Bem aventurado-Mateus-Conversa 01
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Bem aventurado - Mateus - Conversa 01

Transcrição do áudio da primeira conversa do estudo 'Bem aventurado'

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Aprendendo a ler

Participante: quando falarmos de Cristo podemos entender como consciência cística assim como consciência búdica com os ensinamento de Buda, ou seja, a própria consciência iluminada que desperto das ilusões?

A resposta à sua questão será o início de nossa conversa. É por isso que disse você se surpreenderá com nossas conversas.

Essa surpresa se dará porque vocês não sabem ler.

Participante: interpreta, não é?

Na verdade não estou falando apenas de interpretação. Estou dizendo que não sabem é ler.

Me diga uma coisa: o que é m livro?

Participante: um conjunto de palavras que está passando uma ideia.

Não. Um livro narra uma história. Todo livro, todas história possui início, meio e fim. Aí está o grande problema da leitura: vocês não procuram no início entender a obra para depois mergulhar nela.

É o caso, por exemplo, de quando estudamos O Livro dos Espíritos. Naquele momento disse bem claro: a primeira pergunta determina claramente eu Deus é a Causa Primária de todas as coisas; a partir disso, na leitura de todo o resto do livro não se pode usar outra coisa como causa primária de alguma coisa.

Só que vocês humanos, conforme vão lendo, se esquecem do que está afirmado no início dele. Por isso, em alguns capítulos leem, geram compreensões, de forma isolada das informações que viveram anteriormente, quando o que está escrito ali faz parte de um contexto mais amplo dentro da criação da obra.

É por isso que digo que se surpreenderá quando começarmos a conversar sobre o que está em o Evangelho de Mateus.

Participante: posso falar até que é como uma crescente? No caso de O Livro dos Espíritos, a segunda questão não pode ir contra a segunda, a terceira contra as duas primeiras e assim sucessivamente?

Sim, a ideia inicial fica, mas ela é desenvolvida nos capítulos subsequentes. No início de qualquer livro se determina o que será dito e a partir dali se fala sobre o que foi dito anteriormente.

Isso vale para todos os livros. Quando se escreve um romance, por exemplo, nos primeiros capítulos se monta um cenário que servira para toda a história. É o caso, por exemplo, de uma pessoa que lê um livro que é ambientado no Egito antigo. Só que no meio do livro um personagem faz alguma ação, que era executada àquela época, e você cobra que ele aja dentro dos preceitos de hoje.

O início do livro sempre posiciona o leitor dentro do que será narrado. É disso que vocês não podem se esquecer. Por isso, sempre que começar a ler um livro concentre-se em entender o início dele para que possa chegar realmente onde quer chegar o autor. Sem isso ficará no seu livro, na sua interpretação.

Participante: você já não disse anteriormente que nada ficará escondido, tudo será revelado?

Essa informação está no Evangelho de Tomé. Mas, há uma condição.

A frase também é com um livro: ela precisa ser entendida na totalidade e não com destaque de partes. Nesse caso ela diz: ‘para aquele que se coloca como filho de Deus, nada ficará escondido, tudo será revelado’. Portanto, é necessário antes de tudo se colocar como filho de Deus para ter acesso às informações.

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O objetivo do estudo

Vamos começar?

Para iniciar, lhe pergunto: o que vamos ler?

Participante: vamos começar esse estudo lendo o Evangelho de Mateus.

Certo, vamos ler o Novo Testamento. Para começar, pergunto: o que é um testamento?

Participante: ...

Como você pode ler algo chamado Novo Testamento se não sabe o que é um testamento?

Testamento é um acordo entre partes.

Vamos conversar sobre um acordo que é chamado de novo, porque existe outo que é chamado de velho, aquele que foi feito por Deus com a humanidade através de Abraão. Quando aparece a figura do Messias, do Cristo, surge a necessidade de se fazer um novo acordo, um novo testamento.

Portanto, o Novo Testamento é um acordo entre Deus e os espíritos encarnados. Essa é a primeira ideia sobre o que vamos conversar.

Outra questão: o que está sendo acordado nesse testamento? Ou como muitos questionam? Qual a Boa Nova que esse testamento trás? Traz a informação de que existe um reino do céus, que não está acima nem abaixo, mas dentro de cada um. Nesse testamento o fato de viver nesse reino dos céus é chamado de Bem-aventurança. No acordo que vamos ver, Deus diz aos seres encarnados que se seguirem o que está sendo proposto, acordado, ao final ele encontrará a Bem-aventurança.

Esse é o Novo Testamento que vamos ver. Vamos ver informações de como se viver que estão no testamento, e que se seguidas levara o ser humanizado a viver no reino do céu, ou seja, ser um Bem-aventurado.

Por isso, pergunto: o que é Bem-aventurança? É a felicidade que os santos vivem. Trata-se de uma felicidade diferente da que vocês conhecem, que é o prazer. Por isso, afirmo que aquele que seguir o acordo, ou seja, cumprir o que está em o Novo Testamento, receberá uma felicidade que independe de coisa materiais, de ganhar, de ser parta ter ou ter para ser. Trata-se de um estado de espírito interno que leva o ser a viver em paz, harmonia e felicidade com as coisas do mundo.

É sobre isso que vamos conversar. Vamos falar sobre o que Deus fala aos encarnados que é necessário ser feito para eles alcancem a Bem-aventurança. Se eles não seguem, o que ganham? Prazer e dor.

Portanto, o que vamos estudar é um caminho que se seguido o leva a viver em paz, harmonia e felicidade; se não, o leva a viver o ciclo do prazer e da dor.

Esse é o resumo de nossa conversa. Nada do que disser aqui, nada de nossa conversa, pode fugir a isso. Cada ensinamento que lermos no Novo Testamento é um caminho para se alcançar a felicidade.

Claro que a linguagem de uma conversa é sempre de acordo com o tempo em que foi proferida. Por isso, não vamos usar as mesmas palavras, mas com certeza iremos alcançar o mesmo objetivo do autor no Testamento.

Além disso, não nos esqueçamos que a Bíblia é escrita em parábolas. Por isso, será preciso se decodificar as histórias. Faremos isso sem inventar alguma coisa, claro, mas ampliaremos a compreensão do que foi dito para descobrir o que precisa ser feito para se viver em paz.

Participante: se esse é o novo acordo, qual o velho?

O Velho Testamento. Ali está todo o velho acordo que, aliás, não nos interessa. Porquê? Porque somos cristãos. Se fossemos judeus teríamos que estudar o velho e esquecer o novo.

Essa importância fica bem clara logo no início do nosso estudo. Comece a ler o Evangelho de Mateus para começarmos a ver esses ensinamentos.

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A mensagem de João Batista

“Naquele tempo, João Batista foi para o deserto da Judéia e começou a pregar dizendo: arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do céu está perto!

A respeito de João, o profeta Isaías tinha escrito: alguém está gritando no deserto; preparem o caminho para o senhor passar! Abram estradas retas para ele!

João usava roupa de pelos de camelo e um cinto de couro e comia gafanhotos e mel do campo. Os moradores de Jerusalém, da região da Judéia e de todos os lugares em volta do rio Jordão iam ouvi-lo. Eles confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão.

Quando João viu que muitos fariseus e saduceus vinham para serem batizados por ele, disse: raça de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai mandar? Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados. E não pensem que podem se desculpar dizendo que Abraão é nosso antepassado. Porque eu afirmo que até dessas pedras Deus pode fazer descendentes de Abraão! O machado já está pronto para cortar as árvores pela raiz. Toda árvore que não dá boa fruta será cortada e jogada no fogo. Eu os batizo com água para mostrar que vocês se arrependeram dos seus pecados, mas aquele que virá depois de mim os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele é mais importante do que eu e não mereço a honra de carregar as sandálias dele. Com a pá que tem na mão ele vai separar o trigo da palha, ajuntará o trigo no seu depósito, porém queimará a palha no fogo que nunca se apaga”. (Mt, 3, 1 a 13).

Tudo o que João Batista fala diz respeito à missão Jesus Cristo. Isso ficará mais claro agora que vamos ver o batismo de Jesus Cristo.

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O batismo de Jesus Cristo

“Naqueles dias, Jesus foi da Galileia até o rio Jordão a fim de ser batizado por João Batista. Mas, João tentou convencê-lo a mudar de ideia dizendo assim: eu é que preciso ser batizado por você e você está querendo que eu o batize?

Mas, Jesus respondeu: por enquanto deixe que seja assim, pois assim faremos tudo o que Deus quer. E João concordou.

Logo que foi batizado, Jesus saiu da água. Então, o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus descendo como um pomba e pousando sobre ele. E do céu veio uma voz que disse: este é o meu Filho querido, que me dá muita alegria”. (Mt, 3, 13 a 17)

O que podemos desse último trecho, dessa fala de Deus, retirarmos para nosso estudo? Veja bem: Jesus é batizado e depois disso Deus diz que aquele é o Filho preferido. O que podemos perceber por essa parte? O aval de Deus.

Naquele momento, para o nosso estudo, é reconhecido que Jesus Cristo é o intermediário de Deus no novo acordo com os espíritos encarnados. É aqui que começa todo o acordo.

Para entender isso, me deixe fazer uma pergunta: qual a importância de Jesus? Será que ele é melhor que qualquer um de nós? Será que Cristo é melhor que nós, outros espíritos? Claro que não.

Apesar dele não ser melhor do que nenhum de nós, as palavras dele têm força, são bem recebidas pelos encarnados, e a de outros mentores não possui essa força. Porquê? Porque ele recebeu o aval de Deus.

Esse trecho, então, nos diz duas coisas. Primeira: Jesus Cristo é o escolhido de Deus para firmar o acordo, ou seja, para trazer as bases do acordo. Segunda: se ele é o escolhido de Deus, a partir de agora não se pode questionar nada que é falado. Isso porque tudo o que falar será a palavra de um represente de Deus usando dessa prerrogativa para estabelecer o contrato.

Esse aval acaba com a possibilidade de questionamento do que está escrito no Novo Testamento, principalmente por aqueles que se dizem cristãos, já que depois dessas palavras do Senhor, Jesus Cristo se torna o Seu procurador. Isso para quem é cristão, no entanto, a mesma lógica se aplica àqueles que seguem outros mestres. Buda é o procurador para o budismo, Krishna para o hinduísmo, Espírito da Verdade para o espiritismo. Por isso, se contestar um ensinamento desses mestres é impossível.

Nesse estudo, como estamos vendo o Novo Testamento, falamos a cristãos. Por isso dizemos aqui que esses não podem combater qualquer coisa que esteja escrita nesse acordo.

Portanto, esse é o primeiro ponto. Começa aqui, quando Deus nomeia Jesus Cristo como seu procurador para firmar esse acordo. Por isso, vamos começar a ouvir o que foi trazido como cláusulas do acordo pelo procurador do Senhor.

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Vá para o deserto

“Então, o Espírito Santo levou Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo. E depois de passar quarenta dias e quarenta noites sem comer, Jesus estava com fome”. (Mt, 4, 1 e 2)

É um item com muitas informações, por isso vamos precisar conversar separadamente sobre elas. A primeira diz respeito ao fato de Cristo, após ter sido nomeado procurador de Deus, ter sido levado ao deserto.

Vocês se lembram do que aconteceu com Buda antes da sua iluminação?

Participante: ele deixou o reino e foi viver uma vida de asceta.

Para quê? Para se iluminar. O que Cristo foi fazer no deserto? Se iluminar também.

Se as duas histórias de procuradores coincidem, isso precisa nos dizer algo. O quê? Que o primeiro passo da Bem-aventurança é virar as costas para as coisas materiais. É preciso entender que é impossível se conseguir uma iluminação, uma Bem-aventurança e ao mesmo tempo um sucesso material.

A iluminação, a Bem-aventurança surge quando o ser humanizado vai para o deserto, ou seja, quando ele se isola do mundo. Ela jamais pode ser conquistada se o ser viver na dependência das coisas materiais.

É claro que não estou dizendo que vocês precisam ir para o deserto, até porque chegar num é algo complicado. O que estou falando é que intimamente é preciso se estar num deserto, ou seja, libertar-se das amarras materiais. É aquilo que sempre disse: de nada adianta andar num caminho de olho em outro. Isso não lhe leva a lugar algum. Estará sempre andando lateralmente como o caranguejo.

Portanto, o primeiro passo da Bem-aventurança, o primeiro tópico do acordo com Deus, é: para começar qualquer coisa, corte as amarras com o mundo material; liberte-se das prisões, das necessidades materiais.

Participante: esse deserto não está apenas simbolizando os objetos, bens, materiais, mas também as opiniões dos outros ...

A família, ao bem estar, etc. Está ligado à tudo que é material.

O importante é você entender que a partir do momento que decide percorrer esse caminho, tenho que virar as costas para o mundo, me libertar dos outros e da forma de viver humana. É impossível ser um bom pai, um bom marido e ao mesmo tempo conquistar a Bem-aventurança.

Participante: não só os ensinamentos de Cristo, mas a sua própria vida é simbólica, não?

A própria vida dele não aconteceu como está escrito aí e tudo que é ato narrado aí possui um simbolismo.

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Nem só de pão vive o homem

“Então, o diabo chegou perto dele e disse: se você é filho de Deus, mande que essas pedras virem pão. Jesus respondeu: as Escrituras Sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo o que Deus diz”. (Mt 4, 3 e 4)

Aqui começamos realmente a ver o caminho da Bem-aventurança.

Se esse é o acordo e se Cristo é o procurador do Senhor, o que é importante para aquele que quer alcançar a Bem-aventurança? O que ele disse. O resto, não interessa.

Participante: e seus atos também ...

Como simbolismo e não ação.

Portanto, pouco me interessa o que o diabo falou, mas sim Cristo. O que ele falou? “O ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo o que Deus diz”. Ou seja, o ser humano deve se alimentar, porque pão é o alimento, da palavra de Deus. Esse é o primeiro recado.

Que recado é esse? Que a Bem-aventurança não pode ser alcançada através das coisas materiais. Que a sua felicidade depender de elementos materiais. Felicidade onde estão envolvidos elementos humanos, é prazer e não felicidade. Por exemplo, sentindo-se bem por ter feito determinada ação, isso não é felicidade, mas prazer.

A Bem-aventurança é fruto de uma entrega a algo além da matéria. Esse é o primeiro recado. O bem-aventurado não vive a felicidade motivado por coisas materiais. Ele é feliz, por exemplo, apenas por existir e não porque teve um filho que passou na escola. Ele é feliz por estar aqui nesse momento e não pelo momento em si.

O que estamos falando é que a felicidade sempre acontece motivada por algo além da própria materialidade, da felicidade oriunda de coisas materiais. Ele é feliz, ponto final.

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Não ponha Deus à prova

“Em seguida o diabo levou Jesus até Jerusalém, a Cidade Santa, e o colocou na parte mais alta do Templo. Então disse: se você é Filho de Deus, jogue-se daqui de cima, pois as Escrituras Sagradas dizem que Deus mandará que os seus anjos cuidem de você; que eles vão segurá-lo com as suas mãos, para que nem os seus pés sejam feridos nas pedras. Jesus respondeu: mas, as Escrituras Sagradas também dizem que não se deve pôr à prova o Senhor, o seu Deus”. (Mt 4, 5 a 7)

A felicidade incondicional ou Bem-aventurança não pode ser oriunda de uma vitória num desafio a Deus.

Qual é a felicidade oriunda desse desafio? Barganha, conquista do que não tem. A felicidade que você ganhará se seguir esse acordo não é porque alguma coisa foi conquistada, mas sim só por ser. O Bem-aventurado é, ponto.

Quando falo isso estou entrando em algo que vocês talvez nem tenham acordado, mas a Bem-aventurança não surge nem de ganhar uma elevação espiritual. Quem ainda procura uma elevação por seguir o acordo, ainda está testando Deus: ‘está certo, vou fazer, quero ver se Você vai me dar o que promete’.

Participante: então, não posso usar o alcançar a felicidade como motivação para seguir o acordo?

Se usar isso como motivação, ganhará o prazer de ter conseguido e não a Bem-aventurança. Então, o que é preciso ser feito é fazer por fazer e não esperando algo.

Participante: mas aí a mente fica nos testando, dizendo que vamos ganhar alguma coisa ...

Essa é a hora de você dizer: se ganhar, ganhei, se não ganhar, não ganhei. O trabalho que venho falando há dezessete anos continua o mesmo ...

Ficou claro o segundo tópico do acordo?

Participante: podemos fazer um paralelo com outros mestres para podermos compreender?

Claro.

Participante: isso é o mesmo quando Krishna ensina que devemos praticar o yajña, ou seja, o sacrifício da intenção à Deus.

Sim. É preciso sacrificar em nome de Deus o querer/esperar ganhar alguma coisa.

Participante: tem uma frase que diz que não há caminho para a paz, pois a própria paz é o caminho.

Mais ou menos isso. Não é fazer para ter paz, mas a própria paz é o que precisa ser feito.

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Adore a Deus

“Depois o diabo levou Jesus para um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e as suas grandezas e disse: eu lhe darei tudo isso se você se ajoelhar e me adorar. Jesus respondeu: vá embora, Satanás. As Escrituras Sagradas afirmam que se deve adorar o Senhor, o seu Deus e servir somente a ele.

Então, o diabo o deixou e os anjos vieram e cuidaram de Jesus”. (Mt 4, 8 a 11)

Adore somente o seu Deus e sirva somente a Ele: isso faz parte do acordo.

O que quer dizer isso? Adore apenas o seu Deus e O sirva e não faça a mesma coisa com a matéria.

O que é servir a matéria? Entregar-se a ela. E o que você espera como recompensa por servir a ela? A glória, o reconhecimento, a fama ...

Adorar apenas a Deus é fazer por Ele e não pela glória material. Não para ser glorificado materialmente. As pessoas muitas vezes me perguntam se tem pessoas que colocam em prática o que falo. Eu sempre respondo que sim, há pessoas que fazem. Nesse momento a pergunta é sempre a mesma: quem? Não adianta me fazer essa pergunta porque não há utilidade em citar pessoas que consigam viver como apregoamos. Sabe porquê? Porque são pessoas anônimas, pessoas que certamente vocês não conhecem.

Aqueles que conseguem viver em paz e harmonia verdadeira são seres que não possuem o reconhecimento por parte da humanidade. Por isso, de nada dizer que a Da. Maria ou o Sr. José vivem como eu apregoo. Esses são os verdadeiros bem-aventurados, mas vocês não reconhecem, enquanto que milhares de gurus, mestres, guias ou mentores só estão na busca de reconhecimento, de serem glorificados. Não servem a Deus, apesar de levarem a mensagem do senhor. Servem a matéria, pois fazem para alcançar a glória individual.

Voltaremos a ouvir falar deles quando formos estudar os professores da lei. Eles são os que escolhem o melhor lugar nas igrejas, carregam as tabuletas para mostrar o quanto sabem, que geram obrigações e necessidades a quem quer servir a Deus, mas não os ajuda nem com um dedo. Quem vive assim está servindo a matéria e não a Deus.

Participante: nós corremos esse risco?

Claro que sim. Esse risco faz parte do acordo. Compreender o que estamos falando e levar o que ouviu para outras pessoas lhe leva a correr o risco de serem adorados por aqueles que ajudam. Nesse momento é preciso estar atento para não se deixar levar pela fama.

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Sirva a Deus e não ao próximo

Mas, há mais um detalhe no ensinamento de Cristo. Ele diz que devemos servir a Deus; quando fizermos isso e estivermos ajudando alguém, qual deve ser a nossa preocupação?

Participante: servir a Deus ...

Isso. Sendo isso verdade, qual não deve ser a minha preocupação? Em não salvá-lo, em não torná-lo melhor, em não lhe levar para a felicidade.

A minha ocupação quando ajudar o próximo é em servir a Deus e não ao outro. Sendo assim, se ele sair da situação que estava, saiu, se não sair, não saiu. Você deve fazer isso porque serve a Deus, não a si mesmo nem ao outro.

Quando se luta para salvar alguém, o salva para si mesmo, para que ele lhe adore. Por esse motivo, preste todo socorro necessário, mas não se importe se ele conseguiu se libertar ou não. Jamais cobre nada, jamais exija nada de ninguém, nem quanto ao cumprimento do que é passado até quanto à veracidade do que você fala.

Se passar uma visão de libertação para alguém, se ele não acreditar naquele caminho, não tente convencê-lo de que está certo. Se ele aceitar o conselho, mas não quiser colocar em prática, também não cobre que não fez.

Lembro que no início eu orientava os seres humanos da seguinte forma: durante a sua caminhada, estenda a mão para os irmãos e caminhe. Agora, se aquela pessoa começar a andar para trás ou diminuir a sua caminhada, largue a mão e siga o seu caminho.

O problema é que muitas pessoas na função de ajudar o próximo e com isso receber sua Bem-aventurança, acha que tem que salvar o outro. Salvar de onde, do quê?

Lembram-se de uma vez onde alguém me pediu para salvar a sua prima? Ele contou que o filho dela havia morrido e que ela vivia de luto, que visitava o cemitério todo dia, que só se relacionava com pessoas de luto. Respondi a essa pessoa que quem precisava ser salva era a pessoa que me estava fazendo a pergunta, porque a prima estava muito bem com o que vivia.

Portanto, o ajudar o próximo é uma linha muito tênue que é percorrida. A Bem-aventurança não é recompensa por servir ao próximo, mas sim a Deus, enquanto ajuda os outros.

Se uma pessoa não aceita a sua ajuda, a esqueça. Insistir em ajuda-lo, ensiná-lo, é portar-se como o dono da verdade que quer impingi-la ao outro. Com isso acaba com a premissa básica do amor que é o respeito ao próximo.

Sei que vocês dizem que fora da caridade não há salvação. Sim, isso é verdade, mas a linha entre a verdadeira caridade e a utilização do outro para seu próprio benefício é muito tênue. Pratica a verdadeira caridade quem serve e Deus e não quem quer por quaisquer meios salvar o outro.

Participante: isso quebra o estereótipo de que a pessoa que serve a Deus tem a aura de só agradar aos outros, mas está de acordo com seus ensinamentos anterior. O senhor já disse que um assassino pode servir a Deus. Essa visão de servir a Deus não é materialista, humana, ou seja, o ser pode servir a Deus mesmo tendo atitudes que o humano veem como ofensa, com uma violência.

Sei que o ser humanizado quando fala não pensa, mas se você pensasse veria que nessa explanação juntou as outras tentações que conversamos: não se vive só de pão e não tente o seu Deus. Estou salientando isso para lhes mostrar uma coisa: todos os códigos desse acordo se encaixam.

Participante: você disse que pessoas que servem a Deus não alcançam a notoriedade. O que quero saber é se eles não se intitulam como salvadores, mas as pessoas o reconhecem?

Esses não se consideram especiais, melhores. Na verdade, mais do que se considerar, não se sentem especiais. Não se dizem líderes de grupo, guias espirituais, mentores de alguns. Quando um ser humano começar a se nomear como alguma coisa, não o siga, pois esse está testando a Deus, servir a matéria.

Participante: a exceção são os mestres, não? Digo isso porque Buda depois de alcançar a iluminação procurou os seus ascetas, afirmou que tinha despertado e convidou-os para segui-lo.

Sim, ele fez isso, mas apesar desse convite para segui-lo, Sidarta saia todo dia pela manhã para mendigar comida.

A humildade que estou falando está no mundo interno de cada um e não nos acontecimentos externos.

Participante: o senhor quer dizer que ele não se coloca num pedestal.

Exatamente. Podem colocar ele depois, mas ele nunca se colocou.

São esses dois detalhes que estão embutidos no trecho onde Cristo diz que é preciso adorar e servir a Deus.

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O pavimento da bem aventurança

Mais um detalhe. Agora que vimos as três tentações quero falar uma coisa. Todo o caminho para a Bem-aventurança é pavimentado pela prática dessas três coisas que acabamos de falar.

Colocando em prática o que acabamos de ver, ou seja, não se alimentando apenas de pão, não pondo Deus a prova e servindo e adorando ao Senhor, você será bem-aventurado.

Todo o resto que vamos ainda ver dentro desse acordo é detalhamento para lhe ajudar a realizar essas três coisas.

Participante: esses três itens são a totalidade? O resto é importante por si ou serve apenas como detalhamento desses três aspectos?

Apenas para detalhar. Por isso é que demoramos mais nesses três itens.

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Troca de missionários

“Quando Jesus soube que João tinha sido preso, foi para a região da Galileia. Não ficou em Nazaré, mas foi morar na cidade de Cafarnaum, perto do lago da Galileia, na região de Zebulom e Naftali”. (Mt 4, 12 e 13)

Porque Jesus só foi para a Galileia depois que João Batista foi preso?

Participante: tem informação sobre isso na Bíblia?

Claro e nós já vimos: “Ele é mais importante do que eu e não mereço a honra de carregar as sandálias dele”. Mais: “eu é que preciso ser batizado por você e você está querendo que eu o batize? Mas, Jesus respondeu: por enquanto deixe que seja assim, pois assim faremos tudo o que Deus quer”.

Então, veja, João Batista foi um antecessor de Cristo. Só depois que cessou o seu caminho é que a missão Jesus Cristo pode começar.

Mas, o que aconteceu com Jesus Cristo durante o fim da missão João Batista? As tentações, ou seja, um processo de formação de um caminho. É por isso que disse que as três tentações formam o pavimento de todo o caminho para a Bem-aventurança.

As três tentações é, para Cristo, o mesmo que o Nobre Caminho Óctuplo de Buda: o fundamento de toda doutrina. Não foi a esse ensinamento que o mestre hindu chegou quando da meditação na floresta? Pois, então, foi o resultado das tentações que formaram a base de tudo o que Cristo fala.

Um detalhe: está observando que esse livro está se tornando bem diferente de suas leituras anteriores? Eu disse que vocês não sabiam ler ...

Participante: nós fazemos uma leitura seletiva. Tem coisas que descartamos totalmente por imagina-las insignificantes, mas possuem significado.

Através de nossas conversas você conhecerá a importância dessas coisas.

“Isso aconteceu para se cumprir o que o profeta Isaías tinha dito: terra de Zebulom e de Naftali, na direção do mar, no outro lado do rio Jordão, Galileia, onde moram os pagãos! O povo que vive na escuridão verá uma forte luz! E a luz brilhará sobre os que vivem na região escura da morte.

Daí em diante Jesus começou a anunciar a sua mensagem. Ele dizia: arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do céu está perto!” (Mt 4, 14 a 17)

Aliás a mesma mensagem de João Batista, o que nos leva a entender claramente que uma é continuação da outra.

Participante: eu achava que João falava de Jesus?

Não. Ele falava, como já vimos: “arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do céu está perto”! Dizia isso, mas deixava bem claro: eu falo isso por enquanto, mas depois virá outro que continuará com essa mensagem.

Com isso posso dizer que ele lançou as bases do caminho para a Bem-aventurança e Cristo depois veio trazer as bases para a caminhada. Tanto é assim que não há um Evangelho de João, mas só do Cristo.

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Se chamado, largue tudo

“Quando Jesus andava pela beira do lago da Galileia viu dois irmãos que eram pescadores: Simão, também chamado de Pedro e André. Eles estavam pescando no lago com redes. Jesus disse: venham comigo que eu ensinarei vocês a pescar gente.

Eles largaram logo as redes e foram com Jesus.

Um pouco mais adiante ele viu outros dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu. Eles estavam no barco com o pai e consertavam as redes. Jesus os chamou e eles no mesmo instante deixaram o pai e o barco e o seguiram”. (Mt 4, 18 a 22).

Essa é uma parte importante para os missionários. Para eles o caminho é: se chamados para pescarem gente, larguem tudo o que estão fazendo, e sigam o chamado.

Como não é importante para a caminhada geral, vamos nos restringir a esse pequeno comentário.

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As curas de Jesus

“Jesus andou por toda Galileia ensinando nas casas de oração anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus e curando as doenças e sofrimentos do povo. As notícias a respeito dele se espalharam por toda a região da Síria. Por isso o povo levava a Jesus pessoas que sofriam de várias doenças e de todos os tipos de males, isto é, pessoas dominadas por demônios, epiléticos e paralíticos e ele curava todos. Grandes multidões o seguiam; eram gente da Galileia, das Dez Cidades, de Jerusalém, da Judéia e das regiões que ficavam do outro lado do rio Jordão”. (Mt 4, 23 a 25)

Tanto esse trecho como anterior é apenas história. Não há ensinamentos. O que importa para a Bem-aventurança se a pessoa chamada estava em um barco consertando rede ou estava fazendo qualquer outra coisa?

Participante: gostaria de fazer uma pergunta. Comentando o Evangelho Apócrifo de Tomé, o senhor disse que as pessoas enfermas que participam da missão Jesus Cristo são espíritos missionários, ou seja, os acontecimentos de suas vidas, principalmente as curas, existiram para que a missão Jesus Cristo acontecesse e assim o caminho da Bem-aventurança fosse escrito. Isso é verdade?

Sim, pessoas que fizeram parte de um teatro, a peça Divina Comédia Humana. As suas curas para a Bem-aventurança não têm importância alguma, mas o fato delas terem acontecido abriu mais os ouvidos dos encarnados para o que era ensinado.

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Pobre de espírito

“Quando Jesus viu a grande multidão, subiu um monte e sentou-se. Os seus discípulos chegaram perto dele e ele começou a ensiná-los dizendo assim:” (Mt 5, 1 e 2)

Agora é que realmente vai começar a nossa caminhada em busca da Bem-aventurança.

“Felizes os que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do céu é deles”. (Mt 5, 3)

Felizes quer dizer bem-aventurado. São assim aqueles que sabem que são espiritualmente pobres.

Pobre é sinal de pouca posse. Qual a posse espiritual? Qual a única coisa que acompanha o ser depois que sai da carne? As emoções, os sentimentos. Isso é seu, ninguém lhe tira.

Participante: o que ele fará com isso depois do desencarne?

É disso que ele se alimenta. O alimento do espírito é o sentimento. Sentimentos são energias e o espírito se alimenta disso.

Portanto, a posse do espírito é o sentimento que tem.

Quando se fala que é espiritualmente pobre de sentimentos, essa carência não existe em quantidade, mas em qualidade. O espiritualmente pobre é aquele que só tem um sentimento. Qual é? O amor universal.

Por isso afirmo que o bem-aventurado é aquele que só ama, só tem o amor.

Dentro do nosso trabalho, essa compreensão quer dizer que para o ser humanizado ser feliz incondicionalmente é preciso que ele ame sempre, que apenas ame. Como esse amor é incondicional também, isso não quer dizer amar a esse ou aquele, isso ou aquilo, mas a tudo e a todos o tempo inteiro.

Só assim é possível se conseguir o Reino do céu, como dito no ensinamento, ou seja, a felicidade eterna. Aquele que só ama jamais perde o seu estado de felicidade.

Participante: isso se aprende?

Isso se desenvolve, pois a felicidade já está dentro de você.

Participante: quando desencarnamos não levamos conosco o ego?

Não. Leva as emoções.

Desencarnar é se liberar do ego, não a morte física. Nela você leva o ego. Melhor dizendo: pode levar. Há seres que ao ser desligado da carne são desligados do ego imediatamente.

No desencarne, como regra, leva os sentimentos, aquilo que sentiu com relação às coisas desse mundo.

Participante: posso dizer que esses sentimentos são os geradores da próxima encarnação?

Pode.

Todo carma é fundamentado naquilo que o ser sente e não no que faz. Amando, gera um carma, tendo raiva, gera outro. Se tem cobiça, gera outro carma

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Sofrer

“Felizes os que choram, pois Deus os consolará”. (Mt 5, 4)

Quem são as pessoas felizes segundo esse ensinamento? Aqueles que aceitam o sofrimento. Para viver a verdadeira felicidade é preciso passar pelo sofrimento. Não se consegue isso acabando com o sofrimento.

Participante: perfeito, mas como é que lendo esse trecho vou chegar a esse entendimento?

Quando formos estudar João, veremos que Cristo diz que o consolador virá.

Portanto, esse ensinamento afirma que a felicidade depende de você saber passar pelo seu sofrimento ao invés de querer acabar com ele.

Participante: isso é bem Buda.

Sim.

O Buda ensina assim: ‘venha cá meu sofrimento, tudo bem com você? Agora que já lhe recebi, pode ir embora. Ou seja, afirma que é preciso lidar com o sofrimento.

Participante: está falando em não reprimir o sofrimento?

Mais do que não reprimir. Estou dizendo que não deve querer fugir dele.

Aceitá-lo quando vier como parte integrante da vida e mesmo que esteja em estado de sofrimento, internamente, não testar a Deus, não se alimentar da lei do pão. É preciso não negar nem fugir do sofrimento. A negação dele ou a busca de fugir acaba com a verdadeira felicidade

Participante: eu odeio a palavra aceitar. Uma vez você me falou uma coisa que marcou demais. Disse que aceitar por aceitar, acaba formando uma ferida bem pequena. Em outra situação futura aceita novamente e forma nova ferida. Assim vai se ferindo constantemente. Se viver a verdade sem se revoltar não forma ferida.

É dizer para si: ‘estou sem dinheiro, não tem jeito, sou um safado mesmo, eu não trabalho, não tem jeito... Vamos tocar pra frente’.

Participante: isso. Toda vez que vejo uma aceitação, para mim, vou procurar a verdade para tirar a aceitação do meu caminho. Se você não tiver uma outra verdade que dê base àquilo, não acaba com a aceitação. Aquilo fica perturbando e uma hora explode. Vira um lamento

Aliás, quando estudamos Krishna vimos que o verdadeiro sábio não se lamente nem pela vida nem pela morte.

Participante: e quando estivermos em um ambiente familiar, por exemplo, eu com meu irmão estávamos muito mudado e eu cheguei para meus pais e falei com eles para melhorar a relação...

Não. Isto é ato. A questão é interna. O problema é se deixa a relação não boa afetar a sua relação com ele.

Você pode ter a pior relação do mundo com seu irmão, não há problema nenhum. Isso é ato, é para fora. Mas, internamente não pode deixar essa relação lhe levar a jogar lama nele.

Só que isso tem que fazer não só com o irmão, quem você tem motivos para gostar, já que é irmão, mas com todos. Precisa fazer com uma pessoa que nunca viu, mas ao ver recebe uma crítica do seu mundo mental. Deve dizer para si: ‘não gostei dela, não gostei do que ela fez, mas nem por isso vou desmerecê-la aos meus olhos’.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Humildes

“Felizes os humildes, pois receberão o que Deus tem prometido”. (Mt 5, 5).

Já vimos duas coisas que caracterizam um bem aventurado: tem que ter só amor e tem que não fugir do sofrimento. Agora o acordo fala que é preciso ser humilde. O que é ser humilde? Não se vangloriar por aquilo que tem.

Humildade, diferente do que vocês pensam, não é não ter. O reino do céu, a felicidade plena, está aberto tanto para quem tem como para quem não tem. No entanto, está fechado para aqueles que se vangloriam, mesmo do pouco que possuem.

Participante: e também reconhecendo para quem sabe que o que se tem não é por mérito próprio.

Agora você já está entrando em muitos detalhes. Por enquanto ficamos somente no não se vangloriar.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Viver a vontade de Deus

“Felizes os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois eles os deixará completamente satisfeitos”. (Mt 5, 6)

Qual é a vontade de Deus? Não se trata de ter uma vontade própria, individual. A vontade Dele é a necessidade de cada um. Por isso posso dizer que a vontade do Pai é caracterizada por dar a cada um segundo suas obras.

A partir disso, pergunto: qual a vontade de Deus para você? O que acontecer. Está coçando o nariz agora? Essa é a vontade de Deus. Posso dizer isso porque dar a cada um segundo suas obras é a vontade Dele. Sendo assim, tudo que faz é a vontade de Deus, que é o resultado de um carma que você adquiriu em um momento anterior.

Compreendido isso, pergunto novamente: quem tem fome e sede da vontade de Deus? Aquele que tem fome e sede de viver o que a vida apresenta.

Antes tínhamos falado em fugir do sofrimento, agora estamos falando em fugir da vida: ‘eu não queria que isso tivesse acontecido’. Esse não tem fome e sede da vontade de Deus. Aquilo que aconteceu é o que Deus deu para esse ser. Por isso ele deve vive-lo em toda plenitude, mesmo que não goste.

E aquele que vive tudo que Deus lhe dá sem repudiar nada, Deus consola.

Participante: me veio uma ideia à mente, que é uma coisa neurótica. A vontade de Deus é a realização de nosso próprio carma... É algo que desejamos lá atrás. Agora aqui não gostamos disso e reclamamos...

Perfeito.

Por quê agora não quer? Porque não se reconhece como espírito. Por se ver como humano não entende que o que acontece é fruto do seu carma e uma nova oportunidade de elevação. Acha que é a outra pessoa que não gosta de você que está fazendo aquilo. Aí cai em tudo que não é bem aventurança.

Como disse, esse é o caminho da bem aventurança: você aceitar tudo. Quando não aceita tudo, vive o prazer e dor.

Está mudando o livro? Acho que sim... E, veja, não fugi em nem um momento da base do livro: o acordo de Deus com você, através de seu procurador nomeado que é Cristo.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Ter misericordia

“Felizes os que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia deles também”. (Mt 5, 7)

O que é ter misericórdia dos outros? É quase igual à benevolência: ter boa vontade com os outros. É ser consciente do sofrimento dos outros sem sofrer o sofrimento deles.

Eu não queria que vocês estivessem encarnados, mas estão. Então, reconheço que vocês passam nesse momento por esse processo, que muitas vezes é traumático para o espírito e digo: ‘se estão, é porque precisam. Isso foi o que Deus determinou. Então, louvado seja Deus’. Isso é misericórdia.

Misericórdia não é dizer: ‘coitadinho de você que não tem um prato do comida’. Misericórdia é dizer: ‘é, você não tem um prato de comida, mas esse é o destino que Deus lhe reservou. Mais: que pediu para ter porque sabia que precisava. Então, lhe ajudo no que posso, mas não sofro pelo seu estado atual’.

Participante: você não pode falar isso para um católico.

Claro que pode. Ou é essa a compreensão de tudo o que vimos até aqui, ou joga fora a Bíblia.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Coração puro

“Felizes os que têm o coração puro, pois eles verão a Deus”. (Mt 5, 8)

O que é ter coração puro? O que você guarda no seu coração que pode tirar a pureza dele? Vamos colocar algumas coisas, as mais marcantes: amargura, ressentimento, preconceito. Tudo que você acha a respeito do outro que não seja amor, suja o seu coração.

Portanto, para ser feliz, não pode guardar mágoas, ressentimentos. Guardando, não vai conseguir alcançar a bem aventurança porque não terá coração puro. Aí viverá no prazer e na dor

Participante: posso falar que muitas vezes a gente tem que fazer o papel de trouxa?

Quem foi o maior trouxa que existiu? Cristo. Era o Reis dos Reis, poderia ter tudo e de repente, acabou na cruz. Aliás Krishna diz: “o verdadeiro sábio é aquele que transita entre as coisas do mundo com cara de bobo”.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Trabalhar pela paz

“Felizes os que trabalham pela paz entre as pessoas, pois Deus os tratará como seus filhos”. (Mt 5, 9)

O que é trabalhar pela paz?

O que é paz? Não guerrear. O que você precisa para guerrear? Armas. Então, o que é trabalhar pela paz? É não ter e ajudar os seres a não terem armas, a se armarem contra o outro.

‘É isso mesmo, aquela pessoa é uma safada, é isso e aquilo...’ Quem vive assim está contribuindo para a guerra, pois está reforçando dentro da outra pessoa os argumentos para guerrear.

Trabalhar pela paz não é elogiar aquele que a outra pessoa não gosta, mas ajudá-la a perder as armas que tem. Uma grande forma de dar essa ajuda é perguntar: ‘será que o outro é isso mesmo? Vamos olhar por outro ângulo?’

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Não rebater as críticas

“Felizes os que sofrem perseguição por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do céu é deles”. (Mt 5,10)

O reino do céu é a felicidade. Só que isso não é recompensa por nada; é consequência de alguma coisa. Considerando a felicidade como uma recompensa ainda estará querendo ganhar alguma coisa e com isso dificilmente a encontrará.

O reino do céu, a felicidade, não é ganho: é recebido. É a reação a uma ação. Por isso, calma.

Porque estou dizendo isso agora? Porque pode ser que você não consiga instantaneamente a felicidade quando for perseguido. Mas, fazendo o trabalho, mais cedo ou mais tarde ela virá.

Vamos, então, ao ensinamento em si. Qual é a perseguição que você sofre por fazer a vontade de Deus?

Para compreender isso precisamos relembrar: o que é a vontade de Deus?

Participante: é o que acontece.

 Isso.

Quando é que você sofre perseguição ao aceitar o que acontece? Quando o outro não aceita o que você falou, o que fez ou o que disse. Quando o outro reage de forma negativa ao que você fez. Nesse momento, ao invés de ficar feliz por sofrer a perseguição, o que você quer? Rebater e provar que está certo.

Levando tudo isso em consideração, posso, então, dizer que a sua felicidade depende de não rebater quem lhe critica. É isso que está escrito aí. É isso que faz parte do acordo.

Só para tirar a prova dos nove: quem não rebate às críticas, o que faz? Vive da palavra de Deus, não O testa, não quer o bem desse mundo. As três tentações.

Participante: e não evita o sofrimento... O pensamento sofredor está lá: você vai sair como idiota nessa história...

Mas, aí você diz para si: ‘eu não testo a Deus, não quero o bem desse mundo, não quero ter reconhecimento por ter feito coisa alguma’.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Não necessidade de defender-se

“Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores”. (Mt 5,11)

“Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês. Porque foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”. (Mt 5,12)

Esses trechos são praticamente complemento do último que conversamos. Só tem uma palavra a mais: ‘lhes caluniam’. O que é caluniar? Falar uma coisa que você não considera ser ou ter feito.

Portanto, se alguém disser que você é homossexual, fique feliz; quando disser que explora sua esposa, fique feliz; quando disser que você nunca estudou e por isso não pode falar sobre certas coisas, fique feliz.

Para que seja feliz de verdade, não pode querer que o outro veja como você se vê, que tenha a mesma ideia que tem de si mesmo. Quem quer isso, só vive prazer ou dor. Prazer quando consegue convencer o próximo; dor, quando não consegue

Participante: não ter que provar nada para ninguém.

Nem para você mesmo. Ninguém. Porque?

Vou me lembrar de Santo Agostinho em O Livro dos Espíritos: ‘que adianta pensar sobre você mesmo se a mente lhe engana sobre o que é?’ Você não é o que pensa que é: é a sua mente que lhe diz que é o que pensa que é. Então, quando quer defender-se, está defendendo a mente. Está defendendo a coisa material.

Além disso, não precisa defender-se de ninguém. Porque? Por que Deus sabe quem você é. Não adianta se esconder Dele, pois Ele sabe tudo.

Por isso, não perca sua felicidade se você ou outro lhe caluniar.

Participante: quando a mente calunia fica uma culpa, não é?

A culpa é o fruto de você ter aceitado a calúnia

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Sal para humanidade

“Vocês são o sal para a humanidade; mas, se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve para mais nada. É jogado fora e pisado pelas pessoas que passam”. (Mt 5, 13)

Você é o sal para a humanidade. O que é o sal? O tempero. Então, você é o tempero da vida dos outros. O que quer dizer isso? Que dá sabor para a vida do outro. Gritando com alguém dá um sabor; abraçando-o, dá outro. Essa é a primeira conclusão do texto. Vamos em frente ...

Quando o sal do outro perderá o sabor e por isso será jogado fora?

Participante: quando eu não aceitar o que ele falou ...

Não. O sabor não está em você, mas nele, o sal. Ele é o sal. É ele que de um modo ou de outro vai temperar a sua vida. Vamos pensar sobre isso ...

Quando é que o outro tempera a sua vida com um sabor bom? Quando faz o que você quer, quando é bonzinho? Não. O sabor do sal que é posto na sua vida é sempre bom quando o outro age com amor. Mesmo que dê um tapa na sua cara, se estiver com amor, temperou sua vida com um sabor bom. Por isso, aquele que busca a felicidade tem que estar consciente de estar agindo sempre com amor interno.

Mas, quando alguém age com amor interno? Quando não cede à sua intencionalidade. O sal que não dá o tempero certo, e que por isso é jogado fora, é toda aquela ação que vem acompanhada de uma intencionalidade individualista. Não serve porque é fruto do egoísmo. Mesmo que o ato seja considerado bom (dar carinho, atenção, etc.) se acompanhado com intencionalidade (querer fazer), é um tempero sem gosto.

É o que vai por dentro e não o ato que conta para a bem-aventurança de quem faz e de quem recebe a ação. Se não receber com amor, não terá temperado sua vida com um sabor bom.

O ser, para a sua bem-aventurança tem que superar a própria intenção em cada ação. Toda ação que for feita cedendo às intenções é jogada fora. Para ele, não para você. Para você como receptor é outra coisa, mas ele como ação, aquele ato, apesar de ser a vontade de Deus, não serviu para como instrumento da sua felicidade.

Isto é temperar a vida dos outros. Você tem forme e sede da vontade de Deus, do que acontecer, mas tem que agregar ao que está acontecendo o amor. E para amar tem que superar a sua própria intencionalidade. ‘Dei porque dei, era isto que tinha acontecer’. Acabou.

Participante: mas Joaquim, aí esse ser está temperando a vida dele.

Sim, isto é para ele. É o acordo dele com Deus.

Para contribuir com a obra geral o ser precisa praticar atos, mas também temperar a vida dos outros. Dar um tapa por exemplo, mas ao fazer isso usar o amor como tempero.

O problema para sua compreensão é que você está só observando os outros e não é isso. Esse é um trabalho individual, é o acordo de cada um com Deus. Por isso, dentro do acordo com Deus, o ser é obrigado a dar um tempero saboroso à vida. Isso se faz vivendo sem intencionalidade, só com amor.

É esse amor interno que será julgado na hora de receber a bem-aventurança e não o tapa na cara. Isso porque esse é o acordo do ser com Deus, o seu acordo com Deus. Esse acordo diz: você é usado para agir sobre o outro, temperar a vida dele, mas ao agir, o seu sal tem que ter sabor bom e isso só se consegue vivendo com amor

Participante: é bem difícil enxergar alguns atos desprovidos de intencionalidade. Se dou um tapa na cara de alguém, prevejo que existe uma intencionalidade ali. Então, o tapa é só o fruto da árvore que é a agressão.

Não. Você não faz nada; tudo é Deus que faz.

Sendo assim, ao mesmo tempo que Ele está dando o ato, está dando a intenção. Portanto, irá estar presente. O seu trabalho será se libertar dela.

É isso. Você não vai virar um santo, na mente. Lá continuarão existindo emoções que vocês chamam de negativas e intencionalidades individualistas. Só que você não mais compactuará com essas coisas.

Você vai virar um santo internamente. A mente vai dizer: ‘ele mereceu’. Internamente você dirá: ‘não sei’.

Participante: mas, as intenções também são atos?

Sim, e você precisa se libertar delas. Sempre disse: primeiro precisam vir as coisas humanas para que você possa libertar-se delas. Quando falamos de tristeza, disse que a tristeza precisa vir para que você possa se libertar. É a mesma coisa.

 Participante: mesmo que ela venha justificada?

Sim. Aí precisa quebrar as justificativas. Aliás, ela sempre virá justificada. É a razão.

“Vocês são a luz para o mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão na casa. Assim também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu”. (Mt., 5, 14 a 16)

‘Ninguém guarda uma lamparina dentro do armário’. O que seria guardar uma lamparina dentro do armário? Porque se guardam coisas dentro do armário?

Para proteger. Você guardaria uma lamparina dentro do armário para protegê-la. Guardar no armário é gerar uma proteção.

Aqueles que fazem ou aceitam o acordo, que botam o amor em prática, que lutam para ter a felicidade, são a luz do mundo. Servem para clarear os outros, para mostrar o caminho. Por isso, as pessoas deveriam imaginar que seriam seres protegidos, não é verdade? Mas, não ...

Pode ter certeza que ninguém vai protegê-lo por ser uma luz do mundo. Pelo contrário, vai ser exposto a todos para que com a sua imposição possa mostrar o caminho a eles.

Se você acha que ao assinar o acordo com Deus e buscar essa forma de caminhar na vida não vai acontecer nada de ruim, que ninguém vai lhe caluniar, dizer que está errado, que todos vão beijar seus pés, esqueça. É o contrário: será exposto a mais calúnias e negatividades para que continue se mantendo firme no caminho e com isso ilumine o caminho dos outros.

Isto é uma coisa que já dizemos há muitos anos. Aquele que acha que porque busca a elevação espiritual vai ter sua vida facilitada está engano.

Esqueça; não é isso. A vida vai conter tudo que tiver que conter, seguindo ou não o acordo feito com Deus. Aliás, pode conter até mais coisas se isto ajudar os outros

Participante: mais coisa, como? O que seriam mais coisas?

Situações onde possa ajudar os outros.

Por exemplo alguém chegar e dizer coisas não agradáveis sobre você. Isso acontecerá para que reaja da seguinte forma: ‘eu sou? Você acha que eu sou? Então, está certo, sou’. Nesse momento quem estiver olhando de fora, vai se espantar: ‘ele não partiu para a briga, o que houve? Porque você não revidou’?

Olha o farol que ilumina o caminho do outro se acendendo ...

Participante: é o trouxa.

É o trouxa humano, mas esperto para Deus. Não reagiu humanamente falando, de uma forma politicamente correta, mas com isso brilhou mais e acendeu a lamparina para os outros.

Estou deixando esse alerta porque alguém pode imaginar que por estar ajudando outra pessoa a vida dele vai prosperar.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

A lei de Moisés

“Não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos Profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado da Lei - nem a menor letra, nem qualquer acento. E assim será até o fim de todas as coisas. Portanto, qualquer um que desobedecer ao menor mandamento e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem obedecer à Lei e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado grande no Reino do Céu. Pois eu afirmo a vocês que só entrarão no Reino do Céu se forem mais fiéis em fazer a vontade de Deus do que os mestres da Lei e os fariseus.” (Mt., 5,17 a 20)

Primeiro detalhe desse texto: ‘eu não vim para quebrar a lei.’ Que quer dizer isso? Que a lei de Moisés continua em vigor.

As leis do mundo dizem sempre: ‘essa lei altera os dispositivos em contrário’. A lei de Cristo não faz isso. Não altera nada do que está no Velho Testamento. Tudo continua valendo.

Só que o mestre afirma que vai dar um novo sentido ao que já existia. Qual é o sentido da lei que o Cristo trouxe? O amor.

A lei de Moisés diz ‘não mate’ dentro de um sentido coercitivo: não pratique a ação de matar. Através de Cristo essa lei, que continua valendo, passa a ser entendida da seguinte forma: ame para não matar. Esse é o novo sentido dado por Cristo: quem ama não mata.

Continuando no texto ... Apesar de amar, se ensinar aos outros que pode matar você será o menor no céu.

O amor não justifica a ação. Você falou a pouco em um dos pontos polêmicos dos ensinamentos de Joaquim: como lidar com o assassino.

Sim, sempre disse que o assassino é um instrumento de Deus. Ninguém me ouviu dizer que matar é uma coisa certa, que deve ou pode se matar. Eu nunca disse isso.

Participante: mas, no caso da menina que matou os pais, você disse que foi o carma dela e que ela fez a coisa certa...

Ela não fez a coisa certa, mas não merece a raiva de vocês por ter feito o que fez. Isso é o que sempre disse.

Não posso dizer que alguém tem autorização para matar. No entanto, se alguém matou, tenho que dizer que ele não possui a culpa pelo ato, pois Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Sempre foi isso que disse ...

Continuando o texto ... Cristo diz que só entrarão no reino dos Céus aqueles que forem fiéis em fazer a vontade de Deus. ‘Eu vim com a função de matar, tenho que ser fiel à vontade de Deus, então tenho que matar, mesmo sem a vontade de fazer isso’.

O que está sendo dito nesse texto é que não é a ação que vai ser julgada, mas a forma de viver a ação. O ser que cumpre o acordo não pode justificar o ato de matar, se ele tem a intenção de matar. Agora, se ele matar, mesmo sem intencionalidade, tem que ser fiel à vontade de Deus: ‘matei, e daí?’ Aquele que não recebe a bem aventurança é quem se liga ao pensamento que afirma: ‘matei porque não presta, porque não serve, etc.’.

Só que essa libertação da intencionalidade é de foro íntimo. Por isso, aquele que está vendo ou tomando conhecimento da ação, e que não sabe da intenção, deve se eximir de julgar.

Portanto, para cumprir esse item do acordo, aquele que mata, precisa não aceitar a intencionalidade criada pela mente para o praticado para ser fiel ao acordo. Aquele que toma conhecimento do ocorrido deve também eximir-se de julgar quem serviu como agente para a obra geral.

A ação de matar não é condenada. O que é condenado é aquele que ensina que a lei pode ou deve ser quebrada: ‘você pode matar’. Eu nunca disse que se pode matar. O que pergunto é que se a morte aconteceu, como você vai lidar com quem matou?

A transformação do sentido da lei trazida por Cristo é que muda toda a história. Já cansei de usar o exemplo do garoto que estava no cinema e disse que uma voz falou na mente mandando metralhar todos que ali estavam. Esse não tinha nenhuma intencionalidade de matar ninguém. Então, não matou ninguém mas cumpriu a vontade de Deus fielmente.

Participante: as palavras vêm carregadas de valores. Por exemplo quando falamos a palavra matar incluímos intencionalidades nela ...

Acham que precisa haver uma vontade para agir.

Participante: … porém se a enxergamos o ato com um ato simplesmente ...

Um ato como um ato, não. Um ato como?

Participante: uma vontade de Deus

Isso. Lembre-se que é preciso ser fiel à vontade de Deus.

Participante: e pelo fato de você amar não justifica que quebre as leis. Não justifica que induzir o outro a quebrar a lei. Não é porque você ama ...

Não. Se você amou nunca quebrou a lei.

O induzir a quebrar é dizer que você pode matar. Eu nunca disse que pode. Ninguém que segue por este caminho diz que pode, mas se acontecer, foi a vontade de Deus.

Aquela pessoa foi fiel à vontade de Deus. Vamos ter que ver como está por dentro para saber se feriu a lei de Deus. Como você não pode saber como ela está por dentro, então restrinja-se no seu julgamento.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

O ódio

“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não mate. Quem matar será julgado’. Mas eu lhes digo que qualquer um que ficar com raiva do seu irmão será julgado. Quem disser ao seu irmão: ‘Você não vale nada’ será julgado pelo tribunal. E quem chamar o seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno. Portanto, se você estiver oferecendo no altar a sua oferta a Deus e lembrar que o seu irmão tem alguma queixa contra você, deixe a sua oferta ali, na frente do altar, e vá logo fazer as pazes com o seu irmão. Depois volte e ofereça a sua oferta a Deus.” (Mt. 5, 21 a 24)

Isto quer dizer que não existem os sete pecados capitais. Qualquer ato emocional que não seja amor, mas contrariedade, é passível da mesma pena.

A menina, que foi citada, que matou os pais ou você dizer para sua esposa que ela está errada em algum pequeno aspecto, tem para Deus tem a mesma força e intensidade. É isto que está sendo ensinado nessa parte do acordo: qualquer atitude que seja contrária ao outro tem o mesmo peso para Deus, não importa qual seja.

Mais. Está sendo dito aí que se alguém tem alguma coisa contra você, esqueça tudo. Largue toda sua adoração e vá correndo fazer as pazes. Fazer as pazes é ir até o outro e pedir desculpas, doar a razão a ele.

Existem dois pontos importantes nessa parte do acordo. Primeiro: não diga que qualquer coisa é banal e que por isso não afeta a Deus. Ele não se preocupa só com os assassinatos ou coisa de maior vulta; também se preocupa com a mínima coisa onde não exista a vivência do amor, mesmo que o ato seja corriqueiro. Para Deus, isso tem o mesmo valor de matar alguém. Segundo: não importa o que esteja fazendo, mesmo que seja louvando a Deus, se alguém tem alguma coisa contra você, pare tudo o que está fazendo e vá lá e doe a razão ao outro.

“Se alguém fizer uma acusação contra você e levá-lo ao tribunal, entre em acordo com essa pessoa enquanto ainda é tempo, antes de chegarem lá. Porque, depois de chegarem ao tribunal, você será entregue ao juiz, o juiz o entregará ao carcereiro, e você será jogado na cadeia. Eu afirmo a você que isto é verdade: você não sairá dali enquanto não pagar a multa toda. Não importa o que seja. Se alguém tem alguma coisa contra você, não importa se você tem razão, não importa se você está certo, não importa se você é o bonito da história, saia correndo e vá pedir desculpas. Porque na hora que alguém reclamar de você no tribunal, para Deus gerou seu carma e acabou. Você vai ter que pagar até o último centímetro.” (Mt. 5, 25 e 26)

Participante: o que a outra pessoa pensa, é a visão dela contra a minha pessoa. Ela é que tem algo contra mim. Por isso, necessariamente não preciso ir lá e pedir desculpas. Estando em paz com esta situação, estando bem comigo mesmo... Se eu tenho alguma coisa contra aquela pessoa, concordo: tenho que ir lá e pedir desculpas. Agora, se ela tem alguma coisa contra mim e eu estou em paz comigo mesmo, não preciso ir lá (com atos) e pedir desculpas.

Até porque os atos não é você quem vai fazer. Como sempre, estou falando de mundo interno. Internamente você tem que ir lá, até a pessoa, e pedir desculpas. Internamente...

O problema é que na hora que alguém lhe ofende, internamente você continua a discussão. Mais: no íntimo faz acusações. Por isso, internamente precisa ir lá e pedir desculpas.

Participante: e mesmo se houve de fato uma discussão, porém eu não me sinto preparado e por achar que não serei bem recebido em ir lá e pedir desculpas. Se eu fizer internamente isso e não continuar internamente esta discussão, achando mal desta pessoa, vale?

Vale. É internamente.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

O adultério

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não cometa adultério’. Mas eu lhes digo: quem olhar para uma mulher e desejar possuí-la já cometeu adultério no seu coração.” (Mt. 5, 27 e 28)

O que quer dizer isso? O que é adulterar? É faltar com a verdade. A figura da mulher aí representa a tentação. Esse trecho não fala do adultério sexual apenas.

Adulterar é faltar com a verdade, falsificar. Sendo assim, o texto acima pode ser entendido como ‘aquele que olhar para a tentação e faltar com a verdade, adulterou.’

Para compreender o adultério, vamos usar outro exemplo que não seja mulher. Uma pessoa diz assim: “eu não estou nem aí para coisas materiais’. Só que logo depois também diz: ‘que carro bonito, porque eu não troco o meu por aquele?’ Pronto, já adulterou. Cometer o adultério é faltar com a verdade e não simplesmente trair alguém.

Só que existe um detalhe na questão do cometer adultério: não precisa praticar ato algum; só aceitar o querer já é adultério. Não é o ato; é o mundo interno. Adulterar é aceitar aquilo que é contrário ao que você acredita. Quem, por exemplo se diz cristão, seguidor de Cristo, mas ainda reza pedindo ganhos nessa vida, comete o adultério.

Você assina um acordo com Deus onde está escrito que deve amealhar bens no céu e não na Terra. Diz que acredita nos termos desse acordo e que vai buscar praticar o que está escrito nele. Depois cede à tentação de querer as coisas materiais. Isso é adultério.

Não é não ter, é não aceitar. Ela vem e você diz que não é isso que quero para mim, não é isto que quero para minha vida. A tentação precisa vir para que você se livre.

“Portanto, se o seu olho direito faz com que você peque, arranque-o e jogue-o fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ser atirado no inferno.” (Mt. 5, 29)

O que quer dizer isso? O que é o seu olho? Instrumento de percepção, de perceber.

Se o seu instrumento de perceber, que não é só o olho, mas também a razão, lhe faz desejar, é preferível que retire aquela percepção e com isso viva a felicidade. Preferindo manter a percepção, ou seja, acreditando na razão gerada pela mente, você vai viver o mundo de prazer e dor.

‘Ah! Que frio!’. Isso é uma percepção. Se cede à tentação de morrer de frio, perdeu a paz. Perdendo-a também perdeu a felicidade. ‘Está frio? Está. O que eu posso fazer? Colocar um casaco’. Se o casaco não aquecer, sinta frio e não sofra por isso.

“Se a sua mão direita faz com que você peque, corte-a e jogue-a fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno.” (Mt 5, 30)

É a mesma coisa do item anterior. Refere-se às percepções.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

O divórcio

“Foi dito também: ‘Quem mandar a sua esposa embora, deverá dar a ela um documento de divórcio.’ Mas eu lhes digo: todo homem que mandar a sua esposa embora, a não ser cm caso de adultério, será culpado de fazer com que ela se torne adúltera, se ela casar de novo. E o homem que casar com ela também cometerá adultério.” (Mt. 5, 31 e 32)

O que é dar um papel de divórcio à mulher? É dar um documento de rompimento, separação. Você não pode se separar da sua mulher. (Mulher aí como companheira de encarnação).

Participante: neste caso aqui mulher é interpretado como esposa? .

Nesse caso é mulher, mas só esposa. Pode ser companheiro ou companheira, pois podem ser dois homens, um que vive junto com o outro.

Está se falando na relação de dois seres humanos, casados ou não. Você não pode romper com aquele que tem um relacionamento estável. Pode se afastar de corpo, mas não pode romper.

‘Ah! Não tenho nada a ver com ela. Já me separei ...’ Continua tendo. É seu companheiro ou companheira de encarnação. A existência de vocês está atrelada. Buda: interdependência.

Pode estar a milhares de quilômetros um do outro, mas aquele companheiro ou companheira de encarnação, mesmo ausente fisicamente, faz parte do seu teatro de vida. Por isso o que ela(e) faz ou não faz continua gerando atos sobre você. Por isso não pode estar separado dela jamais. Aliás, nem vai conseguir.

O casamento nesse texto é usado como parábola, pois trata-se de qualquer união. Você não pode separar duas pessoas que se uniram numa vida. São seres que vêm em encarnações que interdependem e essa interdependência continua, mesmo não estando juntos fisicamente.

Participante: o que seria esse continuar?

Vocês são amigos. Um dia brigam e aí ele não quer mais saber de você. Porque? Só porque brigou, não é mais amigo?

Ele precisa aceitar que você existe. Aceitar que o que ele faz interfere na sua vida e o que você faz interfere na vida dele. Saber que existe essa correlação de fato.

Aquela ideia que vocês têm (‘agora não é mais minha mulher, que se dane’) é irreal. Ela(e) continuará sempre um elemento, um espírito irmão, dentro da sua encarnação e como tal você tem que agir ajudando-a(o) também

Participante: mas parece que tem uma exceção no texto: “a não ser em caso de adultério...”

Neste caso é usado ao pé da letra para criar uma norma para época. Esquece esse pedaço. Como disse são parábolas usadas para cada tempo.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Os juramentos

“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não quebre a sua promessa, mas cumpra o que você jurou ao Senhor que ia fazer.’ Mas eu lhes digo: não jurem de jeito nenhum. Não jurem pelo céu, pois é o trono de Deus; nem pela terra, pois é o estrado onde ele descansa os seus pés; nem por Jerusalém, pois é a cidade do grande Rei. Não jurem nem mesmo pela sua cabeça, pois vocês não podem fazer com que um só fio dos seus cabelos fique branco ou preto. Que o “sim” de vocês seja sim, e o “não”, não, pois qualquer coisa a mais que disserem vem do Maligno. (Mt. 5, 33 a 37)

O que é jurar por alguma coisa? Quando é que você jura?

Participante: jurar é dar certeza absoluta?

Ter certeza absoluta. Se não tiver certeza absoluta de alguma coisa, não vai jurar. Portanto, o esse texto do acordo fala: não tenha certeza absoluta de nada; nem das coisas do céu, nem das coisas da Terra, nem das coisas da religião.

O céu é a cabeça de Deus; a Terra é onde Ele põe os pés. Ou seja, tudo é de Deus.

Só Deus sabe. Você tem notícias, informações, mas não tem nenhuma verdade absoluta. Por isso não dê certeza de nada. Diga a penas, sim ou não.

Diga apenas, ‘a terra é redonda’ ao invés falar: ‘a Terra é redonda e você está falando que é plana. Você é burro, não sabe nada’.

Isto é jurar: ter certeza absoluta, se contrapor ao outro com a sua verdade. Aquele que quer alcançar a verdadeira felicidade, não sabe nada. Ele simplesmente diz: ‘sim, para mim é” ou ‘não, para mim não é’. Se o outro fala diferente, ele responde: ‘não posso afirmar que eu ou você está errado, porque não tenho certeza de nada’. Isso é não jura por nada.

Participante: faz assim porque sabe que não pode ter a verdade absoluta de nada.

Não.

Porque não deve se jurar? Porque a afirmação de que tem certeza gera uma tentação forte. Para quem garante que tem a verdade, que sabe, a busca pela notoriedade é inexorável. Essa busca vai causar o ter que brigar com o outro.

As verdades, sejam elas quais forem, são instrumentos conseguir a fama. Jurando, o ser será impelido a provar que está certo. Com isso vai querer provar que tem a razão, mesmo que esta prova seja uma ilusão.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

A vingança

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente.’ Mas eu lhes digo: não se vinguem dos que fazem mal a vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também. Se alguém processar você para tomar a sua túnica, deixe que leve também a capa. Se um dos soldados estrangeiros forçá-lo a carregar uma carga um quilômetro, carregue-a dois quilômetros. Se alguém lhe pedir alguma coisa, dê; e, se alguém lhe pedir emprestado, empreste. (Mt. 5, 38 a 42)

Aqui fala de desapego. Cristo ensina: ao invés de se vingar, dê mais do que pedem. Falta de apego: não se apegue a coisas materiais.

Participante: e fazendo isto cai de novo naquele ponto de contraste, não é? Porque o que se espera é que pelo menos você não se vingue, mas não faça mais. Se fizer o dobro...

Já acende o farol para os outros. Como já disse, não espere que sua vida vai ficar mais fácil.

Bem aventurado-Mateus-Conversa 01

Amar os inimigos

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.’ Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu. Porque ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam que Deus lhes dê alguma recompensa? Até os cobradores de impostos amam as pessoas que os amam! Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que estão fazendo demais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu.” (Mt. 5, 43 a 48)

Quem é o seu inimigo? Aquele a qual você aplica alguma culpa. Por isso, o que está sendo dito nesse trecho do acordo é que não existem culpados. Mais: mesmo que sua mente aplique culpa a alguém, ame essa pessoa também.

É muito fácil separar o mundo entre culpados e não culpados e amar apenas os inocentes e não os culpados. Aquele que vive a verdadeira felicidade, é quem, mesmo a mente atribua culpa e gere acusações, ama esse também.

Vou contar uma história. Um pastor novo foi fazer uma palestra sobre o amor. Ele, ainda livre dos vícios da profissão, começa justamente dizendo o seguinte: ‘como posso chegar aqui no púlpito e falar de amor dizendo que alguém não ama? Como posso chegar no púlpito e falar de amor e dizer que aquele é culpado de ter feito alguma coisa?’ Pena que todos não mantém essa inocência depois de anos de pastorado, não?

Quem ama não culpa ninguém, não vê culpa em ninguém. A felicidade existe, justamente quando o ser consegue botar no mesmo saco do amor o culpado e o não culpado.

É isto que está sendo dito nesse trecho de o Novo Testamento. Para que alcançar a bem aventurança, não importa se o outro é culpado ou não: ame-o.

Repare que no texto Cristo não disse que você tem que transformar o inimigo em amigo. É preciso acabar com a culpa dele que foi gerada pela mente, mas isso não quer dizer que precisa tratar de forma igual o que considera culpado e não culpado. Você pode não gostar do que o outro é ou faz e nem precisa ser ou fazer igual, mas precisa respeitar o direito que ele tem de ser ou fazer ou quiser. Isso é amar.

É isto que está sendo colocado aqui e esse talvez seja um dos mais belos ensinamentos de o Novo Testamento, pois não fala em desculpar nada.

Vocês acham que amar é desculpar alguém. Não é isso. Não tem como um ser humanizado desculpar ninguém, porque o desculpar é um ato mental. Sendo assim, quando há uma desculpa mental, não há amor nenhum.

Amar é tratar os diferentes de uma forma igual. Amar é tratar aqueles que recebem a pecha de culpados ou inocentes de uma forma única. É isto que está nesse pedaço. Essa é a parte importante do texto.

O que está escrito é: o acordo de Deus com você presume que trate os culpados sem desculpar, mas de uma forma igual a que trata o inocente. Para isso é preciso trabalhar em si uma coisa: a justiça, o ter sede e fome da vontade de Deus, da justiça de Deus.

Querendo apenas a justiça do homem, jamais vai conseguir tratar o diferente de uma forma igual.

Participante: se a gente alcançar a compreensão de mérito...

Mérito não entra nessa história. Não importa se o outro está certo ou errado no seu julgamento, na sua mente. É preciso trata-lo da mesma forma.

Participante: mas, nesse caso, a gente já não vê culpado, porque as pessoas merecem e praticam aquilo que é da vontade de Deus de acordo com o carma delas, então...

Você não vê culpados, mas ainda vê justiça ou injustiça, o que não deveria acontecer. Ainda dizem assim ‘vocês não deveriam estar fazendo isso...’

Participante: sim, isto acontece.

Isso é mérito e demérito. Mantendo essas noções, não vão conseguir se libertar do tratar diferente o culpado. É esse o problema.

Vocês ainda querem desculpar os outros e o trabalho não é esse. O mérito e demérito é gerado pela sua mente e crendo nele, não vai conseguir amar o culpado. Por isso, terá que trabalhar acima do mérito e do demérito, lidar com os dois lados da mesma forma.

Participante: o que percebo que a mente tenta fazer o tempo todo é distorcer a realidade, ou seja, em vez de enfrentar a realidade diferente que é observar que realmente isto acontece, ver injustiça, etc e trabalhar com ela da forma com que se apresenta. Ela mesma tenta distorcer a forma como apresenta para eu tentar uma outra forma de proceder. Só que não é a realidade, a realidade da forma como ela se apresenta. Então, minha pergunta representa isso, uma maneira de minha mente distorcer a minha realidade para tentar fazer essa coisa de desculpar, não enxergando o que ela mesma apresenta que na realidade é assim, a injustiça, ver sim culpado nos outros... Isto é uma forma de a mente trabalhar

A questão do desculpar é muito interessante porque é isso que a razão vai tentar mentalmente.

A mente, por exemplo, pode dizer assim: ‘aquele é um safado, mas é um filho de Deus. Por isso tenho que amá-lo, preciso tratá-lo bem.’ Você acha que isso é amor, mas é desculpa.

Pensar assim é querer tirar a culpa: isso não adianta nada. O que é necessário é pensar assim: ‘ele é um safado, não presta. Não concordo com o que ele fala ou faz, mas não é por isso vou odiá-lo, criticá-lo’. Lembre-se: ‘se alguém tiver alguma coisa contra você, corra e vá fazer as pazes’

O que estou querendo mostrar é que vocês têm feito um trabalho mental tentando retirar a culpa dos outros quando não é esse o trabalho. O que é preciso alcançar é a ideia de que o outro não presta, mas assim mesmo o amo. É viver acima do arrumar motivos para amar, pois os que a mente fica tentando arrumar dentro dos ensinamentos são apenas desculpas

Quando foi falado da mocinha que matou os pais nenhuma ideia sobre ela justifica o que foi feito. Mas, não importa se ela é uma assassina fria, sanguinária, aquele que honra o seu acordo com Deus precisa amá-la, pois está escrito que é necessário amar a todos.

Eu não preciso tirar a culpa dessa menina, porque essa culpa é humana, trata-se apenas de uma visão humana das coisas da vida. Para Deus, não há culpa de nada. Por isso, apesar de manter a condenação humana, não se deve odiá-la, tratá-la de forma diferente do que se trata um mestre, um Dalai Lama ou um amigo.