Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Transcrição dos áudios do estudo 'Em busca da felicidade'. Nessa primeira parte Joaquim de Aruanda fala do conhecimento técnico sobre o assunto. 

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

É inútil se querer entender as coisas espirituais

Para começarmos este trabalho que marca o início de um novo ciclo, gostaria de relembrar um trecho da mensagem que deixei no final do ano passado (2009).

MENSAGEM DE FIM DE ANO – 2009

Que a paz de Deus esteja com vocês. Salve...

Filhos, em Uberlândia falei para diversas pessoas que um ciclo estava se encerrando. E, quando um ciclo se acaba, outro se inicia. Disse isso com relação a algumas pessoas e com relação ao próprio Espiritualismo Ecumênico Universal. Neste final de ano um ciclo se encerra e outro começará para nós.

O que se encerra levou dez anos. Nele estudamos diversos elementos da vida material e do mundo espiritual a partir de uma visão espiritualista e universalista ou monista. Mas, como ficou bem claro nestes, descobrimos apenas duas coisas:

Primeiro: que tudo que a humanidade sabe sobre o mundo espiritual ou universal é apenas ideias humanas e não Verdades. São conhecimentos individuais ou seja o que cada um acha, porque a Verdade e a Realidade espiritual e universal o ser humano não tem condições de saber.

Segundo: descobrimos que é impossível ao ser humano saber algo sobre o mundo espiritual ou universal. Isso porque lhe faltam elementos para compreensão. Por isso os seres humanos apenas conhecem imagens que são fruto de comparações com elementos humanos e não a Verdade ou a Realidade.

Descobertas estas coisas, um ciclo tem que se encerrar, porque não há mais nada a se procurar com relação a isso. Não há mais nada a se procurar no mundo espiritual ou universal, porque, como ficou claro, qualquer coisa que vá se procurar não será compreensível à mente humana...

A partir do que foi dito, pergunto: será que isso já ficou realmente claro para vocês? Além disso, pergunto também: será que eu precisava levar dez anos para provar o que está escrito em O Livro dos Espíritos?

Neste livro está bem claro: o Espírito é um nada para vocês. Se isso é verdade, porque me perguntam o que ele faz ou como ele é? Como me perguntam, ainda, as mais diversas coisas sobre o ser universal. Como podem compreender algo que pertença a uma coisa que é nada?

Matéria espiritual é outro assunto que ficou muito claro em O Livro dos Espíritos: ela não é energia, não é onda eletromagnética. Mas, apesar desta informação estar bem clara, ainda continuam dizendo que o Universo é energia. Energia é aquilo que acende a lâmpada. A matéria universal não é isso. O elemento material universal é desconhecido de vocês, pois ele é o que compõe a energia e não a própria.

Deus? Sobre isso, além de ser muito claro sobre o conhecimento deste tema, este livro traz ainda uma informação muito importante. Lá é dito que falta ao ser humano um sentido para compreender Deus e fala ainda que os seres não devem perder-se na busca de compreender o Senhor, porque se fizerem isso irão entrar num labirinto donde não lograrão sair. Mais: enquanto estiverem neste labirinto deixarão de fazer o que têm que fazer.

Portanto, mais do que inútil, a busca de Deus, de Espírito e de mundo espiritual é danosa à vocês. É isso que o Espírito da Verdade está dizendo. Por quê? Porque não lhes deixa fazer o que deveriam fazer.

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Mundo dos devas

Sendo assim, eu não posso insistir nesses temas, pois senão, estaria levando vocês a um dano. Portanto, ideias sobre Deus, Espírito e Universo, matéria, são coisas que, se continuarmos discutindo, além de vocês não compreenderem, irão entrar num labirinto formado pelas milhares de perguntas que surgem quando se investiga estes temas. Com isso ficarão presos, rodando como cachorro atrás do rabo e nada farão daquilo que precisam fazer.

Apesar de dizer assim, muitos diriam para mim: “não, Joaquim, eu já vi Espírito, já falei e trabalho com eles. Faço viagens astrais e saio no Universo. Eu conheço”. Desculpe a quem pensa assim, mas se conseguem falar com Espíritos, trabalhar com eles, vê-los e se sabem o que é Deus, estão desdizendo o Espírito da Verdade.

Existe um mundo que vocês não conhecem. Esse mundo se chama ‘mundo dos devas’. Este é um termo que consta do Bhagavad Gita.

Ele é o mundo espiritual da Terra. São os seres elementares da Terra. São os deuses da Terra. Em outras palavras: são os Espíritos sem corpo humano, mas que ainda são humanizados. Todos os Espíritos a que qualquer ser humanizado tenha se referido, falado, visto ou trabalhado, incluindo eu, são seres humanos sem carne e não Espíritos.

É este mundo que as outras doutrinas não falam, mas que Krishna cita como o mundo dos devas. Sobre ele, o Bendito Senhor tem um recado muito forte: aquele que adora e busca os devas, quando sai da carne vai viver entre os devas. Lá, no mundo dos devas, ele brinca e passeia na carruagem dourada deste mundo, vive alegre e feliz, mas para esses a queda é inevitável. Ou seja, para quem vive no mundo dos devas a reencarnação é normal, natural e necessária.

Por que isso? Porque não saiu do mundo humano. É agora apenas um ser humano sem corpo.

É um ser humano porque o que determina ser um humano não é o corpo, mas a mentalidade, o mental, as verdades, as ideias. Repare se esses Espíritos que vocês dizem conhecer não estão presos as ideias humanas, se não vivem humanamente?

Portanto, persistir na busca destes Espíritos ou do mundo deles, é fazer o bate e volta: encarna e desencarna. Só que como já vimos muitas vezes, não há mais tempo de voltar a este planeta.

Então, falar disso não adianta nada. E vou provar o que estou dizendo.

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A elevação espiritual do humanizado

Por que vocês estão buscando a elevação espiritual? Porque acham que vão encontrar um mundo bom. Desculpe, não vão encontrar um mundo bom. Por quê? Porque o mundo espiritual não pode ser classificado dentro do seu bom.

Para quem gosta de rock, digo que lá só tem violino; para quem gosta de se reunir com os amigos para bater papo e tomar chope, informo que lá só tem trabalho e meditação.

Sabe, se vocês saírem da encarnação no planeta Terra como humanos e puderem entrar no Universo Universal, ou seja, extrapolar o mundo dos devas, voltariam correndo. Isso porque, como ensina o Espírito da Verdade, o Universo é feito por afinidade e vocês humanos não têm nenhuma afinidade com o lado espiritual, a não ser com o mundo do devas.

Com o mundo dos devas realmente vocês têm afinidade, pois este mundo é o humano. Mas, de nada adianta chegar ao mundo dos devas, pois vai chegar e voltar.

Querem ver outro aspecto que prova o que estou falando? Por que vocês procuram a Deus? O que esperam Dele? O que esperam quando chegarem a Ele? Amor, fraternidade, paz? Não, não é isso que encontrarão.

Digo isso porque o amor de Deus não é aquilo que vocês chamam de amor; porque a fraternidade Dele não é aquilo que vocês chamam de fraternal. Se chegassem Nele agora, iriam voltar correndo e ainda se lastimariam: ‘foi para isso que briguei tanto’?

Teve uma moça que me disse que queria chegar a Deus para ser recebida com carinho, ser abraçada, afagada. Eu disse: ‘olha, se a sua vida é só apanhar e ela é feita por Ele, quando você desencarnar, continuará apanhando’.

Vocês ainda não entenderam que esse Deus que querem é apenas uma projeção dos desejos de vocês. Sendo assim, ainda estão presos aos desejos, ao humano. Ainda não entenderam que esse mundo espiritual com o qual sonham nada mais é do que a sua projeção do mundo ideal.

É por isso que essa sua busca é inútil. É inútil se buscar a Deus, ao Espírito ou o Universo, porque vocês não estão buscando estes elementos, mas estão buscando apenas o que criaram de bom para si mesmos.

Você não busca a Deus, mas cria um deus ideal e diz que será isso que encontrará quando chegar lá; não busca o universal, mas cria um Universo para buscar.

Desculpa, vocês estão completamente enganados. Como já disse dezenas de vezes, não fazem ideia do que é o mundo espiritual, o Universo Universal: têm apenas ideias humanas sobre ele e estas não são verdades.

É por isso que não vou falar mais de Deus nem de Espírito. Não estou aqui para leva-los ao mundo dos devas: este não é o meu trabalho, esta não é minha missão. Para quem quiser ir para lá existem milhares de doutrinas, mestres, gurus e Espírito que estão esperando para os levarem. Mas, não se iludam: vão voltar.

Com certeza irão voltar. Se divertirão um pouco por lá (nas cidades espirituais, nos bares espirituais, nas mesas espirituais onde um brincará com o outro), mas depois retornarão.

Como disse durante muito tempo, não estou aqui para passar a mão na cabeça. Para manter vocês neste sonho de que o céu é muito bom.

Não, o céu não é bom, o mundo espiritual não é bom. Por quê? Porque vocês têm um conceito de bom e o mundo espiritual não satisfaz este conceito. O mundo espiritual não é bom: ele é o que é. Chegando neste mundo com o seu conceito de bom, com certeza sairá correndo de lá.

Acho que o exemplo mais clássico do que estou falando foi o que aconteceu uma vez quando uma pessoa me perguntou se os Espíritos tinham boca. Respondi que não e esta pessoa me disse então: ‘se não têm boca, como se falam’? Eu disse assim: ‘quem disse que os Espíritos se falam’? A pessoa, então, comentou: ‘como deve ser chato um mundo onde ninguém fala com ninguém’.

Essa é a verdade. Vocês acham que ao desencarnar vão acordar no outro mundo e uma turma de pessoas que lhes são favoráveis vão estar lhes esperando. Acham que neste momento todos se confraternizarão como humanos: irão rir, brincar, trocar conversas fúteis. Acham que vão se reunir em um bar, tomar uma cerveja e cantar um samba para comemorar o seu retorno à casa. Isso não é o Reino do Céu, mas o mundo dos devas: o mundo humano sem carne.

Não, isso tudo que vocês imaginam não existe. Até porque, quando alcançarem o Reino do Céu não terão braço para abraçar, boca para falar, olhos para mostrar felicidade.

É por isso que não vou mais falar de Deus, de Espírito, de Universo Universal e de elevação espiritual.

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A nova abordagem

A partir de tudo o que falei há uma pergunta que todos devem estar se fazendo: ‘se Joaquim não vai mais falar disso, do que irá falar’?

Eu vou falar de você, ser humano. Não vou falar de Espírito, mas como você, ser humano, funciona, age, reage.

‘Ah, mas e o Espírito em tudo isso’, seria a pergunta que vocês fariam. Convençam-se: o Espírito não existe para vocês, ele é um nada para a sua compreensão. Então, ele que se dane.

Não vou falar de encarnação: vou falar da sua vida. Vou falar do dia a dia de uma vida humana. Não vou falar de amor, de amar, de elevação espiritual: vou falar de felicidade, em ser feliz realmente. Mas, não vou falar de prazer, pois vocês já compreenderam que ter prazer não é ser feliz.

É disso que vamos tratar daqui para frente. Sem falar de Deus, de Espírito ou de matéria universal, vamos falar de vocês, de suas vidas e da possibilidade de alcançarem a verdadeira felicidade, pois aquelas coisas não existem para vocês.

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A mesma finalidade

Só tem um detalhe: quando abolir tudo isso e abordar apenas a felicidade verdadeira, estarei falando da própria elevação espiritual. Mesmo sem falar nisso, estarei falando disso. Isso porque, na resposta do Espírito da Verdade à pergunta 115 de O Livro dos Espíritos se diz assim:

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de Si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade”.

O texto é claro. Deus dá a cada um uma missão, que é também uma prova, ou seja, a vida humana. O objetivo desta missão é alcançar a perfeição e quando isso acontece, se encontra a verdadeira felicidade. Portanto, se nos esquecermos da figura de Deus ou dos elementos do Universo Universal, mas alcançarmos a felicidade verdadeira, teremos chegado ao Pai.

Deste texto tiro ainda mais uma conclusão: o máximo que vocês humanos podem fazer é serem felizes. Por que isso? Porque o mundo espiritual não pertence a vocês. Ele é composto apenas por elementos que o ser humano não pode conceber.

Sendo assim, vou tratar de um ser humano e de vida humana, mas quando fizer isso enfatizarei a felicidade verdadeira. Por isso, estarei falando daquilo que vocês sonham: a elevação espiritual.

Mas, por favor, nesta busca, esqueçam Deus, Espírito e Universo porque senão vão para o mundo dos devas e quando lá se chega, a volta é inexorável.

Portanto, é disso que vamos falar apenas. Claro que iremos falar novamente de tudo que conversamos até hoje, mas agora numa linguagem humana e direcionado a seres humanos, ou seja, a seres que acham que podem agir livremente. Falaremos de um modo humano para que haja uma compreensão humana de modo que não me digam que o que eu disser não seja possível de ser realizado.

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Perguntas sobre o trabalho

Participante: E se a minha felicidade for compreender o que é ser o Espírito, já que o humano que sou, pelo que o senhor ensinou, nem sequer existe? Como ser feliz na realidade se o sonho não se desfaz?

Se a sua felicidade depender de conhecer o Espírito para ser feliz, meus pêsames: vai morrer infeliz. O Livro dos Espíritos é claro com relação a isso: não se entende o Espírito.

Eu sempre disse: você não é nada para o Espírito. Mas, para você, é alguma coisa. O Espírito é que não é nada para você.

Vocês acham que podem entender o Espírito, mas nunca conseguiram acertar as minhas perguntas. Por que isso? Porque nunca entenderam o que eu disse. O máximo que fizeram foi ter uma ideia humana do que é um Espírito.

Acontece que a ideia humana do Espírito não é o próprio e sim o mundo dos devas: são os seres humanos sem carne.

Participante: Isso significa ouvir a voz do coração e seguir sem medo, com confiança, mesmo que isso represente se soltar e se entregar totalmente a vida?

Não. Para com esta história de coração.

Para vocês humanos, coração é apenas um músculo que bombeia o sangue. Estou falando de razão, em trabalhar pensamento para ser feliz, em viver de uma forma diferente da que vocês vivem hoje.

Lembre-se que viver não é uma atividade física, mas mental. Você pode ter uma vida extremamente bagunçada, mas se vivê-la de uma forma não bagunçada, não terá bagunça nela.

Participante: Se só o Espírito pode fazer a evolução espiritual, o ser humano pode fazer a evolução material. Então, podemos dizer que evoluir materialmente é evoluir no ter, no sentir e no pensar. A partir disso, pergunto: o que seria evoluir no sentir e no pensar?

Você fala em evoluir no ter, mas eu lhe pergunto: em que pode evoluir no ter? Você constrói castelos materiais e aí aparecem as chuvas, os terremotos e um tsunami e acaba com tudo. Portanto, não pode evoluir no ter;

Evoluir no sentir? Sentir o que? Como pode escolher o que sentir se um dia você se sente bem e no outro se sente mal, sem saber o porquê disso? Como poderá evoluir no sentir se nem sabe o que está sentindo ou o porquê de estar sentindo tal coisa?

Evoluir no pensar: esta é a única evolução que pode ser feita. Mas, não uma evolução no pensar simplesmente, mas no pensar a vida.

Evoluir no pensar não se trata de uma evolução cultural, ter mais conhecimento ou pensamentos mais sábios, mas sim saber pensar a vida de uma forma diferente. Esta é a única evolução que o ser humano pode fazer.

Participante: Mas, Deus não está dentro de cada um, ou seja, não somos energia de Deus?

Sim, Deus está dentro de você, mas está tão escondido que não foi achado até hoje. O único Deus que achou dentro de si foi aquele criado por você mesmo.

Exatamente por isso estou dizendo agora: esquece esse Deus e vamos fazer o que pode ser feito.

Participante: Não entendo. Uma hora eu sou Deus e em outra Ele está muito distante. Em que me guiar?

Você é Deus ou melhor, Deus é você. Isso é verdadeiro. Só que para você Deus está distante. A diferença entre ser e saber que é, é imensa.

Saber que é, é uma informação cultural: ‘eu sei que eu sou Deus’. Se sabe que é, porque não vive como Ele?

Desculpe-me, mas aqui não temos nenhuma criança e não estou falando direto com você, mas preciso dizer uma coisa. Se vocês sabem que são Deus, porque ainda continuam tendo relações sexuais? Deus não tem relação sexual com ninguém.

Você me responderia: ‘ah, mas eu tenho o meu lado humano’. Pronto, deixou de ser Deus.

Deus está longe de você porque antes de ser Ele, você é humano. Por isso o Deus que diz que é, nada mais é que uma projeção Dele feita pela sua mente. Você faz um Deus para si, por isso não é Ele.

Eu vou dizer uma coisa: não foi à toa que corremos com as transcrições dos estudos das Cartas de Paulo. Daqui para frente, vamos usar muito Paulo. Neste exato momento, vou falar agora de um ensinamento do apóstolo.

O que está acontecendo hoje aqui é que vocês estão saindo da escola primária e estão entrando no ginásio. Eu estou deixando de tratá-los como criancinhas, estou deixando de ser a tia e estou falando como um professor para adolescentes. Enquanto vocês eram criancinhas eu contava estórias da carochinha, ou seja, o que falamos nos últimos dez anos.

Agora você é adulto. Vamos conversar de homem para homem?

Participante: Tudo o que foi feito até hoje não foi uma tentativa de nos fazer entender o mundo espiritual ?

Não, nunca tentei lhe fazer entender o mundo espiritual. Pelo contrário: sempre disse que o meu trabalho era abrir tanto o leque de opções de verdades para que você jamais tivesse condições de optar por uma.

Portanto, o meu trabalho até hoje não foi ensinar o que é o mundo Espiritual. Pelo contrário: foi mostrar que você não sabe o que é o mundo espiritual.

Participante: mas o ser humano não conseguiu. E aí, houve uma mudança de planos? Seria isso? Enquanto ser humanos nós temos alguma chance de entender o Espírito ou isso jamais acontecerá?

Não houve mudança de plano nenhum. No Universo não existem mudanças de planos: o plano sempre foi esse.

Você humano tem condição de entender o Espírito? Nenhuma. Só pode conhecer os devas. Esses vocês podem conhecer e conhecem.

Quem são os devas? São os que estão nos romances espíritas. São aqueles que vivem nas cidades espirituais, que vivem no umbral, que ainda são homem e mulher. Esses são Devas, não Espíritos.

Participante: Como é saber pensar a vida de uma forma diferente?

Até o final do ano nós saberemos, pois esse trabalho vai durar o ano inteiro.

Participante: Como devo proceder para começar a entender o humano que não sou?

É isso que vamos conversar nesse trabalho.

Participante: Como o apóstolo Paulo falou tanta coisa se nada existe? Então, o que existe é o que fazemos? Tenho que desmentir e desmistificar toda essa fantasia que o mundo sistematizado construiu como fuga?

Primeiro: tudo o que Paulo falou é o que vocês fazem e como deveriam fazer. Ele não falou de Reino do Céu. Ele não explicou das cachoeiras do céu, não falou de como os santos vivem. Falou de vida na Terra.

Segundo detalhe. Mesmo quando falou de vida na Terra, Paulo disse: eu falo com vocês assim porque ainda são crianças; no dia em que forem adultos ouvirão palavras de adulto.

Terceiro aspecto da sua pergunta. Sim, você tem que destruir toda essa busca inútil pelo mundo dos devas e se concentrar na única coisa que pode fazer: viver a vida que tem.

Isso porque se essa vida é a missão e nela atingir a perfeição, ou seja, alcançar a felicidade, irá evoluir, chegará perto de Deus, amará a Deus. Agora, se nesta vida quiser compreender o que é amor, o que é Deus ou o Tudo, para aí poder amá-Lo sobre todas as coisas, não vai conseguir, pois não conseguirá compreender estas coisas, já que lhe falta um sentido para tanto.

É isso que estou mostrando para vocês. É por isso que esse trabalho se chama ‘Em busca da felicidade – a verdadeira elevação espiritual’. Este trabalho, digamos assim, é um atalho para aquilo que você jamais vai poder conhecer enquanto humano.

O problema é que vocês estão querendo atingir uma coisa por um caminho que desconhecem. É como se nunca tivessem sido alpinistas e no meio do caminho houvesse um morro e quisessem subir escalando-o. Não vão conseguir: vão cair e morrer.

Neste trabalho o que estou fazendo é chamá-los para contornar o morro para chegar onde querem chegar. Agora, se quer tentar a escalada, vá, mas tenha a certeza que vai quebrar a cara.

Participante: Seria possível ouvirmos, como humanos que estamos, em que acreditar, em se posicionar frente à vida ou como viver em paz, visto que você tem nos dito que não nos leva a nada. Diga por favor o que nos leva à paz na atual condição humana? Não digo em viver num mundo onde não haja guerras, mas em como alcançar a paz no meio dessa guerra toda.

É exatamente o trabalho desse ano. A cada conversa vamos falar sobre alcançar a felicidade e, saiba: não há felicidade sem paz, sem harmonia.

Na verdade vamos falar de felicidade sem falar dela. Isso porque felicidade é algo que vocês também não sabem o que é.

Na verdade o que eu vou falar não é sobre ser feliz, mas sim de não ter prazer nem dor. Prazer e dor vocês sabem o que é, por isso posso falar destes assuntos.

Estes elementos, como são conhecidos, você pode atacar, acha que pode vencer. Então, vamos atacar o prazer e a dor. Quando extirpar estes elementos da sua vida, a felicidade surgirá.

Não vou falar mais nada que seja mágico e que não possa ser comprovado materialmente. Isso porque vamos falar a seres humanos e de uma forma humana. Vamos trabalhar com valores humanos, pois se não for assim, continuaremos apenas falando do mundo dos Devas.

Participante: O seu trabalho é só destruir, destruir qualquer compreensão ou entendimento. Este trabalho é para chegarmos realmente ao não sei?

Na hora que você chegar ao não sei, vai ser feliz. Enquanto souber algo, vai continuar subordinando a felicidade à realização de suas verdades. Aí, então, só terá prazer e dor.

Participante: Meu pai só me dava porrada e cresci compreendendo o sofrimento alheio por causa do meu passado. Então, aquilo era o assobio e o senhor vai cantar a música?

Olha, se eu fosse pelo menos afinado, cantaria música. Mas, como não posso cantar música, vou apenas bater no tambor.

Participante: Será que existe entre nós humanos alguém que não mereça esse mundo dos devas?

Que não merece? Todos. Nenhum de vocês merece, mas todos buscam isso: o que fazer?

Se você está colocando a questão do merecer como resultado das ações mentais, realmente concordo: merecem estar no reino dos devas. Mas, pela natureza de vocês, não mereceriam, pois não vieram aqui para ir ao mundo dos devas. Pelo contrário: vieram aqui para se libertar da humanidade, na matéria ou no próprio mundo dos devas.

Participante: Para que tudo isso se não vamos ter tempo nessa transição? Como agir no desencarne?

Vou lhe dar um conselho. Não só a você especificamente, mas a todos que acham que não vão conseguir: desistam agora. Não estou falando em desistir de Joaquim, mas desistir da vida: encoste-se num canto e espere a morte chegar.

Quem lhe disse que não vai dar tempo? Vocês acham que esse é um trabalho de anos, de milênios. Não, esse é um trabalho de só cair uma ficha. Na hora que cai a ficha isso se faz em um segundo.

Por isso lhe dou um conselho: não desista da vida e lute para chegar a esse momento. Como diz Krishna, ele pode chegar até no seu último minuto de vida. Chegando, neste momento resolveu tudo.

Participante: Eu entendo pelo coração o que você fala. Lembra-se de mim? Nos vimos na palestra de São Paulo e você me disse que eu devo reconhecer tudo isso como um presente. Lembrou? Bom, então, eu entendo o que você diz e por causa de entender eu não sei nem o que dizer, não sobrou nem planos para essa vida. Estou quase, quase vazio.

Eu lembro de você não só dessa conversa. Lembro-me de você chorando aqui porque a vida estava sendo muito injusta com você. Lembra-se disso?

Pois é, agora você sabe que quando se chega no vazio, retirando inclusive todos os aspectos espirituais que queria entender com aquelas suas perguntas, alcança a felicidade, a paz.

Participante: Então não vai mais ter teoria ou doutrina para segurar a gente. Só fé em Deus, que para nós humanos é nada?

Nem fé em Deus.

Neste trabalho só vai ter a realidade humana e a forma de como lidar com ela. Mais nada que isso. Acabei de dizer que vocês não tem fé: criaram uma fé humana, ou seja, a ideia que Deus vai lhes dar tudo aquilo que acham que é bom e o que querem.

Costumo dizer que Deus não é justo, mas sim a Justiça. Apesar disso, vocês ainda acham que Deus é justo, ou seja, vai aplicar a justiça. Só que a justiça que esperam que Ele aplique não é a justa, mas aquilo que você acha justo.

Ele não vai fazer isso. Na hora que não fizer, vocês vão chamá-lo de injusto e nem vão querer ficar ao lado Dele.

Onde está a fé?

Participante: O que dizer de um estranho estado de inércia, um estado de entrega que pode estar levando a uma falta de ânimo para as coisas do mundo e a um conformismo. As coisas são e serão o que tiverem que ser, a mim cabe apenas vivê-las como se apresentam, sem ilusões nem projeções. É a letargia?

Não, é a felicidade.

Depois deste trabalho, praticando o que conversarmos, você vai ser frio e vai andar com cara de bobo, ou seja, vai ser feliz porque não vai ter prazer nem dor.

Já disse isso e vou repetir: a felicidade de que falo não é rir, não é mostrar os dentes, não é dizer que maravilha; ela existe quando se é apático.

Participante: Se através dos nossos méritos conseguimos abandonar a sansara, o ciclo de reencarnações, não reencarnaremos mais nem mesmo no novo mundo de regeneração?

Não é isso. Para cada sentido de encarnação existe uma sansara.

Sendo assim, neste momento você só vai poder abandonar a sansara de provas e expiação. Depois vem a outra.

Só que para esta nova roda chegar, é preciso antes se libertar dessa. Para isso é preciso libertar-se das coisas humanas. Os devas, encarnados ou não, não se libertaram dessas coisas, por isso vão continuar a atual sansara no novo planeta.

Apenas uma observação: acho que a partir de agora eu só vou chamar vocês de devas, espíritos desse mundo.

Participante: O que é um deva?

É um Espírito humanizado, encarnado, ou seja, num corpo de carne, ou desencarnado. É um Espírito que ainda pensa com verdades humanas.

É um Espírito que ainda é humano, mesmo fora da carne.

Participante: A maioria dos devas são também capazes de construir formas ilusórias pelas quais eles podem se manifestar diante de seres de mundos inferiores. Devas superiores e inferiores têm inclusive de fazer isso entre eles?

Não existe deva superior ou inferior, assim como não existe ser humano melhor ou pior.

‘Os devas são capazes de criar formas pelas quais se manifestam diante de outros seres’: esta ideia é uma ilusão.

Os Devas não são capazes de criar nada. Se alguém não olhar para eles, não os verá.

Eles não são capazes de lhe dominar, a não ser que você queira ser dominado ou aceite o domínio deles. Eles não podem se apresentar: você tem que procurá-los. Se não procurá-los, jamais os encontrará.

Se fosse como você fala, não existiria livre arbítrio. ‘Eu não quero encontrar os devas’ - isso é um livre arbítrio seu. Mas, se mesmo assim, o deva pudesse lhe encontrar sem que quisesse, o seu livre arbítrio iria para a lata do lixo.

Não existe isso: ninguém pode fazer nada para o outro sem ferir o livre arbítrio.

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Quem tem uma boa vida

Participante: O senhor disse que não devemos agregar valores às coisas como bom ou ruim, mas como devo lidar com o meu caso, por exemplo. Tenho um bom salário, trabalho pouco e em casa, uma boa casa, uma boa família. Enquanto isso, existem muitos que estão em situação muito diferente. Devo olhar isso tudo e ser grato a Deus ou simplesmente ignorar tais coisas?

Boa pergunta e eu vou adiantar a resposta, mas isso vai ser uma das coisas que vamos estudar.

Como é que você faz para não ter um bom salário? Para entendermos isso lhe faço outra pergunta: como é que você sabe que o seu salário é bom? Porque o compara com quem ganha menos. Agora, o compare com quem ganha mais. Com certeza estará ganhando mal.

Sendo assim, como fazer para não ganhar nem mal nem bem? Não comparando o seu salário com o de ninguém.

Isso vale para todas as coisas. O bom e o mal só nascem da comparação, da forma como você olha a coisa. Na hora em que não comparar, não olhar para cima nem para baixo, mas penas para frente, não vai ganhar bem ou mal.

Participante: Não vou nem ganhar.

Vai sim; o dinheiro vai entrar no seu bolso.

A vida não é uma atividade física, mas mental. Ou seja, mesmo sabendo que ganha tal quantia, não deve achar que ganha bem ou mal.

A felicidade não está disponível para aqueles que ganham bem ou mal ou que nada ganham, mas para aqueles que sabem que ganham o justo. Quando você trabalha mentalmente com esta ideia, não está comparado o que tem com nada.

O justo não é bom nem mal, não é pouco nem muito: é justo. Para ser justo, não importa o valor; do seu salário. Se ganhar um real e achar justo, ele será isso. Se outro ganhar mil e viver com a mesma ideia, os dois ganharão o justo, não importando o valor.

Participante: É difícil um ser humano pensar assim.

Sim, é difícil o ser humano pensar assim, mas é fácil sonhar com um mundo espiritual lindo e maravilhoso, não? É fácil criar um mundo onde tudo será belo e maravilhoso para você, não?

Repare: vocês estão fugindo da única coisa que têm para viver, que é a própria vida. Estão vivendo o sonho de que quando morrerem tudo vai ser como quiserem.

Isso não é certo. A única coisa que têm para viver – e isso eu já disse muitas vezes – é o momento de agora. Agora estão vivos, estão vivendo um vida humana. Viva a sua vida humana e esqueça a espiritual.

Sim, é difícil para o ser humano viver assim, mas entenda que essa busca espiritual nada mais é do que uma fuga para não viver essa vida. Foge dela porque não quer viver a vida da forma que ela está e não consegue mudá-la. Por isso fica projetando um mundo espiritual onde será feliz. Só que você não entende que se sair para essa projeção, lá não tem felicidade: só tem prazer e dor como aqui.

Filhos, a busca de Deus é fuga. É fuga para aqueles que não sabem viver a vida. A busca de ir para o Reino do Céu é fuga daqueles que não conseguem viver essa vida. Entendam isso.

Isto é assim porque o Reino do Céu e o Deus que vocês vivem nada mais são do que uma projeção que fazem e não a Realidade. Vocês que estão cansados de sofrer nessa vida projetam um sonho bom e pensam assim: ‘eu vou viver para o reino espiritual’. Mentira, só estão fugindo do agora; não estão querendo aproximar-se de Deus.

Eu quero chegar a tal ponto nessas nossas conversas que quero até que duvidem se há vida depois da vida.

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Encontrar Deus

Participante: Sabe, eu penso que estou aqui numa grande viagem. Estou de primeira classe porque sou filha de Deus. Meu DNA é Deus, nosso autor. O que mais preciso?

Achar Deus, saber quem é Deus de verdade.

Estou dizendo isso porque, se você acha que Deus só vai lhe dar passeios de primeira classe, não O conhece. Se acha que Ele é bonzinho, humanitário e que ama os outros, não conhece Deus. Você conhece o deus que criou para si à partir do que lhe ensinaram e que nada mais é que uma projeção das suas vontades, uma projeção dos seus desejos.

Deixe-me lhe fazer uma pergunta. Quem disse que o céu é tão bom assim? Ou melhor, você já reparou que todo mundo acha que o céu é bom e o inferno é ruim? Apesar disso, vocês preferem durante a vida viver no inferno do que viver no céu.

Durante a vida gostam de rodinha para conversar, gostam de esposa, namorada, de viajar, passear, de se divertir. Todas estas coisas só tem no inferno, não no céu.

São todos estes benefícios que lhe venderam, que lhe ensinaram? Sim, pois eles querem que você fique no mundo dos devas. E se lá tem isso, lá é o inferno.

Sabe, vocês projetam o céu a partir daquilo que gostam. É por isso que existem as cidades espirituais, os lugares espirituais (tipo matas, florestas, jardins, etc.).

Sabe porque o mundo dos devas tem isso? Para que os iguais se juntem. Se você gosta de uma boate, irá para uma cidade espiritual que tenha uma e dançará a noite toda, pois é disso que você gosta. Mas, isso não é o céu.

O céu é um lugar angélico. A música celestial não tem nada a ver com a de vocês. A atividade dos Espíritos libertos da materialidade não tem relação com as coisas humanas. Se você que gosta das coisas mundanas vai para lá totalmente ligado nessas coisas, vai sair correndo.

Participante: Mas a gente não sabe o que é lá e, como você mesmo disse, não temos noção do que é. Foi vendida uma imagem para gente e esse é o nosso céu.

Está certo o que falou: criaram essa imagem para vocês. Acontece que agora estou lhe provando que essa imagem só foi criada para lhe iludir.

Observe a lógica. Você tem um bom, não? Com esse bom, que é humano, é que cria o céu. Não é o que sempre falei: as cidades espirituais são uma projeção humana? Sendo assim, você não vai atingir o céu se ficar preso ao seu bom; atingirá o seu céu e não o céu.

É isso que estou falando. Não estou brigando ou dizendo que estão errados: só quero que compreendam que ficar buscando o seu bom é ficar marcando passo no mesmo lugar.

Se você projeta um céu a partir de valores humanos, vai buscar o céu humano. Assim, não sai da humanidade.

Participante: Você tem um ano para quebrar esse céu humano e nos mostrar o outro céu?

Eu não tenho um dia, nem um minuto. Se você não comprar a ideia e não disser que vai parar com essa busca inútil, eu não posso fazer nada.

Participante: Mas não é o que nós estamos fazendo aqui?

Talvez você esteja, mas pode ter outros que não. Por isso preciso deixar bem claro: se você não fizer, nada acontecerá.

Diga a si mesmo: ‘isso tem lógica pra mim? Tem, então como é que eu faço a partir de agora?’ Mas, se ao invés disso, quiser saber se não era alguma coisa, se poderia ser outra, se está certo o que foi dito, continuará ainda amarrado nas mesmas coisas. Esse é o grande problema.

Porque não falo mais de Deus? Porque falar disso seria mantê-los presos no seu Deus. Porque não falo mais de elevação espiritual, só de felicidade? Porque falar disso seria manter vocês presos no ideal do que é elevação espiritual. Porque não falo mais de Espírito? Porque falar disso iria manter vocês presos nessa busca de dez anos que foi vivenciada pelas perguntas sobre o que o Espírito faz, sem nunca ter conseguido entender como ele faz as coisas.

É preciso ter consciência de que nunca vão entender estas coisas porque lhes falta um sentido para tanto. É como se faltasse, por exemplo, uma visão além da visão, que é uma coisa física, e que vocês não têm.

Participante: Como seria amar a Deus sobre todas as coisas dentro de uma visão material, uma vez que só ela é possível ao ser humano?

Seria amar a Deus sobre todas as coisas.

A partir desta resposta, você poderia dizer: ‘mas, assim, o senhor está sendo redundante, me explique, por favor’. Explicar o que? O que é amar? Você não sabe o que é amor. Explicar como é amar a Deus? Mas, você não sabe o que é Deus. Explicar o que é amar todas as coisas? Você jamais vai englobar tudo o que existe no mesmo saco para poder criar o todas.

Então, não dá para explicar isso para vocês. Agora, amar a Deus sobre todas as coisas é a perfeição e quem a alcança é feliz. Então, vamos buscar ser feliz que estaremos amando, mesmo sem saber como se ama.

Participante: A partir do momento que entendemos que o céu não é como esperamos, seria natural querer ficar no mundo dos Devas. Essa escolha é possível?

Mais do que possível: é natural que queira ficar no mundo dos devas.

O que é o mundo dos devas senão a sua projeção de paraíso? É a sua projeção de um mundo bom. Por isso seria natural a opção por este lugar. Agora, isso não vai adiantar nada: você terá que voltar.

Imagine a cena. Você, cansado de um dia de trabalho, senta-se e vive mentalmente estar muito bem numa ilha isolada, tomando banho de mar, cercado de natureza. Fica ali relaxando, mas uma hora alguém lhe chama e diz: acorda, está na hora de trabalhar.

Optar pelo mundo dos devas é isso.

Participante: O verso 9.25 do Bhagavad Gita diz: ‘aqueles que adoram os semideuses, nascerão entre os semideuses. Aqueles que adoram fantasmas e Espíritos nascerão entre tais seres. Aqueles que adoram os antepassados irão ter com os antepassados e aqueles que me adoram, viverão comigo’. Por isso pergunto: como adorar o Deus verdadeiro e não aquele que eu crio, e viver com Ele?

Essa adoração que quer encontrar surge quando não adora os outros deuses.

Sua pergunta é idêntica ao que já falei a respeito de se chegar à felicidade se você não sabe o que ela é: eliminando o que você sabe que não é felicidade.

Se há três elementos no mundo (prazer, dor e felicidade) e você não sabe ir para a felicidade porque não a conhece, mas conhece os outros elementos, vá aos poucos abandonando cada um deles e com isso chega ao caminho do meio, onde está a felicidade.

Você chega à felicidade, não a gera; chega à felicidade, não se torna feliz; chega ao verdadeiro Deus, não busca Deus.

Deu para compreender? O processo não é de criação, mas sim de eliminação, pois para vocês é impossível criar algo que não conheçam.

Participante: No livro “A dois mil anos”, de Emmanuel, que estou lendo, se faz menção, no início do livro, ao pesar que foi essa existência para ele, pois esteve com Jesus e o negou. Nessa visão que estudamos, porque ele teria esse pesar se sua missão aqui era justamente fazer isso?

Porque ele ainda é um deva. Você acabou de ouvir um verso do Bhagavad Gita que fala sobre isso.

Não é que o Espírito que ditou isso ainda está atrelado a um ego: ele é um ego humano. Não se tratam de palavras de espírito, mas sim de ego, pois ainda foi sentido pesar.

Aliás, uma das coisas que vai mudar a partir de agora é que vamos parar de falar em ego. Isso porque se eu falo de ser humano, não posso falar de ego, pois o ser humano é o ego. Sendo assim, você não tem ego: é o ego.

Voltando ao caso do autor do livro que citou, na época que ele escreveu estava atrelado a um ego, era um ego. Hoje pode não ser mais, não sei lhe dizer. Mas uma coisa posso lhe dizer: quem é humano fala de coisas humanas. Paulo e João, o Evangelista, dizem isso.

Só os que vêm de cima falam coisas de cima. Não adianta querer ouvir coisas humanas de seres que vêm de cima, porque eles não falam mais disso.

O pesar é uma coisa humana, então só pode ser falada por seres humanos.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Outras perguntas

Participante: Por que temos que recorrer à bíblia e às obras de Kardec se Deus conversa com a gente o tempo todo? Estamos como nos dias de Ló, quando tudo estava acontecendo e ninguém via?

Ninguém conversa com você, a não ser quando você ouve uma voz. O que é um pensamento senão uma voz dentro de você? Quem fabrica o pensamento? Você.

Então, esqueça a ideia de Deus falar com você. Deus não lhe fala. Você está muito longe Dele para ouvi-Lo.

Já reparou que Deus só fala o que você quer ouvir? Por isso, Ele não é Deus, mas o seu deus.

Participante: Os incomodados que se mudem. Este ditado popular deveria nos levar a compreender que se estamos incomodados com alguma coisa, o problema é só nosso e não na coisa ou pessoa. Além disso, quando o nosso jeito de ser incomoda algumas pessoas, não temos obrigatoriamente que mudar. O que importa é a consciência tranquila. Pode esclarecer isso?

Realmente os incomodados que se mudem.

O problema é que os seres humanos querem mudar de lugar quando se incomodam com alguma coisa. Quando fazem isso, já reparou que o incômodo volta a aparecer? Não importa quantas vezes vocês mudem de lugar: o incômodo sempre ressurgirá.

Sendo assim, não adianta mudar de lugar. O que você precisa fazer é mudar a forma de viver o incômodo. Isso só se faz através da mudança de consciência, ou seja, da forma de viver a vida.

Participante: Esses ensinamentos foram divisor de águas em minha vida. Fui espírita, Kardec e umbanda, criado na igreja Batista e conheci diversos segmentos de estudos. Gostaria de saber porque em nenhum desses conhecimentos disponíveis nunca tinha ouvido falar que vivemos numa ilusão, que não devemos agregar valores às coisas, seja bom ou ruim e principalmente que o livre arbítrio é do Espírito. Posso dizer com toda certeza que se disser para qualquer pessoa, que Deus cria tudo e que você é apenas um ventríloquo, ele irá me chamar de louco. Se esses ensinamentos são tão inovadores, quais as chances das pessoas passarem para a nova fase, principalmente nesse momento de transição?

Usando Deus Causa Primária? Nenhuma.

Nenhuma pessoa passará para nova fase usando o ensinamento Deus Causa Primária. Falo isso porque vocês acham que aprenderam este ensinamento, mas na verdade não aprenderam. Na realidade, vocês apenas criaram culturalmente uma ideia do que é ser Causa Primária.

Sabe porque digo isso? Por que vocês só usam Deus Causa Primária quando querem usar. Vocês acham que Deus é Causa Primária, mas ainda acham que vocês existem. Se Deus é Causa Primária de tudo, vocês não existem!

Vocês acham que Deus é Causa Primária, mas se isso fosse verdade, não iam acreditar que alguém está falando aqui, que vocês estão ouvindo aí e nem que existe o computador entre nós. Mas, ainda acreditam nisso tudo.

Deus Causa Primária de todas as coisas é o ensinamento que para o ser humano, para a busca para a felicidade do ser humano, não serve para nada.

Agora, porque nunca lhe falaram isso? Porque todas as religiões querem lhe prender ao mundo do devas dela. A igreja católica e evangélica querem que você vá para o paraíso, o budismo quer que vá para o Nirvana, o muçulmano quer que você vá para uma tenda cercada por virgens. Todas elas criaram o seu próprio mundo de devas e querem que você vá para lá.

Eu não quero isso para vocês.

Participante: Mas, se o meu pensamento não é meu, então, estou sendo usado por algo que não sei o que é?

Sim, o seu pensamento não é seu e você está sendo usado. Agora pergunto: quem está perguntando?

Não, de que adianta saber de tudo isso se você não vive com essa realidade? Se vive com a realidade que é o que você pensa? Você vive aquilo que pensa estar vivendo...

Eu sei que você não pensa. Eu sei disso, mas você não sabe. Sendo assim, não adianta querer viver com essa ideia.

Eu só estou querendo mostrar que vocês estão correndo atrás do rabo. Vocês estão dizendo que entenderam, mas não entenderam.

Participante: Então todo processo é mental?

Viver é uma atividade mental e não física.

Pegue cinco pessoas e os coloque frente à um mesmo fato e terá cinco realidades diferentes, pois cada um vai dizer uma coisa, vai pensar uma coisa do fato. Ao pensarem coisas diferentes, cada um viveu um fato diferente.

Então não é fazer o fato que é viver, mas sim pensá-lo.

Participante: Se a forma de viver está relacionado à consciência, como fica a sinceridade do nosso coração para alcançarmos a nossa evolução? Está relacionada à fé?

Volto a repetir: coração para vocês é o músculo que bombeia o sangue. Só isso.

Vocês não têm coração no sentido de sentimentos. Sabe porquê? Vocês amam aqueles que lhes amam, amam aqueles que acham certo, gostam daqueles que lhes puxam o saco, gostam da comida pelo sabor ela tem. Cadê coração nisso? É tudo razão.

É a razão que lhe diz para amar fulano porque ele é muito bom. Não foi o coração que lhe disse isso.

Portanto, esqueça coração. Não dá para trabalhá-lo: só dá para trabalhar a razão. Isso porque a razão cria a realidade.

Eu não sei se alguém aqui já passou por isso, mas tomem uma pancada na cabeça. Vocês não saberão mais quem é, o que fez antes, o que vai fazer depois, o que pensava, nada. Ou seja, apagou a sua razão, você deixou de ser quem é.

Tem um filme chamado ‘Quem Somos Nós’. Nele os cientistas dizem assim: se ligar um terminal de computador à sua mente e inserir os dados no computador, você vai ser o que o computador disser que tem que ser. Ora, se você é tão frágil, se uma pancada ou um computador, faz deixar de ser quem é, vai se preocupar com o que?

Participante: Não sou eu que quero ter relações sexuais, mas o programa da minha vida. Não é isso?

Desculpe-me, que programa da sua vida? Você faz coisas programadas pela vida ou ainda acredita em surpresas? Ou ainda acredita em acaso, destino?

Não, acreditar em programação é coisa para Espírito. Ele sabe o que é programar uma vida, mas você só sabe o que é vivê-la.

Você, quando tem relações sexuais, tem antes o desejo de tê-la. Se tem o desejo de tê-la, atribui a realização dela ao desejo e não a uma programação.

Participante: Esse grupo que te acompanha é o teu carma de um passado longínquo?

Eu é quem sou o carma deles.

Se eu dissesse que eu sou guia, mentor, todos iam embora porque eu nunca puxei o saco deles, nunca passei a mão na cabeça deles...

Não, eu sou o carma deles.

Participante: O romance espírita fala apenas de homens sem corpos materiais. Ele é tão ilusório quanto a própria vida carnal? Qual o valor em saber de tudo aquilo que está nos romances espíritas?

Os romances espírita falam de homens sem carne e não de Espíritos. Preste atenção nos romances espíritas e veja se aqueles Espíritos não são seres humanos? Sim, são.

Qual o valor em saber de tudo aquilo? É o de prender vocês ao mundo dos devas.

Deixe-me lhe falar uma coisa. No Universo Universal, já disse aqui, não existe religião. Além do mais, a Bíblia nos ensina que o novo mundo será marcado pelo fim das religiões. Sendo assim, você acha que a religião quer lhe levar para o mundo universal? Não, o que ela quer é lhe fazer religioso nesse e no mundo dos devas.

Então, é por isso que existem os romances espíritas: para lhe manter preso ao entra e sai da roda de encarnações e, com isso, as religiões vão sempre tendo adeptos.

Participante: Paulo diz: eu morro todos os dias e é por isto que eu vivo. Como morrer todos os dias?

Não estando vivo todos os dias. Esse morrer de Paulo é algo que falaremos durante esse ano.

Morrer é não ter razão. Morrer todos os dias é não dar continuidade à vida, não transformá-la numa história corrida. Morrer todos os dias é não ser elogiado, não ter a fama. Ao contrário, é receber a infâmia e ser caluniado.

Esse morrer que Paulo fala é um conjunto de atitudes mentais que lhe deixa vivo. Quando você morre todo dia, está vivo, pois o vivo é aquele que está feliz. Vocês mesmo dizem quando estão nervosos, cansados, de saco cheio: ‘eu estou mortinho da silva’. Esse é o morrer que Paulo fala.

Agora, não esqueçamos que quem não morre não renasce, não é mesmo?

Participante: O apóstolo Paulo define a fé. Para ele é o firme fundamento das coisas que se esperam. A razão é uma obra do Criador inerente ao homem e a fé é um dom que o Criador nos concede? A razão e a fé se contradizem?

Sua pergunta está muito boa. Deixe-me tentar explicar.

Existe fé, no sentido religioso? Fé em Deus, existe? Sim, mas no mundo espiritual, no mundo dos Espíritos. No mundo dos devas ou dos humanos com ou sem carne, o que existe é uma fé humana.

O que significa para vocês ter fé em Deus? É acreditar que Ele vai lhes dar tudo de bom. Isso não é fé espiritual, é humana, é uma ação daquele que se entrega pedindo.

Paulo falava da fé fora espiritual e não da humana. Nesse trabalho também não vou falar de fé, pois não adianta, já que vocês só conhecem a fé humana.

Todos os seres humanos têm fé em Deus, fé de que Deus vai lhes dar aquilo que esperam ganhar, nem que seja o que chama de mundo espiritual.

Participante: O que é alcançar a felicidade nesse nosso mundo?

É não ter prazer nem dor; é não se exaltar quando por acaso ganhar o que esperava ganhar e não sofrer quando receber o que não esperava receber.

Participante: Você está destruindo toda obra de Chico Xavier. Pode me explicar isso?

Posso.

Estou destruindo-a porque ela só levou vocês para o mundo dos devas, ou seja, só tratou de um modo humano a coisa humana. Nada de espiritual foi abordado.

Agora, deixe-me dizer uma coisa: eu não estou destruindo a obra do Chico não, viu? Estou destruindo a compreensão que lhe passaram das obras do Chico, porque ele nunca escreveu para humanos.

Se ler a obra de Chico com outros olhos e não com os da Federação Espírita, vai chegar a outras conclusões.

Participante: É possível ser feliz vendo na televisão milhares de pessoas soterradas no Haiti?

Claro que é. Não é você quem está lá embaixo!

Você vive o aqui e o agora. Qual é o seu aqui e o agora? Estar na frente da televisão e não debaixo de destroços.

Só que para viver assim vai ser preciso entender – e nós vamos falar disso – a verdadeira compaixão. Compaixão não é sofrer com o sofrimento dos outros: é ter consciência de que eles estão sofrendo e não sofrer com eles.

Essa pergunta eu poderia responder até da forma que respondia antes, espiritualmente falando. Como fazer isso? Tendo fé em Deus. Se você acredita em Deus e acha que Ele é bom, não vai sofrer com isso: verá naquilo bondade.

Estão vendo como dizem que acreditam que Deus é bom, mas não acreditam Nele dessa forma se não fizer o que vocês acham bom?

Portanto, seja pela forma humana ou pela espiritual, você pode ver tudo aquilo sem sofrer.

Participante: O que é não ter o desejo pelo prazer? Olhar para um chocolate e desistir de comê-lo? Comer tentando deixar de acreditar que se gosta dele? Como deixar de ter prazer com as coisas materiais? Como devemos nos portar aqui fora? Fingir para o ego que se gosta daquilo que não se gosta e o contrário também?

Não. O desejo não estar em comer, mas sim na vontade de comer.

Comer é uma coisa; ter vontade de comer é outra. Comer é um ato que você está vivendo; vontade de comer é um desejo que pode ser atendido ou não. Dando margem ao desejo de comer, quando ele acontecer, terá prazer. Só que o prazer não nasceu no comer e sim no desejar. Desejando comer e não tendo, vai sofrer.

A felicidade é comer por estar comendo e não porque queria comer.

Participante: Porque esse processo para a elevação espiritual tem que ser tão complexo? Porque esse circo todo?

Pelo contrário, o processo é simples: são vocês que complicam.

Afirmo que vocês complicam porque quando digo que não existe certo nem errado, vocês dizem: ‘eu acredito que não existe certo nem errado’. Só que mais tarde dizem: ‘Deus é certo’.

Vocês complicam quando eu digo que não existe o bom nem o mal, mas continuam acreditando que o mundo espiritual seja bom.

Vocês é que complicam. Fazem isso porque não ouvem, ou melhor, não aplicam o que ouvem à tudo. Só aplicam para aquilo que querem aplicar.

Então, o processo é simples: é só não ter certo nem errado. A partir desta postura, mais nada poderá estar certo ou errado. Só que isso acontecer é preciso muito treino.

Participante: Não se exaltar ou não sofrer significa não expressar sentimentos? Expressá-los de que forma?

Você deve estar falando isso na mente. Você deve não se exaltar na mente, não no corpo. Se não se exalta na mente nem se deprecia através dela, cai na depressão, está na felicidade.

Agora, no corpo, pode se exaltar à vontade.

Participante: O senhor disse que o Espírito em sua essência somente tem o nome dado por Deus como sobrenome da família de Deus. Porque então Emmanuel mantém essa identificação? Ele ainda está atrelado a um ego?

Eu nunca falei que espírito tem nome. Pelo contrário: sempre disse que não tem cor, sexo, religião, nome...

Espírito não tem nada disso. Quem tem estas coisas são os espíritos humanos, os humanizados. Portanto, se esse ser se identifica por um nome, com certeza ele é humanizado.

A partir do que acabei de falar, você poderia dizer que eu também me identifico por um nome. Sim, pois como já disse em diversas ocasiões, Pai Joaquim de Aruanda é um ego, é um espírito humanizado. Pai Joaquim de Aruanda é um Deva.

Participante: Se Pai Joaquim é um deva, quem é você?

Um deva.

Participante: Pai Joaquim é um deva. E agora, a qual mundo de deva este grupo pertencerá?

Àquele que você buscar.

Participante: Estou estudando as palestras do livro Senhor da Yoga. Nelas o senhor disse que não podemos ser donos do direito de escolha dos outros. Como isso se encaixa aos filhos, por exemplo. Minha filha poderá fazer algo que julgo estar errado ou que esteja na iminência de se ferir ou se sujar. Como devo proceder no caminho do Senhor da Mente?

Sabendo, e isso é uma outra coisa que vamos falar, que a vida vive por si e que jamais vai conseguir prevenir todos os acidentes da sua filha. Um dia ela vai cair, se tiver que cair. Para isso, neste momento poderá estar longe de você.

Na hora em que se conscientizar disso, quando socorrer fisicamente, socorreu. Aí não terá prazer e nem terá sofrimento quando não conseguir socorrer.

Participante: Então é o conformismo? Está tudo bem como está?

Não, não é o conformismo. O conformismo é dizer ‘que droga, não tem jeito’. Não estou falando em se conformar; estou dizendo em constatar que as coisas são assim.

Você está aqui? Está. Se disser ‘que droga de que eu estou aqui’, ou seja, se conformar, vai sofrer. Agora, se constar que está e neste momento não há nada que possa fazer a respeito disso, viverá este momento de uma forma diferente.

Para ser feliz você deve apenas constatar que está aqui, que isso está acontecendo na sua vida. Só constatar, não se conformar.

Participante: Meu cunhado disse que o preto velho que incorporo disse a ele que no Universo o Espírito vive só esperando o chamado de Deus para a missão diária. Então, temos que nos acostumar a viver só sem emoções e apáticos?

O Espírito vive só no Universo, apesar de estar cercado de todos, pois não vive para fora, mas sim para dentro.

Nessa vida, se quiser você ser feliz, vai ter que ser só. Não solitário, mas sozinho.

Estou falando em ser só no sentido de estar sempre voltado para dentro, sempre voltado para você com atenção plena para ser feliz. Se não for assim, não vai conseguir.

Participante: Não há lugar para ir, nada para fazer, apenas sermos o que estamos sendo nesse momento?

Não há lugar para ir a não ser aquele que você for. Não há nada para fazer a não ser aquilo que você está fazendo. Não há nada para ser a não ser aquilo que você é.

O que interessa é a forma como vive o lugar que está, a ação que está fazendo e quem é. Isso é o que interessa, não o que faz.

Se vive quem você é se criticando, vai viver no sofrimento; se vive quem é se elogiando, vai viver no prazer. Se vivencia quem é, sendo quem é, é feliz.

Participante: Não devemos perder a esperança. Mas, como ter esperança sem esperar alguma coisa?

Ter esperança do que?

Aqui há algumas pessoas com mais idade. Pergunte a elas onde está tudo aquilo que elas sonharam em ser, que tiveram esperança que um dia fossem? Ficou tudo largo ao longo da estrada da vida.

Ter esperança é viver na irrealidade, na ilusão. A vida não é feita de sonhos. Quem vive sonhando e criando castelos de areia no ar são crianças.

O ser humano maduro é um ser humano lógico e racional. Ele não trabalha esperanças: trabalha realidades.

Viva a sua realidade sem esperar nada mais e você será feliz.

Participante: Então, todos que não abandonarem a sansara desse mundo de provas e expiações não vão seguir no novo mundo de regeneração. Se é assim, então a Terra vai ficar quase vazia?

É o que você pensa, viu? Vai não. Eu já disse: vai embora só um terço.

Participante: O livro Exilados de Capela conta a história de um povo que veio habitar a Terra e, pelo que entendi, viviam num planeta com outra evolução. Sendo assim, regrediram ao nosso mundo, de provas e expiações. Essa regressão é possível?

Não, o livro chama-se Os Exilados de Capela ou seja, daqueles que não conseguiram a evolução e que por isso vieram para cá. No próximo mundo vai ter um livro chamado Os Exilados da Terra, ou seja, aqueles que ainda são devas e que vão ser mandado para o novo planeta onde continuará existindo o mundo de provas e expiações.

Participante: recentemente ouvi você dizendo que não existem Espíritos pois, onde existe a Unidade não pode existir a multiplicidade. Se cada ser tem a sua própria consciência, isso não significaria que existem muitas consciências? Ou seria uma só consciência de onde cada ser se nutre da única consciência existente?

Neste caos, existiriam diversas consciências e uma consciência central.

Veja, você está tentando entender o Universo a partir de valores humanos. Se existem muitas consciências, existem muitos Espíritos. Na realidade não há isso.

Nesse trabalho que você se refere, eu disse que são consciências que pensam a mesma coisa. É como se todos pensassem a mesma coisa. Quando todos pensam a mesma coisa, só existe uma consciência, e não existe todos.

Foi isso que quis dizer naquela hora.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Despedida

Portanto, essa foi a introdução a este estudo.

Hoje ainda respondi algumas perguntas sobre como ser feliz, mas falei muito por alto deste tema. Como disse, vamos levar um ano falando disso.

Relembrando a quem me disse que não vai dar tempo para se alcançar a felicidade, vou falar algo: se você esperar um ano, realmente não vai dar tempo. A cada conversa que formos tendo, o que você precisa é alcançar aquilo que foi conversado.

Parem de querer saber porque, para que, como, quando e onde. Ao invés disso, digam para si mesmos: ‘ouvi o que você falou; compreendi que existe esse mundo dos devas e que só estava buscando por ele. Por causa disso estou aqui para você me dizer o que eu faço’.

Se, e vou falar com palavras bem claras, você não comprou a ideia de buscar a felicidade apenas, retirando todo lado místico de sua vida, não espere mudar o seu pensamento daqui para frente porque não vai. Agora, se isso calou em você por qualquer motivo, volte, pois temos muitas coisas para conversar.

Outro detalhe: você jamais vai conseguir fazer o que vou ensinar nestas conversas sozinho. É muito importante entender que a sua busca para a felicidade depende da sua capacidade de ajudar os outros a serem felizes.

Isso foi o que eu deixe no final da mensagem com a qual abri nossa conversa de hoje. Para aqueles que, além de buscar os instrumentos para a sua luta pela felicidade, também quiserem servir ao próximo ajudando-os a ser feliz, eu estou à disposição.

Que vocês fiquem, não na paz de Deus, pois Deus não existe, mas que fiquem na paz. Que repensem tudo o que buscaram nesses anos todos, não importa quantos anos tem de busca. Leia e releia tudo que falamos hoje muitas vezes, até se conscientizar. Se chegarem à conclusão de que o que foi falado é verdadeiro, estou à disposição de vocês.

Fiquem na paz.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Necessidade de definir o que é felicidade

Na conversa passada, falamos sobre a busca da felicidade. Disse que essa busca não pode ser alcançada através dos elementos dito espirituais, pois eles, para vocês, são apenas ideias materiais da Realidade.

Hoje vamos começar a falar sobre a felicidade em si. Mas, para que eu possa fazer isso, vocês precisam antes entender uma coisa: não dá para se falar sobre nada, sem antes se ter uma definição sobre aquilo.

É a mesma coisa da reforma íntima. Eu estava num trabalho com espíritas e disse às pessoas: 'vocês sempre ouviram falar em reforma íntima e em elevação espiritual. Estão querendo fazê-la para chegar à elevação espiritual, mas o que é ser elevado espiritualmente? O que precisa ser reformado para se alcançar a elevação'?

As pessoas não souberam me responder. Por isso eu lhes disse: 'como vocês estão buscando uma coisa, se não sabem nem o que estão buscando? Vai ver até já conseguiram-na e ainda estão buscando’.

É a mesma coisa de agora. Como buscar a felicidade, se vocês nem sabem o que é felicidade? Pode ser que já tenham a alcançado e nem saibam disso. Por isso, vamos começar hoje definindo felicidade. Para fazer isso, teremos que falar dos três estados de espírito que o ser humano possui.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Estado de espírito

Primeira coisa a se falar sobre esse tema: não confundam estado de espírito com sentimento. Estado de espírito é uma coisa; sentimento é outra.

O que é estado de espírito? É a forma como se vivencia os sentimentos ou emoções que se tem. Por exemplo: ter raiva é uma coisa; vivenciar a raiva sofrendo é outra; vivenciar a raiva tendo prazer, é outra; vivenciar a raiva com felicidade, é outra coisa.

Portanto, estado de espírito não é sentimento, mas é a forma como o ser humanizado se relaciona com as emoções que tem. Eles são três: prazer, dor e felicidade. Não existe nenhum outro estado de espírito.

Vamos, então, falar dos três.

O que é um estado de espírito de sofrimento ou dor? Ele existe quando o ser humanizado vive uma emoção (sentimento) com pesar, com a depressão do pesar.

O que é o estado de espírito de prazer? É quando o ser humanizado vive a emoção que está tendo com euforia, com êxtase. Este estado é muitas vezes é confundido com alegria.

O que é o estado de espirito de felicidade? Esse é mais difícil de vocês entenderem. Por quê? Porque pouco conhecem a felicidade. Estão acostumados a viverem todos os sentimentos da sua vida entre o pesar e o prazer, entre o sofrimento e a alegria. Por isso, esse é o mais difícil de explicar. Mas, ao mesmo tempo se torna mais fácil.

Torna-se mais fácil porque se só existem três estados de espírito. Se vocês conhecem dois deles, o terceiro não é nem uma coisa nem outra. Ou seja, podem saber que a felicidade não é nem a exaltação nem o pesar.

Isso, vamos dizer assim, é uma consequência lógica. Mesmo que não saibam o que é felicidade, se só existem três estados de espírito, ela é tudo o que os outros dois estados não são.

Participante: É o caminho do meio?

Esqueçam caminho do meio: isso é ensinamento espiritual. Como disse na última conversa, vocês não vão conseguir colocar em prática aqui na Terra os ensinamentos espirituais por puro desconhecimento da Realidade Universal.

Estou falando a seres humanos e de maneira humana. Por isso vou falar de vida humana e não de mundo celestial.

Chegamos, então, à primeira definição sobre felicidade: ela é um estado de espírito onde não há prazer nem dor quando se vivencia as emoções.

Posso, ainda, chamar esse estado de espírito de equanimidade. Posso fazer isso sem misturar o que estamos falando agora com assuntos espirituais. Por quê?

O que é equanimidade? Ter uma única emoção. Equânime é aquele que não varia o seu estado de espírito seja qual for a emoção que vivencie.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Paz de espírito

Chegamos à primeira definição de felicidade. Mas, só ela não basta. Precisamos dar uma definição melhor.

Para compreender o assunto, vou dar a definição primeiro e depois a explico: felicidade é um estado de espírito que corresponde ao que vocês chamam de paz. É a paz de espírito. Quando o ser humano está em paz, está feliz.

Apesar de ser uma boa definição para felicidade, essa ainda não pode não lhes satisfazer, pois vocês não sabem o que é paz. Por isso, vamos definir paz antes de prosseguirmos.

A paz, como compreendida na Terra, é um estado de espírito que surge quando o ser humano domina o outro e o submete aos seus critérios de certo, bom e justo. Ou seja, quando o outro é aquilo que vocês querem que seja, estão em paz. Quando acontece aquilo que querem, então dizem que estão em paz. Mas, isso não é paz: é prazer, exultação do prazer.

Seguindo apenas a lógica humana, posso dizer que a paz existe quando não há guerra. Isso é lógico, pois para vocês guerra é antônimo de paz.

Sendo assim, posso dizer que a felicidade é um estado de espírito onde o ser humano convive com as suas emoções sem guerra, sem guerreá-las.

Agora, me respondam: o que é guerrear contra as emoções? Mais: a partir do que é guerrear contra as emoções, qual é o resultado do não guerrear contra elas?

Participante: Guerrear contra as emoções é sofrer ou ter prazer com as emoções. Quando não se tem nem uma nem outra coisa, se tem a equanimidade que é a paz.

Está rebuscado demais.

Guerrear contra as emoções é ir contra elas. É ser contrário às emoções que está sentindo.

Quando deixa de ir contra elas, o que fez, como passa a viver? Em harmonia com as suas emoções. Portanto, a felicidade nasce da sua harmonização com as suas emoções.

Ninguém constrói felicidade, ninguém é feliz. A pessoa se harmoniza com as suas emoções ou sentimentos e ao fazer isso passa a viver feliz.

Foi por isso que eu disse na semana passada: não adianta buscar a felicidade porque quem a busca não acha. O que vocês precisam é harmonizarem-se com as suas emoções.

Mas, o que são as emoções que vocês vivem? A vida de vocês.

O que é viver, senão estar bem num lugar e mal no outro? Gostar de uma coisa e não gostar de outra, sentir carinho por alguém e não sentir carinho pelo outro? As emoções que vocês sentem determinam o que estão vivendo.

As suas vidas são o somatório do que vocês sentem o tempo inteiro. Nada mais que isso.

Quando falo que a felicidade nasce da harmonização com as suas emoções, estou dizendo que ela nasce quando estão harmonizados com a vida que têm. Quando estão em paz consigo mesmos, estão harmonizados com a vida, não vivem as emoções nem com prazer nem com a dor.

Participante: E se eu conseguir atingir isso plenamente?

Plenamente você não consegue nem fazer cocô quando quer.

A plenitude de qualquer coisa não existe no mundo humano. Por quê? Porque o mundo humano é formado de vicissitudes: tem horas que se consegue e em outras não.

Agora, na hora que não conseguir, o que tem que fazer? Se harmonizar com o não ter conseguido.

Harmonizar-se com você do jeito que está: essa é a origem da felicidade. Naquele momento você foi não conseguir? Harmonize-se com você.

Quem sonha em conseguir o tempo inteiro não está harmonizado consigo mesmo, pois não vai. Esse não é um mundo absoluto, é relativo ou seja, um mundo onde às vezes acontece uma coisa e outras não.

Portanto, aí está, a primeira ideia sobre felicidade para guiar o nosso trabalho. Como disse, não vamos em busca da felicidade, buscar criar uma felicidade, mas vamos em busca de nos harmonizarmos com a nossa vida, com as nossas emoções para não ficarmos estagnados entre o prazer e a dor. Na hora que não conseguirmos nos harmonizar, nos harmonizaremos com esse não conseguir.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Questões sobre a felicidade

Participante: Poderíamos dividir o estado de espírito também em relaxamento e tensão?

Não, relaxamento é quando se está no prazer; tensão é quando se está na dor.

Participante: Como se dá a prática da prática disso? Como se harmonizar com as emoções? Apenas aceitando-as?

Até o final do ano você saberá. Estamos começando o trabalho e por enquanto só definimos a felicidade.

Participante: Não seria muito chato viver assim sem prazer nem dor?

Para quem vai ser muito chato viver assim? Para quem quer prazer e dor.

Veja, você não é obrigado a buscar a felicidade. Precisa entender que tem todo direito de viver entre o prazer e a dor agora. Mas, além disso, tem que compreender que quem vive entre prazer e dor vai ter momentos de sofrimentos. Por isso, não reclame do sofrimento.

O problema é que vocês só querem o prazer e não querem a dor e isso não existe.

Participante: O senhor fala em viver o momento com o fim nele mesmo?

Não sei qual a finalidade do momento e nem interessa. Por enquanto estou dizendo apenas que você precisa estar harmonizado com o momento, só isso. Ainda não falei em viver o momento; falei apenas em harmonizar-se com o momento.

Mas saiba, se buscar uma finalidade para o momento, estará fora da harmonia.

Participante: Existe uma manifestação física no corpo humano quando nos realizamos em Deus? A energia da Kundalini pode ser isso?

Se você realizar-se em Deus materialmente, vai realizá-Lo no ego, pois o seu Deus é o seu ego, é o que ele diz.

Se realizar-se através da Kundalini, vai estar realizando-se materialmente, pois você não sabe o que é Kundalini: tem apenas ideias humanas sobre o que é.

Portanto, esqueça essas coisas, pois se for por este caminho, vai entrar num labirinto no qual não logrará sair e enquanto estiver lá, não vai fazer o que tem que fazer.

Participante: Mas, as emoções não são a manifestação da insatisfação, manifestação da não aceitação?

Não, as emoções são naturais, elas surgem espontaneamente em você.

Você não escolhe ter raiva de alguém, quando vê está tendo; não escolhe gostar de alguém, quando vê está gostando. A emoção surge em você.

Agora pergunto: é Deus quem cria? Não, não existe Deus. Vamos acabar com isso; vamos viver na realidade. A realidade é que as coisas surgem em você. De onde elas vêm? Isso não interessa.

As emoções surgem em você e quando isso acontece, não tem como mudar. Agora, pode aprender a conviver com o que surge, já que não pode mudar o que surge.

Participante: Podemos viver intensamente o prazer? Posso me integrar totalmente quando há prazer?

Pode e deve, se quiser. Mas, antes de fazer isso, deve ter uma certeza: vai sofrer no momento seguinte.

Vou dizer uma coisa muito clara: tudo nessa vida tem um custo. Quem se entrega ao prazer tem um preço a pagar por isso: viver o sofrimento. Isso porque o mundo é formado por vicissitudes.

É só isso que você deve ter consciência. Não é preciso buscar a felicidade: você tem todo o direito de se entregar ao prazer, de nunca mais querer falar o nome de Deus ou de buscar qualquer coisa. Isso é um direito seu. Pode fazer isso porque, como acredita, possui o livre arbítrio, ou seja, o direito de livre arbitrar a sua vida.

Se você acredita que tem o livre arbítrio e que quer se entregar só ao prazer, pode optar por isso. Opte e ninguém vai lhe chamar de errado, pelo menos eu não vou.

Agora, saiba que isso tem um custo para você: o sofrimento futuro.

Participante: Completando a minha pergunta, convém me deleitar por exemplo na alegria de sentir o frescor da manhã ou na risada de um amigo, sem medo de esperar o sofrimento seguinte?

Deleitando-se com o frescor de uma manhã, quando o amanhecer for bem ensolarado, bem quente, você vai sofrer. Por que? Porque quer se deleitar no frescor.

Se você gosta do frescor, se deleite, mas saiba que nem todo dia vai ter frescor na manhã. Haverá dias que amanhecerá calorento e, por estar preso ao gostar do frescor, neste momento sofrerá.

O mundo não é certinho e sempre a mesma coisa, ou seja, absoluto. O planeta Terra é feito por vicissitudes: um dia é de um jeito e no outro é de outra forma.

A mesma coisa serve para o sorriso de um amigo: haverá um dia que ganhará uma mordida dele. Preso ao seu sorriso como algo certo e bom, neste momento vai sofrer. Não por causa da mordida dele, mas porque quer se deleitar no sorriso.

Se você está na felicidade, quando o amigo lhe sorri ou lhe morde, não terá prazer nem dor.

Participante: Mas, posso viver no prazer consciente de que também há dor. Posso viver o prazer e me deleitar nele consciente de que também poderei sentir dor.

Sim, pode, ninguém vai lhe impedir e pelo menos eu não vou lhe dizer que está errado.

Participante: Então é possível viver plenamente na felicidade, pois para isso basta se harmonizar o tempo todo com o momento, com todas as vicissitudes inerentes, certo?

Dentro da utopia de vocês, sim. Dentro da realidade, não.

Por que? Porque tem horas que não vai conseguir estar atento, pois o mundo é feito de vicissitudes, ou seja, uma hora consegue e em outra não.

Dentro da utopia de vocês, sim, podem, mas não estou aqui para sonhar: estou aqui para falar da realidade. E a realidade é essa: algumas vezes vão conseguir estar atento e não viver o prazer nem a dor, mas, em outras vezes, não vão conseguir. Quando não conseguir, harmonizem-se consigo por não ter conseguido.

Como Paulo diz: você pode fazer tudo o que quiser, mas nem tudo o que faz é o melhor.

Participante: Você uma vez disse que não se preocupava com o que nós fazíamos, mas sim com a capacidade que temos de sofrer.

Sim, eu me preocupo com a capacidade que vocês tem para sofrer, pois a vida não foi feita para ser vivida em sofrimento.

Sofre quem quer sofrer, ou melhor, sofre quem quer ter prazer. Quem quer ter prazer vai sofrer, com certeza.

Participante: Não vem ao caso se estou certo ou não, mas vou ter que viver uma vida morna sem ao menos poder desfrutar quando há prazer? Eu posso ter prazer consciente de que ali também poderia haver dor.

Foi o que eu já disse: você pode ter o que quiser, não há o menor problema. Apenas tenha consciência do preço a pagar pelo o que você quer, só isso.

O problema é querer uma coisa e depois chorar quando vier outra. Vamos falar agora sobre isso.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

É preciso se harmonizar com o agora

Qual é a primeira coisa que preciso fazer para me harmonizar com a minha vida, com aquilo que sinto, com as emoções que tenho?

Participante: Se harmonizar com a vida.

As emoções são a vida.

O que você tem que fazer para se harmonizar com as suas emoções, ou seja, com a sua vida?

Participante: Aceitá-la como vier

Antes de aceitá-la como vem, é preciso saber como ela está. Como é que você vai se harmonizar com uma coisa que não sabe o que é?

Para poder harmonizar-se com a sua vida a primeira coisa que precisa saber é como ela está. Para saber isso, é preciso que você esteja no presente. Se não estiver no presente, no momento de agora, não vai conseguir se harmonizar com a sua vida.

Você quer se harmonizar com que vida: com a que já passou ou com a que ainda vai vir? Isso é impossível, pois elas não existem. Você só tem essa vida, esse momento, para viver.

Acontece que vocês só vivem com a cabeça no passado ou no futuro. Por isso não conseguem se harmonizar. Não sabem nem o que é preciso fazer para se harmonizar com a vida, pois nunca estão no presente, nunca estão no aqui agora.

O primeiro detalhe para conseguir ser feliz é estar no aqui agora, pois se não estiver, não vai saber se harmonizar com a sua vida, já que ela só existe no aqui agora.

Esse é o grande detalhe da felicidade. Só é feliz de verdade aquele que tem plena consciência do aqui e agora que está vivendo. Sem a plena consciência do que é a sua vida nesse momento, você não tem como se harmonizar.

Por que estou falando isso? O que é se harmonizar com a sua vida? É estar de acordo com o aqui e agora. Se você não sabe o que está acontecendo no aqui e agora, como é que vai ficar de acordo com a sua vida?

Vocês querem ser felizes e o primeiro passo para isso é estar presente no aqui e agora. É estar completamente sintonizado com esse momento.

Agora pergunto: como se sintonizar com o aqui e agora?

Vou fazer mais um exemplo para ficar mais fácil a compreensão: imagine que você quer ouvir a rádio B, mas o aparelho está sintonizado na rádio A. Como fazer para sintonizar na rádio A? Como viver o aqui e agora?

Acabei de dizer: tendo plena consciência do aqui e agora, ou seja, tendo plena consciência de tudo o que está no aqui e agora. O que é que estar aqui e agora nesse momento para vocês?

Participante: Estou aqui sentado ouvindo a sua palestra e vendo o pessoal fazer as perguntas.

Perfeito. Esse é o seu aqui e agora. Mas, me responda: adianta se preocupar com alguma pessoa que não esteja aqui nesse momento? Claro que não, pois ela não faz parte do seu aqui e agora.

Veja. Você pode estar sentado aqui, mas a sua cabeça pode estar pensando em alguma pessoa. Se não cortar esse pensamento, não estará mais no aqui e agora. Com isso, não conseguirá se harmonizar com este momento e certamente viverá um prazer ou uma dor sem sentir: o corpo cansará, virá a vontade de falar com aquela pessoa.

Estando fora do aqui e agora dará margem para que a mente lhe imponha o sofrimento: 'isso não acaba? Tenho que sair daqui, tenho que ir embora, pois preciso falar com aquela pessoa'.

Toda essa elucubração mental só foi possível porque quando veio a ideia de que tinha que falar agora com alguém, você não disse para si mesmo: 'não, eu não posso falar com ninguém agora porque estou sentado aqui ouvindo a palestra e vendo o computador'.

Harmonizar-se com o momento de agora é isso: é estar no aqui e agora constatando todas as coisas que estão aqui, não indo para outro lugar e nem se perguntando porque, como, quando, onde ou no que vai dar esse momento.

Estando aqui perguntando por que está aqui, não está centrado no momento de agora: está ligado no passado, ou seja, se perguntando porque veio para cá. Estando aqui perguntando como chegou aqui, não está centrado no presente.

Para ser feliz, portanto, é preciso se harmonizar com o momento de agora. Porém, repare que ainda não disse como se harmonizar. Falei apenas que para se harmonizar com o momento de agora a primeira coisa que precisa fazer é ter plena consciência do que está acontecendo na sua vida no aqui e agora, ou seja, é preciso que esteja aqui de corpo, alma, espírito, de tudo.

Não adianta estar aqui pensando em outra coisa; não adianta estar aqui sonhando em estar em outro lugar; não adianta estar aqui discutindo por que veio. Isso não vai lhe levar a lugar algum, pois vai fugir da vida que tem, pois a que você tem nesse momento é estar aqui e não discutir o porquê de estar aqui.

Daqui a um segundo, levantando-se, a sua vida será sair daqui. Então, saia. Mas, quando sair, não deixe a mente aqui. Nem pense mais no que está acontecendo aqui.

Portanto, a primeira providência para ser feliz é essa: estar harmonizado com o momento de agora. Para que consiga essa harmonia é preciso que tenha plena consciência desse momento. Sem ter plena consciência não há como se harmonizar como o momento de agora.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Questões sobre a harmoniza com o agora

Participante: Não existe harmonia com o pensamento no futuro?

Não, porque o futuro não existe. Nesse caso, estaria se harmonizando com uma coisa que você não sabe como vai ser.

Participante: Como aprendemos a ter essa consciência?

Observando. Retirando da mente tudo que não faz parte do aqui e agora.

Desculpa, mas acho que vocês são bem grandes para saberem o que estão fazendo agora. É só isso: ter a consciência do agora.

Participante: É ser o momento?

Isso é mais complicado. Vocês estão filosofando. Se pelo menos conseguirem constatar o que está acontecendo agora, já valeu muito.

Participante: É isso que o Budismo fala também.

Sim. Mais: que o hinduísmo fala, que Cristo fala. Todo mundo fala a mesma coisa.

Como é que você quer viver o ontem se ele já acabou; como quer viver o amanhã se ele ainda não chegou?

Participante: O problema é que todo e qualquer plano que vem à mente pertence ao futuro ou ao passado, ou seja, situações que jogam você para outro tempo. O que fazer com a avalanche de pensamentos que lhe joga fora do presente? Simplesmente a deixar ir como veio?

Não, é preciso que as repudie. Para isso, tenha a seguinte consciência: o que adianta pensar no futuro ou no passado, se você está aqui agora?

Você tem que repudiar qualquer ideia que lhe envie ao passado ou ao futuro. Como se repudia? Tendo em mente sempre a sua realidade daquele momento.

Pensamentos como 'ah, mas sabe, eu podia', têm que ser respondidos da seguinte maneira: 'não, eu não posso, estou aqui e vou ficar aqui'. 'Ah, mas sabe, eu tinha', devem ser respondidos com um 'não, eu não tenho, estou aqui e vou fazer o aqui, vou viver o aqui'.

Participante: Tenho que ser egoísta com o momento sem pensar em outras obrigações do dia a dia?

Eu não falei em egoísmo. Falei em constatar o momento a cada momento.

Se o seu momento em determinado horário é estar no trabalho, esteja no trabalho. Agora, o que adianta estar no trabalho pensando em estar na praia? Você nem trabalha nem vai à praia e ainda por cima sofre porque acha que é o trabalho que não lhe deixa ir à praia.

O que não lhe deixa ir à praia é outra coisa que nós já vamos falar.

Participante: No exemplo trabalho e praia, a gente não se encontra onde a mente está?

Sim, você se encontra onde a mente está, mas adianta estar lá?

Uma coisa muito interessante: o que estou falando é algo prático e humano. A mente poderá estar na praia, mas você não está. Não está sentindo a brisa do mar, a água, o relaxamento. Está só sentindo o desejo de estar e isso leva ao sofrimento.

Participante: Estar no aqui e agora, estar no momento presente é o despertar da consciência segundo os orientais.

Segundo os orientais sim, mas você não é oriental. Para você, o resultado disso é simplesmente ser feliz.

A felicidade verdadeira só se encontra no momento de agora. Ela só pode surgir quando você está harmonizado com o momento de agora e para isso, se não estiver plenamente consciente do momento de agora, não tem harmonia.

Participante: Estou em um avião e ele cai num deserto. O meu momento é que vou morrer se não encontrar água. É errado pensar que preciso de água para me salvar ou devo pensar que Deus quer me provar vai me fazer procurar água para a minha sobrevivência? Ou ainda: posso me entregar e morrer sem tentar? O que é correto?

O correto é viver o presente.

Quando o avião estiver caindo, caia com o avião. Quando cair e estiver no deserto, viva o estar no deserto. Quando estiver no deserto procurando água, busque água, mas não viva a probabilidade de achar.

Esperar achar é apenas uma possibilidade do buscar. A busca pode ser realizada com ou sem a expectativa do achar.

Você está no deserto e diz a si: 'preciso buscar água. Vou sair para encontrá-la’. A maioria dos seres humanos, neste momento, sai dizendo: 'tenho que encontrar água de qualquer maneira, Vou por aquele caminho e tenho que encontrar água a todo custo’. E se não encontrar, como fica?

Repare bem. Quem não vive o presente sofre. Se você não estiver vivendo a falta d’água, estará preso à presunção de morrer de sede. Neste caso, estará vivendo a agonia da necessidade de encontrar água. Se não estiver vivendo apenas o procurar, estará preso à presunção de que se sair irá encontrar. Além da ansiedade da procura, você ainda viverá a decepção de não encontrar.

Enquanto estiver procurando, o que tem que dizer a si mesmo? 'Estou procurando água e não sei se vou encontrar ou se não vou’. É somente isso que deve ocupar a sua mente neste momento, mais nada. Não deixe a sua mente especular sobre a possibilidade de achar ou não, porque se isso acontecer, estará vivendo uma possibilidade, uma probabilidade e não o presente. Com isso somente alcançará o prazer ou a dor e não a verdadeira felicidade.

Esta deve ser a sua postura se um dia cair com um avião num deserto. Na hora que estiver caindo, concentre-se apenas em cair. Na hora que for procurar água, concentre-se em ir procurar. Na hora que encontrar, apenas encontre. Na hora que tomar, tome a sua água sem preocupação alguma com o futuro.

Viver o presente é vivenciar cada presente no seu exato instante, ao invés de viver no presente o futuro que ainda não aconteceu.

Participante: Quando falei no caso de pensar em estar na praia, apenas quis citar o que o senhor passou para nós: estar onde nossa mente está. Sendo assim, no momento que pensei na praia e estava trabalhando, mesmo não sentindo na pele a brisa do mar, estaria vivendo a vida com o processo mental que ela é. Tem algo de certo nisso?

Eu nunca disse que você está onde pensa estar. O que eu disse foi que o espírito está onde o pensamento está.

Não me referi a você, ser humano, mas sim ao espírito. Você é um ser humano, um homem, uma pessoa humana.

O problema é que quando digo que o espírito está onde seu pensamento está, vocês se acham espírito e, por isso, dizem 'eu estou'. Isso não é real. O espírito está onde o pensamento está, mas você, o humano, não.

Sabe quem é você humano? É o corpo. Eu sei que não é, mas vocês identificam-se pela figura do corpo. Por isso posso dizer que se imaginam como o corpo que possuem. Você acha que é o corpo, por isso acha que está onde ele está.

Por causa desta identificação com o corpo humano, digo que o espírito pode estar onde o pensamento está, mas você humano não, já que dependeria de levar o corpo para o lugar onde está o pensamento.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Mundo das probabilidades

Vamos continuar a conversa de hoje? Falei do mundo dos devas. Agora vou falar de outro mundo que existe é que interfere na felicidade de vocês.

Para falar desse mundo, vou fazer uma pergunta: se não está no aqui e agora, se o futuro e o passado não existem, onde você está? O seu corpo está aqui agora, mas a sua mente não: onde você está neste momento? Onde está sua mente no aqui e agora? No mundo das probabilidades.

Vocês podem viver a vida em dois mundos: no mundo do aqui agora, que eu chamo de realidade, ou no mundo das probabilidades.

'Eu estaria na praia se não tivesse que vir ao trabalho'. Repare nesta frase: ela é só uma probabilidade. Você não pode garantir que estaria na praia se não estivesse no trabalho.

Digamos que decida matar o trabalho e ir à praia. Sai de casa, entra no seu carro e toma o caminho da praia. Acontece que nele bate o carro e não chega à praia. Chegou à praia? Não.

Isso que estou falando pode acontecer? Claro que pode. Pode acontecer isso e outras coisas que não lhe deixe chegar à praia. Como então, pode afirmar que certamente estaria na praia se não tivesse que ir ao trabalho?

Tudo o que não é o aqui e agora, é apenas uma probabilidade de ser.

Ter esta consciência não parece muito importante, mas veja bem: quem está no mundo das probabilidades não consegue constatar todos os elementos desse mundo, pois não está lá de verdade. Apenas vive a ilusão de que estaria.

Quem não tem consciência de onde está o que acontece? Ou sofre ou tem prazer.

Portanto, saiba: a mente lhe mantém preso no mundo da probabilidade para você viver o prazer e a dor. Só isso.

Vou lhe provar o que estou falando. Você decide matar o trabalho hoje e ir à praia; só que chega lá está chovendo. Vai conseguir relaxar ao sol e tomar banho de mar como imaginava que ia fazer? Claro que não.

Você acha que porque saiu de casa, matou o trabalho e pegou o carro, vai chegar à praia e ela vai estar muito bonita. Acha que o sol vai estar muito quente e se deleitará. Isso é a sua mente que está criando; é uma probabilidade que ela criou.

Como você não está vivendo o aqui e agora, se ilude com todas as probabilidades que a mente cria. Quando chega na praia e ela não está de acordo com a probabilidade que acreditou que estaria, sofre. Quando as condições encontradas são as esperadas, tem prazer.

Você não pode ser feliz vivendo o mundo das probabilidades porque a felicidade só existe no aqui e agora. Isso acontece porque só neste último mundo você pode constatar tudo que existe realmente.

Quando o mundo de probabilidades se transformar num aqui e agora, numa realidade, pode ser que você seja feliz. Como? Se estiver no aqui e agora. Mas, entregando-se mentalmente a viver o mundo de probabilidades sem que ele tenha se transformado num presente, é sofrimento ou prazer na certa. Não há jeito de alcançar a felicidade.

Participante: É mais sofrimento do que prazer.

Sim, a probabilidade do que o que quer aconteça é muito mais difícil do que a probabilidade do que quer que não aconteça. Aliás, vocês já sabem disso, pois já vivenciaram isso muitas vezes.

Participante: No aqui agora existem coisas paralelas acontecendo: aquelas do cenário principal e as dos bastidores.

Não existem coisas paralelas acontecendo.

Tudo o que você tiver consciência de estar acontecendo é o que existe. O que está vendo, o que está sentindo o cheiro, o que está provando o sabor e o que está sendo percebido pelas sensibilidades do corpo é o que existe para você.

Tudo o que acontece nos bastidores da vida, você não está vendo, pois está sentado na plateia assistindo a peça. Portanto, esqueça os bastidores da vida, pois eles não pertencem ao seu momento.

Os bastidores da vida é o mundo espiritual, a realidade real do ser. Você só está lá quando está de posse da sua consciência espiritual. Como não está, mas sim ligado à uma consciência transitória chamada personalidade humana, os bastidores da vida não pertencem ao seu aqui e agora. Agora, se estivesse, o que acontece no palco não pertenceria ao seu presente, pois você não estaria encarnado.

Vamos deixar uma coisa bem clara: viver o presente, no presente, pelo presente, é viver aquilo que você tem consciência de estar presente ao seu momento. Coisas mágicas e fantasiosas, como espíritos, energias ou qualquer outra coisa que não posso ser percebida, esqueça, pois não faz parte do seu presente.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Não jogue com a sua felicidade

Portanto, aí está o primeiro passo para ser feliz: viver o aqui e o agora para poder se harmonizar com ele. Mas, para isso é preciso expulsar da sua mente o mundo das probabilidades, pois, além de tudo, se a probabilidade não é uma realidade, ela não é real.

Quem vive só no mundo das probabilidades é como aquele que arrisca o dinheiro em apostas. É aquele que arrisca a sua felicidade. Só que no cassino da vida, as máquinas são todas viciadas.

O mundo não está aqui para lhe servir, ou seja, para que a sua probabilidade vire realidade. Pelo contrário: na maioria das vezes se sofre, pois na maioria das vezes o mundo se põe contrário ás suas expectativas.

A partir disso, lhe digo: sabe por que você não consegue ser feliz de verdade? Porque aposta tudo no mundo das probabilidades.

Você acusa de ruim quem tem o vício do jogo, mas é viciado em jogar com a vida. Para isso gasta a sua própria felicidade.

Todo ser humano é viciado em jogo porque vive apostando que o mundo das probabilidades vai lhe trazer prazer, mas na maioria das vezes traz dor. Mesmo assim, continua arriscando a sua felicidade para ter o prazer.

Quem já viveu, mesmo que seja um pouco, sabe que esperar que a vida lhe contente para ter prazer é perder mais do que ganhar, não? Então veja, acima de tudo viver fazendo essa aposta – vou usar uma palavra, mas, por favor, não se sintam ofendidos – não é burrice?

Por que é burrice viver apostando? Porque aquele momento pode ser de felicidade, mas deixa de vivê-la porque aposta numa outra felicidade que na maioria das vezes não vai chegar.

Exemplos são sempre bem vindos, não são? Vamos a eles...

Moço, o que eu disse quando você falou que queria trocar de carro: 'quer? Queira. Mas enquanto não trocar, viva feliz com esse'. É a prática do que acabei de dizer.

Se você apostar no mundo das probabilidades, ou seja, imaginar que vai trocar de carro só porque quer, não será feliz com o carro que tem. Por quê? Porque vai estar vivendo o sonho de trocar o carro que não sabe se vai alcançar. Bem que já tentou e não conseguiu, não é mesmo?

O que você precisa dizer é o seguinte: 'estou com esse carro? Vou viver feliz com ele enquanto o tiver. Quando conseguir trocar, trocarei. Aí viverei feliz com o que tiver’. Só isso.

Aqui está, então, o primeiro passo para ser feliz.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Sendo feliz, apesar de um assassinato

Vamos, então, fazer um resumo de tudo o que disse até agora.

Disse que a felicidade é um estado de espírito onde se vive a emoção sem prazer ou dor. Esse estado de espírito é representado pela paz. Para ter paz, não pode se estar em guerra contra a vida, contra o mundo.

A partir daí, disse que você precisa se harmonizar com a sua vida. Disse mais: que harmonizar-se com a vida é viver o momento presente completamente consciente de tudo o que está acontecendo nele. Para fazer isso, disse que você não deve dar razão ao mundo das probabilidades que a sua mente cria.

Quando a sua mente cria uma probabilidade e você corta, cai na realidade. Agora, se dá razão a ela, viaja.

Participante: Mas, a vida não é um processo puramente mental?

Acabei de dizer: mentalmente não aceite o que a mente lhe dá como probabilidade.

Participante: Você diz que um assassino foi uma programação de um espírito. E o ato de assassinar? Como ele fazendo esse ato pode passar na prova, visto que o assassino tem o sentimento e a vontade para produzir tal ato?

Que espírito? Um assassino é um ser humano e não um espírito. Você vê um humano fazendo e não um espírito.

Que prova? Você não tem prova, tem vida. Haveria prova para você se ao invés de acreditar no que falou, conseguisse pensar que essa pergunta foi uma prova. Como não consegue, como pode dizer que alguma coisa seja prova?

Esqueça prova, esqueça espírito. Pergunte-me assim: como é que posso ser feliz vendo alguém assassinar outro? Como é que posso alcançar a verdadeira felicidade, não tendo prazer nem dor, vendo alguém assassinar o outro?

Estas questões eu vou lhe responder. Para isso, vamos usar o que falei até agora.

Qual é o momento presente que você está vivendo? O assassinato de uma pessoa. Como se alcança a felicidade neste momento? Dizendo para você simplesmente: é, alguém matou alguém.

Vivendo esse momento dessa forma, pode encontrar a felicidade. Agora, se começar a fazer a si mesmo perguntas como ‘porque a vítima não reagiu', ‘porque aquela pessoa quis assinar o outro’, ‘será que o agressor tinha sido agredido antes e estava agindo em legítima defesa’, entrará no mundo das probabilidades.

Sabe por que o outro não reagiu? Porque não reagiu. Se tivesse reagido, teria reagido. Sabe porque alguém quis matar o outro? Por que quis.

Imaginar que poderia ter reagido ou os motivos que levaram o agressor a praticar o ato é trabalhar com um mundo de probabilidades. Qualquer que seja a conclusão que você chegue além da simples constatação do que aconteceu, não é verdade: trata-se apenas uma possibilidade ser.

Ficando preso nas probabilidades, sejam elas quais forem, o ato não mudará, pois ele já aconteceu. O que lhe acontecerá ser viver o momento presente em sofrimento ou prazer. Vai acusar um dizendo que ele não presta, que aquilo não deveria ter acontecido.

Agora, será que você poderia fazer alguma outra coisa do que deixar de especular sobre o que aconteceu. Será que poderia ter feito alguma coisa para evitar aquele assassinato? Acho que não.

Sendo a vida é um dom de Deus, quem é você para dá-la a alguém? Desculpe, mas por mais que tente, você nunca conseguirá salvar quem tem que morrer. Por isso, achar que poderia fazê-lo, é ser ilógico.

Viver é um processo mental lógico. Que lógica ele usa? A realidade.

A sua realidade neste caso é que está na frente de uma pessoa que matou a outra e você não fez nada para ajudá-la. Acabou: não há outra probabilidade para o momento de agora. Qualquer outra coisa que pense sobre este acontecimento é uma elucubração mental, é uma realidade que não aconteceu. Portanto, é uma falsidade, uma mentira.

Viver o aqui e agora com o que existe de real neste momento sem colocar nenhuma probabilidade de ser diferente do que está sendo, é viver a verdade.

Além do mais, qual é o problema de matar? Se todo espírito está doido para voltar para casa, para o mundo espiritual, qual o problema de morrer? Sendo assim, matar um ser humano é fazer um bem para o espírito.

Vamos entender bem direitinho o que estou dizendo. Estou falando em lógica humana, em felicidade com equanimidade.

Não estou aqui para defender vida, mas também não estou aqui para fazer apologia da amoralidade. Estou aqui simplesmente para dizer a vocês que a humanidade já tentou de todo jeito, inclusive com leis, para acabar com os assassinatos e não conseguiu. Portanto, a probabilidade de acabar com isso não existe, não está na realidade. A realidade é que apesar de haver uma lei, haver cadeia e até em alguns lugares haver a pena de morte para quem mata outro, as pessoas ainda continuam se matando.

Se você não quer matar, não mate, apesar de que isso é uma probabilidade, pois pode matar sem querer. Agora, para poder se dizer lógico, tem que viver a realidade pela realidade, pois só viver o presente no presente pelo presente leva à felicidade.

Mas, vocês querem viver elucubrações mentais, ou seja, sonham que as pessoas podem parar de se matar. A própria observação da história lhes mostra que isso é impossível.

Me respondam uma coisa: quem vai para o hospício? O louco. Quem é o louco? Aquele que vive uma realidade diferente da real. Sendo assim, se você acha que poderia ter salvado alguém que foi assassinado, você é um louco, pois não salvou, e deve ir para o hospício.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Dualidade

Participante: Isso prova que não existe dualidade?

Boa pergunta.

Me responda: onde existe a dualidade? Ele existe, mas onde? No mundo das probabilidades.

Já fiz uma palestra sobre isso.

NOTA – A palestra que o amigo espiritual se refere chama-se como universalizar-se e foi proferida na cidade de São Paulo em dezembro de 2008.

Nela disse o seguinte: quando você diz o sim, o não deixa de existir; ele está apenas no mundo das probabilidades, ou seja, dentro da possibilidade de ter dito não.

Sabendo disso, posso mais uma vez mostrar como o título deste trabalho ('Em busca da felicidade – a verdadeira reforma íntima') está correto. Se a elevação espiritual, segundo correntes orientais, é entrar na unidade, só quando você sai do mundo das probabilidades é que entra nela. Estar em consonância com a realidade é ser um com a realidade. Portanto, no momento que vivenciar a verdadeira felicidade, você se elevou, pois alcançou o que acredita que ser premissa para se elevar.

Porque a verdadeira elevação espiritual acontece quando você atinge a felicidade e não quando aprende a cantar mantra, a rezar ou ficar de joelhos no milho. Ser feliz de verdade é a elevação espiritual, pois só a verdadeira felicidade lhe faz um com a vida. Ela acaba com o dualismo que você vive, pois o dualismo está apenas no mundo das probabilidades; ele não é real.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Mais questões sobre o aqui e agora

Participante: A condição natural do nosso mundo fenomênico ou das probabilidades é sempre a incerteza. Isso não é lógico?

Sim, é lógico. Mas, o que lhe reserva a incerteza? O prazer ou dor. Na hora que você vive o presente no presente pelo presente, está vivendo tudo com certezas.

Participante: No caso, não criar nenhuma expectativa para o futuro e sim esperar pelo presente?

Se esperar pelo presente, já criou expectativa e já está esperando alguma coisa.

Não é esperar pelo presente, é viver o presente e jogar no lixo toda expectativa de futuro. Isso porque o futuro é sempre uma probabilidade e, esperar por um futuro, leva você a um prazer ou a uma dor.

Participante: Esperar o futuro é ter esperança no futuro.

É exatamente isso. Quem espera pode um dia alcançar, mas isso é apenas uma probabilidade de um dia alcançar.

Na realidade, a probabilidade de não alcançar é muito maior. Quando isso acontecer, a queda será inevitável, ou seja, o sofrimento será inevitável.

Agora, se você gosta de sofrimento, viva a expectativa do futuro.

Participante: Vamos cair na mesma história: se fizer fez, se não fizer não fez.

Não existe nenhuma outra história para se cair. Para a perfeita compreensão disso, vou falar algo muito interessante.

A vida é fatalista. Reparem que ela vive por si mesma e não depende das ações dos humanos.

Caso conseguissem tudo o que quisessem, tudo que se esforçam para fazer, eu poderia aceitar que as vidas fossem construídas por vocês. Mas, não é isso que acontece. A maioria se esforça para fazer alguma coisa e não consegue. Por quê? Porque a vida tem o seu próprio ritmo, tem o seu próprio destino.

Portanto, não se preocupem em fazer, pois se vocês acharem que podem fazer vão estar presos entre o prazer e a dor.

Participante: Emoção sem prazer ou dor. Teria um exemplo disso? Não seria outra coisa?

Emoção sem prazer ou dor, é: 'estou com raiva da sua pergunta? Estou, e daí'. Viver dessa forma é alcançar a felicidade.

Como seria viver o prazer? 'Estou com raiva, pois essa porcaria dessa pergunta não deveria ter vindo'. Neste caso eu vivi com prazer, porque vibrei com a raiva.

E a dor? 'Que droga, ele fez essa pergunta; eu não acredito que ele conseguiu fazer. Não queria que ele fizesse’. Quem vive dessa forma está sofrendo com a pergunta.

Viu como pode se viver com a raiva de três formas diferentes?

Só um detalhe: estou ilustrando em palavras, mas o que quero lhes transmitir não se consiste em falar sons, mas sim mentalmente. O que estou falando é que deve falar uma destas frases de você para você. A ilustração em palavras é só para entenderem o que quero dizer.

Participante: Tudo de uma maneira espontânea é não pensar como no jogo, ou seja, sem premeditar as consequências da ação?

Veja: a premeditação acontece na mente; portanto, ela participa do mundo das probabilidades.

'Eu vou lá e matar aquela pessoa'. Quantos já não saíram com essa premeditação e não chegaram lá para matar ou, então, foram mortos antes ou aconteceu alguma coisa que acabou a raiva? Não premedite nada. Ou melhor, não acredite nas premeditações que a sua mente cria.

Quantas vezes você premedita fazer alguma coisa e não consegue?

Participante: Viver sem antever as possibilidades futuras, não seria viver sem plano nenhum ou uma irresponsabilidade?

Aqui existem diversas pessoas que já viveram muito. Para esses, pergunto: onde foram parar todos os planos de vocês para a vida? De tudo o que planejaram para essa vida, o quanto aconteceu, o quanto conseguiram realizar?

Fazer planos é o primeiro caminho para sofrer, pois a vida vive a vida e, quando você a planeja, na maioria das vezes ela não sai de acordo com o seu planejamento. Ela vai viver a si mesma e lhe diz: 'planeje o que você quiser; mas vou viver eu mesma e enquanto estiver vivendo eu mesma, você vai sofrer, pois está planejando viver outra coisa'.

Planejar a vida, sonhar, premeditar o que vai fazer, só leva a uma coisa: sofrimento. Isso porque a vida não acontece dentro dos seus sonhos, dentro da sua premeditação, dentro do seu planejamento. Todos esses sonhos, premeditações e planejamentos só pertencem ao mundo das probabilidades.

Quando você sonha alguma coisa, há uma probabilidade de alcançar. Quando se apega a esse sonho, arriscou muito alto na banca da vida e vai perder tudo que tem.

Participante: para quem faz o ato, no caso do assassinato, como é para ele viver em Deus matando?

É dizer: 'matei, e daí'? É apenas constatar o momento e dizer que matou'.

Quantas vezes pessoas saem de carro para ir até a esquina e matam uma pessoa? 'Eu não queria matar, não tinha esta intenção’, mas matou.

Portanto, é simplesmente constatar a vida: 'eu matei'. Mas, vou lhe fazer uma pergunta: se a vida vive a vida, quem mata quem? É a vida que mata alguém.

Não existe assassino que mate alguém. A vida mata a si mesma, pois a vida é aquilo que você vive; a felicidade, o prazer e a dor, são a forma como vive aquilo que a vida faz você viver.

Participante: Quando tenho fome, como; quando tenho sede, bebo; esta é toda a realidade?

Não. Quando você tenha fome, não coma: apenas tenha fome. Agora, quando estiver comendo, aí sim pode comer. Quando tiver sede, tenha apenas sede. Quando for beber água, beba-a.

Você não pode viver a fome com a presunção de comer, pois pode não ter nada para comer. E se isso acontecer? Dor, sofrimento é o que você viverá.

Não pode viver a sede com a presunção de beber água quando se está com sede: é preciso se viver cada presente isoladamente com o que ele proporciona. Se o presente agora é ter fome, viva a fome. No momento seguinte pode ser que você se levante e consiga comer. Neste momento pode dizer que está comendo, mas não antes. Não dá para viver presunções, probabilidades sem que realmente aquilo esteja acontecendo.

O problema é que vocês acham que comem quando querem, mas esquecem que isso é ato da vida. Vocês não comem nada: a sua vida num determinado momento é um comer. Se ela não fosse isso, vocês não estariam comendo.

Não estou falando da ação comer; falo de viver a vida, que é aquilo que está acontecendo. Só quando a vida for comer é que você estará comendo. Por mais que queira comer, enquanto ela não for comer, não estará comendo.

Eu vou dar um exemplo: você está num lugar que não pode sair; numa reunião com o seu chefe no trabalho, por exemplo. Não pode sair e está morrendo de fome. É hora do almoço e o seu chefe não fala nada em ir almoçar. Você vai colocar o dedo na cara dele e dizer que acabou a reunião porque está com fome?

Claro que não vai. Só que continuará a ter fome e por isso sofrerá. Este sofrimento vai lhe levar a desconcentrar-se e, por isso, nem vai ouvir o que o seu chefe está dizendo. Sem saber o que ele disse, não fará o que ele espera. Aí, perde o emprego.

Neste momento, você o acusa de não ser justo. Mas será que isso é verdade? Será que ele não foi justo ou você estava vivendo a presunção de comer e nem ouviu o que tinha que fazer?

Vou dar mais um exemplo: alguém me deu um pito. Isso é raciocínio? Não. O dar é vida. Por isso posso dizer que a vida me deu um cigarro. O gesto daquela pessoa que me deu o cigarro é a vida dela. Pegar um cigarro e me dar é a vida e não ele quem faz.

Agora, enquanto ele me dá o cigarro tem que viver exatamente isso, sem saber por que está me dando, para que está me dando, como vai dar ou se poderia estar deixando de dar.

A vida é o que acontece enquanto você pensa no que está acontecendo.

O trabalho da felicidade é vivenciar o que acontece sem presumir mais nada sobre o que está acontecendo. Quando falo assim, estou abordando a questão do assistir a vida. Já falei em assistir a vida há tanto tempo e vocês disseram que tinham entendido o ensinamento, mas estou vendo que não.

Assistir a vida é viver o momento de agora sem presumir nada.

Participante: Para o meu entendimento, o senhor sempre diz a mesma coisa de modo diferente. Estou perdendo algo?

A única pessoa que pode dizer se está perdendo ou não, é você mesmo. Só você vai saber se perdeu.

Quando é que sabe que perdeu? Quando achar que tinha alguma coisa para ganhar. Ninguém acha que perdeu nada se não esperar ganhar alguma coisa.

Onde está a esperança de ganhar? Está no mundo das probabilidades. Então, não se preocupe com isso.

'Estou ouvindo? Estou. Se estou perdendo ou ganhando, não sei'.

Participante: Como podemos viver dessa maneira quando temos marido e filhos debaixo do mesmo teto pensando diferente?

Constatando que essa é a sua realidade: 'eu vivo com marido e filhos debaixo do mesmo teto e eles não pensam isso'. Agora, se vive o mundo das probabilidades, ou seja, que um dia eles vão lhe ouvir, vai sofrer, pois eles podem nunca pensar assim.

Saiba de uma coisa: o seu marido não é o seu marido; ele é a sua vida. Tudo que está externo à sua mente é vida e a vida vive a vida.

Participante: o que O Livro dos Espíritos fala a respeito do pensamento?

Pergunte para o espírito; estou falando com o ser humano.

O Livro dos Espíritos não entra neste estudo. Estamos falando em felicidade em nível material a partir de lógicas materiais e para seres humanos. Só estamos mostrando que por um acaso o que for falado aqui acabará dando na mesma coisa que O Livro dos Espíritos diz para fazer: ter a felicidade incondicional.

Participante: Porque, então, O Livro dos Espíritos nos ensina tanto para vigiarmos os nossos pensamentos se não vamos influenciar em nada a vida ou o curso dos acontecimentos?

Porque essa é a doutrina espírita e, quem segue a doutrina espírita para chegar ao mundo dos espíritos, só chega ao mundo dos Devas. Falo isso sem atacar a religião espírita de qualquer forma. A verdade é que a doutrina espírita só existe no mundo humano e no dos devas. No mundo espiritual acima do mundo dos devas, não há religiosidade. Lembram que já conversamos sobre isso? Sendo assim, para se ir além do mundo humano com carne ou sem, é preciso não ter uma doutrina.

Se você coloca um ensinamento dessa doutrina como fator gerador de verdades na sua vida, vai estar sempre preso a ele e vai para o mundo dos Devas. Vai lá se divertir nos carros do mundo dos devas e um dia vai voltar.

Participante: Porque Jesus disse então, orai e vigiai? Para que fazermos isso se nada vai mudar?

Para mudar alguma coisa no futuro, quando sair da carne. Falo assim porque Jesus também disse: vença o mundo, ou seja, enquanto não se libertar do mundo, estará preso a ele.

Olha, deixe-me falar uma coisa.

Não adianta vocês quererem entender os ensinamentos presos às ideias que lhe passaram sobre o ensinamento. Jesus sempre disse para buscar o bem no céu e não na Terra. Mas o que é buscar o bem na Terra? Viver o prazer.

Não é a isso que as doutrinas lhe leva? Se é assim, por trás de cada ensinamento que elas passam tem que haver um outro sentido além do que receber agora, pois ele nunca falou em receber agora.

O problema é que quem quer lhe prender ao bate e volta no mundo dos devas diz que vai receber alguma coisa nessa vida. Só que Cristo disse para você não se preocupar com essa vida, não querer receber agora. Em quem você acredita?

Participante: Como saber se estamos tendo a reação mental mais certa quando as coisas da vida acontecem? Como saber que estamos nos afastando dos condicionamentos vivendo o presente sem comparar com o passado e nem fazer suposições futuras?

Quando não acreditar na comparação com o passado que a mente fizer. Quando disser ‘espera aí, a mente está dizendo que isso está acontecendo por causa daquilo' e depois dessa constatação, dizer: 'não sei se está'.

Não estou falando em negar o que a mente cria, mas sim em dizer não sei. Quando você ouvir o que a mente fala e lhe responder com um não sei isso é verdade, chegou. Neste momento pode ter a consciência de estar liberto do passado e do futuro.

Participante: Uma falha pode colocar um batalhão todo em risco, mas o engano pode mudar todo o rumo de sua vida?

Pode sim. E o grande engano da vida é acreditar que você vai fazer o que quer durante ela. Não existe engano maior nessa vida do que achar que pode fazer alguma coisa, pois a grande maioria já viu que o que quer, raramente acontece.

Participante: Acredito que quando fico planejando algo de maravilhoso, se de repente não dá certo, vem a frustração, a tristeza. Se não fico planejando muito, o que vier está de bom tamanho. Seria isso?

Exatamente isso. Na hora que você não tem uma probabilidade, não tem o risco de cair na depressão. Não importa o que vier, vai estar bem, vai estar na boa.

O que estou falando é não desejar o desejo e isso vocês sabem como fazer. É não desejar, mas se o mundo das probabilidades aparece no pensamento, não aceitam.

Participante: Eu não consigo enxergar o mundo sem planejamentos, sem metas, sem horário, etc.

A grande maioria não consegue. Não é só você.

Já disse lá atrás: para alcançar a felicidade tem que mudar-se. Mudar-se é se jogar no escuro, é fazer alguma coisa sem saber como vai ser feito ou quando acontecerá.

Se não consegue imaginar o mundo sem isso, essa é uma probabilidade que você está imaginando agora. Diga: 'não sei se não consigo. Vamos ver quais serão os meus próximos presentes e se neles estarão presentes o eu vou conseguir'.

Espere. A felicidade depende da paciência. É preciso ser paciente com a vida.

Participante: Vou ajudar a todos a entender. Planejar é dizer: um dia vou fazer isso, um dia vou comprar isso. Um dia. Fazendo isso você não determina em que horas vai obter o que quer, não deixando de querer.

Veja o início da sua fala: 'vou ajudar a todos a entender'. Você acabou de planejar.

Nesse momento não está ajudando ninguém, nem a si mesmo: está aqui me ouvindo, mas já está tendo a probabilidade de ajudar os outros. E se de repente cai um raio na sua cabeça agora, vai ajudar a quem?

Lembra na primeira palestra? Eu disse assim: se você tem um compromisso para amanhã e morrer hoje, vai ficar aqui para poder honrar o seu compromisso.

É por isso que dentro da elevação espiritual, viver o mundo das probabilidades é um perigo muito grande. Se você está concentrado em fazer e se alguma coisa acontecer daqui até esse fazer, você vai ficar ligado a este mundo para fazer.

Participante: Antes da hora não é a hora, depois da hora não é a hora. A hora é a hora, a hora é agora. A primeira coisa que aprendi no exército brasileiro: viver o verbo presente, o aqui agora.

Eu acho que isso deveria ter sido aprendido não no exército, mas na vida, porque ela só existe no aqui e agora.

Neste momento tem muita gente dizendo que amanhã vai ouvir essa palestra de novo para ver se entende. Vocês se lembram quando acabou a luz e não tiveram nada para ouvir amanhã?

Sabem por que não estão entendendo agora? Porque sabem que podem ouvir amanhã.

Quem disse que isso vai acontecer?

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Planejamento de vida

Participante: Já que temos que viver o presente, onde entra o planejamento da nossa vida? Exemplo: fazer economia para comprar casa, planejar uma viagem, etc.

No mundo da presunção, no mundo da probabilidade.

Quem já não fez economia para comprar uma casa e teve que gastar o dinheiro com médico? Quem já não planejou fazer uma viagem e teve que gastar o dinheiro para consertar o carro? Mundo das probabilidades.

'Estou guardando dinheiro para ir para à praia agora; será que vou? Não sei, conseguir ir é apenas uma probabilidade. Pode ser que não consiga'. Pensar assim é viver o mundo da Realidade.

Se quiser continue planejando a vida, mas espere sentado que ela irá seguir o que quer para ela, senão você se cansa.

Participante: Posso me planejar sem ter apego ao planejamento? Se acontecer, aconteceu, se não acontecer, não aconteceu.

Pode, mas cuidado, porque isso é muito difícil.

É mais fácil negar o planejamento do que conseguir viver harmonicamente com o planejamento sem esperar que ele dê certo. A mente é muito traiçoeira: ela lança o planejamento e ao mesmo tempo lança a ideia de que aquele planejamento vai dar certo.

Sobre essa questão houve, há algum tempo, um debate muito grande entre nós. Eu sempre disse que vocês não deviam planejar nada. Quando disse isso, fui cobrado: 'você diz que é para não planejar, mas marca datas para viagens. Não está planejando'?

Eu respondi: 'a grande diferença é que quando digo marque em tal lugar para estarmos, não sei se eu vou estar. Não tenho a mínima ideia do que vai acontecer'. Quando assumo algum compromisso, não presumo que vou cumpri-lo, mas vocês quando agem dessa maneira, presumem. Acham que porque se compromissaram, aquilo tem que acontecer.

Por isso lhe digo que dá para se fazer programações e conseguir viver com elas sem apego. Mas cuidado: isso é muito difícil. O ego trabalha silenciosamente lhe dando a certeza de que vai acontecer e desapegar-se disso é difícil.

Participante: O planejar a vida não faz parte do destino humano?

Sim, mas você pode viver o planejamento da vida sem apego a realizá-lo.

Planejar a vida faz parte dela, mas o planejamento pode ser vivido no prazer, na dor ou na felicidade. Por causa dessa possibilidade, evite planejar. Se você se arrisca a planejar, está apostando no prazer e pode receber a dor.

Deixe-me completar. Paulo diz o seguinte: você pode fazer tudo, mas nem tudo o que faz é o melhor para você. Sendo assim, pode planejar, mas planejar não é o melhor para você.

Participante: Se estivermos planejando a vida, então devemos planejar. Portanto, devemos estudar o mundo das probabilidades e nos entregar a esse planejamento?

Podemos planejar, mas não devemos nos apegar ao planejamento. Esse é o ensinamento.

Agora, tenha a certeza que planejar para o ser humano que não está completamente vigilante, que não sabe a diferença entre planejar e realizar o que é planejado, é um risco muito grande. Planejar é um ato da vida, por isso você pode planejar. No entanto esteja atento, pois se não tiver alcançado a capacidade de planejar sem sonhar que aquele planejamento aconteça, acabará sofrendo.

Nesse momento, vocês não estão preparados para isso. Portanto, é melhor libertarem-se do planejamento, pois correm menos risco. É isso que estou deixando bem claro.

Participante: Como exercitar o não planejar ou a equanimidade na realização do que se planeja se tudo que planejei deu certo até hoje?

Então, você é um sortudo. Por isso lhe digo: não se preocupe com nada do que falei até agora.

Se tudo o que você planeja dá certo, não se preocupe em me ouvir.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Encerramento

Bem encerradas as perguntas, gostaria de falar uma coisa com vocês.

Nas próximas duas semanas vamos conversar. Mas, depois vem o carnaval e nós só nos encontraremos em março. De hoje até fim de fevereiro só teríamos duas conversas. Digo teríamos, porque quero propor uma coisa.

Sei que a ansiedade de querer saber como se faz o que estamos conversando é muito grande. Vocês ainda estão aprendendo a letra ‘b’, mas já querem saber como se junta essa letra com a ‘a’, que aprendemos antes.

Para não deixar esse espaço de tempo com vocês vivendo essa expectativa, quero propor que tanto na semana que vem como na outra, façamos palestras na terça e na quarta. O que acham?

Se eu fizer, vocês virão?

Para os que responderam que virão, tenho uma informação: estão vivendo o mundo das probabilidades. Mesmo que digam que não saibam que virão, também estão no mundo das probabilidades. Responda apenas: ‘como vou lhe responder se eu não estou lá’?

Desculpem a brincadeira. O que falei com relação às duas palestras, é sério, mas aproveitei para fazer um pouco de prática de tudo o que conversamos hoje.

Dentro dessa linha de raciocínio, digo mais: lutem muito para estarem centrados no aqui e agora. Sem isso, sem essa luta constante para estar sempre presente no presente pelo próprio presente, estão apostando uma coisa muito importante nas suas vidas: a felicidade. Estão colocando a felicidade na dependência de uma roleta russa.

Vou falar uma coisa agora, e queria que isso batesse bem fundo. Vocês são os primeiros a acusarem os suicidas, mas vivem se suicidando a cada momento da existência. Falam do vale dos suicidas, falam do umbral, mas não entendem que quando vivem o mundo das probabilidades, estão se suicidando e habitando estes mesmos lugares.

O que é se suicidar? Acabar com a vida. O que é a sua vida? É o aqui e agora. Quando você está preso no mundo das probabilidades o seu aqui e agora existe? Não. Então, se suicidou, matou a sua vida naquele momento.

Não adianta criticar aquele que dá um tiro na cabeça se você vive a vida como um suicida, matando a sua vida. A cada vida que tem, ou seja, a cada agora, você a mata, pois está preso num futuro que não sabe se vai acontecer ou está preso a um passado que já acabou.

Como eu disse, é forte a comparação, mas é verdadeira.

Tem uma frase que diz assim: quem mata o tempo não é um assassino, é um suicida. O tempo, ou seja, a vida que você tem naquele momento é a única coisa que tem na vida. Sendo assim, qual é a única coisa que precisa para viver a vida? Ter vida para viver.

Como é que vai viver uma vida se não tem vida para viver? Na hora que vem a vida para viver, onde você está? No mundo das probabilidades, onde não existe vida: existem apenas sonhos, ilusões, ideias.

Como é que vocês querem viver a vida se não vivem a vida que tem para viver?

Pensem nisso, filhos. Pensem para entenderem a importância do que estou falando.

Como me disseram hoje, existem pessoas que não concebem uma vida assim, mas o aqui e agora é a única vida que existe. Nele não existem os planejamentos, os sonhos e nem objetivos a serem alcançados: existe apenas a própria vida. Quando viver o aqui e agora terá a vida e aí pode vivê-la.

Sonhar, como vocês dizem, não custa nada. Custa sim: custa a sua vida, pois enquanto está sonhando, não está vivendo a sua vida.

Que vocês estejam na paz e se o que eu falei foi muito sério, me desculpem, mas era para ser sério mesmo, pois, como disse anteriormente, está na hora de pararmos de brincar de elevação espiritual.

Está na hora de pararmos de achar que elevar-se espiritualmente é seguir o que O Livro do Espírito diz, é seguir o que Krishna diz. Elevar-se espiritualmente segundo o próprio O Livro do Espírito e o próprio Krishna, é aprender a viver essa vida assistindo-a, ou seja, tendo a felicidade.

O resto é só brincadeira de criança. Fazer o que o mestre mandou é brincadeira de criança inconsequente.

Que vocês fiquem em paz.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Introdução ao assunto

Estamos conversando sobre o título ‘Em busca da felicidade’. Falamos que a felicidade é um estado de espírito que se alcança enquanto se vive sentimentos ou emoções e que esta busca é a verdadeira reforma íntima. Falamos, ainda, que para se viver esta felicidade é preciso estar no aqui e agora.

Hoje, vamos falar sobre o aqui e agora. Na íntegra desta conversa vamos falar apenas sobre o aqui e agora.

Sei que parece simples para vocês viver no aqui e agora. Como me disse uma pessoa na conversa anterior quando lhe perguntei qual era o seu aqui e agora, o aqui e agora dele era estar olhando o computador e me ouvindo. Só que viver o aqui e a gora não é tão simples quanto parece. Nesta conversa vão entender o que estou dizendo.

A mente é traiçoeira, pois age de uma forma imperceptível para vocês. Existem elementos que se agregam ao presente que estão vivendo que não pertencem a ele e que vocês não conseguem perceber. Para realmente se viver o aqui e agora é preciso excluir essas coisas.

Será sobre isso que conversaremos hoje: o que é preciso retirar do aqui e agora gerado pela mente que vocês estão vivendo. Vamos conversar, então.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Preconceitos

A primeira coisa que precisa ser retirada do momento presente são os conceitos gerados no passado, o passado. Estou falando do famoso preconceito.

De nada adianta se viver o presente, estar conversando com uma pessoa, se nesta conversa se intromete um conceito passado. Só que ele vive aparecendo no meio da conversa e vocês não percebem que isso acontece. Por isso, é preciso estar consciente dos pensamentos gerados pela mente para se perceber a intromissão do passado influenciando o presente.

Esta é a primeira coisa que vocês precisam analisar para poderem viver plenamente o presente. ‘Será que estou consciente de viver apenas o presente ou o que imagino estar vivendo tem alguma influência do passado? Será que existe algum conceito anteriormente formado sobre o assunto ou esta pessoa influenciando a minha compreensão de agora’? Se houver, por mais que imagine estar vivendo o aqui e agora, vocês estão no passado.

Participante: Nós conseguimos perceber esta influência?

Se estiver acordado, atento à mente, sim. Se estiver neste estado verá a mente se pronunciando sobre aquela pessoa ou assunto com conceitos formados anteriormente.

Se ela lhe disser, por exemplo ‘estou aqui conversando com este chato’, pode ter certeza que este conceito foi formado num acontecimento anterior. Se ela lhe disser que o que o outro está falando está errado, pode ter certeza que o conceito que formou sobre o assunto anteriormente está presente.

Participante: Mas, o duro é conseguir eliminar isso.

Sim, é difícil, mas este é o trabalho da sua vida, isso é viver.

Viver não é respirar, mas sim estar atento ao pensamento. Quem não está atento ao pensamento, não está vivendo, mas sim dormindo. Quem se encontra neste estado acredita no que a mente afirma, mas o que ela diz não é real, mas apenas uma opinião individual.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Estória da vida

Preconceitos: este é o primeiro elemento que é necessário retirar-se do aqui e agora para poder realmente viver o presente. O segundo eu chamarei de ‘estória da vida’. Estou falando das estórias que você já viveu que a vida lhe conta no presente.

Não estou falando apenas das estórias que ela conta sobre períodos remotos como, por exemplo, a sua infância. Estou falando de acontecimentos recém acabados. Estou falando, por exemplo, da estória de vida que a mente conta para quem me respondeu que o seu presente é estar aqui.

Para este, a vida está dizendo que a sua presença aqui é uma consequência da sua decisão de vir. Ela está contando a estória de que ele veio aqui porque decidiu vir. Está dizendo que anteriormente ele tomou a decisão de estar aqui agora. Que a sua presença hoje é decorrência de uma decisão no passado.

Quem acredita nessa estória criada ela mente não consegue estar no presente? Por quê? Porque o presente é o que é, e não decorrência de opções passadas.

Quantas vezes vocês já decidiram ir a algum lugar e não conseguiram chegar lá? Centenas de vezes, não? Quantas vezes já decidiram fazer alguma coisa e não conseguiram realizar o que planejaram?

É preciso estar atento ao momento da decisão como um presente e isolar a expectativa de realizar o que decidiu. Da mesma forma, é preciso estar ao momento de estar para isolar a ação do o momento de conseguir realizar o que decidiu. O momento de decidir foi um presente que se extinguiu. O momento de estar aqui é outro presente que nada tem a ver com aquele.

Toda estória que a mente lhe conta encadeando presentes diferentes não é real. Cada presente acontece independente um do outro. Se assim não fosse, tudo o que vocês decidiram que iam fazer no futuro aconteceria. Da mesma forma, se os presentes se encadeassem, jamais aconteceria o que vocês não decidiram fazer.

Toda estória de vida passada que a mente lhe conta não pode estar presente no seu aqui e agora. Por quê? Porque senão você não vive o presente no presente. Vai estar sempre vivendo o presente pelo passado. Estar aqui porque em algum momento decidiu vir é viver o presente pelo passado.

Viver o presente pelo presente é dizer: ‘estou aqui. Como consegui chegar aqui? Não sei. Quando decidi vir? Em momento algum. Mesmo que em algum momento o meu presente tenha sido tomar esta decisão, neste momento isso não deve estar presente, pois se estiver, não estarei vivendo o aqui agora, mas sim o aqui no passado’.

Este é o segundo elemento que é preciso retirar do presente para que se viva o aqui e agora em essência: as estórias que a mente cria fazendo com que o presente seja consequência de um passado.

Se você aceita que veio aqui porque decidiu vir e se agora a mente lhe disser que aqui está ruim, que está muito calor, que está muito cansativo, fatalmente aceitará a culpa pelo que está vivendo agora. A mente criará a ideia de se culpar pelo que está vivendo no agora e você aceitará, pois está vivendo o passado no presente, está vivendo a ideia de que o seu desconforto de agora é fruto da sua decisão do passado.

Eis, então, os dois primeiros elementos que é preciso se retira do aqui agora e para se viver o presente no presente, pelo presente: os conceitos formados no passado e as estórias que a vida conta dizendo que o presente é decorrência de um passado.

Participante: O senhor deu um exemplo verdadeiro: realmente aqui está muito calor. Esta sensação a mente trabalhará e dará uma consciência de que é ruim estar aqui. Só que apesar do calor, a minha mente não está dizendo que é ruim estar aqui. Como fica isso? Minha mente vai trabalhar me dando a sensação de estar ruim mesmo que eu não esteja achando?

Você precisa trabalhar o presente pelo presente.

Qual o seu presente agora? Estar aqui. Mais: estar aqui e sentir calor. Este é o seu presente. Se não estiver atento à mente, se estiver dormindo, ela poderá desenvolver uma estória: ‘aqui está muito calor. Você poderia estar em casa no ar acondicionado. Não era preciso estar aqui: poderia ouvir tudo isso via internet. Porque veio’?

Esta é uma estória plausível que muitas mentes formam. Como muitos não estão atentos à essas formações mentais, vão viver todas estas criações como realidade. Com isso não veriam que estão vivendo um mundo das probabilidades. Por quê? Porque se estão aqui, não poderiam estar rem casa.

Estou falando tudo isso para lhe mostrar a ação da mente e o que é vivido, por aquele que está dormindo com relação à ela, como realidade. Ele, levado pelas histórias, foge do aqui e agora e vive o mundo das probabilidades e com isso torna-se alvo fácil para o sofrimento.

Aquele que busca a sua felicidade precisa estar atento às estórias que a mente cria. Se ela criar a estória que citamos, deve dizer: ‘não, mente, eu não poderia estar na minha casa neste momento porque estou aqui. O que você está levando é uma probabilidade que não existe neste aqui e agora e se eu aceita-la, você me fará sofrer’.

Aquele que não corta o que a mente cria torna-se vulnerável à ação dela. Depois de inventar uma estória baseada no mundo das probabilidades, com certeza ela continuará desenvolvendo o tema até lhe levar ao sofrimento ou ao prazer, que também é um sofrer.

O que vocês não entenderam é que na hora que conseguirem sair do mundo das probabilidades e conseguirem viver o aqui e agora a primeira coisa que sumirá é a própria mente. Quando alguém consegue viver apenas o presente no presente pelo presente, as estórias narradas pela mente somem, a própria mente desaparece.

Só que ela não quer sumir, não quer perder a influência que tem sobre você. Por isso, sempre se fará presente com alguma ideia que esteja fundamentada em um conceito formado anteriormente ou a uma estória de vida para lhe retirar da realidade e levar para o mundo das probabilidades, onde ela pode agir.

Sei que na resposta não falei da situação que você levantou (‘apesar do calor, a minha mente não está dizendo que é ruim estar aqui’), mas esta ideia também é uma criação mental. Portanto, cuidado. Tudo o que disse vale tanto para o prazer como para a dor. Se ela não está achando ruim estar aqui, ela está achando bom. Com esta ideia, a sua mente está criando conceito que em outro dia quando não esteja será usado para lhe passar sofrimento.

Seja o que for que lhe venha à mente, liberte-se da ideia.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

O futuro

Existe mais uma coisa que precisa ser retirado do presente: o futuro. Para se viver o presente no presente pelo presente é preciso retirar do aqui e agora as consequências futuras que a mente cria para o momento de agora. A mente cria projeções para o futuro como decorrência do presente.

‘Quando acabar isso aqui, eu vou pegar o carro e vou embora’. Quem vive isso no presente como realidade, não consegue ser feliz de verdade. Mais: está vulnerável a um prazer ou um sofrimento no futuro. Imagine que vocês estão num lugar considerado como perigoso. Se saindo daqui encontrar o carro no lugar que deixou, viverá o prazer; não achando, viverá a culpa por ter vindo ou por ter estacionado naquele lugar.

Ninguém pode saber com certeza o que acontecerá no futuro. Até porque, o futuro é completamente instável: ele pode acontecer de qualquer forma. Por isso, qualquer projeção para o futuro como decorrência do agora é apenas uma probabilidade.

Você não pode acreditar jamais que sairá daqui e irá para a sua casa. Por quê? Porque pode morrer antes dessa conversa acabar. Morrendo, o que lhe acontecerá? Como está iludido pela mente, viverá a insatisfação de não ter conseguido voltar para casa.

Portanto, é preciso retirar do aqui e agora qualquer projeção sobre o futuro, ou seja, qualquer consequência que a mente crie como resultado da vivência do aqui e agora.

Lembrem-se: a mente é esperta como uma cobra. Ela está sempre procurando arrumar um jeito para que você saia do aqui e agora. Cortando a influência do passado no presente, ela começa a projetar ideias para o futuro. Se não está atento, vive o mundo das probabilidades que ela cria como se realidade fosse.

Pode ser que aconteça de você sair daqui e pegar o seu carro e ir para casa? Claro que pode, mas isso não é certeza. Como disse, pode ser que morra antes de acabar a conversa, pode ser que seu carro tenha sido roubado, pode ser que mesmo que pegue o carro aconteça alguma coisa e você não chegue à sua casa. Existem milhares de probabilidades de acontecimentos, portanto, não viva nada como líquido e certo sobre o futuro.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

A opinião sobre o aqui e agora

Primeira coisa a se retirar do presente? Os conceitos formados no passado. Segunda? As estórias que a vida cria como origem do presente. Terceira? As perspectivas futuras do agora. Já falamos das três. Agora, vamos falar da quarta coisa que precisa ser retirada do presente para se viver o aqui e agora: o que a mente acha do presente.

Algumas pessoas acham que estão aqui agora para ouvir uma palestra. Quem disse isso? Quem disse que a finalidade de estar aqui agora é ouvir a palestra? Você não pode afirmar isso, porque o que faz, não é você quem faz.

Participante: É Deus quem faz.

Eu já pedi para não meter Deus no meio destas conversas.

Não é você quem faz as coisas que acontecem, mas a vida é que acontece dessa forma. Vocês, por exemplo, pensam que estão me ouvindo neste momento, mas esse ouvir não é uma ação que fazem durante a vida: é a própria vida.

Ouvir é uma atividade física. Portanto, é executada pela vida, é a própria vida. A vida de vocês neste momento é me ouvir; não são vocês que estão praticando esta ação.

Participante: O senhor está complicando as coisas.

Sei que estou, mas esta é a realidade.

Você não pode garantir que vai me ouvir neste momento porque não é você que pratica esta ação. Nesse exato segundo sua mente pode ir longe em pensamentos e você não vai me ouvir. Por isso, não viva como real a ideia de que veio aqui para me ouvir.

Se sua mente começar a elucubrar sobre outros assuntos neste momento, você não vai me ouvir. Se estiver adormecido, ou seja, desatento à mente, quando ela voltar para o aqui e agora vai aceitar a culpa de não ter ouvido o que disse.

Portanto, não viva a ideia de estar aqui para me ouvir. O seu presente não é uma atividade física, mas mental, ou seja, não é um tempo onde você age fisicamente, mas onde a mente cria ideias, concepções, consciências. Por isso, tudo o que ela acha do presente, tudo o que imagina estar acontecendo, tem que ser isolado do aqui e agora, para que você o viva.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

O presente é efêmero

Saibam de uma coisa: é preciso muita concentração para se viver o presente. Por quê? Porque ele é efêmero. O presente se transforma muito rapidamente. Se não estão completamente atentos ao aqui e agora não conseguem vive-lo.

Para vocês, o presente existe desde o momento que entraram aqui até o momento que vão sair, daqui a duas ou três horas. Só que nestas duas ou três horas que estão passando aqui, quantos presentes aconteceram?

Portanto, é preciso muita concentração para não se deixar levar por projeções futuras que a mente crie nem pelas ideias do passado que ela usa. O máximo que deve dizer para si mesmo é: ‘eu estou aqui’.

Se a mente quiser saber porque veio aqui, responda: ‘não sei’. Se ela quiser saber o que está fazendo aqui, diga: ‘não sei’. Se ela lhe perguntar o que fará quando sair daqui, diga: ‘não sei’. Faça isso para viver a única coisa que você que tem neste momento: estar aqui.

Para se viver o presente é preciso estar completamente centrado em si mesmo. Não é ouvir, ver, falar, fazer este ou aquele ato. É simplesmente estar onde a vida está acontecendo.

Você, se estivesse desatento, poderia até achar que concentrando-se no estar ouviria tudo o que eu diria, mas isso é uma ilusão. Pode ser que passe uma motocicleta ou um carro fazendo barulho lá na rua e neste momento, neste presente, sua atenção seria desviada e você não ouviria. Pode ser que uma pessoa deixe cair algum objeto no chão, faça algum movimento brusco, e você não me ouviria mais. Como, então, pode garantir que vai m ouvir o tempo inteiro?

Você só pode garantir que está aqui. Por quê? Porque está aqui. Porque está percebendo o cômodo que lhe diz que aqui é aqui.

Portanto, para se viver o presente no presente pelo presente é preciso retira todo o resto. É preciso se retirar o passado, a ideia de que o presente é consequência do passado e os preconceitos, o futuro, o que acontecerá quando sair daqui, e as ideias sobre o que está fazendo aqui.

Isso vale para todo e qualquer presente que esteja vivendo. Se estão num barzinho tomando cerveja, estejam neste barzinho, mas não imaginem que foram lá para tomar cerveja. E se o copo quebra e você não tem mais onde tomar a cerveja?

Participante: O que o senhor pede é muito difícil de ser feito.

Sim, se fosse fácil todos já teriam feito. No entanto, apesar da dificuldade, pode ser feito.

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Os adjetivos do presente

Participante: É muito difícil de se colocar em prática.

Você acabou de aceitar uma projeção da sua mente para o futuro. Incorreu também num outro erro para quem quer realmente ser feliz: aceitou um adjetivo que a mente criou para um acontecimento da vida.

Esta é a quinta coisa que é preciso se retirar do presente: as qualificações que a mente dá ao aqui e agora.

A mente está sempre adjetivando o momento presente. Ela acha ele longo ou curto, bom ou mau, certo ou errado, bonito ou feio, etc. Para cada presente, a mente tem uma opinião sobre ele. Para que você consiga ser feliz é preciso não viver isso que ela cria.

É precisar retirar do presente os critérios de certo e errado, de bonito ou feio, de limpo ou sujo. Se você não retira estes critérios, estará sujeito a viver no prazer ou na dor alguma emoção que a mente criará.

Para se viver o aqui e agora em felicidade é preciso viver apenas o que está acontecendo, sem aceitar qualquer qualificação que a mente dê ao momento presente. Quem aceita a importância que a mente dá ao que está acontecendo, sofre.

O valor que as coisas deste mundo tem não é dado por você. Não é você que gosta ou desgosta de uma coisa, que acha certo ou errado algo. Quem dá estes valores é a mente e ela age dessa forma para gerar um estado de espírito para que você viva a emoção que ela criará. Se não consegue viver sem estes valores, você não consegue nunca alcançar o estado de espírito de felicidade real.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

No agora só existe você

Com este último aspecto acabamos, então, de citar tudo aquilo que é preciso ser tirado do presente para que você viva o aqui e agora com o estado de espírito de felicidade. Na hora que retira os preconceitos, o passado como influenciador do presente, o futuro como consequência do agora, a ideia do estar agindo e os adjetivos, o seu presente se muda. Ele passa a ser apenas o presente e nada mais.

Participante: seu eu tirar tudo isso da vida não sobre nada.

Sobra sim: você.

Quando retira tudo que a mente junta ao presente sobre você mesmo. Aliás, você é a única coisa que existe para você mesmo. Todo resto é criação da mente.

Portanto, retirando tudo que não pertence ao agora, sobre no presente você e este é o grande problema porque vocês não conseguem ser feliz. Vocês nunca estão presentes no agora.

Para conseguir se alcançar o estado de espírito é preciso se viver a única coisa que existe nele: você mesmo. Como vocês vivem todas as outras coisas que a mente cria, não vivem a si mesmos. Por isso, não conseguem ser felizes.

Vamos às perguntas?

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Questões sobre o tema

Participante: Esta semana percebi muito o quanto que a gente viaja naquele mundo de probabilidades. A toda hora estamos pensando numa coisa que não é o nosso presente. Antigamente, no tempo que estudávamos com ensinamentos espirituais, eu dizia: cala a boca mente. Pelo ensino de agora tenho que dizer que isso é uma probabilidade e me colocar no presente. Uma coisa eu percebi: a minha mente trabalha noventa e cinco por cento no futuro. Ela projeta muito para o futuro. Pelo que percebi, toda hora toda hora estou no futuro e tenho que dizer que isso é apenas uma probabilidade e não uma certeza de que vai acontecer. Porque vivo assim? Porque não penso no passado? Isso é correto ou existe um equilíbrio entre o passado e o presente?

Isso depende de cada um. Tem mentes que vivem mais no passado que no futuro. Tem mentes que vivem mais no futuro do que no passado. Isso depende de cada mente.

O importante não é se você vive no passado ou futuro, mas sim que entenda que tudo que ela disser não é real.

Participante: Devemos, então, viver o presente com total desapego de tudo e de todos? Isso é uma preparação para o que está por vir? Aliás, já começou. Afinal, se um terço da população mundial vai para outro planeta, um piquenique é que não vai ser essa transição de mundos.

Sabe o que é o melhor do nosso trabalho? É que falamos e a prática vem logo a seguir.

Repare: você já se projetou no futuro. Quando me pergunta se isso é um preparatório para o que há de vir, você saiu do presente e se projetou para o futuro.

Não se preocupe com essas coisas. Preocupando-se, você não consegue viver o agora, nem o futuro, dentro do estado de ânimo de felicidade.

O que está acontecendo agora não é preparatório para nada. É o presente, é a sua vida, é o seu aqui e agora, a única coisa que você tem para viver. Projetando que isso é um preparatório para o futuro, não vive a única coisa que tem para viver: o presente.

‘Ah, Joaquim, eu estou só falando’! Não, você não está só falando: está vivendo isso. Está preso no futuro, está vivendo o agora aprisionado em fatos que você nem sabe que vai acontecer.

Muitos dizem que o sentido da encarnação vai mudar, mas será que vai mesmo? Alguns disseram que era para ser no ano 2000; não foi. Outros prognosticaram para 2004; não aconteceu. Agora dizem que será em 2012; será que acontecerá mesmo?

Participante: O hoje é resultado do ontem, o amanhã...

Não é resultado de nada.

O hoje não é resultado de ontem. Se fosse, tudo o que quiseram ontem seria realizado hoje.

O hoje é o hoje. Ele começa e termina agora. O ontem, acabou, morreu. O ontem não gera o hoje. Viver imaginando que o amanhã será decorrência do hoje é que é o problema para aquele que busca a felicidade.

Vocês vivem querendo dar uma sequência ao tempo. Para haver uma sequência teria que haver tempo, mas não existe nem tempo nem espaço. A vida acontece em momentos presentes que se sucedem, sem que isso de maneira alguma forme um tempo.

Por isso, o hoje não está ligado ao ontem, nem ao amanhã.

Participante: Minha mente tem que se tornar um quarto branco, um vazio? Esses objetos que vejo, as pessoas e tudo deste mundo tenho que olhar e não me recordar de nada que tenha acontecido antes? E as pessoas que estão sempre perguntando sobre coisas que vivemos juntas, como extirpar isso?

‘A mente tem que se tornar branca, vazia: eis aí um grande engano.

Jamais você vai conseguir que a mente esteja branca, vazia. Ela sempre terá muitas coisas, as coisas que tiver.

O trabalho para se viver esta felicidade em felicidade plena não se consiste em não ter nada na mente, em se libertar do que ela contém. Vamos dizer assim: a partir do momento que você entenda o estar no presente, a mente vai ter alguma coisa e você viverá paralelo à ela, viverá desligado do que ela afirma estar acontecendo. Continuará convivendo com as mesmas pessoas, continuará ouvindo os mesmos sons, tendo os mesmos preconceitos e as ligações do presente com o passado e o futuro, mas não embarcará na criação mental, ou seja, não considerará como real e verdadeiro o que ela cria.

Participante: Como se faz para pegar o carro sem querer pegar o carro?

Pegando.

O problema não está em pegar ou não o carro, mas em esperar pegar, em querer pegar. Quando você quer pegar e não a carro para ser pego, vai sofrer inevitavelmente.

Viver o aqui e agora não muda nada no presente. Pegue o carro quantas vezes pegar, mas não viva o querer ou ter que pegar, senão vai sofrer.

Participante: Agora estou ouvindo a palestra, só isso. Se meu pensamento se desvia dessa realidade, volto para ela. Isso é orai e vigiai?

Você pode chamar esse processo como quiser. Isso não tem problema algum. O que precisa realmente é estar consciente de onde está.

Como disse antes, dizer que está ouvindo a palestra ainda não é garantia de felicidade. Se o seu pensamento se desvia e você não repara, não vai ouvir. Neste momento aceitará a culpa e sairá da felicidade.

Participante: os hinduístas dizem que a mente se assemelha a um macaco louco e que devemos observar e deixar os pensamentos passados e futuros passarem feito nuvem. Isso está correto?

É exatamente o que estou dizendo: não se apegar ao que é pensado pela mente.

O pensamento vai lhe dizer uma coisa e você dirá a ele: ‘não, pensamento, isso não me interessa porque não está no meu aqui e agora’. Se ele insistir querendo saber porque veio e o que acontecerá quando sair daqui ou ainda sobre o que está acontecendo aqui agora, não dê ouvidos a ele.

Participante: Qual a finalidade do passado para a nossa evolução?

O passado só foi importante para a sua evolução enquanto ele foi presente. Hoje não há nada no passado que importe para ela.

Participante: Nem para servir como prova e expiação?

Quem faz prova é espírito, não ser humano. Você vive a vida e não provas ou expiações.

Você ainda está querendo explicar as coisas humanas pelas coisas do espírito. Com isso, vai cair num labirinto donde não lograrás sair.

Participante: Viver fora da mente é observar os próprios pensamentos como se fossemos agentes secretos espionando a mente?

Espionar a mente: é exatamente disso que estou falando.

Espione a sua mente está dizendo que veio aqui porque ligou o computador. Em resposta, diga a ela que não foi por isso e que você não sabe porque foi que veio, só sabe que está. Diga mais: que não lhe interessa saber porque veio.

Participante: Colocar em prática o que o senhor falou seria forçar uma alienação?

Vocês já estão correndo, já estão pensando no futuro. Já estão preocupados com o que vai acontecer com a prática do que ensinamos.

Calma, mais tarde vão entender direitinho.

Participante: Exercícios de concentração ou respiração podem nos ajudar no trabalho de viver o aqui e agora?

Se eles fizerem parte do seu presente e se você achar que podem ajudar, eles podem.

Na verdade, nada pode lhe ajudar. A única coisa que pode lhe ajudar a viver o aqui e agora é estar no presente.

Exercício de meditação ou respiração fazem parte da cultura hinduísta, mas eles não ajudam em nada, pois ainda se usa a vida, o fazer alguma coisa, para explicar a própria vida. Saiba de uma coisa: a vida não se explica, se vive.

Participante: Estou em overdose. Sinto que cheguei a uma encruzilhada. O que devo fazer, a quem peço ajuda?

Esse é o seu agora? Viva-o. Não espere nem deseje que ele acabe ou se transforme. Se fizer isso, vai estar se projetando para o futuro e não viverá o aqui e agora.

Viva o seu presente. Se ele é estar numa encruzilhada, viva-a. Observe-a e diga: ‘que maravilha de encruzilhada me meti’. Depois disso, espere o próximo presente para ver se você continua na encruzilhada.

Participante: Porque tenho que ir ao centro de umbanda fazer o que não lembro para um monte de devas que não conheço, que não sabem que morreram. É isso que concluo que faço quando vou lá a partir do que o senhor ensinou. Devo continuar indo ao centro de umbanda assim mesmo?

Olha você preocupado com o futuro. Sei lá se você deve ir ou não. Mais: o centro de umbanda está no seu aqui e agora? Não. Então, não se preocupe com isso agora.

Viva o presente que a vida lhe apresenta. Quando for, vá; quando não for, não vá.

Além disso, retire do presente os valores que a mente confere a ele. Quando mente lhe disser que no centro você faz isso ou aquilo, não acredite nisso. Não se deixe levar pelos valores que ela está conferindo ao que está acontecendo.

Agora, será que você pode deixar de frequentar um centro de umbanda? Claro que sim. Muitos já deixaram. Será que isso vai acontecer com você? Não sei, espere o futuro se transformar em presente para saber.

Compreenda uma coisa: você nunca poderá determinar se vai ou não algum lugar. Ir ou ficar é vida e por isso não é resultado de ação sua A vida vive a vida e não você. Por isso aprenda a assistir o que está acontecendo.

Participante: Se os caboclos, pretos velhos e exus estão vivendo suas ilusões, porque eu tenho que compartilhar desta farsa?

Porque está compartilhando, quando está. Porque aquela farsa faz parte de um presente seu, quando faz.

Na hora que o seu presente for não ir, você não precisa compartilhar naquele presente Agora, se em outro presente o aqui e agora voltar a ser ir, vá e compartilhe, porque é isso que está lhe acontecendo.

Participante: Duas pessoas vivendo o aqui e agora, o presente, ambas na sua realidade real. Isso facilita as relações humanas verdadeiras e felizes, pois se estiverem no mundo das probabilidades estariam gerando conflitos pessoas e nos seus relacionamentos entre pessoas?

Criar conflito, não é você quem cria, mas sim a vida.

Quantas vezes você já falou com outra pessoa com a melhor das intenções e o outro entendeu diferente, achou que você estava o atacando? Portanto, o conflito pode surgir, mesmo que as duas pessoas estejam presentes no aqui e agora. No entanto, se elas estiverem no presente, se o conflito surgir, elas não vivenciam internamente esse conflito. Esse é o primeiro detalhe.

Segundo detalhe: preocupe-se com você. Esqueça o outro. Tente alcançar a sua felicidade. Não se preocupe s o outro vai alcançar ou não.

Sabe porque estou falando isso? Porque essa felicidade que estou comentando não se vê exteriormente. Você vai ver muita gente falando que está em paz, mas, pode dentro, está vivendo apenas o prazer.

Participante: Felicidade não existe, eu sei disso. Jamais vou conseguir enganar a mim mesmo.

Esta é sua opinião? Então, você vai viver sofrendo a vida inteira.

Participante: temos que viver sem preconceito para não viver o passado e sem ansiedade para não viver no futuro. Isso quer dizer que devemos seguir nosso coração?

Coração para vocês humanos é um músculo que movimenta o sangue dentro do corpo. Se você é vampiro vai gostar de viver no coração, pois lá tem muito sangue.

Esqueça o coração: ele não tem nada que você possa usar para ser feliz. Ocupe-se apenas em não viver à sombra do passado ou do futuro que já está muito bom.

Pare com essa história que irá seguir o que seu coração diz e com isso conseguirá ser feliz. Pode acontecer de agir seguindo o que imagina estar no coração e quebrar a cara.

Participante: Concentração total na ação do presente ajuda a viver no agora?

Não, atrapalha.

Atrapalha porque vai imaginar que está agindo, quando não está: a ação é a própria vida. O que você precisa é concentração total no que a mente fala. Isso é outra coisa.

Concentração total na ação é concentrar-se em ouvir o que estou falando, por exemplo. Quem disse que isso é você que vai fazer? Isso é vida e acontecerá se ela for isso. Para ser feliz é preciso se concentrar no que a sua mente fala enquanto eu estou aqui dizendo alguma coisa.

Participante: Então, não seria se concentrar nas percepções, mas concentração total na mente?

Isso. Não se concentre nas suas percepções, mas no que a sua mente fala que você está percebendo.

É preciso que aja dessa forma porque você não percebe nada. É a sua mente que lhe diz que você está percebendo. A sua mente lhe diz que você está vendo o computador, que dele está saindo o som da minha voz, etc. Nada disso é percebido por você.

Participante: A acordar de manhã eu não deveria fazer plano nenhum? Como viver o presente sem estar preparado para ele? Como viver sem planejar pagar contas ou visitar um cliente? Que organização teria a vida?

A mesma de hoje. É você que acha que faz porque se organiza, mas essa não é a realidade.

A organização é ato. Por isso, não é você que o pratica, mas a própria vida é organizar-se. Se é a vida que é os atos que acontece, eles ocorrerão independentemente de você organizá-los ou não.

A vida acontece pela própria vida. Por isso, se não organizar nada, o que tiver que acontecer, acontecerá.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

No trabalho

Participante: Como proceder no trabalho para manter-se no presente? Todo trabalho, seja ele qual for, é sempre realizado visando algum resultado futuro. Um projetor, por exemplo, sempre realiza uma ação que cria um ato posterior. Como trabalhar sem pensar no resultado, no futuro?

Simplesmente trabalhando.

É porque projeta alguma que consegue realizar? Quantas vezes já projetou alguma coisa e não aconteceu? Portanto, o resultado não depende da projeção, mas do trabalho.

Por isso lhe digo: trabalhe sem projetar resultados. Desta forma, não trabalhará angustiado esperando o resultado do que está fazendo e isso não alterará de forma alguma o resultado.

Participante: Mas, não me referi ao resultado pessoal e sim ao resultado do trabalho. Por exemplo, se projetamos uma casa, temos que fazer todos os cálculos e visualizar a casa pronta para só depois construí-la.

É, você acha que tem que fazer tudo isso. Por isso, não conseguirá viver de outro jeito. É só isso que posso lhe responder.

Você já experimentou não visualizar a casa pronta, mas visualizar o projetar a casa? Será que isso dá certo? Você nunca experimentou, como sabe que não dá?

Repare na diferença entre o que eu falei e o que você falou. Eu disse visualizar o projetar, você disse visualizar a casa pronta. Viver o projetar é uma coisa, sonhar com ela pronta é outra. Você projeta uma casa de um jeito, mas será que ela vai sair exatamente como projetou?

Participante: Sou um exemplo vivo disso. Trabalho tirando fotos, mas finalizo o meu trabalho na hora que bem entendo. Tenho fama de entregar meus trabalho sempre atrasados, mas vivo isso com muita tranquilidade. Sou o carma dos meus clientes.

Está certo, mas não se vanglorie de atrasá-los. Se isso acontecer, estará preso à mente da mesma forma que aquele que visualizar a casa pronta.

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O tempo do tempo

Participante: Na eternidade não existe tempo. Então, sem passado e futuro, estamos sempre vivendo a eternidade? O eterno é viver o aqui e agora?

Pergunta muito interessante.

Você afirma que o eterno é viver o presente. Pergunto: o que mais você tem para viver além do presente? Se não viver o aqui e agora, só poderá viver uma probabilidade de passado ou uma possibilidade de futuro.

Então, sim, a eternidade é o presente eternamente. Só quero acrescentar um detalhe na resposta à sua questão.

Vocês vivem com a ideia de tempo, de duração de tempo. Por isso, na verdade, a eternidade para vocês é algo que dura muito tempo. Mas, isso não é verdade.

A eternidade dura um segundo. Por quê? Porque enquanto durar esse segundo e ele for o presente de vocês, será toda eternidade que terá para viver. Sendo assim, se você consegue viver apenas o aqui e agora estará vivendo eternamente.

Participante: O presente é muito dinâmico. Por isso, quando raciocino o pensamento, estou voltando ao passado, pois aquele presente é mais rápido que o meu pensamento e já acabou. Seria apenas deixar acontecer?

Novamente vocês preocupados com o futuro. O momento é de saber o que fazer e não de aprender a fazer. Há algo que ainda precisa ser falado.

Até agora eu só disse o que precisa ser retirado do presente. Ainda não falei o que deve ficar no aqui e agora.

Participante: O tempo passa ou nós passamos pelo tempo?

Não existe tempo para você passar por ele ou ele passar por você. Na verdade, você existe a cada presente. Como eles nunca são passado, só existe você e o presente.

Participante: O presente é um flash, não? Já foi, já foi, já foi, já foi.

Sim, ele é um flash. Ele é tão rápido que você não consegue percebê-lo.

Apesar disso, para o trabalho da busca da felicidade, lide com o presente que você pode perceber. Uso como exemplo para falar disso a resposta que me foi dada anteriormente: o meu presente é estar aqui olhando para o computador.

Isso na verdade não é um presente. Durante o tempo que a pessoa achou que esse era o seu aqui e agora, vários presentes aconteceram. Só que o ser humano é incapaz de percebê-los passando. Por tanto, trate o presente com aquilo que você pode perceber e não se preocupe demais em defini-lo ou limitá-lo.

Saiba de uma coisa. Se você quiser encontrar o presente real, jamais irá conseguir. Vou lhe explicar isso usando um exemplo de Santo Agostinho.

Pense na palavra presente. Você imagina que o momento de pronunciá-la é um presente, mas isso não é real. Quando estiver dizendo a sílaba ‘sen’, a ‘pre’ já é passado e a ‘le’ é futuro. Mais: quando estiver dizendo a sílaba ‘sen’ também não estará num só presente, pois quando pronunciar a letra ‘e’ a ‘s’ é passado e a ‘n’ é futuro.

Portanto, não tente mensurar o presente real. Viva o presente que conseguir perceber como tal.

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Trabalhando com ensinamentos espirituais

Participante: Hoje estava ouvindo as conversas antigas deste estudo e fiquei pensando se o mundo dos devas não é esse lugar onde estamos agora, pensando que estamos encarnados. Sei que isso é viagem da minha cabeça, mas o que não é muito louco em tudo que está acontecendo aqui e agora?

Sabe o que não é muito louco naquilo que está acontecendo no aqui e agora? O que você não disser que é louco. É louco aquilo que você disser que é loucura. O que disser que não é, não será.

Quanto ao mundo dos devas, isso não lhe pertence. Falei dele no início destas conversas para poder acabar com a questão do aspecto espiritual. Agora acabou. Esqueça mundo dos devas.

A única coisa que lhe acontecerá se não viver o aqui e agora é que ficará preso ao prazer e a dor. Se gostar disso, não há problema algum.

Participante: Se Deus é a Causa Primária de tudo e eu não fico preocupado com nada, estou feliz no meu aqui e agora e não julgo nada.

Eis aí o problema de se mexer com algo que não se conhece e não se pode ter compreensão perfeita: os ensinamentos espirituais.

Você diz que se colocar o ensinamento que afirma que Deus é Causa Primária de todas as coisas conseguirá viver o agora feliz. Acontece que se Ele é a Causa de tudo, é também a causa da sua prática do ensinamento. Sendo assim, você não fez nada. Foi Ele quem fez.

Por isso volto a insistir: esqueçam dos ensinamentos espirituais.

Participante: Até o final do estudo anterior a este, estávamos estudando ensinamentos referentes ao mundo dos devas. Nesta nova fase, estamos estudando a nível mental, tendo em vista que a felicidade do espírito é livrar-se do plano astral dos devas e do mental para atingir o plano espiritual puro?

Por favor, me responda: o que é o espírito? Se souber, por favor me responda.

Não tem resposta? Claro, como ensina o Espírito da Verdade, ele é um nada para você. Como você pode saber alguma coisa sobre o nada?

Esta questão ficou bem clara no início deste estudo. Mais: como falei na mensagem que deixei no final do ano passado, levei dez anos para provar que não dá para se falar de espírito, de Deus ou do Universo, porque estas coisas são desconhecidas para vocês. A partir desta constatação, aposentei qualquer alusão a espírito ou mundo espiritual.

É por isso que não tenho como responder à questão que você me apresenta agora.

Participante: Deus é meu aqui e agora. Tenho fé Nele. Por isso estou tranquilo. Tudo é perfeito e equilibrado.

Louvado seja!

Agora, se me permite, deixe lhe dizer uma coisa. Você já teve momentos de desequilíbrio nesta vida? Eles também foram Deus. Você conseguiu vive-los como perfeito?

Este é o problema de se pensar em Deus como sendo as coisas desta vida. Como já falei quando conversamos sore religiosidade, você não vivem com Deus com as mãos postas em oração, mas sim com elas estendidas querendo sempre ganhar o que desejam. Saiba de uma coisa: se você esperar que Deus lhe dê tudo o que você quer, vai se cansar de esperar.

Se esta é a sua fé, esqueça. Deus não está aqui para lhe dar o que você quer, não está aqui para contribuir com a sua paz de espírito. Ele está aqui para lhe dar a guerra diária contra a vida para que você aprenda a viver em paz, para que entre em paz com a vida.

Tem um texto que diz assim: ‘eu pedi a Deus paciência, e Ele me deu gente impaciente para testar a minha paciência’. É assim que a vida acontece.

Portanto, esqueça. Não há felicidade para aquele que imagina que ter Deus do seu lado vai lhe fazer viver feliz. Isso porque você é guiado por uma mente que é egoísta e que acima de tudo quer obter vitórias.

Participante: Joaquim, eu não desequilibro o meu ser. Eu sou feliz no meu aqui e agora. Lembra que você me disse que eu tenho fé? Lembra também as provas no carro das quais você disse seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu e pronto?

Eu só posso dizer agora ‘louvado seja’.

Se isso está lhe fazendo feliz e se acha que isso lhe faz feliz, viva isso. Agora, com certeza um dia vai descobrir que isso é apenas o que você acha que é ser feliz.

Participante: Os espíritos puros cumprem e fazem cumprir segundo a determinação de Deus os fatos que geram as provas do ser encarnado. Sendo assim, viver na apatia que o senhor ensinou hoje é um exercício para as provas de regeneração?

Não sei, não conheço nada sobre espírito.

Participante: se eu não sou espírito, não estarei nem se quiser na era da regeneração. Então, qual a finalidade de tanto estudo? Ou será que posso com meu atos dar um passo para a construção deste novo mundo?

De que era de regeneração você está falando? Eu não conheço nenhuma.

Que dia é hoje? A Sua resposta não interessa. Seja que dia for, hoje é hoje. Só amanhã chegará o amanhã. Por isso, viva o hoje que você tem para viver.

Esqueça o mundo de regeneração. Esqueça o que o espírito faz. Esqueça tudo isso.

Sabe para que serve tudo o que conversamos hoje? Para você ser feliz agora. Ao invés de entender isso, você está preocupado com o mundo de regeneração.

Eu só levei vocês tão longe nas conversas usando os elementos espirituais para mostrar que por mais que falasse sobre estas coisas, você não conseguiam entender nada do que estava dizendo. Portanto, esqueça esses temas.

Lembram-se das conversas monistas que tivemos? O que foi dito durante elas foi o mais perto da realidade universal que poderíamos chegar. O que aconteceu durante elas? Eu falava uma coisa e vocês entendiam outra. Porque isso acontecia? Porque o ser humano não tem elementos para conhecer sobre o Universo, Deus ou o espírito.

A ideia de espírito que vocês possuem não tem nada a ver com o elemento universal que chamamos por este nome. A compreensão que possuem sobre o Universo, não tem nada a ver com a realidade universal. Deus, então, nem se fala: tudo que sabem sobre Ele não chega nem perto da realidade.

Portanto, esqueçam estas coisas. Concentrem-se apenas no objetivo este trabalho: conseguir ser feliz agora.

Participante: Dúvida: se Deus é tudo, o eu que se separa do mental decidindo isso ou aquilo também não é Deus?

Se Deus é tudo, Ele é todas as coisas. Portanto, Ele é o mental, o eu que se separa ou não, a separação ou a união. A partir disso, o que poderíamos falar mais? Nada.

Repare: quando você mistura Deus na conversa, acaba se perdendo num labirinto que não consegue sair. Por quê? Porque se tudo é Deus, não existe mais nada. Não haveria nem um você para contemplar Deus.

No Avadhut Gita existe uma passagem muito interessante. Ela diz assim: ‘se tudo é Deus, quem é o contemplador e o contemplado? Se tudo é Deus, quem contempla quem’?

Quando misturamos Deus com a vida humana, os ensinamentos religiosos que vocês estão acostumados perde o sentido. Não pode haver contemplação de Deus, pois a própria obra, que seria o contemplador, seria Ele mesmo.

É isso que estou querendo mostrar neste trabalho. Não adianta ficar preso nas ideias que as religiões criaram para religação com Deus, pois elas são ambíguas e hipócritas. A única coisa que pode lhe fazer feliz e assim alcançar a perfeição desta encarnação é conseguir viver o aqui e agora.

‘Mas, será que isso vai valer de alguma coisa quando eu morrer’, vocês me perguntariam. Não sei. A morte não faz parte do aqui e agora de vocês, pois imagino que estão vivos. Portanto, deixem para se preocupar com estas coisas no futuro. De uma coisa tenho certeza: se colocarem em prática o que disse, serão felizes agora, hoje.

Não sei se vocês se lembram do que falei na primeira conversa deste estudo. Teve um momento que disse assim: ‘vou querer que vocês cheguem, inclusive, a duvidar se há um outra vida. Chegamos a isso.

É preciso que vocês duvidem da existência depois desta vida, pois se fizerem qualquer coisa neste momento preocupados com a próxima existência, estarão vivendo o futuro e não o presente. Se fizerem o que ensinei hoje preocupados se este exercício será bom para a futura existência, não vão conseguir realizar nada, pois não estarão vivendo o presente no presente pelo presente.

Portanto, esqueçam se há outra vida, se existem espíritos, das prova, carmas, encarnação, mundo dos devas ou de qualquer outro aspecto que não esteja no aqui e agora que estão vivendo. Essas coisas não fazem parte deste momento da existência de vocês e precisam ser abandonadas para que se possa alcançar o estado de espírito de felicidade.

Deixe para saber o que vai lhe acontecer quando morrer, quando este for o seu presente, ou seja, depois que morrer. Aliás, vocês sabem o que é morrer? Um acontecimento da vida, um aqui e agora que será vivido por cada um. Se quando este presente chegar vocês estiverem presos ao passado ou a um futuro mais distante, não conseguiram ser felizes naquele momento.

Esqueçam, inclusive, qualquer coisa que acham que é morrer. Se e4stiverem presos à ilusão de que morrer é determinada coisa, quando viverem o presente morte, não alcançarão a felicidade, pois ficarão contrariados com o que lhes acontecerem.

Morrer é apenas mais um aqui e agora que cada um terá que viver. Deixando-se levar pelas afirmações do mundo mental que afirma que este momento é vivido desta ou daquela forma, geram uma expectativa. Se ele não ocorre, o sofrimento é inevitável. Se ela acontece, o prazer vem.

Participante: Posso convidar agora um espírito do mundo dos devas para ouvir esta palestra e com isso ajuda-lo?

A sua mente pode criar a ideia de convidar um espírito, pode criar a ideia de que ele está ao seu lado, pode gerar a consciência de que ele está ouvindo e sendo ajudado, mas você jamais vai ter certeza se isso é verdade ou não. Por quê? Porque espírito não faz parte do seu mundo, não é tangível para você.

Esqueça espírito. Até porque, se ele tiver que vir, quem vai trazê-lo é Deus e não você. Ou você acha que vai conseguir trazer algum ser do Universo que Deus não queira que esteja aqui?

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

O que deve ficar no presente

Participante: Como fazer para separar o observador que devemos ser da nossa própria mente?

Não sendo a mente. Sendo apenas observador dela.

É sobre isso que quero falar daqui a pouco. Sei que vai complicar tudo, mas é preciso ser dito.

Participante: o pensamento antecede o ato. O que antecede o pensamento?

Pensamento não antecede o ato: ele cria a ação.

Você só me ouve quando pensa que está me ouvindo. Se não pensar que está me ouvindo, não me ouvirá.

Posso complicar um pouco o que estou ensinando? Então, vamos lá.

Disse que é preciso retirar do presente o passado, o futuro, o que você está achando e os adjetivos que a mente aplica a vida. No entanto, há algo que é preciso que se mantenha no presente: o próprio presente.

Se o seu passado está influenciando o presente, você não o pode tirá-lo, porque o seu aqui e agora é ter o passado presente. Se, por exemplo, o seu presente é estar pensando em ir embora, você não pode tirar isso do aqui e agora, pois esta ideia faz parte do momento atual. Se o seu presente é estar me ouvindo, você não pode tirar isso dele, pois esta é a sua realidade.

Se você retirar o passado ou futuro do seu presente, ele seria diferente. Mas, como você não pode mudar a sua vida, não pode fazer isso. Na verdade o que você precisa não é mudar a sua vida, mas mudar a forma de viver o presente.

‘Eu estou aqui ouvindo Joaquim’: este é o seu presente. Não o negue, não o altere. Aliás, nem pode, porque é esta consciência que a sua mente está criando. No entanto, ao invés de vive-lo da forma que vive hoje, acreditando que isso é real, diga para si mesmo: ‘mente, eu não acredito em você. Não sei se é isso ou não. Você diz que é, ótimo, mas eu não sei se é. Eu não me comprometo com esta ideia’.

Repare na diferença entre o que estou falando e o que vocês imaginam que estou ensinando. O que falo quando digo para retirar estas coisas do presente não estou falando em mudar a ideia que se tem, mas apenas constatá-la. Não vive-la como realidade, mas não deixar de tê-la.

Você precisa viver o que tiver para viver, inclusive a influência no presente do passado e do futuro e as qualificações que a mente cria. Só que não deve viver estas coisas como realidades, como verdades, como coisas reais.

Você precisa viver tudo o que a mente cria, mesmo aquelas coisas que disse que precisa retirar. Sabe porquê? Porque o seu presente é tudo que lhe acontece no aqui e agora. É a sua atividade física, mas também é a sua atividade mental que está acontecendo naquele momento. Sendo assim, se você pudesse eliminar qualquer coisa, poderia mudar o presente e isso é impossível para o ser humano.

Me falaram agora pouco sobre tornar-se o observador da mente. Sim, vocês precisam tornarem-se observadores da mente, mas quem faz est observação repara na parte física e na mental. Só que o observador observa, não muda nada nem julga, critica ou acusa. Ele observa.

A mente lhe diz que você está sentado ouvindo esta conversa. Responda a ela: ‘certo, você diz que é isso que estou vivendo, mas eu não acredito nessa sua afirmação, mente. Pode continuar dizendo isso à vontade, que eu não vou viver essa consciência. Apesar de você estar dizendo que estou fazendo isso, vou continuar vivendo apenas a mim mesmo’.

O trabalho da felicidade não é deixar de ter compromissos, como afirmaram agora a pouco; é deixar de se compromissar com os compromissos que a mente cria. Se você imagina que um dia vai conseguir retirar a ideia de gerar compromissos da mente, esta ideia não é sua, mas apenas uma nova consciência gerada pelo mundo mental para criar um presente para você viver.

A mente precisa gerar o compromisso e aquele que está em busca de sua felicidade deve dizer a ela: ‘está certo, mente, você marcou este compromisso, mas eu não sei se vou ou não’. Isso é retirar o futuro do presente e não querer deixar de marcar compromissos.

Se quiser tirar os adjetivos que a mente cria para o seu presente, você não deve imaginar que vai acabar com os bonitos e feios que o mundo mental cria, mas deve apenas não compactuar com o que a mente cria. Você jamais vai conseguir acabar com esta adjetivação na sua vida, a não ser que a própria mente extinga essa ação. Mas, neste caso não foi você que fez e por isso, isto não lhe levará à felicidade alguma.

O que você precisa fazer neste momento é dizer o seguinte à mente: ‘você diz que essa coisa é bonita, então é, mas para você. Eu não sei se ela é bonita ou não’. Essa é a forma de viver a realidade sem adjetivações e não acabar com as ideias que a mente tem das coisas. Essa é a forma de se tornar um observador da parte física e mental que forma a sua vida, o seu presente, sem se comprometer com o que a mente gera.

Isso é o que precisa ser feito por aquele que está buscando a felicidade. Não se trata de negar nada, nem de mudar a forma de pensar a vida, pois isso vocês não conseguem. Trata-se de não saber se o que a mente cria é real ou não. Se você negar o que ela cria, vai estar afirmando que a realidade é o oposto do que ela falou.

Não é assim que se alcança a felicidade. Ela é alcançada quando você consegue não afirmar nada sobre o que está acontecendo, quando não dá valor algum àquilo que está ocorrendo. Ela é alcançada quando você interage com as criações mentais dizendo assim: ‘isso é o que você, mente, está criando, mas eu não sei se realmente é isso’.

Ela é alcançada quando você responder com as palavrinhas mágicas ‘e daí’ quando a mente criar a ideia de estar perdendo por não compactuar com o que ela diz. ‘E daí, mente, que eu não vou ganhar nessa hora? Eu não quero ganhar nada, quero apenas a minha felicidade. Querer ganhar é me expor ao prazer ou a dor e eu não quero isso para minha vida’.

Ela é alcançada quando a mente lhe diz que você já alcançou alguma coisa, que já consegue viver em paz, e você responde: ‘não sei se consegui fazer nada’. A mente está dizendo isso para lhe iludir e se você não trabalha libertando-se desta conclusão, mais tarde ela vai lhe dar o prazer e você vai confundir com a felicidade plena.

Ela é alcançada quando, a qualquer criação mental afirmando qualquer coisa sobre você, a resposta for ‘não sei’. A tudo que a mente cria, aquele que busca a felicidade precisa responder simplesmente que não sabe se aquilo é real. É por causa disso que disse que a resposta que recebi na conversa anterior sobre o presente (estou aqui na frente do computador) não é completa. Se você vive um presente muito longo, enquanto ele está ocorrendo a mente continua divagando, quer você queira ou não, e, neste momento, você não vai conseguir realizar o trabalho para manter a sua felicidade. Embarcará nesta divagação e viverá as consequências do que for dito.

Lembrem-se: a cada pensamento se cria um presente. Por isso, a cada pensamento há um trabalho a ser feito, a uma oportunidade para se viver a felicidade. Isso acontece quando se observa o que a mente diz e se responde com um não sei.

É isso que precisa ser feito. Quanto à querer deixar de sentir que perdeu, quanto a querer deixar de organizar as coisas, quanto à querer deixar de influenciar o presente com o passado ou futuro, isso é impossível para o ser humano.

Aquele que quer ser feliz de verdade precisa estar presente não na atividade física, mas junto à mental. Precisa estar atento àquele pensamento que está ocorrendo naquele momento e dizer: ‘pense o que você quiser, mente, mas eu não corroboro com a sua criação. Eu não partilho do que você está dizendo que está acontecendo’.

Esse é o trabalho que precisa ser feito e não aquele que vocês imaginaram primariamente. Não se trata de mudar nada, de deixar de fazer alguma coisa ou de pensar de um determinado jeito. O trabalho que precisa ser executado é, quando a mente estiver fazendo ou pensando alguma coisa, não se unir ao que ela está afirmando que é o seu presente.

Sabe, é muito mais simples do que vocês estão imaginando. Está todo mundo preocupado com a forma de viver a vida – ‘como eu vou viver sem marcar compromissos’ – mas, quem disse que irá viver sem compromissos? Quem disse que você irá mudar alguma coisa na sua vida de agora?

Criar compromissos ou qualquer outra atividade da vida é uma ação criada pela mente e não executada por você. Por isso, enquanto você busca a sua felicidade, a mente continuará criando todas as atividades que ela sempre criou. O que você precisa é apenas não se compromissar com os compromissos que ela cria para o seu dia a dia.

Desejar coisa é uma atividade da vida. É a mente que deseja as coisas e isso faz parte da vida que você tem para viver. Por isso, você não pode mudar isso. O que é necessário ser feito é não desejar o desejo que a vida possui. Para fazer isso as palavras ‘não sei’, ‘e daí’ e ‘dane-se’ são fundamentais no seu vocabulário. São palavras que o sábio usa.

O sábio nunca sabe de nada. O sábio de verdade, aquele que consegue viver feliz, nunca valoriza coisa alguma, apesar da sua mente valorizar. O sábio nunca tem medo de perder ou deixar de ganhar, apesar de conviver com formações mentais que têm. Ele vive como observador da mente e não como ela determina que ele viva.

A mente sempre vive nas vicissitudes, ou seja, na alternância das situações da vida: um dia está bom, no outro está mal. Só que o sábio, por não viver preso a ela, não sobe nem desce. Ele continua sempre firme no meio da onda.

Esse é o trabalho, essa é a busca da felicidade. Ele se consiste em tornar-se um observador da mente e não um agente que trabalha para ela. Por isso é que você precisa tirar tudo o que falei do presente, mas isso não se faz retirando alguma coisa que está na formação mental, mas apenas libertando-se de tudo o que a mente cria.

Quando falei antes, usei o termo tirar da mente como uma forma de observar o que ela diz, como algo que você não deve compartilhar, e não como uma ação que deve ser executada. Não falei em retirar fisicamente estas coisas do pensamento, mas apenas citei elementos que são gerados pela mente e que você não deve compartilhar.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Um momento para cada coisa

Participante: O senhor falou que eu posso chamar o cachorro de chato sem problemas. Só que se chama-lo assim, estarei adjetivando alguma coisa, o que foi dito que não devemos fazer. O que fazer quando a gente não escapa de adjetivar algo?

Não sofrer nem ter prazer porque está adjetivando alguma coisa.

É o que acabei de dizer: não dá para tirar o presente do presente. Deixe-me falar uma coisa muito interessante a esse respeito.

Além dos pensamentos, há outra coisa na vida de vocês: as ações. Lhe garanto que quando você chamou o cachorro de chato nem ouviu o pensamento que gerava este adjetivo ao cão. As palavras saíram sem que nem ao menos você percebesse o pensamento que as criou. Portanto, não há como deixar de pronunciar estas palavras.

No entanto, a partir do momento que você proferiu estas palavras, a mente continuará funcionando gerando formações mentais a respeito deste acontecimento. Ela pode trabalhar afirmando que o cachorro é realmente chato. Este é o momento onde você deve agir. Como? Dizendo a ela: ‘foi você que disse que ele é chato e não eu. Eu não sei se ele é’. Com isso, consegue se libertar do conceito que ela criou.

De outra forma, a sua mente pode estar criando agora a culpa: ‘eu acabei de ouvir que não devo adjetivar e logo em seguida vivo uma adjetivação. De que adianta ouvir tudo isso. Eu não tenho jeito mesmo’. É neste momento que você precisa se desligar das coisas que ela cria. Como? Dizendo: ‘foi você que chamou de chato e não eu. Eu sei que não devo adjetivar, por isso não vou compactuar com a ideia que você criou, mente’.

O momento seguinte ao ato: esse é o momento onde deve agir para retirar da mente tudo aquilo que lhe faz sofrer. No momento da ação, as palavras saem, as ideias vêm e você nem vê nada disso acontecendo.

Existe um momento para cada coisa. Existe o momento de falar que o cachorro é chato e existe o momento onde você deve agir para retirar do seu presente, não do presente da mente, tudo aquilo que não lhe deixa alcançar o estado de espírito de felicidade.

Existiu um momento onde foi necessário que você dissesse que o cachorro é chato. Este momento aconteceu e nunca poderia deixar de acontecer, pois na vida não existe o se. Neste momento você não pode querer mudar nada, pois não tem consciência das coisas que estão acontecendo. Agora, depois que as coisas acontecem, você precisa agir para que as criações mentais não se assentem em sua memória como conceitos.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

O observador da mente

Participante: Vamos trazer o que o senhor acaba de falar para a prática. Tenho que dividir a mim mesmo entre a mente, que cria as coisas, e o observador, aquele que observa o que ela cria? Se sim, este observador está dentro da mente? A minha mente vai observar a ela mesmo? É isso?

Agora você chegou na pergunta que todos querem fazer: quem vai observar a mente? A resposta é uma só: você. Quem é você? Você. É você que precisa observar o que você cria.

Sei que parece complicado, mas na verdade não é. Você sabe muito bem quando está agindo mentalmente e sabe quando as coisas surgem espontaneamente na sua consciência. É o primeiro que observa o segundo.

Em outro estudo falei do pensamento espontâneo e o pensamento no qual você conversa com a mente, que à época chamei, se não me engano, de raciocínio. É disso que estou falando agora novamente. Você é aquele que raciocina, aquele que conversa com a mente.

Mas, me diga uma coisa: quem está querendo saber quem é o observador? Quem está querendo saber como o observador age? É a mente e não você. Por isso reaja à este seu presente da seguinte forma: ‘você quer saber, mente, faça a pergunta. Eu não estou nem aí para a resposta’. Desta forma, a mente fará a pergunta, se essa for a sua vida, mas você não perderá a sua felicidade.

Participante: o senhor fala da mente e de um tal você. Quem é o você?

O observador da mente. Contente-se apenas com esta resposta e não queira saber mais sobre o assunto.

Se continuar sentindo-se instigado a descobrir quem é este você, a mente lhe dirá uma série de coisas e você acreditará. Só que como disse uma pessoa anteriormente, a mente conta mentiras. Sendo assim, qualquer coisa que ela lhe disser não será a verdade.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Outras questões

Participante: Se minha consciência soubesse algo, não se chamaria mente, porque quem mente é mentiroso.

É exatamente por isso que você não deve compactuar com ela. Apesar disso, não deve querer muda-la. Por quê? Porque a verdade não pode ser conhecida.

A mente, mente, mas se você quiser conhecer a verdade, a punica coisa que conhecerá é uma nova mentira. Isso acontece dessa forma porque qualquer verdade que souber será a mente que lhe dirá.

Participante: O que o senhor está ensinando me parece como uma forma de viver a vida sem criar motivos para sentir culpa de ter feito alguma coisa. Pode ser isso?

Não. Isso é uma forma de viver onde, quando a mente criar a culpa de ter feito alguma coisa, você não sinta culpa. Ao invés disso deve dizer a ela: ‘você quer sentir, culpa, pois sinta. Eu não me sentirei culpado de nada’.

Não se trata de um processo onde você consiga extinguir a culpa. A mente continuará lhe dando esta sensação. Só que quando isso acontecer você não a viverá, pois não compactuou com o que a mente criou.

Participante: A pessoa que vive deprimida, indiferente a tudo, parece que se encaixa no que o senhor fala.

Estar em depressão é viver um sofrimento.

Indiferença é uma coisa; depressão é outra. A indiferença se encaixa no que estou falando; a depressão não.

Participante: Citando a Bíblia, lá é dito que houve uma guerra no reino do céu e que este reino está dentro de nós. Esta guerra, então, é esta que o senhor está falando: os conflitos mentais internos?

Sim, mas você precisa entender o que é o céu.

Quando se fala em céu, para vocês, humanos, estamos falando disso que existe acima do planeta de vocês. Para vocês, o céu nada tem a ver com o mundo espiritual.

Por isso, precisa entender que se houver uma guerra no céu o que cairá sobre você não é o reino do céu, mas avião ou nave de extraterrestres. Estou falando assim porque você se referiu a uma guerra e os elementos do universo (asteroides, cometas) não fazem guerra. Por isso, apenas o que participa da guerra poderá cair sobre você.

Quando falamos de céu no sentido espiritual precisamos compreender que ele não está acima de nada. Como cristo ensina através do Evangelho de Tomé, o reino do céu está dentro de cada um. Portanto, quando se fala na Bíblia sobre reino do céu está se falando da luta interna de cada um.

Que luta é essa? É a luta para ser o melhor, para querer ter o prazer, para querer ganhar sempre. Essa é a guerra que você tem que enfrentar diariamente. Todo dia a mente gera pensamentos fundamentados no egoísmo e nas quatro âncoras (características primárias do pensamento humano – querer ganhar, ter o prazer, buscar a fama e o elogio) e você precisa travar uma batalha interna para não se deixar levar por estas ideias.

É uma batalha onde, mesmo instigado pelo inimigo, a mente, através das ideias geradas pelos pensamentos, você não deve querer ganhar sempre. É uma batalha onde você vence quando consegue aceitar a derrota e a perda com naturalidade, sem sofrimento.

Aliás, se o reino do céu é tudo, o seu mental é o reino do céu. Ele é, mas o que ele gera (as consciências da vida) não. Por isso é preciso que você trave esta batalha diariamente.

Participante: o distanciamento que o senhor propõe nos torna pessoas mais frias, não? Posso observar a mim, mesmo xingando alguém e interiormente manter-me calmo?

Não, o distanciamento não lhe torna mais frio emocionalmente. Como eu disse, a felicidade é um estado de espírito, ou seja, uma forma de viver uma emoção e não um sentimento.

Sendo assim, se a sua mente está criando raiva, você vai ter raiva. Só que ao invés de relacionar-se com a raiva de uma forma raivosa, estará em estado de espírito de felicidade.

Como se faz isso? Dizendo: ‘mente, você está com raiva, pois então que fique com ela. Eu não vou entrar nesta raiva’. Neste momento, você observa a raiva, mas não a vive.

Participante: Quando estava formulando esta pergunta, você disse que devemos esquecer de outras vidas. É exatamente sobre isso que quero comentar. Tenho observado o meu aqui e agora e encontrado o mesmo presente que venho vivendo sei lá há quantas eternidades. Ele até já me foi apresentado como vidas anteriores. O que me parece é que se eu me apegar a certas vivências, elas me acompanharão sob a forma de inúmeros presentes diversificados em fatos diferentes. Isso abaixa muito a ansiedade que a identificação do presente trás, ou do presente que eu vivo, seja como for que se apresente. Comente isso, por favor.

Repare numa coisa: você está achando que é consequência do passado. Que passado você imagina que tem? O presente acaba quando se transforma no passado.

O passado não é um presente que vai para o passado. O passado não é um arquivo de presentes. Não existe um passado, pois só existe o presente que se sobrepõe a outro presente.

A mente está lhe dando a ideia de que você está se sentindo melhor e você, quando acredita nesta formação mental, cai nela, a vive. Só que este melhor que imagina estar sentindo não é real, mas apenas uma propositura mental.

O que estou falando não tem nada a ver com lembranças de outras vidas. Se você ligar o seu presente como consequência da sua infância, jamais conseguirá ser feliz agora: viverá apenas no prazer ou na dor. Se ligar o seu presente de hoje como consequência de ontem ou mesmo de hoje de manhã, vai estar preso à conceitos formados anteriormente, à valores que a mente atribuiu àquele presente, e não conseguirá ser feliz agora.

Esqueça tudo o que você me perguntou. Viva cada momento a cada momento, com as coisas que estão presentes nele e pelo próprio momento e não por qualquer esperança futura. Isso quer dizer a mesma coisa de viva o presente pelo presente no presente.

Participante: Vou voltar a uma palestra anterior. Naquele momento o senhor disse que quem perdesse acharia e quem se achasse, perderia. É isso?

Perder-se é não saber o que está acontecendo. Achar-se é saber o que está acontecendo. Portanto, quem perde acaba conseguindo a felicidade e quem acha a perde.

Participante: Seria isso: a mente relaciona-se com o mundo externo representando o ego e nós, o eu, relaciona-se somente com a mente?

Sim, porque a mente se relaciona com o externo. Aliás, a mente é o externo.

Participante: Quando falei anteriormente, não me referi a vidas passadas, mas sim que vivo apenas os mesmos presentes eternamente.

Me diga uma coisa: como você vai saber se vive o mesmo presente eternamente, se não comparar o seu presente com o passado? Quando comparou e disse que era igual, mesmo que não esteja vendo, está vivendo o passado. Repare que a mente está criando histórias. Por isso, simplesmente não compactue com isso.

Faça a pergunta que você fizer, diga a si mesmo: ‘eu não estou esperando resposta alguma, não quero saber de nada’. Se esperar uma resposta que lhe convença de alguma coisa, pode ter certeza que a mente não dirá que isso aconteceu. Ela sempre lançará dúvida sobre a resposta.

Para que ela faz isso? Para você ficar preso na agonia esperando a próxima palestra para saber a resposta, ou seja, para lhe prender ao futuro. Com isso ela lhe tira do presente.

Participante: Como poderia voltar ao estágio de total desentendimento depois de achar que entendo?

Só não compactuando com o que a mente diz que você entende.

Não estou falando em deixar de entender as coisas, mas sim de não aceitar a afirmação onde a mente diz que houve um entendimento. Se a mente disser ‘é isso’, responda: ‘não sei’. Também não estou falando em não saber. O que estou dizendo é simplesmente para duvidar da criação mental.

Participante: A mente, mente. Ela é constituída por valores humanos. Então, podemos dizer que o humano é uma mentira?

Na verdade, eu venho dizendo que as coisas que a mente cria é mentira há dez anos. Tudo o que ela diz não é real, é irreal. Já cansei de dizer isso e você já cansou de me ouvir. Porque agora essa estupefação?

O problema é que me ouviram falar que tudo que a mente cria é irreal, mas ainda continuam achando que podem saber o que é real. Por causa disso, vivem procurando alguma coisa que seja dessa forma. Se tudo que sabem é gerado pela mente, tudo o que sabem tem que ser irreal, ilusório, uma verdade individual.

Veja. Eu disse centenas de vezes no estudo monista que a mente só cria coisas irreais. Você estava presente e me ouvia sempre falar isso e até acreditava no que eu dizia. Só que a partir do momento que a mente disse que acreditava, você estava dormindo e por isso acreditou também. Por causa disso, deixou-se levar pela busca que ela iniciou para encontrar o que era é real, verdadeiro.

Por isso, lhe deixo um conselho agora: ao invés de se preocupar com o que é real, o que é verdadeiro, não queira saber de nada. Se quiser saber alguma coisa, saiba apenas que tudo é irreal.

Quando a mente lhe disser que existe algo que seja real, verdadeiro, não acredite nisso. Diga a ela: ‘não, mente, nada neste mundo é real’. Se a mente neste momento lhe disser, então, que tudo é irreal, responda novamente: ‘também não sei se tudo é irreal. Apenas sei que não posso compreender a verdade, a realidade do universo’.

Por mais que a mente minta para você, não saiba que ela está falando mentira. Diga apenas que não sabe se o que ela fala é verdade ou mentira.

Participante: A mente é mito?

Eu poderia até dizer que é, mas não posso falar isso porque você acabaria imaginando que essa é uma verdade. Com isso estaria exposto a aceitar outras coisas que ela propusesse como real. Por isso vou lhe dizer que a mente é um mito para quem acha que ela é.

Apesar de ter afirmado originalmente que ela é, vou lhe dizer outra coisa: ela é assim para mim que estou desencarnado. Para você ela é real. Digo isso porque você sente a presença dela, ouve as coisas que ela fala. Por isso, você não pode trata-la como um mito, mas eu posso.

Participante: O senhor está propondo, então, travarmos uma batalha contra nossos pensamentos, como gato e rato? Conseguindo essa equanimidade não estaríamos entrando em alienação?

Eu não proponho uma batalha contra o pensamento de jeito nenhum. Batalha é guerra, luta, para dominar, para subjugar. Eu não proponho isso. O que proponho é uma desvinculação.

Não se trata de uma batalha. Não se trata de dizer que a mente está errada, que ela não presta, que ela está dizendo mentiras. O que estou falando é de desvinculação, é dizer: ‘não sei se o que você está falando é verdade e por isso não vou me guiar pelo que você afirma’.

Isso não leva a alienação alguma, pelo menos no nível mental. A mente continuará a mesma. Na verdade com este processo quem se alienará é você. No entanto, se alienará de que? Das coisas materiais. Mas, essas coisas não existem de verdade mesmo. Então, qual o problema de ser alienado delas?

Só que você nem vai saber que está alienado. Para que pudesse saber seria preciso que a mente lhe dissesse, já que apenas o que ela cria é real para você. Na verdade ela pode até dizer, mas como você não acreditará no que ela disser, não vai viver sentindo-se alienado. Lembre-se: só se torna um alienado aquele que acha que está alienado. Quem não se vê desta forma, não se considera como.

Vou repetir uma coisa que já falei centenas de vezes: quem quiser lutar contra mente para subjuga-la ou muda-la, está com os dias contados. Brevemente estará morto, ou seja, será infeliz. Isso porque ela nunca deixará de ser quem é.

A sua mente pode até gerar uma ideia de que está se subjugando à você. Só que isso não é verdade. Será uma tática de guerrilha que ela usará para lhe adormecer e assim lhe fazer aceitar o que ela propõe.

Participante: A psicologia divide a mente em inferior (mente concreta) e superior (abstrata). Devemos viver na mente concreta ou inferior?

Que bom que eu não sou psicólogo. Por isso não preciso lhe responder esta questão.

Eu não sei em que mente você deve viver. O que digo é que não tem que viver nem numa nem noutra, se existem estas duas mesmos como a psicologia afirma. O que digo é que deve observar a mente, seja ela a de baixo ou a de cima.

Participante: Qual o instrumento para se obter conhecimento se a mente conta mentiras?

A mente. Só a mente conhece ou sabe alguma coisa. Só que tem um detalhe: ela não obtém conhecimento em lugar algum. Tudo o que sabe foi ela mesmo quem criou.

Já falei sobre isso, mas vou falar novamente. Ninguém lê um livro que outra pessoa escreveu. Quando a mente humana lê um livro cria uma percepção, um entendimento, individual sobre o que está escrito. Esta interpretação dificilmente contemplará a do autor ao escrever, porque será permeada pelas experiências e crenças da mente de quem está lendo.

Portanto, você, mente, não pode conhecer nada que tenha sido afirmado por outra pessoa. Tudo que ela conhece, sabe, nada mais é do que uma interpretação do que foi captado pelos órgãos dos sentidos do corpo físico. Tudo que ela conhece e sabe é, então, uma criação dela mesma.

Por isso lhe dou um conselho: esqueça qualquer busca de conhecer, de saber. Pare de buscar verdades, pois nunca as encontrará. O que achará são afirmações que a mente diz que são verdades, mas como já vimos, não são.

Por isso, nunca aceite uma afirmação que a mente diga como verdadeira. Divirja de todo conhecimento que lhe for oferecido pela mente. Não estou falando em divergir sendo contrário ao que ela fala, mas apenas não compactuando com a ideia de que aquela ideia é uma verdade.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

A necessidade da sangha

Respondida às questões, tenho dois avisos para dar para encerrarmos a conversa de hoje. O que vamos falar agora será um aprofundamento do que comentei na primeira conversa: sozinhos vocês não vão conseguir libertarem-se da mente. Não falei mais nada sobre isso e por este motivo muitos estão agoniados. Vou falar agora.

Tudo o que estamos falando neste estudo está dentro dos ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda. Este mestre da humanidade em seus ensinamentos diz o seguinte: ‘para se alcançar a plenitude da vivência da felicidade é preciso que o ser humano tenha um deus, um caminho e uma sangha’. Vou falar sobre isso agora.

Sei que disse para não trabalharmos nesta conversa com elementos espirituais, mas o deus que Buda afirma ser necessário não tem nada a ver com o Senhor do Universo. O deus que é necessário para que se conquiste a felicidade é algo ao qual o buscador se entregue.

Qual deve ser o deus, àquilo a que o buscador da felicidade deve se entregar? À própria felicidade. Só alcançará a felicidade aquele que transformar a vivência desse estado de espírito como fundamento principal da sua existência, como objetivo primário da vida.

Para ser feliz é preciso se comprometer com a busca da felicidade. É preciso transformar o estado de espírito de felicidade em deus, naquilo que vocês adoram e veneram. Sem isso não se chega a ugar nenhum.

O segundo elemento necessário para aquele que quer ser feliz é o caminho. O que é o caminho para a felicidade? O conjunto de ensinamentos que leve a se alcançar a plenitude do estado de espírito de felicidade. Sem um caminho não se chega a lugar nenhum.

O caminho que vocês precisam para serem felizes é o que estamos construindo com nossas conversas. Tudo o que for necessário para que vocês consigam viver esta vida com a felicidade verdadeira será comentado aqui.

O terceiro elemento é a sangha. Esse é um elemento mais complexo de se entender do que os outros, pois vocês não têm a prática de viver em sangha e até porque a própria palavra não faz parte do dicionário da língua de vocês. Por isso vou me ater mais nesta questão.

A tradução livre do termo sangha pode ser ‘uma comunidade de afins’. Se você não estiver vinculado a uma comunidade de afins jamais vai conseguir ser feliz. Por que? Porque a mente é extremamente traiçoeira e você é um bobo, é facilmente iludido por ela. A mente cria e descria realidades sucessivamente sobre o mesmo assunto e você vive preso ao que ela diz sem ver a hipocrisia e a irrealidade que está em tudo o que ela gera.

A comunidade de afins, a sangha, é aquela que vai estar sempre pronta para lhe mostrar que você está seguindo a mente. Isso, neste momento que estão vivendo na sua busca é muito importante.

Quando falo da necessidade de conviverem com uma sangha, não estou falando em abandonar o mundo, em viverem isolados. Não estou falando em deixarem seus empregos e suas casas e passarem a viver em meditação dentro de uma comunidade. Isso acontecia no tempo de Sidarta e hoje ainda acontece com alguns, mas não é imprescindível.

O que estou falando é que pelo menos em alguns momentos vocês precisam de um respaldo para retornarem à rota da sua busca. O que estou falando é que para o buscador que está exposto vinte e quatro horas por dia à força da mente é preciso que ele se exponha a elementos que vão mostrar o desvio que foi tomado em algum momento.

Só o caminho, o conjunto de ensinamentos, não garante que o buscador vá alcançar o destino. Isso porque, como falei sobre ler informações, a mente, a partir do que foi ouvido, vai criar interpretações que ela dirá que é verdadeira, mas não são. Tratam-se apenas de criações mentais que tem como objetivo mantê-los presos ao que é criado.

Como vocês estão ainda no início desta busca e como estão acostumados a acreditar nas formações mentais, abam se iludindo, achando que aquilo que ela está criando é o certo, a verdade. Com isso aceitarão que ela faça o trabalho por vocês e imaginarão que estão fazendo alguma coisa.

Mas, será que a mente vai fazer um trabalho para libertá-los dela mesma? Claro que não. Isso seria a mesma coisa que um suicídio e isso a mente não fará. É por isso que é importante de tempos em tempos receber toques que nos recoloque na rota que leva ao objetivo que é pretendido atingir.

É neste sentido que a sangha, a comunidade de pessoas afins, que estão na mesma busca, é importante. Ela é importante no sentido de cada um de vocês terem momentos de contatos com pessoas afins que possam lhes ajudar a não se deixar levar pelo que a mente cria.

Claro que alguns cuidados são importantes neste momento. Um deles é ter cuidado com as criações mentais que a mente fará dizendo que você já conseguiu, que já entendeu qual é o caminho, que sabe fazer perfeitamente o trabalho. Para ajudar o outro a voltar para a sua rota é preciso ter cuidado para não julgar.

Sei que para fazer este trabalho nos tempos de Buda as pessoas juntavam-se num espaço comum e vivam em comunidades isolados do mundo. Hoje isso não é mais preciso. Aliás seria impossível. Como com a internet os ensinamentos estão disponíveis para pessoas em diversos pontos, juntar todos num só lugar seria algo quase impossível, sem falar dos recursos financeiros que muitos não disporiam para uma empreitada desse porte. Por isso, se me permitem, vou dar um conselho.

Porque cada um de vocês não busca uma pessoa da sua cidade ou região que compartilhe dos ensinamentos que conversamos, ou seja, que tenha o mesmo deus e o mesmo caminho que você, e procuram criar uma convivência? Não estou falando em construir um centro ou de encontrar uma sala para se reunir. Não é isso. O que estou falando é ter contato com essa pessoa, seja pessoalmente, por telefone, por e-mail, etc. Mantenha contato frequente com um afim seja por que modo for. Com isso, cada um pode ter a possibilidade de, ao mesmo tempo, ajudar e ser ajudado.

O que estou falando é de vocês procurarem pessoas que estejam perto. Quando localizarem, troquem telefone, endereço de e-mail, etc. O que estou querendo dizer é que devem tentar interagir com outras pessoas que estão trilhando o mesmo caminho que você e que possuem o mesmo objetivo de vida. O que estou falando é que não adianta apenas interagir com os ensinamentos.

Hoje, vocês ouvem as palestras, leem os textos, fazem anotações, mas só isso não adianta nada. Por que? Porque enquanto estão fazendo isso a mente de vocês está criando verdades e você, como está desatento, já que sua atenção não é na mente, mas no que está sendo lido ou ouvido, está acreditando nelas.

Tem muitas pessoas no nosso grupo que já passaram por esta experiência. São pessoas que durante muito tempo me ouviram, que foram ao nosso site para ouvir conversas que não participaram e que, com isso, acharam que já sabiam tudo. Em um determinado momento veio à mente e criou uma situação dizendo que ele estava conseguindo a prática. Como estava desatento essas pessoas acreditaram e só depois viram que não haviam conseguido realmente alcançar o estado de espírito de felicidade.

Por isso é muito importante essa aproximação entre vocês. Não para louvar Joaquim, para rezar, fazer trabalhos espirituais ou seguir qualquer rito. O importante da aproximação de vocês é para que dentro da afinidade um ajude o outro e seja também ajudado.

Se você vive apenas do que ouve ou lê dos ensinamentos, não vai conseguir nada. Isso porque quem lê ou ouve é a mente e não você. Os toques que cada um pode dar ao outro durante o contato com os afins é o que realmente pode ajudar àquele que pretende alcançar o seu deus.

Portanto, se querem um conselho desse velho – e o fazer ou não o que estou aconselhando não vai mudar em nada nossa relação nem será jamais objeto de julgamento por minha parte – busquem ter uma sangha, uma comunidade de afins. Busquem outras pessoas que possuam o mesmo deus e caminho que vocês para poderem se relacionar e assim um ajudar o outro, sem julgar o que é certo ou errado, mas apenas para dar toques que facilitem a caminhada de cada um.

Que vocês fiquem na paz!

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Sanghas - um resumo

O assunto sobre o qual vamos tratar hoje é a questão das sanghas que falei em uma das palestras deste ano (2010). Formá-las, foi o que convidei a todos na mensagem do final do ano passado. Mas, antes de falar sobre as sanghas especificamente, peço que reflitam um pouco comigo...

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Razão para formação das sanghas

A primeira coisa que quero que reflitam comigo é o seguinte: vocês já repararam que o mundo globalizado está tornando todos em apenas um? Já repararam que as pessoas são iguais em qualquer parte do mundo? Que usam roupas, cortes de cabelo, tem comportamentos, etc., semelhante?

Sim, o mundo está tornando-se único e as pessoas cada vez mais ficam parecidas. Mas, porque as pessoas aderem a essa unicidade? Para serem aceitas, para poderem participar do mundo...

Por que estou falando isso? Para vocês compreenderem que fazem parte deste grupo, ou seja, que estão aderindo à humanidade para poderem ser aceitos por ela... Vocês agem imaginando que estão sendo vocês, mas estão apenas se tornando mais uma cópia do modelo planejado pelo mundo para os seres humanos.

Esta é a primeira reflexão que gostaria que fizessem... Mas, vamos a outra.

Para falar desta reflexão, vou citar o Dalai Lama. Ele diz o seguinte: Me surpreendo com os seres humanos. Eles perdem a saúde para poder ganhar dinheiro e depois gastam tudo para poder ter saúde de novo.

Mesmo citando o Dalai Lama, claro que não estou me referindo a dinheiro nem a saúde física. Falo que o homem perde a sua saúde mental e emocional correndo atrás do prazer, da satisfação dos seus desejos, para poder alcançar a paz. Ou seja, ele está em paz e a perde para alcançá-la... E o pior, nunca a alcança, porque está apegado a querer alcançá-la...

Esta é uma prática da humanidade e se encaixa bem dentro da citação que fiz. Para que vocês querem dinheiro? Para tê-lo? Não, para poder realizar seus sonhos, seja de consumo material ou de liberdade. Mas, para que querem realizar seus sonhos? Para ser feliz. Ou seja, os humanos são felizes, mas perdem a felicidade para alcançar a felicidade...

Por que estou falando destas duas coisas nesta reflexão? Para vocês entenderem que vivem assim...

Como disse antes, vocês fazem parte do grupo que se unifica sobre o padrão criado pela vida humana e este padrão passa pela perda da felicidade em busca dela mesmo... Ou não é assim que vivem? Perdem a felicidade com preocupação com o futuro esperando que o futuro lhes traga a paz?

Por vocês viverem inconscientemente este processo é que se faz necessário a formação de sanghas...

O que é uma sangha? É um grupo de pessoas ligados por uma afinidade. Neste caso, a afinidade que estou falando é não querer ser humano, não querer se padronizar pelo modelo criado pelo mundo, ou seja, ser feliz de verdade agora e não perder a felicidade em busca do prazer...

Esta é a razão fundamental para a criação das sanghas...

Por tudo o que foi falado, posso dizer que as sanghas são um refúgio para aqueles que querem fugir do padrão do mundo. Mas, para que realizar esta fuga? Para não ter o mesmo fim de todo ser humano...

Diz a lógica que todos que agem do mesmo jeito têm o mesmo final. Se todo ser humano vive preso ao ciclo do prazer e dor, ou seja, passa por momentos de sofrimento, quem vive igual a eles vivencia estas situações.

Sendo assim, as sanghas não são para todo mundo, mas apenas para aqueles que estão dispostos a buscar algo diferente para si. Quem gosta de sentir prazer e sabe que por isso paga o preço de ter sofrimentos, mas não se incomoda com isso, não deve buscar integrar-se às comunidades. Não porque isso seja vetado ou proibido, mas porque elas não possuem este objetivo...

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Função das sanghas

O ser humano hoje é obrigado a conviver com o mundo.

As sanghas no seu início, eram comunidades formadas por pessoas que abandonavam tudo e juntavam-se num mesmo lugar para juntos viverem uma vida diferente. Hoje isso é impossível. Dentro do mundo moderno o ser humano precisa viver inserido no mundo, pois existem coisas que não são mais acessíveis para aqueles que vivem isolados no meio do mato.

Sendo obrigados a viver com o mundo, a mente do ser humano está o tempo inteiro trabalhando valores para prender este ser à vida viciada. Vou dar um exemplo disso, mas antes deixe-me explicar como isso acontece.

O trabalho do ser, como estamos vendo no estudo 'Em busca da felicidade' é libertar-se das verdades que a mente produz. Como disse recentemente, quando ele não faz isso, a mente consegue envolvê-lo transformando o que é apenas uma formação mental numa realidade. Vou explicar mais claramente...

A mente produz pensamentos. Estes pensamentos contém afirmações sobre a coisas. Estes pensamentos não espelham verdades, mas apenas formações mentais, ou seja, a visão humana da coisa.

Quando o ser está desatento, ou seja, aceita o que a mente fala como verdade ou real, esta informação é arquivada naquilo que chamamos de memória. Ou seja, quando a mente diz que uma pessoa não presta e o ser não desacredita disso, esta informação ficará gravada na memória. No momento oportuno a mente usará esta informação.

Ela não apenas usará, mas mostrará que aquilo foi aceito como verdadeiro ou real pelo ser, para que ele mais uma vez não consiga libertar-se do pensamento. Em outras palavras, a mente vai dizer ao ser assim: 'você mesmo aceitou isso como verdade'... Neste momento, para o observador da mente é praticamente impossível conseguir libertar-se daquele raciocínio, pois a lembrança de ter aceito aquilo não deixará.

Agora vou ao exemplo que queria dar. Se vocês tiverem condições financeiras, preferem comprar um produto de 'marca' conhecida ou desconhecida? Claro que é conhecida, mesmo que nunca tenha conhecido produtos daquela marca. Mas, porque a escolhe? Porque a propaganda lhe disse que aquela marca é boa, é a melhor...

Essa é a função da propaganda. Ela bombardeia a mente gerando verdades que o ser desatento aceita como real e depois, no momento certo, utiliza isso para manter a escravidão do observador ao mundo observado. E isso acontece o dia inteiro...

O observador, que não consegue apenas observar o dia inteiro, é bombardeado por informações o tempo todo que está consciente. É rádio, televisão, jornal, publicidade de rua, etc... A cada momento que o ser vacila na observação uma verdade se forma na mente e é arquivada na memória para depois ser lançada com a informação de aquilo foi aceito anteriormente.

Esse esquema mente/mundo, ou seja, formas/pensamento é muito difícil de ser detectado pelo ser que se propõe a ser apenas observador da mente. Como venho frisando, não há ninguém que consiga vinte e quatro horas por dia realizar a libertação da realidade criada pela mente.

Então, que solução há para isso? A primeira que nos vem á mente é fugir do mundo, mas isso, como já vimos no início, nos dias de hoje é impossível. A única outra saída é a sangha....

A comunidade daqueles que querem fugir do mundo, no momento da sua existência, proporciona aos que participam dela a oportunidade de esvaziar a memória, ou seja, de ver que aquilo que a mente diz só foi possível por causa de um vacilo do observador.

Vamos explicar isso melhor mais abaixo, quando falaremos do funcionamento das sanghas, mas por hora fica, então, a informação de que a comunidade dos que não querem ficar preso ao ciclo do prazer e dor existe para o ser ter a oportunidade de recarregar-se. Conscientizando-se das verdades que deixou criar, o observador se reforça para vencer as batalhas que a mente ainda o fará lutar.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Funcionamento das sanghas

Como funciona uma sangha? A sangha funciona através de encontros periódicos entre os seus membros.

O que se faz nos encontros da sangha? A mesma coisa que se faz nas reuniões que fazemos: camaradagem, conversas, confraternização, convivência com afins...

A reunião de uma sangha não é nada formal, um ritual, mas apenas o encontro de pessoas afins que se juntam para confraternizar. Ou seja, uma festa... Os seres que participam dela, como nas reuniões que fazemos, se confraternizam conversando, rindo, brincando, comendo, etc. Não há rituais, não há complexidade, não há programação do que ser feito: numa reunião de sangha cada um faz o que quiser, pois o importante é estarem todos reunidos...

A que leva esta reunião? A alcançar o objetivo da sangha: ajudar o ser que está disposto a libertar-se da mente a limpar parte das verdades agregadas à memória.

Como isso acontece? Através da interação das pessoas que estão ali, ou seja, através das conversas que acontecem.

O EEU é acima de tudo espiritualista, ou seja, sabe que este mundo é apenas um prolongamento do espiritual. Mesmo que neste momento estejamos lhes levando a abandonarem toda a perspectiva espiritual – isso para que possam trabalhar apenas como elementos que são compreensíveis pela mente humana ao invés de vivenciar apenas criações desta – não abandonamos a Realidade do Universo.

Em O Livro dos Espíritos estudamos que o pensamento é dado ao ser humano por espíritos (pergunta 459). Usando este mesmo ensinamento para a atividade da sangha, podemos dizer que as pessoas participantes da reunião terão suas falas guiadas para poder ajudar o afim.

Na verdade a sangha não é uma realização do ser humano, pois se assim fosse, seria da mente e neste caso de nada serviria. Enquanto a reunião ocorre no mundo material a comunidade espiritual que acompanha estes seres estará realizando trabalhos para que ela sirva aos seus propósitos. Como, aliás, acontece em todas as nossas reuniões que fazemos, mesmo que vocês não vejam isso acontecer.

Portanto, aí está o funcionamento da sangha. Ela existe através de reuniões de seres com um mesmo ideal onde as pessoas brincam, se divertem, se integram, ou sejam, são felizes...

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Trabalho das sanghas

Se as sanghas são reuniões de afins, isso quer dizer que só podem participar pessoas que estejam buscando libertar-se do mundo? Necessariamente não. Lembrem-se: não se acende um candeeiro para escondê-lo dentro do armário...

As sanghas existem para reabastecer aqueles que buscam libertar-se do ciclo do prazer e da dor, mas tem outra função: ajudar quem está preso nele a enxergar isso e ver que há uma forma de sair dele...

Nas reuniões das sanghas não precisam necessariamente estar aqueles que já estão nesta busca. Ela pode servir para ajudar aos que nem sabem que podem libertar-se disso.

Como? Para falar disso preciso falar de um dos trabalhos da sangha: o Núcleo de Apoio.

Digamos que você conhece uma pessoa que esteja passando por um problema e, por isso, esteja vivendo um sofrimento. Você que sabe que isso acontece apenas porque este ser não se transformou em observador da mente, mas vive aprisionado a ela, pode convidá-la a participar da reunião. Nela, envolvido pelo ambiente de camaradagem e conversando com os outros membros guiados pela espiritualidade, essa pessoa receberá armas para libertar-se desse ciclo. Por isso chamamos a este trabalho de Núcleo de Apoio.

A missão das sanghas não é só apoiar seus membros, mas pelo caráter universalista que adotamos, estar sempre pronto a apoiar quem dela necessite. Mas, não confunda isso com uma ação generalizada.

Não estou falando em abrir uma porta para a rua com cartaz convidando as pessoas para serem felizes, mas de atender quem lhe procura, ou quem a vida leva a lhe procurar. Estou falando em conhecidos ou desconhecidos que lhe abordam demonstrando a sua vontade de sair do momento que está vivendo.

Não se esqueça do exemplo dos 'socorristas' na literatura espiritual. Eles saem para ajudar os outros, mas só ajudam aqueles que querem ser ajudados. Lembre-se que nem todos querem sair deste ciclo, pois têm prazer em sentir dor...

Mas, como explicar esse processo para quem não tem contato com os ensinamentos que servem de base para a procura dos membros da sangha? Este é o outro trabalho das sanghas: o Centro de Estudos.

Para quem não tem a base dos ensinamentos que o leve a entender a necessidade de fugir do ciclo do prazer e da dor será necessário repassá-los. Para isso as sanghas possuem sempre pessoas aptas para este tipo de conversa, que não é para quebra de verdades arquivadas na memória, mas para transmissão da base.

No entanto, em todos os grupos que pretendemos estabelecer uma sangha ainda não existem pessoas preparadas para isso. Por isso, neste momento saibam apenas que isso é algo a ser realizado no futuro. Por isso, também, não vou entrar em maiores detalhes...

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Finalizando

Aí está, então, em síntese, aquilo para o que convidei os amigos do EEU no final do ano passado. Maiores detalhes precisam ser conversados, mas como eles serão particularizados em cada grupo, este não é o momento de tocar neles.

Como disse na mensagem, para aqueles que quiserem atender a este chamado, estou à disposição não só para a formação e implantação das sanghas, mas também para dar um novo ânimo quando os participantes deixarem escapar a motivação. Para isso iremos a todos os lugares onde formos chamados...

No entanto, uma coisa quero deixar bem claro: visitar lugares apenas para passar ensinamentos não será mais possível acontecer. Até porque, acredito que para o próprio trabalho de apoio às sanghas o tempo será escasso.

Quem ainda estiver buscando ensinamento, ou seja, aprender alguma coisa, tem à sua disposição o nosso site onde estão mais de dez anos de conversas que trazem tudo que tinha para dizer. Além disso, estes dispõem ainda das palestras on-line que realizamos e que continuará a ser realizada com esta finalidade.

Que todos estejam em paz!

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Orientações a quem participa da sangha

NOTA: Originalmente esta conversa não faz parte do estudo ‘Em Busca da Felicidade’. Como, no entanto, ela traz novas orientações para aqueles que participam das sanghas e este foi um dos temas abordados neste estudo, transcrevemos ele aqui.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Nas comunidades existem atritos

O que é uma Sangha?

Participante: É uma comunidade de afins.

O que é uma comunidade de afins?

Participante: Reunião de pessoas que têm o mesmo objetivo.

Um grupo de pessoas que possuem um objetivo semelhante, um objetivo igual. Está certo isso?

Participante: Sim.

Agora, serão que são pessoas iguais?

Participante: Nunca.

São pessoas o quê?

Participante: diferentes.

Isso, são pessoas diferentes, mas iguais no objetivo.

É só no objetivo que vocês são iguais. Isso é um ponto que precisam entender.

Quando começamos a falar de sangha, vocês pensaram que iriam organizar um grupo de pessoas que apenas ririam um da cara do outro, que somente iriam brincar. Não é isso. As comunidades são formadas por pessoas diferentes.

Têm um detalhe que você se esquecem: sempre que se juntam pessoas diferentes, há atrito.

Isso precisa ficar muito claro isso: nas sanghas existem atritos. Nunca vai haver uma comunidade, dentro do sentido Sangha (afins com a busca da elevação espiritual, em busca da felicidade), onde não haja atritos.

É importante que se tenha muito clara essa consciência para poder frequentar a Sangha, porque senão, no primeiro atrito, as pessoas agem como muitos agiram: ‘eu não estou indo na sangha porque se formaram muitos grupinhos; cada um pensando diferente’. Por esse motivo, muitos se afastaram.

Claro: tudo isso previsto. Mas, humanamente falando, essas pessoas se afastaram por esse motivo.

Portanto, para participar de uma comunidade é preciso que se tenha essa consciência. A interação de seus membros não vai ser um céu ou um mar de rosas. Vai haver atrito.

Mais: precisa haver atrito. Isso porque é no atrito que você vai exercitar o seu amor ao próximo. É necessário que toda a sangha tenha atritos, é preciso que em toda Sangha o atrito esteja presente. Por isso é preciso que ele seja esperado. Mais: que seja entendido como uma oportunidade de trabalho.

Isso é o que faltou. Isso é o que falta nas nossas comunidades.

As pessoas vão a uma atividade da sangha ou se conversam, se falam, esperando uma amizade colorida, uma amizade simples, uma amizade bonita, um mar de rosas. Isso jamais vai acontecer. É preciso que todo mundo esteja consciente que nas atividades da Sangha, sejam elas quais forem, vai haver atritos. Mais: é importante que se tenha consciência de que esse atrito é necessário para haver uma oportunidade de trabalho.

Teoricamente, seria mais fácil trabalhar na sangha o amor ao próximo do que na vida particular, pois nela espera-se que as pessoas vão com a consciência de que estão ali para amar. Seria mais fácil um ser humano aceitar uma provocação, uma ofensa, dentro da sangha, do que aceitar a mesma provocação em um relacionamento com seu familiar, com seus amigos ou no seu trabalho.

Por que seria assim? Porque, imagina-se, você vai a uma sangha com a consciência de que ocorreriam atritos. Só que as pessoas não estão indo com essa consciência. É por isso que as pessoas não estão conseguindo suportar os atritos que estão acontecendo na sangha.

Participante: Elas vão achando que vai ser uma festa, brincadeira, confraternização. Se for para ser isso não precisa ir para a Sangha; pode fazer fora dela.

Isso. Ver essa pré-disposição de saber que o atrito pode e vai acontecer e a pré-disposição de se expor a ele como uma ferramenta de trabalho, facilita a vencer esses atritos.

Você já usou pá ou enxada? Se usar muito tempo enxada ou pá, o que acontece? A mão fica cheia de calo. O trabalho constante dentro da sangha vivendo os atritos normais do relacionamento de pessoas diferentes é para calejar vocês no convívio com os atritos da vida.

Lá deveria ser mais fácil, porque cada um deveria ir com a pré-disposição de amar. Indo constantemente e executando o seu trabalho, isso vai calejando o ser humano, até que, em determinado momento, fora da sangha, ele estará com a mão com o formato da enxada para poder capinar. Se o ser humano não tem a mão com o formato da enxada, não vai pegá-la para capinar na hora do atrito fora da Sangha.

Então, esse é o primeiro ponto que eu gostaria que você passasse para as pessoas: a pré-consciência de que a sangha é formada por pessoas diferentes e, por isso, o atrito é inevitável. Falasse isso para eles e dissesse que precisam estar preparados para que isso aconteça, para que possam calejarem as mãos e, depois, poderem viver felizes mais facilmente do lado de fora.

O atrito na sangha não é novidade, não é algo inesperado. Não se trata de algo que nós pensamos em uma coisa e deu outra. Apesar disso, muita gente pensa isso: ‘ah, Joaquim, você falou de sangha, mas deu problema em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em todo lugar’. As pessoas pensam que nós fomos pegos de surpresa, de calça curta, mas sabíamos que isso ia acontecer. Não por sermos adivinhos, mas porque sabemos o que acontece quando se juntam dois seres humanos, duas personalidades diferentes.

Agora a reação, isso sim, foi surpresa para nós. A partir do momento que se ouve todos os ensinamentos que vocês já ouviram, isso seria de se espantar não? Todos os que frequentam já ouviram, já leram, já pensaram no que eu ensinei. Dizem que já entenderam que a única coisa que precisam fazer é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas aí chega na hora do atrito e não faz nada do que leu, nada do que ouviu. Não coloca em prática o ensinamento.

Esse é o primeiro aspecto que quero ressaltar hoje: as pessoas precisam começar a perceber que reunião da sangha não é um mar de rosas; pode e vai haver atritos sempre. Mais: que esses atritos são necessários para dar a oportunidade de cada membro trabalhar a sua elevação espiritual, a sua busca ela felicidade.

Devemos ir para a Sangha com essa consciência e não ir esperando encontrar uma festa de aniversário de criança com um monte de brinquedinhos para brincar. É assim que vocês têm ido. Lá não é local de diversão, mas sim de trabalho. Então, é preciso trabalhar e o único trabalho que têm para fazer é amar a tudo e a todos.

Participante: Aprender a respeitar o outro.

Isso, mas você só vai conseguir respeitar o outro quando estiver consciente de que vai haver atrito e de que ele (o atrito) é necessário para você trabalhar. Se não forem para a sangha com essa consciência, no primeiro atrito se afastam. Se você vai para brincar e alguém diz que não pode brincar com aquele brinquedo, você vai embora.

Então, esse é o primeiro recado que gostaria que você levasse para a sua sangha: ‘Joaquim pediu para nós pensarmos sobre sangha. Pensarmos e entendermos que ela é feita de pessoas diferentes e por isso o atrito é inevitável. Pensarmos que devemos ir às atividades preparados para a existência do atrito e para trabalhar nesse momento’.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Não se resolvem problemas na sangha

Segundo detalhe sobre a Sangha: ela serve para você trabalhar, mas não é só isso. A sangha também tem como proposição ajudar o outro. Mas, como se ajuda o outro?

Participante: Ouvindo.

Ouvindo, acolhendo, respeitando: tudo isso pode ser feito. Mas, digo ajudar diretamente. Vou dar um exemplo: ontem nós tivemos uma sangha aqui. Você veio com o seu problema e eu te ajudei, está certo?

Participante: Sim.

Isso pode acontecer na sangha. Pode acontecer de uma pessoa dizer: ‘eu estou precisando de ajuda; alguém pode conversar comigo?’ Se isso acontecer, como você pode ajudar essa pessoa? Como você pode ser o Joaquim dessa pessoa?

Participante: Fazendo a espiritologia com ela.

Quase isso.

Nós ontem conversamos sobre o seu problema. O que falei sobre ele? Nada! Só falei de vida. Não conversei sobre o problema. Só falei: o seu problema é vida.

A partir daí, somente falei de vida. Não disse se o seu problema era bom, mau, se estava certo ou errado, se era feio ou bonito.

Orientar o próximo não é tocar no assunto, não é dar a sua opinião sobre ao assunto. Esse é outro grande problema da sangha. Quando aparece uma situação nas atividades da comunidade de alguém pedindo ajuda, vocês correm para dar opinião dobre o assunto: ‘se eu fosse você, faria desse jeito, daquele jeito’.

Não é isso que é ajudar os outros. Isso é querer fazer pelos outros e ninguém pode fazer por ninguém.

O auxílio que precisa ser dado não é no assunto, mas sim na vivência do assunto. A maioria dos atritos que aconteceram nas comunidades foi exatamente por causa disso: as pessoas foram querer ajudar conversando sobre o assunto. A partir daí, alguns menosprezaram a dor dos outros, outros supervalorizaram essa dor, outros se acharam o rei da cocada preta, que têm a solução para tudo, mas vivem cheios de problemas, e quiseram ensinar aos outros como resolverem seus problemas.

Eu não dei solução para o seu problema ontem. Não toquei no assunto, a não ser para dizer: ‘isso é vida’! Depois que disse isso, esqueci do assunto que você levantou e fui tratar do ‘viver a vida’, do que você deve fazer enquanto a vida está vivendo por ela mesma.

É isso que vocês precisam entender. A sangha é feita para lhe ajudar e ela faz isso lhe calejando a mão, ou seja, fazendo você passar por atritos. Além disso, a sangha é feita para se ajudar o outro, mas não se pratica essa ajuda querendo dar soluções sobre o assunto do problema, mas sim no sentido de relembrar a vivência da vida que leva à felicidade.

Não se ajuda ninguém dando prato de comida, nem emprestando dinheiro para quem não tem. Nada disso resolve. Não se ajuda ninguém dando soluções mágicas. Vocês não resolvem nem os seus problemas; vão querer resolver o dos outros? A orientação deve ser sempre na vivência.

Esse é o segundo aspecto que eu queria que você conversasse com as pessoas, para que elas saibam o que vão fazer nas atividades da sangha. Isso porque o que está acontecendo hoje é que ninguém sabe o que vai fazer lá.

Por que as pessoas vão à igreja, ao templo das Testemunhas de Jeová ou ao centro espírita? Porque sabem exatamente o que vão fazer lá. Vocês pensam assim: ‘o que vou ficar fazendo lá? Jogando conversa fora? Não, hoje eu vou dormir, que é melhor. Hoje eu tenho outro programa’.

Participante: Mas as pessoas pensam: eu vou lá para ter atrito? Eu não vou não, não estou afim de brigar com ninguém.

Mas veja, como já disse, o atrito é que vai lhe fazer calejar a mão. Você precisa estar preparado para o atrito, mas não o provocar.

Participante: Na minha sangha tentamos fazer as rodas espiritualistas.

Isso é o que precisa ser feito. A roda espiritualista é um modo de calejar a mão que falamos. Agora, querer ajudar o outro ensinando o que ele tem que fazer, não no sentido da vivência, é pura perca de tempo.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

O importante é o sentido

Terceiro detalhe: numa sangha pode haver incorporação e o trabalho dos mentores?

Participante: Se tiver, teve. Se não tiver, não teve.

Ajuda ter incorporação dentro de uma Sangha?

Participante: Não ajuda nem atrapalha.

Ajuda conversar com um preto velho, um cigano, um baiano?

Participante: Ajuda.

Essa era a resposta que você ia dar desde o início, mas que não deu para repetir o que já disse antes.

Conversar com uma entidade ajuda você a quê? Você gosta quando há incorporações? Você conversa com as entidades? O que você conversa com as entidades?

Participante: Sobre a minha vida, sobre os acontecimentos da minha vida.

Isso ajuda?

Participante: Às vezes sim.

Ajuda em que sentido? A resolver os seus problemas? A tomar decisões? Se os seus problemas e suas ações são vida e se ela não pode deixar de ser diferente do que for, falando ou não com uma entidade iria tomar a mesma decisão. Então, ajudou em quê?

Participante: Em nada.

Isso. Então, é bom ter incorporação na Sangha? Essa ação contribui para a atividade da comunidade?

Participante: Não, porque é vida.

Isso. Porque está tratando de vida.

Veja: ter incorporação ou não, não traz problema algum. O problema que pode ocorrer é o que acontece durante a incorporação. Esse é o terceiro recado.

O que acontece durante a incorporação? Você vai sentar lá e diz: ‘eu preciso de ajuda, eu estou com uma dúvida, o que eu faço’? A entidade, então, vai lhe dar uma resposta em cima isso. Só que isso não tem nada a ver com a finalidade da sangha.

Participante: Não caleja a mão.

Essa é uma incorporação que não contribui para o objetivo da reunião dos afins. Pode ter, mas não contribui com o que você deveria ir buscar.

É isso que se precisa conversar com as pessoas, não com as entidades, porque a culpa não é dela. A culpa é sua, porque é você quem vai buscar respostas.

Toda vez que falo algo deste tipo, as pessoas me dizem: ‘Joaquim, você precisa conversar com as entidades, porque são elas quem conversam conosco falando dos problemas’. Desculpe, mas isso é falso.

São vocês que provocam esse tipo de conversa perguntado e pendido ajuda para os seus problemas. A culpa não é dela, mas de vocês, pois sabem que a reunião da sangha não é para isso e assim mesmo continuam fazendo este tipo de questionamentos. Aliás, há muita gente que vai lá só para isso; só para pedir ajuda e resolver os seus problemas.

Participante: Vá em um centro de umbanda então, né?

Sim, porque lá é o lugar para isso, ou, então, tenha uma reunião da Sangha só para isso. Esta reunião da sangha seria uma gira de umbanda, como acontece em alguns lugares. Agora, na atividade onde vão para calejar a mão, para ajudar e ser ajudado a vivenciar a vida, não é lugar para resolver os problemas da vida.

Quero que fique bem claro que eu não estou falando das entidades. Estou falando das pessoas, porque vocês vão lá com essa intenção. Vão lá, esperam a incorporação, justamente para conversar sobre problemas da vida.

Voltando à nossa conversa de ontem, para exemplificar. Você veio aqui para conversar sobre os problemas da sua vida e eu nem falei sobre eles. Falei em vida, em viver. Fiz isso porque sabia que você queria falar disso e não solucionar seus problemas.

Se você procura a entidade com a intenção de resolver os problemas, ela vai te dar isso. Mas, se busca com o objetivo de ajudar a vivenciar, como você me procurou, ela vai lhe dar o que você quer.

Para ela não há nenhum problema uma ou outra coisa. Ela tem que estar ali. Agora, você vai bem aproveitar essa ferramenta que está à sua disposição ou não.

Isso aconteceu em todas as sanghas. Em todas elas houve incorporação e foi uma luta muito grande para saber se poderia ter ou não. Lembro que sempre disse ‘se tiver, teve; se não tiver, não teve’. Mesmo dizendo isso, vocês continuaram discutindo esse ‘ter ou não ter’. No entanto, nunca ouvi vocês conversarem sobre o que vocês buscavam com o trabalho da incorporação.

É o que precisam conversar entre vocês: ‘nós, que somos a Sangha, temos que começar a trabalhar em nós qual é o objetivo dessa reunião. Temos que estar atentos para não sermos seduzidos a buscar uma orientação que nos ajude a resolver os problemas da vida’.

Isso porque na hora que mudarem, a entidade muda. A entidade passa a dar orientações para a sua vivência da vida, ao invés de dar orientação de como agir. Esse é o terceiro aspecto.

Participante: Nossa postura frente à incorporação das entidades.

É a intenção com a qual você vai. É o que você espera da reunião. Isso vocês precisam sentar, precisam conversar.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

A frustração de não ter feito o que tinha planejado

Nós deixamos acontecer todos os problemas para chegarmos agora e mostrarmos quais os problemas que estão acontecendo. Como disse antes, não fomos pegos de calça curta; sabíamos de tudo que iria acontecer, pois sabemos como funciona a mente humana, o que ela procura. Era preciso acontecer para vocês entenderem o que há de problema.

Hoje falamos, também, sobre o julgamento existente quando se sai da carne. Falamos da cobrança que cada espírito faz a si mesmo por ter deixado fazer o que encarnou para realizar. Falamos da decepção que esse espírito vive. Essa decepção é ampliada quando o espírito vê que teve todos os instrumentos necessários para realizar o seu trabalho e não fez.

Se para você não existisse uma sangha, poderia chegar do outro lado e justificar: ‘ah, não pude fazer porque não tive uma comunidade de afins para que eu calejasse minha mão’. Mas vocês têm e jogam fora este instrumento querendo resolver problemas da vida.

Aí quando saem da carne vão dizer: ‘olha só: Deus fez tudo. Até a comunidade para eu me desenvolver Ele criou e eu fiquei fazendo o quê? Fiquei preocupado com meus problemas, preocupado com o pagamento das contas, com o prato de comida que tinha que comer’. É isso que se passa com um espírito quando sai da carne.

Participante: Ou seja, ele tem que estar preocupado em amar.

Preocupado em amar e em usar todos os instrumentos que Deus disponibilizou para ele amar. Para isso tem que deixar de se preocupar em ganhar nesta vida.

Participante: A gente fica preocupado em entender o que acontece com a gente e não em amar o que acontece. Isso gasta muita energia. De tanto tentarmos entender, não amamos.

Isso! Exatamente.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Estudar ensinamentos

Tem mais um detalhe: na reunião da sangha é o momento de estudar? É o momento para se debater ensinamentos? Para se aprender alguma coisa?

Participante: Na minha opinião, não. Até porque, cada um tem uma opinião a respeito do ensinamento. Se pararmos para estudar, cada um vai querer impor sua compreensão ao outro.

Sim. E qual o problema de um querer impor a opinião ao outro?

Participante: Ele não estará amando.

A finalidade da Sangha é amar e não aprender. Aprender é na hora de estudar, de ler, de ouvir palestras – esse é o momento de aprender, aprender como se ama. A reunião com os afins é a hora de praticar o que se aprendeu quando estudou. O que adianta você saber o que é amar, se no momento da reunião não ama?

Esse é o quarto detalhe: atividade da sangha, a não ser que seja uma atividade específica para isso, não é lugar para se debater estudos. Não é lugar para se dizer ‘Joaquim falou isso’. É lugar para se praticar.

Deixe para ler na hora que você estiver em casa sozinho. Sabe por quê? Não importa o que você leia, você vai ter uma interpretação, ou seja, vai criar a sua verdade. A sangha não é lugar para choque de verdades. É lugar para colocar a sua verdade e dar direito ao outro de colocar a dele.

Eu sei que muitas vezes vocês começam a debater os ensinamentos que são colocados na internet e dizem: ‘olha o Joaquim colocou uma coisa muito importante’. Não façam isso. Se você leu, era para você ler. Se o outro não leu, não era para ele ler. Essas coisas você só deve discutir com você mesmo. Você analisa, debate sozinho e a opinião do outro não importa.

Eu sei que muitas vezes vocês conversam sobre os ensinamentos, mas estão perdendo tempo. Ou melhor: estão só gerando mais atrito.

Participante: Graças a Deus, mais motivos para praticar.

Isso.

Portanto, a não ser que seja uma atividade específica, não tentem comentar os ensinamentos. Mesmo assim, na atividade específica para isso alguns cuidados devem ser tomados.

Nós, por exemplo, vamos estudar ‘Os Guerreiros da Paz’. Pode ser que na sua comunidade ou em qualquer outro lugar as pessoas decidam se reunir para comentar o estudo que será feito. Nesse caso, o objetivo será o de comentar os assuntos tratados e não cada um ensinarão outro o que foi falado. Se estes comentários forem feitos, é o momento para cada um colocar sua opinião sobre os ensinamentos e não para impor sua interpretação frente aos demais.

Aliás, seria até bom que vocês fizessem isso, para que vejam que a mesma frase que eu digo tem diversas interpretações e que todas elas são verdadeiras. Para quem? Para quem aceitou aquela interpretação como verdade.

É interessante existir a atividade de estudos, de conversar sobre os ensinamentos, mas no sentido de ouvir o comentário dos outro, e não no sentido de aprender/ensinar. O horário de aprender é quando se está estudando os ensinamentos que estão na internet.

Nas atividades de reunião, de estar em grupo, sem finalidade específica, não se discute ensinamentos. Mas, seria interessante que houvesse reuniões no sentido de se abordar ensinamentos, mas sempre com a intenção de cada um comentar o que entendeu daquele ensinamento.

Muitas vezes, a compreensão do outro pode contribuir para a sua, pois, se você ouve sozinho, estuda sozinho e não conversa sobre os ensinamentos, vai criar uma verdade e não vai saber naquele momento se ela será a melhor para você, se vai lhe ajudar mais.

Participante: Pode ser que a verdade do outro ajude mais, mas você tem que a ouvir primeiro.

É isso que eu gostaria que você passasse para as pessoas: falar que a reunião da Sangha não é lugar para comentar ensinamentos, mas é a hora de se falar da convivência com a vida e viver atritos, para aprender a conviver com eles.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

O meio para se reunir

Participante: A gente costuma, às vezes, combinar reuniões de sangha falando: ‘vamos a um bar, ao cinema, vamos andar de bicicleta, vamos ao parque’. Isso também é uma atividade da Sangha?

Sim, por que não?

Participante: Tem gente que às vezes acha que reunião é somente aquela que se oficializa e agenda.

Essa é a atividade que falei: sem um fim específico. Vocês dizem: ‘vamos todo mundo andar de bicicleta’. Com isso marcam uma atividade sem fim específico.

Você quando combinam andar de bicicleta não estão determinando o fim da reunião. Andar de bicicleta não é o fim, a finalidade, da reunião: é o meio. Qual o fim desse passeio de bicicleta?

Participante: Amar.

Para isso você precisa ter o atrito.

Participante: Até porque durante o passeio uns vão dizer: ‘vamos por esse caminho’, outros vão dizer ‘vamos por aquele caminho’.

Veja que não mudou nada: não importa se vocês estão andando de bicicleta, estão num bar bebendo, se foram ao cinema ou se estão na casa de alguém. Vocês devem fazer qualquer uma dessas coisas com a consciência de que aquela atividade é uma reunião da sangha, e que essa reunião é a junção de pessoas afins, mas diferentes entre si. Aí vão andar de bicicleta não para andar de bicicleta, mas sim para aproveitar as situações que acontecerem para treinarem o amor ao proximo.

Qualquer atividade pode acontecer, desde que não se perca o foco e que vocês entendam que a atividade, seja ela qual for, é meio, é instrumento para haver a reunião, e não a sua finalidade. Vocês podem, por exemplo, marcar uma sangha para ir a um parque fazer um lanche e não ter comida. Qual é o problema? O lanche não é finalidade. Agora indo não a uma reunião da Sangha, mas a um lanche, e chega lá e não tem comida, o que acontece?

Participante: Fica bravo, contrariado. ‘Como é que se organiza um lanche sem comida? Quem é o responsável por isso’?

Agora me diga uma coisa: não é isso que está acontecendo? As pessoas estão usando os meios como fins. Como aquele não é o fim, o fim verdadeiro se apresenta, que é a contrariedade.

Participante: O meio pouco importa.

O meio pode ser qualquer um. O que vocês precisam é ir as reuniões sabendo que aquilo é meio e não fim, porque aí vai prevenido para tudo. Se vão a uma reunião da sangha onde terá como meio um lanche, devem ir preparados para haver desavenças e não para lanchar.

Participante: Sabe o que eu pensei. Fiz uma analogia com um laboratório. No laboratório, os cientistas repetem a fórmula até alcançarem a perfeição e saírem dali com aquela fórmula perfeita. Então a sangha é como se fosse o laboratório onde nós vamos fazer esses ensaios para podermos viver fora dela.

Exatamente.

Então é isso: parem de tratar os meios como fins. Não existe sangha que tenha como objetivo ir ao cinema, andar de bicicleta, passear no parque. Toda a finalidade de uma atividade da comunidade é aproveitar as oportunidades para amar. O resto é meio. Pode fazer o que vocês quiserem, mas sabendo que isso tudo é meio e não a finalidade da reunião.

Só um detalhe: estou falando o que acontece na sangha não no sentido de criticar e dizer o que está errado, mas no sentido de mostrar as oportunidades que vocês estão perdendo e o motivo de estarem perdendo essas oportunidades.

Participante: Mas há alguém que está conseguindo aproveitar essas oportunidades ou todos nós estamos desperdiçando isso?

Não. Todos vocês estão desperdiçando. Tem gente tendo prazer com a companhia um do outro, mas ninguém está aproveitando as reuniões para amar.

Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Sangha é vida

Vamos ao último detalhe: o que é sangha?

Participante: Uma comunidade de afins.

Mentira, o que é sangha?

Participante: A vida.

Isso. A sangha é a sua vida.

Esse é o último detalhe que quero comentar: vocês precisam ir à sangha sabendo que não estão indo à reunião, mas que a sua vida é estar lá. Esse ponto é fundamental para vocês poderem aproveitar as oportunidades. Tentarei explicar o que eu estou querendo dizer.

Qualquer situação de vida é uma oportunidade para você amar. Qualquer situação de vida é a própria vida te dando uma oportunidade de amar ou não. Por que é importante ir à sangha?

Participante: Porque a vida naquele momento se apresentou como sendo ir à sangha.

Isso. Porque essa é a vida que vocês têm para viver naquele momento.

Essa compreensão é interessante para vocês entenderem uma coisa que precisam parar de fazer. Como vocês acham que vão à reunião, como acreditam que precisam ir e creem que vocês estão lá, não tratam isso como acontecimento. Por causa disso querem governar, comandar a ação.

Existem dois resultados para essa forma de vivência da sangha: supervalorizar ou diminuir o valor dela.

Foi o que eu lhe disse ontem. A partir do momento que você não vê a vida acontecendo, mas acredita que age sobre a vida, vai julgar a sua ação na vida – sua suposta ação na vida, que não é a sua ação e sim a própria vida.

Me responda uma coisa: cada vez que acaba a sangha, o que é que vocês fazem?

Participante: A gente fala sobre o que aconteceu.

Não, não fala. Se falasse seria ótimo.

Participante: A gente julga o que aconteceu, o comportamento das pessoas.

Julga o seu comportamento, julga a utilidade da sangha para você.

Dizem: ‘hoje a reunião foi horrível! Para mim não valeu de nada ter ido lá’. O que aconteceu durante a reunião é a vida que está julgando. Não se julga o que acontece. Não se julga como foi a reunião. Se mesmo assim a sua vida for comentar, e isso vai acontecer, você deve dizer: ‘não sei’ ou ‘dane-se’. ‘A minha vida foi ir. O que eu posso fazer’?

É isso que vocês precisam entender. Isso vale para todas as situações da vida e não só para as reuniões da sangha. Com certeza, quando for embora, vai sair daqui e a sua mente vai ficar trabalhando julgando tudo que aconteceu aqui. Trará ideias que afirmarão que coisa poderiam ter sido diferente ou de que foi muito bom. Já houve pessoas que saíram daqui dizendo: ‘eu gastei tudo isso de dinheiro para ouvir só aquilo’?

Vocês precisam parar de julgar a vida; e a reunião da Sangha é vida, por isso não se deve julgá-la. Esse é um recado para todos, mas é mais forte para aqueles que possuem pessoas próximas com quem convivem diariamente fora da Sangha. É comum vermos estas pessoas comentando o que acharam da reunião. Não façam isso.

Claro que o falar é vida e vai acontecer, se tiver que acontecer. No entanto, quando isso acontecer, não aceitem o que a mente dirá.

Vida não se julga; vida se vivencia, se assiste. A vida não está aqui para te satisfazer. Muito pelo contrário: para ela, quanto pior, melhor. Por isso ela não vai deixar de julgar a sangha.

Para que ela fala mal da sangha? Para você aceitar quando a sua vida for não ir à reunião. Não é aceitar o ‘não ir’, e sim aceitar os motivos que ela coloca para justificar a sua ausência.

Ir ou não ir não está certo nem errado. É vida e vai acontecer. Se a sua vida for ir, você vai; se for não ir, não vai. Esse não é o problema. O problema é aceitar os motivos que justificam ir ou não.

Participem da sangha sabendo que ela é vida e como vida, vai acontecer do jeito que tem que acontecer. Se ela acontece do jeito que tem que acontecer, não há nada de errado acontecendo. Há somente vida acontecendo em baixo dos seus olhos.

É importante nós termos essa compreensão para não julgarmos o que acontece, ou melhor, não aceitar o julgamento que a vida vai fazer do que acontece.