Das penas e gozos terrestres
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Das penas e gozos terrestres

Estudo do capítulo homônimo de O Livro dos Espíritos. Perguntas 0920 a 0938a

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 920

Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?

Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.

Vamos só esclarecer que, como já vimos, expiação é a alternância de situações das coisas vida, ou seja, hoje o que está acontecendo é considerado como bom, enquanto que o acontecimento de amanhã será qualificado como mal.

No entanto, não é esta visão que a maioria dos seres humanizados tem quando se deparam com este termo. Para eles o termo expiação está ligado à ideia de pagar por pecados anteriores.

Este adendo é importante para o tema que vamos começar a estudar agora: a felicidade e a infelicidade relativas.

Para aqueles que sonham em ser feliz nesta vida o Espírito da Verdade tem uma notícia: isto não pode ocorrer, pois a vida lhes foi dada como prova ou expiação. Ou seja, a vida não foi feita para que você seja feliz, mas têm como motivação básica servir como provações e expiações.

Portanto, você não veio aqui para ser feliz ... Mas, que felicidade é essa que estamos falando?

Para vocês a felicidade pode ser comparada com o prazer: ela existe como fruto de um contentamento. Estar feliz para o ser humanizado é um estado de espírito que surge quando o acontecimento do mundo ocorrer do jeito que ele quer ou gosta.

É por conhecer esta Realidade que o Espírito da Verdade ensina: não, você não veio aqui para que o mundo lhe satisfaça. Você veio à carne para que o mundo, o planeta, as situações, a vida, enfim, sirva como provação através da expiação.

Quem sonha deitar em berço esplêndido (ter a sua existência composta apenas por acontecimentos que satisfaçam o querer e o gostar individual) enquanto ainda encarnado (vivendo sujeito às verdades do ego), se ilude. Isto porque o ego faz parte da vida e por isso, faz parte da própria provação.

Sabe, existem pessoas (espíritos encarnados) que sonham com um determinado padrão de vida (‘se a minha vida fosse assim, se eu tivesse dinheiro, saúde, fosse casado com a mulher mais bonita, tivesse filhos educados, um grande emprego...’) e afirmam que se eles fossem reais viveriam na felicidade... Mentira!

Se por acaso ele tivesse tudo isso, o ego certamente ia criar novas condições para o estado de espírito de felicidade acontecesse. Isto porque esta é a função do ego... Como já disse, ele é o tentador, o diabo no deserto, e age com esta finalidade: criar as tentações.

O ego existe e foi criado pelo espírito antes da encarnação justamente para gerar situações de desejo, para gerar condicionamentos à felicidade e, por isso, ele não pode deixar de fazê-lo. Esta é a função do ego e ele vai exercê-la sempre, pois está continuamente recebendo o comando de Deus para cumprir a sua função e com isso possibilitar a realização da provação através da expiação.

Então, aprendam: a felicidade jamais poderá ser alcançada enquanto ela for dependente das condições que o ego cria para você serem felizes. Falo da felicidade como prazer, mas existe outra que pode ser alcançada...

Você pode, nesta vida, alcançar a felicidade que Cristo chamou de bem-aventurança. Esta não é a felicidade oriunda daquilo que você gosta e quer que esteja acontecendo. Pelo contrário, ela se fundamenta nas “Bem-Aventuranças” que o mestre transmitiu na passagem que é conhecida como “Sermão do Monte”.

Bem-aventurado será você quando for perseguido e caluniado, quando tiver fome e sede de fazer a vontade de Deus; quando for pobre de espírito; chorar sendo consolado por Deus; for humilde... Ou seja, você viverá uma bem-aventurança, uma felicidade completa e universal, que é diferente do prazer, quando se libertar dos condicionamentos do ego.

Quando falamos nas bem-aventuranças, vamos nos lembrar de São Francisco ou do exemplo de Gandhi. Quando estes seres humanizados se libertaram da busca do prazer, da satisfação do contentamento das condições que o ego gerava para que existisse a felicidade e com isso aceitaram as perseguições e calúnias respondendo a elas com amor, sem raiva ou rancor (sofrimento), foram felizes de verdade.

São exemplos e ensinamentos como estes que nos levam a afirmar: não, você não pode ser feliz do jeito que quer. Isto porque o mundo não está aqui para servir aos caprichos que o seu ego cria, mas para gerar situações contrárias às que são criadas pelo seu tentador e daí surgir a sua provação: você vai amar mais ao que o ego está dizendo ou a Deus?

Alguns afirmam que eu distorço a verdade ou coloco palavras na boca do mestre, mas isso é irreal. O que estamos fazendo aqui é lendo as entrelinhas do ensinamento. Leia novamente a resposta (“Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra”) e compare com o que eu falei. Veja se não é o que o Espírito da Verdade diz...

A única coisa que acrescentei, e que não podia ser dito àquele tempo por falta de cultura material, foi quem gera os seus males: é o ego que cria os seus sofrimentos (diz que você foi ofendido, roubado). Disse ainda, em complementação ao ensinamento do mestre, que você pode minorar seus sofrimentos libertando-se das condições geradas por ele. Foi só isso que acrescentei...

Participante: na verdade a felicidade que conhecemos é somente a satisfação do nosso prazer ...

Deixe-me colocar um pouco melhor. A felicidade que você conhece é a satisfação de ver seu desejo realizado. Desejo esse que é fruto de uma paixão. Vou dar um exemplo para compreender melhor o que estou afirmando.

Você possui uma paixão: que o seu marido, em determinada circunstância, aja de uma forma específica. Guardar a roupa que tira, por exemplo. Isto é uma paixão.

Aí ele age assim e você é afirma que está feliz, mas não vê que ela é condicionada, ou seja, ocorreu por causa da ação do marido. Ou seja, você tem uma paixão e passa a desejar que ele seja assim e a felicidade acontece porque o que você queria aconteceu. .

Neste momento você diz que está feliz, mas eu digo que está satisfeita apenas. Isso porque o seu desejo oriundo de uma paixão foi satisfeito.

Imagine agora o contrário: seu marido não age da forma que você queria, ou seja, não guarda a roupa quando a tira. Neste momento você sofre...

A felicidade que estamos falando, a universal, que encontra respaldo nas bem-aventuranças, está acima disso. O estado de espírito feliz existirá se o seu marido guardar ou não a roupa, se fizer ou não o que deseja que seja feito.

Esta é a verdadeira felicidade, porque ela não se altera jamais. Ela não está sujeita à dependência de acontecimentos, mas existe por si só sempre.

O que estou falando é um ensinamento budista. Sidarta Gautama ensina: você precisa se libertar da prisão aos desejos e paixões que condicionam a sua felicidade para alcançar a iluminação.

Participante: e é também o que São Francisco mostrou em cada instante, negando-se ao mundo como na passagem da perfeita alegria.

Exato: negar-se ao mundo.

Tem algo interessante que podemos comentar aqui. Muitos dizem que São Francisco defendeu os bichos, mas isso não é Real. Dizem que ele defendeu a vida, mas isso também não é Real. O que São Francisco defendeu foi um estilo de vida igual àquele que o animal vivencia: sem estar preso a conceitos (paixões) ou a coisa materiais.

Se isso é verdade ele não defendeu a vida, mas negou-a da forma como ela era vivida naquele tempo e hoje em dia.

Na verdade, a sociedade que Francisco negou é a mesma que existe hoje. Só mudaram os objetos das paixões, mas o apego às coisas do mundo continua o mesmo do tempo dele. E ainda tem fiel que o chama para manter o padrão de vida que ele lutou para acabar...

Então, sim, a elevação espiritual é decorrente do desapego às coisas do mundo material, desapego às coisas da vida que são ditadas pelo ego através de determinadas paixões e desejos.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 921

Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a Humanidade estiver transformada. Mas, enquanto isso se não verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa?

O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a sai mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.

Para começar o estudo deste texto, quero fazer um comentário a respeito do fundamento da pergunta de Kardec. Preste atenção ao texto: “Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a Humanidade estiver transformada”. Que transformação da humanidade é essa que os seres humanizados estão esperando para ser feliz?

Faço esta pergunta, porque a concepção de que a felicidade ocorrerá quando a humanidade estiver mudada, não é só de Kardec. A maioria dos seres humanizados acredita que quando isto ocorrer, a vida no planeta se transformará num paraíso.

Muitos pensam assim, mas nem sabem o que estão realmente esperando. Isto porque eles nunca se perguntaram o que querem dizer com a transformação da humanidade...

O Espírito da Verdade ensina: a transformação ou elevação da humanidade virá quando seguir-se o mandamento que Cristo. Apesar disso, não é esta a transformação que a humanidade espera para viver no paraíso.

Na realidade o que cada um sonha e deseja é que o mundo transforme-se naquilo que ele sonha individualmente para que possa ser feliz. Os carnívoros sonham com carne em maior abundância e com preços mais baixos; os que gostam da natureza sonham com o fim da poluição.

Mas Cristo não ensinou nada disso, não condicionou a bem-aventurança a nada disso, mas apenas aos dois mandamentos mais importantes, aos quais cada ser humanizado deve dedicar-se de corpo, alma e mente: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Sim, você viverá no paraíso (será eternamente feliz) quando não se perturbar com as coisas do mundo porque está centrado no amor a Deus, vivendo-o acima do que está acontecendo (o que o ego diz que é real). Além do mais, alcançará a felicidade incondicional quando não mais acusar o outro em virtude do amor que sentirá, pois quem ama não se sente ferido ou magoado. Só neste momento você viverá a bem-aventurança, a felicidade incondicional, a felicidade que os santos vivem.

Você quer ser feliz? Ame a Deus acima de tudo. Você quer ser feliz? Ame a Deus acima do seu desemprego, da sua separação do ente querido, de estar vivendo o que não gosta. Mais, ame ao próximo, ou seja, acabe com as acusações, com as críticas e com os julgamentos. Aí você será feliz.

Portanto, em nada a sua felicidade depende da transformação dos outros, mas apenas do seu esforço, da sua luta para libertar-se dos condicionamentos gerados do ego.

Por isso refuto o embasamento utilizado por Kardec nesta pergunta e que é a mesma da maioria dos seres humanizados: concebe-se que o ser humanizado será feliz com a transformação da humanidade. Na Verdade, o ser humanizado será feliz depois da sua própria transformação.

Por isso afirmo: não adianta ninguém ficar sentado em um canto esperando a humanidade evoluir para ser feliz. É preciso que cada um comece a trabalhar para que ele mesmo seja feliz se quiser sê-lo.

Este é o trabalho que cada um precisa fazer individualmente e que a humanidade, como um todo, também precisa realizar coletivamente. Este trabalho, como já vimos, consiste-se em abandonar as paixões e os desejos gerados pelo ego, virando-se, então, para Deus.

Agora podemos ir mais além. Veja o que fala o Espírito da Verdade na resposta: “O homem é quase sempre o obreiro da sua infelicidade”. O que quer dizer ser o obreiro da sua infelicidade’?

 Participante: aquele que a obra, a cria...

Exato. Então, o homem, o espírito encarnado, é o construtor, o criador da sua infelicidade.

Mas, continuo perguntando: o que quer dizer isso: ser o construtor da sua infelicidade? Como o espírito cria a sua infelicidade? Por opção sua...

O estado de espírito de cada ser, quer seja este estado de felicidade incondicional, infelicidade ou prazer, é uma opção do espírito. O ser humanizado opta a cada momento em se sentir prazeroso, infeliz ou feliz incondicionalmente frente aos acontecimentos do mundo.

É isso que o Espírito da Verdade está dizendo. Quando ele está dizendo que o homem é o obreiro da sua infelicidade é porque sabe que é o espírito humanizado que constrói, por opção sua, as suas infelicidades.

Participante: através das suas ações e objetivos do pensamento, ou seja, seus sentimentos.

Eu não estou falando de ação, em atos, em atitudes materiais, mas em emoções, sentimentos.

Participante: ação sentimental?

Isso.

Saiba de uma coisa: é você que opta por vibrar na felicidade ou na infelicidade. Estes estados de espíritos não são motivados pelos acontecimentos, mas frutos de uma opção do ser universal.

Então, afirmo: você só é infeliz porque escolhe sentir-se assim frente aos acontecimentos do mundo.

Mas, porque o espírito escolhe ser infeliz frente aos acontecimentos do mundo? Porque ele acredita nos valores que o ego cria através da razão e da emoção.

Se o ego diz, através do raciocínio, que uma coisa não presta e que ao viver uma situação onde esteja presente este elemento deve haver uma emoção de sofrimento (angústia, medo, desconfiança, desprazer), o espírito opta por este padrão vibracional. Se o ego ao contrário diz que ele tem que ter prazer, o espírito também o segue optando pela satisfação.

É assim que o espírito obra a sua infelicidade: acreditando na motivação emocional e racional que o ego cria para ele.

Continuemos ouvindo o espírito da verdade: “Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a sai mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira”.

Qual a lei de Deus? Já falamos nisso... Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Ou seja, o que o Espírito da Verdade diz é que no momento que o seu amor por Deus não for atingido por nenhuma criação do ego e no momento que o seu serviço ao próximo também não for atingido pelas verdades que este elemento lhe traz à razão e à emoção, a sua infelicidade termina. O espírito para de optar por seguir emocionalmente as proposições do ego porque está centrado no amor a Deus e ao próximo.

Quando o amor a Deus for maior que o desejo de estar vivo ou dar a vida ou do que a sua abastança ou necessidade, você será feliz. Quando o seu desejo de servir ao próximo for maior do que o de se servir desta vida ou quando o seu amor ao outro for maior do que o apego às suas paixões e desejos, não há motivo para sofrimento.

É isso que o Espírito da Verdade ensina nessa pergunta: para você ser feliz é preciso optar pela felicidade, mas para exercer esta opção precisa amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Acho que agora fica bem clara a intenção do preâmbulo do meu comentário quando falei da concepção de que a felicidade existirá quando a humanidade evoluir. Isto é irreal...

A felicidade acontecerá apenas quando cada um colocar o amor ao próximo e a Deus acima de todas as coisas e, com isso, optar sempre pela felicidade universal.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 922

A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?

Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.

Estamos falando de um padrão de felicidade e o Espírito da Verdade divide este padrão em dois campos distintos: relação a vida material, onde ele é composto pela posse do necessário e com relação à vida moral, onde a consciência tranquila e a fé no futuro criam as condições para que o ser humanizado atinja a felicidade incondicional. Vamos falar de cada um deles.

A posse do que vocês acham necessária para uma vida material poder ser considerada como feliz?

Participante: isso é relativo a cada ser. Para mim, que estou pouco evoluída, é preciso muito...

Esta visão está perfeita, mas sabe realmente o que é necessário para você viver? O que você tem, o que já está sob sua guarda. Se não fosse assim, você já teria ‘morrido’ por causa da falta do que não tem...

Isso é real, mas os seres humanizados não veem desse jeito, ou seja, não acham que o necessário é o que eles têm e por isso querem sempre mais. Por que isso? Porque não amam o que têm.

O problema não é ter ou não, mas viver o que tem com amor e não desejar outras coisas. Viver amando tudo o que tem pode lhe garantir uma vida material feliz, mesmo que para os outros lhe falte algo. Eu não quero usar os termos ‘contenta’ ou ‘satisfaz’, mas se você dá o Real valor ao que tem (‘que bom que tenho isso...’), para que querer ter mais?

Se você, por exemplo, não tem um automóvel, mas dá o Real valor ao ônibus ou trem que anda, ou seja, o ama porque ele é um instrumento que lhe leva de um lugar a outro, você é feliz, mesmo não tendo carro. Agora, se você transforma o seu veículo próprio em algo necessário - falei transforma, porque ele não é necessário, pois para lhe transportar você já tem o ônibus - sofrerá. Se você tem uma televisão pequena e a ama, não irá querer ter outra.

É por isso que o Espírito da Verdade padroniza a felicidade material na posse do necessário. Mas, com isso, ele não está criando um padrão para todos, mas afirmando que para cada um o necessário é aquilo que ele tem. Quando você compreender que o que tem é o necessário para viver, poderá, então, silenciar a paixão e o desejo de novas posses que são consideradas como necessárias e aí poderá ser feliz.

Desta forma, podemos compreender que o primeiro elemento do padrão de felicidade ensinado pelo Espírito da Verdade, o material, se restringe a amar tudo o que se têm e não querer mais nada, ao invés de se estabelecer valores materiais que sejam considerados mínimos pela sociedade. .

E o segundo elemento do padrão para ser feliz, ou seja, para a vida espiritual, o que é necessário para que a felicidade exista? “A consciência tranquila e a fé no futuro”.

Qual é a consciência tranquila? Que consciência tranquila você pode ter nesta vida? Quando os paradigmas da lei de Deus são colocados em ação por você.

Quando você ama a Deus sobre todas as coisas é feliz, não importando o que faça. Se ao praticar atos, participar de ações, você está em paz na sua relação com Deus, será sempre feliz. Assim também é quando estiver em paz no seu relacionamento com o próximo, ou seja, quando viver para servi-lo e não para se servir dele, também alcançará a paz.

Vivendo dessa forma, ou seja, amando tudo o que tem e não se prendendo ao desejo de ter mais; vivendo o amor a Deus e o serviço ao próximo como objetivo de vida, você, com certeza, alcançará a felicidade no mundo carnal

Mas, há mais uma coisa que o Espírito da Verdade fala que é preciso para alcançar esta felicidade: a confiança no futuro.

Sem você não acreditar que é um espírito, filho de Deus, sendo guiado por verdes campos para um futuro promissor, espiritualmente falando, não conseguirá jamais ser feliz (estar em paz com Deus, com o próximo e com o que tem sem desejar mais nada) porque exigirá agora, nesse momento, durante esta vida, a realização de suas vontades.

Lembre-se: quando há um desejo, fruto de uma paixão, a felicidade acaba.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 923

O que para um é supérfluo não representará, para outro, o necessário, e respectivamente, de acordo com as posições respectivas?

Sim, conforme às vossas ideias materiais, aos vossos preconceitos, à vossa ambição e às vossas ridículas extravagâncias, a que o futuro fará justiça, quando compreenderdes a verdade. Não há dúvida de que aquele que tinha cinquenta mil libras de renda, vendo-se reduzido a só ter dez mil, se considera muito desgraçado, por não mais poder fazer a mesma figura, conservar o que chama a sua posição, ter cavalos, lacaios, satisfazer a todas as paixões, etc. Acredita que lhe falta o necessário. Mas, francamente, achas que seja digno de lástima, quando ao seu lado muitos há, morrendo de fome e frio, sem um abrigo onde repousem a cabeça? O homem criterioso, a fim de ser feliz, olha sempre para baixo e não para cima, a não ser para elevar sua alma ao infinito. (715)

Ou seja, o que falamos na resposta anterior: o mínimo necessário para se viver a vida carnal com felicidade não se submete a quantidades, mas sim a forma como o ser humanizado se relaciona com o que tem.

Se você vive com o que tem dentro de uma harmonia, e não importa se é cinquenta ou dez mil, será feliz. Agora, se a ganância, o desejo e a paixão (‘ridículas extravagâncias’ no dizer do Espírito da Verdade) sobrepujar, não importa se você ganha um milhão: este valor não vai bastar e certamente sofrerá.

Então, esta é a máxima da felicidade na vida carnal: viva o que tem feliz por ter exatamente aquilo, pois tudo o que tem é exatamente o que precisa para ser feliz, de acordo com a Inteligência Suprema do Universo, Deus. Ou como disse Cristo: Deus dá a cada um segundo as suas obras...

O que você tem, portanto, é o seu justo merecimento de acordo com suas obras anteriores. Quer ter mais? Pare de desejar e obre para merecer ter mais...

Participante: Esse merecimento é criado a partir dessa vida ou adquirido em vidas passadas?

Não diria apenas de uma vida passada: ao longo das vidas passadas; ao longo da existência eterna do espírito.

Em outras palavras: é o carma.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 924

Há males que independem da maneira de proceder do homem e que atingem mesmo os mais justos. Nenhum meio terá ele de os evitar?

Deve resignar-se e sofrê-los sem murmurar, se quer progredir. Sempre, porém, lhe é dado haurir a consolação da própria consciência, que lhe proporciona a esperança de melhor futuro, se fizer o que é preciso para obtê-lo.

Essa pergunta de Kardec é interessante e está ligada a um ensinamento que Cristo passou durante o ‘Sermão do Monte’. Você já reparou que o sol nasce para o bom e para o mal? Já reparou que Deus dá a chuva que faz germinar os grãos para aqueles que são considerados bons, mas também a dá para aqueles que são considerados maus?

Pois é, Deus dá a cada um o necessário e não faz distinção entre aquele que é considerado bom ou mal. Isso precisa ficar muito claro na sua vida: Deus não tem a mesma visão das coisas que você...

É por isso que o Espírito da Verdade diz que você tem que sofrer as situações da vida. Mas, não entenda este sofrer a que se refere o mestre como sofrimento, mas sim como passar, vivenciar, aquelas determinadas situações da vida.

Sabe por que você tem que as passar? Porque a sua visão dos acontecimentos é diferente da de Deus. Se para você aquilo é mau, para Deus não é ...

Mas, como vimos anteriormente, não basta apenas vivenciar as situações negativas de sua existência para ser feliz, mas é preciso passar por elas cumprindo os desígnios de Deus: com amor, harmonia, felicidade, paz e servindo ao próximo. Só isso poderá lhe garantir um porvir de mais felicidade espiritual.

Esperar que o acontecimento considerado bom e que lhe faz feliz surja, apareça, sem que você dê a Deus motivos para que ele crie isso na sua vida, é impossível. Porque senão o Senhor do Universo estaria quebrando a sua própria lei: dar a cada um segundo as suas obras...

Além do mais, é claro, óbvio, que o padrão de vida material feliz é muito diferente dependendo do grau de elevação do espírito. Na Judéia antiga só ia para a cruz o ser humano que cometia crimes capitais, mas Cristo, que não matou ninguém, foi conduzido a ela por Deus.

Paulo, o maior apóstolo, o espírito mais elevado do cristianismo depois do próprio Cristo, morreu também na cruz sem ter cometido crime capital algum. Pedro e outros também foram...

Enfim, todos os nomes que você conhece e glorifica como espíritos elevados, tiveram seus momentos de sacrifícios e nem por isso sofreram: entregaram-se à glória do Pai. Falo em sacrifícios como o entender humano dos acontecimentos, pois para estes espíritos foram momentos jubilosos.

Se isso é verdade, porque você espera então que a sua vida se transforme num mar de rosas (esteja perfeitamente dentro do seu padrão de bom e certo) porque você ama a Deus?

Afirmar que Deus se preocupa com a vida humana, com o destino do ser humano é não entender nada de espiritualismo. Aliás, Paulo já dizia: o ser humano é o inimigo de Deus.

Deus se preocupa com o seu filho, o ser espiritual, o espírito. Por isso sua preocupação está com a vida espiritual desse ser, com sua existência eterna e não com a minúscula parcela que é vivenciada na carne.

Se para o espírito ter um futuro espiritual melhor for preciso criar situações ditas como tragédias ou coisas ruins para o ser humano que o espírito está vivenciando, pode ter certeza que Ele dará. Quanto a você, que está buscando-O, compete firmar-se na relação amorosa com o Pai e vivenciar aquela situação em paz e harmonia, com fé no seu futuro espiritual.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 925

Por que favorece Deus, com os dons da riqueza, a certos homens que não parecem tê-los merecido?

Isso significa um favor aos olhos dos que apenas veem o presente. Mas, fica sabendo, a riqueza é, de ordinário, prova mais perigosa do que a miséria. (814 e seguintes)

Eu já disse isso aqui, mas vou repetir agora porque se encaixa perfeitamente na resposta do Espírito da Verdade.

Vocês já reparam que todo mundo reza por quem tem fome, doença ou está passando por uma situação que a humanidade considera má’ Por que será que ninguém reza pelo rico, pelo abastado, pelo saudável? Porque acha que ser assim é o bom, é o que há de melhor, é o que pode fazer alguém feliz...

Engano. A abastança, em qualquer sentido, quase sempre é uma prova mais perigosa, no sentido de levar ao fracasso da encarnação, do que a carência.

Então, ao invés de invejar aquele que possui, ao invés de contemplar como objetivo a posse daqueles que você considera rico, vire-se para Deus. Busque ser completo do amor de Deus, espiritualmente falando, e não dê valor à vida material, porque ela é sempre uma prova, nunca uma verdade.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 926

Criando novas necessidades, a civilização não constitui uma fonte de novas aflições?

Os males do mundo estão na razão das necessidades factícias que vos criais. A muitos desenganos se poupo nesta vida aquele que sabe restringir seus desejos e olha sem inveja para o que esteja acima de si. O que menos necessidades tem, esse o mais rico.

Invejais os gozos dos que vos parecem os felizes do mundo. Sabeis, porventura, o que lhes está reservado? Se os seus gozos são todos pessoais, pertencem eles ao número dos egoístas: o reverso então virá. Deveis, de preferência, lastimá-los. Deus algumas vezes permite que o mau prospere, mas a sua felicidade não é de causar inveja, porque com lágrimas amargas a pagará. Quando um justo é infeliz, isso representa uma prova que lhe será levada em conta, se a suportar com coragem. Lembrai-vos destas palavras de Jesus: Bem-aventurados os que sofrem, pois que serão consolados.

Vocês já repararam que quanto mais o mundo se moderniza, mais necessidades materiais a humanidade passa a ter? Esta multiplicidade hoje é tão grande que muitos dizem para si como justificativa que é por isso não conseguem colocar os ensinamentos em prática. Afirmam que antigamente, quando existiam menos objetos materiais, era mais fácil se colocar em prática.

Ilusão, não é quantidade de objetos materiais que determina a felicidade, mas o grau de dependência delas. Ou seja, quanto mais você se torna dependente de elementos materiais para ser feliz, mais se afasta de Deus e aí não consegue ser feliz.

Portanto, tanto faz se existe um ou um milhão de objetos de desejo: se você depender deles para ser feliz jamais alcançará a felicidade.

Mas, porque, então, a humanidade cada vez inventa para si mesmo objetos que criam dependências? Por causa da evolução das provas.

Se na antiguidade o ser universal encarnado precisava para sua provação de apenas dez objetos de desejo, é porque ele, como espírito, ainda engatinhava no processo de libertação do ego. Hoje, a plêiade espiritual que habita a orbe terrestre já tem muito mais conhecimento.

Se isso é verdade, a provação tem que ser maior. Daí o aumento de objetos de desejo...

Portanto, a multiplicidade de necessidades dos dias atuais faz parte da provação dos espíritos, são instrumentos de provação de seres em graus mais elevados. Será que vocês, que já estão chegando ao fim do primário, imaginavam que ficariam eternamente fazendo prova com elementos do jardim de infância?

Como já disse em outras oportunidades, a elevação espiritual é como você sair de foguete com o objetivo de se chegar ao sol. Só que não adianta querer chegar ao sol de noite para não se queimar, pois lá sempre há calor. Saiba que quanto mais você vai se aproximando do sol, mais calor vai sentir.

Então, as provas hoje não são maiores, mas adequadas ao nível atual da espiritualidade encarnada no planeta Terra, ou seja, de acordo com as necessidades daqueles que estão mais próximos de encerrar este ciclo de encarnações.

É isso que o Espírito da Verdade está falando.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 927

Não há dúvida que, à felicidade, o supérfluo não é forçosamente indispensável, porém o mesmo não se dá com o necessário. Ora, não será real a infelicidade daqueles a quem falta o necessário?

Verdadeiramente infeliz o homem só o é quando sofre da falta do necessário a vida e à saúde do corpo. Todavia, pode acontecer que essa privação seja de sua culpa. Então, só tem que se queixar de si mesmo. Se for ocasionada por outrem, a responsabilidade recairá sobre aquele que lhe houver dado causa.

Esta necessidade básica do momento, como diz o Espírito da Verdade, é culpa sua, ou seja, é sua expiação, vicissitude criada como carma. Mas, ela também pode ser de outrem.

Neste caso, porém, a sua carência é uma missão para você. Ou seja, você encarnou com o objetivo de ensinar aos outros a viver com menos do que o mínimo mantendo-se em harmonia com Deus e com o próximo.

Portanto, não importa se você tem aquilo que a humanidade considera básico ou não, ame a tudo e a todos, inclusive as carências e os instrumentos dela.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 928

Evidentemente, por meio da especialidade das aptidões naturais, Deus indica a nossa vocação neste mundo. Muitos dos nossos males não advirão de não seguirmos essa vocação?

Assim é, de fato, e muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, desviam seus filhos da senda que a Natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a felicidade, por efeito desse desvio. Responderão por ele.

Participante; isso me parece contrariar o que estudamos: os pais são instrumentos do carma dos filhos ...

Não contraria.

Participante: é o que a gente pode entender pela primeira palavra.

Na verdade nenhum pai pode desviar o filho se ele não tiver que ser desviado. O que se está falando aí é de casos onde, por exemplo, o filho quer ser advogado, mas acaba sendo médico porque o pai quer. Nesse caso aparentemente está havendo um desvio, mas na verdade, não está. Se aquele ser humanizado se formou em medicina, sua formação seria sempre medicina. A ideia de que o pai alterou é apenas uma visão humana da situação.

Na realidade a afirmação do Espírito da Verdade está ligada a contrariedade. O ser humanizado que por qualquer motivo siga um caminho que não é aquele que gosta não deve sofrer. Sofrendo, está dando razão ao seu desejo interno ao invés de estar em harmonia com o mundo onde vive.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 928a

Acharíeis então justo que o filho de um homem altamente colocado na sociedade fabricasse tamancos, por exemplo, desde que para isso tivesse aptidão?

Cumpre não cair no absurdo, nem exagerar coisa alguma: a civilização tem suas exigências. Por que haveria de fabricar tamancos o filho de um homem altamente colocado, como dizes, se pode fazer outra coisa? Poderá sempre tornar-se útil na medida de suas faculdades, desde que não as aplique às avessas. Assim, por exemplo, em vez de mau advogado, talvez desse bom mecânico, etc.”

 Na verdade está se falando daqueles que não querem assumir responsabilidades. Alguém que tem aptidão para alguma coisa, mas que, para ter uma vida mais tranquila, aceita ser menos que é, do que poderia ser. É isso que está sendo dito e não que o filho precisa seguir determinada carreira porque o pai é abastado.

Esse texto foi importante para a época porque existia um sistemas de castas. Sendo assim, ele é perfeito, para a sua época. Hoje, onde não há mais as castas superior e a inferior, ele fica para nós como um ensinamento que diz que aquele que tem uma aptidão deve entregar-se a ela sem medo da falha ou do volume do trabalho.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 929

Pessoas há, que, baldas de todos os recursos, embora no seu derredor reine a abundância, só têm diante de si a perspectiva da morte. Que partido devem tomar? Devem deixar-se morrer de fome?

Nunca ninguém deve ter a ideia de deixar-se morrer de fome. O homem acharia sempre meio de se alimentar, se o orgulho não se colocasse entre a necessidade e o trabalho. Costuma-se dizer: ‘Não há ofício desprezível; o seu estado não é o que desonra o homem.’ Isso, porém, cada um diz para os outros e não para si.

O que seria ‘deixar-se morrer de fome’? Buscar o comodismo.

Existe um ensinamento de Krishna chamado não ação. Ele é de difícil compreensão, pois é completamente diferente da inação. Inação é não agir. A não ação acontece quando o ser age, mas sem intencionalidade individualista, sem vontade e sem desejos, sem raciocinar ou racionalizar o que está acontecendo.

É sobre isso que o Espírito da Verdade está falando. O ser humanizado precisa agir, mas sem intencionalidade, sem ver o que está fazendo, sem ter valor para o que está fazendo.

Claro, essa não intencionalidade se dá internamente, porque externamente a vida está criada.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 930

É evidente que, se não fossem os preconceitos sociais, pelos quais se deixa o homem dominar, ele sempre acharia um trabalho qualquer, que lhe proporcionasse meio de viver, embora deslocando-se da sua posição. Mas, entre os que não têm preconceitos ou os põem de lado, não há pessoas que se veem na impossibilidade de prover às suas necessidades, em consequência de moléstias ou outras causas independentes da vontade delas?

Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.

Diria que essa pergunta está vinculada muito aos dias de hoje: o desemprego. Por que existe isso? Por que você acredita que exista o desemprego?

Participante: penso que nada mais é do que um carma pessoal do espírito, um carma da sociedade local, um carma do planeta.

E por que esse carma existe?

Participante: porque as pessoas que passam por isso merecem.

Leia a resposta do Espírito da Verdade, por favor.

Numa sociedade organizada, segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.

Se a lei de Cristo é clara, por que há esse carma? Porque as sociedades humanas não são organizadas a partir da lei do Cristo?

Participante: isso gera o carma? Seria esse o raciocínio?

 E qual é a lei do Cristo?

Participante: A lei do amor.

Isso.

Então, por que há o desemprego? Porque a sociedade humana não é constituída a partir da lei universal, o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas pelo amor humano, pelo o individual. Sendo isso verdade, como acabar com o desemprego? Amando universalmente.

É isso que está sendo dito nessa resposta. Quando as sociedades humanas forem constituídas a partir do amor universal, os carmas de desempregos, de carências, de aflição poderão acabar.

Portanto, faça a sua parte: ame, ame a tudo incondicionalmente. Esse amor criará uma onda que se elevará e cobrirá todas as outras formas de planejamento societário da humanidade.

Participante: e com a fome é a mesma coisa?

Sim. Fome, falta de roupa de moradia, etc. Todas as carências.

Participante: O individualismo ...

Sim, o individualismo é o não amor universal, o amor individual, o amar a si acima de todas as coisas. É isso que causa a fome, ou seja, é isso que causa o carma de viver a fome, o desemprego, a ausência de moradia, nessa ou em outras vidas.

Se isso é verdade, não há culpados, ou seja, o governo não é culpado, mas cada ser que encarna nesse orbe. Aquele que está vi8vendo por isso é o culpado. Culpado, entre aspas, porque é o seu carma.

Por esse motivo Cristo e Paulo ensinam: cada povo tem o governo que merece. Se na África existe muita fome e o governo nada em dinheiro, é porque os espíritos que estão morando ali, habitando ali como seres humanos, precisam e merecem aquilo. Louvado seja Deus!

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 931

Por que são mais numerosas, na sociedade, as classes sofredoras do que as felizes?

Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao teu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre.

Mas, não será rico.

O Espírito da verdade já disse que a riqueza material não tem nada a ver com o lado espiritual, a não ser como uma provação. Então, não há felicidade: seja na riqueza ou na pobreza, a infelicidade existe em todos os cantos.

Por quê? Porque em todos os cantos desse planeta existe o amor a si, a paixão e o desejo muito maior que o amor a Deus, do que a fé com confiança na entrega do Pai.

Mudai! Mude-se e será feliz.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 932

Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?

Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.

No caso desse texto, o bom não é o que pratica o que você chama de bem, mas aquele que ama a Deus acima de todas as coisas.

Quem ama a Deus acima de todas as coisas não busca se sobrepujar a ninguém mais. Aqueles que amam a si acima de tudo, os maus, querem sobrepujar, pois querem a fama, ser conhecidos como poderosos. Por isso o mal sobrepuja. Não porque ele vence, mas porque o bem não está disposto a sobrepujar o mal.

“Levante uma pedra e ali me encontrará”, Evangelho Apócrifo de Tomé. Se posso encontrar Cristo, o amor, debaixo de uma pedra qualquer, para que vou querer palácio? Se posso encontrar a minha felicidade nos mínimos detalhes da vida, para que vou querer sobrepujar os outros?

É isso que está sendo dito aí. O mal não vence por conta da fraqueza do bem, mas porque ele não vê necessidade de superar o próximo.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 933

Assim como, quase sempre, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, também o será de seus sofrimentos morais?

Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma.

A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável e não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se lhe a Terra verdadeiro inferno?

E podem ser controladas: esse é o segredo.

Todas as torturas da alma, ou seja, todas as falas do ego que ferem paixões, podem ser controladas e por isso não precisam se transformar necessariamente em sofrimento. Então, a dor moral, ou o sofrimento de ter a sua paixão atingida, pode ser mais facilmente controlada do que o sofrimento oriundo de qualquer ato.

Aliás, ninguém sofre pelo ato, mas sim pela paixão moral envolvida nele. Isso precisa ficar bem claro. Se você sofre porque tem fome, isso é uma ilusão, uma mentira, porque tem muita gente que tem fome e não sofre. Na verdade o seu sofrimento é oriundo da vontade de comer. É fruto da ganancia e não da fome.

Sofre-se porque alguém nos abandona. Isso é uma ilusão, uma mentira. Tem gente que é abandonado e não sofre. Por isso, digo que o sofrimento nasce por causa da vontade de ter uma pessoa ao seu lado que não foi contentada.

É preciso que compreendamos isso: a dor, o sofrimento, não acontece pelo que está se passando, mas é uma criação do ego defendendo o seu patrimônio cultural, suas paixões e seus desejos. Tudo isso pode ser controlado.

Você pode controlar os motivos do sofrimento ao dizer para o ego: ‘você está certo ao dizer que tenho que sofrer porque a minha amada foi embora, mas, o mundo é redondo: esse abandono de hoje será substituído amanhã por um novo encontro. Como tenho certeza e confiança disso, para que vou sofrer agora?

 Então, creiam, o sofrimento nasce na interpretação da autodefesa que o ego faz das paixões e dos desejos da sua identidade provisória.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 934

A perda dos entes que nos são caros não constitui para nós legítima causa de dor, tanto mais legítima quanto é irreparável e independente da nossa vontade?

Essa causa de dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou expiação, e comum é a lei. Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.

O que é a morte de um parente?

Participante: uma prova, ou expiação.

Isso.

Se é prova, não pode ser razão de dor. Só sofre com a morte de um parente aquele que não ama a Deus acima de todas as coisas e, principalmente, aquele que não ama o próximo.

Qual o melhor momento da vida humana para o espírito?

Participante: eu não me lembro ...

A morte, o momento da libertação, de retomar a sua consciência, da volta a pátria espiritual. Se amo o meu parente e creio no mundo espiritual, deveria ficar feliz por ele está se libertando da vida, da ilusão, das suas provas.

Por isso, a morte ou a separação dos entes queridos não é de ordinário motivação para sofrer. Na verdade, só é para aquele que não ama, mas possui. É motivo de sofrer para aquele que gostaria que seu parente vivesse eternamente, mesmo que isso não fosse o ideal para o espírito.

Não há motivos para se sofrer nesse mundo, nem aquele que vocês é o mais digno e justo: a morte de um ente querido. Tudo, tudo que acontece na sua vida é uma prova para verificar o quanto você está centrado no egoísmo, no querer para si, no amar a si acima de Deus e dos outros.

Participante: somos na verdade egoístas e não queremos sofrer com a ausência da pessoa querida.

Não sei se é não querer sofrer com a ausência dos outros. Como estudamos aqui, todo sofrimento é uma opção individual: o ser opta por sofrer. Por isso, acho que sofre porque quer sofrer, apesar de dizer que não.

Acho que o egoísmo não está em não querer a ausência das pessoas, mas sim em prende-las a nós para nossa satisfação, mesmo que seja acima do que é melhor para ela.

Essa possessividade não existe só na morte, mas a mulher que se separa do marido e sofre por causa disso está agindo da mesma forma. O pai ou a mãe que fustiga o namoro da filha ou do filho, querendo que eles terminem, é a mesma coisa. Aliais, como disse agora pouco, o problema não é o que acontece, mas sim o que você queria que acontecesse.

Participante: o amor liberta e o individualismo segura.

Perfeito.

Só vou complementar o individualismo é o amor a si. O amor que você se refere é o universal. O amor universal livre de individualismo liberta. O amor individualista, o querer para si, aprisiona, não só a outros espíritos ou as outras coisas.

Mais um detalhe. Na verdade não aprisiona, mas luta com quem se livra da prisão. Afirmar que ele aprisiona seria dizer que ele tem condição de manter o ser preso. Isso não existe. O amor individualista gera o desejo de aprisionamento, mas não o aprisionamento em si.

Participante; Joaquim no final da resposta está escrito assim: “Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.” A minha pergunta é: quando esses meios mais diretos e acessíveis estarão a nossa disposição para esse contato e a gente não sofra com essa ausência física?

Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?

Participante: o senhor deve saber, eu não sei.

Os meios para comunicação direta com os mortos surgirão quando você não tiver mais o sofrimento.

Participante: não entendi.

Se você chora a morte do seu filho, não vai encontra-lo nunca. Sabe porquê? Porque não passou na prova! Primeiro detalhe. Segundo detalhe: não vai encontra-lo nunca porque não quer. O que quer é chorar a perda.

O contato com o mundo espiritual diretamente, sem ser através de médiuns, é extremamente possível hoje, como era ao tempo de Kardec e como foi ao longo da história da humanidade. Só que para isso é preciso primeiro o ser procurar o espírito e não o parente. O parente era o personagem dessa vida e morre com a morte. Essa é a primeira condição. Segunda: o ser encarnado também deixar de se ver como o personagem que imagina ser, ou seja, deixar de acreditar no que o ego diz.

Quando você for igual a quem já saiu da carne, pode percebê-lo. Mas, enquanto achar que precisa de um corpo para ver sua mãe, para saber que falou com ela, não vai conseguir.

Então, os meios para esse contato não serão alcançados: eles já estão à disposição da humanidade. São vocês que não os utilizam.

Participante: o querer, a posse, é do ego ou é do espírito?

O querer, a posse, é criado, gerado, pelo ego. O espírito que se subordina à personalidade humana acredita no querer, na posse, sofre com o sofrimento da posse não contentada.

A posse materialmente falando, o raciocínio possessivo é criado pelo ego, o espirito que aceita isso como real embarca na onda do ego.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 935

Que se deve pensar da opinião dos que consideram profanação as comunicações com o além-túmulo?

Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e convenientemente. A prova de que assim é tendes no fato de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer ao vosso chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanação, se isso fosse feito levianamente.

Brincar, buscar o mundo espiritual, o contato com os espíritos, por curiosidade, para passar o tempo, é uma profanação. Já aquele que vivencia o contato com o mundo espiritual no sentido de enriquecer-se para praticar a sua reforma intima, esse é muito bem-vindo pelos espíritos.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 936

Como é que as dores inconsoláveis dos que sobrevivem se refletem nos Espíritos que as causam?

O Espírito é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra; mas, uma dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque, nessa dor excessiva, ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes.

“O Espírito é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra”. O que quer dizer isso?

Participante: não é porque o espírito desencarnou que sabe tudo, que virou santo. Leva ainda esses sentimentos de saudade etc.

Essas possessividades.

Quando você, vamos dizer assim, dá asas às possessividades, auxilia o espírito desencarnado a também sofrer. Então, a posse chorosa, a lembrança chorosa, a saudade chorosa do ser encarnado facilita para que o desencarnado que ainda não está liberto também sofra. Esse é o primeiro detalhe.

Mas, há espíritos desencarnados que, vamos dizer assim, já estão libertos. A esses o seu individualismo, a sua saudade, a sua possessividade não tocará.

Só que esses também sofrem. Porquê? Está no texto do Espírito da Verdade:

Ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram.

Se o espírito não está liberto, sofre porque você sofre; se está, sofre porque vê o quanto você é possessivo, o quanto não está praticando a lei de Deus.

Portanto, em momento algum, em caso algum, o sofrimento por alguém que se foi é valido, contribui de alguma forma para quem fica como para quem foi. Nada, seu sofrimento não contribui em nada para quem foi, não importando o grau de elevação dele.

Participante: quando não me lembro dos desencarnados, mas só dos sentimentos e não das formas que eles tinham, estou me comunicando com esses espíritos? Acrescentando: me lembro deles com amor e carinho.

Você lembra do que? Diz pra mim: o que lembra desses espíritos? Você disse que não lembra da forma; então do que lembra?

Participante: me lembro das emoções vividas.

Das emoções vividas com seu pai? Lembrou de uma forma. Das emoções vividas com um nome? Lembrou de uma forma.

Aí está o problema. Vamos dizer que seu avô se chamava José. Você diz que não lembra mais do seu avô, mas ainda lembra de um José. Nesse caso, ainda não atingiu o espírito.

Você precisa lembrar daquele espírito que vivia aquele personagem. Isso não tem nome.

Participante: mas isso é uma coisa que fica na memória. Não tem como a gente não lembrar, mesmo que seja um sentimento, e uni-lo ao nome. Temos isso na memória.

Desculpa, você disse que impossível não se lembrar. Concordo: o ego não vai deixar você não se lembrar de um nome. Mas, pode dizer: ‘o ego está dizendo que estou lembrando do José, mas estou lembrando de um espírito’. O problema é que o ego lhe direciona ao José e você, por acreditar que aquele espírito ainda é um José, fala com o José.

Não estou dizendo que você não consiga falar com aquele espírito. Estou dizendo que o relacionamento da sua parte ainda será vinculada as emoções que foram vivenciadas durante a existência carnal, ou seja, quando se lembra do seu pai que está no mundo espiritual, conversa com ele como filha.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 937

Para o homem de coração, as decepções oriundas da ingratidão e da fragilidade dos laços da amizade não são também uma fonte de amarguras?

São; porém, deveis lastimar os ingratos e os infiéis; serão muito mais infelizes do que vós. A ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta topará mais tarde com corações insensíveis, como o seu próprio o foi. Lembrai-vos de todos os que hão feito mais bem do que vós, que valeram muito mais do que vós e que tiveram por paga a ingratidão.

Lembrai-vos de que o próprio Jesus foi, quando no mundo, injuriado e menosprezado, tratado de velhaco e impostor, e não vos admireis de que o mesmo vos suceda. Seja o bem que houverdes feito a vossa recompensa na Terra e não atenteis no que dizem os que hão recebido os vossos benefícios.

A ingratidão é uma prova para a vossa perseverança na prática do bem; ser-vos-á levada em conta e os que vos forem.

Veja que grande afirmação sobre aquilo que estávamos dizendo agora mesmo (decepções, ingratidões, ou seja, injustiças no mundo): nada é por acaso ...

Diga: o que é ingratidão.

Participante: ingratidão é achar que eu sou melhor que o outro, que eu fiz tanta coisa e não fui recompensado.

A ingratidão é não sentir-se recompensado. Perfeito.

E, o que seria essa recompensa?

Participante: aí depende do que acho que fiz de bom para o outro. Pode ser amizade ...

Não, não, eu estou falando de valores. Não importa o que alguém lhe dê em retribuição ao que você fez, o que é isso? Um bem material.

Quem espera uma recompensa, seja mesmo um obrigado, um reconhecimento, está atento à busca material, está querendo ser elogiado na Terra. É a busca da fama. Então, só sente ingratidão aquele que, aprisionado ao ego, acredita que o outro tinha que agir de forma diferente.

Quando o ego diz que aquele é um sem educação quando não diz obrigado. Quando o ego diz que já fez tanto por ele e agora, no momento que você precisa, não lhe ajuda em nada. É isso que é ingratidão.

Sentir ingratidão nos outros, é defender a sua fama, é defender a sua vaidade, a sua soberba. Por isso, é necessário que o ser encarnado aprenda viver liberto dessa cobrança. É preciso que aprenda a não explorar nada de ninguém.

Tem algumas palavras que vocês não aplicam a abrangência que possuem. Dão apenas a abrangência que interessa a vocês.

Falei ninguém. Com isso atingi todos os seres do universo, inclusive aquele que você chama de Deus. Não espere recompensa ou gratidão de ninguém. Não confie em ninguém, nem em você mesmo. Confiando em alguém, certamente um dia estará vibrando com a ingratidão que o seu ego vai criar, pois essa emoção é a consequência natural de acreditar em alguém ou em alguma coisa.

Quando o ego disser que você deve acreditar na obrigação do outro fazer alguma coisa, diga: ‘eu não acredito nisso’. Quando seu ego disser que pode confiar em alguém, diga: ‘não acredito nisso’.

Até porque, nenhum espírito está aqui para ser bonzinho com você. O você que falo é o ser humano, o ser humanizado, o ego. Nenhum espírito está aqui para passar a mão na cabeça do ego, ou seja, para estar de acordo com as verdades do seu ego. Todos nasceram para fazer a sua provação, para provar a si mesmos que libertaram-se do individualismo.

Os espíritos encarnados estão aqui para lhe dar a oportunidade de fazer sua provação. Por isso, se na sua vida só há ingratos, erga as mãos para o céu! Agradeça ao Senhor a oportunidade de trabalho que recebeu.

Quando o seu ego diz que você sofreu uma ingratidão, saiba que na verdade é Deus está lhe dando uma oportunidade de amar. Quando diz que sofreu uma perda, Deus está lhe dando uma oportunidade de amar. Amar incondicionalmente. É isso que precisam compreender.

É preciso mudar a forma de ver a vida. Ao invés de esperar que durante a vida o mundo esteja ao seu dispor, se contente com você, espere do mundo apenas oportunidades para exercer o amor incondicional. Todos os momentos de uma existência carnal são oportunidades para se amar incondicionalmente. Para isso é preciso se libertar das condicionalidades que o ego cria.

É isso! Aliás, tem uma oração, senão me engano do Chico Xavier, que diz assim:

Eu pedi a Deus paciência e Ele me deu alguém que me contraria.

Eu pedi a Deus calma e Ele me deu alguém que é nervoso.

Eu pedi a Ele para ser manso e Ele me deu alguém agressivo.

Que vantagem teria na sua provação se Deus lhe desse tudo? Ele precisa criar a oportunidade para que você ame. Só quando sofre uma agressão é que pode comprovar que aprendeu a ser mando.

É isso que é a vida. A cada acontecimento da sua existência, – e, por favor, prestem muita atenção nisso que vou dizer – cada momento da vida, você encontra um instrumento que Deus coloca à sua disposição para obrar no sentido de lhe proporcionar a oportunidade de alcançar o universalismo, a perfeita junção com o todo universal. A cada momento, cada micro fração de tempo, cada acontecimento, cada pensamento, a Causa Primária de Todas as Coisas está lhe amando oferecendo o instrumento necessário para que faça daquela coisa bruta uma obra de arte. Para que faça daquele materialismo, um universalismo; para que transforme aquele aparente desamor, num amor imenso e profundo.

Portanto, se vamos estudar desgostos, ingratidão, não poderíamos começar de outra forma a não ser dizendo que aquele que passa pela ingratidão, pelo desgosto, deveria levantar as mão para o céu e agradecer a oportunidade de exercer a sua espiritualidade amando incondicionalmente a todos.

Participante: os egos agem sempre com um propósito, único: plantar e colher suas ações, recompensa. Obviamente o ego está sujeito a recolher resultados bons, ruins e intermediários.

O ego, não você.

Para o ego, sim: ele como planta e recebe condicionalidade. Agora você, espirito, que se reconhece como um ser universal, que se reconhece como filho de Deus, deve deixar a personalidade humana sentir a ação que quiser e manter-se equânime.

Participante: são provinhas, provas e provões que são o pão de cada dia.

A intensidade da prova quem vai determinar é você. Agora, de uma coisa tenho absoluta certeza: independente da intensidade, foi você que pediu aquela prova.

Então, se hoje acha difícil, diga a si: ‘graças a Deus. Eu pedi essa prova. Isso é sinal que estou preparado para vivenciá-la, para realizá-la’. Se, no entanto, achar que Deus lhe dando uma prova sem nexo, que não merece, vai vivenciá-la com a consciência de não ter competência para realiza-la.

Achar que não é capaz de vencer as provações é uma ilusão. Todos têm condições de vencer todas as suas provas. Sabe porquê? Porque é exatamente aquilo que cada um pediu para si antes da encarnação.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 938

As decepções oriundas da ingratidão não serão de molde a endurecer o coração e a fechá-lo à sensibilidade?

Fora um erro, porquanto o homem de coração, como dizes, se sente sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se esse bem for esquecido nesta vida, será lembrado em outra e que o ingrato se envergonhará e terá remorsos da sua ingratidão.

Endurecer o coração é deixar de amar.

Aquele que passa por situações de desgosto, de injustiças, ingratidões, realmente não vai poder amar. Já aquele que passa pelas mesmas situações sem ter essas consciências por causa da prática do amor incondicional, jamais vai deixar de ser feliz. Sendo assim, a situação em si não pode levar inexoravelmente àquelas emoções.

Isso é uma coisa que tenho falado há sete anos. Nada é o que você diz que é: trata-se apenas do valor que se dá ao acontecimento. A ingratidão do outro, não é uma atitude de ingratidão, pouco importando o que ele faça. Na verdade, só tomou essa essência emocional porque você preferiu ver naquilo um ato de ingratidão.

Você é quem determinou que tal procedimento era uma ingratidão. Na verdade foi o seu ego que disse isso. Ele falou, gerou a consciência, e você aceitou, acreditou quer era real.

Por compreender essa realidade, essa verdade do universo (ninguém pratica ato nenhum; cada um cria o valor do ato dentro de si) aquele que ama, continua amando, mesmo quando a razão diz que foi vítima de uma ingratidão.

Aquele que ama, ama ser vítima de uma ingratidão. Aquele que ama, ama ser vítima de uma desilusão. Aquele que ama, ama a tudo. Aliais Cristo já disse ‘se você ama só quem lhe ama ou o que lhe ama, que vantagem tem? Até os pagãos fazem isso.’ Por isso, para dizer-se pelo menos seguidor de Cristo, filho de Deus, precisa ir além no amar. Precisa amar quem não lhe ama, quem lhe dá ingratidão, ou seja, a quem atribui o valor de ingrato.

É isso que está respondendo o Espírito da Verdade: amor, sempre amor, acima de todas as coisas.

Das penas e gozos terrestres

Pergunta 938a

Mas, isso não impede que se lhe ulcere o coração. Ora, daí não poderá nascer-lhe a ideia de que seria mais feliz, se fosse menos sensível?

Pode, se preferir a felicidade do egoísta. Triste felicidade essa! Saiba, pois, que os amigos ingratos que o abandonam não são dignos de sua amizade e que se enganou a respeito deles. Assim sendo, não há de que lamentar o tê-los perdido. Mais tarde achará outros, que saberão compreendê-lo melhor. Lastimai os que usam para convosco de um procedimento que não tenhais merecido, pois bem triste se lhes apresentará o reverso da medalha. Não vos aflijais, porém, com isso: será o meio de vos colocardes acima deles.

Participante: é estranha essa resposta, não?

Não se pensarmos no Espírito da Verdade e na época que foi dada.

A resposta em si é auto explicativa. Quero apenas me atentar em um pequeno trecho: ‘Pode, se preferir a felicidade do egoísta’.

A ingratidão, ou a suposta ingratidão, pode selar o coração de quem prefere a felicidade do egoísta. Qual a felicidade do egoísta? Prazer, a satisfação.

A felicidade do egoísta, para o egoísta, acontece quando o que acha certo acontece. A felicidade do egoísta nasce quando o mundo satisfaz às posses, paixões e desejos.

Só um detalhe: isso não é felicidade. Isso é prazer, satisfação de vontades. Esse tipo de felicidade sela o coração, porque é resultado do amor condicionado.