Resolvendo problemas - 4. Mergulhe na vida
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Resolvendo problemas - 4. Mergulhe na vida

Série de 3 conversas particulares mantidas com Joaquim de Aruanda:

Carreira profssional

Realização espiritual

Ansiedade

Além disso, um apêndice onde o amig espiritual dá conselhos para a resolução de problemas. 

Resolvendo problemas - 4. Mergulhe na vida

Descobrindo o íntimo da razão

O que fiz nestas conversas? O que fiz com a pessoa que me falou do seu maior problema, com quem me falou dos problemas de seus relacionamentos, sobre a questão da carreira profissional, da realização espiritual, quem tinha ansiedade por conseguir um emprego e todos os outros? O que fiz para responder as perguntas que me foram feitas?

Eu fiz vocês mergulharem em si mesmos. Para que? Porque é importante este mergulho em si mesmo? Para fugirem da superfície das afirmações mentais.

Ninguém quer morrer. Todos gostam desta vida. Só que a vivem de uma forma superficial. Não levam a sério a própria vida. Vivem na superfície dela, nas ilusões, nas mentiras que a mente conta. Vivem no que acham que está acontecendo. Não mergulham em si mesmo para descobrir o que verdadeiramente estão vivendo.

Quem me falou da ansiedade de ter um emprego acreditava que estava vivendo isso. Quem me disse que queria ajudar o próximo também. Só que como conversamos, ficou bem claro que havia alguma intenção diferente escondida. Uma pessoa vivia o medo de ficar dependente dos outros e a outra queria, realmente, é mudar as demais pessoas para aquilo que ela achava certo.

Uma coisa é bem diferente da outra. Por isso, o combate em busca de solucionar o problema que se vive é diferente. Combater o desemprego não resolve em nada a vida de quem está sem, conseguir voltar a incorporar também não. Porque?

Participante: não entendi sua colocação.

A pessoa que me disse que o seu problema era o desemprego, se não fizer o mergulho na vida, imaginará que para combater o sofrimento gerado por essa situação deveria conseguir um emprego. Só que essa forma de solucionar a questão não resolve. Porque? Porque a real motivação, o medo de se tornar dependente, continuará.

Digamos que essa pessoa consiga se empregar. Será que a ansiedade acabará? Acho que não. A mente dessa pessoa irá dizer que ela ganha pouco e que por isso não está tendo condições de ajudar o suficiente para poder assumir o posto de controle das coisas. Com isso, haverá a ansiedade de conseguir outro emprego onde ganhe mais e possa, então, dizer a todos o que é certo ou errado de se fazer.

Não importa quanto essa pessoa receba de salário: todos ganham pouco. Todos precisam de mais. Pode ser o mais rico ou o mais pobre: todos acham que precisam ganhar mais. Por isso, esta pessoa sempre terá uma agonia de encontrar um emprego onde possa, enfim, ter as condições necessárias para se sentir independente.

Por isso afirmo que o problema desta pessoa não está no desemprego, mas sim na busca pela independência. Da mesma forma, todas as demais questões que conversamos também não se tornam problemas pelos motivos aparentes, mas por alguma coisa que está oculta atrás das ideias transmitidas pelos pensamentos.

É o medo de se tornar dependente que faz a pessoa que não tem emprego sofrer e não o desemprego. É a vontade de dominar os outros para que não mandem em si que a pessoa que tem problemas de relacionamentos sofre. É a vontade de mudar os outros para o que acha certo que faz a pessoa que diz que sofre porque não ajuda o próximo.

É isso que precisam entender. O não mergulhar na vida, o não compreender o real problema que têm não lhes deixa ser feliz. Sem esse mergulho para conhecer o foco do problema, por mais que ajam sobre o que venha dele, ainda continuarão sofrendo. O que fazem hoje, o tratar a dor sem o mergulho na vida, é como alguém que tem um abscesso no braço purgando pus e só trata passando um remédio externo. Na hora, o pus seca, mas como o que o causou continua existindo, mais tarde tudo volta.

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O medo de perder

Participante: o engraçado quando mergulhamos na vida e compreendemos a origem do problema, descobrimos que ele sempre tem a ver com a questão do medo.

Sim, sempre tem a ver com o medo de perder, do desprazer, da infâmia da crítica e com a vontade de ter o oposto destas coisas. O carnegão do sofrimento humano sempre tem a ver com estas coisas, pois a razão humana é movida por estas âncoras.

Todo raciocínio é feito a partir da vontade de ter algo e do medo de não ter o que se quer. Não importa qual seja o assunto, o que move o mundo mental ao criar os pensamentos é sempre estas questões.

O medo de não ter é que lhe impulsiona a desejar ter. Por exemplo, a pessoa que me falou em ajudar o próximo não está buscando ter uma atividade espiritual por ela mesmo, mas sim pelo medo de não ter alguma coisa. Qual é este medo? Ela se demonstra quando ele diz que nasceu para fazer algo e não está fazendo. Ou seja, ele está com medo de perder aquilo que acha que nasceu para fazer. Só que ninguém pode deixar de fazer o que nasceu para realizar.

É isso que precisam entender: vocês são movido pelo medo de não ser, estar ou fazer alguma coisa. É daqui que surge a vontade de ter alguma coisa e quando este desejo não é atendido, surge, então, o sofrimento. Por isso digo que a cura do sofrimento só se dará quando o ser humanizado mergulhar dentro de si e descobrir este medo.

Isso se faz buscando a seguinte introspecção: ‘este pensamento está querendo o que’? Ao descobrir o que pensamento está querendo ganhar, automaticamente se descobre o que tem medo de perder. Quando isso acontece, é possível, então, atacar este medo e com isso o sofrimento acaba.

Não importa o que a mente esteja dizendo: ela sempre está querendo ganhar algo por medo de perder alguma coisa. O seu trabalho é sempre formado por estas questões, pois é egoísta por natureza.

Portanto, este mergulho é o caminho para acabar com problemas. Se ela lhe diz que gosta de uma pessoa, mergulhe em si mesmo e descubra o que ela ganhar com este gostar e o que ela está com medo de perder. Sem realizar este mergulho, se deixará levar pela superfície da razão, ou seja, pela história que a razão cria. Com isso o sofrimento é inevitável.

Não importa que história a mente conte, ela não é verdadeira: trata-se apenas de uma parábola. É só uma história criada para defender um interesse próprio e pelo medo de perde-lo.

A mente não quer que o marido faça os serviços de casa. O que ela quer é que o outro faça o que ela diz que deve ser feito. Com isso está objetivando manter o controle daquela pessoa. Só que ela quer manter este controle para não perder, para que o próximo não aja diferente do que quer que seja feito.

Sem este mergulho no que a mente diz, jamais conseguirão ter paz. Apenas viverão histórias que lhes levará ao sofrimento.

Uma pessoa nesta nossa conversa me disse que quer viver para o nós, pensar coletivamente. Como se faz isso? Deixando de viver para si mesmo. Quem vive apenas para ele mesmo não vive para o todo. O que é deixar de viver para o eu? É deixar de ter medo de perder alguma coisa, pois só isso termina o desejo individual de ter algo que leva o ser humanizado, que é egoísta por natureza, a não pensar priorizar a sua vontade.

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Necessidade

Participante: isso é possível de ser feito?

Sim, mas não na mente, mas você consigo mesmo.

Se a mente quiser qualquer coisa, irá lhe impulsionar a que você queira isso. Para isso ela lhe diz: como você vai viver sem isso? Essa é a forma que ela usa para lhe dar o medo de não ter aquilo.

Eu disse à pessoa que me falou da ânsia de buscar emprego: você afirma que necessita ter um emprego, mas hoje tem um teto para se abrigar e comida para comer. Ou seja, a falta do emprego não está afetando as necessidades básicas desta pessoa. Esta conclusão devia leva-la a viver a situação do desemprego com mais tranquilidade. Só que isso não é conseguido.

Porque? Porque a mente explora essas necessidades. Não importa quais sejam, posso estar falando de casa, comida, de cigarro, de carro ou de qualquer outra coisa. Não estou falando apenas de necessidades ditas básicas: a mente sempre transforma o que deseja em necessidade básica, em algo que parece impossível continuar vivo sem ter.

Algumas coisas podem parecer para determinadas pessoas coisas supérfluas, mas para quem convive com a criação mental não parece. Alguns querem fazer uma viagem, passear. Para quem está desempregado isso parece algo fútil, mas quem recebe da sua mente este desejo não vive dessa forma. Para ele isso é uma necessidade básica, é algo que não consegue imaginar como viver sem.

Como se vive sem aquilo que a mente diz que é necessário ter? Da mesma forma que se tivesse: respirando. Para estar vivo a única coisa que vocês precisam é respirar.

Compreendem o que estou dizendo? O que precisam é tirar este valor de necessidade básica, de algo que precisam para viver, que a mente dá àquilo que ela deseja.

Por isso tenham a certeza: vocês não precisam de nada. Tudo o que a mente deseja é sempre uma história que o leva a querer ganhar algo por medo de perder alguma coisa. Por isso, não acredite no que ela diz. Esta é a forma de acabar com o sofrimento.

Você me perguntou se o que falei pode ser feito. Sim, pode. Como? Não aceitando a dependência da realização de desejos que a mente cria, sem aceitar as necessidades que ela gera. Para isso é preciso sair da superfície da vida e mergulhar profundamente neste mar e conhecer tudo o que está por trás daquelas ideias que ela cria.

Quando a mente disser que precisa de alguma coisa, responda a ela: ‘não sei se preciso’. Quando disser que se não tiver vai perder, responda: ‘se perder, perdi, mas se me prender ao que você afirma, certamente vou perder já’. Este é o trabalho que precisa realizar junto a si mesmo para poder manter-se em paz e feliz.

Pouco importa que você queria que alguma coisa aconteça ou não. A vida corre de forma independente do que você quer. Por mais que deseje ter algo ou não ter alguma coisa, a vida acontece do jeito que ela quiser. Por isso, o desejo que ela cria não vale de nada.

Acho que já sabem disso, não? São pessoas que já possuem alguma vivência das coisas da vida e já descobriram que não é porque querem algum coisa que aquilo acontece. Por terem alcançado esta compreensão, deveriam fazer este trabalho automaticamente, mas não fazem. Porque? Porque não mergulham na vida. Vivem apenas na superficialidade, presos à razão humana.

Se mergulhassem, veriam que a história do pensamento não é verdade, não é realidade. Veriam que a razão humana traz junto consigo uma busca de satisfazer o eu pelo medo de perder. É isso que precisam compreender. Se realizarem esse mergulho, não precisam de mim para lhes ajudar a vencer os seus problemas: poderiam fazer sozinhos.

Quando digo isso não estou afirmando que não mais lhes ajudarei. Estarei sempre aqui à disposição para isso. No entanto, se tivessem conseguido realizar o trabalho que estou propondo sozinhos, teriam sofrido muito menos do que sofreram até chegarem aqui e me ouvido.