Carmas humanos - Texto
MOBIPDF

Carmas humanos - Texto

Transcrição dos arquivos de áudios com o estudo sobre a lei do carma

Carmas humanos - Texto

Apenas uma reação

O objetivo desta série de conversas é compreender perfeitamente o carma. Isto porque muito se fala neste planeta a respeito de carmas, mas pouco se conhece sobre o que realmente ele é. Iremos, então, nos próximos dias, conversar sobre o carma.

Primeiro detalhe: carma não tem nada a ver com aquilo que você imagina que é. Digo isto porque para muitos o carma é uma pena, um castigo, ou seja, uma razão de sofrimento. Mas o carma, dentro do conhecimento universal deste tema, não é isso.

Carma é a reação a uma ação; instrumento do qual a lei de causa e efeito se utiliza para agir. O carma é o efeito gerado por uma causa. Só isso; mais nada que isso.

Carma nada tem ver com castigo, aplicação de penas ou julgamento. Carma é o resultado de uma soma: dois mais dois é igual a quatro. Ou seja, é o carma é o momento subseqüente derivado de um determinado tipo de ação.

Ele é só isso. Todo resto que a humanidade imagina sobre ele (ser penalidade, castigo) é tudo ilusão, porque o carma, como acabou de ser definido, é a exata colheita do que foi plantado.

Quem planta arco-íris colhe bonança; quem planta vento colhe tempestade. Não como pena, castigo ou premiação, mas por ter semeado determinada semente, mas porque esta é a única produção que pode ser colhida a partir daquela semeadura. Este é o carma.

Carmas humanos - Texto

O resultado da vivência do carma

Desta forma, se ele não é nem pena nem castigo, não há razão de sofrer quando ele ocorre. No entanto, muitos podem sofrer durante a ação do carma, assim como muitos podem ter prazer também durante ela. Isto é opção livre (livre arbítrio) de cada um.

Portanto, não é o carma em si que faz o prazer ou a dor, mas cada um ao vivenciar o seu pode optar por sofrer (sentir-se penalizado ou condenado) ou ter prazer (sentir-se agraciado pela ação carmática). Este é o primeiro aspecto ligado ao carma que gostaria de deixar bem claro: ele não está vinculado a prazer ou a dor, mas está simplesmente respondendo a alguma coisa que foi anteriormente feita pelo ser universal.

Participante: Sendo uma reação a uma ação, e a ação é um ato que é praticado pelo personagem (ser humano) que o espírito vivencia durante a encarnação, então o carma é do personagem somente?

Não falei em ação como ato, mas como atividade.

Você como ser universal tem a sua atividade espiritual, que não é mexer braços (ato físico) já que espírito não possui este elemento. Falei em atividade espiritual do ser universal naquilo que o espiritismo chama de erraticidade.

Então, o carma é do espírito, pois acontece durante a encarnação ou não. No entanto, ele não está nele (espírito). Já compreenderemos melhor, mas por enquanto saiba que o carma não está no ser universal.

Continuemos nosso estudo.

Carmas humanos - Texto

Carma é vida

Dito isso, afirmo agora: o carma é a própria vida. Isto porque a vida, a existência, pode ser definida como uma sucessão de momentos que se sobrepõem um ao outro. Cada um deles é um carma, ou seja, a exata reação ao que foi praticado no momento anterior.

Sendo assim, onde há existência – e repare que não estou falando apenas em vida carnal, mas em existência de um ser universal – há carma e sem ele não haveriam existências. Se não houvesse uma conseqüência, um efeito, não haveria o momento sucessor do presente e, assim a existência não teria continuidade: estagnar-se-ia.

Continuando na nossa busca da compreensão sobre o carma, afirmo, então, que ele é cada momento de uma existência do ser universal, seja ela na carne ou fora dela. Cada momento da existência de um espírito é um carma, porque é o reflexo gerado por uma atividade anterior.

Isso precisa ficar bem claro. Será que, no momento, a atividade da sua existência é estar me ouvindo? Não, o que está acontecendo neste momento é um carma. Isto porque o fato de estar aqui agora não foi uma decisão sua, mas uma reação a um momento anterior. Você está aqui porque foi trazido e não porque quis vir.

NOTA: Tal afirmação se baseia no ensinamento contido em ‘O Livro dos Espíritos’ (pergunta 851) onde o Espírito da Verdade afirma que tudo o que acontece durante a existência carnal de um espírito é fruto de sua escolha antes da encarnação.

Posso dizer, então, como definição, que o carma é os acontecimentos de uma existência. Não importa o que esteja acontecendo: seja o presente momento considerado como bom ou mau, certo ou errado, bonito ou feio, é sempre um carma, um reflexo de uma atividade anterior do espírito.

Carmas humanos - Texto

O carma é a consciência que se tem

Mas, o que é um acontecimento, ou seja, o que é estar vivenciando o momento de estar aqui agora, por exemplo? Eu diria que é uma conscientização que se toma de algo.

Veja bem. Existem as percepções que são recebidas pelos órgãos de sensibilidade do corpo (visão, audição, paladar, olfato e sensibilidades). Elas, depois de captadas, são levadas ao ego (mente) e, através daquilo que a humanidade chama de processo raciocínio, a mente cria uma consciência, ou seja, lhe conscientiza de estar acontecendo determinada coisa.

Voltando ao exemplo que estávamos comentando – estar aqui me ouvindo – posso afirmar que este acontecimento só existe porque, a partir das percepções, a mente de cada um de vocês criou a consciência de que estão aqui.

Se antes defini o carma como os acontecimentos da existência, agora afirmo que ele não é a ação em si da qual você está participando, mas a conscientização que sua mente está lhe dando. Tudo que você toma consciência cria uma realidade e, ao criá-la, um carma foi gerado.

Por isso, eu respondi agora a pouco: o carma é do espírito - resultado de uma atividade anterior do ser universal - mas está no ego. Quem faz o carma, ou seja, constrói o acontecimento, que é a reação a uma atividade do espírito, é a mente, pois é ela que cria a compreensão do que você está vivenciando.

Isto é importante de compreender porque a humanidade acredita que o carma existe externamente a si, mas ele está dentro de cada um. Vocês têm a mania de dizer que outras pessoas ou situações são os seus carmas, mas isso não é verdade. O carma não é a pessoa ou a situação que está sendo vivenciada, mas sim aquilo que cada um acredita (tem consciência) que está acontecendo. Ou seja, o carma é o que você está consciente de estar acontecendo e não o que existe no mundo exterior, fora do seu raciocínio.

O seu raciocínio, o que acredita estar vivenciando, é, portanto, o seu carma e não o outro em si. Isto porque a compreensão que tem sobre ele é fruto de uma atividade anterior sua (espírito). Esta atividade que gerou o momento atual foi a aceitação que teve quando o ego lhe apresentou uma compreensão anterior.

Desta afirmação nasce, então, uma compreensão: o ego constrói as compreensões que definem o que cada um está vivenciando naquele momento e, ao construí-las, vai dando ao ser universal seus carmas. Esta é a realidade sobre carma: tudo que você imagina estar vivendo é, na realidade, um carma e é assim porque tudo que vivencia é fruto de uma conscientização que o ego cria e você acredita ser real.

Carmas humanos - Texto

O carma do ser humano

Agora posso ser mais específico sobre os seus carmas: ‘aquela mesa é bonita’; ‘aquela pessoa é feia’; ‘aquele é o meu carro’; ‘aquela é a coisa de fulano’, ‘gosto muito disso’; ‘não gosto daquilo’... Todas estas compreensões são carmas, porque são consciências que foram formadas pelo ego a partir da percepção de determinadas coisas.

Ou seja, tudo o que seu ego lhe diz é o seu carma. E mais: é o resultado de uma ação espiritual sua anterior. Não importa o que seja (‘hoje estou me sentindo bem’; ‘hoje não estou me sentindo bem’) que você pense, tudo que lhe vêem à mente é o seu carma. Tudo que toma consciência é um carma.

Participante: Então, quando estudamos, mesmo os assuntos espirituais, nós estamos adquirindo carmas? Afirmo Isto porque estaremos nos conscientizado de algo...

Antes de respondê-lo, deixe-me dizer algo. Um dos mais belos textos sobre existência espiritual é o livro Eclesiastes ou O Sábio da Bíblia. O nome varia de acordo com a edição. Neste livro, Salomão, que foi o mais sábio dos profetas, tenta analisar o que é viver e chega à conclusão que é tudo ilusão. Querer viver é uma ilusão, porque a vida transcorre sem que você tenha comando sobre ela. E por isso ele afirma no texto: querer viver a vida é como correr atrás do vento.

Depois de analisar neste livro praticamente todas as situações de uma existência, o profeta termina com um conselho... “Filho, há mais uma coisa que eu quero dizer: os livros continuarão a ser escritos; estudar demais cansa a mente” (Eclesiastes – 12,12).

Respondendo-lhe diretamente agora, sim, cada coisa que você toma conhecimento, cada compreensão que toma de uma leitura, criar um carma.

Saiba que o verdadeiro sábio é aquele que nada sabe?

Por conta desta informação que tenho dito sempre que toda leitura deve lhe servir para destruir alguma coisa sem criar nada novo. Neste caso, ela não gerou carmas...

Participante: E como acabar com os carmas? Parando de pensar?

Já falaremos disso...

Participante: Acreditar no carma com paixão ou sem paixão tem muita diferença?

Nenhuma, porque quem acredita já tem uma paixão. A crença, o acreditar, é uma paixão. Se você acredita em alguma coisa é apaixonado por uma verdade. Então, não há diferença nenhuma porque acreditar já é uma paixão.

Carmas humanos - Texto

A prova do espírito

Eu disse antes que o carma é apenas o reflexo de um momento anterior. Mas, quando o ser universal está encarnado (ser humanizado), o carma passa a ter uma especialidade a mais: ele é a provação do espírito.

Tudo aquilo que o ser humanizado toma consciência faz parte da provação do espírito para aproximar-se de Deus. Isso porque o Espírito da Verdade nos diz que a encarnação, a vida humana, tem como objetivo a provação do espírito. Como os acontecimentos (o desenrolar da vida) não são o que está fora, como já vimos, mas aquilo que cada um compreende internamente, toda conscientização é uma prova.

Sendo assim, carma, para o espírito encarnado, nada mais é do que as suas próprias provações. Cada coisa que você acredita é um carma e cada crença é uma prova. Portanto, cada carma é uma prova.

Isso é importante compreendermos, porque o carma não se cria por acaso e nem quando encarnado, nesta encarnação. Ele é criado antes, ou seja, quando o espírito ainda está na erraticidade e é sempre um reflexo do estado espiritual deste ser antes de entrar em provações ou missão.

Em ‘O Livro dos Espíritos’ encontramos a afirmação de que o espírito escolhe antes da sua existência carnal o gênero de suas provações (258) e que esta escolha está motivada pela consciência que o espírito tem de si mesmo frente à comunidade espiritual (pergunta 264).

Como já falamos anteriormente, o espírito escolhe o gênero de suas provas ou missão antes da encarnação e o carma é montado pelo ego, através do comando de Deus, exatamente em cima do gênero da prova que cada um escolheu para vivenciar durante a encarnação.

Desta forma, se você é muito bonzinho nas suas compreensões das coisas do mundo – sempre procura o lado bom’ das pessoas – isto não é uma qualidade sua, mas sim um carma e ocorre para que não acredite que é bondoso. Se, ao contrário, suas compreensões sempre vêem o mau nos acontecimentos da vida, o seu carma é não acreditar na maldade que imagina que possui.

O carma, que foi definido como um reflexo de uma ação anterior do espírito é, portanto, durante a encarnação, o reflexo do gênero de provas e/ou missões que aquele ser universal escolheu para si antes da encarnação.

Sendo assim, se você compreende que é pobre este é o seu carma, é a sua prova. Achando-se feio este é o seu carma, porque nesta consciência (ser feio) está embutido o gênero da sua provação espiritual.

Com isto fica um grande ensinamento: a compreensão que você tem das coisas não é à toa: tem um propósito bem definido. Ela está fundamentada naquilo que você pediu antes da encarnação como provação e é uma oportunidade para provar a si mesmo que aprendeu o que estudou na erraticidade antes de encarnar.

Quem pediu para provar que pode vencer a ganância, por exemplo, gera para si determinados carmas e, por isso, terá sempre conscientizações fundamentadas nesta postura sentimental (irá querer possuir tudo que vê) porque só assim poderá provar que aprendeu a não ser ganancioso. Quem tem conscientizações fundamentadas na luxúria veio a esta vida para tê-las, ou seja, ter este carma porque precisa provar que venceu tal tendência.

Como defini antes, carma é o reflexo do momento anterior e ele se materializa através da conscientização que o ser universal tem a cada segundo da sua existência. Quando na vida carnal, ou na encarnação, porém, o carma materializa também a prova que o ser universal se expõe quando se humaniza. Ao decretar uma conscientização, o ego cria um carma que também é a prova do ser universal que está de acordo com o gênero pedido por aquele antes da encarnação.

E é por isso que Krishna afirma que ninguém consegue agir diferente da sua personalidade. E o que é personalidade senão o gênero de prova que cada espírito escolhe para si...

Se você é nervoso, as suas compreensões sobre os acontecimentos da vida vão sempre se embasar no nervosismo; se tem uma personalidade depressiva, as suas conscientizações vão sempre alcançar a realidade de um sofrimento. Mas, isto não quer dizer que você seja certo ou errado, bom ou mau por ter estas compreensões: elas são desta forma porque ao tê-las estará vivenciando nestes carmas o gênero de provas que pediu para provar que já se libertou disso.

Aí está, portanto, o carma na vida humana do ser universal: um reflexo de outro momento na existência eterna do espírito, que possui a propriedade de criar uma provação que reflita a condição espiritual deste ser na erraticidade.

Participante: Então, você tem carma? Digo isso porque deve ter consciência de algumas coisas...

O único que não tem carma é Deus, porque é o único que não tem ego. Todo espírito, inclusive Cristo, o espírito mais elevado que você tem notícia, tem ego.

Havendo ego, há conscientizações. Havendo conscientizações, há carmas. Portanto, eu tenho carma...

Agora qual a diferença entre eu e você, ou seja, qual a diferença na forma como convivo com meus carmas e você com os seus? Eu sei que o que o meu ego cria é um carma e não uma realidade ou verdade.

Você acha que está me ouvindo porque está percebendo o som. Eu não acredito que ouço nada, porque sei que cada som que eu tiver consciência de ter ouvido foi um carma e mais nada que isso.

A partir desta consciência, então, eu inibo a compreensão enquanto você, que acredita estar ouvindo, deixa o ego criar novas verdades que mais tarde servirão para novos carmas. Como não acredito que estou ouvindo qualquer coisa, não há nada para ser entendido, explicado ou acreditado: apenas carma.

Além disso, no meu caso, por não estar encarnado ou em provações, o meu carma não é prova, mas missão. Mas, tem muito encarnado que também está em missão e para eles também, o carma não é uma provação.

Por isso disse antes que o carma, durante a encarnação, gera o gênero da provação e/ou da missão dos espíritos.

Participante: No livro da vida estão escritos os carmas e o gênero das provas?

No livro da vida não estão escritos nem os carma nem os gêneros de provas. Isto porque, os carmas criados a partir dos gêneros de provas são o livro da vida, o resumo da encarnação que será vivenciada por um espírito.

Veja bem. Aquilo que rotulamos anteriormente como livro da vida não é um composto por páginas onde se escreva alguma coisa. Este instrumento espiritual é a reunião de informações para balizar uma existência carnal e o que consta lá são os carmas criados a partir dos gêneros de provas.

Estou falando em carma não como ato, mas como compreensão. O que está no livro da vida ou as informações que são reunidas para criar a provação de cada ser é a fundamentação que será utilizada por cada um para compreender a cada momento. Não o que fará, mas o que compreenderá a cada momento. Ou seja, que realidade criará.

Carmas humanos - Texto

Formando os carmas

Respondidas as perguntas, continuemos nosso estudo. Vamos falar agora da formação do carma, da compreensão que os espíritos que encarnam no planeta Terra têm dos acontecimentos.

Outro dia, disse que a quantidade de gêneros de provas é muito pequena. Na verdade eles se resumem a um só: o egoísmo. Todo carma é criado a partir do egoísmo, porque todo espírito encarnado no planeta Terra está primariamente em provação contra esta postura sentimental. Ou, como ensinou o Espírito da Verdade, o egoísmo é mãe de todos os males (O Livro dos Espíritos – pergunta 913).

É por isso que toda compreensão que um ser humanizado alcança é formada a partir do eu: eu acho, eu sei, eu gosto, eu faço, eu quero. Toda realidade que o espírito encarnado vive é criada a partir de um individualismo, de um saber individual. Por isso afirmo que toda compreensão que um ser humanizado tem é individualizada.

A partir desta visão, então, posso começar a responder o que me perguntaram anteriormente: como vencer o carma?

Para vencê-lo é preciso vencer você mesmo, ou seja, vencer as compreensões individualizadas e egoísticas que tem sobre as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) da vida carnal. Isto porque para compreender qualquer coisa o ser humanizado só parte do que acha que sabe, ou seja, o que já tinha consciência formada anteriormente.

Todo carma, então, se fundamenta no eu, ou seja, toda compreensão racional se fundamenta naquilo que você sabe e, por isso, é egoísta. Sendo assim, posso afirmar que todo carma é uma proposição de prova para você se libertar deste eu que está vivendo, pois ele é individualista, enquanto que aqueles que estão próximos de Deus são universalistas.

Quando falo no eu do qual precisa se libertar, estou falando no José, na Maria e no Joaquim, ou seja, no ser humano, na personalidade humana, que você imagina ser.

O carma dos espíritos encarnados no planeta Terra, portanto, é sempre formado através de uma conscientização egoísta e esta realidade confere com o que foi ensinado pelo Espírito da Verdade, pois o gênero de provações contra o uso do egoísmo é, primariamente, o gênero de provação no planeta Terra.

Mas, o conhecimento sobre a criação do ego quando encarnado não pode parar por aqui. Se assim fosse, seria muito simples... Os espíritos enviados de Deus viriam até os seres humanizados e diriam que é preciso vencer o egoísmo. No entanto, só isso não bastaria, como não bastou até agora...

Isso porque tudo que os enviados de Deus falam gera uma compreensão para cada um. E, como esta compreensão é ainda fundamentada no egoísmo (eu sei), apesar de vocês não terem consciência desta postura sentimental sendo usada na compreensão, nada teria sido mudado.

Na realidade, apenas ensinar que vocês devem combater o egoísmo levaria cada um a dizer que não é egoísta, mas verdadeiro e, com isso bateriam o pé e acreditariam que vocês estavam certos e o mentor errado. E, quando compreendessem isso, não veriam que o egoísmo (eu sei) esteve presente.

Precisamos, então, nos aprofundar um pouco mais no estudo da formação do carma, ou melhor, precisamos entender através de quais aspectos o egoísmo se faz presente. Ou seja, precisamos compreender os frutos da ação do egoísmo, para podermos, então, começar a trabalhar na luta contra nós mesmos. Vamos falar deste assunto...

Carmas humanos - Texto

Posses

Da intenção egoística nascem os carmas possessivos, ou seja, compreensões racionais baseados em posses. Delas surgem as paixões e, fundamentada nestas últimas nascem os desejos, positivos e negativos. Conhecendo a presença de cada um destes frutos do egoísmo nas compreensões que tem das coisas da vida, dá para compreender melhor a ação carmática. Vamos, portanto, buscar entender cada um destes elementos.

Existem três tipos de posse que surgem pela ação egoísta com a qual se fundamenta o ego: a posse dos elementos materiais, a posse sentimental e a posse moral...

A posse dos elementos materiais é aquilo que é expresso através da compreensão é meu. Todo carma, ou seja, toda compreensão (conscientização) fundamentada no é meu, caracteriza uma provação para o espírito encarnado dentro do gênero de provações vinculado à possessão de elementos materiais.

Imagine-se na sua casa... Olhe à sua volta... Tudo isso que está vendo é seu? Sim, é isso que você acredita. Mas, esta compreensão não é real, pois tudo que existe é do universo e a prova maior disso é que você não tem controle sobre nada: o imprevisto (Deus) dispõe daquilo que você diz que é seu ao seu bel prazer.

Por isso, a compreensão que você tem sobre eles (é meu) trata-se apenas de uma possessão destes elementos materiais e não de uma realidade... Esta compreensão racional só existe para você como carma, como instrumento de provação e não como realidade. É uma prova para o seu egoísmo de achar que é alguma coisa é sua.

Olhe para seu corpo. Achar que ele é seu é uma posse de um elemento material, é uma consciência que o ego gerou como prova, como carma, porque nela está embutido o egoísmo através do gênero possessão dos elementos materiais.

Veja bem. Se o universo é uno, como afirmam os mestres e como a física quântica já está começando a provar, não existem propriedades particulares nele, pois não existe nem a própria particularidade. Aliás, como diz o Espírito da Verdade, o ser humano tem o direito à propriedade particular, mas assim que a conquistar deve franqueá-la a todos. Então, não há particularidade nenhuma nesta propriedade.

Portanto, aí está um carma para os seres universais humanizados: tudo o que cada um acreditar (ter consciência) que é seu, é um carma. E, aquilo que você imagina ser seu (o objeto ou a pessoa) é apenas o instrumento para uma conscientização, ou seja, para que um carma surja e assim uma provação seja vencida.

Posse dos elementos materiais: isso é carma.

Outra posse: posse sentimental. Ela é expressa pelas compreensões eu gosto, eu amo, eu não gosto, eu tenho raiva.

Ter qualquer sentimento que não seja o amor universal com relação a outro ser do universo, encarnado ou não, configura-se numa posse sentimental. Isto porque você o possui (o caracteriza) por um sentimento que nutre a partir da sua compreensão egoística dele.

Claro que todo este processo (de quem gostar e de quem não gostar) é comandado pela mente como já vimos. Mas, você, o espírito que está ligado a este ego, acredita nisso e, portanto, vibra dentro deste mesmo padrão vibratório. Ao agir assim não vê que o que acha é fruto apenas do seu egoísmo, já que o outro não é bom nem mau, mas um espírito puro, gerado à imagem e semelhança de Deus.

Tudo e todos que você gosta ou desgosta, ama ou não, são conscientizações geradas pelo ego para que surja um carma, para que uma prova seja vivida dentro do gênero possessão sentimental das coisas, que é fruto da ação egoística.

Terceira posse: a posse moral. Ela é expressada pela conscientização eu sei. Isto é carma: saber qualquer coisa, declarar que conhece a verdade, ter consciência do certo e do errado, do bonito e do feio, do bom e do mal...

Todas estas compreensões são ações carmáticas criadas pelo ego, porque são consciências que você tem, formadas apenas pelas suas próprias verdades. É um carma porque, ao contemplar apenas o que acha que sabe, as compreensões estão fundamentadas no egoísmo - quando os outros concordam com você, eles estão certos, mas quando discordam, estão errados ou são mentirosos.

Desta forma, durante a existência carnal ou provação do espírito humanizado, o ego vai trabalhando criando consciências sobre as opiniões dos outros para dar a ele uma oportunidade de realizar suas provas, ou seja, para vencer ele mesmo. Vencer a sua própria opinião (o que gosta ou acha certo), o que acha que é dele...

 Mas, até agora falamos muito em provas, mas o que será provar a si mesmo que aprendeu alguma coisa na erraticidade? Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Se o ser humanizado tem posse moral, jamais conseguirá amar ao outro ou a Deus, porque só o que ele sabe é bom e o outro, mesmo que seja o Senhor Supremo do Universo, não pode pensar diferente, pois será considerado errado...

Se o ser humanizado tem posse sentimental (gosta de quem lhe agrada), isso não é amor. Não ama a Deus, não ama ao próximo, mas apenas aquilo que o outro faz a ele...

E, se o ser humanizado diz que alguma coisa é dele (propriedade particular), gera a consciência de que precisa resguardá-la e, com isso, não coloca os seus bens à disposição do próximo e, com isso, não ama...

Portanto, não importa que tipo de possessão o ser humanizado exerça, existindo conscientizações fundamentadas nelas, os preceitos deixados por Cristo como os maiores mandamentos que devem ser seguidos não foram cumpridos.

Então, o carma é uma consciência fundamentada no egoísmo e expressada através das possessões e ele existe para ser vencido, ou seja, para dar ao ser humanizado uma oportunidade de provar que apenas o amor deve existir nos relacionamentos com as coisas do Universo. Mas não um amor egoísta (é meu, eu gosto), mas incondicional e indiscriminado. Para tanto é preciso pegar a espada que Cristo e os outros mestres afirmaram que trouxeram (seus ensinamentos) e matar as compreensões (você mesmo) que o ego cria.

Não fazendo isso, ou seja, mantendo as consciências possessivas geradas pelo ego, o processo de reforma íntima no sentido de se alcançar a elevação espiritual, está comprometido. Isto porque das possessões surgem dois apegos: à vida carnal (querer estar vivo e gozar a existência carnal pelos valores materiais) e o apego à humanidade (querer permanecer com esta personalidade).

Carmas humanos - Texto

O carma e a fé

Estes dois apegos são frutos do egoísmo e das possessões. Mas, porque eles são danosos ao processo de reforma íntima, de elevação espiritual? Porque acabam com a fé.

É isso: o egoísmo expressado pelas possessões acaba com a fé em Deus. O querer (amar, possuir ou saber) sempre fundamentado no que o ser humanizado quer, ama e acha certo, é a antítese da fé no Pai. Isto porque fé é entrega com confiança: total e cega. Quem acredita apenas em si, nas consciências que tem, tem fé apenas em si mesmo, ou seja, se entrega e confia apenas nele mesmo e não a Deus.

Sendo assim, posso afirmar que o carma é uma prova de fé.

Quem compreende a ação carmática, ou seja, a conscientização como uma provação fundamentada no egoísmo e expressa através das possessões, consegue entender que naquele momento está sendo submetido a uma prova de fé a Deus ou a si mesmo (egoísmo). Se você compreende que não gosta do que está acontecendo eis uma prova para sua fé, ou seja, confiar em Deus e manter-se em estado de graça (felicidade incondicional) mesmo não gostando. Acreditando na sua compreensão, terá que sofrer e criticar os agentes daquele acontecimento e com isso expressa a sua fé em você mesmo e, por isso, age egoisticamente.

Se a compreensão que está vivenciando agora lhe diz que tudo que está acontecendo é errado, eis aí uma prova de fé, pois você terá a oportunidade de se libertar do egoísmo (achar que está certo) e declarar-se incompetente para saber deixando apenas a Deus a compreensão das coisas.

É isso... Viver com Deus, para Ele e Nele: este é o resultado do não deixar-se guiar pelo egoísmo expresso através das posses que são usadas pelo ego para criar as compreensões. Com isso acaba o desejo de querer estar vivo (encarnado), de gozar a existência carnal pelos valores materiais.

Mas, o apego à vida e à humanidade do ser universal não é danoso apenas no sentindo espiritual, mas também no carnal. Isto porque ele gera o medo da morte. Na verdade, este medo não é propriamente da morte, mas da perda do eu, da humanidade que o ser universal está vivenciando. Portanto, mesmo que você queira apenas viver bem materialmente, a libertação da ação das conscientizações (está certo) é necessária.

Carmas humanos - Texto

Libertar-se de tudo

Apesar desta realidade, poucos são os que estão dispostos a realizar esta libertação. Por quê? Porque o espírito gosta do resultado da ação do egoísmo... Quando alguém faz o que você quer, lhe trata do jeito que gosta de ser tratado e concorda com tudo o que diz, alcança o prazer e sente-se realizado. É por isso que não quer se libertar do ego.

No entanto, como ensinado pelos mestres, todos um dia terão que realizar, ou seja, em uma encarnação qualquer você terá que se libertar de todas as conscientizações não se deixando levar pelo egoísmo. Agora, repare que falei todas e não apenas aquelas que você acha que deve libertar-se, ou seja, do que considera errado fazer. Quando se fala de libertação das conscientizações é preciso compreender que mesmo o que a humanidade diz que é bom ou certo ainda é uma ação egoística.

Por exemplo: ser mãe. Esta é uma consciência que o espírito humanizado recebe do ego ao perceber o ‘nascimento’ do filho. Ela é um carma, uma prova e não uma ‘missão divina’ como define os seres humanos.

Isto porque o espírito que se compreende como mãe age egoisticamente. A mãe só acredita no amor dela pelos filhos; só o que ela sabe o que é melhor para ele. Ou seja, não entrega o destino do filho na mão de Deus, que é o verdadeiro Pai deste espírito. Por que isso? Porque todas as compreensões deste ser humanizado estão fundamentadas numa posse sentimental (‘é meu filho’) e numa posse moral (‘eu sei o que é melhor para ele’).

Então, encerrando o assunto dos apegos, as compreensões que o ego gera para o espírito encarnado (carma), além de concretizarem possessões, ainda consagram o apego à vida material e no desejo do prolongamento da humanidade deste ser.

E, como o carma é uma prova, é por isso que nas realidades construídas pelo ego a vida do ser humanizado está constantemente sobre ameaça. Portanto, o medo da morte com o qual os seres humanizados vivem é também um carma, ou seja, uma oportunidade para exercer a fé em Deus.

Participante: Existe o falar minha casa sem o sentimento de ser minha casa, mas apenas porque não existe outra forma de falar desta realidade?

Eu não falei em falar... Até agora eu não abordei atos e nem vou falar sobre isso, porque o carma é uma compreensão racional, uma compreensão que lhe vem pelo raciocínio.

Respondendo a sua pergunta, fale o que quiser, mas se achar (tiver a compreensão interna) que a casa é sua não se libertou deste carma.

Libertar-se do carma não é falar ou deixar de falar determinadas palavras, pois o carma não está no ato, mas em compreensões que se expressam pela razão, por aquilo que você acredita interiormente. Portanto, se você acredita que a casa é sua interiormente, mesmo que da boca para fora diga ao contrário, ainda está preso ao egoísmo. Por isso, ainda precisará viver repetidamente carmas sobre este assunto, já que ainda não se libertou desta provação.

Carmas humanos - Texto

Paixão

Aproveitando a sua pergunta, vamos falar agora da possessão especifica por um elemento. Falamos das posses apenas genericamente (possuir objetos, pessoas e verdades em geral); agora vamos comentar a posse sobre determinado elemento.

A posse – seja por elementos materiais, sentimental ou moral – por um elemento específico é chamada de paixão. Enquanto a posse gerada pelo ego através de compreensões egoísticas é genérica, a paixão é específica.

Usando como exemplo a última pergunta (minha casa), posso dizer que existe uma posse de característica elemento material, que é expressada pela consciência é minha e uma paixão, que se exprime através do elemento casa. Sendo assim, na consciência que você verbalizou afirmando que aquela é a sua casa, está presente o carma fundamentado no egoísmo operando através de uma posse sobre elementos materiais e de uma paixão pela casa.

Este é o carma. Ele funde as posses e as paixões nas conscientizações que o caracteriza.

Outro exemplo: ele é meu amigo... Ter esta consciência denota a existência do egoísmo expressada por uma posse sentimental sobre um determinado ser humanizado. A amizade é uma possessão sentimental e aquele que é objeto da amizade é a paixão do ser humanizado que serve de instrumento para o exercício da posse.

Acho que agora fica mais clara a questão do carma. Isto porque posse é genérico, mas a paixão é específica. A paixão é por algo; a posse é caracterizada pelo gênero de compreensão.

Carmas humanos - Texto

O carma e o livro da vida

Agora podemos, também, compreender um pouco mais da pergunta sobre o escrever o livro da vida...

O ser universal sabe que tem que combater o egoísmo que está presente nele e que é expresso pelas posses dos bens materiais. A partir deste gênero de provação escolhida pelo espírito, Deus cria através do ego compreensões sobre determinadas coisas de tal forma que estas espelhem uma paixão por um elemento humano ou espiritual.

Por exemplo, quem precisa, por missão ou provação, trabalhar a possessão moral, vai ter compreensões racionais de que determinadas pessoas estão erradas. No entanto, elas não estão certas ou erradas, pois o que elas pensam não tem nada a ver com a compreensão. Aquelas pessoas são simplesmente instrumentos carmáticos, ou seja, estão fazendo figuração para que a lógica racional, que é o carma, aconteça.

O carma ou prova é a compreensão que acha errado aquela pessoa, pois isso parte do egoísmo. Existe, portanto, neste carma uma posse moral (achar que está certo) e a paixão, que é representada através daquela determinada pessoa.

Desta observação nos chega uma verdade: para o mesmo gênero de possessões existem milhares, bilhões de paixões. Mas, não importa se você acha errado o garoto de rua ou o presidente da república: eles são apenas instrumentos carmáticos, instrumentos para gerar a compreensão fundamentada na possessão moral (eu sei), ou seja, paixões criadas por Deus.

É assim que se escreve o livro da vida. O espírito escolhe o gênero de provas (as possessões) que quer executar e Deus, ao longo da vida, vai criando paixões para que a provação possa acontecer. Esta é a realidade que todo ser humanizado deve viver: tudo aquilo que ele compreende é um carma onde está configurado um gênero de provas (possessão) que é exercido através de uma paixão criada por Deus.

E é por isso que Cristo fala tanto em não julgar, em não criticar. Tire a trave do seu olho, pois ao criticar alguém, está cedendo a um carma de posse moral e, com isso, extravasando o seu egoísmo...

Saiba que você ao gostar ou não de alguém está exercendo determinada paixão oriunda de um carma de prova sentimental. Com isso deixou de amar universalmente aquela pessoa, pois preferiu o sentimento baseado no seu egoísmo...

É isso o que vocês chamam de vida ou raciocínio. A cada micro fração de tempo, Deus através do ego vai gerando os seus carmas e o faz usando outros elementos que estão vivendo o carma deles. Aquele que você compreende como errado, quando participa da sua ação carmática, também tem uma compreensão individualizada: isso é o carma dele. Você, quando assiste o que ele faz, tem uma compreensão e ela é o seu carma.

Este é o mundo. Esta é a vida. Os carmas vão se sucedendo e quando você pensa que está se relacionando com alguém, na verdade, está se relacionando com Deus, vivendo seus carmas. Isso é a vida.

Carmas humanos - Texto

Os ensinamentos e o carma

Participante: Então, tudo isso que estamos presenciando aqui é um carma, se fosse compreendido como uma conscientização. Mas, como é uma informação para acabar as nossas conscientizações este ensinamento não é um carma?

Não, o ensinamento não é um carma, mas um instrumento dele. Ele poderá gerar um carma se você transformá-lo em consciência, verdade...

Já cansei de dizer: você não deve acreditar em nada, nem mesmo no que eu digo. Se você acreditar no que eu digo, um dia terá que se libertar desta consciência, pois mesmo a crença no que digo ainda é um carma. Agora, se mesmo com tudo isso que está ouvindo aqui ainda criar a conscientização de que tudo o que falo é uma verdade ou realidade, saiba que este novo carma é mais universalizado ou espiritualizado. Ele não deixa de ser uma ação egoística, mas menos individualista. Isto porque é um carma que lhe ensina a amar universal e indiscriminadamente.

Por hora, acreditando no que eu digo como certo, ainda irá querer que todos pensem como você. No entanto, quando alcançar a plenitude do amor (não tiver mais nenhum certo ou errado) não exigirá que os outros pensem como você. Neste momento extingui-se a sua posse sentimental ou moral.

Mas, isto é realização e não caminho. Por enquanto você, como caminhada, ainda precisa ter uma compreensão: não deve acreditar nas compreensões que estão lhe surgindo agora.

Carmas humanos - Texto

Desejos

Vamos continuar nos aprofundando nos elementos do carma? Vimos que ele está submetido a um gênero de egoísmo (posses) e que se expressa por múltiplas paixões. Mas falta ainda um elemento a ser conhecido, pois das paixões nascem os desejos.

Se um ser humanizado tem uma paixão, certamente também terá desejos, pois eles são formados a partir delas. Mas, o que são estes desejos? A vontade de ganhar e a de não perder o objeto da paixão; a vontade de ter prazer e a de não ter desprazer a partir da vivência com o objeto da paixão; a vontade de ser considerado certo (ter fama) e a de não ser considerado errado (infâmia) por causa da paixão; a vontade de ser elogiado (reconhecido) e a vontade de não ser criticado por causa da sua paixão. Os desejos, portanto, estão vinculados às paixões e expressam vontades que o ego dá ao ser humanizado a partir da conscientização da paixão.

Com este componente (os desejos) conhecemos agora todos os elementos de uma compreensão racional. Sempre que um ser humanizado tem uma compreensão racional (um raciocínio), ela inicia-se no eu, está presa a um quer, gostar ou saber. As paixões são expressas na conscientização através de algum elemento (pessoas, objetos ou conhecimentos), que são as paixões e tem embutido em si sempre um desejo, uma vontade, com relação a este elemento.

Isto é, dentro de uma visão completa, o seu carma. Ele é um raciocínio que diz: este carro é meu e quero que ele fique inteiro; esta casa é minha e quero que ela seja arrumada desse jeito; este filho é meu e quero que ele seja criado assim; este amigo é meu e eu quero que ele aja assim; sobre este assunto eu sei e quero que o meu conhecimento sobre ele seja verdade. Estas são algumas construções que o ego do ser humanizado faz a cada conscientização. Nelas estão presentes o egoísmo (a ação do eu), as posses (morais, sentimentais e dos objetos), as paixões (os elementos de cada uma) e os desejos que se vinculam ao querer estar certo, ter prazer, alcançar a fama e receber elogios.

Estas conscientizações ou carmas, como já afirmamos, geram as provações que o espírito humanizado pede para passar para provar a si mesmo o quanto aprendeu ainda na erraticidade. Compreender isto é fundamental para aquele que pretende promover a reforma íntima, pois assim ele vivenciará as compreensões como provas e não como realidades.

Carmas humanos - Texto

Vencendo o carma

Mas, como aproveitar esta oportunidade (ter uma compreensão racional) para realizar a provação a contento? Tendo a consciência de que tudo que lhe vem à mente é um carma. Quando o ser humanizado compreender que tudo que ele conhece pelo raciocínio não é Real porque se trata apenas de uma interpretação individual fruto do seu egoísmo, poderá, então, viver universalmente.

Se perguntasse agora se tinham entendido o que quis dizer desde o início de nossa conversa, com certeza muitos me responderiam: agora entendi o que você quer dizer. Mas, quem disser isso não entendeu nada, pois o que teve foi uma compreensão racional, ou seja, uma nova interpretação individualizada fundamentada no seu egoísmo através da posse moral (eu sei).

Não é assim que se vence a prova. O carma não pode ser superado por uma compreensão racional, pois esta seria um novo carma. Para que o ser humanizado aproveite a ação carmática (a compreensão que tem) é preciso, primeiramente, que compreenda que o que lhe é dito pelo ego não é real, mas apenas uma proposição de novo carma. Ou seja, para se vencer o carma é preciso, primeiramente, que o ser humanizado conscientize-se que não pode compreender nada do que é dito através da razão. Ele precisa ter na consciência apenas a certeza de que precisa compreender que nada deve ser compreendido.

Vindo à sua mente, por exemplo, a consciência de que tal pessoa é mal educada, compreenda que você não pode aceitar tal propositura como realidade. Aquela pessoa não é mal educada: esta informação é apenas o seu carma e você, que busca a elevação espiritual e compreende isso, precisa se libertar dessa paixão.

Este é o trabalho de quem quer eliminar os seus carmas: não acreditar nas consciências que Deus forma através do ego para sua provação. Para isso é preciso saber que tudo que lhe vem à mente é um carma, um reflexo de um pedido do espírito quando ainda na erraticidade (a provação da superação do egoísmo expresso através da posse moral – saber a verdade).

 Aí está a realidade final sobre o carma: tudo que lhe vêm à mente refere-se a um pedido seu feito antes da encarnação para provar que se libertou do egoísmo ou porque esta é a personalidade com a qual você encarnou para cumprir uma missão.

Carmas humanos - Texto

O carma da missão e da provação

Tudo que disse até aqui sobre o carma está presente na encarnação para missão ou provação, sem me explicar muito bem a diferença do carma nas duas coisas. Vou falar um pouco agora disso...

Na verdade, através das percepções do ser humanizado é impossível saber se cada um está em provação ou missão. Isto porque, tanto um quanto o outro possui um ego que lhe determina verdades. Nenhum ser humanizado consegue saber se um determinado ser humanizado está em provação ou missão, nem o próprio. A mente de ninguém lhe diz que ele é um espírito em missão. Se disser, isso não é real, mas sim um carma. A diferença entre o ser que encarna para missão e o que encarna para provações está na elevação espiritual que cada um já alcançou ao longo da existência eterna do espírito, mas este fator não pode ser conhecido pelas percepções humanas.

A encarnação para provação é para aquele espírito que precisa realizar ainda algo para evoluir dentro do mundo em que vive; missão é uma existência carnal de espíritos que já alcançaram o máximo de evolução espiritual deste mundo, mas permanecem ligados a ele (preso à roda de encarnações) para ajudar o próximo.

Tanto um quanto outro, como disse, será guiado por um ego e ele, acionado por Deus, criará elementos que ratifiquem externamente uma compreensão racional. Não existe diferença entre o ego de um missionário e o de um espírito em missão. Isto porque se o missionário fosse sempre um santo não serviria como elemento criador das provações dos outros.

Sendo assim, o ego do espírito missionário precisa criar imaginações que nem sempre podem ser classificadas como corretas. Por exemplo: o ego de um missionário pode dizer ao espírito que ele não gosta de determinada pessoa. Fará isso com a intenção de justificar (criar a ilusão da racionalidade) as ações que aquele ser, agora humanizado, precisa praticar para auxiliar a prova dos outros.

Portanto o não gostar de alguém (ter esta compreensão racional) não significa baixo índice de elevação espiritual, mas apenas um carma necessário para uma missão. Sendo assim, se você não gosta de alguém pode ser que seja porque tem a missão de não gostar dela. Não se lamente por isso, diga a si mesmo apenas: não gosto, e daí...

O ato de ter a compreensão de não gostar, é sempre seu carma, seja você missionário ou espírito em provação. Portanto, não há necessidade de sofrer com esta construção mental ou acusar-se dizendo que não passou na prova porque teve esta idéia sobre o outro. Deixe o ego continuar gerando a compreensão de que você não gosta dela, mas não acredite nesta informação. Diga para si mesmo: gostar ou não gostar é apenas uma impressão que o ego está me dando; eu não sei se gosto ou não...

É assim que se liberta do carma: tendo a consciência que a criação racional do ego não é uma verdade nem uma realidade - é simplesmente um carma – estando em missão ou provação...

Promover a reforma íntima é exatamente isso: saber que a compreensão que é alcançada a cada momento da existência carnal é um carma e é exatamente assim porque, antes da encarnação, você, o espírito, pediu para agir, como missão ou provação, dentro de determinada posse gerada pelo egoísmo. Então, a compreensão racional de agora é a conseqüência (efeito) de uma causa: o pedido feito em um momento anterior para vivenciar uma missão ou provação.

Não importa se você está aqui por provas ou por missões: tudo o que se conscientiza é aquilo que veio a esta existência para se libertar. Se libertar não no sentido de deixar de ser, mas no sentido de compreender que tudo que você acha não é real, mas apenas um carma.

Carmas humanos - Texto

Todas as coisas

Só para completar esta parte do estudo, quero dizer uma coisa: estou falando em tudo. Portanto, vocês devem se libertar de todas as coisas que lhe vêem pela razão.

Não estou dizendo que algumas compreensões racionais são carmas; estou dizendo que todas as compreensões racionais são carmas. E mais: estou dizendo que todas as compreensões racionais que você tem sobre qualquer assunto estão fundamentadas no egoísmo, nas possessões, nas paixões e nos desejos.

Todas as compreensões, desde a necessidade de ir ao banheiro até aquelas que são alcançadas com o estudo de temas considerados profundos, estão fundamentadas nos quatro elementos que vimos aqui (egoísmo, posse, paixão e desejo) e que todos os mestres nos ensinaram que não se deve ter.

Agora posso, então, responder para quem me perguntou anteriormente como vencer o carma: reconheça que o que você pensa não é certo, que o que sente não é bom, que o que tem não é seu... Compreenda que tudo isso que sente e acha faz parte do seu carma. A partir desta compreensão poderá agir com equanimidade com os elementos do mundo carnal e não será mais guiado pelas posses, paixões e desejos que interferem no seu estado de espírito. Se fizer isso lhe garanto que sai desta carne muito bem.

Participante: A solução para o carma está no próprio carma então? Digo isso porque compreendi que a solução para o carma é conscientizar-me que não devo me conscientizar de nada.

No atual estágio de evolução sim. Isto porque esta consciência não é egoísta. Agora cuidado: ela pode transformar-se também numa posse...

Se você transformar esta consciência numa verdade e por causa dela aceitar o pensamento de que deve ensiná-la aos outros, ou seja, dizer como eles devem vencer seus carmas, terá criado uma nova possessão moral.

Falei que isto é o trabalho para este estágio de evolução. Agora, a partir do próximo mundo de encarnações, que será o de regeneração, virão novos elementos e aí novos trabalhos surgirão. Mas, voltaremos a conversar sobre isso daqui a uns dois ou três mil anos.

Participante: Então, para se promover a reforma íntima e alcançar a elevação espiritual devemos viver negando os pensamentos e sentimentos?

Não falei em negar...

Negar é uma atitude oriunda de uma compreensão racional e, portanto, uma posse. Para promover a reforma íntima é preciso que o ser humanizado aprenda a conviver com os pensamentos e sentimentos (sensações) geradas pelo ego sem deixá-los influenciar, dirigir a existência do deste espírito, ou seja, transformarem-se em verdades.

Não é negar sistematicamente: não é isso... É não acreditar: não sei...

Não negue a compreensão que diz, por exemplo, que a casa é sua. Conviva com o ego dizendo que ela sua, mas, interiormente, não acredite nisso. Não tenha este sentimento por dentro. Não sinta a casa como sua, apesar do ego dizer que ela é. Sinta somente que você não sabe de quem é a casa...

Foi o que respondi anteriormente. Falar, você falará o que for preciso para compor os carmas seu e dos outros, mas, por dentro, não deve sentir que a casa é sua propriedade.

Carmas humanos - Texto

A vivência com o carma e a elevação espiritual

Eu queria que hoje prestassem muita atenção, pois vamos falar da prática do caminho da elevação que tem sido o objeto de nossos estudos. O assunto de hoje é como interagir com o seu carma, como vivenciar a vida carnal, os acontecimentos que refletem os seus carmas. Precisamos aprender interagir com o nosso carma, pois é neste aspecto que se encontra a vitória ou a derrota na busca da elevação espiritual, ou seja, daquilo que o espírito se propõe quando cria um personagem para vivenciar.

Sem esta compreensão o ser humanizado não consegue nada no sentido da elevação espiritual. Pode conseguir até atingir objetivos materiais (estudo, emprego, fortuna), mas na verdade se alcançá-los não terá conseguido nada porque tudo que é material acaba ali na esquina, ou seja, acaba com a morte.
Portanto, vamos conversar hoje sobre como interagir com seu carma, como viver com o seu carma.

Carmas humanos - Texto

O carma

Carma, nós já sabemos o que é: uma reação a uma ação anterior. Uma reação justa e amorosa à ação anterior que o ser humanizado praticou. Mas o carma não é o que está acontecendo (os atos em si), mas a essência dos acontecimentos. Vou dar um exemplo para podermos compreender melhor. Se você planta posse, vai ter que vivenciar situações onde possa colher despossuir, ou seja, uma situação onde seja testado no seu despossuir.

Acontece que o carma não é o acontecimento em si. O ato que cada ser humanizado vivencia pode conter histórias variadas (roubo, destruição de objetos, afastamento de pessoas): isto não importa para a provação da encarnação. Seja o que for a história imaginária do que está acontecendo, existe sempre uma essência que é a prova que o espírito pede. Esta essência é o carma.

Pergunta: Para mim o assunto será muito importante, pois estou vivenciando muito este tema. Estou tendo forçosamente que despossuir meus filhos que saíram todos de casa.

Mas porque isto está acontecendo? Porque algum dia você plantou posse.

Pergunta: Nesta vida?

Ou nesta ou em outra, isto não importa: você plantou posse. Por isto foi criada, por você mesmo, e emanada por Deus uma situação onde está sendo testada no seu despossuir.

Esta é a essência do que está acontecendo em sua vida agora. Toda a sua briga com seus filhos (atos materiais) não tem significado algum. São palavras e atos que nada tem a ver de real, pois a Realidade é a essência do que está ocorrendo: Deus está lhe emanando uma situação onde existe uma prova, um carma, de despossuir que é uma justa reação à sua posse anterior.

Os motivos pelos quais você imagina que cada um saiu de casa são apenas historinhas irreais. O que realmente importa em cada acontecimento é a essência que está embutida nele. No entanto, você não consegue ver esta essência. Por quê? Porque é preciso que retire dos acontecimentos a história imaginária. Sem que a retire jamais compreenderá a essência do acontecimento e por isso não conseguirá realizar suas provas. Se não retirar a história que fala tudo que seus filhos fizeram, não entenderá que a situação foi pedida por você mesmo antes da encarnação e que Deus a provocou (emanou) para houvesse uma oportunidade de testar o seu despossuir. Sem esta compreensão, ao invés de lutar para despossuir, criticará os participantes da ação imaginando-os criadores da situação.

Portanto, quando interagimos com o carma, ou seja, quando participamos de um momento da vida, precisamos levar em consideração que aquilo que está acontecendo não é o que está ocorrendo, mas que existe ali em cada situação uma essência que é a oportunidade que Deus está dando a cada um de seus filhos (espíritos) de se elevarem.

Carmas humanos - Texto

Os elementos do carma

A vivência do carma se dá através da interação com as coisas do planeta. Ou seja, você vive neste planeta e interage com as coisas que aqui existem para poder vivenciar o seu carma.

Mas, que são as coisas do planeta? Pessoas, objetos e acontecimentos. Portanto, o carma é a essência do relacionamento dos seres humanizados com os objetos, os acontecimentos e com outras pessoas do planeta que vivem. Todas estas coisas (pessoas, objetos e acontecimentos), não são reais, não existem: são simplesmente emanações de Deus que servem instrumentos da teatralização de uma essência que é o seu carma.

Falando com você que me disse que seus filhos saíram de casa, para que realmente possa vivenciar o seu carma é preciso alcançar a compreensão de que aqueles seres humanizados não são seus filhos. Eles são instrumentos emanados por Deus para gerar a situação onde estará sendo contemplada uma essência de despossuir. O carro que o ser humano possui não é o seu automóvel, mas um elemento emanado por Deus para servir de instrumento que participará de momentos onde essências são testadas.

Você vê (tem percepção) o carro, mas não existe carro. Você imagina que aquela pessoa é seu filho, mas é apenas um ser humano projetado por um espírito e emanado por Deus. Tudo que existe (objetos e pessoas) e que faz parte um acontecimento é instrumento da ação carmática.

Para poder melhor compreender o assunto de hoje, vamos estudar os três tipos de elementos emanados por Deus na ação carmática separadamente.

Carmas humanos - Texto

Convivendo com os objetos

Primeiramente vamos ver o mais fácil de compreender: os objetos do mundo material. Todos os objetos que existem são instrumentos emanados por Deus para a ação carmática do espírito.

Esta mesa, por exemplo, não é sua: é uma emanação de Deus. O Pai criou-a manipulando o fluído universal, dando a ela um determinado aspecto e consistência para que possa fazer parte de ações carmáticas. Ele não lhe ‘deu a mesa, mas colocou-a a sua disposição enquanto for necessário para a sua ação carmática.

Ela estará aqui enquanto for necessária para a essência das ações carmáticas que você, espírito, precisa participar. Na hora que ela não for mais necessária para suas ações carmáticas Deus poderá retirá-la, a retirará. Para isso emanará outra situação onde a mesa deixe de estar sob a sua guarda. Neste momento, ela ainda estará servindo como instrumento de uma ação carmática. O não mais existir a mesa será uma nova situação que representará uma nova essência para uma nova ação carmática.

Por causa desta compreensão o ser humano deve se relacionar com os objetos sem pensamentos que contenham posses. Apesar desta forma de relacionamento já ter sido aconselhada pelos mestres da humanidade, os seres humanizados ainda se deixam levar pelas criações mentais que afirmam que a mesa é dele.

Para seguir os ensinamentos dos mestres e com isso alcançar a evolução espiritual, o ser humanizado precisa, ao perceber esta mesa e o raciocínio lhe dizer que ela é sua, combatê-lo afirmando: ‘isto não é uma mesa, mas um instrumento para as minhas ações carmáticas. Se ela está aqui, louvado seja Deus por ter criado este instrumento como essência do meu carma; se não estiver, o louvo do mesmo jeito’.

Se ela está inteira ou quebrada, limpa ou suja, ou seja, a forma como ela é emanada por Deus gera uma essência carmática que serve como provação para o ser humanizado. Por isso, ao invés de se vangloriar ou sofrer com ela, louve a Deus por lhe dar esta oportunidade de se elevar. Para isso saiba que a sujeira ou o quebrado da mesa e os acontecimentos que fizeram-na tomar aquela forma foram emanações de Deus e Ele fez isso apenas para que você, o filho Dele, tivesse uma oportunidade de elevar-se.

Esta é a forma de interagir com os objetos que fazem parte da ação carmática que você vivencia durante a encarnação. Aproveitar esta oportunidade é vivenciá-los no estado que estão sem que sofrimento ou prazer e sem querer mudá-los.

Apenas uma observação. Apesar de falar desta forma, não estou aqui dizendo que você não deve limpar ou consertar a mesa quebrada. Quando falarmos de pessoas e acontecimentos, trataremos das ações especificamente (limpar ou não limpar, consertar ou não). Por enquanto é preciso apenas compreender a forma de se relacionar com o objeto sem querer entender ainda como agir com os acontecimentos deles.

O que estamos falando, por enquanto, é que não existe a ‘droga da televisão’ novinha que quebrou e nem a ‘porcaria da torneira’ que está vazando. O que existe é uma proposição de situação onde os objetos são instrumentos de carmas, ou seja, da essência do acontecimento. Quando falarmos dos acontecimentos, veremos se a torneira deve ser consertada ou se devemos reclamar na loja a quebra da televisão.

Só naquele momento vamos discutir a questão de como agir. Por enquanto precisamos entender apenas que as coisas e a impermanência delas (alteração constante de estado) são instrumentos do seu carma emanados por Deus.

E fazer isso é entender que se a sua televisão quebra, na verdade isso não aconteceu. O que ocorreu é que Deus mudou a situação dela de funcionar para parada. Fez isso para gerar uma ação carmática onde está implícita uma essência que lhe provará em alguma coisa para a elevação espiritual. Não há nada quebrado, errado ou torto, mas ações carmáticas que expõe uma essência que você, espírito, pediu para ser provado.

Para reagir positivamente no sentido da elevação espiritual é preciso que este ser esteja além da existência do objeto televisão e além da situação quebrada. Somente libertando-se da formação mental que cria estas verdades para a emanação de Deus, o ser humanizado pode viver conscientemente o acontecimento como carma. Pode compreender que existe ali uma essência à qual precisa responder amorosamente e assim conseguirá realizar a reforma íntima que leva à elevação espiritual.

Carmas humanos - Texto

Convivendo com você

Vamos falar agora da segunda coisa que listamos anteriormente: as pessoas.

Você, espírito, interage em cada acontecimento com dois tipos de pessoas: você mesmo e os outros. A relação com que interage com cada um destes tipos de pessoas é diferente e por isto vamos estudá-las isoladamente. Comecemos pela interação de você com você mesmo.

 As pessoas não existem. O que existe é um espírito que programou uma mente, que representa um ser humano, para que, através da emanação de Deus, ele vivesse uma vida carnal e os acontecimentos desta existência lhe servissem de prova.

Você é um espírito, sem cor, raça, sexo ou formas. O ser humano é um personagem que foi criado para viver determinadas histórias. Estas histórias são geradas pela própria mente. Para compreender isso, vamos usar um exemplo.

Digamos que você está dentro de um carro numa estrada andando a cento e vinte quilômetros por hora. Este é um acontecimento de sua existência? Não. Na verdade ninguém anda num carro a cento e vinte quilômetros por hora, mas sim num carro que está correndo muito ou pouco.

O que realmente constitui as histórias que o ser humano vivencia para que o espírito tenha a sua provação não é o que está se passando, mas a forma como a mente interpreta o acontecimento. A velocidade em que o carro está pouco importa quando se fala de viver a sua existência, mas sim a idéia que se teve naquele momento. O que importa é o pavor que se vive e não a presença de uma pessoa lhe ameaçando; o que importa o cansaço que se sente e não o movimento do corpo que foi realizado. Isso porque muitos podem movimentar-se muito e sentirem-se bem cansados, enquanto que outros pouco se mexem, mas estão sempre cansados. Como esta qualificação que se dá ao acontecimento é gerado pela mente através de pensamentos, é ela que cria a história e não os acontecimentos externos.

Estas formações mentais, no entanto, não são criadas por você, o espírito. Elas são emanadas de Deus ao ser humano que você imagina ser durante uma encarnação. Ao fazer isso ele cria a provação de cada espírito. Sendo assim, cada formação mental é uma essência de uma ação carmática ou o próprio carma.

Para a criação destas formações mentais Deus emana na consciência de cada mente uma série de verdades. O gostar ou não de algo, o querer ou não, são verdades que Deus emana através do ser humanizado para que elas se transformem em essências que servirão como provação ao espírito.

Quando se compreende o que falamos até aqui sobre o ser humano que você, o espírito, imagina ser neste momento, vê-se claramente a importância das verdades que Deus emana. A televisão que mudou sua situação de funcionando para quebrada, por exemplo, só se transformou em droga porque naquele ser humano uma verdade que diz que ele pagou pela televisão e por isso ela tem que funcionar sempre. Sem esta verdade, quando a televisão quebrasse, você apenas a levaria para consertar ao invés de exasperar com este acontecimento.

A verdade serve de argumento para justificar a história que o pensamento cria. A velocidade de cento e vinte quilômetros por hora só é considerada como estar correndo porque na mente existe uma verdade que afirma isso desta velocidade. São as verdades que estão na mente do ser humano que você, o espírito, está vivendo neste momento que diz que certa quantidade de atividade deve ser vivenciada com cansaço e ela também que cria a idéia do perigo para que justifique o medo.

Portanto, sem as verdades não existiria a realidade que você imagina estar ocorrendo e, desta forma, não haveria a provação do espírito: amar a tudo (manter-se equânime frente a qualquer história de vida criada pela emanação de Deus) ou vivenciar as idéias geradas pela mente: irritar-se com a televisão, cansar-se, sentir medo.

A verdade, portanto, é importante para a provação do espírito. Mas, para que ela seja superada, é preciso que você compreenda que ele não é real. São ficções emanadas por Deus que caracterizam a essência do acontecimento. Portanto, tudo aquilo que o ser humano que você está vivenciando neste momento acredita que é verdadeiro não é. São apenas instrumentos para os carmas das suas provas espirituais.

Quando você (espírito imaginando ser o homem) diz ‘eu acho certo’, na verdade não está achando nada certo: o que está acontecendo é que Deus está emanando um carma para você, o espírito. Quando diz ‘eu sei este assunto’ ou quando diz ‘gosto disso’, você, na verdade nada sabe ou gosta: está apenas vivenciando uma emanação de Deus que serve como o texto da pergunta da sua prova. Esta oportunidade será bem aproveitada se você, acima daquilo que o ser humano estiver acreditando, manter-se em paz, felicidade e harmonia com o Universo.

Portanto, nos acontecimentos da vida carnal interagir com você mesmo atento à convivência com o carma é libertar-se da característica de verdade que a mente confere às informações que estão arquivadas em sua memória e que são trazidas à consciência pela mente. Isso é diferente do que os seres humanizados pensam: eles imaginam que reforma íntima é alterar ou desmentir as verdades que estão na mente. Como elas são emanadas por Deus e você, o espírito, não pode criar ou modificá-las, se isso acontecer terá sido uma nova emanação do Pai e não vitória sua. Se o Pai emanar verdades diferentes e com isso gerar histórias de vida diferentes, isso quer dizer que você, o espírito, está agora submetido a uma nova essência e não que você mudou alguma coisa.

A partir de tudo o que conversamos, se a mente a qual está ligado lhe disser que você é uma mulher, não acredite nisso. A idéia de ser uma mulher faz parte do personagem. Quando a sua mente lhe propõe a idéia de que você é mulher está lhe propondo uma situação carmática: acreditar ou não que você é mulher. Acreditando nesta idéia o espírito vivencia outras situações carmáticas geradas pelas verdades que estão na mente humana e que são aplicadas às mulheres: sou mais fraca do que os homens e por isto eles devem fazer as coisas mais pesadas, sou mais sensível e por isto devo ser paparicada, etc.

Todas estas verdades cobrarão uma série de posturas das outras pessoas com quem você se relacionará. Se não compreender que nestes relacionamentos está ocorrendo uma ação carmática onde está embutida uma essência, cobrará que aquilo que imagina ser verdade ocorra.

Como a ação carmática emanada por Deus não visa satisfazer os desejos humanos do espírito, mas sim lhe dar uma oportunidade de amar, normalmente ela será contrária aos anseios daquele espírito. Portanto, os outros dificilmente concordarão com o ser humano. Neste momento o espírito se contrariará e com isto deixou de aproveitar a oportunidade para se elevar espiritualmente. Para que isto não ocorra, a ação do espírito deve ser lutar contra a obrigatoriedade de se portar como mulher. Falo em não se portar como mulher não externamente, mas internamente: dar valor de verdade àquilo que a mente diz que precisa acontecer (sou mais fraca, preciso ser paparicada).

Portanto, quando da vivência dos seus carmas que sejam representados pela interação com você mesmo que anule todas as verdades sobre você que a mente lhe transmite através do pensamento. A ação não deve ser no sentido de mudá-las (acreditar que é homem), mas anulá-las: “não sou mulher, mas também não sou homem; não possuo sexo porque sou um espírito e, por isto, não possuo sexo”. A partir do momento que você lute para não dar credibilidade às verdades expostas pelo ego elas se extinguirão. Neste momento você não terá mais sexo, ou seja, não terá mais verdades embutidas que criarão padrões de ações dos outros que definam o seu sexo. Só aí conseguirá viver equanimente e alcançará a elevação espiritual.

Portanto, na prática, a interação com você mesmo que lhe leva a aproveitar a ação carmática como instrumento da elevação espiritual é não dar sentido de verdade às coisas que são ditas pela sua mente através do pensamento. Isto porque, quando você não age na prática no sentido da elevação espiritual (viver a situação relacionando-se com equanimidade) você tem o prazer de dizer que está certo e ou tem o sofrimento de se acusar.

Carmas humanos - Texto

O prazer e o desprazer

Estes são os dois aspectos da vida que estamos falando há muito tempo sobre a convivência com o carma que não leva à elevação espiritual. São os bens terrestres que Cristo disse que não devíamos amealhar.

Enquanto você estiver preso ao que está vendo, ou melhor, achando mentalmente (por raciocínios) alguma coisa sobre a percepção que está tendo (isto que está acontecendo está certo ou errado) vai sofrer. Vivenciará os acontecimentos com sofrimento: passará por medos, pavores e dores. Isso só acontecerá porque está preso em você mesmo (acreditando no que o pensamento lhe diz que é real), trabalhando a sua verdade como realidade.

Portanto, para se libertar de tudo isto é preciso chegar à conclusão que a interação com a sua ação carmática deve ser sempre lutar contra as suas verdades sejam de prazer (aconteceu o que você queria) ou dolorosas (não aconteceu o que esperava).

Participante: O senhor falou em alguns tipos de sofrimento, mas para mim o pior é a ansiedade. O que é a ansiedade, o que é este comichão que dá na gente que não conseguimos controlar?

Vontade do prazer.

Participante: Será que é tão simples assim?

É simples assim mesmo.

Responda-me uma coisa: você quer a casa arrumada para que? Se arrumar a casa é um trabalho que gera cansaço, para que faz? Para ter o prazer de vê-la do jeito que você quer, como a sua verdade a obriga a querer. Repare: você não limpa para limpar, mas sim para ter o prazer de contentar a sua verdade: ‘eu sei o que é arrumação, eu a quero do jeito que eu acho que deve ser e eu consegui isto’. Por causa do seu anseio por este prazer fica ansiosa para vê-la arrumada.

A ansiedade só ocorre porque você não controla a sua verdade, ou seja, ainda tem um padrão de casa arrumada ou não na sua memória. Todo padrão que cria a forma dual de ver as coisas faz parte do seu carma, é instrumento da ação carmática. Achar que está arrumado ou desarrumado faz parte do seu carma. É preciso se lutar contra o que acha interagindo com as verdades que lhe vem à mente sem se prender a elas. Quando não age desta forma lhe vem à mente que a casa tem que estar arrumada e aí se entrega a este padrão de casa arrumada como verdade e cria a ansiedade dela estar da forma que acredita ser real para poder ter o prazer de estar certa.

Mas, como colocar em prática o remédio para a ansiedade que dei? Quando você perceber (olhar) a mancha na parede, a mente vai dizer que ela está manchada e que é necessário que se levante e a limpe. Para não ficar ansiosa você deve dizer à personalidade humana: ‘não preciso levantar porque aquilo não é uma mancha e eu não me sinto obrigada a limpar todas as manchas do mundo’.

Carmas humanos - Texto

Eu não consigo

Participante: Eu estou longe disto. Para mim é muito difícil olhar a coisa suja e não me importunar.

Realmente é muito difícil, mas por quê? Porque você está aceitando aquilo que a sua mente lhe propõe. Não só com relação à obrigação de limpar as manchas, mas também quando ela diz que é muito difícil agir de uma forma independente dela. Você acha (se prende ao que a mente diz dando aos pensamentos o valor de verdade) que é muito difícil libertar-se das realidades criadas pelo pensamento e por este motivo este trabalho será algo extremamente difícil de realizar.

Participante: Digo isto porque me conheço.

Isto de você acaba de dizer (que se conhece) é uma mentira. Tudo que você acha é apenas o que acha que é e não o que realmente é. Quantas vezes já se surpreendeu reagindo de forma completamente oposta àquilo que imaginaria que ira fazer? Quantas vezes foi além dos seus imaginários limites sem que para isto tivesse que fazer exercícios mentais profundos?

Repare no que acabou de falar. Você mesmo estabeleceu o limite ao aceitar o que a mente lhe disse: daqui eu não passo. É por isto que estou ensinando a você: é preciso lutar contra você mesmo. Imaginar que não consegue fazer qualquer coisa é uma mentira deslavada que a mente cria para lhe manter cativa a ela. Não aceite.

Dentro da essência da ação carmática todos os pensamentos são uma prova para evolução. Aquele que busca a Deus, a unidade com o Pai, deve lutar contra a certeza sobre qualquer coisa, sem se culpar quando não conseguir ou sem ter o prazer com o que conseguir realizar.

Carmas humanos - Texto

Convivendo com os outros

Voltemos agora ao nosso estudo sobre a interação com as coisas. Vimos á interação com os objetos e com você mesmo. Agora vamos falar da interação com as outras pessoas.

Ora, se você não existe como o ser humano, as outras pessoas também não. Assim como os objetos e os demais elementos presentes no planeta (seus pensamentos e suas sensações), os demais seres humanos são apenas instrumentos de Deus para realizar o acontecimento que será a ação carmática.

Como você poderia pensar alguma coisa se não houvesse algo que promovesse o pensamento? Este algo é o acontecimento, mas para que ele ocorra são necessários os agentes da ação. Estes agentes são você e aquele com quem se relaciona.

É por isto que o Espírito da Verdade afirma quando questionado por Allan Kardec sobre o objetivo da encarnação:

“Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 132)

Os outros seres humanos são, na verdade, personagens de outros espíritos que também estão vivendo a sua ação carmática. Enquanto você e o próximo estão agindo, cada espírito está vivendo a sua ação carmática sendo como protagonista um da ação do outro.

Desta forma, tudo aquilo que você pensa sobre os demais seres humanos é irreal. Eles não são do jeito que você imagina, mas estão vivendo uma realidade material como prova para si mesmo. O nervosinho não é nervoso, mas este estado de espírito é a prova dele; o sofredor não é deste jeito, mas esta forma de compreender a vida é necessária para a criação de suas ações carmáticas.

Assim como os seus pensamentos e as suas sensações são instrumentos da sua ação carmática as do próximo também o são. É preciso compreender que todos os seres humanos são planejados pelos seus espíritos com os componentes necessários para criar as suas ações carmáticas que servirão como prova ao espírito. Mas, se ele está vivendo a sua ação carmática ao estar nervoso, por que foi vivenciá-la justamente na sua frente? Porque esta é a sua ação carmática, a sua prova. A dele é de ser a sua é de aprender a conviver com equanimidade com os nervosos.

Ele vivencia a prova dele e com isto cria a situação para que você vivencie a sua. É exatamente isto que o Espírito da Verdade fala quando diz que a encarnação objetiva pôr o espírito em condições de suportar a sua parte na obra da criação. Criando o seu personagem e a história dele que se relacionará com a história dos outros, cada espírito executa a sua provação e auxilia a Deus na obra da criação global servindo ao próximo. No entanto, este serviço não é tão altruísta quanto você imagina.

Você também está se aproveitando da história do próximo. Sem ele, você não teria como realizar suas provas, pois não haveria os acontecimentos, as ações carmáticas. É por isto que mesmo ainda durante as idades pré-históricas o homem se agrupou em sociedade.

É preciso a ação do próximo para que o ego lhe envie os pensamentos para que pratique a libertação dele, não se deixando levar pela exultação do prazer ou pela depressão da dor que ele lhe propõe e mantenha-se na equanimidade.

Portanto, cada vez que o ego lhe disser que aquele ser humano é amigo (faz o que você quer e por isto deve estar sempre junto dele) ou inimigo (lhe faz mal e deve afastar-se dele), liberte-se destes pensamentos. Compreenda que todos são espíritos irmãos e que estão juntos para se auxiliarem mutuamente provocando ações carmáticas um para o outro de tal forma que os dois aproveitem a bênção da encarnação para elevarem-se.

Carmas humanos - Texto

Interagindo durante os acontecimentos

Dissecado os dois elementos do mundo material (objetos e pessoas), podemos agora passar para a parte mais importante: os acontecimentos. Vamos ver agora como interagir com os elementos durante os acontecimentos da vida. Para isto vamos permanecer com o exemplo que demos: a mesa suja. Isto é um acontecimento do objeto mesa, mas como já vimos no estudo dos objetos, a mesa que não está suja, mas são vocês que chamam de sujeira ao acontecimento de elementos diversos se juntarem à forma mesa.

A interação com os acontecimentos da vida não deve se dar no campo material, ou seja, na ação carnal. Se o objetivo do espírito ao criar e vivenciar um personagem humano é vencer as tentações propostas pelo ego (certo ou errado, bonito ou feio) a ação durante os acontecimentos deve ser interna e não externa.

Interagir com o elemento objeto e pessoa é lutar contra todos os valores que o pensamento dá sobre as coisas que estão participando daquela ação carmática. Em nosso exemplo (mesa suja), ao invés de preocupar-se em limpá-la ou não, vocês precisam lutar contra o pensamento que diz que ela está suja. No entanto, como já vimos, o caminho da ação interna não é declarar que ela não está suja, mas que não existe sujeira. É diferente.

A partir, então, desta conclusão, como fica ação material: vocês limpam ou não a mesa? Qual a ação que vocês acham que é certa no sentido da elevação espiritual: limpar ou não? Tanto faz. Levantando-se e limpando é porque foi isto que o seu personagem fez e já estava prescrita esta ação como uma nova ação carmática. Se não se levantarem e não limparem, aí está mais uma ação carmática prescrita onde cada um terá que enfrentar os pensamentos que o ego lhe dará.

A liberdade do pensamento que obriga a prática da ação de limpar cada vez que ele mesmo lhe diz que está sujo, não pode ser alcançada através de um novo padrão de ação: ‘não vou limpar mais nada’. De nada adianta para a elevação espiritual lutar contra vocês para dizer que não existe sujeira e aí se obrigarem a deixar a mesa do jeito que está. Neste caso mudaram apenas o padrão individual, a sua verdade, mas não venceram nada. Continua ainda existindo um padrão ditado pelo ego ao qual cada um se subordina.

Exato: o ego se molda realidades diferenciadas transformando-as em padrões para vocês seguirem. Para ele não existe o certo ou o errado: o que quer na verdade é a escravidão de cada um ao que ele diz. Ele quer que acreditem nele, pois quando se ligam ao ego, se desligam de Deus.

A vitória na prova que vocês realizam durante a ação carmática que os seus personagens vivenciam é não ter padrão. Desta forma, no nosso exemplo, se o ser humano levantou e limpou a mesa foi isto que ele fez, era isto que tinha que acontecer, mas se esta não foi praticada, louvado seja Deus, pois ele sabe o que cada um de nós precisamos (Mateus, 5, 7 e 8): a ação carmática que acontecerá.

Portanto, a interação de vocês com os objetos do carma nunca pode ser decidida antes, não pode ser conhecida antes do momento o que cada um fará. De nada adianta fazer previsões sobre ações, pois elas acontecem independentes de nosso querer, mas seguindo o pedido do espírito feito antes da encarnação para as suas provas.

 Vocês imaginam que podem decidir o que vão fazer no próximo momento. Crêem que porque pensaram que tem limpar a mesa, só por isso levantarão e limparão, mas quantas vezes decidiram fazer alguma coisa, tiveram diversos desejos e não conseguiram realizá-los?

Para que a ação carmática sirva como instrumento para a elevação espiritual nós precisamos, na nossa interação com os objetos durante o acontecimento, vivenciar cada acontecimento, cada momento, sem culpa nem prazer. Para isto é imprescindível a consciência de que não sou eu que disponho a ação dos elementos, mas Deus que os emana levando-os a praticar aquilo que eu (espírito) preciso como prova.

‘Não existe sujeira. O que está sobre o móvel é o próprio móvel. O que chamo de sujeira é uma transformação dele de limpo para sujo e isto é uma impermanência emanada por Deus como prova para mim’. Esta é a compreensão da Realidade do momento. No entanto, ela não pode criar uma obrigação. ‘Não sou obrigado a mantê-la ou limpá-la. Tanto faz: o que acontecer será emanado por Deus que sabe do que preciso. Portanto, se estou limpando, estou limpando, mas se não estou, não estou’. Esta é a vivência que o espírito liberto do ego tem durante a ação carmática.

Viver a vida carnal, a interação com os objetos e as pessoas, é muito mais simples do que vocês querem. Exatamente pela sua simplicidade, pela sua singeleza, os homens, que querem possuir a sabedoria para se sentirem superiores, não aceitam esta forma de viver. Continuam imaginando que precisam conhecer intenções alheias, que precisam regras de sociedade, etiqueta e outras que definam padrões comportamentais e que embasem as ações. Tudo isto para poder sentir-se o conhecedor, o superior.

Mas a vida é simples: é vivenciar a glória de Deus. É louvá-Lo a cada segundo por proporcionar ao espírito uma oportunidade de elevação: vencer as provas propostas pelo ego e pedidas por ele mesmo.

Lembram-se do que a moça me falou agora pouco? ‘Eu não vou conseguir superar a questão de ver a coisa errada: vou querer colocar no lugar’. Mas, ela pode colocar tudo no lugar que imagina certo. O que não pode é sofrer se não conseguir ou ter o prazer (imaginar-se perfeita) se conseguir. É mais fácil do que ela imagina.

Pergunta: Eu estou tentando não sofrer com isto, mas continuo sofrendo mesmo assim.

Você já começou a sua luta, ou seja, está tentando acreditar que aceita as coisas no lugar que estão. Mas, ainda não lutou contra o padrão que determina onde ela deveria estar.

Ainda resta em você uma esperança de que, aceitando que a coisa está ali como vontade de Deu, o Pai emane uma ação onde coloque o objeto no lugar que acha certo. O padrão ainda existe e você está buscando a elevação espiritual esperando que o que quer se concretize. É este desejo que deveria estar matando. Mas, para que ele não exista é necessário que se elimine o padrão de certo e errado que ainda possui.

De nada adianta rezar a Deus pedindo que ele seja instrumento da sua vontade. De nada adianta você tentar vencer o ego para que com isto receba do Pai a sua própria satisfação. ‘Deus, eu vou aceitar a coisa onde está, mas em troca você a coloca onde eu quero’. Isto é submissão sua ao ego e pior: querer que Deus se submeta ao ele também.

‘Olhe Deus, eu queria de outro jeito, mas está assim. Se o Senhor mudar será bom, mas se não mudar, também permanecerei feliz’. Esta é a submissão à Vontade divina que é soberana e que, como já vimos, está sempre preocupada com a evolução do espírito.

Carmas humanos - Texto

Ter bens

Esta é a interação com os objetos que pode levar o espírito a aproveitar a ação carmática e conseguir a elevação espiritual. A reforma íntima, ou a reforma interior da sua forma de vivenciar a vida é fazer o que está fazendo, a forma como está se relacionando com eles, sem querer saber se deveria ou não fazer, agir ou não. É simplesmente fazer, sem desejos, paixões, vontades ou padrões de ação.

Você deve comprar os objetos materiais (bens) que deseja ou abster-se desta prática materialista para poder alcançar o bem celeste? Tanto faz. Se comprar ou não sem sofrer ou ter prazer, ou seja, viver com equanimidade cada acontecimento (era isto que tinha que acontecer) terá conseguido alcançar este bem, mesmo dispondo de bens materiais.

Achar que o ser elevado vive na pobreza, que não possui bens materiais, é um padrão ditado pelo ego: cada um tem os elementos necessários para vivenciar as suas ações carmáticas. Se forem necessárias para a prova de vocês as jóias, os carros, as mansões, Deus colocará estes bens ao dispor de quem precisa, e este nada poderá fazer para se livrar destes bens.

Portanto, se adquirir bens não se culpe. No entanto, também não espere que eles façam aquilo que vocês esperam dele. Como disse, eles são instrumentos para criar uma ação carmática e não bens materiais.

 Não acredite que comprou o que esperava comprar: o melhor objeto. Você comprou o objeto que tinha que comprar, aquele que irá sofrer uma determinada impermanência e ela será a sua ação carmática com a qual terá que interagir ligando-se a Deus ao ego.

Se o objeto que vocês adquirirem alterar o seu estado de funcionando para não (quebrar) não quer dizer que ele não prestava, que fizeram uma má compra ou que foram tapeados. Quer dizer que aquela alteração que o objeto sofreu foi emanada por Deus e é a essência de uma nova carmática para vocês vivenciarem.

Aí vocês conseguem viver com as coisas sem sofrer. Vivenciam-nas sem querer mudá-las, mas mudando-as na hora que tiver que mudar e não mudando quando acharem que devem mudar e sem compreender porque mudaram.

Carmas humanos - Texto

Por quê?

Só assim vocês vivem o presente, o momento de agora. Na hora que estiverem alterando a realidade estarão conscientes de que estão fazendo. O problema que o ser humano quer sempre viver o futuro, ou seja, está sempre programando o que irá fazer no próximo segundo. Esta forma de viver afasta o ser do momento atual e com isto ele não reconhece a essência da ação carmática e não consegue agir para libertar-se do ego.

Portanto, viver é muito mais simples do que vocês imaginam. Viver é fazer o que está fazendo e não se cobrar pelo que queria fazer e não está fazendo. Viver é vivenciar o que você está fazendo, sem padrões ou regras. Portanto, se vocês pegarem um martelo e quebrarem a mesa, quebraram porque era o que tinham que fazer. Se derem um chute em uma parede era o que tinham que fazer.

Não adianta ficar preso ao ego que pelo raciocínio que lhes cobra as razões porque agiu, porque fizeram de tal forma: ‘porque eu fiz isto, para que fiz isto, o que acontecerá disto?’. Não adianta interagir com o carma através de perturbações mentais que objetivam compreender os porquês e os para quês, ou seja, que expliquem logicamente a motivação da ação carmática (o que está acontecendo), pois como Paulo nos ensinou, Deus, na Sua sabedoria, não deixa o homem conhecê-Lo por meio da sabedoria deles (Coríntios 1, 1, 21).

Se a elevação espiritual é alcançada com a submissão aos desígnios divinos, a resposta será sempre uma: Deus. ‘O que eu estou fazendo? É o que eu estou fazendo, o que Deus emanou para fazer. Por que estou fazendo isto? Porque Deus sabe que é o que preciso fazer. No que dará esta ação? Naquilo que Deus determinar’.

No entanto, todo este pensamento tem que ser liberto da ação das dualidades, dos padrões de certo e errado, bonito ou feio, limpo ou sujo, porque a Perfeição só pode emanar aquilo que é Perfeito e que, portanto, está liberto destes padrões. O que vem de Deus não é belo, mas a Beleza, a Perfeição.

Um pequeno detalhe. Até agora, dentro do exemplo que estamos usando para falar sobre a interação com os objetos na ação carmática (limpar a mesa), por falta de hábito de usar palavras, falei errado: você limpa a sujeira. A sua ação não deve ser compreendida como limpar a sujeira, mas tirar o pó.

Enquanto vocês derem ao ato o valor de limpar a sujeira ainda estarão acreditando que a mesa aquilo vai ficar limpa. Aí vem Deus e cria uma nova ação carmática que suja a mesa e você sofre porque imagina que não fez direito o que tinha que fazer.

Portanto, me desculpem. Interajam com o objeto mesa na ação de limpeza retirando apenas o pó, sem que com isto tenham a pretensão de acreditar que com esta ação ela ficará limpa.

Carmas humanos - Texto

Padronização de ação

Isto é interagir na ação carmática de vocês com os objetos do mundo: o que estiverem fazendo com ele naquela hora é o que estão fazendo com ele. Não têm que mudar nada. Agora, se amanhã mudarem, é porque a emanação divina mudou.

É outro acontecimento, outra ação carmática, uma nova prova. Não tem mais nada a ver com o momento anterior, com a situação anterior. Para vivenciarem este novo momento aproveitando-o para a elevação espiritual precisarão não criar padrões, ou seja, não se obrigarem a agir de determinada forma porque antes agiram daquele jeito. Apagar tudo o que fizeram antes e viverem o novo presente naquele momento.

Portanto, hoje vocês limparam a mesa, mas isto não quer dizer que terão que limpá-la todo dia que verem sujeira. Se amanhã limparem novamente, limparam, mas se não for esta a ação que Deus lhes der, é porque era isto que tinha que acontecer. A padronização que vocês querem (tenho que limpar a casa todo dia) não existe. Vocês não têm obrigação de agir igualmente sempre. Por causa desta padronização é que surgem as preocupações, os medos, as angústias;

Tem gente que chega a extremos de cuidados porque a suposta padronização não ocorreu apenas uma vez. Existe pessoas que se não consegue defecar um dia correm para o médico para ver sua saúde, mas quem disse que é preciso fazer isto todo dia?

Carmas humanos - Texto

Culpados

Agora vamos falar na interação com as pessoas nos acontecimentos com as pessoas. Este é o ponto fundamental da elevação espiritual.

A interação com os objetos de uma forma que se promova a elevação espiritual, ou seja, conviver com as coisas fora do lugar mesmo ainda tendo padrão de certo e errado, é relativamente fácil: basta apenas você vencer a si mesmo. Quero ver é conviver equanimente com as pessoas que deixam os objetos fora do lugar. Isto porque no primeiro caso vocês ainda se imaginam como autores da nova forma de viver, mas neste caso existe um instrumento externo que age contrariamente aos seus desejos. Um inimigo lhe atacando.

Vocês podem até aprender a conviver com as coisas fora do lugar, mas quando são vocês mesmo que as deixam fora do lugar. Quando o outro é o instrumento do deixar não sabem conviver na equanimidade com isto. Caem no sofrimento, na depressão, na acusação e no julgamento.

Isto porque determinam que o outro é um inimigo, está ali para atacá-los. Imaginam que ele deixou o objeto fora do lugar como uma provocação, por desatenção. Ou seja, atribuem a ação do outro uma intenção que tenha como objetivo feri-los. Agem desta forma porque imaginam que estão convivendo com pessoas, ou seja, com elementos que podem agir livremente, fazer o que querem. No entanto, como já vimos, por trás daquela pessoa existe um espírito.

Na verdade, aquela pessoa é apenas uma programação de vida que um espírito fez para vivenciar os seus carmas e que Deus, pela interação dos elementos universais, fez vivenciá-los junto com vocês, porque esta era a ação carmática que precisavam. A pessoa com quem vocês estão convivendo é um instrumento de Deus para o seu carma. Portanto, não foi a pessoa que deixou a coisa fora do lugar, mas a ação dela foi comandada por Deus e por isto podemos afirmar: foi o Pai que deixou a coisa, não no lugar errado, mas onde deveria estar.

Esta é a compreensão que o ser espiritualizado deve ter das ações alheias: ‘Ele não está fazendo nada, é um instrumento para que o carma seja criado e eu possa vivenciá-lo’. Sendo assim, não existe ninguém errado, bonito, feio, certo, limpo, sujo, arrumado ou desarrumado: existem instrumentos precisos para as ações carmáticas de vocês, instrumentos perfeitos para os seus carmas.

As pessoas, então, nunca estão certas nem erradas de fazerem o que fazem, pois elas não agem, mas Deus age através delas para lhes servir, mesmo que façam o que vocês não gostem ou não queiram. Aliás, justamente quando agem desta forma estão lhe servindo mais, pois estão lhes expondo as verdades que vocês precisam vencer.

Quando Deus faz uma pessoa deixar a coisa fora de lugar, cria esta ação carmática, está lhe avisando: ‘filho, você ainda acredita no lugar certo que o seu ego está lhe propondo. Vença isto’.

Desta forma, vocês precisam interagir com as pessoas do mundo sabendo que elas são simplesmente instrumentos dos seus carmas e que, por isto não poderiam agir de forma diferente do que estão agindo. As pessoas não poderiam fazer outra coisa além do que estão fazendo. Por quê? Porque é o carma de vocês vivenciarem aquilo. Só isto. Ou seja, esta pessoa é apenas portadora daquilo que vocês merecem e precisam para a sua elevação espiritual.

Portanto, se existe um culpado de aquilo estar acontecendo são vocês mesmos. Vocês, com suas opções sentimentais anteriores (vivenciarem os acontecimentos na equanimidade ou na dualidade do prazer e dor) geraram a necessidade de Deus fazer com aquele a pessoa agisse desta forma. Por isto ela não merece castigo, não merece a culpa, o julgamento.

Desta forma, ao invés de vivenciarem como hoje os acontecimentos, crer naquilo que o ego diz (ele é o culpado, ele deixou a coisa fora do lugar), compreendam que o único causador daquele momento existir foram vocês mesmos anteriormente. Ou seja, vocês criaram o efeito através de uma determinada causa.

O único responsável por estar acontecendo tudo aquilo é você mesmo. O outro é um mero instrumento necessário para ação carmática: alguém teria que criar a ilusão da situação para que a sua prova espiritual existisse, ou seja, fazer o que você merecia e precisava receber.

Vocês perdem este tempo (o momento que a ação carmática está acontecendo) julgando o próximo ao invés aproveitá-lo louvando a Deu. Isso se faz alcançando a consciência de que geraram a necessidade daquela situação e que agora querem criar uma causa diferente para as suas próximas ações carmáticas permanecendo equânimes. Ao invés de buscarem a união com o Perfeito, ficam criticando o próximo, acusando-O, xingando-O. Mas, se vocês não merecessem participar daquela ação específica isto nunca ocorreria na vida de vocês. Portanto, tudo que se sucede na vida de vocês não tem um gerador externo: é gerado por vocês mesmo em momentos anteriores.

Então, como se relacionar com as outras pessoas? Primeiro, sabendo que eles não são culpados de nada. Segundo, que são instrumentos de Deus para lhes transmitir os seus merecimentos, que não são bons nem maus, pois já anularam suas verdades anteriores, mas a justa colheita daquilo que foi plantado.

Mas, mais do que isto. O próximo deve ser louvado, amado, exatamente por estar servindo de instrumento para a sua elevação espiritual. Por isto Cristo ensinou:

“Vocês sabem o que foi dito: ‘ame os seus amigos e odeie os seus inimigos’. Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês para que vocês se tornem filhos do Pai que está no céu. Porque Ele faz o sol brilhar sobre os bons e os maus e dá a chuva tanto aos que fazem o bem como aos que fazem o mal. Se vocês ama somente aqueles que os ama, por que esperam alguma recompensa de Deus? Até os cobradores de impostos amam aqueles que os amam! Se vocês falam somente com seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu” (Mateus, 5, 42)

Portanto, se alguém fala que vocês não prestam, não é esta pessoa que está falando isto. É Deus que está lhes propondo um carma, pois vocês serão felizes (elevados espiritualmente) quando os insultarem, perseguirem e dizerem todo tipo de calúnia contra vocês (Mateus, 5, 11), por serem seguidores de Cristo, ou seja, vivenciadores de ações carmáticas de forma equânime.

Esta é a forma de viver, de interagir com a ação carmática que é produzida por Deus através dos Seus instrumentos: as coisas do mundo.

Carmas humanos - Texto

Metodologia do trabalho

Agora que já vimos o que é carma e como ele acontece quando o ser está humanizado, vamos entender como operaremos no estudo dos carmas humanos. Para tanto, darei um exemplo: maternidade.

A maternidade é uma compreensão racional, ou seja, o espírito humanizado acha que é mãe. Como eu disse, essa compreensão racional é um carma e esse gera uma prova. Mas, para entender bem a prova da maternidade é preciso saber que tipo de possessão está em jogo e que tipo de paixões e desejos ela gera. Só aí podemos saber no que não acreditar, ou seja, como vencer o carma.

A maternidade vive a posse sentimental: é meu filho. A partir do momento que o ser humanizado se conscientiza da posse, necessita compreender que toda vez que lhe vier à mente a idéia é meu filho, não deve acreditar nisso. Ou seja, para vencer o seu carma, o ser humanizado precisa não acreditar que aquele ser humanizado seja seu filho.

Não se trata de negar, pura e simplesmente, que ele seja seu filho já que o ego sempre o tratará desta forma, mas sim a maternidade (posse sentimental) sobre o outro. Isto porque a partir do momento que o ser não se submeta aos valores da maternidade estará silenciando a paixão e ao silenciá-la estará silenciando, também, os desejos oriundos delas. Com esta atividade se elimina o carma da posse sentimental ao filho.

Portanto, este é o trabalho para o qual o ser encarnou: a luta constante contra o ego. Compreender o carma sabendo em que paixões, posses e desejos ele está fundamentado para, de posse desta informação resolver aquele determinado aspecto da universalização ou elevação espiritual.

Este será o trabalho que faremos daqui para frente nesta obra. Iremos analisar as diversas compreensões da vida que vêm à mente do ser encarnado para que possamos descobrir que posse está sendo expressa através daquela paixão e de que desejos o ser humanizado precisa se libertar, porque aí ele conseguirá a reforma íntima.

Isto é o que eu gostaria de fazer com vocês durante este trabalho: analisar as compreensões humanas para entender o carma de cada um através das suas crenças.

Por exemplo: prostituição. Considerar-se uma prostitua é uma compreensão e, portanto, um carma. Então, achar-se ou achar que outra pessoa é uma prostituta é um carma. Que posse será que está envolvida nisso? Que paixões estão envolvidas nisso?

No entanto, quero deixar bem claro: este estudo não tem nada a ver com atos. Não vamos analisar as ações humanas em determinados momentos de sua existência, mas buscaremos compreender o que, internamente, está formando aquela consciência sobre o assunto.

É isso que pretendemos fazer neste trabalho: estudar as compreensões da vida e aos poucos descobrir os carmas e aprender a libertar-se deles.

Participante: O mesmo vale para a compreensão da morte (por exemplo: minha mãe morreu)?

Morrer é uma compreensão, então é um carma. Isto porque ninguém morre, já que não existe morte, mas libertação de uma consciência.

Portanto, compreender que houve uma morte é fruto de uma paixão, neste caso pela vida da mãe. Nesta hipótese levantada por você existem diversas posses envolvidas e será com o objetivo de reconhecê-las para estancar as suas ações é que iremos conversar daqui para frente.

Mas, no entanto, saiba que o raciocínio de que a compreensão racional é um carma vale qualquer elemento criado através do pensamento.

Carmas humanos - Texto

Estudar

Participante: Como se gera carma quando nos conscientizamos de que dois mais dois é igual a quatro?

Boa pergunta; vamos começar nosso trabalho respondendo a sua pergunta, ou seja, vamos ver os carmas que acontecem quando o ser humanizado exerce na vida o papel de estudante.

Estudante é um papel que o espírito representa durante a encarnação. Se assim é, o ato de estudar e as compreensões advindas desta ação são carmas. Estudar é adquirir compreensões de determinadas verdades, que servirão no transcorrer da existência carnal como provações.

Se há um carma e uma provação, portanto, é objeto deste nosso estudo e, aproveitando a sua pergunta, vamos começar por aí. Ou seja, vamos ver em que posses, paixões e desejos se fundamentam o carma daquele que estuda que dois mais dois é igual a quatro ou qualquer outro estudo durante a existência carnal.

Antes de qualquer, me deixe dizer uma coisa: dois mais dois não é igual a quatro. Existem teorias matemáticas que comprovam o que estou falando, apesar de não saber, neste momento lhe dizer quais. No entanto, posso lhe dizer que a física moderna (quântica) eliminou as certezas e afirma hoje que tudo no Universo são apenas possibilidades. Portanto, mesmo cientificamente, posso lhe afirmar que dois mais dois têm uma possibilidade ser igual a quatro, mas não certamente será.

Mas, a teoria científica que você utiliza para estudar ou o assunto que está aprendendo não importa: o importante é compreender que se permitir que esta ação forme em você um conceito, uma verdade, uma certeza, transformará a compreensão em uma paixão vinculada a uma posse que gerará desejos. Vou lhe dar um exemplo.

Na antiguidade os seres humanizados que estudavam medicina não conheciam moléculas, células e DNA. Ou seja, eles tinham um determinado conhecimento que é diferente do que hoje existe. Hoje os estudantes de medicina têm outro conhecimento. Se colocássemos aqueles em contato com estes, cada grupo ia querer defender o seu conhecimento, ou seja, aquilo que eles deixaram estabilizar no ego como verdades.

Sei que estou falando de séculos atrás e que você diria que é impossível este contato, mas com a ‘velocidade’ do mundo de hoje será que isso é possível? Ou seja, se deixar estabelecer em você o que estuda neste momento como verdade, será que aceitará novas visões sobre o mesmo tema? Claro que não, porque o seu conhecimento virou uma paixão que espelha uma posse.

Esse raciocínio ou compreensão vale para qualquer campo do conhecimento que adquira através dos estudos. Hoje você tem um determinado conhecer, mas amanhã, com certeza, novas realidades aparecerão que alargarão os horizontes da antiga. Será que se você se apegar ao conhecimento atual aceitará esta evolução? Acho que não...

Portanto, o carma de estudar (as compreensões de estar estudando e dos assuntos que está aprendendo) não pode ser vivenciado com egoísmo, com a compreensão eu sei, ou seja, com posse moral. Para vivenciar este carma de forma universal, ou seja, libertar-se da ação carmática do aprendizado, no máximo deve entender o seguinte: ‘hoje eu compreendo dessa forma, amanha não sei a compreensão que terei’.

Isto porque se você conviver com o aprendizado como definitivo e as compreensões oriundas dele como certas, ou seja, tiver posse moral sobre elas, gerará uma paixão pelo seu conhecimento. Quando isto acontecer, com certeza chegará um dia em que alguém irá querer lhe provar que este conhecimento está errado. Neste momento, apegado às suas paixões e desejos você vai sofrer e, com isso, estará afastado de Deus.

Mas, pode acontecer o contrário. Alguém pode lhe escutar com muita atenção, concordar com os seus conhecimentos e lhe elogiar por isso. Neste momento, como vítima da ação do ego, você vivenciará o prazer de ter sido reconhecido, de ter sido elogiado, etc. Esta forma de reagir ao acontecimento também não o liberta do carma, pois também lhe distancia de Deus, já que está fundamentada no egoísmo.

Apenas a vivência da equanimidade – igualdade de ânimo em todas as situações – pode lhe aproximar de Deus. Nem o prazer nem a dor são elementos de elevação, pois eles se fundamentam no egoísmo - prazer, egoísmo contentado; dor, egoísmo descontentado.

Portanto, o espírito que encarna e que durante esta vida estuda, não importa o que seja, vive uma provação para o seu egoísmo através da posse moral do saber a verdade. Desta forma, a ação de estudar é um elemento para o espírito trabalhar o seu egoísmo. Para aproveitá-la e alcançar o objetivo da encarnação (elevação espiritual) é preciso vivenciar estes momentos com o seguinte pensamento: ‘ninguém sabe nada, só Deus sabe. Todos os outros seres do Universo têm noticias de algumas coisas, mas não sabem nada’.

Este é, portanto, o primeiro carma humano que estamos estudando: ser estudante. Nesta rápida análise aprendemos que o ser humanizado vive o papel de estudante, ou seja, vivencia durante a vida acontecimentos onde parece que está estudando, para que o seu carma do egoísmo, expresso através da posse moral, aconteça.

Desta forma, este acontecimento ocorre na encarnação para que o ser que já sabe que tudo é universal viva o estudar, ou seja, aparentemente tenha noticias sobre os elementos do mundo e tenha a oportunidade de libertar-se do seu egoísmo declarando-se incompetente para saber. Quem não aproveita esta oportunidade como instrumento da elevação espiritual vivencia os momentos de estudos fundamentados no egoísmo e aí declara que ele sabe.

Estudar, portanto, é um carma fundamentado na posse moral para que você, espírito, consiga provar a si mesmo que já compreendeu que a cultura, ou seja, o somatório do saber, o afasta de Deus porque é fundamentado no egoísmo. E é por isto que Cristo ensina: ‘louvado seja Deus que mostra aos simples o que não mostra aos sábios’.

A partir desta visão podemos dizer que quem não estuda (aquele analfabeto pobre coitado que não tem chance na vida) não é uma vítima da sociedade ou do governo. É apenas um espírito que não está vivendo, através deste papel, a prova para as suas posses morais. Ele apenas ou não precisa ou Deus não escolheu para que ele fizesse a sua provação de libertação das posses morais através desta ação (estudar).

Digo através deste papel, pois a posse moral (eu sei) pode ser exercida de muitas outras formas do que simplesmente através do aprender. A posse moral se distingue pela crença do que você declara que sabe com certeza e não pelo conhecimento de alguns assuntos.

Por isso afirmo que existem espíritos que estão em provação de posse moral e nunca sentaram em um banco de escola... Ou vocês nunca viram muitos analfabetos sobre qualquer assunto que discutem um tema como se fossem catedráticos?

Participante: Se houver uma mudança de sentimentos sobre os papéis da vida, como, por exemplo, aqueles que temos por pai, mãe irmão para amigo de jornada isto nos levará a gerar que tipo de carma? Falo em mudanças de sentimentos, pois o ego ainda verá os elementos em seus papéis originais, mas o sentimento será diferente.

O papel amigo ainda tem embutido em si alguns aspectos carmáticos (posses). Portanto, não basta apenas trocar o nome ou o próprio sentimento: é preciso libertar-se da possessão. (do carma). Quando você conseguir superar as posses sobre os papéis de pai, mãe, irmãos, avós, terá superado diversos carmas. Mas, se para isso você apenas trocou o nome da possessão, nada terá realizado.

É preciso se libertar de todas as posses e é por isso que, neste trabalho, quero conversar a respeito da maior parte dos papéis com os quais o ser humanizado se relaciona.

Participante: Quando a gente sabe qual é o nosso carma e em alguns momentos parece insuportável vivê-lo... O que fazer nestes momentos críticos?

Saber que aquela situação, que é composta por percepções, pensamentos e emoções, é só um carma e não uma realidade. Por exemplo: você acabou de passar por uma separação conjugal. Uma separação conjugal não é uma realidade (ninguém está se separando de ninguém), mas apenas um carma.

Na hora que entender o que está envolvido neste carma, ou seja, que desejos, paixões e poses estão ativas naquele momento, poderá saber como trabalhar para libertar-se da dor ou do prazer. Isto porque este ser entenderá a prova, o carma.

Neste trabalho, vamos falar exatamente sobre isto: reconhecer o que está acontecendo na Realidade (compreender a provação e reconhecer seus elementos) para poder se afastar do maya (ilusão) – a idéia pensada que se tem sobre o acontecimento; neste caso a idéia de que está acontecendo uma separação.

Vamos falar de muitos temas, mas em cada um deles vamos buscar sempre saber o que realmente está acontecendo para poder se libertar daquilo que se acha que está ocorrendo. Foi o que fizemos agora a pouco: mostramos o que acontecia ao ser humanizado (uma provação de posse moral) ao mesmo tempo em que ele imaginava estar estudando para aprender algo.

Outro exemplo do trabalho... Quando um ser humanizado vivencia uma situação onde alguém lhe diz que ele não sabe fazer de forma certa de alguma coisa, este espírito vivencia uma contrariedade e acusa o outro de ser o causador dela. Além de sentir-se mal numa situação desta, ainda sofre mais, porque passa a nutrir raiva ou ressentimento pelo outro, pois, dentro da sua ilusão de ótica, o outro está agindo contra ele.

No momento que este ser entender que a situação que está vivendo nada mais é do que uma ação carmática, uma provação para a sua elevação espiritual, ao invés de acusar o outro ou sentir-se mal, irá buscar dentro de si mesmo que elementos (posses, paixões ou desejos) construíram a contrariedade. Reconhecendo-os, poderá, então, silenciar a sua ação e com isso não mais vivenciará a dor neste momento.

Pelo contrário, encontrará a paz que advêm da sensação do dever cumprido. Além disso, também não precisará ter raiva ou ressentimento contra o outro, porque não o entenderá como agente de uma contrariedade, mas um amigo que lhe mostrou um trabalho que precisava ser feito para honrar a encarnação.

Reconhecer a realidade (a provação que está acontecendo) fugindo do maya (a compreensão racional que o ego expressa através de percepções, pensamentos e emoções) ajuda o ser humanizado a compreender a ação necessária para libertar-se do carma. Enquanto isto não for realizado, ou seja, o ser humanizado vivenciar a realidade criada pelo ego humanizado que é formada por fatores humanos, jamais se libertará do carma.

Para fazer isso, como ensinou Buda, é preciso estar sempre atento (atenção plena) às suas formações mentais ao invés de conectar-se apenas no mundo exterior (o que é percebido pelos órgãos do sentido). Isto porque o ego não dirá a este ser que o que está ocorrendo na realidade é um carma e não um fato. O ego não deixa o ser entender que o acontecimento é uma ação carmática para poder ficar instigando-o a sofrer ou sentir prazer.

Por isso, neste trabalho, vamos descobrir quais posses, paixões e desejos estão envolvidos em diversos carmas, ou seja, por que facetas o egoísmo impera para desacreditar a Realidade. Com isto estaremos buscando compreender o que cada ser está vivendo naquele momento e veremos, ainda, com que consciência (compreensão racional) cada um deve vivenciar os momentos de sua existência.

Por exemplo. Dissemos que estudar não é estudar, mas sim viver um carma. A partir do momento que alcança esta compreensão, o ser humanizado continuará indo a escola e participando das aulas. Apesar disso, ele não deixará o seu egoísmo dominá-lo naquele momento gerando a compreensão eu sei. Pelo contrário, quando isto acontecer ele responderá ao ego: ‘engano seu, eu apenas tive notícias’. Desta forma a possessão não existirá, porque este ser não deixou o egoísmo dominá-lo... Com isso venceu seu carma.

Lembram o que já falamos? O resultado da ação do egoísmo é uma posse; a posse dá origem a diversas paixões e estas levam aos múltiplos desejos... Mas, qual o resultado de um desejo? Viver no ciclo do prazer e da dor (quando o desejo se realiza é um prazer e quando não se realiza, é o sofrimento).

Quando se compreende o acontecimento como ação carmática, se reconhece o carma e liberta-se da ação egoística embutida na compreensão recebida do ego naquele momento, se extingui o dualismo do prazer e da dor e com isto se alcança a equanimidade, que é a bem-aventurança que Cristo ensinou.

Participante: Mas, parece que quando nos sentimos bem, vem o ego e começa a brigar com os nossos pensamentos.

Sim, o ego não aceita a derrota facilmente. Lembre-se do que ensina o espiritismo: são tantos milênios de encarnações agindo egoisticamente que não será apenas porque numa vez libertou-se desta forma de agir que tudo ficará a mil maravilhas...

Carmas humanos - Texto

Casamento

Vamos falar agora de um novo tema: casamento.

O que é um casamento, ou melhor, o que deveria ser um casamento? Uma união. O casamento, em tese, deveria prever a união de dois seres para formarem uma vida comum. Podemos, então, definir casamento como a união de duas personalidades com o objetivo de formar uma terceira personalidade (o casal), que seria a perfeita fusão das outras duas.

Este seria o ideal do casamento. Mas, porque ninguém vive assim? Porque o casamento é um carma. O casamento não é uma união sentimental, mas ação carmática e como tal é uma união onde o egoísmo de cada um dos cônjuges será testado. Mas será testado como e através do que? Pela posse sentimental: é meu marido ou mulher; eu amo este homem ou esta mulher. Esta é a compreensão gerada pelo ego através da consciência que caracteriza a posse.

Digo isso, porque o amor que vocês cultuam na Terra, na verdade é uma possessão. Isto ocorre porque quem ama neste planeta, faz exigências para amar. O ser humanizado não ama simplesmente, mas ama quando, por que, para que, etc. Ou seja, diz que ama o próximo, mas vivencia este amor com egoísmo, pensando primeiro nele mesmo (buscando primariamente satisfazer os seus desejos individuais).

Vamos ver um exemplo desta forma de amar condicionada: a separação. Muitos dizem que amam outros profundamente, mas mesmo assim, em determinado momento, acabam se vendo separados do outro mesmo contra a vontade... Quando isto ocorre, tempos depois, afirmam que deixaram de amar...

Isto é possível? Será que o amor verdadeiro pode acabar porque o ser amado não está mais perto ou por qualquer coisa que ele tenha feito? Claro que não... O amor verdadeiro é eterno...

 Quem ama verdadeiramente não precisa da posse do outro, nem cria obrigações e deveres para ele. O amor verdadeiro existe e sempre continuará existindo, sem deixar espaços a mágoas ou ressentimentos, quando a pessoa amada está ao lado ou não e existe eternamente sem exigências, sem condicionamento, inclusive de ser amado. O amor real não leva a apropriação do próximo fazendo exigências para existir.

Um dos elementos que caracteriza a possessão no amor é o ciúme. O ciúme é o resultado da possessão sentimental em ação. ‘Ele é meu marido, como então vai olhar pra outra? Ela é minha mulher, como pode ter amigos’?

A partir destas constatações, podemos, então, afirmar: quem é traído ou não tem os seus desejos satisfeitos pelo seu cônjuge, está em provação para provar a si mesmo que se libertou da possessão sentimental. Mas, quem tem um cônjuge que atende aos seus menores desejos, também o está. Isto porque o resultado de uma ou outra ação carmática é a dor ou o prazer.

Estas compreensões - ‘ele não liga pra mim’ ou ‘ele é um excelente parceiro’ – estão sendo criadas pelo ego justamente para que este ser vivencie o seu carma, ou seja, para que possa abrir mão do seu egoísmo (querer ser atendido pelos outros). Apenas quando os dois abrem mão do seu egoísmo e aceitam que o outro deve ser livre para viver sem necessariamente ter que estar atrelado aos desejos e caprichos do outro, o amor verdadeiro existirá.

Este é o primeiro detalhe no casamento que queria abordar: todo espírito que vive a ilusão ou maya de estar casado com outro, está vivendo uma prova para seu egoísmo através da ação carmática fundamentada na posse sentimental.

Sabedor disso, o ser humanizado deve trabalhar para libertar-se das verdades e das exigências que o ego cria para o relacionamento amoroso entre os dois. Ou seja, combater a personalidade temporária com o seguinte contra argumento: ‘não ego, não é ele (ou ela) que não liga pra mim. Isto é um momento que Deus está me dando como oportunidade para não possuí-lo’.

Com este tipo de contra argumentação o espírito dominará a ação da posse e poderá dar ao outro o direito de ser, estar e fazer o que quiser, já que este direito é garantido por Deus a cada um. Para que o amor real exista entre dois seres é preciso que um dê ao outro o direito de viver a relação amorosa do jeito que ele quiser, mesmo que para isso seja obrigado a abrir mão de suas vontades – o que é o trabalho do despossuir ensinado pelos mestres - e não obrigá-lo a vivenciar a relação amorosa do jeito que um quer.

Acho que estamos perdendo tempo conversando sobre isso, porque ninguém vive este problema. Todo mundo é muito bem casado e o marido e a mulher se correspondem à altura, certo? Claro que não. Este é um dos grandes carmas do planeta

Quem se junta, com ou sem aliança, cria um casal, precisa ter isto em mente: ‘eu não estou casando mas criando um carma para mim. Estou vivenciando uma situação onde a posse sentimental será testada’.

Como disse, este é o primeiro aspecto do carma casamento que queria abordar. Existe outro...

Participante: E a traição, o que você diz disto?

Vamos falar disto mais tarde já que isto também é uma ação carmática.

Para o tema casamento, digo apenas que a traição é um dos elementos, como o ciúme também o é, para o teste sobre a posse sentimental. No casamento, sentir-se traído não é um ato - ele (ou ela) está com outro (ou outra) – mas sim uma prova para a posse sentimental.

Digo isso porque, se você ama de verdade, este amor não consegue conviver com a traição. Cristo que o diga... Ele nunca se sentiu traído por Judas, pelos judeus ou por qualquer outra pessoa...

Mas, como disse, traição é outro carma que pretendo estudar depois. Por agora apenas afirmo que a ilusão da traição no casamento é um teste carmática da prova da posse sentimental de um sobre o outro.

Participante; E como se libertar disto?

Sabendo que aquilo e só um carma e não uma realidade... Você acha que você e o cônjuge existem, que o/a amante existe, que o casamento é o ato da traição é real, mas tudo isso não passa de maya: criações do seu ego para gerar a provação do espírito. Por isso deve conscientizar-se de que o que está vivenciando não é a uma realidade de uma traição, mas uma provação para poder demonstrar a si mesmo que venceu o possuir...

Na verdade não há um casamento, mas um maya vivenciado com posse. E, se isso é verdade, o ser humanizado não deve trabalhar o casamento (tentar melhorá-lo), mas sim lidar junto à sua possessão.

Mas, como se libertar da possessão? Sabendo que ela é fruto do egoísmo, é uma ação egoística. Quem possui sentimentalmente o outro, dá asas ao seu egoísmo e com isso deixa de cumprir um dos mandamentos ensinados por Cristo: amar a tudo e a todos. Isto porque o egoísta quer sempre para si.

Portanto, toda esta historia que está sendo criada pelo seu ego é ilusão: você não está sendo traído, mas sim egoísta, porque quer a atenção e o carinho daquele outro só para você... Liberte-se desta posse contra argumentando com o ego: ‘não vou entrar nessa; não vou acreditar em traição; não vou acreditar que ele (ou ela) não me ama mais’.

Diga mais: ‘se estou junto, vou viver junto, mas, se a vida (roda do carma) nos separar, viverei separado’. Além do mais, não importa o que esteja acontecendo não deixe o amor eterno ser trocado por ressentimentos, críticas ou acusações, porque, afinal de contas, a ação carmática que você está vivendo agora é o resultado da sua escolha, enquanto de posse da consciência espiritual, antes da encarnação, como já vimos.

Não aceite as historinhas que o ego cria... Com isso estará livre da dor e do prazer e terá atingido a equanimidade necessária para aproximar-se de Deus.

Participante: E aquela historia de prometer amar e ser fiel no amor, na dor, na pobreza e na riqueza. Papo furado? Onde fica a fidelidade?

Onde existe esta história de ter ser fiel na dor e na alegria, na pobreza ou riqueza? Onde existe esta história de indissolubilidade do casamento? Não sei, pergunte a igreja católica, pois foi ela que institui isso... Cristo e os apóstolos nunca disseram isso...

Não há, na Bíblia, referência a esta união eterna que o cristianismo prega. Pelo contrario, tem a historia onde os professores da lei querem pegar Cristo em contradição, mas, claro, não conseguem.

Mestre, Moisés escreveu para nós a seguinte lei: se um homem morrer e deixar a esposa sem filhos, o irmão dele deve casar com a viúva para terem filhos, que serão considerados filhos do irmão que morreu.

Acontece que havia sete irmãos. O mais velho casou e morreu sem deixar filhos. O segundo casou com a viúva e morreu sem deixar filhos. Aconteceu a mesma coisa com o terceiro. Afinal, os sete irmãos casaram com a mesma mulher e morreram sem deixar filhos. Depois de todos eles, a mulher também morreu.Portanto, no dia da ressurreição, quando todos os mortos tornarem a viver, de qual dos sete a mulher vai ser esposa? Pois todos eles casaram com ela!

Jesus respondeu: Como vocês estão enganados! E sabem por quê? É porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus. Pois, quando os mortos ressuscitarem, serão como anjos e ninguém casará... (Marcos 12,19-27)

Cristo garante aos professores da lei que no céu (reino espiritual) não há individualismo, posse individualista (é meu marido), todos convivem com todos. Quem criou esta posse materialista foi o ser humanizado. Quem criou a máxima ‘o que Deus uniu o homem não separa’ foi o ego religioso cristão... Aliás, o próprio apóstolo Paulo diz: ‘é bom que o homem não se case’ (Coríntios1 7, 1).

Participante: Mas, e quando a gente se propõe fidelidade, não pela igreja, mas pelo nosso intimo?

É a questão da posse, da paixão e do desejo novamente...

Você se propôs à fidelidade, ou seja, criou esta paixão e tem o desejo de ser correspondida nela, mas o outro não se propôs. E daí?

Se você quer ser fiel, seja, mas não pode exigir a fidelidade do próximo. Mesmo porque ninguém é fiel ou infiel, pois como já vimos, cada um cumpre uma ação carmática pré-escrita e pedida pelo outro.

Se nesta ação carmática pedida por você aquele tiver que interpretar o papel através de uma cena de traição, vai passar por isso, querendo ou não, pois é o que você precisa e, se ele está junto de você, é sinal que ambos se comprometeram a ajudar o outro a libertar-se de seu egoísmo. Portanto, a questão de você querer se propor ser fiel e exigir do outro a mesma coisa, é uma posse sentimental. Você está exigindo do outro o que você quer e isto é egoísmo.

Como disse, amar é amar e se um ser humanizado ama o outro, deve fazê-lo sendo fiel ou infiel. Mas, quando este ser se deixa levar pelo egoísmo, ou seja, se ama o outro somente se ele fizer o que você quer, que amor é esse? Amor que acaba no seu primeiro desejo não satisfeito? Isto não é amor, é posse.

Participante: Qual o significado do casamento?

Uma ação carmática. Casamento é um maya, uma ilusão.

Todo elemento que é compreendido pela razão humana é uma ilusão. E as ilusões são criações do ego para que você possa vivenciar seus carmas (provações).

Casamento, então, é isso e a razão de casar-se é vivenciar suas provas. E, a primeira delas que falamos é com relação à posse sentimental. Mas, há outra possessão envolvida no casamento: a posse moral, o saber (eu sei).

Esta provação aparece durante o casamento pelas divergências entre os cônjuges: introvertido/extrovertido, calmo/nervoso, arrumado/desorganizado, comum/excêntrico, etc. Os cônjuges diferem no seu temperamento e/ou nos seus desejos com a intenção de criar aos espíritos envolvidos provas para o desapego de suas próprias verdades expressadas através de desejos.

Um exemplo clássico: a mulher exigir que o marido se arrume, ou seja, que esteja dentro dos padrões que ela considera arrumado, ou vice-versa. Isto é uma posse moral, porque é fruto de um saber individualizado. Porque o marido não pode vestir-se para sair com a mulher com chinelo de dedo? Fica feio. Fica feio por quê? Porque ela acha que ele deveria estar de sapato.

A mulher que quer o marido de sapato esquece-se de perguntar se o sapato aperta. Para ela não interessa isso: o que importa é o que ela quer. E apenas por causa disso, imagina que ele é obrigado a fazer. Ela não está se importando com o bem-estar dos dois: somente com o dela. Esta é a prova de desapegado das verdades morais que está embutida no casamento.

Dizem que os opostos se atraem: isso é verdade... Mas, não se atraem por acaso, por uma lei da natureza ou coisas deste gênero: se atraem para cumprir o acordo pré-firmado antes da encarnação para que possa existir um carma de posse moral.

‘Hoje você não vai ver futebol porque eu não agüento mais ver’. Esta não é uma reclamação de uma esposa comum: é uma ação carmática... Mas, o marido assistir futebol também não é um ato, mas um carma, já que não existem as pessoas envolvidas, os aparelhos que geram as imagens nem o próprio ato de ver. Tudo isso é criação do ego e, portanto, é uma ilusão...

Toda vivência de uma situação é ação carmática. Neste caso para ver se os espíritos que estão ligados àquelas personalidades temporárias (marido/mulher) libertam-se de seu egoísmo que é expresso pela intenção de ditar as regras e normas de comportamento do casal.

Quando se ama de verdade ocorre uma fusão entre as personalidades que compõem o casal e os dois passam a ter o mesmo gosto. Quando isto não é possível, os dois convivem em liberdade absoluta, ou seja, um respeita o direito do outro.

‘Você quer ver futebol? Eu vou fazer outra coisa’. ‘Você hoje quer sair de chinelo de dedo? Que bom’. ‘Você hoje não arrumou a casa’? Que bom’. Este é o resultado vivenciado por aqueles que vivem um casamento pleno, ou seja, quando um pensa no outro, mesmo que o outro não pense nele. Mas, hoje em dia não é assim... Um está sempre querendo impor as suas regras ao outro. Isto não acontece por acaso, nem está errado ser deste jeito...

Ninguém impõe regras ao outro por acaso. Cada vez que alguém vivencia uma ação deste tipo está servindo de agente carmática para a provação do outro. Ou seja, esta criando uma ilusão, uma realidade ilusória para servir de prova moral para o outro. Portanto, nem o marido, nem a mulher são chatos, birrentos, etc. Eles são instrumentos de Deus para criar a prova do outro. Apenas isso...

Estas são, então, as duas provações embutidas na ilusão do matrimônio: o espírito passar por provas à sua posse sentimental e à posse moral. Justamente porque o casamento é uma ação carmática e não uma união entre dois seres é que cada um se comporta do seu jeito – preso às suas verdades – mesmo que muitas vezes esta forma de agir seja contrária ao que o outro quer. Se a ação de um cônjuge não fosse contrária aos desejos do outro, nunca haveria a possibilidade deste espírito libertar-se do egoísmo: do seu querer individual.

Se você está passando por uma situação destas, ou se conhece alguém que está e quer ajudá-lo, a primeira coisa que precisa fazer é compreender que ninguém está indo contra o outro, mas apenas gerando uma oportunidade para que o outro se livre do seu egoísmo e doe a razão. Para isso é preciso compreender que ninguém age de livre vontade, mas as suas ilusórias ações são sempre criadas por Deus de tal forma que a provação do outro aconteça.

Compreendendo estes dois aspectos você pode trabalhar ao vivenciar o seu carma (superar os apegos às posses, paixões e desejos) e aí, sem possessão, dar ao próximo o direito de ser, estar e fazer o que quiser. Além do mais você também ganhará, pois poderá sentir-se no direito de ser, estar e de fazer o que quiser sem culpas. É você vivendo na equanimidade: sem sofrimento e prazer.

Mas, para isso precisa dar a Deus o é Dele... Entregue todo o comando do destino (da solução de continuidade dos acontecimentos) na mão do Pai e não mais reconheça vítimas ou culpados, covardes ou herói, bons ou maus... Veja a todos como instrumento do carma do outro, como agentes carmáticos designados para cumprir a sua parte na obra da criação.

Isto é bem viver uma ação carmática. E a necessidade desta tomada de posição interna (consciência) está embutida no aprender, no casamento, na fidelidade, na traição e em todos os acontecimentos de uma existência humana.

Enfim, assistir futebol e torcer por um time é um carma, vestir-se de um jeito e querer que o outro siga o seu padrão, é outro. Isto porque carma é toda compreensão racional que o ser humanizado tem durante a vivência de cada papel da vida.

Mas, você não é só agente do carma dos outros, mas também participante ativo dos seus. Por isso, a ação do outro não é uma ação feita por querer, mas realizada com a intenção de criar o seu carma. Não é uma ação para ferir, magoar, atacar, mas uma propositura da provação para que tenha a oportunidade de provar a si mesmo o desapego e o universalismo que é contrário ao egoísmo que está embutido nas compreensões que o ego lhe dá.

Acho que agora ficou claro o ponto de vista espiritual sobre o que é casamento. E é exatamente por isso que se diz que o núcleo familiar é a prova mais importante para o espírito. É nele que estão os instrumentos carmáticos para as maiores provas de possessões. Acho também, que neste segundo tema estudado ficou claro o que pretendemos fazer neste estudo: compreender, sobre o ponto de vista espiritual cada acontecimento da encarnação.

Compreender que ninguém estuda para aprender, mas a cada vez que se vai a uma aula está se passando por um carma que está fundamentado na posse moral. Que ninguém se casa, mas que todos os acontecimentos da união matrimonial são carmas fundamentados na posse moral e na posse sentimental.

Participante: E quando nos sentimos mal por ter ciúmes, é posse?

O ciúme é uma prova, mas a sua reação ao fato de ser ciumento também, também o é. Veja: prazer ou dor é o resultado de um desejo e onde há desejos há paixões, posses e egoísmo. Portanto, há algo para o espírito provar que já aprendeu que não vale a pena, espiritualmente falando, ter.

Você tem ciúme, mas não gostaria de ter: isto é uma prova. Para deixar de sofrer porque é ciumento é preciso se lembrar que você não é ciumento, mas que o seu ciúme é um instrumento das ações carmáticas que o outro precisa vivenciar. Então, você não é, está ciumento, e está porque o seu ciúme é necessário para quem convive com você. Portanto, sofrer a ação do ciúme é a provação do outro e, por isso, não pode deixar de tê-lo.

Compreenda, não é você que quer ter ciúmes, mas o outro é que precisa deste carma. Se não for você o instrumento, alguém terá que fazer este papel... Uma coisa eu garanto: sem a provação pedida por ele mesmo antes da encarnação o outro ser não vai ficar. E não adianta me dizer que sempre foi ciumenta, ou seja, que sempre se relacionou e se relaciona com outras pessoas vivenciando ciúme. Não importa: você não é ciumenta, mas sim um instrumento dessa provação para quem precisa dela... Por isso, não importa quem seja que estiver ao seu lado é porque precisa de você do jeito que é, precisa deste instrumento carmático.

Então, tenha ciúme, mas além de não se culpar, não tenha prazer por ser do jeito que é. Não sofra, mas também não se vanglorie por ter ciúme.

O conhecimento da ação carmática não muda o ato, muda a forma de se interagir com o ato. Hoje você tem ciúme? Tem. O que é ter ciúme? É estar passando por uma prova. Se você responde a esta prova com o desejo de não tê-lo, sofrerá e não a executará com equanimidade. Se responde a esta prova com a paixão em ser, terá prazer e, da mesma forma não terá alcançado a equanimidade.

Isto é para você. Para quem você está dedicando o ciúme é a prova dele. Neste caso, se alguém sente ciúmes e você não gosta de ser o alvo deste sentimento, tem que aprender a conviver com isso sem acusações, julgamentos, críticas ou qualquer outro sentimento de repreensão, já que o ciúme da pessoa é o instrumento do seu carma.

Participante: Nesse negocio de traição, não é melhor separar logo?

Não existe vida como vida, ou seja, não existe o desenrolar dos fatos como os seres humanizados querem: dentro de uma lógica racional. Os acontecimentos da vida são mayas, ilusões, geradas por Deus através do ego para que cada um viva a sua ação carmática. E, enquanto ela for necessária, continuará acontecendo, mesmo que a mente diga que deve fugir daquele tipo de acontecimento.

Por isso afirmo que casamento é uma ação carmática e separação é outra. A separação não tem nada a ver com casamento, ou melhor, não é resultante de um querer do espírito que está envolvido na união. Ela é outra prova e só acontecerá se a roda do carma (destino) daqueles seres envolvidos contiver esta programação. Existem alguns seres que não possuem a previsão desta ação carmática e, por isso, vivem juntos até o fim da vida, com traição ou não. No entanto, têm outros que possuem a previsão desta ação carmática e se separam, muitas vezes sem motivos aparente.

Respondendo-lhe, então, não é a traição que causa a separação: o que vai ditar se a união perdura ou não é o carma dos envolvidos.

Estou aqui falando sobre uma nova forma de viver e me veio, por intuição, que um de vocês pensou o seguinte: está ficando difícil de viver. Não está, pelo contrário, esta ficando mais fácil.

Hoje, com a visão humana que você possui, para se viver um casamento, é preciso prestar atenção a uma gama infinita de detalhes. No entanto, se lermos com atenção o texto de nossa conversa, veremos que eu disse que para se bem viver um casamento é preciso prestar atenção apenas há três coisas (posses, paixões e desejos). Reconhecendo a ação destes três elementos e eliminando a submissão a eles, não haverá mais discórdia entre você e os demais seres humanizados.

Estou reduzindo a multiplicidade das situações que você vive hoje para apenas três: os tipos de provações baseados nas posses (moral, sentimental e de objetos). A partir do momento que compreenda o que está em jogo como provação a cada acontecimento, não precisa se preocupar com as situações do casamento, do estudar, ou de qualquer outra atividade da existência carnal, pois não importa que história esteja sendo narrada pelo seu ego, precisa apenas se libertar das possessões que está em cheque.

Desculpe a quem pensou isso, mas fica mais fácil viver.

Participante: Como fazemos para nos livrar dos pensamentos de ciúme, como ignorá-los?

Sabendo que ele não é seu e que não é verdadeiro. Eles são apenas instrumentos para testar sua possessão.

Veja, se o seu marido ou namorado não chegar hoje na hora prevista, o seu ego vai começar a lhe dizer: ‘vai ver que ele arrumou outra no caminho e foi primeiro para um motel e depois vem para casa’. Aí você precisa contra argumentar: ‘ego, que isso! Você vai contar historia da carochinha para mim? Tudo isto que você está montando na minha cabeça é simplesmente para ver se eu ajo egoisticamente aceitando esta idéia... Mas, se eu fizer isso, perco a minha oportunidade de realizar minha provação a contento’.

A partir daí não importa mais o que você fará. Se na hora que ele chegar brigar, se queixar, reclamar, tudo bem: estará sendo instrumento carmático para a provação dele... Mas, apesar de tudo isso, por não acreditar na história contada pelo ego, não vai sofrer até ele chegar. Mas, para isso é preciso que vença o ego diversas vezes...

Ele irá criar a ilusão do passar da hora, da percepção da visão do relógio, da impaciência, além da idéia de que o seu marido está com outra, que é criada através do pensamento. Para tudo isso você precisa ter uma resposta pronta que não deixe a idéia criada pelo ego fincar raízes na sua consciência.

As ações carmáticas são sempre embutidas uma na outra. O ego passeia entre elas criando historinhas para testá-la até que você o tenha vencido por completo. Quando não vence uma, ela finca raízes e começa logo a dar frutos, ou seja, a sensação de realidade do que a mente está criando aumenta. Com isso ela passa a criar mais realidade e você, que até tentou lutar contra em um determinado momento, deixa de perceber que aquilo não é real, mas apenas uma situação carmática, e acaba embarcando no sofrimento que criado pelo ego.

Portanto, lute sempre e nunca baixe a sua guarda, pois deixar de ter o pensamento característico do ciumento (esperar que o ego pare de produzir formações mentais neste sentido), você não pode deixar de ter, porque estes pensamentos são o seu carma.

Participante: você não sabe como tenho pedido isto para Deus e para todos os que possam me ajudar...

Só tem um detalhe: Deus não pode lhe dar este conforto... Só você pode conseguir isto...

Você quer que o professor faça a prova para você? Não, isso não seria justo... Só usando o seu livre arbítrio (acreditar ou não no ego), pode alcançar esta paz que procura.

Portanto, pare de pedir e comece a agir. Até porque, este pedir, como fruto de um raciocínio, também é ilusão do ego para ver se você aceita a idéia de sentar (não agir) e esperar alguém fazer, alguém vir de fora e dar.

Reaja, não deixe o ego lhe dominar.

Carmas humanos - Texto

Traição

O próximo tema é traição. Não iremos tratar da traição no casamento porque isto já foi visto no item anterior. Vamos tratar deste tema como alguém lhe traindo...

O que é uma traição? É um acontecimento da existência onde o ser humanizado acredita que alguém, lhe trai... Quando alguém não age de acordo com a sua expectativa, dentro da sua norma ou padrão ou quando você espera que outra pessoa aja de uma determinada forma e ela não age daquele jeito, então, acredita que houve uma traição.

Mas, porque você se sentiu traído? Porque gerou uma expectativa, ou seja, quis prever determinado padrão de ação para o outro. Aquele acontecimento só é tratado como uma traição porque você espera que o outro aja para lhe satisfazer (satisfazer seu egoísmo, seus desejos) e isso não aconteceu. Portanto, se houve uma paixão (um padrão de certo) e uma expectativa de que ele ocorresse (desejo positivo) aí está uma ação carmática e não uma traição...

A compreensão de ter sido traído é uma ação carmática que visa expor ao espírito a posse moral que está presente no ego. Esta possessão é caracterizada pelo querer determinar o que o outro tem que fazer. Quem compreende isso, ou seja, quem compreende que ninguém trai, mas, por ação carmática, Deus faz os outros agirem de uma forma que não corresponde às suas expectativas, não vivencia traição (não se sente traído).

Quem conhece a Realidade sobre o carma sabe que foi o Pai quem fez o outro agir de determinada forma – e não que aquela pessoa decidiu agir daquele jeito - para que o ser entenda que não tem o direito de ditar normas e regras para o que o outro vai fazer. Quem compreende a ação carmática dentro desta forma que falamos não se sente traído, pois sabe que o outro está apenas lhe dando uma oportunidade para testar a sua fé.

A vivência dos acontecimentos acreditando nos carmas como realidades, ou seja, naquilo que o ego diz que está acontecendo, não denota uma fé em Deus, porque ainda existe a crença em seus padrões de certo e errado, bonito e feio, acima dos desígnios do Pai. Por causa destas crenças é que surge a posse moral sobre os outros. Quem possui os outros moralmente, acredita que eles têm que agir de determinada forma porque esta é a forma certa, boa, etc. e, com isso, não vê a Perfeição agindo.

É por conta desta vivência da perfeição que a Bíblia é clara. Durante a última ceia Cristo afirma: “um de vocês vai me trair”. Ou seja, ele diz que um dos apóstolos vai quebrar as expectativas do mundo sobre como deveria agir um seguidor do mestre. Quando Judas se levanta, Cristo diz “faça logo o que você tem que fazer”.

O mestre sabia que alguém tinha que delatá-lo para que pudesse ir para a cruz, que era o seu carma, mas não sabia quem era. Quando Judas se levanta para sair ele sabe que chegou o momento. No entanto, ao invés de conter aquele apóstolo que ia agir contras as expectativas do mundo, ele diz a si mesmo que não se trata de uma traição, mas sim alguém fazendo o que precisa ser feito. Por isso o chama de amigo, de alguém que está agindo em prol dele.

A compreensão de que a pessoa que age contrariamente à sua expectativa é um amigo gerando aquilo que é preciso para a evolução do próximo vale para o exemplo de Cristo, mas também para todos os momentos de uma existência carnal. Vamos ver algumas...

Traição no trabalho. Sabe, você são muito amigos e de repente aquela pessoa age em benefício próprio e consegue lhe ultrapassar na escala hierárquica. Ele ocupa o cargo que você acha que deveria ocupar. Aí você diz: ele é um traidor. Não, ele é o seu amigo, tanto desta existência quanto da eternidade, pois está gerando uma oportunidade para que vença seu egoísmo.

Quantas vezes alguém já não lhe traiu contando as suas intimidades para outros? Quantas vezes alguém já não traiu sua pátria? Quantas vezes alguém não agiu contrariamente ao que você esperava dessa pessoa? Tudo isso se resume apenas numa coisa: a posse moral, a possessão da verdade de achar que sabe o que o outro tem que fazer.

Quem vive para Deus, quem busca a elevação espiritual, reconhece estas ações como amigas e, por isso, não considera o outro um traidor, mas um agente carmático. Mas, só consegue chegar a isso porque compreende o seu carma.

Reconhecer o seu carma: este é o grande instrumento da elevação espiritual que estamos abordando nestas conversas, se vocês ainda não perceberam. O que estou querendo mostrar é que usando as informações que estamos conversando hoje você compreende a situação carmática e compreende, ainda, o que precisa fazer: libertar-se da posse moral.

Quem se liberta da posse moral não espera determinada atitude do outro. Quem não espera nada de alguém, não se sente traído nunca, pois só há traição quando há possessão de verdades. Quem consegue ver a provação gerada pelo carma reconhece a sua posse e assim pode se libertar dela. Só desta forma um ser consegue vencer os carmas de uma existência.

Então, se na vida você tem diversos momentos onde seu ego cria a compreensão de que está havendo uma traição, tenha certeza absoluta: está em prova de posse moral. Este gênero de provação tem muito a ver com a soberba porque o eu sei é um ato fundamentado na soberba, ou seja, ação do egoísmo. A soberba nada mais é do que o egoísmo se expressando a partir do eu com todas estas compreensões.

Eis, aí, neste estudo mais um elemento da vida humana dissecado à luz da ação da lei da causa e efeito. Você passa por traição? Você trai? Não tenha nem prazer e nem dor, não se diga nem certo ou errado e nem que o outro esteja certo ou errado: todos são apenas instrumentos carmáticos.

Participante: para vencer a possessão sentimental posso trocar o rótulo de meu pai para amigo de encarnação?

A questão da posse sentimental não está na denominação que se dá às pessoas, mas sim na forma sentimental com que se relaciona com as pessoas. Se você chama as pessoas de amigos da encarnação, mas por conta do vínculo sentimental deste relacionamento ainda espera algo coisa deles, há uma posse moral. Se os chama de irmão da encarnação, mas ainda espera que eles lhe tratem de algum jeito, ainda há uma posse sentimental.

Não se vence a possessão sentimental simplesmente trocando o rótulo que se dá às pessoas. A questão importante para a eternidade do espírito não está em chamar alguém de meu pai, meu amigo ou meu irmão. Ela se consiste na forma como você se relaciona com eles, pois é nesta forma que está a ação do livre arbítrio do espírito optando pelo bem ou pelo mal.

Chamando os outros de amigos da encarnação, mas ainda esperando deles alguma coisa, está fazendo a opção pelo mal, pois está vivenciando o momento preso em si mesmo. Agora, se os chama de inimigo, mas nada espera deste relacionamento e por isso não se ressente com nada que o outro lhe faça, optou pelo bem, pois amou aquela pessoa acima de seus próprios interesses.

O carma não está, na verdade do relacionamento em si, mas na forma como os seres se relacionam: ou o ser humanizado se relaciona com fundamentado no seu egoísmo, ou seja, relaciona-se vivendo padrões sentimentais fundamentados na defesa de seus interesses ou convive com os outros de forma universal e com isso dá a cada um o direito de ser estar e fazer o que quiser. Realizar esta opção é a ciência do espírito, que nós chamamos de espiritologia.

Carmas humanos - Texto

Infidelidade

Vamos falar de infidelidade como ação carmática.

Aparentemente, infidelidade e traição são as mesmas coisas, ou seja, uma é sinônimo da outra. Quem trai, aparentemente é infiel, mas não é bem isso. Traição é um pouco diferente de infidelidade, pois ela tem como característica a perda de alguma coisa por causa da ação do próximo. Já a infidelidade necessariamente não precisa trazer um prejuízo.

Vou dar um exemplo: você passa uma informação para outra pessoa e diz que é segredo. Quando esta pessoa a passa adiante isso gera um ato infiel. Isto é uma infidelidade, não uma traição. Infiel é aquele que falta aos compromissos assumidos junto ao outro. Traidor é aquele que provoca prejuízos no outro.

As duas coisas podem até acontecer em seqüência, ou seja, uma infidelidade pode se transformar num ato danoso, mas no momento que a infidelidade está acontecendo, o prejuízo ainda não ocorreu, por isso são coisas diferentes.

Portanto, infidelidade e traição não é a mesma coisa. Para ser infiel basta apenas faltar com a amizade; a traição gera perda ao próximo.

Quando você passa por uma ação onde haja uma infidelidade? Quando é que você percebe que o outro foi infiel? Este é um tema do qual vamos falar agora...

A infidelidade, assim como a traição, ocorre quando expectativas são quebradas, quando pactos são rompidos. O infiel é aquele que frustra expectativas e quebra pactos com outros seres humanos.

Só para reforçar a diferença entre infidelidade e traição, podemos afirmar que Judas foi traidor, mas não foi infiel. Isso porque o pacto entre ele e Cristo feito antes da encarnação foi cumprido e por causa disso houve um aparente prejuízo para o mestre. Não podemos dizer que o apóstolo foi infiel porque cumpriu o pacto que eles haviam feito antes da encarnação. Vamos compreender bem esta questão.

Desde o início de sua jornada na função de Messias, Cristo sempre disse: vamos pregar, depois irei à Jerusalém e lá serei crucificado. Isso com certeza é a afirmação de um destino que precisava acontecer. Para que o mestre servisse como exemplificação do caminho que o ser precisa percorrer durante a encarnação para alcançar a elevação espiritual, era preciso que este acontecimento surgisse de uma traição. Sendo assim, alguém teria que ser infiel.

Nada acontece por acaso: tudo é fruto de uma combinação, que chamamos de interdependência, que é tramada antes da encarnação. Sendo assim, foi preciso que Cristo e Judas se oferecessem para passar pelo ato de infidelidade antes da encarnação. Foi este pacto que foi honrado naquele momento e com isso extingue-se a visão de infidelidade que a razão humana afirmar ter existido.

A mesma coisa acontece com vocês. Antes da encarnação para viverem os gêneros de provação que pedem, combinam com outros seres que eles vivam papéis e que executem ações para que tenham todas as suas provações. Estes pactos antecedem a qualquer outro realizado durante a encarnação e por isso são os que devem ser observados e não aqueles que são feitos durante a vida carnal. É por conta destes pactos que as pessoas agem durante o convívio com você.

Sendo assim, se durante o seu processo de provações você precisar passar pelo carma da infidelidade, Deus o fará contar um segredo para a pessoa que, por força deste pacto feito anteriormente não guardará o segredo. Pronto, os objetivos da encarnação – um viver vicissitudes e outro servir para a obra geral (pergunta 132 de O Livro dos Espíritos) – foram atendidos e cada um vivenciou o seu carma.

Mas, como você viveria o seu momento de infidelidade se não tivesse a confiança no próximo? Como viveria o seu carma de infidelidade se não contasse aquele segredo? Tudo está sempre perfeito. Você tinha que contar o segredo para que a aquela pessoa pudesse honrar o compromisso de antes da encarnação. Portanto, não existem certos ou errados, mas apenas seres que se humanizaram e estão vivendo a sua oportunidade de aproximarem-se de Deus.

Por tudo isso afirmo que não só o ato da outra pessoa não deve ser recriminado, mas também a sua expectativa com relação ao próximo. Tanto a infidelidade de um como a presunção de que ela não aconteceria por parte do outro são apenas carmas e não erros. Por isso, não há motivo para se sofrer nem com uma nem com outra coisa.

Portanto, a confiança que se tem nos outros bem como as ações infiéis que quebram esta confiança são carmas e isso obriga o ser que busca a elevação espiritual a realizar um trabalho. Qual? O de não acreditar nem numa nem noutra quando a razão usar idéias que contenha estas coisas.

Se a mente lhe diz que confie em determinadas pessoas, você deve responder: ‘eu não confio em ninguém, me relaciono com todos, mas estou sempre preparado para não gerar expectativas sobre a forma como aquela pessoa vai agir’.

Fidelidade é um carma. Para vivenciá-lo dentro da realidade universal é preciso que você tenha a certeza de que cada um vai agir de acordo com a sua própria natureza e honrando os compromissos assumidos antes da encarnação. Se não fizer isso, com certeza viverá o ciclo de prazer e dor que lhe afasta de Deus.

A que possessão está vinculada a fidelidade? À posse moral: ‘eu sei que posso confiar naquela pessoa’, ‘eu conheço bem tal pessoa’... Vencer este carma, portanto, é não confiar em ninguém. É por isso que costumo dizer que você não deve confiar em ninguém: nem em Deus, nem em você e nem em mim...

Carmas humanos - Texto

Ciúme

Já estudamos traição e infidelidade e por conta disso, poderíamos dizer que o ciúme tem a ver com estes assuntos, mas isso não é verdade. O ciúme não é uma traição: nasce da presunção de uma traição. O ciumento não tem provas, mas imagina que a outra pessoa está lhe traindo ou sendo infiel. Portanto, o ciúme não é uma traição ou uma infidelidade, mas sim uma presunção de infidelidade ou traição.

Acima de tudo, o ciúme é uma possessão. Quem ama não precisa da posse física. O amor que é fundamentado na necessidade da presença física é posse. Se você precisa de uma pessoa ao seu lado para sentir-se amado isto é uma possessão.

O ciúme nasce exatamente da necessidade de possuir a pessoa ou um objeto amado, ou seja, da necessidade de que aquela pessoa ou objeto esteja ao seu lado, física, moral e sentimentalmente. Quem não convive com uma pessoa usando da posse, ou seja, aquele que ama independentemente da presença e do que o outro faz, vivencia o amor incondicional sobre o qual estamos conversando há algum tempo. Este não tem ciúmes nunca do outro.

Portanto, a compreensão que o ego lhe dá sobre a intencionalidade da ação dos outros é uma posse, um carma e um ato egoístico. É um carma fundamentado na posse sentimental (eu amo), na posse do algo material (da outra pessoa) e moral, pois parte da presunção de saber o que o outro está pensando ou querendo. Sendo assim, quando o ego cria a ilusão de que a pessoa com quem convive pode estar lhe traindo, aquele que busca promover a reforma intima luta contra a possessão e, por isso, não vivencia o ciúme.

Quando algum dos membros de um casal tem ciúme, imagina-se que ele deva lutar para se libertar desta sensação, mas isto é impossível de ser alcançado por um ser humanizado. Como já citei, Krishna nos ensina que todos vivem de acordo com a sua natureza. Sendo assim, aquele que possui um ego que tenha por natureza ser ciumento, o será sempre, ou seja, sempre será alcançado por pensamentos que denotem ciúmes. Por isso, o que é necessário não é se lutar contra o ciúme, mas sim para se libertar da posse. Aquele que se liberta da posse é assaltado por idéias ciumentas, mas não sofre o ciúme.

Ter ciúmes, então, é carma, mas ser objeto dele também. Aquele que é objeto de ciúme também deve lutar contra o ego que acusa o outro. Deve dizer: ‘ele/ela age de acordo com a natureza do carma dele/dela e do meu’. Ou seja, ao invés de reclamar ser alvo de um ciúme, o ser humanizado precisa compreender que se está junto a uma pessoa que possui esta natureza é porque ele tem também alguma prova vinculada a isso.

Mais uma vez a questão da possessão moral. Aquele que é alvo do ciúme e revolta-se com isso, muitas vezes usando até este ensinamento que estamos conversando – dizendo que ela não acredita nas razões da mente que levam ao ciúme porque isso é carma – vivencia uma posse moral, vivencia um determinado certo e errado. Ele também precisa se libertar e de sua posse e não só exigir que o outro se mude.

Portanto, aquele que sente ciúme do outro precisa se libertar de suas posses e aquele que é alvo do ciúme também. Estes são os dois lados do carma expressado através do ciúme: de quem recebe e de quem o pratica.

Carmas humanos - Texto

Relação sexual

Vamos abordar este tema em diversas etapas. Primeiro tema: o dogma que se faz a respeito da relação sexual, ou seja, a questão do assunto relação sexual não poder ser comentada porque é um assunto feio, chulo, que não deve ser comentado com os outros porque faz parte da intimidade de cada um. O ato sexual é da natureza humana e animal e até as plantas praticam o sexo, sem se tocar. Portanto, é um ato da natureza.

Ele não deve ser objeto de vergonha ou de tabus. Não é assunto que só deve ser abordado em sigilo, quase em confidência. Não se trata de um assunto que não deve ser abortado em certas rodas de conversas como alguns afirmam que não deve ser. É assunto que pode ser comentado abertamente em todos os lugares, inclusive num trabalho espiritual ou religioso como estamos fazendo.

Deste primeiro tema sobre o assunto já nos grita uma conclusão: aquele que fala abertamente da sua relação sexual não deve ser alvo de críticas. Quando um ser humanizado fala de suas experiências sexuais muitas vezes as demais pessoas sentem-se ofendidas com o tema e criticam aquele que está falando. Isso é posse moral, é saber o que pode ou não ser falado publicamente.

Porque muitos elementos da humanidade imaginam que sexo não é assunto que pode ser comentado abertamente? Por que existem convenções que falam isso. Mas, o que são as convenções sociais da humanidade? Elementos gerados pelo ego, ou seja, instrumentos de ações carmáticas. Portanto, é um instrumento gerador de possessão moral.

Aquele que usa as convenções sociais para distinguir o certo e o errado das coisas deste mundo não está vendo que aquilo são apenas criações do ego para poder gerar os carmas do espírito encarnado. Estas regras não são universais e, portanto, não são elementos que precisam ser seguidos por todos. Quem não vive deste jeito dá asas ao seu egoísmo, pois destas convenções, com certeza existem algumas que ele mesmo não se atrela e as quebra constantemente. Justamente por elas não serem vividas por um ser humanizado na universalidade (na totalidade e em todo momento) é que a subordinação aos quesitos que ele quer seguir são apenas ações egoístas e não certas.

Quantas vezes vemos pessoas criticando quem usa o sexo em suas conversas abertamente ou através de duplos sentido que dá para o que os outros falam? Repare se estas mesmas pessoas mais adiante também não quebram outros quesitos das convenções sociais? Claro que sim. Por isso é que a vivência daquele momento não é prefeita, mas uma ação egoísta.

As normas da sociedade humana, portanto, são instrumentos geradores de carmas e aquele que busca a elevação espiritual precisa se libertar de viver a sua existência pautado por elas. No tocante ao assunto que estamos conversando agora (sexo) diria que ele precisa assumir a sua sexualidade publicamente sem vivê-la apenas na sua intimidade.

Os tabus que são criados pelas regras societárias a respeito de sexo e de outras coisas – por exemplo, tirar meleca do nariz – são apenas tabus e não algo certo. Estas leis não foram criadas por Deus para serem seguidas, mas sim como instrumento gerador da ação carmática que vai possibilitar o espírito trabalhar o seu íntimo para adequar a sua vivência aos ensinamentos dos mestres. Será que alguém está seguindo o ensinamento do mestre quando critica quem tira meleca do nariz? Acho que não, pois a crítica é a sentença de um julgamento e Cristo ensinou que não se deve julgar. Será que alguém está seguindo o ensinamento do mestre quando critica aquele que sempre se utiliza de elementos sexuais como duplo sentido de sua conversa? Claro que não, pois a crítica é uma condenação e como Cristo ensinou, ao invés de condenar devemos perdoar sete vezes setenta.

Portanto, aquele que está concentrado em aproveitar a oportunidade de encarnação, quando o ego cria a crítica para aqueles que não seguem os tabus das convenções societárias humanas, não se deixa levar por estas idéias. Com isso vence o carma, vence uma possessão e assim alcança a sua provação.

Agora reparem que falei em não seguir a idéia que a mente cria e não em mudar a que ela produz. Ninguém pode deixar de ser assaltado por idéias fundamentadas nas convenções societárias humanas, pois se isso acontecesse, este ser não teria a sua provação. Sendo assim, é necessário que a mente creia nestes tabus.

Eis, portanto, o primeiro aspecto sobre o carma no tema relação sexual que queria abordar: o tabu. Vamos ver outro, mas antes disso precisamos entender o que é uma relação sexual.

O ato sexual não é uma ação física. Vocês imaginam que aquilo que acontece durante o ato sexual, ou seja, o toque entre elementos dos dois corpos é o ato em si, mas isso não é real. Através dos toques o que se tem são percepções criadas pelo ego. Sendo assim, estas percepções não são universais e o sexo é algo universal. Se a percepção gerada pelo toque fosse o ato sexual, quem faria sexo era o ego e não você. Por causa disso, teria que dizer que espírito não faz sexo, mas isso também não é real. O espírito, mesmo os sem carne, fazem sexo. Sendo assim, o ato sexual tem que ser algo diferente do simples ter percepções.

Desta análise do ato sexual surge, então, o segundo aspecto carmático do ato sexual: imaginar que é preciso um ato físico para haver sexo. A necessidade de ser tocado para atingir o ápice do êxtase sexual é um carma.

Se o ego lhe diz que você só pratica sexo quando tem percepções de um ato físico está vivendo um carma que é fundamentado na posse do elemento material. Ou seja, a necessidade de uma percepção para a realização é um carma e ele atrapalha muito a vida do espírito quando encarnado porque não o deixa atingir o êxtase do sexo espiritual. Já vamos falar sobre isso mais detalhadamente, mas neste segundo aspecto do carma gerado pela atividade sexual saiba que acreditar que é preciso haver percepções físicas, suas ou de parceiros(as), é apenas um carma e não uma realidade.

Quem acredita no ego e por isso acha que só pode haver o êxtase sexual havendo toque, sendo do parceiro ou de você mesmo, é um prisioneiro do ego e, por isso, vive preso ao ciclo do prazer e da dor.

Vimos, portanto, dois aspectos importantes quando se fala em ato sexual ou relação sexual como carma. Primeiro os tabus e dogmas a respeito do se falar a respeito do ato sexual e segundo a prisão às percepções do corpo para alcançar o êxtase sexual. Vamos ao terceiro...

Falamos em êxtase sexual. O que é isso? É o que o próprio nome diz: uma sensação de explosão interna. Trata-se de uma explosão sentimental interna que enleva o ser universal. Não importa que relacionamento sirva para se alcançar esta explosão, quando ela acontece, há o gozo do êxtase.

Vocês chamam a sensação de atingir esta explosão interna de prazer sexual. Com isso restringem a vivência desta emoção apenas ao momento onde está havendo a percepção da conjunção carnal de dois seres. Mas, ela pode – e é – alcançada em momentos onde não há esta conjunção. Quem nunca atingiu esta explosão numa simples troca de olhar? Quem não conseguiu atingir este êxtase com a realização de determinado acontecimento muito desejado? Nestes momentos o ser viveu um gozo sexual e nem sabe disso. Por que não sabe? Porque acha que esta emoção só pode advir de uma conjunção carnal.

Da mesma forma, o assunto que leva o ser humanizado a vivenciar este êxtase pouco importa. Pouco importa de quem sejam os olhos que encontram com os seus; pouco importa a que assunto esteja ligada a realização, o êxtase é o mesmo. Por isso disse que os espíritos praticam o sexo.

Quando os seres desligados da mente humana se concentram em oração eles se ligam a Deus. Quando esta ligação atinge a sua plenitude, alcançam a mesma explosão que vocês quando do ato sexual.

Eis aí, então, um dos grandes carmas ligados à relação sexual, ou seja, uma das grandes compreensões que o ego lhe dá sobre este tema que não lhe deixa vivenciar a realidade universal: o de que você deve buscar o seu êxtase apenas na relação sexual. Isto é carma, pois na realidade este êxtase pode ser alcançado pensando-se apenas no próximo, sem a presunção de uma idéia carnal. Você pode atingir o êxtase apenas ligando-se a uma pessoa em pensamento por qualquer assunto. Não precisa necessariamente ter pensamentos que falem de atitudes sexuais.

Participante: qual a diferença entre o prazer sexual que vivemos e o êxtase que você comentou?

Realmente parece que o êxtase que comentei está ligado ao prazer que segundo Buda é uma poluição adventícia, mas isso não é real. No prazer há um individualismo satisfeito, já o êxtase surge de um relacionamento perfeito.

Quando se compreende que o êxtase não precisa de atividade sexual para ser alcançado, mas que basta apenas um relacionamento entre dois seres para que isso aconteça, é preciso, também se compreender o ensinamento máximo de Cristo: amar ao próximo como a si mesmo. Para que este êxtase não seja um prazer é preciso que haja uma comunhão de interesses. Por isso, no relacionamento deve-se sempre observar a questão de unir-se ao próximo e não apenas em satisfazer-se.

Na verdade este é o quarto aspecto do carma relacionado à atividade sexual. Muitos entram nesta atividade, mesmo que seja realizada com conjunção carnal, buscando apenas a sua própria satisfação. O que é alcançado com isso é apenas o prazer e não o êxtase que vivenciam os espíritos.

Sendo assim, posso dizer que o quarto aspecto com relação a relação sexual como carma é o de não buscar o relacionamento que servirá para alcançar a explosão interna de emoções apenas pensando em si mesmo, em se satisfazer, mas buscando a comunhão perfeita entre todos os seres envolvidos nele.

Resumindo, para se vencer os carmas relacionados com a atividade sexual temos que acabar com os tabus – e entre estes tabus coloco a questão da opção sexual de cada um, seja com relação a parceiros(as) ou posições. Segundo: acabar com a idéia de que o ato sexual necessita de contato entre dois corpos, que é realizado através das percepções do corpo. Terceiro: não depender do contato físico para alcançá-lo. Quarto: é preciso lutar contra o ego, que insiste para que cada um pense primeiro em seu próprio prazer e somente depois se o outro alcançou o prazer ou não.

Tem apenas um detalhe que gostaria de comentar que na verdade não é sobre carma. Quero aproveitar a oportunidade para dizer que a relação sexual dos espíritos pode ser feita solitariamente ou em conjunto. Outro detalhe: o êxtase que se alcança é formado pela felicidade incondicional e não pelo prazer humano.

O ato sexual de espíritos existe quando ele comunga com outros ou consigo mesmo e alcança a felicidade incondicional ou a graça de Deus. Estar cheio da graça de Deus é um êxtase para o espírito e por isto podemos dizer que é o resultado de um ato sexual do espírito.

Carmas humanos - Texto

Separação

Quando falamos do ciúme, já falamos um pouco de separação. Separação como carma, ou seja, como compreensão de que foi abandonado ou que quer abandonar alguém, está ligado ao que falamos no ciúme: a necessidade de possuir fisicamente bem amado, ou seja, uma posse de um elemento material.

Veja, quem ama, ama. Quem ama de verdade não precisa ter o objeto amado ou a pessoa à sua disposição. Pode amar mesmo longe e mesmo se esta pessoa não lhe ama mais. Isto porque amar não é ser amado. Então, quando o ego cria a ilusão da separação está lhe propondo um carma.

Todas as situações sentimentais ou de sensações oriundas da separação são ações carmáticas. Não estamos falando de saudade oriunda de uma separação rápida, mas sim de quando a separação ocorre contra a vontade de um dos envolvidos na relação. Isto porque na saudade os dois podem estar de comum acordo com a separação.

Portanto, toda a compreensão e emoção que envolve um ato de separação de casais ou de amigos é um carma. Ele é fundamentado na posse sentimental. Quem busca a elevação espiritual, precisa entender que não foi o safado que arrumou outra e lhe largou. Isso não é real...

Na separação nunca existem culpados, mas sim agentes carmáticos. Isso porque aquela situação é necessária para a vida espiritual daquele ser, já que sem a dramatização da separação, ou seja os atos, não haveria uma compreensão racional e com isso não haveria carma. Sem ele, não haveria uma prova.

Sem a ação da pessoa que causou a separação não haveria a grande oportunidade do espírito se libertar do egoísmo e com isso não alcançaria a elevação espiritual. Como alcançar isso é a razão da existência da vida humana, posso dizer que o ser nasce humanamente para vivenciar aquela separação.

Todo ser nasce (encarna) apenas para se libertar do egoísmo e por nenhum outro motivo. Por isso é preciso que seus desejos e anseios não sejam satisfeitos. Sendo satisfeitos, não haveria do que se libertar e com isso o espírito continuaria sendo egoísta e afastado de Deus.

Então, é por isso que todas as compreensões envolvidas numa dramatização de uma separação são fundamentais como ações carmáticas de espíritos. São fundamentais para aquele que precisa trabalhar a posse sentimental. Aliás, se repararmos bem, a maioria que se separa mostra exatamente esta característica. Separam-se aqueles que ao invés de amar possuem o parceiro(a) e exigem dele(a) que seus desejos sejam satisfeitos. Aqueles que comungam realmente uma vida a dois, ou seja, vivem libertos da posse sobre os outros, dificilmente se separam...

Portanto, é preciso libertar-se do ego quando este gerar idéias a partir do evento de uma separação. Sem a libertação o sofrimento é inevitável. Isso quer dizer que você deve ficar alegre ao se separar? Não foi isso que quis dizer...

O sofrimento recebido durante a dramatização de uma separação também é carma. Por isso ele precisa ser recebido por quem está vivendo sua situação carmática. Só que ao recebê-lo não se deve aceitá-lo, pois este sofrimento é irreal, é apenas fruto do apego à posse sentimental. Sendo assim, quando ele surge, existe um momento de se conquistar a elevação espiritual.

Quando durante o sofrimento o ser humanizado for bombardeado por compreensões de que o outro não presta e que agora está sozinho, aconteceu o carma. Este é o momento de se libertar da possessão.

Aquele que vence o seu carma no momento da separação recebe o sofrimento do ego, mas não deixa esta sensação lhe dominar, ou seja, não sofre com o sofrimento. Permanece em paz consigo e com o causador da separação e não teme o futuro.

Há um ensinamento de Buda que diz que a elevação espiritual (vencer os carmas) não garante a felicidade ou o prazer, mas sim a libertação do sofrimento. Esta é a diferença. Quem consegue vencer seus carmas não alcança aquela felicidade que vocês imaginam, mas alcança o não sofrer o sofrimento que o ego cria. Não sofrer é diferente de ser feliz.

Outro detalhe: vencer um carma não garante um futuro dentro das suas expectativas. Por isso, mesmo que venha lutando contra suas possessões sentimentais, não creia que jamais terá ciúmes ou sofrerá numa separação. Não acredite que não será bombardeado por sofrimentos sempre que alguma coisa contrária ao seu interesse acontecer. Isto não pode e não irá acontecer, porque todos os carmas precisam acontecer.

O carma é inexorável, não pode deixar de existir. Por isto não espere que ao trabalhar sua libertação das criações mentais vá mudar a sua vida. Ela não mudará. O que poderá acontecer é você mudar o jeito de viver a vida que lhe foi preparada como instrumento para a sua elevação.

Carmas humanos - Texto

Deus

Neste estudo, temos investigado os elementos da vida humana. Já falamos sobre casamento, estudo, traição, etc. Ou seja, já falamos sobre muitos elementos da vida humana. Hoje, eu queria investigar um elemento do mundo carnal, da vida material, que, quando se fala em carma ou em provações, apesar de ser muito utilizado, não é investigado. Este elemento é Deus, o deus dos seres humanizados.

Para começar esta investigação pergunto: será que o deus que a humanidade acredita - e esta crença independe da religião - é real? Será que este deus que a humanidade venera é verdadeiro?

Participante: O deus da humanidade não é real porque o relativo jamais pode compreender o Absoluto.

Exato e foi justamente por este motivo que o Espírito da Verdade respondeu assim à Kardec:

“10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? Não; falta-lhe para isso o sentido”. (O Livro dos Espíritos)

Mas, ele foi além:

“11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade? Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá”. (Idem).

Ora, aquele que não é mais obscurecido pela matéria não é mais um homem, mas um ser espiritual, um espírito. Portanto, enquanto humano, o espírito jamais poderá conhecer Deus. Este raciocínio encontra respaldo no ensinamento de Cristo: só o filho sabe quem é o pai. Isto porque, quem é humano não é filho de Deus, mas de pai e mãe.

Começo, então, esta nossa conversa afirmando: o deus que a humanidade acredita – e novamente repito que isto independe de conceitos religiosos – é falso, é ilusão, é maya...

Apesar de este ensinamento ser de conhecimento público, se perguntar a qualquer ser humanizado que se diga religioso – mesmo os espíritas que estudam o livro onde este ensinamento está – todos teriam uma definição para esta figura. Mesmo sabendo que é impossível conhecê-lo como afirmam os ensinamentos que seguem, cada ser humanizado não abre mão de possuir uma definição para Deus. É por isso que se afirma que existe um deus para cada um...

Cada ser humanizado convive com um deus, porque vive com a sua própria convicção sobre o Pai. Mesmo que este ser comungue com alguma doutrina específica, ele tem a sua própria convicção sobre quem é Deus e, com isso, individualiza o Senhor do Universo.

Agora, se cada um tem uma definição de Deus, ou seja, tem uma crença sobre Ele, eu perguntaria: o que é esta crença? O que é o deus com o qual vocês vivem? Voltando a conversa inicial deste nosso estudo onde é afirmado que tudo aquilo que o ser humanizado compreende e por isso cria uma realidade é a sua prova ou carma, diria, então, que o deus de cada ser não é Deus, mas um carma, uma provação.

O deus com o qual cada ser humanizado convive é um carma, porque não é real, mas sim uma compreensão individualizada que é fruto de um egoísmo.

Esta é uma consciência que todos os seres humanizados precisam alcançar: o deus que ele acredita não é real; a compreensão que se tem sobre este assunto é uma provação para o ser. Aqueles que se apegam à definição que possuem de Deus e dizem que O conhece e que sabem algo a respeito Dele, na realidade são seres egoístas, porque vivem a partir da sua cultura, ou seja, expressam o egoísmo através de uma posse moral. Sendo assim, o conhecimento que define Deus também é uma prova: é algo do qual todo ser humanizado precisa se libertar durante a encarnação.

Ele precisa se libertar do seu conhecimento individualista sobre Deus. Não de Deus, do Senhor do Universo, do Pai, mas daquilo que acredita que é deus.

O trabalho da elevação espiritual passa por isso: é preciso se libertar da compreensão individual que se tem sobre deus, assim como qualquer outra compreensão que seja individualista. Se o espírito encarnado não se libertar desta noção continuará a ser egoísta, continuará preso ao ego. Isto porque quem acredita num deus ou numa definição dele, na verdade está servindo ao ego, pois esta criação é fruto dele e não verdade.

Portanto, para se libertar do ego, ou seja, para alcançar a elevação espiritual, para fazer a reforma íntima, há a necessidade do ser humanizado não se entregar (acreditar como real) à idéia sobre Deus que a mente lhe dá. Só se libertando desta idéia, só não se entregando a ela, pode o espírito se entregar ao Deus verdadeiro.

Respondendo, então, à questão que dá o título a esta conversa, sabe quem é Deus? Nada, nada que você possa compreender... E a resposta só pode ser essa porque nenhum ser tem capacidade, enquanto humanizado, de conhecê-Lo.

Como venho afirmando constantemente, é preciso que o espírito encarnado se integre a um nada, a uma existência que não contenha valor algum sobre os elementos do mundo, para atingir a elevação espiritual. Esta afirmação vale para todos elementos da vida carnal, inclusive sobre a idéia que se faz de Deus, pois só nesta hora o ser estará realmente se entregando a Deus.

Desta forma, o seu deus é um carma... O seu deus, aquele ser que você considera através de uma definição racional o supremo, não existe. O que há realmente é um carma do qual você precisa se libertar.

Participante: Realmente Deus não pode ser um velhinho de barbas brancas...

Sim, não pode, mas muitos apostam nessa idéia.

Deus realmente não pode ser um velinho de barbas brancas, mas também não pode ser uma energia. Isso porque energia é matéria e matéria é não inteligente. Não pode ser coisas do mundo, porque elas são matérias (elemento não inteligente) e Ele é a Inteligência Suprema. Deus não pode ser apenas um espírito, pois este é uma inteligência em desenvolvimento enquanto Ele é o Supremo de todas as coisas. Enfim, eu posso enumerar milhares de coisas que Deus não é, mas nada posso dizer que seja Deus, pois falta ao espírito obscurecido pela matéria um sentido que não o deixa conhecer a Realidade sobre o Senhor.

É isso que estou querendo mostrar a vocês. Este é o nosso trabalho: levá-lo a compreender que por mais que vá trocando de definições ao longo da existência sobre qualquer coisa, sempre alcançará uma compreensão que não é verdadeira, porque a Realidade está além de qualquer imaginação sua. A partir deste entendimento, você precisa dizer a si mesmo que tudo que compreende sobre Deus, não é certo. E mais: que você é incapaz de definir Deus e sequer imaginar como, o que, por que e para que Deus age. Este é outro aspecto importante...

O ser humano cria uma verdade para definir Deus e a partir dela também cria individualmente um tipo de ação e uma motivação e atribui estas questões como sendo Dele. Mas, tudo isso é irreal, porque se o próprio conhecimento que define o Pai é fantasioso, tudo o que surgir daí será mera fantasia.

Por isso afirmo: é preciso matar o mal pela raiz... Ou seja, é fundamental declarar definitivamente que somos incapazes de saber quem é Deus, para que com isso não mais criemos mayas, ilusões, que nos fazem crer que sabemos a motivação ou a forma de ação de Deus.

Participante: Posso dizer que Deus é tudo o que acontece? É o que faz tudo acontecer, desde o nascimento de uma planta até a integração das pessoas?

Não, você ainda está pressupondo. Isto porque não existem as pessoas, plantas ou a integração entre elas que você usou para descrever Deus. Ou melhor, não existem estes elementos como você os compreende.

Digo isso porque, por exemplo, integração entre as pessoas para você é falar, estar, ter um contato... Mas, será só isso a integração que existe entre as pessoas? Quer dizer que as pessoas que estão no Japão não estão integradas a você? Estão sim... Lembre-se do ensinamento de Buda (interdependência): tudo no Universo se interdepende, mesmo que jamais tenha havido um contato direto entre eles.

Não, não declare nada sobre nada. Qualquer cultura que você mantenha vai gerar uma posse moral (posse da verdade, eu sei) e por isso se sentirá obrigado a defender esta idéia acusando o próximo de errado, ‘de não saber’. Com isso acabou o amor universal ensinado pelo Cristo: amar ao próximo como a si mesmo, ou seja, dar ao outro o direito de saber as coisas sem que para isso ele precise concordar com você.

O objetivo da declaração expressa de nada saber a respeito dos elementos do mundo é fazer com que você possa dar ao próximo o direito dele ter o seu próprio conhecimento sem ser alvo de julgamentos ou críticas por sua parte. Enquanto você tiver o seu, mesmo que seja no seu íntimo mais íntimo, a mente, que é egoísta por natureza e por isso defende seus interesses acima dos outros, dirá: ele não sabe de nada porque está diferente do que eu sei. É isso que precisamos compreender...

Defender alguma verdade ou criá-las com palavras mais soltas, mais genéricas ou criar idéias mais abrangentes não resolve nada porque ainda nos traz uma idéia, uma compreensão. Não diga nada. Só diga: eu não sei nada... Não sei quem é Deus, eu nada conheço do Senhor do universo. Esta declaração constitui-se no grande mistério do exercício da fé...

O grande mistério da fé é esse: você precisa se entregar com confiança absoluta a nada, a nenhuma coisa que conheça. Isto porque quando se entrega a algo que conhece não está se entregando a este algo, mas ao seu conhecimento dele. Assim você não se entrega a nada, mas a você mesmo.

O grande mistério do exercício da fé advém da compreensão de que Deus, para você, é nada que possa compreender e entregar-se a este nada com confiança absoluta. Eu acho que este exercício da fé é muito bem explicado através da história do alpinista que, balançando em um despenhadeiro seguro apenas em uma corda depois de ter escorregado, sem poder ver ou imaginar o que está abaixo dele ouve quando ora pedindo socorro: largue a corda...

Você não sabe o que tem embaixo, o que tem do lado, não vê nada e tem que soltar a corda sem saber onde vai cair. Na nossa história o alpinista morre seguro a ela, mesmo estando a apenas um metro do chão. E você, vai largar a corda ou continuará preso a ela?

Encerrando, então, acho que agora ficou claro que, sem dogmas ou mistérios, Deus e o exercício da fé na sua existência carnal devem ser vivenciados com a compreensão de que são elementos sobre os quais você nada pode entender ou saber e que, por isso, deve omitir-se de falar qualquer coisa a respeito, mesmo que seja para você mesmo.

Carmas humanos - Texto

Reforma íntima

Vamos continuar a nossa investigação da vida. E vamos aproveitar que hoje estamos falando sobre esta parte mais espiritual, que não deixa de ser material porque é uma compreensão lógica, e continuar conversando a partir desse seu relacionamento com o mundo espiritual.

Muito se fala sobre o objetivo de cada um estar encarnado. Apesar das diversas opiniões a este respeito, há um consenso sobre o assunto. Ele é descrito por Cristo na Bíblia, citado por Krishna nos vedas e reafirmado pelo Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos. O objetivo da encarnação é aproximar-se de Deus. Para que isso se dê durante a vida humana é preciso que você realize um trabalho. Há diversos nomes para este trabalho, mas os espíritas chamam-no de reforma intima.

Definindo, então, o tema sobre o qual vamos conversar agora, diria que reforma intima é um elemento do mundo material. Um elemento da sua vida. Sendo isso, neste momento em que estamos dissecando a vida vamos falar um pouco da reforma intima ou do trabalho necessário para se aproximar de Deus.

Se eu perguntasse a um católico sobre o trabalho de aproximar-se de Deus, ele me daria algumas respostas sobre o que é preciso ser feito para que isso aconteça. Se perguntasse a um evangélico ele me daria outras respostas. Se perguntasse a um hindu as respostas seriam completamente diferentes. Da mesma forma, os espíritas também teriam uma visão diferente do que é preciso ser feito para se aproximar de Deus. Na verdade, cada corrente de pensamento teria uma resposta, ou seja, uma definição de qual trabalho deve ser realizado.

A partir desta constatação, pergunto: quem está certo? O católico, o evangélico, o espírita, o budista, o muçulmano, o taoista? Quem realiza o trabalho que precisa ser feito? A resposta seria nenhum deles. Isso porque a idéia que cada ser humano tem do trabalho necessário para a evolução espiritual é um conhecimento individual, não uma verdade, não uma realidade. A definição que é criada pelo ego para este assunto é fundamentada no egoísmo, naquilo que cada um acha certo e, portanto, não é absoluta.

Reparem, o católico se transforma em evangélico e muda de opinião e diz, eu estava errado e agora estou certo. Depois vira espírita e de novo diz que estava errado, mas que agora acertou. Será, então, que todos os católicos e evangélicos estão condenados ao fogo do inferno por não saberem o certo que precisam fazer? Claro que não.

O que você precisa compreender, é que este trabalho, esse caminho, ou seja, aquilo que cada um imagina que precisa fazer para aproximar-se de Deus é apenas uma ilusão. Trata-se apenas do padrão de um determinado grupo religioso, não a verdade sobre o assunto.

Eu gosto de ouvir falar que existe uma igreja que é a de Cristo, mas o mestre não tinha igreja. Se tivesse, sua igreja seria a sinagoga, pois ele era judeu. Apesar de ter nascido neste povo e freqüentado as sinagogas até a sua morte, Cristo sempre disse que o templo de Deus está dentro de cada um e não fora. Por isso, se há uma igreja que seja de Cristo, ela está dentro de cada um e não num prédio externo ou em determinada congregação religiosa. Justamente por saber que a igreja estava dentro de cada um é que o mestre indicou como único rito a ser executado foi o amor a Deus acima de todas as coisas.

Acontece que quando você sabe alguma coisa inexoravelmente vai amar a si mesmo acima de todas as coisas, pois a característica primária da compreensão racional é sempre egoísta. Por isso afirmo que todas as idéias de qualquer religião sobre a forma como se aproximar de Deus é carma, é prova. É mais um elemento para você trabalhar o seu relacionamento com o ego.

Na verdade, reforma intima é abandonar o egoísmo, pois o seu íntimo é egoísta por natureza. Para libertar-se dele é preciso se libertar de todas as verdades que lhe vem à mente, inclusive as verdades que afirmam como se abandona o egoísmo.

Parece complicado o que estou falando. Parece que estou falando de uma forma difícil, mas não é isso: elevação espiritual e reforma intima é algo simples de compreender. Trata-se de reformar tudo que esta em seu intimo, inclusive aquilo que você acha que deve fazer e aquilo que acha que não deve fazer. Libertar-se de toda compreensão.

Isso é necessário porque ninguém pode amar ao próximo como a si mesmo enquanto ainda for egoísta, enquanto ainda tiver conceitos que precisam ser considerados como verdadeiros. Por conta da necessidade desta defesa a qual o egoísmo leva, existirá sempre a crítica e com ela o desamor.

Por isso saber qual o processo deve ser realizado para promover a reforma íntima é um carma que está fundamentado na posse moral (eu sei). Por isso, sempre que a mente lhe disser que sabe o que precisa ser feito para se aproximar de Deus o que realmente leva a esta aproximação é a declaração expressa de nada saber. Só no momento que o nada saber for alcançado não haverá necessidades de defesas e por isso não haverá críticas. Acontece, então, o amor ao próximo como a si mesmo.

Participante: devo não aceitar inclusive o que o ego fala a respeito dos seus ensinamentos?

Este ponto nós já ressaltamos há bastante tempo. Se vocês deixarem o ego aceitar o que digo como certo, verdade real e perfeita, estão criando um novo carma.

O trabalho de elevação espiritual é chegar apenas ao sei que nada sei, ou melhor, nem saber que nada sabe. É apenas nada saber. Para nada saber é preciso nem saber o que falo. Apenas nada saber.

Portanto, quando o seu ego lhe disser que agora você sabe o que fazer a partir de um ensinamento que tenha ouvido de mim, não acredite nisso. Você não precisa fazer as coisas que digo: precisa apenas nada saber. Se deixar a idéia gerada pelo ego sobre o que eu falo se transformarem em verdades, elas servirão para acusar os outros de errados e com isso você nada fez no sentido de aproximar-se de Deus.

Participante: você diz que a gente tem que fazer a reforma e depois diz que devemos esquecer tudo o que aprendemos. Fico mais perdido que cego em tiroteio

Esta é a intenção... Talvez, se você ficar perdido desista de buscar alguma saída.

Esqueça tudo, inclusive que tem que fazer uma reforma, pois isto é uma ilusão. Sentir-se obrigado a fazer a reforma intima é um carma.

Participante: É ter fé pura e simples. É ai que entra Deus. Deixá-Lo cuidar de tudo. É simples até demais. A complicação é dos homens apenas. É apenas deixar levar, não julgar e nem classificar nada.

Ele quem? Nós não acabamos de compreender que para fazer a reforma tem que nada saber a respeito de Deus. Então, não é aí que entra Deus...

Esqueça Deus... Deixe o nada lhe governar. Não deixe os valores de sua vida, ou seja, aquilo que você tem na memória, o seu conhecimento, inclusive sobre Deus, governar a sua vida. Se entregue ao nada e deixe que ele seja o seu guia. Ironicamente é neste momento que você realmente se entrega a Deus. Enquanto sua entrega fora a um deus conhecido, você não fez nada e por isso não O alcançou. Isso, porque ainda está se entregando a sua própria concepção de deus e não ao Senhor.

Sim, é simples demais, mas é mais ainda do que você imagina. Não é preciso conhecer Deus, saber como Ele age: é sim deixar o nada governar a sua vida. Quer exemplos? Alguém lhe pergunta se você vai a um determinado lugar naquele dia. Responda: ‘não sei, se for fui, se não for não fui’. Alguém lhe pergunta se você vai tomar banho. Diga: ‘não sei, se tomar tomei, se não tomar não tomei’.

Este é o trabalho de entregar-se ao nada e deixá-lo governar a sua vida, assumir o comando de sua vida. Ele é um nada porque não existe nenhuma convicção, nenhuma certeza, nenhuma verdade. Quando esta for a sua forma de conviver com os elementos deste e do outro mundo você terá realizado alguma coisa no sentido de aproximar-se de Deus. Entregando-se a uma idéia sobre Deus que tenha, ainda está entregando sua vida a esta imaginação e não a Deus.

Vejam como o estudo do carma é esclarecedor. Ele nos leva ao nada quando entendemos que toda compreensão racional é fruto apenas de um ego egoísta. É uma informação que visa criar uma provação a partir de possessões. Quando se estuda a existência do carma se compreende a vida: compreende-se que tudo que lhe vêem à mente é fundamentado uma posse, fruto do egoísmo. A vida muda completamente quando se conhece a ação carmática do espírito...

Participante: mas, e a afirmativa do espírito da verdade de que o nada não existe?

O nada que estamos falando é algo: a ausência de. O nada que estamos usando é a ausência de convicções, certezas, verdades. Já o nada que o Espírito da Verdade diz que não existe é o aquele que não seja coisa nenhuma.

O nada que estamos usando é alguma coisa, pois ele é a compreensão de que você se abstém de compreender. É um nada que surge pelo libertar-se de uma compreensão. O nada que o Espírito da Verdade cita é o nada haver. Isto realmente não existe, pois sempre há algo em alguma coisa.

Carmas humanos - Texto

Religiões

Continuando nesta seqüência de idéias e após falar de Deus e de reforma íntima, nos lembramos de outro elemento da vida material que está ligado à questão espiritual: a religião. Será que existe religião certa ou errada, boa ou má? Claro que não. Se tudo o que existe é obra de Deus, não pode existir bom nem mau e tampouco certo e errado. Portanto, a religião que cada um professa, que na verdade é uma compreensão, uma idéia, um valor que um determinado grupo de espíritos possui sobre uma doutrina e um rito, também é carma. Também é uma provação para os seres encarnados ou não.

Ninguém chega aos céus por ser católico evangélico ou espírita. Na verdade, todos os que são católicos, evangélicos, budistas, hindus ou espíritas estão vivendo uma determinada prova. Uma prova sobre posse moral, sobre possuir verdades. Quem acredita na sua religião é um egoísta. Acha que ela é melhor que a dos outros, seja qual for.

Eu não estou dizendo com isto que a religião seja ruim, pois ela é um elemento necessário para a reforma intima. A religiosidade de cada um, ou seja, o apego a determinada doutrina e rito é um elemento fruto de uma compreensão racional e por isso nos dá a oportunidade de alcançar o nada de que falei anteriormente. Ou seja, nos dá a oportunidade não termos religião e ao mesmo tempo termos todas. Só não confundam a questão de ter todas as religiões com ecumenismo, por favor...

Apesar de no nome do nosso trabalho haver o termo ecumênico, afirmo que o ecumenismo não existe. Isso porque é impossível se fundir as compreensões doutrinárias de todas as religiões. Quem pensa que vivenciar todas as religiões é ser ecumênico tem, portanto, uma prova para viver.

O ecumenismo é a negação das religiões como elas são, ou seja, é o nada religioso. Libertar-se do carma religioso não é alcançar o ecumenismo, ou seja, acreditar em todas as religiões, mas alcançar o ecumenismo como negação de religiosidade.

A sua religiosidade atrapalha a sua espiritualidade, pois toda religiosidade, inclusive a ecumênica gera normas, regras, padrões e verdades para a sua espiritualização. Ser religioso, pertencer mentalmente a determinado grupo de verdades, que é a religião, é contrario a elevação espiritual. Isso porque estas verdades são compreensões racionais que apenas existem para que você tenha a oportunidade de amar a Deus acima de algo. Amar a Deus acima de sua religiosidade.

Não pensem que estou atacando alguma religião. Não existe religião certa ou errada, mas cada uma tem um conjunto de verdades que é necessário para a provação de determinados espíritos. Os próprios mestres ensinaram isto. Já estudamos O Livro dos Espíritos, o Bhagavad Gita, as Cartas de Paulo, Buda, e a Bíblia. Pois bem, para fazer isso, apesar de aquilo que uso como verdade ser contrário ao que as religiões afirmam, não precisei mudar uma virgula do que falo para estar de acordo com o que os mestres ensinaram.

Porque pude fazer isso? Porque lemos diretamente nos ensinamentos dos mestres e não nas doutrinas religiosas. Também porque ao ler o que os mestres falaram usamos da mesma intenção deles ao gerar os ensinamentos: mostrar o caminho para se amar a Deus acima de todas coisas.

Nenhum mestre criou verdades. Todos ensinaram, cada um a seu jeito, a necessidade de se amar a Deus acima de todas as coisas, ou seja, amar-se o ‘não sei o que é acima de todas as coisas. Quando se realiza este amor, você alcança Deus. Mas, será que as doutrinas das religiões também não usam desta intenção? Eu diria que não...

As religiões confundem o espírito com o ser humano. Acham que a personalidade humana que vivemos neste momento é o próprio espírito e não que representa a provação que o ser tem que realizar durante a existência carnal. Por este motivo, elas colocaram os ensinamentos dos mestres em doutrinas que buscam satisfazer os anseios humanos e não espirituais. A diferença entre os anseios humanos e aquilo que aspira o espírito são bem diferentes, como, aliás, todos os mestres ensinaram. Isso está claramente afirmado em O Livro dos Espíritos na questão 266 e por Cristo quando ele diz: não se serve dois senhores ao mesmo tempo. O apóstolo Paulo foi ainda mais longe: ele afirmou que a natureza humana é contrária a de Deus.

Por isso, quando você se prende ao que o padre, o médium, o pastor ou o palestrante falam, está ligado a um ego humano. Como ensinou Cristo, só o filho, o espírito que se uniu a Deus, sabe quem é o Pai. Nenhum ser humano pode se considerar filho de Deus, porque sob a influência das idéias carnais vivencia sempre uma ação egoísta e não um amor universal.

Participante: Religião é material, é fenômeno entre homens. Diz-se fundada na fé, mas não tem nada com ela na medida em que cria valores, desejos, verdades, etc. A fé no nada, destrói tudo isto, não?

Concordo com você. Apenas faço a ressalva que esta criação da religião não é errônea. Ela cria os valores, desejos e verdades como carma, como prova.

Assim sendo, quem vivencia a doutrina católica não é católico à toa. Trata-se de um espírito em provação de posses morais, verdades, que são oriundas dos ensinamentos de um determinado conjunto de egos. Quem é espírita, esta em provação de verdades criadas por outro grupo.

Portanto, o que você falou é perfeito, mas por isso não podemos dizer que elas são erradas. Ao ser do jeito que são, toda religião se transforma em um carma, numa prova. Por isso afirmo que toda religião é perfeita, pois é criada por Deus com os elementos necessários para atender ao pedido do espírito para se libertar desta ou daquela verdade.

Participante: Qualquer via que possa ser fixada e conduza a um fim, qualquer doutrina ou sistema é o que foi. É uma via que eternamente será traçada e não é uma via eterna, o Tao. Ou seja, não se chega a Deus pelo Tao, ou pelas outras doutrinas ou religiões.

Não se chega a Deus nem pelas doutrinas, nem pelo conhecimento cientifico espiritual e nem pelo conhecimento cientifico material. Não se chega a Deus por nada a não ser pelo Tao. O Tao não é Deus, é o caminho do equilíbrio. O equilíbrio onde tudo esteja presente, mas que nada tenha efeito sobre o outro. Este Tao leva a Deus.

Deus não é Tao e nem Tao é Deus. Tao é o caminho, não Deus, não a entidade. O Tao é formado pelo Yin e Yang, o perfeito equilíbrio entre o positivo e o negativo, o bem e o mal, o certo e o errado de tal forma que um anula o outro, ou seja, o nada de estamos falando.

O Tao, portanto, é sinônimo de nada. Mas, da mesma forma, o resultado do percorrer Nobre Caminho Óctuplo de Buda e da vivência das quatro nobres verdades também é o nada. O fim da intencionalidade gerada pelo ego ensinado por Krishna também é realizado alcançando-se o nada. O amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo só é conseguido quando não existir valor para coisa alguma deste mundo, ou seja, vivendo-se o nada. O que você compreende de cada um destes ensinamentos básicos dos mestres é uma prova e a verdade.

Desta forma, hoje que estamos falando dos carmas oriundos das compreensões sobre as coisas além da matéria, começamos dizendo que Deus não é o deus que você acredita e agora afirmamos que a compreensão racional sobre os caminhos que conduzem a Ele também não é a verdade. Sendo assim, realmente o que falamos sobre reforma íntima também é Real, ou seja, que as idéias que você tem sobre a realização deste trabalho são apenas carmas.

Alguém acabou de pensar: não sobrou nada. Sim, esta é a intenção deste trabalho: não lhe deixar sobrar nada como verdade, como saber. Nada pode sobrar em sua mente, pois enquanto houver algo, o seu egoísmo vai usar esta informação para achar um certo e errado, um bom e mal.

Quando este pensamento chegou à mente de um de vocês, quem o recebeu não viu que ele estava sendo colocado à prova e com isso esta verdade se instalou. Com isso adquiriu um carma que precisa ser vencido.

Quando digo que vocês devem chegar a um nada, não estou afirmando que devem alcançar um vazio. Este nada é vazio de tudo aquilo que a mente cria, mas é cheio de outra coisa: a união amorosa com Deus. Só se liga a Deus numa relação amorosa quem nada possui de material.

Portanto, se libertar da idéia de que o que eu falo lhe leva a não ter nada é apenas um carma do qual você precisa se libertar. Não se libertando, viverá um nada e não a presença de Deus em sua existência.

É a este ponto que precisamos descer. Quando a mente lhe falar do Tao e das religiões, diga: ‘eu não sei de nada, nem sei se é o Tao’. Nada pode restar na mente daquele que consegue se aproximar de Deus. Como diz Paulo, o ser humano e todas as suas compreensões são inimigos de Deus.

Participante: E a fé ensinada pelas religiões?

A religião, não importa qual seja, ensina a fé. O problema é saber que fé elas ensinam...

Fé é a confiança e entrega a um elemento e não necessariamente a Deus. Quem tem fé no laxante confia que ele vai lhe fazer ir ao banheiro. Este tem fé.

As religiões ensinam a fé nelas e não em Deus. A religião espírita ensina a fé no espiritismo, a religião católica ensina a fé no catolicismo. Portanto, as religiões ensinam a fé, mas não a fé em Deus. Somente o deusismo ensina a fé em Deus.

Deusismo é isto que falamos hoje. É a perfeita compreensão de que somente Deus sabe e somente Ele é. Quando se alcança o deusismo nada se é e tudo o que se sabe acaba. Por isso, para realmente exercer a fé do tamanho de um grão de mostarda, mas que move montanhas, declare sempre a si mesmo: ‘só Deus sabe, só Ele é e tem’. Quando fizer isso você acaba com todas as suas posses.

Participante: Não é neste sentido que estou utilizando o termo fé. Digo fé como um elemento da vida espiritual, relação entre o espírito e Deus, que é nada para a racionalidade humana.

Fé realmente é um elemento da relação entre você e Deus. É um elemento da vivência da vida espiritual, mas precisamos usá-la na direção de Deus para poder realmente exercer a verdadeira fé.

O problema é que as religiões vendem uma fé em um deus seu, particular, e não no Senhor ensinado pelos mestres. O espiritismo ensina a confiança e entrega ao deus espírita, ou seja, ao deus que é formado pelo entendimento espírita do Senhor. A igreja Católica ensina a fé no deus católico, as evangélicas ao deus evangélico. Ou seja, cada religião define Deus e depois ensina você a entregar-se a esta definição. Como estas compreensões foram geradas por seres humanos e como o Espírito da Verdade diz que o ser humano não pode conhecer a Deus, o que elas ensinam é você a ter fé nelas mesma. Por isso lhe respondi daquela forma.

Participante: Esclarecendo, também, acima apenas coloquei citações a respeito do Tao e não alguma idéia minha.

Certo, são citações da religião taoista. Agora, ao invés de acreditar nela, utilize o que conversamos anteriormente sobre o elemento religião, ou seja, tenha a certeza de que são compreensões para lhe criar uma realidade que sirva de instrumento para a sua elevação espiritual e não verdades absolutas.

Carmas humanos - Texto

Espírito

Acho que evoluímos profundamente no estudo do carma. Digo isto porque até agora tínhamos falado de elementos que são considerados materiais, como o casamento, ciúme e conhecimento. Hoje, porém, foi um pouco diferente, falamos de elementos que existem no mundo humano, mas que são considerados sagrados, espirituais. Vou dizer uma coisa e, por favor, me compreendam: no planeta Terra não há nada espiritual ou sagrado ou de outro mundo. No planeta Terra, ou seja, em seu mundo externo, naquilo que acontece fora de você, e no seu mundo interno, naquilo que lhe vem à razão, a racionalidade, só existem elementos materiais. Mesmo que seja declaradamente um elemento espiritual.

Porque isto? Porque qualquer coisa, para existir para você é necessário que a razão crie uma realidade. A partir do momento em que há esta criação houve, no mínimo, uma materialização daquilo que você chama de espiritual. Cito como exemplo o espírito. Para vocês este elemento é tido como espiritual, mas na verdade o espírito com o qual convivem é um elemento material.

Em O Livro dos Espíritos está informado que para vocês este elemento não é nada. Só para os espíritos libertos da materialidade o ser universal é alguma coisa. Portanto, tudo o que você sabe sobre espírito é uma criação material e mesmo aqueles que vocês dizem conviver esta convivência somente é possível porque há uma criação racional. Se não houvesse ele não seria perceptível a vocês, não estaria dentro das suas realidades. Sendo, então, os conhecimentos e a convivência com estes seres gerada pela mente, são, portanto, um carma.

Ai esta a diferença do nada que estou usando e o que o Espírito da Verdade falou que não existia. Quando existe a compreensão que o espírito para você é nada, isso não quer dizer que ele não exista. Ele existe, mas além das suas percepções. Por isso ele é alguma coisa, apesar de para você nada ser.

Por causa dos temas abordados hoje acho que a conversa desta noite foi muito importante. Ela tocou em pontos nos quais para vocês existem verdades intocáveis, realidades real. A existência do espírito, Deus, reforma íntima e religiosidade são temas que são quase tabus para vocês. Acreditam piamente naquilo que a mente cria a respeito destes assuntos. Mas, isso é irreal. Todos estes temas nada mais são do que simples carmas como vimos.

Todas as informações que vocês têm sobre o espírito (ser de luz ou não, ser uma inteligência, etc.) não são reais: são proposituras mentais que se aceitas como verdades servirá para que o egoísmo entre em ação e defenda as suas convicções acabando com isso com o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Tudo, sem exceção, que você pode conhecer pela razão, seja este elemento material ou espiritual, é carma. E uma compreensão racional que é gerada por Deus através de seu ego para que o espírito (você) possa viver o gênero de provas que escolheu antes da encarnação. Como esta visão vale para todas as coisas, posso dizer que as idéia do mundo espiritual que os evangélicos, católicos, espíritas, hindus ou budistas possuem é apenas uma idéia e não a realidade. Por ser apenas uma idéia é algo que você precisa declarar que é um maya, uma ilusão e chegar à conclusão de que é incapaz de conhecer qualquer elemento do reino espiritual ou do reino dos céus.

Participante: agora vendo que tudo é carma, dá para entender quando você diz que tudo o que ouvirem aqui é para ser deixado de lado: tudo o que você diz também é carma.

Nem o que digo e nem o que os outros falam é carma. O carma é o que você acredita ter ouvido.

Sendo assim, ouça tudo o que lhe falarem, seja de mim ou de qualquer outro, mas não acredite em nada do que ouvir. Não leve nada a serio, nem o que lhe falam e nem o que o seu ego lhe fala. Este é o trabalho: ouça o que ouvir, não acredite em nada, pois tudo o que acredita se transformará num carma.

O carma é o momento em que o seu ego usa o que foi ouvido e acreditado anteriormente. Mas, ele só pode fazer isso se você, ao receber a percepção de ter ouvido tal coisa, acreditar naquela idéia. Crendo, ela será arquivada na memória e se transformará num tesouro seu, numa propriedade sua que a mente defenderá do ataque (da não concordância) dos demais seres humanizados.

Isto é o carma. O carma é o momento em que o ego utiliza informações que foram aceitas como verdades para utilizar o egoísmo. O carma é o momento em que há uma ilusão de ação no mundo externo e a sua mente cria uma construção racional defendendo sua individualidade. Para isso ela gera ataques às individualidades dos demais seres humanizados. Simplesmente ouvir, não é carma, mas transformar o que se ouve, seja de quem for, em verdades (certo, bonito, limpo) gerou armas para que o carma aconteça em outro momento.

Participante: Então, ouvindo sem dar julgamentos e sem criar verdades, ver os outros do jeito que são sem julgamentos e sem impor a minha vontade, passar pelos atos sem tentar entender o porquê deles. Este é um bom caminho para a reforma intima?

Este não é um bom caminho: é o caminho. Não existe outro.

Eliminar de você toda possessão, ou seja, eliminar todas as convicções baseadas no eu sei, é meu ou eu gosto é o único caminho que leva a Deus. Mas, para que isso aconteça é preciso eliminar todas as verdades que existem em sua memória, não só o que você quer ou o que você não gosta. Isso porque qualquer possessão que tiver será usada pela mente para lhe propor o egoísmo.

O verdadeiro sábio, aquele que alcança a elevação espiritual é igual aos três macaquinhos budistas: olho, mas não vejo; escuto, mas não ouço; falo, mas não sei o que digo. Este é o caminho para se aproximar de Deus, o único caminho. A simbologia das ações dos três macaquinhos é o nada que estou falando que precisa ser alcançado. Quando você agir como eles, alcançará o nada.

Há uma frase no Bhagavata Puranas que acho que define bem o que estou falando. Nela Krishna diz: ‘o verdadeiro sábio não tem outro lugar para guardar o seu alimento a não ser o estomago’. O que ele quis dizer com isso? Que o verdadeiro sábio não tem nada guardado na mente para se alimentar no momento presente. Como não possui valores para poder julgar o momento presente, o verdadeiro sábio vive o nada. Ele, por não possuir verdades para atribuir ao que está acontecendo agora, vive apenas o que está no momento presente e por isso o que ele vive não pode ser descrito de forma alguma. Com isso, ele vive apenas o nada.

Este nada é o reflexo das três posturas dos macaquinhos (olho, mas não vejo; escuto, mas não ouço; falo, mas não sei o que falo) em momentos anteriores. Se antes o sábio houvesse visto, ouvido ou falado o que sabia, neste momento não conseguiria viver o nada.

Carmas humanos - Texto

A quebra dos paradigmas sagrados

Participante: andei pensando sobre as coisas que o senhor falou a respeito do casamento ser carma e não cheguei à conclusão nenhuma...

De tudo o que falamos até agora, você foi se preocupar com a questão do casamento? Existe algo mais importante do que isso em tudo o que falamos. Acho que ainda não ficou bem claro para vocês a questão dos paradigmas sagrados que quebramos na última conversa. Agora mesmo estava conversando com uma pessoa e ela me disse que depois do que falamos sobre os elementos ditos espirituais, ela ficou perdida, ficou sem chão para continuar a sua vida.

Se você reparar bem, o que fizemos na última conversa quando abordamos os temas Deus, religiosidade, reforma íntima e espírito, foi retirar da vida de vocês todos os elementos que imaginavam como sagrados. Deus é algo sagrado para vocês, o trabalho da reforma íntima, para quem se diz buscador da elevação espiritual, é algo considerado como sagrado. A religiosidade, ou seja, a forma como se relacionar com o Pai é algo considerado como sagrado. Também é assim a questão do conhecimento e relacionamento com o espírito.

Pois bem, apesar de toda esta importância que sempre deram a tudo que conheciam a respeito destes assuntos, eu simplesmente disse que todo este tesouro de vocês era lixo. Mostrei que o tesouro que imaginavam repleto de ouro (tudo o que sabiam a respeito dos temas abordados), na verdade tratava-se de latão, de metal sem valor. Mostrei que tudo o que vocês consideravam líquido e certo não é real, que aqueles elementos não existem como imaginam e que nem podem compreendê-los na realidade. Mostrei que os valores que possuíam sobre estas coisas são irreais e que eles existem de uma forma que enquanto encarnados jamais conseguirão compreender.

Isso por si só deveria provocar dentro de vocês uma imensa revolução de paradigmas. Uma coisa é dizermos que o casamento não existe. Não acredito que esta informação afete muito você, porque apesar de saber agora que não está casado, mas vivenciando um carma, continuará convivendo com sua esposa da mesma forma que foi até hoje. Agora, quando digo que tudo aquilo que até hoje servia como corrimão para a sua elevação espiritual, que é um assunto importante da sua vida, é irreal, isso tem que produzir uma revolução na sua forma de existir.

Sabe, eu tirei de vocês a bengala que usavam no processo que consideram de vital importância nas suas existências: os conhecimentos sobre os elementos do chamado mundo espiritual. Até hoje, tudo o que vocês sabiam sobre Deus, espírito, religiosidade e reforma íntima serviam como timão para lhes ajudar a singrar os mares com destino a Deus. Agora o leme de vocês está quebrado e não podem mais contar nestas informações como guia. Devido à importância que dão a esta busca, o que fizemos deveria gerar um terremoto devastador, deveria causar um abalo que retira tudo aquilo onde você se firmava.

 Por isso afirmo que tudo o que foi dito sobre estes elementos deve ser algo que deva ser muito bem compreendido, muito refletido. É algo que deve servir de objeto para uma reflexão grande, pois causa efeitos nas bases da sua existência. Agora, a questão do casamento, esta não precisa de grandes reflexões, pois no dia a dia de sua existência não trará reflexos tão profundos.

O que talvez vocês ainda não entenderam é que depois de receber as informações que receberam sobre as suas convicções sobre os elementos do mundo dito espiritual, não dá mais para se brincar de elevação espiritual. Não dá mais para iludir-se dizendo que porque comprou um cobertor que não aquece ninguém ou porque comprou o feijão mais barato, e por isso com menos qualidade, para doar, fez algo pela sua elevação espiritual. A partir do momento que você sabe que todas as suas convicções religiosas são apenas carmas que devem levá-lo a abandonar suas posses, não dá mais para usar os mesmos argumentos que usavam para caminhar no sentido de aproximar-se de Deus.

Depois do que conversamos, não dá mais para iludir-se achando que porque freqüenta um curso de mediunidade ou porque aprende a concentrar-se para fazer viagem astral está trabalhando pela sua evolução espiritual. Como estas coisas podem lhe ajudar neste sentido se agora você sabe que tudo o que tiver consciência não é real, mas apenas uma idéia gerada com a utilização de possessões e paixões? Como estas coisas podem lhe ajudar, se tudo o que tiver a idéia de estar realizando é apenas uma propositura mental para lhe gerar um carma?

É por conta da importância do que foi dito anteriormente que eu gostaria que se alguém refletiu sobre tudo o que ouviu se posicionasse a este respeito, que falasse o que aquelas informações provocaram na vivência da sua vida. Com relação aos outros temas, as informações são de somenos importância para a sua existência e por isso, eu acredito, não devem ser alvo de grandes debates.

Peço isso porque a reação que a moça me contou em particular (não tenho mais chão, nada sobrou na minha vida) é o mínimo que se espera quando um tsunami passa arrasando tudo o que havia em você. Esta reação precisa ser bem conversada para que o sentimento que a mente agora está criando (desespero) não tome conta de vocês e cortem o tênue fio entre você e a realidade da vida humana que estabelecemos com a abordagem daqueles temas.

Participante: quanto aos temas que você chama de sagrados, para mim não foram de tanta importância, pois a respeito de religiosidade nunca fui muito apegado. Sempre busquei a informação e não o sagrado. Destes temas realmente o que me tocou foi Deus. Isso porque sempre busquei um contato com um deus que agora vejo que era irreal. Acho que isso foi o que mais me marcou na conversa daqueles temas.

É exatamente isso que gostaria de ouvir de vocês para que juntos refletíssemos sobre a realidade que foi mostrada nas nossas conversas. O mínimo que se espera de alguém que tenha vivido como vocês viveram até hoje e que de repente ouvem que tudo o que acreditavam é apenas ilusão, é pensar como continuar prosseguindo na busca que sempre foi considerada importante sem aquelas verdades.

É este repensar os caminhos que até agora trilhava que estou querendo provocar em vocês neste momento. De nada adianta se ouvir tudo o que ouviram se estas informações não gerarem no íntimo de cada um uma reavaliação da vivência da vida como até agora foi feita. Se não fizerem esta avaliação, de nada adianta terem ouvido tudo o que ouviram.

Se ao saírem de nossas conversas não refletirem sobre o que ouviram, não analisarem as mudanças que as quebras de paradigmas podem trazer para as suas existências, de nada adianta estar aqui. Se depois de ouvirem tudo o que ouviram simplesmente forem tomar café, conversar ou dormir, o que foi recebido não será absorvido e a existência continuará a mesma. Sendo assim, para que estar aqui?

Tudo o que se ouve deve ser analisado profundamente, deve servir para uma reflexão profunda sobre a vivência atual e no que as novas informações vão causar. Consciente das transformações que precisam ocorrer, deve-se estabelecer planos para se por em prática o que foi ouvido, ou seja, para iniciar o processo de reforma da forma de viver. Sem isso, o que foi ouvido se transforma apenas em mais uma posse que servirá à mente como elemento para dar asas ao egoísmo.

Quando nós falamos do tema estudo eu fui bem claro: não há necessidade de se ouvir palestras, ler livros, estudar assuntos. Por isso não estou falando em estudar o que foi conversado aqui, mas em refletir sobre tudo o que foi ouvido para descobrir os efeitos que estas informações terão para a sua existência e se estes efeitos forem considerados por você como saudáveis à sua questão espiritual, analisar como colocar em prática o que foi ouvido. Isso se faz refletindo os valores que você possui hoje, analisando-os não mais à luz da compreensão que tinham anteriormente, mas sim pelas informações que receberam.

Quer ver um exemplo do que estou falando? Na sua colocação você me disse que não tinha sagrado na sua religiosidade, mas que sua busca se concentra na procura de informações. Sagrado não é apenas uma imagem, uma entidade que se venera, mas tudo aquilo que se considera importante para exercer a religiosidade. Sendo assim, as informações que você recebeu durante a sua busca são, para você, sagradas.

Assim sendo, a sua religiosidade pode não ser composta de rituais ou imagens, mas é composta pelas informações que recebeu. Portanto, precisa aplicar a tudo o que ouviu até hoje aquilo que falamos a respeito de religiosidade. Se não fizer isso, não promoverá mudança alguma.

Sem fazer esta reflexão que acabamos de realizar, ainda acharia que o que foi dito sobre religiosidade anteriormente não se aplica a você, mas aplica-se sim. Sendo assim, precisa compreender que não existe informação certa ou errada, que não deve acreditar que por conhecer determinadas informações não alcançará o reino dos céus, que são informações que passamos para aqueles cuja religiosidade está concentrada nos ritos ou imagens.

Esta reflexão que fizemos agora a respeito da sua religiosidade é o mínimo que precisa ser provocado em você pelas conversas que estamos tendo. Não adianta nada virmos aqui, a outro lugar onde se conversa sobre elevação espiritual ou ir aos cultos dos centros espíritos ou de umbanda se não utilizarmos o que recebemos em cada um destes lugares para repensar a vivência da vida.

Participante: para mim ficou clara a questão do nada quando o senhor utilizou o exemplo dos três macacos. Para mim ficou claro o que é o nada que está sendo falado aqui, mas ainda difícil de vivenciar isso.

A prática que você está falando é o próximo trabalho que terá que fazer.

Como disse, o importante neste momento é ao ouvir informações refletir sobre elas. Nesta reflexão deve analisar o que ela está modificando em você. Por exemplo, no caso do tema Deus que conversamos, o primeiro trabalho que deve ser realizado é refletir que reflexo as informações recebidas causam sobre as suas concepções sobre o Senhor. Analisando as informações que possuía sobre o tema e as que foram recebidas agora, chegará a novas conclusões. É só a partir daí que começa a busca pela prática.

Chegar a novas conclusões não quer dizer que elas serão imediatamente postas em prática pela mente ao formular pensamentos. As verdades que possuía até então, já criaram raízes e uma simples machadada nela não conseguirá retirá-las por completo. Para se retirar toda uma árvore plantada é preciso desentocá-la, ou seja, retirá-la até a raiz.

Isso se alcança com a prática. A cada vez que a mente utilizar-se dos valores antigos a respeito de temas que já conversamos você deve realizar o trabalho de despossuir a informação que é possuída. Naquele momento terá alcançado uma vitória, mas esta não é total. Na verdade, apenas um galho da árvore daquela possessão foi quebrado. Em outro momento onde esta possessão for trabalhada, a mente ainda usará os valores antigos. Outra vez você deve libertar-se desta posse e com isso quebrar mais um galho. Isso precisa ser feito até que se retire a paixão até a raiz.

Portanto, se você já refletiu sobre o nada, já descobriu o que isso quer dizer e comparou ao tudo que vive, comece agora a segunda etapa: coloque em prática o que diz que acredita. A cada momento que a mente lhe disser algo que esteja dentro do seu tudo, liberte-se disso com a nova compreensão sobre o nada. Faça isso sucessivamente e um dia conseguirá praticar o nada.

Carmas humanos - Texto

A prática do que é ouvido

Participante: concordo com o que o senhor disse. Também já compreendi esta questão do nada e em alguns momentos consigo penetrá-lo. Mas, no restante do dia às vezes é muito difícil penetrar neste estado. Tento, mas não consigo...

Isso é natural, é normal, pois vocês estão num mundo de provas e expiações. Este é um mundo onde devem provar que querem esta modificação e não um mundo onde devem se mudar completamente. Somente quando chegar a época da regeneração é que isso deverá acontecer.

Portanto, a oscilação entre a prática e a não prática é normal. Entretanto, o que não pode ser feito é ouvir e crer na informação de que o nada deve ser buscado e simplesmente depois de ouvir se desligar do assunto. Foi isso que quis aproveitar este momento para deixar bem forte.

Uma coisa é ler um romance, um livro de mistério. Quando você fecha o livro sobre estes assuntos automaticamente fecha a sua mente para o que foi lido, pois a história já está pronta e nada mudará. Agora, no caso de se informar sobre coisas que gerem efeitos sobre a sua vida, que para você não está pronta, quando se fecha a página ou se desliga o som é que começa realmente o trabalho. Depois que se lê ou se escuta informações que dizem respeito à sua vida, o trabalho não está neste momento, mas sim depois que esta fase acaba. É neste momento que se inicia o trabalho a respeito do que foi ouvido.

Enquanto você está ouvindo ou lendo uma informação sua concentração está totalmente voltada ao que está sendo recebido. Neste momento não há como se usar o que é recebido para transformar algo no interior. Somente depois que sua concentração se afasta da percepção é que deve começar o trabalho de meditação, o trabalho de repensar os valores que se possui a luz das informações que foram recebidas.

É por isso que digo que logo depois que se fecha o livro ou se desliga o som que contém as informações não se pode dizer apenas que a conversa foi muito boa, que os assuntos foram interessantes, que o que foi recebido é muito importante e concentrar-se em outros assuntos. Agindo desta forma tudo aquilo que foi recebido de nada valeu, pois não serviu como alavanca para reformar a sua forma de viver os acontecimentos do mundo.

Este trabalho, aliás, deve ser feito logo depois que a conversa acaba. Assim que desligar o som ou fechar o livro, você deve tirar um tempo para meditar sobre o que foi ouvido, para analisar o que possuía como verdades à luz das novas informações que recebeu, seja aqui ou em qualquer outro lugar. Se não fizer isso, a vida lhe cobrará a concentração em novos assuntos que ela afirmará que são mais imediatos e tudo o que foi ouvido se transformou apenas em posse, em tesouro que um dia terá que ser defendido pela mente.

Quantas pessoas eu vejo que não colocam em prática nada do que digo, mas que usam as informações que receberam para atacar quem pensa diferente ou para elogiar-se pelos conhecimentos que possuem? De que adianta ter estes conhecimentos se aquele ser humanizado não faz nada com eles?

Para estes, o que receberam geraram apenas um carma e não uma ação no sentido de elevar-se. Por isso afirmo que é necessário que se reflita sobre tudo o que foi percebido pelo som ouvido e isso deve ser feito, como disse, preferencialmente logo após recebê-lo.

Ter a informação de que Deus não é nada que possa ser compreendido pela mente humana e não usá-la para refletir a sua própria relação com o Senhor, mas apenas usá-la para contradizer os que ainda acreditam nisso de forma diferente, é vivenciar o egoísmo que afasta o ser do Pai.

Carmas humanos - Texto

O não julgar

Participante: quando o senhor afirmou que todo ser humano deve apenas saber que nada sabe, isso me calou bem fundo. Tentei colocar em prática esta consciência e descobri que realmente ela é uma forma de não julgar os outros.

Certamente que sim, pois se você nada sabe como irá julgar o que os outros sabem? Só quando sabe alguma coisa julga o que os outros sabem. Por isso lhe digo que esta consciência não é apenas uma forma de não julgar, mas a única forma de fazer isso.

Sempre que você tiver um saber, com certeza irá julgar os outros, pois o Universo não é composto de clones, ou seja, de indivíduos que são cópias perfeitas dos outros. Todos são diferentes, todos têm informações diferentes que acreditam estar certas. Mesmo que duas pessoas acreditem numa informação que contenha o mesmo texto, pode ter certeza que esta crença é exercida em graus diferentes. Por conta do egoísmo, ou seja, da defesa de suas verdades acima da dos outros, então, haverá sempre um julgamento para poder preservar a sua verdade.

Sendo assim, a única forma realmente de não se julgar é sabendo que nada sabe. Isso porque a partir do momento que nada sabe, nada há para ser comparado e defendido. Sendo assim, tudo o que os outros souberem poderá ser considerado como certo. Não perfeito, ou seja, algo que você também deva acreditar, mas a compreensão que o outro considera como certa. Neste momento, como você não possui compreensão alguma e nem quer ter, não precisa avaliar a compreensão dos outros para defender as suas ou para absorver o que ele crê.

 Só alcançando o nada sei é o que o ser humanizado consegue caminhar pelos caminhos indicados pelos mestres para se aproximar de Deus. Ninguém consegue amar ao próximo como a si mesmo, caminho ensinado por Cristo, enquanto souber alguma coisa. Ninguém conseguirá deixar de ter intencionalidades, caminho ensinado por Krishna, ou se libertar dos cinco agregados, caminho ensinado por Buda, sem alcançar o nada sei. Enquanto souber de algo, pois a convicção de possuir a verdade faz com que o ser a queira defender, gera a intencionalidade que a sua verdade suplante a do outro e lhe prende ao mundo material, que é criação dos cinco agregados.

Carmas humanos - Texto

Depressão

Conversado um pouco sobre a ação que deve ser realizada a partir das informações que se recebe, vamos, então, voltar a falar sobre o carma que acontece em momentos da existência humana de um ser. Falemos sobre depressão...

O que é um estado depressivo? É uma forma de compreender o mundo. O ser humanizado está em depressão quando compreende que qualquer acontecimento é causa para o sofrimento, ou seja, para aquele que está depressivo tudo está ruim, não tem ânimo para nada e tudo que quer é não viver, pois o que lhe acontece é uma droga.

Como estamos conversando desde o início desta conversa, as compreensões racionais que vêm à mente do ser humanizado são produzidas justamente para criar a prova do espírito, que é o seu carma. Quando, por exemplo, um ser humanizado recebe a compreensão de estar sendo agredido, verbal ou fisicamente, acabou de criar um carma, que é ao mesmo tempo uma provação para ver como reage a esta situação. No caso da depressão é a mesma coisa deste exemplo.

As compreensões racionais sobre os acontecimentos do mundo, corroboradas pelas sensações que a mente também cria, vêem para testar o apego do ser humanizado às verdades produzidas pela personalidade humana. As compreensões existem para testar a capacidade do espírito encarnado de libertar-se delas. Sendo, então, a depressão um padrão de compreensões sobre acontecimentos, ela é um carma.

Ela é um carma para aqueles que acreditam na mente e nas realidades geradas por ela, ou seja, é uma prova de posse moral: eu sei. Sofre quem acredita que o está acontecendo é errado, é ruim, que não deveria estar acontecendo e que não é bom. Portanto, vivenciar através da mente um processo depressivo, uma série de raciocínios que retiram a felicidade das coisas da vida é prova de que o ser humanizado está acreditando na mente. É, então, uma oportunidade para o ser humanizado trabalhar em prol da sua elevação espiritual.

Como se faz isso? Dizendo ao ego: ‘eu estou em depressão, e daí’? Quem vence a prova da depressão é aquele que vivencia o seu estado de espírito depressivo sem ter prazer ou sem sofrer por conta dele.

Já tinha comentado aqui que o trabalho da vitória sobre o carma não se trata de ir de uma ponta para outra, ou seja, sair da depressão e entrar num estado eufórico. Se isso acontecer, não há vitória alguma, pois viver com euforia também é uma compreensão racional. Sendo assim, também é carma. O trabalho da libertação carmática existe quando o ser humanizado vivencia tudo que a mente cria com equanimidade. Portanto, vencer o carma depressão não se trata de alcançar um estado de espírito eufórico, mas simplesmente vivenciá-la sem sentir-se deprimido por estar em depressão, sem curti-la.

Quem compreende a questão da libertação carmática entende que a depressão faz parte da existência de um ser humanizado, que não há nada de excepcional nisso e por isso, ao invés de se deprimir ou buscar a euforia, aprende a conviver com este momento de sua etapa de existência em paz e harmonia consigo e com o mundo. Esta é a forma de conviver com o carma depressão para através de ele alcançar a elevação espiritual.

Participante: tenho um problema deste em casa que, aliás, o senhor conhece. No meu caso não acredito que seja criação mental.

 Repito o que lhe disse quando estive em sua casa: ela está bem. Tudo o que ela vivencia é apenas uma questão mental e não espiritual. Deixe-me lhe explicar algo...

Todo ser humanizado só consegue ver o externo de outro ser. Ninguém consegue enxergar o interior de cada um. Por ver apenas o externo, que no caso do depressivo aparenta sofrimento, os seres humanizados querem crer que aquele que vivencia o personagem humano que está vivendo uma depressão também está sofrendo, mas isso não é real. Existem mesmos seres espirituais que estão sem sofrimento porque as compreensões de uma personalidade humana são sofredoras, mas isso não é regra. Alguns podem esta bem consigo mesmo, apesar da aparência humana ser sofredora.

No seu caso específico já lhe deixei diversos recados sobre esta questão. Na verdade o espírito que está vivendo este personagem não está sofrendo, mas sim você. É você quem acha que o ser universal que está encarnado na pessoa com quem convive e vive um estado depressivo está sofrendo, mas este ser está bem, está em paz consigo mesmo, apesar de aparentemente parecer que está num processo depressivo. Na verdade, neste caso, só você está sofrendo.

Sendo assim, posso dizer que a sua compreensão mental gerada a partir do estado emocional do personagem que imagina que o ser universal também está sofrendo é o seu carma. Portanto, é preciso que você aprenda a lidar com a sua compreensão sem sofrer.

Este aprender a lidar com a sua compreensão precisa ser vivenciado com a consciência do não sei. Apesar de bombardeado por sua mente que diz que interiormente aquele ser universal está sofrendo por conta da exteriorização deste estado de espírito, é preciso que você diga para si mesmo que não sabe se isso é verdadeiro. Para alcançar esta negação da compreensão racional que tem você pode usar como instrumento a consciência da sua incapacidade de conhecer o íntimo de cada um, a realidade do ser universal que vivencia o personagem humano. Só assim poderá não sofrer com a depressão que esta pessoa vive e com isso aproveitar a oportunidade da sua encarnação para a elevação espiritual.

Os seus atos de apoio, de carinho, de ajuda a ela continuarão a ser praticados porque estes não dependem de você. No entanto, intimamente, não acreditará que ela está sofrendo e por isso não sofrerá com o estado dela.

Carmas humanos - Texto

Previsão de futuro

Participante: esta apatia que você sugere como caminho para a elevação pode incomodar outras pessoas. Incomodadas elas podem querer tirar satisfação por conta do incômodo. E aí, como fazer?

Vou lhe responder já falando do próximo tema carmático que vamos abordar: previsão de futuro.

Repare na sua pergunta. Nela existe uma condicional: pode ser que a apatia incomode alguém e isso pode levá-las a querer tirar satisfação. Sabe o que esta questão contém? Uma previsão de futuro.

Na verdade este pensamento gerado pela sua mente está espelhando uma criação, uma imaginação, pois não se refere a acontecimentos que estejam acontecendo, mas que possam vir a ocorrer. Eles falam de prováveis reações futuras e não de realidades.

Sim, a sua apatia pode gerar incômodo nos outros, mas também pode ser que isso não ocorra. Você não pode afirmar que certamente ocorrerá. Mas, digamos que aconteça, o que você fará lá? Não sei. Só podemos saber o que vamos fazer quando estivermos fazendo. Qualquer idéia prévia de forma de reagir a um momento é apenas um jogo de adivinhações e por isso não deve ser objeto de sua preocupação agora. Realmente se isso acontecer algum dia na sua existência naquele momento estará vivendo um carma, mas este não deve ser objeto de sua preocupação agora. Sabe por quê? Porque não estará vivendo o carma de agora, que é justamente a sua preocupação com o futuro...

A previsão que se faz de acontecimentos futuros, ou seja, a criação mental que projeta a probabilidade de determinados acontecimentos ocorrerem é um carma que está muito mais presente na vida de vocês do que possam imaginar. Vocês não vêem o quanto vivenciam de previsões sobre futuros acontecimentos porque imaginam que elas são apenas profecias de seres humanos e de espíritos, profecias de entidades de umbanda, previsões de cartas de tarô ou de jogos de búzios. Enfim, para vocês só há uma previsão de futuro quando alguém prevê acontecimentos para a sua existência. Mas, isso é uma ilusão...

Idéias como as que estão contidas na pergunta que você me fez nada mais são do que uma previsão sobre o futuro, porque previu algo que não está acontecendo. Sempre que isso ocorre, há uma previsão de futuro, mesmo que esta não seja feita em tom profético.

Quando, por exemplo, você está dirigindo numa estrada e sua esposa lhe diz para ir mais devagar porque pode provocar um acidente, o que está acontecendo é uma previsão de futuro. Quando um ser humanizado diz que se comer determinado alimento passará mal, isso é uma previsão de futuro. Na verdade, toda vez que uma consciência não se refere a algo que está acontecendo ou que já tenha acontecido, ela nada mais é do que uma previsão sobre o futuro.

Toda previsão de futuro é um raciocínio sobre a possibilidade de algum acontecimento que ainda não ocorreu e leva a uma compreensão racional. Levando a isso, portanto, se configura num carma, numa provação para o ser encarnado.

Vamos continuar no exemplo de sua esposa afirmando que sua velocidade pode resultar num acidente. Por que ela fala isso? Quantas vezes vocês se acidentaram quando estavam em alta velocidade? Acho que nenhuma ou muito poucas. Na maioria das vezes que você andou com velocidade elevada não se acidentou. Analisando assim, não haveria motivos para que ela sempre dissesse isso, mas ela sempre fala, não?

Não havendo, portanto, motivos aparentes para que sua esposa sempre lhe dê este alerta, porque ela fala? Porque acha que sabe que o excesso de velocidade é elemento causador de acidente. Por conta desta cultura é que ela profetiza um futuro.

Analisando-se o mundo interno, posso lhe explicar como funcionam as previsões de futuro. Havendo no mundo mental de uma pessoa a informação de que determinada velocidade é correr e que dirigir desta forma pode conduzir a um acidente, a mente acredita que existe a possibilidade disso ocorrer com vocês neste momento e com isso forma a frase que será dita. O momento em que esta frase é pronunciada passa a ser o seu carma e o de quem está tendo a idéia, já que ele é fruto de uma compreensão racional dela e gerará uma em você.

Havendo uma compreensão racional, há um trabalho de libertação a ser feito. Como este trabalho é feito? Não se crendo nas previsões que são feitas pela mente. Como? Expondo a razão criada à realidade...

Quantos andam por aí em alta velocidade e nunca tiveram um acidente? Quantos respeitam os limites de velocidade, mas isso não os impede de acidentarem-se? É claro que se você for analisar a luz da racionalidade, a previsão não tem lógica, pois a velocidade não é um determinante da existência de um desastre, apesar da razão humana afirmar o contrário. Na realidade o acidente pode acontecer estando você em alta ou baixa velocidade.

Expondo a razão criada pela mente (pode haver um acidente) à realidade (o acidente pode ocorrer estando ou em alta ou baixa velocidade) fica fácil de chegar a uma conclusão que serve para se libertar do carma: ‘eu não sei se esta velocidade me levará a um acidente’. Quando o ser humanizado realiza esta comparação fica fácil retirar da mente a idéia do perigo iminente e com isso deixar de vivenciar a apreensão criada pela personalidade humana. Sem esta vivência, a convivência com a ação carmática é realizada de uma forma positiva para a elevação espiritual.

Quem faz a previsão precisa se libertar da iminência do perigo que está embutida nela. Já quem a ouve e não concorda com ela, também precisa se libertar da idéia de que o que foi previsto jamais ocorrerá, ou seja, que ele tem certeza que um acidente não ocorrerá. Os dois envolvidos neste momento precisam alcançar a ignorância sobre o futuro. Só isso leva os seres humanizados a vencerem seus carmas.

Portanto, analisando este acontecimento, que é corriqueiro na existência dos seres humanizados, podemos compreender mais um carma humano: a previsão de futuro. Ele é composto pelas idéias projetivas que a mente faz para acontecimentos futuros fundamentados em lógicas e verdades pré-concebidas pelo momento. Este carma pode ser vencido quando se leva em conta que neste mundo nada absoluto, ou seja, que os acontecimentos futuros jamais ocorrerão apenas de uma forma. Agir de um jeito hoje não leva necessariamente ao futuro projetado pela mente, pois muitos alcançam um futuro diferente, apesar da similitude de ações do agora.

Chegando a esta conclusão, posso, então, lhe responder. Você me afirma que as pessoas poderão sentir-se incomodadas se alcançar esta apatia, mas será que irão mesmo? Por conta desta dúvida, você não pode se incomodar com isso agora. Mas, digamos que algumas se sintam: o que a sua preocupação de agora vai resolver para o futuro? Nada. Mesmo que pense nisso e tente se programar para reagir de uma determinada forma, será que naquele momento reagirá dentro do previsto? Você não sabe... Então, deixe o amanhã para amanhã, pois enquanto está tentando concebê-lo, está deixando de vencer o carma de agora.

Na verdade quem discute sobre hipóteses está cedendo a um carma naquele momento: acreditando na projeção de acontecimentos futuros feitos pela mente. Esta cessão acaba não trabalhando o momento presente e com isso vivenciará a sensação que a mente criará a partir daquela consciência. Com isso não realizou o trabalho da encarnação neste momento.

Recentemente falei de algo que os seres humanizados esquecem: a vida não é um processo subseqüente de minutos, horas, dias e meses. A vida é composta de uma série de momentos que não são encadeados por si mesmo. Isso quer dizer que se um motorista dirige com velocidade elevada necessariamente esta forma de dirigir não o levará a um acidente.

Levando esta idéia para a sua pergunta, posso lhe dizer que não é porque você está apático que as pessoas se ofenderão. Lembre-se: a vida é feita de micro presentes e em cada um deles há um carma diferente. Sendo assim, o momento de você estar apático é um carma, mas necessariamente este momento não leva à existência do carma de alguém ficar chateado com isso. Pode até levar, mas não obrigatoriamente levará. Entre os acontecimentos da existência humana não há este desenrolar natural que vocês imaginam, pois o que comanda a seqüência da vida é a lei do carma e não aquilo que é tratado como normalidade pelos seres humanizados.

O momento de você estar apático é um carma e o de alguém reclamar de sua apatia é outro. Eles não têm nada a ver um com outro, a não ser o fato de ser o carma de cada um. Apenas para a ilusão humana existe uma vinculação entre eles, existe o fato de que um leva a outro.

Além do mais, mesmo que os dois momentos sejam considerados iguais pelo fato de serem carmas e de estarem acontecendo em seqüência, isso não quer dizer que possuam qualquer outra semelhança. O carma de alguém que age de uma forma pode estar ligado a uma determinada posse, paixão e desejo, enquanto que o de quem recebe a ação pode estar vinculado a outras questões. Repare bem: eles são carmas, mas mesmo sendo isto são diferentes, pois se ligam a questões diferentes.

 Em face de tudo o que lhe disse, chegamos a uma conclusão: o ser humanizado não pode vincular idéias, não pode trabalhar com acontecimentos entrelaçados como se eles formassem uma história. Isso não existe. Cada acontecimento é único e pertence apenas a um ser humanizado como o seu carma daquele momento.

Não sendo possível vincular idéias, não há como determinar acontecimentos futuros e por isso não existe a menor possibilidade de se prever o que acontecerá no futuro. Quem acredita na programação de acontecimentos futuros que a mente cria é um senhor da lei porque imagina saber o que acontecerá no futuro. Neste caso, é um ser humanizado ligado à posse moral: eu sei.

Portanto, estamos tratando aqui de mais um aspecto da vida humana que o espírito vivencia durante a encarnação como instrumento da sua provação para aproximar-se de Deus: a previsão do futuro. Este elemento não se caracteriza apenas por momentos onde o ser humanizado participa de acontecimentos como ler cartas de tarô, jogar os búzios ou ler as linhas da mão. A previsão de futuro está presente sempre que você projeta a realização de uma ação que ainda não aconteceu.

Quem de manhã acorda e imagina o que vai fazer à tarde ou à noite está fazendo uma previsão de futuro e a idéia formada por este pensamento precisa ser trabalhada por aquele que promove a reforma íntima no sentido de não vivê-la como uma realidade.

Carmas humanos - Texto

Doenças

Vamos tratar de mais um momento da vida humana de um ser encarnado: as doenças. Neste caso específico quero tratar este assunto em dois momentos diferentes: a doença em si e o estar doente, que são duas coisas completamente diferentes. Será bom conversarmos desta forma porque poderemos relembrar algumas coisas que já conversamos.

Como já falamos no início destas conversas, o ato em si não é um carma, mas sim a compreensão racional que vem à consciência do ser. Aplicando esta idéia ao tema que estamos conversando agora, posso dizer, então, que a doença em si não é um carma. A temperatura do corpo, a parada do coração, a tuberculose, o tumor, a diabete, o entupimento das veias não é um carma. Na verdade, neste aspecto, o carma do ser humanizado é sentir-se doente. O que caracteriza o carma do ser humanizado no aspecto saúde não é a doença em si, mas o fato de estar racional e emocionalmente doente.

O carma não é a diabete, mas sentir-se um diabético; não é o infarto, mas o sentir-se um infartado. É na forma que o ser humanizado se sente, racional e emocionalmente, quando existe uma doença que está o carma e não na doença em si. Na verdade, a doença é um instrumento do carma, mas não ele próprio.

A doença é maya, é ilusão. Ela é fabricada artificialmente no corpo físico e criada a percepção da sua existência pela mente para que o ser humanizado possa aceitar a propositura racional de que ele está doente. Por isso afirmo que ela é apenas um instrumento da ação carmática e não o próprio carma.

Sentir-se doente, imaginar-se adoentado: aí está o verdadeiro carma. Este estado de espírito pode ser vivenciado ou não pelo espírito que está vivendo aquele personagem. Existem muitas pessoas que possuem sérios problemas de saúde, mas não cedem ao carma de sentirem-se doentes, ou seja, não vivem emocional e racionalmente doentes. Por isso é que afirmo que o estar doente é que é o carma e não a doença em si.

Aproveitando que estamos falando desta forma, permitam-me deixar claro algo: este ponto de vista vale para todas as coisas deste mundo quando falamos de ação carmática. Jogar, beber, não é um carma, mas viver a realidade de ser um jogador ou bebedor é que caracteriza a provação do espírito. Isso porque quem se considera um jogador ou bebedor vive o desejo de realizar aquilo que imagina ser importante para si. Fumar não é um carma, mas ser um fumante sim, pois quando o ser humanizado se considera desta forma gera em si a prisão à necessidade de fumar.

Sei que muitos de vocês consideram a bebida um elemento nocivo ao processo de espiritualização e mesmo de vivência do ser humanizado, mas isso não é real. A bebida em si não gera mal algum. O que é nocivo no caso é a paixão pelo beber e por isso este é o carma do ser humanizado e não a própria bebida. Esta paixão é nociva porque ela gera um vício, gera uma necessidade de se praticar aquilo pelo que se é apaixonado.

Agora, reparem numa coisa: não estou falando em vício de bebida como alcoolismo. Vocês tratam como viciados apenas aqueles que bebem até cair, mas mesmo aqueles que simplesmente tomam uma cervejinha quando fazem um churrasco no domingo também são viciados. Isso porque para eles existe a posse moral: ‘todo churrasco tem que ser acompanhado de uma cerveja’. Experimente fazer um churrasco sem bebida e você verá como esta posse se pronuncia gerando um desagrado.

Estou aproveitando o tema doença, onde fica mais clara a diferença entre ter um mal e sentir-se doente, para falar mais profundamente sobre o carma. Estou aproveitando para deixar bem claro que nenhum acontecimento em si é o carma, mas sim a forma como o ser humanizado lida com eles.

A doença não é carma, mas sim o viver a consciência de estar doente. Isso porque quem vive assim deixou a criação mental dirigir a sua forma de estar, ou seja, viveu o que a mente lhe disse para viver e não quem ele realmente é.

No caso da doença, quem vivencia o estar doente é porque tem a posse da verdade: ‘meu exame disse que tenho alta taxa de glicose, por isso sou um diabético’. Há também, apesar de não ser aparente, uma posse sobre os elementos materiais: a posse sobre o próprio corpo. Quem vive o estar doente é porque considera o corpo como sendo ele mesmo. Se não possuísse o seu próprio corpo jamais se sentiria doente, pois no espírito não há doenças. Sendo assim, quem aceita o fato de estar doente, ou seja, quem vivencia o estar doente nega a sua própria espiritualidade.

Krishna ensina que o fogo não queima o espírito nem a faca o corta. Sendo isso verdade, como você que se sente um espírito vai sentir-se queimado ou cortado? Portanto, quem acredita nas doenças geradas pela mente e por isso sente-se doente está provando que possui o corpo como sendo ele mesmo e com isso não supera a ação carmática. Este ser não conseguiu a sua aprovação no sentido da elevação espiritual porque mostrou que não quer desligar-se da humanidade que vive. Quem vive o estar doente proposto pela mente quer sentir a dor da humanidade e com isso não consegue espiritualizar-se.

Acho que vocês, apesar de dizerem-se espiritualistas, nunca pensaram neste aspecto, não é mesmo? Nunca imaginaram que vivem as coisas deste mundo da forma humana para poder sentirem-se humanos. O ser quando humanizado apega-se tanto as coisas deste mundo e não quer negá-las para não perder a humanidade que vive. Se a perdesse, como poderia viver o prazer que tanto o inebria?

Sabe qual é a grande motivação do ser humanizado em sentir-se doente? Alcançar a cura. O espírito que gosta da humanidade que vive, apaixona-se por estar doente para quando vier a cura ele viva o prazer de ter vencido a doença...

O ego prega muitas peças ao ser que está ligado a ele. Como já disse anteriormente, são camadas e camadas de intencionalidades que vão se sobrepondo. Muitas vezes uma intencionalidade está tão escondida debaixo de camadas de outras que o ser não consegue encontrá-la. Este é o caso da intenção de permanecer humanizado para poder viver o prazer. Quantas atitudes vocês vivem como reais, como normais, que não escondem a intenção de não perder a humanidade para que não tenha também que abandonar o prazer? É por isso que sempre aconselho: abandonem tudo, neguem tudo...

Aquele que ainda mantém alguma criação da mente como real, como sendo uma consciência sua, acaba dando margem a estas intencionalidades escondidas e nem vê o que está fazendo. Por isso, não importa o que sua mente está gerando a qualquer momento como uma postura sua, não compactue com isso.

No caso da doença é a mesma coisa. Se a mente lhe diz que você está doente, deve negar esta consciência. Não negá-la afirmando racionalmente que está são, mas negando sentir-se doente. Mesmo que o ego diga que está com um câncer e por isso lhe proponha um estado de espírito de desânimo, de medo de desencarnar, o ser que busca aproveitar a oportunidade da encarnação para aproximar-se de Deus não vivencia estes estados de espírito.

Se a mente lhe diz que é diabético ou tem problemas renais, responda a ela: ‘tenho estas doenças, mas e daí? Não é por causa delas que vou viver abatido, pesaroso’. Para vencer o carma sobre o aspecto doença, o ser humanizado precisa não aceitar a condição de ser um doente. Quem aceita esta condição é porque quer receber tratamento especial por parte dos outros. É por isso que o estar doente também se liga à posse sentimental.

Pelo que vimos aqui, o acontecimento doença, se visto pelo aspecto da elevação espiritual, é altamente importante, pois ele leva ao sentir-se doente que é um carma que se liga às três possessões: a moral, material e sentimental. Portanto, vencer este carma é, ao ser constado o mal físico, não se vivenciar o sentir-se doente que a mente cria.

Ainda com relação às doenças, temos que abordar mais uma questão: a cura do mal físico. Outro dia me perguntaram sobre a cura das doenças e eu disse que ela pode acontecer e quando ocorrer será mais uma situação carmática. No entanto, para quem está doente, a cura não deve ser a maior preocupação.

Aquele que quer aproveitar esta encarnação para promover a reforma íntima deve entender que a maior cura que pode alcançar é não viver o estar doente que a mente cria e não o fim do mal físico. Falo isso porque o não sentir-se doente é a cura para o espírito e por isso deveria se constituir no objetivo do espiritualista.

Quem consegue deixar de viver a idéia de estar doente alcança a cura para a humanidade que vive e com isso ganha a sua espiritualidade.

Participante: então, o carma são as intenções?

Carma são as compreensões racionais.

Quando se fala em intenções se direciona a algo que saia de você, ou seja, no caso da doença, afirmar que o carma é a intenção que se vive é o mesmo que dizer que você quer sentir-se doente. Isso não é real.

A existência da consciência emocional e racional de sentir-se doente não tem nada a ver com anseio do ser humano. Ela existe em determinados momentos como expressão do gênero de provações pedidas pelo espírito antes da encarnação. Quando gera a necessidade de haver este carma não o faz porque quer viver esta situação, mas sim porque reconhece a necessidade de realizar uma provação sobre determinada possessão. Sendo assim, a existência do sentir-se doente não está vinculada nem à intenção do ser humano nem do próprio espírito, já que aquela provação poderia ser expressa por outra situação.

Por isso lhe digo que o carma é a compreensão criada pela mente, é aquilo que a personalidade humana diz que você deve sentir emocionalmente ou compreender racionalmente. Carma é o que o ego lhe diz que deve sentir, compreender, vivenciar. Toda posição que ele expressa através de um pensamento como sendo sua é o seu carma.

Sentir-se doente, por exemplo, é uma criação artificial que a mente cria. Quem se apega a ela vivencia como real algo que é apenas uma ilusão, um maya, uma miragem. Quando faz isso se desliga de Deus como Realidade do universo. É por isso que o apego às criações mentais é danoso para a saúde espiritual do ser encarnado.

Por isso, sempre que a mente disser que o ser humanizado deve sentir-se doente – ou propor qualquer outro posicionamento durante a vida – aquele que busca a elevação espiritual liberta-se desta proposição. Faz isso não buscando sentir-se são – o que seria apenas mais uma proposta gerada pela mente e não a realidade – mas sim vivenciando a doença sem alterar seu estado de espírito.

Participante: o trabalho espiritual fora do corpo pode trazer doenças para serem somatizadas posteriormente? Esta é uma idéia que o ego vem me mandando. É só carma ou realidade?

Você ouviu o que eu disse neste tema? No sentido carmático o problema não é a doença, mas o sentir-se doente. Portanto, se o trabalhado espiritual trouxer uma doença e depois você a somatizar, preocupe-se em não sentir-se doente. O resto, não se preocupe...

Participante: falando de doenças, outro dia, por exemplo, detonei meu joelho jogando futebol. Doeu para muito. O que devia fazer: esquecer a dor e pensar que aquilo era carma? Mas, estava doendo muito...

Na verdade, o seu joelho não pode lhe dar dor, porque você não é o corpo, mas sim o espírito. Sendo assim, numa situação dessa o que pode fazer? Dizer: ‘está doendo muito, mas e daí’? Só que não é assim que vocês reagem a este acontecimento. Entregam-se a dor e comungam com o pensamento que diz que a dor é insuportável. Agindo assim, a dor dói mais.

Deixe-me dizer-lhes algo a respeito da dor. Vocês imaginam que os monges que alcançam a iluminação são capazes de vencer a dor. Isso é real, mas vencer a dor não significa não sentir dor, mas sim não deixar a dor lhe dominar. Aquele que domina a dor continua sentindo-a, mas não deixa esta sensação interferir na sua vida. Ele continua vivendo tudo o que a vida lhe apresentar em paz e harmonia, fato que não acontece quando o ser se entrega a dor. Neste caso, a dor influencia o seu estado de espírito (humor) e o faz viver os acontecimentos com um estado de ânimo diferente daquele que se libertou da dor.

Esta é a resposta que eu posso lhe dar sobre o sentir dor. Não pensem que aquele que consegue a elevação espiritual acaba com suas percepções. Elas continuam existindo, ou seja, ele sente as mesmas coisas daquele que não se libertou da humanidade. Só que ele aprende a lidar com elas sem deixá-las lhe dominar.

Foi o caso da resposta que dei agora pouco à pessoa cuja companheira está em depressão há muito tempo. Ele preocupar-se com ela é normal e não se encerrará quando conscientizar-se de que esta situação é uma ação carmática. O que ocorrerá é que se relacionará com esta preocupação de outra forma. Esta nova forma de se relacionar o levará a viver os demais acontecimentos com outro estado de espírito. Mas, enquanto não alterar seu relacionamento com a preocupação pela doença da sua companheira, ela afetará a sua vivência em outros momentos.

Vivenciar a preocupação ou a dor não é natural, não é normal. Trata-se, na verdade, de uma ação obsessiva, possessiva. Saber que está doente, ter a consciência racional e emocional de estar doente ou sentindo dor faz parte da humanidade do ser em qualquer nível. Agora, deixar estas coisas dominarem você, o espírito, ou seja, acabar com sua equanimidade, isso é prova de materialismo.

Participante: seria não sentir aversão nem apego à dor?

Seria não ter prazer nem dor com a sensação de dor que está presente naquele momento.

Não se pode falar em apego nem em aversão a dor porque isso é outra coisa. Tem apego à dor aquele que gosta de senti-la; tem aversão a esta sensação quem tem medo de senti-la. O que estou falando é sentir dor sem ter prazer por tê-la e sem sofrer porque ela está presente.

Participante: atualmente estou pensando assim: está doendo, está, mas de nada vai adiantar ficar remoendo-a. Acho que se não me apegar à idéia de estar existindo a dor ela diminuirá porque nem a notarei.

Você estava indo muito bem, mas quando afirmou que pode ser que sinta menos dor fugiu da realidade. Na verdade quando diz que isso pode acontecer está fazendo uma profecia, uma previsão de futuro. Portanto, faça o que está fazendo, mas não imagine que isso pode lhe levar a sentir menos dor. Mantendo esta idéia acesa, se acontecer da mente aumentar esta dor, você acreditará num pensamento que afirme que praticar o que falei não dá certo. Portanto, não creia nisso.

Quanto ao resto a idéia é esta mesma. Estando doendo, a sua reação deve ser constatar a dor sem se apegar a ela. Para isso, pergunte sempre à mente: e daí? E daí que está doendo?

Existindo uma dor, você pode fazer muitas coisas. Pode procurar um médico, pode buscar a cura através de remédios, etc. Isso pode lhe ajudar, se lhe ajudar. Agora, ficar remoendo a dor de nada lhe adianta, por que não lhe leva a lugar algum.

Carmas humanos - Texto

Indução

Participante: o que vale é o pensamento. E a indução dos outros espíritos, é carma nosso ou carma conjunto? A indução de um espírito é carma de ambos?

Vamos aproveitar o que você falou e vamos criar um novo tema para nossa conversa, uma nova investigação da vida humana.

Será que a indução que outros espíritos, encarnados ou não, fazem a um ser é um carma? Usando a mesma linha de raciocínio que usamos para o tema doença (estar doente) diria que a indução de outros espíritos não é carma, mas sentir-se induzido, positiva ou negativamente, por outros seres é um carma. Lembre-se sempre: o ato não é o carma, mas sim a compreensão que você tem a partir do que está ocorrendo.

Lembrando-se disso, vamos a um exemplo para compreendermos melhor o carma indução. Digamos que dentro de um centro espírita um médium tenha a visão de que existe um ser fora da carne agindo sobre outro que está encarnado gerando nesse algumas induções. Esta compreensão é carma do médium, do espírito fora da carne e daquele que está sendo induzido a alguma coisa.

O carma do médium começa quando ele reage racionalmente à visão; a do ser encarnado que está sendo induzido pelo fora da carne quando ouve do médium que ele está sofrendo uma obsessão por outro. Se quem foi alertado não se apegar a idéia gerada pela mente sobre esta relação, terá vencido este carma. Agora, se depois do alerta se apegar às emoções geradas pela mente (medo, preocupação), não terá vencido-o.

O processo obsessivo, o processo onde um ser tenta induzir outro, é uma ação carmática. Ele não serve só ao encarnado, mas também àquele que está liberto do corpo humano. Sei que vocês imaginam que assim que exista o desencarne as provas se encerram, mas isso não é real. O que caracteriza o fim de um período de provações é o desligamento da personalidade humana e não da carne. Enquanto o ser estiver ligado a um ego humanizado, mesmo que já não possua mais corpo carnal, estará em provas.

Sendo assim, aquele que está fora da carne também está encarnado, ligado a um ego humanizado. Este está lhe mandando informações (pensamentos) e por isso, está gerando carmas. Neste caso, os carmas são a idéia de que está obsediando outro ser e o conteúdo desta indução.

Tudo o que a personalidade humanizada de um espírito lhe diz através de pensamentos, razões, esteja este ser ligado a um corpo carnal ou não, é prova. É algo que o ser que recebe a informação tem o livre arbítrio de aceitar ou não como real, verdade.

O ser fora da carne está numa prova muito grande, pois se acreditar no que o seu ego está lhe dizendo, estará acreditando que é capaz de agir livremente, que pode ser a causa primária de suas ações. Como disse, a prova é grande, pois sabemos que existe apenas uma Causa Primária de todas as coisas e quando alguém se imagina capaz de gerar livremente uma causa está desligado do Pai.

Repare como funciona esta provação. Deus dá ao espírito a idéia de que ele está decidindo o que fazer e a idéia de fazer alguma coisa num determinado momento. Depois pergunta: ‘e agora, você vai acreditar que foi você que decidiu fazer isso mesmo sabendo que existe uma Causa Primária? Será que para saber que sua ação foi causada eternamente você precisará Me ver causando primariamente a ação’?

A resposta depende da fé de cada um, ou seja, da entrega com confiança que se faz ao Senhor. Aquele que tem fé em Deus recebe o pensamento de que ele está decidindo o que fazer, mas não acredita nesta idéia porque tem a informação de que o Pai é a Causa Primária. Este exerceu a fé em Deus; já aquele que acreditou ser ele o causador do acontecimento teve fé no seu ego.

Isso vale também para quem está recebendo a indução. Este recebe a informação de que está sendo obsediado através da palavra do médium e neste momento tem o livre arbítrio de acreditar que realmente há um ser agindo espontaneamente sobre ele, e que por isso pode lhe fazer mal ou bem, ou pode crer que ali há uma situação gerada por Deus para que uma provação aconteça. Neste caso, reagindo também com fé, não vivenciará a idéia de que daquela relação pode advir o bem ou o mal.

Lembremo-nos que Buda ensina que o universo é interdependente, ou seja, que todas as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) se relacionam e se dependem. É por conta da interdependência das coisas que o carma é para todos que participam de um acontecimento e não apenas para um ou outro. Sendo assim, todos que participam da ação carmática, direta ou indiretamente, estão vivendo os seus carmas individualmente. Agora, cuidado: a ação carmática envolve muito mais pessoas do que você possa imaginar...

Vou dar um exemplo para que possa entender o que estou dizendo. Digamos que hoje pela manhã ao ler o seu jornal você leu uma notícia sobre um assassinato. Ao lê-la, a sua mente cria a idéia de que aquele foi um ato bárbaro, que o agente daquela ação, o assassino, é um monstro. Você nunca viu as pessoas envolvidas naquele acontecimento, não esteve presente no momento da ação nem depois no lugar que ela ocorreu, mas o que ali se passou também é um carma seu e não só das pessoas diretamente envolvidas. Isso porque aquele acontecimento gerou em você uma compreensão e tudo o que se compreende caracteriza-se como um carma.

Aquela ação que serviu como fundamento para a notícia do jornal é um acontecimento extremamente abrangente no sentido carmático, pois serve a todos os que tomam contato com ela, seja porque modo for, seja porque profundidade for. O acontecimento serve como ação carmática para todos os que estiveram presentes no momento, mas também possui a mesma serventia para todos aqueles que tenham notícia do que aconteceu, seja por que modo for, porque levou a que estes tivessem compreensões racionais sobre o ocorrido.

Não sei se ficou claro o que quis dizer. Se não ficou, por favor, tire suas dúvidas. Mas, antes de fazer suas perguntas, deixe-me complementar o assunto referente à sua pergunta.

No seu questionamento você se refere especificamente à indução de um espírito sobre outro, ou seja, de um espírito fora da carne sobre o encarnado. Isso eu lhe respondi, mas existe ainda a indução entre dois seres encarnados, ou seja, existe a ação de um ser humanizado tentando induzir o outro a agir de determinada forma ou em determinado momento. São os relacionamentos humanos que vocês chamam de aconselhamento. Quando alguém aconselha um ser a agir de determinada forma está induzindo-o a agir. Neste caso, vale tudo o que disse para os espíritos fora da carne, pois a provação é a mesma.

Sendo assim, quando uma pessoa lhe aconselha a agir de determinada forma ou em determinado momento, saiba que ela não está lhe ajudando, mas apenas criando uma ação carmática, uma ação que levará a uma compreensão racional que será o seu carma daquele momento. Além disso, quando esta pessoa fala está também gerando um carma a ela mesmo, pois pode vivenciar aquele momento aprisionado às razões que a mente dela criou ou não.

Pela lei da interdependência que já falamos, os dois participantes de uma ação de aconselhamento estão vivendo seus carmas na mesma ação carmática. A pessoa que lhe aconselha vivendo a oportunidade de acreditar ou não que conhece o que deve ser feito e que deve lhe induzir a fazer do jeito que ela quer. Você recebe o conselho tendo a oportunidade de achar bom ou mau o que ouvir, de elogiar ou criticar quem falou, ou não crer em nada disso e manter-se equânime naquele momento.

Portanto, resumindo o assunto indução, os atos onde espíritos querem induzir outro, encarnado ou não, são ações carmáticas, pois geram, tanto para quem praticar como para quem recebe a ação, conclusões racionais sobre o que está acontecendo.

Para que você possa entender perfeitamente o que é o carma para os espíritos, deixe-me fazer uma comparação. O universo é como uma máquina que produz determinado produto. O produto final da máquina universo é o espírito puro e simples.

Como toda máquina, o universo possui rolamentos. Cada ser do universo, encarnado ou não, é um dos rolamentos da máquina universo. Para a produção do produto final desta máquina, os rolamentos se encaixam e desencaixam várias vezes.

Deus é o operador desta grande máquina e o motor, o que movimenta a máquina encaixando ou desencaixando os rolamentos, é a lei do carma. O que faz os rolamentos se aproximarem ou se afastarem é aquilo que o espírito escolhe como gênero de provas antes da encarnação. Esta escolha é o que movimenta os rolamentos perfeitamente para que o produto final seja conseguido.

Compreenda isso e você compreenderá tudo o que lhe acontece. Tendo a consciência desta forma de funcionamento das coisas universais, você não deixa de viver nem um só acontecimento, mas não mais haverá agentes destes, pois para quem compreende o funcionamento da máquina universal tudo o que acontece é a máquina funcionando a partir de uma pré-programação e não a partir da ação de um rolamento.

Enquanto o ser não conseguir interpenetrar no funcionamento da máquina universal haverá para ele um agente da situação e por isso sempre haverá um culpado e uma vítima, não importa a que assunto se refira o acontecimento. Na hora que interpenetra no funcionamento da máquina universal, o ser sabe que é o carma que junta os rolamentos e que os faz girar de determinada forma. Aí ele consegue compreender que é Deus, o operador da máquina, que está fazendo-a funcionar de tal forma que todos tenham a oportunidade de alcançar a elevação espiritual.

Neste momento, ao invés de termos vítimas e culpados, viveremos num mundo justo, perfeito, um lugar onde não há nada do que reclamar. Neste mundo se vive em vigilância constante das compreensões que a razão forma para não se deixar levar novamente para um mundo onde a injustiça e a infelicidade existam.

Finalizando, então, a resposta a sua questão, a indução entre espíritos, encarnados ou não, é carma. Ele se fundamenta na posse moral, pois toda compreensão que surge durante os acontecimentos deste tipo está fundamentado na idéia de saber alguma coisa.

Carmas humanos - Texto

Cremação de corpos

Participante: o que o senhor acha do tema cremação do corpo físico?

Vamos falar dele...

Em O livro dos Espíritos é dito que toda matéria conhecida pelo ser humano é formada de um único elemento universal: o fluído cósmico universal. Isso vale para as matérias densas, inclusive o corpo humano, para os gazes e para o fogo.

Sendo assim, se decompormos qualquer elemento material deste mundo até a sua menor partícula, encontraremos o fluído cósmico universal. Com isso podemos ter uma conclusão importante para o tema que estamos conversando: não existe a cremação de um corpo, mas apenas fluído cósmico universal agindo sobre ele mesmo. Esta conclusão nos leva a uma compreensão também importante no momento: a imagem de um corpo queimando é uma ilusão, um maya. Já vimos que toda ilusão percebida através dos órgãos sensoriais é um instrumento da ação carmática e toda ação neste sentido acontece no racional, através das conclusões que a mente cria sobre os assuntos.

Desta forma, quando falamos de cremação de corpos, temos que entender que ela é uma ilusão que proporciona a existência da compreensão ‘estou sendo queimado’ ou ‘estão queimando aquele ser humano’. Não importa se o ser humanizado está vivendo a ação de ser queimado ou a de ver alguém sendo, o que está acontecendo na realidade a eles é um carma que se fundamenta sobre a posse de objetos materiais. Vou explicar isto melhor.

Aquele espírito que está ligado ao corpo e está assistindo a cremação da sua massa carnal, ou seja, está tendo a compreensão ‘estão me queimando’ e acredita que isso é real, não venceu um carma de posse do elemento material. Isso ocorre porque ainda possui o corpo como sendo o eu dele.

O fato de não vencer este carma pode gerar novas situações carmáticas, que se caracterizarão pelo fato de aquele ser sentir dor, de sentir-se queimando. Falo assim, porque na realidade o espírito jamais é queimado, como ensina Krishna, e nem o corpo o é, pois não existe queimação já que tudo não passa de fluído cósmico universal. Portanto, só o espírito que vivencia o momento de ver seu corpo sendo queimado como real é que sente a dor.

Sendo assim, a cremação ou a prova de ver o corpo que ocupava sendo queimado é uma provação para o espírito. Já para quem assiste isso acontecer também vivencia uma prova de possessão do elemento material, mas não só ela. Para este existe a provação sobre a posse sentimental.

Quando a mente cria a idéia de estar sendo queimado o corpo de um ente querido, ela gera idéias que aquilo que não deveria estar acontecendo por motivos sentimentais. É a influência destes laços naquele momento que se caracteriza na provação do espírito.

A compreensão que o espírito recebe do ego no momento que o corpo do ente querido está sendo cremado é prova, pois dentro daquele invólucro material não existe mais aquele que é querido. O espírito que ocupava aquele corpo não está mais ali, já que a animação do corpo não mais existe. Portanto, não existe nada sendo queimado. As formas que são percebidas nada mais são do que criações da mente para matérias universais. Sendo assim, a única coisa que realmente está acontecendo é uma ação carmática.

Isto é o que tinha a dizer a respeito do ilusório acontecimento de cremação de corpos. Agora, se você me perguntou sobre este assunto objetivando ouvir de mim se é melhor cremar do que enterrar, respondo que tanto faz. Na verdade não existe a carne e ela nunca foi um ser. Para que, então, ter tantos cuidados com ela? Por que ter tantos cuidados com esta matéria que nada mais é do que fluído cósmico universal?

Na verdade, não sou contra nem a favor da cremação ou do enterro. Além do mais, se a vida é uma sucessão de ações carmáticas que servem como provação para todos os seres humanizados que têm notícias do acontecido, ninguém pode escolher cremar ou enterrar a si ou a outro. Isso será decidido por Deus de acordo com o gênero de provas pedido pelo espírito antes da encarnação. Desta forma, afirmo que não há relevância entre escolher-se entre uma coisa ou outra.

Participante: existe algum tempo específico para que o espírito afaste-se do corpo físico a fim de que haja segurança no desprendimento completo?

No universo não existe passagem de tempo. O tempo é um valor humano e não universal. No universo não existe hora, dias, meses ou anos: tudo isso pertence apenas ao mundo dos humanizados.

Já quanto à idéia do espírito desprender-se do corpo, posso dizer que esta idéia também só pertence aos humanos. O espírito não está preso ao corpo, mas sim ligado a uma consciência. É dentro dela que existe a projeção de uma massa que o ser imagina sendo o corpo que afirma ser seu e tudo mais que ele percebe no mundo externo. Sendo assim, o desprendimento que o ser precisa conseguir é o da consciência e não do corpo.

Mas, quando o ser se desprende da consciência? Quando se liberta dela. Na verdade o ser universal só se desprende da consciência humana quando compreende que tudo o que ela cria é uma ilusão. Somente se liberta da personalidade humana quando alcança a compreensão de que tudo o que lhe em à mente é uma criação da personalidade humana.

Isso, se levarmos em conta a medição de tempo terrestre, não tem prazo certo para acontecer e Deus não apressa ninguém para que se liberte.

Participante: meu pai quando desencarnou era espírita e foi pedido que aguardássemos algumas horas, não me lembro quantas, para a cremação do corpo dele. A partir do que o senhor acaba de dizer, mesmo aguardando o tempo pedido, ele pode ter sido desligado ou não daquele corpo. Vamos supor que ele ainda estivesse ligado ao corpo. Neste caso lhe pergunto: como o espírito se sente com relação a isso? Há algum padrão para isso?

Não existe padrão algum para este momento, como, aliás, não existe padrão para qualquer reação por parte das mentes humanizadas. Por que isso é desta forma? Porque a compreensão de cada ser é o carma de cada um e este é individual.

Desta forma, posso dizer que alguns verão o corpo queimar e sentirão dor; outros podem ver isso acontecer e não sentir dor, mas sim agonia; outros ainda, percebendo o seu corpo ser queimado, podem estar orando a Deus agradecendo a oportunidade de elevação que estão vivenciando. Portanto, não há uma resposta única para todos os espíritos sobre este tema, como, aliás, não existe uma unidade de respostas para qualquer assunto do universo.

Carmas humanos - Texto

Morrer

Aliás, aproveitando a sua pergunta me dirijo a todos e afirmo: o morrer, ou seja, o momento em que o ser humanizado desliga-se do corpo físico é único para cada espírito. Isso é desta forma porque morrer também é um carma. Morrer é uma ação carmática e a forma como cada um passa por este momento de sua existência, ou seja, a compreensão que o ego dá a cada um neste momento, é o carma de cada um.

Sendo assim, não existe morrer. A morte física é ainda uma ação carmática que está vinculada ao gênero de provas pedido pelo espírito antes da encarnação. Por isso, afirmo que a compreensão racional que se tem sobre este acontecimento, seja participando da morte diretamente ou apenas se tendo notícia deste acontecimento na existência de outrem, é o carma de cada um.

Participando do evento morte com sofrimento, há aí uma prova sobre a possessão sentimental ou do objeto material. Aquele que aceita os lamentos gerados pela morte de alguém porque gostava tanto daquele ser, está mostrando a sua possessão sentimental sobre o outro. Para vencê-la, este ser precisa enfrentar a ação carmática mantendo seus sentimentos sobre controle.

‘Aquela pessoa morreu. Eu gostava muito dela, mas ela se foi. O que posso fazer neste momento? Debulhar-me em lágrimas? Isso de nada adianta, já que não vai trazê-la de volta. Portanto, lamento a sua morte, mas vou seguir o meu caminho e deixá-lo seguir o dele’. Este é o pensamento daquele que controla a sua mente para vencer o seu carma no acontecimento morte.

‘Eu morri, mas o que posso fazer com relação a isso? A morte é um acontecimento natural para quem está vivo, pois todos que nascem um dia desencarnam’. Este é o pensamento que leva o ser a desligar-se da consciência material quando desencarna, pois é uma resposta ao lamento criado pela mente quando ela constata que não há mais o corpo material.

Desta forma, tanto a compreensão de estar morto como a consciência de que alguém morreu é um carma.

Carmas humanos - Texto

Doação de órgãos

Participante: e a doação de órgãos? Se a pessoa estiver viva, mas para morrer, deve doar ainda viva e contribuir para a vida de outros? Isso não vai contra a vida dela?

Vamos aproveitar sua pergunta e analisar este tema à luz do carma, à luz do motor que move os acontecimentos do universo.

O que é um órgão? Uma parte do corpo físico. No entanto, se o corpo não existe, mas trata-se apenas de uma criação da mente, será que existe órgão para ser doado? Claro que não.

Na verdade o ser humanizado não possui olho, pois aquilo que materialmente é chamado de olho é apenas fluído cósmico universal. O mesmo pensamento aplica-se tanto para o coração, o fígado, o rim e qualquer outro órgão do corpo humano. É por conta desta não existência do órgão que o acontecimento do mundo humano onde alguém doa ou recebe um órgão não pode ser considerada como real, mas apenas como uma ação carmática, um acontecimento que gera compreensões racionais, que são os carmas dos espíritos encarnados.

Tanto faz se o ser humanizado está sendo o receptor ou doador do acontecimento doação de órgãos, a mente sempre gerará uma compreensão e esta é o carma do ser humanizado.

Para o doador o carma é de posse moral. Quando alguém se sente superior por fazer uma doação, elogia-se pelo ato que pratica está vivenciando soberba e com isso perde a equanimidade que leva o ser a aproximar-se de Deus. Quem recebe também está vivendo uma prova do mesmo tipo, pois passa a adorar aquele que fez a doação. Esta adoração, que é uma compreensão racional, o afasta do cumprimento do amar a Deus acima de todas as coisas.

Digam-me uma coisa: por que adorar quem é agente de um ato de doação para você? Será que este ser é o salvador da sua vida? Mas, se a vida é um dom de Deus, será que alguém pode interferir aumentando ou encurtando-a? Será que alguém tem o poder de iludir a Deus e dar mais vida ao ser humanizado do que aquela que foi conferida pelo Pai?

A vida só existe enquanto Deus a fizer existir. Se ela continua existindo por conta de uma doação de órgãos, isso quer dizer que não foi o homem que realizou o acontecimento que aparentemente prorrogou a vida, mas sim o próprio Pai. Sendo assim, porque adorar o homem?

Reparem quanta compreensão ilusória existe misturada a este tema da vida, como, aliás, a qualquer outro, simplesmente porque nos esquecemos de Deus. A soberba do ser humanizado de achar-se agente de qualquer acontecimento faz com que ele fira o poder de Deus. Todos os mestres ensinaram que o Pai é Onipotente, mas que onipotência é essa, se o homem tem potência para agir sem que Deus possa interferir?

Se levarmos em conta a existência de Deus e os atributos que os mestres atribuíram a Ele, temos que entender que a doação de órgão, seja em vida ou em morte, não pode ser certa ou errada. Mais: ela independe da decisão de cada um depois de encarnado. Um ser só doará ou receberá um órgão se isso for um acontecimento que esteja vinculado aos gêneros de provas escolhidos pelo ser antes da encarnação.

Doar órgãos não é bonito nem feio, valoroso ou não. Seja qual for a compreensão sobre este assunto, ela terá sempre embutida uma pergunta que Deus está fazendo ao ser: ‘e agora, você vai adorar mais a si mesmo por ter doado ou a quem lhe dou do que a Mim’?

Qualquer ação humana em benefício de alguém leva sempre o ser a viver a soberba, pois em cada compreensão que a mente cria está sempre embutido o egoísmo do ser humanizado que o faz imaginar agir livremente e desta forma interferir no dom de Deus: a vida do outro. Por isso aconselho que vocês percam a ilusão de que quem doa órgão é um santo. Se ele está vivendo este acontecimento e ao mesmo tempo está acreditando numa compreensão de elogio a si mesmo que a mente está criando, não existe santidade alguma neste ser.

Perca, também, a ilusão que foi o recebimento de um órgão que prolongou a vida de alguém. Isso porque em O Livro dos Espíritos é dito que ninguém morre antes da hora e que Deus sabe o momento certo do desencarne. Sabendo este momento, isso quer dizer que ninguém vive um segundo mais ou menos do que o previsto antes da encarnação. Portanto, se aparentemente o ser humanizado ia morrer e isso agora não vai mais acontecer, o que lhe salvou não foi a doação de um órgão, mas sim o fato de o momento de sua morte ainda não ter chegado.

O mundo é mais simples do que vocês imaginam. Com a compreensão que vivem o mundo torna-se complexo. No caso que estamos conversando, a complexidade da vida está no fato do doente precisar esperar que alguém faça uma doação para que a sua vida tenha prosseguimento. Isso é bem complexo, porque independe apenas do desejo do ser humanizado doente. Ele torna-se refém das ações de outros seres e viver deste jeito é uma complicação para quem espera um novo órgão.

Saibam de uma coisa: ninguém morre na fila de espera para receber órgãos porque outros seres humanizados não tiveram benevolência e doaram os órgãos de seus mortos ou os seus mesmos. Todos morrem no momento que estava pré-determinado antes do nascimento para morrer, estando na fila dos transplantes ou não, sendo o primeiro ou o último desta lista, havendo ou não doares disponíveis. Quantos vão para a fila, aparecem os doadores, conseguem o transplante e acabam morrendo da rejeição do seu corpo ao órgão recebido?

Da mesma forma ninguém continua vivo porque recebeu um órgão novo. Quem crê nisso está idolatrando a ciência. Segundo O Livro dos Espíritos ela é apenas um instrumento que Deus dá ao ser humanizado para o desenvolvimento em todos os campos e não apenas como mantenedora da vida. Apesar de já terem lido esta informação, os homens acreditam na ciência como tal. Por isso a utiliza apenas para outros avanços que não o moral.

Eis aí, portanto, mais um tema dos carmas humanos: a doação de órgãos. Este acontecimento é uma ação carmática e toda compreensão gerada a partir dela é o carma dos seres humanizados envolvidos ou que têm notícias sobre ele.

Carmas humanos - Texto

Homossexualidade

Vamos falar agora sobre a homossexualidade como instrumento de ação carmática, ou seja, as compreensões e desejos homossexuais que alguns espíritos vivem quando encarnados.

Este desejo racional e a compreensão de que só gosta de ter relações com indivíduos do mesmo sexo é um carma, pois é uma compreensão racional. Este carma está fundamentado numa possessão meio estranha. Vou explicar isso.

Por mais que nós queiramos ser indivíduos libertos da escravidão do mundo, os padrões e conceitos da humanidade afligem e atingem mesmo aqueles que se consideram livres dele. A homossexualidade ainda é tratada neste planeta pela maioria como algo fora dos padrões e o espírito que vivencia a ação carmática e o carma de ser homossexual, por mais que se diga resolvido, sempre tem dentro de si uma determinada incompreensão sobre o porquê ser deste jeito. Em outras palavras, o que quero dizer é que por mais que se assuma como homossexual, o ser humanizado sempre tem problemas consigo mesmo por conta da sua opção sexual.

A homossexualidade, portanto, é um carma que opera aquilo que chamamos de posse moral. Quando falo isso não estou nem de longe dizendo que a homossexualidade é amoral, mas me refiro à possessão moral neste caso como a idéia do ‘eu sei o que é certo’, ou seja, viver a vida seguindo os padrões impostos pela sociedade humana.

Este tipo de carma acontece através de qualquer tipo de preconceito: preconceito com os pretos, com as mulheres, com os índios, etc. qualquer tipo de preconceito, ou seja, qualquer situação carmática onde o espírito encarnado se sinta alvo de um preconceito, existe aí uma prova para ele que diz respeito aos códigos de normas e padrões da sociedade.

Portanto, quem está vivendo uma encarnação onde o ego o faz homossexual é um espírito que está trabalhando em si a auto aceitação contrária aos padrões morais. É claro que também é uma prova de apego a si mesmo. Na homossexualidade está também em jogo os sentimentos sobre si mesmo, ou seja, amar-se do jeito que é.

Sendo assim para quem está vivendo este tipo de prova, o conselho que posso dar é dizer ‘eu só assim mesmo, e daí’? Este ser deve desligar-se do que a sociedade acha sobre a sua opção sexual. Deve deixar que os outros tenham o preconceito que quiserem ter, ao invés de tentar impor aos outro aquilo que acha certo.

Quem é espiritualista e vive uma condição que seja alvo da de preconceito da sociedade tem que ter a consciência de que ele precisa passar na sua prova e que isso só acontece quando ele não se incomoda com o que a sociedade fala. Sabe, também, que para ser aprovado, não pode se considerar diferente, de forma errada ou certa, dos outros.

Este é o carma da homossexualidade: o espírito aprender a sentir-se normal mesmo sendo diferente. Sentir-se normal, mesmo não estando sob o padrão da sociedade. Todo aquele que vivencia um carma preconceituoso sentindo-se vivendo na anormalidade, não passa na sua provação.

Portanto, ser hetero ou ser homossexual não retira ninguém da normalidade, pois todos estão vivendo a mesma coisa: uma situação carmática.

Participante: existindo uma pessoa que tenha tendência homossexual e não a vivencie, como fica isso?

A questão de vivenciar as claras ou escondido não é o espírito que faz, mas a provação de cada um. Isso porque os atos representam apenas a ação carmática. O carma são apenas as compreensões que se tem quando estão ocorrendo as ações. Portanto, para uma compreensão sobre a superação do carma, não importa ser um homossexual que viva a sua opção abertamente ou de forma velada, mas sim que ele não tenha prazer de ser homossexual ou de sentir-se culpado por conta disso.

Vence o carma aquele que consegue lidar com a ação e com a compreensão que o ego lhe dá quando vivencia tudo isso com equanimidade. Então, tanto faz o que lhe aconteça, seja equânime sempre que vencerá todos os seus carmas.

Carmas humanos - Texto

Prostituição

Participante: e o homossexual que além de se sentir renegado ainda utiliza do seu corpo para fazer dinheiro, ou seja, se prostitui, o carma é ainda maior.

Vamos usar sua pergunta e falar um pouco sobre prostituição, mas primeiro deixe-me responder-lhe a questão de haver um carma maior ou menor par alguém. Sabe qual é o pior carma? É o seu que está sendo vivenciado agora. O pior carma não é nem aquele que você vivenciou ontem ou a alguns momentos atrás, mas aquele que está vivenciando neste momento. Sempre o seu carma de agora é o pior, pois é aquele que precisa ser resolvido neste momento.

Claro que isso é apenas uma figura para poder lhe levar a compreender que todos os carmas de um ser humanizado são iguais. Isso acontece desse jeito porque todo carma é uma luta contra o egoísmo, não importando através de que figuras e verdades ele está sendo expresso. Sendo todos os carmas fundamentados na mesma coisa, não há, portanto, maior ou menor.

Dito isso posso falar do resto da sua pergunta. Você afirma que há uma gravidade maior na situação onde um ser prostitui-se entregando seu corpo para fazer dinheiro. Mas, se como já conversamos aqui, não existe corpo, como esta situação pode agravar alguma coisa? Lembre-se: todo mundo externo é maya, é uma criação da mente. Sendo assim, não existe o corpo, o dinheiro nem mesmo o ato sexual em si. Todas estas coisas são meros instrumentos carmáticos que servem para gerar uma compreensão a todos que tem conhecimento da ação gerando, assim, o carma de cada um.

Portanto, não há mal algum naquele que se prostitui, mas sim carmas. Aliás, nela existe um carma para você...

A compreensão racional que você tem de que o fato de entregar o corpo para fazer dinheiro é um agravante na vida de um espírito encarnado é o seu carma neste momento. Aliás, não só seu, mas de toda humanidade. Todos que compactuam com o julgamento feito pela mente daqueles que se prostituem estão vivendo o seu carma e nem se dão conta disso, pois estão preocupados com o ato.

Completando, então, a minha resposta, posso lhe dizer que o ato de se prostituir é uma ação carmática que levará quem pratica esta ação a vivência do seu carma. Este está vinculado a uma possessão do elemento material (dinheiro). No entanto, este mesmo acontecimento também serve para que toda a humanidade que tenha conhecimento deste fato também vivencie o seu carma: deixar-se levar pelo julgamento feito pelo ego ou não. Este carma está vinculado a uma possessão moral, ou seja, a uma certeza sobre alguma coisa.

Sobre este assunto, aliás, acho que já falamos. Uma vez contei a história de uma prostituta e de um monge que bem ilustra esta questão.

Conta-se que uma mulher que morava em frente a um mosteiro exercia a profissão de prostituta. Sabendo disso, um monge foi até ela e lhe disse que aquilo era contrário aos princípios da doutrina que ela professava. A mulher lamentou-se muito estar exercendo aquela atividade, mas disse ao monge que não sabia deste preceito e que não mais a exerceria.

Acontece que sem o seu ofício a mulher não conseguia dinheiro para comer. Foi definhando aos poucos até que se viu obrigada a prostituir-se novamente para poder comer. Sabendo do seu retorno à profissão, o monge a visitou e novamente a recriminou. A mulher, então, lhe disse que tinha muito respeito pelos ensinamentos da seita que seguiam, mas que infelizmente não tinha outra forma de sobreviver.

O monge, então, partiu para o castigo. Informou à mulher que ia ficar observando a casa dela e para cada cliente que recebesse ia colocar uma pedra no seu jardim. Quando a pilha já ia alta o monge e a prostituta morreram no mesmo horário. Atendido por um anjo, o monge observou que estava sendo levado para baixo. Na sua descida passou pela prostituta, que também estava sendo carregada por um anjo, só que para cima.

Indignado o monge questionou o anjo: ‘porque eu que sempre dediquei minha vida a Deus estou sendo levado para baixo enquanto que aquela mulher que pecava está sendo levada para cima’? O anjo, então, lhe respondeu: ‘porque o seu coração está muito pesado com as pedras que depositou no jardim dela’.

Acho que nesta história fica a resposta perfeita sobre o tema prostituição. O carma pior não é o ato de se prostituir, pois isso é apenas um instrumento da ação carmática que levará a viver um carma. O pior seria, se fosse possível um carma ser mais grave que outro, criticar aquele que se prostitui.

Apesar de ter afirmado estas coisas a partir de sua pergunta, saiba que não estou me dirigindo diretamente a você. Na verdade estou me dirigindo a toda sociedade humana que, apesar de dizer que segue os mandamentos dos mestres, ainda criticam aqueles que estão dentro dos padrões humanos considerados como ações certas, apesar de nenhum mestre ter feito isso. O próprio Cristo abandonou a mesa dos doutores da lei para ir jantar com prostitutas...

Carmas humanos - Texto

Viver

Deixei para o final o carma mais comum para todos os seres humanizados: ter a compreensão racional que está vivo, achar que existe em outro lugar que não no mundo espiritual. Isso é um carma.

É uma prova para o espírito testar o seu apego às coisas materiais. ‘Como pode se dizer que aquela parede não existe se eu a estou vendo’? ‘Como pode se dizer que o carro é feito de fluído não material se sento dentro dele e me desloco para outros lugares’?

Saibam que achar que está vivo, que você é capaz de produzir ações é um carma. Ele está vinculado sobre a possessão dos elementos materiais, mas também sobre a possessão moral. Portanto, aquele que quer aproveitar esta encarnação para aproximar-se de Deus precisa libertar-se de toda compreensão gerada pela mente a respeito dos elementos e acontecimentos da vida humana.

Não se apegue às idéias geradas pela mente sobre a parede ou sobre o carro, pois tudo que você imaginar sobre o mundo material não é real, mas sim criações da personalidade humana que você está vivenciando como instrumento da sua provação. Isso vale para todas as coisas, inclusive a idéia que a mente gera que afirma que você está vivo ou encarnado, tanto faz. Acreditar nisso é viver uma ilusão como realidade, pois você, o espírito não está vivendo a vida humana nem encarnado. Aliás, no Avadhut Gita que já estudamos o mestre afirma que não existe estar encarnado ou não.

Acreditar, como vocês acreditam, que os elementos o mundo humano são sólidos, é viver uma ilusão, não só pelo aspecto espiritual, mas também pelos próprios valores humanos. A própria física quântica, ciência humana, hoje já prova que os elementos só surgem dentro do cérebro e não no mundo externo. O que esta ciência vem afirmando é que os elementos só existem na forma e densidade que vocês acreditam dentro do cérebro. Ela disse isso depois de descobrir que o que é captado pelo olho são energias e não imagens.

Portanto, neste momento, abordamos o tema vida, o carma formado pelas compreensões de que se está vivendo uma existência não espiritual. Achar que está vivendo uma vida humana é um carma.

Participante: ao longo destas conversas o senhor destruiu tudo o que existia para mim. Se não vai sobrar nada deste mundo como real, o que é que estamos fazendo aqui? Estamos esperando para compreender o nada?

Não, você não está esperando nada. O que você veio fazer nesta vida foi provar a si mesmo que é capaz de se libertar de todas estas coisas. A sua existência material só ocorreu porque em algum momento da sua vida eterna você disse que compreendeu que apenas as coisas espirituais são reais e por isso ofereceu-se para provar que aprendeu corretamente isso.

É por isso que você está vivendo esta ilusão. Ela é criada para lhe dar a oportunidade de exercendo o seu livre arbítrio espiritual não acreditar em nada disso. Tendo esta consciência, lhe pergunto: se não estivesse ligado a uma mente que criasse estas ilusões, como teria a oportunidade de provar que não acredita mais nelas?

Portanto, você não está aqui sentado num banquinho esperando nada, mas sim para agir. Esta ação constitui-se em usar a espada que Cristo afirmou que trouxe para matar as compreensões racionais que a personalidade humana que vive gera. Matá-las é exatamente libertar-se de toda esta parafernália material. Aquele que age neste mundo com a consciência de que é um espírito liberta-se de todas as afirmações mentais porque aprendeu que o seu reino não é deste mundo.

É isso que você está fazendo aqui. Todo o mais que imagina fazer na verdade acontece como criação de Deus através do faça-se para que o espírito tenha a oportunidade de libertar-se das posses, paixões e desejos gerados pela mente e com isso extinguir nele o individualismo ou o egoísmo.