Oração de São Francisco
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Oração de São Francisco

Durante um ciclo de palestras realizado pela internet, Joaquim de Aruanda analisou a oração atribuída a São Francisco. 

Oração de São Francisco

Oração

Vamos estudar hoje a “oração de São Francisco”. Só que an-tes de estudá-la é importante sabermos o que é uma oração, pois para nós elas são palavras recitadas. Na verdade oração é algo diferente disso e precisamos primeiro entender o que é orar para só depois podermos compreender as palavras que compõem a de São Francisco.

Todos os mestres nos ensinaram que a oração é necessária, mas o que será orar, o que será uma oração? Em O Livro dos Espí-ritos encontramos a resposta a essa pergunta: a oração é um ato sentimental, é uma ligação sentimental com Deus.

Podemos, então, compreender que a oração não são pala-vras, mas sentimentos. Quem ora prestando atenção apenas nas palavras não está com ‘atenção plena’ aos seus sentimentos e por isso não sabe orar: ora até em demasia, mas nada acontece.

A oração tem que vir de dentro de cada um. Ela é um senti-mento que emana em direção a Deus. Ao Pai, não a outros espíri-tos, porque sempre se reza a Deus, mesmo que direcionemos nos-so pensamento a outros espíritos. Isto ocorre porque só Ele sabe o que fazer com o que cada um sente durante a oração (dar a justa recompensa da oração – carma).

Dessa forma, a primeira compreensão de hoje deve ser: a oração é um sentimento. No entanto, o que é para o espírito sentir? É viver. A vida, ou seja, a animação, a intelectualização de um espí-rito é sentir sentimentos: sentir o amor com o sentido universal (a Deus e ao próximo) ou individualista (a si mesmo).

A oração é vida para o espírito, pois orando está vivendo a sua existência espiritual. Desta forma, todos devem mais do que se preocupar com palavras ao orar, mas se preocupar em, sentimen-talmente, colocar na prática aquilo que a oração fala.

Isso é orar. Orar não é rezar em um determinado momento, não é dizer palavras, mas é vivenciar no dia a dia os sentimentos que oração traz. É transformar a oração no “caminho da vida”, na forma de viver.

Será sob este aspecto que estudaremos a Oração de São Francisco, ou seja, transformando as palavras do santo em senti-mentos que deverão ser aplicados na vivência diária. Não faremos esse estudo para ver se os versos estão certos, se a rima está cer-ta, se há beleza nas palavras, mas no sentido de compreender a essência, o sentimento que Francisco de Assis diz que é necessário para viver. A partir da descoberta de que sentimento cada um deve ter para viver, buscaremos compreender, também, como é viver tendo esse sentimento.

  Agora podemos, então, começar a estudar a “Oração de São Francisco”.

Oração de São Francisco

Paz

“Senhor, fazei-me um instrumento da vossa paz”.

 Neste primeiro verso descobrimos um ponto fundamental pa-ra a vida: viver para ser instrumento de Deus. É isto que Francisco de Assis nos leva a compreender desde o início.

Quando pede para ser instrumento da paz de Deus (“vossa”) ele demonstra que não quer agir por individualismo, a partir de ne-nhuma vontade própria (ser instrumento da paz dele). Todo seu sentimento está voltado em ser vir ao Pai e por isto a única coisa que ele sente é o desejo de ser “instrumento” da paz de Deus.

A partir deste aspecto, para que possamos colocar a “Oração de São Francisco” como um guia para a vida, nós devemos com-preender que, na visão do santo, há a necessidade de que cada um retire da sua existência tudo aquilo que acha, sabe, conhece (indivi-dualismos) da vida.

O sentimento que deve pautar a vida de cada ser humanizado é o desejo de ser simplesmente instrumento consciente de Deus. Falo em instrumento consciente, pois inconscientemente todos já somos.

Francisco de Assis, neste primeiro verso, portanto, não pede a Deus que seja feita a sua vontade, mas que o Pai o utilize para participar das ações do mundo servindo de instrumento consci-ente da Sua obra.

Neste pedido se reconhece a ação do sentimento básico para esta vida: fé. Pedir a Deus para ser conscientemente instrumento do Pai e entender o mundo como ação de Deus (emanação divina) é o exercício da fé: confiança total e entrega absoluta a Deus.

Exemplifiquemos. Francisco apesar de gostar dos bichos não acusava quem os maltratasse. Socorria os feridos, ajudava-os, mas nunca criticava quem agia como instrumento de Deus promo-vendo ações que “ferissem” os animais.

Se ele assim fizesse estaria vivendo a sua vontade de que os bichos não fossem machucados. Vivendo com estes sentimentos teria que criticar e atacar aqueles que agissem provocando danos aos animais. Esta forma de proceder demonstraria a não compre-ensão da ação de Deus (Causa Primária de todas as coisas): tudo emana de Deus.

Ele não podia condenar os agentes do carma dos bichos, pois desde o início da sua oração declara: “Senhor, fazei de mim um instrumento de SUA paz”. Se atacasse quem foi o agente carmático do ferimento nos animal, Francisco estaria exercitando a não entre-ga, ou seja, a não concordância com a emanação divina.

Francisco quer levar a paz de Deus ao mundo (consciência da ação carmática emanada por Deus como fonte de elevação espi-ritual), não a guerra (a luta pelo prazer, pela realização dos desejos individuais frutos de paixões humanas). Por isto abre mão de retali-ações, mesmo que por pensamento.

Caso alguém houvesse machucado um animal, Francisco se preocupava em socorrê-lo. No entanto, para isto não precisava abrir guerra (crítica, acusação) contra quem o machucou. Agia em socor-ro e defesa dos animais, mas não reconhecia na ação um mal nem outro causador a não ser o próprio Pai.

Isso é fazer a paz de Deus: amparar, auxiliar, ajudar quem es-tá vivendo a sua ação carmática, mas sem críticas alguma a nin-guém como instrumento causador de maldade, ou seja, compreen-dendo que ação provêm de Deus e não do homem e por isto é justa e necessária.

Esta também deve ser a forma como cada espírito ligado a um ser humano deve viver a sua encarnação. Se ele passa em uma esquina e lá se encontra alguém passando fome, deve ajudá-lo.

Pode servi-lo dando um prato de comida, levando-o para ca-sa, dando banho, auxiliando-o a conseguir um emprego, ou seja, fazendo tudo que estiver ao seu alcance, mas jamais destruindo a paz de Deus (o que está acontecendo), criticando a sociedade, o presidente da república ou qualquer outra pessoa de ser o “culpado da situação daquele ser humano”.

Isto é servir de instrumento a Deus para levar a paz. Levar a felicidade a quem sofre (passa por uma ação carmática que o des-gosta) sem que para isto seja necessário guerrear contra os outros que levam, aparentemente, vantagem sobre a situação daquele que está sofrendo.

Nesta primeira frase da oração, portanto, entendemos que o sentimento básico para se ter todas as outras coisas é a fé e que, a partir do momento que haja esta entrega com confiança a Deus, o ser humano simplesmente age para ajudar ao próximo sem colocar nenhum dos seus individualismos em ação.

Sem colocar nenhum acento a mais no que Deus escreveu, sem colocar uma letra para dizer o que acha individualmente da situação.

Agindo dessa forma o espírito ligado ao ser humano estará levando a paz de Deus àqueles que precisam da paz, ou seja, to-dos: tanto os que estão na situação chamada de sofredora quanto àqueles que a humanidade acusa como causador da situação.

Todos precisam da paz de Deus, ou seja, da compreensão da emanação divina. Guerreando contra aqueles que estão fazendo a ilusória maldade os espíritos não estarão levando esta paz a eles. Criticar alguém por não fazer nada para ajudar os necessitados e imaginar que por isto outros passam fome, não se leva a paz de Deus.

Quem guerreia acusando outro ser humano como agente da situação, direta ou indiretamente, busca implantar a sua paz, ou seja, estabelecer as suas condições individuais para o mundo. Agindo desta forma, o espírito estará levando para as pessoas a palavra que ele queria e não as de Deus.

Para se levar à paz de Deus aos homens é preciso que ela seja levada para todos os envolvidos no episódio. É preciso auxili-ar a todos: aquele que está passando pela situação de necessidade e aqueles que, direta ou indiretamente são os causadores da situa-ção.

Agindo assim o ser humanizado auxilia a Deus, pois ama a todos de uma forma equânime, de maneira igual. Agora, socorrendo um e acusando outros, age preso no individualismo, no que quer, no que acha correto a partir da sua compreensão limitada sobre os acontecimentos da vida.

Portanto, na sua vida, pare de achar culpados. Para de colo-car culpas em outras pessoas. Para culpar alguém há a necessida-de de se criticar e quem age dessa forma não será um instrumento da paz de Deus, mas do que ele quer (paixões e desejos individua-listas).

Auxiliar um criticando outro não é um ato de caridade, mas uma guerra de domínio para que se consiga impor a paz individua-lista (contentamento de paixões).

 Participante: a palavra individualismo nunca foi tão entendida como agora.

Eis aí o grande problema da humanidade: o ser humanizado que se baseia naquilo que quer para vivenciar o mundo. Viver o que acha, saber apenas o que sabe: nesta forma de vivenciar as situa-ções do mundo se denota o individualismo.

Para se aproximar de Deus, conectar-se com Ele, não se po-de estar individualista. Só na hora que você abandona todo o seu saber e querer é que pode alcançar o universalismo, ou seja, Deus.

Enquanto você souber não compreenderá Deus agindo.

Oração de São Francisco

Amor

 “Onde houver ódio que eu leve o amor”.

 O que é ódio? É o individualismo insatisfeito. Quando o ser humanizado não consegue o que quer, quando não gosta do que é feito, cria, primeiramente, a mágoa e a frustração. Elas se transfor-marão em raiva que levará ao ódio.

Se o ódio nasce da contrariedade, o amor, aquilo que Fran-cisco pede para ser instrumento, então, é a satisfação com as coi-sas da vida ou a felicidade sob quaisquer circunstâncias.

Além disto, não podemos nos esquecer que Francisco pede para que se transforme em instrumento consciente da vontade de Deus (“vossa”). A partir destes aspectos analisemos, portanto, o ensinamento.

São Francisco, portanto, pede a Deus que, onde houver se-res humanizados que tenham seus individualismos feridos (ódio) que ele leve o amor. Mas não um amor qualquer, mas aquele que reflita a vontade de Deus (amor universal).

Este é o desejo expresso neste verso, esta é forma de viver que Francisco quer para ele: que na sua vivência dos acontecimen-tos seja instrumento para levar a quem tem o individualismo ferido o amor a Deus que leva o ser humano a viver em estado de graça (felicidade incondicional).

Aí eu pergunto: se alguém quer uma coisa e não consegue, como se levar a esta pessoa a felicidade? Como levar a quem está passando por uma situação de sofrimento a felicidade?

Ensinando-o a compreender a vida a partir da Realidade espi-ritual, a compreender o universo, ou seja, a compreender o que chamamos de lei do carma.

O individualismo é o querer para si, mas se um espírito ligado a um ser humano não precisa nem merece de um determinado acon-tecimento, Deus não lhe dará o fruto do seu desejo simplesmente porque ele quer, para satisfazê-lo. O Pai só dará a cada um aquilo que ele merecer.

Portanto, para se receber algo do Pai é preciso que se faça por onde merecer: não basta apenas querer. O que gera o mereci-mento para o espírito é, no momento onde é contrariado, amar a situação, ou seja, ser feliz incondicionalmente. O amor gera um tipo de carma; o individualismo gera outro.

Desta forma, quando Francisco de Assis diz “Senhor, onde houver ódio que eu leve o amor”, ele está falando: ‘Senhor, onde houver individualismos feridos, que eu leve a compreensão da Vossa ação, que eu leve a estas pessoas a Sua palavra, a Sua presença dentro da máxima do Cristo: Deus dá a cada um segundo as suas obras’.

Isto é levar o amor a quem tem ódio. ‘Você está com raiva do que? O que não gostou? Veja bem, foi Deus quem que colocou isso que você não gostou na sua vida. Foi o Pai que fez isso acontecer como uma nova oportunidade de elevação. Ame a Deus, sinta-se amado pelo Pai que você gerará um carma diferente. Se ficar preso ao individualismo, ao desejo, ao seu querer, Deus terá que lhe colocar novas provas, ou seja, vai ter que ir contra o seu individualismo mais vezes’.

Isto é levar o amor para quem tem ódio. Isso é levar a felici-dade incondicional para aquele que está sofrendo por ter a sua individualidade ferida. Não é passar a mão na cabeça e dizer coita-dinho de você, que pena, nem brigar, acusando-o por qualquer mo-tivo.

Auxiliar o próximo levando amor para quem ódio é, basean-do-se na palavra de Deus, na palavra do Cristo e dos mestres, dizer a ele: ‘você sofrerá enquanto tiver individualismos’. Este é o sentido da oração de Francisco de Assis.

Agora que já conhecemos o que Francisco fala, vamos com-preender este ensinamento na vida diária de cada um, na vivência das situações.

Quando você se defrontar com alguém que está com ódio (teve seus desejos contrariados) deve ajudá-lo levando-o a compre-ender a ação carmática que está vivendo.

Pode dar o prato de comida para quem tem fome, o empre-go, o banho, enfim, ajudar de todas as formas materiais, mas é preciso fazê-lo compreender que não pode se revoltar contra a situ-ação que está vivendo. Para isso é preciso levar a palavra de Deus, pois afinal, Cristo ensinou: nem só de pão vive o homem.

Levar a palavra de Deus é ensiná-lo que não é vítima de nin-guém, nem de nada. Ele é um espírito vivenciando o seu carma e precisa amar a situação carmática que está vivendo hoje.

Sem amar esta situação jamais gerará um carma diferente, pois aquela situação foi criada por causa de um individualismo que o levou a se contrariar em um momento anterior da sua existência.

Esta forma de proceder é ser um São Francisco, é agir como ele. Não é só passar a mão na cabeça de quem está sofrendo di-zendo coitadinho de você ou simplesmente dar o prato de comida e virar as costas. É preciso, para se auxiliar o próximo, dar a vara e ensiná-lo a pescar e não apenas ficar alimentando-o com o peixe, que é um alimento fugaz e não nutre a alma.

É amar e ensinar aos demais a amar incondicionalmente. Amar a vida do jeito que ela está e ensiná-los esta forma de viver, ao invés de colocá-los no pântano do ódio, ensinando-os a acusar qualquer pessoa de ser o “causador” daquela situação. Isto é fo-mentar o ódio ao invés de levar o amor.

Amar é não só dar a caridade física, mas ensinar o próximo a amar, ou seja, ensinar ao próximo que aquilo pelo qual criou uma revolta é o amor de Deus em ação, pois é uma nova oportunidade para que ele possa evoluir.

E com o ilusório opressor que faz os outros sofrerem, como agir? Amá-lo e não criticá-lo.

Ele já está cheio de sentimentos diferentes do amor que são os frutos dos seus individualismos. Se você penetrar nesse padrão vibracional apenas fomentará o próprio individualismo dele.

Amá-lo e ensiná-lo a não ter prazer na ação carmática da qual participou, ou seja, não se sentir feliz por ter conseguido vantagens desta forma. Isto é importante porque este foi um momento de apa-rente vitória material, mas se ele tirar proveito da ação de Deus (ter satisfação, prazer) estará gerando um carma onde o seu individua-lismo que agora foi satisfeito será, pela impermanência das coisas, pelas vicissitudes da vida, destruído.

Isto é ser um São Francisco: ensinar os dois a amar dentro dos seus papéis da vida e não querer alterar esses papéis.

Havendo um que tenha necessidade de passar pela fome, há necessidade de que alguém seja o instrumento da fome: estes são os papéis que cada um desempenha ao longo da vida.

Compreendendo esta Verdade universal, aquele que neste momento for instrumento da fome sem prazer, mesmo que tenha aparentemente prejudicado alguém, atingirá o amor universal. Por isso o Krishna ensina que o sábio está livre do mérito ou demérito nas ações.

 Participante: gostaria de saber se São Francisco de Assis já reencarnou?

Sim, o espírito que vivenciou a vida Francisco de Assis já re-encarnou outras vezes depois daquela encarnação que conhece-mos. Não se encontra agora encarnado, mas já reencarnou.

Oração de São Francisco

Perdão

 “Onde houver ofensa que eu leve o perdão”.

 Ofensa é sentimento que denota um individualismo ferido. Um espírito só se sente ofendido quando o que acha, quer ou gos-ta, não acontece.

Novamente a mesma situação humana do verso anterior: indi-vidualismo ferido. Desta vez, porém, para contrapor a este proce-dimento do espírito humanizado Francisco pede a Deus que ele seja instrumento do perdão. Portanto, precisamos compreender o per-dão para encontrar a forma de vida sugerida na oração.

Para os seres humanizados perdoar é uma coisa muito fácil, mas até hoje não conheço ninguém que tenha perdoado de verda-de, a não ser aqueles que alcançaram a evolução espiritual. Isto porque para os seres humanizados perdoar é deixar de dar o casti-go a quem merecia recebê-lo.

Alguém pisa no seu pé, por exemplo, você sente dor, sofre, acha errado ter recebido a pisada, mas o perdoa, ou seja, não pisa no pé dele de volta.

Pelo exemplo acima podemos, então, afirmar que se alguém fez alguma coisa “errada”, você o perdoa dentro da visão humana, ou seja, não o castiga, mas continua afirmando que houve um erro, algo que não deveria acontecer ocorreu.

Neste caso não houve perdão de verdade. Apesar de você aparentemente não haver castigado o agente da situação, ainda continua acontecendo um castigo, mesmo que não físico: a crítica, a acusação.

Você não o perdoou de verdade porque vivenciou uma críti-ca, um apontar de erro, que também é um castigo. Perdão é mais do que não penalizar fisicamente. Perdão é o que o Cristo ensinou na cruz: “Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem”.

Se analisássemos a intenção de cada um durante os aconte-cimentos, eu diria que ninguém faz nada errado, pois todo mundo age partir de uma convicção individual de que o que está fazendo é correto. Mesmo os que ferem a lei fazem consciente de que a estão ferindo, fazem porque acham que sabem o que estão fazendo. Ou seja, possuem motivos para agir desta forma que lhe dão a convic-ção que estão certos. Um bandido, por exemplo, sabe que é errado roubar, mas ainda assim cai no delito porque não tem como se sustentar, porque precisa alimentar sua família, etc. Ou seja, ele encontra motivos que para ele são reais para agir.

Se eles fazem movidos por uma convicção individual não de-veriam merecer a crítica, pois, para eles, estão certos ao agir dessa forma. Eles não agiram errados, pelo menos a partir do seu ponto de vista.

Quando Cristo na máxima afirma eles não sabem o que fa-zem está dizendo exatamente isto: ‘Pai, eles estão agindo imaginan-do que estão ‘certos’, mas nós, eu e Você, sabemos que eles são apenas instrumentos da Vossa vontade’.

Portanto, perdoar não é só simplesmente deixar de castigar, mas nem ver erro, ou melhor, perdoar é dar ao próximo o direito dele estar certo a partir do seu ponto de vista. Não encontrar nada errado no que as pessoas fazem, ou melhor, não julgar as pessoas pelo seu ponto de vista é perdoar. Para isto é preciso que o seu pensamento seja este: ‘ele praticou a ação achando que estava ‘cer-to’ e agiu em nome de Deus. Por isto, eu me eximo em dizer se ele está ‘certo’ ou errado’’.

Quem age faz o que tem que ser feito: não há nada a ser cri-ticado. Quando a humanidade compreender isso, não precisará ficar ofendida e aí as críticas aos outros acabarão e o verdadeiro perdão surgirá.

O perdão real surge da utilização da igualdade, sentimento que forma o amor universal.. Esta igualdade é que leva à liberdade de cada um.

A igualdade que estamos nos referindo não se refere à for-mação de cópias (todos serem iguais a você), mas no direito de cada um ser diferente do outro. Quando utilizada, a igualdade leva o espírito a conceder ao próximo a liberdade dele fazer e ser o que quiser, sem que por isto seja alvo de críticas ou acusações.

Viver com este sentimento, ou seja, ver os acontecimentos dentro desta realidade é amar e perdoar, pois perdão é amor.

Cristo ensinou que precisamos amar ao próximo, ou seja, nem ver erro no que ele está fazendo. É para cumprir esse manda-mento que São Francisco de Assis está pedindo a Deus que leve àqueles que se sentiram ofendidos a compreensão de que ninguém faz nada errado.

Pede para que seja instrumento para ensinar que todos agem por uma motivação pessoal (individualismo), mas que só chegaram a agir frente à determinada pessoa porque esta precisava e merecia (carma) alguém que provocasse aquela situação.

Se este ser humano não houvesse gerado a necessidade da ação carmática ninguém poderia ter agido de tal forma. Assim, se existisse um culpado naquele momento, era o próprio espírito hu-manizado que, em momentos anteriores, criou para si este mereci-mento e não o próximo que foi mero instrumento para dar àquele o que seu merecimento.

 A lei do carma é inexorável. Se não fosse aquela pessoa se-ria outra, mas o carma não deixaria de acontecer e para isso seria preciso um instrumento para criar a situação carmática.

Ensinar isto a quem se sente ferido é levar o perdão. Para is-to é preciso dizer ao próximo que estiver ofendido: Pare de acusar os outros. Aprenda: ele é instrumento de Deus. Foi Deus quem reali-zou a situação na sua vida. Apenas utilizou-se daquele espírito como instrumento.

A ação do próximo como instrumento do carma do ser hu-manizado foi transmitida claramente através de O Livro dos Espíri-tos na pergunta 132:

“Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cum-prir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concor-rendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Isto é levar o perdão onde houver ofensa. É chegar para aquele que está passando fome e dizer: ‘ninguém está agindo contra você. Não há motivos para acusar alguém da sua situação nem por-que ficar ofendido. Quem está criando a situação que você está vi-venciando é Deus. Não se ofenda, não se magoe, não se deixe levar pelo individualismo’.

Estamos falando de atitude moral, sentimental. Com relação à atitude materiais, você pode até dar um prato de comida, mas de nada adianta você alimentar quem necessita sem ensinar isto a ele, sem levar a palavra de Deus. Relembremos mais uma vez o Cristo: nem só de pão vive o homem.

Quando você dá apenas o peixe, sustenta a barriga, mas não sustenta o espírito. Com raiva essa pessoa vai ter dor de barriga; ofendido, terá problemas estomacais como resultado do sentimen-to que está nutrindo.

Aí você afirma que a doença do faminto é verme, que ele é doente por que é mendigo, mas não é nada disso. Simplesmente a ofensa que ele está carregando dentro de si é que está lhe fazendo passar mal.

Levar a paz de Deus a quem está ofendido é dar ao outro a compreensão de que as pessoas são instrumentos da vontade divi-na e que por isso tem que ser perdoados. Mesmo quem recebe uma lança enfiada na barriga, mesmo quem pede água e recebe fel, precisa perdoar, precisa aprender a perdoar, ou seja, descobrir que o acontecimento ocorreu porque ele precisava (reação carmática) e merecia (nova oportunidade para amar a Deus acima de todas as coisas) aquilo que está acontecendo.

 Pergunta: Por que a raiva para um é luxo e para outro veneno?

Depende do ‘prazer’ que você sente ao ter raiva. Se você gosta de ter raiva, será um luxo. Agora se você não gosta, será um veneno.

 Pergunta: O senhor disse que nós escolhemos os nossos amigos espirituais para passarmos por nossas provas espirituais mais difíceis. Pedimos para nossos amigos servirem de instrumentos para nós. Apenas esquecemos de nossos pedidos quando estamos encar-nados. Perdoar e lembrar que amamos nossos queridos irmãos que servem de instrumento de Deus e amá-los sem lembranças mesmo é o que devemos fazer?

Sim, isso é prova de fé.

 Pergunta: Já que você afirmou que Francisco de Assis já re-encarnou, seria possível saber quem ele foi?

Isso é simples curiosidade, não há necessidade de ser res-pondido, pois em nada influencia na elevação espiritual.

 Pergunta: Joaquim nos fala de São Francisco de Assis, de Jesus Cristo e nós, pobres espíritos, fomos educados num sistema totalmente longe da santificação. Isso não é “areia demais para o nosso caminhão”?

Você já leu a história de São Francisco? Ele também foi edu-cado longe da santidade, talvez mais do que você, pois era rico, senhor de terras e nobre. Foi criado para seguir a tradição da famí-lia.

Você já leu a história de Jesus? Ele também não nasceu san-to. O problema é que nós só conhecemos o santo depois que al-cança a santidade. Por isso não entendemos que ele também teve que vencer suas batalhas para alcançar este estado de espírito.

Dessa forma, se Chico Xavier, Chico de Assis, Jesus, Joana D’Arc, Santa Clara, conseguiram vencer o mundo, como Cristo dis-se que venceu, você também pode. É tudo uma questão de deci-são, ou seja, decidir o que quer para a sua vida.

Decidir com que base vai vivenciar a sua vida, mas princi-palmente abrir mão de outros caminhos. A partir do momento que você decidir buscar uma vida São Francisco, precisa abrir mão do prazer de ser contentado, senão não conseguirá. Esta afirmação pode ser comparada simbolicamente ao ato de São Francisco reti-rar as roupas caríssimas e colocar o saco de estopa.

No entanto, estamos citando este ato de Francisco de Assis figuradamente: você não precisa abandonar sua casa, suas propri-edades nem sua roupa. Agora, você deve abandonar todas as suas posses (ter verdade sobre as coisas) e realizar sua santidade.

 Pergunta. Concordo, mas para isso é preciso uma ajuda de cima.

Essa ajuda acontece cada segundo na vida humanizada do espírito. A cada micro fração de tempo existe uma pergunta de Deus que lhe ajuda a viver assim: ‘e agora, você vai amar a quem, a você ou a Mim’?

Cada segundo da sua vida é uma dramatização onde está embutida esta pergunta de Deus. Quando você gosta do que acon-tece e ama a você mais do que a Deus, tem prazer; quando você não gosta e se ama acima de tudo, sofre; mas, se você ama a Deus acima de todas as coisas, vive sempre em paz: sem prazer ou dor.

Oração de São Francisco

União

 “onde houver discórdia que eu leve a união”.

 A discórdia existe quando duas ou mais pessoas estão bri-gando, ou seja, onde há espíritos defendendo o seu individualismo para sobrepor a sua vontade a do outro. Para estes, que eu leve a união: é o pedido de São Francisco.

A união, congraçamento, só acontecerá com o fim das von-tades individuais. Jamais haverá união enquanto um espírito tiver vontade individual, pois não existem dois espíritos que querem a mesma coisa com a mesma intensidade.

Para que se possa levar união, portanto, existe a necessida-de de ensinar cada um a amar o que tem ao invés de querer possuir as coisas, ou seja, impor o seu individualismo ao do próximo. Este é o trabalho que Francisco de Assis pede a Deus que lhe faça ins-trumento: levar a cada um a compreensão de que ele já tem tudo o que precisa para ser feliz.

Mas, mais do que isto, explicar a cada um que ele não con-segue ser feliz não porque seja azarado ou porque ninguém gosta dele, mas porque está preso ao seu individualismo, ao seu ego, que só lhe deixa ser feliz quando suas verdades são contentadas.

Mesmo assim, quando a verdade atual do ego for contenta-da, não se pode dizer que o ser humanizado será realmente feliz, pois enquanto existir o ego estará sempre cobrando coisas novas (criando desejos) para poder haver o prazer da conquista.

A humanidade tem uma frase que diz assim: amo tudo que tenho, mas não tenho tudo que amo. Isto é mentira, pois se você ama alguma coisa que não tem é sinal de que não gosta do que tem: o que tem não lhe satisfaz e ainda precisa de mais coisas.

É a desunião que está estampada nesta frase, pois quando você vai buscar o que acha que ama e que não tem acabará tirando do próximo as verdades dele, as suas coisas materiais, os seus acontecimentos esperados, a realização de seus desejos.

Levar a união é ensinar a cada um que ele tem o que precisa e merece: os instrumentos necessários para as suas ações carmáti-cas. Levar a cada um que ele é um filho amado de Deus e que o Pai não deixaria de dar ao seu filho tudo aquilo que ele precisasse para ser feliz, espiritualmente falando. Isto é ser um São Francisco; isto é levar a união.

Esta é a missão de São Francisco. Ele percorreu o mundo di-zendo: seja feliz com o que você tem, não queira mais coisas.

Só agindo como ele poderemos promover a união entre os povos, entre as pessoas. No entanto, é preciso mais do que levá-las a se conformar com o que tem, mas a amar o que não tem. Amar não só o que possui, o que tem materialmente sobre seu con-trole, mas amar as faltas, aquilo que não tem.

‘Graças a Deus, louvado seja o Pai porque eu não tenho um prato de comida’. Para viver desta maneira é preciso compreender que a fome que Deus dá é o que é preciso e que por isso não se deve querer comida.

Não estamos falando em não comer. O ensinamento é de que cada um não deve viver na dependência da comida para ser feliz: tendo ou não, seja feliz.

Enquanto um espírito depender da comida para ser feliz, en-quanto a ausência desta for algo que atrapalhe a felicidade, não estará unido com quem come e aí ocorrerá à desunião, a briga para ter a comida que o outro possui.

A união que Francisco de Assis prega não é uma união qual-quer: é uma união espiritual. É uma união entre irmãos, uma união universal onde todos os espíritos se fundem num só, que você chama de Deus. Isto só será conseguido quando todos compreen-derem que Deus dá a cada um segundo a sua obra.

Claro, existe um Deus ser, mas Ele também é o todo univer-sal: é todas as coisas que existem e a falta delas, pois tudo é ema-nação do Senhor Supremo. Com o fim da individualidade e a fusão no universalismo, poderemos compreender que também somos deus, estamos em Deus.

É isso que Francisco de Assis pede ao Pai: que ele leve a cada um a compreensão de que já tem tudo que precisa para ser feliz, na abundância ou na carência. Pede também para servir de instrumento para ensinar ao próximo que ele não é feliz por desejar ter diferente do que tem.

Estamos exemplificando os ensinamentos de cada verso sempre de pessoa para pessoa, mas vamos falar de povos? Como acabar com a guerra entre os judeus e os árabes?

Mostrando ao árabe que Alá afirmou que lhe proveria com tu-do o que precisava. Alá deu o povo judeu ao lado dos árabes e se proveu desta forma é isto o que precisam. Por este motivo devem parar de fazer guerra contra este povo e deixá-lo em paz na terra dele.

Ao judeu mostrar que na Bíblia está escrito que Jeová daria ao povo escolhido tudo o que precisasse. Ele deu o árabe como vizinho, portanto respeite-o. Não construa mais em território que não é seu, deixe o árabe no canto dele.

Só isso. Mostrar a cada um que Deus, não importando o no-me nem o livro onde esteja o ensinamento, dá sempre a cada filho o que ele precisa para viver. Agora, enquanto cada um achar que aquela terra é dele, que lhe pertence, não vai haver união nunca.

 Pergunta: São Francisco de Assis é uma egrégora de vários seres?

Não, é um espírito.

Pergunta: Mas, não é através da nossa ação que Deus pode ajudar os outros para que eles possam se modificar, pensar e agir diferente, ou cada um recebe individualmente a sua missão através de seu sofrimento e nós nada podemos ou devemos fazer para que essa situação seja melhorada?

São duas perguntas em uma só. Sim, cada um recebe de Deus a sua parcela individual. Sim, você é um instrumento para auxiliar os outros. Até aqui você está perfeito na sua forma de ver, mas vamos entender melhor o ensinamento. .

Que auxílio você quer dar ao outro? O que você acha que de-ve dar? Aí está o problema. É a questão do individualismo. Vamos voltar à primeira frase desta oração: “Senhor, fazei de mim um ins-trumento de vossa paz”, não da minha. Não adianta se querer que aquele que tem a fome não a tenha mais, pois dessa forma estarei sendo instrumento da minha paz.

Você deve ser instrumento da paz de Deus. O instrumento pode até dar o prato de comida, mas não deixa de ensinar ao pró-ximo a ser feliz com o que ele tem. Não cria revolta nem desunião, mágoa ou críticas. Dá o prato de comida e auxilia o próximo em nome de Deus e não no seu próprio.

Para que ele possa ajudar em nome de Deus deve dar além do pão. Ensiná-lo que, ao invés de lastimar a sua falta de comida, deve amar a Deus para gerar um carma diferente e aí poder receber comida.

 Pergunta: É dar a vara?

Sim, ensine-o a pescar. Dê o peixe, o prato de comida, mas não deixe de dar a vara e ensiná-lo a pescar. Ensine-o a amar a Deus acima de todas as coisas, inclusive da sua situação e mande-o pescar (viver seus acontecimentos) para que ele nunca mais tenha fome.

 Pergunta: Deus não nos utiliza apenas para ajudar os caren-tes, mas também como instrumento de “puxões de orelha” também. A caminhada não são só flores, não é isso?

Sim, concordo plenamente com você: os espíritos são utili-zados como instrumentos para auxiliar os carentes, mas também os abastados.

No entanto, enquanto você der o puxão de orelha com a sua consciência de certo ou errado, ensinando o que você sabe que é certo, estará agindo em nome de Deus, mas tirando vantagem (pra-zer) do que o Pai está fazendo.

Auxiliar ao próximo sempre será a orientação da necessidade de mudanças, mas se mudar em que sentido? Para Deus, nunca para você, para o que acha certo.

Ensiná-lo a amar a Deus acima de todas as coisas é universa-lismo, mas ensiná-lo a atravessar a rua na outra esquina e não nesta porque a acha ”perigosa”, isto é individualismo.

Oração de São Francisco

“onde houver dúvidas que eu leve a fé”.

 Que dúvida pode haver na vida de um ser humano? Qual a dúvida que você pode ter? Só uma: saber o que está acontecendo na sua vida.

Esta é a dúvida de todo espírito: para que nasci? Por que es-tou vivo? O que está acontecendo realmente, no sentido espiritual, neste momento?

Francisco de Assis pede a Deus: onde houver dúvidas que eu leve a fé. Só a fé, confiança e entrega total a Deus pode escla-recer a Realidade do mundo, a Verdade. Sem fé jamais haverá compreensão da Verdade, do que está acontecendo realmente.

Tudo que acontece no universo é Deus agindo, é emanação de Deus. Isto nos foi ensinado por Krishna. Só isso é Verdade, é Realidade.

Quer saber quem é você? Uma emanação de Deus. Quer sa-ber para que está vivo? Para fazer provas e durante as suas provas ajudar o próximo, ou seja, servir como emanação de Deus. Quer saber o que está acontecendo agora? É Deus emanando amor por você e lhe fazendo vivenciar situações que são seus carmas, mas que também servem de instrumentos para o carma dos outros. Só isso.

Mas, para se ver Deus em ação é preciso ter fé: confiança e entrega. Sem ela você verá o outro agindo e aí gerará a ofensa, o ferimento.

Sempre que você fugir da Realidade e ver outro ser agindo e não Deus se sentirá ferido porque se acha sempre certo. Os seres humanizados, individualistas por natureza, consideram-se superiores a todos e se acham sempre certos.

O que não deixa o ser humanizado conhecer a Realidade não é o não saber, mas é a certeza que cada um tem de que pode com-preender as coisas do mundo. Como esta compreensão é fruto de um conhecimento limitado do ser humano da Realidade é, por si mesma, uma falsidade.

Por isto, tudo o que você acha certo deveria ser tratado co-mo dúvida. Além do mais, tão logo se convença que está certo vem o mundo (as situações) e transforma todas as suas verdades.

‘Como? Como isso foi acontecer? Eu tinha certeza disso, estu-dei todas as probabilidades dentro das minhas verdades e não acon-teceu como esperava. Por quê?’. Porque Deus não fez. Mas para enxergar isso, tem que haver a fé.

Oração de São Francisco

Verdade

“onde houver erro que eu leve a verdade”

 O que é uma coisa errada? É aquilo que vai contra a verda-de, o que é certo. Mas, se errado é tudo aquilo que vai contra a verdade quem pode dizer o que é verdadeiro, ou seja, quem tem a Verdade do Universo? Quem pode saber o que é Verdadeiro, Ver-dade Absoluta? Só Deus.

Somente a Inteligência Suprema do Universo tem a capacida-de de analisar e compreender perfeitamente tudo que acontece e assim gerar uma Verdade sem retoques, Absoluta.

O ser humano, como personagem criado pelo espírito para sua evolução, possui inteligência, que é o próprio espírito que o anima. Esta inteligência, no entanto, não é suprema, mas limitada de acordo com o seu grau de evolução. Ou seja, possui verdades que não são reais, mas que condizem o grau de evolução de cada um.

É por isso que o ser humano não conhece a Verdade Absolu-ta, mas apenas a verdade relativa, ou seja, uma verdade baseada na sua limitada capacidade de compreender o universo.

Se a inteligência do ser humano (espírito) não conhece a Ver-dade, como pode imaginar ter o poder de dizer o que é Real? Como pode afirmar que o que está imaginando das situações é Verdade? Somente quem conhece a Verdade pode saber a Realidade, ou seja, Deus.

Você dá um prato de comida, porque quer dar um prato de comida e imagina (cria a realidade) que com isto está servindo ao próximo, mas esta compreensão é fictícia, ilusória. Quando alguém age motivado por um desejo (vontade) está, antes de qualquer coi-sa, agindo em seu favor e não do próximo. Portanto, a Verdade daquele momento é que você está se servindo do próximo, ou seja, está utilizando o outro para satisfazer a sua vontade.

Mesmo que com seu ato auxilie alguém, a motivação primária (intenção) foi fazer o que você queria e não auxiliar o próximo, pois esta última intenção ficou subordinada à primeira. Deus conhece a Realidade dos fatos, pois como Cristo nos ensinou, Ele conhece a verdadeira intenção de cada um ao agir. Desta forma Deus sabe o que está acontecendo de verdade: você se servindo do próximo para ter prazer.

Além disso, já estudamos anteriormente que todos os atos da vida carnal são ações carmáticas, ou seja, são situações criadas por Deus que possuem a característica de ser a justa reação a uma ação anterior. Elas também servem de prova para o espírito na sua caminhada da evolução espiritual. Todos os envolvidos em aconte-cimentos estão vivenciando uma ação carmática criada por Deus e não gerando atos espontaneamente.

 Portanto, a intenção criou uma fantasia, mas o próprio ato é também uma ilusão. Você não está dando comida a ninguém. É Deus que está, através da ação carmática sua e do outro, dando a comida. Essa é a Verdade Absoluta dos acontecimentos do mun-do, essa é a Realidade. Apenas Deus e Sua ação, Deus e Seu amor são Verdadeiros.

Ninguém faz nada, só Deus age: isto é Real; isto é Verdadei-ro. É isto que precisamos levar às pessoas e trazer para nossa vida para que todos eliminem as ilusões que vivem e possam viver a Realidade.

Voltando ao texto da oração que estamos analisando após termos compreendido o que é a Realidade e a Verdade, o que seria, então, o erro ao qual Francisco se refere? Os seres humanos imagi-narem que estão fazendo, agindo, quando na verdade estão sendo instrumentos de Deus.

O ensinamento da Realidade (Deus Causa Primária de todas as coisas gerando ações carmáticas) vale para todos os detalhes da vida, mesmo aqueles onde os seres humanizados imaginam que Deus não interfira. Portanto, ninguém jamais faz pratica ação algu-ma, por menor, mais sem importância que possa parecer a ação.

Imagine se uma grande quantidade de seres humanos deci-disse comprar a quantidade de pães que quiserem. Sabe o que ia acontecer? Ia ter que devastar a floresta amazônica para poder plan-tar trigo.

‘Se quiser eu como vinte pães, e Deus nada tem a ver com is-so’. Aí está o erro: achar que cada um age por livre e espontânea vontade sem compreender que o universo é interdependente, ou seja, que tudo que você faz reflete sobre outros e sobre as coisas.

Destruir a floresta amazônica seria, em tese, um acontecimen-to que afetaria não só a vida de todos os habitantes do planeta, mas se refletiria em todo Universo. Será que alguém pode fazer a outro tão distante o que ele não precise nem mereça, ou seja, sem que Deus não tenha considerado que ele possuía este carma e pre-cisava passar por tal situação?

Se o ser humano agisse dentro da inconsequência gerada pe-la sua limitada capacidade de compreender os reflexos dos seus atos, teria o poder de ferir o próximo. E Deus? Neste caos seria um mero espectador do mundo, vendo os seus filhos serem feridos constantemente sem poder fazer nada?

O Senhor Onipotente do Universo não poderia reagir para salvar a humanidade e o próprio Universo porque seres humanos querem comer vinte pães cada um? Claro que sim e por isso age, ou seja, por isso faz cada um comer a quantidade de pães suficien-tes para que não interfira no equilíbrio universal.

Esta é a Verdade que Francisco de Assis propaga: Deus, e somente Ele, age. A nós espíritos, humanizados ou não, compete sair do “erro”, ou seja, da ilusão da ação individual de cada um: achar que eu ajo, que o outro age, achar que as coisas agem, achar que o outro pode fazer o que quiser.

É desta ilusão de que todos agem por livre e espontânea vontade que surge o medo. A ilusão da ação individualizada e livre destrói a fé.

Não existem dois seres humanos que gostem e queiram as mesmas coisas com a mesma intensidade. Se cada um pudesse agir livremente, certamente estaria sempre movido pelo desejo de que a sua verdade sobrepujasse a do próximo, pois o objetivo pri-mário do ser humano é satisfazer-se, ou seja, que suas verdades sejam realidade. Com isto, certamente um acabaria ferindo o outro na busca de impor-se.

Se você não acredita que Deus e só Ele age, mas que o ou-tro pratica ações por livre e espontânea vontade irá imaginar que ele tem o poder de se sobrepor a você e, com certeza, se sentirá ferido se isto ocorrer. Então eu pergunto: e o seu Pai que é o Senhor Oni-potente, Onipresente e Onisciente não pode fazer nada para lhe defender?

Será que Ele, que tudo pode terá que assistir passivamente a toda injustiça que você passa? Claro que não. Ele age sempre dan-do a cada o que merece. Portanto, se o outro lhe sobrepujar em determinados momentos, não sofra, pois foi Deus quem assim decidiu e só fez isto porque era o que você merecia no momento. Louve e ama a Deus por isto.

Levar a Verdade e a paz de Deus é dizer a cada um: Deus es-tá agindo lhe dando o que você merece (fruto da sua ação anterior) e precisa (prova para sua elevação) e não o próximo. Pare de sofrer e ame a Deus e sinta-se amado por Ele.

Mas, a recíproca é verdadeira. Se você conseguir se impor (estar certo) num relacionamento, saiba que isto não é Real, mas uma ilusão temporária que Deus concedeu a você porque o outro precisava e merecia ser sobrepujado naquele momento. Portanto, não tenha o prazer nem a soberba de se sentir o melhor, o certo.

Ter prazer quando Deus age: isso é uma atitude de profunda incompreensão do Universo. Eu afirmo: o homem, o ser humaniza-do tira proveito do que Deus faz.

Quando o Pai faz acontecer a ação carmática coincidente com a ilusão (verdade relativa) do ser humanizado, ele tira proveito da situação: tem prazer achando que ele conseguiu realizar o que queria.

Aquele que obtêm lucros individuais com o trabalho alheio pode ser chamado de explorador. O ser humano, ou melhor, o espí-rito que vive a ilusão de ser e estar é um explorador de Deus. O Pai age e ele tem o prazer (lucro individual). Onde ficou a humildade ensinada pelos mestres? Onde ficou a subserviência a Deus?

Deu certo, foi eu que fiz, não deu certo, foi outro que fez: is-so é erro, é irreal. Viver deste jeito é viver no erro, na ilusão. Para que vivamos a oração do São Francisco é preciso compreender e viver dentro da Realidade: só Deus age. Aí estaremos vivendo a Verdade.

 

Um comentário de Joaquim:

Tantos assuntos estão sendo estudados hoje, não? Quantos temas diferentes da vida humana estão sendo abordados, não? Esta oração, como guia de vida, é fenomenal.

Tanto ela como o Pai Nosso são guias que se seguidos no seu contexto levariam o ser humanizado a alcançar a evolução espiritual rapidamente. O problema é que os seres humanizados ficam adoran-do, idolatrando Francisco de Assis, ao invés de entenderem o que ele fala, ou então, ficam apenas recitando as suas palavras, mas na hora de agir não as colocam em prática.

Oração de São Francisco

Esperança

“onde houver desespero que eu leve a esperança”.

 O que é um desespero? Quando o ser humano fica desespe-rado? Quando acontece uma situação que ofende o seu individua-lismo e ele não consegue alterá-la. Quando isto ocorre o ser huma-no entra no processo de sofrimento e depois, junto com a depres-são, vem o desespero.

Francisco de Assis propõe servir como instrumento de Deus àqueles que vivem desta maneira para levar a esperança. Precisa-mos entender que esperança se propõe a levar, pois dependendo da forma como cada um encare os acontecimentos da vida, esta ação pode ter diferentes significados.

Qual foi a missão do Cristo? O que ele nos ensinou mais pro-fundamente? Que existe uma forma de viver que é resultante da elevação espiritual (o amor a Deus e a todos) onde as coisas da vida não mais causam aflições.

Cristo fez isto como instrumento de Deus para ensinar aos seres humanizados que existe uma Realidade muito diferente da-quela em que eles vivem e que é cheia de graça (felicidade incondi-cional). Mas, não agiu apenas para mostrá-la, mas também no sen-tido de dizer que ela pode ser alcançada.

Quando o ser encarnado viver a sua existência da mesma forma que Jesus Cristo vivenciou a sua alcançará o que foi chama-do de ressurreição, ou seja, a vida espiritual consciente, dentro da Realidade. Por isto o mestre nos ensina: “eu sou o caminho, a ver-dade e a luz. Ninguém chega a Deus a não ser através de mim”.

É esta a esperança que Francisco de Assis quer levar como instrumento de Deus para aqueles que vivem desesperados: que a felicidade incondicional pode ser alcançada. Para realizar esta mis-são precisa ensinar a Realidade (atos gerados por Deus como ação carmática e prova) aos seres humanizados.

Toda situação que o ser humano vivencia é um instrumento da sua felicidade, pois foi criada por Deus para que o espírito tenha a oportunidade de se elevar. Ela é fruto do Amor Sublime de um Pai pelo seu filho.

Vivendo com esta Realidade o ser humanizado pode ser feliz, mesmo que não “goste” do que está acontecendo. Basta para isso não se desesperar, mas amar, mesmo que o momento atual lhe seja adverso materialmente falando.

Ame o que está acontecendo que você será feliz sem mudar a forma das coisas. Ame quem aparentemente gerou a situação e a própria situação, ou seja, tudo que está envolvido.

Não foi assim que Cristo viveu? Ele amou a Deus sobre to-das as coisas, mesmo quando o acontecimento não o satisfazia: “Pai afasta de mim este cálice, mas se não for possível que seja feita a vossa vontade”.

A possibilidade de ser feliz realmente durante a vida carnal: esta é a esperança que Francisco de Assis ensina. Não uma felici-dade para depois da morte, como antigamente a Igreja Católica ensinava (que você tinha que ser sofredor nessa vida para alcançar o reino do céu depois que morresse). Não é esta esperança que Francisco de Assis traz, mas a esperança para a própria vida, a felicidade para ser vivida ainda encarnado.

São Francisco levava ao próximo a esperança de que ele po-dia mudar a sua vida. Não os acontecimentos em si, mas o senti-mento com o qual os vivenciava. Ele ensinava que os seres huma-nos podiam deixar de viver em desespero, mas que para isto preci-sariam ter fé e agir com amor universal.

Na hora que você aceitar a esperança que Francisco ensinou e transformar o seu problema num ato de Deus, numa emanação do amor do Pai e se entregar à vivência deste problema com fé, pode-rá ser feliz, independente do que estará acontecendo.

Você não precisa sofrer quando o acontecimento está em desacordo com os seus desejos, ou seja, está acontecendo o que não gosta. Isto é apenas para aqueles que não têm a esperança na ressurreição.

Já me perguntaram: nós nascemos para sofrer? Não. Nasce-mos para a felicidade, mas escolhemos sofrer quando Deus nos dá sempre motivos para ser feliz. Só não realizamos aquilo para que nascemos porque não confiamos e nos entregamos a Ele.

Para tornar realidade a esperança que Francisco de Assis nos traz basta confiar em Deus, ter fé. Afinal de contas, se Deus é por nós, quem poderá ser contra?

Para que isto se transforme em Realidade na sua vida é pre-ciso abrir mão do individualismo, do desejo, da paixão e da verda-de que você possui. Só isso. Na hora que abrir mão destas coisas, não terá mais motivos para sofrer. Estará com Deus, estará em Deus.

É esta esperança que Francisco de Assis transformou em ins-trumento da paz de Deus: que não há necessidade de morrer para ser feliz; basta amá-Lo acima de todas as coisas durante a encarna-ção.

Por que você seria feliz somente depois que morresse? Aí se transformaria em um espírito, estaria com Deus? Mas, você já é um espírito e se já está com Deus, basta aprender a viver esta vida dentro desta Realidade, ou seja, com os valores espirituais, que são frutos apenas do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Oração de São Francisco

Alegria

“onde houver tristeza que eu leve a alegria”.

 Agora Francisco de Assis quer combater a tristeza, o sofri-mento, dos seres humanos, ou seja, mais uma vez estamos falando de um sentimento resultante do individualismo ferido (não gostar do que está acontecendo).

Para isto pede para levar a felicidade ao próximo, que ele se-ja instrumento da felicidade do próximo. Ele não se propõe a levar o prazer (levar a razão), mas sim a grande alegria desta vida que é Deus, que é estar em Deus, que é estar com Deus.

Levar a glória de viver com Deus e em Deus: esta é a felici-dade que Francisco de Assis se propõe levar a todos.

Ele não pede para servir de instrumento para fazer o que os outros querem, mas sim para mostrar a todos como é belo o “Reino de Deus”. Ele se propõe mostrar a todos como são perfeitas as coisas de Deus. Fala da vida simples, ou seja, da vida sem verda-des que a complique, que leva à felicidade.

É esta felicidade que Francisco de Assis quer levar a todos e esta é, também e, portanto, é esta a alegria que você deve buscar em São Francisco. Por isto, ao amigo espiritual não se devem fazer orações pedindo a que faça acontecer o que queremos, mas bus-car, através dele, a felicidade de estar vivo com Deus.

Vivo não no sentido material (material), mas no espiritual: es-tar vivo para o universo, conectado a Deus. Estar vivo é viver co-nectado ao todo universal (universalismo), vivenciar o universo intei-ro, aproximar-se do Pai, ao invés de estar preso em um mundo pequeno cheio de eu: eu quero, eu sou, eu estou.

A felicidade que Francisco de Assis prega surge depois que o ser humanizado derruba a porta do mundo individualista em que vive. Como chegar ao universo se você está preso dentro de uma casa onde só vale o que você acha, sabe e quer? É por estar preso neste mundo individualista que você sofre.

É preciso abandonar tudo que é individual para poder pene-trar no coletivo (universalismo) que, em resumo, é o próprio Deus. É por isso que Cristo disse ao moço rico que já cumpria todas as leis (caridade, oração, comunhão): abandone tudo que é seu e me siga.

Abandone tudo que é seu. Não as suas coisas materiais, mas as posses, ou seja, as verdades que tem sobre as coisas deste mundo. Doe todas as suas verdades aos pobres, aqueles que que-rem ter verdades.

O próximo quer ter razão? Louvado seja Deus, deixe-o levar a razão e ofereça a outra face. Ele quer achar que está certo? Louva-do seja Deus, deixe-o ficar com a certeza das coisas. Para que entrar em guerra e discutir com alguém? Para se provar que está certo? Isso resultará em sofrimento para você na certa.

Era por isso que quando alguém acusava ou mandava fazer algo, Francisco de Assis não discutia nem reagia. Agindo desta forma servia ao próximo. Este é o caminho para Deus, uma vida que pode lhe trazer felicidade.

Esta é a única forma que você tem de buscar aquilo para o qual vive: ser feliz. De nada adianta juntar dinheiro para comprar coisas achando que assim será feliz. De nada adianta proteger seu filho achando que nada vai acontecer a ele e assim você poderá ser feliz. De nada adianta querer ter saúde para ser feliz, pois mesmo que tenha tudo isso, os momentos de contrariedade acontecerão e neles você sofrerá.

Só quando não tiver verdades para ser contrariada você po-derá ser eternamente feliz. Esta é a felicidade que Francisco de Assis traz a todos e que é resultante da verdadeira liberdade: ser livre, completamente livre para ser feliz.

Livre do seu pior inimigo: você mesmo. Enquanto você não compreender que sofre porque é escravo de você mesmo, é escra-vo do seu ego, das suas verdades, do que você quer e não lutar para libertar-se de tudo isso, não será feliz.

Oração de São Francisco

Luz

 “onde houver trevas que eu leve a luz”.

 A Luz é Deus, é o amor de Deus: isso todos os mestres en-sinaram. Mas, e a treva, o que será? É o individualismo que obscu-rece a sua vida, o seu mundo.

‘Onde houver individualismo que eu leve o Senhor, meu Pai. Onde houver o individualismo que eu leve a Sua Verdade, onde hou-ver o eu quero que eu leve o Seu amor’. Esta é a luz que o Francisco de Assis quer levar aos demais seres humanizados.

Ele não quer levar aos outros uma luz artificial, mas a própria Luminosidade. Ele não pretende levar aos seres humanizados um mestre ou uma religião, mas levar Deus.

O que mais atrapalha a sua espiritualidade é a sua religiosi-dade. Enquanto você estiver preso a uma religião estará preso a um só mestre e uma só verdade e não encontrará Deus que é a Causa Primária de todas as coisas, a Verdade Absoluta do Universo. A soma do Todo.

Levar a luz não é ensinar a idolatrar Cristo nem ensinar o cris-tianismo, Kardec ou o espiritismo. Não é transmitir os ensinamentos do hinduísmo nem louvar a Krishna ou os do budismo e Buda. Le-var a Luz é falar de Deus, ensinar a amá-Lo acima de todas as coi-sas, inclusive dos mestres e das religiões.

É apresentar aos seres humanizados o Senhor Onipotente, Onisciente e Onipresente do Universo. É levá-los a compreender a ação da Inteligência Suprema, do Amor Sublime e da Justiça Perfei-ta. Ensiná-los a vivenciar a Causa Primária de todas as coisas.

É tudo isto que Francisco de Assis ensinou com palavras adequadas ao povo daquela época e ações que o levava a vivenci-ar os acontecimentos da sua existência em congraçamento com a Realidade. Ele viveu para Deus sem contestar o mundo, sem acusar ninguém. Ele viveu para Deus simplesmente.

Nós estamos falando de Francisco de Assis, mas procurem nas vidas dos mestres (Jesus Cristo, Krishna, Buda, Paulo, Pedro) se eles não viveram dessa foram. Foram caçados, xingados, pre-sos, crucificados e jamais perderam a sua paz interior.

Esta é a Verdade; é a Luz do universo; é a compreensão que liberta; o amor que leva ao gozo do bem celeste: a felicidade in-condicional.

Oração de São Francisco

Consolar

“Oh mestre, fazei com que eu procure mais consolar do que ser consolado”.

 Até aqui, Francisco de Assis na sua oração estava pedindo para ser instrumento de Deus, ou seja, agir para o próximo auxilian-do o Pai na Sua obra. A partir deste ponto, ele passa a falar do receber dos outros. Antes analisamos o que dar, agora vamos falar do que esperar receber pela doação amorosa.

O que é ser consolado? Quando alguém se sente consolado? Quando alguém lhe compreende, dá carinho, dá atenção, ouve.

A partir desta pequena análise podemos compreender o que Francisco de Assis pede a Deus: ‘Senhor, que no trabalho de instru-mento da vossa paz eu dê carinho e ajude aos outros, mas faça isso sem esperar receber o que estou dando’.

O caminho da elevação espiritual não passa pelo prazer indi-vidualista, ou seja, pela necessidade de se receber alguma coisa em troca pelo serviço ao próximo. Aquele que busca a elevação espiritual está sempre disposto a dar, a servir e não a ser servido. Está sempre atento em auxiliar o próximo e nunca preocupado em esperar que os outros lhe auxilie.

Francisco de Assis saiu pelo mundo lambendo a ferida dos outros e jamais buscando alguém que lambesse as suas. Procuran-do aqueles que estavam agonia, nas trevas e na discórdia para levá-los a Deus e nunca esperou receber em troca por isso luz, uni-ão ou amor a si.

O que poderíamos dizer dos seres humanizados? Que, no mínimo, são hipócritas. Mesmo os que seguem os preceitos de uma religião afirmam que o seu objetivo de vida é auxiliar o próxi-mo, mas se aquele que foi auxiliado não lhe retribui, critica e acusa. Se o próximo não disser pelo menos um “muito obrigado” é conde-nado como um mal agradecido.

Será que o objetivo deste ser humano era mesmo servir o próximo, ou sempre foi conquistar a fama, o reconhecimento? Na verdade a prestação de serviço do ser humanizado sempre é base-ada na busca individual, na esperança de ganhar alguma coisa em troca.

O ser humanizado busca constantemente consolar para ser consolado, pois assim exige o seu individualismo. Aquele que bus-ca consolar para receber alguma coisa em troca, mesmo que ape-nas o reconhecimento do que fez por parte do próximo ou da soci-edade em geral, é individualista.

Francisco de Assis nunca buscou consolo para si. Foi caluni-ado e criticado pelo seu modo de vestir, pelo seu despojamento, mas mesmo assim sempre estava pronto para auxiliar quem lhe caluniava e criticava.

Aquele que transforma a oração de São Francisco em uma forma de viver (servir de instrumento a Deus) deve sempre estar perto de alguém para auxiliá-lo, mas nunca esperar compreensão, um agradecimento, um olhar carinhoso, uma retribuição. Auxilia pelo amor a Deus, por se sentir instrumento do Pai e não para que rece-ba “compensações” do próximo ou de quem quer que seja, inclusi-ve do próprio Deus.

Oração de São Francisco

Compreender

“Que eu procure mais compreender do que ser compreendido”

Sabia que a pessoa que briga e acusa os outros seres huma-nos não está brigando com o outro? Ela está brigando consigo mesmo, pois tinha uma verdade, uma paixão e um desejo que não aconteceu e a discordância entre o que possuía e o acontecimento a deixou revoltada, frustrada.

É por causa destes sentimentos ela briga consigo mesmo e com Deus e não porque o acontecimento ocorreu de determinada forma. Se a pessoa não tivesse estas verdades ou padrões do que deveria acontecer, o que está acontecendo não lhe causaria revolta.

Sabe a pessoa que você acusa de estar ofendendo os ou-tros? Ela não está ofendendo ninguém, mas se defendendo dos outros, de Deus e do mundo, que agiram contra ela, contra as suas verdades.

Esta é a compreensão que Francisco de Assis comenta neste trecho da sua oração: saber que cada um age em legítima defesa do seu “eu interior material”, do seu ego, das suas verdades, dos seus desejos.

Francisco pede a Deus para levar esta compreensão aos se-res humanos, pois sabe que de posse dela eles poderiam não rea-gir contra o próximo. No entanto, pede também que Deus o auxilie a não esperar que as pessoas entendam seu ensinamento e reajam a ele com amor.

É por isto que, apesar de só falar em amor, só levar Deus e Sua palavra à humanidade, as pessoas o caluniavam e criticavam, mas ele as amava da mesma forma.

É a ajuda divina para não esperar ser compreendido que Francisco pede a Deus que lhe dê e esta também deve ser a que você deve pedir ao Pai para poder se tornar um bem-aventurado, ou seja, viver na felicidade universal.

‘Deus me dê forças, me dê intuição para que possa compreen-der a situação dentro da Realidade, dentro da Verdade, ao invés de ficar aprisionado neste mundinho do ego acusando todos, dizendo que estão me ferindo, quando na verdade todos estão se defendendo de mim, de Você e do mundo’.

Esta forma de proceder estampa mais um ensinamento de Cristo: dar a outra face. Se o outro precisa brigar com você, pois ainda está preso às suas verdades, deixe-o brigar. Permaneça ou-vindo tudo sem sentir-se ofendido.

Deixe-o brigar com você e não reaja: isto é auxiliar o próximo servindo de instrumento a Deus. Não adianta imaginar que discutin-do para mostrar e provar para os outros que eles estão errados e você certo está prestando um serviço ao próximo: isto é ilusão criada pelo seu ego.

Deixe o outro brigar, gritar, chorar, espernear e você não per-ca a sua paz. Afinal, ele não está brigando com você mesmo, não é? Amá-lo é a única coisa que pode auxiliá-lo, pois desta forma o ajudará a vencer suas verdades.

Este é o oferecer o outro lado que o Cristo ensinou. Dar a ou-tra face não é apanhar nas duas, mas não reagir dentro dos pa-drões que o mundo lhe impõe para reagir.

Os seres humanizados têm como padrão para a suas vidas a necessidade de reagir para impor-se aos outros, pois creem estar com a verdade, sabem o que é verdadeiro e precisam vencer sem-pre. O ser espiritualizado, mais perto de Deus sabe que apenas o Pai conhece a Verdade e apenas Ele é Real.

É a vida dentro deste padrão que Francisco de Assis não quer para ele e quem reza a oração de São Francisco, transforma-a em um guia de vida, deve buscar viver nesta compreensão. Quando sentir raiva por estar sendo contrariado, respirar fundo e dizer: ‘Se-nhor me ajude a ver neste acontecimento uma ação amorosa Sua’.

Buscar a elevação espiritual é sempre pedir para que o Pai o auxilie a compreender que o próximo não está brigando, mas é você que está querendo ser compreendido, pois se imagina o único certo do universo. Quem vive assim alcança a felicidade.

Oração de São Francisco

Amar

“amar do que ser amado”

 Pedira a Deus para amar mais do que ser amado é um resu-mo de tudo que falamos até agora: ‘que eu faça os outros felizes, mas que a minha felicidade seja apenas por servir ao próximo como instrumento de Deus e não condicionada a ser servido’. Ou seja, que eu faça os outros felizes, mas não dependa deles para ser feliz.

O ser humanizado não pode viver na dependência dos ou-tros, dos objetos ou dos acontecimentos A felicidade universal sempre está no universo à disposição de todos, pois Deus a espa-lha constantemente.

Ela está à disposição de quem quiser ser feliz, mas o ser humanizado não consegue se conectar a ela porque ainda coloca obstáculos para isso: o contentamento da sua verdade, do seu desejo, da sua paixão.

‘Senhor, fazei que eu ame mais do que seja amado. Senhor, fazei com que eu leve a felicidade verdadeira a todos, mas que eu não espere a retribuição, a compreensão, nada, para ser feliz’.

Isto é o que você pede quando reza a oração do São Fran-cisco. Em resposta, Deus lhe dá a oportunidade de amar incondici-onalmente colocando-o frente ao ódio, a discórdia, o erro, a dúvida, a ofensa, o desespero, a tristeza, as trevas.

Deus faz isto porque você pediu como oportunidade de ser-viço a Ele. Neste momento, no entanto, ao invés de agir como pe-dido na oração, afirma que não pode amar o próximo porque ele não está fazendo o que você quer, não está lhe dando o carinho e a retribuição que gostaria de receber, não está lhe dando as coisas materiais que você gostaria de ter.

Apesar de rezar a Deus pedindo para amar sem ser amado, o ser humanizado vive a vida querendo ser amado para então amar. Para isso busca sempre escravizar os outros às suas verdades e paixões, ou seja, às suas condições para ser feliz.

Eu gosto sempre de lembrar o ensinamento de Cristo: abra-çar os amigos é fácil, eu quero ver é cumprimentar os inimigos. Nesta máxima está a razão da vida encarnada, ou seja, para o que você nasceu.

Sua encarnação tem um objetivo: aprender a conviver com que não lhe ama, amando-o do jeito que está, do jeito que é. Para isso é preciso não fazer cobranças, não fazer exigências, não colo-car imposições para amar.

‘O dia que você não mais agir desta forma eu lhe amo’. Viven-do com este parâmetro você perdeu uma grande oportunidade de amar e isto aconteceu porque quis ser amado. Amar o próximo do jeito que é, do jeito que está, fazendo o que está fazendo. Foi para isso que você nasceu.

Oração de São Francisco

Perdoar

“pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado”

 Neste trecho da oração de São Francisco podemos ver a lei do carma. Nele também encontramos a máxima de Cristo: fazer aos outro o que você quer que ele faça para você.

No entanto, Francisco de Assis não fala em perdoar quem você quer perdoar, dar para quem você dar, ou seja, àquele que você julgue merecedor de receber, mas perdoar e amar a todos incondicionalmente.

Vivenciar este ensinamento é a maior sabedoria que um ser humanizado pode alcançar, pois nele reside o motivo da existência carnal, o objetivo da encarnação.

Todos os espíritos que se encontram no Mundo de Provas e Expiações estão aqui para provar a Deus que são capazes de agir em benefício do próximo sem outra motivação do que o amor. Para provar que são capazes de agir sem receber nada em troca; são capazes de dar independente de razões para tanto e sem esperar receber nada em troca; são capazes de amar, sem que para isso tenham sido amados.

É para isso que você nasceu. Quando ama desta maneira abre uma estrada luminosa para você mesmo porque entrará na consciência amorosa e verá Deus agindo. Quando você dá incondi-cionalmente, abre a compreensão e sente que está recebendo de Deus.

Sem a compreensão deste ensinamento e sem a fé (ingredi-ente fundamental para esta vivência), não há vida, mas sim morte. A morte que você chama de vida: a casa fechada que utilizamos ante-riormente como figura para simbolizar o seu individualismo.

Abrir-se para o mundo é exatamente isto: dar sem motivos e sem esperar receber nada em troca e amar incondicionalmente para ser amado. Isto é derrubar as paredes da sua casa. É preciso agir desta maneira, pois as paredes do seu mundo individualista (suas verdades) bloqueiam a sua capacidade de amar e dar incondicio-nalmente.

Somente aquele que se liberta de suas verdades e faz para os outros incondicionalmente encontra a verdadeira vida.

Oração de São Francisco

Morrer

“é morrendo que se nasce para a vida eterna”

Cristo nos ensinou: em verdade, em verdade, vos digo, quem não nascer de novo não verá o reino do céu. Em verdade aqueles que buscam a elevação espiritual sabem disto e querem renascer, mas se esquecem de que é preciso antes morrer para que aconteça um renascimento.

Só morrendo o ser humanizado pode viver no sentido espiri-tual (vendo o Reino do Céu). Mas, não se trata de morrer fisicamen-te, mas da morte do eu, do ego, derrubar as paredes da casa indi-vidualista que o ser humanizado habita.

Enquanto houver uma verdade, um desejo, uma paixão, o ser humanizado estará vivo apenas no sentido material, mas estará morto, no sentido espiritual. Quando ele se libertar destas coisas morrerá como é hoje e só aí renascerá para glória de Deus, alcança-rá a ressurreição, ou seja, voltará a viver na consciência espiritual.

Quando o espírito promover esta reforma (íntima) continuará vivendo nesta carne, mas, como Buda ensinou, como um ser ilumi-nado, alguém que compreende o mundo dentro da Verdade, da Realidade. Este ser estará vivendo na Luz de Deus e não nas trevas do individualismo.

Aquele que reza a oração de São Francisco como uma forma de religação com Deus, tem que viver para morrer. Para isto pode se aproveitar dos ensinamentos de Cristo, pois como ele mesmo ensinou “eu vim trazer a espada”.

Para se promover a reforma íntima é necessário que se utilize a espada (ensinamentos) que Cristo trouxe para se matar. É preciso utilizar a compreensão dos acontecimentos do mundo que surge quando se entende o ensinamento do mestre para acabar com as verdades individuais e não utilizá-los para atacar os outros.

Infelizmente os seres humanizados que não estão dispostos a se matarem e, por isto, utilizam os ensinamentos para ferir os outros com críticas e acusações. Por isto o mestre ensinou: é pre-ciso tirar a trave que está no olho de cada um ao invés de apontar o cisco nos olhos dos outros.

Aquele que garante eu sei, nada sabe, e está no caminho da discórdia, do ferimento a si e ao próximo. Só aquele que “morre”, que não existe mais como uma individualidade individualista pode nascer para a eternidade.

Nascer para o universo, para o universalismo, para Deus e para o próximo.

Amém. Com as graças de Deus.