A sabedoria de Salomão
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A sabedoria de Salomão

Salomão foi considerado o mais sábio dos reis de Israel. Esse rei, com sua sabedoria, analisou a vida humana. Essa análise está contida no livro bíblico Eclesiastes ou O Sábio. 

Tendo como objetivo a promoção da reforma íntima, Joaquim de Aruanda comentou parte desse livro. 

Observação: esse estudo não possui arquivos de áudio, pois foi trazido por psicografia. 

A sabedoria de Salomão

1ª Sabedoria - A vida é uma ilusão

É ilusão, é ilusão, diz o Sábio. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer e a se pôr e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço – um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver nem os nossos ouvidos de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: “Veja, isto nunca aconteceu no mundo”? Não. Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos. Ninguém se lembra do que aconteceu no passado; quem vier depois das coisas que vão acontecer no futuro também não vai se lembrar delas.

 

A primeira conclusão a que chega Salomão é de que não existe novidade na vida de ninguém: tudo o que está ocorrendo já ocorreu algum dia. Para se referir dessa forma aos fatos da vida, certamente o Sábio tem que ter penetrado na essência dos acontecimentos.

Se um determinado empregado hoje foi demitido de uma empresa, para ele isso é novidade, mas se penetrarmos na essência da vida, o fato de não mais se precisar do trabalho material de um empregado ocorre diariamente sobre o planeta. Uma mãe que gerou seu primeiro filho para ela é um fato novo, mas ela mesma já foi gerada um dia.

A essência dos acontecimentos está na natureza deles. Quando tal essência é aplicada na existência de um ser humano é particularizada com situações, personagens e histórias, mas não deixa de ser a mesma essência.

A conclusão de Salomão sobre os acontecimentos da vida (essência particularizada) é importante para se compreender o universo e sua ação: não existe novidade, mas sim particularizações de essências.

Ao descrever os acontecimentos do planeta, o Sábio faz questão de mostrar que eles não geram resultados. O sol nasce e se põe apenas para nascer novamente; o vento rodopia pelos quatro cantos, mas acaba no mesmo lugar e todos os rios correm para o mar, mas esse nunca fica cheio, pois as águas voltam sempre para onde nasce o rio.

Juntando-se as duas informações podemos chegar à mesma conclusão que o Sábio sobre a vida carnal: é tudo ilusão.

A situação que está passando agora não existe como você a vê. Não existem os personagens envolvidos nela, não existe a trama que você está imaginando, mas apenas uma essência sendo aplicada pela ação universal. Da mesma forma, a sua reação não levará a nenhum lugar novo, pois não importa o que faça a ação universal já determinou o fim da situação.

Exemplifiquemos para melhor entendimento. O empregado que foi demitido é uma situação que não existe. Ele, quem decidiu pela sua demissão e os acontecimentos que aparentemente geraram o fato são ilusões. Na verdade ninguém perde trabalho, pois viver já é o trabalho do espírito. As reações que o empregado pode ter (desespero, angústia, preocupação, satisfação) são também ilusões, pois não importa como ele reaja a essa ação universal, os próximos acontecimentos já estão programados pela ação universal.

Foi a essa conclusão que o Sábio chegou sobre a existência: todos os acontecimentos são ilusões e qualquer reação a eles de nada adianta, pois existe uma ação universal que comanda todas as coisas.

Todos os acontecimentos da vida de um espírito são comandados por Deus (ação universal) no sentido de aplicar provas aos seres. Essas provas foram pedidas pelo próprio espírito antes do nascimento como caminho para a sua elevação espiritual.

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”. (O Livro dos Espíritos).

A demissão de hoje é uma ação universal comandada por Deus dentro do gênero de provas pedidas por um ser humano. Imaginemos que o nosso fictício personagem houvesse sido um executivo, com alto salário. Durante o período que percebeu esse salário pode viver uma vida material com certo conforto. Depois que o desemprego chegou o seu status de vida mudará.

Ele não poderá mais levar a vida que tinha antes. Terá que conviver com dificuldades financeiras, com carências materiais. Eis, nessa pequena análise, a essência do ato da demissão e o gênero da prova escolhida pelo espírito antes da encarnação.

Para que o ser pudesse conviver com a perda de coisas materiais antes era necessário que as tivesse. Isso a ação universal providenciou dando-lhe o emprego com alto salário. Manteve-o nessa posição o tempo necessário para que se acostumasse com aquela quantidade de bens. No momento certo, novamente a ação se fez presente gerando a essência de perda necessária para a prova pedida.

Não foi a capacidade intelectual ou o esforço do espírito que lhe garantiu a vaga quando da admissão, mas a ação universal que lhe colocou onde houvesse os instrumentos materiais necessários para a prova. Não estou afirmando que o empregado foi admitido em detrimento de outro, mas a ação universal não começou a agir no momento da admissão.

Já prevendo o emprego que o ser humano deveria conseguir para poder ser demitido, a ação universal levou-lhe a obter capacidades intelectuais que justificassem a sua escolha. Levou-o a determinada carreira em certo colégio, colocou aqueles professores que ele teve. Enfim, agiu durante toda a existência preparando o ser humano para o emprego que iria ter.

Para que ele pudesse freqüentar aquela escola era necessário estar naquela cidade ou ter o desejo de transferir-se para a que se encontra o colégio e isso também a ação universal fez. Enfim, se formos analisando a ação universal na existência do ser teremos que remontar ao nascimento, ou ainda antes desse, pois seria necessário que houvesse a ação do ato sexual para que a concepção ocorresse.

A ação universal não é estática e nunca deixou de existir. Todos os acontecimentos do planeta, desde o seu primórdio até a eternidade foram, e sempre serão, obra da ação universal criando situações materiais onde a essência representará as provações pedidas pelos seres para a sua elevação espiritual.

Assim, também não foi a incapacidade ou qualquer ato específico que gerou o desemprego, mas a mesma ação universal agiu no sentido de criar o gênero de prova que o espírito escolheu antes do nascimento. Todos os acontecimentos do universo são criados pela ação universal para que sirvam de oportunidade para o espírito purificar-se.

Não pense que estou falando de inércia, pois a ação universal é constante. A compreensão dessa verdade universal não vai lhe levar a deitar-se em uma cama e esperar a morte chegar, a não ser que seja essa a essência que tenha pedido antes da encarnação.

Qualquer que seja a compreensão que você tenha sobre esse tema lhe será dada pela ação universal para justificar os seus próximos atos. Mesmo que imagine que viver é permanecer estático, a ação universal lhe fará agir para que os acontecimentos futuros que já estão pré-determinados possam ocorrer.

Viver não é permanecer estático, mas deixar a vida fluir através de você. A real compreensão desse assunto é que o ser humano deve vivenciar os acontecimentos e não se imaginar como parte integrante deles. Essa vivência leva o ser a fugir da materialidade (forma das coisas) e penetrar na espiritualidade (essência dos acontecimentos).

Como pode o desempregado penetrar na essência da sua situação se ainda está preso na culpabilidade de quem decidiu pela sua demissão? Só quando vivenciar a situação poderá compreender a essência, ou seja, uma situação criada pela ação universal, independente da vontade ou desejo de seus participantes.

O oposto da convivência com a ação universal é a racionalização. O ser humano quer racionalizar os acontecimentos e, por isso, não consegue vivenciar a ação universal. Vivenciar o acontecimento é jamais perguntar para que, porque, como, quando, onde, o que acontecerá?

“75a. Porque nem sempre é guia infalível a razão? Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre arbítrio”. (O Livro dos Espíritos)

A racionalização é a utilização do processo raciocínio pela propriedade inteligência do ser. Esse processo consiste em perceber uma forma (objeto, acontecimento ou pessoa), analisar a percepção e tomar uma decisão sobre o assunto.

Foi ensinado através de Allan Kardec que essa escolha é o livre arbítrio do ser humano, mas donde não se conclui que seja o livre arbítrio do espírito. Como vimos na citação anterior (pergunta 258) o livre arbítrio do espírito é a escolha do gênero das provas que irá fazer durante a encarnação.

A compreensão do ser encarnado é diferente de quando ele está fora da carne. Quando possui a compreensão da existência eterna busca amealhar bens para a vida espiritual, mas quando presos à matéria carnal, com a certeza do fim (morte), tornam-se imediatistas e buscam a felicidade carnal.

Essa felicidade é movida por sentimentos diferentes do espírito purificado. Para que alcance a felicidade material o ser precisa ter o seu orgulho contemplado. Todos os seres encarnados possuem pelo menos um item do qual se gabam: a independência do universo, ou seja, o individualismo.

Essa forma de utilizar a sua individualidade lhe leva a sempre procurar culpados para os acontecimentos da vida. Aquele que foi demitido tem que encontrar um culpado para a sua demissão e por isso racionaliza o fato. Mesmo que não acuse outro ser humano acusará a si mesmo. Não importa quem seja declarado culpado, ele não existe, pois ninguém agiu no momento, mas todos vivenciaram a ação universal.

É isso que o instinto diz: houve uma ação universal e eu nada posso fazer para alterá-la. Um animal age instintivamente, ou seja, não questiona a ação universal. Se o ninho é atacado por outro animal e a mãe luta para defender os filhotes, mas se um deles sucumbe a mãe não se preocupa em saber por que ele foi escolhido, o que acontecerá com ele.

Ela prossegue a sua existência porque sabe que ali houve uma ação universal. Tudo no universo se interage e era necessário que o seu filho servisse de alimento para que a fera pudesse sobreviver. Porque foi escolhido o seu ninho, se era justo ou não, são questões que não afligem os animais, mas apenas àqueles que querem dominar a ação universal.

Esse domínio se faz pela racionalização ou processo raciocínio da propriedade inteligência do seres. Ele inicia-se quando alguma situação é percebida pelos órgãos do sentido do corpo físico. É por isso que Salomão afirma que nossos olhos não se cansam de ver e nossos ouvidos não se cansam de escutar.

Na verdade o ser humano não vê ou escuta as coisas. A imagem e o som que são captados pelos órgãos do sentido são levados à inteligência que, através do seu processo raciocínio, gera uma compreensão. Essa compreensão, falseada pelo orgulho e pela vaidade, é a verdade para o espírito. É o que ele vê e ouve, mas não é a realidade.

A verdade universal (realidade) do acontecimento é a ação universal agindo no sentido de criar situações materiais de acordo com o gênero das provas pedidas pelo espírito. Qualquer outra compreensão é fruto de soberba.

Apesar disso, o ser humano vive querendo compreender os acontecimentos. É isso que Salomão afirma que torna a vida cansativa. Quando mais o homem racionaliza os acontecimentos, menos resposta encontra, menos compreende o que está acontecendo. Cada vez mais se aprofunda na racionalização mais encontra um beco sem saída ou outra visão para ser racionalizada. É um círculo vicioso que exaure as energias do espírito.

A resposta a todas as perguntas do raciocínio só Deus, o Comandante da ação universal, sabe e elas são o assunto das perguntas da prova do espírito. Se o ser soubesse essas respostas conheceria os temas da prova que iria fazer.

Concluindo, primeiro Salomão afirma que os acontecimentos, objetos e pessoas desse mundo não existem e depois também afirma que as conclusões que um ser humano chega através da racionalização são ilusões. Com isso, o Sábio extingue todos os componentes da vida material.

Se as coisas não existem e nada há a se concluir delas, então o que resta ao espírito encarnado? Viver.

É exatamente isso que o espírito deixa de fazer. Ele vive preocupado em racionalizar todos os acontecimentos, em compreender todos os acontecimentos. Da compreensão nasce a preocupação com o futuro, do que poderá acontecer. Por isso vive estressado, preocupado, em constante sofrimento. Com tudo isso para fazer deixa de viver.

A vida tem que ser muito mais do que isso. Como dom de Deus, a existência carnal não pode servir apenas para gerar sofrimentos para o espírito, mas deve ser uma fonte constante de felicidade. Viver é isso: estar sempre feliz.

Como estar feliz se não se compreende o mundo? Como estar feliz sem saber o que irá acontecer no futuro? Com a fé, confiança e entrega, em Deus. Somente o amor ao Pai acima de todas as coisas pode trazer a felicidade ao espírito.

Quando o ser não mais buscar compreensões individualistas para os acontecimentos, alcançará a verdadeira compreensão: ação universal (de Deus) para minha felicidade (elevação espiritual). Nesse momento ele começará a viver, ser feliz.

Encontrará paz interior, pois não mais precisará brigar com o mundo para sustentar sua vaidade e estará em harmonia com o universo, pois não terá mais objetivo individual a ser alcançado. Penetrará na Bem-Aventurança, ou felicidade dos santos, aquela que independe de qualquer coisa para existir.

A sabedoria de Salomão

2ª Sabedoria - A experiência do sábio

“Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo e digo: tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Ninguém pode endireitar o que é torto nem fazer contas quando faltam números. E pensei assim: “Eu me tornei um grande homem, muito mais sábio que todos os que governaram Jerusalém antes de mim. Eu realmente sei o que é a sabedoria e o que é o conhecimento”. Assim, procurei descobrir o que é o conhecimento e a sabedoria, o que é a tolice e a falta de juízo. Mas descobri que isso é o mesmo que correr atrás do vento. Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e, quanto mais sabe, mais sofre”.

 

O fim do processo raciocínio é uma conclusão sobre o assunto captado pela percepção. Essa conclusão forma uma verdade sobre o tema para aquele ser humano. Todas as conclusões do raciocínio são arquivadas em um banco de dados chamado memória.

Essas verdades formam o conhecimento de uma pessoa sobre os assuntos do universo. O conjunto desses conhecimentos determina o grau de sabedoria que o ser humano possui. Quanto mais verdades (conhecimento) a pessoa possui, mais é considerada sábia, pois sabe mais coisas sobre o assunto.

Depois de arquivadas, as verdades do ser humano estarão à disposição da inteligência. Sempre que um novo processo raciocínio começar, elas servirão de fiel para uma nova conclusão. Portanto, posso compreender que todas as novas verdades terão o mesmo sentido da que serviu como base, afirmarão a mesma coisa que a que originou. Como as verdades são compreensões individuais, cada vez que o ser raciocina, mais individualiza a compreensão das coisas, ou seja, cria mais verdades individuais.

Assim, podemos afirmar que o sábio possui uma sabedoria individual ou um conjunto de conclusões individualistas sobre as coisas universais. Ele não penetra na verdade universal, no conhecimento real das coisas do universo. Portanto, a sabedoria humana, como afirmou Salomão, é ilusão.

Esse é o tema desse parágrafo: a sabedoria do ser humano é uma ilusão. Foi a essa conclusão que levou a experiência do sábio Salomão.

Esse rei era um observador, raciocinava constantemente sobre os acontecimentos da vida e quando isso acontecia engordava sua sabedoria com mais uma camada de conclusões individualistas. Em um determinado momento buscou raciocinar suas próprias conclusões para poder compreender a importância de saber tudo e descobriu sua busca era como correr atrás do vento: uma ação infrutífera.

Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e quanto mais sabe, mais sofre.

As verdades que compõem a sabedoria do ser são leis que não podem ser quebradas sem que ele pague um preço por isso. A felicidade do ser humano é condicionada a que essas leis sejam cumpridas. Quando isso não ocorre surgem os diversos tipos de sofrimento. Portanto, quanto mais leis (verdades, conhecimento) possuir uma pessoa, maior será a chance dela sofrer.

Se o ser humano sabe que ir à praia é o melhor, quando não estiver nela sofrerá; querendo comer determinada comida (está com desejo – sabe o que quer), só sentirá felicidade se esse prato for servido. Todos os acontecimentos da vida do ser deverão premiar a sua sabedoria para que surja um estado de alegria.

Acontece que a ação universal não é movida pela sabedoria do homem, mas pela de Deus. Em todos os acontecimentos a sabedoria de Deus sabe o que é mais útil ao ser, universalmente falando. Por isso, essa sempre prevalecerá, ou seja, sempre servirá de comando à ação universal. É isso que Salomão afirma que é fazer contas sem número: querer compreender a sabedoria de Deus com o conhecimento humano.

Toda sabedoria de um ser humano é formada a partir das suas percepções (audição, visão, olfato, paladar e tato). No entanto, existem elementos em uma ocorrência que escapam a esses sentidos. Faltam, portanto, informações ao ser humano para poder compreender a verdade absoluta das coisas. Essa Verdade que apenas Deus conhece (onisciência) é que move a ação universal.

Além dessa conclusão, Salomão também afirma que “ninguém pode endireitar o que é torto”. Cada ser possui o livre arbítrio dado por Deus e isso se constitui na capacidade de cada um compreender as coisas de um modo particularizado. O livre arbítrio não pode ser o de fazer, como veremos depois, pois a ação universal é inexorável.

Entretanto, não existem no universo dois seres que possuam a mesma compreensão de todas as coisas. O grau de evolução dos seres é determinado exatamente pela sua capacidade de compreensão universal dos acontecimentos. Se o ser humano tivesse a capacidade de provocar a ação, o relacionamento dos seres seria verdadeiros embates entre sabedorias (verdades). Aquele que compreende a verdade do livre arbítrio (compreensão das coisas) age de forma diferente, mas aqueles que não, vivem dessa forma.

Quando trocam opiniões querem sempre subjugar o adversário, provando que aquilo que acha está certo e o conhecimento do outro é errado. Quando não consegue impor sua verdade, o ser humano sofre e desse sofrimento nasce a crítica.

Não se pode julgar o ato do outro, porque ele é fruto de suas verdades, portanto, sempre estará certo (de acordo com as verdades individuais). Se você acredita que cada tem o direito de agir livremente (livre arbítrio), não pode acusÁ-lo de errado sem ferir sua própria crença. Entretanto, você pode mudar o que acha do que ele está fazendo. Todos podem compreender as coisas da forma que quiserem porque Deus lhes deu esse direito.

Se você quiser não apontar erros, pode, mas se quiser julgar e condenar, também tem esse direito. Mas, mesmo que apele para a violência (gritos, acusações) não consegue alterar o comportamento do próximo. Pode subjugar a vontade do outro, mas ela permanecerá existindo. O sábio (aquele que sabe da verdade) não venceu: criou um inimigo. A ação universal faz o outro aceitar aparentemente as suas verdades, mas continua nutrindo a verdade individual como lava subterrânea de um vulcão. No momento apropriado, ela será expelida.

Tudo isso (contar sem números e endireitar o torto) é como correr atrás do vento: jamais se alcança. A sabedoria composta por verdades individuais é tolice: não leva a lugar nenhum. O único Sábio do universo é Deus e por isso ele promove a ação universal. Essa ação é o que está acontecendo e, por isso, não existe o se (se fosse de outra forma, se aquilo mudasse).

O verdadeiro saber é participar dessa sabedoria. O resto é tolice de criança. Viver não é compreender para construir, mas construir sem compreender. Viver é deixar a vida fluir, vivenciando os acontecimentos, pessoas e objetos sem por que, como, quando ou onde.

A verdadeira sabedoria é demonstrada por aquele que vive a vida sem compreender os acontecimentos, mas com felicidade. Esse participa da Sabedoria Universal.

A sabedoria de Salomão

3ª Sabedoria - Prazeres mundanos

“Então resolvi me divertir e gozar os prazeres da vida. Mas descobri que isso também é ilusão. Cheguei à conclusão de que o riso é tolice e de que o prazer não serve para nada. Procurei ainda descobrir qual a melhor maneira de viver e então resolvi me alegrar com o vinho e me divertir. Pensei que talvez fosse a melhor coisa que uma pessoa pode fazer durante a sua curta existência aqui na Terra”.

 

Estamos falando de ação universal. Todos os acontecimentos (atos) são ações universais. Somente ela existe como ação, o que quer dizer que todos os atos que acontecerem jamais poderiam deixar de acontecer. Entretanto, por trás da ação universal existe uma motivação. Essa é sujeita a interpretações, ou verdades diferenciadas.

A motivação universal é o motivo pelo qual Deus comanda a ação. Quando o ser humano busca saber o que está acontecendo (busca resposta às perguntas como, por que, onde) forma verdades individuais a partir da sua motivação individual.

Expliquemos melhor. A motivação é o objetivo da existência do ser e de todas as coisas (universo). Deus possui uma perfeita compreensão do porque as coisas existem, para que acontecem e, por isso, conhece o objetivo de tudo que acontece. Já o ser não possui esse conhecimento e traça objetivo diferente.

O espírito, por exemplo, é um ser universal gerado por Deus no infinito do tempo e que irá existir por toda eternidade. O tempo que passa em uma carne (encarnado) é efêmero se compreendida toda sua existência espiritual. Deus sabe disso e objetiva todas as ações universais no sentido de proporcionar a esse ser o gozo eterno da glória espiritual.

O ser humano, espírito encarnado, não vivencia essa realidade. Por mais espiritualizado que seja, vive sempre com a perspectiva da morte (fim ou transformação). Compreende apenas aquela existência carnal como o todo de sua vida e, por isso, objetiva o gozo da glória nesse período.

Eis aí um exemplo da diferença de motivações. Deus possui a motivação universal quando comanda a ação universal. Já o ser humano utiliza a sua motivação individual quando forma suas novas verdades. Por causa dessa diferença de objetivos é que o ser humano sofre.

A glória espiritual pode ser chamada de diversos nomes: paraíso, reino do céu ou de Deus, plano espiritual superior, universo, nirvana. O nome não importa, mas sim o que se goza nela: a felicidade suprema, harmonia universal e paz. Assim, não podemos pensar nessa glória como alcançar um lugar, mas sim em viver com um estado de espírito. Chamamos ao estado de glória espiritual de felicidade universal.

Um dos instrumentos que Deus possui para ajudar o ser a se purificar (evoluir) para viver esse estado de espírito é a encarnação. A motivação universal da encarnação é, portanto, levar o ser a viver a glória espiritual. Para isso Deus precisa acabar com as suas verdades individuais.

Isso o ser não vê, pois não possui percepção. É preciso o amor a Deus acima de todas as coisas e a fé (confiança e entrega total) para sentir. Enquanto não possuir esses dois quesitos continuará achando que suas verdades são certas e buscará fazer com que todos vivam dentro delas, pois essa é a sua motivação individual.

Quando isso ocorre, fica feliz. Na verdade não podemos chamar isso de felicidade, mas sim de satisfação ou prazer. A satisfação de ver suas verdades consideradas como únicas; o prazer de estar certo.

O prazer é a glória terrena. Todo universo conhece intuitivamente a verdade da necessidade de se aprimorar (ser feliz), mas o ser humano, que não conhece a felicidade universal, imagina que estando certo estará feliz. Acha que isso é evolução. A motivação individual do ser, portanto, é alcançar a satisfação, sentir o prazer.

Como a ação universal não premia as verdades individuais, quando o ato fere essas verdades, o ser humano sofre. Quando Deus demonstra a ausência de elevação (o ser está errado) a sua motivação individual (estar certo) lhe faz sofrer.

No entanto, muitas vezes a ação universal se coaduna com as verdades do ser e aí imagina que alcançou o paraíso, mas na verdade está sofrendo. O prazer é um sofrimento.

A simples coincidência de verdades não pode ser considerada uma felicidade, pois não provocou a universalização das verdades do ser. Enquanto isso não ocorrer não há como entrar no gozo da glória espiritual.

Quando há similitude de verdades entre a ação universal e o objetivo do ser, esse se sente satisfeito por possuir a verdade universal (estar certo) da situação. Isso não é uma realidade: é uma ilusão. No próximo momento (nova ação universal) essa mesma verdade pode levá-lo ao sofrimento. Poderíamos dizer que o momento da similitude foi uma coincidência, se isso existisse.

Portanto, para realmente ser feliz, harmonizar-se com as coisas do universo vivendo em um estado de não agressão (paz), o ser precisa deixar de achar qualquer coisa. Precisa deixar de ser sábio, de ter sabedoria. A verdadeira felicidade se conquista com sentimentos e não com conhecimento. Por isso, Jesus Cristo afirmou que o primeiro mandamento é amar a Deus e não compreendê-Lo ou conhecê-Lo. Só com esse sentimento o ser não se iludirá (terá prazer) quando houver similitude aparente entre suas verdades e as universais, nem sofrerá no momento que elas forem discordantes.

Tudo isso Salomão nos disse nessa sabedoria. O riso é tolice e o prazer não serve para nada. A felicidade universal não se representa por atos externos, mas no íntimo de cada um, nos seus sentimentos. Ela está na paz interior, na harmonia com as coisas, com a felicidade suprema de estar vivenciando aquele segundo, a ação universal.

O ser quando na carne não possui qualquer outra obrigação do que viver. Mesmo nas atitudes consideradas como indispensáveis à elevação (oração e caridade), não existe a obrigatoriedade. A obrigação de fazer geraria a necessidade de comandar uma ação e isso o ser não pode fazer. Jesus Cristo foi bem claro com os professores da lei ao dizer que os seres humanos não entenderam as Sagradas Escrituras quando elas afirmam que Deus quer que sejamos bondosos e não que queimemos incenso em Seu louvor.

A bondade de um ser não está na oração que possa fazer pelos outros, mas sim em servir de instrumento à ação universal para proporcionar uma oportunidade de integração ao universo. Para isso é necessário promover ações onde o ser possa desistir de suas verdades.

A desistência de querer ser o dono da razão pode ser alcançada muito mais facilmente quando as verdades individuais são contrariadas do que quando ocorre a similitude. Assim, fazer o que os outros não querem ou não gostem, é a verdadeira caridade.

No momento que estiver servindo de instrumento da ação universal nesse sentido, o ser humano não pode imaginar que venceu, que impôs sua verdade. É preciso compreender que foi apenas instrumento de Deus, protagonizando uma ação universal. Não foi sua idéia que venceu, mas a verdade universal. Para isso é preciso alterar sua motivação, ou seja, seu objetivo de vida.

Aqui reside o cerne da elevação espiritual. Por que você nasceu? Por que está vivo? Por que acordou hoje? Por que continua respirando? Pense nisso e, com certeza, alcançará a Sabedoria Universal: pela Vontade de Deus. Quando isso acontecer nascerá o desejo de participar dessa Verdade.

A sabedoria de Salomão

4ª Sabedoria - Tesouros terrestres

“Realizei grandes coisas. Construí casas para mim e fiz plantações de uvas. Plantei jardins e pomares, com todos os tipos de árvores frutíferas. Também construí açudes para regar as plantações. Comprei muitos escravos e além desses tive outros, nascidos na minha casa. Tive mais gado e mais ovelha do que todas as pessoas que moraram em Jerusalém antes de mim. Também ajuntei para mim prata e ouro dos tesouros dos reis e das terras que governei. Homens e mulheres cantavam para me divertir e tive todas as mulheres que um homem pode desejar.

Sim, fui grande. Fui mais rico do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim e nunca me faltou sabedoria. Consegui tudo o que desejei. Não neguei a mim mesmo nenhum tipo de prazer. Eu me sentia feliz com o meu trabalho e essa era a minha recompensa. Mas, quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir faze-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era como se eu estivesse correndo atrás do vento.

Então comecei a pensar no que é ser sábio e no que é ser tolo ou sem juízo. Por exemplo: será que um rei pode fazer alguma coisa que seja nova? Não. Só pode fazer o que fizeram os reis que reinaram antes dele. E cheguei a conclusão de que a sabedoria é melhor do que a tolice, assim como a luz é melhor do que a escuridão. Os sábios podem ver para onde estão indo, mas os tolos andam na escuridão. Porém sei que o mesmo que acontece com os sábios acontece também com os tolos. Aí eu pensei assim: o que acontece com os tolos vai acontecer comigo também. Então, o que é que eu ganhei sendo tão sábio? E respondi: “não ganhei nada”. Ninguém se lembra para sempre dos sábios, como ninguém se lembra dos tolos. No futuro todos nós seremos esquecidos. Todos morreremos, tanto os sábios como os tolos. Por isso a vida começou a não valer nada para mim: ela só me havia trazido aborrecimentos. Tudo havia sido ilusão: eu apenas havia corrido atrás do vento.

Tudo o que eu tinha e que havia conseguido com o meu trabalho não valia nada para mim. Sabia que teria de deixar tudo para o rei que ficasse no meu lugar. E ele poderia ser um sábio ou um tolo – quem é que sabe? No entanto, ele seria dono de todas as coisas que eu consegui com o meu trabalho e ficaria com tudo o que a minha sabedoria me deu neste mundo. Tudo é ilusão. Então eu me arrependi de ter trabalhado tanto e fiquei desesperado por causa disso. A gente trabalha com toda a sabedoria, conhecimento e inteligência para conseguir alguma coisa e depois deixar tudo para alguém que não fez nada para merecer aquilo. Isso também é ilusão e não está certo! Tudo o que fizemos na vida não nos traz nada, a não ser preocupações e desgostos. Não podemos descansar, nem de noite. É tudo ilusão”.

 

Na sabedoria anterior deixei algumas perguntas para serem respondidas e aqui trarei as respostas.

Os seres habitando uma matéria carnal no planeta Terra imaginam-se ser humano ou espécime da raça homo sapiens da natureza terrestre. Mesmo os religiosos se vêem como ser humano uma vez que a religiosidade não garante a espiritualização. Pelo contrário, reforçam a humanização do ser espiritual.

A diferença entre o espírito (ser espiritualizado) e o ser humano (espírito humanizado) está na motivação da vida. As religiões como regra reforçam a motivação da satisfação na vida carnal. Para isso, colocam, inclusive, àqueles que possuem a motivação espiritual (Deus, Mestres, santos) à disposição do bem-estar material (satisfação) dos seres humanos.

“Meu reino não é desse mundo”, minha felicidade não se encontra no gozo do prazer, mas na plenitude da existência universal. Essa mensagem de Jesus Cristo é sempre esquecida quando se pensa na motivação da vida.

Se o reino de Jesus Cristo não é desse mundo, ele interferirá na busca do emprego sonhado, na cura do mal que poderá salva-lo? Agirá para que você consiga o que queira ou se preocupará em lhe dar o que realmente precisa para ser feliz?

Os seres universais conhecem a realidade do universo e, por isso, vivem dentro da realidade dos acontecimentos carnais. Mesmo que pudessem praticar ações, elas seriam no sentido de levar o ser a mudar a sua motivação e não reforçá-la com prazeres mundanos. Esses seres sabem que se agissem para satisfazer os desejos do ser humano estariam apenas prolongando o sofrimento, já que a evolução (alteração da motivação) um dia terá que acontecer.

Falei mesmo que pudessem porque não podem. Ninguém no universo age, a não ser através da ação universal. Todos os atos promovidos no universo são a ação universal e ninguém pode alterá-la. Por isso Jesus Cristo ou qualquer santo, não pode fazer o que quer por você. Apenas serve de instrumento à ação universal, ato desenhado por Deus como um caminho para a felicidade universal.

Por que você nasceu? Por que está vivo? Por que acordou hoje? Por que continua respirando? Para viver o que está vivendo. Para ser quem é, para passar pelo que está passando, para ter o que já tem.

Essas são as respostas às perguntas que fiz. Você não veio à carne para nada mais. Todos os outros objetivos que colocar na sua existência são fruto de uma motivação individual. A motivação universal é alcançar a felicidade universal (amar a Deus acima de todas as coisas) e isso só se consegue vivenciando com felicidade a ação universal.

Cada segundo da existência de um ser é programado por Deus com todos os ingredientes necessários para que ele compreenda que o que atrapalha a sua felicidade é a sua própria motivação. O problema que você está vivendo não está nas pessoas, acontecimentos ou objetos, mas em você mesmo, que quer que as coisas sejam diferentes do que são. Se não houvesse o desejo de uma forma determinada das coisas de acordo com a sua vontade, você poderia ser feliz nessa mesma situação.

Aí está o seu verdadeiro inimigo, o seu problema: o desejo. Desejar alguma coisa é buscar alterar a realidade, a ação universal. É ele que causa o sofrimento e não a ação universal, pois exige condições para ser feliz.

Entretanto, desejar é intrínseco ao ser. A existência sem o desejo seria uma inércia. Ele é o motor propulsor da vida, pois cria objetivo a ser alcançado. Dessa forma, ao apontar o desejo como seu inimigo, o que deve ser derrotado, estaria levando-lhe a estagnação? Não.

Falei em combater o seu desejo e não em eliminar, extinguir os desejos. Todo desejo tem uma base, uma motivação. Aí está a batalha a ser travada: lutar contra a motivação que o leva a desejar de forma diferenciada da motivação universal.

Hoje, a motivação individual (busca da satisfação) gera determinados desejos. Uns querem uma casa, outros um carro, um filho, um emprego ou saúde. Para que desejam essas coisas?

Tudo isso é materialidade e pertence ao mundo material. Aqui permanecerão após a sua partida. Você sabe disso? Claro, todos sabemos, mesmo os que acreditam na existência após a morte. Então, porque ainda desejam tanto essas realizações? Para serem famosos.

Todos desejam construir um império mesmo que esse seja formado apenas por uma choupana. Assim estarão provando que venceram na vida: conquistaram o que Deus não lhes deu. Esperam elogios eternos à sua ação.

“No futuro nós seremos esquecidos”. Onde nasceu sua família? Onde começou sua raça? Qual a lista de seus ancestrais? Você não sabe, pois sempre que se lembrar de uma pessoa, ele teve um antes que o gerou, mas já foi esquecido. Dessa maneira, quando o tempo passar, você entrará certamente para o rol dos esquecidos.

Apesar de saberem disso todos continuam desejando construir uma fama a partir das conquistas materiais. Quer ter um filho para eternizar seu “nome”, mas para isso precisa de uma casa. Para comprá-la precisa de um emprego, mas também necessitará da saúde para poder ir trabalhar.

Um desejo leva ao outro. Todos estão interligados, a uma motivação, mas o homem não se atenta a isso. Quando diz que está tentando se mudar ataca os desejos, mas esquece que a motivação continua sendo a mesma. Assim, muda apenas o objeto do desejo, mas esse permanece.

A motivação individual da fama levou ao desejo das coisas. Com isso nasceu a preocupação em como consegui-las, pois o universo parece sempre agir contra você. A cada novo obstáculo vencido no sentido de alcançar o seu objetivo, um novo surge. Quantos desgostos isso causa.

Você não pode descansar, nem de dia, nem de noite. Tem que estar sempre atento para combater o universo na defesa dos seus ideais. Que cansaço tudo isso provoca.

Isso é vida? Sim, é a sua vida. É dessa forma que o ser humano passa por toda a sua existência carnal. Para garantir a realização dos seus desejos está sempre em guarda contra o universo: objetos, acontecimentos e pessoas.

É tudo ilusão, porque Deus dá a cada um de acordo com as suas obras. É como correr atrás do vento, porque Deus é Justo e não pode lhe dar o que você quer, mas o que merecer.

Uma ilusão que desgosta, que fere, que cansa e, ainda por cima, faz com que Deus precise criar novas ações universais para combater o seu desejo até que você o vença. Se não for pela compreensão, pelo cansaço de disputar com Deus uma queda de braço.

O ser humano luta diariamente para vencer Deus, renegando o que ele dá, por acreditar que sabe o que precisa para ser feliz. Quando orar não peça nada a Deus, pois o Pai já sabe o que você precisa, antes de pedir. Sábio ensinamento do Mestre, infelizmente tão esquecido, muitas vezes por quem deveria ensiná-lo.

A luta pela realização dos desejos é tão efêmera que, anteriormente, em poucas palavras, provamos que a posse das coisas materiais não é o objetivo da vida, mas sim a fama que advém da conquista. Esse é o desejo de quem quer possuir coisas, mas ainda não é o real objetivo.

A motivação universal está sempre presente no ser. Por mais que ela a esconda sob camadas de motivações individuais é ela que comanda toda a existência do espírito.

A motivação de ter um filho é impulsionada pela fama. O resultado da fama é a lembrança constante daquela pessoa, ou seja, a imortalidade. Todo desejo de conquista de coisas materiais para ser famoso (motivação material) é gerado pela motivação universal de alcançar a eternidade, a existência eterna. Portanto, a real motivação de ter um filho é alcançar a imortalidade, que é a motivação de todo ser no universo. A motivação universal é um objetivo inconsciente que age constantemente sobre o ser levando-o a agir sempre no sentido universal, mesmo achando que está agindo materialmente.

Alcançar a imortalidade é o desejo real e, por isso, comentei que há necessidade de haver desejos. Esse desejo movimenta o ser por toda eternidade e jamais deixará de existir. Durante algum tempo ele pode utilizar-se de caminhos aparentemente diferentes (desejo material), mas está sempre conduzindo a existência do ser, será sempre a sua real motivação.

O desejo das coisas materiais é um desejo inconsciente de alcançar a fama, mas esse também o é o de alcançar a eternidade.

Se você não compreende que o objetivo da fama é uma verdade universal para todos os seres, pois imagina que seu objetivo não é esse, mas, por exemplo, a humildade, por favor, não pare de ler aqui. Provarei que o que considera como virtude (desejar a humildade) é apenas mais um caminho para a fama.

O desejo pela fama é o cerne de todos os desejos dos seres humanos. Foi o caminho que a ação universal escolheu para se atingir a imortalidade. Ele não é feio, errado ou mau, pois sempre conduzirá ao objetivo universal: a universalização.

Se não podemos atingir a eternidade através da conquista das coisas materiais para manter acesa a chama da lembrança de nossa existência, como podemos então manter-nos vivos? Universalizando-se, fazendo parte do universo, participando da ação universal conscientemente.

O errado não é buscar a fama, mas como buscá-la. Um homem rico e cumpridor das obrigações religiosas de sua época, perguntou a Jesus Cristo como alcançar o reino do céu. O Mestre lhe recomendou que seguisse fielmente todos os preceitos ensinados por Deus através dos Mestres. O homem disse que já fazia isso e questionou se havia mais alguma coisa que pudesse fazer.

“Abandone todos os seus bens e me siga”, foi a resposta de Jesus Cristo. Daí surgiu a lenda que a humildade é despossuir os bens, abrir mão das coisas materiais através da doação. Mas, será que é possível alguém abrir mão de seus bens? Não.

As coisas que existem na sua vida (objetos, pessoas e acontecimentos) são a ação universal (obra de Deus) e, portanto, só uma ação Dele no sentido de tirar essas coisas de você pode fazer abandoná-las. Por mais que um ser humano proponha como objetivo de vida não possuir, jamais poderá deixar de ter o que Deus lhe deu. Cada um recebe de acordo com os suas obras e essas não são atos, mas a intenção.

“Quem olhar para uma mulher e desejar possuí-la, já adulterou em seu coração”. O pecado não está no ato (possuir), mas sim no desejo (satisfação). Possuir não é ter, mas sim desejar. Portanto, as coisas permanecerão enquanto não houver a mudança da motivação e nada nesse mundo (desejo seu ou de qualquer um) poderá tirá-las de você.

Dessa forma, a humildade não está em não ter, mas sim em não desejar possuir. O humilde é aquele que não deseja nada além daquilo que Deus lhe deu para viver. E não se esqueça: “felizes os humildes, pois receberão o que Deus tem prometido”.

Aquele que deseja ser humilde, portanto, não é, pois ainda tem o desejo de ser, como os soberbos desejam as coisas materiais. O desejo da humildade, assim como o desejo por qualquer coisa é motivado pelo objetivo de se alcançar a fama para poder existir na eternidade. Uns querem ficar famosos por ter, outros por não ter, mas todos querem ficar famosos.

Bem ou mau, são apenas caminhos diferentes que a ação universal escolhe para cada um alcançar a motivação universal de acordo com suas obras. Não existe a dualidade que o ser humano enxerga nas coisas, pois, pela Fonte que gerou a ação universal (Deus), todo caminho é Perfeito.

Se a prática de atos é a materialização do caminho, ela jamais poderá ser abandonada. Para se encurtar a caminhada é preciso alterar-se o objetivo, ou melhor, compreender o real objetivo, ver a motivação universal que impele cada ser.

Mas isso é feito paulatinamente. Primeiro o ser humano deixa de desejar coisas materiais e deseja posturas espirituais. Acha que chegou à elevação, mas ainda está preso na fama. Depois ele compreende que a fama não é feia ou errada, porque é apenas um caminho e assume que não estava procurando uma postura espiritual e sim a fama. Não mais se condena por tê-la, mas age para vencê-la. Busca então compreender porque quer ser famoso e descobre a sua busca de entrar no gozo da sua eternidade. Só aí pode realmente objetivar participar da ação universal feliz.

Somente nesse momento ele realmente se libertou de todas as coisas (objetos, posturas espirituais, fama) e pode integrar-se ao universo. É preciso limpar a motivação universal das camadas de motivações individuais para se entender o universo.

Sábio Salomão que tudo isso descobriu.

 

“A melhor coisa que alguém pode fazer é comer e beber com o dinheiro que ganhou. No entanto compreendi que mesmo essas coisas vêm de Deus. Sem Deus, como teríamos o que comer ou com que nos divertir? Ele dá sabedoria, conhecimento e felicidade às pessoas de quem Ele gosta. Mas Deus faz que os maus trabalhem, economizem e ajuntem a fim de que a riqueza deles seja dada às pessoas de quem ele gosta mais. Tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento”.

 

Hoje ninguém mais se lembra das casas, plantações e açudes que teve. Ninguém conhece seus escravos, descendentes e amigos. Ninguém valoriza as terras e riquezas que conquistou para o povo de Israel como rei de Jerusalém. Mesmo seus atos de auxílio ao próximo estão esquecidos, mas Salomão imortalizou-se.

Alcançou a existência eterna porque descobriu a verdadeira sabedoria: tudo é ilusão. Tudo vêm de Deus, quer seja o que nos satisfaz ou não. O máximo que se pode fazer é ser feliz com tudo que possuir ou ocorrer na vida.

Mas, também isso vem de Deus. Portanto, o máximo que podemos realmente fazer é deixar a vida (ação universal) fluir através de nós, sem nada desejar. Foi isso que vieram ensinar todos os Mestres; foi isso que aprenderam todos que atingiram a santidade.

Para chegar à bem-aventurança todos os santos tiveram que acabar com os desejos individuais e, por isso, oravam a Deus dessa forma: ‘Senhor, fazei de mim um instrumento de Vossa vontade’. Por favor, não orem a eles pedindo que se transformem em instrumento da sua vontade, fazendo o que você deseja.

 

ODE A SALOMÃO

 

Oh! Salomão, filho de Davi.

 

Aqui nesta noite de luz, nesta casa de Deus,

Nós que professamos o amor,

Saudamos a sua missão.

 

Oh! Salomão, espírito de luz.

 

Alma bendita mensageira do Senhor,

Em verdades campos descansa seu espírito,

Pois prestou o trabalho de Deus.

 

Oh! Salomão, profeta iluminado.

 

Forte foram seus cânticos,

Grandes os seus provérbios,

Pois eles encerram o conhecimento do bem e do mal.

 

Oh! Salomão, ilustre porta-voz do Senhor.

 

Os espíritos que até se banham em seus ensinamentos

Lhes saúdam e agradecem

A luz que trouxe ao planeta.

 

Oh! Salomão,

Filho de Davi,

Espírito de luz,

Profeta iluminado,

Ilustre porta-voz do Senhor,

 

Os que vão viver lhe saúdam.

 

Chico (um espírito que vai encarnar).

A sabedoria de Salomão

5ª Sabedoria - Tempo para tudo

“Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião. 

Há tempo de nascer e tempo de morrer;

Tempo de plantar e tempo de arrancar;

Tempo de matar e tempo de curar;

Tempo de derrubar e tempo de construir.

Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;

Tempo de chorar e tempo de dançar;

Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las;

Tempo der abraçar e tempo de afastar.

Há tempo de procurar e tempo de perder;

Tempo de economizar e tempo de desperdiçar;

Tempo de rasgar e tempo de remendar;

Tempo de ficar calado e tempo de falar.

Há tempo de amar e tempo de odiar;

Tempo de guerra e tempo de paz.

O que é que a pessoa ganha com o seu trabalho? Eu tenho visto todo o trabalho que Deus dá as pessoas para que fiquem ocupadas. Deus marcou o tempo certo para cada coisa. Ele nos deu o desejo de entender as coisas que já aconteceram e as que ainda vão acontecer, porém não nos deixa compreender completamente o que faz.

Então entendi que nesta vida tudo o que a pessoa pode fazer é procurar ser feliz e viver o melhor que puder. Todos nós devemos comer e beber e aproveitar bem aquilo que ganhamos com o nosso trabalho. Isso é um presente de Deus.

Eu sei que tudo o que Deus fez dura para sempre; não podemos acrescentar nada nem tirar nada. É uma coisa que Deus faz é levar as pessoas a temê-lo. Tudo o que acontece ou que pode acontecer já aconteceu antes. Deus faz que uma coisa que acontece torne a acontecer”.

 

No livro “Jesus no Lar”, o espírito Néio Lúcio traz uma história verídica de uma passagem da encarnação Jesus Cristo que não consta dos Livros Sagrados. A sabedoria oriunda dela auxiliará na compreensão dessa sabedoria.

Os discípulos do Mestre reunidos para o descanso noturno em casa de Isabel conversavam sobre os acontecimentos do dia. Eles conversavam sobre o quanto Jesus Cristo espalhou felicidade entre aqueles que acorreram para estar com ele.

Isabel, ansiosa por perpetuar aquele momento onde também vivia a felicidade de estar com o Mestre, lhe pergunta se por acaso ele não conhecia um talismã, um amuleto, que pudesse manter como reserva daquilo que estava sentindo. Queria alguma coisa que mantivesse aberto constantemente o manancial de felicidade para poder banhar-se constantemente.

O Mestre afirma que sim, que existe esse talismã. Ele seria capaz de manter de forma inesgotável o rio de felicidade que Isabel estava sentindo. Esse talismã, segundo Jesus Cristo, é o momento de agora, o que está acontecendo nesse segundo, a ação universal.

O tempo de agora, não importa no que se traduza para você, é um instrumento para a sua felicidade. Ele contém todos os elementos necessários para a sua universalização, ou seja, para acabar com o seu individualismo.

Entretanto, para que possa aproveitá-lo como tal é necessário que o compreenda dessa forma. Enquanto houver desejos que tenham que ser satisfeitos para ser feliz, faltará, no momento de agora, elementos da felicidade. Isso causa o sofrimento.

Na verdade é você que acha que faltam elementos no momento de agora. Tem um ensinamento oriental que afirma que para se ver uma árvore é preciso estar de frente para ela. Quem fica de costas vê a sombra e acha que está vendo a própria árvore.

Para se utilizar o momento de agora como um talismã é preciso estar de frente para a felicidade (ser feliz) e não achar que a sombra (satisfação) é a felicidade.

Para ser feliz é preciso unicamente ser feliz. Não importa que reflexo você veja na ação universal (amor ou ódio, guerra ou paz, abraçar ou afastar, colher ou arrancar) mantenha a sua felicidade, pois tudo o que está acontecendo é instrumento para a sua universalização. Portanto, louvado seja Deus.

Todos os componentes de um ato, material ou não, são instrumentos da ação universal. Foram escolhidos criteriosamente pela Inteligência Suprema para suprir as suas necessidades espirituais.

Ato material, pensamentos, percepções, sentimentos, seu ou de quem você está se relacionando, tudo o que está ocorrendo não é obra do acaso ou de outro ser qualquer, mas foram arquitetados por Deus para a sua felicidade. Você e alguém, com todas as suas reações internas e externas, os objetos e a história do acontecimento são instrumentos de Deus para a ação universal, agindo de tal forma que o equilíbrio universal mantenha-se sempre.

Chegamos a um ponto crítico de nossa conversa, onde muitos abandonam o espiritualismo. Se não faço nada, não sinto nada, não penso nada, então somos fantoches, marionetes? Sim e não. Somos enquanto agentes provocadores da ação, mas não somos porque temos a capacidade de reagir às situações.

Não podemos nos esquecer que estamos falando com seres humanos, seres em evolução. Por isso, as verdades que aqui estão sendo comentadas são para eles. Quanto mais universalizado o ser, mais as verdades se alteram, já que a compreensão e o conhecimento também mudam.

Por isso, a não compreensão da ação de cada um nas coisas universais, exigindo o poder de ação para existir, é uma atitude normal dentro da forma como cada um se vê. Apenas para tentar deixar um pouco mais claro, poderíamos afirmar que o ser humano é um fantoche, mas o ser universal não. Entretanto, todos os dois (ser humano e universal) são você.

Não existe a divisão que se faz: eu e meu espírito. Você é o espírito, o ser universal. No entanto não se vê como tal e, por isso se transforma no ser humano, que também é você. Os dois convivem harmonicamente sendo você: um pratica atos espirituais e o outro, atos materiais. No entanto, reforço: é você o tempo inteiro, quando pratica um o outro ato.

A reação às situações espelha-se na felicidade ou no sofrimento que sentimos durante a ação universal. Mas, felicidade e infelicidade são sentimentos e falei que inclusive esses são partes integrantes da ação universal e que por isso também vêem de Deus. Como pode, então, um espírito escolher o que sentir?

A ação universal se processa por meios, materialmente falando, ainda desconhecidos da maioria dos espíritos. Ela nasce de Deus, chega a todos os recantos do universo, é a ação, mas como tudo isso acontece, o ser humano não possui condições de conhecer. Falta cultura (conhecimentos), palavras e compreensão para entender.

O que podemos falar sobre a ação universal é que ela expressa a vontade de Deus. Não uma vontade individualista, mas da consciência Daquele que sabe da necessidade de que as coisas ocorram dessa forma para o equilíbrio universal e para a elevação de cada um. Quanto à sua execução, podemos afirmar que ela acontece por meio do faça-se.

Assim como a Bíblia Sagrada narra a criação do universo (faça-se a luz e ela começou a existir) é desse mesmo modo que posso informar que a ação universal acontece. Deus diz faça-se a ação e ela acontece. Mais do que isso, não existiria compreensão.

Esse ensinamento, para você, é ilógico. Tudo tem que ser fruto de uma ação com elementos materiais. Estas letras, para você, existem porque foram impressas por uma máquina: existiu um causador, uma causa e um efeito. Uma máquina imprimiu essas letras com tinta para que você lesse.

Para o mundo espiritual, para aqueles que passam a fazer parte do universo, não há causador, causa ou efeito: tudo é Deus. Dessa forma, cada letra desse livro, cada átomo do papel, não são causadores, causas ou efeitos, mas cada um de per si é a ação universal. Foram gerados por Deus, pela Sua vontade através do faça-se. Portanto, são o próprio Deus.

A ação universal não é causadora de atos: ela é o ato. Tudo o que participa da ação não é instrumento: é a ação universal. O resultado do acontecimento não é objetivo da ação universal: é a própria.

Vamos materializar um pouco nossa conversa para tentar explicar melhor. Coloquemos um exemplo de ação: você trabalha para ganhar dinheiro e comprar coisas. Aqui existem todos os elementos que citamos acima como necessários para a sua compreensão de uma ação. Você, como causador da ação, o dinheiro, como meio para alcançar o objetivo de comprar coisas e sua ação (trabalhar) como instrumento do ato.

Da idéia material que o ser humano faz de Deus, Ele torna-se um Ser vivente igual ao humano, ou seja, causador de ações. Entendendo que o exemplo proposto é uma ação universal e não material e aplicando a verdade do ser humano sobre Deus, podemos colocá-Lo como o causador da ação. Nosso exemplo, então, poderia ser compreendido da seguinte forma: Deus trabalha para ganhar dinheiro para comprar coisas.

Essa primeira visão da ação universal é um estágio de evolução e não a elevação total. Em um segundo estágio, a compreensão sobre Deus é mais ampla: Deus é tudo e tudo é Deus. No tudo podemos incluir além de ser vivente todas as demais coisas que existem (matérias).

Dessa forma, nesse degrau de evolução também as coisas materiais transformam-se em Deus. Nosso exemplo, portanto, muda para: Deus trabalha para ganhar deus para comprar deus.

Se Deus é tudo (todas as coisas materiais) ele não dá dinheiro para o ser comprar coisas nem as compra pessoalmente, mas Ele é o dinheiro que o ser humano (no caso o próprio Deus) utiliza para comprar a Si mesmo (as compras).

Através desse trabalho estamos avançando um degrau. Deus não é um ser formado materialmente, mas o todo universal. Ele não existe no universo, mas é o próprio universo. A definição de universo não pode ser todas as coisas (matérias) existentes, mas Deus, pois Ele é tudo e tudo é Ele.

No universo (Deus) não existem apenas as coisas formadas por elementos materiais. Quando me refiro a elementos materiais não estou falando apenas daqueles perceptíveis às percepções do ser humano, mas a também àqueles que escapam a essa percepção. Existem coisas que não possuem materialização alguma, mas elas existem.

A ação é uma coisa. Toda ação é algo, ou seja, existe. Se assim o é, ela também é Deus, pois Ele é tudo. Não podemos atribuir o valor Deus apenas às coisas que possuam elementos materiais, mas a todas as coisas do universo.

É difícil colocar em palavras, pois elas são muito restritas, mas a afirmação é de que a ação em si é algo e não apenas os elementos materiais envolvidos nela. Ganhar, comprar, sofrer, sorrir, não existe apenas nas coisas materiais que realizam o ato, mas é uma intenção de ação. Essa intenção é real (existe), é algo do universo, é Deus.

Pela falta de palavras e sem nenhuma preocupação ortográfica, no nosso exemplo, então, a ação universal pode ser entendida como: “Deus deusa para deusar deus para deusar deus”. As palavras podem não existir, mas a ação universal é isso.

Mas, e os seres, onde entram então na ação universal? Se Deus deusa deus, onde entra o ser? Você é Deus.

A individualidade existe, mas faz parte de uma individualidade maior, forma uma individualidade maior. O que não pode existir é o individualismo, ou seja, a individualidade querer ser o todo, una.

Podemos comparar o universo (Deus) como um gigantesco quebra-cabeça, formado por milhares de partes. Cada ser, cada matéria, cada intenção no universo é uma dessas peças. Cada parte é uma individualidade, ou seja, possui um desenho diferente das demais. No entanto, esse desenho só fará sentido (existirá) quando conectado aos outros.

Juntos todos os desenhos individuais irão formar uma figura, que é uma nova individualidade. Mas, para isso as peças não precisam perder o seu próprio desenho (individualidade individual). Deus é o universo (figura do quebra-cabeça) e cada coisa (seres, objetos e intenções) é uma peça que O compõe e por isso mesmo o próprio Deus.

“Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco não diferença, nem existência ou não existência: o que devo dizer? A mim tudo isto parece um espanto” (Avadhut Gita – Canção do Asceta – Mahatma Dattatreya – Cap. I).

A compreensão dessa visão do universo é difícil por que está ligada à abstração. O ser humano vive preso ao dualismo: ou uma coisa ou outra, situações opostas, existência ou não existência. Para eles, se Deus é o universo então Ele é a soma de todas as coisas e não existe individualmente. Não é isso que estamos falando.

Deus é um ser universal, assim como o próprio ser humano. Ele é uma individualidade. No entanto, é a individualidade mais integrada ao universal e por isso se compreende como o todo. Integra-se tanto ao universo que se funde a ele. Não possui individualismo algum. Deus é uma peça do quebra-cabeça, mas só pensa em si mesmo como a figura pronta.

A individualidade universo é única, mas cada individualidade ser também é única: peças que possuem um desenho diferente da outra. Esse desenho é a individualidade. Você, eu e Deus somos peças únicas, individuais, mas só existimos quando nos juntamos para formar o desenho do quebra-cabeça. Portanto, eu e você somos Deus, mas não somos o Deus.

Achar que o seu desenho representa o todo é o individualismo. É isso que o ser Deus não possui. Portanto, elevar-se para se aproximar a Deus é buscar esse conhecimento, essa compreensão do universo.

O que você, peça desse quebra-cabeça, precisa é compreender que o seu desenho só existirá quando se unir ao todo. Enquanto imaginar-se como independente (seu desenho ser capaz de fazer sentido como figura pronta) não se unirá às demais peças para se compor com Deus (universo).

Portanto, ao invés de se achar ser humano, capaz de protagonizar coisas, “deuse”, ou seja, viva deixando a ação universal fluir através de você.

Toda essa conversa pode até levá-lo a ter uma visão universal, conhecer um pouco mais o mundo em que vive, mas ainda não responde à pergunta que deixamos no ar: se o ser não age, como escolher entre sofrer ou ser feliz?

O ser feliz é o universalizado, aquele que abandonou o individualismo e se integrou ao universo. Ele não age, mas deixa a ação universal fluir através dele. Isso, porém, depende da ação universal e não pode acontecer conscientemente. A ação universal, portanto, se processa no seu inconsciente.

Você não está vendo, mas esses ensinamentos que está lendo (ação universal) estão alterando o seu inconsciente. A mudança que você quer fazer já está ocorrendo sem que saiba. A partir de agora, o seu inconsciente será um crítico das ações que participar no sentido de lhe questionar o individualismo.

A ação universal estará agindo constantemente reforçando seu objetivo universal para criar confrontações entre os pensamentos (individualizações) e os ensinamentos. A isso o ser humano chama de consciência.

Para o ser humano essa explicação ainda não é o bastante. A ação da consciência é involuntária, ou seja, ele não a provoca. Para aquele que se vê como homem existe a necessidade da ilusão de que ele age para que possa criar um movimento. Sem a voluntariedade de praticar uma ação, o ser humano não acredita em mudanças.

Falamos, por exemplo, que a consciência agirá criticamente fazendo confrontações entre pensamentos e ensinamentos. Para o ser humano aqui reside a necessidade de uma ação: a escolha entre um ou outro. Então, vamos materializar um caminho para a sua integração ao universo. Desde já fica claro que tudo ocorrerá não porque você fez, mas porque a ação universal agiu alterando os componentes da ação e a própria ação.

Você sabe o que é paz? É um estado de não agressão. A paz não pode ser alcançada com a submissão do oponente aos desejos do ser humano, mas tem que ser conseguida interiormente. Estar em paz é não agredir ao próximo ou a si mesmo, sem importar o que está acontecendo. Essa é a paz verdadeira.

Uma das ações necessárias para se universalizar é alcançar a paz verdadeira. Para isso não pode haver acusações a ninguém nem a nenhum acontecimento. Para se estar em paz é preciso conviver com o universo sabendo que tudo que ocorre está perfeito pela Fonte que o criou.

De onde nascem suas críticas às coisas e às pessoas? Do que você acredita que é verdade. Como essas críticas existem? Através do pensamento. Então controle os seus pensamentos para que eles não agridam ninguém nem a você mesmo (auto acusação). Para isso é preciso desmentir suas verdades. Não acreditar na verdade do próximo, mas afirmar que não conhece a verdade real das coisas. Controle o pensamento no sentido de não acreditar que o que você acha está certo.

Exemplifiquemos. Alguém, em uma conversa, diz algo que você entende como uma ofensa. O seu pensamento fluirá sobre os ingredientes da ofensa (o que ele falou) apontando-os como mentiras, ou seja, não verdade para você.

A partir desse ferimento às suas verdades, o pensamento julgará o próximo. A sentença dirá que ele é um ofensor: culpado. Aí o pensamento proporá uma ação, que será a penalidade pelo ato do infrator: reagir com agressão.

Todo esse processo mental é sofrimento e acaba com a sua paz. Mas ele só existiu porque haviam verdades para ser feridas. Se as verdades forem eliminadas, não existirá todo o desenrolar do pensamento: julgamento e aplicação de pena. Portanto, para se chegar à paz, já no primeiro passo (sentir-se ofendido) é necessário que não veja uma agressão a você. Para isso é preciso que compreenda que a sua verdade não é verdadeira.

Prolongando o pensamento com base nos três quesitos (ferimento, julgamento e penalização), o sofrimento (ausência de paz) será aprofundado, fazendo com que a ação universal gere mais fatos que também farão você sofrer. O próximo sofrimento poderá ser representado por um ato de revide de outro ser humano ou na sua própria auto acusação. Não importa qual seja o caminho que a ação universal seguir, foi o pensamento na ação anterior que fez você perder a paz: agora é conseqüência.

Agora existe um caminho material que você imagina-se capaz de agir: não dê asas a sua imaginação, não deixe o pensamento evoluir. Quando a ofensa for detectada, altere o pensamento: ao invés de concluir por uma ofensa, não conclua nada: deixe a ofensa fluir por você. Ele disse que você é idiota, mas, você é? Não, idiota é a ação universal porque a palavra é ela, não faz parte dela.

Você não precisa reagir para defender a ação universal, pois ela não dá o mesmo valor (tem a mesma verdade) a essa palavra que você. Suas verdades individuais é que dizem que o termo idiota é feio, ruim, ofensa e por causa desse valor (verdade) é que se sentiu ofendido. Controle seu pensamento para universalizar-se, ou seja, retire da palavra idiota todo e qualquer significado para você.

Ao invés de se basear no que você acha do termo idiota, altere o seu pensamento para que ele reflita a compreensão universal: esse termo não possui o valor que eu acho. Assim, quando alguém lhe ofender, não deixe o pensamento evoluir como hoje (sentir-se ofendido), mas permaneça feliz, pois você é um idiota, mas isso não tem o valor que dá a esse termo.

Você é um idiota, mas a sua idiotice não é possuir as qualidades, modos ou ditos de quem é pouco inteligente ou imbecil, mas imaginar que é capaz de saber o que é ser idiota. Idiotice é querer saber, dar valor às coisas, pois para isso seria necessário se possuir a verdade universal, ou seja, ser Deus. Foi isso que Deus deusou: o universo lhe avisou que você está individualizando o seu desenho.

Compreender os acontecimentos sem saber o que está acontecendo é oferecer a outra face, o ensinamento de Jesus Cristo, que foi materializado. O Mestre não nos ensina a sofrer, mas a ser feliz: essa é a Boa Nova. Mas, também mostra que a felicidade não nascerá da alteração das situações da vida, mas da sua mudança de como sentir os acontecimentos.

Se ao receber um tapa no rosto você sofre, não adianta dar a outra face: isso não levará à universalização, mas a uma nova acusação. O oferecimento da outra face não vem da resignação (ter que sofrer), mas é uma ação motivada pela compreensão de que ter apanhado foi Perfeito.

O ser universalizado oferece a outra face como aceitação do amor que existiu no primeiro tapa. Trata-se de uma postura de estar à disposição da ação universal para, se for o necessário, apanhar novamente, pois compreende que a intenção do tapa é levá-lo a não mais sofrer. Aprendendo a apanhar como fruto da ação universal o ser humano não mais sofrerá nos golpes necessários que ainda acontecerão na sua existência.

A submissão amorosa à ação universal acaba com o fim do dualismo na vida. A ação universal não é certa ou errada, boa ou má, limpa ou suja, moral ou amoral, gorda ou magra. Ela é Perfeita (não contêm erros), Justa (dá a cada um o resultado de suas obras) e Amorosa (possui a intenção de aprimorar o ser, levando-o à universalização), pois a Fonte que a gerou possui essas qualidades elevadas ao expoente máximo. Toda e qualquer outra qualificação dada à ação são achar do ser, fruto do seu individualismo.

Se o dualismo é do ser e não da ação, aí está o caminho para você agir. Não embarque nos pensamentos que contenham opinião individualizada, mas busque sempre generalizar todos os acontecimentos, pessoas ou objetos com as características da ação universal: Perfeição, Justiça Perfeita e Amor Sublime.

Oriente o pensamento para aplicar essas qualificações nas coisas, destrua os motivos para qualificar os objetos, pessoas e acontecimentos (é bom porque, é mau por isso). Isso lhe levará a viver sempre em paz e harmonia com o mundo, não importa o que estiver acontecendo. Isso lhe tornará feliz.

Da sua declaração de importância para julgar o mundo nascerá a sua potência para viver universalmente.

A você que está achando todo esse ensinamento um fatalismo, ou seja, trata-se de uma doutrina que afirma que todas as coisas da vida estão pré-determinadas, relembro o maior fatalista que já viveu nesse planeta: Jesus Cristo.

Quantas vezes antes do seu desencarne o Mestre avisou que seria crucificado? Por quantas oportunidades comunicou o seu destino aos apóstolos? E o que fez para reagir contra ele? Nada. Inclusive quando Pedro o defende do seu destino manda o apóstolo guardar a espada e pergunta: você acha que eu não vou tomar até a última gota do meu cálice?

Os professores da lei lhe deram oportunidade para desmentir-se, o Sinédrio propôs isso claramente e Pôncio Pilatos perguntou por que não se salvava, já que era rei. A tudo Jesus Cristo ouviu, mas permaneceu na sua crença que viver é amar a Deus sobre todas as coisas e não mudá-las para viver.

Esse mesmo Mestre também nos ensinou: eu sou o caminho para Deus. Assim, o caminho para o Pai é o fatalismo. A vida vivida com a certeza da não ação, sem resignação, mas com felicidade. Sem individualismo, ou seja, sem vitórias individuais, mas vivendo para servir ao próximo.

‘Mas, aí eu vou ser chamado de tolo. Todos levarão vantagem sobre mim’. Sim, isso poderá lhe acontecer se a ação universal entender que é o seu caminho, mas “o mesmo que acontece com os sábios, acontece com os tolos”. Tanto o tolo quanto o sábio têm um só destino: a universalização.

A evolução do ser como fusão completa com o universo (fim do individualismo) é inexorável. Todos um dia terão que abrir mão de suas verdades individualistas para poder construir-se o desenho do quebra-cabeça. Portanto, pergunte-se: o que você ganha querendo ser sábio?

O que ganha querendo estar sempre certo, bonito, bom, limpo, magro? Nada. As coisas materiais ficam e a fama extingue-se: é tudo ilusão. Os únicos frutos da sua ação individualistas são a percepção e o desgosto, ou seja, o sofrimento. É só a isso que conduz o individualismo, pois prolonga o caminho fazendo com que a ação universal tenha que agir mais vezes contrariamente a ele.

Falamos do caminho para a universalização dentro da sua realidade (a possibilidade de agir vigiando os pensamentos no sentido de despossuir o dualismo), mas deixamos bem claro que esse processo será comandado pela ação universal através da verdade de cada um que só Deus conhece. Portanto, dentro da lógica humana, independe de você.

Assim, alguns serão comandados para agirem dentro dos padrões universais (sem dualismo) o tempo todo, outros em mais ou menos momentos, dependendo de cada um e alguns não conseguirão nunca. Isso depende da verdade de cada um, da motivação individual, que apenas o Pai conhece realmente.

Como já falamos, a motivação universal vai sendo coberta por outras que falseiam a motivação real. O ser no estágio humano não consegue facilmente limpar-se das falsas motivações e às vezes as vivencia como sendo universais. Acha que alcançou a motivação universal (que quer se universalizar), mas ainda vivencia verdades individuais.

Um exemplo: uma pessoa se acha universal porque defende as pessoas do perigo da morte. Imagina que assim agindo está sendo universal, porque não acusa o outro de nada. Isso não é verdade: ele está sendo individualista.

O individualismo não se caracteriza por atos, que como já vimos ele não pode praticar, mas pela intenção. Se o ser não quer já está sendo individualista. O universal não quer nada: vive o que acontece.

Por isso, muitas vezes, apesar de você imaginar que já está evoluindo, a ação universal ainda terá que combater o que você chama de universalização, pois ela é uma individualização da ação do universo.

Essa exposição da sua verdade à você, no entanto, não deve ser motivo para choro, lamúrias, desespero ou acusação de incapacidade de evoluir. Deve servir de motivação para aprofundar a luta. Assim, nos momentos que ceder à “tentação” e revidar agressões que imagina que tenham existido, não se culpe. Não perca tempo sofrendo, se causando, chorando porque a sua real verdade lhe foi mostrada pela ação universal. Continue amando, continue sendo feliz.

Erga a cabeça e continue no caminho. Esqueça o passado mesmo que ele tenha ocorrido há cinco minutos. Prepare-se para o novo momento, o novo desafio da ação universal que já está chegando.

A sabedoria de Salomão

6ª Sabedoria - A injustiça do mundo

“Neste mundo reparei o seguinte: no lugar onde deviam estar a justiça e o direito, o que a gente encontra é a maldade. Então pensei assim: “Deus julgará tanto os bons como os maus porque tudo o que se passa neste mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem que acontecer”. Aí cheguei à conclusão de que Deus está pondo as pessoas à prova para que elas vejam que não são melhores do que os animais. No fim das contas, o mesmo que acontece com as pessoas acontece com os animais. Tanto as pessoas como os animais morrem. O ser humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois têm de respirar para viverem. Como se vê, tudo é ilusão, pois tanto um quanto o outro irão para o mesmo lugar, isto é, o pó da terra. Tanto um como o outro vieram de lá e voltarão para lá. Como é que alguém pode ter certeza de que o sopro da vida do ser humano vai para cima e o sopro da vida do animal desce para a terra? Assim, eu compreendi que não há nada melhor do que a gente ter prazer no trabalho. Essa é a nossa recompensa. Pois, como é que podemos saber o que vai acontecer depois da nossa morte”? 

 

O tema dessa sabedoria será o estudo das dualidades que comentamos na anterior: o certo ou errado, bom ou mal. Faremos isso abordando a dualidade justiça e injustiça. Esse estudo servirá para compreendermos as dualidades ou individualismos do ser.

No entanto, antes de entrarmos no tema propriamente dito dessa sabedoria, convêm conhecermos dois aspectos da existência material: razão e instinto. Através da comparação de Salomão entre o ser humano e o animal (dois seres que se caracterizam pelo objeto do estudo) podemos aprender mais sobre a ação universal e o individualismo.

“Deus julgará tanto os bons como o os maus porque tudo o que se passa neste mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem que acontecer”. Esse pensamento é a síntese de toda a sabedoria de Salomão. A ação universal é inexorável e imutável e origina-se no conhecimento que o Pai tem de cada um, das verdades individuais. Entretanto, não é dessa forma que o ser humano vê o mundo.

Ele acha que seus atos, na realização ou não, na intensidade e direção, são determinados por sua razão, ou seja, como resultado de uma ação mental chamada raciocínio. O homem percebe as pessoas, objetos e situações, raciocina sobre elas e executa uma ação coincidente com o raciocínio. Acha que tudo isso é livre, ou seja, executa livremente, sem interferência alguma. Será possível?

Os espíritas denominam a razão (resultado de um processo raciocínio sem sofrer influencias externas de outros seres) de livre-arbítrio. Mas, será que alguém é realmente livre para alguma coisa?

O que é raciocinar? O raciocínio é um processo de comparação das coisas com as verdades que cada um possui. Quando um acontecimento ocorre e o ser humano o percebe, compara o acontecido com verdades que possui. Se um dos instrumentos da ação percebida, por exemplo, está com um revolver na mão, o ser humano raciocina que ele é um agressor. Isso porque possui a verdade que revolver é um instrumento de agressão.

De onde, porém, surgiu a verdade que o revólver é um instrumento de agressão? Dos pais, da família, dos amigos, da escola ou da própria sociedade. Assim sendo, essa verdade não é do ser humano, mas do mundo, das outras pessoas, da compreensão planetária sobre o revólver. Mesmo que o ser jamais tenha sido agredido com um revólver para lhe dar a verdade de instrumento de agressão, esse objeto possui essa característica para o ser humano.

Quando o raciocínio utiliza essa verdade, não está utilizando valores próprios, mas de outros. Verdades alheias e não individuais. Acabou a liberdade de pensar, pois os valores do ser não são seus (formados livremente através da experimentação), mas transmitidos pela sociedade planetária.

Se a verdade utilizada foi imposta, o raciocínio não é mais livre, mas aprisionado ao daqueles que possuem as verdades. O ser humano não é mais livre para pensar, pois tem que raciocinar dentro da padronização do meio que vive.

É a isso que se chama de indução: o processo de adquirir verdades alheias e utilizá-las como verdades individuais. O ser humano não é, portanto, livre para pensar, pois é induzido pelo meio que vive a raciocinar de tal forma. Quem está raciocinado não é o ser, mas os hábitos e costumes da sociedade que está atrelado.

Acabou a liberdade para o ser porque o seu arbítrio é ditado pela sociedade que vive. Pelos hábitos e costumes, normas, regras e leis que fixam o certo e o errado, o justo e o injusto. Só isso já bastaria para extinguir com o livre-arbítrio imaginado pelo ser. Ele teria que se libertar desses parâmetros para realmente ser livre. Mas, existem os que querem preservar a sua individualidade afirmando que, ao aceitarem a verdade societária como sua, transformam a verdade dela em sua. Suas verdades podem até ser oriundas de uma verdade maior, mas a aceitação por sua parte gera a individualização da verdade.

No caso da arma, todos podem acreditar que ela é um instrumento de agressão, mas enquanto o próprio ser não crer dessa forma, aquilo não será verdade para ele. Para esses ser a sua verdade não é o que os outros acreditam, mas forma-se a partir da sua livre aceitação ou não da interpretação alheia. Por isso ela é sua verdade e não imposta pelos outros.

Engano. Não se aceita a verdade societária: ela é imposta e violentamente.

Você diz que passa a roupa porque gosta, mas tente sair sem passá-la? Será alvo de críticas, apontado como um bandido. Tente pedir ao seu chefe para ganhar menos do que ganha porque recebe um salário maior do que outro que faz a mesma coisa? Será taxado de débil mental, porque a verdade societária, que você diz que é sua, manda você ganhar sempre.

Tente viver como Jesus Cristo viveu. Será chamado de louco e se persistir pode inclusive acabar em um manicômio. Sabe quem lhe colocará lá? Os mesmos que estudam que ele é o caminho a verdade e a luz. O discurso da vida é um, mas a verdade é outra.

O ser humano não transforma a verdade societária em sua porque quer, mas para não ser marginalizado pela própria sociedade. Alguém em sã consciência se entregaria a combater as normas e regras que a sociedade impõe? Não, pois tem medo da reação dela. É mais fácil dizer que aceitou a verdade deles, que transformou em suas.

Assim, o ser humano não cria verdades individuais da coletiva porque quer, mas por ser coagido a isso. Onde a liberdade nesse processo? Se você tivesse mesmo o livre-arbítrio se entregaria aos seus desejos mais íntimos que não realiza por medo do que os outros irão dizer.

Enfim, essa linha de pensamento é um processo filosófico que depende da capacidade de libertar-se da razão para a perfeita compreensão em, por isso, não atinge aos mais apegados à visão ser humano. Nesse trabalho precisamos nos comunicar com todos e, por isso, é preciso colocar praticidade, ou seja, razão.

Só colocando razão (aquilo que o ser humano compreende) no ensinamento poderemos explicar o que está além da própria razão. Só questionando as verdades podemos destruí-las. Por isso, continuemos falando de livre-arbítrio.

O ser humano acha-se completamente livre do universo. Pode fazer e agir como bem entender. Essa forma de pensar nos dá o entendimento de que, se você quiser, pode, nesse momento, pegar uma arma e sair matando quem queira.

Isso é, para aqueles apegados a razão, um pensamento lógico, uma verdade que acontece periodicamente no planeta. Partamos, portanto, desse exemplo para falar mais do livre-arbítrio, ou da não existência dele.

O atirador fez uso do seu livre-arbítrio para atirar. Um mau uso, diriam alguns, mas fez. Pergunto: e quem morreu também fez uso do seu livre-arbítrio? Ele queria morrer? Se não, onde ficou o livre-arbítrio dele? Se não queria morrer, porque não pode exercer o seu desejo e o atirador pode? Teria o atirador um livre-arbítrio maior do que o do alvejado? Porque o atirador teria mais direito de fazer o que queria do que a vítima? Quando todas estas perguntas forem respondidas sem margens a novos questionamentos o ser humano poderá realmente se considerar livre.

Para isso é preciso fazer novas perguntas: onde está Deus em todo o processo de alguém pegar uma arma e matar quem quiser? Como o Pai Amoroso não pôde proteger seu filho da vontade do outro? Um pai terrestre trocaria a sua vida pela do filho, mas o Pai Celestial nada faz? Como o Senhor do Universo, aquele que apenas comanda faça-se e todas as coisas surgem, tem que se submeter aos caprichos de um ser humano? Ele consegue manter todos os planetas em sua órbita, mas não consegue mudar o que você quer fazer?

Esse Deus não é um Pai Amoroso, pois entrega o Seu filho à própria sorte. Esse Deus não é o Senhor Supremo, mas um fraco. Não é Onipotente, mas escravo da potência dos seres humanos. Acreditar na razão (capacidade de gerar atos independentes do universo, de Deus) é irracional, não tem lógica, para quem afirma que busca a elevação espiritual.

Todo ensinamento daqueles que realmente conhecem a Verdade, os Mestres da Humanidade, é quebrado pela existência da razão, do poder do raciocínio independente, individual. Para que isso se tornasse lógico era preciso isolar Deus do universo. Pois foi exatamente o que o ser humano fez.

Criou dois mundos: o material e o espiritual. Dentro do material as coisas acontecem por sua razão, fruto do seu livre-arbítrio e não pela vontade de Deus. O universo surgiu de uma grande explosão e não do faça-se; as doenças são causadas por contaminações viróticas e bacteriológicas e podem livremente, levar à morte.

Cada coisa (objeto ou pessoa) do universo faz o que quer, sem comando, sem razão. Por isso o melhor que cada um pode fazer é lutar para impor sua vontade para comandar os acontecimentos. A vida humana (material) é uma selva onde a lei é a do mais forte, segundo a crença da liberdade de agir.

Isso ocorre porque eles imaginam que sabem o que devem fazer. O outro mundo (espiritual) eles não conhecem e, por isso, acreditam que não sabem como são as coisas. Por isso, lá deixam Deus agir. Na Terra, onde Ele não sabe das coisas, não pode agir.

O planeta Terra, para os seres humanos individualistas é um mundo sem um comando que mereça ser seguido, sem causa primária, sem ação universal. Não existe nada perfeito, a não ser as suas próprias verdades, o que ele acha. Por isso, nomeou-se o comandante do planeta, o justiceiro das coisas, o guardião das verdades absolutas.

Esse é o mundo racional, o mundo da razão. No entanto, constantemente a realidade extrapola o conhecimento do ser. Suas verdades são questionadas por fatos que ele não compreende. Nesse momento ele afirma que aquela realidade é sobrenatural, espiritual, não faz parte da razão do mundo.

Como essas coisas não pertencem a esse mundo, cede o comando da ação delas a Deus. Para compreendê-las e poder controlá-las deixa aberto um canal de comunicação entre os dois mundos: templos, igrejas e cultos.

O ser humano que acredita no livre-arbítrio, no livre comando das ações visita esses lugares apenas para tratar daquilo que não consegue resolver no mundo material. Vai à busca Daquele que comanda o incompreensível para aprender a comandar e não para Louvá-lo.

A real motivação do ser humano é alcançar aquilo que lhe dá prazer, satisfação. Ninguém procura Deus para declarar a sua completa incompetência e entregar-se a Ele, fazer da vontade Dele a sua felicidade.

Aqueles que se universalizaram procuraram Deus nesse sentido e não para alcançarem graças. Mas, para isso eles não precisaram ir a nenhuma igreja, religião, templo ou culto.

O templo de Deus está dentro de cada um, porque a comunicação com o Pai se faz a cada segundo pelo sentimento. A perfeita comunicação entre os seres e Deus acontece na felicidade do filho receber o que o Pai lhe dá. Aquele que quer ditar a Deus o que lhe fará feliz é o filho que abandona o lar para gastar os bens do Pai.

Esse contato direto a cada segundo entre Pai e filho une o mundo. Acabar com a separação entre material e espiritual, repor no trono o verdadeiro Senhor, é o objetivo da vida material, da existência carnal do ser. Acabar com o poder da razão e do livre arbítrio para se viver a ação universal dentro das verdades do universo.

Entretanto, isso não é o fim do livre-arbítrio, mas a verdadeira liberdade de arbitrar. Libertar-se dos grilhões do individualismo dos seres para alcançar a sublime liberdade de ser universal. Trocar o eu acho pela verdadeira sabedoria.

Afinal, “tudo o acontece nesse mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem que acontecer” e é Deus quem escreve quando, onde e como: o roteiro da vida.

No nosso último exemplo do livre arbítrio (o atirador que faz o que quer) ninguém matou nem morreu: ‘Deus deusou Deus’. Porque Ele fez isso se quem morreu não queria morrer? Para por as pessoas à prova para que elas vejam que não são melhores do que os animais, concluiu Salomão com toda a sua sabedoria.

O universo é igualdade perfeita: não pode haver raça superior ou inferior. Os seres vivem provas diferentes para a sua evolução, mas essa diferença não se traduz em superioridade ou inferioridade.

Os seres que habitam as formas animais não racionais estão em um processo de evolução diferente do ser humano, estão fazendo provações diferentes da sua. É um processo que todos os seres do universo têm que fazer e se você está lendo esse texto é porque já passou por ele.

Isso não quer dizer que você seja superior aos animais. Você não está numa série mais adiantada ou atrasada da escola espiritual, mas no mesmo curso deles: o de universalização. As etapas de evolução espiritual não se caracterizam, como nas escolas humanas, por níveis mais baixos ou mais altos, mas por aprendizagem de ensinamentos diferentes.

A ciência hoje comprova que a diferença entre os seres humanos e os animais está no poder mental, na capacidade de raciocínio. Nas partes que formam o corpo existem similitudes de elementos tão impressionantes que quase levam os seres humanos à conclusão de que todos pertencem a uma só árvore genética. Só não assumem de vez essa conclusão pela soberba de serem racionais.

O ser humano tem a vaidade que o leva a sentir-se superior às outras coisas do planeta. Imagina que o poder do raciocínio é a marca natural que não deixa dúvidas de sua superioridade. Não compreende que isso é soberba.

No entanto, a utilização do raciocínio, o que o ser humano acha que lhe traz poder, é o que ele veio aprender a usar, pois não sabe raciocinar. O ser humano é o ser universal que está aprendendo a usar o processo raciocínio, já o ser que habita a forma animal é aquele que está aprendendo a usar o instinto.

Se o ser humano não sabe o que é raciocinar, precisamos compreender o que é utilizar esse processo. Além disso, precisamos também relembrar o que é o instinto já aprendido para compreendermos a ação da vida. Esse é o ensinamento que o ser universal vem aprender durante a existência carnal.

Que todo espírito possui a motivação universal (acabar com o individualismo) e que ela hoje se encontra mascarada por motivações individuais já falamos bastante. Quando livre da carcaça corporal o ser consegue compreender essa verdade universal e, por isso, pede a Deus chances para provar que está puro, livre das individualidades. Para essa comprovação foi criada a encarnação.

O ser aprisiona-se a um corpo e vivencia histórias para poder provar, no transcorrer dos acontecimentos, que está liberto do individualismo. Daí pode se compreender o sentido da vida: passar por situações sem individualizá-las. Para que isso ocorra, o necessário é que as situações sejam universais (vontade de Deus) e não o querer do ser.

Imaginemos uma situação: um ser quer provar a Deus que está liberto do fictício poder de mandar nos outros. Para provar que venceu esse desejo individual é necessário que venha em um meio onde ele mais forte, o que pode ditar normas. Se nascesse como um fraco, não provaria nada, pois não teria mesmo condições de mandar.

Para vencer o individualismo em uma vida é necessário que os elementos individualistas estejam presentes, senão não há vitória conquistada. Assim, podemos logo compreender que a sua vida não é fazer ou passar pelo gosta, mas passar o que não quer fazendo o que não gosta com felicidade. Para isso é preciso aprender a raciocinar de forma diferente da de hoje: ao invés de buscar a satisfação, vivenciar a situação com alegria.

Mas, Deus é tão Pai, tão Magnânimo que permite ao filho escolher essa história, os acontecimentos, as pessoas e os objetos que a comporá. Dá ao aluno o direito de escolher sobre que matéria quer responder e, ainda por cima, o de escrever o próprio texto da questão da prova.

Com essa verdade podemos entender que a vida do ser humano foi pedida e escrita por ele mesmo, com os objetos, acontecimentos e pessoas como está acontecendo, para provar a Deus que era capaz de conviver com tudo isso feliz. Pediu para provar ao Pai a sua vitória sobre um querer diferenciado. É assim que você raciocina? É dessa forma que você compreende o seu problema? Por que ainda está infeliz?

Para auxiliar ainda mais o filho, Deus dá as respostas das provas. No entanto, as coloca em um lugar onde o ser terá que abandonar o individualismo para encontrar: o subconsciente. Assim, tudo o que o ser universal precisa para praticar atos que o leve à universalização já está dentro dele mesmo: basta vencer a razão. Você raciocina com o consciente? Então precisa aprender a raciocinar.

O acesso ao subconsciente se chama meditação e os ensinamentos que lá estão são considerados instinto. Portanto, o raciocínio que pode levar à elevação espiritual é a meditação sobre os assuntos, ou seja, uma análise profunda sobre as coisas. A meditação se caracteriza pela não aceitação do primeiro argumento do raciocínio: a busca da razão da razão.

A ação que resulta desse acesso é denominada instintiva ou não racional. Aprender a viver dessa forma é o que deveriam fazer os seres que encarnam na vida humana.

Os seres animais já vivem com ações intuitivas, mas não passam por meditações, pois não estão aprendendo a raciocinar. Por isso, toda programação da sua existência está no consciente e quando a ação universal as ativa, não há questionamentos (individualismo).

Para os bichos não existe por que, como, quando, onde, o que acontecerá: eles simplesmente agem. Deixam ser tocados para o matadouro porque seguem o instinto de servir ao ser humano com o seu corpo. Assistem a degradação do seu habitat porque sabem que o homem precisa criar habitações e que sua universalização depende de servir ao próximo. Não possuem valores individuais, mas eles defendem o seu maior valor: a felicidade por participar da ação universal.

Já o ser humano possui os dois processos: instinto e raciocínio. Pelo subconsciente a ação universal comanda e pela razão o homem questiona a ação universal. Não estou falando que o ser humano tem a capacidade de alterar a ação, mas questioná-la através do sofrimento.

Se cedesse ao instinto, ou seja, vivesse sem perguntas por que, como, quando, onde, o que acontecerá, praticaria os mesmo atos, passaria pelas mesmas situações, mas seria feliz com isso, pois a compreensão para tanto já está no seu subconsciente.

Essa é a provação que o ser vivendo como humano precisa: passar pelas situações de vida sem sofrer. Para isso necessita abandonar o individualismo (querer qualificar o acontecimento). Com isso servirá de instrumento consciente à ação universal e se integrará ao todo universal. Compreenderá as coisas pela Verdade Absoluta e não por seus valores.

Vamos exemplificar para ficar mais claro a diferença da ação animal com a humana. Um animal seguindo seu instinto é conduzido a um determinado local físico (uma ação universal). A primeira coisa que faz é marcar seu território. Ele não analisa o terreno, a possibilidade de alimentação, por quanto tempo poderá sobreviver ali. Também não quer saber se o território já tem um dono. O universo colocou-lhe ali e permanecerá até que a ação universal lhe mude de lugar.

O homem, ao se deparar com a possibilidade de uma remoção para outro local, analisaria todas as circunstâncias, para decidir se iria ou não. Apesar desse fictício poder de agir (ir ou não), o que lhe acontecer será guiado pela ação universal e não pelo seu desejo. Quantas vezes o ser humano já não se iludiu achando que sabia e na verdade desconhecia toda verdade?

Para a motivação da ida afirma que foi o resultado de suas análises. Ele chegou à conclusão que o local era bom e que haveria grandes condições de prosperidade lá. Foi por esses motivos que irá e não porque o universo lhe levará. Enquanto estiver indo ainda dirá que é uma bênção de Deus, que o Pai está lhe levando para lá, apesar de achar que chegou à conclusão de ir por livre vontade.

Chega lá e o tempo, a vivência, lhe mostra que estava enganado: o local representou um grande desastre para a sua existência. Onde ficou toda a sapiência do homem que foi capaz de analisar tudo? No momento do imaginário fracasso acusa ao lugar, ao acaso, aos outros ou ao próprio Deus que o colocou ali.

Mas, ele não foi porque quis, porque sabia que era melhor? Como, então agora existem outros fatores que decidiram a sua ida? Quando alcança essa compreensão acusa a si mesmo. Isso também não resolve, mas apenas a compreensão do que aconteceu realmente pode lhe manter a felicidade nesse momento.

Por isso, vamos analisar essa situação dentro da ação universal. Se o homem locomoveu-se àquele pedaço de terra ali deveria estar; ficar ou não é outra ação que não dependerá dessa. Chegando, se permaneceu é porque ficou, se não, é porque não tinha que ficar. Tudo isso ditado pela ação universal e não pelos motivos do homem.

Permanecendo na terra, quem disse que o local deverá ser bom para o homem, que terá que trazer prosperidade? A ação universal não disse isso, foi a conclusão do homem, ou seja, o seu individualismo, o seu desejo de ganhar.

Se você é esse homem, não se preocupe em estar ou não em um lugar, pois você já se encontra no lugar determinado pela ação universal. Também não espere nada de onde está, porque tudo o que você precisa e merece já tem. Como Jesus Cristo ensinou: não reze como os fariseus (pedindo coisas), porque eles já receberam tudo o que tinham direito.

Saiba que o lugar que você está e o que há nele é o que pediu antes como necessário para universalizar-se. Dessa forma, se acontecer a prosperidade esperada fique feliz, mas se ela não vier saiba que você não a pediu e que, portanto, não precisa dela para ser feliz.

Consegue ficar feliz sem receber? Não, então não peça. Não imponha condições à felicidade. Estar feliz com o que tem é raciocinar instintivamente, isso é o que você veio fazer na carne.

Por que as coisas mudam entre o planejamento fora da carne e a existência carnal? Por que você não raciocina instintivamente sempre e vive com os mesmos valores que tinha antes da encarnação? Porque está preso na razão, nas verdades do mundo. Vamos ver outro exemplo.

Uma pessoa nasce na pobreza. Este fato é fruto da ação universal guiada pelo desejo do ser fora da carne, pela sua motivação universal. Ele pediu para que essa situação fosse criada, pois, cônscio da necessidade da universalização, teve a convicção de que essa situação seria mais útil para ele.

Já na matéria, desenvolve-se na situação material de penúria bombardeado pelas verdades societárias. Feliz é quem tem posses, é quem come todo dia, tem piscina, carro do ano, casa. Todos terem a mesma coisa é justiça: a quem não tem foi cometida uma injustiça.

Essas verdades que, originalmente, não são do ser universal, são apropriadas por ele e se constituem agora na sua verdade. Sua motivação universal foi solapada pela motivação da sociedade.

Aí ele sofre, luta com todos os meios possíveis, legais ou não, para fugir a situação que ele mesmo criou. A vida, no entanto, não muda. Isso não pode acontecer porque ela precisa ter todos os elementos que o próprio ser julgou necessário para ser feliz antes da encarnação. Aí ele sofre. O que mudou? O conceito do que é necessário para ser feliz.

Isso não é obra do mundo, mas do próprio ser. Quando Deus através da ação universal cria as verdades societárias está colocando as questões da prova de cada um, formatando as condições existenciais necessárias para que cada um seja feliz como pediu.

Para ser aprovado o espírito tem que se manter firme na sua motivação universal. Ele não pode ceder ás tentações do mundo, pois elas são exatamente o que ele ceio vencer. É como se Deus perguntasse: ‘Você acredita que a felicidade está na casa, piscina, carro e comida ou em Mim’?

A resposta que leva à elevação espiritual está sempre em amar a Deus acima de todas as coisas. Mas, o que é amar senão ser feliz? Portanto, o aprendizado da utilização do raciocínio é racionalizar as coisas buscando estar sempre feliz com o que tem e não a satisfazer os desejos pelo que não tem.

Afinal, que diferença há entre você e os animais? Todos os dois corpos morrem (viram pó) e os seres que os habitam sobem aos céus. Compreenda que o melhor que pode fazer é ser feliz em qualquer situação de sua vida (trabalho). Essa é a sua recompensa, segundo a sabedoria de Salomão.

Sabe qual a diferença entre você e os animais? A liberdade, a felicidade, a harmonização com o universo, a paz que cada um vivencia. Os pássaros vivem em liberdade, você aprisionado às coisas; habitam harmonicamente as florestas, você as destrói para viver; dançam e saltam nos rios e mares exaltando a sua felicidade de existirem e você vive procurando músicas para poder dançar.

Somente você, ser humano, homo sapiens, rei do planeta, vive no sofrimento. Aliás, não só você, mas também os animais que aprisiona e muda hábitos (impõe verdades) para satisfazer-se. Mas isso também é ação universal e faz parte do aprendizado do instinto que eles têm que passar.

A sabedoria de Salomão

7ª Sabedoria - Vida e morte

“Por isso cheguei a conclusão: aqueles que morreram são mais felizes do que os que continuam vivos. Porém mais felizes do que todos são aqueles que ainda não nasceram e que ainda não viram as injustiças do mundo”. 

 

Toda ação universal é fatalista, ou seja, pré-determinada. Não há coisa alguma que aconteça que não tenha sido prevista anteriormente.

Isso não transforma o espírito em marionete, mas sim o ser humano. O ser universal e o humano não são a mesma identidade. O homem é um personagem criado pelo espírito antes da encarnação, ou seja, uma identidade diferente. Quando o universal se junta à matéria carnal interpreta o papel que escolheu na peça divina comédia humana vivendo a identidade ser humano. Essa produção teatral tem a direção de Deus, o Autor da ação universal.

Isso é a vida humana: uma série de acontecimentos pré-determinados que seguem a escolha realizada antes da encarnação pelo ser universal.

Ela não se inicia no momento que o ser humano nasce (encarnação, mas existe também fora do palco (vida material), pois ela começa antes do nascimento e se prolonga até que o ator (espírito) compreenda que não é o personagem que interpreta, mesmo que o evento morte já tenha ocorrido.

Para compreendermos melhor esse ensinamento, vamos aproveitar esse momento em que Salomão afirma que os mortos são felizes, mas os que não nasceram são ainda mais, para estudarmos a existência de um ser universal. Ao finalizarmos o estudo, tenho certeza que todo fatalismo até agora depreendido do ensinamento acabará, pois nada há de fatal nessa vida, mas tudo é fruto do livre desejo do ser universal.

Iniciemos pela compreensão do que é um ser humano.

Falamos acima que o ser humano é um personagem da divina comédia humana, idealizada pelo espírito para servir de instrumento para sua glória (universalização). Todo personagem teatral é composto por alguns fatores que formam a sua identidade. O ser humano é, portanto, uma identidade (soma dos fatores) que é escolhida pelo livre arbítrio do ser universal para facilitar a sua caminhada à glória.

O primeiro fator que compõe o ser humano é a história que o espírito irá viver no papel daquele ser humano. Alguns preferem fazer o papel de pobre, outros de ricos. Uns querem ser mocinhos, outros bandidos.

Apenas um detalhe: nenhum destes elementos é escolhido elos seus valores materiais, mas sim pelo que podem representar como instrumento para o trabalho que o espírito tem que realizar durante a encarnação. Assim sendo, a escolha entre ser pobre ou rico nada tem a ver com a comodidade durante a vida carnal, mas sim em qual situação o ser universal conseguirá mais facilmente realizar sua provação.

A partir das características principais o ser continua escrevendo o script do personagem que viverá. Determinará a cidade que nascerá, o bairro que irá viver, a família que o acolherá. Indicará a escola que estudará, a profissão que irá seguir, o(a) parceiro(a) com quem se unirá. Toda história que o personagem ser humano irá viver é escrita pelo espírito antes da sua encarnação.

No entanto, a história não é retilínea. Como nas telenovelas de hoje, o futuro do personagem na trama é determinado pela audiência que ele traz para o programa. Quanto mais o personagem chama a atenção do público mais audiência traz para a peça e, por isso, ganha mais destaque.

Para que o ator se destaque é preciso ter uma boa interpretação. Isso lhe garante o sucesso no seu trabalho o que o levará a vivenciar algumas situações. No entanto, se não interpreta perfeitamente o seu papel, isso o levará a viver outras situações.

O que qualifica a interpretação do ator é a capacidade de universalização do ser universal. Se ele vivencia as situações integrado à ação universal, ou seja, mantendo-se feliz em qualquer acontecimento, alcança a glória. Isso o mantém dentro do script original. Quando o espírito vive as situações com lamúrias, acusações de injustiças e maldades, sua interpretação é qualificada como medíocre e, por isso, é obrigado a viver situações diferentes.

O personagem interpretado de forma medíocre pelo ator terá o seu destino dentro da peça alterado. Ou seja, a história que o ser universal escreveu antes da encarnação para viver aquele personagem humano será alterada. Há, portanto, dentro da idéia de uma vida pré-programada a possibilidade que ela seja diferente da forma como originariamente foi concebida. Esta alteração, no entanto, não pode acontecer depois da encarnação, nem pode ser fruto da ação de outro que não o próprio espírito.

Afirmamos que como regra os fatores que compõem um ser humano são escolhidos pelo ser universal e que essa escolha é o seu livre-arbítrio. Sendo assim, se alguém alterar essa história (qualquer dos acontecimentos programados), mesmo que seja Deus, independente da vontade do ser universal uma injustiça terá acontecido. Por isso, qualquer alteração que ocorra numa programação de vida precisa ser feita pelo próprio ser universal.

Acontece que depois de encarnado, como ensinou o Espírito da Verdade, o ser universal não pode fazer isso, pois não está no gozo de sua verdadeira natureza (motivação universal): ele agora é o ser humano e vive com a motivação do personagem. Sendo assim, a história que o espírito escreve para o seu personagem antes da encarnação não pode ser retilínea, ou seja, não pode ser formada por apenas um caminho. Por isso, para cada momento de vida que escreve, o ser universal prevê a possibilidade de dois caminhos diferentes que sucederão aquele momento.

Mas, o que serve como parâmetro para se saber qual caminho será vivenciado? A escolha sentimental que o ser universal faz para reagir aos momentos de sua existência humana. Mantendo-se em paz e harmonia (felicidade) com o que está acontecendo ele trilhará um caminho como sucessão do momento presente; vivendo o agora com sofrimento, seu destino será outro.

É por isso que todos os eventos programados pelo ser universal no script da vida encarnada geram sempre duas novas situações, ou caminhos de elevação. Se no momento atual escolher sofrer ao vivenciar a ação universal, a próxima situação será de determinada forma, mas se escolher ser feliz, encontrará outra.

Dessa forma, afirmamos que o ser universal escreve como resultado de um momento duas situações diferentes que são caminhos distintos, ou seja, resultam em ações universais diferentes. Agora, se tudo foi pré-escolhido pelo ser antes da encarnação, temos que entender que todas as possibilidades foram escritas pelo próprio espírito antes da encarnação levando em conta a possibilidade de falhar na vivência do momento ou não. Por isso, não importa o que aconteça no momento seguinte ao que está sendo vivido agora, ele terá sido escrito por você mesmo como resultado da sua interpretação na cena anterior.

A história do ser humano é fatalista, apesar de cada momento gerar sempre a possibilidade dois acontecimentos posteriores diferentes, porque todas as possibilidades já foram previstas. Já a história do ser universal (existência eterna do espírito) não é. Ela surge de dois momentos onde o arbítrio do espírito foi livre: ao escrever a história do personagem ser humano e ao interpretar (ser feliz ou não na situação) esse papel.

O script de uma vida carnal é, portanto, um intricado conjunto de acontecimentos que prevê todas as possibilidades da existência. Não importa como o ser viva (participe da ação universal), sempre estará sendo concedido a ele um novo momento, uma nova chance de evolução. Esse momento terá sido desenhado pelo próprio ser e aplicado por Deus.

Esta programação, ou livro da vida como chamamos, é como uma árvore, onde de um só tronco partem muitos galhos e de cada um deles, outros surgem. No entanto, diferente da árvore humana, existem no script pontos convergentes, ou seja, situações que ocorrerão independente de qual galho sirva como caminho para o espírito. Não importa o caminho que o ser universal escolha terá que passar por esses pontos.

Os fatores preponderantes de uma vida são pontos convergentes por onde os seres passarão, qualquer que tenha sido a sua escolha anterior. Por exemplo, você se casará na época pré-determinada e com a pessoa que escolheu antes da encarnação. Isso porque o casamento é um ponto convergente. Não importa qual caminho o espírito tomou durante a vida a partir de suas escolhas sentimentais, no momento que estava pré-determinado que ele fosse viver o acontecimento casamento, isso ocorrerá. A partir daí as possibilidades de escolha abrem-se novamente, ou seja, o espírito poderá escolher como vivenciará a sua vida conjugal: sofrendo ou ser feliz.

A partir da união entre dois seres para constituírem um casal (casamento – ponto convergente) cada um deles vivencia a vida a dois. Os momentos dessa vivência são trazidos pela ação universal dentro do planejamento conjunto dos seres que compõem o casal, ou seja, os acontecimentos da vida de casal são fruto do livre-arbítrio dos seres universais envolvidos. Cada um vivenciará o papel de cônjuge dentro da história que os dois escreveram para seus personagens com a liberdade de sofrer ou ser feliz com os acontecimentos da história do casal.

Somente isso os cônjuges poderão escolher na história daquele casamento. Se durante este relacionamento haverá fidelidade, carinho, cumplicidade ou não, isso o espírito não pode escolher depois de casado. Se os acontecimentos da vida a dois alcançarão as suas expectativas ou não, também não dependerá de uma decisão do ser depois de encarnado, mas tudo correrá conforme o que os dois espíritos estabeleceram antes da encarnação. Isso vale para todos os acontecimentos do casamento, inclusive para o fim dele.

Ninguém se separa porque não gosta mais, porque o outro fez isso ou aquilo ou porque achou outro(a). O fim de um relacionamento direto também é um ponto convergente. Enquanto ele não chegar os dois estarão juntos, não importa se querem ou não, se vivem momentos de felicidade ou de sofrimento. Por isso muitos casais chegam até a agressão física, mas não conseguem se desgrudar, enquanto há outros que no dia anterior trocavam juras de amor e hoje simplesmente dizem: acabou.

Esse é um resumo do script: ele é formado por pontos convergentes que são alcançados podem ser alcançados por caminhos diferenciados. O caminho de um ponto convergente a outro depende da reação sentimental do ser à ação universal. Casar era um ponto convergente. Dele partiram diversos caminhos, mas todos levaram ao novo ponto convergente: separação. A partir desse momento novos caminhos se abrirão para serem escolhidos pelo ser universal até atingir outro ponto convergente, que pode ser uma nova união ou a vida sem uma união estável.

Eis aí, portanto, o que você chama de sua vida, os acontecimentos porque passa.

Um personagem, no entanto, não é conhecido apenas pela história que vive em uma peça. Para a montagem de um personagem existem outros fatores além da história. É preciso ter uma estampa, silhueta que o componha, ou seja, o físico do personagem precisa estar de acordo com a história que o espírito irá vivenciar.

Imagine um personagem mocinho em uma história com cenas de violência. Ele precisará possuir um corpo forte, rígido, atlético que demonstre todo o seu potencial de agressividade. Já se ele for um mocinho de uma história de amor, o seu físico deverá possuir traços mais finos que caracterizem o romantismo.

Por isso afirmo que o corpo do ser humano é desenhado pelo espírito para auxiliá-lo na interpretação do papel que irá vivenciar. Se o papel vivido durante a vida humana exige que tenha boas interpretações em situações de pobreza, por exemplo, o ser universal o desenhará com pouca capacidade de assimilação de informações. Essa característica não permitirá o acúmulo de cultura, gerando assim, uma lógica para que permaneça na pobreza.

Todas as doenças e acontecimentos genéticos do corpo físico também são desenhados pelo espírito. É ele que pede a falta de membros, a síndrome de down e a predisposição hereditária para algumas doenças. Tudo no sentido de interagir com mais facilidade com a ação universal (o que está acontecendo) e provocar uma determinada lógica racional que caracterizará aquele momento lhe dando a justa oportunidade de realizar o trabalho da encarnação: a reforma íntima.

A alteração dos caminhos previstos no script como resultado da interpretação do ser universal durante a peça (vida) pode, no entanto, gerar a necessidade de também se alterar o corpo físico depois do nascimento. Portanto, além de escrever a história prevendo a possibilidade de diversos caminhos, o ser universal precisa determina o corpo com que viverá cada um deles.

As mudanças naturais do corpo físico como engordar, envelhecer, perder cabelos, são previstas pelo ser universal para determinado momento ou em determinados caminhos que tome. Além delas, as mudanças chamadas de não naturais também estão. Os acidentes que transformam o corpo físico gerando cicatrizes (ferimentos, perda de membros) são acontecimentos pedidos pelo espírito dentro de caminhos previstos que foram vivenciados por conta de um escolha sentimental em um momento anterior.

Estes acontecimentos podem ser pontos convergentes, ou seja, iam acontecer de qualquer forma independente da escolha sentimental do espírito em vivências anteriores, mas também podem ser sintomas do caminho que o ser escolheu anteriormente. Isso não quer dizer que eles surgiram neste momento: só aconteceram porque estavam previstos e porque o ser percorreu aquele caminho.

Quando se fala de vida humana, não há culpados, não há vítimas, não há acaso, não existe o se. Existe a ação universal acontecendo inexoravelmente a partir do livre-arbítrio do espírito antes da encarnação e da livre opção em manter a sua universalização ou não durante os acontecimentos da existência carnal.

Mas, quando se fala de saúde, não só os traumas são previstos. Existem doenças que não deixam seqüelas físicas, mas alteram o destino do ser humano: elas também são previstas na elaboração do script. Exemplifiquemos a ação do ser universal na formação do seu personagem através da mais simples das doenças: a gripe.

Quantas vezes você já programou fazer alguma coisa e, justamente naquele dia, amanheceu gripado, sem disposição para nada e não pode cumprir o compromisso? Quantas reuniões importantes e os resultados esperados delas foram perdidos por esse motivo? Quantos desencontros por doenças fúteis já não alteraram o destino de um ser humano?

Acaso? Impotência do ser potente (humano) a um elemento microscópio? Não, ação universal. O que deixou de ser feito nunca iria acontecer: era apenas um desejo do ser humano, não uma realidade. A ação universal era a sua doença e não o que você imaginava que iria acontecer.

Você conseguiu integrar-se à ação universal nesse momento? Ficou feliz em não ir onde queria e ter de permanecer em casa de cama? Não, então não aproveitou a chance de evolução. Interpretou mal o seu papel na peça da vida.

A doença foi a ação universal lhe promovendo a oportunidade de renegar a sua vontade de estar em um determinado lugar fazendo que queria. Ao reagir desse jeito à ação universal alcançaria a universalização: seria feliz. Perdeu a chance porque quis, porque viveu a ilusão de que apenas por ter desejado o acontecimento ele iria acontecer.

Essas doenças, instrumentos da ação universal, não surgem ao acaso nem são transmitidas por fatores externos ao corpo físico. Já se encontram previstas pelo próprio ser universal antes da encarnação e são parte integrantes do corpo físico. É o que se chama de predisposição.

A tendência que o ser humano tem de contrair determinadas doenças com mais freqüência não é só uma constatação do ser. Ela já é duplamente comprovada pela ciência terrestre. A ação universal já agregou à medicina dois conhecimentos que comprovam a tendência do ser a contraria determinadas doenças, seja por causas hereditárias ou não.

O primeiro desses conhecimentos se traduz no DNA, o mapa genético do corpo humano. A ciência descobriu que cada célula possui um mapa que programa o seu funcionamento. É como um manual de instruções da célula. Lá estão as informações de como ela deve agir. Este mapa, porém, não mostra só como ela deve agir positivamente, mas também como deve agir para não fazer o que o corpo precisa. Existe no DNA a determinação da ação construtiva (saúde) e da destrutiva (doença) da célula. O DNA é escrito pelo ser universal antes da encarnação. A partir dessa programação de ações (construtivas ou destrutivas) das células o ser universal determina a predisposição para as doenças que precisará contrair para viver a sua interpretação.

O momento de ficar doente será determinado pela ação universal como resultado do caminho no script que o ser universal vivenciou, mas a doença foi programada pelo ator. A propensão à doença está escrita no DNA, mas ela só se transformará em realidade quando o ser universal precisar de acordo com a sua vivência dos acontecimentos terrestres. ‘Se eu for por esse caminho, aja dessa forma para que o câncer surja. Se nesse momento escolher sofrer, passe a funcionar assim e crie a leucemia. Aqui, se eu não abrir mão dos meus desejos, pare de funcionar para que ocorra um problema cardíaco’. Esse é o DNA do ser humano, ou seja, o script da vida.

A realidade das doenças da vida carnal é: o ser pede e a ação universal cumpre, se for preciso. A contaminação hospitalar não é os vírus ou bactérias com os quais um ser pode se contaminar, mas as verdades societárias que contaminam a motivação do ser universal, levando-o por caminhos onde terão que surgir doenças. Portanto, doença não é algo bom ou ruim: é ação universal propondo uma prova visando à elevação espiritual.

O desenho do corpo físico e suas alterações, as doenças genéticas e as contraídas durante a vida, além dos males físicos, tudo faz parte da montagem do personagem que o ser universal cria para a sua universalização: o ser humano. Mas, continuemos construindo o nosso personagem, pois existem ainda outros fatores que compõe a personalidade humana que serve como instrumento para a provação do espírito.

Além da história e do corpo, posso afirmar que você é você, ou seja, que você possui um conjunto de características que o distingue dos outros seres humanos. Essas características formam o que é conhecido como personalidade.

A montagem da personalidade do ser humano é feita pelo ser universal para que existam nela os elementos que o espírito afirma que já não mais comunga. Por exemplo, se ele aprendeu que não deve vivenciar o medo porque esta emoção denota falta de fé, a personalidade humana que vivenciará será medrosa. Só deste jeito (sendo submetido à idéia de estar com medo) o espírito pode usar a fé para renegar a vivência desta emoção.

A personalidade de um ser humano, conjunto de características de comportamento, é o que o ser universal veio vencer. Quem é preguiçoso encarnou para libertar-se desta idéia, quem é soberbo para provar a si mesmo que já descobriu que esta forma de ser não se coaduna com a comunhão com Deus. Essa vitória sobre a tendência do ser humano é a vitória do ser universal sobre o individualismo.

Como acontece esta vitória? Vamos ver isso…

Por mais que seja, ninguém se acha preguiçoso. Por mais que fique à toa, o ser humano afirma possuir motivos que justifiquem a sua forma de agir e por causa deles não aceita a alcunha de preguiçoso. Enaltece o pouco que faz supervalorizando o seu esforço físico criando a verdade individual que está cansado e, por isso, precisa e merece daquele repouso.

Para combater essas verdades individuais, a ação universal faz com que outros seres humanos reclamem da sua inércia. Essa ação universal não levará o ser a agir, cumprindo o desejo do próximo, pois a ação depende de Deus. A vitória do ser universal sobre a preguiça ou as verdades que levaram a prática de determinados atos não está em agir, mas na manutenção da felicidade quando da acusação. Sentir-se acusado e retribuir o ferimento é o fruto de ter sofrido no momento anterior.

A personalidade precisa ser escrita pelo ser universal porque ela é o tema da prova. Quando o ser escolhe as características do ser humano que irá vivenciar, determina o que será questionado pelos outros elementos universais na ação universal. A partir da encarnação ele vivencia as perguntas da prova podendo responder de duas formas: sofrer ou ser feliz.

Se a resposta aos questionamentos do elemento da personalidade determina o caminho (tema da prova) que o ser universal irá vivenciar na carne, é necessário que a sua personalidade seja adequada a cada novo caminho percorrido. Dessa forma, podemos compreender que o ser humano inicia sua existência (nasce) com uma personalidade, mas ela poderá ser alterada a cada novo momento para auxiliar o ser no caminho escolhido.

A montagem do ser humano não é fácil. Primeiro o ser universal idealiza a história, depois se preocupa em adequar o corpo e a personalidade para ampará-lo no momento da ação universal. Todo esse procedimento se altera a cada segundo da existência carnal e, por isso, cada um deles tem que ser previsto pelo ser universal com uma história, um traço físico e um moral. Quantos segundos têm uma vida?

Todo esse trabalho você teve para agora falhar, para deixar-se levar por uma ilusão. Para imaginar que tudo está surgindo do nada, do acaso. Para afirmar que o que está ocorrendo é errado, ruim, amoral, sujo. Aproveite todo o seu “trabalho” antes da encarnação e seja feliz, pois tudo o que lhe desgosta é o que projetou para alcançar a felicidade. O problema é que você agora interpreta com outros olhos, com outra motivação.

Nosso personagem está quase pronto: falta um rótulo, algo que o individualize. Aqui o ser universal escolhe um nome para o ser humano que irá vivenciar. Não para ele, ser universal, mas um nome que rotule o personagem que irá vivenciar a história que ele escreveu com o corpo e a personalidade prevista.

Você não é José, Maria ou João. Já viveu muitas vidas e cada uma delas teve um rótulo diferente, pois elas não foram vidas, mas personagens que você viveu. A sua vida não é os fatos que estão acontecendo, mas a forma como você está vivendo: interpretando a ação universal com felicidade ou sofrimento.

Antônio, Marta ou Pedro não existe: são personagens fictícios. O que eles viveram não é vida, mas histórias imaginadas por um ator: o ser universal.

Abandone todo o seu individualismo fugindo de sua identidade: uma história com um corpo e uma personalidade rotulada por um nome. Isso não é realidade: é ilusão. Você é você, o ser universal, livre e universalizado. Liberto do desejo individual e participante ativo da ação universal com motivação universal: isso é vida, é realidade.

Depois da escolha desses quatro fatores (história, corpo, personalidade e rótulo) o ser humano está pronto para existir. Você está pronto para trabalhar, ou seja, interpretar o papel (identidade) que criou. Para isso a ação universal agirá dando desejo sensual nos seus pais, promoverá o ato físico, será a fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Unirá você ao corpo em formação, presidirá todo o processo de desenvolvimento do embrião, será o corpo que está sendo formado seguindo o DNA.

Em um determinado momento a ação universal tirará o feto de dentro do corpo mãe e trará o ser humano à luz do mundo. Esse momento não é obra do acaso, não atrasa nem se antecipa: foi determinado pelo ser universal no script. Não importa também a ação que dramatizou o script (parto natural ou cesariana) o ser humano nasceu segundo as previsões do ser universal que o interpretará.

O destino desse ser humano está escrito pelo ser universal que representa esse personagem. Toda a sua vida (momentos) será direcionada pela ação universal de acordo com esse script: o ser universal perdeu o comando da situação, a capacidade de gerar ações. A ele resta agora participar da ação universal interpretando o seu papel na divina comédia humana com felicidade ou infelicidade.

Os primeiros capítulos da peça que se inicia são fundamentais para o trabalho do ser universal. Não estou falando de saúde ou de sustentação física do corpo, pois isso é ação e acontecerá como o ser universal escreveu. Falo da construção que todo artista faz do seu personagem ao longo da novela.

No início todo artista está inseguro: não vestiu totalmente o personagem. É necessário tempo e interpretação constante para que o ator passe a ser o personagem: a perfeita integração entre criatura e criador.

Não seria justo cobrar do ser universal uma perfeita integração entre ele (suas verdades) e o seu personagem (as verdades individuais que criou). Por isso nos primeiros anos de existência do ser humano a ação universal não se constitui em prova para o novo ser humano, mas os seus momentos servem como provas para quem já está na peça há mais tempo. Os atos da criança são provas para os adultos e não para ela.

O processo de alteração de verdades (espirituais para individuais) é longo, dentro dos padrões de tempo da humanidade: dura toda a primeira infância. Até os sete anos, aproximadamente, o ser universal ainda compreende os acontecimentos movidos pelas suas verdades de antes do nascimento e por isso é feliz.

Ele não possui preocupações, responsabilidades. Não vive dentro dos padrões de vida dos adultos, mas deixa a vida fluir através dele. Por isso Jesus Cristo ensinou: você entrará no reino do céu quando for como uma criança.

A participação na ação universal (suas ações) do novo ser humano serve de prova para àqueles que já se imaginam como sendo o personagem que vivenciam. Pelas características de suas ações (felicidade incondicional) a ação universal busca auxiliar os adultos a manterem incólume os seus objetivos universais para também serem felizes.

Quer um exemplo? A alimentação da criança. O ser humano adulto não se alimenta: cumpre uma obrigação. Não come quando tem fome, mas nos momentos determinados para tanto pela sociedade: hora de comer. Não come para ser feliz, mas escolhe alimentos nutritivos que lhe protejam a existência na carne para poder usufruir mais da satisfação.

Aí surge a criança na vida desses seres. Na hora de comer não quer; prefere os alimentos saborosos aos nutritivos. Faz manha para não comer e termina por tirar a paz da mãe. Surge o aborrecimento por que o filho não comeu e a preocupação de que não se alimentou. Ela sofre, se preocupa com a saúde, troca o cardápio, mas nada resolve: a hora do almoço é aquele tormento sempre.

A mãe imagina que promoveu várias ações para fazer o filho comer, mas esqueceu de apenas uma: perguntar se ela estava com fome. A criança não conhece hora de comer: essa verdade não é universal. A ação universal o fará ingerir alimentos nos momentos necessários, que for preciso. Para isso criará a sensação de fome.

Comer quando essa sensação aparece é integrar-se ao universo, deixar a vida fluir através de si. Almoçar ou jantar porque está na hora, porque você precisa se alimentar senão morre, é verdade individual do ser humano que não conhece a ação universal: morre no momento que tiver de morrer.

Se a mãe simplesmente perguntasse ao filho se ele estava com fome, quanto sofrimento teria evitado? Se perguntasse a si mesmo se estava com fome e não almoçasse porque está na hora, quantos problemas físicos poderiam ser evitados. Não porque a comida não faria mal, mas porque não haveria necessidade da ação universal comandar o mal físico. Caminhos diferentes escritos com histórias diferentes.

‘A realidade não é bem essa’, diriam as mães. ‘O meu filho não come a refeição na hora do almoço, mas se deixar come a sobremesa’. Isso, para elas, seria uma prova que o filho tinha fome. Não, só prova que a ação universal fez o seu filho comer a sobremesa e não o almoço. Isso é fato, o resto é dedução sua, ilusão, busca de manter a sua verdade.

Todos os acontecimentos são ações universais propondo situações onde você poderá ser feliz ou não. Qual a diferença entre almoço e sobremesa? O almoço é obrigação (sofrimento) e a sobremesa a satisfação (felicidade). Quando o seu filho só comeu a sobremesa a ação universal estava lhe ensinando a comer para ser feliz. O ato foi uma proposta de reflexão: você como por obrigação ou satisfação?

O ser humano adulto come por obrigação. Escolhe alimentos saudáveis, comidas que fazem bem à saúde. Mesmo quando se entrega às tentações, o faz sem felicidade, mas com culpa por estar comendo aquilo. A intenção ao alimentar-se é promover a saúde para prolongar a possibilidade de se satisfazer (provar que está certo). Já criança nem pensa nisso: vive o momento de agora sem preocupações futuras.

Não há necessidade de entrarmos em detalhes na questão saúde, pois já conversamos sobre isso e concluímos que ela não depende de agentes externos, mas da interpretação que cada um dá aos acontecimentos da vida.

Quando a mãe briga com o filho para ele comer na hora certa ou que ela acha saudável está transmitindo a sua interpretação sobre o comer para alterar a visão que o filho tem sobre esse ato. Como essa interpretação surge das verdades individuais do ser humano, podemos afirmar que a essência da ação da mãe é impor as suas verdades ao filho.

Isso, porém, não é certo nem errado: é prefeito porque aconteceu. A ação universal não é só o filho não comer, mas a vontade de Deus é que a mãe brigue com o filho, transmita a sua interpretação, altere as suas verdades.

Toda vez que exemplificamos as atitudes do ser humano, não fazemos criticas, mas constatamos o que realmente acontece. O que usamos como exemplo acontece e se a ação é executada é universal, é perfeita. O caso da mãe praticar a ação de tentar impor horário e alimentação adequada ao filho acontece: é uma ação universal.

Questionar o certo ou errado de algo que acontece é individualizar-se: buscar compreender a partir de suas verdades o que está acontecendo. Por isso, nenhuma crítica a qualquer ser humano por agir individualmente: apenas o alerta de que isso leva ao sofrimento (ação universal).

Como já abordamos, é preciso que o ser universal recém encarnado receba as verdades que depois terá que universalizar. Portanto, a ação universal comanda a mãe e toda a sociedade para ensinar as verdades societárias ao ser universal para lhe humanizar. Essa é a realidade (verdade universal) e, por isso, por mais espiritualizada que seja uma mãe, ela criará seu filho dessa forma. Disso não há fuga porque está acontecendo. No entanto ela pode não sofrer quando brigar com seu filho.

Dentro dessa realidade, então, o ser recém encarnado é bombardeado com as verdades que formarão a personalidade do ser humano durante toda sua primeira infância. O ser universal tenta reagir a essa alteração de personalidade mantendo a sua universalização, mas pelo poder que possuem os adultos e de tanto as verdades serem repetidas, acabam se transformando também em verdades do novo ser humano.

Por volta dos oito anos começa a segunda infância. As verdades do planeta já foram transmitidas e absorvidas pelo ser universal. Elas geraram uma obrigatoriedade de ação para gerar felicidade que se chocam com a liberdade de ação que o ser universal conhece. A ação universal dirige, então, o ser para aceitar as verdades, mas individualizá-las através da livre interpretação. Não mais questioná-las, mas dar a elas componentes individuais.

Durante a segunda etapa de sua vida carnal, o ser universal tentará colocar elementos individuais nas verdades societárias. Aprende, por exemplo, que existe uma hora para comer, mas não aceita a hora dos outros. Não come mais apenas quando tem fome, mas quer determinar ele mesmo qual o seu horário de comer.

Até os quatorze anos será essa a ação do ser humano: particularizar as verdades societárias. Na essência ele aceita a verdade transmitida pelos adultos, mas quer sempre dar o seu toque particular na interpretação das coisas.

Antes de falar da adolescência, quarta etapa da vida do ser encarnado, gostaria de fazer um comentário. Ao falar das outras etapas citamos idades como parâmetros de início ou fim de cada um delas. É preciso esclarecer que essas idades não são rígidas, mas referencias. Existem crianças que aos quatro ou cinco anos já estão mudando de atitude e seres que ao fim da adolescência ainda não completaram o trabalho da terceira faixa.

Voltemos à adolescência. Depois de particularizar as verdades societárias, o ser universal já se esqueceu de todas as verdades universais que possuía antes da encarnação. Incorporou o personagem, passou a ser ele. Não se entende mais como um ator, mas confunde-se com o próprio personagem que vivencia. Por isso chegou o momento da ação universal colocar as provas, ou seja, do ator subir ao palco.

Toda a individualização que o ser criou em cima das verdades societárias a partir dos quatorze anos, terá que transformar a própria verdade societária. O ser humano, orgulhoso da sua nova identidade, lutará acirradamente contra o mundo para alterar os velhos valores da verdade societária e impor a ela os valores que criou.

Esse é o choque de gerações. A ação universal rege o combate entre os velhos e novos valores, propondo provas de universalização para jovens e adultos. São as situações onde pais e filhos brigam para estar certo, manter a sua particularização da verdade.

A partir de agora a existência do ser humano será só isso até o momento da morte. A cada segundo a ação universal colocará em confronto a sua individualização da verdade societária com a dos outros seres humanos. Não no sentido de guerrearem-se, mas como uma prova para que os dois compreenda que existe apenas uma verdade no universo: Deus e sua ação.

De acontecimento em acontecimento da vida do ser humano a ação universal estará expondo às verdades de cada um para que o ser alcance a impotência de achar. Abandone a sua ilusão, o falso poder de ser, para poder voltar a viver na realidade: ser universal integrado ao universo com uma só Verdade.

Um dia tudo isso termina para o ser universal encarnado. É o momento da morte ou do abandono da massa carnal.

A morte é uma ação universal, ou seja, uma etapa do script montado pelo ser universal antes da encarnação. Não se trata de um prêmio ou castigo. Não existe morte boa ou má: trata-se apenas de um dos pontos que o ser universal alcança no seu script.

Ela não é um ponto convergente do script, ou seja, uma situação que ocorrerá num determinado momento e de uma só forma previstas. O ponto morte está no tronco da árvore da vida, mas também existem outros pontos morte espalhados pelos galhos. Há mortes em todos os caminhos que o ser tomar.

Esse conhecimento não deve levar à interpretação de merecimento ou pena com a morte. Toda morte é um fato e a sua forma e momento serão decorrência do caminho tomado. Todos os pontos morte foram programados pelo próprio ser para auxiliá-lo na elevação espiritual e não como castigo por ter percorrido esse o outro caminho.

Exemplifiquemos. O DNA de uma pessoa aponta para uma pré-disposição para o câncer de pulmão. Para viver essa possibilidade de morte a ação universal transforma o ser humano em fumante. O fato do ser fumar não é uma sentença que irá morrer de câncer, mas apenas um instrumento que ação universal considerou como necessário pelo caminho que o ser universal está traçando.

Se for preciso, pelos caminhos que percorreu, ter esse fim, o ser humano que já tinha a pré-disposição para o câncer irá morrer dessa doença. A morte por essa doença era, durante a formação do script, para o ser universal, o resultado melhor de um caminho. Para se prevenir que esse “melhor” ocorresse criou à pré-disposição e a ação universal criou a ação de fumar. Mas, tudo isso não quer dizer que o ser humano irá morrer dessa forma.

Durante a encarnação o ser universal fez escolhas que o levou a caminhos cujo fim melhor não é o câncer. Apesar de ter a pré-disposição e de fumar, a morte será a idealizada para aquele caminho. A pré-disposição continuará existindo, o agente causador também, mas o câncer jamais existirá.

O tipo de morte não depende de atos, coisas materiais, mas é uma ação universal resultado único do caminho de vida do ser universal. Não depende de elementos materiais para ocorrer, mas submete-se ao livre desejo do espírito antes da encarnação e da livre reação aos acontecimentos quando nela.

Aliás, tudo que ocorre na vida do ser humano resulta disso: interpretação do momento de agora. É ela que determinará a próxima ação universal baseando-se no script feito pelo ser universal. A existência do ser humano não pode ser compreendida por atos físicos, mas sim por atos mentais. Viver não é agir, mas compreender as ações de determinada forma.

Morte é desencarne: nada mais que isso. Morrer é sair carne: todo resto é lenda, é ilusão, é entendimento individual. Não há fim, não há transformação: apenas o ser universal que se desliga do invólucro carnal. Esse se deteriora e novamente se funde ao universo para servir novamente à ação universal em outros atos.

Já o ser humano não acaba com a morte. Como já compreendemos essa identidade não existe: é um personagem que o ser universal vivencia. O ser humano não é uma coisa material que se acaba, mas de uma visão que o ser universal tem de si mesmo, ou seja, uma individualização do ser universal. Para que o ser universal volte a se enxergar como antes é preciso que mude essas verdades.

As verdades do ser não são alteradas por mágica ou por fatores externos (ação universal). É preciso que o próprio ser compreenda essa realidade para que o ser humano que ele vive se acabe. È isso que Jesus Cristo chamou de ressurreição: o renascimento do ser universal, a segunda morte.

O script montado pelo ser universal compreende não só a existência encarnada, mas também a vida pós-carne. O ser continuará a existir, como na vida carnal, guiado pela ação universal para combater as verdades individuais, com o objetivo de integrar-se ao universo, quando ocorrerá o dia da sua ressurreição com Cristo, ser universalizado.

Sem que tenha alcançado pelo menos o mesmo grau de consciência universal com o qual começou a sua jornada carnal, o ser universal permanecerá vivenciando o personagem que criou. Quem já não ouviu falar dos fantasmas, seres espirituais que possuem as mesmas verdades de quando encarnados? São seres universais ainda vivenciando as verdades adquiridas na vida material, mas agora sem corpo carnal.

Abrir mão das verdades que você possui agora não é uma questão de opção (querer ou não fazer), mas um trabalho que terá que executar um dia obrigatoriamente. Depois que o ser universal entra no processo encarnatório só a desistência do individualismo pode levá-lo de volta ao lar espiritual. Para isso ele tem a vida inteira e, depois dela, toda a eternidade para vagar como um fantasma ou espírito.

Para isso continuará a viver o script pré-elaborado antes da encarnação. Estará vivendo em sociedades, participando de atos, tudo comandado pela ação universal. É o que os católicos chamam de inferno e os espíritas de umbral. A materialidade da vida não muda com a morte nem a finalidade da existência: só acaba com a universalização das verdades de um ser.

Nessa etapa (vida depois da morte), porém, a ação universal será mais pontual. A contestação às verdades individuais é maior, mais forte. Isso porque o universo tem pressa. O ser universal precisa se preparar para uma nova encarnação, para uma nova provação.

Por isso Salomão afirma que é melhor estar morto do que vivo: a luz no fim do túnel está mais próxima.

Em um determinado momento previsto no script, o ser se cansa de querer mudar o mundo à sua feição. A ação universal trás o desespero, a sensação de impotência e, como resultado, a ação de entrega ao Pai. A submissão das verdades individuais frente à Verdade Universal. Nesse momento surge a ressurreição.

O ser humano morre definitivamente (segunda morte) e o ser universal, pelas graças de Deus se despolui das verdades individuais e entra na realidade do universo. Não estou afirmando que conseguiu a universalização completa, mas já é mais universalizado do que o personagem que vivia até então.

Essa universalização também é maior do que quando começou a encarnação, já que algumas provas foram realizadas com sucesso. Entretanto, ainda possui individualismos e, por isso, terá que retornar ao processo reencarnatório.

Assim, a vida do ser universal continua dentro do ciclo existencial: preparação de encarnação, recebimento das verdades individuais do planeta, individualização dessas verdades, luta para sobrepô-las às dos outros, morte, vida depois da carne até a conscientização de que é um ser universal. Tudo isso para ter que reencarnar novamente para cumprir o que deixou de fazer.

Mas, e se você decidir agora lutar contra o seu individualismo? Se começar neste momento a acabar com o eu acho e vivenciar a ação universal como realidade? Se decidir não mais sofrer e viver a sua existência com felicidade incondicional? Você cumpre suas provas. Aprenderá a viver como um ser universal na carne, integrando-se ao universo. Depois que sair dela, não precisará mais viver como um fantasma. Também não terá todo esse trabalho novamente, pois você não mais precisará reencarnar.

Entrará no gozo de todo o seu esplendor espiritual. Será o universo, será Deus, será a ação universal. Precisará criar um novo personagem? Não, você já sabe quem é realmente.

É por isso que Salomão diz que melhor que todos estão os que não nasceram. Mesmo aqueles que irão nascer novamente estão melhores do que o ser humano, porque possuem a consciência universalista.

Vida e morte são a mesma coisa: viver a ação universal com verdades individuais buscando alterá-las para penetrar nas verdades universais. Portanto, você está morto e acha que está vivo.

Não se preocupe com a sua vida nem com a sua morte. Não tenha medo de ser taxado de tolo. Não se preocupe com o que os outros e você achem ou façam. Busque a sua ressurreição do mundo dos mortos enquanto está vivo. Como fazer isso? Jesus Cristo nos ensinou: eu sou o caminho, a verdade e a luz.

Viva como o Mestre viveu, atribua os mesmos valores que ele atribuía a todos os acontecimentos. Saiba que você também terá que ser crucificado (ter suas verdades questionadas), mas mantenha a sua felicidade porque isso está acontecendo. Assim você também alcançará a ressurreição.

A sabedoria de Salomão

8ª Sabedoria - Riquezas

“Também descobri porque as pessoas se esforçam tanto para ter sucesso no seu trabalho: é porque elas querem ser mais do que os outros. Mas tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Dizem que só mesmo um louco chegaria ao ponto de cruzar os braços e passar fome até morrer. Pode ser. Mas é melhor ter pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar sempre com as duas mãos cheias de trabalho, tentando pegar o vento”. 

 

Quando se fala em riquezas, a primeira idéia que vêm à mente do ser humano são objetos materiais. Possuir riquezas é ter coisas: casa própria, carro, dinheiro. No entanto, existem outros elementos que são classificados como riquezas. A cultura de um ser humano é, para ele, uma riqueza, o amor que nutre pelos outros e que recebe deles também é uma riqueza. Será sobre todas estas riquezas que iremos falar.

Acumular riquezas é o objetivo da vida de todo ser humano. É para isso que ele vive. Mesmo que suas riquezas não sejam as do mundo (mansão, carro do ano, muito dinheiro), tudo o que possuir será considerado uma riqueza. Para construir um patrimônio é que o ser humano despende todos os seus esforços. Mas, para o ser universal liberto da materialidade este não é o objetivo de sua vida.

Viver é um trabalho para o ser universal. A vida humana é o trabalho do ser universal que objetiva purificar-se do seu individualismo. Como ele consegue isso? Lidando com os acontecimentos deste mundo sem gerar posses. Despossuir, portanto, é o objetivo do trabalho do ser encarnado, ou seja, a sua motivação real para viver.

Como já falamos, esta motivação real continua presente durante a encarnação. Ela apenas está encoberta por motivações individuais, mas continua movendo o acontecer das ações. Assim sendo, o desejo de despossuir tem que está por trás do anseio do ser humano de amealhar riquezas humanas. Mas, como entender isso, se aparentemente as duas vontades são diferentes? Simples: o anseio humano de possuir existe para que o espírito possa exercer o despossuir e assim atingir a sua motivação ao encarnar.

Deus dá ao homem a posse de bens para que o ser universal aprenda a temporalidade das coisas materiais. Nada é eterno, nada existirá para sempre. O ser humano conhece essa verdade. Então, porque não a aplica quando os seus bens acabam, ou seja, porque sofre quando não consegue mais possuir suas riquezas. Porque quer determinar o que irá acontecer com suas posses.

Esta é a real definição de possuir as coisas deste mundo. Possuir não é apenas ter coisas, mas querer ser o dono delas, aquele que determina o que a riqueza possuída vai fazer, como vai existir. Portanto, acusar alguém de ser materialista porque tem muitas coisas é falsidade.

Sendo assim, despossuir não é abrir mão dos seus bens. Se você tem algo não conseguirá se desfazer deles, pois Deus os deu. Mas, ter não é problema, mas sim querer possuir. É o desejo de ser ter e de comandar o destino do que se tem que afasta o ser humanizado da realidade. Quando alguém deseja algo vive um sonho e acorda no pesadelo da realidade.

Aquele que não possui os bens que têm vive feliz com qualquer coisa. Tendo uma casa simples é feliz, não precisa da mansão; tendo um carro, não precisa de outro mais moderno; tendo dinheiro para comprar alimentos, não precisa de mais para comprar supérfluos. Esse ser acabou com a posse. Abandonou as riquezas materiais e amealhou bens no céu. Não mais ditou o seu destino e, com isso pode juntar a felicidade universal para a vida eterna.

Já havíamos conversado sobre esse ponto. Chegamos inclusive à conclusão de Salomão: as pessoas trabalham (possuem coisas) para ser mais do que os outros. Mostramos que esse desejo da fama é motivado pela ação inconsciente de entrar no gozo da verdade universal. No entanto, sempre é bom falar um pouco mais sobre o tema, já que praticamente todos os mestres nos ensinaram a despossuir as coisas.

Você chegaria a ponto de cruzar o braço e morrer de fome? Não, ninguém faria isso. Portanto vá a luta: trabalhe para não passar mais fome. Não fique parado de braços cruzados esperando que a caridade alheia lhe traga o que comer. Mate a sua fome você mesmo.

Mas, lembre-se: o trabalho do espírito não é o ato material, mas a compreensão da ação universal. A sua ação, portanto, não é buscar um prato de comida, mesmo que o busque, mas compreender a fome dentro da verdade universal: a vontade de Deus e o seu faça-se.

O trabalho para acabar com a fome é a vivência da felicidade, mesmo não tendo o que comer. A ausência de alimentos de agora foi feita por Deus por Sua vontade absoluta. Não porque Ele queira ou porque ache que merece passar a fome, mas porque a Sua Inteligência Suprema sabe que isso é o que lhe levará a universalizar-se.

Seja feliz por estar passando aquela situação, afinal “é melhor ter um pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar com as duas mãos cheias de trabalho”. Pare de sonhar com a comida para se saciar e seja feliz mesmo com a fome que alcançará a paz de espírito.

O ser humano deixa de vivenciar a realidade para viver o sonho. Refugia-se da ação universal (a realidade) atrás de ilusões. Não aproveita o momento desenhado por Deus para ser feliz e impõe condições ao Pai para que se eleve. É um filho rebelde. Aquele que não aceita a orientação do Pai e quer dizer a esse como deve educá-lo.

Não cruze os seus braços e morra de fome, porque ninguém lhe dará comida sem que Deus o faça. Trabalhe proficuamente a cada segundo para louvar ao Senhor por ter lhe dado a oportunidade de elevar-se: a sua situação de penúria.

O que você precisa para ser feliz? Um prato de comida? Mas, logo depois do alimento ter entrado no seu corpo sairá e a sensação da fome voltará. Isso resolve o seu problema? O que você precisa é extinguir as razões que levaram a Deus a lhe fazer passar por aquela situação.

Com certeza esses motivos se baseiam em situações anteriores onde você foi rebelde com Deus. Momentos onde o seu Pai lhe ensinou a viver dentro das verdades universais e você insistiu em querer ser o dono da razão. Ao tomar consciência dessa sua ação, pediu para essa encarnação a situação de fome, como chance de comprovar o seu amor por Deus.

A sua situação de fome é obra de Deus, executada pela Sua vontade através do faça-se, mas seguindo a programação que você fez. Faz parte do script da vida que está vivendo. Mesmo que quisesse ou pudesse, o Pai não poderia alterá-la. Se isso ocorresse, quando do seu desencarne sem alcançar a elevação espiritual Ele poderia ser acusado de injusto, de não ter proporcionado tudo o que você precisava.

Portanto, a maior caridade que se pode prestar a um ser é ensiná-lo a viver dentro da ação universal. Foi isto que Jesus Cristo ensinou quando disse que se deve dar a vara e não o peixe. Como o Mestre dos Mestres, aquele que disse que fora da caridade não há salvação, poderia ensinar a não alimentar os outros?

Dar a vara, ensinar a viver, levar cada um a participar da ação universal é a maior caridade que um ser pode fazer por outro. A compreensão da ação universal, da realidade vivenciada como ação de Deus por Sua vontade, é a maior riqueza que um ser humano pode possuir.

Esse tesouro jamais será ruído pelos animais, jamais será afetado pela ferrugem. Já correr atrás das coisas materiais é como querer pegar o vento. Portanto, descruze os braços e comece a trabalhar para merecer a ter. Pare de sonhar e desejar e trabalhe para receber.

A sabedoria de Salomão

9ª Sabedoria - Relacionamentos

“Descobri que na vida existe mais uma coisa que não vale a pena: é o homem viver sozinho, sem amigos, sem filhos, sem irmãos, sempre trabalhando e nunca satisfeito com a riqueza que tem. Para que é que ele trabalha tanto, deixando de aproveitar as coisas boas da vida? Isso também é ilusão, é uma triste maneira de viver”. 

“É melhor haver dois do que um porque duas pessoas trabalhando juntas podem ganhar muito mais”.

 

Agora que já conhecemos o que é a vida e como se processa, podemos compreender alguns de seus fatores. Seguindo o estudo de Salomão, vamos falar dos relacionamentos entre os seres.

O Sábio afirma que é melhor estar acompanhado que só, pois cada um pode auxiliar o próximo gerando maior lucratividade para ambos. Daí surge a primeira verdade para a vida humana: o homem precisa viver em comunidade.

Aqueles que se afastam do convívio com as demais pessoas para não pecar (ir contra a vontade do universo) estão ganhando pouco. Não aproveitam toda encarnação. Como ensinado, se não fazem o mal, também não fazem o bem. É preciso conviver harmonicamente com as coisas do universo para se alcançar a integração com o todo. A fuga não leva a isso.

É para harmonizar-se com o todo que a ação universal utiliza-se das coisas para interagir com o ser. Promove ações para combater a verdade do ser humano, mas isso não pode ser feito sobrenaturalmente, fora da realidade humana. Se Deus fizesse o homem alterar suas verdades por ações materiais, não haveria a prova da fé e a evolução não teria valor. Se for preciso que Deus compareça pessoalmente para ensinar o que está perfeito, o ser universal não teria se reformado integrando-se ao universo, mas se sentiria submisso a Deus. Seria uma rendição à verdade universal e não um abandono de verdades individuais.

Por isso todo processo precisa ser natural, ou seja, estar dentro da lógica humana. A ação universal existe, é fato, mas se processa através de instrumentos materiais e pela lógica humana, para que, pela evolução por amor, o ser possa universalizar-se. É por isso que a ação universal acontece através dos seres humanos e na prática de seus atos.

Comandando as ações dos seres sem que esses percebam, a ação universal preside a ação. Ao homem, restrito às percepções que os seus órgãos do sentido conseguem captar, cabe imaginar que está agindo livremente, sem interferências do universo, na ação que está praticando. Exercendo a fé dentro dessa visão o ser universalizar-se-á, exercendo a adoração a si mesmo, individualizar-se-á ainda mais.

Se há duas realidades, a ação universal comanda um relacionamento e o homem imaginando que preside a ação, o exercício da fé é escolher a quem servir: Deus ou a si mesmo. Para auxiliar nesse trabalho de fé é que estamos conhecendo as verdades da sabedoria de Salomão. Vamos, portanto, compreender as duas realidades quando de um relacionamento.

Para o ser humano tudo o que existe tem que passar pelos seus órgãos do sentido. O que ele vê através dos olhos, o que cheira pelas narinas, o que prova pelo paladar, o que ouve pelo ouvido e o que é percebido pelas sensações físicas (tato) do corpo é a realidade. Para alguns existem outras sensações: o que é percebido pelo sexto sentido. São sensações não materiais e inexplicáveis. Coisas que ele não consegue definir nem captar como as percepções dos outros órgãos do sentido.

Ver para o ser humano se traduz em materialidade. O que ele vê é material, existe. Já as coisas que são captadas por esse sexto sentido não são consideradas materiais, pois a percepção é imaterial. Pela dificuldade de palavras diremos que o que é captado pelos cinco sentidos é percebido, o que é captado pelo sexto é sentido.

Esse sexto sentido, ou sensações das coisas espirituais, não é generalizado. A capacidade de sentir essas coisas todos os seres humanos possuem, mas alguns, por falta de fé (crença) acabam inibindo a sensação. Assim, essas sensações são, na maioria das vezes, desprezadas pelo todo do planeta colocado no campo das crendices ou superstições.

Isso ocorre devido á falta da fé necessária gerada pela incapacidade de se alcançar a percepção. No entanto, elas existem, são verídicas. Quando essas coisas são sentidas, fazem parte do mundo do homem e estão aí para auxiliá-los na sua tarefa. Através da crença em sua existência pode o homem dispor do que sente e ainda, aprofundar-se mais no invisível, conhecendo outros elementos do universo não podem ser percebidos.

Utilizar o sexto sentido auxilia no trabalho de evolução, mas, como disse, é preciso acreditar no que escapa aos outros órgãos do sentido. Quando o homem descrê do que sente sem comprovação física, o manancial de elementos do invisível permanece oculto a ele. O ser universal vivendo a vida carnal perderá a capacidade de contar com esses elementos para a compreensão da realidade.

Se esses elementos existem, se estão no planeta, são instrumentos da ação universal, concorrendo nas ações, compondo a realidade universal. Ao eliminá-los da compreensão do que está ocorrendo, o ser humano já não possui mais todos os elementos para compreender a realidade. A capacidade de alcançar as sensações do sexto sentido é para todos, mas apenas a crença na existência de coisas imateriais determinará o grau de utilização desse sentido na vida do ser humano.

Já os outros sentidos não: eles estão sempre presentes. Com maior ou menor capacidade de perceber as coisas, todo homem utiliza os seus cinco sentidos. Mesmo que não possua o órgão do sentido, o ser humano alcança a percepção.

Ver não é olhar, mas dar forma a coisas. Perceber pela visão um determinado objeto é reconhecer a forma que ele tem. Mesmo que o ser humano seja cego de nascença, pelo tato e demais sentidos forma uma imagem do objeto, como se tivesse visto. Portanto, mesmo sem visão, a percepção é alcançada.

No entanto, a capacidade das cinco percepções não garante ao ser humano a penetração completa na realidade. Toda a sua percepção é restrita em um campo de ação. Imagina-se super potente e por isso capaz de perceber tudo o que está acontecendo no ambiente. Isso lhe afirma que pode compreender toda a realidade. Apesar desse super poder ser facilmente contestado, o homem continua achando-se capaz de reconhecer a realidade das coisas.

Há animais que enxergam muito mais longe que o ser humano, mas esse continua imaginando que apenas o que enxerga é que existe. Apesar das suas percepções visuais serem restringidas por causa do campo de visão que possui, o ser humano só acredita no que vê.

Cuidado, pode haver seres vivendo junto com você o tempo inteiro lhe acompanhando sem que saiba, sem que se dê conta de sua existência. Não estou falando de seres imateriais, mas daqueles que podiam ser percebidos por sua visão. Apesar de poder vê-los, não acredita neles, porque não os vê.

Um homem jamais consegue ver o que está atrás de si. Por mais, que se vire, sempre estará de costas para algo e esse não poderá ser percebido, pois está fora do campo de visão. Imagine uma pessoa muito ágil e capaz de perceber o mais leve movimento seu. Ela poderia esconder-se atrás de você e viver toda a sua existência nas suas costas.

Cada vez que você se virasse ele acompanhava o seu movimento fugindo ao campo de visão. Assim passaria toda a sua existência lhe acompanhando e você não saberia. Mas, não precisaria ficar só atrás das suas costas. Poderia ficar acima ou de qualquer dos lados: desde que se movesse junto com você estaria sempre fora do alcance da sua percepção.

Esse ser estaria presente o tempo todo, mas para o ser humano não existiria, pois ele não o viu. Não é só aquele que habita matérias diferentes que não são percebidos pelo ser humano, mas todos que não forem percebidos (penetrarem no campo de visão) não estarão presentes no momento da ação. Não participarão da realidade para o ser humano.

As restrições ás percepções da visão não param por aí. O ser humano só vê o mundo grande. Para que as coisas existam para ele é preciso que possuam dimensões perceptíveis pelos seus órgãos do sentido. O que não possui essa dimensão não existe, não compõe a realidade.

Olhe para a parede: o que vê? Parede? Onde está o tijolo, o cimento, terra, areia e a tinta que você sabe que existe ali? Você não vê, por isso não existe. É porque você não vê que a tinta está ali que ela não participa da realidade parede? Não, ela compõe a realidade parede pintada, mas o ser humano foge a essa realidade porque não viu a tinta.

Não vive a realidade porque, apesar de já ter visto como se faz uma parede, talvez até essa mesma, conheça os elementos necessários para erguê-la, agora, depois de pronta, tudo isso desaparece porque não os percebe individualmente.

Se não há a percepção o elemento não participa da ação, ou seja, o ser humano cria uma verdade individual onde existe uma realidade universal. O ser acredita em parede, mas isso não existe. A realidade é que aquilo é um amontoado de tijolos, areia, cimento e tinta.

Imaginemos que agora a sua compreensão sobre a realidade parede tenha mudado. Mesmo que os elementos não tenham sido percebidos, o que você está vendo não é mais a mesma coisa. Ao invés de uma única superfície, agora sabe o que realmente existe ali: tijolos, pedras, cimento. Será que agora chegou à realidade? Não, ainda está muito grande e a realidade é minúscula.

Olhe para a nova parede (cada um dos elementos). De que são formados esses elementos? Átomos e espaços vazios entre eles. O que era parede transformou-se, primeiramente, em tijolos, areia, cimento e pedra: elementos que praticavam a ação da parede. A partir do momento que aprofundo a visão, descubro que o agente da ação é outro, a realidade muda.

A ação da parede (proteger o ambiente e segurar o telhado) é exercida pelos átomos do tijolo, areia, cimento e pedra. São bilhões de átomos separados por imensos espaços vazios que produzem uma ação que mantém a rigidez e densidade da parede para lacrar e proteger o ambiente.

Seu mundo mudou, sua realidade mudou. Ao invés de ter uma parede à sua frente, está defronte de uma multidão de átomos produzindo energias para fazer o que você achava que a parede fazia. Continue decompondo a parede. Passe para os elementos do átomo (nêutrons, prótons e elétrons), depois penetre no que forma esses elementos (fótons) e veja como o seu planeta é diferente do que você imagina. Que existe uma realidade que difere do que você acha que é real.

Toda a decomposição que usamos aqui é científica. Tanto o átomo, seus componentes como os fótons (descoberta da física quântica) são elementos conhecidos do ser humano. Agora, se quiser continue penetrando no que ainda não é conhecido. A cada decomposição chegará a um novo elemento que será o causador da ação que antes imaginava que era feita pelo outro.

Por último chegará ao indivisível: Deus. Aí está a menor partícula do universo, ou seja, a realidade real, universal. A proteção e segurança que acredita advir da parede são, na verdade, ações de Deus.

Agora você chegou na realidade, no que realmente está acontecendo: ‘Deus deusando’. Você vê isso? Consegue vivenciar essa realidade? Não, então está fora do universo. Prender-se apenas no que vê lhe tira da realidade do universo. Acreditar que apenas o que é percebido pelos órgãos do sentido é servir a si mesmo.

Lendo agora no papel você consegue olhar para a parede e entender que é ‘Deus deusando’, mas não consegue perceber ação do Pai. Por mais que se esforce para ver a ação como está vendo a parede (materialmente), jamais conseguirá. Falta ao sentido visão a capacidade de distinguir a ação de elementos ínfimos.

Quando ainda da primeira divisão (de parede para os elementos que a compõe), você não viu com os olhos, mas formou a compreensão de que eles estavam ali. Com isso, apesar de não percebê-los, eles passaram a fazer parte da realidade, foram os provocadores da ação.

É desse modo que o ser humano poderá abandonar o mundo ilusório (a realidade formada apenas pelas percepções) que vive e chegar à realidade (a ação universal). Declarando sua incompetência de perceber todos os fatores que influenciaram a realidade e compreendendo que Deus é a Causa Primária de todas as coisas, conseguirá concluir que não existe outra compreensão real para os acontecimentos. Acaba o mundo do ‘eu acho’ e surge o mundo do ‘Deus sabe’.

Para participar da realidade do acontecimento (ação universal) o ser precisa declarar-se incompetente para compreender as coisas. Essa declaração surge por duas constatações. Primeiro porque faltam elementos (percepções) que estão agindo e segundo, porque lhe faltam parâmetros para atingir o objetivo da ação. Só assim servirá a Deus, participará de Seus objetivos.

A compreensão é atingida através do raciocínio. Já falamos desse sistema da inteligência. Trata-se de um processo de análise das percepções com a finalidade de se chegar a uma conclusão (compreensão) sobre as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos).

Para analisar uma percepção o ser utiliza parâmetros individuais (verdades individuais) formadas anteriormente nas análises de percepções semelhantes. O resultado da análise é uma verdade para o ser, compõe uma realidade. Essa verdade é a compreensão das coisas a que chega o ser e que determina o que é real.

Mas, que realidade é essa, que verdade é essa? O ser não consegue perceber o real agente nem o objetivo, como pode, então, criar realidades se lhe faltam todos os elementos da ação? Cria uma realidade falseada pela sua incapacidade. É uma verdade individual porque é alcançada apenas no que o ser acredita. A compreensão das coisas não pode ser real sem a totalidade dos elementos envolvidos no ato.

A realidade, o real, aquilo que realmente está acontecendo, possui muito mais elementos do que é percebido e baseia-se em verdades diferentes da utilizada pelo ser no raciocínio. Ela utiliza a Causa Primária das Coisas e a Inteligência Suprema, que conhece a verdade universal.

Resta ao homem, para sair da ilusão e penetrar na realidade, declarar a sua incapacidade de compreender. Não por falta de inteligência para tanto ou por ignorância, mas pela ausência de percepção de elementos para avaliar. A partir dessa declaração de incompetência para viver, pode então, penetrar na realidade do universo. Não mais um mundo individual formado pelo que percebe e crê, servindo a si mesmo, mas o universo eterno, sem fronteiras ou barreiras, servindo a Deus, Senhor Supremo.

Declarada a incompetência, podemos então compreender essa sabedoria de Salomão sobre os relacionamentos. Era preciso comprovar que a compreensão que o ser humano possui sobre essa ação é fictícia para podermos penetrar nos relacionamentos como ação universal. Partamos, então, da completa ignorância sobre o tema para atingirmos a realidade universal do relacionamento entre os seres.

Hoje os seres acreditam que os relacionamentos são as ações que ele pratica quando interage com outros seres. Já havíamos falado que viver não é praticar atos, mas compreender a ação universal, a animação que está acontecendo. Assim, o relacionamento não é o que se faz, mas como cada um compreende a interação.

Para se entender a realidade (relacionamento como ação universal), temos que compreender que o ser humano não interage com ninguém. Cada vez que acontece um relacionamento existem funções que ele exerce.

O ser humano se transforma a cada relacionamento. Em uns é pai, em outros é o patrão, na vida a dois é o marido. Na verdade ele não é ele, mas a função que ocupa no relacionamento. O outro também não é um ser, mas a função que se relaciona com a dele. Ao determinar o seu papel no relacionamento, o ser humano dá um valor ao próximo. O pai interage com o filho, o patrão com o empregado e o marido com a esposa.

Cada função que o ser desempenha no relacionamento possui um grupo de verdades (identidade) que norteia a postura do ser. O pai manda, o filho obedece: essa é a verdade do relacionamento de dois seres nessas funções. Isso porque o pai sabe mais das coisas, têm mais experiências: outra verdade. No entanto, o papel não é realidade. É uma falsidade porque o conjunto de verdades que utiliza não é universal.

‘Me respeite, eu sou o seu pai’. O ser não está pedindo respeito a si mesmo, as suas verdades, mas informando ao filho que ele tem que acatar o que diz por que nesse momento ele é o pai e as verdades dessa função dizem que ele está sempre certo. Age dessa forma porque distribuiu papéis para ele e para o ser que está se relacionando. A partir de agora suas próprias verdades serão dirigidas pelas verdades societárias da função de cada um no relacionamento.

Engano, irrealidade, verdade individual. Quantas vezes a vida já provou que um filho estava mais dentro da realidade que o ser na função de pai? Apesar disso os seres continuam insistindo que tem competência maior para conhecer a verdade do que os filhos. Porque isso? Porque é uma verdade societária da função pai. Todos os pais sabem mais do que os filhos e já que estão vivendo esse papel têm que saber mais do que meu filho. Falsidade baseada em verdade individual. Você acha que sabe mais apenas porque está vivendo o papel de pai.

A cada relacionamento o ser vive um papel e determina outro àqueles com os quais está interagindo. A partir dessa qualificação relaciona-se atado às verdades societárias inerentes a cada papel. Um pai jamais deixará de agir como tal (achar que sabe mais) quando se qualifica desta forma e dá ao outro o de filho. Esse mesmo ser, no entanto, se vivenciar o papel de aluno se declarará incompetente para saber. O ser não mudou, mas sim o papel que representa na vida e as verdades que vivenciou.

Afinal, quem é você, que verdades possui? Na vida marital é marido, com os filhos o pai, quando joga um jogador, quando dirige um condutor. No trabalho é empregado, mas quando cura é um médico ou quando fere um agressor. Quem em todos esses papéis da sua vida é você? Onde está a sua individualidade que a cada minuto se transforma em alguma coisa? Como ficam as suas verdades: ora potentes ora impotentes?

Você é você: uma identidade que possui verdades individuais. No entanto, suas verdades são alteradas pelas verdades do cargo que ocupa. Sua identidade pelo papel que vivencia. Age dentro de um padrão concebido pela sociedade. Não vive a realidade, mas a fictícia realidade do cargo que ocupa.

Nesses momentos sua individualidade não pode nem ser reconhecida, pois suas verdades não são suas, mas pertencem à função que ocupa. Quando mudar de função, alterará as verdades e também a identidade. A cada relacionamento isso ocorre e o ser humano se perde entre as centenas de identidades que assume durante a existência sem conseguir conviver com a realidade nunca. Como é cansativo viver.

Imaginemos que você é um empregado médio de uma empresa. É chefe de uma seção onde existem subordinados, mas acima há alguém que comanda as diversas seções da empresa. Quando se relaciona com seus empregados você sabe porque é chefe e eles não. Isso dentro da verdade societária que dá a função chefe e empregados que os seres estão vivenciando.

Quando você tem que prestar contas ao seu superior as coisas se invertem. Ele passa a saber e você agora apenas acha. De um minuto para o outro, toda a sua convicção (verdade) de saber alguma coisa tem que ser abolida e uma nova compreensão da realidade têm que ser alcançada. Se você agir com o seu chefe como com os subordinados ou vice-versa, todos estranharão a sua conduta, pois não faz parte da realidade da posição que estava ocupando no momento.

A realidade do ser humano (sua identidade) não está presente nos relacionamentos, mas sim uma identidade (verdade) diferente. Ele não é ele, não vive com suas verdades: representa um papel que possui verdades que precisam ser seguidas.

Essa compreensão dos relacionamentos é fundamental para o entendimento da falsidade em que se vive. São realidades fictícias e por isso causam sofrimento. Enquanto chefe você sabia, tinha o poder. Quando funcionário teve que se submeter ao saber do seu superior. É do choque da alternância de papéis (verdades) que se vivencia que nasce a crítica aos outros. Da indecisão de quem sou nasce o desejo de ser mais do que é.

Você não é mãe ou filha, patrão ou empregado, marido ou mulher. Você é um ser universal que está vivenciando um personagem ser humano, aquele que individualiza as verdades do universo. Esse ser humano vive (se relaciona) imaginando que representa um papel nos relacionamentos, ou seja, precisa padronizar suas ações com novas verdades.

Tudo isso está muito distante da sua realidade (ser universal). Todas essas verdades estão muito longe da verdade universal. Se você ainda não consegue desvincular-se do seu personagem (ser humano), pelo menos se livre dos papéis que assume quando dos relacionamentos. Seja você sempre.

Por isso Jesus Cristo nos disse que será preciso abandonar pai e mãe para segui-lo. No Evangelho Apócrifo de Tomé foi mais além: há de se repudiar os genitores. Esse ensinamento até hoje gerou muitas controvérsias porque o ser universal foi confundido com o papel que o ser humano vivencia nos relacionamentos.

Alguém que ditou o mandamento de se amar ao próximo como a si mesmo não poderia jamais pedir que alguém abandonasse ou repudiasse outro ser universal. Isso seria ilógico. Portanto, quando pede para abandonar pai e mãe o Mestre não incita ao abandono do ser universal, mas às verdades do relacionamento onde o ser humano se imagine um filho e outro um pai. Um relacionamento com a existência desses papéis é guiado por verdades individuais que ferem a realidade universal. Jesus Cristo, o ser universal sabia disso e por isso ensinou a se acabar com os papéis nos relacionamentos.

Pense no seu pai ou no seu filho agora. Veja a base do relacionamento entre vocês. Quantas verdades surgiram! São todas mentiras, ilusões geradas pelos papéis que cada um ocupa, afetam a realidade entre vocês.

Seu filho não é parte de você, porque nem você nem ele são o corpo que vestem. Você é um ser universal independente do seu filho ou do seu pai. Não devem nada um ao outro, pois o fato de um ter sido gerado pelo outro é ação universal: vontade de Deus.

O ser universal não se origina do ser humano, mas de Deus. Desta forma, nem filho nem pai, mas dois irmãos. Filhos de um único Deus: o Ser Supremo.

Vocês não são bons amigos ou inimigos. O relacionamento de vocês é ditado pela posição de cada um agora (suas verdades), mas anteriormente, em outras vidas, já foi diferente. Um dia você foi pai e fez a mesma coisa que reclama hoje do seu. Um dia você foi filho e também quis dizer ao pai o que era verdade.

Como se criar verdades nos relacionamentos baseando-se apenas nessa encarnação. Seu filho pode já ter sido o seu assassino. Pode não ter chegado a esse extremo, mas pelo menos seu inimigo eu garanto que já foi. De onde agora surgiu esse sentimento? Das verdades societárias que regem o relacionamento entre pais e filhos.

Você não tem que preparar seu filho para o futuro: isso não é a coisa mais importante de sua vida. O destino de cada um já está escrito por ele mesmo e, por mais que você tente, não poderá alterá-lo nem um ponto nem uma vírgula. É ilusão, é como correr atrás do vento.

Na verdade nem amor há entre pai e filho. O verdadeiro amor é muito mais do que as verdades que os seres vivem. Onde encontrar amor em um ser que cerceia a liberdade do próximo? Há posse, há o desejo de dirigir a vida do outro. Não guia o outro para auxiliá-lo, mas para satisfazer-se, para que ele faça o que você quer.

Todas as verdades do relacionamento com o seu filho são mentiras, falsidades, verdades individuais de uma sociedade que foi desenvolvida à sombra da Sagrada Família. Onde nos ensinamentos do Mestre podemos encontrar esse culto à família?

Jesus Cristo afirma por duas vezes que se tem que abandonar a família e, além de ensinar, exemplificou. Não só com o abandono do lar para realizar a pregação, mas ao perguntar quem era a sua mãe e os seus irmãos. A resposta identifica a verdade universal: todos os que cumprem o que Deus quer. Se todos somos instrumentos da ação universal, pertencemos a uma família universal.

Não estou dizendo que deva odiar seu pai ou seu filho, mas que não deve idolatrá-los. A verdade societária sobre a vida familiar é a idolatria dos membros da família. Seu pai é o melhor homem, sua mãe a melhor mulher: isso é viver fora da realidade. Não existem melhores ou piores; existem companheiros de jornada.

Para se relacionar perfeitamente com todos os seres é preciso que haja a igualdade. Quando sua mãe for igual a todas as outras mulheres, quando seu pai for tão bom quanto um assassino, nesse momento você penetrou na realidade do universo. Enquanto isso você vivencia a ação universal individualmente.

Ninguém é pai, nem assassino, mas seres universais. O que cada um faz é a ação universal que comanda a ação de acordo com o script que todos escreveram juntos, pois quando cada script é colocado em prática, Deus funde todos no script universal, a história universal.

Destituindo o ser universal do cargo que consagra a ele pode eliminar as verdades societárias. Apenas vivendo com as suas próprias verdades ficará mais fácil compreender os relacionamentos: dois seres interagindo comandados pela ação universal com o objetivo de elevarem-se.

A vida não é a vivência (atos), mas o que se compreende dos acontecimentos (verdade). O relacionamento não é a interação física, mas o que cada um está compreendendo dos acontecimentos da ação. Isso é uma verdade universal. Sem o cargo, os relacionamentos (interpretação dos acontecimentos) passam a ser exercidos pelos seres humanos apenas com suas verdades individuais.

Relembrando algumas verdades que já vimos. O homem é o ser universal que interpreta um papel, ou seja, possui verdades individuais. A motivação da existência do ser universal, mesmo quando vivendo como ser humano é alcançar a existência dentro da verdade universal. Quando interpretando o papel ser humano, essa motivação se torna inconsciente.

Dessa forma, o ser humano tem o desejo inconsciente de viver na verdade universal. Como para ele os seus conceitos são certos, acredita ter conseguido alcançar a verdade universal. Por isso, quando se relaciona com outros seres vivencia duas verdades: defender as suas verdades e buscar alterar as do próximo. Esses dois objetivos nascem da convicção de que vive na verdade universal (no certo).

Essas são as preocupações dos seres humanos quando se interagem no planeta. Transformam-se em cavaleiros medievais disputando uma rixa, de lança em punho: vence quem primeiro derrubar o outro do cavalo.

No relacionamento o ser humano recebe as percepções (atos e fala) que estão sendo executados pelos outros seres como prováveis agressões às suas verdades. Mesmo quando está se relacionando com amigos, pessoa em quem confia, parte da realidade que aquele é um ser vivendo fora da verdade universal, ou seja, das suas verdades individuais que ele acha que são universais.

Quando raciocina executa esse processo com a certeza de que o outro pensa diferente dele e não está na verdade universal. Parte do pressuposto que a verdade do próximo é errada e a trata como inimiga da sua, como um atacante. Analisa a percepção sempre buscando contrapor a ela. Procura nas suas verdades argumentos para provar que ele está certo. Os seres não conseguem relacionar-se imparcialmente, ou seja, sem acreditar que sabe a verdade e que o outro está vivendo na mentira.

Mesmo quando não consegue encontrar argumentos para combater a verdade do próximo, não entrega os pontos, mas busca aprofundar-se no assunto: será que é isso mesmo? Realmente ele não quer continuar no assunto, mas precisa aprofundar-se na verdade do próximo para encontrar argumentos para derrotá-las: ‘mas você não acha’…

Essa é a realidade nos relacionamentos: uma queda de braços. Estando ou não ocupando funções quando se relaciona, o objetivo do ser humano é preservar suas verdades dos ataques das do próximo e contra atacar para transformá-las. Para penetrar realmente nas verdades universais (voltar a viver como ser universal) é preciso não só desprender-se da função, mas também alterar essa forma de compreender os relacionamentos.

Falamos no início dessa sabedoria que a ação universal não se processa por elementos sobrenaturais, pelo que foge à percepção dos órgãos do sentido. Ela utiliza elementos naturais, o que pode ser percebido. Podemos, então, compreender que nos relacionamentos a ação universal utiliza os seres humanos e provoca neles ações (atos ou falas).

Dessa forma, a realidade de um relacionamento não é os seres que estão envolvidos ou suas verdades, mas uma ação universal. Já estudamos essa ação e descobrimos que ela se processa pela vontade de Deus e acontece pelo faça-se.

Com essa visão, podemos mudar a compreensão dos relacionamentos dos seres. Os envolvidos não estão ali: foram colocados por Deus. O que eles fazem (atos e falas) não é de livre vontade, mas comanda do pelo faça-se. Nada está acontecendo por acaso ou como fruto de um livre arbítrio individual, mas pela ação de Deus, Senhor do universo.

A partir do momento que se muda a compreensão da realidade pode se mudar a motivação do mesmo. Todos os acontecimentos estão sendo gerados por Deus pela Sua vontade. Essa é sempre a da integração do ser ao universo. Para isso é necessário que ele abandone o seu individualismo.

Essa é a motivação de Quem realmente está comandando o relacionamento. Daí surge a verdade universal: um relacionamento é uma interação de formas, comandadas por Deus de acordo com Sua vontade, com o objetivo de que todos os envolvidos abandonem suas verdades individuais.

Como Deus age? Provando que a sua verdade é só sua. Como faz para provar? Mostra que existem diversas verdades para a mesma coisa e que a sua só é válida para você. Quando o Pai coloca dois seres em contato e faz com que um exponha a sua verdade ao outro está ensinando: ‘veja a sua verdade é só sua, não é universal, pois o outro acredita diferente’.

A verdade universal é algo que nunca foi alterado e que é válido para todos. É a não existência dessas características na sua verdade que Deus está mostrando quando lhe faz contatar-se com outros seres, com outras verdades. A sua verdade é individual e já foi alterada ao longo do tempo e por isso não pode ser considerada universal.

Com isso Deus espera que o ser humano, que acredita que sua verdade seja universal, compreenda o Seu recado e, ao invés de buscar defender e impor a sua verdade elimine-a. Esse é o objetivo de Deus ao provocar a ação universal dos relacionamentos.

Tudo objetivado pela intenção de que o ser elimine com os sofrimentos em sua vida. Um ser humano que trata a sua verdade como universal está exposto ao sofrimento. Quando ela é o fundamento da ação universal alcança a satisfação, mas quando não, sofre. É para acabar com essa dependência que Deus quer que você participe da verdade universal, pois ela estará sempre presente, garantindo felicidade constante.

Exemplifiquemos. Vamos supor que você ache a cor vermelha bonita. Isso é uma verdade só sua e não do universo. O vermelho não é bonito nem feio: é uma cor. No entanto, como você acha isso, quer que todos pensem igual a você. Enquanto não aparecer alguém que prefira o azul você é feliz. Quando esse ser humano aparecer começará o sofrimento.

Vivendo a vida como ser humano, compreendendo que a sua verdade é universal, relacionar-se-á com esse outro ser buscando provar para ele que o vermelho é mais bonito que o azul. Participando da ação universal poderá entender o recado de Deus: ‘Meu filho, você gosta mais do vermelho, mas o azul também foi feito por Mim. Tive um motivo para criá-lo e ele é tão útil ao universo quanto o azul. Para que você compreenda a Minha realidade, precisa deixar de preferir apenas o vermelho, pois tudo o que crio é Perfeito’.

Em um relacionamento não existe vencido ou vencedor, verdade certa ou errada, mas apenas Deus agindo em socorro dos Seus filhos. Essa é a única realidade e aplica-se à qualquer interação entre os seres, mesmo quando esta não ocorre pessoalmente.

Quando você uma notícia no jornal, vê um programa de televisão, escuta a conversa de duas pessoas, está interagindo com eles. Todos os fatos e acontecimentos do planeta que são percebidos por você contêm o mesmo objetivo: Deus lhe mostrando no que deve deixar de acreditar.

 

“Se uma delas cai, a outra a ajuda a se levantar. Mas se alguém está sozinho e cai, fica em má situação porque não tem ninguém que o ajude a se levantar. Se faz frio, dois podem dormir juntos e se esquentar; mas um sozinho, como é que vai se esquentar? Dois homens podem resistir a um ataque que derrotaria um deles se estivesse sozinho. Uma corda de três cordas é difícil de arrebentar”.

 

A visão ser humano do relacionamento nasce da independência dos seres de agir. Enquanto acreditar que faz o que quer e que o próximo também age livremente, precisará defender-se e impor sua verdade ao universo. Para se mudar a compreensão do que é um relacionamento é preciso trazer Deus para ele, dando ao Pai o comando das ações.

Esse é o fim da queda de braços, da disputa da rixa. Só assim realmente um poderá ajudar o outro. Enquanto a visão do ser humano permanecer esse apoio mútuo não será possível. A crítica nascerá livremente.

Quem pode atirar a primeira pedra? Essa pergunta de Jesus Cristo ainda paira no ar, mas o ser humano esquece-se dela a cada relação. Rapidamente arma-se de pedras para atirar no outro, vê logo nas verdades alheias falsidades que precisa criticar. Esse ser vive fora do mundo, na ilusão. Lembremos que nem Jesus Cristo, o ser mais espiritualizado que viveu carnalmente nesse planeta atirou a pedra. Se ninguém pode atirar, eu também não atirarei.

O relacionamento é um instrumento importante para a elevação espiritual. Sem ele o ser universal caminharia sem bússola. Ele dá o rumo do trabalho a ser seguido para alcançar a elevação.

Quando o ser com quem está interagindo lhe mostra a sua verdade está apontando o caminho a ser seguido: é isso que você precisa mudar. Não é uma agressão, uma acusação, um apontar de erros, mas Deus agindo no sentindo de nortear as ações do Seu filho.

Se a vida carnal é uma prova, a ação universal do relacionamento é o professor particular. Eles nos mostram o caminho que deve ser tomado, a matéria que deve ser estuda mais profundamente.

Agindo sobre a verdade apontada pelo seu interlocutor, o ser humano poderá alcançar o seu objetivo: universalizar-se.

A sabedoria de Salomão

10ª sabedoria - O rei

“O moço pobre, mas sábio vale mais do que o rei velho e sem juízo que já não aceita conselhos. Um homem pode muito bem sair da cadeia e se tornar o rei do seu país, mesmo tendo nascido pobre. Eu pensei em todas as pessoas que vivem neste mundo e imaginei que existe entre elas, em algum lugar, um moço que tomará o lugar do rei. O número de pessoas que um rei governa é muito grande; no entanto, quando deixa de ser rei, ninguém é agradecido pelo que ele fez. É tudo ilusão, é tudo como correr atrás do vento”. 

 

Que adianta ficar defendendo suas verdades? Você mesmo já foi um agressor profundo das verdades de seus pais. A terceira etapa da vida do ser, quando ele busca impor suas particularizações das verdades societárias, faz parte da existência de todos aqueles que se humanizam. Você já passou por isso e agora não quer sofrer a mesma ação?

Quando um ser humanizado é jovem age buscando impor sua particularização da verdade societária. Quando alcança a maturidade não aceita que os outros a contestem. Acredita que está de posse da verdade universal porque ela foi testada e moldada no fogo dos relacionamentos de toda uma existência.

Quanto mais luta e vence nos relacionamentos, o ser prova a si mesmo que está certo, que suas verdades são absolutas. Com isso mais solidifica a crença de que está no caminho certo. Quanto mais sucesso material o homem tiver mais acredita que possui a verdade. Considera-se um rei.

Para combater essa cristalização das verdades individuais é que Deus faz com que as novas gerações vivam na sua particularização das verdades societárias. O jovem não é um rebelde, mas um instrumento de Deus para lhe mostrar que a verdade societária do rei foi só sua.

Vejamos o caso da moral nos relacionamentos entre casais. Desde muito tempo até os primórdios desse século a mulher conhecia o marido no altar. Os casamentos eram combinados pelos pais e as mulheres decentes só experimentavam o contato com o parceiro do outro sexo depois de consumada a união religiosa.

Inconformadas com essa verdade as jovens iniciaram a busca da transformação da verdade societária. O objetivo dessas jovens do início do século passado, como ainda é o das de hoje, não é acabar com a moral (verdade societária), mas particularizá-la. Alterar os padrões da verdade, não extingui-la.

Primeiro lutaram para se unirem a quem quisessem. Isso exigiu o contato antes do casamento. Esse teve que ser feito às escondidas porque os pais detinham o poder e não aceitavam a mudança das suas verdades. Apesar do poder paterno, os encontros aconteciam e a verdade foi se alterando.

Aquelas que brigaram para casar com quem quisessem tiveram que aceitar uma nova revolução. As mulheres começaram a namorar na sala de casa. As antigas rebeldes agora começaram a sentir o peso da rebeldia das mais jovens. Não queriam o namoro em casa, mas depois de muita batalha a verdade societária foi alterada.

Depois veio o namoro no portão, já longe da fiscalização familiar. Posteriormente a saída com o namorado em horários convenientes. A evolução foi a esticada, ou seja, o fim do horário de chegar em casa. Hoje o namoro se dá dentro do quarto da jovem, na casa dos pais, junto com esses.

Para cada alteração houve uma resistência da geração anterior que já tinha sido rebelde com a sua antecessora, mas que agora, com as verdades cristalizadas, não mais aceitava o combate a elas.

Os mais velhos reclamam da rebeldia dos mais novos, mas já agiram como eles. A reclamação surge do afastamento de Deus, da verdade universal.

Todo o processo de alteração das verdades societárias é comando por Deus no sentido de propor novas provas ao ser humano. Não importam os atos, o objetivo de Deus é sempre testar a resistência em abandonar as suas verdades individuais.

Moral é um “conjunto de regras ou hábitos julgados válidos”. Se os seres humanos não agem voluntariamente, mas são guiados pela ação universal, os atos que praticam não podem ser julgados. Para se compreender a ação deve ser levado em consideração o ato espiritual: a busca da elevação. Moral, portanto é o conjunto de regras ou hábitos do ser universal julgados válidos.

Jesus nos ensinou as regras e os hábitos que o ser universal deve ter: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O que pode espelhar melhor essa moral: os hábitos dos seres do início do século passado ou os de agora? Quem ama mais o próximo: aquele que individualiza sua filha tornando-a escrava da sua vontade ou o que não recrimina sua atitude?

Amoral é querer impor verdades aos outros. Quem age como o dono da verdade não ama a Deus acima dela, não ama o próximo como a si mesmo. Ama mais o que acredita, considera-se superior ao próximo.

Portanto, a moral foi mantida ao longo dos anos e para isso as verdades societárias humanas sobre a moral foram contestadas. Para contestá-las Deus serviu-se como instrumento dos seres encarnados mais novos. Não para que impusessem seu querer, mas para aprenderem que ninguém pode impor a sua verdade a outro sem causar sofrimento. Pena que quando cresceram, cristalizaram suas verdades e causaram novamente sofrimento. É por isso que ainda estão reencarnando.

Com a utilização constante das suas verdades contra seus pais passaram a amá-la mais do que a própria verdade universal (Deus). Transformaram-se em reis, senhores da verdade.

Entretanto, sempre haverá, em algum lugar do mundo, um jovem que tomará o lugar do rei. Ele sairá direto da cadeia (subordinação aos mais velhos) e assumirá o trono, possuirá as verdades mais verdadeiras. Quanta verdade Salomão descobriu; como foi grande a sua sabedoria.

Portanto, amigo, abra mão da sua majestade. “O número de pessoas que um rei governa é muito grande; no entanto, quando deixa de ser rei, ninguém é agradecido pelo que ele fez. É tudo ilusão, é tudo como correr atrás do vento”.

A sabedoria de Salomão

11ª Sabedoria - Promessas

"Tenha cuidado quando for ao Templo. Não ofereça o seu sacrifício como fazem os tolos, que nem sabem que não estão fazendo isso da maneira certa. Vá pronto para ouvir e obedecer a Deus. Pense bem antes de falar e não faça a Deus nenhuma promessa apressada. Deus está no céu, e você, aqui na Terra, portanto, fale pouco. Quanto mais você se preocupar, mais pesadelos terá; e, quanto mais você falar, mais tolices dirá. Assim, quando você fizer uma promessa a Deus, cumpra logo essa promessa. Ele não gosta de tolos; portanto, faça o que prometeu. É melhor não prometer nada do que fazer uma promessa e não cumprir. Não deixe que as suas próprias palavras o façam pecar. Assim você não terá de dizer ao sacerdote que o que você queria dizer não era bem aquilo. Para que fazer Deus ficar irado com você? Porque deixar que ele destrua as coisas que você conseguiu com o seu trabalho? Mesmo nos seus muitos sonhos, em todas as suas ilusões e em tudo o que disser, você deve temer a Deus”. 

 

Salomão busca a sabedoria universal sobre um ato humano: a promessa. Esse tema é de importância para a vida espiritual, pois inclusive Jesus Cristo na Boa Nova falou sobre ele.

“Vocês sabem o que foi dito aos seus antepassados: “Não quebrem a sua promessa, mas cumpra o que jurou ao Senhor que ia fazer”. Porém, eu lhes digo: não jurem de jeito nenhum. Não jurem pelo céu, pois é o trono de Deus; nem pela terra, pois é o estrado onde Ele descansa os seus pés; nem por Jerusalém, pois é a cidade do grande Rei. Não jurem nem mesmo pelas suas cabeças, pois vocês não podem fazer um só fio de cabelo ficar branco ou preto. Digam apenas “sim” ou “não”, pois qualquer coisa mais que disserem vem do Diabo”.

Realmente esse tema é de suma importância para a existência humana do ser universal. A promessa é um comprometimento. Quem promete alguma coisa se compromete a executá-la. No entanto, o ser humano não pode fazer nem um só fio de cabelo ficar branco ou preto, como então se comprometer em realizar algo?

A promessa nasce da verdade individual do livre-arbítrio de agir. Só por isso o comprometimento já seria um pecado ou uma existência sem a presença de Deus. Imaginar-se capaz de agir livremente, por vontade própria, é dividir o universo em dois e nomear-se a causa primária do mundo material. Afasta o ser humanizado da realidade universal: a ação universal acontecendo pela vontade de Deus e pelo faça-se.

Quanto mais você falar, mais tolices serão ditas. Suas palavras são baseadas em verdades individuais. Deus comanda as palavras para que você exponha suas verdades com o objetivo de que os outros, através dos relacionamentos, vejam as tolices que eles também imaginam.

É melhor você não dizer nada do que fazer uma promessa. Quem não se compromete com nada vive dentro da realidade universal: se Deus quiser. Não afirme nada como definitivo, pois apenas Deus dá a definição de todas as coisas. Diga apenas sim ou não.

A concordância ou discordância das verdades do próximo é uma verdade universal. Quando alguém faz uma afirmação pode haver concordância ou não entre as suas verdades e as dele. Isso é um fato. “Eu gosto do amarelo e você?” “Não”.

Não há fuga à realidade: o ser não gosta do amarelo. “Eu não gosto do amarelo, porque essa cor é muito feia”. A realidade foi ferida, porque o amarelo não é uma cor feia ou bonita, mas apenas uma cor.

Nesta afirmação houve um comprometimento. O ser se comprometeu com um critério individual de qualificação de cores. Fugiu da realidade, porque os valores dessa escala, se ela houvesse, seria individual. Na realidade não existe escala porque no universo todas as coisas se fundem, trabalham para um todo. Não importa que lugar a cor amarela ocupasse em uma fictícia escala, ela seria tão importante quanto a mais ou menos elevada.

É isso que os seres universais aprenderão quando se purificarem. Qualquer divisão de elementos não existe porque todos compõem uma identidade maior. Em qualquer escala de qualquer elemento do universo, tanto o maior como o menor, a participação do elemento é definitiva para a individualização do todo. Na realidade, o todo é o somatório da função de cada um. Se alterarmos o que qualquer um execute, teremos um resultado total diferente: teremos um universo diferente.

Apliquemos esse ensinamento ao ser humano. Você é o conjunto de verdades que possui: elas lhe dão uma identidade. Entretanto, seu conjunto de verdades não foi criado por você, mas surgiu por apropriação das verdades societárias.

A mãe e pai que teve, os irmãos com quem conviveu, toda a sua família. A escola que cursou, os amigos e inimigos que fez: tudo contribuiu para o que você hoje chama de sua verdade.

Altere qualquer dos elementos. Ao invés de pais rígidos imagine-se criado por liberais. Ao invés de ter seguido essa carreira, absorvido determinados ensinamentos, imagine se tivesse estudado para outra profissão. Veja os conselhos dos amigos e aquilo que aprendeu com seus inimigos.

Altere qualquer um dos fatores que compuseram você, sua individualidade, suas verdades e veja se continuaria sendo o mesmo. Claro que não: você seria outra pessoa, teria outras verdades. O todo é sempre o somatório de todas as coisas que lhe compõe. Alterando qualquer das partes que o formou o todo o resultado final também será alterado.

Apliquemos isso agora à vida carnal. A ação diferente de qualquer ser humano, qualquer ato diferente daquele que está sendo executado, resultaria em um universo diferente. Você se acha capaz de alterar o universo? É por isso que precisa ser guiado a agir. É por isso que os individualismos precisam ter suas ações comandadas: para que o todo universal não se altere.

Isso se aplica a todos os elementos que compõem o universo, a todas as coisas que existem. Quando o elemento é individualizado através de uma verdade individual a sua função é alterada. A cor deixa de ser apenas uma cor e passar a ser uma cor bonita ou feia. Essa descaracterização do elemento se pudesse agir livremente poderia transformar o universo.

Qualquer comprometimento é a afirmação de uma verdade. Quando um ser humano afirma que algo é verdadeiro ou falso, seja o que for, está se comprometendo com uma escala individual, sem avaliar que a individualidade do todo é alcançada com a participação dos elementos.

O universo precisa de todas as cores para existir. Se elas aí estão é porque o somatório de todos os matizes é a cor do universo. Azul, verde e amarelo são matizes individualizados que formam o branco do universo. Comprometer-se com o individualismo através da preferência a uma determinada cor altera o matiz universal. Cria um novo universo.

Isso se aplica a todas as coisas do universo. Jesus Cristo não seguiu a religião do seu povo nem fundou uma nova: ele era ecumênico. Acima de tudo, a Boa Nova que o Mestre ensinou é a vivência em comunhão com todas as coisas do universo: o universalismo. Essa era a verdadeira religião de Jesus Cristo: o ecumenismo universal.

Os Mestres enviados por Deus não podem pertencer a uma verdade do homem: uma religião. Todos foram ecumênicos universais. É a verdade individual do homem que se apropria de seus ensinamentos universalistas e os individualiza em religiões. Universalizar-se é atingir o ecumenismo: a verdade de Deus conhecida através da totalidade de Seus enviados.

Esse é o compromisso do ser universal: acabar com o individualismo para alcançar a verdade universal. Esse é um juramento que todos têm que honrar para poder alcançarem a glória de Deus.

Por isso, quando for aos templos (viver) escute o que Deus está lhe dizendo. Não ofereça o seu sacrifício como fazem os tolos: sofrendo por ter sido contrariado. Vá pronto para ouvir e obedecer. “Sim Senhor, reconheço que o amarelo é uma cor que forma o matiz do universo e por isso precisa existir”. Para viver dessa forma não é preciso alterar as cores de sua vida: apenas dar o direito do amarelo existir, sem ser qualificado.

Mas, também não se comprometa com Deus de que agirá sempre dessa forma. A partir do momento que buscar a elevação Deus promoverá as ações do caminho que você escolheu quando isso se tornasse realidade. A partir de agora o seu comprometimento será testado.

Você não é perfeito e por isso falhará. Portanto nem na sua evolução comprometa-se. Apenas diga a Deus no templo: ”Senhor, ouvi a Sua mensagem e a compreendi. A partir desse momento estou em suas mãos: faça de mim um instrumento de Sua vontade”.

Servir a Deus como instrumento da vontade Dele é um dos caminhos que você escolheu no script. Ele será pontuado por fatos diferentes daquele que você está passando agora. Isso não quer dizer que promoverão a sua satisfação, estarão de acordo com suas verdades individuais. No entanto, qualquer que seja o acontecimento, você será feliz, pois estará cumprindo a sua promessa: servir de instrumento a Deus.

O compromisso de agir é ver-se como instrumento da sua vontade. “Ás seis horas estarei aí”. Crendo nesta verdade, você assume o compromisso de servir ao seu desejo de estar em determinado local na hora aprazada. É assim que os seres humanos agem.

Alguns acrescentam “se Deus quiser”. Isso não gera um comprometimento com a vontade do Senhor do universo: são apenas palavras. Se o ser humano combinar e não for sofrerá. Subordinando-se ao Supremo desejo do Pai não faria a sua felicidade depender do cumprimento do juramento.

Se fosse ficaria feliz, se não fosse também, porque o acontecimento seria fruto da vontade de Deus não seu desejo. Na verdade, quando os seres humanos acrescentam a subordinação a Deus, não estão se colocando ao dispor do Pai, mas querem que o Senhor do universo se submeta ao seu desejo individual.“Se Deus quiser, mas Ele há de querer, porque isso é o que eu quero”.

Para não se comprometer nunca utilize o verbo no imperativo. Quando age dessa forma se compromete a cumprir, mesmo que o juramento seja a si mesmo. “Eu vou” é uma promessa que fez a si mesmo de que irá. Se não for sofrerá.

Nunca crie expectativas. Quando se promete com algo a alguém, mesmo que a si mesmo, há a expectativa de que aquilo acontecerá. É essa convicção que leva ao sofrimento. Ela é uma ilusão, porque o homem não pode decidir o que fazer, mas é vivenciada como realidade.

Quando há o comprometimento uma nova realidade foi criada. Quando você diz que vai já se vê lá e o outro espera que chegue. São ilusões, não existem. Você ainda está onde está e só se locomoverá se Deus o levar; ele ainda não chegou, mas você já vive com a presença dele.

A síntese da sabedoria de Salomão é essa. Tudo o que o ser humano se compromete a fazer é uma realidade ilusória. A realidade é o que ele está vivendo e a ação universal: a vontade e o comando de Deus que determina a forma dos acontecimentos.

Portanto, porque deixar Deus irado? Por que deixar que Ele destrua tudo o que construiu com o seu trabalho? Mesmo nos seus muitos sonhos, em todas as suas ilusões você deve incluir Deus como Causa Primária de todos os acontecimentos. “Se, pela vontade de Deus eu for, lá estarei”. Essa é a ação universal, essa é a verdade universal.

A sabedoria de Salomão

12ª Sabedoria - Governantes

“Não fique admirado quando você notar em algum lugar o governo fazendo injustiça, perseguindo os pobres e negando os direitos deles. Pois cada autoridade é protegida pela que está acima dela, e as duas são acobertadas pelas autoridades superiores. Elas dizem: toda gente tira proveito da terra, mas o rei depende daquilo que recebe das colheitas”.

 

A sabedoria de Salomão que leva à compreensão de que os atos dos governantes do mundo não devem ser criticados parece algo absurdo para os seres humanos. Á primeira vista tem-se a impressão de que é uma compreensão inédita, mas isso não realidade. A Bíblia está recheada de informações desse tipo.

Quando Jesus Cristo foi questionado porque ele e seus apóstolos não pagavam a contribuição a César, prontamente providenciou o pagamento. Afinal tem que ser dado a César o que é de César.

Paulo, o mais fiel dos interpretadores dos ensinamentos do Mestre Nazareno também ensinou. “Que todos obedeçam ás autoridades. Porque não existe nenhuma autoridade sem a permissão de Deus e as que existem forma colocadas por Ele”. Escolher o que seguir é obra do individualismo.

Não existe novo ou velho testamento quanto ao conteúdo dos ensinamentos. Não existe cristianismo, budismo ou islamismos: há a verdade de Deus ditada por diversos transmissores. Separarem-se os Mestres em religiões ou seitas é individualizar o todo universal.

Jesus Cristo não ensinou a amar aos certos como a si mesmo, mas amar a todos. Nisso também se incluem aqueles que o ser humano considera como bárbaros, injustos, ladrões. Eles não são isso porque não praticam atos de livre vontade, mas exercem um papel dirigido por Deus.

Se você considera alguém um monstro porque praticou determinado ato, saiba que está qualificando Deus com seu adjetivo. Quem realmente pratica todos os atos é Deus: os seres humanos são apenas atores interpretando um papel.

Portanto, quando um governante age, não importa em que sentido tenha sido a sua ação, ele está trabalhando para Deus. Se há o desnível econômico dos habitantes é porque assim Deus sabe que é necessário, se a fome granjeia é porque o Senhor do universo reconhece a necessidade da existência dela.

Não há governante que possa dar jeito em um país. Para que os acontecimentos se alterem é preciso que o todo do país se mude. Que adianta você criticar o político corrupto se chega na sua hora de pagar imposto compra recibos para pagar menos? Quem está se corrompendo?

A justiça social é a Justiça de Deus. Não a que você sonha, mas a que está acontecendo. Não é injustiça social, mas aquela na qual cada um que recebe merece e precisa para se evoluir.

As obras de limpeza do rio não foram feitas e por isso ele transbordou fazendo com que os moradores perdessem tudo. Grande culpado esse governo que não limpou o que os próprios moradores sujaram. E se eles não tivessem jogado lixo, haveria o transbordamento? Se cada um fizer a sua parte, todos serão beneficiados.

“Mas eu pago os impostos para o governo fazer isso”. Não, você paga o governo para que ele faça escolas, hospitais e creches. A obrigação do governo é de construir as coisas sociais coletivas. Quando gasta o dinheiro para resolver problemas individuais (limpar o que você sujou), falta dinheiro para outras. Aí o governo é criticado por não construído essas coisas. Quem é o verdadeiro culpado: o governo que não fez ou você que o fez gastar o dinheiro para limpar a sua imundície?

Essa é a realidade universal: uma identidade todo formada por identidades diversas. O governo não é o governador ou o presidente: é um reflexo do povo que ele governa. “Cada um tem o governo que merece”: isso é uma grande realidade.

Não será através de cobrança de atitudes do governo que as coisas se resolverão: é preciso uma mudança das atitudes das individualidades que compõem o país. Para que haja um governante capaz de acabar com os desníveis sociais é preciso que haja um povo universalista.

Viver a vida em comunidade pensando na felicidade do todo e não apenas na busca da sua satisfação. Quando você deixa de pagar impostos perde o direito de cobrar qualquer coisa. É preciso a sua contribuição e a de todos para que o governo possa realmente agir.

“Mas, não adianta, vão roubar mesmo”. Quem disse, já experimentou fazer a sua parte? Não se esqueça: cada autoridade tem uma acima dela e as duas subordinam-se a autoridades superiores e todos ao Rei.

Se você mudar, a sua mudança contaminará as outras pessoas. Cada um se mudando o governo se alterará porque a Autoridade Suprema comandará a mudança. Por que existem países que possuem um nível de existência que dá felicidade aos seus moradores? Porque eles alcançaram a universalização.

Vivem harmonicamente um com o outro. Buscam o bem coletivo em detrimento do bem individual. Para administrar esse tipo de vida existem governantes que mantém a felicidade geral. Por que eles não conseguem interferir alterando a realidade do país? Porque o povo não merece.

Seu governante não presta: rouba, não cumpre o que prometeu, não traz a justiça social. Por que ele não nasceu naquele país onde há harmonia, por que não foi ser presidente lá? Porque a Autoridade Suprema sabe que o povo daquele país não precisava. Nasceu e governa o seu país porque você precisa.

Ele é um exemplo para não ser seguido. Ele busca a satisfação individual e você o critica por isso, por que, então, continua buscando apenas satisfazer-se?

Por isso, não adianta também trocar de governante. Revoluções e guerras para derrubar presidentes são perdas de tempo. O que precisa mudar é a consciência do povo. Para que a felicidade aconteça é preciso que o ser humano se universalize: pense na felicidade do todo. Para isso precisa deixar de se sentir satisfeito em levar vantagem.

A sua satisfação é individualismo e isso não nutre o todo do universo. Pelo contrário, quanto mais você for individualista mais levará a outros a praticarem o despojamento para que o resultado final (universo) não se altere. Deus não precisa do seu individualismo: isso não é lucro para Deus. O Rei depende do resultado de suas colheitas. Deus depende do seu universalismo para levar o universo à igualdade perfeita.

Os governantes, como tudo do universo, são lavradores dos campos do Senhor: precisam plantar individualismo para que você não goste do sabor desse fruto da ação. Só enfastiado do sabor do individualismo você poderá alterar também a sua plantação, passando a cultivar o universalismo. Esse fruto trará riquezas ao Rei.

Portanto, não perca tempo criticando os governantes: comece já a plantar a universalização para que Deus possa receber o fruto da sua colheita.

A sabedoria de Salomão

13ª Sabedoria - Ilusões da materialidade

“Quem ama o dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tema a ambição de ficar rico nunca terá tudo o que quer. Isso também é ilusão”. 

Ninguém come nem veste dinheiro. O dinheiro não serve para nada a não ser como instrumento para se adquirir coisas. O dinheiro não é fim, mas meio de vida.

Portanto, não viva para ganhar dinheiro: isso é ilusão. Não transforme o dinheiro em objetivo de vida porque ao agir dessa forma você não saberá o que fazer com ele quando recebê-lo. Ele se escoará entre os seus dedos.

“Quanto mais rica é a pessoa, mais bocas têm para alimentar. E o que ela ganha com isso é apenas saber que é rica”.

Quando o ser humano entra no gozo da posse de algum bem material cria uma propriedade. No entanto, todas as coisas do universo são propriedades exclusivas de Deus. Ele as empresta ao ser humano para que sirvam de instrumentos para auxiliá-lo na elevação espiritual.

Estamos entendendo essa evolução como universalização, pensamento para o todo e não individualista. Portanto, o trabalho do espírito não é se desfazer das propriedades, mas universalizá-las. A propriedade não pode ser particular, mas deve ser vivenciada como um empréstimo que o Pai faz e que torna o filho responsável pela coisa, mas não proprietário dela.

Isso gera duas realidades. A primeira é de que, no momento que for necessário, o Pai pode pedir de volta a Sua propriedade; a segunda é que ela deve ser universalizada, ou seja, seus benefícios devem estar à disposição de todos.

É para isso que Deus lhe emprestou a coisa material: para distribuir os benefícios dela. É por isso que Salomão fala que “quanto mais rica é a pessoa, mais bocas têm para alimentar”.

Qualquer objeto que esteja sob guarda do ser humano deve ser considerado uma propriedade não particular e os benefícios por ela gerados devem ser universalizados.

 

O trabalhador pode ter pouco ou muito para comer, mas pelo menos dorme bem à noite. Porém o rico se preocupa com as coisas que possui, que nem consegue dormir.

A diferença entre a guarda do objeto e a propriedade particular está em querer determinar o destino da coisa material. O dono da coisa (propriedade particular) se desespera imaginando que destino dará às coisas enquanto que o trabalhador de Deus, aquele que administra a propriedade do Pai, dorme tranqüilo porque não tem essa preocupação.

Ele apenas trabalha: faz a propriedade render juros para toda a coletividade.

 

“Eu tenho visto neste mundo esta coisa triste: algumas pessoas economizam dinheiro e sofrem com isso”.

A economia que o ser faz é propriedade particular. Ele planeja o futuro que dará àquele dinheiro. Que novas propriedades poderão ser geradas futuramente. No entanto, o dinheiro é propriedade particular de Deus e será utilizado para o que Ele quiser.

O sofrimento gerado pela economia não está no ato de guardar dinheiro, mas na pretensão de dominar o destino. Guardando apenas por guardar a sobra para utilizar em benefício da coletividade futuramente, não haverá sofrimento, mas guardando para poder possuir algo futuramente, o sofrimento ocorrerá.

Apenas Deus sabe o futuro, somente quem possui acesso ao script da vida pode garantir o que irá acontecer. Para o ato (ser universal) resta vivenciar as situações com felicidade. Para isso precisa estar presente no agora, naquilo que têm, sem sonhar em novas possessões.

 

“Perdem tudo em um mau negócio e assim não deixam nada para os filhos”.

A ação universal deixa o ser acumular, dá o pensamento de estar juntando para colher posteriormente, mas não pode dar a colheita, pois isso não estava previsto. Para provar ao ser que ele não possui domínio sobre as coisas lhe faz entregar todas as economias para os outros.

Não é injustiça, mas a mais perfeita justiça: Deus deusando. A ação universal ensinando ao ser universal a viver a realidade com felicidade.

Não estamos falando contra a poupança, mas contra a economia forçada com finalidade específica. Qualquer sacrifício é sofrimento que poderia até compensar se a posse do bem estivesse garantida. Como isso não é verdade, é um sofrimento inútil, desnecessário.

Se você teve alguma sobra e lhe veio a intuição de guardar, faça isso, mas não queira dar a destinação daquela poupança. Também não provoque carências para poder guardar. Utilize seu dinheiro com toda a alegria que puder.

Tendo possibilidade de comprar, compre, mas não gere sofrimentos para tanto. Comprando, viva feliz cada momento com o bem sem se preocupar com o futuro; não comprando, não sofra por não ter. Viver é apenas ser feliz: o resto é uma peça teatral.

 

Como entramos neste mundo, assim também saímos, isto é, sem nada. Apesar de todo o nosso trabalho, não podemos levar nada dessa vida. Isso também é muito triste! Nós vamos embora do jeito que viemos. Trabalhamos tanto, tentando pegar o vento, e o que é que ganhamos com isso? O que ganhamos é passar a vida na escuridão e na tristeza, preocupados, doentes e amargurados.

As coisas materiais fazem parte do cenário da peça divina comédia humana. Quando saímos de cena é necessário que elas permaneçam para ser utilizadas por outros atores. Elas comporão o ambiente em que outro ator nos substituirá.

Ninguém pode roubar parte do cenário como souvenir para se lembrar de sua atuação. Como entramos (apenas com o script decorado) sairemos. Portanto, não torne as peças que ajudam na representação como suas propriedades, para não sofrer ao deixá-las.

 

“Então cheguei a esta conclusão: a melhor coisa que uma pessoa pode fazer durante a curta vida que Deus lhe deu é comer e beber e aproveitar bem o que ganhou com o seu trabalho. Essa é a parte que cabe a cada um. Se Deus der a você riquezas e propriedades e deixar que as aproveite, fique contente com o que recebeu e com o seu trabalho. Isso é um presente de Deus. E você não sentirá o tempo passar, pois Deus encherá o seu coração de alegria”.

Usufruir os benefícios das propriedades que Deus entrega em suas mãos: isso é viver. Aproveitar a propriedade para alcançar a felicidade sem apropriar-se dela: esse é o trabalho do ser universal com as coisas do mundo.

A riqueza maior que um ser universal pode almejar é a oportunidade de universalizar-se e isso você já tem: a vida carnal. Utilize-a da melhor maneira possível: seja feliz. Trabalhe no sentido de gozar a vida, de vivenciar cada oportunidade para que dela surja à harmonia com o universo.

Não condicione sua felicidade a conquistas, a manutenção ou programação do destino das coisas materiais que Deus lhe emprestou. Elas são do Pai e Ele fará delas o que quiser. As dará a quem achar que precisa e manterá na propriedade desse enquanto isso lhe for útil. Para isso precisa comandar o destino de cada elemento material.

Submeta-se a Deus para ser feliz. Deixe Aquele que possui a Inteligência Suprema organizar o universo e viva cada programação do Ser Supremo com a intensa felicidade de saber que tudo foi projetado por Amor Sublime para que você se universalize.

 

“Também tenho visto outra coisa muito triste que acontece neste mundo: Deus dá a alguns tudo o que desejam – riquezas, propriedades e fama. Porém depois não deixa que eles aproveitem nada disso. E é algum estranho quem aproveita, e não ele. Isso também é ilusão e não está certo. Que adianta um homem viver muitos anos e ter cem filhos se não aproveitar as coisas boas da vida e não tiver um enterro decente? Eu digo que uma criança que nasce morta tem mais sorte do que ele. É inútil a vinda dessa criança; ela desaparece na escuridão, onde é esquecida. Não chega a ver a luz do dia nem a saber como é a vida. Mas pelo menos encontra mais descanso do que aquele homem, que poderia ter vivido dois mil anos sem nunca ter aproveitado a vida. E no fim, não vamos todos para o mesmo lugar”?

A vida carnal independe das coisas materiais, mas prescinde da presença de Deus a cada segundo para que alcance seus objetivos. Como Jesus Cristo nos ensinou, porque se preocupar com o que há de vestir ou comer amanhã, se o Pai do céu alimenta os passarinhos e dá roupa às flores? Se você é mais importante do que um passarinho e uma flor, como então Ele não lhe dará essas coisas?

Você não deve viver para ter. É isso que Salomão nos ensina nesse trecho. A criança que nem chegou a ter uma existência material pode ter alcançado o objetivo da vida, enquanto que outros, que possuíram riquezas inumeráveis, não conseguem a sua elevação.

O que deve ser aproveitado nessa vida é a chance de elevação. A função das coisas é servir de instrumentos para a sua universalização. Esse é o único proveito que você pode tirar das coisas materiais. Elas não foram feitas para o deleite da sua satisfação ou do seu prazer, mas para que as coloque para render benefícios para a coletividade.

Vamos todos para o mesmo lugar, ou seja, vamos todos nos fundir ao universo um dia. Quando isso acontecer teremos tudo aquilo que queremos ter hoje. Todas as coisas existentes são o universo e você, ao sentir-se como tal, poderá participar delas.

Não mais com a usura, não mais com o sofrimento, mas na plenitude do gozo da felicidade. Por isso Jesus Cristo nos ensinou a amealhar bens na Terra e não no céu. O bem celeste é a felicidade que você pode conseguir com o auxílio das coisas materiais.

Alguns necessitam fazer um tipo de prova e por isso pedem muito, outros precisam de menos, alguns de nenhum. Não importa o quanto você tenha, é a justa medida que achou necessária para ser feliz. Portanto, goze dessa felicidade sem preocupar-se em ter mais.

 

“Todos trabalham duro para terem o que comer, mas nunca ficam satisfeitos. Que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Que vantagem tem o pobre em saber enfrentar a vida? Isso também é ilusão, é correr atrás do vento. É muito melhor ficar satisfeito com o que se tem do estar sempre querendo mais”.

O ser humano não traz a presença de Deus em cada segundo. Por isso também não traz a sua real identidade junto consigo: ser universal interpretando um papel. A partir da ausência desses dois fatores, a vida transforma-se.

Para um ser humano viver é agir. A vida se consiste em um trabalho constante para alcançar a fama através da posse. È por ela que o ser humano conseguirá a fama, objetivo material. Alterando-se os valores (Deus cria e o ser universal interpreta) a vida muda de sentido. De ação vira participação, de fama individual vira a integração universal.

Viver é participar das ações que Deus propõe. Não se trata de agir, mas de vivenciar os acontecimentos. Vivenciá-los não para satisfazer-se (alcançar a fama), mas para ser feliz (integrar-se ao universo).

Qual o objetivo, então, de possuir bens terrenos? O de vivenciá-los com felicidade universal. Essa felicidade, no entanto, independe da quantidade de coisas materiais, mas do trabalho do espírito: vivenciar os acontecimentos com felicidade.

Não importa se você possui um carro ou uma frota de automóveis: é preciso vivenciar tudo com felicidade universal. Mesmo que possua um carro velho seu trabalho não é consertá-lo ou mantê-lo, mas viver a realidade desse com felicidade.

Por isso Salomão nos pergunta: que vantagem leva o sábio sobre o tolo? Que vantagem leva você de saber as coisas da matéria se elas não são necessárias para a sua felicidade. Saiba as coisas de Deus, pois delas você depende para ser rico.

Saber as coisas de Deus é vivenciar a ação universal sabendo que: ali está ocorrendo uma Perfeição porque é fruto da Inteligência Suprema; a cada um está sendo dado o que precisa e merece, pois surgiu de uma Justiça Perfeita; é um ato de Amor Sublime, ou seja, fruto do Amor de Deus e não como penalidade por uma ação anterior.

Tudo isso aplicado ao momento de agora lhe levará a ser feliz sem a necessidade de coisas materiais. Elas são apenas instrumentos para testar o seu amor a Deus.

 

“Tudo o que se passa neste mundo já foi resolvido há muito tempo. Antes de uma pessoa nascer, já está decidido o que vai acontecer com ela. E nós sabemos que não podemos discutir com quem é mais forte do que a gente. Uma coisa é certa: quanto mais falamos, mais tolices dizemos; e não ganhamos nada com isso. De fato, como é que podemos saber o que é melhor para nós nesta vida de ilusões? Como podemos saber o que vai acontecer depois da nossa morte”?

A sabedoria de Salomão

14ª Sabedoria - Reflexões sobre a vida

“O nome limpo vale mais do que o perfume mais caro”.

O nome é a identidade. Nessa reflexão Salomão não está falando da identidade humana, mas da universal: o ser sem individualismo completamente integrado ao universo através da vivência da ação universal.

A manutenção dessa identidade dentro da pureza de sentimentos embeleza o ser humano muito mais do que qualquer perfume.

 

“O dia da morte é muito melhor do que o dia do nascimento”.

Para viver com essa verdade é preciso não temer a morte. Ela é uma etapa inexorável da existência carnal e deve ser convivida com felicidade e não como temor.

Para isso, não forme conceitos (verdades) sobre ela. Não busque aprender a morrer, mas a viver. Não queira saber como será a sua existência depois da morte, mas preocupe-se em viver: vivenciar a ação universal com felicidade.

Viva a vida, viva a ação universal, o que está acontecendo, com felicidade. Foi para isso que você nasceu e, por isso, o nascimento é o melhor momento.

Você não conhece a verdade do seu nascimento porque não se lembra do seu objetivo a encarnar. Transforme a sua vida na busca da compreensão do seu objetivo ao nascer e não na preocupação no que acontecerá quando morrer.

Afinal, Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos: como querem saber o seu fim se ainda não conhecem o princípio.

 

“É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem se esquecer disso”.

A contingência da morte inevitável deve servir de alerta ao ser humano no sentido de lembrá-lo da ilusão da posse. Viva com a certeza da morte, com o fim da posse sobre as pessoas, acontecimentos e objetos, para poder despossuí-los em vida.

 

A tristeza é melhor do que o riso, pois a tristeza faz o rosto ficar abatido, mas torna o coração compreensivo.

Mais facilmente pode o ser universal aproveitar o momento onde a ação universal contraria as suas verdades individuais para elevar-se do que aqueles onde há a coincidência das verdades. Primeiro porque, nesse momento, lhe são apontados claramente as verdades que devem ser alteradas. É dito o que gosta para que o ser possa abolir essa preferência.

Mas, mesmo quando o ser não vence a prova, esse momento também é proveitoso. As marcas que o sofrimento deixa no corpo físico lembram a todos os seres humanos que eles não vieram a esse mundo para satisfazer-se.

A felicidade universal não é deste mundo, não nasce da satisfação individual: ela é do espírito que vive no mundo espiritual. Para isso não há necessidade de se desligar da matéria carnal, mas vivenciar-se a ação universal com felicidade.

 

“Quem só pensa em se divertir é tolo; quem é sábio pensa também na morte”.

A verdadeira sabedoria se consiste em se preparar para o momento onde não mais poderá possuir as coisas. Experimentando o prazer e a satisfação da posse o ser permanecerá atado ao personagem que representa.

 

“É melhor ouvir a repreensão de um sábio do que escutar elogios de um tolo”.

Sábio é quem nada sabe e tolo aquele que pensa que sabe. Essas qualificações, no entanto, não são dadas pelo próprio ser, mas representam um papel que você concede aos objetos dos seus relacionamentos. Você dirá que se a pessoa é um sábio ou um tolo.

Qualificando o próximo de tolo (ele sabe) o verá como agente da ação. Sua felicidade dependerá do conteúdo da ação. Se o que o próximo fizer se assemelhar às suas verdades, ocorrerá a satisfação. No entanto, se ele não concordar, acontecerá a discordância e o sofrimento.

Relacionando-se apenas com sábios (quem não sabe) compreende o próximo como instrumento de Deus e não agente da ação. Com esta visão acaba a necessidade da concordância entre verdades para a felicidade ou o sofrimento com a não concordância.

O que o sábio fizer (atos ou palavras) transformar-se-ão em uma comunicação direta entre você e Deus. Essa é a única forma de se vivenciar a ação universal como fruto de um Amor Sublime e sentir-se amado.

Porém, tudo depende do papel que der a si mesmo na relação. Não importa como qualifique o próximo, mas se der a si a figura de um tolo (sabe de tudo), o sofrimento será inevitável, estando ou não na frente de um sábio.

 

“A risada dos tolos é como os estalos de espinhos no fogo – não quer dizer nada”.

O riso é uma resposta à satisfação. A felicidade do tolo nasce da concordância de verdades entre a ação e ele. O riso é fruto do prazer e não da felicidade universal, espelha uma ilusão.

Prefira participar do mundo real. Viva na harmonia completa com o universo, na felicidade de vivenciar a ação universal, mesmo que essa fira as suas verdades universais.

Portanto, mesmo que não tenha motivos para rir, fique feliz.

 

“Quando um sábio usa de violência, ele se torna um tolo”.

Impor a sua verdade ao próximo pela violência é uma tolice: ninguém mudar o que nasce torto. Mas, a ação violenta não pode ser considerada apenas aquelas onde existam agressões físicas. As agressões morais, qualificações que menosprezam os outros, já são violências.

A ação violenta não se qualifica por um soco ou um pontapé, mas a simples sentença de que o outro está “errado” é uma violência ao livre-arbítrio do próximo.

 

“Quem aceita suborno estraga o seu caráter”.

O suborno é um favorecimento que alguém recebe para falsear a verdade. Um benefício que se recebe por criar uma ilusão. Quer um suborno maior do que o elogio? Ele lhe dá a fama como um benefício por ter criado uma ilusão: a de que você está com a verdade.

Portanto, fuja dos elogios. Eles mostram que você sabe e, por isso, comprovam a sua tolice.

 

“O fim de uma coisa vale mais do que o seu começo. A pessoa paciente é melhor do que a orgulhosa”.

Será muito mais importante para a sua existência eterna a forma como sairá da vida carnal do que a que entrou. Se a vida carnal é uma etapa da existência do ser universal onde ele deve universalizar-se, só ao seu final poderá se verificar o quanto de proveito tirou o ser dela.

Por isso, tenha paciência. Continue vivendo sempre e não se declare já um vencedor. Por mais que saiba, continue a negar o seu saber, pois mais sempre ainda existirá algo que precise aprender.

A Perfeição do universo é Deus: somos todos seres em evolução. Só Ele sabe a verdade universal das coisas.

 

“Controle sempre o seu gênio; é melhor não alimentar o ódio”.

O ódio é um sentimento que exprime agressão àqueles que não pactuam das suas verdades. Se o ser não se sentir ferido pelas verdades do próximo o ódio não nascerá.

Mas, somos todos sujeitos a falhas. Poderão acontecer momentos onde a agressão não poderá deixar de ser sentida. Nesse momento controle-se: não dê vazão aos seus pensamentos.

Não continue imaginando o que o outro é um agressor; não continue se vendo como vítima. Lute contra si mesmo para poder viver na realidade universal: “Deus deusando Deus”.

 

“Nunca pergunte: “Porque será que antigamente era melhor?”. Essa pergunta não é inteligente”.

Antigamente as coisas eram melhores porque a verdade societária estava mais de acordo com suas verdades individuais. Hoje, as verdades do planeta foram individualizadas pelos mais jovens como instrumento para que você também evolua. Não crer nas novas verdades como verdadeiras, mas para descobrir que a Verdade é Deus.

Apegar-se ao passado é apegar-se às suas verdades. É não aproveitar a ação de outros seres para proporcionar a chance da sua elevação.

 

“Todos neste mundo devem ser sábios. Ter sabedoria é tão bom como receber uma herança. A sabedoria é melhor do que o dinheiro. A vantagem da sabedoria é que ela conserva a vida da gente”.

A melhor coisa que você pode deixar para os seus filhos é um mundo livre e harmônico. Isso não se consegue transmitindo bens materiais, mas sim agindo para que as verdades do planeta sejam alteradas, buscando fazê-las participar da Verdade Universal.

“Felizes os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois Ele os deixará completamente satisfeitos”. A felicidade (a vida do ser universal) só será alcançada quando os seres humanos buscarem participar da ação universal. Com isso transmitirão aos seus filhos um planeta integrado ao universo.

 

“Pense no que Deus faz? Quem pode endireitar o que Ele fez torto? Quando as coisas correrem bem, fique contente; quando as dificuldades chegarem, lembre-se disto: é Deus quem manda tanto a felicidade como as dificuldades, e a gente nunca sabe o que vai acontecer amanhã”.

Tanto as dificuldades como as felicidades são causadas por Deus. Portanto, o que está torto (contrário às suas vontades – as dificuldades) está dessa forma porque Deus o fez assim. Será que você pode consertá-lo?

Portanto, não se preocupe com o amanhã. Se aquilo tiver que se endireitar, somente Deus poderá faze-lo. Viva o hoje (está torto) como fruto de uma Inteligência Suprema, uma Justiça Perfeita e um Amor Sublime.

Isso o levará a participar do universo. Não compreendendo o por que das coisas nem descobrindo o seu destino: vivendo a realidade de estar assim.

 

“A minha vida tem sido uma ilusão, mas nela eu tenho visto de tudo. Há pessoas boas que morrem e há pessoas más que continuam a viver a sua vida errada. Por isso não seja bom demais nem tolo demais: por que você iria se destruir? Mas, também não seja mau demais nem tolo demais: porque você iria morrer antes do tempo? Evite tanto uma coisa como a outra. Se você temer a Deus, terá sucesso em tudo”.

A existência humana é uma ilusão porque se baseia em normas e regras. Ela é incompreensível porque não possui um padrão lógico humano que possa definir os acontecimentos. Como o apóstolo Paulo nos ensinou: Deus não deixa o ser humano conhecê-Lo por sua lógica.

Portanto, o sucesso da vida nasce da declaração da completa incompetência do ser humano em saber o que está acontecendo. É alcançado com o fim de todas as normas, regras e padrões que possam guiar o ser humano.

Para que você quer se destruir ou morrer antes do tempo? Apenas para preservar as suas verdades? Será que vale a pena?

 

“A sabedoria pode fazer mais por uma pessoa do que dez prefeitos juntos podem fazer por uma cidade”.

A declaração de incompetência pode ajudar o ser universal mais do que qualquer poder constituído. Não se deixe levar por aqueles que afirmam que sabem o caminho: apenas se entregue a Deus e viverá feliz.

 

“Não existe no mundo ninguém que faça sempre o que é direito e nunca erre”.

A Perfeição é só Deus e apenas a entrega a Ele do comando da ação pode lhe trazer a harmonização com o universo.

 

“Não fique escutando tudo o que os outros dizem, pois poderá ouvir o seu empregado falar mal de você. E você sabe muito bem que muitas vezes você mesmo tem falado mal dos outros”.

Todos são empregados de todos. Somos lavradores de Deus no Seu campo, onde o fruto será a felicidade do próximo. É com essa finalidade que ele nos faz agir.

Escutar o seu empregado é ouvir o ensinamento que Deus tem a lhe transmitir: apontar as verdades que você precisa mudar. Se não estiver preparado acusará o próximo de falar mal de você.

É preferível, portanto, que não escute ninguém. Nem a sabedoria de Salomão deve ser escutada, tomada como verdade. Se você já está harmonizado com o mundo, vive em um estado de felicidade incondicional, não conhece motivos para julgar ou criticar a atitude de outros, esqueça toda essa sabedoria. Os ensinamentos aqui presentes são para aqueles que até hoje escutaram os outros e ainda não conseguiram harmonizar-se.

Se este é o seu caso, também não deve escutar esses ensinamentos. De nada adianta para você este livro sem a prática. É preciso que pratique a sabedoria de Salomão para ser feliz. Só escutar os ensinamentos de nada adianta.

Quando a prática for realidade você poderá auferir os resultados. Vivendo como Salomão nos ensina, a felicidade estará presente em todos os momentos da sua vida. Não como a cura da doença ou o emprego do desempregado, mas como a felicidade de vivenciar cada momento.

Quando esse estágio for atingido não há mais necessidade de se escutar Salomão. Você não vivenciará as verdades porque Salomão disse, mas porque as transformou em suas. Estará escutando você e não a Salomão.

Todo ensinamento é apenas um caminho e não a realização. Enquanto não transformá-los em suas verdades jamais poderá agir com eles.

A sabedoria de Salomão

15ª Sabedoria - Os tentáculos da verdade individual

“Eu usei a minha sabedoria para examinar tudo isso. Esta resolvido a ser sábio, mas não conseguia alcançar a sabedoria. Como é que alguém pode descobrir o sentido das coisas que acontecem? Isso é profundo demais para nós e muito difícil de entender. Mas eu resolvi estudar e conhecer as coisas. Esta decidido a encontrar a sabedoria e a achar as respostas para as minhas perguntas; queria saber porque a maldade e a falta de juízo são loucura.

Eu encontrei uma coisa que é mais amarga que a morte – um certo tipo de mulher. O amor que ela oferece é uma armadilha ou uma rede para pegar você; os seus braços são correntes para prende-lo. O homem que agrada a Deus consegue fugir dela, mas o pecador não. Eu descobri isso pouco a pouco, quando procurava respostas para as minhas perguntas. Procurei outras respostas, mas não encontrei nenhuma. Entre mil homens encontrei um que poderia respeitar, mas entre as mulheres não achei nem uma. Tudo o que aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo.

Somente os sábios conseguem explicar as coisas. A sabedoria de uma pessoa brilha no seu rosto e a torna simpática mesmo que seja feia”.

Salomão foi raciocinar os acontecimentos a partir da lógica humana e nada conseguiu. Tentou conhecer os acontecimentos a partir das regras, normas e padrões que o ser humano utiliza-se, mas acabou em um pântano lodoso. Afinal, como é que alguém consegue descobrir o sentido das coisas que acontecem? Isso é profundo demais para nós e muito difícil de entender.

Mesmo assim continuou perseguindo o objetivo pelo qual as coisas ocorrem de determinado modo. Descobriu uma mulher: as verdades individuais. O amor que ela oferece (o prazer) é uma armadilha, uma rede para pegar você: levá-lo a viver a vida individualmente.

Para isso, segundo Salomão, a verdade individual possui braços como correntes para prende-los. Esses braços são sensações que ocorrem quando o ser humano passa por um momento onde as verdades individuais se transformam realidade universal. Conheçamos os tentáculos que a verdade individual utiliza para nos prender.

O primeiro deles é a posse material. A verdade individual nos leva a compreender que as coisas materiais são nossas, que podemos ditar o destino delas. Sem essa posse não sofreríamos quando acontecesse aos elementos materiais algo que não queremos.

O segundo é a posse moral, o possuir as pessoas. Nos achamos dono dos outros: filhos, maridos, amigos, parentes. Todos os outros seres do universo são posse do ser humano. Por isso acredita que tenha a competência de interferir no destino deles. Quando isso não ocorre vem o sofrimento.

Sem a posse moral poderíamos conviver com as pessoas em perfeita igualdade. Hoje todos os relacionamentos se dão com base na submissão ou na dominância, pois se caracterizam pela submissão de um à verdade de outros.

Conviver em perfeita igualdade é dar a liberdade de cada um agir da forma que quiser. Somos todos iguais por ter o direito de ser quem queremos ser. O tentáculo posse das pessoas das verdades individuais altera o relacionamento, transformando a igualdade em cópia.

O ser humano não concede a liberdade ao próximo, mas se acha superior e, por isso, pretende transformar todos em cópia de si mesmo. Isso jamais ocorrerá porque faltam a ele os elementos necessários para ser o padrão do universo. Esse é Deus e, por isso, o objetivo de todos é universalizar-se, ou seja, ser uma cópia de Deus.

Amando a mulher (vivendo com a verdade individual) há a garantia do prazer quando ocorre a transformação do próximo. É para viver esse amor (prazer) que o tentáculo posse das pessoas foi criado pelas verdades individuais.

Para manter o ilusório poder de possuir é que a mulher desenvolveu mais um tentáculo: aquele que lhe diz que você está certo. Quando vivemos aprisionados por esse tentáculo buscamos realizar apenas o que acreditamos que seja certo. Pelo desejo de transformar os outros em cópias queremos obrigá-los a agir como nós.

Esse tentáculo criou o último deles: a fé em si mesmo. Não confiamos em mais nada no universo: apenas em nós, no que acreditamos. Vivemos como se fosse o senhor do universo, servindo a nós mesmos, às nossas verdades.

O tentáculo da fé em si é a crença de que é o padrão do mundo. Dele é que saem todos os outros tentáculos. Se o nós tivéssemos a fé em Deus, mudaríamos toda a vida. Mas, para isso, precisaríamos viver uma história de amor com o Senhor do Universo e não com a formosa dama (verdades individuais).

Ao vivermos esse romance recebemos todos os benefícios que as verdades podem dar. Recebemos a satisfação, a sensação de ganhar sempre, a fama e os elogios inerentes à nossa atividade. Essas são as recompensas que o amor pela mulher (verdades universais) pode dar ao ser humano. Quando elas não são sentidas, o ser humano imagina que traiu a sua bem-amada.

Por isso tem medo da insatisfação, não quer jamais pensar em perder, alcançar a infâmia através de críticas. Foge dessas sensações, pois vivenciá-las é um adultério.

A partir dessas verdades criamos a forma de reagir aos acontecimentos. Para viver as sensações que a mulher nos oferece vemos sempre nas coisas universais discordâncias com nossas verdades. Não importa o que está acontecendo, o ser humano discorda primeiro.

Só nós possuímos a verdade e mais ninguém. Mesmo que a diferença esteja em um mínimo detalhe, fazemos questão de apontá-lo. Com isso demonstramos a posse sobre as coisas. Agimos movidos pela certeza de que somente nós possuímos a verdade do universo.

Para comprovar isso, apontamos injustiça nos acontecimentos com o próximo. Não nos aproximamos daquele que está sofrendo para aliviar a sua dor, mas para dizer que se nós fossemos o senhor do universo, jamais aquele ser humano passaria por aquela situação.

Como alcoviteiros dos tempos medievais fazemos política para a nossa futura candidatura à governante do universo. Garantimos ao próximo que agiremos sempre pensando nele, na sua satisfação, quando tomarmos o governo das coisas. Aparentemente estamos consolando o próximo, mas na verdade estamos impingindo erros a Deus para que o ser humano O destitua do cargo de Causa Primária da sua vida e coloque-nos em tal posição.

É um trabalho difícil, perigoso: estamos enfrentando o poder constituído desde que o universo começou a existir. Deus é uma super potência que governa o universo com Sua verdade desde sempre. A nossa ação é subversiva, se contrapõem à Autoridade legitimamente constituída.

Por isso estamos sempre com medo do próximo momento. Será que Deus descobriu alguma coisa? Será que descobriu nossa trama? Que castigo ele dará àqueles que estão contra Ele?

O medo, o pânico é uma realidade na vida do ser humano. Ele vive sempre atemorizado com o que Deus pode fazer ao descobrir as suas reais intenções: querer obter o comando das verdades universais.

Para que o medo, o sofrimento pelo pesar dos outros e a contrariedade possam acabar é preciso abandonar o caso amoroso com a mulher (verdades individuais). Para isso é preciso se libertar dos tentáculos que ela utiliza: a posse das coisas e das pessoas, a certeza de possuir a verdade gerada pela fé em si mesmo.

Com isso todas as sensações se extinguirão. O homem não mais buscará a satisfação nem terá medo da insatisfação, não precisará ganhar e nem temer a perder, não estarão atrás da busca da fama e nem temerão a infâmia, não buscarão o elogio e poderão receber críticas sem sofrimentos.

Ao final de tudo isso restará apenas um ser integrado ao universo. Participando da ação universal sem nada saber, materialmente ou sentimentalmente. Será alcançada então a perfeita harmonização com a vontade de Deus: a verdade universal.