Tentações de Cristo

Tentações de Cristo

Transcrição de palestra ocorrida em 2006 na sala do EEU no PalTalk

Tentações de Cristo

Os dias no deserto

 “Então foi conduzido Jesus pelo espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo. E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome;” (Mateus – cap. 4, 1 a 3)

Vamos estudar hoje o que é conhecido como as tentações de Cristo no deserto. Só que antes de começar, quero deixar uma coisa bem clara: essa passagem é apenas uma historinha. Cristo Jesus não vivenciou essa atitude, nunca passou 40 dias e 40 noites em deserto algum. Tudo que aqui está é simbolismo.

Reparem que esse texto vem logo após à junção de Cristo, o espírito desencarnado, com Jesus, o ser humanizado. Por isso, posso dizer que representa a provação necessária para as consciências Crísticas, ou seja, para os espíritos humanizados que querem se ligar a Deus através de Cristo.

Não há deserto, não há 40 dias e nem 40 noites: tudo simbolismo. Aliás, o número 40 é cabalístico. Moisés e os judeus em fuga também passaram 40 anos no deserto. Em outras passagens na Bíblia o número 40 também é usado para medir tempo ou tamanho. Portanto, com relação ao número 40, posso dizer que ele é cabalístico. Além desse compreensão, não há como explicar para porque é usado este número.

Resumindo, então, essa introdução, o que vamos estudar são as tentações que aquele que se busca alcançar uma consciência Crística, ou seja, busca unir-se a Deus, a alcançar a elevação espiritual, sofrerá durante a sua provação.

Será isso que vamos estudar.

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As provas

“Então o diabo chegando a jesus disse: Se você é filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães.” Jesus respondeu: As escrituras sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo que Deus diz.” (Mateus – cap. 4, 3 e 4)

Como já disse inúmeras vezes, o diabo na Bíblia não simboliza o mal. Ele não é a maldade como vocês imaginam, mas o tentador. É aquele que gera uma tentação para o espírito.

Todo espírito, quando humanizado, precisa ter o seu tentador ou o seu diabo. Por quê? Porque sem o tentador não existe a provação.

Essa história de provação que acontece durante a encarnação precisa definitivamente ser compreendida. Então, vamos falar agora dela.

Quando está no mundo espiritual, o espírito estuda, como está ensinado através da pergunta 7 de O Livro dos Espíritos:

“227. De que modo se instruem os Espíritos errantes? Certo não o fazem do mesmo modo que nós outros? Estudam e procuram os meios de levar-se. Veem, observam o que ocorre nos lugares aonde vão; ouvem o discurso dos homens doutos e tudo lhes incute ideias que antes não tinham”.

Ou seja, na erraticidade busca conhecimentos espirituais para si. O que é um conhecimento espiritual? É a busca de aproximar-se de Deus, da universalização, da vivência do amor incondicional.

Portanto, o espírito liberto da personalidade humana estuda observando aquele que está encarnado. Observa o individualismo da personalidade humana ao qual o ser se submete quando está encarnado. Durante essa observação, aprende o quanto essa atitude é contraria ao universalismo, ao amor incondicional a todos e a tudo.

Só que assim como numa escola do mundo humano, somente ficar aprendendo não pode ser. Tudo aquilo que é aprendido precisa ser testado, ou seja, é necessário que se faça uma prova a respeito daquilo que foi estudado e que, imaginariamente, o espírito acha que já sabe.

Digo imaginariamente porque durante as suas provas é que o espírito vai verificar realmente o que aprendeu. Vou dar um exemplo: o ser estuda sobre egoísmo, sobre querer para si. Estuda isso e acha que aprendeu que não deve pensar em si antes dos outros. Acha que aprendeu, imagina que sabe, assim como, os seres encarnados acham que aprendem a lição que a professora passa no quadro. Aí vem a provação, a verificação do quanto realmente aprendeu sobre aquele assunto. Nesse momento o espírito observa que apenas imaginou que tinha aprendido, pois se deixa levar pela tentação e vive egoisticamente.

Essa é a provação tão falada por espíritas e espiritualistas que acontece durante a encarnação. Fora da carne, no mundo errante, o espírito estuda nos livros (entre aspas), ou seja, observando os encarnados, com os mestres, mas em determinado momento chega a hora da prova. Aí os livros são fechados, os mestres se afastam e o ser enfrenta questões para saber se realmente aprendeu ou não.

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Provar a quem?

Portanto, a vida humana, os acontecimentos que o espírito vivência durante a encarnação, são instrumentos para ele provar que aprendeu o que estudou fora da carne. Mas esse provar não é para mais ninguém: somente para si mesmo. Durante o período de provas, o ser busca conscientizar-se do quanto realmente aprendeu sobre determinados aspectos e o quanto apenas imaginou ter aprendido.

Resumindo, a prova tão comentada por espíritas e espiritualistas trata-se de responder questões sobre assuntos estudados quando na erraticidade, antes da encarnação. Ela não é feita para dar satisfação a ninguém, nem a Deus, mas com o sentido de mostrar a si mesmo o quanto acha que aprendeu. Quando consegue realizar a prova, se convence: ‘viu, aprendi mesmo!’ Quando não consegue, volta aos estudos para mais uma vez buscar aprender aquilo e depois fazer novas provas. É aí que surge o processo encarnatório, ou as múltiplas encarnações para realização de provas.

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Realizando as provas

Já falamos sobre como a prova acontece, porque ela é feita, mas ainda não falamos na prática o que é a prova que o ser realiza numa encarnação. Vamos falar disso rapidamente.

Se a prova é sobre egoísmo, por exemplo, ou melhor, se a prova é para provar que se libertou do egoísmo, necessário é que o espírito seja instigado com egoísmo. Vou dar o exemplo: o ser encarnado para ver se realmente aprendeu a se libertar do egoísmo, alguma coisa vai induzi-lo a querer algo que não está sob sua guarda. Isso acontecerá para que ele possa, exercendo o conhecimento adquirido na vida errante, não ser egoísta.

Esse algo que instiga o espírito ao egoísmo é o ego. São os pensamentos, as razões criadas pela mente, que propõe o egoísmo. O ser ao recebe-las pode, então, abrir mão de acreditar no que é dito, deixar-se levar pela razão, e com isso mostrar que se libertou do egoísmo.

Portanto, falando de provas, elas se consiste no ego criar as ilusões e o espírito instigado pela ilusão gerada pela mente, deve provar a si mesmo que aprendeu o que estudou.

Agora que demos uma compreendida geral, podemos dizer que o diabo da história que estamos estudando é o tentador, aquele que instiga o espírito. É o ego. Por isso, a compreensão é de que nesse texto onde não importa a quantidade de dias, nem o deserto, a fome, o que realmente conta é a mensagem.

Retirando todo o misticismo, podemos afirmar que o que está sendo falado é sob as bases de construção das verdades e paixões de um ego humano. É isso que que simbolizar essa passagem.

Dizer que Cristo sofreu tentação, é falar que aquele que procura a consciência crística será tentado pelo seu diabinho, pelo ego. Isso não acontece por maldade, mas para que o ser tenha a oportunidade de usando o seu livre arbítrio, possa provar a si mesmo que aprendeu o que estudou.

Portanto, é isso que vamos estudar hoje: as bases de um ego, como induz, conduz através do íntimo mais profundo o ser humanizado para que o espírito tenha a oportunidade de provar que alcançou o aprendizado daquilo que estudou.

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Nem só de pão vive o homem

“Então o diabo chegando a jesus disse: Se você é filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães.” Jesus respondeu: As escrituras sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo que Deus diz.” (Mateus – cap. 4, 3 e 4)

A primeira tentação diz respeito ao alimentar-se. Afirma que isso não deve ser feito apenas com o alimento material. Essa é a primeira tentação usada pelo ego.

 Quando o diabo fala para Cristo, que supostamente estaria com fome, mandar que as pedras virem pão, ele está induzindo o ser a buscar na própria matéria, a pedra, o seu alimento, o pão. Mas, o alimento do espírito não é material e sim espiritual. Observando-se isso, compreendemos que nessa primeira tentação o diabo quer que o homem, o ser humanizado, se alimente de alimento materiais e não espirituais.

Vamos entender essa questão. Vamos compreender o que é alimentar-se do alimento material ou do espiritual.

O alimento espiritual é o amor universal. O sentir-se alimentado, espiritualmente falando, é o estado de espírito de felicidade incondicional, a graça de Deus, que o ser alcança quando ama. Portanto, o ser que vive no estado de paz interior, de harmonia com a vida, é um espírito alimentado, já que tem a felicidade incondicional no seu coração.

Mas, o diabo para tentar, sugere que você abandone esse alimento e busque a sua nutrição na materialidade. O que é a nutrição material? O que é que faz bem materialmente falando? O que satisfaz, materialmente falando? É o prazer, a felicidade condicionada, a satisfação dos desejos mundanos.

A partir dessa análise, podemos entender que as verdades do ego são construídas de tal forma que induzam o ser encarnado a buscar o prazer, a felicidade condicionada, a satisfação de seus desejos e vontades. São formadas para levar o espírito a preferir lutar para que as suas paixões se satisfaçam, que seus desejos se realizem ao invés de aconselhá-lo a ter um estado de paz, de felicidade e harmonia incondicional.

Por que o diabo faz isso? Por que o ego faz isso? Por que ele constrói a tentação necessária para que hajam as provas. Porque essa indução gera a provação necessária para o ser encarnado. Se o diabo não fizesse isso, sem que a razão se construísse nessa base, o ser não poderia provar nada a si mesmo.

Para provar que aprendeu, é preciso vencer a tentação. É preciso responder emocionalmente, agir, não na prática de atos, mas espiritualmente, no seu coração.

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Alimentando-se

Eis aí, então, a primeira base de formação do ego. Todas as verdades que ele cria para o ser, e que foram colocadas pelo próprio nele antes da encarnação, são fundamentadas na busca do prazer. Servem para induzir o ser humanizado a sempre preferir a felicidade condicionada, a realização dos desejos, ao invés de reagir aos acontecimentos com felicidade universal. Vamos levar para a pratica essa conclusão e entender melhor o assunto.

Existe um acontecimento ocorrendo no mundo externo. Assim que ele é percebido, o ego vai dar um valor àquilo. Digamos que o acontecimento foi uma mão encontrar com um rosto. Quando isso for percebido, o ego levará ao consciente a ideia de que o ser foi agredido. Só que ele não para por aí ...

Não diz apenas que o ser foi agredido: afirma que ele precisa reagir à agressão. É nesse momento que começa a prova e que entra em questão a tentação que estamos conversando.

Apesar de todos saberem que pelos ensinamentos dos mestres a reação a um acontecimento deve ser amorosa, a grande maioria dos egos não dirá, após decretar a agressão, a ofensa, que o ser deve manter a calma, que não deve reagir, que deve oferecer a outra face, etc. Não, os egos não reagirão assim! Por quê? Porque ele precisa induzir o ser a buscar a satisfação pessoal e não a concórdia.

Por isso, apesar de se dizer cristão, a razão humana reagirá contrária aos ensinamentos dos mestres. Dirá que o espírito precisa reagir à altura, tomar satisfações, contra atacar, recuperar sua moral que foi ofendida.

Essa sugestão, não será apenas superficial. Ela será realizada com milhares de motivos, de verdades, de normas humanas. Ele agirá assim para que o ser caia na tentação, ou seja, acredite no que ele diz.

Por que se dedicará tanto para que o ser reaja como ele quer? Para que o espírito se nutra de prazer (egoísmo). Quando o espírito se deixar levar, o ego lhe fará sentir-se saciado, alimentado. Isso se dá através de pensamentos como: ‘respondi a altura! Ele merecia! Viu como sou macho? Eu sou homem, não podia deixar a agressão ficar sem resposta’ ...

São esses raciocínios ou imagens que o ego cria no consciente que surgem como a provação do espírito. É o ego, como o diabo dessa história dizendo: ‘alimente-se de pão, alimente-se de coisas materiais, alimente-se de prazer. Não busque o espiritual, não busque aplicar os ensinamentos nesse momento. O que foi ensinado é para outro momento, não é agora. Agora é a hora que precisa reagir como homem, senão a sua honra estará manchada, senão vai perder a fama. Será difamado, perderá e eu vou ter que lhe dar desprazer. ‘

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Falando de provas

É isso que está simbolizado nessa tentação pela qual Cristo passou ilusoriamente. Trata-se do modo de proceder do ego onde ele tentará constantemente que você se alimente da coisa material (do prazer, da satisfação) ao invés de se alimentar da coisa espiritual. Por isso, aquele que pretende alcançar a Deus deve compreender que todo raciocínio que lhe vem ao consciente fundamentado no alcançar o prazer, é uma tentação.

É o diabo lhe dizendo: ‘se você é filho de Deus como diz, transforme esse elemento material (a busca da satisfação) em espiritual (harmonia com o mundo).’

Participante: o que fazemos com as tentações?

Usamos elas como instrumento para mostrar o que aprendemos.

Se sua mente lhe diz que deve reagir atacando, que deve buscar a sua felicidade condicionada (satisfação), não se submeta a esses pensamentos. Diga a si mesmo: ‘prefiro viver no amor incondicional do que rebater essa ofensa. Prefiro viver na felicidade incondicional do que ter o prazer que é efêmero.’

Se fizer isso, estará vivenciando de forma correta (entre aspas), as provas que você mesmo criou, já que as tentações são criações suas. As tentações de cada um é o gênero de provas que o espírito escolhe antes da encarnação.

Participante: sabemos qual é a tentação que escolhemos para provar?

Sim. É tudo que você é nessa vida...

Exemplo: se você é ciumenta, essa é uma tentação que escolheu para vencer. Seu ego vai criar sempre razões para desconfiar. Para vencer, espiritualmente falando, deve dizer sempre: ‘prefiro amar incondicionalmente do que acreditar nessas razões’.

Saiba de uma coisa: todos os seus problemas são as tentações que você escolheu para vencer, já que eles provém de quem você é.

Participante: como devo lidar espiritualmente com relação as injustiças? Devo me indignar?

O que é a indignação relativo a injustiça? Vamos conversar sobre isso.

Primeiro: uma injustiça só existe a partir de um conhecimento do que é justo. Ou seja, só nasce quando você decreta que é contrário àquilo que considera justo. Esse é o primeiro detalhe.

Falando espiritualmente. Antes da encarnação, você, o espírito, armou o seu ego com verdades que declaram que determinada coisas devem ser vistas como justas. Fez isso para que? Para que tivesse suas provações. Ou seja, fez isso para que o diabo, (a mente, o ego, o tentador) usasse esses argumentos para gerar a consciência de ocorrer uma injustiça e lhe tentar para que se indigne com aquilo.

Só que quando na carne os acontecimentos não seguem essas mesmas verdades. Eles são gerados por Deus, que é a Justiça Perfeita. Por causa dessa qualidade do Pai, tudo que acontece é justo.

Aí surgiu a provação. É justamente entre o confronto da ideia (o gênero de provas pedido) e a realidade (Deus e Sua ação) que surge a provação. Tudo acontece para que você escolha se vai aceitar a realidade que vem de Deus, a realidade com R maiúsculo, ou se você vai dar asas as verdades geradas pela sua razão. Essa é a primeira parte da resposta.

Quando você fala indignar-se com o que está acontecendo, não vê, mas é o ego que está criando essa ideia. Para que ele faz isso? Para lhe tentar, para ver se você dá asas as suas verdades. Ele está lhe instigando para que se una à tentação que está sendo dada. Está lhe deixando a oportunidade de optar buscar mudar a situação para poder transformá-la em justa ou aceitar os critérios de Deus que estão em vigor naquele momento. É isso.

A indignação que você sente é o ego instigando para que você opte pela acusação de injustiça. Para isso lhe diz que terá prazer quando houver uma mudança na situação. Mas, mesmo que a situação não mude, só por acusar a existência de um injustiça lhe dará prazer, porque realizará o que quer. Tudo isso é guiado pelo ego ou seja, você dirá que sabe o que deveria estar acontecendo.

Então é isso. Quando vem à sua mente a indignação por qualquer acontecimento, é uma tentação do diabo.

Participante: sempre caio na arapuca da injustiça dos mais fortes contra os mais fracos.

E jamais deixará de ser cutucado pelo ego para ter indignação. Essa é a verdade.

Não pense que vai conseguir um dia não sentir indignação, não ter o raciocínio que diga que aquilo é injusto. O que precisa fazer e entender é que isso é uma tentação. Entendendo isso, mesmo instigado pelo ego, não aceitar a ideia como verdadeira. É bem diferente do que imaginam.

Vocês pensam que vão mudar o pensamento, que vão passar a acreditar em outras coisas, mas isso é ilusão. Isso porque o que acreditam, entre aspas, é aquilo que o ego diz que devem crer. Isso não pode funcionar de outra forma, senão não há provação.

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Tudo o que Deus diz

Vamos à resposta de Cristo ao Diabo.

Jesus respondeu: As escrituras sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo que Deus diz.” (Mateus – cap. 4, 4)

O que Cristo diz é que as escrituras sagradas afirmam que o homem não vive só de pão, que o Espirito humanizado não vive só da felicidade condicionada, mas de tudo que Deus diz. O que será que Cristo quis dizer com Tudo o que Deus diz?

Deus não tem boca pra falar, por isso o que ele diz não pode ser alguma coisa sonora ou escrita. Como Ele fala com você? Pela sua vida, pelos acontecimentos da vida. Vou usar o exemplo citado na pergunta anterior, ver injustiça em acontecimentos na vida.

 Falamos lá atrás que Deus é a Causa Primaria de todas as coisas, ou seja, que todas as coisas acontecem inicialmente movidas por Deus, que tudo é emanação do Pai. Sendo assim, tudo é fruto da Sua vontade.

Sendo isso verdade, se há um ser menos favorecido pela sorte, estou falando em termos materiais, que por isso aparentemente sofra uma injustiça de um mais favorecido, todo esse acontecimento foi obra de Deus, foi gerado pela Causa Primária. Só que aí não há injustiça alguma. A Causa Primária age com uma prerrogativa especifica: Justiça Suprema. Ela dá a cada um segundo as suas obras. Age de acordo com a lei do carma, a justa reação a uma ação anterior.

Voltando ao nosso exemplo, se em determinado momento o menos favorecido foi aparentemente injustiçado, foi Deus que criou isso. A partir dessa origem temos que entender que não foi criado uma injustiça, mas sim um acontecimento onde está presente a Justiça Perfeita, ou seja, o que era merecido como fruto das suas obras.

A partir dessa análise, podemos entender o que Cristo falou nessa resposta que deu ao Diabo: o espirito humanizado não deve viver só da felicidade individual, mas deve vivenciar a ação divina como fundamentada na Justiça Suprema e no Amor Sublime. Traduzindo: o ser humanizado, pouco importando o que está acontecendo, deve se nutrir do amor incondicional e não do prazer. Para isso deve vivenciar tudo o que acontece em harmonia com o mundo e não buscar a satisfação de ver as suas verdades atendidas.

Retornando ao exemplo do ter a consciência de uma injustiça, quem se alimentar de pão nesse momento, vai acreditar na injustiça, pois estará tendo o prazer de saber o que é justo ou injusto. Quem segue o ensinamento de Cristo, alimenta-se do amor de Deus, vê naquele acontecimento o amor de Deus em ação, ou seja, tem a consciência da presença do Amor sublime e da Justiça Perfeita. É isso que quer dizer a fala de Cristo.

Apenas mais um detalhe. A partir de tudo o que vimos, posso dizer que viver, para um espírito, é participar de acontecimentos onde, através de consciências, ele é testado pelo ego. Se viver acreditando mais em si mesmo, nas razões que a mente cria, alimenta-se do prazer; participando do mesmo acontecimento alimentando-se da presença da Justiça Suprema e do Amor Sublime, viverá em paz, harmonia e felicidade.

Isso é viver: é ter uma compreensão sobre a vida! Todo acontecimento do qual você tem conhecimento e não apenas o que acontece com você, está recheado do mal, aquilo que o ego diz, e do bem, aquilo que Deus diz. Nesse momento, utilizando seu livre arbítrio pode optar por alimentar-se de um ou de outro.

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A segunda tentação

“O diabo levou Jesus até Jerusalém a cidade santa e o colocou na parte mais alta do templo. Então disse: Se você é filho de Deus jogue-se daqui de cima, pois as escrituras sagradas dizem, Deus mandará que seus anjos cuidem de você, eles vão segurá-lo com as suas mãos para que nem mesmo os seus pés sejam feridos nas pedras.” (Mateus – 4, 5 e 6)

Jerusalém, a cidade santa, nessa passagem significa os ensinamentos religiosos. Os ensinamentos católicos, evangélicos, espiritas, budistas, hindus, espiritualistas, universalistas.

Todo ensinamento religioso promete o bem celeste, ou seja, promete que depois do desencarne o espírito verá o bom resultado que acontecerá como decorrência da sua forma de viver hoje. Nenhum ensinamento religioso real, falo assim porque tem uns por ai que prometem felicidade nessa vida, garantem nessa vida um futuro promissor por conta da forma como se vive o agora.

Eis a tentação dessa passagem. O ego usará os conhecimento religiosos conhecidos e lhe dirá: se acredita mesmo neles, teste o seu senhor, teste para ver se conseguirá receber aquilo que espera. Com isso estará incitando você a ganhar nessa vida: ‘se eu trabalhar muito, vou ganhar dinheiro, se me alimentar, vou matar a minha fome’. O ego promete lhe dar o que você quer e o tenta justamente incitando a confiar em Deus para isso, ou seja, esperar que o resultado do que você quer aconteça. Só que como já vimos, os ensinamentos são feitos para gerar merecimento de receber em outra vida e não nessa.

Então, essa é a segunda base do ego. Ele estará sempre cutucando para que você exponha a Deus os seus desejos para essa vida. Irá sugerir a ideia de que basta rezar e pedir que conseguirá.

Essa é a segunda tentação que o Cristo sofreu. E essa é a segunda tentação que todos os seres humanizados passam.

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Com fé eu vou

“Jesus respondeu: Mas as escrituras sagradas também dizem: Não ponha à prova o Senhor seu Deus.” (Mateus, 4 – 7)

A segunda parte da segunda tentação: não ponha a prova o seu Deus.

Não colocar o seu Deus à prova, ou seja, não ceder à tentação, é não esperar que aquilo que pede a Ele se realize. O ego vai lhe induz de que receberá o que foi pedido, dirá inclusive que crer é ter fé, mas você não deve esperar isso. Por quê? Porque se esperar que aconteça o desejado pode se desiludir, porque o Pai não promete o pão, mas sim o alimento espiritual.

Quem vive a vida realmente com fé não espera mais nada da vida: vive o que Deus lhe dá a cada momento. Caminha sem saber onde vai chegar, por qual estradas vai passar ou quanto falta para chegar. Isso porque não está preocupado em ser feliz nessa vida, em ter a felicidade condicionada.

Portanto, na prática, quando perder o emprego e o seu ego lhe dizer para orar a Deus para que Ele lhe arranje outro, diga: ‘vou procurar outro trabalho, enquanto não encontrar vou manter-me em paz e harmonia confiante de que a falta de emprego de agora foi dada pelo Pai para o meu avanço em outra vida’. Assim, você permanecerá feliz.

Será feliz porque está se alimentando do que Deus disse e não apenas do pão. Isso chama-se fé.

A fé não pode ser gerada e não pode gerar expectativas. Ela é incondicional e diz: ‘se Deus é por mim quem pode ser contra’? Quem tem fé não vive a vida esperando que alguém o ampare, dentro dos anseios humanos: sente-se amparado mesmo quando esses não são alcançados.

  O ego vai lhe induzir a protestar, incitá-lo a brigar com alguém, dirá que é uma injustiça, mas quem não cede à segunda tentação, ou seja, vive com fé, responde: ‘ao invés disso, vou me atirar no ensinamento que diz que Deus me carrega no colo na hora dos maiores apertos da minha vida’. De que adianta dizer que acredita e confia Nele se no momento que seus anseios humanos são contrariados você O abandona, ou seja, alimenta-se do pão?

Não se expressa a dedicação ao Pai rezando para que Ele lhe dê emprego, saúde, querendo coisas, mas se atirando nos braços Dele sem querer saber o que vai acontecer. Isso é vida! Você vive quando alimenta-se do que Deus diz, quando se joga nos braços de Deus sem esperar nada em troca. Sem esperar que sua vida seja amparada, que você seja carregado no colo e assim tenha seus anseios humanos atendidos.

Essa é a segunda tentação e, esse é o segundo padrão do ego. Na primeira que vimos, a mente estará sempre lhe induzindo a buscar a felicidade condicionada; na segunda, ela vai estar sempre propondo que você peça a Deus que realize a sua vontade e não a Dele.

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Possessões

“Depois o diabo levou Jesus para um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo, suas grandezas e disse: Eu lhe darei tudo isso se você se ajoelhar e me adorar.” (Mateus, 4 – 8 e 9)

Nessa tentação o diabo diz: ‘darei tudo isso, se você me adorar’. O tudo isso do diabo são as coisas materiais, as coisas que pertencem a esse mundo. Não estamos falando de objetos materiais, mas de tudo que cause prazer, que satisfação o egoísmo do ser humanizado. Adorar ao diabo é acreditar no que a mente diz.

Essa é a terceira base fundamental das verdades com as quais o ser humanizado convive. O ego está sempre prometendo posses (morais, sentimentais e materiais) se você acreditar nele, nas verdades que ele cria.

O ego lhe diz que se trabalhar mais, terá mais; se estudar muito será um homem de posses; se poupar, poderá comprar; se for caridoso com as pessoas elas serão com você; se der carinho para seus filhos no futuro eles devolverão, etc. Enfim, o ego está sempre induzindo com a promessa do ser humano tonar-se mais rico materialmente, emocionalmente ou moralmente. Vamos conhecer esses três tipos de possessão para poder compreender melhor a ação da mente.

A primeira é a possessão sobre objetos, sobre coisas. Essa acho que vocês identificam fácil.

A segunda é a moral. Ela existe quando o ser humanizado se acha certo e imagina que o outro é errado. Se a mente promete realizar essa posse, ela está prometendo que conseguirá subjugar o outro. Para isso lhe induz a brigar, discutir com o outro, mostrar que ele nada sabe, tentar impor sua verdade. Isso a mente faz através de raciocínio e sensações. Quando acredita nessas coisas geradas pela razão, acha que pode mudar o próximo, subjuga-lo para que creia nas suas verdades.

Existe o terceiro tipo de possessão que é a posse sentimental. Possuir alguém ou algo sentimentalmente é transformá-lo em dependente, carente de você, exigir ser amado. Esse é outro aspecto que através do qual o ego monta seus raciocínios.

Ele dá pensamentos que dizem que os outros têm obrigações que quem ama deve cumprir para que você se sinta amado. O seu amigo, por exemplo, deve ser amigo apenas daqueles que você gosta e confia, o filho ou filha deve viver do jeito que você quer, o marido ou a mulher deve se submeter um ao outro para que o parceiro se sinta amado.

Nada disso é amor; é posse sentimental. O ego explora essa possessão e diz: ’se me adorar, ou seja, se acreditar em mim, prometo que seu ente amado vai fazer o que você quer e que vai gostar de você, acima de qualquer um ’.

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Servir a Deus é ser feliz

“Jesus respondeu: Vai embora satanás! As escrituras sagradas afirmam: adore o senhor seu Deus e sirva somente a Ele. ” (Mateus, 4 – 10)

Essa é a linha de raciocínio ou base da fundamentação que todo ego humanizado possui para servir de provação ao espírito. Que provação? A que Cristo mostra: adore somente a Deus.

Adorar a Deus é não ter posses. Não estou falando de não possuir objetos, mas de não ter posse sentimental, moral e material.

Se você tem uma casa, ame a Deus, idolatre-O, mas se não tem, idolatre o Pai da mesma forma. Se os outros acreditam ou não no que você fala, se fazem ou não do jeito que quer, idolatre o Senhor. Se os seus mais chegados não cumprem aquilo que o ego diz que eles têm que fazer para que você se sinta amado, idolatre a Deus. Se seu amigo é amigo também do seu inimigo, idolatre o Senhor. Se seus filhos são rebeldes e não seguem os seus ensinamentos, não se sinta infeliz, idolatre o Pai. Se o marido e a mulher não se submetem aos padrões de estar amando, ame a Deus. Essa é a pratica da libertação da terceira tentação.

Mas o que é idolatrar, adorar, a Deus? É viver em paz e harmonia com o mundo. Portanto, seu tudo acontece contra o que você acha que deveria acontecer, ao invés de querer consertar o mundo, ame a Deus e mantenha-se feliz assim mesmo.

O ego vai estar sempre lhe incitando a acreditar nele, mas não acredite. É só uma tentação! É só uma provação!

A rebeldia dos seus filhos não são reais; aquele que faz diferente do que você diz que deveria estar fazendo, não quer lhe prejudicar, lhe enfrentar, não quer lhe atacar. O errado que você está vendo é tentação do ego. Não acredite quando a razão disser que quando você proibir alguém de fazer alguma coisa, ele irá deixar de fazer, pois não vai. Ninguém pode deixar de fazer nada, mas você pode aprender a conviver com o que os outros fazem liberto da tentação do ego, da idolatria a ele.

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Vivendo com anjos

Essas, portanto, são as três fundamentações da razão humana, as três tentações do diabo a Cristo. Todos os seus raciocínios serão fundamentados de tal forma que seja real, certo, normal, optar pelo alimento material, o prazer, existirá para lhe levar a criar expectativas para por Deus à prova e reforçará a ideia de que se acreditar naquela razão, o mundo estará aos seus pés e você possuirá o mundo, as coisas materiais.

“Então o diabo se foi e os anjos vieram e cuidaram de Jesus. “ (Mateus, 4 – 11)

Quando vencer essas tentações, existe a liberdade do ego, ou seja, ele não mais influenciará. Nesse momento, você passa a viver entre os anjos, ou seja, em paz e harmonia com o mundo.

Essas são as tentações de Cristo. Esses são os elementos que o ego trabalha para a provação do espírito no mundo humano.