Reforma íntima - Textos - volume 01

Reforma íntima - Textos - volume 01

Coletânea de textos curtos oriundo de transcrições de falas de Joaquim de Aruanda

Reforma íntima - Textos - volume 01

O trabalho da reforma íntima

Uddhava perguntou:

Ó Krishna, muitos dos mortais sabem que o contato dos gunas objetivos (objetos, coisas) com os gunas sensoriais (sentidos) geralmente é fonte de perigo e perdição. Por que, então, os homens se deliciam com tal contato, como fazem um cão, um asno ou uma cabra? (Bhagavata Puranas – capítulo 7 – versículo 8).

Vejam que tema interessante será abordado hoje. Uddhava, discípulo que conversa com Sri Krishna nesse texto, faz a pergunta que todos vocês me fazem. Ele pergunta ao mestre por que o homem que já tem notícias da influência do pensamento sobre a vida, o que é o caso de vocês, aceita esta influência?

Em essência é exatamente esta a questão que vocês levantam quando me perguntam: ‘já entendi tudo, mas por que não consigo colocar na prática?’ Através da resposta de Krishna, buscarei responder, de uma vez por toda, pelo menos para nosso grupo, aos questionamentos mais freqüentes de vocês: como se faz a reforma íntima para alcançar a elevação espiritual? Como se consegue levar à prática tudo o que temos estudado?

O Bendito Senhor disse:

No coração daquele que não está atento e que não discerne, de forma aparentemente espontânea levanta-se o pensamento de eu e meu; depois disso, uma horrenda tendência rajásica se apodera da mente de tal homem (atividade egocêntrica e egoísta), que, originalmente, será sáttvica (ou pura e impessoal).

E o pensamento, arrastado pelas tendências rajásicas, cobiça os desejos que reforçam aquele, graças a toda espécie de raciocínio. E, depois de muito insistir nas qualidades supostamente atraentes de uma coisa (pensada), o néscio passa a sentir por ela uma ânsia veemente e desordenada.

Dominado por esta ânsia, o homem, incapaz de dominar-se, passa a executar ações intencionais, cujos frutos lhe produzirão futuros sofrimentos, tão embotado fica pela violenta tendência rajásica.

E, no entanto, ainda que se sinta perturbado pelas tendências rajásicas e tamásicas, o homem de Reto Discernimento dá-se conta dos males que essas tendências acarretam. Por isso, concentra sua mente em Mim, sem se apegar a vícios ou virtudes e tampouco cede aos ímpetos de sua confusão pensada.

Vigiando seus próprios pensamentos, sem esforço algum e mantendo-se alerta, convém que o homem, nas horas apropriadas, controle sua postura e respiração e, abandonando-se totalmente ao Ser, concentre a sua mente em Mim.

Somente assim os pensamentos (gunas) se retiram dos objetos (gunas) que eles mesmos criam e a mente (já não mais personificada) consegue, então, absorver-se realmente em Mim. (idem – versículos 9 a 14).

Como disse, nesta resposta de Krishna está ensinada toda essência da reforma íntima. Vamos entendê-la...

O mestre começa a resposta dizendo que toda perdição (vivência da vida carnal sem o sentido da elevação espiritual) inicia-se quando o ser humanizado, por desatenção, acredita (dar o valor de real, realidade) nos pensamentos fundamentados no eu ou no meu que são gerados pelo ego.

O que são pensamentos fundamentados nestes pronomes? Paixões: eu sei, eu gosto e é meu...

Todo pensamento que começa a partir destes três elementos e é aceito como real pelo ser humanizado que não está atento ao seu trabalho de reforma íntima (alterar os frutos de seu íntimo), sofre a influência do guna rajas (qualidade de pensamento que se caracteriza pela obsessão de agir), ou seja, sofre a tendência de gerar um novo pensamento, que contenha a necessidade de agir.

Compreendam bem o ensinamento de Krishna. Todo pensamento, formado a partir do eu ou do meu, que diga respeito a qualquer elemento do Universo, leva a um novo pensamento que embute em si uma necessidade de agir, seja esta ação executada por você mesmo ou por outros. Quem está descuidado com o pensamento que diz, por exemplo, que essa cadeira é dele, ou seja, aceita a posse expressa através da paixão pela cadeira como real, estará logicamente sujeito a um pensamento que diz que ele deve agir sobre a cadeira protegendo-a, dando-a, limpando-a, arrumando-a, etc. Não importa qual a ação seja exigida: o próximo pensamento trará em si uma determinada obrigação de você ou alguém praticar uma ação que reflita a posse e a paixão.

É isso que Krishna ensina a Uddhava. Mas, é interessante repararmos que o mestre também diz que o primeiro pensamento, aquele que determinou a posse e a paixão, foi, primariamente, originado com qualidades de bondade e amor (gerado com o guna sattva). Só depois, ou seja, quando o ser humanizado, por desatenção, aceitou como real a possessão, ele sofreu a influência da tendência rajas. Vamos entender isso...

É aquilo que temos falado durante todos estes anos de estudo: o pensamento cria a provação que o espírito vem realizar durante a sua encarnação. Por isso ele é a materialização do amor de Deus por este ser, já que, com isso, está proporcionando uma oportunidade para que este filho realize o trabalho da libertação (reforma íntima).

Dessa forma, o pensamento que originou todo o processo era bondoso, mas, quando o ser humanizado não se reforma (liberta-se da influência das suas verdades relativas), sofre a obsessão de vivenciar uma ação. É exatamente o que Paulo diz na Carta aos Romanos: quando o ser humanizado não dá a Deus o seu Real valor (Senhor do Universo, Causa Primária de todas as coisas), Ele se entrega às relações artificiais, que são uma vergonha para a coletividade espiritual (relação com os elementos do mundo através da possessão).

Esta entrega de Deus (deixar que o ser humanizado acredite no que o ego cria) se reflete, então, num novo pensamento que conterá a necessidade de uma ação. Mas, esta ação não acontecerá, a menos que Deus, utilizando-se da Causa Primária crie, através de maya, uma ilusão que forme tal ação.

No entanto, o ser humanizado, dominado pela tendência da necessidade de uma ação, entra num processo de agonia, já que quer agir e muitas vezes não consegue. Mas, mesmo que Deus crie a ilusão da ação acontecer, a agonia não terminará, pois um novo pensamento com qualidade rajásica se instalará e gerará, novamente, a necessidade de outra ação. Todo esse processo continuará e cada vez mais o ser humanizado acreditará na qualidade rajásica de seus pensamentos e exigirá a necessidade de maya espelhar a ação esperada. Esse processo gera uma eterna agonia, pois, às vezes, a obsessão é atendida e outras não. É exatamente a vivência desta agonia que reflete o distanciamento do ser humanizado de Deus, pois aquele que se aproxima do Pai vive a felicidade que Ele tem prometido.

Foi isso que Krishna respondeu a Uddhava neste texto. O ser humanizado desatento aceita a possessão (é meu, eu sei, eu gosto) e a paixão que o ego cria apenas como prova, como se fosse real. Quando isso acontece, o ego, numa segunda etapa, exige uma ação e a condiciona a um determinado desejo. Dessa crença na necessidade da ação e na esperança que ela satisfaça as vontades deste ser é que vem a agonia de esperar que o desejo seja transformado em atos...

Aí está como eu disse, a resposta às perguntas que vocês fazem constantemente. Aquele que quer ser senhor da mente, promover à sua reforma íntima e elevar-se espiritualmente, precisa estar, primeiro, atento às formações mentais e segundo, durante esta atenção, reconhecer as paixões oriundas de possessões que o ego cria. A partir do momento que reconhece como tal, tratar estas verdades ditadas pelo ego como prova e não como realidades...

Colocando este ensinamento dentro do exemplo que dei, o ego diz que determinada cadeira é sua, que você gosta dela e que, por isso, quer que ela fique aqui. Neste pensamento estão presentes as posses moral (saber), sentimental (gostar) e material (propriedade) agindo em conjunto com a paixão (cadeira) e um desejo específico (ficar aqui).

Reconheça que este pensamento é apenas uma declaração expressa das posses, paixões e desejos presentes no seu ego, para que você possa realizar o trabalho da reforma. Faça isso não acreditando que o conteúdo destas afirmações é verdadeiro...

Entenda que tudo isso (a existência de posses, de paixões e de desejos e a utilização deles pelo ego em pensamentos) não é real, mas apenas uma prova que Deus está lhe dando para que você possa reformar o seu íntimo e, com isso, alcançar a elevação espiritual...

Apesar de estarmos lendo um texto védico que contêm ensinamentos de Krishna, o que estamos falando é do tema máximo que Cristo ensinou e exemplificou como o caminho, a verdade e a vida que leva a Deus: o despossuir os bens materiais...

Sabe, filhos, tem uma música de vocês que diz: assim: “a lição sabemos de cor, só nos falta aprender” (Primavera – Beto Guedes). Esta afirmação é perfeita...

Cristo ensinou que é necessário despossuir os bens materiais e todos que leram o Novo Testamento sabem disso – ou melhor, leram sobre isso. Mas, apesar de saberem, ninguém aprendeu de verdade este ensinamento porque não reconhecem o que é a possessão e o que possuem. Como então despossuir?

Possessão é tudo aquilo (as paixões) que são tratadas pelo pensamento a partir dos pronomes eu e meu. É qualquer declaração mental onde entre um eu (acho, sei, gosto, amo, tenho vontade) e um meu (é minha coisa). Em qualquer raciocínio onde estejam presentes esses dois elementos o que existe ali é a expressão de uma posse de um objeto. Esta posse é uma paixão mundana, já que é uma paixão motivada por elementos materiais (pelas posses).

A posse, seja de qualquer um dos três tipos, por qualquer coisa (objetos, pessoas ou acontecimentos) externada através de um pensamento, lhe é dada como uma oportunidade de despossuir. Ela não é real, ou seja, nada é seu, de nada você gosta ou sabe realmente.

Deus não lhe dá a cadeira, a casa, o cachorro, o marido, a mulher ou o filho. Tudo é dele, tudo é Ele. Ele não lhe dá, mas coloca, através do poder de maya, à sua disposição para justificar racionalmente o pensamento formatado a partir do eu e do meu para que você tenha a grande oportunidade de despossuir.

Agora está completa a resposta às eternas perguntas de vocês...

O que é o trabalho de reforma íntima? É o trabalho de libertação das realidades criadas pelo ego (despossuir), o trabalho de reformar a sua forma de relacionar-se com o ego...

Como realizá-lo (como despossuir)?

Primeiro: reconhecendo que você é um possessivo por natureza.

Segundo: reconhecendo as paixões que a possessão gera (o que é seu, o que você sabe e do que gosta ou desgosta).

Terceiro: silenciando a obrigação da ação fruto da paixão...

Vivendo com atenção plena às suas formações mentais através de um esforço correto, o ser humanizado pode atingir a compreensão perfeita da realidade (tudo o que o ego diz é apenas uma prova onde o possuir está sendo testado).

NOTA: Os três elementos citados neste parágrafo (atenção plena, esforço correto e compreensão perfeita), fazem parte do Nobre Caminho Óctuplo ensinado por Buda como àquele que leva à elevação espiritual.

Com isso silencia-se o poder da paixão que está expressa no pensamento e consegue-se viver a essência sáttvica que o gerou. Consegue-se, ainda, eliminar a influência rajásica (a obsessão de haver uma ação) e, com isso acaba-se com o processo obsessivo da exigência da ação que leva à agonia. Tudo isso somado, deixa o espírito vivenciar a felicidade que Deus promete aos seus filhos: a felicidade incondicional, a glória de Deus.

O ser humanizado não vive a felicidade incondicional não é por causa das ações que ele vivencia como agente ou receptor. A simples expectativa, criada pela qualidade rajásica, de que tem que haver ações em conjunto com determinados desejos, que surgem naturalmente quando existem possessões e paixões, já leva o ser humanizado à agonia, pois ele não sabe se ação gerada por maya (inescrutável poder de Deus de criar realidades ilusórias – Causa Primária das coisas) atenderá sua vontade e expectativa.

Quem sabe, por exemplo, que a casa é sua, sabe como ela deve ser limpa e por isso espera uma determinada ação: aquela que espelhe a limpeza que acha que deveria ser realizada. Este ser viverá em constante agonia esperando que este desejo se concretize.

Quem sabe que o filho é seu e que por isso acha que tem o direito de comandar o destino dele, entra na obsessão da ação gerada a partir de suas vontades. Apesar de acreditar que sabe o que é melhor para este filho, o ser humanizado que vive estas criações mentais como realidade tem a plena consciência de que muitas vezes o que ele espera nunca acontecerá. Por isso a agonia constante...

Por tudo isso que vimos aqui, afirmo: o conhecimento gerado a partir desta resposta de Krishna é fundamental para nosso estudo e é, também, para a vida daquele que quer se diz buscador de Deus.

Reforma íntima - Textos - volume 01

Despossuir

Cristo nos ensinou que Deus dá a cada um dos seus filhos de acordo com a sua obra. Portanto, tudo o que um ser possui lhe foi dado pelo Pai, de acordo com o seu merecimento. Se tem uma casa, Deus lhe deu porque ele mereceu ter. A saúde, o emprego, o casamento ou qualquer outra coisa que esteja à disposição do ser lhe foi outorgado pelo Pai como um merecimento presente ou passado.

No entanto, o mesmo Cristo respondeu a um moço rico, cumpridor dos mandamentos divinos e que queria fazer mais coisas para elevar-se: “Se você quer ser perfeito, vá e venda o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim terá riquezas no céu”. Ora, se a casa foi outorgada pelo Pai como um merecimento adquirido, por que tem o ser que vendê-la? Se Deus o achou merecedor de possuí-la, por que agora o mesmo Deus impõe que ele não deve mais tê-la?

Este antagonismo de informações não pode marcar a transmissão de tão elevado espírito. A missão Jesus Cristo foi transmitir a consciência crística, ou seja, estabelecer os valores necessários para o ser viver com a felicidade universal. Desta forma, qualquer antagonismo que gere dúvidas poderia quebrar esta formação, prejudicando o desenvolvimento do ser, o que seria injusto, não fruto de Deus.

Partindo deste pressuposto, podemos compreender que há aqui um ensinamento velado que precisa ser decifrado. Tentemos, pois, colocar luz sobre o assunto.

Quando falamos no ser possuir uma casa não entramos em maiores detalhes sobre este bem. A casa que Deus dá para cada um deve ser entendida como um lugar de moradia não especificamente uma residência material. Para existir uma casa não há a necessidade de a construção ter subdivisões como quarto, sala, cozinha e banheiro e nem especificar quantidades de cada um destes cômodos. Apenas um cômodo é um local de moradia. A casa também não precisa ser própria para servir de lugar de moradia.

Além destes detalhes, lugar de moradia pode ser compreendido ainda em um sentido mais amplo do que paredes com telhados.

Existem os que moram nas ruas e dormem sob as marquises. Existem também os que moram no campo e dormem sob a luz das estrelas. Apesar de não possuírem paredes que delimitam seus locais de moradia ou telhado para proteção das intempéries, na verdade todos moram em algum lugar, ou seja, possuem uma casa.

Esta nova visão de moradia nos faz lembrar outro ensinamento de Cristo: Deus dá a cada um de acordo com as suas obras.

Existem aqueles que possuem como local de moradia um palácio, mas há os que merecem ter a natureza como residência. Todos possuem um lugar para morar de acordo com o seu merecimento.

Para não deixarmos dúvidas sobre o que estamos falando, nos lembremos que o palácio não significa merecimento maior e uma casa humilde, merecimento menor, mas que todos os dois são instrumentos carmáticos da existência de um ser humanizado.

Muitos moram em palácios e vivem no inferno (são infelizes) e, por este motivo, são pobres, enquanto diversos habitantes de rua vivem no céu (felicidade universal) e são ricos. O valor do bem não é material, mas aquele que o espírito concede a ele.

A riqueza de um ser não se encontra na quantidade ou qualidade de bens materiais que possui, mas é determinada pela sua capacidade de ser feliz. A felicidade do ser é o seu bem maior.

Aqueles que vivem em um local de moradia de apenas um cômodo e são felizes, possuem mais bens espirituais do que aqueles que são infelizes em propriedades maiores.

A grande verdade, no entanto, é que pouquíssimos seres na carne são felizes. Os que moram na rua querem uma casa; quando habitam uma casa, passam a desejar outra que tenha mais cômodos... O ser humano não consegue ser feliz com o que tem, pois está sempre desejando mais.

O lugar de moradia que o ser possui, independente da forma ou acessórios, é o que Deus julga que é o perfeito resultado das obras deste ser e, por isso, lhe deu esse lugar. Sabedor da Justiça Perfeita e do Amor Sublime como fontes das emanações divinas, o ser, pela sua fé, deveria viver feliz onde está.

Isto é não possuir um bem material. O ser que vive desta forma compreende que o Pai lhe emprestou determinado bem para servir como instrumento para a sua elevação espiritual. Por este motivo deve utilizá-lo para a ação do amor.

Este ser não precisa vender sua casa para ser perfeito, pois já o é: ama a Deus acima da casa que mora. Já o ser que deseja um bem mais rico do que tem, sofre por não possuí-lo. Ao agir desta forma, esquece de amar o que já lhe foi emprestado por Deus e vive no sofrimento.

Aquele que deseja algo diferente daquilo que Deus lhe emprestou apossa-se do alvo do seu desejo, mesmo que não fisicamente. Ao sonhar com uma casa maior, o ser já se sente proprietário dela.

Esta posse do objeto desejado não será fruto da doação de Deus porque não está dentro do merecimento do ser, mas sim de seu desejo individual. Portanto, o ser que condiciona a sua felicidade à concretização de seu desejo, ama mais a si do que a Deus, pois quer dizer ao Pai qual o seu merecimento...

É este bem (o sonhado) que Cristo diz que o ser deve vender para ser perfeito: aquele que não é fruto da doação de Deus.

O ser gasta tempo e esforço para desejar um bem diferente do que tem, colocando nele toda a sua felicidade. Passa horas preocupando-se como conquistá-lo, fica apreensivo se seus planejamentos para alcançá-lo começam a não dar certo. É por isto que Cristo nos afirma que devemos vender os bens e doar o dinheiro aos pobres.

A venda é o fim do desejo e a moeda de troca (dinheiro) que será conseguido com a venda é a felicidade universal, ou seja, o amor. Ao invés de desejar algo diferente para a sua vida, o ser deve doar o dinheiro (amor) aos pobres e necessitados, ou seja, àqueles que ainda sonham com algo diferente do que têm.

Amando aos necessitados (os que precisam de coisas diferentes das que têm) o ser os auxiliará a vencer este desejo e estará, portanto, contribuindo de forma positiva com Deus na Sua obra: a elevação espiritual de todos os seres.

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Alcançando a yoga do conhecimento

42 - Por isso, com a espada da sabedoria, destrói esta dúvida sobre o SER, nascida da ignorância, a qual tomou conta do teu coração. Refugia-te na Yoga e levanta-te, ó Bhârata!

 A espada da sabedoria destrói a ignorância...

O que pode matar a intenção? A sabedoria material não pode ser, pois enquanto você souber distinguir uma cor da outra sempre haverá uma que gosta e outra que não. Sendo assim, o que pode matar a intenção é a ignorância... Somente ignorando as nuances das cores se acaba com a intenção de ter uma e a de não ter outra...

 É isso que eu queria mostrar. O que nós consideramos como ignorância é sabedoria, pois ela é instrumento para o fim das intencionalidades. O sábio na busca da entrega a Deus é aquele que nada sabe e o ignorante é aquele que sabe tudo. Por isso Cristo disse: “louvado seja Deus que ocultou dos sábios o que mostra aos simples” Deus não pode mostrar nada àquele que acha que sabe justamente porque ele acha que sabe.

Portanto, para viver a yoga do conhecimento é preciso matar todo o saber. Este é o caminho para o conhecimento, pois enquanto houver saber ele será utilizado contra você já que irá gerar uma intenção.

O saber do ser humanizado é como um código de leis. A partir do momento ele sabe algo gera uma intencionalidade dualista: o que quer que aconteça e o que não quer, o que gosta e o que não gosta, o que é limpo e o que é sujo, o que é bonito e o que é feio... O saber cria parâmetros para as coisas do mundo e quem vive com parâmetros é um ignorante porque estes são fundamentados apenas em verdades relativas, verdades planetárias, e não universais. Portanto, quem busca acabar com sua intencionalidade para ligar-se a Deus precisa usar a ignorância sobre as coisas do mundo e matar o seu saber.

Afinal, o que é o querer saber, conhecer a verdade? É como diz Salomão: “tudo é correr atrás do vento”... Você corre atrás da verdade, mas jamais vai possuí-la, pois neste mundo ela se altera constantemente.

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Metamorfose ambulante

Ser ou estar, eis a questão!

 Todo aquele que busca o espiritualismo acaba encontrando os mestres ditos orientais (Lao-Tsé, Krishna e Buda) e descobre a grande realidade: ele é um espírito que está humano. A partir desta conscientização seria necessário que cada um buscasse voltar a ser o que é, mas para isso é necessário que deixe de ser o que está. Aí começa o problema.

 Quem tem coragem de deixar a paternidade que está vivendo e lhe dá o ilusório poder de dirigir a vida dos outros, para ser apenas um irmão universal do próximo? Quem tem coragem de abandonar a masculinidade ou feminilidade que está para ser o espírito assexuado que é? Quem tem coragem para abandonar a posição de juiz (julgar o certo e o errado, o bem e o mal das coisas do mundo) que está vivenciando para exercer o amor absoluto que faz parte do que é?

 Quem, enfim, teria coragem de abrir mão da ilusória capacidade de criar situações da vida, de planejar futuro, de ser o protagonista da vida, para, repousando em Deus, assisti-la apenas, como recomendam os mestres? Poucos.

 Muitos sabem que não são o que estão, mas não conseguem deixar de ser o que estão para ser o que são na realidade. Isto porque tem medo de perder a aprovação da humanidade que cobra de cada um uma posição religiosamente correta de defesa da vida humana.

 É, é preciso ter coragem para se ser uma metamorfose ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo.

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Alforria

Há muitos anos atrás, nesta data, a princesa Isabel assinou a chamada Lei Áurea que, oficialmente acabou com a escravidão no Brasil. Isso é o que nos afirmam os livros de história, mas será que é realidade? Será que apenas uma lei pode acabar com alguma coisa?

É considerada escravidão o regime de sujeição do homem e utilização desse para fins de lucros individuais. Escravo é aquele é dominado por outra pessoa e sujeitado a trabalhar para o seu senhor com a finalidade de obter lucros para aquele.

O que diferencia o trabalho livre do escravo é a sujeição, ou seja, “tornar obediente ou dependente, constranger ou coagir a outrem” (Mini Dicionário Aurélio).

Analisando por esse aspecto, podemos afirmar que a Lei Áurea acabou com a coação e o constrangimento a outrem para que obedeça aos desejos do seu senhor? Será que essa lei deu realmente a liberdade aos seres humanos? Basta analisarmos o dia a dia da vida de qualquer ser humano para compreendermos que isso não ocorreu.

Ainda hoje os senhores de escravo estão por aí. Não mais contraventores ou negreiros que praticam uma atividade ilícita, mas professores da lei que se baseiam nos critérios dualistas (certo e errado, bonito e feio, moral ou amoral, bom ou “mal) ditados pela sociedade para escravizar os outros seres aos seus desejos.

Transforma-se em senhor de escravo todo aquele que quer comandar a vida de outro, por meio da coação e do constrangimento. Todos aqueles que apontam os erros dos outros, todos aqueles que querem consertar os outros, todos aqueles que querem ditar normas de procedimento padronizadas.

Age desta forma para buscar o lucro individual: o prazer. Está sempre preocupado que suas leis e seus padrões individuais sejam satisfeitos pelo próximo como se somente ele conhecesse a verdade das coisas.

Da mesma forma que os senhores de ontem, utiliza a força bruta para coagir o próximo para que trabalhem em seu benefício. Não mais a chibata de couro, mas a de carne. Ao invés do chicote impiedoso, hoje utiliza a língua para coagir e constranger seus escravos. Não mais o tronco, mas os gritos e críticas que humilham o próximo.

Não se vende mais o escravo por valores pecuniários, mas ainda se negocia com o próximo para se obter lucro. Quando seu escravo não mais o satisfaz, ou seja, o amigo não mais concorda com tudo que o ser humano professor da lei afirma (ousa contrariá-lo), o senhor de escravo o troca imediatamente por outro que lhe satisfaça.

Ontem o escravo era o preto, hoje não existe mais distinção de cor. Todos que convivem com o ser humano professor da lei se transformam em escravos (fonte de lucro individual) independentes de sexo, cor ou qualquer outro critério, inclusive o afetivo.

Quantas vezes o moderno senhor de escravo coage e constrange o próximo em nome do amor? São os pais que querem que o filho siga a carreira profissional que eles escolheram; são os cônjuges quando, em nome de um padrão de organização individual, querem sujeitar o outro a seus padrões; são os amigos que obrigam o próximo a serem cópias suas para continuar com a amizade.

Todos estão sempre procurando tornar o próximo obediente aos seus desejos. Na verdade se relacionam não por amor, mas sempre visando criar a dependência deles para dizer o que é certo ou errado.

Que amor é esse? Isso é amor ou posse? Onde a liberdade conferida pela Princesa Isabel? Ninguém é livre verdadeiramente, nem aquele que busca escravizar o próximo, pois ele serve a uma sociedade. Todos os padrões que necessita para ser feliz na verdade não é dele, mas do mundo em que vive. Ele se escravizou ao mundo que vive.

Agora, passado mais de um século que a Lei Áurea foi promulgada, é preciso que a liberdade chegue ao país. Não a falsa liberdade, aquela concedida apenas no papel por uma lei, mas a verdadeira liberdade.

Está na hora dos senhores de escravo (os professores da lei, aqueles que se julgam detentores da verdade) promulguem a alforria de seus escravos. Para isso é fundamental a doação da razão.

A carta de alforria consiste em dar ao próximo o direito de ser e fazer aquilo que quiser. Se o seu amigo quer fazer uma coisa, você não tem o direito de constrangê-lo a não fazer. Se o seu filho quer ser lixeiro, dê a ele o direito de ser feliz fazendo o que gosta. Se o seu cônjuge não aceita os seus padrões, dê a ele o direito de viver a sua vida dentro daquilo que considera certo.

A maior expressão da liberdade é dar ao próximo o direito de ser diferente de nós mesmos. Os grilhões de nossos escravos só serão quebrados quando deixarmos produzi-lo para si mesmos e não mais para nosso benefício.

   Doar a razão ao próximo é saber que eles sempre estão certos porque acham que estão. Ninguém faz nada errado a partir do seu ponto de vista. O erro nasce sempre do ponto de vista do outro, daquele que julga a ação. É o senhor de escravo que escraviza aquele que é livre.

Deus deu o livre arbítrio, ou seja, a liberdade integral de ser quem quiser ser, mas o senhor de escravo não quer permitir que isso se torne em realidade. É por isso que Cristo condenou de forma veemente os professores da lei.

Para o mestre nazareno os senhores de escravo são como túmulos: caiados por fora, mas podres por dentro. Aparentemente agem em nome do amor, mas por dentro nutrem a vaidade, o desejo, o prazer.

É preciso que eles concedam a alforria aos seus escravos, mas para isso é imprescindível que também se libertem da escravidão em que vivem. É necessário acabar com a submissão aos padrões da sociedade.

A verdadeira liberdade é agir com felicidade. No entanto, ela muitas vezes é trocada pela busca do elogio ou da fama.

Vestir a roupa certa, mesmo que ela incomode, calçar o sapato adequado, mesmo que aperte, apenas para não ser criticado por não estar vestido adequadamente ou fora da moda, é escravidão aos padrões da mesma sociedade que o ser critica.

A escravidão já foi extinta no papel, mas quando a liberdade será alcançada? Quando o ser humano agirá buscando a felicidade dando ao próximo o direito de também ser feliz ao invés de se escravizar aos padrões e querer transformar o próximo também em escravo?

Nesse dia, em que se comemora o dia do preto velho, trouxe aqui um pouco da sabedoria daqueles que já foram escravos e não se deixaram escravizar.

Os mais novos, quando caçados e dominados aceitavam a escravidão tanto do corpo quanto da alma. Perdiam a sua liberdade escravizando-se ao seu senhor por intermédio do ódio. No entanto, na velhice, quando descobriam que podiam entregar apenas o corpo à escravidão, eram livres para serem felizes, não importando a sua situação material.

Mesmo que o corpo sofresse a chibatada, o espírito livre viajava pelas pradarias de onde fora retirado. Mesmo que trabalhasse de sol a sol, o preto velho vivenciava a paz de espírito da liberdade de poder estar onde quisesse no seu pensamento.

Meus filhos, que vocês aprendam à lição: deixem o corpo ser escravizado pelo mundo carnal, mas jamais a alma. Entregue o seu corpo à escravidão da matéria, da sociedade em que vivem, mas não se entreguem a ela. Não deixe que os acontecimentos do mundo escravizem vocês.

Havendo a fome, louve-se em Deus; acontecendo a necessidade, regozije-se no Pai; ocorrendo a desavença, concentre-se no Bem Maior. Não se deixe engabelar pelo prazer físico, pela satisfação dos desejos; não se escravize a padrões sentimentais.

Proclamemos a nossa Lei Áurea e nos libertemos e concedamos a liberdade ao próximo.

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A mente vive a vida

Vocês não têm uma vida humana, não vivem uma vida humana... Quem vive a vida humana é a mente...

A mente é quem vive a vida que você chama sua...

A vida não é sua: é da mente. Não é você que está aqui, mas a mente; não é você que lê, mas a mente. Você é quem? Não sei... Está onde? Não sei... Está fazendo o que? Não sei...

Você não dirige, mas sim a mente. Melhor: a mente é a idéia de estar dirigindo, pois não há um ato de dirigir. O que existe é uma idéia de estar dirigindo.

Você, além de não ver o que ela cria apenas como uma idéia, acha que é você que está fazendo... Você não faz, não é e não está... Tudo isso são elucubrações mentais, criações da mente.

Nenhum de vocês está me ouvindo agora, mas sim a mente. Quem está na frente do computador é a mente. Quem o desligará é a mente. Ou melhor, ela vai criar a idéia dele estar desligado, já que ninguém desliga nada. Não há ações a serem feitas.

Eu vou falar uma palavra que já falei para não ser usada, mas que preciso usar agora. No trabalho 'Conhece-te a ti mesmo', quando fomos explicar o ego, a primeira coisa que falei foi o seguinte: para entender qualquer coisa e realizar qualquer coisa, você precisa assumir a dupla personalidade, você e o ego. No caso de agora, precisa assumir a dupla personalidade você e a mente...

Você precisa distinguir muito bem quem é você nesta história e quem é mente para poder alcançar a elevação espiritual. Quem é a mente nesta história? Tudo aquilo que você diz que é você. Quem é você? Nada que possa saber. A única coisa que pode saber é que você não é o que a mente é...

Por isso falo em não compactuar com a mente. Mas, isso deve ser feito a nível geral, ou seja, tudo, e não pontualmente. Você não dirige, não anda, não faz sexo: tudo isso é a mente que faz. Apenas quando não aceita que é a mente que está fazendo é que é você quem faz.

Como o espírito pode fazer sexo se ele não tem órgão sexual? Como você, o observador pode fazer sexo se ele é um ato físico e você não é corpo que veste?

Você não faz nada. Na verdade só tem uma coisa a fazer: observar a mente e compactuar ou não com ela. Quando compactua é que ilusoriamente imaginará que é você que está fazendo o que ela faz...

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Seu Deus está vivo ou morto?

Entre os seguidores das diversas doutrinas evangélicas existe um debate que, imagino, deveria estender-se a todas as outras: Deus está vivo ou morto?

Para uns a teoria é de que Deus está morto. Crer nisso não quer dizer que para estes o Senhor tenha sumido ou desaparecido, mas que Ele encontra-se inerte. Tal teoria fundamenta-se no início da Bíblia Sagrada onde se afirma que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo, dia este que ainda dura até os tempos atuais. Para os seguidores desta teoria o termo descansou é exatamente o que os leva a decretar a morte ou inatividade de Deus. Examinemos ao que esta teoria leva.

Seguindo esta teoria, Deus teria criado todas as coisas que existem. Ao fazê-lo, teria constituído os elementos da Sua criação com propriedades individuais que regeriam sua existência. Para os seguidores desta visão sobre a ação do Senhor, seriam estas propriedades que agiriam voluntariamente sempre que determinadas condições ocorressem. Para estes, Deus não teria influência na ação dos elementos. Ele os fez, os dotou de propriedades e, a partir daí, estas propriedades regeriam a ação dos elementos.

Exemplifiquemos. Parta quem Deus está morto, os furacões e tornados são efeitos de condições climáticas (propriedades de elementos materiais); a gripe no corpo humano surge da exposição ao frio; o acidente automobilístico ocorre devido a falhas humanas (desatenção, inabilidade, imprudência) ou mecânicas (elementos que se quebram por conta de suas propriedades e não por ação externa).

Para quem crê nisso Deus está morto, inativo. Isto porque o acontecimento não é fruto de Seu querer, mas criado pelas próprias propriedades com as quais o Senhor dotou cada elemento.

Já a teoria do Deus vivo, ativo, compreende as coisas de uma forma diferente. Para aqueles que crêem nela o Senhor criou todos os elementos nos primeiros dias, mas depois disso continuou obrando incessantemente. Ou seja, Deus criou os elementos dando a cada um deles propriedades específicas, mas para que elas entrem em ação é necessário que Ele as ative.

Dentro dos exemplos que demos anteriormente, aparentemente todos os acontecimentos teriam as causas naturais que foram citadas, só que para os crentes da atividade de Deus, para que as propriedades funcionem daquela determinada forma, seria necessário haver um comando do Senhor. Para estes, Deus está vivo, ativo, e causa tudo que acontece apesar dos elementos terem sido originariamente dotados de propriedades individuais por Ele mesmo.

As duas teorias não divergem quanto à origem da formação das coisas (Deus), mas sim quanto ao seu funcionamento. Enquanto uma diz que o Senhor está descansando (morto) e assistindo aos acontecimentos que são causados pelas propriedades das coisas, a outra afirma que em tudo que ocorre há a interferência direta de Dele para que as coisas ocorram.

Dissemos no início que tal discussão deveria se estender as outras doutrinas, porque este não é um debate meramente religioso, mas essencialmente espiritualista.

Espiritualismo é um sentido que um ser humano dá à sua existência quando opta por viver para amealhar bens no céu, para o atma. Mais do que seguidor de uma determinada doutrina, espiritualista é aquele que crê haver em si algo mais do que a matéria e que vive (tem como objetivo principal na existência) para este algo.

Quem vive com estas crenças crê nos ensinamentos trazidos pelos amigos espirituais através de O Livro dos Espíritos. Nesta publicação existe logo na primeira pergunta a informação: Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Ou seja, Ele está constantemente ativo causando tudo que acontece. Apesar disso, muitos espiritualistas convivem com um Deus morto.

Quem são os espiritualistas que convivem com um Deus morto? São aqueles que declaram que vivem buscando o Pai, mas que ainda acreditam que é o buraco da camada de ozônio que está descongelando os pólos e que por isso o nível da água se elevará e causará uma tragédia, ceifando milhares de vidas inocentes... São aqueles que culpam o ser humano de ter ativado uma reação das propriedades de alguns elementos (poluição) e que, apenas por causa disso, a reação química é inevitável...

Para estes eu pergunto: e Deus, Aquele para quem você diz que vive, está assistindo tudo isso sem fazer nada, sem causar nada? Para vocês, Deus está morto, ou pior, refém do ser humano, da Sua criação. Será que é possível para alguém viver para Outro que apenas assiste a Sua obra deixando ao encargo dela o auto direcionamento? Eu acho que não...

A discussão das duas teorias deveria estar em pauta, também, como item principal entre aqueles que se dizem universalistas. Como ser universal enquanto se privilegia o individual? Como pode alguém que diz que busca se integrar ao Universo Real imaginar que este tem que se submeter inconteste ao que o individual decidir?

Não há como ser universalista e se conviver com um Deus morto, inativo. O Universo pulsa e este pulsar comanda e regula a atividade de todas as coisas que existem acionando ou não as propriedades intrínsecas com as quais os elementos foram criados.

Este Universo é a Natureza, é Deus... O nome não importa: você pode dar o que quiser. No entanto, um universalista precisa compreender que existe dentro de um organismo vivo, ativo, que causa tudo o que acontece em todos os confins universais.

DEUS ESTÁ VIVO: ELE ACABOU DE FALAR COMIGO AGORA.

Sim, Deus está vivo. Isso porque, como ensinou o Espírito da Verdade Ele é a Causa Primária de todas as coisas. Ele não é só o Criador, mas também o Comandante da Vida. Nada acontece sem o Seu consentimento...

Deus não para jamais de obrar...

A causa primária não pode estar nas propriedades das coisas, porque senão quem seria a causa destas propriedades?...

Por maior que seja obra de uma inteligência inferior, existe sempre uma Superior que a comanda...

Estes são mais ensinamentos do Espírito da Verdade espalhados pelo livro fundamental da doutrina espírita (O Livro dos Espíritos) que está ligado ao espiritualismo como uma das suas fases, nas palavras de seu próprio criador: Allan Kardec.

Sim, Deus está vivo e acabou de falar comigo agora. Isso porque acabou de ser inspirado o oxigênio que manterá o funcionamento do corpo que agora estou usando. Sei que a medicina afirma que esta função acontece por causa da disposição de determinados órgãos do corpo físico (propriedades da matéria), mas também sei que se Deus não desse o dom da vida este momento não estaria existindo.

Por isso sei que Deus falou comigo. Foi Ele que ativou (sei lá como) as propriedades das células do corpo físico para que a inspiração e a expiração acontecessem. Sei que por mais que um ser humano vá contra estes órgãos (use substâncias que a ciência afirma que causa mal), enquanto Ele não comandar a parada de funcionamento destas células elas não poderão parar por si só ou por questões meramente materiais ligadas às suas propriedades.

Deus falou comigo e me disse: ‘você está vivo e isso acontece porque Eu decidi assim’. E se Ele decidiu ninguém pode ir contra, pois como disse Jó, ‘quem pode dizer a Deus que Ele está errado’?

Estando sob sua tutela do Pai, quem poderá ser contra mim? Quem poderá atentar contra a ação de Deus? Mesmo que quisessem sei que porque Ele está vivo, está atento e não deixará me acontecer nada, a não ser que Ele decida que chegou o momento de tal ou tal fato acontecer. Neste momento ninguém poderá, também, ser contrário a isso.

Esta é abrangência maior que o debate sobre se Deus está vivo ou morto influencia na existência de um ser encarnado...

Para aqueles que convivem com um Deus morto, o inimigo está sempre à espreita nas esquinas... Na concepção daqueles que convivem com o Deus morto qualquer um pode prejudicá-lo. Seja o cigarro, a bebida, o assassino, os acidentes, todos estes elementos, regidos pelas suas propriedades intrínsecas, podem agir sem que o Pai possa fazer nada.

É daí que advém o medo... Mas, o que será o medo das coisas da via? A falta de fé. E, por que ela não existe? Porque Deus está morto inoperante para estes... Para aqueles que convivem com a teoria de que o Senhor apenas criou os elementos e que, a partir de então, são as suas propriedades que regem suas ações, ter fé é impossível, pois a sombra do ser vitimado o acompanha diuturnamente.

Por isso disse que este deveria ser um debate aberto para todas as seitas e doutrinas, quer seja espírita ou não. Sem a crença no Deus vivo, ativo, operante, Causa Primária de todas as coisas, não pode haver o exercício da fé que, segundo Cristo, é o motivador da felicidade do espírito.

Termino, então, com uma pergunta: SEU DEUS ESTÁ VIVO OU NÃO?

Reforma íntima - Textos - volume 01

Conhecimento do mundo espiritual

Apesar de imaginar o contrário, vocês, seres humanos, nada podem conhecer sobre o chamado mundo espiritual. Já afirmei isso diversas vezes ao longo do nosso trabalho, mas isso realmente está claro? Tendo em vista que vocês continuam acreditando que podem conhecer elementos daquele mundo, acho que não... Por isso vamos voltar ao assunto.

 Será que eu precisava levar tanto tempo para provar a vocês o que está escrito em O Livro dos Espíritos? Sim, tudo o que disse está detalhado neste livro do Pentateuco espírita. Lá está escrito com todas as letras: o Espírito é nada para vocês humanos.

“23a. Qual a natureza íntima do espírito? Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa”. (O Livro dos Espíritos)

Vocês dizem que acreditam neste livro, ou seja, para vocês esta informação é verdadeira. Sendo assim, porque me perguntam o que espírito faz, como ele age, como é? Como podem compreender algo que pertença a uma coisa que é nada para vocês?

Matéria espiritual é outro assunto que ficou muito claro em O Livro dos Espíritos: ela não é energia, não é onda eletromagnética.

“27a. Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais de fluido elétrico, fluído magnético, são modificações do fluido universal”. (O Livro dos Espíritos).

Apesar de esta informação estar bem clara, vocês continuam dizendo que o Universo é energia. Energia é aquilo que acende a lâmpada. A matéria universal não é isso... O elemento material universal é desconhecido de vocês, pois ele é o que compõe a energia e não a própria.

Deus? Sobre isso, além de ser muito claro sobre o conhecimento deste tema, O Livro dos Espíritos traz ainda uma informação muito importante. Lá é dito que falta ao ser humano um sentido para compreender Deus e fala ainda que estes seres não devem perder-se na busca de compreendê-Lo. Se fizerem isso, irão entrar num labirinto donde não lograrão sair. Mais: enquanto estiverem neste labirinto deixarão de fazer o que têm que fazer.

“10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? Não, falta-lhe para isso um sentido”.

“14. Deus é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas? Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis”. (O Livro dos Espíritos).

Portanto, mais do que inútil, a busca de Deus, do Espírito e do mundo espiritual é danosa a vocês. É isso que o Espírito da Verdade está dizendo. Por quê? Porque esta busca não lhe deixa fazer o que deveria fazer. Sendo assim, você não deve insistir nisso, pois senão estaria causando a si mesmo um dano.

Portanto, idéias sobre Deus, Espírito, Universo e matéria universal são coisas que não devem ser buscadas. Insistindo nesta busca, além de não compreenderem o tema, vocês irão entrar num labirinto formado pelas milhares de perguntas que surgem quando estas coisas são investigadas. Presos nestas questões ficarão rodando como cachorro atrás do rabo e nada farão daquilo que precisam fazer: a evolução espiritual...

Mas, apesar de estas informações estarem bem claras para os espíritas, muitos ainda afirmam que já viram e falaram com espíritos, outros afirmam realizar viagens astrais, ou seja, passearem livremente no mundo espiritual. Desculpe a quem pensa assim, mas se conseguem falar com Espíritos, trabalhar com eles, vê-los e se sabem quem é Deus, estão desdizendo o Espírito da Verdade e o próprio trabalho que dizem se pautar.

Para afirmar que conhecem as coisas do mundo espiritual, estas pessoas afirmam que têm experiências paranormais, ou seja, que têm experiências que vão além dos sentidos físicos. Posso até concordar que isso é possível, mas daí dizer que se alcançou o plano espiritual elevado, que se penetrou no Universo além do orbe terrestre, isso é outra coisa.

Existe um mundo que vocês não conhecem. Ele é imaterial, mas está preso ao orbe terrestre. Ou seja, é um mundo terrestre, humano e não espiritual. Esse mundo se chama “mundo dos devas”. Este nome está designado assim para este mundo no Bhagavad Gita.

Ele é o mundo espiritual da Terra. Os que ali vivem são seres elementares da Terra. Em outras palavras: são os Espíritos sem corpo humano, mas que ainda estão humanizados. Por isso, mesmo tendo a essência espiritual – o que, aliás, o encarnado também possui – são seres humanos, moradores de orbe e não do Universo Universal. Todos os Espíritos ao qual qualquer ser humanizado tenha se referido, falado, visto ou trabalhado, incluindo eu, são seres humanos sem carne e não Espíritos. Moram no mundo dos devas e não no mundo espiritual superior. Estão presos de um planeta, no caso a Terra, e não no Universo Universal.

É este mundo, que as outras doutrinas não falam, mas que Krishna cita como o mundo dos devas, que o ser humanizado pode alcançar usando-se da razão. Isso porque neste mundo existe a presença da razão humana. Por isso ele não é um plano espiritual superior, mas uma simples extensão do orbe terrestre. Sendo assim, quem vai lá não sai daqui...

Muitos diriam: conhecer este mundo já é um avanço no sentido da elevação espiritual. Engano... Sobre ele, o bendito senhor tem um recado muito forte: aquele que adora e busca os devas, quando sai da carne vai viver entre eles. Lá, o espírito desencarnado brinca e passeia na carruagem dourada deste mundo, vive alegre e feliz, mas para esses a queda é inevitável. Ou seja, para quem vive no mundo dos devas a reencarnação é normal, natural e necessária. E por quê? Porque não saiu do mundo humano... É agora apenas um ser humano sem corpo.

É um ser humano porque o que determina ser um humano não é o corpo, mas a mentalidade, o mental, as verdades, as idéias. Repare se esses Espíritos que vocês dizem conhecer não estão presos às idéias humanas, se não vivem humanamente, se não acham as idéias humanas certas.

É por isso que acreditar que apenas alcançar este mundo de nada resolve para aquele que realmente quer buscar a elevação: o ser que acredita nele como realidade vai para lá, mas tem que voltar a encarnar na Terra. Persistir na busca destes Espíritos ou do mundo deles é viver num eterno bate e volta: encarna e desencarna... Só que como já vimos muitas vezes, por causa da transição do mundo provas e expiações para o de regeneração, não existe mais tempo de se voltar a este planeta. Sendo assim, aquele que hoje desencarnar terá o dia do seu juízo final, como ensinado por Cristo na sua pregação.

Todos os que hoje estão encarnados estão vivendo a sua última etapa de realização da elevação espiritual no mundo de provas e expiações. Assim que desencarnarem, passarão pela avaliação final de seu processo de evolução espiritual nesta etapa. Aquele que houver adquirido o grau necessário para continuar, permanecerá neste orbe e viverá, então, a etapa de regeneração. Os que não conseguirem, terão que buscar abrigo em outro orbe planetário e lá voltar a vivenciar um novo período de provas e expiações.

É por isso que essa busca sobre a verdade dos elementos espirituais é inútil. É inútil se buscar a Deus, ao Espírito ou o Universo.

Reforma íntima - Textos - volume 01

Optando pela felicidade

A base do ensinamento trazido pelo Espiritualismo Ecumênico Universal é que existe um estado de espírito onde se pode viver uma felicidade incondicional e eterna. Esta concepção, no entanto, para os seres humanos é utópica, pois para eles a vida é constituída apenas de momentos de felicidade. Imaginar uma existência onde a infelicidade jamais aconteça é coisa apenas para a imaginação de sonhadores.

Para que a felicidade incondicional deixe de ser utopia, um primeiro conhecimento deve estar presente na vida dos seres humanos: a cada momento ele possui o livre arbítrio, ou seja, o poder de decidir com que estado de espírito vivenciará o acontecimento. As coisas (pessoas, acontecimentos ou objetos) não podem definir o estado de espírito de um ser, mas ele opta em reagir com determinado sentimento a elas.

O mesmo acontecimento presenciado por diversas pessoas levará alguns a alcançarem a felicidade enquanto outros encontrarão o sofrimento. Se o estado de espírito fosse decretado pelo fato em si, todos deveriam reagir da mesma forma: sofrendo ou ficando feliz.

A felicidade incondicional, estado de espírito onde o ser jamais sofra, não é, portanto, uma utopia, mas algo que só será alcançado a partir do livre arbítrio de cada um. Todos podem ser felizes o tempo inteiro, mas precisam decidir ser.

Portanto, ser feliz é uma questão de opção e não de acontecimentos.

A partir deste conhecimento, o ser humano pode compreender que não sofre por causa da situação do planeta (fome, guerra, miséria), ou de sua vida (desencontros, saudade, perda, contrariedade), mas que o sofrimento nasceu da sua decisão pessoal de escolher este estado de espírito para vivenciar determinados acontecimentos. Se ele optasse, como muitos fazem em face de estes mesmos acontecimentos, por permanecer feliz, por manter inalterado o seu padrão de felicidade, o sofrimento não encontraria guarida e desapareceria.

No entanto, como deixar de sofrer nessas situações? Como é possível escolher felicidade quando existe tanta desgraça, desamor e injustiça ao nosso redor? Existe apenas um instrumento que pode auxiliar o ser humano neste momento: a fé.

Como nos ensinou Jesus Cristo, a fé, mesmo que do tamanho de um grão de mostarda, pode remover as montanhas da vida, ou seja, as desgraças, os desamores e as injustiças. Sem a fé em Deus, os acontecimentos do mundo continuarão sendo visto como montanhas (algo difícil de transpor), ou seja, de se permanecer feliz.

Mas, o que é fé em Deus? Este é um tema de debate entre todas as religiões. Elas ainda não chegaram a um consenso sobre a fé, porque na verdade a subordina aos conceitos doutrinários de cada uma delas. Desta forma, podemos afirmar que a fé procurada pela igreja católica, por exemplo, é a fé em Deus a partir dos ensinamentos doutrinários da religião católica. Como cada uma usa a sua doutrina para definir fé, podemos dizer, então, que para cada religião existe uma definição de fé.

Jesus Cristo, bem como todos os mestres da humanidade que trouxeram ensinamentos a partir dos quais foram erigidas religiões, não falaram de fé em doutrina religiosa, mas da fé em Deus. Amar a Deus acima de todas as coisas, este é o ensinamento que fundamenta a fé de todos os seres purificados.

A religião é um objeto do mundo material e, portanto, o amor a Deus deve ser superior ao próprio ensinamento religioso ou à própria religião. Somente o amor incondicional a Deus pode levar o ser humano a conseguir optar pela felicidade a cada segundo de sua existência.

 A escolha de um ser humano (felicidade e infelicidade) se deve a um raciocínio. Ao ver, por exemplo, uma criança subnutrida à beira da morte, inconscientemente o ser humano opta pela infelicidade, porque o seu raciocínio mostra a ele que ali está acontecendo uma barbaridade, um desamor e uma injustiça. Isto ocorre, porque os conceitos (verdades arquivadas na memória) estampam estes valores. Toda uma cultura (verdades) está presente no pensamento levando a um fim inexorável: o sofrimento.

No entanto, perguntamos, onde ficou Deus neste pensamento? Onde a presença do Ser Onipresente, Onisciente e Onipotente foi sentida ao presenciar a cena?

Fé é entrega com confiança total a Deus.

A ação da fé em Deus leva o ser humano a lembrar-se do Pai em todos os acontecimentos. Viver com Deus presente, a cada segundo em sua existência é viver em fé. Como também nos ensinou o Mestre Nazareno, orai e vigiai, ou seja, viva em contato com Deus e vigie para encontrá-Lo a cada momento.

Esta é a entrega pedida por todos os mestres. Entregar-se a Deus é senti-Lo em cada acontecimento do planeta, vivenciar cada fato sentindo a Sua Presença. Só isto, porém, não é necessário para que se opte pela felicidade: é preciso a confiança total Nele. Ter fé é vivenciar Deus a cada segundo depositando a confiança incondicional Naquele que a tudo pode, vê e sabe. É sentir-se acariciado e orientado pelo Pai no sentido da evolução.

A entrega com confiança a Deus muda a compreensão que se tem dos fatos.

Se o ser humano compreende os fatos raciocinando, quando, ao invés de suas verdades, ele utiliza a fé (confiança e entrega total a Deus), a sua compreensão mudará. A fome de uma criança é barbárie, desamor e injustiça porque os seres humanos não dividem seus bens. O egoísmo e a avareza das pessoas é que faz o coitadinho sofrer desta forma. Estas são verdades que levam ao sofrimento, mas elas surgem apenas do que o ser humano sabe (alcança através dos sentidos físicos) e não leva em conta a fé.

A partir do momento que a fé entrar em ação, ou seja, a confiança e entrega a Deus influenciarem o raciocínio, o pensamento terá que ser diferente e aí, a conclusão também se alterará.

Como pensar diferente? Que valores devem usados?

Você que nos acompanhou até este ponto deve estar começando a pensar em dogmas, ou seja, que a fé em Deus deve ser cega. Isto, no entanto, não é verdade.

O ser humano é lógico, ou seja, precisa compreender a situação para poder chegar a uma conclusão e aí exercer a sua escolha sentimental. Apenas se informar que a criança sofre porque tem que sofrer, porque Deus presente está vendo ela sofrer e não faz nada, fere esta lógica. A entrega com confiança irrestrita a Deus precisa advir de uma lógica humana, pelo menos neste momento de evolução da humanidade. Por este motivo a fé dogmática ainda não pode ser exercida no planeta.

A fé, então deve ser raciocinada?

Esta é a pergunta que você deve estar se fazendo agora. Respondo, porém, que a fé raciocinada não é fé, mas apenas a manutenção das verdades individuais de cada um.

Como conversamos, o ser humano raciocina as coisas (acontecimentos, pessoas e objetos) a partir de suas próprias verdades e não de novos valores. Desta forma, o raciocínio sobre a entrega com confiança a Deus submeterá a fé aos valores do ser humano e não aos valores de Deus (Suas Verdades).

Um ser humano que raciocinar a sua entrega ou confiança no Pai, submeterá a fé aos seus próprios valores. Assim sendo, se o fato lhe agradar ele se entregará e confiará em Deus se não, blasfemará dizendo que o Pai não sabe o que está fazendo, que não compreende o que é melhor para ele.

Conquistada a confiança surge a entrega e quando isto acontecer, ela não deve ser mais ser questionada ou raciocinada.

Para optar pela felicidade é preciso conhecer os acontecimentos a partir da fé e não Deus a partir dos acontecimentos.

 Um grande equívoco do ser humano é querer raciocinar a sua relação com Deus a partir dos acontecimentos da sua vida ou do mundo onde vive. Esta forma de proceder é que leva o ser humano a agradecer a Deus (ficar feliz) quando os fatos lhe satisfazem e a reagir contra Ele (sofrer) quando o contrário ocorre.

Estabelecida a fé, é preciso se mudar a visão sobre as coisas. Analisar os acontecimentos a partir desta nova relação de confiança e entrega e não duvidar a cada segundo deste relacionamento. Quando o relacionamento homem/Deus for a base para o raciocínio dos acontecimentos, a compreensão deles será alterada.

Uma criança que passa fome é uma visão material. Um filho de Deus vivenciando uma situação com a presença Dele são acontecimentos diferentes, dentro da compreensão do homem.

Para alcançar essa fé, é preciso, antes saber a que está se entregando.

A confiança ganha lógica quando se sabe em quem estamos confiando. Uma pessoa que ao longo dos anos esteve presente em nossa vida como amigo merecerá confiança e crédito, mesmo que alguém venha desonrá-la. Esta é a fé com conhecimento raciocinado. É preciso que raciocinemos Deus (O conheçamos) para que possamos estabelecer a lógica da confiança e entrega. A partir deste conhecimento, podemos alcançar a confiança e defende-Lo sempre que as verdades individuais buscar desonrá-Lo.

Deus só pode ser conhecido através dos ensinamentos daqueles que Ele enviou.

O ser humano não consegue conhecer a Deus através de suas verdades, pois faltam a elas humildade e desmaterialização. Para se ter alguma noção de quem é o Pai, não no sentido físico, mas moral, intelectual e sentimental, é preciso que ouçamos aqueles que foram enviados por Deus justamente para estabelecer o caminho para a fé.

O ensinamento máximo que todos os Mestres trouxeram é que Deus é o Senhor Onipotente do Universo. Nada nem ninguém possui no universo poder maior do que Deus. Para Ele nada é impossível.

A partir desta Verdade, como voltar a ver o mundo sob o mesmo prisma? Será que o Senhor Onipotente não pode desviar uma bala que se perdeu e, desta forma, proteger um inocente? Será a ganância ou avareza do ser humano que não reparte o seu pão poderá ser mais forte do que Ele e, por isso, a criança precisa passar fome?

Você, pai ou mão, deixaria seu filho passar fome apenas porque o mundo não contribui para que ela se alimente? Certamente não. Faria tudo, inclusive humilhar-se mendigando, para que isto não acontecesse. Se você, que possui parcos poderes, conseguiria, de um modo ou de outro um pequeno alimento para seu filho, porque o Pai Todo-Poderoso não faria nada?

 Deus poderia mover todo o universo, se preciso fosse, para que aquela criança recebesse o alimento. Jesus Cristo poderia materializar o pão e o peixe e os anjos trariam especialmente para aquele filho, pois o Pai nunca deixaria a míngua o filho.

A entrega sem esta Verdade não existe. É preciso se confiar em Deus absolutamente para saber que, se possível, Ele já teria providenciado um prato de comida para a criança faminta. Se Ele achou necessário que isto acontecesse, o ser humano que confia Nele deve buscar esta mesma compreensão e não querer saber o por que Dele não ter providenciado que a fome fosse saciada.

Deus é a Inteligência Suprema do Universo, ou seja, possui a capacidade infinita de compreensão de todas as coisas. Somente Ele pode compreender todos os aspectos da fome daquela criança. Seus raciocínios contêm Verdades que somente Ele vê e que, aos olhos do ser humano, não existem.

Quando o Pai não providencia o alimento é porque sabe que a criança precisa e merece esta situação. A compreensão é fruto de um julgamento perfeito de toda a existência daquele ser e não apenas da visão restrita de um ser humano, quer em espaço ou tempo.

No entanto, se o julgamento determinasse que aquela criança não deveria sofrer esta situação, Deus providenciaria o seu alimento. Como Jesus Cristo nos ensina, ”o Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso” e providencia o alimento para cada um. Isto porque Deus é a Causa Primária de todas as coisas. “Não cai uma folha da árvore sem que meu Pai faça cair”: não existe uma fome no mundo que Deus não a tenha feito.

Tudo o que acontece no universo é uma ação, mas não isolada. Para se compreender a vida é preciso que se entenda o inter-relacionamento que existe entre tudo. Todas as ações são reações (conseqüência) de alguma coisa.

Uma batida de automóvel é conseqüência do fato do carro está na rua, que se originou na sua vontade ou necessidade de sair, que foi causada por alguma outra coisa. Se eliminarmos a causa dos acontecimentos perde-se o verdadeiro sentido (essência) do mesmo.

Na busca da causa primeira de qualquer ação, ou seja, a origem de tudo, o ser humano muitas vezes, pela falta de conhecimento atribui a origem do acontecimento ao acaso, mas seria um contra-senso, porque o acaso é cego e não pode produzir os efeitos da inteligência.

Buscar a causa da fome da menina no desamor, injustiça ou barbárie é interromper um ciclo, pois mesmo estas coisas possuem uma causa e ela se encontra na Justiça Perfeita de Deus.

“Deus dá a cada um de acordo com suas obras”, ou seja, cada um recebe de acordo com seu merecimento. A falta de alimentação é causada por Deus (Causa Primária), mas alcança especificamente aquela menina porque é o justo que ela merece.

Crer no Deus Onipotente que comanda os acontecimentos do universo e ao mesmo tempo encontrar injustiça é querer saber avaliar melhor do que o Pai o merecimento de cada um.

Até aqui chegamos muito facilmente neste nosso raciocínio sobre Deus e, conseqüentemente, sobre a fé. Isto porque muitas verdades humanas foram preservadas. A partir de agora, no entanto, será necessário vencer o mundo, ou seja, falsas verdades que fazem parte da cultura da humanidade.

Se Deus dá a fome, os valores humanos apontam o Pai como um sádico (que se diverte com o sofrimento alheio) ou como alguém insensível, ou pior, sem amor.