Unidade - Capítulo 1

Versículo 1

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 01. O desejo de Advaitismo é produzido nas mentes dos homens sábios pela graça de Deus, (graça essa que é) um antídoto para todos os medos.

Advaka é uma escola hinduísta não dual, à qual pertencia o mestre Mahatma Dattatreya, autor deste texto. Ela prega a prática dos ensinamentos do Krishna sem o misticismo que a religião hindu possui. Poderia dizer que, em matéria de evolução espiritual, é a escola que coloca em prática todos os ensinamentos do mestre na sua maior amplitude.

Nota: Advaka - Escola Vedantina monista, fundada por Sankara

Ela tem por característica buscar a compreensão das “coisas do mundo” a partir da visão espiritual destas transmitidas pelo mestre. No entanto, ela não limita esta a visão a apenas algumas coisas, mas ensina a unidade em tudo àquilo que o ego humano cria a dualidade. Por este motivo este ensinamento é tão importante para nós que estamos buscando alcançar a liberdade das verdades criadas pelo ego.

NOTA: Como “coisas” entendemos todos os objetos, pessoas e acontecimentos que existem.

Neste primeiro versículo encontramos, inicialmente, a informação que o desejo de alcançar a visão que leva à evolução espiritual (visão monista, não dual) é dado por Deus. Vamos compreender este ensinamento.

Em todas as conversas anteriores que tivemos, sempre falei que o desejo precisa ser abandonado, pois, além de ser dado pelo ego, o que o transforma em um maya, é um condicionador da felicidade. Por isso, sempre comentei que é preciso vencer o desejo para entrar na Realidade Universal, alcançando, assim, a evolução espiritual.

Agora, o mestre Dattatreya ensina que para se alcançar esta evolução é preciso ter um desejo e, apesar de aparentemente estar sendo incongruente, concordo com ele. Isto ocorre porque o asceta Dattatreya fala de um desejo proveniente de Deus e não do ego. Vamos explicar a diferença entre os dois.

Deus dá aos seres humanizados o desejo de buscar mais e mais informações para a reforma íntima do ser. Sem que o Pai desse este desejo, o ser humanizado permaneceria estático, preso à primeira informação que já houvesse recebido, achando que já teria alcançado à Verdade.

Exemplifiquemos: um ser humanizado começa o seu processo de espiritualização pela religião católica. Depois de permanecer nesta religião por algum tempo e conhecer seus ensinamentos, “algo” lhe empurra na busca de novas informações. Este “empurrão”, que sempre se reflete no desejo de buscar mais conhecimentos, pode levá-lo ao espiritismo, a umbanda ou em direção a qualquer outra falange espiritual.

NOTA: A ordem das religiões citadas neste exemplo não se constitui em uma “escala de evolução”, mas apenas de mero exemplo. Para o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL, todas as religiões são iguais entre si, ou seja, instrumentos de Deus criados de acordo com as necessidades de grupos de seres humanizados.

O desejo de buscar este ‘algo mais’ é dado por Deus para que o ser humanizado continue o seu processo de evolução, que não se completa com os ensinamentos de apenas um mestre. O “empurrão” dado pelo Pai faz com que, ao atingir um patamar de conhecimento, o ser humanizado não pare de procurar achando que chegou à verdade.

Esta busca constante foi ensinada por Cristo aos seus apóstolos e retratada por Tomé no seu evangelho: ‘Aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar; e, quando encontrar, ficará perturbado; e ao perturbar-se, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo’ (logia 001).

O desejo de evolução, portanto, é necessário. Ele é a força motriz que leva o ser humanizado no caminho da evolução espiritual. E é por isso que o Espírito da Verdade ensina à Kardec que existe a paixão que é positiva no sentido da elevação espiritual.

907. Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza? ‘Não; a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal’.

Portanto o desejo oriundo da paixão em evoluir, em servir ao próximo, é válido e leva o espírito a libertar-se da ação do ego. Isto porque este desejo tem como objetivo fundir-se a Deus, ao universal, ou seja, é universalista. Apenas o desejo que se fundamenta numa paixão individualista (querer para si) é que não leva o espírito humanizado a alcançar o ‘reino do céu’.

Portanto, o desejo de buscar mais informações que auxiliem no trabalho da reforma íntima é positivo e deveria estar presente em todos os espíritos encarnados. No entanto, sabemos que nem sempre isto ocorre com todos. Muitos permanecem estagnados em uma religião achando que conheceram a verdade.

Se Dattatreya nos diz que esta busca depende do incentivo dado pelo Pai para que o espírito execute esta busca, isso quer dizer que aqueles que não buscam não estão ‘errados’, mas apenas que não foi produzido nas suas mentes este interesse. Por quê? A quem será que Deus “empurra” e a quem será que Ele não dá este desejo?

A resposta nos foi dada por Cristo: a fé em Deus. Aqueles que exercitam a fé em Deus e não nas próprias religiões, são instigados no seu processo de evolução espiritual.

Enquanto o ser humanizado tiver fé na sua religião ou no religioso que supostamente a coordena, não estará fazendo entregando-se e confiando no Pai. Estes não receberão o ‘empurrão’ do Pai e permanecerão estagnados na sua própria religião.

Portanto, aqueles que buscarem exercitar a sua fé (entrega com confiança) em Deus receberão o “empurrão”, mas aqueles que por seu livre arbítrio optarem em idolatrar uma religião ou outro espírito qualquer, permanecerão estáticos.

Sendo assim, podemos compreender neste texto de Dattatreya que o desejo de buscar o monismo, a completa interpenetração do todo universal, é dada por Deus àqueles que buscam exercer a sua fé no Pai.

Mas, como se pode averiguar se um ser humanizado está exercendo realmente a sua fé por Deus ou por um ensinamento, um mestre ou uma religião? O apóstolo Paulo nos respondeu essa pergunta: a fé em Deus se expressa quando o objetivo da vida é servir ao próximo e não a si mesmo.

Mas, quando um ser humanizado serve ao próximo? Quando deixas de se servir dele, ou seja, quando vive sem paixões ou verdades que o leve a ter o desejo de sempre se satisfazer em primeiro lugar. Só assim poderá servir ao próximo realmente, pois abandonará o individualismo para viver o universalismo.

Juntando tudo o que conversamos até aqui, podemos, então, compreender que Dattatreya nos ensina que aqueles que servirem ao próximo serão sempre amparados por Deus recebendo Dele o desejo de cada vez mais evoluir-se. Quem suplantar o seu querer individual e atingir o serviço ao próximo como fundamento da existência é, como disse Dattatreya, considerado ‘sábio’.

Só esta compreensão já teria dado validade a este estudo, mas, como sempre, vamos nos aprofundar um pouco mais na prática do dia a dia, no exercício do viver para a realização espiritual.

A partir de tudo que vimos até aqui, posso afirmar que qualquer realização no sentido da evolução espiritual não deve ser feita para satisfação individual (realização de um desejo individualista), mas para Deus (satisfação de um desejo universalista). Quem busca elevar-se para que ele ‘ganhe’ algo ainda está sendo individualista, egoísta, mas aquele que coloca como objetivo primário de uma existência o aproveitamento espiritual da encarnação como serviço ao próximo, este é universalista.

Deus impulsiona o ser humanizado na busca da elevação espiritual, mas este, para se tornar merecedor deste “empurrão”, não deve realizá-la para sua própria satisfação, mas para servir ao próximo. Esta é, na prática, a diferença entre a realização do desejo oriundo do ego e do desejo oriundo de Deus. Vamos entender este ensinamento.

A evolução espiritual deve ser procurada para satisfazer um desejo dado por Deus e não para satisfazer-se individualmente. Ela não deve buscar o gozo individual de afirmar que conseguiu vencer, o prazer de realizar-se, mas simplesmente como um ato de oferenda, um serviço, a Deus.

Como nos ensinou Krishna:

‘O Sábio de verdade não deseja nem o posto de Brahma, nem o de Indra, nem a soberania universal, nem o governo dos planos inferiores, nem os poderes mágicos que se alcançam pela prática da Yoga, nem a libertação, porque ele entregou sua mente ou entendimento a Mim e ele não deseja nada disso, apenas Me quer a Mim’. (Bhagavata Puranas – Capítulo VIII – versículo 14).

Para o mundo espiritual existe uma grande diferença entre buscar algo com base no individualismo (eu quero, eu acho, eu sei, eu consegui) do que a realização de um serviço devotado a Deus, mesmo que o objetivo dessa busca esteja vinculado à elevação espiritual. Isto porque, na primeira hipótese, há um ganho individual, enquanto que na segunda um coletivo, ou seja, um “bem” para todos.

Portanto, a diferença entre uma elevação espiritual individualista daquela realizada para Deus se caracteriza pela conclusão que o ser humanizado chega. Enquanto o primeiro acredita que ganhou alguma coisa realizando-a, aquele que busca elevar-se como um serviço ao Pai não se preocupa com isso.

O ser universalista (aquele que vive para Deus) não busca conseguir para satisfazer-se, mas se eleva como um serviço que realiza ao próximo e a Deus. Ele é levado pelo caminho da espiritualização sem nenhum objetivo pessoal (esperando ser servido pela evolução), mas apenas buscando servir a coletividade espiritual universal.

 Mas, como podemos servir ao próximo com a nossa elevação espiritual?

Como já conversamos em outras palestras, o universo está sempre equilibrado, ou seja, não existe desequilíbrio. Dentro deste equilíbrio os espíritos vivem em diversos “mundos”, ou sentidos de encarnação, e “graus de evolução”.

Além destes diversos “mundos” serem totalmente equilibrados, também são equilibrados entre si. Isto promove o equilíbrio global do Universo.

Não falo em equilíbrio fundamentado na quantidade de espíritos em cada “mundo”. Ou seja, não digo que o equilíbrio global existe porque a quantidade de espíritos no “mundo de regeneração” é idêntica aos do de “prova e expiação”, por exemplo. Falo no resultado da “produção” destes seres.

Vou explicar melhor. Cada espírito utiliza o Amor Divino (energias, sentimentos) dentro de uma característica (individualista ou universalista) que altera a ‘polaridade’ deste Amor. Quando o ser utiliza o Amor para amar a si mesmo (seus desejos e suas vontades – individualismo), dizemos que o Amor Divino ganhou uma polaridade negativa. Ao contrário, quando existe o universalismo (amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo), falamos que ele é positivo.

Este é o resultado da “produção” dos espíritos a que me referi. O Universo está sempre em equilíbrio porque o resultado entre as energias positivas e negativas é sempre zero. Ou seja, no Universo nunca existirá mais universalismo do que individualismo ou vice-versa.

Continuemos ainda falando um pouco de elementos técnicos espirituais para poder explicar completamente a elevação espiritual como serviço ao próximo.

A diferença entre o positivismo e o negativismo na utilização do Amor Divino é característica marcante de cada ‘mundo’ ou sentido de encarnação. Os espíritos que estão ligados ao processo de elevação no ‘mundo de provas e expiações’, por exemplo, estão vivenciando esta realidade porque são mais individualistas que aqueles que encarnam no mundo de ‘regeneração’.

Quando estes espíritos evoluírem, ou seja, alcançarem o universalismo, alterarão o seu sentido de encarnação e iniciarão a ascensão ao próximo ‘mundo’, que é o ‘celestial’.

Antes de chegar ao mundo de ‘provas e expiações’ (estágio que vive os seres que estão junto ao orbe do planeta Terra), o espírito passa pelo ‘mundo intuitivo’. Só depois que ele completa o ciclo neste mundo é que pode começar a encarnar como ser humanizado e viver as suas ‘provas e expiações’.

Ou seja, um espírito precisa passar de um ‘mundo’ para outro sempre que encerra seu processo de evolução onde estava. No entanto, pelo equilíbrio existente que citei anteriormente, para que isso ocorra é necessário que algum outro deixe o ‘mundo’ onde aquele que completou seu ciclo precisa entrar.

Portanto, o espírito que completa a sua sansara no ‘mundo intuitivo’, por exemplo, não poderá evoluir para o próximo ‘mundo’ (‘provas e expiações’) se nenhum outro houver alterado o objetivo de sua encarnação para poder encarnar no ‘mundo de regeneração’.

NOTA – SANSARA = Roda de encarnações.

Apesar da compreensão de tanto técnica espiritual ser um pouco complicada, creio que agora fica mais fácil compreender a realização da evolução espiritual para servir ao próximo. Se você passar do mundo de ‘provas e expiações’ para o de ‘regeneração’ estará dando oportunidade de que outro ocupe o seu lugar neste mundo.

Aí está o caminho da elevação como serviço ao próximo. Buscar a elevação não pela intenção de subir, avançar, ganhar individualmente, mas para abrir uma ‘vaga’, de tal forma que outro possa atingir o sentido de encarnação que você está hoje. Isto é muito diferente de buscar a elevação para que você evolua.

Quando Dattatreya afirma que o “desejo” da busca da elevação espiritual é dado por Deus, a prática deste ensinamento quer dizer: busque a elevação como um serviço ao próximo. Para isto é preciso seguir a linha de raciocínio que fizemos neste estudo.

Ao vivenciar a busca da elevação espiritual da forma aqui estudada, mesmo que ela seja fruto de um desejo, estará sendo realizada para Deus (Universo) e não com individualismo (para si).

Este é o primeiro ensinamento deste versículo, mas o mestre ainda continua: o desejo é produzido na mente dos homens sábios. Quem será o “sábio”, ou seja, aquele que é o alvo do “empurrão” de Deus?

Diferente do que se acredita no planeta, o sábio não é aquele que possui cultura (grande quantidade de conhecimentos), mas quem põe em prática seus conhecimentos, agindo dentro do objetivo da existência (buscar o universalismo). O sábio não é uma estante carregada de informações, mas é aquele que, independente da quantidade de informações que possua, consegue transformar a “letra fria” em uma ação sentimental.

Se o sábio vive no universalismo, ou seja, ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo, nós podemos concluir que ele possui o “coração puro”, pois todas as suas ações são dentro do positivismo universal. O ensinamento de Dattatreya, portanto, está de acordo com o de Cristo: louvado seja Deus, que mostra aos simples o que esconde daqueles que tem cultura.

NOTA: As polaridades citadas nesta parte do trecho foram colocadas aí apenas para facilitar o entendimento do assunto. Mais tarde elas serão também derrocadas pelo espírito amigo na luta contra o dualismo para poder se atingir o UM com Deus.

Agora estamos prontos para compreender em seu mais amplo sentido o ensinamento de Dattatreya: o desejo da elevação espiritual será dado por Deus àquele que buscar a realização objetivando servir ao próximo. Este ‘desejo levará o ser humanizado a tomar contato com novos ensinamentos, mas eles não devem ser guardados como jóias preciosas (posses), mas precisam ser sempre transportados para a prática, ou seja, precisam alterar a forma como o ser humanizado se relaciona com os acontecimentos da vida carnal.

Mas, Dattatreya vai além no seu ensinamento: a graça de Deus é o antídoto para todos os medos.

Se o ser humanizado está fazendo algo como serviço a Deus e se Ele é o Senhor Onipotente, Onipresente e Onisciente do universo, será que o Pai o deixará falhar? Será que o deixará “cair”, perder-se? Jamais.

Enquanto o ser humanizado colocar em prática os ensinamentos e tiver o desejo de se elevar para servir o próximo, Deus o “sustentará”. Então, porque o medo de colocar na prática aquilo que se aprende na teoria quando o assunto é despossuir as coisas da vida material?

Os seres humanizados têm medo da elevação espiritual, pois imaginam que ela não se coaduna com a vida material. “Como vou viver do modo que o senhor fala? Preciso ganhar dinheiro senão morro de fome”. “Preciso me alimentar para sustentar o corpo”.

Este tipo de raciocínio espelha o medo que o ser humanizado possui de colocar na prática os ensinamentos de todos os mestres. No entanto, este medo é infundado. Muitos já conseguiram viver na prática destes ensinamentos e nem por isso morreram de fome.

Na hora que o ser humanizado se entregar buscando a prática dos ensinamentos e a elevação a partir do desejo dado pelo Pai, Ele amparará, ou seja, dará todas as condições para que a encarnação prossiga e seu trabalho se realize.

Desta forma, podemos concluir que tudo o que estudaremos analisando os ensinamentos de Dattatreya podem lhe valer como cultura e lhe tornar ‘famoso’ por conhecer mais. No entanto, isto de nada valerá no momento em que, depois do desencarne, for observar os resultados de sua encarnação.

Se você não colocar aquilo que iremos estudar não poderá realizar a elevação espiritual. Para que se alcance esta prática, porém, a primeira coisa a se realizar é não ter medo do futuro.

A caminhada da evolução, entretanto, deve ser sempre realizada pensando em servir ao próximo. Só assim o desejo de cada vez praticar mais será dado por Deus.

Portanto, quando conseguir colocar em prática algum ensinamento, não afirme que conseguiu, mas louve a Deus e continue vivenciando a busca universalmente para poder dar a vez para quem vem atrás.