As reformas da reforma
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As reformas da reforma

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A reforma íntima se consiste em mudança em diversos pontos do mundo interno do ser encarnado. São esses pontos que Joaquim de Aruanda ressalta numa conversa em Goiânia-GO

As reformas da reforma

Você

Quem é você?

Participante: um espírito que habita um corpo.

Sim, você é um espírito que habita um corpo. Não importa que nome dê a si mesmo, você é alguma coisa além da carne. Se chama a si mesmo de espírito, alma, ser ou mente, não importa. O importante é saber que você é alguma coisa mais do que essa carne. Alguma coisa que existia antes do nascimento e que continuará existindo depois deste momento.

Mesmo que ache que você é o corpo, sabe que não é ele, pois este corpo, quando existe o que vocês chamam de morte, vai para debaixo da terra e lá apodrece. Apesar de isso ser uma realidade para todos os corpos, você sabe que continua vivo depois da morte. Por isso digo que apesar de se imaginar o corpo, sabe que não é.

Também não importa como você encare o que vai acontecer depois da morte. Os espíritas acreditam num mundo onde há atividades e os não espíritas acreditam que dormirão até o dia da ressurreição com Cristo. Não importa o que você imagina que vai fazer. O importante é saber que há alguma coisa depois da vida e que se isso é real, você não pode ser o corpo, pois ele acaba com a morte.

Diante de tudo isso, posso, então, afirmar com segurança que você é algo além deste corpo. A partir deste conhecimento, temos que no fazer uma segunda pergunta: porque estamos no corpo? Se você não é o corpo, porque hoje está preso nele?

Participante: porque temos uma missão?

Sim, vocês têm missão, mas mais importante do que isso, o que vieram fazer na carne?

Participante: procurar a elevação espiritual.

Promover a sua pureza, se limpar... Seja qual for o nome que der ao objetivo de estar ligado a esta carne, saiba que veio aqui para conquistar coisas que não tem.

Alguns chamam isso de reforma íntima, mas como disse o nome não importa. O importante é saber que você veio à carne para se mudar internamente. Esta mudança se consiste em alterar o que se é para alguma coisa que ainda não se é.

É a promoção desta mudança que marca a elevação espiritual, que em última análise é o objetivo de você estar ligado a uma massa carnal hoje.

Isso ficou claro? Você é alguma coisa além deste corpo e veio a ele para, através de um processo chamado reforma íntima, mudar alguma coisa em si e com isso alcançar a elevação espiritual.

As reformas da reforma

Reforma íntima

Vamos, então, falar da reforma íntima. O que é se reformar?

Participante: se mudar.

Perfeito. Mas, mudar-se do que para que?

Participante: não entendi...

Veja bem, você veio aqui para fazer a reforma íntima. Isso você sabe. Agora, lhe pergunto: está procurando isso? Acho que a sua resposta é sim, pois senão não estaria presente aqui em nossa conversa. Estando procurando, deve saber o que precisa fazer para realizar a reforma, não?

Por isso lhe pergunto: você tem que se mudar do que para que?

Participante: estou tentando me tornar alguém melhor...

Buscar ser alguém melhor é algo que é difícil de saber, pois cada ser humanizado se sente o melhor, aquele que está sempre certo. Por isso acha que não precisa se mudar e como acha que os outros estão errados, acaba exigindo mudança deles.

Além do mais, tornar-se melhor dentro dos critérios de quem? Digo isso porque a questão de se melhorar depende do critério que as pessoas usam para julgar o que é melhor. Para muitas pessoas o que você é hoje pode já ser o melhor. Se isso for verdade, você, então, não teria mais nada para mudar-se...

Portanto, a reforma íntima precisa ser algo mais do que melhorar-se. O que será que é preciso fazer, então?

A partir do silêncio de vocês posso imaginar que não sabem o que precisam fazer para reformar-se. Na verdade, todo ser humano sabe que é algo além da carne que está para promover a reforma, mas na verdade não sabe que reforma é esta.

Por que ele não sabe o que reformar? Porque não sabe onde está nem para onde vai. Por isso digo claramente – e desculpe se isso doer, mas se não encararmos a verdade ficaremos sem saber nada da vida – que o ser humano é um zumbi.

Zumbis são aqueles que andam sem saber para onde vão, onde vão parar, sem saber por que estão andando. O ser humano é isso. Ele não sabe de onde veio nem para onde tem que ir e quer se reformar. Por não saber o que fazer, não faz nada. Só fica andando de um lado para outro, ou seja, vivendo esta vida sem objetivos para a sua existência depois dela.

O ser nasce para reformar-se, mas vive esta vida sem fazer nada pela sua existência eterna, pois não faz o que veio à carne fazer. É por isso que estou querendo conversar com vocês sobre as reformas que são necessárias para quem acredita ser algo mais do que a própria carne. Entender isso é como colocar um trilho na vida para poder caminhar nela no sentido da elevação espiritual.

Isso é o que pretendemos fazer hoje, mas para começarmos a falar de reforma íntima, temos que saber onde estamos e onde pretendemos chegar para então saber o que reformar. É preciso saber quem se é e o que se pretende ser para podermos saber o que mudar no que se é agora. É preciso conhecer o que se é agora e o que se pretende ser para descobrir o que colocar ou tirar de quem se é hoje para poder chegar a outro lugar.

O que vamos falar hoje, na verdade, compõe um manual para aquele que quer promover a sua reforma íntima.

Você compra uma televisão e junto não vem um manual para aprender fazê-la funcionar? Pois é, você comprou este corpo, mas ele não veio com manual para aprender a usá-lo para realizar o seu trabalho enquanto estiver nele.

Por causa disso busca respostas nas doutrinas religiosas o manual de funcionamento do processo de reforma. No entanto, elas só dizem que você precisa se reformar, ou seja, precisa trabalhar, mas não explicam como realizar o seu trabalho.

Na verdade, o que elas dizem que você precisa fazer está de acordo com a resposta que me deu: afirmam que você tem que ser melhor. No entanto, pergunto: o que é ser melhor? Será que ser melhor é dar um prato de comida para o pobre, levar um cobertor para quem tem frio?

Será que é isso que é ser melhor? Será que você nasceu só para isso? Acho que a reforma íntima tem que ser realizada através de outras atitudes e não apenas se transformar num doador a quem tem carências.

Pense: se o melhorar-se consiste em apenas dar um cobertor para quem tem frio ou um prato de comida a quem tem fome, será que era preciso que os mestres da humanidade viessem a terra e transmitissem tantos ensinamentos? Acho que não. Não seria preciso que Cristo viesse a Terra e transmitisse todos os ensinamentos que estão na Bíblia. Não seria preciso que Buda aqui estivesse e fizesse todos os seus discursos. Não seria preciso que Maomé decorasse os versos que hoje compõem o Alcorão. Não seria preciso que Krishna viesse e levasse anos transmitindo ensinamentos.

Não era preciso tudo isso para que você apenas concentrasse seus esforços em dar um prato de comida a quem tem fome ou um agasalho a quem tem frio. Exultar a prática destas ações não precisa de tanto esforço do mundo espiritual: qualquer jornal, televisão ou emissora de rádio faz. Porque, então, Cristo e todos estes mestres precisariam despender tanta energia para poder estar presente no mundo material e transmitir tantos ensinamentos?

Não, reforma íntima tem que ser alguma coisa mais do que isso. Tem que ser mais do que ser bom no sentido que as religiões dão a este processo. É preciso que surja uma transformação muito mais profunda do que aprender a abrir a carteira para doar a quem não tem.

É por causa desta amplitude que deve ter o trabalho da reforma íntima que volto a questão que vinha falando: para se transformar é preciso saber onde está e o que deve ser mudado... Por causa disso, vamos falar destas duas coisas.

As reformas da reforma

O que é um ser elevado?

Para começar pergunto: o que você vai ser quando se transformar? Começo por aqui porque pode até ser que você já tenha feito a sua transformação e não saiba, já que não sabe no que se transformará. Neste caso, você não precisaria fazer mais nada e nem sabe disso.

Por isso pergunto: o que você virará quando se transformar?

Participante: em um espírito elevado.

Concordo, mas o que é um espírito elevado?

Participante: um santo.

Certo, os espíritos elevados neste mundo são chamados de santos, mas o que é um santo?

Repare numa coisa: você está dando respostas pré-formatadas, mas que não possuem nenhum conteúdo que seja conhecido. Diz que se transformará num santo ou num espírito elevado, mas como não sabe o que é isso, sua resposta está completamente vazia.

Este é um hábito dos seres humanos. Ao longo de suas existências vão aprendendo respostas pré-formatadas para algumas questões da vida e não se preocupam em querer entender, compreender, o que ela significa. Assim, ficam vivendo na superfície da existência sem mergulhar profundamente nas questões da vida.

Muitos, por exemplo, acreditam que determinadas atitudes são erradas, mas se começarmos a discutir o assunto com estas pessoas, nós veremos que eles nem sabe por que pensam assim, pois desconhecem em profundidade aquele assunto. Por isso, precisamos nos aprofundar no conhecimento do que querem dizer os termos que usamos para designar as coisas.

No processo da reforma íntima, naquilo que justifica a nossa existência no mundo material, não podemos viver deste jeito. Ficando apenas na superfície da vida não nos aprofundamos no que somos hoje e com isso não se pode mudar nada do que somos. É por este motivo que vamos mergulhar agora na questão do que você será quando promover a sua reforma.

Sabe o que é um espírito elevado ou santo, como vocês chamam? Aquele que vive feliz...

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 115)

Um ser elevado, um espírito elevado, é aquele que vive constantemente a felicidade que Deus tem prometido, ou seja, é sempre feliz. Por isso afirmo que o resultado do trabalho da elevação espiritual é alcançar a felicidade.

Mas, será que esta felicidade é a mesma que vocês vivem durante a vida? Acho que não, pois se fosse todos os seres humanos já teriam promovido a reforma íntima e neste caso não haveria mais necessidade de encarnações neste planeta.

Por isso afirmo que a felicidade vivida pelo santo ou ser elevado tem que ser algo diferente daquilo que vocês sentem quando ganham alguma coisa ou conseguem realizar algo que desejam.

Que felicidade é esta? É a felicidade incondicional. Ela existe quando você é feliz independente do que está acontecendo. Cristo a chamou de bem aventurança...

Esta é a característica principal de todos os santos, de todos aqueles que conseguiram promover a reforma íntima. Eles estão em paz consigo mesmo e com o mundo. Alcançaram uma felicidade que nada afeta.

Quando vêem uma criança com fome, ao invés de sentar e chorar ou se lamentar por causa disso, o santo vai lá e ajuda, sem perder a sua paz. Age sem sofrer com o que está acontecendo. Por causa deste não sofrimento, consegue ajudar, enquanto que nós sofremos com o que está acontecendo e por isso acabamos não ajudando realmente.

Volto à questão da compreensão dos termos que usamos. Será que prestar ajuda aos outros é apenas dar o que eles precisam? Será que ajudar aos outros é apenas fornecer elementos que lhes levem a superar suas carências? Acho que não...

Imagine o que é chegar com sofrimento perto de quem já está sofrendo. Você acha que isso ajuda aquele a voltar à sua paz e felicidade? Com certeza você já passou por isso e sabe muito bem que quando está sofrendo e alguém chega perto de você também sofrendo, a sua dor aumenta, não é mesmo? Na verdade, sofrer perto de quem está sofrendo só piora a situação do outro, só aumenta a infelicidade dele.

Portanto, ajudar os outros é muito mais do que suprir suas carências. É preciso que se tomem algumas posturas no relacionamento com quem está sofrendo para realmente ajudá-lo.

Eis, então, o primeiro conhecimento que devemos ter a resposta a respeito da reforma íntima: é preciso saber que ela deve conduzir o ser encarnado à vivência de uma paz interna, de uma felicidade incondicional. Vocês promovendo a reforma íntima alcançarão a felicidade.

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O ser não elevado

A partir da descoberta que o santo, o ser elevado, é aquele que vive em estado de felicidade, pergunto: quem são vocês hoje? Saber isso é fundamental, pois a reforma é mudar-se de um ponto para outro e, portanto, é preciso saber em que ponto se está.

Ora, se alcançar a evolução é tornar-se feliz, como vocês são hoje? Qual o contrário de feliz? Sofredor. Ou seja, você hoje é um sofredor.

Não importa se tem dinheiro, se tem uma família muito bem organizada, se consegue fazer tudo o que deseja nesta vida, você é um sofredor. Esta é a consciência que pode lhe levar a promover a reforma íntima. Se por conta destas posses você não se considera um sofredor, com certeza não vai fazer nada no tocante a reforma íntima.

Porque alguém que possui dinheiro, uma família organizada e consegue o que deseja nesta vida pode ser um sofredor? Porque um dia tudo isso acaba. A felicidade de quem vive com estas coisas depende delas para existir, mas um dia a família, o dinheiro e o fazer o que quer acaba.

A família se destrói. Pode não ser pela separação de um casal, mas se destrói quando um membro dela morre. Com certeza todos os membros da família não morrerão no mesmo dia. Sendo assim, um dia esta família se separará. Se neste momento a sua felicidade depende da presença de todos os membros da família, você não será mais feliz.

Precisando de coisas materiais, de conquistar coisas novas para ser feliz, um dia estas conquistas acabarão. Mesmo que o seu dinheiro dure até o final da vida, quando morrer não terá mais nada para conquistar e com isso sofrerá.

Portanto, quando afirmo que mesmo tendo hoje você é sofredor, é verdade. Pode até não ser um sofredor agora, mas manter o hábito de só ser feliz quando se realiza leva com certeza ao sofrimento. Mesmo que a humanidade não considere a felicidade oriunda da conquista como um sofrimento, quem depende disso é um sofredor, pois a felicidade dele é dependente das conquistas e isso o levará a sofrer um dia.

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O processo da reforma

Estas são as informações que falamos que vocês precisam conhecer da escala da vida para poder promover a reforma. Hoje vivem num tipo de vida onde a sua felicidade é condicionada e depois da reforma precisam atingir uma existência onde a felicidade faça parte de vocês independente do que tenham ou do que conquistem. Precisam atingir um ponto onde a felicidade não esteja condicionada a nada.

Este é o, no seu primeiro aspecto, o processo de reforma. A reforma íntima se caracteriza por uma mudança interior que leve o ser a deixar de viver uma felicidade condicionada e o faça vivenciar uma incondicional.

Aliás, o processo para o conhecimento do que realizar foi a primeira coisa que Cristo fez durante a sua missão. Antes de ditar qualquer procedimento da reforma íntima, ele deu o resultado que era esperado alcançar: as bem aventuranças. Ainda no sermão do monte, antes de ensinar qualquer parte do caminho que leva a Deus, Cristo disse: bem aventurado serão vocês quando...

Foi para que vocês se tornem bem aventurados que ele disse: eu não vim para trazer a paz, mas a espada. Os ensinamentos de Cristo são como uma espada que vocês devem usar contra tudo aquilo que lhes condicionada a felicidade para que possam alcançar a felicidade incondicional.

Ele ainda disse: eu vim para colocar pai contra filho, filha contra mãe. Eu vim para que cada um abandone o mundo, pegue sua cruz e me siga. Com isso mostrou bem que a caminhada no sentido do aproximar-se do Pai tem que ser realizada libertando-se das dependências que o ser tem das coisas deste mundo, pois com a existência delas, um dia vão sofrer.

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O trabalho de hoje

Falei tudo isso porque este é o assunto que queria conversar hoje: a transformação da dependência. Como deixar de depender de alguma coisa para ser feliz e viver a felicidade independente. Vamos conversar sobre isso? Mas, antes, deixe-me explicar o trabalho que vamos realizar.

O que é mesmo que disse que era reformar? Mudar-se. Será sobre esta mudança que vamos falar. Por isso, para cada assunto que vamos abordar vamos mostrar como você está e no que precisa se transformar. Falaremos, ainda, como se mudar de uma coisa para outra. Será assim que iremos conversar. Vamos lá?

Antes, ainda de começarmos a falar das mudanças há algo que vocês precisam ter bem claro em mente. Começamos dizendo que o que precisa ser reformado é a felicidade que você vive. Dissemos que hoje, por mais que se imagine feliz, você é um sofredor, pois sua felicidade é dependente de coisas deste mundo. Portanto, para se mudar é preciso que deixe de depender destas coisas para ser feliz. Mas, isso lhe traz um ônus...

Eu costumo dizer que tudo na vida tem um preço. Isso é verdade. Para conquistar ou receber alguma coisa nova, é preciso que você abra mão de alguma coisa velha. É preciso abandonar alguma coisa para que se possa entrar na posse de uma coisa nova.

Ficou claro isso? Pergunto por que tem muitas pessoas ansiosas para ouvir como se alcançar a felicidade incondicional, mas elas não sabem que terão que abrir mão de algumas coisas que já possuem e gostam para poder entrar no mundo reformado.

Ansioso para promover a reforma íntima, eu não diria que noventa, mas pelo menos oitenta por cento das pessoas estão. Mas, será que estão dispostos a pagar o preço para isso? Esta é uma coisa que vocês precisam pensar antes de continuar a ouvir nossa conversa de hoje. Se não estiverem dispostos a pagar o preço da felicidade incondicional eu aconselho que parem por aqui, mas, se estiverem, saibam que muita coisa que hoje é importante para vocês será atacada nesta nossa conversa.

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Abandonar o eu

Agora, finalmente, podemos começar nossa conversa de hoje. Para isso pergunto: o que é preciso fazer para se mudar?

Participante: a primeira coisa é depor as armas. Nós estamos sempre armados por causa do nosso egoísmo, do nosso individualismo. Por isso nossa primeira ação é depor as armas, é voltar a espada que Cristo trouxe contra nós e não contra os outros.

Perfeito.

Na verde o egoísmo é fruto do individualismo. É o individualismo que é a base de todo sofrimento. Tudo nasce no eu: eu sou, eu quero, eu faço, eu aconteço. Tudo nasce no eu. Esse eu é o grande inimigo que precisa ser combatido, pois o egoísmo, a vaidade, a soberba só existe porque há um eu.

Mas, quem é este eu? Quem é este eu que você tem que combater.

Participante: o ser humano

Isso.

Esta é a primeira transformação da reforma íntima. Você hoje é um ser humano e tem que ser transformar, deixar de ser humano e ser o que chamamos de ser universal.

O que é o ser universal? É a forma como nomeamos aquele que vive para o todo. O ser humano é o individual, vive para si mesmo.

Esta é a primeira mudança que se tem que fazer para alavancar a reforma íntima: deixar de ser eu, ou seja, matar o que vocês chamam de ego, de personalidade: eu sou, eu posso, eu faço, eu construo, eu vou, eu falo.

Não existe nada disso. Estas coisas só existem para o ser individualista e desse individualismo nascem todos os sentimentos que vocês chamam de negativos, pois tudo que é negativo é uma ação buscando lucro pessoal naquilo que está acontecendo. Mesmo que as normas humanas digam que determinadas ações são certas, caso elas aconteçam motivadas por um querer individual, é uma ação individualista, uma ação buscando o lucro próprio.

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O universo

Viver como ser universal é participar do universo. Para entendermos esta forma de agir, pergunto: o que é o universo?

Participante: todo espaço que existe.

Sim, mas o que mais além dos espaços, o que constitui o universo? O planeta, por exemplo, faz parte do universo?

Participante: sim

Então, ele é o universo.

Mas, o que é um planeta? Se você não existisse o planeta Terra estaria completo? Não, pois você não existiria.

Você faz parte do planeta, é o planeta. Se não houvesse você seria outro planeta e não este. Este novo planeta poderia até se chamar Terra, mas seria outro. Este novo planeta, aliás, seria completamente diferente do atual, pois além de você, os seus filhos não existiriam. Não existiriam ainda outras coisas, como essa casa.

Participante: poderia existir uma casa..

Sim, poderia existir uma casa, mas esta determinada casa, do jeito que ela é, com a arrumação que tem, com a carga energética que possui, não existiria.

Poderia haver filhos de outros pais, mas não os seus. Poderiam existir crianças filhos de sua esposa, mas não seriam as mesmas que existem hoje, mesmo que estas novas crianças tivessem a mesma aparência dos seus filhos.

Falo isso porque as crianças não só a aparência física, mas também a moral. Os seus filhos são o resultado da sua ação sobre elas ajudando-as, educando-as e orientando-as. Se você não existisse, elas seriam criadas por outro pai e por isso teriam outra educação. Sendo assim, seriam outras crianças.

Está entendendo o que estou querendo falar? Estas crianças poderiam até ter o nome dos seus filhos, mas não seriam as mesmas pessoas e como o universo é constituído por tudo o que existe, este seria um universo diferente deste que você vive hoje.

Sendo assim, o universo é os seres que existem dentro dele. Concorda com isso?

Participante: sim...

Mas, o que mais é o universo do que a soma de todos os seres que existem?

Participante: os espíritos que habitam este orbe.

Sim os espíritos que habitam o universo o compõem pelo mesmo motivo que conversamos acima. Mas, além de todos os espíritos, que mais?

Participante: as energias.

Sim, as energias que cada um emana compõe o universo. Mas, o que é uma energia que está no universo? O fruto da ação de um espírito. Toda vez que um espírito age espiritualmente ele emana energia e esta compõe o universo. Sendo assim, posso dizer que tudo o que você e todos os outros seres fazem compõe o universo, é ele...

Tudo o que você e todos os seres fazem é o universo porque se aquele acontecimento não ocorresse, o universo seria outro. Seria outro universo, não o que é agora.

Se você não tivesse comprado esta roupa que está vestindo agora, o dono da loja não teria ganhado dinheiro. Com isso ele não poderia pagar os empregados. Por conta disso os empregados teriam que procurar outro emprego. Ou seja, o mundo seria completamente diferente se você agisse de forma diferente do que age. Concorda comigo?

Participante: sim...

Apesar de concordar agora, você não vive com isso diuturnamente. Por quê? Porque não vê o seu dinheiro agindo e fazendo o universo depois que sai das suas mãos.

Além de sustentar os empregados do estabelecimento onde você fez a compra, o seu dinheiro ajuda a pagar as obras da cidade, do estado e do país. Se não fosse a sua compra, a vida de todos aqueles que habitam o mesmo país que você seria diferente e com isso o universo seria outro.

Além disso, o dinheiro que o país recebe se comunica com outros países através do mercado de importação e exportação. Sendo assim, o dinheiro que você gastou numa loja acaba ajudando no sustento de trabalhadores em outras partes do mundo. Podemos, então, dizer que o dinheiro que você gastou comprando a sua calça pode ter ajudado uma pessoa no Japão. Ou seja, ele afetou diretamente a vida de alguém que mora do outro lado do mundo e que você nem conhece. Ao afetar esta pessoa, o seu dinheiro formou o universo, mas você nem viu isso acontecer.

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Interdependência

Este processo de afetar a existência de outras coisas formando a realidade universal, o próprio universo, chama-se interdependência. Tudo no universo se interliga. O que você faz gera sempre um efeito sobre outro ser, que por sua vez ao agir também gerará efeitos sobre outros.

Na verdade o universo vai sendo gerado como uma onda. Você já atirou uma pedra na água? Quando alcança o espelho d’água se forma uma onda que vai se estendendo até que alcance toda superfície. Além disso, a pedra ainda produz ondas com circunferências menores que também se estendem pela superfície da água.

É assim que acontece no universo e este acontecimento vai gerando o próprio universo. Você compra uma coisa no seu bairro e esta ação gera reflexos no mundo todo. O mundo ao seu redor é atingido pela sua compra e a ação dos que foram atingidos pelo seu desembolsar de dinheiro se reflete em um universo maior. Quando este universo se move, toda a superfície do planeta é atingida.

Sendo assim, quando um ser humano faz alguma coisa simplesmente preocupado em se satisfazer, essa ação se expande e alcança outras pessoas de uma forma negativa, gerando uma contrariedade.

Por que o que se expande de uma ação feita com individualismo atinge os outros seres com uma onda negativa? Porque não existem duas pessoas totalmente iguais. Não existem duas pessoas que queiram a mesma coisa com a mesma intensidade. Por isso, quando você faz alguma coisa usando do seu individualismo, acaba fazendo o que o outro não quer.

É por isso que a elevação espiritual para ser alcançada precisa que a ação não seja baseada no eu, mas deve ser realizada levando em consideração o nós, o universo inteiro. Lembre-se: tudo se interdepende. Por menor que seja sua ação, por mais escondido que a pratique, mesmo que ninguém fique sabendo, a energia do individualismo se expande.

Você não está vendo, mas a sua energia de agora está entrando em todo o ambiente que você está. Além disso, ela atravessa as paredes deste ambiente e chega ao seu vizinho lateral, assim como alcança quem está embaixo ou acima. Mais: sai para além do seu prédio e se choca com as pessoas que estão do outro lado da rua, do outro lado da cidade. Por isso, quando você pratica a ação utilizando-se de uma energia negativa, ou seja, individualista, está gerando energia negativa para todos.

Hoje estamos falando das reformas necessárias para a promoção da reforma íntima e aí está a primeira delas. O processo de reforma íntima só se inicia quando se compreende que o universo não é só as coisas, os espaços ou os planetas, mas que ele também é feito por você. Quando se compreende que você faz parte do universo e o constitui e por isso, quando age, não pode se basear no eu, mas sim em nós, no todo, no universo. Vamos usar isto de uma forma prática para vocês poderem entender melhor a primeira reforma necessária para a realização da reforma íntima.

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Viver o agora

O que é o universo que acabamos de falar? Você e sua ação. O que é o universo neste momento? O que você está fazendo agora...

Você está com a mão no queixo? Isso é o universo. Se não estivesse com a mão no queixo, o universo não seria isso. Seria qualquer outra coisa, pois a sua ação seria diferente.

Viver o nós é viver dentro da realidade compactuando com o que está acontecendo. O que é a realidade? O que está acontecendo agora. Só isso...

Você está aqui agora. O que é o universo neste momento? A sua presença aqui. Se não estivesse aqui agora, o universo seria não estar aqui. Por isso esteja aqui que você estará vivendo o nós.

Viver o estar aqui seria a ação universalista. Qual seria a ação individualista? ‘Estou aqui, mas gostaria de não estar. Gostaria de ir embora, gostaria de estar fazendo outra coisa neste momento’...

Viver o nós não é realizar alguma ação específica, mas viver a realidade sem contrariedade. Quem se contrapõe ao que está acontecendo, não vive a realidade, mas sim o que não está acontecendo. Quem estando aqui anseia em não estar, vive o sonho de estar em outro lugar e não a realidade: o estar aqui...

Essa é a primeira reforma da reforma íntima: aprender a viver o que se está vivendo sem ansiar em mudar o que está acontecendo.

Se você está aqui, não poderia estar em outro lugar. Sendo assim, porque se preocupar em sair daqui? Viva este seu momento, pois ele é o universo que você tem para viver agora.

Se você quer uma coisa e conseguiu comprar é porque tinha que comprar, porque o universo era a sua compra. Se não conseguiu é porque não tinha que comprar, porque o universo não era realizar esta ação. Se você quer fazer alguma coisa e conseguiu realizar, é porque o universo era a sua realização. Se não tivesse que fazer, ele seria a não realização.

A primeira transformação que leva à elevação espiritual é aceitar a vida como ela se desenrola. Quando o ser vive assim se integra ao universo. Passa a viver a realidade, o real, o que está acontecendo. Não fica aqui sonhando em viver o que não dispõe para isso neste momento. Ele vive o que está acontecendo ao invés de sonhar em estar fazendo outra coisa.

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O sofrimento por viver fora do presente

Mas, mais do que viver fora do universo, quem não está totalmente presente no momento de agora vive em sofrimento. Sofre porque está aqui e não lá onde desejava estar. É por isso que viver a realidade se constitui na primeira reforma da reforma íntima.

Como dissemos no início de nossa conversa, um ser elevado, aquele que conseguiu a elevação espiritual, é feliz. Quem não vive a realidade não consegue a elevação, pois vive o sofrimento de não estar fazendo algo diferente do que está vivendo naquele momento. O fim do sofrimento só acontece quando o ser cai na realidade e chega à conclusão que não pode alterar o universo, que não pode mudar aquilo que está vivendo.

Deixe-me dizer uma coisa: não estou falando em acomodação, mas em não sofrimento com a realidade. Se você, por exemplo, vive coisas que não gosta, tem todo o direito de querer mudá-las. Tente, se esforce, mas faça tudo isso sem se contrariar com o que está realizando em cada momento.

Se você não gosta de sua aparência, tem todo direito de tentar mudar-se. Procure todos os meios para realizar a transformação física que achar necessária para isso, mas enquanto não consegue a nova aparência, esteja em paz e feliz com a que tem. Se não gosta do seu emprego, lute para ir para outro, mas enquanto estiver neste, esteja em paz e feliz com o emprego que tem.

É isto que estou. Tem gente que não está feliz com o emprego que tem neste momento e sonha em ter outro. Até age neste sentido, mas como vive enquanto o novo não chega? Em sofrimento.

Este sofrer adicionou alguma coisa ao processo de busca de um novo lugar para trabalhar? Claro que não. Ao contrário, pode até atrapalhar, pois muitas vezes pode causar desânimo e tornar mais cansativa a busca.

O emprego que você tem agora é o universo. O emprego com que sonha não faz parte dele neste momento. Na verdade, este novo lugar de trabalho só chegará quando isso for o universo. Portanto, até que ele chegue viva em paz e harmonizado com o emprego que tem. É isso que estou falando...

Esta é, portanto, a primeira transformação. Quando o ser a realiza se transforma de humano, o ser individual, para universal, o nós. Isso porque vive no universo e não na individualidade. Mas, para isso, precisa deixar de ser humano, ou seja, precisa parar de sonhar, de gerar ilusões que não fazem parte do universo: ‘eu queria tanto aquela roupa, mas não consigo comprá-la’.

Esta é uma idéia comum entre os seres humanos. Eles sonham em ter coisas que ainda não possuem. No entanto, pergunto: o que vocês fazem quando conseguem ter o que sonham? Abandonam o que acabaram de conseguir e começam a desejar outra coisa.

Quem nunca teve um carro, sonha em possuir um. Em determinado momento o universo deste ser transforma-s em comprar um carro velho. No primeiro dia está entusiasmado com sua conquista, mas logo passa um veículo de modelo mais novo e ele critica aquele que tem. Sonha logo em trocar o carro que acabou de comprar por um mais novo...

Por que o ser humano age assim? Porque jamais deixará de condicionar a sua felicidade.

O ser humano não consegue alcançar a felicidade a não ser através da realização dos seus condicionamentos para ser feliz. Ele só sabe o que é ser feliz quando vê os seus desejos atendidos. Isso porque ele não quer ser feliz de verdade, mas sim vencer os outros.

O ser humano não quer desfrutar das coisas, mas sim conquistar. Ele pouco está se importando com as coisas que já possui, mas está sempre fixado em conquistar coisas novas para poder sentir-se famoso por ser alguém que conquista o que deseja. É por isso que assim que passa a possuir alguma coisa, ele abandona o que acabou de conseguir.

Na verdade, o ser humano precisa realizar conquistas para poder suprir o seu individualismo. ‘está vendo como eu posso, comprei o carro que quis’. Ele quer conquistar para poder ganhar o reconhecimento e o elogio de outros seres humanos. Isso, no entanto, não o faz feliz, pois esta felicidade não dura cinco minutos e precisa que uma nova conquista seja realizada para que ela exista novamente. Sendo assim, este ser vive sempre em sofrimento, na angústia de estar sempre lutando para conquistar algo.

Participante: o que o senhor falou não é felicidade, mas prazer. O fruto do desejo é o prazer.

Concordo com você, mas os seres humanos ainda chamam isso de felicidade. Na verdade a sensação momentânea que surge de uma conquista não é a felicidade, mas sim um prazer.

O que é um prazer? Uma satisfação. Ou seja, quando conquista o que anseia o ser humano se satisfaz. O prazer, portanto, surge porque ele desejou algo diferente do que tem hoje. Quando o universo se transforma em possuir o que o ser anseia ele vive o prazer, mas vocês ainda chamam este estado de espírito de felicidade.

Ele não é uma felicidade, pois acaba logo, enquanto que a felicidade real é eterna. O prazer de comprar uma roupa, por exemplo, acaba na próxima vitrine, pois lá haverá uma nova roupa que será desejada. O que foi adquirido antes fica no fundo da sacola e a roupa da nova vitrine passa a ser algo que aquela pessoa não pode viver sem. Não é assim que vocês vivem?

Repito mais uma vez: a primeira transformação é viver a realidade. Não importa o que lhe aconteça, esteja feliz. Por quê? Porque tudo que você tem é o que tem, tudo que está vivendo é o que está vivendo. Se parar e perder tempo querendo outra coisa, deixa de ser feliz com o que tem. Com isso não aproveita o que tem.

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Tempo com qualidade

Agora que falamos um pouco na primeira transformação, gostaria de especificamente com esta senhora. Vou lhe dar um conselho, posso?

Participante: sim...

Seus filhos vão crescer. Você sabia disso?

Participante: claro...

Sabe não. Na verdade, você não tem a menor noção disso. Por isso está preocupada em ganhar dinheiro para assegurar o futuro deles.

Sei que humanamente falando esta forma de agir está correta, mas será que está mesmo? Hoje você está preocupada em assegurar o bem estar futuro deles, mas não se lembra que eles vão crescer e quando você conseguir tudo o que sonha para eles, estarão grandes e você não terá mais filhos.

Depois que eles se tornarem adultos terão vontade própria e buscarão seus caminhos longe de você. Com isso não terá mais condições de viver com eles e aí sentirá um grande vazio: o vazio de não ter curtido seus filhos...

Ao invés de assegurar o futuro para eles, viva a realidade, viva o filho que você tem hoje. Na hora que eles estiverem na faculdade, eles estarão lá, mas agora eles estão aqui e para que no futuro não viva este vazio é preciso vivê-los neste momento. O futuro deles chegará quando chegar: curta a vida agora a cada segundo.

Digo isso por que os pais do mundo de hoje estão preocupados em ganhar dinheiro para sustentar seus filhos e por isso não os curtem. Na hora que eles ficam grandes, os pais se perguntam: ‘onde foram parar meus filhos’? Ficam estarrecidos porque não têm mais crianças, pois os filhos viraram homens e eles nem viram isso acontecer.

Não é isso que acontece? Por causa disso, depois que ficam velhos lamentam-se e querem voltar no tempo para fazer tudo diferente. Que bom que hoje você está ouvindo este conselho, pois assim tem uma oportunidade de fazer diferente agora. Não espere ficar velho para se lamentar...

O conselho que quero lhe dar é: curta bastante os seus filhos agora para que depois que eles estejam burros velhos e tenham as suas vontades e você querer que eles façam a sua e eles não fizerem, você não sofra. Agora, neste momento que eles estão pequenos, é a hora de você aproveitar os filhos que tem. Daqui a pouco eles estarão longe...

Você nunca pôs filho no mundo para você mesmo, mas para eles próprios. Por isso daqui a pouco eles estarão no mundo e não conseguirá mantê-los preso à barra da sua saia e não terá nada que curtir. Quando ficar velho perguntará: o que eu fiz da vida?

Participante: eu estou curtindo o meu trabalho, minha faculdade e os meus filhos ao mesmo tempo. Estou tentando dividir o meu tempo entre estas coisas.

Sem problema algum. Você pode curtir todas as coisas que existem ao mesmo tempo. O que estou falando não tem nada a ver com isso. Estou dizendo aqueles que abandonam um lado para cuidar só do outro.

Participante: falei assim porque às vezes a gente se culpa por estar tanto tempo fora de casa e as crianças ficam abandonadas...

O problema não está no tempo que você passa com eles, mas na intensidade que vive cada momento que está junto.

Quanto tempo você fica na faculdade ou no seu trabalho? Não importa qual seja a sua resposta, eu vou dizer que é mentira. Digo isso porque vocês contam como tempo que estão num lugar apenas aquele que o relógio marca. Mas, tem gente que passa as vinte e quatro horas do dia no trabalho, mesmo quando não vai lá.

Como isso acontece? Simples, trazendo o trabalho para casa na mente. Pensando o tempo inteiro nos assuntos do trabalho, preocupado no que vai fazer no dia seguinte, como se desenrolará o trabalho no próximo dia. Especulando agora o que pode fazer de melhor amanhã no trabalho; pensando, quando em casa, no problema que tem que resolver no dia seguinte.

Sendo assim, este ser não está no trabalho apenas no momento em que seu corpo físico está lá, mas encontra-se sempre trabalhando em qualquer lugar que esteja. Mesmo estando aqui fisicamente, está lá.

As reformas da reforma

Organizar-se para viver o presente

Participante: o senhor está dizendo que devemos viver o presente. Então, por exemplo, eu estou no trabalho, isso quer dizer que devo me ocupar com as coisas do trabalho. No momento que sair dele, devo esquecer tudo o que diz respeito a ele. Mas, se fizer isso não conseguirei resolver todos os problemas do meu trabalho, justamente agora que há uma chance de crescimento para mim.

Exatamente por isso me dirigi especificamente a você, apesar deste alerta servir para todos.

Você, por conta desta possibilidade de crescimento, está dedicando-se integralmente ao trabalho, mesmo quando não está lá fisicamente. Com isso está deixando passar uma grande chance de curtir seus filhos e seu marido agora.

Participante: o senhor há de concordar comigo que para nós que estamos acostumados a viver da forma humana de repente de uma hora para outra passar a viver diferente é difícil. A nossa vida é um alinhamento tão grande dentro de uma forma de viver que quebrar esta rota é difícil.

Concordo com você. Mas, há uma coisa que vocês não fazem e podem fazer para viver como estou falando: se organizar. É para falar deste aspecto que é importante no trabalho das reformas que constitui o trabalho da reforma íntima que estou dando este conselho a você.

Você está aqui? Organize-se em torno deste lugar. Você está no trabalho, organize toda a sua vida em torno do que está fazendo lá. Saiu de lá, organize-se para não estar mais lá.

Se ao sair estiver dirigindo o seu carro, organize-se para sentir-se ao volante e preocupar-se apenas com a condução do veículo. Como é possível dirigir o carro com a cabeça no trabalho? Se fizer isso não estará plenamente atenta ao trânsito e com isso poderá sofrer um acidente.

Quando chegar à faculdade, você vai lá para estudar. É isso que você deve viver lá. Para realizar esta missão, se organize para estudar quando estiver na faculdade.

É aí que está o seu problema e de todos os seres humanizados que não conseguem promover a primeira reforma para conseguir a elevação espiritual. A sua cabeça está no seu trabalho, pouco importa onde esteja. Isso porque você se organiza apenas em torno do seu trabalho e não do ambiente onde está.

Você acorda em casa, dirige para o emprego e na volta dele vai para a faculdade, mas a sua cabeça está sempre organizada para assuntos de trabalho. Isso é desorganização. É preciso organizar-se para viver cada momento com o assunto que está sendo vivenciado nele.

É por causa disso que quando chega a casa e as crianças lhe busca, você diz: ‘agora não, a mamãe está com a cabeça muito cheia’... Sim, a mamãe está com a cabeça cheia porque não a organizou para que estivessem contidos apenas os assuntos daquele momento. Se fizesse isso, teria tempo para seus filhos, para a sua faculdade e para tudo.

É isso que estou dizendo. Para curtir os seus filhos não é preciso sair do emprego: basta viver o trabalho enquanto estiver lá. Também não é preciso parar de estudar, mas viver a escola no momento que estiver na faculdade. Da mesma forma, quando chegar a casa deve viver os filhos somente.

As reformas da reforma

Aproveitando o tempo

Tempo não é quantidade, mas qualidade. Você pode ficar com seu filho apenas num minuto, se estiver presente de corpo e mente, isso fará diferença. No entanto, pode passar o dia inteiro em casa, como passa nos fins de semana quando não vai ao emprego, e não estar um segundo realmente ao lado do seu filho.

Compreendeu a diferença. Não estou falando em deixar de fazer as coisas, não estou dizendo em optar pelo que vai fazer, mas sim viver apenas a realidade, o que é real naquele momento. Se a sua realidade naquele momento é estar em casa com seu filho, esteja lá. Neste momento, o trabalho, a escola ou qualquer outro assunto deixa de existir. A única coisa que existe para você é viver aquela relação. Aí será feliz com eles e eles se sentirão felizes com você.

Sei que quando se fala em relacionamento com os filhos, muitas pessoas imaginam que é necessário optar entre ter um emprego ou criá-los. Isso não é necessário. Não há necessidade de desistir do trabalho: basta trabalhar no momento de trabalhar e nos demais momentos esquecer qualquer assunto diferente daqueles que estão relacionados com aquilo que você está vivenciando.

Para se alcançar este estágio é preciso um trabalho de organização. É preciso trabalhar junto à mente para que ela não trate de assuntos diferentes daqueles que pertencem ao ambiente em que você está agora.

Você está em casa e veio um pensamento que aborda assuntos do emprego: não se deixe levar por ele. Quando ele disser que amanhã você precisa fazer alguma coisa no seu emprego, diga a que o amanhã não é hoje e que por isso só se preocupará com este assunto apenas amanhã. Diga a sua mente que hoje você está aqui e, portanto, só viverá o que está acontecendo agora.

A organização depende da vigilância. Cristo, que disse que é o caminho para se chegar a Deus, não nos ensinou que devemos orar e vigiar? Pois bem, você precisa se vigiar: precisa vigiar o seu pensamento para que ele não lhe leve para longe do que é realidade neste momento.

As reformas da reforma

Promovendo a reforma íntima

Esta é a mudança de ser humano para o espírito. O ser humano vive preocupado com o futuro porque o que busca é a satisfação. Quando o prazer está concentrado na realização profissional, ele sempre aceita os pensamentos referentes a assuntos profissionais, pouco importando onde esteja agora ou o que esteja fazendo. Por isso perde todos os momentos presentes.

Deixa-se levar pela linha de pensamentos a respeito dos problemas do trabalho e imagina que depois terá tempo para curtir o seu filho. Só que depois que conquistar o que anseia no emprego, aparecerá outra coisa para preocupar-se e depois outra.

Quando não aparecer mais nada para se preocupar com este aspecto da vida, o filho que o ser humanizado quer curtir não existe mais. Terá virado um homem ou uma mulher com vida própria e exigindo independência. Neste momento, o ser humano não tem mais os filinhos para curtir.

Promover a reforma íntima não é dar comida para o outros, mas trata-se de uma mudança interna. Mudança interna é deixa de viver a vida que você quer viver, para viver a vida que existe hoje, aquilo que o universo coloca a sua frente. Foi isso que todos os mestres ensinaram

Quando Jesus diz que você deve abandonar tudo e carregar a sua cruz, ele está dizendo isso: viva o momento que você está vivendo, pois ele é a sua cruz. Buda diz exatamente isso: viva o presente, o passado já passou e o futuro não chegou.

Você só tem o presente para viver. Mesmo que o futuro seja o amanhã ou os próximos cinco minutos, ele ainda não chegou porque você está neste minuto. O presente é este minuto, este segundo, esta fração de segundo que você está vivendo. Quando esta fração de segundo passar, ela se juntará a todos os outros segundos já vividos e constituirá uma coisa só que é chamada de passado. O que é passado passou, não existe mais.

Isso é muito simples, vocês me diriam. Mas, não foi dito que o espírito é simples e ignorante? Só quando ele aprende coisas difíceis perde a simplicidade. Quando se torna complexo quer viver milhões de coisas ao mesmo tempo e acaba não vivendo nada. Mas, para viver o presente é preciso não desejar, não sonhar, não criar ilusões, não buscar outras coisas, mas apenas viver o que tem.

O que interfere no resultado da encarnação de um ser não é quantidade de roupa que você tem ou a quantidade de dinheiro que possui. Não é isso que lhe faz rico ou pobre espiritualmente, mas a quantidade de ilusões que tem. Há muito pobre que não tem nada o que comer na mesa, que é muito mais soberbo do que aquele que tem fartura à mesa.

Há pessoas com muitas coisas à sua disposição que não possui aquilo que tem. Como não vive a possessão das coisas que estão à sua disposição não geram desejos para vivenciar. Vivem apenas o que tem a cada momento.

É por causa da importância de saber ter (aprender a viver sem possuir o que está à disposição) que quando um moço rico perguntou a Cristo o que poderia fazer para segui-lo o mestre respondeu: abandone tudo que é seu. Abandone todas as suas posses, os seus desejos e siga Cristo, que é o que você tem.

Esta é a primeira transformação: deixar de ser individualista e ser universalista. Ser universal, penetrar o universo, viver em comunhão com ele. Saber viver cada momento com o que ele contém sem deixar-se levar pelos desejos e anseios que a mente cria é a primeira providência para você poder se preparar para o retorno à pátria espiritual.

As reformas da reforma

O custo da reforma

Acontece que viver dessa forma tem o seu preço. Você precisa, por exemplo, parar de desejar subir no trabalho. Falo assim porque enquanto quiser subir no trabalho terá que estar preocupado com ele, terá que estar atento às coisas dele dia e noite e com isso seus filhos ficam apenas com o seu corpo físico e não com você realmente.

Você poderia me perguntar: ‘eu tenho que abandonar o sonho de ser promovido’? Não, eu não falei isso. O que disse é que deve trabalhar sem querer saber se vai ser promovido ou não. Vivendo dessa forma não gerará para si preocupação com os assuntos do emprego quando estiver fora dele. É daí que surge o grande problema para o ser humano conseguir realizar esta reforma que faz parte da reforma íntima.

Como disse antes, o ser humano está sempre preocupado em conquistar coisa, em vencer. Por isso, ele não se restringe a apenas ter um emprego: quer logo melhorar dentro dele. Quer conquistar posições que lhe confira mais status, poder ou mais dinheiro. Para que? Para vencer? Quem, o que?

Quando você é promovido não vence ninguém. Se sentir isso, essa sua sensação espalha-se por seus colegas de trabalho e eles sentindo-se derrotados começam a vê-lo como inimigo.

Quem consegue realizar todo o trabalho de uma empresa sozinho? Ninguém... Todos precisam de um trabalho em equipe para produzir. Portanto, se você vencer os seus companheiros, terá perdido, pois logo não conseguirá suprir as expectativas do dono da empresa e correrá o risco de ser demitido.

Para que, então, você quer ser promovido? Para ganhar mais dinheiro? Mas, você já não ganha o suficiente para ter o que tem? ‘Sim, mas eu quero mais coisas’, você me diria. Pois é, você quer ganhar mais para poder interferir junto ao universo para que ele seja diferente do que é. Será que alguém é capaz de gerar o universo?

Lembra-se da questão da interdependência que falamos? Pois bem, se você conseguir moldar um universo ao seu sabor, o que você acha que acontecerá com os outros? Eles terão carência, deixarão de também ter o que desejam, pois tudo estará somente à sua disposição.

Como também já falamos, o universo está sempre em perfeito equilíbrio. Para isso, ele é composto por aquilo que cada precisa e merece. Sendo assim, tudo o que você tem no momento é aquilo que merece agora. Será que sonhando em conquistar o que ainda não possui, ou seja, contribuindo para que os outros não tenham o que mereçam você está gerando merecimento para ganhar alguma coisa mais?

Portanto, repare: o seu sonho de ser promovido só lhe traz prejuízos. Primeiro lhe afasta de seus filhos; segundo não lhe deixa concentrar-se em seus estudos para estar apto a ter uma posição melhor; terceiro, se conquistar a sua promoção hoje, como ela será fruto de um anseio, sentirá que venceu e com isso o status e poder que advirão da sua nova posição podem causar o seu desemprego no futuro. Por último: o dinheiro que ganhar a mais com sua promoção não mudará em nada o que você já tem. Aliás, poderá prejudicar, pois pode não gerar o merecimento de ter mais coisa.

É isso que estou tentando lhe dizer. O que estou lhe aconselhando é que você viva o emprego que tem hoje e deixe o seu trabalho lhe dar trazer a recompensa no momento que o universo decidir assim. Para isso tem que domar os desejos, as vontades, o querer diferente do que está acontecendo que a mente cria.

Ficou claro isso?

As reformas da reforma

O que está acontecendo agora?

Tendo, então, visto a primeira reforma necessária para a promoção da reforma íntima, vamos falar da segunda.

Disse que você tem que estar aqui e agora. Mas, para poder fazer isso é preciso que me responda a uma pergunta: o que está acontecendo aqui e agora? Vocês sabem?

Acabamos de ter um exemplo prático da incapacidade de vocês para conhecerem o real acontecimento do que está ocorrendo aqui e agora. A médium que está conosco acabou de dizer que há um ser espiritual, que ela identificou como uma mulher, que a está perturbando. Vocês estão vendo este ser?

Participante: não...

Mas ele está aqui, faz parte do aqui e agora que vocês estão vivendo...

Se eu perguntasse o que está acontecendo aqui e agora ninguém me diria que está acontecendo um trabalhando por partes de seres desencarnados para este espírito, pois vocês não estão vendo nenhum ser desencarnado neste ambiente.

Por isso volto a perguntar: você sabe dizer o que acontece na sua vida? Tem certeza de que está ciente a tudo que o rodeia neste momento? Se não podem ter esta consciência, como então viver o aqui e agora?

Vejam bem, vocês formam o presente apenas com aquilo que conseguem perceber. No entanto, existem milhares de acontecimentos que estão ocorrendo simultaneamente ao que consegue perceber que faz parte do seu aqui e agora. Se isso não faz parte da consciência que possuem, como, então, viver o universo que existe? Promovendo a segunda transformação que faz parte da reforma íntima.

A segunda transformação que é preciso ser feita para se viver em paz e harmonia com o mundo é compreender que as coisas não existem da forma que você acha que existe. Você acha uma coisa do que está acontecendo, mas o que é compreendido é uma verdade só para você e não é a realidade do universo.

Para viver o universo, o nós, é preciso que haja a consciência de que existem muitas coisas acontecendo que interferem na realidade, mas que vocês não conseguem percebê-las. Quando descobrirem isso, poderão abrir mão da compreensão que estão tendo agora e que não representa realmente a realidade.

Vou dar um exemplo prático para compreendermos o que estou dizendo. Aquela senhora me disse que está se dedicando ao trabalho porque está aparecendo uma chance de crescimento. Será que está mesmo? Será que isso não é apenas uma opinião dela e não dos seus superiores?

Será que realmente está aparecendo esta oportunidade para ela quando a mente afirma que sim? Quantas pessoas já se entregaram a essa possibilidade e com isso acabaram dando uma chance para o desemprego? Quantas pessoas já não acharam que estavam sendo observadas para serem promovidas e quando viram estavam no olho da rua?

Portanto, se a primeira transformação é viver na realidade, a segunda, que é necessária para se viver a primeira, se consiste em saber que você não conhece a realidade real que está acontecendo onde você está presente. Para que consiga se elevar espiritualmente o ser humanizado precisa abrir mão de imaginar que sabe o que está acontecendo ao seu redor, pois enquanto souber irá julgar que possui o domínio sobre o momento e muitas vezes o universo em que este ser está é muito diferente daquilo que imagina que está ocorrendo.

Quantas vezes nós já não pensamos que alguém estava falando mal de nós, que estava fazendo fofoca, para depois descobrirmos que, ao contrário, aquela pessoa estava querendo nos ajudar? Quando achamos que ela estava falando mal de nós brigamos com ela, metemos a língua nela pelas costas. Fizemos de tudo contra ela porque pensamos que ela não prestava, que não gostava de nós e estava agindo contra. Depois descobrimos que o que ela estava fazendo era bem para o nosso bem.

Eis aí, então, a segunda reforma da reforma íntima: abrir mão do poder de dizer o que está acontecendo neste momento.

As reformas da reforma

O trabalho para viver a realidade

Participante: em algumas coisas pequenas do dia nós estamos conseguindo fazer isso. Para vir aqui hoje, por exemplo, tínhamos programado de sair às duas horas da tarde. Foram acontecendo diversas coisas pequenas e acabamos saindo as quatro horas. No caminho conversamos e dissemos que saímos na hora que tínhamos que sair. Acho que naquele momento conseguimos a prática que o senhor fala, mas já em outros momentos, não conseguimos.

Isso é normal, porque buscar superar a realidade criada pela mente é um trabalho que você precisa realizar constantemente.

Quando vier a sua cabeça a informação do que está acontecendo, não importando qual seja, você precisa dizer a si mesmo que aquilo não é real, mas apenas o que você acha que está acontecendo. Deve dizer que não tem certeza se é isso, que não sabe se aquilo é verdade, que não possui a consciência de todos os elementos que estão presentes para poder afirmar, com cem por cento de possibilidade, o que é o universo naquele momento..

Para realizar esta reforma, é preciso deixar de formar verdades dentro de você mesmo. O que é uma verdade que você forma? Informações que montam uma realidade. Para que as forma? Para poder julgar o mundo. Para poder determinar se tal coisa está certa ou errada, feia ou bonita, limpa ou suja, boa ou má.

A verdade que os seres humanos formam das coisas é um código de leis que ele usa para julgar o mundo. É só para isso que ela serve, mais nada, pois ninguém consegue passar a sua verdade para os outros, transformá-los. Cada um tem as suas verdades e não se deixam levar pela dos outros.

Por isso afirmo que as suas verdades não servem mais nada a não ser lhe dar o direito de julgar o mundo. Mas, quem disse que você é o perfeito do mundo, que você é que está certo sempre?

Participante: diante disso me surge uma dúvida. Se eu não me baseio na verdade que acredito, como é que eu vou viver? Vou ter que acreditar em alguma coisa... Se não posso acreditar no que acredito, no que vou acreditar?

Na verdade do universo.

A transformação que a segunda reforma traz é deixar de ter verdades individuais e penetrar na verdade do universo. Para fazer isso é preciso que você responda a duas perguntas: qual é a verdade do universo; o que é verdadeiro neste mundo?

Preste atenção no que vou falar agora porque é fundamental para todo aquele que busca a elevação espiritual.

O que é verdade neste mundo? O que está acontecendo. A realidade. Só a realidade é verdadeira. Acontece que você não vive o que está acontecendo, mas sim o que acha que está acontecendo. As duas coisas são completamente diferentes, pois o que você acha que está acontecendo foi criado não levando em conta todas as coisas que estão presentes no agora, como vimos, além da aplicação das leis individuais que possui que são constituídas por verdades pré-existentes.

O que você está fazendo aqui agora? Está me ouvindo? Você acha que está me ouvindo? Tem tanta coisa acontecendo por trás daquilo que você percebe que não faz a mínima idéia do que está ocorrendo. Por isso, afirmar que está me ouvindo é até leviandade.

Quantas vezes você já desviou sua atenção do que estou falando para perceber alguma coisa que aconteceu neste ambiente? Neste momento você não me ouviu, pois estava fazendo outra coisa. O som pode até ter entrado pelo seu ouvido, mas dizer que me ouviu é imaginar que isso aconteceu quando não foi realidade.

Além do mais, tenha a certeza que você está fazendo aqui muito mais coisas do que consegue perceber. Se não percebe, não sabe que está fazendo, mas está. Vou dar um exemplo para você entender o que estou dizendo.

Você já viu o espírito que a médium falou que estava sentado ali?

Participante: não.

Você viu o trabalho que foi feito em prol daquele ser?

Participante: não.

Pois é, você participou deste trabalho. Não no nível consciente, mas fora dele participou doando energias para que os espíritos desencarnados que estão aqui presentes pudessem ajudar aquele ser. Você viu isso acontecer? Não. Por quê? Porque não declarou para si mesmo que existem mais coisas que o seu olho vê.

Para você real é apenas aquilo que os seus olhos vêem. Como seu olho não vê os seres extracorpóreos aqui presente, não consegue captar o que faz neste plano de existência.

É preciso dizer a si mesmo que existem coisas além dos olhos para poder perceber o que não é visto. No entanto, não basta apenas dizer, mas é necessário dizer e viver esta informação como real e não apenas como uma ilusão gerada pela mente. Quando fizer isso terá consciência do que está acontecendo.

No evangelho de Tomé Jesus diz assim: é preciso que você se reconheça como filho de Deus para que o Pai lhe mostre as coisas. Ao abandonar suas verdades você se reconhece como filho de Deus e aí Ele lhe mostra as coisas que você não vê. Ele não pode mostrar agora, porque se fizer isso, você irá querer usar esta informação para benefício próprio e não para o bem do universo.

Então, viver sem suas verdades é viver dentro da realidade do universo. Só que não mais uma realidade compreendida por você, mas uma que você recebe de Deus.

Mas, para realizar esta reforma você precisa saber de uma coisa: como se criam as verdades de agora? Vamos entender isso...

As reformas da reforma

Criando verdades

A cada vez que você participa de um acontecimento, a sua mente gera uma idéia sobre o que está acontecendo. Mais: gera uma idéia sobre as pessoas e objetos que estão envolvidos naquele acontecimento. Estas idéias vêm ao consciente do ser humano e ele, então, pode aceitá-las ou não. Se as aceita, elas são arquivadas naquilo que vocês chamam de memória.

Cada vez que o fruto de um raciocínio lhe vem à mente e você aceita as conclusões que ele afirma ser real, elas ficam disponíveis na memória e serão usadas posteriormente em outros acontecimentos para gerar novas conclusões, que se aceitas também são arquivadas na memória.

Por exemplo: você coloca a mão sobre o fogo. O que acontece? Existe a sensação de queimar e isso gerar dor. Esta sensação e conclusão (por a mão sobre o fogo queima e dói), como foram aceitas por você, serão arquivadas na memória. Na próxima vez que puser a mão em um local onde aja fogo, a mente irá às verdades arquivadas e dirá o resultado que você deve viver naquele momento: sentir dor e sentir-se queimado.

O exemplo que usei, apesar de clássico, não nos dá uma noção exata do que estou tentando lhes passar. Isso porque vocês ainda acreditam que a sensibilidade nasce nos órgãos de percepção do corpo físico. Ou seja, ainda acreditam que uma mão se queima e que isso sempre trará dor. Vamos usar outro exemplo que é mais prático para a questão das reformas da reforma íntima para podermos compreender melhor o que estou dizendo.

Digamos que você fale com alguém e quando essa pessoa responda a mente julgue que aquela resposta foi malcriada. Aceitando esta informação, a mente irá gerar informações sobre quem falou. Dirá que ela não presta, que é grossa, que não gosta de você.

Sendo estas teses também aceitas por você, a mente, então, irá começar a especular porque ela não presta. Irá atribuir valores para aquela pessoa que justifiquem as declarações que ela está fazendo qualificando-a de tal forma. Isso gerará uma série de conceitos sobre aquela pessoa que, se aceitos por você, serão arquivados na memória.

Na hora que aquela pessoa novamente lhe dirigir a palavra, a mente usará tudo isso que ela mesma criou, mas que não é verdade, para desqualificar o que a pessoa está dizendo. Com isso você não prestará atenção ao que ela está falando agora, apesar de, como já falamos, muitas vezes o que ela está dizendo pode ser muito útil a você.

As reformas da reforma

Perdendo a felicidade por conta da criação mental

Esta é a vida de vocês. São dirigidos pela mente através dos conceitos que ela cria sobre as pessoas e é pelos comandos que ela dá que vocês se comunicam com o mundo. Não sabem o quanto podem estar perdendo de felicidade por conta desta submissão ao que a mente cria. Vou contar uma história que mostra bem esta questão.

Um homem estava precisando de um martelo para realizar um trabalho em casa, mas não tinha. Por isso decidiu pedir o do seu vizinho emprestado. Saiu de casa e se dirigiu até a casa do lado. Durante o caminho foi pensando...

‘Eu vou chegar à casa do meu vizinho e lhe pedirei o martelo. Ele vai dizer que não pode me emprestar agora porque está usando-o. Então vou dizer a ele que também estou precisando muito, que vou usá-lo por pouco tempo e que entrego logo. O meu vizinho vai novamente insistir que não pode emprestar agora porque está precisando também. Eu vou argumentar que o meu trabalho é importante e que preciso acabá-lo neste momento. Eu vou insistir e ele vai continuar argumentando que não pode emprestar. Eu vou ficar sem o martelo e não vou conseguir fazer o que preciso. Que droga’...

Desenvolvendo este raciocínio o homem chegou à casa do seu vizinho e bateu à porta. O vizinho, que estava descansando no sofá, abriu a porta com um largo sorriso e disse: ‘bom dia’... A pessoa que foi pedir o martelo, comandada por tudo o que foi pensando ao longo do caminho respondeu com muita raiva: ‘fica com o seu martelo que eu não quero mais’...

Reparem: o vizinho o atendeu com um sorriso, pronto para ajudar o amigo, mas não pode porque este, durante a caminhada, convenceu-se de que o vizinho não ia emprestar o martelo. Ele poderia ter pegado o martelo, já que o vizinho não o estava usando, e acabar o seu serviço tranquilamente, mas não o fez, porque aceitou tudo o que a sua mente criou e que não correspondia à realidade.

Pré-concebido. O ser humano vivencia a vida através de pré-concepções.

O espírito vive sem nenhuma concepção de nada. Ele não conhece nada: simplesmente vive cada segundo de uma vez sem ligá-lo ao passado ou ao futuro.

As reformas da reforma

O fictício poder de saber

Esta é a segunda mudança, mas para isso é preciso dominar a curiosidade, o fictício poder de agir, de ser, de estar, de prever o que o outro vai fazer. O poder de saber o que está acontecendo. Viva a realidade. O que é real na sua vida? O que você está fazendo agora.

Por exemplo: o seu filho é realidade para você agora?

Participante: sim...

Não, ele não está aqui agora. Ele está em outro lugar neste momento.

Ele só se torna real porque você está pensando nele. Mas, este seu pensamento não tem nenhuma influência no que está acontecendo onde ele está e por isso não faz parte da realidade de lá. Seu filho seria real para você se ele estivesse ao seu lado agora, mas neste momento ele é um sonho. Você acha que tem um filho que ficou em determinado lugar, mas neste momento ele não é real.

Esta idéia de que ele é real neste momento lhe faz viver possibilidades que não são reais também. Por exemplo: você acha que se pensar nele agora pode resolver qualquer problema onde ele está. Isso, no entanto, é impossível. Daqui você não pode interferir no que está acontecendo lá.

Agora, digamos que ocorra um problema lá. Por conta da imaginação que seu filho é real, você imagina que pode prever o problema que vai acontecer e que pode agir retirando seu filho do perigo. Só que não pode, pois você não possui clarividência.

Sabe o que acontecerá neste momento? Você viverá a culpa. Sentir-se-á culpada de não ter o ajudado. Mas, essa culpa só surgiu porque você acha que seu filho é real para você neste momento e que tem a capacidade de controlá-lo, mesmo distante...

Sendo assim, para que usar este momento para se preocupar com ele? Apenas para perder a paz e a harmonia consigo mesmo se culpando de algo que você não tem a capacidade de intervir?

Viu como viver fora da realidade pode ser danoso à sua saúde espiritual?

Aproveito para perguntar à médium? O espírito que estava perturbando parou?

Participante: sim...

Esta é a resposta de quem está vivendo a realidade. O espírito parou; ponto final...

Isso a médium pode constatar. Agora, se quiser saber por que o espírito parou, irá se perder num labirinto de possibilidades, de motivos para o espírito ter parado. Como a mente precisa de uma resposta, poderá escolher uma delas, mas qualquer uma que seja escolhida não representará a verdade, a realidade, pois seja qualquer for a conclusão, ela sempre estará apenas fundamentada na concepção individual de quem está respondendo e não na realidade.

Sabe por que o espírito parou? Porque acabou a missão dele naquele momento. Este espírito esteve aqui presente, agiu como agiu, para que o usássemos como exemplo para poder começar a falar da segunda reforma. Apenas isso. Ele estava perturbando apenas para que a médium me dissesse que ele estava perturbando e com isso eu pudesse usar a sua presença para nos introduzir na segunda mudança. Só isso.

A resposta é simples, mas sei que vocês estavam fazendo diversas conjecturas sobre a presença dele. Viu como estão fora da realidade? Era só para isso e vocês perderam muito tempo pensando o porquê ele estava aqui presente.

Participante: eu não vejo a presença destes seres porque quero ou porque executo qualquer trabalho para este fim. Na verdade, acredito que é Deus que me abre a visão para vê-los.

Sim, isso é o que acontece quando você está no trabalho espiritual, quando há necessidade para o trabalho.

Na verdade, você não vê os seres incorpóreos que a rodeia o tempo inteiro porque ainda é uma individualidade, um ser desprendido do Todo. Ou seja, você se vê como um mundo distinto do que a rodeia e por isso não vê o universo.

Participante: quer dizer que hora que alguém conseguir deixar totalmente o individualismo estará convivendo com a outra dimensão que nos cerca?

Sim, como, aliás, todos os mestres viveram.

Participante: isso não causa confusão?

Não, porque quando isso acontecer você saberá separar o que pertence a cada uma, pois se integrará ao universo.

Participante: nós temos que trabalhar para nos integrar no Universo, segundo o que foi dito. Por isso pergunto: o que temos que separar para poder penetrar no universo?

Não há nada a ser separado. Na verdade, o que precisa ser feito é você não separar nada.

Quando você não mais separar as coisas, saberá quem é um ser encarnado e quem é o não encarnado. Saberá que os dois seres não estão na mesma dimensão, mas não os separará mais por dimensões.

As reformas da reforma

Criando realidades

Participante eu percebi o incômodo da médium, mas não sabia o que o estava causando.

É disso que estou falando.

A partir da percepção de que a médium estava incomodada sua mente sentiu-se logo instigada a procurar um motivo para o que estava acontecendo. Ela poderia criar um milhão de motivos para o incômodo que estava sendo percebido, inclusive o não gostar deste acontecimento, já que este fato estava acontecendo na sua residência.

Participante: esta foi a primeira coisa que pensei...

Eu sei que isso foi pensado por você.

A partir da consciência de que a médium estava se sentindo mal na sua casa, você diria para ela: guarda o seu martelo porque eu não quero mais que você me empreste...

Participante: não cheguei a este ponto...

Eu sei que não chegou, mas poderia ter chegado.

Só não chegou porque que ela expôs que estava perturbada com o espírito. Foi só por causa disso que você não levou adiante os raciocínios sobre a perturbação da médium. Caso ela não tivesse dito o que estava acontecendo, você daria asas à sua imaginação e imaginaria que ela esta incomodada com a sua casa, que não estava gostando de estar aqui.

Ou seja, se ela não tivesse interrompido o seu fluxo mental você realmente a teria, mentalmente, atacado.

Participante: eu pensei que ela estava incomodada e que tinha alguma coisa que a estava incomodando.

Na verdade você só não foi muito fundo no pensamento sobre o mal estar dela porque não conhecia a médium até hoje. Quem já a conhece, ao vê-la dentro de um trabalho espiritual sentindo-se incomodada, pensaria que ela estava vendo muitos espíritos maus dentro de suas casas. Com este pensamento sentir-se-ia ofendido.

A ofensa estaria no fato da médium com a sua atividade afirmar que a casa está suja, que possui negatividade e, por isso, atrai espíritos negativos. Com este pensamento, o dono da casa, para se justificar, iria acusar a médium. Diria que foi a minha equipe que trouxe os espíritos negativos ao invés de imaginar que eles poderiam já estar na casa.

Veja como a história criada pelo pensamento foi longe e fugiu completamente da realidade, além de acabar com o seu amor ao próximo. É isso que acontece quando um ser humano se deixa levar pelo pensamento: ele vivencia histórias que são reais, mas para ele parece ser.

Isso que estou narrando aqui acontece diuturnamente nos seus relacionamentos, pois as histórias que você vivencia a cada momento de sua existência são formadas pelos pensamentos. Por isso, o mundo mental é algo que vocês precisam compreender para poder reformar alguma coisa. Se não se libertarem das histórias criadas pelos pensamentos eles só trabalharão vinculados ao individualismo, ou seja, sempre buscarão defender os seus interesses individuais, mesmo que parta isso seja necessário criar uma realidade que não é real.

Participante: na hora que começamos e o senhor pediu para fazermos uma oração. A primeira coisa que fiz ao orar foi agradecer a Deus por ele ter trazido pessoas dentro da minha casa que querem a paz e Jesus no coração.

Eu sei, mas só que você não viu a tribo que entrou junto com estes seres humanos.

Participante: não vi, mas agradeço...

Antes de agradecer, deixe lhe dizer que esta tribo não é de índios guerreiros que vieram para lhe proteger. Estou falando de um grupo de espíritos doentes e de estudantes...

Participante: não vi, mas acredito que se eles entraram aqui é porque são de paz...

Será? Um espírito doente é um ser egoísta e quem vive para si mesmo jamais busca a paz, mas quer sempre alcançar seus anseios e defender suas verdades.

Portanto, digo que eles não são de paz, mas estão aqui para buscá-la. Eles não são de paz, mas mereceram por algum motivo vir aqui para aprender a alcançá-la.

As reformas da reforma

Solidão

Outro dia tivemos uma conversa com uma pessoa humana, que se achando sozinha comigo me contou diversos assuntos da sua vida, assuntos que ela não falaria se tivesse outra pessoa naquele ambiente. Ela chorou e lamentou-se muito por conta de coisas que estavam acontecendo.

Depois que ela falou bastante eu agradeci tudo o que ela disse. Esta pessoa não compreendeu o meu agradecimento e por isso completei: agradeci-lhe porque você deu uma oportunidade muito grande para que todos os espíritos que estão aqui aprendam o que leva um ser a sofrer.

Saiba de uma coisa: você nunca está sozinho. Se aqui estivesse somente você, pode ter a certeza que existiram muitos outros que você não veria. Mas, se você vive fora da realidade, ou seja, imagina-se sozinho, pode acabar deixando-se levar pelas criações mentais e entregar-se ao individualismo imaginando que ninguém saberá o que pensou ou fez.

Estou usando todo este assunto para lhe mostrar a forma como os seres humanizados vivem. Eles vivem na ilusão que o que vêem, o que ouvem, provam ou pegam no tato é o que existe e nada mais. Por isso aceitam as verdades que a mente cria a respeito das coisas. Por conta desta aceitação, estas verdades passam a regular a vida do ser humano.

As reformas da reforma

Escravidão

Diga-me uma coisa: você é livre? Imagina que possua liberdade? Você pode fazer o que quiser?

Participante: posso... ou não?

Vocês imaginam-se livres, mas na verdade não possuem liberdade alguma. Quer ver um exemplo?

Hoje está muito quente. Pergunto: para se refrescar se quiser você pode tirar a roupa agora?

Participante: não posso, tem outras pessoas aqui...

Mas, como não pode? Você não se considera livre e imagina que pode fazer o que quiser? Que é capaz de conseguir realizar atividades que lhe traga mais conforto e paz? Porque, então, precisa sentir calor e não pode tirar a sua roupa para refrescar-se?

Participante: eu poderia até tirar, mas não vou fazer isso...

Por quê? Porque as leis da sociedade lhe chamaria disso ou daquilo.

Se você não pode tirar a roupa para poder refrescar-se e assim conseguir um bem estar, então não é livre, mas sim escrava do mundo. É escrava das leis do mundo.

O ser humano se diz livre, mas ele não faz o que quer. Você está com calor, mas não tira a roupa para se refrescar porque senão o mundo diria que você é maluca, no mínimo. Por causa desta penalidade que o mundo pode lhe impor, você sente passa o calor, mas não tira a roupa.

Veja bem: você está abrindo mão do seu bem estar para não ser taxada de feia, indecente. Ou seja, age em detrimento próprio para não ser penalizada por um código normativo que não foi você quem criou. Isso é ser realmente livre?

Não importa do que o mundo lhe chame, não importa o que faça, o importante do que estamos conversando agora é entender que é escrava do mundo, pois não faz o que quer, mas apenas aquilo que a o mundo humano diz que pode ou deve fazer.

Falei que você é escrava do mundo. Isso está certo? Não. Na verdade, você é escrava das verdades do mundo que você aceitou.

Você não pode ser escrava do mundo porque existem verdades societárias que não segue e outras que segue. Para ser escrava do mundo você teria que aceitar todas as verdades dele. Como só aceita algumas, não posso dizer que é escrava dele, mas das verdades pertencentes ao mundo que você aceitou.

Agora, será que seguir alguma verdade se caracteriza numa escravidão? Sim, você é escrava das suas verdades, pois prefere passar calor a infringir uma norma que possui. Isso é escravidão, pois se trata de submissão.

Existem algumas pessoas que seriam capazes de tirar a roupa no meio da rua e não se sentiriam mal por causa disso. Porque isso acontece desta forma? Porque, apesar do mundo dela ser o mesmo que o seu, ela não segue leis que você segue. Não individualizou, pegou para si, algumas leis.

Estas pessoas não são escravas desta lei, mas podem ser de outras. Isso porque os seres humanos escolhem das regras societárias aquelas que querem escolher. Sendo assim, todos são escravos do mundo, mas alguns se escravizam em algum aspecto e outros a outras verdades.

Mas, será que seguir uma regra societária não é algo que devemos fazer? Vamos entender isso...

As reformas da reforma

As regras da vida

Diga-me uma coisa: as regras societárias do país que você vive é a mesma de outros? Tenho certeza que não. As regras vividas pelas sociedades são diferentes. Elas se alteram não só de país para país, mas muitas vezes dentro das comunidades que habitam uma mesma cidade. Existem regras que são seguidas em alguns locais e outras em não.

Sendo assim, pergunto: qual a regra societária nós podemos chamar de universal? Nenhuma, pois algo para ser universal tem que ter o mesmo efeito em todos, tem que ser real para todos os seres. Como estas regras mudam dependendo da sociedade, nenhuma delas pode ser considerada universal.

Da mesma forma, como o seu código de normas individual é formado apenas por alguns itens do código societário e o de outras pessoas é formado por outros itens, não podemos considerar também o seu código como universal. É por isso que prender-se a determinadas regras que imponha um padrão de ação não pode ser aceito por aquele que pretende aproveitar a encarnação e promover a reforma íntima.

Se uma das reformas que precisam ser realizadas é o universalizar-se, quem quer promover esta mudança precisa libertar-se das regras que dirijam seu modo de viver.

Com isso, não estou dizendo que esta pessoa não pode fazer o que uma regra estabeleça, mas sim que não deve prender-se a agir de uma determinada forma para se considerar como certa. Reformar-se é aprender a viver a vida livre da obrigação de agir de determinada forma e relacionar-se consigo mesmo em paz e harmonia independente do que faça.

Entendeu?

As reformas da reforma

Serviço ao próximo

Participante: entendi, mas aí surgiu uma dúvida. Nós não podemos ser egoísta. Devemos agir em função dos outros.Se eles acreditam nas normas, eu não teria que segui-las para servir aos outros?

Sim, servir ao próximo é um dos elementos da elevação espiritual. Mas, repare, quando você age em favor do outro porque acha correto agir desta forma, está agindo dentro da sua vontade e não dentro da vontade do outro. Por isso afirmo que quando serve porque acha certo fazer isso é escravo do que acha que deve fazer.

Participante: nós sempre nos preocupamos com que o outro vai pensar.

Isso é sempre o individualismo.

Você diz que deixa de fazer ou faz alguma coisa para não ferir ao próximo, mas isso é mentira. Não faz porque não quer que o outro fale de você.

É isso que precisamos entender: o mundo não existe da forma que vemos. Criamos tudo isso para nosso próprio benefício. No entanto, trata-se de um benefício falso, pois este tipo de ação leva a uma felicidade condicionada e não incondicional. Condicionada ao cumprimento das leis da humanidade.

Paulo diz assim: Jesus veio nos trazer a verdadeira liberdade. Viver realmente é viver como Cristo ensinou, ou seja, livre das regras do mundo. Vou citar um exemplo para vocês entenderem o que estou dizendo.

Então alguns fariseus e alguns professores da lei vieram de Jerusalém para falar com Jesus e perguntaram: porque é que os seus discípulos não obedecem aos ensinamentos dos antigos? Eles não lavam as mãos antes de comer e assim desobedecem nossa tradição.

Jesus respondeu: e porque é que vocês desobedecem ao mandamento de Deus e seguem seus próprios ensinamentos? Porque Deus disse: respeite o seu pai e sua mãe. E disse também: que seja morto aquele que falar mal do seu pai ou da sua mãe. Mas vocês ensinam que se alguém tem alguma coisa que poderia ajudar os seus pais, mas diz que dedicou aquilo a Deus, então não precisa respeitar os seus pais. Assim vocês desprezam a mensagem de Deus para seguirem os seus próprios ensinamentos.

Hipócritas! Isaías estava certo quando disse o seguinte a respeito de vocês: este povo – disse Deus – honrar-Me com suas palavras, mas na verdade o seu coração está longe de mim. Não adianta nada eles me adorarem, pois ensinam leis humanas como se fossem mandamentos de Deus.

Mateus, 15, 1 a 9

Essa é a verdadeira liberdade. É livre do mundo, ou melhor, das verdades do mundo que aceita, aquele que coloca sempre em prática o amor ao próximo acima das regras societárias que segue.

Este faz o que fizer sem se culpar ou sem se ofender com que os outros lhe faz. Isso é que ser livre.

Ser livre não se trata de fazer o que quer, o que acha certo ser feito, pois para viver isso é preciso desejar antes e ter um código de normas próprio. Isso acaba o universalismo. Para se viver a verdadeira liberdade é preciso viver cada segundo que está acontecendo sem preocupar-se em se mudar ou no que os outros estão pensando a respeito de você. Isso é a verdadeira liberdade.

Se você está de roupa, está com; se está sem, está sem. Não se acuse por isso nem deixe os outros lhe acusar pela forma como está vestido ou despido. Não se sinta nunca acusado pelos outros, pois ninguém lhe acusa de nada. Na verdade a acusação nasce em você mesmo.

Ser livre não é tirar a roupa ou estar com ela. Não é vivida na forma, mas na essência. É a intenção que o ser humano coloca ao acontecimento. É a essência que você coloca nas coisas. Esta é a segunda mudança: não importa se está de roupa ou sem, o importante é não colocar errado ou certo no que está sendo feito. Só isso.

Se uma pessoa faz o que você não gosta, este não gostar é interpretado como uma afirmação sua de que o universo está errado. Sim, é isso que você está dizendo quando afirma que exista algo errado, pois o que está acontecendo é o próprio universo. É a verdade, a realidade.

Universalizar-se é deixar o outro fazer o que quer sem críticas e fazer o que fizer sem sentir-se criticado com o que o próximo pensar sobre o que está fazendo.

As reformas da reforma

A falsa ação em benefício do outro

Participante: não posso falar nada sobre as coisas que outros fazem que me incomode?

Nada do que os outros façam pode lhe incomodar. Você se sente incomodada com o que os outros fazem.

Na hora que não mais se sentir incomodada com o que os outros estão fazendo, o que está acontecendo não mais lhe incomodará. Com isso deixará de sofrer e viverá a felicidade plena e incondicional. Com isso terá alcançado a elevação espiritual.

Por isso afirmo que não é o que o outro faz, mas o incômodo nasce dentro de você quando recebe o que o outro faz que não lhe deixa alcançar a Deus. Se a reforma é íntima, você tem que mudar a si mesmo, tem que deixar de sentir-se incomodado com que o outro faz.

Deixe-me dar um exemplo. Eu o cito muito e acho que fica fácil entender o que quero dizer.

Uma vez que falamos que todo ser humano é egoísta, só pensa em si, teve uma pessoa que disse que não aceitava que se dissesse isso dela. Afirmou que era boazinha, que tinha sentimentos bons, que pensava primeiro nos outros e depois nela.

Para provar o que estava dizendo ela contou que vinha brigando com outro membro do grupo porque ele fumava. Perguntei, então, qual o motivo para ela não querer que ele fumasse. Respondeu-me que era porque aquela pessoa já tinha tido um infarto e outros problemas no coração e por isso se continuasse fumando ele iria morrer.

Perguntei, então, qual o problema dele morrer hoje ou amanhã, pois na verdade todos um dia vão morrer. Ela, então, mostrou o seu lado egoísta: ‘se ele morrer, eu vou sentir saudades dele’... Na verdade ela estava preocupada com a saudade que ela iria sentir. A preocupação dela não tinha nada a ver com a saúde dele.

A partir deste exemplo lhe digo: aquela pessoa fuma? Ela tem problemas de saúde que podem se agravar por conta do hábito de fumar? E daí? Deixe-o fumar. A vida é dele e ele tem o direito de escolher a hora que quer morrer.

A liberdade que estamos falando é tão ampla que você deve dar a quem quer morrer o direito de morrer. É um direito de cada um. Ou será que as pessoas só podem morrer na hora que você disser que podem?

Participante: na questão do cigarro você fala que é egoísmo nosso não querer que ela fume; eu não vejo dessa forma. Aconteceu, por exemplo, recentemente entre eu e meu marido. Ele estava fumando muito e eu trabalhei junto a ele para que deixasse de fumar.

Certo, mas minha pergunta a você é a seguinte: para que você queria que ele parasse de fumar?

Participante: porque é prejudicial para ele...

Para a saúde dele? E daí que ele prejudica a sua saúde?

Participante: porque eu gosto dele...

Porque você gosta, ou seja, por causa de uma motivação individual. É o seu gostar que está gerando uma obrigação nele. É por conta deste gostar que você tira a liberdade dele e quer escravizá-lo às suas verdades.

A partir desta sua pergunta que vamos para a terceira mudança para podermos entender perfeitamente a influência deste gostar na escravidão que se vive e que se quer impor aos outros.

As reformas da reforma

O objetivo da vida

A primeira reforma consiste-se em viver no universo, na realidade. A segunda em saber que a realidade é o que está acontecendo e não o que você acha e por isso precisa abandonar o seu achar. A terceira mudança parte da seguinte pergunta: o que você está fazendo aqui? O que você está fazendo nesta carne ou nesta vida? Está de férias? É um espírito freqüentando uma colônia de férias?

Participante: não

Então o que você acha que veio fazer aqui?

Participante: aprimorar, procurar a elevação, o amor ao próximo.

Certo, e com se faz tudo isso dentro do que estamos conversando hoje? Trabalhando...

Participante: promovendo resgates...

Por favor, não fale nisso, pois esta realização não pertence a encarnação, apesar de algumas correntes religiosas falar isso. Já vamos falar deste assunto, mas por enquanto lhe digo para tirar esta idéia da cabeça.

Você está aqui para fazer tudo o que foi citado anteriormente, mas o que é tudo isso? Um trabalho. Você precisa trabalhar para se aprimorar, procurar a elevação, o amor ao próximo. Um trabalho que provoque uma mudança em você.

Concordam comigo? Sendo assim, posso afirmar que vocês não estão aqui à passeio, de férias, mas vieram a este mundo para realizar um trabalho. Qual é este seu trabalho? Mudar a sua forma de se relacionar com o mundo.

Ao invés de relacionarem-se individualmente, devem fazê-lo universalmente. Isso é evolução.

Como é que você pode se relacionar universalmente com as coisas deste mundo? Vou dar um exemplo. Você não gosta de fazer algumas coisas. Isso é verdade?

Participante: acho que sim, porque no momento que a está fazendo é verdade

Não porque você não gostar é uma verdade só sua já que existem outros que fazem a mesma coisa e gostam do que fazem. No momento que não tem mais verdades, faz sem gostar ou não. No momento que tem verdades, elas lhe dirão se gosta ou não do que estão fazendo.

Gostar ou não depende de uma verdade individual. Simplesmente fazer, sem gostar ou não do que está acontecendo é viver o acontecimento com uma verdade universal. Concordam comigo?

Sendo assim, para atingir o universalismo – viver como ser espiritual, que é a primeira reforma – é preciso que aconteçam coisa que você goste e outras que não. Se durante o transcorrer desta vida acontecesse só o que gostam, vocês só fariam o que gostam e confundiriam este prazer com felicidade e imaginariam que já alcançaram a elevação espiritual, o universalismo. Portanto, nesta vida é preciso haver também coisas que vocês não gostem para que participem delas sem se prender ao seu gostar e com isso comprovem que executaram o trabalho necessário para merecer a elevação..

Isso ficou claro? Pergunto por que entender este ponto é fundamental para a vida humana e para respondermos a que me falou sobre resgate.

Em O livro dos Espíritos, Kardec conversa com o Espírito da Verdade sobre a vida humana e o mentor do espiritismo diz o seguinte:

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”.

Se esta resposta ainda não lhe dá a certeza de que a vida humana foi preparada pelo próprio espírito para servir como instrumento do trabalho necessário para a elevação, ou seja, que ela é pré-programada antes do ser juntar-se à matéria carnal, ouça o que fala mais o Espírito da verdade:

“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem achar-se colocado”.

Ora, se toda vida é feita por momentos onde há contrariedades e outros onde acontece a satisfação, isso acontece desse jeito porque o espírito julgou que esta polaridade de situações é necessária para o seu trabalho de reformar-se. Se esta reforma trata-se de uma mudança interna, de uma mudança da forma de viver a vida, isso quer dizer que ele precisa passar por cada momento da vida sem apegar-se à contrariedade ou à satisfação.

É por isso que toda vida tem altos e baixos ou como ensina o Espírito da Verdade, em vicissitudes (pergunta 132 de O Livro dos Espíritos). Sei que muitos ainda acreditam no castigo de Deus quando vivem contrariedades, mas a partir da leitura das duas questões que fizemos fica bem claro que isso não é real. Aliás, sobre este assunto o Espírito da Verdade também é líquido:

“258a. Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, Omo castigo? Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Ele quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar porque decretou Ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e conseqüências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal”.

 Portanto, as contrariedades que se vive neste mundo são pedidas pelo espírito para que ele possa obrar no sentido de reforma-se. Elas não são dadas por Deus como castigo ou pena, mas são pedidas pelo Espírito quando este está cônscio de sua realidade. Mas, não é assim que a lógica humana diz.

Por ela, se podemos programar a nossa vida, é óbvio que todos iriam preferir escolher nascerem ricos, com felicidade e conseguindo realizar tudo o que sonha. Para responder esta questão o Espírito da Verdade ensinou o seguinte:

“266. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? Pode parecer-vos a vós; ao Espírito não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”.

Sim, a lógica humana afirma que seria óbvio que podendo escolher, o espírito optasse por uma existência carnal com mais tranqüilidade e sem contrariedades. Mas, para a lógica espiritual, isso não é real. Por quê? Porque o ser espiritual sabe que no universo nada é dado de graça.

Como Cristo ensinou, Deus dá a cada um segundo as suas intenções, ou seja, dá a cada um de acordo com o seu merecimento. Tudo que se conquista no universo é um merecimento, fruto de um merecer. Se não se merecer, o espírito não recebe nada.

Sendo assim, qual o merecimento para se ganhar a elevação espiritual? Ela foi ensinada pelo Espírito da Verdade na questão 115 de O Livro dos Espíritos que já vimos quando falamos do ser elevado, mas vamos repeti-la para poder nos lembrar do que foi dito lá e completaremos com a explicação sobre o merecimento necessário para se alcançar a elevação espiritual.

 “115. Dos Espíritos uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros só suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”.

Eis aí a fonte do merecimento para se ganhar a elevação espiritual: não resmungar contra o que está acontecendo. Para fazer isso, o espírito encarnado não pode, então, ir contra o acontecido.

Por isso é que afirmo que o merecimento que leva o ser humanizado a alcançar a elevação espiritual consiste em viver a os acontecimentos da vida sem gostar ou não do que está acontecendo, sem sofrer. Para vencer suas deficiências da jornada espiritual, o espírito pede, então, acontecimentos que reflitam aqueles quesitos onde ainda sofreu em outras existências.

Por exemplo: um espírito ao longo de sua existência espiritual sofre por desejar o que não possui. Esta emoção nós chamamos de ganância. Cônscio de que ele sofre quando encarnado por este motivo ele pede que o ser humano que servirá como instrumento para a sua provação tenha vontade de ter o que não possui. Assim, assediado por esta dor, ele busca passar por ela sem vivenciá-la.

As reformas da reforma

Expiação

Participante: a encarnação corrige a doença do espírito? É isso?

Ele só corrige a sua doença espiritual não vivenciando o sofrimento que é proposto durante o período de provações ou encarnação.

A partir de tudo o que falamos, posso, então, responder a questão da expiação que foi levantada. O espírito não vem aqui para expiar, dentro do sentido resgate que vocês imaginam, mas para resgatar sofrimentos que teve em outras encarnações, resgatar o que ele murmurou contra em outras vidas.

É por isso que na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, quando se fala dos objetivos da encarnação, está afirmado que o espírito precisa passar pelas vicissitudes da vida. Vicissitudes é alternância das coisas. Se o espírito não vivenciar durante a encarnação momentos onde ele tenha o que deseja e gosta e outros onde não tenha, ele não consegue realizar o resgate de outros momentos em outras encarnações onde não realizou o trabalho da reforma: a submissão aos acontecimentos.

É por este motivo que digo que resgatar é passar pelo que gosta e o que não gosta, sem ter verdades sobre as coisas, sem gostar ou não delas.

Participante: quando se chega neste estágio o gostar ou não deixa de ter sentido.

Claro, porque aí você venceu. Provou que é capaz de viver liberto do seu gostar ou não. Você passou pelas provas que apareceram na sua vida. Quando você aprende a lição não sofre mais com o que acontece, pois aprendeu a deixar de gostar ou não das coisas.

Participante: isso diz respeito ao bom e mal, ao que gosto ou não, quando dá prazer e quando não dá...

Sim, está sempre presente sempre que há uma dualidade. Quando houver uma dualidade um lado será sempre mais forte que o outro para que você tenha a oportunidade de realizar uma opção. Aliás, como ensinou o Espírito da Verdade na pergunta 851, cujo início (a posição sobre fatalidade) nós já vimos.

No início desta resposta o mentor do espiritismo afirma que o destino da vida está ligado às escolhas que o ser faz antes da encarnação. Mas, ele completa:

“Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”.

Ou seja, os acontecimentos são pré-determinados, mas o espírito é sempre livre para sofrer ou manter-se unido a Deus neste momento.

Portanto, você vem à carne para expiar, mas não dentro do sentido resgate (resgatar faltas cometidas em outras vidas) como os seres humanos acreditam, mas para provar que é capaz de vivenciar determinadas emoções sem se deixar levar pelo sofrimento que o ser humano costuma anexar a estas situações. Aquele que não entende isso, acaba vivendo a expiação com sofrimento e por causa disso não promove as reformas necessárias durante uma encarnação. Mais: por conta deste sofrimento que vive agora, acaba se afundando mais na sua situação espiritual e com isso precisará de mais provações deste gênero em outras encarnações.

A questão da expiação, como entendida pelos seres humanos, está muito ligada ao sofrimento. Por exemplo, acredita-se que um ser que em outra vida cometeu um mal contra alguém precisa nesta vida receber o mesmo mal ou alguma atitude semelhante àquela para expiar sua falta. Por causa desta idéia, o espírito encarnado não luta contra o sofrimento, mas entrega-se a ele achando que com isso está expiando alguma coisa. A verdade, no entanto, é que este ser acabou cometendo uma nova falta, pois viveu uma missão dada por Deus com murmúrios.

Por isso repito o que já disse: cuidado com as palavras que você usa para ter compreensões sobre as coisas. Todas as palavras trazem atrás de si verdades que estão presentes na compreensão que se forma com elas. Só que muitas destas palavras são usadas de forma errônea e com isso acabam influenciando na consciência que se alcança.

As verdades que compõem a palavra resgate estão vinculadas a sofrimento, mas não é preciso vivenciar estas situações neste estado de espírito. Na verdade você precisa passar pela vida sem sofrer para evoluir. Para isso é preciso não querer que a vida seja e um ou de outra forma.

Participante: dentro desta questão do resgate, o que aconteceu a dias, semanas, minutos atrás, era uma verdade daquele momento e hoje pode não ser mais...

Pode não ser, mas na maioria das vezes ainda é. Digo isso porque só quando você quebra uma verdade ela é desmentida. Enquanto não desmentir a verdade, ela continuará sendo verdadeira para você.

As reformas da reforma

O trabalho da vida

Participante: o que quis dizer é que algumas coisas que você não gostava no passado e com o tempo aprendeu a conviver com aquilo sem se incomodar. Isso quer dizer que eu fui capaz de superar aquele conceito? Ou seja, num momento anterior era uma verdade que levava a um sofrimento e agora passou a ser vivida de outro jeito.

Na prática o que você quer dizer é que sempre que se defrontava com uma determinada pessoa convivia com ela dando-lhe um valor que o fazia sofrer e hoje já não vivencia este acontecimento esta relação com a mesma idéia sobre o outro e por isso não sofre mais. É isso?

Participante: sim...

Você precisa compreender que a sua impressão sobre qualquer coisa não muda por mágica. Isso só ocorre quando você desmentir a verdade que tinha sobre aquilo.

Este, aliás, é o trabalho da reforma e é isso que se vem fazer na carne: desmentir suas verdades, passar pelas situações da sua vida sem colocar verdades alguma no que está acontecendo.

Participante: acho que uma das verdades mais difíceis de se livrar são os laços familiares com os filhos.

Imaginar que se tem um filho é uma mentira. Você tem filho?

Participante: tenho três...

Você roubou os filhos de Deus? Deus deu a luz e você os roubou na maternidade? Se você acredita que todos os espíritos são filhos de Deus, como pode afirmar que estes são seus filhos?

É disso que estou falando. Se você não quebrar dentro de si a idéia de que tem filhos, irá sofrer. Este é um dos aspectos da reforma íntima que vocês não compreendem: e preciso quebrar as verdades deste mundo, mesmo aquelas que são consideradas mais sólidas, pois se não fizer isso irão viver em sofrimento.

Sempre que uma verdade se instala traz consigo novas. Este conjunto de verdades vai gerar condicionalidades para que a felicidade exista. Por isso, afirmo que para quem ainda possui verdades humanas é inexorável. Quer um exemplo?

Participante: sim...

Você ama os seus filhos?

Participante: sim...

Quando lhe pergunto começamos a falar da quarta reforma da reforma íntima. A terceira consiste-se em viver a vida sem colocar nos acontecimentos dela verdade alguma sobre as coisas. Com isso, você passará a vivenciar a situação de sofrimento sem sofrer e a situação de prazer sem ter satisfação.

Para poder viver sem colocar verdades nos acontecimentos da vida é preciso deixar de desejar, ter verdades paixões e posses. Como se faz isso? Amando-se incondicionalmente a tudo que existe.

Portanto, como se vence a prova? Amando.

Acabei de perguntar se você ama os seus filhos e você me respondeu que sim, mas eu digo que não. Afirmo isso porque se amasse realmente já teria conseguido a evolução espiritual. Mas, como acho que ainda não a conseguiu, com certeza não os ama realmente.

Se não os ama, o que sente por eles? Vamos ver isso na quarta reforma da reforma íntima...

As reformas da reforma

O amor condicionado

Para mostrar que o que sente pelo seu filho não é amor, vou lhe fazer outra pergunta: na cidade que você mora tem gente que limpa rua, que recolhe o lixo que as pessoas geram em suas residências?

Participante: sim...

Diga-me uma coisa: se essas pessoas deixassem de trabalhar, como é que você viveria? A sua vida seria confortável ou muito ruim?

Participante: muito ruim...

Pelas suas respostas devo presumir que a profissão de lixeiro é de suma importância para você e toda comunidade da sua cidade, não?

Participante: sim..

Então, a profissão de lixeiro é boa, não? Você acabou de dizer que é porque senão você viveria mal sem a existência desta função.

Mas para os filhos dos outros, não? Os seus tem que ser advogados, médicos, etc.

Se o seu filho dissesse que gostaria de ser lixeiro, ou seja, exercer uma profissão que é boa para as pessoas, você deixaria?

Participante: não, o orientaria para buscar outra profissão.

Isso é amor? Não deixar alguém fazer o que gosta e que lhe faz feliz é prova de amor?

Participante: mas eu desejo o melhor para o meu filho. Quero que ele tenha uma profissão onde possa ter um carro, uma casa, uma família. Mas, esta idéia está em mim e pode não estar nele. Apesar dele se inclinar para uma profissão que não lhe trará uma renda digna no futuro, se para ele fosse melhor outra coisa eu o orientaria a não seguir a sua intuição porque na situação que vivemos hoje pé preciso que as pessoas tenham condições para viver.

O que estou perguntando é se você ficaria feliz se o seu filho, por exemplo, lhe dissesse que não quer mais estudar.

Participante: no primeiro momento eu não ficaria.

Viu como o seu amor não é tão amoroso assim? Você sofreria se ele não seguisse os seus conselhos, mesmo que isso causasse desgosto a ele o resto da vida.

Isso não é amor, é posse. Quem condiciona a convivência com felicidade a alguma coisa não ama verdadeiramente.

Aliás, será que você sabe o que é amor?

As reformas da reforma

O amor incondicional

Participante: é difícil falar sobre isso porque amar é algo muito pessoal... Só sei que amo meu filho acima de qualquer coisa...

Você diz que ama o seu filho acima de qualquer coisa, mas não acima de você mesmo. Afirmo isso porque você acabou de me dizer que ele tem que lhe deixar feliz fazendo o que você quer, ou seja, cumprindo as exigências que você faz para amá-lo. Se ele não as cumprir, você brigará com ele.

O amor não aceita brigas que tenham como finalidade dirigir a vida do próximo.

Participante: posso brigar, mas não vou deixar de amá-lo.

Não deixará de amá-lo no sentido que você compreende o amar, mas na verdade não o estará amando. Digo isso porque para se amar é preciso três coisas. O amor incondicional que acaba com o sofrimento que não deixa o ser evoluir necessita de três posturas para existir. Vamos a elas...

Primeira coisa: jamais você perca a sua felicidade. Quando você tiver uma emoção por alguém que não traduza um estado de ânimo feliz, você não estará amando. Sem felicidade, o amor é masoquismo, é individualismo.

Você não pode dizer que ama seu filho porque ainda tem momentos que fica chateada com ele. Neste momento perdeu a sua felicidade e com isso comprovou que não o ama verdadeiramente.

Para que você possa amá-lo verdadeiramente seria preciso que suplantasse as suas verdades que geram normas de comportamento que você imagina que são necessárias para a convivência. Se o que seu filho faz ainda lhe desagrada, mesmo que em pequenos momentos, você ainda não o ama.

Quem ama verdadeiramente, ama dentro do sentido amar que Cristo ensinou, jamais vê erros nos outros.

Participante: por exemplo. Agora a pouco ele fez uma coisa que não gostei e eu ralhei com ele. Isso não quer dizer que não o ame... Pelo contrário, ao orientá-lo estou expressando o meu amor.

Deixe-me explicar uma coisa.

O que é amar? É ter um sentimento. Sentimento não tem nada a ver com atos. O ato é uma coisa, o sentimento é outro.

Eu não estou dizendo que você não ama seu filho porque briga ou não com ele. Não estou dizendo que não o ame porque ralha com ele por ter quebrado uma coisa. Estou falando que não o ama porque fica chateada com o que ele fez. Quando existe esta emoção você prova que dá muito mais valor à sua verdade que afirma que queria aquela coisa inteira do que àquilo que sente pelo seu filho.

Você pode brigar com ele porque quebrou alguma coisa, porque fez algo errado, sem ficar chateada. Se fizer isso, o estará amando, mesmo que o admoeste. A consciência de que se está amando não é alcançada com o que se faz, mas com o que sente durante a ação.

Sei que vocês dizem que é preciso orientar. Sim, é preciso orientar os filhos, se orientar, mas não se deve agregar a esta ação uma emoção que não contenha felicidade, pois se isso acontecer o amor não existirá.

Sabe por que você perdeu a felicidade no momento que constatou que ele quebrou algum objeto seu? Porque você ficou sem a coisa. A chateação que você vive não tem nada a ver com o seu filho, mas sim com a sua contrariedade.

Ele quebrou alguma coisa que você imaginava sua e que queria que estivesse inteira, pois gostava tanto muito daquele objeto. Isso é posse, isso é prova. É por causa do deste sentimento com relação ao objeto, que, como já vimos, está vinculado ao gênero de provação pedido pelo espírito antes da encarnação, que você chateou-se com seu filho naquele momento. Ou seja, você não passou na sua provação e ainda por cima gerou uma nova necessidade de um novo resgate.

A sua briga com seu filho não tem nada de amoroso, porque ela em momento algum espelha uma busca de orientá-lo, mas de repreendê-lo porque ele não tinha o direito de quebrar aquilo que você não queria que quebrasse. Você pode brigar. Pode orientar seu filho a não pegar um objeto para evitar que ele quebre, mas o que não pode é se chatear porque ele lhe desobedeceu e com isso quebrou o que você queria e gostava.

É isso que estou falando. Na verdade, olhando mais de perto a situação e usando as concepções que vocês têm sobre amar, posso dizer que você tem muito mais amor a si mesmo, àquilo que ama, do que ao seu filho. Digo isso porque ainda está preso a um querer individual e defendeu-o.

Compreendeu esta questão? Não estou falando de atos, de deixar de educar seu filho, de falar com ele a respeito dos acontecimentos da vida, mas jamais perder a sua alegria. Não perca. Ao perder a felicidade em qualquer momento que estiver relacionando-se com ele estará acabado o amor.

Se o amor se acaba, isso é sinal que ele nunca existiu, pois o amor verdadeiro jamais acaba.

Repare: você me diz que ama o seu filho incondicionalmente, mas esse mesmo amor acabou quando uma condição passou a existir para que a felicidade existisse. Se a felicidade deixa de existir, não há amor.

Quem ama incondicionalmente não deixa a sua felicidade dependente do que o filho ou qualquer outra pessoa faz. Quem ama incondicionalmente é feliz pouco importando o que aquele com quem se está relacionando faça. Quando existe a felicidade independente do que o outro esteja fazendo, neste momento o amor está presente.

Manter-se feliz sempre: está é a primeira condição para a existência do amor. Segunda: a existência da compaixão... Para se amar, é preciso ter compaixão pelo seu filho ou por qualquer outra pessoa.

Mais uma vez volto à questão dos conceitos que se ligam a determinadas palavras. Para vocês ter compaixão é sofrer o sofrimento dos outros. No entanto, a compaixão que caracteriza o amor universal não tem nada a ver com isso.

A compaixão que denota a existência do amor existe quando se tem a consciência do sofrimento dos outros, mas não se sofre por conta deste. No exemplo da orientação aos filhos que estamos usando, a compaixão estará presente quando você o aconselha a agir de uma forma que possa provocar sofrimento nele, mas não sofre por conta disso.

O que estou falando, aliás, é ato corriqueiro. Quando você proíbe, por exemplo, o seu filho de brincar porque ele tem que estudar para uma prova que está próxima, você sabe que está causando sofrimento nele, mas não sofre por causa disso. No entanto, em outros momentos esta compaixão não existe.

Quando alguém se aproxima amorosamente de uma pessoa que está sofrendo, invariavelmente ela também está em sofrimento. O que isso provoca? Mais sofrimento em quem já está sofrendo. Será que levar dor a quem já está em sofrimento é amar?

A compaixão não pode ser vivida com sofrimento. Quem se aproxima de alguém que está em sofrimento de uma forma amorosa deve sempre buscar retirar o outro do estado que está e não afundá-lo mais na dor. Por isso digo que a compaixão tem que ser vivenciada com a consciência do sofrimento que o outro está tendo, mas sem vibrar dentro desta mesma emoção.

Voltando ao caso dos seus filhos, lhe digo que você deve tratá-los com a mesma compaixão, ou seja, deve ter consciência do sofrimento que algumas vezes pode levar a eles com suas atitudes, mas você não deve estar com o mesmo estado de espírito. Estando, estará castigando-o duplamente: com a reprimenda e com o sofrimento.

Portanto, você precisa manter a sua felicidade e ter a verdadeira compaixão para poder ter a consciência de que está amando verdadeiramente. No entanto, apenas isso não basta. O amar incondicionalmente exige ainda outra postura de quem ama: a igualdade...

Você tem todo o direito de agir como quiser com seu filho, mas não tem o direito de obrigá-lo a nada. Por que isso? Porque o amor que gera obrigações é dominação. Também não deve se submeter por amor a nada, pois isso é submissão e não amor. Só existe realmente amor quando há igualdade, ou seja, quando os que se amam dão ao outro o mesmo que exigem para si.

Quem ama verdadeiramente pode até orientar o outro, mas dá a ele o direito de seguir o caminho que quer. Isso porque ele dá ao outro o direito de seguir ou não aquilo que aconselha que seja feito.

As reformas da reforma

Amor possessivo

Participante: não dá para ficar feliz quando o filho está sofrendo. Por isso é preciso orientá-lo e cobrar que ele siga o caminho que não leve a infelicidade.

Porque você age assim? É por amor? Não, é porque o seu filho é sua posse.

Seu filho não é seu, mas sim de Deus. Ele é um espírito que foi gerado pelo Pai e não um ser que nasceu da sua barriga. Sendo isso verdade, vale para ele tudo o que falamos até agora, ou seja, vale o fato de foi ele que programou a vida dele antes da encarnação e vale, também o que falamos a respeito da necessidade haver momentos de sofrimento paras que exista a vicissitude necessária para a realização das reformas que levam o ser à elevação espiritual.

Seu filho veio a este mundo para as provas dele e não para realizar o que você deseja que ele realize. Por isso, ele passará pela vida dele de acordo com aquilo que ele mesmo programou para si e você não pode mexer neste destino um milímetro sequer. Sabia disso?

De repente, para que ele vivencie as provações que pediu antes da encarnação, ele precisa ter como profissão ser lixeiro. O que você poderá fazer contra isso? Por mais que você lute contra isso, por mais que você não queira que ele seja ele será. Não importa o que você acha sobre isso, ele será o que precisar ser para poder ter as suas provações.

Se você acredita na vida depois da vida e no processo reencarnatório, neste momento precisará viver feliz, mesmo que ele não consiga realizar o que você deseja para ele. Ou será que você prefere que um espírito não consiga realizar a sua tarefa na carne e com isso influenciar toda a sua existência eterna apenas para satisfazer seus desejos mundanos?

Sim, se você acredita no processo de encarnações sucessivas como caminho para a elevação espiritual precisa ficar feliz com o seu filho, viva ele o que viver. Mas, para alcançar este estado de espírito é preciso que deixe de desejar outras coisas para ele, que abra mão de programar o que seria melhor para ele, pois o melhor para ele será a vida que ele viver.

Para deixar de desejar outras coisas para ele você precisa saber de uma coisa: ele não é seu filho, mas sim um espírito, filho de Deus. Por isso que Cristo ensinou: para me seguir e assim aproximar-se de Deus é preciso que pai abandone filho e que filha esteja contra mãe.

Compreendeu o que o mestre ensinou? O que ele disse é que se você quiser ter um filho dentro dos padrões que a humanidade usa, perderá a Deus.

Mais, quando você quer ter o comando da vida de seu filho está possuindo algo que é de Deus. Mais: estará querendo ser o deus da vida do seu filho. Neste momento você está quebrando o primeiro mandamento da Lei de Moisés que diz: não idolatre outros ídolos. Está quebrando este mandamento porque está idolatrando a si mesmo como o deus da vida de seu filho.

As reformas da reforma

Liberdade

Participante: mas, nós não temos que cuidar de nossos filhos?

Sim, você está certa nesta afirmação, mas o que é cuidar de um filho? Quem disse que o que você imagina que seja cuidar é realmente cuidar dele?

Quem disse que para cuidar dele tem que transformá-lo em cópia sua ou que ele alcance aquilo que desejou para si e não conseguiu? Sei que este não é o seu caso, mas a vida está repleta de exemplos de pessoas que obrigam o filho a ter uma determinada profissão para que ele se sinta feliz porque não conseguiu tê-la. Quem disse que isso é certo?

Acabamos de dizer que a terceira postura que denota a existência do amor é a igualdade. Quando esta igualdade existe, cada um dos membros da relação amorosa vive em perfeita liberdade. Para que exista um amor verdadeiro entre dois seres é preciso que cada um deles dê liberdade irrestrita para o outro.

É preciso que você lide com igualdade com o seu filho para poder afirmar que realmente o ama. No entanto, o amor materno e paterno neste mundo não leva o ser a agir assim. Os pais e as mães, em nome do amor, transformam-se em senhores de escravo.

Você quer educar seu filho do jeito que acha que deve educá-lo, mas ele não é seu escravo para você poder obrigá-lo a ser, estar e fazer aquilo que anseia. Sabia disso? Porque, então, insiste em colocar regras e normas coercitivas para ele?

Sabe o que é viver em igualdade? É ser igual, tanto nos direitos quando nos deveres. Ser igual não é ser cópia. Por isso a igualdade do amor universal baseia-se fundamentalmente no direito de ser diferente. Para poder dizer que ama realmente seu filho, você tem que dar a ele o direito de ser diferente do que deseja para ele.

As reformas da reforma

A culpa

Participante: acontece que a gente trabalha para dar uma educação para nosso filho. Acontece que quando o educamos estamos dando a ele uma oportunidade de viver o que não vivemos. Na verdade, damos aos nossos filhos algo que não conhecemos, que não temos experiência e nem sabemos se realmente é o melhor.

Também não adianta você se culpar pela forma que está agindo. Não estou falando tudo isso para lhe criticar, mas sim para que você compreenda a questão do amar, que é uma das reformas que é necessário fazer para se alcançar a elevação espiritual.

Como mostrei antes, a vida é programada pelo ser antes da encarnação para que existam nela as vicissitudes que servirão de prova. A forma como você educa o seu filho é um dos instrumentos geradores desta alternância de situação que gera o campo de trabalho do ser encarnado.

Por isso não adianta se discutir se você o educa assim ou assado. Não adianta se discutir se você o faz impondo padrões, dando liberdade total ou até mesmo abandonando-o. Você não poderia agir de forma diferente. Cada um vem para fazer suas provas e por isso será educado de um jeito que as suas provações possam ser realizadas, que as vicissitudes pedidas existam.

Quando você foi educado, foi preparado para suas provas. No momento que está educando seus filhos está os preparando para as deles. Por isso, as criações precisam ser diferentes. Como as provas dele não são as mesmas suas, as criações precisam ser diferentes.

De tudo isso, o que posso lhe dizer é que Deus colocou o filho dele sob a sua guarda para que você o eduque e assim gere o campo de batalha que este ser irá enfrentar para promover as suas reformas. Esta educação precisa ser exatamente a que você lhe dá, pois se fosse diferente não geraria as vicissitudes necessárias para o trabalho deles. Portanto, não se culpe pela forma como você os educa. Crie-os dentro da forma que achar que deve, mas não se esqueça de ter sempre com ele uma relação de igualdade.

Participante: onde está a igualdade, então, se os educamos orientando-os para pensarem de uma determinada forma?

Na forma como lidam com a relação deles.

Você como pai tem todo o direito e até o dever, como vimos, de orientar seus filhos. Só não tem o direito de exigir que eles ajam da forma que você espera.

Para que exista igualdade entre dois seres, cada um tem fazer o que quer. Sendo assim, você tem o direito de falar o que quiser para eles. Só não tem o direito de exigir que eles sigam a sua orientação.

Aquele que ama verdadeiramente cumpre o seu papel na vida de outro dizendo o que diz, mas não espera que sua orientação seja seguida. Ele fala o que precisa ser falado, mas não imagina que apenas porque falou o outro irá seguir o que foi aconselhado.

Quando aquele que foi orientado não segue a orientação recebida, aquele que ama verdadeiramente não sofre, não perde sua paz e harmonia. Pela compaixão do amor ele tem consciência do sofrimento que o outro está vivendo, mas não perde a sua felicidade. É isso que estou querendo mostrar a vocês.

Para se promover a reforma do amar não é necessário mudar a forma como você interage com seus filhos no tocante à educação, mas mudar a si mesmo deixando de sofrer quando eles não seguem o que lhes foi orientado. Esta é a quarta reforma que caracteriza a reforma íntima.

Estamos usando a educação de um filho como exemplo porque é um dos amores que vocês consideram mais sublimes, mas isso vale para todos os relacionamentos de uma existência. Promover a reforma do amar é sempre lidar com os outros da forma que se lidar, mas nunca esperar que eles sigam o que é dito apenas porque você falou que aquilo era melhor ou certo.

As reformas da reforma

Regras societárias

Participante: mas, existe a questão do limite. Nós temos que aprender a dosar entre o amor e a liberdade. Temos que ensinar o limite que ele pode exercer a sua liberdade.

O limite do amor não está no ato, mas no sentimento. Quando você quer que o seu filho tome um suco porque que você gosta dele ou porque segundo a ciência faz bem para a saúde, está sendo egoísta e não fazendo algo de bom para ele. Está querendo impor alguma coisa para o seu filho.

No tocante a reforma íntima, o problema não é aquilo que se faz, o ato que se pratica, mas sim o sentimento com o qual se vivencia o momento. É por isso que Paulo ensina: Deus recebe os seres não pelo cumprimento da lei, mas pela fé. É por isso, ainda que Cristo ensina: Deus julga as intenções e não a ação.

As regras societárias não servem como instrumento de comprovação de elevação espiritual. Na verdade, eles servem apenas como geradoras de vicissitudes que permitem que as reformas sejam alcançadas. Paulo quando nos fala da aceitação de Deus mostra o exemplo de Abraão para explicar a sua teoria.

Abraão era um israelita que sempre quis ter um filho, mas só conseguiu depois dos noventa anos. Este filho, cuja chegada foi anunciada por um anjo do Senhor, era tudo de mias precioso que Abraão tinha. No entanto, Deus pediu que ele levasse o seu filho a um altar e ali o sacrificasse em honra a Deus.

Mesmo sendo contra a lei matar, mesmo sendo seu único filho e seu mais precioso tesouro, Abraão fez o que Deus lhe pediu. Levou seu filho ao altar e quando ia sacrificá-lo Deus lhe disse que não precisava realizar a ação, pois ele já havia provado o seu amor a Deus acima de todas as coisas.

Com este exemplo fica bem claro se compreender que o amor independe do que se faz. Por isso afirmo que perder a felicidade porque alguém quebrou uma regra societária não denota em momento algum que este ser está mais próximo de Deus. Ao contrário: denota o quanto um ser está afastado do Pai. Vou dar um exemplo para explicar o que estou querendo dizer.

Se seu filho soltar um gás no meio da comida com certeza você brigará com ele. Por quê? Porque existe uma regra societária, que você concorda, que diz que agir assim é errado. Mas, como você passou a achar errado? Por imposição dos seus pais.

Quantas vezes você já quis soltar gazes durante a refeição e não pode por causa das restrições que seus pais criaram para você? Quando isso aconteceu, com certeza você sofreu. Pois é, o sofrimento que você passou quer agora transmitir para os filhos em nome de um limite de liberdade. E ainda diz que ama os filhos...

Agora, repare num detalhe: não estou falando em mundo externo, em você orientar seu filho para não fazer alguma coisa ou não, mas interiormente. Estou dizendo que para promover a reforma você não pode interiormente perder a sua alegria, a sua compaixão e a igualdade...

É dentro de você que não deve se contrariar porque o seu filho rompeu o limite que você acredita que exista. Quanto a boca, se ela falar para o filho que aquilo não deve ser feito, não se impressione, pois isso faz parte do teatro da vida dele e serve para futuramente gerar as provações que ele precisa. Agora, se você sentir-se mal porque ele fez este ato ou querer que ele também se sinta culpado por isso ter acontecido, neste caso não há amor algum...

Na verdade os pais querem que os filhos gostem do que eles gostam. O filho tem que torcer pelo mesmo time de futebol, se gosta de um determinado gênero de música ou de filme, o filho tem que gostar também dele. Na concepção dos pais o filho tem que gostar do que os pais gostam. Por que isso? Para que os pais não precisem mudar as suas verdades.

As reformas da reforma

Crianças

Participante: na verdade todos os filhos são diferentes. Por isso é preciso tratá-los de modo diferente. Eu, por exemplo, tenho uma filha muito organizada e um filho que é bagunceiro. Acho que preciso tratar os dois de forma diferente.

Perfeito. Agora me responda: quando o seu filho faz bagunça você vai lá e arrumar a desorganização que ele deixou?

Participante: às vezes arrumo e em outras coloco ele para arrumar...

Pois é, mas se ele gosta de bagunça você não o está tratando levando em conta a diferença dele com a do outro. Digo isso porque ainda pensa em arrumar o que ele deixa desarrumado...

Participante: eu tenho um filho de quatorze anos e estou tentando lidar com ele respeitando a liberdade dele. Quando ele me diz que não quer fazer alguma coisa eu respeito.

Este é o caminho do amor.

Participante: já com o menor e ainda exijo coisas. Obrigo-o a fazer determinadas coisas porque ele não tem noção das coisas.

Tem sim. Aliás, tem muito mais do que você. Deixe-me lhe perguntar alguma coisa: você acredita em reencarnação? Acredita que o espírito vive em uma carne, morre e depois vive em outra?

Participante: não sei se acredito, mas acho possível que isso seja real.

Eu perguntei isso para lhe dizer uma coisa: não existem crianças. Todos são espíritos velhos que já viveram em muitas carnes.

Participante: existe matéria nova...

Sim, existe carne nova onde o espírito velho habita.

Então, o seu filho é muito mais velho do que você imagina. Ele não nasceu no nascimento, mas é um filho de Deus que nasceu quando o Pai o gerou e não quando você o gerou.

Dessa forma, aquele ser que você pensa que é um bobinho, que não possui discernimento, trata-se de um espírito que tem toda uma vivência e conhecimentos espirituais. Ele só não tem o material, graças a Deus. Apesar de este ser ter o seu lado espiritual desenvolvido, você faz força para que ele o abandone transformando-o num ser humano.

Como se transforma um espírito num ser humano? Orientando para submeter-se a leis coercitivas, dizendo que ele deve ter posses, paixões e desejos, ensinando a ele que existem verdades verdadeiras, etc. Ele não tem nada disso hoje, mas você quer que ele venha a ter e quando o ensina a adquirir estas coisas está humanizando o que é espiritualizado. .

Vendo a ação de todos os pais junto aos filhos me lembro de um ensinamento de Cristo. Quando mesmo o mestre ensinou que se entra no Reino do céu? Quando se é igual a uma criança... Apesar deste ensinamento, você quer transformar a criança num adulto ao invés de se transformar em criança.

Se você só entrará no reino do céu quando for como uma criança, já que um dia transformou-se num adulto, precisa voltar a ser uma criança. Ao invés disso, vocês lutam para transformar uma criança num adulto, mesmo que antes o tempo.

O discernimento verdadeiro que você disse que seu filho não tem é o que você deveria ter.

As reformas da reforma

Egoísmo

Participante: o que o senhor está dizendo é verdade. Conforme vamos crescendo na vida, nós criamos mais verdades, mais paixões e com isso geramos mais desejos. Somente quando ficamos velhos é que vamos abrindo mão destas coisas.

Exato.

Porque o velho é mais feliz que o adulto? Porque deixa de brigar contra a vida. Deixa de querer impor à vida verdades.

É por isso que o velho é mais feliz do que o novo: ele não luta mais contra a vida. Se isso é verdade, pergunto: para que esperar ficar velho para fazer isso? Deixe de lutar contra a vida hoje.

Você me falou no ciclo da vida que acontece com todos os seres humanos. O ser nasce como criança, vai envelhecendo e deixando de lado a criancice para na velhice voltar a ser infantil. Isso ocorre com todo mundo e com certeza vai acontecer com você também. Sabendo disso, porque, então, se entrega a viver como um adulto?

Participante: acho que é porque imaginamos que o que é mais difícil é mais gostos. É por isso que remamos contra a maré.

Não é só por isso. Na verdade você se deixa levar pela forma humana de viver porque se transformou num egoísta e quer conquistar coisas.

Quando brigam contra o mundo e por acaso suas verdades prevalecem sobre a dos outros vocês se glorificam dizendo que sabem o que é verdadeiro, que conhecem a verdade. É por conta de viver esta glória que vocês se deixam levar pela maturidade do ser humano.

Participante: sinto-me poderoso...

Isso. Você se entrega à maturidade do ser humano, apesar do mestre ter ensinado que deveria permanecer como uma criança, porque ela lhe concede um fictício poder sobre o mundo.

Posso, então, dizer que na verdade vocês não estão buscando felicidade, mas sim vitórias sobre o mundo. Sei que imaginam que o maior anseio de vocês é conseguir viverem felizes, mas isso é irreal. No fundo o que cada ser humano quer mesmo é conseguir vencer aos demais seres impondo a eles as suas verdades, paixões e desejos.

 Só que Cristo, aquele que vocês dizem seguir, ensinou que nós temos que vencer o mundo. Ele, que se autodenominou como o caminho para Deus, ensinou que é preciso vencer as coisas do mundo e não alcançar a vitória individual sobre os outros. Para conseguir esta vitória ele também ensinou o caminho: abandone os bens materiais e busque o bem no céu.

Buscar o bem no céu é viver como criança na Terra.

As reformas da reforma

Convivência feliz

Participante: então, quer dizer que faça o que os pais fizerem, na verdade a vida dos filhos já está pronta? O que eles tiverem que viver, viverão?

Claro e você será o instrumento perfeito para eles serem o que precisam ser para que mais tarde também executem as reformas necessárias para a elevação espiritual.

Participante: então, não adianta sofrer nem com o que faz nem com o que deixa de fazer.

Não.

Deixe-me só esclarecer uma coisa. Faça o que você fizer, estará sempre sendo feito de acordo com a necessidade do espírito que vive o papel de seu filho. Tudo estará sempre de acordo com a necessidade deles, menos o seu sofrimento.

Se você hoje diz para o seu filho como ele deve agir, continue dizendo, enquanto disser. Só não sofra com o resultado da sua fala. Só não espere que ele vá aprender a fazer o que você está mandando. Se fizer fez, se não fizer não fez.

O que estou querendo deixar bem claro é que a questão da convivência com os demais seres humanos, com relação à elevação espiritual, acontece nos sentimentos e não no ato em si. O ato vamos falar dele agora na quinta transformação, mas você precisa entender que estou falando em sentimentos.

Você pode dar o conselho que quiser para o seu filho, só não sofra com o resultado do conselho que você dá a ele. Se ele fizer o que foi aconselhado ótimo; se não fizer, ótimo também.

Não crie para si uma lei: ‘eu ensinei ao meu filho que não pode fazer isso e por causa disso ele não fará’. Ao invés de viver desta forma, pense assim: ‘eu ensinei a ele o que considero melhor, mas se vai seguir o meu conselho ou não é com ele’.

Digo isso com relação à perspectiva da reação dele ao que você aconselha. Com relação à quantidade de vezes que repetirá o mesmo conselho, lhe digo que se falar duzentas vezes a mesma coisa não há problemas. O que pode ser problemático para a sua elevação é esperar que em alguma destas duzentas vezes ele reaja agindo da forma que você espera. Mantendo esta esperança, certamente sofrerá e muito...

As reformas da reforma

Deus e a vida

Participante: acho que a coisa fica pior quando os filhos já são adultos. Se você não tiver este preparo, sofre, pois na maioria das vezes eles não fazem aquilo que você esperava que eles fizessem.

Se você vem fazer provas, os acontecimentos de sua existência já estão prontos antes de nascer. Na verdade, você vai viver uma vida pronta. Esta afirmação encontra muito respaldo quando analisamos a vida a partir do seu prisma espiritual e não pelo material.

O que é uma encarnação? Segundo o Espírito da Verdade é uma questão de justiça...

 “171. Em que se fundamenta o dogma da reencarnação? Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniqüidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão”. (O Livro dos Espíritos)

“166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se? Sofrendo a prova de uma nova existência”.

Ora, se a depuração se faz através da vivência de novas vidas e se este processo é a prova da justiça de Deus, deixar que a vida humana ocorra ao acaso não seria uma injustiça? É a partir desta visão que podemos compreender que há a necessidade de que a vida humana seja completamente dirigida para que ela sirva como instrumento de justiça, como oportunidade de uma depuração para a elevação.

Se não fosse assim, poderíamos afirmar que Deus é leviano. Se Ele mandasse os seus filhos para viverem nesta matéria com acontecimentos ao acaso, onde estaria a justiça divina?

Deus é Pai e por isso Ele sempre busca o melhor para o seu filho. É por isso que toda vida humana é presidida por Ele. Só quando a inteligência Suprema do Universo assume o controle de alguma coisa é que isto pode ser considerado perfeito e justo.

Por conta desta Inteligência, Deus é o Senhor do Universo, aquele que preside todos os acontecimentos que ocorrem. Para realizar isso Ele possui três propriedades que os humanos normalmente esquecem: Onipresente, Onisciente e Onipotente.

Se Deus é Onipresente isso quer dizer que ninguém pode fazer nada escondido, pois Ele está sempre presente em todos os momentos. Se Deus é Onisciente isso quer dizer que ninguém pode fazer nada sem que o Pai desconheça a sua intenção, pois Ele tem ciência de tudo antes que aconteça. Se Deus é Onipotente isso quer dizer que ninguém pode executar nada sem que ele não possa interferir para não deixar que aquilo ocorra da maneira planeja, pois ninguém tem potência maior para agir do que Ele.

Aplicando tudo o que falamos agora ao exemplo que estamos usando (a criação dos filhos) lhe pergunto: será que você pode educar o seu filho do jeito que você quer? Será que haveria justiça numa encarnação se uma mãe ou pai pudesse interferir na criação de um filho e com isso não deixasse aquele filho de Deus ter a sua oportunidade de depuração? Será que um simples ser humano teria potência suficiente para interferir nos planos do Pai para os seus filhos?

Diante de tudo isso, pergunto mais uma vez: quem vai dizer o que você fará com relação à eles? Deus. Ele estará sempre presente e ciente de tudo o que acontece e através da sua potência agindo junto aos seres humanos para que cada ser encarnado tenha a sua oportunidade de trabalho para alcançar a elevação espiritual.

Deixe-me dizer algo que é realidade e com a qual vocês não convivem. Deus não é uma figura mitológica que vive no céu olhando o que os espíritos fazem quando encarnados. Ele é presente, está aqui e agora. Ele é ciente, sabe tudo o que está se passando e é potente, faz as coisas acontecerem.

As reformas da reforma

Viver com Deus

Se não vivemos a idéia de que a vida está escrita e acontece dentro do que foi previsto, nós negamos Deus. Dizemos que o Pai é um ser que se submete à vontade do espírito.

Se eu posso lhe ferir, lhe magoar e Deus não pode defendê-lo, onde está a potência Dele? Onde está a potência de um senhor Onipotente que não pode defender o seu filho de um mero ser humano?

Em O Livro dos Espíritos há uma frase do Espírito da Verdade muito interessante. Na pergunta nove é dito o seguinte: ‘Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!’ Sim, um simples sopro de Deus pode abater a multidão de seres humanos, mas apesar disso eles ainda vivem imaginando que podem agir por livre vontade e interferir na oportunidade justa que o Pai confere aos seus filhos de depurarem-se.

È da constatação da superioridade de Deus frente aos humanos, da vida como uma oportunidade justa concedida por um Pai aos seus filhos e da necessidade de haver um trabalho de regeneração que surge o conhecimento da quinta transformação necessária para se alcançar a elevação espiritual: viver com Deus...

Deus está presente a cada segundo. Ele está no comando do universo. O que isso quer dizer para você humano? Que não acontece nada que você não precise nem mereça.

Acontecendo qualquer coisa com você nesta vida, isso não é resultado da ação de outro ser humano, mas sim Deus agindo. É Deus comandando a ação de tudo o que existe, sejam pessoas ou objetos, de tal forma que você passe por aquilo que precisa passar. É ele providenciando que você viva a sua prova e assim possa ter a oportunidade de elevar-se.

Acontecendo que você não goste é Deus fazendo uma prova para ver se você usa suas verdades e diz que gosta ou não. Quando se apega a qualquer declaração feita pela mente você exerceu o seu livre arbítrio. Exerceu o direito de escolher entre viver cada momento ligado a Deus ou a razão emitida pela mente.

Não foi isso que vimos quando falamos da vida? Vimos que o espírito tem dois momentos onde pode exercer o seu livre arbítrio. No primeiro ele escolhe a vida (provas físicas) e no segundo ele pode escolher entre o bem e o mal durante estes acontecimentos (prova moral). Quem a cada momento opta pelo bem vive com Deus, está com Deus e por isso aproxima-se Dele.

Aceitar tudo o que se vivencia como um presente de Deus, como uma oportunidade de aproximar-se Dele, é o caminho que o leva a aproximar-se do Pai. Mas, não é desta forma que vocês convivem com Ele.

Vocês vivem com outros seres humanos. Acham que as coisas e pessoas deste mundo agem sem um direcionamento superior ou por livre vontade. Por isso julgam-se capazes de distinguir o bem do mal nos acontecimentos da vida. Vivem deste jeito porque não convivem com Deus ao seu lado a cada momento. Para vocês, o Pai está preso lá no céu, está separado de vocês. Só se lembram Dele na hora de rezar de manhã ou à noite ou, ainda, na hora que não conseguem fazer o que querem. Este não é um Deus Onipresente...

Deus está vivo: isso profetas falam bem claro. Quem está vivo, está animado, está com animação. Esta animação do Senhor leva-o a exercer um papel na vida humana. Este papel foi descrito pelo Espírito da Verdade na pergunta um de O Livro dos Espíritos: Causa Primária de todas as coisas...

Tudo se origina primariamente em Deus. Tudo o que vivencia, seja como protagonista ou receptor de uma ação é originada primariamente num faça-se de Deus. Isso precisa ser desta forma para que o equilíbrio do universo permaneça e para que cada tenha a oportunidade de realizar o seu trabalho de depuração para aproximar-se do Pai.

Agora a pouco você estava com a mão no queixo, não é verdade? Se isso aconteceu, foi Deus quem mandou colocá-la lá. Você não pode colocar a mão em qualquer lugar sem que Deus o faça colocá-la naquele lugar. Isso porque se você decidisse onde coloca a sua mão, poderia afetar a existência de outra pessoa e com isso retirar dela o justo trabalho que ela necessita para a elevação. Poderia, ainda, dar a ela um trabalho que ela não tinha que fazer e estas coisas Deus não pode deixa acontecer, pois senão aquela encarnação não preencheria os quesitos necessários de sua existência.

Sei que vocês não vivenciam os acontecimentos desta forma. Imaginam que colocar a mão no queixo é uma atitude banal que não precisaria da intervenção divina, mas isso não é realidade. Com a sua ação você poderia gerar uma mágoa ou desconforto em alguém, o que denotaria um sofrimento, o que marca um afastamento da perfeição, como nós já vimos. Se esta provação não tiver sido pedida antes do espírito, a sua ação teria, então, provocado um excesso que acabaria com a justiça que a reencarnação espelha.

Por isso afirmo: é preciso que se traga Deus para os mínimos detalhes da vida. Para cada segundo da vida. É preciso viver com Deus como causador de todos os acontecimentos, mesmo os mais corriqueiros, ao invés de viver com Ele trancado em templos ou no céu.

Aliás, Cristo disse assim: o templo de Deus é dentro de cada um. Deus tem que está com você, dentro de você, a cada momento de sua existência, pouco importando o que está acontecendo ou o que você acha do que está ocorrendo.

Sabe quando alguém faz alguma coisa que a sua mente decreta que você não gosta? Volte-se para dentro de você e encontre Deus que está lá. Com isso conseguirá viver em paz e harmonizado com o acontecimento. Se, no entanto, você voltar-se para o externo só encontrará o que a pessoa falou e com isso viverá a contrariedade com o que foi dito.

Voltando-se para dentro compreenderá que não foi ela quem fez o que você não gosta, mas é você que está não gostando do que ela fez, o que é diferente. Com esta compreensão pode entender que é você que precisa se mudar ao invés de querer que a pessoa faça o que você quer para que tenha uma vitória e viva o prazer.

Se você vive para o externo, vivencia o que a mente cria. Como ela só conhece a felicidade condicionada, quem vivencia o que ela cria está contrário a Deus. Mais: quer ensinar ao Senhor o que lhe faz feliz. Quem vive assim não entra em comunhão amorosa com o Pai e por isso não se aproxima Dele e não vive a felicidade que Ele tem prometido. Este não aproveitou a oportunidade que ganhou para alcançar a elevação espiritual.

Portanto, para se aproveitar a oportunidade que a reencarnação concede, o ser humanizado precisa abandonar tudo o que acha da vida e colocar no lugar a seguinte consciência: Deus sabe, Deus faz, Deus é, Deus quis assim, acabou. Esta é a quinta reforma que é necessária para que se alcance a reforma íntima que leva à elevação espiritual.

Um ladrão entra na sua casa e rouba todos os seus bens. Você vai sofrer? Claro. Por quê? Porque o seu deus está lá no céu e não pode conter o ladrão que entrou na sua casa e cometeu uma injustiça. Mas, se Deus está ao seu lado, dentro de você, e o ladrão entrar, foi o Pai quem comandou aquela ação e por isso, usando a sua fé, você pode manter-se em paz e aguardar o desenrolar da vida.

As reformas da reforma

A fé

Fé quer dizer entrega com confiança. Exerce a fé aquele que se entrega com confiança a alguma coisa.

Tem fé em Deus aquele que se entrega a Ele. No entanto, esta fé depende da motivação da confiança. Alguns só confiam naquilo que conhecem. Estes exercem uma fé raciocinada. No entanto, como já vimos, o ser humano não consegue compreender as coisas extra matéria. Por isso afirmo que este tipo de fé não serve para o relacionamento com Deus.

Ter fé em Deus é entregar-se a Ele com uma confiança fundamentada no amor. Aquele que se entrega a Deus numa relação de confiança fundamentada no amor (ama e sente-se amado por Deus) aproxima-se do Pai.

Quem mantém uma relação amorosa com o Pai sabe que tudo o que Ele fizer será sempre o mais proveitoso para a existência eterna, o melhor.

Participante: esta é a pior parte: achar que o que está acontecendo é o melhor para você.

A pior parte não é esta. O mais difícil para o ser humanizado é abrir mão do querer saber o que está acontecendo. Se abrisse, não ficaria exposto ao sofrimento, pois não julgaria o que está acontecendo.

Roubo é roubo: é assim que vocês pensam. Mas, quem disse que roubo é roubo? Se Deus é o Senhor do universo, tudo é de Deus. Quem diz que a televisão da sua casa é sua é você, porque, na verdade, ela é de Deus.

Quando Deus tira a coisa que é Dele de um lugar e a leva para outro, não houve roubo, mas sim a transferência de um pertence para outro lugar.

Por isso afirmo que roubo não é levar algo que pertence a outro, mas apenas Deus transferindo o que é Dele de lugar. Porque você vai sofrer por isso? Se amar o Pai e por conta deste amor confiar Nele, não há motivos para sofrimento quando ele muda o lugar de algo que Lhe pertence.

As reformas da reforma

Vivendo com a Causa Primária

Você trabalha? Ganha salário? Quem lhe paga?

Participante: o meu patrão...

Onde está Deus no que acabou de falar? Se for o seu patrão que lhe paga e se o dinheiro que recebe pertence à empresa, eu pergunto: onde está Deus na sua vida? Onde está o Senhor do universo? Se você quer promover a sua reforma, ou seja, conviver com Deus, como pode dar a outro o que é Dele? Ele é o dono do dono...

Quem lhe paga é Deus, porque ele é o dono da empresa. Você pode até ver o dinheiro saindo da mão do ser humano que dirige a empresa, mas para poder colocar em prática o ensinamento que está na pergunta um de O Livro dos Espíritos (Deus é a Causa Primária de todas as coisas) é preciso entender que todas as ações iniciam-se originariamente em Deus.

Quando alterar a sua consciência convivendo com a realidade (tudo é comandado por Deus) será, então, o Pai que lhe pagará. Como você sabe que será Ele também que administrará as suas posses, não precisará mais se preocupar com dinheiro. Mas, enquanto o dinheiro for seu terá que brigar com o ladrão que quer levá-lo.

Aí está o segredo para se promover a quinta reforma necessária à evolução espiritual: viver com Deus como sendo Ele a Causa Primária de todas as coisas. Quando você conceder a origem de tudo a Deus e não apenas aos momentos que lhe satisfaz, estará próximo a Ele e assim poderá viver a felicidade que Ele tem prometido. Mas, quando falo em tudo estou dizendo em todas as coisas, mesmo aquelas que você imagina que faz sozinho...

Se você tem um emprego, quem lhe deu este trabalho: a sua capacidade de trabalhar ou o Senhor? Se você ou qualquer outro ser humano consegue um emprego apenas pelo seu esforço e capacidade, pergunto: por que o desempregado não arruma emprego para ele? Porque não procura? Isso não é verdade, porque tem gente que sai de manhã e só volta de noite e está há anos sem emprego.

Quando você começa a pensar nas coisas da vida a partir da realidade do universo começa a compreender as coisas de uma forma universal. Com isso reforma a forma estreita de ver que possui quando está ligado à uma consciência humana.

Por exemplo, você falou que está aparecendo uma oportunidade de promoção no seu trabalho. Pergunto: quem vai lhe promover?

Participante: Deus.

Sendo isso verdade, ao invés de trabalhar para o eu patrão, trabalhe para Deus. Ao invés de tentar impressionar os seres humanos que aparentemente são responsáveis pela sua promoção, viva para Deus e mereça que o dono do dono do seu emprego lhe promova.

Como se trabalha para Deus? Amando a todos no transcorrer dos acontecimentos da vida. Como amar? Não julgar o próximo, não querer separar o bom do mal, o certo do errado, mas convivendo com todos em todos os momentos com paz, harmonia e felicidade. Ou seja, se universalizando.

Por conta desta forma de agir você pode ser promovida e não porque qualquer outro motivo. Isso porque o seu patrão não é aquele homem, mas sim Deus.

É preciso conviver sempre com a Causa Primária em todos os momentos da existência. Quando você receber o seu salário, saiba que não é o seu dinheiro, mas o de Deus. Ele está colocando-o à sua disposição, mas na hora que quiser o tirará.

Já reparou que tem gente que ganha salário mínimo e é feliz enquanto outros ganham rios de dinheiro e não conseguem a mesma felicidade? Isso acontece dessa forma porque o dinheiro não se conta pela quantidade disponível, mas pelo sentimento com que se recebe e usa.

Quem usa o dinheiro com ganância, por mais que receba, nunca estará satisfeito com o que tem. Este sempre será pouco para tudo que aquele ser humano quer. Já se usá-lo com amor, ou seja, se for indiferente ao tê-lo ou não, não sofrerá por conta da quantidade de dinheiro que possuir. Este poderá ganhar um salário mínimo que e mesmo assim viverá feliz.

Eis aí a prática da Causa Primária de todas as coisas: Deus está presente em tudo. Por isso Cristo ensinou: Deus é tudo e tudo é Deus.

As reformas da reforma

Tudo é Deus

Somente se convivendo com Deus como Causa Primária de todas as coisas é possível se manter a alegria, alcançar a verdadeira compaixão e dar a liberdade que a igualdade entre todos concede, ou seja, amar verdadeiramente. Concordam com isso?

Participante: sim

O problema é que apesar de me responderem que concordam com o que disse não vivem com esta realidade. Para vocês ainda há aspectos da vida onde Deus não está presente.

Para vocês a questão monetária é uma coisa material, suja, que não tem nada a ver com Deus. Mas, o Pai está em todas as coisas. Está na oração, na bondade, mas também está presente no seu relacionamento com o dinheiro ou com o sexo, por exemplo.

Sim, Ele está presente também nestes momentos porque Deus é tudo e o dinheiro e o sexo fazem parte da totalidade das coisas que estão disponíveis neste planeta.

Vier com Deus é conviver com ele em tudo, em todos os momentos. Para isso é preciso que você deixe de separar o mundo, de separar acontecimentos que pertençam a Deus e outros onde Ele não esteja presente

Os seres humanos acham que existem momentos onde Deus não está presente. Por isso imaginam que eles governam o acontecimento e podem fazer o que querem. É por isso que imaginam que o dinheiro é apenas deles e podem gastar do jeito que quiserem. Mas, isso é impossível...

Deus é tudo. Por isso Ele está presente em todas as coisas, é tudo o que existe. Quando você entende isso interpenetra na realidade do universo na realidade. Sabe por quê? Porque Deus é o universo. Ele não é tudo? Então, é o universo.

Como é que você quer viver em Deus, o que é o resultado de quem promove a reforma íntima, sem estar com Ele? Como é possível se viver no universo, em Deus, sem se estar com o Pai? Se não se estiver com Deus a cada minuto, não se está com Ele.

É preciso trazer Deus para o seu lado, colocá-Lo ao seu lado a cada segundo. Deus é a roupa que você veste, os sapato que calça, a comida que come. Concordam comigo? Então, como é que vocês dizem que há uma comida melhor e outra pior para a saúde? Será que há um Deus melhor e outro pior?

Veja como todo dualismo acaba quando se coloca Deus ao nosso lado? Não existem mais duas coisas (deus e o diabo, o bem e o mal) porque tudo de é Deus.

Para que ficar analisando os acontecimentos da vida buscando saber se eles são do bem ou do mal se tudo provém da mesma fonte? Na verdade quando você afirma que determinada coisa é má, está dizendo que Deus é mal. Quando julga que algo não presta, está dizendo que Deus não presta, pois aquela coisa é Deus.

Aquele que quer apenas amar precisa alcançar a consciência de que Deus é tudo e trazê-Lo para o seu lado a cada segundo. Para isso é necessário parar de dividir o mundo. Enquanto o seu mundo for dividido em momentos onde Deus está presente e outros não, só viverá a felicidade condicionada.

Por isso afirmo: sem Deus ao lado, o ser humano jamais será feliz verdadeiramente. Sentirá o prazer no momento que estiver com Ele e será infeliz quando estiver sem Ele.

As reformas da reforma

Presença de Deus

Já reparou que quando acontece alguma coisa boa na sua vida você diz que foi Ele que lhe deu? Dá graças a Deus pelo acontecido. No entanto, quando o acontecimento é classificado como ruim, você não fala isso.

Porque sentiu a presença dele num momento e em outro não? Porque ainda acha que existem outras causas para os acontecimentos que não a Primária. Mas, pergunto: será que há algo que possa ser mais possante que o Senhor para poder exercer a causa dos acontecimentos? Claro que não. Sendo assim, Deus está presente em todos os momentos, mesmo naqueles que você acha que Ele não está...

Não sei se vocês lembram um conto chamado ‘Pegadas na areia’.

Esta noite eu tive um sonho. Sonhei que caminhava pela praia, acompanhado do Senhor, e que na tela da noite estavam sendo retratados os meus dias. Olhei para traz e vi que cada dia que passava no filme da minha vida, surgiam pegadas na areia, uma minha e outra do Senhor. Assim continuamos andando, até que todos os meus dias se acabaram. Então parei e olhei para traz.

Reparei... Em certos lugares havia apenas uma pegada e esses lugares coincidiam justamente com os dias mais difíceis da minha vida, os dias de maior angústia, de maior medo de maior dor...

Perguntei então ao Senhor: "Senhor, tu me disseste que estarias comigo todos os dias da minha vida e eu aceitei viver contigo mas, por que tu me deixaste nos piores dias de minha vida ?"

E o Senhor respondeu: "Meu filho eu te amo. Eu disse que estaria contigo por toda a tua caminhada e que não te deixaria um minuto sequer, e não te deixei... Os dias que tu viste apenas uma pegada na areia, foram os dias que te carreguei..."

Deus está sempre presente ao seu lado amando-o. Os momentos em que você não sente a Sua presença são exatamente aqueles onde ele está amando-o mais.

Quem consegue viver esta realidade pode, então, promover a quinta reforma necessária para a realização da reforma íntima: simplesmente amar.

As reformas da reforma

A doença do espírito

Participante: Pai Joaquim, meu pai desencarnado está por aqui?

Sim.

Participante: em que condição ele está aqui?

Como um doente... Quando falo isso, não se impressione, porque você também está aqui na condição de uma pessoa doente do mesmo mal: individualismo...

Esta conversa, apesar de não fazer parte das transformações que caracterizam a reforma íntima, é importante, pois nos ajuda a compreender um pouco mais a vida humana.

Quando se fala que um ser que não está mais na carne está doente, se imagina que ele está mal. Isso não é real. Ele é um espírito doente, como são todos que obram no orbe terrestre, pois a doença do espírito é o individualismo com que ele vive

Doente é o individualista, pois não vive no universo real. O individualismo ou egoísmo é um câncer que ataca o espírito.

Vocês sabem o que é um câncer? É uma célula que para de trabalhar para o órgão e trabalha apenas para si mesmo. Esta não é uma definição perfeita para o espírito que está humanizado? Ele não trabalha para o universo, mas apenas para ele mesmo.

Portanto, a doença de todos os espíritos que habitam este orbe, seja encarnado ou não, chama-se individualismo. É nesta condição que ele está aqui...

As reformas da reforma

Conhecimento do desencarne

Participante: Eu perguntei sobre meu pai porque queria saber se ele aceitou a morte dele.

Ele não sabe que está morto.

Participante: ele se manifesta neste mundo?

Do jeito que você imagina que é manifestar-se não, mas manifesta-se sempre, o que, aliás, é o mesmo jeito seu de manifestar-se: achando que o outro está convivendo com você.

Ninguém vê você. Você conversa com seu marido? Na verdade, não. Ele não está lhe ouvindo, pois ninguém ouve ninguém. Da mesma forma, ninguém vê ninguém.

Tudo que você fala para o seu marido, ele irá raciocinar. O que entrará pelo ouvido será uma onda eletromagnética que seguirá para o cérebro. Quando esta onda chegar à mente, o raciocínio interpretará o som que penetrou de acordo com as verdades que aquele ser humanizado possui.

Desta forma, ele não estará ouvindo o que você disse, que é fundamentado no que você acredita, mas criará verdades dele sobre o que você está dizendo, ou seja, ouvirá o que ele quiser. Da mesma forma ele é incapaz de ver você, pois quando a sua forma penetra pelos olhos dele, há toda uma história, todos os conceitos envolvidos na relação entre você e ele, que transformará o que é percebido de acordo com uma avaliação individual. Se ele acha que você é alguma coisa, sempre verá aquilo que acha e não o que você acha de si mesmo.

Isto também é o que acontece com quem está desencarnado. Ele também ouve e vê aquilo que quer e não aquilo que você acredita que exista.

Aliás, pergunto: qual a diferença entre estar encarnado ou desencarnado? Qual a diferença visível entre estar encarnado ou não?

Participante: a matéria do corpo.

Não. Segundo Kardec existe o perispírito que é cópia idêntica do corpo. Por isso, se você tem uma unha encravada na carne, também a possui no perispírito. Se fizer uma tatuagem no corpo, ela existe no perispírito.

Sendo assim se você sair da carne e olhar para seu corpo dirá que está na carne. Por isso, volto a perguntar: qual a diferença visível entre estar na carne ou fora dela?

Respirar. O espírito fora da carne não precisa respirar. Este corpo precisa do oxigênio, mas o outro não. Como vocês nem notam que estão respirando, depois que saírem da carne, não notarão a única diferença que os separa entre estar encarnado ou não.

Será que vocês sabem que estão respirando? Ou respiram automaticamente e nem prestam atenção?

Participante: automaticamente

Então, vai morrer e nem vai saber que morreu.

As reformas da reforma

Ajudando o desencarnado

Participante: quando meu pai pode se melhorar?

Quando ele começar a procurar mudança. Enquanto ele curtir a vida que leva, não conseguirá se modificar e com isso não conseguirá ficar bem no mundo espiritual.

Participante: tem alguma coisa que eu posso fazer para ajudá-lo?

Não. Ninguém pode ajudá-lo, a não ser amando-o incondicionalmente. Ou seja, para ajudá-lo é preciso não acusá-lo de nada que tenha feito nesta vida. Você deve amá-lo, pois este amor é que pode fazer ele buscar a ajuda do alto para o fim do individualismo.

Na verdade, ninguém pode ser ajudado, se não quiser ser ajudado. Nenhum socorrista pode socorrer se não houver pedido de socorro.

Participante: nós podemos pedir por ele?

Não. É preciso que ele peça ajuda.

Como disse, o que você pode fazer para ajudá-lo é amá-lo. Não o amor filial que tinha enquanto ele estava neste mundo, mas o amor como comentamos aqui hoje. Amar sem perder a sua alegria, ter a consciência de que ele está sofrendo, mas não sofrer com ele e dar o direito dele ser e estar como quiser.

Participante: eu tenho muita saudade dele.

Deixe-me dizer uma coisa, mas não se sinta culpada pelo que vou falar. Não posso fugir nunca da realidade e preciso lhe orientar, mas de nenhuma forma estou aqui para lhe julgar ou criticar pela forma que vive.

Não tenha saudade de ninguém que já foi. Esta saudade prende aquele ser junto a você e com isso ele caminhará ao seu lado nesta vida influenciando muitas das coisas que você pensará.

O que estou querendo dizer é que o seu pai não está preso em você por maldade ou por querer, mas porque você o prende chamando-o para perto através da sua saudade. Depois você ou um médium que ver ele ao seu lado o chamará de obsessor. No entanto, é você que o está mantendo neste mundo e não ele que está se prendendo.

Quantos seres desencarnados nós temos que socorrer e amparar para não deixar chegar a ele tudo o que vocês sentem? Fazemos isso para ajudá-lo e para ajudar vocês, pois esta comunhão sentimental pode atrapalhar a caminhada dos dois.

Portanto, pense em todos que já se foram com alegria, com felicidade e com amor, mas com nenhuma emoção que esteja vinculada a um sofrimento, pois a primeira forma de lembra-se das pessoas que falei ajuda vocês dois, mas a segunda atrapalha o desenvolvimento espiritual dos dois. Manter quem se foi preso na corrente de saudade pode complicar a vida dos dois seres.

Por isso, não chore pelos que se foram. Pode até chorar de alegria porque aquele espírito voltou para a sua pátria espiritual, mas nunca de tristeza porque ele não está mais junto com você.

O que seu pai e todos os que se foram precisam é de amor e não de cobranças. A cobrança que estou falando não se trata de nada relacionado a atitudes quando no mundo material, mas o simples perguntar por que aquele espírito foi embora tão cedo, já se caracteriza numa cobrança.

É uma cobrança, uma acusação. Ao falar assim parece que você está exprimindo um amor (‘eu o amo e queria ele do meu lado’), mas isso ainda é um cobrar dele a ausência. Dê ele o direito de ter partido.

Não estou dizendo que é isso que está interferindo nele neste momento, mas esta forma de relacionar-se com quem já foi prejudica, ao invés de ajudar.

As reformas da reforma

A vida material e a reforma íntima

Participante: tudo o que o senhor falou parece estranho. Na verdade, fica me parecendo que Deus brinca conosco nos jogando de um lado para o outro.

Sim, a vida de vocês é uma brincadeira. Deus brinca com vocês, mas faz isso de forma séria, como os jogos lúdicos com o qual se divertem as crianças humanas e que têm a finalidade de ensinar a viver. Deus não brinca com vocês no sentido de gozação, mas no de estar ajudando a cada um a fazer a sua elevação espiritual.

Sabe o que esta forma de ser representa? Amor... Deus lhe ama. A cada segundo Ele faz alguma coisa lhe amando.

A partir desta afirmação a minha pergunta para vocês é a seguinte: vocês se sentem amados por Deus a cada segundo? Acho que não, não é mesmo? Afirmo isso porque Ele lhe ama, mas você diz que não gostou do amor dele. Ele lhe ama, mas você diz que o fruto do amor Dele por você não está bom, é errado.

Não existe reforma íntima sem sentir cada minuto da vida como fruto do amor de Deus por você. Não importa o que aconteça, Deus lhe amou, porque Ele é o amor.

Deus é incapaz de fazer outra coisa senão amar. Ele é incapaz sequer de imaginar outra coisa que não seja amor por você. É por isso que você precisa se sentir amado a cada segundo para ser feliz.

A cada segundo de sua existência você deve viver com estas consciências: ‘graças a deus, eu fui amado neste momento. O meu Pai, que é o Senhor do universo me amou. Amou-me fazendo o ladrão entrar na minha casa e roubar tudo o que é meu. Amou-me fazendo-me estar onde não gostaria de estar. Amou-me fazendo acontecer o que eu não gostaria que acontecesse. Se eu não gosto, do que está acontecendo, isso não quer dizer que Ele se esqueceu de mim, mas que eu quero dizer a ele como deve me amar’.

Sem vivenciar o amor de deus a cada segundo, você nunca será feliz, não conseguirá a elevação espiritual. Qualquer trabalho referente à elevação espiritual que não seja se sentir amado é capenga. Qualquer trabalho de elevação espiritual que não mexa com seus sentimentos não existe.

Não há como alcançar a Deus através da ciência, mesmo a espiritual. Não se chega ao Pai pela lógica humana ou pela sabedoria dos homens. Não se entra em comunhão com o Senhor através de atividades mediúnicas. Você só alcança Deus pelo coração, pelo amor.

Da mesma forma, ninguém consegue comungar com o Pai apenas amando-O ou amando a todos. É preciso sentir-se amado por Ele. Enquanto você não se sentir amado por Deus, sentirá alguém lhe fazendo alguma coisa e terá que julgar o que outro está fazendo. Transformando a sua vida num tribunal onde todos devem ser julgados por você, o juiz, não há como ser feliz.

Sentir-se amado pelo Pai muda a vida de qualquer um. Leva-nos à submissão total a Deus, que é o que todos os mestres ensinaram como caminho para a elevação espiritual.

De nada adianta acender incensos a Deus, como Cristo ensinou, ou somente dar graças a Ele sem sentir-se amado pelo Pai. Deus não quer culto a Ele, mas sim que você seja bondoso. Esta bondade jamais poderá ser representada por um simples ato. Ela precisa de amor, mas este amor ao outro não pode existir enquanto você não sentir-se amado por Deus através do próximo.

Respondendo-lhe, portanto, afirmo que sim, Deus joga vocês para lá e para cá, mas não para se divertir e sim por amá-los. Ele lhes ama, mas não no sentido de lhes conceder o prazer material e sim gerando condições para que vocês aproveitem ao máximo a vida material para promover a reforma íntima e aí gozarem os bens do céu, a felicidade eterna.

Saiba de uma coisa: Deus não está preocupado com a vida material de vocês. Oitenta ou noventa anos de vida para o espírito é um piscar de olho. Você é eterno, tem a eternidade para existir no universo e, por isso, é com ela que Deus está preocupado.

É voltado para esta vida eterna que Deus cria a sua vida material. Ele dispõe os acontecimentos desta vida de tal forma que você, se realizar o seu trabalho, possa sair desta carne e entrar direto no reino do céu. É isso que Deus quer quando organiza a sua existência empurrando-lhe para lá e para cá, como você falou.

Portanto, mais uma vez digo que sim: Deus brinca com vocês fazendo a vida alternar-se constantemente. Durante a vida vocês são jogados para lá, puxados para cá, são colocados acolá e vocês, achando que estão fazendo tudo por moto próprio, estão sendo levados de tal forma que aproveitem melhor a vida para aproximar-se do Pai.

Com relação ao aproveitamento do que o amor de Deus promove por você, Jesus nos uma coisa muito importante: faça a sua parte para que Deus possa fazer a Dele. Disse ainda: Deus dá a cada um segundo as suas obras. Juntando as duas coisas, eu lhe digo: faça a sua parte, faça a sua obra durante esta vida e deixe Deus lhe dá o resto.

Este ensinamento, no entanto, leva o ser humanizado a um questionamento: qual a obra que precisa ser executada por ele nesta vida? Por viverem apenas como seres humanos e não espirituais, os espíritos encarnados acabam imaginando que devem executar ações em benefício do próximo, mas isso não é real. A obra que o ser humanizado precisa realizar nesta vida é a reforma íntima.

O que é a reforma íntima? O que acabamos de conversar. É ver-se como um ser espiritual e não um humano; é vivenciar os momentos da vida que se apresentam a cada instante; é viver sem valores, é amar incondicionalmente; e estar sempre numa relação amorosa com Deus. São estas as obras que você deve concentrar-se em realizar.

Promover as reformas que caracterizam a reforma íntima é o seu trabalho nesta vida. Não há mais nada para ser feito.

Seu trabalho profissional frente à existência eterna não tem importância alguma. Trata-se apenas de uma representação material de suas provas.

O que são as coisas materiais frente à vida eterna do espírito? Vocês acham que não conseguiriam viver sem a luz, o telefone ou o carro, mas em tempos não muito remotos a humanidade já viveu sem isso e muitos ainda hoje vivem. Por isso afirmo que podem voltar a viver sem estas coisas sem que haja sofrimento algum. Por isso, o seu trabalho durante a vida não deve concentrar-se em proporcionar estas coisas aos outros.

O que você precisa para aproveitar esta vida é ganhar a felicidade interna. Isso não se consegue mantendo as coisas materiais, mas com amor, com felicidade.

Portanto, não se preocupe com o que você faz ou com que Deus lhe dá, mas sim em estar feliz quando está fazendo vivendo alguma coisa. Felicidade real e não a condicionada. Para vivê-la é preciso que você promova as reformas que marcam a reforma íntima.