Imperfeições do ser - Textos
MOBIPDF

Imperfeições do ser - Textos

Transcrição dos arquivos de áudio do estudo 'Imperfeições do ser'

Imperfeições do ser - Textos

A elevação do ser

Muitos acreditam que da realização deste processo resultará uma vida mais tranqüila, uma existência humana onde o ser conseguirá atingir seus objetivos materiais. Outros acreditam que no final do processo de reforma íntima surgirá um grande conhecimento sobre as coisas do Universo. Alguns ainda acham que se conseguirem completar esta reforma alienar-se-ão deste mundo. Enganam-se: segundo o Espírito da Verdade o que acontecerá quando ele atingir a perfeição, ou seja, conseguir promover a sua reforma íntima, é viver a pura e eterna felicidade.

Esta felicidade, no entanto, não tem nada a ver com aquilo que é conhecido entre os humanos. Para estes, felicidade é o estado de espírito que surge quando têm suas vontades e desejos satisfeitos. Ou seja, vivem felizes porque conseguiram conquistar o que sonham. Esta felicidade, que chamamos de prazer, é efêmera e impura, pois depende da vitória sobre alguém ou alguma coisa para existir.

A felicidade que o Espírito da Verdade diz que é vivida por aquele que consegue promover a sua reforma íntima é eterna e pura. Isso quer dizer que aquele que a alcança jamais a perde e que ela não depende de condições para existir. Não importa se os sonhos e desejos do ser humanizado sejam satisfeitos, alcançando a perfeição estará sempre feliz.

A felicidade que espelha a perfeição alcançada pelo espírito é difícil explicar ao ser humanizado, àquele que está acostumado a ter seus desejos satisfeitos para sentir-se feliz. Isso porque ela existe mesmo naqueles momentos que os humanos chamam de dor, pesar.

A dor ou pesar surge no ser humanizado quando suas vontades e desejos não são satisfeitos. Sempre que na existência carnal os acontecimentos que estão sendo vivenciados pelo ser não se coadunam com aquilo que deseja, ele vivencia o pesar ou a dor.

Sendo tudo isso verdade, podemos, então, estabelecer a primeira questão de nossa conversa: promover a reforma íntima é substituir a vivência do êxtase da vitória (prazer) e da depressão do pesar (sofrimento) pela vivência da felicidade pura e eterna durante os acontecimentos da vida humana. Aquele que consegue fazer isso realizou sua reforma íntima e com isso aproveitou esta encarnação no sentido da busca da sua elevação espiritual.

Imperfeições do ser - Textos

A felicidade do elevado

Falando assim aparentemente a questão da reforma íntima parece um tema de simples compreensão, mas não o é. Como já disse, a felicidade que caracteriza a perfeição alcançada pelo espírito encarnado não é de conhecimento daqueles que estão realizando provações. Como viver algo que não se sabe o que é? Por isso, se faz necessário que pelo menos se dê alguma noção do que deve ser procurado pelos espíritos encarnados.

Krishna chama a o estado de espírito de equanimidade. Viver a equanimidade é vivenciar as situações da vida, sejam elas momentos de pesar ou de prazer, com a mesma emoção sempre: neutralidade. Ou seja, é não se deixar levar pela euforia da vitória nem pela depressão da dor e viver emocionalmente neutro às situações. Quando o ser humanizado consegue passar pelo pesar ou pelo prazer sem deixar o acontecimento afetar sua neutralidade, está vivendo a felicidade que marca o êxito na provação.

É a partir da neutralidade diante das situações de uma existência que definimos a felicidade pura e eterna. Quem está neutro em cada situação vive e em paz e está sempre harmonizado com o mundo. Já quem tem uma posição a respeito do que está acontecendo na vida, seja ela positiva ou negativa, nunca estará neutro: sempre viverá ou o prazer ou a dor. Ou seja, a vivência da felicidade pura e eterna acontece quando o ser humanizado não guerreia com o mundo, mas se harmoniza com tudo o que está acontecendo, pouco importando se o acontecimento está de acordo com suas vontades e desejos.

 Este é o espírito que durante uma encarnação consegue promover a reforma íntima: aquele que não guerreia com o mundo, mas vive harmonizado com tudo o que acontece. A partir disso, aqueles que acreditam no espírito e no processo de encarnação podem, então, criar um parâmetro para dirigir o seu processo de reforma íntima: trabalhar para abandonar tudo o que os faz guerrear com os acontecimentos da vida humana. Depondo suas armas, este ser pode, então, viver em harmonia. Mas, o que faz o ser humanizado guerrear contra o mundo? Como abandonar estas coisas? Vamos ver isso...

Imperfeições do ser - Textos

O ser não elevado

Quando o ser não consegue harmonizar-se com os acontecimentos de sua existência carnal dizemos que ele viveu uma contrariedade. Por exemplo, quando alguém chama o ser humanizado de feio, isso o contraria. Esta contrariedade o leva a viver aquele momento fora da neutralidade, Ele penderá para o pesar. A falta de neutralidade neste momento caracteriza a sua desarmonia com aquele momento.

Mas, porque o ser que foi chamado de feio se contrariou? Porque ele impôs uma condição para aquele momento.

A contrariedade é uma resposta a uma condição que se impõe ao mundo. Quando o ser quer que algo aconteça e isso não ocorre, ele se contraria. No exemplo que usamos se contraria quando chamado de feio aquele ser que quer ser chamado de bonito. Se ele não impusesse esta condição para aquele momento, a fala do outro o classificando como feio não levaria a vivência do pesar.

Isso quer dizer que reforma íntima é moldar-se ao momento, ou seja, querer ser chamado de feio quando isso acontece? Não. Se houver um desejo de ser chamado de feio o que se vive é o êxtase do prazer. A condição que se impõe, seja ela qual for, não afeta a harmonização com o mundo, mas sim a existência de uma condição. Tanto faz o ser querer ser chamado de bonito ou feio, enquanto tiver uma condição viverá o êxtase do prazer quando ela for satisfeita e a depressão da dor quando não for.

Então, qual a saída? Não ter condições para se viver cada momento da existência...

Quem consegue superar o êxtase do prazer ou a depressão da dor e viver na neutralidade emocional é aquele que, independente do que está acontecendo, nada exige daquele momento. Por não ter expectativas nem impor condições ao que se sucederá, o ser vive o que quer que aconteça com neutralidade. Este alcançou a equanimidade que Krishna usa para definir aquele que vive a felicidade do espírito que alcançou a perfeição.

Para harmonizar-se com o mundo, portanto, é preciso que o ser humanizado vivencie cada momento da sua existência sem desejos, vontades, certezas e expectativas sobre o que está ocorrendo. Para isso é preciso que ele respeite o direito do próximo.

Todas as vontades, desejos, certezas e expectativas do ser humanizado existem a partir dos seus códigos próprios que definem o certo e o errado, o bonito e o feio, o bom e o mal, etc. São verdades que se transformam em leis que atribuem valores as coisas do Universo. Chamamos a estas verdades de conceitos.

Aquele que em nosso exemplo chamou o outro de feio agiu desta forma porque possui internamente conceitos que definem a estampa do outro desta forma. Aquele que esperava ser chamado de bonito tem esta esperança porque pelos seus próprios conceitos a sua estampa deve ser classificada desta forma. Cada um agindo a partir de seus conceitos estabeleceu uma verdade para aquele momento. Mas, se cada um estabeleceu um valor e eles eram antagônicos entre si, como podemos chamar o que foi dito por cada um de verdade? Vou explicar isso...

Imperfeições do ser - Textos

As verdades

Quando se fala em verdade, os seres humanizados imaginam que estamos falando de algo irretocável, de algo que não pode sofrer contestações. Isso não existe neste mundo. A verdade que é irretocável, que não pode sofrer contestações chama-se ‘Verdade Absoluta’ e ela não existe neste mundo.

Para que uma informação ou opinião seja considerada como absoluta ela precisa possuir dois fundamentos básicos: universalidade e eternidade. Ou seja, uma informação para ser considerada como absoluta precisa jamais ter se transformado ao longo dos séculos e precisa ser aceita como real por todos os seres. Você conhece alguma que contenha estas propriedades? Acho que não, não é mesmo? Todos os conceitos que você possui são aceitos como verdadeiros por apenas uma parte dos seres e, portanto, não são universais. Todos os conceitos que você possui agora são resultado de mudanças de informações anteriores que tinha e certamente sofrerão mutações no futuro. Por isso não podem ser consideradas como eternas.

É por causa destas características da Verdade Absoluta que podemos dizer que tanto quem se acredita bonito bem como quem acha a estampa do outro como feia falaram a verdade. As opiniões de cada um são verdades relativas...

Verdade relativa é uma informação ou conceito que cada um determina que seja verdadeira para si. É a informação sobre a qual cada um tem a crença de que é verdade. Pouco importa se todos acreditam da mesma forma, o simples fato de alguém dizer que para ele o conceito é verdadeiro se transforma numa verdade relativa.

Sendo assim, tanto quem se considerou bonito como aquele que achou o outro feio, estão falando a verdade. Mas, quem está certo? Ou seja, quem tem a crença no padrão de beleza certo? Os dois... Para explicar isso temos mais uma vez que recorrer à questão da relatividade...

Os padrões conceituais sobre qualquer assunto são relativos, ou seja, dependem de diversos fatores. No passado a mulher com volume no corpo era considerada bonita, hoje a beleza está na magreza. Em alguns lugares do planeta a beleza está com as louras e em outros bela é aquela que é morena. Não existem padrões que sejam universais: sobre qualquer tema que possamos imaginar, os padrões variam de acordo com características regionais, culturais, etc.

Sendo tudo isso verdade, quem estava certo na conversa que está nos servindo de exemplo? Os dois... Tanto faz se um acha aquela estampa bela e o outro a acha feia, os dois estão falando a verdade e estão certo, porque estão agindo de acordo com seus próprios conceitos.

Estamos chegando perto da compreensão sobre a harmonização com os acontecimentos do mundo que caracterizam aquele que atingiu a perfeição durante a sua encarnação, mas há mais um detalhe que precisa ser abordado antes de continuarmos: a questão do livre arbítrio...

Imperfeições do ser - Textos

Livre arbítrio

Todos os seres humanizados defendem o seu direito de livre arbitrar sobre as coisas da vida. Querem ter o direito de escolher o que querem achar certo ou errado, bonito ou feio, bom ou mal. Isso é justo, mas será justo se ferir este direito do outro? Acho que não, não é mesmo? Mas, é exatamente isso que acontece quando um ser humanizado quer dizer o que o outro deve acreditar, o que o outro deve chamar de certo, de bonito, de bom.

O ser humanizado quer ter o direito de decidir sobre a questão da estampa das coisas do mundo. Quer ter o direito de achar algumas coisas bonitas e outras feias de acordo com sua própria consciência. Mas, não quer dar este direito ao outro.

Repare bem: se alguém faz alguma coisa que você não concorde ou diz algo que compreenda de forma diferente, qual a primeira coisa que faz? O corrige... Interfere naquele momento dizendo que ele está errado e que você conhece como aquilo de ser feito ou o que é o certo e verdade sobre aquele assunto. Isso não é retirar do outro o seu direito ao livre arbítrio?

Imperfeições do ser - Textos

Saber

Mas, você diria que precisa ajudar o outro porque sabe a forma de se fazer ou o conteúdo certo de uma informação. Por isso lhe pergunto: o que é um saber? É uma crença numa informação que você possui, ou seja, é ter uma verdade relativa e imaginar que ela é absoluta. É dizer que você possui o certo e por causa disso o outro está errado.

Um conceito é apenas uma informação, o saber é a crença de que aquela informação é verdade absoluta. Como este tipo de verdade não existe neste mundo, todo saber que um ser humanizado possui é falso.

Possuir conceitos em nada interfere na harmonia que precisa viver aquele que quer atingir a perfeição durante a encarnação. Isso porque, como já dissemos, é justo que cada um tenha o direito de livre arbitrar sobre suas crenças. Já o saber não é, pois quem acha que sabe imagina-se também com a obrigação de ensinar ao próximo a sua verdade. Como ele possui verdades diferentes nasce, então, a desarmonia e com ela surge a contrariedade.

Esta simples análise já basta para compreendermos perfeitamente a questão da reforma íntima. Reformar-se é deixar de tratar os seus conceitos como absolutos. Dando a eles o valor de relativos, ou seja, de crenças individuais, o ser pode conviver harmonicamente com os conceitos individuais do próximo. Aliás, isto é a síntese do amar ao próximo como a si mesmo.

Cristo nos ensinou que o mandamento que deve ser seguido por aquele que quer atingir a bem aventurança (a felicidade citada pelo Espírito da Verdade) é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Este ensinamento é antigo, mas pouco compreendido pelos seres humanizados. Isso porque eles querem viver este amor sentimentalmente, mas ele é puramente racional, como, aliás, são todas as coisas que dizem respeito ao mundo humano.

Imperfeições do ser - Textos

Sentir

Já disse ao longo de nossas conversas que o ser humanizado não consegue sentir. O que ele chama de sentimento são as sensações ou emoções criadas racionalmente pela mente. A diferença entre emoção e sentimento está na razão para a existência.

Sentimento é algo completamente irracional, ou seja, não possui motivações racionais para existir. Já a emoção ou sensação é algo que é vivenciado a partir de informações racionais. O amor humano, por exemplo, é a sensação que surge quando o objeto daquela emoção dá motivos para ela existir: o trata bem, com carinho, atende seus desejos, é seu amigo, etc. Da mesma forma a raiva que o humano sente por outra pessoa é motivada por valores racionais: ele me fez isso, ele me contrariou, me ofendeu, etc.

O amor que Cristo ensina é irracional, ou seja, existe independente de razões para existir. Quem ama a Deus apenas quando Ele satisfaz seus desejos não o ama verdadeiramente, mas humanamente, ou seja, tem uma sensação motivada pela razão. Já o amor a Deus ensinado pelo mestre deve existir independente de ter sido satisfeita ou não as vontades do ser humanizado.

É por causa da confusão que os humanos fazem sobre sentimentos e sensações que os mandamentos de Cristo ainda não foram cumpridos. E, como ainda esperam sentimentalmente constatar este amor, nunca cumprirão. Mas, mesmo sem sentimentalmente constatar que estão amando, os seres humanizados podem ter a consciência de estar amando. Vamos ver isso...

Imperfeições do ser - Textos

A reforma íntima

Ao que leva o cumprimento dos mandamentos ensinados por Cristo? À vivência das bem aventuranças. O que é isso? A felicidade pura e eterna que o Espírito da Verdade ensina através de O Livro dos Espíritos. Como se pode alcançar esta felicidade? Vivendo sem guerrear o mundo, ou seja, harmonizando-se com os acontecimentos de sua vida.

Se o ser humanizado, então, consegue superar sua convicção de que suas verdades relativas são absolutas e que por isso deve ensiná-las aos outros, ele ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Vamos tirar a prova dos noves? Vamos ver se o que estou dizendo é real?

Quem não trata a sua verdade como absoluta é aquele que possui a informação, mas não o saber. Ele possui um conceito, mas não o classifica como verdadeiro. Porque este ser abre mão de classificar sua verdade como saber? Para alcançar a elevação espiritual, para aproximar-se de Deus. Ou seja, quando age desta forma prova que para ele a aproximação de Deus é mais importante do que possuir a verdade absoluta. Este ser não amou a Deus acima de todas as coisas?

Quem não concebe que seu conceito é uma verdade absoluta não se sente compelido a alterar a verdade do outro. Permanece com a sua crença nos seus conceitos, mas dá ao outro o direito de acreditar em suas próprias verdades. Este não ama o próximo como a si mesmo?

O amor ao próximo não se caracteriza pela atenção às carências deles, mas sim ao respeito aos seus direitos. Quem dá ao outro o direito de livre arbitrar sobre o que quer acreditar não está, então, amando-o como ama a si mesmo?

Eis aí, portanto, de uma forma inteligível pelos seres humanos, a prática dos mandamentos ensinados por Cristo. Ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo aquele que suplanta a idéia de que seus conceitos são verdades absolutas com isso se harmoniza com as verdades dos outros.

Para comprovar o que estamos dizendo, volte agora aos ensinamentos do mestre trazidos pelos evangelistas. Observe se em cada um deles não há sempre um ataque à sabedoria do ser humanizado para que deixe de imaginar que as informações que possui são verdades inatingíveis. É a prática destes ensinamentos que formam o caminho que leva a Deus, pois ela leva o ser humanizado a conviver harmonicamente com os acontecimentos de sua existência.

É por causa deste direcionamento de seus ensinamentos que Cristo disse: eu não vim trazer a paz, mas sim a espada. Cada ensinamento deve ser usado pelo ser humanizado contra o seu saber e não para atacar o saber dos outros. Quando isso acontece o que resulta é a bem aventurança ou a felicidade pura e eterna.

Agora, eu acho, fica mais fácil àquele que acredita no espírito e na encarnação promover a sua reforma íntima e alcançar a felicidade que Deus tem prometido, não? Basta apenas libertar-se da crença de que suas verdades são absolutas e que por isso devem ser aceitas pelo próximo.

Este é o ser elevado: aquele que se libertando da crença de que suas verdades são absolutas consegue se harmonizar com os acontecimentos do mundo quando eles não correspondem aos anseios, desejos e conceitos. Este consegue viver a felicidade que Deus tem prometido e é bem aventurado, pois coloca em prática os ensinamentos máximos de Cristo: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Imperfeições do ser - Textos

A desarmonia

Depois do que falamos, alcançar a elevação espiritual parece fácil, não é mesmo? Mas, não é... A compreensão do tema fica fácil diante de tudo o que conversamos, mas a prática já é outra questão. Porque isso? Porque o ser humanizado é egoísta por natureza...

Ser egoísta é lutar para preservar os seus interesses acima do dos outros. É lutar para impor seus conceitos ao próximo. É querer que seus desejos e vontades sejam atendidos e não os dos outros. Por causa disso, quem é egoísta jamais consegue se harmonizar com os acontecimentos da sua existência.

O egoísmo, que é inerente à personalidade humana, é o entrave que não deixa o ser humanizado harmonizar-se com o mundo, é a pedra no caminho daquele que pretende alcançar a perfeição através da vivência harmônica dos momentos de sua existência. Isso porque é ele que não deixa o ser humanizado abrir mão do critério absoluto que ele aplica às suas verdades.

Por ser egoísta o ser humanizado quer sempre ser o detentor da verdade; quer sempre ver seus critérios serem atendidos por todos os outros seres do Universo, inclusive o próprio Deus. É por causa do egoísmo que apesar de Cristo ter ensinado que não se deve pedir nada a Deus através da oração, os seres humanizados ainda continuam rezando pedindo que seus desejos sejam atendidos. Eles acham que sabem mais do que Deus o que é melhor para eles, enquanto que o mestre disse que o Pai sabe o que é melhor para cada filho.

Por ser egoísta é que apesar de Cristo ensinar que não se deve julgar os outros para não sermos julgados pelo mesmo critério, os seres humanizados ainda continuam tendo opiniões sobre as coisas deste mundo. É por causa do egoísmo que apesar do mestre ter ensinado que devemos perdoar setenta vezes sete, os seres humanizados ainda continuam punindo os outros com suas críticas. É porque querem sempre defender seus conceitos que os seres humanizados ainda continuam mantendo em seus olhos a trave que os faz enxergar o cisco nos olhos dos outros.

Ora, se tudo isso é real, o trabalho daquele que quer promover a sua reforma íntima parece fácil, não? Basta deixar de ser egoísta e a elevação espiritual terá sido atingida. Acontece que ao ser humanizado deixar de ser egoísta é impossível...

Como dissemos, o egoísmo vivenciado pelo ser encarnado pertence a sua própria natureza. Aliás, posso até dizer que estar humanizado e ser egoísta são sinônimos.

Encarnar na Terra não é simplesmente viver neste planeta: é viver uma etapa de sua depuração eterna. Esta etapa é chamada de mundo de provas e expiações. O espírito, portanto, que encarna no planeta Terra é aquele que está na sua etapa de evolução onde vivencia um mundo de provas e expiações.

Neste mundo o que se coloca em provação é exatamente a questão do egoísmo, ou seja, a questão da crença de que as verdades que cada um possui são absolutas e que por isso devem ser acatadas por todos. Isso fica bem claro se analisarmos a gênese universal como descrita na Bíblia Sagrada.

A Bíblia Sagrada é o livro que conta a história das encarnações dos espíritos num mundo de provas e expiações. Ela começa com o livro Gênesis, onde é descrita a formação do planeta e o início da sua povoação, e termina com o Apocalipse, quando é descrito o fim desta etapa de evolução dos espíritos. Ou seja, ela se consiste num guia onde se descreve tudo o que foi disponibilizado para o espírito como provações para esta etapa de sua evolução universal.

Sobre o início da povoação do planeta, ou seja, sobre os espíritos que irão viver esta etapa de sua evolução no planeta Terra é dito que para aqui virão encarnar todos aqueles que foram expulsos do paraíso (do mundo espiritual superior) porque comeram do fruto proibido. É a história de Adão e Eva que acredito todos conheçam. Vamos conversar um pouco sobre ela a partir do prisma de ser o início da povoação deste mundo.

Quando na história da Gênesis Deus cria o espírito, o seu filho, o faz no paraíso, ou seja, no mundo espiritual superior. Ali concede todas as benesses para o espírito. Só dá a ele um alerta:

“Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal”. (Gênesis, 2, 16 e 17)

Vamos usar o que já conversamos para poder entender o alerta que Deus dá ao espírito. Conhecer alguma coisa não é simplesmente ter uma informação. Como já vimos, conhecer é saber. Juntando esta informação ao texto que citamos, podemos dizer que o saber surge exatamente quando se come o fruto da árvore.

Esta análise reforça aquilo que já falamos. Quando um ser humanizado dá o valor de verdade a um conceito que possui, torna-se conhecedor do que é certo ou errado, bom ou mal, limpo ou sujo. Portanto, aquele que dá o valor de absoluta às verdades que possui é quem come o fruto da árvore que foi proibido.

Este é o caso do Adão e da Eva, ou seja, dos espíritos que giram em torno do orbe terrestre, dos espíritos que vivem seus processos de encarnação no planeta Terra neste momento. Mas, além de comer o fruto proibido há outro fator que os faz precisar depurar-se nesta etapa de evolução. Para conhecê-lo, vamos mais uma vez ouvir a Bíblia Sagrada:

“A mulher viu que a árvore era bonita e que as suas frutas eram boas de comer. E ela pensou com ser bom ter conhecimento”. (Gênesis, 3, 6)

O espírito que ainda no mundo espiritual teve contato com informações e as transformou em verdades absolutas achou que era bom saber das coisas. Viu que toda sabedoria que passou a ter a partir das informações que recebeu lhe deram um suposto prestígio, que elevou o seu status. Por isso não quer abrir mão de saber, ou seja, de dar valor de absoluto às informações que possui.

Esta é a origem do egoísmo que agora os espíritos que se sujaram precisam abandonar através de provações no mundo de provas e expiações. Esta é a origem de todos aqueles espíritos que hoje freqüentam a sala de aula Terra. Todos que aqui estão encarnados neste momento fazem isso porque um dia acharam que as informações que possuíam eram verdades absolutas. Por isso afirmo que o egoísmo pertence à natureza daqueles que estão em processo de depuração neste planeta.

Acabar com o egoísmo enquanto encarnado seria acabar com a própria provação que dá a oportunidade do espírito evoluir. Este não é um mundo de regeneração, ou seja, de mudança, mas apenas um mundo de provação. O espírito que hora está encarnado não tem como objetivo mudar-se, mas apenas provar alguma coisa.

Provar o que? Que não acha bom ter o saber, que não acha importante o suposto status ou prestígio que o saber confere. Lembre-se do que Cristo ensinou: o primeiro no reino da Terra será o último no reino do Céu. Sendo assim, quem mais sabe neste mundo é aquele que menos sabe no outro.

Portanto, o trabalho do espírito, segundo a Bíblia Sagrada é libertar-se do saber. Mas, como fazer isso sem ser instigado a alcançá-lo? Só quando alguém é instigado a fazer alguma coisa e não faz é que ele alcança uma vitória. Se não for tentado, o que acontecerá não trará vitória alguma. Portanto, a presença do egoísmo, ou seja, da defesa do critério de absoluto a todas as informações que se possui é parte fundamental desta etapa da evolução do espírito.

Sendo assim, todos os seres que gravitam em torno do planeta Terra possuem o egoísmo e isso é desta forma para que cada um possa depurar-se, ou seja, abrir mão do saber. Só quando isso acontece podem, então, harmonizar-se com os acontecimentos de suas existências e com isso alcançam a elevação espiritual, a vivência da felicidade que Deus tem prometido.

Mas, como isso pode ser feito? Usando o egoísmo em favor de sua elevação espiritual. Vamos entender isso...

Imperfeições do ser - Textos

Expressões do egoísmo

Saber que o egoísmo é a causa do atual estágio de evolução dos espíritos que encarnam no planeta Terra por si só já deveria bastar para que aqueles que acreditam haver algo além da matéria pudessem se reformar. Bastaria eles trabalharem na identificação do momento onde defendem seus conceitos e não fazer isso. Mas, não é bem assim que as coisas funcionam...

Acontece que a presença do egoísmo não está expressa nos pensamentos. Nenhum espírito humanizado quando chamado de feio consegue pensar que o pesar que sentiu aconteceu porque ele quer ser chamado de bonito. Que sofreu porque defende seu padrão de beleza como absoluto.

Para esconder e justificar a presença do egoísmo os pensamentos maquiam a sua real intencionalidade (defender o valor de absoluto que dá ao seu conjunto de conceitos), ou seja, os pensamentos encontram uma forma politicamente correta para defender as verdades de cada um. No caso do feio, o pensamento poderá dizer que quem está falando não entende nada de beleza, que ele não tem bom gosto, etc. Este é um exemplo chulo, mas existe outras maquiagens que podem causar desarmonias mais profundas que o pensamento constrói para poder justificar o egoísmo. Vamos ver isso...

Vocês já viram alguém praticar a caridade material (dar a quem precisa) se não achar certo fazer isso? Vocês já viram alguém fazer carinho a quem ele ache que não deva dar? Alguém que dê a quem precisa ou faça carinho em outra pessoa aparentemente é tratado como uma pessoa não egoísta, ou seja, uma pessoa que se doa ao próximo, mas quando estas atitudes estão submetidas ao crivo de uma razão que escolhe quem deve receber, toda doação acaba e a ação se transforma num ato de egoísmo. Aquele que realmente se doa ao próximo não pode limitar a sua doação a quem ele queira doar-se, pois com isso está atendendo interesses seus pessoais (a quem quer dar) o que denota a existência de um egoísmo.

 Dizer que é uma pessoa boa porque se doa é a maquiagem que o pensamento usa para esconder o egoísmo de só doar-se para quem quer ou acha que precisa da doação. É ela que não deixa o ser humanizado ver que mesmo que o ato seja considerado como puro está fundamentado num egoísmo.

Ora, se para alcançarmos a felicidade precisamos viver sem egoísmo e se ele não aparece para o ser humanizado por causa da maquiagem que o pensamento usa para encobri-lo, isso quer dizer que é impossível libertar-se do egoísmo? Quer dizer que este jogo para o ser universal encarnado já está perdido? Não. Isso porque existem parâmetros para se descobrir o egoísmo escondido atrás das ações que aparentemente parecem ser não egoísta. Estes parâmetros nós chamamos de ‘expressões do egoísmo’.

As expressões do egoísmo são: a vontade de ganhar e o medo de perder, a vontade de ter o prazer e o medo do desprazer, a vontade de ser reconhecido (fama) e o medo da infâmia, a vontade de receber elogios e o medo de receber críticas. Sempre que um destes elementos estiver latente na ação que se pratica, com certeza houve uma intencionalidade egoísta quando da vivência dela.

Quem pratica a doação a quem acha que precisa receber não faz esta ação de forma tão sublime, mas porque quer ganhar, ou seja, quer fazer o que acha certo. Com isso está buscando na verdade o seu próprio prazer (a satisfação de realizar o que acha que deveria ser feito). Faz para poder ser reconhecido como uma pessoa que faz o que é certo e ser elogiado por isso. Suprir a necessidade do outro, para quem vive assim, não é a finalidade primeira.

Quantas vezes você que acha certo ajudar a quem precisa não deixou de fazê-lo porque julgou que o outro não merecia receber sua doação? ‘Não vou dar esmola a este porque ele vai gastar tudo em cachaça’... Mesmo que esta pessoa esteja maltrapilha e demonstre claramente a necessidade de alimentar-se, não o ajuda se isso puder resultar numa atitude que não será louvada pelas outras pessoas. Se realmente acha importante ajudar o outro, deveria ajudar àquele carente, mas não o faz porque o uso que ele dará a sua doação não lhe trará prazer nem a sensação de ter ajudado, que é uma vitória sua.

Se o egoísmo é a defesa de seu próprio interesse, ajudar apenas àquele que você acha certo e válido é defender o seu ponto de vista, é egoísmo. Com isso, não se harmonizou com o mundo, mas teve o prazer de ajudar a quem achava que devia ajudar. Se ajudar o necessitado fosse a intencionalidade primária, você ajudaria a quem precisasse sem julgar se ele merecia ou não receber.

Estamos usando o exemplo da doação para falar das expressões do egoísmo, mas podemos falar de qualquer outra situação da vida que encontraremos a intencionalidade de vencer, ter prazer, alcançar o reconhecimento e ser elogiado movendo a participação do ser humanizado nas ações da vida.

Quem não se sente compelido a mostrar ao outro que ele está errado sobre algum assunto ensinando-o o que é o certo sobre o tema? Esta atitude parece ser um ato movido por uma benevolência, como um sinal de amizade, já que quem pratica imagina que está ajudando. Mas, não é bem assim. Quem corrige o outro está se manifestando porque quer vencer (estar certo) e com isso ter o prazer de ter corrigido. Está manifestando-se porque quer ser reconhecido como o certo e ser elogiado por sua cultura.

Eis aí, portanto, as expressões que mostram ao ser humanizado a presença do egoísmo que existe mesmo naqueles pensamentos que denotam benevolência, pureza ou elevação de ideais. É a observação da presença destas expressões por trás daquilo que o pensamento afirma que pode ajudar o ser humanizado a libertar-se da necessidade de demonstrar que suas verdades são absolutas e com isso harmonizar-se com o momento presente.

Imperfeições do ser - Textos

O egoísmo bom

Até aqui propusemos que aquele que quer atingir a felicidade precisa libertar-se do egoísmo em que vive. Quando fazemos isso aparentemente parece que estamos dizendo que o egoísmo é o vilão do processo de elevação espiritual, mas não é bem assim. Ele também pode ser um herói nesta história...

Ser egoísta é defender seus interesses acima de qualquer coisa. Isso por si só não é o problema, mas sim o que ele defende. Se o ser humanizado defender a sua vontade de ter prazer, usará o egoísmo para atingir este estado emocional; usando para defender a sua felicidade pura e eterna, estará contribuindo para a sua elevação espiritual.

Tem uma passagem na Bíblia Sagrada que reflete bem o que estou dizendo:

“Felizes os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus”. (Mateus, 5, 6)

A vivência da felicidade pura e eterna depende daquilo que cada um tem fome e se de alcançar. Se quiser alcançar a sua vontade, o egoísmo protegerá este interesse sempre; se tiver fome e sede de alcançar a elevação espiritual, será isso que será defendido. Com isso a sua própria característica egoísta torna-se uma aliada no trabalho da reforma íntima.

Portanto, se você não pode deixar de ser egoísta e se ele trabalha contra a sua busca da perfeição, mude o sentido dele: faça-o trabalhar a serviço da busca da elevação espiritual ...

 O que estou querendo dizer é que se você acredita que é um espírito e quer aproveitar a oportunidade da encarnação, queira egoisticamente ser feliz... Busque egoisticamente harmonizar-se com tudo o que acontece ao seu redor... Vivendo desta forma poderá conseguir harmonizar-se com os momentos de sua vida e viver na neutralidade.

Aquele que busca egoisticamente a sua felicidade é aquele que usa as expressões do egoísmo a favor daquilo que lhe leva a alcançar a perfeição. Ou seja, aquele que ao ser contrariado faz as expressões do egoísmo se expressar pelos valores espirituais e não pelos materiais.

Se uma pessoa, por exemplo, coloca um copo num lugar que você não acha certo, que lhe faz viver em desarmonia com o lugar que ele está, considere isso uma vitória sua. Como? Pensando que naquele momento você tem a oportunidade de se harmonizar com o lugar onde está o copo. Tenha o prazer de ter tido uma oportunidade de trabalho. Sinta-se elogiado por ter sido considerado um ser capaz de superar aquela aparente desarmonia. Observando o mundo a partir deste ângulo, você consegue realizar o seu trabalho de reforma íntima. Já quem quer preservar o lugar certo para o copo estar jamais conseguirá isso...

Quem está preso aos valores materiais vai se desarmonizar no momento que vê o copo num lugar onde acha que não deveria estar e o seu egoísmo vai expressar-se a partir deste valor humano. Com Isso a desarmonia será inevitável.

Quem prioriza a busca espiritual durante a vida humana, faz o egoísmo se expressar a partir daquilo que deve ser feito para alcançar a neutralidade que precisa ser conseguida a cada momento. Este ainda continua ganhando, mas o louro da sua vitória agora é o permanecer em paz. Este continua tendo o prazer, ma sua satisfação não acontece mais porque conseguiu impor a sua verdade ao outro, mas sim pela sua conquista espiritual: ser aquele que consegue continuar harmonizado quando suas verdades tenham sido atacadas. Este ainda sente-se reconhecido e elogiado, não por que viveu um momento como um ser humanizado sábio, mas porque o viveu com a sabedoria espiritual: só Deus tem a Verdade Absoluta.

Quem coloca o egoísmo para trabalhar a favor da sua elevação espiritual é aquele que prioriza o bem espiritual (a felicidade que Deus tem prometido) em detrimento da busca de ter suas verdades tratadas como absolutas. Por isso a sua sensação de vitória está na oportunidade de trabalho que recebe. O seu prazer acontece quando ela se apresenta e o seu reconhecimento está fundamentado em ter sido considerado merecedor daquela oportunidade.

Quem faz isso se harmoniza com o mundo: ao invés de brigar com quem deixou o copo em determinado lugar, dá ao outro o direito de também saber o lugar certo para ele estar. A partir disso, deixa simplesmente o copo onde está ou o muda para o lugar que quiser. O lugar não importa no tocante à elevação espiritual: o que importa é que aquele ser naquele momento não se desarmonizou com o mundo.

Quando uma pessoa fala algo que o ser humanizado que prioriza a busca da felicidade não concorde, ele não fica contrariado nem procura mostrar que o outro está errado. Ele não sofre (sente-se caluniado) com a opinião do outro porque a vitória dele não está mais concentrada em ser reconhecido pelos outros, mas sim em conseguir viver em felicidade independente do que pensem dele.

Desejando egoisticamente ser feliz aquele que quer alcançar a perfeição durante a encarnação pode vencer o jogo. Ou seja, vira o jogo ao seu favor quando coloca o egoísmo para trabalhar em favor do seu objetivo espiritual. Realmente não dá para deixar de ser egoísta, mas dá para ser feliz egoisticamente.

Por isso recomendo àqueles que querem aproveitar a oportunidade desta encarnação para atingirem a perfeição em concentrarem-se a cada momento em ganhar a felicidade, em vencer a desarmonia. Desta forma as expressões do sofrimento continuarão existindo, mas não mais trarão sofrimento e serão instrumentos da felicidade.

Para alcançar isso, no entanto, é preciso que vocês conheçam a forma como o egoísmo se expressa: buscando sempre a vitória, o prazer o reconhecimento e o elogio. Sabendo disso, é decisão sua usar a característica inerente ao momento de sua existência eterna (encarnação) que não pode ser mudada em benefício da sua busca espiritual ou manter-se apegado às verdades relativas que existem na sua mente.

Aliás, esta escolha faz parte da provação que o espírito faz ao encarnar, como diz o Espírito da Verdade:

“Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; aberto se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de reconhecer o que foi mal feito”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 258a)

Todos aqueles que encarnam são livres para escolher o que querem para si. Deus não interfere nisso, já que concedeu a cada um o livre arbítrio. Portanto, só você pode escolher o que mais lhe convém. Fazendo a escolha pela defesa de seus valores humanos viverá o ciclo do prazer e da dor; escolhendo atingir a felicidade pura e eterna, alcançará a perfeição.

Participante: o egoísmo é também uma programação do livro da vida que o espírito viverá durante a encarnação?

Egoísmo não é programação: é o fundamento da encarnação.

As provações que acontecerão durante uma encarnação refletem o grau de elevação do espírito, ou seja, reflete a realidade espiritual de um ser universal. Se esta realidade o leva a encarnar num mundo de provas e expiações isso quer dizer que o espírito está egoísta. Se não tivesse a tendência a defender seus interesses acima dos interesses dos outros, este espírito não encarnaria aqui.

Só encarna aqui o espírito que na sua realidade está egoísta. Por isso digo que o egoísmo é o fundamento que faz o ser universal encarnar.

Participante: devemos agir egoisticamente sem se sentir egoísta?

Não foi isso que quis dizer. O que afirmei até aqui é que você deve viver com o egoísmo sem se sentir culpado por estar desta forma. Deve, também, colocar esta sua característica à serviço da sua elevação espiritual, ou seja, a serviço da sua harmonização com o mundo.

Quando falo que você está egoísta não o estou acusando de nada, mas apenas constatando o seu grau de elevação espiritual atual. Por isso, a ouvir esta afirmação, ao invés de se sentir culpado, utilize este elemento, que parece ser mal, para o seu bem.

Imperfeições do ser - Textos

Harmonizando-se

Participante: o que o senhor está dizendo é que devemos fazer o que agrada ao outro, mesmo não querendo fazer, para não gerar atrito e sofrimento?

Como disse, o egoísmo sempre se expressa, mas você não o vê em ação. Repare na sua frase. Quando diz que deve fazer algo para que esta atitude gere alguma coisa, está criando um desejo. Se esforça-se para fazer, está procurando ganhar. Faz porque acredita que deveria fazer e com isso sentirá que ganhou quando fizer. Sendo assim, você não está fazendo nada pela sua elevação espiritual, mas apenas pela sua humanidade.

Sua propositura ainda está, então, presa a um egoísmo. Mas, será que o egoísmo de sua frase está apegado ao seu interesse material ou espiritual? Vamos analisar isso...

O que determina o interesse pelo qual o seu egoísmo trabalha não é o que você faz, mas como se relaciona com o que foi feito. Fazer o que agrada ao outro ou fazer o que lhe agrada não tem importância alguma com relação à elevação espiritual. Esta depende da sua resposta ao que acontecer. Se você fizer o que o outro gosta e se enaltecer por ter conseguido evitar o atrito e o sofrimento, ainda está preso a um valor humano, pois a sua vitória será sobre o outro e não sobre o seu lado humano. Se fizer e não achar que fez nada demais, neste momento terá priorizado a sua neutralidade.

A utilização do egoísmo em benefício do interesse pessoal jamais pode passar pela sensação da realização de alguma coisa. Sempre que isso acontecer houve um prazer e não uma neutralidade.

Participante: mas o senhor não disse que devemos usar o egoísmo a favor de nossa neutralidade?

Sim, mas não disse que você tem que fazer o que o outro quer. Quando usei o exemplo do lugar onde um copo é deixado, disse que se quiser você pode pegá-lo e colocar onde quer e mesmo assim harmonizar-se com aquele momento. Ou seja, que você não precisa deixá-lo onde o outro colocou para que haja uma harmonia...

Este é o grande problema quando se fala com humanos: eles sempre pensam em agir externamente e não internamente. A neutralidade precisa ser conseguida internamente, ou seja, na forma como você se relaciona com os atos que participa e não nas próprias ações.

O que é preciso ser feito para se alcançar a elevação espiritual não é praticar atos que atendam aos interesses do próximo, mas sim não usar as armas que você possui, ou seja, suas verdades. Você não precisa colocar o copo onde ele quer, mas sim não deixar o seu conceito que diz o lugar certo para o copo levá-lo a desarmonizar-se com o lugar que ele agora está.

Reforma íntima é você sair da guerra, ou seja, o desejo de impor seus conceitos de certo. Quando faz isso, se harmoniza com o próximo. Quando não defende sua verdade dizendo que o outro está errado, terá alcançado a harmonia. Para isso não é preciso necessariamente agir fisicamente de forma alguma. Pode até fazê-lo, mas não precisa necessariamente fazer.

 Repare que não falei nem em você deixar de ter verdades. Pode tê-las; o que não pode é deixar elas guiarem a sua forma como deve se relacionar com os acontecimentos de sua vida. Você pode acreditar que existe um lugar certo para o copo; o que não pode é esperar que o outro pense da mesma forma. Se fizer isso, com certeza entrará em desarmonia quando o outro colocá-lo no lugar certo dele.

Este ponto é importante porque vocês pensam que para reformar-se precisam mudar alguma coisa. Já que não é preciso mudar os seus atos devem, então, mudar aquilo que pensam. Isso não é real. A mudança que a reforma íntima para a elevação espiritual traz não se apresenta nem pela alteração da forma de agir nem pela de suas verdades, mas pela mudança da forma de reagir aos acontecimentos. Se antes você reagia aos acontecimentos defendendo suas razões, a partir do momento que se reforma não mais as defenderá, mesmo continuando a tê-las.

A reforma íntima tem a ver com o respeito e não com aquilo que você acredita ou faz fisicamente. Respeitando o direito de o outro pensar diferente, mesmo que você tenha valores diferentes, se harmoniza com ele. Quando você respeita o outro consegue a elevação espiritual porque está amando a Deus acima do que acredita e amando ao próximo, já que está respeitando o livre arbítrio dele que o faz achar certo o que ele quiser.

Participante: mas, se o outro não nos respeitar?

O que é o desrespeito ao outro? A defesa do seu direito. Isso é egoísmo puro...

Quando você vive um momento em que se sente desrespeitado pelo outro, na verdade está defendendo um direito seu. Aquela outra pessoa não está lhe desrespeitando, mas defendendo um direito dele que você atacou anteriormente, mesmo que este ataque não tenha sido verbalizado. Vou dar um exemplo para ficar mais claro...

Continuemos com o exemplo do copo. Digamos que você encarou como desrespeito o fato da pessoa colocar o copo em um determinado lugar. Mesmo que você não verbalize a crítica contra o lugar onde está o copo, o simples fato de pensar que ele agiu errado já se constitui um ataque ao direito dele. Não é preciso transformar em palavras a sua desarmonia: se você simplesmente não harmonizar-se com o momento mentalmente, está atacando o outro.

Participante: mas se eu mudar o lugar do copo como o senhor sugeriu não estarei desrespeitando-o?

Não... Para compreender o que estou dizendo precisamos relembrar algo que já comentei.

Vocês acreditam que a vida é a sucessão de minutos que se transformam em dias, horas, meses e anos. Mas, isso não é verdade. A vida dura apenas uma micro fração de tempo que chamamos de presente. Quando um presente acaba ele chama-se passado. O passado não existe, pois é um presente que já se acabou. Quando o presente ainda não chegou, ele se chama futuro e como ainda não está presente, ele também não existe.

A vida é apenas o momento presente. É nela que você tem que promover a sua reforma íntima, ou seja, é durante cada momento presente que deve buscar harmonizar-se com o que está acontecendo.

Sendo assim, no momento que você viu o copo num lugar está vivendo um presente: harmonize-se com o que está acontecendo. No momento em que pensar que deve colocar o copo em outro lugar, estará vivendo outro presente: harmonize-se com esse. Quando movimentar o copo estará em outro momento: harmonize-se com ele...

Isso é a reforma íntima: a vida foi correndo, os momentos se sucedendo e em cada um deles foi se harmonizando com o que está acontecendo.

Se no momento em que viu o copo achou que estava errado, você se desarmonizou. Se no momento em que decidiu mudar o lugar do copo o fez porque acha que ele vai ficar melhor no outro lugar, novamente não se harmonizou. Se no momento em que o colocou no novo lugar achar que agora ele está no lugar certo, desrespeitou o direito do outro e, por isso, não conseguiu a harmonia. Para viver harmonicamente com cada minuto do nosso exemplo, ao ver o copo fora do lugar deve apenas constatar o lugar que ele está naquele lugar; quando decidir mudar o lugar, deve apenas constatar esta vontade; quando o colocar no novo lugar, deve apenas observar que ele está agora em outro lugar.

Esta é a reforma que acontece a cada momento. Apenas mudando o copo de lugar ainda estaria sofrendo, pois ainda viveria com a idéia dele estar num lugar errado. Quando o transferisse de local continuaria a defesa de seus interesses porque estava transferindo-o porquê acha que isso é o certo que deve ser feito. Finalmente continuaria vivendo o prazer de ver o que você queria aconteceu. O mesmo pensamento se aplica à idéia de deixar o copo no lugar.

Entendeu a reforma? Para realizar a reforma íntima a sua preocupação não deve estar concentrada no que é feito pela ação, seja a sua ou a do próximo. A sua única preocupação deve ser evitar os motivos que o leve a vivenciar o prazer ou o pesar. Achar que o copo está fora do lugar o leva ao pesar, portanto não deixe seu conceito servir de parâmetro para avaliar o que está acontecendo. Achar que colocou o copo no lugar certo ou que foi certo deixá-lo onde está lhe leva ao prazer de ter feito o que quer.

Para se reformar, evite ver os acontecimentos desta forma. Ao invés de agir motivadamente, acha apenas por agir. Para isso elimine toda motivação que a mente criar para a ação, mesmo que ela seja a de fazer a reforma íntima.

Para poder se harmonizar com os acontecimentos do mundo é necessário que você esteja livre de qualquer motivação. Se ela existir, o prazer sempre estará presente quando ela for alcançada e o pesar quando não. Por isso Krishna afirma que um dos elementos necessários para se alcançar a evolução espiritual é não ter intencionalidades.

Se você ao me ouvir acredita que o certo é harmonizar-se com o mundo, certamente gerará a intenção de harmonizar-se. Com isso, quando conseguir o que viverá será o prazer de ter feito o que queria e com isso estará desarmonizado. Quando não conseguir, viverá o pesar e a dor da culpa de não fazer o que você acha que deveria ter feito. Novamente não se harmonizou.

Para que a harmonia exista é necessário que você viva todos os momentos da vida sem motivação. É constatar o que está acontecendo simplesmente e não ter um objetivo a ser alcançado a cada momento, mesmo que este objetivo seja colocar em prática aquilo que está ouvindo agora.

Você pode fazer o que quiser: a única coisa que não pode é deixar o que faz estar preso a um querer humano, ou seja, a um desejo de realização de ação. Se você passa a querer usar o egoísmo em favor de sua elevação espiritual, acabou de criar um conceito e quando conseguir praticar esta ação, viverá o prazer e não a equanimidade.

O segredo para colocar o egoísmo a favor da sua elevação espiritual está justamente em não transformar esta busca como uma obrigação, como um dever, algo certo de ser feito. Ela deve ser feita de forma espontânea e não como resultado de uma intenção. Por isso a sua pergunta que originou esta nossa conversa (devo fazer o que o outro quer) não está de acordo com o processo de reforma íntima.

Se você deixa o copo no lugar que ele está motivado em atender os interesses do outro, na verdade está fazendo por causa do seu novo interesse: alcançar a harmonia. Isso de nada adianta, porque ainda está defendo o que agora acha certo.

Participante: há algum tempo o senhor disse que não deveríamos transigir da nossa verdade... Como fica esta questão frente ao que acabou de dizer?

Continuo dizendo a mesma coisa agora. Eu não estou falando que para harmonizar-se você precisa trocar de verdade. Pelo contrário: estou dizendo que não deve transigir dela. Sabendo que existe um lugar certo para aquele copo, não abra mão disso. Agora, por causa disso, não queira que o outro compartilhe a sua verdade.

A sua verdade é sua, a dele é dele: isso é real. Se você abandona sua verdade pela dele não está fazendo nada no tocante a reformar-se, mas apenas trocando de informações. A reforma intima não se constitui em mudar aquilo que se acredita, mas em dar o ao outro o direito de ter as suas próprias verdades, mesmo que elas sejam contrárias às suas.

Esta questão é importante para voltarmos ao aspecto de transformar o que estou dizendo em uma nova verdade. Se você acredita em tudo o que estou falando aqui e transforma isso num certo, com certeza vai exigir que o outro também coloque em prática a busca com a harmonia. Isso o fará desarmonizar-se com ele...

Como disse, todo espírito tem o livre arbítrio, inclusive no tocante a realizar ou não o processo da reforma íntima. Ninguém é obrigado a aproveitar a oportunidade da encarnação. Deus e nenhum ser espiritual cobra que isso seja feito. Como foi dito através do último trecho de O Livro dos Espíritos que vimos, Deus dá inteira responsabilidade ao espírito e por isso não poderia cobrar dele a realização. Se Deus não cobra, será você que irá cobrar?

Aceitando o que estou dizendo, faça a sua reforma, mas não transforme o que está ouvindo numa obrigação. Se fizer isso vai se desarmonizar com aqueles que ou não ouviram ou ao ouvir não aceitaram o que disse ou não estão dispostos a pagar o preço pela execução do trabalho.

Participante: se agirmos desta forma não vamos perder a nossa individualidade?

Acho que não. A individualidade de cada um é marcada pelo conjunto de informações que é tratado como verdadeiro.

Você é o somatório de tudo aquilo que acredita. Se durante o processo de harmonização preserva tudo aquilo que acredita, a sua individualidade não se altera. Agora, se passa a fazer porque o outro quer, neste caso sim, perderá a sua individualidade. Isso porque alterará o seu conjunto de valores, já que estará fazendo o que é característica da individualidade do outro.

Colocando em prática o que estou falando, não se mudará em nada. Continuará sendo o mesmo que é hoje, ou seja, continuará a mesma pessoa, com as mesmas crenças e gostos. O que mudará não será o que você é, mas a forma como se relacionará com as outras individualidades.

Essa questão de mudar-se é outro problema para aquele que pretende aproveitar esta encarnação. Como os seres humanizados só acreditam na ação que se reflita externamente, acha que existem posturas físicas que caracterizam um ser elevado. Engano: a elevação é íntima e não externa.

Vocês acreditam que os seres que alcançam a perfeição são aqueles que se alienam do mundo ou que vivem em oração. De que adianta viver assim se ainda existe critica a quem não vive? Se ainda existe uma desarmonia entre você e o mundo a felicidade que Deus tem prometido ainda não está sendo vivida e com isso a elevação ainda não foi alcançada.

Já contei uma história que se passou com Buda. Um homem foi observá-lo quando ele passou por suas terras. Passou o dia inteiro observando tudo o que ele fazia. Ao retornar o filho lhe perguntou se Sidarta era realmente iluminado. Ele respondeu: ‘não, ele é um homem comum. Enquanto estive com lá comeu, urinou, dormiu e fez tudo o que qualquer homem faz’.

O ser que alcança a iluminação, ou seja, a elevação espiritual vive como qualquer outro e pratica todas as ações que qualquer outro ser humanizado pratica. O que muda nele é o seu mundo interno e não o externo. É por isso que Krishna diz que o homem sábio transita entre as coisas do mundo. Quem alcança a verdadeira sabedoria nesta vida (o não saber) vive como qualquer ser humano e utiliza todas as coisas deste mundo: o que muda nele é a forma de relacionar-se com estas coisas. Antes as usava com apego às suas verdades; agora vive desapegado a elas. Este desapego se caracteriza pela não defesa de suas verdades, pela não crença de que as informações que possui são verdadeiras...

Participante: o problema, então, é apontar o erro dos outros?

A humanidade que você está vivendo está se pronunciando agora ao colocar o outro nesta questão. Reforma íntima é algo que deve ser feito por e em você. Isso não tem nada a ver com o outro...

Sendo isso verdade, o problema nunca não está na forma como você age com o outro, mas sim na forma como age consigo mesmo. O problema para quem quer buscar a elevação espiritual nesta encarnação está em defender os seus interesses e não em atacar o do outro. Por que isso? Porque esta defesa é a utilização do egoísmo.

O egoísmo não tem nada a ver com o outro ou com qualquer elemento deste mundo. Tem a ver com a forma como você age com o seu conjunto de conceitos. Agindo defendendo-o, agiu egoisticamente; se age atacando-o, também está agindo de uma forma egoísta, pois este seu ataque é a defesa de uma nova verdade.

Este aspecto é fundamental para quem harmonizar-se com o mundo. Isso porque a sua ação de reformar-se deve se concentrar em observar a forma como você relaciona-se com suas verdades e não com o que o outro faz. O que ele faz pouco importa: o que interessa é saber como você vai se relacionar com o pensamento que surgir naquele momento. Se defendê-lo, ou seja, disser que ele está certo, agiu egoisticamente; se disser que ele está errado, da mesma forma defendeu uma verdade: a verdade que deve se harmonizar com o mundo.

A neutralidade que demonstra a harmonização se dá quando apenas constata que pensou de um jeito e não quando tem um pensamento neutro com relação ao outro. Você tem todo o direito de pensar que ele está errado: o que não tem é o direito de achar que este pensamento está certo ou errado.

Aquilo que você pensa faz parte do mundo com o qual precisa se harmonizar, pois é o cabeçalho de sua provação. Aliás, na verdade, a sua provação é o fato de pensar desta ou daquela forma e não o que os outros fazem.

Cada vez que alguém pratica uma ação na sua frente, espontaneamente lhe surge um pensamento concordando ou discordando com o que está acontecendo. É neste momento que sua provação começa e não quando a ação foi praticada por outro ou por você. É neste momento que precisa haver a harmonização e ela é alcançada quando se consegue a neutralidade com relação ao que foi pensado. Ou seja: ‘eu pensei isso, mas não sei se este pensamento é certo ou errado’.

Repare que a harmonização que estou falando é muito mais fácil do que vocês estão imaginando. Não se trata de ter que engolir sapos (aceitar o que o outro faz) nem de fazer o que ele quer. Você pode até ter pensamentos de revolta com o que o outro está fazendo: o que não pode é acreditar nesta revolta. O que não pode é aceitar que aquela revolta é real, verdadeira, certa ou errada.

A sua desarmonia não se caracteriza pelo que o outro faz nem pela forma como você reage mentalmente ao que aconteceu, mas sim pela sua relação com o que é pensado. Não agindo de forma neutra com relação ao que o pensamento cria, estará em desarmonia com o momento, mesmo que não critique o outro.

Enfrentar seus pensamentos: esta é a única batalha que o espírito tem durante a encarnação. Ele precisa estar o tempo inteiro atento ao que os pensamentos dizem para não corroborar com eles, pois se assim o fizer, estará agindo egoisticamente.

Há tempos atrás disse que a mente não é egoísta. O egoísmo não está nela, mas em você, no espírito que encarna. Como falei agora pouco, se você está encarnado num mundo de provas e expiações é porque o seu estágio de evolução espiritual se caracteriza pelo fato de querer defender seus interesses, pois acha que sabe, acha que suas informações são verdades absolutas.

Todo pensamento é formado a partir destas verdades. Quando, por exemplo, acredita que existe um lugar certo, dá valor de absoluto a um determinado lugar, o seu pensamento será formado a partir desta informação. Mas, isso não quer dizer que ele é egoísta: ele é apenas uma provação.

A prova consiste-se sempre em usar o não o egoísmo, ou seja, em defender o não o que o pensamento diz. Defendendo-o, acreditando no que ele fala, foi você que agiu egoisticamente e não o próprio pensamento. É por isso que disse que a neutralidade precisa ser conseguida entre você e o que está sendo pensado e não entre você e o que o outro fez.

Esta é a verdadeira harmonia. Ela existe quando você atinge a neutralidade com relação àquilo que o pensamento lhe afirma. Quando o segue, seja elogiando ou criticando o que está acontecendo, viveu egoisticamente e com isso se desarmonizou.

Portanto, saiba de uma coisa: o que você pensa não é certo nem errado. Tudo o que o pensamento lhe afirma que está acontecendo, o que ele diz que é certo ou errado, é bonito ou feio, bom ou mal é apenas o cabeçalho de sua provação. Quando esta informação lhe chega você tem a oportunidade de agir egoisticamente (defendendo o que é pensado) ou de optar em permanecer neutro. Neste caso venceu a batalha desta vida: superou a o egoísmo, pois se libertou de um saber.

Imperfeições do ser - Textos

As imperfeições humanas

Como vimos, aproveita a encarnação aquele que consegue se harmonizar com a sua vida carnal. Por este motivo, seria justo se imaginar que o espiritualismo, a doutrina que contempla o algo além da matéria, se dedicasse a este aspecto da encarnação. No entanto, não é isso que acontece. O espiritualismo, e o espiritismo também, concentram nos dias de hoje seus rituais em coisas bem diferentes: ou executam o estudo dos elementos do mundo espiritual, ou realizam trabalhos mediúnicos. Será que esta forma de proceder ajuda os seres humanizados no objetivo de sua encarnação? Vamos ver isso...

Os rituais de busca do conhecimento das coisas além da matéria expressam-se através de cursos onde os seres humanizados estudam fenômenos e elementos do mundo espiritual. Esta busca seria até interessante para aquele que acredita na existência além da matéria, mas será que ela consegue resultados ou é um aspecto necessário sob o ponto de vista espiritual?

“227. De que modo se instruem os Espíritos errantes? Certo não o fazem do mesmo modo que nós outros? Estudam e procuram meios de elevar-se. Vêem, observam o que ocorre nos lugares aonde vão; ouvem os discursos dos homens doutos e os conselhos dos Espíritos mais elevados e tudo isso lhes incute idéias que antes não tinham”.

“230. Na erraticidade, o Espírito progride? Pode melhorar-se muito, tais sejam a vontade e o desejo que tenha de consegui-lo. Todavia, na existência corporal é que põe em prática as idéias que adquiriu”.

O período de estudos do espírito, segundo O Livro dos Espíritos, é realizado na erraticidade. Quando encarnado, seu trabalho é de colocar em prática aquilo que aprendeu. Sendo assim, repetir na vida carnal os estudos que já havia feito é não realizar cada coisa ao seu momento adequado. Além do mais, enquanto apenas estudam, os espíritos agora humanizados não colocam em prática o que aprenderam e com isso não aproveitam a oportunidade da encarnação.

Por estes motivos, afirmo que o espiritualismo concentrar seus rituais em cursos e estudos sobre elementos do mundo espiritual não é válido.

“10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? Não, falta-lhe para isso sentido”.

Além de não ser válido, é infrutífero. Quando humanizado o espírito perde um sentido que lhe faz compreender perfeitamente as coisas do Universo. Vou chamá-lo de ‘sentido espiritual’.

Sem este sentido o ser humanizado acaba partindo para a compreensão das coisas universais de elementos identificando-as com elementos que existem em seu próprio mundo. Como esta identificação não traduz uma realidade do que existe no Universo, o resultado é falho. A energia espiritual com a qual convivem os espiritualistas nos seus rituais é um exemplo disso...

“27a Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais de fluído elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente”. (O Livro dos Espíritos)

Existe uma energia universal, mas ela não é a onda eletromagnética que os humanos conhecem. Como ensina o Espírito da Verdade, o que é conhecido como energia elétrica pelos humanos já é um elemento formado pelo princípio universal. Por não compreenderem esta questão, os seres humanizados continuam tratando a energia universal como se ela fosse a terrestre. Por causa disso subordinam aquela as leis referentes as que conhecem e com isso acabam não compreendendo de forma plena o que é a energia universal.

Outro exemplo da confusão causada pela busca dos espiritualistas, está o próprio espírito. Muitos dizem que já viram espírito, que conhecem coisas sobre ele, mas o Espírito da Verdade ensina o seguinte:

“23a Qual a natureza íntima do espírito? Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós ele nada é, por não ser palpável” (O Livro dos Espíritos)

Como alguém pode conhecer a natureza do espírito se ele nada representa para o ser humanizado? Como alguém pode saber o que pensa o espírito, o que ele faz e como se comporta se nem a ele mesmo se consegue ter acesso?

Apesar da completa incompetência do ser humanizado para se relacionar com os espíritos, muitos afirma que já viram ou falaram com alguns sem a necessidade do processo de incorporação.

“88 Os espíritos têm forma determinada, limitada e constante? Para vós, não; para nós sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão ou uma centelha etérea”. (O Livro dos Espíritos)

Como algo que não possui forma conhecida pelos humanos pode ser visto por este? Como pode uma chama ou clarão falar se não possui os órgãos da fala?

Reparem como a busca de conhecer o que o ser humanizado não possui a capacidade de conhecer por não possuir o sentido espiritual lhe leva a comprar gato por lebre. Reparem ainda, como o Espírito da Verdade sempre coloca que para os espíritos os elementos do Universo são conhecidos. Acreditando que as verdades que alcançam no mundo material, o ser quando se libertar da influência da matéria, não conseguirá viver no seu próprio mundo.

Este é um problema que a busca do conhecimento dos elementos do mundo espiritual causa ao espírito quando encarnado. Por isso o Espírito da Verdade recomenda:

 “14. Deus é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas? Se fosse assim, Deus não existiria, porquanto seria efeito e não causa. Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa. Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis”. (O Livro dos Espíritos)

O Universo espiritual existe: não vá além disso... Deixem de querer formular sistemas que expliquem o que não pode ser alcançado, pois neste momento não possuem o sentido espiritual que os faça compreender os elementos do Universo. Além disso, por acreditarem que o conhecimento que obtém através desta busca é real, conquistam um saber, ou seja, algo que irá lhes fazer desarmonizarem-se com o mundo em que vivem. Além disso, ele será um estorvo quando do regresso à pátria espiritual.

Parem de analisar cientificamente as coisas do mundo. Isso porque esta busca os prende também a querer conhecer o porquê, para que, como, quando e onde, dos ensinamentos que receberam dos mestres para poderem realizar o trabalho desta vida.

Os seres humanizados de hoje não conseguem se harmonizar com o mundo apesar de ter todos os ensinamentos necessários para isso porque vivem buscando definições para aquilo que os mestres disseram. Há cinco mil anos Cristo ensinou muita coisa. Há mais de cem anos o Espírito da Verdade trouxe vários ensinamentos. Há mais de treze anos estamos falando diversas coisas. Se vocês tivessem apenas ouvido o que Cristo falou, o que o Espírito da Verdade ensinou ou os comentários que fizemos sobre s ensinamentos dos mestres, não seria necessário eu estar aqui hoje e dizer o que disse para vocês saberem o que precisam fazer para elevar-se.

Reparem: durante todos os anos que conversamos eu não disse nada de novo, mas apenas usei o que já estava ensinado há muitos anos. Porque não conseguiram colocar em prática o que já havia sido ensinado? Porque ao invés de colocar o ensinamento em prática, vocês se concentraram em querer saber como se faz o que foi dito, porque devem fazer aquilo, para que servirá o que devem fazer.

Por causa da busca incessante do saber, o espiritualismo de hoje ao invés incitar a prática do que foi ensinado pelos mestres, concentra-se em descobrir algo o porquê, para que, como, quando e onde destes ensinamentos. Se vocês apenas lessem o que os mestres ensinaram e colocassem em prática, com certeza já estariam elevados. Se ao invés de lerem e buscarem formular sistemas e equações que sustentem o que foi dito apenas colocassem em prática o que os mestres ensinaram, certamente já teriam conseguido se harmonizar com o mundo.

O problema é que como estão presos à vontade de saber, ao invés de simplesmente praticarem o que foi ensinado, buscam saber informações sobre o processo de elevação espiritual com a intenção de gerarem mais sabedoria para si. Os ensinamentos dos mestres deixaram de ser apenas um guia para tornar-se uma sabedoria, uma cultura. Gerando mais saber, o que cada um conseguiu com os ensinamentos foi adquirir mais verdades que o egoísmo que está na base da vivência do ser usa pra desarmonizá-lo com o mundo.

Aprendam uma coisa: qualquer informação sobre o mundo espiritual, sobre elevação espiritual, não contém o menor traço de ciência. Ela não pode virar uma sabedoria, mas apenas uma informação que se posta em prática o aproxima de Deus. Ela não contém nada para ser sabido, mas algo que deve ser usado sem questionar.

A entrega ao que foi ensinado pelos mestres é a fé que Cristo ensinou e disse que se o ser humanizado a tiver do tamanho de um grão de mostarda o levará a aproveitar a encarnação. Sendo a fé entrega com confiança, aquele que a tem se entrega aos ensinamentos sem querer dissecá-lo e transformá-lo numa sabedoria. Simplesmente o pratica ao invés de querer entendê-lo. Quem apenas pratica o ensinamento que recebe faz alguma coisa pela sua existência eterna; quem busca compreender os ensinamentos, os estuda eternamente e nada pratica. Com isso, nada consegue...

Quando o ser humanizado que tem fé lê que Cristo ensinou que não se deve julgar os outros, evita ter opiniões sobre qualquer coisa, pois sabe que ela é fruto de uma análise racional. Quando não tem esta fé, ele vai querer saber por que não deve julgar, o que é julgar, quem disse que ele não pode julgar, etc. Quando lê que deve tirar a trave do seu olho para não ver o cisco no do outro, aquele que tem fé corre para tirar tudo do seu olho, ao invés de ficar perguntando o que é a trave, qual o tamanho dela, porque ele não pode ter trave no olho, etc.

O grande problema que resulta da transformação dos rituais espiritualistas em cursos onde se busca saber algo é acostumar o ser humanizado que é preciso se compreender e se dissecar os ensinamentos para depois praticá-lo. Por causa da busca constante de um saber mais complexo, acabam não praticando o que foi ensinado pelos mestres e com isso não trabalham em prol da sua harmonização com o mundo. Dessa forma não realizam o objetivo da encarnação.

A prática religiosa do espiritualismo transformou a busca da elevação espiritual, que é essencialmente sentimental (amar), em um processo racional onde aquele que sabe mais é considerado mais elevado do que aquele que pouco sabe. Com isso feriram frontalmente o que os mestres ensinaram. Cristo ensinou que Deus mostra aos simples (aqueles que não possuem sabedoria) o que esconde dos sábios. Salomão, em seu livro bíblico ‘O Sábio’, ao final aconselha: ‘Filho, pare de ler, pois ler só cansa os olhos’. Nenhum mestre orientou que o caminho que leva a Deus é conseguido pela obtenção do saber. Portanto, este não é o caminho.

Participante: então, o problema são as crenças que acabamos criando nesta vida?

Não, o problema para quem quer realizar a elevação espiritual não são as crenças que existem, mas a forma como você lida com elas. Ter determinadas crenças não consiste em problema algum. Pode tê-las, não importando no que crê. O problema é achar que elas são importantes, pois isso as faz querer defendê-las. Quando isso acontece, surge sempre alguém que a atacará e com isso você perderá a harmonia com o momento.

Um ser humanizado pode viver com a mesma crença que outro, pode acreditar na mesma coisa sem que necessariamente os dois se desestabilizem numa determinada situação. Porque isso acontece? Porque um defendeu aquilo no que acreditava e outro não. Eles possuem a mesma crença, mas um perdeu a harmonia num determinado momento onde o outro não. Sendo assim, o que fez aquele se desestabilizar foi a defesa e não a crença.

O que faz o ser humanizado perder a sua harmonia com o momento não é no que ele acredita, mas o quanto defende aquilo que crê.

Saiba de uma coisa. A vida humana é uma etapa do seu processo de evolução onde realiza provações. Para que elas aconteçam o ser nasce e se desenvolve. Durante este desenvolvimento suas crenças vão sendo montadas de acordo com o país onde nasce, a região que habita, os amigos com que convive, a família que o educa, a escola onde aprende as coisas do mundo material. Durante este tempo as crenças de cada um vão sendo montadas conforme os hábitos e costumes do mundo em que o ser vive.

Formadas as crenças, começa, então, a provação em si. Ela se consiste no teste do quanto este ser agora humanizado vai amar a sua verdade acima do próprio Deus. É por isso que a crença nas verdades é problemática para a elevação espiritual: de um lado existe o mandamento de se amar a Deus e ao próximo, do outro há a prática do amar a si mesmo acima de qualquer coisa.

Acho que agora ficou clara a questão da provação do espírito, não? Mas, e agora, o que fazer com o que ouviu?

Participante: colocar em prática...

Exato. E dá para colocar isso em prática buscando ajuda na espiritualidade para resolver seus problemas ou alcançar objetivos humanos? Acho que não... Por isso, o segundo objetivo dos rituais espiritualistas de hoje em dia também não contribui para o ser humanizado realizar aquilo que se propôs fazer quando encarnou.

Nas casas espiritualistas hoje, além do estudo para conseguir um saber dito espiritual, se realizam trabalhos de apometria, incorporação, passes energéticos e outros. Estes trabalhos, junto com os cursos, formam os rituais destas casas. Será que eles são válidos para aquele que está encarnado? Vamos ver isso...

Com que finalidade são executados estes trabalhos? Ajudar o ser humanizado a conquistar aquilo que ele almeja e não consegue por si só realizar. Quando um espírito encarnado consegue o que quer o que vivencia? O prazer... Ou seja, estes trabalhos contribuem para a desarmonia do ser humanizado com o mundo ao invés de contribuir para que ele conclua o trabalho da sua encarnação.

Não estou aqui dizendo que é errado se ter estes trabalhos. O contato com o mundo espiritual é necessário para que o ser encarnado possa motivar-se a realizar o trabalho de sua encarnação. O que estou dizendo é que eles não estão sendo direcionados para servir como elementos que contribuam para o objetivo da encarnação. Vamos entender isso...

Quando um ser humanizado que se diga espiritualista vivencia um momento de angústia ele busca a casa que freqüenta. Seu objetivo é encontrar nos trabalhos mediúnicos dela a ajuda para sair desta angústia. Será que neste momento é importante para o espírito a conquista do seu objetivo para acabar com ela?

“266. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”. (O Livro dos Espíritos)

O espírito quando liberto da materialidade não busca durante uma encarnação alcançar objetivos materiais. Por isso, não se importa se durante a vida humana terá momentos de glória ou não. Para ele tanto faz sofrer ou ter prazer nesta vida: o que importa é que ele tenha as condições necessárias para realizar o trabalho a que se propõe quando encarna.

Sendo isso verdade, as casas espiritualistas deveriam socorrer mediunicamente os seres humanizados durante seus rituais com o objetivo de esclarecê-los neste aspecto e não objetivando acabar com o sofrimento. Os cultos mediúnicos deveriam servir de instrumentos para mostrar ao ser humanizado que naquele momento ele está tendo uma oportunidade de trabalho para aproveitamento da sua encarnação e não buscar servir ao seu egoísmo.

Este é o aspecto a que estou me referindo. Como disse antes, não estou nem sou contra a realização de trabalhos mediúnicos, mas sim ao fato de que eles são colocados à disposição do egoísmo do ser humanizado e não para ajudar no seu combate. Se as casas espiritualistas tivessem seus trabalhos mediúnicos voltados no socorro àquele que está sendo testado no sentido de ajudá-lo a vencer aquele momento, dariam uma grande contribuição no tocante ao objetivo da encarnação, mas como não agem neste sentido, acabam não servindo àqueles que as freqüenta.

Portanto, os trabalhos realizados pelas casas espiritualistas (estudos e práticas mediúnicas) não contribuem em nada com o processo de elevação do espírito hora encarnado. Não por eles mesmos, mas pelo sentido com que são realizados: buscar um saber e ajudar o ser humanizado a alcançar o seu humano.

Eles devem e precisam existir para ajudar o ser quando ele se humaniza, mas precisam alterar seu sentido para que se tornem instrumentos eficazes de apoio aos espíritos que estão vivendo seu processo de provação. Que devem ele fazer para isso?

“Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmo. Estudai as vossas imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 14)

O que os rituais devem objetivar é estudar as imperfeições que o ser humanizado vive quando acredita que ter sabedoria é importante para a sua existência. Os trabalhos mediúnicos devem ser realizados com o sentido de mostrar ao ser encarnado a imperfeição que está causando o seu sofrimento, ao invés de buscar satisfazer os interesses desses. Somente assim, as casas espiritualistas podem ajudar o espírito em provação a superar o egoísmo, motivo de toda provação atual do espírito.

O ser que se humaniza vive a sua provação. Esta provação consiste-se em demonstrar que aprendeu que agir egoisticamente não é característica de um ser elevado. Para isso, ele precisa viver as imperfeições que o egoísmo causa. Sendo tudo isso verdade, o foco do ser universal quando se humaniza deve ser concentrado na identificação destas imperfeições e a conseqüente libertação delas, já que este trabalho é motivo da existência da vida carnal do espírito.

A importância do trabalho da identificação é libertação das imperfeições fica mais valorizado quando se entende a profundidade dele. Por conta do seu egoísmo e da sua sabedoria, o ser humanizado sempre se considera a pessoa certa, aquela que conhece o que é certo de se realizar. Mas, isso não é real: o ser humano é um espírito falho, que ainda está no processo de elevação espiritual. As imperfeições, assim como o egoísmo, que estão latentes na mente humana, também existem na consciência primária do espírito.

Digamos, por exemplo, que um ser humano anseia pelo poder. Buscar ter o poder é uma imperfeição, como iremos ver durante nossas conversas. Se o ser humanizado anseia por ela, isso quer dizer que o espírito que está agora vivendo esta personalidade também anseia pela mesma coisa. Sendo assim, libertar-se dela é algo valioso para a existência eterna do ser e não apenas algo que contribua para a vida humana.

Toda provação que o ser vive durante a humanização está vinculada a um gênero. Ele é escolhida para ser vivenciado durante uma encarnação pelo ser quando ainda na erraticidade porque depois de seus estudos compreendeu que ele não contribui para a sua pureza. Ou seja, o que o ser humanizado é reflete aquilo que o espírito vive naquele momento. Sendo assim, o trabalho de agora, mais do que ajudar nesta vida, traz um grande benefício para a existência eterna deste espírito. Por isso o Espírito da Verdade disse que a identificação destas imperfeições é mais importante do que se buscar compreender aquilo que não pode ser compreendido.

Participante: buscar a minha imperfeição é buscar aquilo que mais me faz desarmonizar com a vida? Por exemplo, se me desarmonizo sentindo medo, buscar a imperfeição é buscar aquilo que me atemoriza?

Não. Buscar a imperfeição é verificar tudo o que lhe dá medo e não apenas aquilo que lhe dá mais medo. Isso porque tanto faz você ter muito ou pouco medo, ainda é imperfeito, pois ainda está desarmonizado.

O que resulta da ação vivenciada com imperfeição é a desarmonia com o momento presente. Quem, por exemplo, busca o poder, sente-se contrariado quando ele é atacado. Mas, quando isso acontece? Quando alguém faz ou diz algo contrário ao que você crê.

Vocês imaginam que quem está lhes contrariando está lhe afrontando, mas isso não é real: ele está afrontando sua verdade. Quem acha importante manter sua crença intacta neste momento busca ter o poder. Tornando-se o poderoso da conversa, seus interesses prevalecem. É por causa disso que reagem com a contrariedade neste momento.

Sendo assim, conhecer as suas imperfeições não se trata apenas de conhecer suas verdades. Elas, na realidade, pouco importam. O importante é descobrir porque você acha importante ter o poder. Descobrindo que quer ser o poderoso do momento para defender suas verdades, pouco importando qual seja o seu conceito, você poderá combater a imperfeição e com isso não precisará defender aquilo que acredita. Só assim será possível se harmonizar com o momento presente.

Sabendo disso, por favor, me responda: estudar eletromagnetismo, miasmas, animismo, viagens astrais lhe ajuda a conhecer suas imperfeições? Participar de atividades mediúnicas com o objetivo de acabar com o sofrimento e alcançar o desejado, sendo protagonista ou buscando socorro, produz efeitos válidos na sua existência eterna? Não. Então, aceite meu conselho: estude suas imperfeições...

Para ajudá-los neste aspecto, os convido agora para praticar o verdadeiro espiritualismo: estudar aquilo que existe em vocês na erraticidade (as suas imperfeições) e que vieram à carne para provar que aprenderam que não devem ter...

Imperfeições do ser - Textos

Ser humano: a pior imperfeição

Para começar o entendimento sobre o tema, pergunto: o que é uma imperfeição. É alguma coisa que não deixa o espírito atingir a perfeição. É alguma coisa que existe no ser universal que atrapalha a sua união com o todo, com Deus. A principal causa de um espírito não conseguir se harmonizar com o todo é o fato de imaginar-se um humano.

Quando falo assim, vocês devem pensar que estou falando apenas dos espíritos encarnados. Esta idéia surge porque para vocês o ser encarnado é aquele que está vivendo uma personalidade humana. Mas, não é isso. Ser humano não é estar carne, vivendo uma personalidade humana, mas uma forma de compreender os acontecimentos de uma existência.

O ser compreende os acontecimentos de sua existência a partir de um sistema de vida. Ser humano é viver a vida a partir de um sistema humano de vida. O que é um sistema humano de vida? É aquele que contém, por exemplo, a idéia de que existe um casamento. Todo espírito que acredita nesta forma de união entre dois seres é um humano, estando na carne ou não.

No céu não existe casamento, ensinou Cristo aos fariseus quando eles perguntaram se uma mulher que se casasse com sete irmãos nesta vida com quem viveria no reino do céu. Com esta resposta o mestre nos deixou a informação que no sistema espiritual de vida não existe a união de dois seres como conhecida na Terra. Por isso afirmo que o espírito que mesmo fora da carne ainda acredite numa união como estabelecida na Terra, vive sob o signo do sistema humano de vida, mesmo não estando ligado a uma matéria carnal.

O espírito fora da carne que habita o mundo que chamamos anteriormente de devas e acredite que existam religiões como as professada neste planeta, um caminho único ou certo para levar a Deus, ainda é um ser humanizado. Isso porque a idéia de que exista apenas uma religião certa, apenas um caminho doutrinário para se chegar a Deus, faz parte do sistema humano de vida e não do espiritual. Sendo assim, quando estou falando sobre viver a partir do sistema humano de vida, ser humano, não estou me referindo apenas aos seres que estão encarnados, mas também a todos que ligados ao orbe terrestre acreditam nos valores humanos.

Conhecido o que é um sistema humano e quem o vive, continuemos nossa conversa. Se ser humano é viver a partir do sistema humano de vida, isso quer dizer que todos aqueles que acreditam nos elementos deste sistema, ou seja, dão o valor de certo e real aos seus elementos, vivem a maior imperfeição que um espírito pode ter neste nível de evolução. Mas, porque estou afirmando que esta é a maior imperfeição? Vamos ver isso...

Imperfeições do ser - Textos

O sistema humano de vida

Porque acreditar nos valores humanos para a existência causa imperfeição no espírito? Porque todo sistema humano é gerido a partir de um código de informações que são tratadas como verdadeiras. Por causa deste valor que se dá às informações, o egoísmo presente no espírito neste grau de evolução os faz defendê-las. Com isso, extingue-se a harmonia com o mundo, a neutralidade com relação aos pensamentos.

Para compreender o que estou dizendo, vamos continuar no exemplo do casamento, que é um subsistema do sistema humano de vida. A união como conhecida no planeta Terra é vivenciada através de um código do que é certo ou errado ser feito quando se está casado. No caso do país de vocês, este código afirma que aqueles que estão casados devem ser fiéis um ao outro. Por viver o subsistema casamento como realidade, o egoísmo presente no ser cobra que esta norma seja respeitada, ou seja, que os cônjuges permaneçam fiéis. Por causa disso, se um dos dois comete uma infidelidade, aquele que não cometeu se desarmoniza com o outro.

Repare bem. A desarmonia não acontece por conta do que o outro fez, mas sim por causa da regra que existe no subsistema casamento. Se ela não houvesse, mesmo que o cônjuge tivesse relações com outra pessoa, a desarmonia poderia não vir. Mas, para que ele consiga viver sem submeter o outro a esta regra, teria antes que libertar-se da idéia de estar casado. Para isso, seria necessário não se sentir humano. Se vivesse a partir do sistema espiritual que não contempla a união dentro do mesmo prisma (posse, é meu marido), mesmo que houvesse uma infidelidade não haveria desarmonia.

Este é o problema de viver preso a um sistema humano de vida. Quem acredita que é humano sempre irá viver sobre a tutela deste sistema, ou seja, subordinado ao código de normas que rege aquela atividade. Quem vive aprisionado ao sistema humano dificilmente consegue se harmonizar, pois as normas que regem as atividades são exploradas pelo egoísmo e assim gera um certo e errado para o que acontecer. É como diz Paulo: a lei cria o pecado.

Todas as atividades vivenciadas dentro do sistema humano de vida estão ligadas a normas que a regulamentem. São estas normas que determinam a existência de um certo e errado, limpo e sujo, bom ou mal, bonito ou feio e não os elementos que participam da atividade. O que diz se um ser é bonito ou feio é o padrão de beleza de quem está vendo e não a estampa do outro; quem cria o bom ou mal para o que acontece é o código de normas que rege o subsistema humano referente àquela atividade e não o que está acontecendo.

Tudo o que existe e acontece é neutro em sua essência. Nada é errado, feio ou mal. Só quando um código de normas cria estas distinções é que a atividade ganha estes adjetivos. Sendo assim, eles só existem no pensamento do ser humanizado. É por isso que a harmonia existe quando um ser se torna neutro ao que está pensando. Quando alcança a neutralidade despolariza a informação que o pensamento está criando. Mas, para atingir esta neutralidade é imperioso que o ser não se imagine humano, pois se imaginar-se, o egoísmo que possui não o deixará neutralizar-se com a polaridade que a mente dá ao elemento com que está convivendo.

Outra coisa que é criada pelo sistema humano de vida são as necessidades. Para cada atividade que é regulamentada por um código de normas de um subsistema humano existe a informação de que a posse de determinados elementos é necessário.

Quem, por exemplo, já ouviu conversas antigas que tivemos deve, com certeza, ter encontrado momentos onde eu falava que o ser humanizado não precisa alimentar-se, que a alimentação não deve ser prioridade na vida de um ser humanizado. Quando falava disso, sempre havia a mesma resposta: ‘mas como viver sem se alimentar? Eu estou humano, ligado a um corpo físico e por isso preciso comer’. Esta expressão é a resposta do egoísmo atendendo a questão das necessidades básicas que são criadas pelo sistema humano de vida.

A necessidade de ingerir alguma coisa, seja, ela alimentos, no caso do ser estar ligado a uma matéria carnal, ou energias, no caso de estar desligado desta matéria, é uma criação humana. Dentro do sistema espiritual esta necessidade não existe. Por isso, o ser não se harmoniza com a vida que vive. Como para o humano esta necessidade é real, sempre que não há nada para alimentar-se, acontece a desarmonia.

A exploração que o egoísmo faz das necessidades geradas pelo sistema humano de vida, defender que você tenha o necessário, é que causa a desarmonia quando aquilo que é considerado como necessário não está disponível. Alguém que se considere pai, por exemplo, vive a norma de ser o sustentador da família. Por causa disso ele vê como necessidade ter uma fonte de renda. Se não a tiver, sentir-se-á fracassado na sua posição e com isso se desarmonizará com a vida.

Com este exemplo encontramos mais um aspecto que o sistema humano traz a quem o vive: a obrigação. Cristo ensinou que o jugo dele é leve, ou seja, que não há nada obrigatório de ser realizado. Se existe a crença no livre arbítrio concedido por Deus, não poderia se acreditar realmente em qualquer obrigação.

Livre arbítrio quer dizer livre opção. Quem o possui tem todo direito de ser, estar e fazer o que quiser e por isso não é obrigado a nada. Mas, não é assim que o sistema humano de vida vê esta questão. Para cada subsistema, ou seja, para cada situação de vida existe sempre uma obrigação que deve ser cumprida pelos participantes deste acontecimento. Esta obrigação é explorada pelo egoísmo que trata como obrigatório fazer aquilo que o ser acredita, por isso ele se desarmoniza com o outro que não pratica a ação como ele quer.

Ora, se o ser acredita em livre arbítrio, não poderia acreditar em obrigações. Deveria entender que o outro tem o direito de ser, estar e fazer o que ele optar. Mas, não é isso que acontece. Pela prisão ao sistema humano de vida, o espírito encarnado vive as obrigações como reais e assim, apesar de defender para si, ataca o direito de outro livre arbitrar durante os acontecimentos. Isso não existe no sistema espiritual de vida.

Todos os seres que estão livres da submissão ao sistema humano de vida reconhecem que o livre arbítrio é dado por Deus para todos e não apenas a eles mesmos. Por isso respeitam as decisões que o outro toma. Por agirem assim, esta idéia não os deixa desarmonizar-se com os outros.

Os códigos de normas que regulam as atividades dos seres e que criam a dualidade de adjetivos, as necessidades básicas e as obrigações que fazem parte do sistema humano de vida são exploradas pelo egoísmo. Agindo em defesa da crença formada a partir destas coisas, surgem novas imperfeições: a posse, a paixão e o desejo.

Todo ser humanizado possui os elementos com que convive. Seja moralmente (eu sei), sentimentalmente (eu gosto) ou materialmente (é meu), os elementos são possuídos de acordo com as normas de cada um, com as necessidades que cada um tem e com as obrigações que ele acredita. Desta posse nasce a paixão, o apego àquilo que corresponde ao que se acha certo, ao que supre a necessidade e ao que cumpre o que é considerado obrigatório. Para poder viver estas paixões, o egoísmo gera, então, os desejos.

O que se quer é o anseio que se tem. Para alcançá-lo, então, o ser que se considera humano faz exigências da vida. Aquele que considera necessidade básica se alimentar passa a exigir que os acontecimentos da vida lhe traga alimento; aquele que considera obrigação sustentar os filhos, exige que a vida lhe dê oportunidades de ganhar o sustento deles. Como a vida é caracterizada obrigatoriamente pela existência de vicissitudes (pergunta 132 de O Livro dos Espíritos), a desarmonia, então, é algo que sempre existirá.

No sistema espiritual de vida não existem posses. Todas as coisas do Universo são tratadas por aquele que se liberta do sistema humano de vida com equanimidade. Sendo assim, não existem paixões e sem elas não há desejos. Sem ter estas coisas, o ser vive o que acontece sem alterar o seu ânimo, ao invés de ansiar por algo ou exigir que a sua existência contenha determinada coisa.

Quantas vezes durante nossas conversas quando falava do modo de vida do espírito ouvi respostas do tipo: ‘eu sou humano, preciso disso que o senhor está dizendo que não preciso’. Esta é uma resposta típica de alguém que está subordinado ao sistema humano de vida, pois vive a existência de necessidades básicas para cumprir obrigações que estejam normatizadas como certas. Acontece que você não é humano. Você é um espírito: sua humanidade é apenas a provação que está presente em sua encarnação.

Você não precisa, não quer: quem precisa e quer é a sua humanidade. Quando esta necessidade é expressa pela mente acontece, então, a sua provação. Neste momento você tem duas respostas a dar: ou serve ao espiritual ou a humanidade que vive. Servindo à sua espiritualidade deixará de fazer estas cobranças à vida. Servindo a materialidade, se desarmonizará com o momento presente.

Lembrem-se do que Cristo ensinou: não se serve a dois senhores ao mesmo tempo. Não há como comungar as necessidades materiais dentro de um sistema espiritual de vida. Promover a reforma íntima é optar pelo sistema espiritual e isso se faz agindo com neutralidade ao pensamento que informa o julgamento do acontecimento a partir de um código de normas humano, que cria obrigações, que afirma a necessidade básica de qualquer coisa, que anseia por determinados acontecimentos e, por isso, exige que a vida os faça estar presente.

Quem promove a reforma íntima é aquele que reconhece em si a ação do sistema humano de vida e não compactua com ele. Para isso é preciso que assuma a sua realidade: ser um espírito. Quem se vê como um espírito, mesmo encarnado, não se subordina ao sistema humano de vida e com isso consegue atingir a neutralidade quando a mente põe em prática o egoísmo.

Sendo tudo o que falamos verdade, fica bem claro que sentir-se humano é a imperfeição mais profunda que um ser pode viver. Vendo-se sobre este prisma, todas estas coisas que levam à desarmonia agem sobre o ser necessariamente. Quem se prende à idéia de que é um ser humano, por causa do egoísmo que existe em si, acaba sempre vibrando dentro do que o pensamento afirma.

Imperfeições do ser - Textos

Os conceitos e o sistema humano

Quando falei do sistema humano de vida, reparem que não estou falei em conceitos, no teor das informações que vocês consideram como verdades absolutas. O teor destas informações pode ser qualquer um, o que não pode é deixá-las ser influenciadas pelo sistema humano de vida, ou seja, serem julgadas por um código de norma que separa o certo e o errado, que gere obrigações a si ou aos outros ou criem necessidades básicas.

Quando falei em casamento, citei a verdade do povo de vocês, ou seja, a crença de que é verdade absoluta se ter apenas um parceiro numa união, mas poderia usar a verdade de outros povos. Há lugares onde uma união pode ser vivida por um homem e várias mulheres. Isso não é problema. O problema é achar que isto é certo, que isso é necessário e obrigatório. Vivendo a união tendo como verdade absoluta aquilo que se crê, este ser se desarmonizará com aqueles que vivem com a idéia de que se deve ter apenas um parceiro.

O problema não é o teor do conceito com que cada um convive. Isso porque o sistema de vida humano é formado por conceitos que se adaptam a hábitos e costumes dos povos. O importante para quem busca a elevação espiritual não é saber se um homem dever ter várias ou somente uma, mas sim a forma como você se relaciona com a informação que crê. Relacionando-se de uma forma humana, por causa das características deste sistema, não conseguirá se harmonizar. Vivendo-as dentro do sistema espiritual, onde a característica principal é o direito que cada um tem de ser, estar e fazer o que quiser, não haverá certo ou errado, necessidades básicas, ou obrigações que levem a desarmonia. Desta forma, o ser alcança a perfeição ensinada pelo Espírito da Verdade.

Quem promove a sua reforma íntima permanece com os mesmos conceitos que tinha anteriormente. Ele continua crendo nas mesmas coisas, mas está livre dos efeitos que a utilização do egoísmo sobre as características do sistema humano de vida traz: o prazer e a dor. Quem não promove esta mudança, ou seja, ainda se imagina um ser humano, acha normal a ação do egoísmo sobre as características do sistema humano de vida e com isso viverá o prazer quando seus anseios forem atendidos e a dor quando isso não acontecer.

Quem não promove esta mudança durante a encarnação tem o seu destino traçado: irá para o mundo dos devas, o mundo onde se reúnem os espíritos sem carne que acreditam no sistema humano de vida. Lá viverá a mesma da mesma forma coisa que viveu na sua estada no planeta Terra. Durante esta estada novamente estudará e tomará a consciência de que esta não é uma forma universal de se viver. Quando isto acontecer retornará a uma encarnação. Isto se sucederá até que um dia consiga realmente se conscientizar das impurezas que o sistema humano de vida contém com relação à realidade universal. Quando isso acontecer, será um com Deus, terá alcançado a unidade.

Imperfeições do ser - Textos

Libertando-se do sistema humano

Dissemos anteriormente que para promover a reforma íntima é necessário que se coloque o egoísmo que está presente em si a serviço da elevação espiritual, mas isso é impossível para aquele que se acredita humano. Vivendo esta crença, o máximo que conseguirá é criar um subsistema humano que norteie a busca espiritual.

Elevação espiritual é atingir a universalidade. Para isso é preciso alcançar a completa isenção de normas reguladoras de atividades, de obrigações e de necessidades. Quem vive a busca da elevação espiritual como um subsistema humano ainda tem estas coisas. Ou seja, esta busca passa a tornar-se certa, uma obrigação e torna-se necessária. Quem vive desta forma apenas alcança o prazer de ter realizado o que pretendia e não a completa harmonia.

Quando falo que você precisa atingir a neutralidade com seus pensamentos, não disse que deve compactuar com aqueles que abordem a questão da evolução espiritual. Falei que deve libertar-se de todos.

Saibam de uma coisa: os seus pensamentos são expressões do sistema humano de vida. Eles não se formam ao por acaso: tudo o que ele afirma está subordinado às normas deste sistema, ás obrigações e necessidades que o fato de se achar humano traz. Mesmo que estas informações digam respeito à prática do que estamos conversando agora.

Recentemente uma pessoa me disse que estava tentando ver o seu filho como um espírito irmão. Disse que estava agindo assim porque compreendeu que esta é a forma do espírito se relacionar com outro. Aparentemente ele está seguindo um ensinamento, mas isso não é real. Na verdade ele continuou preso a um sistema humano de vida mesmo quando trocou o nome filho pelo de espírito irmão, pois esta nova visão ainda estava sendo feita como uma necessidade, por obrigação e estava sendo considerada certa. Ou seja, as características do sistema humano de vida continuavam presentes, mesmo com a troca do título dado ao outro ser.

Por isso lhe respondi que de nada adiantava o que ele estava fazendo. O importante não é mudar o rótulo que se dá ao outro, mas conviver sem acreditar em todas as coisas que a mente fale através de pensamentos naquele momento. Aconselhei-o a continuar a conviver com o outro como filho, mas sem ter certo ou errado nesta relação, sem ter ou exigir obrigações, sem ter necessidades a serem supridas. Quando isso acontecer, seja o outro considerado como filho ou espírito irmão, haverá harmonia.

Portanto, não é o conceito que possua sobre as coisas que regulamenta a sua relação com o outro, mas sim a subordinação a um sistema que se caracterize pela existência do certo e errado, que gere obrigações e que crie necessidades. Independente do rótulo que se conceda, sentindo-se humano, estas características existirão e por conta do egoísmo surgirá o anseio e a exigência que aquilo que esteja de acordo com suas crenças aconteça. Como isso não ocorre sempre, a desarmonia é inevitável.

Por isso disse diversas vezes: todo pai e mãe têm o direito de querer dizer ao seu filho o que achar que deve dizer; só não pode esperar que o filho faça o que ele diz que deve ser feito. Aquele que espera isso está subordinado ao sistema humano de vida. Este vive o prazer quando atendido e o pesar quando não, ou seja, está sempre desarmonizado com o momento presente.

Quem já se libertou da etapa de evolução que vocês estão agora, vivem sob a égide de um sistema que não possui estas características e por isso conseguem se harmonizar, viver a felicidade que Deus tem prometido.

Participante: mas, o senhor não diz sempre que como habitantes de um mundo de provas e expiações devemos viver como humanos?

Não é isso que eu digo. O que falo é que como espíritos no grau de evolução que corresponde ao que é chamado de mundo de provas e expiações vocês precisam se expor a idéias humanas. Só que quando isso acontece, não devem crer nelas, mas sim promover a sua reforma íntima, que se consiste em ao ter estas idéias não crer nela. Deve fazer isso porque sabe que é um espírito e que aquelas idéias nada têm a ver com a realidade espiritual.

Este é o processo de reforma ou como é chamado pelos espíritas, o transformar o homem velho no novo. Houve uma reforma em você, pois mesmo sendo bombardeado por idéias fundamentadas no processo humano de vida, passaram a não mais viver a partir delas.

Imperfeições do ser - Textos

Tudo é humano

Participante: a dificuldade talvez seja de encontrar a pequena linha que separa o Universo do espírito encarnado.

Não há linha que separe você do Universo. Tudo que lhe vier pela mente é subordinado ao sistema humano de vida. Portanto, não há duas partes separadas por linha alguma. Vou dar um exemplo para mostrar isso.

Algumas pessoas vieram a mim e disseram que estavam com a intenção de comprar um terreno onde pudessem morar comunitariamente colocando em prática os nossos ensinamentos. Esta idéia a primeira vista parece interessante para a busca da elevação espiritual, já que vivendo regido pelos ensinamentos dos mestres eles estariam libertando-se do sistema humano de vida, mas isso não é real.

O que os mestres ensinaram é que é preciso fugir do sistema humano de vida. O que caracteriza a vivência dentro deste sistema? O haver código de normas que regem os relacionamentos, necessidade e obrigação de determinada forma de agir. Tudo que contiver estas características é humano.

Acontece que antes de comprarem o terreno, aquelas pessoas estabeleceram qual deveria ser a forma padrão de agir: de acordo com os ensinamentos. Com isso criaram um sistema formatado a partir de uma norma e criaram obrigações e necessidades para aqueles que ali iam morar. Ou seja, criaram um subsistema de vida fundamentado em conceitos diferentes, mas ainda subordinados ao sistema humano de vida. Para que eles conseguissem viver fora deste sistema teriam que não normatizar coisa alguma, ou seja, não ter padrões que deveriam ser seguidos. Como o ser humanizado não sabe viver assim, já que a anarquia para ele se transforma num padrão a ser seguido e que gera necessidades e obrigações que espelhem o padrão anarquista, é impossível estabelecer uma vivência dentro do sistema espiritual de vida. Sendo assim, não há linha fina que você possa perceber separando uma coisa da outra, pois neste mundo só há uma coisa: o sistema humano de vida.

Lembre-se do que eu disse: o pensamento é a expressão do sistema humano de vida. Não importa que conceito ele use, está sempre subordinado a um sistema que cria normas, gera obrigações e necessidades.

Eu diria que a mente humana só consegue funcionar a partir das características do sistema humano, por mais que afirme querer se libertar deste sistema. Na verdade, ela só troca as verdades, mas mantém as características do processo humano sempre presente. Lembra-se do movimento hippie? Pois é, ele lutava contra o sistema societário daquele momento. Mas, o que aconteceu com as pessoas que participaram deste movimento? Apegaram-se aos ditames dele e começaram a desarmonizar-se com os que não participavam dele.

Este é o problema dos subsistemas humano de vida. Eles muitas vezes possuem verdades diferentes de outros subsistemas, mas como a mente só funciona a partir da normatização, da geração de obrigações e necessidades, as novas verdades, mesmo que fundamentada em liberdade, acaba tornando-se uma prisão. Com isso, a desarmonia com quem não quer aquele tipo de liberdade é só questão de tempo.

A questão da liberdade, do sentir-se livre para fazer o que quer, para viver como quiser, é algo muito interessante. Isso porque para vocês a liberdade torna-se uma prisão. Vocês se aprisionam a liberdade.

Lembro-me que uma vez quando dizia que o ser humanizado não devia usar calçado se não quisesse, alguém me disse que ele era obrigado a usar porque no seu emprego havia a obrigação disso. Disse a esta pessoa que ele devia se senti tão livre que não era obrigado a não usar o sapato. Vivendo esta liberdade ele poderia ir ao emprego calçado e isso não o incomodaria.

Ser livre não é só praticar aquilo que se quer. Isso é prisão. Quem tem a norma que diz que deve usar a sua liberdade para fazer apenas o que quer, criou uma obrigação e necessidade e com isso se escravizou à norma. Livre é aquele que fazendo ou não o que quer não perde a sua felicidade. Este não possui obrigação ou necessidade de fazer nada e por isso qualquer coisa que faça não interfere na sua felicidade e não o desarmoniza com o mundo.

Aliás, a questão dos subsistemas formados a partir das características do sistema humano de vida é muito importante de ser entendida, já que vocês possuem um subsistema ‘vida religiosa’. Cristo ensinou: meu jugo é leve, ou seja, eu não crio obrigações, necessidades. Mas, vocês lidam com os ensinamentos que os mestres trouxeram como um código de normas que todos precisam seguir e geram a partir deles necessidades e obrigações para si e para os outros. Ou seja, transformam um ensinamento que deve libertar os seres de um rígido sistema normativo numa norma que gera obrigações e necessidades.

Na Carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo afirma: o homem não é aceito pelo cumprimento da lei, mas pela sua fé. Para justificar sua informação cita o caso de Abraão que guiado por Deus estava disposto a matar seu filho único, mesmo isso sendo contra a lei. A fé, a entrega com confiança, supera a subordinação a qualquer código normativo, pois ela é a expressão do amor a Deus acima de todas as coisas.

Portanto, mesmo que um ser aja em desacordo com um código normativo, se ele participar desta ação entregando-se ao Senhor, isto será muito mais útil à elevação espiritual do que aquele que deixa de fazer qualquer coisa porque existe uma norma que diz que aquilo não deve ser feito. A ação do primeiro foi mais importante para a questão da elevação espiritual porque ele viveu a liberdade que todos os seres têm; já o segundo, perdeu neste sentido porque se submeteu a uma obrigação gerada por uma lei.

Voltando a sua pergunta, então, respondo que não há linha que separe os dois sistemas de vida, porque o espiritual não está disponível para ser vivido por vocês, já que só vivem a partir do que a mente cria.

Imperfeições do ser - Textos

Normas para elevar-se

Participante: crer que aquela mulher que me deu a luz não é minha mãe é até simples, mas só de vez em quando. Porque esta dificuldade de vê-la desta forma sempre?

Para você que vive sob a tutela do sistema humano de vida ver a mulher que lhe pariu sempre como um personagem humano e não uma mãe é impossível de acontecer. Mas, mesmo que conseguisse, será que teria conseguido superar o sistema humano de vida? Vamos responder a isso...

Porque você está vendo aquela mulher de uma forma diferente agora? Será que é porque realmente conseguiu ver o lado espiritual dela? Não, está lidando com ela desta forma porque aprendeu em algum lugar que deve fazer isso para atingir a elevação espiritual. Ou seja, está fazendo por conta de uma informação que recebeu e acreditou. Com isso a transformou numa norma e assim deixou de fazer por convicção, mas por obrigação. Esta obrigação lhe cria a necessidade de agir sempre assim. Isso fica bem claro na sua pergunta: porque não consigo viver sempre com ela livre a figura da mãe? Se existe uma verdade, uma obrigação e uma necessidade, será que ao viver com ela sem a figura da mãe está vivendo dentro do sistema espiritual de vida? Claro que não...

Mudar o rótulo que se dá às pessoas de nada adianta. Quem age assim não sai do sistema humano de vida, mas apenas o vive com conceitos formados por palavras diferentes. O trabalho de se libertar das imperfeições não é o de criar novas verdades, pois estas também ainda são tratadas como certas e por isso geram obrigações e necessidades. O que precisa ser feito para a realização deste trabalho é se libertar do certo que gera a obrigação e a necessidade. Isso só pode ser conseguido quando não se vibra dentro essência do que o pensamento diz, ou seja, quando se torna neutro a tudo o que a mente cria.

A única solução para aquele que quer alcançar a elevação espiritual é adotar a seguinte postura com relação àquilo que o pensamento afirma: pode ser, pode não ser. Quando a sua mente der qualquer informação a respeito daquela mulher (mãe ou espírito irmão), responda a ela: pode ser, pode não ser. Somente quando se libertar do ter que tratá-la como mãe ou não ter que tratá-la como tal, viverá com ela em tranqüilidade, harmonizado. Apenas trocando o rótulo que dá a ela, a harmonia não pode ser alcançada, pois como não consegue tratá-la sempre assim, fica intranqüilo por causa da preocupação de como tratá-la e desarmonizado quando não consegue agir dentro da sua nova crença.

O que os mestres ensinaram e eu estou comentando como caminho para a elevação espiritual é muito mais simples do que vocês imaginam. Não se trata de agir dentro de um determinado padrão, mas agindo da forma que agir, não compactuar com o que está acontecendo. Não se trata de ver o branco onde há vermelho, mas quando a sua mente perceber a cor rubra responder: pode ser, pode não ser.

Ao invés de se preocupar em tratar qualquer coisa deste mundo de uma forma diferente, esteja sempre ocupado em não compactuar com o tratamento que dá a estas coisas. A intenção do trabalho de reconhecimento das impurezas não tem o objetivo de fazer o seu pensamento agir dentro da perfeição, mas de tornar você perfeito. Isso é conseguido quando você não dá à imperfeição, o conceito criado pela mente para as coisas deste mundo, o valor de perfeito nem de imperfeito.

Imperfeições do ser - Textos

O sistema humano e as emoções

Participante: e quando você sente o apego por alguém e não consegue se libertar dele?

Ter um apego é ter uma emoção. O que chamamos de emoção são os sentimentos que vocês nutrem pelas coisas do mundo. Não as chamo de sentimentos, porque sentir é uma atividade sem raciocínio e aquilo que vocês imaginam sentir existe a partir de uma razão. Vocês amam, detestam, têm raiva de alguma coisa motivados por uma razão e por isso, o que está sentindo não pode ser chamado de sentimentos. Por este motivo chamo a isso de emoções.

Existem dois tipos de apegos: o mental, aquele que é formado a partir de uma razão, e o seu apego, o que é sentido livre da razão. O primeiro é aquele que é exposto através dos pensamentos que informem a existência do apego; o segundo existe quando você acredita que aquele pensamento é real. O primeiro é a prova do espírito; o segundo é a impureza deste ser. Falo assim, porque ao sentir o segundo, não agiu com neutralidade ao que foi proposto pela mente. Sendo assim, o que precisa ser eliminado por aquele que quer alcançar a elevação espiritual é o segundo e não o primeiro.

Quem tem o apego que é denunciado pelo pensamento não é você, mas sim a personalidade humana que está vivendo nesta etapa da sua existência eterna. Ter este apego, na verdade, não é uma imperfeição, porque ele faz parte do sistema humano de vida. Ou seja, ele é a sua provação. Se não existisse, você não teria a sua provação e com isso não poderia alcançar a elevação espiritual.

A encarnação não é uma vida, mas sim uma etapa da existência eterna do espírito onde ele tem a oportunidade de realizar um trabalho, que se bem realizado, poderá levar à elevação espiritual. Por isso, a personalidade humana que caracteriza a existência de uma encarnação precisa funcionar a partir do sistema humano de vida. Se ele não funcionasse assim, você não teria provas e esta etapa de sua existência, então, não teria sentido de existir.

Quem se ocupa em mudar o que a mente diz sentir, não entende que o que é dito é prova e não realidade. Não é porque sua mente diz que você está apegado a alguma coisa que está. Só estará quando se apegar ao pensamento que afirma existir um apego. Quem compreende isso age no sentido de se libertar do apego ao apego ao invés de agir querendo acabar com ele.

A luta buscando alcançar racionalmente o fim do apego é estar apegado a outra coisa: a informação de que é errado ter apego. Portanto, ela é fundamentada numa imperfeição também. Além disso, é infrutífera, pois se este pensamento é sua prova e se esta precisa existir para que a sua encarnação tenha sentido de existir, o pensamento não pode ser mudado.

Quando a sua mente disser que você está apegado a qualquer coisa, não se apegue a isso. Responda a ela: ‘quem está dizendo isso é você e não eu. Querendo estar, esteja; eu é que não vou me apegar a isso’. Sem se apegar a idéia de estar apegado, não viverá os efeitos do apego: o prazer de estar ao lado daquilo que é possuído e o pesar por não estar. Além disso, estará livre de ter que mudar o que o pensamento está afirmando. Com isso alcançou a harmonia com o seu mundo.

A perfeição, ou seja, conseguir viver harmonicamente com o seu mundo, se consiste em conviver com qualquer coisa que sua mente crie sem pactuar nem lutar contra o que é dito ou sentido pelo pensamento. Sempre que você compactua ou luta contra estas coisas se desarmoniza com o seu mundo, que é aquilo que é criado pela sua razão.

O verdadeiro sábio é aquele que nada sabe. Quem não tem nada que seja sabido não municia o egoísmo, pois não tem nada que precisa ser defendido. Qualquer coisa que seja sabida, ou seja, qualquer informação que seja tratada como verdadeira, servirá como munição ao egoísmo e com isso extinguirá a harmonia. Sendo assim, se você souber que não pode ter apego, o seu egoísmo defenderá este ponto de vista e o desarmonizará com o pensamento que diz que há um apego.

Querer trocar o que está se vivendo, mesmo que existam ensinamentos dos mestres que digam que aquilo não deve ser vivido, é uma imperfeição do espírito. Portanto, viva desapegado do apego informado pelo pensamento ao invés de querer extinguir esta idéia; viva o título mãe que o pensamento confere à uma determinada mulher sem querer lutar contra esta idéia. Portanto, não gere expectativas a partir dos ensinamentos dos mestres.

Quem tem contato com qualquer ensinamento e o transforma num caminho que precisa ser seguido racionalmente gera para si uma expectativa. Ela, por estar ligada ao sistema humano de vida, se transforma numa necessidade que precisa ser atendida. Por isso, serve como causa para a desarmonia coma vida.

Imperfeições do ser - Textos

Subprodutos do sistema humano

Sabe por que você se chateia quando liga um aparelho eletrônico e ele não funciona? Por causa da sua subordinação ao sistema humano de vida. Se por diversas vezes você apertou o botão e o aparelho funcionou, o sistema humano de vida, que transforma em norma aquilo que acontece repetitivamente, gera a expectativa que toda vez que o botão for apertado o aparelho funcionará. É a expectativa que não foi atendida naquele momento que o levou a desarmonia com o não funcionamento do aparelho. Se não houvesse expectativa, quando ele extinguisse o seu ciclo de funcionamento, você não se desarmonizaria.

O que lhe faz se chatear não é o fato do aparelho funcionar ou não, mas sim a vivência do hábito de que a resposta ao aperto do botão é sempre o funcionamento do aparelho. Este é outro aspecto da subordinação ao sistema humano de vida que leva o ser humanizado a se desarmonizar, ou seja, ser imperfeito: o hábito...

Buda ensinou que todas as coisas deste mundo são impermanente, ou seja, possui a característica de se alterar. Aquilo que acontece hoje, amanhã ocorrerá de forma diferente. Sendo assim, quando você acredita num hábito, ou seja, numa forma única de reagir a determinados acontecimentos, quando não fizer irá se decepcionar consigo mesmo.

Decepção: outro subproduto do sistema humano de vida. Decepcionar-se consigo mesmo ou com qualquer coisa é o resultado do egoísmo, ou seja, da defesa dos seus interesses. Quem transforma os ensinamentos dos mestres em certo e gera a obrigação e necessidade de viver racionalmente a partir deles, transformou estes ensinamentos num interesse seu. Por isso o egoísmo agirá na defesa da prática constante deles. Mas, por causa da impermanência das coisas, isso é impossível de acontecer. Sendo assim, transformar a prática dos ensinamentos dos mestres de forma racional numa obrigação leva à desarmonia, ao fim da vivência da felicidade que Deus tem prometido e o afastamento Dele.

Expectativas, hábito, decepção... Veja quantas coisas passam a existir e lhes leva a não conseguirem se harmonizar com o seu mundo a partir da convivência com este subordinada ao sistema humano de vida. Elas são, portanto, fatores de desarmonia que acontecem sempre a quem é imperfeito no tocante ao sistema que utilizará para a vivência da sua existência.

O alcançar a perfeição durante um período de provações não se consiste em agir racionalmente de acordo com os ensinamentos dos mestres, mas sim atingir a harmonia com os conceitos que existem no sistema humano que está sendo vivenciado nesta encarnação. Portanto, a perfeição é alcançada pelo espírito quando, mesmo sendo humano (vivendo os conceitos subordinados ao sistema humano de vida), ele vive em harmonia com esta humanidade, não importando se ela está recheada por verdades que espelhem o certo ou o errado.

Por isso afirmo que tratando uma mulher como mãe ou não, estando apegado ou não a qualquer coisa, funcionando ou não o aparelho quando você apertar o botão, viver harmonizado com o que está acontecendo, com neutralidade àquilo que a mente fala.

Imperfeições do ser - Textos

É tudo entre você e a mente

Participante: mas os apegos direcionados a mim geram expectativas nos outros. Se não atendê-las gero discórdias...

Quem criou esta idéia? Um pensamento... Qual deve ser a sua forma de reagir a ela para realizar a reforma íntima? Pode ser, pode não ser. Portanto, a crença que esta afirmação é verdadeira ainda é uma impureza...

Saiba de uma coisa: o apego apenas pode gerar uma expectativa de discórdia. Não é certo que ele vá gerar. Por isso não acredite neste pensamento... Agora, se gerar, como você deve se portar? Deve pensar: ‘é, ele gerou’... Mas, se ele não gerar, como deve viver este momento? Dizendo a si mesmo: ‘é, ele não gerou’...

Veja bem: quem está criando e vivendo as expectativas é você. Quem está criando os acontecimentos da vida é você... Porque está fazendo isso? Porque está acreditando no que a mente diz, ou seja, acreditando que o apego direcionado a você gera expectativas e que se não atendê-los haverá discórdia.

O trabalho da reforma íntima não tem nada a ver com os outros nem com o que é vivido a cada momento, mas apenas com você e seu pensamento. Portanto, ao invés de se preocupar com a ação de outras pessoas, com o que está acontecendo ou com o que pode acontecer em momentos futuros, concentre-se apenas no que está pensando a cada momento. Assim consegue se harmonizar com a vida...

Mas, deixe-me aproveitar a sua pergunta e falar de uma coisa interessante: a discórdia. Vocês humanos têm um dito popular muito interessante a este respeito: quando um não quer, dois não brigam. Pois é, se você não receber o que a outra pessoa fala como algo que gere discórdia, jamais viverá isso.

Nenhum efeito do pensamento acontece por conta do que os outros fazem, mas sim porque há uma afirmação criando a sua realidade. Se você não aceitar o valor de discórdia para o que o outro falar, jamais haverá discórdia.

Viver assim não é fugir da realidade. Isso porque, na verdade, é o seu pensamento que está discordando daquela pessoa. É ele que está dizendo que não concorda com o ponto de vista da pessoa que é diferente do seu. Porque ele age assim? Porque, movido pelo egoísmo, quer que a outra pessoa aceite os conceitos que ele possui...

Veja bem: a discórdia que o seu pensamento diz existir no que a outra pessoa falou só aconteceu porque o que ela disse foi diferente dos conceitos que existem em você. Ou seja, a idéia de que houve uma discórdia só foi possível por conta do egoísmo que existe em você, da sua subordinação ao sistema humano de vida que diz que existe o certo a ser dito e que este é o que você acha que é. Da parte da outra pessoa não houve discórdia, mas apenas exposição dos conceitos dela. A idéia de ela ter discordado nasceu dentro de você porque defendeu as suas verdades. Se você não defendesse, o que aconteceria? Ela falaria o que quisesse e você não sentiria uma discórdia naquele momento. Sendo assim, quem está discordando de quem? Acho que é você dela e não ela de você, não é mesmo?

A vida é vivida por aquele que quer buscar a elevação espiritual sempre no relacionamento entre ele e o seu pensamento e nunca com as demais coisas do mundo. Quando a outra pessoa falar de uma forma que expresse uma aparente discordância de seus conceitos, ao invés de acreditar nos valores que a mente confere àquela pessoa, trabalhe o seu relacionamento com o que é pensado. Ao invés de acreditar na idéia gerada pelo pensamento que diz que ela está discordando de você, torne-se neutro com relação ao que a mente está falando, ou seja, não aceite o que o outro diz como um ataque às suas idéias. Para fazer isso deixe de ouvir e comece apenas a escutar.

Escutar é deixar o som penetrar por um ouvido; ouvir é acreditar na análise que a mente faz sobre o que foi dito por outras pessoas. O problema é que você sempre quer agir, ou seja, quer reagir ao que o outro está fazendo. Para aquele que busca a elevação espiritual a única ação que leva a algum lugar é aquela que é realizada no relacionamento com a mente e não com os outros. A única reação que serve como caminho para a reforma íntima é aquela que é executada com relação ao que o pensamento está dizendo. Por isto, este ser humanizado concentra-se apenas em escutar o que é dito pela mente, ao invés de escutar o que o outro diz, e em reagir à propositura mental e não ao que está acontecendo externamente.

Isto você pode fazer, mas nunca através de um processo racional, ou seja, nunca terá pensamentos que lhe alerte para que ouça apenas o que é dito pela mente. Por quê? Porque a mente é expressão do sistema humano de vida. Por este motivo, ela está presa na busca de um saber, de uma compreensão.

A função da mente é gerar novas verdades, novos conceitos. Por isso, sempre que algum som penetra pelo ouvido ela precisa analisá-lo e gerar conclusões. Estas conclusões transformam-se em novos conceitos que servirão no futuro para análise de novas coisas que serão ouvidas.

Repare numa coisa: quando a mente conceitua uma pessoa, ela sempre usa esta informação para analisar o que esta fará futuramente. Quando é criado o rótulo de discordante para alguém, mesmo que no futuro esta pessoa venha a concordar com você, esta concordância será posta em cheque. Isso porque o rótulo que foi aplicado antes será usado para conceituá-la neste momento. Chamamos a esta utilização de conceitos formados anteriormente de pré-conceito.

 Quando você aceita um pré-conceito, a mente arquiva na memória a informação que aceitou isso. Neste momento ela se armou para mais tarde usar o egoísmo através das características do sistema humano de vida (normas, obrigações e necessidades) para acabar com a neutralidade. Se a mente pré-conceituou alguém como amigo, por exemplo, elogiará suas atitudes; pré-conceituando como discordante, tratará o que ela diz sempre como um ataque aos seus conceitos. Você, que não se lembra da criação da formação do pré-conceito e que acreditou na avaliação daquela pessoa, então, não terá como fugir da ação da mente. Ou seja, viverá o prazer ou a discordância que se seguirá ao que a mente afirmar.

Portanto, se quer conviver harmonicamente com a sua vida, no momento em que a mente disser que aquela pessoa está discordando de você não acredite nisso. Se o fizer, além de viver este momento em dissonância com a vida, transformará esta afirmação em uma arma que será usada futuramente para ferir a sua harmonia.

Imperfeições do ser - Textos

A prova do espírito

Não acredite em nada do que a mente disser. Sempre responda ao que lhe viver à mente: pode ser, pode não ser. A resposta é sempre essa... Com isso estará harmonizado com o seu pensamento, com a sua vida.

Esta questão de harmonização é interessante, pois como o ser humanizado acha que existe apenas um mundo externo e não interno, acha que a harmonia tem que ser alcançada no relacionamento com o próximo. Este mundo interno ao que estamos nos referindo, o mundo mental, o ser humanizado diz ser ele próprio, mas isso não é real. Ele é um elemento diferente do espírito. Chamamos a este elemento de ego...

O ego é o mundo das idéias que existe para que o ser universal possa ter a sua provação quando encarnado. Eu diria que ele é o tentador, o diabo bíblico. A sua função é criar a vida que servirá como provação ao espírito.

Quando por exemplo a mente cria a idéia de que alguém está contrariando você, ela está criando a sua vida, está criando um determinado momento de sua existência. Para gerar isso, cria a pessoa que está falando e as palavras que você imagina estar escutando. Além disso, dá um valor àquela pessoa que criou e as palavras que fazem parte do que é ouvido, também foram criação dela. Ou seja, ela cria um momento com tudo o que está dentro dele.

Esta criação nada tem a ver com a realidade, mas apenas com o gênero de provação do espírito. Digamos que um ser universal tenha pedido como gênero de provação desta encarnação a luta contra o saber, o achar que detém as verdades, que conhece o certo. O ego deste ser, então, será um formador de verdades, ou seja, terá a tendência a achar que aquele ser humanizado possui uma sabedoria muito grande das coisas e criará pessoas que fará dizer coisas que antagonizem a estes conhecimentos. Pronto, está formada a prova do espírito...

Ele que antes da encarnação reconheceu no mundo espiritual que continha a impureza de se achar dono da verdade e que por isso pediu para provar que aprendeu isto, terá, então, a oportunidade de demonstrar o seu aprendizado. Como fará isso? Não aceitando a idéia de que o que ele sabe é certo e que o outro quer atacar esta sabedoria. Deixando de se compactuar com que o ego diz, vence a tentação e prova que realmente aprendeu.

É por isto que estou falando diversas vezes que a harmonização não se consiste em harmonizar-se com o outro, ou seja, ter uma compreensão racional que espelhe uma aceitação pelo que é dito pelo outro. Quem consegue realizar a contento a sua provação é aquele espírito que tendo um processo mental (o tentador) que afirma que houve uma discordância, não compactua com isso.

Quem faz isso não se harmoniza com o que é dito pelo outro, mas sim com o direito do outro discordar dele. Isso é a expressão do amor a Deus acima de todas as coisas – no caso, acima da sua sabedoria – e ao próximo como a si mesmo, já que deu a ele aquilo que quer para si: o direito de escolher no que quer acreditar.

Dizer que tudo que é pensado pode ser ou não daquela forma é a única ação que um espírito pode realizar quando encarnado. Quem pratica esta ação, mesmo vivendo submetido a um ego que trabalhe subordinado a um processo humano de vida, não vive humanamente. Este continua vivendo como um ser humano, mas não está mais humanizado.

Saibam de uma coisa: não existe diferença entre a vida humana e a espiritual. Ela se consiste apenas na forma de viver, ou seja, a diferença se consiste apenas em viver os acontecimentos subordinado a um sistema humano ou espiritual de vida.

Há muito tempo atrás disse que tudo o que existe no mundo humano também há no espiritual. Por exemplo: lá também existe a união de dois seres. A diferença é que aqui esta união é tratada como casamento e por isso precisa ser vivenciada subordinada a normas e gerando obrigações e necessidades. No mundo espiritual, esta união é vivida de outra forma. No mundo espiritual existe natureza, mas os espíritos se relacionam com ela sem serem governados por normas e nem geram obrigações ou necessidades.

Não há diferença entre os dois mundos: o que existe é a diferença entre a forma de se conviver com estas coisas. A partir desta informação e por conta da busca incessante de vocês de saber as coisas, me perguntariam, então: como é que são estas coisas lá? Eu teria que respondê-los citando o Espírito da Verdade: falta-lhes um sentido para compreender como são as coisas universais...

 Portanto, vocês não podem compreender como são as coisas no mundo dos espíritos, mas podem saber que elas não são iguais a forma como vivem com estes elementos aqui. Por isso, deixe de viver os acontecimentos humanos como a mente diz que devem viver apenas e não busquem entender o que existe no mundo espiritual. Se fizerem isso, estarão apenas trocando um conceito pelo outro, mas ainda estarão subordinados ao sistema humano de vida.

Imperfeições do ser - Textos

O mundo é um conceito

Participante: tentar apagar tudo o que tem ao invés de inventar novas verdades, conviver com a idéia do nada e do fim das coisas: este é o caminho da paz?

Não.

Por favor, olhe para frente. Não importa o que esteja vendo, o que está sendo percebido depende da existência de conceitos para existir. Se não os tiver, não terá nada para viver...

A própria ciência humana fala que no mundo externo existem energias que são captadas pelo olho e conduzidas até ao cérebro. Aí nasce a imagem do que está sendo percebido. Como se forma a imagem de uma ou outra coisa? Por causa dos conceitos que existem em sua mente. Se você os apagar não terá como criar imagens de nada...

Mais um aspecto que me leva a dizer que o caminho não é o que você me perguntou. Quem é você? O somatório de tudo que pensa que é. Ou seja, você é o que os seus conceitos dizem que você é. Se não os tiver, você não existirá...

Vocês imaginam que são seres que pensam, mas isso está errado: vocês são o resultado de um pensamento. Vocês só existem porque há um pensamento que afirma isso. Se ele não existisse, vocês não existiriam.

Você não existe como você mesmo, mas é o resultado da ação dos seus conceitos. Sabe porque se considera homem ou mulher? Porque existe um pensamento formado a partir dos conceitos que distinguem um e outro sexo. Se estes conceitos não existissem, você seria assexuado. Portanto, não dá apagar todos os conceitos que existem em sua mente, pois senão seria um nada e o nada não existe.

O processo de reforma íntima não se trata de mudar o que tem nem o de apagar o que existe. Mas, mesmo que quisesse fazer isso não conseguiria, pois o que está na sua mente lhe é dado externamente. Lembra-se que o Espírito da Verdade ensinou que os pensamentos são dados aos seres humanos pelos espíritos fora da carne:

“459 Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem”. (O Livro dos Espíritos)

Todas as suas idéias são construídas por espíritos fora da carne a mando de Deus para que a provação do espírito aconteça sempre. Isso fica bem claro para nós quando analisamos as respostas do Espírito da Verdade, assim como ficou claro para Kardec:

“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se excuta com o concurso deles”.

“Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio”. (O Livro dos Espíritos, comentário de Kardec à pergunta 525a)

É por isso que você não pode deixar de conviver com os conceitos que convive: o máximo que pode fazer é ao recebê-los tornar sem valor o que é dito por eles. A única interferência que tem com relação aos seus pensamentos é no seu relacionamento com o pensamento. Pode relacionar-se com ele achando que está certo, que é justo, que é elevado, neste caso usou o seu egoísmo para defender a sua materialidade, ou relacionar-se sem conviver com os valores que ele expõe, neste caso priorizou a sua espiritualidade.

Este é o processo de harmonização que faz o ser viver a felicidade que Deus tem prometido. Isso porque a harmonização necessária não é aquela que é realizada com as outras pessoas, com as coisas que acontecem ou com os objetos, mas sim com o seu pensamento. É estar na neutralidade com relação ao que o pensamento está expressando. Quem se harmoniza não é aquele que compactua ou luta contra o pensamento, mas sim aquele que alcança a neutralidade, não importando o que o pensamento fala.

Esta neutralidade se consiste em reagir ao que é pensado da forma que já falamos: pode ser, pode não ser. Não importa o que esteja estampado no pensamento, ao invés de querer modificá-lo ou negá-lo, apenas diga: ‘não sei se é isso que o pensamento está dizendo’...

Portanto, esqueça a questão de apagar seus conceitos, de mudá-los, de torná-los mais espiritualizados: concentre-se apenas em manter-se neutro com relação ao que ele afirma. Todas as ações suas com relação a negar, apagar ou compactuar com o que é dito é ação do seu egoísmo defendendo seus interesses ou criando novos subsistemas humanos, para poder defendê-los posteriormente. Saiba de uma coisa: não importa o teor do pensamento: ele sempre está subordinado a um sistema humano de vida.

Não se preocupe com a sua vida, com os acontecimentos, objetos e pessoas com o qual convive: concentre-se nos seus pensamentos. Aliás, se a sua vida é o que você pensa que é, quando se concentra neles, está concentrado na vida. Se todos os mestres ensinaram que você precisa se harmonizar com as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) da sua vida e se elas são aquilo que você pensa, o seu trabalho, portanto, deve ser voltado ao pensamento que cria o que você precisa se relacionar. Esta harmonia se consiste em não vibrar dentro do que o pensamento contém.

Já que estamos abordando o trabalho como deve ser realizado, deixe-me comentar uma coisa. Reparem que eu ainda não falei em agir: falar, praticar uma determinada atividade, responder ao acontecimento com esta ou aquela ação. Se, como disse o Espírito da Verdade, suas ações são comandas externamente, o trabalho de reforma íntima não pode passar por padronização de ações, não pode incluir o agir desta ou daquela forma. É por isso que não toquei na questão de agir desta ou daquela forma.

Dentro da vivência dos acontecimentos do mundo, por exemplo, pode o seu pensamento criar a idéia de que existe uma sujeira e você, como buscador da elevação espiritual, agir para neutralizar-se com relação a esta propositura. Mesmo fazendo isso, se o outro ser humanizado com o qual está se relacionando precisar para a sua provação que você discuta com ele verbalmente esta questão, você verbalizará a sua discordância. A intensidade com o qual fará isso (serenamente ou gritando) também não depende de você, mas do que o outro precisa como prova.

Vocês não comandam o que fazem para os outros. Lembram-se dos objetivos da encarnação?

“Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 132)

Vocês não podem deixar de fazer o que o outro precisa. Por isso, mesmo que aja fisicamente de uma forma que não expresse a sua neutralidade com o seu pensamento, não se preocupe: o que fez é aquilo que o outro precisava como instrumento da sua provação. Sendo assim, agir daquela forma é sua parte na obra da criação e, por isso, esta ação jamais deixará de acontecer, mesmo que tenha conseguido neutralizar aquilo que o pensamento expôs.

Além do mais, na hora que viu a sujeira houve um presente onde teria que haver o trabalho que foi realizado; na hora que falar, haverá um novo presente. Depois haverá um novo, quando a mente lhe cobrará que você respondeu àquela ação de forma diferente do que seria esperado. Este é outro presente onde se harmonizar: ‘respondi, e daí?’. A cada momento da sua vida deve buscar neutralizar os efeitos do pensamento dentro de si.

Portanto, o trabalho da harmonização necessária para a elevação espiritual só pode ser realizado existindo conceitos e por isso não há a solução de apagá-los e modificá-los. Este trabalho deve ser feito a cada presente que se vive, a cada pensamento que surge, independente da forma como se age fisicamente. E não deve se esperar que ele vá trazer determinados resultados, ou seja, vá fazer com que haja desta ou daquela forma.

Participante: harmonizar com o Universo é desarmonizar o meu pensamento?

Harmonizar com o Universo não é sobre o pensamento de qualquer forma, mas não vibrar dentro do que ele afirma. Ou seja, é atingir um grau de neutralidade àquilo que a mente diz que está acontecendo, como você deve se sentir, o que deve compreender a cada acontecimento. Quem se harmoniza com o seu pensamento é aquele que não acredita nas proposições mentais.

Participante: se o pensamento não vier em palavras, mas sim em imagens, como se relacionar com ele?

Para lhe responder, faço antes uma pergunta: já houve cinema mudo? Com certeza vocês vão me dizer que sim, mas isso não é real. Mesmo quando um filme não tinha palavras, o desenrolar das cenas lhe dava uma compreensão do que estava acontecendo. Por isso lhe digo que apesar de não ter som, os filmes nunca foram sem palavras, pois a compreensão que eles continham criavam em você as palavras.

Isso também se aplica à questão que você levantou. Se o seu pensamento vem través de imagens, isso não quer dizer que ele não contenha palavras. Ao observar as imagens que são criadas por ele, você pode chegar a uma idéia do que ele está dizendo. E isso é o fundamental para o trabalho da harmonia com a vida.

Para que você se harmonize com os seus pensamentos precisa se tornar neutro com relação ao enredo do pensamento e não às palavras que ele contenha. Você precisa se tornar neutro com relação à paternidade, a idéia sugeria pela palavra pai, e não a este vocábulo especificamente.

A neutralidade que caracteriza a vivência da felicidade que deus tem prometido não é alcançada com relação às palavras que o pensamento expõe, mas as idéias, ao enredo da história que o pensamento conta.

Imperfeições do ser - Textos

A harmonia e a felicidade

Estamos conversando agora sobre a harmonia com o Universo, mas anteriormente já falamos sobre a busca da felicidade. Como felicidade e harmonia são sinônimos, muitos de vocês podem estar pensando que vamos repetir o mesmo estudo anterior, mas isso não é real.

Quando fizemos o estudo sobre a felicidade, me recordo que abordamos acontecimentos da vida. Por exemplo, em determinado momento lá vimos como deve se portar aquele que está sem emprego. Dissemos que para ser feliz a pessoa que está desempregada deve harmonizar-se com a falta dele. Apesar de saber que alguns tentaram isso, sei que poucos conseguiram. Por quê? Porque há uma coisa que se não combatida não deixa o ser humanizado se harmonizar com a falta de emprego. Hoje posso dizer que coisa é essa: é a submissão ao sistema humano de vida.

É difícil, quase impossível, para um ser humanizado viver sem emprego se ele, por exemplo, tiver uma família para sustentar. As normas da vivência desta situação oriundas de um sistema humano de vida, dirão que ele colocou os filhos no mundo e agora tem a obrigação de sustentá-los, que ele não pode deixar de dar aos seus filhos aquilo que eles precisam. Compactuando com estas idéias, como é possível se harmonizar com a situação de desemprego?

Por isso a importância deste estudo. Na verdade, um complementa o outro. No primeiro falamos de postura que precisa ser alcançada, neste estamos falando do que precisa ser vencido para que se consiga adotar aquela postura.

Continuo afirmando que quem busca a elevação espiritual precisa se harmonizar com o seu desemprego, mas agora estou complementando dizendo que quem quiser se harmonizar com esta situação de vida terá que se libertar também do sistema de vida. Terá que entender que o pensamento que cobra a existência de um emprego existe apenas porque você se considera um ser humano, porque se submete às normas humanas de vida, porque acredita nas necessidades e obrigações geradas através dos pensamentos.

No trabalho da busca da felicidade, portanto, falamos da ação de harmonização e agora vamos conversar sobre o que não lhe deixa praticar a ação de se harmonizar.

Imperfeições do ser - Textos

O poder

Vamos conversar, então, sobre outra imperfeição da qual o espírito precisa provar que está livre durante a encarnação: o poder.

Ao abordar o tema sistema humano de vida, falei que imperfeições são todas aquelas coisas que não deixam o espírito atingir a perfeição. O que quis dizer com isso? Se a perfeição se consiste na vivência da felicidade pura e eterna, a imperfeição deve levar o espírito a viver uma felicidade que seja impura e fugaz.

A felicidade impura e fugaz é o prazer. Ele é assim porque é dependente de elementos para existir. O prazer é um tipo de felicidade que surge quando aquilo que se espera que aconteça ou que se acha certo ocorrer, acontece. Ele é impuro porque esta dependência cria obrigações para si e para os outros; é fugaz porque dura apenas enquanto a vontade do ser humanizado está sendo satisfeita. Este é o caso do poder. Quem consegue deter o poder apenas vivencia uma felicidade impura e fugaz, ou seja, o estado de espírito de paz e harmonia com o mundo dura apenas enquanto o ser consegue que os outros façam aquilo que ele quer.

Além do mais, o poder que o ser humanizado consegue alcançar em momentos da vida é uma impureza porque ele nutre o egoísmo e assim acaba com o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, os mandamentos deixados por Cristo como caminho para se aproximar de Deus. Quem detém o poder não ama o próximo porque quer que o outro faça o que ele manda; não ama a Deus acima de todas as coisas, mas sim prioritariamente a si mesmo, pois depende do acontecer o que ele deseja para ser feliz. Com esta forma de agir, o ser está vivendo o egoísmo, pois está protegendo o seu patrimônio (suas verdades) face às verdades dos outros.

É por estes motivos (por levar ao prazer e servir ao egoísmo) que o poder é uma impureza e por isso Cristo ensinou através do Evangelho de Tomé:

“... maldito o homem que for comido pelo leão, pois que o leão tornar-se-á homem” (Logia 007).

O leão é o rei da selva, aquele que detém o poder. Usando desta figura Cristo ensina que o ser humanizado que se deixar ser dirigido pela busca do poder é maldito. Este ensinamento é mais um motivo que mostra que o poder é algo que deve ser combatido por aquele que quer ser bendito, que quer alcançar a perfeição nesta encarnação.

Imperfeições do ser - Textos

Os poderes constituídos

Quando falo de buscar o poder, vocês devem estar imaginando que estou falando em buscar um cargo que traga consigo o poder sobre os outros. Não é disso que estou falando. O poder que estou abordando nesta conversa não é explícito, mas sim subjetivo.

Com relação ao poder constituído, não podemos dizer que ele é uma impureza, pois o apóstolo Paulo nos ensinou:

“Porque não existe nenhuma autoridade sem a permissão de Deus e as que existem foram colocadas por Ele”. (Romanos, 13, 1)

Sendo o Pai quem coloca alguém em um cargo que confira autoridade, tê-lo não pode ser uma impureza, não é mesmo?

Portanto, nesta nossa conversa, não vamos abordar os poderes constituídos, pois eles não são uma impureza, e sim o poder subjetivo.

Imperfeições do ser - Textos

Poder subjetivo

O poder que se consiste numa impureza é aquele que veladamente leva a um ser humanizado a imaginar que ilusoriamente tem o controle sobre a situação que está ocorrendo. É aquele que se fundamenta na idéia que um determinado ser humanizado está acima dos outros e que por isso tenha o direito de controlar o que os outros fazem ou pensam. Quem se imagina melhor ou que sabe mais do que os outros confere a si mesmo um poder e de posse dele se imagina capaz de controlar uma situação.

Quem imagina que detém este poder exige que os outros acreditem no que ele acredita e que façam aquilo que ele acha certo. É este poder, que aparece veladamente nos pensamentos gerados pela mente humana. Ele fundamenta-se na idéia de que aquele ser humanizado sabe o certo das coisas. Por imaginar-se detentor da verdade absoluta, o ser humanizado quer mudar o que o outro pensa.

Todos os pensamentos humanos expressam uma pretensa capacidade de decidir o que vai acontecer, de definir o que cada um deve fazer durante aquele acontecimento, o que é certo ser realizado e ainda como devem interpretar e acreditar os outros durante os acontecimentos da vida. Este é o poder que estou falando.

Este poder é gerado pela crença de que as verdades que a mente possui a respeito dos elementos do mundo são absolutas, ou seja, certas. Por causa desta crença ela quer submeter os outros àquilo que deseja que aconteça. Se não conferisse a si mesmo este poder, mesmo crendo em suas próprias verdades, pouco importaria o que o outro fizesse, ela poderia amá-los incondicionalmente e assim viver a felicidade que Deus tem prometido. Como se imagina poderosa e acha que detém a verdade absoluta, movida pelo egoísmo quer submeter os outros à sua vontade.

Este é o poder que compactuado pelo espírito se transforma numa impureza, pois não é a expressão do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ele é uma expressão do egoísmo, do amor a si acima de qualquer coisa.

Imperfeições do ser - Textos

Politicamente correto

Achar que sabe o que certo de se saber ou crer é o instrumento que a mente usa para poder exercer o poder em cada momento de uma existência e de posse dele obrigar que os outros façam aquilo que ela quer. Visto desta forma, o poder do ser humanizado é algo grosseiro, ofensivo, que fere os outros, por isso não é aceito por estes seres como uma ação que sirva à elevação espiritual. Para não perder este poder que ela necessita para ver seus conceitos vencerem os dos outros, a mente cria hipocrisias a respeito da sua postura frente aos acontecimentos.

Estas hipocrisias são discursos aceitos pela humanidade como atitudes politicamente corretas que servem como disfarce para o exercício do poder que dá vazão ao egoísmo. Por exemplo: usar os outros para fazer aquilo que acha bom para si é algo que os humanos não aceitam, mas exigir que um filho faça um curso superior que o pai ou a mãe não conseguiram fazer é politicamente correto.

Sob a capa hipócrita de estar fazendo o melhor para seu filho, o pai ou a mãe se acham no direito de exigir que seu filho busque a formação naquilo que eles não conseguiram ou que já se formaram. Dizem que agem assim pensando no filho, mas na verdade estão apenas buscando realizarem-se através de ele ou obrigando-o a fazer o que eles acham bom ou certo. Isso é egoísmo, pois a intenção maior não é educar o filho, mas sim satisfazer a si próprio. No entanto, recoberto pela capa do amor maternal ou paternal é considerado como algo positivo para o filho pela humanidade e pelo próprio ser. Mas, será mesmo?

Quantas pessoas vivem frustradas com suas profissões porque foram seguir os conselhos de pai e mãe sobre o futuro? Quantas pessoas viveriam muito mais felizes se tivessem se formado em coisas que concederiam menos status ou dinheiro, mas que gostassem de fazer?

Portanto, a mente está sempre vivendo o egoísmo, mas para fugir à crítica da sociedade e transformar suas ações egoístas em politicamente corretas, cria idéia hipócritas que justificam suas ações. É sobre estas idéias que ela sustenta o seu suposto poder. Vamos conhecer os instrumentos que ela usa para isso.

Imperfeições do ser - Textos

Códigos humanos

O primeiro instrumento usado pela mente para tornar politicamente correto o poder que supõe exercer sobre os outros são os códigos humanos: o de ética, de beleza, de moral, de boa educação, etc.

A mente cria diversas normas reguladoras de atitudes durante uma ação que servirão para que ela tome o poder, ou seja, possa determinar o que é certo ou errado de ser feito. Se, alguém, por exemplo, ao comer segura o garfo de uma forma não convencional, a mente se acha no direito de recriminar o que aquela pessoa está fazendo. Para isso cita o código de boas maneiras. Se alguém usa uma determinada combinação de cores nas roupas ou um corte de determinada forma que o ser humanizado não goste, ele tem o código de moda para dizer que o que o outro está vestindo está errado.

Esta atitude é considerada normal e é politicamente aceita pelos seres humanizados. Mais: eles consideram isso um uma demonstração de carinho e atenção com quem está agindo fora do código. Engano: isso é um julgamento e um ato altamente egoísta...

Julgar alguém consiste em analisar algum procedimento e emitir uma sentença a respeito dele. Pouco importa o que esteja sendo analisado, quando alguém emite um parecer sobre alguma coisa está dando uma sentença. Nos exemplos que citamos, a sentença decretada pelo julgamento é o ‘está errado’. Portanto, quem analisou a forma de se alimentar de uma pessoa ou a roupa de outra julgou. Se este ser humanizado é espiritualista ou cristão, foi contra o ensinamento de Cristo, pois este, quando ensinou que não devemos julgar, não deixou brecha para nenhuma possibilidade de se agir assim. Pelo contrário, ele ensinou:

“Quem disser ao seu irmão que ele não vale nada, será julgado pelo tribunal. E quem chamar o seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno”. (Mateus, 5, 22)

Não importa que sentença se confira, seja a pensa de morte ou a crítica mais corriqueira e simples, tudo que for resultado de uma análise será considerado como elemento que não deixa o ser elevar-se.

Isso é fácil de ver, mas como disse, a mente cria hipocrisias para justificar a sua ação. Neste caso ela afirma que aquilo não é um julgamento nem uma crítica: trata-se apenas de uma opinião que surge fruto de uma observação. Mais: reclama para si o direito de ter opiniões sobre os outros...

Tudo isso é apenas conceitos politicamente corretos que a mente usa para justificar a sua busca do poder para nutrir o egoísmo. A opinião que cada um tem a respeito dos outros nada mais é do que o julgamento deste através do código de normas que cada um possui e que não é universal. É o exercício do poder pela mente para proteger suas próprias crenças.

Quem disse que existe uma forma certa ou errada de se segurar o garfo? Algum mestre ensinou que comer de um determinado jeito é certo? Quem disse que roupa tem corte padrão e cores que combinam melhor? Tudo isso é dito apenas pelas normas humanas e quem se submete a ela vive humanamente. Como já vimos, o sistema humano de vida, ou seja, a submissão ás normas, é uma impureza para o espírito. Portanto, quem usa o código de boas maneiras ou o de moda para julgar o que os outros fazem está se sujando mais.

Imperfeições do ser - Textos

O código de normas é individual

Frente ao que eu disse sobre os códigos de normas humanos certamente vão me dizer: ‘a culpa é da humanidade e não minha, pois foi ela que criou estes códigos’. Isso é mais uma justificativa que a mente cria para poder usá-los como instrumento da sua busca do poder.

Repare numa coisa: ninguém aceita todos os códigos na íntegra. Também não aceita o código com os mesmos valores que os outros. Há sempre pontos de um determinado código humano que a mente acata ou interpreta de uma forma e outros que ela diz que são besteiras e por isso não os usa. Estes códigos, portanto são individuais e não coletivos e por isso a culpa da existência deles não é da sociedade humana, mas sim de cada ser humanizado.

Cada item de qualquer código humano é formado a partir de conceitos. A forma de se alimentar, o corte da roupa, a combinação de cores do que se está vestindo: todos estes artigos dos códigos humanos são formados por idéias. Estes conceitos ou verdades são individualizados por cada ser humanizado de acordo com suas outras crenças ou gostos.

A combinação de cores verdes e amarelas, por exemplo, está no código de alguns como bonita e em outros como feia. São idéias particulares à respeito desta combinação. Por isso o culpado pela existência do código não pode ser a sociedade humana como um todo, mas cada um que o utiliza.

Por isso os itens dos códigos reguladores que cada ser humanizado acredita não são certos, mas apenas instrumentos avalistas do poder que a mente quer ter para satisfazer o egoísmo. Eles são instrumentos para que a mente possa controlar cada momento dominando os demais seres humanizados, os instrumentos para proteger o seu interesse.

Se todos os seres humanizados aceitassem na totalidade um determinado código, eu não falaria nada, pois pode ser que aquela seja uma verdade universal que não conheça. Mas como vocês só aceitam deles o que querem deles ou os aplicam com valores diferentes, não os posso classificar de outra forma. Acreditar em apenas o que quer: é esta forma de proceder da mente que não me deixa qualificar os códigos humanos como balizadores do certo e errado, mas simples instrumentos para serem usados como armamento para obter o poder e assim possa controlar a situação e levar o outro à submissão do que a mente quer. É também pelo mesmo motivo que não coloco a responsabilidade pela existência dele na humanidade como um todo, mas sim em cada um individualmente.

Imperfeições do ser - Textos

Acabando com o politicamente correto

Esta conclusão que chegamos vale para qualquer código humano ou para qualquer dos seus itens. Como vocês dizem com relação ao cigarro, não existem níveis aceitáveis de exigência de cumprimento de normas reguladoras. Não importa o que ele está regulando, nada serve como justificativa para esta ação.

Comer de boca aberta, por exemplo, não é falta de educação; só é assim para quem acha errada esta forma de mastigar. Não existe nenhuma justificativa, por mais que ela seja amplamente aceita pela humanidade que justifique dizer que exista uma forma certa de se mastigar. Isso porque todo código é formado a partir de valores individuais e não coletivos.

Lembro-me numa ocasião onde havia pessoas tomando bebias alcoólicas durante nossa conversa. Beber durante a realização de um trabalho espiritual não é uma atitude aceita pela maioria dos seres humanizados. Por isso perguntei: quem autorizou bebida aqui? As pessoas estavam imaginando que estava usando desta codificação para julgar ou acusar alguém de estar praticando algo errado, mas minha intenção era outra.

Como ninguém respondia à minha pergunta, eu disse: quem queria beber. Com isso mostrei que a autorização ou não para alguma ação é sempre dada por um ser humanizado subordinado àquilo que ele acha certo e esta atitude independe da aceitação do código que normatize a ação.

Quem gosta e quer beber vai sempre usar uma regra que o autorize a fazer o que quer. Como todo ser humano tem o direito de livre optar pelo que quer achar certo, por mais que a maioria o use sob um direcionamento, o direito de o outro pensar diferente tem que ser preservado. É por isso que o que estamos falando aqui vale para todo e qualquer item de um código humano, por mais que ele seja aceito por uma esmagadora maioria.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado na questão do comer de boca aberta. Quem se alimenta dessa forma coloca no seu código de boas maneiras que isso não é errado; já quem critica quem age desse jeito é porque para ele o código diz que isso não pode. Como todos têm o direito de livre optar sobre o que querem, não há certo nem errado em nenhuma das duas crenças.

Sendo isso verdade, nenhum argumento pode ser usado para justificar a aplicação de qualquer norma. Por isso afirmo que não existe argumento que justifique a aplicação de uma regra, que autorize você a acusar ou glorificar outra pessoa ou a s, mesmo que ela seja amplamente aceita pelos seres humanizados.

Pois bem, falamos então sobre os códigos humanos, que são um dos instrumentos que a mente humana usa para legalizar a sua busca de assumir o poder durante um acontecimento da vida. Vamos ver outro...

Imperfeições do ser - Textos

Padronização

Outro elemento que a mente usa como instrumento para que ela possa assumir o poder a cada momento da vida e assim conseguir a subordinação dos outros a ela é a padronização, a criação de atitudes padrões para cada situação. Por exemplo, um ser humanizado quando acusado, por padrão, tem que se defender; quando caluniado, tem que provar que está certo. São argumentos que a mente cria como coisas normais de serem feitas para submeter os outros à sua verdade ou justificar a sua própria ação.

Estes padrões não existem, pois não são todos que agem de uma determinada forma frente a uma situação, mas apenas aqueles que acham que aquela é a forma certa de reagir. Por isso estas formas de agir não podem ser consideradas padrões universais e se não são assim, não existe a obrigatoriedade de todos agirem da forma que você acha normal. Se estes padrões fossem universais, isso nos levaria a crer que são fundamentados em uma verdade absoluta. Como este tipo de verdade não existe no mundo humano, nada pode ser considerado universal, ou seja, obrigatório a todos.

É esta simples análise que elimina toda possibilidade de ser politicamente certa a existência de uma normalidade que precisa ser seguida por todos os seres humanizados. Não pode ser considerado como certo, amoroso ou até um ato de carinho se exigir do outro que aja dentro do padrão que você acredita como certo nem justificar sua ação desta forma. No entanto, vocês acreditam nas afirmações mentais que afirmam o contrário. Acreditam nos pensamentos que cobram dos outros que ajam de acordo com os seus pontos de vistas, que justificam sua forma de agir. Por isso compactuam com a busca do poder que a mente faz e com isso, a partir da visão espiritual, juntam mais impurezas que lhes afasta da perfeição.

O terceiro elemento que a mente usa para poder deter o poder em determinados momentos da existência é algo que levaríamos horas discutindo, mas vou falar rapidamente: a questão dos parâmetros de justiça, o que é justo ou injusto. Tudo neste mundo é justo, mesmo aquilo que você chama de injustiça.

Reparem numa coisa. Vocês acham que se deve dar terra a quem não a tem. Acham justo agir neste sentido, mas será que é justo mesmo? Deus enviou Seu filho para dar o exemplo. Quanto tempo ele dedicou à questão da reforma agrária? Quanto tempo ele dedicou contra os professores da lei no sentido de retirar o seu poder ou contra os romanos que dominavam e escravizavam os judeus? Nenhum...

Que Deus é esse que sabendo que estão incorrendo injustiças na Terra e tem a oportunidade de mandar seu filho a este planeta, não se preocupa com a situação que estava ocorrendo? Será que Ele não orientaria seu filho, que possuía o poder de realizar coisas além do poder material a acabar com as injustiças que estavam ocorrendo? Além do mais, injustiças existem neste planeta há sete mil anos. Será que neste tempo todo Ele não teve condição de acabar com aquela injustiça? Se não acabou acho que é porque ela não é tão injusta assim, não é mesmo?

Apesar desta rápida visão sobre a questão da justiça, vocês continuam criando parâmetros que determina o que é justo ou não e usando-os para poder assumir o poder em momentos da existência e com isso dominar os outros.

Assumir o poder para dominar os outros e assim manter preservado seus interesses individuais acima dos do próximo (egoísmo): este é o intento que está por trás de todos os parâmetros de justiça, de todas as padronizações e dos códigos normativos que a mente cria. Todas estas coisas são criadas pela mente para gerenciar o certo e o errado de acordo com suas crenças individuais e com isso poder determinar o que o outro tem que fazer.

Será que não reparam que quando fazem isso estão deixando de amar ao próximo como a si mesmo e a Deus acima de todas as coisas? Será que não reparam que quando querem gerenciar a vida dos outros estão agredindo o que Deus deu a cada um: o livre arbítrio, a liberdade de crer, ser, estar e fazer o quiser?

A questão da busca do comandar o outro através de códigos normativos, elementos padronizados e normas de justiça fica muito mais clara como impureza justamente quando avaliamos a questão da existência destas coisas e o direito inalienável que Deus deu a cada um de livre arbitrar, de viver livremente. Exigir justiça usando critérios individuais para julgar o que é justo é realmente uma impureza porque fere frontalmente a liberdade que Deus concedeu a cada um.

Quem se utiliza destes elementos para controlar o que o outro pode crer, ser, estar ou fazer, está castrando o livre arbítrio do próximo. A liberdade de crença e de agir de acordo com ela que vocês tanto defendem para si é o que retiram do outro quando estabelecem códigos, padrões de ação e de justiça que contentem aquilo que você acredita. Quando agem assim tornam-se o próximo escravo de suas crenças e desejos. E ainda dizem que são contra a escravidão...

Desculpem-me se estou falando algo que não é real, se não é esta forma humana de agir. Sei que vocês dão a estes códigos e padrões o valor de justo, de bom, imaginam que eles são movidos por sentimentos nobres, mas se analisarmos o comportamento padrão de um ser humanizado retirando a paixão que nutre pelos elementos que possui, acho que a realidade é esta que estamos conversando, não é mesmo?

O ser humano acredita que estes códigos e padrões são criados para ajudar os outros, para estabelecer um sistema de convivência harmônica entre todos, mas quando mergulhamos no resultado da criação destes elementos, vemos que o que eles trazem é danoso para a vida de alguns, não é mesmo?

Imperfeições do ser - Textos

Abrindo mão do poder

Depois de tudo o que conversamos hoje aqui será que você ainda acredita na pureza dos códigos normativos que existem no sistema humano de vida? Quando analisamos o mundo a partir do ponto de vista do outro, ou seja, da consciência de que cada um possui verdades diferentes que são tão verdadeiras quanto as suas, a forma de viver humana mostra claramente que a intenção que move a mente é bem diferente daquela que ela afirma ter. Se você já percebeu isso, está na hora de não compactuar com o que a mente fala. Por isso, quando a mente propuser que você deva cobrar dos outros que eles sigam os códigos normativos e os padrões que você acredita, responda a ela: eles possuem o direito de crer, ser, estar e fazer o que quiserem.

É preciso combater o que a mente fala, pois se compactuar com o que nela está, você viverá de uma forma egoísta e continuará a ter todas as impurezas que decorrem dela.

A mente é, como já falamos, o tentador, o provador do espírito. Ela precisa agir egoisticamente e precisa conter todas as impurezas, mas você não. Ela precisa ter todas as estas coisas justamente para que você possa realizar o seu trabalho de reforma íntima, ou seja, a mudança da forma como se relaciona com ela. Compactuando com o que ela diz, não consegue se reformar e com isso vive com as impurezas e continua tendo o egoísmo como característica primária.

Como venho falando, libertar-se das impurezas não é mudar a forma de pensar, nem criar novos conceitos, mas apenas não compactuar com a mente. Quando você faz isso, ela continua egoísta e impura e você não. Se os elementos padronizado, os códigos normativos e os padrões de justiça são criados pela mente para obter o poder, quando você não compactua com a mente, abre mão deste poder. Mas, não faça isso por nenhuma motivação, nem a de alcançar a elevação espiritual. Faça apenas porque você sabe que esta forma de agir é uma jogada da mente para assumir o controle e que você não o quer.

Só para lhe dar mais um elemento para ter razões para lutar com a mente, vou falar de mais um ensinamento de Cristo. Quem detém o poder é considerado o justo, o bom, o certo, ou seja, é considerado a melhor pessoa. Isso parece ser bom para você, mas só acha isso porque esquece de um ensinamento de Cristo: o primeiro no reino da Terra será o último no céu.

Por causa deste ensinamento posso dizer que aquele acha que a mente está certa e que precisa ensinar o outro o que é certo ou justo de ser feito, quando sair desta carne, terá muitos seres para lhe ensinar códigos dos mundos dos devas. Este é o destino dos professores da lei deste mundo: serão alunos de professores que impõem padrões de vida no mundo dos devas.

Não viverão desta forma porque os espíritos que habitam o mundo dos devas queiram fazer isso, mas porque como ensinou Cristo, aquele que julgar será julgado pelo mesmo critério.

Imperfeições do ser - Textos

O poder pela força

Participante: deixar as normatizações e padrões criados pelo homem, ainda que sejam para manipular a conduta do outro e impor a sua vontade, não seria retornar à normalização da força?

É você que está dizendo que se acabarmos com as normalizações o mais forte vencerá. Será que vai mesmo? Quem pode afirmar com certeza, não é mesmo?

Esta seria a sua resposta, mas deixe-me falar de um detalhe de sua pergunta. Nela você afirma: ‘ainda que seja para manipular a conduta’. Quando fala assim, você está lançando uma condicional (pode ser que seja) que não é real. Não existe condicionalidade na criação de normas e padrões. Toda padronização e codificação tem apenas um objetivo: mudar o comportamento do outro. Mudar para o que? Para o que você acha certo.

Vou dar um exemplo. Uma moça foi levar um presente para um estrangeiro que estava hospedado no Brasil. Ele agradeceu, pegou o presente e o levou para o quarto. Passado algum tempo de reunião, a moça disse ao amigo que presenteou: ‘acho que você não gostou do presente que lhe trouxe’. Ele disse que gostou muito e perguntou por que ela estava dizendo aquilo. A moça, então, respondeu: ‘você nem o abriu’.

Esta moça para falar assim estava usando de uma norma de etiqueta do país dela que afirma que quando se recebe um presente ele deve ser aberto na frente de quem o deu. Acontece que no país do presenteado a norma diz exatamente ao contrário: só se abre o presente a sós. Ou seja, para ela o fato dele não tê-lo aberto era falta de educação enquanto que ele deixou de fazer isso justamente por que tem educação. Portanto, todas as conclusões tiradas neste relato foram baseadas nas normas e padrões de ações individuais.

O problema do uso de formas padronizadas ou de ações normatizadas para os outros é querer impor que o outro aja por seus padrões. É querer dominar o mundo através das normas que acredita serem universais. Agindo assim fazem com que a aplicação destas normas acabem com os mandamentos que Cristo deixou.

O mestre afirmou que todos os seres encarnados que buscam a elevação espiritual devem concentrar-se completamente de corpo, alma, espírito e mente em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ao invés disso, vocês se concentram inteiramente em fazer com que os outros sigam as normas que você diz que são certas e verdadeiras.

Responda-me: é amor pelo outro dizer que ele precisa fazer alguma coisa quando não quer? Vocês mesmos dizem que a expressão deste amor é dar ao outro aquilo que quer para você. Se você quer seguir a sua norma, amá-lo não seria lhe dar o direito de seguir a dele? Se você quer fazer de um jeito, a expressão do amor ensinado por Cristo, neste caso, seria deixar o outro fazer do jeito que ele quer.

O apóstolo Paulo já ensinou: a lei cria o pecado. O errado só existe quando se cria o certo. Até este momento, tanto uma quanto outra forma de agir não é certa nem errada, mas apenas a forma como cada um age.

Repare: a questão que estamos comentando é muito mais profunda do que simplesmente deixar que o próximo faça aquilo que ele quer. Trata-se de cumprir o mandamento de Cristo, que é o caminho para Deus; trata-se do aproveitamento da encarnação para que ela influencie positivamente a sua eternidade espiritual. Estamos falando de coisa que possuem uma repercussão muito maior do que o momento atual.

Imperfeições do ser - Textos

Conversando sobre o poder

Participante: a ausência do código de conduta ensejaria a prática do próprio código?

Não, ensejaria a prática do amor. Deixando de obrigar o outro a fazer o que você quer, amaria a todos como ama a si mesmo. Mais: amaria a Deus acima dos seus padrões de certo.

Participante: Porque a mente humana busca o poder?

Porque ela é a prova do espírito. Se não buscar o poder através da codificação de normas, da padronização e dos parâmetros de justiça o espírito não tem prova e com isso não pode se libertar de suas impurezas. Se libertar-se destas impurezas é a razão da encarnação, para que haveria ela se não houvesse algo que levasse o espírito a livre optar?

A forma de proceder da mente, fundamentada no egoísmo e contendo as impurezas que o espírito possui, é exatamente o cabeçalho da provação do espírito. Sujeitando-se a ela, o ser universal, que é você, pode, então, optar entre amar a si mesmo acima de tudo ou a Deus e ao próximo.

Esta é a função da mente e por isso ela é funciona desta forma.

Participante: sendo o espírito o brilho da lâmpada, a poeira que a encobre é o egoísmo ou o seu saber?

Você está se referindo a uma comparação que fiz anteriormente quando disse que todos os espíritos são como lâmpadas que possuem a mesma capacidade de refulgir, mas que algumas refulgem em intensidade variada porque estão cobertas por fora com sujeiras que impedem seu brilhar.

Posso dizer que a poeira que você se refere é o egoísmo, mas esta está em posição inferior às impurezas que agora estamos conversando. Como ele está oculto pelas impurezas, você não vê, mas conhecendo-as pode antever que o egoísmo está por trás de tudo.

É por conta do egoísmo que você gera normas, padrões e parâmetros de justiça. Isto é feito para defender seus interesses: suas verdades, conceitos, posses, paixões e desejos. Este egoísmo existe, mas ele é manipulado hipocritamente pela mente criando códigos que tornem politicamente aceito o egoísmo. Vou dar um exemplo para você entender o que estou dizendo.

Você ajuda os necessitados. Esse é um ato egoísta, pois você só faz isso porque acha certo fazer ou porque acha que este é o caminho que um espiritualista deve percorrer para aproximar-se de Deus ou ainda porque acha que esta é a expressão do amor ao próximo. Ele é egoísta porque está submetido ao seu desejo. Se você não achasse que deveria praticá-lo, não o veria desta forma.

Estes motivos que eu disse que motivam a sua prática da caridade são as impurezas que encobrem o seu ato egoísta. São normas, padrões e critérios de justiça que justificam você fazer aquilo que quer sem aparentar que está sendo egoísta. Por isso são hipócritas. Acontece que você, além de se deixar levar pela hipocrisia que a mente cria, acredita quando ela transforma estes conceitos em certos, justos e cria padrões e normas que são usados para impor aos outros que sigam o que ela acha certo de ser feito.

Portanto, o egoísmo está na raiz das impurezas, mas você não o vê por conta das afirmações hipócritas da mente que transformam atitudes de defesa de interesses individuais em algo que seja aceito coletivamente.

Participante: como utilizar o poder que nos é outorgado sem sermos dominado por ele?

Não se deixando dominar por ele...

Digamos que você está num lugar onde alguém está fazendo alguma coisa de determinada forma que você não considera justa. Neste momento é importante que você esteja desperto, atento ao seu mundo mental, para poder questionar o que está sendo expresso pela formação mental. Vendo que ela está criando a idéia de uma injustiça, para não se deixar dominar pelo poder, você deve questionar-se com relação ao direito de julgar o que é justo ou injusto de ser feito, se existe uma Justiça Perfeita, que é o próprio Deus.

Fazendo isso, terá a consciência de que se comungar com a idéia que lhe veio à mente neste momento, demonstrará a sua intenção de querer ser como Deus, ou seja, como disse a cobra à Eva: querer ter os olhos abertos e saber distinguir o justo do injusto. Tendo esta consciência e movido pela sua intencionalidade primária de vida, que é a busca da elevação espiritual, você pode, então não aceitar o poder que lhe é outorgado naquele momento pela mente.

O resultado deste trabalho é que você não vibra dentro da mesma emoção que a mente propôs a partir do pensamento. O resultado desta não vibração é que a mente perde força e de uma próxima vez ela não usará o mesmo argumento. Agora, se entregar-se, ou seja, continuar sempre compactuando com as criações mentais, a mente reforça o imaginário poder de julgar os outros e cada dia mais vai criar particularidades nos seus códigos para poder acusar os outros.

Lembre-se que o Espírito da Verdade afirma que o ser quando encarnado tem o livre arbítrio entre o bem e o mal. Optando pelo mal, estará aprisionado à mente, à humanidade.

Imperfeições do ser - Textos

A culpa por não fazer

Participante: e quando eu crio uma regra que me beneficiará e tenho consciência disso?

Você está esperando uma acusação minha por conta desta ação? Não vai ter...

Primeiro que não é você que cria as regras, mas sim a mente. Você só tem a opção de lidar com o que a mente gera e não criar nada. Como você deve lidar com uma criação mental que além de lhe beneficiar possui a consciência disso? Dizendo a si mesmo: foi a mente que criou esta regra e eu não vou me prender ao que foi criado e nem a culpa desta regra ter sido criada.

O trabalho de libertação da materialidade é sempre observar o que a mente está criando e, além de não compactuar com o que é dito, não ter opiniões sobre o conteúdo gerado. Só isso...

Participante: mas, e quando eu agir a partir da minha regra objetivando ganhar do outro. Como me libertar disso? Peço esta orientação por causa da dor na minha consciência que causa esta forma de agir.

Você fala de ação, de ato? Não foi você que agiu, mas sim a mente. Foi ela que criou a ação (fala ou movimentação dos membros praticando um determinado ato) Sendo assim, porque se culpar do que faz?

Seu trabalho nesta vida não é de agir, mas de optar pelo bem ou pelo mal quando a mente agir. A partir disso, quando ela agir segundo uma norma que antecipadamente se tem a consciência de que o beneficiará, o seu trabalho não tem nada a ver com o que está acontecendo, mas em não vibrar dentro do padrão emocional gerado por ela.

Agora, digamos que a mente usou uma regra que sabia que a beneficiaria e você compactou com isso. O que ela fará? Irá lhe culpar. O que você deve fazer neste momento? Não compactuar com isso...

Veja, tudo o que estou falando agora está sendo recebido pela mente e transformando-se numa regra. Ou seja, quando falo que você deve se libertar do que a mente propõe, a mente criou uma regra que afirma que isso tem que ser feito. Só que Cristo ensina: venha pra mim que meu jugo é leve. Com isso ele quer dizer que não há obrigações a serem cumpridas. Nem a obrigação de fazer o que ele ensina. Se ele que era um mestre não cobrava nada de ninguém, porque você vai cobrar de si mesmo?

O que estou querendo dizer é que você não tem que libertar-se da mente, não tem que abandonar o poder: você pode fazer isso... Se fizer, terá realizado o trabalho desta encarnação. Se não, não fará e terá no futuro uma nova oportunidade para isso. Esta forma de encarar o trabalho da reforma íntima acaba com culpas e outros sofrimentos.

Imperfeições do ser - Textos

Regras ditadas por espíritos superiores

Participante: em uma palestra anterior o senhor diz que os espíritos superiores e inferiores podem nos dar determinados pensamentos. Neste caso, o conselho dado pelos espíritos superiores não deve ser seguido?

Eu não devo ter dito que os espíritos podem lhes dar pensamento, pois segundo o Espírito da Verdade todos os pensamentos que vocês recebem lhes são dados por espíritos que estão fora da carne. Logo depois desta afirmação, Kardec em O Livro dos Espíritos faz uma pergunta semelhante a sua: como se pode separar o pensamento que é dado pelo espírito bom daquele é mal? A orientação que ele recebe é que como o ser encarnado nunca conseguirá separar o que é do bem do que é do mal, é melhor não se preocupar com isso.

Por favor, me responda: o que seria entendido por você um pensamento dado por um espírito de luz? Aquele que estivesse submetido ao seu código de normas, a sua justiça, àquilo que você considera como bom. Se um espírito, por exemplo, lhe sugerisse sair pelado na rua, com certeza você iria dizer que é um brincalhão. Mas, se um mesmo espírito sugerisse isso para um nudista, com certeza seria considerado um espírito de luz, não?

A partir disso que acabei de falar, volte à sua pergunta. Antes de saber se deve ou não seguir o conselho de um espírito superior, repare que você terá eu julgá-lo. E como o julgará? A partir das suas verdades, das suas normas, dos seus anseios. Será que você é capaz de determinar qual é o superior e qual o inferior? Será que seus critérios são tão universais para isso?

Vou usar mais um argumento espírita para você poder entender o que estou dizendo. O que você usa para julgar o espírito para determinar se ele é superior ou não? O seu mundo mental, a sua racionalidade. Acontece que quando Kardec pergunta se a razão do ser encarnado pode ser guia infalível para ele, o Espírito da Verdade diz que não, pois ela é mal educada, orgulhosa e pelo egoísmo. Portanto, tudo o que ela cria não deve servir como guia infalível para você. Sendo assim, será que o julgamento do espírito que lhe propôs um determinado pensamento é infalível?

Compreende o que estou dizendo? O problema de você querer separar o bem e o mal das coisas e das pessoas é que você é uma inteligência secundária que é guiada por uma razão mal educada, orgulhosa e egoísta. Por isso, qualquer que seja a expressão desta inteligência, não será perfeita.

Você, como espírito em desenvolvimento que é, não possui uma inteligência suprema como Deus. Por isso não possui a capacidade de discernimento para saber o que é bem e o que é mal. Portanto, esqueça esta questão.

Além do mais, O Livro dos Espíritos é bem claro na questão que você citou. Ele afirma que os espíritos do bem lhe insufla a ver as coisas de acordo com os ensinamentos. Ele não lhe diz o que deve fazer, as apenas lhe insufla a agir de uma determinada forma. Quem vai escolher como agir, não fisicamente, é você.

Saiba que nenhum espírito lhe dirá que em determinado momento precisa ajudar alguém que está passando por uma carência. Aliás, se disser, não siga esta orientação, pois este espírito é humanizado, pois está apegado às carências materiais e não às espirituais. Afirmo isso porque em O Livro dos Espíritos também é dito que o espírito não se preocupa com a abundância ou com a carência das coisas materiais, mas sim em ter a provação necessária para aproximar-se de Deus.

Sendo assim posso dizer que há espíritos eu pedem a carência para poderem ter a provação que precisam. Frente a isso lhe pergunto: um espírito que orientasse você a acabar com a fome de quem pediu a carência, será que ele é realmente do bem?

Portanto, pare de julgar os espíritos que estão fora da carne. Para isso conscientize-se que chamará de espírito de luz apenas aqueles que fizerem o que você acha bom e certo e que os que na agirem dentro dos seus padrões você os chamará de zombeteiros, sem que o seu julgamento realmente expresse a verdade sobre estes seres.

Imperfeições do ser - Textos

A prática do bem

Participante: frente a tudo o que o senhor disse, posso afirmar que o espírito só saberá se fez o bem ou o mal depois de desencarnar?

Aliás, ele só saberá com certeza qualquer coisa desta vida depois que desencanar.

Enquanto estiver encarnado, tudo o que você pode saber é fruto de um processo mental, de uma criação da personalidade humana. Como esta para criar uma realidade se prende aos gêneros de provas pedidos pelos espíritos antes da encarnação e não à lógica ou realidade universal, tudo o que souber não será real.

Chegando à conclusão que você fez certo, quem tirou esta conclusão foi a mente e não você. Isso também não quer dizer que o que ela concluiu é real, mas sim aquilo que o espírito pediu para servir como provação para o seu trabalho da reforma íntima.

Imperfeições do ser - Textos

Roubando o poder de Deus

Participante: então, o que é justo ou injusto só cabe a Deus julgar? Deve o homem ficar apático do que ele acha justo e injusto?

 Quero responder sua pergunta com outra para entendermos bem a questão que você está colocando: Deus é justo? Não, Ele não é justo, mas sim a própria Justiça. Uma coisa é diferente da outra...

Ser justo é aplicar um código de normas. Ele não aplica normas nenhuma, pois é a própria norma. Ele determina a cada momento o que é a Justiça que deve ser aplicada e não aplica o que é justo. Por isso, quando você se arvora no direito de dizer o que é justo, está roubando o poder que é inerente a Deus. O nome que se dá a esta ação do ser humano é pecado original.

No livro Gênesis da Bíblia, Deus diz ao espírito: ‘não como do fruto da árvore do conhecimento’. O fruto desta árvore é o saber, ou seja, tornar uma informação numa verdade. A cobra, que simboliza a personalidade humana, a mente humana, então, oferece este fruto ao espírito. Tentado pela cobra o ser diz que não deve comer o fruto oferecido porque Deus disse que se comesse ele morreria. A cobra afirma que ele não morrerá por comer deste fruto, mas que Deus não quer que o espírito passe a saber das coisas, pois se souberem, seus olhos se abrirão e ele será como Deus, pois terá a capacidade de distinguir o bem do mal. Tentado desta forma, o espírito demonstra que seria muito bom ter este poder e come o fruto da árvore proibida.

Esta é a origem do que é conhecido como sansara ou roda de encarnações e por isso é que se chama de pecado original. Nesta parábola está a origem do nosso processo de reencarnações. Todo o processo de caminhada para a elevação espiritual é marcado pela tentação da cobra, da personalidade humana, oferecendo informações para ver se ele se alimenta do fruto, passa a saber, ou se deixa a Deus o poder que é só Dele.

É por conta desta visão que o egoísmo, que já falamos aqui, é o grande entrave que o espírito precisa calar em si quando encarnado para poder elevar-se. Como ser egoísta é defender as suas posses, principalmente a moral (o saber), é ele que não deixa o espírito abrir mão de se alimentar do fruto da árvore do conhecimento. Não se libertando dele, o espírito continua comendo o fruto da árvore proibida cada vez que a mente o oferece. Quando faz isso, mais uma vez age querendo ter para si um poder que é só de Deus.

Imperfeições do ser - Textos

A diferença dos ensinamentos

Acho que lhe respondi a questão, mas quero falar mais uma coisa. Não sei se é a primeira vez que você tem contato conosco, mas gostaria de deixar uma coisa bem calar. Nosso trabalho é justamente estudar no mundo humano aquilo que o diferencia do espiritual.

Nenhum espírito liberto da materialidade se arvora em julgar o próximo, em dizer o que é certo ou errado, bom ou mal. Os socorristas, os espíritos trabalhadores que vão ao umbral resgatar espíritos sofredores, não acusam ninguém que lá está. Se já teve contato com a literatura espírita, creio que você nunca viu André Luiz nas suas viagens pelo além acusar ou apontar erros em outros seres.

Os espíritos não julgam o outro e por isso não buscam o poder. Já vocês querem o poder porque estão ávidos em julgar os outros. Desculpe, falei algo errado. Na verdade vocês não querem julgar ninguém, mas apenas acusar, criticar, punir. Num julgamento há sempre a possibilidade da sentença ser de absolvição, mas para vocês ninguém nunca está certo, a não ser se submeta ao seu código de normas, não é mesmo? Portanto, vocês querem o poder para poder condenar e não para julgar...

Já viu que alguém quando ensina o outro, ou seja, declara o seu código de normas, jamais o faz no sentido de perguntar se ele concorda com aquilo ou não? Na verdade coloca sempre sua verdade como inquestionável e a usa para acusar o outro de errado. Sendo assim, o ato de orientação ao próximo jamais poderá ser considerado como um ato de amor, apesar de vocês acreditarem que sim.

Agora, repare que para falarmos tudo o que dissemos aqui, nos utilizamos dos ensinamentos disponíveis em diversos livros dos mestres, ou seja, são ensinamentos que aqueles que buscam a elevação espiritual deveriam seguir. No entanto, o que acontece normalmente é que por conta do egoísmo os seres humanos jogam no lixo determinados ensinamentos ou os adaptam de tal forma que possam continuar tendo o controle sobre os outros.

Quem já freqüentou um centro espírita com certeza já viu um cartaz falando da distribuição de cestas básicas a necessitados. Vocês acham certo e necessário colocar estes cartazes, não? Pergunto: onde fica o ensinamento de Cristo que diz que aquele que pratica a caridade não deve deixar a mão direita ver o que a esquerda faz?

Repare bem no ensinamento do mestre. Ele não fala que você não deve deixar o outro saber o que faz no sentido de ajuda ao outro, mas que você mesmo não deve saber o que faz neste sentido. No entanto, a primeira coisa que fazem é anunciar a todos o que fazem como ação caritativa.

É disso que estou falando. Tem certos ensinamentos que são esquecidos para que o ser humano possa locupletar-se na fama e conseguir o elogio. Qual o nome que se pode dá a esta ação? Hipocrisia...

A declaração de quem pratica uma ação contrária ao ensinamento do mestre muitas vezes é fundamentada no amor. Quem coloca estes cartazes e coordena a formação de cestas básicas afiram que fazem isso por conta do amor ao próximo, mas isso é mentira. O que lhes move mesmo é o querer ganhar a elevação espiritual.

Desculpe, mas com esta hipocrisia nós não compactuamos. Por isso, muito do que você ouviu aqui e contrário àquilo que ouviu em outros lugares.

Imperfeições do ser - Textos

O controle da vida

Deixe-me dizer uma coisa. Observe a quantidade de normas que as ciências estipulam para a sua vida. Tente seguir, por exemplo, tudo o que a medicina afirma que é necessário ser feito para que você tenha uma boa saúde. Sabe o que lhe faltará? Tempo...

Num dia de vinte e quatro horas não há como se encontrar tempo para fazer tudo o que os pseudos sábios dizem que você precisa fazer para viver bem. No entanto, eles continuam cada vez colocando mais coisas para os outros executarem. Por que agem assim? Para poder ter um controle sobre você. Amanhã, se você aparecer com uma doença, eles podem lhe acusar de não ter praticado alguma coisa que eles ordenaram.

Criam estas normas para poderem assumir o poder sobre você. Por exemplo: os cientistas afirmam que o hábito de fumar provoca diversos cânceres que levam à morte. Alguém fuma quarenta, cinqüenta anos. Um dia morre. O que eles fazem? Usam a norma para dizer: ele morreu porque fumou, por isso você não deve fumar.

Agora, me responda: todos que fumam têm câncer? Todos que fumam morrem de câncer? Quantas pessoas fumam mais tempo e não têm câncer? Quantas pessoas passam a vida na fumando e têm? Sendo assim, será que eles estão certos?

Conheço uma pessoa que teve um enfarte há muitos. Assim que esta pessoa enfartou a ciência lhe disse: se você continuar fumando morre em cinco anos. Pois bem, já faz mais de dez anos que esta pessoa enfartou, continuou fumando e não morreu. Tenho certeza que o dia que ela morrer, seja daqui a um ou dez anos, a ciência vai dizer: ela morreu porque teve um enfarto e continuou fumando...

Ah, tinha me esquecido: tem mais gente que vai falar a mesma coisa, ou seja, vai dizer que ele morreu porque continuou fumando. Sabem quem? Aqueles que não fumam... Mesmo sem ter nenhuma base científica, mas apenas repetindo o que a ciência normatiza, quem não fuma vai dizer que aquela pessoa morreu porque continuou com o hábito de fumar. Por que ele fará isso? Para evitar que outros façam aquilo que ele não gosta: fumar...

Compreendam o que estou dizendo, pois isso é o que está na base de todo pensamento que lhe chega ao consciente. A mente humana trabalha desta forma para poder ter o controle dos outros e com isso viver as quatro âncoras: o ganhar, o ter prazer, o alcançar o reconhecimento e o elogio.

Na verdade o controle da vida que o ser humano imagina ter sempre é suposto e imaginário. Falo assim porque quanto mais o ser humano que controlar a vida, mais ela lhe escapa do controle.

Lembro-me de uma pessoa que ia receber amigos em sua casa para uma reunião conosco. Ela se programou, fez todas as listas e planejou todas as ações para preparar a casa para receber os visitantes. Acontece que uma pessoa, que era desconhecida da dona da casa, errou a data e chegou um da adiantada. Com isso toda programação foi para o espaço e a pessoa que estava recebendo teve que improvisar.

 Aceitem: vocês não têm controle de nada, mas vivem criando regras para poderem imaginar que estão controlando alguma coisa. Como diz o Espírito da Verdade na resposta à questão nove de O Livro dos Espíritos: pobre ser humano que um simples sopro de Deus acaba com ele...

Imperfeições do ser - Textos

A impureza do vício

Estamos conversando sobre as imperfeições que o espírito adquire ao encarnar. Estamos fazendo isso seguindo uma orientação do Espírito da Verdade, que está contida na resposta dada à questão 14 de O Livro dos Espíritos.

“Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastante coisas que vos tocam mais de perto,a começar por vós mesmos. Estudai as vossas imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável”.

Ao longo das diversas conversas que tivemos até agora sobre este tema, chegamos à conclusão que uma imperfeição é tudo o que afasta um espírito, encarnado ou não, da felicidade que Deus tem prometido a seus filhos. Esta conclusão foi alcançada porque na pergunta 115 de O Livro dos Espíritos é dito que na perfeição o espírito encontra “a pura e eterna felicidade”. Sendo isso verdade, o que é imperfeito afasta o ser da felicidade.

Essa felicidade, como também já vimos, é incondicional. A pura e eterna felicidade que surge quando o espírito vivencia o fim das imperfeições existe sempre e não porque determinada condição foi alcançada para isso. Portanto, sempre que o espírito vivencia um determinado acontecimento de sua existência sob uma condicionalidade, ou seja, sob o certo ou errado, o limpo ou sujo, o arrumado ou o desarrumado, ele está impuro, já que não está vivenciando a felicidade pura e eterna.

Quando se compreende o que acabamos de falar, fica muito fácil compreender que o vício é uma impureza.

Imperfeições do ser - Textos

O vício

O que é um vício? O que é ser viciado em alguma coisa? É ser dependente de algo. Todos que são viciados em qualquer coisa dependem dela. Por conta dessa dependência, criam uma condicionalidade para estar feliz. Ou seja, a sua felicidade não é mais pura e eterna, mas depende de algo acontecer ou de se ter aquilo no que se é viciado para ser feliz.

Todo aquele que é viciado em alguma coisa, por causa desse vício, gera uma dependência e essa serve como condicionalidade para a vivência da felicidade. Por isso tudo o que advém de algo viciado, seja prazer ou dor, não é uma felicidade pura, não é uma felicidade eterna.

Para poder explicar melhor o que quero dizer, vou falar de vícios que vocês consideram como tal: cigarro, bebida e tóxico. Repare se ter estes vícios não levam o ser humanizado a viver como descrevi. O viciado em bebida é dependente de haver isso à sua disposição para ser feliz. Quando não tem, sofre. A mesma coisa o viciado no tóxico, o viciado no cigarro, etc. Quantos antes de dormir vão consultar o seu maço para verificar a quantidade de cigarros que têm e se tiver pouco saem para comprar?

Essa é a questão que leva o vício a ser encarado como uma impureza para o espírito: tudo aquilo que ele é viciado, ou seja, tudo aquilo pelo qual possui uma dependência, gera uma condicionalidade e a vivência dessa forma, só leva ao prazer e à dor e nunca à felicidade pura e eterna cuja vivência caracteriza o alcançar a perfeição. Para os mais distraídos eu reforço o que acabei de dizer: falei tudo e não apenas algumas coisas.

Tenho certeza que vocês, como humanos que são, quando leram a questão do vício só se lembraram daquilo que reconhecem como tal, ou seja, ligaram a questão do vício apenas às coisas que a humanidade considera como vício e com isso se esqueceram de outras que não tratam como tal, mas que também são. Existem muitas coisas que vocês vivenciam de uma forma viciada, mas que não tratam como vício.

Por exemplo: ouvir-me... Tem gente que é viciado em me ouvir... Outro vício? A busca da prática daquilo que conversamos. Existem pessoas que me ouvem e se obrigam a praticar o que ensino. Isso é um vício, uma dependência, um condicionamento à sua felicidade. Como estes exemplos, poderia citar milhares de outros, ou seja, milhares de posturas nas quais vocês humanos são viciados, mas que não são aceitas pela humanidade como vício.

Para que vocês possam distinguir um vício, afirmo que tudo aquilo que cria condicionalidade, que cria dependência, que faz a felicidade depender, é um vício. É por isso que desde o início destas nossas conversas, estou dizendo que ter uma impureza é algo nato para quem vive a partir do sistema humano de vida.

Imperfeições do ser - Textos

O elemento viciante

O que causa a dependência, o que o ser humano usa para condicionar a sua existência? Os códigos de normas que o mundo humano possui: o certo e errado, o bonito e o feio, o bom e o mal, etc. São as obrigações que este sistema de vida gera para você e gera para os outros que os leva a viverem de uma forma viciada, pois eles são condicionantes da felicidade.

Quem teria a coragem de deixar a sua casa suja e bagunçada num dia que receberá uma visita? Ninguém. Por quê? Porque se sentiria mal. Ou seja, o arrumar a casa é uma dependência para a existência da felicidade. Sendo assim, praticar esta ação é um vício não algo normal ou salutar.

Sei que para vocês que estão acostumados a viver a partir de códigos e normas que geram obrigações e necessidades – características do sistema humano de vida – é difícil reconhecerem no exemplo que dei a presença de uma ação viciada... Por quê? Porque a mente de vocês gera idéias tem a partir de padrões de certo, bonito e feio. Por causa disso, quando cito um exemplo como o de arrumar a casa, ao invés de verem ali uma ação viciada, me respondem, como já me responderam centenas de outras vezes: ‘agir assim é normal’, ‘limpar a casa para receber os outros é uma questão de educação’...

O que vocês não vêem é que a mente transforma o vício em algo normal. Ela doura a pílula do vício para utilizando-se de regras e normas que criando uma falsa normalidade para que você não repare que está viciado. Ela enfeita o pensamento, a razão, com as normas humanas, os códigos de padrões humanos, para não lhe deixar ver que está viciado em determinadas posturas ou ações. Ou seja, ela não lhe deixa ver que você passou a depender de determinadas coisas para ser feliz!

Esse é o problema da questão vício como impureza para aquele que quer alcançar a perfeição: ele é escondido pela mente atrás das normas e regras que geram obrigações e causam necessidades a você e aos outros. Quem, por conta destas normas, nunca foi à casa de alguém e ao lá chegar não reparou se a casa estava arrumada e limpa? Sabe o que fizeram? Julgaram, ou seja, agiram contrário a um dos caminhos que Cristo ensinou para aqueles que querem chegar ao Pai. Por que fizeram isso, se afirmam quererem alcançar a Deus? Por conta da subordinação a um código de normas humano que os viciou a um determinado padrão de limpeza e arrumação.

É por conta desta subordinação que vocês consideram como viciados apenas os alcoólatras, os fumantes e os toxicômanos, mas isso não é real: todo aquele que depende de alguma coisa, seja esta qual for, é um viciado. Por isso, o vício está presente em locais onde vocês nem imaginam: no chegar na hora certa, na obrigação de pagar todas as contas, na necessidade de andar de carro ao invés de ir a pé, etc. Tudo isso que para vocês é uma coisa normal, na verdade é uma impureza para aquele que quer aproveitar esta encarnação e aproximar-se do Pai.

Por que isso? Porque todo raciocínio que é fundamentado num código de normas que gera obrigações e necessidades leva a um vício!

Imperfeições do ser - Textos

O vício do egoísmo

Poderia parar por aqui, como já parei outras vezes em que falei de vício, e ter falado tudo para vocês. Mas, se fizesse isso, como das outras vezes por conta desta razão que cria código de normas hipócritas – sim, as normas são hipócritas porque se você sabe que o primeiro no reino da terra é o último no reino de céu, não deveria querer ser considerado o melhor acatando-as – vocês não teriam alcançado a consciência dessa hipocrisia e continuariam vivendo de uma forma viciada como vivem. Além do mais, como tenho dito neste trabalho, eu estou colocando todas as cartas na mesa. Portanto, vou mostrar uma coisa que está liquida e clara na sua fonte, mas que vocês nunca se atentaram.

“913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há o egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades”. (O Livro dos Espíritos)

Faz muitos anos que venho dizendo claramente: a maior impureza do ser humano é ser egoísta. Não retiro o que disse, continuo afirmando isso. Agora, vocês repararam como o Espírito da Verdade tratou a questão do egoísmo? Como um vício... Ele não falou simplesmente do fato de ser egoísta, mas referiu-se ao vício de ser egoísta como a raiz de todo mal para aquele que quer alcançar a perfeição. É a esse ponto que vemos descer quando estudamos a questão do vício...

Não sei se vocês se lembram de uma frase que disse a uma pessoa: ‘eu não estou preocupado com o que faz, mas com a sua capacidade de sofrer com o que lhe acontece’. Durante todos estes anos de conversas a respeito da busca da elevação espiritual eu nunca falei aqui de fazer algo, nunca ditei um padrão de como agir. Pelo contrário, sempre disse: tudo o que fizer, será bem feito...

Sendo assim, como poderia acusar alguém por estar agindo egoisticamente, ou seja, agir defendendo o seu interesse em detrimento do de outra pessoa? Eu estaria sendo incoerente se fizesse isso. Na verdade, se reconheço a existência do livre arbítrio concedido por Deus, tenho que aceitar que qualquer um pode fazer qualquer coisa, inclusive ser egoísta...

Ser egoísta não tem problema algum... O problema, na verdade, se inicia quando alguém coloca a sua felicidade dependente da sua ação egoísta, ou seja, dependente da defesa de seus interesses acima dos outros.

É por isso que disse que a minha preocupação é com a capacidade de sofrer de cada um. Por que tenho esta preocupação? Porque a capacidade de sofrer e ter prazer são a comprovação de que há um vício sendo vivenciado.

Ter prazer ou dor é a resposta à condicionalidade que se da à vida. Como toa condicionalidade está ligada a uma necessidade, ela é fruto de uma ação viciada. É por isso que o Espírito da Verdade trata o egoísmo como um vício.

Na verdade, vocês não são egoístas; são viciados em egoísmo! Estão viciados em ter a felicidade dependente de serem satisfeitos, de verem a sua vontade prevalecer frente a do outro, de seu anseio e desejo acontecerem ao invés dos do próximo. S isso não acontece, vocês sofrem; se acontece, dizem que alcançaram a felicidade, mas isso não é real. O que alcançaram foi o prazer, já que a felicidade é pura e eterna.

Sei que não conseguem enxergar o que estou dizendo, mas porque isso acontece? Porque a mente diz que é justo se defenderem, que precisam defender o que é seu, que têm que provar que estão certos, que têm que mostrar que sabem fazer melhor, que sabem o lugar certo das coisas. Todo o mundo mental de vocês é fundamentado na idéia que agir desta forma é normal, que isso deve ser feito.

Mas, mais do que certo, muitas vezes sua mente ainda diz assim: ’você está ajudando o próximo com isso’. Olhe a hipocrisia; olhe como ela mascara a presença do egoísmo. Ela cria estas hipocrisias para que você não compreenda que, para aquele que quer viver a felicidade que Deus tem prometido, agir desta forma uma contramão nos seus anseios,

Não, não há nada de normal em defender-se, em proteger seus valores e verdades. Para aquele que busca aproximar-se de Deus isso é completamente anormal. Se fosse normal defender o seu próprio interesse, Cristo não teria sido coroado com uma coroa de espinhos e nem crucificado ao lado de ladrões. Ele era um rei. Ele era da família de Davi. Jamais poderia passar por estas situações.

Imperfeições do ser - Textos

Libertando-se do vício

Diante de tudo o que dissemos, é preciso que vocês compreendam que em toda e qualquer ação que participem há um vício acontecendo. É como já disseram: sempre há um tem que ser, tem que estar, tem que fazer. Esta obrigação de ser, estar e fazer qualquer coisa é a ação viciada gerada pela mente para a provação do espírito.

Sempre que para você, existir obrigação ou necessidade de uma coisa ter que acontecer, há um vício. Neste momento é preciso que diga a si mesmo: ‘Para! A mente está dizendo que tenho que arrumar tudo isso agora, mas não vou me apegar a isso; se arrumar, arrumei; se não arrumar, não arrumei’... Quando ela falar a respeito de um compromisso, responda: ‘a mente diz que tenho quem chegar na hora. Certo... Se chegar, cheguei. Se não chegar, não cheguei’.

É assim que se liberta do vicio: retirando daquele momento a condicionalidade que mente cria. Isso porque toda condição que se impõe a vida é uma impureza, que como já vimos, deve ser o alvo de nossa atenção e do nosso trabalho para nos libertarmos.

Creio que agora que vimos 913 de O Livro dos Espíritos, reparamos que, na verdade, só estávamos nadando na superfície do mar e não mergulhando fundo para descobrir realmente a questão do deixar de ser egoísta, não?

Imperfeições do ser - Textos

A percepção do vício

Pergunta: desculpe, mas perdi o início da conversa. O senhor falou alguma coisa no tocante a termos que perceber o vício que vivemos?

Sim, eu disse que é preciso perceber a presença de um vício.

Se você está desempregado e tem um pensamento que diz que o normal é que todos tenham emprego, constate que isso é essa afirmação é um vício e não uma regra. Ou seja, que ter trabalho não é regra, mas dependência para ser feliz.

Quem é viciado em ter trabalho, vai sofrer quando não tiver e ansiará em ter um. Enquanto não o tiver, ou seja, enquanto não tiver seu vício satisfeito, não conseguirá ser feliz. Portanto, é preciso que você, que diz querer alcançar a perfeição, entenda que a busca de trabalho que a mente cria e a necessidade de encontrar um emprego não é real, mas uma ação viciada no egoísmo que a mente está criando...

Libertar-se do vício é reconhecer que nada é necessário, obrigatório ou tem que ser de determinada forma. Sempre que estas condições existirem num pensamento ali há um vício do qual precisa se libertar para poder viver a felicidade pura e eterna.

Imperfeições do ser - Textos

O remédio para o vício

Pergunta: o remédio para libertar-se do vício é o desprendimento?

O remédio para o vício é a aceitação! A mente está dizendo que você deveria arrumar a casa, mas não teve tempo para isso, não teve condições ou força, então aceite o não ter feito, ao invés de culpar-se por que não fez.

Aceite tudo o que lhe acontece sem lutar contra o acontecimento que você estará livre do vício. Isso porque a condicionalidade que caracteriza a existência de um vício é apresentada pela mente através da cobrança de ser, estar, ou fazer alguma coisa. Se o vício, a ação viciada é fomentada na obrigação, a ação não viciada é aquela que aceita o acontecimento sem perder a paz, a tranqüilidade e a harmonia.

Passar por situações com prazer – sim, porque o prazer é o resultado de um vício atendido – ou dor é a prova de que você é viciado em alguma coisa, principalmente em egoísmo. Sendo assim, passar por elas em paz, harmonia e tranqüilidade é a prova de que, naquele momento, você agiu feliz, foi independente da personalidade humana que lhe serve como instrumento da provação.

Pergunta: o egoísmo faz parte do nosso DNA? É possível eliminá-lo?

Não. Não é possível eliminá-lo.

O egoísmo faz parte de seu DNA? Sim, o egoísmo é o fundamento primário de tudo o que a mente cria. Ele vai estar presente a cada momento. A mente só consegue trabalhar na base do egoísmo.

Quem, por exemplo, doa algo aos outros que é seu, faz isso por quê? Porque quer servir, porque quer doar.m Sendo assim, esta pessoa está defendendo o seu interesse, o interesse de dar, o interesse de servir e não sendo bonzinho, amoroso com o próximo. Ele está se satisfazendo. Ao contrário do que vocês imaginam, quem doa o que é seu porque acha certo fazer isso, não esta agindo com bondade, mas explorando o próximo, já que o está usando para alcançar o seu prazer.

Portanto, se o egoísmo está no DNA de cada um, é o fundamento primário da mente, não tem jeito: ele não vai acabar. Apesar disso, você pode se libertar do vício e assim deixará de ser egoísta.

Como se libertar do vício? Já disse: aceitando tudo o que lhe acontece. Vivenciando tudo o que lhe acontece, sem se prender à condicionalidade para ser feliz.

Isso você pode fazer! Isso pode acontecer, se acontecer. Agora deixar de ser egoísta, não!

Imperfeições do ser - Textos

A ação viciada e os ensinamentos dos mestres

Pergunta: se toda ação é praticada como um vício, até seguir os ensinamentos dos mestres é uma ação viciada?

Na verdade, tudo pode ser vivenciado de uma forma apropriada ou não. Por exemplo: praticar exercícios ou tomar remédios para manter a saúde com a intenção de permanecer vivo, é vivenciar um vício. É um acontecimento vivenciado com o vício de querer estar vivo, a dependência de querer ficar vivo. Imagine se toma um remédio e faz um exercício e depois tem um ataque cardíaco e morre. O que lhe acontece na quando recobrar a consciência do outro lado? Cai em desgosto: ‘como eu morri? Eu tomava meu remédio todo dia’... Por conta deste desgosto, ficou provado que a ação era praticada com um vício fomentado pelo egoísmo.

Agora, se você toma o remédio e faz o exercício, mas não espera que nada resulte do que faz, não há vício, pois não há condicionamento da felicidade. Aquele que não espera o resultado pode ser feliz mesmo quando o que acontece contraria a norma humana e por isso mostra que está desapegado do vício do egoísmo.

A partir desta análise, lhe digo que você pode seguir os ensinamentos do Espírito da Verdade, de Cristo, de Krishna, de Buda ou de qualquer um, de uma forma viciada ou não.

Qual é a forma viciada? ‘Eu tenho que colocar em prática o que li, eu preciso colocar em ação os ensinamentos, eu tenho que fazer o que foi recomendado pelo mestre’. Quando forem estes os seus pensamentos a respeito dos ensinamentos com os quais tem contato, você está viciado neles. Por que afirmo isso? Porque você deixou a mente gerar uma condicionalidade para a sua felicidade e com isso tornou-se dependente da prática do ensinamento para poder ser feliz.

Agora, quando se defronta com um momento onde não conseguiu colocar em prática um ensinamento e isso não o perturba, não acaba com a sua felicidade, está vivenciando a busca da prática do que aprendeu sem vícios. Para isso responda sempre à sua mente quando ela lhe acusar de não ter posto em prática o que aprendeu: ‘Cristo ensinou que era para agir assim, mas naquela hora eu não fiz. E dai’?

Está dando para compreender o que é viver o acontecimento viciadamente ou não? Não se trata do que você faz, mas sim de ao vivenciar o que está acontecendo depender de alcançar uma intencionalidade para ser feliz.

Pergunta: acredito que somos um espírito e que estamos ligados a uma mente que tem como fundamento o egoísmo. Isso nos faz viver sempre em busca do prazer. Percebo que parar e manter a concentração nos pensamentos é necessário para poder despertar para a realidade. Neste caso, o vício seria a correria do dia-a-dia que não nos deixa parar para poder ter esta concentração?

Não, o vício não é a correria. O vício é a dependência da correria. O vício é sempre uma dependência. É a dependência do ‘tem que parar para’, do ’tem que ser desse jeito’, etc.

Digamos que consiga ouvir seus pensamentos sem se libertar do tem que e que por isso liberte-se da realidade criada pela mente. Você acreditará que fez porque quis fazer, mas isso não é real: fez porque se sujeitou ao ter que fazer que a mente criou. O que resultará desta ação não será a felicidade, como você acreditará, mas ainda o prazer. Além disso, continuará sofrendo ao viver a acusação que a mente criará quando não conseguir parar para ouvir os pensamentos.

Sendo o que acabei de dizer real, podemos tirar uma conclusão: você nunca terá condições de saber se agiu viciado no egoísmo ou não. Portanto, como já disse, você não poderá nunca eliminar o vício.

Se não pode agir para libertar-se do vício, o que você pode fazer nessa vida? Viver a vida. A única coisa que você tem para fazer nessa vida é viver a vida que se apresenta a você, da forma como ela se apresenta. Tendo conhecimento do ensinamento que precisa parar para ouvir os pensamentos, se parar, viva esta parada com equanimidade; se não parar, viva da mesma forma. É aí que começa o problema para vocês...

Tudo o que a mente entra em contato é gerido pelo sistema humano de vida, ou seja, transforma-se numa regra que gerará uma obrigação e uma necessidade para você. Isso acontece inclusive com os ensinamentos dos mestres, ou seja, eles transformam-se em uma regra a qual você se sente obrigado a seguir. No entanto, Cristo ensinou: venha para mim que meu jugo é leve. Ensinando isso, ele não poderia criar obrigações, pois neste caso seu jugo seria pesado.

Se tudo isso é verdade, posso dizer que viver sem o vício do egoísmo é estar sempre numa boa, não importando o que está acontecendo no mundo. Portanto, você alcança a vivência sem o vício do egoísmo quando não se deixa levar pela obrigação e necessidade que a mente cria a partir verdades que ela deu o sentido de norma a ser cumprida, já que os ensinamentos não são coercitivos.

Portanto, se você vive os acontecimentos de sua vida de uma forma viciada, ou seja, imaginando-se obrigado a ter que por em prática os ensinamentos, seja essa dependência fundamentada nas regras materiais ou naquilo que chama de trabalho de elevação, acabará sempre vivendo o momento de uma forma viciada.

A ação sem vício é apenas a constatação da vivência que a mente cria para cada momento de sua existência. Sei que para vocês isso não é fazer nada, mas, na verdade, é uma grande realização.

Por exemplo, se vocês estão preocupados com alguma coisa, acreditam que o libertar-se do mundo humano é não preocupar-se, mas isso é irreal. Quem se preocupa ou não com alguma coisa é a razão, o mundo mental e não você. Sendo assim, se naquele momento você conseguisse se despreocupar quem teria conseguido isso seria a mente e não você. Acreditando na despreocupação como obra sua, teria vivido o vício do egoísmo embutido na mente e nem se daria conta disso.

A partir disso, posso dizer que a ação vivenciada sem o vício do egoísmo é aquela onde a mente lhe diz que está preocupado e você diz: ‘você diz que eu estou preocupado, então estou’. Esta é uma vivência livre da materialidade, pois se tratou apenas de uma constatação do que a mente criou.

Compreendam: não adianta querer lutar contra a preocupação ou qualquer idéia que mente produzir, pois ela é real, está presente. O que você não pode deixar é que a idéia gerada pela personalidade humana se torne uma condicionalidade para a sua vivência com a felicidade.

No nosso exemplo, você tem que estar preocupado, mas apesar disso não pode deixar de estar em paz, em harmonia e tranqüilo. Vence a sua humanidade aquele que consegue ter preocupações sem deixar que ela altere o seu estado de espírito. Quando ela vira condição, positiva (‘é bom estar preocupado’) ou negativa (‘eu não posso ficar preocupado, tenho que não ficar’) neste momento toda felicidade acabou.

Por isso afirmo: toda idéia de vitória no caminho da reforma íntima que advir de uma mudança da forma de pensar será apenas um consumo daquilo pelo qual você é viciado. Terá o mesmo significado do cigarro para o viciado em tabaco ou de um gole de cachaça pra o viciado em álcool.

Deu para ficar claro?

Imperfeições do ser - Textos

A libertação do vício e as ferramentes do EEU

Pergunta: como usar as ferramentas do EEU para acabar com este vício?

Sem se viciar nelas...

O que é não se viciar nas ferramentas do Espiritualismo Ecumênico Universal? É usar quando usar. Mas, e quando não usar? Não usou! É o que eu acabei de dizer: a ação que você pratica, seja ela qual for, se torna viciada quando vira uma obrigação, uma necessidade de ser pratica, quando é vivenciada dentro do sistema humano de vida.

Na verdade, as impurezas citadas pelo Espírito da Verdade na pergunta 14 e que estamos vendo, se comunicam. Você vive dentro do sistema humano de vida – uma das impurezas já estudadas – para poder exercer o seu vício, para abastecer-se do que é viciado: o prazer. Se o vício é a satisfação de uma condicionalidade, se não tiver condições como é que vai conseguir ter satisfação?

Sabe por que buscam o poder? Para ter maiores condições de satisfazer suas imposições à vida. O sistema humano de vida e a busca do poder existem por causa do vício e este existe por causa do sistema humano de vida e da busca do poder. É tudo entrelaçado, tudo junto: não dá para se separar.

Imperfeições do ser - Textos

Realizar também é vício?

Pergunta: Estou passando por uma fase de auto aceitação, ou seja, o que fizer fiz. Neste caso, isso também não é minha mente me enganado?

Pode ser que seja, se você quiser que ela dure sempre já que não há bem que dure para sempre nem mal que nunca acabe. Se você transformar este estado que está passando em algo obrigatório de ser vivido, terá virado vício.

Na verdade, tudo pode ser vivido numa forma viciada ou não. Não é o que acontece o que determina a existência de um vício, mas a forma como se vivencia o que acontece. Quando você usa no que está acontecendo uma condicionalidade, agiu viciadamente.

Imperfeições do ser - Textos

Vendendo ilusão

Participante: parece-me que o querer é uma expressão do egoísmo. É isso?

Querer não é expressão do egoísmo. O querer é uma arma da mente para lhe manter aprisionado ao vício sem que você ache que está agindo viciadamente, sem que repare que não está vivendo a felicidade pura e eterna.

Sabe, quando a mente diz que é muito normal uma mãe querer o melhor para o filho e afirma que isso é o padrão de certo, ela está escondendo atrás desse argumento, que é hipócrita, um vício. Se você se deixa levar por esta normalidade, estará compactuando com o vício sem saber.

A utilização pela mente de padrões de normalidade, certeza, beleza ou que deve ser feito ou não, é igual a ação de um traficante que para vender a sua droga diz ao adolescente: ’não, isso aqui não tem problema nenhum, só vai lhe fazer bem. Você vai viajar, vai se sentir mais leve, vai se sentir mais solto’. É a mesma coisa. São historinhas para vender um instrumento viciante.

Quem está comprando não vê que está comprando o pesadelo do futuro. Sim, o vício de hoje é o pesadelo do futuro, pois quando voltar à sua consciência espiritual você vai dizer: ’meu Deus! Eu sabia que não devia ter vivido daquele jeito e vivi’. E agora’?

Agora é começar tudo de novo...

Imperfeições do ser - Textos

Encerrando a primeira conversa

Deu para ficar clara a primeira noção de vício? O vício é a dependência. Ele existe quando você convive com alguma coisa a partir de uma dependência para ser feliz. Ele não está no que você faz. Não está no fumar, no n beber e nem no usar tóxicos Ele não está em nada disso.

O vício está em você. Está em você quando convive com as coisas, gerando uma condicionalidade, uma dependência, um tem que ser... Toda vez que conviver com algum momento da sua vida exigindo que ele contenha o que você quer, agiu viciadamente.

Perguntaram-me se o querer é a expressão do vício. Nós já estudamos a questão das posses, paixões e desejos. Elas são expressões do vício, pois são condicionantes da felicidade. O ter que possuir, o ser apaixonado e por isso querer coisas, o desejar algo, todas estas coisas criam condicionalidades na vida. Por isso, aceitar as formações mentais que se baseiam nestas coisas é aceitar a ação viciante que a mente propõe.

Imperfeições do ser - Textos

O vício do egoísmo e o amor ao próximo

Vamos continuar a falar da impureza do vício que começamos a conversar. Como disse tinha muitas mais coisas a serem faladas a respeito deste assunto.

Uma das coisas importante que já vimos é que o Espírito da Verdade trata como impureza não o egoísmo em si, mas o vício do egoísmo. Já começamos a falar disso. Dissemos que todos têm o direito de querer, de defender os seus interesses, mas não têm o direito de colocar essas posturas como dependência da sua felicidade. Vamos começar hoje a partir daqui.

Porque o espírito não tem o direito de colocar a defesa dos seus interesses como condicionador da sua felicidade? Se há alguma coisa que é ponto comum em todo e qualquer trabalho espiritual, seja uma religião ou seita, é a questão do amar ao próximo, do servir ao outro. Todos os ensinamentos da espiritualidade colocaram o serviço ao próximo como condição sem a qual não se consegue a elevação espiritual.

Agora, será que discutir com os outros para provar que você está certo é um ato amoroso, é uma demonstração de amor? Será que exigir que o outro faça as coisas do jeito que você quer, compreenda o mundo jeito que você compreende é um serviço ao próximo? Eu acho que não. É por isso que o vício do egoísmo não pode ser considerado uma atitude de alguém que se diz buscador de Deus, que quer aproveitar a oportunidade da encarnação para aproximar-se do Pai.

Por causa do vício no egoísmo, ou seja, por causa necessidade de ter todas as suas vontades atendidas o ser deixa de amar o próximo. Este é o grande problema deste vício. Aquele que se vicia na questão de exigir do outro que ele seja aquilo que considera certo, acaba com o amor ao próximo, acaba com o serviço. Não é o fato de você ter um conjunto de interesses individuais e nem o fato de querer preservar este conjunto, mas sim no depender de que ele seja preservado para poder ser feliz.

Como disse, você tem todo o direito de acreditar no que acredita. Tem todo direito em sonhar que as coisas aconteçam do jeito que quer. Você só não tem o direito de condicionar a sua felicidade a isso.

Acho que aqui não tem nenhuma criança. Já viveram muito e já viram muitas coisas e sabem que a vida é formada por vicissitudes, ou seja, por alternância de situações. Sabem que uma hora seu interesse é preservado, mas em outra é o de outra pessoa que é preservado. É assim que a banda toca, é assim que o mundo existe.

Se você sabe disso, viva o que tem para viver. Viva o momento em que o seu direito não é preservado em paz e tranqüilo, aguardando o momento onde ele será preservado. Quando não tiver o seu momento preservado, aceite que aquela é a oportunidade do outro ganhar, do outro fazer o que quer.

Já falei bastante a respeito da questão do respeito ao próximo. O respeito é uma expressão do amor ao próximo porque amá-lo é respeitar os interesses dele. Tudo isso acaba quando você se vicia em que as coisas têm que sair do jeito que quer, quando se vicia na idéia de que os outros só podem agir da forma que você considera como certa. Ou quando acha que só você sabe a verdade das coisas.

Imperfeições do ser - Textos

O vício do egoísmo e o sofrimento

Mas, além do desserviço, do não amor e do não aproveitamento da oportunidade da elevação, o vício do egoísmo traz conseqüências drásticas para você e só para você.

Eu lembro quando uma pessoa me disse que sofreu muito quando mandou o filho arrumar a cama antes de sair e ele não fez isso. Neste momento disse a ela: só você sofreu. Ele, com certeza estava se divertindo onde tinha ido.

Este é o grande problema: a ação vivenciada de uma forma viciada no egoísmo causa problemas a você. Por exemplo: a ação viciada no egoísmo causa perturbação mental. Aqueles que Krishna chama de seres mentalmente perturbados são os que são viciados em egoísmo, ou seja, os que dependem de que suas paixões, posses e desejos sejam contemplados.

Quando você tem uma regra rígida, fixa, que precisa ser seguida, como vive? Preocupado, ansioso, nervoso, com atenção imensa e por isso não relaxa. Tudo isso é fruto do seu vício no egoísmo. Nada disso tem a ver com a situação em si, pois ela acontecerá independente da sua vontade, já que a vida vive a vida.

Você, no entanto, não consegue viver a vida. Por quê? Porque está com a mente perturbada para poder manter a possibilidade de ter aquilo no qual é viciado.

Esse é um dos malefícios que o vício na defesa dos seus interesses, ou seja, no egoísmo, traz. É como o viciado na bebida: ele está sempre preocupado se tem bebida por perto para ele. A mente dele não relaxa, não descansa, pois precisa estar atento o tempo inteiro para garantir que tenha disponível a si o objeto do seu vício.

Quando as coisas custam a acontecer do jeito que você quer, seus interesses custam a ser acatado pelos outros, você tem síndrome de abstinência. Esta é caracterizada pelo nervosismo que vive aquele que não vê as coisas acontecerem do jeito que ele quer.

‘Meu Deus, nada dá certo para mim. Nunca consigo o que quero. Acho que joguei pedra na cruz’. Não é assim que vocês reagem quando os acontecimentos não estão de acordo com o que esperavam? Pois bem, isso é a reação ao não ter que se quer, ou seja, de estar se vivendo uma abstinência de ter seu egoísmo contentado. Porque ela existe? Por causa do vício em egoísmo. Você está tendo abstinência daquilo em que é viciado: que sua vontade seja satisfeita.

Reparem se quando afirmo que o sofrimento é causado pela abstinência gerada pelo vício do egoísmo não estou certo? É só algo acontecer que atenda as premissas desta pessoa e todo o sofrimento vai embora. Ela fica alegre, ri e brinca com todos. Não estou falando em precisar conseguir muitas coisas: basta alcançar um pequenino desejo e a felicidade volta. O viciado em egoísmo que tem seus desejos atendidos é como o viciado em bebida: quando consegue beber um trago já fica feliz.

Entendam: só vocês sofrem com o vício no egoísmo. O mundo, a vida, não está nem aí para vocês. Já cansamos de dizer que a vida não liga para o que você quer, não está atenta aos seus sonhos para realizá-los. Ela viverá do jeito que tiver que ocorrer. Isso é algo que acho que vocês já conseguiram observar: por mais que lutem contra a vida para impor a ela a existência de determinados acontecimentos, esta luta quase sempre é vã.

Imperfeições do ser - Textos

O vício do egoísmo e a elevação espiritual

Portanto, abrir mão deste vício, abrir mão dessa exigência, dessa defesa de interesses é até uma questão de inteligência, de defesa de você mesmo. Mas, mais do que isso, é uma questão de decidir se vocês vão ter que continuar reencarnando ou não.

É aqui que se decide o jogo. O jogo da elevação espiritual não se decide ouvindo Joaquim, estudando o livro dos mestres, realizando trabalhos espirituais, fazendo caridade material ou indo à missa ou ao centro. Ele se decide no serviço ao próximo, no amor ao próximo e a essência desse amor consiste justamente na aceitação de que o outro tem o direito de ganhar também.

Quando falo assim, não estou dizendo que você tenha que perder, nunca possa ganhar. Não é isso que estou dizendo. Estou falando que por ser até inteligente, por saber o quanto dói dentro de você um sofrimento, por saber que é um espírito que está encarnado, precisa ter a consciência que não vem à carne para corrigir o mundo, para ensinar o certo a ninguém, nem para passear, se divertir, construir família ou ter filhos. A única razão da existência da vida material é o trabalho da elevação espiritual e ele nada mais é do que libertar-se do vício do egoísmo, ou seja, aprender a esperar a sua vez, a sua hora de ganhar em paz, harmonia e tranqüilidade.

Vocês já observaram que a sua hora sempre chega. Como já disse, não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe. Portanto, espere, viva com calma o que lhe acontece, pois a vida mudará.

Quantas vezes ela já não mudou? Quantas vezes você já não achou que não existia a menor esperança de que as coisas mudassem e de repente na última hora aparece uma solução, que pode não ser a ideal, a perfeita, a melhor, mas que começa a lhe dar um alento.

Portanto, fique tranqüilo, mantenha a sua paz, mesmo quando tiver que aceitar que não ganhou. Exatamente a aceitação ao não ganhar é o libertar-se do vício da defesa de seus interesses, é o servir ao outro, é o amar ao próximo como a si mesmo. E sobre este ponto, nenhum dos mestres falou de forma diferente.

Todos sempre enfatizaram que saber viver, tanto faz na fartura como na carência, mantendo-se unido a Deus, ou seja, em paz, é o segredo para quem quer aproveitar a encarnação.

Imperfeições do ser - Textos

Hábito, vício e necessidade

Participante: gostaria que você diferenciasse hábito de vício e vício de necessidade. Se pudesse também falar de precisão de algo, de merecimento de algo e vontade.

Vamos por parte.

Hábito e vício. Sobre este assunto falaremos mais tarde quando abordaremos a formação do vício.

Vício e necessidade. Toda necessidade é um vício. Tudo que você necessita é o objeto pelo qual está viciado.

Participante: respirar também?

Sim, também é um vício. Só quem tem o vício de querer estar vivo materialmente é que precisa respirar. Quem não é viciado em estar vivo, respira, sem ter a necessidade de.

Participante: mas, o querer estar vivo não é necessário para que todos os seus carmas sejam vividos?

É o que venho dizendo: a mente sempre inventa desculpas para o vício.

Participante: então, é mentira que termos carmas a serem vividos?

Não, todos têm carmas que precisam ser vividos. Agora, tenha a certeza que esta vivência poderá ser diminuída por conta de uma ação sua depois de encarnado. Na hora que a morte tiver que chegar ela chegará, mas tenha a certeza que isso só ocorrerá quando todos os carmas previstos para esta encarnação forem vividos.

Saiba que o carma previsto para esta encarnação será vivido na integralidade e quando ele não for mais vivido é porque não havia mais carma para ser vivenciado.

Participante: então, eu não tenho o vício de respirar.

Você não respira simplesmente: acha que tem que respirar. Este tem que é que denota a existência de um vício.

Se você simplesmente respirasse, não haveria problema. Mas, porque acha que precisa, que deve, que tem que, o que seria um simples ato se transforma numa ação viciada que pode causar sofrimentos a você.

Como disse, o segredo da vida no sentido da elevação espiritual, da vivência da felicidade que Deus tem prometido, não está no que se faz, mas em como se convive com o que faz. A convivência onde existe uma exigência, seja qual for, é fruta de um vício. Esta forma de viver, como já vimos, lhe leva ao sofrimento e por isso lhe afasta do Pai.

Outra questão que você me perguntou: precisão de algo. É a questão da necessidade novamente. Se você precisa é porque depende daquilo e se existe a dependência, há o vício.

Merecimento de algo. Se você é filho de Deus, recebe do Pai tudo o que merece. O problema é que por conta das suas necessidades, ou seja, do vício do egoísmo, acha que merece outra coisa diferente do que recebe.

Sendo assim, a questão do vício que estamos conversando não tem nada a ver com merecimento. Deus lhe dá sempre tudo o que você merece e não deixará de lhe dar nunca. Agora, quando você diz que merecia alguma coisa específica está simplesmente utilizando-se do seu vício em egoísmo.

Para justificar este merecimento e dar a ele um valor de real, a mente usa de elementos politicamente corretos. ‘eu estudei muito, por isso merecia passar naquela prova’. Isso é um argumento politicamente correto gerado pela mente para que aquele que é viciado em vencer achar que o merecimento é real. Só que Aquele que realmente a tudo conhece achou que não havia merecimento. Você vai discutir com Ele?

Não se deixe levar por estas criações mentais. Vida da seguinte forma: ‘eu estudei muito, vou fazer a prova, mas se passar, passei, se não passar, ou estudo mais ou espero a minha hora de ser aprovado’.

Mesmo que você tenha virado cinqüenta noites estudando, se não for aprovado, não aceite que você merecia ter passado na prova. Viva este momento em paz e tranqüilidade para poder preservar a sua felicidade.

Imperfeições do ser - Textos

Viciado em Joaquim

Participante: com a conversa de ontem, como sempre, você me ajudou a ter equilíbrio emocional. Aí me pergunto: sou viciado em Joaquim ou simplesmente não consigo me considerar capaz de me sustentar emocionalmente durante período de crises ou ambas as coisas?

Não sei se você é viciado em mim. Para saber lhe pergunto: você me ouviu esperando uma resposta, uma ajuda? Se sim, está viciado, pois se tornou dependente de me ouvir para equilibrar-se emocionalmente. Agora se desta vez ou em outras que me ouviu por um acaso o que falei lhe ajudou, não há vício.

O vício está na dependência, na necessidade, o achar que tem que. Quando você chegar a conclusão de que porque está mal precisa me ouvir para melhorar, neste momento estará viciado. Agora, se está mal e por um acaso ouviu alguma coisa que lhe melhorou, não há vício.

Imperfeições do ser - Textos

O trabalho para o fim do vício

Participante: tenho tentado me olhar com olhos caridosos e você e os amigos do grupo me ajudaram na sustentabilidade emocional, mesmo não conseguindo isso o tempo todo. Aí é que está o grande barato nos ensinamentos deste grupo. Não importa o que está rolando na vida, usando os seus ensinamentos há a possibilidade de nós seres humanos sermos felizes. Obrigado por tudo.

E este é o grande barato da sangha, da comunidade de pessoas afins com nossos ensinamentos, que orientamos que as pessoas organizem. Seguindo os trabalhos que orientamos que sejam realizados por estas comunidades, mesmo sem saber ou sem ter a intenção, ou seja, mesmo sem uma ação para libertar-se do vício, o encontro acaba ajudando as pessoas a se libertarem do vício.

“NOTA: Joaquim está falando do trabalho roda espiritualista, cuja prática está no livro ‘O espiritualista e o amor ao próximo’.

O que vocês precisam entender é que para ajudar os outros não há a necessidade de haver uma intenção de ajudar. Às vezes, e isso já aconteceu diversas vezes com todos vocês, numa simples conversa sem nenhuma intencionalidade alguma coisa é dita que nos ajuda a resolver um problema que nos afeta.

Na hora que compreenderem o que estou dizendo, vocês freqüentarão as reuniões das comunidades sem obrigações. Poderão se reunir sem o ter que fazer, o ter que ser, o ter que acontecer, o tem que ser desta forma. Neste momento irão lá simplesmente para comungar com os outros e quem sabe ajudar e ser ajudado pelos outros. Na hora que entenderem que a única coisa que pregamos é a confraternização entre todos como trabalho ou ritual de ajuda, aí entenderam todos os ensinamentos que transmito.

Imperfeições do ser - Textos

A sedução material

Participante: sendo informado que sou um espírito na carne e que estou transitoriamente aqui, porque os vícios seduzem minha mente como se fossem um presente a ser desfrutado como compensação.

Para que você possa realizar a sua prova, para que possa justificar o fato de estar encarnado. Se você é um espírito e está na carne, está aqui para realizar provas e elas consistem justamente em ser seduzido ou tentado pelo diabo da mente, para ver se não aceita esta tentação.

O ego lhe dá a sedução material para ver se você responde que prefere a paz à conquista dos elementos deste mundo. Para ver se você sabe esperar a sua hora chegar ou se vai gritar e berrar exigindo que o mundo atenda rapidamente os seus anseios. Para ver se mesmo sendo tentado você continua quieto esperando que seu Pai lhe dê ou se vivencia a perturbação mental que a personalidade humana cria a partir da sedução que ela lhe faz.

Descobriu porque você é seduzido pela mente?

Aliás, gostei do termo que você usou: sedução. Sim, esta é a atitude que a mente toma. Ela lhe seduz adocicando a sua boca com a esperança de ser feliz e justamente por estar viciado nesta felicidade que ela promete que perde a sua felicidade pura e eterna.

Imperfeições do ser - Textos

Vergonha da sua situação

Participante: tive um choque consciencial onde me conscientizei que se estou preso a um corpo é devido ao amor de Deus e porque eu não amei em algum momento. Vindo aqui e ouvindo as coisas que falou me deu uma enorme vergonha da minha situação. Conhecer os vícios é descobrir os parâmetros para voltar a amar?

Conhecer os vícios é descobrir os parâmetros para você voltar a amar, mas não adianta querer atacar todos de uma vez, pois nada conseguirá. Na verdade, você nem trata algumas coisas como vício. Como exemplo cito as necessidades que imaginam existir nesta vida.

Agora a pouco me afirmaram que respirar é algo necessário. Lembra como respondi: que só quem é viciado em estar vivo é que tem necessidade de respirar. Quem não tem o anseio de permanecer vivo respira simplesmente. Mas, tem um detalhe que não falei neste caso: quem não tem necessidade de respirar, respira de forma idêntica de quem vive este momento como necessário.

Não sei se vocês já depreenderam de tudo que falei até agora, mas a questão o seu vício não muda em nada a sua vida. Se você é viciado em comer, ou seja, precisa de comida, a terá ou não na mesma quantidade que teria na vivência sem a necessidade. Querendo resolver um problema, a solução não depende da necessidade de resolver, mas acontece no mesmo momento que aconteceria se você não achasse necessário resolvê-lo.

Agora, voltando à sua pergunta, não se envergonhe de nada.

Sabe, não sei quantos anos você tem, mas de qualquer maneira tenho certeza que já há muito tempo vem ouvindo que é necessário amar o próximo, mas ninguém nunca lhe mostrou realmente como se ama. Ensinaram muitas coisas e disseram que determinadas posturas eram amar, mas como já vimos, todas elas sempre estavam presas numa pretensão individual e por isso não podem servir como expressão do amor ao próximo.

Como já disse diversas vezes, todos os trabalhos espirituais existem para auxiliar o espírito a cumprir os dois mandamentos da lei que Cristo estabeleceu: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O nosso trabalho, como uma das atividades de auxílio ao espírito encarnado, recebeu como missão explicar o que é esse amar.

Por isso ensinamos que amar é ceder a vez ao outro, é ceder a razão ao próximo, deixar o outro achar que sabe, sem que você tenha que lhe ensinar o certo. Este é o amor ensinado por Cristo e que você pratica por amor a você e não para ganhar. Se fizer estas ações que caracterizam o amor ainda esperando conseguir alguma coisa, nem que seja a elevação espiritual, terá apenas agido movido pelo vício do egoísmo.

Quando você entende o que ensinamos e começa a cobrar a ter que por em prática o que falamos, muitas vezes acaba caindo na cilada da mente e vive a vergonha, que não tem nada a ver com a felicidade. Muitas vezes o amar ao próximo e a si mesmo pode ser exatamente não conseguir agir sem vício de egoísmo e quando isso lhe envergonha, você não fez o que precisava fazer.

Por isso não se cobre nunca de nada.

Imperfeições do ser - Textos

A vontade individual e a de Deus

Participante: percebi que enquanto fizer a minha vontade não estarei preparado para fazer o que Deus quer que eu faça e o Pai me deu o merecimento de ser seu instrumento, que assim seja feito e que assim se cumpra.

Não é isso. É enquanto fizer a sua vontade, mas enquanto achar que tem que fazer.

Você disse que Deus lhe fez instrumento da vontade Dele. Será que acha que tem capacidade contra a vontade de Deus, ou seja, acha que se Deus lhe disse para fazer alguma coisa por vontade própria pode decidir fazer outra coisa? Acha que por sua vontade tem a capacidade de anular o que Deus seja feito? Se não, tem que entender que mesmo quando faça o que acha que quer fazer, o que acontecerá será o que o Pai mandou fazer.

Então, este não é o problema. O problema existe quando você acha que é obrigado a fazer o que quer, a que o mundo esteja de acordo com o seu certo, quando acha que todas as outras pessoas são uns idiotas e só você sabe como aquilo deve ser feito.

Imperfeições do ser - Textos

Síndrome de abstinência

Participante: ao tentarmos combater o vício não teremos crise de abstinência?

Com certeza, haverá crise de abstinência, mas não será você que terá, mas sim a mente. Será ela que gerará crises. Uma das formas que ela usa para criar estas crises é lhe dizer que mesmo tentando colocar em prática o que está ouvindo não consegue que o mundo ande como você quer.

Já contei por diversas vezes o caso de uma pessoa que nos ouvia. Ela era muito arrumadinha e o marido não. Na época eu ensinava que você devia prestar atenção a seus sentimentos para mudá-los.

Este casal vivia numa chácara grande e estavam sem caseiro, ou seja, o marido teria que cortar a grama, mas não fazia. Ela se irritava com aquilo. Ao ouvir os ensinamentos ela começou a não se irritar com ele, mas não lutou contra o seu vício. Por causa disso, ela ainda sentia-se incomodada com o fato da grama não ter sido aparada.

Um dia ela chegou para mim e disse: ‘já mudei meu sentimento, mas mesmo assim meu marido não corta a grama’. Eu perguntei: ‘qual o problema da grama estar alta’? Ela, então, respondeu: ‘atrapalha muito. Quem é que consegue viver com uma grama tão alta’? Aí mostrei que o problema não era a altura da grama, mas o seu querer: ‘você, pois acho que ainda está viva, não’?

Sei que já contei esta história outras vezes, mas gosto de relembrar fatos como esses, pois por conta da sua simplicidade nos mostra perfeitamente a ação do vício no egoísmo, na prisão às suas vontades.

A questão da síndrome de abstinência passa por histórias como essa. A mente exige de você que o seu desejo seja atento e joga na sua cara que a postura que está tomando a partir dos ensinamentos que ouve não lhe leva a viver o que é desejado.

Lembre-se, combater este vício não é fácil, pois ele está enraizado. Você não é uma pessoa que deu seu primeiro tapinha, ou seja, teve a sua primeira experiência com este material tóxico. Você consome esta droga a dezena de anos.

Então, sim, a mente vai gerar uma síndrome de abstinência. Já você, quando esta síndrome for proposta, deve rezar a célebre frase dos alcoólicos anônimos: só por hoje não vou me deixar levar por esta propositura mental.

Boa pergunta e importante para todos os que querem realizar este trabalho. É importante estarmos conscientes de que a mente criará uma síndrome de abstinência, exporá o desagrado por nada acontecer do jeito que você quer.

Quantas pessoas já não estiveram conosco e não continuaram por causa disso? Lembro de pessoas que se afastaram porque disseram que eu não conseguia realizar o que eles sonhavam conseguir. Isso é a mente se defendendo para não lhe deixar se libertar do vício. É como uma reação química intoxicante da bebida que lhe faz ver a quanto tempo está sem álcool para que você busque a bebida.

Por diversas vezes já disse: não confie em ninguém, nem Deus, em mim ou em você mesmo. Sua mente não aceitará placidamente que você se liberte do vício do egoísmo. Também não confie nos outros seres humanos, pois eles, além de usuários, são traficantes. Eles cobrarão que você se mantenha preso ao vício, pois se você libertar-se eles também terão que fazê-lo e não estão com disposição para fazer isso.

Imperfeições do ser - Textos

O amor pregado pelo EEU

Participante: fale-me do amor que o senhor prega. Como ele é?

Ele é isso que estamos conversando.

Este amor existe quando interiormente você diz ao seu irmão: ‘parabéns, eu perdi e você venceu’.

Este amor existe quando interiormente, sentimentalmente, você diz ao seu irmão: ‘você quer que as coisas fiquem deste jeito, então deixa assim’.

Este amor existe quando interiormente afirma: ´desta vez não deu para conseguir, quem sabe na próxima consigo’?

Este amor existe quando interiormente afirma: ‘eu fiz o meu melhor, mas se não fui considerado certo, não posso me culpar por isso’.

Ele existe quando ao invés de sofrer porque alguém foi promovido na sua frente, você aceita o acontecimento em paz e harmonia. Ele existe quando, ao invés de se lamentar por hoje não ter conseguido vencer, esperar em paz e harmonia que Deus faça a sua hora chegar. Ele existe mesmo quando esta hora demora a acontecer e você não se desespera.

Isto não é só o amor que nós pregamos, mas, pelo menos para mim, a única expressão do amor. Não aceitar o que a vida lhe oferece ou querer impor-se ao outro para obrigá-lo a ser, estar e fazer o que quer que seja feito, por mais que um código humano determine que seja feito daquela forma, para mim não pode jamais ser expressão de amor.

Sei que não conseguem ver nas minhas palavras o tema amor, pois falo de racionalidade, de racionalizar o pensamento, mas tudo o que disse é sobre o amar. O problema é que vocês são cem por cento razão, pois mesmo quando sentem ainda possuem motivos racionais para isso, mas querem amar sentimentalmente. Isso é impossível. O que vocês podem aprender é a raciocinar amorosamente e não amar.

Portanto, compreenda que o amar para vocês têm que ser vivenciado através de razões e a razão que espelha o amar é exatamente o libertar-se do vício do egoísmo, do querer para si antes do próximo. O ser humanizado ama quando acata racionalmente a realidade sem exigir que ela esteja de acordo com o que quer.

Imperfeições do ser - Textos

Vício e intencionalidade

Participante: o vício se confunde com a intencionalidade?

O que a intencionalidade expressa é a bebida, o cigarro ou o tóxico pelo qual você é viciado. É a droga que você usa.

O vício é a necessidade, a exigência de ter. Sendo assim, o que a sua intencionalidade diz que você quer é o produto que utiliza para satisfazer o seu anseio. É por isso que Krishna ensina que se deve viver sem intencionalidades.

Saiba que quando não há intenções, você não passa a depender do momento presente para ser feliz.

Imperfeições do ser - Textos

O vício e o corpo

Participante: o vício é orgânico?

Não, o vício é mental. Inclusive o vício de bebida ou tóxico. Eles não são vícios físicos, mas mentais, pois o desejo de usar aquilo pelo qual se é viciado é criado pela razão. É ela que cria dependência, que justifica a necessidade que o acontecimento ocorra, que o desejo seja satisfeito e que as paixões e posses sejam respeitadas.

Saiba que tudo é mental. O mundo não é físico, mas racional. Viver não é uma atividade física, mas mental, pois tudo só existe no mundo das idéias.

Imperfeições do ser - Textos

O vício e a raiva

Participante: posso ser viciado em ter raiva?

Quantos não são? Gostam de sentir raiva.

As pessoas que possuem este vício nunca analisam a situação tentando conseguir resolver o problema, mas querem sempre achar um culpado para poder sentir raiva. Quem tem uma mente que trabalha assim é porque está viciado em raiva. Ele precisa encontrar alguém pelo qual possa sentir raiva.

Neste momento estará feliz, satisfeito. Sentir-se-á bem porque se vingou, gritou, xingou, acusou.

Na verdade, não importa o que seja: tudo o que você precisa é um vício.

Imperfeições do ser - Textos

A busca da culpa

Participante: temos dó do viciado em elementos humanos porque o amamos ou porque ele como espírito é mais corajoso do que nós nas suas provas?

Não, porque são viciados em achar gente errada. Os seres humanos são viciados em impor erros às pessoas para enaltecer a si mesmo.

Tem algo que não disse hoje, mas se vocês prestaram atenção e conhecem o ensinamento, devem ter reparado. Sabe qual a motivação para a existência do vício? A vontade de ganhar e o medo de perder, a busca pelo prazer e o medo do desprazer, a busca do reconhecimento e o medo da infâmia e a busca do elogio e o mesmo da crítica. Todas as quatro âncoras são o que fazem o ser humanizado se viciar na exigência de que o acontecimento satisfaça suas vontades.

Estou falando de vício em egoísmo, mas para que você seja viciado nisso é preciso que seja egoísta. Se não fosse, não seria viciado nele.

Como são egoístas querem sempre ganhar e têm medo de perder, buscam o prazer e têm medo do desprazer, sempre querem o reconhecimento e têm medo da infâmia, lutam parta serem elogiados e têm medo da crítica. Por causa desta motivação é que se viciam nesta busca, ou seja, mais do que quererem estas coisas, passam a necessitar delas para serem felizes.

Como querem o reconhecimento, viciam-se nesta busca. É por conta dela que estão sempre encontrando erros no que os outros fazem. Para satisfazer sua dependência criam logo um errado, um erro ou alguém que não presta. É por conta desta necessidade de serem reconhecidos que vocês dizem que o viciado em álcool é uma pessoa errada e que merece sua piedade.

Tenho certeza que você não é viciado em álcool. Se fosse, teria dó dos que não são. Diria que eles é que estão errados e teria milhares de justificativas para provar que beber é muito bom. Para poder ter o reconhecimento, a fama, diria que quem não bebe é que não sabe o que está perdendo.

Não sei se você lembra uma conversa que tive com algumas pessoas quando uma pessoa estava ingerindo álcool enquanto eu falava. As pessoas presentes estavam perturbadas por alguém está bebendo no mesmo local onde estava se realizando uma palestra espiritual. Para transmitir o ensinamento que agora estou falando com vocês, perguntei: ‘quem autorizou beber aqui hoje’?

Fiz isso não para buscar um culpado, alguém que tenha autorizado a ingestão de álcool naquele momento, mas foram o que os que não estavam gostando daquilo fizeram. Quando começaram a acusar diversas pessoas por terem autorizado a ingestão do álcool ou até mesmo comprado a bebida, eu disse: ‘quem autorizou é quem está bebendo’.

É sempre assim. Quem acha bom, certo, beber, vai criar normas que permitam a ingestão de álcool; quem não gosta, sempre terá motivos para justificar que tal atitude não deve ser tomada. Por que isso? Quem está certo? Nenhum dos dois...

O álcool e o hábito de beber não têm nada de certo ou errado, por isso não pode ser normatizado. O tratamento que se dá a isso depende exclusivamente aos interesses individuais, ou seja, às paixões que cada um possui. Quem é apaixonado por beber acha certo fazer isso; quem é apaixonado por não beber, acha errado. É explorando estes conceitos que a mente cria o vício, ou seja, a necessidade de que sua opinião prevaleça sobre a do outro. Quando isso não acontece, para que a busca do reconhecimento esteja presente, ela cria a crítica.

Se o viciado em bebida não é errado, porque, então, se ter pena dele? Só tem quem é viciado em não beber.

Na verdade, o ser humano torce para que todos se bebam muito, pois só assim eles podem mostrar o quanto são bondosos, caridosos e se importam com os outros. Fazem isso não por maldade, mas porque são viciados em ser considerados o certo, em serem reconhecidos e elogiados.

Imperfeições do ser - Textos

Coisas novas saindo do baú de coisas velhas

A conversa está ficando pesada, ou seja, muitos conceitos que para vocês são inquestionáveis estão sendo questionados. Isso causa choque, mas se chocar é bom, porque senão você nunca muda nada.

Agora, um detalhe: aqueles que já me acompanham reparam que não estou falando nada novo? Já repararam que estou usando os mesmos conceitos que sempre usei em nossas conversas anteriores?

Em toda esta conversa não falei nenhuma novidade. O que fizemos foi aplicar tudo o que conversamos ao longo dos últimos anos ao tema vício. O que estamos fazendo, na verdade, é seguir um ensinamento de Cristo: o verdadeiro sábio é aquele que retira coisas novas do seu baú de coisas velhas.

Esta é uma coisa que vocês precisam se acostumar. Por mais tempo que estejamos presente no orbe terrestre não conseguiremos jamais cobrir todos os detalhes da vida humana. No entanto, tudo precisa ser questionado e uma nova forma de vivência precisa ser buscada para que exista a reforma íntima.

Por isso aconselho: tentem assimilar a essência de tudo o que dissemos e a partir daí questione todo o seu mundo mental. Se como já falamos, a vida é uma criação mental, tudo o que lhe vêm à consciência precisa ser questionado para que possa ser feito o trabalho da reforma íntima.

Não fiquem esperando que eu aborde qualquer aspecto da vida: sempre que ele estiver presente na sua existência, busque entender o mundo mental que está consciente naquele momento. Aí apliquem a essência do que já falamos e você poderá por si só mudar-se.

Imperfeições do ser - Textos

Origem do vício

Estamos falando das impurezas que o espírito vivencia quando encarnado. Falamos de algumas e agora estamos conversando sobre o vício.

Definimos vício como toda condicionante da felicidade, ou seja, ele existe quando há a consciência do ter que ser, estar ou fazer algo para ser feliz. Na última conversa mostramos os malefícios que o vicio traz: nervosismos irritação, preocupação e ansiedade. Agora vamos falar um pouquinho sobre a origem do vicio

Quando o ser humano ou a personalidade humana começa, o que vocês chamam de nascer, a mente não possui conceitos. Eles vão sendo colocados no seu mundo mental aos poucos através dos relacionamentos. São os amiguinhos da escola, a mãe, o pai, os irmãos, os avós, os tios, tias, primos. É a televisão, o rádio, o jornal e tudo aquilo com qual você entra em contato. Enfim, tudo que vocês recebem através das percepções do corpo e que vão sendo absorvidas e permanecem na mente dão origem ao conjunto de conceitos que possuem.

Chamamos a vivência constante destes conceitos de hábito ou costume. Ao serem absorvidos os conceitos formam um hábito e não um vício.

Habitualmente grupos de seres humanos costumam agir e reagir de determinada forma. Por exemplo: há sociedades onde existe o hábito do homem viver com duas, três, quatro mulheres, enquanto que em outras o hábito é ser monogâmico. Existem sociedades onde existe há o hábito de punir determinados crimes com a pena de morte; em outros não existe esta pena.

Estes hábitos, no tocante à elevação espiritual, não trazem problema algum, já que ninguém morre antes da hora e no universo não existem relações particulares. Sendo assim, os hábitos e costumes dos povos não se consistem em problema quando são passados pela mente do ser humanizado.

Imperfeições do ser - Textos

Hábito vs. vício

Mas, então, quando um hábito se torna um vício? Quando existe o eu sei que isso é certo, ou seja, quando você aprende, quando passa a saber.

Todo hábito ou costume é usado pela mente como uma informação. Ela não é certa nem errada: é o habito e costume daquele povo. Você nasce naquele povo porque precisa vivenciar estes hábitos e costumes.

Só que quando recebe da mente o hábito e deixa ele se transformar numa certeza, começa a haver, para aqueles que querem buscar a elevação espiritual, um problema, Por quê? Porque toda informação que é tratada como um saber, como uma verdade, se transforma num patrimônio próprio.

Aquele que sabe o que é limpo, o que é bonito, o que é certo, que conhece, sabe o que é errado. Aquele que tem uma informação e dá a ela o valor de verdade, de certo, é que condiciona a sua felicidade à necessidade de sua opinião prevalecer. Este adquiriu um vicio.

Quem acha certo existir a pena de morte em determinados casos, superou o hábito e chegou a um vício, pois defenderá seu ponto de vista frente a pessoas que tenham hábitos diferentes. Aquele que acha certo só se ter uma companheira, é um viciado, pois criticará o hábito de quem é poligâmico.

Ai está o momento onde você começa a se viciar. Ninguém se vicia arrumando cama todo dia, mas sim quando acha certo arrumar a cama. Ninguém se vicia fazendo a mesma coisa sempre nem vivendo hábitos, mas sim quando cria uma dependência do hábito que possui, quando acha que a sua habitualidade é certa, verdadeira e real.

Por que o hábito que é tratado como certo vira vício? Por causa do egoísmo. Tudo que você passa a saber torna-se um patrimônio seu e o egoísmo vai obrigá-lo a defender esta verdade Neste momento surgiu o vício, a dependência.

Imperfeições do ser - Textos

O vício e a encarnação

Sendo tudo isso verdade, qualquer vício que um ser humanizado vivencie não existe por acaso, mas está sempre ligado ao gênero de provas que o espírito escolheu.

Quando o espírito antes de encarnar, por exemplo, se conscientiza da necessidade de lutar contra a ganância, isso o faz encarnar num povo onde a busca da riqueza material individual seja hábito e costume.

Antes da encarnação ele se prepara para ser colocado num ambiente onde lhe será transferido o hábito de ser ganancioso. Para que isso acontece? Para ver se ele consegue conviver com a ganância que a mente cria a partir das informações sem se viciar em ter ganância. Sem e viciar em desejar ter tudo, sem ser viciado em achar que só ele tem o direito de estar certo.

Se o hábito é a prova, o vício é a falência na provação...

Por exemplo: para fazer uma provação, o espírito arruma sua cama todos os dias na hora que acorda. Este hábito é a provação do ser encarnado. Viver isso não quer dizer que ele é viciado em arrumar cama. Quer dizer que ele tem a cultura de fazer esta arrumação diariamente.

Acontece que a mente vai além. Ela, mais do que passar a cultura, a usa como saber e diz que aquilo é o certo, uma norma que deve ser seguida. A partir daí começa a exigir que você e outros pratiquem a mesma ação. Quando o ser encarnado recebe esta informação e a aceita, ele se torna viciado naquele hábito e, por conta disso, não passou na sua provação.

Imperfeições do ser - Textos

Libertando-se do vício

Sendo, então, o hábito a prova e o vício a falência dela, como então se desviciar? Passando a viver os hábitos e costumes do seu núcleo, seja familiar, regional, de país, não importa, sem fazer com que eles se tornem um dependência para você ser feliz, se que se tornem uma necessidade para você ser feliz.

Este é o processo de desviciar, mas para realizá-lo vocês precisam estar muito atentos ao dia a dia, já que nenhuma mente aponta um vício. Na verdade, ela inventa histórias para tornar politicamente correto o seu vício.

As normas de etiquetas, por exemplo, são criações da mente que transformam em politicamente correto o vício de arrumar a cama todos os dias pela manhã. Por conta delas, você passa a imaginar que é preciso fazer determinadas coisas e com isso torna-se um viciado, um dependente. Este é o momento onde é necessário se desviciar.

Sobre o trabalho do desviciar, lembro que muito tempo atrás eu dei uma dica para as pessoas se libertarem do conceito: ao levantarem-se da cama usem o pé diferente daquele que usam para levantar todos os dias. Estando acostumados a primeiro colocar o pé direito no chão, passem a colocar o esquerdo ou vice-versa. Simples assim...

Porque esta postura ajuda no desviciar? Porque quebra o piloto automático que você liga na sua relação com a mente no início do dia.

Você acorda e a mente começa a falar. Ela começa a propor os vícios que já foram adquiridos e você, que ainda está meio que dormindo, os vivencia sem questionar as condicionalidades que impõe à vida. Por conta disso acaba vivendo o dia inteiro o que a mente disser para viver e não realiza o trabalho de se desviciar que precisa fazer para viver a felicidade que Deus tem prometido. Portanto, é quando você acorda a hora de começar a se desviciar.

Ao acordar e a mente exigir que tem que fazer a cama, responda: hoje eu não vou arrumá-la. Deve fazer isso não para aprender a não arrumar a cama, mas sim para se desviciar, aceitar que também se vive sem arrumar a cama.

Desviciar não é deixar de fazer ou fazer de uma forma diferente como um novo hábito ou costume. Fazendo isso o novo hábito e costume vai acabar virando um vício. Para se desviciar é preciso deixar de fazer um dia e fazer no outro, fazer dois e deixar de fazer três, etc., sem que haja sofrimento no dia que não fizer o que está habituado.

A alternância entre fazer e não fazer deve ser executada só para provocar a mente, para que veja o quanto o fazer ou não interfere no seu estado de espírito, o quanto aquilo mexe com você.

Imperfeições do ser - Textos

A fraqueza do ser humanizado

Aquele que está viciado, ou seja, é dependente de realizar determinadas ações para ser feliz é igual a quem é viciado em álcool e não tem bebida à sua disposição: sai aflito, desesperado, procurando pela casa aquilo pelo que é viciado. A imagem da cama desarrumada, por exemplo, faz com aquele que é viciado em arrumá-la a mesma coisa que a ausência da bebida faz com quem tem o vício no álcool.

‘Poxa, hoje não arrumei a cama. Preciso arrumar... Já são 10 horas e ainda não arrumei’... É nesta paranóia que entra aquele que é viciado em arrumar a cama quando se levanta de manhã.

Este não é um estado normal, um estado de alguém respeitador das normas de etiqueta, mas sim uma paranóia. É preciso que trate esta postura desta forma para poder compreender o que está vivendo. ‘Para aí... Eu digo que quero buscar a elevação espiritual, viver a felicidade que Deus tem prometido, mas deixo simples o fato de não ter arrumado minha cama acabar com tudo que digo querer’?

Vocês precisam se conscientizar do quanto são fracos na sua determinação. Dizem que querem ser felizes, mas o simples fato de uma pessoa não fazer o que você quer caba com toda a determinação. O simples fato de não conseguir resolver um problema é tão forte para você que é viciado em ter que resolver tudo que estraga sua felicidade?

É o quanto são fracos que precisam sentir e é isso que não conseguem sentir. Por quê? Porque vivem o dia inteiro no piloto automático e acreditam nas justificativas que a mente cria: ‘eu preciso pagar a minha conta em dia porque se eu não pagar vai acontecer isso, vai acontecer aquilo, vai acontecer aquilo outro’. Quantos estão devendo? E daí? Estão presos, Morreram? Não, continuam do mesmo jeito. Portanto, isso é só uma ameaça que a mente cria para poder lhe manter preso ao vício.

Imperfeições do ser - Textos

A programação e a libertação do vício

Participante: Se a vontade de Deus for que a pessoa continue experimentando um vício, de que adiantará a ela se desviar não dando atenção a mente?

O vicio não está na mente, mas sim em você. É a mesma questão que já falei sobre o egoísmo: a mente não é egoísta, ela propõe um egoísmo. São coisas diferentes. Neste caso, o egoísta é você quando aceita a proposta de egoísmo gerada pela mente.

A mesma regra se aplica à questão do vício. Ele não é da mente; ela apenas o propõe, ou seja, lhe oferece o copo da cachaça. Ela pode oferecer o quanto quiser sem que isso a torne alcoólatra, pois você toma se quiser ou não. Aceitando, quem é viciado é você e não quem lhe ofereceu a bebida.

Trazendo esta questão para o nosso assunto, os vícios genéricos da vida, digo que a mente lhe diz que existe um padrão de limpeza que precisa ser seguida; você pode ou não aceitá-lo. Aceitando torna-se um viciado e por isso aceita as cobranças que a mente cria dos outros. Mas, no seu mundo mental também não existe a informação que este padrão e só seu e que você não deve exigir dos outros que tenha a mesma limpeza? Sim. Então você tem as duas informações disponíveis e escolhe a que quer vivenciar: ou vai aceitar a crítica que a mente cria ou não.

Participante: nós temos esta opção de escolha?

Sim, você tem esta opção de escolha. Não em palavras, mas em emoção.

A mente diz que determinada pessoa é vagabunda porque não limpa a casa. Junto com este raciocínio ela propõe uma emoção. É esta que você pode rejeitar.

Quando exponho o faço em palavras porque não há como tornar consciente a você uma idéia sem a utilização de vocábulos, mas a opção que você tem é apenas sentimental. Usando palavras, então, a sua opção está em quando a mente disser que uma pessoa é vagabunda por não limpar a mesa, responder: ‘sim, ela não limpa e por causa disso a mesa está suja. E daí? Será que sou o juiz do mundo para criticar esta pessoa’?

Estou usando palavras para mostrar uma postura sentimental, pois é neste campo que você tem como agir e não no que é pensado ou feito.

Imperfeições do ser - Textos

O pensamento e o vício

Participante: como posso identificar quando é só um pensamento raivoso ou quando já se trata de um vicio em ter raiva?

Não existe pensamento raivoso, existe um pensamento que conta uma história para justificar a raiva. Se você aceita os argumentos que ele expõe, aceita a raiva. Neste momento você passa a ter raiva.

Sendo assim, todos os argumentos que a mente crie e que condicione a sua felicidade ou exponha um sofrimento, não devem ser aceitos. Aceitando-os você passa a ter um vício e um sofrimento.

Imperfeições do ser - Textos

Negatividade

Participante: porque a mente sempre está nos levando para a negatividade?

Porque ela foi criada como instrumento da sua prova. Ela é o diabo, ela tem que lhe tentar. Ela lhe propõe a negatividade para ver se cede a tentação e a segue ou se a abandona e fica na positividade, com Deus.

Ela não é má nem errada ao propor negatividade: é um instrumento de geração da sua prova. Classificar a mente como má ou errada é a mesma coisa que dizer que o revólver é o culpado pelo assassinato. A culpa está em quem atira e não no revólver. Da mesma forma, a negatividade não está na mente, mas em quem aceita o que ela propõe acreditando que é certo, bonito, etc.

Nem pela sua ação (geradora de tentações para o ser encarnado) a mente pode ser considerada como má, já que não há nenhuma negatividade que ela proponha que você como espírito não tenha pedido antes da vida como gênero de provação desta encarnação. Saiba que todos os vícios que ela lhe propõe são representações do gênero de prova que você escolheu.

Se você, por exemplo, é viciado em organização, em organizar as coisas, em ter um padrão onde às coisas devem estar, é porque enquanto espírito já estudou esta questão e viu que isso não é uma maneira universal de viver. Por conta desta vivência, antes de encarnar pede para lutar contra o vicio de ser organizada. É por causa do seu pedido que a mente com quem convive nesta encarnação tem o hábito de organizar as coisas de uma determinada forma.

Sendo assim, ela não é culpada, mas instrumento do que você pediu. A culpa, se houvesse, seria sua, pois sabia o que ia enfrentar e sabia que não deveria se deixar levar pelo que a personalidade humana propusesse, pois senão correria o risco de se viciar naquele hábito.

É por isso que a mente e nem o que ela cria pode ser considerada mal ou negativo.

Imperfeições do ser - Textos

Libertando-se do vício do prazer

Participante: ao sentir prazer pela situação negativa que o outro está passando, como posso me harmonizar com este tipo de sentimento?

‘Estou sentindo prazer, e daí’? Este prazer não é meu; ele está vindo da mente’.

O problema não está no que a mente cria, mas na forma como reage a esta criação. Se a mente trabalha com um vício, isso não é problemático no sentido da elevação espiritual; o problema está em você viver isso também. Esta máxima vale para todas as coisas.

Por exemplo: o problema não é ter desejos, mas sim desejar aquilo que é desejado pela mente. O problema não é você querer ter um carro. Isso é hábito, é um costume de um povo, O povo de hoje tem o costume de ter carro. Mas, quando esse desejo se transforma num condicionamento de felicidade, neste momento virou problema.

‘Ah meu Deus do céu, eu preciso ter um carro e não consigo. Por causa disso tenho que andar neste ônibus apertado. Que coisa horrível. Minha vida é uma desgraça mesmo’. É neste momento que começa o problema para quem está buscando aproveitar esta encarnação para realizar o trabalho da elevação espiritual. Estas posturas surgem na mente porque você aceitou o desejo que ela criou, ou seja, desejou o que foi desejado por ela.

Voltando ao que você me perguntou, se ao ter o prazer imaginar que não poderia estar vivendo aquela emoção, está frente a um problema grande, já que deu asas a um novo hábito que a mente gerou: a luta contra o prazer. Esta vivência de querer ser certinho, de querer ser o bom, de querer ser o elevado, não é certa: é um vício que você adquiriu.

Saiba de uma coisa: a mente não vai se elevar nunca. Ou seja, ela não vai viver hábitos e costumes que você aplica a seres elevados, a não ser que seja programada para isso. Sendo, a vivência dela não é verdadeira ou rela, mas sim uma prova. Ela cria o hábito de viver de acordo com os ensinamentos não porque compreendeu que é preciso fazer ser assim, mas para ver se você vai se viciar em ser bonzinho.

Então não se assuste... Está tendo prazer pelo sofrimento dos outros? E daí... Isso é só uma provação para ver se você age com o vício de ser bonzinho, de não ter este prazer.

Não tenha medo de ter prazer. Se ele não altera a sua emoção, ou seja, se ele não é fruto de uma condicionalidade da felicidade, não tem problema algum.

Imperfeições do ser - Textos

Embriaguez

Participante: se for gênero de prova de um espírito é embriagar-se e sendo embriagado é um ato que não se pode alterar por ser Deus a Causa Primária de todas as coisas, como evitar esta embriaguez?

Se Deus é a Causa Primária da embriaguez, como evitá-la? Só Deus sabe. Ele é a causa primária da embriaguez. Então como é que você vai deixar de se embriagar?

Cuidado com suas preocupações...

Repare uma coisa. Estamos falando a algum tempo sobre vício e eu não dei exemplos de cigarro, tóxico e bebida. Agi assim porque usar estes elementos não é vício. O vício não é beber, mas sim depender da bebida para ser feliz. Se ao beber você toma um copinho ou a garrafa toda, para nosso estudo isso não tem problema algum.

Portanto, esqueça o problema de se embriagar. Esqueça o problema da quantidade que bebe ou nos aparentes efeitos que a bebida traz. Isso porque o vicio não tem nada a ver com a quantidade de bebida que bebe. Ele é a dependência para ser feliz e não a utilização, mesmo que constante, de determinado elemento.

Este raciocínio, é claro, vale para a bebida, o cigarro e o tóxico, mas não só para eles. Isso vale para a limpeza, para a arrumação, para o obrigar os outros a não beberem, para o ato de fazer carinho, etc. Esta visão do vício vale para tudo, para toda e qualquer atividade humana.

Se você é viciado num único jeito de se limpar depois que usa o vaso sanitário, ou seja, se precisa limpar-se de uma determinada forma para sentir-se limpo, você está viciado nisso. Sei que desci a um exemplo chulo, mas fiz isso para ficar bem clara a questão do vício. Saiba que para o os olhos do universo este vicio é tão danoso quanto o do cigarro, da bebida ou do tóxico.

Sabe por que que ele e tão danoso? Porque este vício caba com o amor ao próximo. Por causa dele vai querer ensinar ao seu filho como ele deve se limpar. Neste momento acabou de quebrar o livre arbítrio dele.

Além do mais, por conta dele você assume o papel de superior, porque acha que sabe a forma correta de se limpar. Observe: ninguém sabe se o seu jeito é o jeito certo; só você imagina isso. Mais: por conta deste vício vai quebra um ensinamento de Cristo, pois se ver alguém se limpando de forma diferente o chamará, nem que seja mentalmente, de porco, já que ele não soube se limpar do jeito certo.

Pronto: o seu amor ao próximo acabou. Acabou porque você quebrou o livre arbítrio de alguém, se sentiu superior aos outros e criticou quem não comunga do seu ponto de vista. É por isso que este vício ou qualquer outra coisa neste mundo que consideramos como a forma correta de se fazer é danosa ao universo.

Fora do orbe terrestre os espíritos convivem em perfeita harmonia respeitando o direito do outro ser diferente. O vício, ou seja, a dependência de qualquer coisa para ser feliz, acaba com isso.

É por causa disso que lhe oriento: esqueça a questão do beber e do embriagar-se. Preocupe apenas em não sentir-se obrigado a fazer nada e não querer obrigar ninguém a fazer nada.

Imperfeições do ser - Textos

O inimigo número um

Participante o vício é o general que precisamos combater?

Não diria que o vício é o general do exército que lhe faz frente no combate pela elevação espiritual. Na verdade, ele é o caminho para identificar quem é inimigo ou não...

O exército inimigo que você precisa combater são as normas e regras que são usadas pela mente para a geração do sistema humano de vida. Tudo aquilo que você acredita como certo ou errado, bonito ou feio, bom ou mal e que geram obrigações e necessidades são os soldados do exército inimigo. Já o general, o que faz estes soldados se tornarem seu inimigo, é o egoísmo.

O egoísmo é, vamos dizer assim, a poluição máxima que você tem, a poluição mais enraizada. Apesar da sua importância, dificilmente você a atingirá diretamente sem libertar-se do vicio. Por quê? Porque o seu maior vício é defender seus interesses.

O problema para quem busca a elevação espiritual é querer ganhar sempre, é querer ter o prazer sempre, é querer ser reconhecido, é querer ser elogiado. Lembra? As quatro âncoras. Para libertar-se dela é preciso compreender a questão do vício, pois só assim vai conseguir deixar de querer ganhar sempre. Enquanto não atacar o vício, achará normal o querer ganhar.

É por isso que disse que o vício é o caminho para identificar o inimigo. Quando se desviciar, ou seja, não achar mais normal querer ganhar alguma coisa, você pode identificar as normas e regras que são usadas para gerar obrigações e necessidades e com isso tem um soldado para atacar.

Imperfeições do ser - Textos

O vício da culpa

Participante: achar que acontecerá um problema no futuro como fruto de seus atos presente é um tipo de vício se culpar?

Se culpar é um vício. Quanto ao instrumento para a utilização do vício que você citou (achar que de determinada ação resultará determinado acontecimento) eu tenho algumas considerações a fazer para não deixá-lo viver o seu vício.

Como a mente se pronuncia para lhe fazer viver este vício? ‘Eu não disse? Para que você fez seu idiota se já sabia que ia acontecer assim’. Quem se deixa levar por esta consciência vive o sofrimento por conta do vício de achar que uma determinada ação sempre resultará em um determinado resultado. No entanto, quantas vezes a sua mente já não achou que lá na frente ia acontecer uma determinada situação e não aconteceu?

Portanto, aquilo que está se imaginando que vai acontecer, na verdade, apenas pode acontecer: não é uma certeza. Sendo assim, quando coincide de acontecer o que foi previsto, o que lhe causa a culpa: foi o que ocorreu? Não, foi o seu imaginar que é capaz de saber o que vai acontecer.

Se o futuro pode ser ou não da forma que se imagina, porque a mente ainda trabalha com estas possibilidades? Para que você possa viver o vício de se culpar.

Imperfeições do ser - Textos

Eliminar todos os vícios

Participante: tem como se libertar de todos os vícios (condicionamentos) nesta vida? Tendo, como é o viver apenas no aqui e agora?

Não, não há como se acabar com todos os vícios. O vivenciar os acontecimentos de uma forma viciada acontecerá, ou seja, você vai cair algumas vezes na tentação gerada pela mente. Quando isso ocorrer, você não deve ser viciado em acertar.

Eu já disse por diversas vezes que este é um mundo de provas, não de realizações. Você está aqui para provar que quer fazer a reforma íntima, não para fazer. Sendo assim, é um mundo onde deve provar a si mesmo a sua intenção de se desviciar, sem estar viciado no ter que se desviciar.

No próximo mundo ou sentido de encarnação sim, os que encarnarem deverão acabar com todos os vícios, mas por enquanto basta provar a si mesmo a sua intenção ao encarnar.

Imperfeições do ser - Textos

O dano e a dor causado pelo vício

Participante: qual o dano e a dor causada pelo vício?

O dano que o vicio causa: não deixar você cumprir o mandamento ensinado por Cristo – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

 Por ser viciado no egoísmo, você vive todos os vícios querendo ganhar. Quem quer ganhar está mais preocupado com sua própria satisfação do que com Deus. Quem quer ganhar ama a si mais do que ao outro. Por não deixar cumprir este ensinamento eu digo que o vício no egoísmo lhe causa um dano.

Quais as dores que ele traz? Preocupação, ansiedade, nervosismo, estresse, etc. Tudo aquilo resultante de uma tentativa de controle dos acontecimentos do mundo. Sendo viciado em que o acontecimento ocorra de um determinado jeito, você vai viver estressado de tanto vigiar os elementos do mundo para certificar-se de que eles ajam do jeito que quer.

Se alguém estiver fazendo uma coisa diferente da forma que você sabe como tem que ser feito, você terá que contrapor-se ao que está sendo feito para poder garantir que seu modo de fazer seja preservado. Isso causa estresse, ansiedade, etc.

Digo que estas emoções são dores porque mesmo vocês humanos dizem que doem e não querem viver. Apesar disso se entregam ao vício do egoísmo. Dizem que querem acabar com o estresse e o nervosismo, mas não mexem um centímetro na defesa de seus próprios conceitos para poderem se libertar deles.

Para libertar-se do estresse e do nervosismo necessariamente o ser humanizado precisa dar ao outro o direito de ser, estar e fazer o que quiser. Enquanto isso não acontecer, ou seja, enquanto o ser humanizado for viciado numa determinada forma de ser, estar e fazer fatalmente viverá estas emoções e, por isso, sentirá dor. Portanto, enquanto você for viciado no certo, ou seja, enquanto estiver vivendo hábitos e costume com um vício no egoísmo, jamais conseguirá deixar de ter estresse, de se preocupar, de ser ansioso.

Na verdade, quem se libertou do vício é aquele que vocês chamam de cuca fresca, que não liga para nada. Este não sofre e sente dor e ama a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo.

Imperfeições do ser - Textos

O vício pelo desviciar-se

Participante: quando descobrimos um determinado vicio isto pode nos mostrar o trabalho que viemos fazer nesta encarnação?

Sim. Mostra que trabalho deve ser feito, já que lhe mostra do que precisa se libertar. Mas, lembre-se: não pode se viciar no trabalho...

O problema é que quando alguém descobre que tem um vício ela imagina que tenha que combatê-lo. Quando o tem que ser feito é aceito, um novo vício se criou e a dor e dano que acabei de falar aparecem...

Vou dar um exemplo do que estou falando para ficar mais claro. Digamos que você goste de ir a determinados eventos sempre com a mesma camisa. Viciar-se nela é achar que tem que ir. Isso provoca um dano, pois quando não puder ir com ela viverá um sofrimento, o que prova que não amou a Deus acima da camisa e nem a quem não a aprontou. Além do mais, causa dor, pois antes de ir se preocupará se a camisa está limpa ou não para poder ir e, caso ela não esteja disponível naquele momento, sentirá desilusão por não poder usá-la.

Libertar-se do vício não é deixar de ir com ela. Você tem todo direito de querer ir com ela a determinados eventos. O que não pode é transformar este desejo numa obrigação, ou seja, tenha o seu desejo, mas se conseguir realizá-lo viva em paz, se não conseguir, permaneça no mesmo estado de espírito.

Não há nada que esteja afirmando agora que não tenha dito anteriormente. O que sempre disse é que você deve viver os acontecimentos do mundo com o pode ser ou pode não ser. Quando para você tanto faz ir ou não com aquela camisa, mesmo querendo ir com ela, não haverá vício.

Tudo pode ser e pode não ser. Portanto, vamos deixe chegar a hora de se arrumar para ver se a blusa que tanto gosta está disponível ou não. Se estiver, vista-a, se vestir. Se não estiver, vá com outra sem se lamentar por causa disso.

Na hora que entender esta dinâmica de viver não vai terá mas o menor motivo de estresse na sua vida.

Imperfeições do ser - Textos

O modelo econômico e a felicidade

Participante: a vida regida pelo modelo econômico como hoje conhecemos um dia vai acabar para que a humanidade viva a felicidade?

O modelo econômico do planeta não traz problema algum à felicidade do ser humanizado. Por isso ele não precisa acabar para que vocês sejam felizes. O que precisa acabar não é o modelo econômico, mas sim o modelo humano de vivência da vida: uma existência regada por um conjunto de normas e leis que geram obrigações e necessidades. É isso que precisa e vai acabar neste mundo.

O modelo econômico não traz problemas, mas sim você achar que tem o direito de ter alguma coisa. Quando isso existe e não há o dinheiro disponível para adquirir este desejo é que existe o sofrimento. Ele não é causado pelo que é desejado, mas sim por achar que tem o direito de ter.

‘Sou um ser humano igual os outros. Trabalho, produzo e ganho meu dinheiro. Por isso tenho o direito de comprar um computador’. Isso não existe. Você tem o direito de comprar o que lhe é possível comprar. O que não lhe é possível adquirir por qualquer motivo não está dentro do seu direito. Quem pensa ao contrário vive um vício, uma dependência de algo para ser feliz. Na hora que cada ser humanizado viver com aquilo que tem em paz e harmonia sem achar que precisa ter além do que possui, qual o problema se o sistema é capitalista ou socialista?

Lembro uma vez que estávamos falando de clonagem e uma pessoa me disse que viu um filme futurista. Nele as pessoas eram geradas de acordo com a necessidade do mundo. Por exemplo: havia necessidade de varredores de rua e eram gerados cinqüenta seres humanos com estrutura para exercerem esta função; havia necessidade de professores, então eram geradas pessoas com capacidade para exercer esta função. Ou seja, no filme as pessoas eram geradas com estrutura para executar determinadas tarefas.

Lembro, ainda, que respondi a esta pessoa perguntando porque ela havia estranhado isso, pois hoje já é assim. Nascem seres humanos que, por conta de suas próprias limitações ou meio onde vive, nascem destinados a somente serem varredores de rua. Não é assim que acontece?

Sei que você deve estar chocado por ter falado assim. Este choque nasce porque você é viciado em ter que progredir, em buscar algo melhor. Por conta deste vício, acha que ser varredor de rua é algo pequeno, constrangedor. Mas, não há o menor problema em ser um gari Aliás, lembro que diversas perguntei as pessoas como elas se sentiriam se não houvesse pessoas que recolhesse o lixo das ruas. Pelo que disseram que sentiriam chegamos, então à conclusão que ser varredor de rua é uma profissão importante para sociedade.

Varrer rua não é humilhante para ninguém e por isso nascer com este destino não pode ser problema para alguém. Mas, para alguns é. Por quê? Porque querem ser médico, advogado, etc. Para este é problema ter um destino que o leva a viver da coleta do lixo na rua.

Usei este raciocínio para lhe mostrar que o problema do não ser feliz não está no sistema econômico de vida, mas no vício do ser humanizado, no tem que ser de uma determinada forma para haver felicidade. Não é o sistema que oprime quem varre ruas, mas sim o vício no tem que ser mais do é que faz isso.

Apesar disso, afirmo que o sistema econômico atual do planeta acabará e outra forma de relacionar-se acontecerá. Esta mudança por si só, no entanto, não levará o ser humanizado à felicidade. Enquanto ele for viciado no tem que ser, estar e fazer de determinada forma terá dores e prejuízos.

Imperfeições do ser - Textos

Amar a si mesmo

Participante: Amar ao próximo é aceitá-lo como ele é? Amar a si mesmo, o que é?

Amar ao próximo é respeitar o livre arbítrio dele, o direito dele ser estar e fazer o que quiser. Vocês falam tanto e defendem tanto o seu livre arbítrio, mas saem correndo para roubar o livre arbítrio dos outros. A liberdade de ele fazer o que quer deve ser sempre mantida, mesmo que o que queira seja contra você.

Já amar a si mesmo, depende... Amando a si mesmo como ser humano, é defender os seus interesses humanos. Cada vez que age no sentido de defender os seus interesses humanos, está se amando. Agora, se você busca a elevação espiritual, amar a si mesmo é defender esta busca.

Amar a si mesmo é defender aquilo que você quer para si. É desta definição que surge o problema para os espíritos durante a encarnação. Vocês se dizem espiritualista, dizem que estão buscando a Deus, mas só defendem a sua materialidade. Se parassem com a busca da elevação espiritual e vivessem fundamentados no sistema humano de vida, não haveria problema algum.

O problema da maioria dos espiritualistas é que eles fazem como o ditado: vivem com um olho no peixe e outro no gato. Lembro-me de uma moça de são Paulo que me disse: ‘Joaquim, quando estou aqui tudo fica simples, fácil, e eu amo você. Quando saio e começo a ouvir o que foi dito fico com raiva de você e nem quero saber sobre o que você ensina’. Eu disse a ela: ‘isso acontece porque aqui vocês estão trabalhando as suas mentes para aceitarem o que digo; quando estão lá fora, trabalham com suas mentes presos ao que ela diz’.

Imperfeições do ser - Textos

O vício de sentir-se bem

Participante: e as pessoas que só se sentem bem em determinados ambientes como áreas de praias ou em moradias afastadas da cidade, isso também seria um tipo de vicio?

Sim. Vício é condicionamento de felicidade. Sendo assim, se você for feliz na praia ou no meio da rua mais movimentada, não é viciado; agora se precisar de uma coisa ou outra para ser feliz, isso é vício.

Natureza não tem nada de sagrado. O mesmo Senhor que cria a flor, a brisa, o vento, as flores e o verde é Quem cria a poluição, é Aquele que coloca a poluição no verde. Isso porque Ele é a Causa Primária de todas as coisas. Portanto, não há nada de sagrado. Quem torna algo sagrado é a mente. Para que ela faz isso? Para você se viciar nessas coisas.

Eu lembro que uma vez disse para quem me perguntou sobe a questão da impossibilidade de se desligar das coisas materiais por conta dos elementos da natureza que era por isso que ele estava reencarnando há sete mil anos. Continuam reencarnando porque estão viciados em achar bom ouvir o canto do passarinho, ver o nascer e o pôr do sol, ver as flores. Como no mundo espiritual não há nada disso, vocês não realizam o trabalho necessário para não mais voltar para cá.