Saindo da crise
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Saindo da crise

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Sair da crise - parte 1
Sair da crise - parte 2

Nesta conversa realizada durante a festa de Nossa Senhora de 2016, Joaquim orienta os amigos a como conviver com as crises que estão marcando, não só o Brasil, mas o mundo inteiro, no início do século XXI: crise institucional, de segurança e financeira.

A busca

A busca

1. Buscador consciente

Participante: eu estava no café da manhã com a minha companheira conversando sobre seus ensinamentos. Aí falei que às vezes nos perdemos com a quantidade dos ensinamentos. Nos esquecemos que a finalidade do seu ensinamento é estar em paz e em harmonia. Ou seja, ficamos perdidos no dia a dia e nos esquecemos que a finalidade de tudo o que o senhor fala é estar em paz. Para me lembrar disso, juntei essa observação com outro ensinamento que ouvi de um outro pai velho: ‘olha filho, o ensinamento e eu somos o dedo, mas a finalidade é a lua. Vocês se prendem no dedo apontado para lua e se esquecem de chegar ou de visualizar a lua’.

Perfeito.

Na verdade, o problema é que vocês, na verdade, quando estão aqui, não estão preocupados em resolver a vida. Quando ouvem a mim ou a qualquer outro guru, mensageiro, não estão preocupados em resolver verdadeiramente o problema da vida de vocês. Estão sempre preocupados em saber alguma coisa. É por isso que toda a gama de ensinamentos que recebem se perde.

Outro detalhe sobre os ensinamentos espirituais é que eles parecem diferentes um do outro, mas não são. Como você disse, todos estão ligados a um só fundamento: alcançar a paz e a harmonia. Podem parecer diferentes, mas todos têm um só fundamento.

Sendo isso verdade, você não precisa saber o que fazer, mas concentrar-se em saber o que alcançar. É exatamente o que você falou: não importa se eu falo de banana, de coco, de maternidade, de Cristo ou de Deus; tudo o que disser tem como objetivo lhe mostrar um caminho para a felicidade. Sabendo disso, a sua concentração precisa ser em viver feliz e não em aprender como se vive.

Tudo o que falo tem como objetivo lhe levar a viver em paz, em harmonia com você, com o mundo e com os outros. Se entender isso, não precisa ficar se preocupando se eu disse para não se apegar ou se disse para amar: concentre-se apenas em viver em paz destruindo tudo que lhe rouba esse estado de espírito.

Quem entende o que estou dizendo já tem o norte para caminhar. Quem sabe que rumo precisa seguir, não necessita de bússola: se guia pelo sol.

Agora, ouvindo o que acabou de escutar, o que vai fazer? Esse é o ponto importante da minha resposta. A partir de tudo o que eu disse nos últimos dezessete anos, do que já ouviu nos últimos cinquenta anos, de tudo o que foi ensinado nesse planeta nos últimos cinco mil anos, o que você descobriu?

Participante: que o objetivo é sempre ficar em paz.

Não, não é isso. Esquece o objetivo; já falamos dele.

Repare numa coisa: Joaquim fala de um jeito, não sei quem fala de outro, não sei quem fala de outro. Quando você vê essa gama de informação cada uma falada de um jeito, o que pode tirar de conclusão?

Participante: que todos são iguais?

Na verdade, são todos diferentes. Eu falo que pode estuprar, o outro fala que não pode. Eu falo que não é obrigado a dar alimento e outro fala que é. Todos são diferentes. Apesar disso, todos estão ligados ao mesmo objetivo que já falamos: estar em paz.

Agora, se você tem um que diz que pode alguma coisa e o outro diz que não pode, mas os dois ensinamentos estão atrelados ao mesmo objetivo, o que você apreende com isso? Que qualquer caminho leva a Deus!

Quando você descobrir que quando se fala de trabalho de reforma íntima o importante não é fazer isso ou aquilo, mas alcançar determinada coisa (ser feliz incondicionalmente) e que diversos caminhos podem levar à realizar, descobre uma coisa interessante: você vai fazer o seu ensinamento.

Quem busca a reforma íntima com a consciência perfeita desse processo faz o seu próprio caminho. Ele caminha do jeito que for, à hora que for, sem estar apegado à praticar determinados atos ou preso à quaisquer normas e regras.

Para aquele que busca conscientemente a elevação espiritual o importante não é o caminho, não é fazer isso ou aquilo, não é seguir essa ou aquela norma, mas alcançar aquilo que se entende como objetivo. Esses sabem que o caminho não é realização, por isso não se preocupam por onde andarão, mas sim em chegar.

Por isso, lhe dou um conselho: faça o que fizer, acredite no que acreditar, jamais deixe de lutar pela sua paz. Se alguma coisa que Joaquim nunca falou lhe serve de instrumento para alcançar a paz, use! Se, mesmo acreditando em mim, alguma coisa que outro falou lhe serviu como arma para acabar com a desarmonia com o outro, use!

Essa é a diferença entre querer saber. Quem quer saber, escolhe mestre e defende os ensinamentos do escolhido dizendo que só eles são verdades absolutas. Quem quer conseguir, não se apega a um mestre nem a um só ensinamento, mas se utiliza de tudo o que for possível usar como arma contra a desarmonia. Ele caminha mesmo que seja aos trancos e barrancos para o objetivo.

Pode ir por caminho torto, mas isso não tem problema. O importante é que chegará.

Participante: pode errar também, né?

Pode, mas não vai errar nunca.

Que procura conscientemente a felicidade e para alcança-la hoje usa um argumento que não consegue acabar coma desarmonia, amanhã não o usará mais. Nesse caso não errou, experimentou.

Participante: descobriu uma forma de não fazer.

Isso.

O que estou falando agora tem a ver com uma grande discussão no nosso meio: Deus é causa primária de todas as coisas ou não? Aquele que idolatra os ensinamentos e quer saber jura de pé junto que sim, mas o buscador consciente apenas diz: não sei. Mais: e não me interessa saber ...

Na hora que alguém tem certeza absoluta de alguma coisa, a informação deixa de ser caminho e vira apenas cultura, saber. Isso não pode acontecer, pois, como já conversamos, tudo o que se sabe é tratado como absoluto e será um entrave ao caminho.

Participante: não vai estar em paz, por exemplo.

Isso, não vai alcançar.

Portanto, se Deus é ou não Causa Primária de todas as coisas, declare textualmente que não tem certeza. Apesar disso, quando essa informação lhe ajudar a estar em paz, use-a sem saber se é ou se não.

Esse é o grande segredo da busca da felicidade: vocês não buscam alcança-la, mas apenas saber ensinamentos. Alcançando o saber não vão realizar nada, mas apenas conseguir mais argumentos para lutar com o outro. Portanto, não importa qual seja o caminho que um guru fale ou que o outro diga, nem no que você acredita: apenas use tudo o que lhe estiver disponível para ter paz.

Esse é um ensinamento libertador, mas vem a mente e começa a semear a desconfiança: ‘será que ao usar esse ensinamento não estou sendo egoísta, não estou pensando apenas na minha paz’? Sim, é isso mesmo: é apenas uma coisa para você conseguir a paz. Não há verdade alguma em qualquer ensinamento.

Chocados? Pergunto: o que é verdade?

Participante: não sei ...

Eu sei: é o que você declarar que é. Tudo que disser que é verdade, será, para você.

Por isso, pouco importa no que você acredita. Seja qual for o ensinamento que siga, ele só será verdadeiro se você declarar que seja. Sendo assim, pergunto: para que quer saber se determinado ensinamento é verdadeiro o não, se só será verdade o que você disser que é?

Então, use tudo o que quiser ...

Participante: até o que você nos passa só será verdade se acreditarmos que é.

Por isso eu sempre digo no final: não acreditem em mim.

Participante: quantas vezes não acreditamos no que você fala no momento que ouvimos e depois acabamos concordando ...

Portanto, o que você falou é muito importante. Para que? Para você parar de ouvir Joaquim, ou qualquer outro, no sentido de saber e ouvir no sentido de adquirir ferramentas que você pode ou não usar.

2. O que realmente importa

Participante: nós vínhamos no carro conversando. O colega falou sobre o aparelho GPS. Eu fiz um comentário com uma informação discordante da dele. Isso não gerou uma discordância entre nós, mas depois minha mente disse: ‘olha a diferença de conceito entre as pessoas’! Nas situações onde estou conversando e observando as pessoas a minha mente, ao mesmo tempo que traz uma informação discordante da outra pessoa, me dá um toque: ‘observa o que está acontecendo’. Ou seja, é como se ela me desse duas proposições de coisas a fazer (prestar atenção no que penso ou no que ouço, para que eu fizesse uma escolha.

Sim, tem muitos que não conseguem observar, mas tem outros que conseguem.

Volto a repetir: o importante não é observar ou não. O importante é ser feliz.

Deixe-me falar bem claramente, pois aqui não tem nenhuma criança. Todos aqui sabem o que é sofrer; todos sabem que não querem sofrer. Por isso, pergunto: por que na hora que sofrem não lutam para sair desse estado de espírito? Porque ao invés de fazerem alguma coisa para estancar o sofrimento preferem apenas lamentarem-se?

Sabe, o toque da sua mente que você relatou ainda está muito erudito, muito científico. Se você conseguisse achar um caminho por causa dessa ação da sua mente, amanhã vai cobrar de outro que não tenha: ‘Você não tem esse toque? Por que isso não acontece com você? Será que está realmente se dedicando tanto quanto eu’?

O resumo de todo o processo de reforma íntima é: descobriu que está sofrendo, aja contra esse estado de espírito, aja contra o sofrer. ‘Eu não quero isso para mim. Por isso, se o que estou vivendo me causa sofrimento, prefiro abrir mão dessa verdade ou de querer isso ou aquilo’. Pronto: acabou tudo o que precisa saber e fazer para ser feliz.

Para se viver em felicidade não é necessário ciência alguma: basta apenas ser feliz. É só isso o que você tem que fazer: tem que arrumar um jeito para ficar em paz, para se harmonizar com o momento que está vivendo. Esse jeito não é universal, não está preso a nenhuma ciência: cada um precisa encontrar o seu.

Por isso sempre disse que a minha função é abrir o leque de possibilidades de verdades que podem estar presentes em todos os momentos. Com isso, gero ferramentas para você escolher a que quer usar.

Eu não estou aqui para ensinar nada a ninguém. Não estou aqui para transmitir verdades, ensinamentos profundos dos antigos. Não, estou aqui simplesmente para lhe dar armas para que possa escolher qual delas vai usar para matar aquilo que lhe causa sofrimento. Ponto final: essa é a minha função.

Dezessete anos falando a mesma coisa e cada vez que falo abordo o mesmo tema de uma forma diferente. Faço isso exatamente para que possa ampliar o arsenal de tal forma que você sempre encontre uma arma que lhe sirva.

Na verdade, já dissemos tudo o que tínhamos para falar quando enumeramos as ‘Cinco Verdades Universais’ em 2001. Elas são as bases de tudo o que falamos ainda hoje. Mesmo que nunca mais tenha falado delas, tudo que digo está fundamentado nelas.

Portanto, se alguém quer saber alguma coisa de nossas mensagens, concentre-se apenas em entendê-las. A necessidade de entender qualquer outra coisa é apenas um apelo mental.

Hoje falamos de renascer e em outro dia o assunto teve um título diferente. Apesar disso, não falei nada diferente nos dois dias e nem de tudo o que transmiti nos últimos dezessete anos, apesar de nunca ter falado em renascer. Só que vocês imaginam que o assunto de hoje foi totalmente novo. Porque isso? Porque não se concentram na base do assunto. Com isso, o que foi dito hoje será esquecido.

Por isso, lhes digo: esqueçam os argumentos que usei, esqueçam os aspectos científicos envolvidos, esqueçam tudo o que foi dito e concentrem-se apenas numa coisa: o meu objetivo de vida é ser feliz! Não uma felicidade condicionada, ou seja, ser feliz porque ou para ganhar a elevação espiritual ou ter uma vida melhor. Estou falando em ser feliz para viver melhor essa vida porque você não aguenta mais sofrer. Na hora que disser isso para si mesmo e observar o arsenal que tem à sua disposição para alcançar essa felicidade, terá conhecido tudo o que precisa para a sua luta. Todo o resto é apenas conversa para sábio.

3. Flexível como um bambu

Participante: disso que o senhor falou, as vezes me vem à reflexão de que quanto mais eu conseguir ser flexível com aquilo que penso mais armas terei para lutar contra o sofrimento, não é? Hoje eu posso me dar o direito de acreditar em uma coisa, amanhã acreditar em outra ... Isso não importa, não é mesmo?

Não é se trata de lhe dar esse direito; você já o tem.

Não é você que está se dando esse direito agora. Você sempre teve o direito de acreditar no que quiser. Por isso lhe dou um conselho: dentro de tudo o que pode acreditar, procure crer naquilo que for melhor para você.

Participante: não importa, porque a gente não vai saber o que é verdade mesmo.

Perfeito. Mas, aí é que surge um grande problema para os buscadores.

A grande maioria ainda acredita que há uma verdade a ser alcançada, só que não há verdade para ser alcançada. Deixe-me lhe fazer uma pergunta. Você falou algo interessante: ser como o bambu. Se desse um vento muito forte num bambuzal, o que cairia primeiro: a árvore grossa ou o bambu fininho?

Participante: a árvore.

Exato. O bambu só enverga e volta; a árvore cai e não volta mais.

Saiba de uma coisa; quanto mais enraizado você estiver num solo, ou seja, quanto mais certo das suas verdades estiver, menos flexível será. Nesse caso, quando viver uma tempestade estará pronto para cair. Por isso digo: sejam flexíveis.

Ser flexível é isso: não ter um caminho, não ter uma obrigação, não ter uma verdade absoluta. Quem busca a felicidade sendo um bambu tem um monte de elementos que pode usar na hora que usar, na hora que lembrar de usar, e não uma série de verdades das quais não abre mão. Ele é assim porque não quer ser sábio, mas sim conseguir a paz.

Isso é o processo de elevação espiritual. O resto? É conversa para boi dormir.

Perguntas? Ninguém tem perguntas? Então ontem foi muito bom, não é mesmo? Todo mundo entendeu tudo.

Participante: está todo mundo com sono, Joaquim.

Ah, então é isso. Mete café em todo mundo.

Participante: e aí? Isso é uma verdade, Joaquim: café desperta?

Não sei, dizem que sim. Desperta quem acredita que ele desperta.

Há muitas pessoas gente que não tomam café à noite com medo de que ingerir essa bebida vá interferir no seu sono. Para esses que tratam essa informação como uma verdade ela vira um argumento para criticar os outros: “você vai tomar à essa hora”? Se alguém lhe questionar desse jeito, responda: “vou, e daí? Se afetar o meu sono quem não vai dormir sou eu. O que você tem a ver com a minha vida”?

Participante: que falta de educação, Joaquim

Pior foi a do outro que se imaginou no direito de regular a minha vida.

Não estou dizendo para você ter raiva do outro, mas para deixar bem claro que você é uma pessoa que possui suas próprias verdades e que devem ser respeitadas. Isso não é agredir ninguém, mas proteger a si mesmo.

Argumentos como esse, que aparentemente não têm nada a ver com elevação espiritual, nenhum mestre lhe ensina, lhe diz para usar, mas facilitam o amor entre todos. Mesmo que não queira falar para ele, diga a si mesmo se alguém encher o seu saco cobrando que está tomando café à noite: “ele não tem nada a ver com a minha vida, tomo café na hora que eu quiser”.

Pronto, acabou. Usando esse argumento você acaba, com a sua contrariedade, toma seu café e deixa o outro se desgastando emocionalmente com o questionamento. Ele, por causa das verdades científicas dele, vai continuar sofrendo e você, com a sua simplicidade de simplesmente dizer ‘que se dane’, vai continuar na sua paz.

Participante: é o mesmo de não levar nada para o pessoal?

É o mesmo que não levar nada para o pessoal.

Então, vamos começar a conversa de hoje, né? Como é um assunto que está pulsante, acho que vocês vão despertar...

Crise institucional

Crise institucional

4. A dinâmica da conversa

Vamos começar a falar das crises que assolam o mundo nos dias de hoje.

Tenho dito há algum tempo que as coisas vão piorar. E continuarão piorando. Mas, quero propor uma reflexão. Me perguntaram se eu ia falar da presidenta e do presidente do Brasil. Não, não vou falar deles hoje. Quero abordar a situação em si e não as pessoas.

Isso é necessário porque existem hoje três inseguranças que vocês estão vivendo no seu país, mas que está sendo vivida também em todos os países da Terra. Em algum lugar pode não existir as três crises que vamos falar, mas com certeza há uma ou duas delas.

Essas três inseguranças estão presentes nesse momento no planeta e por isso quero conversar sobre elas priorizando a questão da elevação espiritual, da busca da felicidade. Vamos falar delas a partir do que sempre falamos: a única coisa importante nessa vida para quem acredita na existência depois do desencarne é trabalhar pela sua harmonização com relação ao que está acontecendo ou em relação às demais pessoas.

Antes de falar das três coisas, quero reforçar um ponto que já vimos: para quem quer realizar alguma coisa o importante é descobrir o ponto final da caminhada, onde se pretende chegar. Só que para isso é preciso descobrir onde se tem de trabalhar. É a questão do saber onde dar a martelada que está numa história que já contamos.

Para estabelecer isso a cada crise que vamos conversar eu pretendo perguntar onde eu devo agir para me harmonizar. Vamos lá, então.

5. Crise institucional

A primeira crise que a humanidade vive é a institucional. Que crise é essa? Os governos – olha que não estou falando apenas do país de vocês – têm perdido a confiança do povo. O povo já não vê seus governantes com a capacidade para lidera-los, para leva-los a um mundo onde haja paz e felicidade.

Se você analisar a história do planeta, em todos os países, houve épocas em que o governante, mesmo não sendo um rei, um faraó, era tratado como um filho de Deus, um abençoado. Era tratado como alguém com capacidade para governar, para dirigir o povo em direção ao bem-estar. Hoje, no mundo inteiro, os governantes têm perdido isso. Eles estão sendo colocados sob suspeição. São rotulados como como incapazes de serem seguidos.

Essa é uma crise que vocês vivem aqui nesse país, mas que diversos outros povos vivem no planeta inteiro. Não é só aqui que os governantes estão sob suspeição. Aqui estão por questão de corrupção, mas em outros lugares estão por questão de capacidade, em outros por falta de credibilidade.

Esse fato gera em vocês uma situação: qual é?

Participante: medo.

Medo de que?

Participante: insegurança.

Insegurança, medo do futuro. Esse é o primeiro mal dos dias de hoje. Os povos do mundo, por terem perdido a confiança em seus governantes, estão se sentindo inseguros, estão se sentindo com medo do futuro.

Volto a dizer: não estou falando especificamente do Brasil. Você vê isso acontecer em governos muito mais tradicionais do que o daqui.

Essa é uma situação que o mundo está vivendo e que causa sofrimento à população, pois ninguém quer ter medo, quer ter essa insegurança. Por isso pergunto: o que podemos fazer para combater esse medo, para combater essa insegurança? Alguém teria alguma ideia?

Participante: se concentrar no presente?

Se o presente está horrível, concentrando-se nele viverá mal.

Participante: tem de mudar o foco?

Mudar o foco para onde? Se você se vira para um lado e encontra coisas que não agradam, se vira para outro e encontra o mesmo tipo de coisas. Mudar o foco para onde?

Saiba de uma coisa: a crise institucional não é causada por uma pessoa. Ela não existe por conta de um político, não está no capitalismo ou no socialismo. A crise está generalizada. Qualquer governante desse planeta, independente de nome ou de ideologia está sob suspeição do seu povo.

Para deixar isso bem claro, vamos ter de falar de história. Hoje em não se vê mais aquele presidente que o povo ama, adora, idolatra. Aquele governante que o povo confia e tem a certeza que pode levar a sua nação ao bem-estar.

Se você analisar ao longo da história, encontrará muitos governantes que eram rechaçadas por parte da população, mas mesmo esses ainda tinham esperança que ele pudesse bem conduzi-los. Tinham esperança no futuro, mesmo não concordando com o governante. Hoje não há mais isso. Além de não concordar com ele, o povo não tem esperança que ele vá fazer algo bom.

6. Mantendo a felicidade na crise institucional

Como é possível viver feliz com isso?

Participante: sabendo que vai passar, que tudo passa.

Participante: por tudo que você falou, se tudo é Deus quem faz, é confiar Nele. Tudo tem um por quê e um para que. Então, seria confiar mais.

Seria uma boa saída se você conseguisse confiar em Deus. Só que quando, por exemplo, precisa de um sistema de saúde e não tem, você não vai se lembrar de Deus. Por que? Porque tem medo do reflexo do que aquela situação pode trazer para a sua vida.

Participante: sim e eu tenho vivido isso de perto. Trabalho na prefeitura e quando chego para trabalhar sinto a energia pesada do lugar. As pessoas estão muito revoltadas, os salários estão atrasados, aquela confusão ...

Estão revoltados porque eles estão perdendo. Sentem que estão tendo prejuízos por causa da má administração. Sofrem por causa dos reflexos que isso causa nas suas vidas.

Portanto, a confiança em Deus seria uma forma de manter o equilíbrio, mas acho que depositar todas as esperanças nela é meio utópico. Vocês não conseguem viver essa confiança.

Participante: eu acho que uma saída é ir desapegando aos poucos do que sabemos que estamos apegados.

Se desapegando aos poucos do que sabe que é apegado. Outra utopia ...

Me faz um favor? Tire essa camisa e me dê, me dê o seu celular e outras coisas que você está apegado. Consegue fazer isso? Claro que não. Ainda falta muito para você abandonar essas coisas que são supérfluas, imagine abandonar saúde, educação, alimentação, lazer, coisas que imagina que são necessidades básicas.

O que você está propondo não é a saída, pois trata-se um trabalho que não vai conseguir fazer porque ainda é apegado a muitas coisas. Mesmo que conseguisse se desapegar de algumas delas, ainda continuaria com a preocupação se amanhã teria ou não dinheiro para comprar outro celular, pois ainda acha que precisa dele.

Participante: eu só não entrego agora porque não vejo razão para isso.

Tem uma razão muito forte para me entregar: eu pedi. Você não me considera seu amigo? Você não acha que sou uma pessoa que mereço? Você não diz que quer fazer caridade para os outros? Então, eu pedi; me dê. Olha que razões poderosas para me dar.

Participante: acho que uma saída seria tentarmos nos mudar, não é? Mudar a nossa concepção social ... Há muita gente critica, critica e não faz nada ...

O que você chama de concepção social?

Participante: a gente não para de querer ganhar, de ser corrupto no dia a dia. Critica um governo que é corrupto, mas diariamente quando se vê numa situação onde pode perder só quer dar um jeitinho disso não acontecer. Querer ter alguma vantagem. Acho que a gente teria de começar da gente essa mudança.

Perfeito. Só que você está falando especificamente na corrupção e eu não falei só dela. Falei de crise institucional como um todo, da pessoa que está dirigindo não ter mais a credibilidade para isso.

Não falo só em levar vantagens individuais porque mesmo antes de estourar toda a crise de corrupção, vocês já tinham um certo receio porque dos governantes. Por exemplo, a saúde. Ela já era uma porcaria antes de terem conhecimento dos escândalos. Mesmo antes disso, a população do seu país já tinha medo de depender da saúde pública.

Na verdade a crise é algo maior. Ela existe porque vocês acham os gestores incapazes de gerir a saúde pública, a educação, por exemplo. Isso mesmo antes de estourar os escândalos de corrupção.

Portanto, o que estamos falando é mais profundo que só a corrupção, só pensar no bem individual.

Participante: existe uma forma de minimizar essa insegurança, que é não dar o valor à instituição. Não deixar o governante liderar a minha vida, comandá-la. .

Está quase chegando onde quero. O que está me dizendo é que não podemos dar ao outro o poder sobre a nossa vida.

Participante: não é ele quem dita. Eu é que tenho de tomar as rédeas da vida e ponto.

Isso.

O que vocês não descobriram ainda é que o problema não é o governante, mas sim a entrega que fazem do seu destino na mão de outro.

Participante: isso em qualquer área, não é?

Qualquer área. Você entrega o comando da sua vida na mão do outro para que?

Participante: cobrar dele?

Cobrar do outro, não. Você não quer cobrar do outro porque na verdade não quer que a coisa resolva. Por que?

Participante: para não assumir a própria responsabilidade.

Se houvesse um governantes que resolvesse seus problemas, ainda assim ele não seria bom. Por que? Porque assim você não seria uma vítima. Todos querem ser vítimas, pobres coitados, e por isso precisam sempre que aja alguém que seja culpado pelo que vive.

A única saída para se manter a felicidade dentro de uma crise é assumir a rédea da sua vida. Você só vai acabar com essa insegurança na hora que você deixar de dar aos outros, no caso os governantes, a direção da sua vida, ser o dono da sua vida, afetar a sua vida.

7. Todos são culpados

Participante: mas no exemplo do hospital, as pessoas que necessitam dele, em que isso vai ajudar?

Assumindo o controle da sua vida aprenderá a conviver com o hospital que não presta um serviço de qualidade sem sofrer.

‘A minha vida é composta por um hospital que não atende bem, mas eu só tenho esse para usar. Então, vou usá-lo sem reclamar’. Quem vive assim usa o mesmo hospital que quem reclama dele, só que não sofre. A única diferença entre os dois é que quem assume o controle da sua vida determina como vai conviver com a realidade enquanto o outro deixa os governantes fazerem isso.

Participante: até porque, esse tipo de coisa você não tem como colocar na mão de uma só pessoa.

Mas, vocês colocam. O governante para você – e aí não importa se é cidade, é estado ou país – é o responsável pelo que acontece com dentro dos hospitais. Isso é inverídico. O culpado é a própria população.

Participante: entendo o que o senhor está dizendo e vou dar um exemplo do hospital onde trabalho. Teve um irmão de um paciente acamado que chegou revoltado com o estado que o quarto, a pessoa e a situação estavam. Ele estava reclamando dos funcionários e com razão. Eram os funcionários que não faziam a sua parte. Então, a responsabilidade não é só dos governantes. A gente culpa eles, mas se esquece que cada um tem que exercer o seu papel no processo.

Isso, dentro da sua função, do seu papel na vida, seja o dono da sua vida. Se o governo não presta, se faltam medicamentos, isso não importa: faça a sua parte. Só que o funcionário, ao invés de assumir a sua responsabilidade e fazer o melhor de si pelo próximo, prefere não fazer nada ou agir desleixadamente e ficar criticando o governo.

Participante: entra naquilo que sabemos bem. O funcionário pensa assim: “Ah, não tem ninguém vendo, o paciente está aqui em coma, todos sabem que o governo não manda material. Por isso não vou fazer a minha parte”.

É exatamente isso que estou falando.

Veja, você tem aqui dezenas de profissões, de atividades. E cada um dentro da sua atividade poderia ser uma formiguinha que agisse de uma forma que fosse para o bem de todos, mas não. Ao invés disso, critica o culpado lá em cima e não faz nada aqui para mudar.

Antes de continuarmos um lembrete. Estou falando de atos, mas não estou falando em você agir. Como já conversamos, os atos acontecem dentro da previsão de encarnação do espírito. O que estou querendo dizer é que internamente você precisa assumir o controle da sua vida. Precisa ter a disposição de fazer a sua parte ao invés de deixar a sua mente lhe dominar e lhe levar para a postura de crítica inconsequente.

Participante: é o viver o nó” que o senhor falou em outra palestra.

Não é só viver o nós: é parar de fazer a mesma coisa que você critica.

Se você diz que o governo não tem mais credibilidade para ajudar, eu afirmo que você também não tem credibilidade para ajudar os outros. Digo isso porque ao invés de assumir a postura de que já que o governo não presta faça a sua parte, prefere se entregar apenas às críticas. Mas, não, se entregam na mão do governo e deixam ele comandar o seu mundo interno.

Com isso, ao invés de fazerem a sua parte, ao invés de trabalharem para um mundo melhor para todos, preferem se justificar: ‘já que ele não faz, eu também não vou fazer’. Com isso colocam a culpa nos outros e eximem-se de qualquer responsabilidade.

Participante: isso passa a ideia de que eu tenho que ter mais união com o outro.

Esquece união, esquece o outro. Estou falando de viver com você mesmo.

O que estou dizendo é assumir internamente que você reconhecer que critica o outro por não fazer a parte dele não faz a sua também.

Não estou falando em fazer pelo outro; estou dizendo que deve assumir a rédea da sua vida. Se o governante não faz a parte dele, faça a sua. Se ela fizer a dela, se ele fizer a dele, se você fizer a sua, já são quatro pessoas fazendo alguma coisa. Lhe garanto que algumas coisas começaram a ser feitas.

8. Faça a sua parte

Participante: em São Paulo, há um grande problema de buracos nas ruas.

São Paulo está com problema de buracos nas ruas? Vá lá e jogue terra neles. Lhe garanto que se cada um tapar o da sua porta, São Paulo terá menos problema com buracos. Só que ao invés de resolverem o problema, vocês preferem parar do lado do buraco, tirar uma foto, postar numa rede social e criticar o governante. Assim, o problema continua ... Se ela tapar um buraco, se ele tapar outro, os buracos vão acabar. Mas, é mais fácil parar, não tapar o buraco e criticar, não é mesmo?

Quer ver outro exemplo clássico disso? Enchentes, quando a agua dos rios entram nas casas. Sempre que isso acontece a população critica os governantes. Mas, será que já pararam para analisar porque acontece enchente?

Primeiro, podemos verificar que a casa que foi invadida pelas águas dele está construída em um lugar que todo mundo sabe que vai encher, inclusive o proprietário. As chamadas zonas de riscos. Aí a pessoa constrói a casa ali, muitas vezes em terrenos invadidos, e depois reclama do governo porque tem enchente.

Segundo: porque as águas dos rios transbordam? Será que é só por conta do volume da chuva? Acho que não. Se observarmos a quantidade de lixo que boia nesse momento poderemos verificar que há mais razões do que a água que caiu do céu que levou o rio a transbordar. Quem jogou o lixo na rua e no rio ao invés de colocar num lugar próprio?

Participante: não foi só o proprietário, não é? Todo mundo anda na rua e joga lixo onde não devia.

Exatamente.

A única forma de você sair dessa crise institucional da ausência de credibilidade em um governo é cada um chamar para si a responsabilidade de fazer a sua parte. Na hora que cada um fizer a sua, pouco importa se o governante faz a dele ou não: os problemas diminuirão e todos vão viver bem.

Esse é o momento que vocês estão vivendo. Um momento de crise institucional, um momento onde o governo não tem mais a credibilidade, mas o povo, ao invés de assumir o controle das coisas fazendo alguma coisa na sua vida, na sua área, seja trabalho, seja residência, prefere ficar de braços cruzados reclamando do governo. Ao invés de cada um cuidar da sua vida, preferem fazer propaganda para retirar o governante. Com isso esperam que o governo mude para que a vida seja melhor. Só que a prática já mostrou que entra e sai governante e a vida nunca melhora ...

Participante: isso não quer dizer que eu tenha que concordar com o governo. Tenho que fazer a minha parte, mas não preciso concordar com o governo, achar que ele é bom ou que está certo.

Não, isso não tira essa possibilidade. Aliás, você pode concordar ou discordar de quem quiser. Agora, se quer ser feliz, nunca entregue o comando da sua vida, do seu mundo interno, do seu bem-estar a outra pessoa. Concordando ou discordando, seja senhor das suas emoções.

Não estou falando especificamente de nenhum governante nem de nenhuma ideologia política. Em qualquer situação se você não assumir o comando emocional de sua vida, outro assumirá. Nesse caso, pode ter certeza que você vai sofrer, pois todo ser humano prioriza o seu próprio bem-estar e não o dos outros.

Se você não fizer tudo que acha que precisa que seja feito e cada um também não fizer aquilo que acha que precisa ser feito, ninguém nunca vai fazer nada. Com isso, todos sofrerão.

Isso me lembra uma história:

Esta é uma estória de quatro pessoas: - TODO MUNDO; - ALGUÉM; - QUALQUER UM; - NINGUÉM

Havia um importante trabalho a ser feito e TODO MUNDO tinha certeza de que ALGUÉM o faria.

QUALQUER UM poderia tê-lo feito, mas NINGUÉM o fez.

TODO MUNDO pensou que QUALQUER UM poderia fazê-lo, mas NINGUÉM imaginou que TODO MUNDO deixasse de fazê-lo.

Ao final, TODO MUNDO culpou ALGUÉM, quando NINGUÉM fez o que QUALQUER UM poderia ter feito.

Participante: mas aí, se eu fizer o que acho que deve ser feito, pode haver outra pessoa que ache que não deve.

Perfeito.

Apenas um detalhe: você vai fazer o que acha que deve em que sentido? De bem estar geral, de contribuição para a sociedade. Não estou falando em fazer o que quer, mas o que é necessário para o bem geral.

9. A prática de atos e a encarnação

Participante: você está falando em atos, Joaquim?

Como já disse, estou me referindo atos, mas estou falando em mundo interno. Estou dizendo que internamente você deve ter a predisposição de fazer a sua parte ao invés de entregar-se às críticas ao governo.

Participante: mas se tudo está programado, este ato não acontecerá se não estiver escrito.

Perfeito, o ato acontecerá ou não dependendo da predeterminação da encarnação de todos. Só que na hora que cada um assumir que a emoção que viverá depende só de si mesmo, irá parar de sofrer com o que o governo faz. Se a partir desse posicionamento interno fizer ou não o ato, isso é outra coisa.

Não estou me apegando a ter que praticar essa ou aquela ação. O que estou dizendo é que internamente você precisa entender o seguinte: ‘eu estou submisso ao governo. Por isso prefiro sofrer, chorar, ranger dentes, discutir com os outros. Com isso, jamais conseguirei parar de sofrer. Preciso acabar com isso e assumir a rédea da minha vida. Para isso posso ir lá e fazer o que o governo não faz’.

Participante: é, mas o senhor não ensinou anteriormente a entregar a rédea da vida para Deus? Então, está desdizendo tudo o que falou até hoje.

Não, eu não estou desdizendo falando tudo o que disse. Não estou dizendo em assumir a rédea dos acontecimentos de sua vida, mas sim do seu mundo interno, que no final das contas é o que você imagina estar vivendo.

Volto a dizer: estou falando de atos porque precisamos falar assim para que você compreendam o que estou dizendo. O que realmente estou querendo é que nasça dentro de vocês a emoção, a ideia, a consciência, de que só reclamar do governo e não fazer nada para melhorar a sua existência não adianta nada.

Participante: então, deixa eu entender o que o senhor está falando. No meu plano de vida, tem vários caminhos. Tem um caminho que se eu só achar ruim e não fizer nada emocionalmente, nada muda. Tem outro caminho, já programado, que se de repente eu pensar “nossa, eu tenho que fazer alguma coisa”, aí Deus abre o ato para que eu faça. É mais ou menos isso?

É mais ou menos isso.

Por causa dessa entrega interna, a mente cria a seguinte justificativa: ‘não, devo ir lá fazer porque eu pago o meu imposto. Por isso, tenho de receber’. Cedendo a esse pensamento, você entrega o domínio da sua vida, o seu bem-estar, na mão deles. Nesse momento, vai sofrer. Por que? Porque eles não foram feitos para gerar o seu bem-estar, mas sim a sua prova.

Os governantes humanos são escolhidos por Deus, segundo Paulo, mas não para gerar o bem estar nesse mundo. Eles são escolhidos para seres os agentes das provas dos seres encarnados que habitam o país que dirigem. Para que a sua prova exista, é preciso que eles não façam nada. Nesse momento terá a oportunidade de comprovar o seu desapego ao bem material. Para isso, precisam parar de só criticar os outros e começarem a fazer alguma coisa por si mesmos.

O que eu estou falando, não é sobre o ato de tapar o buraco. O que estou falando é sobre uma saída emocional para a situação que está o país. Uma saída que vocês não buscam porque preferem apenas criticar. Isso foi o que falamos sempre.

Tenho certeza que se o governo melhorar, ainda vão encontrar do que reclamar. Compreendam que vocês com suas críticas não querem que as coisas melhorem, pois o que realmente a mente quer é arrumar um culpado para o sofrimento. Com isso, vocês não fazem o trabalho que vieram para fazer.

Não existe culpado externo. Se houver, o culpado é você que se acomodou e ficou só criticando eles, que priorizou o bem estar humano (o mau) ao bem estar espiritual (o bem).

Quanto aos atos, eles vão acontecer ou não de acordo com o livro da vida do país, mas, claro, temos que falar de acontecimentos para ilustrar a emoção interna. O que eu estou querendo aqui é analisar a situação que gera o sofrimento de hoje, as crises, buscando uma forma de vocês não sofrerem enquanto houver um governo que não faz.

10. O bobo

Participante: vamos imaginar uma situação prática, então. Ando na rua e o semáforo está quebrado. Aí, eu vejo que ali tem o risco de acontecer acidentes. Só que ao invés de esperar que o governo conserte...

Se estiver dentro da sua capacidade, conserte ...

Claro que tudo o que estou falando depende da capacidade de cada um. Não estou dizendo que saia fazendo aquilo que não está preparado. Por isso é mais fácil falar do buraco. Jogar areia no buraco qualquer um pode fazer.

Participante: mas eu posso pegar um apito e ficar lá organizando os carros para não baterem, e assim ser um instrumento para evitar acidentes. Eu, como sou hoje, não faria isso.

Claro, nenhum de vocês faria. Preferia parar em baixo do sinal e dizer “olha só que governo safado que não conserta o sinal”.

Participante: isso é o que a gente faz hoje. Aí, eu tinha de pensar por que eu não faria. É mais ou menos assim?

Não, não é porque você não faria, mas sim entender que quando entrega na mão do governo a culpa do sinal não estar funcionando, está entregando a rédea da sua vida. Ter a consciência de que está deixando que eles influenciem em seu mundo interno.

É isso que é entregar a vida a outro: dar o direito de lhe ferir, de lhe fazer sofrer.

Participante: mas naquela situação que tem um risco de acontecer acidente, isso me faz sofrer muito, isso me incomoda muito. Por outro lado, não quero perder a minha vida parado num sinal, não quero ter desvantagem de estar fazendo aquilo, pois sei que essa ação poderia me prejudicar. Como lidar?

Você não quer se prejudicar perdendo o seu tempo, mas se prejudica sofrendo. Olha o que a sua mente está dizendo: ‘é mais fácil sofrer do que ficar aqui. Pelo menos assim eu trabalho o dia inteiro, ganho meu dinheiro e não faço o que outro poderia estar fazendo e não faz. Olha só que besta sou eu’.

Mas, se você não fizer por ele, ele não vai fazer por você.

Se não entenderam, disse – volto a dizer que estou falando de atos só para ilustrar –, que ninguém tem o poder sobre você, mas que você tem o poder sobre todos. Você é capaz de influenciar o mundo interno dos outros, mas eles não têm de influenciar o seu, a não ser que você deixe. Compreendendo isso e assumindo esse poder, cada um faz a sua parte e a sociedade como um todo vive bem. Só que, ao invés de fazerem a sua parte, só ficam reclamando uns dos outros.

Participante: ficou bem claro agora, que é uma escolha também. Você pode optar pelo que te faz sofrer menos. Eu posso optar. Se me faz sofrer mais aquela situação de correr risco de acidente, eu vou lá e ordeno o tráfego. Agora, se me faz sofrer mais eu fazer o que os outros não fazem, fico quieto e não reclamo do trânsito.

Estamos falando da crise institucional porque o objetivo dessa conversa é analisar os dias de hoje, mas isso vale para o casamento. O ser humano casado ao invés de fazer o que acha que deveria ser feito dentro de casa prefere reclamar de quem não fez. Prefere sofrer porque o outro não fez o que ele queria. Se o outro não fez, ao invés de ficar sofrendo, pegue e faça.

O que estamos falando aqui vale para todas as coisas dessa vida.

Participante: só fazemos a nossa parte quando vemos o outro também fazendo a dele.

Isso. Esse é que é o problema: você entrega aos outros o comando da sua vida.

Participante: são poucas as pessoas que têm a virtude de fazer o que os outros não fazem.

Isso. Dessa forma, vivem sofrendo e não fazem nada por sua própria felicidade. Só que eu tenho a grande notícia: as crises de poder, ou seja, da pessoa ser contestada no seu querer, vai aumentar, seja no sentido institucional ou no privado. Por isso, vocês vão sofrer mais ainda. Se gostam, continue pensando como pensam.

Participante: aqui na nossa cidade tivemos um exemplo do que o senhor está falando. Nós montamos uma loja aqui e tinha uma poça de água enorme que fazia tempos que estava lá. Aí, um dia eu falei “poxa, todo mundo fala dos mosquitos e ninguém faz nada”. Aí, fui lá e sequei a rua. Sabe o que é que ouvi no outro dia deles: “você é tonto, isso é coisa da prefeitura, como é que você põe a mão aí?”.

Mas quem ia ser mordido pelo mosquito? A prefeitura? Claro que não; era você! Quem ia ser mordido era seu vizinho.

Participante: mas, eu fui chamado de tonto.

Pois é, as pessoas preferem criticar ao invés de fazer por si.

Participante: você está falando aí de governo, mas isso vale para qualquer situação da vida: familiar. Por exemplo, estávamos no hotel ontem comentando: a luz do corredor não funciona, a internet não funciona, a descarga não funciona, ar condicionado, a administração do hotel não funcionava. Todos nós estávamos sofrendo. Porque simplesmente não trocamos de hotel?

Perfeito. Se não está gostando do hotel, vá para outro.

Adianta você reclamar do hotel que está? Não. Você também não vai consertar dentro da casa dos outros. Então, o que você faz? Vai para outro hotel. Não hora que ninguém mais for naquele hotel, tenha a certeza que eles vão procurar os motivos e consertar o que desagrada os hóspedes.

Participante: ao invés de reclamarmos, podíamos até mesmo reportar o problema para a administração do hotel, pois as vezes nem reportar isso fazemos ...

Ficam só parado reclamando. Exatamente isso.

Participante: se o nosso objetivo fosse realmente buscar a felicidade, pouco importaria o que acontece na vida: faríamos e não olharíamos para quem não fez ...

Se o objetivo fosse a felicidade, pouco importaria o que você fizesse na vida. Mas, o objetivo de vocês ainda não é a felicidade.

O bem-estar, para vocês, faz parte da felicidade. Então, se podem aparar arestas, se possuem capacidade para tornar o ambiente melhor, faça. Isso facilita a sua caminhada em busca da felicidade.

Participante: uma preocupação do ser humano é como ele vai ser classificado pelos outros. Às vezes ele faz uma coisa e é, por exemplo, taxado de bobo. Então, de uma próxima vez, a pessoa fala “puxa vida, fui taxado disso, então, não vou fazer mais”. Isso inibe a iniciativa das pessoas.

Você está dizendo que a crítica que recebe por fazer uma coisa que não seria da sua obrigação muitas vezes pode inibir de agir outras vezes. Se deixar isso acontecer, continua entregando a rédea da sua vida ao outro: a quem lhe criticou.

Você estaria dando o direito a ele de ser o causador do seu sofrimento porque vai continuar vivendo com a poça d’água, sendo mordido pelo mosquito, só para ser chamado de bobo.

Participante: ser chamado de bobo não seria o preço a pagar por fazer o que lhe faz feliz?

Não entra nessa de preço a ser pago. Isso ainda gera a ideia de uma perda e com isso a mente não compactua. Assuma só o seguinte: ninguém pode ser o responsável pelo que você vive.

11. Assuma as rédeas da sua vida

Qualquer outro ser só assume o posto de responsável pelo que você vive, quando concede a ele esse posto. Vocês reclamam de pessoas muitas vezes, repetidamente: ‘ai, aquele ali, cada vez que chega perto de mim, é um problema, é uma confusão’. Não é ele o responsável pelo que você está vivendo. Vivem dessa forma porque dão a ele esse poder.

Se você sabe que aquele ser vai fazer algo errado, prepare-se. Quando estiver com ele ou com o que ele faz, já vá preparado: ‘desse eu não posso esperar nada, não posso esperar que faça o certo’. Indo com essa predisposição tudo o que ele fizer não lhe causará sofrimento. Você assumiu as rédeas da sua vida porque ele vai fazer o que fizer e você não vai sofrer por isso.

Assumir as rédeas da sua vida é não dar a ninguém a posição de ser o responsável pelo que você vive. Estamos conversando sobre a crise institucional, sobre o governo, porque essa é uma das materializações das provas que estão vivendo no planeta. Só que a solução que estamos dando serve para qualquer fonte de sofrimento em qualquer tipo de relacionamento.

Estamos usando a crise institucional para mostrar algumas coisas. Primeiro, que a crise existe. Segundo, que ela vai piorar. Terceiro: para alertar que vocês não esperem que ela se resolva por si só ou por fatores externos. Quarto: que é preciso assumir o controle da sua vida. Conscientizando-se disso, todos vão viver sofrendo menos. Só isso.

Me falaram em medo de futuro. Esse medo é causado pela insegurança. Porque vocês estão inseguros? Por não terem a segurança que será feito o que querem, o que acham que precisam. Sendo assim, vá lá e faça você. Com isso, não há mais razões para ter insegurança e nem medo.

Estamos falando de governo, mas pensem em quantas situações você delega para alguém aquilo que acha necessário para ser feliz. Como ninguém faz o que você quer, sofre. Quem é o culpado desse sofrimento? Aquele que não fez ou você que delegou a alguém algo que queria de um jeito?

Se você quer de um jeito, o outro quer do dele. Como cada um é um, ele irá fazer como gosta e quer e não do seu jeito. Por causa da individualidade, só você vai fazer do jeito que quer.

Quando conversamos sobre solidão, disse o seguinte: o único que entende você, é você; o único que faz as coisas como você quer, é você mesmo. Isso é uma verdade absoluta: só você entende e sabe o exatamente o que quer.

Por isso, quando outorga ao outro a obrigação de fazer alguma coisa, está entregando a sua vida nas mãos dele. Isso é sinal de que irá sofrer logo.

Quer do seu jeito? Você precisa que as coisas sejam feitas do seu jeito? Vá lá e faça. Como o moço disse: como você quer ser feliz, abra mão do seu jeito das coisas acontecerem. Já que não consegue fazer isso, não delegue aos outros o que precisa que aconteça para ser feliz.

12. Justificativas da mente

Participante: o problema que o ser humano tem o seguinte medo ...

Moço, começou mal sua fala: ‘o problema é que o ser humano’... O ser humano é o homem velho, é o ego usado para gerar as provas dos espíritos.

Se você quer renascer, quer ser um homem novo, quer viver em felicidade, tem que renegar o ser humano. Não pode justificar coisas com o que a forma do ser humano viver.

Participante: certo ... Eu estou querendo te mostrar qual o conflito que vivemos ...

E eu estou tentando te mostrar que, na verdade, sua mente está buscando uma justificativa para continuar sofrendo.

Participante: não, eu estou querendo aprofundar o assunto. Eu queria dizer o medo que a pessoa sente. Por exemplo, ela vai assumir a rédea da situação, vai fazer a coisa do jeito que acha que deve ser. Aí ele vivencia o medo de não ter a contrapartida, do esforço dela não ajudar em nada.

Você quer ser feliz? Pare de ter esse medo. Ele é só uma justificativa para criada pela sua mente para que você não assuma as rédeas da sua vida.

Que o ser humano não entrega as rédeas, eu sei. Os motivos pelos quais não faz isso, eu também sei. Você não precisa me dizer porque ele não entrega. O que precisa é entender porque não faz e aí combater a forma humana de viver. E o motivo para não fazer vai muito além do medo ao qual você se referiu.

Na verdade, não entrega as rédeas da sua vida porque prefere arrumar um culpado para tudo. Só assim ele pode ganhar. Ele pode mostrar o quanto é sábio, como é melhor do que os outros. Isso, humanamente falando, é normal, mas o ser quando se deixa levar por esses argumentos da mente não vê que está usando um critério dele e obrigando o outro a ser igual. Ou seja, está sendo egoísta. Quem aceita o egoísmo jamais será feliz.

Então, todo mundo sabe isso, de nada adianta essa justificativa. O que vocês precisam se esforçar é responder a uma pergunta: a forma de viver de hoje levou você à felicidade? Não, ainda existem sofrimentos na sua vida.

A partir dessa constatação, responda a mais uma questão: quer continuar a sofrer ou quer estancar o sofrimento? Se quiser continuar sofrendo, continue a viver como vive hoje. Se quiser ser feliz, mude-se.

Participante: mas essa outra forma que você está propondo, também leva ao sofrimento imediato até vencermos todos os obstáculos. Você sabe que eu passei por uns problemas. Estava sujeito a ordens e quis fazer as coisas do meu jeito. Quando você quer ser diferente, aí, de repente, todos por algum motivo se voltam contra você. Então, também causa um sofrimento essa mudança, não é? E aí, o que fazer?

Participante: até porque, você assume a rédea, mas não deixa de ser oprimido. Não vai deixar de pagar imposto, não vai deixar de ser cobrado pelo governo, não vai deixar de ser cobrado pelas suas contas. Se eu pudesse parar de ser cobrado e fazer as coisas do meu jeito, tudo seria mais fácil.

Participante: até porque a resistência, na área profissional, é muito grande.

E aí entra a questão que nós conversamos agora pouco: qual é a sua meta? Onde você quer chegar? Você quer mudar o seu chefe que reclama ou quer ser feliz? Se quer ser feliz, sabe que tem que assumir a rédea da sua vida, ou seja, deixar ele reclamar o quanto quiser, mas não deixar isso ditar o que irá sentir no seu mundo interno. Deve ouvir a reclamação e deixar entrar por um ouvido e sair pelo outro.

Então veja, mais justificativas da mente. Tudo o que você me disser que lhe impeça de ser feliz é apenas uma justificativa do seu ego para lhe prender ao sofrimento, pois todos são capazes de gerir seu mundo interno, suas emoções, para que o sofrimento não permaneça.

O problema é que você diz que quer ser feliz, mas na verdade não quer. Como está identificado com o ego, o quer mesmo é que o outro faça o que você.

Querer que o governo pare de cobrar imposto já que você vai fazer as coisas é um absurdo. Isso não existe! O governo cobra imposto desde que o mundo é mundo e não faz o que o povo espera desde então. Por isso, a cobrança de impostos jamais acabará.

Eu concordo com o que vocês falaram. Concordo e conheço os problemas que a mente cria. Sim, assumindo o controle da vida você vai ser oprimida, porque os outros vão se virar contra você. Isso é básico. Mas, Isso não é justificativa para não ser feliz.

Para assumir ser feliz não pode dar valor às críticas que eles fazem. ‘Eles acham que eu estou errado, o problema é deles. Eles que continuem me achando errado, mas serei um errado feliz. Não vou discutir com ninguém para provar que estou certo. Não vou querer discutir com meu chefe para mudar a ordem que ele deu. Vou lá e faço, mesmo achando que dará errado’.

Lembro que quando conversávamos sobre a crise, eu dizia uma coisa: manda quem pode, obedece quem tem cabeça. O chefe tem o poder, por isso ele pode mandar, mesmo que a sua ordem seja errada. Aliás, isso nós estudamos em ‘A Busca da felicidade’: o superior tem o poder e por isso tem o direito de mandar o que quiser.

Participante: eu não estou falando do meu chefe, em específico porque esse é um caso que já acabou. Eu estou falando de um grupo grande. Eles podem ser prejudicados por outros e vão ficar sem apoio algum. Com isso sofrerão.

Quando você precisa do apoio de alguém para ser feliz, entregou a felicidade na mão do outro.

Participante: mas sem apoio, você não consegue fazer nada.

Certo, você não consegue fazer nada porque não tem apoio. Nesse momento diga a si mesmo: ‘eu não consigo fazer nada porque não tenho apoio. Não tem jeito, tenho que conviver com as ordens do meu chefe e com a crítica dos outros. Então, está certo: deixa eles me criticarem’. Só não aceite nada que o ego crie como justificativa para que você não seja feliz.

13. Fazer o que pode

Participante: é mais ou menos o que está acontecendo com o governo. O povo não tem como entrar nas repartições públicas e falar agora eu vou mudar isso aqui. Um exemplo: eu trabalhava em um fórum, éramos nove funcionários para treze mil processos. Os velhinhos lá tudo morrendo sem aposentadoria, tudo xingando a gente, mas nós não tínhamos como dar conta de treze mil processos. E como é que a gente vai agir nesse caso, pois o Brasil é uma grande repartição pública: tudo depende do estado. Como é que a gente vai lutar contra isso, já que você está falando de atos?

Esse é outro ponto que precisamos conversar. Muito bem lembrado.

Há coisas que a sociedade como um todo não vai ter condições de mexer. São coisas que dependem de outro para que se possa realizar. Quando se depararem com uma situação dessa, lembrem-se de uma outra história que também já contei.

Um garoto andava numa praia cheia de estrela do mar que tinham vindo com a água. Se ficassem ali iriam morrer. Por isso, ele pegava uma e devolvia ao mar. Voltava, pegava outra e levava lá.

Aí, um homem disse para ele: “o que você está fazendo?”. “Eu estou salvando as estrelas do mar”. “Você já não descobriu que não vai conseguir salvar todas?”. “Já, mas para essa que acabei de levar para o mar eu salvei”.

Se você não pode acabar com o sofrimento de centenas de velhinhos, acabe com um, com dois, com o de tantos quanto puder. Aliás, é isso que estamos fazendo. Nossas conversas não vão para todos, mas esses que estão aqui ou aqueles que lerão o que estou falando, eu alcanço.

Só que os seres humanos ao invés de acabar com o sofrimento de um velhinho preferem reclamar do governo que ele não ajuda a acabar com o sofrimento de todos. É disso que estamos conversando hoje.

Portanto, assuma a rédea e diga a si mesmo: ‘eu sou um ponto minúsculo, por isso não posso resolver tudo. Mas, o que puder, vou resolver, vou fazer a minha parte’.

Você disse que eram nove pessoas. Imagine se cada um fizesse o melhor possível, quantos velhinhos poderiam ter sido ajudados. Só que eles não foram ajudados porque apesar de alguns se dedicarem a fazer a sua parte, outros se dedicaram a reclamar do governo e com isso não ajudaram ninguém.

É isso o que eu estou querendo mostrar. Não estou falando de atos, estou falando de dentro. Ao invés de você deixar entrar em si a crítica ao outro, diga a si mesmo: ‘vou gerar um estado de espírito de socorrer quem posso. Vou fazer a minha parte: vou ajudar essa estrelinha do mar’.

Participante: até porque, seguindo o que você fala, vai ter o velhinho cujo processo vai chegar nas mãos dela para ela resolver porque tinha de ser resolvido. Os que chegarem na mão dos que só reclamam e por isso não fazem nada não serão, mas isso é o carma deles. Não é isso?

Exatamente isso. Para falar sobre isso, deixe-me contar mais um caso antigo.

Uma pessoa dentro do seu emprego assumiu uma função de chefia e queria manter o seu departamento em funcionamento perfeito. Um dia ela me disse: ‘Joaquim, estou maluca. Eu não consigo dar conta de tudo que entra, de tanta coisa que tenho para fazer’. Eu lhe disse: vai uma hora mais cedo e sai uma hora mais tarde. Assim tem mais duas horas para trabalhar. Ela foi e fez.

Um mês depois voltou: ‘Joaquim, estou chegando uma hora mais cedo e saindo uma hora mais tarde, mas mesmo assim não consigo dar conta do que precisa ser feito para manter o departamento em ordem’. Aí, eu disse: descobriu que não era para dar conta?

Você não pode mudar o que acontece se isso é o carma de quem recebe.

Participante: mas será que também não é para dar conta da crise do Brasil? E aí como é que a gente faz para saber?

Se fosse para dar, alguém já teria dado conta. Se estivesse no carma do Brasil, se estivesse no carma do mundo resolver o problema de credibilidade dos governos, isso já teria sido resolvido. Se não foi resolvido, é porque ainda não está no carma resolver. E enquanto não estiver, você tem de encontrar uma forma de viver com o que está aí. Essa forma é assumir a sua responsabilidade, fazendo o que você tem de fazer sem parar para criticar os outros.

Estamos falando a mesma coisa que alguém que trabalha num hospital falou hoje. Os hospitais estão uma porcaria, mas isso é muito mais por causa de quem trabalha lá do que por causa do governo. A demora no atendimento ou o atendimento de péssima qualidade não existem porque o governo demora a atender ou atende mau. Ele existe porque quem tem que atender está tomando cafezinho ou está numa roda criticando o governo. Está reclamando da administração, da falta de condição para trabalhar e não faz o mínimo para bem atender as pessoas.

Participante: e quando tem o material para poder trabalhar, aí usa de forma errada. Depois falta.

Quando usa de forma errada pelo menos foi burrice. O problema é quando pegam e levam para casa porque estão precisando. Aí, depois reclamam que o governo não compra.

O que estamos conversando aqui não tem como finalidade instituir ações, para reformar ou acabar com alguma coisa. O que estamos fazendo é abordar de frente uma realidade que existe e que é um carma da raça humana pertencente ao final do mundo de provas e expiação e início do de regeneração: o movimento de falta de credibilidade dos governantes que vai levar a alteração do sistema humano de vida.

Por isso, as coisas não podem ser diferentes das que estão. Por isso não se pode mudar o que está acontecendo. Tudo isso faz parte de um processo de transição. Se as coisas não acontecerem desse jeito hoje, o novo sistema de vida não poderá começar.

Apesar disso, você que está encarnado nesse momento, vivendo esse período de transição, tem que encontrar uma forma de sofrer o menos possível por causa desse carma. É isso que estamos conversando, é isso que eu estou querendo dizer.

Não estou acusando ninguém, não estou chamando ninguém de incapaz ou de acomodado. Estou dizendo exatamente isso: essa situação existe, ela vai durar e aumentar. Se você está sofrendo hoje e não descobrir uma forma de passar por essas coisas sem perder a sua paz, vai sofrer mais. E a forma para passar por isso mantendo a paz é cada um no seu trabalho de formiguinha fazer o melhor possível pelo próximo e por si mesmo. É só isso.

14. Despertar para a sua condição atual

Participante: eu estava pensando nessa situação que o senhor colocou, o problema vai ser eu não transferir essa minha raiva, entre aspas, do governo para as pessoas ...

Não, não falei em transferir a raiva do governo para alguma outra coisa. O que estou falando é não dar ao governo o direito de dizer o que você tem que sentir.

Participante: entendi, mas diante do que vimos tenho medo de fazer a minha parte e transferir ao meu colega de trabalho a raiva que sinto hoje já que não faz a parte dele.

Ah, agora compreendi.

Então, lhe digo: não dê nem ao governo nem ao seu colega que não faz a sua parte o direito deles dizerem o que deve sentir.

Participante: vou falar de um caso pessoal, inclusive eu vou me acusar. Eu trabalho para o governo do estado de São Paulo que é um governo que eu não gosto, que eu discordo ...

Pera aí, vamos com calma.

Discordar é uma coisa, não gostar é outra coisa. Não gostar é deixar a discordância assumir o controle do seu mundo emocional.

Você pode discordar do governo que quiser, mas precisa respeitar o governante. Porque? Porque ele está lá pela decisão da maioria.

Quando a maioria toma uma posição, a minoria tem que respeitar.

Participante: então, por enquanto, eu vou falar só que eu não concordo. No início do meu trabalho fui colocado em uma função que gostava muito de fazer. Aí, eu pensei comigo: bom, eu não vou ficar pensando na minha discordância com esse governo. Como gosto de fazer isso, vou fazer da melhor forma possível para a minha própria satisfação. Assim fui caminhando lá dentro. No entanto, ocorreu um momento em que eu fui mudado de função. Eles não precisavam mais que eu fizesse aquilo e fui colocado em uma nova função, que eu não gosto. Nela assumi a seguinte posição: eu discordo do governo e além disso não gosto da minha função. Portanto, vou me acomodar. Passei a fazer só o que me mandavam, parei de me preocupar se o serviço ia ficar bom. Não que eu estou fazendo as coisas mal feitas propositalmente, mas parei de me preocupar se está ficando bom ou não.

Faz o mínimo necessário para não ser mandado embora.

Participante: é mais ou menos isso. Eu faço só o que me mandam fazer.

Quando deixa de fazer, vem logo a desculpa: não me mandaram fazer. É exatamente disso que estou falando: usando o que os outros fazem para justificar a sua falta de preocupação pelo próximo.

Repare: enquanto você tinha alguma coisa de boa, algo que gostava, que queria, mesmo discordando do governo, você não o criticava, já que você estava levando vantagem. Na hora que perdeu essa aparente vantagem, o governo não presta mais.

A que se deve essa forma de ser? O que nos mostra quando afirma que passou a ser contra porque agora está pior enquanto que na hora que estava não reclamava? É a mesma de quem rouba, a mesma dos corruptos: levar vantagem indevida. Mas, mesmo fazendo a mesma coisa, ainda critica quem aceita suborno.

Enquanto foi bom, enquanto houve um lucro individual, você se silenciou. Na hora que esse lucro cessou, passou a atacar o governo. Isso chama-se corrupção. Mas, reclama dos corruptos.

Participante: mas isso não é necessário para que ele tome consciência disso?

Sim, isso é necessário para que ele tome de que é corrupto e que por isso não pode tacar pedras no telhado dos outros. O problema é que ele não tomou.

Participante: mas, isso é corrupção?

Deixe-me dizer uma coisa: o que é trabalhar? Não importa o que você faça, o que é trabalhar?

Participante: é serviço?

É fazer um serviço em benefício de alguém. Quantos vão para o seu emprego preocupados o que vão fazer pelo outro? Ou vão preocupados se o seu salário vai sair no final do mês?

Não adianta reclamar do governo. Está lá em Paulo: o governante é escolhido de acordo com o povo que vai governar. Enquanto se silenciar quando achar que está bom para você e criticar quando está ruim, vai ter um governante que faz o bem para ele e nada por você. Aliás, é a mesma coisa que faz, não?

É necessário acordar para a realidade.

Participante: e como seria ele acordar aí nesse caso?

Acordar é saber que você critica o que ele faz, mas fazer a mesma coisa. Como é o nome disso? Ser hipócrita! Acordar é ter a consciência da sua hipocrisia.

Ser hipócrita é silenciar-se porque está acontecendo o que gosta e reclamar quando acontece o que não gosta, pouco importando se o que deixa de fazer afeta outros.

Participante: e quem não consegue aceitar essa ideia de se conhecer e acha que é só gosto? “Ah, eu não gosto e não consigo me controlar”. Ou seja, não conhece seu interior.

Quem vive assim é o ser humano, que não pensa no próximo. O ser ligado à esse humano um dia terá que acordar. Se não for nessa, vai ser em outra encarnação. Enquanto ele não despertar, vai sofrer durante suas vidas.

Mas, só vai acordar quem cansar de sofrer. Você só vai alcançar o que estamos conversando aqui na hora que se cansar de sofrer. Só depois de trocar diversos presidentes e nenhum deles mudar essa forma de agir, pode ser que acorde. Enquanto achar que algum deles vai ser bom, vai fazer o que você quer, vai sofrer com quem estiver no poder.

Por isso dissemos: não eleja salvador da pátria, porque isso não existe! O governante, seja quem for, sempre vai fazer uma coisa para ele sem se preocupar se você está gostando ou não.

Anteriormente eu cortei a sua pergunta porque não adianta continuar a justificativa e a história. A história que você viveu deve acabar aqui. Hoje é a hora de despertar. É o momento de entender que você está agindo de má fé e prejudicando os outros e ainda por cima reclama quando os lhe prejudica.

Participante: o problema é assim: eu concordo, sou hipócrita, mas ainda não sinto que eu vou mudar de atitude.

Isso é um direito seu. Nem eu, nem Deus, nem ninguém vai lhe obrigar a mudar. Mas, lhe garanto que a colheita dessa forma de viver é o sofrimento.

Você quer sofrer? Sofra.

Participante: mas no caso dele aí: eu tenho uma realidade que não consegui mudar ainda, mas não quero sofrer mais. Tenho que tomar uma nova posição para não sofrer?

Tem que mudar. Se é a sua forma de viver hoje é que lhe leva ao sofrimento, é preciso muda-la, diz a lógica. Não adianta plantar capim e querer colher trigo. Não vai conseguir.

15. O que vem por aí

Participante: Joaquim, quando você fala que vai piorar muito, pode dizer em qual sentido?

No sentido da falta de credibilidade. Cada um que for assumindo o governo não terá credibilidade. A população não acreditará nele.

As ações dos novos governantes continuarão a ser as mesmas que dos anteriores. Com isso, vocês irão perdendo as esperanças de um futuro melhor. Nesse momento haverá uma convulsão social e depois haverá a mudança no sistema de vida.

Participante: então, tomara que aconteça essa mudança ...

Sim, mas ainda vai demorar. Vocês ainda têm muita caminhada até lá.

Participante: e o senhor sabe dizer quando?

Não. A hora só Deus sabe. Isso Cristo ensinou.

Participante: mas que mudança é essa, pai Joaquim?

O que irá suceder o modelo atual da sociedade é algo que nunca existiu. Se nunca existiu, como é que vou lhe explicar? Você não conhece nada dele para eu tentar lhe mostrar como será.

Digamos assim: vai mudar de banana para tchutchuctchu. Entendeu?

Participante: só para deixar mais claro o que você está dizendo... Vai piorar não só o governo, mas também família, sociedade, botequim de esquina, tudo não é?

O que é a família? É o governo mais direto sob o qual você vive. A falta de credibilidade nas posições de liderança ocorrerá com todos que governam a sua vida.

A crise vai se estender a todos os poderes constituídos. Na verdade todo governo tem poder porque vocês os constituem dessa forma. São vocês que outorgam o poder e elegem um governante nos diversos segmentos da vida. Na família, no trabalho, no bar. Em todos esses setores, a perda de credibilidade se dará. Aliás, muitos já estão vivendo essa situação na família e em outros campos.

Tudo isso acontecerá para vocês compreenderem que a forma de viver atual só leva ao sofrimento. Não é através dela, ou seja, através do quando for bom eu faço, quando não for, não faço, mesmo que com isso fira o outro, que3 se consegue a felicidade. Isso só leva ao sofrimento.

Participante: ou seja, para construir o novo, você precisa destruir o velho.

Você só pode renascer depois de matar o velho.

Participante: mas Joaquim, esse matar o velho é a relação com o homem velho, não é?

É a forma de viver velha.

Você precisa libertar-se da forma de viver velha. Quando se liberta dela, a mata.

Participante: quando você fala que vai piorar...

É porque vai piorar.

Participante: isso que o senhor disse nós não escutamos só aqui. Em casas espíritas já tive oportunidade de ouvir a mesma coisa. Aas entidades têm batido muito na tecla que devemos viver mais em harmonia e ser essa luzinha, essa formiguinha, pois a intolerância vai aumentar Então, posso pensar nessa coisa que a gente já está vivendo esse mundo. Na rua, as pessoas falam mal desde o transporte público até a saúde. Por isso elas já vão para a rua com raiva e brigam umas com as outras, seja no trânsito ou em qualquer lugar. Quer dizer, aí chegam a uma manifestação e vira baderna. Há mortes e por aí vai.

Essa sua pergunta me leva para a segunda crise que vocês estão vivendo e que vai aumentar: a insegurança física. Nós já vamos falar dela.

Só quero acrescentar um detalhe. Vocês já ouviram falar no Deus Shiva?

Participante: o destruidor dos mundos.

Não. Shiva não é o destruidor dos mundos. É o reconstrutor. Só que para construir algo é preciso destruir o que há. Portanto, Shiva não é o destruidor, mas o reconstrutor.

Você tem de ser um Shiva. Enquanto não destruir em você as coisas velhas, não nascem coisas novas. Aliás, o Cristo fala isso: o sábio é aquele que tira coisas novas do seu baú de coisas velhas.

Como é que começou a terra? A terra que eu falo é a parte sólida do planeta. A larva saiu de dentro da Terra, o que vocês chamam de vulcão, foi se solidificando e deu origem ao que está aí. Da mesma forma você precisam construí o homem novo.

Por isso digo que enquanto você não tiver uma erupção para que cuspa coisas novas em cima das velhas, não vai construir uma base sólida para uma vida feliz.

Participante: ficou, mas é difícil.

É difícil, por que? Por que é difícil fazer as coisas mesmo sendo chama de bobo? Porque você tem que abrir mão do prazer, da sua satisfação, do ganhar, do ser humano. É difícil porque vocês não querem deixar de ganhar.

Só tem um detalhe: levando-se em consideração o mundo espiritual, só ganha quem abrir mão do querer ganhar. A pessoa que me falou que secou a poça de água ganhou. Ele foi lá, tirou a água e por isso não tem mais mordida de pernilongo. Só que para obter essa vitória teve que abrir mão do deixar de ganhar, de ter o prazer da prefeitura fazer o que tinha que fazer.

Participante: é engraçado você falar isso porque por várias vezes já percebi isso acontecer em minha vida. Você luta, luta, luta por uma coisa. A partir do momento que não julga mais aquilo importante, acontece. Ou deixa de acontecer uma coisa que está incomodando. Aí, quando você fala “não quero saber, não estou mais nem aí”, a coisa para de acontecer.

Não é sempre, mas acontece muito dessa forma.

Crise de segurança

Crise de segurança

16. Saindo da insegurança

A segunda crise que vocês estão vivendo hoje é a insegurança física.

Quem mora em grande cidade, então, sabe muito bem disso. Sai de casa hoje sem a certeza de que vai voltar. Quem mora em cidades onde existem guerras, não sabe onde a bomba vai cair. Não têm o direito de reclamar porque as passeatas acabam em distúrbio. Mesmo ficando em casa quieto, não sabe se vai ser acertado por uma bala. Essa insegurança física causa medo, aterroriza.

E aí, como sair disso? Como viver em paz quando o mundo está desse jeito

Participante: sabendo que só vai acontecer o que tiver que acontecer.

Continue pensando assim que você vai continuar com medo.

Participante: eu usei isso porque eu moro em São Paulo. E na zona sul da minha cidade a coisa é barra. Aí, eu saio pensando: “nada vai me acontecer que seja diferente do que vai acontecer”.

Graças a Deus deu certo até hoje. Quando não der, vai ser uma vez só. Você não vai ter tempo nem de lembrar que não deu.

E aí, como deixar de ter esse medo de que de repente aconteça uma guerra, uma revolução, que você tome um tiro no meio da rua do nada, apenas por causa de uma discussão no trânsito? Como acabar com essa insegurança?

Participante: seria aquilo de ser apegado ao humano, apegado ao corpo?

Sim, mas você é, não adianta. Isso não vai conseguir mudar.

Participante: ah, então é eu continuar com medo e pronto, fazer o que?

Continua sofrendo.

Essa insegurança vai aumentar. Os aviões vão continuar caindo, os ônibus vão continuar batendo, os bandidos vão aumentar cada vez mais, as guerras nos países vão continuar aumentando, os atos terroristas vão acontecer muito mais.

Participante: viver com mais simplicidade?

Viver com mais simplicidade não adianta nada.

Vou dar uma dica. O segredo para sair de qualquer coisa é ser a formiguinha que constrói o que você quer. Esse é o segredo.

Como é que você sai dessa insegurança, desse medo? Simples: você quer paz? Dê paz aos outros.

Participante: não fomentar a guerra, não é?

Não, não é só não fomentar a guerra. É começar a dar a paz.

Você discute em casa com sua mulher: briga, guerra. Ela sai nervosa, vai brigar com três na rua. No trabalho esses três vão brigar com dez. O pior é que para você a culpa do estado emocional dos dez é deles e não sua. Mas, não é.

A insegurança que você vive não é culpa dos outros, mas sua. É você que semeia discórdia pelo mundo. Quando ela retorna, é apenas um reflexo do que você plantou.

Você quer viver em paz, quer acabar com esse medo? Dê paz aos outros. O que estou falando é que deve parar de entrar em disputa por território, por bens, por razões.

Me lembro de outra história interessante:

"Um famoso senhor com poder de decisão gritou com um diretor da sua empresa, porque estava com ódio naquele momento.

O diretor, chegando a casa, gritou com sua esposa, acusando-a de que estava gastando demais. Sua esposa gritou com a empregada que quebrou um prato.

A empregada chutou o cachorrinho no qual tropeçara.

O cachorrinho saiu correndo e mordeu uma senhora que ia passando pela rua, porque estava atrapalhando sua saída pelo portão.

Essa senhora foi à farmácia para tomar vacina e fazer um curativo e gritou com o farmacêutico, porque a vacina doeu ao ser-lhe aplicada. O farmacêutico, chegando a casa, gritou com sua mãe, porque o jantar não estava do seu agrado.

Sua mãe, tolerante, um manancial de amor e perdão, afagou seus cabelos e beijou-o na testa, dizendo-lhe:

-"Filho querido, prometo-lhe que amanhã farei os seus doces favoritos. Você trabalha muito, está cansado e precisa de uma boa noite de sono. Vou trocar os lençóis da sua cama por outros bem limpinhos e cheirosos para que você descanse em paz.

Amanhã você vai se sentir melhor."

E se retirou, deixando-o sozinho com os seus pensamentos.

Naquele momento, rompeu-se o círculo do ódio, porque se deparou com a tolerância a doçura, o perdão e o amor”.

Enquanto alguém não cortar o ciclo de guerra, a paz jamais existirá.

17. O agente carmático

O que estou querendo dizer é que deve dar ao bandido o direito de roubar. Se fizer isso, não terá medo dele. O bandido tem o direito de lhes roubar e até matar. Sabiam disso?

Participante: e eles acham isso tão natural, não é?

Não, não estou falando do que eles acham. Estou dizendo que têm o direito de lhe roubar, sabiam disso?

Participante: por que?

Porque eles nasceram para isso. Eles nasceram para seres assaltantes e vocês que são roubados nasceram para viver isso.

Eles são agentes carmáticos. Ninguém é roubado se não merecer ser roubado, se isso não fizer parte do gênero de provas pedido antes da encarnação.

Cristo fala uma coisa interessante. Vocês já repararam que o sol nasce para o bom e para o mal? Quando diz isso quer dizer que aos olhos de Deus não há diferença entre um bandido e um santo, um honesto. Porque para todos é dada a mesma oportunidade. Que oportunidade? A de viver a sua ação carmática que servirá como instrumento para a elevação espiritual.

Por isso digo: dê paz aos bandidos. Quanto mais se revolta com ele, mais aumenta a revolta nele. Quanto mais age contra o seu inimigo, mais fomenta nele o querer se vingar de você.

A instabilidade da segurança, não passa só em confiar em Deus. Passa em começar a plantar a paz com todos. Na hora que a paz com o seu próximo, eles vão plantar com outros e assim a felicidade cresce.

Me lembra outra história:

Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita. Acontece que essa menina frequentava as aulas da escolinha local no mais lamentável estado: suas roupas eram tão velhas que seu professor resolveu dar-lhe um vestido novo.

Assim raciocinou o mestre: é uma pena que uma aluna tão encantadora venha às aulas desarrumada desse jeito. Talvez com algum sacrifício, eu pudesse comprar para ela um vestido azul.

Quando a garota ganhou a roupa nova, sua mãe não achou razoável que, com aquele traje tão bonito, a filha continuasse a ir ao colégio suja como sempre, e começou a dar-lhe banho todos os dias, antes das aulas.

Ao final de uma semana, disse o pai: Mulher, você não acha uma vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more num lugar como este, caindo aos pedaços? Que tal você ajeitar um pouco a casa, enquanto eu, nas horas vagas, vou dando uma pintura nas paredes, consertando a cerca, plantando um jardim?

E assim fez o humilde casal. Até que sua casa ficou muito mais bonita que todas as casas da rua e os vizinhos se envergonharam e se puseram também a reformar suas residências.

Desse modo, todo o bairro melhorava a olhos vistos, quando por isso passou um político que, bem impressionado, disse: É lamentável que gente tão esforçada não receba nenhuma ajuda do governo”. E dali saiu para ir falar com o prefeito, que o autorizou a organizar uma comissão para estudar que melhoramento eram necessário ao bairro. Dessa primeira comissão surgiram muitas outras e hoje, por todo o país, elas ajudaram os bairros pobres a se reconstruírem.

E pensar que tudo começou com um vestido azul.

Não era intenção daquele simples professor, consertar toda a rua, nem criar um organismo que socorresse os bairros abandonados de todo o pais. Mas ele fez o que podia, ele deu a sua parte, ele fez o primeiro movimento, do qual se desencadeou toda aquela transformação.

É difícil reconstruir um bairro, mas é possível dar um vestido azul.

18. Viva amor, não a guerra

Essa é a forma de você conviver com a segunda crise.

Cada vez que sai uma reportagem atacando os terroristas, mais eles querem aterrorizar. Por que? Porque você fez guerra a eles.

Um detalhe: não estou dizendo que é certo o que eles fazem, não estou dizendo que se deve degolar os outros. Não é isso o que eu estou querendo dizer. O que estou afirmando é que você precisa entender que isso faz parte de um momento que o mundo inteiro vive. Para que ele vive isso agora? Para que vocês aprendam a ver escândalos sem escandalizar.

Participante: internamente.

Internamente, calar em você a revolta contra ele.

Participante: na boca não tem problema.

Na boca, não tem problema. Estou, como sempre falando de mundo interno. No seu íntimo não deve emitir raiva contra eles, pois na hora que faz isso, espiritualmente falando, sabe o que está fazendo? Alimentando-o energeticamente.

Participante: quando você disse vamos à luta, seria uma luta como Gandhi fez, em paz?

Isso: uma guerra sem raiva.

Eu costumo dizer que Gandhi não foi um pacifista, porque fez guerra contra a Inglaterra. Só que ele lutou verbalmente sem raiva. Lutou pelo ideal dele, mas sem para isso precisar atacar o outro.

Participante: mas ele tinha aprendido a se harmonizar...

Você também precisa se harmonizar.

O se harmonizar, nesse caso, é assumir o comando de suas emoções durante a vida. Ou seja, não deixar o terrorista, o bandido, o assaltante, o policial que bate e mata, comandarem as suas emoções. Esse é o harmonizar que Gandhi e outros alcançaram.

Participante: eu ia falar que agente critica a guerra, mas a alimenta. Alimenta no sentido energético.

Você critica a guerra e não entende que ao criticá-la, faz guerra.

Não estou falando apenas em não criticar, mas sim em entender que você faz guerra. Quando diz que um bandido não presta, está assaltando-o, está guerreando contra ele.

Volto a repetir: não estou aqui dizendo que a violência deve ser feita. Não. Estou constatando que a insegurança física existe e que nenhum de vocês, não só os que estão aqui, nenhum de vocês no planeta vai conseguir acabar com ela. Por isso, é preciso aprender a conviver com o que existe

Vocês querem um exemplo de que isso não acabará? Já prestaram atenção no tamanho do grupo de terroristas? Já viram o tamanho dos Estados Unidos, seu alvo preferencial? Não seria óbvio pensar que um dia aquele país conseguiria acabar com eles? Por que não acaba? Porque não é para acabar. Porque não está no plano do planeta acabar com aquilo.

O terrorismo precisa existir. Por que? Porque faz parte do processo de transição, da mudança de sistema de vida que ocorrerá no planeta. É o fim de um sistema de vida onde você se acha no direito de ferir o outro para conseguir o que quer. Isso é guerra, mesmo que julgue que é justo ferir.

Portanto, o terror não vai acabar; isso não vai mudar. E se não vai acabar, se não vai mudar, vocês, que estão vivendo esse momento, precisam descobrir uma forma de passar por isso sem sofrer. E a forma de passar por isso sem sofrer é deixar de fazer guerra a quem faz guerra.

Ele quer fazer guerra, que faça. ‘Ah mas vai matar soldado porque o presidente quer guerra’? Vai, porque aquele soldado nasceu para morrer naquele momento daquela forma. Por isso, não aceite qualquer justificativa da sua mente para alimentar a energia da guerra, da luta, de querer impor a sua vontade.

19. As guerras diárias

Da mesma forma que falamos sobre as críticas ao governo, o alimentar a discórdia não vale só com relação aos bandidos: vale também para quem está ao seu lado no dia a dia. Quando você na sua vida diuturna quer provar que está certo em alguma coisa não vê, mas abre guerra com o outro para poder dominar ele. Ela é a mesma que os terroristas fazem e causa o mesmo sofrimento, pois a energia que gasta para alimentá-la é a mesma: o egoísmo.

Ontem me perguntaram sobre o natal, sobre o portal que se abre nessa época. Ele é uma grande oportunidade de você declarar não quer mais viver desse jeito. De mostrar a sua intenção de começar a assumir o controle da sua vida. É o momento de buscar se harmonizar, ou seja, não deixar essa sensação de ter que lutar com o mundo, de ter que mudar o mundo lhe dominar. É uma grande oportunidade de começar a dar paz aos outros. Aí, dando paz aos outros, a paz se estabelece em você.

Participante: uma coisa que eu recordei também, que essa paz que a gente as vezes dá às pessoas que estão ao nosso lado acabam gerando nelas raiva.

Veja, ele pode até ter raiva, mas se você está em paz, essa raiva não vai para frente. Você positiva o que vem negativo.

Quando você está em paz e o outro tem raiva, como fonte emissora da paz, positiva a energia da raiva que vem dele. O problema é que hoje ele tem raiva e você também. Aí vocês vão retroalimentando cada vez mais essa raiva, cada vez mais, cada vez mais, e não conseguem sair dela. Isso leva você ao sofrimento.

Participante: por exemplo, os terroristas. Quando chega um amigo e senta do lado e começa a falar que tem que matar os terroristas, acabar com tudo, e você não está nem aí para o assunto e por isso concorda com ele, está alimentando a raiva?

Se você não está nem aí, não. Agora, se internamente passa a viver aquela raiva que ele está emanando naquelas palavras, sim, passa essa raiva para frente.

Eu contei agora pouco uma estória que fala de um brigar com o outro. É isso: é preciso quebrar o ciclo de raiva, de beligerância. Só que ao invés de quebrarem o ciclo, brigam cada vez mais, para poderem ter razão.

E querem que a guerra acabe. Impossível.

Participante: é como na televisão, nesses programas...

Junto com a televisão vem a raiva da televisão.

Participante: quando os outros vêm falar coisas com a gente, dizendo o que a temos que fazer?

Dê o direito a ele de impor, mas também dê a si o direito de fazer ou não.

Ele quer impor algo? Quer. Então, está certo, ele que fale o que ele quiser. Agora, seja o que for que ele disser, você não deixe mexer dentro de você. Continue com a sua paz.

Pouco importa se vai fazer o que foi imposto ou não. O que não pode acontecer é deixar o que ele faz dominar seu mundo interno, ou seja, fazer você viver com raiva dele.

20. Responsabilidade

Que silêncio, não. Acho que a conversa está pesada para vocês. Por que? Porque eu estou pondo a responsabilidade nas suas mãos. Isso assusta.

O peso que estão sentindo é o de saber o seguinte: ‘que idiota que eu sou! Eu posso ser o dono do mundo, do meu mundo, e entrego o poder na mão de outro’. Pensando isso, a mente pode lhe levar a criticar-se. Ao invés disso, mude-se. Não abra guerra contra si mesmo: é melhor.

Essa é uma verdade que vocês precisam entender. Ninguém é capaz de fazer nada contra você se não deixar eles fazerem. Nem mesmo a sua mente. Se entregar aos outros ou à sua mente o comando da sua vida, você vai ter que viver o que eles disserem para viver. Ter consciência desse poder assusta.

O mais novo aqui já tem no mínimo uns trinta anos. Até hoje viveram colocando a responsabilidade pelo que vivem na mão do outro: ‘eu sofro porque o mundo é assim, sofro porque o governo não cuida da saúde, sofro porque tenho medo do bandido’. Até hoje sempre acharam um culpado. Agora, descobriram que a única culpa, se houvesse, era de vocês mesmos.

Culpa do que? Culpa de não ter crescido. Muitas vezes são velho de cabeça branca, mas ainda são crianças. Esperam que a vida traga balinha todo dia. Esperam que a vida faça tudo de bom por vocês. Quando não faz, choram: ‘ai, a mamãe não trouxe balinha, que coisa horrível’.

Quando é que vocês vão crescer? Quando é que vocês vão poder dizer ‘eu ajo maduramente com a vida’, ao invés de viverem de uma forma infantil, culpando Deus e o mundo pelo que deixam os outros fazerem consigo?

Participante: seria usar a inteligência emocional?

Eu já falei de diversos trabalhos que podem ser executados para realizar isso: conciliação, inteligência emocional. Aliás, tudo o que falamos nos últimos dezesseis anos está presente aqui agora. Não há nenhuma novidade.

Sabe, o que estou dizendo é que devem assumir: eu faço o que quiser. Não fazer em atos, mas ser. Precisam assumir-se e serem quem quiser, ao invés de deixar os outros dizerem o que devem viver.

Participante: mas isso não causa guerra entre o casal, marido e mulher?

Não, se você o que quiser, mas deixar o outro ser quem ele quer, isso não causa guerra. Ela vai se iniciar apenas quando você for o que quiser e querer que o outro seja também como você quer.

Participante: então, eu posso ser o que eu quiser e a mulher...

Você pode ser o que quiser e pode deixar sua mulher ser o que ela quiser. Só que, nesse processo, não pode viver o sonho de que, na hora que ela for o que quer, vai ser quem você quer que ela seja.

O problema dos casais é que você quer ser quem quer, mas quando o outro quer ser ela quer, você não deixa. Ai, há guerra. Essa guerra, no entanto, não existe porque você quer ser quem quer. É porque quer que ela seja quem você quer que ela seja.

Participante: quando eu faço as minhas coisas, não queria que ela ficasse brava comigo. Queria que aceitasse.

Você está guerreando contra ela. Está lutando para que ela lhe aceite.

Ela é de reclamar do que você faz? Ela é assim. Se quer ser livre, dê a ela a liberdade de reclamar. Isso faz parte da paz.

Vou usar um exemplo chulo: o homem que gosta de sair para beber e não deixa a mulher sair de casa. Por que?’ Porque eu sou homem, tenho esse direito, ela é mulher, não tem’. Quem pensa assim é uma criança que acha que pode dominar o mundo.

21. Maturidade

Vocês estão entrando na adolescência ...

Participante: na pré-adolescência.

Isso. Estão naquele momento em que descobrem que podem fazer fora de casa sem a sua mãe ver o que quiserem. Livres dos olhos da mãe imaginam que são capazes de fazer o que quiserem.

São adolescentes porque a criança pequena não age assim. Mesmo fora do olhar da mãe, não fazem o que ela não quer. Mas, quando começam a se assumir como homem ou mulher, a pré-adolescência, começam a fazer o que quer.

Se imaginam que podem fazer o que querem, podem acabar com todo o sofrimento, com toda essa insegurança. Só que para isso precisam amadurecer mais. A diferença entre o adolescente e o homem maduro é que ele sabe que pode fazer o que quer, mas mede o que faz para não causar prejuízo a si mesmo.

Uma das características do ser maduro é que ele tem a consciência de que quando ganha um direito gera para si o que? Um dever, uma responsabilidade. O ser maduro sabe que recebe sempre o retorno de acordo com o que ele faz.

Participante: está ciente da lei, não é?

Não, não estou falando da lei.

Estou falando de amadurecer e dizer a si mesmo: ‘eu posso assumir o controle da minha vida, posso fazer o que quiser, mas tenho que dar a minha mulher o mesmo direito’. Quando assume isso sabe que se quiser se impor e não deixa-la sair corre o risco de ela ir embora.

É disso que estou falando. O ser maduro assume uma responsabilidade que traz consigo o fim da ilusão de que ele será o centro do mundo. O fim da ilusão de que os outros precisam lhe respeitar, mas você não precisa respeitá-los.

O ser maduro assume a si mesmo, toma o controle dele, mas não toma controle dos outros e nem vive a ilusão e a fantasia que o mundo será um biquíni amarelinho com bolinhas cor de rosa. Ele sabe que o assumir a sua liberdade tem um preço.

O preço é muitas vezes fazer o que não gosta, aquilo que lhe incumbiram de fazer, sem reclamar. Abrir mão do que gosta para poder ter paz. O ser maduro sabe que precisa viver essas coisas ao invés de ficar achando que vai sempre fazer o que gosta. É por isso que a conversa está pesando.

Tem gente que diz assim: ‘era mais fácil quando eu achava que ia morrer e ia tocar harpinha nas nuvens ou vivendo numa cidade espiritual’. Sim, viver a ilusão de que essa vida pode ser feita apenas do que gosta é mais fácil, mas não leva à felicidade.

Era muito mais fácil quando vocês achavam que ao concederem a si mesmo a maturidade, o mundo lhes respeitaria e diria: ‘oh nobre senhor, me diga o que posso fazer para lhe agradar’. Isso não vai acontecer: a vida sempre estará cobrando de você a sua maturidade.

Então, ser maduro, e por isso feliz, é uma condição que tem um custo. Aliás, tudo nessa vida tem custo. O custo de ser uma pessoa madura é viver a realidade, ao invés de ficar preso dentro de uma vida fantasiosa. Ficar preso a uma vida onde ainda imagina que aparecerá um salvador da pátria que vai cuidar da saúde, da educação, do buraco da rua e ainda por cima você não precisará pagar imposto para isso. É isso que assusta: entender que ao sair da infância onde existiam as princesas e os castelos, cairá no castelo da bruxa, ou seja, numa vida que não é feita só do que você gosta.

Insegurança financeira

Insegurança financeira

22. Freando o consumismo

A visão que passei agora é muito importante para analisarmos a terceira grande causa de sofrimento hoje. Isso só causa mal a alguns, outros não estão nem aí. Estou falando da crise financeira, do fim do sonho dourado do consumismo. O fim de conseguir comprar tudo que quer, de conseguir adquirir todos os bens que quer.

Essa crise financeira não existe só nesse país, mas também no mundo inteiro. Mesmo nos países mais ricos, existe uma crise financeira. Em todos os cantos hoje as pessoas têm mais dificuldades de conseguir alimentar o sonho de poder comprar o que quer, na hora que quer.

Quando falo dessa crise, não estou me referindo só a supérfluos. Eu estou falando de feijão com arroz, que muitas vezes está sendo difícil de comprar. Falo, também daquilo que vocês chamam de necessidades básicas.

Participante: como está na Venezuela?

A Venezuela? Só ela? Você consegue comprar o que quer para comer aqui? A vida está fácil? Dinheiro sobra? Mesmo nos Estados Unidos, que é o país mais rico, há dificuldades para as pessoas comprarem o que querem.

A vida não está fácil para ninguém.

Participante: até esses intocáveis serão tocados por essa crise?

Não, não serão. Estão sendo!

Vocês estão desesperados com o desemprego no Brasil, mas nesses intocáveis, é muito maior o desemprego. Ainda por cima lá vem aquele monte de gente fugindo da guerra. Isso aumenta mais ainda.

Essa crise existe no mundo inteiro.

Participante: eu estava vendo um estudo que dizia que cada pessoa que adquira uma moto nova já é mais rica que metade da população do planeta. Eu acho que isso devia levar as pessoas a refletir sobre esse impulso de consumo.

O impulso de consumo não é problema nenhum. Você pode ter o que você quiser. O problema é sofrer pelo que não tem.

O problema para não é o que conseguem comprar, é o que não conseguem. É isso que causa o sofrimento, insegurança, que lhe faz sentir falta.

Pois bem, pergunto: como ser feliz com essa situação que está presente hoje e vai piorar? Como conviver com isso?

Participante: não ter necessidade de consumo...

Impossível. Você é bombardeado o dia inteiro para comprar.

O dia inteiro, mesmo que não seja bombardeado externamente, a sua mente cria necessidade de ter alguma coisa. Mesmo que seja supérfluo, a mente diz que você tem que ter aquilo. Aí, você compra, olha e diz: ‘e agora, o que faço com isso’? Cadê a necessidade tão apregoada pela mente? Compra e encosta de lado e nunca mais usa.

Participante: dar valor ao que já tem?

Que valor? Que valor é esse que que dar ao que já tem?

Participante: eu tenho o que necessito.

O que eu necessito é o que eu tenho.

Não as respostas não são essas. Da mesma forma que as duas outras crises, a resposta é a mesma: assumir o controle da sua vida.

Para ser feliz mesmo havendo uma crise financeira é preciso não deixar um celular assumir o controle de seu mundo emocional. Não deixar um prato de comida assumir o controle.

Ontem eu falei rapidamente de uma coisa. Agora quero falar mais. Vocês se consideram livres, mas são escravos de um prato de comida. Se não tiverem, sofrem.

Há uma frase que eu já disse que é a maior mentira: ‘amo tudo que tenho, mas quero...’. Se você quer alguma coisa, não ama o que tem.

Para sobreviver em paz a essa crise é preciso assumir o controle da vida e dizer a si mesmo: ‘isso é o que eu tenho, isso é o que eu posso comprar e tudo que não estiver aqui, não preciso ter’. Ou até melhor: ‘pode ser até que preciso, mas não tenho. Como quero ser feliz, tenho que assumir o controle da minha vida e me libertar de ser escravo de ter’.

23. Ter que ter

Participante: ouvi uma palestra onde você contou o caso de uma pessoa que dizia: ‘mas como alguém pode viver com uma grama desse tamanho’. Você respondeu: você, pois está vivendo com ela.

Exatamente.

Estou falando da dependência do ter, não é só do comprar. Falo sobre comprar porque fica mais fácil ser entendido, mas o que quero dizer é que se você quer ser feliz não pode viver na dependência do ter. Deixar o que não tem dominar você.

Participante: então, por exemplo, em um momento de crise muito alta, não vai ter nem o que comer. Aquele que viver isso e se livrar dessa dependência vai viver sem precisar comer?

Você não entendeu. Não estou falando em ter necessidade ou não. Estou dizendo que uma pessoa não pode ser escravo de qualquer elemento material.

Nesse caso, o que é não ser escravo? É dizer: ‘eu preciso comer, mas hoje não tem comida, o que é que eu posso fazer? Roubar? Não, eu não faço essas coisas. Então, vou esperar a comida, talvez o amanhã me traga’.

Quem não é escravo da comida abre mão de comer filé mignon, porque está caro, e come com satisfação uma galinha. Quem é, come a mesma galinha, mas reclama por de não ter filé mignon. Aquela galinha passa a fazer mal. É isso o que eu estou querendo mostrar. Você é escravo do filé mignon, porque deixa esse alimento dizer o que você tem que sentir.

Estou usando um exemplo que talvez não seja o melhor, pois vocês poderiam dizer que nunca comeram filé mignon. Só que tem gente que é escravo de feijão com arroz. Come macarrão! Não dá para comer macarrão? Come só legume!

O que estou falando é em se contentar com o que tem, com o que está disponível. Assumir o controle da sua vida para não deixar o que não tem lhe fazer sofrer: essa é a única forma de passar sem sofrimento pela situação econômica que o mundo vive.

Participante: as vezes, a gente comprar porque está sentindo falta de alguma coisa, está triste, está mal. Quantas vezes eu já não disse, ah vou comprar porque hoje eu estou com raiva. E nem sabe porque direito...

Isso é só desculpa da mente.

Você pode comprar o que comprar e pelo motivo que achar que está comprando, não tem problema. O que não pode é reclamar do que não compra.

Se tem dinheiro, gaste. Compre o que quiser. Nada é proibido. Você pode ter iate, avião, o que quiser. Agora, se tem um avião e reclama que não tem a gasolina, o que adiantou ter o avião? Não satisfez em nada o avião.

A saída para essa crise também não é esperar que vá entrar um governo que faça uma distribuição de renda. Deixa eu fazer uma pergunta: a ideia do repartir do pão em tamanhos iguais vem desde o Egito Antigo, não é? É muito velha. Até hoje nunca se conseguiu isso. Nem na União Soviética era assim: havia ainda classe que tinha mais que os outros. Vocês ainda acham que vai aparecer alguém que vai conseguir?

Então, sonhar com isso, é sofrer por isso. É dar acesso ao sofrimento. Sonhar que isso é possível, que um dia o mundo vai repartir em partes iguais a riqueza, é utopia.

Só que isso poderia acontecer hoje, se fosse para acontecer. Se estivesse nos planos encarnatórios do planeta poderia haver uma distribuição igualitária de riquezas. Bastava o que? Cada um abrir mão do seu. Quem está disposto a isso?

Quem está disposto a dizer: ‘eu ganho cem, você ganha cinquenta; vou lhe dar vinte e cinco e cada um fica com setenta e cinco’. Quem está disposto a isso? Ninguém. Mas acusam o governo de não fazer. Ainda sonham que por uma lei, por um decreto, o governo vai dar cem para todo mundo, sem tirar nada de você. Impossível.

Eu disse uma vez e vocês não entenderam uma coisa: para alguém ganhar algo, alguém tem que perder. Quando falei isso me disseram: ‘Joaquim, eu nunca pensei nisso. Achava que um podia ganhar e ninguém perder’. Não, não pode. Poderia se você abrisse mão do seu, mas como não vai abrir, terá que perder para outro ganhar.

Isso é maturidade. É saber que a fome existe e vai existir sempre, e sempre existiu. Que alguns vão ter mais e que outros vão ter menos. Se você é dos que tem menos – e todos têm menos porque por mais que tenham sempre sentem falta de alguma coisa – e acha que deveria ter mais.

Para ser feliz nos tempos de hoje é preciso trabalhar o que você tem para conviver com isso sem sofrer, ao invés de, como criança, ficar sonhando que todos vão ter sem você perder nada.

Participante: a gente não pode sonhar só por diversão?

Pode. Como eu disse, o que você precisa saber é a consequência do que você faz. Você quer sonhar por diversão, saiba que por diversão você vai sofrer. Tem uma mensagem antiga que diz assim: vocês dizem que sonhar não custa nada. Custa! Custa a felicidade com o que você tem. Cada vez que você sonha em ter alguma coisa, você se torna infeliz com o que você tem.

Participante: esquece de viver o dia de hoje.

Mais do que viver o dia de hoje, viver o que está no dia de hoje. É aquilo que falo: viver o hoje, no hoje, pelo hoje. É estar completamente no agora.

Saindo da crise

Palavras finais

25. Vivendo no mundo novo

Nós estamos falando dessas três crises porque são os pilares necessários para mudar o sistema humano de vida. Mas, aplica isso àquela pessoa que vive sonhando que o outro vai entender as suas razões e fazer o que você quer. Esperando isso acontecer, você só vai continuar sofrendo.

Participante: a própria religião.

A religião, tudo.

Eu estou querendo mostrar com essa conversa, falando e reprisando a informação de que as coisas vão piorar, é que não importa o tamanho da crise, qual seja a origem da crise, só você pode sair dela. Só você tem o poder de sair da crise, seja ela qual for. Seja uma crise de relacionamento pessoal, institucional, segurança, etc.

Volto a repetir, como amigo, as coisas vão piorar. E se você não despertar agora, o maremoto que vem, vai lhe levar. Se continuar na praia achando que você vai surfar nas ondas ou que elas vão diminuir só onde você está, vai ser engolfado. Não tem jeito, não tem outra saída: ou você se muda ou vai ser arrastado pelo que vem por aí.

Volto a repetir: lá pelo meio do ano não vai ter um dia em que não haverá uma notícia ruim. Por enquanto, ainda tem duas ou três por semana. No meio do ano, não vai ter um dia que passe sem notícia ruim

Participante: graças a Deus.

Graças a Deus, porque só isso vai fazer o ser encarnado despertar, e promover uma mudança que levará o mundo a viver em paz, mesmo não haja paz no mundo.

Lembro que desde o início, uma das preocupações do grupo era sempre com o fim dos tempos. Me perguntavam se iria morrer um monte de gente, se haveria maremoto, terremoto... Eu sempre disse que não é isso que caracterizaria o mundo novo. Tirar a vida humana não tem custo algum para o espírito.

É preciso mexer na vida. Tem que fazer o terremoto dentro de cada um enquanto encarnado. Só assim pode ser que vocês acordem e, ao verem uma grande onda chegando, procurarem um lugar alto para se protegerem.

Esse é o problema: vocês vêm um terremoto acontecendo no mundo interno de vocês (medo, insegurança, sofrimento), mas não saem do mesmo lugar. Aí a terra se abre, engole vocês e depois é ela que é a culpada.

Então, são essas as três crises que vocês vivem hoje: a institucional, a de segurança e a financeira. Não são esses elementos que mais causam sofrimento hoje? O serviço público, a falta de segurança, a falta de dinheiro? Estão resolvidas. Só continuará sofrendo quem quiser.

Participante: por causa dessa grande quantidade de coisas que foi profetizado, pode ser que nós não consigamos parar para pensar porque está ruim?

Não, parar para pensar que está ruim dificilmente conseguirá. Você vai continuar sempre achando que está ruim, não importando se o sistema vai mudar, e preferirá sofrer a fazer esse exercício em si. O exercício precisa ser feito o tempo inteiro, precisa se tornar a base da vida, para que surja efeito. Se não fizer isso, ainda irá esperar que o mundo se mude.

O que você não entende é que quem não fizer esse trabalho em si será um crítico do novo sistema. É a mesma coisa quando me disse que não concorda com uma determinada diretriz política. Isso quer dizer que concorda com outra. Por causa dessa concordância continuará imaginando que só ela poderá lhe trazer a felicidade.

Mesmo vivendo dentro de um sistema político que não concorde, você precisa fazer o trabalho em si. Vou contar uma história para entender o que estou falando.

Era uma vez uma jovem chamada Lin, que se casou e foi viver com o marido na casa da sogra. Depois de algum tempo, começou a ver que não se adaptava à ela. O temperamento de Lin era muito diferente e se irritava constantemente com a mãe de seu marido. Com o passar dos tempos, as coisas pioraram tanto, que viver com ela, se tornou insuportável. No entanto, segundo as tradições antigas da China, a nora tem que estar sempre a serviço da sogra e obedecer-lhe. Mas Lin, não suportando por mais tempo, a ideia de viver com ela e tomou a decisão de ir consultar um Mestre.

Depois de ouvir a jovem, o Mestre Huang pegou num bom ramalhete de erva, para se usar por meses e disse-lhe: “Para te livrares da tua sogra, não as deves usar de uma só vez, pois isto, poderia causar suspeitas. Vais misturá-las com a comida, pouco a pouco, dia após dia, e assim ela vai-se envenenando lentamente. Outra coisa, para que ninguém suspeite de ti quando ela morrer, tenha o cuidado de tratá-la sempre com muita amizade, respeito e carinho”.

Lin respondeu: “Obrigado, Mestre Huang, farei tudo o que me recomendas”.

Lin ficou muito contente e voltou entusiasmada com o projeto de assassinar a sogra lentamente. Durante várias semanas, Lin serviu todos os dias, uma refeição preparada especialmente para a sogra. E tinha sempre presente, a recomendação do Mestre Huang, que para evitar suspeitas, deveria controlar seu temperamento e tratá-la com amizade, respeito e carinho.

Passados seis meses... Aquela família, estava totalmente mudada. Lin controlou totalmente o seu temperamento e não se aborrecia mais com a sogra. Havia meses que não mais discutia com ela. A sogra se mostrava muitíssima amável e a tratava como fosse uma filha querida. As atitudes de Lin mudaram tanto, que ambas pareciam ser mãe e filha.

Então, Lin foi correndo procurar o Mestre Huang, para lhe pedir uma nova ajuda e disse-lhe: “Mestre, por favor, ajude-me a evitar que o veneno venha a matar a minha sogra. É que ela mudou muito e se transformou numa mulher tão agradável, que parece ser minha mãe. Não quero que ela morra por causa do veneno que lhe dei.”

Mestre Huang sorriu e abanou a cabeça: “Lin, não te preocupes. A tua sogra não mudou. Quem mudou foste tu. A erva que te dei é apenas um chá. O veneno Lin, estava nas tuas atitudes, mas foi sendo substituído pela prática do amor ao próximo que exercitastes no seu dia a dia de tolerância, compreensão e paciência”.

Então, é isso, você quer matar um sistema. Aprenda a viver com ele e pode ser que, até o final, goste dele. Mas, enquanto não aprender a viver com ele, vai querer muda-lo. E digo mais: quando o mundo novo entrar, você vai querer muda-lo. Vai encontrar defeito nele, porque isso é o natural do ser humano. O ser humano nunca está a favor de nada.

Participante: o mundo novo pode ser agora, não é?

Podia ser ontem.

Quando ditamos um texto chamado “Mundo novo”, dissemos que ele nasce quando você for novo para o mundo. Nasce dentro de cada um, em cada momento em que você for novo para o mundo.

Participante: madre Tereza de Calcutá, Chico Xavier já viviam esse mundo novo...

E vocês continuam esperando que o mundo novo chegue para que sejam novos. Não sabem que continuarão sendo velhos porque ele já chegou.

Participante: tem momentos em que a gente vive o mundo novo e tem vezes que a gente vive o velho?

Não. Tem momentos em que vive o mundo velho gostando do mundo velho. Aí, acha que ele é novo, mas não é. Mas, isso aconteceu apenas porque gostou dele.