Reforma íntima - Textos - Volume 11

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Coletânea de textos referente à reforma íntima

Reforma íntima - Textos - Volume 11

A oração

Todas as religiões afirmam que devemos “orar”. Para este fim os fiéis reúnem-se em cultos ou praticam este ato isoladamente em suas residências ou outros lugares, imaginando que desta forma “agradam” a Deus e elevam-se espiritualmente. Entretanto, esta forma de pensar não condiz com as aspirações de Deus para a vida do espírito na carne.

Jesus, o maior revelador dos anseios de Deus, nos trouxe, estampados nos Evangelhos dos apóstolos Mateus e Lucas, alguns ensinamentos com relação à oração.

 Segundo o Mestre, quando oramos, não devemos ser vistos pelos outros, pois Deus vê o que é feito em segredo e dá a recompensa por esta forma de orar. A oração, segundo Jesus, deve ser feita na intimidade. Também não devemos nos limitar a repetir frases e pedirmos que “acontecimentos” se sucedam em nossas vidas. Para Jesus, Deus sabe melhor do que nós mesmos o que necessitamos.

Juntando as duas informações, podemos afirmar que a oração hoje praticada em nada atende às recomendações do Mestre, pois ainda a fazemos publicamente e com intenção de colocar balizamentos para que Deus cumpra os nossos desejos.

Quando Jesus afirma que a oração deve ser feita na intimidade, está nos guiando para que a façamos dentro de nós mesmos; quando afirma que ela não deve ser um pedido, está dizendo que ela deve ser uma demonstração de acatamento à vontade de Deus. Com isto podemos chegar a verdadeira oração: viver a vida aceitando intimamente os desígnios de Deus.

Orar não é um dizer uma oração, mas viver uma vida dentro dos preceitos de Deus. É estar em constante ligação com a espiritualidade e não apenas por alguns minutos diários. O ser humano reza “quando acorda” e “antes de dormir”, e nesta tarefa gasta alguns minutos diários, mas se esquece da oração no resto do dia. De que adianta viver este tempo ligado a Deus, aceitando Suas determinações e o restante apenas querendo sua própria vontade e que todos o “vejam”?

Viver a vida em oração é estar sempre oculto dos outros, sabendo que Deus utiliza cada um para que a Sua obra se cumpra; é aceitar que em todos os momentos recebemos os atos que Deus nos manda, pois Ele sabe melhor do que nós mesmos o que precisamos; é entender que ainda temos objetivos materiais, enquanto Deus está preocupado com a nossa eternidade espiritual.

É para balizar esta “vida em oração” que Jesus nos ensinou o “Pai Nosso”. Não estamos aqui preocupados com a letra da oração, pois como Jesus disse isto de nada vale, mas sim com a sabedoria” que advém de cada frase.

De que adianta dizer “Pai nosso que estás no céu” se imagino que Ele pode ser capaz de me machucar ou ferir, me penalizando. Viver em oração é saber que tudo o que acontece para mim é fruto de um Amor Sublime, ou seja, objetiva o meu “bem” espiritual.

De que adianta dizer “que todos reconheçam que seu nome é santo”, se não vivo a vida santificando Seu nome, ou seja, se passo os dias imaginando que Ele deve me dar o que eu quero, pois sei o que é melhor para mim. Santificar o nome de Deus é aceitar todos os acontecimentos como oriundos de uma Inteligência Suprema que age pela Justiça Perfeita com o Amor Sublime.

De que adianta dizer “venha o teu reino, seja feita a tua vontade aqui na terra como é feita no céu” se quando Ele expressa esta vontade eu acuso de ter sido movida por uma injustiça. Aceitar os desígnios de Deus é não sentir ferimento em nada que acontece, pois eu vivo sabendo que Deus só dá aos espíritos aquilo que eles merecem.

De que adianta dizer “dá-nos hoje o alimento que precisamos”, se consigo imaginar que vivo uma vida independente dos Seus desígnios. Viver em oração é saber que tudo o que possuo me é provido por Deus, desde o meu salário até o pão que compro com ele.

De que adianta dizer “perdoa as nossas ofensas como nós perdoamos os que nos ofenderam” se passo a vida acusando os outros de me agredirem. Para que eu consiga o perdão de Deus é preciso que perdoe os outros, ou seja, que viva sem acusar nenhuma das pessoas com as quais me relaciono, seja direta ou indiretamente.

De que adianta dizer “e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”, se tudo o que procuro e desejo para minha vida é a satisfação pessoal. As tentações deste mundo são exatamente tudo aquilo que me leva a pensar em mim antes de qualquer outro. Não adianta orar se durante o dia ainda tenho desejos pessoais, ou seja, que não satisfazem a vida coletiva. Pedir a Deus que me livre do mal é solicitar-Lhe que sempre me mostre que não devo possuir individualidades.

Esta é a diferença entre orar e viver em oração. É viver uma vida dentro dos preceitos que eu mesmo peço durante a oração. É passar o dia inteiro ligado a Deus. É viver como Jesus viveu. A vida do Mestre foi o mais sublime dos “Pai Nosso” já orados neste planeta.

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Julgamento e ponto de vista

O ponto de vista, na verdade, é o conceito estagnado, que leva ao julgamento. Não conceituar o universo é não ter ponto de vista. O Universo é para ser sentido e não compreendido.

Aquele que tem pontos de vista, tem caminhos pré-traçados, ou seja, verdades absolutas. Esse tipo de verdade é Deus e Sua ação. Ponto de vista é conceito guardado e arquivado. Conceito guardado que acaba levando à julgamentos ou à interpretações erradas.

Os espíritos elevados (os que estão fora da matéria carnal) não possuem pontos de vista. Quando agem, seguem o cumprimento das ações estabelecidas por Deus. Eles não possuem querer, apenas praticam o que lhes é determinado pelo Pai.

Dizer que uma entidade, num local consagrado a Deus, é capaz de vir e expor a sua opinião não importando se esta opinião faz parte do desejo de Deus, é dizer que Deus tem trabalhadores que querem ser Deus. Um espírito, quando vem para um trabalho espiritual, não trabalha sozinho. Qualquer espírito, venha ele para um processo mediúnico ou não, venha para um trabalho de incorporação ou não, não está sozinho.

Sempre estará cercado de outros que o estão aconselhando. Eles permanecem ligados a outros que estão aconselhando, mas os conselheiros também estão ligados em outros. Dessa forma, instantaneamente, todas as informações que estão acontecendo no momento do trabalho espiritual correm.

Isto é um trabalho espiritual ligado a Deus. Se o trabalho espiritual está ligado ao plano inferior, o trabalhador que está aqui estará ligado a um Juiz, que por sua vez, por toda escala espiritual, também estará ligado a Deus.

Não pode acontecer na sua vida o fruto do meu livre-arbítrio. Não posso eu, como trabalhador, vir aqui e fazer o que eu quero. Aceitar isso como verdade seria ofender a Deus primeiramente. Imaginar que o Pai não ampare seus filhos quando estão buscando-O.

Além disso, mesmo que quisesse, nenhum espírito pode alterar nada dentro de outro espírito a não ser que receba autorização expressa do “Amigo de Encarnação” daquele espírito. Quando um espírito trabalhador faz um aconselhamento direto ao encarnado não pode aconselhar sem a presença, a audição e a concordância do “Amigo de Encarnação”.

É esse mentor quem pede à entidade, ou ao espírito que está orientando, que traga as informações que o ser encarnado precisa saber. Tudo o que um espírito fora da carne disser para um encarnado, pode alterar a vida do espírito, porque se constituirá em um conceito.

Afirmar que um espírito trabalhador, em um local onde se invoca o nome de Deus, pode agir de acordo com os seus “pontos de vista” é extremamente descabido, sob o ponto de vista de alguém que estuda o mundo espiritual.

Quando disse aqui que um ato, às vezes, até na carne de uma pessoa nesse Planeta pode até refletir no primeiro planeta do sistema solar, não falei num exemplo gigantesco, mas em algo que acontece. A bomba atômica explodida por vocês, pode quebrar todo o sistema e balanceamento do Universo, se não for trabalhada pelos espíritos do Plano Espiritual Superior.

Então, como pode uma pessoa imaginar que um espírito tenha a liberdade de vir numa casa onde Deus impera e utilizar o seu livre-arbítrio, utilizar os seus conceitos, os seus pontos de vista, que é uma coisa que espíritos trabalhadores não possuem? Então, como pode agir dessa forma, mesmo que tivesse ideias preconcebidas para passar?

Isto pode acontecer e acontece, quando o espírito que vem é um zombador. Ai consegue transmitir informações, mas essas logo depois, são desmentidas, porque não passavam de zombarias, não passavam de provocações para que o espírito na carne caísse no ridículo e o zombeteiro estivesse rindo.

Mesmo assim, para que esses zombeteiros possam agir dessa forma é necessário que Deus autorize que isto aconteça. Se aconteceu, nem o espírito deve ser criticado pois quem recebeu a informação precisava e merecia.

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Livre arbítrio

Dentre os ensinamentos transmitidos pela espiritualidade através de Allan Kardec no “Livro dos Espíritos”, existe a afirmação de que o espírito possui o livre arbítrio. Este ensinamento ficou entendido como a capacidade que possui o ser encarnado de decidir o que deseja praticar.

Pela compreensão que foi dada a este ensinamento pelos seres humanos, o homem possui o direito de praticar o ato que bem entender. Na verdade, este entendimento deu ao ser encarnado o papel de “senhor do seu destino”. Esta visão, no entanto, conflita com a realidade do Universo e, principalmente, com os atributos de Deus, como descrito no mesmo livro.

No primeiro capítulo de “O Livro dos Espíritos”, o próprio Allan Kardec, analisando as informações trazidas pela espiritualidade, afirma que Deus é “Todo-Poderoso” e que este poder é um atributo Seu porque “se não tivesse o soberano poder, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa como Ele; não teria feito todas as coisas e as que não tivesse feito seriam obras de um outro deus”.

Portanto, se o ser humano possui o livre arbítrio para executar os atos que quiser, é tão poderoso quanto Deus e se trata de um novo “deus”...

Pelo próprio conhecimento trazido por Kardec, isto não seria possível, pois outro dos atributos de Deus é ser “único”, para que possa haver “unidade de vistas” e “unidade de poder” no Universo.

Além do mais, se o ser humano possuísse realmente o livre arbítrio de praticar o ato que quisesse, jamais seria contrariado. Todos teriam que ter sua vontade imposta sobre os demais e o caos existiria, pois jamais todos poderiam ser contemplados ao mesmo tempo. Teríamos um planeta como nos termos da “Torre de Babel” da Gênesis, onde ninguém se entenderia.

Para que não houvesse o caos, seria necessário que cada um tivesse a consciência do ferimento que poderia causar ao outro ao impor a sua vontade o que, convenhamos, ainda não é deste mundo. Para que este fosse um planeta organizado e servisse ao seu propósito (campo para evolução dos seres) seria preciso, dentro do conceito atual de livre arbítrio, que todos os seres fossem evoluídos. Aí, para que serviria o planeta de provas e expiações?

Quando um ser humano consegue colocar fim à encarnação de outro ser (assassinato), os espíritas afirmam que ele assim agiu porque fez mau uso do seu livre arbítrio. Porém pergunto: onde ficou o livre arbítrio de quem morreu? O ser estava levando a sua vida e não desejava morrer (livre arbítrio), mas viu o seu direito ferido por outro...

O que aconteceu neste momento? Pode existir um livre arbítrio mais forte do que outro, ou seja, que seja capaz de impor-se? Neste caso, quem deu este poder para o assassino, se Deus criou todos os seres iguais, com os mesmos direitos?

Quando uma história se forma antes do ato (motivos que levam ao assassinato), pode-se até afirmar que aquele que desencarnou teria dado motivos para que houvesse o assassinato. Mas e quando o assassinato ocorre sem que a vítima sequer conheça o agressor?

Como pode um elemento negativo (bandido) conseguir ferir mortalmente uma criança? O ser encarnado em corpo infantil pode ainda não estar de posse de todos os direitos materiais que a idade lhe traz, mas já possui todos os seus direitos espirituais. Assim, esta “criança” (espírito encarnado) também possui o livre arbítrio como espírito que é e este direito não poderá ser menosprezado por outra pessoa.

Será que Deus, apesar de toda sua Onipotência não poderia zelar pela integridade da encarnação que foi criada sob Seus auspícios? Nada poderia fazer para impedir que o ser que habita o corpo infantil não perdesse sua encarnação? São muitas perguntas que não poderiam ser respondias da forma que o são atualmente, sem se ferir o próprio “O Livro dos Espíritos”.

Os espíritas acham que para todas estas perguntas só existe uma resposta: mau uso do livre arbítrio. No entanto, existem duas questões em “O Livro dos Espíritos” que podem trazer alguma luz sobre o assunto.

Continuemos com o exemplo da criança que teve seu desencarne realizado através do livre arbítrio de outro ser humano (assassinato). Sobre o tema “morte fatal” (sem motivo aparente), a pergunta 853 de “O Livro dos Espíritos” é perfeita. Existem duas informações na resposta: há um momento pré-determinado e um gênero programado para a morte e os dois são de conhecimento de Deus.

A criança que foi “vítima” da agressão de outro ser humano, não “morreu” em um momento diferente, nem de forma diferente do que Deus tinha conhecimento. Isto jamais poderia ocorrer senão feriria a Onipotência de Deus. Assim, se o Pai sabia que aquela criança teria que morrer através de uma agressão teria que providenciar um agressor e colocar os dois no mesmo momento, no mesmo lugar, dando ao agressor o pensamento de agir de forma a levá-lo ao ato do assassinato.

 Foi exatamente esta a compreensão que o próprio Allan Kardec chegou e estampou como comentário à pergunta 525:

“Imaginamos injustamente que a ação dos espíritos não deve se manifestar senão por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem ajudar por meio de milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Não é assim; eis porque sua intervenção nos parece oculta e o que se faz com seu concurso nos parece muito natural. Assim, por exemplo, eles provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão se reencontrar por acaso; eles inspirarão a alguém o pensamento de passar por tal lugar; eles chamarão a atenção sobre tal ponto, se isso deve causar o resultado que querem obter; de tal sorte que o homem, não crendo senão seguir seu próprio impulso, conserva seu livre arbítrio”.

No exemplo que estamos utilizando, dentro das palavras de Allan Kardec, os espíritos auxiliaram aquela criança e ao bandido inspirando o pensamento de se encontrarem no mesmo lugar, chamando atenção do bandido sobre alguma coisa que o levaria a cometer o que era necessário: o assassinato. Tudo isto por ordem de Deus, utilizando a sua Onipotência.

Se o livre arbítrio do ato que foi praticado pelos dois (matar e morrer) existisse, teria Deus que esperar a criança desejar passar por aquele lugar, que o bandido tivesse o desejo de alguma coisa e que, por algum motivo, cometesse o crime. Tudo obra do acaso, ou melhor, obra do desejo soberano do ser encarnado? Teria surgido, então, pelas próprias palavras de Kardec nos atributos de Deus (capítulo 1), um novo “deus”.

Mas, se Deus não quisesse que a criança desencarnasse, teria como evitar? A resposta também está em “O Livro dos Espíritos” (pergunta 528), onde a espiritualidade afirma que um espírito benevolente pode inspirar o pensamento de quem está sendo alvo de um projétil para que ele se desvie. Pode ainda, para este fim, ofuscar o bandido para que ele aponte não mirando bem. O que nunca poderia ser feito é alterar-se o caminho da bala, pois, depois de disparada, ela o seguiria inexoravelmente.

Deus pode agir de diversas formas, mas todas elas operam sobre o espírito e não sobre as coisas materiais. A Sua ação sempre é uma interferência no comando do ato (pensamento) de cada um e não uma “mágica” que Ele realiza sobre as coisas. Deus não salvaria a criança alterando o traçado do projétil, mas determinando a cada um o ato que deveria realizar. Esta é a Onipotência de Deus: não se subordina ao desejo do ser, mas submete-o ao Seu desejo.

Foi a compreensão do livre arbítrio como independente da vontade de Deus que levou os espíritas a mal compreender a informação passada pela espiritualidade na pergunta 001 do Livro dos Espíritos: “Deus é a causa primeira de todas as coisas”. Foi aceita esta informação para as “coisas”, mas julgaram que entre estas não estivesse incluído o próprio ser humano.

O ser encarnado, portanto, tem todos os seus atos causados por Deus para que a Justiça e o Amor permaneçam no planeta. Quando Deus comanda um ato de um ser encarnado Ele se preocupa em “dar a cada um segundo suas obras” e não o faz como castigo ou pena, mas como uma oportunidade para que esse ser evolua espiritualmente.

Assim, a criança morreu porque merecia (positiva ou negativamente) e o bandido também se tornou um assassino pelo mesmo motivo. Para os dois isto foi um ato de amor, ou seja, um ensinamento que Deus deu a cada um para que pudessem evoluir.

Mas, como um ser merece se transformar em um assassino? Será que Deus “escolhe” ao acaso alguém para ser o “bandido” e outro para ser “mocinho”?

“O Livro dos Espíritos” (pergunta 851) explica esta situação perfeitamente.

“A fatalidade não existe senão por escolha que fez o espírito, em se encarnando, de suportar tal ou tal prova. Escolhendo, ele se faz uma espécie de destino que é a conseqüência mesma da posição em que se encontra”.

O destino de cada um está escrito antes da encarnação, pelo próprio ser, de acordo com as provas que quer fazer para a sua evolução, ou seja, para alterar a sua situação espiritual. Assim, a criança foi assassinada porque pediu para que isto acontecesse como uma prova que a elevasse espiritualmente.

Deus comandou todos os acontecimentos do planeta para que a própria escolha do espírito acontecesse. Não poderia Deus deixar nas mãos do espírito a capacidade de decidir se provocaria ou não a situação depois de encarnado, pois o véu do esquecimento obscureceria seus valores espirituais influenciando negativamente na prova que teria que passar para a sua elevação.

Desta forma, Deus assume o comando dos atos e promove todos os acontecimentos para que o desejo do espírito seja atendido. Ele “dirige” os atos do ser humano dando-lhe o pensamento de agir de determinada forma, guiando-se pelo planejamento da encarnação feito anteriormente pelo espírito. Sua ação é sempre no sentido do desejo soberano do espírito não ser afetado pelo “querer” material do ser humano. Deus causa os acontecimentos para que a felicidade eterna seja alcançada e não para que haja uma satisfação momentânea e fugaz.

Quanto ao assassino, será que ele também pediu para se tornar um criminoso? Entre os objetivos da reencarnação citados na pergunta 132 do mesmo livro, Allan Kardec cita a expiação, ou seja, remir a culpa, sofrer conseqüências de atos anteriores. Deus deu àquele espírito o “papel” de assassino para expiar faltas anteriores. Mas, se todos cumprem apenas o pré-determinado sob o comando de Deus, de onde virão as culpas?

De volta à pergunta 851, depois da informação de que o destino é escrito por cada espírito antes da encarnação, encontramos o seguinte texto:

“Falo das provas físicas, porque o que é prova moral e tentações, o espírito, conservando o seu livre arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”.

Além do livre arbítrio de escrever o seu destino, Deus dá a cada um o direito de reagir sentimentalmente (bem ou mal) às tentações, ou seja, às provas que se submete. Como “bem”, entendemos o ensinamento de Cristo (o amor) que chamaremos de sentimento positivo. Como “mal”, entendemos todos os sentimentos que possam ferir os outros, ou seja, que objetivem a felicidade individual. A estes chamamos de negativos.

Assim, quando uma situação ocorre na vida de uma pessoa (prova comandada por Deus) o espírito tem o livre arbítrio de amá-la ou de rejeitá-la utilizando-se de sentimentos que privilegiem seus conceitos. A este processo, chamamos de “livre arbítrio sentimental”.

Cada vez que o espírito cede a uma tentação (utiliza sentimentos negativos), Deus providencia outra prova para que ele “aprenda” a amar. Esta nova prova também terá o caráter de expiação, pois quando um ser busca apenas a sua satisfação individual fere a felicidade do próximo.

No entanto, ninguém se torna um bandido de um dia para o outro. Na verdade, o ser vai se “afundando” paulatinamente no crime ao longo de suas existências, até que um dia, se torna um assassino. Transformar-se em um assassino é conseqüência de ter cedido a primeira tentação que o tornou talvez num ladrão.

Desta forma não existe vítima ou criminoso, mas seres guiados por Deus dentro do livre arbítrio de cada um como espíritos que são e não como seres humanos, que nada mais são do que seres universais obscurecidos pelo véu do esquecimento do mundo espiritual.

O livre arbítrio do ato quebraria toda esta interação dos elementos do universo e colocaria Deus na situação de espectador dos acontecimentos, “torcendo” para que cada um mantivesse a sua escolha para que a evolução do Universo acontecesse...

Todo espírito tem o livre arbítrio como ensinado, mas este é exercido de duas formas: a primeira, na hora da montagem do planejamento da encarnação e a segunda já na carne, quando o ser escolherá ceder ou não às tentações materiais.

Que me desculpem os espíritas, mas não estou ensinando nada novo, pois nem poderia agir desta forma. Todas as afirmações que fiz neste trabalho foram baseadas em respostas dadas pelo Espírito da Verdade a Allan Kardec e constam de “O Livro dos Espíritos”, obra do Pentateuco básico do espiritismo.

Só o que fiz foi retirar da interpretação do mesmo texto a soberba do ser humano, que não podendo ser Deus quer exercer a Sua função de ser causador dos acontecimentos, como por diversas vezes alertado também em “O Livro dos Espíritos”.

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Livre arbítrio 2

Do capítulo anterior ficou uma grande dúvida: o ser humano é um fantoche? Se o espírito encarnado não pode ser agente dos acontecimentos de sua existência terrestre, mas apenas protagonista de momentos criados por Deus, então ele não é nada mais do um robô teleguiado. Desta forma, como fica o livre arbítrio, ou o poder de escolha do espírito?

A vida carnal não existe como realidade para o espírito: ela é apenas uma etapa da existência espiritual. A realidade do espírito é muito diferente dos acontecimentos que os seres vivenciam quando estão na carne.

Por trás de cada acontecimento existe uma essência, ou alguma coisa que o espírito precisa alcançar para universalizar-se. Exemplifiquemos: uma pessoa dirigindo calma e tranqüilamente vê-se em uma situação difícil porque outro não está dirigindo da mesma forma. Isto é o que o ser humano consegue ver quando leva uma “fechada” de outro carro.

Por ter esta visão restrita, ou seja, estar preso às suas percepções, o ser humano não compreende a essência do acontecimento. O que aconteceu ali não foi um ato de desatino ou desatenção do motorista, mas o carma de cada um em ação, que serve, também, de prova a todos os envolvidos.

Aquele que deu a “fechada” mereceu este papel na peça, mas quem o recebeu também. Utilizando-se do carma (reação a ações anteriores) Deus provocou o ato para que os seres envolvidos, vendo a essência do ato, possam exercer seu livre arbítrio e purificar-se.

A essência de um ato sao os sentimentos que estão envolvidos com o acontecimento. Existem sempre dois grupos de essências: individualistas ou universalistas, espiritualistas ou materialistas, cumprimento de lei ou consciência amorosa. O ser humano pode achar-se injustiçado e desarmonizar-se com o próximo acusando-o, ou pode harmonizar-se perfeitamente não culpando ninguém para não feri-lo.

“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E neste caso, que vem a ser do livre arbítrio?”.

“A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir”.

A partir deste ensinamento podemos falar em dois livres arbítrios: o dos fatos (gerar os acontecimentos da vida) e o sentimental (escolha de sentimentos para vivenciar os fatos). O ser universal possui os dois: o poder de construir os fatos de sua vida e a capacidade de escolher como vivenciá-los. No entanto, os dois não ocorrem no mesmo momento.

Antes da encarnação o ser, ainda com a consciência espiritual, guiado pela busca do espiritualismo, ecumenismo e universalismo, programa todos os atos de sua existência. Faz isto não apegado à forma dos acontecimentos, mas criando essências que sirvam de provas para que possa elevar-se.

Para o espírito não importa a situação social que vá nascer, os bens que irá possuir, a fome que passará. Ele sabe que tudo isto é ilusório. Está preocupado em criar essências que combatam os seus vícios espirituais, ou seja, a individualização do amor de Deus.

“260. Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida?”.

“Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem! É necessário que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contacto com gente dada à prática de roubar”.

 

Os acontecimentos da vida carnal não existem pela sua forma, mas elas são apenas representação de essências. Quando o ser humano passou pelo acidente de trânsito que utilizamos como exemplo no capítulo anterior, foi colocado em prova algum dos seus sentimentos e os objetivos da sua existência. Isto é a essência do acontecimento e para viver esta prova é que o espírito o escolheu.

O livre arbítrio dos atos nasce na consciência do individualismo que o ser universal sabe que precisa vencer. Ele forma todo um “cenário” onde seja tentado a utilizar o amor de Deus com determinado individualismo (inveja, cobiça, nervosismo, preocupação) para que vença esta tentação.

A prova é o segundo livre arbítrio: o do sentimento. Depois que o ser encarna perde a sua consciência espiritual, os objetivos de sua existência eterna e prende-se ao individualismo e materialismo. Sua busca é apenas da satisfação individual e, por isto não pode mais ser senhor de seu destino.

“267. Pode o Espírito proceder à escolha de suas provas, enquanto encarnado?”.

“O desejo que então alimenta pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo isso da intenção que o anime. Dá-se, porém, que, como Espírito livre, quase sempre vê as coisas de modo diferente. O Espírito por si só é quem faz a escolha; entretanto ainda uma vez o diremos, possível lhe é fazê-la, mesmo na vida material, por isso que há sempre momentos em que o Espírito se torna independente da matéria que lhe serve de habitação”.

O ser humano é um fantoche? Sim, toda a sua existência é comanda por Deus através do faça-se em cada micro fração de tempo. No entanto, Deus só dá a cada um de acordo com as suas obras, ou seja, apenas administra aquilo que o ser universal pediu antes da encarnação.

Desta forma, se o ser humano é fantoche, o é dele mesmo. Foi do seu próprio livre arbítrio antes da encarnação que surgiu a sua “vida”, os acontecimentos da sua existência. O destino do ser humano independe dele mesmo e dos outros homens. Ninguém, nem nada, é capaz de afetar o livre arbítrio do ser universal.

O Buda nos ensina que os sentimentos são como sementes que existem dentro de cada ser. Quando participa de uma ação universal (o faça-se de Deus) o ser universal rega determinada semente e a faz germinar, utilizando seus frutos para valorizar o acontecimento.

O agente de cada acontecimento é o ser universal antes da encarnação e não o ser humano. O homem que lhe deu uma fechada só conseguiu fazê-lo porque você e ele pediram para passar por esta situação como carma (reação a ação anterior) e como prova (escolha de sentimentos) para a elevação espiritual.

No momento que o acontecimento está sendo vivenciado cada ser universal envolvido rega uma determinada semente sentimental e utiliza seus frutos. Eles criarão uma verdade para o acontecimento que não é realidade, mas apenas uma compreensão individual. A desatenção, imperícia ou maldade do próximo surge da escolha sentimental daqueles que participam do acontecimento.

A partir daí a vida se transforma. Não mais uma seqüência de acontecimentos, mas sucessivas provas para que o espírito, exercendo o seu livre arbítrio do ato que pediu possa utilizar o seu livre arbítrio dos sentimentos para alcançar a elevação espiritual ou a satisfação material.

Podemos, então, afirmar que a vida material não é composta de atos animados, mas de atos espirituais. Viver não é um trabalho físico, mas sim sentimental. Para o espírito não é importante o que ele “faça”, mas sim o que ele sinta.

Por isto Jesus Cristo nos ensinou: o importante não é o que entra pela boca, mas o que sai do coração. A realidade para o ser universal é o fruto do seu livre arbítrio quando encarnado, ou seja, aquilo que ele constrói com os seus sentimentos.

Não existe acusações, ferimentos ou injustiças nos acontecimentos da vida carnal, mas existem espíritos que sentem estes sentimentos face aos acontecimentos do mundo. Ninguém pode ferir outro a não ser que este se sinta ferido; ninguém pode acusar a não ser que o outro se sinta acusado.

Promover a reforma íntima é mudar estes sentimentos. É reformar os sentimentos com os quais se “vê” os acontecimentos do mundo. Todos os outros ensinamentos são caminhos para criar uma compreensão lógica que permita a escolha sentimental.

 A mudança não é dos conhecimentos, mas do sentimento. Se o ser humano prender-se a qualquer ensinamento como verdade absoluta o transformará em um dispositivo legal que servirá para julgar o próximo. Nada foi reformado a não ser o conteúdo dos ensinamentos, mas a essência permaneceu a mesma: eu sou o dono da verdade.

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Mensagem de Joaquim

A evolução espiritual é a meta de todo ser do Universo. Atingir a perfeição, ou seja, aproximar-se de Deus, é o sonho de cada espírito. Na etapa que vocês se encontram, essa evolução é caracterizada pela “reforma íntima”. Portanto, a reforma íntima deveria ser a coisa primordial na vida do espírito encarnado, do espírito humanizado, do ser humano.

Quando se fala em reforma fala-se em mudança, em mudar-se. Não pode haver reforma sem que haja mudanças. O ser humanizado, o ser humano, que vive a sua vida de acordo com os padrões e as leis da sociedade, não promove mudança alguma, não faz reforma nenhuma. Reformar-se, mudar-se, é agir de uma forma diferente daqueles padrões que a humanidade está acostumada. No entanto, quando se reforma, quando se muda algo, alguma coisa velha precisa se deixada para trás.

Jesus Cristo falou ao mestre Nicodemus que “em verdade, em verdade vos digo, quem não nascer de novo da água e do espírito jamais verá o Reino do Céu”. Essa é a síntese da reforma íntima: o nascer de novo, o reformar-se, o mudar-se.

No entanto, precisamos compreender que toda mudança, como foi dito, leva ao fim de alguma coisa. Dessa forma, o renascimento precisa necessariamente ser precedido pela “morte”: pelo fim do espírito do jeito que está hoje para que um “novo espírito” surja ou o mesmo com uma nova visão nasça.

 Isso é fundamental porque o ser humanizado tem medo da “morte” em todos os sentidos: tanto da física quanto da sua “morte” espiritualmente falando: o falecimento do homem velho para o nascimento do homem novo. Sem a compreensão de que o renascimento só acontecerá com a “morte” o ser humanizado se dedica a nascer, mas esquece de “se matar”.

O processo de reforma íntima é um processo de “morte”, de “extermínio”, de acabar com alguma coisa para o novo renasça. Não adianta se querer reforma sem se pensar em “morrer”, sem pensar em acabar, sem pensar em exterminar a forma de vida anterior.

Hoje, dia dois de novembro de dois mil e quatro, trago a informação de que a “morte” do planeta, no sentido de um novo renascimento, está muito próxima. Os clarins tocaram em todos os exércitos espirituais, porque a ordem de Deus chegou para que a “morte” do planeta, ou melhor, a “morte” do sistema de vida atualmente conhecido no planeta seja decretada.

É preciso cada um compreender essas coisas profundamente, porque não adianta você lutar contra isso, pois como no dilúvio tudo será alagado (em sentido figurado). Não haverá porto de salvação a não ser dentro da arca construída pelo Senhor.

Isso é fundamental daqui para frente: a certeza de que a morte espiritualmente falando, a reforma íntima, está muito próxima. O homem, o ser humanizado, assim como a lagarta, precisa construir seu casulo e deitar-se para morrer. Morrer a lagarta velha, o bicho feio, para que o ser universal, a borboleta, possa ressurgir dessa transformação necessária ao espírito.

Mudar-se é exterminar a vida como ela hoje é vista; é mudar os valores da vida que você vive hoje; começar a enxergar as coisas do planeta sob um prisma novo, sob um aspecto novo. Essa tem sido a nossa preocupação desde o primeiro dia desse trabalho: mostrar uma nova ordem, uma nova sociedade, uma nova forma de viver onde o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo seja a única lei que reja todas as relações entre os espíritos.

Filhos, esse é sentido com que trago essa mensagem e esse também é o sentido da transmissão de todos os ensinamentos. Agora que vocês já possuem os conhecimentos, partam para a busca, partam decididamente para a busca, ao invés de quererem perseguir a vida antiga, quererem aprisionar-se aos padrões antigos.

A compreensão do fim do mundo velho para que surja um mundo novo é condição fundamental para o processo de evolução espiritual. Sem isso, sem essa profunda compreensão de que é preciso acabar com o mundo velho, jamais surgirá um mundo novo para o ser encarnado.

Que Deus nos auxilie nessa missão; que o Pai, no Seu Sublime Amor continue zelando por cada filho nessa hora onde o planeta estará morrendo.

Graças a Deus.

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Mensagem de um pacifista

Eu sonhei um mundo de paz, liberdade e igualdade, mas acordei em um mundo muito mais tenebroso do que aquele em que vivia. Isto porque eu sonhava com um mundo de paz, mas para realizar meu sonho fiz a guerra.

Critiquei, acusei e ofendi aqueles que pensavam diferente de mim. Acordei em um mundo onde todos me criticavam, acusavam e ofendiam porque eu queria o que eles não queriam.

Sonhei um mundo de liberdade, mas fui escravo dos meus próprios valores.

Falava em libertar, mas meu sonho era aprisionar todos aos valores que considerava certo. Acordei em um mundo onde todos buscavam me aprisionar aos seus valores, que eles achavam certos.

Sonhei com um mundo de igualdade, mas onde todos fossem iguais a mim.

Apontei todas as diferenças entre eu e eles, acusando-os de não serem iguais a mim e, por isso, estarem errados. Acordei em um mundo onde a referência eram eles e o errado era eu.

Sonhei um mundo à minha imagem e semelhança e acordei em um mundo onde eu deveria ser a imagem e semelhança deles.

Depois de receber até o último centavo do que havia dado aos outros no mundo onde sonhava, consegui de onde acordei e penetrei no mundo do trabalho.

Hoje não sonho mais, mas me preparo para trabalhar.

Trabalhar pela paz sem críticas, acusações e ofensas, mas amando o agressor.

Trabalhar pela liberdade não impondo regras para ser livre, mas dando a cada um o direito de aprisionar-se ao que bem entender.

Trabalhar pela igualdade, não convertendo cada um em cópia, mas sabendo que todos são iguais justamente no direito de serem diferentes.

Imagine um mundo assim, onde todos parem de sonhar e comecem a trabalhar com amor!

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Moral e reforma íntima

“Quem tem juízo colhe no tempo certo, mas quem dorme na época da colheita passa vergonha”. (Provérbios, 10, 5)

Não basta apenas esforçar-se para averiguar e conhecer os elementos humanos que devem ser reformados no íntimo de cada um: é preciso a prática daquilo que se descobre através da análise para poder se adquirir bens suficientes que façam o ser humanizado alcançar o que deseja. Quem investiga, mas não põem em prática é como o fazendeiro que na hora da colheita do que plantou dorme.

Aquilo que é adquirido através da averiguação dos padrões morais humanos a partir dos ensinamentos dos espíritos precisa servir como base da vivência de futuros acontecimentos. Sem isso, este ser continua vivendo o sonho de ser um humano e com isso não alcança sua verdadeira identidade: o espírito que habita a carne. Neste processo, no entanto, o espiritualista terá um grande inimigo: a sociedade humana...

Todos os elementos do mundo humano são fundamentados em códigos morais. Moral é um conjunto de preceitos que se ocupa dos problemas relativos a um grupo regendo a sua vida social. Este grupo pode ser uma nação, um país, um estado, uma cidade, um bairro ou mesmo uma família. Não importa a quantidade de pessoas, o código de normas que rege a vida social de uma comunidade transforma-se sempre em um código moral daquele grupo e rege os hábitos e costumes dele.

Desta pequena análise podemos entender que existem diversos códigos morais. O que é moral num grupo pode não ser em outro, já que o código moral é instituído a partir dos hábitos e costumes do próprio grupo e estes variam de acordo com cada comunidade. Um grupo, por exemplo, pode ter como norma moral o fato do vestir-se. Para algumas comunidades estar dentro da moral é andar vestido, já em outras, a regra diz que moral é andar sem roupas. Em alguns países ter mais de uma esposa é moral, mas em outros não...

A consciência da diversidade de normas entre cada comunidade que o código moral possui é importante quando vamos investigar o comportamento humano à partir das informações dos espíritos sobre a existência do ser universal quando liberto da mente humana. Isso porque, este grupamento de seres possui o seu próprio código moral, que, de acordo com o Espírito da Verdade, é diferente dos preceitos dos humanos:

“Logo que este (o espírito) se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 266)

Se o espírito quando liberto da matéria possui outra forma de pensar, ou seja, de encarar os acontecimentos de sua existência, isso o leva a ter hábitos e costumes diferentes daqueles que estão encarnados. Tal consciência nos leva necessariamente a entender que existe um código moral diferente para eles. Sendo o espiritualista o ser que acredita haver em si algo além da matéria e que por isso deve priorizar os valores deste algo mais, mesmo quando encarnado, deve-se, portanto, analisar os valores morais do mundo carnal à luz daqueles com que convivem os libertos da matéria para, então, se conseguir esta vivência.

Este é o ponto de partida para qualquer trabalho de reforma íntima do espírito na carne para levá-lo à elevação espiritual: averiguar a moral humana a partir das informações espirituais e com isso abandonar a defesa destes interesses.

Fazendo esta averiguação e colocando o resultado em prática no seu modo de pensar, o espiritualista extirpa a mãe de todos os males: o egoísmo...

Será este o trabalho que faremos neste livro. Para isso usaremos os Provérbios de Salomão, aquele foi o sábio mais sábio da antiguidade israelita.

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Mundo de regeneração

Os conhecedores das obras de Kardec certamente já ouviram falar neste termo, mas os leigos ainda não.

Mundo de Regeneração é um sentido de encarnação. Todos os espíritos encarnam com trabalhos a serem realizados sobre o planeta denso. A finalidade deste trabalho é, portanto, o sentido que se dá para aquela encarnação.

O planeta Terra, até o ano de 1999, serviu para os espíritos encarnarem com um objetivo: provar e expiar.

Com esta finalidade de encarnação, todos os espíritos buscavam, primeiramente, durante a vida na matéria densa, provar a interiorização dos conhecimentos adquiridos no mundo espiritual através do estudo.

Estes conhecimentos dizem respeito à prática da lei de Deus. Assim, os espíritos encarnavam para provar que haviam aprendido a lei de Deus e eram capazes de colocá-la em prática. Como esta lei fala de postura de um espírito frente a outro (relacionamento), quando ela não é cumprida surge uma ofensa àquele que está se relacionando com o espírito em prova.

Esta ofensa deve ser quitada, ou seja, expiada. Desta forma nasceu a segunda intenção da encarnação: expiar as faltas. Assim, o espírito vinha para o planeta, tentava colocar em prática o que havia aprendido. Quando falhava nessa encarnação, tinha que voltar para provar novamente e resgatar seus débitos com os ofendidos.

Já o mundo de Regeneração contempla outra finalidade: regenerar-se, ou seja, mudar-se.

Agora que a maioria dos espíritos já fez a sua prova e conseguiu média suficiente para ser “promovido”, o sentido da encarnação também mudou para que possa regenerar-se definitivamente, ou seja, interiorizar completamente os ensinamentos das leis de Deus.

Este é o mundo novo preconizado por todas as religiões e seitas do planeta. Todos estão informando do advento do novo tempo, que nada mais é do a troca do sentido da encarnação.

Entretanto, esta alteração não será executada de uma só vez. Durante os próximos cem anos espíritos encarnarão ainda com o sentido de provar e expiar enquanto outros encarnarão para se regenerar, auxiliando seus irmãos que ainda não conseguiram alcançar a média.

Assim, uma notícia deve ficar: a encarnação atual é a última chance para que os espíritos alcancem a média do planeta e assim possam reencarnar posteriormente com o sentido de regeneração. Trata-se, portanto, da última chance para aqueles que querem permanecer no planeta Terra em um mundo de regeneração.

Isto porque aqueles que não alcançarem os conhecimentos necessários para permanecerem aqui serão levados para um novo planeta, como um dia já aconteceu com os habitantes do planeta Capela, que serviu de evolução antes do planeta Terra.

Aqueles que permanecerem no planeta Terra estarão em um mundo espiritualizado, longe do materialismo atual, enquanto que aqueles que forem para o novo planeta, iniciarão suas encarnações nas mesmas condições que viveram os “homens da caverna”.

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Nem contra nem a favor, muito pelo contrário

Se analisarmos as mensagens que temos enviado de uma forma humana (através da lógica racional dualista do ego) poderemos chegar à conclusão que somos contra tudo o que existe. Mas, isso também é uma ilusão, pois não somos nem a favor nem contra tudo o que existe: muito pelo contrário. E, tal atitude fundamenta-se em dois aspectos Reais do Universo.

O primeiro deles é o UNIVERSALISMO. Se buscarmos no dicionário a compreensão desse termo se encontra a seguinte definição: ‘Doutrina que considera a realidade como um todo único’. Ou seja, que tudo que existe faz parte de um Todo. Sendo assim, não podemos ser contra nem a favor de algo, pois seria o mesmo que negar a existência de alguma coisa que existe.

Tudo que existe possui a característica de ser universalista, ou seja, de estar na presente na Realidade, no Todo. A compreensão que se tem sobre as coisas pode ser ilusória, mas negar a existência de qualquer coisa feriria o princípio universalista de tudo.

Isso porque a própria ilusão é ‘real’ para quem convive com ela como tal e, por isso, não pode ser negada. Ou seja, as ilusões que se tem sobre as ‘coisas’ do Universo são reais. Vamos explicar melhor e para tanto usaremos um exemplo dos muitos que já foram citados durante a transmissão de ensinamentos.

Falamos que o patriotismo é uma ilusão. Acreditar que se nasceu em um determinado planeta já é uma ilusão, pois o Universo não é fragmentado em espaços, mas uno. Que dirá então separá-lo em nações, raças ou povos. Aliás, pensar em algo cerceado pelo binômio espaço/tempo é separar o que é Uno e Indivisível.

No entanto, afirmar que a pátria ou o sentimento que um ser usa para relacionar-se com ela é ‘verdadeiro’ ou ‘falso’, seria negar o universalismo. Isso porque o patriotismo é real, ou seja, existe para aqueles que ainda estão presos ao espaço/tempo.

Para compreendermos melhor tal afirmação, vamos colocar a forma de relacionamento de um ser humanizado com sua ‘pátria’ em uma linha horizontal. Em um extremo teremos o patriotismo e no outro, o ‘não patriotismo’ ou a ausência de adoração à pátria, povo ou raça.

Esta linha não é composta apenas de extremos, ou seja, não existem apenas o patriotismo e o não patriotismo. Na verdade ela se trata de uma extensão que é delimitada nos seus extremos por estes dois tipos de relacionamentos. Se assim o é, podemos afirmar que esta linha possui um ponto mediano, o meio absoluto.

Para os seres humanizados neste meio não existiria nada, ou seja, seria um ponto onde o patriotismo e o não patriotismo acabariam. Mas, isso não é Real. O espírito ligado ao ego dual precisa compreender que o ‘nada’ não existe, pois mesmo que atribuíssemos a ele o valor de ausência de tudo, ele ainda seria alguma coisa: a ausência.

Sendo assim no meio da nossa imaginária linha teria que existir alguma coisa. Porém, este algo que existe ali não poderia sujeitar-se a um nem a outro extremo porque senão ele seria apenas uma das partes daquele extremo.

Imagine que no meio, no ponto central, existisse o patriotismo sobrepujando o outro extremo, mesmo que em grau ínfimo. Se assim fosse, este ponto não mais seria o meio absoluto, mas um elemento daquele extremo. Por isso afirmo: no meio existe algo, ou melhor, existem os dois extremos.

Voltando no nosso exemplo, na linha imaginária que analisa o relacionamento do ser humanizado com a sua ilusória ‘pátria’ existe alguma coisa para que ele não seja composto por algo inexistente (o nada). E, este algo que existe é formado tanto por um como pelo outro extremo, ou seja, no meio coexistem o patriotismo e o não patriotismo.

Aliás, em todos os pontos da nossa imaginária linha existe resquícios dos dois extremos. Não importa o quanto estejamos próximos do patriotismo ou do não patriotismo, sempre haverá a presença do seu oposto. Isso porque, como ensinou Krishna, o Real nunca deixa de existir e o irreal nunca existiu.

No entanto, no ponto central absoluto existe uma característica específica que o distingue dos outros pontos: um extremo não sobrepõe o outro. O meio absoluto de nossa imaginária linha não é vazio (composto pelo nada) nem tende para um ou outro lado, mas é uma etapa da linha onde os dois extremos se encontram em intensidades tão iguais que um anula a ação do outro.

Aparentemente este meio absoluto está vazio, mas na Realidade ele está ‘cheio’ com a presença dos dois extremos, mas em uma situação especial (igualdade) que faz com que os efeitos de um ou de outro existam. Portanto, o patriotismo e o não patriotismo são Reais, pois eles existem sempre, mesmo no meio absoluto.

Se assim o é, não podemos ser contra ou a favor, mas muito pelo contrário. Se fôssemos contra ou a favor de algum dos extremos estaríamos negando a Realidade, pois estaríamos fracionando o que é Indivisível; negando a própria divindade, que é a Realidade, pois seríamos contrários a algo que faz parte do Universo.

Na verdade, quando repassamos ensinamentos que afirmam que você não pode ter patriotismo, ou seja, não deve optar por um dos extremos das linhas de relacionamentos com as ‘coisas do mundo’ (pessoas, objetos e acontecimentos), estamos justamente mostrando que existe um outro lado que também é Real.

Quem se apega ao patriotismo, ou seja, acredita na ilusória sensação de amar sua pátria acima das outras criadas pelo ego, nega a existência do não patriotismo. Com isso ele deixa de aplicar e viver com o Universalismo.

Não pregamos a ausência de nada do que é Real, mas o caminhar pelo meio, ou seja, a consciência de que existem dois lados na moeda, mas que eles podem coabitar tão profundamente fundidos que um não provoque efeitos sobre o outro, assim como a ‘cara ou a coroa’ não interferem no outro lado. No entanto não é assim que os egos humanos vêem nosso ensinamento.

Isso porque eles estão presos ao dualismo, ou seja, funcionam apenas a partir do extremo. Quem nega o patriotismo tem, necessariamente, que pregar o não patriotismo: é desta forma que os seres humanizados entendem aquilo que lhes é transmitido. No entanto, nossa postura é diferente. Alertamos para os perigos de se acreditar no patriotismo, mas por isso não quer dizer que estamos fazendo propaganda do não patriotismo.

Aplique tal conceito a tudo que temos dito (a não ser homem ou mulher, a não ser marido ou esposa e por isso acreditar que pregamos o fim do casamento, etc.) e você verá o que é ser Universalista.

Universalista é aquele que sabe que tudo que existe é sempre Real. Por isso ele nunca opta por um por outro extremo nas suas linhas de relacionamento com as ‘coisas do mundo’. Ele está sempre no ‘caminho do meio’, ou seja, para ele os dois extremos são Reais (‘certos’, ‘verdadeiros’, ‘bonitos’, ‘limpos’) mas ele não deixa que o fato de acreditar na Realidade deste extremo influencie-o contra o outro.

Mas, no entanto, tem gente que não vive assim... Será que eles estão ‘errados’? Depois de tudo que falamos é claro que não... O que poderíamos dizer é que eles exerceram apenas a sua opção de deixar-se ou não se influenciar por um dos lados, mas nunca que estão ‘errados’. Ou seja, exerceram o ‘livre-arbítrio’ que Deus concedeu a todos os seres universais.

Aí está o segundo elemento que não deixa ser a favor ou contra qualquer coisa: o LIVRE ARBÍTRIO, o resultado de uma opção pessoal.

 Veja bem. Como dissemos, em todos os pontos da linha imaginária que criamos existe a presença dos dois extremos. Mesmo no ponto onde aparentemente exista a influência de apenas um dos elementos, o outro está presente. Não tem força para impor sua influência, mas ele está apresente, pelo menos como a negativa.

Quem é patriota nega, pelo menos para si, a existência do não patriotismo. Tal atitude que, aparentemente, poderia gerar a compreensão da não existência do outro extremo para aquele ser, é exatamente a que afirma a sua existência.

Quando alguém diz que para si não existe o não patriotismo está confirmando que acredita na possibilidade da existência do outro extremo, pois ele precisa ser negado. Ou seja, afirma que o não patriotismo é Real. Ele não nega que o outro seja Real, mas apenas afirma que, entre um ou outro extremo, ele opta por aquele determinado.

Ou seja, a livre opção por um dos extremos não torna ninguém falso ou verdadeiro, mas reflete- apenas numa decisão livre e soberana do ser utilizando-se de uma graça que o Supremo lhe concedeu e deu o direito de exercê-lo naquele momento.

Como, então, podemos dizer que alguém é ‘falso’ ou ‘verdadeiro’? Se somos Universalistas (acreditamos na existência Real dos extremos) e se respeitamos o Pai e o toda a sua obra, como, então, afirmar que alguém está ‘certo’ ou ‘errado’?

Por isso afirmamos no início: não somos contra ou a favor de quaisquer coisas; muito pelo contrário. Defendemos o direito de cada um optar pelo que quiser, mas temos, pela missão que assumimos junto ao Universo, o dever de alertar que acreditar que apenas um dos extremos é Real fragmenta a Unidade e consiste-se numa postura de soberba, pois nega ao próximo o direito dele exercer o seu livre arbítrio.

Por isso queremos deixar bem claro: não estamos aqui para criar novas verdades. Não estamos aqui para transformar em Real o que não é, pois nada mais pode ser conhecido pelos seres humanizados do que a gama de extremos que já o é.

Também não estamos aqui para julgar e condenar nenhum outro ser humanizado, ou seja, não estamos aqui para cercear o livre arbítrio de nenhum espírito. Nossa posição é indicar um caminho que ligue este ser à Realidade.

Mas, para isso, precisamos alertar que tudo é Real. E, para tanto, precisamos dizer que tudo que você considera como verdadeiro é apenas um dos lados da moeda. É isto que fazemos na transmissão de nossos ensinamentos.

Quando dizemos que você não pode se considerar marido ou esposa (estar casado), não estamos querendo afirmar que você não deve casar-se ou dizer que o casamento é irreal. Aliás o próprio apóstolo Paulo afirma: ‘É bom que o homem não case. Porém porque existe tanta imoralidade, cada homem deve ter a sua própria esposa e cada mulher, o seu próprio homem’ (Carta aos Coríntios 1 – capítulo 7, versículos 1-3). É nesta aparente ambigüidade do apóstolo que aprendeu com Cristo no mais alto céu que fundamentamos nossos ensinamentos.

O que estamos querendo afirmar realmente, mas que a maioria não vê desse jeito porque está aprisionada ao dualismo, é que você deve viver o que está vivendo (estar casado ou não), mas aprender a relacionar-se com o que este acontecimento sem se prender a nenhum dos dois extremos das linhas de relacionamento com as situações da vida. Quem não se apega em um deles não se deixa influenciar pela sua ação (quere casar ou não, querer separar-se ou não) e, com isso, alcança a equanimidade.

Aí está o principal perigo para quem não vive a Realidade pelo caminho do meio. Quem se apega em um dos extremos, ou seja, acredita em um e nega o outro, sofre com o ‘desequilíbrio sentimental’, a diferença de ânimos entre as situações da vida.

Por causa deste desequilíbrio acaba variando entre a exultação do prazer (quando o que quer acontece) ou a depressão da dor (acontece o que não quer). Tal vicissitude é fruto de estar em um dos extremos da linha de relacionamentos e não poderá deixar de ser colhido por aquele que ali está. E esta ‘variação de humor’ leva ao fim da Felicidade Plena, Universal (Bem-Aventurança), que é a graça de Deus e o que Ele tem prometido aos seus filhos.

Por isso não somos contra ou a favor: muito pelo contrário. Respeitamos o seu livre arbítrio e, por isso, nunca atacamos quem quer que seja. No entanto, não podemos deixar de alertar que apegar-se a um dos extremos leva o ser universal a afastar-se da glória de Deus.

Reforma íntima - Textos - Volume 11

O mantra mais poderoso

Existem muitos mestres, muitos ensinamentos, muitas correntes filosóficas e religiosas. Muitos são os caminhos e muitas são as moradas na casa de meu Pai como ensinou Cristo mas, apesar disso, estes ensinamentos possuem diversos pontos que são similares não importando a crença, a fé ou o mestre. Um destes aspectos é o despossuir. Não importa que caminho se utilize para a aproximação com Deus, sempre encontramos lá o recado para abandonarmos as coisas deste mundo. Cristo, inclusive, foi muito enfático neste aspecto quando disse que quem quiser manter a sua vida a perderá, mas quem não tiver medo de perdê-la a ganhará.

 Apesar disso, acho que este é o "trabalho" mais difícil a ser executado. Isto porque quando se fala em despossuir as pessoas imaginam que está se falando apenas nos objetos desse mundo. Muitos acreditam que tenham conseguido alcançar o despossuir simplesmente porque não se prendem a ter uma casa, um carro ou qualquer outro objeto. Mas, a coisas é mais profunda.

 O despossuir não está vinculado apenas aos elementos materiais, mas a todas as coisas do mundo. O despossuir não pode ser aplicado apenas aos objetos, mas deve ser, principalmente, trabalhado naquilo que Buda chamou de "paixões".

 Paixões são os padrões positivos do espírito. Querer a paz, que todos tenham comida, que todos possuam um teto, enfim, que as coisas estejam dentro dos padrões que nós achamos "certos". Isso são paixões humanas e não espirituais, pois, como diz o Espírito da Verdade, a desigualdade social é necessária como instrumento de carma no atual estágio de elevação espiritual que se encontram aqueles que estão reencarnados no planeta Terra.

 As paixões são os "quereres", mas também são os "não querer" algo. Tudo aquilo que o ser humanizado "torce" para que não aconteça com ele ou com o próximo, é uma paixão e faz parte apenas deste "mundo", pois liberto do véu da ignorância que o cerca (a ação maya criada pelo ego) o espírito compreende que nada acontece por acaso, mas em tudo está uma emanação de Deus.

 As paixões, portanto, são coisas deste mundo e precisam ser objeto de trabalho para libertação de sua ação. Mas, como realizar isso? Como, insuflado pelo ego que "força" para que haja o êxtase do prazer ou a depressão da dor manter-se indiferente? Não é um trabalho fácil, mas para nos auxiliar os amigos espirituais nos ensinaram um mantra poderoso.

 Mantra é uma série de sílabas místicas que invocam a energia necessária para que o espírito possa manter-se na pureza durante a vida encarnada. São sons que se pronunciados com o devido sentido podem levar o espírito a conseguir a clareza para realizar o seu trabalho na encarnação.

 Pois foi para ajudar-nos a vencer o apego às coisas materiais que os amigos espirituais nos ensinaram o seguinte mantra: DANE-SE. Aí está o som que pode nos ajudar no desapego.

 Eu gostaria de estar agora numa praia descansando, mas lá fora está chovendo, faz frio e eu estou "trabalhando": dane-se. Eu queria muito que não houvessem mais guerras no mundo e que a humanidade vivesse em amor e respeito: dane-se.

 Que se dane aquilo que eu quero. Não é isso que está acontecendo e se eu me prender ao desejo oriundo do meu ego formado a partir de uma paixão certamente sofrerei ou exultarei no prazer. Portanto, dane-se o que o ego me diz. É preciso viver com a realidade, ou seja, viver o mundo e a nossa vida como ela está, sem ilusões.

 Você poderiam me dizer: mas não custa nada "sonhar"... Custa sim: a sua elevação espiritual.

 Quem "sonha" com alguma coisa sofre, porque o mundo não está aqui para satisfazer nossas necessidades materiais, mas sim para criar as condições necessárias para que cada um vivencie o seu carma. O "sonho" e o desejo de que ele se realize são posses oriundas das paixões. Portanto, dane-se meus sonhos, minhas vontades, meus desejos, sejam eles positivos ou negativos.

 Como disse é preciso usar o mantra dentro do seu devido sentido. Neste "dane-se" não há menosprezo, revolta ou ofensa, mas apenas desprezo pelas coisas materiais. Quem se apega às paixões é apegado ao mundo material e por isso está sempre preso ao binômio prazer/dor. Quem manda o mundo se danar liberta-se de tudo isso e não mais condiciona sua felicidade à realização de suas paixões.

 O estado de felicidade incondicional é o que Cristo chamou de bem-aventurança. Ele só pode ser alcançado quando o espírito liberta-se dos bens materiais, da posse de suas paixões, pois enquanto o ser universal estiver aprisionado às suas vontades vivenciará às vicissitudes com prazer no momento que elas satisfizerem seus desejos e no sofrimento quando não atender suas expectativas.

 Portanto, bem-aventurados aqueles que mandam as suas paixões e os seus desejos se danarem...

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Paixão de Cristo: sofrimento e traição

Passou a quaresma e chegou a semana santa. Por todo o planeta os seres humanos comemoram a “paixão de Cristo”, ou seja, o sofrimento que ele teve na sua crucificação e como chegou a ela. Mas, será que o mestre sofreu durante a crucificação?

O sofrimento é uma invenção do ser humano, uma polarização das energias universais utilizada apenas pelos seres individualistas que não conseguem enxergar um mundo onde Deus é o administrador do universo.

Todo sofrimento é originado pela escolha do sentimento que o ser humano faz quando um ato foi executado contrariamente à sua aprovação. Assim, quando alguma coisa acontece que o ser humano não queria que fosse daquele jeito, ele escolhe sentimentos que o levam ao sofrimento.

Isto se dá porque o espírito acha ser ele mesmo quem define a decisão final do seu trabalho, ou seja, não aceita que tudo o que acontece no universo é obra de Deus Pai. Como Deus busca a felicidade universal, o ser humano que procura a satisfação individual sofre porque o que está acontecendo não está de acordo com as suas intenções.

 Como Cristo passou toda a sua pregação afirmando “seja feita a Vossa vontade assim na Terra como nos céus”, não poderia ele sofrer, pois possuía a compreensão necessária para ver o comando de Deus nos atos que estavam acontecendo.

Todos os espíritos na carne que comandaram ou comandam as religiões, conhecem a realidade do ser humano, ou seja, aquele que quer ser satisfeito. Conhecem também o ensinamento que todos devem se submeter aos desígnios de Deus para alcançar a elevação espiritual. No entanto, ensinam que esta submissão deve ser silenciosa.

Todas as religiões, inclusive a espírita, apregoam que o ser deve resignar-se frente à dor (insatisfação), ou seja, deve abaixar a cabeça, sofrer em silêncio, sem revolta com o Pai pela decisão contrária de um trabalho.

Esta não é uma postura espiritual. O espírito tem toda a sua vida voltada para a busca dos ensinamentos que o farão avançar espiritualmente e apenas resignar-se não o levará a alcançar o ensinamento que o Pai manda a cada minuto.

Aqueles que ensinam a resignação (sofrimento sem revolta), portam-se como os pais e mães que não procuram explicar ao filho o que ele não pode fazer mas respondem aos atos dele com “nãos” incompreensíveis para a criança ou ainda com a indiferença. Não ensinam à criança como agir, mas apenas dizem que ela tem que sofrer o que estão sofrendo agora, a fim de poder ser melhor no futuro.

Para poder aprender o ensinamento que Deus passa em cada situação da vida, o ser precisa conviver com o resultado positivamente (amá-lo) e não se afastar ou “sofrê-lo” (vivenciar negativamente).

Se, ao contrário da resignação e sofrimento, o espírito entender o resultado negativo como um ensinamento que o Pai deu para ele pois estava precisando alterar-se para evoluir, não sofrerá, mas ficará feliz em poder tomar mais esta lição que o levará à elevação espiritual.

A entrega a Deus deve ser ativa e não passiva e Cristo deixou isso bem claro: “Pai, afasta de mim este cálice, mas se não for possível, que seja feita a Sua vontade”.

Trabalhar dentro das leis de Deus é interagir amorosamente com as situações negativas buscando a compreensão dos “erros” cometidos anteriormente. Esta é a vida espiritual tão decantada na literatura espírita.

Ver-se como um ser capaz de determinar resultados para as sua ações é querer tornar-se “deus” da sua própria existência. Esta visão traz o sofrimento, pois o espírito não compreende a ação do Senhor Supremo do Universo e, por isso, não entende porque o resultado de seu trabalho pode acontecer de forma diferente do que ele espera.

Cristo não sofreu, pois conhecia estas verdades. Não foi à toa que a chamada “paixão de Cristo” (sofrimento) iniciou-se com um beijo, símbolo maior do amor para os encarnados.

O ato de Judas é entendido como uma traição porque o calvário de Cristo significa a dor. Quando Judas ainda está ceando com o mestre, este lhe diz: “Vá amigo, faça logo o que tem para fazer”. Cristo sabia o que Judas iria fazer e, portanto, este ato não pode ser considerado uma traição.

Além do mais, o mestre poderia, pelo menos em duas ocasiões, escapar daquela situação. Durante a ceia, sabedor que era da missão de Judas, poderia tê-lo impedido de sair ou mesmo alertado aos companheiros que certamente impediriam a “traição”.

Em outro momento, quando Judas chegou com os soldados romanos, Pedro sacou de sua espada resolvido a proteger o seu senhor e chegou a ferir um dos guardas. Cristo reagiu contra Pedro: “Achas que não tomarei até o último gole do meu cálice?”.

Desta forma, Cristo foi para a cruz com a certeza de que este era o destino que o Pai havia reservado para ele. Se este raciocínio não for o suficiente basta vermos quantas vezes anteriormente o Mestre afirmou que teria que ser levantado do chão para servir de glória.

Quem tinha esta compreensão jamais poderia sofrer no momento que sabia que seria a glória para toda a humanidade!

 A crucificação de Cristo foi o apogeu de uma missão entregue por Deus a ele e cumprida com perfeição. No evangelho de João está narrado que mestre pediu a Deus que glorificasse o Seu nome através dele e recebe como resposta do Pai: “Já glorifiquei”.

O beijo de Judas, então, deve ser visto como o ato do amor sublime, ou seja, colocar os desígnios do Pai acima da vontade própria, pois para a glória de Cristo havia a necessidade de que ele fosse “traído” da forma que foi. Judas não foi o traidor, mas o herói da história de Jesus. Pedro, o apóstolo mais louvado pela religião, poderia ser julgado o traidor, pois negou Cristo três vezes...

O próprio mestre reconhecia a fraqueza de Pedro e o avisou dela. Assim mesmo Pedro fraquejou. Já a Judas não foi dito o que tinha que fazer, mas apenas que havia chegado à hora de executar a sua parte para que a missão ‘Jesus Cristo’ fosse coroada de êxito.

Com todos estes elementos podemos afirmar que Cristo não sofreu, mas vivenciou em êxtase os momentos da crucificação porque foram determinados por Deus para que sua passagem na carne sobre a face do planeta ficasse marcada. Foi pela morte pela crucificação que o mestre manteve seus ensinamentos “vivos” até hoje.

Para se viver os ensinamentos de Cristo é preciso atingir o mesmo êxtase nos momentos em que as coisas não transcorrem exatamente dentro da vontade de cada um. Se ficarmos sofrendo como fizeram os apóstolos ou negarmos o ensinamento recebido como Pedro negou, não seremos dignos do exemplo que o mestre deixou.

A perfeita compreensão da “paixão de Cristo” faz o espírito viver alegremente, pois sabe que o Pai está agindo para melhorá-lo e não para puni-lo. Não viver assim ou ensinar o próximo a não fazê-lo, é esquecer todo o ministério de amor que Jesus praticou e lembrar-se unicamente dos seus momentos difíceis.

Vamos viver a vida sem sofrimento, dentro do mundo de Deus, nosso Pai.

Reforma íntima - Textos - Volume 11

Pelo amor ou pela dor

“Não partilho da opinião de meu contemporâneo, Bernard Shaw, de que os seres humanos só conseguiriam algo de bom se pudessem viver até os trezentos anos de idade. Um prolongamento da vida de nada adiantaria, a menos que muitas outras mudanças fundamentais fossem feitas nas condições da vida”. (Sigmund Freud)

Obras completas de Sigmund Freud, Volume XXIII, Cap. III – MOISÉS, O SEU POVO E A RELIGIÃO MONOTEÍSTA, PARTE I – NOTA PREAMBULAR I)

1 - Psicologia e “Espiritologia”

A psicologia é uma ciência que busca proporcionar uma “melhor” qualidade de vida aos seres humanos.

Como melhor qualidade de vida, entende-se a quantidade de momentos de felicidade que um ser humano sinta durante a sua vida. A psicologia busca alterar a visão que um ser humano possui sobre as coisas que lhe fazem sofrer, alterando o seu “estado de espírito”.

Da mesma forma, as doutrinas religiosas (“espiritologia”) buscam transmitir ensinamentos que façam os seres humanizados compreenderem a ação de Deus no planeta para que possam viver a sua existência em um estado de felicidade. O entendimento da ação de Deus altera o sentido que o ser humanizado dá as coisas do mundo material.

Para conseguirem este objetivo comum, tanto a psicologia quanto à “espiritologia” trabalham elementos imateriais: inteligência e raciocínio.

A felicidade de um espírito humanizado depende da sua capacidade de continuar a ser feliz durante os acontecimentos da vida, sem que para isso seja preciso alterá-los, já que isto foge a ação deste.

Esta felicidade, portanto, não depende do acontecimento em si, mas da compreensão que o ser humanizado alcance sobre os acontecimentos da vida através do raciocínio dos fatos. Enquanto o raciocínio de um ser humanizado contiver valores (conceitos) que sejam atendidos continua feliz. Quando seus valores são contrariados, sofre.

Tanto a psicologia quanto a “espiritologia” buscam, portanto, alterar os conceitos do ser humano, pois partem da certeza de que é impossível se alterar os acontecimentos para satisfazer ao ser humano.

Através de seus ensinamentos, as duas ciências dão ao ser humanizado subsídio para que ele aceite os acontecimentos sem se contrariar. Com a mudança do entendimento dos fatos (compreensão) o ser humano não mais alcançará o sofrimento: isto é no acreditam as duas “ciências”.

Ora, se as duas ciências possuem objetivos em comum e operam sobre os mesmos elementos para conseguirem o mesmo fim, é justo se prever que as duas deveriam trilhar o mesmo caminho. No entanto, não é isto que ocorre.

A psicologia trabalha com os valores humanos enquanto que a espiritologia opera com os valores espirituais. Se levarmos a cada uma delas os valores da outra, poderemos, então, entender que a psicologia e a espiritologia possuem o mesmo objetivo: alterar os valores (conceitos) que são utilizados pela inteligência durante o processo raciocínio visando promover um estado de felicidade constante ao ser.

2 – A codificação dos ensinamentos

Sigmund Freud é considerado o pai da moderna psicologia, mas isto não quer dizer que a busca pela alteração dos valores do ser humano para que houvesse a vida com um estado de espírito de felicidade tenha se iniciado através dele.

Durante todos os milênios de existência do homem sobre o planeta a filosofia procurou trazer os instrumentos para esta mudança. Desde os pensadores gregos até os dias de Freud, muitos procuraram compreender os caminhos que levam a esta felicidade constante.

A função de Freud foi a de criar normas e procedimentos que dessem a esta procura um caráter científico.

Da mesma forma, a “espiritologia” também teve um pai: Allan Kardec. Apesar disso, como na psicologia, desde de que o ser humano passou a existir neste planeta, criaram-se correntes religiosas que procuraram trazer ensinamentos para que o ser humano vivesse em estado de felicidade.

Os ensinamentos trazidos por Kardec contemplam todas estas correntes. Desde o amor ensinado por Jesus e vivido pelos santos, até o processo de existências sucessivas (reencarnação) que é um conhecimento antigo do oriente, a espiritualidade que transmitiu os ensinamentos a Kardec utilizou as correntes religiosas de todos os tempos.

Assim como Freud, Kardec apenas reuniu todos estes ensinamentos e criou normas e procedimentos que desse o caráter científico aos mesmos. Os dois, portanto, são os codificadores, ou seja, os pais da psicologia e da “espiritologia”.

3 – As correntes diversas

Como toda ciência que se preza, tanto a psicologia quanto a espiritologia possuem correntes diversas, ou seja, caminhos diferentes para se atingir ao mesmo objetivo.

No texto em epígrafe neste trabalho, podemos ver que havia duas correntes que divergiam sobre os caminhos da felicidade na formação da psicologia. Para Freud a felicidade deveria ser alcançada através de “mudanças fundamentais” que ocorressem durante a vida, enquanto que para Shaw ela só seria alcançada pela longevidade do ser humanizado.

Da mesma forma a espiritologia codificada por Kardec ensinou que existem duas formas de se alcançar a elevação espiritual (felicidade): pelo amor ou pela dor. Estas duas formas são defendidas por correntes ideológicas diferentes dentro da ciência “espiritologia”, como veremos.

4 – A felicidade alcançada pela dor

Quando os valores do ser humanizado são contrariados ele se torna infeliz. Uma das formas de agir neste caso é a reação contra as causas da contrariedade para poder voltar a sua felicidade.

Se a contrariedade partiu de um outro ser humano que possui valores diferentes do dele, o homem debate, discute e busca provar por todos os meios que está certo, tentando convencer o próximo a mudar seu ponto de vista.

Se ela adveio de uma situação, o ser humano age no sentido de alterá-la. Nas duas situações, o ser humanizado tenta modificar o acontecimento para restaurar o seu estado de espírito feliz.

Ocorre que dificilmente o ser humano consegue mudar o próximo ou qualquer situação. Ele não compreende que não possui o poder de alterar as pessoas ou os acontecimentos ao seu prazer. Assim, o ser humanizado passa a vida sofrendo, pois as pessoas não mudam para o que ele acha certo nem os acontecimentos se modificam.

Entretanto, esta forma de proceder ocorre muito mais durante o ímpeto da juventude. Quanto mais o ser vivencia esta situação mais aumenta a sua compreensão de que não pode alterar as pessoas e os acontecimentos.

Quando atinge determinada idade, que muitos chamam da razão, o ser humano desiste desta luta contra os fatores externos e não mais se deixa ferir (perder a felicidade) pelos valores do próximo ou pelos acontecimentos.

A partir desta constatação é que Shaw sugere que a felicidade só será alcançada quando o ser viver mais tempo. O ser humano teria mais tempo para viver este período de maturidade no qual os fatores externos não influenciariam o estado de espírito do ser.

Podemos chamar este processo de “resignação”. O ser humano não alcança a felicidade por alteração de seus valores, mas resigna-se a não reagir aos valores alheios para não sofrer. Ele leva à felicidade, pois não há mais a contrariedade, mas apenas depois de muito sofrimento.

Na “espiritologia” este processo ficou conhecido como “elevação espiritual pela dor”. O ser humano resigna-se a passar pelos seus momentos de sofrimentos sem agir contra eles, buscando, assim, alcançar a felicidade prometida. Esta forma de proceder também só é alcançada na maturidade da vida religiosa, ou seja, depois de muitas contrariedades.

As correntes que defendem este modo de proceder da “espiritologia” são a católica, a evangélica e até da espírita. Elas ensinam, através da paixão de Cristo que os seres humanos devem sofrer seus momentos de contrariedade em silêncio (sem reagir contra eles) para serem aceitos no reino do céu.

5 – A felicidade alcançada pelo amor

Freud era contrário a Shaw. Ele achava que a felicidade devia ser obtida através de uma ação do ser humano sobre os acontecimentos para acabar com a sua contrariedade e não pela reação constante até atingir-se a resignação.

Já que todas as contrariedades nascem de pensamentos diferenciados, Freud criou normas que explicam ao ser humano o comportamento alheio.

Conhecendo as bases do raciocínio dos outros, o ser humano pode compreendê-los e não mais necessitar da mudança deles para permanecer feliz. Começa, então, a procurar ser feliz independente das características dos outros. Esta é a mudança fundamental na condição de vida do ser humanizado que propõe a psicologia.

Freud explica os valores diferenciados que cada um possui através de normas científicas e leva o ser humanizado a compreender que ele não tem o poder de alterá-los e por isto deve aceitá-los da forma que são.

A moderna psicologia age no sentido de dar ao ser humanizado a compreender o mundo em que vive para assim, deixando, então, de necessitar combatê-lo como pré-condição de sua felicidade.

O mesmo ensinamento é trazido pela corrente religiosa oriental (budismo, taoísmo, confucionismo, etc.) da “espiritologia”. Ao invés de resignar-se com os acontecimentos, estas correntes incitam seus seguidores a reagir contra as situações dentro de si mesmo e não externamente.

Assim como a psicologia altera os padrões internos do ser humano para que não haja mais conflitos com os externos, as religiões orientais ensinam os seres humanos a buscar o seu próprio equilíbrio para não se ferir.

Esta ação de reforma interna ao invés da reação contra os fatores externos foi chamada por Cristo de AMOR. Por isto, na codificação da “espiritologia” Kardec ensinou que a felicidade pode ser alcançada pelo amor.

A prática do amor ensinado por Cristo é mais do que se resignar face às situações do mundo, mas amara tudo: a Deus, a si e ao próximo sempre, independente da situação.

Alcançar a felicidade pelo amor é agir internamente para a gerar uma conscientização dos fatores internos (mudanças fundamentais nas condições de vida) que acabem com os sofrimentos.

6 – Alcançando a felicidade

Não importa por qual caminho o ser humanizado seguir ele alcançará o estado de felicidade. Resignando-se ou amando o próximo como a si mesmo, o ser humano alcançará a felicidade, pois como disse Kardec, todos os espíritos um dia irão evoluir.

A diferença está no caminho que ele tomará. Para a “espiritologia” a extensão da vida para que se alcance esta resignação já é uma realidade a partir do conhecimento do processo reencarnatório.

O caminho proposto por Shaw existe para a “espiritologia” apesar de ainda não ter sido alcançado pela medicina. O espírito que não consegue em apenas uma vida alcançar a resignação ou a ação amorosa terá outras oportunidades para chegar lá.

7 – Conclusão

A espiritologia e a psicologia são ciências irmãs, pois objetivam a mesma coisa. Apesar de trabalharem valores diferenciados, as duas objetivam a mesma coisa: levar o ser humanizado a vivenciar esta vida dentro de um estado de espírito de felicidade incondicional.

Da mesma forma, as duas correntes de cada uma delas também estão certas, pois tanto pela resignação alcançada com a velhice quanto com a ação de amar, os seres humanizados um dia alcançaram esta felicidade.

As duas correntes e as duas ciências se baseiam em uma só premissa: existe um estado de felicidade completa. A diferença entre eles é o caminho que é fruto livre arbítrio que o espírito tem (pelo amor ou pela dor).