Unidade - Capítulo 1

Versículo 73

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 73. Não existe o terceiro, nem o quarto estado de consciência: o mais elevado de todos se realiza em si próprio. Não há virtude ou vício. Como podem haver servidão ou emancipação?

Não há o terceiro ou quarto estágio de consciência. Sobre isso, deixe-me explicar uma coisa.

Dentro de nosso estudo, nós mesmos já falamos na existência de sete estágios de consciências que compõe o caminhar da elevação espiritual. Mas, precisamos compreender uma coisa: todos os ensinamentos sobre estágios de consciência que as religiões ditas espiritualistas têm, é apenas uma escala. É apenas um ensinamento...

Existem, na verdade, vários estágios de consciências, mas o ser humanizado precisa saber disso, mas não se apegar a este ensinamento. Isso porque, se você se apegar à existência destes estágios, fará a sua caminhada numa determinada “velocidade”. Ou seja, você irá querer executar estágio por estágio cada um de uma vez...

Agora, se você compreender que estes estágios de consciências levam ao Uno. Sendo assim, se realizá-los todos de uma só vez, você chegará ao Uno diretamente. Não terá necessidade de passar por estágios diferentes em momentos diferentes...

 Esta é uma conclusão que nós precisamos chegar para realizar mais rapidamente a elevação espiritual. Mas, não é uma conclusão fundamental, precípua. Sendo o seu caminhar lento e gradual, louvado seja Deus, pois esta é a sua velocidade. Agora saiba que o seu caminhar é lento porque você o está tornando lento ao acreditar numa verdade, numa realidade, num ensinamento como verdade absoluta.

Krishna diz: se alguém conseguir realizar a Unidade com Deus num segundo antes do desencarne, terá realizado tudo. Portanto, no tocante a elevação espiritual, não é o tempo que conta – até porque já estudamos que não existe tempo – mas sim a profundidade da sua dedicação ao elevar-se.

Se você chega à Unidade, que é o amar e o sentir-se amado por Deus, de uma só vez, louvado seja Deus...

 Mas, Dattatreya diz mais: não há virtude nem vício... O que é uma virtude? É uma tendência para alguma coisa boa? Virtude seria ter um caráter “bom” enquanto que o vício seria ter um caráter “mal”...

Mas, como pode ser isso, se o mestre diz que não há caráter “bom” ou “mal”... Por que ele fala isso? Vamos entender...

A questão do caráter nasce de uma personalidade. Cada espírito que encarna tem uma personalidade. O que é uma personalidade? Um conjunto de sensações... Vou dar exemplos.

Têm alguns que tem a personalidade que vocês chamam de forte. São aqueles que se inflamam e brigam por tudo... Esses têm um determinado conjunto de sensações no qual prevalece a sensação que lhe leva a ter este tipo de postura frente aos acontecimentos do mundo.

Outros já possuem personalidade bondosa: vivem fazendo a caridade... São os virtuosos. Estes têm uma personalidade com um conjunto de sensações que lhe leva a agir assim.

Sendo assim, cada um tem a sua personalidade. Agora, esta personalidade que você vive hoje não é sua... Você não é nervoso, violento ou caridoso... Estas são personalidades temporárias que definem o ser humanizado, ou seja, é uma personalidade do ego que dá característica ao espírito enquanto vivendo uma determinada encarnação.

Sendo assim, afirmo que você não é virtuoso ou viciado, mas está assim. Você não é assim: apenas está temporariamente...

Mas, por que está assim? Porque isso faz parte da sua provação espiritual. Quem tem uma personalidade forte, escolheu este grupo de sensações para poder vivenciar determinadas provas, onde ele, o espírito, abrirá mão de ficar inflamado com as coisas... .

Portanto, a personalidade não é sua, mas sim do ego. Ela não pertence ao espírito. Além disso, ela é como é, ou seja, foi criada deste jeito para que o espírito, sofrendo a tentação, ou seja, eu sou assim, vença o que você é...

No entanto, este vencer não é deixar de ser o que é, mas aprender a ser quem é se apegar ou se culpar. Por isso o mestre encerra este texto afirmando que não há escravidão ou servidão...

Realmente não há servidão ou escravidão, pois você, o espírito, não precisa servir a esta personalidade. Não precisa ser o que é. Muito pelo contrário: você nasceu para lutar contra o que você é...

Sendo assim, realmente não há virtudes, pois não há virtuosos: há espíritos vivendo papéis de mocinhos. Mas, também não há vícios, pois não há viciados: há espíritos vivendo papéis de bandidos.

Cada um vivenciando a sua prova dentro de um determinado papel: assim se faz o mundo...

Participante: Uma pessoa como Gandhi, por exemplo, pode na próxima encarnação ser um tirano assassino?

Sim. Por amor a Deus o espírito vive o papel que lhe é designado...

Um espírito elevado não viveu o papel de Judas? Sim...

Sabe por que disso? Porque um espírito elevado não escolhe papéis para viver durante a encarnação. Ele é “bom” em tudo que ele faz...

Ele não escolhe ser o artista principal da novela. Por amor a Deus aceita qualquer missão...

Participante: Sendo assim, não existe papel mais elevado do que outro? Hitler, por exemplo, poderia ser um espírito amoroso?

Na teoria sim... Eu posso lhe dizer que não foi, mas na teoria poderia ser...

O espírito que viveu Hitler não foi um amoroso, mas isso não quer dizer nada, pois já houve papéis que a humanidade considera como terríveis que foram vivenciados por espíritos amorosos... Foram espíritos que por amor a Deus e ao próximo exerceram papéis que a humanidade condenou...

Neste caso específico não foi.

Participante: Se faz necessário então que a pessoa precisa ser viciada e ela só deixará de ser quando cumprir o seu carma...

Sim, mas qual é o carma que ela tem que cumprir? Amar o vício que ela tem...

A resposta para tudo é amor. Como foi dito, não há servidão, por isso não deve servir ao ego.

Se você nasce com o papel de ser viciada, será viciada até o fim do papel se não houver uma troca de papéis prevista antes da encarnação. Por isso, você será viciada enquanto estiver previsto que será...

Mas, isso não quer dizer que você deve servir ao ego, ou seja, ao prazer ou crítica que ele constrói sobre o seu vício. Deve libertar-se dele... Para isso é preciso amar o seu vício...

Isso, porém, não vale apenas para o vício: serve também para suas virtudes... Você deve libertar-se do ego que lhe afirma que você é virtuosa ao invés de gabar-se dela...

Participante: Então não devemos rezar pedindo para pessoas deixarem de ser viciadas?

Veja... Por que você pediria para uma pessoa parar de utilizar-se o elemento no qual é viciada?

 Participante: Porque o fato dela ser viciada está me incomodando...

Sim, você pede para que o outro não fique viciado porque você é viciado em um padrão de “certo” e a forma de viver daquela pessoa está lhe incomodando...

Então, você quer que um viciado em elementos materiais para de consumi-los, mas você não quer abandonar o seu vício de dizer que sabe o que é “certo” ou “errado”, não é mesmo?

Participante: Infelizmente achamos que o vício material, como o das drogas, por exemplo, é pior do que o vício espiritual.

Isso...

Veja bem... Você é um viciado em saber o que é “certo” e “errado”... Por causa dele quer que o outro abandone o vício dele ao invés de você abandonar o seu...

Eu me lembro de um ensinamento de Cristo: tire a trave dos seus olhos. É disso que estamos falando: tire o vício da sua compreensão e deixe o cisco no olho do outro, que é o vício material.

Sim, o vício material é apenas um cisco na eternidade do espírito. Muito pior do que usar drogas, por exemplo, é o vício espiritual de querer ser Deus e dizer o que está “certo” ou “errado”.

Sabe por que este vício é “pior” espiritualmente falando? Porque ele é o pecado original, o pecado de Adão e Eva. Eles comeram a maçã com a intenção para ter o mesmo poder de Deus: ter os olhos abertos (a capacidade de distinguir) para poder dizer o que é “bom” ou “mal”...