Adoração
MOBIPDF

Adoração

Comentários de Joaquim de Aruanda sobre os ensinamentos que dizem respeito à adoração humana.

Adoração

Objetivo da adoração

“649. Em que consiste a adoração? Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma”.

Se olharmos no dicionário o que quer dizer adoração, encontraremos a seguinte definição para este termo: ‘render culto a (divindade); amar extremosamente; amar-se mutuamente ao extremo’. A partir disso, precisamos analisar cada uma destas definições para poder bem compreender o que é adorar.

Adorar é render culto a Deus. Digo isso porque o próprio Espírito da Verdade diz que a adoração aproxima o ser humanizado de Deus.

Adorar é amar extremosamente a Deus. Digo isso porque Cristo ensinou que o mandamento ao qual o ser humanizado deve se ater é amar o Pai acima de todas as coisas. Esta, portanto, é adoração que é esperada de um ser em busca do Senhor.

Adorar é amar-se mutuamente ao extremo, ou seja, é entrar numa relação amorosa com Deus extrema. Amar e sentir-se amado por Deus extremosamente é, portanto, a verdadeira adoração.

Adorar não é ficar à frente de uma estátua; não se trata de ir à missa ou ao culto, nada tem a ver com postar-se de joelhos e orar, mas, entrar numa relação amorosa extrema com o Pai.

Com estas conclusões chegamos à realidade sobre a adoração que é esperada do ser humanizado que pretende aproveitar esta encarnação para realizar o trabalho da sua elevação espiritual: buscar a verdadeira adoração. Para isso o seu trabalho durante esta existência deve consistir-se em buscar uma comunhão amorosa extrema com o Senhor.

Quando você ama e se sente amado, o que é o mais difícil, por Deus pratica-se a verdadeira adoração. Muitos acham que a adoração consiste-se apenas em amar ao Pai. Alguns até durante os seus momentos de adoração dizem que fazem isso, mas ela na verdade não existe se não houver a idéia de que se está sendo amado por Ele. Como viver isso é difícil, vamos conversar um pouco sobre esta questão.

Será que o ser humanizado sabe o que é ser amado por Deus? Acho que não. O máximo que consegue é sentir-se contentado por Deus, ou seja, a única coisa que ele consegue exprimir com relação a ação divina é viver o contentamento quando o Senhor atende seus desejos mundanos. Agora, quando Deus, como todo pai, dá o que o filho precisa e não o que ele quer, o ser humanizado, longe de sentir-se amado, acaba se revoltando contra a vida e muitas vezes contra o próprio Deus.

Sendo, portanto, necessário viver todos os acontecimentos da existência com a sensação de estar sendo amado por Deus e isso não acontecendo quando o ser humanizado tem seus desejos contrariados, afirmo que de nada adianta este mesmo ser exercer a sua adoração indo à missa ou fazer cinco orações por dia e nem adianta ficar sentado na posição de lótus por horas. A verdadeira adoração, aquela que contribui para a elevação espiritual acontece em todos os lugares e a qualquer momento onde o ser humanizado consegue superar seus desejos e ansiedades e consegue sentir-se amado pelo Pai em todos os acontecimentos de sua vida. Se isso não for vivido, de nada adianta buscar a adoração como caminho para a elevação.

‘Senhor, fazei de mim instrumento de Vossa Vontade’. ‘Louvado seja Deus por tudo que acontece na minha vida’. Nestas consciências está a verdadeira adoração que aproxima o ser humanizado do Pai. Quem não as mantém quando acontece algo que é indesejável por ele, ou seja, só está satisfeito com o Pai quando Ele atende seus anseios mundanos, não adora verdadeiramente a Deus e por isso não consegue se aproximar Dele.

Para aquele que busca a elevação espiritual é preciso o entendimento que a adoração é a base de todo o trabalho e que ela acontece apenas quando o ser humanizado transforma as vicissitudes (alternância entre as situações) de sua existência em fruto do Amor de Deus pelo seu filho.

Participante: Li o livro ‘Os mensageiros’, de Chico Xavier. No entanto, agora um espírito pede que o estude. Qual a diferença?

A diferença está na nossa análise desta pergunta de O Livro dos Espíritos. Ler o livro é ler que a adoração nos aproxima de Deus. Estudar o livro é analisar o que o autor quer dizer com o que escreveu e chegar à conclusão que é necessária a comunhão amorosa extrema com o Pai.

Muitos de vocês com certeza já haviam lido o texto desta questão de O Livro dos Espíritos. Pergunto: conseguiram chegar às conclusões que chegamos agora? Acho que não. Por que conseguimos chegar? Porque fomos analisar o que está escrito. Para isso recorremos originalmente ao dicionário da língua portuguesa, o que é um excelente caminho, pois ele nos fala de sentidos dos vocábulos que corriqueiramente esquecemos.

Faça isso. Leia um trecho deste livro que lhe foi recomendado ler e, então, pare a leitura e medite sobre o que leu. Para isso aconselho o auxílio de um dicionário para poder observar o real sentido dos vocábulos que formam o texto que você leu. Como o sentido dado por este instrumento é universal para aqueles que falam português, você estará mais perto da intenção de André Luiz ao ditar este livro. Se não fizer isso, continuará vivendo com os valores que aplica aos vocábulos, que podem e são muitas vezes diferentes dos usados pelo autor. Com isso, estará gerando uma interpretação diferenciada do texto e nada aproveitará do estudo.

Adoração

Adoração exterior

“653. Precisa de manifestações exteriores a adoração? A adoração verdadeira é a do coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre vós o seu olhar”.

Definimos adoração como uma relação amorosa extremosa com Deus. Agora Kardec pergunta: este amor com Deus precisa de atos materiais para ser comprovado? O Espírito da Verdade responde: não, Deus olha o interior de cada um, dentro de cada um. Aquele que ama a Deus apenas em atos, ou seja, pratica a lei de Moisés restringindo apenas suas ações ditas más ou pratica a caridade fisicamente por que acha isso importante, não está numa relação amorosa com o Pai, mas consigo mesmo. Isso porque está preso em fazer aquilo que acha certo, o que deseja fazer.

A adoração a Deus não pode ser, portanto, confirmada por ações físicas, mas deve acontecer no íntimo de cada um. Neste íntimo deve haver um sincero amor ao Pai e uma sincera sensação de ser amado por Ele a cada momento para que haja verdadeiramente uma adoração. Havendo isso, há a adoração, pouco importando que ação está praticando aquele ser humanizado naquele momento.

Ora, se no íntimo de quem pratica a verdadeira oração existe apenas o amar e o sentir-se amado, não há lugar para contrariedades. Não havendo, há paz e harmonia, ou seja, a felicidade que Deus tem prometido aos seus filhos. Eis aí uma forma de você verificar se a sua adoração é verdadeira ou não.

Pouco importa se você está na posição de lótus, se está concentrado, se as mãos estão com as palmas para cima ou em postas: nada disso garante que sua adoração seja verdadeira. Ao invés de se ocupar com posturas, verifique se no seu íntimo naquele momento você está em paz (sem críticas a nada nem ninguém) e harmonizado com o que está acontecendo (sem achar certo ou errado, bonito ou feito, bom ou mal). Se o seu íntimo estiver desta forma, não importa que palavras estejam sendo ditas ou que movimentos o corpo está fazendo, você está em adoração, pois está irmanado com o Pai numa relação amorosa.

“653a. Será útil a adoração exterior? Sim, se não constituir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo. Mas, os que somente por afetação e amor próprio o fazem, desmentindo com o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam”.

Foi o que acabei de dizer. De que adianta você praticar atos, mesmo que eles sejam aparentemente meritórios, se por dentro está utilizando-se do egoísmo ou do amor próprio, ou seja, a vontade de fazer aquilo. De nada adianta isso para a elevação espiritual porque não reflete uma verdadeira adoração.

Quem faz o que quer, o que gosta, o que acha certo não está adorando a Deus, mas a si mesmo. Digo isso porque a sua adoração, ou seja, a sua relação amorosa é com as suas próprias verdades, consigo mesmo.

Isso precisa ficar bem claro para vocês que dizem que querem aproveitar a oportunidade da encarnação e realizarem o trabalho da reforma íntima que os aproxima do Pai e por isso vou repetir o que já disse: adoração não é reza, não é participação numa atividade mediúnica, mas ela existe sim quando há uma comunhão amorosa com o Pai. Ela só existe quando você comunga amorosamente com Deus em qualquer momento.

Se ela existe somente neste momento e se o que determina a existência da adoração é o amor e este não é ato, pouco importa que ação esteja fazendo. Amor é sentimento e por isso a adoração verdadeira só acontece quando há este laço entre você e o Senhor.

“654. Tem Deus preferência pelos que adoram desta ou daquela maneira? Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes”.

“Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam”.

 “É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento”.

É hipócrita aquele que só pensa no ato exterior e não presta atenção ao seu interior quando o assunto é adoração a Deus. É hipócrita quem age assim, por exemplo, quando atende aqueles que possuam carências materiais, pois que engana a Deus (diz que está adorando ao Pai quando está adorando a si mesmo). Isso é hipocrisia.

Aliás, a hipocrisia chegou a tal ponto, que vocês hoje nem precisam mais sair do conforto de seu lar para poder ajudar os outros, ou seja, não há sacrifício algum na doação ao próximo. Isso porque caridade hoje pode ser feita por telefone.

Onde há adoração ao Senhor neste momento? Como foi ensinado, não se serve dois senhores ao mesmo tempo e por isso para se adorar a Deus é preciso não adorar a si mesmo, o seja, é preciso ir além do seu comodismo e de seus anseios. O que há no tipo de doação que citei é apenas a compra de uma consciência limpa e não um serviço ao próximo. O que há é a tentativa de se ludibriar a Deus dizendo que está amando o próximo, mas se este amor não existe realmente no mundo interno. Sendo assim, o ato de nada vale para a adoração a Deus.

Todo ato espelha o que vai por dentro do ser humanizado. O que espelha a ação daqueles que acham que apenas doar aos carentes é um ato de adoração a Deus é a satisfação de suas verdades e anseios. Por isso, esta adorar desta forma é hipocrisia.

“Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem ou ambicioso dos bens deste mundo”.

Quando se fala de bens deste mundo, muitos acreditam que se está falando de objetos ou dinheiro, mas isso não é real. Os bens deste mundo são tudo aquilo que pertencem à materialidade, sejam estas coisas materiais ou imateriais. O amor de um filho por seus pais, o amor de um homem por uma mulher ou vice versa, a pena que se tem dos que precisam: tudo isso é bem deste mundo. Satisfazer-se, ou seja, ter seus anseios e verdades atendidos também é um bem deste mundo.

Cristo nos disse que devemos buscar o bem celeste, o do outro mundo. Sendo assim, todas estas coisas não são realizações para quem busca a elevação espiritual. Portanto, achar que nestas coisas podem estar um ato de adoração é ser ambicioso com relação às coisas dele.

Portanto, de nada adianta praticar atos caridosos movidos por estes sentimentos, pois esta adoração não é a Deus, mas a si mesmo. A verdadeira adoração só existe quando o bem que se espera advêm do Pai e não da matéria.

“Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz do que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça”.

Quem vocês acham que mais conhece os ensinamentos mandados por Deus? Os religiosos, aqueles que tiveram acesso aos ensinamentos remetidos pelo Pai. A estes mais será cobrado.

Vocês já ouviram os mandamentos ensinados por Cristo? Acho que já... Então, sabem que devem amar ao Pai acima de todas as coisas, independente do seu querer, e que devem amar ao próximo como a si mesmo, ou seja, devem dar ao outro o direito de ser, estar, e fazer o que quiser que reclamam para si. Estes mandamentos comandam a sua vivência da vida? Acho que não, não é mesmo? Portanto, serão mais cobrados do que aqueles que nunca ouviram estes mandamentos...

Vocês já leram O Livro dos Espíritos? Acho que sim... Então, já leram que a adoração é interna e deve ser vivenciada através de uma comunhão amorosa com o Pai e não através da prática de determinados atos. Vivem com estas verdades? Olha que serão mais cobrados por isso do que os que nunca leram O Livro dos Espíritos...

Quem já leu estes ensinamentos precisa entrar numa relação incondicional com o Pai e não ter pena de pobres coitados que não tem o que comer. Só pratica a caridade com adoração verdadeira aquele que ao invés de pena ou dó dos que não têm o que comer vibram dentro do Amor divino.

“Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-ei; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão”;

“Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração”.

De que adianta cantar mantras, hinos religiosos, música gospel ou pontos da Umbanda sem amor no coração? De que adianta reza o Pai Nosso ou Ave-Maria sem ter amor no coração? Nada...

A adoração a Deus não é externa e por isso qualquer cântico ou prece declamada de nada vale para aquele que quer buscar a elevação espiritual.

Adoração

A prece

“658. Agrada a Deus a prece? A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para ele, a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do intimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade. Mas, não creiais que o toque a do homem fútil, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade”.

O que seria um egoísmo durante uma oração? É orar pedindo apenas coisas para si mesmo...

Com esta informação completamos o que falamos anteriormente sobre a prece. Ela não se caracteriza pelas palavras que são declamadas, já que o ato externo nada vale como instrumento da adoração, mas sim sentimentos que cada um possui dentro de si mesmo. Segundo: ela precisa da fé, da entrega com confiança aos desígnios do Pai.

Para aquele que busca a elevação espiritual de nada adianta decorar orações lindíssimas se do seu coração não sair um amor incondicional, um amor que existe independente do que acontece. Quem vive com este amor não precisa de nada, pois já tem tudo o que precisa: tem Deus consigo. Por isso, não precisa pedir mais nada nem se preocupa com as palavras que são pronunciadas numa oração...

Aí está a verdadeira oração. Ela existe em todos os momentos onde o ser humanizado se relaciona com Deus extremosamente através de um amor incondicional. Pouco importa que palavras estejam sendo ditas, se o seu português é correto ou não, se está ajoelhado ou não, se está de mãos postas ou não: no momento onde há uma relação incondicional com o Pai houve uma verdadeira adoração e com isso o ser aproxima-se de Deus.

Aliás, se analisarmos friamente a oração que o próprio Cristo ensinou encontraremos nela uma declaração expressa de amor incondicional ao Senhor que o Espírito da Verdade diz ser necessário nesta questão:

Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tenha ofendido e não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal.

Estas são palavras de amor, de adoração verdadeira. Palavras de fé, que demonstram uma entrega absoluta com confiança plena no Pai. Palavras que nada exigem, que pedem, mas que oferecem algo por conta deste amor. Por isso Cristo diz: orem assim...

Ele recomenda esta oração porque nestas palavras estão espelhados os elementos necessários para a verdadeira adoração: o amor, a entrega e à confiança ao Pai.

“659. Qual o caráter geral da prece? A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer”.

O Espírito da Verdade afirma claramente que a prece é um ato de adoração, ou seja, fala que ela precisa ser realizada em comunhão amorosa com o Pai e com uma entrega incondicional ao Senhor. Se a sua prece não é realizada com estes critérios, mas se fundamenta em pedir, para você mesmo ou para outros, de nada adianta orar. Esta oração não terá serventia nenhuma para aquele que busca a elevação espiritual, pois o que caracteriza esta condição espiritual é a intensidade da relação amorosa que se mantém com o Pai. Se a sua oração acontece como pagamento de uma promessa, de nada adianta, pois ela não foi fundamentada no amor, mas na satisfação individual.

Prece não é obrigação, não tem hora para acontecer e nem palavras a serem ditas. A cada momento de sua existência o ser humanizado deve viver em oração (comunhão amorosa com o Pai) e vigiando para não cair nas tentações que o mundo humano apresenta aos espíritos encarnados.

“660. A prece torna melhor o homem? Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade”.

A prece faz bem para a saúde espiritual do espírito sim, agora à saúde material, não. Àquele que age humanamente, ou seja, que se baseia em suas verdades e que considera importante alcançar seus anseios, a oração de nada adianta.

Por que isso? Porque o ser humano é aquele que é egoísta, que quer para si mesmo, que se ama acima de todas as coisas, inclusive do próprio Deus. Este, como não vivencia uma comunhão amorosa com o Pai fundamentada na incondicionalidade, na verdade não reza: declama palavras esperando ganhar individualmente com isso.

A prece, então, faz muito bem à saúde espiritual do espírito, mas de nada adianta para aquele que está apegado ao sistema humano de vida.

Adoração

Viver a oração

Todos os mestres nos ensinaram que a oração é necessária, mas o que será orar, o que será uma oração? Em O Livro dos Espíritos encontramos a resposta a esta pergunta: a oração é um ato sentimental, é uma ligação sentimental com Deus.

Podemos, então, compreender que a orar não é recitar palavras, mas emitir (sentir) sentimentos. Quem ora prestando atenção apenas nas palavras não está com atenção plena aos seus sentimentos e por isto podemos afirmar que não sabe orar.

A oração tem que vir de dentro de cada um. Ela é um sentimento que emana em direção a Deus. Ao Pai, não a outros espíritos.

Sempre que nos elevamos em oração, dirigimo-nos a Deus, mesmo que nossos pensamentos estejam direcionados a outros seres. Isto ocorre porque só Ele sabe o que fazer com o que cada um sente durante a oração (dar a justa recompensa da oração – carma). Por isto, as orações direcionadas a outros espíritos são repassadas a Deus.

Desta forma, a primeira compreensão de hoje deve ser: a oração é um ato sentimental. Mas para que orar? Em O Livro dos Espíritos também encontramos esta resposta: “A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele”.

Mas, o que é para o espírito sentir? Viver. A vida, ou seja, a animação, a intelectualização de um espírito é sentir sentimentos. Ele pode viver esta ação sentindo o amor universal (a Deus e ao próximo) ou individualista (a si mesmo), mas. Esta duas formas de viver são as únicas ações que o espírito pode realizar durante a sua existência. Sendo assim, posso dizer que a oração é vida para o espírito, pois orando ele está praticando a única ação que pode executar e com isso está vivendo a sua existência espiritual.

Se tudo isto é verdade, por que, então, as orações contêm palavras? Por que até Cristo ensinou um “Pai Nosso” através de palavras? Para que o ser humanizado saiba o que sentir, que forma de viver espiritual o aproxima de Deus. Desta forma, todo ser humanizado deve mais do que se preocupar com palavras ao orar, mas sua atenção plena deve estar voltada em colocar na prática aquilo que a oração fala.

Isso é orar. Orar não é rezar em um determinado momento pré-determinado (quando acorda ou quando dorme), não é dizer palavras bonitas em momentos específicos, mas é vivenciar no dia a dia os sentimentos que oração traz. Para isto é preciso que cada um transforme a oração no caminho da vida, na sua forma de viver.

Será sob este aspecto que estudaremos a “Oração de São Francisco” e o “Pai Nosso” neste livro, ou seja, transformando as palavras que estão contidas nestas orações buscando compreender que sentimentos deverão ser aplicados na vivência diária.

Não faremos estes estudos para analisar os versos com relação à sua gramática ou as rimas, não buscaremos apreciar a beleza das palavras, mas a cada novo verso compreenderemos a essência dele: o sentimento que Francisco de Assis e Cristo dizem que é necessário viver por aquele que busca aproveitar a sua encarnação e alcançar a elevação espiritual.

Com isto descobriremos que sentimento cada um deve ter para viver nos diversos acontecimentos da vida. Depois disto feito, compreenderemos ainda como é viver tendo este sentimento, ou seja, a prática do dia a dia de quem vive em oração.

Adoração

Onde orar

“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas casas de oração e nas esquinas das ruas para serem vistos por todos. Lembrem-se disto: eles já receberam toda a recompensa. Porém quando você orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa”. (Mateus, 6 5-6)

O primeiro aviso que Cristo dá ao ensinar o “Pai Nosso” é bem claro: para se orar não há necessidade de se estar em uma igreja nem em um lugar específico. Você pode orar em qualquer lugar.

Ele diz mais: quando orar, não faça isso na frente dos outros para mostrar o quanto você é religioso, mas faça dentro de você mesmo. A oração não deve sair da boca, mas sim do coração. Existe a necessidade de se rezar com sentimentos e não com palavras.

Orar não é dizer palavras certas, mas é viver em oração. É reagir a cada situação da vida com sentimentos positivos (o amor). Agindo dessa forma, o ser estará falando com Deus constantemente e receberá as recompensas por haver ultrapassado as provas da encarnação.

Adoração

Pedidos

 “Nas suas orações, não fiquem repetindo o que já disseram, como fazem os pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas. Não sejam como eles, pois o Pai já sabe o que vocês precisam, antes de pedirem”. (Mateus, 6 7-8)

Cristo afirma: não é preciso pedir nada, não é preciso dizer a Deus o que quer, pois Ele já sabe antes mesmo que você o que é necessário para a sua vida. O Pai não está preocupado em satisfazê-lo materialmente, mas sua missão é proporcionar a cada um as situações necessárias para a evolução espiritual e para fazer isso Ele conhece tudo o que você precisa.

Se orar é viver em oração, você não deve querer nada nesta vida, pois Deus lhe proverá de tudo o que necessita para viver, sempre pensando no que for mais útil para a sua evolução espiritual. Todo o pedido feito na oração que busque a satisfação pessoal não poderá ser recompensado se não for útil à elevação espiritual.

Mesmo que faça orações com palavras, nunca peça a Deus nada, pois Ele sabe o que é melhor para a sua vida espiritual. Ele não se preocupa com o ser humano (estado temporário do espírito), mas sim com a sua existência eterna espiritual.

É com esta visão que Deus dá as coisas na vida de cada um, ou seja, os acontecimentos que compõem esta vida. Sua preocupação é apenas com a evolução do espírito que é eterno e imortal. Pedir qualquer coisa é querer governar a nossa vida e, assim, nos afastamos de Deus.

Portanto, nunca ore incluindo um me dê ou um faça isso por mim: a oração não é para isso. Ela é para falar com Deus, demonstrar o amor a Ele e não com a intenção que nossos desejos sejam satisfeitos, pois Ele sabe melhor que qualquer um o que é necessário para cada um.

Mesmo quando você orar com sentimentos positivos não espere que Deus vá satisfazer os seus desejos. O Pai dá a cada segundo, novas chances de evolução e não situações para serem gozadas no prazer material.

A recompensa de Deus aos filhos não é a satisfação das suas vontades individuais, mas proporcionar a cada um as situações necessárias para a evolução espiritual. Quando você vive sem o amor universal, o que Deus lhe dará será uma recompensa equivalente ao seu sentimento. Quando um ser falha em uma prova de sua encarnação é necessário que Deus, por sua Justiça e Amor, promova mais uma chance de evolução.

Ao falhar em determinada prova, o ser gerou um débito e, por esse motivo, a próxima situação deverá espelhar não só o tema da prova, mas ainda será acrescida da expiação desse débito.

Quando você sente ódio, raiva, crítica, ganância, poder, não está orando, não está vivendo uma vida em oração. A recompensa, ou os fatos da vida, que Deus dará por sua vida em oração baseia-se no sentimento que você utiliza a cada segundo de sua vida.

Quem ama não se exibe para os outros, não deixa a mão direita saber o que a esquerda está fazendo. Todo espírito deve levar uma vida em oração, mas dentro de si e não exibindo suas conquistas. Isto é soberba e não amor e por isso a recompensa (próxima situação de vida) será uma prova mais difícil.

Adoração

Orem por todos

Continuem firmes na oração e fiquem alertas quando oram agradecendo a Deus e ao mesmo tempo, orem também por nós a fim de que Deus nos dê uma boa oportunidade para anunciar a sua mensagem e para contar o segredo de Cristo. (Colossenses, 4, 02 e 03)

Olha, tem uma coisa interessante ai. Paulo pede para as pessoas orarem por ele, mas se nós entendermos que ele é um iluminado devemos achar que não precisa mais de oração. Por que ele pede, então, para orarem por ele? Isso é estranho para vocês, não?

A humanidade acha que só deve orar pelos necessitados. Oram pelas crianças que estão abandonadas, pelos velhos que estão no asilo, pelas pessoas que estão no hospital, mas não oram pelos que tem saúde, pelas crianças que estão no lar, pelos velhos que não estão no asilo. Por que isso? Porque vocês acham que eles não precisam...

Vocês acham que o velho que não está no asilo, já está bem; se a criança não está no albergue, está bem porque tem uma família. Quantas crianças que têm família e acontece um monte de problemas dentro da casa? É preciso orar por todos porque não existe nesse planeta ninguém que não seja pecador, ou seja, que não vá contra Deus em algum momento.

A oração, o seu amor – sim porque oração é amor e não palavras – deve ser para todos. Para os necessitados e para quem tem de sobra, seja essa sobra material ou espiritual.

Olha, orem por mim, porque eu preciso de oração.

Adoração

Vivendo o Pai Nosso

“Pai nosso”...

Para que sua existência seja uma oração constante, você terá que entender que Deus é seu Pai. Foi Ele quem lhe gerou e não a sua mãe ou seu pai biológico. Você não é fruto de uma combinação biológica, mas sim um espírito gerado por Deus.

Tem que compreender que não é obra de Deus, mas um filho gerado com carinho. O ser humano é uma obra, pois é composto de matérias, mas você, o espírito, é filho de Deus, fruto de um amor Dele. Portanto, para se viver como espírito nesta carne temos que tratar Deus como Pai e não como Arquiteto, Sábio, Governador, etc. Isso porque a Deus o filho deve amor, enquanto que aos outros deve obediência.

Um pai nunca quer o sofrimento para seu filho, mas sempre procurar encontrar meios para que ele progrida em sua vida. Da mesma forma Deus sempre coloca coisas na vida de um filho para que ele progrida, não para que sofra, mesmo que aparentemente o filho não entenda desta forma.

Quando o pai biológico obriga o filho a estudar ou coloca-o de castigo após uma travessura, sabe que o filho não compreende os reais motivos de suas atitudes, mas tem a plena convicção que aquilo é o melhor para ele. O filho não entende estas atitudes e acha que o está sendo alvo de autoritarismo, sofre porque vê a sua liberdade cerceada, mas quando cresce entende que aquilo foi o melhor para ele.

É desta forma que temos que encarar a vida. Quando as coisas não acontecem da forma que queremos é Deus, nosso Pai, nos obrigando ao estudo do amor e às vezes sendo obrigado a nos colocar de castigo. Ele não faz isso para o nosso mal, mas objetiva a evolução, o crescimento espiritual. Quando evoluímos espiritualmente, vemos que isso é uma verdade.

Mas Ele não é só nosso Pai, mas de todos os espíritos do Universo: Pai nosso. Cristo mostra claramente que temos que entender que todos os espíritos do Universo são filhos de Deus e, por isso, não devemos esperar privilégio algum sem que tenha antes havido o devido merecimento.

Pai nosso quer dizer que todos têm direito de receber as coisas de Deus e não só você. Quer dizer que todos no Universo são orientados por Deus para que passem pelas situações que podem lhe trazer mais rapidamente a elevação espiritual. Desta forma, você não pode se arvorar em dono da verdade e querer ditar o que é melhor para a vida dos outros, nem exigir que eles se mudem para o que imagina ser o melhor para a sua vida.

Se você tivesse um filho, gostaria que lhe ensinassem como educá-lo? Deus também não gosta daqueles que querem ensinar aos seus filhos como agir. Quando você julga uma pessoa, dizendo que ela está errada, busca assumir a paternidade dela, passando a frente de Deus.

Este verso da oração, assim como todos os outros, não são palavras para serem declamadas, mas entendimento para se viver a vida. É preciso abster-se da posição de dono do mundo, de chefe da família, para entregar de volta a Deus o comando das coisas.

Não adianta rezar as palavras Pai nosso, sem agir na vida sabendo que você é apenas um filho desta família onde há um Pai que comanda a casa. Não adianta se postar de joelhos apenas falando estas palavras, enquanto não entender que o outro não é seu subordinado, mas um irmão que obedece apenas a Deus.

“... que estás no céu”,

O céu não é um lugar físico, mas um estado de espírito. Quem está no céu é aquele que por só utiliza sentimentos positivos e, por isso, alcança a felicidade universal. Portanto, quem está no céu é aquele que reage a todos os acontecimentos com o amor universal.

Cristo ensina nesta oração que você tem um Pai que é repleto de amor para dar. Não adianta recitar estas palavras, mas sim viver com esta verdade.

Assim sendo, é preciso compreender que Deus não pode causar mal (situações de sofrimento) para você ou para qualquer um. Se Ele é o Pai, o Comandante de todas coisas e mora no céu, todas as situações estão embasadas no amor: este deve ser o seu entendimento sobre as coisas da vida. De que adianta rezar o Pai Nosso se vive achando que existem coisas que são más, que lhe causam sofrimento? Você diz que o Pai está no céu, mas age de forma como se Ele estivesse no inferno, que fosse capaz de gerar sentimentos negativos.

Na verdade é você quem julga que as coisas são erradas porque elas não satisfazem os seus desejos. Mas, você não é o dono do mundo, o Pai da família, como então quer dizer como as coisas devem ser nesta casa?

O pai biológico não faz tudo o que o filho quer, mas sempre pensa no que é melhor para o seu futuro quando o guia. Da mesma forma, Deus não provê o que você acha melhor (satisfatório), mas lhe dá o que precisa para aprender e evoluir-se espiritualmente.

A vida humana é igual à vida espiritual: o problema é saber quem é o pai e quem é o filho.

É isto que Cristo está ensinando. Orientando cada um a viver sua existência com a consciência de que tudo que acontece na vida foi o Pai que determinou que fosse daquela maneira e que é o melhor para o espírito.

Orar não é viver com as mãos postas o dia inteiro, mas alcançar a consciência que esta é a casa de Deus, que moramos nela e que Ele é nosso Pai. Saber que esta casa tem como fundamento a vivência do amor universal entre o Pai e os filhos e que, portanto, tudo que acontece objetiva a sua felicidade e não punição. Viver com a consciência da transitoriedade dessa vida e que ela é apenas uma parcela de tempo da existência infinita do ser.

Tudo que lhe acontece foi providenciado por Deus pensando nessa existência infinita.

“que todos reconheçam que seu nome é santo”.

Os santos são aquelas pessoas que não cometem erros, ou seja, praticam atos com sentimentos negativos. Portanto, quando na oração é dito santificado seja o nome de Deus, quer dizer que todos devem reconhecer que Ele nunca errará. É isto que Cristo está ensinando.

Sendo assim, você que reza o Pai Nosso tem que viver sem descobrir erros nos outros, nas situações e objetos, pois tudo que existe é Ele que faz. Tudo que acontece é perfeito na sua forma, porque Deus é a Inteligência Suprema do Universo, a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

Enquanto você encontrar erros na ação divina estará negando essa santidade, essa elevação suprema de Suas propriedades. Assim, não adianta rezar porque a oração não é a palavra, mas o sentimento que sai do coração.

“Venha o Teu reino”

Existe aí um pedido do espírito: que Deus o deixe participar do Seu reino. Todo espírito vem à carne para buscar o reino de Deus, onde existe o amor e a felicidade. O espírito não vem a Terra para fazer o que quer (satisfazer-se), mas sim para buscar participar do reino de Deus através da comprovação de que é capaz de ter somente amor dentro de si.

Você não veio aqui para fazer o que quer, mas para participar do reino de Deus, ou seja, viver com amor. A vida na carne é uma busca constante de provar que se é capaz de viver no mundo de Deus e, por isso, existe a necessidade de se viver todos os momentos da vida com esta consciência.

Enquanto você quiser ser ou fazer coisas apenas baseando-se na sua vontade, nos seus desejos, não participará do reino de Deus, pois o amor, único sentimento que nos leva a este reino, exige que haja igualdade entre todos. Para participar do reino de Deus precisamos alcançar a universalidade, eliminando o individualismo.

Para se ter amor é necessário aceitar que os outros façam aquilo que querem, sem que se veja nestes fatos erros. Não existe julgamento no mundo de Deus, pois o Pai concede o livre arbítrio aos seus filhos.

É necessário que você compreenda que veio a essa matéria carnal nesse planeta unicamente para provar que é capaz de amar e não para corrigir a todos. Cada um dos espíritos que encarnam no planeta Terra faz isso somente para realizar essa prova e nada mais é preciso para se viver esta vida.

Todas as outras coisas que você valoriza neste mundo (direito, posse, soberba, certezas) não existem: é você que cria cada um desses valores de acordo com os sentimentos que usa. Quando utilizar somente o amor descobrirá que nada mais é preciso, pois ele lhe completará: lhe dará todo o direito, toda a posse que necessita, o orgulho correto e a certeza de viver no reino de Deus.

Para que querer ter a certeza de tudo, buscar estar correto sempre, se a única perfeição do Universo é Deus? Basta apenas amar ao Pai para descobrir todas as verdades do Universo.

Querer ter razão sempre é como diz o sábio no livro Eclesiastes: é querer pegar o vento com a mão. Se você quiser pegar o vento com as mãos ele lhe escapará por entre os dedos. Da mesma forma, a razão que você imagina ter sobre um assunto sempre lhe escapará, pois os fatos alteram-se constantemente e o que hoje era de uma forma, amanhã não mais será.

Enquanto você quer pegar todas as razões esquece-se de viver e a vida passa no meio dos seus dedos. Depois, quando fica velho se pergunta: o que eu fiz da minha vida? Onde estão as verdades que defendi o tempo inteiro? Todas elas mudaram e você ficou sem nada. Se você amar, se viver a vida amando sem procurar ter razões, agarrará a vida e se sentirá na velhice pleno, cheio, feliz, pois o amor traz a felicidade.

Existe uma passagem no Evangelho de Tomé, o Dídimo, onde Cristo afirma que o homem sábio é igual a um pescador que ao puxar sua rede encontra muitos peixes pequenos e um grande. Ele separa o grande para si e joga fora todos os outros. Nestas palavras Cristo afirma que você deve procurar o que mais lhe dá felicidade, o que mais lhe completa e só o amor pode dar isso. Tendo o amor não precisa de mais nada, nem amar. Se tiver qualquer outro sentimento, alimento que não sacia a sua fome espiritual, estará sempre necessitando de mais alimentos.

Quando tiver raiva de uma pessoa, necessitará sempre alimentá-la com mais motivos. Quando só esta pessoa não mais bastar, estará procurando motivos em outra, depois outra. Sempre você estará achando erros em todos que lhe aparecem na frente para poder alimentar este ódio. Com a posse é a mesma coisa: quando você possui uma coisa, necessita sempre de outra mais. Nunca atingirá a satisfação com as coisas que tenha.

O amor traz a verdadeira satisfação por si mesmo. Quem ama não precisa de mais nada: de razão, de verdade, de certeza, beleza; não precisa de nada. Só amor satisfaz completamente.

É desta forma que Cristo lhe conclama a viver na oração do Pai Nosso: venha a nós o vosso reino. Trata-se de um pedido que o espírito deve fazer sempre: deixe-me participar deste amor, me dê este amor para viver.

Mas, como o mestre avisou logo no início do texto, Deus lhe dá recompensas de acordo com a oração feita. Assim sendo, o amor é a recompensa por uma vida de oração. Não adianta só pedir: existe a necessidade de agir, com amor, para poder participar do reino de Deus.

“Que a Tua vontade seja feita aqui na Terra como é feita no céu”.

Não adianta você rezar pedindo a Deus que seja feita a Sua vontade assim na Terra como no céu: tem que aceitar quando o Pai coloca sua vontade em prática. Quando as coisas acontecem na vida, você considera que foi você quem fez, quem realizou o ato: como então pede que seja feita a vontade de Deus? Quando alguém age e você não gosta, diz que foi ele que agiu contra você.

Tudo o que lhe acontece é vontade de Deus e deve ser enxergado desta forma: isto é viver em oração. Não é a outra pessoa que lhe ofende porque quer (pratica atos pela vontade dela), mas ela age desta forma porque Deus mandou que fizesse assim: foi a vontade do Pai e não da pessoa.

É o Pai, o dono da casa, quem comanda todos os seus filhos para interagirem-se praticando atos que os outros precisam e merecem passar ou fazer. Deus só deixa que a Sua vontade ocorra no universo para que a Justiça Perfeita nunca seja quebrada.

Mas, viver em oração não é pensar nisso só nos momentos onde imagina que não tenha controle da situação, mas a todos os momentos. Você pede a Deus que seja feita a Sua vontade, mas só aceita que Ele opere quando você se sente incapaz.

Deus tem que estar presente em qualquer ato, por menor que seja. Uma topada provoca dor, que é um sofrimento, portanto, precisa da autorização de Deus para que isto aconteça, pois você pode não merecer esta dor.

Tudo que qualquer um consiga fazer na sua frente é comandado por Deus, pois só pode acontecer a você o que merece (positiva ou negativamente). Entretanto quando alguém faz alguma coisa que você não acha certa, imagina que ela fez por livre e espontânea vontade. Neste momento parte para o revide, para a agressão, ou fecha-se no sofrimento: qualquer das duas formas estará ofendendo a Deus, pois não viu o ato como da vontade Dele.

Se Deus ordenou que a pessoa fizesse determinado ato, ela serviu apenas de intermediário entre você e a vontade do Pai. Quando parte para o revide, está revidando contra Deus. Quando não reage, mas sofre, sente-se injustiçado, acusa Deus, causador do fato, de injusto.

Viver orando que seja feita a vossa vontade é não encontrar erro em nada que acontece porque tudo é originado Nele. Admitindo que Deus causa tudo em sua vida, não haverá necessidade de sofrer, pois sabe que se trata do seu Pai tentando ensinar-lhe, com amor, para que cresça espiritualmente.

Na verdade você reza por toda uma vida dizendo que seja feita a vossa vontade, mas quer ter vontade própria. Que seja feita a sua vontade, desde que seja o que eu queira: mesmo que não sejam estas as suas palavras, esta é a sua forma de viver.

Quando Ele se atreve a fazer o que você não queria, parte para agressão: ‘porque se esqueceu de mim’, ‘olha como estou sofrendo’, ‘onde está o Senhor que não vem me ajudar’.

Viver em oração é ter a consciência de que tudo que acontece é obra Dele. Isto é viver rezando: isto é rezar. Não adianta ajoelhar-se em frente de imagens, postar as mãos: não é isto que Deus quer de seus filhos. Ele sabe que apenas aqueles que viverem em oração, ou seja, com esta visão sobre as coisas, alcançarão a evolução espiritual.

Orar é viver em oração, é viver dentro dessas verdades: não existe outra forma de orar a Deus. Para que procurar determinados lugares (igrejas, centros, cultos) se Deus está em todos os lugares, principalmente dentro de você mesmo.

Isto não quer dizer que você não possa ir a uma igreja e rezar para um santo e conseguir uma graça. O que estamos afirmando é que não é necessário fazer isso. Se você for a uma igreja e orar com fé, poderá receber a graça, se isso for o melhor para a sua existência eterna, mas não a receberá por conta da oração, mas porque aquilo era o que merecia naquele momento.

“Dá-nos hoje o alimento que precisamos”.

Se você vive em oração sabe que o alimento que abastece diariamente a sua mesa não é conquistado pelo seu poder monetário, mas provem de Deus. Seja uma mesa farta ou um cardápio minguado, todo alimento que sustenta o corpo físico é dado por Deus visando a elevação espiritual de cada um.

Quando falamos em alimento não devemos nos ater apenas a comida, mas tudo aquilo que alimenta o corpo físico. Aí devemos incluir as posses materiais, os bens, as roupas. Enfim, todos os elementos materiais que um ser tem a sua disposição são dados pelo Pai.

Porque, então, alguns têm muito e outros pouco? Porque existem seres que vivem no fausto e outros passam necessidade? A resposta a essas perguntas é a Justiça Suprema e o Amor Sublime.

Para dar a cada filho o que ele necessita para a sua existência, Deus age visando colocar à sua disposição instrumentos que sirvam para a realização das provas individuais. Se o espírito necessitar vencer o excesso, ter sentimentos que promovam a universalização dos bens materiais, Deus disporá ao ser grande quantidade. No entanto, se a sua prova for aprender a receber, Deus promoverá a penúria. Somente com a dependência o ser aprenderá essa lição.

Dessa forma, não há governo responsável pela fome, mas Deus que dá a cada um de acordo com a sua necessidade. Os governantes que não promovem a justiça social são apenas instrumento de Deus para promover a Justiça divina. Também não há patrão explorador, que remunere mal seu empregado: apenas instrumentos para a vontade de Deus.

Além do mais, se Deus é o Senhor do universo, a empresa não é do ser humano, mas propriedade de Deus emprestada como instrumento de prova. Se você está trabalhando nela é porque o real patrão (Deus) o escolheu e ali colocou, pois é o que você necessita para receber o maior salário que pode existir: o amor divino.

Os sentimentos são alimentos para o espírito. Assim, quando Cristo nos ensina que devemos viver com a crença de que Deus nos dá todos os alimentos, também o amor nos será dado pelo Pai. Ninguém pode lhe dar sentimento algum a não ser Deus.

Aquele que imagina que o filho, o esposo, a mulher ou o amigo pode lhe dar sentimentos apenas reza e não vive em oração. Quem depende de um ser humano para se sentir amado é porque ainda não encontrou a Fonte universal dos sentimentos: Deus.

O Pai enviará os sentimentos (alimento) ao filho de acordo com o seu merecimento. Trata-se de uma forma de pagamento pelos trabalhos prestados. Aquele que vive em um mundo onde Deus é a Causa Primária de todas as coisas receberá um salário maior, mas aquele que vive em um mundo onde o próximo é o seu inimigo, causador de sua infelicidade, receberá um salário compatível com a sua produção.

Quando se vive em oração, pedindo a Deus que proporcione o alimento necessário para a existência, volta-se na busca de render mais para Deus. Esses terão supridas as suas necessidades, mesmo que nada possuam. Mas, quando se vive imaginando que é capaz de conquistar o alimento, a vida não proverá as necessidades de cada um, por mais que tenha.

Portanto, você deve buscar viver em harmonia com o universo, agindo exclusivamente com o amor universal, para que receba todos os alimentos que lhe sustentará. Apenas dizer essas palavras não garantirá o sustento.

“Perdoa as nossas ofensas como também perdoamos os que nos ofenderam”.

Pedir a Deus que perdoe as nossas ofensas é uma redundância. O Pai não pode acusar um filho de nenhum dos seus atos físicos porque é Deus quem idealiza e comanda a execução de cada ato (Causa Primária). Não pode também acusar o filho pelos atos espirituais (escolha de sentimentos para reagir a acontecimentos) porque concedeu a cada um o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade da prática desses atos.

O perdão que Cristo nos ensina a pedir não é a Deus, mas aos nossos semelhantes. Quando o ser promove um ato que fira os conceitos do próximo (ofensa), gera uma situação onde esse poderá escolher sentimentos negativos para reagir. É por ter merecido se transformar no instrumento de Deus para essa prova para o próximo que o mestre nos aconselha a pedir o perdão ao irmão.

Quando pedimos perdão ao nosso semelhante não estamos implorando por clemência, mas que o nosso ato não seja entendido como errado. É da consciência que cada ato é planejado e comandado pelo Pai de acordo com o merecimento e necessidade dos envolvidos que nasce o perdão. Somente essa consciência pode levar ao perdão, ou seja, a não acusação de erro.

Assim, quando Cristo nos diz que devemos pedir perdão por nossas ofensas, concita-nos a implorar ao próximo que não veja erro em nossos atos, mas que os receba como justos e necessários. Só assim ele poderá recebê-los com amor. Quando isso acontecer nos banharemos nesse sentimento e não nos tornaremos, futuramente, merecedor de servir de instrumento a Deus para novas situações negativas para os outros.

Entretanto, a oração ensinada pelo mestre não termina com o pedido de perdão para nossos atos, mas coloca essa forma de agir na dependência de também nós perdoarmos o próximo. Para que possamos receber amor dos outros é necessário que também os amemos. Tudo que o espírito recebe de Deus é conquistado pelo merecimento.

Enquanto o ser não reagir a todos os acontecimentos sem ver erros nas ações do próximo, não poderá ser colocado por Deus para praticar atos na frente daqueles que podem reagir com amor. Enquanto sua reação for com sentimentos negativos o espírito merecerá ser colocado face àqueles que utilizam esses mesmos sentimentos.

De nada adianta ao ser orar pedindo perdão a Deus por seus atos enquanto não viver a vida perdoando aqueles que contraiam os seus desejos.

“E não nos deixes cair em tentação”.

Apenas aquilo que desejamos e não temos é que se transformam em tentações. Se não desejarmos ou já possuirmos, a tentação não existirá.

Quando oramos pedindo a Deus que não nos deixe cair em tentações, estamos implorando ao Pai que não nos deixe desejar nada. O desejo nasce da vontade individualista de cada um. Para acabar com o desejo precisamos compreender que já temos tudo o que necessitamos.

Deus provê a cada filho com todos os instrumentos necessários para a sua evolução. Se você possui um palacete é porque aquilo lhe é útil, mas se reside em uma choupana é porque Deus sabe que ela é o instrumento perfeito que você necessita.

Aquele que deseja o que não tem à sua disposição não consegue bem utilizar o instrumento que Deus dispôs.

Você reza a Deus diariamente pedindo a Ele que não lhe deixe querer nada além do que tem, mas o faz sempre pedindo algo mais. Quer saúde, dinheiro, proteção: tudo isso você já tem na justa e necessária medida.

Viver em oração é saber que já possui tudo o que precisa para ser feliz. Desejar qualquer outra coisa é ceder às tentações. Todas as coisas no universo que você não possui são tentações, ou seja, objetos que não lhe servem como evolução espiritual. Desejá-los, apenas, já é cair na tentação.

“mas, livra-nos do mal”

Quando o ser prepara-se para a vida carnal está cônscio de toda a realidade espiritual. É com base nessa consciência que ele escreve a sua vida carnal. Pede situações que possam auxiliá-lo a elevar-se espiritualmente participando de toda a glória celeste. Louva a Deus pela chance que lhe é oferecida e comprometa-se a se aplicar no sentido de executar todas as provas que se dispôs.

Quando se prende à matéria densa os valores de sua consciência alteram-se e o desejo e o individualismo nascem. Com isso a sua busca se altera. Se antes do nascimento o ser quer participar da glória celeste agora busca a satisfação.

Dentro desses parâmetros, podemos perguntar: o que é bem ou mal? Para o ser desencarnado o bem será tudo aquilo que lhe servir como instrumento para participar do reino de Deus, mas quando encarna, o bem será tudo aquilo que contentar os seus conceitos.

Quando pedimos a Deus para nos livrar do mal, fazemos com a consciência de encarnados, mas o Pai entende com a consciência espiritual. Desta forma, o que é mal para nós não o é para Deus.

Sabe por que você que reza e não alcança a sua satisfação? Porque pede a Deus na oração que não a promova. Quando reza pedindo ao Pai que o livre do mal está dizendo a Ele que não satisfaça os desejos de sua consciência material.

Viver em oração é viver com essa consciência. Tudo que nos acontece é obra de Deus como instrumento para nossa elevação. Foi fruto de nossa própria requisição quando ainda tínhamos como objetivo à glória divina.

Adoração

Vivendo a oração de São Francisco

“Senhor, fazei-me um instrumento da vossa paz”.

 Neste primeiro verso descobrimos um ponto fundamental para a vida: viver para ser instrumento de Deus. É isto que Francisco de Assis nos leva a compreender desde o início.

Quando pede para ser instrumento da paz de Deus (“vossa”) ele demonstra que não quer agir por individualismo, a partir de nenhuma vontade própria (ser instrumento da paz dele). Todo seu sentimento está voltado em ser vir ao Pai e por isto a única coisa que ele sente é o desejo de ser “instrumento” da paz de Deus.

A partir deste aspecto, para que possamos colocar a “Oração de São Francisco” como um guia para a vida, nós devemos compreender que, na visão do santo, há a necessidade de que cada um retire da sua existência tudo aquilo que acha, sabe, conhece (individualismos) da vida.

O sentimento que deve pautar a vida de cada ser humanizado é o desejo de ser simplesmente instrumento consciente de Deus. Falo em instrumento consciente, pois inconscientemente todos já somos.

Francisco de Assis, neste primeiro verso, portanto, não pede a Deus que seja feita a sua vontade, mas que o Pai o utilize para participar das ações do mundo servindo de instrumento consciente da Sua obra.

Neste pedido se reconhece a ação do sentimento básico para esta vida: fé. Pedir a Deus para ser conscientemente instrumento do Pai e entender o mundo como ação de Deus (emanação divina) é o exercício da fé: confiança total e entrega absoluta a Deus.

Exemplifiquemos. Francisco apesar de gostar dos bichos não acusava quem os maltratasse. Socorria os feridos, ajudava-os, mas nunca criticava quem agia como instrumento de Deus promovendo ações que “ferissem” os animais.

Se ele assim fizesse estaria vivendo a sua vontade de que os bichos não fossem machucados. Vivendo com estes sentimentos teria que criticar e atacar aqueles que agissem provocando danos aos animais. Esta forma de proceder demonstraria a não compreensão da ação de Deus (Causa Primária de todas as coisas): tudo emana de Deus.

Ele não podia condenar os agentes do carma dos bichos, pois desde o início da sua oração declara: “Senhor, fazei de mim um instrumento de SUA paz”. Se atacasse quem foi o agente carmático do ferimento nos animal, Francisco estaria exercitando a não entrega, ou seja, a não concordância com a emanação divina.

Francisco quer levar a paz de Deus ao mundo (consciência da ação carmática emanada por Deus como fonte de elevação espiritual), não a guerra (a luta pelo prazer, pela realização dos desejos individuais frutos de paixões humanas). Por isto abre mão de retaliações, mesmo que por pensamento.

Caso alguém houvesse machucado um animal, Francisco se preocupava em socorrê-lo. No entanto, para isto não precisava abrir guerra (crítica, acusação) contra quem o machucou. Agia em socorro e defesa dos animais, mas não reconhecia na ação um mal nem outro causador a não ser o próprio Pai.

Isso é fazer a paz de Deus: amparar, auxiliar, ajudar quem está vivendo a sua ação carmática, mas sem críticas alguma a ninguém como instrumento causador de maldade, ou seja, compreendendo que ação provêm de Deus e não do homem e por isto é justa e necessária.

Esta também deve ser a forma como cada espírito ligado a um ser humano deve viver a sua encarnação. Se ele passa em uma esquina e lá se encontra alguém passando fome, deve ajudá-lo.

Pode servi-lo dando um prato de comida, levando-o para casa, dando banho, auxiliando-o a conseguir um emprego, ou seja, fazendo tudo que estiver ao seu alcance, mas jamais destruindo a paz de Deus (o que está acontecendo), criticando a sociedade, o presidente da república ou qualquer outra pessoa de ser o “culpado da situação daquele ser humano”.

Isto é servir de instrumento a Deus para levar a paz. Levar a felicidade a quem sofre (passa por uma ação carmática que o desgosta) sem que para isto seja necessário guerrear contra os outros que levam, aparentemente, vantagem sobre a situação daquele que está sofrendo.

Nesta primeira frase da oração, portanto, entendemos que o sentimento básico para se ter todas as outras coisas é a fé e que, a partir do momento que haja esta entrega com confiança a Deus, o ser humano simplesmente age para ajudar ao próximo sem colocar nenhum dos seus individualismos em ação.

Sem colocar nenhum acento a mais no que Deus escreveu, sem colocar uma letra para dizer o que acha individualmente da situação.

Agindo dessa forma o espírito ligado ao ser humano estará levando a paz de Deus àqueles que precisam da paz, ou seja, todos: tanto os que estão na situação chamada de sofredora quanto àqueles que a humanidade acusa como causador da situação.

Todos precisam da paz de Deus, ou seja, da compreensão da emanação divina. Guerreando contra aqueles que estão fazendo a ilusória maldade os espíritos não estarão levando esta paz a eles. Criticar alguém por não fazer nada para ajudar os necessitados e imaginar que por isto outros passam fome, não se leva a paz de Deus.

Quem guerreia acusando outro ser humano como agente da situação, direta ou indiretamente, busca implantar a sua paz, ou seja, estabelecer as suas condições individuais para o mundo. Agindo desta forma, o espírito estará levando para as pessoas a palavra que ele queria e não as de Deus.

Para se levar à paz de Deus aos homens é preciso que ela seja levada para todos os envolvidos no episódio. É preciso auxiliar a todos: aquele que está passando pela situação de necessidade e aqueles que, direta ou indiretamente são os causadores da situação.

Agindo assim o ser humanizado auxilia a Deus, pois ama a todos de uma forma equânime, de maneira igual. Agora, socorrendo um e acusando outros, age preso no individualismo, no que quer, no que acha correto a partir da sua compreensão limitada sobre os acontecimentos da vida.

Portanto, na sua vida, pare de achar culpados. Para de colocar culpas em outras pessoas. Para culpar alguém há a necessidade de se criticar e quem age dessa forma não será um instrumento da paz de Deus, mas do que ele quer (paixões e desejos individualistas).

Auxiliar um criticando outro não é um ato de caridade, mas uma guerra de domínio para que se consiga impor a paz individualista (contentamento de paixões).

 Participante: a palavra individualismo nunca foi tão entendida como agora.

Eis aí o grande problema da humanidade: o ser humanizado que se baseia naquilo que quer para vivenciar o mundo. Viver o que acha, saber apenas o que sabe: nesta forma de vivenciar as situações do mundo se denota o individualismo.

Para se aproximar de Deus, conectar-se com Ele, não se pode estar individualista. Só na hora que você abandona todo o seu saber e querer é que pode alcançar o universalismo, ou seja, Deus.

Enquanto você souber não compreenderá Deus agindo.

 “Onde houver ódio que eu leve o amor”.

 O que é ódio? É o individualismo insatisfeito. Quando o ser humanizado não consegue o que quer, quando não gosta do que é feito, cria, primeiramente, a mágoa e a frustração. Elas se transformarão em raiva que levará ao ódio.

Se o ódio nasce da contrariedade, o amor, aquilo que Francisco pede para ser instrumento, então, é a satisfação com as coisas da vida ou a felicidade sob quaisquer circunstâncias.

Além disto, não podemos nos esquecer que Francisco pede para que se transforme em instrumento consciente da vontade de Deus (“vossa”). A partir destes aspectos analisemos, portanto, o ensinamento.

São Francisco, portanto, pede a Deus que, onde houver seres humanizados que tenham seus individualismos feridos (ódio) que ele leve o amor. Mas não um amor qualquer, mas aquele que reflita a vontade de Deus (amor universal).

Este é o desejo expresso neste verso, esta é forma de viver que Francisco quer para ele: que na sua vivência dos acontecimentos seja instrumento para levar a quem tem o individualismo ferido o amor a Deus que leva o ser humano a viver em estado de graça (felicidade incondicional).

Aí eu pergunto: se alguém quer uma coisa e não consegue, como se levar a esta pessoa a felicidade? Como levar a quem está passando por uma situação de sofrimento a felicidade?

Ensinando-o a compreender a vida a partir da Realidade espiritual, a compreender o universo, ou seja, a compreender o que chamamos de lei do carma.

O individualismo é o querer para si, mas se um espírito ligado a um ser humano não precisa nem merece de um determinado acontecimento, Deus não lhe dará o fruto do seu desejo simplesmente porque ele quer, para satisfazê-lo. O Pai só dará a cada um aquilo que ele merecer.

Portanto, para se receber algo do Pai é preciso que se faça por onde merecer: não basta apenas querer. O que gera o merecimento para o espírito é, no momento onde é contrariado, amar a situação, ou seja, ser feliz incondicionalmente. O amor gera um tipo de carma; o individualismo gera outro.

Desta forma, quando Francisco de Assis diz “Senhor, onde houver ódio que eu leve o amor”, ele está falando: ‘Senhor, onde houver individualismos feridos, que eu leve a compreensão da Vossa ação, que eu leve a estas pessoas a Sua palavra, a Sua presença dentro da máxima do Cristo: Deus dá a cada um segundo as suas obras’.

Isto é levar o amor a quem tem ódio. ‘Você está com raiva do que? O que não gostou? Veja bem, foi Deus quem que colocou isso que você não gostou na sua vida. Foi o Pai que fez isso acontecer como uma nova oportunidade de elevação. Ame a Deus, sinta-se amado pelo Pai que você gerará um carma diferente. Se ficar preso ao individualismo, ao desejo, ao seu querer, Deus terá que lhe colocar novas provas, ou seja, vai ter que ir contra o seu individualismo mais vezes’.

Isto é levar o amor para quem tem ódio. Isso é levar a felicidade incondicional para aquele que está sofrendo por ter a sua individualidade ferida. Não é passar a mão na cabeça e dizer coitadinho de você, que pena, nem brigar, acusando-o por qualquer motivo.

Auxiliar o próximo levando amor para quem ódio é, baseando-se na palavra de Deus, na palavra do Cristo e dos mestres, dizer a ele: ‘você sofrerá enquanto tiver individualismos’. Este é o sentido da oração de Francisco de Assis.

Agora que já conhecemos o que Francisco fala, vamos compreender este ensinamento na vida diária de cada um, na vivência das situações.

Quando você se defrontar com alguém que está com ódio (teve seus desejos contrariados) deve ajudá-lo levando-o a compreender a ação carmática que está vivendo.

Pode dar o prato de comida para quem tem fome, o emprego, o banho, enfim, ajudar de todas as formas materiais, mas é preciso fazê-lo compreender que não pode se revoltar contra a situação que está vivendo. Para isso é preciso levar a palavra de Deus, pois afinal, Cristo ensinou: nem só de pão vive o homem.

Levar a palavra de Deus é ensiná-lo que não é vítima de ninguém, nem de nada. Ele é um espírito vivenciando o seu carma e precisa amar a situação carmática que está vivendo hoje.

Sem amar esta situação jamais gerará um carma diferente, pois aquela situação foi criada por causa de um individualismo que o levou a se contrariar em um momento anterior da sua existência.

Esta forma de proceder é ser um São Francisco, é agir como ele. Não é só passar a mão na cabeça de quem está sofrendo dizendo coitadinho de você ou simplesmente dar o prato de comida e virar as costas. É preciso, para se auxiliar o próximo, dar a vara e ensiná-lo a pescar e não apenas ficar alimentando-o com o peixe, que é um alimento fugaz e não nutre a alma.

É amar e ensinar aos demais a amar incondicionalmente. Amar a vida do jeito que ela está e ensiná-los esta forma de viver, ao invés de colocá-los no pântano do ódio, ensinando-os a acusar qualquer pessoa de ser o “causador” daquela situação. Isto é fomentar o ódio ao invés de levar o amor.

Amar é não só dar a caridade física, mas ensinar o próximo a amar, ou seja, ensinar ao próximo que aquilo pelo qual criou uma revolta é o amor de Deus em ação, pois é uma nova oportunidade para que ele possa evoluir.

E com o ilusório opressor que faz os outros sofrerem, como agir? Amá-lo e não criticá-lo.

Ele já está cheio de sentimentos diferentes do amor que são os frutos dos seus individualismos. Se você penetrar nesse padrão vibracional apenas fomentará o próprio individualismo dele.

Amá-lo e ensiná-lo a não ter prazer na ação carmática da qual participou, ou seja, não se sentir feliz por ter conseguido vantagens desta forma. Isto é importante porque este foi um momento de aparente vitória material, mas se ele tirar proveito da ação de Deus (ter satisfação, prazer) estará gerando um carma onde o seu individualismo que agora foi satisfeito será, pela impermanência das coisas, pelas vicissitudes da vida, destruído.

Isto é ser um São Francisco: ensinar os dois a amar dentro dos seus papéis da vida e não querer alterar esses papéis.

Havendo um que tenha necessidade de passar pela fome, há necessidade de que alguém seja o instrumento da fome: estes são os papéis que cada um desempenha ao longo da vida.

Compreendendo esta Verdade universal, aquele que neste momento for instrumento da fome sem prazer, mesmo que tenha aparentemente prejudicado alguém, atingirá o amor universal. Por isso o Krishna ensina que o sábio está livre do mérito ou demérito nas ações.

 Participante: gostaria de saber se São Francisco de Assis já reencarnou?

Sim, o espírito que vivenciou a vida Francisco de Assis já reencarnou outras vezes depois daquela encarnação que conhecemos. Não se encontra agora encarnado, mas já reencarnou.

 “Onde houver ofensa que eu leve o perdão”.

 Ofensa é sentimento que denota um individualismo ferido. Um espírito só se sente ofendido quando o que acha, quer ou gosta, não acontece.

Novamente a mesma situação humana do verso anterior: individualismo ferido. Desta vez, porém, para contrapor a este procedimento do espírito humanizado Francisco pede a Deus que ele seja instrumento do perdão. Portanto, precisamos compreender o perdão para encontrar a forma de vida sugerida na oração.

Para os seres humanizados perdoar é uma coisa muito fácil, mas até hoje não conheço ninguém que tenha perdoado de verdade, a não ser aqueles que alcançaram a evolução espiritual. Isto porque para os seres humanizados perdoar é deixar de dar o castigo a quem merecia recebê-lo.

Alguém pisa no seu pé, por exemplo, você sente dor, sofre, acha errado ter recebido a pisada, mas o perdoa, ou seja, não pisa no pé dele de volta.

Pelo exemplo acima podemos, então, afirmar que se alguém fez alguma coisa “errada”, você o perdoa dentro da visão humana, ou seja, não o castiga, mas continua afirmando que houve um erro, algo que não deveria acontecer ocorreu.

Neste caso não houve perdão de verdade. Apesar de você aparentemente não haver castigado o agente da situação, ainda continua acontecendo um castigo, mesmo que não físico: a crítica, a acusação.

Você não o perdoou de verdade porque vivenciou uma crítica, um apontar de erro, que também é um castigo. Perdão é mais do que não penalizar fisicamente. Perdão é o que o Cristo ensinou na cruz: “Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem”.

Se analisássemos a intenção de cada um durante os acontecimentos, eu diria que ninguém faz nada errado, pois todo mundo age partir de uma convicção individual de que o que está fazendo é correto. Mesmo os que ferem a lei fazem consciente de que a estão ferindo, fazem porque acham que sabem o que estão fazendo. Ou seja, possuem motivos para agir desta forma que lhe dão a convicção que estão certos. Um bandido, por exemplo, sabe que é errado roubar, mas ainda assim cai no delito porque não tem como se sustentar, porque precisa alimentar sua família, etc. Ou seja, ele encontra motivos que para ele são reais para agir.

Se eles fazem movidos por uma convicção individual não deveriam merecer a crítica, pois, para eles, estão certos ao agir dessa forma. Eles não agiram errados, pelo menos a partir do seu ponto de vista.

Quando Cristo na máxima afirma eles não sabem o que fazem está dizendo exatamente isto: ‘Pai, eles estão agindo imaginando que estão ‘certos’, mas nós, eu e Você, sabemos que eles são apenas instrumentos da Vossa vontade’.

Portanto, perdoar não é só simplesmente deixar de castigar, mas nem ver erro, ou melhor, perdoar é dar ao próximo o direito dele estar certo a partir do seu ponto de vista. Não encontrar nada errado no que as pessoas fazem, ou melhor, não julgar as pessoas pelo seu ponto de vista é perdoar. Para isto é preciso que o seu pensamento seja este: ‘ele praticou a ação achando que estava ‘certo’ e agiu em nome de Deus. Por isto, eu me eximo em dizer se ele está ‘certo’ ou errado’’.

Quem age faz o que tem que ser feito: não há nada a ser criticado. Quando a humanidade compreender isso, não precisará ficar ofendida e aí as críticas aos outros acabarão e o verdadeiro perdão surgirá.

O perdão real surge da utilização da igualdade, sentimento que forma o amor universal.. Esta igualdade é que leva à liberdade de cada um.

A igualdade que estamos nos referindo não se refere à formação de cópias (todos serem iguais a você), mas no direito de cada um ser diferente do outro. Quando utilizada, a igualdade leva o espírito a conceder ao próximo a liberdade dele fazer e ser o que quiser, sem que por isto seja alvo de críticas ou acusações.

Viver com este sentimento, ou seja, ver os acontecimentos dentro desta realidade é amar e perdoar, pois perdão é amor.

Cristo ensinou que precisamos amar ao próximo, ou seja, nem ver erro no que ele está fazendo. É para cumprir esse mandamento que São Francisco de Assis está pedindo a Deus que leve àqueles que se sentiram ofendidos a compreensão de que ninguém faz nada errado.

Pede para que seja instrumento para ensinar que todos agem por uma motivação pessoal (individualismo), mas que só chegaram a agir frente à determinada pessoa porque esta precisava e merecia (carma) alguém que provocasse aquela situação.

Se este ser humano não houvesse gerado a necessidade da ação carmática ninguém poderia ter agido de tal forma. Assim, se existisse um culpado naquele momento, era o próprio espírito humanizado que, em momentos anteriores, criou para si este merecimento e não o próximo que foi mero instrumento para dar àquele o que seu merecimento.

 A lei do carma é inexorável. Se não fosse aquela pessoa seria outra, mas o carma não deixaria de acontecer e para isso seria preciso um instrumento para criar a situação carmática.

Ensinar isto a quem se sente ferido é levar o perdão. Para isto é preciso dizer ao próximo que estiver ofendido: Pare de acusar os outros. Aprenda: ele é instrumento de Deus. Foi Deus quem realizou a situação na sua vida. Apenas utilizou-se daquele espírito como instrumento.

A ação do próximo como instrumento do carma do ser humanizado foi transmitida claramente através de O Livro dos Espíritos na pergunta 132:

“Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Isto é levar o perdão onde houver ofensa. É chegar para aquele que está passando fome e dizer: ‘ninguém está agindo contra você. Não há motivos para acusar alguém da sua situação nem porque ficar ofendido. Quem está criando a situação que você está vivenciando é Deus. Não se ofenda, não se magoe, não se deixe levar pelo individualismo’.

Estamos falando de atitude moral, sentimental. Com relação à atitude materiais, você pode até dar um prato de comida, mas de nada adianta você alimentar quem necessita sem ensinar isto a ele, sem levar a palavra de Deus. Relembremos mais uma vez o Cristo: nem só de pão vive o homem.

Quando você dá apenas o peixe, sustenta a barriga, mas não sustenta o espírito. Com raiva essa pessoa vai ter dor de barriga; ofendido, terá problemas estomacais como resultado do sentimento que está nutrindo.

Aí você afirma que a doença do faminto é verme, que ele é doente por que é mendigo, mas não é nada disso. Simplesmente a ofensa que ele está carregando dentro de si é que está lhe fazendo passar mal.

Levar a paz de Deus a quem está ofendido é dar ao outro a compreensão de que as pessoas são instrumentos da vontade divina e que por isso tem que ser perdoados. Mesmo quem recebe uma lança enfiada na barriga, mesmo quem pede água e recebe fel, precisa perdoar, precisa aprender a perdoar, ou seja, descobrir que o acontecimento ocorreu porque ele precisava (reação carmática) e merecia (nova oportunidade para amar a Deus acima de todas as coisas) aquilo que está acontecendo.

 Pergunta: Por que a raiva para um é luxo e para outro veneno?

Depende do ‘prazer’ que você sente ao ter raiva. Se você gosta de ter raiva, será um luxo. Agora se você não gosta, será um veneno.

 Pergunta: O senhor disse que nós escolhemos os nossos amigos espirituais para passarmos por nossas provas espirituais mais difíceis. Pedimos para nossos amigos servirem de instrumentos para nós. Apenas esquecemos de nossos pedidos quando estamos encarnados. Perdoar e lembrar que amamos nossos queridos irmãos que servem de instrumento de Deus e amá-los sem lembranças mesmo é o que devemos fazer?

Sim, isso é prova de fé.

 Pergunta: Já que você afirmou que Francisco de Assis já reencarnou, seria possível saber quem ele foi?

Isso é simples curiosidade, não há necessidade de ser respondido, pois em nada influencia na elevação espiritual.

 Pergunta: Joaquim nos fala de São Francisco de Assis, de Jesus Cristo e nós, pobres espíritos, fomos educados num sistema totalmente longe da santificação. Isso não é “areia demais para o nosso caminhão”?

Você já leu a história de São Francisco? Ele também foi educado longe da santidade, talvez mais do que você, pois era rico, senhor de terras e nobre. Foi criado para seguir a tradição da família.

Você já leu a história de Jesus? Ele também não nasceu santo. O problema é que nós só conhecemos o santo depois que alcança a santidade. Por isso não entendemos que ele também teve que vencer suas batalhas para alcançar este estado de espírito.

Dessa forma, se Chico Xavier, Chico de Assis, Jesus, Joana D’Arc, Santa Clara, conseguiram vencer o mundo, como Cristo disse que venceu, você também pode. É tudo uma questão de decisão, ou seja, decidir o que quer para a sua vida.

Decidir com que base vai vivenciar a sua vida, mas principalmente abrir mão de outros caminhos. A partir do momento que você decidir buscar uma vida São Francisco, precisa abrir mão do prazer de ser contentado, senão não conseguirá. Esta afirmação pode ser comparada simbolicamente ao ato de São Francisco retirar as roupas caríssimas e colocar o saco de estopa.

No entanto, estamos citando este ato de Francisco de Assis figuradamente: você não precisa abandonar sua casa, suas propriedades nem sua roupa. Agora, você deve abandonar todas as suas posses (ter verdade sobre as coisas) e realizar sua santidade.

 Pergunta. Concordo, mas para isso é preciso uma ajuda de cima.

Essa ajuda acontece cada segundo na vida humanizada do espírito. A cada micro fração de tempo existe uma pergunta de Deus que lhe ajuda a viver assim: ‘e agora, você vai amar a quem, a você ou a Mim’?

Cada segundo da sua vida é uma dramatização onde está embutida esta pergunta de Deus. Quando você gosta do que acontece e ama a você mais do que a Deus, tem prazer; quando você não gosta e se ama acima de tudo, sofre; mas, se você ama a Deus acima de todas as coisas, vive sempre em paz: sem prazer ou dor.

 “onde houver discórdia que eu leve a união”.

 A discórdia existe quando duas ou mais pessoas estão brigando, ou seja, onde há espíritos defendendo o seu individualismo para sobrepor a sua vontade a do outro. Para estes, que eu leve a união: é o pedido de São Francisco.

A união, congraçamento, só acontecerá com o fim das vontades individuais. Jamais haverá união enquanto um espírito tiver vontade individual, pois não existem dois espíritos que querem a mesma coisa com a mesma intensidade.

Para que se possa levar união, portanto, existe a necessidade de ensinar cada um a amar o que tem ao invés de querer possuir as coisas, ou seja, impor o seu individualismo ao do próximo. Este é o trabalho que Francisco de Assis pede a Deus que lhe faça instrumento: levar a cada um a compreensão de que ele já tem tudo o que precisa para ser feliz.

Mas, mais do que isto, explicar a cada um que ele não consegue ser feliz não porque seja azarado ou porque ninguém gosta dele, mas porque está preso ao seu individualismo, ao seu ego, que só lhe deixa ser feliz quando suas verdades são contentadas.

Mesmo assim, quando a verdade atual do ego for contentada, não se pode dizer que o ser humanizado será realmente feliz, pois enquanto existir o ego estará sempre cobrando coisas novas (criando desejos) para poder haver o prazer da conquista.

A humanidade tem uma frase que diz assim: amo tudo que tenho, mas não tenho tudo que amo. Isto é mentira, pois se você ama alguma coisa que não tem é sinal de que não gosta do que tem: o que tem não lhe satisfaz e ainda precisa de mais coisas.

É a desunião que está estampada nesta frase, pois quando você vai buscar o que acha que ama e que não tem acabará tirando do próximo as verdades dele, as suas coisas materiais, os seus acontecimentos esperados, a realização de seus desejos.

Levar a união é ensinar a cada um que ele tem o que precisa e merece: os instrumentos necessários para as suas ações carmáticas. Levar a cada um que ele é um filho amado de Deus e que o Pai não deixaria de dar ao seu filho tudo aquilo que ele precisasse para ser feliz, espiritualmente falando. Isto é ser um São Francisco; isto é levar a união.

Esta é a missão de São Francisco. Ele percorreu o mundo dizendo: seja feliz com o que você tem, não queira mais coisas.

Só agindo como ele poderemos promover a união entre os povos, entre as pessoas. No entanto, é preciso mais do que levá-las a se conformar com o que tem, mas a amar o que não tem. Amar não só o que possui, o que tem materialmente sobre seu controle, mas amar as faltas, aquilo que não tem.

‘Graças a Deus, louvado seja o Pai porque eu não tenho um prato de comida’. Para viver desta maneira é preciso compreender que a fome que Deus dá é o que é preciso e que por isso não se deve querer comida.

Não estamos falando em não comer. O ensinamento é de que cada um não deve viver na dependência da comida para ser feliz: tendo ou não, seja feliz.

Enquanto um espírito depender da comida para ser feliz, enquanto a ausência desta for algo que atrapalhe a felicidade, não estará unido com quem come e aí ocorrerá à desunião, a briga para ter a comida que o outro possui.

A união que Francisco de Assis prega não é uma união qualquer: é uma união espiritual. É uma união entre irmãos, uma união universal onde todos os espíritos se fundem num só, que você chama de Deus. Isto só será conseguido quando todos compreenderem que Deus dá a cada um segundo a sua obra.

Claro, existe um Deus ser, mas Ele também é o todo universal: é todas as coisas que existem e a falta delas, pois tudo é emanação do Senhor Supremo. Com o fim da individualidade e a fusão no universalismo, poderemos compreender que também somos deus, estamos em Deus.

É isso que Francisco de Assis pede ao Pai: que ele leve a cada um a compreensão de que já tem tudo que precisa para ser feliz, na abundância ou na carência. Pede também para servir de instrumento para ensinar ao próximo que ele não é feliz por desejar ter diferente do que tem.

Estamos exemplificando os ensinamentos de cada verso sempre de pessoa para pessoa, mas vamos falar de povos? Como acabar com a guerra entre os judeus e os árabes?

Mostrando ao árabe que Alá afirmou que lhe proveria com tudo o que precisava. Alá deu o povo judeu ao lado dos árabes e se proveu desta forma é isto o que precisam. Por este motivo devem parar de fazer guerra contra este povo e deixá-lo em paz na terra dele.

Ao judeu mostrar que na Bíblia está escrito que Jeová daria ao povo escolhido tudo o que precisasse. Ele deu o árabe como vizinho, portanto respeite-o. Não construa mais em território que não é seu, deixe o árabe no canto dele.

Só isso. Mostrar a cada um que Deus, não importando o nome nem o livro onde esteja o ensinamento, dá sempre a cada filho o que ele precisa para viver. Agora, enquanto cada um achar que aquela terra é dele, que lhe pertence, não vai haver união nunca.

 Pergunta: São Francisco de Assis é uma egrégora de vários seres?

Não, é um espírito.

Pergunta: Mas, não é através da nossa ação que Deus pode ajudar os outros para que eles possam se modificar, pensar e agir diferente, ou cada um recebe individualmente a sua missão através de seu sofrimento e nós nada podemos ou devemos fazer para que essa situação seja melhorada?

São duas perguntas em uma só. Sim, cada um recebe de Deus a sua parcela individual. Sim, você é um instrumento para auxiliar os outros. Até aqui você está perfeito na sua forma de ver, mas vamos entender melhor o ensinamento. .

Que auxílio você quer dar ao outro? O que você acha que deve dar? Aí está o problema. É a questão do individualismo. Vamos voltar à primeira frase desta oração: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz”, não da minha. Não adianta se querer que aquele que tem a fome não a tenha mais, pois dessa forma estarei sendo instrumento da minha paz.

Você deve ser instrumento da paz de Deus. O instrumento pode até dar o prato de comida, mas não deixa de ensinar ao próximo a ser feliz com o que ele tem. Não cria revolta nem desunião, mágoa ou críticas. Dá o prato de comida e auxilia o próximo em nome de Deus e não no seu próprio.

Para que ele possa ajudar em nome de Deus deve dar além do pão. Ensiná-lo que, ao invés de lastimar a sua falta de comida, deve amar a Deus para gerar um carma diferente e aí poder receber comida.

 Pergunta: É dar a vara?

Sim, ensine-o a pescar. Dê o peixe, o prato de comida, mas não deixe de dar a vara e ensiná-lo a pescar. Ensine-o a amar a Deus acima de todas as coisas, inclusive da sua situação e mande-o pescar (viver seus acontecimentos) para que ele nunca mais tenha fome.

 Pergunta: Deus não nos utiliza apenas para ajudar os carentes, mas também como instrumento de “puxões de orelha” também. A caminhada não são só flores, não é isso?

Sim, concordo plenamente com você: os espíritos são utilizados como instrumentos para auxiliar os carentes, mas também os abastados.

No entanto, enquanto você der o puxão de orelha com a sua consciência de certo ou errado, ensinando o que você sabe que é certo, estará agindo em nome de Deus, mas tirando vantagem (prazer) do que o Pai está fazendo.

Auxiliar ao próximo sempre será a orientação da necessidade de mudanças, mas se mudar em que sentido? Para Deus, nunca para você, para o que acha certo.

Ensiná-lo a amar a Deus acima de todas as coisas é universalismo, mas ensiná-lo a atravessar a rua na outra esquina e não nesta porque a acha ”perigosa”, isto é individualismo.

“onde houver dúvidas que eu leve a fé”.

 Que dúvida pode haver na vida de um ser humano? Qual a dúvida que você pode ter? Só uma: saber o que está acontecendo na sua vida.

Esta é a dúvida de todo espírito: para que nasci? Por que estou vivo? O que está acontecendo realmente, no sentido espiritual, neste momento?

Francisco de Assis pede a Deus: onde houver dúvidas que eu leve a fé. Só a fé, confiança e entrega total a Deus pode esclarecer a Realidade do mundo, a Verdade. Sem fé jamais haverá compreensão da Verdade, do que está acontecendo realmente.

Tudo que acontece no universo é Deus agindo, é emanação de Deus. Isto nos foi ensinado por Krishna. Só isso é Verdade, é Realidade.

Quer saber quem é você? Uma emanação de Deus. Quer saber para que está vivo? Para fazer provas e durante as suas provas ajudar o próximo, ou seja, servir como emanação de Deus. Quer saber o que está acontecendo agora? É Deus emanando amor por você e lhe fazendo vivenciar situações que são seus carmas, mas que também servem de instrumentos para o carma dos outros. Só isso.

Mas, para se ver Deus em ação é preciso ter fé: confiança e entrega. Sem ela você verá o outro agindo e aí gerará a ofensa, o ferimento.

Sempre que você fugir da Realidade e ver outro ser agindo e não Deus se sentirá ferido porque se acha sempre certo. Os seres humanizados, individualistas por natureza, consideram-se superiores a todos e se acham sempre certos.

O que não deixa o ser humanizado conhecer a Realidade não é o não saber, mas é a certeza que cada um tem de que pode compreender as coisas do mundo. Como esta compreensão é fruto de um conhecimento limitado do ser humano da Realidade é, por si mesma, uma falsidade.

Por isto, tudo o que você acha certo deveria ser tratado como dúvida. Além do mais, tão logo se convença que está certo vem o mundo (as situações) e transforma todas as suas verdades.

‘Como? Como isso foi acontecer? Eu tinha certeza disso, estudei todas as probabilidades dentro das minhas verdades e não aconteceu como esperava. Por quê?’. Porque Deus não fez. Mas para enxergar isso, tem que haver a fé.

“onde houver erro que eu leve a verdade”

 O que é uma coisa errada? É aquilo que vai contra a verdade, o que é certo. Mas, se errado é tudo aquilo que vai contra a verdade quem pode dizer o que é verdadeiro, ou seja, quem tem a Verdade do Universo? Quem pode saber o que é Verdadeiro, Verdade Absoluta? Só Deus.

Somente a Inteligência Suprema do Universo tem a capacidade de analisar e compreender perfeitamente tudo que acontece e assim gerar uma Verdade sem retoques, Absoluta.

O ser humano, como personagem criado pelo espírito para sua evolução, possui inteligência, que é o próprio espírito que o anima. Esta inteligência, no entanto, não é suprema, mas limitada de acordo com o seu grau de evolução. Ou seja, possui verdades que não são reais, mas que condizem o grau de evolução de cada um.

É por isso que o ser humano não conhece a Verdade Absoluta, mas apenas a verdade relativa, ou seja, uma verdade baseada na sua limitada capacidade de compreender o universo.

Se a inteligência do ser humano (espírito) não conhece a Verdade, como pode imaginar ter o poder de dizer o que é Real? Como pode afirmar que o que está imaginando das situações é Verdade? Somente quem conhece a Verdade pode saber a Realidade, ou seja, Deus.

Você dá um prato de comida, porque quer dar um prato de comida e imagina (cria a realidade) que com isto está servindo ao próximo, mas esta compreensão é fictícia, ilusória. Quando alguém age motivado por um desejo (vontade) está, antes de qualquer coisa, agindo em seu favor e não do próximo. Portanto, a Verdade daquele momento é que você está se servindo do próximo, ou seja, está utilizando o outro para satisfazer a sua vontade.

Mesmo que com seu ato auxilie alguém, a motivação primária (intenção) foi fazer o que você queria e não auxiliar o próximo, pois esta última intenção ficou subordinada à primeira. Deus conhece a Realidade dos fatos, pois como Cristo nos ensinou, Ele conhece a verdadeira intenção de cada um ao agir. Desta forma Deus sabe o que está acontecendo de verdade: você se servindo do próximo para ter prazer.

Além disso, já estudamos anteriormente que todos os atos da vida carnal são ações carmáticas, ou seja, são situações criadas por Deus que possuem a característica de ser a justa reação a uma ação anterior. Elas também servem de prova para o espírito na sua caminhada da evolução espiritual. Todos os envolvidos em acontecimentos estão vivenciando uma ação carmática criada por Deus e não gerando atos espontaneamente.

 Portanto, a intenção criou uma fantasia, mas o próprio ato é também uma ilusão. Você não está dando comida a ninguém. É Deus que está, através da ação carmática sua e do outro, dando a comida. Essa é a Verdade Absoluta dos acontecimentos do mundo, essa é a Realidade. Apenas Deus e Sua ação, Deus e Seu amor são Verdadeiros.

Ninguém faz nada, só Deus age: isto é Real; isto é Verdadeiro. É isto que precisamos levar às pessoas e trazer para nossa vida para que todos eliminem as ilusões que vivem e possam viver a Realidade.

Voltando ao texto da oração que estamos analisando após termos compreendido o que é a Realidade e a Verdade, o que seria, então, o erro ao qual Francisco se refere? Os seres humanos imaginarem que estão fazendo, agindo, quando na verdade estão sendo instrumentos de Deus.

O ensinamento da Realidade (Deus Causa Primária de todas as coisas gerando ações carmáticas) vale para todos os detalhes da vida, mesmo aqueles onde os seres humanizados imaginam que Deus não interfira. Portanto, ninguém jamais faz pratica ação alguma, por menor, mais sem importância que possa parecer a ação.

Imagine se uma grande quantidade de seres humanos decidisse comprar a quantidade de pães que quiserem. Sabe o que ia acontecer? Ia ter que devastar a floresta amazônica para poder plantar trigo.

‘Se quiser eu como vinte pães, e Deus nada tem a ver com isso’. Aí está o erro: achar que cada um age por livre e espontânea vontade sem compreender que o universo é interdependente, ou seja, que tudo que você faz reflete sobre outros e sobre as coisas.

Destruir a floresta amazônica seria, em tese, um acontecimento que afetaria não só a vida de todos os habitantes do planeta, mas se refletiria em todo Universo. Será que alguém pode fazer a outro tão distante o que ele não precise nem mereça, ou seja, sem que Deus não tenha considerado que ele possuía este carma e precisava passar por tal situação?

Se o ser humano agisse dentro da inconseqüência gerada pela sua limitada capacidade de compreender os reflexos dos seus atos, teria o poder de ferir o próximo. E Deus? Neste caos seria um mero espectador do mundo, vendo os seus filhos serem feridos constantemente sem poder fazer nada?

O Senhor Onipotente do Universo não poderia reagir para salvar a humanidade e o próprio Universo porque seres humanos querem comer vinte pães cada um? Claro que sim e por isso age, ou seja, por isso faz cada um comer a quantidade de pães suficientes para que não interfira no equilíbrio universal.

Esta é a Verdade que Francisco de Assis propaga: Deus, e somente Ele, age. A nós espíritos, humanizados ou não, compete sair do “erro”, ou seja, da ilusão da ação individual de cada um: achar que eu ajo, que o outro age, achar que as coisas agem, achar que o outro pode fazer o que quiser.

É desta ilusão de que todos agem por livre e espontânea vontade que surge o medo. A ilusão da ação individualizada e livre destrói a fé.

Não existem dois seres humanos que gostem e queiram as mesmas coisas com a mesma intensidade. Se cada um pudesse agir livremente, certamente estaria sempre movido pelo desejo de que a sua verdade sobrepujasse a do próximo, pois o objetivo primário do ser humano é satisfazer-se, ou seja, que suas verdades sejam realidade. Com isto, certamente um acabaria ferindo o outro na busca de impor-se.

Se você não acredita que Deus e só Ele age, mas que o outro pratica ações por livre e espontânea vontade irá imaginar que ele tem o poder de se sobrepor a você e, com certeza, se sentirá ferido se isto ocorrer. Então eu pergunto: e o seu Pai que é o Senhor Onipotente, Onipresente e Onisciente não pode fazer nada para lhe defender?

Será que Ele, que tudo pode terá que assistir passivamente a toda injustiça que você passa? Claro que não. Ele age sempre dando a cada o que merece. Portanto, se o outro lhe sobrepujar em determinados momentos, não sofra, pois foi Deus quem assim decidiu e só fez isto porque era o que você merecia no momento. Louve e ama a Deus por isto.

Levar a Verdade e a paz de Deus é dizer a cada um: Deus está agindo lhe dando o que você merece (fruto da sua ação anterior) e precisa (prova para sua elevação) e não o próximo. Pare de sofrer e ame a Deus e sinta-se amado por Ele.

Mas, a recíproca é verdadeira. Se você conseguir se impor (estar certo) num relacionamento, saiba que isto não é Real, mas uma ilusão temporária que Deus concedeu a você porque o outro precisava e merecia ser sobrepujado naquele momento. Portanto, não tenha o prazer nem a soberba de se sentir o melhor, o certo.

Ter prazer quando Deus age: isso é uma atitude de profunda incompreensão do Universo. Eu afirmo: o homem, o ser humanizado tira proveito do que Deus faz.

Quando o Pai faz acontecer a ação carmática coincidente com a ilusão (verdade relativa) do ser humanizado, ele tira proveito da situação: tem prazer achando que ele conseguiu realizar o que queria.

Aquele que obtêm lucros individuais com o trabalho alheio pode ser chamado de explorador. O ser humano, ou melhor, o espírito que vive a ilusão de ser e estar é um explorador de Deus. O Pai age e ele tem o prazer (lucro individual). Onde ficou a humildade ensinada pelos mestres? Onde ficou a subserviência a Deus?

Deu certo, foi eu que fiz,;não deu certo, foi outro que fiz: isso é erro, é irreal. Viver deste jeito é viver no erro, na ilusão. Para que vivamos a oração do São Francisco é preciso compreender e viver dentro da Realidade: só Deus age. Aí estaremos vivendo a Verdade.

Um comentário de Joaquim:

Tantos assuntos estão sendo estudados hoje, não? Quantos temas diferentes da vida humana estão sendo abordados, não? Esta oração, como guia de vida, é fenomenal.

Tanto ela como o Pai Nosso são guias que se seguidos no seu contexto levariam o ser humanizado a alcançar a evolução espiritual rapidamente. O problema é que os seres humanizados ficam adorando, idolatrando Francisco de Assis, ao invés de entenderem o que ele fala, ou então, ficam apenas recitando as suas palavras, mas na hora de agir não as colocam em prática.

 “onde houver desespero que eu leve a esperança”.

 O que é um desespero? Quando o ser humano fica desesperado? Quando acontece uma situação que ofende o seu individualismo e ele não consegue alterá-la. Quando isto ocorre o ser humano entra no processo de sofrimento e depois, junto com a depressão, vem o desespero.

Francisco de Assis propõe servir como instrumento de Deus àqueles que vivem desta maneira para levar a esperança. Precisamos entender que esperança se propõe a levar, pois dependendo da forma como cada um encare os acontecimentos da vida, esta ação pode ter diferentes significados.

Qual foi a missão do Cristo? O que ele nos ensinou mais profundamente? Que existe uma forma de viver que é resultante da elevação espiritual (o amor a Deus e a todos) onde as coisas da vida não mais causam aflições.

Cristo fez isto como instrumento de Deus para ensinar aos seres humanizados que existe uma Realidade muito diferente daquela em que eles vivem e que é cheia de graça (felicidade incondicional). Mas, não agiu apenas para mostrá-la, mas também no sentido de dizer que ela pode ser alcançada.

Quando o ser encarnado viver a sua existência da mesma forma que Jesus Cristo vivenciou a sua alcançará o que foi chamado de ressurreição, ou seja, a vida espiritual consciente, dentro da Realidade. Por isto o mestre nos ensina: “eu sou o caminho, a verdade e a luz. Ninguém chega a Deus a não ser através de mim”.

É esta a esperança que Francisco de Assis quer levar como instrumento de Deus para aqueles que vivem desesperados: que a felicidade incondicional pode ser alcançada. Para realizar esta missão precisa ensinar a Realidade (atos gerados por Deus como ação carmática e prova) aos seres humanizados.

Toda situação que o ser humano vivencia é um instrumento da sua felicidade, pois foi criada por Deus para que o espírito tenha a oportunidade de se elevar. Ela é fruto do Amor Sublime de um Pai pelo seu filho.

Vivendo com esta Realidade o ser humanizado pode ser feliz, mesmo que não “goste” do que está acontecendo. Basta para isso não se desesperar, mas amar, mesmo que o momento atual lhe seja adverso materialmente falando.

Ame o que está acontecendo que você será feliz sem mudar a forma das coisas. Ame quem aparentemente gerou a situação e a própria situação, ou seja, tudo que está envolvido.

Não foi assim que Cristo viveu? Ele amou a Deus sobre todas as coisas, mesmo quando o acontecimento não o satisfazia: “Pai afasta de mim este cálice, mas se não for possível que seja feita a vossa vontade”.

A possibilidade de ser feliz realmente durante a vida carnal: esta é a esperança que Francisco de Assis ensina. Não uma felicidade para depois da morte, como antigamente a Igreja Católica ensinava (que você tinha que ser sofredor nessa vida para alcançar o reino do céu depois que morresse). Não é esta esperança que Francisco de Assis traz, mas a esperança para a própria vida, a felicidade para ser vivida ainda encarnado.

São Francisco levava ao próximo a esperança de que ele podia mudar a sua vida. Não os acontecimentos em si, mas o sentimento com o qual os vivenciava. Ele ensinava que os seres humanos podiam deixar de viver em desespero, mas que para isto precisariam ter fé e agir com amor universal.

Na hora que você aceitar a esperança que Francisco ensinou e transformar o seu problema num ato de Deus, numa emanação do amor do Pai e se entregar à vivência deste problema com fé, poderá ser feliz, independente do que estará acontecendo.

Você não precisa sofrer quando o acontecimento está em desacordo com os seus desejos, ou seja, está acontecendo o que não gosta. Isto é apenas para aqueles que não têm a esperança na ressurreição.

Já me perguntaram: nós nascemos para sofrer? Não. Nascemos para a felicidade, mas escolhemos sofrer quando Deus nos dá sempre motivos para ser feliz. Só não realizamos aquilo para que nascemos porque não confiamos e nos entregamos a Ele.

Para tornar realidade a esperança que Francisco de Assis nos traz basta confiar em Deus, ter fé. Afinal de contas, se Deus é por nós, quem poderá ser contra?

Para que isto se transforme em Realidade na sua vida é preciso abrir mão do individualismo, do desejo, da paixão e da verdade que você possui. Só isso. Na hora que abrir mão destas coisas, não terá mais motivos para sofrer. Estará com Deus, estará em Deus.

É esta esperança que Francisco de Assis transformou em instrumento da paz de Deus: que não há necessidade de morrer para ser feliz; basta amá-Lo acima de todas as coisas durante a encarnação.

Por que você seria feliz somente depois que morresse? Aí se transformaria em um espírito, estaria com Deus? Mas, você já é um espírito e se já está com Deus, basta aprender a viver esta vida dentro desta Realidade, ou seja, com os valores espirituais, que são frutos apenas do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

 “onde houver tristeza que eu leve a alegria”.

 Agora Francisco de Assis quer combater a tristeza, o sofrimento, dos seres humanos, ou seja, mais uma vez estamos falando de um sentimento resultante do individualismo ferido (não gostar do que está acontecendo).

Para isto pede para levar a felicidade ao próximo, que ele seja instrumento da felicidade do próximo. Ele não se propõe a levar o prazer (levar a razão), mas sim a grande alegria desta vida que é Deus, que é estar em Deus, que é estar com Deus.

Levar a glória de viver com Deus e em Deus: esta é a felicidade que Francisco de Assis se propõe levar a todos.

Ele não pede para servir de instrumento para fazer o que os outros querem, mas sim para mostrar a todos como é belo o “Reino de Deus”. Ele se propõe mostrar a todos como são perfeitas as coisas de Deus. Fala da vida simples, ou seja, da vida sem verdades que a complique, que leva à felicidade.

É esta felicidade que Francisco de Assis quer levar a todos e esta é, também e, portanto, é esta a alegria que você deve buscar em São Francisco. Por isto, ao amigo espiritual não se devem fazer orações pedindo a que faça acontecer o que queremos, mas buscar, através dele, a felicidade de estar vivo com Deus.

Vivo não no sentido material (material), mas no espiritual: estar vivo para o universo, conectado a Deus. Estar vivo é viver conectado ao todo universal (universalismo), vivenciar o universo inteiro, aproximar-se do Pai, ao invés de estar preso em um mundo pequeno cheio de eu: eu quero, eu sou, eu estou.

A felicidade que Francisco de Assis prega surge depois que o ser humanizado derruba a porta do mundo individualista em que vive. Como chegar ao universo se você está preso dentro de uma casa onde só vale o que você acha, sabe e quer? É por estar preso neste mundo individualista que você sofre.

É preciso abandonar tudo que é individual para poder penetrar no coletivo (universalismo) que, em resumo, é o próprio Deus. É por isso que Cristo disse ao moço rico que já cumpria todas as leis (caridade, oração, comunhão): abandone tudo que é seu e me siga.

Abandone tudo que é seu. Não as suas coisas materiais, mas as posses, ou seja, as verdades que tem sobre as coisas deste mundo. Doe todas as suas verdades aos pobres, aqueles que querem ter verdades.

O próximo quer ter razão? Louvado seja Deus, deixe-o levar a razão e ofereça a outra face. Ele quer achar que está certo? Louvado seja Deus, deixe-o ficar com a certeza das coisas. Para que entrar em guerra e discutir com alguém? Para se provar que está certo? Isso resultará em sofrimento para você na certa.

Era por isso que quando alguém acusava ou mandava fazer algo, Francisco de Assis não discutia nem reagia. Agindo desta forma servia ao próximo. Este é o caminho para Deus, uma vida que pode lhe trazer felicidade.

Esta é a única forma que você tem de buscar aquilo para o qual vive: ser feliz. De nada adianta juntar dinheiro para comprar coisas achando que assim será feliz. De nada adianta proteger seu filho achando que nada vai acontecer a ele e assim você poderá ser feliz. De nada adianta querer ter saúde para ser feliz, pois mesmo que tenha tudo isso, os momentos de contrariedade acontecerão e neles você sofrerá.

Só quando não tiver verdades para ser contrariada você poderá ser eternamente feliz. Esta é a felicidade que Francisco de Assis traz a todos e que é resultante da verdadeira liberdade: ser livre, completamente livre para ser feliz.

Livre do seu pior inimigo: você mesmo. Enquanto você não compreender que sofre porque é escravo de você mesmo, é escravo do seu ego, das suas verdades, do que você quer e não lutar para libertar-se de tudo isso, não será feliz.

 “onde houver trevas que eu leve a luz”.

 A Luz é Deus, é o amor de Deus: isso todos os mestres ensinaram. Mas, e a treva, o que será? É o individualismo que obscurece a sua vida, o seu mundo.

‘Onde houver individualismo que eu leve o Senhor, meu Pai. Onde houver o individualismo que eu leve a Sua Verdade, onde houver o eu quero que eu leve o Seu amor’. Esta é a luz que o Francisco de Assis quer levar aos demais seres humanizados.

Ele não quer levar aos outros uma luz artificial, mas a própria Luminosidade. Ele não pretende levar aos seres humanizados um mestre ou uma religião, mas levar Deus.

O que mais atrapalha a sua espiritualidade é a sua religiosidade. Enquanto você estiver preso a uma religião estará preso a um só mestre e uma só verdade e não encontrará Deus que é a Causa Primária de todas as coisas, a Verdade Absoluta do Universo. A soma do Todo.

Levar a luz não é ensinar a idolatrar Cristo nem ensinar o cristianismo, Kardec ou o espiritismo. Não é transmitir os ensinamentos do hinduísmo nem louvar a Krishna ou os do budismo e Buda. Levar a Luz é falar de Deus, ensinar a amá-Lo acima de todas as coisas, inclusive dos mestres e das religiões.

É apresentar aos seres humanizados o Senhor Onipotente, Onisciente e Onipresente do Universo. É levá-los a compreender a ação da Inteligência Suprema, do Amor Sublime e da Justiça Perfeita. Ensiná-los a vivenciar a Causa Primária de todas as coisas.

É tudo isto que Francisco de Assis ensinou com palavras adequadas ao povo daquela época e ações que o levava a vivenciar os acontecimentos da sua existência em congraçamento com a Realidade. Ele viveu para Deus sem contestar o mundo, sem acusar ninguém. Ele viveu para Deus simplesmente.

Nós estamos falando de Francisco de Assis, mas procurem nas vidas dos mestres (Jesus Cristo, Krishna, Buda, Paulo, Pedro) se eles não viveram dessa foram. Foram caçados, xingados, presos, crucificados e jamais perderam a sua paz interior.

Esta é a Verdade; é a Luz do universo; é a compreensão que liberta; o amor que leva ao gozo do bem celeste: a felicidade incondicional.

“Oh mestre, fazei com que eu procure mais consolar do que ser consolado”.

 Até aqui, Francisco de Assis na sua oração estava pedindo para ser instrumento de Deus, ou seja, agir para o próximo auxiliando o Pai na Sua obra. A partir deste ponto, ele passa a falar do receber dos outros. Antes analisamos o que dar, agora vamos falar do que esperar receber pela doação amorosa.

O que é ser consolado? Quando alguém se sente consolado? Quando alguém lhe compreende, dá carinho, dá atenção, ouve.

A partir desta pequena análise podemos compreender o que Francisco de Assis pede a Deus: ‘Senhor, que no trabalho de instrumento da vossa paz eu dê carinho e ajude aos outros, mas faça isso sem esperar receber o que estou dando’.

O caminho da elevação espiritual não passa pelo prazer individualista, ou seja, pela necessidade de se receber alguma coisa em troca pelo serviço ao próximo. Aquele que busca a elevação espiritual está sempre disposto a dar, a servir e não a ser servido. Está sempre atento em auxiliar o próximo e nunca preocupado em esperar que os outros lhe auxilie.

Francisco de Assis saiu pelo mundo lambendo a ferida dos outros e jamais buscando alguém que lambesse as suas. Procurando aqueles que estavam agonia, nas trevas e na discórdia para levá-los a Deus e nunca esperou receber em troca por isso luz, união ou amor a si.

O que poderíamos dizer dos seres humanizados? Que, no mínimo, são hipócritas. Mesmo os que seguem os preceitos de uma religião afirmam que o seu objetivo de vida é auxiliar o próximo, mas se aquele que foi auxiliado não lhe retribui, critica e acusa. Se o próximo não disser pelo menos um “muito obrigado” é condenado como um mal agradecido.

Será que o objetivo deste ser humano era mesmo servir o próximo, ou sempre foi conquistar a fama, o reconhecimento? Na verdade a prestação de serviço do ser humanizado sempre é baseada na busca individual, na esperança de ganhar alguma coisa em troca.

O ser humanizado busca constantemente consolar para ser consolado, pois assim exige o seu individualismo. Aquele que busca consolar para receber alguma coisa em troca, mesmo que apenas o reconhecimento do que fez por parte do próximo ou da sociedade em geral, é individualista.

Francisco de Assis nunca buscou consolo para si. Foi caluniado e criticado pelo seu modo de vestir, pelo seu despojamento, mas mesmo assim sempre estava pronto para auxiliar quem lhe caluniava e criticava.

Aquele que transforma a oração de São Francisco em uma forma de viver (servir de instrumento a Deus) deve sempre estar perto de alguém para auxiliá-lo, mas nunca esperar compreensão, um agradecimento, um olhar carinhoso, uma retribuição. Auxilia pelo amor a Deus, por se sentir instrumento do Pai e não para que receba “compensações” do próximo ou de quem quer que seja, inclusive do próprio Deus.

 “Que eu procure mais compreender do que ser compreendido”

Sabia que a pessoa que briga e acusa os outros seres humanos não está brigando com o outro? Ela está brigando consigo mesmo, pois tinha uma verdade, uma paixão e um desejo que não aconteceu e a discordância entre o que possuía e o acontecimento a deixou revoltada, frustrada.

É por causa destes sentimentos ela briga consigo mesmo e com Deus e não porque o acontecimento ocorreu de determinada forma. Se a pessoa não tivesse estas verdades ou padrões do que deveria acontecer, o que está acontecendo não lhe causaria revolta.

Sabe a pessoa que você acusa de estar ofendendo os outros? Ela não está ofendendo ninguém, mas se defendendo dos outros, de Deus e do mundo, que agiram contra ela, contra as suas verdades.

Esta é a compreensão que Francisco de Assis comenta neste trecho da sua oração: saber que cada um age em legítima defesa do seu “eu interior material”, do seu ego, das suas verdades, dos seus desejos.

Francisco pede a Deus para levar esta compreensão aos seres humanos, pois sabe que de posse dela eles poderiam não reagir contra o próximo. No entanto, pede também que Deus o auxilie a não esperar que as pessoas entendam seu ensinamento e reajam a ele com amor.

É por isto que, apesar de só falar em amor, só levar Deus e Sua palavra à humanidade, as pessoas o caluniavam e criticavam, mas ele as amava da mesma forma.

É a ajuda divina para não esperar ser compreendido que Francisco pede a Deus que lhe dê e esta também deve ser a que você deve pedir ao Pai para poder se tornar um bem-aventurado, ou seja, viver na felicidade universal.

‘Deus me dê forças, me dê intuição para que possa compreender a situação dentro da Realidade, dentro da Verdade, ao invés de ficar aprisionado neste mundinho do ego acusando todos, dizendo que estão me ferindo, quando na verdade todos estão se defendendo de mim, de Você e do mundo’.

Esta forma de proceder estampa mais um ensinamento de Cristo: dar a outra face. Se o outro precisa brigar com você, pois ainda está preso às suas verdades, deixe-o brigar. Permaneça ouvindo tudo sem sentir-se ofendido.

Deixe-o brigar com você e não reaja: isto é auxiliar o próximo servindo de instrumento a Deus. Não adianta imaginar que discutindo para mostrar e provar para os outros que eles estão errados e você certo está prestando um serviço ao próximo: isto é ilusão criada pelo seu ego.

Deixe o outro brigar, gritar, chorar, espernear e você não perca a sua paz. Afinal, ele não está brigando com você mesmo, não é? Amá-lo é a única coisa que pode auxiliá-lo, pois desta forma o ajudará a vencer suas verdades.

Este é o oferecer o outro lado que o Cristo ensinou. Dar a outra face não é apanhar nas duas, mas não reagir dentro dos padrões que o mundo lhe impõe para reagir.

Os seres humanizados têm como padrão para a suas vidas a necessidade de reagir para impor-se aos outros, pois crêem estar com a verdade, sabem o que é verdadeiro e precisam vencer sempre. O ser espiritualizado, mais perto de Deus sabe que apenas o Pai conhece a Verdade e apenas Ele é Real.

É a vida dentro deste padrão que Francisco de Assis não quer para ele e quem reza a oração de São Francisco, transforma-a em um guia de vida, deve buscar viver nesta compreensão. Quando sentir raiva por estar sendo contrariado, respirar fundo e dizer: ‘Senhor me ajude a ver neste acontecimento uma ação amorosa Sua’.

Buscar a elevação espiritual é sempre pedir para que o Pai o auxilie a compreender que o próximo não está brigando, mas é você que está querendo ser compreendido, pois se imagina o único certo do universo. Quem vive assim alcança a felicidade.

“amar do que ser amado”

 Pedira a Deus para amar mais do que ser amado é um resumo de tudo que falamos até agora: ‘que eu faça os outros felizes, mas que a minha felicidade seja apenas por servir ao próximo como instrumento de Deus e não condicionada a ser servido’. Ou seja, que eu faça os outros felizes, mas não dependa deles para ser feliz.

O ser humanizado não pode viver na dependência dos outros, dos objetos ou dos acontecimentos A felicidade universal sempre está no universo à disposição de todos, pois Deus a espalha constantemente.

Ela está à disposição de quem quiser ser feliz, mas o ser humanizado não consegue se conectar a ela porque ainda coloca obstáculos para isso: o contentamento da sua verdade, do seu desejo, da sua paixão.

‘Senhor, fazei que eu ame mais do que seja amado. Senhor, fazei com que eu leve a felicidade verdadeira a todos, mas que eu não espere a retribuição, a compreensão, nada, para ser feliz’.

Isto é o que você pede quando reza a oração do São Francisco. Em resposta, Deus lhe dá a oportunidade de amar incondicionalmente colocando-o frente ao ódio, a discórdia, o erro, a dúvida, a ofensa, o desespero, a tristeza, as trevas.

Deus faz isto porque você pediu como oportunidade de serviço a Ele. Neste momento, no entanto, ao invés de agir como pedido na oração, afirma que não pode amar o próximo porque ele não está fazendo o que você quer, não está lhe dando o carinho e a retribuição que gostaria de receber, não está lhe dando as coisas materiais que você gostaria de ter.

Apesar de rezar a Deus pedindo para amar sem ser amado, o ser humanizado vive a vida querendo ser amado para então amar. Para isso busca sempre escravizar os outros às suas verdades e paixões, ou seja, às suas condições para ser feliz.

Eu gosto sempre de lembrar o ensinamento de Cristo: abraçar os amigos é fácil, eu quero ver é cumprimentar os inimigos. Nesta máxima está a razão da vida encarnada, ou seja, para o que você nasceu.

Sua encarnação tem um objetivo: aprender a conviver com que não lhe ama, amando-o do jeito que está, do jeito que é. Para isso é preciso não fazer cobranças, não fazer exigências, não colocar imposições para amar.

‘O dia que você não mais agir desta forma eu lhe amo’. Vivendo com este parâmetro você perdeu uma grande oportunidade de amar e isto aconteceu porque quis ser amado. Amar o

Adoração

A adoração e a unidade

03. A quem devo oferecer os meus respeitos (quando eu sou Brahman, eu próprio) sempre imaculado? Este mundo é apenas a obra de cinco elementos e na realidade não é mais do que uma miragem. (Avadhut Gita, capítulo 1)

O termo Brahman pode ser entendido como Deus, o ser que possui a capacidade suprema de universalizar as suas propriedades atingindo a compreensão mais pura das coisas universais.

Dattatreya nos afirma que cada um de nós espíritos, em qualquer grau de evolução, é deus por si próprio. Isso também é afirmado na Bíblia Sagrada, quer na Gênesis (“agora façamos o homem a nossa imagem e semelhança”) como por Cristo (“vós sois deuses”).

A diferença entre os seres e Deus não está na constituição, mas sim na compreensão das coisas. Deus é um ser e possui as mesmas propriedades intrínsecas que qualquer outro, mas as utiliza universalmente, para a Justiça Perfeita e com o Amor Sublime. O ser em evolução utiliza essas mesmas propriedades com individualismo.

A partir da constatação da ventura do espírito (ser igual a Deus na constituição), Dattatreya pergunta: a quem devo dirigir, então, os meus respeitos? Isso acontece porque para o ser humano o respeito a Deus é confundido com a idolatria. Deus não quer ser idolatrado, mas sim respeitado de verdade, ou seja, que Suas ações (causa primária) sejam recebidas como ensinamentos de quem possui mais superioridade moral.

A Constituição Universal (amar a Deus sobre todas as coisas) não é originária do desejo individual de Deus ser idolatrado, mas o único caminho para a universalidade. Deus não quer que o amemos porque gosta da fama e quer elogios, mas porque sabe que esse amor (fé) levará à compreensão do faça-se. Essa compreensão proporcionará o fim do dualismo, da individualização das formas, permitindo o ser alcançar a ventura que cada um possui.

Jesus Cristo mostra isso claramente, mas até hoje seus ensinamentos não foram utilizados para atingir a universalidade, mas sim para conquistar a satisfação individual. Quando argüido pelos professores da lei a respeito da prática de atos aos sábados (dia considerado de não ação pelos judeus), respondeu: “se vocês soubessem o que as Escrituras Sagradas querem dizer quando afirmam ‘eu quero que sejam bondosos e não que me ofereçam sacrifícios de animais’, vocês não condenariam os que não têm culpa” (Mateus – 12,7)

A idolatria a Deus não representa bondade, mas satisfação. A verdadeira bondade surge do não julgamento para não chegar a uma acusação. Somente quem conseguir amar a Deus sobre todas as coisas conseguirá ser bondoso realmente.

O amor que prega a Constituição Universal não é pelo Ser Deus, mas por Sua ação. Na verdade o mandamento deveria ser: ame a Causa Primeira do universo, pois só ela pode aplicar a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

Somente compreendendo os fundamentos da ação universal, pode o ser alcançar a universalidade completa. Nesse momento ele se integrará ao todo universal e respeitará Deus por Sua ascensão moral e não pela Sua forma.

Dattatreya afirma mais: o ser é sempre imaculado. Como vimos, o ser universal possui uma ventura que se esconde debaixo de camadas de conceitos individualistas (acho). Entretanto, esses conceitos não maculam o ser.

A parábola do filho pródigo ensinada por Cristo é um bom exemplo disso. Por mais que os conceitos levem o ser a ferir a ventura dos outros e a sua própria, Deus jamais guardará mágoa por essa ação. Ele não julga ou pune seus filhos, mas o Seu Amor Sublime Lhe faz agir gerando situações que sirvam de proveito para a elevação de cada um.

A idolatria a Deus O coloca como um Ser Supremo que não permite falhas sem punições. Entretanto, Cristo nos ensinou que Deus perdoa a seus filhos. Portanto, a ação do Pai não pode ser punitiva, mas educadora.

Quando o Ser Supremo comanda uma ação que fere o individualismo do ser humano não está o punindo, mas mostrando o que deve ser mudado. A intenção do Pai não é provocar sofrimentos, mas mostrar o caminho da real felicidade: a universal. A compreensão individualista ferida é o que deve ser alterada para que a universalização chegue. É o ser, que utiliza suas propriedades (inteligência, justiça e amor) buscando apenas a sua satisfação que prefere sofrer ao invés de alterar-se.

Como já vimos, Deus não quer que o ame especificamente, mas que cada um seja feliz. Por isso Deus não deixa que os seres vejam sua ação. Para fugir da idolatria é preciso que o espírito compreenda ação de Deus sem comprovações materiais da Sua autoria. Por isso o Ser Supremo do universo utiliza instrumentos para causar primeiramente as ações do universo.

Esses instrumentos são os cinco elementos que Dattatreya fala no ensinamento: terra, fogo, água, ar e éter (espaço celeste). Deus causa a ação de cada elemento para que o espírito possa comprovar que é capaz de ver nela a Causa Primária.

Esses elementos são compostos por formas que representam a intenção de Deus ao causar o acontecimento. É por isso que Dattatreya diz que são apenas miragens. Quando o ser compreender que eles nada mais são do que instrumentos de Deus, buscará entender o Amor Sublime que causou o acontecimento através do elemento e, assim, poderá evoluir.

Adoração

Idolatria

Alguém me disse que "Buda, Lao Tsé, Jesus, e outros, não viveram uma ficção. A espiritualidade (ou outro nome qualquer que se dê) não se tratava de um conto de fadas para eles, algo para prestar reverencia a distancia não. Era algo que levaram para dentro de suas vidas mesmo".

 Isso me fez lembrar a seguinte frase: "eu sou a verdade, o caminho e a vida; ninguém chega a Deus a não ser através de mim". Apesar desta afirmação ser atribuída a Cristo ela bem poderia ter sido pronunciada por qualquer um dos mestres enviados por Deus para o auxílio aos espíritos encarnados. Isto porque os mestres representam o caminho para se chegar a Deus.

 Mas, o que será caminhar para Deus através de um mestre? Para a grande maioria é a idolatria e o culto frio aos seus ensinamentos: nada mais do que isso.

 Os templos e igrejas estão sempre cheios de seres humanizados que idolatram os mestres em cultos; seus ensinamentos são recitados com profundo respeito ou colocados em e-mails ilustrados por imagens bem desenhadas e músicas sugestivas. Mas será que só isso basta? Claro que não. Mais do que se cultuar a idolatria aos mestres, é preciso se transformar em um.

 Ao invés de se idolatrar o mestre é preciso aprender a viver a existência carnal como ele fez; ao invés de se declamar os ensinamentos ou transformá-los em obras de arte virtuais, é preciso colocá-los em prática na existência carnal, como os mestres colocaram, provocando a mudança da vivência da vida para poder se chegar a Deus.

 O aproveitamento da vida não está na cultura, mas na transformação que os ensinamentos podem causar na existência de cada um. É preciso que o ensinamento acabe com a paz fundamentada na realização dos desejos humanos e se transforme em uma espada que sirva para ferir mortalmente o padrão humano de viver ao qual o espírito está escravizado pelo ego ("Não vim para trazer a paz, mas a espada” - ensinamento de Cristo).

 De que adianta se dizer cristão, idolatrar Cristo, se na hora de nossa crucificação (passar por momentos de contrariedade, insatisfação) agimos como Pedro, que ao saber que o mestre ia terminar sua missão na cruz, convocou a todos para orar pedindo ao Senhor que afastasse aquele futuro?

 Que adianta nos dizermos budistas, se ainda nos apegamos aos prazeres da vida carnal criados pelos cinco agregados ao invés de compreendermos a primeira nobre verdade (tudo é sofrimento, mesmo a realização do que gostamos) e percorrermos o Nobre Caminho Óctuplo que leva ao desapego?

 De que adianta nos dizermos seguidores de Krishna se ainda perdemos a equanimidade adorando os santos que conseguiram colocar em prática os ensinamentos do mestre, ao invés de tratá-los como seres comuns?

 De que adianta apenas dar o pão se a verdadeira caridade está em dar ao próximo a liberdade de ser, estar e fazer o que quiser (respeitar os seus direitos), mesmo que isso fira nossos desejos, sem críticas, como ensina o Espírito da Verdade?

 De nada adianta tudo isso. Caminhando deste jeito vivemos uma vida de ilusão crente que realizamos algo, mas quando saímos da carne a desilusão é grande, pois não percorremos o caminho ensinado pelos mestres, mas, presos ao nosso ego, vivemos aquilo que nosso senhor queria.

 Acredito que o ensinamento máximo que podemos aprender para poder viver esta existência com resultados positivos para a eternidade espiritual que ainda temos pela frente, está resumida na seguinte frase: não somos seres humanos vivendo aventuras espirituais, mas seres espirituais vivenciando uma aventura humana.

 Quando isto for realidade, com certeza viveremos a nossa vida como os mestres viveram as deles e aí, estaremos mais perto de Deus do que estamos.