Evangelhos canònicos - Textos

Evangelhos canònicos - Textos

Transcrição dos áudios relativos ao estudo dos evangelhos canônicos. 

Evangelhos canònicos - Textos

Objetivo do trabalho

O objetivo deste trabalho é entendermos o caminho crístico que leva a Deus e com isso entendermos também aquilo que é chamado de ‘consciência crística’.

Podemos definir consciência crística como o conjunto de valores sobre as coisas deste mundo que Cristo possuía. Aquele que alcança a ‘consciência crística’, ou seja, que possui os mesmo valores que ele possuía passa, então, a ver as coisas sob o mesmo prisma que ele via.

Por isso, o objetivo deste trabalho é estabelecer esse prisma nos mais diversos aspectos da vida humana. Estabelecida estas bases, o ser humanizado pode, então, promover a sua mudança, ou seja, entender as situações da vida como Cristo entendia.

 Este estudo nem seria necessário, pois se Cristo é o amor em ação, o Verbo, bastaria apenas ao ser humanizado trocar todas as múltiplas interpretações que têm das coisas do mundo pelo amor. Se ele ao invés de ver bom e mau ou certo e errado nos acontecimentos da vida e visse apenas amor, já teria alcançado a mesma visão que Cristo tinha das coisas.

Viver com a consciência crística é viver com o amor. O problema é que os seres humanizados não conhecem o amor que Cristo pregou. Mas, por que o ser humanizado não conhece o amor que Cristo pregou?

O amor crístico é algo universal. Ele é vivenciado dentro de verdades universais. Estas verdades não estão presentes na visão humana das coisas porque os seres humanizados vivem um mundo relativo, ou seja, vivem um mundo que é regido por valores individuais e transitórios que são fundamentados pelo egoísmo, no amor a si mesmo acima de tudo.

Sendo assim, o que precisamos fazer é destruir as idéias humanas sobre o amor de Cristo. Na verdade, Cristo nos ensinou o que é amar através de ensinamentos, mas os seres humanizados interpretam estes ensinamentos a partir de suas próprias verdades que, como já disse, são individuais, transitórias e fundamentadas no amor a si mesmo acima de tudo.

Em resumo, o objetivo deste estudo é desmistificar os ensinamentos de Cristo como conhecidos pelos seres humanizados. Falo em desmistificar porque cada ser humanizado interpretando o amor crístico por seus valores criou mitos que são formados por falsas verdades. Fez isso porque, coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, ou seja, dizendo que ele está ‘certo’, cada ser humanizado eliminou a necessidade de sua própria mudança.

Coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, cada ser humanizado coloca Cristo ao seu próprio serviço, coloca os ensinamentos como elementos para corroborar a sua própria intenção. Transformou o amor crístico em algo humanitário e não universal. Transformou algo que é fundamentado principalmente no doar-se em alguma coisa onde acima de tudo possa receber individualmente, ganhar.

Alterando o sentido dos ensinamentos crísticos, o ser humanizado transformou Cristo em um ser mágico que possa auxiliá-lo a alcançar seus desejos. Os reis da antiguidade tinham sempre ao seu serviço um grupo de mágicos. Estes homens eram utilizados pelo rei nos momentos onde ele precisava de ajuda para alcançar seus objetivos individuais, Fazendo ‘porções mágicas’, previsões de futuro ou agradando aos deuses, os mágicos eram considerados como elementos importantes para que o rei alcançasse seus propósitos individuais. Foi isso que a humanidade fez com Cristo, seus ensinamentos e amor.

O ser humanizado transformou Cristo num mago da corte onde ele é o rei e seus ensinamentos e amor como instrumentos da sua vitória individual. Dentro dessa visão, Cristo, então, ficou incumbido de fazer mágicas (milagres) para que o rei humano possa alcançar suas vontades, ganhar sempre...

Repare. Ninguém vai a Cristo perguntando o que quer que seja feito por ele; todos vão a ele pedindo que realize o que cada um quer. Por isso afirmo que Cristo para o mundo humano passou a ser o mágico da corte onde o ser humanizado é o rei.

Por isso o objetivo deste trabalho é desmascarar esta visão. Isso é preciso porque não foi esta a missão de Cristo. Ele não veio a este mundo para servir ao ser humano, mas sim a Deus. É através do seu serviço a Deus que Cristo serve ao ser humano.

Nesta missão ele serve ao ser humano, mas não como instrumento para alcançar o que cada um quer ou gosta, mas para mostrar o caminho para se chegar a Deus. Ele não veio para fazer o que cada ser humanizado quer, mas para ensiná-lo a respeitar a vontade de Deus (‘seja feita a Vossa vontade assim na Terra como no céu’).

É preciso mudar muita coisa a respeito da compreensão que o ser humanizado tem de Cristo. Por exemplo: a passividade e candura de Cristo. Onde está a passividade em quem pega o chicote para meter nas costas daqueles que estão contra a lei de Deus? Onde está a candura naquele que diz aos seus apóstolos: ‘vermes, até quando vou ter que agüentar vocês’? Ou ainda naquele que chama os que pensam diferente dele de hipócritas?

São essas coisas que precisamos desmistificar. Cristo foi cândido sim, mas com uma candura espiritual. Isso quer dizer que ele é cândido com o espírito no mundo espiritual, mas não com o ser humano no mundo material. Para o ser humano, vendo-se sem misticismo as passagens bíblicas, podemos afirmar que ele não era cândido, pois brigou, ofendeu e bateu em diversos seres humanizados. Fez isso não por maldade ou porque não tinha amor por eles, mas porque sabia que esta era a forma necessária para auxiliar estes seres a reencontrar-se com Deus.

Cristo não poderia estar ao lado da humanidade, ou seja, a serviço de suas vontades e desejos individualistas ou do seu amor a si próprio porque ele sabia que esta forma amar separa o ser do Todo. Por isso ele não poderia ter vindo para servir à humanidade como os seres humanizados interpretam este serviço. Aliás, na verdade, ele veio para destruir a humanidade que o ser vive e que o afasta do Todo.

Ele não veio destruir a humanidade fisicamente, acabar com o mundo, mas sim no sentido da visão humana sobre as coisas do mundo, a visão que premia o individual em detrimento do Todo. Ele veio fazer isso porque sabe que apenas quando o ser universal destruir a humanidade que toma quando vem à carne pode vivenciar a plenitude de sua própria espiritualidade.

É neste sentido que este trabalho pretende desmistificar os ensinamentos de Cristo. Não estamos aqui para acabar com Cristo, dizer que ele nunca existiu, mas sim para retirar da compreensão de seus ensinamentos os valores que o ser humano atribui (valores que premiam o bem individual) e devolver a eles o sentido do caminho para a união ao Todo.

Jesus Cristo aconteceu na matéria carnal. Os fatos que a humanidade conhece através da bíblia quase todos são realidades, mas a interpretação que a humanidade dá aos ensinamentos dele é falsa. É a respeito dessa falsidade que se pauta este trabalho.

É sobre este aspecto que realizaremos este trabalho. Vamos ler diversos versículos dos chamados evangelhos canônicos e mostrar o que realmente Cristo ensinou e o que o ser humanizado entende que ele ensinou.

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Cegueira espiritual

Jesus soube que tinham expulsado o homem da casa de oração. Quando o encontrou perguntou: - Você crê no Filho do Homem?

Senhor, quem é o Filho do Homem para que eu creia nele? - respondeu.

Você o está vendo! Sou eu, eu que estou falando com você! - disse Jesus.

Senhor, eu creio! - disse o homem e se ajoelhou diante dele.

Jesus então afirmou: - Eu vim a este mundo a fim de julgar, para que os cegos vejam e para que os que vêem se tornem cegos.

Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e perguntaram: - Isso quer dizer que nós também somos cegos?

Se vocês fossem cegos, não seriam culpados! - respondeu Jesus. Mas como dizem que podem ver, então ainda são culpados.

O que quis dizer Cristo quando afirma que “quem é cego vê e quem vê é cego”? Este é o tema de hoje.

Como é que um ser humanizado vê? Com os olhos da carne. O que ele vê? As coisas materiais. Então, como disse Cristo para os fariseus, o ser humanizado é culpado, pois é cego e acha que pode ver.

Tudo o que os seres humanizados dizem ver, não existe. O ato material, a carne, os elementos do mundo material não existem da maneira como vocês as vêem.

Os atos que acontecem na sua vida (nascimento, casamento, passeios, tristezas) não existem. As coisas materiais que o cerca, daqui a pouco serão destruídas, acabarão. Por isso não são reais... Para existir de verdade, qualquer elemento precisa ser eterno.

Por isso, como disse Cristo, você é cego, pois acredita nas coisas que vê, nas coisas que não são reais, que deixarão de existir um dia.

Quem enxerga mesmo é aquele que não vê as coisas da matéria. Não estamos aqui falando em perfurar os olhos para deixar de ver. Aquele que alcança a visão espiritual e com isso deixa de ser cego, é aquele que deixa de vivenciar as coisas (objetos, pessoas e acontecimentos) materiais pelos valores humanos que são aplicados a elas.

Aquele que possui a visão espiritual é quem vivencia a essência das coisas e não os valores materiais dela. A essência não é caracterizada por elementos materiais, mas por um sentimento. É ela que dá a visão (compreensão) das coisas para quem possui a capacidade espiritual de enxergar. Portanto, esta capacidade é conferida a quem, apesar de receber via olhos uma visão, não se apega a esta imagem, mas vivencia a essência daquele acontecimento.

A essência é aquilo do que cada ato ou elemento é composto. É o que gera tal ou qual acontecimento ou o que faz determinado objeto ou pessoa ser de tal forma. Quem não vê o acontecimento material, mas sim a sua essência, não pode ser considerado como cego pelos irmãos universais, pois enxerga apenas as coisas espirituais.

É isso que Cristo quis dizer: todos aqueles que são cegos, afirmam enxergar, ou seja, afirmam que estão vendo um acontecimento. Já aqueles que se libertam da visão do mundo de formas e penetram na essência do acontecimento, estes podem ser considerados como aqueles que sabem ver...

Por que Cristo afirma isso? Qual a forma que um cego material (aquele que não possui a percepção da visão) enxerga? Pelo sentimento: ele sente as coisas. Quando um cego material percebe as coisas, ele sente o sentimento que está por trás das palavras que ouve, enquanto quem tem a visão prende-se exclusivamente na forma e não consegue interpenetrar na essência.

Aquele que enxerga observa apenas as coisas materiais envolvidas no acontecimento. Acha que por estar percebendo as formas pode saber o que está acontecendo, mas na verdade é cego, porque não vê a essência, que é a Realidade do momento.

Aquele que se prende as percepções visuais não enxerga o que realmente está acontecendo ali porque a verdade não tem nada a ver com a movimentação das formas, mas sim com os sentimentos com os quais são vivenciados os atos.

Nos sentimentos com que se convive durante as ações encontra-se a realidade do mundo de vocês. Não importa se a mão se levante, mas sim se isto está sendo vivenciado com amor ou não. A mão levantar-se por si só não diz nada, mas sim o sentimento que é sentido durante a execução desta ação.

Quer um exemplo? Existem muitas mãos que se levantam e até promovem ações que parecem carinhosas, mas, quantas destas ações são vividas com falsidades? Quantos destes carinhos querem realmente trair?

Lembram-se do beijo de Judas? O ato de beijar é o símbolo máximo do amor para os humanos, mas naquele caso, esta ação nada teve de amorosa, ou pelo menos é isso que os humanos pensam deste acontecimento.

NOTA: A respeito do ato de Judas, o amigo espiritual já tinha ensinado que tudo aquilo foi amor sim, pois foi através daquela ação que o destino de Jesus Cristo aconteceu. Na verdade tudo já estava pré-programado e fazia parte de um grande ensinamento.

É isso que você tem que olhar: o sentimento com que vivencia os acontecimentos que você ou outra pessoa pratica e não as formas do mundo externo. Ou melhor: não olhar nada. A tudo que acontecer reaja apenas com amor, entenda a partir do amor a Deus e a todos.

Para Cristo o cego é culpado: por quê? Porque ao prender-se ao mundo das formas, vivencia (enxerga) os acontecimentos com outro sentimento que não o amor.

Para se alcançar a Perfeita visão dos acontecimentos, não basta apenas libertar-se do mundo de formas. É preciso compreender que a essência dos acontecimentos é dada por cada um através de sua escolha sentimental.

Além de cego, o ser humanizado que acredita na percepção visual é culpado, pois deixou de cumprir os dois mandamentos que o mestre ensinou: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quer um exemplo? Aquele que vê maldade em tudo. Aquele que afirma que “tem certeza” de tudo o que está acontecendo (conhece os motivos pelos quais o ato foi praticado) e participa destes acontecimentos aplicando a eles uma essência maldosa.

Este é um cego espiritual, pois se prende à percepção visual, mas também é culpado, porque não amou. Ele acha que enxerga muito bem, mas acaba vendo coisas que não existem.

A maldade do outro jamais está nele, mas na essência com que cada um cria a percepção do acontecimento. Mesmo que o outro vivencie aquele acontecimento escolhendo a maldade, se quem o recebe alterar esta essência e amar, a maldade se extinguirá.

São os seres humanizados que vivenciam os acontecimentos sem amar que criam uma essência negativa para um acontecimento. Nada do que ocorre no Universo pode ser considerado negativo, pois tudo é emanação de Deus, que apenas ama.

 Quem não vigia suas próprias percepções e a essência que é aplicada a cada uma delas, além de cego é culpado. Isto porque não está vivenciando a Realidade: está imaginando uma situação que não está ocorrendo.

Esta imaginação, no entanto, não é errada. Trata-se de uma intuição que o plano espiritual, obedecendo a Causa Primária, dá ao ser humanizado como provação, ou seja, como instrumento da reforma íntima.

Quando um ser humanizado percebe determinada essência em um acontecimento que não seja o amor universal e incondicional, trata-se de algo que ele, antes da encarnação, alcançou a compreensão que não deveria sentir. A partir desta compreensão, pediu, então, este gênero de provas para provar que aprendeu a lição quando ainda na erraticidade.

A partir deste pedido de gênero de provas, Deus emana, durante a encarnação deste ser, um acontecimento e determinado pensamento (compreensão) naquele momento. Estes pensamentos, que se transformam naquilo que é visto (compreendido) geram, então, a oportunidade da reforma, ou seja, da mudança da essência.

Aquilo que o ser humanizado vê, portanto, é o que deve deixar de existir, ou melhor, deve ser substituído pelo amor. Por isso Cristo diz que o ser humanizado que não faz isso é culpado.

O ser humanizado não é culpado pela ação que protagoniza ou pela essência que aplica na compreensão da situação, mas sim por não ter aproveitado a oportunidade para reformar-se, não ter aproveitado a situação para deixar de ver maldade e amar incondicionalmente a tudo e a todos...

Justamente por não aproveitar esta oportunidade é que Deus precisa novamente emanar esta compreensão, ou seja, conceder uma nova compreensão. Isto acontecerá porque Deus é Justo, ou seja, dá sempre a cada um o que ele precisa para a evolução espiritual.

Sendo assim, este ser continuará recebendo percepções (acontecimentos e essência) dentro dos mesmos padrões, até que um dia consiga promover a reforma íntima e ponha em prática o amor incondicional. Se não conseguir, viverá a existência carnal inteira “vendo” maldade nos outros e terá, futuramente, que reencarnar novamente para fazer esta mesma provação.

O ser humanizado que é considerado um cego espiritual acredita que tem o direito de julgar os outros e de apontar seus erros. Por este motivo ele é intuído para cada vez mais apontar erros, afundando-se cada vez mais em um mundo negativo, amargo, até chegar uma grande dor que o fará buscar o amor para poder ser feliz.

Quando, pela dor, ele entender que apenas o amor a todos e a tudo pode levar à felicidade, a sua “visão” sobre os elementos do mundo (acontecimentos, objetos, pessoas) começará a mudar. Muitos passam por momentos assim, mas, infelizmente, quando a dor vai embora, novamente se esquecem dos momentos ruins e começam outra vez a julgar e a acusar tudo e a todos.

Este é o cego que Cristo diz que é culpado: aquele que quer ver os atos dos outros para julgá-los.

Não existe ato certo ou errado: todos estão certos e estão errados ao mesmo tempo. Todos estão certos porque para quem os faz estão certos e todos estão errados porque para os outros sempre estarão errados.

Para se alcançar à visão espiritual, então, é necessário não ver o ato isto é, não julgá-lo. Ë preciso concordar com tudo que todos fazem, pois para quem está fazendo está certo e para quem está vendo, não deve existir certo ou errado.

Esta é a primeira coisa que Cristo que nos fala neste trecho, mas ele também afirmou: “Eu vim para dar a luz para aqueles que não enxergam as coisas”. Vamos compreender isso agora...

Cristo é a luz, é o caminho para se alcançar as coisas do Pai e é o amor. Desta forma só quando o ser humanizado “enxergar” amor em tudo, sem prender-se às formas ou essências geradas por sua mente e que são criadas por Deus de acordo com a provação de cada ser, alcançará a verdadeira visão, a visão espiritual.

Mas, o ser humanizado acha que quem vive desta forma é “bobo” e que será “pisado”, pois não terá o direito de apontar os erros dos outros. Para esta observação eu pergunto: já tentou fazer? Não? Então como é que sabe que vai acontecer desta forma? Lembre-se, o mundo não é o que você compreende, mas a essência que aplica às coisas...

Se você viver com amor, Deus só colocará na sua frente pessoas que irão agir amorosamente. No entanto, se Ele colocar outras que não estejam amando, isso não será percebido por você, já que estará amando...

Os acontecimentos são aquilo que você percebe. Aplicando uma essência amorosa a eles, o que os outros chamam de bobeira ou de ser pisado, será compreendido por você como amor, será vivenciado como um ato amoroso...

Aqueles que não amam podem sentir-se ofendidos ou prejudicados, mas você não. Por isso, para você, estes acontecimentos não estarão ocorrendo.

Mesmo que aconteça de você “perder” algum elemento material (objeto ou posição), lembre-se do que Cristo disse: os últimos serão os primeiros. Se você acha que quem é feito de “bobo” fica para último, então, serão os bobos os primeiros a entrar no Reino do Céu. Já aqueles que são espertos, que ganham, serão os últimos, pois se imaginam os primeiros na Terra...

Os que não se sentem “pisados” não reagem porque tem boa visão espiritual. Mas, a humanidade pensa ao contrário destes...

Quando alguém aparentemente está perdendo, está sendo “passado para trás”, é acusado de “estar cego”, de “não enxergar nada que está acontecendo à sua volta”. Mas o cego não é ele e sim quem está enxergando demais. Enxergar demais é cegueira.

Então, Cristo deixa bem claro neste texto as seguintes lições: não podemos ficar olhando os atos, apontando erros dos outros, porque quanto mais agirmos desta forma, mais Deus vai apontar nossos erros também. Aliás, ele disse isso em outro ensinamento: pelo mesmo valor que julgar, serás julgado...

O ser humanizado precisa compreender que se alguém fala mal dele, é porque ele fala mal dos outros. Na hora em que deixar de falar mal dos outros, a compreensão que se tem do que os outros falam mudará e com isso, a visão perfeita será alcançada.

Na verdade, a pessoa que Cristo aponta neste texto como cego é aquela que possui visão muito apurada das coisas. É aquela que gosta de apontar o defeito em tudo que os outros fazem.

Se você acha que vai conseguir fazer uma coisa perfeita, que seja considerada como certa por todos, esqueça, porque isso não existe. Sempre existirão pessoas que apontarão defeitos no que você faz.

Isto acontece não por maldade ou por imperfeição dos outros, mas para testar se você é cego ou se tem boa visão. Por isso o cego, ou seja, o que enxerga espiritualmente, não vê nada errado em lugar algum.

O cego, o que tem a visão espiritual, não vê sujeira, não vê coisa velha, quebrada, não vê amarrotado ou passado, sujo ou limpo. Ele ama tudo que lhe aparece na frente e por isso não se deixa contaminar pela percepção visual e seus próprios conceitos de certo. Quem tem a visão espiritual ama tudo conforme Deus coloca em sua frente e agradece ao Pai por assim ter feito.

Quem tem apenas a visão material, enxerga tudo de todos, mas não enxerga nada de si mesmo, pois nunca se considera errado. Não importa o que faça, terá sempre desculpas e os outros é que sempre “estarão agindo com sentimentos negativos (maldade, preguiça, etc.)”.

É preciso que o ser humanizado que os outros vão continuar agindo assim até a hora em que cada um fizer a sua própria mudança e deixar de esperar a mudança deles.

Aos que imaginam que são capazes de compreender o mundo, pergunto: quando você vai mudar? Ou você é o único certo, o perfeito? Pergunto isso porque cada um “nasceu” para realizar a sua reforma íntima e não para reformar os outros ou o mundo. Por isso, não espere que os outros façam as coisas iguais a você.

É preciso aprender a abrir mão das “verdades” (conceitos) que cada um possui: esta é a reforma íntima que aproxima o ser do Senhor. Aquele que enxerga só consegue ver (ter compreensão) porque possui verdades. Estas verdades lhe fazem achar que sabe e que o que sabe está sempre certo. Cego!

Cristo ensinou: os olhos são a luz do espírito. Ensinou mais: se o seu olho lhe faz pecar, arranque-o, pois é preferível entrar no Reino do Céu com um olho do que ir para o inferno com os dois. Estes mesmos ensinamentos estão presentes neste texto onde Cristo falou do cego espiritual.

O que tem a visão espiritual, então, é aquele que não vê nada, não sabe de nada. Este só enxerga Deus agindo na sua frente, só vivencia a emanação do Pai. Por isso, só ama...

Tendo esta compreensão o ser universal sabe que a essência de tudo o que lhe acontece é o Amor de Deus em ação. É o seu Pai lhe dando uma oportunidade de reformar-se (mudar de visão das coisas) e assim, aproximar-se Dele.

Isso é o que Cristo, aquele que amou Deus porque amou todos os acontecimentos de sua encarnação, mesmo os que são considerados como sofrimentos pela humanidade, ensinou nesta história.

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A fé e o medo

Os apóstolos estavam num barco com Cristo. Durante a travessia veio um vento muito forte que criou grandes ondas que ameaçavam a estabilidade do barco. Os apóstolos ficaram com medo e pediram ajuda a Cristo. Depois de ordenar ao vento para parar, o mestre pergunta aos seus seguidores: ‘Porque vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?

A partir das palavras de Cristo, podemos entender que sua mensagem é: quem tem fé não tem medo... Pergunto: o que é fé? O que é a fé que Cristo ensina e que pode acabar com o medo? A entrega com confiança total em Deus...

Quem se entrega com fé a Deus, ou seja, com confiança total, de que precisa ter medo? Quem está ligado a Deus não tem medo de nada, porque tem o próprio Deus ao seu lado.

Qual o problema da onda que sacode o barco? Ele virar e os ocupantes morrerem? Mas, todo ser humano não vai morrer um dia? Qual o problema de morrer hoje ou amanhã? Além do mais, o que é mais importante: continuar vivo e afastado de Deus ou estar vivo ou morto em comunhão com Ele?

O ser humanizado tem medo porque está afastado de Deus. Por que imagina que Deus tem que estar ao serviço do interesse do ser (neste caso, permanecer vivo). Mas, como Cristo ensina, Deus tem um propósito para tudo.

O medo do ser humanizado não altera jamais o propósito de Deus. Se estiver nos propósitos Dele o barco afundar, em que o medo pode mudar este acontecimento?

Os propósitos de Deus não são jamais alterados pelo que o ser quer, pensa ou sente. Quantas vezes o ser humano pratica determinada atitudes sem medo algum de conseqüências e estas acabam sendo funestas? Não é o medo ou a ausência dele que determina o resultado de uma ação, mas os desígnios de Deus, que são insondáveis.

 Não se deve ter medo, pois ele denota apenas a falta de confiança em Deus. Se o destino depende apenas dos Seus desígnios, aquele que se entrega com confiança a Deus vive este desígnio em paz, mas aquele que assim não faz, o vivencia com medo.

Para não ter medo, o ser humanizado precisa caminhar na sua vida com a certeza que todos os seus passos estão contados por Deus, que fazem parte do plano maior que Ele tem para cada um. Caminhar com a consciência de que todos os seus caminhos estão delineados por Deus.

Quando o Pai delineia este caminho, o que O move é a chamada lei da causa e efeito. Ou seja, cada passo do ser humanizado na vida humana é construído como efeito de um passo anterior. Além disso, a construção deste caminho por Deus tem apenas um destino a ser alcançado: a evolução do ser universal, a evolução espiritual. É fundamentado nestas duas premissas que advém a confiança na entrega que faz existir a fé que acaba com o medo.

Sendo assim, quem tem fé não tem medo nem se preocupa com os acontecimentos, mas sim com a base sentimental com a qual vivencia os acontecimentos da vida. Vivenciando cada acontecimento com fé, o ser humanizado tem a certeza que o seu caminhar é justo (perfeito efeito gerado por uma causa) e que o levará à elevação espiritual.

Essa deve ser a preocupação do ser: neste momento estou vivenciando este acontecimento com entrega total confiante em Deus ou estou vivenciando-o com medo, com esperança de uma satisfação individual, com cobiça, etc.? Quando o ser humanizado se preocupa em vivenciar cada momento com fé sente-se ao lado de Deus e por isso não tem medo.

Aliás, na própria Bíblia está escrito: se Deus é a seu favor, quem pode ser contra? Se o ser humanizado sentir-se ao lado de Deus nada temerá. Mesmo que o barco sucumba nas ondas, o ser humanizado saberá que aquilo fez parte do caminho delineado por Deus para ele no sentido de levá-lo à elevação espiritual.

Mas, o ser humanizado continua rezando a Deus para salvá-lo, para livrá-lo daquilo que o Senhor programou para ele como o caminho para sua glória. Este é o ser que ao invés de entregar-se a Deus, O exila no céu e coloca-O a serviço de sua vontade individual ao invés de confiar nos Seus planos.

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Os dois alicerces

Quem ouve esses meus ensinamentos e lhes obedece é como um homem sábio que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes e o vento soprou com força contra aquela casa. Porém ela não caiu porque havia sido construída sobre a rocha.

Quem ouve esses meus ensinamentos e não lhes obedece é como um homem sem juízo que construiu a sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes e o vento soprou com força contra aquela casa. Ela caiu e sua destruição foi completa.

Cristo neste trecho deixa bem claro: este ensinamento dá segurança. A vida vivenciada com a consciência crística é uma existência segura. O que é uma vida segura?

É uma vida vivenciada com paz, tranqulidade, sem altos e baixos, sem sobressaltos, sem medo. Principalmente sem medo...

No início de sua missão Cristo diz que veio anunciar a boa nova. Qual será a boa nova que Cristo veio trazer? Vamos tentar entender isso porque é fundamental para compreensão da consciência crística.

Antes de Cristo, os profetas pregavam uma relação com Deus fundamentada no medo. Tenha medo de Deus... As pessoas daquele tempo vivam desta forma, ou seja, deixavam de fazer muitas coisas porque tinham medo da reação de Deus. Na sua mensagem Cristo falou da consciência amorosa, ou seja, deixar de fazer por amor a si e ao próximo. Se isso é verdade, a boa nova trazida por Cristo, então, é a nova base da relação com Deus: a relação amorosa.

A boa nova trazida por Cristo é uma nova forma de relacionar-se com o Senhor: a entrega com confiança total por amor. Por isso a boa nova traz consigo o fim do medo.

É sobre isso que Cristo fala quando está nos dizendo da casa construída sobre pedra. Aquele que vive com a consciência crística, ou seja, aquele que coloca nas coisas os mesmos valores que Cristo colocava, não tem medo de nada, pois ama e se sente amado por Deus.

Esse é o alicerce que pode lhe levar à elevação espiritual. Se você alicerça a sua vida numa relação fundamentada no individualismo, tem medo de Deus. Neste caso, sua casa é construída na areia e qualquer vendaval lhe tirará tudo o que tem na vida.

Quem não se relaciona com Deus no amor, acorda de manhã feliz, mas quando encontrar o primeiro ser humano que o contrariar por qualquer mínimo motivo, perderá esta felicidade. Por que isso acontece? Porque ele não acordou com Deus, mas consigo mesmo. Acordou numa relação entre ele e ele mesmo. Acordou preso aos seus desejos e vontades e projetou todo aquele dia para se satisfazer.

Existe uma coisa que é muito importante perceber: as pessoas não têm mais tempo para Deus. Elas acordam de manhã sem lembrarem-se de Deus. Essas pessoas têm que viver com medo, pois com certeza a casa deles vai cair, já que é construída sem alicerce. O dia dessas pessoas é construído sem um alicerce firme. O planejamento delas para este dia foi construído sem um alicerce seguro.

Para que o ser humanizado possa alicerçar a felicidade no seu dia, para que ele coloque uma base sólida para o seu bem-estar naquele dia, é preciso que acordar com Deus. ‘Bom dia, Deus, estou desperto. O que o Senhor quer para mim hoje?’ É preciso que em todos os seus planejamentos não esqueça de dizer: se Deus quiser...

Para que o ser humano tenha sua paz, felicidade e tranquilidade no dia a dia é preciso que ele coloque Deus na sua vida. Viver uma relação constante de amor com o Senhor. Ao invés de programar onde ir sozinho, sempre dizer: se Deus me levar, irei... Além do mais, quem vive assim vive a realidade, ou será que ainda não perceberam que qualquer coisa que programem, por mais seguro que estejam da realização da programação, está sujeito a não se realizar?

Este é o ensinamento de Cristo nesta passagem. Mas, para alcançá-lo é preciso desmistificar o poder que o ser humano quer ter: o poder de agir independente da vontade de Deus. É preciso deixar de colocar Cristo como um ser que vai fazer dar certo tudo o que o ser humanizado quer.

Ao invés de imaginar que Deus ajudará a fazer o que quer, o ser humanizado deve viver com a certeza que Deus fará o que quiser do seu dia. Essa mudança de forma de vivenciar a vida, que é pequena, é valiosa para se alcançar a consciência crística. Quem vive pedindo a Deus para que lhe ajude a fazer aquilo que ele quer, vive a sua relação como Senhor de uma forma condicionada. Este vive medrosamente e sem tranqüilidade, pois está sempre com medo de Deus não fazê-lo fazer o que quer.

Esse é o início de tudo para quem quer possuir a consciência crística: a mudança na forma de viver a vida. Aquele que possui a consciência crística vive com Deus ao seu lado; não convive com um Deus escravo de suas vontades, mas sim com um Pai amoroso e companheiro que constrói a caminhada do ser humanizado objetivando a glória total.

O ser humanizado sai de casa e pega a estrada para ir a outro lugar, mas ele não sabe se vai chegar. Só quem pode saber se isso acontecerá é Deus. Possuindo a consciência crística este ser viajará com Deus na condução durante o caminho e não sofrerá se não chegar; não possuindo, se frustrará com o Senhor porque Deus não o ajudou a realizar seus planos.

Para isso é importante viver a cada momento o que está acontecendo. No momento que pegar a estrada, viver apenas aquilo. A cada quilômetro, viver o quilômetro, até chegar ou não ao destino. Este vive com Deus cada momento, pois o Pai em sua vida é o momento que ele está vivenciando. Já aquele que está desatento do momento, ou seja, antes de pegar a estrada já se imagina chegando ao destino, não convive com Deus, pois não está vivenciando-O a cada momento.

Viver com Deus é não projetar futuros. O ser humanizado não vive o agora onde Deus está, porque está preso ao passado ou ao futuro. É preciso viver cada segundo a cada segundo para poder se conviver com Deus.

Ter a consciência crística é viver com Deus a cada segundo numa relação amorosa e de fé. Isso traz segurança para a vida, pois não importa o que aconteça, será Deus amando-o. Não importa se chegar ou não, louvará a Deus. Agora, se o ser humanizado dirigir sozinho para chegar, ele terá medo de não chegar.

Quem vive sem a consciência crística tem sempre medo das tempestades que varrem os planos individuais de cada um para a vida. Quem tem a consciência crística, ou seja, vive uma relação de entrega com confiança a Deus não tem este medo. O medo morre no momento exato que há a entrega. Acaba no momento em que se diz: Senhor fazei de mim instrumento de vossa vontade.

Mas, o problema é que as pessoas não têm mais tempo para Deus porque estão presas a uma multidão de desejos que sonham realizar. Preferem continuar sonhando em realizar seus desejos para poder dizer o quanto são poderosas, o quanto são capazes. Para poder se ligar a Deus é preciso abrir mão do falso poder de realização que o ser humanizado possui.

A entrega a Deus que falamos aqui não foi captada por aqueles que leram este trecho na Bíblia porque eles foram colocados à disposição dos desejos dos seres humanizados. Por isso existe a interpretação que a casa sólida representa a conquista dos desejos humanos do ser. Pobre ser, que pouco conquista daquilo que sonha, mas continua imaginando que Deus está ao seu serviço...

Evangelhos canònicos - Textos

Acendendo a lamparina

Vocês são a luz para o mundo todo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lamparina para pôr debaixo de um cesto. Ao contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine os que estão na casa. Assim também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai que está no céu.

Muitos imaginam que conseguir a consciência crística é como fazer um seguro que os protegerá de todas as mazelas do mundo. Que os afastará das situações de constrangimento, de dor, de humilhação. Enganam-se: ninguém acende uma lamparina para pôr debaixo de um cesto.

O ser humanizado que alcança a consciência crística ama universalmente, incondicionalmente. Este ser deve ser colocado no lugar próprio para que ilumine os que estão na casa, ou seja, devem ser expostos a situações onde derramem este amor sobre os outros.

Para aquele que tem cobiça, nada melhor do que receber o amor. Para aquele que tem ódio, nada melhor do que receber o amor em troca do seu ódio. O amor é o único antídoto para aquele que sente prazer em humilhar, constranger ou causar dor.

É por isso que aquele que alcança a consciência crística (é uma cidade construída sobre um monte) precisa continuar a vivenciar situações que, sob o prisma humano, denotem sofrimento e miséria. Mantendo a sua relação amorosa com Deus e exercitando a entrega com confiança ao Pai, este ser transmite àqueles que ainda estão apegados aos prazeres mundanos (satisfação de vontades) o caminho para alcançar o reino dos céus.

Aliás, fica difícil se imaginar de onde venha a compreensão que a união a Deus protege contra as mazelas do mundo. É só reparar nos acontecimentos da vida de Jesus, dos apóstolos e dos primeiros cristãos. Se a imagem corrente de hoje fosse real, esses deveriam ter uma existência muito diferente da que tiveram, não?

Evangelhos canònicos - Textos

Pedra de Roseta

Participante: O senhor pode falar um pouco sobre as bem-aventuranças?

Como já havia dito, já passei a vocês tudo o que tinha a ser passado. O que estamos fazendo agora é tirando dúvidas. Agora, tirar dúvidas não é estudar tudo novamente. Ao falar assim não estou falando que não vou estudar hoje as "bem-aventuranças", mas preciso hoje deixar algo bem claro.

Daqui a pouco não mais estarei aqui para estudar com vocês porque a minha missão terá terminado. Neste momento, precisarão "pensar" sozinhos. Por isso afirmo que o importante é começarem a conhecer o mecanismo das coisas, ou seja, como decodificar os ensinamentos dos mestres.

Por isso, ao invés de fazer como sempre fiz, ou seja, estudar diretamente o texto, quero ir um pouco além. Gostaria de começar esta conversa falando dos fundamentos de onde surgiram os textos que são conhecidos como "bem-aventuranças".

O meu objetivo primordial hoje é tentar lhes ensinar a aprender a entender não só este ensinamento, mas todos os ensinamentos de Cristo. Isto porque, depois que aprenderem a compreender os ensinamentos em essência ficará fácil compreender este e outros textos do Novo Testamento. Portanto, vamos lá!

Quem ensinou as "bem-aventuranças"? Jesus, o Cristo.

Não existe um Jesus Cristo. Naqueles tempos não existiam sobrenomes. Jesus era conhecido como Jesus de Nazaré porque nasceu na cidade deste nome ou ainda como Jesus, filho de José. Jesus Cristo, portanto, não é um nome.

Mas, por que este adendo foi colocado ao nome de Jesus? Porque ele foi reconhecido como o messias, o prometido. Portanto, Jesus Cristo quer dizer "Jesus, o prometido".

Por que prometido? Porque no velho testamento os profetas, falando em nome de Deus, prometem à humanidade que um dia viria o "filho de Deus" que libertaria o povo do Senhor da opressão.

Quem é o filho do Senhor? O espírito que se reconhece como tal. Como já disse anteriormente, todos somos filhos de Deus, mas não nos reconhecemos como tal. Para que possamos fazer jus a este título é preciso que nos reconheçamos como seres espirituais e não humanos. Para isso é preciso que o espírito esteja de posse de sua consciência espiritual e não ligado a egos humanizados.

Portanto, o espírito que foi prometido pelos profetas seria um que estivesse ligado à sua consciência primária e não a um ego humano. Sendo assim, Jesus não poderia ser este espírito, pois ele era um ego humano.

Por isso afirmo: Jesus era um espírito ligado a um ego humanizado que em determinado momento ligou-se a um espírito puro (ligado à sua consciência espiritual). Daí o nome: Jesus, o Cristo.

Resumindo, então, posso dizer que as bem-aventuranças, assim como todos os ensinamentos do Novo Testamento, são transmissões realizadas por um médium (Jesus) influenciado por um espírito superior (o Cristo).

Esta é a origem dos ensinamentos. Tudo que está no Novo Testamento foi passado à humanidade através de um médium guiado por um espírito de posse da sua consciência espiritual. Por isso afirmo que todo ensinamento atribuído a Jesus Cristo tem origem em um espírito de posse da sua consciência espiritual.

O que quer dizer um espírito de posse da sua consciência espiritual? Já falamos disso também: são os espíritos que estão livres da ação do individualismo que surgem pela formação da idéia do "eu".

Poderíamos dizer que os espíritos que existem a partir das realidades formadas por sua consciência plena - ou primária como Krishna fala - são os universalistas. Eles são individualidades do Universo, mas vivem em perfeita comunhão com o Todo e por isso deixam de ser individualistas.

Existindo a partir desta consciência eles estão livres do egoísmo que se expressa através das posses, paixões e desejos. O espírito quando existindo a partir das realidades formadas por uma consciência primária está tão perfeitamente interligado ao Todo que nada mais possui nem deseja.

Agora dá para entender aquilo que está no Novo Testamento e é atribuído a Jesus, o Cristo: ensinamentos universalistas (não individualistas) de um espírito superior transmitidos por um ego humano.

Participante: A partir do que foi exposto, como podemos entender as mensagens trazidas por aqueles que são chamados de mestres ascensionados?

O que é mensagem de um mestre chamado de ascensionado, eu não saberia lhe dizer, pois esta determinação a um espírito é essencialmente humana.

Apesar disso, posso afirmar que o que devemos entender em tudo na existência carnal é que se trata de uma emanação divina. Tudo que existe origina-se em Deus (Causa Primária). Por isso, seja que rótulo se dê a quem transmite uma mensagem, deve-se entender que ali está uma emanação divina.

Mas, também devemos entender que qualquer mensagem é uma faca que corta dos dois lados. Ao mesmo tempo em que uma mensagem transmite um ensinamento, ela cria uma prova. Isso porque toda mensagem transmite um ensinamento e este é utilizado para criar um "certo" e um "errado" do qual o espírito encarnado se apropriará e julgará o próximo.

Sendo assim, não importa a que mensagem você tenha tido acesso - seja de um espírito considerado ascensionado ou de outro qualquer que não seja reconhecido como tal - é uma orientação e ao mesmo tempo uma provação.

Voltemos à conversa de hoje. Agora que já entendemos a origem dos ensinamentos do Novo Testamento, pergunto: qual a essência que está embutida em cada um deles? Para sabermos isso é preciso compreender qual foi a missão de Cristo ao transmitir através de Jesus os ensinamentos universalistas.

Esta missão foi deixada bem clara na Bíblia: transmitir a "boa nova do Reino do Céu". O objetivo de Cristo durante aquela missão foi trazer à humanidade a boa notícia do Reino do Céu.

Mas, qual é esta boa notícia? Cristo informou à humanidade que aqueles que praticarem determinada coisa estarão sentados ao lado direito de Deus. Esta visão é bem dogmática e, por isso, muitas vezes ininteligível para os seres humanizados de diversas crenças. Por isso, vamos passar esta informação para nossas palavras, para palavras do universalismo e do espiritualismo.

A boa notícia que aquele espírito ligado à sua consciência primária trouxe através de um ego humano foi que o fim das encarnações para provas e expiações pode ser alcançado por quem seguir determinados ensinamentos. Isso é, numa linguagem mais moderna, o mesmo que foi dito ao povo de então quando foi afirmado que há um caminho para se estar sentado ao lado direito de Deus.

Partindo dessa premissa, podemos afirmar que aqueles que estão do lado esquerdo são os que ainda se encontram presos ao ciclo de encarnações. Quem se alinha ao lado direito é aquele que passa a viver no Reino do Céu, ou seja, não reencarna mais, pelo menos para provas e expiações.

Essa é a boa notícia do Reino do Céu que um espírito de posse de sua consciência espiritual revelou através de um ego humano. Ele ensinou que qualquer espírito pode encerrar o ciclo de encarnações cumprindo alguma coisa.

Mas, o que é preciso cumprir para estar ao lado direito de Deus? Cristo deixou isso muito claro: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Com isso a boa notícia estava então solidificada: qualquer um que durante a sua encarnação amar a deus acima de qualquer coisa e ao próximo como a si mesmo, no desencarne alcançará a ressurreição, ou seja, a libertação da consciência humana.

Esta é a boa notícia do Reino do Céu. Todos que amarem a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, não mais encarnarão e libertar-se-ão da ligação a egos humanizados.

Ao dizer isso eu estou criando para vocês uma "pedra de roseta": um código para que vocês possam decodificar todos os ensinamentos do Novo Testamento. Não importa que palavras estejam na sua Bíblia, o que está embutido nelas é um caminho para a libertação do ciclo de encarnações para provas e expiações. Este caminho é composto pelo amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quando Cristo fala do cego espiritual, ele fala daquele que não ama a Deus sobre todas as coisas e nem ao próximo como a si mesmo. Quando fala que não se deve julgar, diz que não julgar é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quando diz que você deve conviver com o seu inimigo, está dizendo que viver assim é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Veja: sem entender isso, sem colocar esta essência que decodifica o ensinamento, nós criaremos uma multiplicidade de intenções para os ensinamentos de Cristo, enquanto ele não teve nenhuma outra intenção a não ser trazer a boa notícia do Reino do Céu, a não ser dizer a cada um o que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Cristo não quer que você tenha visão espiritual, não julgue ou que conviva com o seu inimigo. Não é isso que ele quer que você faça... Na verdade ele fala estas coisas porque elas são expressões do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, que é o mote de seus ensinamentos.

Participante: Como é amar a Deus? Pergunto isso porque não se sabe como é Deus. Como amá-lo então? Deus seria a vida? Se puder fale um pouco de Deus: sua forma de agir e como Ele nos ama...

Vou começar a lhe responder pela última pergunta (fale um pouco de Deus): impossível... O ego humanizado não tem condições de conhecer a Deus. Falta a ele um sentido para isso.

NOTA: "Pergunta 0010: Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? Não, falta-lhe para isso o sentido".

Para o segundo questionamento seu (como é amar a Deus) a resposta é simples: seguir os ensinamentos do Novo Testamento. Se a essência da missão deste espírito ligado à sua consciência espiritual foi ensinar a amar a Deus acima de todas as coisas, fazer isso é seguir aquilo que ele ensinou.

Cristo ensina: por que vocês se preocupam com o que vão vestir ou comer amanhã? A partir daí pergunto: o que é amar a Deus? Não se preocupar com o que vai comer e vestir amanhã. O mestre deixou um ensinamento que lhe orienta para que quando alguém lhe peça a túnica você dê o manto também. A partir daí, o que é amar a Deus? É dar além do que lhe pedem... Ele diz: se um soldado estrangeiro (seu inimigo) lhe mandar carregar um peso por um quilômetro, carregue por dois. Lendo isso podemos compreender que amar a Deus é fazer pelos nossos inimigos além do que eles esperam...

Compreendeu? Para saber o que é amar a Deus é só você pegar o ensinamento e entendê-lo. Por isso afirmei que estou passando a vocês uma "pedra de roseta", um código para compreender o que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, o que, em essência, é o que está por trás de todos os ensinamentos do Novo Testamento.

Como ensinou o Espírito da Verdade (pergunta 14 de O Livro dos Espíritos), não perca tempo criando sistemas que se transformarão em labirintos dos quais não conseguirá sair. Não importa que assunto esteja sendo abordado em qualquer ensinamento da Bíblia, o que sempre será mostrado é apenas um caminho que reflita o amor a Deus sobre todas as coisas ao próximo como a si mesmo.

Participante: Será se entregar à vida?

É mais do que isso. À vida você não pode deixar de se entregar, porque na verdade está totalmente entregue a ela. Você acha que domina a vida, mas na verdade ela lhe leva, ou seja, acontece o que ela quer e não o que você deseja. Portanto, você não tem consciência disso, mas já está totalmente entregue a ela.

A partir desta simples constatação, eu diria que amar a Deus não é entregar-se à vida, mas ter consciência de que você é um barquinho sem leme e vela que o mar leva para onde quer. Esta é a primeira posição daquele que ama a Deus sobre todas as coisas, mas existe outra: é preciso não sofrer por causa deste não comando da existência.

Muitos até alcançam a idéia de que a vida é uma emanação divina, mas sofrem com a consciência da perda do controle. Como podem, então, dizer que amam a Deus, já que o amor para existir necessita da felicidade?

Participante: Se a evolução é individual, por que precisamos buscar Deus? Por que precisamos ter vontade de Deus?

Eu não falei em buscar a Deus ou ter vontade Dele... Eu falei em amar a Deus. São coisas completamente diferentes.

A partir daí você poderia me perguntar então: por que precisa amar a Deus? Eu respondo: não precisa.

Veja uma coisa... Cristo diz: eu sou o caminho e não a realização. O amar a Deus, portanto, é o caminho para a evolução espiritual e não a realização. Deixe-me tentar explicar...

Deus é o Universo, é tudo que existe. Quando você ama a Deus, ama o universal, o Universo, o Todo. É isso que Cristo ensinou. Ele não disse que se deve amar a Deus, mas amar-se a Tudo.

Mas, por que amar ao Universo, a Tudo, é um caminho para a elevação espiritual? Porque acaba com o egoísmo, o individualismo. Quem ama o Todo universal não ama a si mesmo prioritariamente. Portanto, amar a Deus é um caminho para destruir o egoísmo...

Seria muita prepotência de Deus dizer: só quando Me amar conseguirá elevar-se... Esta não pode ser a postura de alguém que prega a humildade. Além do mais, um amor fundamentado no ganhar alguma coisa não é amor, mas bajulação.

Na verdade, o sentido do mandamento que constitui a boa nova não é amar a Deus, um espírito, um ser, mas sim amar o universal acima do individual. Isso, todos os mestres falaram...

Vamos além? Por que você não pode ser individual no Universo? Porque ele fere os outros. O egoísmo de cada um fere o próximo e com isso não se realiza o segundo item da boa nova: amar ao próximo como a si mesmo.

Então veja, a elevação não se consegue entregando-se a um deus que seja uma individualidade, uma imagem ou uma idéia, mas universalizando-se. Isso é elevação espiritual.

Portanto, a boa notícia do Reino do Céu é de que se pode por fim ao ciclo de encarnações humanas. Mas, para que isso se torne realidade, é preciso que o espírito preso a este ciclo caminhe paulatinamente para a universalização, ou seja, para o amor ao Todo acima de suas próprias posses, paixões e desejos. Este é um bom resumo para quem quer entender os ensinamentos do Novo testamento.

Participante: Universalizar-se é identificar-se com o universal, cm o Universo, ao invés do individual, ego?

Não... Não é identificar-se: é integrar-se. Identificar-se é você se ver dentro do Universo; integrar-se é você ser ele.

Tem uma figura que foi feita anteriormente que bem define isso. O Universo é como um quebra cabeça, onde cada espírito é como se fosse uma de suas peças.

Identificar-se, como você propôs como elevação espiritual, é saber que é uma parte do quebra cabeça, saber que é uma peça que o compõe. Mas, isso não lhe faz integrar-se a ele, ou seja, não lhe faz compreender que sozinho você não vale nada. Universalizar-se é ter a plena consciência de que você, peça que compõe o todo, sozinho nada vale e assumir o seu posto fazendo com que o Todo valha alguma coisa.

Integrar-se é ter a consciência de ser uma peça, mas também é saber que a peça sozinha nada forma. É preciso que cada peça perca seu individualismo e assuma seu posto junto às outras para que a figura que surja da fusão tenha sentido.

Identificar-se é saber apenas que é uma peça do todo, mas ainda possuir individualismo. Integrar-se, é anular o individualismo para que o bem coletivo sobreponha ao individual.

Participante: O senhor já falou hoje algumas vezes sobre o Deus personificado. É muito difícil para mim me desvencilhar do conceito de Deus personificado. Racionalmente consigo, mas sentimentalmente é difícil. Cada vez que ajo egoisticamente me sinto culpada por estar desagradando a Deus, mas não podemos desagradar a Ele, não é mesmo? Isso me causa muito conflito...

Realmente no tocante a Deus, existem diferenças de culturas que transformam a realidade. Para os ocidentais, Deus virou uma pessoa, uma individualidade. Você, como ocidental que é, foi criada com a idéia de um Deus "homem", espírito, quando ele é mais do que isso: Ele é tudo...

Por isso concordo com você: realmente para os ocidentais é difícil desvencilhar-se dessa idéia. Mas, tem que ir tentando paulatinamente libertando-se dela. No entanto, durante este processo de mudança de cultura você não deve lastimar-se quando errar (não conseguir viver o Deus Tudo). Quando não conseguir alterar sua visão sobre Deus, não deve sofrer, porque, afinal de contas, se Deus é tudo, Ele é o próprio erro ou aquilo que você chama de "errado".

Participante: Eu não sei mais o que pensar... Você diz que nós não sabemos o que é amar e ao mesmo tempo diz que temos que amar. Como fazer algo que não conhecemos?

A sua pergunta é interessante: como fazer algo que não sabe? A resposta é: deixando de fazer o que você sabe que está fazendo...

Por exemplo: você não vai aprender a amar, mas deve desaprender de ter raiva, de achar que o carinho é amor, de que o sentimento de mãe pelo filho é amor... Na verdade todo trabalho de elevação espiritual é de destruição e não de construção.

Sendo assim, posso dizer que a elevação espiritual não se caracteriza por aprender a amar, mas deixar de fazer algo que se conhece. Quando isso for conseguido, o amor surgirá naturalmente.

Na verdade foi o que disse outro dia: o espírito já ama, pois o amor é a única coisa real no Universo. No entanto, por estar preso ilusoriamente a um ego humanizado ele acha que está abraçando, que está tendo raiva, que está sofrendo. Tudo isso ele acha que está fazendo enquanto realmente está amando...

Portanto, é preciso deixar de achar essas coisas para poder ver o amar que já faz.

Participante: Tenho alguns alunos japoneses que não acreditam em Deus. Eles dizem que nunca pensam em Deus. Isso é algo irreal para mim. Como alguém pode viver sem pensar em Deus? Como fica a elevação deles se nem pensam que Deus existe? Eles acham super estranho como nós pensamos...

Vou lhe dizer algo interessante: eu também não acredito em Deus... Eu nem penso em Deus... Deixe-me tentar lhe explicar isso...

Por favor, me responda: seu marido está em casa?

Participante: Sim...

Por que, então, você está pensando em Deus lá no alto, se Ele está aí do seu lado?

Veja: você quer pensar em Deus, mas no ser, na individualidade, no Senhor do Universo, mas tudo é Deus. Portanto, se você pensar no seu marido, estará pensando em Deus...

Essa é a filosofia de Buda. O budismo originalmente não trabalha com a idéia de um Deus personificado, que está longe de você e ao qual deve se dirigir. Para eles Deus está em volta de cada um através de tudo e todos que existem...

Está vendo um computador em sua frente? Ele é Deus e por isso você já está com Ele... Está vendo este livro? Já está com Deus... Mas, você não vê isso e fica querendo procurar um Deus que esteja lá em cima, no céu...

Essa questão passa por aquilo que acabamos de falar: a idéia do ser ocidental do Deus espírito, homem, individualidade. Seja qual for a linha doutrinária de um ser humanizado oriental, esta não trabalha com a idéia de um Deus distante. Para os seguidores de qualquer doutrina oriental Deus está em tudo que existe ao seu redor, por isso ele não precisa buscá-Lo...

Por isso, me desculpe, mas eu também não busco a Deus: eu convivo com Ele quando estou com você e todos que me rodeiam; convivo com Deus com a cadeira onde coloco o corpo que estou usando e com o pito (cigarro) que utilizo para trabalhar. Por causa disso, lhe digo: não acredito em Deus...

Eu não acredito neste Deus lá de cima que os egos ocidentais convivem porque Ele está muito longe para nós O alcançarmos. Ele encontra-se muito distante de nós que precisamos conviver com Ele...

Eu prefiro conviver com o Deus que está ao meu lado, não importando o que ou quem esteja ali. Afinal de contas, como já vimos em diversos estudos, sejam eles fundamentados em doutrinas orientais ou ocidentais, tudo que existe é emanação do Pai e, portanto, Ele emanado...

Se eu me concentrar em endeusar a cadeira, vou viver com Deus, convivendo com um elemento material. Este é o grande segredo da elevação espiritual que o oriental conhece e o ocidental não: é preciso endeusar (conviver com Deus) divinizando todas as coisas que estão ao seu redor para promover a reforma íntima. Se você se prende em buscar o Deus que, para você, está em algum lugar muito longe onde sua consciência não consegue alcançar, se perde no caminho.

Este é o grande segredo da evolução espiritual que as doutrinas ocidentais, as doutrinas fundamentadas no Deus individualidade, não conseguiram passar. Mas, como sempre digo, isso não é erro, mas prova para cada um.

Verifique as histórias daqueles que segundo estas doutrinas conseguiram a santidade. Veja se eles não passaram em determinado momento a divinizar tudo aquilo com o qual conviviam? Foi nestes momentos que eles encontraram a Deus...

A doutrina era a mesma que você segue, mas eles se libertaram da interpretação humana e foram mais além, ou seja, venceram a prova. Se eles conseguiram, você também pode...

Perguntaram como tinha sido o meu dia. Eu respondi que, como sempre, foi maravilhoso. Quiseram saber o que era maravilhoso para mim e eu respondi que era porque eu estive com Deus o dia inteiro... Mas, isso só aconteceu porque eu me preocupei em cada lapso de tempo em tornar divinas as coisas que me cercam.

Se eu estou por acaso no meio de uma cena bárbara, divinizo o quadro que está à minha frente, apesar da interpretação que o meu ego dê àquela forma que está sendo percebida. Eu não sai dali mentalmente para procurar Deus nas alturas: eu conviverei com as idéias e formas percebidas como emanações divinas, como o próprio Deus.

Recentemente ocorreu um acidente que chocou a população deste país (queda do avião da TAM em Cumbica). Diante daquele quadro todos foram procurar Deus lá em cima, no céu, e não encontraram nada, pois estavam presos às imagens que o ego criou. Se, ao invés disso, tornassem divino aquilo que estavam percebendo, vivendo, teriam encontrado Deus nos corpos carbonizados e no monte de entulho...

Na verdade, este estudo de hoje tinha como fundamento falar-se das bem-aventuranças. Eu, porém, tinha pedido para antes criar um sistema decodificador para todos os ensinamentos do Novo Testamento. A pedra de roseta, como disse, é o amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas a única forma para colocar isso em prática é aprendendo a conviver com as emanações divinas divinizando-as.

Mas, isso não serve apenas para o Novo Testamento, serve para todo o trabalho da reforma íntima, independente de que doutrina se utilize. Tem uma pessoa que sempre me pergunta sobre elevação espiritual e, apesar de ter dado muitas respostas ao longo dos anos, agora posso, enfim, dar a resposta final: elevação espiritual é a denominação que se dá ao processo de conviver com a divindade em todas as coisas.

Ela jamais será conseguida simplesmente ficando de joelhos rezando para um Deus que está lá longe. Preocupem-se em divinizar todos e tudo que vocês convivem que com certeza encontrarão Deus. Agora, se quiserem encontrar o Deus ser, precisam aprender a construir foguetes e utilizarem roupas especiais para irem para o céu físico (o Universo) onde vocês imaginam que Deus está trancafiado...

Já me perguntaram até onde Deus está no Universo, como se o Todo pudesse ser fragmentado...

Foi isso que Cristo ensinou. A prática do amor a Deus sobre todas as coisas é alcançada exatamente quando se diviniza tudo aquilo que nos cerca. Quando você diviniza tudo que lhe cerca, está amando a Deus acima de todas as coisas.

Participante: Nós espíritos somos partes de Deus ou criação Dele como filhos, ou é a mesma coisa?

Para lhe responder preciso voltar a um ensinamento que vimos no estudo do Bhagavad Gita: o Deus ser, o Emanado e as Suas emanações. Deus, o Espírito Supremo; as individualidades e elementos materiais que são emanados por Ele; a movimentações destes deuses emanados que são emanações do Senhor. Pegando estes três deuses que Krishna ensina que existem como o próprio Senhor, vemos, então que tudo é Deus.

Respondendo-lhe agora, posso dizer que o espírito é emanado por Deus, gerado pelo Pai, mas faz parte de Deus porque faz parte daquilo que chamamos deuses emanados. Tudo o que este ser faz é criado originalmente pelo Senhor, por isso são emanações de Deus.

Sendo assim, o espírito faz parte de Deus como um todo, mas é uma individualidade diferente do Deus Ser. Trata-se de uma individualidade gerada pelo Senhor, mas que faz parte daquilo que chamamos de Deus, porque é um dos deuses emanados.

Aliás, Cristo ensinou: vós sois deuses... Era exatamente neste aspecto tríplice de Deus que o mestre se baseou para dizer isso.

Por isso afirmo: sem entender perfeitamente a Realidade sobre aquilo que é chamado de Deus, não há como entender os ensinamentos de Cristo. Ele não fala de um deus preso no céu, mas de um Senhor que está diuturnamente ao seu lado. Mais: em tudo que diz, o mestre nazareno ensina como divinizar tudo o que está ao seu lado para poder encontrar Deus.

Participante: Isso é fácil para o "bom" e o "belo", mas para a violência, injustiça e iniqüidade fica mais difícil...

Claro que sim... Por que isso? Porque você é regido pelos seus conceitos ao invés de divinizar o Universo do Senhor.

A violência é um conceito humano e não um ato violento, tanto assim que existem graus de violência. Tem gente que considera algumas coisas violentas que você não considera. Por isso ela não pode ser universal...

Tudo o que é universal é eterna e globalmente considerado de uma só forma. No Universo tudo que não é universal é individual. Portanto, a violência não é um ato divino, mas uma individualização que alguns fazem de uma emanação divina.

Então veja: é preciso ir além de você mesmo. Por isso eu disse que a elevação espiritual consiste em universalizar-se Para isso é preciso que vá além de você mesmo, além do seu individualismo, que nada mais é do que uma individualização do que é universal.

Portanto, você considera bárbaro um determinado acontecimento, mas é uma barbaridade divina e por isso é divino. Isso é amar a Deus acima de todas as coisas, é viver harmonicamente com a Causa Primária de todas as coisas...

O resultado prático do ensinamento da resposta número um do Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos é a divindade de todas as coisas. Por causa disso você precisa compreender que se quer viver com Deus, não deve conviver com um ser, um espírito, mas sim com as emanações deles, divinizando tudo que existe.

Este é o primeiro mandamento ensinado por Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas): aprender a viver com todas as coisas emanações de Deus, como divindades. A partir disso, pergunto: como se consegue colocar em prática o segundo mandamento?

Existe uma palavra hindu que é o sinônimo do amar o próximo como a si mesmo. Esta palavra é "namaste'. Ela é um sinônimo para o mandamento de Cristo porque quer dizer "o meu divino interior saúda o seu divino interior".

Para que se possa amar o próximo como a si mesmo é necessário conviver com cada um com o seu divino interior que está acima das idéias que o ego cria para você mesmo. É, ainda, conviver com o divino interior dele e não com as qualificações que o ego gera para aquele ser humanizado.

Em resumo, amar o próximo como a si mesmo é conviver com o outro como divino a partir de sua própria divindade. Quando falamos em divino devemos entender sem máculas, sem qualquer idéia negativa que o ego cria para qualificar a você e ao próximo.

Foi isso que Cristo disse: você é divino e outro também; por isso você deve aprender a conviver com o próximo dentro destas características. Este é o segundo mandamento ao qual o mestre nazareno disse que cada um deve se esforçar de corpo, mente e alma para realizar.

Mas, para a perfeita compreensão deste tema, precisamos ainda retirar conceitos humanos, como, por exemplo, os que determinam o que é ser divino. Como disse acima, tornar-se divino e divinizar o próximo é não conviver com as idéias negativas que o ego cria para as coisas. Mas, apesar de dizer isso, não estamos aqui falando em ser "bonzinho", em seguir os padrões "bom" da humanidade.

Ver-se como divino não tem nada a ver com os padrões humanos de bondade. Por exemplo: quando você grita, xinga ou briga com o próximo, estes atos são emanações de Deus. Portanto, são frutos do seu divino interior. Quando você tem inveja dos outros é o seu divino interior que está tendo inveja.

É por isso que Cristo pode referir-se aos seus apóstolos como "vermes", pode pegar o chicote e sentar no lombo dos mercadores do templo sem culpar-se. Para o mestre nazareno não existia diferença entre estas atitudes e as de cura ou de ressurreição de mortos, pois ele sabia que tudo era emanação de Deus e, portanto, oriundos do seu divino interior.

Tudo que você faz vem do seu divino interior, porque vem de Deus e, por isso, precisa conviver com tudo o que faz como divino. Para isso é preciso não se culpar, não se criticar. Mas, o divino interior do outro também não tem nada a ver com bondade ou estar certo. Tudo o que o próximo realizar também será oriundo da divindade interior dele e, portanto, também divino.

Sendo assim, se você briga ou o próximo briga com você saiba que são só emanações divinas e não atos "errados" ou "maldosos". Torne divino o seu mau humor e o do próximo, pois aquele estado de espírito foi gerado pelo Senhor do Universo e é, portanto, o próprio Deus.

Estes são os dois mandamentos que Cristo ensinou - e, acima de tudo, vivenciou - como caminho para que o ser humanizado entre no Reino do Céu, ou seja, liberte-se da roda de encarnações para provas e expiações: tornar divina todas as coisas para poder conviver com o seu divino interior com o divino interior dos outros.

Aí está o amor universal... Amar a Deus sobre todas as coisas é tornar tudo divino e amar ao próximo como a si mesmo é aprender a conviver com todos num plano de divindades que são.

A partir daqui não importa mais que palavras estejam no Novo Testamento: é preciso divinizar tudo que existe e conviver com este tudo dentro da propriedade divina que eles contêm. O resto - as letras, as interpretações, as leis - são só figuras criadas pelo ego. É por isso que Cristo disse que não veio derrubar a lei, mas dar a ela o real sentido.

Sabe como não matar pode ser um ato de elevação espiritual? Quando ele for praticado pelo reconhecimento da divindade de cada um. Se este ato deixar de ser executado apenas pela prisão à letra fria - "lá diz que eu não posso matar por isso não mato, mas bem que aquele merecia morrer" - ou para tirar benefício próprio - "se eu não matar vou para o Céu" - de nada adiantou não ter matado. Melhor seria se houvesse praticado este ato divinizando-o como Cristo fez ao matar a figueira...

Este é o ensinamento de Cristo, mas também de todos os mestres... Alcançar esta postura é elevação espiritual. Para isso é preciso promover a reforma íntima, ou seja, mudar a forma de tratar as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) do mundo: ao invés de viver aprisionado aos valores criados pelo ego, conviver dentro das características divinas que tudo possui.

Participante: Qual a função do ateísmo nos dias de hoje?

Será que, frente a tudo o que falamos, existe ateísmo no mundo terrestre? Eu acho que não... Vejamos...

O que é um avaro senão um ser que diviniza o dinheiro? Se ele vive com este elemento como divino ele não é mais ateu... Vocês dizem que são ateus aqueles que não acreditam no seu Deus, mas se Ele não é aquele ser que está lá em cima, qualquer um que divinize qualquer coisa está convivendo com Deus...

Olha, precisamos ser muito claro. Tem certos conceitos que os seres humanizados não aceitam tocar. Um deles é Deus. Na verdade, Deus é um conceito que está enraizado no ego de vocês e que não aceitam que se toque nele.

Ao longo de todos estes anos de estudo muitas pessoas me disseram que estava muito difícil conviver com a idéia do Deus Causa Primária, com a idéia que tudo é divino quando se convive diariamente com atrocidades e desgraças. Por que é difícil conviver com isso?

Por causa do conceito Deus bonzinho. Deus não é bonzinho: este é um conceito que os egos ocidentais possuem, ou seja, um carma que precisa ser vencido por um grupo de espíritos.

Deus é justo, é a própria justiça. Deus é amoroso, é o próprio amor, mas amar não é satisfazer as necessidades e desejos humanos do ego. Por isso afirmo: Deus não é bonzinho, mas justo e amoroso e para poder ver estas coisas é ação é preciso se libertar dos conceitos existentes no ego para defini-las, pois eles não são universais.

Não se vence uma ferida que está apostemando passando remédio em cima. É preciso enfiar o dedo no buraco e tirar o carnegão que está lá dentro. Não se trabalha elevação espiritual sem enfiar o dedo e retirar completamente o carnegão que está atravancando-a.

Este carnegão, para os egos ocidentais. é o conceito sobre Deus que eles carregam. O conceito de um deus homem, ser, que mora no Céu e não se faz presente na Terra. O conceito de um deus que está no Céu, mas que se submete aos padrões humanos de "certo" e "errado". O conceito de um deus que só para satisfazer os desejos do ser humano.

Estas são características das doutrinas religiosas do mundo ocidental. O judaísmo, o cristianismo em qualquer de suas vertentes, o espiritismo e o próprio islamismo tem essa idéia de um Deus ser que vive no Céu e está lá para realizar o que o ser humano quer.

Sem enfiar o dedo na ferida e retirar estes conceitos que são fundamentados nos desejos humanos, não se vence elevação espiritual. Para se alcançar a Deus é preciso se conviver com Ele. Mas, para isso, você não deve apenas se prender aos momentos de oração aos céus, mas conviver com as emanações do Senhor que estão ao seu redor.

A bagunça é divina, a dor e o sofrimento são divinos, a fome é divina e a ganância também. Conviver com Deus em tudo e tudo com Deus: sem isso não se consegue a elevação espiritual.

Não estou falando em conviver com o Deus ser, aquele espírito que pensa, que realiza as coisas de caso pensado. Exata é a visão de vocês: Deus é um ser que faz as coisas para maltratar, para machucar...

Não, esse Deus não existe. O que existe é o Universo e ele é Deus, é divino. Pouquíssimos espíritos podem alcançar este ser que vocês que querem alcançar, inclusive eu. Por isso tenho que conviver com aquilo que Ele me dá, aplicando a elas as suas características divinas: Justiça e Amor...

É isso que está no poema "Pegadas na Areia". Deus está sempre caminhando ao seu lado. Isso você consegue ver, como disse alguém hoje, nos momentos onde seus desejos são realizados. Mas, Ele também está lá quando isso não acontece: é você apenas que não vê as pegadas Dele.

Na verdade, o que você não vê são as suas pegadas, pois está no colo. É Ele que está deixando rastros no chão e não você...

Acho que agora podemos ver as bem-aventuranças, não?

Felizes os que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do céu é deles.

Dentro do que falei hoje, quem são os felizes? Quem são os espiritualmente pobres? Aqueles que sabem que tudo é Deus. Aqueles que divinizam tudo o que acontece. Ele é pobre espiritualmente porque tem a consciência que tudo é muito mais potente que ele. Tudo é muito mais rico em divindade. Esses não reencarnarão: continuarão vivendo no Reino do Céu.

Felizes os que choram, pois Deus os consolará.

Felizes os que choram, ou seja, os que divinizam o choro. O choro é parte da vida. Ele não é algo fora da vida, mas um elemento que faz parte da vida e, portanto, é uma emanação de Deus e por isso é divino. Se eu divinizo o meu choro, eu me sinto consolado por Deus. Eu choro, mas por dentro estou em contato com a divindade.

Felizes os humildes, porque receberão o que deus tem prometido.

Quem é humilde? É aquele que não possui as coisas. Por que ele vive assim? Porque sabe que tudo é de Deus. Para isso ele precisa divinizar tudo. Aquele que age assim receberá tudo o que deus tem para lhe dar, que é a felicidade incondicional.

Felizes os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele os deixará completamente satisfeitos.

Felizes aqueles que tornam divinos tudo aquilo que ele vivencia, pois Deus os deixará completamente satisfaz, não importando o que o ego diz que está acontecendo. Infeliz é aquele que diviniza o que o ego afirma que está acontecendo. Estes não receberão satisfação de Deus...

Sabe o que é divinizar aquilo que o ego diz que está acontecendo? É acreditar como real e verdadeiro tudo o que o ego diz que sabe, que conhece, que está "certo" ou "errado"...

Felizes os que têm misericórdia dos outros, pois deus terá misericórdia deles também.

Felizes os que divinizam o que os outros fazem, pois Deus o divinizará também...

Felizes os que têm coração puro, pois eles verão a Deus.

Felizes os que só vivem um mundo de emanações de Deus, um mundo divino, pois eles verão Deus. Não lá em cima, mas aqui, ao seu lado.

Quando você diviniza as coisas, passa a ver Deus nelas.

Felizes os que trabalham pela paz entre as pessoas, pois Deus os tratará como seus filhos.

A paz é o desarmamento. As armas que cada um usa para acabar com a paz são os conceitos humanos que determinam valores não divinos para as coisas, pois eles são fruto do egoísmo, do individualismo, que é característica primária dos egos humanos.

Portanto, felizes são os que trabalham para tornar tudo divino, superando as suas próprias armas, libertando dos seus conceitos.

Felizes os que sofrem perseguição por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é deles.

Felizes aqueles que, por viverem de uma forma divina com as coisas, são caluniados, chamados de bobo, criticados, acusados. Isto porque estes viverão um mundo à parte onde a glória de Deus estará sempre presente.

Não foi isso que aconteceu com todos aqueles nos quais vocês reconhecem santidade? Veja o Chico - Xavier ou de Assis - e me diga se eles não viviam um mundo à parte, um mundo onde tudo era emanação divina? Se isso é verdade, porque não seguem o exemplo deles?

Pronto: está aí o estudo das bem-aventuranças que me foi pedido no início de nossa conversa de hoje. Mas, não fique por aqui...

Agora pegue qualquer outro ensinamento do Novo Testamento e veja se não é este o ensinamento de Cristo. O mestre veio trazer a boa-notícia do Reino do Céu e disse que o caminho para se retornar à pátria espiritual é a prática do amor.

Este ensinamento até muitos já deveriam ter alcançado, mas nunca entenderam o que é amar. Amar é isso: é divinizar tudo, todos e qualquer coisa que aconteça.

Esta é a pedra de roseta que pode lhe levar a aprender a ser cristão, ou seja, a seguir o caminho a luz e a vida que leva a Deus.

Evangelhos canònicos - Textos

As leis de Deus

Num sábado, Jesus e os discípulos atravessavam uma plantação de trigo. Enquanto caminhavam, os discípulos colhiam espigas. Então os fariseus perguntaram a Jesus: Porque é que os seus discípulos estão fazendo o que a nossa Lei proíbe fazer no sábado? Jesus respondeu: Vocês não leram o que Davi fez quando ele e os seus companheiros não tinham comido e ficaram com fome? Ele entrou na casa de Deus, no tempo do Grande Sacerdote Abiatar, comeu os pães oferecidos a Deus e deu também aos seus companheiros. No entanto, é contra nossa Lei alguém comer desses pães, a não ser os sacerdotes. E Jesus terminou: O sábado foi feito para servir as pessoas e não as pessoas para servirem o sábado. Portanto, o Filho do Homem tem autoridade até mesmo sobre o sábado.

Toda religião possui um código de normas ou leis que os seres humanos adeptos a ela devem seguir. Este código prescreve sempre atos que estes seres humanizados devem ou não praticar. Ensinam ainda que quando ele pratica estas leis ganha as benesses de Deus e quando não, recebe o castigo pelo ato contrário a elas.

A lei religiosa, portanto, contempla um Deus juiz, que julga todos os atos dos seres humanos. Busca, pela coerção e pelo medo, afastar os adeptos da religião do pecado ou do erro aos olhos de Deus. Entretanto, Cristo nos ensinou um Deus diferente: o do amor.

Pelos ensinamentos de Cristo aprendemos que Deus não é um juiz, mas a Justiça: Ele não julga, mas promove o que é justo. Dentro dessa nova visão de Deus temos que entender que Sua lei não pode ser coercitiva. Foi isso que Cristo ensinou ao afirmar que não veio para quebrar a lei, mas dar a ela o seu real sentido.

As religiões transformaram os ensinamentos dos mestres em leis coercitivas, que devem ser seguidas a qualquer custo. No entanto, Cristo nos pediu que as seguíssemos por amor ao Pai e não pelo temor da Sua Justiça.

As leis de Deus Não podem conter uma proibição, mas devem levar à compreensão do sofrimento que pode se causar ao agir de determinada forma. De nada adianta se decretar normas legais proibindo os atos, pois enquanto não houver no espírito a consciência de que não deve praticar o ato por amor, ele continuará praticando.

Toda lei busca bloquear a prática de atos que possam causar sofrimento a outrem, mas elas causam sofrimento a quem se submete a elas. Isto ocorre porque não existe uma consciência do sofrimento que se pode causar com a prática do ato, mas apenas o medo da pena.

Para se alcançar à consciência necessária para a não prática, o espírito tem que viver com o amor universal. Apenas a compaixão pelos outros e por si mesmo pode levar o ser a não praticar atos que firam outros.

A lei deve estabelecer os parâmetros da felicidade e não a proibição de atos. Todos os códigos legais devem se submeter a este preceito. Ao invés de proibir atos, a lei precisa estabelecer a forma de existir que leve à felicidade universal. Ao invés de dizer “não mate”, por exemplo, um código legal deveria afirmar: ame para não matar.

É o caso da lei em pauta nesse ensinamento. Ela versa sobre o mandamento trazido por Moisés que afirma que se deve guardar o sábado para Deus. Para cumpri-la, os espíritos não podem praticar nenhum trabalho físico. Se a não ação guarda o sábado para Deus, a ação seria guardar o sábado para o homem.

Existem algumas religiões, mesmo nos dias de hoje, que seguem ao pé da letra este código de Moisés. Seus adeptos são proibidos de praticar qualquer trabalho neste dia em nome de se dedicarem a Deus. Quem segue essa lei não age por amor a Deus, mas com medo da pena que Ele possa impor por desrespeitar este dia.

Agindo desta forma estão sofrendo porque ainda existe o desejo de fazer “trabalhos” que não podem ser realizados. De nada adianta ao ser humanizado praticar a lei desta forma, pois Cristo nos ensinou que a vida espiritual deve sempre contemplar o amor universal. Apenas quando isto não ocorre é que existe o “pecado”.

Deus não quer que o espírito na carne sofra e por isto não poderia exigir o cumprimento da lei à força. O Pai espera que o filho alcance a consciência do não fazer pelo amor universal. Isto fica muito claro quando, mais uma vez, Jesus avisa: “Se vocês soubessem o que as Escrituras Sagradas querem dizer quando afirmam: Eu quero que sejam bondosos e não que me ofereçam sacrifícios de animais, vocês não condenariam os que não têm culpa”.

Aquele que não cumpre a lei escrita, mas mantém a sua alegria, não causa sofrimento a outros, conserva a igualdade entre todos e vive no amor universal. Estes não devem ser punidos pelos atos que praticam, mesmo que o texto legal contemple uma norma que não o permita.

De nada adianta o espírito na carne oferecer seu sacrifício (o desejo não contemplado): ele será considerado praticante do ato, espiritualmente falando. Aquele que cumpre o código legal pela coerção pode não praticar o ato, mas sentimentalmente (intenção) o praticou: ele queria fazer, mas não o faz por medo.

Isto Cristo nos mostra em dois exemplos. No primeiro ele relata uma passagem da vida do rei Davi. A Bíblia nos conta que Davi, em campanha com seus soldados contra os inimigos de Israel, só achou alimentos para si e para eles dentro do templo sagrado. Entretanto, comer deste alimento era considerado pelos judeus como crime ás leis de Deus.

Davi tinha, portanto, duas opções: perder a batalha gerando sofrimento aos seus ou comer deste pão. Ele não vacilou e comeu e distribuiu o pão para os seus subordinados. Com isto conseguiu que os soldados se alimentassem e pudessem enfrentar o inimigo, trazendo a felicidade para os judeus.

Ao agir desta forma, Davi preservou o bem maior: a felicidade. Nenhuma lei pode priorizar um bem menor contra um bem maior. Toda lei tem que priorizar a coletividade e não atender a reclames da minoria. Com a consciência do sofrimento que poderia causar aos israelitas, Davi comeu o pão e foi agraciado por Deus, mesmo assim, com a vitória. Se ali tivesse havido um erro, certamente Deus não promoveria a vitória.

Quando comeu os pães, Davi estava sendo bondoso e não se preocupando com as ofertas em sacrifício a Deus. Se ele não comesse o pão, ofereceria toda Israel em sacrifício a uma lei e não a Deus.

Para poder se alcançar o cumprimento da lei com o amor universal, é necessário que o ser humanizado compreenda a intenção do legislador. Toda lei é promulgada com uma intenção e essa será sempre preservar a felicidade do todo universal. Vamos, como exemplo, entender a intenção da lei do sábado, que apesar de não seguida, faz parte de diversas religiões.

A primeira compreensão é quanto ao próprio sábado. Quando Moisés trouxe a lei esse dia não existia. O nome sábado só nasceu depois da vinda de Cristo quando foi estipulado o calendário como conhecido agora.

Moisés afirmou que o dia a ser guardado para Deus era o sétimo, ou seja, o “sabatah”. Desta forma, o que deve ser guardado para Deus não é o dia de sábado, mas o sétimo dia. Este dia poderá ser qualquer um da semana, dependendo do dia que se inicie a contagem.

Não existe lei divina nenhuma que afirme que o domingo é o primeiro dia para se contar. Quem criou a “semana” foi que estabeleceu o início no domingo e, dessa forma, criou o sábado como o sétimo dia. O sétimo dia pode ser, portanto, qualquer dia da semana.

Este sétimo dia deve ser guardado para Deus, mas o que é “guardar para Deus”? Segundo a tradição (conceito) é não praticar trabalhos materiais. O texto completo da lei afirma que não deve haver “trabalhos materiais” porque Deus descansou no sétimo dia após haver criado tudo que existe em seis dias. Esta visão quebra as leis de Deus. A primeira das leis de Deus, instituída quando da expulsão de Adão e Eva do paraíso é a lei do trabalho. Se guardar o dia para Deus é não trabalhar, esta lei estaria quebrando uma lei anterior.

Entendendo a Boa Nova de Cristo, o amor universal, chegamos à conclusão que Deus é a alegria, a compaixão e a igualdade. Guardar o sétimo dia é praticar essas essências divinas. É isso que o Pai está fazendo desde que criou tudo. Não se poderia imaginar o Supremo Arquiteto do universo descansando.

Portanto, a intenção do legislador ao escrever esse texto legal é avisar aos seres que eles devem praticar o amor universal. O ser, por mais que viva no individualismo, deve ter um dia onde sua felicidade independa dos conceitos.

Caso o seu trabalho físico necessite ser exercido por mais de seis dias ininterruptos, trabalhe, mas especialmente no sétimo dia o faça com toda felicidade. Não o pratique por obrigação, por dever, mas o faça com o sentimento de estar agradando a Deus. Não importa qual seja este trabalho, faça-o por Deus e não por dever.

Aliás, não trabalhe dessa maneira apenas no sétimo dia, mas em todos os outros. Essa forma de agir deveria ser uma constância na existência dos seres, mas enquanto isso não for verdade, esforce-se para pelo menos agir dessa forma uma vez a cada sete dias.

Do seu trabalho depende a felicidade de outros, por isso não pare de trabalhar. Dessa forma você não estará guardando esse dia para Deus, mas para você mesmo. Quando da paralisação do seu trabalho ocorrer sofrimento para outros, você estará premiando seus conceitos e não se entregando a Deus.

Parando o trabalho físico desequilibra a balança universal, quer para se colocar em posição superior ou inferior. Não o paralise, pois estará descumprindo o amor universal.

Isto é guardar o dia para Deus. A prática do amor universal no dia a dia é dedicar a sua vida a Deus. Por este motivo, Jesus não encontrava pecado nos atos dos seus discípulos. Se eles não comessem, teriam infelicidades.

Por semear a felicidade os fariseus, religiosos adeptos ao pé da letra das normas, queriam condenar Jesus, mas o Mestre conhecia a verdade universal.

“O sábado foi feito para servir as pessoas e não as pessoas para servirem o sábado. Portanto, o Filho do Homem tem autoridade até mesmo sobre o sábado”.

As leis só podem servir as pessoas, ou seja, lhes promoverem a felicidade: sempre que elas difundirem sentimentos negativos estarão servindo aos conceitos. Por isto o ser humano tem autoridade sobre todas as leis, desde que não fira o amor universal.

Evangelhos canònicos - Textos

Jesus e Nicodemus

Havia um homem chamado Nicodemos, líder dos judeus, do partido dos fariseus.

Para compreensão da mensagem de Cristo precisamos entender o que quer dizer "líder dos judeus, do partido dos fariseus". Partido não era político porque a política em Israel era a religião. Os fariseus eram um grupo de pessoas que acreditavam na religião a partir de determinadas verdades. Desta forma, o partido dos fariseus era na verdade um segmento religioso composto por determinadas verdades dentro do judaísmo.

Todos os grupos religiosos daquela época baseavam-se nos ensinamentos de Moisés, mas cada um deles tinha uma forma de professar a sua crença, de entender os ensinamentos. É como hoje: existem diversas religiões que se dizem cristãs, mas cada uma tem um caminho para chegar a Cristo. É desta forma que existiam os fariseus e os outros grupos "políticos".

Uma noite ele foi visitar Jesus e disse: Nós sabemos que o Senhor é um mestre enviado por Deus, pois ninguém pode fazer esses milagres se Deus não estiver com ele.

Jesus respondeu: Eu afirmo ao senhor que ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo.

Para os espíritas esse ensinamento de Jesus Cristo é a prova da reencarnação. Para eles o ensinamento do Mestre de que “é preciso nascer de novo” quer dizer que "todos devem reencarnar". A partir dos diversos “nascimentos” o espírito alcançaria a pureza necessária para chegar ao reino do céu.

Essa é uma verdade universal, mas esse ensinamento em si não quer dizer isso. Aqui não pode haver uma afirmação de Cristo relacionada a reencarnação se olharmos para quem o mestre estava falando.

Os fariseus acreditavam na reencarnação e, portanto, Cristo não precisava ensinar para um mestre desse grupo sobre a existência dessa verdade universal. Dessa forma, o ensinamento do Mestre deve ir além, ou seja, ensinar ao Mestre o que ele ainda não sabia.

Como pode um homem velho nascer de novo? - perguntou Nicodemos. Será que pode voltar para a barriga da sua mãe e nascer outra vez?

Jesus disse: Eu afirmo que ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do espírito.

A pergunta de Nicodemos reforça nossa tese. Os fariseus conheciam a reencarnação, mas não tinham a compreensão da técnica desse processo. A pergunta do mestre dos fariseus revela que ele compreendeu nos ensinamentos de Cristo a afirmação da comprovação da reencarnação e quer saber como se dá esse processo.

Quando o espírito está preso aos conhecimentos materiais é necessário que existam comparações nesses conhecimentos para o entendimento das técnicas espirituais. Sem essa base material, não há como compreender a técnica espiritual.

O povo da época de Nicodemos nada se conhecia sobre a fecundação, gestação e funcionamento do corpo como um todo. Assim, o mestre fariseu está pedindo a Cristo explicações sobre o processo técnico do retorno do homem velho à barriga da mãe.

O mestre não dá essa explicação, mas afirma que é preciso nascer da “água e do espírito” para ver o reino do céu. A resposta de Jesus Cristo ensina ao mestre fariseu que não é pela reencarnação (volta à barriga da mãe) que o espírito pode ver o reino do céu, mas sim pelo renascimento a partir do “espírito e da água”.

Dessa forma, só se pode entrar no reino do céu (felicidade) quando se renascer da "água e do espírito". A reencarnação não é o caminho, mas o renascimento.

Nascer do espírito é compreender a vida carnal a partir de valores espirituais. O ser humano se vê como carne, vê o mundo como matéria, compreende os objetos, pessoas e acontecimentos desse mundo a partir de valores materiais. Imagina-se capaz de reinar absoluto sobre o mundo.

A esse processo foi dado o nome de reforma íntima. Renascer é matar o homem velho (ser humano) e renascer na forma de um homem novo, que possua a compreensão da sua existência dentro da integração com o todo universal. Apenas reencarnar não garante essa transformação.

Cada vez que o ser reencarna se transforma em um ser humano, pois ao longo da infância e juventude aprende a compreender a sua existência sob o prisma material. Na verdade, a reencarnação é apenas uma nova oportunidade que Deus dá ao espírito para que ele faça o renascimento.

Foi isso que Jesus Cristo ensinou ao mestre dos fariseus. A crença de Nicodemus achava que apenas a reencarnação constante já era uma garantia da elevação espiritual. O Mestre, ao não contradizer Nicodemos, concordou com a reencarnação, mas afiançou que o reino do céu só seria alcançado por aquele que, nas suas reencarnações, conseguisse o renascimento.

Em outro ensinamento, Jesus Cristo afirmou que apenas quando o ser humano for como uma criança entrará no reino do céu. Este outro ensinamento explica o que é renascer em vida: transformar-se em uma criança. Dessa forma, precisamos conhecer as diferenças entre um homem velho e uma criança para entender o renascimento.

A criança não entenda nada da vida material. Não imagina saber o que outra pessoa está pensando, mas o homem velho sabe. O homem velho tem certeza absoluta dos motivos que o levou a agir de determinada forma. Acredita conhecer as verdades individuais das pessoas. Uma criança acata os acontecimentos da vida, mas o homem velho se imagina em condições de brigar contra tudo e todos, inclusive ele mesmo.

É isso que Jesus ensinou a Nicodemos. Não adianta renascer constantemente, pois só quando o espírito abandonar as suas certezas, as suas verdades, aquilo que diz para si mesmo que tem certeza do que está acontecendo, é que irá ver o reino do céu. Ou seja, conhecerá a verdade das coisas.

O reino do céu não é um espaço físico, mas pode ser representado por um conjunto de essências que se aplica às coisas materiais. A essência de um objeto, pessoa ou acontecimento é a sua função. Todas as coisas existentes possuem uma função universal ou essência universal.

Essa função é determinada por Deus, mas o ser humano, o ser universal que se acredita potente, não compreende essa essência. Por isso, imagina-se com o poder de determinar a essência de cada uma delas. Desta forma ele cria a essência individual. Dependendo da interpretação que cada ser faz do objeto, acontecimento ou pessoa, as coisas possuem essências diversas.

O reino do céu é o conjunto de essências que universaliza as pessoas, objetos e acontecimentos, ou seja, espelha a essência universal enquanto que o “inferno” caracteriza-se pelo conjunto individualizado de essências que o ser humano aplica às coisas.

Aplicando o reino do céu a uma casa ela se transforma em um abrigo. A sua casa fará parte do reino do céu quando ela for um abrigo dado por Deus. Enquanto houver a compreensão individual (minha casa), ela precisará ser individualizada. Pintura, decoração e asseio individualizarão a casa separando-a do resto do universo.

O seu irmão universal (outro espírito) só será o seu irmão quando você alcançar o reino do céu. Enquanto você estiver preso na visão material (individualista) os demais seres humanos serão capazes de lhe ofender, de lhe machucar, de não fazer as coisas da forma que quer.

É deste renascimento que Jesus está falando. É preciso que o ser humano renasça (abra mão do seu ilusório poder de determinar a essência das coisas) para encontrar Jesus. Renascer para o mundo espiritual e abandonando o mundo material.

É este renascer que todos os espíritos um dia (alguma encarnação) terão que fazer. Terão que mudar a forma de ver as coisas. Entender a essência universal das pessoas, objetos e acontecimentos e não “ver” mais a essência individual. Cada coisa acontece ou existe por um motivo determinado pelo Pai e, na hora que o ser entender essa essência, compreenderá a verdade universal.

Dentro desta nova visão, ao invés de acusar o outro de praticar algo, o ser compreenderá que o entendimento é apenas uma essência que o ele próprio colocou no acontecimento. O ato praticado pelo próximo possui uma essência universal que é dada por Deus. Pela magnitude de Suas propriedades o entendimento perfeito da essência escapa ao ser.

O renascimento, alteração da compreensão das essências dos acontecimentos, não é mudar o que “acha”, mas declarar-se incompetente para poder atribuir qualquer essência a eles. A partir dessa impotência, o ser pode receber de Deus a perfeita compreensão.

Isto é que Cristo ensinou com a frase “precisa nascer de novo”. Cada ser humano precisa abandonar as verdades que tem, as verdades falsas. A capacidade de gerar verdades nunca levou o ser à felicidade universal. Você está aí, velho, com muitos anos de vida, e vem agindo da mesma forma todos estes anos, mas, será que conseguiu ver o reino do céu (ser feliz incondicionalmente)? Por que não?

Porque não se mudou por dentro, porque não abandonou o falso poder de atribuir essência às coisas. Apesar de estar buscando a felicidade as pessoas e as coisas continuam o ferindo. Não espere as coisas mudarem-se: mude as coisas dentro de você.

Enquanto a essência do carro for determinada pelos seus conceitos de beleza, o carro “feio” que você possui não lhe trará felicidade. Quando se penetrar na função universal de um carro (meio de transporte) qualquer um lhe trará felicidade. Para isso é preciso mudar a essência e não o carro.

Até hoje todos os ensinamentos que a espiritualidade trouxe ao planeta foi no sentido da mudança interna de cada um, mas o ser humano, que se imagina perfeito, utilizou esses ensinamentos para mudar os outros. Quando alguém pratica um ato que você entende como fruto de uma soberba, essa compreensão é apenas sua. A essência da pessoa é outra, mas você, por ter seus desejos individuais feridos, atribuiu esse valor à pessoa.

Essa será a diferença do mundo atual para o novo. As pessoas não virarão "santos" (praticarão atos “bons”), mas cada um continuará sendo o que é. Aquele que verá os acontecimentos é que se mudará. Não mais haverá a acusação, pois haverá a compreensão de que tudo no universo é Perfeito, Justo e Amoroso. A essência “boa” ou “má” das coisas depende de cada um, por isso são individualistas.

Mantendo a sua essência individualista é impossível viver em um mundo melhor. Essa essência lhe faz apontar erros nos outros e, por isso, a vida será composta sempre por motivos para ser infeliz. Entretanto, quem disse que você pode determinar o que é “certo” ou “errado”? Quem lhe deu o poder determinar uma essência que tenha que ser seguida por todos no universo?

Compreendendo a sua impotência de determinar a ação universal que resulte na elevação espiritual (felicidade incondicional) o ser não atirará a primeira pedra que começará uma guerra. Quando o ser humano vê o outro como errado, a acusação é como atirar a primeira pedra. Pela lei da ação e reação (Deus dá a cada um de acordo com as suas obras) expõe-se a receber uma pedrada. Aí existe a guerra.

A alteração da compreensão da essência das coisas com a impotência de determinar o que está acontecendo leva ao fim do julgamento, crítica e punição. Ao invés de atirar pedras no irmão, o ser buscará ajudá-lo. A única ajuda que um ser pode dar ao próximo é amá-lo.

Isto é o nascer de novo. É ressurgir do espírito e da água que purifica das impurezas (essência individuais). Nascer novamente nessa mesma existência, pois o abandono das convicções que possui transformará o ser humano em um novo homem. Suas ações e compreensões serão diferentes do que foi até então.

Por isso Cristo disse: vai ser preciso para se ver o reino do céu nascer de novo. Nascer agora como espírito. Não importa a idade cronológica da matéria, mas vai nascer para ser espírito santo, filho de Deus, irmão de Jesus. Viverá em uma grande comunidade (universo), em uma grande festa chamada amor. Este é o novo mundo.

A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do espírito de Deus. Por isso não se admire de eu dizer que todos precisam nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que faz, mas não sabe de onde vem nem para onde vai.

Neste trecho Cristo fala da Causa Primária das coisas. O vento sopra, você ouve o barulho, mas não sabe de onde vem nem para onde vai: a sua vida não é assim? Você anda (se locomove), faz barulho (grita e sofre muito), mas não sabe de onde veio nem o que vai acontecer depois. O que nasce do espírito, o que nasce da água que purifica, sabe para onde vai, como o vento também: para onde Deus mandar.

Enquanto o ser imaginar-se como o comandante do navio (corpo humano) que usa, encontrará rochedos pela frente. Baterá em cada um deles porque não possui o mapa da região que está andando. Este mapa é o seu livro da vida. Você não sabe o que está escrito nele, o que lhe espera amanhã, hoje antes de acabar esta leitura, como quer comandar alguma coisa?

O vento vem não sabe de onde e vai não sabe para onde. Você vê tudo isso acontecer com a sua vida, mas acha que existe fenômeno climático material que determina a direção para onde o vento irá. Quando o vento causa destruições, acusa os fenômenos climáticos materiais de ter sido o causador das destruições.

Entretanto, o vento é “soprado” por Deus. É o Senhor do universo que determina a direção e a intensidade da tempestade.

Que Deus injusto o que deixou acontecer tempestades na sua vida. Entretanto, Ele não deixou: fez acontecer. É Deus quem empurra o vento de um lugar para outro, pois Ele é a Causa Primária de todas as coisas. Da mesma forma tudo que acontece com você Ele não deixa, mas faz acontecer daquela forma. É Deus quem empurra você de um lugar para o outro, de um pensamento para outro.

Você hoje pode estar na glória hoje, mas amanhã, sem nenhum controle da situação, chegará ao no fundo do poço. Se tivesse tanto controle da sua vida nunca sairia da glória. Mas os poços (situações que Deus comanda e as quais são atribuídas essências individualistas) estão aí para você cair.

Cristo disse aos professores da lei que eles são cegos por acham que podem ver. Enquanto você achar que pode determinar a essência das coisas será cego. Por isso não vê o buraco do poço e cai nele indo para o fundo. Se tivesse a visão espiritual (essência universal) não cairia nele. A impotência de determinar a essência das coisas é como se dar a volta nos poços da vida.

É isso que Cristo quis dizer: o vento sabe de onde vem e para onde vai porque é empurrado por Deus. Ao não buscar um determinado caminho, o vento caminha dentro da realidade universal. Na hora que você for espírito saberá de onde vem e para onde vai porque será empurrado por Deus e não mais pelo seu "eu".

Como pode ser isso? perguntou Nicodemos.

Jesus respondeu: O senhor é um professor da do povo de Israel e não entende isso? Pois eu afirmo seguinte: nós falamos aquilo que sabemos e contamos o que temos visto, mas vocês não querem aceitar a nossa mensagem.

A afirmação de Jesus a Nicodemos (“o senhor é um professor da lei e não sabe disso”) é importante. Os ensinamentos abordados nesse texto estão escritos nos textos sagrados de todas as religiões. Todos os Mestres da humanidade chamam os seres a seguirem Deus, submeterem-se a Ele. Nenhum ensinamento afirma que Deus deve submeter-se ou seguir você. Por que então os religiosos não fazem o que o Mestre da sua religião fala? Porque àqueles que se dizem professores dessa lei não ensinam dessa forma.

Eles querem dirigir a religião como se fossem capazes de fazer isso sozinho. Eles mandam você submeter-se a Deus, glorificar o Pai, mas se acham capazes de dirigir a vida deles e, principalmente, a religião que é de Deus. Por isso Jesus pergunta: o senhor que é mestre não entende isso?

Na Bíblia Sagrada existe uma série de posturas de religiosos da época que Jesus “condenou”. Infelizmente, muitos dirigentes de religiões que se dizem cristãs não observaram esse texto. Através dessas “condenações”, Jesus Cristo conclama os dirigentes religiosos a fugirem do individualismo e penetrarem na realidade universal: Deus e Sua ação.

Mas, Cristo vai mais além: "nós falamos aquilo que sabemos e contamos o que temos visto". Os Mestres enviados por Deus não individualizam a essência dos acontecimentos, mas se submetem constantemente aos desígnios de Deus para se universalizar.

Pegue qualquer mensagem de Buda, de Maomé, ou de qualquer mensageiro de Deus e veja se o renascimento aqui comentado não está ensinado dessa forma. Vamos analisar, por exemplo, uma mensagem de Emmanuel, grande espírito trabalhador da falange espírita.

NAS CRISES

Estarás talvez diante de algum problema que te parece positivamente insolúvel? Não acredites que a fuga te possa auxiliar. Pensa nas reservas de força que jazem dentro de ti e aceita as dificuldades como se apresentam.

O que foi dito nesta última frase? Para de chorar (aplicar essências individualistas que são contrariadas) e use o amor que está dentro de você para “aceitar as dificuldades”. Apesar disso, como reage o ser humano? Não aceita. Revolta-se, critica, acusa todas as pessoas que aparecem na sua frente.

Quando aparece um problema, ao invés de aceitar, ou seja, reagir com amor para universalizar a essência, sai gritando com todos, mesmo aqueles que não causaram a situação. Para o individualista todos são culpados do seu problema, mesmo quem nunca teve nada a ver com o assunto.

Aceite as dificuldades, aceite que aquilo está acontecendo a partir da Causa Primária de todas as coisas (ação universal com Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime). Isso é agir com amor. Essa nova compreensão acabará com as acusações.

Mas, o que leva o ser humano a reagir com acusações e críticas? A sua discordância dos acontecimentos. Quando a sua compreensão é de que a sua justiça e o seu amor próprio foram quebrados, o ser humano precisa agredir o culpado para proteger-se. Quer ser vítima, se apresentar como vítima, para que os outros tenham pena e dó. Para os seres humanos isto é o amor.

Acusa, critica para demonstrar o quanto sofre, o quanto é coitado, como Deus é injusto por acontecerem estas coisas ele. Emmanuel está avisando: essa não é a ação corretas crises, mas sim aceita-las da forma que são. E o que é aceitar as coisas? É reagir a todos os acontecimentos com alegria, compaixão e igualdade..

Não é esse o ensinamento do Espiritualismo Ecumênico Universal; não é isso que Emmanuel está falando?

Não abandones a tua possibilidade de trabalhar e continua fiel a teus próprios deveres.

Continua fiel à universalidade. Não abandona a hora que você tem que mostrar para Deus o que veio fazer aqui. É nesta hora que tem mostrar o que aprendeu: é o seu trabalho. O que você veio fazer, ou seja, trabalhar, é amar as coisas que acontecem na sua vida. Os componentes do amor universal são essência de todas as coisas.

Mas, você abandona o trabalho, ou seja, o amor, e perde a oportunidade que Deus está lhe dando para provar que aprendeu a viver no mundo Dele. Perde esta oportunidade reagindo individualmente, não aceitando as situações que o destino lhe traz.

Assume as responsabilidades que lhe diz respeito. Evita comentar os aspectos negativos das provações que atravessa. Ora, mas ora com sinceridade, pedindo a proteção de Deus em favor de todas as pessoas envolvidas no assunto que te preocupa, sejam elas quem for.

É assim que você reza? Ou você quer na sua oração mostrar para Deus tudo de mal que estão fazendo para você? O espírito ora ao Pai pedindo a proteção para aqueles que lhe trazem problemas, mas você, que também é espírito, mas não se vê como, é capaz disso?

Não, reza para você mesmo. Ora falando com o Pai para mostrar quanta injustiça acontece diariamente com você, como é vítima. Pede o socorro para você e não para o outro.

Se existe ofensores no campo das inquietações em que porventura te vejas, perdoa e esquece qualquer tipo de agressão de que haja sido objeto. Esforça-te por estabelecer a tranqüilidade em tuas áreas de ação sem considerar sacrifícios pessoais que serão sempre pequenos por maiores que pareçam, na hipótese de ser realmente o preço da paz que necessitas. Se nenhuma iniciativa de sua parte é capaz de resolver o problema em foco, nunca recorras a violência, mas sim continua trabalhando e entrega-te a Deus.

(Página recebida pelo médium FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER, no livro "Calma").

O comentário à última frase (“se nenhuma iniciativa...”) é desnecessário: ela espelha o ensinamento renascimento objeto desse estudo.

Relembrando a citação de Cristo que deu origem à análise do texto ("nós falamos tudo") fica provado que os mensageiros de Deus sempre ensinaram o mesmo ensinamento, nunca esconderam a verdade. Cada um ao seu modo, na sua linguagem, expressou a mesma verdade. A interpretação (essência) dos ensinamentos é que mudam.

Para se compreender um ensinamento de um Mestre da humanidade é preciso aplicar a ela a essência de Quem o enviou. Enquanto o ser aplicar a essência individualista alcançará uma interpretação individualista, que não refletirá a essência universal. Os Mestres escreveram certo, os professores da lei é que não souberam ler: Deus escreve certo por linhas certas, você é que lê torto.

O ensinamento do renascimento (alteração da essência das pessoas, acontecimentos e objetos) está nos ensinamentos da religião espírita, mas será que os professores da lei dessa religião ensinam a visão que estamos tendo do texto?

Como Cristo disse, os professores da lei "não querem aceitar a nossa mensagem". Muitas autoridades religiosas são capazes de abrir mãos de todas as coisas materiais de sua vida para servirem a Deus, mas não estão dispostos a abandonarem a si mesmo. Por isso ensinam o que foi transmitido pelos Mestres a partir de suas verdades. Tudo aquilo que eles acham “certo” e “errado” também será considerado dessa forma pelo ensinamento.

No entanto Cristo ensina que não devemos julgar nada nem ninguém, pois esse é um atributo específico de Deus. Quando os professores da lei das religiões aceitarem a verdade do renascimento, poderão alcançar a visão universalista de todos os ensinamentos. Até lá, cada Mestre será individualizado assim como os seus ensinamentos.

Os professores da lei precisam abdicar do "poder" que imaginam que cada religião tenha sobre uma massa de pessoas para poder devolver o comando das coisas a Deus. Por isso Cristo ensinou que o templo de Deus é dentro de cada um. Apesar disso os professores da lei condicionam a religação com o Pai ao momento que estão dentro da igreja, sob o poder da religião.

Esse texto não deve ser entendido como uma crítica, principalmente às religiões. Todas são perfeitas, pois são criações de Deus (ação universalista). Na verdade é um ensinamento para os professores da lei que existem em todas elas. Como Jesus ensinou: “nós falamos aquilo que sabemos e contamos o que temos visto, mas vocês não querem aceitar a nossa mensagem”.

Se não acreditam quando falo das coisas deste mundo, como vão acreditar se eu falar das coisas do céu? Ninguém subiu ao céu a não ser o Filho do Homem, que desceu do céu.

Vamos relembrar: Cristo está falando com Nicodemos, que é um mestre, um líder de religião. Neste trecho ele deixa bem claro que não é o que o mestre "acha" que deve ser levado em consideração ("ninguém subiu ao céu"), mas sim a essência dos ensinamentos que são trazidos ("a não ser o Filho do Homem, que desceu do céu"). Como Filho do Homem não podemos entender só Jesus, mas todos aqueles que vêm ao planeta para trazer mensagens para o homem em nome de Deus.

Assim como Moisés levantou numa estaca a serpente de bronze no deserto, também o Filho do Homem tem que ser levantado para que todo que nele crer não morra, mas viva a vida eterna.

Esse trecho do ensinamento requererá já a prática do desprendimento de essências individualistas para ser compreendido. Vamos começar a análise pelo trecho "levantou numa estaca a serpente de bronze no deserto, também o Filho do Homem tem que ser levantado". O que quis dizer Jesus aí?

Quando Moisés pegou com uma estaca (um pedaço de madeira) a cobra, a ergueu do chão sobre ela. Da mesma forma Jesus foi crucificado. Ele foi preso à cruz no chão e posteriormente foi levantado sobre ela. Nesse trecho Jesus fala da crucificação, ou seja, do seu “sofrimento”.

Ao fazer a comparação, Jesus Cristo afirmou que teria que passar pela crucificação para que todo aquele que acreditasse nele conseguisse a vida eterna. Acreditasse em que? Em que a crucificação de Jesus pode contribuir para a elevação espiritual do ser?

Cristo foi o espírito mais elevado que já vestiu a roupagem densa nesse planeta. Por isso é citado muitas vezes como o Rei dos Reis. No entanto, todo esse poder espiritual do Mestre não foi o suficiente para uma “existência tranqüila”. Ele passou por situações de sofrimento como qualquer outro ser que tenha encarnado.

Essa exemplificação é o instrumento da elevação. Nenhum espírito vem á matéria carnal para viver “tranqüilamente”, ou seja, passar apenas por aquilo que gostaria. Há necessidade da existência das situações que contrariem os desejos do ser.

Compreendemos a “crucificação” como “sofrimento de Cristo”, mas será que esse sofrimento existiu? Jesus Cristo conhecia o seu “destino” e isso deixou bem claro por diversas vezes. Sabia-o porquê tinha a lembrança de todo o planejamento feito antes da encarnação com o propósito de exemplificar a vida terrestre.

Ele próprio participou da elaboração do “livro da vida” que iria vivenciar e, por isso, conhecia o propósito de cada situação. Conhecendo a verdade dos fatos, a necessidade universal dos acontecimentos, será que ele iria querer outra vida? A resposta não a essa pergunta nos leva a compreender que não havia desejos para serem insatisfeitos e gerarem sofrimentos.

Portanto, Cristo não sofreu durante todo o processo de sua “paixão”. Foi traído, caluniado, injustiçado, humilhado e não sentiu nenhum desses sentimentos. Manteve sempre mais alto o amor a Deus e ao próximo e isso manteve a sua felicidade de estar representando uma existência humana.

Dentro dessa consciência é que Cristo afirmou a Nicodemos que aquele que cresse nele alcançaria o reino do céu. Crer em Jesus é acreditar no que ele acreditava. Saber que sua existência não pode ser vivenciada apenas por situações prazerosas. Que o objetivo de estar na carne é passar por situações de sofrimento compreendendo a ação universal.

Só aqueles que passarem pela suas crucificações, crendo em Jesus, ou seja, usando o amor a Deus e ao próximo, terão a vida eterna.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. Porque Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.

No texto anterior ficou claro que o ensinamento: todos devem passar por sofrimentos crendo em Cristo para ter a vida eterna. Assim, as situações de vida deixaram de ser realidade e se transformaram em provações para os seres.

Mas, quem será o instrumento desta prova? Quem Deus nos dará para mudarmos ("salvar o mundo”)? "O seu único Filho", foi a resposta. Mas quem é o filho único de Deus? Será Jesus como alguns apregoam?

Se Jesus é o filho único de Deus, todos nós somos filhos de quem? Se Jesus é o filho único de Deus, somos filhos de chocadeira, obras de inseminação artificial? Não, todos somos filhos de Deus. O amor do Pai por cada um é tão grande que Ele nos trata como se fôssemos únicos.

A atenção, o amor, o carinho, a justiça de Deus por cada um de nós é a mesma que um pai tem por um filho único e não aquela atenção que um pai de família muito grande consegue dar aos filhos. Portanto, para Deus somos como filho único Dele. O termo único indica a individualidade que cada um tem para Deus. Para o Pai cada filho é único, possui uma individualidade própria que Ele respeita.

Porque você ainda não se vê como filho único de Deus? Porque ainda acha que existe uma família universal muito grande e que o Pai não consegue atender a todos. Ao acreditar dessa forma podem acontecer injustiças. Essa visão faz parte da essência individualista que é aplicada aos ensinamentos de Deus.

Se você não esquecer as coisas velhas (matéria) e renascer (buscar a essência), não encontrará esta verdade e ainda continuará se sentido como filho esquecido do Pai. Para compreender o ensinamento de Jesus a Nicodemos cada um tem que ver o outro e a si mesmo como filho único de Deus. O filho único de Deus não pode ser entendido como Jesus porque em diversos momentos nos evangelhos o próprio mestre fala em Pai nosso e chama os outros seres de irmãos.

Assim sendo o instrumento que causará a situação de sofrimento como prova para que você aja crendo em Jesus, com amor, é um espírito, um ser humano, um filho de Deus. Ele será o instrumento de Deus para a sua elevação, causando as suas situações de sofrimento. Essas situações caracterizam-se por ações que contraria o seu desejo, a sua compreensão individualista.

Todo aquele que faz alguma coisa que você acha “errado”, “feio”, “mal”, é um filho único de Deus que foi enviado para lhe salvar. Ele não age contrariamente ao que você quer para julgá-lo, mas para salvá-lo. Se todos agissem dentro dos seus padrões você não poderia dar o testemunho de Jesus e não conseguiria a vida eterna.

Se você crer no próximo, naquele que está ao seu lado naquele momento como instrumento de Deus, você vive a vida eterna. Aquele que você julga e acusa, é enviado de Deus para salvar o mundo, o seu mundo, você mesmo.

Entretanto você continua achando que pode emitir pareceres sobre os outros, ou seja, criar essências diversas para os seus irmãos que não filho de Deus, instrumento do Pai. Ele mandou seu filho, um para cada um, em cada momento, para que todos possam alcançar a vida eterna através de todos.

É vendo no próximo o filho de Deus, reagindo às atitudes dele com amor sempre, que você alcançará o reino do céu. Seu irmão de caminhada sobre o planeta não está aqui para que você se ache capaz de julgá-lo, de apontar essências diferentes nele. E nem ele está aqui para julgar você.

Deus mandou cada filho único com o objetivo de salvar o mundo. Mas, o que é esta salvação? O amor. Todos estão aqui para salvar o mundo aprendendo a não julgar e sim a amar os outros, apesar do sofrimento (a crucificação) que um possa trazer ao outro.

Aquele que crê no Filho não é julgado; mas quem não crê já está julgado porque não crê no Filho único de Deus.

O que é o julgamento que você tanto já ouviu falar que Deus faz ao final de cada encarnação? Na verdade este julgamento não é mais do que um balanço de sua vida, uma procura de momentos onde você viveu no amor e quando viveu fora dele. Desta forma, aquele que viver no amor ("crê no Filho"), não será julgado. Portanto, se você quer fugir desta etapa da sua existência, viva na carne somente no amor, pois, como Jesus afirmou a Nicodemos, não será julgado.

Entretanto, não será só quem agir com amor que não será julgado: "quem não crê já está julgado". Aquele que agir fora do amor também não passará por um julgamento, porque ele já estará julgado. O julgamento celestial não é como você imagina (juiz, acusador, defensor e testemunhas). É um auto julgamento: quem usa amor passa porque crê, quem não usa não passa porque já está julgado.

O juiz que julga aquele que não crê é ele mesmo. Não existe um Deus, como se imagina, que vai pegar você e por castigo mandá-lo para o umbral ou para o inferno: é você mesmo que procurará este caminho.

O seu caminho depois da carne é aquilo que escolheu durante a vida material. Se você possui conceitos, após o desencarne irá procurar aquilo que gostava de praticar quando estava vivo. Não será necessário que Deus o mande conviver com semelhantes por punição. Não existe este Deus punitivo que decreta sentenças de "culpado" e ordena a prisão imediata do réu.

O Universo é livre: você pode ir para onde quiser, mas sempre procurará aqueles que lhe são iguais para estar. Você sempre ouviu falar das lendas que são criadas para os que morrem. Cansou de ouvir dizer que aqueles que não agem direito são jogados no fogo do inferno, mas isto é mentira, é lenda: o espírito vai com os próprios “pés” dele para lá.

Não precisa ninguém mandar ir: ele vai porque gosta daquele ambiente e se sente "em casa" com as "pessoas" que lá estão. O Deus que o manda para o “inferno” é punitivo, mas o Deus do Universo é Amor. O Deus do Universo deixa você ir para onde quer. Esse é o seu livre arbítrio, a sua própria escolha, de acordo com as suas preferências.

O "livre arbítrio" é a prova maior do amor de Deus pelos seus filhos. Deus é tão bom que deixa você ir pelo caminho individualista se é o que deseja. Como um bom Pai permanece sempre atento para no primeiro sofrimento estender a mão. Mas esse sofrimento só será alcançado com a consciência de que está no caminho contrário ao Universo

Assim, se você gosta de criticar o próximo, quando sair da carne procurará juntar-se aos seus iguais. Encontrará um “local” onde se reúnem todos que gostam de fazer a mesma coisa. No entanto, Deus providenciará para que você seja criticado pelos demais. Se você gosta de humilhar, encontrará aqueles que humilham e ali será humilhado.

O grupo que você se juntará não será escolha de Deus, mas das suas preferências. O que eles farão à você não será um castigo, mas um auxílio do Pai para que você compreenda o que fez ao próximo e peça perdão. Não há punição, mas um Amor Sublime.

O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas as pessoas preferiram a escuridão porque fazem o que é mau.

Aí está o amor: a luz é o amor, o universalismo. Todos sabem, mas preferem a escuridão, o individualismo. Porque agem assim? Porque preferem a escuridão?

Porque é mais fácil, traz mais comodidade. É mais fácil apontar os erros dos outros do que encontrar seus próprios. É mais fácil e cômodo assumir a posição de vítima, de sofredor, de pobre coitado, do que assumir a posição de estar contrário ao Pai, de que Deus é justo e se aconteceu é porque você merecia. É isto que Jesus quer dizer quando afirma que a luz veio ao mundo, o amor veio ao mundo, mas todos preferem a escuridão porque andar no vale das sombras é mais fácil.

Andar no seu vale das sombras internos, criar verdades falsas que tragam uma aparente felicidade é mais fácil. Estas verdades falsas, verdades próprias, individuais, são como se fossem lâmpadas de iluminação artificial que acendem quando não encontram a luz do sol, de Deus. Entretanto, o novo mundo está trazendo o “racionamento” e esta luz artificial terá que ser apagada.

À luz do sol seu individualismo fica mais gritante. Quando começou a ler esse texto e recebeu a informação de que tudo que lhe acontece é merecido, o que é individualismo seu fica mais fácil de ser constatado.

Antes você ainda tinha dúvidas se era individualismo ou se era verdade universal. Quando compreende que tudo que acontece é gerado por Deus, seus conceitos foram expostos à luz do sol, à verdade de Deus. Agora compete a você seguir em frente na busca do amor e continuar andando na luz.

Tenha a certeza que depois que entendeu Deus como Causa Primária de todas as coisas, agindo com Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e amor Sublime, as suas verdades nunca mais servirão de luz para guiá-lo. Essas lanternas que foram acessas durante toda a sua vida ("eu acho") possuem agora pouca luminosidade. Comparadas à luminosidade do sol, as suas verdades viraram penumbras.

A luz veio ao mundo, o amor veio ao mundo e é isto que estamos falando desde o início de nossa conversa: vamos trazer Jesus de volta, a luz de volta, o amor. Está na hora de você apagar as luzes artificiais que criou para poder descobrir a porta verdadeira que leva à luz de Deus.

Pois todo os que fazem o mal odeiam a luz e fogem dela, para que ninguém veja as coisas más que fazem. Mas os que vivem de acordo com a verdade procuram a luz a fim de que a luz mostre que obedecem a Deus naquilo que fazem.

Não é esse o ensinamento desse texto? A luz mostra que você obedece a Deus naquilo que faz. Obedecendo cumpre a lei que é amar a Deus, a si e ao próximo. Estar na luz é ter amor por Deus, por si e pelos outros. Não há outra luz: qualquer outra luminosidade é artificial que você acende para poder se mexer na escuridão que vive.

Você acha que está desesperado, mas este sentimento é uma luz falsa que acendeu quando não quis aceitar o amor como verdade. Como busca outras verdades encontra a luz falsa do desespero.

Quando universalizar as suas compreensões descobrirá que não há outra verdade. Aí descobrirá a luz de Deus: o Amor Sublime.

A luz natural acaba com o desespero porque tira a incerteza do amanhã. Você pode me dizer o que vai acontecer na sua vida amanhã? Eu sei: o que Deus quiser. Se agir com amor dentro dos acontecimentos que Deus me der o meu dia será de amor: tudo me trará felicidade.

Enquanto você quiser determinar o que irá acontecer amanhã, estará acendendo uma luz artificial. Enquanto quiser saber o que o outro está fazendo, estará acendendo uma luz artificial e não a luz de Deus. Quando quiser ver a luz basta acender o amor.

Evangelhos canònicos - Textos

A base para o julgamento do ser humanizado

Disse ainda: prestem atenção a tudo que ouvirem, pois a regra que vocês usarem para julgar os outros, Deus usará para julgar vocês com mais dureza ainda. Quem tem, receberá mais; quem não tem, até o pouco que tem lhe será tirado.

O ser humanizado gosta de julgar (ter opiniões) sobre os outros. Mas, Cristo adverte a estes seres: a mesma regra que for utilizada para julgar os outros será utilizada por Deus para julgar o ser humanizado.

Este ensinamento corrobora perfeitamente o que já falamos: você gosta de gritar com os outros, Deus fará outros gritarem com você; gosta de ofender os outros, Deus os fará lhe ofender. Quem gosta de apontar os erros dos outros está sujeito a ter seus erros apontados pelos outros.

Para que o Senhor faz isso? Por que Deus age assim? Será que Ele é ruim, mal? Não. Ele age assim porque é justo. Ou seja, tem que dar a cada um segundo a sua obra. Se a obra do ser humanizado é espalhar a crítica, ele receberá a mesma moeda.

Assim é o Universo: ação e reação iguais. A reação pode não ser igual na forma, ou seja, a crítica não ser sobre o mesmo assunto, mas é igual no sentimento. Criticar gera ser criticado...

Aquele que age sem pensar no ferimento que pode causar aos outros seres possui pouco amor. Pois bem, este pouco amor que tem perderá. Isso porque ao vivenciar um sentimento negativo contra outro ser, o espírito humanizado transforma o amor, que é positivo, em algo negativo. Mas aquele que tem muito amor estará sempre recebendo mais, pois não importa que sentimento o outro vibre contra ele, será transformado em amor.

Vendo por este ângulo o ensinamento de Cristo é claro: não julgar para não ser julgado. Não apontar erros nos outros para não ter os seus próprios apontados. Mas, para se alcançar esta forma de vivenciar os acontecimentos da vida é preciso ter o amor.

O componente ‘alegria’ do amor não deixa o ser humanizado ver erro nos outros porque ele sabe que se fizer isso encontrará a agonia, o sofrimento, a dor. Ele evita de criticar os outros porque além de saber que ele mesmo sofrerá, tem a consciência de que fará o próximo sofrer por causa de sua crítica. Quem critica os outros não vivencia o componente ‘igualdade’ do amor, pois ao criticar está sentindo-se o certo enquanto o outro está errado.

Muitos dizem que criticam por amor, para ajudar os outros, mas não é assim que se ajuda o próximo. A crítica não ajuda em nada; só a doação da alegria e da igualdade (dar ao outro o direito de pensar diferente) pode auxiliar o próximo. Esta distribuição de igualdade e alegria só se consegue amando. Amar é a única forma de ajudar o próximo. Quando alguém imagina que através de uma crítica pode ajudar o próximo engana-se: ele está atrapalhando.

Quem pretende ajudar criticando não vê que por mais que diga que suas intenções são louváveis, isso não é real. Quem critica o próximo dizendo que ele está errado não vê que parte de sua própria verdade relativa colocando-o como absoluta. Na realidade, não quer ajudar o próximo, mas submetê-lo às suas próprias verdades, não quer auxiliá-lo, mas dominá-lo.

É por isso que o ditado popular diz: no inferno está cheio de seres com boas intenções. A chamada boa intenção do ser humanizado nunca é tão boa, porque ela sempre se fundamenta em suas verdades relativas tratando-as como absolutas e isso acaba com a base amorosa da ação. Auxiliar através da crítica nunca pode ser bom, porque no inconsciente está embutido um sentimento individualista.

Evangelhos canònicos - Textos

A mulher estrangeira

Certa mulher em Cananéia que morava naquela terra chegou perto do mestre e gritou: Senhor, Filho de Davi, tenha pena de mim. Minha filha está dominada por um demônio e passando muito mal. Jesus respondeu: eu fui mandado apenas às ovelhas perdidas do povo de Israel. Ela veio, ajoelhou-se aos pés dele e disse: Ajude-me, Senhor! Jesus disse: Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-los para os cachorros. Então a mulher respondeu: sim Senhor, é verdade, mas até os cachorrinhos comem as migalhas que caem debaixo da mesa dos seus donos. Jesus respondeu: Mulher, você tem muita fé. Naquele momento a filha dela ficou curada.

Cristo afirma que não poderia executar a cura porque a filha daquela mulher não era da tribo de Israel. Disse mais: se fizesse isso estaria jogando pão bom para os cachorros. A mulher então lhe respondeu que até os cachorrinhos come o que cai debaixo da mesa de seus donos.

Que ensinamento podemos tirar desta parábola? A humildade... Tem muitos seres humanizados que não se contentam em comer os pedaços de pães que caem da mesa de seus donos. Só aceitam alimentar-se se for com um pão inteiro, fresco, novo.

Aqueles que ainda não conseguem vivenciar os acontecimentos de sua vida com a consciência amorosa, precisam contentar-se em alimentar-se de migalhas de amor. Precisam entender que estas migalhas são importantes porque elas podem ajudar este ser no próximo momento a não divergir do amor universal, a vivenciar o que viver com amor. Comer a migalha quer dizer receber pouco amor...

Mas, como adquirir amor? Cristo nos ensina isso também nesta parábola. Repare que depois que a mulher aceita humildemente o pouco que pode receber Cristo afirma que ela possui fé e por isso a filha é curada.

Pela fé de aceitar as migalhas de amor que recebem sem querer alimentar-se com o pão inteiro (ver completamente satisfeitos todos os seus desejos) é que o ser humanizado pode alcançar a ‘cura’ (ser feliz). Mas, enquanto este ser ficar esperando o pão novo e grande, não se alimentará (será feliz de verdade).

O que é o pão grande e novo? A saúde perfeita, a alegria plena, o descanso completo, a realização de vontades e desejos, o ser aceito por todos, o ser considerado aquele que sabe a verdade.

O ser humanizado está sempre esperando as condições ideais para ser feliz, para ajudar o próximo, para viver em felicidade. Acha que é preciso ter alegria para não criticar o próximo, que é necessário saúde para ajudar o outro. Esse é o soberbo, aquele que quer comer o pão grande e novo. Aquele que espera esse pão para se alimentar (ser feliz) vai passar fome.

É preciso se trabalhar sempre, mesmo achando que não possui todas as condições para fazê-lo...

Participante: O senhor está dizendo que temos que trabalhar mesmo doente?.

Sim... Mas, não estou trabalhando do seu trabalho material, do seu emprego, mas no trabalho para Deus, em ajudar o próximo amando, em ser um sal da humanidade que tempere com amor a vida dos outros.

Participante: E a questão do dinheiro? Como podemos auxiliar o próximo sem dinheiro?

Amando... Amar o próximo não custa nada...

O que este trecho da Bíblia nos ensina é que não devemos esperar ter para poder fazer pelos outros. É contentar-se com a migalha, ou seja, se não posso amar cem por cento, posso pelo menos amar dez por cento... Quem acha que apenas o amor perfeito (cem por cento) pode ajudar, está esperando para comer o pão inteiro ao invés de apenas contentar-se com as migalhas que caem da mesa do seu senhor.

O problema é que o ser humano por não ter o pão grande, não se contenta com a migalha. Prefere não ajudar nada, se não pode auxiliar integralmente. Este, ao abrir mão da migalha, fica mais longe do momento em que poderá alimentar-se com o pão inteiro.

Quem espera que tudo esteja perfeito para poder trabalhar para Deus espera o pão grande. Este não é humilde... Aquele que faz o que pode com o que tem disponível come as migalhas e prepara-se para o banquete. A migalha sustenta o ser humanizado até o momento que ele esteja preparado para poder banquetear-se.

Este é o ensinamento de Cristo nesta parábola: se você não pode amar integralmente, ame dentro de sua capacidade.

Evangelhos canònicos - Textos

O eco do universo

Não julguem os outros e Deus não julgará vocês. Não condenem os outros e Deus não condenará vocês. Perdoem os outros e Deus perdoará vocês. Dêem aos outros e Deus dará a vocês. E assim vocês receberão muito, muito mesmo. Tudo o que puderem carregar ele vai pôr nas mãos de vocês. A mesma medida que usarem para os outros Deus usará com vocês.

Já falamos que existe o amor e a paixão, que os humanos chamam de amor. Que o amor é universal e eterno enquanto a paixão é condicionada. Mas, de onde surge esta condição? De um julgamento, ou seja, de algo que o ser humanizado avalia para poder amar materialmente.

Agora vem Cristo e diz: não julguem para não serem julgados por Deus. Ou seja, não amem condicionalmente, para não serem amados condicionalmente por Deus.

O Universo é uma grande montanha que faz eco. Já disseram que tudo que se pedir ao universo será recebido. O problema é que vocês não sabem como pedir, pois o pedido que fazem está sempre fundamentado em uma intenção individualista, egoísta...

Se o ser humanizado ama condicionalmente, o Universo ecoará este amor condicional a você. Se você ama universalmente, ele ecoará o amor universal.

Pedir, ou seja, dizer eu quero ganhar, é expor uma intenção individualista, egoísta. Se o ser humanizado ao pedir, se preocupa consigo mesmo, o Universo se preocupará com ele mesmo e lhe devolverá esta preocupação, ou seja, não vai ligar para a sua própria preocupação.

É isso que Cristo está nos ensinando. Devemos aprender que toda a intencionalidade com a qual participamos das ações será revertida “contra” – e utilizo esta palavra por falta de outra, porque o Universo e Deus não agem contra ninguém – nós mesmos.

Mas, este ensinamento não está só na Bíblia. Ele existe, por exemplo, na doutrina espírita, sobre o nome de “gerar carmas”, vicissitudes. Ou seja, ter a necessidade uma provação.

Trocando em miúdos é isso o eco do Universo.

Não um eco por maldade, por soberba, por estar querendo defender-se, mas gerado e causado pela lei da causa e efeito. Gerado e causado pela necessidade da expurgação do individualismo.

Evangelhos canònicos - Textos

Quem entra no reino do céu

Nem todo o que me chama ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas somente aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu. Quando aquele dia chegar, muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, em seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos muitos demônios e fizemos muitos milagres!’ Então eu responderei: Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês só fazem o mal.

Neste trecho, Cristo designa aqueles que entrarão nos Reino dos Céus, mas antes de começarmos a falar deste caminho ensinado pelo mestre, busquemos compreender o significado do termo “Reino do Céu”.

 Para os seres humanos ocidentais daquela época, havia, espiritualmente falando, o céu, a Terra e o inferno. Só após Kardec e os ensinamentos do Espírito da Verdade é que as subdivisões do mundo espiritual ficaram conhecidas entre os seres humanos.

Portanto, o céu daquela época pode ser comparado ao que hoje é conhecido como plano espiritual positivo, onde existem as chamadas “cidades espirituais” e os espaços entre elas. Mas, não será neste sentido que entenderemos o termo “Reino dos Céus”.

Para nós do Espiritualismo Ecumênico Universal que estamos buscando alcançar o monismo (perfeita integração do Todo no Um), o termo Reino do Céu refere-se ao próprio Universo. Ao local de habitação de espíritos que não estão mais apegados aos Cinco Agregados que nos ensinou Buda. Portanto, a prática do ensinamento de Cristo neste trecho – assim como o de Buda, Krishna e outros mestres já foram vistos – serve como orientação para o ser universal agora humanizado atingir a unidade com Deus.

Voltando à palavra de Cristo, podemos afirmar que quem alcança a unidade com Deus é aquele que faz a vontade do Pai. Ou seja, aquele que tem Deus como causa primária das suas coisas.

Este é o ensinamento fundamental deste texto: só se atinge a unidade com Deus através da prática da entrega das criações ao Criador, abstendo-se, portanto, de imaginar-se como tal ou de ver outro criando qualquer coisa.

Mas, não foi esta a primeira vez que Cristo falou do caminho para se unir a Deus. Anteriormente ele já havia dito: eu sou o caminho, a verdade e a vida – ninguém chega a Deus a não ser através de mim. Juntemos agora os dois ensinamentos.

Chegar a Deus através de Cristo não é conseguido pela adoração a ele. Em diversos momentos o mestre sempre afirmou que se tratava apenas um enviado de Deus e que tinha como missão transmitir a Boa Nova e o caminho para alcançá-la.

Cristo, no entanto, não somente ensinou o caminho para unir-se a Deus, mas o vivenciou. A prova desta vivência é o resultado de sua encarnação: a ressurreição, a união perfeita ao Pai.

Portanto, para se chegar a Deus não se deve idolatrar o mestre ou seus seguidores, mas viver uma vida semelhante a que ele viveu. Não digo em atos, pois os dias de hoje são diferentes neste aspecto, mas em essência. O caminho para se chegar a Deus é viver os acontecimentos da vida com a mesma essência com que Cristo vivenciou os seus.

Qual a essência da vida de Cristo? Como ele vivenciou os acontecimentos de sua existência? Amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Agora nossa resposta está completa: para se unir perfeitamente a Deus é preciso amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aliás, o próprio mestre nazareno já tinha deixado isso muito bem claro quando ensinou os dois mais importantes mandamentos para que um ser humanizado possa aproveitar a sua encarnação e promover a reforma íntima.

Sabedor da importância da prática destes ensinamentos é que ele disse: estes são os dois maiores mandamentos, aos quais vocês devem se entregar de corpo, mente e alma.

Voltando, então ao nosso texto de hoje, pergunto: como entrar no Reino dos Céus? Fazendo a vontade de Deus com AMOR. Só isso. Foi isso que Cristo ensinou nestas e em todas as palavras que proferiu.

Mas, neste texto ele fala mais: “nem todos aqueles que me chamarem Senhor, Senhor, eu falarei por eles no reino de Deus”. O que quis Cristo dizer com isso?

Quis dizer que não adianta o ser humanizado ir para igreja e rezar: isso não o faz integra-se ao Todo. Não adianta fingir que gosta de Cristo (se dizer cristão), não adianta praticar todos os rituais que a sua religião manda – como acender vela, fazer oração, jejuar, guardar o sábado, etc. – sem fazer a vontade do Pai com AMOR. Isso não levará a lugar algum...

Não adianta ser o primeiro a chegar e o último a sair em qualquer templo porque Cristo não falará por você. Não adianta marcar presença em todos os cultos: isto não lhe levará a promover a reforma íntima. De que adianta se freqüentar um culto um ou duas vezes por semana e depois não viver o resto da semana amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo?

Ainda falando de religião, há outro detalhe para aquele que pretende aproximar-se do Pai. Cristo não tinha religião... Portanto, o caminho que leva a Deus não passa por nenhuma religião, mas pela prática constante do AMOR.

Para a realização do trabalho que leva à reforma íntima, não adianta freqüentar uma religião, pois a elevação espiritual não se consegue com o contato com os ensinamentos ou presença aos cultos de uma religião. Ela é fruto da vivência dos acontecimentos com a consciência de estar vivendo a vontade de Deus. Mas, mesmo esta consciência ainda não é a totalidade do trabalho, pois o conhecimento sem ação é nulo. A ela precisa ser acrescida o ‘amar’...

A compreensão de que apenas a freqüência a um determinado culto ou o apego a uma doutrina não confere por si só o resultado esperado, está bem claro neste texto de Cristo. Quando ele fala daqueles que o chamam de Senhor e afirma que não falará por eles, está se referindo àqueles que o idolatram.

Ele está falando daqueles que freqüentam ou têm igrejas, templos ou casas espíritas, onde o amor universal não é a base do lugar. Fala daqueles que se consideram “certos”, “puros” e que condenam e criticam os outros, apropriando-se do próprio Cristo como seu.

Repare que para Cristo o amor incondicional supera tudo, mesmo os chamados benefícios que um ritual religioso pode trazer. Para Cristo amar universalmente é mais importante do que expulsar demônios ou fazer milagres, ou seja, trazer benefícios para a vida do ser humanizado. Isto ele deixa bem claro quando afirma que nem os que arrolarem estes benefícios em seu currículo serão atendidos, se não houverem amado a Deus acima de todas e ao próximo como a si mesmo.

Agora, quando o ser humanizado se conscientizar da ação da Causa Primária em suas vidas e vivenciá-las com AMOR, Cristo falará por eles, agirá em seu benefício. Mas, enquanto este ser não praticar isso, por mais que se dedique aos cultos ou que traga benefícios para os outros, Cristo não falará por ele.

Portanto, foi isso que Cristo ensinou: para se chegar ao Reino do Céu (atingir a unidade com o Pai) é necessário que se vivencie os acontecimentos da existência compreendendo que tudo é fruto da Vontade de Deus, que é o Amor em ação. É preciso sentir-se amado pelo Pai a cada instante, independente da compreensão que tenha sobre o acontecimento, mas ainda é preciso amar o amor de Deus.

Ou seja, para se alcançar a unidade é preciso estabelecer uma ligação constante de amor entre você e Deus: amar e sentir-se amado....

Foi isso que Jesus quis dizer não só nesta passagem, mas em toda a sua pregação. Vamos falar muito mais sobre esta conclusão nos demais estudos deste livro, mas este é o ponto fundamental de tudo o que iremos dizer ainda.

Por agora, aproveitando este ensinamento, falemos de um aspecto que está bem nítido aqui: não é um religioso fervoroso que vai entrar no Reino do Céu.

A partir do ensinamento do mestre, podemos afirmar que o acesso ao Reino do Céu (conseguir a elevação espiritual) pode ser, inclusive, franqueado para aquele que nem mesmo acredite em Deus: basta ter AMOR no coração. Se o ser humanizado amar os acontecimentos de sua existência carnal sem se apegar às suas paixões, desejos e posses, mesmo que não saiba que eles são frutos da Vontade de Deus, alcançará, ao acabar a encarnação, o Reino dos Céus, a unidade com o Pai.

Entretanto, para aqueles que, mesmo freqüentando regularmente os cultos e praticando os ritos de sua doutrina, se achem muito sábios - conhecem “certo e o errado” – e por isso imaginam que podem julgar os outros, de nada adiantou a sua religiosidade. Para aqueles religiosos fervorosos que ainda imaginam que os seus desejos, paixões e posses são mais importantes do que a Vontade de Deus, o Reino dos Céus está longe...

Claro que estes ainda poderão reencarnar diversas vezes e assim conseguirem realizar um dia o caminho que leva ao Reino dos Céus. Mas, a espiritualidade como um todo vem avisando: um novo tempo está nascendo...

Neste novo tempo não haverá lugar no orbe terrestre para aqueles que ainda não aprenderam a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Por isso, estas novas encarnações não se darão mais neste planeta, mas este ser terá que reiniciar toda a sua caminha em outro orbe, em outro mundo de provações.

Baseado nisso que estamos falando, fica aqui um recado para as casas espíritas, para as igrejas e para os templos evangélicos ou orientais: de nada adianta transmitir ensinamentos (doutrinas) que se fundamentem em idolatria a mestres ou que criem o “certo e o errado”. É preciso ensinar aos seres humanizados a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo em todos os acontecimentos da existência carnal. Isso para que Cristo e os trabalhadores espirituais possam falar por vocês quando disserem “Senhor, Senhor”.

Os que ensinam desta forma ou participam de doutrinas que contenham esta propriedade, são como os “professores da lei” citados por Cristo. A estes, deixo um recado: aprendam com Paulo. Ele foi o exemplo de um professor da lei que aprendeu no mais alto céu, como ele mesmo cita, que o AMOR de suplantar todo e qualquer código normativo.

Apesar disso ter ocorrido com Paulo há mais de dois mil anos e todo o seu ensinamento está estampado na Bíblia Sagrada, ainda hoje muitas casas de oração, independente de religião, ainda discutem a “posse” de Deus. Estas casas não conseguem trazer o AMOR porque acham que o mais importante é ensinar as leis de Deus (códigos normativos que criam padrões certos de comportamento), fazer milagres, curar e expulsar “demônios”.

Não importa o que cada religião faz (culto): o importante é ensinar a amar...

Para isso o fundamental é levar o ser humanizado compreender, como ensinou Cristo em diversas vezes, que Deus é a Causa Primária de todas as Coisas. Sem essa compreensão o amor incondicional jamais será alcançado, pois as posses, paixões e desejos não deixam o ser humanizado amar universalmente.

Veja: não é necessário se ensinar a lei de Deus para quem conhece a verdade da Causa Primária. Isto porque Deus não se baseia no “certo e errado”, mas na Justiça e no AMOR. Além do mais, quem conhece o AMOR de Deus em ação, já conhece toda a lei na essência.

NOTA: Esta afirmação prende-se a um ensinamento de Cristo onde ele afirma que não veio mudar a lei, mas ensinar o real sentido dela, que será objeto de estudo mais tarde.

Para que fazer milagres para quem já alcançou a sintonia amorosa com Deus? Aqueles que aprenderam a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, já calaram em si a voz das paixões, posses e desejos e por isso não precisam, esperam ou querem milagre algum...

Como expulsar “demônios” de seres que apenas amam? Quem compreende e busca trilhar o caminho do Reino dos Céus não tem inimigo, neste ou em outro mundo, pois ama a todos indistintamente...

Assim sendo, não há necessidade de tanto misticismo nem de tantos ritos nas religiões. Quando elas incorporarem aos seus ensinamentos o real caminho para o Reino dos Céus, o ser humanizado que é fiel a ela viverá com Deus no coração e reagirá amorosamente a todos as acontecimentos.

Quem chega a esta consciência não precisa de mais nada. Ele não precisa de vela, de psicografia, de incorporação, de médium... Ele não precisa de nada porque já tem tudo: Deus...

Este ensinamento do Novo Testamento, apesar de existir a tanto tempo, nunca foi observado por este ângulo. As doutrinas religiosas sempre ensinaram a necessidade de se fazer a vontade de Deus com amor, mas a isso foi acrescido que esta forma de proceder só seria alcançada quando houvesse a submissão aos códigos normativos da religião.

Para estas pessoas Cristo deixou o aviso neste texto (“Não são todos que me chamarem Senhor, Senhor, que eu falarei por eles frente ao Pai”), mas parecem que eles não leram...

Foi esta reflexão que Cristo deixou bem gravada neste texto: aquele que entra no Reino do Céu é o que vivencia a vontade do Pai amando...

Este ensinamento não foi só para ontem, quando Cristo vivia encarnado, mas também para a eternidade. Ontem o mestre falou diretamente com os professores da lei e ensinou Saulo, mas parece que eles não aprenderam, pois até hoje estão vivendo as mesmas hipocrisias descritas na Bíblia.

NOTA: Refere-se ao capítulo bíblico Jesus e os Hipócritas, que também será estudado neste livro.

Mas, nós não nos esquecemos e, por isso, voltamos ao tema hoje. No entanto, assim como quando o mestre falou para os professores da lei de então, nós também não estamos criticando ninguém. Amamos os senhores dos templos modernos como irmãos espirituais que são, mas precisamos ensinar o que Cristo disse.

Como já afirmamos, é preciso se viver cada acontecimento como fruto da Vontade de Deus. Portanto, se os daquela época ou os de hoje agiram assim, esta era a Vontade de Deus. Mas, se também estamos conseguindo agir na forma como falamos hoje, esta também era a Vontade de Deus.

Portanto, só nos resta amar aos professores da lei e a eles nos amar, para que possamos todos entrar no Reino do Céu...

Por isso digo... Se você freqüenta uma religião, continue indo. Isso não é “ruim” nem “errado”. Agora, saiba que é necessário viver vinte e quatro horas por dia, independente de estar lá ou não, amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

É preciso que se entenda isso. É preciso que se entenda que a vida é uma só: espiritual. Que não existe a vida material e o “ser humano”: a única coisa que é Real no Universo é DEUS e Sua ação, que comanda todos os espíritos e que cria tudo que acontece.

Vamos mudar um pouco de assunto. Até agora nesta mensagem de Cristo falamos dos professores da lei religiosos. No entanto, este mesmo ensinamento pode ser aplicado na vida não religiosa. Senão vejamos...

Quem diz para você senhor, senhor, ou seja, lhe louva? Aqueles que vivem lhe bajulando, que dizem amém ou têm um elogio para tudo o que faz. Você acha que estes são os seus grandes amigos?

Quando Cristo ensina que não vai falar a Deus (engrandecer) pelas pessoas que lhe bajulam, também está ensinado você a abrir os olhos com relação a isso na sua vida material. Está lhe dizendo que os que lhe bajulam não são na verdade seus amigos.

Seu amigo não é aquele que vem passar a mão na sua cabeça, mas, na maioria das vezes, aquele que briga com você. É quem aponta os seus erros e defeitos, da mesma forma que você age com os outros. Aquele que grita o está avisando que um dia você gritou com outra pessoa...

A vida do ser humanizado é como se fosse uma peça de teatro: Deus escreve um “script” onde outras pessoas entrarão em “cena” para lhe apontar os erros.

NOTA: Para melhor entendimento deste texto ver o texto “Função Espelho” que está no livro “Visão Universal - Volume III – Palestras” também do Espiritualismo Ecumênico Universal.

As palavras que as pessoas falam, nada mais são do o enredo de uma história criada por Deus. Mas, como o Pai é incapaz de outra coisa a não ser amar, estas palavras não se tratam de ofensas ou acusações, mas servem apenas para lhe mostrar os momentos onde não agiu com AMOR.

Enquanto você não perceber que “grita” com os outros, vai haver sempre um que chegará à sua frente e “gritará” com você. Enquanto não notar que aponta os erros dos outros, sempre haverá um que apontará os seus erros.

Enquanto não verificar que ofende os outros, haverá alguém que o ofenderá. Enquanto não perceber que não é justo, ou seja, protege um em detrimento de outro, mesmo que este um seja você mesmo, sempre alguém lhe desprotegerá para proteger outro. Esta proteção será sempre dada para aquele que você acha que não tem o merecimento para ser protegido.

Isto é a ação de Deus. Esta é lei da ação e da reação. Isto é a Justiça ocorrendo a cada segundo... É, também, a forma de Deus falar com você e ensiná-lo de que está andando em desacordo com o caminho que leva ao Reino do Céu.

Os mandamentos deixados por Cristo são muito claros: basta apenas amar... Entretanto, a humanidade quer inventar leis, normas, códigos de ética, de educação que regulamente a vida do outros... Isto não é cristão, amoroso...

Baseado nestas leis, a humanidade julga-se no direito de apontar erros dos outros. Só que não sabe que existem outros apontando os seus próprios enganos ao proceder fundamentado nestas leis.

Não acredite que todos que lhe chamam de senhor, Senhor, que dizem “amém” a tudo o que você faz. Não acredite que esses são seus amigos, pois são os seus inimigos. Estes, na verdade, são os primeiros a serem utilizados por Deus para fazer a fofoca sobre você, se isso for preciso.

Neste trecho tão pequeno da Bíblia Cristo falou tanta coisa, não?

Mandou recado para a vida particular dos seres humanizados em geral e para os religiosos especificamente. Disse maravilhas só neste trecho e sobre ele poderíamos ficar falando horas, dias e nunca esgotaríamos este assunto.

Apesar disso, pouco se ouve falar destes ensinamentos. Por que isso? Porque algumas religiões acham que apenas “partes” da Bíblia estão certas, outras não... Por que não estudar o Evangelho? Por que não ver o que Deus fez? Por que não entender a lição que Cristo trouxe?

A maioria daqueles que não acreditam na Bíblia agem desta forma porque estão preocupados em “aparecer” fazendo milagres, expulsando “demônios” ou aprendendo a língua dos anjos (conhecimentos técnicos espirituais). No entanto, são eles que mais precisavam ouvir isso, pois foi para eles que Cristo disse: não adianta você se dizer muito religioso ou sábio, porque o que realmente adianta é ser submisso a Deus e viver a vida apenas amando.

É isso que todos os espíritos precisam alcançar para entrar em comunhão com Deus. Como interpenetrar no todo quando ainda existe uma individualidade ativa? Somos todos filhos do Pai e não Ele mesmo. Ninguém é deus ou rei de nada. Todos somos filhos de Deus e moramos no mundo Dele. Habitamos na casa Dele, comemos da comida que Ele nos dá...

Apesar de saber que é filho de Deus e que está vivo (encarnou) apenas para realizar um trabalho de aproximação a Ele (interpenetrar no Todo), os seres humanizados não estão preocupados com o que o Pai espera deles: sua única preocupação é com o que quer para si mesmo.

Um ser humanizado pode até atingir, dentro da visão humana, uma existência onde apenas vivencie atos que se digam “santos”, mas se durante eles não estiver em perfeita sintonia amorosa com Deus, nada terá conseguido. Neste caso, de nada adiantará todo senhor, senhor, com o qual ele viveu, pois Cristo não falará por este ser universal...

Evangelhos canònicos - Textos

A ovelha perdida

Certa ocasião, muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama chegaram perto de Jesus para o ouvirem. Os fariseus e os professores da Lei o criticavam, dizendo: Este homem se mistura com gente de má fama e come com eles. Então Jesus fez esta comparação: Se algum de vocês tem cem ovelhas e perde uma, por acaso não vai procurá-la? Assim deixa no campo as outras noventa e nove e vai procurar a ovelha perdida até achá-la. Quando a encontra, fica muito contente e volta com ela nos ombros. Chegando à sua casa, chama os amigos e vizinhos e diz: Alegrem-se comigo, porque achei a minha ovelha perdida Pois digo que, do mesmo jeito, vai haver mais alegria no céu por uma pessoa de má fama que se arrepende do que por noventa e nove de boa fama que não precisam se arrepender.

Os seres humanizados costumam – e isso é um processo do ego – classificar as pessoas de acordo com as suas próprias convicções e a partir do momento que as classificam como erradas, ruins, más, as abandonam. Através desta história Cristo está falando exatamente ao contrário desta postura. Ele diz: se o ser humanizado tem uma ovelha perdida no seu rebanho – alguém de quem não gosta, que acha errada – deve largar todos os amigos e buscar a ovelha perdida.

É desta forma que o verdadeiro cristão deve viver. Ele não deve ter classificações e expulsar de seu rebanho, do seu nível de convivência, aqueles que ele classifica como má. Em Mateus, nesta mesma parábola, Cristo diz assim: quando achar esta ovelha diga a ela que a ama mais do que as outras...

É preciso procurar as ovelhas perdidas, achá-las e amá-las mais do que as outras. Este é o ensinamento de Cristo. Ele é fundamental Para a elevação espiritual, pois como também disse o mestre, é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino do céu. É mais fácil alguém que o ser humano considera perdido entrar no reino do céu do que você que vai a todos os cultos religiosos e vive rezando, mas não busca as ovelhas perdidas de seu rebanho.

Por que isso? Porque aquele que se arrepende de verdade ainda hoje estará no reino do céu com Cristo, como o mestre prometeu ao bandido que estava ao seu lado na cruz.

O arrependimento só surge quando há a convicção do que está ‘errado’, do caminho que não leva a Deus. Não importa se um ser humanizado foi a vida inteira egoísta. Conscientizando-se da existência do egoísmo e de que este não é o caminho que leva a Deus, esta pessoa chegará à frente daqueles que freqüentam os templos e vivem de mãos postas orando... Isto acontece desta forma porque aquele que alcança o arrependimento venceu a si mesmo.

Pensem nisso...

Evangelhos canònicos - Textos

Prática do amor universal

Mais tarde, Jesus estava comendo na casa de Levi. Junto com Jesus e os seus discípulos estavam muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama que o seguiam. Os professores da Lei, do grupo dos fariseus, vendo Jesus comer com aquela gente e com os cobradores de impostos, perguntaram aos discípulos: Porque ele come e bebe com esta gente?Jesus ouviu a pergunta e disse aos professores da Lei: Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores e não os bons.

Esta passagem bíblica é por demais esquecida pelos seres humanizados quando colocam em ação seus conceitos. Eles imaginam que existam lugares “bons” e “maus”. À época de Jesus, os cobradores de impostos e as prostituas eram considerados a escória da sociedade: ninguém que fosse “bom” poderia se juntar a estes, pois passaria a ser discriminado também.

Cristo ao abandonar os seus discípulos e ir jantar na casa de um cobrador de impostos com pessoas de má fama afirma que procedeu desta forma porque não veio para chamar os bons, mas sim os pecadores (maus). Ao proceder dessa forma, nos ensina que não viemos para esta vida viver com os “bons”, ou seja, aqueles que satisfazem nossos conceitos, mas que aqui estamos para conviver com os “maus”, ou seja, com aqueles que entendemos como “errados”.

Para o ser humanizado as coisas e pessoas são sempre divididas em binômios. Umas são chamadas de “certas” (aquelas que contemplam os conceitos do ser) e outras de “erradas” (as que destoam das “verdades” que o ser possua). As “certas” são chamadas de “boas”, enquanto que as “erradas” são taxadas como “más”.

Esta forma de ver o mundo acaba com a igualdade necessária entre todos para a existência do amor universal. O ser humano que pratica esta divisão não consegue deixar de provocar sofrimento a outras pessoas, pois contesta as “verdades” delas e também não vive com alegria, pois encontra sofrimento quando os demais colocam seus conceitos em prática.

Com a intenção de preservar sua satisfação individual, o ser humanizado acaba isolando-se destas pessoas que ele considera “erradas” ou “más”. Age desta forma achando que é o único meio de preservar seus sentimentos “bons”. Entretanto, ao agir desta forma, ele demonstra que seus sentimentos não estão de acordo com a lei de Deus. Na verdade está protegendo suas próprias verdades.

Para se alcançar à verdadeira evolução é preciso não se encontrar “erros” ou “maldades” nos atos de outros. Apenas fugir dos outros não leva o espírito à evolução, pois ele não passa por provas (contestação de suas verdades). É preciso que esteja perto de quem combata seus conceitos praticando o amor universal.

Essa prática requer que o ser se exponha a todo e qualquer sentimento, sem “culpar” aqueles que o possui. A reforma íntima é transformar o individualismo em universalismo. Para isso é preciso compreender que existem outras “verdades” que são verdadeiras e isso só se alcança com a exposição ao individualismo alheio. Este é o ensinamento de Cristo.

Quando o Mestre ensina que não devemos ir apenas aos sãos, mas que devemos procurar os doentes, está nos conclamando a vivermos junto com nossos “inimigos” para poder aprender a vê-los como companheiros de jornada. Amá-los da forma que são sem julgamentos ou críticas para que eles aprendam essa forma de proceder. Isto será “chamar os pecadores a fim de que mudem de vida”.

Se resguardar dentro de igrejas, templos ou clausuras onde existem, aparentemente, apenas sentimentos positivos de adoração a Deus é deixar de amar ao próximo. Os sentimentos dentro destes locais não são, então, propriamente positivos, mas ali existe muito egoísmo, individualismo. O poder de julgar e condenar os outros, o egoísmo de não dividir as propriedades espirituais entre todos.

Aqueles que se isolam com o sentido de preservar a pureza de seus sentimentos, dizem que fazem isso para encontrar Cristo e viver com ele. Acreditam que nestes locais encontrarão o mestre por causa da pureza dos sentimentos que passarão a manter. Mas, quando possuírem estes sentimentos, perderão Cristo, pois serão sãos e ele não virá para os que o procura desta forma.

Para amar os outros, encontrar Cristo, o ser humanizado deve ir onde se encontram aqueles que necessitam deste amor, ou seja, os doentes. Para isso, os seres humanizados devem freqüentar locais considerados “errados”, onde freqüentam gentes “más”. Ali o ser encontrará Cristo que está sempre buscando os “doentes”.

Entretanto, quando freqüentar estes locais não deve se “envolver” com os sentimentos que ali existem. Tem que manter a sua pureza sentimental que só será alcançada quando não ver “erro” ou “maldade” no que está sendo praticado. Todos os atos são “certos” para quem o está fazendo, pois possuem conceitos (verdades individuais) que justificam a prática do ato. Quando o ser condenar ou rotular a ação do próximo estará utilizando o mesmo sentimento que ele: amando as suas verdades acima de Deus.

Um ser humanizado pode freqüentar um bar, mas não deve se envolver com o sentimento de poder gerado pela bebida; pode ir a casas noturnas, sem “respirar” a luxúria existente; pode se encontrar em qualquer lugar, mas não “praticar” o que ali é praticado sentimentalmente.

Mas, só isso não basta para manter a sua pureza sentimental. Deve, além de não praticar, dar a cada um o direito de fazer o que quiser, sem considerar isto “errado” ou “certo”, “bom” ou “mal”. Para tanto precisa compreender que todos os seres do universo são “filhos de Deus” e que, portanto, possuem a luz dentro de si. Essa luz pode estar encoberta pelos “conceitos” (verdades individuais), mas está presente.

Os seres humanizados possuem sentimentos conceituais, ou “verdades individuais” e se guiam por eles. A visão das coisas geradas por essas verdades individuais é sempre de que está “certo”. Por isso praticam atos de determinada forma.

Isso ocorre porque todo ser possui o livre arbítrio concedido por Deus para escolher o sentimento que quiser para “viver” (praticar atos). Se o próprio Pai concede este livre arbítrio, quem, então, seremos nós para contestar qualquer coisa? Com essa verdade universal o ser humanizado pode permanecer fora da acusação ao próximo mesmo estando em um lugar de “má” fama.

Aqueles que se expõem, sem gerarem críticas ou acusações, conseguem transmitir aos freqüentadores destes locais a exemplificação do amor e com isto podem promover a “cura” destes doentes. Enquanto o ser humanizado tiver os seus conceitos (“certo” e “errado”) e fugir deste contato, promovendo a marginalização de determinados locais ou pessoas, será ele mais doente que os aqueles.

A rotulagem de determinadas pessoas a partir das verdades individuais fere a luz que cada um carrega por sua origem. O ser humanizado que acusa o outro de ser alguma coisa negativa não o vê como oriundo de Deus e, por conseguinte, está ferindo o próprio Deus.

Para se praticar tudo o que aqui estamos comentando e que Cristo nos ensinou, não existe a necessidade de se pertencer a qualquer religião, mas apenas de se praticar o amor universal. Isto Cristo também nos ensinou através do Evangelho de Mateus: “Eu não quero que me ofereçam sacrifícios de animais, mas que sejam bondosos”.

Os que criticavam Cristo pela decisão de jantar na casa do cobrador de impostos eram os professores da lei, ou seja, aqueles que imaginavam conhecer o “certo” e o “errado”. No caso específico desse ensinamento, os professores da lei eram os sumos sacerdotes da religião hebraica. Por isto o mestre chama-os à razão dizendo que não entenderam os textos que leram.

Ao referir-se a sacrifícios de animais, Cristo estava falando do rito da religião da época. Para os israelitas daquele tempo, pois uma das obrigações religiosas era oferecer animais em sacrifício para que Deus os protegesse. Com sua frase, o mestre disse que a proteção de Deus não é dada pelo cumprimento de ritos religiosos, mas pela prática de coisas bondosas, de sua lei.

De nada adianta um ser humanizado freqüentar a todos os cultos de sua religião, cumprir todas as ordens do seu clero enquanto ele ainda possuir sentimentos conceituais que separem o mundo entre “certo” e “errado”, entre “bom” ou “mal”. Não é a prática ou o cumprimento das ordenações religiosas que pode garantir a evolução espiritual.

Para se elevar com o cumprimento das leis de Deus, o ser humanizado precisa ser bondoso, ou seja, necessita praticar o amor universal. Para tanto é necessário ter-se sempre em mente seus três pilares básicos: alegria, compaixão e igualdade.

Todo aquele que encontra o “errado” sofre, pois ainda possui conceitos que foram ofendidos pelo ato do irmão. Para se amar verdadeiramente de nada adianta colocar a esmola na caixa da igreja, mas existe a necessidade de não se encontrar “erros” no irmão.

Quantas pessoas freqüentam os cultos e ali mesmo, no local que chama de sagrado, esquecem das palavras e sentimentos que estão sendo proferidos e prefere ficar prestando atenção na “forma” que outro está cultuando. Analisa e conclui que ele está errado, pois está com a mão direita mais levantada que à esquerda, não está lendo a página que deveria.

Não existem formas de se cultuar a Deus a não ser com a prática do amor e este amor tem que passar pela compaixão. O espírito tem que ter a consciência do sofrimento que causa a outros. Quando observa e considera “errada” alguma atitude do seu irmão, mesmo que não comente com palavras com ninguém, ele está emitindo sentimentos negativos contra aquele, promovendo o sofrimento.

Ao “ver” uma atitude como errada, o ser humanizado quebrou a igualdade, pois sempre se considerará “certo”: Mais uma vez este ser abandona o amor universal. Nesse caso, ainda diz que o faz em nome da perfeição de um sentimento: o amor a Deus.

Enquanto o espírito possuir forma certa para se cultuar Deus estará se importando com o animal que será ofertado, mas esquecerá a bondade que Deus pede que pratiquemos.

Cristo não veio, portanto, afirmar a necessidade de se freqüentar uma religião, mas sim ensinar o ser humanizado a amar a Deus. Esse amor tem necessariamente que passar pela não crítica ao seu irmão. Quanto mais alguém afirma que sua religião é a melhor ou a mais pura está afirmando que Cristo está longe dela, pois ele não veio para os sãos e sim para os doentes.

Apenas entendendo que qualquer templo de qualquer religião é um hospital onde seres doentes comparecem para serem atendidos pelo médico Cristo, o ser humanizado pode deixar de imaginar o seu lugar de religação com Deus como o “perfeito”, o “certo”. Isso encerrará o fim da crítica e marcará a compreensão que todos têm o direito de procurar a “especialidade médica” que mais atenda suas necessidades.

O ser humanizado necessita compreender que todos são “doentes”, possuem verdades individuais, pois existe apenas uma única verdade no Universo: Deus. Somente essa compreensão poderá eliminar seus conceitos (verdades) e o fim delas é fundamental para que possa conferir a cada um o direito de fazer o que quiser (sentimentalmente) sem constatar erros.

Aqueles que se dizem detentores de Cristo (da verdade de seus ensinamentos) e por isso estão na pureza ouçam o aviso do Mestre: “eu vim para os doentes e não para os sãos”.

Em resumo, este ensinamento de Cristo nos faz entender que viemos a este planeta e matéria carnal para fazermos o que não “queremos” e conviver com as pessoas que não “gostamos”, pois viver diferente seria se satisfazer. Todos vêm para os “doentes”, ou seja, aqueles que consideram “errados” e não para os “sãos”, aqueles que consideram “certos”, pois esse modo de proceder é que leva à nossa própria cura.

É através da prática da não observação do “bem” e do “mal”, do “certo” ou “errado”, com a prática do amor universal, que o espírito alcançará a sua evolução.

Evangelhos canònicos - Textos

O messias

Nem devem chamar ninguém de líder, porque vocês têm um líder: o Messias.

Cristo diz que os seres humanizados têm um mestre, o messias. Apesar das igrejas cristãs afirmarem que Cristo é o messias, repare que ele próprio não se coloca nesta posição. Ele não diz que os seres humanizados o têm como líder, mas que há um messias. Está, portanto falando de outra pessoa. Mas, quem é o messias?

Para responder esta pergunta vamos começar entendendo o que quer dizer o termo ‘messias’. Este termo era utilizado pelos judeus de então para designar o salvador, aquele que seria enviado por Deus para libertar o povo hebreu. O messias era a pessoa esperada para salvar o povo hebreu do domínio estrangeiro e ia governar o país trazendo Deus para a Terra.

Compreendido isso, pergunto: quem é o messias da vida do ser humanizado? Quem pode libertar o ser humanizado do jugo de estrangeiros e lhe levar a uma vida mais feliz? Quem pode libertar o ser do jugo em que vive e levá-lo até a nova vida, até a terra prometida da ‘Nova Jerusalém’?

Participante: Deus?

Não, Deus está longe de vocês... Como vocês não O vêem, não O conhecem, não pode ser ele...

Participante: O próximo?

Sim, o próximo. Aquele ser com quem o ser humanizado convive e desta convivência nascem as provas que podem levar o ser humanizado à elevação espiritual, à consciência crística.

Mas, quem é o seu próximo? Quem é o próximo do ser humanizado? Para poder entender isso vamos ter que comentar outra parábola bíblica: a do bom samaritano. Nela Cristo responde exatamente a esta pergunta feita pelos fariseus e professores da lei: quem é o próximo a quem o mestre diz que devemos amar?

Quem lê esta parábola nos dias de hoje se confunde com o termo ‘samaritano’. Hoje esta palavra ganhou a conotação de pessoa boa, caridosa, mas no tempo de Cristo este termo não possuía este sentido. Naquele tempo samaritano era usado para designar as pessoas que nasciam na Samaria, uma região da Judéia de então, não importando se eram pessoas caridosas ou não. Este povo era inimigo dos judeus, ou seja, as pessoas dos dois povos, apesar de não estarem em guerra, não mantinham boas relações.

Na parábola do bom samaritano Cristo fala de um judeu que viajando por uma estrada é atacado por ladrões e ferido, ficando caído ao chão. Dois judeus passam pelo homem caído em diversos momentos durante a narrativa da parábola. O primeiro, um sacerdote, passa pelo outro lado da estrada; outro, um levita, que era um povo amigo dos hebreus, para olha, mas nada faz. Depois desses, passa, então, um samaritano, que tem pena dele. Faz curativo para as feridas e depois leva o judeu até uma hospedaria pagando a hospedagem até que ele se recupere e possa voltar à sua viagem.

Cristo termina a parábola perguntando o seguinte: “Em sua opinião qual desses três foi o próximo do homem assaltado”, ou seja, o judeu. Quando o professor da lei responde que foi o que o socorreu, Cristo diz: ‘Pois vá e faça a mesma coisa”...

Recuperando-se o valor histórico do termo samaritano, podemos, então, compreender o significado da parábola: o próximo do ser humanizado é o seu inimigo... Portanto, o messias de cada ser humanizado a que o mestre se refere no ensinamento que estamos vendo agora é o seu inimigo...

Sim, o messias, aquele que pode libertá-lo do jugo do inimigo e guiá-lo até a terra prometida, a elevação espiritual, citado no presente ensinamento e que é uma pessoa diferente de Cristo, é o seu inimigo.

Quem pode ajudar o ser humanizado na busca da elevação espiritual, da formação da consciência crística, não é um guru, um mentor ou o próprio Cristo. De nada adianta para o ser humanizado que quer alcançar a consciência crística freqüentar os cultos para pedir a Cristo que o afaste do seu inimigo, que o livre da perseguição daqueles que não gosta, pois o seu messias, o seu mestre, é o seu inimigo.

Somente o inimigo do ser humanizado pode ajudá-lo realmente a vencer. O amigo do ser, aquele só sabe concordar com tudo que o ser fala e que só sabe passar a mão na cabeça, no sentido da elevação espiritual não vale nada. Não serve de nada para aquele que busca obter a consciência crística. Na verdade o amigo só serve para inflamar o ego do ser humanizado, ou seja, atrasá-lo na corrida pela elevação espiritual.

Somente o seu inimigo pode lhe fazer alcançar a bem aventurança, ou seja, a felicidade incondicional. Já repararam que quando Cristo fala da bem aventurança diz: “Bem aventurado são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores”. Quem é que lhe calunia, insulta e persegue: o seu amigo ou inimigo?

Apesar de o mestre ser tão explícito, os seres humanizados ainda vão para os templos pedir a Cristo e aos santos ou mentores para afastar o inimigo de suas caminhadas. Isso não é hipocrisia? Pior: quem faz isso ainda diz que usa de amor com o inimigo, pois pede a Cristo que apenas o afaste sem fazer mal a ele.

Falei que era hipocrisia porque o ser humanizado que se diz cristão, que busca alcançar a consciência crística através dos ensinamentos de Cristo, não deveria afirmar que possui inimigos. Se realmente tivesse lido os ensinamentos do mestre com certeza teria a consciência de que só tem amigos.

Sabe quem é a pessoa que lhe bate? Seu amigo... Vou explicar...

Quando a pessoa está histérica, qual a primeira coisa que precisamos fazer?

Participante: Dar um tapa para retirá-la da histeria...

Pois é, quando o ser está histericamente humanizado Deus providencia uma pessoa para dar um tapa nela. Não faz isso para castigar, mas para ver se o ser acorda para a sua realidade: não dá para acontecer na existência de cada um apenas aquilo que ele quer.

Este ensinamento de Cristo é mais longo do que o trecho que citamos no início e estudaremos o restante depois. O assunto que estamos abordando é apenas uma pequena parte do ensinamento e por isso não é percebido pelos seres humanizados, mas ele está lá. Aquele que busca alcançar a consciência crística, portanto, deve compreender que os seus inimigos são os seus mestres e amá-los.

Aliás, é isso que está bem claro na parábola do bom samaritano. Socorra o seu inimigo, cure suas feridas, alimente-o enquanto ele estiver se restabelecendo. É isso que aquele que busca a elevação espiritual precisa compreender, mas para isso necessita descer da posição de professor da lei. Enquanto vivenciar a vida a partir de suas próprias regras, o ser humanizado terá sempre amigos, aqueles que cumprem suas regras, e inimigos, os que não cumprem.

Por isso afirmo: não adianta querer amar o inimigo enquanto tiver conceitos para balizar e valorizar os acontecimentos da vida. Enquanto houver conceitos o ser humanizado terá inimigo e enquanto isso acontecer, não estará amando a todos como a si mesmo.

Tentar amar um inimigo possuindo conceitos é um caminho sem fim. O ser humanizado, para fazer aquilo que o mestre ensina, tenta desesperadamente amar o inimigo, mas não consegue fazer. Isso acontece porque ele não atacou o mau pela raiz, não se enfrentou, não destruiu os seus conceitos que fazem existir um inimigo.

É por isso que Paulo diz: a lei cria o pecado. Se não houver lei, ou seja, um conjunto de conceitos que baliza comportamentos e os valoriza, não há pecado. Se não houver um conceito que diga que existe um lugar certo para se guardar o copo, não há mais lugar errado para colocá-lo. Neste momento, não haverá mais seres humanizados que serão considerados errados, ou seja, inimigos...

Evangelhos canònicos - Textos

A humanidade odeia Cristo

Durante o transcorrer da nossa conversa de hoje, gostaria que vocês tivessem a máxima atenção, para que não houvesse mal-entendidos. Digo isso porque, aparentemente, pode parecer que com o que vou falar estarei acusando ou brigando com alguém. Mas isso é ilusão.

Aqueles que me conhecem sabem que não brigo com ninguém. Apesar disso, o que não posso deixar de fazer é mostrar a hipocrisia que é a vida humana vivida de modo humano, principalmente para aqueles que se dizem religiosos ou que estão buscando a Deus.

Sim, a vida humana daqueles que se dizem religiosos, se vivenciada pelos valores humanos, é uma hipocrisia. Isso porque quem diz que busca a Deus deveria ter uma postura completamente diferente face aos acontecimentos da vida daquele que não busca, mas não tem. Estes seres humanos deveriam ouvir Cristo: se você só faz o que os pagãos fazem, que vantagem leva...

Cristo, portanto, ensinou: aqueles que estão buscando a Deus precisam fazer mais do que o normal, mais do que fazem os simples pagãos. Mas, não fazem, apesar de dizerem-se cristãos, seguidores do mestre nazareno.

Portanto, o que vou fazer hoje é mostrar que a maioria da humanidade afirma que está caminhando numa direção, mas em verdade caminha em outra.

Jesus continuou: Se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro.

Alguém já ouviu esta frase – se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro – como ensinamento de Cristo? Acho que não, pois ela muitas vezes é esquecida por aqueles que ensinam o que o mestre disse. Mas, nem por isso deixa de ser verdade.

Atentando-nos aos acontecimentos da encarnação Jesus Cristo, no entanto, veremos que ela é uma verdade líquida e cristalina. Ele foi odiado pelos romanos, pelos senhores do Cinéreo e pelo próprio povo judeu, que o preferiu a Barrabás.

Mas, isso foi no passado. Será que no presente a humanidade odeia Cristo? Respondendo, eu diria que ela afirma que ama o mestre, mas odeia os “Jesus Cristo”, ou seja, aqueles que vivenciam os ensinamentos do mestre.

É neste sentido que estou falarei a respeito da hipocrisia que vive os religiosos que se comportam frente aos acontecimentos do mundo como seres humanos comuns. Esta hipocrisia se reflete exatamente na frase que disse acima: a humanidade diz que ama Cristo, mas odeia os “Jesus Cristos”.

Sabe por que isso? Porque a humanidade afirma que ama Cristo, mas odeia aqueles que quebram as leis. A humanidade diz que ama Cristo, mas são os primeiros a acusarem, julgarem e condenarem aqueles que são pegos em flagrantes delitos. Mas, Cristo não fez isso...

Quando a mulher adultera lhe foi apresentada, Cristo disse: quem não tem pecado que atire a primeira pedra. Quando ninguém mais ficou ele disse: se ninguém lhe condena, não sou eu que vou lhe condenar...

Portanto, para se portar como Cristo, os seres humanos deveriam eximir-se de julgar qualquer um, mesmo aqueles que forem pegos em flagrante delito. Mas, o mundo detesta os “Jesus Cristos” e por isso chama de fraco, inconseqüente e outros adjetivos pejorativos aqueles que não cumprem a “obrigação” de julgar, acusar e condenar os outros.

 A humanidade diz que ama Cristo, mas odeia aqueles que, como o mestre, não seguem rigorosamente a lei humana. Acontece que aqueles que se eximem de culpar os outros (os “Jesus Cristo” ou aqueles que buscam o caminho que leva a Deus) praticam o perdão, o que, aliás, foi ensinamento do mestre e serve como caminho para Deus: Pai perdoa, eles não sabem o que fazem...

Apesar do mestre ter ensinado assim e a humanidade dizer que quer seguí-lo, ela não quer perdoar. Diz que ama Cristo, que o aceita como legítimo guia e pastor, mas não quer praticar o perdão que ele ensinou. Prefere julgar, condenar e acusar a todos... Pior... Quem não segue estas premissas é chamado de bobo, de otário.

Mas, se a humanidade diz que busca a Cristo, deveria, não digo nem aclamar aqueles que buscam viver como Cristo, mas pelo menos não odiá-los. Deveria, pelo menos, não taxá-los com palavras que demonstrem menosprezo.

A humanidade diz que ama Cristo, mas o ser humano, mesmo os que se dizem cristãos, estão preocupados com o que vão comer e vestir hoje. Cristo nunca teve esta preocupação...

Cristo dizia: se Deus dá o alimento aos bichos e dá roupa às flores, porque eu vou me preocupar com isso. Apesar deste ensinamento, a humanidade ainda se preocupa e, para aqueles que vivem do jeito que deveria ser o ideal de todos os que dizem que buscam seguir a Cristo, existe a acusação de serem alienados. São menosprezados, considerados bobos.

A humanidade diz que ama Cristo, mas se preocupa não só com o que vestir, mas como se vestir. A humanidade preza muito mais a aparência física do que o interior. Preza ver se está arrumado, limpo ou cheiroso.

Esquecem-se do que Cristo afirmou: ai de vocês que lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância. Para descrever aqueles que se preocupam com o exterior Cristo fez a seguinte comparação: são como túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos mortos e de podridão...

Se estes chegassem perto de Cristo não iam se sentir confortáveis, pois o mestre não era de se preocupar muito com estas coisas... Sabe, aquela imagem do manto sempre branco é apenas uma figura. Isso porque Cristo andava no meio do deserto. Sendo assim, no mínimo o seu manto era coberto de pó...

A humanidade diz que ama Cristo, mas aqueles que não cumprem os rituais religiosos, são colocados na cruz. São acusados de hereges, de pagãos... Mas, Cristo nunca cumpriu um ritual religioso de sua época... Pior, quebrou todos...

Cristo se alimentou e fez cura nos sábados... Expulsou os vendedores do templo, o que era aceito pela doutrina religiosa de então... Foi contra as bases doutrinárias dos professores da lei, falando em amor e perdão...

Sabe, hoje é muito fácil para vocês não cumprirem as leis religiosas, pois elas foram adaptadas para servir à humanidade. Mas, naquele tempo não... Era tão complicado não se seguir a religião oficial dentro de todos os parâmetros que ela continha, que Cristo foi crucificado justamente por isso...

A humanidade diz que ama Cristo, mas tem como objetivo principal na sua vida realizar-se materialmente. Está preocupado em estudar, em se formar numa boa faculdade para poder arrumar um emprego melhor para ganhar mais dinheiro e ter mais ascensão.

Cristo nunca teve esta preocupação... E se ele é o caminho a verdade e a vida e só através dele se chega a Deus, aquele que ama o mestre não deveria ter estas preocupações, não deveria ter estes objetivos como primários na sua vida...

É isso que Cristo afirma quando diz que a humanidade o odiou. Só que ela não o odiou apenas naquele tempo, mas continua odiando-o até hoje através daqueles que seguem os seus ensinamentos.

Continuam criticando, acusando, chamando os seguidores de Cristo de não evoluídos. Isso porque a humanidade continua presa a um padrão de evolução que não foi a que o Cristo ensinou. Eles ainda continuam querendo exercer o poder de ser, estar e fazer, enquanto Cristo dizia: Senhor honra seu nome através de mim...

Aí está o problema: a humanidade diz que ama Cristo, mas não quer mudar a forma humana de viver... A humanidade, para poder se dizer seguidora de Cristo, precisa alterar os valores da sua vida. Aliás, o próprio mestre deixou isso bem claro: eu não vim trazer a paz, mas a espada. Enquanto você não abandonar suas paixões humanas, pegar a sua cruz e me seguir, não serve para mim...

Não adianta se dizer seguidor de Cristo e querer levar uma vida humana igual a dos outros, porque não se chega, espiritualmente falando, a lugar algum. Só se chega à elevação espiritual através do exemplo deixado por ele, pois “eu sou o caminho a verdade e a luz; ninguém chega a Deus a não ser através de mim”.

Esta sentença proferida pelo mestre quer dizer que ninguém chega a Deus a não ser vivendo a vida como ele viveu. Por isso a vida daqueles que querem se dizer seguidor de Cristo tem que ter como objetivo primário a mesma intenção que o mestre teve: vivenciar a cada momento a glória do Pai sem se preocupar com os acontecimentos materiais...

Mas, a humanidade odeia Cristo, odeia os “Jesus Cristos”: odeia aqueles que não se preocupam com os elementos materiais de sua vida. Aliás, a vida “Jesus Cristo”, ou seja, aquilo que deveria ser o objetivo primário de ser vivido por um espírito encarnado, é a antítese de tudo o que a humanidade sonha para si. Isso porque o fundamento da vida humana é alcançar a glória material (estar “certo” dentro dos padrões humanos), a fama (ser reconhecido como um ser humano adaptado às realidades humanas) e a felicidade material.

Participante: Porque a sociedade hoje é tão individualista se a Terra está mudando para o Mundo de Regeneração. Não era para ter uma evolução com relação ao universalismo?

Não... Era para piorar mesmo, porque a quem muito foi dado, muito será cobrado...

Repare: se a prova de um espírito é vencer o individualismo, quanto mais ele se aproxima da prova final, mais individualismo tem que vivenciar... O individualismo precisa hoje lhe chamar mais fortemente, precisa lhe tentar mais fortemente, para que você esteja sempre fazendo provas dentro do seu nível de elevação...

Se vocês pertencessem ao mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele.

Um rápido comentário...

Quando você segue os padrões da humanidade, o mundo lhe ama. Ele age assim porque você é humano, porque vive humanamente a vida: porque você se preocupa em arrumar-se, em trabalhar; porque sonha em crescer materialmente; porque sonha com a submissão dos outros aos seus padrões de “certo”; porque quer ter o poder ao seu lado.

Agora, quando para você nada disso tem valor, o mundo lhe odeia. Tem este sentimento porque você não é mais humano, porque não se preocupa com a humanidade, mas sim em pertencer a Cristo, a quem nada disso faz sentido. É como Paulo diz: para mim o mundo está morto porque eu pertenço a Cristo...

Esta é uma coisa que precisávamos entender para continuar ouvindo o que Cristo falou...

Mas, eu os escolhi entre a gente do mundo e vocês não pertencem mais a ele. Por isso o mundo os odeia.

Por estarem ligados a Cristo, ou seja, por tudo que é humano não fazer mais sentido para vocês, o mundo lhes odeia. O mundo não vê em você alguém que pode ser seguido, que mereça ser ouvido. Isso porque o mundo ama apenas quem fala o que ele quer ouvir...

A humanidade ama aqueles que servem ao humanismo do ser e não aqueles que servem a Cristo. Mas, este tipo de proceder não leva o espírito a se aproximar do Pai. Para entender bem isso, temos que nos lembrar de outra frase de Paulo: o ser humano é inimigo de Deus...

Sim, o ser humano é inimigo de Deus porque ele só é amigo dele mesmo. O ser humano não é amigo de mais ninguém...

Mesmo quando considera alguém como amigo, a consideração está subordinada ao “bem” que este amigo lhe traz. Se este “bem” deixar de existir, o amigo se transforma logo em inimigo... Sendo assim eu afirmo: ele só está preocupado consigo mesmo e não com o outro.

Você acha que estou exagerando? Ouça este ensinamento que o Espírito da Verdade fala em O Livro dos Espíritos.

Pergunta 913: Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.

Aí está a base da humanização a qual o espírito se expõe: todo ser humano é egoísta, já que este sentimento é a base dos egos formados no planeta Terra.

Quem é egoísta ama a si acima de Deus e dos outros. Por isso Paulo nos diz que o ser humano é o inimigo de Deus, já que ele quer para si, enquanto que o Pai quer para todos...

Esta é uma conclusão que precisa ser tirada por aqueles que querem seguir Cristo, pois no mestre não residia o egoísmo: ele vivia para servir os outros. Já o ser humano vive para se servir e para isso serve-se dos outros.

Afirmo isso porque o ser humano é incapaz de ser, por exemplo, caridoso de uma forma universal. Mesmo quando ele quer ajudar o próximo, estipula condições que são aceitas por ele mesmo para auxiliar.

Esta é a base que todos aqueles que dizem que estão buscando a elevação espiritual precisam compreender: a humanidade, os valores ditos humanos são forjados no egoísmo. Por isso, enquanto o ser for humano não conseguirá amar a Cristo de verdade. Por conseguinte, odiará Cristo, pois ele não foi humano.

A existência de “Jesus Cristo”, que iniciou-se depois do batismo foi uma existência espiritualizada e universalista. No momento em que João Batista batiza Jesus, acaba-se a humanidade desta personalidade. Ela passa a funcionar como um espírito na carne e não mais como humano.

O espírito na carne é aquele que não é egoísta, que vive no universalismo e no espiritualismo pleno. Ou seja, aquela personalidade onde o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo está presente. É por isso que esta personalidade afirma: a humanidade me odeia.

Sabe quem são os humanos cristãos de hoje? Os mesmos professores da lei do tempo de Cristo.

Não estou falando em reencarnação, afirmando que são os mesmos espíritos. O que estou dizendo é que os elementos humanos de hoje, como os de então, ainda se avocam em ter a verdade e usá-la para julgar o próximo. São os mesmos para os quais Jesus Cristo falou: ai de vocês, professores da lei, que põem fardo nas costas dos outros e não ajudam a carregar nem com nenhum um dedo. Por isso continuam julgando e criticando os “Jesus Cristos”, como fizeram com o mestre...

A partir desta constatação, deve surgir para vocês que estão querendo seguir o exemplo de Cristo, uma verdade: não esperem que a humanidade vá aplaudir os seus esforços de elevação espiritual. Todo mundo acha que se entrar nesta revolução espiritual será considerado bonzinho ou santinho. Isso é ilusão.

A humanidade vai lutar contra vocês... Vai querer lhes ridicularizar, vai querer, como instrumento do carma, lhes colocar a todas as provas para lhes testarem no sentido de ver se vocês permanecem no amor em Cristo...

É preciso atentar para este detalhe. É preciso estar atento a este detalhe: ninguém chega a Deus através de Cristo, ou seja, ninguém chega a Deus a não ser sendo um “Jesus Cristo”.

Depois de compreender isso, é preciso, ainda, compreender outra coisa: quem quiser chegar a Deus sendo um “Jesus Cristo” não pode querer ser humano e nem esperar que a humanidade lhe apóie neste intento.

Participante: O mundo gosta de quem faz o que ele quer. Concordo com isso. Agora, se formos seguir Cristo, vamos nos tornar individualistas e egoístas também, pois não poderemos contar com ninguém, já que o mundo não apoiará quem seguir Cristo.

Concordo com você. Só que seguindo Cristo, você não será individualista, mas individual.

Falo assim, porque individualista é aquele que quer para isso enquanto que o individual é aquele que se reconhece como individualidade, mas que não quer para si prioritariamente.

Sim, para seguir Cristo você precisa ser uma individualidade sem individualismo, sem egoísmo. Mas, isso é impossível para quem segue os padrões humanos de vida, porque a humanidade lhe cobra que seja egoísta, ou seja, que se imponha individualmente a cada momento.

Vamos continuar...

Vocês poderiam dizer: você está sendo radical. Eu diria: estou... E complementaria: sem radicalismo não há elevação espiritual. Sem você radicalizar espiritualmente a vida, não há elevação espiritual. Querem ver um exemplo...

Há entre os espíritas uma frase muito interessante. Quando se fala nas influências dos espíritos sobre a vida nos meios espíritas eles dizem: ah, nem tudo que acontece em nossa vida são os espíritos que fazem...

Os que respondem desta forma são humanos, ou seja, vivem apenas a partir das suas percepções. Mais, são professores da lei porque citam O Livro dos Espíritos, mas não vivem o que ele diz...

Segundo esta obra do Pentateuco Espírita, a influência dos espíritos na vida humana é muito maior do que o ser humano possa imaginar. Portanto, para ser espírita verdadeiro, os seguidores desta religião deveriam radicalizar (ter isto como Verdade Absoluta).

Mas, para não serem egoístas, deveriam radicalizar não porque se acham certos, mas porque esse é o ensinamento do mestre que seguem. Se não radicalizam e atacam os que dizem isso, posso afirmar que os espíritas odeiam os “Espíritos das Verdades” também...

Participante: Por favor, fale deste ensinamento...

Ele começa na pergunta 459:

Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem.

Esta é a lei da doutrina espírita. Tanto isso é verdade que o seu próprio fundador, comentando a influência dos espíritos nos acontecimentos da vida diz:

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obraram de tal maneira que o homem crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio.(Comentários de Kardec à pergunta 525).

Isso, por si só já diria tudo. Mas tem mais... À frente (pergunta 527) o Espírito da Verdade diz que se alguém tem que morrer por causa da ação de um raio que caia do céu (determinismo de destino) nenhum ser desencarnado alterará a rota do elemento da natureza, mas fará com que o homem se dirija para o lugar onde ele sabe que o raio cairá...

Ou seja, a vida é completamente dominada pelos espíritos. Todas as suas ações são comandadas de fora para dentro e você, como diz Kardec, achando que mantém o livre arbítrio, faz o que precisa ser feito.

Portanto, para se dizer seguidor do Espírito da Verdade é preciso que os espíritas radicalizem e vivam com esta realidade: tudo na vida é intervenção dos espíritos.

Mas os espíritos não agem à toa. A pergunta 525a traz uma informação importante:

Exercem essa influência por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm ação direta sobre o cumprimento das coisas? Sim, mas nunca atuam fora das leis da Natureza.

Reparem que a letra “n” está escrita de forma maiúscula. Isso quer dizer que o Espírito da Verdade se refere a Deus. Ou seja, os espíritos agem sobre o cumprimento das coisas, mas esta ação segue a ordenação do Senhor.

Agora o radicalismo está completo: o espírita, para poder se dizer seguidor do Espírito da Verdade tem que aceitar que tudo que acontece durante a sua existência tem a direção do mundo espiritual menos denso, mas que eles agem sobre o comando de Deus. Para eles nada mais pode ser real...

Quem não radicalizar nesta questão não pode dizer-se espírita. Aliás, será como os cristãos que estamos comentando: dirão que amam o espiritismo, mas que odeiam os “Espíritos da Verdade”.

Mas, este conhecimento não deveria pertencer apenas aos espíritas. Os próprios cristãos não espíritas, que dizem não acreditar na existência do mundo espiritual ativo, para poderem demonstrar o seu amor por Cristo, deveriam acreditar nisso.

Falo assim porque o mestre conhecia esta Verdade. Cristo sabia que tudo o que vai acontecer está predeterminado (até os fios de vossas cabeças estão contados) e participava dos acontecimentos com esta consciência. Isto ele deixou bem claro quando respondeu aos apóstolos que lhe avisaram sobre a morte do seu amigo Lázaro: vamos lá, pois ele não morreu. Só está daquele jeito para que a glória de Deus seja alcançada...

Sei que muitos cristãos não espíritas acreditam nesta verdade (que suas existências são dirigidas pelos espíritos), mas há uma diferença na forma como Cristo acreditava e na que os humanos cristãos acreditam. Enquanto que humanos estão eternamente querendo investigar o porque e o para que das coisas, Cristo deixava Deus fluir através dele, ou seja, tinha consciência de que era Deus agindo sempre e por isso não precisava se preocupar com os porquês e os para quês...

Essa é mais uma razão pela qual eu afirmo a humanidade não ama Cristo: aqueles que se entregam a Deus deixando o Senhor fluir por eles sem seguirem normas e padrões humanos, são considerados doidos. Isso no mínimo, para não dizer idiota...

Anti Cristo não é aquele que se contrapõe aos ensinamentos das doutrinas cristãs não espíritas, mas sim aqueles que não levam em consideração esta informação do Espírito da Verdade por não estar de acordo com suas próprias crenças, apesar de declaradamente estar presente na consciência “Jesus Cristo”...

Mas, existem outros aspectos que me levam a afirmar que a humanidade odeia Cristo... Um deles é a aceitação do destino.

A humanidade luta para criar um destino melhor para ela mesma. É raro o humano que aceita que os acontecimentos de sua existência estão perfeitos da forma que estão.

Para Cristo, tudo era fruto do amor de seu Pai, mesmo aquilo que a humanidade chama de “errado” ou “ruim”... O mestre, por exemplo, sabia volitar, era capaz de proezas como andar em cima das águas, mas não fugiu do seu destino...

Ele poderia muito bem ter volitado e desaparecido da cena da crucificação e continuado a sua vida. Por que não fez isso? Para entender é preciso ouvir a resposta que ele deu a Pilatos quando este lhe perguntou por que não se salvava: se o Pai quisesse que eu não passasse por isso, mandaria pelo menos vinte legiões de anjos para me salvar...

Aí está uma grande verdade que a humanidade odeia ouvir: Cristo não foi crucificado pelos romanos, nem pelos judeus. Ele foi crucificado por determinação de Deus...

É a humanidade odeia ouvir isso, porque ela quer preservar a vida material. O ser humano quer continuar vivo, materialmente falando, porque quer continuar humanizado, quer continuar ganhando migalhas (as poucas vezes em que o desejo é realizado) aqui e ali...

Cristo morreu na cruz sem aflição, sem medo, sem acusações. Entregou-se a este momento porque sabia que aquilo era apenas uma história pré-montada para lhe dar aos seus seguidores o seguinte ensinamento: se você estiver sendo levado ao cadafalso, vá em paz, amando e perdoando seus algozes. Não queira fugir do seu destino...

Mas, os humanos cristãos não querem ouvir este ensinamento que já tem dois mil anos e continuam lutando para ganhar sempre...

Sabe, é até compreensível que ao ir para o seu cadafalso você fique perturbado e reja como Cristo, que se perturbou com a aproximação de sua hora segundo relato de João: Sinto agora uma grande aflição... Mas, para poder se dizer cristão, continue a frase como ele continuou, ainda segundo relato de João: mas, o que vou dizer agora? Pai afasta de mim este cálice... Mas eu nasci para isso... Pai glorifica o seu nome em mim.

Quanto aqueles que vivem que não reagem aos acontecimentos do mundo, que se entregam passivamente às suas cruzes mantendo intacta a sua relação amorosa com Deus, estes são criticados pela humanidade. Criticam porque os humanos egoístas não querem ser crucificados, ou seja, não querem ver os seus supostos direitos serem afetados.

Esta é a realidade... Por favor, não digam que estou radicalizando... Estou simplesmente pegando ensinamentos que existem em O livro dos Espíritos e na Bíblia para mostrar que o ensinamento é um e a prática é outra...

Agora, quanto à afirmação de Cristo que o mundo o odeia, também não a inventei: está há quase dois mil anos no Evangelho de João... Cabe a nós não discuti-la, mas entendê-a, compreendê-la, que é isso que estamos falando neste trabalho.

Como disse, ao estudar os ensinamentos do Novo Testamento gostaria de falar da prática da vida e é exatamente isso que estou fazendo hoje: mostrando que a prática da vida daqueles que se dizem seguidores de Cristo é hipócrita, porque amam a Cristo, mas não querem viver como o mestre viveu.

Não querem doar-se como o mestre doou-se. Preferem manter a sua humanidade intacta a se entregar ao espiritualismo, mesmo sabendo que com isso não alcançam a evolução espiritual, ou seja, não caminham o caminho que leva a Deus...

Lembrem-se do que eu disse: o empregado não é mais importante do que o patrão. Se me perseguiram, também perseguirão vocês; se obedeceram aos meus ensinamentos, também obedeceram aos ensinamentos de vocês. Por causa de mim, vão lhes fazer tudo isso porque não conhecem aquele que me enviou. Eles não teriam nenhum pecado se eu não tivesse vindo e falado a eles. Mas agora não têm desculpa para o seu pecado.

Neste ensinamento a fonte da célebre frase: a quem muito foi dado, muito será cobrado.

O pecado – pecado como transgressão ao espiritual – não nasce do ato que se pratica durante a vida, mas sim da transgressão ao conhecimento que cada um possui.

Veja... O católico tem um ensinamento, o protestante outro e o espírita outro ainda. Mas, todos estes conjuntos doutrinários contêm ensinamentos fundamentados no que Cristo ensinou...

Acontece que apesar disso, o humano considera os ensinamentos de sua seita mais importantes do que realmente está descrito como ensinamento do mestre. Mas, isso não é verdade... Toda doutrina que se diga cristã precisa ensinar o que Cristo ensinou...

Para isso é preciso se deixar de lado as diferenças... Que importa se só há esta vida ou outras (reencarnação)? O importante é fazer o que Cristo ensinou: amar a tudo e a todos... Por isso, quando o ser humanizado recebe os ensinamentos de quaisquer de uma destas seitas, ele se torna responsável por colocar em prática o que o mestre nazareno ensinou...

Se Cristo diz que você deve amar o inimigo, não importa o que o padre diz: você tem que amar o inimigo. Se ele afirma que não deve julgar, não importa o que o médium diga na palestra do centro: você precisa abrir mão disso.

Se Cristo diz que deve perdoar a todos, deixe o pastor condenar aqueles que participam de outras doutrinas, mas você perdoe todo mundo. Se Cristo diz ao bandido que ainda hoje ele estará no reino do céu por arrepender-se, não importa o que o código moral de sua religião fale a respeito do crime: você precisa compreender que o bandido que se arrepender de seus pecados irá para o reino do céu.

Aí está a hipocrisia que eu tenho falado: não adianta se dizer católico, espírita ou evangélico e não seguir Cristo, mas sim ao que ouve na sua religião... O problema é que todos querem ser religiosos, mas não abrem mão do seu humanismo que se caracteriza em ser e acreditar no que quiser.

Na verdade, este é o tema da palestra de hoje: ser cristão...

Para ser cristão de verdade é preciso lembrar-se do que Cristo disse: em verdade vos digo: quem não nascer de novo não verá o reino do céu. Por causa desta afirmação, saiba que enquanto não renascer do espírito e da água não conseguirá a elevação espiritual, por mais que decore os ensinamentos, por mais que se diga cristão. E, para renascer do espírito e da água é preciso ser como Cristo foi...

Mas, para ser igual a ele, é preciso que você se lembre de algo importante que ele disse: não se serve a dois senhores ao mesmo tempo. Não se serve à materialidade, à humanidade e a Deus ao mesmo tempo...

Não há se manter humano e ser ao mesmo tempo cristão. Isto porque a humanidade lhe cobra o seu humanismo enquanto que Cristo lhe cobra a sua espiritualização, a sua ligação com Deus: o seu viver em Deus, com Deus e para Deus...

Se nós não compreendermos isso, ficaremos batendo cabeça contra parede. Ficaremos querendo ser humano sem conseguir e querendo ser espírito e não conseguindo também...

Este é o assunto que precisa ser rapidamente conscientizado por todos os que se dizem buscadores. A compreensão deste tema precisa servir como instrumento para espiritualizar verdades. Sem isso, o espírito encarnado ficará empacado no tocante a elevação espiritual, como está há milhares de encarnações lutando entre servir ao mundo ou a Deus.

Isso é o que precisamos pensar... Mas, esta é uma decisão difícil, pois a partir do momento que você decidir seguir a Cristo, tem que passar a ser um “Jesus Cristo” e amar os “Jesus Cristos”.

Mas, se por outro lado não decidir por isso, você tem todo direito de viver a sua humanidade. No entanto, compreenda que este caminho não lhe leva a Deus. Além disso, para não ser hipócrita, é preciso você pare de bater nos peitos e dizer que é cristão.

Esta é a bifurcação, a encruzilhada, onde estão todos os espíritos encarnados hoje: de um lado o chamamento de Deus, da espiritualidade; do outro o da humanidade para viver uma vida de forma humana. Isto precisa ficar bem claro para os que se dizem buscadores de Deus...

Além do mais, é preciso ficar bem claro que a partir do momento que você opte por Deus não deve esperar da humanidade respeito, amor e atenção porque ela lhe cobrará mudanças, pois deixou de ser um humano.

Participante: Você já falou por diversas vezes que é preciso amar a todos, mas acho que eu não sei bem o que é o amar universal. Poderia nos dizer o que é este amar e citar alguns exemplos na vida prática?

Posso, é fácil fazer isso...

O que é amar universalmente? É não amar egoisticamente.

Como na prática se sabe que está mando universalmente? Quando você não distinguir “certo” nem “errado”, “limpo” ou “sujo”, “arrumado” e “desarrumado”, “bonito” e “feio”...

Quando você, por exemplo, vê na atitude de outro uma arrumação e gosta, você elogia, mas isso não se traduz em amar universalmente. Isso porque você só elogia o que lhe convém elogiar... Quando vê um “errado” na atitude de outro é porque você não acha aquilo certo. Em qualquer dos dois casos não amou universalmente porque seu estado de espírito amoroso existiu a partir de seus próprios conceitos. Ou seja, amou egoisticamente...

Amar é viver a vida sem aplicar adjetivos a nada e a ninguém. Amar é simplesmente amar e quem ama não vê “feio” ou “bonito”, “certo ou errado”. Quem ama, só ama...

Então, amar universalmente é isso: participar da vida sem colocar adjetivos nela. Isto porque qualquer adjetivo que se coloque é fundamentado no egoísmo, ou seja, é fundamentado no que você acha daquilo...

Participante: Mas, como eu vou amar uma pessoa que pratica o “mal”? Eu não ia estar apoiando esta pessoa...

Mas eu acabei de dizer que não se dá adjetivos. O “mal” é um adjetivo que você coloca a algo que é perfeito que vem de Deus...

Quanto ao apoiar, eu não falei que deve apoiar qualquer pessoa, mas que deve amar a todos. O ato de apoiar só ocorre quando há um “certo” presumido, mas eu não estou falando em “certo”, mas em perfeito. Eu, como Cristo, estou afirmando que o “bem” e o “mal” são frutos do amor de Deus que são adjetivados a partir dos conceitos humanos e pela ação egoísta como tal...

Para poder viver isso, eu não julgo ou acuso, mas também não elogio. Vivencio tudo na neutralidade, ou equanimidade como Krishna chama este estado de espírito.

Foi assim Que Cristo viveu ou você acha que ele morreu com raiva de quem enfiou a lança nele ou dos doutores do Cinéreo que o acusou? Claro que não...

Mas ao não ter raiva deles, o mestre não compactuou com as ações por eles praticadas. Ele compactuou com Deus que estava fazendo aquilo acontecer...

Participante: Isso é difícil demais...

Sim, para o ser humano é difícil demais amar, mas para o espírito ou para aqueles que, como Cristo, se abstém de ganhar e levar vantagem nos acontecimentos da vida, não.

Evangelhos canònicos - Textos

Interpretações

Participante: Por que Cristo não mostra clareza no que fala e deixa a interpretação a quem lê? Existem milhares de interpretações. A pessoa não vai saber o verdadeiro sentido para interpretar o que Cristo quis dizer. Por que isso?

Antes de qualquer coisa deixe-me lhe dizer que ninguém interpreta o que lê. As interpretações são criadas pelo ego através de pensamento. Para quê? Para gerar individualidades que são a prova de cada ser humano.

Portanto, Cristo falou em parábolas justamente para que cada personalidade humana pudesse fazer a sua livre interpretação. Ele agiu desta forma para que houvesse a múltiplas interpretações do texto e com isso possibilitar a prova do ‘eu sei’. Se cada um acredita saber alguma coisa (crê na interpretação que a mente humana cria) eis aí uma boa prova: amar e respeitar a interpretação do outro ou discutir para provar que está certo.

Mas, ele também disse assim: o primeiro e maior mandamento que você deve se entregar de corpo, mente, alma e espírito é amar a Deus sobre todas as coisas; e o segundo ao qual também deve se entregar completamente é amar ao próximo como a si mesmo. A partir disso lhe afirmo que não importa que compreensão você tenha, ame a Deus acima dela; não importa que compreensão tenha, ame ao próximo acima dela. Quem se apega a uma interpretação para criar uma verdade não cumpriu nem o primeiro nem o segundo mandamento.

Portanto, Cristo falou por parábolas justamente para isso: para ver se o ser humanizado vai ficar procurando interpretações ou se irá simplesmente amar. Para complementar esta visão posso ainda lhe citar mais um ensinamento de Cristo: louvado seja Deus que esconde do sábio, ou seja, aquele que sabe interpretar, o que mostra aos simples, aquele não sabe nem ler, mas ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Apesar de lhe dizer tudo isso, afirmo: Cristo não poderia ser mais claro do que foi.

Evangelhos canònicos - Textos

Apego à vida material

Participante: Qual o nosso maior fator de não aceitar e acreditar tanto na vida espiritual? Medo, descrença, educação ou amor mesmo.

É o apego à vida material. Aliás, excelente pergunta, porque este é o tema de hoje. Mas, de início lhe digo que aquele que reluta em aceitar os valores universais é porque tem apego à vida material, ou seja, quer estar vivo dentro dos valores da humanidade.

Entre o povo que tinha ido a Jerusalém para tomar parte na festa, havia alguns gregos. Eles foram falar com Filipe, que era da cidade de Betsaida, na Galiléia, e pediram: Senhor, queremos ver Jesus. Filipe foi dizer isso a André e os dois foram falar com Jesus. Então ele respondeu: Chegou a hora de o Filho do Homem receber grande glória. Eu afirmo a vocês que se o grão de trigo não for lançado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo.

Aí está o ensinamento de Cristo: se o grão de trigo não morrer sob o solo, ele não germinará; mas se morrer, servirá de alimento para outros. Ou seja, somente o desencarne – aquilo que a humanidade chama de morte – que trás a confirmação do resultado do trabalho na encarnação: a elevação espiritual.

Durante a existência carnal não se pode falar nada sobre ninguém. Um grão de trigo que não esteja sob a terra não serve para nada. É preciso de ele morra para que só aí floresça.

Os seres humanizados têm o hábito de classificar pessoas pelos seus atos materiais. Por exemplo: afirmam que Chico Xavier foi um santo por causa dos atos que ele praticava. Mas, o ato não existe, é maya, é ilusão. Trata-se apenas de uma ilusão criada por Deus através da Causa Primária de todas as coisas, a Inteligência Superior que administra as inteligências inferiores. Se levarmos em conta apenas os atos, temos que dizer que o santo não era o Chico Xavier, mas sim Deus.

O que interessa para Deus e o Universo não são os atos que cada ser humanizado pratica, mas a intenção com que cada um vivencia a ação que Deus cria. Isso só se conhece realmente, ou seja, o ser só se liberta da ilusão criada pelo ego qualificando as ações (pensamentos) depois do desencarne.

Enquanto encarnado, o ego do ser humanizado apegado ao egoísmo vai criar razões que justificarão a intencionalidade de cada um. Vou dar um exemplo onde isso fica bem claro...

Havia uma pessoa que quando afirmei que a intencionalidade de todo ser humanizado é o egoísmo, ela me disse que não era egoísta. Querendo saber porque ela se considerava não egoísta ouvi-a dizer que ela se preocupava com os outros. Para mostrar a sua preocupação falou de outra pessoa que ali participava da conversa. Disse que se preocupava com aquela pessoa porque ela continuava fumando apesar de já ter tido diversos problemas no coração.

Explorando o assunto perguntei: qual o problema dela continuar fumando e morrer. Todos não vão morrer um dia? A resposta da pessoa que não se considerava egoísta: Porque se ela morrer eu sentirei saudades...

Repare: aquilo que parecia ser um ato altruísta, um pensamento no outro, na verdade estava amarrado a uma intencionalidade egoística. Ela estava preocupada apenas com ela e não com o outro.

Isso é fácil para nós aqui, mas não era para ela. Por quê? Porque a autoconsciência da ação egoísta só acontece ao ser depois do desencarne. Quando o ser se livra da influência que justifica a ação egoísta pode, então, florescer.

É isso que Cristo está dizendo aqui: o grão de trigo só terá valor quando for enterrado e morrer, porque aí florescerá.

Portanto a morte, o desencarne, não é o momento ruim, de desgraça, mas sim de júbilo para aquele que sabe que era antes de nascer. Que sabe que era um ser universal, que continua universal durante a humanização apesar de estar iludido pelo egoísmo do ego, e que sabe que sempre estará universal.

Mas, para poder entender isso é preciso lembrar-se de outra coisa que cristo ensinou: meu reino não é deste mundo. A partir desta convicção o ser humanizado pode despreocupar-se com o prato de comida, pois sabe que ele não é do seu mundo. Não se preocupará em ganhar um salário melhor, porque o salário não pertence ao mundo dele. Aquele que alcança esta consciência vai se preocupar sim com outro ensinamento de Cristo que afirma que é preciso ter óleo suficiente na lamparina para que quando o noivo chegue possa adentrar no recinto do casamento.

Este é o primeiro aspecto do ensinamento de Cristo que queria falar hoje: você só se conhecerá e só poderá ajudar realmente o próximo depois que estiver morto, fora da carne, livre da consciência dual, da personalidade humana que cria justificativas para a intencionalidade egoísta.

Quem ama a sua vida, vai perdê-la; mas quem não se apega à vida neste mundo vai conservá-la para a vida eterna.

Neste trecho Cristo diz: quem quiser manter sua vida irá perdê-la. Querer manter a vida é trabalhar para ganhar dinheiro, estudar para ter uma projeção social, querer pertencer a grupos para ter amizades... Enfim, viver a vida pelos valores materiais. Quem quiser viver assim, perderá a vida.

Não que irá morrer, desencarnar, mas perderá a vida no que ela é de verdade: uma encarnação, uma oportunidade de elevação espiritual. Portanto, quem quiser viver a vida pelos valores materiais perderá esta oportunidade.

É isso que Cristo está querendo dizer. Mas, diz mais: quem não ligar para a vida, receberá a vida. Ou seja, quem não se apegar aos valores materiais de uma existência humana, receberá a existência eterna. Ganhará a vida, a elevação espiritual.

Agora sim posso responder plenamente a pessoa que me fez a pergunta que deu origem a esta conversa. Por que é tão difícil acreditar na vida espiritual? Porque está apegado à vida humana e quem vive a existência carnal desta forma não tem condições de vivenciar o seu lado espiritual. Aquele que na primeira dor de cabeça em tomar o remédio para melhorar – não se trata de tomar ou não, mas da intencionalidade com que faz, a preocupação - vai perder a elevação espiritual, pois quer viver a vida: estar bem de saúde. Antes que vocês digam que estou exagerando, que ninguém pode perder a elevação espiritual apenas porque toma um remédio para melhor a saúde, eu digo que sim, que isso pode acontecer. Entendam: não há pequenos detalhes que não importem na vida para a elevação espiritual.

Compreendam: não existe vida humana, só há a encarnação de um ser universal. Os seres universais não vivem uma vida humana, mas se ligam a personalidades transitórias que são conhecidas como ser humano. Estes seres estão assim para realizar provações, para vivenciar carmas que correspondem às intencionalidades e vivenciando estas coisas de forma desapegada libertar-se do egoísmo. Os seres universais não vêem ao mundo carnal para viver, para curtir as coisas deste mundo.

Essa é uma reflexão que todo ser humanizado precisa fazer: o que eu quero para mim? O que você quer para você? Quer viver a vida, ter uma família unida, ter um emprego bom – não estou dizendo que não possa ter, mas querer? É esse o seu objetivo, é este o seu anseio? Sendo, perderá a outra vida, pois como o próprio cristo também ensina não se pode servir a dois mestres ao mesmo tempo: ou você serve ao dinheiro, mundo material, vida material ou serve a Deus.

Não tem como se coadunar o desejo de ter um bom emprego, de ter um salário no fim do mês – não estou dizendo que não possa ter, mas sim do desejo de ter -, de ter uma família unida, organizada, onde todos se respeitem com a busca espiritual. Não há como ter estes desejos e ao meso tempo querer a elevação espiritual.

As duas coisas são como água e óleo: não combinam. Família, emprego, posição social e dinheiro não pertencem ao mundo de Deus.

Alcançar a elevação espiritual, a consciência crística, é muito difícil para o ser humanizado porque ele ainda não compreendeu que é necessário fazer uma profunda reflexão sobre o que é a vida e a partir dela, usando o seu livre arbítrio espiritual, optar entre a elevação espiritual ou a vida material. Sem a conscientização nascida desta opção, o ser humanizado será conduzido pela personalidade humana (ego) para viver a vida e neste momento perde a vida espiritual.

Participante: Em Mateus, 6,33 há o seguinte texto: buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e todas as demais coisas o serão acrescentadas. Um folhetim da Igreja Universal dá a seguinte interpretação para este trecho: não será um casamento, um emprego ou um carro que o fará feliz, mas se você for feliz poderá desfrutar dessas bênçãos como ninguém. Isso é uma interpretação de alguém, mas se no reino de Deus não há casa nem casamento, como fica a esperança dessa pessoa?

Mas, é o que eu falei. Sendo colocado como primeira opção o casamento, o carro o emprego não ganhará na vida eterna. Isso porque a única coisa que há para se ganhar na vida eterna é a felicidade incondicional, o estado de graça.

Agora, se você consegue este estado de graça (a felicidade incondicional), realmente conseguirá aproveitar o casamento, a casa e o emprego muito melhor do que quem não tem. Aquele que não prioriza a sua relação com Deus nos acontecimentos da vida e por isso vive as conquistas materiais em primeiro plano, quando o carro quebra fica com raiva, quando a mulher o contraria sente-se traído e quando perde o seu emprego não se desespera. Quem está em estado de graça, ou seja, vive a felicidade incondicional porque priorizou antes de tudo sua relação com Deus, não vai vivenciar estas coisas.

Mas, isso está no texto que você leu: se você for feliz poderá desfrutar dessas bênçãos como ninguém. O problema é o que é desfrutar para você. Para aquele que prioriza a sua relação com Deus o desfrute depende de ser contentado, satisfeito, pelos anseios humanos. Já aquele que prioriza os valores humanos na sua existência, para ele o desfrute será esperado satisfazendo todas as suas condições, todos os seus desejos.

Portanto, nas palavras, tanto o texto evangélico quanto um preto velho de umbanda que trabalha na linha do monismo falam a mesma coisa: aquele que prioriza as coisas espirituais sobre as materiais alcança maior felicidade ao vivenciar acontecimentos humanos.

O que estou tentando dizer é que para se vivenciar o lado espiritual não é necessário morrer, mas sim viver com o objetivo espiritual em primeiro plano. O que estou tentando dizer é que o ser humanizado que prioriza a sua relação pode ter um carro. A diferença entre este ser e aquele que prioriza os anseios humanos, é que o primeiro vivenciará todos os acontecimentos do carro, bons ou maus, em paz, sem perder a sua tranqüilidade, enquanto que o segundo dependerá sempre do que acontecer com o carro para viver assim. É este o resultado da opção por priorizar a vida espiritual e não a pobreza, como muitos pensam.

Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver ali ele estará também. E o meu Pai honrará quem me serve.

Quem quiser me servir, siga-me...

Quem é Cristo? Segundo João é o Verbo. Verbo é a ação de uma frase. Portanto, Cristo é a ação da vida. Esta ação marcou-se o tempo inteiro pela prática do amor incondicional. Portanto, quem quiser servir ao mundo espiritual, que ame incondicionalmente: isto oi o Cristo disse nesta frase.

Não se serve ao mundo espiritual queimando incensos em louvor a Deus. Não se serve ao mundo espiritual dando prato de comida ou cobertor aos necessitados. Não se serve ao mundo espiritual indo a igreja, ao centro ou ao templo. Não se serve ao mundo espiritual trabalhando mediunicamente. Serve-se a este mundo simplesmente amando incondicionalmente...

Quando falo que não se serve realizando atos, não estou falando contra os atos. Aquele que vive para o serviço ao mundo espiritual pode realizar todos os atos, mas para ele não é ação em si que importa, mas a intencionalidade com que se vivencia a ação. Aquele que serve ao mundo espiritual vivencia as suas ações independente de suas vontades e sem pró ou contra nada.

Essa é uma realidade que os seres humanizados precisam compreender. A beata que não sai da igreja porque acha melhor estar lá, não serve a Deus. O médium que não falta a nenhuma sessão do centro espírita porque gosta da gira, não serve a Deus. Os espíritas que organizam campanhas de doações aos necessitados não servem a Deus se naquele e em outros momentos estiver amando incondicionalmente.

Este é o grande recado de Cristo. Ninguém serve a Deus porque faz um carinho em outra pessoa, porque quando se faz isso apenas porque gosta da pessoa ou porque acha que deve fazer não está se amando ao outro, mas a si mesmo, pois está fazendo aquilo que gosta, que acha certo, que quer. Mesmo que o ser humanizado diga que neste momento está amando, não está, pois este amor não incondicional.

Quando o ser humanizado faz um trabalho mediúnico porque acha que ele é importante, não está servindo a Deus, está servindo a si mesmo, ao seu achar importante. Quando o ser humanizado faz campanhas de doação porque tem pena dos necessitados, não está servindo a eles, mas a si mesmo: à sua pena. Quando freqüenta o culto de uma religião porque acha que nele pode ganhar (alcançar mais paz, mais elevação espiritual) não está servindo a Deus, mas à sua própria busca.

Este é o recado de Cristo. Não importa o que o ser humanizado faça, não importa que situação ele esteja vivenciando: acabe com as condições do amor. Deixe de amar porque, para que, quando e onde e simplesmente ame. Para alcançar este ‘simplesmente ame’, ou seja, ser pobre de espírito, é preciso que o ser humanizado compreenda que qualquer opinião ou desejo seu acaba com a incondicionalidade necessária para o amor.

Mas, Cristo diz mais neste pedaço. Ele fala assim: e Deus honrará quem me serve.

Dar honras a um ser universal não é dar medalha, colocar fotografia numa galeria ou dizer que ele é melhor do que os outros. Dar honra a um espírito é aproximá-lo de Deus. Mas, isso não acontece fisicamente, mas sim na compreensão. Aquele que busca a incondicionalidade evitando saber alguma coisa passa a saber tudo, sem nada saber...

É isso que Cristo está ensinando. Esta é a honraria maior que um ser universal pode receber: receber de Deus a compreensão que nada para ser sabido...

Participante: Quanto à questão do amor incondicional, como saber se é o ego ou a pessoa que está sabendo? Seria simplesmente dizer não sei a tudo?

São duas coisas que você me pergunta.

Primeiro: como saber se é o ego que está lhe dando a raiva, a tristeza ou a decepção com outra pessoa. Esta questão é muito simples: quando estas emoções ou sensações forem acompanhadas de uma compreensão racional – eu não gosto de fulano por causa disso, estou sofrendo porque não gostei do que aconteceu, tal pessoa me decepcionou porque fez isso – é sempre do ego. Isso porque há uma compreensão racional que justifica o sentir.

Portanto, tudo que contiver uma motivação, seja pensamento ou emoção, é carma. Ou seja, ter raiva de uma pessoa é o seu carma e o de quem recebe esta emoção, pois você se transforma num instrumento dela.

Segunda pergunta sua: como conviver com este carma (ter raiva de uma pessoa) para conseguir a consciência crística? Diga para si mesmo: to com raiva sim, e daí? Compreenda: o ser humanizado não pode fazer nada contra as emoções ou sensações que a personalidade humana cria. O máximo que ela pode fazer é não vibrar na mesma sintonia.

Para isso é preciso que você tenha a consciência de que a raiva não é sua, mas sim uma criação da personalidade humana para você se você entra na dele, ou seja, vibra na mesma emoção. Quando isso acontece o ego continua a colocar motivações (é mesmo, aquela pessoa fez isso de propósito, fez para me machucar mesmo) para servir de justificativa para que você continue vibrando naquela emoção.

Quando o ser humanizado aceita como dele aquilo que a personalidade humana cria, esta sempre irá inventar novas razões que justifiquem a emoção. Continuando a compactuar com estas idéias, a personalidade humana aumentará a potência da emoção e o ser humanizado cada vez ficará mais negativado.

Portanto, saiba que a realização da consciência crística não é não ter raiva de ninguém, mas aprender a conviver com ela sem dar a ela valor algum. Ter a raiva é carma, conviver com ela sem lhe dar valor algum é alcançar a elevação espiritual.

Compreendam: não queiram ser diferente daquilo que são. A reforma íntima não é na verdade uma transformação da personalidade humana, mas a mudança na forma como o ser humanizado convive com ela. A reforma íntima consiste-se em alterar a forma como se convive com a personalidade humana: viver sem estar subjugado àquilo que a personalidade humana diz que o ser humanizado precisa sentir ou pensar.

Participante: Só poderemos amar incondicionalmente quando acabarmos com o ego, pois as condições são dele. Mas a personalidade humana sempre existirá na vida carnal e por isso sempre iremos amar de acordo com as condições do ego?

Se você fala neste amar de uma forma racional, eu sei que eu amo, sim, só amará condicionalmente porque está preso à personalidade humana. Mas, neste caso, não está amando a outra pessoa ou coisa, mas sim ao ego.

Amar ao próximo de uma forma incondicional é diferente do que o ser humanizado entende por amor. Um ser ama o próximo simplesmente quando ele não aceita a opinião que a personalidade humana dá sobre o próximo, seja boa ou má.

Dizer que uma pessoa é bonita não é amar a ela, mas aos seus próprios padrões de beleza. Isso é egoísmo...

Portanto, durante a existência carnal, mesmo com a personalidade humana em ação, o ser humanizado pode amar incondicionalmente sim: basta não querer amar, não aceitar os padrões de amor que a personalidade humana cria.

Encerrando, digo que o grande alerta de hoje está baseado na primeira pergunta: por que ninguém quer morrer, mesmo acreditando piamente na existência de um mundo espiritual ativo? Porque não optou em servir a Cristo e a Deus.

Este é um alerta constante nos ensinamentos de Cristo. Aliás, nos estudos que estamos realizando sobre os textos bíblicos, esse tema tem sido uma constante: o alerta de que é preciso uma tomada de posição durante a existência carnal sobre de que forma se vivencia os acontecimentos carnais.

Esta tomada de posição é fundamental porque o dia chegará, disso não tenham dúvida...

Evangelhos canònicos - Textos

A coisa mais importante dessa vida

Ai de vocês, guias de cegos, que ensinam assim: se alguém jurar pelo templo não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se alguém jurar pelo ouro do templo é obrigado a cumprir o que jurou. Qual é mais importante: o ouro ou o templo que santifica o ouro? Também ensinam isso: se alguém jurar pelo altar não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se jurarem pela oferta que está no altar, então é obrigado a cumprir o que jurou. Cegos, qual é mais importante, a oferta ou o altar que santifica a oferta?

O que é mais importante: o ouro ou o templo que o santifica? O que é mais importante para você: a sua casa ou o Deus que a santifica? Esta é a pergunta que Cristo faz aos seus seguidores de então, mas que também continua fazendo aos de hoje... Responda...

Para os seres humanizados eu sei que é a casa. Eles se preocupam antes de qualquer coisa em ter uma casa, porque não imaginam como pode se viver sem tê-la. Se ele estiver sem casa vai sofrer, chorar, ranger os dentes. Mas, o que é mais importante: ter uma casa ou ter Deus, ter um carro ou ter Deus ao seu lado?

Santificar o ouro é dar a ele um valor espiritual, dar um valor santo às coisas do mundo. Não se trata de santificar o ouro, mas sim em dar a ele o seu valor universal.

Durante todo esse tempo estamos falando que não existe vida material, mas sim existência espiritual que se vivencia em diferentes planos. Se isso é verdade, é preciso que o ser humanizado santifique a vida material. Para isso, não estou dizendo que não se pode ter casa, mas sim ter uma casa no seu sentido espiritual.

Ter uma casa dentro deste sentido é não possuir a casa (‘ele é minha’), mas habitar um lugar que pertence a Deus. É saber que a casa está sob sua guarda por empréstimo feito por Deus e que Ele pode dispor dela da forma que quiser: jogá-la abaixo, sujar a parede, inundá-la, etc. Quem convive com a casa onde mora numa relação espiritualizada, mora nela, mas não se diz capaz de definir o seu destino, pois sabe que é apenas um locatário e não um proprietário.

Mas, os seres humanizados não vivem assim: se imaginam proprietários do imóvel. É por isso que quando aparece um defeito na casa ele diz que ela não presta. Quando está velha, diz que não serve para nada. Isso porque o ser humanizado vive a casa sem santificá-la. Ele não dá o valor espiritual a casa, mas a utiliza pelo ouro, pela matéria. Se ela estiver bonita, limpa e arrumada, os ser humanizado gosta dela, mas se isso não acontecer, não gosta mais dela.

É por não dar o valor espiritual à casa que Deus, o proprietário, despeja o ser humanizado. Como vive pelo ouro, este ser, então, xinga a Deus com o seu sofrimento. Mas, que culpa tem Deus disso? Ele teve que tirá-lo de lá porque ele não estava satisfeito com ela, não convivia harmonicamente com a casa no estado que estava.

O ser humanizado vive pelo ouro do templo e não pelo próprio templo. Se Deus lhe dá um carro ele já quer um modelo mais novo, com mais acessórios; se o Pai lhe dá uma roupa, o ser humanizado diz que ela está fora de moda e quer outra; se o Senhor lhe dá um salário, o ser humanizado reclama dizendo que é pouco e que quer mais. É isso que é viver o ouro do templo.

Aquele que busca a consciência crística age ao contrário, santifica o ouro do templo: se o carro está velho ou sem novas tecnologias, o ser humanizado vive com ele em paz; se a roupa está gasta ou puída, vive harmonizado com ela; se o salário é pouco, vive com felicidade o pouco que pode desfrutar. Quem vive assim esta usando o ouro de uma forma santa, ou seja, está amando tudo que tem no estado que está e contendo o que contêm.

O ser humanizado não aceita o que tem. Está sempre buscando mudar aquilo com o que convive para satisfazer os seus conceitos de bom, certo, moderno, melhor. Santificar o que tem é vivenciar em paz, harmonia e felicidade o que tem sem achar que merece mais ou melhor. Santificar o ouro é agradecer a Deus tudo o que tem.

Não se está falando aqui em não ter desejos de outras coisas. O desejo é inerente ao ser humanizado. Ele sempre irá querer além daquilo que tem. Isso é algo normal e aquele que vivencia a consciência crística também quer, mas vivencia o que tem santificando-o, ou seja, convivendo com o que tem neste momento de uma forma harmônica, enquanto quem não santifica o ouro sofre com o que tem.

Além de falar em santificar o ouro, Cristo nos diz ainda que aquele que tem a consciência crística santifica a oferta. O que quer dizer isso?

A oferta a Deus é a existência que o ser humanizado vivencia. A vida humana de um ser é uma oferta ao Senhor.

Aquele que santifica a sua oferta a Deus vive harmonizado com aquilo que tem. Aquele que santifica o altar ao invés da oferta vive sempre buscando ter mais do que tem.

Quem só tem um prato de comida simples para comer, mas louva a Deus por isso santifica a sua existência. Aquele que sofre porque só tem um prato para o dia inteiro e quer fazer todas as refeições santifica o altar e não a oferta.

Estes são os dois ensinamentos de Cristo neste trecho. Mas, a amplitude deste ensinamento pode ser maior se extrapolarmos as possessões individuais e analisarmos o ensinamento na vida societária.

O que é santificar o ouro e o altar no tocante a convivência com os outros? É aceitar tudo o que o outro faz sem críticas, sem julgamentos. Quem santifica o ouro e o altar vive harmonicamente com o próximo mesmo que ele não faça ou não diga aquilo que o ser humanizado espera dele.

É isso que Cristo está dizendo. Aquele que alcança a consciência crística santifica, ou seja, vive harmonicamente, tudo aquilo que possui e tudo aquilo que os outros fazem para ele.

Existe algo que já falamos aqui e que os seres humanizados esquecem: se alguém não fizer algo contra ele ou se sua existência estiver perfeita dentro dos seus padrões individuais, não existe elevação. Alcançar a consciência crística depende totalmente do que se vivencia, pois ela é o resultado da santificação que se faz destas coisas.

Sabe, o seu filho deixar um quarto bagunçado é lhe dar a oportunidade de elevação... Uma pessoa lhe contrariar, dizer que você não sabe nada, lhe ofender, morar numa casa que não se gosta, ter algo que se acha atrasado, é oportunidade de elevação.

Tudo o que ser humanizado tem e vivencia é uma ação que dá a oportunidade do ser humanizado santificar a sua existência. Pergunto: se o ser universal não passar por estas coisas, para que encarnou. Para se divertir? No Universo, o ser universal se diverte de outras formas.

O ser humanizado precisa compreender que tudo o que tem e vivencia é necessário para que ele se liberte dos conceitos com que vive. Alcançar esta consciência é santificar tudo o que tem e todos os atos que as pessoas praticam à sua frente. Isso é santificar o ouro. Quem não vive assim, simplesmente utiliza o ouro, ou seja, sobrevive, passa pela vida.

Sem compreender que cada pessoa com a qual o ser humanizado convive faz exatamente o que ele precisa para a sua elevação espiritual, ele não santifica o ouro e o altar, ou seja, a sua oportunidade de encarnação. Quem não age assim vive na hipocrisia. Vive na falsidade de que o que ele quer e acha correto é o certo para o Universo.

Quem alcança a consciência crística santificando o que tem e o que vivencia não se sente vítima nem tem algoz. Sabe que tudo e todos são instrumentos necessários ao seu trabalho durante a encarnação.

O ser humanizado precisa mudar a visão que tem sobre as coisas e as pessoas do mundo. Precisa acabar com a visão do ouro pelo ouro e começar a ver de uma forma santa o ouro e o altar. Para isso é preciso alcançar a compreensão da santidade do ouro.

Tudo o que existe e acontece é santo. Não importa se estamos falando de uma simples ofensa (‘você é bobo’) ou de um assassinato: tudo faz parte do plano divino para a elevação espiritual de um ser universal. Tudo o que existe e acontece para um ser é o melhor para ele, pois é a justa medida daquilo que precisa para o seu trabalho de alcançar a consciência crística. Nem mais nem menos...

Vida é oportunidade de elevação; é carma em ação: mais nada... Um homem não se apaixona por uma mulher e vive junto com ela. Se estes dois seres humanizados estão juntos é porque cada um é o carma do outro, ou seja, cada um possui os elementos necessários para que o outro possa fazer a sua elevação. Se isso não fosse realidade, jamais estes dois seres teriam se encontrados nem estariam juntos. Para que estariam juntos? Para se divertir? No sentido espiritual, isso seria uma perda de tempo e no Universo isso não acontece...

Será que Deus colocaria dois seres convivendo juntos para que eles pudessem gozar o prazer de estarem juntos? Isso, no sentido da existência eterna, seria uma perda de tempo... Sobre isso, deixe-me dizer uma coisa: Deus não perde tempo, até porque Ele não tem tempo para perder... O que Ele quer é resolver a questão da elevação de cada ser. Fazer isso é dar a cada o que merece e precisa para realizar o trabalho necessário para alcançar a consciência crística.

Participante: Não há algo que um ser possa gerar por sua vontade mesmo que não esteja programado para o trabalho da elevação espiritual?

Impossível... Existe um Senhor que é onipotente, onipresente e onisciente e que por isso comanda pessoalmente todo o programa do trabalho da elevação espiritual.

O ser humanizado pode ter a ilusão de achar que faz o que quer, mas isso não pode acontecer. Sendo isso possível, pelo objetivo que lhe move (viver o ouro pelo ouro) e que é diferente de quando não humanizado, o ser não realizaria o trabalho necessário para a evolução.

Sendo isso verdade, não existe nada errado. Tudo que acontece e o que o ser humanizado possui é sempre uma oportunidade para que ele possa conhecer os conceitos que possui sobre os elementos do mundo e libertar-se deles. Tudo está sempre perfeito segundo a intenção de Deus: que o ser universal possa prosseguir na sua caminhada eterna. Apesar disso afirmo que apenas Deus conhece realmente a necessidade de cada um.

O ser quando se conscientiza de que a sua jornada humana é escrita por Deus para a sua elevação quer saber porque está trilhando este ou aquele caminho, mas isso é impossível. O ser humanizado não pode perscrutar as ações de Deus: só pode santificá-las ou não.

Evangelhos canònicos - Textos

A cura

- Quem foi que tocou a minha roupa?

...

- Minha filha, você sarou porque teve fé. Vá em paz; você está curada.

Essa citação bíblica fala de uma mulher que se curou de uma longa doença (doze anos). O Mestre afirma que ela foi curada não por ele, mas pela sua própria fé. Como vimos no tema cura, esse é o fator preponderante para ser curado.

Entretanto, neste trecho existe um detalhe importante de analisarmos: Cristo não pratica ato algum para que aconteça a cura. A mulher apenas toca na barra da sua roupa e está curada. Na verdade, o mestre nem sabe quem tocou na sua roupa: apenas pressente que houve uma cura.

Fica, portanto, o ensinamento: não existe necessidade de fatores externos para que a cura seja alcançada, mas apenas a mudança dos sentimentos internos para a confiança em Deus.

Não existe a necessidade de médicos, médiuns, padres, pastores ou qualquer outro tipo de intermediário entre o ser humano doente e Deus para que a cura seja alcançada. Esse processo se dá dentro do interior de cada um com a promoção da reforma dos sentimentos e com a confiança que Deus dará a cura.

Para se curar de um mal não existe necessidade de novena, rezar terço, penitência, energização ou qualquer outra atitude externa. Ela é alcançada quando o espírito pratica a lei de Deus: amar a Deus, a si e aos outros. Este amor é o remédio eficaz para qualquer doença. Para que isto se concretize, existe a necessidade da confiança e entrega total a Deus como Causa Primária das Coisas.

O ser humano pode, pelo seu grau de evolução, necessitar de médiuns, de imagens ou objetos para curar-se, mas para que se reforme totalmente, é preciso não creditar a esses instrumentos a sua cura. Participar do universo é compreender que estes elementos são apenas instrumentos da ação de Deus. Acreditando nas coisas materiais estará entregando a eles a causa primária e, portanto, colocando-as no lugar de Deus.

As coisas materiais servem de canalização das ordenações divinas para que o espírito possa escolher entre amar a Deus ou aos “instrumentos”. Na verdade, a utilização de coisas materiais nos processo de curas torna-se mais uma prova para o espírito: encontrar Deus como Causa do instrumento material da cura.

Utilizando-se este mesmo raciocínio para o remédio, que é uma forma material igual à estátua ou ao terço, a sua ingestão deve ser feita não esperando que ele faça o efeito, mas acreditando que Deus agirá por ele para promover a cura. As formas materiais são percepções para que o espírito possa praticar a sua fé.

 Por analogia, podemos dizer também que não são os locais que podem promover a cura. Não existe necessidade de se freqüentar centros, igrejas, templos para se alcançar à cura: em qualquer lugar o espírito pode curar-se, desde que promova a sua reforma íntima com fé em Deus.

Desta forma, as promessas, novenas, lugares santos, águas milagrosas sozinhas de nada fazem efeito sem a reforma e a fé, assim como o remédio, a operação ou os exames. Tudo isto e mais os médicos, os médiuns, os padres, os pastores envolvidos são apenas instrumentos que Deus utiliza para dar a quem “merece” o seu merecimento.

Com estes ensinamentos podemos então concluir que o espírito na carne pode receber uma cura de mal físico, sem precisar ser religioso ou freqüentar algum local de culto: para tanto basta viver com felicidade, na satisfação ou insatisfação, promover a felicidade de seus irmãos através da aceitação das pessoas como são, criando, assim, uma igualdade entre todos.

Todas as pessoas que foram curadas pelo Mestre sempre receberam a informação de que isto aconteceu por causa de sua fé e não pela interseção dele. Mesmo que Jesus não houvesse vindo á matéria densa, elas seriam curadas, pois tinham o merecimento. O Mestre serviu apenas de canalizador do desejo de Deus face ao merecimento individual.

Evangelhos canònicos - Textos

Doação do eu

Ai de vocês, professores da lei e fariseus hipócritas! Pois dão a Deus a décima parte até mesmo do hortelão, da erva-doce e do cominho, mas deixam de obedecer os ensinamentos mais importantes como a justiça, a bondade e a obediência a Deus. Vocês deviam fazer essas coisas sem desprezar aquelas. Vocês deviam fazer estas coisas, sem desprezar aquelas. Guias cegos! Coam um mosquito, mas engolem um camelo.

Os seres humanizados oferecem a Deus até dez por cento de tudo o que é seu, materialmente falando, mas são incapazes de entregar qualquer coisa que seja do seu próprio íntimo, de seu interior. É isso que o Cristo está ensinando.

Os seres humanizados são até capazes de dizer, da boca para fora, que quem lhes deu a casa foi Deus, mas são incapazes de dar um pequeno pedaço que seja da posse a Ele. São capazes de dizer que ‘graças a Deus’ possuem um carro, mas não dão nem a buzina para Ele. Tudo é do ser humanizado...

É isso que Cristo está ensinando: é hipocrisia dizer que graças a Deus comprou a casa, mas depois achar que ela é sua. Sendo pela graça de Deus que ela foi comprada, a casa é de Deus. Sendo graças a Deus que o ser humanizado está vivo, a vida dele é de Deus; sendo pela graça do Senhor que o ser humanizado tem filho, ele é de Deus.

Mas, os seres humanos não são capazes de doar a Deus nada do seu interior, apesar de da boca para fora dizerem que tudo o que têm e vivem é alcançado através da graça de Deus.

É por não doarem o que vai ao íntimo, a posse das coisas, que os seres humanizados julgam-se capaz de comandar as coisas que são Dele. Querem comandar o destino das coisas materiais, das pessoas que os cercam e mesmo dos inimigos.

Isso nos faz entender que o ser humanizado vive para Deus sem abrir mão do eu, sem abrir mão de si mesmo. É por vivenciar os acontecimentos desta forma é que Cristo chama os seres humanizados de hipócritas. Sim, viver desta forma é hipocrisia. Enquanto o ser humanizado não abrir mão, doar a Deus, o seu interior não está vivendo para o Senhor.

Para que não seja preciso abrir mão do eu o ser humanizado é capaz de até engolir um camelo, ou seja, é capaz de suportar todos os infortúnios da existência sem conscientizar-se que esperar que a vida lhe traga felicidade depende de uma mudança interna: a doação do seu eu a Deus.

Há quantos anos os mestres vêm ensinando que é preciso abrir mão do eu para poder se tornar um com o Todo? Quantas vezes os seres humanizados já não leram ensinamentos que lhes falasse deste caminho para a consciência crística? Fizeram alguma coisa neste sentido? Não, ao contrário: usaram os ensinamentos dos mestres para fortalecer o eu, ou seja, para dizer que conhecem verdades.

Estes mesmos seres humanos são aqueles que Cristo diz que são capazes de engolir camelos, ou seja, vivenciam sofrimentos seguidamente, mas não mudam a sua forma de vivenciar os acontecimentos. Preferem continuar vivenciando situações com sofrimento a abrir mão de suas verdades, de seus conceitos, de seus padrões de certo e errado, bonito ou feio.

Preferem continuar brigando com quem brigam a muito tempo do que abrir mão do eu, da razão; preferem continuar debatendo assuntos para provar que estão certos do que abrir mão do eu, da idéia de estarem certos; preferem continuar sonhando em ganhar, conquistar, ter, do que abrir mão do eu, viver com felicidade aquilo que têm. Os seres humanizados preferem continuar absorvendo os sofrimentos, dizendo que ele é inerente ao ser humanizado, para não ter que abrir mão do eu: das verdades, dos conceitos, das posses, das paixões e desejos.

Pior: ainda dizem que fazem isso por amor próprio, por amor a si. Acreditam que não podem abrir mão do eu para poder ser alguém. Na verdade fazem isso não por amor a si, mas por causa da natureza egoísta do ser humanizado. Fazem isso para poderem ganhar, para poderem ter prazer, para serem reconhecidos e ganharem elogios.

Os seres humanizados não abrem mão do eu porque têm medo de perder, de serem considerados bobos. Mas, quem foi o maior bobo da história? Cristo... Ele tinha tudo para ser o rei dos reis, mas acabou pendurado numa cruz; tinha tudo para dominar a todos e a tudo, mas deixou-se dominar por uma pequena quantidade de soldados.

Os seres humanizados dizem que querem alcançar a consciência crística, mas não fazem o primeiro trabalho para isso: a doação do eu. Por isso não conseguem...

Imagine se um ser humanizado defensor do eu atingisse a consciência crística e tivesse todo o poder que o mestre tinha? Imagine se esse ser humanizado conseguisse saber tudo o que a outra pessoa estivesse pensando, que tivesse feito? Imagine se ele possuísse o poder de persuasão que o mestre tinha? Será que este ser humanizado se entregaria à cruz ou construiria um império para sentar no trono e reinar sobre os outros? Por isso Cristo ensina: louvado aqueles que forem bobos, pois dele será o reino dos céus.

A maior prova de amor por si mesmo que o ser humanizado pode dar é honrar a encarnação que está tendo.

Nenhum ser humanizado pensa porque está vivo naquele momento. Ele vive sem pensar porque nasceu, porque Deus o mandou a este nível de consciência, porque acordou de manhã ou porque inspirou e expirou oxigênio, o que lhe dá um novo momento de vida. Para que tudo isso acontece? Para que o ser humanizado continua vivenciando esta existência? Já pensaram nisso?

Deus faz tudo isso para que o ser humanizado possa vivenciar as suas provas e através da doação do eu unir-se a Deus (Todo) e assim vivenciar a consciência crística. Ou seja, fez o ser humanizado começar a existir (nascer) e o mantém existindo para que, através do convívio com outras pessoas, possa receber palavras e ações que ofendam suas verdades, conceitos, desejos e paixões para que este ser compreenda que se mantiver-se apegado a estas coisas sofrerá. Ter esta consciência a cada acontecimento da existência é honrar a encarnação.

Aliás, mesmo que o ser humanizado não se preocupe com a elevação espiritual, deveria viver assim em agradecimento a Deus por tê-lo acordado nesta manhã ou tê-lo feito inspirar e expirar oxigênio no último momento. Deveria doar o seu eu ao Pai mesmo que não busque aproximar-se Dele, em louvor a Ele por ter mantido-o na carne enquanto muitos seres universais esperam a sua oportunidade de encarnar.

Apesar de Deus fazer tudo isso pelo ser, o que ele faz com o dia? Vivencia-o apegado ao eu buscando sempre solidificá-lo através da vitória sobre os demais. Pior: ainda diz que tem que fazer isso justamente para ser feliz, por amor a si mesmo. Vivem assim porque os seres humanizados não fazem a mínima idéia do que este proceder faz a ele mesmo... Mas, isto é assunto para outra vez...

Evangelhos canònicos - Textos

Pai, mestres e líderes

Vocês não devem ser chamados de mestres porque são irmãos uns dos outros e têm somente um mestre. E aqui na Terra não chamem ninguém de pai, porque vocês têm somente um pai que está no céu. Nem devem chamar ninguém de líder, porque vocês têm um líder: o Messias. Dentre vocês o mais importante é aquele que serve. Quem se engrandece será humilhado; quem se humilha será engrandecido.

Não chamem ninguém de mestre, pois esta figura não existe. Cada ser humanizado é irmão do outro e todos estão ligados a um mestre.

Este ensinamento à primeira vista é fácil de entender: não chame ninguém de mestre. Mas, tem algo mais por trás disso: não queiram ser mestre de ninguém...

Não chame ninguém de mestre, mas não busque a posição de mestre para você. Isso faz parte da consciência crística. Aliás, uma parte importante, pois o ser humanizado vive buscando ser líder, ser mestre, ser o certo, aquele que sabe o que os outros têm que fazer.

O que pode ser considerado como reforma íntima é exatamente cada um buscar destruir dento si as leis que lhe fazem buscar a posição de mestre, as leis que automaticamente levam o ser humanizado a querer ser mestre dos outros. Não há como reformar mais nada. De nada adianta, por exemplo, o ser humanizado querer ser humilde, pois enquanto ele acreditar em determinadas leis irá quere ser mestre de alguém.

É preciso abrir mão da posição de mestre, de se julgar certo, de querer ditar normas para a vida dos outros. Mas, para isso, é preciso antes de qualquer coisa, abrir mão de suas próprias verdades que constituem o código de normas e leis que dão o valor de certo a atitudes humanas.

Uma vez me perguntaram que conselho daria para alguém que quisesse se suicidar. Eu respondi: nenhum. A pessoa, então, me acusou dizendo que eu não tinha amor. Respondi: falta de armo é a sua que quer acabar com a vontade do outro se matar, obrigá-lo a ficar vivo. Para que vou obrigá-lo a ficar vivo?

Os seres humanizados acham que devem ajudar o outro no sentido de mantê-lo vivo, mas quem disse que esta vida tem a importância que vocês humanizados dão a ela? Quem disse que, espiritualmente falando, conseguir um emprego tem grande importância? Quem disse que para a eternidade o fato de conseguir um diploma de doutro tem a mesma importância que se dá a este fato no mundo material?

Eu já cansei de usar como exemplo a função de lixeiro. Disse por diversas vezes que se não houvesse lixeiro todos se afundariam no lixo. Com esta visão chegamos a conclusão que a figura do lixeiro é importante. Todos concordam com isso, mas querem este destino apenas para os outros ou para o filho deles. Para ele e para os seus filhos este futuro é inglório. Mesmo que o filho dele sonhe ou goste de ser lixeiro, o ser humanizado pai ou mãe vai sempre agir contra esta intenção.

Por isso não tenho nenhum conselho a quem quer se suicidar. Querendo fazer que o faça. A única coisa que alerto a quem quer seguir este caminho é que ele não morrerá.

O mais importante não é saber do que ‘morreu’ o ser humanizado, mas o que fez na sua estada na matéria carnal. Neste aspecto, dar um tiro na cabeça ou querer ser mestre dos outros leva ao mesmo destino: o desencarne sem morte. Apenas a reforma íntima (libertação das verdades que norteiam a vida) pode garantir um futuro auspicioso depois do desencarne. Isso é o que vocês ainda não compreenderam.

Quem acredita em reencarnação sabe que já teve muitas vidas. Em alguma delas, aquele que hoje é homem, foi mulher, esteve casada com um homem e teve filhos. A esses pergunto: como poderiam estar vivendo hoje a vida como homem se ainda acreditassem que ainda eram mulheres, que eram casados com determinados homens, que um determinado ser humanizado é seu filho? Como poderia estar na encarnação de hoje com a história de vida que possui agora?

Repare: o ser teve que destruir as verdades daquele personagem que viveu anteriormente para assumir as do ser humanizado de hoje. Se isso é verdade, antes da próxima encarnação aqueles que hoje vivem um personagem humano terão que destruir todas as verdades desta encarnação. Isso é ponto pacífico: o ser universal não pode encarna de novo enquanto se imaginar um determinado ser humanizado.

Outro ponto importante: não existe mágica naquilo que os seres humanizados chamam de morte ou desencarne. Ou seja, não há um processo exterior que faça o ser universal deixar de imaginar-se o humano que vive durante uma determinada encarnação. Da mesma forma que o ser luta durante a encarnação para vencer suas verdades, depois do desencarne continuará lutando para destruir as verdades do ser humanizado que vivenciava. Este processo persiste até que ele retorne à sua consciência espiritual. Só aí o ser poderá retornar ao processo de encarnação.

Portanto, na vida ou fora dela, o ser terá que destruir as verdades. Só que quando o ser está na vida (com corpo carnal), isso vale para a elevação espiritual. Depois do desencarne o processo de libertação de suas verdades será obrigatório, mas não valerá para mais nada. Será apenas um processo de depuração para voltar em outra vida, pois as provações acabaram.

Portanto, tanto na carne quanto fora dela, o ser que vivencia o processo de humanização terá que libertar-se das verdades da personalidade humana. Acontece que durante o que é chamado de vida conta ponto para a elevação espiritual; depois não.

Ou seja, um dia todos terão que libertarem-se de suas verdades: se fizerem isso durante a vida ganham algo, se fizerem depois, de nada vale... Nem que seja por isso, façam agora...

Outro aspecto importante dentro do mesmo assunto.

O que é uma encarnação? Uma oportunidade para o ser realizar a reforma íntima. O ato de encarnar apenas não garante que seja realizada a mudança do interior de cada um, ou seja, não conta ponto para a elevação espiritual. O objetivo da encarnação (elevar-se) só será alcançado por aqueles que promoverem a reforma íntima.

A partir destas afirmações pergunto: para que ficar discutindo se existe ou não reencarnação? Para que querer ser mestre e provar que a reencarnação existe? Exatamente porque querer mostrar que sabe, este ser estará perdendo a oportunidade da elevação.

Outra coisa. Se a libertação das verdades é o objetivo da encarnação, numa delas o ser terá que realizar este trabalho, certo? Se você está agora encarnado, porque esperar a próxima para fazer? Faça hoje...

Para que ficar adiando o trabalho se algum dia ele terá que ser realizado? Numa das encarnações este trabalho terá que ser realizado mesmo... Eu pessoalmente acho que quem adia para a próxima encarnação este trabalho age como um idiota, pois é inevitável que se faça.

Para que deixar para outra? Na próxima encarnação o ser terá que nascer novamente, ter as limitações de um bebê e de uma criança, vivenciar os problemas da juventude para só então fazer o trabalho que pode ser realizado hoje.

Portanto, resolva logo. Faça agora... Para isso, pare de discutir se existe ou não reencarnação. Se você acredita nisso e está vivo sabe que tem um trabalho a realizar. Realize-o já...

É isso que estamos fazendo quando falamos em desmistificar os ensinamentos de Cristo. Cada ser humano nasceu para morrer, mas aqueles que alcançam a consciência crística sabem que é preciso matar o ser humano em vida e não esperar a morte física para aí então realizar alguma coisa por sua existência eterna. Quando se mata o ser humanizado, ou seja, liberta-se das verdades humanizadas da personalidade, acontece o renascimento.

Por isto este ensinamento de Cristo é muito importante.

Não chame ninguém de pai. O que é o pai? Aquele que lhe ampara, aquele que faz as coisas para você... Se não é para dar a ninguém a figura de pai, Cristo está dizendo que não deve se esperar amparo de ninguém, que não se deve esperar que os outros façam aquilo que esperamos deles... Não espere que os outros vão abrir mão de suas intenções para satisfazer as suas...

Não chame ninguém de mestre, ou seja, não deixe ninguém lhe dominar e não queira dominar os outros... Não procure líderes, ou seja, aqueles que você seguirá, porque cada um tem o seu próprio caminho. Trilhe o seu caminho... Esta é uma questão fundamental para quem quer alcançar a consciência crística.

O caminho de cada um é individual. Não adianta o ser humanizado querer vencer as suas verdades através do exemplo de outro. Isso porque as verdades de cada um são únicas e cada uma delas cria exemplos diferentes. Não queiram impor suas verdades aos outros, pois cada um tem seu próprio caminho.

Cada deve vivenciar a sua vida e não ficar babando em cima daqueles que se dizem mestres. Se o mestre aceita a sua bajulação ele não é um mestre de verdade, pois todos aqueles que alcançam a compreensão dos ensinamentos dos mestres sabem que cada um possui o seu próprio caminho e que a experiência de vida não pode ser transmitida de um para o outro.

Para se alcançar a consciência crística é preciso que haja a conscientização que cada um tem que ser líder de si mesmo. Compreender que cada um tem a sua própria vida, que possui os seus problemas individuais e que só ele pode resolver.

De nada adianta chorar nos ombros dos que se dizem mestres ou líderes, porque quem tem que resolver seus problemas é você mesmo. Não estou chamando ninguém de menor, mas cada um daqueles que se dizem mestres ou líderes vão lhe dar a solução que eles acham boa, que eles adotariam, mas essa pode não ser a sua solução.

No máximo o que estes seres humanizados podem fazer é mandar um recado que pode lhe auxiliar a pensar o seu próprio problema de uma forma diferente. Ou seja, eles podem lhe ajudar a repensar, mas quem tem que tomar atitudes nos acontecimentos de sua vida é você mesmo.

No início deste trabalho eu dava muitas consultas individuais. Falava com todas as pessoas que me procuravam. Um dia parei de fazer isso. Por quê? Porque dava instruções para agir sentimentalmente de uma forma numa determinada situação e quando vinham novas situações com novos enredos e personagens, mas presas na mesma essência, a pessoa não sabia como agir. Na verdade os seres humanizados querem um líder para que ela viva a vida deles por eles. Agem assim porque não querem ter o trabalho de viver a sua própria vida.

Para que um ser humanizado cria um código normativo de certo e errado na sua vida? Para não precisar pensar a cada acontecimento, para não precisar vivê-lo. Ele cria as verdades e suas qualificações para que a cada acontecimento possa comparar o que está acontecendo a um código de normas e ter uma realidade já pronta.

A cada acontecimento o ser humanizado não quer ter o trabalho de analisá-lo. Busca logo em sua mente o código a que se refere aquele acontecimento e já tem, então, toda a conclusão pronta. Quando encontra algo errado, por exemplo, o ser humanizado não se preocupa em analisar o que aconteceu, mas apenas vive o conceito erro que já está pré-concebido em sua mente para aquele acontecimento e critica.

É para isso que os ser humanizado cria os conceitos de certo e errado: para poder parar de viver e aí só passar pela vida.

Portanto, não queiram ser mestres nem chamem alguém de mestre; não liderem nem aceitem liderança alguma na sua vida; não transformem ninguém em pai, ou seja, não concedam a paternidade para ninguém, nem queiram ser paterno com os outros

Evangelhos canònicos - Textos

Você está preparado para morrer?

Jesus disse: — Naquele dia o Reino do Céu será como dez moças que pegaram as suas lamparinas e saíram para se encontrar com o noivo. Cinco eram sem juízo, e cinco ajuizadas. As moças sem juízo pegaram as suas lamparinas, mas não arranjaram óleo de reserva. As outras levaram vasilhas com óleo para as suas lamparinas. O noivo estava demorando e, então, a cochilar, pegaram no sono. À meia-noite se ouviu este grito: “O noivo está chegando! Venham se encontrar com ele!” Então as dez moças acordaram e acenderam as suas lamparinas. Aí as moças sem juízo disseram às outras: “Dêem um pouco de óleo para nós, pois as nossas lamparinas estão se apagando.” “De jeito nenhum”, responderam as moças ajuizadas. “O óleo que nós temos não dá para vocês e para nós. Se querem óleo, vão comprar!” Então as moças sem juízo saíram para comprar óleo, e, enquanto estavam fora, o noivo chegou. As cinco moças que estavam com as lamparinas prontas entraram com ele para a festa do casamento, e a porta foi trancada. Mais tarde as outras chegaram e começaram a gritar: “Senhor, senhor, nos deixe entrar!” O noivo respondeu: “Eu não sei quem são vocês!”. E Jesus terminou, dizendo: — Portanto, fiquem vigiando porque vocês não sabem qual será o dia nem a hora.

Vamos entender primeiro os elementos dela para depois falarmos sobre o assunto de hoje.

Na Bíblia, Cristo é codificado como o noivo da humanidade, dos espíritos que habitam o planeta Terra. Assim, cada ser humano é uma noiva de Cristo e está se preparando para o casamento. Esse é o primeiro aspecto dessa historinha.

Outro aspecto: as noivas (os espíritos humanizados) ficam na escuridão esperando o noivo. Mas, repare, não os noivos! Existe apenas um noivo para todas as noivas e ele é Cristo, o amor.

Para estar vigilante é preciso ter luz. Algumas têm a luz e outras não. As que não têm, não conseguem se unir ao noivo, não conseguem entrar no recinto do casamento, ou seja, no reino espiritual.

De tudo isso podemos compreender o seguinte: os espíritos que estão vivendo no orbe terrestre um dia casarão com Cristo, ou seja, alcançarão a elevação espiritual. Mas, enquanto esperam por esse momento precisam se manter preparados para o encontro, pois não sabem qual será o dia e a hora que irão casar, ou seja, o dia e a hora em que voltarão para o mundo espiritual. Em outras palavras: o dia e a hora em que morrerão!

Esse é o tema da palestra de hoje e a pergunta que eu quero fazer inicialmente é a seguinte: você está preparado para morrer? Será que você está pronto para abandonar a encarnação e viver só no mundo espiritual?

Essa é a minha pergunta e o tema da conversa de hoje, que será realizada a partir da parábola das dez moças esperando o casamento. Será que você esta pronto para morrer? Será que dá para sair da carne nesse exato momento e ter luz suficiente para ingressar no recinto do casamento?

Participante: Sócrates dizia que a filosofia era uma preparação para a morte. Seria algo semelhante ao conhecimento espiritual? A Filosofia como um instrumento de transformação da consciência?

Sim. A transformação da consciência é a preparação para a morte. Vamos falar sobre isso com muita calma, pois estar preparado para a morte é saber se tem a consciência necessária para desligar-se da Terra.

Por quê é preciso ter uma consciência específica para poder desligar-se da Terra?

Só para começar o assunto, morrer nada mais é do que isso: desligar-se da Terra, das coisas mundanas. Morrer não é nada diferente disso. Quem morre apenas se desliga das coisas mundanas.

É sobre isso que eu quero falar hoje: a transformação da consciência através da Filosofia, da Espiritologia, do Espiritismo, da Psicologia, do Cristianismo é o caminho para preparar-se para a morte.

Participante: E o que a gente faz depois da morte?

Depende...

Se você gosta de conviver com a sua família, vai ser isso que vai fazer depois que morrer. Vai ficar preso aqui junto aos seus familiares. Se gosta do Tibete, vai morrer e ficar preso lá.

Preste atenção: a morte não é algo físico, mas uma transformação de consciência. Por isso pergunto: será que você está vivendo para morrer? Esse é o ponto fundamental da vida para aqueles que se dizem buscadores.

Você vai morrer um dia e a encarnação, a sua existência, é um preparatório para a morte. Não há mais nada a se fazer na vida, a não ser se preparar para voltar ao reino do céu, para voltar ao mundo espiritual.

É isso que precisa ficar bem claro, pois tudo que você faz durante a vida carnal não é real, não existe. Tudo vale por um determinado tempo e só vale para você. Sendo assim, a vida humana é relativa, não absoluta.

Acontece que alguma coisa para ser Real tem que ser absoluta. Por isso nada do que você faz durante a vida interessa para a Realidade. Ou seja, se estuda, se casa, se tem filho, se planta uma árvore... Nada disso interessa. O que vai interessar é se ao vivenciar essas coisas, está, ao mesmo tempo, se preparando para morrer.

Ou seja, você vive hoje com a consciência de que vai morrer? Vive hoje com a consciência de que a família que tanto preza vai acabar na morte? Vive hoje com a consciência de que o prazer que busca tão enfaticamente não terá nenhum valor depois da morte? Quando torce pelo seu time de futebol, vive com a consciência que vai morrer e ele vai continuar existindo?

A cada momento da sua vida, você vive com a consciência de que pode ser o último? Vive preparado para esse retorno a pátria espiritual ou só vai se lembrar disso no momento da morte? Ou será que só vai se lembrar que tem que voltar a viver como espírito depois do desencarne?

Essas são as primeiras perguntas que faço, pois, como disse, nós estamos lendo a Bíblia para trazer o ensinamento de Cristo para a nossa vida. Trazer o ensinamento do Cristo é dizer: você é uma das cinco noivas que têm o querosene de reserva para esperar o noivo ou é uma das que vai esperar a hora do noivo chegar para saber que está sem luz?

Participante: E se eu não for preso a nada, o que vou fazer depois da morte?

Se você não for preso a nada material, depois da morte, vai viver o espiritual. Agora se for preso ao material, vai morrer e vai continuar aqui, sem corpo, mas preso às coisas materiais.

Para responder a tudo o que perguntei antes, vamos começar falando da morte...

Um casamento ou uma faculdade, por exemplo, podem durar anos. Já o tempo de uma viagem dura horas e o de um jogo de futebol minutos. Enfim, todos os acontecimentos da vida têm uma extensão de tempo. Menos um: a morte.

A morte não dura meses, anos, minutos, horas. A morte acontece em uma micro fração de tempo. Num momento você está vivo e no outro está morto.

Essa é outra consciência que é preciso ter! Você não pode e não deve contar com a perspectiva de entrar num processo de morte porque não existe tal processo. A morte acontece subitamente.

Você pode achar que vai sentir a morte chegando e que poderá correr para se preparar, mas isso é ilusão! Mesmo os doentes que estão em fase terminal ainda acham que vão viver dias, semanas ou meses, mas a morte não tem essa característica. Ela é igual ao machado que desce de uma vez só.

Sendo assim, não dá para esperar... Não dá para deixar para se preparar para a morte depois...

Durante o casamento você pode até relaxar porque se hoje fizer uma besteira terá tempo para se recompor. Durante a escola pode relaxar porque se fizer uma besteira terá tempo para mudar o que fez. Agora, na morte, não há volta. Não há como fazer o que não fez a não ser em outra existência. Na morte, não há como dizer: 'eu fiz errado, dá licença, eu vou começar tudo de novo'.

Viver é se preparar para morrer e compreender que ela vai acontecer de súbito. Por isso é preciso que você esteja atento e vigilante como Cristo ensina. Mas você vive, completamente, ao contrário.

A cada dia, a cada hora, a cada minuto programa mais coisas para fazer na Terra, como se fosse eterno, imortal. Age como se o momento da morte pertencesse a todos, menos a você.

Não se pode viver a vida desse jeito. Quem vive a vida desse jeito não consegue libertar-se da Terra, não consegue casar com Cristo, não consegue sair do ciclo das encarnações.

É preciso que a cada minuto, a cada problema diga: 'e se esse for meu ultimo minuto, estarei pronto para morrer agora? Estarei pronto para abandonar isso agora'?

Participante: Sabemos de alguma forma quando iremos morrer? Temos essa consciência?

Racionalmente, não. O espírito sabe quando, pois isso lhe é revelado antes da encarnação. Esta informação foi respondida pelo Espírito Verdade em O Livro dos Espíritos, mas, racionalmente, você não sabe.

Participante: Em um centro espírita, minha mãe recebeu uma mensagem dizendo que meu avô já estava esperando por ela e foi uma semana antes dela morrer.

O Espírito pode ter uma noção, mas não sabe o dia ou a hora.

Cristo diz assim: 'o dia e a hora vai chegar, isso é certo; mas só Deus sabe quando será o dia e à hora'. Por isso, nós, os espíritos desencarnados, podemos ter uma noção e receber uma ordem de Deus para falar, mas não sabemos o dia e hora precisa.

Participante - Alguém consegue saber que desencarnou logo após a morte?

Perceba: você fala em saber que desencarnou, mas isso é um processo racional. Todo processo racional é ego.

Sendo assim, o Ego pode criar a informação que você desencarnou, mas isso vai acontecer quando merecer. Somente quando, por merecimento, tiver a condição de receber essa informação, Deus vai permitir que a tenha.

Apesar disso, afirmo que noventa e nove por cento dos que desencarnam não sabem de imediato. Eu costumo sempre dizer que o próprio irmão do Arjuna, que era seguidor fiel de Krishna, teve que passar pelo Umbral, pelo menos por um minuto.

Respondia as perguntas, vamos, então, começar a conversar sobre essa preparação para, a qualquer momento, estar pronto para libertar-se do mundo material. Como é que um ser se liberta da Terra? Quando é que ele vai estar apto a se libertar da Terra? Quando passar a viver o presente...

Ou seja, passar a viver o que se tem hoje e não o futuro. O futuro não existe e quem projeta ou cria futuros está preso a Terra, está gerando tempo para estar na Terra ou, pelo menos, uma previsão de tempo para estar.

Se você está pensando no que vai fazer amanhã, não está pronto para morrer. Isso porque não sabe se vai estar vivo amanhã. E se desencarnar essa noite? Se isso acontecer, vai querer viver o amanhã que projetou e não vai conseguir se desligar do mundo material, do mundo que projetou para ter amanhã.

A vida foi feita não para viver amanhãs, mas sim o hoje. É por querer viver o amanhã que o espírito humanizado torna a vida é completamente instável.

Hoje você sai à rua e não sabe se volta para casa. Mesmo tendo a consciência dessa instabilidade, continua projetando futuros como se fosse normal sair de casa e voltar. Mas você não sabe se voltará...

É essa consciência que denota uma preparação para a morte: 'estou saindo de casa; vou voltar? Não sei... Não sei se vou voltar, não sei o que vai acontecer na rua, não sei o que poderá suceder. Quando voltar, eu verei se voltei'

Preparar-se para a morte é isso: viver o que está vivendo neste momento sem se preocupar com mais nada, sem projetar mais nada. Mas, você vive sempre preparando o dia de amanhã, mesmo dizendo que sabe que ele pertence a Deus.

Quem vive projetado para o futuro não está preparado para morrer. Enquanto você disser que hoje de noite, amanhã de manhã, na semana que vem, no mês que vem, no ano que vem vai fazer isso e aquilo, saiba que deixou de se preparar para a morte. Quando ela vier, vai estar comprando óleo para a sua lamparina e não vai casar com o Cristo, não vai entrar no recinto do casamento.

Participante: Para se desligar da matéria, devemos fazer uma evolução na consciência... É possível morrer e só depois fazer essa evolução na consciência, nos desprendendo da matéria?

Não é pode: vai.

Se você não se desprender na carne agora, vai se desprender depois da morte. Isso porque ninguém pode assumir uma nova encarnação enquanto estiver preso a uma anterior. Ou seja, enquanto você achar que é o João, vai estar preso a essa encarnação e para vir em outra vida como Maria, Josefina ou qualquer outro nome, terá que se libertar do João.

Porém, libertando-se durante a ligação com a matéria carnal, isso conta pontos para a sua elevação espiritual. Depois que sai da carne, tal libertação não conta mais pontos para a evolução.

O Espírito Verdade diz: a evolução só se dá no mundo material. Fora dele existem os intervalos entre encarnações para o espírito se preparar para uma nova encarnação. Por isso, o libertar-se do João após a morte será parte do preparatório para uma nova encarnação e não uma elevação espiritual.

Vamos continuar...

Outra coisa que lhe prende a matéria carnal, são os desejos carnais.

Não estou falando em sexo; estou falando em desejar estar vivo, em desejar ganhar um presente, em desejar ganhar na loteria, em desejar saúde para você, em desejar que a sua mulher ou o seu marido o trate bem. Qualquer desejo baseado em elementos materiais lhe prende ao mundo material. Você fica na dependência daquilo acontecer para ser feliz.

Quem se prepara para a morte não cria raízes na Terra, não se fixa na Terra, por isso não deseja nada da Terra. Não deseja nem um prato de comida, nem uma casa para morar, nem um carinho de quem quer que seja. Ele é auto-suficiente, tendo Deus no seu coração.

Esse é outro aspecto do preparatório para a morte...

Quem está com a sua lamparina acessa, com o seu querosene em ordem no momento em que o noivo chega, não tem desejo algum. Se tivesse, a única coisa que desejaria é que o noivo chegasse antes. Sabe por quê? Porque a noiva que quer que o noivo chegue logo, valoriza positivamente o casamento, ou seja, a morte.

A morte, para quem está preparado para ela, é um momento de felicidade, é um momento de ternura, é um momento de realização. Mas, o ego induz o espírito a acreditar que deve permanecer vivo e que viver é bom e morrer é ruim. É por isso que você cria desejo em cima de desejo e, pior que isso, nenhum desejo realizado lhe satisfaz.

Repare bem nisso! Você deseja uma coisa e, no momento que consegue o que deseja, pode ter alguns momentos de satisfação, mas logo vem o ego e cria um novo desejo. Para quê? Para lhe manter preso, para lhe manter enraizado na Terra e distraído quanto à perspectiva da chegada do noivo.

Quem quer casar com Cristo vive atento e esperando, ansiosamente, a chegada do noivo. Não estou falando em se matar, mas sim em viver para morrer, em transformar a morte no coroamento de uma ação espiritual chamada encarnação.

O ego não deixa você se lembrar que é um espírito encarnado. Ele diz que é um ser humano. Ele diz que é um elemento da Terra, mas você é um Espírito.

Para que a sua lamparina esteja acessa e você não tenha que voltar para buscar mais querosene, é preciso não viver o futuro, não programar ou esperar futuro e também não acreditar em desejos, sonhos, planejamentos, esperança...

Você diz que sonhar não custa nada, mas custa muito caro. Custa perder a hora do casamento... É isso que custa sonhar, programar, viver a ilusão. Você não está errado se continuar vivendo assim, mas se quer casar com o Cristo precisa reformar-se.

Essa reforma é a elevação espiritual, é a reforma da consciência: não ser mais um ser humano e sim um espírito na carne. O espírito na carne é aquele que tem a consciência de que é um espírito eterno. Esta consciência leva à morte do ser humano.

Muitos já foram os avisos dos espíritos desencarnados a este respeito. Aliás, este é o significado do último segredo de Fátima: o fim da raça humana. Maria avisou que vai haver o fim da existência de espíritos que se acreditam como humanos e se iniciará a geração dos espíritos que sabem que eram antes de existir. Assim será a transformação da Terra, deixando de ser um planeta de provas e expiações para se tornar de regeneração.

Mas, tem outra coisa que precisa ser alcançada para se libertar da Terra: não ter paixões...

Não ser apaixonado positiva ou negativamente por nada desse mundo. Não achar nada certo e nem errado, bom ou mal. Não querer ganhar sempre ou ter medo de perder; não ter prazer ou desprazer com alguma coisa; não desejar ter fama ou ter medo da infâmia; não querer elogios e nem ter medo da crítica...

Quem nutre paixões terrestres capazes de gerar o bem e o mal, o prazer e a dor, a fama ou a infâmia, o elogio ou a critica, está fincado na Terra e não tem como sair disso, pois toda a sua vida depende dessas paixões. Quem passa o dia inteiro julgando o certo e o errado, que aquilo deveria ser feito de outra forma, que aquilo não poderia estar acontecendo ou mesmo dizendo gostei disso, não gostei daquilo, vai se enraizando, se enraizando, se enraizando...

São dessas paixões que surge o desejo: 'eu gosto daquilo', 'eu quero que aquilo aconteça' e quando isto é aceito como real, você se prende à condicionalidade, à dualidade que só existe no planeta Terra.

Quem se prepara para morrer luta contra essas paixões. Não se deixa levar pelas paixões que o ego cria, não acha nada bonito ou feio, não acha nada certo ou errado...

Se preparar para morrer é abrir mão das paixões humanas. É abrir mão daquilo que você gosta, daquilo que quer. Mas, também é abrir mão de não gostar de nada ou de não querer alguma coisa. É soltar todas as amarras que lhe prende ao mundo carnal.

Quem não se solta, quem só acha bonito o que está fazendo ou o que acha certo, vive preso ao desejo, vive amarrado a Terra...

É por isso que usei essa parábola para tocar neste assunto. Ela é perfeita...

Será que você está preparado para morrer? Será que não tem nada para fazer amanhã para poder morrer hoje em paz? Será que não tem nenhum desejo pendente que lhe impeça de morrer hoje em paz? Será que não tem alguma paixão que lhe impeça de morrer hoje em paz?

Porque você tiver o que fazer amanhã, se estiver esperando alguma coisa ou se tiver algo que você não é capaz de abrir mão, sinto muito: você não está preparado para o casamento e não vai conseguir entrar no ambiente do casamento.

Participante: Certo! Desligo-me de tudo, nada sei, nada desejo, nada possuo... Eu consigo viver assim, mas como ficam os compromissos assumidos com a família? E os filhos?

Que compromisso você assumiu com a sua família e filhos? De representar determinado papel para que o ego dos filhos e da família viva determinadas provas? Esses atos vão acontecer. Deus não vai deixar de dar a cada um o que necessita e merece.

Agora, internamente, você tem que estar desligado de tudo. Eu não falei em se desligar externamente. Eu falei em se desligar de desejos, de paixões, de planejamentos e não de atos.

Eu falei em não desejar um carro novo, mas não falei em não ter um carro novo. Eu não falei em não ter uma casa nova, mas falei em não ser apaixonado pela casa que tem.

Porque você se preocupa com o que vai comer amanhã, se é Deus que dá comida aos bichos, será que não vai dar a você? Este é um ensinamento de Cristo. Repare que ele não falou que você não deve comer, mas disse que não deve se preocupar.

A preocupação é uma paixão: é o resultado do fato de estar apaixonado pela ideia de que tem que dar o alimento para os seus. Se você acredita nisso, não está pronto para morrer. Sabe o que vai acontecer se morrer agora? Vai dizer assim: 'e agora, meu Deus, minha mulher e meus filhos, como vão ficar'? Ou seja, vai voltar para trás e perder o noivo.

Participante – Eu acho que as variações do mundo são boas porque provém de Deus. Não importa se somos tristes ou alegres, mas saber que tudo é passageiro e curtir cada momento sem esperar o próximo ou comparar ao anterior.

Então o bom não é a variação do mundo, mas sim o estado de espírito com o qual você vive a avaliação do mundo.

O que você chama de bom, eu chamo de Bem. Bem é tudo aquilo que provêm de Deus; bom é uma parte do Bem que você acha boa... O Bem não é bom e nem mal: é apenas Bem. É essa a diferença!

Agora, se você achar a tristeza boa, será masoquista. A tristeza não é boa é Bem, porque bom é aquilo que você gosta e Bem é aquilo que não importa se gosta ou não, mas existe como fruto do amor do Pai por seus filhos.

Por isso, além do planejamento do futuro, dos desejos, das paixões, você precisa se desligar ainda das posses. São elas que criam as paixões e os desejos.

Deixe o mundo enterrar os mortos e venha comigo. Você já cumpre a lei, então abandone todas as suas posses e me siga! Não foram essas as palavras do Cristo?

Só que, quando se fala em possuir, vocês pensam logo em objetos, em posse material, em posse das coisas. Você precisa se libertar delas, é claro. Precisa se libertar do seu carro, da sua casa e do seu emprego se quiser morrer em paz. Caso contrário, vai morrer preocupado com o que seu filho vai fazer com a herança que deixar; vai morrer preocupado com o que seu filho ou a sua mulher vai fazer com a casa que deixou...

Mas, você precisa libertar-se de outras posses também. Além da posse material, precisa se libertar da posse sentimental: o meu filho, a minha mulher, o meu amigo, o meu inimigo...

A ideia do 'meu' é uma posse. Quando o 'meu' é dirigido a outro ser humano, denota uma posse sentimental. Se você não se libertar desse 'meu filho', não está pronto para morrer, para se encontrar com o Cristo.

Se estiver preocupado com o 'seu filho', vai ficar aqui querendo tomar conta dele; se não se libertar da 'sua esposa', vai morrer e ficar aqui tomando conta dela; se não se libertar do 'seu inimigo', vai morrer e virar obsessor dele, pois estará preso a necessidade de se vingar.

Para se estar preparado para a morte, é necessário que você se liberte dos sentimentos que lhe leva a possuir o próximo.

Estas são duas possessões das quais você precisa se libertar: a posse material, do objeto, e a posse sentimental. Mas, existe uma terceira da qual também precisa se libertar. Trata-se da posse moral que é reconhecida pelo 'eu sei'.

'Eu sei' o que vai acontecer depois da morte; 'eu sei' como é o mundo espiritual... Quem diz isso não está preparado para morrer porque o ego não conhece a Realidade do Universo, mas apenas cria ideias humanas sobre ela. Quem se prende a estas ideias não consegue saber o que acontece do outro lado da vida.

Por isso, preparar-se para a morte não é buscar cultura: é libertar-se das culturas. Aprender a morrer não é adquirir novas verdades que sejam mais ou menos espiritualizadas, mas alcançar o 'eu não sei nada'. Só quando você não souber de nada, poderá aprender algo.

Cristo disse: louvado seja Deus que mostra ao simples, aquele que não sabe nada, o que esconde dos sábios. Não que Deus queira esconder alguma coisa de alguém, mas porque Ele não pode chegar a um sábio e ensinar porque o sábio 'sabe'.

Depois de me ouvir falar que você não deve programar futuro, que não deve prender-se a desejos, que não deve apaixonar-se por nada nesse mundo, que não deve possuir as coisas desse mundo, seja materiais, pessoas ou culturas, será que você está preparado para morrer? Não...

Mas, não pensem que acabou: até agora eu falei apenas de elementos do mundo humano. Disse que você tem que doar o que quer, o que é apaixonado, o que você possui. Agora vou falar algo muito mais importante que precisa ser feito: você tem que se libertar de você...

A última coisa que você precisa fazer para se preparar para morrer é deixar de ser quem é. Tem que deixar de ser o José, a Maria, o Pedro... Enquanto for José, Maria ou Pedro, estará preso na Terra. Isso porque o José, a Maria e o Pedro são da Terra e não espíritos. Quem não se liberta do ego não se prepara para voltar a ser só um espírito.

Libertar-se do ego é a coisa mais importante, porque quem se liberta do ego acaba com o egoísmo, o querer para si...

Todos os que se identificam com uma personalidade humana são egoístas. É dela que surge a paixão, o desejo, o esperar o amanhã...

Então, para se preparar para morrer você tem que vir realizando o despossuir dentro da escala que conversamos hoje: libertando-se do planejamento, do futuro, do desejo, das paixões, das posses... Mas, esta realização só será conseguida quando se libertar do José, da Maria, do Pedro...

É por isso que eu deixei esta parte para o final, porque esse final é o início. Sabe por quê? Porque o José, a Maria e o Pedro vão morrer na sua morte...

O José que você é hoje, essa personalidade transitória, vai morrer e quem se apega ao José, quer prolongar a existência dele, um dia vai ficar sem saber o que fazer.

'Por que o José morreu! O José acabou e agora meu Deus? O José morreu, como é que eu faço? Como é que eu vivo se o José está morto? Cadê a minha masculinidade, a minha feminilidade, cadê ao meu corpo bonito ou feio'?

Esse é o ponto fundamental da vida: quem não se prepara para morrer não viveu; quem não se prepara para morrer perdeu a encarnação...

Portanto, seja vigilante com o seu ego. Não o deixe planejar futuros, criar desejos, paixões, posses e uma personalidade, pois você não sabe a hora do casamento, a hora que o noivo vai chegar...

Não deixe para se preocupar com isso no momento da morte porque ela não lhe dá tempo para se preocupar com ela. Para morrer, basta estar vivo. Ocupe-se o tempo inteiro em estar preparado para o casamento, pois morrer sem ser para se casar com o Cristo não vale de nada.

Se isso acontecer, simplesmente será mais uma encarnação perdida e você terá que viver outras até chegar o dia em que a noiva prometida terá que se casar com o Cristo. Sendo assim, para que ficar adiando o casamento? Quem adia o casamento com Cristo está simplesmente jogando o tempo fora, perdendo oportunidades de criar uma grande família, de viver uma relação que satisfaz por si só.

Se você quer um conselho: passe a acordar de manhã e se veja se está preparado para morrer naquele dia...

Outro conselho: se você trabalha na apometria, na umbanda, no centro espírita, na igreja católica, na evangélica ou em qualquer segmento religioso e não ajudar o próximo a se preparar para morrer, não fez nada. A única ajuda que pode dar a alguém que está vivo, no sentido de estar ligado ao ego, preso à matéria, é o ensinar a morrer...

É isso que este preto-velho faz e é isso que o pastor, o padre e você devem fazer: preparar-se para morrer e ensinar os outros a morrer, ensinar a estar preparadíssimo para o casamento com Cristo.

Que a graça de Deus esteja com todos.

Evangelhos canònicos - Textos

Sal da humanidade

Vocês são o sal para a humanidade; mas se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve para mais nada. É jogado fora e pisado pelos que passam.

Para que serve o sal no mundo humano? Para temperar a comida... Sendo isso verdade, podemos então compreender o que Cristo quis dizer: os seres humanizados são o tempero para o mundo. Mas, como também falou o mestre, se o tempero não tempera mais é jogado fora.

Saiba disso: você é o tempero para o mundo e precisa temperá-lo. Os outros são os temperos para o mundo e precisam colocar sabor na sua vida.

O que seria da sua vida sem a ação do outro? Insossa, sem sabor... O que seria da sua vida sem aquele que lhe trai ou lhe dá carinho? O que seria da sua vida sem aquele que lhe abandona ou lhe faz companhia? O que seria da sua vida sem aquele que lhe critica e o que lhe elogia? Marasmo...

É a ação do outro que cria o sabor da vida, que cria a existência. Somente quando alguém age na sua vida lhe dá a oportunidade de viver.

Portanto, agradeça tudo a Deus. Agradeça por quem lhe abandona e por quem lhe faz companhia, pois se os outros estivessem sempre com você, a vida seria parada, monótona, não teria o ritmo que ela tem. Ela seria um marasmo... É exatamente esta alternância de situações constantes na existência que dá o sabor a ela. Se você tivesse apenas alguém que lhe bajulasse, risse de suas piadas a existência não teria sabor, ficaria cansativa.

Imagine se sua existência fosse dia a pós dia durante cinqüenta ou sessenta anos fazendo a mesma coisa? Que cansaço daria, não? Pensar a mesma coisa todo dia, viver a mesma realidade diariamente: que coisa insossa, sem sabor... São as alternâncias da vida que mexe com a rotina e quando isso acontece existe um sentido na vida.

Por isso agradeça tudo a Deus. Agradeça por aquele que lhe acusa, pois ele acaba com a rotina dos que só concordam com você. Agradeça a Deus por aqueles que lhe agridem porque eles acabam com a rotina daqueles que só sabem bajular. Agradeça por aquele que lhe abandona, pois ele acaba com a rotina de estar todo dia ao lado da mesma pessoa.

Se você não tivesse um agressor não saberia valorizar quem lhe defende. Se não houvesse quem lhe abandonasse, não saberia valorizar quem permanece ao seu lado. Veja a importância daqueles que fazem a sua cruz. Eles também são o sal da sua vida.

Por isso diga: louvado seja Deus que cria uma maravilhosa engrenagem chamada vida humana e a trabalha com todos os elementos necessários para você bem viver. Na hora que você se conscientizar disso, o agressor continuará agredindo, o caluniador continuará caluniando, quem foi embora continuará longe, mas você jamais estará sozinho ou se sentirá caluniado ou agredido, pois estará com Deus.

Evangelhos canònicos - Textos

Relacionando-se com a vida

Jesus disse: o Reino do céu é como o dono de uma plantação de uvas que saiu de manhã bem cedo para contratar trabalhadores para a sua plantação. Como era o costume, ele combinou com eles o salário de uma moeda de prata por dia e mandou que fossem trabalhar na sua plantação. Às nove horas, saiu outra vez, foi à praça do mercado e viu ali alguns homens que não estavam fazendo nada. Então disse: vão vocês também trabalhar na minha plantação de uvas e eu pagarei o que for justo. E eles foram. Ao meio dia e às três horas da tarde fez a mesma coisa com outros trabalhadores. Eram quase cinco horas da tarde quando o dono da plantação voltou à praça. Viu outros homens que ainda estavam alie perguntou: por que vocês estão o dia todo aqui sem fazer nada? É porque ninguém nos contratou, responderam eles. Então ele disse: vão vocês também trabalhar na minha plantação. No fim do dia, ele disse ao administrador: chame os trabalhadores e faça o pagamento, começando pelos que foram contratados por último e terminando pelos primeiros. Os homens que começaram a trabalhar às cinco horas da tarde receberam uma moeda de prata cada um. Então os que foram contratados primeiro pensaram que iam receber mais, porém eles também receberam uma moeda de prata cada um. Pegaram o dinheiro e começaram a resmungar contra o patrão, dizendo: Estes homens foram contratados por último e trabalharam somente uma hora, mas nós agüentamos o dia todo debaixo deste sol quente. No entanto, o pagamento deles foi igual ao nosso. Aí o dono disse a um deles: escute , amigo, eu não fui injusto com você. Você não concordou em trabalhar o dia todo por uma moeda de prata? Pegue o seu pagamento e vá embora. Pois eu quero dar a este homem, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com o próprio dinheiro? Ou você está com inveja somente porque fui bom com ele?

Cristo está afirmando que o reino do céu é como o dono da plantação de uva desta parábola. Vamos tentar entendê-la, então...

O reino do céu neste caso é o próprio Universo: tanto aquele que os seres humanizados chamam de espiritual como o de material. No Universo esta é a realidade: cada trabalhador da seara do Senhor é contratado por Deus para executar um trabalho e Ele paga a cada um aquilo que foi combinado. Esta é uma realidade universal da qual ninguém pode fugir: ninguém recebe mais do que outro, mas sim o justo, ou seja, aquilo que foi contratado antes da encarnação.

Os trabalhadores da parábola são como as pessoas mais velhas que acham que deveriam receber mais do que têm porque já estão encarnados há muito tempo. Mas, isso não é real. Deus não dá a cada ser olhando tempo de encarnação, mas sim o justo, aquilo que foi contratado entre o Pai e o ser antes da encarnação.

Esse é o fundamento da Causa Primária. Durante estes anos de estudo estamos falando em Deus Causa Primária e os seres humanizados que nos ouviram chegaram a imaginar que Deus dá a cada um segundo a Sua vontade, mas isso é irreal, é ilusão. Deus dá a cada um aquilo que foi contratado antes da encarnação.

Sabem de uma coisa? Deus não tem livre arbítrio. Ele não pode escolher o que dar a cada um. Precisa dar aquilo que foi acertado, não importando quanto tempo se está na roda de encarnação ou quanto tempo se está encarnado.

Para Deus, vale aquilo que foi contratado antes da encarnação e Ele dará exatamente isso, não importando quanto tempo ou trabalho o ser já fez. Esta idéia é muito importante para que possamos compreender uma coisa muito interessante.

Ora, se Deus dá a cada o que foi contratado antes da encarnação, de que adianta ao ser humanizado (o espírito encarnado) pedir alguma coisa a Deus?

Sabe, vocês não têm noção de como as pessoas se relacionam com Deus. Já trabalhei em um centro espírita e pude verificar que a maioria das pessoas que buscam a Deus só o faz para pedir algo a favor dela ou contra outra pessoa. São pessoas que se não recebem se desiludem e aí passam a desacreditar em Deus, na entidade, ou a casa, igreja, centro, dizendo que estes locais não prestam. Mas, apesar destas pessoas se dizerem cristãs, elas não leram a Bíblia. Afirmo isso porque aí está a informação de Cristo: o dono da plantação paga exatamente o que foi contratado antes do serviço.

Portanto, é muito importante se conhecer este ensinamento de Cristo para se ter a consciência que, depois de humanizado, de nada adianta pedir algo a Deus. Aliás, quando estudamos o Pai Nosso eu lembro que vimos o seguinte texto: ‘Não sejam como eles, pois o Pai já sabe o que vocês precisam, antes de pedirem’.

Os seres humanizados precisam começar a conviver com esta realidade. Por quê? Porque aquele que pede comprova que não tem fé, pois condiciona sua entrega à realização dos seus desejos. Este é o grande problema de pedir: quem pede espera receber e quem tem esta pretensão falta com o elemento fundamental da elevação espiritual que é a fé.

O ser humanizado que insiste em pedir não pode nem dizer que desconhecia o ensinamento, pois Cristo nesta parábola é bem claro. Quando o dono fala com os empregados revoltados, diz: você acha que tenho que agir do jeito que você quer, tenho que lhe dar de acordo com aquilo que você acha que merece? Não, Deus não tem que dar ao ser humanizado o que ele acha que merece, pois acordou com o ser antes da encarnação o pagamento pelo seu trabalho.

Mas, por que este ser acha que merece mais? Ele acha que deve receber mais porque acha que o outro trabalhador contratado por último está ganhando mais. A idéia de que o outro está ganhando mais é apenas na verdade do ser humanizado, pois ninguém recebe mais: todos ganham o que foi acertado individualmente.

Só isso já bastaria para a compreensão de que o ser humanizado não deve pedir nada além daquilo que recebe. Mas, Cristo é mais direto. Ele diz que o dono da plantação fala àquele que quer receber mais do que o combinado: você está com inveja... Sim, quem pede a Deus aquilo que não recebe da vida está com inveja do outro. Demonstra que queria ganhar mais do que o próximo: isso é inveja...

Portanto, através desta parábola de Cristo, podemos ver bem claramente a história que cada um recebe aquilo que foi acordado antes da encarnação.

Mas, nesta parábola ainda há mais. Vamos continuar lendo-a.

E Jesus terminou dizendo: Assim, aqueles que são os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros.

Nesta parábola há dois ensinamentos. O primeiro afirma que cada um recebe o pactuado e um segundo que nasce da revolta de sentir-se passado para trás. Na primeira parte falamos do pedir, nesta segunda vamos falar da imaginária justiça justa que cada ser humanizado acha que tem, mas que na verdade é uma expressão do egoísmo.

O que o ser humanizado acha justo não o é, pois esta justiça é calcada em cima dos seus desejos e paixões. Portanto, é um egoísmo.

No caso desta parábola, aqueles que foram contratados primeiro achavam que deveriam receber antes e que isso seria justo. Mas, como diz o dono da plantação: eu pago o valor pactuado na hora que acho que devo pagar e você não deve dizer quando fazer isso...

Aí Cristo conclui o ensinamento dizendo: aquele que acha que deve ser o primeiro será o último e aquele que está por último será o primeiro no reino do céu. Vamos entender isso...

Neste ensinamento Cristo não está falando da ordem de recebimento, mas do anseio de querer receber primeiro. Ele está dizendo: aqueles que querem receber primeiro serão os últimos no reino do céu e aqueles que não se preocupam em receber antes, esses receberão primeiro. Este é o ensinamento de Cristo e se ele é uma forma de amar, precisamos compreende isso perfeitamente.

O que é o anseio de querer ganhar, de querer receber antes dos outros? Egoísmo. O ser se humaniza justamente para se libertar do egoísmo. Todos encarnam para se libertar do egoísmo. Se isso é verdade, aquele que dá asas ao egoísmo é quem não aproveita a encarnação como instrumento da elevação espiritual.

É por isso que ele é o último no reino do céu. Como pode receber antes se não realizou a reforma íntima? Reforma íntima trata-se exatamente disso: o ser humanizado reformar o seu interior que é predominantemente egoísta.

Não estou falando de ser egoísta como mau ou coisa feia. Estou falando de uma característica de um ser humanizado. Todo espírito humanizado é por natureza egoísta, pois parte sempre do eu, dele mesmo. Tudo que ele trabalha mentalmente é fruto de desejos, de paixões e de posses que são expressões do egoísmo.

Repare no que você pensa. Veja se não há esta lógica no seu raciocínio, ou seja, tudo que você acredita está certo e tudo o que você quer merece receber. O que você pensa sempre espelha o que quer e não querer o que não quer. O que você pensa que acredita sempre está certo e o que os outros falam sempre está errado.

É isso que o ser humanizado precisa entender. Pouquíssimos aceitam aquilo que não querem sem expressar a sua dor por isso. Pouquíssimos aceitam libertar-se de querer ganhar para dar ao outro o direito de também receber.

Saiba de uma coisa: a vitória de um ser humanizado é a derrota de outro. Isso porque não existe dois seres que queiram a mesma coisa com a mesma intensidade (gênero número e grau) e no mesmo momento. Todo pensamento do ser humanizado fundamenta-se em querer o que quer, na hora que quer e com a intensidade que quer e com isso não dá ao próximo o direito de querer, de ter a sua vontade satisfeita.

É isso que Cristo está ensinando quando fala que o primeiro no reino da terra será o último no do céu. Ou seja, aquele que anseia em ganhar, em receber, em ter prazer, em ser reconhecido como uma pessoa certa, inteligente, bonita e aquele que luta para receber o elogio, será o último a receber no reino do céu. Isso acontece porque não trabalharam o seu egoísmo e dão asas a ele vivenciando a ansiedade que a personalidade humana cria.

Agora aquele que, apesar dos pensamentos desejarem, não ansiar por ganhar, ou seja, não revolta-se e não luta para exigir da vida que ela lhe pague mais e antes dos outros, esse será o que mais receberá no reino do céu. Isto porque esse fez a sua reforma íntima, alcançou a sua evolução espiritual e amou a Deus acima do seu desejo e amou o desejo do próximo tanto quanto amou o seu.

Evangelhos canònicos - Textos

Amor e paixão

Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: Amem os seus inimigos e façam o bem para aqueles que odeiam vocês. Desejem o bem para aqueles que os amaldiçoam e façam orações em favor daqueles que maltratam vocês.

Hoje, vamos falar sobre a questão do amar... Não um amar qualquer, mas o amar como Cristo ensinou: o amar universalmente.

Em outras vezes já me perguntaram muitas vezes sobre a questão de amar. Por isso hoje vamos tentar deixar bem claro o que é o amor universal, aquele que é absoluto, e que não é entendido pelos seres humanizados.

Já neste primeiro texto do estudo de hoje encontramos um direcionamento para este amor quando Cristo diz: ame os seus inimigos e faça o bem aos que odeiam vocês. Este é um parâmetro estabelecido pelo mestre para que o amor exista... Mas, não é assim que os seres humanizados, mesmo os religiosos, amam...

Quando o ser humanizado ama, o faz de uma forma relativa. Ou seja, para o mundo carnal, o amor é compreendido como um sentimento que se deve ter por algumas pessoas que, dentro do critério do ser humanizado, são julgadas como merecedoras de recebê-lo.

O amor humano é relativo, porque dentro desta seleção que o ser humanizado faz, ele descobre outros que não devem ser amados... Ou seja, o ser humanizado imagina que há pessoas que são merecedoras de receber o amor e outras que não são...

Interessante isso... Interessante porque o julgamento que determina quem merece ou não ser amado é feio pelo próprio ser humanizado, como se ele tivesse a competência para julgar o próximo...

O amor que Cristo ensina, o universal, é um sentimento que extrapola julgamentos ou motivos para existir. O amor crístico é aquele que não vê quem está recebendo este sentimento; não se preocupa se quem está recebendo merece ou não.

O amor universal ama indiscriminadamente... O amor universal ama incondicionalmente...

Eis aí, portanto, um detalhe sobre o amar: ele é uma atividade sem interlocutor e sem receptor específico. Quem quer amar universalmente não pode amar a alguém específico e nem amar porque, como, quando ou onde.

O amor universal é aquele sentimento que o espírito dedica ao Universo, ou seja, a todos os elementos existentes e o faz o tempo inteiro e não apenas em momentos onde julgue que este sentimento deva existir.

Participante: Estava falando com uns amigos e eles disseram que existiam diversos tipos de amor. Eu ouvi e depois fui pegando as palestras anteriores e as li. Posteriormente lhe fiz diversas perguntas e vi que existe apenas um amor verdadeiro: o amor universal, o amor de Cristo. Vi também que existe o pseudo-amor, aquele que é baseado no ego, ou seja, a paixão. O que você acha deste raciocínio?

Perfeito... Só, por favor, não acredite que existem diversos amores ou diversos tipos de amor, nem que seja sobre o título de pseudo-amor.

Como vimos anteriormente, só uma coisa é Absoluta e, por isso, só ela pode ser chamada de Real. Sendo assim, só existe um Amor que merece este título: aquele ensinado por Cristo. O resto são paixões geradas pelo ego e que são rotuladas com o nome de amor.

Amor e paixão: esta é a diferença que eu quero colocar no que você falou.

Só existe um amor: as paixões são ilusões, irreais. Como isso, porém, não quero dizer que ter paixões é algo “errado”, já que elas são inerentes ao ser humanizado.

Ter paixões não é “errado”. Agora chamá-las de amor e, com isso, dizer que existem diversos tipos de amor é vivenciar o relativo como absoluto. Isto não lhe leva a lugar nenhum no sentido da elevação espiritual.

Portanto, é exato o que você está falando. Aliás, foi por causa de suas perguntas que escolhi para hoje o tema amor e paixões. Vamos desmistificar a questão do amor.

Hoje vamos começar a compreender que existe um único amor que não é nada do que os humanos chamam de amor. Aliás, por muitas vezes o amor crístico fere as condições de amar que são criadas pelos seres humanizados.

Quando Cristo diz que você deve amar o seu inimigo, por exemplo, ele está dizendo: não tenha paixão pelo seu amigo, porque se tiver, ou seja, for apaixonado por uma amizade, não conseguirá amar o inimigo... Mas, ser amigo é uma das condições para amar que os humanizados impõem, não é?

Este é o aspecto que a humanidade não entende sobre o amor. Alguns seres humanizados querem amar o inimigo como Cristo ensinou, mas querem fazê-lo mantendo separados os amigos dos inimigos, ou seja, querem viver de forma igual paixões positivas e negativas.

Isso é impossível. Eles acabam amando a paixão positiva e não desejando a paixão negativa.

Por isso é preciso acabar com algumas hipocrisias a respeito do amor. Quem ama, ama a todos e o tempo inteiro. Quem ama apenas alguns momentos e apenas alguns elementos, tem paixões e não amor...

Desejem o bem para aqueles que os amaldiçoam e façam orações em favor daqueles que maltratam vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também. Se alguém tomar a sua capa, deixe que leve a túnica também. Dê sempre a qualquer um que lhe pedir alguma coisa; e, quando alguém tirar o que é seu, não peça de volta.

O amor – preste bem atenção nisso – não cria propriedades individuais...

O amor verdadeiro não gera propriedades para quem ama. Não o faz sentir-se proprietário daquele ou daquilo que ama.

O amor Real, o Universal, o de Cristo, não gera posse... Isto porque a posse em si já é um condicionamento da existência do amor. Com isso encerrou-se o caráter universal deste sentimento que os humanizados chamam de amor. O amor que contém expresso em si posses não é amor, mas paixão.

Quem ama de verdade, de Realidade, não possui o objeto desse amor. Mas, o que é possuir? É querer definir o destino e a ação do objeto ou pessoa possuído...

A posse sob o objeto material se traduz por paixões como estas: é minha casa, tem que estar arrumada do jeito que eu quero... É meu carro tem que estar sempre funcionando e não pode bater... É minha televisão, toda vez que apertar o botão tem que funcionar.

A posse sobre os outros ocorre quando, a partir da paixão, o ser humanizado espera do outro atitudes que ele quer receber... Ou seja, espera que o seu amigo, marido, mulher, parentes, lhe seja fiel...

A posse leva o ser humanizado a esperar que as outras pessoas concordem sempre com ele e estejam preocupadas em fazer aquilo que ele gosta, quer ou acha “certo”. Isto não é amor e se você diz que ama essas pessoas, isso é ilusão: você não ama, mas tem paixão.

O amor universal não cobra nada de ninguém. O amor universal pelos objetos existe quando elas funcionam, quando estão do jeito que o ser humanizado queria que estivessem. O amor universal com as pessoas não exige comportamentos ou atitudes pré-estabelecidas e esperadas para existir.

É isso que está, vamos dizer assim, por trás deste comentário de Cristo...

Vocês estão cansados de ler o ensinamento que diz que tem que se amar o inimigo, mas ainda não entenderam que o simples fato de terem amigos prova que não amam ninguém, mas só a vocês mesmos.

Só amam a si mesmo porque condicionam o amor ao atendimento que esta pessoa ou objeto faz às suas condições pra amar... Amam quem lhes satisfaz e enquanto esta satisfação acontecer. Quando a pessoa ou objeto não mais estiver realizando seus desejos positivos ou lhe ajudando a escapar dos seus desejos negativos, você não vai mais querer saber dela, não mais a amará...

Como disse, hoje queremos desmistificar esta questão de amor. Para isso vou lhes dar um conselho: parem de dizer eu lhe amo... Isto é falso.

Parem de achar e imaginar que são bonzinhos e amam os outros, porque isso é falso. O amor que imaginam que dão é apenas uma sensação. É um amor racional, um amor fundamentado em paixões. Na verdade, tais sensações existem para que o ser possa provar a si mesmo que ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo...

Esqueçam... Esqueçam que amam alguém para não viverem a hipocrisia que Cristo falou dos professores da lei. Declarem expressamente que não amam ninguém, porque, nesta hora, pode ser que comecem a amar o Universo.

Façam aos outros a mesma coisa que querem que os outros façam a vocês.

 Esta é a base do amor universal. Amar universalmente é dar o que você espera receber...

Você quer receber carinho dos outros? Dê carinho a todos...

Você quer receber amizade dos outros? Dê amizade a todos...

Quer receber compreensão dos outros? Compreenda a todos...

Sabe por que? Ouça o que Cristo diz...

Se vocês amam aqueles que os ama, por que esperam alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama amam os que têm amor por elas. E se vocês fazem o bem somente àqueles que lhes fazem o bem, por que esperam alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama fazem isso. E se vocês emprestam somente para aqueles que vocês acham que vão lhes pagar, por que esperam alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama emprestam aos que tem má fama, para receberem de volta o que emprestaram. Ao contrário, amem os seus inimigos e façam o bem a eles. Emprestem e não esperem receber de volta o que emprestaram e assim vocês terão uma grande recompensa divina e serão filhos do Altíssimo Deus.

Sabe, se você só quer compreender quem diz que ama, como espera que Deus lhe compreenda? Se quer dar carinho apenas àqueles que quer, como espera que Deus lhe dê carinho?

Saiba de uma coisa: dar carinho a quem se ama é mais fácil do que fazer coco de cócoras. É simples, é um prazer. Não há nisso nenhuma doação...

Por isso afirmo: o fundamento que gera a existência da universalidade no amar é a doação... Para você entender o amor universal é preciso compreender isso: não se pode falar em amor universal sem doação de verdades, posses, paixões e desejos...

Se você está apegado apenas àquele que retribui o seu apego, o que espera? O que espera de Deus, do Universo, se você é individualista? Quem escolhe a quem se apegar, o que espera do Universo, que é universalista e não separa elementos “bons e maus”, “certos ou errados”?

Esse é o fundamento universal do amor crístico que precisa ser bem compreendido. Tudo que existe na Realidade do Universo é universalista e, por isso, vive em equanimidade com tudo e com todos...

Chamar paixão de amor, ou seja, chamar egoísmo – porque a paixão é fundamentada no egoísmo – de amor, é hipocrisia. Saiba de uma coisa: o egoísmo, ou seja, tudo que se baseia numa condição individual, é a antítese do amor universal.

Amar a tudo e a todos de uma forma indiscriminada. Amar doando-se sem esperar retribuições: isso é atividade de espírito. Já a atividade do ser humano é amar apenas aquele que ele quer. Na verdade é apenas dizer que ama, porque na realidade o que nutre pelo próximo é uma paixão...

O ser humanizado ama apenas aquele lhe puxa o saco, que primeiro faz o carinho para depois receber, que primeiro lhe presta o serviço. Já o ser universal ama antes de qualquer coisa que o outro faça. Estas são as diferenças básicas entre a paixão que vocês chamam de amor e o Amor Crístico, o Universal.

Participante: O que você chama fazer a vontade do próximo é o que acabou de ser lido?

Sim, é servir ao próximo. Fazer a vontade do próximo é estar sempre à disposição do próximo.

Agora, volto a repetir uma coisa: eu não falo de atos. Outro dia me perguntaram: e se o outro quiser que eu vá matar alguém... Tenho que servi-lo? Eu respondi: com relação ao ato, Deus dirá o que acontecerá. Agora internamente, sentimentalmente, você tem que estar sempre à disposição do outro.

Participante: Explique-me melhor a sua afirmação que diz que o ato do meu inimigo é o amor de Deus em ação. Como o meu inimigo é a presença de Deus?

Veja... Você não é um ser humanizado, não tem vida e, por isso, não participa de atos. Você é um espírito que tem uma existência eterna. Aquilo que você chama de atos humanos, na verdade, fazem parte desta existência, mas não com os valores que representam agora para você, mas como provações da sua caminha espiritual.

Ou seja, o ato do seu inimigo desta vida carnal é o seu carma, é uma provação. Por quê? Porque o ato do seu inimigo trabalha justamente esta questão da paixão.

O que é ser seu inimigo? É ser uma pessoa que não satisfaz as suas vontades... O que é o ato que ele pratica? São atitudes que não satisfazem os seus desejos...

Como já estudamos, o desejo, a vontade e a paixão são elementos carmaticos, ou seja, são provas. Assim, quando o seu inimigo lhe faz alguma coisa, está criando uma oportunidade para você vencer seus desejos, paixões, posses e com isso vencer o seu egoísmo. Como resultado disso, se alcança a elevação espiritual.

Costuma se dizer que a ação do seu inimigo é um presente de Deus, fruto do amor do Pai, porque é a oportunidade para o espírito realizar o objetivo da encarnação. Se não houvesse estas provas, não haveria encarnação e nem elevação espiritual.

Então, o ato do inimigo é uma dádiva de Deus porque é a oportunidade do trabalho. Mas, o ato do amigo também, pois ele mexe com paixões, vontades e desejos iguais ao ato do inimigo.

Na verdade, o que você precisa se libertar é da paixão – do amar porque, do não amar porque – e alcançar o amor que Cristo ensinou e que é incondicional e universal.

Repare que para mudar a sua compreensão do ato do seu inimigo (de “mal” para fruto do amor de Deus) só alterei uma coisa: a sua forma de ver. Não alterei em nada o acontecimento, ou seja, não mudei a ação. Ou seja, utilizei a livre opção (livre arbítrio) que o Espírito da Verdade ensina.

NOTA: Na resposta à questão 851 de O Livro dos Espíritos, o Espírito da Verdade afirma que os acontecimentos da vida ocorrem de acordo com a escolha feita pelo espírito antes de encarnar. Apesar disso, afirma ainda o mentor de Allan Kardec, o ser universal continua, no tocante às provas morais e tentações, livre para escolher entre o bem e o mal.

No nosso caso, o amigo espiritual não alterou a ação porque ela é uma decorrência dos gêneros de provas escolhidos pelo espírito, mas mudou a visão, ou seja, a forma sentimental como encarar a situação.

Para o humano a felicidade está na satisfação material, prazer. Por isso ele precisa adequar as ações às suas vontades e paixões para ser feliz. Quando os acontecimentos não coincidem com o que o humano “acha”, o ato do inimigo transforma-se em “ruim”, “mal”.

Já para o espírito, a realização está na boa execução de suas provações. Por isso o ato do inimigo passa a ser bom, ótimo e perfeito para quem quer se elevar.

Façam isso porque Ele também é bom para os ingratos e maus. Sejam bons, assim como o Pai de vocês é bom.

No Evangelho de Mateus, tem um trecho interessante.

Vocês sabem o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos”. Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês para que vocês se tornem filhos do Pai que está no céu. Porque ele faz o sol brilhar sobre os bons e os maus e dá chuva tanto aos que fazem o bem como aos que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, porque esperam alguma recompensa de Deus? Até os cobradores de impostos amam aqueles que os amam. Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu. (Evangelho de Mateus – Capítulo 5 – versículos 43 a 48).

Ou seja, Cristo afirma que a dádiva de Deus necessária para a vida está à disposição daqueles que você considera bom assim como os que você considera mau... Já repararam nisso?

Com este ensinamento, Cristo está nos mostrando a característica do amor de Deus: ser igual para todos... Deus ama a todos de uma forma igual.

Juntando o que está em Mateus (“sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de vocês”) tudo a respeito do amar fica compreendido. Ou seja, compreende-se que não dá para amar ao próximo de uma forma não universal. Por quê? Porque Deus ama a todos de uma forma universal e se o ser humanizado aspira entrar no Reino do Céu precisa praticar este amor.

Esta é a palavra importante para se entender o amor: ser perfeito no amar como Deus é perfeito em amar. Amar não aceita imperfeições, porque quando o amor é imperfeito, ele não existe. Transforma-se numa paixão, ou seja, num elemento de provação, uma ilusão do qual precisa se libertar.

Então, mais um ensinamento interessante sobre o amor ensinado por Cristo: ame como Deus ama a todos. Ame universalmente...

Encerrando esta questão, quero apenas dizer que, amar universalmente, dentro da única compreensão que vocês podem ter, é não amar como amam hoje... Vocês são incapazes de gerar este amor universal, porque o ego agirá, como instrumento de provação que é, sempre criando condições.

Apesar disso afirmo uma coisa: vocês são capazes de reconhecer a existência do condicionamento... Os seres humanizados podem não saber amar universalmente, mas são capazes de identificar as paixões, ou seja, as razões para amar.

Por isso lhes digo: libertem-se destas paixões que vocês estarão amando como Cristo disse que deve se amar...

Evangelhos canònicos - Textos

O fermento dos fariseus

Jesus disse: cuidado com o fermento dos fariseus e Herodes. Eles ouviram o que o mestre falou e disseram: ele está dizendo isso porque não temos pães. Jesus ouviu e disse: porque vocês estão discutindo por não terem pão. Não sabem e não entendem o que eu disse? Por que são tão duros para entender as coisas? Vocês têm olhos e não enxergam; tem ouvidos e não escutam? Não se lembram dos cinco pães que eu reparti para cinco mil pessoas? Quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram? Será que ainda não entendem?

O que será que cristo quis dizer quando mandou tomar cuidado com o fermento dos fariseus e de Hipócrates? Para isso vamos ter que falar um pouco destes personagens. Os fariseus eram um partido político, ou seja, uma facção religiosa da Judéia de então. Eles foram muito criticados por Cristo porque eram religiosos que cobravam dos seus seguidores posturas rígidas e obediência irrestrita, sem jamais amar de verdade. Já Herodes era o rei de Israel daquele tempo e também um fariseu.

A partir daqui podemos entender que Cristo está alertando aos seres humanizados que eles devem cuidado com o fermento daqueles que gostam de exigir que seus ensinamentos (verdades e paixões) sejam contemplados. Mas, o que é o fermento de cada um? O fermento é o que faz a massa crescer, tomar forma. Levando isso para o objetivo de Cristo (ensinar a viver com uma consciência crística), podemos entender que o mestre está falando aos seres humanizados da sua forma de viver, daquilo que é a essência da vida de cada um.

Dito isso podemos entender o que o mestre está ensinando neste trecho: não louvem a Deus apenas pelas coisas que lhe satisfaça...

Os seres humanizados, quando acontece algo que ele gosta, que lhe satisfaz, louva a Deus agradecendo o acontecimento. Mas, quando isto não ocorre, ou seja, quando acontece o que não lhe satisfaz, não louva ao Senhor.

Mas, porque Cristo cita as vezes em que ele fez a multiplicação dos pães? Para dizer que ele pode por fermento à massa que quiser... Com isso está ensinando aos seus seguidores: se você possuir a consciência crística (amar universalmente a todos e a tudo) este fermento fará o pão multiplicar-se, ou seja, fará com que os momentos chamados de ruins sejam considerados como ‘bons’.

O que acontece a quem só põe o fermento dos fariseus, ou seja, aquele que faz a vida ter sentido somente quando está satisfeito em seus desejos quando ela não reflete estas vontades? Chora, sofre, cai em depressão, se amargura... Por que estes não louvam a Deus neste momento se Ele é o mesmo que fez acontecer as coisas consideradas boas? Porque estão apegados na busca do ganhar e de ter o prazer o sempre...

Deus não pode ter duas caras, ou seja, dar o que você considera bom e mau. Ele é imutável, por isso só pode gerar uma única coisa. Mas, mesmo assim os seres humanizados continuam achando momentos bons e maus. Por quê? Porque estão apegados às suas verdades e vontades que dão valor aos acontecimentos do mundo.

É isso que Cristo está ensinando. O ser humanizado precisa desapegar-se dos seus valores para não se alimentar (viver) com alimento (vida) feito a partir do fermento dos fariseus (a vontade individualista). Libertando-se disso, este ser pode, então, louvar a Deus em todos os momentos de sua existência e assim alcançar a sua elevação espiritual.

Evangelhos canònicos - Textos

Reforma íntima

Ai de vocês, professores da Lei e fariseus, hipócritas! Pois lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estes estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância. Fariseu cego! Lave primeiro o copo por dentro e então a parte de fora ficará limpa também!

Primeiro vamos entender as palavras de Cristo. Ele afirmou: lavam o copo por fora, mas não por dentro. O que quer dizer isso? Na vida do ser humanizado o que é lavar o copo por fora? Vou dar um exemplo para podermos entender o que quero dizer. Os seres humanizados varrem e tiram pó de um cômodo da casa. Com isso eles embelezam o mundo exterior. Mas, quando fazem isso por obrigação, por vaidade, para mostrar aos outros que bela casa têm, não vêem que estão sujos por dentro...

De nada adianta, no sentido da elevação espiritual, o ser humanizado varrer um chão apegado aos seus desejos, às obrigações da sociedade, por desejo que ele esteja limpo. Este ser humanizado ainda está sujo por dentro porque tem vontades e leis.

O ser humanizado não vê que quando faz uma coisa para alcançar o prazer (varro porque eu gosto de ver varrido) ‘suja’ o chão com esta sensação. Tudo que é feito visando um benefício próprio suja e polui o mundo.

Aquilo que é limpo por obrigação, para satisfazer desejos individuais suja logo; ainda não repararam nisso? Por que isso acontece? É Deus lhe perguntando: varreu a sala por varrer ou na esperança que ela fique limpa, ou seja, apegado à idéia que o seu querer prevaleça?

Veja bem. Cristo está nos ensinando que o ser humanizado não deve se preocupar com o seu exterior, ou seja, como que está fazendo, mas que deve estar sempre preocupado em limpar-se a cada momento, ou seja, retirar todo o individualismo com o qual se vivencia os acontecimentos da vida.

Isso serve para tudo. O ser humanizado deve participar de qualquer ação onde aparentemente seja o agente de uma ação fazendo por fazer e não para, porque ou como. Ele deve fazer por fazer, sem saber por que está fazendo, sem saber o que esperar do que está acontecendo. Deve varrer a sala apenas com a consciência de que está praticando esta ação, sem esperar que ela fique limpa ou não.

Pergunta: E seu eu fizer para agradar a outro que gosta daquilo feito de tal forma?

Você me pergunta isso porque imagina que agir assim é fazer pelo próximo, mas não vê que por sua parte aí está presente a vaidade, a soberba, a busca do elogio, a busca do reconhecimento... Quer mais?

Não existe isso de fazer por amor, pois o amor humano ainda é composto por individualismo. O que o ser humanizado precisa para alcançar a consciência crística é fazer por fazer. Tem um ensinamento de Buda que podemos usar para entender essa passagem: a atenção plena... Este mestre dizia assim: quando você estiver lavando louça, esteja lavando louça. Só isso... Se enquanto estiver lavando louça alguém perguntar como se faz isso, para que está fazendo este ato ou o que vai acontecer do que está sendo feito, o ser humanizado que quer ter a consciência crística deve só responder: não sei... É isso que Cristo está nos ensinando.

O professor da lei não vive assim. Ele quer varrer a sala de uma determinada forma e esperando um determinado resultado porque ele sabe o que é sala limpa. Para esses, tenho uma pergunta: como andará a sua saúde espiritual?

As expressões (as paixões, os desejos, a vontade de ganhar sempre, a busca do prazer, a procura pelo reconhecimento e pelo elogio) podem ser chamadas de energias negativas, como vocês entendem no planeta este elemento. Sendo isso verdade, posso dizer que aquele que só se preocupa com a limpeza externa e não com a interna está seriamente doente, pois tem um câncer (o egoísmo) do qual não está tratando.

Sabe, não adianta nada passar creme na cara se não passá-lo na mente, na consciência. Não adianta nada dar banho no corpo se não banhar o interior. O ser humanizado acha que depois de fazer suas necessidades fisiológicas tem que lavar a mão, mas ninguém lava a mão para se livrar as bactérias (energia negativa) que saem depois de vivenciar um acontecimento apegado às suas paixões e desejos.

Sabem qual o coco que sai pelo coração? A crítica, o ensinar o certo, o querer obrigar o próximo a ser do jeito que vocês acham certo... Depois que faz as necessidades o ser humanizado lava as mãos, mas depois que despeja pelo coração estes excrementos não lava o coração, não é mesmo?

Quis aproveitar este ensinamento de Cristo para lhes lembrar disso: cada vez que forem ao banheiro o importante não é lavar a mão, mas o coração. Os seres humanizados precisam se preocupar não com a beleza do corpo físico, mas sim com o seu íntimo. Reparem: os seres humanizados fogem da velhice fazendo plásticas e outros procedimentos, mas por mais que fujam, ela sempre chega.

É preciso encarnar a realidade da vida. É preciso começar a se preocupar com a limpeza interna e com a saúde interna e não só com a aparência e saúde externa. Como já tinha dito, aquele que busca a consciência crística precisa se preocupar em viver para dentro, em viver para si mesmo. Precisa começar a se preocupar em lavar-se.

Lavar-se é acabar com as obrigações, com as leis, com as regras; acabar com aquilo que tem ser feito na hora e forma que você acha que deve ser feito. Esse é o banho que todo ser humanizado tem que tomar a cada momento para não ter câncer.

Evangelhos canònicos - Textos

A oração

Você sabe rezar o Pai Nosso? Será que sabe mesmo? Vamos ver como Jesus nos ensinou esta oração.

Antes de transmitir o texto da oração Jesus ensina “como orar”.

“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas casas de oração e nas esquinas das ruas para serem vistos por todos. Lembrem-se disto: eles já receberam toda a recompensa. Porém quando você orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa”.

O primeiro aviso é bem claro: para se orar não há necessidade de se estar em uma igreja nem em um lugar específico. Você pode orar em qualquer lugar.

Mas, não faça isso na frente dos outros para mostrar o quanto você é religioso, mas faça dentro de você mesmo. A oração não deve sair da boca, mas sim do coração. Existe a necessidade de se rezar com sentimentos e não com palavras.

Orar não é dizer palavras certas, mas é viver em oração. É reagir a cada situação da vida com sentimentos positivos (o amor). Agindo dessa forma, o ser estará falando com Deus constantemente e receberá as recompensas por haver ultrapassado as provas da encarnação.

 “Nas suas orações, não fiquem repetindo o que já disseram, como fazem os pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas. Não sejam como eles, pois o Pai já sabe o que vocês precisam, antes de pedirem”.

Jesus afirma: você não precisa pedir nada, não precisa dizer a Deus o que quer, pois Ele já sabe antes mesmo que você o que é necessário para a sua vida. O Pai não está preocupado em satisfazê-lo materialmente, mas sua missão é proporcionar a cada um as situações necessárias para a evolução espiritual.

Se orar é viver em oração, você não deve “querer” nada nesta vida, pois Deus lhe proverá de tudo o que necessita para viver, sempre pensando no que for mais útil para a sua evolução espiritual. Todo o pedido feito na oração que busque a satisfação pessoal não poderá ser recompensado se não for útil à elevação espiritual.

Mesmo que você faça orações com palavras, nunca peça a Deus nada, pois Ele sabe melhor do que você é que é bom para a sua vida espiritual. Ele não se preocupa com o ser humano (estado temporário do espírito), mas sim com a sua existência eterna como espírito.

É com esta visão que Deus dá as coisas na vida de cada um, ou seja, os acontecimentos que compõem esta vida. Sua preocupação é apenas com a evolução do espírito que é eterno e imortal. Pedir qualquer coisa é querer governar a nossa vida e afastá-la de Deus.

Portanto nunca ore incluindo “me dá”, “faça isso por mim”: a oração não é para isso. Ela é para falar com Deus, demonstrar o amor a Ele e não querer que nossos desejos sejam satisfeitos, pois Ele sabe melhor que cada um o que é necessário.

Mesmo quando você orar com sentimentos positivos não espere que Deus vá satisfazer os seus desejos. O Pai dá a cada segundo, novas chances de evolução e não situações para serem gozadas no prazer material.

A recompensa de Deus aos filhos não é a satisfação das suas vontades individuais, mas proporcionar a cada um as situações necessárias para a evolução espiritual.

Quando você vive sem amor, o que Deus lhe dará será uma recompensa equivalentes ao seu sentimento. Quando um ser falha em uma prova de sua encarnação é necessário que Deus, por sua Justiça e Amor, promova mais uma chance de evolução.

Ao falhar em determinada prova, o ser gerou um débito e, por esse motivo, a próxima situação deverá espelhar não só o tema da prova, mas ainda será acrescida da expiação desse débito.

Quando você sente ódio, raiva, crítica, ganância, poder, não está orando, não está vivendo uma vida em oração. A recompensa, ou os fatos da vida, que Deus dará por sua vida em oração baseia-se no sentimento que você utiliza a cada segundo de sua vida.

Quem ama não se exibe para os outros, não deixa a mão direita saber o que a esquerda está fazendo. Todo espírito deve levar uma vida em oração, mas dentro de si e não exibindo suas conquistas. Isto é soberba e não amor e por isso a recompensa (próxima situação de vida) será uma prova mais difícil.

 

“Portanto, orem assim”:

Jesus não diz orem com estas palavras, mas orem desta forma. Se entendermos que devemos viver uma vida em oração, ao mostrar a forma da oração Jesus nos ensina como viver.

Desta forma, podemos entender que Jesus não transmitiu na oração do Pai Nosso as palavras para serem ditas, mas um conjunto de princípios que devem ser seguidos para se viver ligados a Deus para que se receba a melhor recompensa para o espírito.

Portanto, o Pai Nosso não deve ser encarado como um grupo de palavras para ser dita, mas sim como um conjunto de ensinamentos que nos levará a viver dentro do mundo de Deus, dentro do amor.

É isto que vamos estudar hoje: qual a melhor forma de viver para se receber de Deus as melhores coisas para a nossa evolução espiritual.

“Pai nosso”...

Para que sua existência seja uma oração constante, você terá que entender que Deus é seu pai. Foi Ele quem lhe gerou e não a sua mãe ou seu pai biológico. Você não é fruto de uma combinação biológica, mas sim um espírito gerado por Deus.

Tem que compreender que não é “obra” de Deus, mas um filho gerado com carinho. O ser humano é uma obra, pois é composto de matérias, mas você, o espírito, é filho de Deus, fruto de um amor Dele.

Portanto, para se viver como espírito nesta carne temos que tratar Deus como Pai e não como Arquiteto, Sábio, Governador, etc. A Deus o filho deve amor, aos outros deve obediência.

Um pai nunca quer o sofrimento para seu filho, mas sempre procurar encontrar meios para que ele progrida em sua vida. Da mesma forma Deus sempre coloca coisas na vida de um filho para que ele progrida, não para que sofra, mesmo que aparentemente o filho não entenda desta forma.

Quando o pai biológico obriga o filho a estudar, coloca-o de castigo após uma travessura, sabe que o filho não compreende os reais motivos de suas atitudes, mas tem a plena convicção que aquilo é o melhor para Ele. O filho não entende estas atitudes e acha que ele está sendo alvo de autoritarismo, sofre porque vê a sua liberdade cerceada, mas quando cresce entende que aquilo foi o melhor para ele.

É desta forma que temos que encarar a vida. Quando as coisas não acontecem da forma que queremos é Deus, nosso Pai, nos obrigando ao estudo do amor e às vezes sendo obrigado a nos colocar de castigo. Entretanto, Ele não faz isso para o nosso “mal”, mas objetiva a evolução, o crescimento espiritual. Quando evoluímos espiritualmente, vemos que isso é uma verdade.

Mas Ele não é só nosso Pai, mas de todos os espíritos do Universo: “Pai nosso”. Jesus mostra claramente que temos que entender que todos os espíritos do Universo são filhos de Deus e, por isso, não devemos esperar privilégio algum sem que tenha antes havido o devido merecimento.

Pai nosso quer dizer que todos têm direito de receber as coisas de Deus e não só você. Quer dizer que todos no Universo são orientados por Deus para que passem pelas situações que podem lhe trazer mais rapidamente a elevação espiritual. Desta forma, você não pode se arvorar em dono da verdade e querer ditar o que é “melhor” para a vida dos outros, nem exigir que eles se mudem para o que imagina ser o “melhor” para a sua vida.

Se você tivesse um filho, gostaria que lhe ensinassem como educá-lo? Deus também não gosta daqueles que querem ensinar aos seus filhos como agir. Quando você julga uma pessoa, dizendo que ela está errada, busca assumir a paternidade dela, passando a frente de Deus.

Isto não são palavras para serem declamadas, mas entendimento para se viver a vida. É preciso abster-se da posição de dono do mundo, de chefe da família, para entregar de volta a Deus o comando das coisas.

Não adianta rezar as palavras “Pai nosso”, sem agir a vida sabendo que você é apenas um filho desta família onde há um Pai que comanda a casa. Não adianta se postar de joelhos apenas falando estas palavras, enquanto não entender que o outro não é seu subordinado, mas um irmão que obedece apenas a Deus.

“... que estás no céu”,

O céu não é um lugar físico, mas um estado de espírito. Quem está no céu é aquele que por só utiliza sentimentos positivos alcança a felicidade universal. A soma de todos os sentimentos positivos é o amor universal. Portanto, quem está no céu é aquele que reage a todos os acontecimentos com o amor universal.

Jesus ensina no Pai Nosso que você tem um Pai que é repleto de amor para dar. Não adianta dizer estas palavras, mas sim viver com esta verdade.

Assim sendo, Deus não pode causar “mal” (situações de sofrimento) para você. Se Ele é o Pai, o Comandante de todas coisas, todas as situações estão embasadas no amor: este deve ser o seu entendimento sobre as coisas da vida.

De que adianta você rezar se vive achando que existem coisas que são “más”, que lhe causam sofrimento? Você diz que o Pai está no céu, mas age de forma como se Ele estivesse no inferno, que fosse capaz de gerar sentimentos negativos.

Na verdade é você quem julga que as coisas são “erradas” porque elas não satisfazem os seus desejos. Mas, você não é o dono do mundo, o Pai da família, como então quer dizer como as coisas devem ser nesta casa?

O pai biológico não faz tudo o que o filho quer, mas sempre pensa no que é “melhor” para o seu futuro quando o guia. Da mesma forma, Deus não provê o que você acha “melhor” (satisfatório), mas lhe dá o que precisa para aprender e evoluir-se espiritualmente.

A vida humana é igual à vida espiritual: o problema é saber quem é o pai e quem é o filho.

É isto que Jesus está ensinando. Orientando cada um a viver sua existência com a consciência de que tudo que acontece na vida foi o Pai que determinou que fosse daquela maneira e que é o melhor para o espírito.

Orar não é viver com as mãos postas o dia inteiro, mas alcançar a consciência que esta é a casa de Deus, que moramos nela e que Ele é nosso Pai. Saber que esta casa tem como fundamento o amor universal entre o Pai e os filhos e que, portanto, tudo que acontece objetiva a sua felicidade e não a punição. Viver com a consciência da transitoriedade dessa vida e que ela é apenas uma parcela de tempo da existência infinita do ser.

Tudo que lhe acontece foi providenciado por Deus pensando nessa existência infinita.

“que todos reconheçam que seu nome é santo”.

Os santos são aquelas pessoas que não cometem “erros”, ou seja, praticam atos com sentimentos negativos. Portanto, quando na oração é dito santificado seja o nome de Deus, quer dizer que Ele nunca “errará”. É isto que Jesus está ensinando.

Você tem que viver sem descobrir “erros” nos outros, nas situações e objetos, pois tudo que existe é Ele que faz. Tudo que acontece é perfeito na sua forma, porque Deus é a Inteligência Suprema do Universo, a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

Enquanto você encontrar “erros” na ação divina estará negando essa elevação suprema de suas propriedades. Assim, não adianta rezar porque a oração não é a palavra, mas o sentimento que sai do coração.

“Venha o Teu reino”

Existe aí um pedido do espírito: que Deus o deixe participar do Seu reino. Todo espírito vem à carne para buscar o reino de Deus, onde existe o amor e a felicidade. O espírito não vem a Terra para fazer o que ele quer (satisfazer-se), mas sim para buscar participar do reino de Deus através da comprovação de que é capaz de ter somente amor dentro de si.

Você não veio aqui para fazer o que quer, mas para participar do reino de Deus, ou seja, viver com amor. A vida na carne é uma busca constante de provar a Deus que se é capaz de viver no Seu mundo e, por isso existe a necessidade de se viver todos os momentos da vida com esta consciência.

Enquanto você quiser ser ou fazer coisas apenas baseando-se na sua vontade, nos seus desejos, você não participará do reino de Deus, pois o amor, único sentimento que nos leva a este reino, exige que haja igualdade entre todos. Para participar do reino de Deus precisamos alcançar a universalidade, eliminando o individualismo.

Para se ter amor é necessário aceitar que os outros façam aquilo que “querem”, sem que se veja nestes fatos “erros”. Não existe julgamento no mundo de Deus, pois o Pai concede o livre arbítrio aos seus filhos.

É necessário que você compreenda que veio a essa matéria carnal nesse planeta unicamente para provar que é capaz de amar. Cada um dos espíritos que encarnam no planeta Terra o fazem somente para realizar essa prova e nada mais é preciso para se viver esta vida.

Todas as outras coisas que você valoriza (direito, posse, soberba, certezas) não existem: é você que cria cada um desses valores de acordo com os sentimentos que usa. Quando utilizar somente o amor descobrirá que nada mais é preciso, pois ele completa você, lhe dá todo o direito, toda a posse que necessita, o orgulho correto e a certeza de viver no reino de Deus.

Para que querer ter a certeza de tudo, está “correto” sempre, se a única perfeição do Universo é Deus? Basta apenas amar ao Pai para descobrir todas as verdades do Universo.

Querer ter razão sempre é como diz o sábio no livro Eclesiastes: pegar o vento com a mão. Se você quiser pegar o vento com as mãos ele lhe escapará por entre os dedos. Da mesma forma, a razão que você imagina ter sobre um assunto sempre lhe escapará, pois os fatos alteram-se constantemente e o que hoje era de uma forma, amanhã não mais será.

Enquanto você quer pegar todas as razões esquece-se de viver e a vida passa no meio dos seus dedos. Depois, quando fica velho se pergunta: o que eu fiz da minha vida? Onde estão as verdades que defendi o tempo inteiro? Todas elas mudaram e você ficou sem nada.

Se você amar, se viver a vida amando sem procurar ter razões, agarrará a vida e se sentirá na velhice pleno, cheio, feliz, pois o amor traz a felicidade.

Existe uma passagem no Evangelho de Tomé, o Dídimo, onde Jesus afirma que o homem sábio é igual a um pescador que ao puxar sua rede encontra muitos peixes pequenos e um grande. Ele separa o grande para si e joga fora todos os outros.

Nestas palavras Jesus afirma que você deve procurar o que mais lhe dá felicidade, o que mais lhe completa e só o amor pode dar isso. Você tendo o amor não precisa de mais nada, nem amar. Se tiver qualquer outro sentimento, alimento que não sacia a sua fome espiritual estará sempre necessitando de mais alimentos.

Quando você tem raiva de uma pessoa, necessitará sempre alimentá-la com mais motivos. Quando só esta pessoa não mais bastar, estará procurando motivos em outra, depois outra. Sempre você estará achando “erros” em todos que lhe aparecem na frente para poder alimentar este ódio.

Com a posse é a mesma coisa: quando você possui uma coisa, necessita sempre de outra mais. Nunca atingirá a satisfação com as coisas que tenha.

O amor traz a verdadeira satisfação por si mesmo. Quem ama não precisa de mais nada: de razão, de verdade, de certeza, beleza: não precisa de nada. Só amor satisfaz completamente.

É desta forma que Jesus lhe conclama a viver na oração do Pai Nosso: venha a nós o vosso reino. Trata-se de um pedido que o espírito deve fazer sempre: deixe-me participar deste amor, me dê este amor para viver.

Mas, como Jesus avisou logo no início do texto, Deus lhe dá recompensas de acordo com a oração feita. Assim sendo, o amor é a recompensa por uma vida de oração. Não adianta só pedir: existe a necessidade de agir, com amor, para poder participar do reino de Deus.

“Que a Tua vontade seja feita aqui na Terra como é feita no céu”.

Não adianta você rezar pedindo a Deus que seja feita a Sua vontade assim na Terra como no céu: tem que aceitar quando o Pai age dessa forma. Quando as coisas acontecem na vida, você considera que foi quem fez, quem realizou o ato: como então pede que seja feita a vontade de Deus?

Tudo o que lhe acontece é vontade de Deus e deve ser enxergado desta forma: isto é viver em oração. Não é a outra pessoa que lhe ofende porque quer (pratica atos pela vontade dela), mas faz desta forma porque Deus mandou que ela fizesse: foi a vontade do Pai e não da pessoa.

É o Pai, o dono da casa, quem comanda todos os seus filhos para interagirem-se praticando atos que os outros e quem pratica precisam e merecem passar ou fazer. Deus só deixa que a Sua vontade ocorra no universo para que a Justiça Perfeita nunca seja quebrada.

Mas viver em oração não é pensar nisso só nos momentos onde imagina que não tenha controle da situação, mas a todos os momentos. Você pede a Deus que seja feita a Sua vontade, mas só aceita que Ele opere quando você se sente incapaz.

Deus tem que estar presente em qualquer ato, por menor que seja. Uma topada provoca dor, que é um sofrimento, portanto, precisa da autorização de Deus para que isto aconteça, pois você pode não merecer esta dor.

Tudo que qualquer um consiga fazer na sua frente é comandado por Deus, pois só pode acontecer a você o que mereça (positiva ou negativamente). Entretanto quando alguém faz alguma coisa que você não acha certa, imagina que ela fez por livre e espontânea vontade. Neste momento você parte para o revide, para a agressão, ou fecha-se no sofrimento: qualquer das duas formas estará ofendendo a Deus, pois não viu o ato como da vontade Dele.

Se Deus ordenou que a pessoa fizesse determinado ato, ela serviu apenas de intermediário entre você e a vontade do Pai. Quando parte para o revide, está revidando contra Deus. Quando não reage, mas sofre, sente-se injustiçado, acusa Deus, causador do fato, de injusto.

Viver orando “seja feita a vossa vontade” é não encontrar “erro” em nada que acontece porque tudo é originado Nele. Admitindo que Deus causa tudo em sua vida, não haverá necessidade de sofrer, pois sabe que se trata do seu Pai tentando ensinar-lhe, com amor, para que cresça espiritualmente.

Na verdade você reza por toda uma vida dizendo que “seja feita a vossa vontade”, mas quer ter vontade própria. Seja feita a sua vontade, desde que seja o que eu queira: mesmo que não sejam estas as suas palavras, esta é a sua forma de viver.

Quando Ele se atreve a fazer o que não queria parte para agressão: “porque esqueceu de mim”, “olha como estou sofrendo”, “onde está o Senhor que não vem me ajudar”.

Viver em oração é ter a consciência de que tudo que acontece é obra Dele. Isto é viver rezando: isto é rezar. Não adianta ajoelhar-se em frente de imagens, postar as mãos: não é isto que Deus quer de seus filhos. Ele sabe que apenas aqueles que viverem em oração, com esta visão sobre as coisas, alcançarão a evolução espiritual.

Orar é viver em oração, é viver dentro dessas verdades universais: não existe outra forma de orar a Deus. Para que procurar determinados lugares (igrejas, centros, cultos) se Deus está em todos os lugares, principalmente dentro de você mesmo.

Isto não quer dizer que você não possa ir a uma igreja e rezar para um santo e conseguir uma graça. O que estamos afirmando é que não é necessário fazer isso. Se você for a uma igreja e orar com fé, certamente receberá a graça: não pela oração, mas pela fé. Receberá pelo merecimento.

Fé é entrega absoluta a Deus com amor (confiança) e é isto que Jesus ensinou. Pelo amor que você dedicou e pela entrega que fez nas mãos do Pai poderá encontrar o auxílio Dele, mas se depois disto voltar a viver dentro da independência, nova adversidade surgirá.

Deus dá a cada um de acordo com as suas obras. Quando você coloca o amor em prática, recebe amor; quando coloca qualquer outro sentimento, recebe o mesmo. Para merecer que o Pai lhe dê a felicidade sempre, é necessário viver com amor, ou seja, viver em oração.

“Dá-nos hoje o alimento que precisamos”.

Se você vive em oração sabe que o alimento que abastece diariamente a sua mesa não é conquistado pelo seu poder monetário, mas provem de Deus. Seja uma mesa farta ou um cardápio minguado, todo alimento que sustenta o corpo físico é dado por Deus visando a elevação espiritual de cada um.

Quando falamos em alimento não devemos nos ater apenas a comida, mas tudo aquilo que ali-menta o corpo físico. Aí devemos incluir as posses materiais, os bens, as roupas. Enfim, todos os elementos materiais que um ser tem a sua disposição são dados pelo Pai.

Porque, então, alguns têm muito e outros pouco? Porque existe seres que vivem no fausto e outros passam necessidade? A resposta a essas perguntas é a Justiça Suprema e o Amor Sublime.

Para dar a cada filho o que ele necessita para a sua existência, Deus age visando colocar à sua disposição instrumentos que serviam para a realização das provas individuais. Se o espírito necessitar de vencer o excesso, ter sentimentos que promovam a universalização dos bens materiais, Deus disporá ao ser grande quantidade. No entanto, se a sua prova for aprender a receber, Deus promoverá a penúria. Somente com a dependência de outros o ser aprenderá essa lição.

Dessa forma, não há governo responsável pela “fome”, mas Deus que dá a cada um de acordo com a sua necessidade. Os governantes que não promovem a “justiça social” são apenas instrumento de Deus para promover a Justiça divina. Também não há patrão explorador, que remunere mal seu empregado: apenas instrumentos para a vontade de Deus.

Além do mais, se Deus é o Senhor do universo, a empresa não é do ser humano, mas propriedade de Deus emprestada para o ser humano como instrumento de sua prova. Se você está trabalhando nela é porque o real patrão (Deus) o escolheu e ali colocou, pois é o que necessita para receber o maior salário que pode existir: o amor.

Os sentimentos são alimentos para o espírito. Assim, quando Jesus nos ensina que devemos viver com a crença de que Deus nos dá todos os alimentos, também o amor nos será dado pelo Pai. Ninguém pode lhe dar sentimento algum a não ser Deus.

Aquele que imagina que o filho, o esposo, a mulher ou o marido pode lhe dar sentimentos apenas reza e não vive em oração. Quem depende de um ser humano para se sentir amado é porque ainda não encontrou a Fonte universal dos sentimentos: Deus.

O Pai enviará esses sentimentos (alimento) ao filho de acordo com o seu merecimento. Trata-se de uma forma de pagamento pelos trabalhos prestados. Aquele que vive em um mundo onde Deus é a Causa Primária de todas as coisas receberá um “salário” maior, mas aquele que vive em um mundo onde o próximo é o seu inimigo, causador de sua infelicidade, receberá um “salário’ compatível com a sua “produção”.

Quando se vive em oração, pedindo a Deus que proporcione o alimento necessário para a existência, volta-se a existência na busca de “render” mais para Deus. A esses serão supridas as suas necessidades. Mas, quando se vive imaginando que é capaz de conquistar o alimento, a vida não proverá as necessidades de cada um.

Portanto, você deve buscar viver em harmonia com o universo, agindo exclusivamente com o amor universal, para que receba todos os alimentos que lhe sustentará. Apenas dizer essas palavras não garantirá o sustento.

“Perdoa as nossas ofensas como também perdoamos os que nos ofenderam”.

Pedir a Deus que “perdoe as nossas ofensas” é uma redundância. O Pai não pode acusar um filho de nenhum dos seus atos físicos porque é Deus quem idealiza e comanda a execução de cada ato (Causa Primária). Não pode também acusar o filho pelos atos espirituais (escolha de sentimentos para reagir a acontecimentos) porque concedeu a cada um o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade da prática desses atos.

O perdão que Jesus nos ensina a pedir não é a Deus, mas aos nossos semelhantes. Quando o ser promove um ato que fira os conceitos do próximo (ofensa), gera uma situação onde esse poderá escolher sentimentos negativos para reagir. É por ter merecido se transformar no instrumento de Deus para essa prova para o próximo que Jesus nos aconselha a pedir o perdão ao seu irmão.

Quando pedimos perdão ao nosso semelhante não estamos implorando por clemência, mas que o nosso ato não seja entendido como “errado”. É da consciência que cada ato é planejado e comandado pelo Pai de acordo com o merecimento e necessidade dos envolvidos que nasce o perdão. Somente essa consciência pode levar ao perdão, ou seja, a não acusação de “erro”.

Assim, quando Jesus nos diz que devemos pedir perdão por nossas ofensas, concita-nos a implorar ao próximo que não veja “erro” em nossos atos, mas que os receba como justos e necessários. Só assim ele poderá recebê-los com amor. Quando isso acontecer nos banharemos nesse sentimento e não nos tornaremos, futuramente, merecedor de servir de instrumento a Deus para novas situações negativas para os outros.

Entretanto, a oração ensinada por Jesus não termina com o pedido de perdão para nossos atos, mas coloca essa forma de agir na dependência de também nós perdoarmos o próximo. Para que possamos receber amor dos outros é necessário que também os amemos. Tudo que o espírito recebe de Deus é conquistado pelo merecimento.

Enquanto o ser não reagir a todos os acontecimentos sem ver “erros” nas ações do próximo, não poderá ser colocado por Deus para praticar atos na frente daqueles que podem reagir com amor. Enquanto sua reação for com sentimentos negativos o espírito merecerá ser colocado face àqueles que utilizam esses mesmos sentimentos.

De nada adianta ao ser orar pedindo perdão a Deus por seus atos enquanto não viver a vida perdoando aqueles que contraiam os seus desejos.

“E não nos deixes cair em tentação”.

Apenas aquilo que desejamos e não temos é que se transformam em tentações. Se não desejarmos ou já possuirmos, a tentação não existirá.

Quando oramos pedindo a Deus que não nos deixe cair em tentações, estamos implorando ao Pai que não nos deixe desejar nada. O desejo nasce da vontade individualista de cada um. Para acabar com o desejo precisamos compreender que já temos tudo o que necessitamos.

Deus provê a cada filho com todos os instrumentos necessários para a sua evolução. Se você possui um palacete é porque aquilo lhe é útil, mas se reside em uma choupana é porque Deus sabe que ela é o instrumento perfeito que você necessita.

Aquele que deseja o que não tem à sua disposição não consegue bem utilizar o instrumento que Deus dispôs.

Você reza a Deus diariamente pedindo a Ele que não lhe deixe querer nada além do que tem, mas o faz sempre pedindo algo mais. Quer saúde, dinheiro, proteção: tudo isso você já tem na justa e necessária medida.

Viver em oração é saber que já possui tudo o que precisa para ser feliz. Desejar qualquer outra coisa é ceder as tentações. Todas as coisas no universo que você não possui são tentações, ou seja, objetos que não lhe servem como evolução espiritual. Desejá-los, apenas, já é cair na tentação.

“mas livra-nos do mal”

Quando o ser prepara-se para a vida carnal está cônscio de toda a realidade espiritual. É com bases nessa consciência que ele escreve a sua vida carnal. Pede situações que possam auxiliá-lo a elevar-se espiritualmente participando de toda a glória celeste. Louva a Deus pela chance que lhe é oferecida e compromete-se a se aplicar no sentido de executar todas as provas que se dispôs.

Quando se prende à matéria densa os valores de sua consciência alteram-se e o desejo e o individualismo nascem. Com isso a sua busca se altera. Se antes do nascimento o ser quer participar da glória celeste agora busca a satisfação.

Dentro desses parâmetros, podemos perguntar: o que é “bem” ou “mal”? Para o ser desencarnado o “bem” será tudo aquilo que lhe servir como instrumento para participar do reino de Deus, mas quando encarna, o “bem” será tudo aquilo que contentar os seus conceitos.

Quando pedimos a Deus para nos livrar do mal, fazemos com a consciência de encarnados, mas Deus entende com a consciência espiritual. Desta forma, o que é “mal” para nós não o é para Deus.

Sabe porque você que reza não alcança a sua satisfação? Porque pede a Deus na oração que não a promova. Quando você reza pedindo ao Pai que o livre do mal está dizendo a Ele que não satisfaça os desejos de sua consciência material.

Viver em oração é viver com essa consciência. Tudo que nos acontece é obra de Deus como instrumento para nossa elevação. Foi fruto de nossa própria requisição quando ainda tínhamos como objetivo à glória divina.

Evangelhos canònicos - Textos

Abandonar pai e mãe

Aquele que quer me seguir não pode ser meu discípulo se não me amar mais do que o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e a si mesmo.

Ser discípulo de Cristo é ser amoroso. Ou melhor, já que vocês nem sabem o que é o amor crístico: é não ser egoísta. Quem vive desse jeito, sem ser egoísta, é aquele que está de posse da sua consciência espiritual, já que toda consciência humana é, por natureza, egoísta. Portanto, ser discípulo de Cristo é ser espírito na carne.

O mestre sabia da condição humana dos seres universais, ou seja, sabia da natureza egoísta da personalidade humana e por isso colocou um caminho para vivenciar os acontecimentos do mundo de uma forma amorosa: é preciso que o ser humanizado ame a sua espiritualidade acima o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e a si mesmo. Vamos conversar sobre isso...

No Bhagavad Gita Sri Krishna ensina que o caminho para a realização espiritual nesta vida é a vivência dos acontecimentos deste mundo em louvor a Deus. Neste trecho, Cristo diz a mesma coisa com outras palavras...

O que o mestre diz é que se a sua família lhe faz ficar contra Deus, contra a sua espiritualização, abra mão dela; se os seus amigos lhe fazem ficar contra Deus, abra mão de suas amizades; se os seus inimigos lhe fazem ficar contra Deus, abra mão de suas inimizades. Isso porque só entra no reino do céu aquele que for mais fiel do que a fidelidade: ensinamento de Cristo.

O que quer dizer isso que acabei de afirmar? Como pode a sua família, os seus amigos ou os seus inimigos lhe colocarem contra Deus? É simples... Quem vive em Deus, com Deus e para Deus alcança o estado que chamamos de felicidade incondicional, ou seja, não é feliz porque, para que, quando, como ou onde. Ele é feliz e ponto final. Sendo assim, quem sofre interferências no seu relacionamento com Deus é aquele que causa a condicionalidade à sua felicidade.

Portanto, se o ser humanizado precisa que sua filha lhe ligue, esteja ao seu lado, preocupe-se com ele ou necessita que ela seja uma ‘boa filha’ para que ele seja feliz, esta filha está interferindo no relacionamento deste ser com Deus. Portanto, para ser cristão ele deve abandoná-la. Não fisicamente: continue dando todo apoio que ela precisa, mas não a transforme num elemento importante na existência dele. Se o ser humanizado precisa que o seu pai lhe dê atenção e carinho para ser feliz, deve abandonar o seu pai para não perder a sua relação com Deus.

É isso que Cristo está nos ensinando. Se os seus amigos são condicionadores de felicidade, ou seja, lhe exigem determinadas atitudes para você e ele sentirem-se felizes, largue-os.

Repare num detalhe: não estou falando de atos físicos. Estou dizendo abandonar sentimentalmente. Estou falando em abandonar o sentimento de amizade, pois mais vale o ser humanizado estar com Deus do que cercado de amigos; mais vale estar com Deus do que ter uma família unida e estruturada.

Sei para os seres humanizados abrir mão destes sentimentos, mesmo para aqueles que dizem buscar a elevação espiritual, é muito difícil. Se não conseguem fazer isso, pelo menos abram mão dos sentimentos de inimizades que nutrem

Todo ser humanizado, mesmo aquele que diz amar a todos, ainda mantém inimigos. Quando falo de inimizade não estou falando de inimigos declarados, mas simplesmente daqueles que não concordam com o ser, mesmo nas coisas pequenas. O ser humanizado precisa se libertar destas inimizades porque ao valorizar a rusga, a discussão e a tentativa de provar que está certo ele está perdendo Deus na sua existência.

É isso que Cristo está ensinando. É preciso que o ser humanizado se quiser alcançar a consciência crística, abra mão daquilo que lhe condiciona a felicidade, que são as suas posses, paixões e desejos que envolvem outros seres humanizados.

A paixão por uma filha, por exemplo, que gera determinados desejos, faz o ser humanizado perder Deus na sua existência. A paixão por um pai ou uma mãe que gera no ser humanizado determinadas vontades (a esperança que ele o trata de determinada forma) é o que afasta o ser de Deus. O sonho da vitória sobre o inimigo impondo a ele uma derrota é o que afasta o ser que se diz buscador de Deus.

É por isso que Cristo diz que quem quiser o seguir, ou seja, alcançar a consciência crística, ser cristão, deve abandonar seus parentes e seus amigos.

Evangelhos canònicos - Textos

Aquele que vem do céu

Aquele que vem do céu é o maior de todos e quem vem da Terra é da Terra e fala das coisas terrenas. Quem vem do céu está acima de todos.

O ser humano necessita para compreensão da existência carnal, alterar a sua atuo visão. Hoje se imagina um corpo físico que nasce da união carnal entre dois seres. Este corpo que se forma e aparece (nasce) desenvolver-se-á e, um dia, irá parar de funcionar (morte).

Para aqueles que não acreditam em Deus, neste momento, chegará o fim total; para os outros, haverá um fim desta forma de existência (material) para o início de outra: espiritual. Em qualquer das crenças, o ser humano imagina que ocorrem duas existências separadas: material e espiritual. Esta é a compreensão até daqueles que acreditam na reencarnação, pois não conseguem “ver” nos acontecimentos desta “vida” o reflexo dos atos de outras.

É por esta auto visão que os seres humanos buscam apenas a satisfação material, ou seja, construir a sua “vida” de tal forma que ela produza “frutos” materiais. Estes “frutos” sem sempre se referem a objetos, mas sempre terão que produzir uma satisfação pessoal, ou seja, trazer uma felicidade individual, independente da felicidade dos outros.

Quando o ser humano compreender que ele não “nasce” nem “morre” junto com a matéria carnal, poderá, então, encontrar Deus, ou seja, participar da felicidade universal e não buscar a satisfação pessoal.

O espírito é eterno: existia antes do “nascimento” e continuará existindo após a “morte”. A vida carnal é apenas um lapso da vida espiritual. A matéria carnal é um “traje” que o espírito “veste” para uma determinada tarefa específica. Durante a existência carnal o espírito continuará a ser o mesmo de antes e depois da encarnação. Terá as mesmas capacidades e a mesma “essência” que fora da carne.

Quando o ser humano se conscientizar desta verdade buscará participar da felicidade universal e não mais satisfazer suas próprias “vontades”. Neste momento ele será superior, não porque é melhor, mas porque estará “mais perto” de Deus.

Ele fala daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita a sua mensagem.

O objetivo de uma encarnação (trabalho do espírito na carne) é purificar os sentimentos que possui, ou seja, alterar o individualismo (negativo) para universalismo (positivo). Isto ele consegue nutrindo apenas o amor universal frente aos acontecimentos da vida. Podemos, então, chamar a vida carnal de uma “prova” para o espírito.

Cada um possui determinados sentimentos que precisa alterar e, por este motivo, possui provas específicas para estes sentimentos. Os acontecimentos da vida de um espírito na carne são individualizados de acordo com os sentimentos que ele precisa alterar. Foi isso que Jesus ensinou quando disse que cada um tem a sua própria cruz para carregar.

O espírito fora da carne é cônscio daquilo que precisa reformar. Por esta “consciência” ele participa da elaboração do seu “Livro da Vida”, ou seja, determina os acontecimentos da sua próxima vida carnal. Pede e programa os acontecimentos com a intenção de suportá-los com o amor universal (fé) e assim purificar-se.

As situações da vida são, portanto, provas pedidas pelo próprio espírito e não apenas determinados por Deus. Ao vencê-las, o espírito participará da felicidade universal. Esta felicidade é alcançada quando o todo espiritual fica feliz. Um espírito que consiga purificar-se traz a felicidade coletiva à espiritualidade, pois este é o objetivo da existência espiritual. Quando o espírito encarnado busca as realizações materiais está causando “sofrimento” ao todo espiritual, pois deu vazão a sentimentos negativos.

A fome é uma situação de vida material, ou seja, uma prova pedida pelo espírito durante a sua existência carnal. Passar por ela sem “ranger de dentes” ou murmúrios contra Deus (reclamações) é reagir a este acontecimento com amor: alegria, compaixão e igualdade. Reagir à fome com estes sentimentos é falar do que “viu” e “ouviu” antes de encarnar, ou seja, mostrar que conhece o sentido da sua vida.

Quem aceita a sua mensagem dá prova de que Deus é verdadeiro.

Quando o espírito encarna existe um “artifício” no corpo humano que o impede de utilizar a sua memória espiritual, ou seja, de lembrar-se do objetivo de sua vida. Isto ocorre para que ele utilize a “fé”.

Ter fé é acreditar completamente em algo e, a partir desta crença, alcançar uma confiança absoluta e irrestrita na ação do objeto da sua fé. Ter fé em Deus é acreditar e confiar na ação dos Seus atributos (Causa Primária, Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime). Viver com fé é dar um testemunho autêntico desses atributos.

Para que o espírito consiga reagir aos acontecimentos com o amor universal é preciso que ele acredite nos atributos de Deus e confie na ação deles na sua vida carnal.

Para se viver com alegria independente do acontecimento, é preciso compreender a ação de Deus. É necessário que se veja o comando de Deus na forma de todos eles (perfeição) objetivando a Justiça Perfeita (dar o que merece) e o Amor Sublime (não como pena, mas como ensinamento para evolução).

A compaixão pelos outros só será alcançada quando o espírito não mais “sentir” sofrimentos, ou seja, não se sentir ferido ou magoado pelos outros. Enquanto reagir com estes sentimentos terá que se “defender” agredindo. A compaixão só será alcançada quando o espírito entender que ninguém pratica algo contra ele, mas Deus utiliza os outros como “mensageiros” de ensinamentos que objetivam o crescimento espiritual deste.

É na fé na ação de Deus que o espírito pode encontrar a igualdade: dar a cada um o que merece. Não existe ninguém que tenha uma vida completa de satisfações pessoais: sempre haverá situações de sofrimento. Na consciência da distribuição igualitária das provas o espírito pode ver que a cada um é dado de acordo com suas obras. Portanto, quando chega o seu momento de passar por situações de sofrimento não há uma injustiça, mas uma igualdade.

Aquele que se vê como espírito e busca a elevação espiritual compreende a ação de Deus sobre as coisas e acaba com o seu “entendimento” sobre elas. Poderá, então, viver com o amor universal, exemplificando o significado da “vida material” para os outros espíritos.

Tendo apenas fé (crença e confiança) na vida material, no que “compreende” das coisas, o espírito continuará sendo um ser humano e continuará a viver para a sua satisfação pessoal.

Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus porque Deus dá do seu Espírito sem medida.

É pela fé na “ação” de Deus sobre as coisas da vida que o espírito pode alcançar o amor universal. A reforma íntima, tão comentada como necessária para a evolução espiritual, é “alterar a essência dos acontecimentos”: ao invés do espírito entendê-los como “erro”, “injustiça” e “sofrimento”, enxergar a ação dos atributos de Deus.

É preciso que o espírito busque a “cegueira”, ou seja, não “veja” mais as coisas para que viva com o amor universal. No entanto, esta “cegueira” não será dada como dádiva por Deus, mas precisa ser alcançada pelo esforço individual do espírito. Por isto Jesus nos ensinou que devemos vigiar sempre nossas atitudes? Mas, de onde vêm os atos? O que é que cada um “vê”?

“Ver” alguma coisa é perceber formas e analisá-las com os conceitos que o espírito possui. Sempre que uma forma é percebida, o espírito promove um raciocínio, ou seja, analisa a percepção (pensa-mento). Esta análise é influenciada pelos conceitos existentes.

Existem dois tipos de “pensamento”: espiritual e material. O primeiro, que acontece no que é conhecido como “inconsciente”, o espírito “escolhe” (livre arbítrio) um sentimento para reagir ao percebido. No segundo (material), este sentimento se “materializa” em histórias (pensamento) que servirão como “argumentos” materiais para o ato.

Exemplificando. Quando um espírito percebe uma outra pessoa ele busca os sentimentos conceituais sobre ela: gosto ou não, ela é agressiva ou não, é “amiga” ou não. A partir destes sentimentos ele “verá” todos os atos já praticados por aquela pessoa que ele tenha conhecimento (“viu” ou “soube”). Sempre que uma percepção é recebida o espírito pratica o raciocínio espiritual e recebe o raciocínio material.

O Espiritualismo Ecumênico Universal vem ensinando que o raciocínio material (pensamento) é intuído pelos espíritos fora da carne por ordem de Deus. Eles não foram desenvolvidos pelo próprio espírito, mas “recebidos” pela intuição. No entanto o raciocínio material sempre refletirá o sentimento escolhido pelo próprio espírito.

Se a escolha do sentimento antecede o pensamento, o ato não é gerado realmente pelo pensa-mento material, mas sim pelo sentimento que o espírito escolhe e que serve de base para a “história” que Deus manda transmitir.

Para a promoção da reforma íntima, devem ser alterados os sentimentos que se nutrem pelas pessoas, objetos e situações. É esta alteração que levará a Deus a transmitir “histórias” diferentes. A vigilância pedida por Jesus para que aconteça a reforma íntima deve, portanto, ser nos sentimentos que um espírito “escolhe” para reagir aos acontecimentos da vida.

No entanto, o espírito não “conhece” os sentimentos e altera a essência deles para que haja uma satisfação pessoal e não a felicidade universal. Um filho diz que ama a mãe, mas isto é impossível. O verdadeiro amor prega a igualdade entre todos e o filho sempre considera seus “pais” superiores aos outros seres humanos. O amigo diz que “chama atenção” de outro para o próprio bem deste. Na verdade “esquece” que utiliza os seus próprios “valores” (conceitos) para determinar o que é “certo”. Ter a compaixão (ser amigo) é dar a cada um a liberdade de se “achar” certo.

Os sentimentos positivos do universo levam o espírito a viver no reino de Deus, ou seja, alcançar a felicidade universal e a igualdade plena, que não permitem a existência da satisfação pessoal (sofrimento).

Como então promover a reforma íntima, se o espírito não “sabe” como vigiar seus sentimentos? Vigiando os pensamentos. Se o raciocínio material (pensamento) é apenas uma materialização do sentimento e este o espírito “compreende”, aí está o campo para a mudança. Ela deverá, então, ser feita questionando o seu raciocínio: se ele está de acordo com os ensinamentos passados pelos Mestres.

Evangelhos canònicos - Textos

Olhando-se no espelho

Ai de vocês, professores da lei, fariseus, hipócritas, pois são como túmulos caiados e brancos que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de podridão. Por fora parecem boas pessoas, mas por dentro estão cheios de mentiras e pecados.

Sim, os seres humanizados parecem túmulos. Por fora aquela beleza, aquela postura de religioso segurando seus crucifixos e santinhos, mas por dentro só tem vermes, podridão. De que adianta embelezar o corpo se ele fede...

O corpo humano, mesmo que vocês não sintam, fede à distância, pois é matéria sem luz. Ele é podridão, mas os seres humanizados dão tanto valor a ele.

É difícil ouvir falar de alguém se apaixonar por um homem ou por uma mulher pelo seu interno, não é mesmo? Se o interno não for bonito sempre haverá um preconceito que afastará o ser humanizado dessa outra pessoa.

Reparem uma coisa: tudo o que estamos vendo nos ensinamentos de Cristo tem como mote a busca interior. Saibam que a conquista da consciência crística não passa em momento algum por qualquer coisa exterior ao próprio ser humanizado.

Portanto, os professores da lei, ou seja, aqueles religiosos que dizem entender o ensinamento do mestre realmente são hipócritas, pois eles ainda estão apegados ao mundo exterior. Até hoje eles continuam usando os ensinamentos do mestre para mudar o exterior, ou seja, a forma de agir das pessoas. Utilizam-se dos seus púlpitos para falar clamar aos céus que proteja a vida do ser humano para que ele tenha sempre dinheiro, saúde, que seus sonhos e desejos se realizem, etc.

Eles dizem que entendem o ensinamento, mas, então, porque continuam conclamando os fiéis para buscar Deus apenas para agir no mundo exterior enquanto Cristo disse que o problema não está por fora, mas por dentro dos seres humanizados.

Quem aqui reza a Deus para agradecer a doença? Quem reza para agradecer o desemprego, a fome, as críticas e perseguições?

Muitos podem achar que estou pegando pesado demais, mas lembrem-se do que Cristo falou: será que você terá coragem de ver o seu interior refletido no espelho? Olhar-se no espelho e ver-se de verdade é ter a coragem de assumir que o errado é você e não o outro, ou seja, assumir a realidade que quem está errado é você ao dizer que o outro está errado. Apesar de Cristo ter ensinado este olhar para dentro, os seres humanizados quando se encontram frente ao reflexo do seu interior (meditam sobre as coisas do mundo) projetam uma imagem que querem ver (se acham certos) e se apegam a ela. É esse ver na realidade quem você é que Cristo conclama através dos seus diversos ensinamentos.

Deixe-me fazer uma pergunta: quando alguém faz uma coisa errada? Quando você diz que está errado. Aprendam: ninguém faz nada errado. Mesmo que alguém faça alguma coisa que seja contrária a uma lei, quando ele faz se acha certo, pois achou certo ir contra a lei. Mesmo quando alguém faz algo contra seus princípios ou verdades, ele está certo, pois naquele momento ele achou certo ir contra essas coisas. Na verdade quando um ser humanizado diz que outro está errado, foi ele que colocou erro onde não existia.

A partir disso pergunto: quando você vai olhar no espelho e dizer que o errado é você que diz que ele está errado. Ele, não importa o que esteja fazendo, está certo, porque para fazer qualquer coisa achou antes certo fazer aquilo.

Desmistificar Cristo é isso: é falar da reforma interna que cada um tem que fazer. Só quando isso é alcançado é que podemos dizer que estamos seguindo o mestre. Quem ainda se relaciona com Cristo pedindo a ele para não deixar as rugas aparecerem, para segurar o outro carro para não bater no seu, ainda não alcançou o caminho que leva à consciência crística.

De nada adianta se religar a Deus na busca da realização da sua verdade. Eu tenho uma triste notícia para os seres humanizados: Deus não está aqui para satisfazê-los. Ele não é escravo do ser humanizado (aquele que existe só para satisfazer as vontades de outros). Ele é o Senhor do Universo.

Sobre esta posição de Deus e do ser humanizado Paulo fala algo interessante: enquanto o filho for apenas filho do Dono, tem que fazer o que o Pai quer. O filho não tem poder decisório sobre a fazenda enquanto o Pai for vivo. Só depois que Ele morrer é que o filho pode assumir a fazenda e fazer o que quiser dela.

Mas, o Pai não faz o filho obedecer as suas ordens por prepotência, por sentir-se superior. Ele faz isso pensando no bem da fazenda. Quando o Pai coloca o filho para trabalhar na fazenda do jeito que Ele acha certo, o filho está aprendendo o caminho que fará a fazenda continuar próspera.

Os seres humanizados precisam aprender a conviver com a realidade que todos são filhos de Deus e que moram na casa Dele. O problema é que os seres humanizados habitam na casa do Pai, mas querem mandar nela. Querem dizer como ela deve ser organizada, como deve ser limpa, como deve ser administrada.

Pobre Pai... Foi Ele que arou a terra pela primeira vez, foi Ele que trabalhou a vida inteira para dar sustento aos seus filhos, foi Ele que organizou tudo o que existe, mas o filho quer sempre mudar, inovar e mudar tudo de lugar.

Apenas para deixarmos bem claro o assunto, pergunto: você quer ser independente de Deus?

Participante: Não, não quero...

Mentira, você quer sim... Todo ser humanizado quer ser independente de Deus e a prova disso é que sempre encontram coisas erradas na cada Dele (na vida, no planeta) que querem mudar.

Pois bem, se quer se tornar independente de Deus eu lhe digo: comece fazendo o seu próprio oxigênio. Sabe, é muito fácil você se alimentando do oxigênio que Deus cria querer mudar o mundo Dele. É muito fácil reclamar que o ar está poluído enquanto ainda se encontra oxigênio para respirar...

Essa é a realidade da vida que Cristo está ensinado. Os seres humanizados recebem tudo de Deus. O que seria do ser humanizado se não houvesse o sopro (a animação) de Deus a cada instante para manter-se vivo? Sem esse sopro o ser humanizado não seria nada: seria apenas carne que apodreceria rapidamente como ocorre com aqueles onde o sopor não está mais presente (morte física).

Cada vez que o ser humanizado respira, fala, anda, pensa ou percebe algo, Deus soprou aquela animação para ele. Nada daquilo que o ser humanizado está tão habituado a fazer que nem mais pensa como faz, seria possível se não fosse o sopro de Deus. O ser humanizado recebe tudo de Deus, mas se acha no direito de dizer a Ele como deveria fazer as coisas.

Incongruente o ser humanizado, não? Mas, essa é a verdade. É por isso que Cristo chama os seres humanizados de professores da lei, hipócritas. Pior: o ser humanizado recebe tudo de Deus e além de não perceber isso chamam os enviados do Senhor (Cristo, os mestres, mentores, santos) para mudarem o que Ele faz...

Repare: o ser humanizado, além de lutar contra Deus, chama aqueles que são submissos ao Senhor para formarem um exército para lutar contra o Senhor. Quando o ser humanizado chama Cristo para curar a sua doença, o mestre olha para ele diz: filho, foi meu Pai quem lhe deu esta doença; você acha que vou lutar contra ela? O ser humanizado chama Cristo para lhe tirar da pobreza, mas será que vocês acham que ele, que têm a consciência de que não cai uma folha da árvore sem que o Pai faça cair, vai lutar contra ela?

Para vivermos com Cristo de uma forma desmistificada, como nos propusemos neste trabalho, temos que dizer que o ser humanizado deve pedir a ele que o auxilie para passar pelo que Deus está fazendo e não para que ele combata o Pai para retirar a cruz do seu ombro. É pedir ao mestre que nos carregue no colo nesse momento e não que lute contra Deus para mudar o caminho.

O que estamos falando é diferente do que move a multidão que se arrasta atrás de Cristo hoje nos templos, nas casas de orações, nas igrejas ou nos centros. Eles sempre buscam o mestre presos ao eu, à sua vontade individual. Ninguém vai a estes lugares para pedir a Cristo que lhe dê mais situações de sofrimento. Todos vão lá pedir para si, para seu próprio benefício e o resto das pessoas do mundo que se danem. Se numa multidão que estiver na busca de Cristo o ser humanizado for o único abençoado tendo sua vontade atendida, achará aquilo uma maravilha. E o resto das pessoas que também estavam ali procurando? Ah, elas podem esperar...

Cristo não está à disposição dos seres humanos, mas sim dos espíritos para auxiliarem a estes na sua elevação. Se para isso é preciso que o ser humanizado passe por situações de sofrimento, é isso que o mestre fará.

Compreender as coisas desta forma é que é ter a consciência crística. Não acredita? Ouça Cristo fala momentos antes de ser preso e veja se não é o que estou dizendo:

Sinto agora uma grande aflição. O que vou dizer? Direi: Pai, livra-me desta hora de sofrimento? Não! Pois foi para isso que eu vim. Pai, glorifica o teu nome em mim...

Sei que o que estou dizendo contraria profundamente tudo o que vocês ouviram até hoje sobre consciência crística, sobre a ação de Cristo. Até hoje sempre ouviram que ele está de prontidão para satisfazer as suas vontades, os seus desejos, para lhe defender dos seus inimigos, mas não é esta a realidade que ele ensinou.

Quem tem a consciência crística não se preocupa em mudar a sua vida, mas sim o jeito como se vivencia a vida que tem. Para se alcançar esta consciência é preciso começar a olhar o seu interior no espelho e não viver externamente a si...

Evangelhos canònicos - Textos

Carregando as cruzes diárias

Quem não carregar a sua cruz e não me seguir não pode ser meu discípulo.

Para se tornar um discípulo de Cristo, segundo os ensinamentos do mestre, é preciso amar a sua consciência espiritual acima de qualquer coisa deste mundo, como já vimos. Agora ele coloca outra condição: pegar a sua cruz e segui-lo. Esta é uma informação muito interessante que precisamos entender.

Será que Jesus Cristo foi crucificado pelos romanos? Para responder a esta pergunta vou buscar o auxílio do apóstolo Paulo. Ele diz assim: Cristo entregou-se à cruz. Sendo isso verdade, temos que compreender que Cristo não foi crucificado, mas entregou-se à cruz.

Esta visão é muito diferente da outra. A primeira hipótese, ser crucificado, nos leva a compreender que houve uma ação externa que criou o episódio da crucificação. Já na segunda, encontramos uma motivação interior: entregar-se à cruz. Esta é uma coisa que a humanidade precisa parar para pensar.

Se formos ler a Bíblia, vamos encontra em diversos momentos, inclusive antes do nascimento de Jesus, a informação – e se ela é por parte dele existe a confirmação – de que Jesus Cristo será crucificado. Ou seja, o futuro acontecimento da crucificação é uma realidade conhecida pelo mestre e prevista antes dele vir à carne. Portanto, aqueles que participaram do teatro da crucificação achavam que estavam fazendo alguma quando na realidade não estavam fazendo nada: apenas estava acontecendo o que já era previsto e aceito pelo próprio Jesus e designado por Deus.

Lendo o livro Apocalipse da Bíblia, encontramos a cerimônia da posse de Cristo como Governador Geral do planeta. Nesta passagem encontramos o seguinte texto:

Quem é digno de quebrar os selos e abrir o livro?...

Então um dos lideres me disse: não chore. Olhe! O Leão da tribo de Judá, o descendente do rei David, conseguiu a vitória e pode quebrar os sete selos e abrir o livro. ...

Os anjos cantavam: Tu és digno de pegar o livro e de quebrar os selos, pois foste morto na cruz e, por meio da tua morte, compraste para Deus pessoas de todas as tribos, línguas, nações e raças.

Nesta cerimônia, que aconteceu muito antes da primeira encarnação no planeta já está, então, prevista a vitória do Cordeiro (Cristo) sobre a morte na cruz. Isso prova, definitivamente, que a crucificação não foi uma atitude decretada por Pilatos e conduzida pelos soldados romanos, mas algo que já estava previsto muito antes da encarnação Jesus Cristo.

Cristo entregou-se à cruz: este é o conhecimento fundamental sobre a crucificação para quem busca a consciência crística. Quem busca vivenciar os acontecimentos do mundo como o mestre os vivenciou precisa estar consciente que ninguém julgou, crucificou ou matou Jesus Cristo, mas que o mestre entregou-se amorosamente a este processo.

Este mesmo Cristo que se entregou à cruz nos diz: se você não pegar a sua cruz... O que quer dizer isso? Se você não entregar-se à sua cruz e seguir Cristo, não poderá ser seu discípulo, ou seja, viver os acontecimentos do mundo com a mesma consciência que ele viveu.

É claro que nos dias de hoje não se fala mais em prender ninguém na cruz, mas todo ser humanizado vivencia momentos de crucificações. Estes momentos, figurativamente falando, são aqueles onde o ser humanizado vivencia o que não gosta, quando é passado para trás, quando é criticado, vilipendiado e agredido. Fazendo esta figura, podemos entender o ensinamento do mestre neste trecho dos evangelhos canônicos.

Cristo ao afirmar que para ser seu discípulo é preciso pegar a sua cruz e segui-lo, está criando uma condicionalidade para que o ser humanizado possa alcançar a consciência crística. Esta condicionalidade afirma que é preciso que o ser humanizado que alcançar a felicidade precisa entregar-se aos seus momentos de sofrimento e de contrariedade.

Aquele que quer fugir desses momentos, que quer que eles acabem, não tem condições de ser discípulo de Cristo. Aquele que reza a Deus pedindo que afaste a sua doença ou que termine com os momentos onde ele é agredido ou caluniado, não tem condições de se tornar um discípulo de Cristo. Aliás, nas próprias bem aventuranças Cristo diz:

Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes, porque está guardada para vocês uma grande recompensa no céu. Pois foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.

Reparem como Cristo fala nas bem aventuranças: quando, ou seja, no exato momento que...

Esta é uma grande verdade: sem as situações de desgosto o ser humanizado não tem condições de fazer a reforma íntima. Sem entregar-se – reparem que não estou falando em causar, mas entregar-se – e vivenciar até o último gole do cálice que o Pai lhe oferece, o ser humanizado não consegue chegar ao reino do céu.

É isso que Cristo mais uma vez está ensinando. Não adianta o ser humanizado querer fugir das suas cruzes diárias, não adianta dizer que os outros o crucifica; é necessário que o ser humanizado ser entregue às suas cruzes.

Mas, Cristo fala mais ainda. Ele diz que é preciso pegar a sua cruz e segui-lo, ou seja, vivenciar estes momentos num estado paz, felicidade e harmonia com o mundo e consigo mesmo. Para se conseguir a consciência crística não basta apenas passar pelas situações de sofrimento, mas é preciso vivenciá-las da mesma forma que o mestre as vivenciou. Como ele vivenciou a crucificação: Pai, louva o seu nome através de mim...

Portanto, este é o ensinamento completo: carregue a sua cruz, ou seja, não fuja dos seus momentos de sofrimentos, mas ao vivenciá-los faça louvando a Deus (em felicidade plena) e não sofrendo. Aliás, esta informação também está em O Livro dos Espíritos: alcança a perfeição aquele que vivencia a sua encarnação (vida humana) sem ranger de dentes...

Fiz toda a introdução neste assunto abordando a entrega de Cristo à cruz para que a humanidade pare de culpar os romanos ou o clero judeu, os ricos e poderosos da morte do mestre, pois ninguém crucificou Cristo. E falei do ensinamento para que vocês entendam que se não entregarem-se às suas cruzes diárias ao invés de ficar rezando a Deus pedindo que ele afaste de vocês esse cálice, não conseguirão atingir à elevação espiritual, entra no reino do céu ou qualquer nome que queiram dar.

Evangelhos canònicos - Textos

Jesus e os três empregados

Este texto é muito importante porque traduz o real sentido da prova que o espírito faz quando encarna nesta matéria densa no planeta Terra.

Os espíritos que estão no processo de encarnação no orbe do planeta Terra encontram-se realizando esta prova há muito tempo, mas não conhecem o seu real sentido. Agora que a prova final aproxima-se, é importante deixar bem claro que provação é esta que o espírito tem que realizar.

Há sete mil anos os espíritos encarnam para provar alguma coisa. Este texto é sobre esta prova. Ele explica o que o espírito vem fazer na carne.

Jesus continuou:

O Reino do céu será como um homem que ia fazer uma viagem. Chamou os seus empregados e os pôs para tomarem conta da sua propriedade. E lhes deu dinheiro de acordo com a capacidade de cada um: ao primeiro deu cinco mil moedas de prata, ao outro duas mil; e, ao terceiro, mil. Então foi viajar. O empregado que tinha recebido cinco mil moedas saiu logo, fez negócios com o seu dinheiro e conseguiu outras cinco mil. Do mesmo modo, o que havia recebido duas mil moedas conseguiu outras duas mil. Mas o que tinha recebido mil, saiu, fez um buraco na terra e escondeu o dinheiro.

Depois de muito tempo, o patrão voltou e acertou as contas com eles. O empregado que tinha recebido cinco mil moedas chegou e entregou mais cinco mil, dizendo: “O senhor me deu cinco mil moedas. Olhe, aqui estão outras cinco mil que consegui ganhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. “Você foi fiel e negociante com pouco dinheiro, por isso vou por você para negociar com muito. Venha festejar comigo!”

Então o empregado que havia recebido duas mil moedas chegou e disse: “O senhor me deu duas mil moedas. Olhe, aqui estão mais duas mil que consegui ganhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. Você foi fiel negociando com pouco dinheiro, por isso vou por você para negociar com muito. Venha festejar comigo!”

Aí o empregado que havia recebido mil moedas chegou e disse: “Eu sei que o senhor é um homem duro: colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Fiquei com medo e por isso escondi o seu dinheiro na terra. Veja, aqui está o seu dinheiro”.

“Empregado mau e preguiçoso!”, disse o patrão. “Você sabia que colho onde não plantei e junto onde não semeei. Por isso você devia ter depositado o meu dinheiro no banco e, quando eu voltasse, o receberia com juros”.

Depois virou-se para os outros empregados e disse: “Tirem o dinheiro dele e dêem ao que tem dez mil moedas. Porque aquele que tem muito receberá mais e assim terá ainda mais; mas quem não tem, até o pouco que tem tirarão dele. E joguem fora, na escuridão, o empregado inútil. Ali ele vai chorar e ranger os dentes”.

Esta história é muito conhecida como a “parábola dos talentos”. Ficou conhecida assim porque em algumas traduções da Bíblia a moeda é citada pelo seu nome da época: talento.

Cristo conta na história que um senhor foi viajar e deu a três empregados algumas posses. Na sua ausência, dois deles multiplicaram estas posses, enquanto que o terceiro escondeu o que recebeu, com medo do patrão e assim não conseguiu ter mais do que tinha antes.

A interpretação conhecida deste texto é a de que devemos valorizar as coisas que Deus nos deu, para voltarmos ao mundo espiritual com mais posse do que viemos. Isto está correto, mas o que Deus nos deu antes da encarnação? O que precisamos devolver multiplicado? Vamos buscar entender este aspecto...

Tudo que Cristo ensinou quando encarnado faz parte da “Boa Nova” que ele veio trazer ao planeta. Mas, o que é esta “Boa Nova”? O amor!

No fundo de tudo o que Cristo fala está o amor. Portanto, o tesouro que o mestre cita nesta história não poderia ser outro a não ser o amor.

Deus deu a cada um de nós, seus filhos (espíritos), um pouco de Seu amor, para que tomemos conta deste bem espiritual, enquanto Ele está “viajando”. Ele espera que coloquemos este amor para “render juros” e não que o guardemos enterrado para entregá-lo na mesma proporção que recebemos...

É isto que Cristo explica nesta parábola e esta é a prova que os espíritos fazem quando vem à matéria carnal no planeta Terra: colocar o amor para render. Mas, como é que um sentimento pode gerar “lucros”?

Quando um espírito sente (“gasta”) um sentimento, recebe mais do Universo dele mesmo. Portanto, quando o espírito coloca o amor em prática, ele o faz render, o multiplica.

Quando você “gasta” o amor que Deus lhe deu, aumenta a quantidade de amor que tem dentro de você. Esta é a prova que o espírito veio fazer na carne: “gastar” o amor (amar) para poder ter mais amor dentro de si na hora de voltar ao Pai.

Mas, o que acontece diariamente com os espíritos na carne? Gastam este amor que Deus lhes deu ou economizam para não ficar sem ele?

Na verdade, os seres humanizados pegam o amor que receberam do Pai antes da encarnação e o enterra, gastando o sentimento do julgamento, da ofensa, da briga, da crítica aos outros... Agindo desta maneira, não gastam o amor e, por isso, não obtém lucros para o patrão.

Aliás, amar verdadeiramente é a última coisa que os espíritos humanizados pensam em fazer, porque acham que serão considerados “bobos”, que só irão sai perdendo se amarem a tudo e a todos.

Estes quando chegam no mundo espiritual menos denso – que nesta parábola é configurada pela volta do “senhor” – afirmam: “Olha, eu fui bom. Todo amor que o Senhor me deu está aqui de volta: não gastei nada”. Acontece que Deus não quer o amor que colocou sob sua guarda de volta no justo valor, mas o quer aumentado.

Para aquele que não gastar o amor que recebe do Senhor, acontecerá como descrito na história: será “atirado no escuro, onde existe o ranger de dentes”. O que será que Cristo quis dizer? O que é “ranger de dentes”?

O ser universal range os dentes quando está em sofrimento. Neste texto, então, através de uma de suas comparações, Cristo afirmou: aquele que não aumentar pela utilização o amor que Deus colocou sob sua guarda será enviado para um lugar onde existe sofrimento.

Em que lugar, densidade, existe no Universo o sofrimento? Por causa da característica negativa do sofrer, posso afirmar que ele só existe na densidade da matéria carnal, ou seja, só existe para o espírito enquanto ele se imaginar como a identidade humana que vive.

Não estamos falando de dimensões de habitação de espírito, mas sim de auto visão. O sofrimento existe não no planeta Terra ou em qualquer plano espiritual específico, mas somente para aqueles que se vêm separados de Deus.

Os espíritos que saem da carne e vão para a densidade conhecida como “umbral” – lugar que para os seres humanizados é o de sofrimentos – ainda se imaginam como “vivos”, ou seja, dentro das personalidades que viveram quando na carne. É por isso continuam a sofrer e não por estarem no umbral.

O sofrimento, portanto, é decorrência de uma visão humana que o espírito tem de si mesmo e não determinado por um lugar específico onde vive.

A partir desta compreensão, podemos começar a entender as palavras de Cristo: aquele que não multiplicar o amor que Deus coloca sob a sua guarda vai viver na carne, ou seja, continuará no processo de encarnação, no processo de vivenciar personalidades humanas.

Sei que não é esta a compreensão que muitos têm deste texto, mas sempre foi esta a lição que Cristo. As demais interpretações que foram feitas dele não atingiram esta verdade porque não levaram em conta o fundamento da “Boa Nova”: o amor.

Já falaram que o talento era a doação e muitos saíram correndo e compraram as coisas para dar aos outros com o sentimento de auto proteção, ou seja, reservar seu espaço no coração de Deus... Entretanto, esqueceram-se do amor na hora de doar!

  Já traduziram o talento como os trabalhos mediúnicos e muitos espíritos colocaram-se à disposição da espiritualidade para realizar este trabalho, não por amor, mas para que o Senhor ficasse satisfeito com eles... Mas Deus não quer as coisas feitas por interesse, mas em tudo quer o amor.

Chegaram a estas conclusões porque não compreenderam que Cristo ensinou que o único talento que um espírito deve possuir é o amor, pois só ele fará com que todas as vivências da encarnação sejam realizadas dentro da “Boa Nova”.

Deus quer que os espíritos gastem o talento que Ele lhes entrega ajudando o seu semelhante, porque somente o amor pode ajudar o outro a obter a alegria de viver. Não adianta dar um cobertor sem o amor, porque o cobertor pode aquecer o corpo, mas o “frio” da alma continuará. Não será o cobertor que irá acabar com a tristeza (frio) que está no coração de quem o recebe.

É isto que Cristo quis dizer e é isto que precisa ser colocado em movimento no planeta: o amor. Entretanto, este amor deve ser o universal, de Deus e não o que a humanidade classifica como amor.

O amor de Deus é fundamentado na felicidade. Portanto, o primeiro trabalho de um espírito na carne é levar a alegria para todos aqueles que sofrem, pois quando fizer isso, estará multiplicando o amor.

Este, quando voltar ao Pai, poderá dizer: “O Senhor me deu cinco mil, mas eu negociei e trouxe dez mil”. Aí Deus responderá: “Empregado bom, você trabalhou bem com pouco amor e trouxe lucro. Por isso vou colocá-lo agora para trabalhar com muito, com muito amor”.

Vocês falam muito que para ter amor é preciso ter paz, mas Cristo não disse que trouxe a espada e não a paz? Podemos então concluir que Cristo não trouxe o amor? Claro que sim...

Portanto, para amar não é indispensável à presença da paz. Aliás, a expressão máxima do amar é alcançada justamente quando não há paz. Por isso Cristo ensinou: se você só ama o seu amigo, que vantagem acha que tem? Até os pagãos fazem isso...

Amar não é só “passar a mão na cabeça de todos”, relevar. Amar é mostrar o sentimento negativo que a pessoa está usando, sem gritos, sem brigas, sem ofensas, aceitando se o outro não concordar.

Isto é amar: manter a alegria sempre. Para se viver neste estado feliz a primeira coisa a se fazer é jogar fora a tristeza. Aquele que cultivar a tristeza será levado para o “lugar escuro onde há ranger de dentes”, pois ele gosta disso e não porque o Pai o condenou a isso.

Não será Deus que irá castigá-lo: o Senhor apenas fará o que o espírito gosta. Você não gosta de tristeza? Então será colocado onde e com quem gosta: com os tristes.

Outro elemento do amor divino: a compaixão, ou seja, a consciência do sofrimento que pode se causar ao outro. Não o sofrimento que pode ser causado pelo que se fala, mas, na maioria das vezes, quando se cala.

Ter compaixão pelos outros não é calar-se e fingir que tudo está certo, mas falar. Falar mostrando o não amar que o irmão está utilizando para vivenciar os atos e não apontando os atos errados.

Mas, o que é não amar? São todos aqueles sentimentos que machucam alguém, que fazem os outros se sentirem melhores ou piores. Sendo assim, apontar erros não é amar, mas omitir-se e não falar também não é. Trabalhar demais não é ter amor, mas ficar parado no ócio também não é.

A compaixão exige o equilíbrio entre os sentimentos, exige a equanimidade. Exige que você trabalhe, mas que guarde o sétimo dia para Deus, que você tenha um dia para Ele.

Não... Não estou falando do rito de algumas igrejas evangélicas, mas sim do que Cristo ensinou.

O que o mestre ensinou é que o sétimo dia não deve ser um dia para viver dentro da igreja ou em casa em frente à televisão. Deve ser um dia para Deus, ou seja, um dia para o amor. Melhor ainda: um dia para a felicidade.

Quem tem compaixão de si e dos outros vive pelo menos um dia na semana onde luta para não criticar ou julgar os outros, para não elogiar ou rebaixar alguém. Com isso está guardando o sétimo dia ao Senhor, pois está vivendo-o dentro da essência espiritual.

É esta a compaixão que será necessária alcançar: a consciência de fazer todas as coisas dentro de sua exata medida, gerando felicidade e não criando obrigações, seja para si ou para os outros.

Quanto ao não amor dos outros, o ser humanizado deve apontar a sua utilização (“neste momento você não amou”), mas não criar desentendimentos: “viu como você não presta, como não faz nada certo...”

Para que a verdadeira compaixão exista é preciso que o ser humanizado mostre o não amor com amor, ou seja, não aponte erros. Para isso é necessário não julgar, ou seja, não utilizar leis que criem o certo e o errado...

Não se deve mostrar aos outros as suas infrações às leis de Deus, mas, sim praticá-las! Quando você briga com alguém (vivencia o acontecimento com o sentimento de raiva) porque ele não cumpriu a lei de Deus, também está quebrando essa mesma lei, pois não amou o outro.

Como cobrar o que não é praticado? Que exemplo nós podemos dar com este tipo de sentir para os outros se espelharem?

O amar passa necessariamente pela doação da razão a quem não está amando...

Doar a razão é aceitar que o outro tenha uma verdade diferente da sua. É ter a consciência de que ele está certo, pois vivencia os acontecimentos com base em seus próprios parâmetros de verdades.

Por isso afirmo que ter compaixão não é acabar com o sofrimento da pessoa, mas ter a consciência de que ela está sofrendo. Não é corrigir o outro, mas compreender que ele não está amando universalmente, ou seja, dando a cada um o direito de ser e pensar diferente...

Até hoje, quando se fala em “ter compaixão”, a idéia é de que deviam ser adotadas duas posturas: a primeira de omissão – “calo-me sobre o fato para não aumentar a dor dele” – ou ainda – “calo-me porque esta pessoa me é querida e não quero feri-la”. As pessoas que agem desta forma tornam-se cúmplices no erro dos outros, pois passam a aceitar o que está sendo feito como “certo”.

Isto não é amor, mas desamor. Nesta forma de proceder leva-se em conta apenas o sofrimento que se poderia causar neste momento com a “chamada de atenção”, mas esquece-se do sofrimento maior que este ser terá futuramente.

Saiba de uma coisa: você foi colocado na frente dela para alertá-la e proporcionar-lhe uma chance de ter sentimentos mais adequados à lei de Deus. Se você coloca este alerta com amor, sem críticas ou brigas e a pessoa não aceita, posteriormente Deus colocará no caminho dela outra pessoa que não a avisará com amor, mas com o mesmo sentimento negativo no qual ela está se banhando...

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido...” Isto é verdade, mas antes que aconteça, Deus sempre dá uma primeira chance.

Sei que estou falando bastante sobre o tema, mas o que deve ficar bem claro é o seguinte: deve-se alertar sobre o sentimento e não sobre o ato.

Não adianta você dizer que o outro é agressivo, pois ele se defenderá dizendo que está apenas “reagindo ao mundo”, à agressão que imagina ter sofrido. O que pode ajudar não é alertá-lo que ele é um agressor, mas mostrar que a raiva que está sendo vivenciada no momento da agressão é um não amor, pois não possui em si a compaixão e a felicidade.

A segunda postura que o termo “compaixão” desperta é que devemos sofrer o sofrimento dos outros junto com eles. Muitas pessoas acham que para demonstrar compaixão é necessário ser solidário na dor: isto é uma mentira.

Se o sentimento é uma coisa que se transmite aos outros, quando uma pessoa está sofrendo não se pode levar para ela mais sofrimento e sim alegria. Transmitir sofrimento para quem está sofrendo não é compaixão, mas aumentar este sofrimento.

Portanto, para amar e assim colocar o bem que Deus depositou em sua confiança para render juros, o espírito deve viver com felicidade e compaixão. Mas, para que estas posturas sejam alcançadas, é necessário haver a igualdade, ou seja, o espírito não deve sentir-se pequeno ou agigantado perto de outro.

O espírito deve tratar a todos como seus iguais, não importando onde esteja ou quem seja. Para isso ele deve ser humilhar sem se humilhar.

Para os seres humanizados existe muita confusão entre humilhação e humildade. Por isso muitos se humilham dizendo que com isso estão sendo humildes.

Mas, Deus não quer que o espírito se humilhe a nenhum outro e nem a Ele mesmo. O Pai quer que o filho tenha a humildade de não se achar melhor que os outros, ou seja, a humildade de doar a razão.

Aliás, depois de tantos ensinamentos trazidos pela coletividade espiritual, acho que já está na hora dos seres humanizados não mais se acharem melhores do que qualquer um, não?

Saiba: não existe nada que você possa comprar com dinheiro que salve o seu futuro espiritual. Se comprar um foguete e for viver fora da Terra para ver se escapa do desencarne, Deus o achará e o destino inexorável acontecerá... Se construir um buraco profundo no chão para se esconder, ali também chegarão os efeitos do que tem que acontecer...

Nada que seja comprado com dinheiro pode evitar o encontro do empregado mau e preguiçoso (aquele que não põe o amor para render juros) como seu Senhor. Este encontro sempre acontecerá e este empregado sempre encontrará os efeitos do ato de não ter colocado o bem deixado pelo Senhor com ele...

Estes efeitos só não vão encontrar aqueles que tiverem o amor, aqueles que estiverem alegre, que souberem usar a compaixão e que viverem a igualdade, ou seja, não se humilharem nem se ufanarem.

Este é um alerta importante nos dias de hoje, porque a volta do Senhor está próxima. O orbe terrestre vive hoje dias de espera do retorno do Senhor, como está profetizado no Novo Testamento bíblico. Ou seja, está próximo a hora de prestarmos contas daquilo que nos foi confiado...

Sei que muitos não acreditam nestas profecias, mas não foi só Cristo que falou das coisas que acontecerão na transformação deste planeta, mas todos os enviados de Deus falaram na mudança dos tempos. A transformação do planeta está descrita na bíblia, tanto pelos profetas como pelos apóstolos, mas também faz parte dos ensinamentos de Buda, Kardec e Krishna. Portanto, é uma informação universal.

Para poder continuar existindo nesta nova era que nascerá, é preciso que o espírito aprenda a viver. Para isso é preciso que compreenda que viver não é estar habitando uma carne, mas sim existir no reino de Deus.

Para que um espírito se considere vivo é preciso que ele entenda que, estando aprisionado em uma massa mais densa (corpo humano) ou menos densa (perispírito), deve existir no Reino do céu. Para isso é preciso que ele apenas ame...

Por isso afirmo: existem muitos “mortos” que estão vivos e muitos “vivos” que estão mortos.

Para se viver no reino de Deus é necessário que se aprenda a viver o amor universal em toda a sua amplitude: felicidade, compaixão e igualdade. Para isso é fundamental que se entenda todas as lições de Cristo à partir da essência da “Boa Nova”.

Voltando ao texto, podemos então entendê-lo melhor, com o código certo para decifrá-lo. Nesta parábola está se falando do retorno do espírito à frente do Senhor, ou seja, do tão comentado “julgamento” que se processa quando o ser universal desliga-se da personalidade humana que vivenciou durante certo tempo. Esse julgamento é que irá determinar se o espírito irá “viver” (continuar no Reino do céu) ou “morrer” (voltar ao ciclo de encarnações, para o lugar escuro onde existe ranger de dentes).

Quando sair da carne Deus irá perguntar a cada um: “Dei a você amor. Quanto você tem de amor? A mesma quantia? Então irá para o lugar de ranger de dentes”.

Para se fugir deste destino é necessário que se multiplique o “capital” dado por Deus e isto só acontecerá quando você usar muito, muito mesmo, o amor.

Foi isto que Cristo ensinou nesta história.

Evangelhos canònicos - Textos

A batalha pela consciência crística

Se um rei que tem dez mil soldados vai partir para combater outro que vem contra ele com vinte mil, ele senta primeiro e vê se está bem forte para enfrentar o outro. Se não fizer isso, acabará precisando mandar mensageiros ao outro rei, enquanto este ainda está longe, para combinar condições de paz. Jesus terminou dizendo: Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não deixar tudo o que tem.

O rei, neste caso, é o ser universal; a guerra deste ser é contra a sua humanidade (os desejos, as paixões e as posses). Para este ser Cristo ensina: se você sente que os seus desejos, paixões e posses são muito mais fortes do que a sua determinação em buscar a Deus, pense, reflita e trace um plano de batalha contra essas coisas... Se não fizer isso, durante a batalha terá que render-se a elas...

Render-se já seria um ato desonroso, mas repare em como Cristo fala. Ele diz: você será subjugado pelo inimigo.

Ser discípulo de Cristo, ou seja, alcançar a consciência crística, é um trabalho imenso para o ser humanizado. Ninguém consegue alcançar tal estado de espírito simplesmente indo ao centro ou a igreja. Ninguém o consegue simplesmente fazendo orações ou praticando a caridade fundamentada em objetos materiais (comida, agasalho, etc.). Para se alcançar a consciência crística é preciso exercer uma verdadeira batalha contra o ego, a personalidade humana, você...

Esta batalha como já foi falado diversas vezes, não se trata de uma guerra para subjugar a personalidade humana, mas sim para libertar-se das paixões, desejos e posses que ela cria.

Para esta batalha, assim como para qualquer outra coisa, o ser humanizado precisa estar preparado. Neste caos, no entanto, a necessidade da preparação é muito mais imprescindível. Por que afirmo isso?

Para responder a esta pergunta, faço outra: quem é, analisando friamente a questão, o conjunto de seus desejos, paixões e posses? Você mesmo... Você é o conjunto daquilo que acredita, que quer para si e que diz que é seu...

Portanto, é preciso um planejamento muito grande por a luta é contra você mesmo. Contra os seus desejos, as suas paixões e as suas posses. É preciso realmente um planejamento muito grande para esta luta por que ela é contra você mesmo e contra tudo aquilo que diz acreditar, querer e que é seu...

Justamente pela luta para alcançar a elevação espiritual ser contra si mesmo é que o Bhagavad Gita, livro máximo dos hindus, relata a luta de Arjuna contra seus próprios parentes consangüíneo. Sim, a luta pela elevação espiritual é contra os seus parentes, os seus amigos, os seus inimigos, não querer carregar a sua cruz, ou seja, tudo que já falamos até aqui.

Por isso, é premente que cada ser humanizado trace planos para a sua batalha. Sem eles, dificilmente conseguirá a vitória. Conhecendo o que é a derrota nesta batalha, acho que a premência de se fazer planos fica bem clara.

Se tudo o que falamos até aqui é a vitória na batalha pela elevação espiritual, qual, então, é a derrota? É o acreditar em você mesmo... É o acreditar que o que você acha verdadeiro é assim, é acreditar que realmente quer o que deseja, é acreditar que aquilo que está sob sua guarda é seu... Ou seja, é ser quem você é hoje... A batalha é difícil e precisa ser cuidadosamente planejada porque se não o for você continuará sendo quem é e com isso não conseguirá a consciência crística...

É por isso que Cristo afirma que o ser humanizado que não planeja a sua batalha avaliando bem o seu inimigo é subjugado por ele. Se você não planejar bem a sua batalha será subjugado por você mesmo, pela personalidade humana que agora acredita ser.

Isso é busca da elevação espiritual: lutar contra você mesmo. Para alcançá-la de nada adianta ir à igreja ou ao centro, ler livros ou ficar presos em ensinamentos, mesmo que sejam os meus. Não estou dizendo que você não deve fazer estas coisas. Como já disse, os atos não importam... O que estou querendo dizer é que você precisa compreender que estas coisas são apenas instrumentos que podem lhe auxiliar os seus planos de batalha e não realizações...

Ouvir-me, ler os meus ensinamentos diariamente, ir ao centro todas as quartas, à umbanda as sextas e fazer entrega de cesta básica aos sábados e domingos não eleva ninguém. Se a batalha decisiva contra a personalidade humana (você mesmo) não estiver sendo executado a cada segundo da sua existência dentro de um pré-planejamento, nada será alcançado...

 Portanto, se você quer alcançar a consciência crística primeiro decida o que quer. Depois disso trace o seu plano para enfrentar você mesmo...

Participante: O que fazemos naqueles momentos que sentimos que perdemos a batalha? Sentamos e choramos?

O que faz um general de um exército de exército quando perde uma batalha? Reagrupa as suas forças e traça planos para uma nova batalha...

Sentar e chorar num canto são atitudes que podem ser comparadas ao ato de entregar a bandeira branca. É aceitar a submissão...

Reagrupe suas forças, ou seja, realinhe os seus conhecimentos necessários para a guerra contra a personalidade humana e esquematize uma próxima batalha. Só isso...

Vou lhe dizer uma coisa: se a cada derrota na guerra os generais sentassem para chorar as derrotas ninguém vencia a guerra, pois todos morreriam afogados no oceano de lágrimas que haveria.

Evangelhos canònicos - Textos

Amem-se uns aos outros

Para conversamos sobre a Bíblia hoje selecionei um discurso que Cristo faz aos apóstolos depois que Judas retira-se da ceia. Ou seja, é a última instrução que Cristo dá aos seus apóstolos antes da crucificação. Ele está no Evangelho de João, evangelho esse que é muitas vezes esquecido, mas que contém grandes ensinamentos.

Vamos, então, ver este texto...

Jesus disse: Eu sou a videira verdadeira...

O mestre se declara como a videira, mas quem é Jesus Cristo? Antes de entrarmos no estudo, isso precisa ficar muito bem definido...

Jesus Cristo não é um homem ou um espírito, mas sim uma encarnação, uma vida humana, uma personalidade que vivenciou uma vida humana. É assim que se deve tratar qualquer mestre: uma encarnação que sirva de exemplo para aqueles que buscam aproximar-se de Deus.

Outro dia me perguntaram se Kardec tinha ego e eu respondi que não. Disse isso porque Kardec é o ego com o qual um espírito viveu a vida carnal.

Se isso é verdade, Jesus Cristo também é o ego de um espírito. É uma encarnação, uma vida carnal, nada mais do que isso...

Mas, veja bem: existe o espírito que você chama de Cristo? Existe... Mas ele não se chama Cristo, não foi homem ou mulher, judeu ou romano e nunca foi o messias. Ele é apenas um espírito igual a todos os outros: gerado à imagem e semelhança de Deus e que realiza a sua progressão espiritual no Universo.

Quando vamos estudar na Bíblia os ensinamentos de Jesus Cristo, temos que ter isso em mente, pois senão pode se cair na idolatria, o que nos afastará do Pai. Jesus Cristo é apenas uma encarnação de um espírito, mas, é uma encarnação especial. Vamos entender isso...

Segundo João neste mesmo Evangelho, Jesus Cristo é o verbo (Capítulo 01 – versículo 01). O verbo, gramaticalmente falando, é a ação de uma frase. Sendo assim, podemos dizer que a encarnação verbo (Jesus Cristo) é o exemplo de atividade para um espírito durante uma encarnação.

O fato de ela ser um exemplo a ser seguido fica muito claro com outra palavra de Jesus Cristo: eu sou o caminho, a verdade e a luz e ninguém chega a Deus a não ser através de mim.

Portanto, quando se estuda a Bíblia, ou seja, os ensinamentos que fizeram parte daquela encarnação, nós temos que entender que aqueles ensinamentos são o sentido de transformar a sua encarnação numa ação...

Mas, que ação foi praticada pela encarnação Jesus Cisto e que deve ser copiada por você? O amar... A encarnação Jesus Cristo foi a ação do amor universal, do amor sublime...

A partir de agora, portanto, devemos compreender que durante este estudo não iremos conhecer Jesus Cristo ou seus ensinamentos, mas sim compreender a ação amorosa, que se posta em prática durante a encarnação, nos aproxima de Deus.

Por exemplo, quando ele diz “eu sou a videira”, não devemos, em nosso estudo, entender que o ser humano ou espiritual Jesus Cristo é a videira, mas sim que a ação amorosa é a videira. A árvore da vida não é o mestre, um ensinamento ou qualquer outra coisa, mas sim a ação amorosa, a conjugação do verbo amar.

Esta é, então, a primeira compreensão deste estudo: iremos estudar a questão da aplicação do amor durante a existência carnal para que ela fundamente a sua opção que lhe leva a felicidade incondicional. É preciso se estudar isso porque sem essa ação, você jamais optará pela felicidade incondicional.

 Isso porque a antítese do amar universal em ação é a encarnação humana, ou seja, o amor individualista e egoísta em ação. O amor humano não lhe deixa alcançar a felicidade incondicional porque he prende ao dualismo do prazer e dor, já que fortalece as paixões e os desejo.

Portanto, para aqueles que pensaram que iríamos estudar Jesus Cristo ou suas máximas, afirmo que, na verdade, iremos buscar compreender como construir em nós esse amor universal. Para teremos que entender como destruir em nós esse amor egoísta e individualista que só pensa em si mesmo e o resto do mundo que se dane...

Agora podemos continuar nosso estudo...

... e o meu Pai é o lavrador.

O que é uma videira? Uma árvore. Mas, na Bíblia a árvore não é um vegetal...

Toda árvore citada na Bíblia deve ser compreendida como uma fonte de conhecimento. Desde o livro Gênesis, quando Deus fala da árvore do conhecimento que fica no centro do Jardim do Éden, este elemento sempre simboliza uma fonte de conhecimentos.

Se o mestre afirma que ele é a videira, isso, portanto, quer dizer que ele é a fonte de conhecimentos para uma existência que leva a Deus. Se entendermos Jesus Cristo como o verbo, como já dissemos, dizer que ele é a fonte de conhecimento da ação do amor durante a vida. Por isso copiá-lo nesta ação leva a Deus.

Sendo assim, é justo dizer que nenhuma outra encarnação pode servir de espelho para você. Nenhuma encarnação pode servir de exemplo porque elas não são o amor em ação.

Às vezes, quando as pessoas me perguntam como reagir a determinadas circunstâncias, digo: tente imaginar como Cristo reagiria... Falo assim porque este é o exercício que precisamos fazer transformar a vida carnal numa progressão em direção ao Pai.

Devemos seguir a única coisa que pode ser exemplo: a ação do amor. Qualquer outro exemplo que você me cite, mesmo que humanamente seja considerado como sublime, não é a videira, não é a árvore da vida.

Mas, neste pedaço do Evangelho de João que citamos, Cristo fala mais: ele diz que Deus é o lavrador, ou seja, que o Pai é que sustenta a vida. Vamos ver esta afirmação, pois esta é uma questão impar para quem quer colocar o amor em ação, ou seja, optar pela felicidade e o bem em todos os momentos de sua existência carnal.

A vida não nasce ao acaso, ao léu. Ela não é fruto do encontro de um espermatozóide com o óvulo nem do coco de um passarinho que tinha uma semente. Ela é criada e cultivada por Deus...

Esta afirmação de Cristo vem de encontro àquela informação que já estudamos em O Livro dos Espíritos que diz que Deus é Causa Primária de todas as Coisas. Sim, Deus é a Causa Primária de todas as coisas porque é Ele que cuida da vida de cada um.

Cristo é a vida... O amor em ação é a vida, mas ele só nasce quando cultivada por Deus.

Aí está o primeiro grande ensinamento de nosso estudo, isso porque ninguém conseguirá optar pelo bem, se não sentir a sua vida como obra de Deus.

Ontem estávamos conversando sobre outro tema e uma pessoa me disse: eu realmente só entendendo o seu ensinamento se aplicarmos o preceito que diz que Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Se não aplicá-lo, nada faz sentido...

Realmente, você só vai me entender, ou melhor, só conseguirá optar por estar no bem, se ver no que está acontecendo o fruto de um trabalho de Deus. Enquanto estiver aprisionado ao fruto do trabalho de qualquer outro, não há como.

Isso porque não há como você conceber que outro ser humano, espírito, ou seja, outra inteligência inferior igual a você aja sobre você, controle os acontecimentos de sua existência. Ver a ação de uma inteligência inferior sobre você lhe dirigindo não lhe dá confiança, não lhe permite a entrega absoluta...

Portanto, Jesus Cristo é o amor em ação, a fonte do conhecimento para a prática amorosa, mas quem cultiva, quem ara a terra, semeia, rega e cuida da vida é Deus.

Não quero transformar este estudo num tratado religioso. Nosso objetivo é conversar de forma prática, de forma aplicada à vivência de cada um durante a existência carnal.

Como prática disso que acabamos de ver, digo o seguinte: ninguém nos fala nada... Se Deus é o agricultor, ou seja, quem cria a árvore da vida e toma conta dela, qualquer som que ouçamos terá sido semeado, cultivado e germinado por ele...

Sendo assim, sentir-se ofendido, ou seja, viver o “mal” neste momento é não estar ligado ao amor, a Deus e ao próximo. Só vive o “mal” quem coloca o próximo como o agricultor que cuida da sua viseira, da sua vida.

Aí está a resposta para aqueles que me perguntaram como colocar em prática esses ensinamentos: optando pelo bem... Isso porque optar pelo bem é optar por ver que a vida é cultivada por Deus e não por outros espíritos, encarnados ou não.

Participante: A gente até consegue fazer esta opção por um tempo, mas às vezes tropeça...

Quando tropeçar uma vez, passe a viver o momento seguinte, continuando a tentar optar...

Esqueça os tropeços. Este ainda não é um mundo de Regeneração, mas sim de Provas e Expiações, ou seja, de provar que estar disposto a buscar.

Mas, você tropeça uma vez e logo para de caminhar e fica chorando porque machucou o dedão...

Participante; Como aqueles que não têm Jesus como guia vão segui-lo?

Amando como Jesus amou... Amando sem buscar para si, sem esperar resultados... Amar por amar... É assim que se segue o exemplo de Jesus.

Veja. Todos os mestres amaram como Jesus, portanto, não importa que exemplo siga, você sempre estará caminhando em direção a Deus quando optar pelo bem...

Sabe... Eu não estou no oriente. Se estivesse falando para egos daqueles povos, diria: siga Buda...

Para cada povo há um mestre, mas todos seguiram o mesmo caminho: o amor incondicional, a libertação do eu para amar. Não importa que mestre você cite, posso lhe provar que o ensinamento deles, mesmo que não tenha estas palavras, se resume nisso.

Sendo assim, para você optar pelo “bem” deixe que Deus resolva isso, ou seja, que Ele cultive como o espírito encarregado de ensinar o amor em ação no oriente fale. Vamos nos firmar em Cristo, pois ele para nós, que somos cristãos, é nosso mestre.

Ele corta todos os galhos que não dão uva, embora eles estejam em mim.

Deus corta todos os galhos da videira que não dão uva, apesar deles estarem no amor. Isso quer dizer que não basta conhecer o amor ou ter o amor: é preciso que o amor gere frutos para que continuem vivos...

Este é um aspecto interessante da vida. Vocês acham que “bem” viver é quando se alcança acúmulo de conhecimentos: quanto mais se vive, mais se conhece e, por isso, mais se evolui.

Acontece que o simples acúmulo de conhecimentos não é sinal de evolução. Isso porque enquanto o ser humanizado apenas conhece, mas não pratica o que aprende, torna-se um galho que não dá frutos e, segundo Cristo, Deus cortará estes galhos da vida.

Nós vamos falar neste estudo muito sobre destruir o “mal” para entrar no “bem”, mas a partir do momento que se falar sobre qualquer coisa, é preciso que o ensinamento entre em prática.

Participante: Como amar na prática?

Como se faz alguma? Só tenho uma resposta para lhe dar sobre isso: fazendo...

Não existe outra forma. Como se ama? Amando... Como se destrói a opção pelo “mal”? Destruindo...

Esse é o caminho. Não há resposta diferente desta e ninguém pode lhe responder de forma diferente disso, pois cada um ama da sua forma. Saiba de uma coisa: a única coisa que um mestre pode dizer é onde se deve chegar, mas cada um precisa encontrar o seu próprio caminho para caminhar.

Portanto, para amar, é preciso amar...

Não estou falando de amar a partir de seus próprios conceitos, mas estou dizendo que cada tem a sua própria opção pelo “bem”. Ou seja, tem a sua própria forma de ver Deus como Causa Primária de todas as coisas. O que quero dizer é que cada um opta pelo “bem” a partir de uma motivação racional individual.

A forma como se destrói o “mal” ou se constrói o “bem” não importa... O importante é sabermos que se tudo que conversarmos aqui for exclusivamente letra fria, ou seja, virar conhecimento e no momento de vivenciar um determinado acontecimento não se transformar em opção pelo “bem”, saiba que você será um galho futuramente cortado por Deus da videira.

Participante: O que quer dizer quando cita que o Pai cortará todo galho que não dá fruto?

Que este galho será tirado da vida...

Não falo que este ser humano será morto... Não estou dizendo que uma encarnação será encerrada... O que digo é que o galho que não dá fruto será tirado da glória de Deus.

Ou seja, este ser humanizado viverá como ser humano: preso aos seus afazeres diários, às suas preocupações humanas, aos seus medos... Isso é estar morto, porque quem vive assim está morto para Deus.

É isso que quero dizer.

Participante: Como amar se a pessoa que nós amamos não quer ser amada?

Participante 2: Todos querem ser amados...

Desculpa, mas nem todos querem ser amados. Alguns querem ser idolatrados, outros adorados e muitos querem ser paparicados. Agora amados de uma forma incondicional, isso poucos querem...

Como amar quem não quer ser amado? Amando...

Eu falei no início que este amor é incondicional. Ou seja, ele se existe mesmo que o outro você não queria ser amado por você.

Então ame, ame a todos, independente deles quererem ou não ser amado por você. Ame mesmo que os outros não queiram ser amados e não espere nem que eles aceitem ser amados ou que retribuam de alguma forma o seu o amor...

Participante: Como Jesus sabia que só ele era o caminho?

Espiritualmente falando porque ele é a inteligência mais evoluída deste do orbe terrestre. Racionalmente falando porque esta verdade estava presente naquele ego.

Participante: Então podemos concluir que não é o Pai que irá nos cortar da árvore, mas que é uma escolha de cada um sair da árvore?

Quem corta da árvore é o Pai, mas ele faz isso apenas para quem optou por não dar frutos.

Na árvore da vida cada galho tem vida própria no sentido de optar em dar frutos ou não. Deus cuida da árvore, mas cada galho tem a liberdade de amar ou não.

Quando você opta pelo “mal”, ou seja, por não amar, Deus corta o galho.

Participante: Ninguém poderia aparecer hoje dizendo ser o caminho?

Pode... Qualquer um pode aparecer afirmando ser o caminho, desde Deus faça isso acontecer...

Mas isso não quer dizer que ele é o caminho, pois somente aquele que colocar o amor incondicional em ação é o caminho... Respondo desta forma porque o caminho não é Cristo, mas o amor em ação.

Participante: Mas este julgamento quem fará não será o ego?

Não... Será Deus através do seu ego. Não o ego em si...

Então, se tiver que cair nessa, ou se tiver que não acreditar e for realmente uma nova encarnação caminho, Deus lhe dará a compreensão ou não...

Portanto, não se preocupe com isso...

Mas ele poda os galhos que dão uvas para que fiquem limpos e dêem mais uvas ainda.

O que é podar? Cortar alguns galhos para que a planta cresça com mais vigor. Ou seja, renovar...

Com isso, nossa compreensão sobre a vida, aumenta. Sabemos que Deus cortar os galhos que não dão frutos e agora aprendemos que Ele renova os galhos que dão frutos.

O que quer dizer isso? Quer dizer uma coisa que ainda estudaremos: quanto mais se gastar desse amor, mais amor estará disponível para gastar, para amar...

Tem gente, como a parábola dos talentos fala, que economiza no amar. Ama apenas os pobres, os sem saúde, os velhos no asilo. Isso é economia no amar.

Cristo disse que devemos amar a todos. Sendo assim devemos amar as crianças abandonadas, mas também as que têm lar da mesma forma. Temos que amar os com saúde e os sem com a mesma intensidade; temos que amar os velhos que moram em asilos ou os que estão em casa de uma forma equânime.

Amar a tudo e a todos, a cada momento: essa é a única garantia que você terá de receber esse amor sempre...

Veja, vou dizer uma coisa que talvez você ainda não tenha se dado conta: amor e conhecimentos são as únicas coisas que quando mais se gasta, mais aumenta. Quanto mais ama, mais amor você tem; quanto mais busca conhecimento, tem, e quanto mais dá, recebe, pois ouve os conhecimentos dos outros.

Então, Deus retira os que não amam, mas renova, fortalece o amor daqueles que amam.

Vocês já estão limpos por meio do ensinamento que lhes tenho dado. Continuem unidos comigo e eu continuarei unido com vocês; pois só podem dar fruto se ficarem unidos comigo, assim como o galho dá uvas só quando está unido com a planta.

Olha que grande ensinamento: vocês já estão limpos pelos ensinamentos que receberam ao longo de suas existências... Sim, já estão...

Eu diria que a humanidade já tem hoje todos os conhecimentos necessários para a evolução e por isso nenhum mestre mais precisa encarnar. Agora, precisam continuar limpos, precisam continuar ligados ao amor amando...

Foi o que falamos agora a pouco: saber sem prática não vale nanada. É preciso praticar o que se recebe.

Ora, se você recebe a informação, que está na Bíblia, que diz que não é vantagem cumprimentar apenas o seu amigo, é preciso, para continuar puro, amar o inimigo. Recebendo o ensinamento que não deve julgar os outros (que atire a primeira pedra quem não tem pecado), deve abster-se de julgar...

De nada adianta saber que isso está escrito na Bíblia, se na hora do acontecimento você não pratica... O galho só dá frutos quando está ligado à árvore: você, como galho da vida universal que é, só dará frutos, ou seja, só estará na árvore da vida, se continuar ligado à árvore.

Então nunca pare de amar: ame a tudo e a todos...

Participante: Há algum espírito no nível de evolução de Jesus que sirva de exemplo.

Não... Só Ele é o exemplo.

É isso que dissemos agora pouco: nenhuma outra encarnação pode servir de exemplo para você

Eu sou a videira e vocês são os galhos. Quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada. Quem não ficar unido comigo será jogado fora e secará; será como os galhos secos que são juntados e queimados. Se vocês ficarem unidos comigo e as minhas palavras continuarem em vocês, receberão tudo o que pedirem. A glória do meu Pai é conhecida por meio dos frutos que vocês produzem e assim vocês se tornam meus seguidores. O meu amor por vocês é como o amor do Pai por mim; portanto continuem no meu amor. Se obedecerem aos meus mandamentos, vocês continuarão no meu amor, assim como eu obedeço aos mandamentos do meu Pai e continuo no seu amor. Eu estou dizendo isso para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa.

Eu deixei a leitura correr porque já havíamos falado de tudo isso. Mesmo agora, quando Cristo fala em ser feliz, já havíamos abordado este tema.

A felicidade de Cristo, que não é a felicidade deste mundo, está com você e em Cristo por causa de Deus. Portanto, você só será feliz de verdade quando encontrar Deus, ou seja, quando ver nos acontecimentos da vida a ação de Deus tomando como lavrador da planta.

O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês.

Agora chegamos ao ponto principal desta conversa: amem uns aos outros como eu amo vocês.

Como Cristo amou, ou como a encarnação Cristo transmitiu o amor? De uma forma incondicional.

Cristo nos ama incondicionalmente e nós devemos amar ao próximo incondicionalmente. Mas, o que é amar incondicionalmente? Não amar porque, para que, como... É simplesmente amar...

Perguntaram-me como se pode amar a pessoa que não quer ser amada por mim? Superando esta condição. Esse é o incondicional deste amor...

Como atingir a incondicionalidade? Superando as condições para amar... Ninguém consegue amar incondicionalmente sem antes superar as condições que ele tem para amar.

Eu amo fulano por causa disso... Desculpe, não ama, porque o amor verdadeiro é incondicional. Você gosta, é outra coisa. Enquanto não superar a condição não estará no amor.

Eu não amo fulano por causa disso... Para amá-lo não é preciso que ele se mude, mas que você supere a condição que você impõe para amar.

Mas como superá-la? Para vocês este é o problema...

É o que disse anteriormente: optando por não se submeter a esta condição. Optando por não deixar esta condição influenciar os seus estados de espírito lhe levando para o “mal”.

Aquela pessoa me fez isso... Esta é uma condição que precisa ser suplantada para entrar no amor universal. Esta é uma condição que precisa ser ultrapassada para se atingir o amor.

Então, aí está uma forma de fazer, uma forma de colocar este ensinamento em prática. Agora, como disse anteriormente, cada um terá uma forma para suplantar estas condições...

Apesar disso, este é o caminho: suplantar condições para amar. Isso porque ninguém entra no amor universal sem suplantar condições. Só quando você vence a condição entra na incondicionalidade.

Não se ama verdadeiramente sem superar as condições para amar ou não... É a mesma história que ainda estudaremos sobre aquela frase de Cristo: em verdade lhe digo que quem não nascer de novo não verá o reino do céu.

Todos querem renascer do espírito e da água e entre no reino do céu. Mas ninguém nasce sem antes morrer. Portanto, é preciso morrer antes para depois poder nascer de novo. Só que ninguém quer morrer...

Isso é amar. Amar não é se entregar ou ter quaisquer posturas racionais a favor de alguém... Amar é suplantar as condições que lhe leva a amar em alguns momentos e em outros não.

O maior amor que alguém pode ter pelos seus amigos é dar a vida por eles. Você são meus amigos se fazem o que eu mando.

O que é dar a vida por eles? Quando é que você se sente vivo? Quando está feliz, quando tem prazer...

Dar a vida por eles é exatamente isso: deixar o outro se considerar o certo, o bom. Enfim, deixá-lo considerar-se o que ele quiser se considerar...

O maior amor que alguém pode dar pelo outro é dar a ele o direito de pensar sobre si ou sobre qualquer coisa o que quiser...

Amar não é ensinar nada, não é interferir no próximo. Amar é uma atitude passiva no tocante à vida humana.

Amar é assistir ao outro vivendo com suas verdades, com suas paixões, com suas posses, com sua busca da fama, sem que você se sinta obrigado a interferir nisso. Sem que você se sinta obrigado a mudá-lo, sem que você veja nestas coisas um condicionamento ao “bom” ou “mal”.

Sabe, tem gente que diz que amaria uma pessoa se ela fosse de um determinado jeito. Mesmo que esta pessoa mudasse, ele não amaria o outro, mas continuaria amando apenas a si mesmo. Amaria a ele mesmo porque primeiro se preocupou consigo, com o que é importante para si.

O amor é doação, é caridade e a doação maior que alguém pode fazer é doar a razão: você está certo... Você acha que estou falando besteira, louvado seja Deus. Você está certo: eu não tenho que lhe corrigir, que lhe mudar... Esta é uma expressão do amor que nos auxilia a vencer as condições. Isto porque as vence quem doa ao outro o direito de ter as suas próprias condições para ser feliz.

Abe de uma coisa: viver é um constante choque de opiniões, pois ninguém nunca faz o que você quer nem acredita exatamente no que você crê. Para que? Exatamente para isso: para que você exerça no grau máximo o amor que é dar ao próximo o direito de ser, estar, fazer e acreditar no que ele quiser...

Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando. Não chamo vocês de escravos porque o escravo não sabe o que o seu dono faz; mas chamo de amigos, pois tenho dito a vocês tudo o que ouvi do meu Pai. Não forma vocês que me escolheram; pelo contrário, fui que os escolhi para que vão e dêem muito fruto e que esses frutos não se estraguem. Assim o Pai lhes dará tudo o que pedirem em meu nome. Portanto, isto é o que eu mando: Amem uns aos outros.

Com isso encerramos nossa conversa de hoje...