Saber e conhecer

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Transite entre as coisas sem se apegar

Há um ensinamento muito interessante que já comentamos e vou usá-lo como base para a nossa conversa de hoje. Ele está no Bhagavad Gita. Krishna afirma: o verdadeiro sábio transita entre as coisas do mundo sem apegar-se a elas.

Vamos entender essa afirmação, pois servirá como guia para o assunto que vamos conversar hoje.

Quem é o verdadeiro sábio? O ser humanizado que vocês afirmam que alcançou a elevação espiritual, ou seja, aquele que consegue vivenciar a felicidade pura e eterna.

Sobre esse Krishna afirma que ele transita entre as coisas do mundo, ou seja, vive com tudo que existe no mundo material. Quando fala assim, o Bendito Senhor não se refere apenas aos objetos, mas também aos elementos da natureza, às pessoas e aos acontecimentos. Refere-se a esses elementos, pois eles formam a totalidade as coisas do mundo.

Voltando a afirmação de Krishna, podemos, então, entender que aquele que para o Bendito Senhor aquele que alcança a felicidade pura e eterna transita entre as coisas do mundo. Ele não está em outro mundo, mas continua convivendo com os objetos, as demais pessoas e os acontecimentos.

Na verdade, os dois existem no mesmo local. A diferença entre os dois é que o sábio transita entre as coisas sem estar apegado a elas e o não sábio está apegado.

Apesar de agora termos quase uma noção completa do ensinamento de Krishna para prosseguirmos no nosso assunto de hoje, para a perfeita compreensão do tema precisamos entender ainda uma coisa: o transitar. O que é transitar entre os elementos do mundo? É viver a vida humana. Viver a vida humana é transitar entre os objetos, as coisas da natureza, as demais pessoas e os acontecimentos desse mundo.

De posse dessas informações chegamos, então, à compreensão perfeita do ensinamento de Krishna. O Bendito Senhor afirma que o sábio vive com todas as coisas desse mundo, mas não se apega a nada que faça parte do mundo material.

Essa é a compreensão final desse ensinamento que norteará a nossa conversa de hoje: aquele que é feliz verdadeiramente vive a sua vida relacionando-se com tudo o que existe sem apegar-se às coisas deste mundo. É a partir dessa compreensão que vamos falar agora sobre como viver desapegadamente. Já abordei este assunto de outras formas, mas desta vez vou tentar ser definitivo nesta questão.

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O cenário da vida humana

O que é a vida humana? Por definição direi que ela é o fruto da ação dos cinco agregados: forma, sensações, percepções, formações mentais e memória. A vida humana de cada ser é o que surge da ação dos cinco agregados.

Sei que vocês acham que existe uma vida externa e que a vivem, mas isso é ilusão. Não existe uma vida externa, mas sim uma ação interna dos cinco elementos que se agregam ao ser quando do advento. É essa ação que cria determinada coisa que vocês chamam de vida.

Quase são os cinco agregados? A forma, as sensações, as percepções, as formações mentais e a memória. Esses são cinco processos que não existem quando o espírito está em sua própria natureza, mas que se agregam a ele quando encarna, assume uma personalidade humana.

A vida humana é o resultado da ação da forma das coisas, das sensações e formações mentais geradas pela mente, das percepções geradas pelos órgãos do corpo físico e das informações que são arquivadas na memória como verdades e realidades. Por esse motivo, é importante se falar um pouco desta criação.

Quando falo que a vida humana é resultado da ação da forma das coisas, não estou falando apenas no desenho delas. Tudo aquilo que é percebido e que por isso é tratado como existente faz parte da ação deste agregado.

Somente aquele possui esse agregado consegue perceber elementos externamente. Sem a ação do agregado forma, não existiria o mundo exterior.

Se você, por exemplo, olhar para o chão verá algo que existirá. Por que isso acontece? Porque está vendo uma forma. Agora, se olhar para o ar, onde não há formas definidas, não verá nada e por isso, para você, o que existe lá não existirá.

À ação do agregado forma se junta outra: a das percepções. É da ação da forma com a da percepção que surge o cenário da vida.

Toda forma que é percebida pelo ser humanizado forma o cenário da vida, ou seja, tudo aquilo com o que convive é fruto da ação desses dois agregados que surgem depois do advento. Isso quer dizer que o que não possui forma – e por isso não é percebido – não faz parte da vida de um ser humanizado.

Para falar disso, já usei por diversas vezes um mesmo exemplo. Olhem ao seu redor e me digam o que existe entre os seus corpos e o das outras pessoas que estão ao seu redor.

Não estou falando de algo sem forma, que nunca tenha sido percebido, mas de uma coisa com a qual vocês convivem diuturnamente e possui forma. Só que quando está ligado ao ar não percebem nem se dão conta de que o elemento está ali. Outro detalhe: segundo a ciência, vocês necessitam deste elemento para existirem.

Conseguiram descobrir? Acho que não... Estou falando da água que está presente no ar. Aquilo que chamam de unidade relativa do ar.

Sim, entre cada um de vocês existe água. Esse é um elemento que vocês conhecem a forma. Por isso deveriam estar vendo. Só que quando ela se liga ao ar está em um tamanho não perceptível. Por causa disso, não sabem que estão rodeados por ele. É por este motivo, apesar de ser imprescindível, a umidade que está no ar não faz parte do cenário da vida que estão vivendo.

Este é um grande exemplo que nos mostra que a vida que vivemos não está externamente a nós mesmos, mas sim dentro de cada um. Se os elementos não forem percebidos pela mente, ou seja, não sofrerem uma ação de reconhecimento por parte de um agregado, não faz parte do mundo de cada um. Esta é a primeira conclusão que chegamos, mas vamos mais adiante para poder bem compreender o tema de hoje.

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O enredo da vida

O cenário da vida, apesar de não imaginarem assim, é estático. A movimentação que a mente confere às coisas geradas pela percepção e pela forma, que chamarei de enredo da vida, é gerada por mais dois elementos que se agregam ao ser depois do advento: as formações mentais e as sensações ou sentimentos. São as ações desses dois agregados que conferem uma movimentação àquilo que possui forma e por isso é percebido.

A partir de tudo isso, posso dizer que a vida de cada ser humanizado nada mais é do que formas que são percebidas e para as quais são criadas histórias através do pensamento. Para essas são atribuídos valores sentimentais pelo agregado sensação.

Aí está a sua vida. Tudo que você participa enquanto se imagina vivo surge a partir da ação desses agregados ao invés de surgirem externamente como imagina.

A formação mental tem ainda mais uma função que faz parte do enredo da vida: a de criar a consciência de existir o que é criado pela forma e percepção.

Você é exposto às formas e percepções, mas só acredita que elas são reais porque a formação mental afirma isso. Se não houvesse uma formação mental criando a consciência de existir, o que é criado pela forma e percepção não existiria.

Através dessa criação, a formação mental vai criando enredos para a vida: o seu carro, a casa dos outros, a certeza do que viu, etc. Sem uma formação mental que gere uma consciência, só existiria formas sem sentido. A vida não teria um enredo.

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Memória

Faltou falarmos do agregado memória. Vamos fazer isso agora...

A vivência da ação dos agregados, ou seja, o fato de imaginar que aquilo que eles criam está acontecendo externamente leva a mente a gerar verdades e realidades sobre o cenário e o enredo da vida. Essas informações são armazenadas naquilo que chamam de memória. Ou seja, tudo o que se lembra de ter vivido ou não, na verdade nada mais é do que uma ação do agregado formação mental com o que foi percebido e não a lembrança de uma realidade.

As informações que são criadas pelo agregado memória servem para justificar os valores que a formação mental cria. Por exemplo: você só sabe que está nesse ambiente porque a sua memória cria a ideia de já ter conhecido esse espaço e o rótulo que se dá a ele: minha casa, lugar de encontros, etc. Se a memória não criasse essas informações, apesar de ter a consciência de estar aqui, não saberia onde está e o que é o aqui que está consciente de estar.

Eis aí, portanto, como se forma cada instante que você vivencia. Apesar dessa ser a verdade, acredita que existe um ser externo que está falando e você ouvindo: isso não é real. O que está acontecendo aqui e agora é a ação do agregado forma e percepção criando um cenário onde existe você, quem aparentemente está falando e todas as demais pessoas que pode perceber. Além disso, o agregado formação mental está criando um enredo para esse momento: o que você imagina estar ouvindo. Mais: propõe uma sensação (sentimento, emoção) para o que imagina estar ouvindo.

Tudo o que a razão cria através da ação dos agregados é justificado por informações que estão sendo criadas na memória. São elas que justificam o critério de real que a mente está aplicando ao que está sendo vivenciado.

É a soma de instantes semelhantes a esse que acabamos de descrever que vocês chamam de vida.

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Apego às coisas

A partir dessa análise, voltamos ao ensinamento de Krishna para podermos continuar no assunto da conversa de hoje.

Se o Sublime Senhor afirma que o feliz transita durante a vida entre as coisas deste mundo sem apegar-se a ela, a partir da análise que fizemos, temos que compreender que o que realmente está dizendo é que o verdadeiro sábio vivencia um cenário e um enredo gerados pelos agregados sem apego ao que é formado pela razão Essa compreensão nos leva ao último assunto que precisamos abordar antes de começar a conversar sobre o conhecer e o saber: o apego às coisas...

O que é o apego a alguma coisa? É dar ao que é vivido o valor de real, de bom, justo ou certo. Viver qualquer criação mental coma consciência de que elas são verdadeiras, reais, é estar apegado a alguma coisa, pois quem crê na mente está apaixonado por algo.

Falei em bom, justo e certo e por causa disso devem estar imaginando que o apego existe apenas quando se vivencia positivamente alguma movimentação gerada pelos agregados, mas isso não é real. Mesmo quando se vive como realidade a declaração da mente que afirma que alguma coisa é errada, injusta ou má, está havendo um apego, pois quem vive estas qualificações como reais considera-se certo.

Quem diz que algo não presta está vivendo um apego, pois se considera certo e com isso está demonstrando uma paixão por algo. Portanto, mesmo que alguém viva como real a negatividade que a mente cria para as coisas, o apego continua existindo, pois algo só pode se considerar negativo quando se conhece o positivo daquilo. Esse conhecimento caracteriza o apego e não o que é dito.

Aplicando tudo o que vimos aqui ao ensinamento que Krishna usou como caminho para aquele que quer aproveitar essa encarnação, posso, então, dizer que alcança a elevação espiritual aquele ser que encarnado não dá o valor de certo, verdadeiro justo ou bom para o fruto da ação dos cinco agregados, ou seja, àquilo que é chamado de vida. A partir desta compreensão podemos entrar no assunto de hoje: conhecer e saber.

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Conhecer

O que é conhecer algo? É ter informações sobre as coisas.

Eu, por exemplo, lhes conheço e vocês me conhecem. Isso, no entanto, não quer dizer que eu sei quem são vocês ou vice versa. Sem medo de errar, posso dizer que nos conhecemos, mas se disser que sei quem são vocês estarei vivendo um apego, pois estarei convivendo com uma informação gerada pelos meus agregados como se fosse real.

Nesse simples exemplo está a diferença entre o ser que está apegado às coisas deste mundo e aquele que não está. Todo aquele que está desapegado, que transita entre as coisas sem apego, apenas as conhece, ou seja, tem a consciência de estar recebendo os frutos das ações dos agregados e não realidades. Já quem está apegado, sabe tudo, ou seja, acredita na realidade do cenário e do enredo da vido que os agregados criam.

Sendo assim, desapegado, sábio é aquele que conhece as coisas desse mundo, mas não sabe de nada. Já o apegado, o não sábio, é aquele acha que tudo que vive é real ou certo.

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Desapego

Sobre essa visão do que é desapegar-se há algo muito importante para falarmos.

Muitos afirmam que o desapego se consiste em não ter as informações, não ter um enredo para vida, mas isso é impossível. Como ensina Krishna, o verdadeiro sábio transita entre as coisas do mundo, ou seja, recebe as informações geradas pelos agregados. Ele não vive no nada, mas convive com a informação da mente que cria a vida.

Aquele que aproveita a encarnação e por isso vivencia a verdadeira felicidade nesse mundo, sempre terá informações geradas pelos cinco agregados. Se não as tivesse não haveria mais vida, ou seja, estará morto. Se a presença dos cinco agregados é que cria a vida, aquele que não é mais alvo da ação deles está morto e por isso não tem mais a encarnação para poder realizar o trabalho da elevação espiritual.

A formação da vida depende da existência do pensamento que é formado a partir da ação dos cinco agregados. Sem o pensamento não há vida.

Na verdade, vocês não estão me ouvindo agora ou lendo essas palavras: estão tendo um pensamento que afirma que isso está acontecendo. Não estão sentados em uma cadeira. Essa consciência só existe por conta da ação dos agregados forma e percepção que estão sendo usados por uma formação mental que cria um cenário onde há a consciência de estarem sentados numa cadeira.

É o pensamento que cria a forma seu corpo, a forma cadeira e a que mostra o contato dos dois elementos. Também é ele que gera uma ideia ‘estar’ sentado. Sim, uma ideia estar sentado, porque não existe sentado ou em pé: a ideia de estar de uma ou de outra forma.

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Para estar vivo é preciso que a vida seja criada

Eis aí, portanto, o primeiro aspecto que precisa ser levado em consideração quando se fala na diferença entre conhecer e saber: conscientizar-se de que há a necessidade de se conhecer as coisas, ou seja, de ter formações mentais geradas a partir da ação dos agregados ao ser.

É preciso ter a consciência de que ninguém pode ter uma vida sem conhecimentos, informações da existência das coisas deste mundo. Da mesma forma, é preciso saber que ninguém pode existir nesse mundo sem receber sensações a respeito das coisas, pois elas fazem parte do cenário da vida.

Não há ninguém que receba uma informação que cria um cenário para a vida sem que a ela não se junte uma sensação sobre o que está sendo vivido. Todos que me ouvem, por exemplo, ou seja, que possuem a informação de estar me ouvindo, estão recebendo também alguma sensação a respeito desse fato: o que está sendo dito é certo ou errado, bonito ou feio, bom ou mal.

Sendo assim, tanto as formas e percepções bem como as sensações, fazem parte do conhecimento sem o qual não existe vida. Isso o homem que consegue viver a felicidade plena e eterna, o sábio verdadeiro, sabe. É por isso, também, que Krishna afirma no início do seu ensinamento que esse homem transita entre as coisas desse mundo, ou seja, convive com essas informações.

Tudo que acontece ao redor o homem feliz tem conhecimento, assim como vocês. A diferença entre vocês que ainda estão buscando a felicidade e ele, aquele que já a alcançou, não está na quantidade de conhecimento, mas sim no saber.

Vamos, então, falar deste aspecto, pois a partir de tudo o que dissemos aqui fica claro que a diferença entre ser feliz ou não está no saber e não no conhecer.

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Saber

O que é saber alguma coisa? É creditar o valor de verdadeiro, de certo, de bom ao conhecimento que é gerado pela ação dos cinco agregados, que em última análise é a própria vida.

Eis aí, portanto, a diferença entre saber e conhecer. Conhecer é ter uma informação; saber é ter certeza que aquela informação é real e verdadeira.

Se o saber não faz parte da vivência do sábio, daquele que vivencia a felicidade plena, já que não é apegado às coisas desse mundo, quer dizer que para aproveitar a encarnação e alcançar a elevação espiritual é preciso não saber nada. É preciso ter conhecimento, ou seja, ser alvejado pela ação dos cinco agregados, mas não conferir ao que chega o valor de real, certo, bom e justo. Vou dar um exemplo do que estou dizendo...

Neste momento você está sendo alvejado pela personalidade humana com a informação de que está sentado numa cadeira ouvindo uma palestra. Ao recebê-la, não a viva como verdade, como realidade. Não tenha certeza de que isso está acontecendo.

A vivência desse momento com essa consciência poderá lhe proporcionar a felicidade agora, pois quem sabe alguma coisa não consegue ser feliz. O que consegue é viver o prazer quando as informações geradas pela ação dos agregados coincidem com os desejos que a mente possui.

Quem não se liberta da ação do saber, do ter a certeza que a informação gerada pelos agregados é real, jamais conseguirá ser feliz verdadeiramente. Por que isso acontece? Porque a infelicidade nasce da contrariedade.

Como contrariedade é uma sensação, uma emoção, posso dizer que é uma ação dos agregados do ser. Ora, se você está vivendo essas criações como realidade, certamente acreditará na contrariedade criada e por isso não conseguirá alcançar a felicidade neste momento. Viverá somente o que for criado pela mente a partir da ação dos agregados: a contrariedade.

Na verdade você não está realmente contrariado com nada que acontece. A ideia de estar existe apenas porque vive a criação da mente que afirma que o certo é uma coisa e que está acontecendo diferente no mundo externo como real. Ou seja, só há essa ideia porque você acredita em tudo que é criado pelos elementos que se agregam ao ser com o advento.

Só sofre, ou seja, não vive a felicidade plena, aquele que sabe das coisas, aquele que está apegado ao que é gerado pela ação dos agregados. É por isso que Krishna chama de sábio aquele que transita pelas coisas do mundo desapegados delas, sem acreditar nelas.

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Desapegar desacreditando

Aquele que alcança a felicidade pura e eterna conhece tudo, mas não sabe de nada. É quem diz a si mesmo que possui informações sobre as coisas deste mundo, mas não dá a elas o valor de verdadeira ou não.

Querem exemplos? Dizem, por exemplo, que em 2012 haverá um evento que mudará o sentido das encarnações. Aquele que não é sábio acredita nisso; aquele que consegue viver feliz possui a mesma informação, mas não convive com ela com certeza de que isso acontecerá.

Dizem que amanhã vai chover. Aquele que não é sábio acredita; quem consegue promover a reforma íntima não sabe se choverá ou fará sol.

Dizem que o estudo leva ao crescimento. Quem não é sábio acredita nisso e entrega-se ao estudo. Aí a mente não cria o crescimento, seja em que campo for, e a contrariedade de não ter alcançado o que era esperado. Como esse ser vive apegado ao que a mente cria, ou seja, possui saberes, vivencia o sofrimento da contrariedade. Isso não aconteceria com o sábio, pois ao possuir essa mesma informação e entregar-se ao ato de estudar, não acreditaria que isso o levará a ascender.

O sábio sempre lida com as informações geradas pela mente com incerteza. Tem todas as informações que os não sábios possuem, mas não sabe se estão certas ou erradas. Tem a informação do evento de 2012, da possibilidade chover amanhã ou de crescer se entregar-se aos estudos, mas não as vive como certezas. Por isso, mesmo que estas não se concretizem, não sofre contrariedades.

Alguns dizem que o sábio é do sexo masculino ou feminino. Como não trata seu gênero como verdade, não sofre quando a sua masculinidade ou feminilidade é atacada. Alguns dizem que o sábio é um ser racional, mas como não acredita nas verdades geradas pela mente não sofre quando o que pensa como certo é contestado.

Para o verdadeiro sábio tudo pode ser ou não ser. Ele nunca se compromete com nada do que é gerado pela mente. Esse é o trabalho do desapego que faz para poder ser sábio, ou seja, para poder viver a felicidade que Deus tem prometido.

O sábio tem a informação sem saber se aquilo é certo, verdadeiro, justo ou bom. Sabe que não importa o que viva, tudo é apenas um conhecimento gerado pelos elementos que se agregam a ele com o nascer e não uma verdade ou realidade. Por isso sabe que apostar nas informações que recebe não é viver a realidade do universo. Sabe mais: que quem vive fora desta realidade conhece apenas o prazer e a dor.

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Duvide de tudo

Quem aposta as suas fichas nas informações que a mente gera, não imposta o que aconteça, estará sempre perdendo, pois tanto o prazer como a dor afasta de Deus. Por isso, o sábio se desapega do saber.

Só entendendo o desapego do saber é que podemos compreender o restante do ensinamento do Bendito Senhor que estamos usando desde o início desta conversa: o verdadeiro sábio se desapega das coisas desse mundo e por isso vive com cara de bobo. Na hora que disser a si mesmo que não sabe de nada, ou seja, que duvidar de tudo que a mente cria, viverá com cara de bobo, de quem nada sabe...

Antes de continuarmos, deixe-me apenas reforçar um aspecto da vivência das coisas do mundo pelo sábio. Não estou falando em duvidar de algumas informações, mas sim de todas as criações dos agregados. Estou falando em duvidar de todas as formas que são percebidas, de todas as sensações e declarações que as formações mentais criam. Duvidar do que se lembra de ter acontecido.

Por exemplo. Num determinado momento você está recebendo a informação de que por conta do que se lembra sobre momentos semelhantes que foram vividos, deve estar nervoso agora. Duvide de tudo que forma essa consciência ao invés de apenas querer se libertar do nervoso.

Duvide da lembrança da vivência anterior, duvide da consciência que é formada neste momento. Se não duvidar dessas coisas, dificilmente conseguirá se libertar da sensação que está sendo criada neste momento. Se achar que sabe o que aconteceu anteriormente e o que está acontecendo agora, certamente viverá qualquer sensação gerada pela mente como real, como necessária de ser vivida.

Se neste momento está recebendo a sensação de ter raiva por conta do que está acontecendo e por causa de elementos de situações anteriores e acha que essa raiva é certa, aceitou as justificativas da mente para tê-la. Permanecendo ligado às criações que mente faz de momentos anteriores, permanecerá ligado às que ela está fazendo no seu agora. Com isso a vivência da raiva é inevitável.

A vivência da felicidade nesse momento não depende apenas do desapego às sensações que são geradas num momento, mas de tudo o que está presente nesse momento, mesmo inconscientemente. Por isso o verdadeiro sábio desacredita de tudo que está envolvido na formação mental daquele momento.

O desapego a tudo que a mente cria é a diferença entre conhecer e saber que leva o ser a aproveitar a encarnação e viver desde já a felicidade que Deus tem prometido. Muitos não conseguem realizar este trabalho porque se concentram em não conhecer, o que é impossível.

Outra coisa que dificulta este processo é que muitos ainda se prendem a alguns saberes, libertando-se apenas de algumas informações e não de todas. Por isso sofrem em alguns momentos e em outros não.

Como não conseguem a vivência plena da felicidade, consideram-se incapazes de realizar o trabalho da encarnação. Isso é falso: todos são capazes de alcançar a sabedoria. Para isso basta apenas não saber nada...

Para nada saber é preciso aplicar a tudo que vem á mente o pode ser ou pode não ser, pouco importando se em sua memória existe a informação de que o que está sendo dito já foi comprovado que é verdadeiro ou real. Quem aplica o não saber a qualquer informação gerada pela ação dos cinco agregados não terá nada que lhe criará a contrariedade e com isso conseguirá viver a felicidade plenamente.

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Não muda nada

Portanto, bem compreender a diferença entre saber e conhecer é importante para todos aqueles que querem aproveitar essa encarnação e aproximar-se de Deus e viver a felicidade que Ele tem prometido. Sei que já falei diversas vezes sobre esse assunto, mas mais uma vez volto a ele, pois apesar de tudo que já ouviram, vocês ainda acham que se conhecem, que sabem o que estão fazendo, que conhecem a verdade sobre si e sobre os outros, mas principalmente, ainda acham que sabem que tem que se mudarem.

Além de não poderem mudar a vida de vocês, já que elas são a teatralização dos gêneros de provações pedidos pelos espíritos antes da encarnação, vocês ainda não entenderam que essa mudança, ao invés de mostrar uma evolução, mostra apenas uma prisão àquilo que os cinco agregados criam. Quem é aquele que quer se mudar? Aquele que sabe o que é o certo a ser feito e que sabe que está fazendo errado. Ou seja, é a completa prisão aos conhecimentos gerados pela mente.

Mas, digamos que consiga mudar-se. Neste caso, pergunto: se tudo o que é vivido é apenas uma criação dos cinco agregados, quem criará a mudança? O próprio ego... E, se a mudança será a mesma coisa do que existia antes, apenas uma declaração dos agregados, o que mudou?

Saiba que nada nessa vida jamais muda, pois não importa o que está acontecendo, não há uma vida externa, mas apenas uma geração de realidades feita a partir da ação dos cinco agregados. Pouco importa o que está acontecendo, tudo é sempre a mesma coisa: uma consciência gerada pela mente a partir da ação dos elementos que se agregam ao ser depois do advento. Sendo assim, você não pode fazer nada nesta vida, a não ser dá o valor de verdadeiro e real ao que está sendo criado pela mente ou não.

Se tiverem alguma pergunta, estou à disposição de vocês...

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Motivação para duvidar de si

Participante: que motivos eu tenho para duvidar do que percebo?

A sua felicidade...

Falamos sobre isso. Aquilo que você percebe não é o que está acontecendo, mas sim uma interpretação individual que a sua mente faz sobre uma percepção. Portanto, é o que você acha que está acontecendo e não o que está ocorrendo. Por isso afirmo que duvidar do que acredita é viver a realidade.

Viver a realidade e não uma ilusão: esse é o primeiro detalhe que deve motivá-lo para não acreditar no que está percebendo...

Segundo: a consciência de que na hora que acreditar em alguma coisa, a vida criará elementos que se contraporão a essas crenças. Ou seja, que a crença em algo leva inevitavelmente a ser contrariado o que levará ao sofrimento.

Essas são as motivações que deve ter para duvidar do que é percebido. Além delas, a certeza de que a felicidade depende dessa descrença.

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Masoquismo

Participante: os agregados são masoquistas? Pergunto isso porque são eles que criam os sofrimentos.

Não.

Há algum tempo respondi uma pergunta que leva a uma compreensão perfeita sobre esse assunto. Perguntaram-me se o ego é egoísta. Disse que não.

O ego não é egoísta. Na verdade ele propõe um egoísmo, mas não é. Quem se transforma em egoísta é você quando aceita o egoísmo proposto.

Usando o mesmo raciocínio para responder a pergunta de agora, posso dizer que os agregados não são masoquistas. Eles apenas propõem um sofrimento. É você que se torna masoquista quando aceita o sofrimento que ele propõe.

O ego, e por conseguinte, os agregados, não possui polaridade. Não é positivo ou negativo, mas sim neutros. Sua única ação é apenas fazer proposituras que podem ser aceitas ou não pelo ser encarnado. Esse, quando aceita o que é proposto é que se torna em positivo ou negativo.

Usando a pergunta que acabou de ser feita, posso, por exemplo, dizer que a mente não sente culpa de nada. Ela apenas propõe a culpa. Quem se torna culpado é quem aceita o que é proposto pela personalidade humana.

Na realidade a aceitação se dá pela questão do saber. Quem tem apenas conhecimento, ou seja, apenas recebe uma informação, não se sente culpado de nada. Já quem sabe que o que está sendo dito é verdade, é real, vive a culpa. Por isso se torna o único culpado nessa história.

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Pretensões

Participante: ter a ideia de participar da ação sem pretensões, o que é?

Quem participa de uma ação sem ter pretensão nenhuma é uma pessoa que não está propensa a sofrer. Isso porque quem participa de algum acontecimento esperando algo tem no mínimo cinquenta por cento de chances de não conseguir.

Apesar desse percentual ser matemático, digo que quem vive com pretensões tem cem por cento de chance de sofrer. Por quê? Porque quem participa de algum momento com uma pretensão só pode encontrar ou o prazer ou a dor. Encontrando o prazer imaginará que está feliz, mas como essa sensação não pertence ao universo, quando a vivencia está afastado de Deus. Por isso não vive a felicidade que Ele tem prometido e isso é sofrer, mesmo que haja prazer.

Portanto, participar da ação sem pretensões é a única forma de se garantir a felicidade.

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Agregados

Participante: o que são os cinco agregados?

Segundo Buda, é aquilo que se une ao espírito quando do advento, ou seja, quando do nascimento no mundo carnal. Quando nasce no mundo carnal o espírito passa a conviver com formas, sensações, percepções, formações mentais e memória, o que não acontecia antes deste momento.

Essas coisas não pertencem ao espírito, mas se agregam à ele depois do advento, do nascimento na carne.

Participante: Pai Joaquim, qual o agregado que você ainda não se libertou?

O Pai Joaquim não pode se libertar de nenhum agregado, pois ele é o resultado da ação deles.

Pai Joaquim é uma personalidade humana. Por isso é fruto da ação dos cinco agregados. Eles podem não ter surgido num nascimento como o de vocês, mas começou a existir quando a personalidade Pai Joaquim começou a existir nesse mundo.

Já eu não sou o Pai Joaquim, mas sim um espírito que se liga a esta consciência.

Participante: o conhecimento dos cinco agregados é importante para não se criar mais carmas?

Sim. Cada vez que você acredita numa ação dos cincos agregados como uma realidade gera um carma para si mesmo.

Respondo assim usando o termo carma dentro da concepção que vocês têm para ele: uma pena, um castigo. Se levarmos em conta o que acredito sobre este termo (a simples reação a uma ação), posso dizer que quando não acreditar também estará gerando um carma para si.

Participante: não se deixar levar pelas ilusões da vida, ou seja, ser intangível pelas primeiras impressões do mundo é não acreditar nos cinco agregados e sim na essência das coisas?

Não, é não acreditar em nada. Falo assim porque a essência das coisas com as quais quer conviver ainda são criadas pelos cinco agregados.

Se os cinco agregados formam a sua vida, fora do que é criado por eles não existe nada. Ouçam o que já falei: não acreditem em nada. Caso guardem alguma coisa das formações dos cinco agregados para acreditar continuarão tendo um calcanhar de Aquiles que servirá para que vivam o sofrimento.

Já que hoje se falou muito nos ensinamentos de Cristo, lembro que ele disse que por aquilo que vocês usarem para julgar os outros serão também julgados. O que vocês usam para julgar os outros? As crenças e verdades que os cinco agregados criam. Portanto, serão estas mesmas criações de outras personalidades humanas que servirão para julgar vocês. Querem não viver mais isso? Parem de acreditar naquilo que os seus agregados criam. Assim não serão julgados...

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Cristo e a consciência para ser feliz

Participante: Cristo é um estado de consciência?

Não. Cristo é uma forma de lidar com a consciência que a mente cria.

Sabe qual o problema da humanidade? Palavras...

Palavras têm diversos sentidos. Consciência, por exemplo, tem o significado de estar consciente, de ser a personalidade, de ser o criador de realidades. Ou seja, possui diversos sentidos. O problema é que ao usá-la, você leva em consideração apenas um e com isso acaba tendo uma ideia diferente do assunto.

Portanto, cuidado ao lidar com palavras, pois elas são muito complicadas para aquele que quer libertar-se da humanidade. Aliás, meu conselho é que vocês abandonem qualquer saber, inclusive o saber o que estão falando. Se ficarem apegados a alguma palavra estarão presos a um saber e a meio caminho do sofrimento.

Este sofrimento não precisa ser necessariamente nessa vida, mas pode ocorrer depois dela. Quando sair dessa carne se conscientizará da realidade do universo e sofrerá com o tempo que perdeu se prendendo às ideias humanas expressas por palavras.

Participante: Paulo falou que Cristo vivia nele. Como pode isso?

É o problema das consciências e das palavras que acabei de falar.

Paulo vivia desapegado da criação dos cinco agregados, que é a mesma forma que Cristo vivia. Sendo assim, o apóstolo podia dizer que Cristo vivia nele.

A compreensão é muito fácil. O que a dificulta é o saber quem é Cristo, o que é uma consciência, etc. O que dificulta a compreensão é o fato de se julgar o mundo a partir dos seus saberes.

Saiba que sempre que alguém ouve ou lê algo que foi escrito por outro usando as suas verdades jamais saberá realmente o que o quem escreveu ou falou queria dizer.

Participante: para chegar a Deus tenho que viver uma vida Jesus Cristo?

Não. Deve viver a sua vida com a cabeça que Jesus viveu a dele.

Se a vida é o que os cinco agregados criam, jamais poderá viver a vida que ele viveu. Só poderia viver a vida dele se tivesse os mesmo cinco agregados que ele teve. Como isso não é possível, precisa viver a vida que os seus agregados criam para você.

Só que para viver como Jesus, não importa o que os seus agregados criem, é preciso reagir as criações como ele reagiu.

Participante: então, ter a consciência do Cristo é ter a consciência de que só vivenciamos o que os cinco agregados geram?

Sim. Ter a consciência crística, ou de Cristo, é saber que tudo o que pertence a esse mundo, a vida humana, é uma criação dos cinco agregados e por isso não pertence à realidade do universo. No entanto, não é só isso que forma a consciência crística.

Na verdade o não apego à criação dos cinco agregados é apenas uma das características da consciência de Cristo. Existem diversas outras, inclusive algumas que vocês humanos não possuem condições de compreender ou de ter sequer uma mínima ideia.

Já disse isso diversas vezes, mas vou falar novamente: parem de procurar compreender os ensinamentos. Parem com essa busca e dediquem-se apenas a viver a vida que lhes aparece a partir da criação dos cinco agregados. Esqueçam a tentativa de tentar compreender o que os mestres ensinam, pois enquanto humanizados não possuem condições de compreender.

Mais um detalhe: mesmo que consigam entender, saibam que não entenderam nada. Na verdade, se isso acontecer foi os cinco agregados que propuseram uma compreensão à qual vocês se apegaram como verdadeira ou real. Por isso, ao invés de terem compreendido alguma coisa que pode ajudá-los, só entraram num caminho onde haverá sofrimento...

Participante: um problema que eu não criei, mas o vivo de uma determinada maneira. Como posso vivê-lo de outra forma?

Primeiro detalhe: quem disse que o que alguém criou e que você está vivendo é um problema? Não importa o que seja, quem disse que isso é um problema? Seus cinco agregados. Portanto, não acredite nisso...

Na verdade ninguém tem problema algum; vive uma criação dos cinco agregados que é valorizada como um problema e acredita neste valor. Não foi você quem teve a consciência de que determinado acontecimento é um problema. Isso só aconteceu porque você aceitou os componentes daquela formação mental como verdadeiros e reais e por isso vive o acontecimento como um problema. Se não tivesse agido desta forma, jamais teria um problema para viver...

A partir disso posso, então, lhe falar como viver aquele momento de uma forma diferente: vivenciar o acontecimento sem acreditar que ele se constitui num problema. Sem fazer isso, não importa como viva, estará sempre vivendo um problema.

Participante: os evangelhos dizem que devemos viver em Cristo, mas isso é realmente preciso? Precisamos viver em Cristo ou podemos viver apenas em Deus?

Muito boa pergunta.

Para responder, pergunto antes: o que é viver em Cristo? Para sabermos isso, precisamos antes responder a uma questão: como Cristo vivia? A resposta: em Deus. Ele dizia assim: eu não faço nada, mas é meu Pai que faz através de mim. Portanto, Cristo vivia em e com Deus.

A partir dessa rápida análise chegamos à sua resposta: se você vive em Cristo, terá necessariamente que viver em Deus. Mas, vocês ainda acham que podem existir em um ou em outro...

O problema é que vocês separaram Cristo de Deus. Como podem fazer isso se o próprio mestre afirmou: eu e meu Pai somos Um? Para aquele que realmente vive em Cristo, não há o mestre e Deus, pois se o próprio declarou-se completamente subordinado e integrado ao Senhor, não pode haver um distinto do outro.

Participante: qual a diferença entre a renúncia ensinada por Buda e a negação da vontade humana ensinada por Cristo?

Nenhuma.

Participante: é ensinado que devemos pedir a Jesus para compartilhar conosco os seus valores, como, por exemplo, o amar. Qual a sua ideia sobre isso?

Primeiro acho que Jesus não ama. Ele já morreu: você sabia? Ele acabou. Jesus foi apenas um personagem humano e não um espírito.

Agora, digamos que peça, ao invés de Jesus, ao espírito que chama de Cristo para compartilhar o amor dele. Pergunto: será que este pedido é necessário? Ele já compartilha seu amor o tempo inteiro com vocês. Posso afirmar isso porque os espíritos libertos da humanidade não fazem outra coisa a não ser amar.

O problema não é ele não amar, mas você não se sentir amado por ele... Ele ama, mas você não se sente amado. Por isso acha que precisa de alguma coisa e imagina que deve pedir.

Por que não se sente amado por ele? Porque ainda acredita em contrariedades, na existência de problemas na sua vida. Porque ainda acha que pode julgar o mundo, que sabe as verdades para isso. Quem vive desta forma não se considera amado, apesar de estar sendo.

Porque você vive desta forma? O que causa essa vivência? Os seus saberes. Só vive julgando o mundo quem sabe que determinadas coisas não são boas, que pode trazer prejuízo.

Viu, agora, a importância de se libertar dos seus saberes? Libertando-se deles vai poder viver o amor que pede para que os espíritos compartilhem.

Saber e conhecer

O valor das palavras

Participante: como entrar em harmonia com a vontade de Deus?

Se me disser o que para você representa a vontade Dele posso responder. Sem isso fica difícil.

Apesar disso, deixe-me lhe dizer uma coisa: Deus não tem vontade...

Sabe quem tem vontades? O egoísta. Ele é que precisa ter vontades para nutrir o seu egoísmo. Deus é a Perfeição e por isso não tem egoísmo. Pelo mesmo motivo, não tem vontades...

Deus não faz o que quer nem quer que aconteça nada. Ele dá a cada um segundo suas obras.

Por isso fica difícil responder a sua pergunta como foi colocada. Se me perguntasse como entrar em harmonia com ação de Deus, poderia responder, mas como se harmonizar com a vontade de Deus, não dá.

Antes que alguém pergunte, respondo antes: para se harmonizar com a ação de Deus harmonize-se com a sua vida, pois ela é a ação de Deus.

Participante: o que quer dizer esse provérbio da Bíblia: o que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido?

Para descobrir isso, terá que saber o que é ser pobre.

Pobre, para vocês, é aquele que passa necessidades materiais, mas esse termo não está utilizado assim na Bíblia. Nela o pobre é apenas aquele que precisa de alguma coisa e não quem precisa de algo material apenas.

A diferença entre a compreensão do termo pobre é importante para se descobrir o que quer dizer o provérbio, pois, apesar de não considerarem assim, quem lhes ataca é pobre, pois está carente de amor. Tapando os seus ouvidos a esse pedido de amor, ou seja, o atacando de volta ou criticando-o, quando precisar de amor, você nada receberá.

É o que venho dizendo sempre: o problema são as palavras. Vocês estão querendo conhecer os ensinamentos através dos seus saberes sobre as palavras. Desta forma se perdem e não conseguem compreender o que é ensinado...

Participante: o senhor é livre no valor que dá às palavras?

Não posso dizer que seja livre quanto a isso. O que faço, na verdade, é fugir dos valores que vocês dão a elas, pois ele ou é irreal ou incompleto.

Acabaram de me fazer uma pergunta usando o termo pobre. Ao ouvir essa palavra a mente humana sempre traduz o pobre como a pessoa que passa fome, que não possui um lugar para morar, etc., ou seja, que possui carências materiais.

Por conta de outras conclusões que são geradas pelo agregado memória, isso quer dizer que essa pessoa é uma sofredora. No entanto, na Bíblia a mesma palavra pobre é usada por Cristo para designar um bem aventurado (Bem aventurado o pobre de espírito).

Essa utilização muda completamente o sentido desse vocábulo quando a usamos dentro de qualquer contexto bíblico. Como pode alguém sofredor pode ser bem aventurado se bem aventurança significa felicidade? Apesar disso, vocês não compreendem essa distinção, pois estão apegados às ideias que a mente gera quando estimulada pelo uso daquele termo.

É por isso que preciso alertar sempre sobre o sentido de algumas palavras. Se não fizer isso, a compreensão que terão dos textos será irreal e falsa.

Portanto, não é exercer a liberdade que faço, mas chamar a atenção de vocês para que saiam da superfície da vida. Ou seja, o que faço é no sentido de conclamá-los a mergulharem na profundidade das coisas ao invés de viverem apenas naquilo que a mente diz conhecer.

É preciso pensar sobre a vida, mas vocês não fazem isso. A primeira ideia que surge na mente vocês acreditam e a segue como cordeiros sendo tocados por um pastor, ao invés de aprofundarem-se sobre o tema.

O pobre realmente é o carente, o que possui carência de algo, mas não apenas de coisas materiais. Acabei de dar um exemplo de uma carência importante que vocês não levam em consideração quando se fala de pobreza: o carente de amor.

Sabe quem é o carente de amor? Aquele que lhe ataca, acusa, critica. Esse é carente de amor e através dos seus atos pede ajuda para a sua carência.

Essa afirmação é embasada no fato d que todos que atacam alguém só agem assim porque se sentem atacados. Na verdade ninguém acusa, ataca ou critica aquele cuja posição ou verdade não for uma afronta à dele.

Portanto, quando há a interpretação de que alguém está atacando, ao invés de reagir contrariamente, compreenda que ele está apenas se defendendo da sua crença. Por isso, ao invés de querer provar que está certo, ame-o.

Compreendam isso: ninguém briga com aquele que é amigo, que está de acordo com ele, ou seja, que imagina que o ama. Os seres humanos só brigam com aqueles que são contrários. Portanto, a ação do outro é sempre uma resposta a um ataque sofrido. Quando isso aconteceu, não houve amor.

Viram como conseguimos uma compreensão além daquela que vocês têm quando a palavra pobre aparece em um texto bíblico? Com ela estendemos o ensinamento para outros campos.

Aliás, o levamos para o campo que os ensinamentos realmente se dirigem: o amor ao próximo. Para fazer isso não foi preciso alterar o termo pobre, mas apenas ampliar o sentido dele, coisa que a mente humana, por ser egoísta por natureza, não faz.

A mente humana jamais irá dizer que a acusação de alguém é a resposta a um ataque dela. A personalidade humana jamais aceitará isso como real se não for instigada para tanto. Não aceitará porque sempre quer vencer o outro, quer ter o prazer individual, alcançar e fama e o elogio. Por isso, sempre dirá que o outro é que está errado e não ela mesma.

Para fugir dessa armadilha é que vocês precisam se aprofundar na compreensão dos termos que a mente utiliza. Se não fizerem, viverão o egoísmo que ela propõe e por isso serão egoístas...

Portanto, não se trata de ser livre, mas sim liberto. Livre é quem faz o que quer; liberto é aquele que não está apegado a alguma coisa. Eu não uso o sentido que quero para as palavras, mas me considero liberto do sentido restrito que a mente aplica aos termos.

Além do mais, compreendam que quando se vive preso ao sentido restrito que a mente cria para as palavras está se vivendo um saber.

Participante: racionalizar palavras não seria abrir mais a comporta das criações dos cinco agregados?

Não falei em racionalizar palavras. Ao contrário: o que disse foi expandir significados das palavras ao invés de ter só um significado para cada termo que você conhece.

Saber e conhecer

Desapegar das coisas sagradas

Participante: qual a sua missão aqui? Nesse movimento existem espíritos humanizados preparados para viverem esta nova visão que você traz?

Espíritos humanizados, não. O que existe e está preparado para viver a nova visão da vida que falamos são os espíritos. O ser humano nem existe para que exista o espírito humanizado. O que existe é o espírito que acredita estar humanizado, o que é bem diferente de ser um humano.

Qual a minha missão? Falar... Só isso. Minha missão é falar o que falo e estou aqui a cumprindo. Agora, se acha que me preocupo com o que vai acontecer com o que falo, respondo que isso para mim não tem a menor importância. Minha missão é falar e isso estou fazendo. O que vai surgir daí, não me diz respeito, por isso não me preocupo.

Aproveito sua pergunta para fazer um comentário. Já reparam que estou respondendo às questões que vocês de uma forma muito semelhante? Apesar disso, elas continuam acontecendo. Porque isso acontece? Porque elas partem de um mesmo ponto.

Todas as perguntas de vocês são fundamentadas numa criação dos cinco agregados da qual não conseguem se libertar: a ideia de que existe um eu. A ideia de que você existe e que é uma coisa única, individual afastada do Todo. Essa é uma criação dos cinco agregados da qual não conseguem se libertar.

Agora a pouco me perguntaram sobre a dor de barriga. Sabe quem acredita que tem uma dor de barriga? Aquele que acredita que existe como um eu isolado do mundo. Aquele que acredita que possui um corpo físico que age independente de tudo que está ao seu redor. Aquele que acredita que esse corpo possui órgãos que agem livremente. Aquele que acredita que existam massas que penetrem neste corpo e que sejam processadas por ele.

Aquele que não inicia sua jornada libertando do saber que é alguém ou alguma coisa, nada pode conseguir no sentido da elevação espiritual. Isso porque esse saber levará a novas ideias que serão tratadas como reais ou verdadeiras.

Quantas vezes vocês já me perguntaram como agir ou o que falar frente a determinadas situações? Isso só ocorre porque ainda estão apegados na ideia de existir um eu que possa agir.

Só se preocupa em conhecer a consciência de Cristo aquele que imagina que seja uma consciência isolada do Todo. Aquele que se liberta da criação dos cinco agregados sabe que não é uma consciência isolada e por isso não se preocupa em conhecer a consciência de Cristo.

Tem uma conversa que tivemos anteriormente cujo tema foi ‘Tudo’. Acho que ainda não compreenderam perfeitamente o que quis dizer naquele momento.

Hoje disse que vocês devem desacreditar de tudo que os cinco agregados criam. Só que quando ouvem isso os cinco agregados separam algumas coisas do tudo que disse para desacreditarem. Por isso continuam acreditando nelas, apesar de imaginarem que estão desacreditando de tudo. Desta forma, nada conseguem, pois ainda estão presos a alguma coisa e essa verdade servirá para criar outras informações que serão vivenciadas como saber.

Quando falo em desacreditar de tudo digo que devem agir assim com qualquer informação que tenham. Para poder realizar o trabalho que estamos conversando é preciso que digam a todas as coisas que venha à mente que não crê naquela informação. Deve sempre dizer a qualquer coisa que surja à consciência que aquilo pode ser real ou não e que não tem capacidade de conhecer profundamente o assunto para ter um saber, por mais que se julgue capaz de saber. .

Algumas pessoas já têm colocado em prática o que estamos conversando aqui. Muitos já conseguem viver sem atribuir o valor de certo a algumas coisas. Essas pessoas, no entanto, ainda não podem ser consideradas como sábias. Por quê? Porque ainda existem informações que são geradas pelos cinco agregados que elas acreditam. Ou seja, ainda não aplicaram o ensinamento a tudo...

Qual o problema de não aplicar a tudo? A continuidade do sofrimento. Sempre que um ser encarnado mantém um saber, aquilo servirá como instrumento de um sofrimento. Toda vez que um ser consegue aplicar o pode ser ou não, vive uma felicidade, mas toda vez que lida com uma ideia mental crendo no que a personalidade humana cria, o sofrimento é inexorável.

Portanto, entendam isso: tudo é tudo. Por isso é preciso se libertar de todas as criações mentais, sejam elas fundamentadas nos ensinamentos de Cristo, Paulo, Buda ou Krishna. Sejam elas lidas por você ou ensinadas por alguém com ilibada fama.

Mesmo que a razão diga que aquela conclusão é fundamentada num ensinamento de mestre e trazida por um guru reconhecido, não acredite no que está sendo criado na sua mente, pois se trata apenas de uma interpretação da razão para o que o mestre ensinou.

Cristo disse que devemos nos desapegar das coisas mundanas. Só que os ensinamentos dele também são coisas desse mundo. Para o espiritual esses ensinamentos não possuem a menor valia, pois os seres libertos da materialidade já praticam tudo o que foi ensinado nesse nível.

Por isso, apegar-se aos ensinamentos como algo sublime é o mesmo que depois de formado numa faculdade achar importante a cartilha que o ajudou a aprender a ler. .

O mundo espiritual é muito diferente do material, sabiam? Aliás, lá não existe um Cristo. Sabe por quê? Porque Cristo é uma ideia humana.

O que existe é um espírito que possui ascensão moral sobre outros e que por isso é respeitado. Isso é real, mas a partir daí dizer que para os seres libertos da materialidade existe um ser divino que precisa ser cultuado é aplicar um valor humano à vida do ser universal. O espírito não ama a nenhum outro especificamente, mas a todos indistintamente; o espírito não cultua nenhum outro ser, mas apenas a Deus.

Viu como é diferente o relacionamento de vocês com o Cristo e o nosso com o espírito que possui ascensão moral? Compreenderam a diferença entre o relacionamento de vocês com os ensinamentos dos mestres e os daquele que não estão apegados às criações dos cinco agregados? Portanto, nem neste aspecto, que vocês consideram importante e sublime, não se apeguem ao que lhe vêm à mente.

Tudo que lhe vier à mente responda com o mantra que pode lhe ajudar a ser feliz: não sei, pode ser, pode não ser...

Não se esqueçam: tudo quer dizer todas as coisas...

Participante: se tudo é Deus, na ilusão ou não, não podemos fazer nada para ajudar o espírito?

Já me perguntaram se eu falava ao espírito ou ao ego e disse que era ao espírito através do ego. Esta é uma das formas que vocês ajudam ao espírito. Ao ouvirem o que estou dizendo, estão fornecendo um canal para que o espírito ouça o que falo.

As minhas informações são importantes de alguma forma para o espírito. Mas, e quanto a vocês humanos, para que elas servem? Para nada. Portanto, não acreditem também no que estou dizendo.

Por isso digo: não aceitem que a mente transforme em obrigação o que estou dizendo. Quando fizerem, fizeram; quando não fizerem, não fizeram...

Participante: na verdade, é um processo até conseguir se manifestar no tudo, não?

Na verdade, não há um processo até manifestar-se. O que existe é estar não manifestado e um dia passar a estar. Não acredite neste processar, porque senão você começará a sentir-se obrigado a fazer e com isso sofrerá inexoravelmente.

Saber e conhecer

Incongruências nos ensinamentos

Participante: vamos voltar alguns anos. Na palestra sobre Deus você disse que Tudo é Ele absolutamente. Depois quando falou do ser humano afirmou que ele é constituído de duas partes: uma mente e outra parte composta por sentimentos e emoções. Disse ainda que estas duas partes são elementos da ilusão, ou seja, que são relativos. Voltando aos dias de hoje, lhe ouço dizer que o espírito quase nunca é o que o vemos no ser humano. Isso quer dizer que este papo de sermos mais felizes, buscar a felicidade e concentrarmos no presente é puramente ilusório?

Não.

Não falei de você não viver o aqui e agora. O que disse foi que vivendo o aqui e agora deve duvidar do que está vivenciando.

Quando falo na formação da criação mental estou me referindo ao aqui e agora. Portanto, sim, você precisa viver o aqui e agora, ou seja, estar conectado a sua mente observando o que ela está criando. Depois disso deve compreender que aquilo é apenas uma informação que está sendo proposta e não dar a ela o valor de verdade. É preciso fazer isso para não sofrer.

Todas as definições que disse que dei, realmente assim fiz. Mais: continuo afirmando que, apesar de serem aparentemente contraditórias, todas elas são reais. Por quê? Porque a ilusão pode ser formada por diversas verdades, mesmo que uma seja contrária à outra...

Tudo vem de Deus: concordo com isso. Tudo vem de Deus, inclusive o que você acha que Ele é. O Senhor não pode se mostrar na Sua realidade a você. Por que isso? Porque você é sábio, sabe quem é Deus.

Se o Pai pudesse chegar à sua frente e dizer que Ele é Deus, sabe qual seria a primeira coisa que você, ser humano, diria? Prova, prova que você é Deus...

O ser humanizado só acreditaria que Ele é o Pai se provasse que realmente é. Mas, mesmo que realizasse algo sobrenatural para provar que é Deus, sabe o que o humano faria? Ficaria buscando o truque que Ele usou para fazer aquilo.

Por que agiria dessa forma? Porque ele acredita que sabe como as coisas acontecem. Por isso aquele acontecimento diferente que Deus fez para provar que é ele, para você seria fruto de um truque ilusionista. Portanto, além de fazer, teria que provar que realmente não é um truque.

O ser humano é dividido em razão e emoção: concordo com isso. Mas, se tudo é criado por Deus, onde está a diferença entre uma coisa e outra? Na sua compreensão sobre elas.

Portanto, para você que acredita que existam diferenças entre razão e emoção, elas são duas coisas. Já para quem sabe que tudo vem de Deus, apesar dos cinco agregados afirmarem que são coisas diferentes, não crê nisso.

Além do mais, se tudo é criado por Deus, minhas palavras são criadas por Ele. Sendo assim, a incongruência ou erro no que é dito não é meu, mas sim Dele.

Sabe o que é isso que você está vivendo ao me fazer essa pergunta? Uma criação dos cinco agregados. São ideias geradas neste momento utilizando informações que anteriormente foram tidas como verdadeiras (o seu saber) para que o espírito continue se prendendo ao que a personalidade humana cria. Isso não tem nada a ver com você, ser humano, mas sim com o espírito.

Como acabei de dizer, falo a espíritos através do ego. Quando passo um ensinamento estou falando ao espírito mostrando o quanto a mente humana está apegada aos conceitos materiais. Para que? Para que ele se liberte dela.

É para que isso não aconteça que a personalidade humana reage tentando justificar a prisão do ser. Tudo isso está acontecendo no mundo real enquanto você, humano, está imaginando que está vivo, que está me ouvindo, que está pensando e achando incongruências entre as coisas que foram ditas...

Saber e conhecer

Convivendo com os ensinamentos

Participante: Então Jesus disse: eu sou a luz do mundo. Quem me segue de modo nenhum andará nas trevas. Pelo contrário, terá a luz da vida. João, capítulo 8, versículo 12. Como fazer para conseguir esta luz?

Seguindo Jesus...

Volto a dizer: está se apegando ao sentido das palavras. A que luz você se refere? A que trevas se refere? O que é luz, o que é trevas?

Luz, para os humanos, é aquilo que surge quando apertam o interruptor. Trevas é aquilo que existe antes do toque. Esses dois argumentos estão presentes na sua compreensão sobre o texto bíblico, mas será que o interruptor tem algo a ver com a elevação espiritual?

A luz à qual Jesus se referiu não tem nada a ver com a que é formada pelos conceitos com os quais vivencia a leitura do texto. Portanto, não se preocupe com a luz ou a treva, mas apenas com o texto em si.

Nele está transmitida uma informação: a necessidade de seguir Cristo. Por isso, ao invés de se preocupar em conseguir a luz, ocupe-se em segui-lo. Mas, para fazer isso há algo ainda que é preciso raciocinar: o que é seguir Jesus?

Será que é ser católico ou cristão? Será que é realizar curas, fazer milagre, ter os dons do espírito santo? É isso que você precisa se concentrar quando se depara com esse texto: saber o que é seguir Jesus...

Sobre esse tema, a primeira coisa que posso falar é que seguir Jesus é não segui-lo. Por exemplo: vocês acreditam que para segui-lo precisam ir a um templo e fazer orações, mas isso é irreal. Ele ensinou que o templo de Deus está dentro de cada um. Sendo assim, seguir Jesus é estar atento ao que o coração está vivenciando. Só que como não compreendem assim, isso é a última coisa com que se ocupam.

Por isso vou dizer algo muito importante: esqueça os ensinamentos dos mestres. Falo assim porque está se apegando às palavras dele e com isso está seguindo o caminho da humanidade crente que está indo para o mundo espiritual.

Quem caminha para o mundo espiritual não se preocupa com questões como luz e trevas, pois sabe que nesse mundo não existem essas duas coisas. As trevas e luzes estão apenas na mente e não no mundo espiritual. Por isso quem busca integrar-se ao todo, ocupa-se em libertar-se da mente que trabalha com a existência desses elemento0s e não em alcançar a luz.

Saiba de uma coisa: todas as palavras que compõem os ensinamentos dos mestres são usadas em sentido figurado. Por isso o que está ali descrito precisa ser entendido e não levado ao pé da letra.

Para se conseguir alcançar a compreensão é preciso analisar passo a passo tudo o que está nos ensinamentos. De nada adianta usar receitas pré-formatadas, ou seja, verdades pré-formadas para analisar. É preciso ir repensando cada elemento que está presente no ensinamento para poder se alcançar alguma compreensão sobre o assunto.

Para o processo de evolução de nada adianta se basear em citações, como fez agora, sem analisar cada um dos elementos que a compõem. Um detalhe: quando falo em analisar todos os elementos, quis dizer que deve buscar uma compreensão sobre todas as coisas que estão presentes nos ensinamentos. Quer um exemplo: na sua citação você diz que Jesus falou isso, mas será que realmente isto foi um ensinamento de Jesus?

Quem falou não foi Jesus. Quem pode ter proferido estas palavras foi a boca Jesus, mas quem disse não foi ele. Quem transmitiu o ensinamento foi o espírito superior que vocês chamam de Cristo.

Isso faz alguma diferença para a compreensão? Claro. Jesus foi um ser humano e como tal teve momentos de fraqueza e dúvida; Cristo nunca teve isso. Portanto, se você ainda acredita que foi Jesus que falou, ainda receberá com restrições e dúvidas algumas coisas que foram ensinadas por Cristo.

Viu a dificuldade de se compreender os ensinamentos? São tantos detalhes que precisam ser analisados e que se não forem vão interferir no resultado final, na compreensão perfeita do ensinamento. Se você não analisar passo a passo tudo o que lê, não entenderá o que foi ensinado e assim, não caminhará para Deus, apesar de imaginar que está trilhando este caminho.

Participante: as ideias que expus pertencem a Bíblia...

A qual delas: a Bíblia real ou a que você escreveu com a compreensão que os cinco agregados criou a partir de verdades que eles mesmos já haviam gerado?

Este é o aspecto que você não está levando em conta...

Participante: o senhor acredita na Bíblia?

Não.

Participante: mas o senhor diz que tudo pode ser ou não, como agora afirma categoricamente que não acredita na Bíblia?

Quando falo que não acredito nela não estou dizendo que está errada. Estou dizendo que não acredito que é certa, mas que o que está escrito nela pode ou não ser verdade...

Saber e conhecer

Perguntas diversas

Participante: o desapego às coisas materiais faz parte do processo evolutivo?

Para compreender bem o assunto, a primeira coisa que você precisa realizar é a compreensão do que são coisas materiais. Como falamos hoje, coisas materiais são todos os objetos, todos os elementos da natureza terrestre, todas as pessoas que vivem no planeta e tudo o que aqui acontece.

Sim, o desapego a todas essas coisas faz parte do desenvolvimento espiritual, porque elas não pertencem ao mundo dos espíritos. Espírito não pensa, não possui o raciocínio como conhecido pelo ser humano: com palavras, ideias, sons, etc.

Participante: como se origina a ideia de culpa? Como posso me libertar dela?

Toda culpa é originada na ideia de ter errado. Por isso, quando você sabe que errou, ou seja, dá o valor de real e verdadeiro a uma informação que fala em erro, a culpa é inexorável.

Como se livrar disso, então? Diga a si mesmo: ‘há na minha mente uma informação de que errei, mas não sei se isso é verdade’.

Essa é a única forma de se livrar da culpa, pois se não fizer isso, certamente se sentirá culpado...

Participante: as pessoas falam que tenho que correr atrás das coisas, que tenho que lutar pelo que quero. Dizem que Deus faz a parte Dele, mas que eu tenho que fazer a minha. Como responder a essas pessoas que me cobram uma posição sobre eu mesmo?

Posso ser bem sincero? Não sei...

Não sei como jogará para fora uma ideia, porque isso quem criará são os cinco agregados. Por esse motivo não posso lhe responder dando uma forma de como se comunicar com os outros.

Apesar disso, posso saber como deve agir interiormente quando isso acontecer: deve lidar com a ideia de mudar-se ou não sem apego. Ou seja, não deve lidar com aquilo que a sua mente cria para o que os outros falam com obrigações, como a de acatar o que é ouvido ou com a obrigação de não acatar.

Portanto, só posso lhe responder sobre o que deve fazer com relação a si mesmo e não com relação aos outros. Por isso nada posso dizer a respeito das palavras que falará aos outros.

Saiba de uma coisa: o ato de falar, como qualquer outro, são criações dos seus cinco agregados e criam a sua vida.

Participante: o ensinamento que o senhor traz pode ser transmitido a uma criança?

Pode.Claro que a didática para fazer isso não é a mesma que utilizo quando converso com vocês, mas pode sim.

Como fazer? Por exemplo: quando a criança estiver assistindo na televisão e é dito que ela deve se vestir de determinada forma, que deve se portar de um jeito, que precisa ter algum produto, ensine que aquilo são apenas opiniões dos outros e não algo que precise fazer, ter ou ser. Fazendo isso, já estará transmitindo o que conversamos.

Agora, se quiser explicar sobre os cinco agregados que geram a realidade que imagina estar vivendo, não a fará compreender nada. Aliás, vocês mesmos pouco compreendem do que falo...

Participante: duvidar das suas percepções não é se iludir? Quando sinto que estou com dor de barriga tenho que correr logo para o banheiro...

Eu não falei para você não ir para o banheiro: falei para duvidar da dor de barriga. Quantas vezes sente vontade de ir ao banheiro e quando chega lá foi alarme falso? Quando isso acontece, se desaponta. Pronto, viveu um sofrimento...

Sendo assim, vá ao banheiro, se fizer isso, mas não acredite que aquela dor de barriga é real. Acreditando criará a expectativa de viver um acontecimento e se ele não surgir, haverá um sofrimento. Não crendo no que a mente cria, não haverá a expectativa de viver alguma coisa e com isso não importa o que aconteça não sofrerá.

Nada do que ensino tem a ver com atos, mas sim com a sua relação com a mente. Não falo que você deve ou não praticar determinadas ações, até porque quem as pratica não é você: elas surgem da ação dos cinco agregados.

Quem vai correr para a privada não é você. Isso só acontecerá no que chama de sua vida quando os elementos que se agregam ao espírito no advento criar.

Portanto, ocupe-se apenas em conviver com o que a mente cria e deixe os agregados construírem o que você chama de vida...

Participante: não querer é querer algo?

Não querer é apenas não querer. Agora, querer não querer é querer algo.

O querer não querer é uma criação da mente, dos cinco agregados. Quem se apega a esta criação vive um querer. Agora, quem apenas nada quer sem desejar nada querer, este vive um não querer e não um querer.

Complicou? Vou tentar descomplicar. Não querer alguma coisa é uma atitude que você toma com relação a algo que a mente crie. No entanto, se esta atitude está vinculada a um saber que nada deve querer, neste caso não houve desapego algum.

Participante: o que é realmente sofrimento?

Será que vocês ainda não sabem o que é isso? É qualquer contrariedade... Qualquer desarmonia, qualquer desequilíbrio com o que está acontecendo é um sofrimento.

Quando você, por exemplo, apenas não gosta de alguma coisa, isso já é sofrimento. Não é necessário ter asco por aquilo: apenas não gostar e ter que conviver com um elemento já é um sofrimento.

Mas, de onde surge este não gostar? Da crença do valor de real ou verdade que dá àquilo que os cinco agregados constroem. Foi o que já disse: os cinco agregados propõem verdades e realidades que você pode comungar ou não. Eles lhe propõem que você gosta daquilo, mas só gostará se concordar aquela informação.

Participante: se tudo é diferente na realidade, onde um bondoso é um espírito egoísta e onde um amoral e egoísta humano é na verdade um espírito mais esclarecido?

Nunca afirmei que a realidade é diferente. O que disse é que pode ser... Quem acredita que qualquer coisa é, está estabelecendo verdades que denotam apego às criações dos cinco agregados. Um espírito bondoso pode viver uma personalidade humana que seja amoral e egoísta, mas isso não quer dizer que todo ser humano desta forma é vivido por um espírito que seja bondoso.

Agora, como se justificar que um ser humano bondoso não é vivido por um espírito bondoso? Analisando a bondade humana. Se alguém é bondoso com outro porque acredita que este é um caminho para a sua elevação, ele está pensando em si ou no próximo? Claro que em si mesmo.

Assim sendo a motivação desta bondade não foi o amor ao próximo, mas o egoísmo, o amor a si mesmo. Como esta motivação está no íntimo de cada um, você jamais saberá se alguém está realmente agindo universalmente ou individualmente.

É por isso que digo que quem humanamente pratica a moralidade pode ser um espírito bondoso ou não.