Unidade - Capítulo 1

Versículo 9

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Faixa 1

 9. A mente é livre e sem limites como o espaço, é onipresente, a mente é tudo e no entanto. a mente não é a verdade mais elevada. O Atma se acha além da mente.

Ao longo da existência a humanidade aprendeu a valorizar a mente, ou seja, o centro de “criação” do homem. Hoje cada vez mais ela ganha importância para a humanidade.

O ‘poder da mente’, ou seja, a capacidade de conhecer e reconhecer as coisas do mundo sempre foi extremamente valorizado pela humanidade, mas nos dias de hoje ele ganha um valor muito mais alto, pois cada vez mais o homem se entrega na busca desenfreada de criar e adquirir novos conhecimentos.

A tal ponto isso acontece que hoje o homem passa a valer por aquilo que sabe. A cultura é hiper valorizada transformando a vida do ser humanizado numa busca desenfreada pelo conhecimento. No entanto, apesar deste aparente poder que o ser humanizado atribui a mente (conhecimento), Dattatreya nos diz: que ela não é nada, se comprada ao atma, ao espiritual. Precisamos, então, entender esta afirmação.

Eu diria que a humanidade precisa parar de valorizar a cultura material. O ser humanizado super valoriza a obtenção de cultura, mas tudo que surge desta atividade é maya, é ilusão. Todo conhecimento humano é fruto de pensamento, por isso não é Real.

NOTA - Tudo que surge do contato de um elemento pensante com um pensado é um maya. Ensinamento de Krishna.

Esses mayas são idolatrados pela humanidade porque eles criam um falso poder ilusório e uma fama que não permite a Unidade com Deus. O sábio material, ou seja, aquele que conhece muito sobre a vida material é bajulado e acredita-se super poderoso. No entanto, Cristo ensina: louvado seja Deus que mostra aos simples o que esconde dos sábios.

A verdadeira sabedoria está na simplicidade e não no excesso de cultura. Para ser simples (o verdadeiro sábio) o ser humanizado precisa acabar com o dualismo, com os mayas, com as ilusões, ou seja, eliminar o fruto do contato do pensante (ele mesmo) com o pensado: o seu saber.

Para se alcançar a verdadeira sabedoria, o que precisa ser valorizado não é a mente, não é o raciocínio, não é a capacidade de discernir, não é a cultura, mas o atma, o espiritual.

O espiritual não é a cultura (conhecimento) das coisas do espírito, mas, como todos os mestres nos ensinaram, é o sentimental. O verdadeiro sábio possui a sabedoria de sentir e não o conhecimento expresso em idéias e verdades. O verdadeiro sábio sabe amar e de nada mais sabe.

O homem deixou de amar porque quer ser culto e quanto mais cultura adquire menos ama. Quanto mais conhecimento (cultura racional) adquire, menos cultura sentimental tem.

É isto que o mestre está nos ensinando. O ser humanizado precisa voltar a ser simples: amar incondicionalmente o tempo inteiro. No entanto, para alcançar este estágio não pode haver a razão, ou seja, os conceitos dualistas que condicionam o amar.

O dual (‘bom’ ou ‘mal’, ‘certo’ ou ‘errado’, ‘bonito’ ou ‘feio’) é o fruto da lógica, do raciocínio, da compreensão que se tem a partir do excesso de conhecimentos. Quanto mais o ser humanizado ‘compreende’ as coisas do mundo, menos ele ama incondicionalmente.

Quando o ser utiliza a mente (cultura racional) ao invés do atma (cultura espiritual) impõe através do raciocínio e do discernimento condições para amar. “Hoje não posso amar porque estou com dor”; “aquele não posso amar porque é um ladrão”; “aquele outro não posso amar porque é feio”.

Todos os mestres nos ensinaram que devemos amar a tudo e a todos indistintamente. Cristo conviveu com as prostitutas e os ‘cobradores de impostos’ (gente considera ‘ruim’ na época) e foi ao ladrão que ele garantiu a entrada no reino do céu quando não o fez aos seus próprios apóstolos.

Se Cristo raciocinasse sobre as pessoas a quem amou como fazem os seres humanizados hoje, não teria amado. Aos cobradores de impostos diria que era impossível por que eram servidores do poder estrangeiro, às prostitutas porque sua profissão era indigna de Deus e ao ladrão, garantiria que receberia como recompensa por seus atos o fogo do inferno, como age os cristãos de hoje.

No entanto, todo esse processo de ‘ver o mundo’ surge do raciocínio, do conhecimento, da lógica racional. Esta lógica acaba com a máxima do amor incondicional porque divide o ‘tudo’ em partes: o que devo amar e o que não devo.

 Este é o ensinamento do mestre: abandonar a razão apesar dela aparentemente ser potente para o ser humanizado para poder se entregar ao sentimento, ao sentimental. Somente quando o ser humanizado for sentimento puro, sem lógica ou razão para amar, poderá aproximar-se de Deus.

 Criar uma aura amorosa amando sempre é servir-se de um escudo protetor que impede o acesso de qualquer negativismo. Por mais que o homem queira defender-se através dos seus conhecimentos sempre estará sujeito a infelicidades.

A cultura jamais conseguiu trazer a felicidade plena, mas o amar sim. Por isso eu garanto: amar é uma arma de defesa muito mais potente que qualquer poder mental.

Este entendimento e a sua prática é fundamental para qualquer espírito que pretenda evoluir espiritualmente: deixar de idolatrar a mente (raciocínio, discernimento, cultura) e passar a idolatrar o sentimento, o amor, que em suma é o próprio Deus: Deus é o Amor.

Para promover a elevação espiritual você não precisa de nenhum conhecimento técnico científico sobre o mundo espiritual, mas apenas aprender a amar incondicionalmente. Não precisa nem mesmo reconhecer a existência do espírito depois da vida, ser reencarnacionista ou conhecer ‘de cor e salteado’ os textos bíblicos.

Aliás, estes conhecimentos muitas vezes atrapalham. Veja, se você acredita piamente na reencarnação e está frente a outro que não, irá deixá-lo de amar. O criticará, dirá que é atrasado espiritualmente, só porque ele não acredita naquilo que você acha certo. O que você acaba de fazer é não ver a trave do seu olho e concentrar-se apenas no cisco do olho do próximo.

Sem este conhecimento talvez você pudesse amar o seu irmão. Sem ter que defender o seu ponto de vista, o seu conhecimento, poderia amá-lo incondicionalmente sem criticá-lo. Aí você estaria cumprindo aquilo que é necessário para a sua evolução espiritual.

Mas, enquanto tiver que defender suas idéias, necessariamente atacará as do próximo. Com isto, deixou de amar a todos e a tudo indistintamente.

A cultura não leva a Deus, portanto, mas apenas o amor e ele não existirá enquanto houveres idéias, certezas e verdades dentro de cada um.