia Hindu. A palavra "Vedanta" quer dizer "final dos Vedas" e o expoente maior da Vedanta foi, sem sombra de dúvidas, Sankacharya, discípulo de Govinda, que viveu por volta de 788-820 AC.

A filosofia Vedanta está calcada na afirmação “Tat Vam Asi"... Ou seja "Tu és Aquilo". Segundo esta filosofia, o Atma é a única realidade, o resto seria Maya (ilusão) ou Avidhya (ignorância).

Somente a Vidya (sabedoria) pode levar o homem a Moksha (libertação), e essa sabedoria já está presente no homem. Ela não se manifesta, apenas, porque os véus sobre a consciência não permitem.

A meditação e a concentração intensa são os principais meios de remover os véus. O Avadhut, embora destinado àqueles que já atingiram um estado avançado na Senda, pode ainda assim ser de ajuda mesmo àqueles que não chegaram a um estágio tão alto de consciência.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 1

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 01. O desejo de Advaitismo é produzido nas mentes dos homens sábios pela graça de Deus, (graça essa que é) um antídoto para todos os medos.

Advaka é uma escola hinduísta não dual, à qual pertencia o mestre Mahatma Dattatreya, autor deste texto. Ela prega a prática dos ensinamentos do Krishna sem o misticismo que a religião hindu possui. Poderia dizer que, em matéria de evolução espiritual, é a escola que coloca em prática todos os ensinamentos do mestre na sua maior amplitude.

Nota: Advaka - Escola Vedantina monista, fundada por Sankara

Ela tem por característica buscar a compreensão das “coisas do mundo” a partir da visão espiritual destas transmitidas pelo mestre. No entanto, ela não limita esta a visão a apenas algumas coisas, mas ensina a unidade em tudo àquilo que o ego humano cria a dualidade. Por este motivo este ensinamento é tão importante para nós que estamos buscando alcançar a liberdade das verdades criadas pelo ego.

NOTA: Como “coisas” entendemos todos os objetos, pessoas e acontecimentos que existem.

Neste primeiro versículo encontramos, inicialmente, a informação que o desejo de alcançar a visão que leva à evolução espiritual (visão monista, não dual) é dado por Deus. Vamos compreender este ensinamento.

Em todas as conversas anteriores que tivemos, sempre falei que o desejo precisa ser abandonado, pois, além de ser dado pelo ego, o que o transforma em um maya, é um condicionador da felicidade. Por isso, sempre comentei que é preciso vencer o desejo para entrar na Realidade Universal, alcançando, assim, a evolução espiritual.

Agora, o mestre Dattatreya ensina que para se alcançar esta evolução é preciso ter um desejo e, apesar de aparentemente estar sendo incongruente, concordo com ele. Isto ocorre porque o asceta Dattatreya fala de um desejo proveniente de Deus e não do ego. Vamos explicar a diferença entre os dois.

Deus dá aos seres humanizados o desejo de buscar mais e mais informações para a reforma íntima do ser. Sem que o Pai desse este desejo, o ser humanizado permaneceria estático, preso à primeira informação que já houvesse recebido, achando que já teria alcançado à Verdade.

Exemplifiquemos: um ser humanizado começa o seu processo de espiritualização pela religião católica. Depois de permanecer nesta religião por algum tempo e conhecer seus ensinamentos, “algo” lhe empurra na busca de novas informações. Este “empurrão”, que sempre se reflete no desejo de buscar mais conhecimentos, pode levá-lo ao espiritismo, a umbanda ou em direção a qualquer outra falange espiritual.

NOTA: A ordem das religiões citadas neste exemplo não se constitui em uma “escala de evolução”, mas apenas de mero exemplo. Para o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL, todas as religiões são iguais entre si, ou seja, instrumentos de Deus criados de acordo com as necessidades de grupos de seres humanizados.

O desejo de buscar este ‘algo mais’ é dado por Deus para que o ser humanizado continue o seu processo de evolução, que não se completa com os ensinamentos de apenas um mestre. O “empurrão” dado pelo Pai faz com que, ao atingir um patamar de conhecimento, o ser humanizado não pare de procurar achando que chegou à verdade.

Esta busca constante foi ensinada por Cristo aos seus apóstolos e retratada por Tomé no seu evangelho: ‘Aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar; e, quando encontrar, ficará perturbado; e ao perturbar-se, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo’ (logia 001).

O desejo de evolução, portanto, é necessário. Ele é a força motriz que leva o ser humanizado no caminho da evolução espiritual. E é por isso que o Espírito da Verdade ensina à Kardec que existe a paixão que é positiva no sentido da elevação espiritual.

907. Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza? ‘Não; a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal’.

Portanto o desejo oriundo da paixão em evoluir, em servir ao próximo, é válido e leva o espírito a libertar-se da ação do ego. Isto porque este desejo tem como objetivo fundir-se a Deus, ao universal, ou seja, é universalista. Apenas o desejo que se fundamenta numa paixão individualista (querer para si) é que não leva o espírito humanizado a alcançar o ‘reino do céu’.

Portanto, o desejo de buscar mais informações que auxiliem no trabalho da reforma íntima é positivo e deveria estar presente em todos os espíritos encarnados. No entanto, sabemos que nem sempre isto ocorre com todos. Muitos permanecem estagnados em uma religião achando que conheceram a verdade.

Se Dattatreya nos diz que esta busca depende do incentivo dado pelo Pai para que o espírito execute esta busca, isso quer dizer que aqueles que não buscam não estão ‘errados’, mas apenas que não foi produzido nas suas mentes este interesse. Por quê? A quem será que Deus “empurra” e a quem será que Ele não dá este desejo?

A resposta nos foi dada por Cristo: a fé em Deus. Aqueles que exercitam a fé em Deus e não nas próprias religiões, são instigados no seu processo de evolução espiritual.

Enquanto o ser humanizado tiver fé na sua religião ou no religioso que supostamente a coordena, não estará fazendo entregando-se e confiando no Pai. Estes não receberão o ‘empurrão’ do Pai e permanecerão estagnados na sua própria religião.

Portanto, aqueles que buscarem exercitar a sua fé (entrega com confiança) em Deus receberão o “empurrão”, mas aqueles que por seu livre arbítrio optarem em idolatrar uma religião ou outro espírito qualquer, permanecerão estáticos.

Sendo assim, podemos compreender neste texto de Dattatreya que o desejo de buscar o monismo, a completa interpenetração do todo universal, é dada por Deus àqueles que buscam exercer a sua fé no Pai.

Mas, como se pode averiguar se um ser humanizado está exercendo realmente a sua fé por Deus ou por um ensinamento, um mestre ou uma religião? O apóstolo Paulo nos respondeu essa pergunta: a fé em Deus se expressa quando o objetivo da vida é servir ao próximo e não a si mesmo.

Mas, quando um ser humanizado serve ao próximo? Quando deixas de se servir dele, ou seja, quando vive sem paixões ou verdades que o leve a ter o desejo de sempre se satisfazer em primeiro lugar. Só assim poderá servir ao próximo realmente, pois abandonará o individualismo para viver o universalismo.

Juntando tudo o que conversamos até aqui, podemos, então, compreender que Dattatreya nos ensina que aqueles que servirem ao próximo serão sempre amparados por Deus recebendo Dele o desejo de cada vez mais evoluir-se. Quem suplantar o seu querer individual e atingir o serviço ao próximo como fundamento da existência é, como disse Dattatreya, considerado ‘sábio’.

Só esta compreensão já teria dado validade a este estudo, mas, como sempre, vamos nos aprofundar um pouco mais na prática do dia a dia, no exercício do viver para a realização espiritual.

A partir de tudo que vimos até aqui, posso afirmar que qualquer realização no sentido da evolução espiritual não deve ser feita para satisfação individual (realização de um desejo individualista), mas para Deus (satisfação de um desejo universalista). Quem busca elevar-se para que ele ‘ganhe’ algo ainda está sendo individualista, egoísta, mas aquele que coloca como objetivo primário de uma existência o aproveitamento espiritual da encarnação como serviço ao próximo, este é universalista.

Deus impulsiona o ser humanizado na busca da elevação espiritual, mas este, para se tornar merecedor deste “empurrão”, não deve realizá-la para sua própria satisfação, mas para servir ao próximo. Esta é, na prática, a diferença entre a realização do desejo oriundo do ego e do desejo oriundo de Deus. Vamos entender este ensinamento.

A evolução espiritual deve ser procurada para satisfazer um desejo dado por Deus e não para satisfazer-se individualmente. Ela não deve buscar o gozo individual de afirmar que conseguiu vencer, o prazer de realizar-se, mas simplesmente como um ato de oferenda, um serviço, a Deus.

Como nos ensinou Krishna:

‘O Sábio de verdade não deseja nem o posto de Brahma, nem o de Indra, nem a soberania universal, nem o governo dos planos inferiores, nem os poderes mágicos que se alcançam pela prática da Yoga, nem a libertação, porque ele entregou sua mente ou entendimento a Mim e ele não deseja nada disso, apenas Me quer a Mim’. (Bhagavata Puranas – Capítulo VIII – versículo 14).

Para o mundo espiritual existe uma grande diferença entre buscar algo com base no individualismo (eu quero, eu acho, eu sei, eu consegui) do que a realização de um serviço devotado a Deus, mesmo que o objetivo dessa busca esteja vinculado à elevação espiritual. Isto porque, na primeira hipótese, há um ganho individual, enquanto que na segunda um coletivo, ou seja, um “bem” para todos.

Portanto, a diferença entre uma elevação espiritual individualista daquela realizada para Deus se caracteriza pela conclusão que o ser humanizado chega. Enquanto o primeiro acredita que ganhou alguma coisa realizando-a, aquele que busca elevar-se como um serviço ao Pai não se preocupa com isso.

O ser universalista (aquele que vive para Deus) não busca conseguir para satisfazer-se, mas se eleva como um serviço que realiza ao próximo e a Deus. Ele é levado pelo caminho da espiritualização sem nenhum objetivo pessoal (esperando ser servido pela evolução), mas apenas buscando servir a coletividade espiritual universal.

 Mas, como podemos servir ao próximo com a nossa elevação espiritual?

Como já conversamos em outras palestras, o universo está sempre equilibrado, ou seja, não existe desequilíbrio. Dentro deste equilíbrio os espíritos vivem em diversos “mundos”, ou sentidos de encarnação, e “graus de evolução”.

Além destes diversos “mundos” serem totalmente equilibrados, também são equilibrados entre si. Isto promove o equilíbrio global do Universo.

Não falo em equilíbrio fundamentado na quantidade de espíritos em cada “mundo”. Ou seja, não digo que o equilíbrio global existe porque a quantidade de espíritos no “mundo de regeneração” é idêntica aos do de “prova e expiação”, por exemplo. Falo no resultado da “produção” destes seres.

Vou explicar melhor. Cada espírito utiliza o Amor Divino (energias, sentimentos) dentro de uma característica (individualista ou universalista) que altera a ‘polaridade’ deste Amor. Quando o ser utiliza o Amor para amar a si mesmo (seus desejos e suas vontades – individualismo), dizemos que o Amor Divino ganhou uma polaridade negativa. Ao contrário, quando existe o universalismo (amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo), falamos que ele é positivo.

Este é o resultado da “produção” dos espíritos a que me referi. O Universo está sempre em equilíbrio porque o resultado entre as energias positivas e negativas é sempre zero. Ou seja, no Universo nunca existirá mais universalismo do que individualismo ou vice-versa.

Continuemos ainda falando um pouco de elementos técnicos espirituais para poder explicar completamente a elevação espiritual como serviço ao próximo.

A diferença entre o positivismo e o negativismo na utilização do Amor Divino é característica marcante de cada ‘mundo’ ou sentido de encarnação. Os espíritos que estão ligados ao processo de elevação no ‘mundo de provas e expiações’, por exemplo, estão vivenciando esta realidade porque são mais individualistas que aqueles que encarnam no mundo de ‘regeneração’.

Quando estes espíritos evoluírem, ou seja, alcançarem o universalismo, alterarão o seu sentido de encarnação e iniciarão a ascensão ao próximo ‘mundo’, que é o ‘celestial’.

Antes de chegar ao mundo de ‘provas e expiações’ (estágio que vive os seres que estão junto ao orbe do planeta Terra), o espírito passa pelo ‘mundo intuitivo’. Só depois que ele completa o ciclo neste mundo é que pode começar a encarnar como ser humanizado e viver as suas ‘provas e expiações’.

Ou seja, um espírito precisa passar de um ‘mundo’ para outro sempre que encerra seu processo de evolução onde estava. No entanto, pelo equilíbrio existente que citei anteriormente, para que isso ocorra é necessário que algum outro deixe o ‘mundo’ onde aquele que completou seu ciclo precisa entrar.

Portanto, o espírito que completa a sua sansara no ‘mundo intuitivo’, por exemplo, não poderá evoluir para o próximo ‘mundo’ (‘provas e expiações’) se nenhum outro houver alterado o objetivo de sua encarnação para poder encarnar no ‘mundo de regeneração’.

NOTA – SANSARA = Roda de encarnações.

Apesar da compreensão de tanto técnica espiritual ser um pouco complicada, creio que agora fica mais fácil compreender a realização da evolução espiritual para servir ao próximo. Se você passar do mundo de ‘provas e expiações’ para o de ‘regeneração’ estará dando oportunidade de que outro ocupe o seu lugar neste mundo.

Aí está o caminho da elevação como serviço ao próximo. Buscar a elevação não pela intenção de subir, avançar, ganhar individualmente, mas para abrir uma ‘vaga’, de tal forma que outro possa atingir o sentido de encarnação que você está hoje. Isto é muito diferente de buscar a elevação para que você evolua.

Quando Dattatreya afirma que o “desejo” da busca da elevação espiritual é dado por Deus, a prática deste ensinamento quer dizer: busque a elevação como um serviço ao próximo. Para isto é preciso seguir a linha de raciocínio que fizemos neste estudo.

Ao vivenciar a busca da elevação espiritual da forma aqui estudada, mesmo que ela seja fruto de um desejo, estará sendo realizada para Deus (Universo) e não com individualismo (para si).

Este é o primeiro ensinamento deste versículo, mas o mestre ainda continua: o desejo é produzido na mente dos homens sábios. Quem será o “sábio”, ou seja, aquele que é o alvo do “empurrão” de Deus?

Diferente do que se acredita no planeta, o sábio não é aquele que possui cultura (grande quantidade de conhecimentos), mas quem põe em prática seus conhecimentos, agindo dentro do objetivo da existência (buscar o universalismo). O sábio não é uma estante carregada de informações, mas é aquele que, independente da quantidade de informações que possua, consegue transformar a “letra fria” em uma ação sentimental.

Se o sábio vive no universalismo, ou seja, ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo, nós podemos concluir que ele possui o “coração puro”, pois todas as suas ações são dentro do positivismo universal. O ensinamento de Dattatreya, portanto, está de acordo com o de Cristo: louvado seja Deus, que mostra aos simples o que esconde daqueles que tem cultura.

NOTA: As polaridades citadas nesta parte do trecho foram colocadas aí apenas para facilitar o entendimento do assunto. Mais tarde elas serão também derrocadas pelo espírito amigo na luta contra o dualismo para poder se atingir o UM com Deus.

Agora estamos prontos para compreender em seu mais amplo sentido o ensinamento de Dattatreya: o desejo da elevação espiritual será dado por Deus àquele que buscar a realização objetivando servir ao próximo. Este ‘desejo levará o ser humanizado a tomar contato com novos ensinamentos, mas eles não devem ser guardados como jóias preciosas (posses), mas precisam ser sempre transportados para a prática, ou seja, precisam alterar a forma como o ser humanizado se relaciona com os acontecimentos da vida carnal.

Mas, Dattatreya vai além no seu ensinamento: a graça de Deus é o antídoto para todos os medos.

Se o ser humanizado está fazendo algo como serviço a Deus e se Ele é o Senhor Onipotente, Onipresente e Onisciente do universo, será que o Pai o deixará falhar? Será que o deixará “cair”, perder-se? Jamais.

Enquanto o ser humanizado colocar em prática os ensinamentos e tiver o desejo de se elevar para servir o próximo, Deus o “sustentará”. Então, porque o medo de colocar na prática aquilo que se aprende na teoria quando o assunto é despossuir as coisas da vida material?

Os seres humanizados têm medo da elevação espiritual, pois imaginam que ela não se coaduna com a vida material. “Como vou viver do modo que o senhor fala? Preciso ganhar dinheiro senão morro de fome”. “Preciso me alimentar para sustentar o corpo”.

Este tipo de raciocínio espelha o medo que o ser humanizado possui de colocar na prática os ensinamentos de todos os mestres. No entanto, este medo é infundado. Muitos já conseguiram viver na prática destes ensinamentos e nem por isso morreram de fome.

Na hora que o ser humanizado se entregar buscando a prática dos ensinamentos e a elevação a partir do desejo dado pelo Pai, Ele amparará, ou seja, dará todas as condições para que a encarnação prossiga e seu trabalho se realize.

Desta forma, podemos concluir que tudo o que estudaremos analisando os ensinamentos de Dattatreya podem lhe valer como cultura e lhe tornar ‘famoso’ por conhecer mais. No entanto, isto de nada valerá no momento em que, depois do desencarne, for observar os resultados de sua encarnação.

Se você não colocar aquilo que iremos estudar não poderá realizar a elevação espiritual. Para que se alcance esta prática, porém, a primeira coisa a se realizar é não ter medo do futuro.

A caminhada da evolução, entretanto, deve ser sempre realizada pensando em servir ao próximo. Só assim o desejo de cada vez praticar mais será dado por Deus.

Portanto, quando conseguir colocar em prática algum ensinamento, não afirme que conseguiu, mas louve a Deus e continue vivenciando a busca universalmente para poder dar a vez para quem vem atrás.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 2

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 02. No eu, pelo próprio eu, se contém tudo isto (ou seja, o mundo). Como posso adorar o Atma (que é) informe, incapaz de divisão, e ventura imorredoura?

NOTA – ATMA = alma

“No eu, pelo próprio eu”. Quando o mestre Dattatreya utiliza este pronome não está referindo-se ao “eu material”, ao ser humano que você acredita ser, mas sim ao “eu universal”, o ser universal, o espírito.

No “eu universal” se contêm tudo que existe no Universo. Este ensinamento também não se refere às coisas materiais, mas àquilo que existe verdadeiramente no Universo: os elementos universais.

É claro que dentro do “eu universal” não existe sofá, mesa, carro, etc., porque estes elementos não existem de verdade, já que eles são meras formas. Também não existem os átomos e células que compõem os objetos e corpos, porque eles são resultados de fusões do elemento universal.

No Universo há apenas o elemento universal: fluído cósmico universal. É este elemento universal que compõe todas as coisas que você tem a ilusão de existirem distintamente.

NOTA: “A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva”. (O Livro dos Espíritos – Pergunta 30).

Este elemento, portanto, é a única coisa que existe e segundo Dattatreya você, o ser universal, já possui todo este elemento em si mesmo. A partir desta afirmação o mestre pergunta: se você já tem tudo o que pode existir, como pode adorar o Atma, o espírito, as coisas espirituais?

Dattatreya fala assim porque muitos são os que buscam a elevação espiritual como resultado de uma idolatria ao espírito, ao mundo espiritual, ao universal Agindo assim, estes seres descumprem o primeiro mandamento, pois idolatram outro que não o senhor Deus.

Outros, ainda, realizam o trabalho da reforma íntima motivados em satisfazer a sua curiosidade, ou seja, com a intenção de descobrir o que é um espírito , como ele vive e como é o seu ‘local de habitação’. Buscam a elevação espiritual não para servir a Deus ou ao próximo, mas para satisfazerem a sua curiosidade ou para ganharem a fama de saber.

É para estes que Dattatreya ensina: para que idolatrar o espiritual ou querer conhecê-lo se você já é um espírito, vive a vida espiritual e habita um ‘mundo espiritual’, mesmo quando encarnado?

Para que idolatrar as coisas espirituais criando figuras complexas que desenhem um ‘paraíso’, ‘cidades espirituais’, uma ‘tenda no deserto’, ou qualquer outra forma que existe apenas no mundo dos sentidos? Por que idolatrar os demais seres universais chamando-os de anjos, arcanjos, mentores ou mestres, se eles nada mais são do que seus irmãos em Deus?

Aliás, Cristo ensina: ‘Vocês não devem ser chamados de mestre, pois todos vocês são irmãos uns dos outros e têm somente um Mestre – Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus – Capítulo 23 – Versículo 08.

 Viver assim (idolatrando o mundo espiritual, criando descrições materiais do que é universal) acaba com o UM com Deus que todos já somos. Para as coisas celestes não há descrições que realmente as descrevam e lá existem apenas seres universais iguais a você. Não na forma, mas naquilo que é realmente: um brilho, um clarão.

Quem vivencia a reforma íntima na idolatria ao que é espiritual ou querendo conhecer a vida além da matéria, busca acrescentar algo mais a si. Procura incorporar elementos que não são conhecidos dos demais apenas para poder ser considerado como sábio, culto.

Você não precisa saber de mais nada. Como ensinou Cristo todos somos irmãos e vivemos na Unidade que faz com que cada um já exista dentro de todos. Portanto, você não precisa de mais nada para elevar-se, mas apenas limpar-se da visão de que existe isoladamente.

A evolução espiritual não passa pela adoração a mestres, mentores, gurus, santos, ou o nome que quiser dar aos outros seres, mas sim pela busca do serviço a Deus. A reforma íntima se consegue quando se vive com a intenção de servir ao próximo simplesmente sem adoração nenhuma.

Se tudo no Universo é formado pelo todo, porque ficar adorando o espiritual? Você já é espírito e vive no mundo espiritual, ou seja, você já é aquilo que quer alcançar.

A evolução espiritual se alcança não pela adoração, mas pelo serviço de entregar-se sem motivação alguma que não seja abrir espaço para que o outro possa realizar a sua ascensão, alcançando a etapa da qual está saindo. Só assim você terá a consciência da sua Unidade com o Universo, o que caracteriza a sua evolução espiritual.

Isto é o que ensina o mestre Dattatreya, mas neste versículo ele ainda fala algumas coisas sobre o espírito, sobre você. O Atma é “informe, incapaz de divisão e ventura imorredoura”. Isto é você, o espírito, o ser universal.

Você é sem forma, ou seja, sem uma figura. Por isto não pode ser feio ou bonito, magro ou gordo, baixo ou alto. Tudo isto é ilusão (maya) gerenciada pelo seu ego que lhe separa da Unidade com Deus.

Você não pode se dividir em humano e espírito ou alma: é unicamente espiritual. Todas as dependências que cria para a existência material (ter que comer, trabalhar, dormir), são ilusões que surgem quando você se distancia da sua realidade.

 Você é de uma graça eterna. Mesmo não se vendo como ser universal, mas como o ser humano que possui qualificações (“bom ou mau”, “certo ou errado”) você não perde a essência pura de que é composto.

A reforma íntima, portanto, não se traduz na busca de novos valores, mas na descrença dos atuais. O que você precisa é aprender a “tomar banho” (limpar-se da poluição que não lhe deixa ver a sua realidade) e não em ter mais graça, aprender isto ou aquilo.

Você já é tudo que busca e que possa querer ou imaginar ser. No entanto, mesmo sendo assim, não deve idolatrar este tudo que é, mas vivenciar a humildade colocando-se à disposição daqueles que não vivem para Deus, amando-os incondicionalmente.

 Sem esta disposição na vida, mesmo já sendo tudo, não alcança nada. Permanece sem evoluir buscando o individualismo achando que está buscando Deus, o ser espiritual, a elevação.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 3

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 3. A quem devo oferecer os meus respeitos (quando eu sou Brahman, eu próprio) sempre imaculado? Este mundo é apenas a obra de cinco elementos e na realidade não é mais do que u'a miragem.

NOTA – CINCO ELEMENTOS – Terra, fogo, água, ar e éter

A quem eu devo oferecer meus respeitos se eu também sou deus? No livro Gênesis da Bíblia Sagrada está escrito assim quando Deus resolve criar o ser: “agora façamos o homem, que será igual a nós”.

Apesar da palavra “homem”, não podemos afirmar que Deus criou naquele momento o ser humano, pois o espírito só entra na roda de encarnações (se humaniza) quando, ao ‘comer a maçã’, se sujeita à morte. Portanto, este trecho fala da criação do espírito, do ser universal, do ‘filho de Deus’.

Se a afirmação bíblica é verdadeira, então, somos iguais a Deus em tudo (imagem e semelhança). Tudo que Deus possui, nós possuímos, por ‘transferência genética’ espiritual. Se uma mãe e um pai transferem geneticamente ao filho o que eles têm, podemos afirmar que Deus transferiu aos Seus filhos o que Ele tem.

Por isto em “O Livro dos Espíritos” é afirmado: o espírito nasce simples, puro. Devido a esta ‘transferência genética’ todo espírito na sua origem é a Pureza.

Então eu, você, todos nós somos deuses. Não o Deus, o Senhor Supremo do Universo, mas um deus. E se eu sou deus a quem devo respeito? Para podermos compreender este ensinamento de Dattatreya vamos entender o respeito.

Para os seres humanizados o respeito ao próximo está ligado a um processo de submissão. Se o Universo está em equilíbrio é justo se imaginar que para isto haja igualdade plena entre todos.

Por isto o mestre afirma que não se deve ter respeito a ninguém. Apesar de ter que viver para servir ao próximo, você não deve se submeter a ninguém.

Para se servir ao próximo é preciso amá-lo do jeito que ele é e do jeito que está, sem críticas. Os seres humanizados confundem o serviço ao próximo imaginando que podem servi-lo apenas concordando com ele “da boca para fora”.

Isto não é perfeito; é submissão. Para que o serviço seja perfeito é necessário que haja também a concordância em servi-lo de coração (sentimentos – amor). Quem concorda apenas da ‘boca para fora’ critica no seu pensamento e por isso não ama.

“Sim eu vou fazer o que ele me pede, mas que está errado, está”. “Vou ao lugar que ele quer, mas que lá é chato é”.

Estes são pensamentos daqueles que servem apenas ‘para não ter briga’ e não por amor. Eles ainda estão pensando em si (seu ‘certo’, seu prazer) e não em Deus e no próximo.

Isto não é serviço ao próximo. O serviço acontecerá quando a ação for executada com amor, ou seja, sem nenhum pensamento que julgue, critique ou diga que o próximo está errado.

É isto que o mestre nos ensina neste versículo: a quem devo me submeter, a quem devo me sentir obrigado a realizar coisas mesmo não querendo? A ninguém.

Se você quiser buscar a elevação espiritual tem que servir ao próximo, mas por amor a ele e a Deus. Quando esta for a motivação da sua vida estará feliz e em paz por estar servindo. No entanto, enquanto o serviço for uma obrigação ou uma barganha para se elevar (esperar que a paz e o amor e a felicidade surjam porque serviu) ainda estará preso ao binômio ‘prazer e dor’.

O verdadeiro serviço ao próximo é feito de mente e alma, de raciocínio e coração: amar e não ter pensamentos que critiquem, acusem ou julguem o próximo ou você. É preciso que as duas coisas reflitam o mesmo objetivo: servir ao próximo sem se servir dele.

Para que o serviço ocorra desta forma é preciso que você esteja completamente liberto de desejos individualistas, mas com o desejo de Deus, da elevação espiritual através do serviço ao próximo. Só assim haverá a entrega sem medo, sem crítica e sem a busca da satisfação individual.

É isto que Dattatreya está nos dizendo.

Agora, se isto é verdade com relação a outros espíritos encarnados ou não, deve também ser realidade no seu relacionamento com Deus. Ou seja, você não tem que ter submissão a Deus nem impor nenhum retorno para o seu serviço, mas apenas relacionar-se amorosamente com o Pai.

Se os mestres nos ensinaram que é preciso servir a Deus, então faça com amor, por amor. É nisto que se resume a questão sobre o respeito: fazer por amor e não por submissão.

Mas além deste tema, o mestre ensina ainda: “Este mundo é apenas a obra de cinco elementos e na realidade não é mais do que uma miragem”.

Estes são os cinco elementos que o mestre Dattatreya afirma que compõem todas as coisas do planeta: água, terra (sólido), ar, fogo e éter (matéria não perceptível pelas formas humanas).

São eles que formam as coisas do planeta e tudo que existe na sua vida é formado a partir deles. Tudo aquilo com que você convive é resultante da fusão deles. Apesar disto, não se esqueça: mesmo estes cinco elementos são miragens.

O que é uma miragem? Uma ilusão. Algo que você acredita que existe, mas não existe. Mas, de onde surge a ilusão? É o fruto de um raciocínio.

Terra, água, fogo e éter não existem para você dentro da Realidade destes elementos, mas cada um destes possui valores artificiais que são dados a eles como fruto de seu raciocínio. Eles não existem para você dentro da Realidade, mas apenas dentro da sua compreensão.

Como já vimos, tudo é formado de um único elemento universal: o fluído cósmico universal. Portanto, aquilo que você vê e compreende como água, terra, fogo e éter, não passam de fluído cósmico universal que é raciocinado por você e compreendido como estes elementos.

Você só pode compreender qualquer coisa do Universo racionalmente, ou seja, interpretar as coisas dando valores dentro do conhecimento do mundo em que vive. Isto ocorre porque não possui informações necessárias para entender a realidade deles.

Como o fruto do seu raciocínio (compreensão) não expressa uma realidade, as chamamos de “ilusão” ou maya. Sendo assim, tudo que você compreende racionalmente é uma ilusão. Qualquer coisa que você compreenda pelo raciocínio é simplesmente uma miragem. Todo fruto do seu raciocínio material (idéias, imagens, palavras, valores, formas) são ilusões, mayas.

Pois, que fique bem claro àqueles que buscam a elevação espiritual: no planeta só existem cinco elementos. A diversidade que você cria entre os objetos materiais é ilusória, pois na verdade tudo é fruto da fusão destes cinco elementos. Não existem mesas, cadeiras, carros, paredes ou qualquer outra coisa, mas estes elementos são resultantes dos cinco elementos fundidos.

No entanto, mesmo esta compreensão ainda é ilusória, pois estes cinco elementos para você são miragens, ilusões, reflexos daquilo que existe verdadeiramente e que você, por não percebê-lo acredita que não existe.

Participante: O espírito mesmo desencarnado acredita neste maya?

Sim, de acordo com o seu grau de evolução o maya é verdade para o espírito mesmo desencarnado. O único no Universo que não tem maya é Deus.

O Pai é o único que não têm maya porque conhece a Realidade das coisas. Apenas Ele a conhece: todos os outros chegam a uma interpretação da realidade e não a Realidade e, por isto, criam mayas.

Portanto, veja, neste ensinamento eu não estou dizendo que você tem que parar de interpretar, que deve negar o seu pensamento, mas que, se quiser evoluir espiritual alcançando a Unidade com Deus não pode se apegar à sua interpretação como verdade. São duas coisas diferentes.

Olhe para a parede da sua casa. Ali está uma “parede”: isto você não pode mudar. No entanto, pode não se apegar a esta visão como realidade. Você vê, mas não se apegue a isto como verdade porque ela não existe.

Apegando-se terá que lutar contra aqueles que disserem que aquilo não é uma parede. Com isto não estará servindo-os

Participante: Estes elementos existem além dos nossos sentidos, mas os percebemos através dos nossos sentidos que são materiais. Assim sendo, não será possível que eles sejam um reflexo feio de algo mais belo que nós não conseguimos ver com os nossos sentidos?

O “feio e o belo” são ilusões suas, pois são valores criados como fruto de um raciocínio, de uma comparação com padrões individuais de “beleza”. É valor que você dá àquele objeto.

Ele é reflexo de outra coisa, com isto eu concordo, mas se esta coisa é mais “bonita” ou mais “feia” do que aquilo que você percebe, não há valores para o espírito poder julgar. Cada um julga de acordo com os seus valores individuais e os espíritos universalizados não mais possuem estes códigos para poder aplicar uma qualificação a nada.

Vou lhe contar uma história que ilustra a questão do “belo” e do “feio”. Cristo vinha passando na estrada com seus apóstolos e na beira dela havia um cachorro morto. Ele já estava lá há muito tempo e por isto as suas entranhas estavam saindo pela barriga.

Os apóstolos passaram e ao se depararem com a cena disseram: que coisa horrível, que fedor. Cristo parou, examinou a massa carnal respeitosamente e disse: olha que belos dentes ele tinha.

Por esta história, que é uma lenda hebraica, podemos compreender que o “belo” e o “feio” são valores individuais que cada um coloca de acordo com seu ponto de vista.

Quanto a sua outra afirmação, concordo que as coisas materiais são reflexos de outras coisas. No entanto, enquanto acreditar que apenas o que vê é real, sem dar ao que percebe o valor de reflexo de outra coisa que você não vê, continuará vivendo o maya, a ilusão.

Lute para libertar-se da escravidão de realidade que você aplica às coisas que percebe, mas saiba que, mesmo quando descobrir do que as coisas materiais são reflexos, não se prenda a esta nova verdade. Mais tarde esta nova compreensão também se configurará em uma ilusão, pois só o Pai conhece a Realidade universal.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 4

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3
Faixa 4

 4. Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo isto parece um espanto.

Tudo é Atma, tudo é espiritual, e nada é material: esta é uma realidade no Universo. São os seres humanizados que vivem a ilusão de existir uma divisão entre mundos e por isso criam o mundo material.

Se o seu mundo é material só pode conter matérias. Neste caso, você também seria uma matéria. O mundo dos espíritos desencarnados é chamado de espiritual, mas para que este título fosse fiel à realidade, seria necessário que eles vivessem sem matérias. Isto é uma ilusão, pois todos os espíritos presos ao orbe terrestre, mesmo que não encarnados, ainda não têm condição de viver sem matérias.

Portanto, não existem mundos essencialmente materiais ou espirituais, mas sim ‘lugares’ que são ‘habitados’ por espíritos e matérias ao mesmo tempo. Por isto podemos afirmar que existe apenas um só mundo.

Como o espírito é o elemento inteligente, a força universal, dizemos que todos os ‘lugares’ do universo são mundos espirituais. Você vive no mundo espiritual, assim como os espíritos desencarnados.

O mundo espiritual, no entanto, é dividido em planos, ‘lugares de vida’ ou ainda, se quiserem, dimensões. Estas dimensões, no entanto, não estão em ‘locais’ diferentes, mas existem em conjunto no mesmo ‘espaço físico’. Onde você está agora existe simultaneamente o que você conhece como mundo material e as diversas dimensões que chama de espirituais de que tem notícia.

A única diferença entre os planos é a densidade da matéria que existe em cada um deles. Naquele que você chama de material, onde ‘vive’, a matéria tem uma densidade ‘mais grossa’. Quanto mais evoluir, ou seja, libertar-se da sua consciência atual e avançar no sentido espiritual, conviverá com matérias mais voláteis, com ‘menos densidade’.

Portanto, tudo é mundo espiritual, mesmo que a matéria encontre-se em densidades variadas. Mas, porque é importante saber que tudo é espiritual e que não existe mundo material? Por causa da Realidade do Universo.

O ser humanizado, por achar que vive em um mundo à parte do espiritual, criou leis, verdades e vontades próprias diferentes das universais. A partir delas, criou necessidades diferentes das espirituais. Todas estas criações dos seres humanizados geraram uma realidade diferente daquilo que é Real.

Você acha, por exemplo, que precisa alimentar-se de elementos materiais. Esta necessidade é real para você porque acha que está no mundo material. Apesar de conhecer através da literatura espírita que depois do desencarne o espírito não mais ingere alimentos materiais, não consegue viver esta realidade agora.

 Mesmo que leia na mesma literatura que após o desencarne terá que aprender a não se alimentar, não se preocupa em desde já aprender como fazer isto, porque ao imaginar-se habitando o mundo material cria a necessidade que precisa comer.

Vivendo a realidade de que tudo é espiritual você acaba libertando-se da necessidade. Pode, então, começar a entender que é possível viver sem comida. Aliás, isto já é uma realidade entre os seres encarnados, já que existem pessoas neste planeta que vive sem comida.

Estamos falando de comida, mas isto é apenas um exemplo. Todos os espíritos são filhos de Deus, são irmãos entre si: esta é a realidade que todos conhecem trazida pelos mestres. Apesar disso o ser humanizado não consegue viver desta forma, porque isto é verdadeiro para o mundo espiritual.

No material os irmãos universais transformam-se em filhos, mães, pais, cônjuges, amigos e inimigos. Estas “fantasias fantasmagóricas”, como Krishna chama a realidade carnal, não permite aos seres universais humanizados viverem os ensinamentos de Cristo.

Como deixar os mortos enterrarem seus mortos, abandonar tudo que se possui, inclusive pais e filhos, se a realidade carnal transforma os irmãos universais em figuras que eles não são e as leis materiais criam obrigações que não são universais com eles?

Eliminando as figuras e libertando-se das obrigações materiais. Estas figuras só existem para você porque acredita que mora no mundo material e, a partir desta realidade, precisa se subordinar às leis carnais. Quando transformar a sua existência em espiritual e viver dentro da Realidade do Universo, poderá se libertar de tudo isto.

Portanto, é importante aprender que não existe mundo material. Só assim poderá trabalhar para acabar com as leis, verdades e desejos transitórios que os seres humanizados vivem. Você que busca a Deus através do estudo do mundo dos espíritos, seja através da literatura ou das religiões espíritas, sabe que a realidade fora da carne é outra.

Em “O Livro dos Espíritos” se afirma que o espírito está onde seu pensamento está. Quando você imagina que está em um lugar, realmente está lá, apesar do corpo não ter se locomovido. No entanto, não possui consciência de sua “viagem”.

Mas, como é que quer ter esta consciência se ainda ‘mora em um mundo material’, imagina que é um corpo e que apenas quando este se desloca você anda? Quando não mais depender do corpo como sendo você, alcançará a plena consciência das ‘viagens’ que faz.

Portanto, é preciso compreender: eu moro em um mundo espiritual e as leis e verdades dele já são válidas para este mundo. Tudo que Kardec aprendeu com o Espírito da Verdade a respeito do mundo espiritual é válido para o seu momento atual de encarnado.

Mas você acredita que não porque se imagina estar em uma situação diferenciada (preso à matéria) o que cria realidades diferentes. Com esta consciência abre mão de aprender a viver dentro da Realidade do Universo, postergando isto para quando sair da matéria.

Participante: Mas, no mundo espiritual se come energia em freqüência diferente da deste mundo?

Acabei de dizer: não existe mundo espiritual, tudo é um só mundo. Os seres encarnados alimentam-se da energia vital na mesma freqüência daquelas que são que são citadas na literatura espírita como alimentação dos desencarnados.

Podemos, apenas para melhor entendimento, dizer que a energia vital que o encarnado se alimenta está em uma ‘embalagem diferente’ e não que ela mesma em si é diferente. Mas, você não acredita que está comendo energia vital porque vê a massa do alimento e imagina que é ela que o nutre, mas ela não pode lhe alimentar. O que nutre é o que ela contém.

A massa dos alimentos é formada por micro elementos que você não vê. Estes micros elementos são os nutrientes que você consome e lhe nutre. Isto a ciência conhece, mas você, que não é médico, não vive com esta realidade. No entanto, há um exemplo que pode ajudar na compreensão do que estamos falando.

Os astronautas que viajam para o espaço se alimentam. Eles “comem” a mesma comida que você, mas só que elas estão condensadas em cápsulas, pílulas.

Eles comem os micros elementos que contêm o alimento em pílulas. Eles não comem a maçã, mas uma pílula que têm os mesmos micros elementos que a massa da maçã. Tudo o que eles “precisam” para sobreviver está à disposição deles em cápsulas, sem massas, que poderiam deteriorar-se durante a viagem.

Apesar das pílulas conterem tudo o que você também precisa para viver, não conseguiria sentir-se alimentado apenas ingerindo-as. Eles conseguem porque alteraram a realidade: não é preciso da massa do alimento. Para você que precisa da visão da massa para sentir-se alimentado isto seria impossível, pois precisaria ver a forma, a cor e o sabor da maçã.

Este exemplo é só para entendermos que a mudança de paradigmas é possível. O que lhe alimenta é a mesma energia vital universal que nutre os espíritos fora da carne e que existe em todas as massas dos alimentos. No entanto, como os astronautas, para viver liberto da necessidade de ingerir a massa, você terá que lutar contra a verdade de que é preciso comê-las.

Quando se libertar desta ilusão, irá se abastecer das mesmas energias que hoje se alimenta e que o nutrirá pela eternidade, sem necessidade do alimento material.

No entanto, para que alcance esta liberdade é preciso caminhar passo a passo. Não adianta imaginar que a partir de agora ou de amanhã não mais se alimentará: isto é irreal.

Para que isto ocorra é preciso se percorrer todo um “caminho” realizando a reforma íntima. Só depois de muito trabalhar no sentido de libertar-se dos seus mayas é que você poderá aprender a se abastecer dos elementos universais como se abastecerá depois que sair da carne.

No entanto saiba: mesmo desencarnado terá que aprender isto. Não será apenas porque se libertou da carne que o maya se extinguirá. Para viver a existência desencarnada alimentando-se da energia vital e não das massas será preciso libertar-se delas. Por isto a literatura fala de um período onde os espíritos recém desencarnados ainda precisam de massas alimentares.

Portanto, se este é um trabalho que terá que executar depois do desencarne, por que não começá-lo agora?

Participante: Como espíritos encarnados que somos, não precisamos alimentar nosso corpo? Este alimento que damos para o corpo não serve para o espírito, mas se não alimentarmos o nosso corpo desencarnamos, não é?

Você precisa alimentá-lo, mas não daquilo que chama de alimento material.

Você se alimenta de feijão? Não, não é a massa que você considera como alimento que o nutre, mas o ferro e o cálcio (micro elementos) que está dentro da massa que o faz.

Acontece que o ferro e o cálcio não são elementos primários, mas, como tudo que existe, são formados a partir da fusão de um só elemento: fluído cósmico universal.

NOTA: “O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância primitiva”. Comentário de Allan Kardec à resposta 33 de “O Livro dos Espíritos”.

Desta forma, você não se alimenta de feijão (massa), mas do fluído universal que compõe os micros elementos que a ciência afirma que são na verdade os nutrientes. Quando aprender a comer fluído cósmico universal diretamente, sem precisar da ilusão do feijão, continuará alimentando o corpo da mesma forma de hoje, mas sem precisar da massa.

No entanto, volto a repetir: ninguém conseguirá realizar isto de hoje para amanhã. Para que este modo de proceder se torne realidade há a necessidade de se alcançar um grau de elevação espiritual onde você se liberte das outras “miragens” (mayas) para se libertar desta também.

O que você precisa compreender com este ensinamento é que não é real se admitir que há a necessidade do feijão. Isto lhe auxiliará a alcançar a compreensão necessária para o trabalho de libertar-se da escravidão às coisas do mundo, inclusive do alimento.

NOTA: “Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores conseqüências, tê-los como tais, até nova ordem”. Continuação do comentário de Allan Kardec à resposta 33 de “O Livro dos Espíritos”.

Participante: Você diz viver de “prana”?

O que é isto, senão um maya que você criou?

Eu falo em viver do elemento primário universal. Agora, se você chama este elemento de fluído cósmico universal, prana, matéria energética ou energia, não importa, pois qualquer nome (compreensão) que der é maya.

Como já tinha dito antes, este trabalho é baseado nos ensinamentos de Krishna, mas nada tem das ilusões que a religião hinduísta ensina. Tudo que você aprendeu até hoje nesta ou em qualquer outra religião é ilusão, é maya.

Isto porque o ensinamento que você recebeu passou pelo raciocínio de quem os leu. Além disso, ao ser repassado para você, houve, por sua parte, a criação de um novo maya, ou seja, de uma outra compreensão.

Portanto, prana, fluído cósmico, tudo é ilusão, é maya. O que você precisa compreender, ou seja, o que é Real, é que existe um elemento básico no universo que nutre os espíritos.

Agora, querer dizer como ele é, quais são as suas propriedades, o que quer dizer ser um elemento ou o seu nome, é criar ilusões. Por isto é preciso sempre se concluir que nada é possível de se saber.

Participante: Mas, Buda tentou este caminho inicialmente e se deu mal. Se não tivesse se alimentado de leite e mel teria desencarnado mais cedo.

Exatamente por isto estou dizendo que não é para você parar de comer amanhã, mas ensinando que é preciso lutar contra a ilusão de que existe um mundo diferente do espiritual: o material.

O Buda tentou este caminho e “se deu mal” porque não estava preparado para isto. Se você também tentá-lo agora também “se dará mal”. Agora, depois quando ele conseguiu a iluminação pôde realizar, assim como você também poderá.

Participante: Mas quando saber que estamos preparados?

A hora que acontecer naturalmente. Enquanto você quiser forçar a não alimentação estará se entregando a um desejo seu, mesmo que seja de querer se libertar.

A prática do que estamos conversando agora se resume em você constatar que está comendo, mesmo agora que sabe que não precisa, sem se apegar a verdade de que aquilo é fundamental para existência.

Participante: Eu acredito que nós conseguiremos isto quando aprendermos verdadeiramente a amar. Aí Deus nos dará em conseqüência tudo isto que o senhor fala.

O desejo vem de Deus: já estudamos no versículo 01. Tudo vem de Deus e, portanto, a compreensão dos ensinamentos também virá de Deus.

Enquanto você quiser compreender o que estou dizendo com valores materiais, ou seja, imaginar como fará para parar de alimentar-se e quando isto acontecerá, não terá entendido nada do que eu disse e continuará vivendo apenas os mayas acreditando ter chegado à Realidade.

Baseado neles discutirá que a ciência comprova que o homem precisa se alimentar. Mas, quem é a ciência senão a emanação de Deus? Além do mais o seu conhecimento para discutir não é real, pois você tem uma idéia do que é a ciência. Não possui as verdades científicas, mas o fruto do seu raciocínio ao entrar em contato com os ensinamentos científicos, ou seja, uma ilusão.

NOTA: “19 – Não pode o homem, pelas investigações científicas, penetrar alguns dos segredos da Natureza? A ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu”. (O Livro dos Espíritos - pergunta 19).

Pergunta: A ciência, então, é uma emanação de Deus?

Sim, e que lhe é dada para evolução em todos os campos, inclusive na moral (aperfeiçoamento espiritual).

 No entanto, o ser humanizado não utiliza a ciência com esta finalidade. Busca através dela minorar seus sofrimentos (não ter mais doenças, não morrer), mas não pensa em aprender a “amar a Deus sobre todas as coisas” com a ciência.

NOTA: “Quanto mais consegue o homem penetrar nesses mistérios, tanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do Criador. Entretanto, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho”. Comentários de Allan Kardec à resposta 19 de “O Livro dos Espíritos”.

Agora que conversamos bastante sobre a primeira parte deste ensinamento, vamos voltar ao texto do Avadhut Gita. Apenas para relembrar o que estamos estudando: “Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo parece um espanto”.

Não existem diferenças entre a maçã e o fluído universal, entre o feijão e o não feijão. Não existem diferenças entre existir alguma coisa ou não existir algo. Isto ocorre porque toda realidade que você vive é apenas uma coisa: ilusões, mayas.

Kardec nos ensinou que não há diferença entre viver a realidade de fluído universal ou de oxigênio até nova ordem, porque sabia que o fluído universal que o ser humanizado pode imaginar é um maya. Você achar que está comendo uma maçã é uma ilusão, mas também compreender que ela não existe é uma ilusão.

Se entregue a tudo sem prender-se a nada.

Você deve libertar-se de todo fruto do seu raciocínio não dando a ele o valor de real, inclusive o que está compreendendo agora. Por favor, não transforme o que eu digo numa verdade: “li que não existe nada, então nada existe”. Ao agir assim você criou alguma coisa: um “nada”.

É preciso se libertar de tudo. O procedimento daquele que busca a Deus é o seguinte: “li que não existe maçã, mas eu não sei se existe ou não”. Não se preocupe em brigar contra a existência da maçã, mas lute para se libertar da existência ou não-existência de qualquer coisa.

Esteja simplesmente preocupado em largar tudo e não em criar novas verdades. Você deve destruir tudo que existe e não construir nada no lugar. Nem um “nada” deve surgir como compreensão do processo de reforma íntima.

Para que o ensinamento tenha valor, é preciso que você compreenda isto. Este trabalho não tem o objetivo de criar novas verdades, mas está sendo realizado pelo comando de “Maria” no sentido de transmitir aos seres encarnados que nada devem dizer a respeito das coisas.

NOTA: O amigo espiritual que transmitiu estes ensinamentos afirma pertencer a um grupo de espíritos que, por ordem do ser que viveu a encarnação conhecida como Maria, mãe de Jesus, estão transmitindo à humanidade os ensinamentos necessários à vida no Mundo de Regeneração.

Quando se alcança a elevação espiritual ainda durante a existência carnal, o ser universal não mais dá valor às coisas materiais, mas simplesmente vive sem saber se existe ou não aquilo. Você não deve se apegar nem a um lado (existência) ou ao outro (não-existência).

Por isto, também, este ensinamento não deve ser comparado a qualquer outro que você tenha tido conhecimento para que se produza uma nova verdade. Ele não deve servir como novas verdades, mas apenas para auxiliá-lo a libertar-se daquilo que até hoje acreditou. Se você quiser transformar o seu conhecimento a partir destes ensinamentos estará criando uma nova verdade que um dia terá que ser eliminada.

Nós não queremos que você se apegue a nada como verdade, nem a estes ensinamentos. Qualquer apego não lhe leva à evolução espiritual. Como Cristo ensinou, mais do que praticar aquilo que as religiões ensinam, o ser humanizado deve libertar-se das coisas materiais doando tudo que possui aos pobres.

 Portanto, você não deve transformar os ensinamentos que aqui estão em uma verdade, mas deve servir-se deles apenas como instrumento para que passe a duvidar de tudo neste mundo, até de mim mesmo.

Se você duvidar destes ensinamentos, mas também não se apegar em mais nada, alcançou o que estou falando, realizou a evolução espiritual. Aí você se libertou de tudo, inclusive deste ensinamento.

É isto que você precisa para realizar a reforma íntima: lutar contra todo fruto do raciocínio. Lutar contra toda compreensão que possa surgir, mesmo que seja a compreensão do que está aqui escrito.

É melhor que você não compreenda o que estamos falando. Ao invés de criar verdades com este ensinamento (compreender) constate apenas que os ensinamentos deste livro abalaram todo seu conhecimento anterior e que você, agora, não sabe mais de nada e, por isso, não confia mais em nada.

Neste momento você alcançou a prática do que estou falando e não precisa mais de compreensão alguma para viver.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 5

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 5. Esta é a soma total do Vedanta "Eu sou Atma, o eu sem forma, presente a tudo por sua Natureza".

A palavra natureza está com o “n” maiúsculo porque representa a “Natureza de Deus”.

Eu sou tudo, eu estou presente em tudo pela minha natureza divina, pela minha presença, potência e ciência divina. Aí está o resumo de todos os ensinamentos e não só hindus, mas de todos os mestres. Eu sou tudo e nada mais existe.

Apesar disso, como já falamos, não se pode idolatrar este eu que já sou tudo se enchendo de soberba e acreditando ser tudo. Dattatreya fala da ciência, da consciência de que eu sou tudo e que nada preciso a mais do eu mesmo e não da ação soberba de se sentir superior por causa disto.

Esta consciência lhe leva a viver a vida dentro dos ensinamentos dos mestres, pois se você não precisa de nada, para que discutir com os outros para provar que está certo? Você me responderia: para ter razão. Mas, você não precisa da razão: já a tem, pois já possui tudo o que pode possuir.

Se você já é tudo e possui tudo, porque vai querer criticar o próximo e mudá-lo? Ele também é tudo e possui tudo.

Na hora que compreender que você já é tudo e o próximo também, não precisa mudar ninguém para ser feliz: aprenderá a vivenciar o seu tudo dando ao outro o direito dele vivenciar o dele.

Só com esta consciência, sem idolatria a si mesmo, você poderá transitar pelo mundo sem os apegos, como ensinam os mestres. O apego é uma necessidade que o espírito tem criado pela ilusão de precisar. É um maya.

Quantas coisas da sua vida você já disse que eram indispensáveis e, quando as perdeu, não “morreu”? Não coloque nada como indispensável na sua vida, pois tudo está em você e lá estará eternamente.

Tudo está em você e jamais se separará, mesmo que na ilusão da vida humana não esteja mais em contato com as suas percepções, ou seja, mesmo que não veja, não pegue, não prove o sabor, não escute ou não cheire.

É isso que o mestre Dattatreya nos ensina e este é o resumo dos ensinamentos de todos os mestres.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 6

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 6. Aquilo que é o Atma sempre refulgente de tudo; pelo tempo ilimitado como espaço, puro e sagrado por sua própria natureza; isso eu sou, sem dúvida.

Você é ilimitado pelo tempo e pelo espaço: o que quer dizer isto? Você não tem idade, nunca teve infância, juventude ou velhice, acordar ou dormir. Você é ilimitado pelo tempo.

Este ensinamento é muito importante para se viver esta existência com felicidade. Muitos colocam a sua prisão em períodos de tempo como condicionador da felicidade, mas não entendem que o tempo não existe. Para se ser feliz não é preciso, por exemplo, ser eternamente jovem, mas sim eternamente feliz.

Como vocês mesmo afirmam: “velhice é uma questão de cabeça”, é uma questão de se sentir velho ou não. Se você não se sentir velho, poderá ser eternamente feliz, mesmo que o corpo demonstre sinais de velhice.

Mas, se isto é verdade a necessidade de dormir também é uma “questão de cabeça”, ou seja, se você não “sentir sono” poderá não dormir. Seu sono surge da sua criação fantasmagórica que afirma que precisa dormir tantas horas por noite. Ilusão, maya, ou seja, aquilo que você se entrega como verdade.

Por esta prisão à ilusão como verdade, você gera o sono e se entrega a ele. O sono, porém, não é real. Foi você que o criou naquele momento. No entanto, agiu desta forma porque acredita que existe a “hora de dormir” e a necessidade deste repouso.

O ser humanizado não precisa dormir, não precisa se sentir criança nem velho. Você só se sente velho quando “se sente velho”, só sente sono quando “sente sono”.

Você é ilimitado pelo tempo, mas também pelo espaço. Pode estar onde quiser, na hora que quiser. Não há espaço que lhe separe de nada. Pode separar o corpo, mas não você, pois você não é o corpo.

Mesmo assim vive limitado pelo espaço, vive preso ao lugar que está, porque acredita que é o corpo. Se ele não se locomover você não vai acreditar que foi, mas que “criou na sua cabeça” (imaginou) a ida. A ilusão não foi o que você criou, mas o achar que não foi.

Para se viver a Realidade é preciso acreditar em você como espírito e em todas as suas propriedades espirituais como já existentes. Para isto é preciso lutar contra as verdades que você vivencia atualmente e que lhe limitam em tempo e espaço. Você é o Atma, o espiritual, ilimitado com relação a tempo e espaço.

Você é refulgente, é brilhante, é puro espiritualmente falando: assim declaram os mestres. No entanto, você não se considera assim.

Imagina-se um espírito encarnado no nível de elevação de provas e expiações e por causa desta condição imagina que não presta, que não é elevado. Acredita-se um atrasado, não evoluído espiritualmente falando, um pecador, etc.

Todas estas verdades a seu respeito são ilusões que você mesmo criou, que fez acontecer. Elas, no entanto não são reais, pois você, na sua essência, é brilhante, refulgente e puro.

Buda nos ensina: o espírito é luz e ele está sujo pela poluição adventícia. O espírito é luz e ele não está sujo pela poluição adventícia. Cristo também diz: vocês são deuses.

Todos os mestres ensinam assim: o espírito é luz. Não importa se você acredita nisso ou não. Aliás, o não se achar puro é a poluição adventícia, os mayas, as ilusões, aquilo que surge pela razão que lhe diz que você não é puro.

Todos os mestres foram claros quanto à sua descendência: você é filho de Deus. Apenas por isto já deveria se considerar puro.

O Senhor do Universo, a Perfeição, não pode gerar nada que não seja Perfeito, Puro. Deus não pode gerar nenhum espírito sem que ele seja tudo o que o Pai é. Portanto, você é puro e refulgente por herança genética.

Agora, você não consegue exercer esta sua pureza porque não acredita nela, mas sim que é impuro e sujo. Só para fazer um jogo de palavras, eu diria que você está sujo porque acredita que está.

Na hora que lutar contras as impurezas que lhe afirmam que está sujo, conseguirá caminhar para Deus vivendo a sua essência luminosa. Mas, enquanto se achar um pobre coitado não pode chegar ao reino do céu nunca.

Você é sagrado; todos nós somos sagrados. Você dá valor de sagrado a hinos, músicas, mantras, mestres ou imagens, mas não consegue fazê-lo a si mesmo porque não acredita que você é um espírito, filho de Deus.

Você é sagrado para o Universo. O Universo lhe vê desta forma, mas você não. Os espíritos elevados conhecem esta Realidade e lutam para lhe ajudar a se despoluir, para que volte à consciência do que é na Realidade.

Lutam contra você para que não se acuse de ser ruim, pois se acredita como “pequeno”, incapaz, apenas um ser humano, um pecador que fez maldades em outra vida e por isso merece está aqui é não honrar a sua filiação.

Dizer que você é um pobre coitado, um enjeitado, que o mundo não lhe ama é não honrar a sua filiação: Deus, seu Pai. Dizer que a sorte foi madrasta, que só dá azar, que nada acontece de bom na sua vida é não honrar a sua filiação.

É por causa da ilusão que você diz que é e vive, é que vai se prendendo aos pensamentos, transformando o mundo fantasmagórico do seu raciocínio em realidade. Quando acredita no fruto do seu raciocínio como verdade cria ainda mais ilusões e cada vez mais encobre o seu “sagrado” com a poluição do maya.

Você precisa se libertar desta poluição para poder deixar que o seu “sagrado” que se encontra no fundo do mar lamacento das suas ilusões ressurja. Por isto estamos afirmando que o trabalho da reforma íntima não é conseguir coisas novas (elevação espiritual, pureza), mas agir em destruição do que se têm para poder reaver o já se é.

Todo ser humanizado luta a vida inteira para ser feliz, mas ele já é feliz, já tem a felicidade dentro dele. O problema é que a busca que faz está direcionada para o lugar “errado”: procura a felicidade na satisfação de que seu maya se transforme em realidade, ao invés de voltar-se para o seu eu sagrado.

Na hora que se voltar para dentro, que buscar a felicidade no seu ser refulgente, neste deus que você já é, poderá dizer ao seu ego: que você se dane. “Pode produzir qualquer verdade fantasmagórica que quiser que eu não mais cairei nesta ilusão, pois me descobri. Eu não vou mais me deixar levar por você. Eu sou livre”.

Pergunta: Ainda sobre a questão da materialidade, eu espírito ajo através do perispírito, que é matéria, sobre o corpo carnal. Portanto, preciso de matérias.

Não, o espírito não age através do perispírito. A ação espiritual é amar, é sentir, é sentimento, não ato físico, executado através de uma matéria. Para se sentir não é preciso matérias.

Se você precisasse do perispírito nunca se libertaria dele, como afirma o Espírito da Verdade que isto acontecerá um dia. Além do mais, você, o filho de Deus, o princípio inteligente do universo, seria muito pouco, pois estaria dependente de uma matéria eternamente para existir.

Você é livre por natureza, não tem dependência nenhuma. Só precisará do perispírito enquanto achar que precisa dele.

Pergunta: Apesar do espírito nunca se cansar, o corpo material (carnal) precisa descansar, pois é uma máquina.

Este é um maya muito comum entre os seres humanizados. Mas, veja bem, nada do corpo material descansa durante o que você chama de sono.

Os membros continuam funcionando assim como o dorso, pois “você” se mexe na cama. Os órgãos internos continuam funcionando tal qual quando se imagina acordado, senão você morreria. O que diferencia uma situação de outra e que dá o descanso? Só a posição? Por isso não: muitos dormem sem deitar e acham que descansam.

Não há descanso para ninguém. Aliás, Cristo ensina. Os passarinhos têm os seus ninhos e as raposas têm suas tocas, mas o ser humano não possui onde repousar – Evangelho de Mateus – Capítulo 8 – Versículo 20. Quando você coloca o corpo na horizontal ele está funcionando como se estivesse “acordado” e você, o espírito também não descansa, pois está sempre “trabalhando”, espiritualmente falando.

Não há descanso nem para um nem para outro. Então, o que lhe traz a sensação de descanso? A ilusão de achar que dormir é descansar.

Pergunta: Mas se o ser humano não precisa comer nem descansar, como viver?

Volto a repetir: não é para você a partir de hoje não dormir nem comer. Isto só poderá ser alcançado como fruto da evolução. O que precisa agora é acabar com a dependência, com a necessidade de dormir.

Libertando-se desta dependência quando você dormir e comer ou não praticar estes atos, não fará diferença. O seu estado de espírito não se alterará porque você não é mais escravo da satisfação das suas verdades.

Sabe o que é fome ou sono? É o resultado da sua dependência em ter de comer ou dormir. Se você não tiver mais esta dependência não terá mais fome ou vontade de dormir.

Mas, volto a repetir: não é para começar a fazer amanhã. “Vou deixar de comer amanhã porque aprendi que isto é possível”. Não é isto que estou ensinando.

O que estou lhe dizendo é que é possível se viver desta forma, como sem muito mais coisas que hoje você considera indispensável para tanto. A prática, no entanto, é o resultado natural de um processo que você alcançará ao desapegar-se das suas verdades, porque o ensinamento é Real.

A prática, no entanto, não surgirá do nada ou de uma decisão individual sua, mas para que ela aconteça é preciso caminhar em direção a Deus, ou seja, a cada dia lutar contra a dependência que se tem das verdades que o ego impõe.

A reforma íntima não se trata em aprender a não comer ou não dormir, mas reflete-se na mudança interior, ou seja, na luta contra a dependência de comer ou dormir assim como de todos os condicionamentos a que você se sujeita.

A elevação espiritual não se constata por não mais precisar dormir, ou qualquer outra ação mística contrária à realidade, como muitos imaginam. Ela é alcançada quando ocorre a liberdade da dependência criada pelo ego, sem que para isso seja preciso se revolucionar as leis materiais.

 O ser elevado dorme na hora que estiver dormindo e não sofre quando isto não acontece. Ele é equânime com os acontecimentos da vida porque se libertou das dependências para ser feliz.

Isto é real e já foi alcançado. Agora, o não dormir nunca, é uma ilusão e enquanto encarnado não poderá acontecer. Apenas para ilustrar este ensinamento, deixe-me contar-lhe um caso.

Quando começamos a transmitir os ensinamentos dissemos àqueles que nos ouviam que um espírito poderia viver com apenas quatro horas diárias de sono. Algumas pessoas disseram que era impossível, que precisavam de no mínimo oito, dez horas, se quisessem sentir-se descansado.

Ao longo dos anos de ensinamentos, lutando contra suas verdades, contra suas dependências, eles caminharam no sentido da reforma íntima. Não alcançaram o “deixar de dormir”, mas, no entanto, hoje, mesmo que fiquem menos horas “dormindo” ou quando têm uma noite mal dormida, no outro dia não ficam “caindo” pelos cantos de sono.

Porque isto? Porque estão buscando se libertar das dependências e isso se reflete na de dormir determinada quantidade de horas para ser feliz: “se eu dormi, dormi; se não dormi, não dormi. Louvado seja Deus”.

Para eles isto já é possível, mas enquanto você tiver a dependência e lamentar-se porque não conseguiu dormir, vai morrer de sono pelos cantos, mas permanecerá “acordado”.

Pergunta: Mas, além do que o senhor falou, existe a possibilidade de se ter sono para fugir do maya do dia a dia, não?

O que você fala não é uma possibilidade: é a Verdade, a Realidade. Você cria o sono não para descansar, mas para fugir dos seus mayas, para descansar de tanto viver se iludindo.

É uma ação inconsciente do espírito que não mais suporta o peso dos condicionamentos e busca um momento de paz. Por isto você se “apaga” (desliga o consciente) libertando-se da realidade carnal que pelo excesso de não realidade (Ilusão) é “sufocante” para espírito.

Portanto, veja, se você lutar contra esta dependência durante o período que está acordado, não precisará criar o sono.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 7

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3
Faixa 4

 7. Eu sou imorredouro, puro, infinito e uma morada de conhecimento. Não conheço prazer ou dor, ou alguém a quem eles afetem, ou como.

Vamos entender este ensinamento que é profundo e contraria em muito aquilo que você imagina que seja a caminhada de um ser que procura Deus. As primeiras citações de Dattatreya são claras: o eu celestial é imorredouro, puro e infinito. Aliás, já falamos nisto neste trabalho. Vamos nos prender, então, no ensinamento de que o espírito é a morada do conhecimento.

O espírito gerado por Deus quando atinge o nível de evolução em que se encontram todos os que estão juntos ao orbe terrestre estão prontos e completos. Para chegar a este nível de evolução eles já ultrapassaram outros onde adquiriram todo conhecimento das coisas universais. Portanto, eles conhecem tudo das coisas universais.

 Apesar disto ser uma realidade, os espíritos não conseguem acessar (lembrar) deste conhecimento universal porque estão presos no maya, nas suas ilusões que acreditam serem verdades.

 Quando começamos este trabalho nos perguntaram porque escolhemos como receptores um grupo que não se distinguia por profundos conhecimentos em nenhum dos campos religiosos. O grupo nos questionou porque não fomos passar estes conhecimentos através de expoentes religiosos ou de profundos estudiosos, ou seja, pessoas que já sabiam.

Nossa resposta foi: exatamente por isto, por eles já saberem. Os expoentes religiosos e os profundos estudiosos já possuem um saber sedimentado que impediria que nós ensinássemos coisas novas a eles.

Para que você aprenda algo novo é preciso, antes de qualquer coisa, não saber das coisas. Se você já possui uma verdade, mesmo que ela seja uma ilusão ou um maya que vivencie como realidade, em que vai acreditar? No que já acredita, óbvio.

Para poder aprender alguma coisa nova é preciso antes desacreditar da velha, ou seja, libertar-se daquilo que já sabe e ao qual dá valor de verdade absoluta, única realidade. É preciso estar livre de uma verdade para poder ouvir outra sem questionar ou duvidar do que está ouvindo.

Sem esta atitude, você não consegue captar o que lhe é transmitido e far-se-á presente afirmando: eu já tenho a verdade, não tenho nada a aprender, nada a ouvir. Aliás, esta é a postura da maioria dos seres humanizados. Buscam o ensinamento pela curiosidade de ouvir o que está sendo falado, mas nunca para aprender, porque eles já sabem. No máximo querem confirmação daquilo que já sabem.

Este é o ensinamento de Dattatreya: declare que nada sabe, para poder aprender outras coisas. Libertando-se dos seus mayas que você acredita que são reais poderá atingir o verdadeiro conhecimento, que já é seu, pois você já se fez presente em outros mundos de evolução onde adquiriu todo conhecimento das coisas universais.

Este conhecimento perfeito sobre as coisas universais está adormecido dentro de você naquilo que chamamos de “consciência espiritual”. Ele não pode ser alcançado pelo ser humanizado porque a “consciência material” ou ego não permite.

NOTA: Entender o termo “consciência” como memória. O ser humanizado possui a “memória material” e a “memória espiritual”.

Seguindo a linha do raciocínio anteriormente desenvolvido (quem sabe não consegue aprender), o ser humanizado que se deixa guiar pelo seu ego, acreditando nos mayas que ali estão arquivados, não consegue penetrar na consciência espiritual e de lá retirar as verdades que já conhece. Este processo é conhecido entre os espíritas como “véu do esquecimento”.

Portanto, o verdadeiro conhecimento para os seres que buscam a Unidade com Deus é nada saber. Aquele que almeja a elevação espiritual precisa lutar para libertar-se de suas verdades, pois enquanto souber estará preso ao ego que insufla o individualismo.

Esta é a mesma conclusão que chegou Salomão, famoso profeta hebreu, no livro “Eclesiastes” da Bíblia Sagrada: “Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo e digo: tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Ninguém pode endireitar o que é torto nem fazer contas quando faltam os números. E pensei assim: eu me tornei um grande homem, muito mais sábio do que todos os que governaram Jerusalém antes de mim. Eu realmente sei o que é a sabedoria e o conhecimento. Assim, procurei descobrir o que é o conhecimento e a sabedoria, o que é a tolice e a falta de juízo. Mas descobri que isso é o mesmo que correr atrás do vento. Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e quanto mais sabe, mais sofre” – Eclesiastes – Capítulo 1 – Versículo 14-18.

Este é o primeiro ensinamento deste versículo de Dattatreya: você já tem em sua consciência espiritual tudo o que precisa para viver no universo. Abandone suas ilusões e conseguirá alcançar este conhecimento real.

Portanto, a reforma íntima não é caracterizada pela obtenção de novos conhecimentos, mas sim pela destruição do aprisionamento às verdades guardadas no ego que impedem a utilização das outras.

Segundo ensinamento deste versículo: aquele que vive a Unidade com Deus não conhece prazer nem dor. Aparentemente este ensinamento é muito claro, pois aquele que alcança a elevação espiritual não tem estes sentimentos.

O fim do aprisionamento às verdades leva ao não condicionamento da felicidade. Quando não há verdades e desejos não há nada para ser contentado ou atacado e por isto o prazer e a dor se extinguem, dando lugar à felicidade incondicional.

Mas Dattatreya vai mais além: o ser universalizado também não conhece ninguém que sofra do prazer ou da dor. Aí está um conhecimento muito profundo que precisamos entender, pois fere frontalmente aquilo que os seres humanizados chamam de “compaixão”.

Quando alguém age contrariamente ao que você deseja, seu ego lhe leva à conclusão que esta pessoa não teve compaixão (piedade), ou seja, não se preocupou com o sofrimento que poderia lhe causar.

Agora, analise comigo: piedade do que, do seu prazer? Aquele que você afirma que o contraria não teve dó do seu prazer, mas não de você mesmo. Ele agiu contrariamente aos seus interesses ilusórios criados pelo ego através das suas verdades, mas não contra você, o espírito universal.

Quando o mestre ensina que o ser unido com Deus não reconhece ninguém que tenha prazer ou dor, é porque está unido com o ‘eu celeste’ que existe dentro do ser humano e não ligado às paixões humanas que este nutre. Está afirmando que aquele que alcança a elevação espiritual não reconhece verdade nenhuma que precise ser acatada nos mayas dos outros. Por isto não se preocupa em satisfazê-las.

Aquele que vivencia a sua realidade universal não se sente obrigado a atender o desejo humano do outro, mas esforça-se para servi-lo amando-o de uma forma universal.

Este amor universal está longe de buscar satisfazer as vontades humanas do ser, mas ama, como Cristo ensinou, como o Pai ama a seus filhos. O objetivo do amor divino é sempre proporcionar oportunidades para que o ser se eleve espiritualmente, ou seja, que abandone o seu individualismo e vivencie o universalismo. Este também é o sentido do amor daquele que conseguiu viver na sua essência celeste.

Sempre que participa de uma ação (acontecimento), aquele que se libertou dos condicionamentos da felicidade, vive este amor sublime, sem se importar se nas atitudes que pratica se reflete uma compaixão pelas paixões humanas do próximo. Ele sabe que Deus o dirige e o utiliza como instrumento para proporcionar ao próximo uma oportunidade de libertar-se de suas verdades e por isto não sofre se por acaso suas atitudes forem contrárias a elas.

Você pode ir contra o desejo do próximo com amor. Quando age sem julgar ou criticar a si ou ao próximo e quando não se vangloria do que praticou, ou seja, quando participa dos acontecimentos com outra intencionalidade que não servir a Deus, você, apesar de ter agido contrário às paixões do próximo, o fez com amor universal. Quando, no entanto, a sua intenção for atacar as verdades do próximo, ou seja, agir com a intenção de provar que está certo, agiu sem amor.

NOTA - Agir sacrificando a sua intencionalidade individual a Deus é um ensinamento de Krishna a Arjuna no Bhagavad Gita.

O ser que age sem intenções não objetiva nada: “eu fiz isto, mas não sei porque fiz”. Esta é a diferença entre aquele que causa com amor o que o outro não gostou e aquele que faz para atender a seus desejos: o objetivo com que se vive, a declaração expressa de saber o que está acontecendo e o porquê das coisas.

O que separa as duas formas de viver (com ou sem intencionalidade) é uma linha muito tênue que o ego explorará para que você se critique e sofra, dando a ele o alimento que precisa: sua dor ou seu prazer. No entanto, nem com isto você deve se preocupar.

A intenção não é colocada no momento que se pratica o ato porque neste você age instintivamente (faz o que Deus comanda), mas sim depois. Quando acontece o raciocínio sobre o que está acontecendo, durante ou depois do fato, é que o ego vai tentar lhe pressionar para colocar uma intenção de glória ou de auto-acusação.

Rejeite as duas opções. Não se acuse de ter sido o instrumento da situação que o próximo não queria vivenciar e nem se glorifique por isto. Aja de forma equânime independente do que está acontecendo e terá realizado o trabalho sem intenções.

Portanto, não se preocupe em tentar compreender se agiu “certo” ou “errado”, com intenção ou sem ela, mas lute contra esta análise declarando expressamente que não sabe afirmar com certeza isto.

 Agora o que você precisa ter é a consciência de que não deve se apegar ás preocupações materiais dos outros, atender aos seus desejos humanos. Mesmo que o que esteja acontecendo com a sua participação sirva de instrumento para ferir as paixões ou desejos do próximo, você não deve preocupar-se em satisfazê-las, mas sim em eliminar a sua intenção.

Você não pode se preocupar se aquele que está recebendo a sua ação está se sentindo “mal” com a situação. Como espírito elevado você não deve se preocupar se a situação está “ofendendo” ao outro ou não, porque senão estará servindo ao ego daquele ser e não a ele mesmo.

Pergunta: Mas preocupar-se com a felicidade do próximo não é amá-lo?

Não. Se você se preocupa em atender os seus requisitos de felicidade não o está amando, mas satisfazendo-o.

O verdadeiro amor ao próximo se exprime quando você age sem intencionalidade, sem fazer qualquer coisa por vontade própria, sem levar vantagem individual alguma. Para isto você não pode “ganhar” o sofrimento ou o prazer, ou seja, não deve se desarmonizar de Deus com o que está acontecendo.

Vivencie o ato unido a Deus, ou seja, vivencie o que está acontecendo sem querer agir materialmente. Se no decorrer do ato aquilo que o próximo não está gostando se alterar é porque se alterou, mas se isto não acontecer, não se perturbe. Não se preocupe em agir de determinada forma, mas em amar, em permanecer ligado a Deus, ou seja, ao que está acontecendo com amor.

Se você se preocupar em mudar o acontecimento para satisfazer o próximo não estará unido a Deus e por isto não pode servir ao próximo, mas estará ligado ao ego do outro que o domina a ponto dele imaginar que é ele mesmo. Você estará servindo a uma verdade individual e o máximo que conseguirá levar àquele é uma satisfação.

Como disse este ensinamento é muito profundo e completamente contrário a tudo aquilo que o ego criou e que você vivencia como serviço ao próximo. Por isto, vamos dar um exemplo buscando na prática a compreensão do ensinamento.

Você tem um cachorro em casa e chega uma visita que não gosta de cachorro. A convivência com este animal perturba aquele ser humanizado. Apesar disso você não deve preocupar-se o tempo inteiro durante a visita em “tirar” o cachorro que cisma em ficar em volta daquele que está na sua casa.

Veja que falei em não se preocupar e não em não tirar o cachorro de perto. Também não falei para atiçar o cachorro para que ele fique perto daquele que não gosta. O que disse foi que você deve viver o que está acontecendo sem se preocupar se aquilo está servindo de constrangimento ao próximo.

Os atos acontecem independente da sua vontade ou de qualquer outro ser universal. São acontecimentos gerados por Deus obedecendo aos carmas que todos os seres possuem. Portanto, se Deus tirou o cachorro, este era o carma daquele ser, mas se o animal voltou, esta era a única realidade que poderia acontecer.

NOTA - Conclusões que compõem o ensinamento Deus Causa Primária de todas as coisas que foi trazido por todos os mestres ao afirmar que apenas a vontade de Deus se realiza e do ensinamento trazido pelo Espírito da Verdade na pergunta 258 de “O Livro dos Espíritos” quando afirma que o livre arbítrio do espírito se consiste na escolha antes da encarnação das provas que vivenciará.

O ser universalizado conhece esta realidade e não vivencia o poder de agir livremente no mundo de Deus que o ego lhe assegura que tem para separá-lo do Pai. Por isto, ele não vive os acontecimentos, mas apenas os assiste. Sua preocupação não está em fazer, mas como reage a eles. Como Krishna ensina: o verdadeiro sábio repousa em Mim e assiste a sua vida.

Portanto, se o cachorro saiu de perto daquele que não gosta do animal é porque Deus o tirou, mesmo que você imagine-se como criador da ação. No entanto, se não saiu, não foi também porque você não o tirou, mas porque o Pai o colocou ali e você nada pode fazer com relação a isto.

Não fique preocupado com o que está acontecendo, pois isto independe da sua vontade, mas sim com o comando do Senhor Supremo do Universo que nunca deixará de proporcionar aos seres humanizados uma oportunidade para se libertarem de suas verdades individualizadas. Preocupe-se em manter a sua equanimidade, pois a prova também é para você.

Se você ficar preocupado com a perturbação que o cachorro causar ao próximo não conseguirá manter-se equânime, pois estará pendendo para um lado: o desejo de não deixar que o outro se perturbe. Sua aparente caridade, na verdade é uma busca de satisfação individual, pois ela é gerada pelo aprisionamento a um desejo seu oriundo de uma paixão: satisfazer o próximo.

Se você age intencionalmente (quer satisfazer o próximo) não amou no sentido universal, mas no sentido possessivo: amou-o para se satisfazer. Amar universalmente é amar sempre, não importando o que está acontecendo. Para se amar verdadeiramente ninguém pode levar vantagem alguma, nem você nem o próximo.

É isto que Dattatreya nos ensina quando fala que o ser elevado não conhece prazer ou dor ou quem possa ter esta busca. Ele afirma que o ser que consegue a comunhão perfeita com Deus não se liga ao que a humanidade do próximo está criando como verdades, mas está atento em amar incondicionalmente ao espírito para auxiliá-lo a passar por tudo o que precisa passar, mesmo que ele goste, aplique verdades, crie mayas ou não.

Não gostar de cachorro ou de qualquer outra coisa neste mundo é um maya porque é resultado de uma verdade individual. Quando você quer tirar o cachorro porque aquele não gosta, além de também ser um desejo criado por um maya (eu tenho que tirá-lo de cima de quem não gosta) estará servindo ao maya ou a ele?

Da Unidade com Deus que surge com o fim das verdades individuais nasce um mundo onde você está plenamente integrado ao acontecimento. Acabam-se os quereres, a vontade de alterar a realidade, o desejo de se satisfazer ou não.

Quem vive em perfeita harmonia com o seu eu celestial não cria suposições: ‘aconteceu, aconteceu, o que eu posso fazer?’ Ele não se imagina potente para interferir na realidade nem se preocupa imaginando que o que está se passando poderia ou não ser alterado. ‘Estou recebendo a visita e o cachorro vem para perturbá-la, o que eu posso fazer?’

O ser liberto do aprisionamento às suas verdades não se preocupa com os acontecimentos nem se culpa porque o cachorro perturbou a visita. Ele sabe que se esta foi a ação que ocorreu, tinha que ser assim. Agora, se a sua visita se sentiu ofendida com isto é porque ela possui mayas ou ilusões às quais se apega e por isso sofreu.

Pergunta: Vamos supor que esta pessoa que o senhor está falando (a visita) não tenha ainda a compreensão de que tudo é maya, é ilusão. Eu não tenho que ter compaixão por ela e me preocupar em não expô-la ao sofrimento?

Não, a humanização do ser não pode servir como desculpa para você imaginar que pode fazer o que quer, servi-la do modo que acha que deveria ser. Lembre-se que não estou falando em colocar o cachorro em cima, mas de viver o que acontecer com equanimidade.

Você precisa ter compaixão pelo espírito e somente a sua equanimidade ao vivenciar os acontecimentos pode auxiliá-la a libertar-se das suas verdades. Para isto, caso pressinta a sua revolta com a situação, relembrá-la de que todos somos espíritos e que o universo é um só. O cachorro, portanto, faz parte do universo e como Cristo ensinou: devemos amar a todos.

Veja, não é dizer: ‘olha, você merece que o cachorro a perturbe por que tem um carma’. Isto seria querer justificar o que está acontecendo. Para ensiná-la é importante mostrá-la que neste momento não está cumprindo o ensinamento básico da existência: amar.

Mostrando isto ao próximo você terá compaixão com o espírito, pois Cristo nos ensinou que a isto cada espírito deve se entregar com toda força de seu ser. Mas se você quiser proteger as verdades do outro demonstrará compaixão pelas ilusões dela que não a deixa amar indistintamente.

Nós temos que servir ao espírito e não ao ser humano. Temos que servir ao espírito no sentido de auxiliá-lo a amar a todos e a tudo indistintamente e não ao amor individualista, motivado por vontades individuais, que o ser humanizado possui: amo porque, amo para que, amo desde que.

 Para isto é preciso auxiliá-lo a compreender que este amor que ele sente não é universal, mas apenas uma satisfação de desejos individuais, um prazer.

Esta é a motivação de Deus quando cria as situações. Ele está sempre buscando mostrar ao ser humanizado que ele ama intencionalmente e não incondicionalmente. Se você tem um cachorro e Deus traz pessoas que possuem o maya de não gostar deste animal é justamente para isto: para você poder servi-los na sua luta contra o maya.

Não será, portanto, preocupando-se em tirar o cachorro, mas constatando que Deus colocou o animal naquele lugar e o fez agir daquela determinada forma, que poderá auxiliar o outro verdadeiramente. Somente quando você desprender-se aos seus padrões de serviço ao próximo (não deixá-lo passar por situações que não gosta) poderá servir conscientemente de instrumento ao Pai.

Falamos muito nesta explicação sobre um determinado instrumento de Deus, mas o cachorro é apenas um exemplo: tudo que existe materialmente falando é instrumento de Deus para ajudar o espírito a libertar-se de suas verdades.

Aplique o mesmo raciocínio a qualquer coisa do universo porque para tudo que você puder imaginar haverá sempre os que “gostam” e os que “não gostam” dela. Deus, conhecedor destes mayas, sempre coloca em contato aqueles que têm diferença de opinião para que os dois possam ver que aquilo que crêem não é universal, mas apenas uma achar individual.

Coloque no lugar de cachorro uma determinada comida, o fumo, etc. O cachorro é só um exemplo para nós entendermos o que é maya e o que não é.

O ensinamento em si, porém, é muito mais profundo do que se servir ao próximo libertando-o da ação de qualquer instrumento divino que gere contrariedade: eu não conheço alguém que tenha prazer ou dor.

Você não pode se apegar às suas verdades, mas também não pode se subordinar às do próximo se quiser alcançar a comunhão com o celeste. Foi o que o Cristo fez quando expulsou do templo aqueles que comercializavam na casa do Pai.

Ele não se ateve à compaixões humanas (“coitados estavam apenas trabalhando para ganhar o seu dinheiro e agora não tem mais como sustentar suas famílias”) mas preocupou-se com os espíritos que estavam servindo a si mesmo e não a Deus. Ele não estava apegado ao ser humanizado, mas ao espírito.

Não se preocupou com o ato de expulsar gente simples que estava ganhando o seu sustento, mesmo que esta ação tenha envolvido a chibata, o que aparentemente poderia denotar uma agressão. Cristo preocupava-se em agir sentimentalmente e não com as ações que praticava.

Como o mestre afirmava, tinha a convicção que fazia apenas a vontade do Pai. Por isto participou daquela ação sem apegar-se aos atos, mas amando cada espírito irmão que ali estava vivenciando seu mundo de ilusões. Sua preocupação era em ajudar o espírito a alcançar a verdade e, para isso, não se preocupou com as poluições do ser humanizado.

Pergunta: Todos os espíritos sofrem a influência de maya?

Sim, todos. Maya é tudo aquilo que você acredita. Portanto, todos os espíritos sofrem a influência de maya, por que possuem alguma crença individual.

Pergunta: Espíritos desencarnados também sofrem a influência de maya?

Sim, encarnados e desencarnados e em todos os níveis de elevação espiritual. O único que não tem maya é Deus. Ele conhece a Verdade a Realidade do Universo.

Todos os outros espíritos “conhecem” as coisas dentro do seu grau de evolução e por isso ainda tem algumas ilusões. Entretanto, quanto mais vão evoluindo (aproximando-se de Deus) não se prendem mais a estas compreensões como verdades.

Por isto o ensinamento que estamos trazendo não afirma que se deve acabar com o maya. Ele existe no universo inteiro e continuará a existir por toda a eternidade, porque o próprio universo é um maya, ou seja, uma compreensão que se tem sobre a Realidade.

O que precisa ser alcançado é não se aprisionar ao maya, ou seja, não transformar uma ilusão em verdade, uma não realidade em real.

Você está vê uma parede que é uma maya. Isto é impossível de se mudar: você sempre perceberá esta forma e dará a ela o rótulo de “parede”. Agora, apegar-se a este elemento como “parede” trará como obrigação vivenciar aquilo que se acredita que a parede faz.

Os seres humanizados imaginam que a parede seja um limitador de espaço, que não é possível ser transposta, etc. Estes conceitos são criados e rotulados como verdadeiros por causa do apego ao maya.

Como disse, você não poderá deixar de ter mayas, ou seja, de ver “parede” onde há uma “parede”, porque a inteligência tem o raciocínio que forma mayas. No entanto, as verdades inerentes a esta conclusão alteram-se de acordo com o aprisionamento que se tem a elas.

Aquele que reconhece uma “parede” mas não se apega às verdades que surgem deste conceito, consegue viver aquilo que os apegados não conseguem. Um espírito desencarnado pode ultrapassar a parede porque não se apega à verdade que ela é intransponível, mas outro que, mesmo sem matéria densa, ainda esteja apegado a esta verdade não conseguirá fazê-lo.

Todos os dois (apegados ou não) sabem que aquilo é uma parede, mas só um consegue viver toda a Realidade da parede: aquele que se libertou das verdades unificando-se com Deus, a Verdade Absoluta do Universo. Portanto, todos têm mayas, mas o grau de elevação espiritual é denota o não aprisionamento a eles como verdade.

Quanto mais elevado um espírito menos ele se aprisiona aos mayas. Pela inação destas verdades elas vão diminuindo aos poucos, mas não deixam de existir, porque só Deus não possui mayas.

Unidade - Capítulo 1

Despedida de palestra

Reproduzir todos os áudiosDownload
Despedida de palestra

 Despedida do primeiro dia de palestras

Depois deste primeiro dia de conversas, talvez você já tenha compreendido o objetivo deste estudo: a destruição total de tudo aquilo que você acredita hoje.

Para isto falamos muito nos ensinamentos de Krishna (eu sou o atma, eu já sou tudo, já tenho tudo, sou imorredor), mas não pense que nos apegamos a este mestre. Falamos de todos eles, como, aliás, pode ser observado pelas citações.

A destruição dos valores humanos como instrumento da reforma íntima não é primazia apenas do mestre Krishna, pois o apóstolo Paulo nos ensinou: “Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída” – Epístola de Paulo aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – Versículo 54.

A morte que Paulo cita é a própria vida carnal. É a ilusão de estar vivo que você vivencia como real, sendo que está morto para a Realidade. Quando o espírito consegue acabar com as ilusões morrendo para a materialidade e revivendo para o universo, acontece o que Paulo afirma: “a vitória será total - Epístola de Paulo aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – Versículo 54”.

Esta vitória precisa ser alcançada e ela não pode ser de outra forma senão com a completa derrota dos valores materiais que você vive hoje. Isto Cristo nos ensina quando fala que sua santidade se deve pela sua vitória sobre o mundo.

No entanto, Paulo vai mais além: “escutem bem este segredo: nem todos vamos morrer, mas num instante todos nós vamos ser transformados num abrir e fechar de olhos, quando tocar a última trombeta. Ela vai tocar e os mortos ressuscitarão como seres imortais e todos seremos transformados. Porque o corpo mortal precisa se vestir com o que é imortal e o que vai morrer, precisa se vestir com o que não pode morrer” – Epístola de Paulo aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – Versículo 51-53.

A reforma íntima, a destruição dos valores mundanos, não é uma questão de opção: todos terão que fazê-la um dia. Haverá uma hora em que, por mais que você se apegue às suas verdades terá que abrir mão delas e viver em harmonia com o Pai.

Por isto se apresse, porque “a quem tem sede darei água para beber, de graça, da fonte da água da vida. Quem conseguir a vitória receberá isto de Mim: eu serei o seu Deus e ele será o Meu filho. Mas os covardes, os traidores, os viciados, os assassinos, os imorais, os que praticam a feitiçaria, os que adoram ídolos e todos os mentirosos, o lugar deles é o lago de fogo e enxofre, que é a segunda morte” – Apocalipse – Capítulo 21 - Versículo 6-8.

Se a vitória total ocorrerá com o fim das verdades, não queira acreditar nestes ensinamentos, mas os utilize para duvidar de todos os outros que já possui.

Não queira criar verdades em cima do que digo por que ainda continuará “morto”, pois está vestido daquilo que é um dia se extinguirá: tudo aquilo que acredita como real.

Não se aprisione dando o título de verdadeiro ao ensinamento de ninguém, quer seja de um mestre ou de uma religião. Se fizer isso permanecerá na lista dos idólatras, traidores, assassinos e imorais que Cristo ensinou.

O ensinamento da reforma íntima não é primazia de nenhum mestre nem de nenhuma religião, mas apenas de Deus. Todos são e foram instrumentos do Pai para auxiliar os filhos que abandonaram o lar (o universalismo) para mergulharem-se no individualismo e não portadores de verdades próprias.

Portanto, apesar de Dattatreya se basear nos Vedas, ele não se refere apenas aos ensinamentos de Krishna, mas ensina sobre o conjunto daquilo que ensinaram todos os mestres.

Outra característica do ensinamento deste mestre é a ausência de definições relativas. Ele apenas cita o absoluto sem explicar o porquê aquilo é verdade. Age deste modo para que ao transmitir o ensinamento não se crie um novo maya, uma nova ilusão.

Dattatreya sabe que se ousasse explicar o inexplicável (o absoluto que somos) estaria servindo de instrumento para a geração de novos mayas, ou seja, de novas compreensões que deturpariam o ensinamento. Isto não garantiria a vitória total a seus seguidores.

Aqui tivemos que fazê-lo. Por estarmos operando junto a espíritos que vivenciam a razão humana mais do que a espiritual como são os ocidentais, nós tivemos que ‘explicar’ os ensinamentos do mestre. No entanto, estamos tomando a precaução de declarar sempre: não queiram compreender e se fizerem isto não se apeguem a compreensão como verdade.

Sabemos que aqueles que, ao longo da caminhada universal, receberam o ensinamento sobre o maya através da criação de novas ilusões, ou seja, de um raciocínio lógico material, não venceram nada. Simplesmente mudaram de criações fantasmagóricas como Krishna chama o maya. No entanto, isto foi preciso neste momento.

Apesar de nossa forma de agir (explicando os ensinamentos) o objetivo deste estudo não é gerar ou criar verdades novas. O objetivo não é construir nada, mas derrubar, tijolo por tijolo, o prédio das suas verdades que você construiu ao longo desta existência carnal.

Quem quiser compreender racionalmente o que eu digo, jamais conseguirá compreender o que eu digo. Vai criar um maya, uma compreensão que é só sua. Portanto não transforme o que eu falo em verdade, mas use o que eu ensino para matar toda verdade que você tem.

Guardada as devidas proporções eu poderia dizer que “não vim trazer a paz, mas a espada”. Não vim construir um mundo novo, mas destruir o seu mundo velho.

Esta é a minha missão; este é o meu trabalho; este é o trabalho do exército de Maria, o exército da Regeneração, porque o nosso inimigo é você, o ser humanizado, o espírito que vive o maya com a ilusão de que ele é verdade.

Que vocês fiquem na paz de Deus, sem querer saber que paz é esta, quem é Deus ou como é viver nela, pois senão estarão apenas nos seus mayas.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 8

 8. Para mim não há ato da mente que seja bom ou mau, ato do corpo, bom ou mau, ato de fala, bom ou mau. Eu sou o conhecimento, imortal e sempre puro além do alcance dos sentidos.

Toda qualificação que se dá às coisas do mundo surge de um raciocínio. Todos os valores que se aplica às coisas foram frutos de análises que o ego faz, ou seja, são conclusões que a personalidade transitória do ser chega depois de ‘raciocinar’ sobre elas. Mas o que será raciocinar?

As coisas do mundo chegam ao ego através das percepções. As coisas existem para o ser humanizado porque são percebidas por algum dos seus órgãos do sentido (visão, audição, olfato, paladar e sensibilidade do corpo físico) e o ego cria realidades a partir destas percepções. Se isto não ocorresse, as coisas não existiriam. Ou seja, se o ser humanizado não recebesse do ego as formas e as compreensões do que penetra pela visão, por exemplo, não existiriam as cores; se não tivesse capacidade de ouvir, não existiria o som.

No entanto, sempre que uma percepção alcança o ego, ela perde a sua originalidade, pois o criador de realidades executa um processo que chamamos de raciocínio.

Podemos definir raciocínio como um processo de análise das percepções onde o ego chega a uma conclusão que determina valores às coisas. Quando Dattatreya afirma que o ser elevado não reconhece acontecimentos ‘bons’ ou ‘maus’ quer dizer que, apesar de receber o raciocínio das percepções, não aceita os valores que são aplicados através dês processo pelo ego.

Todo o seu conhecimento (aquilo que sabe, que conclui) é sempre puro e está além destes valores que são atribuídos pelo raciocínio das percepções executados pelo ego. Vamos, para compreender este ensinamento, começar entendendo como se processa o raciocínio.

Sempre que um conjunto de percepções alcança o ego, o processo raciocínio inicia-se, ou seja, a busca de gerar uma compreensão do que está acontecendo ocorre.

Para isso o ego forma uma “imagem” do conjunto de percepções, ou seja, ele soma o fruto da audição, da visão, do olfato, do paladar e das sensibilidades do corpo. A partir daí o ego irá analisar esta “imagem” que criou com a finalidade de determinar um valor para ela.

Até aqui estamos falando apenas em determinar conhecimento de formas e não de valores. O ego ainda está reconhecendo o que está a sua frente. O resultado deste reconhecimento dará ao consciente do ser humanizado uma verdade: é isto que está sendo percebido agora.

Acontece que, junto com a programação do ego que reconheceu a forma, está também programada uma determinada ‘sensação’ que o ego determinará ao espírito para sentir. Se, por exemplo, a programação diz que o ego deve levar à consciência do espírito que ele deve sentir-se magoado ou ferido frente aquela forma, a sensação virá ao consciente do ser humanizado.

Até aqui a análise (julgamento) para determinar um valor (sentença) à percepção atual ainda não aconteceu. Como nos julgamentos da justiça terrestre, podemos dizer que o processo está sendo instruído com provas e antecedentes do réu. A parte final do processo será determinada pela sentença decisória. Esta é dada pelo ser humanizado ratificando ou não as peças dos autos.

Todo este processo é presidido por Deus através do ego, ou seja, das verdades que o ser humanizado possui dentro de sua consciência material. O espírito não pode alterar este conteúdo porque ele faz parte da sua provação terrena.

O processo de análise ou julgamento inicia-se realmente quando o espírito, recebendo estas informações do ego escolhe um sentimento para reagir agora àquela determinada forma. Esta escolha se transforma, então, em uma sentença.

Vou dar um exemplo. Frente à percepção de uma determinada forma (uma pessoa específica) o ego pode construir a ‘imagem’ deste outro ser encarnado e lançar à consciência do espírito a sensação de raiva, precaução, etc. Esta é a fase de instrução de um processo, ou seja, quando a acusação faz a sua parte.

Mas isso não quer dizer que o ser humanizado precise vibrar dentro do padrão sentimental proposto pelo ego. Mesmo que o criador de realidades torne consciente uma sensação de “não gostar”, por exemplo, o ser encarnado é livre para ‘sentir’ diferente disto. Utilizando-se do livre arbítrio que Deus lhe deu (amar ou não as coisas), o espírito pode optar por apegar-se à sensação que o ego lhe transmitiu ou ‘sentir as coisas’ de outro modo.

Não é porque o ego lhe diz que você não deve gostar de mim, por exemplo, que você precisa se apegar a isso e vibrar dentro desse padrão sentimental. Você é livre para amar-me equanimente ou deixar-se levar por sensações ditadas pelo ego que são presas à euforia do prazer ou à depressão da dor.

Para isto influencia muito o seu ‘estado de espírito’ no momento, ou seja, o seu padrão vibracional atual. Se você busca sempre permanecer inabalável frente aos acontecimentos do mundo, mesmo que o ego insista em lhe dizer que a forma que está sendo percebida pode feri-lo, você não se deixará levar por esta insinuação fantasmagórica.

Por isto Cristo ensina: orai e vigiai. Viver em oração, ou seja, sempre dentro do padrão vibracional superior (amor universal) e vigiar aquilo que o ego lhe afirma que é real para que você não se deixe aprisionar por este elemento irreal.

Aquele que se harmoniza com Deus não se deixa levar pelo ego e, por isso, consegue viver a realidade atual sem se prender aos conceitos instados pelo criador de realidades. Por isto disse no versículo passado que o ego sempre existirá (o reconhecimento das coisas percebidas), mas que aqueles que se aproximam de Deus libertam-se da sua prisão (das conclusões sentimentais que ele impõe).

Por isto Dattatreya diz que para ele nada no mundo pode ser julgado pelo binômio ‘bom’ ou ‘mal’. Ele sabe que estas conclusões são geradas pelo ego para que o espírito, prendendo-se a elas, viva entre a exultação do prazer (quando acontece o que acha bom) e a depressão da dor (quando não acontece o que quer).

Assim, o mestre ensina que aquele que alcança a Unidade com Deus vivencia tudo livre deste binômio. Isto, no entanto, não quer dizer que o ego irá “parar de funcionar”, ou seja, de tentar induzi-lo a viver dentro do prazer ou da dor, mas que este ser não mais se une ao ego, mas sim ao Pai.

 Ele não vive mais a realidade criada pelo ego, mas sim a Verdade que emana de Deus. Para que isto seja realidade vive sem querer compreender o que está acontecendo (se é ‘bom’ ou ‘mal’). Por isto Dattatreya afirma que o conhecimento do ser universalizado é imortal e puro, além do alcance dos sentidos.

Quando o ser se unifica com Deus apenas o Pai é Verdade. Nada mais existe para ele, pois em tudo vê a emanação divina.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 9

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 9. A mente é livre e sem limites como o espaço, é onipresente, a mente é tudo e no entanto. a mente não é a verdade mais elevada. O Atma se acha além da mente.

Ao longo da existência a humanidade aprendeu a valorizar a mente, ou seja, o centro de “criação” do homem. Hoje cada vez mais ela ganha importância para a humanidade.

O ‘poder da mente’, ou seja, a capacidade de conhecer e reconhecer as coisas do mundo sempre foi extremamente valorizado pela humanidade, mas nos dias de hoje ele ganha um valor muito mais alto, pois cada vez mais o homem se entrega na busca desenfreada de criar e adquirir novos conhecimentos.

A tal ponto isso acontece que hoje o homem passa a valer por aquilo que sabe. A cultura é hiper valorizada transformando a vida do ser humanizado numa busca desenfreada pelo conhecimento. No entanto, apesar deste aparente poder que o ser humanizado atribui a mente (conhecimento), Dattatreya nos diz: que ela não é nada, se comprada ao atma, ao espiritual. Precisamos, então, entender esta afirmação.

Eu diria que a humanidade precisa parar de valorizar a cultura material. O ser humanizado super valoriza a obtenção de cultura, mas tudo que surge desta atividade é maya, é ilusão. Todo conhecimento humano é fruto de pensamento, por isso não é Real.

NOTA - Tudo que surge do contato de um elemento pensante com um pensado é um maya. Ensinamento de Krishna.

Esses mayas são idolatrados pela humanidade porque eles criam um falso poder ilusório e uma fama que não permite a Unidade com Deus. O sábio material, ou seja, aquele que conhece muito sobre a vida material é bajulado e acredita-se super poderoso. No entanto, Cristo ensina: louvado seja Deus que mostra aos simples o que esconde dos sábios.

A verdadeira sabedoria está na simplicidade e não no excesso de cultura. Para ser simples (o verdadeiro sábio) o ser humanizado precisa acabar com o dualismo, com os mayas, com as ilusões, ou seja, eliminar o fruto do contato do pensante (ele mesmo) com o pensado: o seu saber.

Para se alcançar a verdadeira sabedoria, o que precisa ser valorizado não é a mente, não é o raciocínio, não é a capacidade de discernir, não é a cultura, mas o atma, o espiritual.

O espiritual não é a cultura (conhecimento) das coisas do espírito, mas, como todos os mestres nos ensinaram, é o sentimental. O verdadeiro sábio possui a sabedoria de sentir e não o conhecimento expresso em idéias e verdades. O verdadeiro sábio sabe amar e de nada mais sabe.

O homem deixou de amar porque quer ser culto e quanto mais cultura adquire menos ama. Quanto mais conhecimento (cultura racional) adquire, menos cultura sentimental tem.

É isto que o mestre está nos ensinando. O ser humanizado precisa voltar a ser simples: amar incondicionalmente o tempo inteiro. No entanto, para alcançar este estágio não pode haver a razão, ou seja, os conceitos dualistas que condicionam o amar.

O dual (‘bom’ ou ‘mal’, ‘certo’ ou ‘errado’, ‘bonito’ ou ‘feio’) é o fruto da lógica, do raciocínio, da compreensão que se tem a partir do excesso de conhecimentos. Quanto mais o ser humanizado ‘compreende’ as coisas do mundo, menos ele ama incondicionalmente.

Quando o ser utiliza a mente (cultura racional) ao invés do atma (cultura espiritual) impõe através do raciocínio e do discernimento condições para amar. “Hoje não posso amar porque estou com dor”; “aquele não posso amar porque é um ladrão”; “aquele outro não posso amar porque é feio”.

Todos os mestres nos ensinaram que devemos amar a tudo e a todos indistintamente. Cristo conviveu com as prostitutas e os ‘cobradores de impostos’ (gente considera ‘ruim’ na época) e foi ao ladrão que ele garantiu a entrada no reino do céu quando não o fez aos seus próprios apóstolos.

Se Cristo raciocinasse sobre as pessoas a quem amou como fazem os seres humanizados hoje, não teria amado. Aos cobradores de impostos diria que era impossível por que eram servidores do poder estrangeiro, às prostitutas porque sua profissão era indigna de Deus e ao ladrão, garantiria que receberia como recompensa por seus atos o fogo do inferno, como age os cristãos de hoje.

No entanto, todo esse processo de ‘ver o mundo’ surge do raciocínio, do conhecimento, da lógica racional. Esta lógica acaba com a máxima do amor incondicional porque divide o ‘tudo’ em partes: o que devo amar e o que não devo.

 Este é o ensinamento do mestre: abandonar a razão apesar dela aparentemente ser potente para o ser humanizado para poder se entregar ao sentimento, ao sentimental. Somente quando o ser humanizado for sentimento puro, sem lógica ou razão para amar, poderá aproximar-se de Deus.

 Criar uma aura amorosa amando sempre é servir-se de um escudo protetor que impede o acesso de qualquer negativismo. Por mais que o homem queira defender-se através dos seus conhecimentos sempre estará sujeito a infelicidades.

A cultura jamais conseguiu trazer a felicidade plena, mas o amar sim. Por isso eu garanto: amar é uma arma de defesa muito mais potente que qualquer poder mental.

Este entendimento e a sua prática é fundamental para qualquer espírito que pretenda evoluir espiritualmente: deixar de idolatrar a mente (raciocínio, discernimento, cultura) e passar a idolatrar o sentimento, o amor, que em suma é o próprio Deus: Deus é o Amor.

Para promover a elevação espiritual você não precisa de nenhum conhecimento técnico científico sobre o mundo espiritual, mas apenas aprender a amar incondicionalmente. Não precisa nem mesmo reconhecer a existência do espírito depois da vida, ser reencarnacionista ou conhecer ‘de cor e salteado’ os textos bíblicos.

Aliás, estes conhecimentos muitas vezes atrapalham. Veja, se você acredita piamente na reencarnação e está frente a outro que não, irá deixá-lo de amar. O criticará, dirá que é atrasado espiritualmente, só porque ele não acredita naquilo que você acha certo. O que você acaba de fazer é não ver a trave do seu olho e concentrar-se apenas no cisco do olho do próximo.

Sem este conhecimento talvez você pudesse amar o seu irmão. Sem ter que defender o seu ponto de vista, o seu conhecimento, poderia amá-lo incondicionalmente sem criticá-lo. Aí você estaria cumprindo aquilo que é necessário para a sua evolução espiritual.

Mas, enquanto tiver que defender suas idéias, necessariamente atacará as do próximo. Com isto, deixou de amar a todos e a tudo indistintamente.

A cultura não leva a Deus, portanto, mas apenas o amor e ele não existirá enquanto houveres idéias, certezas e verdades dentro de cada um.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 10

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 10. Eu sou este Um onipresente, ilimitado pelo espaço: como posso ver o Atma (Eu) manifesto ou imanifesto?

Você é Um com Deus. Como pode, então, sendo já espiritual, uno, criar dualidades e viver o dual? Este tem sido o tema constante de todo nosso estudo e estamos conversando sobre este aspecto ao longo de todo trabalho.

Agora, continuando nossa conversa que é presidida por Dattatreya através dos seus ensinamentos, entres os dualismos, o mestre nos fala da manifestação espiritual. Vamos abordar este assunto.

O que é para o ser humanizado uma manifestação do espiritual? A palavra manifestar nos leva a entender que para o ser humanizado a manifestação espiritual acontece quando ele, através dos sentidos do corpo, percebe algo espiritual, não material. Enquanto esta percepção não existir, o espiritual estará, então, não manifesto.

Ocorre, porém, que como já vimos, todas as percepções são analisados pelo ego que determina um valor para aquilo que é percebido. Portanto, manifestação espiritual seria o conhecimento do espiritual pela lógica utilizada pelo ego.

Portanto, hoje, a ‘manifestação espiritual’ para os seres humanizados ocorre quando se ‘compreende’ o que está acontecendo e a não manifestação quando o ego não pode criar realidades para as coisas espirituais.

Este procedimento, no entanto, é, mesmo pelos padrões terrenos ilógico. Como pode os seres humanizados, que apenas percebem o reflexo das coisas espirituais, quererem definir aquilo que não conhece? Como Salomão também já nos ensinou neste trabalho, ninguém pode fazer contas quando faltam os números – Eclesiastes – Capítulo 1 – Versículo 15.

 Aquele que consegue alcançar a evolução espiritual não manifesta ou mundo espiritual, ou seja, não busca compreender as coisas espirituais através do conhecimento humano. Ele não tenta entender as coisas do Universo comparando-as com as terrestres porque sabe que estas são apenas reflexos daquelas e não vice-versa. Mas, também não busca entender as coisas espirituais pela própria realidade delas, porque sabe que lhe faltam conhecimentos para tanto.

Vamos dar um exemplo. Em “O Livro dos Espíritos” existe a seguinte pergunta (27 a): “Esse fluido será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais fluído elétrico, fluído magnético, são modificações do fluído universal, que não é propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente”.

O Espírito da Verdade estava falando do fluído cósmico universal, do elemento básico do universo. Kardec, para querer entender materialmente (manifestar) este elemento universal o comparou à eletricidade, que era, à época, a maior descoberta no campo energético. O Espírito da Verdade, então, mostra que o fluído elétrico é uma miragem, um reflexo do fluído universal.

Apesar deste ensinamento, até hoje existem seres humanizados que querem dizer o que é a energia universal. Em seus raciocínios iludidos criam formas para estas energias e lutam entre si para dizer que a forma que ele vê e conhece é a certa e não a do próximo. Este é o mundo espiritual dualista que não deixa o ser alcançar a Unidade.

“Existe um fluído cósmico universal? Deve existir, não sei. Como ele é? Não faço a mínima idéia”. Esta é a forma de ‘viver’ daquele que consegue a Unidade com Deus, com o Atma, com o Universo.

Este ser já é Um, mesmo que não saiba definir materialmente a que está unido. Ele vive a Unidade mesmo sem entender com que: não está em busca de se unir a nada.

Neste ensinamento está contido um ponto importante da elevação espiritual que estamos conversando há muito tempo. O espírito que encarna no mundo de provas e expiações é simples e pronto, ou seja, ele é puro e possui todo conhecimento.

Deus não poderia criar ninguém ‘capenga’, ‘idiota’. Você já é tudo o que poderia ser e já tem dentro de você tudo o que pode conhecer. Não consegue acessar a estas informações porque está preso nas ilusões, no maya, no conhecimento material.

Isto ocorre porque você não se assume como espírito que é e vive a ilusão, o maya, de ser um ser humano. Você não assume que é simplesmente uma gota d’água no oceano, mas quer ser o próprio oceano.

Na hora que você compreender isto, ao invés de lutar para ser alguma coisa (compreender o mundo), lutará para deixar de ser o que imagina ser. Neste momento vai encontrar tudo o que precisa dentro de você mesmo.

Este lutar para ser o que você já é que eu falo trata-se do fim da compreensão de qualquer coisa seja ela material ou espiritual. É você se entregar ao universo sem determinar valores para ele. Para isto é preciso jogar fora tudo que sabe para surgir de aquilo que você já é.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 11

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 11. Por que não refletes que tu és Um sozinho, o mesmo em tudo, indestrutível e imorredouro? Tu és sempre exaltado e indivisível. Por que, então, te lamentas dia e noite?

Por que você não reflete, ou seja, porque você não desenvolve pensamentos que concluam que já é tudo que pode existir? Por que, ao invés de raciocinar buscando descobrir as ‘verdades’ do mundo material, não vive meditando sobre a Realidade espiritual?

Você leva a vida inteira meditando (analisando os acontecimentos) com a intenção de descobrir as coisas ‘erradas’, atento para perceber o que não gosta no que está ocorrendo, sempre atento para descobrir quem não fez o que você quer. Por que viver a vida está deste jeito?

Eu diria que faz isso para poder parecer importante, sábio. O ser humanizado vive atento em lutar contra o mundo para defender suas próprias verdades porque desta forma é considerado ‘esperto’, ‘conhecedor das coisas’. Engano, ilusão que o ego cria para lhe desviar da busca espiritual.

O que ele quer quando lhe dá os raciocínios que fiscalizam o mundo e mostram as ofensas às suas verdades individuais é criar a situação para que você se lamente. “Como ser feliz se aquilo está daquele jeito”, “como ser feliz se aquela pessoa não me respeita fazendo o que eu quero”?

Você, como ser humanizado que é, aprisionado ao seu maya, ‘raciocina’ para criar situações fantasmagóricas onde possa lamentar-se. Por isso fica buscando motivos para se lamentar.

A constatação do ‘erro’ nas coisas nada tem de sábio. Aliás Krishna falou assim para Arjuna que se lamentava por ter que participar de uma batalha onde enfrentaria em um duelo de morte seus parentes: “estiveste lamentando-te por aqueles que não o merecem. Todavia, pareces falar como um sábio. Só que os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos” – Bhagavad Gita – Capítulo II – Versículo 11.

Mas, como parar de lamentar-se quando o mundo está do jeito que está? Como deixar de sofrer se as coisas estão do jeito que estão?

Para você dar este vaticínio às coisas do mundo teve que fazer uma reflexão, uma análise da situação, através do raciocínio. Você precisou agir meditando sobre a vida para criar as condições para lamentar.

Para acabar com o lamento você não precisa mudar nada, ou seja, pode continuar agindo meditando, mas alterar o prisma da sua compreensão. É a mesma coisa que você hoje faz para descobrir as coisas erradas do mundo, descobrir motivos para sofrer, mas ‘vendo’ as coisas diferentemente.

Utilize esta força (raciocínio) que você já possui não para conseguir motivos para sofrer, mas para ser feliz. Liberte-se do ego que lhe força a ver as coisas ‘ruins’ do mundo e medite no sentido de penetrar neste Um que você já é. Utilize o seu poder inteligência que Deus lhe deu para vencer totalmente a lógica, a razão, as verdades que o ego manda.

Eu tenho falado isto com muitas pessoas e em muitos lugares. Quando elas compreendem a lógica do ensinamento e antevêem aquilo que surgirá da reforma íntima, a primeira coisa que me dizem é: isto é impossível de ser feito.

Não é. É impossível para aquele que não quer deixar de analisar a vida para criar situações onde possa sofrer, para aquele que quer se lamentar. Para estes é impossível.

Agora não é impossível para aqueles que querem utilizar o poder que possuem, esta força que todos têm, para gerar motivos para ser feliz. Realizar a elevação espiritual não se trata de uma questão de se poder ou não fazer, mas de se querer fazer.

Para que você possa realizar tudo aquilo que estamos conversando a única necessidade é querer realmente. Se você buscar com fé (confiança e certeza de que conseguirá), Deus dará o desejo de fazer. Incitar-lhe-á na luta contra o ego.

Mas, para isto você precisa compreender que a felicidade ou o sofrimento não está no que vive, no que faz ou no que os outros fazem, mas na forma como vivencia as situações, nos valores que aplica às coisas. Ser feliz é uma questão de opção. Se você optar por ser feliz não importando o que está acontecendo, será feliz.

É preciso compreender também que se você não fizer esta opção jamais será feliz. Vivenciará as subidas e descidas das vicissitudes de sua vida dentro das características delas: na euforia do prazer ou na depressão da dor.

A cada segundo da sua vida você tem a opção de ser feliz ou não. É você que vai decidir como vivenciará o acontecimento. Este poder de alterar a forma da vivência das situações você tem, mas não o poder de alterar os acontecimentos para que eles lhe satisfação.

Portanto, decida-se sempre pela felicidade. Agora, saiba que esta decisão nem sempre lhe trará fama, elogios, glória material. Muitas vezes a humanidade lhe criticará por estar feliz onde deveria estar sofrendo. Quando for feliz mesmo aparentemente perdendo os demais seres humanos dirão que você é bobo.

Mas, saiba que Krishna ensinou assim: o verdadeiro yogue, liberto das coisas do mundo, transita entre elas com cara de bobo – Bhagavata Puranas. Até Cristo defendeu os ‘idiotas’: “e quem chamar o seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno” – Evangelho de Mateus – Capítulo 5 – Versículo 22.

Você pode ser feliz, mas o problema é que não quer optar por isto. No fundo deseja realmente é criar as situações para lamentar-se. Demonstrando todo seu sofrimento se coloca na posição de coitadinho e com isto atrai seguidores e receberá, então, falsos carinhos.

Este falso carinho (o elogio, a pena, a dó) é o que você recebe quando deveria estar recebendo o amor de Deus. Quando dedica sua vida para meditar e criar situações para que possa sofrer, abre mão de sentir o amor de Deus.

Eu acho que esta troca não vale a pena, vale? Um carinho recebido através de uma mão que hoje lhe afaga, mas que amanhã certamente lhe esbofeteará, pelo amor de Deus? Eu não gostaria de fazer esta troca.

Claro que se sentir amado pelo Pai satisfaz muito mais do que as falsas demonstrações de carinho que recebe quando sofre. Mas, vivenciar isto ou aquilo depende unicamente do direcionamento que você dá ao seu esforço de viver, é fruto do seu livre arbítrio e ninguém jamais poderá criticá-lo se decidir viver assim.

Portanto, se você quer sofrer, sofra, mas se quiser mudar-se saiba que isto só depende de você e que Deus não aceitará nenhuma desculpa pela sua demonstração de incapacidade de ser feliz.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 12

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 12. Conhece o Atma para sempre como o Um absoluto, onipresente. Eu próprio sou o contemplador e o mais elevado contemplado. Como pode o indivisível ser dividido?

Vamos entrar em um assunto que a humanidade não gosta de abordar: a idolatria. Os seres humanizados preferem idolatrar o atma para dizer que estão procurando a Deus do que trabalharem para derrotarem suas concepções (reforma íntima) e assim alcançarem à elevação espiritual.

Conhece o atma como o Um absoluto, nunca divisível. Ao invés de buscar o absolutismo no espiritual o ser humanizado prefere criar escalas evolutivas para poder justificar o seu modo de ser.

Quando, durante o estudo de “O Livro dos Espíritos” me recusei a estudar a escala de evolução espiritual que está lá, alguns comentaram que não deveria ter agido assim. Mas, pergunto, como é que eu vou dividir os habitantes do mundo espiritual quando eles são unos?

Mesmo que você não viva com esta realidade, não existem espíritos diferenciados entre si. Não existem espíritos mais ou menos evoluídos. A realidade é que existe apenas um grupo universal de espíritos que na Unidade com Deus formam o Universo.

Quando você quer dividir a plêiade espiritual em escalas que contemple quem sabe mais ou menos, é mais bonito ou feio, elegante ou deselegante, poderoso ou fraco, divide o próprio Universo que é indivisível. Isto é o que todos os mestres nos ensinaram.

A partir daí Dattatreya afirma: se todos somos um, como eu posso contemplar se eu próprio sou o mais alto contemplado? Como alguém pode adorar, idolatrar espíritos por sua suposta ascensão, se ele é, em essência, um espírito igual aos outros, o melhor do universo?

Não estamos abordando a idolatria a seres materiais (pai, mãe, filhos, cônjuge) como até agora fizemos neste estudo. A própria palavra ‘contemplar’ nos remete para aqueles seres além da matéria que são idolatrados: os chamados deuses, santos, guias, mentores ou devas.

Por que glorificar, por exemplo, Santo Antônio, São Francisco, se ele é um espírito igual a você, que é o mais elevado contemplado? Por que idolatrar os deuses hindus ou da umbanda, criando para eles figuras possantes, seres de ações fenomenais, com super poderes, se você é o todo?

Para se elevar espiritualmente é preciso alcançar a igualdade plena com todos, a Unidade com todo o atma, inclusive com o próprio Senhor do Universo: Deus.

O Pai não quer idolatria vã. Aliás, quando os professores da lei cobraram de Cristo que seus apóstolos se alimentavam no dia sagrado do Sabbath ele afirmou: vocês não sabem o que quer dizer as Escrituras Sagradas quando afirmam que Eu quero que sejam bondosos e não que queimem incensos em Minha homenagem.

Deus não quer que você o ame acima de todas as coisas, como ensinou Cristo. O mestre nazareno deixou este ensinamento sim, mas ele em si não é a realização da elevação espiritual, mas um caminho. Quem fica apenas contemplando Deus nada realiza. Somente aquele que compreende o desejo de Deus, submete-se a Ele e vive dentro da Unidade consegue a realização.

 Amar a Deus sobre todas as coisas é um caminho para que você compreenda a verdade máxima do universo: só Deus é Real. A partir do momento que você compreende esta realidade, a primeira providência é sair da inércia (idolatria vã) e caminhar para a Unidade, para uma relação amorosa de igual para igual com todos, inclusive aqueles que são considerados sagrados. Para isto, é preciso que se liberte de suas verdades e vivencie a Realidade do Universo.

O Senhor do Universo não é um ditador, não é um rei, um soberano: Ele é um espírito. Se Deus exigisse este amor idólatra para lhe amar, isto não representaria uma soberba? A imposição do amor para receber alguma coisa em troca seria uma barganha e não uma Justiça; seria uma relação ditatorial e não Amorosa.

Quanto mais que esta exigência é feita ao próprio filho. Você é gerado por Deus e por herança genética é igual a Ele, tem tudo que o Ele tem. Exigir a submissão total de um igual é um ato de despotismo.

Na hora que você entrar na comunhão universal com Deus, na relação ombro a ombro com os demais seres universais ao invés de querer ser maior ou se sentir menor que qualquer um deles, terá alcançado a sua evolução espiritual, terá compreendido o mundo.

O processo de reforma íntima passa pelo fim da prisão às ilusões do ego que lhe levam a idolatrar Cristo, Krishna, Buda ou qualquer outro espírito como superior dou deus. Estes mayas têm a intenção de iludi-lo afirmando que está trabalhando para purificar-se, enquanto continua vivendo sob o jugo do ego.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 13

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 13. Tu não és nascido nem morto, tampouco tens qualquer corpo. Tudo isto é Brahman. Assim declaram os Vedas para sempre.

Que você não é o corpo que imagina ser, acredito que isto já seja uma realidade, mas agora Dattatreya destrói mais elementos do mundo material: a matéria e os acontecimentos. Tudo é Deus, tudo é emanação de Deus, nada existe isoladamente do Pai.

Tudo que você acredita que existe como algo individual é emanação de Deus. É miragem, reflexo de Deus e não as coisas em si.

Não existem os corpos físicos ou espirituais como você os conhece: forma, elementos, propriedades. Eles não são elementos reais, mas emanações divinas. Não existem os acontecimentos como os vê (ação, movimento, motivação), mas apenas o reflexo de Deus que se projeta e você afirma estar ‘vendo’ acontecer alguma coisa.

Toda matéria é uma emanação de Deus. Se a matéria fosse um ‘elemento’, mesmo que criado por Deus, tornar-se-ia independente do Senhor do Universo após a criação. Ela é uma emanação de Deus, ou seja, um reflexo de Deus, algo que é o próprio Senhor do Universo.

Todos os acontecimentos não existem. Eles não podem ser compreendidos pela suas ações, movimentações e nem possuem motivação alguma que não seja a Vontade de Deus. Tudo que acontece é reflexo de Deus, é o próprio Senhor.

Nada na cena do nascimento é real. Toda aquela encenação da massa fetal saindo do corpo da mãe é uma emanação de Deus. Não há massa, mãe ou feto, não há o hospital, os médicos ou os instrumentos cirúrgicos.

Não existe também o ato de ‘nascer’, pois você não poderia nascer porque é um espírito, gerado por Deus na eternidade do Universo. Por que, então, valoriza esta cena atendo-se apenas às matérias e ao ato em si?

Quando a mulher humanizada engravida, o casal pensa em tudo que é material. Prepara enxoval, procura o melhor hospital e médico possível, lembra-se de contratar pessoas para filmar ou fotografar o parto, mas não se lembra da ação divina, a não ser que ocorram complicações.

 Não existe a morte: nem a cena (incluindo o enterro), nem a doença e nem as coisas materiais. Tudo que acontece é emanação de Deus. Se assim é, porque você sofre durante todo o processo?

Por que não vê Deus em tudo? Porque não está uno com o Pai e por isso não entende que nada está ocorrendo. Seu lamento e sofrimento durante o processo morte advêm das suas verdades que formam os elementos materiais e valorizam um acontecimento dando a ele determinado significado, quando apenas existe o amor emanado por Deus.

Até o seu sofrimento é falso. Você acredita que está sofrendo pelo morto, mas ninguém chora pelo morto, mas por si mesmo. Chora pela saudade que terá, pela ausência que sentirá, por aquilo que não mais vai poder fazer com aquela pessoa. Como sua satisfação exige a presença daquela pessoa sofre antecipadamente pela ausência da pessoa.

Tudo é Deus e Deus é tudo. Na hora que isto for compreendido você não mais viverá os acontecimentos ou os elementos materiais, mas apenas Deus: Seu amor, Sua Glória.

No entanto, enquanto houver outro valor na sua vida que não o amor, a tudo e a todos, não conseguirá se elevar, não conseguirá ver em tudo a emanação de Deus. Permanecerá preso na mesma “historinha” de sempre: preciso ganhar a vida (salário), tenho que emagrecer, engordar, descansar, alguém nasceu, alguém morreu.

Esta vida cercada de realidades ilusórias ocorre porque você não vê em tudo que acontece a emanação de Deus e acha que precisa agir.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 14

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 14. Tu és Ventura eterna onipresente, dentro e fora. Por que, então, vagueias aqui e acolá como um fantasma?

Dattatreya, baseando-se nos ensinamentos dos mestres, afirma: você é venturoso. Para compreendermos melhor o ensinamento precisamos saber o que é ‘ser venturoso’.

A compreensão humana de um indivíduo venturoso é aquele que é ditoso, feliz, alegre, bonito. Ser venturoso é, portanto, conforme a concepção humana, ser alguém que viva a extrema positividade do universo.

O mestre ensina: você já é venturoso, já é tudo de bom que pode existir neste universo. Quem já é venturoso não pode almejar mais nada a não ser viver a ventura que possui. Por que, então, vagueia pelo mundo como um “fantasma”, por que vive correndo atrás de coisas no mundo material, assim como o ‘fantasma’ vive no mundo espiritual?

‘Fantasmas’ são espíritos que, apesar de desencarnados, não conseguem vivenciar a sua nova realidade (espiritual) e por isso permanecem presos ao mundo material. Por que você vive a vida carnal desta forma, ou seja, sem conseguir viver a sua Realidade? Por que você que já é tanta coisa e tem tudo vive perdido neste mundo?

A comparação dos seres humanizados com os ‘fantasmas’ é bem adequada: são seres que não sabem conviver com sua Realidade. O ser humanizado, assim como o ‘fantasma’, jamais se contenta com a Realidade que vivencia: vive sempre desejando algo diferente do que tem.

Hoje deseja algo. Amanhã quando conquista, ao invés de desfrutá-la, deixa de dar valor e já quer outra. Quando o mundo não lhe satisfaz chora, briga. Parece realmente um ‘fantasma’ ou uma criança mimada.

O ser não depende de nada para ser feliz. Ele já é venturoso, já é e possui tudo o que pode existir. O problema é que ele não deixa de querer, de desejar, imaginando que sempre haverá algo ‘melhor’ para desfrutar.

Você já é tudo o que pode ser no universo: coloque esta Verdade em sua vida. Não há mais nada que possa ser conquistado. Liberte-se dos desejos de querer e vontades de ser, de conquistar, de mudar e seja feliz com o tudo que você já tem. Você já é venturoso: só falta aprender a ser. Agora saiba ser venturoso.

Existe uma grande discrepância na vida dos espíritos encarnados. O ser humanizado vive a vida inteira desejando fazer, ser, estar, possuir, para ser venturoso, para ser feliz. No entanto, são exatamente as condições que ele impõe para ser é que não lhe deixa vivenciar esta ventura.

Você já é venturoso, mas para poder sentir toda a sua ventura terá que deixar de impor condições para tanto e viver a Realidade que surge com a unidade com Deus.

Participante: Fazemos parte de um todo, pois somos todos espíritos. No entanto, não há uns que tem mais luz e estão mais desenvolvidos?

Não, todos têm a mesma luz, porém nem todos brilham com a mesma intensidade.

Para poder compreender este ensinamento, e já que estamos falando em luz, brilho, comparemos o espírito a uma lâmpada de 100 watts. Todos os espíritos são lâmpadas de 100 w, mas há espíritos que são ‘lâmpadas sujas’ e outros que são ‘lâmpadas limpas’.

Os espíritos ‘sujos’, apesar de serem também lâmpadas de 100 w, não conseguem brilhar com a mesma intensidade, com a mesma luminosidade daqueles que estão limpos. O seu refulgir é encoberto pela ‘sujeira’ opaca que se agrega ao vidro. Estes são os que você chama de ‘menos evoluídos’.

Eles, no entanto, possuem a mesma luminosidade daqueles que você chama de evoluídos, que estão ‘limpos’, mas não refulge com a mesma intensidade. Ou seja, eles brilham, mas sua luminosidade não se difunde.

A sujeira que encobre a lâmpada (espírito) e não deixa que sua luminosidade se difunda é exatamente isto que estamos falando e comentando neste livro: o individualismo.

O resplandecer da lâmpada é a felicidade universaL que o espírito sente. Por condicionar a sua felicidade à realização de desejos, por se prender a determinados fatores e condições para ser feliz, você não ‘brilha’.

NOTA: FELICIDADE UNIVERSAL - Diz-se daquela que é vivenciada sem fatores externos específicos que a faça nascer. Trata-se da felicidade incondicional ou bem-aventurança, como Cristo chamou.

Por que condiciona a felicidade? Porque sempre impõe condições (desejos) para ser feliz. E, por que impõe condições para ser feliz? Porque não vê que já é a ventura total. Como posso ser maior ou menor do que alguém se todos somos filhos do mesmo Pai e, por herança genética, possuímos todas as Suas características?

Dividir os seres em classes (mais limpos, possantes, etc.) e adorá-los não nos deixa brilhar, pois existe um objetivo a ser conquistado que resultará na felicidade. Além disso, demonstra um desconhecimento profundo do Universo, da equanimidade universal: todos são iguais perante Deus.

Este desconhecimento denota a sua forma ‘fantasma’ de viver, pois mostra bem o quanto está preso à realidade material (formada pela dualidade do ‘bem e mal’, ‘certo e errado’). Mostra que, apesar de todos os mestres terem ensinado que esta vida é transitória, você não consegue viver a sua Realidade espiritual.

 Portanto, volto a repetir: evolução espiritual não é conquistar nada novo, pois você já tem dentro de si tudo o que pode ser, toda ventura. O que é necessário ser realizado como reforma íntima é a limpeza de tudo aquilo que encobre a luminosidade do ser.

Aquele que se liberta das máculas que cobrem a sua felicidade, não acrescentam nada de novo em si mesmo, mas conseguem que o interior expanda para o exterior e aí podem vivenciar o que já são.

Participante: Se o espírito é luz, o que é esta luz? Não é uma potência de amor? Se todos temos esta potência amorosa, por que o espírito se ‘suja’? Se ele já nasce com esta potência de luz, qual o motivo dele se sujar?

A ‘sujeira’ do espírito acontece pelo direcionamento que ele dá ao amor divino.

Se ele utiliza o amor que Deus envia ao universo para brilhar para todos (servir ao próximo) está no universalismo. Se a utiliza para benefício próprio (eu quero, eu gosto, eu sei, eu vou – impor condições individualistas à Realidade) emporcalha a “lâmpada”.

Participante: Podemos dizer que o primeiro ‘emporcalhamento’ foi feito por “Adão e Eva”?

Foi feito por você quando vivenciou a fábula ‘Adão e Eva’ e utilizou a sua luminosidade para a partir de você mesmo dizer o que era ‘certo’ ou ‘errado’.

NOTA: A promessa da cobra à Eva quando lhe oferece a maçã: “Deus disse isso porque sabe que, quando vocês comerem a fruta dessa árvore, os seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal”. (Gênesis – Capítulo 3 – Versículo 4 e 5). Ainda segundo a Bíblia, Eva “pensou como seria bom ter conhecimento. Aí apanhou uma fruta e comeu”. (idem, versículo 6).

Participante: Não houve nenhum espírito que tenha saído imune na primeira prova do individualismo? Que ao ser criado com esta luz na primeira encarnação não tenha se sujado?

Não. Daqueles que temos conhecimento (espíritos vivendo junto ao orbe terrestre) aquele que se sujou e mais rápido se limpou foi Cristo: dez encarnações.

Participante: Se todos nós viemos com um propósito para esta vida, por que é tão difícil realizar este propósito depois de encarnado?

Qual foi o propósito que veio fazer? Vencer tudo o que não gosta, fazer tudo que não quer, estar com todas as pessoas que não gosta amando-as e ao que elas fazem ‘contra’ você. Você veio com o propósito de vencer tudo aquilo que gosta e que não gosta, o que quer e o que não quer (os frutos do individualismo).

Esta ‘vitória’, no entanto não deve ser alcançada começando a gostar do que não gosta, pois assim não estaria vencendo nada, mas criando novos padrões de gostar. Você veio à carne para aprender a viver equanimente com tudo que gosta e que não gosta. Veio mostrar que é capaz de viver todas as situações de uma forma igual, harmônica.

Por isto a vitória é sempre difícil: você tem que vencer a você mesmo. Tem que vencer sua lógica, sua razão, suas verdades, o que gosta, o que não gosta. Aqui resulta a grande dificuldade: ninguém está disposto a vencer a si mesmo. Pelo contrário, se entrega a si, se escraviza a si e vive como um ‘fantasma’.

Participante: Tenho, então, que agradecer a Deus por tudo que vivencio, gostando ou não?

Não. A evolução espiritual se alcança com amor e não com a gratidão. Ame a tudo que acontece gostando ou não, sendo fruto do seu desejo ou não. Aí terá realizado o que veio fazer.

Participante: Qual o lado positivo desta nossa decisão de nos sujarmos, ou foi apenas um erro sem nada de positivo para nossa história?

Erro não existe. Tudo que você vivenciar foi uma decisão fruto do seu livre arbítrio que é sempre baseado nas suas verdades individuais. Portanto, tudo está sempre certo: pelo menos para você.

A partir do momento que você decidiu como fruto do seu livre arbítrio ninguém pode dizer que está errado. É uma decisão individual, agora é uma decisão que lhe levou a se sujar e não a se limpar.

Participante: Insisto: não tiramos nada de positivo aos nos sujarmos?

Deveríamos tirar das situações a experiência para não mais agir da mesma forma.

Quando nos defrontamos com situações que não gostamos deveríamos procurar entender que nos frustramos e sofremos apenas porque esperávamos algo diferente do que aconteceu. Com esta consciência, ao invés de sofrermos deveríamos lutar para acabar com o condicionamento que nos fez sofrer.

Quando ao contrário o acontecimento nos traz o prazer, deveríamos refletir que foi apenas uma ‘coincidência’ e que amanhã poderá não acontecer novamente. Ao invés de nos vangloriarmos e imaginarmos que detemos a verdade do universo, deveríamos aproveitar o momento para compreender que nossa felicidade é condicionada a desejos.

O problema é que o ser não quer ‘raciocinar’ a vida. Ele contenta-se apenas em sentir o prazer e a dor do momento. Não entende que, independente de estar sentindo-se feliz ou não, afastou-se de Deus, pois condicionou o momento e com isso se sujou.

Participante: Posso concluir, então que mesmo quando você erra pode se tirar uma lição, um ensinamento, algo bom.

Sim, em tudo existe o lado ‘bom’. Só que você prefere dá valor ao lamento porque quer, conceitualmente, sofrer.

Participante: Acho que o ato de nos sujarmos é para nos limparmos. Refletir sobre si mesmo para alcançar o auto conhecimento pode nos ajudar a nos limparmos. Acho que é por aí. A entrega que surge da limpeza vem de dentro, não nos é imposta: tem que sentir.

Perfeito. Agora você chegou ao benefício de se sujar: refletir sobre si mesmo. É isso que estamos estudando neste livro. Agora é preciso meditar sobre você como um com Deus e não meditar como ser humano.

Por isso estamos estudando estes ensinamentos monistas de Dattatreya. Precisamos começar a viver em meditação.

No entanto, o ser humanizado ao invés de analisar se a situação ou ele mesmo está ‘certo’, ‘bonito’, ‘perfeito’ pelos seus padrões individuais, deve começar a meditar lutando contra estes conceitos. O que o ser precisa refletir é se naquele momento está em unidade com Deus, com a Realidade, ao invés de viver os seus mayas.

O grande benefício da sujeira (do individualismo) é o aprendizado de como raciocinar: a partir de si ou da Realidade do Universo (Deus).

Participante: Para mim ainda é muito difícil imaginar que todos os espíritos, criados com tanta luz, não tenham conseguido se manter nela e tenham tido que passar por todos estes mundos (prova e expiações, regeneração, etc.).

A tentação é muito grande. Poucos conseguem vencê-la de imediato, apesar da Perfeição em que são gerados.

Participante: Mas eu acho que ainda há por trás disto muitos mistérios que nós não conseguimos compreender. Para mim parece ilógico que nenhum deles tenha conseguido se manter na luz.

Então não tente compreender: só ame. Enquanto estiver tentando compreender logicamente estará criando novas verdades, ou seja, novas ‘sujeiras’ que grudarão em você e que terá, posteriormente, que limpá-las.

Participante: Acredito que a dificuldade do trabalho da reforma íntima é o ser humanizado acreditar que é o espírito e não a carne. Somos todos como Tomé: ver para crer. Como muito poucos vêem os espíritos, primeiro precisam acreditar que existe espírito, para depois acreditar que é um para finalmente viver como tal.

Qual a antítese do ‘ver para crer’? Crer sem ver. Mas para isso é preciso ter fé. Neste sentimento reside o problema que leva os seres humanizados a se sujarem.

O ser que se imagina humanizado não tem fé em Deus, mesmo aqueles que se dizem religiosos e que estão na busca da elevação espiritual. Ele não acredita racionalmente (viver como realidade) em ser espírito, no mundo espiritual, na emanação de Deus, porque tem fé em si, nas suas verdades que são constatadas pelas percepções e formações mentais.

Ele só acredita nele, naquilo que o seu raciocínio e as suas percepções dizem que são reais. Ele não ouve ninguém, não vê nada, sem julgar o que está sendo percebido racionalmente.

Acredita-se o rei do mundo, o detentor da verdade, que pode julgar tudo.

Participante: Esta questão do livre-arbítrio do ato trouxe ao ser humano este falso poder de agir.

NOTA: LIVRE ARBÍTRIO DO ATO - Crença que afirma que o ser humanizado é capaz de agir por livre espontânea vontade sem que nada o detenha.

Não é este o problema. O fruto da sujeira não está no falso poder de agir, pois ele é um sentimento que surge pela utilização do livre-arbítrio sentimental.

A perda da consciência da ventura está na utilização do livre arbítrio sentimental. Na opção por sentimentos fruto do individualismo (gostar, não gostar, querer, não querer), ou seja, no direcionamento do amor divino apenas a si mesmo, é que reside a não evolução do espírito quando encarnado.

NOTA: LIVRE ARBÍTRIO SENTIMENTAL - Escolha que o ser faz de um sentimento para reagir a um acontecimento. Para a consciência humana esta escolha é inconsciente.

Só a fé (confiança e entrega irrestrita e absoluta ao Pai) pode levar você a abandonar-se na mão de Deus, ou seja, a acabar com o seu individualismo. Na hora que esta for a sua opção sentimental saberá de tudo, conhecerá tudo, sentir-se-á tudo, sem a necessidade de comprovação nenhuma.

O problema é que o homem não se entrega a Deus, mas apenas a si mesmo: no fruto da sua razão. Mal sabe ele que na verdade não está entregando-se nem a si mesmo, mas ao ego, que é o “diabo”, o “tentador”.

Eu diria, então, como está escrito na bíblia, que o “diabo” está solto no planeta.

Pergunta: Na verdade a nossa dificuldade em nos entregar ao Pai é que não sabemos quem é Deus. Como nos entregar para quem não sabemos o que é?

Agora você chegou no ponto fundamental que estava sendo mantido camuflado até aqui: o conhecimento surgido através da razão, do conhecimento material (percepção, formação mental).

Na hora que Deus “aparecer” aos seus olhos, comprovar-se materialmente, mostrar-Se materialmente, você confiaria nele? Mas, se isso acontecesse, cada a fé? Cadê a confiança e a entrega?

Não haveria entrega a Deus porque seria um acontecimento lógico, ou seja, que passou pelo crivo da sua razão. A sua entrega continuaria sendo feita apenas a você mesmo.

Quem disse que você é que detêm as verdades do universo e que os outros precisam provar-se para existirem? Quem lhe deu o poder de determinar o que é falso ou real, verdadeiro ou irreal? O pecado original, a maçã que ingeriu na primeira encarnação e de cujo poder vem desfrutando até hoje.

A fé tem que passar por cima de tudo isso. Ela precisa anular a razão, a lógica humana, para poder servir ao espírito. Enquanto ela for o guia do espírito encarnado estará prestando serviços apenas ao ego, pois estará sempre criando novas verdades que individualizaram cada vez o ser universal.

Foi através da fé que destruiu toda lógica racional que Chico Xavier, Francisco de Assis, Irmã Dulce, Gandhi e tantos outros viveram. Tudo o que eles realizaram em questão de elevação espiritual você também pode: basta lutar contra os conceitos humanos implantados no seu ego. Agora, para esta batalha é preciso amar-se com a fé e não deixar de achar-se o senhor do mundo.

O problema é que o espírito é filho de Deus, herdeiro das Suas propriedades, mas quando se humaniza quer ser o próprio Deus. Vive como se fosse o senhor supremo do universo, aquele que sempre sabe a verdade.

Sempre sabe o que está “certo” ou “errado”, que somente o que ele corrobora racionalmente pode existir. O resto do mundo, aí incluídas todos os demais seres, inclusive Deus, que não “abram a boca” porque senão o ser humanizado xinga, grita, briga e afirma que jamais se mudará.

Pergunta: Somos, então, uns esqueletos vaidosos?

Exato: somos uns fantasmas. Somos uns fantasmas perambulando pela vida. Já viram aqueles fantasmas que na Inglaterra e na Escócia apropriavam-se dos castelos dizendo que eram deles? São vocês que acham que são donos de algo.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 15

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 15. Associação e separação, não existe qualquer delas para ti ou para mim. Não existes tu, não existo eu neste mundo. Tudo isto é Atma, sem dúvida.

Existe um ensinamento budista que fala do “não-eu”. Este ensinamento não afirma, apesar de assim deixar transparecer o nome, que o ser humanizado não é ninguém. O que ele afirma realmente é que nenhum ser humanizado existe como uno, mas que todos são formados por tudo que existe. Ou seja, que o ser humanizado é o resultado da soma de todos que existe.

Por exemplo: você lava a mão depois que come? Mas, por que faz isso? Porque sua mãe lhe ensinou assim. Este ato, então, não é seu, mas sim da sua mãe. Por causa deste e de outros hábitos que ela lhe ensinou, posso dizer que ela lhe completa, faz parte de você, vive dentro de você.

Participante: O senhor diz isso porque este ato foi imposto pela mãe?

Imposto ou não, não importa: o que interessa é que ele é um reflexo da presença dela na sua vida... Com isso, este e outros hábitos se transformam num pedacinho dela que fica dentro do filho.

Todo ser humanizado, na verdade, é formado por tudo que lhe transmitiram, já que nasceu sem saber nada. Cada um que transmitiu alguma coisa, direta ou indiretamente, ajudou a formar aquele ser humanizado e, por isso, permanece dentro dele.

Agora repare bem... Nada do que um ser humanizado possui como cultura ou conhecimentos é dele. Apesar disso, ele quer defender seus pontos de vistas dizendo que é seu, mas não é: são elementos que pertencem a outros. Como já foi dito aqui: somos cadáveres orgulhos...

Mas, por que tanto orgulho, se nada do que temos é nosso, mas nos foi transmitidos por outros e, portanto, são deles? Tudo que você compreende não é sua compreensão, pois não nasce de você, mas foi transmitido por alguém...

É a soberba de querer ser e saber que leva o ser humanizado a se apropriar das coisas do mundo como sua. Por causa dela, o espírito imagina-se separado do Um. Digo imagina, porque a separação ocorre apenas na ilusão, no maya. Na verdade todos são unos.

Você falou com alguém? Este alguém estará eternamente dentro de você, mas você também morará eternamente dentro dele.

A partir daí podemos constatar uma grande verdade que acontece no subconsciente do ser humanizado. Quando você, por exemplo, critica o outro que mora dentro de você, sofre, porque está ofendendo algo que está dentro de você mesmo.

Precisamos compreender que existem milhares de espírito que compõem o Universo, mas pela interdependência das coisas e pelo “não-eu”, todos estão dentro de todos. A partir disso, precisamos tratar ao outro como a nós mesmos.

Só neste momento descobriremos realmente que o bem que se faz ao próximo se faz a si mesmo. Aí, então, poderemos começar a servir ao invés de querer ser servido por ele.

Este é outro raciocínio sobre o qual precisamos, como foi dito, meditar. Precisamos aprender a meditar que o ladrão ou estuprador está dentro de você e você dentro dele.

É preciso meditar no “eu” uno com Deus e com o Universo. Mas para isso e preciso parar de meditar no eu individual, eu sou eu quero.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 16

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 16. Som, odor e o mais, são efeitos dos cinco sentidos. Portanto, não és. Tampouco eles te pertencem. Tu és a Verdade mais elevada. Por que, então, te lamentas?

Já falamos aqui dos Cinco Agregados, ou seja, das percepções que o ser humanizado tem: o som, a visão, o olfato, o paladar e as sensibilidades do corpo físico. Quando estudamos isto, descobrimos que todas as percepções são maya, ou seja, é uma ilusão que o ser humanizado vive como realidade.Daí vem o ensinamento que é transmitido neste versículo.

A ilusão de que um determinado cheiro não “presta”, que alguém é fedorento, que existe chulé é ilusão, maya. Nenhum cheiro pode “não prestar”, pois tudo é só uma coisa: Deus. Sendo assim, quando diz que uma meia esta com chulé, por exemplo, e que por isso “não presta”, está dizendo que Deus é “ruim”.

Não existe cheiro “bom ou ruim”, já que na Realidade não existe nem o próprio cheiro... Na verdade, o ser humanizado tem a ilusão de um cheiro e a de não gostar desta percepção.

Mas, agora me ouça, “tu és as Verdade mais elevada”.

Tu és a Verdade mais elevada do que o “mau cheiro”, o “mau sabor”, do que a feiúra que vê, do que o palavrão que ouve. Por que então, se lamenta, se revolta e sofre com determinadas percepções?

Porque não vive a Verdade que você é, mas sim a ilusão que imagina ser: um ser humanizado capaz de perceber cheiros.

Na hora que você se conscientizar que está acima do “bem e do mau”, do “certo e do errado” e que pode, mesmo não acontecendo o que determina como “certo” e “bem”, ser feliz, voltará ao que é: a Verdade acima das coisas. Mas, enquanto for escravo de verdades que o leve a acreditar que tem que dizer que alguma coisa não presta e que tem que apontar erros e xingar os outros, vai estar abaixo do que é. Estará vivendo em verdades que não são verdadeiras, mas ilusórias, mayas.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 17

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 17. Tu não tens nascimento, morte ou mente. Liberdade e confinamento, bem e mal não te afetam. Por que choras, criança'? Nem tu, nem eu, temos qualquer nome ou forma.

A primeira parte deste ensinamento - até “por que choras criança” - está baseada nas “Quatro Nobres Verdades” ensinadas por Sidarta Gautama o Buda.

A primeira destas verdades nos diz: tudo é sofrimento. Nascer é sofrer, morrer é sofre; estar perto de quem ama é sofrer, não estar também. Por quê?

Por que tudo é sofrimento? Por que tudo que você sabe, conhece, acredita é sofrimento, mesmo quando alcança o que chama de alegria? Porque tudo que você acredita, vê ou faz é um condicionamento à felicidade.

Acreditando que gosta da roupa branca, estando ou não com ela, estará sofrendo. Por quê? Porque condicionou a felicidade em estar com a roupa branca. Quando não estiver, sofrerá, mas quando estiver, imaginará que está alegre e não verá que, por causa da impermanência das coisas (vicissitudes) , amanhã não estará e aí sofrerá.

Sabendo disso, porque sofre? Sabendo que o que lhe faz sofrer não é exatamente o acontecimento, mas o condicionamento que criou para ser feliz, porque chora?

Pare de chorar e diga para você mesmo: “seu eu parar de condicionar minha felicidade serei feliz eternamente”. Ao invés de ficar perdendo tempo querendo que o mundo se mude para que o seu condicionamento sempre aconteça, lute para acabar com os condicionamentos. Na hora que acabar com qualquer condicionamento, você será feliz com tudo que acontecer.

Vocês “perdem” tempo lutando contra o mundo para que aconteça aquilo que querem, ao invés de “ganharem” tempo lutando contra vocês para viverem felizes não importando o que está acontecendo.

Participante: O senhor pode falar um pouco mais sobre o “achar que deve” ser ilusão?

Você acha que precisa comer... Isso é uma ilusão, não é necessário comer. Você acha que deve estudar para alcançar a elevação espiritual... Isso é ilusão, é você que acha, porque a evolução espiritual não está em aprender mais nada, mas será alcançada quando destruir tudo que sabe.

Isso é ilusão: você achar que deve e que precisa de alguma coisa mais quando já é tudo que pode ser. Quem acha que precisa de alguma coisa para ser feliz não reconhece quem é ele mesmo: a luz que vive na felicidade plena.

É ilusão porque na verdade esse querer, esse buscar, faz parte da sua prova. É Deus perguntando: você vai ficar preso para depender de estudar para Me amar ou vai Me amar mesmo sem estudar? Aí está a sua prova.

Amar sem saber o que, quando,como, onde, para que: simplesmente amar. Qualquer um destes argumentos que você diga necessário para amar é um condicionamento ao amor que acaba com a universalidade e a incondicionalidade necessária para a existência real deste sentimento. Quem ama condicionalmente, na verdade, não ama, já que o verdadeiro amor só acontece incondicionalmente.

Participante: Nós os encarnados somos criaturas de Deus, certo? Então ele nos criou sujeito à maya. Daí pergunto: será que maya não é necessário ao nosso desenvolvimento como encarnados?

Sim, o maya é extremamente necessário. Não para o desenvolvimento como encarnados, mas para o desenvolvimento como espírito. O maya é o diabo lhe tentando; as ações dele representam as tentações que Cristo passou no deserto.

Se você não tiver o maya (as tentações), não têm nada a vencer. Se não vence nada não tem merecimento. O maya é importante e necessário porque ele lhe dá a credencial de chegar perto de Deus e dizer: eu fiz...

Se não houver o maya você nada fará. Nesse sentido o maya é fundamental e serve para que você aproveite a oportunidade da encarnação para a elevação espiritual libertando-se das tentações. Foi para que o espírito tivesse esta oportunidade que Deus criou o sistema maya: o ego que gera a ilusão.

Digo que Deus criou o sistema porque os seus próprios mayas (a sua compreensão ilusória sobre as coisas) foram criados por você antes da encarnação. Lembre-se do que já estudamos em “O Livro dos Espíritos”: Deus deu ao espírito o livre arbítrio de escolher aquilo que ele quiser enfrentar durante a encarnação.

Mas, o ensinamento deste versículo vai mais longe... Analisamos até aqui a primeira parte. Agora vamos ao restante, onde Dattatreya afirma: não temos nome ou forma.

Vocês sabem o que é o espírito?

Participante: É luz...

Um brilho. O que é um brilho? Sei lá...

Vocês não são capazes de saber o que é um brilho. Podem perceber um brilho, mas não compreendê-lo. Como então dão nomes, formas e atributos (mulher e homem; criança, maduro e velho; bonito e feio, Maria ou João) a brilhos? Trate a todos iguais: sem diferenças de sexo, cor, religião, cultura... Trate a todos como iguais, pois todos são iguais. Ver no outro espírito qualquer diferença ou identificação, é um maya, é uma ilusão, é apenas o que você acha que ele é...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 18

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 18. Ó mente! Por que vagueias perplexa, como um fantasma? Entende o Atma (que é) incapaz de divisão. Abandona o desejo e sê feliz.

Ó ser humanizado, porque vive esta vida de uma forma tão desesperada? Por que tem medo, receio, chora e sofre? Entenda, você já é a Perfeição: o espírito, o Filho de Deus.

Por ser Perfeito em sua origem, você não pode ser “certo ou errado”, “bonito ou feio”, “limpo ou sujo”... Você é a Ventura. Por isso, abandona o desejo...

O que é o desejo? É a vontade de satisfazer o “eu” – conjunto de verdades e realidades que formam o ego – que cria o condicionamento para ser feliz. É o decreto do ser humanizado que estabelece a forma como as coisas devem acontecer para que possam ser classificado como “certas” ou “boas”...

Abandone a sua posição de imperador, de ditador, que vive traçando leis e criando obrigações para si e para os outros. Sei que muitos têm medo de agir assim, sentem-se inseguros, mas qual será o resultado depois do abandono de seus desejos? Ser feliz...

Só isso. Esse é o resultado que você ganhará quando não mais desejar nada, inclusive ser feliz. Com o fim de todos os desejos poderá, por fim, surgir a verdadeira felicidade...

Falei em todos os desejos e não apenas alguns. Tem uma pessoa que sempre vem aqui, para quem eu disse: enquanto desejar a elevação espiritual não a conseguirá. Isto porque você estará presa a um desejo e como ele é um condicionador da felicidade, sofrerá enquanto não a realizar.

Quem deseja a realização espiritual jamais a alcançará, pois condiciona a felicidade, que, em última instância, é a própria elevação espiritual. Além do mais, que elevação vocês buscam? Todos já são elevados em essência. São livres dos condicionamentos à felicidade, mas não conseguem viver esta Realidade porque acreditam no condicionamento que o ego cria.

Realizar a reforma íntima e com isso alcançar a felicidade incondicional – estado de espírito daquele que alcançou a elevação espiritual – é muito simples e fácil: basta lutar contra você mesmo para libertar-se dos desejos... O problema é que querem lutar contra os outros e contra o mundo. Por isso vocês vagueiam como fantasmas, perplexos como o mundo que não faz o que querem.

Como pode ser? Será que os outros são burros e idiotas e não conseguem aprender como a coisa deve ser feita? Como eles não sabem que daquele jeito está “errado”? Olha a perplexidade. Este é aquele ser humanizado que lutou contra o mundo.

Aquele que luta contra si recebe em sua mente o pensamento que determina que o acontecimento está “errado”, mas ao invés de acreditar nele, diz: cala a boca pensamento, não existe “certo ou errado”; cada um faz o que tem que fazer, o que ele quer fazer...

Mas, apesar desta facilidade de realização, muitos ainda continuam dizendo que é difícil. Raciocinar é uma coisa que imaginam saber fazer: porque não raciocinam deste jeito? Porque não utilizam o raciocínio para matar o desejo, mas para brigar contra o mundo que não realizou aquilo que era desejado.

Portanto, trata-se apenas de uma mudança de uma forma de raciocinar: ao invés de aliar-se ao “eu material”, manter acessa a busca a Deus. Isto é a reforma íntima, a mudança do interior de cada um.

Para aqueles que falaram agora a pouco na sobrba do ser humano pergunto: a forma de agir que foi citada aqui – esperar que o mundo se submeta aos seus caprichos individualistas – não é soberba? Querer impor ao mundo verdades e vontades, não é arrogância? Achar que Deus criou todo este Universo para se subordinar ao desejo e a vontade de um único ser humanizado não é querer colocar-se numa posição muito superior? Se isso não é soberba, eu não sei o que é ser soberbo.

Se o ser humanizado não tiver a consciência de que é assim que vive (imaginando que Deus e todo o Universo têm que estar à sua disposição para que ele seja feliz, pouco se importando com os outros), não consegue se aproximar de Deus.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 19

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 19. Verdadeiramente és a verdade, livre de todas as mudanças, o inabalável, a morada da emancipação. A ti não pertencem as paixões ou o desejo de paixões. Por que, então, te lamentas, dominado por desejos?

Primeiro ensinamento deste texto: você é a Verdade...

Só que ao invés de ser a Verdade, você quer ter a verdade. Há uma diferença muito grande entre ser e ter a Verdade.

Ser a Verdade é já ser tudo, sentir-se Perfeito, vivendo a Perfeição. Ter a verdade é querer saber o “certo ‘e o errado”, viver querendo dominar o próximo através da imposição daquilo que acredita como verdadeiro.

Ninguém pode possuir a verdade, a não ser que sujeite o próximo àquilo que acredita ser real. Se você já é a Verdade, qual o problema do outro querer pensar diferente? Se você sabe-se como a Verdade, sabe, também, que o outro também o é, mesmo que aparentemente elas sejam diferentes...

Então, lute para ser a Verdade e não para tê-la. Não queira ter razão, estar “certo”.

Segundo: você não se altera...

Você não se altera, porque jamais o espírito se alterará. O que ele pode é, ilusoriamente, ter a sensação de estar alterado. Este estado de consciência, como eu disse, não é real, mas uma “sujeira”. Apesar disso, essa sujeira não modifica a essência espiritual que você é, pois ela é ilusão.

Por isso afirmo: o seu nervosismo é incapaz de acabar com a sua calma interrior; a sua irritação não pode extinguir com a sua felicidade incondicional. . Estes elementos, que fazem parte da essência de todos os seres universais, podem não ser utilizados pelos humanizados, mas se encontram no íntimo de cada um.

Apesar de o ego dizer que o ser humanizado está irritado, a felicidade incondicional está dentro do espírito. Basta você achar a felicidade e a paz que se libertará do nervosismo, da raiva, da angústia...

Mas, vocês esquecem de procurar estes elementos que estão em suas essências. Ao invés disso, quando estão desequilibrados, sofrendo, vão buscar externamente motivos para ser feliz. Como foi exatamente o externo que causou aquele estado de espírito , não encontram...

A felicidade está dentro de você e não fora. Ela não precisa ser conquistada sempre. Para que ela volte a ser o seu padrão emocional, é preciso apenas que a infelicidade acabe. É diferente.

Para se ser feliz sempre, não se deve buscar a felicidade, mas se libertar da infelicidade. Na hora que você compreender isso parará de buscar a felicidade e começará a lutar contra os motivos que lhe faz infeliz.

Pergunte-se porque está agoniado; porque motivo está sofrendo; o que lhe está deixando com medo... Pergunte isso a si mesmo ao invés de ficar iludindo-se buscando soluções (ver televisão, passear, ler, ouvir música) para ser feliz. Isto não resolve nada. O medo e a agonia não acabarão porque você não lutou contra o medo. Vai continuar fazendo tudo isso tendo medo.

Para destruir o sofrimento é preciso destruir a raiz do sofrimento. Esta raiz, ou seja, o que origina o sofrimento é a frustração de um padrão ou vontade, criados por uma verdade, não terem sido atendidos (o acontecimento não espelhou o que era esperado).

Acabe com as verdades que os desejos e padrões se extinguirão. Acabe com o que acha das coisas do mundo e aí acabará com o medo, pois, se não houver condicionamento para a felicidade, ela surgirá espontaneamente.

Terceiro ensinamento deste versículo: a ti não pertencem as paixões e ou o desejo de paixões.

Você sabia que toda sensação de gostar de alguma coisa, que imagina sentir, não é sua? Que tudo que você imagina querer na verdade não quer? Que tudo que diz que precisa, não precisa? Sabia disso?

Então, pergunto: de quem é? Do personagem, do ego. É o ego que lhe cria os desejos, que idealiza paixões (“gostar” ou não), que fomenta a realidade algumas idéias... É o ego, que você programou, que vive a vida carnal (tem posses, paixões e desejos) e não você.

Tudo isso não é seu, espírito, mas sim do personagem (ser humano), que é um ego (consciência) que você criou para vivenciar esta vida e, com isso, gerar a sua provação necessária para a elevação espiritual. Mas, depois que se liga ao ego, ao invés de realizar a sua provação acredita nele e diz: “eu não gosto disso”.

Ou seja, se escraviza ao ego (acredita que é ele) e ainda se acha senhor do mundo (o ser humano superior aos demais elementos do planeta) exatamente por causa deste saber... Senhor do que, se, na Realidade, você não acha nada disso? Foi a sua submissão às posses, paixões e desejos gerados pelo ego que transformaram esse achar em real.

Os seres humanizados acham que se parar de gostar das coisas e desejar algo para si, a vida não terá graça. Concordo: não terá a graça que tem hoje, ou seja, de vez em quando ter prazer. Ela terá uma outra graça: amar e ser amado por Deus.

É... Os seres humanizados trocam o amar e ser amado por Deus por raros momentos de prazer e muitos momentos de sofrimentos.

Pensem nisso. Pensem em quanto estão abandonando, abrindo mão, para poderem, de vez em quando, viverem o prazer de ter acontecido o que queriam. Eu acho que o preço é alto.

Quarto ensinamento: porque então se lamenta, dominado por desejos?

Falamos que vocês não têm desejos mas que eles são do ego. Então, porque se lamentam por causa deles? Porque ainda acreditam que são o ego.

Ainda acham que são mulher e homem, filho e filha, pai e mãe, motorista, que tem que trabalhar, que tem que ganhar dinheiro para o seu sustento... É por isso que se lamentam: porque acham que o ego é você e não se vê como o espírito que é.

É preciso se libertar deste ego. Quando o pensamento vier a sua mente, é preciso compreender que ele não é seu e nem que é você que está pensando. É preciso dizer ao ego que não acredita mais que ele é você. É preciso libertar-se dele e não confiar naquilo que ele lhe diz.

Com isso conseguirá viver a essência divina que você é. Quando isto ocorrer, deixará o ego criar diversas vontades e verdades, mas não mais se entregará a elas como sendo suas.

É isso que é elevação espiritual. Para se aproveitar a encarnação no sentido espiritual, não é a reza, o trabalho com energias ou a meditação que influenciarão no resultado. A oração e a meditação podem ser instrumento para lhe ajudar a vencer o ego, mas elas nunca serão a realização da elevação espiritual.

O importante não é quem muito reza, mas quem mais se aproxima do “eu interior espiritual” que é. Para isso, a única coisa que importa é o quanto deixa de ser o “eu material” que está vivenciando.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 20

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 20. Todos os Vedas proclamam que o Atma está livre de todas as qualidades. É uma Existência pura, imorredoura, sem forma e homogênea. Sabe que eu sou isso, sem dúvida.

Segundo o mestre Dattatreya, então, o espírito é isento de qualificações... O que quer dizer isso?

Participante: Que o espírito não pode ser adjetivado quanto à nada... Não se pode falar de formas, cores, etc.

Sim, isso está certo. Mas, além da forma ou de elementos constitutivos que vocês acreditam saber do espírito, existem ainda os valores ditos morais que vocês aplicam aos espíritos: ”bom ou mau”, “certo ou errado”, “limpo ou sujo”, evoluído ou não...

Nenhum destes adjetivos se aplica ao espírito, pois ele é isento de qualificações... Sabe por que? Porque ele é a Realidade, ele é o tudo que existe...

Falar que um espírito é “bom”, ou seja, que atingiu a elevação, ou falar de outro como mau, ou que ainda não tenham alcançado a evolução espiritual, é dar uma qualificação ser universal. Mas, ele não tem qualidade alguma, não existe qualificação nenhuma que lhe possa ser atribuída...

O espírito já é tudo que pode ser e tudo que ele é está muito além de qualquer qualificação que a razão humana possa dar a ele.

Se você diz, por exemplo, que um espírito é “bom” (elemento dualista), estaria enganado, porque o espírito não é “bom”, mas a bondade (elemento universal). Se você diz que um espírito é “belo”, também estaria enganado, porque o espírito é a beleza...

As qualificações universais que são inerentes do espírito (bondade e beleza) nada têm a ver com o que você caracteriza como “bom” ou “belo“...

Tal compreensão precisa ficar bem clara, para podermos parar com a história de dizer que existem espíritos “bons ou maus”, “certos ou errados”, “bonitos ou feios”. Podem existir espíritos que estão (temporariamente) desta forma, mas isso não quer dizer que ele seja: ele apenas está dessa forma...

Mas, neste texto o mestre fala mais: é uma Existência pura, imorredoura, sem forma e homogênea.

A que existência o mestre se refere? Que existência é pura, imorredoura e sem forma?

Participante: A existência espiritual...

Exato... Ele está falando que da existência do espírito. Por isso, podemos dizer que a existência espiritual é composta por estas coisas.

A partir desta constatação podemos dizer que você, que é em essência um espírito, mas que não vive assim, está vivenciando uma existência que não é sua. É por isso que ensinamos: você precisa abandonar a existência material – não estou falando em morrer, mas em abandonar a forma de viver material, humanizada – e vivenciar a vida na carne na forma que o mestre fala (imorredoura, simples, pura) para que viva a sua própria Realidade.

Você quer ser espírito, quer alcançar a elevação espiritual, mas não abre mão da forma de viver que hoje tem. Você não muda um mínimo detalhe sequer da sua forma de viver atual (humanizada) para alcançar a elevação espiritual. Como, então, alcançá-la?

É preciso que todo aquele que se diga buscador de Deus entenda o que vou dizer agora. É preciso se criar uma outra forma de viver para poder aproximar-se de Deus...

É preciso criar uma forma de vida que seja perfeita, no sentido espiritual, do que aquela que o ser humanizado vive hoje. Isso só é alcançado quando o espírito compreende que a forma de viver humanizada é imperfeita no sentido espiritual. Na hora que o ser humanizado compreender isso, poderá, então, virar-se de frente para a elevação espiritual.

Deixe-me dizer uma coisa... Existe um ensinamento budista que diz o seguinte: para que se veja uma árvore é preciso estar de frente para ela...

O ser humanizado está de costas para árvore, de costas para a vida espiritual, pois vive de frente (acredita como realidade) para a sombra desta árvore, que é a vida material. Por isso, acredita que a sombra é a própria árvore.

É por isso que ele vive a vida material como se ela fosse ela a existência imorredoura do espírito. Mas, não é isso... Esta existência é apenas uma pálida sombra da existência espiritual, da realidade universal.

Enquanto vocês não compreenderem isso e quiserem vivenciar a sombra ao invés de vivenciar a árvore, nada conseguirão...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 21

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 21. Sabe que tudo que existe em forma é irreal. Conhece o Um indiviso e informe. Pelo conhecimento desta verdade todo o nascimento futuro é nulificado.

Nós conversamos sobre forma quando falamos do estudo budista intitulado “Os Cinco Agregados”.

Explicamos naquele momento que o Universo é constituído por fluído universal. Falamos que este fluído é o átomo universal, ou seja, a menor partícula material que existe.

Dissemos os objetos materiais que vocês conhecem, sejam eles deste ou do outro mundo, nada mais são do que combinações desse átomo universal sob determinadas circunstâncias.

Quando realizamos este estudo descobrimos, ainda, que esse fluído é uma energia e que, portanto, não possui forma...

A partir destas compreensões, então, chegamos à conclusão de que a forma das coisas que você vê é irreal. Elas não são reais, pois se tratam apenas de conclusões racionais (razão) que o seu ego cria.

Vou dar um exemplo para ilustrar o que estou dizendo. Para os que não estão acostumados a conviver com eles, os prédios das cidades grandes são monstros, mas para quem está acostumado, são apenas prédios... Não importa o que cada um acha: aquela construção não deixou de ser um prédio. É uma ilusão individual que distingue os prédios como grandes ou simples...

Outro exemplo... Para as crianças, os seus pais são gigantes, mas quando esta criança se torna adulto, os seus pais são sempre vistos como menores do que ele... Não foram os pais que mudaram, mas a criança, que agora cresceu, que mudou a sua forma de ver as formas...

Por isso, o mestre nos ensina que toda forma é irrealidade: ela depende de um raciocínio para ser compreendida... Mas, ele nos diz também: se você não acabar com o valor que dá às formas, continuará renascendo, pois não se tornou UM.

Isto é uma Verdade Universal: para poder se libertar da roda de encarnações é preciso se tornar UM com o Universo...

Quando se atinge a Unidade, tudo muda... Por exemplo, na hora que você não ver mais forma não verá mais bebês... Ao não ver mais recém-nascidos, compreenderá que aquela forma é ocupada por um espírito velho e, portanto, é um velho, não um bebê...

Só eliminando-se a idéia de que existem crianças (elementos que são puros por natureza, que não possuam dívidas contraídas anteriormente) se poder entrar na Realidade do Universo: não existe um ser humano, mas sim espírito que se humaniza, ou seja, se liga a uma razão humana para vivenciar carmas, que podem ser chamados de provas ou missões.

Ter esta consciência sobre a vida é viver a Realidade do Universo. Mas, para alcançá-la é preciso estar alheio a qualquer ilusão de forma...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 22

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 22. Os sábios declaram que sem dúvida existe apenas uma entidade imutável. Quando abandonas as paixões e resta apenas UM, a variedade desaparece.

Existe apenas a criatura imutável, o espírito...

O ser universal humanizado com todas as suas dualidades que você chama de espírito, não é o ser universal, mas um estado do espírito. Ele e todas as suas criações mentais também não são Reais, mas ilusões que o espírito vivencia como verdades...

A personalidade humana não é, na essência, o espírito, mas é ele utilizando-se de elementos que não são dele. As razões que o ser humanizado vivencia não pertencem ao espírito, mas são elementos que se agregam a ele com o advento, com o nascimento, com a consciência de ser humano...

NOTA: Esta declaração se baseia no estudo “Poluição Adventícia” que foi realizado pelo amigo espiritual a partir de um sutta budista.

É preciso que compreendamos isso profundamente. É preciso que entendamos que a dualidade só existe a partir da sujeira que o espírito vive como real, que ele agrega a si com o advento.

Esta sujeira chama-se paixão e são de dois tipos: paixões positivas (o que ser quer, o que se gosta) ou negativa (o que não se quer, o que não se gosta). Estas paixões geram, então, os desejos, que também existem dentro destas duas tipicidades.

É isso que cria o dualismo do mundo: você gostar de uma coisa e desgostar de outra, querer ou não alguma coisa... O dualismo não Real, porque se trata apenas de uma visão individual das coisas e não de uma Realidade.

O querer ilusório que o ser humanizado vive seja ele positivo ou negativo, é oriundo da sujeira, ou seja, das paixões que surgem por causa do fundamento primário da razão humana: o individualismo ou egoísmo... A existência da paixão positiva ou negativa por qualquer elemento do Universo, seja ele terrestre ou universal, retrata a existência de um amor a si acima daquele dirigido a Deus, ao próximo ou a qualquer coisa...

É o individualismo que gera as paixões que dão origem aos desejos que criam racionalmente a vontade de viver apenas aquilo que se gosta e o medo de se viver o que não gosta.

Nesta rápida análise está a origem das impurezas que o espírito vivencia como realidades e que não o deixa assumir-se dentro da realidade que já é...

Portanto, elevação espiritual não é colocar nada novo (aprender), mas retirar (desaprender) estas impurezas, ou seja, tudo que você define e dá valor neste mundo, sejam estes valores e definições positivos ou negativos...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 23

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 23. Como pode haver Samadhi se Atma não tem forma? Como pode haver Samadhi se não ocorre assim? Como pode haver Samadhi se não existe nem isto, nem aquilo? Tudo isto é ilimitado, como a própria Liberdade.

NOTA: SAMADHI – o mais alto estado de realização espiritual.

Como pode haver elevação espiritual, se o espírito já é elevado? Como pode haver uma elevação espiritual se ela não tem forma, ou seja, ela não acontece de determinado jeito? Como pode haver uma elevação se não há um retrocesso?

Estas perguntas são muito interessantes porque a todos que estão lendo isso posso chamá-los de buscadores, ou seja, posso dizer que estão buscando melhorar-se no sentido espiritual. No entanto, a esses pergunto: o que é melhorar-se no sentido espiritual? O que é realizar-se espiritualmente? O que esperam que aconteça quando alcançarem o que querem?

São perguntas que a maioria dos buscadores não faz para si. Eles saem correndo para buscar o samadhi, a mais alta realização espiritual, mas não sabem nem que caminho trilhar, pois não sabem onde querem chegar...

Não há processo de elevação espiritual no sentido de adquirir conhecimentos ou quaisquer elementos novos. O processo de aproximação do Pai se dá de forma contrária: se caracteriza pelo abandono de crenças ilusórias sobre si e as coisas que o cerca para poder conviver com o que já convive sendo quem é.

Não existe elevação porque o espírito já é elevado. O que existe é a necessidade de limpar-se das crenças fantasiosas de não elevação para se viver a elevação que cada um já tem.

Então, o processo é completamente contrário daqueles que os buscadores fazem. Vocês estão buscando a Deus querendo mais conhecimentos, mais verdades, mais valores, quando adquirir qualquer coisa nesse sentido cria mais barreiras para não viver com a elevação que já tem.

Buscar a elevação espiritual é ficar parado libertando-se de tudo que adquiriu durante as existências humanas. Só assim o ser universal pode reassumir a consciência da sua essência perfeita, limpa, pura...

É muito importante este texto, porque ele nos mostra o caminho a seguir. Ele nos ensina que o ser humanizado quiser aprender mais coisas, colocar mais cultura para conseguir a elevação espiritual, nada fará...

Se ele quiser se elevar, nada conseguirá, pois não tem para onde subir...

Portanto, é preciso mudar a forma de buscar a Deus. Ao invés de quere buscar mudando-se ou compreendendo Deus, o Universo ou os ensinamentos, o que o ser universal agora humanizado precisa fazer para chegar perto do Pai é ser como Ele: sem ensinamentos, sem cultura, sem nada... Vivendo apenas com a Verdade e a Realidade...

É por isso que Cristo ensina: conhece a Verdade e a Verdade vos salvará.

A Verdade Universal diz que o espírito é filho de Deus e por esta carga genética não pode ser menos que puro e perfeito... Qualquer outra coisa no Universo senão a cópia da Perfeição do Pai que ele tem...

Participante: Eu já acho que a elevação espiritual acontece quando nos encontramos na lei do amor e da caridade...

Exato... Você está certo...

Na lei do amor... Ao próximo e a Deus e não a você...

Na lei da caridade... Mas a caridade de Deus e não a sua...

Deixa eu lhe explicar isso.

A lei do amor ao próximo...

O que é amar ao próximo? É não julgá-lo, não criticá-lo, não acusá-lo... Ou seja, não aplicar valor algum a ele.

É exatamente o que eu falei. Você só amará ao próximo quando quiser deixar de saber quem ele é...

Aí estará amando-o. Mas, enquanto quiser criar valores para amá-lo não o estará amando, mas sim aos valores que você determinou, ou seja, imaginando-se “certo”.

Praticar a caridade...

Praticar a caridade de Deus é servir de instrumento a Ele na Sua obra. Ou seja, é servir de instrumento ao Pai para a geração das situações carmaticas dos espíritos...

Para que você possa praticar a caridade de Deus, é preciso fazer aquilo que o Senhor lhe der para ser feito sem que você goste ou não, ache certo ou errado o que está fazendo. É ser instrumento perfeito da vontade de Deus.

Estudamos isso quando vimos a oração de São Francisco. Mais precisamente no trecho em que o santo pede que seja instrumento da paz de Deus e não da sua própria...

Mas, com relação a este aspecto querendo apenas relembrar alguns ensinamentos de Cristo. Ele disse que a caridade não se faz dando o peixe, mas sim dando a vara e ensinando a pescar. Ele disse ainda que nem só de pão vive o homem...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 24

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 24. Tu és a essência imutável pura, sem forma e sem morte. Como podes dizer que sabes isto e não sabes aquilo sobre o Atma?

Como você pode dizer que sabe alguma coisa sobre o mundo espiritual se só consegue ver (perceber) com os olhos humanos que não capta nada do mundo espiritual? Como pode afirmar que o mundo espiritual é assim ou assado se não possui a lembrança de como era? Por que os outros disseram? Não pode...

Você já é a Verdade. Mas você é a Verdade sem qualificações e qualquer ensinamento no qual acredite será formado por uma qualificação, pela criação de uma consciência...

Estou dizendo que os ensinamentos que até hoje receberam estão errados? Não... Estou dizendo que os ensinamentos aos quais tiveram acessos até hoje são caminho e não fim...

Todos que estão aqui não estariam se não tivessem vivido tudo que viveram até hoje, aprendido tudo o que aprenderam até hoje... É exatamente por estarem buscando através da participação de outros ensinamentos que Deus lhe deu o desejo de estar aqui hoje, como vimos no item 01 deste capítulo.

Acontece, no entanto, que é preciso criar um divisor de águas. Até agora você viveu um caminho, num processo, que lhe levou a cada vez mais penetrar nos mistérios do Universo. Justamente por ter realizado este caminho, que deve glorificar e não acusar, que chegou até aqui. Agora, preciso se libertar deste caminho para seguir outro.

O que estou querendo dizer? Que quem quiser entender o que eu digo a partir de um ensinamento que um encarnado passou anteriormente baseando-se numa doutrina humana, não entenderá o que digo. Quem quiser julgar o que falo a partir de um ensinamento já recebido, não entenderá.

Agora, se alguém quiser buscar diretamente no ensinamento de qualquer mestre da humanidade, o que digo, encontrará. Se alguém quiser tirar a prova dos noves utilizando-se para isso os textos atribuídos aos mestres, encontrará.

Perguntaram-me outro dia, quando falávamos dos cinco agregados, se o que eu falo também não é maya. Eu respondi: verifique se os ensinamentos não estão de acordo com os dos mestres... Eles estão, pois todos os mestres disseram que o caminho para Deus é a libertação do mundo material.

Apesar disso, meu ensinamento é um maya, para você. Isso porque você está querendo compreender o que digo e, com isso, está criando uma nova verdade. O ensinamento em si não é um maya, mas a sua compreensão sobre ele é...

Para se aproximar de Deus é preciso abandonar todas as verdades para poder chegar a Deus. Isso ensinam todos os mestres. Mas, transformar este ensinamento numa verdade, isso é maya...

Participante: Se não é para compreender o que o senhor fala, o que é para fazer então?

Simplesmente atingir a consciência de que deve apagar tudo que tem...

Participante: Como assim?

Libertar-se de tudo que você acha, de tudo que tem como verdade.

Agora, neste processo, se quiser compreender o que eu digo, ou seja, achar que eu estou “certo” e tem que fazer determinadas coisas porque compreendeu isso a partir do que eu disse, estará criando um novo achar, uma nova verdade. Com isso não apagou todas, mas apenas algumas...

É preciso apagar todas as verdades que você possui, inclusive a compreensão que está tendo agora, pois ela é uma verdade que está sendo criada...

É aquela história que conversamos quando no estudo dos ensinamentos de Buda falamos sobre conceitos. Nós dissemos então que não se pode ter conceito, mas não se pode criar o conceito de não ter conceito...

Participante: Então, é fazer o que vier no coração?

É fazer o que estiver fazendo e manter o coração puro, ou seja, distante daquilo que a razão está criando sobre o que está sendo feito...

Se hoje você está fazendo o que a sua razão diz que gosta, mantenha seu coração em paz, ao invés de ir ao êxtase do prazer. Fazendo o que a razão diz que você não gosta, mantenha-se em paz ao invés de ir à depressão da dor e do sofrimento por não gostar do que está fazendo.

É isso. Eu não falo de atos, mas sim de sentimentos. O que ensino é que você deve sentir de uma forma equânime, ou seja, ter no coração permanentemente a paz, a felicidade e a integração com o todo deixá-lo viver a exultação do prazer ou na depressão da dor.

Participante: Ou seja, manter o equilíbrio... É isso?

Manter-se equilibrado.

Quando falamos que temos que manter o equilíbrio, estamos dizendo que temos e sabemos o que é o equilíbrio... Não é isso...

Participante: Escolher sempre a felicidade?

Estar sempre feliz.

Para se escolher há a necessidade de haver um julgamento, já que toda escolha resulta da opção entre duas possibilidades. Sempre que houver um julgamento haverá uma análise e para isso há a necessidade de haver verdades... Se há verdades, não há felicidade incondicional, pois toda verdade, que é uma paixão, condiciona a felicidade através da realização do desejo... Portanto é estar sempre feliz, independente da vida que tem...

Aquele que consegue viver com o seu coração liberto das razões é o espírito elevado, é o espírito puro.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 25

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 25. O eu, e somente o eu, é declarado por tais frases como (isso és tu). Isto, não é isto, é a palavra dos Vedas sobre a questão. O mundo fenomenal não é uma realidade.

Vamos conversar sobre os assuntos deste texto...

Primeira frase: “O eu, e somente o eu, é declarado por tais frases como (isso és tu)”.

Este eu que o texto se refere, é o ser humanizado, o ser humano, o espírito sujo. Não se pode no texto estar se falando do eu universal porque só o ser humanizado se auto reconhece como alguma coisa: “bom ou mau”, “certo ou errado”, “bonito ou feio”. Aqueles que se libertaram da razão não reconhecem nada nem ninguém...

Outro dia me perguntaram: O senhor o que é? Eu respondi: sou um espírito... Aí me perguntaram: o espírito o que é?

Eu respondi: o espírito é um brilho. É assim que está definido em O Livro dos Espíritos: o espírito é um clarão, um brilho. Agora, você sabe o que é um brilho? Nem eu... Então, eu não sei quem sou... Eu posso me reconhecer, quando na carne, pela forma física; quando forma da carne, pela forma do perispírito; mas eu em essência, a luminosidade do Universo, não consigo me reconhecer.

NOTA: Parece estranho que um espírito diga que não consiga se auto reconhecer em essência, mas como o amigo espiritual afirmou em outras ocasiões, para realizar a sua missão foi necessário que ele se ligasse a um ego, uma personalidade humanizada que se intitula Joaquim de Aruanda.

Portanto, é esta personalidade, que é ele espírito agora, que não consegue vislumbrar a o espírito em essência e não ele, o próprio ser universal...

Você diz que sabe quem é você, porque se reconhece pela forma que vê no espelho... Mas no espelho não vê você, mas a carne. Vê matéria com forma e acha que aquilo é você. Mas você não é isso: é um espírito, ou seja, um princípio inteligente do Universo.

Mas, mesmo esta compreensão é apenas uma compreensão. Isso porque, se eu lhe perguntar o que é um princípio inteligente do Universo, você não saberá dizer...

 Resumindo, então, você não sabe realmente o que é: apenas utiliza-se de conceitos pré-formados para dizer que se conhece...

Qualquer coisa que queira usar para se auto definir, se buscarmos compreender realmente e não apenas citar frases decoradas, chegaremos sempre a um momento onde você não saberá o que é, ou seja, que não terá mais definições para responder o que é você.

Sendo assim, para buscar a elevação espiritual a primeira coisa que precisa parar de fazer é definir as coisas, inclusive a você mesmo. É preciso parar de achar que é de uma forma e que quando se elevar será de outra.

Isso é ilusão, maya, um achar humano, pois o verdadeiro espírito não sabe nem quem é. Se lhe perguntarem quem ele é, ele diz apenas que é um brilho, mas não sabe o que é ser isso.

Vamos a outra frase deste item: “Isto, não é isto, é a palavra dos Vedas sobre a questão”.

Os vedas são iguais ao nosso ensinamento: não criam nenhuma verdade, mas acabam com todas as que existem... Krishna não veio explicar nada, mas sim mostrar tudo que se precisa ser derrotado.

Ele não diz o que é um espírito, mas diz que tem que se acabar com a humanidade para ser espírito. Ele não diz que a carne é um fluído universal, mas diz que se precisa deixar de entender este corpo como feito de carne.

Os ensinamentos dos mestres não devem servir para se construir uma vida nova, mas sim par acabar com a vida que se tem hoje. Cristo não ensina que você deve agir de tal forma com o próximo, mas diz que não se vê julgar. Ou seja, ele não ensina como viver sem julgamentos, mas diz que é preciso abandonar o ilusório poder de julgar.

É isso... É por isso que ele diz: é preciso renascer, mas não ensina como renascer.

Cristo não veio ensinar a renascer, mas sim a morrer. Não fisicamente, mas morrer para os valores do mundo. Isto será conseguido quando, assim como ele, se vencer o mundo, ou seja, as verdades do mundo...

Participante: Então se eu tiver dois caminhos a seguir eu sei que em um me manterei equilibrado e no outro seguirei o que o ego quer? Teria que usar a lógica do meu ego ou usar a lógica e continuar equilibrado?

Antes de responder, me diga, de que caminho está falando? É de atos?

Participante: Não de sentimentos.

Certo... Você tem dois sentimentos brigando dentro de você: o de querer e o de viver a vida sem colocar o querer...

O sentimento de querer é dado pelo ego e o outro é a sua essência espiritual. Como agir? Sempre siga a sua essência espiritual...

Agora, o que diz esta essência a você? Ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo...

É esta a lógica e a razão que precisa ser colocada em prática, ou seja, em todo momento você deve amar a Deus acima de todas as coisas. O que isso quer dizer?Que você deve sempre estar em paz e felicidade sentindo-se amado por Deus, não importa o que está acontecendo.

Além do mais, deve amar ao próximo, ou seja, não criticá-lo, não julgá-lo, não xingá-lo, não acusá-lo, não dizer que ele está errado, não fazer nada contra ele...

Estou falando de sentimentos e não de atos. Você pode até estar praticando uma ação onde esteja gritando, mas por dentro, sentimentalmente, no coração, você deverá estar em paz e harmonia com este irmão para poder aproximar-se de Deus. O ato, o grito, você não poderá deixar de fazer porque é ação carmatica.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 26

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3
Faixa 4
Faixa 5
Faixa 6
Faixa 7
Faixa 8
Faixa 9
Faixa 10
Faixa 11
Faixa 12
Faixa 13

 26. No eu somente e pelo eu (tu) somente se acha contido tudo isto (universo). Para ti não há contemplador, contemplação ou o órgão da contemplação. Como, então, contemplas e não te envergonhas?

Vamos por partes...

“No eu somente e pelo eu (tu) somente se acha contido tudo isto (universo)”.

Somente o espírito humanizado pode e quer explicar as coisas do mundo, pois ele imagina que é capaz de conhecer todas as verdades do mundo. O espírito universal, aquele que está desumanizado, entrega a Deus o conhecimento de toda a Verdade do Universo, a posse exclusiva de todo conhecimento do Universo.

Deixe-me dizer algo... Sabe porque todos os seres humanizados debatem assuntos com outros? Porque partem da presunção que sabem alguma coisa. Se alguém nada soubesse aceitaria o que os outros dizem sem questionamento.

Acontece que a presunção de saber causa um grande problema ao ser humanizado: ele nada aprende... Para se aprender alguma coisa é preciso antes existir a consciência de não saber nada, já que o saber cria sempre uma confrontação entre o que está sendo dito e o que você sabe.

Além do mais, o egoísmo que é a base do ego humanizado jamais deixará de tentar vencer, ou seja, de provar que está “certo”. Portanto, mais do que uma confrontação de idéias, o que acontece nos debates é uma batalha entre dois egos onde um quer vencer o outro, ou seja, quer subjugar o outro às suas verdades...

É baseado nesta Realidade que o espírito liberto da humanização procura não saber nada. Sempre que consegue libertar-se de suas crenças individualistas ele pode, então, absorver de Deus a Verdade.

Quando o espírito declara para si mesmo que sabe alguma coisa, ele contesta a Deus. Mas, esta contestação é fútil e ilusória, pois todo espírito só sabe parte da Verdade Universal. Deus é o único elemento inteligente do Universo que sabe tudo...

Sendo assim, podemos afirmar que aquele que contesta alguma coisa é porque imagina que sabe. Só que ao saber não se abre para novos conhecimentos.

É isso que está sendo dito neste texto: só no eu, pelo eu, se contêm tudo. Só no eu material existem conhecimentos para todas as coisas, porque no eu espiritual existe sempre a busca do abandono completo de verdades para que se possa receber de Deus a Realidade do universo.

Isso é importante e é fundamental para os buscadores para que vocês não fiquem querendo julgar toda informação nova para definir o que é verdadeiro...

Apenas Deus possui a Verdade. Além disso, como se diz em O Livro dos Espíritos, “jamais um ser humanizado compreenderá Deus”, ou seja, compreenderá a Verdade...

Vamos a outro trecho deste texto: “Para ti não há contemplador, contemplação ou o órgão da contemplação”.

O que é contemplar?

Participante: Olhar, admirar...

Ver... Ou seja, saber o que está acontecendo...

Contemplar alguma coisa é aplicar valores ao que está acontecendo. Você contemplar a natureza, por exemplo, é dizer que ela é bonita. Já que quem não gosta, quem a acha feia, não a contempla. Contemplar o seu marido é dizer que o ama, é dar valor a ele.

Só que não existe contemplador, porque você não é você. Quem está contemplando é o personagem, que não é você o espírito, mas sim uma personalidade ilusória que lhe serve de instrumento carmatico...

Quem contempla as coisas não é o espírito, mas sim o ser humanizado que você imagina ser. Isto porque o espírito não aplica valores às coisas. Só o ser humanizado...

Não existe também o elemento que é contemplado, ou seja, não existe o seu marido, a natureza ou qualquer coisa para você contemplar. Isso porque qualquer coisa que você contemple é fruto da sua imaginação. É maya, é uma criação racional do ego... É fluído universal que o ego cria razões que afirmam que aquilo é natureza, ser humano, etc.

Portanto, a contemplação é inútil, porque não existe contemplador nem contemplado. Mas, além disso, como vocês contemplam as coisas? Pelas suas percepções...

Pelas suas visões, pelas suas audições, pelo seu paladar, olfato ou tato, mas nada disso existe também, porque vocês, espíritos, não percebem nada através do olho. Quem está percebendo, aliás, criando a percepção, é o próprio ego, a personalidade ilusória que vocês acha que é...

Então, porque perder tempo contemplando, ou seja, porque perder tempo aplicando valores as coisas, se você, como contemplador não existe, as coisas contempladas não existem e a sua própria contemplação é uma criação ilusória?

Participante: Quando o senhor estava falando me veio a seguinte idéia... É como seu estivesse olhando, sentindo, ouvindo, dentro de uma caixa. Acontece que quando eu retiro esta caixa existe outra... Quando me livro desta, outra aparece e assim sucessivamente... Então a gente nunca vai conseguir realmente chegar à Realidade...

Exato, cada caixa dessa é uma ilusão, um maya que o ego cria...

Sendo assim quando você estará dentro da Realidade total? Quando tirar todas as caixas.

Quando se libertar de tudo o que vê, de tudo o que contempla. Mas, para fazer isso é preciso parar de contemplar, o que, aliás, é o que o mestre pergunta ao final deste texto: “Como, então, contemplas e não te envergonhas”?

Sabendo disso, como, então, você vive dando valor às coisas do mundo, se não existem você, as coisas e os órgãos que usa para a contemplação? Você não se envergonha disso?

Você não se envergonha de dar valores ao que Deus fez? É, você deve ter vergonha de dar valores ao que Deus fez...

Se você olha uma flor e a contempla dizendo que é bonita, imagina que está dando valor positivo ao que Deus fez. Mas, quando você contempla um coco e dá a ele o valor de feio, nojento, está também falando do que Deus fez...

Será que você não se envergonha de dizer que Deus é capaz de ser nojento e feio?

Participante: Mas esta flor está dentro de uma caixa... Quando se tira esta caixa aparece uma outra realidade, mas ainda dentro de outra Realidade e assim vai até o infinito, pelo menos dentro da minha visão...

Sim, é isso. Cada vez que você muda uma contemplação ainda não saiu da caixa, mas apenas tirou uma para viver em outra.

Então compreenda isso e não queira alterar os valores, mas sim deixar de dá-los... Ou seja, diga logo que tudo é caixa e que não adianta querer simplesmente mudar de uma para outra que ainda estará vivendo dentro de caixas...

Tudo é ilusão. Não adianta querer contemplar de outro jeito. O que precisa ser feito é parar de contemplar. Não adianta querer mudar os valores...

Não adianta, por exemplo, querer dizer que não é flor, mas fluído universal. Mas, o que é fluído Universal? Você também não sabe... Você, ego, terá que criar um maya, uma ilusão, uma simples compreensão racional para dizer que o que é fluido universal...

A evolução espiritual, portanto, não acontece com a simples troca de contemplações, mas pelo parar de contemplar, de dar valores às coisas do mundo. É por isso que o mestre lhe pergunta: você não se envergonha de ficar sempre trocando de valores? De sempre caminhar de lado ao invés de ir para frente?

Não é isso que estamos falando em todos os momentos...

Participante: A caixa nada mais do que o limite de nossa própria visão. Nem a caixa existe enquanto realidade...

Perfeito... Aliás, nem você existe como Realidade, pois qualquer contemplação que fizer sobre você mesmo é um maya, uma ilusão.

Aliás, como falamos, você é um brilho. Mas, o que é um brilho? Não sei... Isso porque qualquer valor que quiser dar ao brilho será uma caixa à qual estará preso...

Participante: Então estamos aqui para viver cada caixa a cada segundo?

Não, o espírito não se humaniza, cria caixas, não para vivê-las, mas sim se libertar delas... Uma a cada segundo...

Viver a caixa é o que faz hoje. Sempre que você acredita no que a razão cria a partir de percepções, você está vivendo uma destas caixas que foi dita aqui...

Mas, você não está aqui para isso... Você humanizou-se para provar a si mesmo que ama a Deus acima da beleza ou feiúra da caixa em que vive.

A cada vez que consegue por em prática o amor universal, Deus retira uma caixa, ou seja, elimina o apego a uma crença racional...

 Participante: Quando Jesus falou que os olhos são a candeia do corpo e que quando ele é luz, tudo se ilumina, mas quando ele é trevas, grandes são as trevas no nosso corpo, ele quis falar das somatizações da falta de amor que promove a dor?

Não vamos intelectualizar tanto o ensinamento, porque Cristo não tinha nada de intelectual...

Quando o mestre afirma que é preferível arrancar o seu olho e ir para o céu sem ele do que entrar no inferno com o corpo inteiro, não está falando, claro, do olho físico. Ele está falando da visão, do ver, do compreender o que está vendo. Esta visão a que se refere o mestre nazareno é mesma contemplação que o mestre Dattatreya diz que o espírito puro não faz.

Cristo estava dizendo exatamente isso: pare de contemplar as coisas, de ver, de aplicar valores as coisas, porque é preferível ir ao Reino dos Céus sem saber nada do que está acontecendo, do que ir para o inferno como um profundo conhecedor. Aliás, o próprio Cristo ainda ensina assim: louvado seja Deus que mostra aos simples o que esconde dos sábios...

Mas, há uma passagem mais forte sobre o tema. Logo depois de Cristo falar isso, os apóstolos perguntam a ele: então, o senhor está dizendo que somos pecadores? O Cristo responde: se você diz que vê, é cego e pecador, porque aquele que vê verdadeiramente (espiritualmente falando), nada percebe.

Aí está a síntese do ensinamento. Enquanto você disser que vê, que sabe, é cego e pecador, porque ainda contempla, dá valor às coisas do mundo.

Agora repare uma coisa. Para poder comentar este ensinamento de um mestre hinduísta, utilizei ensinamentos de Cristo, Buda e Kardec, sem ser hindu, budista e espírita, pois estes religiosos não compreendem estes ensinamentos como eu falei, apesar de conhecer estas passagens que citei. Isto é ser universalista: olhar sob um único aspecto todos os ensinamentos.

Participante: A visão da natureza para quem a pode ver fora da matéria é muito mais linda, não?

Não...

Sabe porque? Porque quem vê fora da matéria não vê nada lindo: vê perfeito...

O lindo é uma compreensão racional humana, uma contemplação, um valor que o ego humano cria sobre o que Deus faz. O espírito liberto da personalidade humanizada não dá valor às coisas, ele simplesmente diz: natureza é natureza. Ela não é “boa nem má”, “certa nem errada”, “bonita nem feia”. Ela é simplesmente a natureza...

Mas, mais do que isso, ele sabe que ela é emanação de Deus e por isso a declara Perfeita. Se ela é Perfeita não pode ser “bonita”... Aliás, se alguma coisa pudesse ser chamado de “bonito” na natureza, esta coisa não seria a massa, mas a ação de Deus...

Enquanto você achar a natureza linda não vê a Perfeição na emanação de Deus...

Sabe qual a beleza da natureza? É a funcionalidade dela. Sabe porque uma planta é colorida? Para atrair os passarinhos é assim garantir a continuidade da espécie...

Isso é lindo, isso é maravilhoso porque é ação de Deus que dá cor às plantas para garantir a reprodução. Agora, dizer que a cor ou a forma é linda é prender-se à matéria que é ilusória. E quem faz isso não vê a emanação de Deus, porque não vê a funcionalidade das coisas...

Participante: Quando estou fora da matéria vejo a natureza mais bonita, como se fosse numa fotografia à cores...

Deixe-me dizer uma coisa...

Apesar de você achar que está mais espiritualizado porque está fora da carne, isto não é real... Não é a carne que dá a humanização, mas a razão. Mesmo quando fora da carne você ainda está preso à consciência racional que vive hoje e por isso ainda é o mesmo ser humanizado.

Sendo assim, o que você está vendo ainda é uma das caixas que foram faladas aqui. Mesmo fora da carne, quando acha a natureza “bonita”, ainda está criando uma verdade.

Só isso...

Unidade - Capítulo 1

Despedida de palestra

Reproduzir todos os áudiosDownload
Despedida de palestra

Que vocês fiquem com a paz de Deus e que Maria possa auxiliar cada um neste processo que eu sei, não é simples, pois exige de você. Mas, você nasceu para isso, veio à carne porque se comprometeu com Deus que ia fazer isso.

É... Você não nasceu porque seu pai e sua mãe tiveram uma noite de amor, mas veio à carne porque buscou a elevação espiritual e se comprometeu com Deus em realizá-la.

Portanto, seja fiel a Deus. Lembre-se desta promessa que fez ao Pai e tire da vida carnal qualquer outro objetivo, porque qualquer outro será um compromisso assumido com você mesmo, depois do assumido com Deus. Então, ao invés de ficar sentado, parado, vivendo esta vida, lute para honrar o compromisso que assumiu com Deus e que deu origem a esta encarnação.

Já falamos que existem dez espíritos esperando você desencarnar para que eles tenham oportunidade de realizar suas provas. Portanto, lembre-se que se você perder esta oportunidade terá que voltar para o fim desta fila. Terá que novamente esperar uma oportunidade para encarnar.

Para que começar tudo de novo? Você já está aqui, aproveite esta oportunidade. Não fique como alguns que se “escondem” atrás do conhecimento da reencarnação e afirmam que realizarão suas provas em outras vidas...

Isso é comodismo, isso é preguiça, no sentido espiritual. Isso é não agir.

Você tem muitas vidas sim, mas numa delas terá que realizar o que hoje teria que fazer. Então seja fiel a Deus e a você e faça logo...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 27

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 27. Eu não conheço O venturoso, como posso falar sobre Ele? Eu não conheço O venturoso, como posso adorá-Lo? Eu sou O venturoso, a verdade mais elevada, a essência homogeneamente una, livre e ilimitada como o espaço.

O Venturoso neste caso é Deus...

Eu diria com certeza que nenhum ser humanizado sabe quem é Deus e nem pode saber... Nenhum ser humanizado conhece Deus... Aias, como afirma o Espírito da Verdade: o ser humano não tem condições de saber quem é Deus porque lhe falta um sentido para tanto...

Sendo assim, por que vocês ficam criando teorias sobre o que é Deus?

Sabe, o homem, o ser humanizado, quer dominar tudo no Universo. Por isso, quando não consegue conhecer, saber como as coisas são ou aconteceram, inventa teorias sobre elas e passa a acreditar no que criou como se aquilo fosse Verdade Absoluta... A ciência, pela própria teoria de vocês, deveria ser alguma coisa exata, precisa, ou seja, comprovada, mas o ser humanizado inventa teorias, afirma que elas são verdadeiras e as utiliza para consubstanciar outras.

 Por exemplo: o Big-Ben, a grande explosão que criou o Universo. O ser humanizado inventou a teoria de que houve uma grande explosão e que dela surgiu o Universo. Mas, para alguma coisa explodir era preciso que algo haja... Mas, se não existia o Universo, o que explodiu para criá-lo?

Veja bem... Se houvesse um só planeta que se fragmentou para dar origem aos demais, já haveria o Universo, mesmo que composto de apenas um planeta. Sendo assim, nada teria começado naquele momento, pois o Universo já existia...

Os religiosos agem da mesma forma... Querem saber quem e Deus, mas não conseguem porque, desculpe-me dizer, ainda falta muito para nós conhecermos Deus... Por isso inventam teorias que afirmam que são Verdades Absolutas a respeito do Senhor...

Mas, como estas teorias são criadas? A partir do que o ser humanizado constrói a compreensão do que é Deus? A partir da lógica material? Mas, a lógica material não é a Realidade do Universo: é mera ilusão...

É exatamente por causa da inaptidão para conhecer Deus que Dattatreya afirma que para nós isso é impossível. É desta Verdade que surge o grande ensinamento deste trecho: é preciso parar de se intelectualizar a elevação espiritual.

Cristo, o caminho para Deus, ao dar os mandamentos necessários para que o ser humanizado promova a sua espiritualização, não falou em conhecer Deus ou nada. Ele disse apenas ame...

Mas, o ser humanizado não quer amar, pois para isso terá que se doar... Por isso prefere apegar-se a buscar a Deus culturalmente como trabalho da elevação espiritual.

 Transforma a busca a Deus em uma atividade intelectual, cultural, para dizer que está fazendo alguma coisa... Mentira, embromação... Mas, eles estão embromando quem? A eles mesmos, que não vão aproveitar a sua chance de encarnação.

Não vão aproveitar a sua oportunidade de elevação, porque ficarão presos aos mayas, às ilusões carnais, acreditando que o Universo é a Realidade do ser encarnado...

Os humanos que buscam a Deus se dizem espiritualistas, mas não entendem que não podem receber este rótulo, a não ser que abandonem o materialismo... Mas, deixar de ser materialista não é simplesmente não querer mais coisas materiais, mas não viver a materialidade (vida carnal) por ela mesma (com os valores do mundo humano), mas vivê-la pela influência do espírito (a partir dos valores espirituais).

Portanto, preocupem-se apenas em amar...

Não se preocupem em saber quem é Deus, como o ectoplasma quando em contato com tal energia reage... Tudo isso é ilusão... Caminhar nesta trilha é você se iludir, pois afirma que está buscando a Deus, mas na verdade está querendo ser considerado sábio, ou seja, buscando sua fama individual... Para esses cito um ensinamento de Cristo: louvado seja Deus que mostra ao simples o que esconde do sábio...

Alcançar a evolução espiritual é alcançar a verdadeira sabedoria, que se resume em apenas amar...

Se alguém quiser saber um pouco mais sobre sabedoria, leia o livro Eclesiastes que Salomão escreveu e que está na Bíblia sagrada. Aí vocês poderão ver o que um Sábio diz sobre ter sabedoria...

Participante: Deus é a Causa Primeira e última... Seria isso?

Não, isso não é uma definição de Deus.

A pergunta número um de O Livro dos Espíritos não responde quem é Deus, mas sim o que é Ele... A resposta, ser a causa primária de todas as coisas e ter a inteligência suprema, portanto, nos mostra a função que Deus representa para o Universo, o que é Deus.

Conhecer isso é importante para a elevação espiritual. Agora, definir quem é Deus – um velho de barbas longas, um aglomerado de energias, que o Universo é seu corpo – é querer intelectualizar a elevação espiritual.

Para quem se diz buscador, é melhor simplesmente saber que existe um Ser Supremo e entregar-se a Ele do que querer conhecê-lo...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 28

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 28. Eu não sou matéria, mas um princípio imutável e além do alcance da imaginação. Sou livre de toda a servidão, nem sou alguém que escraviza (outros). Como posso, então, ser cognoscível em minha natureza?

O espírito não é a matéria: está muito acima dela. Exatamente por estar isso não é escravo de nada nem de ninguém. Se ele não é escravo de nada nem ninguém, porque escraviza outros?

Eu gostaria de fazer uma pergunta: a escravidão é permitida no planeta hoje? Vocês me diriam que não, que não é mais permitida nem aceita a escravidão no planeta...

Mas, o que é o seu filho, senão o seu escravo, pois tem que fazer o que você quer... O que é a sua mulher, o seu marido, o seu amigo, a quem você quer obrigar a realizar o que acha “certo”?

É pura escravidão. O ser humanizado que quer ditar regras e normas para a sociedade e para o próximo é um senhor de escravos... Ele quer escravizar a humanidade ao seu querer, à sua vontade...

Essa é uma coisa que precisa começar a ser pensada por aqueles que se dizem buscadores, para acabar com a hipocrisia em suas vidas: “eu luto pelos direitos dos outros... desde que não fira o meu, pois o meu direito e a minha vontade está acima de tudo”.

Quem disse? Quem disse que você veio a esta vida para ser satisfeito, para ser servido pelo mundo? No Livro dos Espíritos está escrito que você veio aqui fazer provas vivenciando vicissitudes e assim realizar o trabalho da elevação espiritual. Ou seja, você não está de férias para que o mundo faça por você o que quer...

Você está a trabalho... Não o trabalho de realizar uma família, um benefício social, construir uma carreira de renome, plantar uma árvore ou escrever um livro... Não, você está encarnado para realizar um trabalho de elevação espiritual que se consiste em amar a todos e a tudo... Mas, que amor é este que resulta do seu trabalho que impõe regras? Que impõe condições para existir: eu lhe amo se, quando...

Esse amor é hipócrita porque é fundamentado no egoísmo. É amor a você e não ao próximo ou a Deus...

Os seres humanizados precisam começar a repensar a vida seriamente. Precisam acabar com o amor hipócrita nas suas vidas...

Aliás, não é só na religiosidade que a hipocrisia existe... Ela domina a existência de todos os seres humanizados.

Eu gostaria de saber o que faz, por exemplo, o ecologista... Luta pela preservação da natureza, é isso?

Mas, apesar desta pretensa luta, ele não deixa de ter o carro dele, que é feito de alumínio ou de morar em casas de alvenaria... Vocês sabiam que morros são desmoronados e a natureza é atingida para se obter estes elementos?

Os ecologistas não deixam de usar combustível, seja nos seus carros ou para se aquecerem... Mas, para que o elemento que forma este combustível seja retirado, todo um eco sistema sofre...

Ah! Eles dizem: isso pode... Estas alterações podem e precisam existir... Claro que sim: eles querem que possa, já que se beneficiam individualmente disso... Mas, agora quando eles não querem ou tiram vantagem individual, nada pode...

É, o ser humanizado vive hipocritamente porque submete a lei à sua própria vontade, ao seu ganho pessoal...

Estudamos o Livro dos Espíritos... Quando fizemos isso, muitas pessoas afirmaram que o que eu falava era devaneio... Mas, nunca alterei uma palavra do que estava escrito... Como então, pode ser devaneio meu?

Somente é devaneio para os hipócritas: aqueles que acham que é “certo” apenas o que eles acham dessa forma, o que eles querem que esteja “certo”... São hipócritas porque querem obrigar a todos a quererem o que eles querem. Esta é a escravidão à qual um ser humanizado prende outro...

Participante: Acredito que o espírito que encarna não é obrigado a realizar o trabalho espiritual, mas ao não buscá-la, evolui menos... Simples assim...

Exato, você não é obrigado a buscar a elevação espiritual...

Agora não estou falando aqui para pessoas que não buscam elevação espiritual, mas sim que se apresentam como buscadores. Apesar de se declararem dessa forma, não querem ampliar sua visão e ficam buscando apenas numa verdade. Estes não compreendem que ao dizerem “eu sei” ou “a minha doutrina sabe”, passaram a ser dominadores e com isso perderam toda a oportunidade da evolução espiritual.

Mas, se a platéia aqui presente fosse de pessoas que não estão buscando, não havia nem sentido em falar o que estou dizendo, pois ninguém é obrigado realmente a buscar a elevação espiritual.

Participante: A partir da sua visão da hipocrisia, digo que os vegetarianos, então, deveriam usar roupas feitas de plantas ou de fibras vegetais...

Sim... Mais do que isso: eu acho que o verdadeiro vegetariano deveria andar nu...

Vocês estão assustados com o que eu disse? Por que? Qual o problema de andar nu? Ferir uma regra da sociedade? Eu lhes garanto: o primeiro reflexo do egoísmo é esconder-se sobre roupas...

Sabe porque digo isso? Sabe qual foi a primeira coisa que Adão e Eva fizeram depois de comer a maçã? Cobriram a sua nudez... Este é o primeiro reflexo do pecado original e o ser humanizado até hoje continua se cobrindo...

Deveria então é andar nu. Todos deveriam andar nus. Aí talvez vocês fossem mais felizes. Isto porque, quanto mais se aumentam as coisas do planeta, mais aumenta a dualidade.

É porque existe um carro, por exemplo, que existe a dualidade entre a locomoção: de carro ou a pé... Mas não para por aí... A partir da existência do automóvel começam a haver as dualidades entre os tipos de carro, ano, potência. Cada vez mais a humanidade vai fracionando o que é UM.

Por isso, eu chamo de retrocesso tudo que você chama de avanço material. Falo assim porque todos os avanços materiais contribuem para fragmentar a Unidade.

Participante: Mas uma coisa não está necessariamente ligada a outra...

O que? O que não está necessariamente ligado? A fragmentação da Unidade? Claro que está...

Deus é UM e nós somos UM com Deus. Esta é a Realidade...

Somos nós que fragmentamos o que está em Unidade. Além disso, é exatamente por fragmentarmos que estamos no processo de provas e expiações, pois este trabalho de elevação espiritual é realizado para que o ser universal abandone o mundo dual e retorne ao mundo Uno: ser UM com Deus, estar com Deus...

Participante: Você pode usar tudo que existe sem necessariamente deixar de estar com Deus...

Pode usar, mas não pode precisar...

Na hora que você depender de qualquer coisa criou uma condição e esta lhe leva a viver no dualismo. Você pode ter um carro, por exemplo, sem ter a necessidade de ter, sem se prender a ele.

Desculpe se eu pareço puritano, mas eu sou um espírito e não um ser humano. O espírito é puritano porque é puro...

Participante: O que não pode é ficar preso ou escravo por causa dessas coisas...

Nem escravizar por causa dessas coisas...

Participante: Você fala no grande apego material que o ser humanizado tem?

Sim, no grande apego que os seres humanizados têm ao mundo material Mas, não falo do apego aos objetos materiais, mas do apego às verdades materiais.

O apego se dá quando você quer ter a verdade sobre as coisas. Quando diz que precisa de um carro, gerou um apego, tendo ou não este objeto...

Apego não é ter, mas ter a verdade das coisas, depender das coisas, querer dizer o que elas são. Isso é posse...

Participante: Sentir o prazer em ter e sofrer por não ter...

Perfeito...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 29

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 29. Não existe outro senão o Um eterno, nenhum outro senão o princípio da existência. Apenas Atma é a verdade mais elevada. Não existe um que mata, nem o ato de matar.

Ouviram? Não existe um que mata, nem o ato de matar... Sabe por que? Porque ninguém morre, ou melhor, nada morre...

O livro máximo dos hindus, o Bhagavad Gita, é exatamente uma conversa de Arjuna com Krishna onde o mestre diz ao seu seguidor que ele tem que ir lutar e matar seus parentes. Ensinando ao discípulo, Krishna diz: o espírito não morre, nem a matéria. Ela se transforma.

Sendo assim, qual o problema, então de haver um assassinato? Será que o problema está realmente na morte do próximo? Não, os seres humanizados não querem que os assassinatos aconteçam porque eles não querem que os outros morram... Porque vão sofrer pela saudade do outro... Porque acham que este acontecimento não devia acontecer...

Ou seja, repugnam o assassinato por causa de si mesmo, por causa de suas verdades e desejos e não por causa de quem morreu... Isso é egoísmo puro...

Não estou dizendo que tem que se matar os outros, mas que isso faz parte da existência. A morte é apenas um acontecimento da vida: nada mais do que isso...

O que estou dizendo é que não deve haver um apego à vida que transforme o assassinato em um crime hediondo...

Que crime? Eu diria – e esta informação está em O Livro dos Espíritos – que o melhor momento da existência de um espírito humanizado é quando ele se liberta da personalidade temporária que vivencia durante aquilo que é chamado de encarnação, ou seja, morre. É um momento de felicidade suprema para o espírito...

Tal felicidade existe independente da forma como o espírito desencarna. Em O Livro dos Espíritos não está escrito que é o momento máximo só quando ele morrer por morte natural, por doença ou sem dor... Está escrito: no desencarne existe o melhor momento para o espírito. Apesar disso, a humanidade – e entre os humanos os próprios espíritas – se arvora em juiz e julga e critica os outros...

Deixe-me falar uma coisa: o exemplo mais usado na literatura espírita para abordar o assunto do carma é “eu matei na outra vida, tenho que ser morto nesta” Isso acontece toda hora na literatura. Por que lá está certo e na vida real não?

A morte ou qualquer acontecimento da vida carnal é carma, ou seja, é a justa reação a uma ação anterior sua... Aquele que é assassinado está vivendo um carma. Ele não está sendo assassinado, mas vivenciando o seu carma.

É por isso que o mestre diz: não existe assassinado ou assassino; existe um carma sendo vivido e um agente carmatico que participa desse carma...

Vocês poderiam então me dizer: a partir do que o senhor falou, não vamos mais prender bandidos... Não é isso que estou dizendo. Para os agentes carmaticos do assassinato existe o carma da prisão...

Agora, aqueles que não autoridades responsáveis por este carma (agentes carmaticos do carma da prisão), que tomam apenas conhecimento do assunto e que um dia, por situação carmatica, podem ser assassinados, não devem se revoltar contra o assassino. Não devem se arvorar em juízes e julgar as pessoas.

Os seres humanizados responsáveis por isso podem cumprir a lei encarcerando aqueles que mataram, mas nem eles e mais ninguém pode dizer que aqueles não prestam, são safados ou monstros... Isso não pode ser feito, pois é resultado de uma prática individualista.

Aliás, Cristo ensinou a amar a todos, principalmente o inimigo... Ou é isso, ou não sei mais o que Cristo ensinou...

Participante: O que o senhor falou a respeito do desencarne ser o momento mais feliz para um espírito é verdade, mas quando a libertação é em caráter normal e este espírito está preparado compreendendo que a vida prossegue e não ao contrário.

Veja bem... Existe uma pergunta em O Livro dos Espíritos que tira nossa dúvida a respeito disso...

“853a Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos? Não; não perecerás e trens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes o Espírito também o sabe, por lhe ter sido revelado, quando escolheu tal ou qual existência.”

Ou seja, todo mundo morre na hora certa de uma forma pré-conhecida por Deus e pelo espírito. Se ele sabe, posso dizer que está preparado no inconsciente para a sua hora. Agora no consciente, onde comandam as verdades individuais nutridas pelo egoísmo caracterizador da humanidade, não está preparado e mais: repugna a morte...

Deixe-me dizer algo: nenhum ensinamento, seja de que mestre for, pode ser dual. Ou seja, valer algumas vezes e não a outras.

É muito fácil adaptarmos os ensinamentos dos mestres à nossa vontade... Por exemplo, é muito fácil Cristo dizer que devemos amar a todos, mas nós escolhermos a quem amar; estar escrito em O Livro dos Espíritos o texto que citamos, mas assim mesmo imaginarmos que uns sabem e outros não a hora da morte ou que a este acontecimento pode chegar por meios que Deus desconhecia ou em momento indevido...

Isso não pode acontecer... o ensinamento é Absoluto, ou seja, aplica-se a todos e a tudo... Cristo ensina amar a todos. O bandido, o assassino, faz parte do todo, então você tem que amar a todos...

Participante: Mas, Kardec fala que existem espíritos que não estão preparados para a morte...

Olha, Kardec não é o porta-voz da doutrina dos espíritos, mas sim o Espírito da Verdade. A função de Kardec foi apenas a de compilar os ensinamentos, mas o único que pode falar pela doutrina dos espíritos é o Espírito da Verdade e ele disse o que transcrevemos acima...

Além disso, entenda uma coisa: não pode haver espíritos encarnados não preparados para a evolução espiritual. Isso porque senão Deus não os colocaria na carne. É, a encarnação é concebida por Deus e administrada por Ele. O espírito não encarna porque ou quando quer: isso está em O Livro dos Espíritos.

Agora, se houvesse um Deus que colocasse na carne um espírito que não estivesse preparado para a batalha, este seria um senhor sádico e não justo e amoroso. Deus dá a cada um a cruz que o espírito pode carregar.

O que pode haver são espíritos que encarnam e que não estão preparados para o espiritismo: neste ponto posso concordar com você. Mas, eles são evangélicos, católicos, budistas, hindus, mulçumanos ou seguem quaisquer outras doutrinas que lhes serve como caminhada para aproximar-se de Deus, ou seja, para fazer a evolução espiritual.

Ou seja, não quer dizer que por não serem espíritas não podem alcançar a evolução espiritual. Todos os mestres ensinaram a evolução espiritual. Aliás, Cristo disse que ele era o caminho e, se não me engano, naquela época não existia o espiritismo, a doutrina espírita. Será que ele não alcançou os céus por causa disso?

Saiba de uma coisa... Se o hindu faz o que Krishna ensinou, mesmo que nunca tenha ouvido falar de Kardec, alcançou a evolução espiritual. Se o evangélico fizer tudo o que Cristo ensinou, ele vai realizar a evolução espiritual, mesmo que não acredite em espírito ou em reencarnação.

Participante: Falamos de espírito encarnado... O véu do esquecimento apaga a memória de quando estava errante. Isso acontece com todos os espíritos, espíritas ou não...

Sim, o véu do esquecimento encobre a memória, mas para isso existe o ensinamento religioso: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Você pode até nem saber que existe um espírito ou que existe reencarnação, mas com certeza já ouviu isso...

Portanto, ame a Deus e ao próximo acima de tudo que acha, que gosta, que quer, que alcançará o Reino do Céu...

Para encerrar, só quero colocar bem claro uma coisa: todo espírito está preparado e dispõe de todos elementos necessários para realizar os objetivos da encarnação, não importa a religião que freqüenta. Aquele que é evangélico, por exemplo, está preparado para a evolução espiritual dentro dos ensinamentos de Cristo.

Agora, ficar discutindo e defendendo uma verdade individual é prova de não cultura espiritual, é prova de não amor universal. Saiba: o único que sabe a Verdade no Universo é Deus, mais ninguém, e amá-Lo acima de todas as coisas é doar a Ele a compreensão perfeita de tudo.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 30

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 30. Quando um vaso se parte, seu espaço interior surge para o espaço universal; similarmente, na mente pura, apenas o Atma imaculado permanece. E então nenhuma diferença, em absoluto, existe para mim.

O vaso que ao qual o mestre se refere neste trecho é o corpo. Quando o corpo se parte, ou seja, há o processo chamado morte, o interior, o espírito, volta para o Universo.

Sendo assim, podemos dizer que não há morte, já que nada morreu, nada acabou. O espírito continuará a sua existência no Universo dentro do seu grau de consciência e a carne vai para baixo da terra se transformar em adubo que semeará as hortaliças que amanhã você vai comer.

Então, porque ficar chorando morte, por que ficar chorando um defunto? Por causa do egoísmo...

Saiba de uma coisa: ninguém chora o defunto. Choram a sua saudade do defunto.

Choram porque não mais verão aquela pessoa, por que não mais falará mais com ela. Choram porque sofrerão com a ausência, ou seja, estão preocupados consigo mesmo e não com quem foi...

Se estivessem realmente pensando no próximo, fariam uma festa. “Olha que coisa boa, o espírito que era o meu pai voltou para casa. Que maravilha, vamos festejar”. “O espírito que era meu irmão (minha mulher, meu filho, meu amigo), agora poderá viver no Universo, no Atma, no espiritual. Vamos festejar, vamos manter nossa felicidade”.

Mas não é assim que os seres humanizados reagem... Eles choram porque estão preocupados com o seu próprio sofrimento ao invés de glorificarem-se pelo irmão espiritual.

Tem mais: choraram para mostrar quanto são bons, que têm sentimentos humanos. Estão preocupados com a sua fama humana, pois se não chorassem, seriam criticados, apontados como frios... Isso eles não querem...

Mas, estão chorando o que? A sua mãe? Mas, ela está viva... O que desapareceu foi a carne e não a sua mãe...

Sim, o ser humanizado chora por causa da carne e não por causa do espírito. Então não amava a mãe, mas a carne.

Se você ama carne (a figura, a estampa humana), vai ao açougue compra carne e coloca na sua cama... A abraça, faz carinho nela...

Estou falando algo errado? Não, a carne de vaca é igual à carne humana, pois como já vimos, tudo fluído universal, tudo é constituído do mesmo átomo universal.

Então, compra um bife e dorme com ele que é a mesma coisa que dormir com o corpo de sua mulher...

Participante: Que horror...

Não tem horror; tem verdade. Sei que o que estou dizendo está lhe chocando, mas temos que nos chocar com a hipocrisia do ser humano, se quisermos fazer alguma nesta vida pelo nosso lado espiritual...

É hipocrisia. Diz que está chorando pelo outro, mas está chorando é a sua saudade, a sua vontade de estar com ela... Isso na minha terra tem outro nome: egoísmo.

Chorar pelo outro é egoísmo, pois com isso se prende este ser que poderia se lançando no espaço aqui neste mundo, simplesmente para você se satisfazer. Simplesmente para que possa ter a sua mãe do seu lado...

Estou falando isso para mostrar ao ser humanizado como ele é hipócrita ao dizer que está chorando a uma mãe, quando, na verdade, está chorando o seu próprio sofrimento...

 Estou falando assim, para que vocês, ao invés de chorarem nos velórios e enterros, possam fazer uma festa porque o seu ente querido está entrando na glória de Deus, porque este espírito se libertou desse campo de batalha chamado vida humana...

Participante: Voltando ao assunto do preparo do espírito para a morte, se todos estão preparados como disse, como é que a literatura fala de trabalhadores que libertam seres que estão presos ao corpo mesmo dentro da sepultura. Se estivessem preparados, teriam que abandonar o corpo depois da morte deste...

Veja o que eu disse: conscientemente podem não estar preparado, mas inconscientemente está.

No consciente pode não estar preparado porque viveu a vida toda se preparando para sempre estar vivo. Agora, na sua consciência espiritual – que, aliás, é a única coisa real – encoberto pelo véu do esquecimento, existe este preparo...

O ser humanizado leva a sua vida inteira preparando-se para as diversas etapas dela, mas não se prepara para a única que é certa: a morte... Prepara-se para casar, criar filhos, construir um futuro profissional, gozar uma aposentadoria, mas se esquece de que tudo isso pode ou não acontecer, mas a morte chegará inevitavelmente...

Por que não se preparam para morrer? Porque, mesmo tendo a informação de que é um espírito, não se vêem como espíritos...

Todos os espiritualistas têm a informação de que é um espírito, mas quer viver a vida humana como ser humano...

Eles precisam aprender a viver a vida carnal como espírito, pois, como dizem vocês, “é o hábito do cachimbo que deixa a boca torta”. Se não viverem à vida como uma consciência “ser espírito”, no momento da morte, ficarão presos à carne...

O saber cultural nada vale neste momento... Por mais que o espiritualista diga que sabe que é um ser universal, sem alterar os valores de sua existência carnal para aqueles que pertencem ao universal, ficarão presos à carne depois do desencarne e assistirão os bichos comendo a sua carne...

Participante: Os budistas comemoram o desencarne...

É, toda cultura oriental comemora o desencarne. Só a ocidental tem o apego à matéria. Mas, isso é carma também...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 31

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 31. Não existe o vaso, nem o espaço ocupado por ele; tampouco a alma individual ou seu receptáculo. Conhece o Brahman apenas, em quem não existe o cognoscente ou aquilo que é paira ser conhecido.

Não existe o vaso, ou seja, não existe o corpo: isso o mestre já nos tinha dito. Mas agora ele diz mais: nem o espaço que ele ocupa... Vamos tentar entender isso...

A noção de espaço só existe para aqueles estão encarnados, que estão aprisionados ao valor de Real para aquilo que o ego constrói. A Noção de espaço é uma percepção. O ego cria a percepção de que há um espaço, mas ele não existe.

Mesmo se pensarmos em Universo, o espaço não existe. Sei que a literatura espírita fala em diversas dimensões. Mas, estas outras dimensões não são outros espaços, mas sim vidas no mesmo espaço com percepção de densidade de matérias diferentes...

Precisamos nos desligar das noções de espaço. Não há espaço... Não há tempo...

Estas são noções só servem para vocês se guiarem na vida encarnada. Mas aquele que busca se elevar, não se apega às estas questões.

Claro que enquanto vocês estiverem na carne verão um espaço à sua frente, mas aquele que busca se elevar, mesmo vendo-o, não se apega a ele...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 32

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 32. Conhece o Atma como o eternamente verdadeiro em todos os lugares, em todos os tempos, porque de todas as maneiras o mundo é irreal, mas o Atma é a própria realidade. Sabe que assim existo, sem dúvida.

O Atma é o espiritual, o universal. O mundo humano, aquele que é percebido pelos órgãos de percepção do corpo, é irreal e as coisas que pertencem a ele são irreais. Tudo é ilusão...

Olhe na casa de vocês; aí tem uma mesa? Isso é ilusão... Não existe mesa já que em O Livro dos Espíritos está informado que só existe o fluído Universal, que não possui forma. A mesa, portanto, é uma ilusão, porque o Real é o fluído universal...

Conhece o atma, conhece o espiritual, nos ensina Dattatreya, e a partir do que souber, aplique uma lógica diferente à sua vida. Se depois que tiver informações do universal permanecer vivendo a mesma lógica dos seres humanizados, se tornará um ser humanizado, ou seja, de nada adiantará aquela informação para a realização do objetivo da encarnação: a elevação espiritual...

Viver com a crença de que existe um corpo físico, um micróbio, uma doença, que o cigarro é inteligente para formar um câncer por si só, quando sabe, pois já teve a informação, que tudo é formado de fluído cósmico universal e tem a sua causa formada primariamente por Deus, não adianta nada. Você sabe que tudo é formado de fluído cósmico universal e que Deus é a Causa Primária de todas as coisas, mas não aplica estas verdades à sua existência.

É isso que Krishna chama de maya, ou seja, ilusão... Não adianta apenas saber, estar escrito em O Livro dos Espíritos: se você não aplicar isso ao seu dia-a-dia não consegue viver a Realidade...

A aplicação destas Verdades a tudo que sabe e conhece consiste em dizer que nada existe, ou melhor, que nada existe do jeito que você diz que é... O leva a ter a consciência de que tudo existe de um outro jeito, numa outra realidade, formado com outras verdades que você, preso à sua ignorância material, não conhece... Por isso, prefira sempre não saber de nada...

O trabalho da evolução espiritual foi muito bem definido por Cristo: libertar-se do mundo, das coisas materiais.

Não adianta acreditar em espírito e chorar em enterro; acreditar em reencarnação e abominar um assassino que é um instrumento carmatico. Não adianta acreditar na existência de outras vidas e com isso saber que o espírito está reencarnado, mas dizer que existe uma criança pura e inocente. Só há espíritos velhos, cheios de carma.

É isso que estou querendo explicar. Precisamos extrapolar o mundo material...

De nada adianta apenas saber o que está escrito em O Livro dos Espíritos, nos Vedas, na Bíblia ou em qualquer lugar, se na hora que vive (vivencia acontecimentos) não coloca estes ensinamentos em prática. Se na hora que está vivenciando os acontecimentos do mundo não coloca os ensinamentos em prática, eles viram cultura inútil...

Quando não pratica o que sabe, você se transforma numa estante, ou seja, apenas um lugar de guardar informações... Saiba de uma coisa: se você persiste em apenas saber, acabará sendo menos sábio que a estante, pois ela pode guardar todos os ensinamentos do mundo enquanto você só consegue registrar uma parte deles...

A diferença entre os seres humanizados, o espírito, e a estante é que eles têm a oportunidade de colocar na prática a cultura que têm. Para isso é preciso que este ser viva vinte e quatro horas por dia o ensinamento que tem, ao invés de vivenciá-lo apenas nos seus momentos de religiosidade: na hora que está no centro, num trabalho espiritual, na igreja.

É preciso trazer o conhecimento espiritual para a vida e aí começar a mudar as coisas da vida...

Participante: O que o senhor falou a respeito das crianças é uma verdade... Mas, nas primeiras idades o espírito não tem consigo uma visão geral do que se passa. Isso porque o corpo não está completo... É um instrumento desafinado...

Veja: o corpo pode não estar completo, mas o espírito está. O espírito não é novo nem incompleto: é um ser pronto e acabado que já viveu diversas outras existências e que, por isso, acumulou diversos carmas...

Sendo assim, uma criancinha que passa por uma situação hedionda, mesmo que não compreenda o porque daquilo, é um espírito vivendo o seu carma... Não é porque o corpo está incompleto que a criancinha deixa de ser um espírito velho. Os carmas não são apagados enquanto se vive como criança...

A frase onde Cristo afirma que você deve ser como uma criança para entrar no Reino do Céu até hoje não foi bem compreendida. Ser uma criança é viver na liberdade, na inconseqüência que caracteriza a infância.

Ser criança é viver a vida com a felicidade, mesmo que se tenha apenas um pedaço de lata para brincar. Mas, você, o ser humano adulto, aquele que se considera completo e apto para a vida, não quer brincar com um pedaço de lata: quer carros possantes, empregos astronômicos.

É isso que é ser a criança que Cristo falou. Ele disse que quem viver assim entrará no Reino do Céu.

Ele não falou em pureza inapta nas crianças, mas que você deve ser uma criança no seu relacionamento com o mundo, pois a forma como se relaciona com a vida é que determina se você entra no Reino do Céu...

Participante: Não estou falando de carmas... O espírito é entendido como uma criança quando não consegue obrar como quando em adulto corpo...

Como não falar de carmas, se estamos falando de um espírito adulto?

Veja, você está confundindo as coisas. Está fixando-se no vaso que o espírito ocupa ao invés de compreender que o que realmente existe é apenas o interior deste vaso...

É isso que estou querendo lhe mostrar. Veja bem: se você sabe que o espírito não retroage, precisa saber que ele não vira criança, nem passará por uma adolescência e uma maturidade. É isso que estou querendo dizer...

É preciso trazer o ensinamento para a vida. Ao invés de ficar dizendo que sabe que existe a reencarnação de espíritos velhos, ponha este ensinamento em prática...

Que adianta você dizer que sabe, mas acreditar na existência de uma criança e que este espírito perdeu todo o seu passado espiritual quando encarnou?

Sim, falo assim, porque quando você diz que não está falando em carmas na criança, está dizendo que este espírito ou é incapaz de viver a sua existência espiritual ou que o seu passado foi momentaneamente suspenso... Claro que nada disso aconteceu: ele é um espírito completo e todo o seu passado está presente hoje na forma de carmas, ou seja, de reações à ações anteriores...

Sendo assim, não dá para viver com a consciência da existência de crianças quando se sabe da realidade da reencarnação. Para a elevação espiritual esta sua cultura foi inútil, pois de nada adiantou saber, porque na hora de usar não usou...

Participante: Eu não disse que o espírito é uma criança...

Você disse que o espírito não pode realizar coisas espirituais, ou seja, vivenciar carmas... Ele pode fazer coisas espirituais já que é um espírito. Entre estas coisas está presente o vivenciar carmas...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 33

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 33. Não existem os Vedas nem as diferentes religiões; tampouco os deuses ou os sacrifícios; nem as etapas diferentes da vida, família, ou casta; tampouco a trilha de fumaça ou a trilha da luz; apenas existe o Brahman, a verdade mais elevada.

Não existe religião, ensinamento religioso, santos ou os deuses... Não existe nada: só Deus é Real. O resto é simplesmente criação do ser humano, idolatria criada pelo ser humano.

Shiva é um espírito, não um deus. Cristo é um espírito, não o próprio Deus. Aliás, o próprio Paulo, o apóstolo que mais conheceu dos ensinamentos de Cristo, afirma que ele é o Filho de Deus e não o próprio...

Mas, se eles são um espírito, lhes pergunto: o que é um espírito? Um clarão... Você sabe o que é um clarão? Nem eu... Portanto, como dizem que sabem que é Cristo e como ele agirá? Mera idolatria buscando tirar vantagem individual: ser satisfeito em seus desejos humanos...

É isso que é trazer o ensinamento para vida, vivê-lo...

Não se pode apegar-se a uma religião, a um livro, a um deus ou a um santo. Não se deve apegar-se a uma doutrina, mas viver para Deus, com Deus e em Deus. Viver em perfeita harmonia com Deus é a prova da elevação espiritual.

Mas, se isso é verdade e se na Bíblia está escrito que se Deus é por nós ninguém pode ser contra, pergunto: quem você pode acusar de lhe fazer o “mal”? Quem você pode acusar de não prestar e ser capaz de lhe ferir se Deus é por você? Ninguém, não é mesmo...

No entanto, vocês vivem pelo mundo acusando todos de estarem sempre prontos para lhes fazer o “mal”. Por que agem assim/ Porque não vêem Deus sendo por você. Não estão em harmonia com Deus, mas sim com uma religião, com um mestre, com um guru, com um santo...

É preciso ultrapassar tudo isso e trazer Deus para a vida, para o seu lado. É preciso tirar Deus deste céu que vocês prenderam Ele.

Apesar de O Livro dos Espíritos dizer que Deus é atuante, pois é a Causa Primária de todas as coisas, vocês só aceitam esta atuação quando diz respeito aos bichos, à natureza, etc... Não aceitam que Ele opere na vida de vocês porque se consideram seres humanos, seres que são capazes de realizar tudo...

Deixe-me contar uma história... Os cientistas resolveram num congresso que agora que já sabiam clonar seres humanos poderiam dispensar Deus. Aí discutiram e um deles se ofereceu para ir falar com o Senhor.

Quando chegou lá disse: Nós nos reunimos e chegamos à conclusão que não precisamos mais do Senhor. Aí Deus disse: Está certo. Mas, em nome de tantos anos que estamos juntos, será que vocês poderiam me dar uma última chance? Vamos fazer um concurso. Se eu, Deus, ganhar fico, mas se perder vou embora.

O cientista concordou e perguntou qual era o concurso. O Senhor, então, respondeu: vamos fazer um ser humano. O cientista, então, pensou: isso é fácil...

Foi correndo até o laboratório, pegou uma célula para realizar a clonagem e voltou. Chegando frente ao Senhor disse: Estou pronto. Deus, então, respondeu: com a minha célula não, crie a sua primeiro...

É... Os seres humanizados vivem no mundo de Deus, são mantidos e sustentados por Ele, mas querem dizer-se autônomos...

Mexa o seu braço... Foi você quem criou a movimentação? Mas, se até o próprio braço foi Deus quem lhe deu, quem será que criou a movimentação? Para você poder dizer que faz isso quando quer, antes de qualquer coisa, tinha que ter a capacidade de criar o próprio braço...

Vocês dizem que acreditam nos textos sagrados e lá está dito que Deus é Onipotente. O que quer dizer isso? Que ele congrega em si toda potência que existe... Se isso é Real – e é – como vocês podem, então, ter potência para realizar alguma coisa sem a ação Dele?

Sabe, vocês dizem que almoçaram bem porque tiveram condições de comprar o alimento e souberam prepará-lo bem, mas quem fez a planta germinar, a vaca nascer e a água correr para vocês beberem? Será que sem a ação Dele vocês poderiam ter almoçado hoje?

É por isso que Cristo diz: por que vocês se preocupam com o que vão comer hoje? Se ele alimenta até os bichos, por que não alimentaria vocês?

Apesar de se dizerem cristão (crentes dos ensinamentos de Cristo) continuam, no entanto, achando que estes alimentos estão disponíveis pór causa de ações químicas e biológicas. Mesmo para os espíritas, Deus Causa primária das coisas, não existe. É simplesmente uma história de livro...

Mas estes quando chegam no centro declamam em alto e bom som sua cultura: a pergunta número um de o Livro dos Espíritos diz que Deus é a Causa Primária de todas as coisas... Fariseus, hipócritas, professores da lei... Nas suas vidas, Deus não existe: está preso no céu aonde vão buscá-Lo apenas para resolver aquilo que não conseguem resolver.

Digo isso porque só na hora da aflição é que vocês pedem a Deus para estar ao seu lado, para ser a causa primária dos acontecimentos de suas vidas. Mas, quando tudo está de acordo com suas paixões e desejos, até dizem: não quero nem que Deus me ajude...

Precisamos trazer Deus para o nosso lado... Precisamos vê-Lo no irmão que age no mundo, seja que ação que esteja praticando: carinho, amor, assassinato, estupro...

Precisamos ver Deus ao nosso lado nos protegendo a cada segundo, nos amando a cada segundo, ao invés de nos sentirmos sem gostar ou querer o que está acontecendo...

Precisamos aprender que Deus é Onipotente, mas, mais do que isso, nós precisamos dar a Ele toda potência. Temos que aprender que Deus é Onisciente, mas temos que dar toda ciência prévia a Ele. Temos que aprender que Deus é a Justiça e o Amor Sublime, mas entregar tudo o que é amar ou fazer justiça na mão Dele.

Não adianta se estudar o que é Deus nos livros sagrados e na hora da vivência dos acontecimentos do mundo não se colocar nada disso em prática.

Esta é a diferença do que eu falo para as doutrinas religiosas. O nosso ensinamento tem como objetivo trazer aquilo que já foi ensinado para a vida e a raciocinar a partir do que os mestres ensinaram, ao invés de querer continuar a raciocinar (compreender) a vida como os doutrinadores raciocinam..

É isso que precisamos mudar... É isso que precisamos repensar na vida...

É preciso vivenciar os ensinamentos e não apenas conhecê-los... Viver a realidade transmitida pelos mestres em nome de Deus ao invés de ficar criando coisas fantasmagóricas, criando ficções que sempre serão desacreditas...

Quantas verdades sobre o mundo espiritual já não foram criadas e que hoje são consideradas “erradas”? Isso porque não levaram em consideração a única coisa que é Real: Deus...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 34

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 34. Quando estás de fato esvaziado de tudo e estás onipresente, como podes achar que estás presente ou ausente?

Quando você se desligar da matéria – não estou falando em morte, mas em não se reconhecer como a matéria como se reconhece hoje – será onisciente.

Esta afirmação pode parecer ilógica, pois a Onisciência é uma propriedade de Deus, mas ela está ensinada também em O Livro dos Espíritos. Lá é feita a seguinte pergunta ao Espírito da Verdade: o espírito pode estar em dois lugares ao mesmo tempo? Como resposta o mentor espiritual diz: não pode. Mas, quando ele viaja pela velocidade do pensamento é como se estivesse.

Sendo assim, na hora que você se libertar da matéria, poderá viajar na velocidade do pensamento e aí sempre estará presente onde tiver que estar. Agora, se depender de locomover a carne para ir, só irá aos lugares que puder levá-la e viajará na velocidade dela...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 35

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 35. Alguns anseiam pela Unidade, outros pela Dualidade. Eles não conhecem a Essência imutável destituída de toda a dualidade e unidade.

Alguns anseiam em ter uma grande vida humana (dualismo), outros anseiam pela elevação espiritual (Unidade), mas nenhum desses conhecem a si próprio: o espírito puro, simples, criado por Deus...

Elevação espiritual não se trata de mudar-se, mas de se auto reconhecer. Ela não se caracteriza pela criação de uma nova identidade para você, mas em reassumir a sua verdadeira identidade: espírito, ser universal.

Isso é elevação espiritual. Isso é alcançar a liberdade: ser o que você é...

Não é preciso criar nada novo... Até porque não existe mais nada a ser criado no Universo: Deus já fez tudo...

Se disséssemos que Deus tivesse deixado alguma coisa incompleta e que algo precisaria ser criado, teríamos que admitir que o Senhor não é tão potente, inteligente ou sábio assim, pois alguma coisa escapou ao seu controle... Como isso não acontece, afirmo que tudo está pronto.

Sendo assim, o que você precisa é viver o tudo que está pronto e feito ao invés de mudar as coisas. Mudar a si, aos outros, a vida...

Você não tem que mudar nada... Tem simplesmente deixar de ser quem é hoje, pois quando isso acontecer readquirirá sua verdadeira consciência, que, segundo a crença espírita, está obscurecida pelo véu do esquecimento.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 36

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 36. Como podem eles descrever a Essência que está vazia de todas as cores como o branco e as demais, ou de todos os atributos, tais como o som e o resto, e que é inacessível ao pensamento e fala?

Como se pode descrever o que não tem palavras para ser descrito, o que não tem formas para serem descrita e o que não pode ser compreendido?

Parem de querer colocar formas, conceitos ou verdades humanas na elevação espiritual, no mundo espiritual... Por que? Porque vocês não podem compreender nada disso...

Outro dia me fizeram uma narrativa muito bonita a respeito do desencarne do espírito... Quem a fez parecia até um grande sábio – alguém que possui muita sabedoria a respeito do assunto – mas o conhecimento por ele demonstrado é apenas uma criação do ego e não uma Realidade.

Se esta, ou qualquer outra pessoa quiser, posso pegá-los esta noite durante o sono para irmos desligar espíritos dos corpos físicos, ou seja, cortar os liames que prendem os espíritos recém-desencarnados de seus corpos físicos. O problema é que poderia levá-los até lá, mas vocês não conseguirão realizar esta ação espiritual.

Isso porque ainda estão presos às verdades materiais... Por este motivo imaginariam que precisariam de uma tesoura ou de uma faca para “cortar” os laços que unem corpo e espírito...

Sim, precisariam destes instrumentos, porque, para vocês, para a execução de tal ação (cortar) é necessário que exista uma faca ou uma tesoura. Mas, não existem instrumentos para cortar laços espirituais...

O problema, no entanto, na acaba aqui... O ego de continuará analisando a situação: se não se corta com tesoura, é preciso, então arrancar. Mas os estes laços não são arrancados...

Aliás, não existe nem os fios que criam a idéia de enlaçar um no outro. O que há é apenas a idéia racional de que estes fios prendem os dois elementos...

É isso... Precisamos parar de querer descrever o mundo espiritual com elementos materiais, pois com isso jamais chegaremos a Realidade...

Os mestres falam que é preciso destruir o mundo material, mas isso não deve levá-los a querer criar um novo mundo. Isso porque vocês não têm palavras, formas, som ou imagens que possam descrevê-lo.

O máximo que podemos fazer para trazer-lhes alguma consciência sobre o mundo espiritual é criar algumas comparações... É dizer é que é mais ou menos de tal forma, é parecido com... Mas, com isso não estamos dizendo que é igual, mas apenas parecido com...

Quando usamos de comparações com as coisas materiais, estamos apenas querendo lhes dar uma leve idéia das coisas espirituais... No entanto, precisa ficar bem claro para você que a Realidade não é o que está se formando na sua mente...

É preciso que vocês compreendam isso e pararem de querer criar normas, regras ou formas que sejam conhecidas pela lógica humana, para o mundo espiritual. Aliás, Paulo já nos disse: Deus não deixa o homem conhecê-lo pela sua lógica. Jamais você conhecerá o espiritual pela sua lógica, razão ou valores humanos...

Não há como descrever o mundo espiritual pelo conhecimento humano...

A partir daí pergunto: o que é a evolução espiritual? É justamente abster-ser de todas estas descrições e atirar-se num “vazio”... Um “vazio” que é cheio de algo que você não conhece.

Aproximar-se de Deus é atirar-se neste vazio e reaprender a viver com o que lá está. Tal atitude é a prática dos ensinamentos de todos os mestres.

Agora, se quisermos teorizar a vida espiritual pela lógica humana, nada conseguiremos. Ficaremos sempre presos à roda de encarnações, pois estamos presos às verdades humanas...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 37

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 37. Quando alguém chega a conhecer Brahman, todo este mundo de matéria aparece sem base, como o ar. E então não resta dualismo em Um.

Quando você conhece Deus de verdade, nada mais existe... Portanto, é melhor pararmos de buscar pela lógica humana o mundo espiritual, pois senão nunca sairemos do mundo material...

Disseram, justificando o viver a matéria como Realidade: o espírito não tem consciência de si mesmo... Sim, não tem, já que vive a matéria como verdade, como realidade...

O espírito encarnado não possui consciência de si ou de seu mundo porque vive a matéria como verdade. Como para ele a matéria é realidade projeta o seu próprio mundo de acordo com a sua verdade de hoje.

Querem um exemplo? Afirmam que no mundo espiritual há fontes, rios e cachoeiras. Mas, no mundo espiritual tem água? Nem aqui tem...

Existe água neste planeta? Claro que não... O que existe é fluído cósmico universal, a matéria universal...

Discutem se no mundo espiritual existe tempo... Mas, o tempo é uma criação do movimento do sol em torno da Terra... Antes deveriam se questionar: existe sol no mundo espiritual? Não, não existe sol nem aqui nem lá...

Tanto no mundo material como no espiritual o que existe é o fluído universal. Isto vocês já sabem do estudo de O Livro dos Espíritos, mas mesmo esta informação não pode virar uma realidade, uma verdade...

Por que? Porque vocês não sabem o que é um fluído universal. Porque não há como descrever o átomo universal, a única matéria que existe, que é Real...

Por isso temos que parar de querer descrever o mundo espiritual com palavras humanas: ele está acima do conhecimento da humanidade, acima dos valores e formas do mundo material.

O mundo espiritual é o mundo espiritual e na Terra não existe nada que você conheça que se compare à Realidade espiritual. Na verdade, aqui existe sim um mundo espiritual, mas que você não vive porque vivencia esta vida com valores espirituais.

É o exemplo que já dei com a idéia de uma mesa. Você diz que convive com uma mesa, mas isso é irreal, pois não existe mesa, mas sim fluído cósmico universal. Agora, você quer saber se tem mesa no mundo espiritual? Não, existe fluído cósmico universal lá e aqui...

Enquanto achar que aqui tem mesa, dirá que lá também existe e que para cortar laços também é preciso ter tesoura...

Participante: Por que o homem espírita atual se preocupa mais com o mundo espiritual do que com a sua reformulação interior?

Porque quer ser sábio, quer saber como é o mundo espiritual. Para que?

Outro diz fiz uma palestra num lugar que existiam centenas de pessoas que estudavam a questão de sair do corpo, de buscar a realidade espiritual, a ciência espiritual e disse: estão aqui aprendendo a ser espíritos? Mas, será que não são nem nunca foram espíritos?

Esta história de querer conhecer o mundo espiritual durante a encarnação é para enganar, pois aí não se sentem obrigados a fazer reforma íntima, a amar...

Mas enganar a quem? A si mesmos, pois Deus é Onisciente...

Enganam-se dizendo que estão dedicando suas vidas ao espiritual, quando na verdade querem apenas elevar-se materialmente. Com a cultura adquirida viram sábios e discute e batem o pé para provar que estão certos, quando deveriam estar servindo o próximo doando a razão...

Sim, você está certo: os o homem espírita atual está muito preocupado em conhecer o mundo espiritual. Mas, esta preocupação não é motivada por verdadeiras crenças espirituais...

Eles se preocupam com a sua suposta espiritualização apenas para fingir que estão buscando Deus, quando na verdade estão buscando cultura para si para poderem ganhar a fama e serem reconhecidos como homens sábios...

Participante: Para alimentar o ego...

Isso... Ao invés de buscarem Deus, vão para os cultos alimentarem o ego (adquirirem cultura) e com isso obter a fama...

Olha os professores da lei que Cristo ensinou: “Fazem tudo para serem vistos. Vejam como são grandes os trechos das Escrituras Sagradas que eles copiam e amarram na testa e nos braços”.

NOTA: Ao estudar este trecho do Evangelho de Mateus (Capítulo 23, versículo 5), o amigo espiritual Joaquim disse:

Os sacerdotes (“professores da Lei”) no tempo do Cristo, tinham por hábito copiar pedaços dos textos sagrados em pergaminhos e prender nas roupas. Com este gesto afirmavam que possuíam o conhecimento daquele trecho. Isso é tradição até hoje: os judeus ainda enterram na porta da casa um pedaço da Tora com a mesma finalidade.

Hoje não existe mais esse hábito entre os “professores da lei” das diversas religiões, mas o ensinamento do Cristo tem que ser universal: valer para todos os tempos. Portanto, vamos buscar a compreensão dele para os tempos atuais.

Os “professores da lei” de hoje não mais amarram nas suas vestes os textos bíblicos ou textos das leis, mas ainda mostram quanto sabem citando-os constantemente. Portanto, o ensinamento de Cristo ainda está vivo, porque o “professor da lei” de hoje ainda quer mostrar o quanto sabe citando a lei. O “professor da lei” de hoje é aquele que gosta de discursar para mostrar o quanto ele sabe.

Ele age desta forma não para auxiliar o outro, mas para ser visto, para ser reparado. O “professor da lei” cita os textos sagrados não para transmitir ensinamentos, para conversar, para trocar idéias: esta não é a sua postura. Age dessa forma para mostrar que ele sabe aquilo (é sábio) e, por isto, os outros têm que ouvi-lo e aceitar a tudo o que ele diz como “verdade”.

É a questão da cultura: o professor da lei se imagina o culto, sabe tudo. Ele é, em sentido figurado, uma estante: cheia de livros (ensinamentos) na cabeça.

Cita todos eles de ponta a ponta, mas age desta forma para ganhar a fama. Não faz isto com a intenção de ajudar, mas sim para demonstrar o quanto ele é sábio, o quanto sabe.

Com este modo de proceder cria para si uma falsa ascensão moral que tem como objetivo dar legitimidade nas obrigações que coloca nos outros. Neste modo de proceder está o ensinamento de Cristo quando fala que coloca tabuletas na sua roupa com os textos das Escrituras Sagradas, seja de que religião for.

O “professor da lei” não cita o texto sagrado apenas para mostrar o quanto é sábio, culto, mas serve-se desse expediente principalmente para ter a legitimidade para mostrar o “erro” dos outros a respeito da lei que ele é sábio. É alguém que deve ser ouvido, pois o texto das Escrituras Sagradas é universal, mas não seguido no destino que dá ao seu conhecimento (não praticá-lo).

É alguém que têm coisas que você precisa aprender, mas não se transformar em discípulo, ou seja, aceitar a sua falsa ascensão. Se isso acontecer, lhe amarrará um fardo pesado e não ajudará a carregá-lo nem com um dedo.

E no caso do ser humanizado, quem podemos afirmar que é aquele que amarra na sua roupa pedaços da lei? É todo aquele que diz: “eu sei a verdade, você não sabe nada”.

Aquele que diz que sabe, por exemplo, o lugar do copo ou o que é uma casa arrumada e que diz para o outro que ele não conhece as coisas, é o “professor da lei” ser humano. Ao agir dentro desse padrão de realidade automaticamente cria obrigações nos outros porque quer mostrar o quanto sabe, o quanto é importante. Se não for ele jamais a casa estará arrumada, o copo não estará no lugar, ninguém estará “bem vestido”.

É isto que Cristo está nos ensinando e a partir da compreensão do ensinamento, podemos verificar o que devemos fazer para chegar a Deus: parar de dizer que sabemos o lugar “certo” das coisas, o que tem que ser feito, como se guardam as coisas, etc.

Agindo assim o ser humanizado não se transformará em um “professor da lei” e não gerará obrigações.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 38

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 38. A mim o Atma parece ser um, somente, e idêntico a Brahman. Como pode haver um contemplador, ou a contemplação em quem está livre como o espaço e não tem dualidade?

O atma é um e idêntico a Brahman. “Agora façamos o homem (o espírito) à nossa imagem e semelhança”. Fazer à imagem e semelhança é criar um igual. Portanto, o ser universal é igual a Deus. É filho de Deus...

Uma mulher não pode gerar um cachorro, um homem não pode gerar um bode... Todos os seres só podem gerar outros iguais a si mesmo. Por isso, Deus não poderia gerar espíritos diferentes. Todos têm que ser iguais a Ele. É por isso que está escrito: o espírito no seu nascimento é simples e ignorante.

Ele é puro e assim permanece sempre... Só que se suja... Mas, esta sujeira não destrói aquilo que existe eternamente em seu íntimo. Por isso se afirma que o atma é eternamente puro...

Agora, se todo ser já é puro, porque ficar perdendo tempo contemplando Deus? Por isso aconselho a vocês: ao invés de ficar perdendo tempo em falsos êxtases, o ser universal deve agir, pois a vida é feita de ação. Agir não materialmente, mas como Cristo ensinou: amando...

Não fique perdendo tempo louvando a Deus ou agradecendo ao Senhor. Aja, ou seja, ame o tempo inteiro: ame a Deus, ao próximo, a tudo...

É isso... É isso que tem que ser feito.

Quem vive nas igrejas rezando perde uma grande oportunidade de amar ao próximo. Quem vive no centro fazendo orações, perde uma grande oportunidade de ajudar o próximo de verdade. Perde a oportunidade de amá-lo, pois não está em contato com ele...

Os seres humanizados precisam acabar com a idéia de que a religiosidade determinada por idas a um determinado lugar para orar ou se prostrar é algo que precisa ser feito. Se isso fosse necessário. Cristo não deixaria de ficar de joelhos o tempo inteiro. Mas não, ele calçou suas sandálias e foi conviver com os outros os amando...

Aqueles que se dizem buscadores querem ser Cristo (atingir a elevação espiritual), mas não queremos calçar suas sandálias de pescador. Na verdade, preferem ser como os rabinos que só ficavam presos no templo rezando e queimando incensos em homenagem a Deus...

A vida é muito diferente disso. A vida, para que ela seja um instrumento de elevação espiritual, é muito diferente. Para isso, ela não deve ser vivenciada nem na contemplação nem na busca de conhecimentos. Ela precisa ser vivida na ação, na ação do amor...

De que adianta os gurus que se sentam no meio do mato e ficam parados em contemplação o tempo inteiro? Não fazem nada por ninguém. É preciso agir...

É preciso fazer como Cristo fez: estar onde estão os doentes. Mas, os que se auto denominam buscadores não vão onde estão os cobradores de impostos, as prostitutas, ou seja, aqueles que marcamos e dizemos que não prestam...

Se eu sou cristão e acho, por exemplo, que os evangélicos estão perdendo tempo freqüentando a sua doutrina religiosa, tenho que ir lá no templo deles. Mas, ir lá para amá-los e não para criticá-los, para querer ensiná-los mostrando-se superior, como quem sabe a verdade. É preciso ir para amá-los de verdade...

Aliás, como Cristo ensinou: se você for colocar um incenso no templo e estiver em briga com alguém, corra antes e faça as pazes, porque Deus sabe o que você está fazendo...

É isso... Viver é isso: viver é ação, atividade, mas não física, porque tudo isso é ilusão, mas uma atividade sentimental. Viver é amar. Amar a todos e a tudo. Viver não é ter cultura, buscar ser sábio, mas amar. Amar a todos e a tudo...

Quando se ama, o que importa se o espírito está preparado ou não? Eu vou ajudá-lo com meu amor... O que importa se ele acredita ou não na reencarnação? Eu vou ajudá-lo com meu amor... Mas, quem não ama busca o outro para ensiná-lo, doutriná-lo, mas amá-lo.

Deixe-me dizer algo muito importante. Fui outro dia a um lugar assistir uma palestra. O tema era: a reforma íntima... Pasmem, mas o palestrante falou duas horas sobre reforma íntima e não se referiu a Deus em nenhum momento...

Ele falou da doutrina maravilhosa que ensinava a evolução. Falou dos ensinamentos fabulosos que ajudavam a cada um, mas não falou em Deus. E nem em amor...

Mas, o que é evoluir senão aproximar-se de Deus ligando-se amorosamente a Ele? Como se pode falar em elevação espiritual sem se falar em amor ou em Deus?

Os seres encarnados precisam acabar com a hipocrisia da sabedoria, da cultura, que lhes leva a acreditar que são capazes de conhecer tudo que acontece. Como podem vocês saber alguma coisa se não sabem nem amar e nem acreditam realmente que Deus existe?

O que eu falo, para muita gente soa inconsistente, mas só existe uma Verdade no Universo: Deus. O resto tudo é mentira, maya, ilusão.

Eu não estou disputando cadeira na Academia Brasileira de Letras... Não estou disputando lugar em concurso de sabedoria. Sou um espírito trazendo um ensinamento para um grupo de espíritos encarnados no sentido de aprender a ligar-se a Deus.

Então, eu não posso discutir procedimentos espirituais, a não ser amar, ligar-se ao Um na Unidade...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 39

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 39. O que quer que eu faça, coma, sacrifique e dê, nada é meu. Eu sou o puro, não gerado e imorredouro.

Nada é meu... Sabe o que é o Universo? É a casa de Deus...

Tudo que existe faz parte da casa de Deus. Nada é seu... Você é um filho de Deus, mas como Cristo ensinou, enquanto o Pai estiver presente, o filho precisa respeitá-lo e amá-lo.

O espírito encarnado vive na casa de Deus, é sustentado por Ele, mas quer dizer o que está certo ou errado na casa do Pai. É como o filho humano que entra na casa dos seus pais e manda retirar um quadro de determinado lugar porque não gosta desta disposição...

Pior: quer alterar o conhecimento do pai... Isso porque o ser humanizado vive discutindo Verdades com Deus. Por exemplo, Deus mandou ensinar que tudo é construído com fluído universal, mas o ser humanizado diz que isso não é verdade, pois ele viu colocarem cimento para fazer a parede. Como pode existir este fluído? Ele sabe que o cimento é que sustenta a construção...

É isso... Precisamos entrar na Realidade e ela é de que tudo é Deus e Ele dispõe de suas coisas como quer. Tudo é Dele e está ao Seu dispor e Ele não precisa lhe dar satisfações sobre a maneira com a qual dispõe das coisas.

Se você tem um emprego, por exemplo, ele não é seu: é de Deus. Ele disporá desta vaga como bem lhe aprouver... Mas, quando Deus dispõe dele para dá-lo a outro ser humanizado, você briga com Deus... Mas, quem é você para dizer que o Senhor está errado quando ele tira o seu emprego para dar a outro?

Você deve entender que o emprego é de Deus. Se compreender isso, ao invés de revoltar-se, sairá e irá procurar outro, ao invés de sofrer, chorar, acusar o chefe ou dizer que o mundo é injusto.

Irá agir, ou seja, amar. Amará a Deus, ao próximo, o seu chefe e o seu desemprego e será feliz. Viverá feliz...

Mas, vocês não fazem isso. Por que? Porque sabem determinadas coisas. Sabem que o chefe não presta, que aquilo que não estava certo, que deveria ser de outro jeito. Por isso digo: a sabedoria é contrária à Deus. Aliás, o próprio Cristo disse: louvado seja Deus que mostra aos simples o que esconde dos sábios...

Volto a dizer: quem quiser saber sobre sabedoria leia o Eclesiastes, o ensinamento do sábio, do Rei Salomão. No final ele dá a quem está lhe ouvindo um último conselho: não leia tanto, porque ler faz mal para a vista.

Ler (ter conhecimento) faz mal para a percepção visual porque lhe leva a colocar parâmetros naquilo que é percebido, como conversamos durante a palestra dos Cinco Agregados... Você raciocinará sobre aqueles valores e começará a dizer que sabe o que está acontecendo e com isso se afastará da Realidade...

Participante: O que ama anda a milhares de quilômetros à frente de quem sabe...

E nem sabe que está a milhares de quilômetros à frente de alguém. Isso porque quem ama não se julga melhor do que ninguém... Ele está, mas não sabe que está e por isso quer sempre amar mais para ver se anda um pouquinho...

Já o sábio, por menos que saiba, sempre acha que já sabe tudo. Senta num trono e diz: eu cheguei. Agora sei a verdade, sei tudo. Quem disser contra eu vou ficar parado no meu lugar e criticarei...

Participante: Este sábio está de fraldas ante os ensinamentos de Cristo...

Está de fraldas diante de Deus, não só do Cristo. Está de fraldas diante de qualquer mestre. É uma criança iludida achando que sabe de tudo.

Pobre ser humanizado vaidoso que um sopro de Deus pode acabar com ele...

Participante: Os pseudo-intelectuais espíritas estão direcionando toda doutrina espírita para os ensinamentos de Kardec. Está correta esta maneira de agir?

Não... Kardec fala na introdução de o Livro dos Espíritos que o espiritismo é parte do espiritualismo, ou seja, que ele não é o todo...

Além disso, o Espírito da Verdade diz a Kardec que os ensinamentos que estavam sendo passados seriam contemplados ao longo dos anos, mas a doutrina espírita não aceita estes complementos, a não ser que os professores da lei, os chamados sábios da doutrina, digam amém.

O que precisamos entender é que nenhuma religião detém a verdade. Não estou falando mais apenas do espiritismo porque existem professores da lei em todas as religiões. O que precisamos entender é que cada religião é apenas uma parte do espiritualismo, ou seja, uma parte da busca do bem espiritual...

Agora, com esta resposta, não estou querendo dizer também que eles estão errados... Mais tarde falaremos sobre isso...

Participante: Fala de Kardec: O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais que devem se desenvolver pelo estudo e pela observação.

É isso...

Deixe-me falar uma coisa. Nós temos um trabalho chamado “Hipocrisia”. Trata-se de uma conversa que tivemos onde estudamos o capítulo 23 do Evangelho de Mateus. Nele Cristo dá uma serie de recados aos professores da lei.

NOTA: Este trabalho está disponível no livro ‘Caminho, Verdade e Luz – Os ensinamentos de Cristo - volume I”.

Os professores da lei citados por Cristo são todos os sábios de qualquer religião e não apenas aqueles aos quais Cristo se dirigiu então. Lá O mestre nazareno orienta: ouça o que eles falam a respeito dos ensinamentos, mas não façam o que eles fazem...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 40

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 40. Fica sabendo que todo o universo existe sem forma; que todo o universo existe sem mudança; aprende, agora, que todo o universo é como uma corporificação da pureza; que todo o universo é como uma espécie de Ventura ininterrupta.

Então o Universo é uma corporificação da pureza, uma congregação venturosa... O que quer dizer isso?

Quer dizer que no Universo não existe “certo ou errado”, “bom ou mal”, Isso porque ele é todo Venturoso. No Universo só existe a Perfeição. Não existe nada abaixo da qualificação perfeito.

Sabe aquilo que você diz que é “errado”, “mal”, que não presta? Pois isso é Perfeito, isso é puro...

Por que isso? Porque no Universo Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Ou seja, tudo surge de Deus, começa Nele... Sendo assim, só pode ser puro, pois Deus jamais faria algo que não fosse puro, que não fosse perfeito...

O que o mestre Dattatreya está ensinado é o que estamos tentando mostrar a muito tempo: o Universo é puro, é ventura, é perfeição...

Por isso não há nada nele que tenha que mudar...

O que precisa alterar é a sua forma de viver no Universo. Não é nem o que você faz, pois isso faz parte do Universo e, portanto, é puro e venturoso, mas a sua forma de se relacionar com o Universo.

O que é a sua forma de se relacionar com o Universo? São os valores que você dá aos acontecimentos. A importância que dá aos fatos, ou seja, o valor que dá ao que está acontecendo: uma coisa “má”, “errada”, “que não presta”.

É isso que precisa ser alterado e não o Universo. Quem precisa mudar não é nem você. O que precisa ser mudado é a sua forma de viver no Universo. Este é o grande segredo da reforma íntima.

A reforma íntima não se faz mudando nada a não ser reformando o interior, ou seja, reformando a forma como se vive com o Universo.

Se o Universo é puro porque veio de Deus, é criado por Ele a partir do seu faça-se, posso dizer que nele só existe o amor. Sim, porque Deus não faz mais nada a não ser amar...

Aí está a reforma íntima e por isso Cristo ensinou a amar: deixar de dar valores ao mundo e viver as coisas, o planeta e o universo amando...

Esta é a reforma íntima. Não existe mais nada a ser feito.

Todo resto que você quiser saber só servirá para lhe ajudar a continuar valorizando o mundo com elementos ilusórios, ao invés de vivenciar a Perfeição de que é constituído o Universo em essência...

Na verdade, a Perfeição jamais deixa de existir. O que acontece é que você a define com diversos valores de acordo com suas paixões e desejos...

Aceite o mundo como Perfeito. Aceite tudo que existe como venturoso e como fruto de Deus e aí poderá chegar perto do Pai.

Participante: Em tudo há sincronia e converte para Deus sobre a atração do amor...

Ao contrário: não converge para Deus, mas desce Dele...

É ao contrário. As coisas não convergem para Deus, mas nascem Nele. Se os acontecimentos nascessem de baixo para cima o Universo seria capenga, ou seja, de acordo com os habitantes dele. Como é o ao contrário são perfeitas, porque são reflexos de Deus. Por isso Krishna ensina que tudo é emanação de Deus, ou seja, tudo vem de cima para baixo.

Mais: vêm em Unidade. É aqui no planeta que os egos fazem as separações, ou seja, criam os dualismos...

Mas, veja esta separação é ilusória, não existe, pois a coisa continua sendo perfeita. São os seres humanizados que as vêem desta forma, que dividem o que indivisível.

Unidade - Capítulo 1

Faixa 41

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 41. Tu és sem dúvida a Essência verdadeira; que mais sei eu? Como então achas, que o Atma seja inacessível ou acessível ao conhecimento?

Dattatreya ensina: o espiritual é o sublime, mas só que ele não está acessível ao material. O que quer dizer isso? Quer dizer que você não pode compreender o universal, pois lhe faltam verdades, realidades, instrumentos e conhecimentos espirituais.

O ser humanizado só pode reconhecer aquilo que existe no planeta. Aquilo para que existe uma descrição, uma palavra que o nomeie. Fora isso não pode conhecer...

Por que? Porque não há palavras para descrever, formas para serem reconhecidas, ações que possam ser entendidas.

Por isso se ensina que o espiritual não está acessível ao conhecimento material...

Participante: Mas, o conhecimento material ajuda a conhecer o espiritual.

Ajuda a conhecer, dá uma idéia, mas não cria uma Realidade. Ou seja, é apenas um caminho...

Justamente por não trazer a Realidade, um dia você terá que se libertar destes conhecimentos que lhe ajudou a ter uma idéia do espiritual. Portanto, eles ainda são caminho e não realização.

Eles podem melhorar você, mas nunca resolver o seu problema. Porque o que resolverá o seu problema é declarar para si mesmo que não tem condições de conhecer o espiritual. Que não tem condições de saber a Realidade, de dar valores às coisas, de dizer que alguma coisa é “certa” ou não...

Só isso pode lhe aproximar de Deus: você abrir mão do conhecimento material para entrar num nada, num vazio, que como já disse é cheio de Deus.

Portanto, o mundo espiritual não se procura por conhecimentos materiais, através de estudos ou de decorar nomes ou formas. Entra-se no mundo espiritual através da energia, da energização, ou seja, de um nada, pois estas coisas são um nada para vocês, pois nunca viram não sabem o que são...

Só quando você buscar o espiritual isento de qualquer conhecimento material poderá entrar na Ventura que é o Universo. É isso que o mestre está nos ensinando e é por isso que tenho assumido a posição de destruidor das coisas materiais.

Destruir as coisas materiais é o trabalho que todo espírito precisa fazer para entrar no mundo espiritual. Se ele não destruir o seu conhecimento material não compreenderá o Universo nunca, pois estará preso a nome, formas a ações que não são espirituais...

Participante: Quando eu sinto e me conscientizo que sou uma emanação divina, percebo o atma?

Não, porque mesmo você sentir que é uma emanação divina ainda é algo condicionado às suas verdades materiais. É sentir preso a conhecimentos materiais: o que é emanação, o que é Deus, o que é ser...

Você vai conseguir isso quando não sentir nada, quando não souber de nada. Aí estará livre, pois estará liberto da ação do conhecimento material.

Conhecimento material não são as ciências ou os estudos espirituais que tenha feito: é qualquer coisa que existe no mundo material. É qualquer nome, forma ou simbolismo que aplique aos acontecimentos.

Portanto, você terá que tirar todo simbolismo da sua vida. Só que você não vive sem o simbolismo. Precisa deles para poder lidar com as coisas do mundo.

Mas, se não pode acabar com eles, pelo menos se desapegue deles... Saiba que hoje você simbolicamente acredita em determinadas coisas...

Acredite que apenas simbolicamente tal ou tal estado é sentir-se emanação de Deus, mas não se apegue a este simbolismo como Realidade porque vocês nesse planeta ainda estão muito longe de saber o que é uma emanação de Deus...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 42

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 42. Ó caro! O que falas do Maya ou não Maya? Não existe a substância, nem a sua sombra. Tudo isto é uma Existência, pura e livre como o espaço.

Krishna ensina o maya, ou seja, a ilusão, e os seres humanizados querem saber o que é maya e o que não a partir deste ensinamento, assim como os cristãos querem saber o que é o amor e o que é... Mas, filhos, se o Universo é Venturoso e Puro, tudo é Amor; se o maya é o fruto de um raciocínio, tudo que se reconhece através da razão é maya, inclusive o que você disser que é maya ou não.

Saiba que a sombra das coisas, ou seja, aquilo que você vê, não é a própria coisa. Buda tem um ensinamento que diz assim: "Os seres humanos olham para a sombra de uma árvore e acham que estão vendo a própria árvore".

Vocês “olham” para um deus raciocinado, para um deus que tem valores, para um deus que tem verdades humanas e acham que estão vendo Deus. Vocês olham para o Universo que é Ventura, Pureza, que é Amor vocês vêem outras coisas. É isso que o mestre está ensinando.

Maya é tudo o que você conseguir compreender, inclusive a compreensão da palavra maya.

O ensinamento de todos os mestres não deve servir para você criar uma nova forma de vida, mudar de verdades, mas sim para acabar com as verdades. O ser humanizado tem realmente muita dificuldade com as palavras “todo” e “tudo”... Ele acha que todos são apenas alguns; que tudo é apenas algumas coisas. Não é assim...

Todos são todos, sem exceção; tudo são todas as coisas, sem exceção... Quando Cristo diz para amarmos a todos, ele fala sem exceções, façam eles "bem" ou "mal" para você, goste ou não você do que ele está fazendo.

Krishna diz que tudo é maya, mas não dá para compreendermos o que é maya e o que não é, porque tudo é maya.

Para se viver neste mundo no sentido espiritual é vencer o mundo e isso quer dizer que você deve libertar-se de tudo o que é material para entrar no espiritual. Mas, este espiritual não deve ser materializado, ou seja, um espiritual compreendido pela mente humana...

Saiba que o mundo espiritual é livre de qualquer conceito humano.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 43

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 43. Eu sou sem começo, meio ou fim; tampouco me encontro em servidão. Sou puro em natureza. Esta é minha opinião definitiva.

Você não tem nascimento, vida nem morte, começo, meio e fim.

Muito se fala sobre a criação dos espíritos por parte de Deus, sobre ele gerar espíritos. Para vocês tudo tem que ter um começo, por isso acreditam que a geração do espírito lhe dá um início, mas a criação do espírito não denota um início.

Não me perguntem sobre isso: não há como explicar. Só o que posso dizer é que não há um início para o espírito.

Para se compreender o espiritual é preciso se libertar das coisas materiais. Um dos conceitos materiais que não existe no espiritual é aquele que diz que as coisas têm um início, uma duração e um final.

Os conceitos inicio, meio e fim existem por causa do conceito tempo que vocês têm que, como eu já disse, não existe. O tempo humano é contado pelo sol, mas não existe sol, pois tudo é fluído universal. Quando vocês não verem mais o sol, como é que vão contar o tempo?

Então veja: inicio, meio e fim só existe para quem tem tempo. O espírito não tem tempo, portanto, não existe inicio, meio e fim para ele. Isso é o máximo que vocês podem compreender...

Portanto, saibam que essa história de Deus criar os espíritos deve ser entendida apenas como a idéia de que Deus gera os seres, mas isso não deve lhe levar a compreender que o espírito tenha início...

No outro dia me perguntaram se cada coisa que o espírito escreve no seu livro da vida antes da encarnação começa e acaba a cada micro fração de tempo Teoricamente, dentro do raciocínio da lógica humana, tudo começa e acaba, mas espiritualmente falando isso não acontece.

Portanto, não posso responder a esta pergunta. O máximo que vocês podem compreender neste momento é que nada tem início nem nada acaba...

Por isso insisto: a única coisa que vocês precisam saber é que para o espírito não existe início, meio ou fim porque não existe tempo...

Participante: Não existe tempo?

Não, não existe tempo. Vocês tem a sensação de estar havendo um tempo, mas não há...

A vida é igual a um filme onde fotografias isoladas andam e dão uma noção de tempo e movimento. Na verdade, a vida é isso mesmo, só que este desenrolar de fotogramas, não tem tempo, nem início ou fim...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 44

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 44. Este mundo, embora grandioso, parece-me nada. Tudo isto é Brahman. Como podem haver quaisquer etapas prescritas de vida?

Tudo é Deus, e Deus não se subdivide. Como, então, existe etapa ou tempo de vida? Como é que existe o valor vida ou morte? Nada disso existe.

Nós temos que chegar ao "nada" absoluto e para isso o mestre está destruindo tudo o que você conhece. Esta destruição serve como caminho, mas não se apegue a isso como realidade, porque é só um caminho.

Na palestra que eu fiz chamada “Maya”, alguém me perguntou: como saber que o que o senhor fala não é maya? Eu disse: o que eu falo não é maya, mas o que você compreende daquilo que eu falo é maya... Isto porque a compreensão de cada um é fruto de um raciocínio.

Volto a repetir: precisamos quebrar tudo, acabar com tudo que é verdadeiro e real para o humanizado. Mas, temos que fazer isso sem apegar aos ensinamentos que servem de destruição. Para isso é preciso estar sempre preocupado em não criar valores para as coisas e não criar condições para a existência, não transformar a sabedoria em conhecimento...

Na hora que você transforma uma sabedoria em conhecimento, criou um maya, uma ilusão. Criou algo do qual terá que se libertar um dia...

Sendo assim, ouça tudo o que falam os mestres, tudo o que ensinam as religiões, mas dia a si mesmo: eles falam... Agora se é “certo” ou “errado”, eu não sei... Só sei que estou aqui ouvindo, por isso vou ouvir.

O problema é que a maioria não quer ouvir nada: quer provar que ele está certo, que sabe. Não estou contra se fazer perguntas – elas podem ser feitas à hora que quiserem, porque isso esclarece. Agora dizer simplesmente “não, não é isso”, não deve ser feito.

Quem simplesmente questiona o que é dito sem uma pergunta propriamente, quer é provar que sabe. Mas, tudo que esta pessoa sabe é um maya, uma ilusão.

Tudo o que eu sei, também é um maya, só que o meu maya é mais universalizado que o seu. O meu maya começa em Deus e o seu maya começa no Eu.

Essa é a diferença. O meu maya busca colocar Deus no centro do Universo; seu maya busca colocar você e a humanidade no centro do Universo.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 45

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 45. Eu sempre sei tudo. Sou eternamente um, verdadeiro e sem apoio. C Mundo com seus fenômenos, tais como o céu, etc., é falso.

Eu sempre sei tudo, que será que quer dizer isso?

Participante: Onisciência de Deus...

Não, falo do eu espírito, do eu Universal...

Participante: Para mim, quando alguém diz que sabe tudo,não sabe nada.

Está certo... Se alguém diz que sabe, não sabe nada. Mas, eu referindo-me ao texto acima onde o mestre afirma que o espírito sabe tudo. O que quer dizer isso?

Participante: Talvez, que ele já tenha tudo o que precisa.

Isso... O conhecimento do Universo está dentro de você. Isso é importante nós compreendermos...

O espírito passa por uma primeira etapa na sua existência onde ele aprende tudo do Universo. É como ensina o Espírito da Verdade: o espírito nasce simples e ignorante e depois ele vai buscar a ciência.

Sendo assim, posso afirmar que ele sabe tudo... Mas, o que ele sabe não é material, não é conhecimento material...

É por isso que o mestre diz: o céu é artificial, é ilusão. O conhecimento cientifico, ou conhecimento humano, não é real. Você, ego humanizado, pode aprender alguma coisa, mas o você, o espírito, com relação ao conhecimento espiritual, não tem nada a aprender.

Se o espírito não tem nada a aprender, pergunto: o que é que nós temos que fazer?

Participante: Não sei

Acabar como com o conhecimento material falso que não lhe deixa viver o meu conhecimento espiritual...

O seu conhecimento material não lhe deixa banhar-se no seu conhecimento espiritual que já está dentro de você. Quando você olha um relâmpago, por exemplo, você não vê fluído cósmico universal. Por quê?

Participante: Porque estou condicionado para ver um relâmpago.

Isso... Porque você tem conhecimento material, você sabe materialmente o que é aquilo. Portanto, só na hora que você se libertar desse conhecimento material, ou seja, não se apegar a ele como verdadeiro, poderá exercer o seu conhecimento espiritual.

Volto a repetir, as coisas espirituais não podem ser conhecidas pelas verdades materiais. Mas só para exemplificarmos, para facilitar a compreensão do que estou falando, diria que o conhecimento humano e o conhecimento espiritual que estão dentro de vocês são como se fossem duas madeiras cheias de furinhos, uma sobreposta na outra. O conhecimento material se sobrepõem ao conhecimento espiritual.

Quando você, o ego, raciocina, o faz através dessa madeira ou memória. É na memória que o ego busca o conhecimento pelo raciocínio.

Se o buraco da madeira material está ocupado, ou seja, se existe uma verdade para dar um valor aquela coisa, é isso que será usado pelo raciocínio. Se você quebrar essa verdade, se deixar este buraco aberto, você poderá acessar a verdade espiritual sobre aquilo que está na madeira abaixo. Mas, enquanto tiver uma verdade à cima, você não consegue pegar a verdade de baixo.

É isso que estou querendo dizer: o trabalho de reforma íntima é um trabalho de destruição das verdades materiais para que possa alcançar a Verdade Universal que está na memória espiritual, mas que não pode acessada porque está oculta por uma material.

Sendo assim, você não tem nada a aprender... O que precisa ser feito é aprender que tem que desaprender a tudo... Você tem que aprender que tem que lutar contra você mesmo, utilizando-se para isso da espada que Cristo, trouxe para alcançar aquilo que já está dentro de você.

Isso é muito diferente daquilo que é feito hoje. Hoje, vocês querem conhecer, entender o mundo espiritual e só depois de entendê-lo, ou seja, criar um maya, vão acreditar que evoluíram...

Mas o trabalho é completamente diferente disso... O trabalho da reforma íntima é não conhecer, é não dar valor às coisas do mundo, não raciocinar...

Participante: Será que é por isso que existe a intuição?

Nós conversamos já conversamos sobre intuição no estudo de O Livro dos Espíritos. Lá falamos: a intuição é um espírito amigo que, a mando de Deus, lendo o que está na sua memória espiritual, lhe traz isso ao raciocínio... Só que você acredita que é coisa da sua cabeça,e, por isso, não confia totalmente.

Participante: Falando em relâmpagos houve algum motivo especial para os relâmpagos que ocorreram em Vila Velha, Espírito Santo, esta semana?

Teve sim... Quer saber qual o motivo especial? A vontade de Deus.

Não se preocupe com isso. Saiba que querer saber o porquê das coisas é criar um maya.

Por isso, não queira saber. Diga só assim: "é... Relampejou".

Participante: Não custa nada dizer para a gente...

Custa muito caro: a formação de uma verdade. Será mais uma coisa que você vai ter que combater.

Participante: É, mas nos falando destas coisas você nos ajuda na nossa evolução.

Pode ter certeza de uma coisa: não falando, estou ajudando mais...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 46

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 46. Tu não és um animal, homem ou mulher, tampouco és conhecimento ou ignorância; como, então, te consideras cheio de venturas ou destituído delas?

Você é um animal?

Participante: A ciência diz que eu sou um animal racional.

O que é ser um animal?

Participante: O que tem animação...

Isso... Como animal é considerado todo o elemento que possuí animação do planeta Terra.

Mas, você não é do planeta terra, pois é em essência um espírito, um ser universal. Você é do Universo: não está preso a parte alguma deste planeta (país, estado ou cidade). Também não está preso a nenhuma casa específica, pois pertence ao Universo. É isso que precisamos compreender...

A partir desta compreensão temos, então, que entender que não existe planeta Terra ou qualquer outro. Se não existem planetas, também não podem existir seres extraterrestres, pois todos os seres são do mesmo lugar: do Universo.

Mais, estando estes seres espalhados pelo Universo – não falo do físico, mas do elemento universal como um todo – todos são espíritos e, portanto, puros...

Sendo isso verdade, ou seja, se você como elemento universal é puro, como quer, então, afirmar que tem ou não ventura? No mundo humano ter ventura é ser “bom”; não ter é ser considerado “ruim”... Mas, como você pode ser “bom” ou “mau” se já é venturoso?

Você já é a pureza... Não pode tornar-se puro, porque já é... É muito difícil explicar isto por palavras, mas mesmo assim, é preciso aprender a conviver com esta realidade para poder abandonar o mundo material.

Veja, se você se prende a idéia da existência de um planeta, terá medo de extraterrestres; prendendo-se a idéia da existência de uma nação, viverá com posse sobre as coisas nacionais. Se você se prende a uma casa, família, vocês está aprisionado a um mundo individualista, um núcleo familiar...

Todos estes apegos lhe fazem aceitar o egoísmo proposto pelo ego como real. Mas, há uma possessão muito pior: a da existência de um “eu” individual...

Se você se prende a idéia de existir como uma individualidade é como se estivesse dentro mar amarrado a uma pedra muito pesada, pois não existe maior oportunidade para a vivência do egoísmo criado pelo ego do que a crença de que existe um “eu” separada do todo. Isto porque todas as outras idéias que tiver serão subordinadas e condicionadas por este “eu”.

Você, para atender os ensinamentos dos mestres, quer deixar de ser terrestre, brasileiro, pai, mãe, filho, irmão, marido ou mulher e ser universal, então se liberte antes do seu “eu”. Isto porque enquanto estiver amarrado ao “eu”, ou seja, ao ego, ao conjunto de verdades que você acredita como real, você será sempre membro de uma pequena partícula do Universo, achando que é está no todo.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 47

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 47. Tu és uma Essência imorredoura, pura por tua própria natureza, não pura por virtude do Sadânga Yoga ou pela eliminação da mente ou pelas instruções do Guru.

Você já é puro, você não se torna puro: é isso que o mestre está nos ensinando.

O espírito já é puro por natureza, por essência... Ele não se transforma em puro, ele já é puro.

Por isso lhe afirmo: não será esse, aquele ou qualquer outro trabalho que lhe vai dar pureza. Todos os seus trabalhos no sentido da elevação espiritual podem lhe ajudar a eliminar a sujeira, mas jamais lhe trarão pureza, porque você já a tem...

É preciso compreender isso muito bem... Sei que muitos, por conta do individualismo que vivem estão gostando de saber que já são puros, pois podem com isso dizer-se melhores. Mas, é preciso compreender que todos são puros, ou seja, quem você gosta e diz que é bom e aqueles que você não gosta e diz que são ruins...

Todos são puros, quer você chame de amigo ou inimigo, de monstro ou anjo. É a esse ponto que nós temos que chegar quando se entra em contato com um ensinamento como este... Não podemos parar naquela ilusão falsa de que somos puros, porque senão o conhecimento vira soberba.

Sabe... Aquele que você chama de monstro, assassino, que bate e machuca os outros, ele é puro, ele é pureza. Aquele que você diz que não presta, que mente, que briga, que lhe acusa de fazer isto ou aquilo, ele é puro.

É isso que nós precisamos viver: viver a pureza do Universo, viver a pureza que é a Realidade Universal, ao invés de ficar vivendo os adjetivos mayas que criamos para as coisas.

Precisamos nos libertar dos mayas para viver a Realidade que é a seguinte: todos os espíritos são puros na sua essência. Não existe monstro, safado, sem vergonha; o que existe são espíritos puros aos quais você dá estes adjetivos...

Sendo assim, eu diria que se neste caso há um "errado", ele é você. Isso porque é você que não lida com as coisas na sua essência, pois está aprisionado ao seu maya. Por causa da prisão à ilusão como real, você vai andando pelo mundo como se fosse o senhor dele dando valor a todas as coisas. Esquece-se apenas que ao dar estes adjetivos às coisas, está retirando delas a essência pura que elas têm.

É isso que você precisa compreender... Ninguém lhe ofende: você dá um valor de ofensa ao que algo puro fez como fruto do amor de Deus. Ninguém lhe bate: você é que se sente machucado, agredido, quando uma pureza age comandada pelo amor de Deus. Ninguém faz bagunça: é você que se sente mal com o amor de Deus que se transformou numa atitude de uma pureza do Universo.

Ter esta sapiência é muito importante para a nossa elevação, porque a partir dela, tudo muda. Primeiro, porque você não tem que fazer mais nada para elevar-se, pois a única coisa que deve fazer é não fazer. Ao invés de agir para consertar as coisas, precisa é aprender a deixar de dar valores ás coisas que acontecem...

Até hoje vocês imaginaram que precisavam agir externamente para promover a reforma íntima, mas eu digo que isso é irreal, pois a reforma íntima é um trabalho interno de destruição de tudo aquilo que você acredita.

Participante: Se o espírito é puro, porque encarnou então?

O espírito é puro na sua essência, mas não vive esta essência: é isso que o mestre diz.

Você é puro em essência, mas, por fora, as verdades que você vive não refletem esta pureza... Por isso precisa reencarnar: para ter a oportunidade de destruir essas verdades e retornar á sua pureza...

Você é puro, mas não vive a pureza que você é: por isso precisa encarnar... Quando viver a essência que você e todos já são, terá alcançado a reforma íntima e aí acabará com a roda de encarnações.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 48

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 48. Tu não és um estojo de cinco elementos, tampouco alguém sem um corpo. Tudo é apenas Atma. Como podem haver a terceira ou quarta etapas?

Participante: Que etapas são essas?

Etapas de evolução...

Você não é um estojo de cinco elementos. O que é isso?

Participante: Não tenho a menor idéia

O corpo que você veste.

Participante: Por que cinco?

Fogo, água, ar, gás e terra.

Você não é a soma dos elementos materiais, ou seja, você não é o corpo que veste...

O que pode ser alguém sem ser o corpo? Um espírito...

Mas, vamos mais além... O que é o espírito que você imagina que existe? O perispírito... Mas este também não é o espírito, mas sim o corpo do espírito.

Você não é o corpo físico, mas também não é o perispírito: você é o espírito que habita o perispírito. O perispírito é apenas o seu corpo espiritual.

Tudo existe apenas de uma forma espiritual. O seu corpo material e o seu perispírito fazem parte do Universo, parte do mundo espiritual, mas eles não são você. Você é o ser universal, o princípio inteligente que habita estes corpos.

Por isso o mestre fala: você é Brahmam, você é Deus.

Já os corpos, a matéria em qualquer dimensão e densidade, não é Brahmam, não é atma. Sendo assim, como pode haver separações no mundo espiritual?

Sabe o que é uma escala de evolução espiritual?

Participante: São as etapas de nossa evolução...

Não, é um maya.

Sabe o que é um mundo de prova e expiação? É um maya. Tudo é um maya, porque tudo é o Universo. Qualquer divisão que você faça no Universo, ela será uma ilusão.

Claro, uma ilusão necessária para o seu caminhar, mas não se prenda a ela. Portanto, saiba; eu vivo num mundo de provas e expiação, mas este mundo que vivo é nada, Se você acreditar que este mundo é alguma coisa, terá que vivenciá-lo de um determinado jeito.

Então, saiba que tudo o que você está aprendendo agora, por mais elevado que seja, por mais absoluto que possa parecer, ainda é ilusão, ainda é maya. Qualquer verdade que você acredite como tal, não é real porque foi fruto de um entendimento, fruto de um raciocínio, fruto de um maya.

Nada absoluto: é isso que eu estou falando, é isso que o mestre nos ensina...

O Universo é um nada absoluto... Mas não é um nada onde nada existe: é para você que nada do que está nele pode existir. Isto porque você, por estar humanizado, não consegue compreender nada do Universo.

Sendo assim, eu diria que o Universo é um maya para você, mas ele em si mesmo não é um maya, pois existe. Ele existe, mas não é nada daquilo que você pode compreender enquanto não voltar á sua essência pura que é.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 49

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 49. Não estou manietado, nem livre, tampouco me acho separado de Brahman. Não sou um agente, nem um desfrutador, acho-me despido de tudo que permeia e que é Permeado.

Não sou um agente. O que é ser um agente?

Participante: Agente é aquele que age...

Certo, você não age, não faz nada. Mas também não é um desfrutador, ou seja, não está aqui para desfrutar do que Deus faz.

Se você não é um agente e se não está aqui para desfrutar, está aqui para quê?

Participante: Para evoluir, para amar...

Amar é agir: praticar a ação do amor... Se você não age, como amar? Você está aqui para nada...

Todo o valor que você der a qualquer coisa é maya. Sendo assim, nada há a ser feito e nada há que você possa fazer enquanto estiver por aqui...

Sendo assim, relaxa... Deixe a vida viver a vida, deixe os acontecimentos se sucederem e você, espírito, não faça nada.

Mas, o que é que o espírito, não o ser humano, pode fazer além disso? Interpretar a vida... Então, não interprete nada, não dê valor algum a nada...

O espírito pode interpretar a vida (gostei ou não gostei, quis ou não quis), mas você que busca a Deus, não deve interpretar nada. Quem busca a Deus sabe que não está aqui para fazer nada, mas apenas para provar a si mesmo que está aqui para assistir a vida ligado em Deus.

Quem assiste a vida ligado em Deus, sabe que Ele está agindo através de si e, por isso, tem a consciência de não ser agente de nada. É isso que o mestre está nos ensinando neste trecho: viver a vida dentro da Realidade do Universo.

Para você a Realidade do Universo é um nada, porque você não sabe de nada. Você vive preso a essa caixa de cinco sentidos – para você só o que você vê, existe, mas a ciência comprova milhares de coisas que existem e você não vê – por isso acredita que alguma coisa destas existe.

Para se alcançar a Deus é preciso entrar no nada absoluto e este nada é nenhuma coisa. Portanto, vivenciar o nada é o objetivo da vida.

Eu diria, toda essa parafernália que você conhece foi criada simplesmente pra lhe fazer uma pergunta: você vai acreditar no que imagina viver ou vai me amar? Tudo o que existe no Universo foi criado com o objetivo de ser superado pela resposta "louvado seja Deus" a tudo...

Apesar desta Realidade, você prefere responder com a sua razão, com a sua lógica, com o seu conhecimento material. Enquanto responder deste jeito, foge do universal, porque está amarrado no eu.

Participante: Quer dizer que não somos nós quem agimos fisicamente e sim Deus?

Deus é a causa primária de todas as coisas: resposta da pergunta um de O Livro dos Espíritos. Resposta da pergunta nove do mesmo livro: por maior que seja a obra de uma inteligência inferior, é necessário que haja uma inteligência superior que a faça agir...

Sendo assim, tudo é obra de Deus. Mas não só fisicamente: pensamento também é obra de Deus. Aliás no Universo inteiro, tudo é Deus...

Participante: Então se alguém me machuca, não é vontade do espírito, mas sim uma ação de Deus?

Não, Deus não pode lhe machucar. Deus ama... Deus lhe amou naquele momento, mas você por estar preso a este estojo de cinco elementos como você mesmo, preferiu se sentir machucado.

Esta sensação tornou-se real porque você interpretou a ação partir do seu eu material e com isso não viveu a Realidade, Deus agindo. Quando viver a Realidade, ou seja, Deus está agindo, poderá sentir no tapa levar um ato de amor de Deus por você,

Mas, por que o tapa é um ato de amor? Porque é uma prova onde Deus pergunta se você vai se prender ao que viu, ao que está sentindo que aconteceu ou vai manter-se fiel ao amor divino.

Participante: Deus nos fala por intermédio de outra pessoa?

A cada micro fração de tempo...

No evangelho de Tomé tem uma logia onde Cristo afirma: cada pessoa que interage com você é Deus lhe falando; cada coisa com a qual interage, é Deus.

Apesar disso, afirmo: Deus não fala com você. Estou fazendo esta ressalva porque por estar presa a este estojo como real, você irá achar que as palavras são deus falando, mas isso é uma ilusão...

Falar, proferir palavras, é um maya, uma ilusão... Deus não fala, não emite palavras: ele interage com você do jeito Dele...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 50

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 50. Assim como a água atirada em água se toma uma só, sem distinção, a mim parece que o Prakriti e o Purusha são inseparáveis um do outro.

Prakriti = material - Purusha = espiritual

Não dá para nós separarmos o material do espiritual. Sabe por que? Porque só existe o espiritual... O que você chama de material faz parte do espiritual.

A partir disso pergunto: o que o mestre está nos ensinando? Aquilo que hoje muitos religiosos querem fazer: separar material e espiritual.

Sabe, aquele que diz assim: eu estou procurando Deus, esta é a minha vida espiritual, mas a minha vida material é minha vida material, Deus não entra nisso, o espírito não entra nisso.

Não existe esta distinção. Tudo o que você pratica na Terra, todos os atos que você vê acontecer a partir de corpos, são espirituais, são ações espirituais e não materiais.

O falar, por exemplo, é uma ação espiritual, porque não existe matéria, tudo é espiritual. Sendo assim, quando se fala alguma coisa, se está promovendo uma atitude espiritual...

Mas o que é qualquer ação espiritual? É lhe Deus amando para que você possa amá-lo e assim retornar á sua pureza que perdeu no Jardim do Éden quando Ele falou uma coisa e você fez outra...

O espiritual e o material não têm diferença, porque tudo é espiritual. As duas coisas são misturadas, fundidas. Na verdade é você, ser humanizado, que quer separar porque não vê o espiritual acontecendo. Por isso diz que o mundo espiritual é uma coisa e o material outra, que as verdades espirituais são umas e as do mundo material são outras...

Não existe mundo material: existe apenas o mundo espiritual, o Universo, Deus... Todo o resto é ilusão que você cria por estar apegado aos cinco sentidos, por achar que você é o corpo.

Uma vez eu disse assim para uma pessoa: você é um espírito, Ela me respondeu: certo... Insisti: sendo o espírito, você não é o corpo... Ela concordou. Aí perguntei: se sua perna dói, porque você tem que sentir esta dor? Você não é a perna, porque você tem que sentir dor? Deixe de ser escravo da perna: deixe-a doer e não viva esta dor.

Apesar de dizer isso, sei que isto é impossível, porque a dor existe no espírito e não na perna... Esta é uma coisa que devemos raciocinar, mesmo na compreensão, nos mayas, para se viver de uma forma diferente...

Eu sei que a maioria que me ouve no "nada", principalmente no estudo do Avadhut Gita, diz assim: eu estou perdendo o meu tempo... Eu jamais vou conseguir colocar isso em prática... Isso é sonho, isso é quimera, isso não se vive no mundo material...

Mas claro que não se vive no mundo material, porque não existe mundo material... Portanto, se você quer fazer alguma coisa, comece quebrando a idéia da existência de um mundo material separado do espiritual, porque senão jamais você vai vivenciar isso, mesmo que você saia para o mundo que você acredita ser só espiritual.

No final do ano fizemos uma palestra que se chamou "Ousar". Ela foi muito importante para quem quer buscar aproximar-se de Deus porque se você não ousar acreditar que pode lutar contra as formações mentais que são os mayas (o seu raciocínio) para se libertar delas, viverá eternamente como escravo...

Para poder realizar este combate é necessário ousar, porque o ego criará mayas que dirão que você não pode fazer o que aqui é proposto. Para quê ele fará isso? Para continuar vivo...

Antes de declaramos que é impossível ser feito, é preciso compreender que será tão difícil quanto você disser para é difícil... Além disso, é preciso que você se conscientize que precisa mudar, mas que para promover a mudança tem que ousar ser diferente dos outros...

Você tem que ousar viver uma vida diferente do que os outros vivem, pois se faz tudo o que outros fazem, terá o mesmo fim que dos outros... Isso é óbvio, até para a lógica humana.

É necessário ouvir que é preciso entrar no nada e ao mesmo tempo ouvir o ego dizer que isso não pode ser feito, mas ousar mandar o ego calar a boca, não acreditar em si mesmo...

Vivendo na mediocridade seremos medíocres; se vivermos na materialidade, seremos materiais... É preciso ousar ir além do que vivemos...

Participante: Porque o espírito nos passa esta dor que não é do ego nem da matéria?

Que espírito? Você mesmo... Você é o espírito que cria a dor. Na Realidade, é Deus criando alguma coisa neste momento e você, o espírito, interpretando esta alguma coisa como dor.

Agora, por que e pra que isso acontece? Para você aprender a amar... Tudo o que acontece é pra você aprender a amar: ame a dor que ela acaba...

Participante: Qualquer ser humano da face desta Terra pode ousar ser diferente e ir além? É só querer?

Qualquer ser humanizado pode, porque todos os seres universais (espírito) que estão humanizados, vivendo ligados a um carne estão promovendo o mesmo tipo de prova...

Além do mais, posso lhe dizer que todos podem, porque todos os espíritos que estão encarnados neste momento vivem esta etapa da sua existência eterna porque Deus – e ele espírito também – julgou que estava apto a vir fazer a sua prova.

Todo o espírito nasceu humano para fazer essa reforma. Mas só nasceu assim porque ele e Deus julgaram que ele preparado para essa reforma.

Esta é a comprovação que eu poso lhe dar que afirma que todos os espíritos encarnados, inclusive você, podem fazer. Se você não pudesse, Deus não ia deixar-lhe vir à carne.

Deus ama seus filhos e não ia deixar um espírito despreparado entrar na “cova do leão”. Ele seria o primeiro a dizer: espera um pouquinho, vai estudar mais um pouco...

Então todos estão prontos para fazer isso: basta apenas ousar.

Participante: É por este motivo que dizemos que Deus dá a cruz de acordo com as possibilidades que temos de agüentar?

Não é possibilidade: Deus dá a cruz que você pode agüentar... Ou melhor: dá a cruz que você escolheu para carregar...

Em O Livro dos Espíritos há uma afirmação bem clara: o espírito escolhe as suas provas. Então você escolheu as suas cruzes.

Vou lhe contar uma história que ilustra bem isso...

Uma mulher não estava agüentando a cruz dela. Foi reclamar com Cristo e disse: não estou agüentando esta cruz. O mestre respondeu: está bem...

Ele pegou a cruz dela e levou a mulher a uma sala cheia de cruzes e disse: pode escolher qualquer uma... A mulher procurou e custou a decidir-se por uma: uma era pesada, outra incomodava, outra era leve demais... Todas tinham um defeito.

Até que ela achou uma muito boa e disse: esta é a perfeita. Cristo virando a cruz mostrou a mulher que atrás estava o nome dela...

Ninguém vai se libertar da sua cruz, porque ela é o resultado do que você pactuou com Deus que vinha fazer na carne. Mais: na hora que realizou este pacto estava cheio de certeza que poderia carregá-la até ao fim da sua existência carnal.

Agora chega aqui, quando, como diz o Espírito da Verdade, o desejo que lhe move é diferente de então, você começa a achar que ela incomoda. Saiba: ela não incomoda o espírito, mas sim ao ser humano...

As cruzes da vida incomodam ao ser humanizado, aquele que prefere o prazer a amar a Deus.

Participante: Então Jesus é uma prova de tudo o que senhor diz por tudo o que ele passou e "sofreu" aos nossos olhos. Para ele foi amor, é isso?

É por isso que ele responde a Pilatos: "Se meu Pai quisesse me salvar mandava doze legiões de anjos"... Logo depois disso, se entregou à crucificação feliz.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 51

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 51. Quando não estás manietado, nem liberado, como então te consideras ser com ou sem forma?

Se você não está preso ou escravo de nada, como é que você se considera ser alguma coisa?

Tudo que existe no mundo material está preso a um binômio: ser ou não ser. Se você sabe que é espírito, acredita saber que é um espírito. Mas, o seu saber é preso a formas, realidades, verdades que descrevem para você o que é ser um espírito, No entanto, isto não é um espírito...

Eu diria um espírito, como está em O Livro dos Espíritos, é um princípio inteligente do Universo. Você sabe o que é ser princípio inteligente do universo? Não, ótimo, maravilhoso... Não saiba de nada mesmo...

Esta afirmação do Espírito da Verdade é uma grande descrição de quem é você, mas o que isso quer dizer? Sua resposta deveria ser: sei lá...

Você só se aproximará de Deus quando chegar a este ponto que estamos falando agora: nem saber quem é você... Enquanto quiser saber algo, mesmo que seja só quem é você, como é você, o que resultará desta busca lhe aprisionará a um maya e por isso não conseguirá entrar na Realidade...

Então declare: eu não sou nada, não sei de nada... Não vi ou ouvi nada... Nada existe...

Mas, não declare isso para os outros, mas para si mesmo. Declare isso para o seu ego, quando ele lhe disser: cuidado, este carro vai bater... Responda a ele: eu não estou vendo nada, eu não sei de nada...

Quando o seu ego disser “presta atenção, aquele vai lhe passar a perna”, declare a ele: eu não estou vendo nada, eu não sei de nada. Quando o seu ego lhe mostrar “olha lá, está vendo o que ele está fazendo errado”, declare para o seu ego: eu não sei de nada, eu não estou vendo nada.

Isso é viver no sentido de promover a reforma íntima e é por isso que Cristo diz: se o seu olho lhe faz pecar, arranque-o e jogue fora, porque é melhor você entrar no reino do céu sem um olho do que ir para o inferno com o corpo inteiro.

 O olho não é o olho material: é a visão. Se a sua visão lhe faz pecar, jogue-a fora... Não se prenda à sua visão, não determine valores para as coisas do mundo, não saiba o que está acontecendo, não queira ver nada.

Todos os mestres ensinam a mesma coisa. Isso é universalismo, Isso é ser ecumênico... Mas como me disseram outro dia, este ensinamento não passou pelo controle universal dos espíritos. Passou sim: o controle universal de Deus, através de todos os mestres...

Pode não ter passado pelo controle universal do homem que, desculpa, não consegue controlar a sua barriga e faz coco nas calças... Não passou pelo controle universal do homem que não consegue fazer nem um filho de cabelo da sua cabeça ficar branco ou preto...

O que estamos buscando é muito mais do que dar razão a alguma religião... O que estamos buscando é muito mais do que simplesmente descobrir quem está certo e quem está errado... Estamos buscando é a Deus...

Não estamos presos em determinados mestres ou ensinamentos: nós queremos Deus... Mas, para se chegar a Deus é preciso declarar que nós não podemos saber quem é Deus...

Precisamos ter a consciência de que tudo o que possamos declarar sobre Deus, será apenas o que nós declaramos sobre Ele e não Ele mesmo... Sendo assim, se alguém quiser ter alguma noção do que é Deus, precisa se afastar completamente do que ele acha.

A Terra é um grão de areia no Universo e seus habitantes querem controlar o Universo... Desculpem-me, mas vocês não acham que é soberba demais?

Quando você diz que a sua religião está certa e que por isso precisa promover o controle universal dos ensinamentos para estarem de acordo com a doutrina dela, você diz que aquilo que acredita está certo... Mas, será que você, um ponto perdido num grão de areia cósmico tem condições de conhecer o certo do todo?

Antes que me pergunte, deixe-me deixar algo bem claro: eu não estou dizendo que o que eu falo é certo... Estou dizendo que nada é certo. Se não é para ter nada certo, então tem que se destruir todo o certo que se tem. É isso que estou fazendo...

Participante: A força suprema se concentra dentro de um único ser?

O que você chama de força suprema? Responda para mim, por favor...

Desculpe eu perguntar o que é que você considera como força suprema, mas é porque este termo é subjetivo: alguns aplicam este termo a alguma coisa, outros a outra diferente.

Participante: Para mim a força suprema é Deus.

Sim, Deus está dentro de Deus... Já a emanação de Deus, que também é Deus, está em todos. Ou seja, a força está em Deus, mas também está em todos porque Ele se emana para todos.

Não tente entender o que é emanar, porque você não vai compreender. Para você ainda não pode haver dois corpos no mesmo espaço e você ainda acha que Deus tem um corpo e por isso não pode estar no mesmo lugar que você está...

Respondendo-lhe, então, diria que essa força é Deus e está em Deus e em todos...

Para poder fazer uma figura que facilite a sua compreensão, poderia dizer que Deus é como uma usina elétrica que gera energia. A força (energia) está Nele mesmo e está também em todos porque ela se emana e sai pelos fios e vai para todas as partes.

Seria mais ou menos isso... Não é isso, mas esta é uma comparação que pode facilitar a compreensão de vocês...

Participante: Quando tomo uma bronca dura e acho quem me está dando a bronca não é esta pessoa e sim outro espírito, qual pode ser a realidade da ação? Como entender isto?

Você está falando de outro ser humano, é isso?

Participante: Sim

Ninguém faz nada... Sendo assim, quem lhe está dando boca?

Participante: Deus

E Deus dá bronca?

Participante: Não.

Deus está lhe amando e você está se sentindo bronqueado.

Não há outro espírito lhe falando: tudo que você percebe é maya, ilusão... É apenas um caminho para você chegar á realidade: Deus agindo e você achando alguma coisa

Participante: O Joaquim pertence a alguma comunidade, família ou grupo quando não está presente no corpo do Firmino?

Sim, eu pertenço ao Universo, quando estou e quando não estou incorporado.

Só isso: família universal... Essa eu não abro mão, nem troco por nada.

Participante: Para sair da roda da encarnação depende da elevação. Para fazer a elevação temos que cumprir o que dissemos que faríamos aqui encarnados?

O “fazer” a que você se refere é em termos de atos...

Não, a elevação não se consegue pela prática de determinados atos. Isto porque você sempre vai fazer tudo o que você combinou antes da encarnação, pois esta opção foi fruto do seu livre arbítrio espiritual.

Apesar disso, lhe respondo também que sim... Você tem que fazer tudo o que você disse que vinha fazer, ou seja, amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Sendo assim, a elevação se concretizará através do amor e não dos atos físicos.

Um detalhe: este amor não virá de fora; ele já está dentro de você... Sendo assim, posso dizer que a elevação é fruto da ação de viver o amor que já está dentro de você.

Participante: De onde vem a autorização para que o espírito execute uma missão fora da carne, ou isso faz parte do seu livre arbítrio?

De Deus...

Na verdade o espírito não vai executar nada: ele será instrumento de Deus para que o Senhor a execute. Tudo emana de Deus, começa primariamente Nele...

O espírito fora da carne é instrumento de Deus para determinadas missões assim como o espírito na carne é instrumento para outras. No Universo ninguém faz nada por livre e espontânea vontade, porque se Deus deixasse por nossa conta – falo dos espíritos encarnados ou não – nós íamos ferir com o nosso individualismo a pureza universal.

Por isso tudo tem que vir de Deus...

Participante: Eu tenho que assistir ao filme do livro da minha vida e amar. É o que basta para a elevação?

Sim...

Mas, o que é amar? Exatamente porque os encarnados não sabem o que é amar universalmente que estamos fazendo este trabalho... Tudo o que estou falando é para que você aprenda o que é amar...

Conscientize-se de que você ainda ama o maya, a ilusão... Você ainda ama através de verdades: amo porque, para quê, quando...

Você precisa alcançar o amor verdadeiro que é o amor que existe sem motivos para amar.

Participante: O senhor sente falta dos prazeres da Terra?

Graças a Deus, não... Isso eu já consegui vencer...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 52

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 52. Eu sei que teu eu supremo está livre e onipresente como o espaço visível. Tudo o mais (o mundo) é ilusório como miragem.

Eu não sei se vocês se lembram ou se vocês estavam aqui, mas quando estudamos um dos itens do Avadhut Gita, perguntei a uma pessoa: você acredita que é preciso ter compaixão dos outros? Falei isso baseado no exemplo do cachorro que estava perturbando uma moça e uma pessoa estava preocupada em tirar o cachorro dela. Por que esta preocupação?

Participante: eu achava que era uma questão de compaixão.

Mas, compaixão a quem?

Participante: À pessoa incomodada.

Ao ser humano... Mas porque você acha que deve ter compaixão pelo ser humano?

Participante: Quando tínhamos estudado compaixão a uns tempos atrás eu tina entendido que era pelo ser humano. Hoje eu percebo a grande diferença do ser humano do espírito...

 Sabe por que você quer ter compaixão do ser humano? Porque você não reconhece no outro a essência espiritual... É isso que o mestre está dizendo.

Você sabe que o ‘eu supremo’ está livre do aborrecimento com um cachorro, de vontades e desejos com relação a isso e todas as coisas, mas como você não reconhece em você e no outro a presença do ‘eu supremo’ busca satisfazer o ser humano ao invés de buscar amar o espírito que está vivendo uma experiência humana.

Tudo que você vivencia através das formações mentais deveria partir do reconhecimento de que você e as outras pessoas são um ser superior liberto de toda materialidade e não as forma e personalidades físicas. Você não deve se prender à sua percepção que diz que você é humano e lidar com você e com os outros se baseando ‘eu supremo’ que são.

Esta deveria ser verdade, ser padrão de raciocínio para todo o espiritualista: lidar com os outros espíritos encarnados na realidade do ‘eu supremo’ que cada um é. Mas, não é assim que vocês lidam com a vida...

A mãe quer lidar com o filho como mãe, o marido quer lidar com a esposa como marido, o filho quer lidar com o pai como filho... Eles não se reconhecem como um ser supremo que está preso na carne, e por isso fundamentam-se pelas relações humanas. É por isso que choram o destino de uma criancinha, de uma mulher atacada por um homem: porque não reconhecem o ‘eu supremo’ que está dentro daquela forma.

Mesmo aqueles que se dizem espiritualistas e que gostam falar difícil para mostrar o quanto conhecem a respeito das coisas universais, não lidam com o ‘eu supremo’ que está à sua frente, mas sim com o humano. Mesmo quando para provar os seus conhecimentos cumprimentam-se uns aos outros com o namastê – cumprimento hindu que significa o meu divino interior cumprimenta o seu divino interior – se esquecem do ‘eu interior’ e relacionam-se com os outros de uma forma humana. Eles saúdam o ‘eu interior’ do outro, mas depois ficam observando o lado humano: se é mulher, eles reparam se ela é bonita, se dá vontade levar para cama; se é homem, tem nariz torto, se te macho mesmo....

O que é que adiantou cumprimentar dessa forma? O que adianta você dizer estas palavras se não vive com a realidade que elas expressam?

Tudo que se aprende no sentido espiritual não pode ser simplesmente um ensinamento. De que adianta você saber que existe um ‘eu supremo’ que está intelectualizando a massa se não convive com o mundo sendo ele?

Quando se fala em espiritualização, em elevação espiritual, você precisa muito mais do que saber: precisa viver como e com o ‘eu supremo’. Mais: a convivência precisa ser baseada na Realidade do Universo, ou seja, na realidade do ‘eu supremo’.

Quando esta prática for alcançada, você não terá mais compaixão pelo ser humano, porque reconhecerá que em cada um existe um ‘eu supremo’ na verdade é liberto de paixões e desejos...

O aviso do mestre para nós é neste trecho é muito profundo, pois mexe conosco no sentido de nos fazer viver uma vida diferente.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 53

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3
Faixa 4
Faixa 5

 53. Não existe o Guru nem sua instrução, tampouco upadhi ou ação. Conhece o que é imaterial, livre como o espaço. Eu sou puro por minha própria natureza.

Upadhi=não ação

Não existe o guru, nem o seu ensinamento.

Todo o espírito encarnado no planeta Terra vive dentro de uma freqüência muito parecida porque o Universo é feito de similitudes de padrões de vibracionais. O guru seria alguém muito acima da média dos outros que estão encarnados, alguém que seria capaz de guiar outros, um mestre, mas não é assim...

Na verdade, os gurus são espíritos buscando a sua elevação espiritual. Se ele ainda está buscando a elevação dele, como é que ele pode servir de guia para você? Isso é impossível... Até porque, o verdadeiro guru nunca acha que realizou nada, por isso não aceita a posição de mestre.

Só você pode realizar a sua reforma íntima, agir em benefício de si mesmo. Isto porque a ação em direção à elevação espiritual é fruto do livre arbítrio que Deus lhe deu.

Quando você restringe a sua própria caminhada a seguir passos dos outros abre mão dessa opção para seguir alguém, ou seja, seguir as opções de outro, está jogando fora o presente, a dádiva, que Deus lhe deu...

Eu não estou falando dos mestres – aliás o último que encarnou foi Cristo, de pois não teve mais nenhum mestre encarnado. Estes devem ser ouvidos e seguidos na caminhada. Estou falando de outros seres que se intitulam mestres ou gurus. A estes não devemos seguir. Aliás, no estudo que fizemos sobre hipocrisia, Cristo disse: não chame ninguém de mestre, pois vocês são irmãos entre si e têm apenas um único mestre: Deus.

Aliás, deixe-me dizer uma coisa: você não vive nenhum ensinamento dos mestres. Por quê? Porque todo ensinamento de um mestre passa por aquilo que chamamos crivo da razão, ou seja, você raciocina o ensinamento e cria uma compreensão... Durante este raciocínio você alterou a essência com o qual o ensinamento foi pronunciado.

Então não se baseie em ensinamentos de seres humanizados, porque eles vão colocar na hora de transmitir a sua impressão individual e ela vai alterar a essência e o direcionamento do ensinamento.

Participante: Pode falar sobre livre arbítrio consciente e inconsciente?

Livre arbítrio consciente, depois de encarnar, não existe já que todo pensamento lhe é dado por espíritos fora da carne. O que existe é o livre arbítrio inconsciente: a escolha do amor ou de um sentimento...

Esta escolha é inconsciente para você, porque ela não passa pelo processo raciocínio, ou seja, não é formado por idéias, formas, palavras, por assuntos.

Participante: Como se escolhe alguma coisa se a escolha é inconsciente?

É o seu “eu supremo” que escolhe: não você...

Isto acontece assim porque você se acha humano... Na hora que se libertar da sua humanização, terá consciência do que escolhe hoje.

Agora, tenha a certeza de uma coisa: chamo de inconsciente essa escolha simplesmente porque você não tem a consciência dela, não isto quer dizer que ela seja feita no escuro, calada da noite, por baixo dos panos. Ela é o fruto do livre arbítrio do ser espiritual que neste momento está bem consciente...

Participante: É aquela história de camuflar o verdadeiro sentimento, é isso? Raramente conseguimos descobrir o verdadeiro sentimento que está atrás de cada pensamento e conseqüentemente de cada ato...

Isso... Agora, se você não sabe que sentimento está vivendo, só ame.

Participante: Então eu não mando nada na minha vida? Aliás, nem posso chamar de minha vida...

Não, você, o ser humanizado, não manda nada na sua existência carnal. Mas, você, o ser supremo que está ligado a esta carne, comanda totalmente a sua existência espiritual...

Saiba que você, pela sua consciência humana, pelo seu raciocínio, pela lógica e pela razão, não comanda nada.

Participante: Então não preciso fazer nada também?

Precisa se livrar de tudo isso: da sua humanização, dos seus conceitos, da sua consciência, dos cinco agregados que nós já estudamos...

É isso que você precisa fazer: se libertar, ou seja, não se aprisionar a essas coisas. Na hora que você não se aprisionar a isso, atinge a consciência espiritual e aí o que era inconsciente passa a ser consciente.

Participante: O senhor diz que precisamos nos libertar dos conceitos e até dos pensamentos que Deus nos dá?

Quantas vezes já não veio à sua cabeça um pensamento sobre alguma coisa e logo depois um ensinamento a respeito daquela forma de pensar?

Participante: Mas isso eu não comandei para acontecer desta forma...

Deus está comandando...

O desejo de se elevar e a luta contra os seus conceitos é dado por Deus... Mas, Ele faz isso só na mente dos sábios, ou seja, aqueles que procuram a Deus.

Participante: Como fazer isso na prática?

Na prática, você deve agir assim: o seu pensamento lhe diz “que coisa ruim” e você responde ao pensamento que não há nada “bom” ou “ruim”, pois tudo é perfeito. O seu pensamento lhe diz que fez algo e você responde a ele: não fui eu que fiz; foi Deus... O seu pensamento lhe diz que aquela pessoa não presta e você responde: eu não sei julgar ninguém... Não vou me prender a esta idéia como verdade.

Como eu disse: é libertar-se e não acabar com o pensamento. Não se trata de destruir um pensamento ou de querer achar que pessoa que você acha “ruim” é “boa”, mas sim não aprisionar-se á imagem criada sobre aquela pessoa pelo pensamento. Isso é a prática: você não viver com os seus pensamentos sempre desconfiando deles.

Agora, a consciência de desconfiar quem vai dar é Deus. Então se você desconfiou, desconfiou; se não desconfiou, também não desconfiou...

Não queira praticar cem por cento do tempo porque você não vai conseguir. Não existe não agir ou agir dentro de determinado acontecimento... Por quê? Porque é Deus quem dá a ação...

Então veja, você agir de uma determinada forma ou não agir de forma nenhuma independe do que você queira, do seu desejo... Independente até da sua escolha consciente...

Você vai passar pelo aquilo que tiver que passar, viverá o ato que tiver que viver... Isso tem que ficar muito claro, porque tem muita gente que me acusa que eu prego que todo mundo fique sentado. Isso não é verdade... Se alguém ficar sentado, ou seja, alcançar a inação por causa do que falo, é porque já ia passar por aquilo e não porque eu falei.

Nós precisamos tirar do mundo a lógica humana: se eu entro num carro e o ligo e começo a andar e eu vou sair de um lugar para outro. Isso é ilógico porque o carro pode quebrar e você não vai a lugar nenhum...

Esperar que determinada situação leve forçosamente a outra é uma ilusão, é um maya. Esperar que uma situação ocorra por causa de uma anterior também é uma ilusão. Acreditar que esta seqüência é real lhe leva a ficar remoendo aquela ilusão sofrendo ou tendo prazer.

É a velha história que diz que quem fuma morre de câncer... Não é essa a lógica do Universo. A lógica universal diz que todos podem morrer de câncer, fumando ou não...

O fumo não dá câncer ou pelo menos não garante a morte por esta doença... Você pode ter uma pneumonia e morrer antes... Pode atravessar uma rua e ser atropelado e morrer antes... Se tudo isso pode acontecer, a lógica já está quebrada...

Sendo assim, posso afirmar que não é porque você faz determinada coisa que aconteceu aquilo... Agora, posso afirmar o contrário: você fez isto para acontecer aquilo... Você não sai de casa para trabalhar: trabalha para sair de casa...

A lógica espiritual é ao contrário da material... É isso que vocês precisam entender e pôr em pratica no que se refere à ação, porque senão vão continuando vivendo a sua vida como se fosse um filme, ou seja, fotografias que passam tão rápido que vocês têm a ilusão do movimento, mas que na verdade são fotografias completas por si só.

O câncer é uma coisa; o fumar é outra. Não há vínculo entre uma coisa e a outra, a não ser para sua ilusão. Isto porque há muitos que fumam não têm câncer e muitos que não fumam e têm câncer.

Então não existe ação ou inação, e as ações não se refletem em acontecimentos futuros, previamente e logicamente dispostos.

Continuemos o estudo do ensinamento do mestre. "Conhece o que é imaterial". O que é imaterial? Neste trabalho é chamado de atma.

Portanto, o mestre diz conhece o atma... Nós já estudamos isso neste trabalho.

Atma é o espiritual, aquilo que você chama de espiritual, mas que nós chamamos de Universal, de Real... O que você precisa conhecer sobre a realidade das coisas? Que o universal é livre das suas vontades, das suas razões, dos seus desejos, das suas intencionalidades.

O universal, o espiritual, é livre do ser humanizado, mas também é livre dos espíritos... Isto porque o universal é a casa de Deus e só o Pai pode, por ser a Inteligência Suprema do Universo, agir nele.

Então o atma, o espiritual, é livre de todos os espíritos... Ele só se prende a Deus...

É por isso que eu posso lhe garantir que o mundo não está aqui para lhe satisfazer... Ele não está preocupado com o que você acha, quer, sonha ou espera, porque o mundo é livre de você. Ele age sem se importar com você, mas apenas levando em consideração o "faça-se" de Deus.

No outro dia eu disse: não confiem em ninguém... Hoje digo mais: não confiem em nada...

Vivam a vida liberto de tudo e de todos, inclusive de si mesmos... Vivam livres das suas verdades, vontades e desejos, porque o Universo não vai conspirar a seu favor...

Ele vai conspirar a favor de Deus... A favor do amor que Deus tem por você e não a favor do amor que tem por você mesmo, que nós chamamos de individualismo.

Participante: Eu nas minhas andanças me defronto quase todos os dias com pessoas... Muitas vezes elas me fazem lembrar as aulas do Joaquim, pois devo aceitá-las como são sem julgá-las nem se indignar com suas posturas agressivas. Enfim, devo praticar o amar indistintamente e levar uma mensagem melhor sempre que oportuno.

Isso não é só você, são todos.

Todos os que convivem em sociedade se defrontam com esse tipo de pessoa, porque essa é a característica do ser humanizado: “tudo para mim”, “eu sou o centro do Universo”, “todo o mundo tem que girar em torno daquilo que eu quero”.

Participante: A prática exige que sejamos como escoteiros: tentar estarmos sempre alertas... Acho que me ralei demais e acabei aprendendo pela dor...

Louvado seja Deus: se não vai pelo amor, vai pela dor.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 54

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 54. Tu és puro e incorpóreo, tua mente é mais elevada que a mais elevada. Eu sou o Atma, o mais elevado de todos, não te envergonhes de dizê-lo.

O que será que Dattatreya quis dizer ao falar eu sou o mais elevado?

Participante: Eu acho que é agir de acordo com o que ele fala...

Isso... Aquele que vive como espírito, que sabe que pertence ao mundo espiritual e vive dentro dos padrões do mundo espiritual, pode considerar-se o mais elevado... Agora viver desta forma, viver com as verdades que os mestres ensinam para vocês é uma vergonha... Não se envergonhe disso...

Quando as pessoas disserem, por exemplo, que vocês são bobos porque não reagem à ofensa dos outros, não se envergonhem de ter agido assim. Quando alguém lhes classificar como otários porque alguém passou a perna em vocês, não se envergonhem...

Participante: No meu caso é ao contrário: eu não sou classificado de otário porque não reajo, mas chamada de rebelde...

Não importa qual seja, você viver os ensinamentos dos mestres sempre gerará uma pecha, pois os ideais dos mestres são vistos pelos humanos como derrota...

Viver com a consciência espiritual sempre fará com que o mundo lhe acuse de alguma coisa. Quando isso acontecer, você não deve sentir-se envergonhado de estar realizando-se espiritualmente.

Sabe por que o mundo vai-lhe acusar, vai querer lhe humilhar? É porque se você faz, eles não têm mais desculpa para não fazer...

O espírito iludido pela humanização gosta de ter prazer e dor, mas sabe que nasceu para libertar-se destas sensações. Por isso não vai deixar ninguém fazer, porque senão também terá que fazer (terá que se mudar), mas ele não quer porque é apaixonado pela paixão, pelo prazer e dor.

È por isso que eles vão acusar vocês quando colocarem na prática o “eu supremo” que já são. Mas, neste momento, não se envergonhem... Pelo contrário, mantenham a cabeça erguida e digam: eu estou cumprindo o propósito para o qual nasci...

Agora não critique ninguém também... Não critique quem não quer realizar a sua reforma íntima. Apenas diga: se ele não quer, problema dele...

Jamais critique o próximo dizendo que ele não presta porque não quer viver dentro dos parâmetros traçados pelos mestres. Isso é soberba e prova que você não conseguiu nada.

Não se sinta envergonhado, mas também não tenha soberba, porque senão você não realizou nada.

Participante: É possível ter insucesso na vida, ou seja, na vivência do livro da vida?

Insucesso, em que sentido você fala?

Não realizar o livro da vida no sentido de vivenciar determinado acontecimento, isso é impossível...

Insucesso por não vivenciar as situações com amor: isso é que mais acontece...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 55

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 55. Por que choras, ó mente? Exalta-te por teu Atma, criança. Bebe as águas da imortalidade e do Advaitismo.

Advaitismo= escola a que pertence o mestre que escreveu este livro (escola vendantina, monista fundada por Sankara).

Por que choras, ó mente? Porque choras, ó espírito humanizado? Exalta-te pelo teu espiritual, pelo “eu supremo” que você é... Bebe as águas da sua vida eterna, viva para a sua realidade eterna, e não para o momento presente.

Sabe por que você chora? Porque não se exalta no seu espiritual, porque não vive para a sua vida eterna. Ao contrário, está preso vivenciando o mundo material pela própria matéria; preso vivenciando os acontecimentos através do fruto do seu raciocínio (compreensão)... É por estar vivendo através do maya que o ego cria que você chora...

O espírito humanizado sofre porque ao invés de vivenciar a sua realidade espiritual, vive o acontecimento material pala própria vida material.

Se alguém rouba alguma coisa dele, o ser humanizado vive o roubar que lhe aconteceu ao invés de viver a sua eternidade espiritual onde aconteceu apenas uma prova, um ensinamento que mostra que ninguém possui nada. Quando alguém lhe ofende, o ser humanizado vive o que está presenciando, ou seja, as palavras, compreensões e gestos que determinam um valor específico: ofensa...

Liberte-se de tudo isso: viva em todos os momentos o seu “eu espiritual”. Ali não existe um ser humano agindo, mas um espírito, um ser supremo, puro que está servindo de instrumento a Deus para realizar a ação carmática que você precisa e ao mesmo tempo vivenciando as provas dele.

É por isso que você chora: porque não quer ver a realidade, não quer vivenciar o mundo do jeito que ele é, mas quer viver a sua realidade como real. Quer viver a sua fantasia, o seu maya como se ela fosse o que realmente estivesse acontecendo.

Filhos, libertem-se... Vivam para Deus, para a realidade espiritual... Vivam para a sua eternidade e compreendam que nesse mundo fenomenal tudo é miragem.

Compreendam que tudo que acontece no mundo carnal não é nada, a não ser aquilo que você acha que está acontecendo. Esse seu achar não é verdadeiro: é apenas o reflexo do que na realidade está acontecendo...

Vocês querem a elevação espiritual, querem viver para o mundo universal, querem realizar a elevação espiritual nessa vida, mas não querem abrir mão da realidade da matéria.

Quando falamos do Natal alguém me disse: é importante a comemoração do Natal como fazemos no mundo material porque as pessoas que não se vêem há muito tempo se encontram. Mas essas pessoas só precisam da locomoção do corpo para se encontrar porque elas não vivem o seu “eu supremo”. Se vivessem a realidade universal se visitariam pela velocidade do pensamento e com isso não precisariam de um dia específico para isso...

Sendo assim, o que nós precisamos parar é de justificar a não realização. Não precisa haver Natal para as pessoas se encontrarem: o que é preciso é as pessoas pararem de achar que precisam andar, que são seres humanos, que são o corpo que vestem, para poderem realizar no mundo real, no mundo espiritual, no atma, no universo, aquilo que todo o espírito sabe fazer.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 56

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 56. Não é conhecimento, tampouco a falta de conhecimento, nem conhecimento e ignorância juntos. Quem tem tal tipo de conhecimento possui um conhecimento verdadeiro, como não existe outro melhor.

O que4 estamos estudando não é conhecimento nem não conhecimento... O que o mestre está querendo dizer?

Participante: Está querendo dizer que não é conhecimento nem falta de conhecimento.

Não é isso...

O que o mestre está querendo dizer é que não é saber ou não saber: é simplesmente viver, sem saber ou sabendo, mas liberto da sua cultura que nada mais é do que a ilusão que o ego lhe dá através do raciocínio.

É por isso que ele diz que o que estamos tentando alcançar aqui é um tipo de conhecimento completamente diferente daquele que você chama conhecer. Na verdade o que estamos buscando transmitir é que não se trata de conhecer alguma coisa ou de nada saber, mas que, mesmo que conhecendo ou não, não se prenda a esta cultura como verdade.

Essa é a sabedoria que você pode alcançar nesta encarnação: não acreditar em nada... Buscar a elevação espiritual não se trata de aprender as coisas do espírito ou simplesmente fechar todos os livros... Não é isso que é a sabedoria para o universo...

A sabedoria consiste em você aprender a conviver com tudo que lhe vem à mente (aquilo que sabe e o que não sabe), sem declarar que sabe ou não... Viver dizendo simplesmente: eu acho, mas não tenho certeza de nada... Essa é a grande sabedoria.

Na prática, como fazer isso? Os olhos carnais se dirigem a uma parede; o ego, através do raciocínio, lhe diz que aquilo é uma parede. Já você, o espírito, que busca a elevação, não destrói essa verdade (parede), porque isso é impossível, mas também não vive a parede como parede...

Sendo assim, o olho vê, o ego diz que é uma parede, mas você diz a si mesmo: não sei... Essa é a verdadeira sabedoria.

A verdadeira sabedoria não é o conhecimento ou o não conhecimento, mas a forma como você lida com os conhecimentos. Isto porque a verdadeira sabedoria se consiste em nada saber...

Não estamos falando em viver na ignorância, mas em não dar o valor de saber, de conhecer, de ter como verdadeiro aquilo que o seu ego cria através do pensamento.

Participante: É um estado de percepção das coisas do espírito e não das coisas do vir a ser?

É um estado de percepção, mas não de aprisionamento á formação mental como verdade.

Você continuará percebendo, mas lutará para não se prender àquilo que você sabe sobre a percepção. Saber, você saberá, pois o ego criará a conclusão, mas você, espírito, não dará àquilo que soube o valor de verdade...

É preciso que a elevação espiritual seja feita desta maneira porque, se você quiser atingir uma percepção espiritual hoje, você, ego, não possui valores para atingir à realidade. Sendo assim, o ego criará novas ilusões que você achará que são reais e com isso continuará aprisionado às verdades do ego, por mais que queira destruí-las.

Enquanto humanizado, você não conseguirá destruir os conceitos referentes à percepção parede. Por isso, o que precisa fazer é se libertar do conceito, ou seja, não acreditar que ele é real...

É deixar o ego falar (dizer o que está acontecendo) enquanto você duvida que aquilo que ele afirma é real. É dizer a ele: se foi isso, foi; se não foi, não foi... Eu não sou seu escravo, não sou obrigado em acreditar em tudo o que você me diz...

Não estamos falando de um estado de percepção espiritual, porque essa percepção você ainda não conhece, mas de um estado de percepção material e de um não aprisionamento à formação mental que surge a partir da percepção.

No estudo de “Os Cinco Agregados” falamos em percepção espiritual como se fosse muito fácil compreender... Mas o ser humanizado, que está guiado pelos valores do ego, não consegue compreender a percepção espiritual.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 57

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3
Faixa 4

 57. Não existe sabedoria ou lógica, nem meditação ou Yoga, tampouco tempo ou espaço, nem existem as instruções de um Guru. Eu sou a Verdade mais elevada, eternamente livre como o espaço.

Não existem instrumentos de elevação espiritual. Não existe cultura na elevação espiritual e ninguém pode lhe ensinar a elevar-se espiritualmente através de ensinamentos.

Na busca da universalização não existe lógica (isso vai dar naquilo)... Essa lógica não funciona para a elevação espiritual. Um espírito que se prende a essa lógica, não realiza nada, porque ele ainda cria um desejo, uma vontade, uma razão. Nem você querer entrar em contato com o mundo espiritual serve para quem quer aproximar-se de Deus... A percepção espiritual tem que ser exercida pelo espírito liberto da ação do ego, ou seja, do raciocínio através de formas, idéias, palavras.

Se você entra em contato com o mundo espiritual, vai querer compreender esse contato. Compreendendo-o cria uma verdade individual, um maya. Isso porque a compreensão passou pelo raciocínio. Não é compreensão ou não compreensão: é a liberdade de não acreditar no que compreende.

Não adianta meditar para receber informações ou praticar yoga para conhecer o mundo espiritual, porque tudo o que você puder conhecer nesta vida, neste mundo, será um fenômeno deste mundo, porque será fruto de um raciocínio.

As noções básicas deste mundo (eu levei tanto tempo para me elevar, eu precisei ir a tal lugar) não se aplicam à elevação espiritual. Isto porque, como já explicado, no Universo não existe tempo e espaço: o desenrolar da vida é uma série de fotografias que são criadas por Deus a cada segundo e passam tão rápido que você tem a sensação do movimento.

Por isso, não espere chegar a um lugar ou uma determinada época pra realizar a sua elevação espiritual. Eu costumo dizer que a elevação espiritual não é igual a regime, que você começa na segunda feira: ela começa aqui e agora, na hora que você decidir buscar a Deus.

Um amigo recebeu uma psicografia que dizia o seguinte: não saia de onde você está, fique e onde você estiver, realize o seu trabalho, que Deus o achará... Isso é muito importante compreender, porque alguns acham que estamos ensinando com a intenção de ter uma platéia constante... Desculpem, eu amo vocês todos, mas eu não quero vocês aqui...

Eu não quero seguidores: o que quero lhes dizer é que façam a sua elevação espiritual agora e depois não precisam mais vir aqui... Para isso eu digo: libertem-se do mundo, inclusive daquilo que eu falo. Depois de ouvir isso, vão viver as suas vidas, as suas existências, sem precisarem ficar vindo aqui para ser lembrado a toda a hora da mesma coisa...

Com isso não estou querendo nos separar, pois mesmo que vocês não venham aqui, estarei onde vocês estiverem... Lembrem-se: para o espírito não há tempo nem espaço.

Participante: O senhor fala em não acreditar na minha compreensão racional e no meu sentimento? Nas coisas que sinto, também não devo acreditar?

Não... Isso porque você não sente com sentimento, pois não tem compreensão dos sentimentos que tem. Você sente com o pensamento...

Você acha que não gosta de uma pessoa porque o pensamento lhe diz que você não gosta. Isso é maya, é ilusão... Você espírito, ama, mas o ego lhe diz que não gosta... Sendo assim, não acredite em nada do mundo material...

Melhor do que não acreditar, acredite em tudo no mundo, mas não de a nada o valor de verdadeiro... Não se aprisione a nada como verdade como realidade. Para tudo que você vivenciar diga: estão me dizendo que é isso, mas eu não sei se é realmente...

Não acreditar é um trabalho que você executará pela mente. Você irá querer destruir a verdade racionalmente e desta forma continuará preso à razão... Não é isso que estou falando: estou dizendo para você não dar valor de verdade ás coisas...

Se o seu raciocínio lhe diz que você não gosta daquela pessoa, não queira quebrar esse não gostar, mas diga: ego, você me diz que eu não gosto, mas se eu gosto ou não, não sei.

É isso: não dar valor de real, de verdadeiro, àquilo que lhe vem á mente.

Participante: Mas o sentimento não é uma bússola fidedigna?

O sentimento é, mas este não é compreendido pela razão...

Todo o mundo que vai a um enterro, por exemplo, diz que chora o morto, que chora por causa do morto. Ele acredita que tem um sentimento de amor ao morto e que chora por causa desse sentimento. Mas isso não é real...

Ele está chorando é por ele mesmo... Ao invés do amor que ele imagina estar sentindo neste momento, ele está sentindo é egoísmo, amor a si: e agora, como é que eu vou viver sem ela? E agora, como será a minha vida sem ela? Que vou fazer agora?

Apesar de imaginar que é o amor pelo próximo que lhe move, este ser não está preocupado com o outro. O que está nutrindo realmente são sentimentos egoístas...

Então veja: o espírito sente, mas você humanizado não tem nem a capacidade de saber o que o espírito está sentindo. Isto porque o seu raciocínio ilude essa compreensão...

Portanto, deixe o sentir, o significado do sentimento, para o inconsciente e tudo o que vier ao seu consciente, inclusive a sensação de gostar ou não, busque libertar-se.

Este é um recado de Dattatreya. Mas, o mestre fala outra coisa muito importante neste texto: O “eu supremo” que existe na realidade é a verdade mais elevada...

Ele é mais elevado do que qualquer raciocínio, do que qualquer compreensão, do que qualquer coisa que você possa imaginar. Ele é livre de tudo isso... Mesmo que não viva essa liberdade, ele é livre...

Então, exerçam a liberdade que vocês já têm... Não queiram conquistar essa liberdade, porque vocês já a possuem. Vocês não precisam se mudar para ser livre, porque a liberdade das coisas do mundo já está dentro de você: apenas utilize-a.

Quando falamos deste caminho da elevação, muito dizem: isso é difícil, libertar-se disso é muito difícil. Realmente é. porque vocês estão querendo buscar essa condição externamente, mas ela já está dentro de você.

Utilize-a... Não perca tempo, não caia na ilusão que o ego está dando para você ao afirmar que isso é difícil, porque o que ele quer é que você não realize... Ele não quer que você consiga libertar-se porque se conseguir isso, ele morre de fome.

Você o alimenta a cada segundo, dizendo: você está certo ego, você é perfeito, bonito, só me fala verdades. Compactuando com ele, você o alimenta...

Então, mate o ego por inanição... Diga sempre a ele: sei lá... Eu não digo nada... Nada tenho para dizer... Não conheço nada... Não sei nada, como posso eu falar alguma coisa?

Participante: No exemplo dos sentimentos durante um enterro que o senhor usou, acredito que se chora pela separação, pela impotência perante essa separação. Nem sempre é aquilo que o senhor diz...

Veja: se você chora pela separação, chora por se separar dele. Isso é amor a ele ou a você? A característica egoísta dos sentimentos de quem chora em enterro de parentes e amigos é gritante, seja qual for a lógica que você utilize...

O espírito que desencarnou alcançou a glória suprema de uma vida, que é o desencarne, o libertar-se da carne. Você acha que deve chorar por causa disso? Você fica triste porque ele cumpriu a sua jornada?

Veja bem a incongruência da coisa: é um momento de felicidade... Se você quer servir ao próximo, se você vive para servi-lo, este seria um momento de grande felicidade para você. Neste momento você deveria seguir a seguinte lógica: meu irmão, você conseguiu acabar essa encarnação. Louvado seja Deus. Siga em paz, seja feliz na sua nova vida.

Ao invés disso, neste momento de glória do espírito, você chora a separação, a saudade que já estar sentindo. Chora porque você não terá, temporariamente, contato com aquele ser...

Isso não é egoísmo?

Participante: Já houve comigo uma situação onde chorei e lamentei muito a morte de um ente. Mas, quando isso aconteceu, não sabia das coisas que o senhor fala. Agora já vejo de outra forma...

Louvado seja Deus que hoje você compreende de outra forma...

Mas, veja bem: não se culpe por não ter conseguido um dia... Como já disseram, todos passam por etapas de evolução e você não poderia deixar de chorar no momento que chorou. Também não se culpe se amanhã ou depois você for num enterro e ficar triste, porque, como eu disse, você não pode agir ou deixar de agir.

Então se foi essa ação que Deus lhe deu, liberte-se da culpa de não ter realizado aquilo que nós conversamos.

Participante: Nós sempre vivemos com a consciência do ego e não com a consciência do espírito, é isso? Se é que podemos dizer que existem duas consciências...

Não, não existem duas consciências...

O espírito tem a consciência dele, que ele vivencia no inconsciente humano. Existe, ainda, a consciência da personalidade do ego, que não é do espírito, mas sim do personagem que ele acredita ser...

Mas, isso não quer dizer que existam duas consciências... Vou explicar...

A consciência ego não é real. Como já falamos neste trabalho, tudo que se relaciona à consciência humana é maya, ilusão, assim como a própria consciência. Portanto, ela existe, mas apenas no nível ilusório e não na realidade.

Sendo assim, não existem na realidade duas consciências, mas apenas uma. A outra só existe na ilusão que o espírito vivencia...

Participante: O que é consciência?

São os valores que estão na memória.

Você, espírito, tem a sua consciência, os seus valores espirituais. Mas você vive com a consciência, ou seja, com os valores, verdades, ditadas pelo ego.

Às vezes uma palavra altera o sentido de tudo o que nós falamos... É por isso que apesar de falar tanto, tenho medo de falar.

Outro dia me perguntaram: se tudo é maya, o senhor e o seu ensinamento também é maya? Eu disse: nem eu nem o meu ensinamento, somos, mas o que você acha que eu sou e o que compreende do meu ensinamento é maya.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 58

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 58. Não sou nascido, nem morto, tampouco meus atos são bons ou maus. Eu sou o Brahman puro e sem descrições. Como pode haver servidão ou emancipação para mim?

Brahman= Deus Supremo

Eu sou Deus, e se sou, já sou livre... Eu sou liberto de tudo...

Como, então, posso viver em servidão? Como posso acreditar na servidão? Como posso acreditar que eu, o espírito, o ser eterno, aquele que tem a graça universal, um filho de Deus se escraviza a um punhado de verdades? Somente não vivendo com a consciência espiritual, com a realidade do Universo...

Só assim posso me escravizar ao ego... Posso entrar num processo de servidão a esse personagem que eu criei para viver esta vida...

Vamos nos libertar... Para isso é imprescindível compreender que enquanto encarnados somos escravos do ego.

Tem uma pergunta de Paulo que eu acho muito importante... Ela diz assim: se Moisés já tinha vindo para trazer a lei, o que Cristo veio fazer? Paulo mesmo responde: Cristo veio nos trazer a verdadeira liberdade.

A verdadeira liberdade não se consiste em fazer o que quer, mas em libertar-se das coisas do mundo, das verdades que existem dentro de cada um... Foi esta a liberdade que Cristo alcançou e que ensinou...

Para servir ao mundo, para estar preso na servidão ao mundo, Cristo teria que se transformar em Imperador. Teria que construir exércitos, nem de que fossem do amor... Teria que viver em torno do ouro, da riqueza, da opulência, do poder... Mas ele se libertou de tudo isso...

Ele viveu como um pescador. Entrou em Jerusalém, no momento que seria a maior glória, montado num burrico, que só era usado por pessoas muito pobres, sem nenhum poder...

Vocês não dão muita atenção ao fato de Cristo ter montado em burrico, mas aí existe uma mensagem imensa: eu sou o senhor do mundo, mas entro na cidade que é a capital do mundo para o meu momento mais glorificante montado simplesmente num jumento ao invés de entrar num alazão...

Essa é a liberdade que Cristo ensinou... Esta é a liberdade você deve buscar e realizar quando forma a consciência crística: libertar-se de ter que seguir os padrões do planeta, de ter que seguir o padrão que a humanidade exige que você siga...

Libertando-se do mundo, você pode, então, realizar a essência do seu eu supremo que você é.

Participante: Qual a diferença entre sensação e sentimento?

Sensação é o sentimento que você declara estar sentindo através do raciocínio, da compreensão lógica... Quando você sente de acordo com a lógica do pensamento, isso é uma sensação e não um sentimento.

O sentimento é a realidade que você está sentindo. Mas, este não consegue ser percebido pela razão...

Sendo assim, tudo que você sabe que sente é sensação...

Participante: Como distinguir um do outro?

Você não tem que distinguir nada... Para tudo que passar pela sua mente diga: eu não acredito... Não se aprisione a nada...

Se conseguir distinguir o que é uma coisa e o que é outra, terá criado uma cultura, ou seja, um maya... A partir do momento que acredite nela como real, irá viver esse maya como verdade.

Portanto, não queira distinguir nada... Não queira saber de nada, não queira declarar nada a respeito do que sente...

Vou lhe dar um exemplo que mostra como a emoção racional é diferente do sentimento...

Uma moça, um dia, depois de que eu disse que nenhum ser humanizado conseguia amar ao próximo, me respondeu assim: eu amo, eu sou boa, eu amo os outros... Ela continuou: quer ver um exemplo? Eu amo aquela pessoa... O amo tanto que não quero que ele fume...

Perguntei-lhe, então: onde está a prova do seu amor em não querer que ele fume? Ela me disse: porque se ele fumar vai morrer...

Insisti: qual o problema dele morrer? Ela disse: se isso acontecer, eu vou ficar sem ele...

Com isso pude mostrar a ela a realidade: você não quer que ele fume para que você não fique sem ele... Isso não é egoísmo? Você está preocupada com ele ou com sua felicidade?

Por esta historinha fica bem claro que esta pessoa tinha a sensação de estar agindo com amor ao próximo, mas o sentimento real que a estava motivando era o amor a si mesmo.

Por isso não declare jamais a si mesmo o que está sentindo. Aliás, Cristo ensinou: se alguém lhe perguntar alguma coisa, responda apenas sim ou não... Não queira saber o que está acontecendo.

Nós estamos falando algo além da compreensão e da não compreensão, que é a vida sem aprisionamento a nada, sem conhecimento de nada, sem declaração nenhuma. Saiba que se você compreender alguma coisa ainda vai estar escolhendo e ao escolher, estará raciocinando materialmente.

Com isso não estará vivendo a realidade, mas decretando a criação de uma verdade que não é real, mas apenas fruto daquilo que está no seu ego.

Pergunta: Então, se eu vou atrás de um sonho é certo, mesmo posso colocar a outra pessoa em situação difícil?

Não...

Veja bem: se por acaso você vai atrás de alguma coisa, você simplesmente foi. Mas, se vai de forma premeditada, você não foi simplesmente, mas foi premeditadamente. Ir intencionalmente atrás de qualquer coisa é uma atitude egoísta e, portanto, não universal...

Como, então, se comportar numa situação desta? Eu tenho um sonho de fazer alguma coisa; se fizer, fiz, se não fizer, não fiz... Você não deve se prender as verdades que afirmam que deve ir... Este é o primeiro detalhe com relação à sua pergunta.

Segundo detalhe: meter alguém em situação difícil... Isso é impossível, porque você não pratica ações...

Toda a ação é criada por Deus. O Pai, ao agir, coloca alguém em situação difícil ou dá a cada um segundo as suas obras? Aquela pessoa pode até achar que você a colocou numa situação difícil, ou seja, não se sentir amada por Deus, mas tenha a certeza que ela recebeu segundo as suas próprias obras, ou seja, o seu carma...

Então veja... Não importa se você tem um sonho ou não; não importa se busca alcançá-lo ou não; não importa se nessa busca ou não busca aconteça para outro: o que importa é você estar livre de tudo isso...

O importante é você estar livre de ter sonhos ou não, de ter que buscar ou não... O importante é você estar livre de compreender que fez alguma coisa para os outros ou para você mesmo.

É um mundo diferente que eu estou falando. É um mundo que não pode ser compreendido pela lógica e realidade humana, que diz que você é capaz de agir ou não e que com isso pode gerar uma situação que incomoda a outros.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 59

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3
Faixa 4
Faixa 5
Faixa 6
Faixa 7
Faixa 8
Faixa 9
Faixa 10

 59. Se O refulgente é difundido e preenche tudo por toda a parte, não vejo quaisquer diferenças. Como, então, pode haver qualquer exterior ou interior?

Que lindo...

Se Deus é tudo e tudo é Deus, como você pode dar valor diferente às coisas?

Sabe o que você chama de “bom” e quer? É Deus... Sabe o que você chama de “ruim” e não quer? É Deus...

Como você pode tratar Deus de formas diferentes? Julgando-O... Você julga Deus de acordo com os seus desejos, com a sua vontade... O Deus que você gosta, diz que é “bom”; o que não gosta, diz que é “mal”. O Deus que você quer, diz que é “ótimo”, mas o que não quer, “repudia”...

Não será isso soberba? Não será isso muita pretensão você sentir-se capaz de julgar Deus? Dar valores a Deus a partir da sua realidade como se o “certo” do Universo fosse você?

Vejam, analisem profundamente...

Tem muita gente que diz que só chamar os outros de bobo não tem nada a ver, em nada influenciará na sua elevação espiritual, que Deus não está preocupado com isso. Mas, só que se esquece que o que ele chamou de bobo é Deus; que o que chamou de brincadeira você fez com Deus seriamente...

Precisamos começar a raciocinar a vida de cima para baixo e não ao contrário. É preciso racionar a vida a partir de Deus e não a partir de você.

O que seria necessário, dentro da lógica de vocês, para raciocinarmos como Deus raciocina?

Participante: Não entendi a pergunta...

Eu disse que precisamos mudar nossa forma de raciocinar. Hoje pensamos de baixo para cima e disse que devemos pensar de cima para baixo, ou seja, como Deus raciocina. O que é preciso para raciocinar deste jeito?

Participante: Ainda não entendi...

Vou exemplificar: que cor é esta blusa?

Participante: Cor de rosa...

Por que me respondeu desta forma? Porque raciocinou a partir de suas verdades, ou seja, analisou a realidade a partir do que sabe. Agora estou ensinando que para responder alguma coisa você precisa basear-se na lógica de Deus, a partir dos conhecimentos de Deus e não dos seus...

A partir do conhecimento de Deus, que cor você pode dizer que é esta blusa?

Participante: No conhecimento de Deus esta blusa não teria cor...

Não sei... Você sabe o que Deus conhece para decretar o que ele está pensando? Você sabe o que Deus pensa, no que acredita?

Participante: Não...

Então, como se atreve a colocar palavras na boca de Deus?

Vocês falam diuturnamente: Deus gosta disso... Não gosta daquilo... Ele quer que cuidemos das plantinhas... Quer que eduquemos filhos... Como vocês se atrevem a colocar palavras, desejos, verdades na boca de Deus, se não conhece nada Dele?

Então veja... Quando falo a começar a analisar o mundo a partir do que Deus sabe, precisa declarar que nada sabe, porque não conhece o que Deus sabe ou quer. Não se trata de criar novos valores que digam o que Deus quer, porque o que Ele realmente quer está infinitamente acima da sua compreensão atual das coisas.

É isso que o mestre está nos ensinando. A realidade que o ser humanizado vive onde coloca palavras na boca Dele, onde confere intenções às ações do Senhor é que o mestre está alertando que acontece...

Ele está alertando isso porque esta atitude é um perigo imenso para aqueles que buscam aproximar-se do Pai: o de querer ser deus, de querer ditar a compreensão que Deus tem sobre as coisas do Universo, ou seja, de quere que Deus compreenda e vê as coisas como o ser humanizado compreende e vê...

Veja que soberba... Veja que ação violenta contra o Pai vocês praticam a cada segundo...

Apesar disso ainda querem sentir-se amado por Ele... Querem banhar-se no amor de Deus, mas só se preocupam com o próprio umbigo.

Os seres humanizados só se preocupam com o que querem, com o que acham certo, com os valores que têm, mas não abrem mão de aproximar-se do Pai. Mas, para isso, eles deveriam buscar libertar-se de si mesmos, buscar libertarem-se desta fantasia fantasmagórica que vivem para poder sintonizarem-se com Deus na realidade, ou seja, no que Ele sabe, quer e faz...

É preciso lutar contra si mesmo ferrenhamente, completamente, para poder ser digno do título de filho de Deus. Isto é preciso, porque enquanto vocês forem seres humanizados, como Paulo nos ensinou, são os inimigos de Deus, pois combatem o Senhor a cada momento querendo impor a Ele o que acham “bonito”, “certo”, “justo” e verdadeiro...

Esta é a visão mais chocante da realidade da vida do ser que se deixa levar pela escravidão ao ego: inimigo de Deus. Um guerrilheiro que luta abertamente contra o Pai para impor-se e querer se transformar no senhor supremo do Universo.

Desculpa... Não estou acusando ninguém... Não estou aqui para dizer que ninguém presta, mas sim para dizer que o seu ego não presta... Não é você que faz tudo isso porque, como já decretamos anteriormente, você, o espírito, é graça é luz...

O ego não presta... O personagem que você vive é o inimigo de Deus... Por isso o que precisa é libertar-se deste personagem e reassumir-se na essência que você já é.

Portanto, por favor, não interpretem estas palavras como a de um pastor os acusando de serem pecadores. Não é isso que estou querendo dizer... Muito ao contrário: estou querendo alertá-los do preço que pagam por escravizarem-se ao ego... Estou querendo chocalhar vocês para que compreendam no que se transformam, o que vivenciam mesmo quando dizem que estão buscando a Deus...

 Outro dia me perguntaram se a partir do que falo pode se jogar a lei de Moisés no lixo. Eu respondi assim: desculpe, mas quem a jogou fora foi cristo e não eu. Isso porque ele disse: eu vim trazer o verdadeiro sentido da lei. Então, o sentido de Moisés ele jogou no lixo. Só que até hoje vocês se prendem ao sentido que criaram às leis mosaicas e que acham “certos” para em nome de Deus guiar a humanidade...

É para esta realidade que eu quero que vocês acordem: a realidade de que vocês são puros, mas trocam esta pureza pela escravidão àquele que quer combater a Deus. Já que eu falei em pastor, vou falar como eles falam: você serve ao diabo, o inimigo de Deus... Você serve ao ego ao invés de servir a Deus...

Como disse, não estou criticando ou acusando-os de nada, mas mostrando que a realidade que vocês vivem jamais lhes levará a Deus. A única realidade que pode lhe levar a Ele é postar-se aos Seus pés, mas para isso vocês precisam depositar ao pé do Pai o governo do seu reino...

Aliás, isso está no livro bíblico Apocalipse. Vamos ver...

“O trono de Deus estará na cidade e os seus servos o adorarão”. (Apocalipse – Capítulo 22 – versículo 3).

Aí está o que será o novo mundo. O trono de Deus, ou seja, o poder e a verdade Dele estarão presentes na Terra e os seus servos O adorarão ao invés de quererem colocar palavras na boca dele, ao invés de quererem ensinar a Ele o que está “certo” ou “errado”.

Então, volto a repetir: todos ensinaram a mesma coisa. Com palavras diferentes, mas o mesmo ensinamento. Acabamos de justificar o ensinamento de um mestre hindu com a bíblia, que eu garanto que este mestre nunca leu...

Participante: Então não devemos seguir a razão?

Quem lhe dá a razão? O ego, através do raciocínio... Por isso digo que não deve seguir nada que a razão lhe diga, mas sim a Deus.

Aliás, foi ensinado que você não deve idolatrar a outro que não seja Deus... Quando você segue a razão como verdadeira, a idolatra. Idolatra o ego, o ser humano que imagina que é...

Não, não siga a razão... Mas, também não siga a intuição porque ela também passa pela razão...

Na verdade, não siga a nada. Siga a Deus que é o nada que preenche tudo.

Participante: O senhor disse que não podemos saber nada que Deus quer. Como, então, podemos saber que Deus quer que amemos a todos; que Ele não quer que sejamos individualistas, mas sim altruístas?

Deus não quer isso... Deixe-me dizer uma coisa interessante...

No ensinamento de Cristo que fala que devemos amar a Deus acima de todas as coisas, existe, se analisarmos bem, uma soberba muito grande... Neste ensinamento, aparentemente, está embutida uma verdade que Deus quer ser superior a todas as coisas. Que existe uma necessidade de que Deus quer que você O considere superior... Esta razão é uma coisa meio ilógica para o Deus que os mestres ensinaram...

Por causa deste raciocínio que fiz, lhe digo: compreenda que Deus não quer que você O ame acima de todas as coisas. Cristo fala assim, porque ele sabe que este é o caminho que lhe leva ao Pai... Vou explicar...

Cristo sabe que o amor a Deus acima de todas as coisas é o caminho que lhe leva ao Pai. Mas, só um caminho e não uma realização. A realização acontece quando você ama a Deus. Por quê? Porque quando ama a Deus, não mais ama a você acima de tudo... Quando você liberta-se do amor a si acima de todas as coisas, liga-se ao Todo.

Então Deus não quer que você O ame acima de todas as coisas, mas orienta os mestres para ensinar isso porque sabe que este é o caminho para unir-se ao Universo... É diferente... Dizer que Deus impõe que você Lhe ame, que quer que seja submisso a Ele é bem diferente de usar este caminho para lhe ajudar a eliminar o amor a si mesmo...

Sendo assim, o cumprimento deste mandamento, ou seja, o amar a Deus acima de todas as coisas não é obrigatório nem é a realização da elevação espiritual, mas trata-se apenas do caminho que seguir para libertar-se do ego. Isso porque, se não for apaixonado por Deus, será apaixonado pelo ego...

Participante: Mas, se não sabemos nada de Deus, como você afirma isso?

Eu não disse que não sabemos nada de Deus. Disse que não sabemos pensar como Ele pensa; conhecer as coisas como Ele conhece... É bem diferente.

Sobre Deus, podemos saber diversas coisas. Sabemos que Ele é o Senhor Onipotente, Onipresente e Onisciente. Sabemos que Ele é o Amor e a Justiça. Sabemos que é tudo e tudo é Ele. Tudo isso provém da constatação da emanação de Deus, que eu possuo, mas você não.

Quando você está preso ao ego, imagina que todas as coisas que existem são emanações suas, das coisas ou dos outros: alguém fez, eu faço, a coisa faz acontecer. Quando você se liberta do ego humanizado que cria para o espírito a ilusória posição de supremo, que o incita à auto contemplação, a ver a realidade do Universo como a que ele dita, vê o que realmente está acontecendo.

Você acha que está sozinho em casa, mas ao seu redor está cheio de espíritos desencarnados. Estes espíritos não estão aí à toa: eles estão agindo sobre você e sobre as coisas do seu mundo... Acima – refiro-me a acima não como superior, mas como não perceptível por estes espíritos desencarnados – existem outros que estão agindo sobre aqueles os fazendo agir sobre você e o seu mundo. Isto eu percebo; você não...

Se isso é real, posso dizer que acima destes que dirigem os que agem sobre você tem outros. Afirmo que posso dizer por que a minha percepção só alcança os segundos, mas por lógica, posso dizer que isso é uma cadeia que levará a um topo onde existe um ser que está emanando para todos. Sendo assim, cheguei a Deus, seja ele quem for, pois Ele é um espírito.

Mas, para mim, Deus não é um espírito, mas o centro do Universo, o lugar de onde tudo emana... Para mim, a minha, digamos, ambição espiritual é me aproximar deste centro de emanações, mas para isso preciso tirar de mim toda e qualquer ilusão de ter poder de emanar. Se não fizer isso, estarei sempre voltado ao interior ao invés de dirigir-me para este centro.

É por isso que ensino como ensino...

Às vezes é difícil explicar algumas coisas para vocês porque a realidade do Universo foge muito ao que vocês acham... Como respondi agora a pouco, vocês não devem acreditar na razão. Por isso não posso lhes dar racionalmente comprovações do que estou dizendo.

Participante: Será que esta compreensão dos atributos de Deus estão corretas? Pergunto isso, porque só as conhecemos por causa do que está em O Livro dos Espíritos...

  Não, todos estes atributos que estão em O Livro dos Espíritos estão na Bíblia, no bhagavad Gita, no Alcorão, no ensinamento de Buda e Lao-Tsé. É por esta confluência entre o ensinamento de todos os mestres que podemos declarar que isso é real.

Outro dia me perguntaram sobre o controle universal das informações espirituais. Eu respondi que este controle não pode ser baseado no conhecimento do ser humano, ou seja, naquilo que o ser humano participa. O controle universal deve ser fundamentado naquilo que os mestres ensinaram.

Quando o ensinamento dos mestres é confluente, ou seja, quando a interpretação que o ser humanizado dá aos ensinamentos dos mestres é confluente, o ser humanizado acabou de poder vislumbrar um pedacinho da verdade universal. Agora, como está também em O Livro dos Espíritos, Deus não é só isso, mas isso é o que podemos neste estágio compreender de Deus.

Na pergunta um de O Livro dos Espíritos se afirma que Deus é Causa Primária de todas as coisas. Eu pergunto: na Bíblia, no Novo Testamento, existe esta informação? Existe...

Participante: Mas estes são apenas livros, não?

Não, são as palavras dos mestres... São obras de Deus...

Veja: você está misturando livros com comentários humanos e livros sagrados. Livros sagrados são aqueles que não tem um autor, mas que traduz ensinamento de um mestre. Comentários são livros escritos por seres encarnados que expõem o que o autor acha.

Sendo assim, a Bíblia, o Alcorão, O Livro dos Espíritos, o Bhagavad Gita e outros, não são livros, mas a tradução escrita do ensinamento de um mestre.

Participante: Na verdade estas dúvidas passam por todos nós em um determinado momento. Para mim o que funciona é o que atende mais a minha expectativa. De repente tudo o que estamos estudando calou fundo em mim. Tem sentido, tem lógica, mesmo que seja minha lógica humana. Foi por aí que calei minhas dúvidas. Apesar disso, muitas vezes me questionei: quem está certo? Quem garante que O Livro dos Espíritos está certo, Krishna está certo? Esta é uma dúvida que a seu tempo sempre nos ataca...

Perfeito. Mas, lhe pergunto: qual o nome deste “calar fundo” que você disse que aconteceu consigo?

Participante: Não sei...

O exercício da fé... O exercício da fé é a crença em alguma coisa que não pode ser totalmente conhecido pela razão.

Uma vez uma pessoa me disse assim: que coisa engraçada e estranha que é este tal de Deus que eu não sei quem é, que eu não tenho condições de compreender, mas o amor profundamente. Isso é o exercício da fé...

Quem tem fé ama profundamente a Deus e se Ele é a Causa Primária de todas as coisas, ama profundamente tudo que vem Dele, que é tudo que existe...

Participante: A Bíblia que o senhor lê tem milhares de deturpações feitas pela Igreja Católica e outras milhares feitas por erros de tradução...

Uma pergunta: onde está Deus Causa Primária de todas as coisas na sua frase? Onde está a incapacidade de agir livremente sobre a matéria que temos estudado todo este tempo? Onde ficaram as verdades universais nesta frase feita pelo ego a partir de verdades humanas?

A Bíblia não foi deturpada pela Igreja Católica: foi reescrita por Deus. A Bíblia não contém erros de tradução, mas a tradução que Deus fez... Isso porque Deus é a Causa Primária de todas as coisas...

É o que venho dizendo: acreditamos na existência de uma Causa Primária, mas tem coisas que não acreditamos que Deus fez. Por quê? Porque não achamos “certo” o que aconteceu...

É o que eu acabei de dizer: os seres humanizados selecionam a aplicação do ensinamento àquilo que ele quer aplicar e tudo onde não quer aplicar, afirma que não provém de Deus, como se eles fossem capazes de saber e reconhecer o que Deus faz ou não...

Deixe-me dizer uma coisa: vocês afirmam que Deus escreve certo por linhas todas tortas, mas eu afirmo que Deus escreve certo por linhas certas... São vocês que lêem torto...

São os seres humanizados que interpretam e dão valores às coisas que acontecem...

Participante: A fé já foi utilizada no passado para o controle das pessoas...

Participante 2: Eu acredito que isso foi o carma daquelas pessoas...

A fé não foi usada com estes fins no passado: continua a ser usada ainda hoje... Ela é usada para estes fins ainda hoje dentro da ilusão do mundo carnal como uma pergunta de Deus: você tem fé nesta pessoa ou em Mim?

Então veja... Sim, isso aconteceu e continua acontecendo porque é uma ação carmática e como tal é uma provação para o espírito. Sendo assim, não foi o homem religioso que por espontaneidade emanou desorientar espíritos, mas foi Deus quem submeteu uma plêiade espiritual a uma determinada prova.

Volto a dizer: vamos raciocinar de cima para baixo e não ao contrário. Não vamos buscar conhecer a realidade a partir das verdades humanas, mas sempre questioná-las para poder surgir uma verdade maior, mais absoluta...

Deixe-me dizer algo importante e oportuno. Quando digo que foi Deus quem fez, não estou querendo dizer que eu estou “certo” e você “errado”. Estou falando no que acredito.

O que você deve fazer com o que está ouvindo? Seguir o ensinamento, ou seja, não se apegar nem no que acredita, nem no que digo...

Por que isso? Porque a verdade, a realidade, não será alcançada por nós nos estágios que estamos.

Estamos muito longe disso. Neste “estamos” me incluo, pois mesmo que eu já tenha aprendido alguma coisa do que falo a vocês, estou muito longe de saber a verdade ou a realidade das coisas.

Quando crio uma nova verdade como fiz agora, é simplesmente para lhes mostrar que não estão “certos”, mas, com isso, não digo que estão “errados”. Faço apenas para mostrar que o que falam é apenas uma coisa que acreditam. Sendo assim, o que vocês falam são coisas que precisam combater, para só então poderem entrar na verdade de Deus...

Participante: A respeito do assunto alterações da Bíblia, os mulçumanos dizem que ela não deve ser seguida porque os ensinamentos dela foram alterados...

Então, me diga uma coisa: os ensinamentos que os mestres mulçumanos passam a partir do que está no Alcorão podem ser seguidos? Achando, eles vão contra o próprio Alcorão.

Digo isso porque os mestres da doutrina islâmica falam que não existe reencarnação, mas o Alcorão diz que sim. Veja este texto:

“Os que rejeitam nossos sinais, breve jogá-los-emos no Fogo. Cada vez que suas peles forem queimadas, substituí-las-emos por outras para que continuem a experimentar o suplício” (4:56).

O que é isso se não um processo reencarnatório? Deus colocando o espírito à prova (seguir os sinais) e se ele morrer sem conseguir (queimar a pele) terá que viver novamente (substituir a pele queimada e continuar experimentando o suplício)...

Ao falar assim, não estou querendo dizer que a doutrina mulçumana ou qualquer outra são “erradas”. Também não estou querendo dizer que os mestres de qualquer doutrina está “errado”.

Então, veja... O problema não é o que está na Bíblia ou no Alcorão: o problema é o que você lê nos livros sagrados. O problema é a interpretação que você dá aos textos sagrados porque toda sua interpretação é dirigida por um mestre ou um guru...

Por isso já estudamos aqui que Dattatreya ensina que não há mestre ou guru nem ensinamento que deva seguir... Isso porque o caminho não é o conhecimento e nem o conhecimento, mas a liberdade de tudo isso...

Você precisa se libertar do seu guru, ou seja, daquele que diz que a Bíblia ou qualquer outro texto está “certo” ou “errado”. Mas, precisa também se libertar daquilo que você compreende quando lê diretamente os escritos sagrados.

Volto a repetir. Estamos falando de um outro mundo, de uma outra vida, onde não se questionada nada do mundo, porque se reconhece nestas coisas a emanação de Deus. Sendo assim, se a Bíblia foi reescrita ou não, ela é emanação de Deus; se o seu guru, seja ela um padre ou o próprio papa, lhe fala alguma coisa, trata como uma emanação de Deus e não como o ensinamento de um ser humanizado...

Sobre tudo que o guru diz você cria uma interpretação, ou seja, cria uma verdade. Mas, na verdade você não fez isso, pois o seu ato de interpretar o que ouve também é uma emanação de Deus.

Ou seja, no final tudo é uma emanação de Deus. Para que, então, ficar se prendendo a estas coisas? Prenda-se logo diretamente a Deus que você está se ligando ao núcleo de onde tudo provém no Universo... Ao agir assim, estará indo diretamente à fonte, ao invés de ficar preso naquilo que acha, ou seja, nas miragens criadas pelo ego...

Agora, quando for a Deus, vá de mãos vazias... Não O busque possuindo verdades ou conceitos, porque senão jamais O alcançará.

Então, volto a dizer: podemos conversar sobre todas as coisas. Debater todos os temas possíveis é imprescindível para quem quer destruir todas as verdades... Mas, nestas conversas, não devemos deixar que novos conceitos se formem...

É só isso: destruir tudo. Porque tudo que você achar será emanação de Deus. Então, volte-se diretamente para Deus e abandone as emanações Dele. Por isso repito que podemos e devemos debater todo e qualquer assunto, mas nunca para dar valor as coisas, mas sempre com a intenção de libertar-se do que acha...

Participante: Na minha função aqui de advogado do diabo é justamente a questão de Deus ser a Causa Primária de todas as coisas que estou colocando em cheque...

Compreendo isso e mais. Compreendo que esta função não é sua, pois seus questionamentos são emanações de Deus. Portanto, tenho a consciência de que não é você quem está questionando.

Por isso lhe peço para ter a certeza de que não estou lhe acusando de nada. Estou lhe vendo como instrumento para a emanação de Deus para poder se discutir dúvidas de outros que não abrem a boca e depois não sabem como por em prática o que ensinamos.

Então, não sinta culpa ou queira imaginar que eu estou lhe culpando por alguma coisa.

Participante: Pelo contrário... Quando participo do trabalho me sinto muito próximo do senhor. Sinto o seu carinho e o seu amor...

Perfeito, mas continue questionando... Foi através dos questionamentos de todos que um dia aqui estiveram que chegamos até onde estamos...

Participante: Ainda sobre o tema do Alcorão, segue quem encontra verdade nele. Os mulçumanos dizem que ele não foi deturpado. Do jeito que foi escrito é lido até hoje...

Você fala do jeito que ele foi escrito... Você sabe o jeito que ele foi escrito? Vou explicar...

Com relação a todos os ensinamentos, existe uma característica que os seres humanos se esquecem: nenhum foi escrito pelo próprio mestre... Nenhum mestre deixou palavras registradas...

No caso do Alcorão, por exemplo, ele não foi escrito pelo Anjo Gabriel (o espírito que atendeu nesta etapa de transmissão de ensinamentos). Ele foi intuído à Maomé, decorado e recitado por este ser humanizado para só depois de algum tempo alguém que ouviu e decorou também escreveu. Não foi nem Maomé que o escreveu...

Os ensinamentos de Buda só começaram a ser escritos trezentos anos depois que ele morreu. Ou seja, foi passando de geração em geração por via oral para depois ser escrito. Neste processo foi sofrendo as influências dos egos humanos.

Os evangelhos do Novo Testamento foram escritos por evangelistas que nunca conviveram com Cristo. Aliás, Lucas nem era nascido na época de Cristo. Além disso, as diversas cópias que chegaram até os dias de hoje foram obras de escribas que muitas vezes alteraram palavras ao seu bel prazer alterando, assim, o sentido.

Esta é uma característica fundamental de todos os livros sagrados. Mas, não tira a importância destes textos, porque sabemos que todas estas alterações foram causadas pela Causa primária de todas as coisas.

Então, para que isso? Para lhe mostrar que tudo que você tem como ensinamento é fruto de uma interpretação. Portanto, se quer fazer alguma coisa para aproximar-se de Deus, liberte-se de todas as interpretações, ou seja, não acredite em nada. Só em Deus...

Unidade - Capítulo 1

Despedida de palestra

Reproduzir todos os áudiosDownload
Despedida de palestra

 Mensagem especial

Que vocês fiquem com Deus, na paz...

Por favor, se vocês viram alguma lógica no tocante à elevação espiritual nestes ensinamentos, não se envergonhe em realizar, em buscar...

Se lembrem que Chico de Assis não se envergonhou em abandonar suas vestes e seu castelo para se vestir com estopa e dormir no meio do mato...

Se lembrem que Chico Xavier se envergonhou em ter dele um tostão para comprar sequer um café...

Se lembrem que os mestres de verdade, os sábios reais, nunca se envergonharam do caminho que praticavam. Buda vivia num castelo e abandonou tudo isso para viver no meio do mato e esmolando para comer. Quando lhe cobraram esta opção – não pensem que isso nunca aconteceu – ele nunca se envergonhou da situação que vivia.

Esta é uma compreensão que você deve ter. Além de lutar para não dar ao que você acredita o valor de verdade, precisa lutar contra a humanidade que vai querer lhe humilhar porque está buscando a Deus ao invés de querer uma casa com piscina, de sonhar com o luxo material.

Lembrem-se disso sempre, porque isso é fundamental para a realização do objetivo da sua vida.

Você não nasceu para obter cultura, para criar família, para realizar o seu trabalho material, para usufruir dos bens materiais. Você nasceu com um único objetivo: promover a sua reforma íntima através da vivência das provações que Deus emana como vicissitudes da vida, alcançando, assim, a evolução espiritual.

Então, cumpram o seu objetivo, porque Cristo nos diz: bem-aventurado o pobre de espírito – aquele que só vive com Deus, só vive na freqüência do amor – porque dele será o Reino do céu. O próprio cristo nos ensina ainda: o último no reino da terra será o primeiro no Reino do céu.

Que a paz esteja com todos. Graças a Deus...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 60

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 60. Que maravilhosa é Maya, causa das noções de unidade e dualidade, pelas quais este universo parece um e intacto!

Acho que o mestre ficou maluco, não? Ele afirma que o maya é maravilhoso... Por que ele fala assim? A resposta esta nas próprias palavras de Dattatreya: o maya é maravilhoso porque somente por causa dele existe o dualismo no Universo...

Quando não houver mais maya, não haverá mais dualismo no Universo. O maya ou a ilusão ou as verdades contidas no ego é o fato que cria o dualismo no Universo. Mas, porque é maravilhoso haver dualismo no Universo?

Participante: Porque parece que o dualismo foi criado por Deus para as provas do espírito...

Ou seja, o dualismo é a prova. A partir disso, volto a perguntar, porque é maravilhoso haver o dualismo? Porque sem o dualismo todos estaríamos na inércia... Não existiria o que se fazer no Universo...

Este sistema que Deus criou (o sistema dualista, dos mayas) que criou a ação universal. Se todos vivessem na unidade não haveria o que se realizar no Universo.

Os espíritos só têm uma coisa a realizar no Universo: lutar contra os seus mayas... Todo resto é, por assim, dizer, realizado automaticamente e não por ação espiritual. Se não houvesse o maya e a possibilidade de exercer o livre arbítrio entre optar por Deus ou pelo maya, o espírito seria estático...

É o maya que nos movimenta para lá e para cá. É o maya que lhe dá a possibilidade de amar. Sem ele, você não saberia o que é amar, porque não teria o não amar. Você só conhece o que é amar na hora que tem a possibilidade de saber o que é não amar.

É neste sentido que o mestre está nos dizendo que o maya é uma maravilha...

Temos falado muito aqui no sentido da luta contra o maya, da luta para se libertar dele. Já falamos inclusive que maya é o diabo, o tentador. Mas, aquele que realmente busca a liberdade do maya ama a tudo, inclusive as próprias ilusões. Então, aquele que alcança a elevação espiritual ama a tudo, inclusive o próprio maya...

Apesar de dizermos que você deve lutar contra o maya, contra as ilusões, dizemos também que você não deve não gostar do maya. É isso que o mestre está falando.

O maya é fenomenal, é fantástico, é perfeito, porque se vivêssemos num mundo sem maya, não teríamos o que realizar, pois a única coisa que os espíritos têm para realizar neste Universo é lutar contra ilusões. Toda e qualquer outra coisa que você imagina fazer é apenas ilusão, pois é Deus quem faz. Você só acha que está fazendo...

Participante: O dualismo é obra de Deus, mas como Deus sendo Uno pode criar coisas duais? Não seriamos nós mesmos os criadores do dualismo?

Não.

Veja: Deus é o Criador do Universo. Então, tudo que existe foi criado por Deus. Mas, Deus não cria coisas duais: ele cria a ilusão de haver dualismo.

Ele cria a ilusão do “certo” e “errado”, do “bonito” e “feio”. Ele não cria o “bonito” e o “feio”, mas a ilusão que você vivencia algo bonito ou feio. Neste momento, você pode optar em viver o adjetivo dualista proposto por Deus ou pela integração na unidade não acreditando nestes adjetivos...

 Mas, ele não faz isso apenas por fazer, mas por amor. Isto porque quando você combate o maya se liberta de sujeiras e chega mais perto da Unidade.

Participante: O dualismo não é uma forma distinta de ver o Uno?

Não, o dualismo não é uma forma distinta de ver o Uno, mas um sistema que desmembra ilusoriamente o Uno.

O ser humanizado não vive na Unidade, mas na multiplicidade. Ele subdivide o Uno em diversas partes.

Agora, se pensar por outro lado, ou seja, partindo da lógica que Deus é tudo e tudo é Deus, sim. Isto porque, raciocinando a partir desta lógica, tanto faz você viver o “bonito” ou “feio”, estará vivendo Deus.

Então, poderia até ser, mas na realidade não é. Na verdade a Unidade existe e você é que a vivencia optando pelo dualismo.

Participante: Considerar que o dualismo existe e que foi criado por Deus não é a mesma coisa que considerar que o maya existe e foi criado por Deus?

Sim, mas é exatamente isto que estou dizendo: o maya existe e foi criado por Deus.

Deixe-me dizer algo. Você vivencia o maya através do pensamento. O pensamento é dual e ele lhe dá os mayas, ou seja, a ilusão de que existe o feio e o bonito. Mas, quem lhe dá os pensamentos?

Nós estudamos isso em O Livro dos Espíritos recentemente: os espíritos, a mando de Deus, lhe dão os pensamentos. Sendo assim, quem lhe dá os mayas é Deus.

Agora o Senhor não o obriga a se escravizar ao maya. Pelo contrário: ele lhe dá o maya como uma oportunidade para que você, espírito, exercendo o seu livre arbítrio, prefira viver na Unidade e não na dualidade.

Este é o objetivo de Deus ao lhe dar o maya: criar uma prova para o espírito. Só isso...

Participante: Mas, a ilusão não somos nós que criamos?

Não, o espírito não cria nada... Deus é Causa Primária de todas as coisas...

Definitivamente precisamos acabar com a idéia de separar o todo em partes. Deus é Causa Primária de todas as coisas: assim afirmou o Espírito da Verdade. Apesar disso, os seres humanizados querem afirmar do que Deus é Causa Primária e do que não é... Se Deus não fosse Causa Primária de todas as coisas, o Espírito da Verdade ensinaria que ele é Causa Primária de algumas coisas.

Portanto, se Deus é Causa Primária de todas as coisas, ele é a origem de tudo, inclusive do maya. Mas, para se compreender isso não é preciso nem muito raciocínio. O maya é a prova que o espírito vivenciará e quem escreve as questões desta provação é Deus baseando-se nos assuntos que o espírito escolhe para provar durante a encanação.

Então o maya é criado a partir dos objetivos da encarnação escolhidos pelo espírito como prova para ele...

Participante: Mas, se considerarmos maya como uma criação de Deus, não teríamos que considerá-lo como real, posto que foi criado por Deus? Isso ainda não ficou claro para mim...

Maya é real: você tem maya, isto é uma realidade. Agora, acreditar no que o maya diz como verdade, realidade, é que é ilusão. O maya existe, mas a compreensão que ele cria é ilusão... Vou dar um exemplo...

O seu pensamento lhe diz que alguma coisa é “bonita”. Isso é real: realmente você tem um pensamento que diz que alguma coisa é “bonita”. Mas, o fato daquela coisa ser classificada como “bonita” é irreal.

Sendo assim, o maya em si é algo real: não se pode dizer ao contrário. Você não pode dizer que se ilude pensando que tem um pensamento: você o tem realmente. Agora, dizer que o que maya diz é verdade é ilusão. O que o maya diz é ilusório, é irreal.

Agora deu para ficar claro? O maya é um elemento do Universo: isso é Real. Mas, o que o maya transmite é ilusão.

Participante: Como é que o maya pode ser real e ilusão ao mesmo tempo?

O maya não é ilusão... Ele contém uma ilusão...

Olha o exemplo que eu lhe dei. Você tem um pensamento que diz que determinada coisa é “bonita”. Isso é real, isso é maya... Agora, o que é o maya diz (aquilo é “bonito”) é ilusão. A “beleza” da coisa é ilusão, não o fato de você ter pensado...

Você pensou... Isso é real... Mas, o que o maya fala é uma ilusão...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 61

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 61. Não há existências materiais ou imateriais, assim dizem os Vedas para sempre. Existe apenas o Atma, destituído de todas as dimensões de unidade e de separação.

O que existe é uma única realidade. A realidade é uma só: a Unidade Universal. Isso é real... Agora, você vive nesta Unidade que é real achando diferentes coisas dela.

Portanto, não é o fato de você existir ou de ter um pensamento que é irreal. Não, isso faz parte da Unidade Universal. O que não é real é a interpretação que você recebe de Deus através do maya para as coisas do mundo. É essa interpretação que não é real, mas o fato de você viver no Universo é real.

Aí o mestre nos dá um exemplo disso: não existe vida material ou espiritual... Sim, não existe esta distinção, porque tudo que você ilusoriamente classifica como material ou espiritual, acontece simultaneamente na Unidade.

Você acha que porque está encarnado está tendo uma vida completamente diferente da vida do espírito. Imagina que só adquirirá sua capacidade espiritual quando sair da carne. Mas, isso é ilusão, esta interpretação é uma ilusão.

A sua vida, a sua existência é real, mas ela está acontecendo no Uno Universal e não no dualismo terrestre.

Ela não existe em lugares diferentes, em etapas diferentes. Tudo isso são criações ilusórias que servem como prova para ver se o espírito se prende a isso e aí classifica quem não acredita na vida espiritual como nada saber, ou ama a Deus. Se amar a Deus, viverá sem se importar em querer saber se realmente existe vida espiritual ou material separadas.

Quem opta por Deus, apenas sabe que existe vida em Unidade com Deus e que esta vida acontece no Uno, no não dualismo.

Participante: Quer dizer que a relação que a consciência tem com a coisa, achando-a “feia” ou “bonita” é ilusão? Maya em si é real, o juízo de valor que surgiu através do maya é que é ilusão?

Perfeito. Exatamente isso: o juízo que você recebe de Deus de acordo com suas provas é ilusão.

Vamos dar um exemplo: um espírito pede antes da encarnação para lutar contra o sentimento do desânimo. Quando Deus dá o maya para este espírito, o pensamento será tendencioso para este desânimo. Ele determinará que o ser humanizado deva sofrer por qualquer coisa, ser um pessimista.

Isso é ilusão... A tendência que o pensamento traduz não é real... Já o pensamento, este realmente existe e o espírito tem que lutar para libertar-se da ação dele que lhe determina a verdade (estar desanimado) para poder chegar a Deus.

É isso. Este é o resumo da vida: você está em Unidade com Deus no Universo, mas recebe Dele mayas que fragmentam e dão valores fragmentados ao Uno, para ver se você se prende a estes valores ou se continua em união com Deus.

Repare que neste ensinamento falamos de budismo, de hinduísmo, espiritismo e cristianismo. Isso fala do mundo real: o ecumênico. Isto porque não existem as diversas religiões ou falanges espirituais isoladas, porque tudo está no Uno.

Participante: Na prática, posso dizer que o meu contato com o objeto é real, mas a maneira como o interpreto é ilusão?

A maneira como recebe a interpretação de Deus...

Não é você que cria a interpretação do contato, mas sim Deus que dá a cada um de acordo com a prova de cada espírito. Se o espírito está buscando vencer o desânimo, o pensamento dará uma interpretação ao contato; se a vitória a ser alcançada é sobre a euforia, haverá uma interpretação diferente frente ao mesmo tipo de contato do outro. Ou seja, o pensamento será formado através de gunas diferenciados...

Lembra que estudamos os gunas? Rajas, Tamas e Sattva? A propriedade da ação, da inação e da bondade do pensamento?

Participante: O ato de ver é real, mas o que interpreto é ilusão?

Para não complicar mais vamos dizer que o ato de ver é real. Falaremos disso mais tarde porque na verdade este ato não é real, porque não existem formas nem percepções no Universo. Sendo assim, você não podferia ver uma forma.

Mas, só para não complicarmos mais neste momento, ficamos assim: o ato de ver e o pensamento que surge ao ver é real, mas os juízos que faz das coisas no pensamento é ilusão...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 62

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 62. Tu não tens pai ou mãe, irmão ou esposa, amigo ou filho. Tu não és afetado pela parcialidade ou imparcialidade. Como, então, pode existir esta perturbação em tua mente?

Deixe-me dizer algo: em grande parte dos ensinamentos compreendidos sem muita análise, todos os mestres tiveram poucos pontos concordantes. Se você for analisar metodicamente os ensinamentos dos mestres achará milhares de pontos concordantes, mas se analisá-los superficialmente, estes pontos são poucos.

Um deles é o amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Todos os mestres mostraram a necessidade de se realizar este ato espiritual.

O segundo aspecto que, mesmo sem uma análise profunda salta aos olhos, é a questão da família... Não a questão da existência da família, mas sim da prisão ao maya, a prisão à ilusão dos papéis familiares...

O problema não é você ter ou ser um pai, mas sim se apegar ao papel de pai. Em nome deste papel, quantos pais já não sacrificaram filhos? Em nome deste papel, quantos filhos não deixaram de amar pais?

O ensinamento de Dattatreya, que também é o de Krishna, é sobre a perturbação. Eles não querem acabar com a família, mas sim com a perturbação que o apego aos papeis familiares traz.

Sim, existe uma perturbação muito grande no espírito quando ele se apega aos papéis familiares dele ou dos outros, porque estes papéis têm uma característica egoísta: a posse... Mesmo dois irmãos brigam entre si pelo amor de um pai e de uma mãe. Pela posse...

Esta prisão familiar como reunião sagrada de espíritos é uma ilusão. Eu costumo dizer que a maior mentira do planeta Terra é o quadro da Sagrada Família: Jesus, Maria e José... Nele Jesus é pintado como um anjinho agarrado ao sentimento familiar.

Mas, este mesmo anjinho, mais tarde, quando alguém lhe pediu para esperá-lo porque precisava enterrar seu pai, disse assim: deixe os mortos enterrarem os mortos. Não tenha este valor, este apego ao seu pai.

Este mesmo anjinho, mais tarde, diria que veio para colocar pai contra filho e filha contra mãe. Depois sentenciou: enquanto você não abandonar, pai, mãe e irmãos e não pegar a sua cruz e me seguir, não realizará nada...

Já que a maioria dos aqui presentes é cristão, fico apenas nos ensinamentos de Cristo a respeito da família. Poderia mostrar em todos os mestres a mesma orientação, mas não será necessário...

Se fossemos buscar os textos sagrados de Buda, Krishna ou do Espírito da Verdade, iríamos ver que todos falaram a mesma coisa. Eles agiram assim motivados pela mesma intenção de Dattatreya: a ilusão relação familiar como hoje compreendida e vivida no planeta Terra, perturba o espírito e não lhe deixa promover a elevação espiritual...

Primeiro porque contém posse: meu filho, meu marido, minha mãe, meu pai... Segundo: os pensamentos contêm uma verdade que quer se impor ao próximo.

Toda mãe almeja em dar um futuro brilhante para o filho – claro que sem se importar se ele quer – e se perturba a vida inteira para fazer isso. Enquanto está perturbada com isso não está realizando a elevação espiritual.

São esses detalhes que vocês que vocês não levam em consideração quando debatem comigo querendo “salvar” alguma coisa de positivo no apego familiar. Mas, saibam que enquanto se prendem a estes papéis familiares, vocês se perturbam. Não vêem que durante esta perturbação – viver o que Deus dá como verdade, como realidade, condicionando a felicidade à realização de desejos – não conseguem realizar a elevação espiritual.

Por isso, repito: é preciso se desapegar das ilusões criadas através do maya sobre a as necessidades movidas pelo apego familiar. É preciso aprender a viver e conviver com os espíritos que estão exercendo estes papéis em Amor Absoluto, em Unidade Absoluta entre você, ele e Deus.

Isto porque, a partir do momento que você se apropria de um filho de Deus – é meu filho, é meu pai – ao ponto de imaginar que pode ser o comandante (quem decide) a vida deste outro ser, quebrou a Unidade com Deus.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 63

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 63. Não há dia ou noite, tampouco amanhecer ou ocaso em tua mente. Como podem homens sábios atribuir corpo ao incorpóreo?

Não existe amanhecer ou ocaso. O que quer dizer isso? O dia... Se o amanhecer marca o início do dia e o entardecer marca o término dele, se eles não existem, não existe o próprio dia...

Mas, se não existe dia, não existe tempo... Isso nós já conversamos aqui... Mas, neste trecho há outra lição: como podem homens sábios atribuir corpo ao incorpóreo? Ou seja, você não tem corpo... Mas, isso também nós já falamos...

Vamos, então, juntar as duas informações: não há tempo e nem se pode atribuir corpo ao incorpóreo... O que isso pode nos trazer de lição? Não existe infância, juventude ou velhice, porque para os humanos estes espaços de tempo são marcados pelo corpo...

Você acha que está velho quando perde a vitalidade do corpo, mas o corpo não é você... Você é você, o corpo é o corpo...

Então, veja, não há como passar anos para você porque não tem corpo e tempo não existe. Sendo assim, você não precisa se sentir velho... Este é o ensinamento de Dattatreya neste trecho...

Aquilo que você sente e diz que é velhice chegando, que é maturidade chegando quando sai da infância, são ilusões. Ilusões que você vive c concorda dizendo que é real porque olha o seu corpo. Como acredita que ele é você, quando percebe que ele está ficando velho, decreta que deve sentir-se como tal... Neste momento, senta-se num canto e apodrece até a morte...

Não apodrece fisicamente, mas mentalmente. Você se sente velho e incapaz para realizar algumas tarefas...

Este é o ensinamento do mestre que surge quando analisamos este texto: você não precisa apodrecer mentalmente. Você não precisa envelhecer dentro de você, porque é incorpóreo. Sendo assim, mesmo que o corpo envelheça, você não vive tempos. O tempo só existe para o corpo, para as ilusões...

A partir deste ensinamento, você deve começar a se libertar dos mayas que diz que você é gordo e que por isso não pode fazer algumas coisas. Que diz que existe uma doença e que por causa dela você não pode respirar...

Você precisa se libertar das verdades que dizem que por ser magro não pode fazer determinados esforços físicos. Tem que se libertar das verdades que dizem que pelo corpo estar em determinado estado não pode realizar algumas coisas...

Você é capaz de realizar tudo, porque você comanda o corpo. Se isso é verdade, o estado que o corpo está foi você que criou e não ele que assumiu. Claro, tudo respeitando a Causa Primária de todas as coisas...

Mas, por que ele causou que você não pode fazer determinadas coisas? Porque você se entregou à ilusão de achar que está velho, doente, gordo, magro ou qualquer outra coisa que veja no corpo...

Deixe-me dizer uma coisa: estamos falando de algo que é sumamente importante porque resolve todos os problemas que vocês têm na vida.

Vocês dizem que sofrem porque não conseguem fazer alguma coisa porque são gordos, magros, altos ou baixos. Vocês têm problemas na vida (sofrem) porque imaginam que não podem vestir determinadas roupas porque são novos ou velhos e acham que podem ser ridículos.

Vocês sofrem na vida por incapacidades físicas que não existem: é isso que estamos mostrando à vocês...

Vocês podem ser plenamente felizes independente da forma como estão os seus corpos. Isso porque vocês não são os corpos... Vocês só se sentem de determinada forma porque são escravos de uma ilusão: de achar que é velho, louro, moreno, negro, oriental ou ocidental...

É com isso que precisamos parar. É isso que pode lhe ajudar a viver melhor e ser feliz...

Eu não compreendo... Os espíritos humanizados passam toda existência carnal buscando a felicidade. O que nós estamos falando é exatamente disso: de uma liberdade que lhe trás um estado de espírito de equanimidade, de felicidade incondicional. Mas, vocês relutam em aceitar o que eu digo...

Isso porque vocês ainda estão apegados à matéria, a coisa materiais. Ainda estão agarrados a corpo, visão, audição, olfato e paladares. Depois não querem sofrer. Como? Como não sofrer se vocês se agarram aos mayas e não querem largá-los?

 Participante: Quer dizer que nosso corpo que é maya nos dá uma experiência que gera um sistema de crenças e nós nos tornamos escravos deste sistema?

Na verdade não é o corpo que gera este sistema, mas sim Deus. Ele faz o corpo envelhecer e ao mesmo tempo lhe dá um pensamento ilusório de que ele está envelhecendo. Você, como acredita na matéria, acredita que está vendo o corpo envelhecer, acredita que você é ele, aceita o pensamento e a sensação ilusória dada por Deus como real...

Participante|: Então, quando o homem muda o seu sistema de crenças com relação ao corpo físico ele pode realizar o que quiser?

Teoricamente sim... Não nos esqueçamos que existe a Causa Primária. Se ela não mudar, nada se realizará.

Mas, de qualquer maneira não é o sistema de crenças com relação ao corpo que precisa ser mudado, mas o sistema de crenças com relação a ele mesmo, ou seja, quando não acredita mais em si como humano. Para isso ele precisa deixar de ser escravo das ilusões que limitam a sua atividade.

Teoricamente, quando o ser liberta-se destas ilusões que dão a ele um valor diferenciado do que é, o ser universal, humanizado ou não, pode realizar tudo. Lembre-se que o espírito que se liberta das ilusões tem consciência da sua Unidade com Deus e por isso pode servir de instrumento para qualquer coisa que a Causa Primária precise realizar...

Mais um detalhe: o espírito liberto das ilusões não quer fazer nada... Ele, por estar em comunhão perfeita com Deus, quer apenas servir de instrumento ao Senhor para ajudar o próximo. Sendo assim, liberta-se do querer fazer e, por isso, faz tudo que Deus o manda realizar sabendo que aquilo é o tudo que ele é capaz de fazer.

Mas, para alcançar este ponto ainda falta muito...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 64

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 64. Sabe que o Atma imorredouro é destituído de todo ou de parte. Nele não há divisão ou união, nem pesar, nem alegria.

O atma é destituído de tudo... O espírito é destituído de qualquer coisa porque ele é ele... Vamos explicar isso...

Para vocês é muito difícil esta compreensão porque não conhecem nada que seja primário. Tudo na existência de vocês é formado através de composições. Mas, existe uma forma de tentar explicar o que Dattatreya está querendo ensinar...

Para isso, pensem em alguma coisa que foge ao contato íntimo das percepções de vocês, mas sobre o qual já tiveram notícias: o oxigênio... Vocês não vêem, não percebem o oxigênio, mas sabem que ele existe e que, para o mundo de vocês, ele é um elemento primário...

Para começar a explicar o que Dattatreya quer dizer, pergunto: o que é água? A fusão do átomo do oxigênio com dois outros de hidrogênio.

A água pode ser explicada desta forma porque ela é um elemento secundário, mas se eu lhes perguntar o que é oxigênio ou hidrogênio, vocês só poderão me responder ‘é hidrogênio’ ou ‘é oxigênio’. Não há como dar qualquer outra resposta, porque vocês não têm como descrever um oxigênio.

Isso é assim, porque o oxigênio é primário e um elemento deste tipo não pode ter descrição. Tudo que é primário é indescritível porque não se divide... Vocês não têm como dizer do que um elemento primário é feito, porque ele é feito dele mesmo...

É neste sentido que o mestre está dizendo que o ser universal existe: ele existe como ele mesmo e não como elemento formado de alguma coisa. Sendo assim, a única que pode ser dita ou declarada sobre o espírito é que ele é o espírito. O ser universal é o ser universal: ponto final...

Mesmo em O Livro dos Espíritos, quando Kardec pede melhor descrição para o espírito, a única informação que recebe é que o ser universal é um brilho, um clarão. Mas, ao falar assim, o Espírito da Verdade diz que o espírito é o clarão, algo que não pode ser definido por vocês...

Participante: Existe algo primário no mundo em que vivemos?

No mundo em que vocês vivem existe apenas uma coisa primária: o Universo. O Universo não é formado por nada: ele é ele... Além de ser primário, o Universo é Uno com Deus, ou seja, ele é Deus...

Nesta unidade existe todo o primário; fora dela, tudo é composição...

Sendo assim, olhem para a tela do computador que estão na frente agora... O que é isso? Vocês conseguem me explicar este elemento? Vocês diriam: “sim, é vidro, plástico, etc.” Ou seja, algo composto... Sendo assim, aparentemente ele é composto, mas o computador é primário, se você der a ele o valor de Universo...

Mas para dar a ele este valor ou o de Deus, é preciso estar em Unidade com Deus. Quando você alcançar esta Unidade poderá, então, decretar que tudo é Deus e Deus é tudo... Neste momento poderá viver com o que existe realmente, ou seja, com a coisa primária...

Enquanto não houver esta Unidade, você viverá sempre num mundo composto, apesar de estar convivendo apenas com o primário...

Agora, enquanto você conhecer a composição de qualquer elemento do Universo, não está vivendo com Deus, mas sim com o elemento material. Isso é sinal de que não alcançou ainda a Unidade. É preciso que você se liberte daquilo que o maya diz que é o elemento, para que na Unidade com Deus, possa reverenciá-Lo como sendo o Senhor.

Respondendo-lhe, então, digo que tudo no Universo, inclusive aquilo que pertence ao seu mundo material, é primário em essência, mas se transforma em composto por causa do seu apego aos mayas diferenciados criados pelo ego. Isto acontece desta forma porque o maya lhe determina valores diferenciados para a coisa e não lhe direciona para Deus.

Sendo assim, você como espírito, utilizando-se do seu livre arbítrio, deve libertar-se disso que o maya cria para viver em Unidade com Deus. Quando isto for alcançado, você viverá com todos os elementos que tem hoje, mas de uma forma Uma com Deus...

Participante: Se estamos na ilusão de maya é porque temos a percepção incorreta do mundo? Sendo isso mesmo, como ajustarmos nossa percepção?

A percepção incorreta do mundo não cria maya: ela é o maya... Deixe-me explicar isso...

Percepção é aquilo que entra pelos órgãos dos sentidos. É a luz que forma uma imagem na sua retina...

Mas, aquilo que você percebe é apenas uma imagem. O que acontece é que depois da percepção existe um raciocínio para compreender o que está sendo percebido. Neste raciocínio, na compreensão, o ego dá um valor aquela coisa. Este valor é o maya...

Sendo assim, a sua ilusão não é o que você vê, mas o que o ego acha que está vendo.

Mas, o mais importante: como se libertar disso? Não dando valor ao maya, não acreditando nele...

Eu já disse: não podemos destruir ou acabar com os mayas. Isto porque, como já vimos, eles são necessários para que o Universo exista. O que temos que fazer é não se apegar ao maya, não declarar que a ilusão que vem a mente seja verdade.

Este é o caminho para Deus, pois, quanto mais você se liberta das ilusões, Deus mais os retira... Se utilizássemos valores materiais, poderia afirmar que é pela lei do desuso que as suas verdades somem. Isto não é uma lei fixa, real, mas apenas uma figura para compreendermos o que estou querendo dizer...

Então, quando o seu maya diz que está vendo uma coisa que é bonita ou feia, não se prenda a estas qualificações. Assim, você estará se libertando dos valores ilusórios que Deus lhe dá como provação, ou seja, justamente para provar que mesmo sob a ação de uma ilusão é capaz de estar em Unidade com Ele, amando-O acima de todas as coisas...

Participante: A verdade existe?

Sim, claro que existe uma verdade com “v” maiúsculo: Deus... O resto tudo não existe, é ilusão...

Participante: Menos o espírito, não é mesmo?

O espírito, como vocês imaginam que ele é e existe, é uma ilusão. Ele existe na Unidade com Deus e não fora dela...

Como Cristo ensinou, “eu e Deus somos uma só pessoa”. Quando isto acontecer com você, poderá então existir de verdade ao invés da forma que acredita existir hoje...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 65

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 65. Não sou agente, nem desfrutador, tampouco existem quaisquer atos a me prenderem. Não sou corpo, nem incorpóreo; como pode a posse ser atribuída a quem tem nenhuma?

O que é posse?

Participante: Um sentimento de individualismo...

Mas, como se caracteriza a posse?

Participante: Por dizer que as coisas são minhas...

Mas, o que é este é “meu” que caracteriza esta posse? O que a possessão lhe leva a acreditar?

Por favor, me diga: o que é aquilo ali?

Participante: Uma mesa...

Por que você afirma isso?

Participante: Porque alguém juntou uma tampa e quatro pernas...

Não, porque esta mesma junção pode ser chamada de outra forma em outro lugar. Sabe por que aquilo é uma mesa para você? Porque você acredita que seja...

Esta é a posse: determinar valores para as coisas. Querer saber a verdade das coisas: este é o verdadeiro possuir.

Vocês possuem as coisas não quando acha que está sob sua guarda, mas sim quando decretam o que é aquilo. Quando vocês decretam o que é e acreditam nas opiniões de vocês sobre aquilo estão possuindo o elemento.

Participante: Posse, então, é a minha verdade?

Posse não é a sua verdade, mas a ação dela. Possuir a mesa é saber que aquela forma é uma mesa.

Mas, por que a possessão é dita como não evoluída pelos mestres? Porque quando há a possessão (o saber que aquilo é uma mesa), se alguém lhe contradisser (disser que é um banco, por exemplo), você terá que brigar para defender seu ponto de vista, sua posse. Neste momento não está amando e por isso está em desunião com Deus...

Participante: É... Para um gigante aquilo seria um banco...

Apesar de compreender assim, se um gigante viesse aqui agora e sentasse naquilo que lê acha um banco, você mandava que ele saísse porque “sabe” que aquilo é uma mesa e “sabe” que não se senta sobre a mesa...

Isto é posse...

Mas, por que você possui as coisas? Por que os seres humanos querem dar valores às coisas? Por que eles querem saber o que é cada coisa? Exatamente para uma das coisas que Dattatreya fala neste trecho: ser o agente das coisas...

Os seres humanizados não abrem mão de qualificar os elementos do mundo material para poderem se considerar o agente das coisas: “eu fiz”, “eu construí”, “eu realizei”. Esta visão sobre si mesmo que o ser humanizado tem é irreal: ela só existe por causa da posse...

Mais do que irreal: esta visão destrói a elevação espiritual, não deixa o ser entrar em Unidade com Deus. Isso porque cria a idéia de um agente, que na realidade não age, acaba com a realidade, pois tudo é feito por Deus, o Agente Universal.

Mas, o mestre fala mais sobre a posse... Vejamos...

Por que os seres humanizados querem ser o agente das coisas? Para poderem desfrutar delas, ou seja, para impor a verdade das coisas que eles têm aos outros...

Quando, por exemplo, um ser humanizado diz que alguma coisa é azul, esta verdade não pode ser mudada. Ele, por causa da possessão, exige que todos os demais concordem, para que assim ele se satisfaça.

Estes são dois motivos para possuir: imaginar-se agente da coisa e exigir que a sua posse seja reconhecida como real para que ele desfrute do prazer. Dois motivos que levam o ser humanizado a preferir a posse ao invés do despossuir: libertar-se do maya que cria os valores...

Mas, isso só é assim, porque o ser humanizado objetiva nesta vida ser famoso como realizador e conhecedor das coisas. Também, porque ele objetiva nesta vida um prazer de ter as suas verdades satisfeitas e acatadas pelos outros, ou seja, o elogio...

 Mas, o mestre dá mais motivos para o ser humanizado possuir ao invés de praticar o depossuir: “tampouco existem quaisquer atos a me prenderem”.

O ser humanizado quer ser reconhecido como agente para que assim possa determinar a ação a ser executada. Ele se prende, por exemplo, ao valor de sujeira dado pelo ego ao pó que se encontra sobre os móveis para que desta forma, ele possa limpar ou obrigar alguém a limpá-lo.

O ser humanizado se prende (possui) as verdades geradas pelo ego para que assim, possa executar ou ver alguém fazer um determinado ato, porque ele “gosta” daquela ação específica...

Sim, o ser humanizado que exige limpeza, gosta de limpar... Aquele que diz que não gosta do exercício da limpeza, mas vive com a vassoura na mão, está querendo iludir a si mesmo, pois se não gostasse não pegava na vassoura...

Sendo assim, o espírito encarnado possui uma verdade gerada pelo ego, porque espera que um determinado aconteça e com isso terá prazer...

Dattatreya ainda fala: não sou corpo, nem incorpóreo... Ele fala assim porque sabe que o ser humanizado possui formas (“isso fica bonito aqui e não ali”). Com esta posse ele passa, então, a exigir ser o agente do lugar da coisa e assim ter o prazer...

“Eu quero isso deste jeito”... Esta frase não está motivada por nenhuma verdade (a existência do lugar e jeito “certo” das coisas), mas sim por uma posse. Acreditar nesta realidade criada pelo ego é uma prisão ao maya, uma desunião com Deus.

Quando Deus, Causa Primária de todas as coisas, tira aquele objeto do lugar ou faz as coisas acontecerem de um modo diferente, vocês brigam com Ele...

Este é o ensinamento do mestre...

A partir dele, ele pergunta: por que você possui? Por que possui as coisas do mundo se você não é agente de nada? Por que possui, se não é desfrutador de nada? Por que possui se os atos não existem na realidade? Por que possui, se as formas não existem?

Saia desta ilusão, deste mundo ilusório que a posse lhe cria. Vire-se para Deus, só O veja ao invés dos elementos compostos que vivencia... Una-se a Ele...

Como já disse: viva por, para e em Deus... Quando agir assim, você nada mais possuirá, pois estará Uno com o Senhor. Saberá que tudo é Deus...

Para se libertar das possessões ilusórias, saiba que, como já foi dito, Ele é a Verdade... Portanto, viva a Verdade que é Ele sem querer impor a sua...

Mas, viver a Verdade que é Ele é atirar-se ao nada, ao vazio, à ausência de verdades, pois vocês não sabem qual é a Verdade Dele. Vocês não sabem se Deus quer que alguma coisa esteja aqui ou ali, por isso ame a coisa onde quer que ela esteja...

Por isso o mestre acaba este trecho perguntado: “como pode a posse ser atribuída a quem tem nenhuma?”

Unidade - Capítulo 1

Versículo 66

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3
Faixa 4

 66. Não sou contaminado pelas paixões, tampouco sofro aflições corporais. Conhece-me como o eu ilimitado como o espaço.

O que é uma paixão? Por exemplo, você é apaixonado por seus animais?

Participante: Sim...

Então, o que é esta paixão que nutre por eles?

Participante: Não saberia explicar...

É um gostar... Estar apaixonado é gostar de alguma coisa...

A paixão, portanto, é um gostar... Mas, o que é um gostar? É uma verdade... “Eu gosto”, é uma paixão que, na verdade, é uma verdade, um conceito... Sendo assim, posso dizer que a paixão é a ação das suas verdades...

É isso que precisamos compreender: cada vez que vocês dizem que alguma coisa é algo, estão externando uma paixão. Externou um apego ao maya, uma paixão pelo próprio maya.

Acontece que quando você externa um gostar, cria um não gostar. É impossível gostar de alguma coisa sem desgostar de outra. Isso porque, você só sabe que gosta de alguma coisa porque não gosta de outra.

Este não gostar, o que é? Também é uma paixão... Gostar ou não gostar são paixões porque envolvem verdades: a de gostar e a de não gostar.

Com isso demonstramos alguma coisa que talvez vocês já tenham ouvido falar: o dualismo da paixão... Isso porque não existe a paixão positiva (o gostar) sem que exista também a paixão negativa (o não gostar).

A paixão dualiza o Universo que é Uno... É por isso que os mestres afirmam que a paixão é incompatível com a elevação espiritual... Ela cria a divisão na Unidade...

Vamos mais a frente no estudo deste trecho. Pergunto: o que seria uma aflição corporal que é citada por Dattatreya? Uma dor física, uma doença...

Vou fazer uma afirmação para depois explicá-la: o espírito elevado, o Uno com Deus, não sofre aflições corporais. Com isso quero dizer que este ser, mesmo encarnado não sente dor física? Não, não é isso que quero dizer...

O que quero dizer é que o espírito que é Uno com deus não se apega à dor: são duas coisas diferentes. Vamos explicar...

Você sentir uma dor é constatar que a sua cabeça está doendo... Você curtir, se apegar a dor é dizer: “meu Deus do céu, minha cabeça está doendo muito...” “Ai, como dói minha cabeça; coitado de mim...”

Prendendo-se a estes pensamentos e vivendo estas sensações criadas pelo ego, você está curtindo a dor. Mas, esta dor na realidade é criada pelo maya. O ego diz “você está com dor de cabeça, sinta-a” e você a sente. No momento seguinte ele diz que ela continua doendo e você continua sentindo-a...

Logo depois o ego diz que ela está aumentando... Conhece o processo que vocês chamam de indução, hipnose? Pois bem, você, o espírito, está hipnotizado pelo ego... O ego é o seu senhor, lhe diz o que fazer e você, como seu escravo, segue pela vida sentindo dores, quando lhe bastava apenas uma “pílula de Unidade com Deus” para se libertar deste sofrimento...

 Esta pílula é vibrar o seu coração dentro do seguinte parâmetro: está certo, ego, a dor está aí... Mas, eu não vou ficar curtindo ela...

Para ajudar a tomar esta pílula é que o mestre ensina: você é infinito... Consciente de que o espírito é infinito, você pode não prender-se a estas pequeninas coisas que lhe faz sofrer. Vocês sofrem porque estão presos às doenças e as dores e suas respectivas sensações que o ego cria: “ai meu Deus, hoje não posso fazer nada porque estou com dor no dedinho do pé...”

Mas, fazem isso para poder se imaginar agentes das coisas e com isso fazer acontecer o que querem para poder ter prazer... Muitos sentem dores para ver se chama a atenção do outro para assim receber um carinho...

Mas, Deus lhes dá a ilusão da sensação de dor para que vocês se libertem dela e assim possam entrar na Unidade. No entanto, vocês se aprisionam a ela porque no fundo não estão preocupados com a elevação espiritual, mas sim ansiosos para serem atendidos em seus desejos, ou seja, serem desfrutadores do mundo...

O que estou falando vai contra a ciência humana conhecida de vocês? Não... Tem gente que não tem pé e sente dor nele... Como o pé que não existe pode doer e lhe fazer sofrer a dor? Porque até nestes casos, mesmo você constando que não existe mais o órgão, você continua escravo do ego e por isso sente dor num pé que não mais existe...

Participante: A Bíblia, que alguns consideram sagrada, é sujeita a interpretação. Então, achar que a minha interpretação das palavras da Bíblia está correta seria uma forma de ilusão, maya?

Sim, acreditar em qualquer interpretação é iludir-se. Mas, a sua ilusão começa ao dizer que ela não é sagrada...

Já estudamos anteriormente que tudo que existe em Unidade com Deus é sagrado. A Bíblia, mesmo que na sua forma alterada pelos humanos, é sagrada, pois tudo está em essência em Unidade com Deus.

Mas, não é só ela que é sagrada: tudo é... Os excrementos também são... Mas, para que a Bíblia ou o coco seja sagrado, é preciso você entrar na Unidade, no primário, ou seja, unir-se a Deus.

Vamos mais além: vocês estão entendendo o que estou dizendo? Não, vocês estão recebendo conclusões do seu ego sobre os assuntos que estou abordando, ou seja, estão interpretando o que estou dizendo. Eu estou falando uma coisa e vocês estão, cada um, interpretando outra diferente...

Sendo assim, volto a repetir o que já disse: não se prenda a nada, nem ao que eu falo... Eu não estou aqui para criar verdades, mas sim para destruir toda verdade que você tiver, inclusive a compreensão que tem sobre o que eu falo...

Simplesmente não se apegue a nenhum fruto do contato entre o pensante e o pensado (você e alguma coisa) que surge através do raciocínio, pois qualquer coisa que surja dele será um maya, uma ilusão, inclusive do que estou falando...

Participante: Será que algum dia nós conseguiremos chegar próximo à verdade?

Sim, próximo sim, mas à verdade não, porque só Deus a tem...

Você pode aproximar-se dela sim, mas para isso é preciso você querer a verdade real. Para isso precisa abandonar suas visões das coisas.

Participante: Se nós encarnados estivermos com febre entramos em delírio e dizemos coisas sem nexo. Será que um desencarnado pode entender este estado?

Depende do desencarnado...

O que já promoveu sua elevação, que está buscando a Unidade com Deus, compreenderá que é você, o ser humano, que está criando a febre, que está criando a doença e que tudo que está dizendo é você que está fazendo acontecer. Agora, se ele ainda possui uma consciência material, se ainda acredita na febre como oriunda do corpo, verá o que você vê.

Participante: Refiro-me ao senhor... O senhor vê a febre ou entende o que está acontecendo?

 Quando vejo o apego que vocês têm às aflições corporais geradas pelo ego, eu sorrio...

Sei que isso parece caracterizar uma pessoa desalmada, mas não é assim. Posso ter esta atitude porque sei que você, o espírito, não está doente: está apenas vivendo a ilusão de estar...

Participante: Mas, nós não conseguimos controlar estas sensações...

Sim, não conseguem controlar de uma hora para outra, mas se você sistematicamente lutar contra o ego, pode conseguir. Agora, ficar inerte esperando que um raio caia na sua cabeça e de repente mude a sua forma de interagir contra a sensação, nada será alcançado...

A reforma íntima, a libertação das sensações geradas pelo ego, é um trabalho sistemático que para ser totalmente realizado pode levar milhares de encarnações. Mas, apesar disso, é necessário começar em um determinado momento e continuar praticando-o até conseguir a sua totalidade.

Deixe-me fazer uma pergunta: se eu quiser ir daqui (interior de São Paulo) até a capital deste estado ou se quiser ir daqui até Portugal, o que preciso fazer para realizar qualquer uma das duas viagens?

Precisa dar o primeiro passo... Depois precisa dar o segundo, o terceiro, o quarto e assim sucessivamente... Ou seja, não importa qual a distância que tenha que percorrer, é preciso que você caminhe para chegar...

Agora, como você quer chegar a um lugar sem sair de onde está?

Participante: Entendi o que o senhor disse, mas o termômetro diz ao contrário...

Participante2: Aproveito esta pergunta para fazer outra que tem relação. Um encarnado está com uma febre alta e delirando. Qual o primeiro passo para se libertar deste maya na prática?

Não deixando chegar ao ponto de delirar... Quando a doença começar, ao invés de entregar-se ao mal estar, corte os sintomas não dando valor ao sentir-se doente que o ego cria...

É da entrega ao sentir-se doente (buscar deitar-se, deixar de fazer coisas) que surge a febre, que é uma ilusão tanto quanto o termômetro que a mede. O termômetro não existe: é um fluído cósmico universal igual ao remédio que você percebe como termômetro. Você acha que ele existe, mas isso não é real, porque tudo é criado a partir do fluído cósmico universal.

Portanto, na prática, é agir no início da sensação do estar doente. Mas, se não agir neste momento, em qualquer outro instante onde já esteja vivendo o sentir-se doente, deve se conscientizar de que pode estancar aqui. Mas para isso é preciso se libertar das verdades que diz que precisa tomar o remédio, que está doente e que por isso é um pobre coitado...

Mas, como disse, é muito mais difícil fazer depois que a dor já foi vivida. Isso porque, quando quiser se libertar desta sensação estará vivendo uma intencionalidade de desfrutar do fim da dor que lhe incomoda, que dói...

O que pode lhe levar a conseguir o que estou falando não é uma reforma momentânea e temporária para satisfazer seus desejos. O que estou falando é de uma reforma radical da sua forma de viver: transformá-la contra o maya, para se libertar dele em qualquer situação, seja no momento da doença ou da saúde...

De nada adianta querer fazer isso apenas na hora que lhe agrada, na hora que lhe trará um desfrute. Se fizer isso, nada conseguirá, pois ainda estará cedendo um outro maya: a sensação de que está bem de saúde...

Então veja... Não há como dizer a cura é essa, pois ela é uma ação diuturna e não momentânea. Na verdade a cura dos males através da libertação dos mayas é como tomar um remédio homeopático: é preciso tomá-lo muito e durante bastante tempo para começar a ter uma ação... É preciso agir todos os momentos da vida para conseguir atingir este estágio: acredite nisso...

Saiba: milagre, ou seja, conseguir curas milagrosas no momento que lhe satisfaz, não existe... Eles são frutos de muito trabalho espiritual...

Aproveitando que estamos falando disso, deixe-me dizer uma coisa...

Já houve, durante nossas conversas, uma pessoa que disse que eu defendo muito os evangélicos. Mas, isso não é verdade: eu defendo a Unidade com Deus. Agora, se eles buscam esta Unidade e vocês têm vergonha em viver para Ele porque isso foge à sua razão e à sua sabedoria material, eu não tenho culpa.

Lembre-se do que Cristo ensinou: O Universo é dos simples, dos que buscam unir-se ao Pai e não dos sábios...

Participante: Manter um estado emocional sempre positivo e em paz na mesma hora que o corpo nos alerta da dor física seria uma forma eficaz de ajudar o corpo a se equilibrar novamente ou não há uma influência?

A sua frase está quase perfeita... Apenas retire dela a citação positiva com a qual você classifica o estado emocional que pode lhe ajudar a não sentir-se doente...

Positivo, para você, é o que gosta ou o que quer. Não é isso... Não é manter-se positivo, mas sim neutro. É a equanimidade, o caminho do meio que foi ensinado...

Então, não é manter-se positivo, mas sim neutro... No momento que o sentir-se doente começar a aparecer, ao invés de pensar em algo maravilhoso para fugir deste estado ou viver a dor, viva o caminho do meio, viva-o com equanimidade...

Sei que para vocês é difícil compreender o que estou dizendo, porque não sabem o que é equanimidade. Só para vocês compreenderem o que quero dizer, porque não é isso, diria que a equanimidade é quase como uma apatia. Quando vocês atingirem o estado apático com relação à doença (“estou doente, estou, o que posso fazer?”), vocês não curtirão a doença.

Portanto, não se trata de manter-se positivo, mas sim um estado de União com Deus que é o estado da equanimidade...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 67

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 67. Amigo, o que ganhas falando tanto? Amigo, o que ganhas com tais contorções intelectuais? Já te disse o que é a essência verdadeira. Tu és o mais elevado Eu, ilimitado como o espaço.

O que é uma contorção intelectual? É quando você está conversando com alguém, quando está em contato com alguém, e fica fazendo um malabarismo intelectual para provar que você está certo. Para provar que você tem a verdade, que é o dono da razão...

Já lhe disse: você já é tudo... Então, para que quer ter a razão? Para que quer provar aos outros que você é que está certo e não eles? Por que discute com o próximo, às vezes por coisas miúdas como a posição de alguma coisa? Por que discute por besteiras que você dá um valor imenso?

Porque para você não existe besteira, coisas sem valor, pois tudo que acredita é sua verdade que precisa ser protegida da ação da verdade dos outros... Por isso acredita que precisa impor-se ao próximo...

Mas ninguém é dono da verdade, da razão... Então, porque fica discutindo tanto? Cale a boca... O outro quer achar algo diferente, louvado seja Deus: o deixe achar... Você não tem que obrigá-lo a achar o que você acha...

Sei que falo muito, que respondo a todas as perguntas dando uma explicação, mas a minha posição aqui é de realizar transferência de conhecimento. Apesar de responder a todas as perguntas quase sempre dizendo que não é bem o que vocês pensam, minha intenção não é ensiná-los nada, mas expor a minha verdade.

Eu não obrigo ninguém a pensar como eu, mas dou a cada um o direito de achar o que quiser. Apesar disso, tenho que continuar a minha missão, ou seja, tenho que continuar trazendo os ensinamentos. Não será porque alguém não acreditou no que disse que irei parar minha missão e obrigá-lo a acreditar.

Eu respondo perguntas: não discuto para provar que estou “certo”...

Participante: O senhor ainda vai falar mais sobre este item?

Acho que não é necessário...

Em resumo, alcançar a elevação espiritual é viver quem é se ter a necessidade de provar a alguém que está “certo” em ser...

Participante: Quando um protestante fanático desencarna no plano espiritual ele percebe que tudo que tinha fé estava “errado” ou continua com os mesmos pontos de vista?

O espírito não muda quando desencarna, ou seja, a sua consciência continua a mesma. Tudo que o espírita, evangélico ou católico fanático construir na sua mente viverá, até que deixe de ser um religioso fanático e se torne um deusista.

Neste momento ele acabou com suas verdades e pode buscar aprender a realidade para buscar uma nova encarnação e aí poder novamente promover a reforma íntima.

Então, ninguém será eternamente da mesma religião. Ninguém será religioso de uma religião eternamente.

Mas, aproveitando sua pergunta, deixe-me deixar uma coisa bem clara: não existe religião “melhor” ou “pior”... Se estamos falando em Unidade, não podemos aceitar que existem dualidades, quanto mais que algo pode ser “melhor” ou “pior” do que outro...

Falo isso porque você citou um evangélico que ao desencarnar vê que sua fé é “errada”. Com isto quis dizer que existe uma fé “certa” (no seu caso, a espírita) e outra “errada” (pela sua frase a evangélica). Disse mais: que um dia ele evoluirá, ou seja, tornar-se-á espírita.

Isso não existe... Não existe religião “certa” que será atingida como elevação por quem está “errado”, ou seja, não existe evangélico que ao evoluir tornar-se-á espírita.

Participante: Muitos evangélicos afirmam estar completamente realizados e que receberam o espírito santo. A religião evangélica também não ensina os ensinamentos de Cristo?

Ensina... É por isso que eles se sentem realizados...

Quem são os evangélicos que se sentem realizados? Aqueles que colocam a realização dentro de si... Quem é a realização? Deus... Portanto, eles seguem o ensinamento de Cristo, pois o mestre ensinou que a elevação espiritual se caracteriza pela fusão completa com o Pai (Eu e Deus somos um).

Mas, esta realização não é primazia dos evangélicos. Os espíritas, os católicos e os hinduístas sentem-se da mesma forma quando conseguem unir-se ao Pai. Isto porque Deus é não religioso, está acima de qualquer religiosidade.

Todos que se unem a Deus, seja através de que segmento religioso for, sentem-se realizados, pois o Pai não religião, está em todas.

Saiba de uma coisa: cada religião é um caminho para chegar a Deus. Quem se prende na própria religião, seja ela qual for, e não busca a Deus no templo, não consegue nada. Quem não busca a Deus, mas a sua cultura, o seu saber ou a realização da sua vontade, não consegue nada...

Pode verificar que, os que mais do que dizem realmente se sentem realizados com Deus, não com a religião, são espíritos que se desapegaram da vida. Eles não têm mais verdades.

Para tudo que acontece, eles dizem: louvado seja Deus... Para tudo que conseguem e para o que não conseguem dizem: louvado seja Deus, porque foi Ele que me deu...

Quando você chegar a este ponto, independente da religião que estiver freqüentando, também se sentirá plenamente satisfeito por que: Felizes serão aqueles que tiverem fome e se de fazer a vontade de Deus, pois estes, Deus deixará satisfeitos. Isso está no Sermão do Monte, nas Bem-Aventuranças.

Então, quando acima dos deveres religiosos e das suas vontades você tiver fome e sede de viver um Universo a partir de Deus, também se sentirá plenamente satisfeito. Isso mesmo que não acredite em espírito, em reencarnação ou em O Livro dos Espíritos.

Participante: Se quebrarmos as verdades que criam o céu e o inferno, depois do desencarne onde ficaríamos?

Ficaria no mesmo lugar que sempre estaria sem acreditar que está no céu ou no inferno...

Libertar-se das verdades que criam o céu ou o inferno (umbral) não é criar a idéia de um novo lugar para ir, pois não existem lugares no Universo. O que acontece é que você está sempre no mesmo lugar vivendo realidades que criam lugares diferentes. O que existe na verdade é uma programação de mayas que criam lugares diferentes e não locais diversos.

Agora, você quer quebrar o maya referente a lugares sem quebrar a ilusão de ser qualquer outra coisa? Desculpa, isso é impossível.

Foi o que disse: não adianta querer lutar contra o maya na hora da doença. Não adianta querer lutar contra o maya apenas quando você ganhar alguma coisa por causa desta luta. O que você precisa fazer é transformar a sua vida numa ação constante de luta contra o maya para poder merecer receber cada vez mais o despossuir a ilusão...

Agora, se você vai deixar para lutar só contra determinadas coisas, nada realizou...

Cristo nos ensinou: é muito fácil abraçar o amigo; quero ver é você cumprimentar o inimigo... É muito fácil você realizar a elevação espiritual quando este resultado lhe satisfaz; quero ver é você abrir mão daquilo que gosta, quer e acredita no momento que puder perder algo por causa disso...

Praticar a reforma íntima neste momento tem valor... Praticá-la apenas quando lhe convém, isso é impossível...

Foi o que foi comentado neste trecho quando me perguntaram como se libertar da febre marcada pelo termômetro: é impossível. Isso porque, para podermos nos libertar da febre, temos antes que nos libertar da existência de um estado febril e um são... Para isso precisamos nos libertar da idéia de que o termômetro marca febre, ou seja, cria o estado doente... Se você não se libertar daquilo que o termômetro marca, nunca se libertará da febre.

Então veja: você quer começar a luta contra os seus mayas? Comece mudando o pé que você coloca no chão ao acordar e sair da cama...

Sim, você abre os olhos, ou seja, assume a consciência, e se liga a um piloto automático que diz que tudo que é material é verdadeiro. A partir deste momento sai reproduzindo verdades pré-existentes o dia inteiro.

Acontece que durante o dia acontecem alguns momentos em que você imagina que não gosta do que está acontecendo ou que irá perder naquele momento e quer utilizar o ensinamento. Impossível, você já está condicionado a pensar dentro de uma linha de raciocínio.

Por isso digo que é preciso você ao abrir o olho começar a lutar contra as idéias que lhe vêm a mente. É preciso lutar contra a idéia de que você é você, de que está acordado, de que está na sua casa dentro do seu quarto. É preciso lutar contra as idéias que estão criando a sua realidade desde o início do dia...

Isto é reforma íntima; isto é a razão de um espírito estar encarnado. Aquele que não realiza isso não viveu, não aproveitou a sua encarnação. Aquele que se prende nas ilusões fantasmagóricas como Krishna chama a realidade que o ser humanizado vivencia, este é tratado por Deus como idólatra, covarde, amoral espiritualmente falando...

Cristo no Apocalipse diz assim: àquele que me buscar, darei água da fonte da vida; mas para os outros (os idólatras, covardes, imorais, aqueles que vivem para si, para suas verdades), sobra o fogo do inferno, que na verdade não é um lugar no céu, mas uma nova encarnação.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 68

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 68. Deixa que os Yogues morram com qualquer impressão mental e em qualquer lugar; eles se submergirão no Brahman como o espaço ocupado por um vaso se une com o espaço exterior.

Como estamos conversando, no mundo espiritual não há multiplicidade, dualidade: há Unidade com Deus. Mesmo que você não a vivencia, está em Unidade com Deus. Isso precisa ficar bem claro...

Não é porque você não vivencie a existência em Unidade com Deus que não está assim. Você vive a sua dualidade, vivencia os seus mayas como reais, mas está em Unidade mesmo não sabendo.

Agora o mestre nos diz o seguinte: deixe um buscador morrer com qualquer impressão mental ou em qualquer lugar, porque ele certamente submergirá na Unidade. O que isso quer dizer?

Quer dizer aquilo que já conversamos em O Livro dos Espíritos ou durante todos estes anos: o espírito para poder voltar a uma sansara, uma reencarnação, precisará apagar a encarnação anterior, o ego daquela encarnação. Enquanto isso não acontecer, ele não encarnará novamente. Sendo assim, mesmo que você morra na dualidade, terá que fazer um trabalho de voltar à superfície, de entrar na Unidade conscientemente, para poder se preparar para uma nova encarnação.

É isso que o mestre nos ensina: assim como o vaso e o ar à sua volta se fundem numa coisa só, o espírito, mesmo quando desencarna dualidade, precisará exercer um trabalho de liberdade das dualidades para poder recomeçar suas provas.

Agora, este trabalho executado depois do desencarne não é contado como elevação espiritual. Ele vale apenas como limpeza, como preparação para uma nova encarnação... Isso porque você precisa se limpar de um ego para poder assumir outro...

Se pensarmos assim, veremos que o trabalho que estamos falando aqui terá que ser feito, encarnado ou não. A diferença é que se ele for realizado enquanto encarnado valerá pontos para a sua saída da roda de encarnações. Se você não o executar dentro da encarnação, terá que executá-lo depois, mas aí não haverá “ganhos” para você...

Então, até para querer ser esperto, o melhor é fazer logo...

Participante: O que vejo é que podemos estudar a Unidade, tentar conhecer o mundo Uno, mas este estudo não vale de nada, como o senhor falou... Isso não há como deixar de viver a vida carnal, pois é nela que evoluímos...

Isso, você precisa viver a existência carnal porque só evolui, soma pontos, vivendo a vida carnal.

Por isso de nada vale ficar discutindo como é o mundo Uno: o que precisamos é aprender a viver o que temos em Unidade...

Participante: Isso serve tanto para quem vem em prova e expiação como missão?

Sim, vale tanto para um como para outro.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 69

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 69. Aquele que morre, quer em casa ou em local de peregrinação, tendo-se despido de todas as ligações pessoais, se toma o Eu mais elevado de todos, permeando tudo.

A realidade descrita pelo mestre neste trecho, não tem nada a ver com o mundo atual. Hoje os ocidentais não convivem com a idéia de lugares sagrados para morrer. Tal crença pertenceu ao povo da Índia na época antiga, onde se dizia que quem morria nos lugares sagrados, os templos, ia direto para o céu.

Mas, podemos aproveitar o ensinamento do mestre para deixar um recado: nada do que você faça materialmente contribui para sua elevação espiritual. Não é a sua oração, devoção ou busca material que pode lhe ajudar. Não é ir a templo ou participar de orações: só a reforma íntima, a mudança do interior pode lhe levar a conscientizar-se da Unidade com Deus.

Portanto, deste texto fica para nós apenas este recado, já que não temos mais hoje lugares sagrados para morrer...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 70

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 70. Os Yogues consideram toda a virtude, riqueza, ambição, as criaturas móveis de todas as ordens, até mesmo a salvação, como tão imaginárias quanto a miragem.

Para aquele que busca a Deus, tudo o que pode ser percebido pelas percepções do corpo físico não passam de miragens, ou seja, reflexos de outras coisas que existem.

A sua carência e o seu excesso é um reflexo da mesma fonte, Deus, porque são emanações Dele. A sua casa ou o seu não ter teto, é um reflexo de Deus, uma emanação Dele...

É assim que o buscador vive. Ele não vivencia as coisas do mundo pelos seus valores materiais, mas vive com tudo como reflexo de Deus, emanação Dele. Quando vive assim, consegue se desprender das coisas, pois se tudo que existe é uma emanação de Deus, não será ele que dará valores às coisas.

É isso que Dattatreya está nos ensinando: o verdadeiro buscador vive com todas as coisas como se elas fossem, como são, emanações de Deus.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 71

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 71. Não desfruto, nem deixo de desfrutar os atos que foram ou estejam sendo cometidos. Esta é minha crença firme.

Não desfruto nem deixo de desfrutar... Para vocês viver assim parece impossível...

Para os humanos tudo que existe está preso ao dual. Sendo assim, todos acreditam que ou se faz algo ou de deixa de fazê-lo. Não existe alternativa para vocês, mas na verdade existe... Vamos entendê-la...

O mestre diz que não desfruta, ou seja, não ganha nada pessoalmente, individualmente, com o que está acontecendo. Apesar disso ele diz que não deixa de desfrutar, de ganhar algo pessoalmente agindo assim. Por que ele fala assim?

No primeiro caso, do desfrutar, se fala daquele que busca para si, o individualista. Ele quer desfrutar, quer receber alguma coisa em troca. Esta é uma forma de vivenciar um acontecimento. Ela acontece quando você busca estar “certo”, estar “errado” – neste caso, quando se quer estar “errado”, se ganha, desfruta-se quando se é considerado como “errado”. Ela acontece quando se vivencia os acontecimentos presos ao “bom” e ao “mal”, “bonito” ou “feio”.

Em todos estes momentos você sempre ganha alguma coisa, desfruta do momento, porque acredita estar “certo” do que está acontecendo. Isso o mestre diz que não faz, mas também afirma que não deixa de desfrutar, ou seja, não deixa de ganhar alguma coisa.

Este desfrute que o verdadeiro buscador sente é diferente do desfrute que o ser humanizado comum vive. Enquanto que o ser humanizado desfruta individualmente das coisas, ou seja, a partir das suas verdades, o espírito elevado desfruta dos acontecimentos pela emanação de Deus que são.

É um desfrute diferente, onde ele individualmente não ganha nada, mas não deixa de ver e louvar a Deus a cada momento. Com isso ele ganha, mas não egoisticamente, não ganhando de outro... Este é o não deixar de desfrutar que o mestre fala.

Para termos uma compreensão melhor, vou usar algo que já falamos. Anteriormente dissemos que o desfrutar do verdadeiro sábio não está preso nem a agitação da felicidade, o êxtase do prazer, nem a depressão da dor. Dissemos que este desfrutar é vivenciado na apatia...

Acontece que o termo apatia remete vocês à idéia de estar nulo na situação, de não ter desfrute. Mas esta idéia é irreal. O verdadeiro sábio desfruta das situações dentro de uma neutralidade e não dentro de uma nulidade.

O não deixar de desfrutar que Dattatreya ensina acontece quando você entra nesta nulidade, ou seja, quando não está em nenhum dos lados. O desfrute preso ao prazer ou a dor é um desfrute egoísta; o desfrute na nulidade é o desfrutar universal, porque é preso à comunhão com Deus.

Quando falamos em apatia, a idéia que lhes veio à mente foi a de não agir. Mas, isso não é real... Não estamos falando de não agir, mas em agir sem que aja ganho individual sobre os outros... Um desfrute sem vantagens individualistas, mas alcançada pela sintonia amorosa com Deus onde todos ganham...

Esta é a diferença entre o desfrutar e o não deixar de desfrutar que o mestre ensina neste trecho.

Sendo assim, o verdadeiro ser elevado participa das coisas não desfrutando pessoalmente da ligação com as coisas, mas desfrutando da comunhão com Deus, da sua ligação com o Eu Superior, da sua Unidade com o Um.

Unidade - Capítulo 1

Versículo 72

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 72. O asceta batizado pelo sentimento de unidade vive feliz neste mundo de vacuidade; caminha sozinho, abandonando todo o orgulho, porque se realiza em seu próprio eu.

O verdadeiro ser elevado vive na vacuidade ou no vácuo ou na ausência de coisas. Ele não se prende a nada, por isso caminha sozinho.

Aliás, tem uma história que diz que uma pessoa viajou da Europa até a Índia para conversar com um mestre. Quando chegou lá viu a casa toda vazia, sem nenhum móvel e o mestre sentado no chão. O homem então perguntou ao mestre: cadê suas coisas? O mestre respondeu: cadê as suas? O homem disse: eu não sou daqui... O mestre disse: eu também não...

O mestre não se apega às coisas porque ele é espiritualista, porque vive para o mundo espiritual. Por isso caminha só...

Mas este só não é ausente de pessoas. Ele caminha sozinho mesmo que tenha outras pessoas em volta dele. Sozinho, sem apegos, sem estar apegado a ninguém... Um mestre pode até ter coisas materiais ou pessoas à sua volta, mas ele não se apega a nada: continua caminhando sozinho mesmo que esteja arrastando muitas coisas...

Portanto, o problema não é ter ou não ter, mas sim a forma como se lida com as coisas. Se você caminha arrastando as coisas como se elas fizessem parte de você, ainda está preso ao mundo terrestre. Agora, se você caminha provido de instrumentos, mas sem possuí-los, estará realizando a elevação espiritual.

Este é o primeiro ensinamento de Dattatreya neste trecho. Mas, ele vai mais longe: ele diz que o verdadeiro sábio não é soberbo... Sei que no texto está dito orgulho, mas chamamos o sentimento de ufanismo de soberba.

Por que isso? Porque ele se realiza nele mesmo... Vamos entender isso.

A pessoa que tem orgulho ou vaidade não se realiza por si mesmo, mas sim pelas posses que têm. Uma pessoa vaidosa do seu corpo, por exemplo, não se realiza por ela mesma, mas sim pela beleza do seu corpo. Uma pessoa soberba da sua cultura não se realiza por ela mesma, mas pelo seu saber...

O sábio não se realiza por nada deste mundo, mas sim pelo “eu divino” dele, que, aliás, já é tudo. Quem conhece o “eu divino” conhece a verdadeira beleza; quem compreende a Unidade com deus alcança a verdadeira sabedoria. Mas, aqueles que se prendem as coisas e tem vaidade e soberba delas e se realiza por elas, não consegue atingir mais nada, pois já atingiu o auge dele: aquilo que queria atingir.

Então, é preciso nos libertar deste sentimento com relação às coisas materiais, a tudo que existe, para poder vivenciar o “eu divino” que cada um de nós somos. Se nós não nos desapegarmos deste saber, ter ou ser alguma coisa, não conseguiremos nos valorizar por nós mesmos, pela nossa essência espiritual, pela nossa pureza, ventura que já temos e somos.

Participante: Dizem que a felicidade bate só uma vez: não acredito nisso. Acho que nós buscamos ou não constantemente.

 Na verdade a felicidade bate só uma vez, mas isso acontece a cada segundo... A cada segundo de sua existência você tem a oportunidade de ser feliz ou não.

Apesar disso lhe digo: não busque a felicidade, mas a encontre dentro de você. Você só será feliz quando for feliz, quando puser para fora a felicidade que já está em você.

Colocando a sua felicidade dependente de coisas externas, ou seja, aquele acontecimento é a fonte de sua felicidade, pode ter certeza que um dia se decepcionará, pois o externo não lhe serve...

Não lhe serve no sentido de satisfazer as suas vontades e desejos humanos, mas ao espírito dando a ele as provas que precisa...

Então, sim, a felicidade se encontra uma vez a cada segundo, mas você precisa declarar-se feliz com o que está acontecendo ao invés de querer que o mundo mude para a sua felicidade...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 73

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2
Faixa 3

 73. Não existe o terceiro, nem o quarto estado de consciência: o mais elevado de todos se realiza em si próprio. Não há virtude ou vício. Como podem haver servidão ou emancipação?

Não há o terceiro ou quarto estágio de consciência. Sobre isso, deixe-me explicar uma coisa.

Dentro de nosso estudo, nós mesmos já falamos na existência de sete estágios de consciências que compõe o caminhar da elevação espiritual. Mas, precisamos compreender uma coisa: todos os ensinamentos sobre estágios de consciência que as religiões ditas espiritualistas têm, é apenas uma escala. É apenas um ensinamento...

Existem, na verdade, vários estágios de consciências, mas o ser humanizado precisa saber disso, mas não se apegar a este ensinamento. Isso porque, se você se apegar à existência destes estágios, fará a sua caminhada numa determinada “velocidade”. Ou seja, você irá querer executar estágio por estágio cada um de uma vez...

Agora, se você compreender que estes estágios de consciências levam ao Uno. Sendo assim, se realizá-los todos de uma só vez, você chegará ao Uno diretamente. Não terá necessidade de passar por estágios diferentes em momentos diferentes...

 Esta é uma conclusão que nós precisamos chegar para realizar mais rapidamente a elevação espiritual. Mas, não é uma conclusão fundamental, precípua. Sendo o seu caminhar lento e gradual, louvado seja Deus, pois esta é a sua velocidade. Agora saiba que o seu caminhar é lento porque você o está tornando lento ao acreditar numa verdade, numa realidade, num ensinamento como verdade absoluta.

Krishna diz: se alguém conseguir realizar a Unidade com Deus num segundo antes do desencarne, terá realizado tudo. Portanto, no tocante a elevação espiritual, não é o tempo que conta – até porque já estudamos que não existe tempo – mas sim a profundidade da sua dedicação ao elevar-se.

Se você chega à Unidade, que é o amar e o sentir-se amado por Deus, de uma só vez, louvado seja Deus...

 Mas, Dattatreya diz mais: não há virtude nem vício... O que é uma virtude? É uma tendência para alguma coisa boa? Virtude seria ter um caráter “bom” enquanto que o vício seria ter um caráter “mal”...

Mas, como pode ser isso, se o mestre diz que não há caráter “bom” ou “mal”... Por que ele fala isso? Vamos entender...

A questão do caráter nasce de uma personalidade. Cada espírito que encarna tem uma personalidade. O que é uma personalidade? Um conjunto de sensações... Vou dar exemplos.

Têm alguns que tem a personalidade que vocês chamam de forte. São aqueles que se inflamam e brigam por tudo... Esses têm um determinado conjunto de sensações no qual prevalece a sensação que lhe leva a ter este tipo de postura frente aos acontecimentos do mundo.

Outros já possuem personalidade bondosa: vivem fazendo a caridade... São os virtuosos. Estes têm uma personalidade com um conjunto de sensações que lhe leva a agir assim.

Sendo assim, cada um tem a sua personalidade. Agora, esta personalidade que você vive hoje não é sua... Você não é nervoso, violento ou caridoso... Estas são personalidades temporárias que definem o ser humanizado, ou seja, é uma personalidade do ego que dá característica ao espírito enquanto vivendo uma determinada encarnação.

Sendo assim, afirmo que você não é virtuoso ou viciado, mas está assim. Você não é assim: apenas está temporariamente...

Mas, por que está assim? Porque isso faz parte da sua provação espiritual. Quem tem uma personalidade forte, escolheu este grupo de sensações para poder vivenciar determinadas provas, onde ele, o espírito, abrirá mão de ficar inflamado com as coisas... .

Portanto, a personalidade não é sua, mas sim do ego. Ela não pertence ao espírito. Além disso, ela é como é, ou seja, foi criada deste jeito para que o espírito, sofrendo a tentação, ou seja, eu sou assim, vença o que você é...

No entanto, este vencer não é deixar de ser o que é, mas aprender a ser quem é se apegar ou se culpar. Por isso o mestre encerra este texto afirmando que não há escravidão ou servidão...

Realmente não há servidão ou escravidão, pois você, o espírito, não precisa servir a esta personalidade. Não precisa ser o que é. Muito pelo contrário: você nasceu para lutar contra o que você é...

Sendo assim, realmente não há virtudes, pois não há virtuosos: há espíritos vivendo papéis de mocinhos. Mas, também não há vícios, pois não há viciados: há espíritos vivendo papéis de bandidos.

Cada um vivenciando a sua prova dentro de um determinado papel: assim se faz o mundo...

Participante: Uma pessoa como Gandhi, por exemplo, pode na próxima encarnação ser um tirano assassino?

Sim. Por amor a Deus o espírito vive o papel que lhe é designado...

Um espírito elevado não viveu o papel de Judas? Sim...

Sabe por que disso? Porque um espírito elevado não escolhe papéis para viver durante a encarnação. Ele é “bom” em tudo que ele faz...

Ele não escolhe ser o artista principal da novela. Por amor a Deus aceita qualquer missão...

Participante: Sendo assim, não existe papel mais elevado do que outro? Hitler, por exemplo, poderia ser um espírito amoroso?

Na teoria sim... Eu posso lhe dizer que não foi, mas na teoria poderia ser...

O espírito que viveu Hitler não foi um amoroso, mas isso não quer dizer nada, pois já houve papéis que a humanidade considera como terríveis que foram vivenciados por espíritos amorosos... Foram espíritos que por amor a Deus e ao próximo exerceram papéis que a humanidade condenou...

Neste caso específico não foi.

Participante: Se faz necessário então que a pessoa precisa ser viciada e ela só deixará de ser quando cumprir o seu carma...

Sim, mas qual é o carma que ela tem que cumprir? Amar o vício que ela tem...

A resposta para tudo é amor. Como foi dito, não há servidão, por isso não deve servir ao ego.

Se você nasce com o papel de ser viciada, será viciada até o fim do papel se não houver uma troca de papéis prevista antes da encarnação. Por isso, você será viciada enquanto estiver previsto que será...

Mas, isso não quer dizer que você deve servir ao ego, ou seja, ao prazer ou crítica que ele constrói sobre o seu vício. Deve libertar-se dele... Para isso é preciso amar o seu vício...

Isso, porém, não vale apenas para o vício: serve também para suas virtudes... Você deve libertar-se do ego que lhe afirma que você é virtuosa ao invés de gabar-se dela...

Participante: Então não devemos rezar pedindo para pessoas deixarem de ser viciadas?

Veja... Por que você pediria para uma pessoa parar de utilizar-se o elemento no qual é viciada?

 Participante: Porque o fato dela ser viciada está me incomodando...

Sim, você pede para que o outro não fique viciado porque você é viciado em um padrão de “certo” e a forma de viver daquela pessoa está lhe incomodando...

Então, você quer que um viciado em elementos materiais para de consumi-los, mas você não quer abandonar o seu vício de dizer que sabe o que é “certo” ou “errado”, não é mesmo?

Participante: Infelizmente achamos que o vício material, como o das drogas, por exemplo, é pior do que o vício espiritual.

Isso...

Veja bem... Você é um viciado em saber o que é “certo” e “errado”... Por causa dele quer que o outro abandone o vício dele ao invés de você abandonar o seu...

Eu me lembro de um ensinamento de Cristo: tire a trave dos seus olhos. É disso que estamos falando: tire o vício da sua compreensão e deixe o cisco no olho do outro, que é o vício material.

Sim, o vício material é apenas um cisco na eternidade do espírito. Muito pior do que usar drogas, por exemplo, é o vício espiritual de querer ser Deus e dizer o que está “certo” ou “errado”.

Sabe por que este vício é “pior” espiritualmente falando? Porque ele é o pecado original, o pecado de Adão e Eva. Eles comeram a maçã com a intenção para ter o mesmo poder de Deus: ter os olhos abertos (a capacidade de distinguir) para poder dizer o que é “bom” ou “mal”...

Unidade - Capítulo 1

Versículo 74

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 74. O asceta imerso no sentimento de unidade e purificado de todas as suas afecções mentais declara a verdade que nem os Mantrans, nem os versos védicos, ou a lógica podem exprimir (Brahman).

MANTRANS – Fórmulas mágicas, preces, sons.

O espírito elevado, aquele que consegue a elevação espiritual, é liberto das aflições mentais... O que é uma aflição mental?

“Será que vai chover amanhã”? “Será que não vai”? “Se chover será que vai molhar ou não”? “Será que amanhã eu vou conseguir ou não fazer isso”? “Será que estarei vivo amanhã”? Estes tipos de pensamento são aflições mentais...

O espírito elevado, liberto destas aflições, ou seja, vivendo o momento presente por ele mesmo sem nenhuma preocupação com o futuro e sem nenhum julgamento do passado, consegue transmitir ensinamentos que nenhum livro sagrado consegue transmitir. Consegue transmitir ensinamentos que lógica humana nenhuma vai lhe fazer compreender...

Por que isso? Porque estas aflições mentais, mesmo quando elas não estão num estado latente – estado onde você raciocina as coisas – elas existem por trás de todos os raciocínios. Isso porque mantê-las ativas é o que o ego faz. O ego quer lhe manter preso numa teia onde não conseguirá entrar na Unidade com Deus.

Sendo assim, mesmo quando você estuda a Bíblia ou O Livro dos Espíritos, as suas aflições mentais estarão presentes. Por causa disso, o ego criará raciocínios que gere compreensões favoráveis à solução destas aflições.

Por exemplo... Tem uma passagem na Bíblia onde Cristo diz: por que vocês se preocupam com o que vão comer ou vestir se é Deus quem alimenta os animais e dá roupa às plantas? Será que ele não faria o mesmo por você?

Este é o texto. Se lê-lo liberto das aflições, encontrará nestas palavras um lenitivo para as suas preocupações mundanas. Agora, se vocês têm aflições mentais, não conseguirão ter esta compreensão, pois, por ler este trecho com a preocupação de ter um emprego amanhã para poder ter dinheiro para comer e se vestir, não encontrarão o lenitivo.

Por estar preso às aflições mentais, não compreenderá que Cristo não lhe diz para não trabalhar, mas apenas para não se preocupar. Liberto da aflição mental de ter que acordar e ir trabalhar para comer e comprar roupa, você pode bem compreender as palavras do mestre e libertar-se da preocupação, mas aflito mentalmente jamais conseguirá libertar-se delas...

É isso que Dattatreya está nos dizendo neste trecho... As aflições mentais lhe prendem à realidade gerando assim interpretação diferenciada dos ensinamentos sagrados.

Lembram do caso do termômetro? Olha aflição mental (o medo de ficar doente) presente...

O medo da febre, da morte bloqueou a compreensão do ensinamento onde eu dizia que não existia doença, febre. A lógica do meu raciocínio não foi compreendido porque as aflições mentais daquele ser humanizado o levou para a lógica material: “estou vendo o corpo delirando e quente, estou vendo o termômetro marcando temperatura alta, como ele não está com febre”?

Não estou criticando quem falou isso. Estou apenas utilizando esta passagem como um exemplo do que o mestre está nos falando agora.

O espírito quando alcança a Unidade com Deus e se liberta da aflição consegue falar de coisas que estão acima de qualquer ensinamento que possa ser encontrado em livros. Não que porque este ser saiba mais do que os livros, mas porque liberto da aflição mental, ele pode alcançar a essência que o mestre colocou no ensinamento. Ele entende a essência que o mestre quis dizer, enquanto que o ser humanizado preso às perturbações mentais não consegue alcançá-la...

Como não alcança a essência e como o ensinamento não lhe resolve a aflição mental, o ser humanizado prefere abandonar o que o mestre ensinou. Este texto que citei acima como de Cristo é esquecido por todas as religiões cristãs. Isso porque não há como o ser humanizado comum compreender o que o mestre quis dizer, pois a preocupação dele é em trabalhar para ganhar dinheiro. Como vocês dizem: a comida não cai do céu...

Mas, Cristo não fala que cai: ele apenas diz que você não deve se preocupar com este detalhe do mundo carnal. Mas, a perturbação mental não deixa o ser humanizado entender isso... O ser elevado, o espírito liberto das posses materiais, consegue compreender, porque está livre da lógica humana...

Repare que toda lógica humana se baseia na satisfação da aflição mental: “se eu não trabalhar, como vou ganhar dinheiro”? “Se não ganhar dinheiro, como vou comer e comprar roupas”?

Unidade - Capítulo 1

Versículo 75

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1

 75. Não existe vazio, nem plenitude, tampouco existência ou inexistência. Isto foi expresso de acordo com juízo intuitivo completado pelas instruções dos shastras.

Shastras = ensinamentos de seres elevados, mestres

Eu tenho dito muito que o trabalho da elevação espiritual é uma luta contra as verdades que o ego lhe traz a mente. Não uma luta no sentido de muda-las, mas sim de não se apegar a elas.

Outro dia falei também: quando você se desapega de uma verdade, venceu uma prova. Como resposta a isso, Deus retira essa verdade do seu ego, ou seja, o ego não terá mais aquele instrumento para lhe iludir.

Quando falei sobre isso, comparei essa situação com a lei do uso e desuso, como vocês conhecem: o animal que usa mais o pescoço acaba alongando-o depois de diversas gerações. É a mesma coisa que acontece com a elevação espiritual: nós vamos caminhando lutando para se desapegar de cada verdade e quando isso acontece, ela some.

Como resultado desse processo de eliminação de verdades, o que sobra? O nada. Se hoje você tem uma série de verdades e a partir de amanhã não mais as tiver, não tiver mais verdades, não terá nada naquele lugar. Ou seja, se hoje você acha uma coisa bonita e consegue se desapegar desta beleza, amanhã aquilo não será nada para você: nem bonito nem feio.

Só que eu também já disse: o nada não existe. Tudo é preenchido por Deus, pois Ele é tudo. Sendo assim, quando você se libertar de uma verdade vivenciará a Realidade: a emanação de Deus, Deus. É por isso que o mestre nos diz agora que não há vazio nem plenitude.

Porque não há vazio? Porque não há nada onde não exista uma emanação de Deus. Portanto, quando você se libertar das verdades, alcança a Deus.

Para isso não é preciso morrer, ou seja, alcançar a inexistência. É preciso alcançar a não existência, o que é diferente de inexistir. Viver a não existência é viver não existir nada para você como verdade, como realidade. Isso é não existência. Inexistência é não existir.

Portanto, o que o mestre está nos dizendo agora é que quando você completar a sua elevação espiritual, não cairá num vazio, mas chegará em Deus, chegará à emanação de Deus, na unidade com Deus.

Isso, responde a uma pergunta que me foi feita sobre o que falaremos quando em contato com o outro depois que alcançar a elevação espiritual. Eu não sei o que falaremos, pois o falar é a emanação de Deus. Isso responde a outra pergunta que também me foi feita e que questionava como seria a convivência social dos seres elevados: ela será como a emanação de Deus fizer ser.

Então, a elevação espiritual, não lhe levará para a morte nem para uma vida em silêncio ou sectária, mas sim para uma vida preenchida com Deus.