Às sanghas
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Às sanghas

Recado de Joaquim às sanghas

Às sanghas

Sangha - um resumo

NOTA: Este material foi o primeiro produzido a respeito da formação dos grupos de afins ou sanghas.

O assunto sobre o qual vamos tratar hoje é a questão das sanghas que falei em uma das palestras deste ano (2010). Formá-las, foi o que convidei a todos na mensagem do final do ano passado. Mas, antes de falar sobre as sanghas especificamente, peço que reflitam um pouco comigo...

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Razão para a formação de sanghas

A primeira coisa que quero que reflitam comigo é o seguinte: vocês já repararam que o mundo globalizado está tornando todos em apenas um? Já repararam que as pessoas são iguais em qualquer parte do mundo? Que usam roupas, cortes de cabelo, tem comportamentos, etc., semelhante?

Sim, o mundo está tornando-se único e as pessoas cada vez mais ficam parecidas. Mas, porque as pessoas aderem a essa unicidade? Para serem aceitas, para poderem participar do mundo...

Por que estou falando isso? Para vocês compreenderem que fazem parte deste grupo, ou seja, que estão aderindo à humanidade para poderem ser aceitos por ela... Vocês agem imaginando que estão sendo vocês, mas estão apenas se tornando mais uma cópia do modelo planejado pelo mundo para os seres humanos.

Esta é a primeira reflexão que gostaria que fizessem... Mas, vamos a outra.

Para falar desta reflexão, vou citar o Dalai Lama. Ele diz o seguinte: Me surpreendo com os seres humanos. Eles perdem a saúde para poder ganhar dinheiro e depois gastam tudo para poder ter saúde de novo.

Mesmo citando o Dalai Lama, claro que não estou me referindo a dinheiro nem a saúde física. Falo que o homem perde a sua saúde mental e emocional correndo atrás do prazer, da satisfação dos seus desejos, para poder alcançar a paz. Ou seja, ele está em paz e a perde para alcançá-la... E o pior, nunca a alcança, porque está apegado a querer alcançá-la...

Esta é uma prática da humanidade e se encaixa bem dentro da citação que fiz. Para que vocês querem dinheiro? Para tê-lo? Não, para poder realizar seus sonhos, seja de consumo material ou de liberdade. Mas, para que querem realizar seus sonhos? Para ser feliz. Ou seja, os humanos são felizes, mas perdem a felicidade para alcançar a felicidade...

Por que estou falando destas duas coisas nesta reflexão? Para vocês entenderem que vivem assim...

Como disse antes, vocês fazem parte do grupo que se unifica sobre o padrão criado pela vida humana e este padrão passa pela perda da felicidade em busca dela mesmo... Ou não é assim que vivem? Perdem a felicidade com preocupação com o futuro esperando que o futuro lhes traga a paz?

Por vocês viverem inconscientemente este processo é que se faz necessário a formação de sanghas...

O que é uma sangha? É um grupo de pessoas ligados por uma afinidade. Neste caso, a afinidade que estou falando é não querer ser humano, não querer se padronizar pelo modelo criado pelo mundo, ou seja, ser feliz de verdade agora e não perder a felicidade em busca do prazer...

Esta é a razão fundamental para a criação das sanghas...

Por tudo o que foi falado, posso dizer que as sanghas são um refúgio para aqueles que querem fugir do padrão do mundo. Mas, para que realizar esta fuga? Para não ter o mesmo fim de todo ser humano...

Diz a lógica que todos que agem do mesmo jeito têm o mesmo final. Se todo ser humano vive preso ao ciclo do prazer e dor, ou seja, passa por momentos de sofrimento, quem vive igual a eles vivencia estas situações.

Sendo assim, as sanghas não são para todo mundo, mas apenas para aqueles que estão dispostos a buscar algo diferente para si. Quem gosta de sentir prazer e sabe que por isso paga o preço de ter sofrimentos, mas não se incomoda com isso, não deve buscar integrar-se às comunidades. Não porque isso seja vetado ou proibido, mas porque elas não possuem este objetivo...

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Função das sanghas

O ser humano hoje é obrigado a conviver com o mundo.

As sanghas no seu início, eram comunidades formadas por pessoas que abandonavam tudo e juntavam-se num mesmo lugar para juntos viverem uma vida diferente. Hoje isso é impossível. Dentro do mundo moderno o ser humano precisa viver inserido no mundo, pois existem coisas que não são mais acessíveis para aqueles que vivem isolados no meio do mato.

Sendo obrigados a viver com o mundo, a mente do ser humano está o tempo inteiro trabalhando valores para prender este ser à vida viciada. Vou dar um exemplo disso, mas antes deixe-me explicar como isso acontece.

O trabalho do ser, como estamos vendo no estudo 'Em busca da felicidade' é libertar-se das verdades que a mente produz. Como disse recentemente, quando ele não faz isso, a mente consegue envolvê-lo transformando o que é apenas uma formação mental numa realidade. Vou explicar mais claramente...

A mente produz pensamentos. Estes pensamentos contém afirmações sobre a coisas. Estes pensamentos não espelham verdades, mas apenas formações mentais, ou seja, a visão humana da coisa.

Quando o ser está desatento, ou seja, aceita o que a mente fala como verdade ou real, esta informação é arquivada naquilo que chamamos de memória. Ou seja, quando a mente diz que uma pessoa não presta e o ser não desacredita disso, esta informação ficará gravada na memória. No momento oportuno a mente usará esta informação.

Ela não apenas usará, mas mostrará que aquilo foi aceito como verdadeiro ou real pelo ser, para que ele mais uma vez não consiga libertar-se do pensamento. Em outras palavras, a mente vai dizer ao ser assim: 'você mesmo aceitou isso como verdade'... Neste momento, para o observador da mente é praticamente impossível conseguir libertar-se daquele raciocínio, pois a lembrança de ter aceito aquilo não deixará.

Agora vou ao exemplo que queria dar. Se vocês tiverem condições financeiras, preferem comprar um produto de 'marca' conhecida ou desconhecida? Claro que é conhecida, mesmo que nunca tenha conhecido produtos daquela marca. Mas, porque a escolhe? Porque a propaganda lhe disse que aquela marca é boa, é a melhor...

Essa é a função da propaganda. Ela bombardeia a mente gerando verdades que o ser desatento aceita como real e depois, no momento certo, utiliza isso para manter a escravidão do observador ao mundo observado. E isso acontece o dia inteiro...

O observador, que não consegue apenas observar o dia inteiro, é bombardeado por informações o tempo todo que está consciente. É rádio, televisão, jornal, publicidade de rua, etc... A cada momento que o ser vacila na observação uma verdade se forma na mente e é arquivada na memória para depois ser lançada com a informação de aquilo foi aceito anteriormente.

Esse esquema mente/mundo, ou seja, formas/pensamento é muito difícil de ser detectado pelo ser que se propõe a ser apenas observador da mente. Como venho frisando, não há ninguém que consiga vinte e quatro horas por dia realizar a libertação da realidade criada pela mente.

Então, que solução há para isso? A primeira que nos vem á mente é fugir do mundo, mas isso, como já vimos no início, nos dias de hoje é impossível. A única outra saída é a sangha....

A comunidade daqueles que querem fugir do mundo, no momento da sua existência, proporciona aos que participam dela a oportunidade de esvaziar a memória, ou seja, de ver que aquilo que a mente diz só foi possível por causa de um vacilo do observador.

Vamos explicar isso melhor mais abaixo, quando falaremos do funcionamento das sanghas, mas por hora fica, então, a informação de que a comunidade dos que não querem ficar preso ao ciclo do prazer e dor existe para o ser ter a oportunidade de recarregar-se. Conscientizando-se das verdades que deixou criar, o observador se reforça para vencer as batalhas que a mente ainda o fará lutar.

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Funcionamento das sanghas

Como funciona uma sangha? A sangha funciona através de encontros periódicos entre os seus membros.

O que se faz nos encontros da sangha? A mesma coisa que se faz nas reuniões que fazemos: camaradagem, conversas, confraternização, convivência com afins...

A reunião de uma sangha não é nada formal, um ritual, mas apenas o encontro de pessoas afins que se juntam para confraternizar. Ou seja, uma festa... Os seres que participam dela, como nas reuniões que fazemos, se confraternizam conversando, rindo, brincando, comendo, etc. Não há rituais, não há complexidade, não há programação do que ser feito: numa reunião de sangha cada um faz o que quiser, pois o importante é estarem todos reunidos...

A que leva esta reunião? A alcançar o objetivo da sangha: ajudar o ser que está disposto a libertar-se da mente a limpar parte das verdades agregadas à memória.

Como isso acontece? Através da interação das pessoas que estão ali, ou seja, através das conversas que acontecem.

O EEU é acima de tudo espiritualista, ou seja, sabe que este mundo é apenas um prolongamento do espiritual. Mesmo que neste momento estejamos lhes levando a abandonarem toda a perspectiva espiritual – isso para que possam trabalhar apenas como elementos que são compreensíveis pela mente humana ao invés de vivenciar apenas criações desta – não abandonamos a Realidade do Universo.

Em O Livro dos Espíritos estudamos que o pensamento é dado ao ser humano por espíritos (pergunta 459). Usando este mesmo ensinamento para a atividade da sangha, podemos dizer que as pessoas participantes da reunião terão suas falas guiadas para poder ajudar o afim.

Na verdade a sangha não é uma realização do ser humano, pois se assim fosse, seria da mente e neste caso de nada serviria. Enquanto a reunião ocorre no mundo material a comunidade espiritual que acompanha estes seres estará realizando trabalhos para que ela sirva aos seus propósitos. Como, aliás, acontece em todas as nossas reuniões que fazemos, mesmo que vocês não vejam isso acontecer.

Portanto, aí está o funcionamento da sangha. Ela existe através de reuniões de seres com um mesmo ideal onde as pessoas brincam, se divertem, se integram, ou sejam, são felizes...

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Trabalho das sanghas

Se as sanghas são reuniões de afins, isso quer dizer que só podem participar pessoas que estejam buscando libertar-se do mundo? Necessariamente não. Lembrem-se: não se acende um candeeiro para escondê-lo dentro do armário...

As sanghas existem para reabastecer aqueles que buscam libertar-se do ciclo do prazer e da dor, mas tem outra função: ajudar quem está preso nele a enxergar isso e ver que há uma forma de sair dele...

Nas reuniões das sanghas não precisam necessariamente estar aqueles que já estão nesta busca. Ela pode servir para ajudar aos que nem sabem que podem libertar-se disso.

Como? Para falar disso preciso falar de um dos trabalhos da sangha: o Núcleo de Apoio.

Digamos que você conhece uma pessoa que esteja passando por um problema e, por isso, esteja vivendo um sofrimento. Você que sabe que isso acontece apenas porque este ser não se transformou em observador da mente, mas vive aprisionado a ela, pode convidá-la a participar da reunião. Nela, envolvido pelo ambiente de camaradagem e conversando com os outros membros guiados pela espiritualidade, essa pessoa receberá armas para libertar-se desse ciclo. Por isso chamamos a este trabalho de Núcleo de Apoio.

A missão das sanghas não é só apoiar seus membros, mas pelo caráter universalista que adotamos, estar sempre pronto a apoiar quem dela necessite. Mas, não confunda isso com uma ação generalizada.

Não estou falando em abrir uma porta para a rua com cartaz convidando as pessoas para serem felizes, mas de atender quem lhe procura, ou quem a vida leva a lhe procurar. Estou falando em conhecidos ou desconhecidos que lhe abordam demonstrando a sua vontade de sair do momento que está vivendo.

Não se esqueça do exemplo dos 'socorristas' na literatura espiritual. Eles saem para ajudar os outros, mas só ajudam aqueles que querem ser ajudados. Lembre-se que nem todos querem sair deste ciclo, pois têm prazer em sentir dor...

Mas, como explicar esse processo para quem não tem contato com os ensinamentos que servem de base para a procura dos membros da sangha? Este é o outro trabalho das sanghas: o Centro de Estudos.

Para quem não tem a base dos ensinamentos que o leve a entender a necessidade de fugir do ciclo do prazer e da dor será necessário repassá-los. Para isso as sanghas possuem sempre pessoas aptas para este tipo de conversa, que não é para quebra de verdades arquivadas na memória, mas para transmissão da base.

No entanto, em todos os grupos que pretendemos estabelecer uma sangha ainda não existem pessoas preparadas para isso. Por isso, neste momento saibam apenas que isso é algo a ser realizado no futuro. Por isso, também, não vou entrar em maiores detalhes...

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Finalizando

Aí está, então, em síntese, aquilo para o que convidei os amigos do EEU no final do ano passado. Maiores detalhes precisam ser conversados, mas como eles serão particularizados em cada grupo, este não é o momento de tocar neles.

Como disse na mensagem, para aqueles que quiserem atender a este chamado, estou à disposição não só para a formação e implantação das sanghas, mas também para dar um novo ânimo quando os participantes deixarem escapar a motivação. Para isso iremos a todos os lugares onde formos chamados...

No entanto, uma coisa quero deixar bem claro: visitar lugares apenas para passar ensinamentos não será mais possível acontecer. Até porque, acredito que para o próprio trabalho de apoio às sanghas o tempo será escasso.

Quem ainda estiver buscando ensinamento, ou seja, aprender alguma coisa, tem à sua disposição o nosso site onde estão mais de dez anos de conversas que trazem tudo que tinha para dizer. Além disso, estes dispõem ainda das palestras on-line que realizamos e que continuará a ser realizada com esta finalidade.

Que todos estejam em paz!

JOAQUIM

06/02/2010

Às sanghas

Nas comunidades existem atritos

(Conversa realizada em 2014 em Rio das Pedras - SP)

O que é uma sangha?

Participante: é uma comunidade de afins.

O que é uma comunidade de afins?

Participante: reunião de pessoas que têm o mesmo objetivo.

Um grupo de pessoas que possuem um objetivo semelhante, um objetivo igual. Está certo isso?

Participante: sim.

Agora, será que essas pessoas são iguais?

Participante: nunca.

São pessoas o quê?

Participante: diferentes.

Isso, são pessoas diferentes. Os componentes de uma sangha são diferentes entre si no que diz respeito à crenças e personalidade, mas iguais no objetivo.

É só no objetivo que os membros de uma sangha são iguais: esse é um ponto que vocês precisam entender.

Quando nós começamos a conversar sobre a criação de comunidades, vocês pensaram que iam organizar um grupo de pessoas que apenas ririam um da cara do outro, que somente brincariam. Isso não é real, pois as comunidades são formadas por pessoas diferentes. E, onde há pessoas diferentes, há atrito.

Isso precisa ficar muito claro: nas sanghas sempre existirão atritos. Nunca haverá uma comunidade, dentro do sentido Sangha (afins com a busca da elevação espiritual, em busca da felicidade), onde não haja atritos.

Para se frequentar regularmente uma sangha, é importante que se tenha muito clara a consciência dessa verdade. Se ela não existir, no primeiro atrito que ocorrer, as pessoas irão agir como muitos agiram: ‘eu não estou indo na sangha porque se formaram muitos grupinhos; cada um pensando diferente’. Foi por esse motivo que muitos se afastaram.

Claro: tudo isso previsto. Muitos que deixaram de ir às atividades da comunidade não foram por que estava previsto que deixariam de ir, mas, humanamente falando, essas pessoas se afastaram por esse motivo.

Portanto, para participar de uma comunidade é preciso que se tenha a consciência da diversidade das pessoas e que por isso o atrito é inevitável. É preciso estar bem consciente de que a interação dos membros da comunidade não vai ser um céu ou um mar de rosas: haverá atritos.

Só que o atrito não acontece apenas por causa das diferenças entre as pessoas. Mesmo que elas fossem iguais, ele precisaria existir. Isso porque é no atrito que você vai exercitar o seu amor ao próximo, o despossuir suas verdades, paixões. É necessário que toda a sangha tenha atritos, é preciso que em toda comunidade que busca a elevação espiritual, a felicidade, que o atrito esteja presente para que o amor incondicional seja colocado realmente em prática.

Por isso é preciso que ele seja esperado. Mais: que seja entendido como uma oportunidade de trabalho.

Isso é o que faltou à vocês nas tentativas de formar o grupo. Essa consciência é o que falta às nossas comunidades.

As pessoas participam de uma atividade da sangha ou se comunicam esperando uma amizade colorida, uma amizade simples, bonita, já que se trata de seres que estão buscando o caminho do despossuir, da felicidade incondicional. Por causa desse objetivo, que é a afinidade entre os que frequentam uma sangha, esperam que tudo seja um mar de rosas. Só que isso jamais acontecerá.

É preciso que todo mundo esteja consciente que nas atividades da Sangha, sejam elas quais forem, existirão atritos. Mais: é importante que se tenha consciência de que esse atrito é necessário para haver uma oportunidade de trabalho.

Teoricamente, seria mais fácil vivenciar na sangha o amor ao próximo do que na vida particular, pois durante as atividades dela espera-se que as pessoas tenham a consciência de que estão ali para amar. Por isso, imagina-se que seria mais fácil um ser humanizado aceitar uma provocação, uma ofensa, dentro da sangha, sem reagir, do que aceitar dessa forma a mesma provocação em um relacionamento com seu familiar, com seus amigos ou no seu trabalho.

Por que seria assim? Porque, imagina-se, que esse ser humanizado participe dessas atividades com a consciência de que ali haveriam oportunidades para amar. Só que ele não se conscientiza de que essa oportunidade só existe na contrariedade e não quando tudo está correndo dentro do que ele quer. Por isso, quando acontecem os atritos, ele não consegue suplantá-los com amor.

Participante: as pessoas vão às atividades da sangha achando que vai ser uma festa, brincadeira, confraternização. Se for para ser isso não precisa ir lá; isso pode se fazer fora delas.

Isso. A pré-disposição de saber que o atrito pode e vai acontecer e a de se expor a ele como uma ferramenta de trabalho, facilita a vencer esses atritos.

Você já usou pá ou enxada? Se usar muito tempo essas ferramentas o que acontece? A mão fica cheia de calo. É assim também com a vivência de atritos. O trabalho constante dentro da sangha vivendo os atritos normais dos relacionamentos das pessoas diferentes existe para lhes calejar no tocante ao convívio com os atritos da vida.

Vencer esses sofrimentos deveria ser mais fácil lá, pois cada um deveria ir às reuniões com a pré-disposição de amar, não é mesmo? Se fosse com ela, executaria o despossuir necessário para amar ao próximo. Com isso, ia calejando até que, em determinado momento, fora da sangha, estaria com a mão formatada peal enxada para poder capinar, teria o coração formatado para amar universalmente.

Então, esse é o primeiro ponto que eu gostaria que você transmitisse para as pessoas: a pré-consciência de que a sangha é formada por pessoas diferentes e que, por isso, o atrito é inevitável. Falasse isso para elas e dissesse que precisam estar preparadas para que as desavenças aconteçam para que dessa forma pudessem calejar seus corações para depois poderem viver felizes mais facilmente do lado de fora.

Dissesse a elas que o atrito na sangha não é novidade, não é algo inesperado. O que ocorreu nas comunidades não se trata de algo que pensamos de uma determinada forma e aconteceu deu outra. Tudo o que ocorreu sempre esteve dentro dos nossos planos.

Muita gente pensa assim: ‘ah, Joaquim, você falou da necessidade de se formar as sanghas, mas como fazer isso se deu problema em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em todo lugar’? Não sabem que tudo o que está acontecendo, e que ainda acontecerá, faz parte do planejamento para formatar o coração de vocês no amor universal.

As pessoas pensam que fomos pegos de surpresa, de calça curta, mas sabíamos que essa reação aos atritos aconteceria. Não por sermos adivinhos, mas porque sabemos o que acontece quando se juntam dois seres humanos, duas personalidades diferentes, sem o devido cuidado com a felicidade incondicional.

Essas reações não deveriam acontecer, não é mesmo? A partir do momento que se ouve todos os ensinamentos que vocês já ouviram, seria de espantar que vocês ainda discutissem para provar que estão certos, não é?

Todos os que frequentam as comunidades já ouviram, já leram, já pensaram no que ensinamos. Dizem que entenderam que a única coisa que precisam fazer é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Só que chega na hora do atrito não fazem nada do que leram, nada do que ouviram. Não colocam em prática o ensinamento.

Esse é o primeiro aspecto que quero ressaltar hoje: as pessoas precisam começar a perceber que reunião da sangha não é um mar de rosas; pode e haverá atritos sempre. Mais: esses atritos são necessários para dar a oportunidade de cada membro trabalhar a sua elevação espiritual, a sua busca da felicidade incondicional.

Devemos ir para a reunião da comunidade com essa consciência e não esperando encontrar uma festa de aniversário de criança com um monte de brinquedinhos para brincar. É assim que vocês têm ido. A atividade da comunidade não é local de diversão, mas sim de trabalho. Então, é preciso trabalhar e o único que precisa ser feito é amar a tudo e a todos.

Participante: aprender a respeitar o outro.

Isso, mas você só conseguirá respeitar o outro quando estiver consciente de que haverá atritos e de que eles são necessários para o trabalho individual de cada um. Se vocês não forem para a sangha com essa consciência, no primeiro atrito se afastarão. Se vão para brincar e alguém diz que não pode brincar com aquele brinquedo, irão embora e não voltarão mais.

Esse é o primeiro recado que gostaria que você levasse para a sua sangha: ‘Joaquim pediu para nós pensarmos sobre nossa comunidade. Pensarmos e entendermos que ela é feita de pessoas diferentes e por isso o atrito é inevitável. Pensarmos que devemos ir às atividades preparados para a existência do atrito e para trabalhar nesse momento’.

Às sanghas

Não se resolvem problemas nas sanghas

Segundo detalhe sobre a sangha: ela serve para você trabalhar, mas não é só isso. Além de trabalhar por você, a sangha também tem como proposição ajudar o outro. Mas, como se ajuda o outro?

Participante: ouvindo.

Ouvindo, acolhendo, respeitando: tudo isso pode ser feito. Mas, digo ajudar diretamente.

Vou dar um exemplo: ontem tivemos uma reunião de uma sangha aqui. Você veio com o seu problema e eu te ajudei. Apesar de estarem presentes apenas duas pessoas, foi uma atividade da comunidade. Isso está certo?

Participante: sim.

Isso pode acontecer na sangha. Não é preciso que todos se juntem para que haja uma atividade da comunidade. Pode acontecer de uma pessoa ligar para outra e dizer: ‘eu estou precisando de ajuda; você pode conversar comigo?’

Se isso acontecer, como você pode ajudar essa pessoa? Como você pode ser o Joaquim dessa pessoa?

Participante: fazendo a espiritologia com ela.

Quase isso.

Ontem conversamos sobre o seu problema. O que falei sobre ele? Nada! Não toquei no assunto específico que o trouxe aqui. Só falei de vida.

Não conversei sobre o problema especificamente. Só falei: o seu problema é vida. A partir daí, somente falei de vida. Não disse se o seu problema era bom, mau, se estava certo ou errado, se era feio ou bonito. É dessa observação que quero retirar o segundo recado para as sanghas.

Orientar o próximo não é tocar no assunto que ele relatar, não é dar a sua opinião sobre o assunto. Esse é outro grande problema da sangha. Quando alguém relata uma situação nas atividades da comunidade com a intenção de pedir ajuda, vocês correm para dar suas opiniões sobre o assunto: ‘se eu fosse você, faria desse jeito, daquele jeito’.

Não é isso que é ajudar os outros. Isso é querer fazer pelos outros, viver a vida dos outros, e ninguém pode fazer isso.

O auxílio que precisa ser dado para ajudar o próximo não é no tocante ao próprio assunto, mas sim na vivência dele. A maioria dos atritos que aconteceram nas comunidades foi exatamente por causa disso: as pessoas foram querer ajudar conversando sobre o assunto. A partir daí, alguns menosprezaram a dor dos outros, outros supervalorizaram essa dor, outros se acharam o rei da cocada preta, aqueles que têm a solução para tudo, mas vivem cheios de problemas, e quiseram ensinar aos outros como resolverem seus problemas.

Eu não dei solução para o seu problema ontem. Não toquei no assunto, a não ser para dizer: ‘isso é vida’! Depois que disse isso, esqueci do assunto que você levantou e fui tratar do ‘viver a vida’, do que você deve fazer enquanto a vida está vivendo a situação que você me narrou.

É isso que vocês precisam entender. A sangha é feita para lhe ajudar e ela faz isso lhe calejando a mão, ou seja, fazendo você passar por atritos. Além disso, a sangha é feita para se ajudar o outro, mas não se pratica essa ajuda querendo dar soluções sobre o assunto do problema, mas sim no sentido de relembrar a vivência da vida que leva à felicidade.

Não se ajuda ninguém dando prato de comida, nem emprestando dinheiro para quem não tem. Nada disso resolve. Não se ajuda ninguém dando soluções mágicas. Vocês não resolvem nem os seus problemas; vão querer resolver o dos outros? A orientação deve ser sempre na vivência.

Esse é o segundo aspecto que eu queria que você conversasse com as pessoas, para que elas saibam o que vão fazer nas atividades da sangha. Isso porque o que está acontecendo hoje é que ninguém sabe o que vai fazer lá.

As pessoas vão à igreja, ao templo das Testemunhas de Jeová ou ao centro espírita porque sabem exatamente o que vão fazer lá. Vocês pensam assim: ‘o que vou ficar fazendo lá? Ficar jogando conversa fora? Não, hoje eu vou dormir, que é melhor. Hoje tenho outro programa’.

Participante: mas, as pessoas pensam: eu vou lá para ter atrito? Eu não vou não, não estou afim de brigar com ninguém.

Mas veja, como já disse, o atrito é que vai lhe fazer calejar a mão. Você precisa estar preparado para o atrito, mas não o provocar.

Participante: na minha sangha tentamos fazer as rodas espiritualistas.

Isso é o que precisa ser feito. A roda espiritualista é um modo de calejar a mão que falamos. Agora, querer ajudar o outro ensinando o que ele tem que fazer, não no sentido da vivência, é pura perda de tempo.

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O importante é o sentido

Terceiro detalhe: numa sangha pode haver incorporação e o trabalho dos mentores?

Participante: se tiver, teve; se não tiver, não teve.

Ajuda ter incorporação dentro de uma sangha?

Participante: não ajuda nem atrapalha.

Ajuda conversar com um preto velho, um cigano, um baiano?

Participante: ajuda.

Essa era a resposta que você ia dar desde o início, mas que não deu para repetir o que eu já disse antes.

Conversar com uma entidade ajuda você a quê?

Você gosta quando há incorporações? Conversa com as entidades? O que conversa com elas?

Participante: sobre a minha vida, sobre os acontecimentos da minha vida.

Isso ajuda?

Participante: às vezes sim.

Ajuda em que sentido? A resolver os seus problemas? A tomar decisões?

Se os seus problemas e suas ações são vida e se ela não pode deixar de ser diferente do que for, falando ou não com uma entidade iria tomar a mesma decisão. Então, conversar com elas ajuda em quê?

Participante: em nada.

Perfeito.

Então, é bom ter incorporação na sangha? Essa ação contribui para a atividade da comunidade?

Participante: não, porque é vida.

Isso: porque está tratando de vida.

Veja: ter incorporação ou não em uma atividade da sangha não traz problema algum. O problema que pode ocorrer é o que acontece durante a incorporação. Esse é o terceiro recado que quero mandar hoje.

O que acontece durante a incorporação? Você senta perto da entidade e diz: ‘eu preciso de ajuda, estou com uma dúvida, o que faço’? A entidade, então, vai lhe dar uma resposta em cima disso, do que foi perguntado. Só que responder a essas questões não tem nada a ver com a finalidade da sangha.

Participante: não caleja a mão.

A incorporação que é vivida com perguntas desse tipo é algo que não contribui para o objetivo da reunião dos afins. Pode ter, mas não contribui com o que você deveria ir buscar na reunião.

É isso que se precisa conversar com as pessoas que frequentam as atividades e não com as entidades, porque a culpa não é delas. A culpa da existência de uma atividade desse tipo que não contribui em nada para a finalidade da existência de uma comunidade é sua, porque é você quem vai as reuniões buscar respostas e não exercitar o amor.

Toda vez que falo de incorporações que promovam o tipo de atividade que descrevemos (responder a perguntas orientando na resolução de problemas) as pessoas me dizem: ‘Joaquim, você precisa conversar com as entidades, porque são elas quem conversam conosco falando dos problemas’. Desculpe, mas isso é falso. São vocês que provocam esse tipo de conversa perguntando e pedindo ajuda para os seus problemas.

A culpa não é dela, mas de vocês, pois sabem que a reunião da sangha não tem esse objetivo, mas assim mesmo continuam fazendo este tipo de questionamentos. Aliás, há muita gente que vai lá só para isso: só para pedir ajuda e resolver os seus problemas.

Participante: vá em um centro de umbanda então, não é?

Sim, porque nessas reuniões não é o lugar para isso. Mas, existe outra possibilidade além de ir a um centro de umbanda: ter uma reunião da sangha só para isso.

A sangha são as pessoas, a comunidade. Elas se juntam fisicamente para realizar atividades. Essas podem ser de diferentes formatos e ter vários objetivos. A reunião para fazer esses tipos de pergunta seria uma atividade, uma gira de umbanda, como acontece em alguns lugares. Agora, a atividade onde o objetivo é calejar o coração, para ajudar e ser ajudado a vivenciar a vida, não é lugar para resolver os problemas da vida.

Quero que fique bem claro que não estou falando das entidades. Estou falando das pessoas, porque vocês vão lá com essa intenção. Vão lá, esperam que haja incorporação, justamente para conversar sobre problemas da vida.

Voltando à nossa conversa de ontem, para exemplificar. Você veio aqui para conversar sobre os problemas da sua vida e eu nem falei sobre eles. Falei em vida, em viver. Fiz isso porque sabia que você queria falar disso e não solucionar seus problemas.

Se você procura a entidade com a intenção de resolver os problemas, ela vai te dar isso. Mas, se busca com o objetivo de ajudar a vivenciar, como você me procurou, ela vai lhe dar o que você quer. Para ela não há nenhum problema uma ou outra coisa. Ela tem que estar ali. Agora, você vai bem aproveitar a ferramenta que está à sua disposição ou não.

Isso aconteceu em todas as sanghas. Em todas elas houve incorporação e foi uma luta muito grande para saber se poderia ter ou não. Lembro que sempre disse ‘se tiver, teve; se não tiver, não teve’. Mesmo dizendo isso, vocês continuaram discutindo esse ‘ter ou não ter’. No entanto, nunca ouvi vocês conversarem sobre o que buscavam com o trabalho da incorporação.

É o que precisam conversar entre vocês: ‘nós, que somos a Sangha, temos que começar a trabalhar em nós qual é o objetivo dessa reunião. Temos que estar atentos para não sermos seduzidos a buscar uma orientação que nos ajude a resolver os problemas da vida’.

Isso porque na hora que mudarem, a entidade muda. A entidade passa a dar orientações para a vivência da vida, ao invés de dar orientação de como agir. Esse é o terceiro aspecto da mensagem que lhe faço portador.

Participante: nossa postura frente à incorporação das entidades.

É a intenção com a qual você vai. É o que você espera da reunião. Isso vocês precisam sentar, precisam conversar.

Às sanghas

A frustração de não ter feito o que foi planejado

Nós deixamos acontecerem todos os problemas para chegarmos agora e mostrarmos quais os que estão acontecendo e falar das soluções para eles. Como disse antes, não fomos pegos de calça curta, sabíamos de tudo que ia acontecer, pois sabemos como funciona a mente humana, o que ela procura. Só que era preciso acontecer o que está acontecendo para vocês entenderem o que há de problema.

Ainda hoje falamos, também, sobre o julgamento existente quando se sai da carne. Falamos da cobrança que cada espírito faz a si mesmo por ter deixado fazer o que encarnou para realizar. Falamos da decepção que esse espírito vive. Essa decepção é ampliada quando ele vê que teve todos os instrumentos necessários para realizar o seu trabalho e não fez.

Se para você não existisse uma sangha, poderia chegar do outro lado e justificar: ‘ah, não pude fazer porque não tive uma comunidade de afins para que eu calejasse minha mão’. Mas, vocês têm e jogam fora este instrumento querendo resolver problemas da vida.

Aí quando saem da carne vão dizer: ‘olha só: Deus fez tudo. Até a comunidade para eu me desenvolver Ele criou e eu fiquei fazendo o quê? Fiquei preocupado com meus problemas, preocupado com o pagamento das contas, com o prato de comida que tinha que comer’. É isso que se passa com um espírito quando sai da carne.

Participante: ou seja, tem que estar preocupado em amar.

Preocupado em amar e em usar todos os instrumentos que Deus disponibilizou para que faça isso. Para isso tem que deixar de se preocupar em ganhar nesta vida.

Participante: a gente fica preocupado em entender o que acontece com a gente e não em amar o que acontece. Isso gasta muita energia. De tanto tentarmos entender, não amamos.

Isso! Exatamente.

Às sanghas

Estudar ensinamentos

Tem mais um detalhe: na reunião da sangha é o momento para estudar? É o momento para se debater ensinamentos? Para se aprender alguma coisa?

Participante: na minha opinião, não. Até porque, cada um tem uma opinião a respeito do ensinamento. Se pararmos para estudar, cada um vai querer impor sua compreensão ao outro.

Sim. E qual o problema de um querer impor a opinião ao outro?

Participante: ele não estará amando.

Perfeito ...

A finalidade da Sangha é amar e não aprender. Aprender é na hora de estudar, de ler, de ouvir palestras – esse é o momento de aprender, aprender como se ama. A reunião com os afins é a hora de praticar o que se aprendeu quando estudou. O que adianta saber o que é amar, se no momento da reunião não se ama?

Esse é o quarto detalhe que quero que você transmita às pessoas da sua comunidade: atividade da sangha, a não ser que seja uma específica para isso, não é lugar para se debater estudos. Não é lugar para dizer ‘Joaquim falou isso’. É lugar para se praticar. Deixe para ler na hora que estiver em casa sozinho.

Sabe por quê? Não importa o que leia, você vai ter uma interpretação, ou seja, vai criar a sua verdade. A sangha não é lugar para choque de verdades, mas sim lugar para colocar a sua verdade e dar direito ao outro de colocar a dele.

Eu sei que muitas vezes vocês começam a debater os ensinamentos que são colocados na internet e dizem: ‘olha o Joaquim colocou uma coisa muito importante’ ... Não façam isso. Se você leu, era para você ler. Se o outro não leu, não era para ele ler.

O que você leu só deve ser debatido com você mesmo. Você analisa, debate consigo e a opinião de qualquer outro sobre o assunto não importa.

Sei que muitas vezes vocês conversam sobre os ensinamentos, mas estão perdendo tempo. Ou melhor: estão só gerando mais atrito.

Participante: graças a Deus, mais motivos para praticar.

Isso.

Portanto, não tentem comentar os ensinamentos entre si, a não ser que seja uma atividade específica para estudo. No entanto, mesmo que seja uma atividade específica com esse fim, alguns cuidados devem ser tomados.

Nós, por exemplo, vamos começar um estudo chamado ‘Os Guerreiros da Paz’. Pode ser que na sua comunidade, ou em qualquer outro lugar, as pessoas decidam se reunir para comentar o estudo que será feito. Nesse caso, o objetivo dessa atividade será o de comentar os assuntos tratados nesse estudo. Durante a reunião as pessoas poderão colocar seus comentários ao que acabei de dizer.

Se estes comentários forem feitos, é o momento para cada um colocar sua opinião sobre o ensinamento falado e sobre a compreensão de quem fez os comentários. Quem comenta precisa ouvir a opinião dos outros com respeito, ao invés de tentar impor sua interpretação aos demais.

Esse trabalho é muito importante para a busca do amar. Seria muito bom se nas comunidades houvessem atividades específicas para ouvir ensinamentos e onde todos pudessem dar a sua opinião sobre o que foi ouvido. Com isso veriam que a um ensinamento que transmito tem diversas interpretações e que todas elas são verdadeiras.

Verdadeiras para quem? Para quem aceitou aquela interpretação como verdade.

É interessante existir a atividade de estudos, de conversar sobre os ensinamentos, mas no sentido de ouvir o comentário dos outro, e não no sentido de aprender/ensinar. O horário de aprender/estudar é quando se está ouvindo os ensinamentos sozinho.

Nas atividades de reunião, de estar em grupo, sem finalidade específica, não se discute ensinamentos. Mas, seria interessante que houvesse reuniões no sentido de abordar ensinamentos sempre com a intenção de cada um comentar o que entendeu daquele ensinamento.

Muitas vezes, a compreensão do outro pode contribuir para a sua, pois, se você ouve sozinho, estuda sozinho e não conversa sobre o que entende dos ensinamentos, criará uma verdade e não irá saber naquele momento se ela será a melhor para você, se vai lhe ajudar mais.

Participante: pode ser que a verdade do outro ajude mais, mas você tem que a ouvir primeiro.

É isso que eu gostaria que você passasse para as pessoas: falar que a reunião da Sangha não é lugar para comentar ensinamentos, mas é a hora de se falar da convivência com a vida e viver atritos, para aprender a conviver com eles.

Às sanghas

O meio para se reunir

Participante: a gente costuma, às vezes, combinar reuniões de sangha falando: ‘vamos a um bar, ao cinema, vamos andar de bicicleta, vamos ao parque’. Isso também é uma atividade da Sangha?

Sim, por que não?

Participante: tem gente que às vezes acha que reunião é somente aquela que se oficializa e agenda.

Essa é a atividade que falei: sem um fim específico. Vocês dizem: ‘vamos todo mundo andar de bicicleta’. Com isso marcam uma atividade sem fim específico.

Você quando combinam andar de bicicleta não estão determinando o fim da reunião. Andar de bicicleta não é o fim, a finalidade da reunião: é o meio. Qual o fim desse passeio de bicicleta?

Participante: amar.

Para isso é preciso ter o atrito, como falamos antes. Nos passeios de bicicleta de vocês há atrito?

Participante: durante o passeio uns vão dizer: ‘vamos por esse caminho’, outros vão dizer ‘vamos por aquele caminho’. Eis o atrito.

Veja que a finalidade da reunião da sangha não mudou nada. Pouco importa se vocês estão andando de bicicleta, estão num bar bebendo, se foram ao cinema ou se estão na casa de alguém: os meios para se atingir o fim das reuniões sempre existem.

Por isso digo que podem fazer qualquer coisa como uma atividade da comunidade. O que não podem é perder a consciência de que aquela atividade é uma reunião da sangha. Se a mantiverem saberão que pouco importando o que estão fazendo, ali está a junção de pessoas afins, mas diferentes entre si. Com isso, irão andar de bicicleta não para fazer isso, mas sim para aproveitar as situações que acontecerem durante o passeio para treinarem o amor ao próximo.

Qualquer atividade pode acontecer numa reunião da comunidade, desde que não se perca o foco e que vocês entendam que, seja ela qual for, é meio, é instrumento para haver a reunião e não a sua finalidade.

Vocês podem, por exemplo, marcar uma sangha para ir a um parque fazer um lanche e não ter comida. Qual é o problema? O lanche não é finalidade. Agora, se forem a um lanche e ao chegar não houver comida, o que acontece?

Participante: fica brabo, contrariado. ‘Como é que se organiza um lanche sem comida? Quem é o responsável por isso’?

Agora me diga uma coisa: não é isso que está acontecendo? As pessoas estão usando os meios como fins. Como o meio não é o fim, quando é usado como tal, a contrariedade se apresenta, ao invés da oportunidade de amar.

Participante: o meio pouco importa.

O meio pode ser qualquer um. O que vocês precisam é ir as reuniões sabendo que aquilo é meio e não fim, pois dessa forma vão prevenido para tudo. Se vão a uma reunião da sangha onde terá como meio um lanche, devem ir preparados para haver desavenças e não para lanchar.

Participante: sabe o que eu pensei. Fiz uma analogia com um laboratório. No laboratório, os cientistas repetem a fórmula até alcançarem a perfeição e saírem dali com ela perfeita. Então a sangha é como se fosse o laboratório onde nós vamos fazer esses ensaios para podermos viver fora dela.

Exatamente.

Então é isso: parem de tratar os meios como fins. Não existe sangha que tenha como objetivo ir ao cinema, andar de bicicleta, passear no parque. Toda a finalidade de uma atividade da comunidade é aproveitar as oportunidades para amar. O resto é meio. Podem fazer o que quiserem, mas sabendo que isso é meio e não a finalidade da reunião.

Só um detalhe: estou falando o que acontece na sangha não no sentido de criticar e dizer o que está errado, mas para mostrar as oportunidades que vocês estão perdendo e o motivo pelo qual estão perdendo essas oportunidades.

Participante: mas, há alguém que está conseguindo aproveitar essas oportunidades ou todos nós estamos desperdiçando?

Não existe: todos vocês estão desperdiçando a oportunidade.

Tem gente tendo prazer com a companhia um do outro, mas ninguém está aproveitando as reuniões para amar.

Às sanghas

A sangha é a sua vida

Vamos ao último detalhe: o que é sangha?

Participante: Uma comunidade de afins.

Mentira, o que é sangha?

Participante: A vida.

Isso. A sangha é a sua vida.

Esse é o último detalhe que quero comentar: vocês precisam ir à sangha sabendo que não estão indo à reunião, mas que a sua vida é estar lá. Esse ponto é fundamental para poderem aproveitar as oportunidades. Tentarei explicar o que eu estou querendo dizer.

Qualquer situação de vida é uma oportunidade para amar. Qualquer situação de vida é a própria vida te dando uma oportunidade de amar ou não. Diante disso, pergunto: por que é importante ir à sangha?

Participante: porque a vida naquele momento se apresentou como sendo ir à sangha.

Isso. Porque essa é a vida que têm para viver naquele momento.

Essa compreensão é interessante para entenderem uma coisa que precisam parar de fazer. Como vocês acham que vão à reunião, como acreditam que precisam ir e creem que estão lá, não tratam esse fato como um acontecimento. Por causa disso querem governar, comandar a ação.

Existem dois resultados para essa forma de vivência da sangha: supervalorizar ou diminuir o valor dela. Quem não compreende que a reunião da comunidade é a própria vida e não um acontecimento que está ocorrendo nela mesmo, buscam dirigir o que está acontecendo. Por isso, quando as coisas não ocorrem como querem, sofrem.

Foi o que eu lhe disse ontem. A partir do momento que não vê a vida acontecendo, mas acredita que age sobre ela, vai julgar a sua ação na vida – sua suposta ação na vida, que não é a sua ação e sim a própria vida.

Me responda uma coisa: cada vez que acaba a sangha, o que é que vocês fazem?

Participante: a gente fala sobre o que aconteceu.

Não, não fala. Se falasse disso seria ótimo.

Participante: a gente julga o que aconteceu, o comportamento das pessoas.

Não. Julga o seu comportamento, julga a utilidade da sangha para você.

Dizem: ‘hoje a reunião foi horrível! Para mim não valeu de nada ter ido lá’. Dizem ainda: ‘hoje foi muito bom, todos concordaram comigo’.

O que acontece durante a reunião é a vida que está existindo. Por isso, não se julga o que acontece. Não se julga como foi a reunião. Mas, se mesmo assim a sua vida for fazer esse comentário, vivencie-o dizendo ‘não sei’ ou ‘dane-se’. ‘A minha vida foi ir. O que posso fazer? Se fui, de que adianta criticar o que aconteceu lá?

É isso que vocês precisam entender. Isso vale para todas as situações da vida e não só para as reuniões da sangha. Com certeza, quando você for embora daqui, a sua mente vai ficar trabalhando julgando tudo que aconteceu aqui. Trará ideias que afirmarão que coisa poderiam ter sido diferente ou de que foi muito bom.

Participante: duvido que alguém não tenha gostado de estar aqui.

Não acredita? Pois bem, já houve pessoas que saíram daqui dizendo: ‘eu gastei tudo isso de dinheiro para ouvir só aquilo’?

Vocês precisam parar de julgar a vida; e a reunião da Sangha é vida, por isso não se deve julgá-la. Esse é um recado para todos, mas é mais forte para aqueles que possuem pessoas próximas com quem convivem diariamente fora da sangha. É comum vermos estas pessoas comentando entre si o que acharam da reunião. Não façam isso.

Claro que o falar é vida e vai acontecer, se tiver que acontecer. No entanto, quando isso acontecer, não aceitem como real o que a mente diz.

Vida não se julga; se vivencia, se assiste. A vida não está aqui para te satisfazer. Muito pelo contrário: para ela, quanto pior, melhor. Por isso ela não vai deixar de julgar a sangha.

Para que ela fala mal da sangha? Para você aceitar quando a sua vida for não ir à reunião. Não é aceitar o ‘não ir’, e sim aceitar os motivos que ela coloca para justificar a sua ausência.

Ir ou não ir não está certo nem errado. É vida e vai acontecer. Se a sua vida for ir, você vai; se for não ir, não vai. Esse não é o problema. O problema é aceitar os motivos que justificam ir ou não.

Participem da sangha sabendo que ela é vida e como vida, vai acontecer do jeito que tem que acontecer. Se ela acontece do jeito que tem que acontecer, não há nada de errado acontecendo. Há somente vida acontecendo em baixo dos seus olhos.

É importante termos essa compreensão para não julgarmos o que acontece, ou melhor, não aceitarmos o julgamento que a vida vai fazer do que acontece.