Das penas e gozos futuros
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Das penas e gozos futuros

Estudo do capítulo homônimo de O Livro dos Espíritos. Perguntas 958 a 982

Das penas e gozos futuros

Pergunta 958

Por que tem o homem, instintivamente, horror ao nada?

Porque o nada não existe.

Essa é uma discussão acadêmica. O nada não existe, pois seria um vazio absoluto. Só que esse nada é alguma coisa. Sendo a ausência, ainda é alguma coisa: é a ausência.

Acontece que esse nada, que é a ausência de alguma coisa, é humano. Essa consciência surge por causa da afirmação do Espírito da Verdade que diz que no Universo o nada não existe.

Mas, porque é tão importante essa consideração sobre o nada? Porque a maioria das religiões, a maioria dos ensinamentos religiosos, dos ensinamentos dos mestres, afirmam que alcançar a Deus é chegar ao nada. Por isso, a discussão acadêmica sobre o nada é importante.

Alcançar a Deus é alcançar o nada. Só que não é um nada que não contenha coisa nenhuma, mas atingir um estágio onde não esteja presente nenhum dos elementos reconhecidos por você durante a sua humanização.

Esse é o nada ao qual se refere os mestres: o estágio onde não existe coisa alguma que possa ser reconhecida pelo conhecimento humano. Isso é chegar a Deus.

Quem chega a Deus eleva-se acima da matéria, atinge o tal do nada. Um nada que ainda é composto por alguma coisa, mas que não possua nenhum elemento que seja reconhecido pelo ser humanizado.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 959

Donde nasce, para o homem, o sentimento instintivo da vida futura?

Já temos dito: antes de encarnar, o Espírito conhecia todas essas coisas e a alma conserva vaga lembrança do que sabe e do que viu no estado espiritual. (393)

A questão do conhecimento instintivo da vida depois da vida já foi muito debatida em nosso estudo. Além disso, é muito debatida nos meios religiosos. Mas, há um aspecto nessa resposta que preciso que vocês se atentem.

O Espirito da Verdade fala o que já falamos: o espírito e a alma são duas identidades diferentes. Espírito é espírito, alma é alma.

O que é alma? O ser humanizado, um espírito guiado por um ego, Por isso existem verdades no espírito que não estão disponíveis, a não ser por vagas lembranças, para a alma, para o ser humanizado.

Isso é muito importante atentar. Por quê? Porque acreditam que você, o espirito, é o que é hoje. Sendo uma pessoa depressiva, acredita que é um espírito depressivo; sendo o humano maldoso, acreditam que o espírito também o é. Isso é ilusão: o espírito tem determinadas verdades e a alma, o ser humanizado, tem outras.

Não se pode julgar um espirito pela aparência, física ou moral, terrestre que tem. O espírito é diferente da personalidade humana a qual está ligado. É isso que precisa ficar bem claro.

Em todos os trabalhos do ego sempre deixei bem claro: é preciso que viver uma dupla personalidade. Aliás, essa dupla personalidade é real. Você é o espírito, mas ao mesmo tempo é o humano, porque imagina ser ele.

O espirito continua vivendo, durante aquilo que você chama de encarnação, a sua essência espiritual. Vive espiritando enquanto o seu personagem, o ser humano que você imagina ser, está vivo, intelectualmente falando.

Participante: se o ser humano não é o espírito, o que é então?

O ser humanizado que você chamou de humano é a fusão de um espírito com uma personalidade transitória. É um elemento ilusório, temporário, criado para a provação do espírito.

Ele não é nem espírito nem gente, porque não existe gente. Ser humanizado é um espírito que está ligado a um ego ou uma personalidade transitória.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 960

Donde se origina a crença, com que deparamos entre todos os povos, na existência de penas e recompensas porvindouras?

É sempre a mesma coisa: pressentimento da realidade, trazido ao homem pelo Espírito nele encarnado. Porque, sabei-o bem, não é debalde que uma voz interior vos fala. O vosso erro consiste em não lhe prestardes bastante atenção. Melhores vos tornaríeis, se nisso pensásseis muito, e muitas vezes.

Vamos falar um pouco mais sobre o assunto pena antes de falar da intuição.

O espiritismo nasce como sucessor do cristianismo católico e evangélico. Nasce justamente para acabar com o fogo eterno, o inferno, o castigo que recebe aquele que, vamos dizer assim, peca durante a vida carnal.

Por isso, se nos apegarmos agora à palavra usada pelo Espírito da Verdade como penalização, continuaremos acreditando na necessidade de um julgamento com o objetivo de penalizar o faltoso, que é a base do cristianismo católico e evangélico. Não foi isso que o Espírito da Verdade ensinou a Kardec. O que foi transmitido é a existência do carma, da lei do carma: Deus dá a cada um de acordo com sua obra.

Essa é a mensagem trazida pelo Espírito da Verdade, mas não só por ele. A lei do carma é conhecimento anterior, muito anterior. Entre os orientais (Buda, Krishna) existia há séculos o conhecimento das múltiplas vivencias carnal regidas pelas ações carmáticas, ou seja, baseadas em passado espiritual.

Por esse motivo, de uma vez por todas abolimos a palavra penalização e a transformamos em geração de carma. Agora podemos ir para a análise dessa resposta.

O homem, o ser humanizado, o espírito ligado a um ego tem instintivamente a noção que essa vida é fundamentada pela lei do carma, ou seja, que as ações desse momento são geradas como uma justa colheita do que foi feito anteriormente, Tal consciência nos leva a compreender que também deve existir institivamente no ego humanizado a convicção que essa vida nada mais é do que uma provação, que os acontecimentos dela são instrumentos da provação do ser universal.

A partir disso, aquele que está sendo julgado, criticado, acusado, por alguém, deve ter a consciência que não é isso que está acontecendo. Ele está vivendo uma provação.

Essa conscientização é fundamental para a vida. A partir dela, no momento que colhe, o ser sabe que não há uma história acontecendo, mas sim uma provação. Com isso, tudo na vida muda de figura.

Sabe a ofensa que recebeu? Ela não aconteceu. Não houve ofensa porque não há acontecimentos. O que ocorreu foi uma provação que foi proposta. Sabe a pessoa que deu amor, carinho? Não deu nada. O que aconteceu foi uma provação.

É isso. Em última análise, essa é a consciência que deve surgir no ser humanizado, já que tem instintivamente a consciência de que está em provação, de que existe a lei do carma em ação. Tendo, a vida muda. Não há mais agressões nem mais demonstrações de amor. O ser humanizado passa a se sentir testado a cada momento.

Testado em que? Naquilo que Cristo ensinou: no amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quem ama a Deus acima de todas as coisas, não fica ofendido, pois o seu amor é superior a qualquer coisa que exista. Ele supera qualquer elemento da vida carnal. Aí está a prova.

Não há uma agressão, mas a geração de uma oportunidade em manter-se firme no amor a Deus. É uma prova para ver se o seu relacionamento com Deus que é superior a qualquer coisa. Sendo, não se sente ofendido.

Testa também o seu amor ao próximo, pois como vimos, a verdadeira caridade consiste em ter a benevolência, a indulgencia e o perdão. Para que o ser ame o próximo precisa ser benevolente, indulgente e perdoar o próximo. Não usando essas posturas, o ser vai se sentir agredido, caluniado, ofendido.

Por isso, no momento que o buscador de Deus é ofendido, diz a si mesmo: ‘vou agir de uma forma benevolente, indulgente e perdoar o próximo. Ele não sabia o que está fazendo. Por isso, para mim não há erro’.

É isso que precisa ser ouvido por vocês. Por isso estamos aproveitando essa pergunta onde o Espírito da Verdade afirma que existe uma consciência intuitiva que a vida é uma provação constante, para dizer como ela deve ser vivenciada.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 961

Qual o sentimento que domina a maioria dos homens no momento da morte: a dúvida, o temor, ou a esperança?

A dúvida, nos cépticos empedernidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.

A dúvida existe no cético, naquele que não acredita na vida depois da vida. Não estamos falando na crença em Deus, mas na existência eterna do espirito. Quem não acredita na existência eterna do espírito, pode até ser um religioso, mas vai ter dúvida na hora do desencarne: ‘para onde vou, o que vai acontecer comigo? Como será o meu futuro depois que me desligar desse corpo’?

Quem acredita na vida pós vida e em Deus, não tem dúvida. Atira-se à morte, quando ela chega, sem dúvidas. Não estou dizendo que procura a morte, mas se atira no momento do desencarne sem dúvidas.

Olha vou dizer uma coisa: mesmo entre os espíritas que acreditam na vida depois da vida, há muitos se atirando na morte com dúvidas. Não tendo certeza do que acontecerá com ele. Tal postura é perigosa para o espírito.

Os pecadores, aqueles que têm consciência de não ter buscado a Deus durante a encarnação encontram a morte com temor. Aliás, Buda já dizia que a maioria dos seres humanizados têm medo da morte porque temem a cobrança do carma, do que praticou espiritualmente durante a encarnação.

Muitas pessoas na hora que são diagnosticados com um câncer, por exemplo, se lembram que não são eternos, que vão morrer um dia. Aí saem correndo para fazer tudo por todos. Isso não tem a menor valia, pois foi motivado pelo medo e não pelo amor.

Há seres que ao levar um tiro ou ter algum mal, no seus últimos momentos pensam: ‘e agora? Não deu tempo de me redimir’. Esses vão sair da vida nessa agonia.

Essas coisas são importante ter em mente para não viverem as mesmas situações. Comecem agora a buscar a redenção.

Para aqueles que acreditaram em Deus, na vida depois da vida e que o que estão vivendo agora é uma provação e não uma vida, não há problemas no desencarne. Para eles não há excepcionalidade alguma nesse momento, porque já vivem como espíritos que são. Por isso, não têm o menor medo da morte.

Das penas e gozos futuros

pergunta 962

Como pode haver cépticos, uma vez que a alma traz ao homem o sentimento das coisas espirituais?

Eles são em número muito menor do que se julga. Muitos se fazem de espíritos fortes, durante a vida, somente por orgulho. No momento da morte, porém, deixam de ser tão fanfarrões.

Os seres humanizados vivem a vida inteira desligados do alteração de vivo para morto. Não estão nem ai para a existência espiritual. Querem apenas gozar a vida Só que no momento que o acerto de contas está para chegar, a maioria se borra.

Não estou falando daqueles que vivem em farras, que vão a casa de má fama, que buscam ganhar coisas materiais. Não é desses que estou falando. Falo que se apegam aos papeis que exercem durante a vida.

O trabalhador de uma empresa que acredita que o seu trabalho físico é a coisa mais importante da sua vida, na hora da morte se borra de medo, pois viu que não fez nada para a sua elevação espiritual. A mãe e o pai que são aprisionados nessa posição, que possuem emocionalmente os seus filhos, na hora da morte se borram, porque percebem que não fizeram nada por ninguém.

É isso que precisamos entender. Espiritualidade não é algo que se vive dentro de templos. Espiritualidade não é uma coisa que se busca no momento da morte. Espiritualidade é algo que precisa ser vivenciado vinte quatro horas por dia. Falo de espiritualidade no sentido de buscar a Deus e não de servir a uma religião.

Não estou dizendo para ninguém deixar de ser empregado de empresa, deixar de ser mãe ou pai. O que falo é no sentido de vivenciar os papéis colocando em primeiro lugar a sua busca espiritual.

No final, é tudo entre você e Deus, como dizia Madre Tereza de Calcutá. Então, não tem nada a ver com o relacionamento com o seu filho. Relacionando-se com ele de uma forma possessiva (‘é meu filho, tenho que educa-lo, tenho que fazê-lo homem, ele tem que me paparicar’) se esqueceu de Deus. Acredita que sua fonte de subsistência é o trabalho material, não acredita em Deus ou em Cristo, quando o mestre diz assim; “por que que você se preocupa com o que vai comer amanhã? É Deus que dá alimento aos bichos.”

É isso que eu estou falando. O que pode garantir uma passagem tranquila para o outro lado, um desencarne sem medos é a consciência de ter vivido a busca espiritual, o relacionamento com Deus vinte quatro horas por dia. Quando essa busca não é realidade, o desencarne será marcado por medos, incredulidades, incertezas. Nesse momento pode ter sido papa, bispo, padre, médium, monge, o que você quiser: não tendo vivido vinte quatro horas atento a relação com Deus, na hora do desencarne vai se borrar todinho.

Participante: mas mesmo sabendo da vida futura, conhecendo a Deus, erra-se na vida. Nesse caso, como fica?

Boa pergunta. Vou responder de uma forma acadêmica.

Qual o único tempo que você tem para viver: presente passado ou futuro? O presente, não? O passado já passou, o futuro nem chegou.

Pergunto mais: qual é o tempo que gasta um presente? Não é uma hora, um dia, um minuto ou um segundo. O presente é uma micro fração de tempo que não consegue se medir.

Sendo assim, digo que a sua vida dura exatamente essa micro fração de tempo. Por isso, quando errar nessa vida, na micro fração de tempo atual, ao invés de lamentar o erro ou se acusar, trabalha para acertar na outra, na próxima micro fração de tempo.

Esse errar, no entanto, não trata-se de praticar atos errados. O erro acontece quando o ser humanizado vive uma micro fração de tempo sem estar ligado, preocupado com o seu relacionamento com Deus. Quando não tem como objetivo primário do momento a espiritualização. Esse é o único erro que o espírito pode cometer. Os atos, são apenas dramatizações de provações, por isso estão sempre perfeitos.

Então, respondendo a sua pergunta, digo: se no agora você não está ligado em Deus, no próximo segundo ligue-se. Aí todo erro acabou. Aliais, Cristo já disse: que o momento de fé apaga a multidão dos pecados. É exatamente o que acabei de dizer.

Participante: no que o senhor acabou de falar que mora o problema. É difícil passar vinte quatro horas vivendo com Deus.

Até concordo que não seja muito fácil. Vou ensinar um método mais fácil do que vocês usam.

Ao invés de tentar hoje o dia inteiro comungar com Deus, tente apenas um minuto. Amanhã, tente dois. Depois de uma semana, tente três minutos. Faça assim e um dia conseguirá. Se quiser desde o primeiro momento avançar tudo, não fará nada.

Vou dizer uma coisa. Para sair daqui onde estamos e ir ai na sua casa, que é pertinho, ou se quisermos sair daqui e ir na casa daquela outra pessoa, que é longe, o primeiro momento é igual: dar o primeiro passo. Depois dele temos que dar o segundo e o terceiro.

 Isso precisa ficar bem claro. Ninguém vai conseguir fazer o que estou falando vinte e quatro horas por dia de hoje para manhã. A caminhada será paulatina. Por isso é preciso se concentrar em dar um passo de cada vez. Primeiro o primeiro e depois os outros.

É por não se atentar a isso que vocês não fazem nada. Como sabem que é difícil se fazer isso vinte e quatro horas não se concentram em dar o primeiro passo.

Transforme as suas vinte quatro horas em minutos e busque viver alguns ligados com Deus ao invés das vinte quatro horas.

Participante: mas, com todas as coisas que temos que fazer é realmente difícil. Outra coisa: ficar vinte quatro horas voltadas para Deus não seria fanatismo?

O que você tem para fazer? Trabalhar, estudar, ver televisão? Tudo isso vai acabar. Acaba ali na esquina. Acaba com a morte. Além do mais tudo não é feito por você: Deus diz faça-se e a coisa se faz.

Nada dessa vida dura, mas viver para Deus é uma atividade do espírito por toda a eternidade. Sabe quanto dura a eternidade? Nem eu, mas sei que é um trabalho duradouro.

Então veja, viver para Deus é a única coisa que o espírito tem para fazer. Quem vive para a matéria não segue o ensinamento de Cristo que diz: não amealhe bens na Terra e sim no céu. Esse é o primeiro detalhe.

Segundo: não falei para parar de fazer as coisas materiais. Falei que ao estar fazendo coisas materiais, busque, tenha como objetivo primário a sua relação com Deus e não com a matéria. São coisas completamente diferentes.

Você pode estar trabalhando e ao mesmo tempo estar ligado a Deus; pode estar trabalhando e preocupado em ter uma ascensão profissional. É disso que estou falando. Continue com a sua vida, mas a cada momento leve em consideração a sua relação com Deus.

 Terceiro detalhe: ser fanático por Deus é uma honra e não um demérito. Saiba que todo espírito na sua consciência espiritual é fanático pelo Senhor do universo.

Sabe o que quer dizer fanatismo? Entrega absoluta a uma ideia ou ser. Sendo assim, digo que eu sou fanático por Deus. Sou fanático pelo Senhor Supremo do Universo porque só Ele é real, só Ele existe.

Participante: mas Deus não aprova o fanatismo.

Será que não aprova? Tenho certeza que o fanatismo como você compreende, Ele realmente não aprova. Mas, levando em consideração o real significado do termo fanatismo, acho que Ele deve aprovar.

Fanatismo não é loucura, é entrega. Será que Deus não aprova entrega a Ele? Se isso é real, Cristo está errado quando ensinou que precisamos amar a Deus acima de todas as coisas. Se o mandamento maior é amar a Deus abaixo acima de todas as coisas, isso quer dizer que ser fanático por Ele é seguir o caminho indicado por Cristo.

Se não fosse para ser fanático, Cristo teria ensinado: ame a vida material acima de todas as coisas e, quando sobrar tempo, dedique-se a Deus.

Participante: todo fanatismo é prejudicial. No oriente médio matam e se suicidam em nome de Deus.

E aqui também.

Quando você critica o governo porque não dá comida, está matando uma pessoa. Digo isso porque a crítica causa a morte, uma morte moral.

Não adianta justificarmos apontando o erro dos outros. Se aqui fosse um país onde só houvesse o amor universal, o ensinado por Cristo, aquele que é acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, que não aceita críticas a quem quer que seja, poderíamos até falar os outros. No entanto, a trave que existe no nosso olho, que é não ver a nossa ação, mas apenas o que o outro faz, é algo que o mestre não aconselhou quando ensinou: atire a primeira pedra aquele que não tem pecado.

Participante: falo de mortes concretas.

Morte é morte ...

Conheço um ser que está aqui do outro lado, desencarnou, de desgosto. A mulher dele costuma repreendê-lo da seguinte forma: ‘cala boca eu tenho dinheiro e mando nessa casa’. Ele de tanta amargura acabou desencarnado. Qual a diferença entre falar assim e dar um tiro? Nenhuma!

Além do mais, não sei porque você está tão preocupado com o matar em nome de Deus. Qual a importância da morte para o espiritualista? Para o humano é algo muito profundo, mas para o ser universal é libertação. O espírito quando encarnado está doido pra se libertar da carne. Seja de que modo for, para ele o dia da morte é de glória: ‘me livrei dessa massa densa’.

O problema são os valores. Quando um ser acha a vida humana muito boa, se sente realizado por estar vivo, quer preserva-la. Por isso, frente à perspectiva da morte se borra de medo.

Porque desse medo? Como vimos no início desse comentário, a consciência do espírito está preocupada com o julgamento do final da sua etapa de provações.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 963

Com cada homem, pessoalmente, Deus se ocupa? Não é ele muito grande e nós muito pequeninos para que cada indivíduo em particular tenha, a seus olhos, alguma importância?

Deus se ocupa com todos os seres que criou, por mais pequeninos que sejam. Nada, para a sua bondade, é destituído de valor.

Que grande lição ... Deus se ocupa com todos os homens, com todos os espíritos encarnados. Nenhum deles é tão pequeno que não mereça a atenção do Pai.

Ora, se Deus é Onisciente, Onipresente, Onipotente e se ocupa com todos os seres, porque não salvou o pobre coitado que foi morto por uma pessoa. Será que Ele não pode salvar porque um ser humano decidiu que ia matar? Será que o Senhor que cuida de cada um individualmente tem que se sujeitar ao que um humano quer que aconteça?

Essas são perguntas que precisamos começar a nos fazer para nos libertamos da visão que temos de Deus: um ser morto. O deus dos seres humanos é morto! É inativo! Apesar de ser descrito como Onisciente, Onipresente e Onipotente, para a humanidade nada pode fazer frente a soberana vontade de um espírito, encarnado ou não. Não tem poder porque o desejo do ser é mais forte do que a Justiça Perfeita e o Amor Sublime. É isso que vocês acreditam, apesar de negarem. Esse é o detalhe que os encarnados não percebem.

Não estou dizendo que Deus faça o que Ele quer, mas tudo que faz é para defender o filho Dele. Seguindo a linha da última pergunta (matar por fanatismo a Deus é errado) temos que entender que não há erro algum. Achar que alguém pode ser morto por outro através de um ato injusto é acabar com a presença de Deus, é matar em si o Senhor Supremo do Universo.

Digo isso, porque a crença de que um erro ou uma injustiça aconteceu tira Dele todas as prerrogativas que possui, inclusive a Causa Primária de Todas as Coisas, que está na primeira pergunta do Livro dos Espíritos. Dizer que uma pessoa morreu por um acaso, morreu porque pegou um voo anterior ao seu para chegar mais cedo, é destituir Deus do seu Trono. É colocá-Lo submisso a um acaso.

Para quem ainda não se conscientizou disso, afirmo: a vida humana é uma encarnação. É um dom que Deus dá ao seu filho para que ele possa evoluir. Apesar disso, vocês ainda acham que esse ato amoroso de um Pai é refém de uma má manutenção de avião ou da vontade individualista, egoísta, de alguém.

Para vocês, Deus, a Inteligência Suprema do Universo, acaba sendo refém de um espírito que está no jardim da infância do desenvolvimento espiritual. Ora, convenhamos, nem pela lógica humana que fala da liberdade de agir isso tem sentido.

É isso que estou querendo falar e que o Espírito da Verdade disse: não há espírito, por menor que seja, que não receba a atenção plena de Deus. Todos são tratados como um filho único. Todos recebem na plenitude o Amor Sublime e a Justiça Perfeita que já falamos nesse estudo.

Tendo essa consciência, um ensinamento de Salomão ganha força: se Deus é por nós, quem pode nos fazer mal? Ninguém. Por isso, nunca critique ou acuse o outro de lhe fazer mal.

Das penas e gozos futuros

pergunta 964

Mas, será necessário que Deus atente em cada um dos nossos atos, para nos recompensar ou punir? Esses atos não são, na sua maioria, insignificantes para ele?

Deus tem suas leis a regerem todas as vossas ações. Se as violais, vossa é a culpa. Indubitavelmente, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele um julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: Foste guloso, vou punir-te. Ele traçou um limite; as enfermidades e muitas vezes a morte são a consequência dos excessos. Eis aí a punição; é o resultado da infração da lei. Assim em tudo.

Ações, atos. Deus tem as leis que regem todas as ações do ser humanizado. Isso é um aspecto fundamental da vida.

A sua ação é regulada por uma lei de Deus. Qual é a lei de Deus como resumida por Cristo? A lei do amor: a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. É esse amar que gera o carma, a oportunidade de elevação.

Portanto, todos os seus atos são regidos pela lei do Amor Sublime. É ela que dá a cada um segundo as suas obras. É por esse mecanismo que a vida humana acontece. Ponto final.

A partir dessa consciência, temos que compreender uma coisa: Deus não julga ninguém. Quando o ser ama, ou seja, a cada momento da existência, de acordo com o objeto desse amor (a Deus e ao próximo ou a matéria e a si mesmo) a lei do carma estabelece um próximo momento.

Deus jamais julga um ser. Porquê?

Participante: creio que seja porque cada um é instrumento de Deus para o carma do outro. Isso é feito através dos atos físicos não espirituais.

Certo. Deus não julga os seus atos físicos. No entanto, estou falando de não julgar em termos espirituais, ou seja, a sua participação como espírito no carma.

Vamos dizer assim: você pela lei do carma viverá um ato. Durante ele terá uma reação sentimental, reagirá com determinado tipo de amor. Afirmo que Deus não julga essa reação sentimental. Porquê?

Participante: não sei a resposta realmente.

Vamos voltar um pouquinho atrás. Há uma resposta do Espírito da Verdade aqui em O Livro dos Espíritos à seguinte pergunta: se Deus é Onisciente, o que o espírito tem que provar para Ele? Resposta: nada. A vida não é uma prova para Deus, mas para si mesmo.

Portanto, as situações pelas quais o ser encarnado passa são oportunidades para provar a si que aprendeu alguma coisa antes da encarnação, não para provar qualquer coisa a Deus. Ele sabe de antemão o que irá acontecer (Onisciência). É por isso que não precisa julgar ninguém.

O espírito estuda antes da encarnação, monta a prova que quer fazer sobre o que estudou. Aí vem para carne provar a si mesmo que aprendeu ou não. Ora, a provação é a si, por que Deus precisa julgar o ser?

Assim que o espírito sair dessa encarnação julgará a si mesmo, ou seja, de acordo com sua consciência espiritual, verá o trabalho que realizou comparando-o ao que estudou e compreenderá o quanto colocou em prática ou não.

É isso que o Espírito da Verdade diz quando fala que Deus tem a sua lei para reger o universo.

Participante: onde fica a lei do carma nisso ai?

A lei do carma vai surgir novamente quando o espírito for montar uma nova personalidade para outra encarnação. Naquele momento escolherá novas provas. Essas virarão atos e esses serão ações carmáticas.

O que estou falando não é novo. Cristo ensina assim: Deus não julga ninguém, nem eu; é o próprio ser se julga no tribunal de sua consciência.

Em que base se julga? No conhecimento da lei divina que é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ou seja, se julga quando a sua capacidade de ter se mantido permanentemente em um estado amoroso, independente do que estava acontecendo.

Para vocês o que estou falando pode ser uma grande novidade, mas não é novo. Deus não julga o espírito; ele se julga. Deus é a Justiça e a Justiça não julga: cria regras para que os outros se julguem.

Julgar é analisar. Deus não analisa nada. Ele tem consciência de tudo. É completamente diferente.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 965

Têm alguma coisa de material as penas e gozos da alma depois da morte?

Não podem ser materiais, di-lo o bom-senso, pois que a alma não é matéria.

Só lembrando que já acabamos com a ideia de pena como penalidade, castigo. Definimos como algo fruto daquilo que foi plantado, ou seja, a lei do carma.

Precisamos fazer uma análise profunda dessa resposta para podermos caminhar no sentido de aproveitarmos a encarnação. Vamos lá.

Primeiro: as penalidades não têm nada de material. É isso que está escrito ai?

Participante: sim, pois a alma não é matéria.

Como, então, os espíritas acreditam na existência de um vale dos suicidas? Se não há aplicação de penas materiais, porque existir um lugar tenebroso cheio de cavernas, onde a maldade acontece, para punir quem age dessa ou daquela maneira? Se acredita em O Livro dos Espíritos, como pode crer que exista o umbral, um lugar onde o faltoso é um escravo forçado que leva chicotada no corpo?

A pena não está no lugar umbral nem nos atos que lá acontecem. Ela existe no que é vivenciado quando se imagina estar lá e acontecendo isso ou aquilo.

O carma não está no ato quando se está encarnado ou não, mas no que é vivenciado durante o ato.

Participante: é a sensação do espírito humanizado?

O que é sensação do espírito humanizado?

O local? Não, ele não é a sensação. É a imagem criada pelo ego humano que ainda existe nos que desencarnaram e ainda retornaram à sua consciência espiritual? Não. As sensações são aquilo que se sente quando imagina-se vivendo algum acontecimento.

Vou dar um exemplo: levar um tapa na cara. Isso não é um carma. Sentir-se ofendido, magoado, agredido depois que se levou o tapa é o carma. Alguém roubar o seu dinheiro não é um carma, mas sentir-se roubado, traído, mal é o seu carma.

O carma não é o que está acontecendo, mas a forma como cada um se sente com relação ao que está ocorrendo. É isso que o Espírito da Verdade está dizendo. O carma não está no que acontece, mas na forma como o ser (sensações) vivencia o que acontece.

Com relação ao umbral, diria que o vale dos suicidas, o castelo do umbral, o chicote, a algema, são formas criadas pelo ego do ser que ainda está humanizado. São imagens. É bem diferente de ser verdade, realidade.

Participante: então, o ambiente existe na mente do espírito humanizado, mas e os sofrimentos?

Vamos chegar lá.

O sofrimento é um carma. Quem não vai pelo amor, vai pela dor. Apesar disso, precisamos ver essa questão um pouco mais de perto.

Sofrer não é o carma. O sofrimento trata-se de uma proposição de provação necessária, mas o sofrer é opcional. Vou explicar melhor.

O ego cria a sensação de sofrimento como instrumento da provação. Cria a sensação de sentir-se traído, de sentir-se acusado, de sentir-se agredido. É o ego que cria isso. Quando faz essa criação está obedecendo à lei do carma, pois dá a cada um sua provação específica necessária. Ele está gerando a oportunidade do ser provar a si mesmo que aprendeu o amor universal antes da encarnação.

Portanto, a sensação de sofrimento é irreal, mas o sofrer quando essa sensação é criada pelo ego é algo espiritual, real. Lembram-se do que falei lá no início dessa conversa? a necessidade de assumir a dupla personalidade: eu sou dois.

No momento que o ego gera um sofrimento, um, o humano, material, pode estar sofrendo, mas o outro, o espiritual, deve optar por vibrar (sentir-se), diferente. Portanto, a personalidade humana dá uma sensação de sofrimento, mas aquele que sabe que existia antes de existir, que é um espírito, não aceita sofrer.

Essa é a Realidade. Ela vale para o umbral como para a vida carnal. Vale para qualquer lugar (lugar entre aspas) onde o ser vivencie realidades criadas pelo ego.

Participante: fiz um trabalho de tradução e não recebi nada. Isso é carma então? O ego quer que eu cobre, mas não atendi.

O carma não é a situação, mas você sentir-se lesada. Agora, via cobrar ou não, já é outro carma. Não é você que decidir o que fazer. O seu ego irá criar a ação e gerará uma sensação compatível com ela. Nesse momento poderá agir: viver ou não o que é proposto emocionalmente.

Participante: mas Joaquim como é que é? Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Sim! Se for foi, se não for não foi. Não é lamentar não ter ido ou vangloriar-se de ter.

É isso que estou dizendo. O momento que foi contratada é um carma. Ele será vivenciado com uma emoção gerada pela mente humana a qual não deve se apegar. O momento que você fez o serviço é outro. Foi uma provação diferente. O momento da entrega foi outro diferente. Aquele que não recebeu, foi outra prova. Agora quando está se lembrando disso, está vivendo nova provação. Em nenhum deles houve uma ação física sua. Apenas houve a oportunidade de viver as emoções geradas pela mente ou não.

Aproveitou esses momentos para aproximar-se de Deus? Acho que não, porque estava preocupada com o que ia fazer fisicamente.

Apesar de estar respondendo, acho que estou chovendo no molhado. Você já participou de um trabalho espiritual onde todo cenário do mundo espiritual chamado umbral foi decomposto na sua frente e os espíritos que ali estavam, sem saírem do lugar viram o paraíso. Por ter vivenciado isso deveria entender que o umbral, assim como toda ação material, é simplesmente uma projeção mental que vale como carma.

Participante: mas preciso de dinheiro.

Porque se preocupa com o que vai vestir? Deus, que vestiu as flores com roupas mais bonitas que Salomão jamais um dia teve, lhe vestirá também. Porque está preocupada com o que vai comer? Deus que alimenta os animais não vai se esquecer de você. Palavras de Cristo, um mestre que você diz seguir.

Não estou dizendo que não possa ter o dinheiro. Estou falando que não deve se preocupar com ele. É bem diferente.

Voltando ao nosso estudo, vamos continuar vendo a resposta do Espírito da Verdade a essa pergunta.

Nada têm de carnal essas penas e esses gozos; entretanto, são mil vezes mais vivos do que os que experimentais na Terra, porque o Espírito, uma vez liberto, é mais impressionável. Então, já a matéria não lhe embota as sensações. (237 a 257)

O que quer dizer o Espírito da Verdade quando afirma que as provas, apesar de não serem materiais, são mil vezes mais vivas do que as que foram experimentadas na Terra?

Participante: mais reais?

Sentidas com mais realidade. Sentidas mais profundamente.

Portanto, se na vida carnal alguém se sente humilhado ...

Participante: às vezes me sinto.

... no umbral se sentirá mil vezes mais humilhado. A sensação de humilhação será muito mais forte no umbral do que quando na vida carnal.

Você gosta de sentir-se agredido? Por aceitar essa sensação durante a encarnação, poderá ir para o umbral, já que não está amando universalmente. Aí a sensação de sentir-se agredido será mil vezes mais forte.

Vou contar uma historinha que está em um livro de Chico Xavier.

Um homem morreu atropelado por um trem. Sofreu muito com o seu desencarne. Foi para o umbral e durante cinquenta anos, pela contagem de tempo de vocês, a cada segundo caia na linha e era atropelado pelo trem. No próximo segundo estava de pé para novamente cair e ser atropelado pelo trem. Cada vez ele sentia a mesma sensação de horror, medo da morte, pavor e dor da primeira vez. Cinquenta anos seguidos, segundo por segundo.

É esse o destino de quem gosta de se sentir traído, magoado, etc. É o destino de quem gosta de sentir aquilo que o ego propõe. Ele vai para o umbral, para um lugar, não físico, mas uma projeção mental, desenhado nos mínimos detalhes para dar sensações mil vezes mais vivas do que se aquilo acontecesse durante a vida carnal.

Isso é algo para se pensar muito seriamente. Não estou querendo fazer guerra, nem assustar ninguém. No entanto, essa é uma hipótese que todos os encarnados devem se atentar, pois é real, já que foi ensinada pelo Espírito da Verdade.

Você gosta de sentir-se coitadinho? Saiba que pode vivenciar essa sensação mil vezes mais forte. Isso acontecerá não por maldade, como uma pena, mas através da lei do carma.

Vou aproveitar e dizer uma coisa muito séria. O carma quando vivenciado liberto do corpo, mas ainda dentro da encarnação, ou seja, ainda preso a uma consciência transitória de um ego sem carne, é mil vezes mais forte do que durante a encarnação. Por isso, se acha que a sua vida está uma droga, fique feliz, porque fora da carne será mil vezes droga.

É isso que precisamos entender. A vida é uma santa oportunidade de elevação. Aquele que não a aproveita nesse sentido terá que fazer uma caminhada árdua para retornar a sua consciência espiritual.

Importante: não dá para fugir disso. Porquê? Porque esse caminho é necessário para começar tudo de novo. Para novamente estudar, formar um ego, ser submetido a sensações e não se deixar ser conduzido por elas.

É, acho que pelo menos para evitar tudo isso, devemos tentar acabar com a subordinação ao ego, as sensações que ele cria.

Participante: por que isso acontecia com o homem do trem?

Carma.

Carma, a lei de Deus, deu a esse ser a vivencia dessa sensação. Fez isso para que depurasse alguma coisa que aconteceu durante a vida carnal. Precisa dessa depuração para voltar ao mesmo estágio na consciência espiritual que estava antes da encarnação.

Quando isso aconteceu, o ser foi socorrido. Aí começou a preparar uma nova encarnação onde vai vivenciar tudo de novo.

Participante: o trabalho é simples; é só cavalgar o tigre, matar o dragão, destruir a serpente do paraíso ... Fácil, né?

Bela comparação!

Já ouviu falar da história bíblica de Daniel na cova dos leões? Já ouviu falar na história bíblica da vitória de Davi sobre Golias? Pois é, elas podem servir de comparação para o que estamos falando.

Você, quando encarnado, está na cova dos leões. Como o profeta Daniel precisa usar sua fé para acalmar as feras. Além disso, como Davi, precisa usar toda a sua força interior para destruir os gigantes que lhe amedronta.

Sim, muito bonita a sua imagem, mas lembre-se: a fé do tamanho de um grão de mostarda remove todas as montanhas. Se quiser uma pedra para destruir o gigante ela é a fé. Se usadas contra os monstros, eles somem da sua frente.

Não estou brigando. Simplesmente adorei sua comparação. Estou simplesmente mostrando o caminho a partir das figuras que fez.

Participante: estamos trabalhando nisso, mas sempre aparece mais um bichão.

Ótimo! O que acabei de dizer serve para você matar um bichão a cada segundo. Quando não conseguir, esqueça e se ocupe com o próximo segundo, com o próximo bichão. Ficar lamentando-se não leva a lugar nenhum. Quando não conseguir, louvado seja Deus e vai em frente.

O assunto que acabamos de falar foi muito profundo. Toca fundo no coração. Por isso dou um conselho: nem que seja por interesse, ou seja, nem que seja para que conseguir uma melhor posição depois da morte e sofrer menos, enfrente seus leões e monstros.

Claro que um dia isso terá que ser mudado. Essa intenção de ganhar posteriormente precisará ser abandonada. No entanto, agora, nem que seja pra levar alguma vantagem, é mais interessante se ocupar com isso do que preocupar-se em ganhar humanamente falando.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 966

Por que das penas e gozos da vida futura faz o homem, às vezes, tão grosseira e absurda ideia?

Inteligência que ainda se não desenvolveu bastante. Compreende a criança as coisas como o adulto? Isso, ao demais, depende também do que se lhe ensinou: aí é que há necessidade de uma reforma.

Muitíssimo incompleta é a vossa linguagem, para exprimir o que está fora de vós. Teve-se então que recorrer a comparações e tomastes como realidade as imagens e figuras que serviram para essas comparações. À medida, porém, que o homem se instrui, melhor vai compreendendo o que a sua linguagem não pode exprimir.

É o que acabamos de falar.

A descrição do umbral como um castelo onde um senhor mantém os prisioneiros é uma figura que a sua linguagem usa, porque não pode exprimir de outra forma. O umbral que é montado pelas penas, pelas as gangues que atacam, pelo viver escondido nas cavernas, sei lá mais o quê, são imagens que a sua consciência humana gera porque não pode exprimir com palavras a Realidade.

Da mesma forma, o paraíso, que é visto como um jardim, as cidades espirituais, as tendas mulçumanas, o céu dos hindus e budistas, também são imagens. Não são lugares. São imagens que representam sensações, ou seja, estados emocionais de espíritos.

Por isso Cristo ensina no Evangelho de Tomé; “O reino do céu não está acima nem abaixo de você, ele está dentro e fora de você”. O reino do céu, assim como o umbral, é uma série de imagens que representam estados emocionais de espírito.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 967

Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?

Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem. Contudo, a felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um. Somente os puros Espíritos gozam, é exato, da felicidade suprema, mas nem todos os outros são infelizes. Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de graus em que os gozos são relativos ao estado moral. Os que já estão bastante adiantados compreendem a ventura dos que os precederam e aspiram a alcançá-la. Mas, esta aspiração lhes constitui uma causa de emulação, não de ciúme. Sabem que deles depende o consegui-la e para a conseguirem trabalham, porém com a calma da consciência tranquila e ditosos se consideram por não terem que sofrer o que sofrem os maus.

Quem alcança o reino do céu é quem vive a felicidade incondicional, ou seja, é quem se liberta do gozo da paixão humana e do sofrimento causado pelas paixões humanas. Esse vive no reino do céu.

Que tem se libertou dessas paixões durante a encarnação não vai ter medo de morrer. Volto a esse tema porque foi o do início da nossa conversa hoje.

Ele não vai ter medo de morrer porque está com a consciência tranquila. Já aquele que não alcançou, vai ter medo. Vai temer o seu destino depois da morte porque sabe, inconscientemente, que ele será ditado pela forma sentimental que vivenciou durante a encarnação.

É por isso temos sempre insistido num ponto: não se preocupe com o que faz ou com o que acontece durante a sua vida; ocupe-se em estar em Deus, com Deus e para Deus. Ocupe-se em vivenciar a sua relação amorosa com Deus.

Repare como estamos voltando ao início de tudo que conversamos hoje. Na hora que você estabelecer uma relação profunda, mútua, de amor com Deus, não há mais medo da morte. Não importa o que faça, como viva.

Mesmo que esteja caminhando pelo vale das sombras, o Senhor o guiará a verdes campos: esse é um salmo muito interessante. Na hora que estabeleço a minha relação com Deus, uma relação interna profícua, nada mais me ameaça, nem a morte.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 968

Citais, entre as condições da felicidade dos bons Espíritos, a ausência das necessidades materiais. Mas, a satisfação dessas necessidades não representa para o homem uma fonte de gozos?

Sim, gozo do animal. Quando não podes satisfazer a essas necessidades, passas por uma tortura.

Essa pergunta é fundamental.

O que estamos pregando há sete anos é exatamente isso: você precisa ser feliz independe da vida que tem. Esperar apenas pela felicidade material, ou seja, esperar apenas que o mundo gere satisfação não é uma atitude espiritual, mas sim humana. Estamos pregando isso há sete anos, porque é o que ninguém tem a coragem de dizer.

As doutrinas, religiões ou seitas, apesar de todos os mestres terem ensinado o que o Espírito da verdade está falando aí (o bem material não pode representar a sua felicidade, ser o causador de felicidade) não assumem isso. Ainda por cima prometem o céu na Terra.

Ora, Cristo foi categórico: eu sou o caminho, porque venci o mundo. Por isso, se quer ter o mesmo destino espiritual dele, você precisa vencer a vida. Não estamos falando em vencer na vida, mas em vencer a vida no sentido de ousar ser feliz onde ninguém consegue ser: no momento da contrariedade. Essa é uma prova de maturidade espiritual imensa.

Cristo também ensinou: se você só é feliz quando a vida lhe satisfaz, que vantagem leva? Até os pagãos são. Se pretende espiritualizar-se, aproximar-se de Deus, tem que ir além de onde os pagãos chegam. Se não forem, prova de fé, de amor, de entrega e confiança no Pai e na vida futura demonstrou?

Em virtude da importância do que ensinou o Espírito da Verdade aqui para a elevação espiritual é que estamos batendo há sete anos nessa tecla: elevação espiritual não pode ser conseguida através de realizações humanas. Só pode ser alcançada com realizações espirituais. A maior dessas realizações é vencer o mundo. É libertar-se da prisão as sensações que o ego cria.

Já disseram muitas vezes que eu falo a mesma coisa em todo estudo. Isso é verdade. Faço isso porque não há muito a ser falado. Aliás, tudo que falei até hoje foi cultura, cultura inútil. São palavras que perderão importância quando você se libertar do ego.

Tudo que disse não é verdade. O que falei é uma interpretação para que você tenha uma ligeira compreensão e não a Realidade. Não posso falar da Verdade, porque não há palavras para descrever as coisas espirituais. Elas estão além das palavras humanas.

Se tivesse uma única oportunidade, um único minuto, para passar toda uma doutrina que ajudasse o ser humanizado a encontrar-se espiritualmente, diria apenas: seja feliz! Não importa o que a sua vida está vivendo, seja feliz.

Essa é a grande lição, é o grande ensinamento do qual ninguém pode escapar. Por mais que você rode entre doutrinas, por mais que discuta informações espirituais, viagens astral ou qualquer outra coisa nesse sentido, se quiser realmente fazer a sua reforma intima, terá que tentar ser feliz, independente das coisas do mundo.

Isso, infelizmente não faz parte da doutrina espírita, apesar de fazer parte de O Livro dos Espíritos, e nem das demais doutrinas religiosas.

Participante: há um texto de Francisco de Assis que me leva para longe. É a perfeita alegria.

Tenho medo da palavra alegria.

Sei o que você está falando, mas tenho medo do uso da palavra alegria. Para o ser humanizado esse termo se relaciona ao sorriso, as brincadeiras, as festas e não é disso que estamos falando.

Estamos falando de uma felicidade que na verdade é uma apatia. De uma felicidade que é apática as coisas do mundo.

Participante: usei a palavra alegria, mas queria dizer a verdadeira felicidade.

 Entendi o que quis dizer, mas tenho medo da palavra alegria. Sei que também já a usei quando estudamos Buda, mas foi necessário apenas durante um tempo.

Não podemos nos prender a ideia de alegria porque senão os seres humanizados quando forem a uma festa dirão que estão alegre e que por isso conseguiram realizar o trabalho espiritual. Só que essa alegria não é felicidade, mas um prazer animal, como diz o Espírito da Verdade.

Estou falando de uma alegria que é alcançada com uma felicidade interna. Essa felicidade nada tem a ver com alegria, mas trata-se de uma apatia com relação as coisas do mundo. Ela existe quando o ser vive em paz consigo e com os outros, quando está harmonizado com as coisas que acontecem.

Quando o assassinato, o estrupo, a morte não mais ofender, você estará dentro de um estado onde nada mais eliminará a sua felicidade. Eu diria: estará acima do bem e do mal.

Participante: se Deus nos dá os pensamentos, porque cultivamos tanto as ilusões desses?

Deus dá o pensamento; cultivar a ilusão ou não é com você. O pensamento é a prova; o cultivar as ilusões é uma forma de responder essa questão.

Você veio aqui para vencer os pensamentos. Se não tivesse o instinto de guiar-se por eles, não haveria prova, não haveria vitória. A vitória ocorre justamente quando consegue sobrepujar tudo, inclusive o instinto de seguir os pensamentos.

Participante: concordo com ela quando diz que, ficamos viajando na maionese alimentando pensamentos com sentimentos.

Com sensações.

Deixe-me dizer uma coisa. Há uma palavra de Krishna que gosto muito. Acho até melhor que ilusão: maya. Maya significa miragem. É algo que você vê, mas que não existe de verdade.

A ilusão criada pelo ego é uma miragem. É algo que para você parece ser real, mas não existe. O deserto está cheio de ossos de pessoas que levaram a miragem a sério para matar a sede.

Das penas e gozos futuros

Prgunta 969

Que se deve entender quando é dito que os Espíritos puros se acham reunidos no seio de Deus e ocupados em lhe entoar louvores?

Isso é uma explicação espírita para uma crença católica. A questão dos espíritos entoarem louvores a Deus é uma visão católica. Por isso digo que vamos receber agora um ensinamento espírita decodificando essa questão.

Volto a repetir o que tenho dito sempre: não se trata de negar nada, mas sim de compreender de outra forma. A religião católica não está errada, mas quando se lança a luz dos Espíritos as coisas tomam outra realidade.

É uma alegoria indicativa da inteligência que eles têm das perfeições de Deus, porque o veem e compreendem, mas que, como muitas outras, não se deve tomar ao pé da letra. Tudo em a Natureza, desde o grão de areia, canta, isto é, proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus. Não creias, todavia, que os Espíritos bem-aventurados estejam em contemplação por toda a eternidade. Seria uma bem-aventurança estúpida e monótona. Fora, além disso, a felicidade do egoísta, porquanto a existência deles seria uma inutilidade sem-termo. Estão isentos das tribulações da vida corpórea: já é um gozo. Depois, como dissemos, conhecem e sabem todas as coisas; dão útil emprego à inteligência que adquiriram, auxiliando os progressos dos outros Espíritos. Essa a sua ocupação, que ao mesmo tempo é um gozo.

Acho que a questão de ser alegoria ficou claro. Vamos apenas entender a alegoria em si.

Primeiro ela fala que os Espíritos superiores estão em Deus. Estão reunidos no seio de Deus, estão em Deus. O que se pode entender disso?

É a figura que temos repetido há muito tempo. O Universo é como um quebra cabeça. Cada elemento é uma peça desse quebra cabeça. Cada elemento possui uma parte da figura final, mas essa só existe quando todas as peças se encaixam perfeitamente.

Os espíritos puros são peças conscientemente, perfeitamente encaixadas no quebra cabeças do Universo. Se encaixam ao próximo e ao todo porque sabem que só o trabalho de todos juntos pode construir alguma coisa. Já o espírito menos evoluído, aquele que, por exemplo, está no mundo de provas e expiação, está perfeitamente encaixado, pois o Universo é equilibrado, mas acha que a sua figura é mais importante. Por isso acha que merece maior crédito do que dos outros, acha que deve ser atendido na frente dos outros.

Isso é estar no seio de Deus. Os espíritos puros estão conscientemente ligados ao Todo. Os menos evoluídos também estão, mas se imaginam independentes desse Todo.

Quanto a cantar louvores, afirmo que todos no Universo louvam a Deus. Mas, o que seria louvar a Deus? É ter internamente uma emoção de acordo com o que está na Bíblia: Santo, Santo é o Seu nome.

Os espíritos elevados santificam a Deus. Quem é Deus? Essa é a pergunta que temos que fazer agora. Não adianta falar em santificar a Deus sendo Ele uma alegoria, uma ilusão.

Deus é Tudo e Tudo é Deus. Deus é um Espirito? Sim é um ser, mas também é tudo o mais que existe. Como é a Causa Primária de Todas as Coisas, tudo que existe é emanação Dele. Por isso, um grão de areia, você, seu ego, é Deus. Não o Deus, o espírito, mas uma emanação de Deus.

Então, o Todo Universal, ou seja, tudo o que existe é Deus. É a esse Tudo que todos os espíritos cantam odes. Não ao ser Deus, porque se o Senhor fosse idolatrado, se encerraria a igualdade do Universo. Os espíritos cantam odes ao Universo, louvam o Universal, a ação de Deus, Tudo que existe.

Tenha a certeza de que Todas as Coisas que acontecem são santas, santificadas, e são louvadas pelos espíritos mais elevados. TUDO, desde aquilo que você considera bárbaro, até aquilo que considera sublime. Todas as coisas são santas. Por isso, os espíritos elevados, como estão perfeitamente encaixados com o Todo e conhece a realidade, santificam Todas as Coisas.

É isso que se deve entender dessa alegoria. Entender que os espíritos puros reconhecem o Universo como emanação de Deus e se fundem a Ele, a Tudo que existe, para auxiliar o Senhor na Sua obra. Ou seja, servem como instrumentos da Causa Primária.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 970

Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?

São tão variados como as causas que os determinam e proporcionados ao grau de inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim: Invejarem o que lhes falta para ser felizes e não obterem; verem a felicidade e não na poderem alcançar; pesar, ciúme, raiva, desespero, motivados pelo que os impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.

Raízes do sofrimento: lembram-se disso?

Já falamos: todo o seu sofrimento existe fundamentado em três raízes. São elas que alimentam o sofrimento, que o nutre. Vamos vê-las.

Primeira: a contrariedade. Sempre que o ser humanizado aceita o ego gerar a ideia de foi contrariado, vai sofrer. Vai sofrer porque aceitou a contrariedade. Segunda raiz do sofrimento: sempre que o ego sugerir o sofrimento de outra pessoa, o ser que se apegar a essa ideia vai sofrer. Porquê? Porque é humano: ‘ah! coitadinha daquela pessoa, está passando por uma situação tão ruim...’ Aceitando isso do ego, vai sofrer. Terceira: o desejo. Querer alguma coisa, desejar algo faz o ser humanizado sofrer, pois a vida não está aqui para contentar as vontades dele. A vida está aqui justamente pelo contrário: para não contentá-lo. Só assim pode o ser demonstrar a si mesmo que aprendeu que não pode depender da vida para ser feliz.

Agora vamos ler de novo os sofrimentos listados pelo Espírito da Verdade.

Podem resumir-se assim: Invejarem o que lhes falta para ser felizes e não obterem;

O que é a inveja? Querer ter alguma coisa que não tem. Contrariedade: ‘porque ele tem e eu não? Por que não fui eu que ganhei’?

Continue.

... verem a felicidade e não na poderem alcançar;

Contrariedade: não ter o que é desejado para assim ser feliz. Desejar alguma coisa para ser feliz: ‘se tivesse essa coisa, seria feliz’.

 ... pesar, ciúme, raiva, desespero, motivados pelo que os impede de ser ditosos;

Ou seja, o desejo, a vontade de ser diferente do que é.

... remorsos, ansiedade moral indefinível.

Contrariedade: ‘queria ter feito de forma diferente e não fiz. Meu Deus, eu não presto’!

Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.

Desejos!

Eis, aí a presença das três raízes do sofrimento que já conversamos. Se se eliminar a contrariedade, a falsa compaixão e os desejos da sua vida, não há motivos para sofrer.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 971

É sempre boa a influência que os Espíritos exercem uns sobre os outros?

Sempre boa, está claro, da parte dos bons Espíritos. Os Espíritos perversos, esses procuram desviar da senda do bem e do arrependimento os que lhes parecem suscetíveis de se deixarem levar e que são, muitas vezes, os que eles mesmos arrastaram ao mal durante a vida terrena.

Os espíritos puros compreendem o Universo. Por isso tentam lhe auxiliar a manter o padrão vibratório de felicidade incondicional. Já o espírito que não compreende, tenta lhe forçar a também a não conseguir.

Isso vocês sabem, mas há uma novidade que não sabem: eles tentam, mas não conseguem necessariamente. Nenhum espírito pode influenciar sua vida, nem bom nem mal, nem universalizado ou individualizado. Não podem decidir nada na sua vida, porque isso é o livre arbítrio que Deus lhe deu.

Ninguém pode decidir se você vai sofrer ou não; só você. Ninguém pode fazê-lo sentir-se em paz. Só você pode decidir com que estado de espírito vai passar por uma situação.

Então, por favor, não digam que não conseguiram realizar o trabalho da vida porque tinham muitos obsessores. Isso é desculpa, é ilusão! Não conseguiram realizar porque não foram forte o suficiente para vencer a provação da obsessão.

Um detalhe: obsessão não é coisa só de espíritos desencarnados, mas também de encarnados. Não pense que se decidir manter-se equânime, um estado de espirito onde não segue as emoções ditadas pelo ego, que o resto da humanidade vai achar isso lindo. Não pense que o resto da humanidade irá cair aos seus pés em adoração. Ilusão! Você será criticado. Isso é uma obsessão.

‘Esse é um louco! Esse ai não tá nem ai pra vida. Esse aí não bate bem da bola’. É isso que a humanidade vai achar, pois é composta por espíritos que não estão evoluídos. Por isso querem arrastar vocês com eles.

Esse é um detalhe que temos comentando há algum tempo. Quem espera reconhecimento do mundo porque faz um trabalho espiritual individual, está iludido pelo ego. Está em busca da fama e não da aproximação de Deus.

Não, ninguém pode mandar em vocês. Só vocês podem mandar em si. Por isso trabalhem sempre e não esperem aplausos por isso. Continuem trabalhando sempre com fé (confiança e entrega) e certeza que terá uma boa colocação depois da morte, como ensinou Buda.

Participante: a gente continua caindo nas armadilhas.

Você vai cair até o final da vida, pois cair ou não, não é uma decisão sua. É do ego.

Por isso, quando cair, não sofra, pois tinha que cair. Se sofrer, errará duas vezes. Errará quando cai, sofre, errará quando acha que errou, que caiu.

Como falei, o estado de espírito de felicidade tem que existir sempre. Por isso, quando racionalmente não consegue, está acontecendo uma nova prova guiada por Deus. Ela se compõe compreensão que precisa colocar em prática e não conseguiu.

É mais fácil do que vocês querem. É muito mais simples: é apenas ser feliz sempre! Não importa se está feliz ou não: esteja feliz. É isso. Portanto, se errou, louvado seja Deus, se não conseguiu deixar de sofrer porque errou, louvado seja Deus! Toca pra frente. Venho dizendo isso há algum tempo.

Deixe-me dizer uma coisa. Foi por ter essa consciência sobre a prática do ensinamento que Cristo ensinou: venha para mim que meu jugo é leve. Compreenda que Deus não lhe põe canga pesada, o jugo. Ele não cobra, obriga a fazer nada. Por isso, seja feliz do jeito que é.

Participante: mas os nossos julgamentos chegam a ser cruéis.

Você não está se julgando: quem está fazendo isso é o ego. É o próprio pensamento, que você fala que é cruel, que falou isso sobre si mesmo. Vai cair nessa?

Uma coisa importante. Quem toma ao pé da letra o que falo, não entende o que digo. Quando falo alguma coisa não estou criando obrigações. Estou apenas mostrando o caminho.

Quando digo que o caminho é ser sempre feliz, é obvio que virá a prova da auto cobrança. Você, a personalidade humana, para de cobrar dos outros, mas começa a fazer isso de si mesmo. Isso é decorrência natural do ensino, do estudo.

Hoje você é capaz de entender que não deve cobrar ninguém. O ego utiliza esse entendimento e cobra de você que cobrou dos outros. Preso a ideia da obrigação de não julgar, não põe em prática o ensinamento, pois cobra de si mesmo.

Saiba de uma coisa. Não importa se cobra dos outros ou de si mesmo: as duas coisas são erros na mesma prova. O que precisa ser feito é não cobrar nada de ninguém, nem de si nem dos outros.

Compreenda isso: a autoflagelação, que é essa cobrança, é ignorância. Não faça isso, não se cobre nada. Você é filho de Deus, já tem tudo que pode ter. Só não consegue ver o que tem porque fica se cobrando.

Tudo que qualquer ser humanizado precisa está dentro de si mesmo. O que não lhe deixa achar o que tem é a contrariedade com as coisas do mundo, a cobrança que faz de si e dos outros.

Existe uma figura Krishna que mostra o mestre dançando e tocando flautinha. Ele está dançando e tocando flauta para simbolizar que essa é a maneira perfeita de levar a vida. Dance sempre, toque flauta sempre, independente do que está acontecendo. Não queira acertar nada, porque não há nada para ser acertado. Não há nada para acertar. Retire esse peso da sua cabeça, essa espada da sua cabeça. Só assim conseguirá ser feliz. Se você apenas tira a espada da cabeça dos outros e coloca sobre a sua (‘eu não presto, não tenho jeito mesmo’) não conseguiu nada.

O ser humanizado que se diz buscador de Deus primeiro passa pelo processo de cobrança dos outros. Quando compreende que não pode cobrar nada de ninguém, começa a se julgar. Acha que por isso conseguiu fazer alguma coisa. Grande ilusão! Não fez nada porque continua cobrando. Aliás, pior: agora cobra de dois; antes era só de um.

Sei que muitos acham que estou aqui brigando. Internamente estou rindo. Toda quarta vocês vem para cá (sala do Espiritualismo Ecumênico Universal na web) esperando ouvir alguma coisa diferente, mas sempre ouvem a mesma coisa: ame, ame, ame, seja feliz, seja feliz, seja feliz.

Sabem porquê? Porque não há outra notícia a ser trazida. A humanidade está esperando a notícia da volta de Cristo. Para que? Para que querem que Cristo volte? Para ele dizer o que já disse: ame a tudo e a todos, seja feliz com tudo? É para isso que querem que ele volte? Então, digo: vão ler a Bíblia. Não precisa Cristo voltar para isso: tudo o que ele tinha para dizer está na Bíblia.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 971a

Assim, a morte não nos livra da tentação?

Não, mas a ação dos maus Espíritos é sempre menor sobre os outros Espíritos do que sobre os homens, porque lhes falta o auxílio das paixões materiais. (996)

Quem achou que bastava desencarnar para acabar a provação, viu agora que isso não vai acontecer. As tentações materiais continuam depois do desencarne. Isso acontece porque elas estão no ego e não nas coisas.

Se você desencarnar hoje, vai sair da carne e continuará se cobrando. Pior: como já vimos, essa cobrança terá a sua sensação mil vezes mais forte que hoje. Já pensou? Se hoje sofrem com a auto cobrança, imagine quando ela for mil vezes mais forte?

Portanto, pare de se cobrar. A única coisa que pode lhe ajudar a se aproximar de Deus viver. Viver a vida, a graça de Deus, cantar louvores ao Senhor, como acabamos de estudar.

Sentir-se parte do Universo: isso é viver. Compreender a Causa Primária de Todas as Coisas e cantar louvores a Ela: é só isso que precisa ser feito. Mais nada.

Agora, não se esqueça: se fizer, ótimo, se não fizer, cante louvores a Deus. Não fique se cobrando.

Participante: e os compromissos com os próximos?

O único compromisso que você tem com o próximo é de ser agente carmático dele, instrumento do carma. Esse é o único compromisso que tem com qualquer um. Esse compromisso, você não pode deixar de fazer. Sabe porquê? Porque não é você que faz: Deus, Causa Primária é que cria a situação onde o carma se estabelece.

Então, aí está a verdade: você não pode deixar de cumprir o compromisso com o outro. Se pudesse, esse universo seria uma bagunça: um lugar onde cada um faz o que quer. Mas, isso não é a Realidade do Universo. Esse universo é comandado por Deus, é guiado pelo Pai. Por isso, vai acontecer sempre tudo que o outro precisa. Quando você tiver que ser o instrumento do que ele precisa, não tem jeito, será.

Então, relaxa e goza. Não há nada a fazer. Não há compromisso, obrigação; não há nada. Olha a flautinha do Krishna: toque flauta, leve a vida na flauta.

Quando se tem a notícia que tivemos, que os espíritos superiores vivem cantando louvores a Deus, a primeira ideia é de que eles são folgados, mas não são. A única coisa que um espírito pode fazer nesse Universo é isso. Todo o resto acontecerá porque Deus diz faça-se e a coisa se faz.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 972

Como procedem os maus Espíritos para tentar os outros Espíritos, não podendo jogar com as paixões?

Kardec está falando da tentação depois do desencarne.

As paixões não existem materialmente, mas existem no pensamento dos Espíritos atrasados. Os maus dão pasto a esses pensamentos, conduzindo suas vítimas aos lugares onde se lhes ofereça o espetáculo daquelas paixões e de tudo o que as possa excitar.

As paixões não existem na Terra, mas no ego.

Sabe tudo que você acha que gosta nessa vida? Não gosta, É o seu ego que está dizendo que você gosta. Sabe tudo que declara estar apaixonado? Não é você que está. É o seu ego que cria essa paixão. É isso que o Espírito da Verdade nos diz quando fala que a paixão não existe na matéria, mas no pensamento, no criador de ilusão.

Olhe que informação maravilhosa! Sabe por quê? Agora você pode ser feliz. Se sofre quando a sua paixão não se realiza, não precisa mais sofrer. Agora sabe que nem é apaixonado por aquilo. É apenas a sua personalidade humana que é.

 Olha que incongruência. O seu ego gosta de uma coisa. Age para que você suponha que gosta. Depois disso, ele mesmo não cria a posse do que gosta. Ainda por cima diz que você deve sofrer por não ter o que gosta.

Sim, libertar-se das paixões é o caminho. Deixar de gostar, de querer, é o caminho. Acreditando na paixão que a mente cria, o ego vai explorar essa paixão. Como? Criando a tentação: a vontade de ter. Para isso diz: você só poderá alcançar a felicidade conseguindo aquilo pelo qual se declara apaixonado.

Diria que a forma como vivem, além de ser uma ilusão, é completamente sem nexo. Basta o ego dizer alguma coisa, criar uma ideia, uma crença, e você acredita piamente. Vivem correndo atrás da personalidade humana como um cachorrinho que mal vê o dono abana o rabinho. É assim que vivem: mal o ego fala, correm atrás dele abanando o rabinho.

As paixões estão nos pensamentos e os pensamentos são criações do ego. Portanto, liberte-se do ego. Permanecendo preso as suas paixões, ficará preso ao prazer e à dor, à felicidade animal, como ensinou o Espírito da Verdade e ao sofrimento.

O ser humanizado, mesmo os que se dizem buscadores do Pai, rapidamente jogam fora a dádiva de Deus, a oportunidade de amar incondicionalmente, e correm atrás das paixões criadas pela razão como um cachorrinho: abanando o rabinho.

Participante 1: mas, sem paixão a vida fica sem poesia, sem sonhos, sem graça.

Participante 2: mas, a graça não é ausência de paixões?

O que a primeira pessoa falou se observarmos humanamente é perfeito. Humanamente falando a vida sem paixões deixa de ter graça humana. O que ela não levou em consideração é que a vida sem elas terá graça espiritual.

Humanamente falando, a vida precisa ter contentamento de paixões, já que é formada no círculo de vicissitudes prazer e dor. Já a vida espiritual não tem vicissitudes. Por isso a paixão espiritual é diferente: é a glória de Deus.

O problema é que a poesia humana não existe lá, mas existe uma espiritual. Existe o cantar dos louvores a Deus. Isso será uma poesia para você que hoje fala de poesias. Só que ainda não é. Não sendo, imagina precisar das paixões humanas. Aí está o problema.

Não é que a vida espiritual não tem poesias. Ela não é destituída de paixões, se entendermos esse trecho genericamente. A vida espiritual é formada por outras paixões. Essas não são como a mente humana caracteriza uma paixão.

Se a paixão espiritual leva a uma nova poesia, não pode se prender a coisas materiais. Por isso, aquele que é apaixonado pelo louvor a Deus não é apegado ao amor material, ao canto do passarinho ou ao céu bonito. O que o prende é a busca para permanecer no seio de Deus.

Essa é a poesia que vivencia os espíritos quando libertos do ego. Quando aprisionados, a poesia e paixão são condicionadas ao mundo material. É esse condicionamento que leva o ser humanizado a viver apegado ao que é criado pela razão.

Volto a repetir: é muito difícil falar certas coisas, pois temos que usar uma mesma palavra para falar de duas coisas. Como me perguntaram (‘não é para se libertar das paixões?) tenho que dizer que sim. No entanto, essa libertação acontece quando o ser se apaixona por Deus.

O que posso dizer? Só posso falar que é preciso se libertar da paixão para atingir a paixão: da humana para chegar a espiritual. É preciso independer da poesia humana para poder depender da espiritual.

Foi isso que quisemos dizer, mas tivemos que usar uma mesma palavra para as duas coisas por que não uma específica que possa descrever o novo estado de espírito. Sei falamos contraditoriamente, mas estou tentando me tornar o mais claro possível.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 972a

Mas, de que servem essas paixões, se já não têm objeto real?

Nisso precisamente é que lhes está o suplício: o avarento vê ouro que lhe não é dado possuir; o devasso, orgias em que não pode tomar parte; o orgulhoso, honras que lhe causam inveja e de que não pode gozar.

O Espírito da Verdade continua falando da tentação da paixão depois da vida carnal.

Como já disse, o espírito depois do desencarne sente mil vezes mais forte as sensações animais. Por isso posso dizer que o avarento sente mil vezes mais forte o não ter o que quer; o devasso sente sete mil vezes mais vontade de orgias, mas como não encontra, sofre sete mil vezes mais frustração.

Depois da carne o suplício do ser humanizado é muito forte, porque a tentação também o é. Se hoje você é apaixonado por um canto de passarinho, quando sair da carne irá querer ouvi-lo com muito mais intensidade do que hoje. Como não haverá, pois no mundo espiritual não existe passarinho, sofrerá muito Sentirá uma frustração muito grande.

Sendo apaixonado por um pôr do sol, sairá da carne mil vezes mais apaixonado por isso. Como não haverá, o sofrimento será muito grande. Sendo apaixonado por seu filho, quando sair da carne essa paixão será mil vezes mais forte. Não haverá filho para você cuidar. Aí a preocupação com os que ficaram será mil vezes mais sofredora do que hoje. Sendo apaixonado em fazer as coisas certas, terá mil vezes mais desejo de fazê-las. Como não conseguirá, o sofrimento será maior do que quando não consegue fazer algo hoje.

Isso é o que vocês chamam de umbral. Ele não é um inferno. Trata-se de um estado de espírito onde a paixão e o desejo de ser, estar e fazer é mil vezes mais forte do que hoje. Como não se consegue, pois não há o elemento para satisfazer a paixão, o sofrimento é muito mais vivo.

Isso é o que o Espírito da Verdade disse. A partir disso quero dizer uma coisa da mais suma importância. Queria que prestassem atenção.

Vou repetir o que disse agora: o umbral não é inferno. É um estado de consciência onde a paixão é mil vezes mais viva, forte, e não há objetos para satisfazê-las. Por isso, afirmo que todos que saem da carne com uma paixão vão pro umbral.

Estou dizendo isso porque têm a ilusão que vão sair da carne e serão socorridos imediatamente e encaminhados para um hospital espiritual. Ilusão! Se ainda tiverem paixões, elas serão aguçadas. Só poderá haver o atendimento que já ouviram falar depois de libertarem-se das paixões. Ou seja, não mais sofrerem.

Noventa e nove por cento dos espíritos que saem da carne passam pelo umbral. Ouçam isso: noventa e nove por cento passa pelo umbral. Não sei se já leram o Mahabharata, a epopeia da família do Arjuna. Nesse livro é dito que o irmão do Arjuna, que é considerado uma pessoa santa, pia, que faz tudo o que Krishna mandou, quando desencarnou passou um minuto no umbral.

Sabiam disso? Uma pessoa tida como santa, pia, quando desencarna teve que passar um minuto no umbral. Porquê? Porque ainda tinha paixões.

Vocês precisam ter essa consciência. Precisam prestar extrema atenção a esse assunto para depois não dizerem que lhes enganei. Precisam estar preparados para isso para poder encurtar ao máximo a estada lá.

Não se iludam: vão sair da carne e passar pelo umbral com certeza, pois estão apaixonados pelas paixões materiais. Não se iludam imaginando que vão conseguir resolver as questões espirituais dessa vida completamente porque não vão. O máximo que poderão fazer é amenizar e não resolver.

Outro detalhe: não se deve temer o umbral. Sei que há pessoa que ficaram com medo depois do que falei, mas não é preciso. O umbral não é um estado de consciência que deve se temer, pois é o que precisamos para a nossa evolução espiritual. Então, se está indo para lá, louvado seja Deus!

Não estou falando essas coisas agora isso para por medo em ninguém. Pelo contrário: é para que não se considerem o perfeito, aquele que vai sair dessa vida e receber atendimento na mesma hora. Aquele que será levado instantaneamente para uma cidade espiritual. Não será isso que acontecerá.

Acreditando nisso, quando for para o umbral sofrerá.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 973

Quais os sofrimentos maiores a que os Espíritos maus se veem sujeitos?

Não há descrição possível das torturas morais que constituem a punição de certos crimes. Mesmo o que as sofre teria dificuldade em vos dar delas uma ideia. Indubitavelmente, porém, a mais horrível consiste em pensarem que estão condenados sem remissão.

O que é isso? A culpa. ‘Eu não presto mesmo, não tenho jeito, não consigo fazer nada que o Joaquim fala’: esse é o pior sofrimento.

Por que é o pior? Porque é um sofrimento duplo. Você não consegue fazer alguma coisa, o que já é motivo de sofrimento, mas sofre ainda mais porque se culpa de não ter feito.

Ouçam o que estou dizendo: a culpabilidade é a paixão que mais faz o espírito sofrer depois da carne. A crítica ao outro não causa tanto sofrimento. Sabe por quê? Porque você é filho de Deus.

Sei que não vê, mas quando se critica desmerece essa filiação. Quando se julga errado, está emporcalhando algo que é puro, que é santo. Você é o espírito o filho de Deus: como então pode se acusar de alguma coisa?

Se estamos falando de penalidades, tenho que dizer que o carma mais forte é a auto culpa.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 974 e 974a

974 - Donde procede a doutrina do fogo eterno?

Imagem, semelhante a tantas outras, tomada como realidade.

974a - Mas, o temor desse fogo não produzirá bom resultado?

Vede se serve de freio, mesmo entre os que o ensinam.

Se ensinardes coisas que mais tarde a razão venha a repelir, causareis uma impressão que não será duradoura, nem salutar.

A figura do inferno como fogo eterno é apenas uma imagem. Até porque, o inferno existe na carne ou em qualquer lugar onde você caia na tentação de ter prazer, desejos, vontades, paixões.

O inferno é o resultante da paixão não contentada, seja que paixão for. Como muitas vezes a paixão demora a ser satisfeita, você acha que será eternamente sofredor. Isso é uma ilusão!

Saiba que você pode ser feliz sempre. Mais: que essa felicidade depende única e exclusivamente de decidir ser feliz. Na hora em que decidir pela felicidade, nenhuma paixão vai lhe sofrer. O problema é que seguimos o ego. Caímos na historinha que a razão conta e sofremos quando o ego quer que a gente sofra.

Ego, nosso senhor. Sim, nosso senhor, pois é quem comanda a nossa vida, quem decide quanto e quando temos que sofrer. Aquele que gera as emoções que não deixamos de sentir.

Portanto, a história do inferno é uma simples alegoria. Ele não ode existir fisicamente, pois um estado de espírito. É por isso que Cristo diz no Evangelho de Tomé: o reino do céu e o reino do inferno não estão nem acima nem abaixo, mas dentro e fora de você. Está dentro como uma paixão, está fora pelo não contentamento dessa paixão.

Das penas e gozos futuros

Encerramento de conversa

No encerramento de nossa conversa de hoje, onde estudamos o capítulo de O Livro dos Espíritos sobre penas e gozos futuros, quero mais uma vez dizer da dificuldade de realizar esse estudo. É difícil porque fala de castigos depois da vida, ou seja, em um momento que é formado por elementos que a mente humana não consegue compreender.

Apesar dessa incapacidade, uma coisa precisamos ter consciência plena nesse estudo: não há castigos depois da vida. O que existe são ações carmáticas que são tidas como vida. É preciso se conscientizar que a vida é formada por ações carmáticas. Por isso, digo que tudo o que leram ou que me ouviram dizer não deve ser interpretado como castigo, pena.

Outra coisa importante é compreendermos que ser feliz é uma decisão exclusiva de cada espírito. Todos podem ser felizes a qualquer momento, não importando o que está acontecendo, seja nessa vida ou em outra.

Isso precisa ficar bem claro: não há a punição, carma, para quem decide ser feliz. Aquele que consegue manter o seu estado de espírito de equanimidade não gera o carma que vocês chamam de punição, castigo.

Por isso, muito mais importante do que falar em punição, carma, é conversamos sobre a realidade da vida. Falarmos como amar em cada momento. Com esse tipo de conversa, podemos ter a consciência de estar no seio de Deus.

Tenho que ter o tipo de estudo que estamos tendo porque faz parte de O Livro dos Espíritos. Ainda iremos ver muito mais coisas sobre esse assunto. No entanto, saiam desse estudo com medo de qualquer coisa, pois o que está aqui não é regra. Só é real para aquele que quer que seja. Se o espírito, decretar que não quer passar por isso e começar já a viver em paz e feliz, não vai viver nada do que falamos.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 975

Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?

Sim, e isso lhes é um suplício, porque compreendem que estão dela privados por sua culpa. Daí resulta que o Espírito, liberto da matéria, aspira à nova vida corporal, pois que cada existência, se for bem empregada, abrevia um tanto a duração desse suplício. É então que procede à escolha das provas por meio das quais possa expiar suas faltas. Porque, ficai sabendo, o Espírito sofre por todo o mal que praticou, ou de que foi causa voluntária, por todo o bem que houvera podido fazer e não fez e por todo o mal que decorra de não haver feito o bem.

Para o Espírito errante, já não há véus. Ele se acha como tendo saído de um nevoeiro e vê o que o distancia da felicidade. Mais sofre então, porque compreende quanto foi culpado. Não tem mais ilusões: vê as coisas na sua realidade.

Não tem mais ilusões: vê as coisas na sua realidade. Qual a ilusão que o ser humanizado tem que o faz fugir da realidade?

Participante: pode repetir?

Posso.

O Espirito da Verdade está dizendo que o espírito errante, ou seja, o já liberto do ego vê as coisas sem a ilusão. Estou perguntando qual é a ilusão que você vê quando está encarnado?

Participante: tudo que a gente pensa materialmente falando

Tudo que você compreende sobre o que está acontecendo.

Por exemplo: nesse momento acham que estão na frente do computador participando de uma palestra. Isso é uma ilusão! Você acha que a pessoa fez aquilo porque não presta, por que é isso ou aquilo. Isso é uma ilusão. Você acha que a pessoa quer lhe ferir, magoar. Isso é uma ilusão.

O espírito liberto da ação do ego conhece a realidade, sabe o que está se passando no momento. Só que enquanto preso ao ego, ou seja, encarnado, não tem capacidade de dizer o que é real, o que está acontecendo verdadeiramente. Por quê? Porque como o Espírito da Verdade diz, há um véu que não deixa ver a realidade.

É isso que o Espírito da Verdade diz nesse trecho. Fala também que a realidade é percebida quando o espírito escolhe pra si a suas provações.

A partir disso, temos que dizer que você, o espírito, escolheu pra si uma determinada provação: ser traído. Quando chega durante a encarnação, por força dessa escolha, o seu marido ou sua mulher lhe trai. Você diz que é culpa dele(a), que não presta, etc. Tudo isso é ilusão! Não há traição: há uma provação para você. Não há culpados: há instrumentos do que você pediu.

Esse é o detalhe dessa resposta. Mas, ele ainda não fala do tema principal da pergunta: o espírito inferior vê a felicidade do justo? Vamos falar disso.

Claro que sim! Você não vê a felicidade que tem um monge budista? Não vê a felicidade de quem carrega Deus no coração e perdoa e ama a todos? É a mesma coisa fora da carne: o espírito vê a felicidade de quem é feliz.

Agora, se você é capaz de ver isso, por que não faz por onde também ser? Porque para ser feliz é preciso abrir mão de possuir o mundo.

O espírito, quando fora da carne, vê a felicidade dos outros e quer voltar correndo à carne para fazer as suas provas e colocar em prática aquilo que aprendeu para poder alcançar a mesma felicidade. Só que chegam no mundo material e ficam preocupados com a casa limpa, com o banho tomado, com o emprego e melhor posição social, com as posses de casa, carros, etc.

Precisamos mudar o paradigma. Não existe vida, o que há é uma encarnação. Nenhum de vocês está vivo: estão encarnados. Quando se muda o paradigma, toda a realidade se transforma: não há mais acontecimentos, mas provas. Não há família, mas instrumentos carmáticos; não há amigos ou inimigos, mas instrumentos carmáticos. Não há posses, mas bens emprestados por Deus para ação carmática.

Essa resposta, então, deixa um grande aviso: não espere uma nova oportunidade; faça agora. Faça o que? Pare de viver os múltiplos acontecimentos da vida e começa a vivenciar a sua encarnação. Pare de ser, estar e fazer coisas humanas: vivencie as suas missões, as suas expiações, as suas provas. Ao invés de ficar colocando valores diversos nas coisas do mundo (o emprego, o repouso, o trabalho espiritual, a família, a amizade), apenas ame a tudo e a todos.

Participante: Kardec e os espíritos falam muito em bem e mal. Isso não dá uma impressão que o livre arbítrio está nas atitudes? Atitudes boas verso más?

Não. Já falamos sobre isso no estudo de O Livro dos Espíritos.

O bem ou o mal não podem ser atitudes, porque essas, segundo o Espírito da Verdade, fazem parte de um destino que é escrito a partir da escolha do gênero de provas pelo espírito. Essa informação está na pergunta 851.

Aliás, nessa questão há algo bem explícito: o espírito tem a liberdade, livre arbítrio, de escolher entre o bem e o mal. Como essa escolha não se dá através de atos, só pode ser por sentimentos.

Então, existe o bem, aquilo que vem de Deus, e existe o mal, aquele que vive para si, que é egoísta.

Participante: mas o bem de um é o mal de outro e vice-versa. É algo sempre relativo.

Por isso o bem não pode ser o fruto de uma interpretação.

Existe o bem e existe o bom. Tudo é bem, porque vem de Deus, mas dele os seres escolhem o que gostam, acham certo, etc. Esse é o bom. Ele é bem, porque veio de Deus, mas quando passa pela análise do ser humanizado transforma-se em bom.

Esse bom nem de longe é bem. Na verdade é mal, pois é fruto de um egoísmo, de pensar primeiramente em si.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 976

O espetáculo dos sofrimentos dos Espíritos inferiores não constitui, para os bons, uma causa de aflição e, nesse caso, que fica sendo a felicidade deles, se é assim turbada?

Não constitui motivo de aflição, pois que sabem que o mal terá fim. Auxiliam os outros a se melhorarem e lhes estendem as mãos. Essa a ocupação deles, ocupação que lhes proporciona gozo quando são bem-sucedidos.

Já disse aqui: se você vê uma criança passando fome na rua, o que pode fazer por ela? Dar um prato de comida, levar para sua casa, dar um banho, vestir, adotar, etc. Pode leva-la para sua casa, dar carinho, instrução, cuidar dessa criança. Enfim, pode fazer milhares de coisas que podem ajudar, mas qual é a única coisa que fazem? Sofrem.

‘Coitadinha da criança! Olha lá, está no sinal até essa hora. Coitadinha da criança, não tem um prato de comida para comer’. Ou sofrem por ela ou a exploram para dar asas ao seu egoísmo: ‘o povo de hoje é muito insensível. Só eu paro e ajudo a criança. Esse presidente (prefeito, governador, secretário) não faz nada pelas crianças. Se fosse eu faria’.

O que resolve o seu sofrimento ou sua crítica? Nada. A sua angustia, o martírio interno, a falsa compaixão, o ar de santinho, não resolve nada para a vida daquela criança. Apesar disso é a única coisa que vocês fazem. O resto, para protegerem-se, não fazem.

É isso que o Espírito da Verdade está dizendo e que os espíritos superiores reconhecem: sofrer por aqueles que estão carentes, seja material ou espiritualmente, não resolve nada. O que resolve é colocar mãos à obra. Isso pode ajudar de verdade.

Acontece que para ajudar de verdade é preciso se expor, se comprometer. Ninguém quer se comprometer. ‘Vai que aquele molequinho é um bandido e vai assaltar a minha casa. Não posso recolhê-lo. Tenho dificuldades financeiras não vou poder dar o que ele precisa’.

. Sim, o medo de se comprometer é escondido por um falso moralismo, por uma falsa santidade. É por isso que a ação caridosa de vocês não é sinal de elevação. Muito pelo contrário: é sinal de falta de fé.

Não pensem que os espíritos superiores não veem a carência de alguns. Claro que sim, mas reconhecem a necessidade da situação negativa, da vicissitude negativa, como instrumento de elevação. Por isso, não sofrem nem fazem nada para acabar com ela. Louvam a Deus por estar dando a um filho a oportunidade de elevação.

Quando é permitido ajudam. Essa ajuda, no entanto, não é para acabar com a situação, mas dar forças para que o encarnado mantenha-se em paz naquele momento. Se não podem, não ajudam, mas permanecem na graça de Deus.

Quem só senta na calçada e fica chorando, pela lei do carma, pode ser que amanhã passe pela mesma situação para ver que só chorar não adianta.

Participante: apenas constatando. Muitos espíritas não entendem os ensinamentos de O Livro dos Espíritos. Acham que bem é dar comida e mal, o aborto, o suicídio, o assassinato. Estão presos aos atos materiais e não aos sentimentos.

Quando estudamos a caridade aqui em O Livro dos Espíritos, vimos que o Espírito da Verdade afirmou que é ser benevolente, indulgente e o perdão. Cristo afirmou sobre a caridade: dá ao próximo o que você quer para si. Ou seja, nenhum mestre apoiou a ideia da caridade se restringir a coisas materiais.

Aliás, quando Kardec pergunta se o Espírito da Verdade abomina a esmola, a resposta é: não, se quer dar esmola, dê, mas não é isso que marca uma caridade. Pelo contrário, humilha quem precisa.

Portanto, o espírita não compreendeu ainda a caridade, apesar de estar bem claro em O Livro dos Espíritos. Agora, isso não é primazia dele: há outros religiosos que pensam do mesmo jeito.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 976a

Isto se concebe da parte de Espíritos estranhos ou indiferentes. Mas o espetáculo das tristezas e dos sofrimentos daqueles a quem amaram na Terra não lhes perturba a felicidade?

“Se não vissem esses sofrimentos, é que eles vos seriam estranhos depois da morte. Ora, a religião vos diz que as almas vos veem. Mas, eles consideram de outro ponto de vista os vossos sofrimentos. Sabem que estes são úteis ao vosso progresso, se os suportardes com resignação. Afligem-se, portanto, muito mais com a falta de ânimo que vos retarda, do que com os sofrimentos considerados em si mesmos, todos passageiros.

Será que preciso falar alguma coisa? O espetáculo dos sofrimentos dos seus que ficaram não perturbam o espírito elevado que foi. Essa é a afirmação do Espírito da Verdade. Um pouco diferente do que chamamos de ser bom, não?

Apesar de acharem que esse sofrimento seria um ato de pureza de um espírito, eles não sofrem por isso. Não sofrem porque sabem a utilidade da situação sofredora para a elevação espiritual dos encarnados.

Isso é algo que precisam compreender. Acabei de dizer: não há vida, há carmas. Não carmas no sentido de castigo, mas de provação justa, merecida e necessária. O espírito superior vive com essa realidade e por isso, ao ver seja lá quem for, inclusive quem foi seu parente na última encarnação, não se compraz. Não fica sofrendo: ‘coitadinho do meu filhinho, coitadinha da minha mamãe’.

O espírito de posse da sua consciência espiritual reconhece a necessidade daquele acontecimento para a encarnação. Essa consciência vale para qualquer coisa da vida humana. Tudo ...

Nem um espirito liberto da ação do ego, de posse da sua consciência espiritual sofre. Sabe por quê? Porque reconhece a realidade. Reconhece que não há uma vida sendo vivida, mas que há uma encarnação montada a partir de instrumentos carmáticos.

Participante: aqui nos referimos aos espíritos superiores desumanizados. E os demais sofrem?

Que demais? Os humanizados? Claro. Sofrem iguais a você.

Só um detalhe. Como vocês, eles não sofrem: estão vivendo a ilusão de estarem sofrendo.

O sofrimento é ilusório, é criação do ego, aqui ou depois da encarnação. A personalidade humana diz que você tem que sofrer. Aí você sofre. Mas, será que a causa do sofrimento é o que está acontecendo? Não. O sofrimento ocorre porque o ser vive a situação humana e não a provação.

 Deixe dizer uma coisa. Ser humanizado não é aquele que está na carne, mas ligado a um ego que possui como característica principal o egoísmo. O espirito pode estar fora da carne, mas se continuar ligado a um ego que tenha essa característica primária, é humano. Por causa dessa condição, aceita o sofrimento que a razão cria.

Participante: qual a diferença entre a indiferença e o não sofrimento com o que o outro está sentindo?

Indiferença se chama equanimidade, igualdade de ânimo entre situações. Aquilo que você chama de indiferença, é a felicidade universal, a paz de espírito, a tranquilidade interior.

Todo sofrimento é fundamentado no egoísmo: ‘eu acho errado, não gostei, queria que fosse de outra forma’. Por isso é egoísta> Da mesma forma, o prazer é egoísta, porque depende da paixão ser satisfeita para existir. Se os dois extremos são frutos do egoísmo, a apatia é divina.

Deixe-me dizer uma coisa. Existe uma diferença entre não ação, que é a apatia, e a inação, o ficar parado. São coisas completamente diferentes.

Participante: o que é omissão?

Omissão é você sofrer sem lutar contra o sofrimento. É não ligar para o sofrer. Isso é omissão.

A não ação é agir junto a razão criada para não se deixar levar pela emoção proposta e manter-se indiferente. Isso é um trabalho, é uma ação. Omissão é nada fazer.

Participante: omissão é ato ou sentimento?

Eu não falo em atos. Estou colocando em palavras para ficar claro, mas estou falando de emoções.

Quando sentimentalmente você não quer nem saber, é omissão. Agora, quando luta contra uma emoção, seja ela de prazer ou dor, poderá alcançar a indiferença.

Participante: não sofrer com isso?

É não sofrer e não ter prazer. Não é achar certo nem errado muito pelo contrário, bom ou mal. Muito pelo contrário: é não achar nada.

Participante: então, a omissão gera o sofrimento e a apatia gera a felicidade?

A omissão não gera o sofrimento. Ela é o sofrimento, pois é fundamentada no egoísmo, no individualismo. A apatia gera felicidade universal, não prazer. Não gera risinhos, mas um estado de espírito de paz, felicidade e harmonia.

Participante: o ego gera o prazer e o sofrimento. A felicidade deve ser incondicional.

E o espirito aceita o que o ego gera.

 Participante: a felicidade deve ser incondicional?

A felicidade deve existir sem motivos para isso, incondicional.

Participante: o trabalho para se chegar à apatia é um trabalho da razão?

Excelente pergunta.

Todo trabalho racional é executado pelo ego e tudo que ele cria é ilusão. Portanto, se chegar racionalmente a uma apatia, ainda não chegou a lugar nenhum. Primeiro detalhe.

Só que o processo de evolução precisa ser feito aos poucos, passo a passo. Hoje vocês não têm condições de fazê-lo de outra forma que não seja racionalmente. Segundo detalhe.

É preciso começar o processo através da razão para depois extrapolar a própria razão, vencê-la. Agora deixe-me deixar uma coisa bem clara: essa segunda etapa não será feita racionalmente, mas surgirá automaticamente. Primeiro ponto.

Segundo: durante o processo de busca racional o ego poderá lhe induzir dizendo que está conseguindo ou não deixará conseguir dizendo que não consegue fazer. Por isso, em qualquer dos dois casos, tente de novo.

Se acha que conseguiu, liberte-se do ter conseguido e continue buscando. Se acha que não conseguiu, liberte-se desse achar. Estou falando isso porque quando falamos em fazer o trabalho racionalmente devemos levar em consideração que o ego vai querer dar culpabilidade ou prazer de ter conseguido para que haja uma nova provação.

É preciso estar muito atento. Um processo de elevação não acontece da noite para o dia. Apesar de ser emocional, precisa começar no racional. Só depois haverá condições de vencer o racional que acabou de ser criado.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 977

Não podendo os Espíritos ocultar reciprocamente seus pensamentos e sendo conhecidos todos os atos da vida, dever-se-á deduzir que o culpado está perpetuamente em presença de sua vítima?

Não pode ser de outro modo, di-lo o bom-senso.

Deixe-me dizer uma coisa: esse pensamento não é material, não é historinha que o ego lhe conta, é espiritual. Não é um pensamento como vocês conhecem, uma história, mas a emanação de sentimentos.

Sim, perpetuamente todos os espíritos sabem o que você está sentindo. Quem tem raiva de alguém sempre tem o que está sentindo conhecido por quem está recebendo. Mesmo que esse conhecimento não chegue à consciência, o outro ser sabe o que emana para ele.

Você faz essa emanação por muito tempo, mas um dia acorda de bom humor e quer dizer gracinhas para essa pessoa, brincar com ela e quer que essa pessoa sinta feliz. Como, você vem há muito tempo emanando raiva? Só que você não vê o que já fez e julga a pessoa e sente mais raiva dela.

Não estou falando só de espírito fora da carne, mas também de encarnado. Mesmo que o consciente não detecte a emanação dos outros, o inconsciente, espírito, detecta. Nada do que você acha dos outros fica oculto de quem você acha. Por isso temos que ter muito cuidado com o que vibramos para os outros.

Participante: todo trabalho racional tem apenas um objetivo temporário?

Todo trabalho racional faz parte da personalidade transitória que o espírito criou para vivenciar a encarnação, ou seja, o que é hoje. Tudo que um ser é durante a vida é uma personalidade transitória criada para viver determinadas provações.

Então, sim, tudo que passa pela mente hoje é temporário. Não é algo que dure uma vida inteira, pois muita coisa que achava, já não acha mais.

Na eternidade espiritual nada do que foi raciocinado durante a encarnação permanece. Apenas o que ele sente é que o acompanhará pela eternidade.

Participante: Kardec está muito preso ao ego. Fale mais sobre ato, vítima e culpado.

Kardec não está preso ao ego; é um ego.

Kardec não é um espírito. Espírito não tem nome, não tem cor, sexo. Kardec é um ego que foi programado para fazer as perguntas que estamos estudando do jeito que foram feitas. Por quê? Porque esse entendimento em uma época foi preciso.

Não podemos ler nada querendo achar culpas ou culpados, erros ou errados. Se for essa a busca, não adianta nada o que estou falando aqui. Se disser que Kardec está errado, jogue fora tudo que falei, pois não estarei praticando o que ensinei.

Portanto, Kardec não estava preso a ego; é um. Segundo detalhe: a interpretação do que ele é sua, do seu ego não do dele.

Não sei se você lembra, mas outro dia falou de um trecho do evangelho onde se dizia que não se podia desligar os aparelhos de uma pessoa clinicamente morta. No final disse: é o meu ego que interpretou assim.

Agora é a mesma coisa: o seu ego está interpretando o ensinamento de Kardec. O que acha não é o que ele entendia.

Segunda pergunta sua: ato.

Ato é movimentação do corpo. Toda movimentação, seja oral, material, de cor, som, luz ou de qualquer coisa, é um ato.

O ato é uma ilusão. Por quê? Porque não existe ação. Porque não existe ação? Porque não existe elemento material que age. A única coisa que existe é fluido cósmico universal vibrando.

Terceira pergunta: vítima.

Para vocês, vítima é quem recebeu algo que não merecia.

Agora, se um filho de Deus recebe algo que não merecia, eu acho que Ele, que é a Justiça Perfeita, precisa se aposentar não? A Justiça Suprema não pode deixar alguém ser injustiçado e ficar calado.

Portanto, não existe vitima.

Quarta: culpado.

Se não existe vítima, não há culpado. Simples, assim ...

Agora, antes que diga que então o Espírito da Verdade errou, devo dizer que a utilização dessas palavras foi necessária em uma época. Aliás, também continua sendo hoje. Por quê? Porque continuam sendo usadas hoje. Se não fossem, aí a necessidade teria acabado.

Essa é a conclusão lógica daquele que vive para o mundo espiritual. Agora, é necessária pra que? Para que o buscador de Deus pare de imaginar que existem vítimas e culpados.

Se não houver a palavra, não há provação.

Participante: estou referindo as três palavras contidas na pergunta “o culpado está perpetuamente em presença de sua vítima?”

Está certo. Estão lá, mas se as ler humanamente terá uma interpretação. Aplicando os ensinamentos dos espíritos, encontrará outra.

Existe culpado? Existe. Quem é culpado de alguma coisa? Quem não ama é culpado. Existe vítima? Não. Por quê? Porque só recebe não amor quem merece receber isso. Não pode haver vítima porque o espírito só recebe o que ele pediu.

Agora é culpado frente a quem? Frente àquela pessoa? Não! Frente a Deus. No final das contas, é tudo entre você e Deus: Madre Teresa de Calcutá.

Portanto, se não ama, é culpado de provocar Deus. Agora Deus, acha você culpado? Não! Ele sabia que você não ia amar. Sabe por quê? Porque é Onisciente. Ele sabe que você não pode, no momento fazer mais do que está fazendo. É por isso que Cristo diz: Pai perdoa, ele não sabe o que faz.

Cada vez que você não ama, Deus diz: meu filho, você não sabe o que está fazendo. Deus é um Pai compreensivo e não feroz.

Por causa desse raciocínio volto a repetir. As palavras dos livros sagrados são para uma época. Foram usadas para ativar determinadas compreensões nos egos. Vocês gostam de ouvir quando o espiritismo diz que não existe o fogo eterno, mas, quem chama o próximo de culpado não está jogando o próximo em um fogo, nem que seja temporário?

O espiritismo não é a doutrina do culpado, é a do amor. Quem vê culpado em algum momento não ama. Quem não ama, não pratica a doutrina espírita, independente dos espíritas acharem que praticam.

Participante: quando há uma pessoa enferma numa família muito unida todos sofrem. Esse sofrimento foi decidido na espiritualidade por todos da família ou é prova para alguns da família?

Você falou de duas coisas. Falou que quando há uma pessoa na família enferma, os membros sofrem. Depois me perguntou se o sofrimento foi definido na espiritualidade. Acho que quando fala desse último sofrimento está falando do sofrer de quem está doente. Nesse caso não está falando de sofrimento, mas de doença. O sofrimento é da família, a doença é do doente. Vamos a resposta.

Sim, a doença do doente foi planeja na espiritualidade como prova para ele, para a família, para os médicos, para quem trabalha em hospitais e para todos que souberem da doença. A doença foi programada, mas reagir a ela com sofrimento, acabou de dizer o Espírito da Verdade, só os espíritos não elevados fazem. Os elevados, como vimos, reconhecem na doença a oportunidade do trabalho no sentido de amar a Deus acima de todas as coisas.

Por causa disso, é preciso amar a Deus acima da doença. Quem nutre esse sentimento não sofre com o sofrimento físico seu ou dos outros.

Participante: como sabemos o que o espírito sente? Como diferenciar a emoção do ego do sentimento do espírito?

Só você pode diferenciar o que é emoção do seu ego e o que é seu sentimento. Mais ninguém pode. Apesar da encarnação precisar da vida em sociedade para gerar as provas, a elevação espiritual é o trabalho mais solitário que existe.

Disse agora pouco, no final é tudo entre você e Deus, mas não é bem assim. No final é entre você e você mesmo. Isso porque só você vai saber o que realmente se passa no seu interior. Por esse mesmo motivo afirmo que não há como saber dos outros. Não há como saber se os outros estão fazendo ou não.

Agora, você quer saber quando a felicidade do espírito acontece. Digo que é quando está em paz consigo e com todos. Quando está harmonizado com o mundo, ou seja, não sofre, não tem prazer com a vida.

Quando sentir isso internamente, não através de razões que expliquem o que está sentindo, estará vivendo o uno com Deus, mesmo que os seus pensamentos digam coisas diferentes. Por isso, aconselho: esteja sempre atento ao seu pensamento. Se ele diz, por exemplo, que o carro está correndo muito, responda: ‘está sim, e daí? Se tiver que morrer agora nada vai me segurar. Ninguém morre antes da hora’.

Nesse caso, o seu pensamento está dizendo uma coisa e você está numa vibração diferente. Agora, só você pode reconhecer se isso está acontecendo mesmo ou não. Mais ninguém.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 977a

Serão um castigo para o culpado essa divulgação de todos os nossos atos reprováveis e a presença constante dos que deles foram vítimas?

Maior do que se pensa, mas tão somente até que o culpado tenha expiado suas faltas, quer como Espírito, quer como homem, em novas existências corpóreas.

Há diversas coisas na Terra que acho engraçadas. Vamos fazer de conta que você tem um comercio. Um cliente fez uma compra e pagou com um cheque sem fundos. Pergunto: você pode expor esse cheque ao público? Você pode colocar um cartaz afirmando que ele é caloteiro?

Participante: posso.

Não. Pela lei, não.

Participante: muita gente faz isso.

Faz, mas não deve fazer, porque a lei proíbe.

O anonimato para o caloteiro é uma dádiva. Com isso ele pode continuar dando o calote em outros lugares. Da mesma forma, no mundo espiritual existem espíritos que acreditam que são mais espertos que os outros e por isso querem levar vantagem individual. É por isso que existe a divulgação de quem é o ser, espiritualmente falando.

Isso não acontece no sentido de punir o ser. Falo isso porque no texto de Kardec existe a palavra culpado. Essa divulgação é feita não no sentido de castigar, mas sim de mostrar (vou usar uma palavra agora, mas não compreendam com o sentido negativo dela) que o ser está vivendo como um pária, como alguém que não convive de uma forma harmônica com os seus iguais.

Assim, como, na Roma antiga se marcava o ladrão, a adultera, o espírito também é marcado. Não para ser castigado, mas para que sinta o que o seu egoísmo causa a ele mesmo.

Assim, esse ser começa a ser rechaçado pela coletividade. Por quê? Por maldade, para não se misturar com o mal? Não, para que ele repare na sua vibração sentimental. Esse, entre aspas, desprezo, pode ajudar o ser a acordar e se perguntar: ‘será que todos estão errados e só eu estou certo’?

Na verdade a divulgação está dentro da função espelho que já estudamos, ou seja, um toque externo para que o ser reconheça o que está provocando para si.

Participante: como fica a negligência? Quando por negligência causamos sofrimento a outrem.

Depende. Negligência pré-determinada, aquela que acontece com a intenção de ser negligente, é individualismo. Esse pagará, entre aspas, não pelo que fez, mas por ter cedido ao fundamento egoísta gerado pelo ego.

Agora, se esquece de fazer algo e com isso causa sofrimento a alguém, não há intenção de negligenciar. Por isso não há nada errado.

O problema não é o que se faz, mas a intenção com o qual participa dos atos. Se a intenção é levar alguma vantagem, isso chama se egoísmo. Se não tem intenção nenhuma, nem levar vantagem nem de perder, (falo assim porque tem gente que gosta de perder. Nesse caso, está levando vantagem) não há problema algum.

Mais um detalhe. Se o outro sofreu e você não teve intenção, bobo foi o outro! Ele se prendeu ao egoísmo dele que queria a coisa de outro jeito e sofreu!

O espírito humanizado é igual a criança. Ele quer por que quer uma coisa, bate pezinho, chora, faz birra. Nesse caso, sofrer é culpa dele e não de quem fez.

Participante: nós podemos causar sofrimento a outrem ou ser instrumento do carma do outro?

Você é instrumento do carma do outro sempre. Mas, isso não quer dizer que seja o causador do sofrimento do outro. O ser sofre porque escolheu sofrer e não porque alguém fez isso ou aquilo.

Participante: ele tem um carma, se sofrer é problema dele. E nós somos instrumentos desse carma?

Isso. Perfeito.

Das penas e gozos futuros

Suicídio

Participante: e quando a negligencia leva ao suicídio?

Impossível! Ninguém morre antes da hora!

Participante: o suicídio é escrito antes?

Sim. Nenhuma morte acontece antes da hora, disso tens milhares de exemplos: é assim que o Espírito da Verdade fala. Por isso é impossível levar alguém ao suicídio.

O suicídio é um gênero de morte do qual Deus sabia com antecedência. Isso está na pergunta a respeito da fatalidade. (853a)

Participante: o suicídio não é, então, uma quebra de possibilidade de evolução? Não se retroage quando se suicida?

Não.

Você pode estagnar quando se suicida por motivos egoístas: porque está cansado da vida, por que não gosta dela, porque está passando por um problema sério e não consegue conviver com ele. Nesses casos, o suicídio leva à estagnação. Só que isso acontece por causa do egoísmo e não do suicídio.

Participante: o suicídio não pode ser evitado?

Não.

Se estiver escrito no livro da vida que o ser encarnado se suicidará, nada pode evita-lo.

A fatalidade acontece pela escola do espírito antes da encarnação. Ao escolher tal prova cria para si um destino. (pergunta 851)

Participante: em O Livro dos Espíritos é dito que o suicídio é a única maneira de morrer, entre aspas, antes da hora.

Não.

Estudamos sobre o suicídio e não encontramos isso. Se souber em que pergunta há essa informação, me diga, por favor.

Já que está havendo uma dúvida sobre suicídio, vamos ver a informação sobre destino e morte do Espírito da Verdade.

Pergunta 851 – Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio?

A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado.

O que é o suicídio? É ao resultado de um gênero de provas que o ser escolheu antes da sua encarnação. Essa escolha gerou um destino.

Agora vamos à questão 853a

Pergunta 853a – Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos?

Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos.

Então, se não chegou a hora de morrer, alguém pode apontar uma arma na cabeça do ser que ele não morrerá.

Alguma novidade aqui? Quantas vezes vocês já tiveram notícia de ferimentos graves na cabeça onde não houve morte?

Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas.

Você pode estar apenas limpando uma arma, mas se for sua hora, ela explode na sua cabeça.

Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem

 O gênero de morte, ou seja, o modo como alguém morre.

 e muitas vezes seu Espírito também o sabe, por lhe ter sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência.

O que é gênero de morte?

Participante: a maneira como se morre.

Sim. Acidente de carro, suicídio, bala perdida, execução sumária, doença: esses são gêneros de morte que Deus conhece de ante mão.

Agora, se Deus sabia de antemão que o ser ia morrer de câncer, será que pode dar cabo da vida com um tiro na cabeça? Acho que se isso fosse possível, a Onisciência de Deus seria falha, não?

Participante: sei de um caso que a pessoa quebrou financeiramente. A mulher dele ficou uma onça e jogava a culpa na sua cara o dia inteiro. Ele escreveu um bilhete dizendo que não suportava mais e pulou do alto do prédio. Foi para o outro lado. Ele premeditara isso?

Isso tudo é ilusão! É apenas uma história que os seres envolvidos acham que aconteceu.

Ele não quebrou porque não existe quebrar. Não existe a mulher, ele, prédio. Não existe nada.

 Participante: tá, mas o que está em jogo ai não é isso. É a questão do suicídio.

Se não existe carne, prédio, pular, não existe suicídio!

Participante: mas não é essa a pergunta. A questão é se acontecimentos desse tipo podem pode ser evitado.

Não! Se tudo foi escrito antes da vida, essa historinha foi escrita antes também. Como é o fruto do livre arbítrio do ser (falo assim porque o Espírito da Verdade diz que a escolha do gênero da prova antes da encarnação é o livre arbítrio do espírito), não pode ser alterado depois de encarnar..

Participante: havia chance dele enfrentar a situação e superar o desafio?

Só se Deus fosse muito incompetente.

O Pai sabia de antemão o gênero da prova que o ser ia morrer. Sabia também o momento. Será que Deus sabendo (Onisciência) o ser pode agir contrariamente? Onde fica a Onisciência e a Causa Primária de todas as coisas?

O problema do ser humanizado é que acredita nos seus olhos. Acredito que já que soube que ele se atirou, cometeu um suicídio. Acredita que por ter lido um bilhete de despedida da vida, alguém poderia ter ajudado e evitado o ato.

Acredita, veja bem, por ter ido ao enterro e visto o corpo, ele morreu. Espiritualista, você não sabe que não existe morte? O que existe é o desencarne, o libertar-se das percepções desse mundo e participar do outro.

Participante: não é essa questão que está em jogo

O que então está em jogo, então? Não estou fugindo do assunto. Estou afirmando categoricamente que não pode haver nada diferente do que acontece e explicando porque é assim.

Participante: achei a pergunta que fala do suicídio. “Tem o homem o direito de dispor da sua vida”? Eis a resposta: “não, só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntario importa a uma transgressão desta lei”. Não é sempre voluntario o suicídio?

Não.

Onde está aí a informação que foi dita antes: o suicídio encurta a provação. Onde está escrito isso?

Participante: aqui diz que o suicídio voluntario importa numa transgressão da lei de Deus.

Já estudamos esse aspecto. Perguntamos: existe suicídio não voluntário? Respondemos: existe. Então, esse não é transgressão.

Sendo assim, o problema não é o suicídio, mas ser voluntário para um. O que é ser voluntario ao suicídio? Fazendo o ato com a intenção de se suicidar.

Passar pela situação de suicídio fundamentado vivendo o ‘não aguento mais, não quero mais viver, vou dar um tiro na minha cabeça, vou me matar’ é um suicídio voluntario. Mas, mesmo esse não é transgressão.

O suicídio ia acontecer porque estava programado, mas o ser passa voluntariamente por ele. Ou seja, acha certo se suicidar. A transgressão é a intenção, e não o ato. É transgressão viver alguma coisa preso numa paixão porque é um egoísmo.

Então, nessa questão não está dito que o suicídio é uma forma de abreviação de vida. Desculpa, está dito que participar de um ato de suicídio voluntariamente é transgressão a lei de Deus. Mas, o Espírito da Verdade não precisava especificar isso. Porquê? Porque ele já disse que o egoísmo é mãe de todos os males. Portanto, suicidar-se por motivos egoístas tem que ser uma transgressão.

Sinceramente, não sei se é essa interpretação que a Doutrina Espirita dá a essa pergunta. Acho que o que foi dito é muito claro. Vamos falar com um pouco mais de calma sobre a resposta.

Só a Deus assiste esse direito

Só a Deus assiste o direito de dispor da vida.

Portanto, se acredita que alguém pode escolher se matar, deve acreditar que o suicida é mais forte que Deus? Afirmo isso pois, mesmo não tendo o direito, decide sobre o que fará. Deus, a Causa Primaria de todas as coisas, Aquele que comanda todas as inteligências inferiores (pergunta nove, leia lá) fica onde? Tem que ver Suas leis serem quebradas e não pode fazer nada? Aquele que tudo pode (Onisciente) nesse caso apenas poderá assistir o que o espírito quer fazer? Muito fraco o seu Deus.

Deixe-me falar uma coisa. Há um texto nosso que pergunta: seu Deus está vivo ou morto? Com certeza o de vocês está morto! Afirmo isso porque, segundo suas crenças, quando o espírito humanizado quer uma coisa, Ele não pode fazer nada.

Deus age. Ele é a Onipotência! Sabem o que quer dizer Onipotência? Aquele que pode tudo. Só Ele pode. Sendo isso verdade, será que vai ficar sentado deixando alguém dispor da sua vida como quiser?

Aí está a diferença. Vocês estão preocupados com o ato, com o suicídio, matar-se, mas o acontecimento não é problema. O problema é participar do momento, sem submeter a Deus, sem comungar com Ele. Por não se preocuparem com a intencionalidade, mas só com o ato, sofrem. O ato não importa. O que importa é se o ser foi voluntario (quis, gostou, participou com intenções individualistas) do que se vive.

Deu para ficar claro agora? Essa é a diferença entre ser espiritualista ou apenas religioso com crença na vida depois da vida. O véu que encobre o ser só o deixa ver a ação, mas ela não importa. Isso porque como ensinou Cristo, Deus julga cada um de acordo com sua intenção e não com sua ação.

Falando com quem me fez a pergunta agora a pouco sobre fazer o mal ao outro, foi exatamente isso que respondi. Se você criou uma situação que a humanidade diz que é negativa, fez o mal, não gerou nenhum problema para si. Isso porque não criou nada, pois não há vida, atos, mas uma encarnação. Por isso, você foi instrumento de um carma e não alguém que fez mal aos outros.

Agora, se ao participar da ação, se ao servir a Deus como instrumento da ação tirou prazer ou sofrimento, teve uma intenção individual. Nesse caso, tem um problema.

Preste bem atenção nisso. Qual o objetivo da encarnação? É importante conhecer isso, pois é o motivo de estar vivo.

Pergunta 132 – Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?

Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação.

Visa o fim de colocar o espírito pronto para fazer a sua parte na obra da criação. Qual é a parte dele?

Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus.

Cumprir as ordens de Deus.

Resumindo, o que é dito é que você está encarnado para provas e expiações. Além disso, está encarnado para cumprir as ordens de Deus. Por isso tudo o que faz é cumprindo as ordens de Deus. Deus não para de mandar, não para de obrar.

Portanto, você está vivo para fazer suas provas e para ajudar Deus a gerar as provas dos outros. Por isso, tudo que faz e julga como mal, foi Deus quem comandou que fosse feito.

Lembre-se: você está vestido de carne para servir de instrumento a Deus e não para fazer o que quer, o que gosta, o que acha certo ou bom.

Participante: suicídio seria uma prova para a família?

Também é. Para a família, para quem soube e está achando que aquele poderia continuar vivo, que não deveria ter feito, enfim, para todos que tem notícia do acontecido.

Todo acontecimento é provação para quem está passando e para quem tem notícia dele. Ou seja, aquele espírito estava vestido de uma carne para fazer a sua parte na obra de Deus e todos que participaram ou tiveram notícia fizeram a sua prova.

O problema é que lemos uma parte de O Livro dos Espíritos e nos esquecemos de conclusões anteriores que extraímos da mesma fonte. Não se pode estudar a pergunta novecentos e setenta e sete sem lembrar do que foi visto desde a pergunta hum até a novecentos e noventa e seis.

A pergunta hum de O Livro dos Espíritos determina a realidade básica do Universo. Nela está escrito: Deus é a causa primaria de todas as coisas. TODAS, não de ALGUMAS! Então se há um suicídio ou alguém teve uma diarreia, Deus é a causa primaria do que está acontecendo.

Deixe-me relembrar uma coisa. Nesse estudo alguma vez disse que a informação do Espírito da Verdade estava errada? Nenhuma! Nunca disse que a informação estava errada nem mudei a palavra do texto. O que fiz foi simplesmente interpretar uma resposta ligando-a a outra.

Essa é a diferença. Vocês interpretam um texto desse livro ligando-o à doutrina Espirita, que é obra de um ser humanizado e não dos espíritos. Alguém leu o Livro dos Espíritos e criou uma Doutrina Espirita. Mesmo que tenha sido Kardec, foi um ser humano, um ego.

A Doutrina Espírita deve ser obra dos Espíritos e não dos humanos. Por isso, tenho que ler O Livro dos Espíritos como espírito e não como ser humano. O espírito, como acabamos de ver, reconhece nas situações chamada de erradas, más ou negativas, a sua utilidade. Por isso não afirma que é necessário acabar com o mal.

Essa é a diferença. O ser humanizado vê o lado penoso da prova, mas o espírito liberto da ação do ego compreende a glória que advirá do que está passando (pergunta 266).

Das penas e gozos futuros

Pergunta 978

A lembrança das faltas que a alma, quando imperfeita, tenha cometido, não lhe turba a felicidade, mesmo depois de se haver purificado?

Não, porque resgatou suas faltas e saiu vitoriosa das provas a que se submetera para esse fim.

O espírito quando se liberta do ego, não sofre. Não sofre pelo que fez nem pelo individualismo, o egoísmo que viveu. Reconhece que foi necessário agir daquela forma naquele momento. Ao invés de se culpar, louva a Deus e se prepara para outra encarnação.

Chorar não resolve nada. Sofrer não resolve nada. A única coisa que pode resolver é amar. Amar a Deus, a si e ao outro.

Quem ama incondicionalmente não sofre, não chora, não se entristece, não se deprime. Quem ama a si acima de Deus e dos outros, sofre muito. Sofre porque é egoísta, porque tem paixões que precisam ser contentadas para ser feliz.

Das penas e gozos futuros

Assassinato

Participante: o espírito da Verdade diz que o assassínio interrompe uma missão, pergunta 746.

746. É crime aos olhos de Deus o assassínio?

Grande crime, pois que aquele que tira a vida ao seu semelhante corta o fio de uma existência de expiação ou de missão. Aí é que está o mal.

Participante: como pode interromper se já estava programado?

Já estudamos essa pergunta. Na época fiz a seguinte pergunta: onde, nessa resposta, está falando em morte física?

Veja, precisamos entender que para o Espírito da Verdade não há vida no mesmo sentido que você conhece. Anteriormente já vimos que para esse mentor aquilo que é chamado de vida humana é uma encarnação. Esse detalhe precisa ser levado em consideração na análise da questão que você citou.

Será que o Espírito da Verdade está se falando aqui de interrupção de encarnação? Acho que não. Ele é bem claro: ‘aquele que tira a vida do seu semelhante’. Ora, se para ele não há vida o que será que quis dizer?

Como falei, não há a vida como você, humano, a concebe, mas há o estar vivo. O que é estar vivo? É estar em paz consigo mesmo e com o mundo, estar em harmonia com tudo, viver uma felicidade incondicional.

Partindo dessa interpretação, então, posso dizer que aquele que assassina é quem tira ou cria oportunidade para que o espírito perca a sua paz. Quem faz isso, responde pela sua ação emocional. Vou dar exemplo para entender o que estou falando.

Quando você participa de uma ação com raiva, como vimos hoje, essa emoção se expande pelo universo. Ela é recebida por aquele que acredita ter raiva. Essa recepção pode facilitar ao espírito ligado àquele ser humanizado perder a sua paz. Isso é um assassinato.

Então, assassino não é quem enfia uma bala em outro. Esse não é um assassino porque não acaba com vida, mas com uma encarnação. Se, como também já vimos, o fim da encarnação só acontece no momento que Deus sabia que ia acontecer e do modo que Ele conhecia previamente, o agente do ato não pode ser considerado culpado pelo que precisava ser feito.

Quem tira a paz do outro é o verdadeiro assassino. Esse tirou a vida do outro.

Agora, com relação ao entendimento que vocês humanos têm desse trecho, só posso dizer uma coisa: se ele estiver certo, jogue os ensinamentos do resto de O Livro dos Espíritos fora. Se ninguém morre antes da hora, pode alguém matar outro no momento que quiser? O assassino é mais forte que Deus? Acho que deve ser, pois segundo entendimento de vocês, faz alguém morrer antes da hora programa. Se a conclusão de vocês é verdadeira, Deus não conhece o gênero de morte antecipadamente, pois foi o assassino que determinou e não o Senhor Supremo.

Se é real o que vocês pensam, houve uma fatalidade que não foi criada antes da encarnação pela escolha do espírito. Ele criou para si uma espécie de destino, mas a vontade de quem o assassinou foi mais forte e alterou o que ele pediu. Se é verdade que alguém pode tirar a vida de outro, Deus não é a causa primaria de todas as coisas, mas apenas de um aparte dela. Sendo verdadeira a compreensão humana do tema, o espírito que praticou o ato tomou um corpo de acordo com esse mundo para fazer o que quisesse e não para cumprir a sua parte na obra da criação.

São essas incongruências que peço a vocês que pensem. Retirando apenas uma pergunta de O Livro dos Espíritos e gerando uma compreensão que não leve em consideração tudo o que já foi dito antes, estaremos colocando o que achamos e não o que foi ensinado a Kardec.

Uma obra não pode ser dúbia: não pode em um momento dizer uma coisa e em outro falar diferente. Se for, perde todo o significado, perde toda razão de existir.

Uma obra para ser considerada um guia trazido por um mestre tem que ser universal, ou seja, valer para todos de forma igual. Por isso, precisa ser totalmente válida. Outro detalhe: tem que valer para sempre, ser eterna. Se não for, ou seja, se alterar o seu conteúdo conforme o tempo, nunca foi real de verdade.

Participante: Kardec diz nessa pergunta se pensava no assassínio físico?

Não sei!

Participante: normalmente é o que dá a entender.

Não. É o que você compreende. É o que o seu ego criou para você.

Não podemos dizer nada de Kardec, pois tudo o que viveu foi entre ele consigo mesmo. É por isso que não sei de nada sobre o que Kardec pensava ou sentia. Se soubesse, estaria julgando o Codificador e, por ser cristão, não posso fazer isso.

Participante: estamos constatando que assim Kardec compreendeu.

Não sei se ele compreendeu assim. Sei o que está escrito. Mas, se ele compreendeu desse ou de outro jeito, não sei.

Compreenderam o que quis dizer quando falei das características necessárias para um livro ser verdade? Elas não valem só para o Livro dos Espíritos: vale para a Bíblia, para os suttas de Buda, etc. tudo.

Participante: precisamos sempre refletir sobre o que entramos em contato.

Essa é uma grande postura.

Quando recebemos algo novo, a primeira coisa que precisamos fazer é não nega-lo, mas também não aceitá-lo. Precisamos refletir para só depois tomar uma posição.

Acho que você nunca participou de uma palestra minha, mas no final digo sempre: esqueça tudo que falei. Sabe por quê? Porque é impossível esquecer.

O germe do assunto tratado está agora no seu ego. Mesmo que não queira, essa informação começará a ser usada por ele. Sendo assim, a partir de agora começará a perceber do que estamos falando. Mais que compreender: Deus usará essa informação em determinados acontecimentos para que você tenha confirmações.

Então, não se preocupe nem em querer entender o que está ouvindo. Apenas não rechace a informação. Diga a si mesmo: ‘ele falou isso; se é verdade ou não, não sei. Vamos esperar o tempo passar e ver’.

Vocês tem um ditado que é muito certo: só o tempo constrói. Só a sequência, a assiduidade das coisas, constrói algo. Então, fique tranquilo. Ouça e deixe esse germe, no bom sentido, germinar dentro de você.

Voltando ao assunto que estamos falando, morte, quero fazer uma pergunta: vocês acham que o espírito liberto da ação da razão humana defende a vida? Claro que não ... O espírito está doido para se livrar dessa carne, pois sabe que a sua Realidade é outra: é a do mundo espiritual.

Nenhum espírito puro defende a vida humana. Somente o que está preso ao egoísmo defende a vida humana, o eu, a identidade provisória.

Participante: para muitos espíritas Deus é morto. Como causa primaria eles entendem que Deus criou o mundo e depois deixou os homens fazerem o que quiserem.

Sim, esse é o pensamento do Deus morto. O Senhor cria e vai dormir. Nesse caso, fica tudo ao deus dará. Não, estou errado: fica tudo ao homem dará.

Participante: é como se Deus tivesse criado o mundo e dito: agora vocês se virem.

Porque Eu vou descansar. Vocês que se danem.

Se esse é Deus para você, desculpe, mas para mim nem para os mestres é.

Participante: Jesus no Sermão do Monte ensina que devemos agir aqui e agora. Depois diz que o homem sensato é o que segue esses ensinamentos. Mas, o ego humano quer ver nisso uma ficção futura, um objetivo a longo prazo quase impossível de ser alcançado. A lógica da argumentação de Jesus é transparente. Minhas perguntas são: como podemos implementar isso em uma vida? Como fazer nessa vida, nesse século? São perguntas práticas.

A questão de fazer nesse século respondi no trabalho passado: ‘como fazer o desapego ao mundo material nesse século onde existem tantas coisas? Sabendo que as coisas desse século são provas e não benefícios.

O século de hoje não é diferente do passado, apesar da multiplicidade de elementos diferentes. As provas são as mesmas: possessão, egoísmo, individualismo, etc. É a mesma coisa de outros séculos.

‘Ah, claro que é diferente. Em outros séculos podia se pegar comida nas árvores. Hoje precisamos de dinheiro para compra-la’. Ilusão. Se morar no meio do mato poderá servir-se direto do pé. Só que não quer lá, não é? Porquê? Porque não quer se desligar da internet, do celular, do computador, porque não quer se desligar da televisão.

Como se pode fazer o que é preciso nessa vida? Só há uma maneira: libertar-se do eu, negar o eu. Esse é o único modo de fazer ou como Paulo diz: viver para servir o outro.

O que é viver para servir o outro? É não usar roupa, não ter casa? Não! É despossuir as coisas. Usar tudo, mas não querer ser o dono de nada.

Você não tem uma casa; tem um instrumento de carma. Disso tem notícia pelos ensinamentos dos mestres. Apesar de já ter recebido essa informação, garanto que tranca a porta de noite com medo do ladrão, não é mesmo? Acabou de deixar de fazer, porque possuiu a casa.

Servir ao próximo é estar sempre livre do individualismo: ‘nada é meu, nada possuo, nada quero, nada sei’. Aliás, esse é o lema dos três macaquinhos que ilustram um ensinamento de Buda: não falo, não ouço e não vejo.

A única forma de realizar é através da entrega total de si para o mundo. Quando entrega esse que é hoje ao mundo, vai poder viver quem é na espiritualidade. Hoje você não consegue porque se vê como humano. Ao invés de viver sua realidade, vive a vida humana do personagem.

Quando entrega o personagem à carne, à vida humana, ou seja, vive com a consciência de que vai acontecer o que tiver que acontecer, não se perturbará com nada. Nesse momento viverá a sua espiritualidade.

Sobre o que Cristo ensinou, ele não falou que não se deve fazer nada no aqui e agora. O que disse no Sermão do Monte foi o seguinte: bem aventurado os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus.

Portanto, não é fazer ou deixar de fazer alguma coisa agora; é estar sempre em conexão com a vontade de Deus. É bem diferente!

Participante: gostaria de saber sobres os casos que lemos na literatura espirita de pessoas que falham, entre aspas, na sua programação feita antes da encarnação?

Você está falando em falhas em atos? Isso é impossível. Está falando em falhar por não amar durante os atos predestinados? Isso não precisa ir para a literatura para observar, porque é o que vivenciam diuturnamente.

Quando alguém briga com você, ambos estão passando por uma atividade programada. Agora, se essa pessoa está achando que está certa e você se sentindo ferida, ambos estão falhando na encarnação.

Todos nasceram para expiar. Expiar é passar pelas vicissitudes, alternâncias de situações, sem ranger de dentes. Ou seja, você veio aqui para passar por momentos onde alguém lhe elogia e por outros onde é criticado, sem reclamar, acusar, chorar, ter qualquer tipo de sofrimento.

Então, falhar na programação, no sentido de acontecimentos da vida material, impossível. Falhar na programação no sentido de vivenciar as expiações com ranger de dentes, isso é o que acontece diariamente no mundo dos encarnados.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 979

Não serão, para a alma, causa de penosa apreensão, que lhe altera a felicidade, as provas por que ainda tenha de passar para acabar a sua purificação?

Para a alma ainda maculada, são. Daí vem que ela não pode gozar de felicidade perfeita, senão quando esteja completamente pura. Para aquela, porém, que já se elevou, nada tem de penoso o pensar nas provas que ainda haja de sofrer.

Esse é um capitulo onde estamos falando de penalidades, de sofrimento, de umbral. Sobre esse tema precisamos compreender que o umbral não existe. Ninguém vive nada que existe, mas sim uma criação do seu ego.

Por favor, olhem agora para o monitor do computador e leiam alguma coisa que está escrito. Fizeram? Não. Acham que sim, mas essa atividade não aconteceu, isso não existiu. O que aconteceu na foi que o ego criou você, a cadeira, o monitor, as palavras e o sentido delas. Criou essas coisas e a ideia de estar lendo alguma coisa.

Isso é algo que todos os seres humanizados precisam compreender para poderem executar a reforma intima, para alcançarem a felicidade universal. Enquanto não entenderem que a situação, o lugar e o acontecimento que estão vivendo é uma mera criação do ego, irão vive-los como reais. Vivendo dessa forma, estarão sempre presos ao binômio prazer e dor.

Para se alcançar a felicidade universal é preciso extrapolar a realidade criada pelo ego. É isso que o Espírito da Verdade está dizendo nessa resposta.

Ele fala que o espírito ainda apegado as ilusões, mayas, como ensina Krishna, fantasias fantasmagóricas, as visões criadas pelo ego, vê dos acontecimentos o lado penoso. Já aquele que se libertou da razão produzida pelo ego e voltou a sua consciência espiritual, não vê esse lado penoso. Isso vale para a vida carnal, para aquilo que chamam de umbral, de cidade espiritual ou de paraíso.

Vale para qualquer coisa que esteja vivendo, se ela contiver formas, sensações, percepções e formações mentais. Tudo que for criadas a partir de imagens, ideias, valores, é fruto do ego, porque para o espírito nada disso existe.

Então, só para complementar a informação, digo que não existem castigos. Existem programações do ego que afirmam que o ser está sendo castigado. Não existem provas difíceis, mas sim situações criadas pelo ego onde o próprio gera a consciência de que é uma prova difícil. Não existe dor, mas situações onde o ego diz que deve sofrer.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 980

O laço de simpatia que une os Espíritos da mesma ordem constitui para eles uma fonte de felicidade?

Os Espíritos entre os quais há recíproca simpatia para o bem encontram na sua união um dos maiores gozos, visto que não receiam vê-la turbada pelo egoísmo. Formam, no mundo inteiramente espiritual, famílias pela identidade de sentimentos, consistindo nisto a felicidade espiritual, do mesmo modo que no vosso mundo vos grupais em categorias e experimentais certo prazer quando vos achais reunidos. Na afeição pura e sincera que cada um vota aos outros e de que é por sua vez objeto, têm eles um manancial de felicidade, porquanto lá não há falsos amigos, nem hipócritas.

Vocês ouviram bem? A união que pode trazer a felicidade para o espírito, é a espiritual, a afinidade espiritual, e não a material. Não é o casamento, a maternidade ou paternidade a amizade ou o companheirismo que pode garantir felicidade a um espírito, mas a união por afinidade espiritual.

Isso quer dizer que só devo me unir àqueles que espiritualmente pensam igual a mim? Não. Preciso me unir a todos, inclusive com aqueles que hoje não vivem na mesma frequência ou, como disse o Espírito da Verdade, na mesma dedicação ao bem que vivo. Preciso me unir com todos, mas numa união espiritual e não material. Para isso é preciso relembrar que na essência somos todos espíritos, independente do papel que estejamos vivendo no teatro da vida agora.

É preciso unir-se a todos, mas não através das relações materiais. A união que se faz necessária não pode acontecer pelas normas, costumes e padrões do mundo material. Devem existir na verdadeira afinidade: a espiritual.

Qual é a afinidade espiritual que deve nos unir aos outros? O amor ao próximo e a Deus acima de tudo. Essa é uma fonte de felicidade.

Quem se une ao próximo por laços materiais, nessa ou em outra vida, não garante felicidade para si. É por causa dessa união levando em consideração apenas os fatores humanos que os casais brigam entre si, que os filhos enfrentam os pais e esses se perturbam com eles, que as amizades são rompidas Tudo acontece porque não houve uma ligação espiritual, mas uma norteada por padrões materiais.

Se me ligo espiritualmente ao meu amigo, vou ser sempre amigo dele. Se me ligo materialmente, exigirei que ele puxe meu saco ou que bata sempre a cabeça ao que disser ou fizer. Terá que ser igual a uma vaquinha de presépio para continuar sendo meu amigo.

Ligando-me materialmente ao filho, o possuo e ele tem que fazer o que eu quero. Se ligo espiritualmente, o amo de forma incondicional e não o obrigo a nada. Amando o meu cônjuge universalmente, nos unimos para auxiliar Deus na Sua obra e não para o ser o dono do outro.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 981

Com relação ao estado futuro do Espírito, haverá diferença entre um que, em vida, teme a morte e outro que a encara com indiferença e mesmo com alegria?

Muito grande pode ser a diferença. Entretanto, apaga-se com frequência em face das causas determinantes desse temor ou desse desejo. Quer a tema, quer a deseje, pode o homem ser propelido por sentimentos muito diversos e são estes sentimentos que influem no estado do Espírito. É evidente, por exemplo, que naquele que deseja a morte, unicamente porque vê nela o termo de suas tribulações, há uma espécie de queixa contra a Providência e contra as provas que lhe cumpre suportar.

Não é o que se fala boca para fora e nem o que se acredita racionalmente que garantirá um futuro melhor depois do desencarne. O que determinará esse futuro é a intencionalidade com a qual se participou das ações da vida.

Se a intencionalidade for ter um ganho individual, seja ele qual for, houve egoísmo. Essa forma de viver gera um determinado futuro depois da morte. Participando das ações sem objetivar ganhar nada nem querer perder, nesse caso o ser estará tranquilo com relação ao seu futuro.

Portanto, ter medo da morte ou quere-la, não faz diferença. O que o ser precisa fazer é não participar dela objetivando ganhar alguma coisa. Não deve querer ganhar nada, nem aquilo que poderia ser considerado como certo querer: a elevação espiritual, chegar perto de Deus ou sair da carne.

Nada! Nenhum objetivo individual. A morte, como qualquer outro elemento da vida, deve ser vivida pelo espírito sem buscar nada para si.

Participante: em outra palestra você disse que em cada encarnação o espirito imortal cria uma individualidade um ego. Quando em encarnações posteriores temos uma influência da encarnação anterior. Isso quer dizer que o ego anterior ainda não se desfez?

Não.

Quando entra em uma encarnação assume uma determinada individualidade, uma personalidade, uma identidade. Para poder assumi-la é preciso deixar a outra, a anterior. Vou dar um exemplo.

Um determinado ser é, nessa vida, uma mulher. Trabalha em determinado lugar, tem filhos e um marido especifico. Tudo isso compõe a identidade dele nessa vida. Depois que passar pelo evento morte, para que esse ser entre em outra encarnação precisa que todas essas consciências acabem. Ou seja, precisa não ter mais esses filhos, não ser mais mulher, não ter mais esse marido, não ter mais esse trabalho. Precisa não acreditar nessas coisas como realidades dele.

É isso. Agora, o que você falou é uma verdade. Elementos de um ego podem estar presentes em um novo, mas isso não quer dizer que o outro continua existindo. Ele já acabou. O que aconteceu é que elementos daquela personalidade foram transferidos para a de agora.

O que é transferido entre personalidades são provações não vencidas que foram readquiridas no novo ego. Elas são reprogramadas na nova personalidade. Mas, isso não quer dizer que o outro ego esteja vivo. Ele acabou, morreu.

Participante: podemos dizer replantados no novo ego?

Reescrito, replantado, o que você quiser. Na verdade foram transferidas de um para o outro.

Participante: então, não são lembranças, ou melhor, são lembranças plantadas no novo ego. Elas não existiriam por si mesmas?

Lembrança é recordar-se de alguma coisa. Sendo assim, não é lembrança.

Trata-se de uma nova informação. Você não tem consciência de que já viveu aquela informação.

Participante: na palestra que mencionei entendi que o ego não morre com a morte física.

Eu não disse isso.

O ego realmente não morre com a morte física. O trabalho para se libertar dele pode ocorrer durante a vida junto à carne ou depois da dela Vou dar um exemplo.

Digamos que hoje, ligado a um corpo, liberta-se do ego. Ele não mais lhe influenciará, mas não parará de funcionar. Não mais influenciará na construção da realidade porque morreu, mas não para de criar consciência. Ao vivenciar o evento morte, por causa da liberdade que conseguiu, a personalidade humana não mais irá criar realidades.

Agora, digamos que não conseguiu essa liberdade durante a vida junto à carne. Depois do que chamam de desencarne continua ligada a essa personalidade, tanto na questão da geração de realidades como na influência das emoções. Ou seja, continuará sendo e vivendo igual a hoje, só que sem carne.

Continuará vivendo o mesmo mundo mental criado pelo ego, mesmo sem a carne. Será sem carne o mesmo que é com, viverá depois da morte, o que vive hoje. Será marido e pai de quem é, será trabalhador de onde é. Tudo isso sem carne.

Durante esse período continuará tentando se libertar do ego. Depois de muito trabalho, e sofrimento, chega um momento onde consegue se libertar ou é desligado dele. Nesse momento volta à sua consciência espiritual para preparar outra personalidade, ligar-se a ela e viver uma nova vida.

Isso é o que acontece. No entanto, o importante é ter a consciência de que depois do desencarne, se não tiver conseguido a liberdade, a ação do ego continua a mesma. Apesar disso, pode vencê-lo depois do desencarne.

Participante: e como é esse processo de desligamento do ego?

Você é espirita e com certeza já ouviu falar que o espírito, depois do desencarne, é recolhido, levado a hospitais onde passes magnéticos recompõem a sua integridade espiritual. Isso é o máximo que você pode entender sobre esse assunto.

Apenas um detalhe. Esses passes magnéticos só são aplicados quando o espírito tem o merecimento do desligamento depois do evento morte.

Das penas e gozos futuros

Pergunta 982

Será necessário que professemos o Espiritismo e creiamos nas manifestações espíritas, para termos assegurada a nossa sorte na vida futura?

Se assim fosse, seguir-se-ia que estariam deserdados todos os que não creem, ou que não tiveram ensejo de esclarecer-se, o que seria absurdo. Só o bem assegura a sorte futura. Ora, o bem é sempre o bem, qualquer que seja o caminho que a ele conduza. (165-799)

Só o amor, a caridade, o desapego das coisas materiais e o não usar o egoísmo podem levar um ser a aproximar-se de Deus.

Nenhuma religião, nenhum ritual, nenhum cumprimento de obrigações morais, materiais ou religiosas é passaporte para Deus. Só o amor, o amor livre e desapegado, aquele que é liberto do amor próprio. Amar o próximo: só isso pode lhe aproximar de Deus.

Esse amor, porém, jamais poderá ser alcançado por compreensões racionais. Elevação espiritual não é fruto de um conhecimento. Pelo contrário: é fruto de uma atividade sentimental, de um amor.

Para alguns pode ser preciso o que estamos fazendo aqui: conversando, trocando ideias, aprendendo o que é amar. Só que o que fazemos não garante evolução espiritual. Só a pratica do que estamos falando pode levar a Deus.

No fundo de tudo que digo está implícito: ame, ame a Deus acima de todas as coisa e ame ao próximo como a si mesmo. Por isso, a prática do que falamos pode ajudar.

Então, não queiram ser cultos. Afinal de contas, o elemento mais culto do universo é a estante: tem dentro a informação de muitos livros. Queiram ser amorosos!

Sobre esse assunto, Cristo ensinou: ‘louvado seja Deus, que esconde dos sábios o que mostra aos simples’, aqueles que só amam.

Participante: ainda me referindo a questão anterior, o ego. É por isso que devemos despossuir, desligarmos de tudo que for material?

Sim.

Tudo que for material é ego. Permanecendo preso a isso, está preso à personalidade humana. Se acredita em si como o corpo que veste, vai sofrer durante a vida e depois, pois continuará acreditando no que crê hoje.

Deixe-me dizer uma coisa para vocês: a morte não traz em si nenhum poder magico de transformação. Acabei de falar que a vida dura um micro fração de tempo. A morte é, também, uma micro fração de tempo que liga duas micro frações.

Ela não tem nada em si, não conduz a transformação alguma, nem a nenhum autoconhecimento sobre si. Você é e sempre será aquilo que pensa que é.

Acreditando que é marido, morrerá e continuará sendo marido. Acreditando que é dono de empresa, morrerá e continuará dono de empresa. Acreditando que possui posses materiais, morrerá e continuará tendo posses materiais.

Além disso, como já vimos aqui, se reclamam da vida de hoje no tocante ao sofrimento, saibam que conviver como ego depois do desencarne produz sensações dez vezes mais forte que quando na carne. Reclamando hoje de ter sido ofendido, fora da carne irá ouvir a mesma palavra coisa, mas se sentirá dez vezes mais ofendido.

Resumindo, sim, é preciso fazer agora, trabalhar agora, porque assim se garante um bom lugar quando sair daqui.