Realidade

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Comentários de Joaquim de Aruanda a respeito da realidade humana

Realidade

Maya

Vamos conversar hoje sobre a vida humana.

O que é a vida humana? Acho que essa pergunta, que deveria ser tão simples para a humanidade, é muito complexa. Deveria ser simples porque, afinal de contas, vocês estão vivos, mas se pedíssemos uma definição para vida, poucos saberiam dar. Poderiam ser formuladas diversas respostas, filosóficas ou acadêmicas, mas a realidade de uma vida, nenhum encarnado poderia imaginar. Por isso vamos falar sobre o que é viver, o que é uma vida.

Vida humana é uma coletânea de fatos, de acontecimentos onde o espírito encarnado interage com eles através do processo raciocínio. Isso é uma vida: uma coleção de acontecimentos onde, a cada um deles, a mente promove um raciocínio dando um determinado valor ao acontecimento.

Vamos dar um exemplo: andar de um lugar a outro. Este fato é um acontecimento onde o espírito, por observar cenários diferentes durante o acontecimento caminhar, acredita que está andando, se locomovendo. Este fato, no entanto, não é apenas um acontecimento, mas a soma de diversos: sair, ir e chegar. Em cada um deles há um raciocínio que determinará um valor. Quando vê se afastar o ponto de origem a mente afirma que está saindo; durante o caminhar vai dizendo que está em diversos lugares e quando chegar haverá um raciocínio que dirá cheguei.

Isso é a vida humana: uma série de acontecimentos que são avaliados através do processo raciocínio conferindo a cada um deles um valor.

A partir dessa definição de vida humana podemos dividi-la em dois momentos distintos: o que está acontecendo (o movimento das pernas) e outro onde é raciocinado o que está acontecendo (o valor sair, saber onde está, chegar).

Isso é vida: a cada segundo algo acontece e a mente do ser humanizado raciocina o acontecimento e determina o que está acontecendo (dá um valor para o momento). Para que a compreendamos profundamente dentro do sentido espiritual vamos analisar cada um desses dois elementos para entendermos a vida. Comecemos pelo acontecimento.

O que está acontecendo na realidade? Vamos exemplificar: alguém chega perto de você e lhe fala alguma coisa ou age de determinada forma. O que é isso, que valor tem esse acontecimento? É alguém falando, é alguém fazendo algo? Não, é o carma em ação.

O acontecimento não se define pelo que está acontecendo (ato físico, movimento físico), mas pela essência dele. Essa essência representa a provação do espírito, que é o motivo da sua encarnação.

Novamente exemplifiquemos: alguém lhe rouba. Não pode haver roubo porque não há ladrão, pois ninguém pode tirar o que é seu, já que você nada tem. Tudo que está sob sua guarda é de Deus e continuará sendo mesmo que a guarda tenha passado para outra pessoa. Isso tudo sem falarmos que o próprio objeto do furto não existe.

O que acontece ali, que valor tem aquele acontecimento? Porque o ladrão foi roubar exatamente você? É o seu carma. O objetivo de acontecer esse fato exatamente a você é para que possa ser realizada uma determinada prova no sentido espiritual. Esta provação está embutida na essência do acontecimento. Vamos falar um pouco da essência deste acontecimento que estamos exemplificando, mas isso não é regra fixa, ou seja, muitas podem ser as essências de um mesmo acontecimento.

Um roubo pode ser um teste ao despossuir material do espírito; à paciência; à vaidade. Nestes sentimentos está a essência da ação carmática. Dessa forma não há roubo, mas uma ação carmática que serve como prova a um espírito.

Pergunta: Sob esse prisma, então, não existe vítima?

Nem culpado, porque não importa o que aconteça na sua frente é Deus colocando uma prova para você, colocando uma essência onde será testado no seu individualismo ou no seu universalismo.

Não há vítima e não há culpado. .

Continuemos...

Anteriormente definimos a vida humana como uma sucessão de fatos. Agora podemos ampliar essa definição para uma sucessão de carmas. Cada espírito passa a vida inteira vivenciando ações carmáticas onde existem essências colocadas por Deus como prova para a elevação espiritual. Isso porque, como ensinado, a vida carnal é uma etapa da vida espiritual onde o espírito está executando provas.

Dessa forma, nada que lhe aconteça pode ter acontecido por acaso, por sorte, por azar, ou porque o outro é grosso, porque não presta, porque é um safado: tudo o que acontece você precisava e merecia passar como uma essência carmática onde será testada a sua reação ao acontecimento.

Pergunta: Ninguém vem a Terra sem ter carma?

Não, porque este é o mundo de provas e expiações. Para se expiar é preciso ter carma.

No entanto, carma não é condenação, pena, mas simplesmente a reação a um momento anterior. Sem haver o carma não haveria vida, pois todos seriam estáticos.

Se você consegue colocar um pé na frente do outro é porque existe o carma. Sem ele o pé não se moveria. Mas, para vermos dessa forma é preciso compreender que o carma não é expiação, pena, mas a justa e merecida reação à ação executada no momento anterior.

Pergunta: Então separando o joio do trigo estaremos em um novo mundo, o mundo de Regeneração?

Sim, um mundo onde não mais haverá os carmas que hoje existem. Haverá outros, mas não mais os carmas que hoje existem porque eles são do mundo de provas e expiações.

Pergunta: Quando acontecerá essa transformação: a separação do joio do trigo?

O processo já começou desde a aparição de Maria (Nossa Senhora) em Fátima e vai até o fim desse século (2.100).

Dessa forma, o que está acontecendo não é o que está acontecendo, ou seja, o que você acha que está acontecendo. Não é o que vê, cheira, ouve, mas a Realidade é que tudo é o seu carma sendo executado. A ação carmática, porém, não é representada pelo acontecimento em si, mas por uma essência que está embutida no ato.

Pergunta: Como escapar das sucessivas encarnações se estamos sempre produzindo carma?

Produzindo o carma de não mais reencarnar, ou seja, alcançando a reforma íntima, ou seja, vivenciando esse mundo dentro dos padrões ensinados pelo Cristo: amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Na hora que viver desse modo gerará o carma de viver no mundo de Regeneração e aí não estará mais no planeta Terra. Começará uma nova sansara, uma nova roda de encarnação para regeneração e não mais para prova e expiação.

Pergunta: Maria, mãe de Jesus na Terra, em todas as suas comunicações demonstra estar muito preocupada com o atual estágio que estamos passando.

Porque ela é a Senhora da Regeneração. Porque foi escolhida por Deus e por Cristo para comandar os exércitos que trarão os ensinamentos para a mudança do planeta. É por isso que ela pede sempre a conversão para Deus não para uma religião.

Então, tudo o que acontece com você não é o que está acontecendo, mas reflete uma essência que serve de prova necessária e que é fruto (carma) de uma utilização por sua parte daquela mesma essência. Vamos exemplificar novamente para ficar claro.

Tendo você um dia se utilizado da posse será necessário que agora passe por uma nova situação que exponha essa essência. Esta necessidade surge porque você precisa provar a Deus que é capaz de despossuir.

Tendo vaidade precisará de uma situação onde a essência seja este sentimento. Esta será uma oportunidade para a reforma íntima, ou seja, optar pelo amor a Deus e ao próximo ao invés de utilizar este sentimento. Quando fizer isso, terá alcançado a elevação espiritual. Isso é o carma e esta é a sua função na vida dos seres humanizados.

Como já dissemos, um mesmo ato pode refletir diversas essências. No exemplo do assalto encontramos diversas delas. Dessa forma, dentro da análise do acontecimento (raciocínio que dá um valor aos acontecimentos), o ser encarnado não consegue saber a que essência ele está sendo provado. Se você foi assaltado pode ter que despossuir, deixar de ter ganância, deixar ter vaidade, deixar de se sentir superior. Diversos sentimentos podem ser a essência de uma mesma ação carmática.

Assim, quando cada um vive, quando passa por situações, não pode afirmar nem no ato nem na essência o que está acontecendo, o que está se passando. O ato não tem o valor que o ser humanizado lhe aplica e a gama de possibilidades de essências é tão ampla que o ser humanizado jamais descobrirá com certeza. Se persistir em tentar compreender a essência do acontecimento racionalmente, mesmo assim não conseguirá porque, como Paulo nos ensina, Deus não deixa o homem conhecê-lo pela sua lógica. O raciocínio lógico do ser humanizado jamais permitirá que ele compreenda a essência que está sendo testado.

Por mais que você tente descobrir a essência daquele acontecimento pela lógica, isso será impossível, pois senão não haveria o exercício da fé.

Pergunta: É verdade que existem irmãos de outros planetas ajudando na transição?

Sim. Encarnado, desencarnado, na matéria deles, em outras matérias: muito mais do que vocês pensam.

Pergunta: Como a espiritualidade observa as ações do presidente dos Estados Unidos da América?

Ação carmática do planeta. Só isso. Ele é um instrumento de Deus para gerar um carma para humanidade. Todos o são, independente da repercussão de seus atos. O ato é só isso: ação carmática. Seja o ato de quem for: o seu ou de outro qualquer.

Qual a essência que ele está trazendo para servir de prova à humanidade? Não sei. É o que acabamos de dizer. Você não sabe o que está acontecendo seja no ato ou na essência.

Voltando a definição de vida humana (sucessão de fatos). Já vimos que não podemos conhecer o que está acontecendo porque é apenas uma prova e nem a essência carmática que está sendo utilizada. A partir disso vamos voltar ao nosso primeiro exemplo, o caminhar, para continuar a falar. O ser humanizado que busca reformar-se deve vivenciar o início do caminhar sem saber que está partindo; andar sem saber que está se locomovendo; e alcançar determinado lugar sem saber que chegou. Ou seja, viver a vida sem aplicar valor algum ao que está se passando.

Essa é a evolução espiritual: quando você vivencia todos os acontecimentos da sua vida de uma forma equânime, ou seja, sem aplicar nenhum valor a eles. O roubo não é um roubo, mas algo que não se pode definir de modo algum, um nada. Andar não é andar, comer não é comer: tudo é um nada. É uma ação carmática que o ser humanizado não consegue entender porque ela está acontecendo e para o que ela está acontecendo.

É por isso que o Krishna diz que o sábio, o yogue, o verdadeiro buscador de Deus, liberto das coisas do mundo transita por elas como um bobo, como aquele que não sabe nada, que não aplica valores a nada.

Pergunta: Devemos, então, viver cada momento como se fosse o último?

Como se fosse o único, pois ele assim é.

Cada momento é único porque o momento que passou já acabou, não existe mais; o momento futuro ainda não chegou, não existe ainda. Então, só se pode viver o momento de agora como único, ou seja, sem saber de nada, sem vínculos a nenhum valor.

Pergunta: A escolha de querer evoluir para um novo mundo ou viver encarnando em outro mundo menos evoluído ainda pode ser feita?

É o momento de fazê-la. Essa é a última oportunidade para aqueles que estão encarnados compreenderem que precisa haver essa escolha e lutarem para fazê-la. É a hora de se buscar não a vida na felicidade material, mas para promover a sua reforma íntima.

Chegamos, portanto, à primeira conclusão deste trabalho: tudo que acontece é um nada para o ser humanizado, ou seja, coisas sem valor algum. No entanto, quando definimos a vida humana, falamos que ela era uma série de acontecimentos que eram analisados pelo raciocínio através do qual se aplicava um valor a eles. Se agora compreendemos que o acontecimento é um nada (algo que não pode ser definido, compreendido), aquele que alcança a evolução espiritual, ou seja, aquele que vive com a Realidade, precisa no seu raciocínio chegar ao nada como valor para as coisas da vida.

Qualquer outro valor dado pelo raciocínio a alguma coisa é o que o Krishna descreve como maya: ilusão. Existe um carma sendo executado não pela forma, mas pela essência e você se ilude dizendo que está acontecendo isso, aquilo ou aquilo outro. Mover as pernas é um carma e você tem a ilusão de estar se locomovendo. Parar de mover as pernas é um carma e você tem a ilusão de ter chegado. Todo resultado de um pensamento que dá um valor a alguma coisa é maya, é ilusão.

A vida humana, portanto, poderia ser descrita pelo ser humanizado como a coleção de acontecimentos que são analisados pelo raciocínio. No entanto, para aquele que pretende viver a vida de espírito na carne (com a consciência espiritual), a vida humana é um momento único onde ele se exime de dar qualquer valor ao que está acontecendo, pois sabe que assim responde de forma perfeita (universal) à prova que Deus está lhe aplicando.

Pergunta: É verdade que existe um planeta que é chamado de 12º Planeta que virá para fazer a limpeza” da Terra? É verdade, ainda, que ele é habitado por espíritos que estão na mesma evolução dos que habitam a Terra?

Existe um novo planeta que é habitado por espíritos que estão começando o seu processo de evolução nele e por espíritos que já foram retirados do planeta Terra e que não vão permanecer aqui no mundo de Regeneração. Agora se a limpeza da Terra será feita por um planeta ou uma nave é ilusão. Não existem planetas, não existem naves: tudo é ilusão, ou seja, fruto de um raciocínio.

Planeta, nave, é o valor que alguém está dando a alguma coisa. Na verdade o que existe é um ambiente onde os espíritos se juntam e que o ser humanizado dá o valor que quiser.

Pergunta: Às vezes tenho a impressão de que tudo é muito temporário. Estou certo em afirmar que o que fica são a sabedoria e a experiência?

O que fica é o quanto você evoluiu aproximando-se de Deus. A sabedoria não é conhecimento, pois a cultura é ilusão, maya: é fruto de um raciocínio. Todo fruto de um raciocínio é o valor que se aplica a alguma coisa, algo que só você acha que é.

Agora, a experiência fica, porque o espírito vai aprendendo com os seus próprios erros. A sabedoria, ou seja, o abandono da cultura e a experiência de ter abandonado a cultura continuam com o espírito depois de se desumanizarem.

Chegamos agora à grande conclusão deste trabalho e que é ensinamento de Krishna: o verdadeiro yogue silencia a mente, ou seja, não raciocina e não aplica valores a nada. Está sempre na neutralidade. “O que está acontecendo? Não sei. Você irá lá? Não sei”.

Ele não sabe de nada. Vive a cada segundo sem ligação com o anterior ou o próximo. Está sempre atento àquele momento. Essa é a elevação espiritual: o fim do raciocínio, o fim do dar valor às coisas. Quando isso acontecer você terá caído na Realidade: Deus agindo. Deus emanando e agindo sobre o Universo gerando os carmas que são as essências das ilusões dos atos.

Eu diria, então, que a elevação espiritual é parar de raciocinar, mas, será que alguém conseguiria parar de raciocinar? Não. É por isso que o Krishna ensina também: desapegar-se. O yogue raciocina, dá valor às coisas como você, mas não se apega ao fruto do raciocínio, a estes valores.

Ele vê um objeto que pelo raciocínio dá o valor de parede que é pintada na cor verde. Isso vem à mente do yogue como viria na sua se estivesse frente a este objeto. Só que ele não se apega a isso, ou seja, não declara para os outros nem para si que aquilo é uma parede nem muito menos verde. Se alguém disser que aquilo é ar, madeira, ou qualquer outra coisa que não parede, o yogue não discutirá e aceitará a ilusão do próximo consciente de que tudo o que se puder declarar sobre o assunto será ilusão (maya).

O ser evoluído continua recebendo valores do raciocínio, mas não está apegado a eles, às verdades que se formam na sua mente. Está sempre centrado em Deus e por isso sempre afirma que a conclusão que ela chega é ilusão, que na realidade está acontecendo um carma que embute uma essência onde está sendo testado.

Este ser vive o mundo material vendo, cheirando, ouvindo, igual àquele que ainda não promoveu a reforma íntima. Só que não vive a vida humana como o outro, ou seja, não participa dos acontecimentos pelos acontecimentos em si, nem aplica valores a eles.

Pergunta: ao sair do meu corpo de madrugada consciente, encontro a minha rua que está vazia totalmente cheia de espíritos. Essa população extra-física é tão grande assim?

Muito maior. Só para reencarnar, aguardando fora da carne o seu momento de nascer, existem dez espíritos para cada encarnado. Só essa população já seria grande, mas acrescente-se a esse número aqueles que estão trabalhando, auxiliando os encarnados e os desencarnados.

A rua vazia é ilusão, não se apegue a isso.

Pergunta: É verdade que existem várias naves-mãe estacionadas em nosso céu só que não conseguimos vê-las por ter uma vibração diferente?

Sim é verdade, mas só que a nave-mãe não é aquilo que você conhece como tal. Ela não tem forma, não tem combustível, não possui materialidade. Tudo isso é ilusão, valor que você dá pelo seu raciocínio.

Pergunta: Temos então que treinar sempre a nossa mente a ver além das ilusões da vida que é o maya?

Não, porque você não conseguirá ver além. O que você precisa é bloquear qualquer coisa que venha à mente, treinar para bloquear o fruto do seu raciocínio, seja ele o valor que o ser humanizado ou qualquer outro que você compreenda.

Qualquer coisa que você seja capaz de ver será também fruto de um raciocínio material, será imaginação, será uma ilusão, pois ninguém enxerga com os olhos, mas vê como raciocínio (aplica valores). Não se apegue a ilusão alguma, seja ela percebida ou imaginada.

Como respondi anteriormente quando o moço que me perguntou sobre a rua que ele vê vazia quando está na carne e espíritos quando projetado: não importa se ela está cheia ou vazia porque não existe rua, o seu espaço e nem os espíritos como vistos. Achar que ela está cheia ou acreditar que está vazia é maya, é ilusão, tudo fruto do raciocínio que aplica valores que cada um dá ao que está sendo percebido.

Pergunta: O mundo espiritual é uma ilusão?

O mundo espiritual, como concebido pelo encarnado, é uma ilusão, pois não existe mundo material ou espiritual, nem existe mundo como você concebe que ele seja. Tudo o que você consegue conceber (dá valor) é ilusão, maya, porque é fruto de um raciocínio.

Pergunta: O mundo espiritual é uma matéria rarefeita?

O Universo é constituído de matérias, mas se aplicarmos o valor de rarefeito cairemos na ilusão, porque não conhecemos o que é rarefeito. Aliás, não sabemos nem o que é matéria.

 É isso que estou querendo explicar e as perguntas estão servindo perfeitamente para exemplificar os ensinamentos. Cada coisa que você acreditou até hoje e tudo que você acreditar a partir de hoje, inclusive nos ensinamentos que estou passando agora, é maya, é ilusão. Não porque o ensinamento é falso, mas porque a sua compreensão não é o ensinamento que estou falando.

Apenas o Absoluto existe e Ele não é compreendido pelo espírito enquanto humanizado, enquanto utilizando-se do raciocínio.

Isso é vida humana, ou seja, nada. Qualquer outra compreensão que se tenha sobre qualquer coisa será uma ilusão completa, porque será fruto de um pensamento, será o valor aplicado a partir de um raciocínio e ele é a ilusão. Será a junção, como o Krishna ensina, dos gunas pensados com os gunas pensantes.

Pergunta: A única realidade é Deus?

Perfeito. Deus é a Realidade, o resto tudo é ilusão. Agora, Deus de verdade e não a ilusão que criamos através do raciocínio do que é Deus: uma energia, uma potência, o tudo, etc. Deus é a Realidade, mas o que é Deus, eu não sei. Compreendendo assim entramos na Realidade do Universo. Mas, enquanto imaginarmos Deus e utilizarmos o deus imaginado como realidade ainda estaremos presos na ficção, na ilusão, no maya.

Pergunta: Sendo a matéria uma ilusão ela pode ser moldada de qualquer forma pelos humanos?

Pode ser moldada, mas pelos seres humanizados não. Falo desse jeito porque senão você pensará que poderá moldá-la com a mão (elemento do ser humano), mas isso não é realidade. Você poderá moldá-la, mas com a sua força mental (elemento do ser espiritual). No entanto, para poder chegar a fazer isso terá que estar apto para usar este sistema dentro do universalismo e não para fins individuais. Todos já têm esse poder dentro de si. Deus não deixa utilizá-lo porque senão os seres humanizados agiriam em seu próprio benéfico.

Muitos, por exemplo, querem sair da carne consciente e nunca conseguem enquanto outros fazem. Por quê? Porque não tem o merecimento. São individualistas que querem sair da carne para ir para a casa do vizinho ouvir o que estão falando dele. Aí Deus não deixa utilizar o poder que o espírito já possui.

Pergunta: A ilusão para mim é acreditar em algo que não existe.

Exatamente isso. Tudo que você acredita não existe, porque é apenas fruto de alguma coisa que você acreditou antes. Tudo o que você acredita é verdade relativa, só sua. Não existem dois espíritos que possuam a mesma crença sobre todas as coisas do universo, seja sobre qualidade ou intensidade.

Pergunta: E a pessoa má intencionada que consegue enganar muitas pessoas. Isso é real?

Não, é seu carma. Se você foi enganada, na verdade, não foi. Alguém agiu carmaticamente na sua frente e você ilusoriamente deu o valor de estar sendo enganada. Se Deus é a seu favor, quem pode ser contra? Qual a pessoa má intencionada que poderia fazer mal para o Filho De Deus? Não existe, não é mesmo?

Então, se alguém agiu, foi Deus emanando um acontecimento (carma que se transforma em prova) e você ilusoriamente, utilizando-se do seu maya, aplicou o valor de estar sendo prejudicada. Ou seja, não passou na sua prova.

Pergunta: Cada pessoa tem, então, o seu maya personalizado?

Eu diria que não há um maya personalizado, mas um ego personalizado que cria um maya. Dessa forma, podemos até compreender que os mayas são personalizados.

Pergunta: Fazer turismo astral é ignorância para quem pretende?

Sim, porque no Universo não existe tempo perdido. Deus não pode perder tempo. Então ele não tiraria ninguém da carne apenas para ter o prazer de voar.

Muitos já leram nossos ensinamentos há bastante tempo e até hoje pegam-no para tentar prever como vivenciar atos futuros. Querem saber como, ao alcançar a elevação espiritual, trabalhará no seu emprego, como se relacionar com os filhos após o fim da família como hoje concebida.

O ensinamento espiritual, seja ele qual for, não existe com a finalidade de se programar próximos atos porque estes estão programados antes da encarnação e não importa como o espírito humanizado reaja viverá o ato pré-programado, o carma. A única coisa que cada um pode fazer com relação a atos é reagir a eles e não criá-los. A reação é apenas espiritual (sentir) e não material (agir), porque senão você provocaria atos o que é incumbência de Deus como Causa Primária de todas as coisas.

A reação espiritual que você pode ter é de duas maneiras: acreditar na sua ilusão, no seu maya, ou universalizar-se, ligar-se a Deus. Não importa o que está acontecendo o que o espírito pode fazer é: viver iludido achando que está fazendo, achando que está acontecendo alguma coisa ou viver a realidade, o nada.

Apesar de ser composta por nada, essa vida não é vazia. Ela apenas é sem valores, sem ações, mas é repleta no gozo perfeito do entrosamento com Deus. Isso porque o nada que estamos dizendo que existe é o próprio Deus e Sua ação, a Sua emanação.

É por isso que o Cristo ensina: em verdade, em verdade vos digo, quem não nascer de novo não verá o reino do céu. Viver a vida sem valores é o renascimento em vida. Essa nova forma de reagir aos acontecimentos é o renascimento, o nascer de novo, o viver de outra forma. Mas, para renascer tem que morrer, ou seja, tem que matar os valores que se tem pelas coisas da vida.

Pergunta: Como sair de uma situação que foi criada. Como revertê-la?

Para que sair de uma situação? Toda situação que acredita que exista é ilusão é maya, você criou a situação na sua mente. Ela não existe. O que está acontecendo ali é uma situação carmática que você deu um valor a ela. Reverter o que?

O que você pode é simplesmente achar que aquilo é ruim, um problema, não presta ou vivê-la com Deus e com isso todos estes valores perdem sentido. Essa é a única coisa que você pode fazer em todos os momentos da vida: dar um valor a eles.

Os acontecimentos se reformarão ou não de acordo com a sua ação carmática e não pela sua ação material.

Pergunta: Por que é mais fácil acreditar no mal do que ir em busca da Verdade?

Porque é mais fácil acusar os outros. É fácil acreditar no mal porque aí acusamos o próximo de nos fazer o mal. Com isso não precisamos nos esforçar para entender que fomos nós que criamos o mal, ou seja, demos esse valor ao que os outros fizeram como instrumento da minha ação carmática.

Todo ato é feito por Deus e quem afirma que ele é mal está dizendo que o próprio Deus é mal.

É mais fácil acusar os outros porque aí não é preciso se mudar, não é preciso se libertar dos seus mayas. Quem age assim vive em paz com os meus mayas e não precisa morrer para se aproximar de Deus.

Pergunta: O que alimenta a alma?

Deus. O único refrigério para a alma é Deus, a ligação perfeita com o Pai. Ou seja, o apagar de tudo que acha das coisas. Quando você aplica o bloqueio do seu raciocínio se alimenta de Deus, alcança Deus.

Leia a história de Adão e Eva. Esse casal nunca existiu, mas eles representam o espírito encarnado. Passaram a viver na vida carnal, nascer e morrer, porque queriam ser como Deus: aplicar valores às coisas.

É por isso que eles se afastaram do paraíso, é por isso que eles se afastaram de Deus.

Pergunta: Então o mal é maya?

O mal é maya, mas o bem também. O certo é maya, mas o errado também; o bonito e o feio também são. Tudo é uma ilusão porque cada um tem o seu padrão de certo e errado.

No universo não existem padrões porque tudo é perfeito, pois vem de Deus.

Continuando...

Dentro da conversa que tivemos hoje também se falou sobre o próximo mundo, mundo de Regeneração. Vamos comentar um pouco este assunto a partir da Realidade da vida criada nessa conversa.

O mundo que vivemos hoje no planeta Terra é o de Provas, ou seja, um mundo onde o espírito tem que provar a Deus que quer buscar a sua elevação. É o lugar de tentar colocar em prática o amor a Deus matando o próprio eu, o fruto do raciocínio.

O próximo mundo será o de Regeneração e como a palavra fala é o mundo da mudança completa. Enquanto ainda estivermos vivendo as provas não precisamos alcançar a reformulação completa, mas é o momento apenas de mostrar que se está buscando a Deus. Só quando chegarmos ao mundo celestial viveremos a totalidade da vida como hoje conversamos.

Já imaginaram o que é viver assim? Uma vida onde alguém coloque o dedo na sua cara e você louve a Deus por isso. Uma vida onde lhe roubem e você louve a Deus por isso? Uma vida onde tudo o que acontece não lhe afeta, não lhe leva nem a exultação do prazer nem a depressão do sofrimento?

Hoje ainda não conseguimos viver assim, mas se não colocarmos como objetivo primário nesta existência a busca de Deus, de viver na Realidade, nos desapegando dos mayas, jamais conseguiremos viver esse mundo.

Pergunta: qual o tamanho do universo?

O próprio universo é maya. Não existe universo porque se ele existisse teria que haver algo além do universo para ele fosse o próprio universo e a outra coisa fosse algo diferente.

Só existe o universo e, portanto, chamar o tudo de universo é maya, valor que se aplica.

Pergunta: O que não é ilusão?

Deus. O resto tudo é ilusão, todo resto é ilusão. Sua dor, por exemplo, é ilusão. Tanto isso é verdade que existem pessoas que amputam a perna e tem dor no dedinho que não existe mais. Mágoa é ilusão, pois ela se origina de um querer não atendido. Mas, o querer também é uma ilusão, porque não há nada para ser querido, pois todos os espíritos possuem tudo o que existe. A outra pessoa não fazer o que você quer é uma ilusão, porque ninguém faz nada: é Deus quem está fazendo a ação carmática.

Tudo é maya. Tudo é ilusão, menos Deus e Sua ação. Todo resto é ficção que Deus cria para lhe colocar à prova: inclusive esse ensinamento, porque nós não sabemos o que é Deus, não sabemos o que é ficção nem o que é prova.

Pergunta: A ilusão ajuda a evoluir?

Sim, a ilusão é extremamente necessária para que cada um evolua. O que não é necessário é aceitar a ilusão como realidade.

É o que eu disse: não é parar de raciocinar. É preciso haver a ilusão, o raciocínio, para que você não se prenda àquele valor merecendo, assim, alcançar a evolução espiritual. Então, vamos dizer assim, a ilusão, o maya, é o diabo, o tentador, aquele que vai lhe tentar para lhe dar a oportunidade de não cair na tentação e desta forma provar a Deus que é capaz de amá-Lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Pergunta: Porque Deus não me ouve?

Ele lhe ouve toda hora, mas não está aqui para lhe satisfazer, para fazer as suas vontades. É exatamente quando Ele não lhe satisfaz que está amando-o. Dando-lhe uma oportunidade de amá-Lo acima de todas as coisas, ou seja, acima do seu desejo de que as coisas fossem diferentes.

Pergunta: Somos uma fusão de energias de Deus sendo que em vibrações mais baixas?

Essa sua afirmação é maya. O espírito é um brilho. Você sabe o que é um brilho? Nem eu.

Nós ainda somos capazes de nos reconhecer apenas pelo corpo que vestimos ou pelo perispírito que estamos envolvidos. Só espíritos muito elevados conseguem se reconhecer na sua própria essência.

Dar um valor ao espírito seria um maya, seria criar uma ilusão. Então saiba só: eu sou um brilho. O que é um brilho? Não sei.

Pergunta: Mas seu eu pensar assim, como fica o dinheiro para pagar as contas? O dinheiro não é ilusão.

O dinheiro é ilusão, ter que pagar as contas também é ilusão: tudo ação carmática. Você comprar, vender, pagar ou dever, faz parte da ação carmática de cada ser.

Se dentro da ação carmática de um homem ele tiver que passar por uma falência, terá que passar. Para isso é necessário que algumas pessoas deixem de pagá-lo.

Dessa forma, dever é ilusão. Você acha que está devendo, mas na verdade é Deus que não paga através de você àquele homem para propor a ele uma situação carmática para ver como reage.

Pergunta: Temos que concordar que nossa missão é bastante difícil, pois estamos cheios de ilusão por todos os lados. Como sair desse labirinto de ilusões? Só com o amor a Deus nos libertaremos?

Orando e vigiando. Orando, estando em contato com Deus e vigiando o raciocínio para não se apegar aos valores que ele dá, para não transformar as ilusões, os mayas, em realidade.

Ficou claro então o que é vida humana, ou seja, ficou claro que a vida humana não é nada do que você acha que é? Que a vida humana é um maya é uma ilusão?

Na hora que isso ficar claro na sua vida, você continuará trabalhando no seu emprego, continuará se alimentando na hora do almoço, continuará vivendo a mesma vida que vive hoje. Afinal, ela é a sua ação carmática e você não pode escapar dela. Esta nova forma de viver, no entanto, terá um detalhe diferente da de hoje: você deixará de aplicar valores aos acontecimentos.

Comerá por comer e não para manter a saúde, para emagrecer ou engordar; trabalhará por trabalhar e não para ganhar dinheiro para se sustentar ou qualquer outra coisa. Nesse momento alcançará algo que não conhece: a Felicidade, a Felicidade Universal.

Felicidade Universal é a paz, a tranqüilidade do espírito. É a vida sem exultação ou sem depressão. Uma vida reta no sentido de que não existem subidas nem descidas. Mas, principalmente, uma vida plena da glória de Deus. É isso que resultará quando você se libertar dos seus mayas.

Não será o fim da vida encarnada. Não será o ter que se isolar para viver em meditação. Não será a omissão: sentar no sofá e cruzar os braços. Todos os acontecimentos são maya, são ações carmáticas. Por isso, você continuará realizando tudo o que realiza hoje: apenas não estará preso à ilusão que o seu raciocínio está dando.

Pergunta: Em que nível de evolução o senhor está?

É difícil se falar em que nível de evolução alguém está, pois qualquer que seja a escala utilizada para medir ela é maya, é ilusão. Cada espírito tem o seu próprio nível de evolução. Eu diria que já consigo praticar muita coisa do que estou falando, mas tudo o que eu falo me foi transmitido para chegar e lhes repassar.

Realidade

Realidade

Desde a primeira palestra deste ciclo estamos conversando no sentido de destruir o que você chama de realidade, de real nos acontecimentos da vida material. Até que concluímos que tudo da vida material era maya, ilusão, fruto da conexão do pensamento com o objeto pensado. Hoje falarei sobre o outro lado: veremos o que é Real, o que é Realidade neste mundo, ou seja, aquilo que não é a ilusão que se vive quando na carne.

Começaremos pelo princípio de tudo. A Bíblia nos diz: no princípio era o nada e Deus resolveu criar e, assim, Ele criou tudo que existe. Esta é uma afirmação muito importante e real. O universo e as coisas não existiam até que Deus criou tudo que existe.

A Bíblia e o Livro dos Espíritos nos dizem que Deus executou a criação de todas as coisas utilizando como instrumento apenas o faça-se. Podemos, então compreender que o Senhor Supremo comanda através de sua ordem e as coisas são feitas: esta é a informação bíblica e de O Livro dos Espíritos sobre a ação criadora do Pai.

Agora, não se pode querer explicar o faça-se divino, como Deus faz as coisas acontecerem, pois para a grande maioria dos seres isto ainda é um mistério. No entanto, a Bíblia é muito clara: pela sua vontade Deus comanda o faça-se e as coisas são feitas.

Mesmo que não se compreenda como ocorre a ação divina, isto é Realidade no universo. Tudo que existe é criado por Deus apenas com Sua ordem, sua determinação, e nada se interpõe a isto.

Conhecida a origem e a forma da criação divina nos resta ainda uma pergunta: quando Deus cria? Em que tempo Deus cria?

O Pai não pode criar no passado, porque este não existe; não pode criar no futuro, porque este também não existe. Assim sendo, Deus só pode criar as coisas do universo no presente. Mas, o que é um presente? Quanto tempo dura o presente?

Se formos analisar profundamente o tempo presente veremos que é algo tão fugaz, tão rápido, tão passageiro, que não conseguimos mensurar. Não se pode dimensionar o tempo presente em qualquer medida conhecida pelo ser humanizado (ano, mês, dia, hora, minuto ou segundo), pois este tempo é muito menor, inclusive, do que aquele que é levado para se pronunciar a palavra presente.

Quando estou falando a palavra presente e soletro a letra ‘r’, a letra ‘p’ já terá ido para o passado e a ‘e’ ainda estará no futuro. Além disso, a própria letra ‘r’ é composta por outros sons (erre) e, por isso, pronunciá-la envolve diversos presentes que virão do futuro e irão para o passado depois. O tempo presente é, portanto, fugaz.

Apesar disso, somente ele existe, é Real. Quando algo acaba de acontecer, vai para o passado, não mais existe. Pode se ter lembranças daquele momento, mas aquele tempo não mais existe. O futuro é o presente que ainda não ocorreu e que, portanto, também não existe. Pode se fazer conjecturas sobre ele, mas enquanto não se transformar em presente não será Realidade. Apenas o presente é Real.

O Senhor do Universo, portanto, só tem o presente para criar as coisas do universo. Podemos, então, afirmar que Deus cria as coisas universais (tudo que existe) a cada presente, ou seja, a cada micro fração de tempo que não pode ser mensurada.

Deus cria tudo que existe a cada presente através do Seu faça-se, que é oriundo da Sua Vontade: isto é Real, isto é Realidade. Todas as coisas do universo são construídas a cada micro fração de tempo por Deus através do seu faça-se.

Apenas para colocar alguma imagem que possa ser compreensível aos seres humanizados, diria que a Realidade assemelha-se a um filme. São diversos fotogramas que se sobrepõe tão rapidamente que dão a ilusão de movimento.

Cada presente é um momento distinto do outro. Assim como quando um fotograma acaba de ser projetado e vai para o passado leva junto consigo tudo que estava nele, aquilo que existe no universo também acaba quando um novo presente se inicia.

Os seres não conseguem acompanhar a velocidade da criação divina e por isso vêem movimento e permanência nas coisas. A Verdade, no entanto é que Deus cria todas as coisas do universo a cada micro fração de tempo.

O ser humanizado não consegue acompanhar a criação divina porque está obscurecido pela matéria, ou seja, utiliza-se dos “Cinco Agregados”. “Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 11)

A criação divina pode ser de dois tipos: ser (espírito) e matéria. Estes são os dois únicos elementos que existem no universo, ou seja, o resultado da obra de Deus a cada micro fração de tempo através do seu faça-se.

“A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 22a) . Já o espírito é “o princípio inteligente do Universo”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 23)

Portanto, uma das criações de Deus é o espírito, o ser universal, o princípio inteligente do Universo, a alma, o homem: o nome não importa, mas sim saber que este elemento não é gerado por nenhum outro método (fecundação do óvulo, por exemplo) a não ser pelo faça-se divino.

 Ao criá-lo Deus colocou a seguinte observação: “agora façamos o homem (o espírito), que será criado à Nossa imagem e semelhança” (Gêneses, 1, 26). A partir deste ensinamento bíblico podemos concluir que todo ser universal é filho de Deus e, além disso, é cópia perfeita do Pai (criado à imagem e semelhança).

Eu, você, todos os espíritos, somos filhotes de Deus e somos iguais a Ele. Tudo que Deus possui todo espírito também o tem, porque senão não haveria a imagem e semelhança. É por isto que Cristo diz: vós sois deuses. Somos todos iguais ao Pai, mas apesar desta semelhança, não somos o próprio Deus.

A diferença entre um e outro está na utilização das coisas que o espírito recebeu geneticamente de seu Pai. No nível de compreensão sobre as coisas do universo, os seres humanizados conhecem três características de Deus: Inteligência, Amor e Justiça. Estes três elementos são as características de Deus que o ser humanizado pode conhecer com a compreensão que tem hoje. Se elas existem em Deus, é preciso que cada ser do universo também o tenha.

Você, como herdeiro das características de seu Pai também tem a mesma inteligência, justiça e amor que Ele possui. Deus, porém, possui a Inteligência Suprema e o ser humanizado possui a inteligência primária. Deus possui o Amor Universal, um amor idêntico para todos, mas você possui o amor individualista, o amor a si acima de todas as coisas. Deus sabe o que é Justo, é a Justiça na verdadeira acepção da palavra: a capacidade de dar a cada um de acordo com suas obras sem prejudicar ninguém. Mas, o ser humanizado tem a justiça individualista, ou seja, aquela que prioriza sempre o que ele acha que está certo.

O código de leis que a justiça do ser humanizado se fundamenta é baseado no eu: eu sou, eu estou, eu sei. Tudo que um ser humanizado julga (raciocina) tem como referencial suas próprias verdades e desejos enquanto o julgamento de Deus é totalmente impessoal. Por isso reflete a Realidade.

Com estes ensinamentos podemos compreender agora o universo. Ele é uma criação de Deus a cada micro fração de tempo, composto por matérias, elemento não inteligente, e pelos filhos de Deus, elementos iguais ao Pai, mas ainda utilizando-se das suas propriedades espirituais no sentido individualista.

Continuemos. Deus gera os espíritos dentro da Perfeição. Aquele que possui a capacidade infinita de tudo não poderia gerar nada incompleto ou defeituoso. É por isto que o Espírito da Verdade ensinou que o espírito nasce puro, simples e perfeito.

Deus não pode criar nada que não seja perfeito: todas as coisas do universo têm que ser perfeitas para serem obras de Deus. Então, podemos concluir que todo espírito quando nasce é perfeito, é puro, é simples, mas como toda criança quando nasce é desprovido de cultura, ou como se fala no Livro dos Espíritos: ele é simples e ignorante (desprovido de cultura). Assim nascem, começam a existir, todos os espíritos: simples, puros, inocentes e sem cultura. Depois de gerados precisarão, então, caminhar no sentido de obter a cultura.

Depois que é gerado por Deus, o espírito começa uma caminhada (existência) no sentido de conhecer as coisas universais: os elementos e as ações materiais do universo. Durante toda esta caminhada, esta busca da cultura, o espírito continua simples, puro, inocente. Em determinado momento o espírito gerado por Deus deixa de ser ignorante. Ele agora conhece todas as coisas do universo e, então, terá que provar ao Pai que, mesmo tendo a cultura possível, pode manter a sua simplicidade.

O processo de adquirir cultura que o espírito vivencia não é objetivo da conversa de hoje, pois para a reforma íntima que o ser humanizado precisa fazer no Mundo de Provas e Expiações este conhecimento de nada valeria. Portanto, vamos nos focar nesta segunda etapa onde o espírito vai precisar provar a sua inocência a Deus.

Utilizando-se de uma figura, podemos comprar o primeiro período de existência de um espírito com o início da vida de Adão e Eva no paraíso, quando eles aprendem sobre as criações divinas. Já o segundo iniciar-se-á quando Deus dá a ordem: não coma do fruto da árvore que fica no meio do paraíso.

 Através desta ordem Deus está propondo ao espírito uma provação: aquele que quiser manter-se puro deverá cumprir a ordem sem contestações, mas não é isto que ocorre. O espírito aceita alimentar-se daquele fruto que é oferecido pela cobra e ao fazer isto perde a pureza, ganhando em troca um determinado poder que o maculará e do qual precisará se libertar. Este é o assunto que iremos abordar hoje e que é fundamental para o processo de reforma íntima.

NOTA: De acordo com o livro Gênesis da Bíblia Sagrada (Capítulo 03 – Versículo 05) o poder é: ter os olhos abertos (capacidade de discernimento sobre as coisas) e conhecer o que é bem ou mal. Ainda segundo este versículo, este poder é exclusivo de Deus.

Pergunta: Temos, então, que absorver conhecimento e transmutar para a Real sabedoria com o passar da evolução?

O conhecimento que cito não é aquele que se adquire durante a vida carnal. Estou falando de um conhecimento anterior ao início das encarnações como seres humanos. Ainda não estamos falando do ser humanizado.

Como disse, o processo de busca do conhecimento que acaba com a ignorância que o espírito nasce pode ser comprado com a vivência de Adão e Eva no paraíso, quando eles aprendem sobre as criações do Pai. Até este ponto da conversa ainda não fomos expulsos do paraíso para vir habitar a Terra, ou seja, nascer e morrer.

Portanto, tudo o que falei até agora não se refere à cultura terrestre, mas a universal que o espírito adquire antes de começar as encarnações.

Pergunta: Porque o espírito tem que provar isto? É por causa do fruto que comeu?

O fruto que comer será o que precisará vencer, pois ele é que maculou a Perfeição criada por Deus.

Mas, por que precisa haver uma prova, se o espírito já é puro? Porque há uma lei básica no universo chamada merecimento, ou seja, receber de acordo com suas obras. É preciso realizar para merecer receber. Deus não dá nada de graça para ninguém, pois senão estaria ferindo a lei do trabalho, criada por Ele mesmo.

Desta forma o espírito é simples e puro, mas precisa trabalhar para provar a Deus que a cultura adquirida não afetou a sua pureza. Só quando não passa nesta primeira prova tem que reencarnar até conseguir libertar-se de toda complexidade que maculou a pureza original.

Portanto, na primeira encarnação o espírito vem simples e puro para realizar uma prova e assim contemplar a lei do trabalho e gerar o merecimento de não ter que entrar na roda do sansara (Ciclo reencarnatório segundo a crença hindu). Só quando não consegue este merecimento o espírito precisará reencarnar até que tenha voltado à sua origem: simples e puro.

Pergunta: Uma língua enganosa esmaga o espírito. Então, porque as pessoas viram às costas para ajudar o semelhante?

Porque são individualistas. É a característica do espírito encarnado no planeta Terra, o espírito em prova e expiações. Ele é individualista, só pensa em si primeiramente para depois pensar em Deus e por último nos outros.

Mesmo quando este espírito pensa em Deus só o faz para levar vantagem para si. ‘Meu Deus me dê isso’, ‘faça aquilo para mim’. Ele nunca comunga com Deus para louvá-Lo ou para pedir pelo seu semelhante.

Mesmo quando pede para o próximo, nunca se preocupa com o que o próximo quer, mas sempre pede a Deus aquilo o que ele quer para o outro. Está sempre baseado no eu quero, eu acho, eu sei, que são as características do individualismo que vive.

Esta é a característica dos espíritos que encarnam no planeta Terra que não os leva a servir ao seu semelhante.

Pergunta: Mas tem pessoas que não são assim e se dão mal por pensarem nos outros antes de si mesmo.

O achar que se deu mal já é uma prova de que esta pessoa é assim, ou seja, individualista. Ela só vive esta realidade quando quer alguma outra coisa diferente daquilo que aconteceu.

Quem não é assim, ou seja, não é individualista, não quer nada, não espera nada, está de bem com a vida, com tudo que vier, por isso jamais imaginará que se deu mal. Agora, quem quer alguma coisa, quem espera algo, é o individualista que eu falei. Ele está sempre preocupado consigo e por isso julga os acontecimentos do mundo para saber se estão de acordo com as suas verdades e desejos.

A visão se dar mal já é uma prova de que este ser está preocupado consigo e não aceita o mundo do jeito que ele está.

Continuemos...

Então, o espírito ciente de toda cultura universal recebe uma primeira tarefa de Deus. Ao executá-la com pureza e simplicidade (não discernindo entre o que é bom ou mal, mas vivenciando a tudo dentro da felicidade incondicional) gera o merecimento de permanecer entre aqueles que vivem a simplicidade que são.

A prova acontece durante os acontecimentos da vida carnal. O espírito participa de uma primeira encarnação (vivencia acontecimentos materiais) para provar a sua simplicidade. Neste momento ele falha, ou seja, busca para si o poder de julgar (quer determinar o que está acontecendo) e por isto não serve ao próximo.

Ao macular-se neste primeiro momento, o espírito gera o merecimento de ter que cumprir expiações. Expiar é repor ao universo o desequilíbrio que o espírito causa quando não age com simplicidade. O espírito quando não usa de simplicidade, de amor universal, causa um desequilíbrio no universo e, pela lei do carma, precisa repor o equilíbrio.

Nestes dois paradigmas (provação e expiação) se fundamenta o ciclo de encarnações que vivem os seres humanizados. Estes são os objetivos das encarnações hoje no planeta.

Todo ser humano é, independente da cor e forma do corpo, raça, pátria, sexo, condição social ou cultural, um espírito puro, simples e não ignorante que ainda não conseguiu provar a Deus que é capaz de conviver com simplicidade com a cultura que adquiriu durante a sua primeira etapa de existência e por isso está expiando e fazendo provas na vida carnal. Por maior que seja a posição que um ser humano ocupe, por mais bens ou fama que tenha, ele é um espírito que em determinado momento deixou a sua simplicidade e se maculou exercendo o falso poder de dar valores (bem ou mal) a um acontecimento da vida carnal.

Isto é a humanidade, isto é a Realidade do ser humanizado. O ser humano como entendido pela humanidade é maya, ilusão. Como dissemos a compreensão que a humanidade tem de si não é verdadeira.

Na Realidade o ser humano é um espírito encarnado simples e puro na sua essência, repleto da sabedoria universal, e que agora precisa limpar-se, tirar as máculas oriundas da utilização do falso poder para julgar os acontecimentos (dualismo) que recobre temporariamente a sua simplicidade. Isto é, por definição, o ser humano, mas é também a realidade do espírito que, mesmo fora da carne, ainda encontra-se em processo de evolução no Mundo de Provas e Expiações (planeta Terra). A humanidade de um ser não se decreta pela densidade de seu corpo, mas por encontrar-se maculado pelo poder de julgar os acontecimentos. Ou seja, todos os espíritos ligados a orbe terrestre em processo de evolução são seres universais simples e puros repletos de cultura que estão sujos, maculados pelo que ficou conhecido no planeta Terra como pecado original.

Pergunta: Qual o objetivo final da evolução?

Limpar-se e gerar o merecimento de estar próximo ao Pai provando a sua simplicidade. Tirar todas as manchas que adquiriu desde o início da provação: este é o objetivo final da evolução. Mas, isso durará ainda muitos milhares de anos.

Este processo de evolução, ou processo de limpeza, que estamos falando (Mundo de Provas e Expiações) se dá nos chamados mundos inferiores, que é o universo material em si. Os seres que estão em provação habitam os planetas físicos do Universo, o que chamamos de cosmos. Nestes lugares estão os espíritos em processo de evolução. Vivendo nestes planetas transitando entre matérias com densidades diferentes (encarnando no mundo material e vivendo um período no espiritual) estes espíritos precisam sempre provar sua simplicidade a Deus. Cada vez que provam a sua pureza se limpam de máculas geradas pelo uso anterior do falso poder de julgar as coisas do mundo.

Foi para que os espíritos vivenciassem estas provas, este processo de evolução, que Deus criou o que chamamos de mundos de vida: os planetas (Terra, Marte, Júpiter, etc.) e as suas diversas camadas espirituais (planos em outras dimensões). Todas estas coisas são campos de trabalho para o espírito no sentido de provar a Deus sua simplicidade e com isso retirar as máculas oriundas de encarnações anteriores, oriundas do processo de evolução.

Anteriormente já havíamos compreendido a Realidade sobre os seres humanos; agora podemos compreender mais uma. A vida espiritual em todos os níveis, desde que presas aos orbes planetários, fazem parte de um processo de evolução: mais nada do que isso.

A vida carnal faz parte de um processo de evolução do espírito; a vida espiritual fora da carne, seja em que nível for, quando ainda presa ao planeta Terra, faz parte da evolução do espírito, faz parte do processo de limpeza do ser universal. Um processo onde os espíritos vão paulatinamente retirando as marcas que encobrem a sua pureza, a sua inocência.

Portanto, não é só a vida carnal que faz parte da evolução, mas quem habita uma colônia espiritual ou quem está no umbral, está vivenciando um processo de evolução. Quem vive o ciclo de encarnações ou quem está no orbe terrestre apenas para trabalhar espiritualmente fora da carne em qualquer grau de evolução, está vivenciando um processo de provação e expiação.

Não existem santos ou seres de elevação suprema junto aos planetas materiais. Todos os trabalhadores espirituais estão vivenciando um processo de evolução assim como cada ser encarnado também está. Esta vivência pode se dar com a realização de trabalhos diferentes, mas todos fazem parte de um mesmo processo evolucionário.

Você vive com esta Realidade? Você consegue enxergar assim ao seu parente, seu amigo ou inimigo? Você compreende que as coisas que estão acontecendo fazem parte de um processo de provação e expiação? Não? É por isso que afirmamos que a vida que você leva é maya.

A compreensão que cada um tem dos acontecimentos da vida são ilusões, pois não existe vida, mas sim um processo de evolução para o espírito. O ser humano não tem a vida que imagina, não participa de atos ou acontecimentos, mas vive um processo de evolução espiritual, onde estará sempre sendo questionado por Deus para que possa ter a oportunidade de provar a sua simplicidade.

Pergunta: Há vida espiritual nos outros planetas do nosso sistema solar?

Sim, há vida espiritual em todos os planetas, não só no seu sistema solar. No mesmo sentido da vida terrestre (processo de evolução espiritual) e há vida fora dos planetas, no espaço entre as constelações.

Quando o ser não vive atrelado a um planeta específico, aí já vive outra Realidade diferente do que estamos falando. Mas esta os seres humanos não têm capacidade de compreender.

Agora que compreendemos os elementos do universo e a Realidade deste, podemos então começar a trabalhar estas informações.

Deus é o Supremo Comandante do processo de evolução, ou seja, Deus é o Supremo Comandante da vida ligada ao orbe planetário. Ele organiza a vida (seus acontecimentos) de acordo com o processo de evolução de cada espírito. Nada mais O motiva no exercício da função de Supremo Comandante da vida.

Para criar cada presente (as situações universais), sejam elas na vida carnal ou espiritual atrelada a um planeta, o faça-se de Deus é sempre motivado pelo processo de evolução que cada espírito vive. Esta motivação, no entanto, não sofre interferências dos desejos de Deus, mas é criada pela chamada lei do carma ou lei da ação e reação.

O mestre dos mestres (Cristo) ensinou a Realidade: Deus dá a cada um segundo as suas obras. Esta mesma Realidade é o que vimos até aqui: Deus cria as coisas universais a cada micro fração de tempo tendo como motivação o processo de evolução do espírito. Para criar Ele é movido pela lei da ação e reação.

De acordo com a Realidade acima exposta, podemos concluir que a cada micro fração de tempo você está recebendo de Deus o resultado de suas ações anteriores, ou seja, a resposta aquilo que fez anteriormente. Isto é Real, isto é realidade. Esta concepção de vida não é maya.

Ilusão é achar que você é o ser humano que se imagina ser, quando na Realidade é um espírito, simples, puro e com cultura, mas que está maculado. Ilusão é você achar que está vivo, que vive a vida, quando na Realidade vivencia um processo de elevação que acontece a cada micro fração de tempo. Ilusão é imaginar que está realizando alguma coisa materialmente falando, quando a única coisa que o espírito pode realizar durante a vida é provar a Deus que é capaz de voltar ao seu estado original.

Isso é Realidade, isso é Real. O resto tudo é ilusão.

Pergunta: No universo, entre as constelações, teria algo como colônias em pleno espaço sideral?

Não, entre as constelações, não. Ligado aos planetas sim.

Entre as constelações existem espaços imateriais que chamamos de macrocosmo. Ali não há necessidade de materialidade alguma. As colônias existem somente para aqueles que estão presos a planetas (matérias).

Pergunta: Quer dizer que nossos atos não são controlados pelo espírito? Deus comanda nossos atos e nós apenas escolhemos como nos sentimos?

Deus não comanda os seus atos: os faz. É muito mais do que comandar: é gerar a ação através do faça-se. Se Ele apenas comandasse seria você que executaria o ato sob comando Dele. Isso não é real: as coisas são feitas a partir do comando de Deus. Portanto, você não faz, Deus faz.

Para não nos aprofundarmos muito, pois como já disse este faça-se é incompreensível para a maioria dos espíritos, diria que Ele usa o seu braço para criar ação. Isto, no entanto, é uma definição apenas para não nos aprofundarmos muito no tema agora, pois até isto ainda é irreal. Por agora compreenda apenas que não é você ou o outro que age.

Você não é capaz de decidir ou realizar nada neste mundo materialmente falando. Se pudesse, seria como um aluno que, ao fazer provas, escrevesse as questões antes. Esta provação seria muito fácil e continuaria não gerando merecimento.

Portanto, saiba apenas que você não faz, mas Deus faz. A você caberá apenas escolher o sentimento ao que Deus fez.

Descobrimos com tudo que conversamos até aqui a Realidade da vida. Agora nos resta responder: como fazemos este processo de evolução? Como devemos vivenciar os acontecimentos universais para que promovamos a retirada das máculas que encobrem nossa pureza original?

Reagindo a tudo que existe com simplicidade. Alguém falou anteriormente que as pessoas lhe fazem mal. Pergunto: isto é uma reação com simplicidade? Não, é uma reação onde houve um julgamento, ou seja, uma análise onde estiveram envolvidos diversos aspectos (multiplicidade).

Foi desta análise guiada pela dualidade (saber o que é bom ou mal para você) que surgiu a verdade: eles me fizeram mal. Além disso, é uma reação não amorosa, com agressão, pois conclui que aqueles que agiram não prestam, são ruins. Também foi uma reação individualista que levou em conta apenas as paixões individualistas deste ser: eu não gostei.

A reação simples é caracterizada pelo nada saber, nada opinar, nada declarar sobre o acontecimento. Isto porque a reação do simples é realizada com a entrega a Deus da Verdade. Por isso não contém opiniões individuais sobre o assunto.

Se alguém fala alguma coisa, o simples não sabe se está sendo xingado ou não, não sabe se está perdendo ou não, se está sendo criticado ou não. Agindo com simplicidade (sem julgar as coisas) o simples não consegue vivenciar os dualismos de certo e errado, bonito e feio, bom e mal, limpo e sujo. Vivendo na simplicidade o espírito não tem nada a declarar sobre qualquer coisa.

Omitir-se conscientemente de dar valores ao mundo é viver na Realidade. O ser humanizado está na carne e fora dela, preso a um planeta, dentro de um processo de evolução, para provar a Deus a sua simplicidade, abrindo mão de todo e qualquer valor que possa aplicar às coisas.

Para retirar a mácula e viver a pureza que lhe é característica o ser humanizado precisa nada saber, nada conhecer e nada ser. É para criar oportunidades para isso que Deus cria os acontecimentos da vida material e espiritual. Deus gera os presentes da existência de um espírito para que ele tenha uma oportunidade de provar a sua simplicidade. Para isso Deus cria o universo a cada micro fração de tempo, para isso Deus cria os acontecimentos do universo: para que o espírito tenha uma oportunidade de trabalhar no sentido da evolução espiritual agindo o tempo inteiro com simplicidade.

Isso é real. Qualquer outra coisa que você falar, imaginar ou acreditar, será ficção, maya, ilusão proveniente de um espírito que vive no falso poder oriundo da sua desobediência. Isto é Real, pois você ainda está preso a um orbe planetário, ou seja, ainda está em processo de evolução.

Comentário fora do tema.

Anteriormente me haviam pedido para falar do amor entre homem e mulher. Agora com este ensinamento já podemos falar.

Para a realização das provas do espírito enquanto encarnado, há a necessidade de que existam os instrumentos que gerem os acontecimentos (outras pessoas e objetos). Em cada micro fração de tempo dois ou mais espíritos trabalham junto, cada um vivendo o seu carma ou aquilo que Deus cria para eles.

 O amor de um homem por uma mulher é um acontecimento, portanto, uma criação de Deus. É um acontecimento que gera a oportunidade de um espírito responder ao Pai se irá continuar simples ou vai se prender às suas manchas, as suas máculas, que determinam os valores individualistas da vida.

Ou seja, o amor entre o homem e uma mulher é maya, é uma ilusão: ninguém ama ninguém neste sentido. Trata-se apenas de um faça-se de Deus que aproxima dois espíritos que precisam viver juntos o seu carma.

Voltemos agora ao nosso estudo neste ciclo de palestras. Até hoje destruímos todas as bases com a qual os seres humanizados vivem. Mostramos que tudo é maya. Hoje falamos sobre o que é Real para que o espírito tenha uma base de vida. Na palestra de hoje eu coloquei algo Real na vida para substituir todo o maya que você tem: o nada. O simples vive o nada: nada saber, ter, ouvir, aprender comentar, imaginar. Isto é viver na Realidade.

No entanto, como já foi dito o nada não existe: tudo é sempre alguma coisa. Também já foi ensinado: Deus é tudo e tudo é Deus. Juntando as duas coisas, poderíamos dizer que viver na Realidade é muito simples: basta você substituir tudo o que acha por Deus: Seu Amor, Sua Justiça. Vivendo assim você se libertará das máculas e retornará à sua essência: simples e puro.

O simples vive Deus, ponto final. O simples não ataca nem acusa os outros, não casa nem namora, não tem filhos nem dirige carro, porque vive somente para Deus, com Deus e em Deus. É por isso que o espírito ao se elevar vai libertando-se de todas estas coisas e vai vivendo cada vez o nada absoluto que é o próprio Deus.

Esta é a Realidade de vocês e a minha. Fora isto todo resto é maya; todo resto contraria os ensinamentos dos mestres. Todos eles nos ensinaram que com a evolução espiritual iríamos viver com Deus, para Deus, sem mais nada. Para isto é preciso não haver mais nada mesmo. Para isto é preciso não dar valor a nada que acontece.

Este é o processo que está se iniciando com o novo tempo. Os espíritos quando conseguirem completar o círculo de encarnações para regeneração estarão vivendo esta Realidade. O que é isso? Não sei. O que é aquilo? Nada, não conheço, não vi.

Esta é a marca a ser alcançada no novo tempo: a vida onde os espíritos não falam com a boca e nem ouvem com a orelha, mas que focam apenas o coração, os sentimentos. Neste tempo a comunicação será simplesmente sentimental e não material.

Não precisará haver palavra ou forma: bastará um emanar o amor para o outro e a compreensão acontecerá perfeitamente. A palavra é o fruto de um raciocínio, por isso é maya, é ilusão individualista que não deixa o amor universal existir. Hoje os homens não se entendem apesar da palavra e das formas porque não se amam.

 Pergunta: Este processo que estamos falando é o total desapego?

Sim, é o total desapego a tudo. Ainda hoje a humanidade compreende o ensinamento do desapego como apenas às coisas materiais, por isso não consegue realizar este ensinamento dos mestres. Para desapegar-se de verdade o ser humanidade precisa se libertar da razão, da lógica, da verdade, do julgamento proferido pelo raciocínio (formação mental), da visão, da audição. Libertar-se do mundo como o próprio Cristo fez.

Entendido o tema de hoje e aproveitando a pergunta sobre o desapego, eu perguntaria: qual a primeira coisa que cada um precisa desapegar-se? Desapego às doutrinas religiosas.

Desapego aos livros doutrinários religiosos, ou seja, àquelas explicações materialistas para coisas espirituais. Desapegos às mágicas, às bruxarias, às orações recitadas e a pontos cantados ou riscados. Desapego a tudo o que é cultura material sobre coisas espirituais, porque esta cultura mantém você preso ao dualismo.

Todas as doutrinas religiosas criadas a partir de ensinamentos dos mestres baseiam-se no bem ou mal, no certo e errado, no bonito e feio. Elas, como Adão e Eva se julgam no direito de poder determinar valores para as coisas do mundo, por isso prendem o ser humanizado no dualismo e não lhe deixa limpar-se da mácula para voltar à simplicidade.

Desapego inclusive a essas palavras ou ao que se formou na sua mente durante toda a leitura deste texto. Não entenda estes ensinamentos como sabedoria, mas compreenda o caminho e se liberte também deste texto.

Este ensinamento é antigo, mas o ser humanizado ainda acredita que precisa se agarrar a algo, ter referências no estágio atual de evolução. Isso é apego, é maya gerado pelo seu ego. Para se fazer a evolução não é preciso ter referência alguma, pois o retorno a pureza só acontecerá quando o ser humanizado não tiver mais referências nenhumas.

Mas, você como ser humanizado ainda achará que precisa, mesmo depois de ler estas palavras e concordar com ela. Ainda buscará ler outras fontes, ir a reuniões e a sermões, freqüentar centros ou igrejas. Só estará gerando mais mayas que um dia, em alguma encarnação terá que se libertar para poder voltar a ser puro.

Eu diria dentro de tudo que vimos hoje que qualquer ser humanizado, pela sua pureza intrínseca recebida geneticamente tem condição de se libertar e se atirar neste vazio. Mas a maioria absoluta não sabe disso, não vê isso. Prefere não se arriscar no nada Deus e confiar no tudo cultural que pode ser percebido pelos órgãos do corpo.

É por isso que eu continuo falando e conversando sobre as coisas da vida.

Pergunta: O universalismo é uma forma de desapego, correto?

O universalismo não é uma forma de desapego, o resultado do desapego.

O universalismo ocorre quando diversas individualidades se reúnem e criam um novo todo que passa a ser a individualidade de todas as individualidades que se reuniram para formar aquele todo. Vou dar um exemplo.

Na hora que você for uma individualidade sem individualismo se integrará perfeitamente a comunidade espiritual universal e com ela participará conscientemente de uma nova individualidade: o universo. Você será você, mas tudo que fizer, pensar, imaginar, estará, pensando, fazendo, imaginando como o todo universal e não como você apenas.

Tem algumas palavras e conhecimentos que são difíceis de explicar para vocês.

Vocês hoje fazem parte da individualidade universo, mas de uma forma individualista, pois ainda agem com idéias próprias: ‘eu não gosto daquilo, se o universo gostar o problema é dele, eu continuo não gostando’.

Pergunta: confundi-me toda agora com essa resposta.

Compreender o universalismo é realmente muito difícil para os seres humanizados. Ele ocorre quando o objetivo do grupo é total e você não tem nenhum objetivo individual no grupo. Deixa de ter querer, vontade, de achar qualquer coisa e passa a viver o querer, a vontade e o achar grupal como seu. Isto é universalismo.

Hoje o ser humanizado não consegue fazer isso porque está preso no raciocínio individualista: pensando a partir do eu. Por mais que ele goste, que se afine com as idéias do grupo, sempre coloca objetivos e paixões individuais na sua participação neste grupo. Quando chegar à consciência universalista estará raciocinando coletivamente e aí viverá os objetivos e paixões do grupo e não os seus.

Diríamos assim. Quando existe o universalismo há uma inteligência grupal que raciocina pelo todo. Esta inteligência grupal, no caso do universo, é o próprio Deus que raciocina pelo todo. Todo espírito já vive isso quando vivencia o faça-se de Deus, mas enquanto tiver o raciocínio individual (o maya, as ilusões) a partir do eu (acho sei, gosto) não vive o universalismo.

Pergunta: Mas os grandes cientistas descobridores agiram em termo de individualismo e trouxeram grandes progressos para a humanidade, não foi?

Não. Os grandes descobridores, os grandes cientistas, não descobriram nada porque não há nada a ser descoberto: tudo existe e é criado por Deus. Deixe-me dizer uma coisa: o que há para ser descoberto no universo? Deus sabe tudo, conhece tudo, criou tudo. Não há incógnitas no universo.

Eu diria que os grandes descobridores foram instrumentos para trazer a informação das criações de Deus. Eles não descobriram nada: foram apenas portadores daquilo que Deus queria que fosse trazido à luz da humanidade. Agora, se eles agiram assim com individualismo, trouxeram o ensinamento de Deus, mas para eles, em termo de evolução espiritual nada serviu esta missão.

Outros trouxeram grandes descobertas e não tiraram patente, direito autoral do que descobriram. Esses trouxeram a informação de Deus igual aos primeiros, mas se elevaram no seu trabalho dentro da ação de Deus como conversamos hoje.

Pergunta: Eles encontraram o caminho para a descoberta, mas a título individual. É isso?

Eles não encontraram nada: Deus deu o caminho. Tudo nasce do faça-se divino. Se Ele não quisesse que eles descobrissem nada, nada seria descoberto.

Ouça esta resposta do Espírito da Verdade:

“19. Não pode o homem, pelas investigações científicas, penetrar alguns segredos da natureza? A ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu”. (O Livro dos Espíritos)

Então, não foram eles que descobriram nem que percorreram o caminho: Deus revelou através deles.

Isso precisa ficar bem claro. Sem esta compreensão das coisas o homem seria mais forte que Deus. Descobriria coisas fora da sua época e aí este teatrinho que vocês chamam de vida existira como realidade.

Já pensou quantos carmas deixariam de existir se o homem tivesse descoberto a penicilina um século antes? Mas, não poderia ter descoberto, pois neste caso os carmas poderiam deixar de ser vivenciados e sem eles o universo não tem razão de existir: ele só existe para a realização dos carmas.

Se o homem tivesse descoberto a cura da AIDS como ficaria o carma dos que passam por esta doença? Já pensou se na guerra dos bárbaros houvesse bomba atômica? Que holocausto. Realmente o homem não pode descobrir nada sem que o Supremo Comandante dos carmas decrete pelo Seu faça-se.

Pergunta: Realmente é difícil se imaginar como será o mundo de Regeneração. É melhor viver este de provas e expiações que Já está difícil compreender.

Isso, vá vivendo este mundo, mas comece a colocar em prática o desapego, senão não conseguirá viver nunca no mundo de Regeneração.

Mesmo que não consiga se desapegar de tudo, vá caminhando no sentido do desapego porque esse caminho preparativo para próxima vida. Quem não estiver neste caminho, estiver apegado no mundo material, terá que renascer no mundo onde este apego é generalizado.

Pergunta: O fato de termos consciência de que o espírito não faz nada é só canal de Deus, já mata a nossa arrogância de realizador de coisas no plano material, astral, mental e búdico.

Isso. É isso mesmo, você está certo.

Realidade

Os cinco agregados

Anteriormente fizemos uma palestra onde afirmamos que tudo que existe na vida é uma ilusão, ou seja, alguma coisa que o ser humanizado vive achando que é verdade, mas não é. Também já conversamos sobre a Realidade do Universo, ou seja, sobre a emanação de Deus. Vimos a vida do espírito e como Deus vai criando o Universo a cada micro fração de tempo. Hoje para encerrar este ciclo, juntaremos as duas coisas. Agora que já sabemos que Deus é quem cria e que os seres humanizados se iludem dando valores para as coisas, vamos descobrir de onde nascem e como se formam as ilusões.

Vamos descobrir neste trabalho como o espírito vê, ouve ou entende as coisas do universo enquanto humanizado. Falaremos hoje sobre os instrumentos utilizados pelo espírito preso ao processo de elevação no Mundo de Provas e Expiações para entender as coisas do universo.

A base daquilo que conversaremos hoje está estampada em um sutta de Buda (Sidarta Gautama). Para melhor compreensão, vamos comentar a história que este relata.

Existiam no acampamento alguns seguidores que queriam sair e habitar outra região. Estes seguidores procuram o Buda e pedem autorização para isso. O mestre diz: vocês sabem como responder às pessoas do seu local de destino quando forem perguntados sobre a doutrina que seguem? Os discípulos dizem que não sabem e que por isso mesmo vieram conversar com Sidarta. O mestre pede, então, que eles conversem com Sariputta (um discípulo de Buda que já podia ser considerado um mestre), pois ele saberia orientá-los.

Quando fazem a mesma pergunta a Sariputta, este lhes ensina: a base da doutrina de Buda é o desapego às paixões e os desejos gerados os pelos cinco agregados do espírito. O mestre ainda completa: Buda ensina assim, porque sabe que quem se desapega das paixões e desejos gerados pelos cinco agregados consegue a felicidade nesta vida e também uma boa colocação quando sair da carne.

A partir deste sutta, podemos entender que o desapego das paixões e desejos gerados pelos cinco agregados são a base da elevação espiritual dentro da visão de Buda, bem como que sua execução leva o ser humanizado a promover a sua reforma íntima.

Hoje vamos estudar exatamente estes agregados, ou seja, como o próprio nome diz, cinco elementos que não são do espírito. Eles estão agregados ao espírito e só se mantêm assim enquanto o ser estiver humanizado. A partir do momento que o espírito alcance a sua elevação, os cinco agregados deixam automaticamente de existir. Agora, é preciso lembrar que Sariputta não disse que o espírito humanizado não deve ter estes agregados, pois enquanto estiver ligado à carne necessitará deles. O que o mestre ensinou é que o espírito não pode apegar-se às paixões e desejos que nascem a partir da ação através deles se quiserem alcançar uma boa colocação após o desencarne (ressurreição).

Quando o espírito, mesmo utilizando-se destes agregados, se libertar da paixão e do desejo fruto da ação através deles, terá conseguido para esta vida felicidade incondicional e para a próxima uma boa colocação.

É sobre estes cinco agregados e a vida vivida através deles que iremos falar. Falaremos sobre a formação da realidade que cada espírito vive como real, mas que é maya, ilusão, pois é formada através da ação dos cinco agregados. Mostraremos que tudo que para o ser humanizado é real, tudo que é verdadeiro, é formado pela ação destes cinco agregados. Veremos, ainda, que este caráter de verdadeiro e real que o ser humanizado aplica ao fruto da ação através dos cinco agregados é uma “paixão”. No entanto, precisamos antes falar mais um pouco sobre as paixões e desejos humanos.

As paixões do ser humanizado podem ser de dois tipos: positiva ou negativa. Paixão positiva é o que se sente por tudo que se gosta, acha certo, é bom. Já a negativa é ao contrário: tudo que não se gosta, se considera errado ou mal.

A partir do momento que o espírito cria uma paixão gera também um desejo, que da mesma forma, pode ser positivo ou negativo. O desejo de se vivenciar aquilo que se gosta é o positivo; a busca de não se vivenciar o que é considerado errado ou mal é o negativo.

Toda esta forma de viver (querer vivenciar as paixões positivas e não as negativas) é oriunda do aprisionamento aos cinco agregados do espírito que cria as paixões. É sobre esta criação e sobre este estilo de vida que falaremos hoje.

São estes os cinco agregados que estudaremos: formas, percepções, sensações, formações mentais e consciência. Estes são os cinco elementos agregados do espírito, ou seja, algo que não existe no mundo menos denso (espiritual), mas que está presente no espírito humanizado. Vamos conversar sobre cada uma deles. Comecemos pela forma, ou o desenho que se dá aos objetos e coisas materiais do universo.

Através do Livro dos Espíritos aprendemos (pergunta 27) que tudo que existe é formado primariamente por um único elemento do universo. Naquele livro este elemento é chamado de fluído universal, mas também é conhecido como fluído cósmico universal, matéria energética força, etc. O nome pelo qual se trata o elemento primário do universo não importa, mas sim a compreensão de que tudo que existe no universal materialmente falando é formado por ele.

No mesmo livro aprendemos também (Pergunta 30, 31, 32e) que só este elemento existe, ou seja, que todas as demais coisas são decorrentes de combinação e fusão do próprio fluído universal. Decompondo-se qualquer coisa material do universo, conhecida ou não pelos humanos, até a sua mínima parte encontraremos sempre o fluído universal. Por isto o chamamos de átomo universal,

Este fluído universal, ainda segundo o Livro dos Espíritos (pergunta 27a) é uma energia. Por favor, olhe agora para uma lâmpada acesa em sua casa e preste atenção para ver se consegue ver a energia. Não conseguiu, não é mesmo? Você não vê a energia, pois ela não tem forma para poder ser vista (captada). O ser humanizado até cria algumas representações materiais que chama de forma da energia (representação que em elétrica e eletrônica se faz de uma onda eletromagnética ). Alguns ainda confundem a forma do raio com a da própria energia, mas tudo isso é apenas uma forma que os humanos dão a ela, pois a energia não tem forma.

Se tudo é formado primariamente por energia e se essa não possui forma, o desenho com o qual o ser humanizado representa as coisas é maya. É algo que os seres utilizam apenas enquanto estão presos ao mundo de provas e expiações, enquanto estão humanizados.

A forma das coisas é um agregado do espírito, não pertence ao universo Real. Esta compreensão é fundamental para o fim das paixões, pois os seres humanizados não conseguem idealizar uma forma sem ligá-la a uma paixão, positiva ou negativa, e conseqüentemente gerar um desejo.

Precisamos nos desapegar das formas, pois elas são geradoras de paixões que levarão a um desejo, a um condicionamento para ser feliz. Para isso é preciso declarar expressamente para si mesmo: a forma é uma ilusão, é um maya, é uma criação da mente, não é uma Realidade do universo.

Vejamos agora ver este ensinamento na prática. Aplicando-se a idéia de que tudo que existe é apenas fluído universal combinado de diversas formas, podemos afirmar que a vida humana processa-se em uma massa de fluídos universais, ou seja, o espírito humanizado vive em uma massa compacta de matérias energéticas. Apesar disto, o ser humanizado distingue formas isoladas nesta massa compacta.

Por exemplo: você está sentado em uma cadeira. Este objeto que apóia o corpo não existe, pois é fluído universal. O corpo que o espírito está habitando e que imagina ser ele mesmo, por ser material, também é fluído universal. O ar que existe entre o corpo e a cadeira e ao redor dele, não é ar, mas sim fluído universal.

Desta forma, onde se vê uma pessoa sentada o que existe, na realidade, é uma massa homogênea formada só do elemento universal. A distinção que se dá criando as diversas formas não é real, mas apenas o fruto da ação dos cinco agregados.

Todo espaço que você imaginar é na verdade uma condensação de fluído universal, uma massa compacta deste elemento. Desta forma, como pode o ser distinguir formas nestas coisas? Como alguém pode ser capaz de dizer que uma coisa é cadeira, é ele mesmo ou ar? Pela forma que é criada pelo ser humanizado preso aos cinco agregados. Neste trabalho ainda falaremos como se criam as formas, mas neste momento o importante é entender que a forma não é do objeto, mas apenas criação da mente do espírito humanizado.

Para poder viver a Realidade do universo (uma massa compacta de fluído universal) é que o espírito precisa se libertar da ação do agregado forma. Se você não criar formas para as coisas não se apaixonará positiva ou negativamente por elas. Abolindo as formas da sua existência compreenderá, então, o maya em que vive: a ilusão de estar sentado numa cadeira, fumando um cigarro, tomando um café e olhando para este papel.

Nenhum destes elementos (cadeira, cigarro, café e papel) existe distintamente, pois são simples variações do fluído universal. Mas você cria a ilusão que tudo isto existe e, por isso, vive o maya de se achar sentado, de fumar, de beber e de ler. Tudo é maya, o objeto e a ação, mas essas coisas existem para o ser humanizado porque ele está preso ao agregado forma.

Podemos agora falar, então, em como se criam estas formas. Elas são criadas pelas percepções do espírito. Vamos conversar sobre o segundo agregado do espírito, ou seja, um elemento que não é dele, mas que utiliza enquanto humanizado. Antes, porém, uma ressalva importante. Estamos falando constantemente em espírito humanizado e não encarnado, pois os cinco agregados existem em espíritos mesmo quando fora da carne.

Os espíritos podem ser considerados humanizados quando encarnados, mas também os desencarnados podem ser desta forma. A humanização do espírito se dá pelo seu grau de consciência e não pela densidade da matéria que ocupe. A humanidade de um ser não é ditada pela sua situação física, mas pelo seu grau de elevação espiritual. Assim, se o espírito estiver espiritualizado, na carne ou fora dela, estes elementos desaparecerão, mas enquanto estiver humanizado (vivendo com a consciência humana) eles existirão independente de órgãos físicos. Voltemos agora ao tema percepção.

Percepções são coisas que são percebidas pelo espírito através dos órgãos sensoriais do corpo. Como dissemos antes, a percepção existe mesmo quando o ser está desencarnado. Por isso, o corpo a que nos referimos aqui não é apenas o físico, mas também o perispiritual. As percepções podem ser recebidas tanto pelo olho, por exemplo, do corpo físico como pelo olho que existe no perispírito.

A percepção é o fruto daquilo que entra pelo olho, pelo ouvido, pelo nariz, boca e pelos órgãos de sensibilidade espalhados por todo elemento material que o espírito está utilizando. A imagem captada pelo olho, o som captado pelo ouvido, o cheiro, o paladar e a sensibilidade captados pelos seus órgãos próprios são percepções.

Agora, o que é um olho? É uma peça material, um órgão de percepção, tanto no corpo físico como no astral. O olhar (a percepção visual) não é criada pelo olho, pois ele é apenas um órgão do corpo físico. O olhar, como veremos adiante, é mais do que a simples percepção captada pelo olho.

 Além disto, o olho é um órgão que limita a percepção do espírito. Quando estudamos o Livro dos Espíritos havia uma pergunta (245) que dizia: O espírito enxerga pelo olho? A resposta foi não, o espírito vê pelo corpo inteiro. No entanto, enquanto ele estiver humanizado se apega ao órgão olho como única fonte de percepção o que limita a sua capacidade de ver.

Podemos afirmar, então, que a percepção do espírito é irreal, uma ilusão, maya, porque é limitada e não abrange tudo. A irrealidade acontece porque existem muitas mais coisas além daquelas que o ser humanizado está percebendo. Por exemplo: Você é capaz de dizer o que está acontecendo em ambientes diferentes daquele que está, ou mesmo onde se encontra agora? Não, porque está preso ao som que entra pelo seu ouvido. Se você não está ouvindo nada é sinal de que nada está ocorrendo.

Mas, muita coisa está se passando ao seu redor. Por exemplo: à sua volta, não importa onde esteja, existem diversos espíritos conversando entre si: isto faz parte da Realidade do universo. Como você não os ouve afirma que eles não existem ou que está sozinho. O achar que está só ou a afirmação de que espíritos não existem, são mayas (ilusões) geradas por aqueles que acreditam apenas nas percepções captadas pelos seus respectivos órgãos.

É isso que o Buda nos ensina. Você não pode se apaixonar pelo que ouve (acreditar apenas nisso), porque existem muito mais coisas do que aquilo que consegue perceber pelos órgãos. Não pode se apaixonar pelo que vê, porque existem milhares de coisas além daquelas que a sua pequeníssima capacidade de perceber visão é capaz de enxergar.

É justamente desta limitada percepção e desta limitada capacidade de conhecer o universo que nascem suas verdades. Elas estão presas ao que você vê, ouve, cheira, prova sabor ou que tem sensação pelo corpo. Mas, elas não são verdadeiras, pois, existem milhares de coisas além do que é percebido pelo ser humanizado.

A prisão a estas percepções como verdades absolutas gera o maya, porque gera a falsa verdade, ou verdade relativa. Gera ilusão de, por exemplo, acreditar que não serve para nada: Quem disse isso? Você? Mas, além do que consegue compreender existem mais coisas.

O que diz que é erro pode se transformar em acerto se conseguir compreender tudo o que se passou. Mas, para isso, é preciso ver realmente o que se passou. Mas, você não vê tudo o que acontece, pois não enxerga tudo. Acusa-se só porque acredita que agiu errado, mas esta compreensão acontece apenas porque não viu, teve sensibilidade, ouviu ou sentiu o gosto e o cheiro da Realidade.

Este é o segundo elemento agregado do espírito: a percepção. Quando liberto da humanização o espírito exercerá a sua real capacidade de perceber que está além daquelas que são captadas pelos órgãos físicos e poderá ver, então, a emanação de Deus. Só assim se libertará dos mayas, das ilusões.

O terceiro agregado trata-se de uma ação da mente sobre a forma percebida através das percepções. Sensação são sentimentos individualizados que a mente coloca sobre todas as formas que são percebidas através dos órgãos de sensibilidade.

O que é uma cadeira? É uma cadeira. O que é um computador? É apenas um computador. Ou seja, as coisas que são percebidas são apenas o que elas são, mas nada que isso.

Uma cadeira é uma forma percebida através dos órgãos de percepção. Enquanto não houver a ação da sensação, ou seja, a ação do sentimento individualista da mente do espírito humanizado sobre a percepção ela não terá qualidades. Uma cadeira é uma cadeira, mas a partir da sensação que a mente coloca na percepção ela se transforma em nova ou velha, bonita ou feia, limpa ou suja, prática ou não.

A sensação é a ação individualista do espírito utilizando o amor de Deus para determinar valores sentimentais às coisas que são percebidas. Deus emana o amor universal, mas o espírito humanizado utiliza-se deste sentimento para viver paixões individualizadas.

Isso só o espírito humanizado faz. O desumanizado não promove sensações individualistas. Ele vive a realidade, ou seja, o amor de Deus em ação. Por isso a sensação, apesar de ser um sentimento, é um agregado do espírito e não algo universal (espiritual).

A sensação reflete uma decisão de foro intimo sentimental do espírito e por isso é diferente entre os espíritos de acordo com o seu grau de elevação espiritual. No espírito humanizado há o dualismo que é a marca das paixões (positivas e negativas) que produzem a diversidade de sentimentos, mas o espírito universalizado vive na perfeita integração com Deus.

Estamos falando do caminho da criação do maya: viver uma forma que é percebida e sobre ela agir pronunciando-se sentimentalmente. Isso também é a vida, o processo viver para o espírito como já falamos.

É deste processo que surgem as coisas da vida. A mente do espírito olha uma forma, aplica sobre ela a sensação gostar e aí aquilo vira alguma coisa boa (paixão positiva). Olha uma forma sobre a qual aplica o não gostar e aquilo passa a não ser bom. Aí está a origem, o surgimento, do dualismo que os mestres ensinam que os seres humanizados vivem e que é preciso acabar para se unir ao UM.

Além disso, é exatamente quando o espírito utiliza-se do agregado sensação que nascem as desavenças do universo. Isto ocorre porque não existem dois espíritos que coloquem, em intensidade, a mesma sensação sobre a mesma percepção.

Agora que já conhecemos o agregado sensação e a formação das verdades (sensação que se aplica às formas percebidas), vamos buscar compreender um elemento da vida carnal a partir deste aspecto. Alguém me pediu para falar um pouco mais sobre o sexo, então, utilizaremos este acontecimento da vida para isto, mas poderia ser qualquer outro.

 O que é o ato sexual? É um acontecimento que ocorre no encontro de duas formas. Se você é heterossexual precisa perceber para que ele ocorra uma forma diferente da sua. Se você é homossexual, precisa perceber uma forma semelhante à sua.

Ao perceber a forma desejada o ser humanizado cria a sensação paixão sexual (desejo). Esta sensação, entretanto, é o próprio amor de Deus, que é universal, individualizado. O individualismo da sensação existe porque os seres humanizados praticam o ato sexual para seu próprio benefício, não se importando com o outro.

O amor de Deus é equânime, mas a sensação paixão sexual é individualista, porque busca amar (contentar) a si mesmo acima de todos e de tudo. Esta sensação é exatamente o que põe tudo a perder no sentido espiritual durante a realização de atos. Sempre que o ser humanizado vivenciar qualquer acontecimento deve seguir os mandamentos ensinados por Cristo: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, ou seja, não pensar em si, mas em servir ao Pai e ao próximo.

É este amor incondicional que não possui qualquer intenção individualista, que se usado no lugar das sensações, que são individualistas, transforma a vida do espírito, a existência do ser humanizado. Aí está a raiz do problema. Quando o ser humanizado se deixa levar pelo seu egoísmo (quere satisfazer os desejos oriundos da sua paixão) não cumpre o mandamento de Cristo e por isso não se eleva.

 Apesar de haverem ainda dois agregados a serem estudados para melhor compreensão da elevação espiritual, podemos afirmar que aí está o problema do ser humanizado. Isto porque na escolha entre uma sensação ou a utilização do amor universal (incondicional) está o uso do livre arbítrio do espírito.

Na escolha entre utilizar-se de uma sensação (individualizar o amor de Deus) ou utilizar o universalismo (servir ao próximo e a Deus) está a ação da vida espiritual mesmo encarnado. Esta é única ação que o espírito pode fazer a qualquer momento enquanto humanizado.

Pergunta: Por favor, fale sobre o sexto sentido e a percepção extra-sensorial.

Sexto sentido e percepção extra-sensorial, na verdade, é a mesma coisa. É um tipo de percepção que alguns espíritos, por carma ou missão têm. No entanto, ainda é uma percepção humanizada.

Além delas poderíamos ainda incluir a clarividência, clariaudição e outras mais. Trata-se de algumas percepções que o espírito possui como carma ou missão. No entanto elas são percepções do corpo e não do espírito, ou melhor do espírito utilizando-se de instrumentos do corpo.

Pergunta: E o orgasmo?

O orgasmo como você conhece é físico, portanto, é ilusão, é maya. O orgasmo espiritual é a explosão de penetrar na graça de Deus.

Os espíritos elevados durante a oração alcançam um clímax: isto é um ato sexual. A comunhão com O Pai que o leva a penetrar no Amor que banha o universo e que elimina todas as sensações oriundas das percepções é o orgasmo espiritual.

Pergunta: E a masturbação?

Física é a mesma coisa que sexo: ilusão, maya.

Espiritual, é uma oração individual, pois neste momento você faz sexo com Deus. Quando você busca Deus através da oração solitariamente e se liga perfeitamente ao Pai e entra em êxtase, realizou uma masturbação.

Pergunta: É possível acontecer o orgasmo em um sonho?

Sim, é um ato material. Aliás, o ato material não é você nem o corpo que faz: é Deus.

Pergunta: Eu acredito que como o sonho nunca se revela para nós como é, mas sim em códigos, que possamos ter entrado em algum tipo de êxtase espiritual e isto nos parece como um ato sexual.

Sim. Mesmo durante este êxtase espiritual (fora da carne) você comanda o corpo porque ainda está preso às percepções. Daí resulta que também comanda o orgasmo do corpo físico.

Apesar de estar em êxtase espiritual fora da carne está ligado na carne, está ligado à realidade espiritual e por isso pode transportar a sensação para o corpo físico.

Pergunta: E o sexo entre almas gêmeas e companheiras?

Você está falando em sexo grupal? Só posso entender assim porque almas gêmeas são todas as almas do universo ou todos os espíritos.

Não existem dois espíritos feitos para o outro. Isso é ilusão. Achar que um é melhor do que o outro, que tem mais amor a alguém do que a outro é ilusão que você precisa vencer para poder entrar no amor universal, o amor igual a todos.

Portanto, interpreto a sua pergunta como êxtase de toda coletividade espiritual ao mesmo tempo? Não, isso é impossível.

Ainda existem os seres humanizados, aqueles que acreditam amar mais a alguém do que a outro e que se acreditam propriedades de outros por causa deste amor, que não entrariam nesta brincadeira.

Estes seres não participariam do sexo grupal, pois ainda acham que o seu companheiro é o único com quem, por respeito ou qualquer outra crença individualista, podem fazer sexo.

Pergunta: E os jovens que ficam?

Talvez estejam mais preparados para o amor universal do que o marido que cobra da esposa ou vice-versa o que não dá: companheirismo. A união carnal sem obrigações e posse é o primeiro passo para se libertar da percepção de estar com um determinado corpo para poder atingir um clímax.

No entanto, gostaria de deixar bem claro: não estou dizendo que tem que virar bagunça. O que estou querendo afirmar é que é necessário se libertar da obrigação, pois enquanto alguém achar que só pode fazer sexo com seu marido ou mulher estará preso a uma percepção.

O que estou querendo dizer é: mesmo fazendo só com seu marido ou sua mulher, não ter esta verdade, esta obrigação. Esclareço isto para não dizerem que eu sou anarquista. Quem faz com um ou com vários parceiros está sempre perfeito no sentido espiritual, desde que o faça livremente, sem culpa ou prazer.

Não se pode culpar ninguém que se liberte dos conceitos, pois, quem está liberto da lei está melhor de quem é preso à lei: palavras de Paulo.

 Respondida as questões sobre sexo e a ação dos cinco agregados, continuemos nossa conversa...

O próximo agregado que veremos, chamamos de formação mental. Podemos também chamá-lo de pensamento, ou seja, aqueles valores que são criados na mente do ser humanizado através de vozes, idéias ou imagens. Enfim, tudo o que vem a mente e conscientemente é percebido é uma formação mental.

A formação mental é um agregado ao espírito, ou seja, não é um elemento espiritual, mas resultado da humanização do espírito. Agora que definimos formação mental, vamos entender a sua ação e como ela se inicia.

Como já vimos, a mente do ser humanizado percebe uma forma e escolhe uma sensação para aquela forma. Esta sensação deu um valor à forma percebida. Por exemplo: alguém não gostou de uma resposta que dei. Não gostar foi uma sensação escolhida para uma forma (som) percebido.

Logo depois que o espírito escolhe a sensação, inicia-se um raciocínio que dará um valor à percepção. Ele irá pensar, ter pensamentos sobre o som percebido. Este pensamento será pautado pela sensação escolhida: não gostei.

Apesar da formação mental se espelhar na sensação vivenciada pelo ser humanizado não é criação deste, mas de Deus. O espírito tem o livre arbítrio de sentir e Deus transforma esta sensação, que é inconsciente, na formação mental que é consciente.

As formações mentais são, portanto, Deus falando com o ser humanizado para lhe trazer à consciência o conhecimento daquilo que realizou inconscientemente. Ele diz ao espírito através do pensamento aquilo que ele sentiu e não sabe.

Dentro do exemplo que nós demos, quando ouvir uma coisa que falei e ter uma sensação de não gostar, Deus dirá: você não gostou por isso, por aquilo, por causa daquilo outro. Os motivos porque não gostou não importam, pois são mayas (verdades individuais, ilusões). A ação divina ao dar a formação mental é no sentido de mostrar ao ser humanizado uma só coisa: você não gostou, ou seja, você teve uma sensação individualista para a percepção da forma.

Se a sensação é o ponto chave na elevação espiritual, a formação mental é uma cola que Deus dá para aqueles que estão realizando provas e que não sabem definir o seu sentimento, pois ainda não têm consciência do maya e da ilusão que vive. É Deus mostrando ao ser a ação espiritual que fez para lhe dizer: é preciso mudar esta sensação. É preciso sair da sensação individualista e entrar no amor universalista.

Esta é a formação mental. Ela é um agregado e não é do espírito, ou seja, o espírito desumanizado não tem pensamentos, não tem idéias, não ouve vozes na sua mente nem tem valores para coisas. Por quê? Porque ele não tem sensações, só tem amor incondicional. Ele está livre das formas percebidas através dos órgãos do corpo.

O pensamento não é o criador do maya, pois é dependente da sensação, mas o pensamento é a conscientização do maya (sensação escolhida) que você está vivendo. Eu não gostei é o maya, a sensação que você criou ao perceber e que agora precisa vencer, precisa derrotar.

É preciso a compreensão perfeita deste agregado para podermos entender que o pensamento nada mais é do que Deus mostrando a cada um onde deve lutar, ou seja, na sensação que causou aquele pensamento.

Pergunta: Você conhece o conceito de pensamento que gera sentimento e que gera energia?

Eu não conheço este conceito. O que eu posso lhe dizer é que sentimento é energia, pois tudo no universo é energia. Então, o sentimento já é uma energia e não poderia gerar uma. O que eu posso lhe dizer, ainda, é que o sentimento, a sensação, vem antes do pensamento.

Então eu diria que nós temos sensações que geram pensamentos e ações. Estes são os três estágios da vida. É o sentimento que gera o pensamento. Agora isso vocês não conseguem ter consciência, pois este sentir é inconsciente. Por isso, talvez a humanidade acredite diferente.

Pergunta: E o sentimento, onde ficou?

É a sensação, pois ela é o sentir individualista: eu não gostei.

Pergunta: Estou falando isso porque nós conhecemos sensação como aquilo que é recebido através dos órgãos do sentido.

Isso é sensibilidade. Sensação é sentir sentimentos, ter a sensação de não estar gostando, de não querer, de que a coisa não será boa.

A dúvida sobre o sentir é válida, pois para a humanidade realmente ele só ocorre quando se pensa. Vamos explicar mais para retirar todas as dúvidas.

Universalmente posso afirmar que o que acontece é que o espírito sente e Deus lhe dá o pensamento. No entanto, a consciência do ser humanizado não consegue captar esta seqüência. Ele ainda acredita que sente durante o pensamento.

Você sente (escolhe a sensação) não gostei inconsciente, mas só quando Deus lhe mostra pelo pensamento (através da razão) a sua decisão de não gostar é que começa a sentir conscientemente os efeitos do que já escolheu antes. Só quando está raciocinando o espírito se dá conta do peso da amargura embutida na sensação não gostei escolhida para vivenciar alguma situação.

Na verdade o sentimento já tinha sido escolhido inconscientemente antes do pensamento e estes reflexos já estavam presentes. Entretanto, como o ser humanizado só toma consciência de que não gostou através do pensamento (pelos valores que o compõem) só sente os reflexos da escolha sentimental posteriormente.

Isto ocorre porque o ser humanizado é guiado pela lógica, pela razão. Ele só acredita naquilo que pensa e nada mais existe. Por isso acha que pensa para depois sentir. No entanto, os acontecimentos acontecem na seqüência que comentei. É por isso, também, que Buda ensina os agregados nesta ordem: ele conhecia a realidade.

Pergunta: Nosso livre arbítrio, então, é inconsciente?

Sim, o seu livre arbítrio é inconsciente ao ser humano, mas é consciente ao espírito.

Você quando ligado ao mundo através da carne, ou seja, quando está acordado, vive duas vidas simultaneamente: a consciente e a inconsciente.

A vida consciente é maya, é ilusão, pois os acontecimentos não existem como você declara que são. Mas, ao mesmo tempo, você espírito está vivendo a vida que é conhecida no planeta como inconsciente que é vivenciada na consciência espiritual.

Podemos, então, afirmar que como ser humano (dentro da consciência humana) você escolhe inconscientemente o sentimento, mas para a Verdade espiritual (a existência real do espírito) você escolhe conscientemente.

Pergunta: Acho que o entendimento para este ensinamento é muito difícil. Acho que nossa capacidade de compreender não alcança totalmente isto.

É porque está fora da realidade de vocês, pois estão presos à percepção: só o que percebo existe.

Pergunta: Dá para explicar de novo?

A dificuldade existe porque estamos conversando sobre aquilo que não tem valores para vocês, não está dentro da lógica humana e por isso é muito difícil compreender.

É difícil falar sobre aquilo que vocês não possuem valores, formas, que não pode ser mensurado. É muito difícil falar da vida inconsciente que existe junto ao consciente porque o ser humanizado é apegado ao consciente como única realidade. Por isso, me deixe explicar algo que é o que cada um precisa compreender e saber. Sempre que surgir um gostei ou não sobre alguma coisa foi decisão do seu livre arbítrio.

Estas duas sensações precisam ser combatidas, pois quando o ser humanizado utiliza o seu livre arbítrio está falando com Deus, pois é pela linguagem sentimental que se fala com o Pai.

Quando o ser humanizado opta (livre arbítrio) por viver no dualismo está sempre julgando a ação divina e, ao sentir desta forma, comunica a Deus o resultado do seu julgamento. É o ser humanizado agindo do alto da sua falsa autoridade individualista.

Isso você pode e precisa compreender e a partir daí optar por utilizar o seu livre arbítrio para estar sempre harmonizado com os acontecimentos da vida, em paz e na felicidade incondicional. Agora, que Deus traduz a escolha feita pelo livre arbítrio em idéias, pensamentos, tenha apenas como informação e não tente entender como isto se processa, pois este conhecimento ainda está além do seu conhecimento.

Tenha apenas a informação de que tudo o que você pensa no consciente, é Deus lhe mostrando, na essência, o que você decidiu sentimentalmente. Ele quer que você tenha consciência do que está fazendo: julgando-O.

Deus está lhe mostrando que você mora na casa Dele, vive as custas Dele e mesmo assim ainda se acha no direito de saber o que é certo, ser o detentor da Verdade Universal.

Mas, porque o espírito age assim? Para explicarmos isso vamos agora falar do último agregado: a consciência. O que é consciência? Memória. Ela é composta por verdades arquivadas, sejam elas sentimentais (sensações) ou materiais (formas).

Por exemplo, uma cor. O conhecimento de uma determinada cor, dar valor como nome, características, etc., só acontece porque o ser humanizado possui verdades arquivadas que estampam estes valores. Quando o ser humanizado percebe (capta pelos órgãos do corpo) a forma que é uma cor, busca na consciência todas as verdades arquivadas sobre ela.

 Entretanto, a consciência possui ainda mais elementos guardados sobre a forma percebida: as sensações escolhidas anteriormente quando esta forma foi percebida. Todo fruto do seu livre arbítrio (sensação) fica arquivado na memória junto com as formas que foram julgadas. No momento em que o ser humanizado for utilizar o seu livre arbítrio (escolher uma sensação), as decisões anteriores que foram arquivadas na consciência estarão presentes. No entanto, não só elas, mas também o estado de espírito atual.

Na escolha da sensação, que chamamos de raciocínio espiritual, o ser humanizado lembra-se das sensações anteriores, mas os sentimentos que nutre no momento também influenciam. Ele pode, por exemplo, ter arquivado na consciência uma lembrança de não gostar de determinada cor, mas naquele momento sua base sentimental ser de paz e harmonia e não se deixar influenciar pela sensação anterior.

Durante a execução da formação mental (pensamento), Deus utilizará os valores arquivados (nome, características), mas a história que será criada com estes valores (raciocínio) poderá ser diferente a cada momento. Isto porque ela será baseada na sensação fruto do livre arbítrio, que como já vimos, surge da escolha entre o seu estado de espírito atual e os seus sentimentos arquivados.

A consciência, na verdade, é um conjunto de informações sobre as formas e sensações que auxilia o espírito na vivência do seu carma. É nela que se encontra o elemento necessário à prova que o ser executa enquanto humanizado: escolher entre sensações dualistas ou amar universalmente.

A partir do momento que compreendemos a consciência, podemos agora falar sobre ela. Como se forma a consciência, ou seja, como se forma este agregado do espírito? O ser forma os valores que comporão a sua consciência humana antes da encarnação. Para tanto escolhe valores sentimentais (sensações) e verdades.

Esta escolha é de responsabilidade exclusiva do espírito, por isso também é considerada com livre arbítrio (o Livro dos Espíritos, pergunta 258 e 258a). Depois que ele encarna este livre arbítrio não mais existe, ou seja, o espírito não tem mais a liberdade de alterar a sua consciência (O Livro dos Espíritos, pergunta 267) apenas por vontade própria.

Portanto, cada espírito antes de encarnar prepara a sua consciência, que vou passar a chamar de ego, pois é a mesma coisa, com verdades materiais e sensações específicas. Esta escolha é fundamental para o espírito que irá encarnar, pois o ego terá a função de tentador, ou seja, como propositor de provas.

Exemplifiquemos para poder facilitar a compreensão. Um ser precisa libertar-se por carma da arrogância. Este sentimento é uma sensação individualista, pois reflete a aspiração de ser melhor, maior, mais certo, mais bonito, mais perfeito que os outros. Aquele que crê na sua superioridade precisa vencê-la, pois somos todos iguais perante o Pai. Para mostrar a Deus que pode utilizar o seu livre arbítrio amando-O acima de todas as coisas e ao próximo, o ser coloca em sua consciência verdades e sensações que exprimam esta superioridade.

Depois que encarna (vive no consciente material) ele precisa vencer essa sensação para alcançar a vitória. Mas, para isto precisa possuir esta sensação, pois vencer significa tê-la e não usá-la. É por este motivo que o ser organiza a sua consciência material com essa sensação. Sem a existência dela a vida não teria valor algum, pois não haveria vitória se o ser humanizado estivesse sem a arrogância. Como vencer uma coisa que não se combate?

Desta forma, podemos afirmar que se você é arrogante é porque, antes da encarnação, colocou esta sensação na sua consciência. Isto vale para todos os sentimentos que compõem a personalidade do ser humano: nervoso, tímido, covarde, soberbo, etc.

Depois que o ser organiza a sua personalidade, ou seja, o conjunto de sensações que precisa vencer, vem para a Terra: encarna. Agora terá que aprender a conviver com estas tendências sem aprisionar-se a elas.

Além dos sentimentos, a memória contém também verdades materiais, que auxiliarão o ego a conscientemente forçar a utilização das sensações que compõem a personalidade. Por exemplo. Aquele que buscar vencer a arrogância terá que ter verdades como: ‘eu não vou acreditar em nada que me disserem’, ‘tudo que me falarem é mentira, errado, pois só eu sei a verdade’. Estas verdades serão utilizadas por Deus para formar conscientemente o pensamento sobre qualquer coisa da vida, seja em ensinamentos, nas pessoas, na felicidade da vida, em qualquer coisa.

Agora que está formado o exército que deverá ser combatido (o ego), o espírito precisa organizar o campo de batalha. Para isto ele escreverá as situações da vida (acontecimentos) que participará e Deus, como provedor da oportunidade de elevação, fará acontecer.

Estes acontecimentos, obviamente, não poderão satisfazer o ser humanizado, ou seja, não estarão de acordo com o que ele espera da vida (pergunta 266 de O Livro dos Espíritos). Eles terão que ser contrários àquilo que o ser humanizado espera para que haja a oportunidade dele optar entre o dualismo (certo ou errado) ou manter-se em paz.

Neste ensinamento está a essência da vida humana que o espírito vive, mas que pelo véu do esquecimento não tem consciência enquanto humanizado.

Então, durante a vida carnal o ser tem uma percepção de alguém falando. Se optar por seguir a sua personalidade sentimental o pensamento lhe dirá que esta pessoa está contrariando a sua verdade. Por esta decisão sentimental Deus lhe dará, através do pensamento, o desejo de gritar e brigar para provar ao outro que está certo.

Esta escolha sentimental leva ao fracasso na prova, pois o ensinamento de Cristo é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. A sensação que o espírito precisa escolher para ser aprovado é o amor a Deus acima do amor ao que se gosta. Quando este for o fruto do livre arbítrio o ser não terá mais o pensamento de brigar, mas sim o de doar ao próximo a razão. Ao invés de espelhar o desejo de querer pular no pescoço do seu irmão, o pensamento será construído no sentido de ter vontade de não contrariá-lo.

Na história que o pensamento forma para conscientemente se sentir o desejo de combater o próximo está o maya. O ser humanizado ao viver em maya (acreditando nos motivos que o pensamento expõe) não vê que todas estas histórias não são reais, pois foram montadas a partir de valores fictícios criados antes da encarnação. Quando ele vivencia a ilusão (eu não gosto) como verdade, não compreende que ela foi criada justamente para ser vencida. As histórias da vida (valores que o pensamento dá às coisas) não são reais, pois seus valores são criação dos espíritos. As histórias da vida são meras obras de ficção que os seres criam para, pela interação entre ambos depois de encarnados, poderem executar suas provas.

Já o ser espiritualizado, aquele que compreende que tudo que está no seu ego e que é utilizado por Deus para formar os pensamentos são apenas proposições de carma (provas), supera tudo. Esse diz a cada pensamento: ‘não maya, não ego, eu não vou dar razão a você, eu não vou acreditar em você’. Se a vida para o ser espiritualizado só oferece limão, ele não luta contra ela sonhando em comer laranja. Ele chupa o seu limão com paz, com harmonia, doando a sua intenção a Deus (propositor dos carmas) que só lhe deu limão para chupar.

Nesta simples análise que fizemos a partir do ensinamento dos mestres reside a ciência da vida. Aqueles que buscam ser fiéis a estes ensinamentos precisam ensinar desta forma também. É por isso que nosso ensinamento é, na maioria das vezes, diferente daqueles que são passados pelas religiões criadas sobre estes mesmos ensinamentos.

Nós jamais poderíamos fazer ou dizer algo apenas para satisfazer (atender suas verdades) apenas para lhe manter fiel a nós. Se nós disséssemos o que você quer ouvir, ou seja, aquilo no que você acredita e que está dentro da sua lógica humana, estaríamos corroborando com as suas ilusões, com os seus mayas.

Além de não estar auxiliando ninguém a vencer, estaríamos aprisionando os espíritos humanizados aos seus próprios mayas. Não estaríamos a serviço de Deus, mas sim do diabo, do ego, do ser humanizado: aquele espírito puro que caiu do céu (teve que encarnar) por se achar capaz de julgar a Deus (escolher sensações dualistas).

O conhecimento do ensinamento de Sidarta Gautama sobre os cinco agregados fundido aos ensinamentos dos mestres Krishna, Cristo e do Espírito da Verdade que explicam a forma de ver as coisas do mundo através do processo raciocínio como fizemos hoje, explica tudo que um ser humanizado precisa compreender sobre a vida para utilizá-la como instrumento da elevação espiritual.

A visão espiritualista, ecumênica e universalista dos ensinamentos mostra como se processa a vida. Como o ser humanizado cria a ilusão e como a utiliza: como um preconceito, um conceito (verdade) formado anteriormente até a própria existência.

Fala da ilusão de que o ser humano tem de que nasceu para ser servido pelo mundo quando é exatamente ao contrário: ele nasceu para que o mundo lhe sirva não o contentando, pois só quando age desta forma o ser tem condições de executar o seu trabalho espiritual. Se utilizássemos estes mesmos conhecimentos para lhe fazer sonhar com um mundo criado completamente dentro das suas verdades, estaríamos aprisionando-o ao que você gosta, ao que quer fazer, ao que sabei fazer e aí você não conquistaria nada.

Para que você seja servido pelo mundo (só acontecer o que gosta) seria necessário que os outros lhe servisse (fizesse aquilo que você quer). Isto para mim tem um nome: exploração. Aquele que quer mudar o mundo e não a si (suas sensações) explora os outros para ser feliz.

A felicidade é incondicional. Ela jamais poderá ser alcançada através de sensações individualistas. Ela só poderá ser alcançada com a união perfeita com Deus através do amor universal. Com a consciência espiritual que nos coloca de frente para o Pai, que vê Deus ao nosso lado nos carregando no colo e incitando-nos: ‘vamos filho, vamos, sai desta ilusão, sai deste maya’.

É por isso que o mundo não trabalha ao nosso favor (não acontece só o que queremos). É por isso que a vida acontece contrariamente ao que queremos. Se acontecesse apenas o que queremos era mais fácil permanecer vivo (viver na consciência material), do que buscar a ressurreição (vida na consciência espiritual) e nenhum trabalho espiritual seria realizado.

É por não ter a consciência de que aquele que não faz o que queremos é nosso amigo (nos auxilia na elevação espiritual) que o tratamos como inimigo. Não viemos a este mundo para viver apenas com as pessoas que nos satisfazem, pois como Cristo ensina, é fácil abraçar um amigo, quero ver é cumprimentar o inimigo. Nós pedimos para interagir com pessoas que não nos satisfazem para poder aprender a caminhar ao lado do suposto inimigo sem guerreá-lo, mas servindo-o, ou seja, amando-o.

Acho que agora fica claro que o que é real para você é ilusão, pois ainda está preso à obra fictícia que você mesmo criou e colocou dentro de você para se libertar e assim conseguir alcançar a felicidade incondicional nesta vida e uma boa posição depois do desencarne.

Pergunta: Como saber se o que o senhor fala não é maya também?

Tente aplicar o que eu falo nos ensinamentos dos mestres. Tente aplicar os ensinamentos de Cristo no que conversamos hoje.

Se seu olho lhe faz pecar, arranque-o fora, pois é melhor entrar no reino do céu sem um olho do que ir para o inferno com o corpo inteiro: deixe de ver as coisas, ou seja, deixe e dar valor aos acontecimentos da vida.

Quando um cego guia o outro os dois caem no buraco: enquanto houver verdades sempre existirão desavenças. Portanto, deixe de ser cego (ter verdades) para poder auxiliar bem o seu próximo.

Aí os apóstolos perguntam: você está dizendo que nós somos cegos? Cristo responde: se você diz que pode ver então é cego, pois aquele que vê de verdade nada enxerga, ou seja, não atribui valor algum às coisas.

Retire a trave que está no seu olho e não o cisco que está no olho do próximo, pois o problema é o que você enxerga (atribui sensação) e não o que o outro está fazendo.

 Porque você se preocupa com o amanhã, se o amanhã é criado por Deus?

Colocar o que conversamos hoje sobre o ensinamento do Buda não precisa porque foi o que usamos, mas compare com o ensinamento do Krishna: tudo que existe é fruto da ação de um guna pensante com um guna pensado e por isso é maya.

Coloque tudo que falamos hoje em comparação com o ensinamento do Espírito da Verdade à Kardec: Deus causa primária de todas as coisas, se existe uma inteligência inferior tem que haver uma superior e é ela que comanda as inferiores.

Os espíritos conhecem os nossos pensamentos? Muito mais do que pensas, pois são eles que lhe dão os pensamentos. E como saber o que é nosso pensamento e o que vem de fora? O pensamento que o espírito lhe traz de fora é sempre uma idéia, uma palavra, uma voz que lhe fala enquanto que o seu é inconsciente.

Para saber se o que estamos falando é Real, é só compará-lo com os ensinamentos do mestre. Agora, se você quiser compará-lo às verdades que seres humanizados, ou seja, seres em busca da satisfação material criaram em cima dos ensinamentos dos mestres, aí não vai dar certo.

Agora, apesar de dizer tudo isso, eu posso lhe afirmar que o meu ensinamento é maya. Sabe por quê? Porque você está querendo raciocinar logicamente o que estou falando e ao fazer isso criou um maya.

Desta forma, o que eu falo é Real, mas o que você compreende é maya.

Pergunta: Em outra palestra o senhor afirmou que o espírito está parado, deitado, apenas vivendo uma vida mental. O senhor pode comentar melhor isso?

Essa realidade ou informação real foi trazida por André Luiz no livro Nosso Lar. Quando ele entra na enfermaria e vê espíritos deitados em macas com movimentos faciais pergunta ao seu mentor: o que está acontecendo? O mentor diz: são os espíritos vivendo a sua vida.

Sim isso é verdade. A sua vida, o que você conhece como vida é uma atividade mental e não física. Nem física de corpo nem física de espírito: é somente a ação dos cinco agregados do espírito.

Não é com o braço, com a perna ou com qualquer outra parte do corpo (ações físicas) que se vence a elevação espiritual. Por isso Cristo disse que se qualquer parte do corpo lhe atrapalhar a jogue fora.

 A elevação espiritual se conquista no trabalho junto aos cinco agregados, ou seja, com atenção plena às formações mentais que retratam as sensações escolhidas e os conceitos sobre as formas percebidas que foram armazenados na consciência.

Aí a partir deste trabalho que se vive ou se morre. É aqui que se vence ou se perde no sentido espiritual. Todo resto, todas as ações e movimentações que você percebe é apenas ação carmática.

São ficções que você valoriza criando mayas vivendo a ação dos cinco agregados como se fosse realidade.

Realidade

Comentários finais

Para encerrar este ciclo de ensinamentos, vamos comentá-los como um todo. Desde a primeira palestra até agora o assunto tratado, apesar de aparentemente diferente, tem sido sempre um: a destruição de todas as verdades que estão dentro dos seres humanizados.

Neste processo, algumas verdades atacadas geraram desconforto e até descrença em algumas pessoas. Isto ocorreu porque se tratavam de verdades enraizadas (crenças profundas) que criavam há muito tempo a dependência para ser feliz.

Eu não peço desculpas por isso porque não o fiz com esta intenção, mas Deus direcionou o discurso para que isso acontecesse. No entanto, afirmaria que se isso aconteceu com você, louve a Deus, pois foi o Pai lhe dando uma grande oportunidade da elevação.

O ser humanizado possui tantas verdades materiais e sentimentais enraizadas que já nem tem consciência de que elas são apenas verdades relativas (individuais). As verdades que ele colocou antes da encarnação se multiplicaram de tal forma através dos raciocínios que o ser humanizado não reconhece a raiz destas verdades: eu sei, eu sou, eu estou.

Em cima da verdade individualista que o ser criou antes da encarnação tanta coisa foi arquivada que agora se puxássemos apenas a folha de cima (uma determinada crença) de nada adiantaria. Se agíssemos apenas assim, superficialmente, o ser humanizado se contentaria em perder esta folha porque preservaria a raiz: o individualismo.

Por isso tivemos que tocar no fundo, na raiz que para você é sagrada: o seu amor próprio individualista. Para isto abordamos os mais variados temas, sempre discordando de qualquer posicionamento individual que era tomado a partir de uma crença individual. Por causa deste ataque sistemático à crença dos seres humanizados, este ciclo de palestras deve ter doído mais.

Para todos que me acompanharam neste ciclo alguma palestra foi mais difícil de engolir que outras, um ensinamento foi considerado mais fantasioso, irreal, do que outros, pois foi o momento que eu busquei arrancar a raiz da árvore de verdades arquivada na consciência de cada um. No entanto, saiba que quando isto aconteceu foi por ação de Deus e por amor Dele a você, que se expressou através de uma oportunidade para, ao invés de ficar martelando cada tijolo da sua construção (verdades arquivadas na consciência), derrubar uma coluna que pode jogar a baixo dezenas de andares de uma vez só.

É claro que um golpe destes mexe com todas as outras estruturas e cria problemas em todo prédio montado. Mas, se o seu trabalho nesta vida é destruir este prédio, um golpe na estrutura é tudo que deveria querer, pois aí o que restar do prédio ficará mais fácil de ser derrubado.

Hoje vamos encerrar este ciclo e nos próximos ensinamentos não mais iremos atacar diretamente a sua verdade raiz como fizemos agora. Porém, se alguém, e aqui não há orgulho algum no que vou dizer, quer fazer a sua evolução espiritual, neste ciclo de palestra existe todo material que pode levá-lo a executar sua missão. Isso eu garanto.

Se um dia você conseguir colocar em prática apenas uma pequena parte do que conversamos, sua vida será outra. Não no sentido material (mudar os acontecimentos), mas no sentido do estado de espírito com que eles serão vivenciados, no sentido da realização da elevação espiritual.

Leve este material como um tesouro. No entanto, não esconda este tesouro no fundo mar, ou seja, não o transforme apenas em conhecimento sem ação prática. Busque agir junto aos seus cinco agregados dentro do sentido que hoje comentamos e lhe garanto que será um homem rico espiritualmente falando.

Que você fique com a paz de Deus. Que fique no amor do Pai.

Que Maria, a Senhora da Regeneração possa conduzi-lo todos durante o trabalho do Mundo de Provas e Expiações em direção ao de Regeneração: o trabalho da provação da libertação do eu para a integração universal que o tornará apto para viver no novo sentido de encarnação que o planeta viverá no novo tempo.

Que ela possa, pela autorização e a ordem do Pai, energizá-lo para que você consiga neste trabalho mental que chama de vida, se libertar das sensações e da ação do maya para que possa penetrar profundamente no universo.

Só vivendo desta forma você poderá ser digno da comunidade espiritual universal que pertence. Tenha a certeza de que quando isto acontecer, será tratado como o filho pródigo que retorna ao lar e será recebido por sua família com honras e glórias.

Com a graça de Deus.

Realidade

Salomão e a realidade

É ilusão, é ilusão, diz o Sábio. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer e a se pôr e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço – um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver nem os nossos ouvidos de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: “Veja, isto nunca aconteceu no mundo”? Não. Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos. Ninguém se lembra do que aconteceu no passado; quem vier depois das coisas que vão acontecer no futuro também não vai se lembrar delas.

A primeira conclusão a que chega Salomão quando fala de sua sabedoria é de que não existe novidade na vida de ninguém: tudo o que está ocorrendo já ocorreu algum dia. Para se referir dessa forma aos fatos da vida, certamente o Sábio tem que ter penetrado na essência dos acontecimentos.

Se um determinado empregado hoje foi demitido de uma empresa, para ele isso é novidade, mas se penetrarmos na essência da vida, o fato de não mais se precisar do trabalho de um empregado ocorre diariamente sobre o planeta. Uma mãe que gerou seu primeiro filho para ela é um fato novo, mas ela mesma já foi gerada um dia.

A essência dos acontecimentos está na natureza deles. Quando tal essência é aplicada na existência de um ser humano é particularizada com situações, personagens e histórias, mas não deixa de ser a mesma essência.

A conclusão de Salomão sobre os acontecimentos da vida (essências particularizadas) é importante para se compreender o Universo e sua ação: não existe novidade, mas sim particularizações de essências.

Além disso, ao abordar os acontecimentos do planeta, o Sábio faz questão de mostrar que eles não geram conclusões, mas tudo existe dentro de um ciclo infindável. O sol nasce e se põe apenas para nascer novamente; o vento rodopia pelos quatro cantos, mas acaba no mesmo lugar e todos os rios correm para o mar, mas esse nunca fica cheio, pois as águas voltam sempre para onde nasce o rio.

Juntando-se as duas informações podemos chegar à mesma conclusão que o Sábio sobre os acontecimentos da vida carnal: é tudo ilusão. A situação da sua vida que você está passando agora não existe como a vê. Não existem os personagens envolvidos nela, não existe a trama que você está imaginando, mas apenas uma essência universal acontecendo. Da mesma forma, a sua reação não levará a nenhum lugar novo, pois não importa o que você faça, a ação universal já determinou o fim da situação.

Exemplifiquemos para melhor entendimento. O empregado que foi demitido é uma situação que não existe. Ele, quem decidiu pela sua demissão e os acontecimentos que aparentemente geraram o fato são ilusões. Na verdade ninguém perde trabalho, pois viver já é o trabalho do ser humanizado. As reações que o empregado pode ter (desespero, angústia, preocupação, satisfação) são também ilusões, pois não importa como ele reaja a essa ação universal, os próximos acontecimentos já estão programados pela própria ação universal.

Foi a essa conclusão que o Sábio chegou sobre a existência do ser humanizado: todos os acontecimentos são ilusões e qualquer reação a eles de nada adianta, pois existe uma ação universal que comanda todas as coisas. Todos os acontecimentos da vida de um ser humanizado são comandados por Deus (ação universal) no sentido de aplicar provas aos seres. Essas provas foram pedidas pelo próprio espírito antes do nascimento como caminho para a sua elevação espiritual.

258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio. (O Livro dos Espíritos).

A demissão de hoje é uma ação universal comandada por Deus dentro do gênero de provas pedidas por um ser universal. Imaginemos que o nosso fictício personagem houvesse sido um executivo com alto salário. Durante o período que percebeu esse salário pode viver uma vida material com certo conforto. Depois que o desemprego chegou o seu status de vida mudará. Ele não poderá mais levar a vida que tinha antes. Terá que conviver com dificuldades financeiras, com carências materiais. Eis, nessa pequena análise, a essência do ato da demissão e o gênero da prova escolhida pelo espírito antes da encarnação.

Para que o ser pudesse conviver com a perda de coisas materiais antes era necessário que as tivesse. Isso a ação universal providenciou dando-lhe o emprego com alto salário. Manteve-o nessa posição o tempo necessário para que se acostumasse com aquela quantidade de bens.

No momento certo, novamente a ação se fez presente gerando a essência de perda necessária para a prova pedida. Não foi a capacidade intelectual ou o esforço do ser humanizado que lhe garantiu a vaga quando da admissão, mas a ação universal que o colocou onde houvesse os instrumentos materiais necessários para a sua provação. Esta ação, no entanto, não começou a agir no momento da admissão. Já prevendo o emprego que o ser humanizado deveria conseguir para poder ser demitido, a ação universal levou-lhe a obter capacidades intelectuais que justificassem a sua escolha. Levou-o a determinada carreira em certo colégio, colocou aqueles professores que ele teve. Enfim, agiu durante toda a existência preparando aquele ser para o emprego que iria ter.

Para que ele pudesse freqüentar aquela escola era necessário estar naquela cidade ou ter o desejo de transferir-se para aquela onde se encontra o colégio que ele estudou e isso também a ação universal fez. Enfim, se formos analisando a ação universal na existência do ser humanizado teremos que remontar ao nascimento, ou ainda antes desse, pois seria necessário que houvesse a ação do ato sexual para que a concepção ocorresse.

A ação universal não é estática e nunca deixou de existir. Todos os acontecimentos do planeta, desde o seu primórdio foram e sempre serão obra da ação universal criando situações materiais onde a essência representará as provações pedidas pelos seres para a sua elevação espiritual. Por isso afirmo também que não foi a incapacidade ou qualquer ato específico que gerou o desemprego, mas a mesma ação universal agiu no sentido de criar o gênero de prova que o espírito escolheu antes do nascimento. Todos os acontecimentos do Universo são criados pela ação universal para que sirvam de oportunidade para o espírito purificar-se.

Não pense que estou falando de inércia, pois a ação universal é constante. A compreensão da existência da ação universal conspirando para que tudo aconteça dentro de um planejamento não vai lhe levar a deitar-se em uma cama e esperar a morte chegar, a não ser que seja essa a essência que o espírito tenha pedido antes da encarnação. Qualquer que seja a compreensão que você tenha sobre esse tema lhe será dada pela ação universal para justificar os seus próximos atos. Mesmo que imagine que viver é permanecer estático, a ação universal lhe afará agir para que os acontecimentos futuros que já estão pré-determinados possam ocorrer.

Viver com o conhecimento da ação universal cumprindo um planejamento pré-estabelecido não é permanecer estático, mas deixar a vida fluir através de você. A real compreensão desse assunto é que o ser humanizado deve vivenciar os acontecimentos e não se imaginar como parte integrante deles. Essa vivência leva o ser a fugir da materialidade (forma das coisas) e penetrar na espiritualidade (essência dos acontecimentos).

Como pode o desempregado penetrar na essência da sua situação se ainda está preso na culpabilidade de quem decidiu pela sua demissão? Só quando vivenciar a situação sabendo da existência da ação universal poderá compreender a essência, ou seja, uma situação criada para subsidiar o gênero de provas pedido pelo espírito e que acontece independente da vontade ou desejo de seus participantes.

O oposto da convivência com a ação universal é a racionalização. O ser humanizado quer racionalizar os acontecimentos e, por isso, não consegue vivenciar a ação universal. Vivenciar o acontecimento é jamais perguntar para que, porque, como, quando, onde, o que acontecerá?

75a Porque nem sempre é guia infalível a razão? Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre arbítrio. (O Livro dos Espíritos – pergunta 75a).

A racionalização é a utilização do processo raciocínio pela propriedade inteligência do ser humanizado. Esse processo consiste em perceber uma forma (objeto, acontecimento ou pessoa), analisar a percepção e tomar uma decisão sobre o assunto. Foi ensinado através de Allan Kardec que essa escolha é o livre arbítrio do ser humano, mas donde não se conclui que seja o livre arbítrio do espírito. Como vimos na citação anterior (perg. 258) o livre arbítrio do espírito é a escolha do gênero das provas que irá fazer durante a encarnação.

A compreensão do ser encarnado é diferente de quando ele está fora da carne. Quando possui a compreensão da existência eterna busca amealhar bens para a vida espiritual, mas quando presos à matéria carnal, com a certeza do fim (morte), tornam-se imediatistas e buscam a felicidade carnal.

Essa felicidade é movida por sentimentos diferentes do espírito purificado. Para que alcance a felicidade material o ser humanizado precisa ter o seu orgulho contemplado. Todos os seres encarnados possuem pelo menos um item do qual se gabam: a independência do universo, ou seja, o individualismo.

Essa forma de utilizar a sua individualidade (primando pelo seu orgulho próprio) leva o ser humanizado a sempre procurar culpados para os acontecimentos da vida. Aquele que foi demitido tem que encontrar um culpado para a sua demissão e por isso racionaliza o fato. Mesmo que não acuse outro ser humanizado acusará a si mesmo. Não importa quem seja declarado culpado, ele não existe, pois ninguém agiu no momento, mas todos vivenciaram a ação universal.

É isso que o instinto diz: houve uma ação universal e eu nada posso fazer para alterá-la. Um animal age instintivamente, ou seja, não questiona a ação universal. Se o ninho é atacado por outro animal a mãe luta para defender os filhotes, mas se um deles sucumbe ela não se preocupa em saber porque ele foi escolhido ou o que acontecerá com ele. Prossegue a sua existência porque sabe que ali houve uma ação universal. Tudo no universo se interage e por esta interação era necessário que o aquele filho servisse de alimento para que a fera pudesse sobreviver. Porque foi escolhido o seu ninho, se era justo ou não, são questões que não afligem os animais, mas apenas àqueles que querem dominar a ação universal.

Esse domínio se faz pela racionalização ou processo raciocínio da propriedade inteligência do seres. Ele inicia-se quando alguma situação é percebida pelos órgãos do sentido do corpo físico. É por isso que Salomão afirma que nossos olhos não se cansam de ver e nossos ouvidos não se cansam de escutar.

Na verdade o ser humanizado não vê ou escuta as coisas. A imagem e o som que são captados pelos órgãos do sentido são levados à inteligência que, através do seu processo raciocínio, gera uma compreensão. Essa compreensão, falseada pelo orgulho e pela vaidade, é a verdade para o ser humanizado. É o que ele vê e ouve, mas não é a realidade.

A verdade universal (realidade) do acontecimento é a ação universal agindo no sentido de criar situações materiais de acordo com o gênero das provas pedidas pelo espírito. Qualquer outra compreensão é fruto de soberba. Apesar disso, o ser humanizado vive querendo compreender os acontecimentos. É isso que Salomão afirma que torna a vida cansativa. Quando mais o homem racionaliza os acontecimentos, menos resposta encontra, menos compreende o que está acontecendo. Quanto mais se aprofunda na racionalização encontra sempre outra visão para ser racionalizada. É um círculo vicioso que exaure as energias do ser humanizado.

A resposta a todas as perguntas do raciocínio só Deus, o Comandante da ação universal, sabe e elas são o assunto das perguntas da prova do espírito. Se o ser humanizado soubesse essas respostas conheceria os temas da prova que iria fazer.

Concluindo, então, este primeiro estudo da sabedoria de Salomão, vimos que ele afirma que os acontecimentos, objetos e pessoas desse mundo não existem e depois afirma que as conclusões que um ser humano chega através da racionalização são ilusões. Com isso, o Sábio extingue todos os componentes da vida material. Se as coisas não existem e nada há a se concluir delas, então o que resta ao ser humanizado fazer? Viver. É exatamente isso que ele deixa de fazer durante a vida. Ao invés de viver a vida que tem, o ser humanizado está sempre preocupado em racionalizar todos os acontecimentos, em compreender todos os acontecimentos. Da compreensão nasce a preocupação com o futuro, do que poderá acontecer. Por isso vive estressado, preocupado, em constante sofrimento. Com tudo isso para fazer deixa de viver.

A vida tem que ser muito mais do que apenas compreender as coisas e preocupar-se com o futuro. Como dom de Deus, a existência carnal não pode servir apenas para gerar sofrimentos para o ser humanizado, mas deve ser uma fonte constante de felicidade. Viver é isso: estar sempre feliz.

Como estar feliz se não se compreende o mundo? Como estar feliz sem saber o que irá acontecer no futuro? Com a fé, confiança e entrega, em Deus. Somente o amor ao Pai acima de todas as coisas pode trazer a felicidade ao ser humanizado. Quando o ser não mais buscar compreensões individualistas para os acontecimentos, alcançará a verdadeira compreensão: a ação universal (de Deus) existindo para minha felicidade (elevação espiritual). Nesse momento começará a viver, ser feliz. Encontrará paz interior, pois não mais precisará brigar com o mundo para sustentar sua vaidade e estará em harmonia com o Universo, pois não terá mais objetivos individuais a serem alcançados. Aí penetrará na Bem-Aventurança, ou felicidade dos santos, aquela que independe de qualquer coisa para existir.

Realidade

O monismo e a realidade

Baseado no estudo do Avadhut Gita

4. Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo parece um espanto.

Tudo é Atma, tudo é espiritual, e nada é material: esta é uma realidade no universo. São os seres humanizados que vivem a ilusão de existir uma divisão entre mundos.

Veja bem. Se o seu mundo é material só pode conter matérias. Neste caso, você também seria uma matéria. Para que o mundo dos espíritos desencarnados fosse chamado de espiritual seria necessário que eles vivessem sem matérias. Mas, isto é uma ilusão: todos os espíritos presos ao orbe terrestre, mesmo os que não estão encarnados, ainda não têm condição de viver sem matérias.

Portanto, não existem mundos essencialmente materiais ou espirituais, mas sim lugares que são habitados por espíritos e matérias ao mesmo tempo. Por isto podemos afirmar que existe apenas um só mundo.

Como o espírito é o elemento inteligente, a força universal, dizemos que todos os lugares do universo são mundos espirituais. Você, que está encarnado, vive no ‘mundo espiritual’, assim como os espíritos desencarnados.

O mundo espiritual, no entanto, é dividido em planos, lugares de vida ou ainda, se quiserem, dimensões. O que a humanidade chama hoje de mundo espiritual e material são lugares de vida ou dimensões.

Estas dimensões, porém, não estão em locais diferentes, mas existem em conjunto no mesmo espaço físico. Ou seja, onde você está agora existe simultaneamente o que é conhecido como mundo material e as diversas dimensões espirituais que a humanidade tem notícia.

Mas, se no mesmo espaço físico existem diversos locais diferentes, o que caracteriza cada um destes planos? A única diferença entre os planos é a densidade da matéria que existe em cada um deles.

Naquele que você chama de material, onde vive, a matéria tem uma densidade mais grossa. Quanto mais evoluir, ou seja, libertar-se da sua consciência atual e avançar no sentido espiritual, conviverá com matérias mais voláteis, com menos densidade.

Sendo assim, tudo que existe no Universo é mundo espiritual, mesmo que a matéria encontre-se em densidades variadas. Mas, porque é importante saber que tudo é espiritual e que não existe mundo material? Por causa da Realidade do Universo.

O ser humanizado, por achar que vive em um mundo à parte do espiritual, criou leis, verdades e vontades próprias diferentes das universais. A partir delas, criou necessidades diferentes das espirituais. Todas estas criações dos seres humanizados geraram uma realidade diferente daquilo que é Real.

Você acha, por exemplo, que precisa alimentar-se de elementos materiais. Esta necessidade é real para você porque acha que está no mundo material e que pelas leis do planeta você precisa alimentar-se.

Apesar de conhecer através da literatura espírita que depois do desencarne o espírito não mais ingere alimentos materiais, não consegue agora viver esta realidade. Mesmo que leia na mesma literatura que após o desencarne terá que aprender a não se alimentar, não se preocupa em desde já aprender como fazer isto, porque ao imaginar-se habitando o mundo material cria a necessidade que precisa comer.

Vivendo a realidade de que tudo é espiritual você acaba, por exemplo, libertando-se da necessidade da alimentação. Pode, então, começar a entender que é possível viver sem comida. Aliás, isto já é uma realidade entre os seres encarnados, já que existem pessoas neste planeta que vive sem comida.

Estamos falando de comida, mas isto é apenas um exemplo. Todos os espíritos são filhos de Deus, são irmãos entre si: esta é a realidade que todos conhecem trazida pelos mestres. Apesar disso o ser humanizado não consegue viver desta forma, porque isto é verdadeiro para o mundo espiritual.

No material os irmãos universais transformam-se em filhos, mães, pais, cônjuges, amigos e inimigos. Estas fantasias fantasmagóricas, como Krishna chama a realidade carnal, não permite aos seres universais humanizados viverem os ensinamentos de Cristo.

Como deixar os mortos enterrarem seus mortos, abandonar tudo que se possui, inclusive pais e filhos, se a realidade carnal transforma os irmãos universais em figuras que eles não são e as leis materiais criam obrigações que não são universais com eles?

Eliminando as figuras e libertando-se das obrigações materiais. Estas figuras só existem para você porque acredita que mora no mundo material e, a partir desta realidade, precisa se subordinar às leis carnais. Quando transformar a sua existência em espiritual e viver dentro da Realidade do Universo, poderá se libertar de tudo isto.

Portanto, é importante aprender que não existe um mundo material. Só assim poderá trabalhar para acabar com as leis, verdades e desejos transitórios que os seres humanizados vivem. Você que busca a Deus através do estudo do mundo dos espíritos, seja através da literatura ou das religiões espíritas, sabe que a realidade fora da carne é outra.

Em O Livro dos Espíritos se afirma que o espírito está onde seu pensamento está. Quando você imagina que está em um lugar, realmente está lá, apesar do corpo não ter se locomovido. No entanto, não possui consciência de sua viagem.

Mas, como é que quer ter esta consciência se ainda mora em um mundo material, onde acredita que haja um corpo e que apenas quando este se desloca você anda? Quando não mais depender de sentir a locomoção do corpo para acreditar que se movimentou- alcançará a plena consciência das viagens que faz.

Portanto, é preciso compreender: você mora em um mundo espiritual e as leis e verdades dele já são válidas para este mundo. Tudo que Kardec aprendeu com o Espírito da Verdade a respeito do mundo espiritual é válido para o seu momento atual de encarnado.

Mas você acredita que não porque se imagina estar em uma situação diferenciada (preso à matéria) o que cria realidades diferentes. Com esta consciência abre mão de aprender a viver dentro da Realidade do Universo, postergando isto para quando sair da matéria.

Participante: Mas, no mundo espiritual se come energia em freqüência diferente da deste mundo?

Acabei de dizer: não existe mundo espiritual, tudo é um só mundo. Os seres encarnados alimentam-se da energia vital na mesma freqüência daquelas que são que são citadas na literatura espírita como alimentação dos desencarnados.

Podemos, apenas para melhor entendimento, dizer que a energia vital que o encarnado se alimenta está em uma embalagem diferente e não que ela mesma em si seja diferente.

Mas, você não acredita que está comendo energia vital porque vê a massa do alimento e imagina que é ela que o nutre, mas ela não pode lhe alimentar. O que nutre é o que ela contém.

A massa dos alimentos é formada por micro elementos que você não vê. Estes micros elementos são os nutrientes que você consome e lhe nutre.

Isto a ciência conhece, mas você, que não é médico, não vive com esta realidade. No entanto, há um exemplo que pode lhe ajudar na compreensão do que estamos falando.

Os astronautas que viajam para o espaço se alimentam. Eles comem a mesma comida que você, mas só que elas estão condensadas em cápsulas, pílulas.

Eles comem os micros elementos que os alimentos contêm o alimento, mas em pílulas. Eles não comem a maçã, mas uma pílula que têm os mesmos micros elementos que a massa da maçã. Tudo o que eles precisam para sobreviver está à disposição deles em cápsulas, sem massas que poderiam deteriorar-se durante a viagem.

Apesar das pílulas conterem tudo o que você também precisa para viver, não conseguiria sentir-se alimentado apenas ingerindo-as. Eles conseguem porque alteraram a realidade: não é preciso da massa do alimento. Para você que precisa da visão da massa para sentir-se alimentado isto seria impossível, pois precisaria ver a forma, a cor e o sabor da maçã.

Este exemplo é só para entendermos que a mudança de paradigmas é possível. O que lhe alimenta é a mesma energia vital universal que nutre os espíritos fora da carne e que existe em todas as massas dos alimentos.

No entanto, como os astronautas, para viver liberto da necessidade de ingerir a massa, você terá que lutar contra a verdade de que é preciso comê-las. Quando se libertar desta ilusão, irá se abastecer das mesmas energias que hoje se alimenta e que o nutrirá pela eternidade, sem necessidade do alimento material.

No entanto, para que alcance esta liberdade é preciso caminhar passo a passo. Não adianta imaginar que a partir de agora ou de amanhã não mais se alimentará: isto é irreal.

Para que isto ocorra é preciso se percorrer todo um caminho realizando a reforma íntima. Só depois de muito trabalhar no sentido de libertar-se dos seus mayas é que você poderá aprender a se abastecer dos elementos universais como se abastecerá depois que sair da carne.

No entanto saiba: mesmo desencarnado terá que aprender isto. Não será apenas porque se libertou da carne que o maya se extinguirá. Para viver a existência desencarnada alimentando-se da energia vital e não das massas será preciso libertar-se delas. Por isto a literatura fala de um período onde os espíritos recém desencarnados ainda precisam de massas alimentares.

Portanto, se este é um trabalho que terá que executar depois do desencarne, por que não começá-lo agora?

Participante: Como espíritos encarnados não precisamos alimentar nosso corpo? Este alimento que damos para o corpo não serve para o espírito, mas se não alimentarmos o nosso corpo desencarnamos, não é?

Você precisa alimentá-lo, mas não daquilo que chama de alimento material.

Você alimenta seu corpo de feijão? Não, não é a massa que você considera como alimento que o nutre, mas o ferro e o cálcio (micro elementos) que está dentro da massa.

Acontece que o ferro e o cálcio não são elementos primários, mas, como tudo que existe, são formados a partir da fusão de um só elemento: fluído cósmico universal.

Desta forma, você não alimenta o corpo de feijão (massa), mas do fluído universal que compõe os micros elementos que a ciência afirma que são na verdade os nutrientes. Quando aprender a comer fluído cósmico universal diretamente, sem precisar da ilusão do feijão, continuará alimentando o corpo da mesma forma de hoje, mas sem precisar da massa.

No entanto, volto a repetir: ninguém conseguirá realizar isto de hoje para amanhã. Para que este modo de proceder se torne realidade há a necessidade de se alcançar um grau de elevação espiritual onde você se liberte das outras miragens (mayas) para se libertar desta também.

O que você precisa compreender com este ensinamento é que não é real se admitir que haja a necessidade do feijão. Isto lhe auxiliará a alcançar a compreensão necessária para o trabalho de libertar-se da escravidão às coisas do mundo, inclusive do alimento.

Participante: Você diz viver de prana?

O que é isto, senão um maya que você criou?

Eu falo em viver do elemento primário universal. Agora, se você chama este elemento de fluído cósmico universal, prana, matéria energética ou energia, não importa, pois qualquer nome (compreensão) que der é maya.

Como já tinha dito antes, este trabalho é baseado nos ensinamentos de Krishna, mas nada tem das ilusões que a religião hinduísta ensina. Tudo que você aprendeu até hoje nesta ou em qualquer outra religião é ilusão, é maya.

Isto porque o ensinamento que você recebeu passou pelo raciocínio de quem os leu. Além disso, ao ser repassado para você, houve, por sua parte, a criação de um novo maya, ou seja, de outra compreensão.

Portanto, prana, fluído cósmico, tudo é ilusão, é maya. O que você precisa compreender, ou seja, o que é Real, é que existe um elemento básico no universo que nutre os espíritos.

Agora, querer dizer como ele é, quais são as suas propriedades, o que quer dizer ser um elemento ou o seu nome, é criar ilusões. Por isto é preciso sempre se concluir que nada é possível de se saber.

Participante: Mas, Buda tentou este caminho inicialmente e se deu mal. Se não tivesse se alimentado de leite e mel teria desencarnado mais cedo.

Exatamente por isto estou dizendo que não é para você parar de comer amanhã, mas ensinando que é preciso lutar contra a ilusão de que existe um mundo diferente do espiritual: o material.

O Buda tentou este caminho e se deu mal porque não estava preparado para isto. Se você também tentá-lo agora também se dará mal. Para que você consiga realizar esta ação (viver de energias) terá que fazer como Sidarta: conseguir primeiro a iluminação.

Participante: Mas, quando saber que estamos preparados?

A hora que acontecer naturalmente. Enquanto você quiser forçar a não alimentação estará se entregando a um desejo seu, mesmo que seja de querer se libertar.

A prática do que estamos conversando agora se resume em você constatar que está comendo, mesmo agora que sabe que não precisa, sem se apegar a verdade de que aquilo é fundamental para existência.

Participante: Eu acredito que nós conseguiremos isto quando aprendermos verdadeiramente a amar. Aí Deus nos dará em conseqüência tudo isto que o senhor fala.

O desejo vem de Deus: já estudamos no versículo 01. Tudo vem de Deus e, portanto, a compreensão dos ensinamentos também virá de Deus.

Enquanto você quiser compreender o que estou dizendo com valores materiais, ou seja, imaginar como fará para parar de alimentar-se e quando isto acontecerá, não terá entendido nada do que eu disse e continuará vivendo apenas os mayas acreditando ter chegado à Realidade.

Baseado neles discutirá que a ciência comprova que o homem precisa se alimentar. Mas, quem é a ciência senão a emanação de Deus? Além do mais o seu conhecimento para discutir não é real, pois você tem uma idéia do que é a ciência. Não possui as verdades científicas, mas o fruto do seu raciocínio ao entrar em contato com os ensinamentos científicos, ou seja, uma ilusão.

Pergunta: A ciência, então, é uma emanação de Deus?

Sim, e que lhe é dada para evolução em todos os campos, inclusive na moral (aperfeiçoamento espiritual).

 No entanto, o ser humanizado não utiliza a ciência com esta finalidade. Busca através dela minorar seus sofrimentos (não ter mais doenças, não morrer), mas não pensa em aprender a amar a Deus sobre todas as coisas com a ciência.

Bem, agora que conversamos bastante sobre a primeira parte deste ensinamento, vamos voltar ao texto do Avadhut Gita. Apenas para relembrar, transcrevo a fala de Dattatreya que estamos estudando: “Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo parece um espanto”.

Não existem diferenças entre a maçã e o fluído universal, entre o feijão e o não feijão. Não existem diferenças entre existir alguma coisa ou não existir algo. Isto ocorre porque toda realidade que você vive é apenas uma coisa: ilusões, mayas.

Kardec nos ensinou que não há diferença entre viver como realidade fluído universal ou oxigênio até nova ordem, porque sabia que o fluído universal que o ser humanizado pode imaginar é um maya. Você achar que está comendo uma maçã é uma ilusão, mas também compreender que ela não existe é uma ilusão.

Portanto, se entregue a tudo sem prender-se a nada.

Você deve libertar-se de todo fruto do seu raciocínio não dando a ele o valor de real, inclusive o que está compreendendo agora. Por favor, não transforme o que eu digo numa verdade: ‘li que não existe nada, então nada existe’. Ao agir assim você criou alguma coisa: um “nada”.

É preciso se libertar de tudo. O procedimento daquele que busca a Deus é o seguinte: ‘li que não existe maçã, mas eu não sei se existe ou não’. Não se preocupe em brigar contra a existência da maçã, mas lute para se libertar da existência ou não-existência de qualquer coisa.

Esteja simplesmente preocupado em largar tudo e não em criar novas verdades. Você deve destruir tudo que existe e não construir nada no lugar. Nem um nada deve surgir como compreensão do processo de reforma íntima.

Para que o ensinamento tenha valor, é preciso que você compreenda isto. Este trabalho não tem o objetivo de criar novas verdades, mas está sendo realizado pelo comando de Maria no sentido de transmitir aos seres encarnados que nada devem compreender a respeito das coisas.

Quando se alcança a elevação espiritual ainda durante a existência carnal, o ser universal não mais dá valor às coisas materiais, mas simplesmente vive sem saber se existe ou não aquilo. Você não deve se apegar nem a um lado (existência) ou ao outro (não-existência).

Por isto, também, este ensinamento não deve ser comparado a qualquer outro que você tenha tido conhecimento para que se produza uma nova verdade. Ele não deve servir como novas verdades, mas apenas para auxiliá-lo a libertar-se daquilo que até hoje acreditou. Se você quiser transformar o seu conhecimento a partir destes ensinamentos estará criando uma nova verdade que um dia terá que ser eliminada.

Nós não queremos que você se apegue a nada como verdade, nem a estes ensinamentos. Qualquer apego não lhe leva à evolução espiritual. Como Cristo ensinou, mais do que praticar aquilo que as religiões ensinam, o ser humanizado deve libertar-se das coisas materiais doando tudo que possui aos pobres.

 Portanto, você não deve transformar os ensinamentos que aqui estão em uma verdade, mas deve servir-se deles apenas como instrumento para que passe a duvidar de tudo neste mundo, até de mim mesmo.

Se você duvidar destes ensinamentos, mas também não se apegar em mais nada, alcançou o que estou falando, realizou a evolução espiritual. Aí você se libertou de tudo, inclusive deste ensinamento.

É isto que você precisa para realizar a reforma íntima: lutar contra todo fruto do raciocínio. Lutar contra toda compreensão que possa surgir, mesmo que seja a compreensão do que está aqui escrito.

É melhor que você não compreenda o que estamos falando. Ao invés de criar verdades com este ensinamento (compreender) constate apenas que os ensinamentos deste livro abalaram todo seu conhecimento anterior e que você, agora, não sabe mais de nada e, por isso, não confia mais em nada.

Neste momento você alcançou a prática do que estou falando e não precisa mais de compreensão alguma para viver.

Realidade

Krishna e a realidade

Bhagavad Gita

23. As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca.

24. A este ser não se lhe pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem secar; é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial. (Bhagavad Gita, capítulo 2)

Temos que compreender que nada pode afetar ao ser, a não se que ele se afete. Nada pode lhe cortar, queimar, entristecer, preocupar, a não ser a preocupação, o corte, a queimadura ou o sofrimento que você mesmo crie para você.

Este é o ensinamento que Krishna traz: nada pode lhe atingir... Apesar disso, se eu pegar uma faca agora, corto o seu corpo físico, não é mesmo?

Participante: Sim...

Apesar desta sua resposta continuo insistindo no que Krishna falou: nada pode lhe atingir, nem mesmo nas coisas físicas... Vamos entender isso...

Mostre-me o seu braço... Este é o seu braço? Não, este não é o seu braço. Isto porque esta forma não é a menor partícula que compõe o que você chama de braço. Dentro desta forma que você está me mostrando e chamando de braço, há carne, osso, veia, sangue, músculos e terminais nervosos. Estes elementos são o braço...

O que você olha e vê, não é o seu braço, porque aquilo que chama de braço é um somatório de coisas. Todo seu corpo é um somatório das coisas que listamos, mas estas ainda são formadas por outras: as células...

Sendo assim o seu braço não é isso que você me mostrou, mas cada uma das células que compõem esta forma... A partir daqui podemos ir mais longe no ensinamento de Krishna. Se eu abrir um buraco no seu braço estarei cortando a célula dele? Não, estarei seccionando, separando elementos do braço, mas não o estarei cortando.

Eu não posso cortar o seu braço porque não posso cortar uma célula que compõe qualquer dos seus elementos... Eu posso separar moléculas, não cortá-las.

Então, não é só o espírito que não é cortado, mas o corpo também não...

Participante: Acho que o seu raciocínio não condiz com a realidade nossa...

Está certo: não condiz com a sua realidade... Por quê? Porque vocês não vão além do que vêem... Você está vendo um braço, mas dentro dele tem coisas. Este é o tema que quero abordar a partir deste ensinamento de Krishna...

Este não é um mundo real, mas sim um mundo de percepções. Na verdade, o braço não existe: ele é uma percepção que você tem ao olhar para um determinado grupo de células. Esta realidade serve tanto para o mundo espiritual como para o material, porque, na verdade, este membro é um conjunto de células que chama de braço.

Agora, se você tivesse uma visão mais aprofundada, se pudesse ver mais microscopicamente, chamaria outras coisas de braço e não o que chama hoje. Isso porque não veria esta forma, mas sim a carne, os músculos, as veias e o sangue correndo, da mesma forma que vê estes elementos no microscópio...

Participante: Apesar disso, ele não deixa de ser um braço...

Quando você não mais se prender a forma e compreender que ela é formada por outras coisas, terá que dar um novo nome a estas coisas, pois braço é o conjunto que percebem hoje e não o que está dentro...

Então, é a percepção, o seu olho que cria o braço... Na verdade ele é um conjunto de células que você chama de braço. Outro conjunto chama de perna. Para você, são dois elementos diferentes, mas se observamos o interior, veremos que eles são iguais. A perna e o braço são formados pelos mesmos elementos (células). Por que você distingue um do outro? Porque só consegue ver a perna e o braço pela sua forma compacta e não pelo que eles realmente são: as células...

Se você não visse o braço e a perna pelas suas formas compactas, diria que é tudo igual... Veria que na realidade os dois conjuntos são formados pelo mesmo elemento e, portanto, são iguais.

Disso nos sai a certeza de que a realidade do mundo, do Universo, é muito além do que as percepções que vocês têm. Por isso afirmo: tudo que o ser humanizado conhece é apenas uma percepção e não a realidade...

Além do que vocês vêem, sentem, provam o sabor, do que cheiram ou ouvem, existe muito mais coisa. Ou melhor: existem coisas que compõem o que vocês vêem e vocês não vêem estas coisas...

Participante: Uma forma de se desligar do macro seria a meditação?

Uma forma de se desligar do mundo das percepções é compreender que tudo é percepção...

Na hora que compreenderem que um braço é apenas uma percepção e não uma realidade, estarão buscando algo mais do que percebem. Mas, enquanto acreditarem que o que vêem é realidade, conviverão com a percepção como se ela fosse real...

Participante: Tenho tentado me desligar das percepções, mas não tenho conseguido. Tem como viver sem elas freqüentemente?

Não estou falando em viver sem percepções, mas estar acima dela. Deixe-me dar um exemplo...

Os orientais falam muito da terceira visão. Mas, o que é a terceira visão? Uma visão além da percepção do olho. Perceba que eles não falam em trocar uma visão por outra, mas em alcançar algo que veja além do olho humano. Sendo assim, quando você alcançar esta visão, que é dita como espiritual, continuará tendo as percepções que hoje tem pelo olho. O que acontecerá é que terá a consciência de que a sua visão de hoje é apenas uma percepção. Com esta consciência poderá, então, buscar através da meditação ou de qualquer outro trabalho de elevação espiritual superar o mundo perceptivo. Neste momento poderá receber de Deus a terceira visão, ou a compreensão de que existe algo que você não percebe, mas que está compondo o que vê...

Participante: Um desligamento das percepções?

Não um desligamento delas, mas a percepção além do sentido da carne...

Participante: A meditação pode ser um exercício para isso?

Na verdade não há um exercício para se receber esta consciência: ela será recebida de Deus... Pela busca espiritual, pelo trabalho da reforma íntima, você poderá merecer receber...

Participante: Então não é negar a percepção, mas negar que ela é a realidade...

Sim. Negar que a percepção é real. Gosto de laranja estragada, por exemplo. Não existe isso: existe um gosto que você chama de laranja estragada.

É preciso estar além do mundo perceptivo... Para isso é preciso ter a consciência de que não existe um gosto de laranja estragada, mas uma criação perceptiva que o ego chama desta forma. A partir desta consciência, você poderá ficar além do gosto criado pelo ego e poderá, então, receber de Deus o sabor universal.

Então, quando Krishna diz que o ser humanizado não pode ser cortado, é porque o ser humano se corta, se molha ou se queima.... Ou seja, tem a percepção de que isso acontece, mas na realidade isso não ocorre. Á partir deste ensinamento, aqueles que buscam entrar em unidade com Deus precisam compreender que este é um mundo de percepções. Além disso, precisam saber que um mundo perceptivo não é um mundo real, mas um mundo individual...

Este mundo, por ser perceptivo, é apenas o que você percebe e compreende restritamente. Por causa das suas restrições você acredita que a água molha, mas isso não é real, porque o sentir-se molhado é apenas uma percepção que está tendo.

O espírito precisa se desligar deste mundo perceptivo porque se ficar preso à percepção como realidade, viverá preso à reencarnação, ao processo reencarnatório ou de reidentificação. Isto porque as percepções estão presas às sensações de prazer e dor...

É por isso que Buda diz: você não pode ter paixão pelas suas percepções. Não adianta se apaixonar por uma percepção porque isso só lhe prende ao mundo do nasce e morre. Esta prisão acontece porque no Universo não existem estas percepções...

Quando falo em paixão, falo de positiva ou negativa: querer ou não querer.

16. O irreal jamais existe; o Real nunca é inexistente. Os sábios percebem claramente esta Verdade!

O que é irreal? O que é uma coisa irreal? O que não é real. Isto quer dizer que o irreal não existe, pois ele não é real...

Mas, o que é real no Universo? Deus e Sua ação... Isto é a única coisa que existe no Universo. Todo o resto é irreal...

Calor não é calor: é a ação de Deus... Espírito não é espírito: é a ação de Deus...

É isso que vocês precisam compreender: o que é irreal jamais existe e a única coisa que é real neste Universo – e deixe-me dizer que não existe outro antes que vocês me perguntem sobre isto – é Deus e Sua ação. Tudo aquilo onde você não encontrar Deus e Sua ação é irreal e nunca existiu.

Nunca existiu, mesmo que você acredite ao contrário, porque o irreal não existe. Só Deus e Sua ação é a realidade... Por que isso? Porque o resto das coisas não existe? É preciso compreender esta máxima para poder viver com Deus e Sua ação...

Participante: Porque só Deus tem condições de gerar qualquer coisa no Universo...

Mas, porque só Deus tem condições de gerar qualquer coisa no Universo? Pergunto isso porque quando você me responde desta forma está dando um poder a alguém pelo próprio poder. Isso não existe no Universo. O poder, universalmente falando, é conferido a alguém por elevação moral e não por Ele ser poderoso...

Volto a perguntar: porque só Deus e Sua ação é realidade? Vou lhes responder...

Pegue diversas gotas de água e as olhe que no microscópio. Você irá perceber que os a átomos destas gotas estão em perfeitas combinação: H2O. Qualquer que seja a água que observe, irá encontrar a mesma coisa.

Além disso, irá ver que os átomos de qualquer gota estão dispostos de maneira igual. Se por um acaso um deles não estiver na mesma posição, o que você terá não será mais água. Poderá ser qualquer outra coisa, mas não mais água...

É preciso compreender isso: qualquer desarmonia ou desorganização nos elementos que compõem um todo altera o produto final. Sendo isso verdade, posso dizer, então, que quando houver qualquer desarmonia no Universo, ou seja, quando qualquer dos seus componentes faltar ou sobrar ou estiver em posição errada, isso mudaria o Universo que conhecemos e com isto acabaria com ele.

O Universo é perfeito: é o equilíbrio perfeito, a harmonia perfeita. Na hora que isso for quebrado, o Universo acaba. Poderá ser qualquer outra coisa, menos Universo.

Por isso Deus e Sua ação é a única realidade. É a ação de Deus que faz o equilíbrio do Universo de uma forma perfeita e só Ele pode obter este produto final, pois é a Inteligência Suprema. Se Deus não agir e em seu lugar qualquer outro elemento universal agisse, ria desequilibrar o Universo e aí não seria mais Universo.

Deus e Sua Ação é a única coisa real no Universo, porque Ele, através dela, é o único capaz de manter o Universo em perfeito equilíbrio eternamente. Sendo Deus a Inteligência Suprema, ele é o único com capacidade perfeita de análise da realidade para dar, através da Sua ação, a cada um segundo as suas obras, ou seja, manter a justiça sempre presente.

Se você deixar um átomo da água livre, seus componentes irão se embaralhar e com isso não será mais água. Se deixar o Universo na mão de alguém que não possa manter a Justiça Perfeita, ele acabará...

Participante: Li uma reportagem em que falava exatamente disso. Se deixarmos um átomo de hidrogênio, por exemplo, livre, ele pode causar uma explosão destruidora.

Sabe do que você está falando? Da bomba de hidrogênio... A bomba de hidrogênio existe a partir do desequilíbrio de um átomo de hidrogênio em um todo...

Por isso lhe repito: se Deus não for a única ação, o Universo pode explodir, porque qualquer desequilíbrio acaba com ele. A simples ação de dizer para alguém que ele é bobo, se não executada dentro do princípio de Justiça Perfeita, acabaria com o Universo. Foi isso que Cristo quis dizer quando afirmou que se você apenas chamar outra pessoa de boba, terá que apresentar ao tribunal.

Até isto, que aparentemente parece um comentário sem maiores implicações, se feito por livre vontade de alguém que não possua a capacidade perfeita de análise da realidade, ou seja, que possa dar a alguém que não merece esta qualificação, destruiria o Universo.

Participante: O equilíbrio ao qual o senhor se refere vem depois?

Depois do que? Depois do desequilíbrio? Depois do desequilíbrio só poderá vir o nada, porque, ao desequilibrar, o Universo acabou...

Participante: Eu não consigo entender isso... Eu não consiga imaginar esta ação...

Porque você como ser humano, não consegue ver nada além da suas percepções. Não consegue ter a idéia do todo onde Deus age.

Participante: Então, Deus tenta eternamente manter o equilíbrio?

Não, Deus não procura manter: mantém. Vocês tentam manter-se equilibrado, mas Deus, que sabe o que faz, sempre o mantém.

Participante: Era isso que eu queria saber. Ele reequilibra o Universo?

Não, ele não reequilibra porque o Universo não se desequilibra. Para que o equilíbrio esteja sempre presente, Deus age antes.

Não se esqueça que Ele tudo sabe, por isso, age antes para que o desequilíbrio não aconteça. Ele sabe qual será a próxima reação do espírito e já comanda uma ação que mantenha o equilíbrio frente a esta reação.

Você, quando vê uma coisa que considera errada, acredita que ali há um desequilíbrio. No entanto, este algo está na verdade equilibrando o Universo. Deus, que comandou esta ação sabia que a opção do espírito poderia criar um desequilíbrio e agiu antes para que isto não acontecesse...

Perceba que estamos falando em equilíbrio e não em certo. Se todas as coisas fossem certas ou amorosas, não haveria equilíbrio. Para que o equilíbrio exista, o aparente amor e desamor precisam existir em quantidades iguais.

Deus, que sabe a reação de cada espírito aos acontecimentos da vida antes dela acontecer, cria o futuro para que jamais o Universalismo e o individualismo existam em proporções desiguais.

Participante: Mas o Universo tem uma tendência a se desequilibrar em algum momento, não?

A tendência para o desequilíbrio é algo que você imagina que exista. Não se esqueça que se Deus soubesse de algo que pudesse gerar uma tendência a desequilibrar o Universo, Ele agiria antes, evitando assim o suposto desequilíbrio.

O desequilíbrio nunca ocorre e nem é iminente, porque Deus retroage, ou seja, age antes da ação do espírito para que o equilíbrio jamais se perca. Quando Ele age já sabe a reação de todos os espíritos do Universo àquela ação e, por isso, é capaz de agir de tal forma que o produto final jamais se altere.

É por isso que só Deus e Sua ação é a realidade, pois só Ele pode manter coeso e equilibrado o Universo... Se entregássemos a causa primária na mão de outro espírito – e repare que não estou falando apenas nas nossas, mas na mão de Cristo, por exemplo – acabaria com o Universo num micronésio de segundo. Na mão de Cristo, governador-geral deste planeta, a causa primária explodiria o Universo.

Por quê? Porque ele não é a Inteligência Suprema. Ele não possui a capacidade suprema de dar a cada um segundo a sua obra.

Bhagavata Puranas

7. Tudo o que acreditas conhecer através dos ouvidos, dos olhos, da consciência, da palavra e tudo mais, dá-te conta de que é uma ficção do pensamento, simples fantasmagorias, destinadas, portanto, a perecer.

Sem a consciência citada por Sri Krishna neste versículo, jamais você será um senhor da mente, ou seja, sem a conscientização de que a razão (idéias transmitidas pelo pensamento), as emoções (o que imaginar sentir) e as percepções (audição, olfato, paladar, visão e sensibilidades do corpo físico) que lhe vêm à consciência são criações do ego e não suas, nada pode ser feito no sentido da reforma íntima. Sem compreender que tudo que o ego cria está destinado a perecer, pois não são verdades e sim fantasias fantasmagóricas, nada pode ser feito.

Não adianta você querer ser senhor da mente sem entender que a mente não existe na realidade e sem conscientizar-se de que você pode libertar-se dela.

Disseram-me o seguinte a pouco: ‘as pessoas dizem que nós somos frios...’ Agora posso responder melhor a esta pessoa... Não, ninguém diz isso: o seu ego cria a percepção e a razão que lhe diz que os outros falaram.

Portanto, mais do que não ligar para o que os outros falam, é preciso ter a consciência de que ninguém falou e que nenhum som foi proferido por outro. Tudo nasceu dentro de você, como criação do seu ego. Agora, se, acreditar no que o seu ego diz e achar que os outros falaram, nada terá realizado, mesmo que consiga suplantar a emoção (neste caso desconforto) que o ego criará dentro de você como resposta para quem falou.

Saiba que o senhor da mente age sempre que a mente funciona dizendo: ‘isso é uma fantasia fantasmagórica e não uma realidade. Não sou eu que estou pensando, sentindo ou percebendo isso, mas sim a minha segunda personalidade... Ela está percebendo, sentindo e pensando, não eu’.

É esse o trabalho do senhor da mente: fazer com que o seu ego raciocine em sistema de dupla personalidade. Como eu disse anteriormente o trabalho do ‘senhor da mente’ é racional e, portanto, é precise que ele consiga fazer com que o seu ego raciocine que o raciocínio não é seu, mas apenas dele e que ele não é real, mas simples fantasmagoria.

Na afirmação acima está embutido todo o trabalho do senhor da mente, todo o ensinamento de como se controlar a mente: fazê-la raciocinar a partir da existência de uma dupla personalidade e atribuindo tudo que surge à consciência ao personagem (ego) e nada a você mesmo. Controla a mente aquele que faz o ego racionalmente atribuir a você mesmo nenhuma percepção, emoção ou razão.

Agora como disse, isto é apenas um caminho... Mais tarde este raciocínio que surge baseado na dupla personalidade precisa acabar, mas por enquanto é necessário como caminhar.

8. O homem que não vigia seus pensamentos cai no erro de acreditar na multiplicidade das coisas. A crença na pluralidade conduz às egoístas impressões de mérito e demérito. As diferenças que parecem existir nas ações, nas não ações (ou indolência, neste caso) e nas ações ruins só dizem respeito ao homem que pensa no mérito e demérito.

Vamos estudar este versículo em partes. Inicialmente vamos ver a primeira frase: O homem que não vigia seus pensamentos cai no erro de acreditar na multiplicidade das coisas.

Toda razão, emoção e percepção criada pelo ego é chamada no planeta Terra como dualista, mas na verdade ela não é dual: é múltipla. Digo isto porque para o ser humanizado não existe só o bom e o mau: existe o bom, o pouquinho bom, o melhor, o ótimo, o quase bom... Ou seja, são múltiplas as emoções e as razões do ser humanizado que o ego que cria. Ele não trabalha apenas com dois fundamentos para dar valores à vida, mas vivencia múltiplos graus de valores nos acontecimentos da vida.

O seu ego jamais conseguirá entender a unidade porque ele não é previsto para isto. Ele é formado em multiplicidades enquanto o universo é unidade.

Então, quando Krishna ensina que o senhor da mente controla seus pensamentos para não se deixar se levar pela multiplicidade, ele não fala que o ser que consegue dominar o seu ego precisa criar uma razão única ou em unicidade, porque esta razão universal jamais acontecerá aos egos humanos. O que este ser precisa é controlar os seus pensamentos para não acreditar na multiplicidade que estes pensamentos e emoções são fundamentados.

Eu venho insistindo neste ponto: O senhor da mente não muda a mente, mas a domina. É diferente... Por isto o termo senhor da mente.

Mudar a mente, isso você faz em qualquer escola. Você coloca novos valores que se sobrepõem a velhos e para isto não precisa de nenhum esforço. Agora, controlar a mente a tal ponto que você seja livre para acreditar nela ou não, é ser senhor da mente, é ser senhor dela.

Então, este é o primeiro detalhe deste estudo: o senhor da mente precisa saber que o ego trabalha com realidades múltiplas enquanto o universo é uno. A partir disso, ele vai trabalhar para dominar a multiplicidade que o ego impõe.

Vamos ver a segunda parte: As diferenças que parecem existir nas ações, nas não ações (ou indolência, neste caso) e nas ações ruins só dizem respeito ao homem que pensa no mérito e demérito.

Veja como Krishna abrange todo e qualquer tipo de ação: a ação propriamente dita, a indolência - não vou utilizar o termo não ação - ou ação ruim, ou seja, ações boas, ruins ou omissão. No entanto Krishna diz ainda sobre elas: que parecem existir... Ou seja, só a crença no mérito e demérito, que faz parte da multiplicidade que esta no ego, julga e determina um tipo para a ação.

Esse é o ensinamento do mestre. Vamos agora conversar sobre ele...

Não existe certo ou errado, bom ou mau, bonito ou feio. Por quê? Porque como Krishna ensina no Bhagavad Gita - e como Cristo também falou - o universo é emanação de Deus. A emanação ocorre quando o próprio Deus gera as coisas. Ou seja, tudo vem de Deus diretamente e Ele não pode gerar o bem ou mau, porque senão seria duplo, ou pelo menos instável, inconstante... Deus é imutável, assim ensinam os mestres. Portanto, tudo o que vem de Dele é uno e único, e, por isso, não pode possuir mérito ou demérito.

Mas o ego, como é formado na pluralidade, trabalha com estes valores... Ou seja, algo emana de Deus e o ego classifica esta emanação como bem ou mal, certo ou errado, bonito ou feio.

O homem decaído - o espírito que está ligado a um ego que não contém valores universalizados - acredita nisso. Acredita que existem coisas boas a serem feitas e que existem coisas más que podem ser feitas. Acredita que alguma coisa ou lugar pode ser belo e outro feio, que algo pode estar limpo ou sujo, arrumado ou desarrumado. Mas o homem lúcido, ou senhor da mente, não acredita.

Volto a repetir e vou falar praticamente em todos os versículos que estudarmos: o ego do homem lúcido - ou espírito ligado a uma mente que possui conceitos universalizados - ainda trabalha com a sensação de mérito ou demérito racionalmente, de acordo com a percepção e a emoção que este mesmo ego cria. Mas este espírito não acredita nisso. Ele diz a si mesmo: ‘ego, isto é criação sua’, ‘isto é do personagem’, ‘isto é desta outra personalidade que não sou eu’.

A personalidade pode até ter um mérito ou demérito, mas o espírito que aprende a conviver universal e espiritualmente com a sua personalidade transitória não se deixa levar por esta razão criada pelo ego.

Vocês viram o que falei lá no trabalho do carma? O quanto é importante mantermos acesa esta chama desta discussão do trabalho contra o ego? Este é o aspecto mais importante de sua vida. Sabe por quê? Porque você nasceu para isso, apesar de não haver nascimento, pois o que existe é uma encarnação. Portanto, você encarnou para isso. Mas encarnação também não é vir à carne, mas ligar-se a uma consciência transitória para executar suas provas.

Sendo assim, posso dizer que vocês se ligaram a esta consciência que estão hoje para aprender a libertar-se das classificações de mérito e demérito que ela cria. Transformaram-se em Maria ou José justamente para provarem que são capazes de permanecer puro, simples, mesmo com o diabo - que é esta personalidade - lhes tentando.

Sabe quem é o ser humano que você acha que é e que tanto defende? O diabo, o tentador do espírito... É aquele que depois de quarenta dias e quarenta noites no deserto vai tentar o Cristo. É o mesmo.

A Maria que você ama tanto, que você defende tanto, é o diabo da sua vida. O José que você cultua tanto é o diabo na sua vida...

Maria e José são nomes do diabo e quando você trabalha para o nome que imagina ser você, está cultuando o diabo. Quando embeleza a Maria e a defende dos outros, quando quer as coisas para atender aos caprichos dela, você esta cultuando o diabo.

Esta é uma consciência que o senhor da mente tem: ele não cultua o diabo, ele cultua a Deus e diz ao diabo: ‘sai daqui satanás’!

9. Portanto, controlando teus pensamentos e os sentidos que eles contaminam, observa a este Universo como se estendesse em teu próprio Íntimo e encara o teu ser como descansando em Mim, o Senhor Supremo da Yoga e da Mente.

Primeiramente vamos ver uma grande afirmação de Krishna neste ensinamento que o senhor da mente tem que estar sempre consciente dela: o pensamento contamina o sentido, ou a percepção. Olha que frase interessante... Vamos falar sobre isso...

Você, através da percepção criada pelo ego, vê uma mão se locomover de um determinado ponto até o seu rosto. Logo em seguida o pensamento contamina esta ação dizendo: ‘você foi agredido’; ‘aquela pessoa é um agressor’; ‘aquela pessoa não presta’; ‘ela merece receber o troco’.

É esta contaminação, ou criação de uma realidade egoísta, que o ego cria para testar o seu egoísmo, o que é o objetivo de sua encarnação. O senhor da mente compreende que aquela razão não é verdadeira, mas uma contaminação, uma poluição que o ego está criando para uma determinada percepção que ele mesmo criou, com o objetivo de gerar um carma que, se vencido, trará louros à encarnação.

Mas, veja só que Interessante...

Os seres humanos, na sua maioria, estão preocupados com a poluição do planeta. Preocupam-se em não jogar papel no chão, em não derrubar as florestas, com a limpeza do rio, mas não se preocupam com a poluição que o seu ego cria que contamina o mundo perceptivo. Eles não estão nem aí para esta poluição: aceitam tudo que o ego cria como realidade. Vivem na lama, na podridão criada pelo ego: nada presta, o mundo é ruim, todos são errados...

Grande ser humano: preocupa-se com a fumaça e o lixo, mas acaba poluindo muito mais o mundo quando quer julgar os que jogam sujeiras na atmosfera ou nos rios...

É esta consciência que o senhor da mente precisa ter e é esta consciência que pode agir como ácido para aquela pessoa que, anteriormente, me perguntou se não havia um ácido para derreter o ego...

Na hora que cada ser humanizado se conscientizar que o seu processo racional é o seu diabo e polui a sua vida, será preciso fazer alguma coisa contra isso. Ou seja, se conscientizará que é preciso controlar a mente para poder viver no paraíso...

Mas, enquanto o ser humanizado achar bonita as poesias criadas na mente a respeito da natureza e achar certo o criticar os outros, continuará dominado pelo ego e continuará a poluir o mundo perceptivo aceitando as ilusões criadas pelo ego.

Lembro de uma pessoa que estava em outra palestra quando afirmei que o espírito elevado é aquele que não reage quando toma uma tapa na cara. E ele, espírita, freqüentador assíduo, estudioso e palestrante, disse: um ser humano não pode reagir assim.

Aí eu disse: mas o próprio Cristo ensinou que se deve oferecer a outra face. Como é que você que se diz cristão não aceita este tipo de reação? Neste momento ele afirmou: Ah, mas é preciso ter coragem para fazer isso.

Contei esta passagem para poder dizer o seguinte: para ser senhor da mente, antes de mais nada, é preciso ter coragem de não ser um ser humano... É preciso ter coragem de enfrentar a humanidade; não a dos outros, mas a sua mesmo: os seus desejos, as suas paixões e as suas poses. É preciso se olhar no espelho sem máscaras, sem falsidades consigo mesmo. Cristo ensina: ai de vocês, professores da lei, fariseus e hipócritas, que limpam o exterior, mas não têm coragem de limpar o interior... Sim, para ser senhor da mente, para limpar o seu interior, é preciso ser muito macho... É preciso muita coragem. Agora, esses herdarão o reino do céu, gozarão da felicidade que Deus tem prometido a cada um.

Mas o ensinamento de Krishna não para por aqui. Ele ainda afirma: observa a este Universo como se estendesse em teu próprio Íntimo e encara o teu ser como descansando em Mim.

Sabe por que o ser lúcido oferece à outra face? Porque ele não é a face. Ele está em Deus, repousando no Senhor e o Pai não dá tapa na cara de ninguém.

Juntando agora este ensinamento com o que já havia falado, posso dizer que a coragem que citei como necessária para se tornar um homem lúcido é a de repousar em Deus, sem prestar atenção a mais nada.

É isto que os seres humanizados não têm coragem de fazer: de repousar em Deus. Querem estar sempre atentos à vida e, por isso, se ligam aos pensamentos, emoções e percepções criadas pelo ego, imaginando que assim vão agir e conseguir evitar o mal - aquilo que eles não gostam - para si.

É, para ser o homem lúcido é preciso ter muita coragem, porque aquele que se torna senhor de sua mente abri mão do controle da vida e repousa em Deus. Ele vive, como já falei no estudo do monismo, o nada, cuja vivência, como conversamos durante o estudo dos carmas humanos, é o grande mistério da fé: se atirar no vazio sem nenhuma percepção. Isto é repousar em Deus e para viver desta forma, é preciso ser ‘muito macho’, ou ter muita fé: confiança e entrega a Deus.

A grande maioria dos seres humanizados não consegue dar este salto no vazio. No entanto, só não conseguem por que não fizeram o trabalho para ser senhor da sua mente e acabou escravo dela.

Participante: E quando o pensamento é mais forte e parece nos dominar?

É sinal de que você é fraco... Aliás, você mesmo disse isso na sua pergunta ao afirmar que o pensamento é mais forte que você.

O objetivo deste trabalho é exatamente este: aprender o caminho para ser mais forte do que o pensamento. Agora como eu já disse anteriormente, a realização dele é passo a passo. Por enquanto o seu pensamento ainda será mais forte, mas conforme formos avançando serão criadas oportunidades para que você tenha mais condições de ser mais forte do que ele.

Mas, para isso, terá que ter a coragem que acabei de falar: entregar-se ao nada, ou seja, de não se deixar levar – acreditar como real - pelas emoções, pensamentos e pelas percepções contaminadas.

Participante: como conciliar a vida em Deus e o cotidiano do dia a dia (comer, trabalhar)?

Responda-me uma pergunta, por favor: para que um ser humano trabalha? Para que um ser humano come, namora, estuda? Ou seja, qual o objetivo final de todos os atos da vida humana?

Participante: Come para nutrir o corpo...

Para que ele quer nutrir o corpo?

Estou perguntando pela finalidade final de toda uma vida. Por exemplo, porque um ser humano quer ter um filho? O que ele espera durante a vivência na relação com este filho, com a esposa, com a comida... Qual é o objetivo mais intrínseco da vida de um ser humano?

Participante: Trabalha para ter sustento para se nutrir...

Não, todos os atos humanos possuem uma única finalidade, um único objetivo que nem sempre é alcançado: ser feliz.

Todo ser humano come para ter a fome aplacada e com isso estar feliz e em paz...