Reforma íntima - Textos - Volume 08

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Coletânea de textos referente à reforma íntima

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Pedidos

Quando vemos uma igreja, um templo ou um centro espírita, imaginamos que ali é um lugar onde devem ir os fiéis de determinada religião em busca da sua re-ligação com o Pai Supremo. Religar-se à Deus é buscar a essência espiritual que reside dentro de cada um. É procurar atingir o “reino de Deus” para vivê-lo em toda a sua plenitude ainda na carne.

A maioria que freqüenta estes lugares imagina que está assim procedendo, mas seu real interesse está muito longe disto. Quando aprendemos que o “reino de Deus” é um estado onde o espírito vive com o amor universal (alegria, compaixão e igualdade), infelizmente as bases procuradas na re-ligação para a existência deste estado não são a real procura dos fiéis que freqüentam estes lugares.

Eles buscam a alegria, mas para eles este sentimento ainda depende de concretizações de conceitos individuais para que ela exista. Um espírito que quer se religar com Deus não pode impor desejos para que entre na plenitude do “mundo de Deus”.

Os fiéis vão buscar a felicidade de Deus, mas impõem condições para senti-la. Precisam de acontecimentos e posses materiais para que alcancem a felicidade. Pedem saúde, bens materiais, acontecimentos em seu favor em preces fervorosas a Deus. Conseguindo estas condições sentem-se felizes.

Entretanto, Jesus nos alertou que devemos juntar bens no céu, ou seja, na existência espiritual, onde o verme não os come e onde a ferrugem não os enfraquece. Submeter a felicidade a bens voltados para a vida material, de qualquer ordem é impor condições a Deus para que cumpra a sua prova, expiação ou missão.

Quando o espírito projeta o seu “livro da vida”, ele “desenha” o seu corpo físico de acordo com os trabalhos que irá realizar na vida carnal. Neste desenho estão as propensões a algumas doenças, bem como o funcionamento ou eliminação de alguns órgãos ou membros. Agora, na carne, o espírito pede a Deus que “elimine” estes defeitos que o próprio espírito projetou e que é o “perfeito” para os seus trabalhos.

Juntar bens no céu é pedir a Deus que dê forças para a realização dos trabalhos na situação atual de vida, pois ela trará a evolução espiritual. Pedir “saúde” que poderá atrapalhar a “obra” de cada espírito, é querer possuir bens na vida material.

A fome existe para quem precisa ter fome para alcançar a evolução espiritual. É situação projetada pelo próprio espírito e é a que mais facilitará a sua evolução. Pedir a Deus que acabe com esta necessidade que é uma providência divina, é querer alcançar a felicidade material, a sua satisfação individual, e não a Universal. Portanto, ao invés de pedir a Deus um emprego, o espírito deve religar-se ao Pai pedindo “forças” para suplantar sua prova. Como afirmou Jesus, “Pai afasta de mim este cálice, mas se não for possível, que seja feita a Sua vontade”.

Os espíritos rogam “aos céus” para que seu desejo seja cumprido e não para que Deus lhes mantenha as condições necessárias para o cumprimento da finalidade da sua encarnação. A felicidade dos seres humanos depende exclusivamente da satisfação material alcançada quando seus desejos são cumpridos.

Todos os pedidos endereçados a Deus que não contemplem a evolução espiritual não podem ser atendidos, pois o Pai estaria sendo injusto dando ao espírito situações ou bens que possam comprometer esta evolução. Antes de pedir, é preciso merecer que a situação não mais seja necessária para que Deus promova a mudança.

É através da reforma íntima, passando a utilizar apenas o amor universal como base de raciocínio de sua vida, que o espírito pode alterar as situações da vida. Se a fome é uma situação pedida pelo espírito para que ele promova a mudança de algum sentimento, a partir do momento que ele promover esta mudança não mais será necessária a situação. Entretanto, enquanto houver a necessidade, a situação se manterá.

Deus não está preocupado com a felicidade material, aquela que é alcançada quando os conceitos são satisfeitos, mas sim com a felicidade universal do espírito. Ele não seria justo se desse ao espírito um prato de comida por dia durante a sua vida material (de poucos anos de existência) se com isso prejudicasse a sua existência espiritual, que é eterna.

Portanto, buscar se religar a Deus, entrar na plenitude do “reino dos céus” é buscar com o Pai o auxílio para que cada um promova a sua reforma íntima e não que continue imaginando-se ser humano que necessita de bens materiais para que possa evoluir como tal.

 As igrejas, templos e centros não devem ser encarados como locais onde o espírito alcance a sua prosperidade material, mas sim onde ele possa encontrar o amor de Deus para dar-lhe forças para a realização da reforma íntima que traz a evolução espiritual.

Religar-se com Deus não deve ser para pedir algo, mas para agradecer tudo aquilo que tem recebido, mesmo que não se cumpra o desejo individual. Afinal sempre oramos: “seja feita a Sua vontade, assim na Terra como no Céu”.

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Sistema penal espiritual

A primeira visão do “mundo espiritual negativo” criada pelos encarnados foi a do “inferno”.

Lugar de terríveis sofrimentos, com fogos eternos, o “inferno” servia para toda eternidade como morada dos espíritos que, na carne, não seguissem as leis de Deus. Através do medo, do temor, os “senhores da lei” de então, buscavam fazer os espíritos executarem a lei de Deus.

Posteriormente, o espiritismo veio mostrar um “inferno” diferente que foi chamado de umbral.

O umbral é, para os espíritas, um lugar de passagem para os seres que não pratiquem a lei de Deus durante a encarnação. Eles permanecem ali por determinado tempo até que “pague a sua pena”. No umbral o ser que não cumpriu as leis de Deus durante a encarnação, sofre, até que possa ir para o “plano espiritual positivo”, que na visão espírita é formado pelas cidades espirituais.

Esta visão já atualiza um pouco o conhecimento sobre o “plano espiritual negativo”, mas ainda mantinha o medo desta represália como motivação para o cumprimento da lei de Deus.

A diferença entre o umbral e o inferno está apenas na periodicidade que os espíritos ali permanecem. Isto porque, nas duas visões, o “plano espiritual negativo” serve como local para expurgar os atos negativos (“maus”) através do sofrimento (punição).

Todas as duas visões, no entanto, não são verdadeiras, pois são figuras criadas com base no sistema penal (penitenciárias) do mundo carnal para onde os espíritos são levados com fins punitivos. Mas, mesmo no mundo material, não deveria ser esta a função da “penitenciária”.

O sistema penal não deve buscar punir o indivíduo por seus erros, mas sim procurar, com o cerceamento da liberdade, levar o ser humano à compreensão dos seus atos negativos (“errados”), buscando a reintegração dele na sociedade (regeneração). Mais do que punitivas, as penitenciárias humanas deveriam ser reformadoras...

No entanto, as penitenciárias do mundo carnal não podem ser consideradas reformatórios porque o homem busca a reparação do “erro” com ódio e raiva (“olho por olho, dente por dente”) e não pelo amor, com o perdão aos erros cometidos. Mantendo até hoje esta forma de pensamento o ser humano mantém também a necessidade de aplicar este mesmo modelo à penitenciária espiritual (plano espiritual negativo).

Agora que os tempos estão mudando e novos ensinamentos explicitam a essência dos atos levando o ser humano a descobrir as energias positivas do universo, deve ele também alterar a real função do “inferno” ou umbral.

O caráter reformador que deveria ter a penitenciária material é o que deve ser aplicado à penitenciária espiritual e não o objetivo punitivo. Nesse local os seres não devem “pagar penas”, mas sim buscar a regeneração de seus atos.

A literatura espírita pós Kardec está repleta de exemplos que embasam esta finalidade. Espíritos permanecem no umbral até que em um determinado momento conseguem visualizar seus atos negativos. Quando isto ocorre, pedem perdão a Deus (regeneração), sendo neste momento atendidos e retirados de lá.

Esta é a função do umbral: regenerar e não penalizar. Espíritos em passagem transitória no umbral passam por situações que não desejariam, mas não como forma de compensação aos “magoados”, mas sim pela Providência Divina que dá a situação negativa como aviso de “erros” cometidos.

Enquanto o espírito sofrer nas situações não terá compreendido a sua “falha” e não poderá sair do umbral; quando conseguir compreender que apenas está passando pelo que causou a outros, estará no caminho da regeneração e será socorrido.

Seja na carne ou em qualquer outra densidade que o ser habite, a situação negativa sempre vai significar que um dia ele causou situações idênticas a outros, contribuindo para que eles escolhessem a dor para reagir aos acontecimentos. Sempre que a situação negativa aparecer é Deus mostrando ao ser que suas atitudes não estão de acordo com a lei Dele.

O sofrimento não é causado por Deus como punição, mas por escolha sentimental de cada ser às situações que o Pai concede para a evolução espiritual (regeneração). Por este motivo os espíritos sofrem no umbral ou na carne.

Mesmo quando consegue a compreensão do sofrimento que levou outros seres a sentir e consegue a sua regeneração, o espírito ainda encontra-se em débito com os outros. Gerou-se, então, a necessidade da “expiação”, que, no entanto, não será executada na penitenciária espiritual.

Não é com o aprisionamento que o ser quita seus débitos com a sociedade espiritual que feriu, mas sim após alcançar a regeneração. Toda expiação acontece com o trabalho em prol da coletividade, ou seja, em nova encarnação auxiliando o próximo na sua elevação.

Este também deveria ser o sistema penitenciário dos encarnados. O ser humano que comete atos ofensivos à sociedade deveria ter cerceada a sua liberdade até que alcançasse a compreensão da chance que proporcionou aos outros para sofrerem. Depois de alcançada esta compreensão, deveria, trabalhando para a sociedade, buscar o pagamento de suas dívidas para com ela. Infelizmente não é este o proceder.

O prisioneiro não é levado, durante o período de aprisionamento, a buscar a regeneração e por isso, quando sai, volta a cometer os mesmos erros. Mesmo quando alcança a regeneração, lhe é impingido o apelido de “ex-presidiário” que o torna incapaz de trabalhar expiando as faltas cometidas e o torna uma ameaça constante à sociedade.

No Universo menos denso é diferente. Primeiro não existe prazo para aprisionamento: o espírito permanece no umbral o tempo suficiente para que alcance a compreensão de seus atos, ou seja, entende que foi o gerador da oportunidade que proporcionou a outros espíritos de escolher sentimentos de sofrimento. Quando consegue esta compreensão ele então é libertado, ou seja, vai para o “plano espiritual positivo”.

Nesse plano vai para os “bancos de escola” conhecer de perto os “erros” que praticou e buscar a compreensão da lei de Deus. Quando está bem ciente de seus atos consegue a chance de uma reencarnação, quando expiará as “falhas” trabalhando em prol da comunidade universal.

A vida na carne serve como expiação, ajudando o ser a reparar os “erros” cometidos contra a sociedade espiritual que ele convive. O processo reformatório espiritual não abrange punições, mas regeneração e futura expiação com trabalhos em prol do coletivo.

Esta nova visão retira do umbral ou do “inferno” a função de pagamento de dívidas e reafirma o já informado sobre as funções da reencarnação: cumprimento de missões, prova dos conhecimentos adquiridos no mundo espiritual e expiação das dívidas oriundas dos erros cometidos na(s) encarnação(ões) anterior(es).

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O fim do eu

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

A mente é o pensamento: não existe uma mente que pensa... A partir disso, pergunto: se não existe uma mente que pensa, onde estão as lembranças, a memória?

Sabe o que é uma memória? Um pensamento...

Um pensamento que não memoriza nada, pois o pensamento passa e acaba. Um pensamento que se lembra... Se lembra do que? De outro pensamento?

A sua memória é um aqui e agora. Não existe lembranças. Não há informações guardadas para serem usadas depois...

Deixe-me falar algo que pode parecer estranho num tipo de trabalho como o nosso, mas não é: vocês deveriam buscar a ciência humana mais vezes... Sabem o que é um pensamento para a ciência humana? São fluidos e descargas elétricas dos neurônios... Para a ciência humana, a ideia que você tem sobre as coisas nada mais é do que uma descarga elétrica dos neurônios...

Sabe o que é uma sensação, uma emoção, para a ciência? Um hormônio que circula dentro do corpo... E você ainda diz que está sentindo tal emoção. Grande ilusão... Cientificamente falando, você só sentirá tal coisa se tiver aquele hormônio. Senão não sente...

Vocês me dizem que têm desejo sexual, mas quando isso acontece sob a ótica da ciência humana? Quando há a presença de determinado hormônio.... Se você não tiver aquele hormônio, não haverá o desejo sexual...

Veja, a ciência está falando a mesma coisa que nós. Ela diz que você não é nada, não sente nada, não vive nada: só reage de acordo com os seus hormônios. Na visão da ciência humana, você é aquilo que o seu corpo cria.

Pense nisso. A própria ciência está acabando com a sua personalidade ao dizer que ela é o resultado de reações orgânicas. E você ainda bate nos peitos para dizer que é um garanhão, que tem muito desejo sexual... Grande engano: o que você tem é muito hormônio, pois se não o tivesse não seria um garanhão, por mais que quisesse ser...

É isso que vocês precisam entender. Todos os caminhos estão levando para uma única coisa: a ideia de um robô que funciona pela ação de Deus, na visão dos espiritualistas, ou pelas reações orgânicas do corpo, na visão da ciência humana. Você não é nada. Para a ciência é o resultado das reações químicas, que você não comanda, do seu corpo.

Me perguntaram sobre distúrbio bipolar. O que é isso senão uma oscilação da existência de um hormônio? Quando há muito a pessoa está na excitação, quando tem pouco, vai para a depressão... Para a ciência é isso... Mas, você atreve-se a dizer que isso é um distúrbio de personalidade, enquanto que na visão da ciência é apenas uma reação orgânica.

Vocês estão querendo manter uma coisa que todas as vertentes do mundo estão destruindo: o 'eu'. O universalista e o espiritualista o destrói através de alguma coisa que você não sabe o que é. No caso do nosso trabalho, nós o destruímos através do ensinamento de que Deus é a Causa Primária de todas as coisas e pelo conhecimento da reencarnação, que nos leva a compreender que você é a encarnação de um espírito. A ciência destrói tudo que você considera ser dizendo que isso nada mais é do que uma cadeia de reações biológicas...

O que você ainda quer preservar? Não adianta querer preservar o 'eu'... Se você corre para um lado ou para outro, todos os caminhos da Terra levam para o fim do eu. Todos os caminhos estão destruindo a ideia da existência do 'eu humano' que reaja por livre e espontânea vontade aos acontecimentos do mundo...

Acabaram, também, de falar sobre escolher o bem. Mas, a própria personalidade 'má' para a ciência é uma reação biológica. O sujeito mal é um doente, pois só é assim porque tem mais determinada coisa dentro de si. É a presença deste elemento que o faz ser mal. Como pode ele, então, escolher entre o bem e o mal se ele, para ciência, nada mais é do que a reação biológica do corpo?

Nós sempre dissemos: o mundo caminha junto. A ciência não tem diferença do espiritismo, do espiritualismo ou do universalismo. Tudo se congrega num destino só. Hoje estas forças estão congregando para o fim do 'eu', mas você ainda quer preservar um 'eu' que, tanto faz espiritualmente ou materialmente, já está provado que não existe.

Participante: Qual a finalidade disso tudo?

Para ciência, por ela própria, nenhuma: apenas descobrir novidades... Para o espiritualismo, lhe mostrar que existe um 'eu' que sobreviverá à própria mente. Mas, este 'eu' é qualquer coisa que não é o que a mente diz que é...

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Renascimento

Cristo ensinou: em verdade vos digo, quem não nascer de novo não verá o reino do céu. Como reino do céu entendo uma consciência espiritual, uma vivência dentro da Realidade do Universo que por nós só pode ser entendida como algo diferente dos mayas que hoje vivemos e não por qualquer valor que possamos compreender.

 Baseado neste ensinamento muita gente busca o "nascer de novo" como o caminho para a elevação espiritual, mas, poucos conseguem. Por que? Por dois fatores.

 O primeiro é a busca da elevação através do processo reencarnatório. Alguns acreditam que a elevação espiritual se dá por sucessivas encarnações. Ledo engano. A reencarnação não é uma necessidade imperiosa para a elevação espiritual, mas um instrumento criado por Deus através do Seu Amor Sublime à disposição daqueles que não conseguem realizar a elevação espiritual em uma "vida".

 No ensinamento de Cristo ele não fala apenas em nascer de novo, mas em renascer do espírito. Ora, se creditamos a nossa elevação espiritual a um novo nascimento carnal não estaremos renascendo do espírito, mas do humano. Reencarnando constantemente jamais chegaremos ao reino do céu, pois a premissa básica do renascimento do espírito não existe.

 Para que renascêssemos do espírito seria necessário que estivéssemos humanos para então renascer espíritos. Isso só pode acontecer durante a encarnação e não com novos nascimentos materiais. Assim sendo, o renascimento tem que ser feito em "vida" e não com sucessivos nascimentos.

 O segundo aspecto referente a este conhecimento é básico: tudo que nasce, morre, para, só então, renascer. Este é o ciclo fundamental da vida. A folha da árvore nasce e morre e depois renasce como adubo.

 Aí está um dos motivos porque poucos conseguem: ninguém quer morrer primeiro para renascer depois. Preferem manter-se "vivos" (com os mesmos valores que vivem hoje ditados pela personalidade humana) do que arriscarem-se a atirarem-se no desconhecido, naquilo que não há referencial no ego.

 Devemos compreender que antes de renascermos do espírito será preciso que "morramos" como o que somos agora. Se o renascimento citado pelo Mestre é pelo espírito, dentro do ciclo de impermanência das coisas, a morte é a do humano que estamos agora.

 Aí está o ciclo chamado de elevação espiritual: o espírito que nasce como humano com a missão de renascer como ser universal, mas para isso precisa provocar a morte do ser humano.

 Não estou falando de "morte" como algo físico, mas como "eliminação de uma consciência". A consciência humana que hoje encobre a nossa consciência espiritual precisa ser "eliminada" para que o espírito que somos possa renascer. Por isto Cristo fala mais no seu ensinamento: renascer do espírito e da água.

 A água é o elemento purificador, aquele que elimina as "sujeiras". O processo de "morte" da consciência humana com a qual hoje vivemos é a purificação que elimina os conceitos enraizados que são as "sujeiras" com a qual o ser universal vive enquanto está humano. Aliás, bem a propósito Buda chama o fruto da ação humanística do espírito de "poluição adventícia".

 Portanto, como Cristo também propõe, cuidemos do nosso interior assim como cuidamos do exterior. Deixemos que a "água" (o amor e a fé em Deus) purifique nosso interior para que possamos renascer em espírito.

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Renascimento 2

Jesus Cristo em sua caminhada terrestre conversava com Nicodemos, descrito na Bíblia Sagrada como líder dos judeus, do partido dos fariseus. O assunto era o Reino de Deus, conhecer e participar da glória celeste.

Nicodemos pede que o mestre lhe fale mais profundamente como um ser humanizado pode penetrar na glória excelsa. Em resposta Jesus Cristo lhe diz a máxima até hoje muito comentada: “Eu afirmo ao senhor que ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. Este livro que trata da elevação espiritual (chegar ao Reino de Deus) não poderia deixar de compreender esta afirmação do mestre.

Os espíritas afirmam que aqui está embutido o ensinamento da reencarnação. No entanto, se analisarmos mais atentamente e com a visão histórica do fato, veremos que isto não corresponde à realidade. Não que Jesus Cristo não tenha ensinado sobre a reencarnação, mas isto nada tem a ver com este parágrafo.

Nicodemos era líder dos judeus. Isto naquela época representava uma posição religiosa elevada. A liderança política era exercida pelos clérigos de então e não por políticos profissionais. Afirmar que Nicodemos era um líder judeu é o mesmo que dizer que ele possuía alto grau na hierarquia religiosa que comandava a vida na Palestina.

Além disso, Nicodemos era do partido dos fariseus. Mais uma vez não pode se ater ao termo com a conotação de hoje. Os partidos de então não eram políticos, mas ramificações religiosas. Os fariseus e os saduceus, entre outras, eram correntes religiosas que dominavam a vida dos judeus.

Estas diferentes correntes ideológicas da religião hebréia de então se diferenciavam na interpretação dos textos sagrados. Os saduceus baseavam os seus ensinamentos principalmente nos cinco livros do Antigo Testamento. Negavam a ressurreição, o juízo final e a existência de anjos e espíritos. Os fariseus, por seu lado, seguiam rigorosamente a lei de Moisés, as tradições e os costumes dos antepassados. Acreditavam na reencarnação e na existência de seres celestiais.

Ora, se Nicodemos era um mestre na lei do partido dos fariseus, ele conhecia profundamente o ensinamento da reencarnação e na existência do ser entre as encarnações. Poderíamos comparar os fariseus ao atual movimento espírita codificado por Allan Kardec. Todos os ensinamentos desta falange já eram do conhecimento dos fariseus. Isto fica muito claro com a resposta de Nicodemos ao mestre: “como pode um homem velho nascer de novo?”.

Jesus Cristo sabia disto, pois conhecia profundamente as correntes religiosas de sua época. Por isto ele não ensina sobre reencarnação (nascer de novo), mas fala em renascimento. “Eu afirmo que ninguém pode entrar no reino de Deus se não nascer da água e do espírito. A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do Espírito de Deus. Por isso não se admire de eu dizer que todos vocês precisam nascer de novo”.

O renascimento ensinado por Jesus Cristo é completamente diferente da reencarnação. Habitar novamente uma carne é um processo técnico espiritual, mas renascer dentro da própria vida (existência carnal) é um processo de reforma íntima. A reencarnação pura e simples não habilita o ser a alcançar a elevação espiritual, mas apenas a transformação em vida (renascimento) pode levá-lo à elevação espiritual.

Aquele que abandona o seu trabalho nesta existência, conformando-se em não realizar sua reforma postergando a solução para outras vidas, não imagina que terá que recomeçar tudo novamente. Toda a preparação para a reforma (humanização do ser espiritual que ocorre no período infância e juventude) terá que ser refeito na nova existência.

Muitas vezes conhecer e acreditar na reencarnação é uma prova para ver se o espírito se acomoda (deixa para depois) ou reage nesta própria encarnação. O ser pode encarnar milhares de vezes que de nada adiantará. O que resolverá o seu problema é promover na íntegra a sua reforma íntima em uma determinada encarnação e esta pode ser a primeira ou a milionésima: o espírito escolhe.

Portanto, creia você ou não na reencarnação, saiba que esta é a vida que tem para reformar-se, para mudar de vida. Esta é oportunidade sagrada que Deus lhe deu para chegar até Ele. Não dispense deixando para amanhã o que pode fazer hoje.

É isto que o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL vem lembrando aos seres encarnados. É preciso renascer na própria vida, ou seja, mudar de vida e não a vida. Mas para isto é preciso trabalho. É preciso mudar o sentido da existência. Deixar de gozar o bem material para buscar o bem espiritual; abandonar a religiosidade com suas obrigações e alcançar a consciência amorosa que é ecumênica; abrir mão do individualismo para viver com universalismo.

A partir desta tomada de consciência é preciso mudar de vida. É preciso alterar todos os componentes da vida carnal, não na sua forma, mas na sua essência. Este é o verdadeiro processo de reforma íntima.

Os padrões que são aplicados às coisas deste mundo (consciência planetária das coisas) estão presos às antigas buscas do ser humano. O casamento, paternidade, emprego, alegria, amizade, enfim, todos os acontecimentos são vivenciados com os valores antigos. É preciso refazer a essência de cada um.

Em um casamento, por exemplo, dois seres se juntam e cada um o vivencia com seus valores. Marido e mulher querem o bem material (felicidade conceitual) para si (individualismo) e, por isso, submetem o outro a códigos de leis que devem seguir. No entanto, como não existem dois seres com os mesmos objetivos, o choque é inevitável.

Isto vale para todos os relacionamentos entre os seres humanos. Sempre existe a intenção individual de preservar a sua felicidade condicional e, por isso, cada relacionamento é transformado em uma disputa para ver quem consegue alterar a verdade do próximo.

Renascer é aprender a viver diferente. É aprender a relacionar-se com o mundo de outra forma. É alterar as bases da vida e, por conseguinte, alterar o resultado: a forma de viver. Renascer não é viver uma vida diferente, mas viver a mesma vida de forma diferenciada.

O marido e mulher não precisam se separar, mas precisam aprender a conviver com espiritualismo, ecumenismo e universalismo. Uma relação, que não importa o que aconteça ambos estarão felizes, na qual não existam regras a serem seguidas e a busca seja de servir ao próximo e não se servir deste, será completamente diferente dos casamentos de hoje em dia.

Portanto, promover a reforma íntima é renascer e, para isto, será preciso que o ser altere completamente a sua compreensão sobre as coisas (pessoas, acontecimentos e objetos) do planeta. O casamento não pode mais ser entendido por aquele que busca promover a sua reforma íntima da mesma forma que era antes da consciência crítica tê-lo alcançado.

Para tanto, existe um ponto de partida. Aquele que quer promover a sua reforma íntima precisa declarar-se incapaz de viver a vida. Aquele que compreende que existem valores diferenciados precisa aprender a viver novamente, agora em outras verdades.

O renascimento só acontece quando o ser humano se declara como um bebê e busca reaprender a viver. Enquanto não houver esta consciência da incapacidade de se viver para Deus, o homem continuará um religioso, ajudando o próximo, mas recebendo em troca apenas o prazer, que é fugaz e efêmero. Somente quando vivenciar as situações dentro das bases da consciência crística (consciência espiritual) servirá ao próximo sem nada pedir para si.

É por isso que o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL está revendo todos os acontecimentos do planeta. De nada adianta apenas ensinar as bases sem se estudar cada aspecto da vida. É preciso mostrar como vive um ser humano com suas bases de vida e como seria a existência dentro do caminho reto e estreito que os mestres nos ensinaram.

Este é o objetivo fundamental desta obra: rever cada acontecimento da vida carnal sob o prisma espiritualista, ecumênico e universalista.

Para que isto seja verdade é preciso que o homem primeiro conheça Deus, o Supremo comandante de todas as coisas, o Universo em que vive (seu meio habitat) e a si mesmo. Estes serão os próximos itens de nosso estudo.

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Despossuir

Cristo nos ensinou que Deus dá a cada um dos seus filhos de acordo com a sua obra. Portanto, tudo o que um ser possui lhe foi dado pelo Pai, de acordo com o seu merecimento.

Se o ser tem uma casa, Deus lhe deu porque ele mereceu ter. A saúde, o emprego, o casamento ou qualquer outra coisa que esteja à disposição do ser, lhe foi outorgado pelo Pai como um merecimento presente ou passado.

No entanto, o mesmo Cristo respondeu a um moço rico, cumpridor dos mandamentos divinos e que queria fazer mais coisas para elevar-se: “Se você quer ser perfeito, vá e venda o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim terá riquezas no céu”.

Ora, se a casa foi outorgada pelo Pai como um merecimento adquirido, por que tem o ser que vendê-la? Se Deus o achou merecedor de possuí-la, por que agora o mesmo Deus impõe que ele não deve mais tê-la?

Este antagonismo de informações não pode marcar a transmissão de tão elevado espírito.

A missão Jesus Cristo foi transmitir a “consciência crística”, ou seja, estabelecer os valores necessários para o ser viver com a felicidade universal. Desta forma, qualquer antagonismo que gere dúvidas poderia quebrar esta formação, prejudicando o desenvolvimento do ser, o que seria injusto, não fruto de Deus.

Partindo deste pressuposto, podemos compreender que há aqui um ensinamento velado que precisa ser decifrado. Tentemos, pois, colocar luz sobre o assunto.

Quando falamos no ser possuir uma casa não entramos em maiores detalhes sobre este bem. A casa que Deus dá para cada um deve ser entendida como um “lugar de moradia” não especificamente uma residência material.

Para existir uma casa não há a necessidade dela ter subdivisões como quarto, sala, cozinha e banheiro e nem especificar quantidades de cada um destes cômodos. Apenas um cômodo é um local de moradia. A casa também não precisa ser própria para servir de lugar de moradia para o ser, mas aqueles que a habitam têm ali o seu lugar de moradia.

Entretanto, lugar de moradia pode ser compreendido ainda em um sentido mais amplo do que paredes com telhados.

Existem os que moram nas ruas e dormem sob as marquises. Existem também os que moram no campo e dormem sob a luz das estrelas. Apesar de não possuírem paredes que delimitam seus locais de moradia ou telhado para proteção das intempéries, na verdade todos moram em algum lugar, ou seja, possuem uma “casa”.

Esta nova visão de moradia nos faz lembrar outro ensinamento de Cristo: Deus dá a cada um de acordo com as suas obras.

Existem aqueles que possuem como local de moradia um palácio, mas há os que merecem ter a natureza como residência. Todos possuem um lugar para morar de acordo com o seu merecimento.

Para não deixarmos dúvidas sobre o que estamos falando, nos lembremos que o palácio não significa merecimento “maior” e uma casa humilde, merecimento “menor”, mas que todos os dois são instrumentos carmaticos da existência de um ser humanizado.

Muitos moram em palácios e vivem no “inferno” (são infelizes) e, por este motivo, são “pobres”, enquanto diversos habitantes de rua vivem no “céu” (felicidade universal) e são “ricos”. O valor do bem não é material, mas aquele que o espírito concede a ele.

A riqueza de um ser não se encontra na quantidade ou qualidade de bens materiais que ele possui, mas é determinada pela sua capacidade de ser feliz. A felicidade do ser é o seu bem maior.

Aqueles que vivem em um local de moradia de apenas um cômodo e são felizes, possuem mais bens espirituais do que aqueles que são infelizes em propriedades maiores.

A grande verdade, no entanto, é que pouquíssimos seres na carne são felizes. Os que moram na rua querem uma casa; quando habitam uma casa, passam a desejar outra que tenha mais cômodos... O ser humano não consegue ser feliz com o que tem, pois está sempre desejando mais.

O lugar de moradia que o ser possui, independente da forma ou acessórios, é o que Deus julga que é o perfeito resultado das obras deste ser e, por isso, lhe deu esse lugar. Sabedor da Justiça Perfeita e do Amor Sublime como fontes das emanações divinas, o ser, pela sua fé, deveria viver feliz onde está.

Isto é não possuir um bem material. O ser que vive desta forma compreende que o Pai lhe emprestou determinado bem para servir como instrumento para a sua elevação espiritual. Por este motivo deve utilizá-lo para a ação do amor.

Este ser não precisa “vender” sua casa para ser “perfeito”, pois ele já o é: ama a Deus acima da casa que mora. Já o ser que deseja um bem mais “rico” do que tem, sofre por não possuí-lo. Ao agir desta forma, esquece de amar o que já lhe foi emprestado por Deus e vive no sofrimento.

Aquele que deseja algo diferente daquilo que Deus lhe emprestou “apossa-se” do alvo do seu desejo, mesmo que não fisicamente. Ao sonhar com uma casa maior, o ser já se sente proprietário dela.

Esta posse do objeto desejado não será fruto da doação de Deus porque não está dentro do merecimento do ser, mas sim de seu desejo individual. Portanto, o ser que condiciona a sua felicidade à concretização de seu desejo, ama mais a si do que a Deus, pois quer dizer ao Pai qual o seu merecimento...

É este “bem” (o sonhado) que Cristo diz que o ser deve vender para ser perfeito: aquele que não é fruto da doação de Deus.

O ser gasta tempo e esforço para desejar um bem diferente do que tem, colocando nele toda a sua felicidade. Passa horas preocupando-se como conquistá-lo, fica apreensivo se seus planejamentos para alcançá-lo começam a não dar certo. É por isto que Cristo nos afirma que devemos vender os bens e doar o dinheiro aos pobres.

A “venda” é o fim do desejo e a moeda de troca (dinheiro) que será conseguido com a “venda” é a felicidade universal, ou seja, o amor. Ao invés de desejar algo diferente para a sua vida, o ser deve doar o “dinheiro” (amor) aos pobres e necessitados, ou seja, àqueles que ainda “sonham” com algo diferente do que têm.

Amando aos necessitados (os que precisam de coisas diferentes das que têm) o ser os auxiliará a vencer este desejo e estará, portanto, contribuindo de forma positiva com Deus na Sua obra: a elevação espiritual de todos os seres.

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Difícil, mas não impossível

“995 a – Não desejam esses espíritos abreviar seus sofrimentos?” “Desejam-no sem dúvida, mas falta-lhes energia bastante para quererem o que os pode aliviar. Quantos indivíduos se contam, entre vós, que preferem morrer de miséria a trabalhar?” (O Livro dos Espíritos).

Entre os que tomam contato com os ensinamentos trazidos pela Academia Superior de Ciências Espirituais existe aqueles que, por escolha sentimental, acreditam ou desacreditam neles. Para os últimos, novo caminho será aberto por Deus futuramente, uma vez que a reforma íntima nas bases aqui ensinadas (fim do desejo e do achar) é uma realidade que nenhum ser universal poderá escapar, visto que foi o caminho tomado por todos anteriormente que conseguiram a evolução espiritual.

Entretanto, entre aqueles que creram na autenticidade dos ensinamentos, existem dois grupos distintos: os que iniciaram a batalha íntima e os que depuseram suas armas. Mesmo vendo lógica nos ensinamentos muitos seres encarnados desistem de lutar contra si sob o pretexto de não terem condições de promover o fim de suas verdades. Sabemos que esta luta é difícil, mas não impossível de ser alcançada.

Jesus Cristo não poderia deixar de nos dar o caminho para essa batalha: orar e vigiar. Estes são os dois procedimentos que o ser espiritual deve ter durante a sua existência carnal para poder penetrar na felicidade universal.

A oração daquele que pretende encurtar seu ciclo de encarnações não pode se resumir em algumas palavras. Ela deve se traduzir em um estado de espírito. O termo “oração” para os ocidentais deve alcançar o mesmo valor que “meditar” para os orientais. Viver em oração é o meio que o espírito deve alcançar para atingir a elevação espiritual.

Meditar é levar a sua existência em conexão com a espiritualidade que cerca, no invisível, o mundo dos visíveis. Viver em oração é estar cônscio dessa espiritualidade presente e nela buscar o apoio para a sua vida. Quem vive em oração recebe a intuição (pensamentos) que pode lhe auxiliar a libertar-se dos conceitos formados sobre as coisas e pessoas.

Aquele que se esquece da existência desse imenso mundo invisível ao seu redor, prende-se à forma das coisas e, por isso, é sempre intuído a pensar dentro da lógica oriunda de seus conceitos. É sobre essa condição de vida que o espírito que procura a elevação espiritual deve manter a sua vigilância.

Vigiar-se no sentido de compreender cada acontecimento, objeto ou pessoa pelo seu real valor espiritual: instrumento de Deus para a sua elevação. Vigiar o seu amor a Deus, buscando sempre estar consciente de que todas as situações são justas e amorosas.

Grande é o apelo da materialidade junto ao postulante ao reino do céu. Por esse motivo, muitos serão também os deslizes e faltas. Nesse momento, mais uma chance para esse ser provar a sua fé.

Se nada acontece sem que o Pai queira, a falha já havia sido prevista por Deus e, portanto, não deve servir de motivos para auto-acusações. Como já falamos, ainda não é hora da regeneração (mudança completa dos sentimentos) e, por isso, todos os seres encarnados, mesmo os que buscam frenética e dedicadamente a elevação não atingirão a perfeição possível no estágio atual.

O ser que busca a elevação deve vigiar-se para não “cobrar” de si nada além do que pode ofertar: a busca como motivação de vida. Acima disso, está além da capacidade dos espíritos hora encarnados. Portanto, ao primeiro sinal de culpabilidade deve o ser buscar a vida em oração, compreendendo sua real posição e louvando a Deus por mais um sentimento recebido.

Quanto a quem estava presente no momento do deslize, aquele que entrou em contato com os sentimentos, você já sabe que ninguém pode feri-lo. Se o outro ser sentiu-se ferido, como já estudamos, foi porque usou o seu livre-arbítrio nesse sentido. A compaixão, como ensinada pelo Espiritualismo Ecumênico Universal, é o lenitivo que manterá o postulante em linha reta. Para aquele que escolheu sofrer uma palavra de carinho ou desculpas, mas nunca perder sua própria alegria.

Para que tudo isso ocorra, a vigilância sobre a vida (compreensão de acontecimentos, objetos e pessoas) é fundamental. Vigiar cada momento para verificar se está em oração ou dando margem aos seus conceitos.

Viver sob a égide do conceito é depender de uma determinada situação para ser feliz. Assim, quando algo “chatear” ou “preocupar” aquele que busca a elevação espiritual é hora de alertar-se, pois um conceito entrou em ação. Viver em oração é realmente participar do acontecimento.

Se todas as situações, pela Fonte que as causou, são perfeitas, justas e amorosas, quando o ser foge da felicidade participa de qualquer outra situação, menos a que realmente está acontecendo. Qualquer sofrimento é prova que o ser está vivendo em um mundo irreal (fantasia) criado pela ação do seu achar, querer e saber.

Tudo isso é o caminho à elevação. Como prometido por todos os mestres, não se trata de caminhar sobre pétalas, mas entre os espinhos da flor. Emmanuel, no livro “Paulo e Estevão” afirma: ninguém pode receber Jesus Cristo sem testemunhos.

No entanto, aquele que persevera na busca, no momento do espinho consegue o autodomínio para não sentir as dores. Nos momentos que não contemplam os seus conceitos ele mais se esforça, pois sabe que ali poderá auferir mais lucros.

Essa luta é muito difícil, bem o sabemos, pois passamos por ela em momentos atrás. Trata-se de lutar contra um inimigo tenaz: nós mesmos.

Somos o resultado daquilo que acreditamos, ou seja, cada um de nós é o somatório dos seus conceitos. Se você se acha feio, não haverá pessoa que poderá faze-lo pensar diferente. Você pode até iludir-se dizendo que mudou seu ponto de vista, mas, mais dia menos dia, o conceito volta a prevalecer sobre o falso entendimento.

Portanto, buscar a reforma íntima é matar o homem velho para que surja um novo homem. Não mais um ser humano, mas agora um ser espiritual vivendo na carne. No entanto, esse homem que deve morrer é você mesmo. Esta é a grande dificuldade da reforma íntima.

A maioria dos seres prefere viver a vida sob a fantasia que encarar sua própria personalidade. É mais fácil culpar o externo por tudo que acontece de “ruim” do que encarar a realidade: perfeito, justo e amoroso.

Como dissemos, é difícil, mas não impossível. Para conseguir é preciso coragem, determinação e fé. Coragem de assumir a interdependência dos acontecimentos (tudo que está acontecendo é colheita de plantação anterior sua). Determinação para não se deixar escorregar para a culpabilidade que se transformará em um banco de arei movediça que acabará por tragar o ser. Fé, confiança e entrega a Deus, para saber que a sua luta levará a um mundo onde o estado de felicidade é pleno.

Sem esses três aspectos, o ser continuará na ilusão, Irá iludir-se dizendo que busca a elevação, mas utiliza os ensinamentos visando atingir o prazer individual. Tudo o que aprende vira uma “arma” que ele aponta para todos, mas se esquece de que deveria virar o mesmo argumento para si.

É preciso muito trabalho para se conseguir a elevação espiritual. Sem a vigilância para que a vida seja levada em oração, sem coragem para enfrentar-se sem culpabilidade, com determinação de persistir na vigilância o tempo inteiro e sem fé com conhecimentos raciocinados, a felicidade universal jamais será conquistada.

É difícil, mas não impossível.

Reforma íntima - Textos - Volume 08

O bem a ser buscado

Quando ensinou desta forma, Cristo deixou um objetivo para a encarnação do espírito: amealhar bens celestes. Este, portanto, deve ser um dos fundamentos da “vida” de qualquer espírito humanizado. Mas, o que será o bem celeste?

Cristo o chamou de “bem-aventurança”; Sidarta Gautama (Buda) de “nirvana”; o anjo Gabriel o comparou a Maomé como o mesmo que se sente quando se encontram à disposição os prazeres mais procurados.

Nós preferimos chamá-lo de “felicidade universal”, mas o nome não importa. Rotular coisas materiais e acreditar nelas apenas quando o nome for igual é uma atividade intelectual e a vida espiritual não possui esta característica.

Como Cristo nos ensinou, o problema não é o que entra pela boca, mas sim o que sai do coração. Crer no bem celeste somente quando rotulado de determinado nome é intelectualizá-lo e o resultado de uma ação lógica humana é sempre “verdade relativa”.

O bem celeste é um sentimento, ou melhor, um estado onde o espírito sente determinados sentimentos (estado de espírito). Não importa o nome que se dê a este sentimento (amor, deslumbre, graça, etc.) ou a este estado de espírito: o importante é o que o ser sente neste momento.

Chamamos este estado de espírito de felicidade universal porque ele se assemelha muito ao que hoje é conhecido pelo ser humano como felicidade. Tanto assim que, mesmo inconscientemente, o ser quando está alegre afirma que está no céu, no paraíso ou “local” espiritual onde se vive feliz. No entanto, dissemos “assemelha” porque a felicidade hoje conhecida no planeta ainda é alguma coisa material.

Para que o ser humanizado possa sentir-se feliz é necessário que determinadas circunstâncias (o que ele gosta ou quer) sejam atendidas. Se isto não acontecer ocorre a infelicidade ou sofrimento.

Esta felicidade depende de fatores materiais (objetos, pessoas e acontecimentos) e por isso se caracteriza como felicidade material (bem terrestre) e não no bem celeste. À felicidade material damos também o nome de prazer ou satisfação.

A felicidade universal ocorre apenas por fatores espirituais e não por fatores materiais. É um estado de espírito onde o simples fato de estar “vivo” (no sentido espiritual – ter a chance de elevar-se) já é motivo suficiente para se ser feliz. Ela não depende de fatores materiais para ser alcançada, mas apenas de fatores espirituais.

Por isto podemos dizer que a felicidade humana (material) é condicional e o bem celeste (felicidade universal) é incondicional. Não importa o que acontecer na existência carnal, que valor ele der ao acontecimento (“bom” ou “mal”, “certo” ou “errado”), o ser universal que alcança o bem celeste permanece inalterado em seu estado de espírito.

Isto porque a felicidade universal é formada por três fatores: o amor a Deus, a harmonia com o todo e a paz.

Deus é a sublimação expoente do Amor; é o próprio Amor personificado. Por isto tudo o que Ele faz é amar. Não importa o que esteja “fazendo” (gerando através da Causa Primária) a sua atitude será sempre amorosa. Sentir-se amado por Deus, leva o espírito a alcançar o bem celeste, a felicidade universal.

Se Deus é por nós quem pode ser contra nós? Quando o ser universal sentir-se amado em todos os momentos pelo seu Pai, não necessitará mais buscar a satisfação individual: basta deleitar-se no Amor que vem de Deus.

Todas as situações de sua vida serão fruto do amor divino e não mais ataques ou acusações de outros seres humanos. Sem sentir-se atacado ou ferido, o ser humano pode preservar o seu estado de espírito feliz.

Sem ver no próximo um possível agressor, conseguirá então, harmonizar-se perfeitamente com todos. Esta harmonia gera a felicidade universal. Não existem mais motivos nem agentes de infelicidade, pois o espírito está com Deus em seu coração.

Aí ocorre a paz, ou seja, o desarmamento, a deposição das armas. Hoje o ser está sempre armado porque não sabe se o próximo está querendo feri-lo (acabar com a sua felicidade). Por isto relaciona-se se amando mais do que ao outro, o que causa o desequilíbrio que acaba com a harmonia.

Na prática, o bem celestial ensinado por todos os mestres é o próprio Amor de Deus. Alcançar este estado de espírito é o objetivo máximo da vida de todo ser humanizado e deve ser o resultado que a ser alcançado com a reforma íntima que todos deveriam aproveitar a encarnação para praticar.

Reforma íntima - Textos - Volume 08

As perguntas mudaram

O que são os seus conceitos senão padrões que foram embutidos dentro do ser e ainda por cima deturpados pelos sentimentos individuais utilizados durante o raciocínio?

O ser humano cria posições sólidas, verdades cristalizadas durante o processo da vida. No entanto, esse mesmo processo é extremamente modificado a cada segundo.

Quero usar uma estória para falar sobre isso. Um sábio, insatisfeito com alguma falta de conhecimentos que tinha, isolou-se e foi buscar as respostas para os seus questionamentos. No isolamento permaneceu durante mais de vinte anos, mas um dia retornou à sua casa, à sua cidade, em estado de extrema felicidade porque conhecia todas as respostas às perguntas do Universo.

No dia seguinte ele estava triste e a população da cidade que o havia recebido em êxtase no dia anterior questionou o porque que agora ele estava triste. No dia anterior estava feliz porque tinha conseguido alcançar todas as respostas após viver vinte anos aprendendo. O sábio respondeu: quando sai do isolamento descobri que as perguntas tinham mudado.

Na verdade, isto é o que fazemos quando individualizamos a vida. Adotamos uma posição como definitiva e não verificamos que as perguntas do universo mudam a cada dia. Esse universo que o ser vive hoje não é o mesmo de quando ele começou a sua encarnação.

Hoje é um outro universo e as verdades criadas ao longo da vida ficaram encravadas e com o lustro do tempo perderam o sentido. Mesmo assim o ser se agarra a esse sentido porque é individual, único. Vivemos nossa verdade e não a verdade do universo.

A verdade universal é dinâmica, se altera a cada momento, enquanto nós estamos perdidos em verdades que, se um dia foram verdades, foram há vinte anos atrás. Com base nessas verdades de vinte anos atrás fazemos o julgamento agora.

Hoje querer aprender as lições do espiritismo dentro do mesmo olhar que Kardec teve é voltar a viver em 1800. Aquelas foram verdades estanques para aquele momento e não verdades para o mundo de hoje. Se julgarmos as coisas espirituais pela interpretação de dois séculos atrás estaremos julgando o mundo espiritual de forma errada.

A interpretação de ensinamentos dentro de um determinado espaço de tempo é uma verdade individual do momento. Formar conceitos próprios e definitivos fundamentados em verdades ultrapassadas altera a compreensão das coisas.

O ser não deve não se agarrar a conceitos, mas sim estar sempre aberto a novas informações. A vida não é conceitual, mas sentimental. Sentimento não admite conceito, porque sentimento não admite raciocínio. Não se raciocina sentimentos. O sentimento é a base para o raciocínio.

Aquele que casa julgando (raciocinando) que terá uma vida boa porque o marido ou a esposa tem dinheiro, acaba encontrando até um assassinato, enquanto muitos são movidos pelo sentimento e se casam com pessoas de menos posse ou pessoas iguais a elas e vivem juntos a vida inteira. Um raciocinou o seu sentimento e outro sentiu o seu sentimento.

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Provação

O espírito, então, será testado sobre o tema que ele pediu. Mas, como se desenrola este processo? Já o dissemos: como uma vida carnal, uma existência humana. O espírito escolhe os gêneros de provas que examinará e aí encarna, ou seja, passa a viver uma existência humana onde estes gêneros deverão estar presentes nos acontecimentos desta existência.

Ora, se o espírito pede estes gêneros e se eles devem estar presentes durante os acontecimentos de sua existência corporal, isso quer dizer que os acontecimentos de uma vida são pré-determinados, ou seja, que a vida humana é fatalista e que o destino de um ser humano já está decidido antes da encarnação?

 “851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados?... A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez ao encarnar, desta ou daquela proa para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado”. (O Livro dos Espíritos)

A escolha do espírito do assunto que será examinado durante a encarnação leva inexoravelmente a acontecimentos que espelhem aquilo que ele optou. Com isso, os acontecimentos de uma vida se desenrolam sempre ligados a um destino que faça com que novos momentos espelhem também as escolhas dos espíritos antes da encarnação.

Sendo isso verdade, em que realmente se consiste a provação? Se tudo acontecerá rigidamente segundo aquilo que já havia sido previamente escolhido, quer dizer que o espírito enquanto encarnado nada pode fazer. Como, então, provar alguma coisa? O Espírito da Verdade mostra isso na continuação da pergunta 851 de O Livro dos Espíritos:

 “Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”.

Realmente o espírito nada pode fazer com relação aos acontecimentos físicos, pois se deixasse por ele gerar acontecimentos que espelhassem sua opção antes da encarnação, ele não o faria, pois como já vimos é outra a sua motivação depois que encarna. Mas, pode fazer com relação às questões morais...

O espírito vivendo um acontecimento carnal tem sempre diversas opções morais. Ele pode achar aquilo justo ou injusto, certo ou errado, bonito ou feio. Estas são algumas das opções morais de que dispõe o espírito a todos os momentos de uma existência carnal. Nelas, usando novamente a sua liberdade de optar, ele pode escolher entre o bem e o mal.

Optando pelo bem ele consegue a aprovação no seu exame; optando pelo mal não consegue esta provação e terá novamente que prestar exames sobre este assunto.

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Quebrando conceitos

Sidarta Gautama, o Buda, foi um ser humanizado que conseguiu promover a reforma íntima, ou seja, alcançar o “Reino do Céu”. O caminho que percorreu é, então, o caminho que cada um dos seres também humanizados devem percorrer para atingir a elevação espiritual.

Este caminho está descrito no suta “Girando a roda do Darma“ que é o primeiro discurso que fez após a sua elevação. Nele, quando explica aos monges o que lhe aconteceu, Sidarta diz que a elevação foi conseguida a partir de três ensinamentos:

Caminho do Meio;

Quatro Nobres Verdades;

Nobre Caminho Óctuplo.

Todos estes ensinamentos levam à reforma íntima, mas eles só são praticados quando o ser abandona os conceitos que possui. Portanto, qualquer um que queira atingir o nirvana (reino do céu), precisa abandonar os seus conceitos.

CONCEITO – Pensamento, idéia.

 Um conceito é formado pelo ser quando ele utiliza o processo raciocínio da sua inteligência. Toda percepção é levada à inteligência através dos órgãos dos sentidos do corpo físico e analisadas através do raciocínio, chegando-se, então, a uma conclusão sobre uma pessoa, coisa ou acontecimento.

Esta conclusão é um valor que se dá àquela percepção. Se uma outra pessoa é percebida pela inteligência, raciocinará sobre ela e chegará a uma conclusão do que deve achar desta pessoa. Esta conclusão será, portanto, um valor que será atribuído a esta pessoa.

Este valor será arquivado na memória e se tornará um conceito. Toda vez que aquela pessoa for novamente percebida pela inteligência, ela fará um novo raciocínio e neste novo processo de avaliação o conceito anteriormente formado influirá.

Se uma pessoa um dia provocou uma situação que feriu o espírito, a sua inteligência dará o valor “agressor” a esta pessoa e toda vez que houver a percepção dela, o novo raciocínio partirá desta “verdade” conceitual pré-formada.

Porém, uma pessoa não é agressora para todos nem todo o tempo. Pessoas que são avaliadas de uma forma por alguém, são avaliadas de forma diferente por outro. Pessoas que hoje, por um estado de espírito (sentimento predominante no ser) agem de determinada forma, podem, amanhã, em outro estado de espírito, agir de forma diferente.

Esta impermanência de sentimentos das pessoas, no entanto, não será percebida pela inteligência do ser “agredido” por causa da existência do conceito já formado, ou seja, pela utilização do resultado da avaliação do comportamento agressor em um determinado momento e sob determinados aspectos. Por isto podemos afirmar que o conceito nada mais é do que uma avaliação de determinada época.

Em novo momento, em circunstâncias diferentes, o ser “agressor” não será mais a mesma pessoa que foi em outro momento. O ser que a conceituou não verá esta realidade e, por isto, deixará de viver aquele novo momento com valores diferentes.

O passado já acabou e o futuro não existe: o que o ser tem para viver é o presente, o agora. Quando alguém está preso aos seus conceitos não consegue vivenciar o agora. Esta não vivência do presente não o deixa ver a impermanência dos outros e, por isto, não permite a evolução espiritual.

É por isso que afirmamos que, para a prática dos ensinamentos do Buda que levam à elevação espiritual, o primeiro passo é acabar com os conceitos.

A moderna psicologia utiliza este mesmo ensinamento para auxiliar aos seres humanos que passam por problemas emocionais (sentimentos). Apesar do sucesso que alcança em determinados casos, ela jamais consegue a “cura” completa, pois falta no tratamento um elemento que a “espiritologia” utiliza: Deus.

A formação do conceito é gerada por um desejo natural do ser durante o processo de evolução “provas e expiações”. Esta etapa da evolução do ser universal se caracteriza pelo aprendizado do processo raciocínio. Estar encarnado em um mundo onde se busca provar ensinamentos é aprender a utilizar o raciocínio.

O processo raciocínio é caracterizado pelo livre arbítrio que o ser tem, ou seja, representa uma decisão que o espírito tem que tomar sobre as percepções que recebe. Este ensinamento nos é trazido pela Bíblia Sagrada no livro Gênesis quando fala da história da maçã comida por Adão e Eva.

A prova que o ser faz nesta etapa da sua evolução é abandonar qualquer valor (conceito) para julgar as percepções, amando a Deus acima de todas as coisas, ou seja, vendo sempre nas percepções a ação do Pai. Portanto, pedir ou impor ao espírito que abandone os seus conceitos nunca será conseguido, pois existe o sentimento intuitivo de dar um “valor” às percepções.

Além da psicologia, as religiões também buscam este mesmo caminho, apesar de não compreender a sua ação nestes termos. Quando uma religião afirma que o ser humanizado deve ser bondoso para atingir o “Reino do Céu”, está dizendo que ele tem que acabar com os conceitos que o levam a praticar o “mal”.

Por este motivo a “espiritologia” tem que ser não religiosa, ou melhor, ecumênica: utilizar o ensinamento de todos os mestres na sua real essência e não pela interpretação dada pelas religiões. A ciência espiritual que ensina a elevação baseia-se em apenas uma verdade: Deus e a Sua ação no universo.

É a consciência desta ação divina que pode acabar com os conceitos da inteligência do espírito e, ao mesmo tempo, suprir o desejo inato de avaliar as percepções.

 O ser humanizado que apenas busca acabar com os seus conceitos sofrerá, pois na verdade ao eliminar um, criará outro.

Quando uma religião diz que o ser deve ser bondoso ao invés de praticar ações que prejudiquem o próximo, está criando um novo conceito: a bondade. Quando a psicologia ensina o ser humano a ver o mundo de forma diferente do que ele vê, está acabando com um conceito que ele já possuía, mas substituindo-o por outro: a nova visão.

A elevação espiritual se consegue acabando-se com os conceitos e não pela libertação dos já existentes por novos.

Para se libertar dos conceitos é preciso perceber em todos os acontecimentos a ação primária de Deus (Causa Primária de Todas as Coisas) agindo com Inteligência Suprema para que a Justiça Perfeita seja equilibrada sem ferir, mas com Amor Sublime. Isto não é um conceito, mas uma verdade universal.

A aplicação da verdade universal nas percepções leva o ser a eliminar a verdade individual (conceito) que forma sobre as coisas. Ele não mais “achará” (individualizará), mas conhecerá o funcionamento do Universo, satisfazendo, assim, o seu sentimento inato de conhecimento, entendendo Deus como Causa Primária das Coisas.

O “Reino do Céu” (felicidade universal), portanto, não poderá ser alcançado pela psicologia ou pelas religiões, mas apenas com a prática dos ensinamentos da “espiritologia”, pois as duas primeiras ensinam a modificar conceitos enquanto que a “espiritologia” leva o ser a universalizar as suas propriedades, acabando com o individualismo (conceitos).

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Fé raciocinada

A doutrina espírita formatada por Allan Kardec através do seu livro “O Livro dos Espíritos” e posteriores, criou o termo “fé raciocinada” para qualificá-la. Esta afirmativa baseava-se na diferenciação entre o catolicismo e as religiões adventistas e pentecostais até então existentes e dominadoras no ocidente.

Enquanto estas últimas religiões baseavam-se em dogmas, ou seja, foram formatadas através de “verdades” que não podiam ser contestadas, apesar de não compreendidas, os ensinamentos espíritas buscam “explicar” os fenômenos do mundo espiritual para a compreensão dos encarnados. Desta forma, para os espíritas a fé não deveria surgir do “nada”, mas apenas da “compreensão” dos assuntos de Deus.

Porém, isto é impossível. A fé é um sentimento e não um “conhecimento” que possa ser raciocinado. Ninguém ama alguém pelo raciocínio, mas sim pela confiança que o outro proporciona. Quando ama realmente não questiona, mas entrega-se ao alvo deste amor como guia de sua vida.

Todo sentimento surge não de raciocínios, mas de trabalho ainda desconhecido do espírito na carne. O sentimento não é construído, mas é alcançado sem motivação aparente. Um marido não ama a esposa porque a raciocina bela, rica, boa, ele ama uma mulher independente dos atributos que ela tenha. Isto fica bem claro através da própria cultura popular: “quem ama o feio, bonito lhe parece”.

Com a fé não poderia ser diferente. O casamento (confiança e entrega) com Deus não pode surgir do raciocínio da vida espiritual na carne, mas sim da visão individual que cada um tem de Deus. Como o namorado que ama a namorada sem raciociná-la, mas possui uma “descrição” particular de quem é ela.

As transmissões dos enviados de Deus apresentaram o Pai como sendo a Inteligência Suprema do Universo, Justiça Perfeita e Amor Sublime (ver tema DEUS). Esta deve ser, portanto, para quem acredita em um destes enviados, a base da sua fé, ou seja, do seu amor pelo Pai.

Sobre estes aspectos não pode haver raciocínio, dada a superioridade espiritual daqueles que nos servem como Mestre. Não estamos, no entanto, querendo voltar ao mundo dos dogmas com esta afirmação. É necessário que os acontecimentos do mundo sejam “compreendidos” para favorecer a prática dos ensinamentos em novos acontecimentos. Por isso, afirmamos que os conhecimentos devem ser raciocinados não no sentido de questionar a fé, a visão que se tem de Deus, mas para se compreender a vida na carne a partir desta visão.

O Espiritualismo Ecumênico Universal propõe a FÉ COM CONHECIMENTO RACIOCINADO, ao invés do constante questionamento dos desígnios de Deus, que não podem traduzir um amor. Amar a Deus acima de todas as coisas, ou seja, aplicar o seu “deus” (aquilo que você ama) nas coisas e não questionar este amor colocando os acontecimentos acima Dele.

Raciocinar a fé é crer em um Deus que pode se transformar; ter fé com conhecimento raciocinado é promover a imutabilidade necessária para que o Pai seja o “deus”. Quando alguém raciocina um acontecimento sem a presença de Deus, aplica ao acontecimento o seu “achar” e não consegue encontrar Deus nas coisas.

Quando acontece alguma coisa que contraria o ser humano ele afirma que houve uma injustiça. Isto acontece porque ele raciocina o acontecimento sem a presença de Deus, dos atributos que ele dá ao Pai. Ele não procura amar a Deus e compreender os Seus desígnios, mas submete-O ao seu raciocínio.

Quem tem fé em um Ser que possui a Justiça Perfeita, jamais pode raciocinar no sentido de “ver” uma injustiça. Aquele que ainda consegue agir desta forma é porque questiona a sua fé em Deus. Para provar a sua fé, o ser humano precisa colocar a Justiça Perfeita no acontecimento, ou seja, elaborar o seu raciocínio a partir desta Verdade.

Quem tem fé no Amor Sublime não pode sentir-se ferido, a menos que tente “raciocinar” o amor de Deus, quem crê que Deus é a Inteligência Suprema não pode encontrar erros, pois estaria acusando o Pai de não ser inteligente o bastante, pois aquele que encontra o erro é superior à própria Inteligência Suprema.

O raciocínio do acontecimento sem a fé necessária leva ao questionamento das atitudes e transforma a lei que Jesus enunciou para “amar as coisas acima de Deus”. Raciocinar com fé é colocar os atributos de Deus nas coisas, raciocinar a própria fé é questionar os atributos que transformam o Pai no Deus da humanidade.

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Caminho, verdade e luz

"EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A LUZ. NINGUÉM CHEGA AO PAI A NÃO SER ATRAVÉS DE MIM".

 

Este ensinamento consta da Bíblia como atribuído a Cristo. Por ele, o Mestre nos deu a entender que para alcançarmos a nossa elevação espiritual necessitamos segui-lo. No entanto, fica a pergunta: Quem é Cristo?

Cristo é um espírito de alta elevação, Governador Geral do sistema solar, nosso irmão maior. Apenas por esta análise curta ainda não respondemos: Quem é Cristo?

Se Cristo é um espírito, independente de sua elevação, ele não possui cor, raça, sexo e nem muito menos identidade. Espíritos não possuem nome e, por isso, continua a pergunta: Quem é Cristo?

Nomes são artifícios utilizados por espíritos quando se encarnam para serem reconhecidos. Desta forma podemos dizer que um nome é um título dado a uma encarnação de um espírito. Jesus Cristo não é o nome do espírito, mas sim o nome daquela encarnação deste espírito, assim como assumimos diversos nomes durante as diversas encarnações. Portanto, mais do que nunca a pergunta é válida: Quem é Cristo?

A encarnação do nosso irmão maior foi definida por João no seu Evangelho como o "Verbo". A função do verbo em uma sentença é determinar a "ação" que o sujeito irá praticar: tocar, orar, fazer, ser, estar. Portanto, a encarnação Jesus Cristo é a ação de alguma coisa.

Estudando a missão que este espírito assumiu na encarnação "Jesus Cristo" podemos entender que ela foi a "ação do amor". Com os novos mandamentos (amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo), "Jesus Cristo" definiu a ação do amor.

"EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A LUZ. NINGUÉM CHEGA AO PAI A NÃO SER ATRAVÉS DE MIM".

Depois desta análise de quem é Cristo, podemos, então, compreender o ensinamento: a ação do amor é o caminho, a verdade e a luz e o único caminho para se chegar a Deus, ou seja, elevar-se.

Uma encarnação é uma "vida material", ou seja, a coletânea de atos praticados por um espírito sob determinado rótulo. Se a encarnação Jesus Cristo, ou seja, a coletânea de atos praticados pelo nosso irmão maior durante a existência carnal foi a “ação do amor” e se esta é a única forma de se aproximar de Deus (elevar-se), o ensinamento pode então ser compreendido como:

"O CAMINHO, A VERDADE E A LUZ ESTÃO CONTIDAS NO MEU MODO DE PROCEDER. NINGUÉM CHEGA AO PAI A NÃO SER PRATICANDO OS ATOS QUE EU PRATIQUEI".

Conseguir praticar a reforma íntima, alcançando a elevação espiritual, é viver todos os momentos de nossa vida como Jesus Cristo viveu a dele. Não existe outra forma para se chegar a Deus. Aqueles que buscam ensinamentos contrários aos atos praticados por este mestre não alcançam esta evolução.

Baseado nesta verdade convido a todos a refletirem a cada momento de sua vida como Jesus Cristo agiria nesta situação... Somente quando buscarmos esta “consciência crística” é que teremos promovido completamente a nossa reforma e o novo homem surgirá de dentro do velho.

Não será seguindo leis religiosas que alcançaremos a evolução, pois se assim fosse Jesus Cristo nos diria que o caminho, a verdade e a luz seria a encarnação “Moisés” (transmissora dos Mandamentos de Deus). Não será buscando comprovações científicas que conseguiremos chegar a Deus, pois senão a salvação seria a encarnação “Kardec”.

Apenas quando vivermos colocando o “amor em ação”, ou seja, entendendo e copiando os atos de Jesus Cristo é que alcançaremos a elevação.

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Só sei que nada sei

No seu primeiro discurso depois da iluminação, Sidarta Guautama fala que existe um caminho que leva ao fim do sofrimento. Este caminho recebe o nome de “Nobre Caminho Óctuplo”. Ele é composto de algumas etapas, mas neste estudo falaremos apenas de três, que são, no meu entender, os fundamentais...

Buda diz que é preciso ter um esforço correto para se atingir o fim do sofrimento. Antes de falarmos desta etapa do Nobre Caminho Óctuplo, é importante ressaltar o entendimento da palavra “correto”.

Quando fala de alguma coisa correta, Buda não está querendo se referir a algo certo, mas sim a algo que conduz a um determinado resultado. O esforço correto ao qual o Iluminado se referiu é aquele que leva ao fim do sofrimento e não o certo. Todo esforço é certo, desde que ele se transforme num instrumento para se alcançar determinado objetivo, mas passa a ser infrutífero quando ele é realizado em sentido contrário ao que se é buscado.

Sendo assim, ao dizer que existem atitudes corretas, Buda está afirmando que existem atitudes que podem conduzir ao fim do sofrimento e existem atitudes que não levam ao fim do sofrimento...

Voltemos, então, ao esforço correto. Qual o esforço correto que pode levar ao fim do sofrimento? Levando-se em conta o que Joaquim nos ensinou na série de palestra sobre a felicidade, é aquele que seja direcionado para o conhecimento do nosso mundo interior, para o conhecimento do que somos e queremos na realidade.

Este é o esforço correto que Buda ensina. Precisamos nos esforçar para nos conhecermos internamente, para nos desmascararmos para nós mesmos e conhecer a realidade que acreditamos viver. De nada adianta se esforçar para conhecer o mundo externo, pois como vimos ele é fruto dos nossos pensamentos e não real como imaginamos ser.

Sendo assim, o esforço correto, então, leva à atenção plena correta. O ensinamento do Buda que leva ao fim do sofrimento é o esforçar-se para ter atenção plena em seus próprios pensamentos para poder atingir a consciência de que o mundo não é o que imaginamos ser, mas nós é que dizemos o que ele é através de nossos pensamentos.

Continuando a percorrer o Nobre Caminho Óctuplo vemos, então, que o esforço correto para uma atenção plena correta nos levará à compreensão correta dos acontecimentos da vida. Esta compreensão, como eu disse, não é a certa, mas aquela que nos leva ao fim do sofrimento. Antes de falarmos dela, vamos entender as compreensões que temos hoje sem usar este esforço correto...

Existem dois tipos de compreensões que chegamos sobre a nossa existência: uma espontânea e outra arquitetada.

A compreensão espontânea é aquela que nasce espontaneamente, ou seja, que não é construída através de pensamentos audíveis. Por exemplo: qual a sua compreensão do acontecimento que está vivendo neste momento? Você acredita que está lendo este texto. Para chegar a ela não foi preciso pensar, raciocinar: ela surgiu espontaneamente em nós...

A compreensão arquitetada é aquela que se chega através de um processo mental. É quando “pensamos” sobre qualquer assunto e vamos desenvolvendo o tema até chegarmos a uma conclusão. Por exemplo, quando pensamos sobre alguém. Quando pensamos em uma pessoa sempre a analisamos e vislumbramos os prós e contras e determinamos um rótulo para ela. Estes pensamentos são audíveis, ou seja, temos consciência do que pensamos...

Todas estas duas formas de pensar, no entanto, são não corretas no sentido da busca da felicidade. Por que? Porque como Joaquim ensinou todo pensamento é construído pela mente com verdades disponíveis na memória e sofrem ação do nosso egoísmo intrínseco que estão sempre buscando ganhar, ter o prazer, alcançar a fama e receber elogios.

Não importa qual compreensão se tenha sobre um acontecimento da vida, ela é falsa, pois não condiz com a Verdade, com a Realidade, mas atende sempre a busca egoísta da mente que para alcançar seu intento gera as posses e paixões.

Mas, então, qual é a compreensão correta de cada acontecimento da vida? É aquela que atende a Verdade que está encoberta pela razão, é aquela que atende a Realidade que a vontade de ganhar e ter prazer não nos deixa ver.

Podemos conhecer a Verdade e a Realidade, aquelas que se iniciam com letras maiúsculas porque são Absolutas? Joaquim diz que não... O amigo espiritual afirma que a mente humana é incapaz de conhecer a Verdade e a Realidade porque não possui percepções para tanto nem muito menos conhecimento do Universo como um todo. Além do mais, mesmo que percebêssemos a Realidade, não teríamos rótulos (descrições) disponíveis na memória para poder ter uma compreensão daquilo...

Ora, se não podemos compreender a Verdade e a Realidade e a compreensão correta é aquela que espelha estes dois fatores universais, como então alcançá-la. Simples: conhecendo a realidade da compreensão que se tem hoje.

Em qualquer caso das compreensões que se tem hoje (espontânea ou arquitetada) há um ponto em comum. Que ponto é este? Elas são fruto do egoísmo intrínseco presente em todos os seres humanos...

Aí está a compreensão correta dos acontecimentos de nossa existência carnal que podemos alcançar: tudo é só op meu egoísmo em ação...

Sabe o pensamento que lhe diz que determinada pessoa não presta? Ele não é Real, mas apenas fruto da sua ação egoísta... Sabe o pensamento que lhe diz que este texto está certo ou errado, ele não é Real: trata-se apenas do resultado do seu egoísmo...

Nada é o que penso ser, mas tudo que penso ser ou estar vivendo é apenas fruto do meu egoísmo: esta é a compreensão correta que pode nos levar a eliminar o sofrimento. Quando a atingimos podemos atingir a parcela da Verdade e da Realidade que podemos alcançar: as coisas não são o que dizemos ser, mas apenas falamos isso porque temos compreensões fomentadas pela ação do egoísmo que está intrínseco em nós...

Esta compreensão, que é única para qualquer coisa da vida já que tudo que se vive é criado da mesma forma (pela mente através do pensamento), é a compreensão correta dos acontecimentos da vida que podemos ter.

Agora, reparem uma coisa: eu não falei em compreender nada, mas apenas em ter a compreensão de que o que imaginamos ser não é. A compreensão correta não é chegar a conclusão alguma, mas apenas concluir que nada poderá saber. A única coisa que posso compreender é que não sei de nada, pois tudo que sei é a mesma coisa: uma compreensão formada com minha tendência egoísta...

De nada adiantar se buscar a Realidade e a Verdade, pois para atingirmos estas coisas precisaríamos executar um raciocínio e novamente o egoísmo estaria presente fazendo-nos alcançar uma nova compreensão viciada pela busca do ganhar.

Portanto, o melhor – melhor não no sentido de bom, mas de busca da felicidade – que se tem a dizer, o melhor que se pode concluir é que só sei que nada sei...

Reforma íntima - Textos - Volume 08

Verdades de hoje e de amanhã

Quem ainda não deixou de gostar de alguém e depois passou a gostar? O desgostar pode ter sido motivado por verdades repassadas por outras pessoas. Através do raciocínio e das informações recebidas, fazemos um julgamento; mas quando adquirimos conhecimento, ou seja, vemos que a informação estava errada, alteramos nossa verdade.

Dessa forma, o parecer inicial não poderia ser verdade porque verdade não se altera. Se a verdade um dia se transformar em mentira é porque nunca foi verdade, pois para sê-la, tem que valer por toda a eternidade.

As verdades ditadas por fatos que se está presenciando ou que estão acontecendo, são sujeitas às nossas interpretações. Ver uma pessoa atirar em outra e matá-la, pode não ser uma verdade, pois ainda não se conhece os motivos dos disparos. A pessoa tanto pode estar matando a outra como agindo em defesa própria. Mesmo o que se vê está sujeito à interpretação de quem vê.

Tudo o que se sujeita a uma interpretação, que se sujeita a conhecimentos, não pode ser definitivo. A começar pela maior mentira que uma pessoa pode acreditar como verdadeira: a carne que o espírito ocupa.

As pessoas acham que esta carne é ela, mas um dia com toda certeza a carne irá acabar e a pessoa não. Ninguém, por mais que acredite no mundo espiritual, consegue se ver sem a carne. Por esse motivo o perispírito tem a mesma forma da carne. Assim a ilusão de forma permanece.

Essa é a maior mentira na vida de uma pessoa. A própria carne que o espírito veste e que acha que nunca acabará. Um dia, certamente, acabará. Ela se transformará e as pessoas continuarão vivendo sem ela. O espírito é a verdade eterna, a carne é a mentira da vida. Não importa o sexo nem a forma encarnada agora, pois o espírito, o dom do raciocínio e o poder da inteligência são eternos. O espírito nunca morrerá porque é de Deus e tudo que se origina Dele é verdade.