O espírito e a vida humana
PDF

O espírito e a vida humana

Transcrição das palestras 'A vida humana para o espírito' e 'O espírito para a vida humana' realizadas em 2009 na sala do Paltalk do Espiritualismo Ecumênico Universal

O espírito e a vida humana

A necessidade de viver diferente

Ao longo de nossos encontros já falamos muito de vida humana e de espírito. Hoje gostaria de juntar as duas coisas e dizer o que é a vida humana para o espírito. Acho interessante se conversar sobre esse tema, pois a compreensão do que é a vida humana para o espírito é fundamental para aquele que se diz buscador de Deus.

Há um ditado que diz que quem faz a mesma coisa que os outros, alcança o mesmo resultado daqueles. Portanto, se vocês se sentem diferente, ou seja, sentem-se buscadores de Deus enquanto outros não se sentem assim, precisam viver diferente deles. Se isso não acontecer, ou eles também são buscadores ou vocês não são.

A partir da compreensão de que há uma necessidade de ser diferente para ser o que vocês querem ser, cria-se, então, a necessidade da compreensão do que é a vida humana para o espírito. Se, para você que se diz buscador, a vida humana possuir o mesmo sentido que tem para aqueles que não buscam, que diferença você faz?

A questão do bem compreender o valor da vida humana para o espírito e vice-versa é importante, pois como ensina Cristo, quem apenas cumprimenta seus amigos não possui nenhuma vantagem sobre o ateu, já que qualquer um faz isso. Se você vive como os pecadores, que diferença faz se diz que é um buscador ou não?

É isso que Cristo nos alerta e com isso nos conclamou a sermos diferentes daqueles que não buscam. Justamente para responder a essa conclamação é que iremos falar sobre o que é a vida humana para o espírito.

O espírito e a vida humana

A fonte das informações

Para começar, pergunto: quem pode dizer o que é a vida humana para o espírito? Com certeza não pode ser um encarnado, pois esse está humanizado e por isso não consegue ter a perfeita compreensão sobre o tema. Apenas aquele que não está contaminado com as razões humanas, que como já vimos não é guia infalível para a elevação espiritual, pode servir para nos orientar na compreensão do tema.

Sendo assim, quem pode nos orientar não é um espírito encarnado, mas sim alguém que não está na carne. Mas, quem dentre estes podem nos servir de guia nesta compreensão? Somente um mestre.

Não podemos nos deixar levar, quando o assunto é compreender a vida humana para o espírito, por qualquer ser, pois a maioria dos que se apresentam ao mundo humano ainda estão humanizados, ou seja, ainda se deixam guiar por razões humanizadas. Somente aquele que está livre das amarras humanas pode nos servir de guia.

Quem são os espíritos que estão livres das amarras humanas? São os enviados de Deus, aqueles que chamamos de mestres. Aqueles que trouxeram os ensinamentos sobre os quais foram geradas as doutrinas religiosas: Buda, Krishna, Cristo, Espírito da Verdade, Maomé. Mas, dentre estes, qual aquele que pode nos falar mais diretamente sobre este tema? O Espírito da Verdade.

O grupo de espíritos que passou suas mensagens a Kardec e com isso trouxe a doutrina espírita dos espíritos. Faço essa distinção, porque hoje existe a doutrina espírita humana e não mais dos espíritos. É nas informações desse grupo de seres libertos das amarras da materialidade que temos que nos basear para criar uma compreensão do que é a vida humana para o espírito e a partir dela construir uma forma de viver diferente daqueles que não estão buscando a elevação espiritual.

Onde posso encontrar argumentos que justifique a minha afirmação que é o Espírito da Verdade que pode afirmar o que é a vida humana para o espírito? Na introdução ao estudo de O Livro dos Espíritos. Neste texto, Kardec, sugestionado pelos espíritos, afirma:

“Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível”. (Introdução I)

Quando o codificador fala isso, acaba de dizer que a função do espiritismo é mostrar o que é a vida humana para os espíritos. São os textos da codificação que vão dizer o que é a vida humana para os espíritos, pois tudo o que está ali afirmado mostra a relação dos espíritos com o mundo material.

Sei que tem gente que acha que o Espiritismo é a doutrina da reencarnação, mas isso é ilusão. O conhecimento sobre o nascer diversas vezes é muito antigo na humanidade. Platão já falava nisso e antes dele o mundo oriental já conhecia a existência este processo.

O conhecimento da existência das encarnações sucessivas é muito antigo no planeta, tanto assim que Krishna, muito antes do advento da reforma, já fala na roda de encarnações ou sansara. Buda também se referiu a isso quinhentos anos antes de Cristo.

Portanto, o espiritismo não é a doutrina da reencarnação, não tem como objetivo ensinar a existência das múltiplas oportunidades de elevação, mas sim ensinar o que é a vida humana para o espírito, ou seja, ensinar a relação entre o mundo espiritual e o material.

Começamos nosso trabalho, então, definindo a fonte que vamos usar para descobrir o que é a vida humana para o espírito: O Livro dos Espíritos e os demais trazidos pelo Espírito da Verdade através das mãos de Kardec. São nessas fontes que encontraremos o que é a vida humana para o espírito. Por isso, tudo o que dissermos aqui buscaremos fundamento em O Livro dos Espíritos.

O espírito e a vida humana

As doutrinas espíritas

Participante: não compreendi. Há uma doutrina espírita dos espíritos e outra humana?

Sim, existe uma doutrina espírita dos espíritos e há uma que se utiliza dos mesmos ensinamentos, mas que está humanizada na sua interpretação. Ao longo de nossa conversa a diferença entre elas ficará bem clara, pois existem informações na doutrina espírita dos espíritos que não fazem parte da humana, e por isso não são vivenciadas pelos seres humanos que seguem essa religião.

Vou dar apenas um exemplo agora para que você possa compreender o que estou dizendo. A doutrina espírita humana não aceita Deus como causa primária de todas as coisas. Não aceita o Pai como Causa Primária de tudo, mas apenas de algumas coisas.

A doutrina espírita humana, por exemplo, não aceita Deus como Causa Primária dos elementos materiais. Crê que o vírus da gripe pode causar a doença por ação livre enquanto em O Livro dos Espíritos se afirma o seguinte:

“07. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas? Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária”.

Nesse texto está bem claro: existe sempre uma Causa Primária e esta é Deus, como, aliás, consta da resposta à pergunta 01 do mesmo livro:

“01. Que é Deus? Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.

Apesar desses textos estarem no livro básico do espiritismo, os espíritas de hoje ainda acreditam que a propriedade dos elementos físicos pode agir livremente sem que o Pai tenha causado o acontecimento.

Um detalhe: não se pode colocar a culpa dessa compreensão no próprio Kardec, pois ele compreendeu bem a questão:

“Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa”. (Comentário à resposta da questão 07).

Portanto, a doutrina espírita dos espíritos acredita que é Deus que dá a gripe ao homem e a humana crê que foi o vírus que se instalou por uma combinação fortuita no homem. Para esses recomendo a leitura da resposta dos espíritos à questão 08 de O Livro dos Espíritos:

“Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou por outra, ao acaso? Outro absurdo! Que homem de bom senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada”.

O espírito e a vida humana

A vida nas diferentes doutrinas

Você poderia dizer que o tema que estou levantando se constitui apenas num debate ideológico, de uma questão de semântica, mas isso não é verdade. A compreensão sobre esse tema traz profundos reflexos para o que estamos estudando: a vida humana para o espírito.

Digamos que amanhã você tem uma atividade que se realizada trará grande lucro, seja moral, espiritual ou até mesmo material. Digamos, ainda, que não a consiga realizar porque contraiu gripe e não possa sair da cama.

Como viverá esse momento? Com certeza com angústia e pesar. Nesse momento posso dizer que essa interpretação não fundamentada nos ensinamentos dos espíritos lhe leva a não agir como um ser elevado. Falo isso porque na pergunta 115 de O Livro dos Espíritos é dito: o que caracteriza a elevação de um ser é a vivência da felicidade que Deus tem prometido.

Agora, digamos que conheça e vivencie a doutrina espírita dos espíritos. De posse desse conhecimento, que afirma que tudo é causado por Deus, certamente não se lamentará com o fato de não poder realizar o que pretendia, pois se a gripe foi causada por Ele é sinal que Ele não quer que você faça. Com isso poderá viver a sua doença em paz e harmonia e com isso atingiu a perfeição.

Viu como não se trata de um debate ideológico? Trata-se sim de explicar a vida humana aos seres humanizados como ela realmente acontece para que eles possam aproveitar as oportunidades que tem de mostrarem a si mesmo que já aprenderam tudo o que estudaram antes da encarnação.

Como esses, existem diversos aspectos da doutrina espírita dos espíritos que são desconsiderados pelos seres humanizados, aqueles que seguem a doutrina espírita humana, que precisam ser levados em consideração por aqueles que dizem buscar a união com Deus como objetivo de sua existência. Por isso vamos ter essa conversa.

O espírito e a vida humana

A doutrina dos espíritos e os maus tratos

Participante: o que devemos fazer quando as pessoas nos maltratam? Qual deve ser nossa atitude?

A que Cristo ensinou: ame.

Se alguém dá uma bofetada, dê a outra face; se alguém pede emprestado, dê; se alguém lhe faz carregar um peso por um quilômetro, carregue dois.

Se quiser saber o que fazer em qualquer momento nessa vida para poder alcançar a sua elevação, é só ler o que Cristo ensinou.

Participante: você poderia falar qual seria a aparência do amar quando alguém lhe dá uma bofetada? Através de uma conversa com o agressor ou aos gritos esse amor poderia também estar acontecendo?

Estou falando de amor universal. Ele acontece no coração e não na ação. Portanto, o oferecer a outra face acontece no coração e não na atividade ou ação humana.

Até porque, Cristo, aquele que foi a conjugação do verbo amar, ofendeu, brigou e matou, mas amou. Melhor: praticou ações que tinham essas coisas enquanto o coração estava amando.

Participante: Cristo matou?

Matou e injustamente, pois matou uma figueira que não dava frutos numa época que não deveria realmente dar.

‘Ah, mas era só uma figueira’, vocês me diriam. Podem ter certeza que ela não gostou de morrer.

O espírito e a vida humana

Conversando sobre coisas espirituais

Participante: no próximo mundo, o de regeneração, os espíritos ainda vão se achar humanos ou isso acaba aqui, no mundo de provas e expiações?

Sobre isso já falei diversas vezes. O próximo mundo não será habitado por seres que se sentem humanos, mas sim onde os seres universais se compreenderão como espíritos na carne.

Participante: já nos falaram que espíritos humanos não podem voltar em corpos animais. Outros dizem que sim. Qual a verdade?

Primeiro você precisa entender o que é um espírito num corpo humano para aí poder saber isso.

O ser universal ligado a uma consciência humana trata-se de um ser que está vivendo provas morais. O animal tem essas provas? Não, porque não tem raciocínio. Ele possui um tipo de inteligência que se chama instinto, mas não raciocínio. Quem tem instinto está numa classe, está fazendo provas em um nível escolar; quem possui inteligência, está em outro nível, faz provas diferentes.

Sendo assim, se um ser já possui inteligência, é sinal que está em provas morais. Por isso não pode fazer prova em outra turma junto com estudantes de outro grau. Essa é a lógica.

Apenas pela lógica usada a partir da compreensão do que é uma coisa e outra você pode entender que o ser que encarna em um ser humano não pode reencarnar num animal.

Apenas mais uma questão: não estou afirmando que um grau é mais ou menos evoluído do que o outro. O que estou dizendo é que são turmas, graus, diferentes e que por isso um ser não pode navegar entre uma e outra.

Participante: temos notícias de que já há um novo mundo de provas e expiações para onde estão indo os espíritos que forem reprovados aqui na Terra. Pelo que você disse, entendi que esses espíritos não começarão o seu processo evolutivo nesse momento. Só iniciarão seu processo encarnatório quando houver uma forma mais elevada no novo planeta?

Sim, só começarão a sua roda de encarnações quando houver uma forma racional. Não uma forma humana, mas uma onde exista o processo racional.

É por isso que mesmo depois de anos do processo de exílio daqueles que não têm mais oportunidade de elevarem-se no planeta Terra ainda não começaram a encarnar no novo. Eu diria que os que foram exilados daqui estão no umbral de lá esperando o processo encarnatório racional começar para encarnar.

Participante: você já afirmou que a definição de um ser humano é a encarnação de um espírito e nada mais. Pode falar disso?

Quem fala isso não sou eu, mas o próprio Espírito da Verdade. Essa informação faz parte da nossa conversa de hoje e por isso vou responder a sua pergunta dando continuação ao que temos para falar hoje.

O espírito e a vida humana

Não há vida e sim encarnação

Uma vida humana para o Espírito da Verdade é a encarnação de um espírito. Todo ser humano, segundo a definição dada em O Livro dos Espíritos, é um ser encarnado. Todo ser nessa condição vive uma encarnação, uma vida.

A partir disso temos, então, a nossa primeira resposta ao tema que levantamos hoje. O que é uma vida humana? Para o espírito é uma encarnação.

O espírito não trata a vida humana pelos mesmos elementos que a razão utiliza para definir o que é vida. A trata com os elementos espirituais, ou seja, a partir dos objetivos da encarnação. Para os espíritos não há ninguém vivo ou morto, mas sim seres que vivem uma encarnação humana ou não.

Essa é a primeira questão que precisamos levantar para nós que dizemos que estamos buscando nos aproximar de Deus: a vida humana é uma encarnação.

A partir desta consciência, descobrimos que para nós, quanto o é para os espíritos, o significado dos acontecimentos não são os mesmos para os seres libertos da materialização e os não libertos. Quem está preso à condição humana como se ela fosse a realidade do universo, a vida é vivida com valores humanos: nascer, crescer, estudar, namorar, casar, trabalhar.

Só que os valores que a mente humana vivencia em cada uma dessas situações não existem para os espíritos libertos da materialidade. Eles vivem uma encarnação e nela não há nascimento, crescimento, namoro, casamento estudo ou trabalho profissional. Tudo isso é substituído por outros valores que já iremos abordar.

Portanto, a primeira mudança que o buscador precisa fazer para poder aproveitar a encarnação é substituir a ideia de que está vivo pela de que está encarnado. Você não está vivo, não está vivendo uma vida humana. Você é um espírito e como tal precisa compreender que está vivendo encarnação.

Antes de continuarmos vamos deixar uma coisa bem clara, pois os que não me conhecem podem achar que sou muito genérico. Não existem divisões no tudo. Quando se afirma que todas as coisas são algo, não se pode separar nada: todas as coisas têm que ser a mesma coisa. Não se pode considerar algumas coisas como sendo algo e outras como coisas diferentes. Tudo é tudo.

Sendo assim, tudo o que você chama de vida precisa ser substituído pela ideia de que aquilo é um elemento de uma encarnação. Desde as necessidades básicas de um ser humano até a atitude mais sublime que possa acontecer, é considerado por um espírito como pertencente a uma encarnação e não a uma vida e por isso tratado com valores diferentes.

Vocês, como humanizados que são, tratam os acontecimentos como atividades de uma vida, mas os espíritos não tratam esses elementos dessa forma.

Para poder se mudar a forma como se vive é importante se atentar à palavra atividade, pois é nela que se reconhece o buscador de Deus e aquele que não só se importa com a vida humana. Isso porque o buscador vive durante uma existência atividades diferente daqueles que simplesmente se contentam em ser humano.

O espírito e a vida humana

Falando de encarnação

Participante: no novo mundo, na Terra haverá umbral ou isso não existirá mais?

Sempre existirá, mas não será o desenho de umbral que vocês conhecem hoje.

Participante: a magia negra pega em todas as pessoas ou só em algumas?

O que é magia negra? É um ato de vida? Sendo, você que é buscador não pode tratá-la humanamente; precisa lidar com ela a partir dos ensinamentos trazidos pelos espíritos.

Sendo você um buscador e sabendo que a vida é apenas a encarnação de um espírito, o que é esse acontecimento? Uma atividade de uma encarnação. Tratando-a desta forma deverá guiar-se neste momento de outra forma.

Já falaremos sobre a forma de se lidar com as atividades que acontecem durante a vida quando se descobre que elas pertencem a uma encarnação e não a uma vida. Apesar disso, vou adiantar um pouco para não deixar de responder.

Uma das regras da encarnação afirma que ela é dada ao espírito como uma oportunidade de aproximar-se de Deus. Para isso ele precisa sofrer vicissitudes de acordo com o seu merecimento.

Portanto, se a atividade encarnatória é formada pela vivência de vicissitudes de acordo com o carma, o merecimento de cada um, chega-se à conclusão que o espírito só viverá o ser atacado ou fazer a magia negra se isso estiver dentro das vicissitudes que Deus determinou como instrumento dessa encarnação.

Resumindo: a magia negra só pega em quem precisar. Da mesma forma, só faz quem precisa fazer ...

Participante: é possível racionalizar o espírito?

Não.

Participante: podemos dizer que a encarnação do espírito é feito de histórias ilusórias onde cada ação é apenas uma aparência que serve de prova para os espíritos?

Não. Não podemos dizer que a encarnação do espírito é feita através de histórias ilusórias, pois ela é feita através de provas. A provas são geradas através de histórias ilusórias.

Não devemos misturar a encarnação com histórias, com vida. Para o espírito não há vida, não há histórias, mas sim encarnação. É preciso distinguir bem uma coisa de outra.

O espírito nem vê a história que você, o humano, imagina que está acontecendo. Ele nem sabe o que está acontecendo. O que tem consciência é da essência da história, que são os elementos da encarnação e sobre os quais, aproveitando novamente sua pergunta, vamos conversar.

O espírito e a vida humana

A atividade da vida

Falei em atividades, mas o que é uma atividade? Na última pergunta foi citada uma palavra interessante que podemos aproveitar para definir atividade: uma história ilusória que existe na compreensão racional.

Por exemplo: vocês imaginam que estão tendo uma atividade de me ouvir. Por que isso acontece? Porque estão humanos. Devido a essa condição, vivem o acontecimento dentro dos valores humanos da atividade. Esse valor diz que o que estão fazendo agora é compreendido como ‘ouvir Joaquim’, ‘assistir uma palestra’, ‘vir até aqui’.

Essas são compreensões racionais sobre a atividade que ilusoriamente imaginam que vocês, os humanos, estão vivendo nesse momento. Para o espírito, no entanto, não há atividade humana, mas sim espiritual. Essa última não possui os mesmos valores que a compreensão humana possui.

Por isso, para o ser que busca se unir a Deus, tudo o que a mente humana declara que está sendo vivido num momento, a história ilusória que foi gerada pela razão, é trocada pela ideia de estar vivendo uma encarnação. Para aquele que pretende aproveitar a oportunidade para se aproximar do Pai, a atividade espiritual é a única que ele vivencia, não importa o que a mente diga que está acontecendo.

Enquanto a mente humana declara que está me ouvindo, o espírito sabe que está vivendo uma encarnação. Enquanto o humano acredita que está escrevendo ou lendo, o espírito sabe que está vivendo uma encarnação. Enquanto acredita que está bebendo água, o espírito sabe que está vivendo uma encarnação. É por causa desta sabedoria do espírito que respondi que a encarnação não é formada pelas histórias que a mente conta sobre a vida, mas sim pelas provações.

Na verdade, para o ser universal a história não existe. Por causa dessa inexistência aqueles que acreditam na existência, mesmo sabendo que é ilusória, acabam não conseguindo aproximar-se de Deus.

Quem acredita na história que a mente cria, crê em atividades variadas. O ser universal não crê nessa multiplicidade. Para ele há apenas uma atividade: viver a encarnação, a provação.

O espírito e a vida humana

A vida para o espírito

Portanto, o espírito não escreve, anda, ouve, senta ou fala: apenas vive uma encarnação. É a falta dessa conscientização que leva vocês muitas a não compreender o que digo.

Vocês ficam preocupados em saber como o espírito faz determinadas coisas, pois acreditam que a atividade espiritual é a história que está sendo levada à consciência pela mente. Mas, a atividade do ser universal não tem nada a ver com o que a mente afirma estar acontecendo.

A única atividade que o ser universal pratica é o estar encarnado, o viver as questões ligadas à sua encarnação. Essa é a única atividade que o espírito pratica enquanto encarnado.

Por causa disso sabe que na sua encarnação existem duas subatividades que precisa vivenciar: a provação, que nada mais são do que as vicissitudes da vida, e as missões, que se consistem no fato de vestir um corpo de acordo com o mundo em que vive para aí, sob as ordens de Deus, contribuir para a obra geral.

Isso vive o espírito, mas não vocês. Só que não podem afirmar que ignoram essas questões, porque elas estão explicitadas na questão 132 de O Livro dos Espíritos:

“132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros é missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Quando se vê a vida a partir desse prisma, a existência começa a ficar diferente. Não mais existe a atividade de falar ou de ouvir, mas apenas provas e missões. Aquele que se sabe buscador de Deus e por isso tem a consciência de ser um espírito, precisa constantemente viver provações ou missões e não a história que a mente conta.

O espírito e a vida humana

Provas e missões

Qual a diferença entre prova e missão? Muito simples ...

Prova é tudo aquilo que alguém faz para você durante a vida. Toda atividade humana que você vivencia como receptor dela, seja através de percepção ou de formação mental, é uma prova.

Missão é tudo aquilo que você faz a outro. Toda vez que se comunica com alguém, seja, através de palavras, gestos ou pensamentos, é vivenciada pelo espírito como uma missão.

O espírito vivencia o cumprir a missão e não o que diz, pensa ou faz para outros. O ser universal vivencia provas e não aquilo que recebe do outro. Isso independe de gênero. Se o que fizer ou receber for calúnia ou carinho, como afago ou ataque, elogio ou crítica, o espírito sabe que está vivendo prova ou missão.

Um espírito, por exemplo, jamais se prende à questão da prática da caridade material como vocês entendem: dar a quem precisa o que necessita. Como um espírito pode dar comida para alguém se para ele não existem alimentos? Ou será que nunca repararam na literatura espírita que uma das primeiras coisas que o espírito faz é parar de ingerir alimentos?

Por isso, quando a mente cria a ideia de dar comida ou recebê-la o espírito sabe que é apenas um elemento de uma encarnação e não uma realidade. Sabe que são provações ou missões e não uma caridade, um ato amoroso.

O espírito e a vida humana

Consciência

Participante: o espírito sai de uma encarnação para outra? Encarnar é trabalhar a consciência que se tem a cada momento? A consciência se manifesta através dos pensamentos?

Encarnar é viver provas que são realizadas através das vicissitudes. Encarnar é cumprir missões.

Tudo o que você está falando são atividades humanas. Elas não pertencem ao espírito. Para ele só há provas a serem feitas e missões a serem cumpridas.

Portanto, ele não faz nada disso...

Participante: mas, ele não pode trabalhar a consciência através das provas?

Não, pois a consciência é dada.

A consciência é o ego e por isso é dada por Deus. Sendo assim, o espírito não a trabalha. Na verdade, quando lhe vêm uma consciência, realiza uma prova.

Participante: espírito não tem consciência?

Sim, tem.

Participante: então, ele pode trabalhá-la.

Na verdade, quando encarnado, tem duas consciências: a espiritual e a que é dada pelo ego.

A primeira pode ser trabalhada pelo ego. Só que esse trabalho, se acontecer, jamais será conscientizado pelo ego e, portanto, pelo ser humanizado. A segunda o ser não pode trabalhar, pois é dada pela personalidade humana.

Ora, sendo desta forma, respondo que o espírito pode trabalhar a sua consciência, mas esse trabalho jamais será consciente.

Participante: mas, estamos falando sobre a consciência do espírito e não da consciência dada pelo ego. Por isso repito a pergunta: o espírito pode trabalhar a sua própria consciência?

O que para você é trabalhar a sua própria consciência?

Participante: é fazer a prova não acreditando no ego.

Então, o que fala é em fazer prova e não em trabalhar consciência.

Aí é que está o grande problema para os buscadores de Deus que estou querendo deixar bem claro nestes comentários sobre a questão atividade. Precisamos entender a atividade do espírito para que possamos caminhar no sentido de aproximar-se de Deus. Para fazer isso é preciso compreender que nenhum ser trabalha a sua consciência, mas realiza provas. Para fazê-las trabalha na consciência, não no sentido de alterá-la, mas sim de fazer a prova. Vou tentar explicar o que estou dizendo.

Qual a sua consciência nesse momento? Imaginar que está me ouvindo. Você, espírito, está realmente me ouvindo? Não. A ideia de estar me ouvindo é criada pelo ego, pela mente, pela personalidade humana.

Trabalhar a consciência seria mudar a ideia de estar me ouvindo. Isso jamais poderia acontecer, pois não depende de você. Por mais que evolua será bombardeado em momentos semelhantes a esse pela ideia de estar ouvindo alguém.

Por isso, aquele que busca a Deus não se preocupa em alterar ou mudar esta consciência. A sua ocupação está em realizar a sua prova enquanto está recebendo esta consciência.

Como o espírito passa na prova? Amando a Deus acima do que está acontecendo e ao próximo como a si mesmo neste momento.

É isso que o espírito se ocupa em fazer e não em mudar a consciência. O que está pensando naquele momento. Ele não se importa se o que é conscientizado é elogio ou crítica, se é do bem ou do mal: apenas se ocupa em amar a Deus e ao próximo nesse momento.

Amar a Deus e ao próximo é a atividade que o espírito busca executar em cada momento de sua existência. Por isso, essa é a única preocupação de alguém que quer aproximar-se de Deus.

Participante: mas, o espírito não pode imaginar que é o ser humano, e assim como o ator que se empolga imaginar que é o personagem que está representando?

Isto é o resultado de uma forma de exercer uma atividade pelo espírito e não o que ele faz.

Quando o espírito se apega à personalidade humana, ou seja, a ama acima de Deus e do próximo, exerce a atividade prova e missão de uma forma. Essa forma de viver a sua atividade o leva a imaginar que é o personagem que está servindo como instrumento para a sua encarnação.

Volto ainda a repetir: vocês estão apegados às atividades humanas. Nenhum espírito terá durante a encarnação a atividade de controlar ou não a sua mente primária, que dirá a secundária. Todos os espíritos só têm uma atividade quando encarnado: viver a encarnação, ou seja, realizar provas e cumprir missões. Mais nada.

Portanto, apegar-se ou não ao ego é realizar uma atividade provação de uma determinada forma. Apegar-se ou não ao ego é o resultado da prática de uma atividade cumprir missão. Sendo assim, esqueçam qualquer coisa que não seja provação ou missão. Sem isso, dificilmente conseguirão alcançar o Pai, como dizem querer.

Se quiserem viver qualquer outra atividade, jamais conseguirão compreender o que é a vida humana para o espírito.

Participante: guardando as devidas proporções a consciência seria, então, o efeito e a prova a causa. Poderia ser visto assim?

Sim. Na verdade a consciência é a resposta a uma provação, mas como ela se tornará em nova prova, digo que seu posicionamento está perfeito.

O espírito e a vida humana

Os acontecimentos do mundo e as provas

Participante: o espírito elevado pode estar encarnado em mais de um corpo ao mesmo tempo?

Não.

Participante: porque às vezes nosso espírito parece se sentir tão cansado?

Você fala em nosso espírito, mas será que existe um espírito e você? Não. O que existe é você, o espírito.

É isso que estou querendo mostrar hoje: não há um espírito para ser vivido por você, mas elementos de uma encarnação que precisam ser vividos por você, o espírito.

Participante: mas, e quanto à questão do cansaço? O espírito pode sentir-se cansado?

Pode; você não se sente cansado às vezes?

Participante: sim, estou cansado hoje, mas como existe a questão do ego já não sei mais quem está cansado.

Onde o ego existe? Na mente do espírito. Portanto, se na mente do espírito surge a ideia de haver um cansaço e o ser encarnado comunga com ela, torna-se cansado.

Participante: pela discriminação e discussão os homens se confundem nos julgamentos. A paixão pela experiência emocional pela qual os méritos das pessoas se tornam confusos vem do espírito ou do ego?

São atividades humanas, portanto, vem do ego. Tratam-se apenas de visões humanas que ocorrem enquanto o espírito está vivendo outra atividade: a de estar encarnado.

Participante: poderia se dizer que entre o animal e espiritual o ser humano está no meio?

Dentro da escala progressiva que você citou, afirmo que o ser humano é um animal. Portanto, não está no meio, mas no início da escala que criou. Agora, se está falando de cachorro, gente e espírito, diria que sim, o ser humano está no meio.

Participante: Jesus viveu na Índia mesmo?

Não.

Participante: o que é o eu superior?

O espírito.

Participante: o que você acha da idolatria que existe em torno do personagem Jesus. Na nova Terra não haverá mais idolatrias a mestres ou ainda terá?

O que é a idolatria a Cristo, Krishna ou Buda ou até a um ser humano? Uma atividade humana. Sendo assim, não posso afirmar que ela não mais existirá, pois já não existe neste momento. Ela é apenas uma ideia gerada pela mente humana para que o espírito viva a atividade provação que marca a sua encarnação e não um acontecimento real.

Na verdade, enquanto está preocupado se haverá ou não idolatria no novo mundo ou qualquer um dos assuntos que respondi a pouco, se esquece que ninguém idolatra, mas está sempre vivendo provações. Esquecendo-se disso, não faz a sua prova.

É isso que estou querendo mostrar a vocês. Preocupando-se com as múltiplas atividades que a mente gera, nos perdemos com a imensidão de atividades humanas. É preciso reunir todas as atividades que o ego cria em apenas uma: realizar uma provação espiritual ou uma missão. Por isso, quando se preocupa com as situações corriqueiras ou extraordinárias da vida, saiba que isso não está acontecendo no nível espiritual, mas é algo criado por Deus para o espírito, quer seja prova ou missão.

Além do mais, para que quer saber se continuará havendo idolatria e idolatras? Aquele que idolatra é um aluno em provação. Por isso não merece crítica por idolatrar. Além disso, é um missionário que age dessa forma para ver se existe o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo naquele que tem a consciência de estar vendo a idolatria que pratica.

Por isso, aquele que é cônscio de sua existência espiritual não se preocupa se há ou não idolatria. Essa despreocupação acontece pela consciência de saber que a atividade idolatrar não é exercida por um espírito, mas por uma personalidade humana e, portanto, apenas ilusória. Preocupa-se apenas em amar a quem idolatra, quem é idolatrado e a própria idolatria.

Ter a consciência precisa do que é atividade do espírito e do que não, é o fundamental para se compreender o que representa a vida humana para o espírito. A vida humana para o espírito se consiste em provas e missões. Qualquer outra atividade para ele é uma ilusão que deve ser abandona.

Por isso, qualquer assunto que imagine que está acontecendo e comente comigo terá a mesma resposta: isso não existe. Sempre abandonarei a realidade ilusória e ficarei com a realidade.

Participante: se só existe prova e missão, o que é que chamamos de expiação?

É a própria prova. Lembra-se do que estava na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos?

“Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação”.

Ficou claro? A expiação consiste em viver as vicissitudes e estas marcam a provação para o espírito.

O espírito e a vida humana

A prática

Participante: hoje arrumei o armário e pensei: porque guardo tanta coisa velha. Então, joguei muitas coisas fora, pensando que elas só servem para essa encarnação. Será que devemos nos desfazer das coisas para treinar o desapego e estarmos mais próximos da verdade espiritual e menos da ilusão de humanos?

Aí está um grande exemplo do assunto de nossa conversa de hoje: o que é a vida humana para o espírito.

Você acredita que abriu o armário, reparou na quantidade de coisas que estavam lá, pensou sobre o que viu, retirou diversos objetos e depois os jogou fora. Ainda por cima agora quer saber se está certo ou errado o que aconteceu? Como posso responder se não se pode julgar o que não existe ou como afirma Salomão: como contar quando não há números para isso?

Tudo o que você fez são atividades humanas, portanto, apenas realidades ilusórias. Enquanto estava vivendo tudo isso, não estava vivenciando a realidade, ou seja, o que representa a vida humana para o espírito.

Você não abiu armário: quando teve a ideia de estar fazendo isso, na realidade, estava vivenciando uma provação. Quando reparou, pensou, decidiu, retirou e jogou fora coisas, na realidade não fez nada disso. Todas essas coisas são realidades ilusórias que servem apenas para que o espírito tenha a sua atividade provação.

Só que não parou apenas naquele momento. Agora, no momento em que acreditou estar fazendo essa pergunta, além de continuar fazendo provas, está cumprindo uma missão, pois outros a ouviram.

Veja a diferença entre o que imaginava que tinha vivido para o que realmente estava sendo vivenciado. Agora, repare numa coisa: se nem sabia que estava em provação, como poderia realizá-la a contento? Ou seja, perdeu toda essa série de oportunidades de aproximar-se de Deus.

Essa é a aplicação prática do que estamos conversando. Caso não troque a realidade que vive, vivendo a real e não a ilusória, jamais compreenderá que está em provação e com isso não conseguirá aproveitar a oportunidade da encarnação para elevar-se.

Vocês encarnam para fazer provas, mas, ao invés disso, vivem as múltiplas atividades criadas pela mente e com isso não fazem o que viveram fazer. É disso que estamos tratando aqui.

Estamos falando sobre o que representa a vida humana para o espírito para podermos nos conscientizar do que é irreal e substituirmos pelo que é real. Estamos falando que ao ter a percepção de que abriu o armário deve conscientizar-se de que esta atividade é ilusória e que na realidade real está realizando uma provação. Se não fizer isso, não aproveitará a oportunidade que está tendo.

Por isso estou me prendendo muito a palavra atividade. Para o ser humano existem milhares de atividades, mas aquele que se considera buscador sabe que só existem duas, que são reflexo do fato de estarem encarnados: vivenciar provações e praticar missões.

Portanto tudo que me perguntarem sobre o que estão fazendo dentro da percepção humana, se foi certo ou errado fazer ou deixar de fazer, responderei que isso não importa: o importante é saber se aproveitou aquela atividade de uma forma espiritual.

Quem se considera um buscador de Deus não deve, portanto, viver as atividades humanas. Em seu lugar deve vivenciar a espiritual: uma prova ou uma missão.

Se alguém, por exemplo, se sente dependente monetariamente de outro, não deve viver essa dependência. Deve sentir-se como um espírito em prova e servindo a Deus como instrumento da provação dos outros (missão). Quando arruma ou desarruma um armário, considerando-se um buscador, não deve acreditar que está praticando essa ação, mas vivendo uma prova. Quando me ouve, não deve se sentir um ouvinte, mas sim um ser universal realizando uma provação. Só alterando dessa forma as consciências a busca do aproximar-se de Deus terá algum sentido.

Por isso, volto a repetir, estou usando muito a palavra atividade. O buscador, para ser diferente dos outros, precisa trocar a vida humana pela encarnação> para fazer isso deverá trocar as múltiplas atividades por apenas duas: viver provas e realizar missões.

Participante: existe um jeito de colocar em prática o que nos ensina? É preciso raciocinar? Pergunto isso porque não sei quando sou espírito e quando sou humano.

Você é cem por cento ego. A prática que estou falando existe apenas no coração e não na razão. Mas, para falar disso preciso me estender um pouco mais no assunto de hoje.

O espírito e a vida humana

O bem e o mal

Quando você está exercendo atividades humanas, que são múltiplas, a reação também é múltipla. Para cada atividade humana, o ser pode reagir de diversas formas. Já o espírito não vive essas atividades e sim a provação. Por isso, para ele só existem duas possibilidades de reações: escolher entre o bem e o mal.

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso se consiste o seu livre arbítrio”.

“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois pelo que toca as provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”.

(O Livro dos Espíritos)

O bem é Deus, o amor do Pai. Não estamos falando de bom, ou seja, o que supre os desejos. Por isso, optar pelo bem não é escolher o que é melhor para você, mas optar estar em uma relação amorosa com Deus.

O mal é o individualismo, o amor a si mesmo. Quem opta pelo mal é aquele que tem prazer quando é satisfeito e sofre quando isso não ocorre.

Trocando em miúdos, posso dizer que quem opta pelo bem é aquele que ao exercer ilusoriamente a atividade de arrumar um armário está amando, no coração e não na razão, Deus acima de sua atividade e ao próximo como a si mesmo. Já quem opta pelo mal é aquele que tem prazer em fazer porque acredita que é certo ou sofre porque acha errado fazer ou não queria fazer. Esse último está em relação amorosa apenas com as suas ideias e não com Deus nem com o próximo. Sendo assim, enquanto o humano vivencia uma das múltiplas reações possíveis a uma atividade, o espírito apenas ocupa-se em amar individualmente ou universalmente.

Essa é a resposta a todas as perguntas que me fizerem. Qualquer que seja a atividade que comentem, será uma provação e por isso existem apenas questões possíveis: você está amando universalmente ou individualmente nesse momento? Por isso, não me preocupo se deve ou não esvaziar o seu armário, mas sim se ao fazer isso está mando universalmente ou individualmente.

Respondendo, então, a última questão que me foi dirigida (como colocar em prática o que estamos conversando) digo que a prática só será alcançada quando, ao invés de estar preocupado com as múltiplas reações que a mente diz que pode acontecer, ocupar-se em saber se está amando universalmente ou não. Ocupando-se com essa questão, estará exercendo a atividade espiritual e com isso estará praticando o que estamos conversando.

Quando a consciência estiver voltada para a realidade espiritual, a real, pouco importa se a mente diz que gostou ou não do resultado de uma ação: amará a tudo o que fez e a tudo que resultou da sua ilusória ação. Quando a atividade for a do espírito, mesmo que a mente acuse sofrimento por não ter o que quer, você poderá manter-se na neutralidade. Isso acontecerá porque estará atento a forma como está amando naquele momento.

O espírito e a vida humana

Amar

Veja a diferença da forma como vivem. Hoje amam a coisa e esperam recebê-la um dia; vivendo a atividade do espírito poderão amar o não ter e por isso a ausência do que é desejado não causa sofrimento, angústia ou nervosismo.

Quem compreende a atividade do espírito sabe que a cada momento há um amor sendo vivenciado e por isso pode optar em como amar: individualmente ou universalmente. Já aquele que está preso às múltiplas atividades ilusórias que a mente cria, perde-se, pois a cada momento está praticando uma ação diferente e com isso se concentra na ação e não no amar.

Agora, repare que estou falando em amar de coração e não de razão. Qual a diferença entre as duas coisas? Amar pela razão é ter motivos para amar; amar de coração é ter esse sentimento sem motivação.

Por isso posso dizer que aquele que aproveita a oportunidade da encarnação para aproximar-se de Deus é quem tem o seu coração sempre leve e solto de quaisquer amarras. Este é aquele que ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quem vive isso não tem amarguras, ressentimentos ou ansiedades no seu coração. No entanto, para viver desta forma é preciso que esteja concentrado em cada momento de sua existência em acabar com a multiplicidade de realidades e com as possíveis reações e concentrar-se apenas em viver a atividade espiritual.

Só quem faz isso pode concentrar-se na forma como ama. Aquele que está iludido pelas múltiplas atividades tem tanta coisa para se atentar que se esquece de verificar como está amando.

Veja como a vida e o alcançar o objetivo do buscador ficam simplificados quando se entende perfeitamente qual o valor da vida humana para o espírito. Veja como as coisas mudam.

Já não se trata mais de aprender a como reagir a quem lhe ofende – será que se dá a outra face fisicamente? será que se pode brigar mesmo amando? – mas, sim em atentar a forma como se está amando. Quando o tapa na cara se torna apenas uma prova para o espírito e não uma ofensa, o ser pode, então, concentrar-se no seu coração, que como ensina Cristo, é de onde vem o que importa.

Quem alterou a sua realidade não está preocupado que ação humana marcará a reação a um determinado acontecimento, mas sim de que forma o seu coração está se comportando naquele momento. Isso porque ao alterar a sua forma de entender os acontecimentos, sabe que a reação já será uma nova provação e, por isso, aguardará este momento em paz e harmoniza consigo e com o mundo.

O espírito e a vida humana

Atividade humana e espiritual

Participante: como o eu superior interfere em nossa existência?

Como o eu superior, o espírito, interfere na vida humana? Ora, se a vida humana, ou seja, as atividades realizadas fisicamente, é a provação do espírito e se é o ser universal quem escolhe o gênero de provas pelo qual passará durante a encarnação, o eu superior, ou espírito, é o determinante de todas as atividades humanas.

 Quem entende que o espírito pede antes da encarnação o gênero de provas que irá passar e que por isso ‘institui para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem achar-se colocado’ (O Livro dos Espíritos – pergunta 851), sabe que as atividades humanas terão que estar em acordo com o gênero de provas pedido. Ou seja, sabe que os acontecimentos humanos de uma encarnação precisam estar em acordo com as atividades espirituais que aquele ser precisa vivenciar.

Quem acredita nos ensinamentos do Espírito da Verdade, a partir do que ele fala nas respostas às perguntas 258 e 851, sabe que nada pode acontecer numa vida humana que não tenha interferência do espírito, do eu superior, como você o chama. E se crê que o gênero das provas são escolhidas pelo espírito, tem que saber que todas as atividades humanas são oriundas desta ação.

Participante: como diferenciar a atividade humana da espiritual? Nós pobres humanos temos como saber?

Como diferenciar a atividade humana da espiritual? Primeiro, sabendo que não há diferença elas.

Não existe a atividade humana. É apenas uma realidade ilusória que surge na mente humana enquanto o espírito está vivendo a sua atividade espiritual. Saiba que enquanto o ser humano exercia a atividade de estar fazendo esta pergunta, o espírito estava exercendo a atividade espiritual que se consiste em escolher entre amar individualmente ou universalmente.

Segundo: trocando a ilusão pela realidade.

Ao invés de acreditar que estava fazendo a pergunta, conscientize-se que estava vivendo uma provação. Fazendo isso, ao invés de se preocupar com o que está dizendo, se ocupará em como está amando.

Ao invés de crer que está ouvindo uma resposta, saiba que está vivendo uma prova e cumprindo uma missão. É assim que se diferencia a atividade humana da do espírito.

É claro que essa resposta para a sua mente ainda é insuficiente. Como ela é orgulhosa, mal educada e egoísta irá querer ter mais informações para poder prendê-lo na multiplicidade de atividades. Por causa disso, questionará: ‘que gênero de prova eu estou vivendo agora’?

Compreenda novamente que isso não interessa, porque não existe. Trata-se apenas de uma nova provação. Por isso, ao invés de se deixar levar pela curiosidade que a razão cria, concentre-se em observar como está amando nesse momento. Só assim poderá aproveitar a encarnação.

O espírito e a vida humana

Gênero de provas

Esse é outro grande detalhe quando se fala da questão da atividade do espírito. Para o ser universal a compreensão da sua atividade naquele momento consiste apenas em conscientizar-se de que está vivendo uma prova e não em buscar compreender a justiça ou o merecimento da provação, ou seja, saber a que gênero ela se prende. Essas questões são irrelevantes.

Não importa se a prova é justa ou injusta: ela foi escolhida pelo próprio ser. Por esse motivo, certamente é merecida.

Além disso, pouco importa qual o gênero ela contempla. A resposta será sempre a mesma: amar universalmente ou individualmente.

Tanto faz o gênero de provações, só há duas respostas possíveis. Por isso, aquele que quer alcançar a Deus não se preocupa em entender o que está acontecendo, mas se ocupa em ver como está amando naquele momento.

Quando falamos que a atividade do espírito é viver uma provação, não dissemos que é vivenciar diferentes provações. Pouco importa a que gênero esteja ligada uma provação, ela é sempre uma prova e nada mais.

Por isso, viver provas não se traduz em múltiplas situações, mas viver sempre o exercício do livre arbítrio de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo ou amar a si acima de tudo.

Para o ser não existe a prova da ganância, da soberba ou da luxúria. Para ele existe apenas a provação sobre o seu amar: ‘vou amar a tudo ou apenas aquilo que acho certo ou bom amar’?

. Sendo assim, quando se fala na possibilidade de múltiplos gêneros de provas, ainda estamos vivendo ilusões, pois existe apenas uma única provação. Foi por isso, também, que Cristo resumiu todos os mandamentos apenas nestes dois.

Por isso lhe digo que se sua mente cria a possibilidade de existirem múltiplos gêneros de provações para o espírito, não se deixe levar por isso: concentre-se apenas em reconhecer como seu coração está vibrando.

O espírito e a vida humana

Conversando

Participante: quanto tempo o espírito passa no plano espiritual em média?

No plano espiritual não existe tempo. Por isso o espírito não passa tempo algum lá.

Apesar disso posso lhe dizer que está lá a eternidade. Na verdade ele nunca sai do plano espiritual.

Quem está no mundo material é o ser humano e não o espírito.

Participante: a alternância de situações e a impermanência das coisas servem como prova aos espíritos para que aproximem-se de Deus?

É isso que o Espírito da Verdade afirma na questão 132 de O Livro dos Espíritos (Objetivos da encarnação). A impermanência das coisas, como fala Buda, ou as vicissitudes da vida humana, como fala o Espírito da Verdade, é a expiação que serve como provação ao ser espiritual.

Participante: como um espírito em prova se sente? Como eu ego posso me sentir como um espírito em prova?

Como um espírito em provas se sente? Em provas. Como o ego pode se sentir como um espírito em prova? Sentindo-se assim. Respostas interessantes, não?

Não posso lhe ensinar como se sentir, pois cada um possui uma sensibilidade individual. Só com relação a questão do ego, acrescento que só sentirá dessa ou daquela forma se Deus criar. Portanto, você, humano, só sentirá como um espírito em prova se o Pai assim gerar uma ideia pela razão humana.

Agora, é preciso estar atento a um detalhe: isso é uma atividade humana. Portanto, se Deus gerar a consciência de que é um espírito em prova, não viva essa atividade. Veja nisso mais uma provação onde precisará estar atento ao coração e não à razão.

Participante: então a escolha de amar no egoísmo ou no universalismo é uma decisão do coração? Eu só digo que vou amar universalmente e pronto, estou amando, mesmo que não saiba o que é isso?

Se disser, ainda não fez, pois o coração não conhece palavras. Ele vive diferente da razão. É no coração que você tem que dizer que ama universalmente e não na boca.

O espírito e a vida humana

A encarnação e Deus

Participante: não haveria uma palavra que melhor traduza o amor de Deus ao invés do termo impor, que é usado na questão 132 de O Livro dos Espíritos? (“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição”)

Não, a melhor palavra mesmo é que Deus impõe a encarnação. O importante não é a palavra, mas o entendimento do que ela afirma.

O que quer dizer Deus impor uma encarnação? Que a encarnação é obrigatória. Sim, nenhum espírito pode deixar de encarnar.

Deus não concede ao ser o direito de encarnar ou não, mas impõe ao ser esse acontecimento da vida espiritual. Só que a partir dessa visão, temos que compreender alguns fatos.

Deus obriga que se encarne, mas não a que o espírito durante ela se sujeite ao que não queira.

“258a. Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo? Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar por que decretou Ele essa lei e não aquela. Dando ao espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem”. (O Livro dos Espíritos)

Além disso, o Pai não obriga que o espírito aproveite a encarnação.

“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros, só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”. (idem)

Fora isso, precisamos nos lembrar que o dogma da reencarnação se fundamenta na justiça de Deus.

“171. Em que se funda o dogma da reencarnação? Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento”. (idem)

Em face de tudo isso que está em O Livro dos Espíritos, que como dissemos no início desta conversa é elemento importante para se compreender a vida humana para o espírito, fica bem claro que a obrigatoriedade de encarnar é um ato amoroso e não um constrangimento legal.

Mas, se você ainda acha este termo incorreto, pergunto: se seu filho não quiser ir mais a escola, você o deixará vagabundear o dia inteiro? Claro que não. Como um pai zeloso o obrigará a ir à escola e realizar lá os estudos e as provas necessárias para que tenha um futuro melhor.

A obrigação de encarnar sem que haja determinação do que será vivido e sem a necessidade de sair-se bem nas suas provas dada por Deus aos espíritos é a mesma que você exerce quando obriga o seu filho a ir à escola. É a atitude de um Pai zeloso e amoroso que preza pelo futuro do seu filho.

Saiba de uma coisa: Deus não tem livre arbítrio. Ou seja, o Pai não pode dar o que quer ao filho. Ele depende de que o filho mereça para receber. Por isso obriga que o espírito encarne. Só fazendo provas o espírito gera o merecimento para poder receber alguma coisa de Deus.

Participante: No estudo de O Livro dos Espíritos, você disse que os sentimentos são criados a partir do sentimento do espírito. Pode falar sobre isso?

É o que acabei de dizer. Se o pensamento é uma atividade humana e se ela é uma prova, a atividade humana é regida pela provação que o espírito precisa passar. Se esse opta pelo amor individual, pelo egoísmo, terá que vivenciar a mesma prova. Sendo assim uma nova atividade material, humana terá que ser criada neste sentido.

Participante: podemos conhecer nossas encarnações passadas? Esse conhecimento pode ser importante para nos ajudar a evoluir dessa vez?

O que é ter conhecimento sobre uma encarnação passada? É ter uma atividade humana.

Ter ciência de acontecimentos de outras vidas é uma atividade humana. Assim como todas as outras, ela é regida pela atividade espiritual, ou seja, é criada a partir da necessidade de provação do espírito Por isso respondo que você pode ter esse conhecimento, se isso for necessário para a sua provação nessa encarnação.

Mas, em que lhe ajuda a lembrança de acontecimentos de outras vidas? Criando a prova. O acontecimento de lembrar-se de coisas de outras vidas dá a provação que o espírito precisa para o trabalho dessa vida.

Essa é a única forma que a lembrança de outras vidas pode lhe ajudar. É a única coisa para que serve. O resto é conto da carochinha.

O espírito e a vida humana

As coisas materiais

Participante: o que são os espíritos da natureza ou elementares?

Espíritos. Se segundo o Espírito da Verdade, no universo só há o espírito e a matéria e Deus acima de tudo, os espíritos elementares são seres universais.

“27. Há, então, dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito? Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal”. (O Livro dos Espíritos)

Chegar a essa conclusão é aplicar o entendimento da vida a partir das realidades do mundo espiritual. Se o Espírito da Verdade afirmou que no universo existem apenas três elementos e se esses ensinamentos regem as relações entre os encarnados e os desencarnados, aquele que se diz buscador tem que entender que tudo se resume na existência apenas do espírito, da matéria universal e acima de tudo Deus.

Sobre esse assunto apenas ressalto que a matéria que é citada aqui nada tem a ver com aquela que vocês conhecem no mundo humano. Ainda de acordo com o Espírito da Verdade, toda matéria conhecida no mundo humano é transformações da matéria universal (pergunta 30).

Aproveito essa questão para falar a quem no início da conversa falou sobre as diferenças das doutrinas espíritas. Esse é outro ponto onde a doutrina dos espíritos diverge da doutrina espírita humana e ao qual o buscador deve se atentar. Para aquele que busca aproximar-se de Deus não pode existir a matéria humana.

Para esses precisa prevalecer a ideia de que tudo que é inteligente é espírito e o que não possui inteligência é fluído cósmico universal. Usando esse conhecimento fica mais simples cumprir o mandamento do não julgar.

O que é uma mesa cheia de poeira? Um monte de fluído cósmico universal sobre outro o mesmo elemento. Uma roupa não passada e um chão limpo é a mesma coisa.

Sabendo disso, não há necessidade de se julgar se o elemento está limpo ou sujo, arrumado ou desarrumado. Veja como os valores dessa vida mudam quando se começa a vivê-la como espírito, a partir da realidade espiritual.

Já me perguntaram anteriormente se aqueles que vão encarnar no próximo mundo terão na consciência o valor humano. Falei que essa ideia não existirá, pois todos se saberão como espírito na carne.

Eles não viverão atividades humanas, mas apenas espirituais, ou seja, não viverão o ouvir ou andar, mas sim a realização de provações. Também não viverão com o mundo material como composto por múltiplas matérias ou elementos, mas apenas a matéria universal.

Dá para começar a entender o que estou querendo afirmar e com isso alcançar a importância da conversa que estamos tendo hoje? Mas, ainda tem coisas importantes a serem conversadas e continuaremos falando sobre isso. Por enquanto, apenas quero deixar bem clara uma coisa: mudar os valores com os quais convive com as coisas deste mundo é a grande revolução que todo aquele que quer alcançar Deus precisa fazer.

O espírito e a vida humana

A revolução

Alcançar a elevação espiritual é aproximar-se de Deus, mas para isso é preciso que se viva com os mesmos valores que o Pai tem. Para se aproximar de Deus o ser precisa ter a consciência espiritual e para se alcançá-la deve trabalhar para alterar as atividades humanas em espirituais e os elementos materiais em universais.

É a partir dessa mudança que se estabelece a base da concepção da vida para aquele que almeja aproveitar a encarnação. Quem aproveita a sua oportunidade de elevação promove dentro de si uma reforma e essa se caracteriza pela mudança da concepção que se tem da vida que se vive: dos valores materiais para os espirituais ou universais. É isso que precisa ser revolucionado.

Como já disse hoje, quem vive como todos, chegará ao mesmo lugar que eles. Quem é um buscador, mas não vive diferente, ou seja, não provoca uma revolução na sua vida, não pode jamais alcançar aquilo que busca.

O que vocês chamam de alcançar a evolução ou promover uma reforma no íntimo é exatamente tudo o que conversamos até aqui e o que conversaremos ainda. Trata-se de viver a vida a partir dos elementos espirituais, como se ela fosse, porque é, uma atividade espiritual, ou melhor, viver uma vida humana com as atividades e elementos do universo.

Na hora que mudar a sua forma de viver o mundo vivendo as atividades espirituais e não as materiais, o ser liberta-se da materialidades da prisão ao ego.

Participante: as mesmas leis de merecimento para o espírito valem para o ser humano?

Não. O ser humano é o resultado do merecimento do espírito.

Se a atividade humana está vinculada a espiritual, o ser humano será aquilo que o ser universal precisar que seja para que existam as provas e as missões.

Participante: se o ser humano não existe, ou seja, existe apenas transitoriamente, porque o espírito se confunde e apega-se à mente material?

Por que ama egoisticamente.

O espírito apega-se à mente humana porque ela possui como característica primária o egoísmo, que corresponde a mesma intenção que o espírito em desenvolvimento moral no nível de elevação que vocês estão possui.

Participante: porque é tão difícil para o espírito largar as pedras?

Para lhe responder vou usar a mesma figura que você usou (largar as pedras), que estou entendendo como largar a coisa humana.

Como disse, o espírito se apega às coisas humanas porque gosta de amar egoisticamente. Sendo assim, posso dizer que ele não larga as pedras porque quer jogá-las nos outros: julgar, criticar, acusar, etc. Por que gosta disso? Porque agindo desta forma prova que é melhor que os outros.

Você já reparou que todos os seres humanos apontam defeito nos outros. Diante disso, pergunto: quem será o certo, ou seja, quem tem realmente a capacidade de conhecer as coisas tão profundamente que não pode jamais ser contestado?

Participante: o espírito racionaliza a vida?

Dentro da razão espiritual, sim; da razão humana, não.

A razão humana não existe no universo. Ela é apenas uma ilusão que serve para a criação da provação do espírito. Enquanto ela está existindo, o espírito racionaliza não com ideias humanas (palavras, sons ou imagens), mas através de sentimentos.

Amar egoisticamente ou universalmente é a razão do espírito.

O espírito e a vida humana

Conversando 2

Participante: se tudo é prova e missão, então não há espaço para o acaso ou coincidência. Todas as interações humanas são criadas no sentido da provação dos espíritos.

Isso é o que diz, como vimos, o Espírito da Verdade. E é por causa disso que ele responde, quando perguntado sobre a fatalidade, que ela existe, pois o espírito ao escolher um determinado gênero de provações cria para si uma espécie de destino. Nessa afirmação está intrínseca a comprovação de que para os espíritos o que rege o relacionamento entre os dois mundos é a vinculação entre o elemento humano e o objetivo da encarnação dos seres universais.

Aliás, neste aspecto, está outra grande diferença entre a doutrina dos espíritos e a espírita humanizada. Essa última acredita que a atividade humana é fruto do livre arbítrio do homem, enquanto o transmissor dos ensinamentos afirma que o livre arbítrio é do espírito e é exercido antes da encarnação.

Como seguimos a visão espiritual dos ensinamentos transmitidos pelo Espírito da Verdade, concedemos o livre arbítrio ao espírito, antes e durante a encarnação. Por isso ensinamos também que a atividade humana segue rigidamente o escolhido antes do início de uma encarnação.

Quem no início de nossa conversa perguntou sobre a diferença entre as duas doutrinas, está compreendendo agora o que quis dizer? Para mostrar o que existe de diferente não criei novas informações, mas apenas citei o que está em O Livro dos Espíritos.

Participante: estamos todos caminhando para o amor universal, o alinhamento com o Cristo.

Concordo, mas sem a compreensão do que é a vida humana para o espírito garanto que não se chega a ele.

Para se alinhar com Cristo é preciso compreender o que é a vida humana para o espírito, pois ele sabia. Por saber, o mestres disse: se um soldado inimigo lhe faz carregar um peso por um quilômetro, carregue-o dois. Para ensinar assim, tinha que entender que a atividade humana é uma boa oportunidade para o espírito provar a si mesmo que ama a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo.

Participante: se agora estivesse no mundo espiritual sem o corpo, ou seja, morto, como estaria me comportando referente à nova compreensão da razão, das percepções e outras coisas do mundo de lá?

Não saberia lhe responder essa questão.

Para isso teria que saber como está fora do corpo humano nesse momento. Essa informação não tenho agora.

Apesar disso, posso garantir que ainda estaria vivendo provas. Digo isso porque a humana é a sétima consciência. Mesmo que já tivesse se desapegado dela, ainda iria para a sexta, onde também existem as mesmas provações pelas quais está passando agora.

Participante: pode se vivenciar a mesma essência de provação em diferentes encarnações? Não me refiro apenas às humanizadas, mas sim a qualquer outro tipo de nível consciencial, mesmo que não se possa traduzir em palavras para os humanizados essas outras manifestações.

Vou lhe responder apenas sobre a essência humana, pois como você mesmo disse, sobre outras consciências não dá para colocar em palavras que gerem uma compreensão.

Qual a essência de qualquer acontecimento humano, ou seja, qual o gênero de provas que um espírito passa? A vivência do amor universal ou do egoísta.

Não importa que atividade humana o espírito esteja vivenciando, o que está em provação sempre é o direcionamento do amor que viverá. Não importa se atividade humana se traduz em matar ou dar a luz, acariciar ou atacar, elogiar ou criticar: em qualquer uma delas está sempre ocorrendo a provação do direcionamento que o ser dará ao seu amor.

Sendo assim, aquele que mata e o que dá a luz estão vivendo o mesmo gênero de provação. Por isso digo que na verdade todas as provações em todas as encarnações estão vinculadas a esse gênero.

Participante: você diz que fala a espíritos. Como seres universais estamos todos ouvindo e nos libertando?

Não. Como espíritos estão vivendo provações neste momento.

Lembre-se: o espírito não ouve nada. A cada momento está sempre realizando provas e cumprindo missões. Por isso, tudo o que é traduzido como ouvir e compreensão que surge dessa atividade é, na verdade, uma provação para o ser universal. Vivendo a prova, ele tem a livre opção de se libertar ou não.

Sendo assim, não podemos afirmar que está se libertando nesse momento, mas sim tendo uma oportunidade para isso. Afirmar categoricamente que a libertação está acontecendo, como já respondi anteriormente, não posso, pois não tenho essa informação agora.

Participante: como nos libertar das responsabilidades que nos foram impostas e por ignorância assumimos para findar o ciclo da razão humana?

Você humano não pode se libertar dessas responsabilidades, pois se conseguisse praticar essa atividade o espírito não teria a sua provação. Portanto, você, humano, não pode acabar com as responsabilidades que a razão possui.

Mas, se não pode acabar com elas, pode reagir de uma forma diferente. Ao invés de prender-se ao que é dito, pode amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Como isso pode ser compreendido racionalmente? Se fizer fez, se não fizer não fez.

Quem ama egoisticamente é aquele que cobra dos outros e de si mesmo as questões pelas quais se sente responsável. Quem ama universalmente, mesmo que vivendo responsavelmente, não cobra nada de si ou de outros.

O espírito e a vida humana

Encerramento 1

Vamos encerrar por aqui essa conversa. No próximo encontro ainda falaremos um pouco sobre o que é a vida humana para o espírito, mas falaremos muito mais sobre o que é o espírito para o ser humano.

Fiquem com Deus.

O espírito e a vida humana

Perguntas iniciais

Participante: se o cachorro não tem carma, porque sofre? É porque vive no mundo de provações como nós, sujeito a alternância de situações?

Quem disse que o cachorro sofre? Quem dá o valor de sofrimento a algumas ações do cachorro. Por isso afirmo que é você quem sofre e não ele.

Cachorro não sofre dor moral. Para isso precisaria ter um raciocínio que criasse o sofrimento. Ele não tem consciência de si mesmo, como sofrerá de pena de si?

Cachorro ou qualquer outro animal não sofre.

Participante: estou morando num lugar novo, Portugal. Aqui parece haver muitos espíritos andando soltos. A gente sente isso. O que quero saber é como lidar com isso, pois às vezes assusta.

Como deve lidar com qualquer outro espírito, encarnado ou não: amando. Ame a tudo e a todos, este é o ensinamento.

O espírito e a vida humana

Tudo é prova

Respondidas as perguntas, vamos começar nossa conversa de hoje.

Falamos da vida humana para o espírito, mas ao fazer isso abordamos muito rapidamente de algo que agora me aprofundar mais: se toda atividade humana, seja física ou mental, é uma atividade espiritual, não podemos nos prender a ideia de que apenas a atividade física é um elemento da prova ou da missão do espírito.

Naquele momento foi feita uma pergunta longa sobre vontade e vou usá-la para conversar sobre o tema que falei pouco da última vez.

Vontade é algo que os seres humanos têm através da mente. É um raciocínio que expõe uma vontade. Não vou usar o termo cria, pois a mente não cria nada, mas apenas expõe o que Deus determina que chegue à consciência do espírito.

Ora, se a atividade de gerar um pensamento que cria uma vontade é humana, a vontade não é do espírito. Não sendo do ser, faz parte da provação e da missão que o espírito vivencia durante uma encarnação.

Ter vontade de qualquer coisa, desejo sexual, inveja, ganância, não são atividades do espírito. O ser universal não tem nada disso. Enquanto você, humano, está racionalmente vivendo um desejar, um querer possuir através da atividade mental, o espírito está, no mesmo momento, vivendo uma atividade espiritual.

A partir dessa constatação, posso entender que qualquer atividade mental, ou seja, atividade que acontece apenas no mundo interno de um ser humano, que não leva a uma atividade física, é espiritual. Sendo assim, tudo o que vem à mente do ser humanizado é prova e missão do espírito.

Esse é o primeiro detalhe que quero abordar hoje. Segundo: para que a atividade material seja completa, existem os elementos materiais, os objetos da matéria. Estes objetos não existem. Fazem parte da atividade material e por isso são instrumentos da prova e da missão.

Ora, se o desejar é uma prova para o espírito e para que ele ocorra é preciso que haja os elementos humanos, posso dizer que ninguém quer nada. A razão cria um objeto ilusório e cria uma vontade de ter para que a prova do espírito exista.

A partir disso, afirmo que a verdadeira compreensão sobre um ser humano que deseja algo é um espírito que está vivendo uma prova. O ser que vivencia essa prova pode apegar-se ao desejar ou amar a tudo e a todos. Apegando-se ao desejo viverá o desejar como real e com isso posso dizer que ele está desejando. No entanto, esse desejar do espírito não é realmente desejar, mas o resultado a uma provação.

Aplicando o mesmo raciocínio a outra atividade, digo que a crítica do ser humano a alguém não existe no mundo real. O ato, a atividade de criticar, é uma prova para o espírito. Aquele que se apega ao mundo humano vivencia isso como real, mas essa realidade é ilusória. Por isso não podemos afirmar que realmente existe.

Ficou claro o que estou querendo dizer? Tudo que o ser humano toma consciência, faça parte do mundo material, seja interna ou externamente, não faz parte do mundo real. Trata-se apenas de elementos da atividade da encarnação do espírito.

O espírito e a vida humana

O espírito e o sofrimento

Participante: o sofrimento do espírito, mesmo que ilusório, se dá quando se esquece que tudo são ideias para provas e se apega às percepções humanas como se fossem verdades e realidades. Certo?

Errado. O espírito não sofre.

Duas coisas diferentes: a realidade e o mundo das ideias. O sofrimento está no mundo das ideias enquanto que na realidade o que existe é uma provação. A provação é constituída pela ideia de sofrer, mas o sofrimento é ilusório.

Sendo assim, o espírito não sofre, mas vive uma prova. Durante a provação pode vivenciar duas novas atividades: apegar-se ao sofrimento gerado pelo ego ou não. O apego é a atividade que está acontecendo e não o sofrimento.

Ao realizar a atividade de apegar-se imagina-se com sofrimento, mas isso não é real. Pode imaginar que está sofrendo, que está vivenciando dor, mas isso não é real. O que realmente está fazendo é apegando-se à ideia gerada pela personalidade humana.

Viver um sofrimento, ou seja, sofrer, é uma prova, mas não uma atividade do espírito. O sofrimento é apenas o cabeçalho da pergunta e não uma vivência. Você quando lê um cabeçalho de uma pergunta não vive o que ele diz, mas sim o ato de estar lendo o cabeçalho.

Apegar-se a uma ideia não é viver a ideia. Por isso, apegar-se ao sofrer criado pela razão não quer dizer que o espírito esteja sofrendo.

Se acreditássemos no sofrimento do espírito teríamos que afirmar que ele deseja, tem vontades, paixões, ganâncias, mas não vive nada disso. Essas coisas são atividades materiais e não espirituais.

Participante: o sofrimento é uma prova, então. A ideia de ter o sofrimento é a prova. É isso?

Sim, a ideia de ter um sofrimento é a prova e não o sofrer. Na verdade o sofrimento não existe e por isso afirmo que no universo ninguém sofre.

Nem mesmo você, humano sofre de verdade. Quando imagina estar sofrendo, na realidade essa ideia é a formação do cabeçalho explicativo da questão que será apresentada ao espírito. Vou explicar isso melhor...

Digamos que alguém lhe calunie e por isso você, humano, sofra. Esse acontecimento do mundo humano serve como cabeçalho da pergunta que será feita ao espírito: ‘e agora, se apegará à mente e acreditará na história que foi contada ou amará a Deus acima de todas as coisas’?

É mais ou menos como a seguinte questão de uma prova: ‘se uma conta sai por vinte reais e outra por trinta, quanto você gasta’? Nesse exemplo, a afirmação dos valores da conta corresponde a ideia de alguém ter falado e por causa disso existir um sofrimento; a pergunta sobre o total gasto, a questão que é apresentada ao espírito.

Portanto, o espírito jamais sofre.

Participante: a ideia de sofrimento que o espírito pode vir a se apegar gasta muita energia. Será que o ser pode vir a se render pelo cansaço? Aproxima-se de Deus por não ter mais energias para se apegar às ideias humanas?

Eis aí um grande exemplo do que estamos falando hoje: a análise da coisa espiritual pelos valores humanos ...

Quem é que se cansa? O que é cansar-se? Cansar é uma atividade humana, por isso não podemos afirmar que o espírito se cansa por qualquer coisa.

Na verdade, quando você, humano, se sente cansado, seja física ou moralmente, isso é uma provação para o espírito. Ele não se cansa, não brinca, não namora, se sente bem ou mal: todas as sensações são atividades humanas e, portanto, provas para o espírito.

A única atividade que o espírito pratica é a livre opção entre amar a Deus sobre todas as coisas ou ao ego. Mais nada ...

O espírito e a vida humana

O espírito nas doutrians orientais

Participante: aprendi nas doutrinas orientais que o espírito já é perfeito em si. Ele possui amor, paz e outras qualidades inatas. Qual a razão do ego existir sendo que a essência do ser é perfeita e por isso não há perfeição a ser alcançada? Seria a encarnação como um playground para o espírito?

Primeiro, as doutrinas orientais não falam em espíritos, mas sim em ser. Espírito é uma ideia específica do espiritismo. As doutrinas orientais não tratam o elemento universal da mesma forma que você, que conhece o espiritismo.

Segundo detalhe: as próprias doutrinas orientais monistas falam que o espírito é uno, único e estável. Por isso não podemos dizer que o elemento universal com que elas trabalham tenha amor, paz ou raiva. Ele é uno e único, ou seja, é sempre a mesma coisa.

O que esse ser tem, você pode chamar do que quiser, isso não importa. O que realmente importa é ter a consciência de que ele não possui variações.

Terceiro aspecto que quero levantar a partir da sua pergunta. O próprio Buda explica a necessidade da reencarnação falando que o ser universal ao longo de sua existência se suja, se polui com as criações dos cinco agregados. O espírito, que eles chamam de ser universal, se polui quando se apega ao ego. Sendo assim, quando o espírito encarnou na primeira vez se suja e por isso precisa de uma nova encarnação para se limpar.

Agora repare que falei em sujar-se e não em alterar a sua essência. Como disse, para estas doutrinas o espírito é uno, único e estável, ou seja, permanece sempre inalterável. Só que quando se polui, precisa se limpar.

Para isso é que existem as encarnações. Elas não existem para que o espírito alcance nada, pois já é tudo o que pode ser, mas para que o ser se limpe da poluição adquirida em uma encarnação anterior.

Portanto, a cada nova encarnação o espírito tem a oportunidade de limpar-se da sujeira adquirida com a anterior. Não conseguindo limpar-se totalmente ou ainda adquirindo mais sujeiras, o ser precisa encarnar novamente para fazer esse trabalho. Com isso estabelece a roda das encarnações ou sansara que tanto Krishna quanto Buda, os mestres orientais, afirmam existir.

A sansara ou roda de encarnações, portanto, é um processo de limpeza do espírito e não de melhorar a sua pureza. A essência do espírito não se altera com o resultado das encarnações, mas apenas a sua poluição.

A partir de tudo isso que lhe falei, posso dizer que o processo encarnatório trata-se de um instrumento para o espírito retornar à grandeza que já é e não se elevar interiormente como vocês acreditam.

O espírito e a vida humana

Conversando sobre as criações do ego

Participante: o espírito pode escolher entre desejar ou amar a Deus?

Não. Ele não escolhe desejar, mas sim apegar-se ao desejo gerado pela mente ou pelo amor a Deus.

O espírito nunca deseja ou faz qualquer outra coisa: ele só vive provas. A ideia de desejar é apenas a prova e não um desejo realmente.

O ser pode escolher entre amar a Deus ou apegar-se à ideia que vem à mente. Fazendo a segunda opção imaginará que está desejando, mas isso não é real. Na realidade não está desejando, mas sim apegado à mente que deseja.

Sei que isso é difícil para vocês humanos compreenderem, mas o que posso dizer é que o espírito tem a ideia de estar desejando, mas o desejo não é verdadeiro. O que está vivendo realmente é um apego ao mundo material.

Participante: se tudo é prova, não existe a história, os atos, nem culpados ou inocentes. Só existem as ideias que servem como provações?

Perfeito. Tudo que você imagina existir é apenas uma ideia que servirá como provação para o espírito.

Participante: como desapegar-se do ego? Existem métodos para isso?

Para o espírito existe, mas para você não, já que é o ego. Por isso não pode desapegar-se de si mesmo.

O espírito se desapega do ego, mas você, ou seja, quem imagina ser nesse momento, é o ego que tenta o ser universal para mantê-lo apegado.

Participante: a frase do Pai Nosso diz que devemos pedir que seja feita a vontade divina, mas segundo o seu ensinamento ela é feita sempre. Isso quer dizer que essa frase não é mais correta?

Sim, a vontade divina é sempre feita. Ou isso, ou devemos acreditar que a Onipotência tem momentos de inatividade ...

Participante: estou falando isso porque costumo dizer sempre essa frase.

Dizer você pode. Aliás, deve, já que faz. É assim que está gerando uma provação necessária para você, o espírito.

Agora, achar que faz muito porque diz isso é buscar a glória individual e não aproximar-se de Deus.

Participante: como faço para o ego largar de mim?

Você é o ego, como largar de você mesmo?

Você é o espírito, mas não vive como tal porque não tem nenhuma consciência a partir da realidade espiritual. Tudo que tem consciência pertence ao ego e por isso afirmo que nesse momento é o ser humano, o ego.

Participante: a criação do carma ocorre quando o espírito se esquece que tudo são ideias para provação e se apega a elas como se fossem verdades e realidades absolutas?

Isso seria exato se aplicássemos a ideia de carma como penalidade por uma ação anterior. Como já disse, o carma é apenas o momento seguinte, a reação a uma ação. Nada tema ver com punição.

O carma acontece quando o espírito se apega ao ego, mas também existe quando não se apega. Saiba que toda atividade espiritual, ou seja, realização de uma provação ou missão, leva a uma reação, a um carma.

Participante: o ego deixa de existir? O espírito cria outros egos para outras provações? Essas consciências de existir são de quem?

O ego é a vida. O José e a Maria são os egos. Sendo assim, quando o ser universal reencarna, se liga a um novo ego.

Quanto ao ego antigo, o da outra encarnação, acaba, morre. O José e a Maria acabam quando se encerra um período de provações do espírito. Quando um novo começar nascerá uma nova Maria e um novo José.

A consciência de existir está no ego. Ele tem a consciência de existir como uma individualidade. Como tudo que está no ego é ilusório, afirmo que você acha que existe, mas isso não é real ...

O espírito e a vida humana

Relacionando-se com espíritos

Bom, não havendo mais perguntas e já tendo comentado o que precisava como complemento da conversa anterior, vamos iniciar a conversa de hoje: o espírito para a vida humana ...

Como a humanidade deve se relacionar com o espírito? Durante a atividade espiritual, que vocês chamam de vida, como deve ser o relacionamento com o espírito?

Para falar desse assunto continuo usando o Espírito da Verdade como fonte de informações. Afinal de contas, como está na introdução de O Livro dos Espíritos, é essa a fonte que explica a relação entre espírito e mundo material e vice-versa.

Segundo O Livro dos Espíritos, qual a forma do espírito?

“88. Os Espíritos têm forma determinada, limitada e constante? Para vós não; para nós sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão ou uma centelha etérea”.

É por conta dessa resposta sobre a forma do espírito que é dito:

“Para vós, ele nada é, por não ser papável”. (pergunta 23a de O Livro dos Espíritos)

Repare que não há nessa resposta como dizer que a compreensão do assunto depende de interpretações. A resposta é inequívoca: para vós, os humanos, o espírito não é nada ...

Sendo assim, como o ser humano deve lidar com a existência do espírito? Sem compreensões, sem ideias pré-concebidas.

O ser universal para o humano é um nada. Por isso, quando a razão se relaciona com o espírito com ideias pré-concebidas, ou seja, achando que sabe o que é um ser universal, como ele vive e age, o que faz ou qual atividade deles, está se relacionando apenas consigo mesmo, com as suas próprias ideias.

Se o espírito é um nada, como se relacionar com ele tendo algum saber?

Portanto, o ser humano precisa relacionar-se com o espírito com a consciência de nada saber, nada conhecer. Para isso precisa não ter ideias pré-concebidas sobre o ser espiritual e nem formular concepções a respeito dele ou de sua forma de viver ou agir.

O espírito e a vida humana

O que se sabe do espírito

É por isso que digo que para o mundo espiritual, tudo é possível. Quantas vezes já me perguntaram se determinada coisa pode acontecer com o espírito. Sempre respondi afirmando que para ele tudo o que você imaginar e o que não tiver nem ideia é possível.

O espírito quando se relaciona com o mundo material, para a concepção humana, pode tudo. Ele pode aparecer? Sim. Pode não aparecer? Sim. Pode fazer isso ou aquilo? Pode. Mas, se as duas coisas são antagônicas ele pode realizar ambas? Pode, pois não há ideia humana que fale claramente e decididamente sobre o que é o espírito, o que ele faz ou deixa de fazer.

Isso é fundamental para ser encarnado ter na consciência quando está vivendo uma personalidade humana. Se não tiver essa consciência, acabará se atrelando a normas humanas que falam como o espírito é ou vive. Assim deixa de viver a sua realidade e passa a viver como real aquilo que a personalidade humana cria.

Esse é outro detalhe que vejo muito nas conversas espiritualistas: o ser humano atrelando o espírito a padrões e conceitos preconcebidos pelos humanos. Isso não é real.

Os humanos imaginam que são capazes de saber o que acontece com o espírito em determinadas situações. Saber o que ele pode fazer em outra oportunidade. No entanto, como ter essa certeza se o ser universal para o humano não é nada?

É exatamente por acreditarem nessas informações que os seres encarnados vivem um mundo de ilusões. Por terem ideias preconcebidas sobre algo que para eles não é nada, vivem como realidade o que é apenas uma atividade material ou provação para o espírito.

Para não cair nesta farsa montada pela personalidade humana vocês precisam entender que não possuem a menor condição de compreender o que é o espírito ou como ele existe. A ausência de condições de compreensão não se deve ao fato de que os humanos são burros, desinformados e sim porque são ignorantes: ignoram tudo a respeito do ser e do mundo espiritual. Como ignoram a realidade, não conseguem compreender qualquer coisa a este respeito.

Então, logo no início da conversa sobre o tema de hoje (o espírito para a vida humana) temos que aprender a tratar com o espírito e com o mundo espiritual sem ideias pré-concebidas e sem formar novas ideias sobre estas coisas.

O espírito e a vida humana

O espírito e o ego

Participante: briguei com alguém ou uma pessoa quis me humilhar. Desse fato aparece a ideia de se afastar dessa pessoa. Que caminhos podem surgir para o espírito?

Se apegar a ideia que tem que se afastar ou não.

O espírito não brigou, não teve a ideia de se afastar, não está na dúvida do que fazer. Não falou, não ouviu e nem pensou nada. Só viveu provações.

Não há outra atividade para o espírito a não ser vivenciar provas e cumprir missões.

Participante: o espírito precisa ser possuído pelo ego para depois despossuí-lo, certo? Não há como se livrar do ego sem prender-se à ele?

Nunca afirmei que ele precisa aprisionar-se ao ego antes do trabalho da reforma. O que digo que é que precisa receber as informações da mente. Agora, a partir do momento que recebe as informações, pode aprisionar-se ou não.

Aliás, na verdade o espírito nunca é preso à mente humana. É como ensina Krishna quando o perguntam se a mente primária é escrava da secundária. O mestre responde que se a secundária bem como a própria ligação são apenas ilusões, como pode haver escravidão? O que acontece é que a mente primária se deixa prender à ilusão, o que é diferente de estar presa.

Participante: mas, nenhum espírito consegue despossuir sem possuir. Ou será que é possível o espírito não se iludir com o ego?

Sim, é possível. No mundo espiritual, tudo é possível.

Entendo a sua lógica, que é humana. Você imagina que todos se deixam possuir pelo ego porque raciocinam iguais, mas isso não quer dizer que os espíritos que estão vivendo essas personalidades estão apegados ao que é criado pela mente. Como isso é um trabalho de foro íntimo, você jamais saberá se está preso ou não.

Lembra-se das atividades que já falamos? Pois é, não existe atividade humana que diga que o espírito está desligado do ego. Mesmo que uma mente crie essa realidade, a atividade é humana e por isso apenas uma provação para o espírito e não uma realidade.

Nenhum ego tem uma consciência real da forma como o espírito está reagindo àquilo que ele cria.

Participante: na reencarnação o ego é o mesmo?

A cada encarnação, a cada nova vida humana, existem novos gêneros de provações. Por esse motivo há a necessidade de atividades diferentes. Por isso, existe um ego para cada encarnação.

O espírito e a vida humana

O que existe no mundo espiritual

Vamos voltar a nossa conversa de hoje?

A partir da consciência de que é preciso lidar com o espírito sem ter ideias pré-concebidas sobre ele ou sobre a sua ação, muito do que viram até hoje no próprio espiritismo precisa ser revisto. A literatura espírita, seja ela formada por informações técnicas ou romances, após Kardec criou diversos elementos dando explicações sobre o mundo espiritual. Elas, no entanto, não são reais, pois o Espírito da verdade, como vimos, afirmou que o ser universal é nada para o humano.

Antes de continuar peço apenas que reparem na forma como falei. Não disse que elas não são verdadeiras, mas sim que não são reais. São realidades humanas, ilusões que são tratadas como realidades, por isso são apenas provas para espíritos, elementos da provação do ser encarnado e desencarnado e não erradas.

Querem um exemplo do que estou falando? Leiam a pergunta 1012 de O Livro dos Espíritos:

“1012. Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos, segundo seus merecimentos? Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa”.

Ouviram o que disse o Espírito da Verdade e que deveria servir como base do espiritismo? Não há lugar circunspecto para gozo de penas ou merecimentos.

O que será que isso quer dizer? Que não existe o umbral, o paraíso ou as cidades espirituais. Apesar disso, toda literatura espírita fala da existência do lugar de gozo das penas (umbral) e dos merecimentos (cidades espirituais).

A literatura espírita deveria embasar-se em O Livro dos Espíritos. No entanto, esse livro afirma que não existem espaços circunspectos para estes gozos. Já para a literatura existe tanto o lugar para gozo da pena como da glória.

Ora, se naquele que serve como base para todo relacionamento entre os mundos espiritual e humano existe a informação que acabamos de ver, de onde surgiu na literatura a ideia do umbral e das cidades espirituais? Outra pergunta: comparando a informação do Espírito da Verdade com o que informa a literatura espírita, onde fica o umbral ou as cidades espirituais?

Muitos me responderam que está em outro plano, em outra dimensão. Mas, o Espírito da Verdade é claro: no universo não existem lugares circunspectos. Será que as outras dimensões ou planos citadas por espíritas e espiritualistas estão fora do universo ou será que o Espírito da Verdade não as conheceu?

A resposta as minhas perguntas estão também no ensinamento da pergunta 1012:

 ... “cada um possui em si o princípio da felicidade ou da sua desgraça”.

Ou seja, o umbral e as cidades espirituais não estão no universo, mas dentro de cada um. Tanto o gozo das penas quanto das glórias são vividos apenas no interior de cada um.

Aliás, essa informação corresponde exatamente a um ensinamento de Cristo através do evangelho apócrifo de Tomé:

“003. Jesus disse: Se aqueles que vos guiam vos disserem: vê, o Reino está no céu, então os pássaros vos precederão. Se vos disserem: ele está no mar, então os peixes vos precederão. Mas o reino está dentro de vós e está fora de vós. Se vos reconhecerdes, então sereis reconhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas se vos não reconhecerdes, então estareis na pobreza, sereis a pobreza.”

O umbral e as cidades espirituais estão dentro de cada um, são apenas ideias racionais. Afirmo isso porque dentro do espírito, de sua consciência, o que está presente no momento em que está humanizado são as ideias geradas pela personalidade humana que está vivenciando e não a verdade, o conhecimento da realidade real.

Por isso digo que acreditar que para o espírito existe tanto o umbral quanto as cidades espirituais é querer criar um padrão humano para algo que é espiritual. Trata-se de alguém movido pela realidade ilusória, humana, que projeta estas concepções para o universo espiritual.

O espírito e a vida humana

Não acredite nas suas ideias sobre o espiritual

O umbral, portanto, é uma ideia humana, mas não só ele. Quando se fala em entendimento do que é espiritual, tudo o que é concebido pela mente humana também o é. As obsessões, por exemplo, também são criações de lógicas humanas e não realidades universais.

Um espírito não obseda o outro, ou seja, não se junta a outro para conduzi-lo à desgraça. Isso fica bem claro quando analisamos o início da mesma pergunta que acabamos de citar:

“... os espíritos se juntam por afinidade”.

Por isso, para que a obsessão, como vocês conhecem, exista, é preciso que os dois comunguem da mesma coisa. Se um deles não comungar, jamais estarão próximo. Sendo assim, jamais haverá um obsedando o outro.

Por causa disso afirmo: não há um espírito que consiga obsedar outro se não houver afinidade de ideias. Se isso é real, ninguém pode obsedar quem quiser.

Por isso, dentro dessa conversa que estamos abordando o valor das coisas espirituais para os seres humanizados, afirmo que precisam libertar-se de todas as ideias que têm até hoje sobre o universo espiritual. Oriento-lhes que não sejam como os seres humanos que acreditam na ideia da existência do umbral ou das cidades espirituais e tantas outras criações humanas para o mundo dos espíritos.

Como disse anteriormente, quem vive do mesmo jeito que alguém terá o mesmo fim. Se não viver diferente, não conseguirá resultado diferente.

Libertem-se da ideia da existência de um mundo espiritual onde haja ônibus espacial, casas, ruas, flores. Não acredite nisso, porque você é espiritualista, ou seja, vive para as coisas do mundo de lá e estes elementos são do mundo de cá, fazem parte das atividades humanas.

A humanidade, o ser humano, se fosse fiel ao que diz acreditar, deveria simplesmente dizer: ‘não posso saber nada sobre a outra vida’. O ser humano não pode saber como o espírito evolui, quem é, como age, onde mora ou como se comunica no Universo, pois como se diz espírita ou espiritualista acredita em O Livro dos Espíritos e lá está escrito que o ser espiritual para os humanos é um nada. Ter essa consciência demonstraria a fidelidade ao que afirma acreditar. Como não existe a fidelidade, afirma acreditar em O Livro dos Espíritos e ao mesmo tempo na existência do umbral ou das cidades espirituais.

O que estou fazendo aqui? Será que estou querendo que vocês humanos mudem a sua consciência sobre as coisas, ou seja, que deixem de acreditar na existência desses elementos? Claro que não. A consciência que a mente tem é uma atividade espiritual e ela só será mudada se Deus assim determinar.

O que estou fazendo, como, aliás, já disse diversas vezes, é falando a espíritos através de egos humanos. Estou mostrando ao ser universal que as ideias que a personalidade humana de agora está acreditando são hipócritas, são contrárias ao que ela mesma afirma crer. Estou mostrando ao espírito o quanto são falsas a sabedoria humana que está chegando agora à sua consciência primária.

Faço isso porque é parte da minha missão orientar o espírito que hoje está vivendo ligado à uma consciência humana. Essa missão existe porque o espírito que está nessa condição acredita no que a mente humana afirma.

Portanto, digo: espíritos, não acreditam nestas ideias.

O espírito e a vida humana

Conversando 3

Participante: então, tudo que fizer nesta encarnação visando um futuro melhor é inútil?

Você não faz nada: trata-se apenas de uma ideia de estar fazendo que chega à mente primária do espírito. O espírito, apegado ao ego, acha que está fazendo alguma coisa.

Toda ideia exposta pela mente é gerada por Deus. Tudo que o Pai faz é visando o melhor para o seu filho, você, o espírito.

Diante da realidade do universo que acabei de expor, o que acha preciso fazer para ter um futuro melhor? Certamente é desapegar-se do ego, pois é o apego ao que ele cria que afasta você do que é melhor.

Participante: para que o espírito precisa evoluir?

Evoluir não é caminhar para frente. Como disse, é limpar-se, voltar à sua condição natural.

Para que precisa fazer isso? Para viver a felicidade que Deus promete.

“Deus criou todos os Espírito simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-lo e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 115).

O espírito quando acredita no que a mente humana fala afasta-se de Deus. Com isso não vive a felicidade que o Pai tem prometido. Cumprindo as missões que Deus dá (encarnações) e durante elas adquirindo o conhecimento da verdade (só Deus e sua ação é real), volta a vivenciar a felicidade.

Participante: armamos a tenda com uma informação durante décadas. Agora vem pai Joaquim e a desarma. Como lidar com o vazio que se sente na mente? Agora só sei que nada sei. Que fazer agora?

Nada... Aliás, você nunca fez nada mesmo, não é verdade?

Tudo o que fizer continuará sendo fruto do faça-se de Deus e não sua ação. Por isso, para que preocupar-se?

Quanto ao fato de lidar com o vazio que fica na mente a partir da constatação de que tudo o que acreditava era ilusório, sinta-se satisfeito, pois quando acabar tudo o que existe na sua razão humana, só sobrará o amor.

Participante: Joaquim, se me permite me dirigir a essa pessoa gostaria de dizer algo sobre o vazio. Passei por isso há pouco tempo. Convivi com um vazio causado pelo fato de não saber mais quem era Deus, o espírito ou as coisas do mundo espiritual. Isso me atormentou muito a ponto de ter uma depressão. No entanto, Deus não desampara seus filhos e por isso não me desamparou. Com o tempo o meu quebra cabeças sobre essas coisas foi se montando, uma peça de cada vez. Hoje estou em paz apesar do vazio. Isso aconteceu quando percebi que o universo é imensamente poderoso e inexplicável. Sendo assim, não adianta sofrer, pois isso não me levará a ter as explicações que quero no momento. Sei que talvez um dia possa ter uma parte delas. Com isso fui parando de sofrer e o vazio foi dando lugar ao universo que é gigantesco e ocupa todo o vazio que possa existir.

A esse seu comentário só posso dizer uma coisa: amém...

O que você falou é perfeito. Como tentador que é, no momento da primeira exposição à ausência de compreensões sobre as coisas universais, o ego cria a ideia do vazio e a sensação de sofrimento e medo por conta disso. Tudo isso nascido da ideia de perder, que é contrária a forma possessiva que ele lida com as ideias: através de posses.

Quando você falou que perdeu Deus e o espírito, na verdade não os perdeu, tanto assim que depois foi Nele que encontrou o caminho para voltar. O que realmente perdeu foi o seu deus, aquilo que possuía como sendo o Senhor.

A mente lida com os elementos através da possessão por conceitos, ou seja, através da convicção de que o que acredita é real. Quando a sua verdade é contestada, aquela posse é atingida e isso faz o tentador reagir afirmando que essa situação é uma perda e que por isso deve ser vivenciada com sofrimento.

Aquele que é subordinado ao ego possui como verdadeiras as informações sobre o mundo espiritual. Quando alguém ataca logicamente estas informações, a mente precisa demonstrar que tal vivência é motivo de sofrimento para que você não se liberte do que sabe.

Participante: então, reinventamos o universo de acordo com o que pensamos e acreditamos. Sendo assim, nossas formas pensamento ao se transformarem em egrégoras podem nos libertar ou escravizar mais ainda. Estou certo?

Do que você falou, só retiraria a palavra reinventando. O ser humano não reinventa o universo: o inventa.

Você, o ser humano, inventa o seu universo criando ideias e realidades. Ao fazer isso o que é pensado vai ao espírito. Quando o ser universal se apega a ideia criada fica preso à roda de encarnações. Quando se liberta, se limpa das sujeiras que ao longo das encarnações anteriores foram se acumulando.

Participante: mesmo sendo ilusões as cidades espirituais ou umbral, podemos, nós espíritos, ter a percepção de estarmos num lugar assim quando desencarnarmos?

Sim, todos que acreditam nesses lugares viverão lá. Isso porque como ensina o Espírito da Verdade na pergunta que vimos, o universo se faz por afinidades. Todos que têm afinidades com esses locais se juntam e vivem o que imaginam estar vivendo.

Saiba de uma coisa: desencarnar não é viver sem a influência do ego humano da última encarnação. Trata-se apenas de não mais imaginar que está vivendo junto a uma massa carnal. O ego, ou seja, o seu mundo mental continua o mesmo depois do desencarne.

Por isso, se lá existe a ideia de que há cidades espirituais e que você merece ir para lá, estará neste lugar.

Participante: o livro de Urantia também é uma prova para o espírito assim como todas as outras filosofias também são ideias de egos?

A bíblia também. O livro é uma coisa material e, portanto, é apenas uma ideia que está na mente humana que o espírito está vivendo.

Aliás, deixe-me lhe fazer uma pergunta: quantas bíblias existem? Quantos Livros dos Espíritos existem? Quantos desse livro que você citou existem? Milhares.

Não estou falando de quantidade de volumes publicados, mas para cada um que lê um livro existe um diferente. O livro que você lê não é o mesmo que outro lê, apesar de ter as mesmas palavras. Cada um que lê um livro chega a uma conclusão, compreende de forma diferente, por isso está criando um livro diferente.

Além de ser provação, o livro, seja ele qual for, não é um instrumento de uma provação coletiva, mas individual, pois cada um lê um livro diferente do outro, mesmo que tenha as mesmas palavras.

Participante: tudo são versões, ideias, interpretações, ou seja, verdades relativas ou modelos de possibilidade de verdades absolutas.

Você só se esqueceu de uma palavra: compreensões. Não é interpretação, mas sim compreensão. Cada um compreende o ensinamento de uma forma diferente do outro. Por isso é que cria uma verdade diferente da do outro.

O espírito e a vida humana

Crítica ao espiritismo

Vou aproveitar que não temos pergunta e dizer algo. Estou falando muito sobre a doutrina humana dos espíritos ou espiritismo. Ao fazer isso parece que a estou criticando, mas isso não é real.

Não a critico, pois sei que como toda atividade humana é um elemento da provação do espírito. Assim como o fanatismo dos seguidores de outras religiões (católicos, evangélicos, mulçumanos, etc.), o fanatismo dos que seguem as ideias espíritas que os leva a se considerarem o dono da verdade sobre o mundo dos espíritos é um instrumento da provação dos seres que agora estão encarnados no planeta Terra. Por isso, o que eles acreditam está certo, perfeito, para a finalidade que tem.

Apesar disso, eu, como um ser em missão, preciso alertar aos que estão ligados à essas personalidades humanas: não se apeguem às suas ideias ... Para levar essa mensagem, falo aos espíritos através dos egos mostrando a incongruência que existe entre o que as personalidades dizem acreditar e o ensinamento dos mestres que seguem. Faço isso porque preciso alertar aos espíritos que se apegando-se a essas ideias terão que nascer novamente para se desapegar.

Saibam de uma coisa: na junção por afinidade que vocês chamam de umbral existem mais religiosos do que ateus ...

O espírito e a vida humana

Encerramento 2

Bom, vamos encerrar nossa conversa sobre o espírito e a vida humana?

Falamos que os humanos devem conviver com o espírito sem compreensões, certezas ou conhecimento algum sobre essas coisas. Isso, no entanto, não vale apenas para o elemento espírito, mas para tudo que é espiritual, ou seja, além da matéria.

Toda ideia que se tem sobre universo, Deus, espírito, matéria universal ou qualquer outra coisa é uma atividade humana e, portanto, uma prova para o espírito. Não basta apenas lidar com o ser universal sem preconcepções: é preciso lidar com tudo que está além da percepção humana sem ideias formadas, sem verdades.

Não se pode ter uma ideia sobre Deus, sobre o universo, sobre a atividade universal, sobre a matéria espiritual.

Gosto muito, por exemplo, quando o ser humano fala em energias. Aquele que diz que é capaz de manipula-las. A quem fala sobre a manipulação de energias e acredita que sabe o que está dizendo, pergunto: o que é energia?

O ser humano não tem ideia alguma sobre a energia universal. O que conhece é a energia elétrica, a material. Mas esta, como não é a universal, não tem nada a ver com o elemento do universo espiritual?

“27a. Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais fluido elétrico, fluído magnético, são modificações do fluído universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita e sutil e que se pode considerar independente”. (O Livro dos Espíritos)

Se você não sabe o que é a energia universal, como acredita que é capaz de trabalhá-la? Será possível o ser humano determinar o jeito certo de dar um passe, de fazer um reiki, uma mandala, se nem sabe o que é a energia universal?

Toda atividade universal, não importando que elemento do universo esteja envolvido, deve ser vivenciada com verdades universais e não humanas. Como o ser encarnado não possui a compreensão formada por essas verdades, deve vivenciar os acontecimentos humanos sem nada saber, sem utilizar-se de conceitos pré-estabelecidos.

Lembro que numa palestra anterior me foi perguntado a respeito do trabalho com cristais. Respondi da seguinte forma: ‘sabe como trabalhar com cristais? Vou lhe ensinar. Pegue o cristal e faça o que quiser. Não importa o que está fazendo, pois sempre estará agindo como deve, já que será Deus quem estará criando a ação”. Falei assim porque não há como ensinar um ser humano a trabalhar espiritualmente um cristal se não conhece nada sobre as matérias universais.

Quem naquele momento esperou que fosse dar uma receita de como se age com o cristal ou com qualquer outro elemento que é usado para interagir com o mundo espiritual, se deu mal. Como sou sabedor do desconhecimento que vocês têm do mundo espiritual, sempre direi que façam o que fizerem, do jeito que fizerem e na hora que acontecer de fazerem será sempre o que tiver que ser feito.

A única coisa que oriento a qualquer um é que esteja atento, pois no momento que está interagindo com coisas espirituais conhecidas, está vivendo um acontecimento humano. Ou seja, uma atividade da encarnação do espírito. Portanto, o que está vivendo é uma provação e não um ato. Ao invés de se preocupar ou imaginar que sabe como deve agir, naquele momento o ser deve ocupar-se em amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Sei que para vocês ensinar dessa forma, ensinar a agir dizendo que não há forma certa de agir, é algo que parece completamente ilógico, mas não é. Trata-se de algo extremamente lógico a partir dos ensinamentos que os espíritos trouxeram.

Não se preocupar se existe uma forma certa de lidar com o mundo espiritual é a forma como o ser humano deve se relacionar com as coisas daquele mundo. Se isso não for observado, o ser humano conviverá com o que é universal com conceitos que pertencem apenas à razão humana.