Encarnação - Textos

Encarnação - Textos

Transcrição dos áudios do estudo Encarnação - a grande aventura do espírito.

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O ápice da vida do espírito

O espírito no seu próprio mundo, ou seja, dentro da realidade espiritual pode praticar milhares de atos que não são compreendidos pelos seres humanizados e, por isso, estes os consideram como atos super poderosos. O espírito pode volitar, se locomover com a velocidade do pensamento, plasmar objetos, influenciar decisivamente inteligências, etc. Enfim, pode realizar diversos atos que o ser humano consideram como sobrenaturais. Porém, tudo isso que o espírito pode fazer para ele mesmo não é nada, não tem tanta importância.

Para os espíritos todas as ações que os seres humanos imputam tão grande valor são como atos de uma criança do planeta Terra. A criança quando consegue a capacidade de somar dois mais dois considera isso um feito extraordinário. No entanto, ela se esquece que seus pais já sabem dividir, multiplicar ou executar outras funções aritméticas.

Para os espíritos aquilo que a humanidade considera como o ápice do poder espiritual é banalidade. Apesar disso, há algo que o ser humano não dá tanta importância, mas que para o espírito tem um valor imenso: a encarnação.

A encarnação é um momento aguardado ansiosamente por um espírito que a valoriza profundamente quando na vivência com a sua consciência espiritual. Isto porque ela é sempre a provação final de um estudo do espírito e só ela pode conceder o atestado de promoção espiritual para o ser.

Por mais que um ser universal estude no mundo espiritual e conheça as coisas do Universo, sem a encarnação não recebe o atestado da evolução espiritual. É por isso que a encarnação é a maior aventura do espírito.

O momento encarnado é, para o espírito, como aqueles vividos pelos seres humanos onde prestam um concurso para obter alguma posição depois de ter estudado muito. É a oportunidade para a realização de todas as suas aspirações. Ou seja, a preparação para a encarnação, bem como o que acontecerá depois de encarnado, é, para o ser universal, uma sucessão de acontecimentos que geram expectativa e mexem com os seus nervos.

Este é o primeiro detalhe que temos a comentar sobre a o tema deste livro. Nele vamos falar do processo de múltiplas vidas que o espírito vivencia ao longo de sua existência eterna. Tentaremos mostrar a grande importância que tem a encarnação para o espírito. Por isso o chamamos de “Encarnação – a maior aventura do espírito”.

Viver ligado a uma carne humana é uma aventura de grande responsabilidade, pois, apenas ela pode certificar que o ser aprendeu no mundo espiritual as lições que lhe foram ministradas por seus mestres. Por isso, intitulamos este período de a grande aventura do espírito.

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A encarnação

Agora que já explicamos porque a encarnação é a maior aventura do espírito, vamos, então, entender o que significa encarnação antes de continuarmos a falar da aventura em si.

Antes de qualquer coisa, precisamos entender que encarnação é uma palavra do planeta Terra. No mundo espiritual a grande aventura do espírito não possui nome, pois no universo universal não existem formas e a palavra é uma forma usada para definir alguma coisa. Justamente por não ter este rótulo é que encarnar para o espírito é algo completamente diferente daquilo que o ser humano imagina.

A palavra encarnar para o seres humanos significa vir à carne. Encarnar para os seres humanos significa tomar um corpo de carne, ou seja, para os humanos o espírito que passa a viver dentro de um corpo carnal está encarnado. No entanto, este ato espiritual, universalmente falando, não possui este mesmo significado.

Se encarnar fosse habitar uma carne, esse processo seria um elemento exclusivo deste planeta, já que a carne, como vocês a conhecem, só existe aqui. Se isso fosse real, ou seja, se o espírito encarnasse apenas no planeta Terra, tal realidade feriria um dos elementos básicos para determinar o que é Real: ser universal, valer para todos. Sendo assim, a encarnação não seria real e por isso não existiria dentro da realidade universal. Portanto, uma encarnação não pode ser compreendida como uma vinda à carne por aquele que quer aprender a viver no Universo.

Na verdade, na realidade universal, o que caracteriza a aventura do espírito não é a mudança de corpo ao qual o ser está ligado (de espiritual para material), mas uma mudança de consciência. Encarnar é viver momentaneamente ligado a uma consciência diferente da sua. Vamos falar um pouco disso.

Durante toda eternidade o espírito vive entre dois mundos, ou seja, entre duas consciências. A primeira é a sua própria consciência existencial espiritual.

A consciência espiritual é a Realidade da vida do espírito. É com ela que o ser vive naquilo que chamamos de mundo espiritual ou universo, onde executa seu aprendizado se preparando para as alterações de consciência ou encarnações.

Quando pronto para encarnar, ou seja, depois de ter estudado diversas coisas à respeito do universo, o espírito prepara uma nova consciência. Esta será formada pelos elementos sobre os quais ele estudou quando vivendo com a sua consciência original. Para entender melhor o que estou dizendo, vamos a um exemplo.

Digamos que o espírito no universo durante um período entre encarnações, tenha se ocupado em estudar sobre os efeitos da vaidade e da ganância no seu relacionamento com outros seres. Quando este ser imagina que está pronto para enfrentar questões a respeito destes temas pede, então, para encarnar. Para isso ele constrói uma consciência onde estarão presentes estes assuntos e ao vivenciar acontecimentos durante a encarnação ele terá que superar esta tendência.

Esta é a consciência temporária e a vivência dela é que caracteriza a encarnação. Ela contém todos os elementos sobre os quais o espírito estudou se preparando para o período de provações. A consciência que determinará o período de provação para o espírito é sempre um novo conjunto de verdades a qual ele se liga para poder realizar provas, missões e expiações.

Esta é a Realidade da existência espiritual por toda eternidade. O espírito vive a sua existência ligado à sua consciência espiritual e, assim que acaba um ciclo de estudos, se desliga dela e se liga a uma nova consciência e com ela executa provas para ganhar o atestado da elevação espiritual.

Este processo é real, universal, pois é válido para toda a eternidade da existência do ser. Ou seja, as encarnações existem durante toda a existência do ser universal. Por ser este processo (encarnar-se) válido para todos os espíritos do Universo, isso completa a caracterização necessária para lhe dar o critério de real.

Por isso disse: a palavra encarnação com o sentido de vir à carne é apenas uma compreensão dos habitantes do planeta Terra. Em Marte, Júpiter e no planeta mais distante do universo existem encarnações. Só que em outros planetas não existe carne, matéria carnal, como a dos seres humanos. No entanto, em todos os planetas do Universo e por todos os tempos, espíritos criarão novas consciências que servirão como concurso para obtenção de um atestado de elevação espiritual.

Isto é uma encarnação, isto é a grande aventura do espírito: ligar-se a uma consciência temporária e executar suas provações.

Apenas um detalhe. Como vocês precisam de nomes, rótulos, para compreender as coisas e já que criamos um nome para a consciência real do espírito (consciência espiritual), precisamos também gerar um para a consciência utilizada para a realização de provas. Chamaremos esta consciência de ego ou personalidade humana.

Resumindo, então, o que falamos até aqui sobre encarnação: a Realidade do Universo é que o espírito vive com a sua consciência espiritual realizando estudos junto com os mestres e durante determinado períodos da sua existência se liga a um ego para realizar provações com a finalidade de receber o atestado da evolução espiritual.

A encarnação ou a grande aventura do espírito, portanto, nada tem a ver com carne ou com ligar-se à matéria carnal, mas sim com a ligação do ser espiritual com uma nova consciência que servirá como instrumento de provas para que ele evolua.

Participante: a existência espiritual tem um fim? Chega um momento onde o espírito se estabiliza e para de se ligar a um ego para receber o atestado?

Quanto à primeira pergunta devo lhe dizer que a existência espiritual é eterna e, portanto, não tem fim. Quanto ao fim do ciclo de encarnações ou ligações a egos, isto também nunca se encerra. Sempre haverá um ego ao qual o ser se ligará para realizar provações, mesmo quando não houver mais carne.

Mesmo quando a encarnação não for ligar-se a uma matéria mais densa, ou seja, habitar fisicamente um planeta, sempre haverá o ego e a consciência espiritual. Este sistema evolutivo jamais acabará porque o Universo é um constante processo de evolução para aproximar-se de Deus, da Perfeição.

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A aventura

Para continuarmos nossa conversa, pergunto: por que defini a encarnação como aventura? Seguindo o conselho que já dei em outras vezes quando nos deparamos com algum termo, vamos verificar no dicionário o que significa o vocábulo para compreendermos o que quero dizer.

AVENTURA – Empresa ou experiência arriscada. (MINI DICIONÁRIO AURÉLIO).

A encarnação é uma aventura para o espírito porque é um empreendimento com riscos.

Os riscos que a encarnação traz são decorrentes do fato de que se ligar a um ego simplesmente, não traz garantia de aprovação para o ser, não garante o recebimento do certificado de aprovação. Para que isso ocorra é preciso que ele obre, ou seja, responda corretamente as questões propostas.

A encarnação, então, é uma grande aventura para o espírito porque é um salto para o desconhecido e é também um empreendimento carregado de riscos, de oportunidades para falhar.

Isto precisa ficar bem claro para que os espíritos atualmente encarnados no planeta Terra obtenham sucesso nesta aventura. Eles precisam desempenhar determinados procedimentos durante a encarnação, ou ligação com o ego, para que possam alcançar nesta aventura o fim que esperam.

Para o espírito, portanto, a encarnação é uma aventura com riscos que podem torná-la não útil a ele. É uma aventura porque não existe a certeza de lograr sempre êxito, ou seja, sempre resultar em elevação espiritual.

Desta forma, começamos este trabalho falando da encarnação como a grande aventura do espírito e agora explicamos porque a consideramos com tal. Além disso, explicamos o que é encarnação.

Agora que acabamos de definir que esta aventura é um empreendimento com riscos para o espírito, vamos começar a entender estes riscos.

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Os riscos

Quais são os riscos que o espírito corre durante a sua encarnação?

O Espírito da Verdade, ao abordar o resultado obtido durante o processo da encarnação, respondeu a Kardec afirmando que os seres universais não retroagem nunca durante uma encarnação. Portanto, este risco não acontece na aventura espiritual.

O espírito ao se desligar do ego estará sempre no mesmo nível de consciência espiritual que tinha antes da encarnação. Este é o primeiro detalhe sobre os riscos da aventura do espírito.

Portanto, o risco que estamos afirmando existir durante a encarnação não é o de retroagir. Qual será ele, então? O de estagnar.

O espírito pode voltar à sua consciência espiritual sem evoluir um milímetro sequer, sem comprovar a si mesmo nenhum dos ensinamentos estudados com seus mestres durante o período em que estava desencarnado. Pode retornar a sua realidade, ao seu eu espiritual, sem conseguir nenhum avanço no conhecimento espiritual que é necessário para se aproximar de Deus.

Este é um risco que o espírito corre durante a aventura. A possibilidade deste acontecimento traz uma grande responsabilidade para o espírito que se propõe a viver a aventura da encarnação: a de perder a oportunidade de elevação.

Perder a oportunidade de elevação é a grande falência da aventura espiritual do ser durante a encarnação. O grande perigo que corre o ser quando encarnado é o da falência dos objetivos da encarnação, ou seja, o não aproveitamento da oportunidade de elevação espiritual.

Quando o ser falha na sua comprovação de aprendizado este fato é trágico para ele. O trágico a que me refiro não está no sentir-se melhor ou pior do que outro, mas porque a ambição espiritual do ser é sempre evoluir-se. É trágico, é frustrante para o espírito deixar de aproveitar uma oportunidade para aproximar-se de Deus assim como é para um ser humano que se prepara para um vestibular estudando dia e noite ver malogradas as suas intenções de evolução.

Não aproveitar a oportunidade da encarnação: este é um grande risco ao qual o ser se expõe. Mas, não fique desde já temeroso com o resultado da sua encarnação, pois o risco de estagnar ao qual o ser se expõe é previamente calculado nos seus mínimos detalhes.

Cada componente da consciência transitória à qual o ser se liga durante a encarnação é milimetricamente avaliada pelo espírito, por seus mestres e por Deus antes da encarnação para que o prejuízo ao ser seja o menor possível se ele falir, se não conseguir aproveitar a sua oportunidade de elevação.

Além da estagnação, há ainda outro risco que está presente na encarnação: a possibilidade do espírito evoluir menos que o esperado por ele.

Quando um ser entra numa encarnação, se programa para alcançar um determinado limite, para evoluir até determinado ponto. Este ponto chamamos de perfeição.

Sei que para vocês humanos perfeição é o ponto onde não há mais erros, mas para o espírito isso não é real. Para nós, a perfeição consiste em atingir os objetivos predeterminados. Sempre que um espírito consegue obter os resultados que previu para um encarnação, para ele, alcançou a perfeição.

Por isso, o não alcançar o limite previsto também é um risco que ele assume ao encarnar, já que isso leva a uma frustração que pode influenciar o espírito no retorno à pátria espiritual. Se o espírito encarna e não alcança o que imaginava possível alcançar, sente que perdeu uma oportunidade, que para ele é importante. Essa é a frustração que o espírito vive quando não consegue alcançar o limite proposto por ele mesmo a si e por isso é também um dos riscos que corre ao encarnar.

Estes são, portanto, os riscos da aventura do ser durante a sua existência: o de não evoluir nada, estagnar, e o risco de evoluir menos do que esperado por ele mesmo. São riscos porque estes acontecimentos geram no ser, depois de libertado do ego, a frustração de não ter aproveitado uma encarnação.

Participante: mas, não é estranha esta coisa de viver eternamente passando por provas? Isto não tem um fim? Compreender isso me assusta...

Você já me conhece e sabe que quando respondo, não estou brigando nem querendo ser sarcástico. Por isso vou lhe responder francamente.

Se o fato de viver eternamente se testando para verificar conhecimentos lhe assusta, acho melhor você dar já um tiro na sua cabeça e acabar com isso, pois a vida carnal também é assim. Desde o momento que você nasce até o que morre carnalmente, existe um processo constante de provações para evolução.

O ser humano não descansa nunca. Mesmo na mais alta idade ele está sempre no processo de evolução, aprendendo novas coisas, promovendo novos conhecimentos, para alcançar a evolução material. O que estou falando é a mesma coisa. Só que na vida humana este processo dura setenta ou oitenta anos, mas na do espírito no universo, eternamente.

Participante: o senhor falou em me matar, mas não faço isso porque sei que de nada adiantaria. O que quero é mudar minha consciência.

Isso: de nada adianta.

O que falei não foi esperando que você praticasse este ato, mas utilizei este exemplo apenas para que compreendesse que este processo não é novidade. Como você mesmo pode constatar, se a vida humana for levada a sério (fundamentada na busca da elevação material) ela também será até o seu término um constante aprendizado e a respectiva provação do que se aprendeu.

Aliás, esta é uma queixa de vocês. O ser humanizado queixa-se constantemente que a vida cobra a busca constante de evolução e que esta competitividade cansa. Mas, este processo é Universal. Só que no Universo você não compete com ninguém, mas consigo mesmo.

A partir disso, compreenda que de nada adianta sair desta vida e ir para a outra, que será a mesma coisa. Mas, também não pense que adianta fugir de lá e vir para cá, pois tudo que é Real é Universal: existe em todos os lugares.

Participante: a imaginação pode nos ajudar nesse processo?

Não, atrapalha.

Imaginar sobre a vida humana reflete a presunção de querer saber alguma coisa sobre a vida, por isso atrapalha. Agora imaginar a Realidade, ou seja, que você não é um ser humano, mas um espírito encarnado, isso é outra coisa. Isso pode lhe ajudar, mas a primeira hipótese atrapalha na grande aventura do espírito.

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Ovoides

Participante: e o que falam sobre o espírito que retrocede para o estado de ovóide. Neste caso, ele não retrocedeu?

Não, porque não acabou a encarnação.

O espírito ao qual vocês conferem essas formas ainda está ligado a uma consciência de provas e não à sua consciência espiritual. Ele ainda não voltou a sua consciência original, espiritual, e por isso não acabou a sua encarnação.

Veja como defini neste trabalho a encarnação e o retrocesso. Para julgarmos que houve um retrocesso seria necessário que primeiro o espírito retornasse à sua consciência espiritual. Só se ela fosse inferior (mais individualizada) do que era antes da encarnação poderíamos afirmar que houve uma retroação.

Estes espíritos que você está falando ainda estão presos a egos, como fantasmas. Então, ainda estão encarnados, mesmo que não haja mais corpo físico. Por isso não pode ser decretado que houve um retrocesso.

Um dia eles voltarão à sua consciência e somente neste dia poderá haver a avaliação daquela encarnação. No entanto, quando isso acontecer, certamente estarão no mesmo nível de conhecimento espiritual que estavam antes da encarnação, pois, como dissemos, não existe retrocesso.

Participante: não entendi a questão do fim da encarnação...

Vamos falar mais sobre isso. Para tanto, me diga, quem é você?

Participante: a Maria...

Você acha que é a Maria, mas esta identidade é, na verdade, um conjunto de crenças e verdades (consciência) a qual você, o espírito, está ligado. A Maria não é você; o que ela acredita não representa o que você, o espírito sem nome, sabe.

A Maria é a encarnação. Enquanto você imaginar-se como ela estará encarnada, mesmo que já tenha se libertado da matéria carnal. Agora, quando não mais se considerar Maria, terá de volta todos os valores que estão na sua consciência espiritual e que hoje não estão acessíveis através do consciente. Neste momento a sua encarnação acabou, estando você presa ou não à carne.

Com isso, a Maria morre e o espírito, que está adormecido, renasce.

Participante: é isso que acontece com estes espíritos na forma de ovóides?

Eles ainda se consideram Marias...

Participante: porque essa forma de ovóides?

A forma é uma conseqüência dos sentimentos: eles se acham maus e por isso tomam formas que possam assustar os outros. Mas, má é a personalidade à qual eles estão ligados a tal ponto que imaginam ser eles próprios.

Participante: existe um critério para que estes espíritos tenham a oportunidade de reencarnar novamente ou eles continuarão sempre como a identidade que se imaginam?

Para reencarnar eles precisam, antes de tudo, sair da identidade atual, matar esta identidade.

Participante: mesmo enquanto ovóides?

Mesmo enquanto ovóides.

O problema não é a forma, mas sim consciência. A identidade está na consciência e não na forma do corpo.

Aliás, se formos aplicar aquilo que já aprendemos, não podem existir espíritos ovóides, já que o ser é apenas um brilho que, portanto, não possui forma, cor, raça, sexo, etc. A forma que você está percebendo não é do espírito, mas é como o seu ego humanizado constrói a imagem destes espíritos.

Saiba que eles mesmos, na Realidade, não são assim.

Participante: podemos dizer que isso é uma programação nossa para vê-los dessa forma?

Na verdade é uma figura que o seu ego humanizado se programou para exibir ao seu consciente quando se deparar com espíritos que possuam determinada carga energética.

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Riscos calculados

Portanto, as encarnações possuem riscos: estagnar ou evoluir menos do que era pretendido. No entanto, como já afirmei neste estudo, estes riscos são friamente calculados.

Por que isso é assim? Porque a provação que o espírito faz, é escolhida por ele mesmo. Ou seja, o ego que irá servir como gerador das provas para o espírito quando humanizado é montado, organizado, pelo próprio espírito, antes da encarnação. Vamos explicar isso.

No início de nossa conversa disse que o espírito quando no universo de posse de sua consciência própria realiza estudos. Estes estudos, diferente do que ocorre no mundo humano, não cumprem um curriculum específico: o ser estuda o assunto que quiser. É ele que determina o que quer aprender ao invés de ser obrigado a estudar o que lhe é determinado.

Mais: além de não precisar estudar obrigatoriamente nenhuma assunto, é o espírito que escolhe o que ele vai provar a cada encarnação. Ou seja, o ser tem a liberdade de escolher dentre aquelas matérias que estudou as que quer realizar a provação ou não.

Vamos dizer que na vida espiritual um ser tenha estudado uma determinada matéria. Apesar disso, na hora de montar a encarnação, não se considera seguro com relação ao aprendizado dela. Ela certamente não fará parte do seu ego e, por isso, não será trabalhada nesta provação.

É por isso que o Espírito da Verdade ensina: “ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso se consiste o seu livre arbítrio” (O Livro dos Espíritos – pergunta 258).

E, ensina mais.

“Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar por que decretou Ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito. Demais, cumpre que se distinga o que é obra da vontade de Deus do que é da do homem. Se um perigo vos ameaça, não foste vós quem o criou e sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos expordes, por haver visto nisso um meio de progredirdes e Deus o permitiu” (pergunta 258a)

Portanto, o risco ao qual o ser se expõe quando se humaniza (vive uma encarnação) é calculado por ele mesmo. É o espírito que organiza a sua provação nos mínimos detalhes para que a sua aventura não tenha um fim trágico.

Desta forma, podemos dizer que encarnação, se comparada às aventuras humanas, é para o espírito como o homem que sai para o desconhecido (atravessar uma mata, subir uma montanha ou, como nos tempos antigos, singrar os mares desconhecidos), mas que se prepara com tudo que é necessário para o bom sucesso na realização da sua empreitada.

Por isso afirmo: o risco ao qual o ser universal se expõe durante uma encarnação é friamente calculado. Só que há um detalhe: a maioria dos espíritos é autoconfiante demais.

Para eles, fugir ou abrir mão de uma prova é algo improvável, uma coisa que não passa por sua idéia. O ser universal, aquele que está de posse de sua consciência espiritual, é louco para viver esta aventura, possui verdadeiro fascínio pela idéia de realizar esta aventura. Isto porque, como já disse, a sua determinação é evoluir sempre.

Por causa desta determinação o espírito se apega à oportunidade de vivenciar a aventura da encarnação com unhas e dentes e quer, a cada uma, proporcionar a si mesmo a oportunidade de dar um salto grande adiante. Mas, como sabemos, quando o salto é maior do que a perna, o fim é o tombo.

Por isso Deus, que como nós vimos não impõe nenhuma prova, não deixa isto acontecer. Através dos mentores (guias espirituais do ser) o Pai sempre orienta o espírito para que ele possa programar para si apenas os objetivos que sejam realizáveis.

Isso quer dizer que o Professor Supremo orienta para que o espírito retire da provação determinadas matérias. Muitas vezes Ele próprio as retira, mesmo que o estudante se ache capaz de responder às questões sobre elas.

Deus age desta forma porque tem a consciência de que o aluno não vai saber responder a questões sobre aquela matéria. Sabe que o ser está apenas iludido com o seu conhecimento e, dessa forma, expondo-se a riscos desnecessários.

Deus não impõe nada, nem deixa o espírito se expor a riscos desnecessários porque sabe que o ser tem toda a eternidade para evoluir. Sendo assim, ele não precisa se expor a falir na sua provação de agora.

Tal procedimento do Pai aliado ao livre arbítrio do ser de escolher a matéria que fará a provação, diminui sensivelmente o risco de haver uma estagnação ou de não se alcançar plenamente os objetivos previamente estabelecidos para uma encarnação. Não garante a realização de tudo que foi pretendido, mas facilita alcançar os objetivos traçados.

Portanto, a encarnação é uma aventura, ou seja, é uma empresa com riscos, mas é uma aventura totalmente guiada por guias experientes que montam a programação da expedição junto com aquele que a vivenciará, de tal forma que o afã de quer aventurar-se além daquilo que lhe pode ser útil (não vou usar a palavra bom) não provoque a falência da missão.

Participante: mesmo sabendo que tudo é carma, fica difícil não pedir a Deus que afaste de mim este cálice.

Nós chegaremos lá: ainda vamos falar disso.

No entanto, saiba que você hoje, mesmo pensando que é carma, não pode pedir diferente. Isto porque não sabe ainda o que é carma e nem se conscientizou da grande aventura que está vivendo nesse momento, já que ainda está preso às verdades do ego.

Participante: este planejamento prévio é para espíritos evoluídos, não? Quanto menos evoluídos que somos não conseguimos avaliar corretamente o que devemos fazer, não é mesmo?

Não, o que foi comentado aqui é Universal, ou seja, é para todos.

A criança da escola primária espiritual planeja o que ele quer provar durante as suas encarnações, assim como o estudante do universitário da mesma escola. Todos os espíritos planejam suas provas independentemente de seu grau de evolução: não há aí diferenciação.

Quanto ao não saber, todo espírito sabe dos objetivos de sua evolução existência espiritual: evoluir sempre para aproximar-se de Deus e gozar da Sua glória. O conhecimento pode ser diferenciado, mas todo ser universal conhece o objetivo de sua existência. E, este grau de conhecimento é respeitado por Deus e pelos Mestres. Por isso, eles não exigem de um iniciante o mesmo que exigiriam de um veterano.

Vamos fazer uma comparação com os conhecimentos dos terrestres durante a sua evolução para podermos entender melhor esta questão. Se uma criança do primário pudesse escolher suas provas iria pedir para ligar pontinho, fazer desenhos e colori-los. Isso é o que ele sabe, o que pode pedir e realizar.

Para estes espíritos não será pedido nunca para que eles façam provações que incluam fazer contas ou escrever palavras. Nunca. Mesmo que escrever palavras e fazer contas seja um conhecimento importante e que o estudante precise ter. Isto porque ele não está pronto para isso e o seu limite é respeitado.

Sendo assim, na Realidade cada um pede no seu nível e Deus não altera sequer um milímetro, mesmo sabendo que esta provação é do curso primário, ou seja, baseada em conhecimentos rudimentares.

Participante: Jesus veio a Terra porque queria passar por isso ou a sua programação foi diferente?

Jesus veio a Terra em missão. Nós vamos falar disso depois. Mas, por agora, compreendamos que a aventura que você está vivendo começa a lhe ficar mais clara.

Participante: Existe um carma coletivo? Por exemplo, além do que planejei, eu nasci no Brasil onde uma série de experiências típicas deste povo/raça me facilitariam para a elevação?

Sim, existe e nós vamos falar disso...

Mas, por enquanto, sabia que mais do que o carma de nascer no Brasil, existe o carma do planeta Terra. Você nasceu aqui neste planeta porque isso facilita a elevação de você, o espírito. Se assim não fosse, nasceria em outro lugar.

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A segurança para executar a missão

Agora o conhecimento sobre a grande aventura do espírito começa a ficar mais claro. Encarnar é ligar-se a uma consciência transitória ou ego com o objetivo de realizar provas ou cumprir missões que são previamente escolhidas pelo próprio espírito. Essas provas e missões trazem consigo o risco não da falência, mas da estagnação e ainda o de não se alcançar àquilo que se esperava. Estes riscos, no entanto, são calculados, medidos por Deus e pelos próprios espíritos, o que dá ao espírito mais confiança para vivenciá-la.

Portanto, não é uma aventura tão inconsequente assim. É uma aventura muito bem planejada, onde nada fica ao acaso, onde todos os equipamentos necessários para que o espírito chegue ao bom sucesso estão presentes.

A aventura máxima do espírito pode ser comparada a um salto no escuro, no desconhecido, mas este salto é extremamente seguro porque é totalmente planejado, tem seus riscos calculados, como já vimos. Mas, esta segurança vai além do planejamento. Vamos entender isso.

Além do planejamento para a encarnação haver sido criteriosamente feito, o espírito durante a encarnação, ou ligado ao ego, possui guias que cuidam do caminho que será percorrido. São aqueles seres que a humanidade chama de mentores, anjo da guarda, ou qualquer nome que queiram dar. São os seres que ajudam os espíritos a realizar as suas provações.

Por isso afirmo que a aventura do espírito é como uma expedição de crianças em um parque de diversões: ele está caminhando através de trilhas aparentemente isoladas crente que está andando sozinho, mas, nas sombras, existem guias e mentores que estão agindo cuidando de sua segurança no caminho para que a aventura tenha bom sucesso.

Portanto, a encarnação, que nós começamos definindo como uma expedição de risco, é sim uma aventura, mas, ao mesmo tempo, é totalmente controlada, pois sempre aparecerá à frente do ser encarnado uma placa indicando que caminho deve tomar. Além disso, ela é totalmente acompanhada com atenção por guias ou mentores que estão sempre prontos para o socorro imediato àquele que se machucar no caminho, providenciando que o espírito permaneça sempre apto a continuar a sua jornada.

Não confunda, porém, minhas palavras. Os guias agem para que a aventura do ser chegue a bom termo espiritualmente falando e não materialmente. Por isso, não pense que estou dizendo que eles estão aqui para guiá-lo ao sucesso material, para obter o que quer agora guiado pelo ego. Eles não servem à identidade provisória que hoje você imagina ser, mas à sua Realidade: a espiritual.

Com tudo o que vimos até aqui, podemos começar a ter alguma noção do que é essa vida que vocês que estão encarnados hoje vivem. Podemos começar a compreender o papel das religiões, dos protetores, santos, anjos ou mentores. Enfim, podemos compreender a essência da vida e o que acontece nos seus bastidores. Mas, isso veremos com mais detalhes ao longo de nossas conversas.

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Realidade

No capítulo anterior definimos que a encarnação ocorre quando um ser universal está ligado a uma consciência diferente da sua (ligado a um ego) e que ela só termina quando do retorno à sua consciência original e não pelos acontecimentos nascimento e morte como até então vocês compreendiam. Acontece que, quando o espírito se liga a um ego cria para si uma nova identidade, que será um personagem que este ser vivenciará durante a sua aventura. Vamos entender isso.

O que é se ligar ao novo ego, a uma nova consciência? Vamos começar por aqui a nossa conversa.

CONSCIÊNCIA – Atributo pelo qual o homem pode conhecer ou julgar sua própria realidade. Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados. (Mini Dicionário Aurélio).

O espírito possui uma consciência espiritual, ou seja, possui um atributo que lhe faz conhecer uma determinada realidade. A realidade conhecida pelo espírito quando de posse de sua consciência espiritual chamamos de Realidade espiritual.

Quando o espírito se liga à uma nova consciência, a sua anterior fica inacessível por aquilo que vocês chamam de véu do esquecimento. Ou seja, a realidade espiritual lhe fica inacessível. No entanto, surge para ele uma nova realidade que é construída a partir desta nova consciência. Chamamos a realidade gerada pela consciência temporária a qual o ser está ligado de realidade material.

Portanto, para o bom entendimento sobre o que vive o espírito quando ligado a uma ou outra consciência, conhecer a palavrinha realidade é fundamental, pois ela nunca deixa de existir, quer seja com uma ou outra consciência a qual o espírito esteja ligado. Vamos, então compreender o que é realidade.

REALIDADE – Qualidade do real. Aquilo que existe efetivamente, o que é real. (Mini Dicionário Aurélio).

Para o espírito existem algumas coisas no mundo espiritual, algumas coisas são reais, mas, quando se liga ao ego, o que existe para ele se transforma, uma nova realidade é criada.

É isso que estamos falando quando dizemos que encarnar é adotar uma nova consciência: adotar uma nova realidade. Adotar novos conceitos, verdades, objetivos e padrões sobre qualquer assunto: este é o verdadeiro significado da palavra encarnar.

Por isso digo que a aventura do espírito não é vir à carne, mas sim alterar a sua realidade. O espírito encarnado é aquele que abandona a sua realidade espiritual e passa a viver uma realidade gerada pelo ego que servirá como provação para a sua evolução.

Esta é a aventura que o espírito vive durante uma encarnação: alterar a sua consciência, ou seja, a sua realidade Real para uma temporária, que servirá como geradora de provações para a sua evolução espiritual. Isso é o que comumente é chamado de encarnação.

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Ser humano

Um espírito encarnado é aquele que vive com uma realidade temporária e transitória que foi criada e montada por si mesmo com o auxílio dos mestres, mentores e de Deus, de quem tudo se origina, para que elas sirvam de provação. Mas, essa forma de proceder gera um elemento novo no Universo: um eu.

Estou falando de uma identidade temporária que é gerada para que o ser possa realizar suas provações. É uma personalidade temporária que o espírito assume para poder viver a sua aventura. A este eu chamamos de ser humano.

O ser humano, que o espírito imagina ser durante a encarnação, é uma criação ilusória, pois faz parte de uma realidade temporária adotada por um espírito para executar suas provações. Por isso anteriormente respondi que enquanto alguém se entender como Maria estará preso à encarnação, pois Maria é um personagem temporário que o espírito vivencia como sendo ele porque está ligado a um determinado ego.

Se o ego fosse outro, poderia se chamar Joaquim, Manoel, ou qualquer outro nome. Mas, esta auto visão do espírito sobre si quando de posse da sua consciência espiritual, acaba, pois ele volta a sua realidade onde não possui nomes, sexo, ou qualquer outra realidade criada pelo ego.

Portanto o ser humano não é o espírito encarnado, mas uma identidade que contém todos os elementos que o ser precisa para viver as suas provações durante a sua grande aventura.

Encarnação - Textos

A provação do espírito

Acredito que a aventura do espírito está ficando mais clara cada vez que nos aprofundamos mais na definição dos termos que a envolve. Para nos aprofundarmos ainda mais vamos voltar a falar da provação.

Como disse, a encarnação é caracterizada pela alteração de consciência com o objetivo de criar provações. Sendo assim, pergunto: o que é a provação que o ser passa durante a vivência dos acontecimentos criados dentro da nova realidade? Vamos entender isso.

A Realidade universal é universalista. O que quer dizer isso? O universo é como um quebra cabeças gigantesco formado por milhares de peças que se fundem perfeitamente formando uma individualidade: o desenho do quebra cabeça como um todo.

Isso quer dizer que cada peça tem um desenho próprio, o seu conteúdo próprio, mas apenas o desenho totalmente formado é Real. O desenho de cada peça separadamente de nada tem importância. Por isso dizemos que acreditar que ele é importante é ilusão.

Se só o desenho final é Real, cada peça precisa se unir perfeitamente a outras com a intenção de gerar o desenho maior. Esta é a existência do espírito dentro Realidade do universo: uma convivência em perfeita consonância com seus irmãos.

Isso é o que todos os espíritos precisam alcançar durante o seu processo de evolução: a convivência harmônica com os demais seres. A esta forma de conviver com os irmãos chamamos de universalismo.

A forma contrária de viver chamamos de individualismo. Ela acontece quando a peça que forma o quebra cabeça acha que é importante por si mesma do que o todo. Ela não se vê como um componente do quebra cabeça, mas imagina que já é tudo o que pode existir.

Individualista é aquele ser do Universo que imagina que aquilo que ele quer, gosta ou acha certo é mais importante do que a plena fusão com o que os outros acham.

A partir destes dois conhecimentos podemos, então, afirmar que o processo de evolução espiritual é caracterizado pelo abandono do individualismo para alcançar o universalismo. E a provação está vinculada exatamente a isso, consiste exatamente nisso.

O espírito durante a sua aventura encarnatória, ou seja, a fusão a um ego, a uma nova consciência, a uma nova realidade, será testado para provar o universalismo que aprendeu de pose da sua consciência espiritual. Precisará provar a si mesmo que está de mão dada com todos para o bem universal. Para isso ele precisa abandonar os seus pontos de vista individuais,

Para realizar este trabalho ele precisará abandonar os sentimentos fundamentados no individualismo e alcançar o amor universal, incondicional. Por isso Cristo ensina: o caminho para se chegar a Deus é amar ao Pai sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta é a síntese do universalismo que o ser precisa vivenciar que cria a fusão prefeita entre ele e a sua comunidade espiritual.

Mas, como ocorre esta provação? Nos acontecimentos vivenciados pelo eu transitório ao qual o espírito está ligado. Sempre que um ato acontecer na existência desta identidade, a consciência criará valores fundamentados no individualismo (baseados nas crenças individuais) existente no ego proporcionando, assim, ao espírito uma oportunidade para provar a si mesmo que atingiu um grau de universalismo que não lhe deixa crer naquilo.

Portanto, o eu é o personagem com o qual o espírito cria a aventura e os acontecimentos de sua existência são o próprio aventurar-se: o caminhar para atingir o objetivo.

Encarnação - Textos

A provação em seus diversos graus

Já falamos da provação do ser, mas, vamos mais adiante em nossas análises para se compreender melhor alguns elementos presentes nos egos humanos que até hoje ainda não foram compreendidos.

Os graus de evolução espiritual são baseados no universalismo e, por conseguinte, no individualismo. O espírito que vocês consideram menos evoluídos são os mais individualistas; os que são considerados como evoluídos, os mais universalistas.

Esta verdade, como disse no início desta obra, vale para toda eternidade e para todos os seres. O que podemos chamar de individualismo zero, é Deus. Todos os outros espíritos, por menor grau que seja, possuem individualismo. Por isso todos os seres estão sempre estudando para aprenderem a se libertar desta sua característica e, posteriormente, ligando-se a egos para comprovarem o que aprenderam.

Então, o ego ou uma consciência transitória a qual o espírito se une para provação, não é apenas aquilo a que se ligam os seres que atualmente encarnam no planeta Terra. Ele existe em outros planetas e em outras dimensões no cosmo.

Nestes lugares, tanto como aqui, no entanto, o ego não pode ser confundido com a consciência Real (espiritual) do espírito. As duas coisas são diferentes. Mas, diferenciados em que sentido? Na capacidade de ser universalista, de abandonar a vaidade individualista e fundir-se totalmente ao Todo.

Todo ego é sempre menos universalista do que a consciência que o espírito tinha antes da encarnação, ou melhor, é mais individualista. Isso é necessário para que a provação exista, ou seja, é necessário que o apelo ao individualismo aconteça (crie-se realidades fundamentadas no querer para si, no valorizar-se) para que assim o ser tenha condições de provar o seu universalismo.

Portanto, a maior aventura do espírito, seja em que nível for, caracteriza-se pela fusão com um ego, um conjunto de verdades transitórias fundamentadas no individualismo, que o espírito assume para provar o seu universalismo. Faz isso não se submetendo ao apelo individualista que essas verdades criam e distinguem como real.

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A encarnação fora da carne

Esta é a grande aventura espiritual. O espírito, possuidor de uma consciência universalista, aventura-se por terrenos individualistas com o objetivo de provar a si mesmo o seu aprendizado universalista não aceitando o individualismo proposto pelo ego.

Ficou claro agora o que é uma encarnação? Isso é uma encarnação. Encarnar nada tem a ver com carne, com o planeta Terra ou com vida material. Encarnar é um processo que podemos chamar de mental já que se trata de uma conscientização de realidades.

Por isto afirmamos no capítulo anterior que o espírito enquanto ainda aprisionado a verdades criadas por ele mesmo e adicionadas ao ego, que são mais individualistas do que a sua própria consciência espiritual, está encarnado, mesmo que para o mundo humano ele esteja morto.

Este ser está vivendo uma etapa de sua provação, pois ainda está ligado à realidade gerada pela personalidade transitória. Isso pode acontecer durante aquilo que vocês chamam de vida carnal ou até no que é conhecido como vida espiritual.

Por exemplo. Os espíritos que vocês dizem que estão no umbral, são seres presos a uma encarnação. Eles ainda vivem aprisionados às identidades transitórias que viveram quando junto à carne e, por isso, acreditam nas realidades criadas por ela.

Mas, não é só os habitantes deste lugar que ainda estão encarnados. Muitos espíritos que vocês imaginam que são superiores e que os espíritas dizem que moram nas colônias espirituais, ainda estão presos a uma encarnação. Isso porque estão presos ao último ego, possuem uma identidade fundamentada no eu, ou seja, a última provação que fizeram. Estes ainda não retornaram ao seu estado natural dentro do seu grau de evolução.

Participante: demora muito para um espírito se desligar da sua vida carnal?

O desligar faz parte da encarnação. Têm espíritos ligados ao corpo há cinquenta cem anos, assim como existem espíritos ligados ao ego há cinco mil ou mais anos.

Participante: estou assustada, demora muito mesmo, não? E o senhor, demorou muito...

Não se assuste...

Frente a eternidade que você vai existir este tempo é apenas um piscar de olhos. A sensação de muito tempo existe apenas para os seres encarnados. Para o espírito não existe tempo, ou se existisse não seria dentro da compreensão que vocês têm sobre a sua extensão.

Saiba que nada existe por si, mas que o valor que cada elemento possui é dado pela comparação com que você faz dele com outros. Por exemplo: um dia para vocês é o fruto da comparação daquele passar de tempo com uma semana, um ano, uma década ou um século. Isso torna o período que falei muito longo. Mas, para o espírito a comparação é sempre com a eternidade. Por isso duzentos mil anos são muito pouco tempo.

Encarnação - Textos

A encarnação dentro da encarnação

Participante: O senhor falou em espíritos nas colônias ainda vivendo encarnações. Isso me deixou confuso...

Vou tirar a sua dúvida e aproveito para falar um pouco mais a fundo na compreensão sobre uma encarnação.

Como é que se reconhece um espírito ligado a um ego, ou seja, ainda vivendo uma aventura encarnatória? Simples, muito fácil: o espírito individualista, a peça do quebra cabeça que ainda acha que seu desenho sozinho vale alguma coisa.

O que, em última análise demonstra o individualismo? A existência do eu.

Assim sendo, enquanto um espírito tiver um eu e vivenciar como real as interpretações desse eu (eu sou, eu gosto, eu quero, eu pertenço) ele estará vivendo uma etapa de provação e ainda não terá alcançado o seu retorno à consciência espiritual. Quando um espírito retorna à consciência espiritual o eu é sempre trocado pelo nós e o individualismo pelo universalismo.

Como eu disse, o espírito encarnado é como uma peça que se valoriza dentro de um quebra cabeça. Já o espírito na sua consciência espiritual anula o valor da sua peça e só pensa no quebra cabeça como um todo.

Então, a grande aventura do espírito (uma encarnação), é caracterizada pela existência da compreensão de ser um eu. Enquanto houver esta compreensão, o espírito, não importa que grau esteja, estará vivendo uma provação.

Isso quer dizer que aqueles que estão nas cidades espirituais, mas que ainda se reconhecem por algum eu, ainda estão encarnados. E isso nos leva ao último assunto que eu preciso falar neste momento: um espírito pode viver uma encarnação dentro de uma outra encarnação.

Ou seja, um ser universal pode estar ligado a um eu que é formado por um ego e, ao mesmo tempo, criar uma outra encarnação (outro ego) e ligar-se a um corpo carnal vivendo a realidade criada por esta segunda consciência.

Participante: Pode explicar melhor...

Antes de mais nada me deixe dizer que não estou falando mal desses espíritos. Muitos deles são considerados por vocês como de luz e são mesmos. Ou seja, eles são mais universalizados que os que estão ligados à matéria densa, mas isso não quer dizer que já recuperaram a sua consciência espiritual.

Um espírito que, habitando aquilo que vocês chamam de mundo espiritual superior, ainda tenha a consciência de que ele é o José, ou qualquer outro nome, ainda está encarnado. Mesmo não estando ligado a carne e vivendo naquilo que é conhecido como mundo espiritual, ele está ligado a uma encarnação, onde assumiu a personalidade de José. Mesmo não ligado a carne ele está numa encarnação porque ainda existe um eu.

Este espírito, vivendo a encarnação José no mundo espiritual, pode preparar uma nova identidade para vivenciar no mundo material, assumi-la e depois voltar a ser o José. Ele sairá do mundo espiritual e virá para o mundo material – estes dois planos na Realidade não existem como lugares distintos; estou usando estes termos para facilitar a compreensão de vocês – onde vivenciará uma nova identidade, mas ainda estará numa encarnação onde ele era o tal do espírito José.

No entanto, um dia o José também acabará, ou seja, a ação da individualidade crendo-se isolada do todo terá que um dia acabar para que o espírito possa completamente interpenetrar no universo. Só nesse momento pode-se afirmar que ele está novamente de posse da sua identidade espiritual, da sua consciência espiritual.

Veja o exemplo de André Luís. Ele desencarnou e deixou de ser o humano que imaginava ser. Só que quando retornou ao mundo espiritual assumiu uma nova personalidade: a de André Luís. Nela ele viveu na cidade que vocês chamam de Nosso Lar e executou brilhantes trabalhos de auxílio aos encarnados.

Esta identidade, André Luís, é uma encarnação. Digo isso porque essa era uma identidade que ainda se via isolada do todo, ainda imaginava-se uma personalidade distinta das outras. Aquele espírito, portanto, ao vive-la, estava ligado à uma encarnação, mesmo que aquela personalidade jamais tenha existido no planeta terra como um ser humano.

No entanto, um dia, ele foi instigado a buscar além da própria realidade, ou seja, daquela cidade onde vivia. Este ser conseguiu, então, compreender a fusão com o universo e desligou-se daquela realidade temporária.

Hoje ele está no Universo, mas aceita voltar constantemente ao Nosso Lar para auxiliar aqueles que ainda estão presos a este cantinho do universo como a Realidade, como o Todo que pode existir.

Com este conhecimento, amplio, então, a resposta sobre os ovóides. Os espíritos que são vistos com esta forma, vivenciados com esta realidade, podem até não estar mais na personalidade que tiveram durante a vida material, mas estão com uma outra personalidade. Isso quer dizer que estão encarnados.

Participante: complicado...

Eu acredito até que seja, mas somente para aqueles que ainda estão presos à idéia de uma encarnação como um matéria, como vida carnal. Mas, universalmente falando, encarnação não é prisão à matéria ou à vida carnal, mas é caracterizada com a ligação com uma consciência fundamentada no individualismo, ou seja, com a existência de um eu. E isso acontece dentro e fora da carne, neste mundo ou no outro.

Era isso o que nós tínhamos para dizer hoje para começar esse estudo. Amanhã vamos continuar e chegaremos à vida carnal propriamente dita.

Fiquem com Deus...

Encarnação - Textos

Resumo do que já foi visto

Hoje vamos voltar a falar da grande aventura do espírito.

Na conversa anterior afirmei que o espírito pode fazer muitas coisas que vocês chamam de sobrenaturais, mas para ele a coisa mais importante, a maior aventura, é a encarnação. Depois disso, começamos a falar da encarnação e a definimos como uma mudança de consciência. Como vimos, encarnação nada tem a ver com estar na carne, mas trata-se de uma condição onde o espírito abandona a sua consciência espiritual e se liga a uma transitória, que chamamos de ego, e vivencia realidades criadas a partir das verdades desta consciência.

Dissemos, também, que a encarnação é uma aventura com riscos. Afirmamos que estes riscos são calculados e não acontecem por acaso ou por sorte ou azar. Comentamos que que tratam-se de riscos medidos, calculados pelo próprio espírito e pelos seus mentores, que analisam e estudam todas as possibilidades buscando fazer com que o espírito não entre em uma aventura sem ter todos os aparelhos de segurança sem ter a oportunidade de chegar ao término dessa aventura.

Foi aqui que paramos no final da última conversa. Hoje vamos continuar a conversa, mas se houver alguma dúvida antes, podem fazer perguntas.

Participante: dá para entender a encarnação como se fosse apresentação de uma peça de teatro, onde o script, o roteiro está todo programado?

Sim, essa peça inclusive tem um nome: a divina comédia humana.

Participante: temos apenas que seguir o programado. É isso?

Sim, obrigatoriamente seguirá o que está programado. Agora, durante esta vivência, você pode valorizar de diferente formas o que foi programado e está sendo vivenciado naquele momento.

Há um exemplo que eu tenho citado muito que facilita a compreensão sobre este tema: uma pessoa que anda na rua e vem alguém e retira o dinheiro do bolso dele. Para a grande maioria dos seres humanizados, isso tem o valor de um assalto. No entanto, se esse ser humano tem conhecimento sobre a lei do carma, com certeza dirá que tal acontecimento é um carma. Com isso o valor com que foi vivenciado aquele acontecimento mudou. Agora não é mais um assalto, mas um carma.

Se essa pessoa, no entanto, houver alcançado uma compreensão maior sobre as questões da encarnação (compreender que ela deve ser vivenciada em uma relação amorosa entre você e Deus), com certeza dirá que é apenas o amor de Deus por ela em ação. Mais uma vez o valor com que se vivencia o momento se altera dependendo do grau de compreensão sobre a encarnação: primeiro um roubo, depois um carma e agora um ato de amor divino. A compreensão sobre o valor do acontecimento muda de acordo com o grau de compreensão do ser humano, sem mudar o acontecimento.

Portanto, se na peça da sua vida estiver escrito que alguém meterá a mão no seu bolso, isso acontecerá, mas o valor com o qual viverá os acontecimentos depende do seu grau de elevação ou o seu grau de universalização.

Participante: então, a única importância no viver é atuar com amor ou não?

Sim...

Só que quando você atua com amor, o amor universal, o amor incondicional, as coisas mudam de valor para você. O assalto deixa de ser um assalto, um roubo, um ato de agressão e passa a ser um ato de amor.

Portanto, o ato vai acontecer como pré-programado, mas você pode vivenciá-lo com valores diferenciados.

Participante: não há espaço para improvisos?

Só se Deus pudesse ser pego de calça curta...

Você acha que Deus pode ser pego de calças curtas, desprevenido? Claro que não. Então, não há espaço para improviso.

Encarnação - Textos

Maya

Vamos, então, voltar ao nosso tema e começar a conversa de hoje.

Como disse, a encarnação é o ato do espírito se ligar a uma consciência diferente e ela cria para ele uma realidade diferente do que é real. Vamos, neste trabalho, chamar essa realidade ilusória como Krishna a chama: maya.

Sendo assim, posso afirmar que o espírito ligado a uma consciência ego, não vive a realidade, mas sim ilusões, que chamaremos de maya.

 Mas, como posso provar ao ser humanizado que ele não vive o que vive? Como falar que a realidade é uma ilusão para você que olha, por exemplo, para uma parede e acredita e tem certeza que ela é real? Como isso se processa? Como a parede é criada ilusoriamente? É sobre isso que vamos falar no começo da conversa de hoje.

Toda a realidade vivenciada pelo espírito quando ligado ao ego é criada pelo processo raciocínio. Esse processo cria as realidades que o ser humanizado vivencia e que são os elementos da provação da encarnação. Mas, estas criações não surgem do nada: elas são geradas a partir de algo que vocês chamam de percepções.

É a partir destes dois elementos (raciocínio e percepções) que vamos, então, começar a conversar sobre a formação da realidade das coisas para o espírito encarnado...

Encarnação - Textos

A criação da realidade

A realidade começa na percepção, ou seja: na audição, na visão, no olfato, no paladar e nas sensibilidades que o corpo físico tem. Essas sensibilidades, tanto faz auditiva, visual, patativa ou do corpo, são descargas elétricas.

Podemos chamá-las de energias elétricas, como são conhecidas pela ciência humana, mas não deixam de ser fluido cósmico universal. Afirmo isso porque o Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos nos diz que tudo que existe é formado pela combinação do fluído cósmico consigo mesmo.

“A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva” (O Livro dos Espíritos – pergunta 30).

Portanto, o ego recebe via corpo, a partir dos olhos, do ouvido, do nariz ou da boca ou das sensibilidades do corpo, cargas elétricas ou eletromagnéticas. Depois que isso acontece, o ego (ou mente humana) vai raciocinar o conjunto de cargas elétricas recebido.

Este raciocínio que é exercido pelo ego pode ser dividido em duas etapas. A primeira é a criação da realidade ou do cenário onde a vida se desenrola.

No ego existem códigos que criam realidades (cenas) através de impulsos elétricos. Isso quer dizer que existem códigos que transformam determinado impulso elétrico em parede, chão, carro, verde, amarelo, azul, etc.

Portanto, a parede que você vê e acredita que seja real, não o é: o que existe é um impulso elétrico capitado pelos órgãos do corpo e levado ao ego que é codificado gerando a forma parede. Ela é uma ilusão porque na verdade o que existe ali é energia e não uma parede construída de tijolos, cimento, areia e água, que, aliás, também são energias que são codificadas desta forma.

É desta forma que se cria a primeira parte da realidade das coisas: o ego codifica a energia elétrica percebida através do corpo dando a ela forma, densidade e características que vocês imaginam conhecer. Com isso se criam os elementos e objetos do mundo material. É assim que um elemento espiritual (fluído cósmico universal) toma a aparência ilusória de um objeto ou matéria.

Parece que estou falando novidade, não é mesmo? No entanto esse mesmo conhecimento é compartilhado pela ciência humana e vocês nem se dão conta da ilusão que vivem.

Segundo a ciência, o olho humano é constituído por uma lente biconvexa, chamada cristalino, que fica situada na região que antecede o globo ocular. No fundo do globo ocular está a retina, que é sensível à luz (energia elétrica/fluído cósmico universal). As sensações luminosas (irradiações de energia elétrica) após serem captadas e projetadas sobre a retina são enviadas ao cérebro pelo nervo ótico.

Só no cérebro a imagem surge. Até lá temos apenas energia elétrica, luminosidade, fluído cósmico universal.

Portanto, o que estamos dizendo não é novidade no mundo humano. A única coisa nova que podemos verificar no que falei é que estas imagens são ilusões e não realidades, mas sobre isso ainda vamos falar.

Apenas para completar o tema, já que pouco tem a ver com nosso estudo de agora, deixe-me dizer algo: isso não vale apenas para os elementos ditos do mundo material. Mesmo naquilo que vocês chamam de mundo espiritual, os objetos e elementos daquele mundo passam a existir da mesma forma: fluído cósmico universal que sofre a ação de uma consciência que cria uma realidade ilusória.

Participante: todas as pessoas decodificam da mesma forma?

Não. Existem, por exemplo, os daltônicos, aqueles que ao invés de ver vermelho, enxergam verde.

Sei que vocês imaginam que o daltonismo é uma doença, mas não se trata de doença. Na verdade são programações de decodificações diferentes.

O ser que é classificado como daltônico não possui doença alguma. Ele possui uma codificação que classifica de vermelho o que a programação de criação de realidades de outro classifica como verde. É uma programação diferenciada para criar realidades ilusórias diferenciadas.

Isso é só um exemplo. Quer outro? Tem gente que sente um paladar doce numa fruta, enquanto outros que sentem paladar azedo na mesma fruta. Onde está o doce ou o azedo da fruta? Nela mesmo? Se fosse, porque todos não sentem igual?

Participante: e com relação à matéria?

Você diz as formas grandes, como por exemplo, as paredes? Sim, essas quase todos percebem igualmente.

Isso é assim porque há a necessidade de se confirmar a ilusão que se está percebendo para que exista a ilusão daquilo ser real. Se um percebesse uma coisa e outro outra, se saberia logo que a coisa não é real e com isso não haveria o exercício da fé...

Portanto, nesse ponto, todos veem igual...

Encarnação - Textos

A forma das coisas

Ora, se o processo que descrevemos gera o cenário (todas as coisas) da vida humana, posso dizer, então, que as percepções formam o palco da aventura do espírito ou o local de realização da encarnação.

Esta verdade vale para qualquer coisa que você chame de matéria, independente do que seja, pois o único elemento material do universo é o fluido cósmico universal. Se você não vê fluido cósmico universal, não está usando a consciência espiritual, mas sim decodificando um impulso elétrico.

A partir desta constatação posso pensar macro. Não existem planetas, estrelas brilhando, nem o próprio universo que você é capaz de ver. Tudo isso são decodificações de amontoados de fluido cósmico universal.

A partir desta constatação posso pensar micro. Não existem as células que formam os corpos orgânicos, não existem as moléculas e átomos que formam os objetos, não existem os vírus e bactérias. Tudo isso são decodificações de amontoados de fluído cósmico universal.

A partir destas constatações a primeira coisa que nos salta aos olhos é que não existe forma. Isso porque, o fluído cósmico universal, que realmente é o que existe, é uma energia e este tipo de elemento não possui forma.

Você já viu uma energia elétrica?

Participante: a não ser quando há um curto circuito, quando há um clarão.

Neste caso, você vê o clarão, não a energia...

Energia não pode ser vista, não pode ser percebida pelo olho e transformada em um objeto do mundo humano. Para provar isso lhe digo que você está sendo bombardeado nesse momento por energia elétrica, e outras, e não está vendo, não está percebendo a presença dela lhe atravessando.

Portanto, se tudo é energia elétrica e ela não possui forma que possa ser percebida, a forma das coisas que vocês percebem é uma codificação que está nos egos. Trata-se de uma geração de imagem codificada anteriormente que surge quando o fluído cósmico universal (energia) chega ao ego.

Encarnação - Textos

Uma codificação para cada planeta

Isso, como disse anteriormente, vale para todo o universo. Em todos os recantos do universo a personalidade transitória com a qual o espírito vive geram imagens a partir da percepção do fluído cósmico universal. No entanto, a programação é individualizada por planetas. Vou explicar isso.

Em Marte, por exemplo, os egos possuem algo que posso chamar de programação marte. Os espíritos que se ligam a egos, ou seja, encarnam em Marte, conseguem ver as coisas de lá. Mas, você, espírito que está ligado ao ser humano da Terra, não é capaz de ver as coisas de Marte.

Porque isso ocorre dessa forma? Porque o ego que está criando as realidades que são apresentadas ao espírito não tem o programa para decodificar de acordo com as formas marcianas. Ele só pode decodificar dentro das formas humanas, das formas conhecidas pelos habitantes do planeta Terra.

Quem trabalha com computador sabe muito bem do que estou falando. Para que você ouça, veja ou mexa em qualquer arquivo no computador é preciso ter um programa que abra este arquivo. Se o seu computador não tem esse programa, jamais você conseguirá acessar aquele arquivo.

É a mesma coisa: se o ego não tem embutido o programa de Júpiter, de nada vale você ir a este planeta, pois não vai ver as coisas de lá, mas apenas as mesmas imagens que conhece na Terra.

A partir desta visão, podemos, então gerar uma definição mais ampla para encarnação: encarnar é ligar-se a consciências temporárias que estão preparadas para codificar o fluído cósmico universal de acordo com o mundo em que o espírito vai realizar provações. É por isso que em O Livro dos Espíritos se diz que para realizar um dos objetivos da encarnação o espírito em cada mundo toma um aparelho em harmonia com a matéria essencial desse mundo (pergunta 132).

Na verdade, este aparelho não é o corpo, a matéria carnal, porque esta matéria não existe, mas sim o ego com uma programação específica para criar realidades de acordo com as provações do espírito.

Participante: existe matéria, mas não a matéria como nós vemos. É isso?

Existe, o fluido cósmico universal. Existe a matéria do universo. Mas, essa você não consegue perceber.

Todas as outras matérias que você consiga perceber não são reais, mas apenas ilusões, ou seja, criações do ego a partir de percepções da matéria universal...

Participante: tem como alguém que já tem os programas da Terra conseguir os de Marte?

Nesse momento, não. Você pode receber por intuição de espíritos fora da carne algo sobre as matérias de outros planetas, mas nesse caso o que você recebe é uma interpretação terrestre do que é a realidade de Marte e não a própria realidade marciana. Você não consegue ver a realidade de Marte enquanto estiver ligado a um ego terrestre.

Para o futuro sim. Quando o universalismo for realidade, o ego humano terrestre estará apto a ver realidades de outros mundos, mas hoje não está. Hoje o que alguns podem é receber uma interpretação que ele possa decodificar daquilo que é realidade em outros planetas.

Encarnação - Textos

Verdades ilusórias emocionais

Como falei no item ‘A criação da realidade’, o ego gera realidades através de dois processos. O primeiro, que vou chamar de técnico, é o que vimos até agora: a característica de dar forma à energia universal. No entanto, ele também possui a capacidade de criar verdades ilusórias emocionais. Este é o segundo processo ao qual me referi.

O que quer dizer isso? O que quer dizer gerar verdades ilusórias emocionais? Vamos ver esse ponto agora.

O ego possui a capacidade de gerar sensações através de uma programação própria. Essas sensações ou emoções são anexada às imagens que foram criadas através da decodificação da matéria universal em formas. Desta forma, a personalidade temporária cria a realidade que o ser vivencia durante a sua grande aventura. Vou dar exemplos do que estou dizendo para ficar mais claro...

Você ilusoriamente acha que está num carro e que este está andando. Na verdade nada disso é real. Isso é maya, é uma realidade ilusória criada pelo ego. Na verdade, você, espírito, está vivenciando um programa que cria a ideia ilusória de que você está num carro e que este está se movimentando em alta velocidade.

Quem cria esta ideia é a parte do funcionamento do ego que já vimos: o processo técnico. Além dessa parte, existe o processo emocional. Os egos humanos, neste momento, estão programados para criar a sensação de medo, de nervosismo ou ainda a sensação de confiança, de tranquilidade e outros a indiferença. É desta forma emocional de se vivenciar as formas criadas que estou falando agora.

Os egos possuem a capacidade de gerar realidades ilusórias através de formas, mas também geram sensações pré-determinadas de acordo com as provações dos espíritos. Na verdade ele não cria a ideia do carro correndo e você, o espírito, se sente nervoso: tudo que pertence à realidade humana é criação da consciência temporária que gera as provações do ser.

Trazendo esta visão para o dia a dia do ser humano pergunto: você fica nervoso com alguém ou alguma coisa? Você fica chateado ou preocupado nessa vida? Não. O que está acontecendo neste momento? Existe um ego que através de uma codificação pré-programada o insufla a sentir-se nervoso, chateado ou achar que está com medo.

Isso nos leva à uma compreensão importante para a grande aventura do espírito: você pode vencer o medo, pois ele não é seu. Você pode vencê-lo se reagir com confiança à sensação de medo. Para isso pode usar, por exemplo, a fé como instrumento para o combate à sensação de medo.

Portanto, no ego existe uma programação que gera, a partir da percepção do fluído cósmico universal, as formas, mas também existe a programação que cria as sensações com as quais o ser humanizado convive diuturnamente. Com estas duas criações, a personalidade transitória à qual o espírito se liga para viver a encarnação cria a realidade ilusória que serve para as provações do ser.

Encarnação - Textos

Vencendo a sensação gerada pelo ego

Participante: vou usar o seu exemplo do medo, a programação para que se tenha medo diante da velocidade, para fazer minha pergunta. Como ela é mudada? Estou perguntando isso porque aconteceu comigo. A vida toda eu tive muito medo de velocidade de carro e de repente isso está mudando. Isso também é uma programação? Está pré-programado que o medo iria até uma determinada fase e depois deixaria de existir?

Diga-me uma coisa: você perdeu o medo?

Participante: estou dirigindo mais rápido sem o pavor que tinha.

Mas, perdeu o medo, ou o venceu? Ou seja, não há mais medo ou ele ainda vem e você não se entrega mais a ele? Não é isso que tem acontecido?

Participante: é mais ou menos o que tem acontecido.

Veja: a programação não muda, a não ser que a mudança esteja pré-programada. Mas, apesar disso você pode libertar-se dela. O ego continua lhe insuflando à sensação de medo, só que você se liberta do que ele cria e não aceita mais a sensação que ele dá.

Participante: a confiança, que compõe a fé, também não é uma codificação do programa?

Não: sensação é uma coisa, sentimento é outra. A sensação é aquilo que o ego lhe impõe e o sentimento é aquilo com o qual o espírito vivencia a situação.

O ego pode dar medo, a sensação de medo, mas o espírito pode libertar-se desse medo, agindo com fé, com confiança, ou pode se escravizar a esse medo e vive-lo porque o ego criou a sensação de medo.

Participante: mas, a libertação do medo também não é pré-programada?

Não, a libertação do medo não é pré-programada; o fim do medo sim.

Veja, a sensações são pré-programadas, ou seja, elas vão continuar enquanto você estiver em provação sobre elas. Elas só podem ser extintas por um pré-programa. Neste caso, não houve mudança, mas o mesmo programa preestabelecido foi seguido.

Apesar de afirmar isso, digo, também, que as sensações podem continuar existindo e você pode não se escravizar àquilo que o ego está lhe dando como sensação. É o caso que acabou de me ser perguntado. A pessoa disse que o medo ainda vem, mas ela já não se entrega a ele.

Participante: e os sentimentos não são codificações?

Não. As sensações são provações, ou seja, fruto da programação feita anteriormente, mas os sentimentos são frutos do livre arbítrio do espírito. Sendo assim, por exemplo, o ego pode estar lhe mandando uma sensação de tristeza e você não aceitar e vivenciar alegria.

Agora repare: estou falando de sentimento, algo universal e não de elementos materiais. A alegria a que me refiro não é aquela que é caracterizada pelo sorriso fácil, como fruto de uma brincadeira, mas sim a sensação de paz, que equanimidade, de tranquilidade.

Portanto, o ego pode lhe insuflar à tristeza e você pode reagir da seguinte forma: ‘é, estou triste, estou e daí?’ Agora têm outros que dizem: ‘meu Deus, como eu estou triste’. Esses últimos caíram, apegaram-se ao ego.

Mais um detalhe: estou falando em reagir com frases, mas não me refiro à ideias ou palavras. Estou dizendo para dizer com o coração. É o coração quem tem que dizer e daí e não a razão.

Se for a razão que diga que não irá viver aquela sensação, não houve libertação. Na verdade isso foi mais uma geração ilusória da mente, um maya, e, portanto, foi mais uma provação gerada pelo ego e não uma libertação...

Esta é a diferença entre sentimento e sensação. Não sei se dá para me entender, porque para vocês as sensações e os sentimentos são a mesma coisa, mas não são: uma é escolhida pelo ego a partir das codificações pré-programadas enquanto a outra é fruto do livre arbítrio do espírito.

Participante: mas, não vem tudo escrito no livro da vida, até esse momento da libertação?

Até o momento da libertação está escrito, mas quando isso acontecer em atos ou ideias e não no mundo sentimental...

Na verdade pode existir uma ideia de libertação – que ocorre no mundo das ideias (ego) e não quer dizer que realmente houve alguma vitória, mas apenas uma nova provação – e pode existir uma libertação verdadeira, que acontece nos mundo dos sentimentos e não é percebida pela razão. A primeira é pré-programada e a segunda é a vitória do espírito nas suas provações...

Encarnação - Textos

A programação das provas

Falamos, então, de dois processos de funcionamento do ego: o técnico e o emocional ou de sensações. Tanto o que é formado por um processo quanto o que é formado pelo outro já está pré-programado antes do espírito aventurar-se na encarnação. Como esta questão é fundamental para o bom sucesso nesta aventura, vamos falar um pouco de como se processa a programação.

A programação do processo técnico é muito fácil entender. A programação fundamenta-se num padrão fixo para quem vai encarnar em um determinado planeta. Para os egos de vocês, daqueles que encarnarão no planeta Terra, por exemplo, a programação da personalidade humana origina-se em um banco de dados universais, que chamaremos Terra. Na hora da organização do ego basta pegar neste banco de dados as informações e colocá-las no ego.

Já a parte emotiva é um pouco mais difícil de ser explicada. Como surge a programação das emoções ou sensações que um ser humano viverá no planeta Terra?

Esse processo não segue nem um padrão universal, ou seja, não é igual para cada espírito que se aventura na encarnação. A programação emocional reflete fielmente a posição do espírito antes da encarnação, por isso é individual. Ele traduz tudo aquilo que o espírito precisa executar como prova durante a união com o ego.

Vou dar um exemplo. Nós falamos do medo, medo a determinadas coisas. O que é medo? Porque alguém tem medo?

Participante: existem vários tipos de medo. Cada um tem o seu motivo.

Concordo com isso, mas o medo a qualquer coisa não é a tradução da existência de uma falta de confiança?

Participante: sim.

E, como sinônimo à falta de confiança, não posso dizer que o medo é o reflexo de uma falta de fé?

Participante: sim.

Aí está o que estou dizendo: as sensações vividas durante a encarnação traduzem a posição do espírito antes da sua grande aventura. Se o espírito precisa fazer uma provação referente ao assunto fé, provar que aprendeu que deve vivenciar os acontecimentos com fé, durante a encarnação terá que vivenciar os acontecimentos desta vida com esta emoção. Para que isto aconteça, o ser programa o seu ego com medo. Assim ele tem a oportunidade de optar (exercer o livre arbítrio) em viver as situações com fé, ao invés de escolher vivenciá-las com outros sentimentos, como o medo, por exemplo.

O contrário de ter fé é sentir medo. Por isso, o espírito que precisa realizar uma provação sobre o tema fé precisa ser insuflado pelo medo. Só sendo insuflado a vivenciar o medo este ser pode vencê-lo, optando pela fé.

Participante: mas, se ela reflete a posição do espírito e se ele estudou fé antes da encarnação, essa sensação não deveria estar presente no ego?

Já falei que a encarnação serve como provação para o espírito. Provar alguma coisa significa optar por aquilo que se estudou quando da provação e assim gerar uma vitória, uma confirmação de aprendizado. Se naquele momento o espírito fosse insuflado a vivenciar o acontecimento com fé, que vitória haveria? Nenhuma. Por isso, faz-se necessário que o ego proponha o medo como sentimento para vivenciar um acontecimento. Só assim o espírito, usando o seu livre arbítrio, pode conquistar uma vitória...

É por este motivo que o ego que gerará a aventura provação do espírito sobre fé está pré-programado através de codificações a criar a sensação de medo sobre determinados aspectos.

A mesma coisa com outras sensações, como, por exemplo, a ganância. Se um espírito veio fazer uma prova de humildade, o seu ego é pré-concebido com a programação de gerar a sensação de ganância frente às situações da vida carnal. O ego vai fazer esta propositura para que o ser, utilizando o seu livre arbítrio, opte pela humildade e com isso comprove que aprendeu, quando na erraticidade, a respeito da necessidade desta postura sentimental para a sua universalização.

Esta linha de raciocínio vale para toda e qualquer sensação que você vivencie durante a encarnação. Todas as suas emoções são pré-programadas para servir como uma questão de uma prova.

Se o ser humanizado está com raiva, ou melhor, se um ego está criando a sensação da raiva, isso acontece desta forma para que o espírito ligado a ele vença essa sensação, ou seja, opte por um sentimento universalista. Com esta opção ele consegue uma vitória e comprova que aprendeu o que estudou antes da encarnação,

Resumindo, posso afirmar que todas as sensações vivenciadas pela personalidade transitória durante uma encarnação são pré-programadas. Elas são elementos da provação à qual o espírito se submete durante a encarnação e precisam ser vencidas.

Essa é a grande aventura do espírito. Ele se liga a um ego que contém codificações técnicas (formas) relativas ao mundo onde vai viver e contém, ainda, uma codificação emocional onde estão todas as questões que o espírito pediu para vencer.

É por isso que em O Livro dos Espíritos se diz assim:

“Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio” (Pergunta 258).

O gênero da provas a que se refere o Espírito da Verdade trata-se exatamente desse conjunto de sensações (ganância, nervosismo, desejos, vontades, paixões, soberba) que dissemos estar presente em cada ego. O ser escolhe entre a gama de sensações individualistas que existe qual irá querer provar.

A partir desta escolha, as sensações são incorporadas ao ego e se cria, então, acontecimentos (formas) onde elas serão utilizadas pela personalidade transitória. Durante a percepção dos acontecimentos e com o ego insuflando o ser a vivenciar uma determinada sensação, o espírito, exercendo o seu livre arbítrio, pode manter-se pulsando o amor universal ou apegar-se às sensações que o ego cria.

Isto é o realizar provas; isto é viver a aventura encarnatória...

Encarnação - Textos

A vida como ela é

Agora estamos prontos para compreender a realidade humana, ou seja, aquilo que você vê, ouve, cheira, prova o sabor ou percebe através das sensibilidades do corpo. Ela é formada pelas formas que um ego, através de sua parte técnica, cria e pelas sensações que esta mesma consciência transitória dá.

É isso que é a sua vida. É essa a realidade com o qual você convive: o fruto de um processo técnico do ego, que gera formas, e de um emotivo, que cria sensações para aquele momento.

Voltando ao exemplo do carro correndo, posso dizer que a percepção da existência do carro, do fato de você estar dentro e da velocidade que ele está andando são criações da parte técnica do ego. Já o medo é a sensação proposta como provação para o espírito.

Para insuflá-lo a optar pela sensação, o ego ainda vai mais longe. Ele vive algo que chamamos de mundo das possibilidades. Ele cria, por exemplo, a ideia de uma iminente batida.

Para incitar o espírito a viver o medo e não um sentimento universalista, o ego cria através da imaginação a ideia de uma possível batida, dos ferimentos que poderão advir deste acontecimento, da dor que poderá ser sentida, etc. Até a ideia do risco de vida está presente na imaginação que o ego gerará.

Só que todos estes acontecimentos não são reais. Eles possuem apenas uma possibilidade de acontecer. São hipóteses que podem acontecer ou não. Só que o ser, bombardeado por todas estas ideias, vivencia estas possibilidades como realidades. Com isso, torna-se mais difícil para ele libertar-se da vivência da sensação proposta.

Vocês sabem do que estou falando. Quantas vezes já viveram uma imaginação como se fosse real? Quantas vezes já vivenciaram uma possibilidade gerada pelo ego como se fosse algo líquido e certo de acontecer? Só que nada disso é real. Não passam de imaginações que tem como objetivo insuflar o espírito a apegar-se às sensações que o ego cria.

Aliás, não é só nestes momentos – quando está se imaginando o futuro – que vocês não vivem a realidade: tudo que vivem é imaginação. Sim, tudo que acontece aos seres humanos pode ser considerado como imaginação porque são criações ilusórias formadas pelo ego e não realidades.

Aí está, portanto, a realidade com a qual vive um espírito ligado ao ego: a junção de uma parte técnica (formas, teatro, desenho, fantasia) com uma parte emotiva que dá sensações para o que está se vivenciando...

Encarnação - Textos

O apresentador da realidade

Só tem um pequeno detalhe: tudo isso que falamos agora acontece em algo que o ser humano chama de inconsciente.

O ser humanizado não vê nada disso acontecendo na sua vida. Ele não repara na existência dos processos com os quais o ego gera as realidades da vida humana. Isso não é perceptível para ele.

Este processo é perceptível para o espírito, mas não é para o ser humano, para o espírito humanizado, para o ser que vive o ego como se fosse ele mesmo. Como aquele que está ligado a uma personalidade transitória não tem acesso ao que é criado pela sua consciência espiritual, durante a encarnação os processos de criação da realidade pelo ego não são percebidos.

Por isso é preciso que o resultado deste processo aconteça de uma forma que o ser humanizado possa ter ciência, que possa ser conscientemente sabido pelo ser humano. A consciência que o ser humanizado tem do resultado do processo de formação de realidade pelo ego é aquilo que chamamos de consciente.

Portanto, os processos de criação da realidade ocorrem no inconsciente do ego e o resultado destes processos, o que é percebido e as emoções, existem no consciente.

Para que o que foi criado seja consciente, o resultado dos processos do ego são apresentados em palavras, imagens, ideias, sons através de uma coisa vocês chamam de pensamento.

O pensamento, portanto, é uma realidade formada pelo ego através da utilização do processo técnico e emotivo e existe para dar consciência ao ser humanizado da sua provação. O pensamento ao descrever e dar valor a um acontecimento gera uma realidade ilusória que leva o espírito humanizado a realizar a sua provação.

O pensamento, portanto, é aquilo que faz com que o ser humanizado tenha consciência, noção, de uma realidade para poder fazer a sua provação.

Sendo assim, posso dizer que a velocidade de um carro e a sensação de medo é traduzida em imagens, sons e ideias através de um pensamento (‘meu Deus, este carro está correndo demais’) e só então se transforma numa realidade para o ser humanizado.

O que o ser humano pensa não é a realidade, mas apenas a ponta visível (consciente) de um iceberg. É a parte visível do trabalho mental – estou usando palavras de vocês para explicar o que de outra forma não poderia ser explicado – que o espírito vivencia durante a sua ligação com o ego.

Encarnação - Textos

Os diretores da realidade

Para completar o assunto, deixe-me dizer mais uma coisa: não é o ser humanizado que pensa.

A criação de sons, imagens e ideias que crie conscientemente uma realidade não pode ser feita pelo espírito que está humanizado. Ele não tem capacidade de criar realidades quando está encarnado. Ele escolhe o gênero de provas antes da encarnação e este fato gera para si uma espécie de destino, como foi dito pelo Espírito da Verdade na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos.

É por isso que neste mesmo livro está dito:

“Influem os Espíritos em nosso pensamentos e em nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem” (Pergunta 459)

Sendo assim, podemos dizer que Deus faz o ego agir. Para isso utiliza-se de seres universais desencarnados que geram os pensamentos e dirigem os acontecimentos do mundo humano.

Estarrecidos com a afirmação que são os espíritos fora da carne que dirigem seus pensamentos e suas ações? Mas, o próprio Kardec entendeu o que estamos dizendo e deixou isso por escrito em O Livro dos Espíritos.

“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles.

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a ideia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio” (Comentário de Kardec à pergunta 525)

Eis aí, portanto, a sua vida. O ego gera através de seus processos as realidades que o ser humano vivencia e os espíritos fora da carne trazem esta realidade à consciência do ser através de pensamentos. Tudo isso acontecendo sem ser percebido pelo ser humano que imagina estar realizando todas estas coisas. E tudo isso acontece desse jeito para que o ser universal possa viver a sua grande aventura.

Sendo assim, quando o raciocínio ou pensamento lhe diz, por exemplo, que o carro está correndo demais e que por isso pode acontecer um acidente, isso é o resultado do trabalho do inconsciente (onde o ego criou a sensação do medo e as figuras envolvidas naquela realidade) e da ação de um ser extra corpóreo que lhe deu esse pensamento.

Deu para ficar claro? É isso que acontece no que vocês chamam de mente, consciente e inconsciente, para nascer a realidade que imaginam estar vivendo. Na verdade a velocidade do carro não é real, mas o fruto de um trabalho do ego e dos espíritos fora da carne.

Encarnação - Textos

Inconsciente coletivo

Participante: o inconsciente aqui referido é pessoal. E sobre o consciente coletivo muito citado por Jung?

Esse inconsciente é pessoal, sim. É completamente pessoal. Por quê? Porque é composto por um ego e um espírito específicos que juntos formam uma individualidade: um ser humano...

Você tem um inconsciente e um consciente que é só seu. O seu consciente é o mundo onde você, o espírito, vive e o seu inconsciente é o mundo onde existe um ego criado especificamente para você. Este ego forma realidades para que existam as suas provações, ou seja, ele é o reflexo exato daquilo que você precisa vencer para alcançar a elevação espiritual.

Com relação a um ego ou consciência coletiva, isso não existe. O que existe na verdade são características de provas comuns a todos que encarnam no planeta Terra. Vou tentar explicar isso melhor.

Existem sensações e formas no planeta Terra que estão presentes em todos os egos humanos. Isso acontece porque elas representam os elementos de provações de todos os espíritos que vivem a grande aventura neste planeta. Vou dar um exemplo disso.

Na pergunta 913 de O Livro dos Espíritos é dito o seguinte:

“Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo”

Desta resposta do Espírito da verdade podemos entender que o egoísmo está presente em todas as provações do ser. Não importa qual seja a sensação ou emoção que ele vivencie durante a sua grande aventura (vício), no fundo de todos eles existe a presença do egoísmo. Por isso posso dizer que o egoísmo é algo que está presente em todos os egos que são usados para encarnar no planta Terra.

Portanto, posso dizer que o ego é individual, mas existem elementos que estão presentes em todas personalidades que são usadas para as encarnações num mesmo mundo.

Isto é o que vocês chamam de inconsciente coletivo: as formas e as sensações que são comuns a todos que habitam este orbe. O inconsciente coletivo do planeta Terra coletivo são as formas e as sensações que criam a aventura humana do espírito e que, portanto, só valem para este planeta.

Participante: seriam os arquétipos?

Olha, eu vou lhe responder citando o Espírito da Verdade, sem querer nem de longe me comparar com ele: ‘é uma questão de palavras; vocês que se acertem’.

O que eu posso lhe dizer é que o planeta Terra é formada pela ação de um processo técnico específico e por um processo que gera sensações também específicas. Se você chama isso de arquétipo, inconsciente coletivo, de um campo de provas de uma determinada faixa de elevação, para mim tudo é a mesma coisa.

Encarnação - Textos

O que vem por aí

Para finalizar, vale a pena lembrar que essa palestra é apenas parte de um todo.

Nós não estamos hoje falando algo solto: estamos estudando a grande aventura do espírito que se chama encarnação. Dentro deste estudo macro chegamos agora em um momento que vamos ter que abandonar muitos conceitos que vocês estão acostumados a viver.

Na primeira e nesta segunda conversa conceituamos encarnação como algo completamente diferente daquilo que vocês conheciam anteriormente. Por isso, é preciso alterar sua própria conceituação para que a compreensão sobre o que direi daqui para frente não seja afetada. Para isso, vou relembrar o que já falamos.

Começamos afirmando que a encarnação é a grande aventura do espírito. Dissemos que encarnar nada tem a ver com vir à carne, mas sim ligar-se à uma consciência diferente da consciência espiritual, que chamamos de ego.

Hoje estudamos a ação desse ego. Vimos como se criam as realidades, como se cria o mundo que vocês vivenciam no consciente. Conhecemos como se formam os pensamentos e que eles não são feitos por nós mesmos, mas nos dado por seres extracorpóreos.

A partir de agora precisamos aprender como interagir com essa realidade. Não basta só saber que existe o inconsciente funcionando, pois este conhecimento não nos levará a reconhecer as provações que vivemos. Por isso, a partir da próxima palestra vamos estudar as ações que devem ser realizadas durante uma encarnação ou ligação com o ego para que essa aventura do espírito alcance o bom termo.

Para que vocês compreendam o trabalho que estamos realizando, vou comparar a aventura do espírito a uma humana onde se pretende caminhar na floresta ou escalar um pico. Até agora, estávamos formando um mapa: estudando a floresta ou o pico, escolhendo por onde subir.

Mas, tudo isso está sendo realizado sem estarmos no local da aventura. Somente a partir da próxima palestra vamos nos dirigir ao local da aventura e começar a caminhar pela trilha que idealizamos para só então alcançar o destino pré-programado.

Então, eu convido a todos que quiserem, a partir desse conhecimento, descobrir o caminho para trilhar e transformar essa aventura do espírito numa realização espiritual, ou seja, chegar a bom termo na sua encarnação, a nos acompanhar na próxima palestra onde vamos falar sobre os aspectos iniciais da aventura.

Encarnação - Textos

Resumo do que já foi visto

Vamos, então, continuando nossa conversa sobre encarnação.

No primeiro dia estudamos a encarnação dizendo que ela é uma grande aventura para o espírito. Depois, a caracterizamos não como vir à carne, mas como a união do espírito com outra consciência. Dissemos que abandonar a consciência espiritual e ligar-se a uma consciência material que chamamos de ego é encarnar.

No segundo dia estudamos a realidade humana. Descobrimos que ela é formada pelo ego a partir de dois sistemas: o técnico, que cria as formas, e o sentimental, que dá as sensações para o espírito. Vimos que a partir das realidades criadas pelo ego o espírito deve escolher um sentimento para reagir à realidade.

A partir de agora, como disse antes, já temos condições de começar a entender a vida humana, de entender a encarnação, de entender a aventura do espírito. Disse, ainda que se comparássemos nossa palestra a uma escalada de um pico alto, tínhamos usados os dois primeiros dias como preparativos para a jornada. Só a partir de agora, então, iríamos começar a subir a montanha realmente.

Isso foi tudo que conversamos até aqui. Vamos, portanto, começar a escalada...

Encarnação - Textos

Sintonizar-se com Deus

No primeiro dia dissemos que o espírito precisa viver essa aventura porque só aventurando-se na encarnação ele consegue aproximar-se de Deus. Esse, portanto, é o objetivo da encarnação: aproximar-se de Deus. Mas, o que seria essa aproximação de Deus? O que é elevar-se espiritualmente? Vamos falar disso.

Para começar a falar sobre o tema afirmo: nenhum espírito está longe de Deus e precisa aproximar-se Dele. Deus é como um pai terrestre que mesmo quando o filho não se liga a Ele, Ele está sempre ligado ao filho. Ele sabe onde o filho está, o que está fazendo, como está.

Por isso, é um equívoco se afirmar que o espírito a qualquer momento está longe de Deus. Sendo assim, que história é essa de usar a encarnação para aproximar-se de Deus? Se o espírito nunca está longe de Deus, porque precisa fazer alguma coisa para aproximar-se Dele? Vamos responder a esta questão.

O que vocês chamam de aproximação eu chamaria de sintonização com Deus. O resultado da elevação espiritual não é o aproximar-se de Deus, mas sim sintonizar-se com Deus.

A sintonia com Deus se dá através daquilo que vocês chamam de padrão vibracional ou faixa energética que o espírito vibra, pulsa. Sintonizar-se com Deus, portanto, é o espírito colocar a sua faixa vibracional na mesma frequência do Pai.

Isso é a elevação espiritual. A elevação espiritual tão falada neste planeta não se trata de um aproximar-se físico de Deus, pois, como disse, o Pai jamais está longe do filho. O espírito pode se considerar longe de Deus por não estar ligado a Ele, mas o Pai está ligado no filho e, por isso, o ser universal não está longe Dele.

A evolução espiritual, portanto, se caracteriza pela sintonia do espírito com o Pai. Ela existe quando o espírito passa a vibrar sentimentalmente no mesmo padrão, na mesma frequência de Deus.

Não estou falando em chegar a ser a Deus. Vibrar em uníssono com o Pai não leva o espírito a ser Ele.

Deus vibra amor, mas vibra o Amor na Perfeição. Quando o espírito sintonizar-se com Ele, vibrará amor, amará, mas este amor não será Perfeito como é o de Deus. Por isso o espírito poderá estar ligado em Deus, mas não será Ele...

Não importa se o espírito não consegue viver o Amor Perfeito, ao vibrar amor já terá se sintonizado com o Pai. Vamos dizer assim: já terá realizado a sintonia grossa com Ele. Depois é apenas uma questão de afinar essa sintonia, ou seja, de depurar a vibração ou o amor do espírito.

Isso, então, é elevação espiritual. É isso que o espírito busca naquilo que chamamos da maior aventura do espírito, ou seja, a encanação.

Participante: então, nós encarnamos só para amar?

Não: encarnamos para provar que podemos amar.

Esse ainda é um mundo de provas, não um mundo de regeneração, ou seja, de realizar uma mudança completa. Como vivemos neste mundo, afirmo que encarnamos para provar que podemos amar.

Se a questão da encarnação neste momento fosse ter que amar incondicionalmente em tempo integral, estaríamos devendo muito. Isso porque a quantidade de momentos desta vida vividos pelos espíritos com amor puro são ínfimos, perto da quantidade de momentos onde se vibra um amor individualista.

Encarnação - Textos

A provação e a Onisciência

Participante: se Deus é Onisciente, porque Ele precisa que lhe provemos algo?

Boa pergunta.

Por ser Onisciente, Deus sabe a capacidade de realização do espírito. É essa capacidade que é submetida àquilo que chamamos de livre arbítrio. Ou seja, o espírito tem a capacidade de realizar determinada escolha, mas para realizá-la precisa tomar uma decisão.

Deus conhece a capacidade de realização do espírito, ou seja, sabe o quanto o espírito é capaz de optar por uma ou por outra forma de amar, mas o espírito não sabe. O espírito, assim como o ser humanizado estudante, imagina que conhece a matéria, mas muitas vezes seu conhecimento não é tão profundo quanto imaginava.

Por isso, no momento da provação o espírito é pego de surpresa, ou seja, reage de uma forma que não imaginava que iria reagir. Mas, Deus não é pego de surpresa: Ele, por ser Onisciente, já sabia que o seu filho iria optar pelo que optou.

Sendo assim, posso dizer que Deus sabe o que o espírito vai escolher durante a encarnação, mas você, o próprio ser, não sabe.

Se isso é verdade, na realidade o espírito durante a encarnação não está provando nada a Deus, mas sim a ele mesmo. A encarnação, portanto, não se trata de um período de provações a Deus, mas sim a si mesmo: provar a si mesmo que aprendeu o que diz que aprendeu.

Para entender melhor o que estou dizendo, não se esqueça que o espírito encarnado não tem consciência do não amor com o qual vive. Para ele, que está ligado a um ego, são justas e amorosas todas as realidades que o ego cria e diz que são desta forma. Só depois de desencarnado é que o ser universal terá consciência do individualismo deste amor.

Hoje para você, espírito encarnado, é muito normal só fazer o que quer, só se submeter àquilo que deseja submeter-se, achar que é justo e importante receber isso ou aquilo. Você, o espírito, não vê nisso um individualismo, mas acredita que está certo, que é justo e amoroso. Só que não é.

A ideia de que as proposições geradas pelo ego são certas, justas e amorosas é apenas a provação à qual o espírito s submete quando encarna. Elas não podem ter estas caraterísticas porque são fundamentadas no egoísmo, que é a característica primária da personalidade temporária. Por este motivo, elas não contemplam valores universais e por isso não são reais.

Depois de desencarnado, ai o ser terá consciência da predominância do individualismo nestas ideias e dirá: ‘Meu Deus, como não pensei nos outros? Como eu só me preocupava comigo mesmo’.

Portanto, não é a Deus que você, o espírito, precisa provar nada, mas a você mesmo. Precisa mostrar a si mesmo o quanto tem consciência de que quando se considera o perfeito, o certo, não está sintonizado com Deus.

Encarnação - Textos

Amor universal

Vamos continuar nossa conversa sobre a elevação espiritual. Para isso, pergunto: como se alcança a sintonia com Deus?

Como vimos, sintonizar-se com Deus é amar, mas amar é uma palavrinha muito difícil para vocês. Amor é uma das coisas que o ser humanizado, o espírito humanizado, não faz a mínima ideia o que seja. Esta postura sentimental é usada no planeta Terra muitas vezes com um sentido completamente diferente do que ele tem no Universo. Por isso, vamos agora tentar definir o que é o Amor Universal.

O Amor Universal é o somatório de todos os sentimentos que vocês conhecem. Mas, ele se baseia em um tripé, em três aspectos sem os quais não podemos afirmar que exista amor. Vamos conhecê-los.

O primeiro aspecto necessário para que haja amor é a presença da felicidade ou alegria. Não existe amor com sofrimento; também não existe amor com prazer. Amor com prazer é posse; amor com sofrimento é masoquismo.

O Amor que estamos definindo, ao qual vou dar o nome de Amor Universal ou Amor Incondicional, depende da existência de um estado de espírito de paz, harmonia e felicidade vinte quatro horas por dia. Sem que existam estas prerrogativas, não há amor universal, mas sim humano, um amor individualista.

Portanto, sintonizar-se com Deus, primeiramente, é estar em paz, harmonia e felicidade durante vinte quatro horas por dia. Este é o primeiro passo para a sintonia com Deus. Quando você perde a paz, a felicidade ou a harmonia com o Universo (o mundo que vive), perdeu a sintonia com Deus, não está mais ligado ao Pai.

Segundo aspecto necessário para caracterizar a presença do Amor Universal, da sintonia com Deus: a compaixão.

Não falo da ideia de compaixão que vocês têm: sofrer o sofrimento do outro. Quem sofre quando o outro está sofrendo não pode estar amando universalmente falando porque acabou com o outro aspecto necessário para a existência do Amor Universal: a harmonia, a paz e a felicidade.

Falo da compaixão como algo que lhe leve a ter consciência do sofrimento dos outros sem que por isso você sofra. Por exemplo: você se rejubila quando alguém consegue possuir alguma coisa ou ter uma saúde de ferro e se lamenta quando alguém não tem estas coisas. Isso não é ter compaixão, mas sim sofrer o sofrimento dos outros. Isso não é Amor Universal, pois tanto no júbilo quanto no lamento você perdeu a sua paz e harmonia com o mundo.

A verdadeira compaixão é caracterizada pela consciência do sofrimento do outro recebida com uma atitude equânime, com imparcialidade. Constatar o que está acontecendo com os outros sem júbilo ou pesar: esta é a verdadeira compaixão. É a consciência do sofrimento do próximo sem sofrer.

Sei que o que estou dizendo está soando estranho para vocês, está sendo recebido como errado. Para vocês, a existência da compaixão tem que ser marcada por sofrer junto com os outros. Se não for assim, vocês acham que deixam de ser humanos.

Mas, qual o problema disso? Vocês não são humanos mesmos: são espíritos. Por isso, precisam viver como tal, ou seja, portar-se como um espírito porta-se no Universo. Como o espírito ama no Universo?

Para respondermos a esta pergunta, nada melhor do que vermos como Deus faz. Para conhecer alguma coisa do Universo, nada melhor do que buscar o exemplo naquele que emana o amor Perfeito.

Quando Deus, através do ego, cria para o ser encarnado uma situação que é acompanhada da sensação de não gostar e, por causa disso, também do sofrimento, Ele sabe que o ser encarnado que está apegado ao ego vai optar por esta sensação como real e com isso sofrerá. Vocês acham que Ele sofre por causa disso?

Vocês acham que Ele sofre porque tem a certeza de que vocês vão sofrer por conta da situação que Ele gerou? Vocês acham que Ele fica chorando?

Vocês acham que Deus se lamenta quando tem, por exemplo, que acabar com uma vida através de uma morte trágica onde seja preciso a existência de uma sensação de dor? Que se lamenta quando precisa criar a sensação de sofrimento oriunda do não ter o que comer ou de perder aquilo que lhe é mais caro nesta existência?

Claro que não. Ele tem a consciência de que o espírito que se apegar a estas realidades ilusórias como reais vai sofrer, mas não sofre com eles.

Ora se Deus emana o Amor Perfeito, se este contém compaixão e se o Pai age assim, só posso afirmar que o verdadeiro amor, o Amor Universal, precisa ser vivenciado dessa forma, que essa é a verdadeira compaixão. Por isso afirmo, também, que o ser precisa estar sintonizado com essa verdadeira compaixão para poder sintonizar-se a Deus. Por isso afirmo, ainda, que vocês não devem vibrar em uníssono com a ideia e a sensação que o ego cria como compaixão para vocês.

Compaixão universal: este é o segundo aspecto que necessita estar presente para haver o amor universal. O terceiro aspecto é a igualdade. Vamos ver o que o dicionário diz sobre este termo.

Igual – O que tem a mesma aparência estrutura ou proporção. Idêntico, que tem o mesmo nível. Plano, que tem a mesma grandeza, valor, quantidade, quantia ou equivalente da mesma condição, categoria, natureza e etc.

Igualdade é a similitude perfeita entre todas as coisas. No nosso caso, então, posso afirmar que a igualdade do Amor Universal existe quando o ser vê a si e ao outro como iguais. Quando não vê a si ou ao outro como superior ou inferior.

Agora, a igualdade necessária entre os seres que é necessária para a existência do Amor Universal não pode criada a partir de um modelo, ou seja, não pode existir um ser que sirva de modelo e exigir que todos sejam iguais àquele. Isso não é Amor Universal.

Porque não pode haver um ser, além de Deus, que sirva como modelo para determinar a igualdade? Porque, pela fundamentação individualista, os egos humanos dirão sempre que eles estão certos, ou seja, que eles são os modelos e que todos precisam mudar-se para ser iguais a ele para que exista a igualdade. Apenas o Senhor pode servir de parâmetro para julgar o que é o certo, pois só Ele é Perfeito.

O aspecto igualdade do Amor Universal que estou falando não tem nada a ver com achar-se certo e exigir que os outros sigam nossas tendências. A igualdade à qual estou me referindo é a mesma com a qual Deus convive conosco: a igualdade no sentido de ter o direito de ser diferente.

Por isso o fator igualde do Amor Universal deve ser compreendido como o direito que todos têm de ser diferente. A similitude única que deve haver entre as individualidades para que haja o Amor Universal é o direito de cada um ser, estar e fazer o que quiser.

 Quando o ego não dá ao próximo o direito de ser diferente dele e o espírito acredita que esta justificativa é real, certa, o ser não está sintonizado com Deus. É preciso dar esse direito ao próximo, assim como Deus dá a cada um dos seus filhos, os espíritos, o direito de ser, estar e fazer o que quiser para que haja a comunhão com o Pai.

Encarnação - Textos

A vida do espírito e o ego

Resumindo, então, tudo o que dissemos até aqui, posso afirmar que encarnação é um processo no qual um espírito se aventura com a intenção de provar a si mesmo que é capaz de conviver com o Universo sem jamais perder a sua felicidade, sem sofrer com o sofrimento dos outros e sem exigir que o próximo se mude para o que ele acha certo. Para isso o ser liga-se a uma consciência temporária e ilusória que lhe incita a perder a felicidade criando a ideia de que o que ele quer é certo e que os outros são errados por serem diferente dele.

Essa é, vamos dizer assim, em síntese o objetivo da encarnação, o que deve ser alcançado pelo espírito na sua aventura encarnatória.

Participante: o espírito pode estar em sintonia com Deus e o personagem agir parecendo que não está? O personagem pode estar brigando com alguém, mas sem que haja da parte do espírito o sentimento de briga? Pode ser apenas uma briga teatral por circunstâncias?

O personagem não pode viver uma sensação diferente do ato que pratica. Isso porque as formas e as sensações são uníssonas. Agora, o espírito pode estar vendo o personagem brigar sem vivenciar o mesmo sentimento. Ou seja, o personagem está vivendo uma sensação e o espírito outro sentimento.

Personagem não é espírito: é personagem. O personagem, como dissemos, é a junção da parte técnica, ou seja, da briga, dos gestos e das palavras com uma determinada sensação. Se os atos refletem raiva, contrariedade ou qualquer outra sensação neste sentido serão elas que o personagem cultivará. Já o espírito, pode estar vivendo outra coisa.

Ele não precisa necessariamente vivenciar estas sensações. Ele tem o livre arbítrio, ou seja, pode vivenciá-las ou optar em viver o Amor Universal que acabamos de falar.

 Participante: espírito encarnado é o personagem?

Não...

Qual o seu nome?

Participante: Maria.

Esse é o nome do personagem. Espírito não tem nome, cor, sexo, raça ou religião. Ou seja, o espírito não é a Maria...

A Maria é um personagem e ela vive a sua vida a partir de uma história, que contém determinadas formas e sensações que o ego cria. O espírito é outra coisa. Ele vive outra realidade, quer seja em acontecimentos como na parte sentimental...

 Participante: então, o espírito pode não ser contaminado pela sensação gerada pelo ego?

Isso é o resultado positivo da encarnação, ou seja, a elevação espiritual. Ela acontece quando o espírito participa da ação que o personagem está vivendo sem se prender àquilo que está acontecendo.

Vou dar um exemplo. O personagem, aquilo que você chama de você, está brigando com uma pessoa. Ele está falando, gesticulando e sentindo uma sensação. Isso não quer dizer que é você, o espírito, que está falando, gesticulando ou sentido aquela sensação. É o personagem que está.

A elevação espiritual, o seja, o bom termo da encarnação, acontecerá quando o espírito assiste a vida humana, como Krishna ensina, ao invés de vivenciar os acontecimentos dentro da realidade que o ego está criando. Ela acontece quando o espírito se desliga das sensações e pensamentos que o ego lhe envia.

Encarnação - Textos

O cume da aventura

Esta é, na prática, a aventura do espírito. A encarnação, dentro do nível que vocês vivem hoje, objetiva que o ser prove a si mesmo que busca vivenciar só o amor. Já no próximo nível ou mundo de encarnações o ser deverá buscar regenerar-se. Mas, apesar dessa diferença, o próximo nível de encarnações não se diferencia muito do atual, já que regenerar-se significa mudar-se.

O que o espírito precisará mudar no próximo nível de encarnações? A sintonia com que vive. Mesmo no próximo nível de encarnações o ser precisará mudar-se para a sintonia no Amor Universa. Deverá sintonizar-se com a harmonia, com a paz e com a felicidade incondicional. Deverá sintonizar-se com a verdadeira compaixão e a com a verdadeira igualdade.

Isso é o que o espírito precisa praticar durante a aventura que está vivenciando: a aventura encarnatória. Mas, o que vai resultar desta mudança? Nós já falamos: na sintonia com Deus, ou seja, na elevação espiritual.

Só que falar que o resultado da encarnação lhe leva a sintonizar-se com Deus não permite que realmente vocês consigam mensurar o que é isso. Por isso, seria muito difícil vocês avaliarem se o trabalho que estão realizando está dando resultado ou não.

A sintonia com Deus é algo que vocês não conseguem perceber através da consciência temporária que estão vivendo agora. Por isso, vamos tentar mensurar a sintonia com Deus dentro de alguma coisa que vocês conhecem para que possam compreender melhor.

Cristo ensinou que o resultado da elevação espiritual é alcançar a bem-aventurança. Se buscarmos no dicionário a definição para este termo, encontraremos o seguinte: ‘a felicidade que os santos sentem’.

Ainda sobre o mesmo tema, o Espírito da Verdade dá a seguinte definição para aquilo que é alcançado quando o espírito se sintoniza com Deu:

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que ele encontram a pura e eterna felicidade” (O Livro dos Espíritos – pergunta 115).

Creio as duas definições dão a vocês que estão humanizados, ou seja, que vivem a partir de valores humanos, uma melhor compreensão do que é aproximar-se de Deus: viver a felicidade, ser feliz.

Só que a felicidade citada tanto por Cristo como pelo Espírito da Verdade nada tem a ver com aquilo que vocês chamam de felicidade. Para vocês, a felicidade é um estado de espírito que existe quando alcançam aquilo que querem, quando conseguem o que almejam, quando são reconhecidos como certos. Esta felicidade, que eu chamo de condicionada, já que precisa que condições sejam alcançadas para existir, nada tem a ver com aquilo que pode servir para que vocês mensurem a sintonia com Deus.

A felicidade à qual Cristo e o Espírito da Verdade se referem é um estado de espírito que não precisa de condições para existir. Ela existe mesmo que o ser não consiga o que deseja nem seja reconhecido como o certo. Por isso a chamo de felicidade incondicional.

Esta é a bem-aventurança e a perfeição que caracteriza a aproximação de Deus: a felicidade incondicional, aquela que nada abala e que, por isso, nunca acaba. O espírito que se sintoniza com Deus alcança durante a sua ligação com o ego, e depois dela, um estado de felicidade, harmonia e paz que não será quebrado jamais. Nada o perturba ou o perturbará.

Portanto, o bom termo da aventura do espírito traz a ele a sintonia com Deus e esta realização lhe dará um estado de espírito de felicidade incondicional.

É isso que o espírito ganhará ao sintonizar-se com Deus.

Encarnação - Textos

A felicidade humana e a espiritual

Afirmamos que o bom termo da aventura encarnatória para o espírito é alcançado quando este vivencia a felicidade. Esta é a visão espiritual sobre o sentido da vida humana. Para o espírito, a vida humana tem como objetivo primário alcançar a felicidade.

Mas, para o ser humano, qual é o bom termo de uma vida humana? Ou seja, qual o objetivo da vida para o ser humano? Ser feliz.

Para que que o ser humano trabalha? Para que estuda, come, namora ou casa? Para ser feliz. Tudo que o ser humano pratica pode ser considerado bom por ele se no final lhe trouxer a felicidade.

Isso quer dizer que a felicidade humana é um aval da realização do espírito? O ser humano que alcança a felicidade, ou seja, que vive somente momentos que considera como bons é sinal de que o espírito que está vivendo aquele personagem alcançou a elevação espiritual, sintonizou-se com Deus? Não...

A ideia de buscar a felicidade é, vamos dizer assim, uma lembrança da consciência espiritual. Ela existe para lembrar ao espírito que ele deve buscar a felicidade. A única diferença está na felicidade que se busca: a incondicional ou a condicional.

A felicidade humana, a condicional, não pode ser considerada como realização espiritual porque a que o espírito sente não está condicionada a nada. A única coisa que o espírito quer é a sintonia com Deus. Essa intencionalidade acaba com a condicionalidade da felicidade a qualquer outra coisa. Enquanto a felicidade humana está condicionada à realização de desejos e vontades, a dos espírito surge apenas como resultado da sua ligação com o Pai.

Por isso, apesar dos dois aparentemente viverem a mesma busca, essa aparência é falsa. O ser humano busca a felicidade condicionada, o espírito busca a incondicional. Isso faz com que o objetivo humano de vida e o espiritual sejam diferentes.

O ser humano é feliz quando acontece o que ele quer, quando ganha alguma coisa, ou quando é reconhecido como o certo. Por isso, ele busca sempre comandar os acontecimentos para que posso conseguir o que quer, ganhar alguma coisa e o reconhecimento de que está certo. Esse é o objetivo de um ser humano ao viver algum acontecimento.

Já o espírito não se preocupa com isso. Ele não objetiva comandar os acontecimentos para poder ganhar alguma coisa, conseguir o que quer ou alcançar o reconhecimento. Por isso, durante a vivência dos acontecimentos da vida humana ele não se ocupa em comandar os acontecimentos. Como o que ele quer é a felicidade incondicional e como essa é o resultado da vivência do Amor Universal, a ocupação do espírito a cada momento da vida humana é com a harmonia, a paz, a verdadeira compaixão e com a igualdade.

A felicidade humana não é universal, mas sim individual. Ela existe apenas como satisfação e não como fruto da paz e harmonia com o mundo em que vive. Por isso afirmo que a felicidade humana não é um sentimento que o espírito vive, mas uma sensação criada pelo ego como provação ao ser universal.

O espírito encarnado que vive ligado ao ego e que credita à sua personalidade transitória a realidade das coisas, se subordina às sensações que são criadas pelo personagem e por isso acredita que a felicidade condicionada a bens materiais é real. Já aquele que compreende que ele é um espírito que está em uma aventura encarnatória, ou seja, que está ligado a um ego que existe apenas para lhe tentar e não para criar realidades, condiciona a sua felicidade apenas na sintonia com Deus.

A diferença entre as duas felicidades seria o que ensina Cristo quando fala na busca do bem terrestre ou celeste (‘Não amealhe bens na Terra, mas sim nos céus’). A felicidade humana é um bem terrestre, porque depende de elementos materiais; já a felicidade incondicional sentida pelo espírito é o bem celeste, porque se fundamenta em elementos universais.

Sendo assim, aquele que durante a sua encarnação consegue sintonizar-se com Deus está amealhando bens no céu; já aquele que não estiver sintonizado com Deus, mas sim com o ego, com as falsas realidades que o personagem cria, estará colecionando bens na terra.

Portanto, o espírito não deve iludir-se com a felicidade criada pelo ego. Deve sim compreendê-la como mais uma provação, ou seja, como mais um elemento ao qual ele precisa não sintonizar-se.

Com isso, já conhecemos o que é encarnação, o que é o processo encarnatório, já sabemos o que fazer para vencer a encarnação e sabemos, também, o que se receberá quando nos elevarmos.

Encarnação - Textos

A responsabilidade do espírito pelo erro

Participante: qual a responsabilidade do espírito se é o personagem que está errando?

Não há ninguém que erre. Um ego jamais erra.

Se eu lhe dou o direito de ser diferente e você só faz aquilo que acha certo, isso quer dizer que você está sempre certo. Na verdade, se existisse alguém errado no desenrolar de um acontecimento humano, este não seria o personagem, mas sim, o espírito. Vou explicar isso.

Para explicar o que afirmei, vamos dar um exemplo: falar mal dos outros. Isso não é errado, mas sim consequência de haver naquele ego inveja ou de achar que sabe mais o certo do que o outro. Ou seja, consequência da existência de sensações humanas.

Por que este ego possui estas sensações? Porque elas foram escolhidas como temas de provações pelo espírito. Sendo assim, quando o personagem fala mal dos outros, ele não está errado, porque está refletindo o que o espírito escolheu para viver como provação.

Além do mais, falar mal do outro não quer dizer que esse seja aquilo que está sendo acusado. O ego quando cria uma realidade, não fala de algo real, mas apenas propõe uma situação que só se tornará real se o espírito acreditar nela, ou seja, apegar-se à realidade ilusória criada pelo ego como realidade. Por isso afirmo que todas as injurias criadas pelo ego não possuem fundamento: são realidades ilusórias criadas pela personalidade transitória para testar o espírito.

Por isso a atividade humana falar mal de alguém não é errada: ela não existe. Apenas quando o espírito acredita nela como real é que ela passa a existir. Se o ser não der a ela este valor, ela nunca existirá.

Portanto, neste processo, a responsabilidade do espírito é imensa. Ele é o responsável por tudo que existe de mal ou errado no mundo de vocês, pois se ao invés de ligar-se à ganância, inveja ou luxúria ele se sintonizasse com Deus, nenhum acontecimento humano seria tratado como realidade.

Se o ser espiritual ligar-se à paz, harmonia e felicidade ao invés de sintonizar-se na soberba e no egoísmo, nenhuma criação do ego seria tratada como realidade. Ele viveria apenas a felicidade que Deus tem prometido e seu Amor.

Essa é a responsabilidade do espírito. Não podemos dizer que ele é o responsável pelo ato físico de uma briga entre dois seres humanos, mas podemos dizer que ele tem responsabilidade por este acontecimento, pois esta ação só se tornou real porque o ser universal viveu uma sintonia sentimental que levou o personagem a ter que agir daquele jeito.

Olha, deixe-me dizer uma coisa: espírito não tem braço, perna, boca e nem sabe falar. Tudo isso é do ser humano, é do personagem. Então, o espírito não é o responsável pela execução desses atos externos, mas é responsável pelo ato interno, ou seja, pela vivência sentimental que é caracterizado pelo pulsar sentimental, sentir.

Na verdade, quando o espírito pulsa um sentimento cria uma história para o personagem.

Encarnação - Textos

A reforma íntima

Então, já ficou claro o que o espírito tem que fazer e o que ele vai receber por esse trabalho. Mas, como fazer: é o que pergunto agora.

Sintonizar um rádio ou uma televisão é muito fácil: basta mexer em um botão. Mas, como se faz para sintonizar-se com Deus? Esta é a pergunta que vou responder agora.

O trabalho de sintonização com Deus foi chamado por Kardec e pelo Espírito da Verdade de reforma íntima. Vamos conversar sobre isso...

O é reforma? Mudança... O que quer dizer íntimo? Pessoal, de dentro...

Portanto, o processo de sintonização com Deus é um processo de mudança interior, de reforma intima.

A busca da reforma intima é muito procurada por alguns seres humanos que se ligam a questão da espiritualidade. Acontece que eles buscam fazer essa reforma não no seu íntimo, mas no mundo exterior. Eles se preocupam em alterar atos, ao invés de buscar reformar o seu interior.

Ao invés de ficar em casa assistindo televisão, aqueles que se ligam na questão espiritual vão para igreja, para os centros ou buscam praticar os chamados atos caridosos. Acham que executando estas ações estão se reformando. Mas, a reforma não é externa, mas interna. Por isso afirmo que não adianta nada reformar atos sem reformar o interior.

O que seria reformar o interior? Como falamos, reformar é mudar. Mas, o que é mudar o interior?

Para alguém se mude, é preciso que esteja em uma posição e vá para outra. Isso se chama mudança: ser de um jeito e passar a ser de outro.

 Estamos começando a compreender reforma íntima: mudança do jeito atual de ser interior para um novo jeito de ser interior. Portanto, não estamos mais falando de atos, mas sim de sentimentos, de sensações.

Encarnação - Textos

Reconhecer que é egoísta

Agora, se ficamos presos apenas a esse conceito (reforma íntima é a mudança do interior), ainda não vamos conseguir nada. Isso porque não conhecemos o nosso interior.

Nós não sabemos como somos interiormente, pois não temos coragem de nos enfrentar frente a frente. Não temos coragem de olhar para dentro e dizer: ‘como eu sou egoísta, como me preocupo comigo mesmo e não com os outros, como vivo apenas a partir do que acho certo, se dar ao próximo o direito de também estar’.

O ser universal vivenciando uma aventura encarnatória antes de alcançar a elevação espiritual, é egoísta, já que a característica primária de todo ego é o egoísmo. Como este ser credita como real tudo o que a personalidade transitória cria e como toda criação dela é fundamentada no egoísmo, ele se torna egoísta.

As realidades criadas pelo ego são sempre egoístas. Não importa se aparentemente o que o ser humano pratica é considerado bom ou certo. Toda ação é egoísta por natureza porque é fundamentada em valores individuais. Ou seja, é executada condicionada a interesses individuais.

Mesmo aquele que aparentemente serve ao outro é um egoísta, porque só serve àquele que ele acha que deve servir e quando acha justo servir. Ou seja, ele se baseia em valores individuais para servir o outro. Por isso, o seu serviço é submetido aos seus interesses próprios e isso se constitui num egoísmo.

Sendo assim, para que o espírito promova a reforma do seu interior é preciso que ele compreenda que existe um padrão básico de funcionamento do ego que é a constante busca da satisfação individual, ou egoísmo.

Vou explicar isso melhor.

Como eu disse, os egos são criados de acordo com o planeta onde cada um vai viver. Esta é a norma que padroniza os egos de acordo com o que vocês chamam de mundos ou objetivos da encarnação. Se isso é verdade, existe um padrão para o planeta Terra, que eu vou chamar de ser humano.

Ser humano é um ego padrão para provas no planeta Terra. O ser humano não é um corpo ou um espírito: é o padrão que seguem os egos que servem aos espíritos para viver provas no planeta Terra.

Mas, qual é o padrão ser humano? Segundo o Espírito da Verdade é o egoísmo. Ele afirma isso quando responde a Kardec dizendo que o egoísmo é a mãe de todos os males dos seres encarnados.

Voltando ao nosso assunto de agora pergunto: como definimos reforma íntima? Mudar o padrão humano de viver para uma nova forma de viver. Se o padrão humano tem uma forma de viver padronizada (é egoísta) e se reformar-se é vivenciar a vida de uma forma diferente do padrão humano, posso afirmar que reformar-se é deixar de vivenciar o egoísmo gerado pela personalidade transitória.

. Esta é a reforma íntima que o espírito pode fazer. Para isso ele precisa apenas deixar de creditar o valor de real às realidades criadas pelo ego.

Agora fica mais fácil a sintonia com Deus. Agora você já sabe o botão que precisa mexer para alterar sua sintonia: o seu relacionamento com o ego. É aí alterando este aspecto que o ser calibra a sintonia com Deus e não nos acontecimentos externos.

O espírito não calibra a sua sintonia com Deus praticando ações, porque isso seria uma reforma externa, mas calibra alterando o seu relacionamento com o ego.

Participante: por favor, me explique a seguinte passagem da Bíblia: porque todo pecado e blasfêmia serão perdoados, porém a blasfêmia sobre o espírito santo não será perdoada.

Sim, todo pecado e blasfêmia que for executado contra o Pai ou o Filho (Cristo), será perdoado, mas o pecado e a blasfêmia contra o espírito santo não será. Deixe-me explicar isso.

O espírito santo são os espíritos em processo de evolução. Isso porque todo espírito é santo, mesmo aqueles que ainda não alcançaram a santidade, ou seja, não estão sintonizados com Deus.

Se você blasfemar contra Deus, Ele, por viver o amor incondicional não vai se preocupar em lhe penalizar. Ele vivencia a igualdade perfeita que falamos e por isso compreenderá que esse é o caminho para você chegar ao amor incondicional.

Blasfemando contra o Cristo, a mesma coisa. Ele também não se perturbará com isso porque já vive o amor incondicional.

Agora se você blasfemar, ou seja, falar mal – blasfemar é falar mal de uma outra pessoa – de alguém que não tenha a capacidade de lhe responder com esse amor, você estará criando uma oportunidade para essa pessoa usar o individualismo. Isso Deus não perdoa, pois você está atacando alguém que não sabe se defender universalmente...

Pode fazer contra Deus, porque Ele está pronto para não se ferir com o que você fizer. Pode fazer com Cristo que ele tem a mesma capacidade, mas outro espírito ainda não evoluído não está pronto para amá-lo universalmente, pois ainda acredita nas razões do ego como real.

É isso que quer dizer a passagem que Cristo ensinou. Faz parte do amar ao próximo como a você mesmo.

Encarnação - Textos

Amar como Deus nos ama

A reforma íntima, então, consiste no espírito mudar o seu interior. Mas, será que o ego humano pode ajudar o ser encarnado a realizá-la? Ou seja, será que o ego humano pode gerar o amor incondicional para levar o espírito a senti-lo? Não.

Existe um padrão de sentir para o ego de provas no planeta Terra e este padrão não contempla a existência do amor universal. A personalidade humana é incapaz de amar universalmente, mas apenas egoisticamente.

Dessa forma posso afirmar que o trabalho da reforma íntima acontecerá sempre. A cada momento da existência o espírito terá que libertar-se das sensações geradas pelo ego e a reforma jamais será alcançada enquanto o espírito apegar-se a elas, por mais sublimes ou boas que pareçam ser as sensações vivenciadas em um momento.

Como já conversamos, o ego gera sensações que chegam ao consciente do espírito e ele tem de reagir não se apegando a elas, não acreditando que elas sejam verdades. Aí está o trabalho da reforma intima.

Mas, porque o padrão humano de sensações não pode dar ao espírito o amor universal como elemento sentimental? Porque o fundamento de tudo que a personalidade humana cria é egoísta. Mesmo o amor pelo próximo que a personalidade humana sente é egoísta, porque não ama indiscriminadamente, mas somente àqueles que quer amar. Ou seja, condiciona o amor a quem ele quer dar e no momento que quer dar.

Esta é uma verdade universal, ou seja, é eterna e serve para todos. Todas as personalidades humanas, por mais que você considere como boa ou sublime, são assim, porque as sensações que os egos criam são padronizadas para o planeta Terra, ou seja, fazem parte da provação de um espírito.

Quem pode deixar de ver uma criancinha que está passando fome e não sofrer? Quem pode ver um ladrão assaltar uma casa sem ficar com raiva do ladrão e ter pena do dono da casa? Quem pode ver uma onda gigante (tsunami) como a que houve nesse planeta há pouco tempo e não sofrer com aquele desencarne coletivo? Quem pode ver o outro dizer que ele está errado, que não sabe de nada ou que não vale nada sem ter raiva deste?

 Ninguém pode. São os padrões, as sensações padrões da personalidade humana à qual o espírito se liga para aquilo que foi convencionado chamar de mundo de provas e expiações.

As sensações padrões do ego para provas no mundo humano são estas e o trabalho da reforma intima consiste-se no espírito libertar-se delas, ou seja, não vivê-las como reais, mesmo que aparentemente elas sejam certas ou boas.

O espírito, ao invés de sofrer com a raiva ou com a dor, deve manter a sua felicidade; ao invés de ter pena dos outros, ter dó do próximo, deve ter a verdadeira compaixão, a consciência de que eles estão sofrendo, mas não sofrer com eles. Deve ainda usar da igualdade, ou seja, dar o direito de outro sofrer neste momento. Deve agir assim, mesmo que tudo lhe diga que sofrer nestes momentos é certo.

Aí está a reforma intima. Aí está o caminho que precisa ser percorrido pelo espírito para alcançar o pico da aventura espiritual. Isso se chama reforma intima.

Reforma intima não é doar dinheiro, não é fazer caridade material sem alterar o padrão vibracional: viver o acontecimento com amor e não com pena ou dó. Fazer a caridade com igualdade, compaixão e felicidade e não mais por pena: aí está a verdadeira reforma intima.

O problema é que o espírito não se auto reconhece como ser universal: ele se imagina como sendo a personalidade à qual está ligado para a aventura espiritual. Ele não vê a ação do ego lhe transmitindo sensações. Por isso não se vê como espírito que é, mas acha que o ego é ele mesmo.

Quando isso ocorre, o que acontece? O espírito se subordina ao ego, ou seja, sente pena dos outros e exige que se faça a caridade material. Acha que está sendo santo neste momento, mas apenas está mostrando o seu egoísmo.

Preso ao mundo externo, ao agir, o espírito se prende à necessidade de uma reforma externa e acha que a fazendo vai sair da carne e ir direto para o céu. Pobre ser humanizado: vai continuar vivendo a encarnação no que vocês chamam de mundos inferiores, já que não promoveu a reforma de dentro, a reforma do coração, a reforma do sentimento.

Ele precisa continuar em provação porque ainda vibra, se sintoniza com as sensações geradas pelo ego ao invés de sintonizar-se com Deus e amar a tudo e a todos como Deus ama. Aliás, sobre este tema Cristo fala assim: Deus quer que nós amemos a todos como Ele nos ama. Não é desta forma que eu falei (com felicidade, compaixão e igualdade) que Ele nos ama?

Encarnação - Textos

Pedir, achar, agradecer

Participante: gostaria que o senhor falasse sobre o pedir, buscar e achar?

Peça, busque e acharás... Este é um ensinamento do Cristo. Portanto, é perfeito...

Mas, pedir, buscar e encontrar o que? É na resposta a esta pergunta que está a diferença entre o ensinamento de Cristo e a compreensão que vocês têm sobre isso.

O que você pede? O que você busca? O que espera achar?

A maioria dos seres humanos busca e pede bens materiais, satisfação para o ego, satisfação de desejos. Portanto, só isso poderá encontrar. Quando encontram acham que essa satisfação irá acompanhá-lo pela eternidade. Mas, essa satisfação é bem material: acaba com o desencarne.

 Cristo ensinou que você deve pedir, buscar para achar o que quer, mas também disse que você colherá exatamente o que plantar. Se buscar, pedir, o bem espiritual, o amor que conversamos, é isso que vai encontrar. Agora, se buscar o prazer humano, ou seja, uma felicidade condicionada a ganhos, a valores materiais, é isso que encontrará.

Agora você entende o que Cristo quis dizer: peça, busque que encontrará, mas tudo depende do que pedir. Se sonha em realizar a sua reforma íntima, peça coisas do céu e não da Terra para poder receber algo que seja eterno.

Acho que já respondi à sua pergunta, mas, quero colocar mais uma coisa. Se você, apesar de agora saber o que deve pedir, continuar pedindo bens materiais, qual o problema? Nenhum.

Como disse, todo acontecimento humano é apenas prova para o espírito. Tanto o pedir como o receber bem material não é errado, mas apenas provação para um espírito. Qual o problema, então, em ter bens materiais? Nenhum.

O problema não estar em ter, mas em querer ter tudo. O que você precisa se conscientizar é que quando se opta por um dos lados da moeda é preciso abandonar outro. Lembre-se: não se serve dois senhores ao mesmo tempo.

Portanto, se você ser humano compreendeu o quis dizer e acha que deve pedir para encontrar apenas o bem espiritual, saiba que tem que abrir mão da felicidade material, do prazer material. Se você compreendeu, mas ainda acha mais importante conseguir bens materiais – e olha que não estou falando de objetos, mas de elementos como saúde ou paz material – esqueça esta história de elevação espiritual, porque ela não é para você...

O problema é que a maioria quer o bem espiritual, mas não abre mão do bem material. Ou seja, quer alcançar a elevação espiritual, mas não abre mão da felicidade material, do sentir-se humanamente bem. Isso é impossível.

Na verdade, quem vive assim é hipócrita, pois diz que busca o céu, mas ainda quer para si o bem material. Aliás, esse é, com certeza, o grande problema do ser humano: a hipocrisia. Ele diz que quer uma coisa, mas está realmente de olho é noutra.

Por isso Cristo ensina: muitos estão buscando, mas poucos entrarão no reino dos céus.

Participante: é certo pedir ajuda do Pai para passar pelas vicissitudes de baixa e agradecer pelas vicissitudes de alta?

Pedir ajuda a Deus para passar pelas vicissitudes de baixa: isso é certo ou errado? Não sei. Eu diria que é desnecessário.

Veja, se você precisa pedir ajuda a Deus é sinal que imagina que Ele não lhe ajuda. Com isso demonstra que se sente desamparado. Mas, Deus não abandona o seu filho em momento nenhum.

Sendo assim, Ele sempre está lhe ajudando. É apenas você que não está vendo a ajuda Dele. Por isso disse que pedir ajuda é desnecessário.

Conhece a parábola Pegadas na Areia? Nela está bem clara a afirmação de que na hora da sua vicissitude de baixa você está sendo carregado no colo...

Então, eu diria que é pedir a ajuda de Deus é desnecessário. Mais do que isso: eu diria que é falta de fé.

Agradecer a vicissitude positiva...

Por que você agradeceria a Deus por alguma coisa? Porque gostou do que aconteceu, porque achou bom, dentro dos padrões humanos de satisfação, aquilo que ocorreu. Frente a tudo que ensinei até hoje, será que devemos agradecer a Deus quando nós gostamos do que ocorreu? Acho que não, não é mesmo?

Agradecer quando se gosta ou pedir a Deus que afaste de si o cálice da vida são provas de fé, provas de que você está julgando o que Deus faz. Aliás, só em você ter uma vicissitude que diga positiva e outra que afirme ser negativa, já mostra a falta de sintonia com Deus.

A crença na existência de uma vicissitude positiva ou acontecimento da vida que lhe agrada e outra que não, já denota uma conivência com o ego, pois é ele que diz que tal coisa. É ele que lhe diz que aquilo é com e que você deve ficar feliz.

Fundamentado nesta premissa, o ego cria a ideia de que o espírito deve dizer ‘obrigado meu Deus’. Mas, obrigado por quê? Porque se exaltar quando a vicissitude é considerada positiva? Equanimidade: esta é a resposta para tudo que denota a sintonia com Deus.

Você tem que viver as supostas ondas contrárias de vicissitudes ou as que considera como positivas que o ego cria de uma forma reta. Ou seja, sem ver bom nem mal nas coisas.

Portanto, nada temos a agradecer, porque nada é bom e nem precisamos pedir ajuda porque Ele está ajudando o tempo inteiro.

Participante: embora seja desnecessário pedir força ou agradecer, parece que fazer isso dá alento, dá mais força. Parece um desabafo.

Sim.

Participante: o senhor concorda com o que eu disse?

Sim. Eu concordo que apesar de desnecessário, pedir ou agradecer a Deus aparentemente dá alento, força. Parece ambíguo, mas não é.

Eu concordo com o que você diz por que sei que nesta etapa de evolução vocês ainda precisam deste pedido e agradecimento. Aos poucos irão se desligando desta necessidade, mas, no momento, ainda não podem se desligar totalmente. Por isso respondi que não é certo ou errado: é desnecessário.

Vou falar um pouco mais sobre este tema.

Pedir ou agradecer não é certo ou errado. Agora, para quem se diz buscador de Deus, o que adianta ficar pedindo ajuda ao Pai e sentir-se ajudado algumas vezes por dia?

É assim que vocês vivem. A cada momento que surge uma vicissitude negativa pedem ajuda a Deus. Se conseguem sair dela, sentem-se ajudado, mas logo depois se esquecem da presença Dele. Quando surge uma nova vicissitude buscam-No para pedir ajuda novamente.

Guardar consigo a presença de Deus ao seu lado permanentemente; mantê-Lo sempre perto de você: esse é o grande desafio.

Se você não precisa pedir ajuda a Deus, mas mesmo assim acha necessário para a sua vida fazer isso, peça, mas quando sentir a presença de Deus ao seu lado auxiliando-o, mantenha acessa esta chama mais algum tempo: este é o grande desafio da reforma íntima...

Por causa desta busca de Deus, mesmo ainda fundamentado na realização humana, é que digo que o pedido de ajuda que o ego cria é um instrumento para a elevação espiritual. Ele lhe proporciona a oportunidade de sentir-se ligado a Deus e, com isso, lhe dá a chance de lutar para manter esta ligação em seu coração.

Por isso não disse que é certo e nem errado. O que disse é que é desnecessário para aqueles que compreendem a verdadeira ação de Deus ajudando o espírito a cada segundo.

Aquele que imagina necessário pedir ajuda de Deus vive o mesmo processo de alguém que é introspectivo e que quando bebe fica expansivo. Como esse credita à bebida o seu novo estado de ser, quer sempre estar sintonizado com ela. O buscador de Deus é a mesma coisa. Quando ele descobre como é gratificante viver em comunhão com Deus, busca sempre sentir-se ligado ao Pai.

Quando este ser, que sabe da glória que é viver unido ao Pai, não mantém a ligação depois que aparenta estar resolvida a vicissitude negativa, o ego cria, então, a ideia de um novo pedido para que o ser busque ligar-se ao Senhor. Por isso disse que não é certo nem errado, mas apenas um instrumento da elevação do ser.

Agora, não é a realização da reforma. Tão logo o ser consiga compreender perfeitamente o que é estar sintonizado com Deus ele deve largar o pedido ou o agradecimento.

Participante: é como uma criança que sabe que o pai está o tempo todo ao seu lado, mas quando está com problemas vai pedir ajuda, mesmo sabendo que o pai iria ajudar do mesmo jeito. Acho que é uma carga de sentimento de criança.

Sim, é um ato infantil.

Eu acho que já está na hora de amadurecermos. Já não somos mais crianças, espiritualmente falando. Estamos em um processo de mudança de padrão de encarnação, ou seja, passando da infância para a juventude. Na juventude temos que amadurecer.

Por isso não adianta ficarmos nos justificando que agradecer e/ou pedir é bom. Lembrem-se: a criança que acha que é bom ser criança jamais amadurece.

Então, é preciso ter a consciência de que isso é um processo infantil e desejar amadurecer-se. Se não fizermos isso, vamos ficar adulto criança.

Encarnação - Textos

O escândalo e outras questões

Participante: a passagem do evangelho que diz que o escândalo é necessário mais ai daquele que provocar o escândalo seria um complemento dessa passagem que o senhor citou?

Sim, mas para a perfeita compreensão precisamos deixar bem claro o que é escândalo. Isso porque os seres humanos se baseiam nos elementos materiais para afirmar se algo é um escândalo ou não. Vou dar um exemplo para lhe explicar o que estou dizendo.

Desculpa, mas quando dou um exemplo, gosto dos trágicos, para nós compreendermos logo que tudo é tudo, que um ensinamento serve para todos os acontecimentos da vida. Se só ficamos no exemplozinho politicamente correto, banal, não se consegue compreender a realidade...

Vamos lá: matar alguém é um escândalo? Não.

Em O Livro dos Espíritos está escrito assim: ninguém morre antes da hora. Se isso é verdade, não há escândalo em matar.

Nenhum ato, na verdade, é escandaloso, pois toda ação nada mais é do que uma criação ilusória de uma personalidade temporária à qual o espírito está ligado para que este realize sua provação. Ou seja, é uma representação teatral que cria uma oportunidade de elevação para o espírito.

Mas, se o ato em si não é um escândalo e este existe, já que Cristo afirmou isso, o que é o escândalo? O espírito escandaliza o seu mundo quando vive em uma sintonia diferente de Deus, ou seja, quando não vivencia com amor universal os acontecimentos da vida carnal.

O ser humano ter ganância não é escândalo, mas o espírito vivenciar como real e certo o desejo de ganhar, escandaliza todo o Universo. O mundo espiritual liberto do egoísmo do ego se escandaliza quando um espírito acha certo e justo querer ganhar acima dos outros: “meu Deus, como aquele está apegado às coisas matérias, será que ele não sabe que isso não vai durar”?

Quando o ser humano critica o outro e o espírito aceita esta sensação como real, o mundo espiritual pensa: “meu Deus, será que ele não ouviu o Cristo dizer que devemos amar o próximo com a nós mesmos”. Se você ama o próximo como a si mesmo e se acha o certo, não deveria achá-lo também certo?

Deixar levar pelas sensações que o ego cria: esse é o grande escândalo para o mundo espiritual.

Agora podemos voltar ao ensinamento de Cristo: o escândalo é necessário, mas ai daquele que escandalizar. Ou seja, a sensação de crítica, a ganância e todas as sensações humanas são necessárias, mas ai daquele que a vive como real, ai daquele que se apegue a elas.

Participante: comentário de Sai Baba: “em vez de encher a sua cabeça com erudição e conhecimento livresco é muito melhor encher o seu coração com amor”. Linda frase que vem de encontro ao que continuamente é dito aqui.

Sim, o conhecimento adquirido através do estudo não leva a lugar nenhum. Mas, apesar disso eu continuo ensinando coisas. Por que ajo assim?

Para ser fiel a isto que ensino, deveria chegar aqui e dizer: ame; ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo; ame a tudo e a todos. Se dissesse isso teria dito tudo o que eu tenho para dizer. Mas, infelizmente vocês não sabem o que é amor. Por isso continuo vindo aqui e falando.

Mas, não faço isso para construir nada, mas sim pregando a destruição. Repare bem que eu não falo para construir nada: tudo o que digo tem como objetivo destruir os padrões com o qual convive com os acontecimentos do mundo. Ajo assim porque com a destruição dos seus conceitos acaba o seu amor conceitual (o que é bom ou mal) e daí você pode alcançar o amor universal.

Só a destruição do velho pode levar ao amar verdadeiramente: isso não se consegue através de construção com novos estudos.

Participante: então, reforma íntima é dar atenção ao ego e só a ele?

O que é dar atenção só ao ego? Dizer que existe vicissitude ruim e boa. Aquele que dá atenção apenas ao que o ego diz vive as realidades criadas por ele como reais.

Então, reforma íntima é o contrário: é não dar atenção ao ego. A elevação espiritual se consegue quando não se dá atenção ao ego.

Portanto, se o ego diz que a vicissitude está ruim, ao invés de buscar em Deus ajuda para melhorar, lute contra ele: não acredite na ideia que a personalidade transitória está lhe dando. Se o ego diz que a vicissitude é boa, não agradeça a Deus, mas lute contra o ego para não acreditar no bom que ele está criando.

Encarnação - Textos

Encerramento

Chegando ao fim de mais uma conversa, neste estudo que intitulamos de “Encarnação - A grande aventura do espírito”, posso dizer que vimos a definição de encarnação e evoluímos no tema conhecendo o ego e o processo de ligação com ele ou a encarnação propriamente dita. Estudamos sobre o ego: o que é, como se forma, como age.

Hoje vimos o que é reforma intima, ou seja, o que é a luta contra o ego, o caminhar na encarnação. Descobrimos, também, o que cada um vai receber quando alcançar a elevação espiritual. O que precisamos agora é compreender os instrumentos para essa luta, para essa mudança interna.

Precisamos ver como fazer para deixar de usar a ganância e começar a usar o amor universal; para deixar de usar a raiva e começar a usar o amor universal; para deixar de usar o individualismo e começar a usar amor universal.

As armas para conseguir realizar isso é o conteúdo de todo ensinamento que trouxemos em sete anos de conversas e palestras e será o trabalho que vamos começar a partir do próximo encontro. A partir da próxima palestra vamos falar das armas para essa luta.

Porém, ao verem essas armas, não se esqueçam do que ensinou Cristo: eu não vim trazer a paz, mas a espada.

A espada que vamos ver a partir da próxima palestra deve servir para você lutar contra o ego e não contra os outros. Copiando o mestre, digo que eu também nunca trouxe a paz para ninguém, mas vim conversar sobre a espada que Cristo ensinou, para que cada um possa executar a sua luta, que nós chamamos de reforma intima.

Enfim, a partir da próxima conversa vamos falar sobre os instrumentos que o espírito precisa usar para promover a sua mudança de padrão humano para atingir o padrão espiritual.

Encarnação - Textos

Resumo do que já foi visto

Vamos começar o estudo de hoje.

Estamos falando sobre encarnação, que definimos como a grande aventura do espírito.

No primeiro dia, dissemos que encarnar não é vir à carne, mas ligar-se a uma consciência transitória diferente da real do espírito. Dissemos, ainda, que essa consciência é um conjunto de valores e verdades que geram a realidade ilusória que o espírito vivencia como real. Afirmamos que enquanto ligado à consciência espiritual o ser universal vive uma realidade e depois que se liga à encarnação, ou à consciência material, ou ao ego, passa a viver outra realidade.

Depois conversamos sobre o ego. Dissemos que ele tem duas partes: a primeira é a técnica, aquela que cria a forma das coisas, ou seja, que dá forma da parede, da laranja, etc. Além da forma, a consciência transitória também cria na parte técnica o sabor, o cheiro e o som das coisas.

Sim, é o ego que cria o gosto da laranja. Na verdade a laranja é um acumulado de fluidos cósmicos universais que não possuem sabor ou odor. É o ego, ou a consciência padronizada para a vida na Terra, que faz o espírito vivenciar o fluido cósmico como uma laranja.

Sobre o ego dissemos mais: ele possui a parte técnica, mas também tem uma emocional. Ele cria as formas, mas também as sensações ou emoções que o ser vivencia durante a encarnação.

Definimos essas emoções geradas pela personalidade transitória como as sensações que o espírito sente quando ligado à carne ou ligado ao ego. Ou seja, afirmamos que é o ego que lhe diz que deve ficar triste, que você está com raiva, que está frustrado.

Este foi o resultado de nosso estudo sobre o ego: saber que ele é composto de duas partes. Uma que cria as formas das coisas e outra que diz com que emoção o espírito deve vivenciar aquilo que ele criou.

 Na verdade não dissemos que o espírito tem que vivenciar as formas criadas pelo ego vibrando dentro do padrão emocional que ele cria. Afirmamos que o ser universal que vive ligado a esse ego deve escolher o seu padrão vibratório. Esta escolha, segundo o que afirmamos, consiste-se em optar pelo padrão emocional que o ego está criando ou vibrar universalmente, ou seja, com amor universal.

Vou dar um exemplo do que dissemos. Se o ego diz que o espírito está triste, ele não precisa necessariamente ficar triste. Na verdade, o ser universal pode escolher entre sentir-se triste ou não.

Por isso afirmamos que mesmo que a personalidade humana à qual o espírito esteja ligado esteja triste, isso não quer dizer que o ser universal que está vivenciando aquela encarnação também o está. Ele pode estar feliz na tristeza.

Ainda sobre este tema afirmamos: esta opção sentimental é o que comumente é chamado de livre arbítrio. O espírito tem o livre arbítrio de vibrar dentro do padrão sentimental imposto pelo ego ou de optar pelo universalismo.

O resultado desta livre opção do espírito gera, então, a realidade que este ser vive. Se o espírito, por exemplo, escolhe viver a tristeza que o ego está gerando, ele viverá uma realidade triste; se não aceita a emoção criada pela consciência temporária, ele pode vivenciar o mesmo momento em felicidade.

Ao falar isso, deixamos bem claro que o ego não cria a tristeza aleatoriamente. Pelo contrário, ele age de uma forma padronizada de acordo com as necessidades da encarnação de cada espírito. Ou seja, ao gerar uma infelicidade a personalidade transitória está criando uma provação para o ser universal, pois está criando um dos polos sobre os quais o espírito exercerá o seu livre arbítrio.

É por isso que algumas coisas para vocês, humanos, são tristes. Elas são deste jeito porque são situações criadas pelo ego para gerar ao espírito a oportunidade de cumprir uma das finalidades da encarnação: provar o que aprendeu fora da encarnação.

Estas coisas falamos no segundo dia de conversas. No terceiro, falamos sobre reforma íntima.

Naquele dia chegamos à conclusão que ela devia ser realizada dentro do ser (na sua escolha sentimental) e não através de atividades externas (ações). Depois definimos o que era essa reforma de dentro: não se subordinar às emoções que o ego cria

Para explicar bem esta reforma, dissemos que o ego, a partir de determinadas sensações, gera pensamentos que trazem a sensação do inconsciente para o consciente. Dissemos ainda que se o espírito se aprisiona a esta ideia não executa reforma alguma. Falamos que aquele que se reforma não se aprisiona a elas. Por isso concluímos, naquele momento, que o espírito não é obrigado a sofrer ou muito menos a ficar alegre: ele simplesmente recebe a ideia de estar sofrendo sem sofrer.

Desse último conhecimento deduzimos que o que precisa ser feito pelo espírito durante o período que está ligado à consciência transitória (encarnado) é alcançar a liberdade das sensações propostas pelo ego. Não falamos em mudança, ou seja, em ficar alegre quando há a ideia de estar triste, mas sim em libertar-se da ideia de estar triste ou alegre.

Para conseguir isso dissemos que o espírito deve simplesmente manter–se equânime, ou seja, na palavra de vocês, apático. Se o ego propõe prazer em algum acontecimento, o espírito deve ficar apático; se o ego propõe choro de dor, o espírito deve ficar apático.

Esse é o trabalho da reforma intima, esse é o objetivo do espírito empreender a grande aventura. Ele precisa aventurar-se na ligação com uma consciência diferente que cria uma realidade ilusória simplesmente para provar que é capaz de optar pelo universalismo ao invés de vivenciar tudo o que a personalidade diz que é real.

Para hoje prometemos começar a falar dos instrumentos para a reforma intima, ou seja, da espada que Cristo afirma ter trazido para que os espíritos matem o ego. Mas, antes de qualquer coisa, deixe-me esclarecer algo: o matar o ego não trata-se de assassiná-lo, mas extingui-lo por inanição. Isso acontece quando o espírito não se deixa levar pelo que ele propõe como real.

Não aceitar que as informações geradas pelo ego sejam realidades, elimina a influência da personalidade transitória sobre o espírito. Mas, para realizar este trabalho, é preciso conhecer os instrumentos necessários. É isso que vamos fazer agora.

Vamos, então, começar a conversa de hoje.

Encarnação - Textos

Reformar não é mudar

Pergunto: o que é um instrumento de reforma intima? Algo que lhe ajuda a libertar-se do ego.

Acho que isso é claro, não? Se promover reforma intima é libertar-se do ego, o instrumento da reforma intima tem que ser algo que vá ajudar o espírito a libertar-se da personalidade transitória.

O que o ego cria quando ele traz ao consciente uma parte técnica e um sentimento? Quando cria a parede e uma sensação com relação à ela, o que ele cria? Uma realidade.

O ego cria realidades, como por exemplo, ‘aquela parede é feia’. Esta ideia é o resultado da conjunção da criação técnica (parede) com uma emocional (feia). Quando esta ideia chega ao consciente, se transforma, então, numa realidade...

Mulher bonita, mulher que não presta, coisa velha, coisa nova, certa, errada, bonita, limpa, suja: tudo isso são realidades que criadas pelo ego e não realidades reais. Não são reais porque não existe a forma que está sendo adjetivada e nem o adjetivo que lhe é aplicado. Isso porque o adjetivo é fruto de um conceito individual e no universo apenas o que é universal é real.

Com esta simples observação, chegamos, então, a uma conclusão para algo muito discutido no planeta de vocês: se reforma íntima é libertar-se das realidades criadas pelo ego, ela se consiste em não acreditar nos adjetivos que o ego cria para as coisas.

Esse é o primeiro detalhe do estudo da espada que Cristo diz ter trazido.

Sendo a reforma intima a mudança na sua relação como o ego e se o que ele faz é criar realidades, ela consiste-se em libertar-se das realidades que o ego cria sobre as coisas. Simples, não?

Agora repare: não estou falando em mudar a realidade. Não se trata de ao achar uma parede feia, passar a achá-la bonita. Isso porque parede não é feia e nem bonita: parede é parede.

Parede é uma representação por formas do fluído cósmico universal. Como o fluído cósmico universal não é feio nem bonito, o espírito precisa aprender a se relacionar com a parede que é criada pelo ego à partir dele sem nenhuma opinião individual.

Sendo assim, posso dizer que o espírito encarna para provar que é capaz de se relacionar com a parede e todas as coisas do mundo material sem os valores que o ego propõe para elas.

Ficou claro isso? Não é apenas uma dedução óbvia de tudo que já estudamos em outros livros? Mas, não é isso que a cultura humana fala sobre o tema.

A cultura humana afirma que reformar-se é mudar a parede e as demais coisas do mundo. Ela diz que reformar-se é mudar-se externamente, ou seja, mudar as coisas do mundo. Isso é impossível e está fora do controle do espírito.

Como vimos, o espírito escolhe antes da encarnação o gênero de suas provações. Com isso ele cria um padrão personalizado de ser, pois a forma como será, ou seja, como entenderá as coisas do mundo, é a sua provação. Se ele se mudasse externamente, ou seja, se tivesse ideias diferentes sobre as coisas, a encarnação não mais corresponderia ao gênero de provas pedido por ele mesmo.

Portanto, o que precisa mudar é a forma do espírito interagir com a parede no seu íntimo e não mudar a parede ou qualquer outro elemento material.

Por exemplo: muita gente diz que praticar caridade é doar um prato de comida. Se isso fosse verdade Cristo teria aberto um restaurante para dar comida de graça a todos. Mas, não foi isso que ele fez.

O quê que Cristo fez na verdade? Ensinou o espírito a vivenciar realidades diferentes daquela que estava enxergando. Todo trabalho de Cristo é no sentido da construção de uma nova realidade a partir da fé em Deus. Quando o espírito usa a fé em Deus ao invés do que lhe vem à razão, todas as coisas deixam de ser o que pareciam ser e ganham uma nova realidade.

É isso que é o trabalho da reforma intima: alterar a vida que o espírito vive, a forma como ele vivencia os valores da sua vida carnal e passar a viver tudo de uma forma equânime e com fé. Ficou claro isso?

Este é o primeiro aspecto que queria falar hoje. É importantíssimo tê-lo em mente antes de falarmos propriamente nas ferramentas, pois eles criam uma nova dimensão para as ferramentas que vamos comentar.

A partir dele podemos entender que as ferramentas para a reforma íntima precisam ser elementos que destruam uma realidade. Que destruam a realidade com a qual o ser humano vive. Mas, além de tudo, as ferramentas têm que ser elementos que não criem uma nova realidade.

Ou seja, elas precisam destruir o feio da parede, mas não podem criar uma parede bonita. Precisam criar só a realidade parede, sem adjetivos, sem opiniões individuais.

Encarnação - Textos

Conhecer a personalidade humana

Vamos agora falar do segundo aspecto das ferramentas da reforma íntima. Aliás, este é um aspecto que em qualquer coisa da vida não vem ao mundo das ideias humanas.

Quando se propõe qualquer coisa ao ser humano, qual a primeira coisa que ele faz? Vai e faz. Ele não se prepara para fazer; sai fazendo.

Ele vai ao centro espírita e dizem: você tem que fazer reforma intima. Rapidamente sai correndo para fazer reforma intima. Mas, quando isso acontece, nada se faz, porque não houve uma preparação para fazer. Você precisa se preparar para promoção da reforma intima...

A primeira preparação necessária quando se fala em reformar-se, ou seja, mudar-se, é saber que a personalidade humana é uma coisa e você é outra. Não é isso? Reformar-se não é isso: ser uma coisa e deixar de sê-la?

Para iniciar esta preparação, pergunto: o que é a personalidade humana, você, que um espírito vivencia hoje?

Como é que o espírito vai deixar de ser a personalidade humana se não sabe quem ela é hoje? Como é que se parte para fazer uma reforma intima se não se sabe o que tem que se mudar em si mesmo?

Falo assim porque, mesmo que não veja isso, a personalidade humana sempre se considera certa em tudo. Mesmo que ela esteja errada, o ego cria um novo certo para que ela, então esteja certa.

Com a personalidade humana considerando-se certa e o espírito acreditando que isso é real, durante a reforma íntima não buscará libertar-se das realidades criadas pela personalidade transitória. Só o que a personalidade humana, você o ser humano, considerar errado é o que espírito aceitará libertar-se.

Mas, como dissemos, o espírito não deve libertar-se apenas do errado, mas também do certo criado pelo ego. Ele tem que libertar-se de todas as ideias que a personalidade temporária cria e não apenas daquilo que a personalidade humana diz que é errado: isso é reforma íntima...

Este é o segundo detalhe na preparação para a reforma íntima: o espírito precisa saber onde está agora a personalidade humana que vivencia na sua aventura. Ele precisa saber quem é esta consciência à qual está ligado para aí, então, pensar em libertar-se dela. Ou seja, saber o que mudar e para onde.

Este é o segundo detalhe que precisamos conhecer antes de falarmos da espada crística: reconhecer-se. Reconhecer o que na realidade é a personalidade transitória à qual está ligado.

Muitos querem fazer a reforma intima, mas não sabem quem é esta personalidade. Como libertar-se de alguma coisa se você ainda se considera certo? Como é que o espírito vai se libertar de alguma coisa se ele não sabe do que tem que se libertar?

Por isso, antes falarmos dos instrumentos da reforma intima vamos reconhecer qual é a situação atual de qualquer ser humano. Só depois de sabermos isso poderemos entender do que termos que nos libertar quando acabar a reforma intima. Apenas quando tivermos esta consciência poderemos, então, aprender a usar esses instrumentos.

Portanto, esses são os dois aspectos dos instrumentos que vamos falar hoje. A cada instrumento precisaremos falar o que é hoje o ser humano, como ele vive hoje e como deveria ser a existência dentro do universalismo.

Entretanto, ao abordarmos estes aspectos, não estaremos criticando o ego, o ser humano. Lembrem-se do que disse antes: o ego é minuciosamente preparado dentro das necessidades da aventura do espírito. Ou seja, quando demonstrarmos como são as realidades criadas pelo ser humano estaremos tendo sempre em mente que elas precisam ser assim para que o espírito possa, então, realizar a sua provação.

Encarnação - Textos

Perguntas sobre a reforma íntima

Participante: como se preparar para as mudanças?

É isso que nós vamos falar hoje.

Participante: devemos procurar ouvir o que as pessoas dizem da gente?

Não, não precisa de tudo isso... Se você for se levar pelas pessoas vai acabar se tornando no que os outros querem e não no que Deus quer.

Nós vamos entender isso já, já.

Participante: mudar para Deus... A mudança é mudar para Deus?

Sim, é mudar para Deus. Mas, veja: isso para os seres humanizados ainda é muito inconsistente.

Como mudar para Deus se nós não sabemos nem quem é Deus ou o que Ele é ou como Ele é? Temos noções sobre o assunto. Cada um tem uma noção individual sobre Deus, mas não O conhece na verdade... E, realmente, jamais O conheceremos através do mundo das ideias.

Tudo o que um espírito vivencia durante a encarnação, ou seja, quando não ligado à sua consciência primária, são as ideias que o ego cria sobre Deus, e sobre qualquer outra coisa, e não a realidade do Senhor. Se a personalidade humana mudar esta ideia, a mudança do espírito ainda continuará presa a uma noção individual de Deus. Com isso ele não se muda, pois em essência continua acreditando no que o ego diz ser Deus.

A reforma íntima consiste-se do espírito libertar-se do ego e mudar-se para Deus, mas sem esperar que a personalidade humana identifique o que é Deus para depois se mudar.

Respondendo-lhe, então, afirmo que reforma intima consiste-se na mudança para Deus. Só que isso não deve levar ao apego ao que o ego diz que é Deus. É preciso que o espírito se conscientize que o Senhor é, no momento, algo inatingível, intocável e inexplicável, ou seja, um nada. A partir daí deve libertar-se de qualquer ideia que defina Deus...

Portanto, de nada adianta se apegar à ideia do ego que afirma que tais comportamentos denotam uma vivência com Deus. Como a personalidade transitória pode afirmar isso se nem sabe quem é o Pai e o que Ele quer para seus filhos?

É justamente por acreditar nas ideias sobre Deus que o ego cria que o espírito apega-se à condenação de um assassino. É a partir destas ideias que o espírito acredita que Deus não queria que o outro fosse assassinado. Será que Ele não queria mesmo?

Este é o problema da reforma íntima: o espírito quer se mudar para Deus, mas um Deus que seja compreendido através das ideias humanas. Só que quando faz isso, não se muda para nada, porque continua apegado às ideias, mesmo que elas sejam diferentes de outras que a personalidade humana teve antes.

Compreenda: quem cria a realidade de um assassinato, por exemplo, de ter acontecido uma maldade, é o ego. No Universo de Deus não existe maldade, não existe dor.

Participante: depois que nos despirmos do ego serremos o quê? Mestres?

Não, espíritos.

Participante: só que espíritos mestres, como são chamados aqueles que são evoluídos, não?

Não.

Quando conseguirem se libertar do ego serão apenas espíritos que terão voltado à sua consciência espiritual. Enquanto se acreditar como ser humano, não importa se na sua consciência espiritual é um mestre ou qualquer coisa que denote evolução, você será humano. Enquanto se considerar como ser humano que vive uma vida humana, você é escravo do ego.

Na hora que se entender como um espírito vivendo uma aventura espiritual na encarnação, aí se libertou das criações da mente e poderá deixar de ser humano. Mas, isso não quer dizer que a sua vida material mudará: continuará vivendo a mesma vida que vive o seu vizinho, que pode ser até um bandido.

Portanto, enquanto você, o espírito, estiver preso ao ego será ser humano. Quando se libertar deste, ou seja, não mais creditar como real as realidades que ele cria, então será um espírito na carne.

Participante: então, nessa vida não tem como nos despirmos totalmente do ego?

Não, porque sem o ego você não pode viver.

É impossível ao espírito se despir do ego: o que pode ser feito é se libertar da ação sentimental que a personalidade humana lhe propõe, ou seja, da dualidade do prazer e da dor, do bem e do mal, do certo e do errado.

Isso é o que o espírito pode fazer; despir-se antes do fim da aventura encarnatória jamais.

Encarnação - Textos

Não existem santos

Vamos, então, conhecer as duas coisas necessárias para se entender a espada que Cristo trouxe.

Primeiro: onde você, o espírito, está hoje? Está em um estágio espiritual que chamamos de ser humano ou ser humanizado. Você é um espírito, mas neste momento está vivenciando um estágio da sua existência eterna que chamamos de ser humanizado.

O que é um ser humanizado? É um espírito ligado a um ego, a uma consciência transitória que lhe constrói realidades ilusórias, que vamos chamar de humanas. Todos que estão encarnados neste planeta vivem nesta condição, por mais espiritualizado que seja.

Isso é preciso ficar bem claro. O que estou querendo dizer é que todos os espíritos encarnados no planeta Terra estão dentro de uma mesma faixa vibracional. Saiba que não existem santos sobre o planeta: todos que estão encarnados estão sobre a influência de um ego e, por isso, são seres humanos.

A partir desta constatação podemos começar a entender as características da humanização do ser, ou seja, característica que os egos aos quais os espíritos encarnados na Terra possuem.

Encarnação - Textos

Só o que é percebido existe

Primeira característica do ser humanizado: característica material.

O que quer dizer isso? O ser humanizado é um ser perceptivo, ou seja, tem percepções (visão, audição, olfato, paladar e sensibilidades do corpo) que fazem parte das realidades com as quais convive.

Vou dar um exemplo disso: você está sentado onde?

Participante: cadeira.

Isso: você está sentado numa cadeira. Repare na resposta e veja como está preso à matéria.

Falo assim porque você está conosco desde a primeira conversa deste estudo e, por isso, já me ouviu dizer que os objetos materiais são formados por fluído cósmico universal. Por isso deveria ter me respondido ‘estou sentado em fluído cósmico universal’. Mas não fez...

Por que não fez? Por que, apesar de já ter a informação e dizer que entendeu o ensinamento, você ainda falou que está sentado numa cadeira? Porque vocês podem saber das coisas espirituais, mas não conseguem vivenciá-las.

Você sabe o que falei, compreendeu o que mostrei sobre a realidade das coisas, mas o apelo para viver o que é percebido dentro forma humana é maior do que a nova lógica que recebeu. Foi por isso que não me respondeu que estava sentado em fluído cósmico universal.

Mas, mesmo que quisesse forçar esta resposta – falar apenas por falar que estava sentado em fluído cósmico universal – mesmo assim ainda estaria errado. Por quê?

Porque, se você realmente fosse consciente do que falei antes, teria que me dizer que não estava sentado. Isso porque se a cadeira é fluído cósmico universal, já que é um elemento do mundo material, o corpo humano também é composto pelo mesmo elemento. Neste caso, não haveria na sentado: o fluído cósmico estaria em contato consigo mesmo.

Essa é a primeira característica do ser humanizado: por mais que tenha informações do mundo espiritual, vive a vida material, a realidade do mundo material, através das percepções do corpo. O que o ser humanizado, por mais espiritualizado que seja, vê, existe; o que prova o sabor, existe; o som que ouve, existe.

Vou mais além: se algo não for percebido por nenhuma destas percepções, para o ser humanizado não existe, não é real. Quer um exemplo? Se eu perguntar quantos seres há aqui hoje, com certeza vocês vão contar os corpos presentes.

Mas, vocês não acreditam em espíritos fora da carne? Não sabem que eles estão em todos os lugares? Será que não existem seres incorpóreos aqui hoje? Como, então, vão contar apenas os corpos humanos quando pergunto quantos seres estão presentes hoje?

Só o que percebem existe para vocês. Mas, tudo o que vocês percebem, na realidade, não existe. Todos os elementos do mundo material, que é o que é percebido, são criados pelo ego, pela parte técnica do ego. Na realidade real (a do espírito, do Universo) só existe a matéria universal, o fluído cósmico universal, que não possui densidade, forma, sabor ou cheiro.

Os objetos do mundo material, sejam eles quais forem, são imagens geradas pelo ego a partir da percepção do fluido cósmico universal. Eles não são reais, mas apenas uma imagem criada pelo ego a partir de algo completamente diferente.

Essa é a primeira característica de um ser humanizado, ou seja, é o ponto de partida para o espírito que quer promover a reforma intima: compreender que precisa libertar-se da realidade material que vive.

Encarnação - Textos

Não se pode conhecer o que não é percebido

Portanto, cadeira não é cadeira. Também já disse que chamar a cadeira de fluído cósmico universal é estar fora da realidade, pois vocês não sabem o que é isso. A partir destas constatações, pergunto: para o espírito que está ligado ao ego, o que deve ser uma cadeira? Nada.

Lembrem-se do que eu já disse: não é criando uma nova realidade que o espírito promoverá a sua reforma íntima. Isso só acontecerá quando ele se libertar da realidade virtual, da realidade que o ser humano conhece.

Mesmo que o ego crie uma ideia que afirme que tudo é fluído cósmico universal, o espírito também não deve apegar-se a ela. Por quê? Porque esta ideia é fomentada por figuras materiais que são ilusórias.

O ego só é capaz de trabalhar com elementos conhecidos do mundo material. Para tudo que não é conhecido, ele não consegue fazer uma figura, gerar uma forma. Por isso, qualquer ideia que tenham sobre as coisas não perceptíveis jamais será capaz de exprimir a realidade real delas.

Como o fluído cósmico universal existe num mundo onde não há formas, o ego não consegue gerar imagens dele. O máximo que faz é criar ideias, ou seja, comparações com elementos conhecidos. É por isso que vocês chamam o elemento universal de energia.

Fluído cósmico universal não é energia. Aliás, fluído cósmico universal é energia, mas energia não é o que vocês conhecem como energia.

Falo assim porque a energia que vocês conhecem é apenas uma figura, uma representação criada pelo ego para o fluído cósmico universal. É assim que o Espírito da Verdade responde à Kardec quando o Codificador pergunta se o fluído cósmico universal é a energia elétrica que os humanos conhecem.

“27a. Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais fluído elétrico, magnético, são modificações do fluído universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente” (O Livro dos Espíritos)”

Portanto, a reforma íntima consiste no espírito lutar contra as realidades que o ego que atribuem formas às coisas que são percebidas. Isso porque, depois de criar formas para as coisas, o ego propõe emoções que vão dizer que aquela forma é bonita ou feia, limpa ou suja.

Eu pergunto: se não houver chão, como é que vai haver sujeira? O espírito que luta inicialmente para libertar-se das formas criadas pelo ego mais facilmente repudia as emoções, pois não encontra mais sentido para elas existirem. Já o espírito que continua acreditando nas formas tem mais dificuldade de realizar a reforma do seu interior, pois os objetos que o ego cria são sujeitos ao dualismo.

Encarnação - Textos

O dualismo não existe

Mas, mesmo o dualismo criado pelo ego é falso. No Universo não existe nada dual.

Um dia perguntei a uma pessoa: como é o nome desse piso que vocês usam? Ele me respondeu: cerâmica. Aí perguntei: do que ele é feito? De terra, barro, responderam-me. A partir disso eu perguntei: o que vai sobre este piso que vocês chamam de sujeira?

Pois é, a sujeira terra e barro é feia quando está sobre a cerâmica que é terra e barro. Ambíguo isso, não?

Aí o ser humano me respondeu humanamente: mas isso é cerâmica, aquilo é sujeira. Não, isso é terra e barro e aquilo é terra e barro. Eles são iguais porque são compostos pelos mesmos elementos. É o ego, o gerador de provações do espírito, que separa terra e barro em cerâmica e em sujeira.

NOTA: Apesar de não ter citado diretamente, o comentário do espírito amigo fala de conceitos. O mesmo elemento humano sujeito a conceitos pré-formados pode deixar de ser bom para ser ruim, de ser belo para ser feio.

Além de separar a terra e barro em duas verdades, gerar o dualismo, o ego cria a sensação de que sujeira não é bom e que cerâmica sem sujeira é, o que se consiste em um novo dualismo. Mais: cria a ideia de que a terra e barro chamada de sujeira não deve estar ali, apesar de tecnicamente ser a mesma coisa da cerâmica. Isso gera um novo dualismo: estar ou não estar.

Se tudo o que o ego cria é irreal, posso dizer, portanto, que todo dualismo, toda visão dual sobre as coisas deste mundo, é apenas uma ilusão gerada pela personalidade transitória. Tudo é uma coisa só (fluído cósmico universal e não possuem as qualidades que o ego dá a elas.

“30. A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva. (O Livro dos Espíritos).

Encarnação - Textos

Culpa

Concluindo, então, afirmo: enquanto o espírito não se libertar da visão Terra sobre as coisas – ver sujeiras – vive a emoção como real e vai, então, apegar-se à ideia de que aquilo tem que ser limpo.

Mas, não para por aí... A partir desta aceitação o ego criará um culpado – aquele que deixou a sujeira ali – e junto com esta ideia uma nova emoção que servirá de provação ao espírito que está ligado a esta personalidade humana.

Mas, essa é outra história que vamos falar depois.

Encarnação - Textos

Nada pode ser aceito

Esta é a primeira característica da humanidade do ser e a primeira coisa que precisa ser alterada. Mas, como falei, esta alteração não se trata de alterar valores ou nomes das formas.

De nada adianta ao espírito que quer promover a sua reforma íntima começar a chamar a parede de rabo ou de qualquer outra coisa. Isso simplesmente não vai lhe levar a lugar algum. O que ele precisa alcançar é a ausência de qualquer valor humano. Como disse Cristo, vencer o mundo, vencer os valores que são dados às coisas do mundo pela personalidade transitória.

O que é parede? Não sei. Este é o trabalho que o espírito precisa realizar para alcançar êxito na sua aventura.

Sabe por que isso? Porque além das verdades individuais (conceitos individuais), existem diversas verdades (conceitos) que são coletivas. Estas verdades surgem de forma espontânea no ego e por fazerem parte de uma chamada cultura geral, o espírito se prende automaticamente a elas como real a partir do momento que vive a realidade de uma forma.

Na parede nós temos um bom exemplo disso. Quando se fecha a porta de um quarto cercado de paredes, o ego humano cria a ideia de que ninguém está lhe vendo. Por quê? Porque existe um conceito geral que afirma que a parede bloqueia a visão.

Doce ilusão. Tem muito mais gente observando as ações que estão sendo praticadas neste momento do que se este ser humano estivesse no campo de um estádio de futebol.

Que ver outro exemplo? O ego afirma: eu sou mulher, pois possuo um corpo de mulher e por isso devo me identificar como mulher. Quantos conceitos surgem a partir dessa identificação de um sexo que o ser humano (ego) se acha obrigado a cumprir? Só para ficarmos no superficial, estes conceitos dão aspecto de real a ideias como ter que andar sempre bem arrumada, de brincos, usar maquilagem, etc. Não é isso?

Pois bem, o espírito que vive como real a ideia eu sou mulher, sente-se obrigado a fazer tudo isso. Quando por qualquer motivo que o próprio ego crie para não fazer o que lhe é imposto, a mesma personalidade humana gera a insatisfação de não ter realizado o que a feminilidade exigia e justifica que esta insatisfação é real porque o conceito coletivo não foi atendido. Pronto, lá vai o espírito aceitar esta insatisfação ao invés de optar pelo amor universal.

Além do mais, o ego utiliza-se dos mesmo conceitos para julgar os outros. Justamente pelo espírito aceitar a identificação como mulher, passa a vibrar de uma forma não universal quando a personalidade humana cria a ideia de cobrar de outras mulheres o cumprimento dos conceitos humanos.

Veja, então, nos pequenos e corriqueiros exemplos que dei, como se prender a forma, ou seja, as características humanas que o ego cria e diz que são reais através das percepções, leva o ser a agir de uma determinada forma que não é universal. Estas coisas pequenas do dia a dia agem como se fosse uma bola de neve levando o espírito a um aprisionamento profundo a tudo aquilo que o ego diz que é real, àquilo que o ego determina para aquela forma.

Por isso na reforma intima é fundamental o espírito não se identificar com as formas que a personalidade humana cria.

Volto a repetir: não se trata de mudar de seis para meia dúzia. De nada adianta o espírito querer ser assexuado, ao invés de ver-se como homem ou mulher, porque esta condição humana também possui diversos conceitos coletivos que vão aprisionar o espírito às emoções que o ego criará.

Para a reforma íntima, o espírito deve não aceitar o valor de ser homem ou mulher, a realidade de ser dessa ou daquela forma. Ao não aceitar esta imposição do ego, todas as obrigações inerentes a ela somem e com isso as emoções são injustificadas.

Encarnação - Textos

Obrigação

Participante: comentário sobre essas questões da feminilidade: enfeitar o corpo alimenta o ego.

Como falei, dei exemplos simples e corriqueiros, mas também não me estendi em todos os aspectos de cada um deles.

Na verdade, a feminilidade não leva só a obrigação de se enfeitar, mas, por exemplo, por causa dos conceitos coletivos formados a partir da feminilidade a mulher exige que o homem abra a porta do carro, que tem que ser tratada com carinho, que não pode ser alvo de brutalidade, que alguns assuntos não devem ser abordados na sua frente, etc. Nenhum destes conceitos é realmente real: tudo são ideias que o ego cria para justificar uma emoção que ele gerará para a provação do espírito.

Participante: então devemos parar com isso?

Achei que estava sendo até chato ao falar insistentemente que não se trata de mudar, mas sim de libertar-se Agora vejo que preciso falar mais.

Não é parar de ser assim; é se livrar da obrigação de ser assim.

Como disse, evolução não é mudança, mas liberdade de ter que agir de uma determinada forma padronizada. Não há nenhum problema em passar maquilagem na cara: o problema é sentir-se obrigado a passar.

A obrigação do atendimento de uma regra coletiva ou individual cria o padrão de certo. É certo passar maquilagem, por isso todas as mulheres têm que passar. Quando você acredita na existência de um padrão coletivo como certo, se torna escravo dele – acredita que tem que cumpri-lo.

Além de se tornar escravo, o padrão de certo serve como base para o julgamento de quem não passa, classificando-o como errado.

Por que esta pessoa, para você, é errada? Porque ela descumpriu o seu padrão, que para você é o certo. Mas, tudo isso só aconteceu por quê? Porque você aceitou o conceito coletivo como real.

Mas, e se você agora criasse um novo padrão dizendo que as mulheres não devem se enfeitar, será que isso acabaria com o julgamento dos outros? Claro que não: você passaria a julgá-los a partir do novo conceito. Passaria a achar que quem usa está errado e quem não sua certo.

Portanto, a evolução espiritual não se trata de mudança de um padrão para outro, mas sim da liberdade a qualquer padrão. Para isso é fundamental que o espírito compreenda que existe uma realidade que não é a que ele vive no momento.

Encarnação - Textos

Individualismo

Vamos, então, falar da segunda característica do ser humanizado. Sei que muitos de vocês vão dizer que não possuem esta característica, mas ela existe e está presente em todos os egos. Todo ser humanizado é individualista.

Essa é uma característica que precisa ser assumida: todo ser humanizado vive o mundo a partir do eu e para o eu. Essa é à base de compreensão da vida para todos os seres humanos ou humanizados: a personalidade humana se constitui num eu e vivencia a vida, ou seja, constrói realidades, a partir deste eu e para ele.

Estou certo?

Participante: sim.

Porque você diz que estou certo? Porque você acha isso, não é mesmo? Quando age assim está vivenciando o seu eu. Ou seja, mesmo quando você aceita que é individualista está vivendo o eu. Como só vive o eu e seu conteúdo como realidade, se não achasse certo diria: está errado. Acabei de dar um exemplo do individualismo da individualidade humana na sua plenitude.

O individualismo humano começa no eu e a ação individualista do eu começa quando ele acredita que sabe ou não alguma coisa, quando ele quer ou não algo. Não importa o que seja que a personalidade humana queira ou saiba, tudo o que ela tiver consciência de querer ou saber é algo individualista.

Para poder deixar bem claro o que estou falando, vou usar um termo que é muito utilizado pelos espíritas: crivo da razão. Toda vez que o ser humanizado passa alguma coisa pelo crivo da razão ele foi individualista. O que é o crivo da razão se não o julgamento que o ego humano faz das percepções a partir de suas verdades individuais?

A razão humana, aquilo que o ser humanizado pensa sobre as coisas é sempre individualista. Trata-se do resultado de um julgamento do mundo a partir de si mesmo.

Aliás, é exatamente isso que o Espírito da Verdade diz:

75a. porque nem sempre é guia infalível a razão? Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. (O Livro dos Espíritos)”

Esta é uma característica da humanidade do ser que é ditada pelo ego. Isto porque quando de posse da sua consciência espiritual, o espírito não tem nenhum individualismo. Ele não vive um eu, mas um nós.

Tudo para o espírito liberto da personalidade humana é nós: nós fazemos, nós andamos. Ele nunca vive apenas o eu: eu faço. Mesmo que no seu mundo, de posse de sua consciência, o espírito não participe de uma ação, ele diz: nós fizemos.

Por que ele diz nós fizemos? Porque foi a comunidade espiritual que fez e ele participa desta comunidade integralizado a ela. Portanto, é como se ele tivesse feito.

Esta é a segunda característica do ego humano que o espírito precisa estar atento: toda personalidade humana é individualista, ou seja, vivencia realidades sempre fundamentadas no eu.

Sendo assim, posso dizer que reforma intima é o abandono do eu. Trata-se de libertar-se da ação do eu e alcançar a ação do nós. Não se consiste em mudar o que se acha, porque enquanto apenas se mudar o que acha continua preso no eu acho. Neste caso, não houve evolução alguma, pois o ser ainda está preso a um individualismo: apenas mudou o que acha.

Por isso afirmo que os instrumentos para a elevação espiritual, para a reforma intima, têm que propor o fim do individualismo para levar o espírito a participar do nós. Deve tirá-lo do materialismo e levá-lo ao espiritualismo, ou seja, ao mundo onde as coisas valem pelos seus valores espirituais e não pelos valores percebidos pelo corpo humano.

Resumindo, as duas características mais fortes do ser humanizado são: viver as características humanas e ser individualista. Na verdade, estas duas características são a base daquilo que vocês chamam de “mundo de provas e expiações”.

Todos os espíritos que encarnam no planeta Terra, mundo de provas e expiações, estão ligados a egos que possuem as características humanas porque estão aqui para fazer provas. Estas provas são no sentido dele libertar-se do individualismo e do mundo perceptivo alcançando, assim, a vida na realidade espiritual e no nós.

Encarnação - Textos

Espiritualismo

Podemos, agora, começar a falar dos instrumentos da ação da reforma íntima, que, como disse, são instrumentos que precisam alterar realidades da vida humana. Estes instrumentos são em número de três.

O primeiro: o espiritualismo. Vamos conversar sobre esse instrumento da reforma íntima ensinado pelos mestres.

Nos ensinamentos dos mestres existe uma única definição de espiritualismo. Ela está em O Livro dos Espíritos: ‘espiritualista é aquele que acredita haver em si algo mais do que a matéria’. Mas, essa definição, que me perdoe Kardec, é muito pobre.

Mais adiante, em sua própria obra, Kardec ensina: de nada vale o conhecimento sem ação, de nada vale o apego à letra morta. Aliás, este ensinamento também está presente em Krishna e em Cristo. Sendo assim, não se pode ser espiritualista apenas por imaginar-se algo mais do que o corpo físico, mas é preciso viver para esse algo mais. Por isso, vou tomar a liberdade de criar uma nova definição para os termos espiritualista e espiritualismo.

Espiritualismo ou espiritualista é aquele que acredita haver dentro dele algo mais – que pode ser chamado de espírito, alma, anjo ou o nome que você quiser dar – e que vive para esse algo mais. Espiritualista é aquele que vive para o espírito. Aquele que sabe que é e vive para aquilo que sabe o que é.

Por isso disse que a definição era pobre: não adianta apenas saber-se um espírito, para ser espiritualista é preciso viver para o ser universal.

Esta arma ou instrumento da reforma intima é fundamental para os seres universais que querem alterar as realidades que vivem. Por quê? Porque quem vive para o espírito não se vê como humano e por isso não participa das coisas como o ser humano participa. Ou seja, não participa dos acontecimentos do mundo preso às percepções e a partir do individualismo da personalidade humana.

Por isso Cristo também ensinou através do Evangelho de Tomé: é preciso reconhecer que era antes de existir. Disse mais: se você encontrar alguém que saiba que não é filho de mulher, ajoelhe-se, pois este é o seu mestre.

Então, espiritualismo é algo fundamental para o ser que busca a elevação espiritual. É um instrumento de libertação da realidade criada pelo ego.

Encarnação - Textos

Viver para o espírito

Mas, na prática, o que seria viver para o espírito, ser espiritualista? Será que para viver para o espírito é preciso se abandonar a vida material? Será que é preciso abandonar o emprego, se afastar do mundo, da sociedade e viver nu no meio do mato? Será que é isso? Vamos ver.

Como já definimos antes, viver é uma atividade mental ou sentimental. A vida humana é gerada no encontro do ego com o espírito. Portanto, é aí que é preciso agir com o espiritualismo.

A ação espiritualista não se concentra no ato físico, mas na construção da realidade e principalmente na construção do sentimento, da emoção, da sensação com o qual se vive a vida carnal.

O contrário de espiritualista é materialista. O ser espiritualista ou materialista não se reconhece pelo o que ele pratica fisicamente, pois a construção de realidade é feita pelo ego e não pelo espírito. A diferença entre um e outro é caracterizada pela relação que o espírito mantém com a ilusão proposta pelo ego como realidade.

Espiritualista é aquele que se relaciona com o ego sem prender-se a parte técnica e as emoções que a personalidade humana propõe como reais. Por que isso? Porque o resultado da parte técnica e a sensação que o ego propõe é o mundo material. Portanto, o espiritualista não deve viver para este mundo.

Na verdade ele deveria viver para o outro mundo. Mas como fazer isso se o espírito que está vivenciando a grande aventura encarnatória não tem consciência sobre aquele mundo?

O espírito apegado ao ego vive apenas a razão humana e como nela não existem elementos sobre o mundo espiritual, posso afirmar que o ser universal encarnado não sabe como é o outro mundo e nem sabe como viver no outro mundo. Por isso, viver para o mundo espiritual não se trata de viver as coisas espirituais, mas apenas de não viver as coisas materiais. Vou explicar isso.

Então, espiritualista é aquele que o ego diz que ‘você está triste’ e ele não se sujeita a isso. Espiritualista é aquele que o ego diz que ele tem que ter prazer, mas não se sujeita a isso. Espiritualista é aquele que o ego diz que ele tem que ter soberba, mas não se sujeita a isso.

Enfim, espiritualista é aquele que o ego diz que ele tem que ter raiva, ganância ou qualquer outra emoção humana e ele não se sujeita a isso, mesmo que os atos que ele vivencia pareçam ter essa intenção.

Intenção. Essa é uma palavra muito importante para os espiritualistas. Tanto é assim que Krishna, Cristo, Buda e outros mestres trouxeram todos os seus ensinamentos fundamentados na intenção e não do ato.

A intenção dá uma motivação à ação. O materialista sente-se motivado durante os acontecimentos por aquilo que o ego lhe diz que é certo, errado, bonito, feio, limpo, sujo, alegre ou triste. Já o espiritualista é aquele que não aceita essas motivações. Ele participa do ato sem ter uma intenção, um desejo próprio, uma vontade e sem ver uma ação de um eu.

Encarnação - Textos

Espiritualista material

Aquele que não se obriga a viver a vida material pelos valores materiais: esse é o verdadeiro espiritualista.

Hoje está na moda se dizer espiritualista, mas poucos realmente o são. O que existe de verdade entre os seres humanos no mundo atual é o espiritualismo material e não o real.

Afirmo isso porque as razões criadas pelo ego dizem que estas personalidades humanas valorizam o espiritual, mas elas contemplam uma forma de viver o espiritual submetida a valores que são materiais. Ou seja, os espiritualistas de hoje vivem o espiritual fundamentado em verdades e anseios materiais.

Isso é impossível porque materialismo e espiritualismo são antagônicos. Ser espiritualista é viver a vida material de uma forma espiritualista e não vivê-la preso a conceitos humanos dizendo-se espiritualista.

Uma vez eu fui a um lugar onde havia mais de cem pessoas que se diziam profundos buscadores da espiritualidade. Eles estudavam projeção astral, saída do corpo, energias, além de ensinamentos sobre o mundo espiritual.

Na conversa lá comecei perguntando: o vieram fazer aqui? Estudar as coisas do espírito, foi a resposta. Aí perguntei: por quê? Por que precisam estudar as coisas do espírito? Vocês nunca foram espíritos? Será que sendo espíritos vocês precisam vir à carne para aprender a ser o que já são?

Achando que precisam aprender na carne o que é ser espírito, pergunto: quando estavam libertos da encarnação, como viviam? Será que não sabiam volitar, não sabiam trabalhar energias? Será que não conheciam as coisas do mundo de lá?

O você que está além desta personalidade humana que pensa ser hoje já é um espírito e, portanto, já sabe fazer tudo que quer aprender agora, espiritualmente falando agora. Esta é uma verdade incontestável por uma simples lógica: você é o espírito.

Apesar disso, os seres humanos, a partir de uma determinada época, passaram a buscar técnicas espirituais e dizer que as conhecendo estão realizando a reforma intima. Mas, isso é ilusão que o ego dá.

Ele age assim para que o espírito acredite que está fazendo algo importante aprendendo, por exemplo, a trabalhar energias. O que acontece com este ser que está aprisionado à necessidade de aprender estas coisas durante a encarnação? Não promove a reforma íntima, a libertação das sensações humanas.

Aliás, sobre isso o Espírito da Verdade tem um recado importante e esclarecedor:

“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável” (O Livro dos Espíritos – pergunta 14).

Enquanto o espírito encarnado acredita que é importante aprender a fazer projeção astral, ou seja, aprender a ser espírito no seu próprio mundo, não faz a sua reforma interior, o que é a razão de ter se iniciado esta aventura encarnatória.

Se fosse ao contrário seria muito engraçado, não? O espírito precisaria nascer na carne para ser espírito, ou seja, deixar de ser espírito para aprender a ser. Isso é uma coisa de louco. Isso não tem a menor lógica.

O período que o ser está encarnado (ligado a um ego humano) não é para aprendizado de coisas novas. Trata-se de uma etapa da sua existência eterna onde ele terá que testar a absorção daquilo que estudou anteriormente no mundo espiritual. Ou seja, testar a absorção da sua capacidade de desapegar-se das formas e das sensações humanas, inclusive do desejo de conhecer racionalmente o mundo espiritual. É exatamente para testar este desapego que o ego diz que é importante se compreender racionalmente o mundo espiritual.

Posso afirmar isso porque esta busca de se conhecer pela razão humana o mundo espiritual é um sofisma. Será que a razão humana pode conhecer o mundo espiritual? Será que o mundo mental humano é capaz de compreender o que para não tem forma, cor, sexo, raça, religião, que não possui nada que fundamenta a compreensão racional?

Este é o mundo espiritual: alguma coisa que não possui nada que fundamenta a compreensão racional.

O mundo espiritual é alguma coisa, mas o que ele é não pode ser compreendido pela razão humana. Isso porque os elementos daquele mundo não possuem compreensão por parte de quem se fundamenta no que é real ao mundo humano. Sendo assim, como pode a razão humana compreender algo que não tem capacidade nem instrumento para compreender?

Então, ser espiritualista não é buscar compreender o mundo espiritual. Pelo contrário: é apenas a consciência de que tudo que é vivenciado como humano é irreal, é ilusório, temporário, inclusive os valores sobre o mundo dos espíritos.

O espírito que se dedica a aprender a viver essa vida de uma forma diferente do que o ser humano vive é aquele que se dedica a eliminar a ideia da realidade de todas as percepções e sensações. Por isso digo que ele vive com neutralidade os acontecimentos da vida carnal.

Encarnação - Textos

O espiritualismo e o mundo espiritual

Existe mais um detalhe a respeito do espiritualismo que precisamos falar: ele nada tem a ver com os conceitos de divindade, santidade ou religiosidade da razão humana.

Muitos imaginam que para ser espiritualista é preciso atender os preceitos religiosos sobre o relacionamento com o Senhor ou com Seus mensageiros (mestres, santos, mentores, etc.). Isso é irreal. Aliás, reparem que defini espiritualismo sem falar de Deus.

Na verdade o espiritualista vive para Deus, mas se o ego não possui conhecimentos reais à respeito do Pai, como viver para Ele? Mais: na verdade ser espiritualista não é nem viver para o espírito ou para o mundo espiritual, pois o ego não sabe como fazer isso, pois nada conhece da realidade real do Universo.

Sendo assim, para o espírito encarnado viver para o mundo espiritual ele não pode aceitar nenhum conceito da personalidade humana que diga que tal ou tal coisa é viver para o espírito. O que ele pode fazer é aprender a não viver materialmente, viver acreditando que os conceitos humanos gerados pelo ego são reais.

Se o espírito encarnado tem a sua consciência, a sua própria realidade, encoberta e só pode perceber o que o ego cria, ele sabe o que é material: é tudo aquilo que lhe vêm à consciência enquanto está na sua aventura encarnatória. Tudo que o ego diz que o eu acha, sabe, gosta é material, mesmo que fale de coisas espirituais.

Então, o espiritualismo, que é o primeiro objetivo a ser alcançado pelo ser universal durante o seu processo de reforma intima, é isso: agir negando a condição de real que o ego dá aos acontecimentos que ele mesmo cria. Não se trata de uma mudança através da construção de novas realidades que sigam novos padrões humanos pré-determinados, pois ele não sabe o que teria que construir para poder alcançar a realidade real, pois está com sua consciência espiritual apagada por aquilo que vocês chamam de véu do esquecimento.

Reforma íntima é a destruição sistemática da qualidade de real a tudo que o ego cria.

Aliás, Cristo ensinou; em verdade, em verdade vos digo; quem não nascer de novo não verá o reino dos céus. Por causa deste ensinamento todos querem nascer de novo, mas ninguém quer morrer antes. Como nascer de moço se não morrer?

O espírito que está vivendo a sua grande aventura precisa preocupar-se em renascer da água e do espírito. Para isso deve ocupar-se com a sua morte. Deve ocupar-se em matar a forma humana que imagina ser durante a encarnação.

Para quem morre, o renascimento é certo, não? Então, morra e deixe o renascimento por conta da lei natural do Universo.

Aí está uma grande mudança de foco da reforma intima como hoje ela é tratada no planeta: a grande aventura do espírito não é um renascimento, mas uma morte. O espírito encarna (nasce) para morrer e só assim poder renascer da água e do espírito.

Um detalhe: essa morte que eu estou falando não é física. A morte a qual me refiro é da qualidade de real que se dá àquilo que o ego cria.

Encarnação - Textos

Intencionalidade

Participante: é a morte do ego?

Não, é morte daquilo que você, o espírito, acredita ser. O ego não vai morrer: quem vai morrer é a personalidade humana que ele representa.

A personalidade humana, a nível espiritual, não material, com o trabalho da reforma íntima, morrerá para o ser e em seu lugar surgirá um espírito livre: sem nome, cor, sexo, religião, pátria.

O ego continuará existindo. Mais: continuará dizendo ao espírito que ele é uma determinada personalidade humana e que por isso deve sentir tal ou tal coisa. Isso não muda. O que mudará, na verdade, será a consciência do espírito: ele não mais aceitará isso como realidade, como verdade.

Preste bem atenção no que vou falar agora: ego não se mata.

Enquanto o espírito estiver encarnado, a personalidade humana continuará funcionando. O que pode ser alcançado pelo ser universal encarnado não é o fim do ego, mas sim o fim da escravidão a ele. O fim da auto identificação com o ego diz que o espírito é.

Participante: fale mais sobre a questão da intenção?

O que é intenção? É a motivação criada pela razão humana durante a participação nos acontecimentos do teatro da vida.

Intenção não significa ação, mas sim motivação. A ação acontece e o ego coloca nas ações que acontecem ou que acontecerá, uma motivação.

Participante: é um motivo?

Não, não é um motivo: é uma motivação.

Por que você veio aqui hoje? Não importa a sua resposta: esta é a sua motivação para vir.

Participante: mas, se estiver aqui motivado por um objetivo espiritual?

Foi o que acabei de dizer: o ego cria verdades fundamentadas em conceitos humanos sobre santidade, reforma íntima, etc., para ludibriar o espírito.

Por que você está aqui? Porque quis vir, porque quis estar. Satisfazer o seu desejo de estar: esta é a real intenção que está no seu ego. Afirmo isso porque, apesar dessa sua aparente preocupação com a elevação espiritual, já houve dias em que poderia ter vindo, mas não veio. Se a preocupação com a busca da reforma é tão grande, porque não veio nestas horas? Porque não teve vontade, porque preferiu fazer outras coisas. Viu como a sua intenção de buscar a elevação não é tão grande?

A mente gera uma intencionalidade fundamentada em algo sagrado, divino, espiritual e, com isso, mantém escondida a real intenção. Por isso você acredita que está aqui por causa de uma busca espiritual, mas isso não é real.

É isso que o ser encarnado precisa compreender: ele não pode aceitar as justificativas que o ego cria, pois a personalidade humana trabalha com motivações ilusórias para encobrir a verdadeira.

Portanto, por mais que imagine que é a sua motivação espiritual que lhe trouxe aqui, isso não é verdade: você está aqui por motivos materiais. Está aqui porque a razão criada pelo ego neste momento disse que era certo e bom, ou qualquer outra justificativa, estar aqui. Sendo assim, você está aqui por uma motivação baseada no eu, no individualismo. Está aqui por um valor material (ser bom para você, ser de seu interesse) e não pela busca espiritual.

Se você, a personalidade humana à qual um espírito está ligado, respondesse que não sabe porque está aqui neste momento, eu poderia dizer que haveria, então, uma motivação espiritual. Agora, enquanto souber porque fez alguma coisa, ou seja, tiver uma razão que afirme qualquer motivação para a prática de uma ação, afirmo que acabou-se o espiritualismo.

Ação sem intenção: essa é a base do ensinamento de Krishna. Por isso ele ensina assim aos seus pares (os espíritos): repousa em mim (Deus) e assista a sua vida. Sabe o que é assistir a sua vida? ‘Olha, ele está indo lá. O que vai fazer lá? Não sei. Voltará de lá? Não sei’.

Participante: então, eu não tenho que me perguntar por que faço isso ou aquilo? Simplesmente faço. É isso?

O que é se perguntar por que faz alguma coisa? É descobrir uma intenção, criar uma motivação para a ação.

Se a personalidade humana age assim, o espírito não deve acreditar que a resposta a esta pesquisa é real, pois senão ele estará agregando uma intenção ao que é feito.

Participante: o que falo então: fiz porque fiz?

Isso, você fez porque fez. Lembre-se: quem faz alguma coisa com intenção sabe o que faz. Se as ações praticadas pela personalidade humana são sempre fundamentadas no individualismo, o espírito que acredita que fez algo por algum motivo se torna individualista.

Apenas um detalhe: não estou falando apenas de intenções que vocês consideram erradas ou más: estou falando de todas as intenções. Mesmo quando faz alguma coisa com uma intenção considerada boa (ajudar os outros, por exemplo), ainda existe uma intenção na personalidade humana que é individualista e, portanto, esta ação passou a ser um ato egoísta.

‘Mas, Joaquim, você ficou maluco? Ajudar o próximo é um ato egoísta’, vocês me perguntariam. Eu responderia: sim, é, pois o ego possui condições para ajudar alguém.

Se a personalidade humana cria razões que dizem que só deve ajudar a quem achar que deve e da forma que achar certo ajudar, esta ajuda transforma-se num ato individualista, pois atende a requisitos individuais. Apenas aquilo que é praticado sem submissão a nenhuma condição fundamentada em crenças e valores individuais pode ser considerada universal.

Repare que o ser humano não ajuda indistintamente, mas apenas àqueles que ele considera que precise de ajuda. Mais: não os socorre da forma que os outros querem ser socorridos, mas da forma que ele, ser humano, acha que deve socorrer. Isso não é egoísmo?

Se a personalidade humana você fosse capaz de fazer sem motivação, ou seja, fazer por fazer e não fazer do jeito que quer, fazer com a intenção de agradar o próximo, ganhar alguma coisa e tantas outras condições que ela cria, eu poderia dizer que era universalista. Mas, como isso não acontece, não posso afirmar isso.

Agora ficou claro? Motivação é a razão que o ego propõe para o espírito durante a realização de ações. Essa razão não é real, mas apenas um elemento da grande aventura do espírito e existe para que esse possa fazer a sua provação. Por isso, essa razão deve ser abandonada.

Encarnação - Textos

Causar mágoas ao outro

Participante: como se pode dialogar no mundo de hoje onde, por mais que você se esforce, vai estar sempre desagradando alguém com o que fala?

Falando sem intenções.

Participante: mas, o outro se sente ofendido com o que falamos e nós, presos às razões, nos magoamos. Sabemos que falamos sem intenção, mas o outro não sabe. Quantas vezes elaboramos cuidadosamente o que vamos falar e em contrapartida o outro se sente ofendido com o que foi dito.

Você falou de mais dois ou três assuntos em sua pergunta, mas ainda assim fica fácil falar da intenção.

Diga-me uma coisa: em uma roda como estamos aqui será que o que você disser magoará as todos? Não. Alguns se sentirão magoados, outros não. Não é assim?

Participante: correto.

Sendo assim, pergunto: você magoou alguém?

Participante: de certa forma sim, magoei alguma pessoa...

Não, se você tivesse a capacidade de magoar ou se suas palavras tivessem este poder, teria magoado a todos. Se alguns se magoaram e outros não, posso dizer que só sentiu esta emoção quem escolheu senti-la, ou seja, escolheu ficar magoado com o que você falou.

Na verdade não foi você quem magoou ninguém: o ego de quem recebeu sua ação, para poder criar uma realidade que servirá como prova para um espírito, escolheu a sensação de mágoa para reagir ao acontecimento ‘você falar’.

Na prática, o que aconteceu é que o ego do alguns espíritos disse a eles que o certo seria sentirem-se magoados naquele momento. Fez isso porque esta é a programação da aventura daqueles espíritos. Agora, o ego de outros, pelo mesmo motivo, disse aos seres que estão ligados, que não. Isso é o que está acontecendo na Realidade, no Universo, enquanto você está vivendo o falar e os outros o ouvir.

No Universo, longe das percepções que o ser humanizado pode ter, dos espíritos que estão participando deste acontecimento, alguns estarão ocupados em promover a sua reforma íntima. Estes, se lembrarão de desapegar-se das razões criadas pela personalidade humana à qual está ligado durante a aventura encarnatória. Com isso não se sentirá magoado.

Outros seres, aqueles que não estão neste momento vigilante quanto ao fato da elevação espiritual, ou seja, que não se preocupam com a reforma íntima, viverão a sensação gerada pela personalidade transitória. Com isso, além da personalidade, o espírito se sentirá magoado. Mas, a vivência dessa mágoa não é culpa sua.

O ego cria a sensação de ficar magoado porque esta é a prova de um espírito e o ser universal fica magoado porque não cumpriu o que Cristo ensinou (orai e vigiai): que culpa você tem? Por isso pergunto novamente: você magoou os outros ou eles se magoaram?

Essa é a primeira realidade que surge quando analisamos o mundo material a partir da realidade de ser apenas um mundo de encarnações e não um planeta com vida autônoma: ninguém é capaz de fazer nada a ninguém.

Se o outro decidir não receber o que você está fazendo de um determinado jeito, não viverá as emoções que o ego cria. Mesmo que você tenha a intenção de magoar, se o próximo estiver desperto e vigilante, não será capaz de magoá-lo. Se o próximo não aceitar a mágoa, você não magoa ninguém.

Por isso disse: a coisa mais importante na reforma intima é compreender que ela é a mudança do interno e não do externo. Quando o espírito se conscientiza disso deixa de se preocupar com o externo e passa a estar sempre atento ao interno.

Quando isso for sistemático para o espírito, ao ser criada a propositura racional de que se magoou alguém, o que será prontamente seguido da proposição da culpa, o espírito dirá: ‘isso é o meu ego que está dizendo e, por isso, tenho que me libertar dessa ideia’. Com isso, elimina duas sensações de uma só vez: a de ter ferido alguém e a culpabilidade.

Compreendeu? Esse é o primeiro detalhe na sua pergunta. Mas, como disse, existem outros assuntos embutidos nela. Permita-me comentá-los.

Segundo detalhe de sua pergunta: fico pensando em como falar com os outros. Por que você faz isso?

Participante: as vezes uma pessoa é querida e outras detestadas. Para não ferir aquelas que amamos, precisamos pensar em como falar.

Como diria Krishna, sua resposta parece até de um sábio, mas não é.

A razão humana diz que devemos agir com prudência para não magoarmos os outros. Apesar sido, quantas vezes você já ficou pensando como falar com determinada pessoa, encontrou uma forma de não magoá-la com suas palavras, mas quando falou saiu tudo diferente.

Participante: verdade. Quantas vezes estudei profundamente o que tinha que falar e no momento que falei saiu tudo diferente.

Por que isso acontece? Porque o ato acontece independente do que você queira que aconteça.

O que você vai falar para os outros acontece independente da sua vontade. A forma como as coisas acontecem não depende de você.

Lembre-se do que falamos até agora a respeito da encarnação ou vida humana: ela se consiste de realidades que são criadas pelo ego para a provação do espírito. Então, você não pode escolher palavras: só pode escolher se aprisionar ao ego ou não.

Você, ego ou espírito, não pode escolher palavras. É por isso que a personalidade humana decora um discurso para falar com os outros e quando participa da ação acontece tudo diferente. Quando isso acontece, a personalidade humana cria novas provas para o espírito: a contrariedade, a culpabilidade, etc.

Este é a minha resposta à segunda questão que você levantou com sua pergunta. Mas há mais uma. Você diz: depois eu fico chateado por que magoei os outros.

Quem é que ficou chateado? Você, a personalidade humana. Ficou chateado porque magoou o outro? Não. Ficou chateado porque a sua razão diz que você não deveria ter magoado o outro.

Na verdade você não está chateado por magoar, mas porque achava que não deveria magoar e isso acabou acontecendo. Ou seja, ficou chateado porque as coisas não saíram do jeito que você queria. Isso se chama individualismo. Foi ele que lhe fez sentir-se magoado e não o que os outros viveram a partir da sua ação.

Mas, quem ficou mesmo chateado com isso? A personalidade humana e não você, o espírito. Mesmo que o ego diga que você, o espírito, ficou chateado, não acredite nisso. Lembre-se: a personalidade humana não conhece as coisas do mundo espiritual. Por isso, como ela pode saber se o espírito ficou chateado ou não?

Na verdade, quem criou a sensação de ficar chateado foi o ego. Agora, repare num detalhe: ele criou a sensação de estar chateado; isso não quer dizer que ele ficou.

O ego não sente nada: ele cria sensações como provação para o espírito.

Volto a repetir: tudo é interno, tudo é dentro de você. Todas as realidades do mundo que você, a personalidade humana, diz que vive quando conversa com os outros e expôs na sua pergunta (escolher palavras, magoar os outros e se sentir triste por ter magoado alguém) são, na realidade, criações ilusórias do ego e não atos ou ações reais. Por mais que acredite estar acontecendo externamente a você, creia, está ocorrendo apenas no seu interior.

Depois das suas ações gerando realidades, acontecimentos, o ego vai criar novas provas para o espírito. Estas provas estabelecerão uma nova forma de proceder, ou seja, ‘tenho que pensar melhor antes de falar’, ‘tenho que não me meter na vida dos outros’, etc.

Mas, apesar destas conclusões tão bonitas que ele gerou, pergunto: você pode deixar de fazer alguma coisa? Não, porque você, a personalidade humana, vai sempre realizar o que for preciso para a provação do ser universal, independente da sua vontade. Afinal de contas, você é a grande aventura do espírito e não um elemento do Universo.

Quem precisa se preocupar com alguma coisa durante o transcorrer das atividades carnais é o espírito e não você, a personalidade humana. Como já vimos, esta preocupação não deve ser em alterar a forma de agir do ego, pois isso ele não pode mudar. O espírito precisa se ocupar em mudar-se internamente, ou seja, a forma como reage às proposituras do ego.

Aliás, a sua pergunta mostra bem quem é você: uma personalidade humana. Digo isso porque as suas razões denotam uma preocupação com mudanças externas. Você está querendo mudar por fora (o que faz) e não o seu interior.

Mas, você não pode mudar nada, não é mesmo? Você, uma personalidade humana, precisa ser do jeito que é para que um espírito tenha sua provação.

Ele, que também é você, é que deve mudar-se. Ele é que deve deixar de se apegar às coisas criadas pelo ego, alcançando, assim, o espiritualismo.

É ele que precisa deixar de acreditar que fez alguma coisa e atingir o nada sabe a respeito de qualquer coisa neste mundo. Ele é que deve dizer assim: ‘eu não falei, palavras saíram’; ‘eu não ofendi, o outro é que sentiu ofendido’.

Agora, se o outro se sentiu ofendido com o que você disse, isso não é um ato de desamor? Isso não é errado? Não: se ele, o espírito, se sentiu ofendido foi porque não se libertou da criação da sensação de ter sido ofendida gerada pelo seu ego. Por isso, não podemos chamar esta atitude dele de erro.

Apesar da razão humana dizer que ser agente para que o outro se sinta ofendido é mal, o espírito não deve cair nesta arapuca. Não deve dar crédito à ação do ego que quer obrigá-lo a se sentir mal porque, ilusoriamente, a ação terminou com alguém se sentindo ofendido. Pelo contrário: esta forma de ver as coisas do mundo é uma prova do amor verdadeiro ao outro.

Lembra-se que definimos que para a existência do amor real é preciso se dar liberdade ao outro de ser, estar e fazer o que quer? Se você sofre porque ele se magoou, está dando a ele a liberdade de se magoar? Dar a ele liberdade é não se constranger com o sofrimento alheio: ‘se ele quer se magoar, problema é dele. Por mim, ele é livre para viver o que quiser. Eu não vou sofrer porque ele está sofrendo’.

Participante: então, devo me libertar daquilo que o ego diz que devo fazer?

Isso.

Mas, além disso, deve ajudar o outro a se libertar disso. Como? Não se magoando com o que os outros dizem.

Lembre-se: no Universo tudo é igual para todos. Se você usar o argumento de que ele tem o direito de se sentir magoado ou não, deve agir da mesma forma consigo mesmo. Ou seja, deve entender que ninguém lhe magoa, mas você que livremente escolheu se sentir magoado...

Quando em um determinado momento onde normalmente um ser humanizado se magoa e você não se escravizar à necessidade de sentir-se assim exemplifica a reforma íntima. Com isso gerará curiosidade no outro: mas como, todos lhe pisam e você não se sente magoado?

Neste momento poderá auxiliar o próximo de verdade. Ou seja, lhe ajudar a sentir-se livre para sentir-se magoado ou não.

Encarnação - Textos

Conhecimento científico

Falar das armas ou instrumentos da reforma intima é falar de mudança interior. A primeira arma que falamos: o espiritualismo.

Ter noções sobre espiritualismo é até fácil de compreender para vocês pelos exemplos que dei. No entanto, esta facilidade é aparente. Se fossemos aqui entrar em maiores detalhes sobre esta libertação das razões criadas pela personalidade humana, vocês veriam que é mais complicado do que parece.

Por exemplo: remédio não cura ninguém. Este é um pensamento de um espiritualista, já que acreditar que o remédio é capaz de promover uma cura trata-se de elementos materiais. Tanto a doença como a cura não pertence ao mundo dos espíritos. Aliás, acreditar nas verdades científicas comprovadas em laboratórios e que aprenderam na escola, é materialismo.

Apesar de estar falando assim, não estou dizendo que devam desacreditar dessas verdades. Como disse, a reforma íntima não se consiste em criar uma nova verdade, mas em se libertar da verdade criada pelo ego. Libertar-se daquilo que a personalidade humana chama de realidade, do que é o ego diz que é real.

Saibam que todo conhecimento cientifico do mundo é gerado pela parte técnica do ego. Vou dar um exemplo: a ciência afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Isso é uma lei cientifica e, portanto, real para aqueles que se apegam às verdades humanas.

No entanto, aqui, neste lugar que estamos, existem diversos espíritos ocupando o lugar que vocês acreditam preenchido por oxigênio. Vejam: são dois corpos (o corpo do espírito e o oxigênio) que ocupam o mesmo lugar no espaço.

Isso quer dizer que essa lei é errada? Não. Isso quer dizer que essa lei cientifica é apenas uma parte de uma lei maior.

Isso é uma coisa que vocês precisam compreender. As verdades cientificas do mundo humano são apenas partes da lei maior. Para compreender isso vamos ficar no exemplo que dei: o espírito e o oxigênio ocupando o mesmo lugar no espaço.

O espírito está aqui, onde imaginam haver oxigênio. Portanto, existem dois corpos no mesmo espaço. Acontece, porém, que são corpos de densidade diferentes. O corpo do espírito é um objeto que está numa densidade enquanto que o oxigênio é outro elemento, mas está numa densidade diferente.

Se entenderem isso, poderão compreender a lei maior que o ego por si só não alcança: dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, se eles possuírem a mesma densidade.

Isso a ciência de vocês ainda não descobriu. Ela ainda não descobriu as diversas densidades da matéria e por isso não consegue alcançar a lei maior.

Sendo assim, se apegar às reações químicas ou as reações das propriedades do elemento material por aquilo que a ciência fala é se apegar ao material, a forma. É materialismo.

O espiritualista não contraria essa lei, mas não se apega a ela. Ele diz: ‘eu aprendi na escola que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, mas se ocupar ocupou, se não ocupar, não ocupou’.

Ele não cria novas verdades, mas também não se apega à verdade que o ego está afirmando que é verdadeira, por mais que ajam comprovações materiais disso...

Encarnação - Textos

Viver espiritualmente com as coisas materiais

Participante: posso me utilizar das coisas materiais porque vivemos em um mundo materialista, certo? Posso usufruir destas coisas sem, digamos, ter que dar um valor maior para aquilo. Certo?

Vou dar um exemplo para podermos entender melhor a sua pergunta. Será que realizando a reforma íntima você não precisará mais comer? Eu respondo: não. Agora, será que vai conseguir deixar de comer quando alcançar a reforma íntima? Novamente respondo: não.

Olha a diferença entre as coisas: você não precisa comer, mas não vai deixar de comer.

Lembre-se do ensinamento de Cristo que comentamos agora a pouco: em verdade, em verdade vos digo; quem não nascer de novo não verá o reino dos céus. Lembre-se também do que disse a este respeito: para renascer terá antes que morrer.

Sendo assim, você não tem que se preocupar em nascer de novo (parar de comer), mas sim em matar a necessidade de comer. Matar a verdade que diz que a comida é indispensável. Ao fazer isso, automaticamente renascerá e poderá ou não alcançar o não comer.

Quando falo sobre reforma íntima, as pessoas acostumadas ao mundo material se assustam e questionam-se: ‘como posso viver sem comer, sem respirar?’ Eu respondo a elas: vocês continuarão sendo o que são, mas não mais farão por obrigação ou qualquer outra intenção, mas apenas por fazer, por estar fazendo.

Participante: como é que eu vou me desprender da necessidade de possuir um veículo sendo que eu tenho que me locomover, por exemplo?

Se libertando da obrigação de que precisa de um veículo para se locomover. Para que você tem dois pés?

Participante: chegar a este desprendimento completo que o senhor fala, acho que é muito forte para nós. Acho que poderia apenas não me descabelar e pegar um ônibus quando o meu carro quebrar.

Está certo. Mas, se quando o seu carro quebrar também não houver ônibus? Irá se descabelar!

Aí é que mora o perigo: se tudo conspirar contra e houver apenas o desprendimento parcial como solução para não sofrer, o que fará? É por isso que é preciso se chegar ao máximo.

A única solução para que não sofra dentro do exemplo que deu é compreender que o ego diz que é necessário ter um carro e você não se apegar a esta necessidade.

Participante: é o ego que gera as necessidades?

Isso: é ele quem diz se você precisa ou não de alguma coisa. Cabe a você, o espírito, não acreditar na necessidade de ter ou não algo.

Só que este processo de libertação não é estático: precisa ser realizado em múltiplas etapas. É como descascar uma cebola: quando você tira uma casca, aparece logo outra.

Por exemplo: não há como se libertar da necessidade do automóvel sem antes se libertar da necessidade de se locomover, de ir a algum lugar. Acreditando que precisa ir, se não houver um carro à sua disposição ou algum meio de locomoção, sofrerá com certeza.

Portanto, a libertação não pode ser a do carro, mas antes precisa se libertar da ideia de ter que ir a algum lugar. Você, o espírito, deve alcançar o ponto de dizer: ‘se for, fui; se for, não fui’.

Para compreender bem esta ideia da existência de conceitos que dependam de outros, gosto muito do exemplo da comida. Pergunto: vocês comem legumes? Mesmo contrariando o que acreditam, respondo: não, vocês não comem legumes. Mais: o legume faz bem para o seu corpo? Continuando a contrariá-los diria que não.

Claro que vocês acreditam que o legume faz bem para o corpo físico, mas se prestassem um pouco mais a atenção às coisas, veriam que não é o legume que faz bem.

Por exemplo, a cenoura. Por que se come cenoura? Porque ela faz bem para a pele e para os olhos? Mas, é a cenoura que faz bem à pele ou são as vitaminas que estão dentro dela?

As vitaminas, não? Portanto, o que faz bem ao seu corpo não é a cenoura, mas sim a vitamina que ela contém.

Se isso é verdade, não precisam comer cenoura: basta ingerirem as vitaminas que terão o mesmo resultado.

Participante: mas, precisamos da cenoura para obter as vitaminas.

Não. Os homens vão para o espaço e levam cápsulas de vitaminas. Eles não precisam da cenoura, ou seja, eles são libertos da necessidade de comer uma cenoura.

Então, vocês podem tomar a vitamina em cápsulas. Por que não fazem isso? Porque a cápsula não tem nenhum sabor.

Repare bem. Na alimentação humana existem dois aspectos: a obtenção do que é necessário para o corpo e o prazer de comer algumas coisas.

Aí está o que assusta vocês quando se fala de ideias como a não existência da necessidade de comer: a perda do prazer de saborear determinado paladar. Ou seja, o apego às percepções, materialismo. É por isso que vocês não abrem mão da necessidade de comer: pelo prazer de perceber um determinado paladar.

Mas, o que é o sabor da cenoura e o prazer de senti-lo? Percepção gerada pelo ego para poder lançar o sentimento de prazer para que o espírito possa, então, promover a sua reforma íntima, ou seja, não se apegar a ele.

Agora ficou claro? Mas, não para por aí.

Será que as vitaminas possuem determinadas propriedades, que vocês imaginam que contribuem para a melhoria da sua saúde? Acho que não, e Kardec também:

“Atribuir a formação das coisas à propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa” (O Livro dos Espíritos – comentário à pergunta 7).

As vitaminas, portanto, para mim, Kardec e o Espírito da Verdade não constitui nada. Não são as propriedades íntimas destas vitaminas que dão saúde, já que essas propriedades são, também, um efeito. Portanto, o que dá saúde é a mesma coisa que confere às vitaminas essa ou aquela propriedade. Ainda falar no que é essa causa única de todas as coisas.

Só pelo que falei até aqui, creio que vocês já têm uma noção de que as suas ideias sobre as coisas do mundo espiritual não são reais, mas vamos comentar mais alguns detalhes.

Falei muito em vitaminas e disse da crença de vocês sobre a necessidade delas para o corpo humano. Agora pergunto: o que é uma vitamina? O que são as vitaminas a, b, c, d ou e? Fluido cósmico universal.

Sim, as vitaminas são apenas percepções geradas pela parte técnica do ego quando este percebe o fluido cósmico universal em determinada combinação. Isso são as vitaminas, mas, será que alguma coisa deste mundo não é isso também? Não, tudo o que existe neste mundo é fluído cósmico universal percebido de forma diferente pelo ego, inclusive o corpo humano.

A partir disso pergunto: será que o fluído universal percebido como corpo humano precisa do fluído cósmico universal percebido como vitamina? Se me responderem que sim eu insisto: para quê? Para que você precisa uma coisa dentro dela mesma? Que alteração isso pode causar?

Continue analisando a partir da ideia de que tudo é fluído cósmico universal percebido de forma diferente pelo ego.

Se as vitaminas que vocês acreditam precisar são apenas fluído cósmico universal, pergunto: será que elas só estão em determinados elementos? Não, elas estão no universo. O ar, a atmosfera do planeta é fluido cósmico universal. Sendo isso verdadeiro, diria que vocês poderiam conseguir as mesmas vitaminas apenas respirando, o que dispensaria ter que comer a cenoura.

 Poderiam buscar as vitaminas na atmosfera, mas não sabem como fazê-lo. Não sabem por quê? Porque estão aprisionados ao ego que diz que se não comerem cenoura, não terão determinadas propriedades.

Por causa de tudo isso que falamos, insisto no ponto que venho tocando constantemente nesta conversa: você, o espírito, precisa começar a dizer ao ego que não acredita que é preciso comer. Não falei em não comer, mas sim em se libertar da necessidade, da obrigação que a personalidade humana cria a partir dos seus conceitos.

Com isso, o espírito vai se libertando da programação do ego até que um dia não mais se sinta obrigado a comer. Neste momento, quando o ego criar determinada sensação, o ser universal pode não vibrar neste padrão sentimental.

Já o espírito que acreditar que precisa mudar o ego tentará alimentar-se de ar, mas não conseguirá. Mesmo que conseguisse, isto não poderá ser considerado como uma vitória sobre nada, já que a alimentação pelo ar não é executada pelo espírito, mas sim uma criação da parte técnica do ego que gera todas as formas e percepções da vida humana.

Encarnação - Textos

Saúde

Participante: é possível viver sem tomar remédio?

Sim, isso é possível.

Participante: mas, não temos que preservar o nosso corpo físico?

Mas quem disse que o remédio preserva? Estamos discutindo a nível espiritual e você já partiu para o materialismo.

A partir de informações científicas você acredita que o remédio preserva o corpo, mas quem disse que isso é verdade? Muitas vezes toma remédio para uma coisa, mas não conhece a ação dele sobre outras partes do corpo. Estou falando do que é conhecido como efeitos colaterais de um remédio.

Quantas vezes já tomou um remédio para uma doença que destruiu sua parte intestinal? Quantos remédios propõe a cura de alguma parte do corpo, mas acabam ferindo outra? É isso que é chamado de efeitos colaterais.

Se este efeito existe, quem disse que tomar remédio preserva o corpo físico? Será que ele não causa mais mal? Tomar remédio não é sinal de prevenção do corpo físico, pois você o toma para curar alguma coisa, mas acaba fazendo mal a outra.

Na verdade, você nunca sabe qual a reação do remédio. Além de poder atacar outra parte do corpo, será que ele dará o resultado esperado?

Quantos remédios existem que se mostram eficazes em determinas pessoas e em outras não faz qualquer efeito? Na verdade, quando você toma um remédio não sabe se ele lhe fará bem. Mas, você continua tomando remédios assim mesmo. Por quê? Porque o ego diz que tomar tal remédio irá realizar a cura do seu mal.

Na verdade a coisa é muito mais profunda. É a personalidade humana quem vai criar a sensação da doença, da dor, do sentir-se doente e da cura, se esta acontecer. Aliás, o próprio remédio (a forma) é uma criação do ego, pois remédio como qualquer elemento material é fluído cósmico universal.

Apesar disso, a personalidade humana à qual o espírito está ligado durante a sua grande aventura, continua dizendo que o remédio é a causa primária da saúde. Mas, o que é a causa primária de tudo que existe como vimos no estudo de O Livro dos Espíritos?

Participante: Deus.

Se o ego diz que o remédio é a causa primária da doença, o que ele é para o espírito que está aprisionado a isso como realidade? O seu deus para a cura.

Na verdade, quando a personalidade humana dá a algum elemento material a causa primária de algum acontecimento, está criando um deus. Para ela o remédio é o deus da saúde, como o carro o é da locomoção e o alarme e a cerca elétrica da casa o deus da proteção.

Eu não queria usar o termo Deus nestas conversas de hoje, mas tive que fazê-lo para que vocês entendam a ação da personalidade humana. Ela substitui o Senhor do Universo como causa primária, trocando-O pelas próprias coisas materiais. O espírito que acredita que isso é real pode ser chamado, então, de materialista.

Já o ser que está liberto desta ação, o espiritualista, vive para Deus, se entrega em Deus e por isso atribui a causa primária a Ele. Este ser diz assim para si mesmo: ‘o ego está me dizendo que foi o remédio que me curou, mas eu sei que as propriedades dos elementos que compõem o remédio são causadas por Deus. Então, foi Ele que me curou e não o remédio’.

O espírito precisa pensar assim, se quiser aproveitar a encarnação como instrumento da elevação espiritual, mesmo que o ego não tenha como criar realidades sobre o Universo, sobre o mundo onde Deus age. Por causa da necessidade do ser ter que realizar esta libertação durante a encarnação é que a chamamos de uma grande aventura. Trata-se de uma aventura porque o espírito precisa afastar-se do mundo conhecido, o seu próprio mundo espiritual, e aventurar-se num mundo onde ele nada conhece.

Como foi definido anteriormente, aventura é um empreendimento de risco. Vir à carne é uma aventura para o espírito, pois é um empreendimento onde ele tem que executar algo, onde tem que viver um mundo completamente desconhecido sem ter nenhum mapa que o guie.

Ela contém riscos porque a auto identificação do espírito com o ego o faz achar que o que a personalidade diz é real (o remédio cura) e precisa libertar-se disso, entregando-se a um mundo que nada conhece naquele momento.

Encarnação - Textos

Reencarnar

Participante: segundo o espiritismo temos que retornar à encarnação até que aja a evolução. Isso é real?

Sim, o espírito tem que reencarnar até que aprenda a viver espiritualmente falando numa aventura (encarnação).

O processo de encarnar repetidas vezes tem o objetivo de elevar espiritualmente o ser universal. Como esta elevação se caracteriza pela vivência do espiritualismo mesmo preso à uma personalidade humana que, por natureza, é materialista, o espírito precisa viver na matéria carnal diversas vezes até que um dia viva uma vida onde não mais se subordine ao ego.

Participante: quando é que a pessoa vai perceber que alcançou isso?

Quando você se refere à pessoa está certamente falando da personalidade humana, do ego. Por isso, pergunto: como é que a personalidade humana seria capaz de perceber isso? Vendo, ouvindo, pensando, sentindo? Mas, quem cria a audição, o pensamento, a visão ou a percepção da personalidade humana? O ego. Então, se o ser humano percebesse que alcançou o espiritualismo, continuaria materialista, pois seria o ego dizendo a ele mesmo que se libertou dele.

Se a personalidade humana fizer isso e o espírito acreditar nela, o ser libertou-se de quem? De ninguém, pois ainda acredita naquilo que o ego está lhe dizendo que é real.

Sendo assim, afirmo que a elevação espiritual jamais poderá ser compreendida racionalmente. Ela jamais poderá ser constatada pela razão.

Mas, isso quer dizer que o espírito não pode saber se ele alcançou a elevação ou não? Claro que pode.

Quando é que o espírito pode saber se já se elevou?

Participante: quando não sentir necessidade de agir de acordo com o que o ego diz que deve agir...

Ou seja, quando ele, que é você, não se prender mais ao ego.

Quando o ego lhe disser que deve sofrer e você, internamente, permanecer em paz, pode saber que se elevou. Quando o ego lhe disser que deve exaltar-se de prazer e você, o espírito, permanecer em paz, pode saber que se elevou. Quando o ego disser que deve desejar algo que pertença a outro e você, o espírito, não acreditar nesta necessidade, se elevou. Ou seja, quando você, o ser universal, atingir internamente um estado de paz, harmonia e felicidade incondicional, se elevou.

Este estado do espírito não será alcançado através da razão (compreender racionalmente que se está em paz), mas será sentido no coração. Essa percepção, no entanto, é impossível de ser alcançada pela personalidade humana, porque se a razão disser o que o coração está sentindo, não será mais sentimento, mas sim razão.

Lembre-se: qualquer coisa que exista para personalidade humana é fruto de uma compreensão racional. Se não houver esta compreensão o acontecimento não existe, não foi percebido pelo ser humano.

Sendo assim, como vocês seres humanos só compreendem pela cabeça, mesmo que seja o sentimento que está no coração, vocês nunca vão saber se o espírito ao qual estão ligados alcançou ou não a elevação espiritual.

Encarnação - Textos

Ecumenismo

Segundo elemento presente nos ensinamentos dos mestres que vamos ver hoje: ecumenismo.

Falar de ecumenismo é uma coisa muito difícil no planeta. Por quê? Porque a ideia que vocês fazem sobre esse tema é a da fusão das religiões. Para a humanidade, a pessoa ecumênica é aquela que não tem religião, mas aceita todas. Por isso o ecumenismo foi definido como o ato de fundir todas as religiões. Acontece que isso é impossível.

Por que é impossível se fundir todas as religiões? Porque uma religião é composta de dois fatores: ritos e doutrina.

Cada religião tem o seu rito, a sua forma de se religar a Deus. Além disso, elas possuem uma doutrina que precisa ser seguida pelos seus fiéis sobre pena de não serem tratados como seguidores daquela religião.

Se a personalidade humana for católica, por exemplo, existe a obrigação de seguir a doutrina católica, ou seja, de acreditar e fazer o que a religião católica apostólica diz que é certo. Se ela não segue esta doutrina, o catolicismo diz: você não pertence a mim.

Sendo espírita, a personalidade humana é obrigada a seguir os preceitos da doutrina desta religião. Do mesmo modo, se ela não seguir, o espiritismo dirá que esta personalidade humana não pertence a ele.

Por isso é impossível fundir as religiões. Veja bem. As doutrinas espírita e católica – apenas para ficarmos nestes dois exemplos – são antagônicas, ou seja, cada uma impõe uma verdade diferente da outra, possui um corpo doutrinário diferenciado, e também impõe obrigações diferentes aos seus seguidores.

Jamais um espírita será aceito por um católico porque os católicos não acreditam em espíritos. Jamais um católico será aceito por um espírita como igual porque ele não acredita em reencarnação.

É por isso que é impossível fundir-se as religiões: cada uma possui uma doutrina que é antagônica a outra. Como fundir algo como água e óleo, ou seja, dois elementos que não são compatíveis?

Por isso, pergunto: como, então ser ecumênico? Como fundir as religiões se elas são antagônicas? Impossível, não? Mas, se ser ecumênico é algo necessário para a elevação espiritual e se não se pode criar um ecumenismo a partir das diversas doutrinas que existem, como realizar isso? Fundindo tudo dentro de si mesmo.

Mais uma vez voltamos à questão do interior e do exterior, como, aliás, é o grande aspecto da evolução espiritual. Reforma íntima não se faz no exterior, mas sim no interior, já disse isso.

Para realizar a reforma íntima é preciso que o ser seja ecumênico, sem esperar que exista um ecumenismo no mundo exterior. Ou seja, que trate como real dentro de si todas as doutrinas religiosas do planeta sem dizer que uma está certa e outra errada.

Parece fácil, não? Porém, eu pergunto: como se transformar em ecumênico com todas as divergências entre as diversas doutrinas? Respondo: não se prendendo especificamente a nenhuma delas.

O que é não se prender a nenhuma delas especificamente? Não achar que só aquilo que determinada doutrina fala está certo. Vou explicar melhor isso.

Quando as doutrinas religiosas dizem que a personalidade humana deve fazer tal ou tal coisa para poderem ser considerada seu fiel o que ela faz? Cria uma lei. Ou seja, as doutrinas religiosas são códigos de leis que criam realidades.

A partir daí volto a perguntar: como não se prender a nenhuma religião especificamente? Não se prendendo as leis que elas ditam.

Portanto, o ecumênico é aquele que não se subordina a leis que as doutrinas religiosas criam para distinguir o certo do errado, o bem do mal. Ecumênico não é aquele que acredita em todas as doutrinas, mas sim aquele que não se subordina a nenhuma delas especificamente.

Dentro de tudo que já falamos sobre reforma íntima, será que o que falei agora está certo? O que é uma lei de uma doutrina religiosa? É algo material: é palavra, é imagem, é ideia. Quem criou estas leis? Um ego.

As leis das doutrinas religiosas são criações de egos, personalidades humanas, a partir de ensinamentos de mestres. Cristo, por exemplo, disse apenas ame. Depois vêm as personalidades humanas e querem dizer como se deve amar, o que é amar e o que não é.

Será que se devem criar leis humanas que precisam ensinar a amar? Eu acho que não.

Quando se cria uma lei dizendo o que é certo, automaticamente se cria o errado. É a lei que diz que algo é errado.

Mas, será que julgar alguém dizendo que ele está errado é amar? Quem ama de verdade, ama incondicionalmente, ou seja, sem criar lei para dizer o que é amar ou não. Portanto, quem se fundamenta numa lei para dizer o que é certo a ser feito, não ama.

Acham que sou eu que estou dizendo isso? Não. O apóstolo Paulo, aquele que melhor compreendeu o ensinamento do Cristo, foi quem disse.

Paulo diz assim: a lei cria o pecado.

Ele falou isso porque o errado só começa a existir quando se coloca uma lei dizendo o que é certo. Se não houver lei para legislar algo, não há certo e nem errado.

Depois de falar assim da lei, o apóstolo conclui: Deus não ama aquele que cumpre a lei, mas sim aquele que age com fé, como Abraão agiu ao oferecer seu único filho em sacrifício ao Senhor.

Portanto, é Paulo que diz que a elevação espiritual (o amor de Deus) é conquistada pela fé e não pelo cumprimento da lei ditada pelas doutrinas religiosas.

Encarnação - Textos

Subordinação às leis

Portanto, a característica ecumenismo que deve ter o espírito na luta contra o seu ego trata-se de não se subordinar às leis (verdades, o que é certo) religiosas que o ego cria como doutrina.

O ego diz, por exemplo, que para ser religioso de determinada religião a personalidade humana deve estar vestida de determinado jeito. O espírito não deve se subordinar a isso. Quem acredita que isso seja real, acaba como escravo do ego, porque acredita que aquilo é necessário para comungar com Deus.

Este espírito não ama porque não está feliz de verdade no momento que cumpre a lei doutrinária, mas sentindo prazer por estar vestido adequadamente. A intencionalidade ao ir vestido daquela maneira não estava na comunhão com Deus, mas em cumprir uma lei criada por egos humanizados. Portanto, foi consigo mesmo que a personalidade comungou e não com o Senhor.

Aliás, a questão da obrigação da observância dos códigos legislativos precisa ser pensada não só com relação às doutrinas religiosas, mas em todos os aspectos da existência humana.

Todos os códigos de leis que existem no planeta Terra são obras de egos e não de espíritos. Eles são semelhantes nos diversos povos porque fazem parte de uma provação central para os espíritos que encarnam no mundo de provas e expiações. Mal comparando, posso dizer que é o que vocês chamam de consciência planetária ou verdades planetárias.

Em todos os grupos de seres humanos do planeta existem códigos que pretendem criar normas que distingam o certo do errado, mesmo que o conteúdo destas leis seja diferente. Por exemplo: aqui neste país o homem não pode casar com mais de uma mulher. Este é um elemento do código de leis de vocês. Em outros lugares existem códigos de leis que falam diferente, ou seja, que diz que pode casar.

Quem está certo? Isso não interessa. O que importa é que uma lei foi criada, ou seja, um padrão de certo foi estabelecido e com isso gerou-se um errado. Por causa disso, o amor incondicional acaba.

O conteúdo da lei não importa, mas sim a existência de um código que pretende estabelecer o que é certo. Por que isso? Porque todas as leis são estabelecidas por egos, ou seja, instrumentos para provação do espírito que poderá ou não alcançar a elevação espiritual através dela.

Quando ele a alcançará? Quando não se prender ao que o ego diz que é certo, ou seja, quando o ser libertar-se da obrigação de cumprir as leis...

Quando o espírito que vivencia um ego que habita este país não se deixar levar pela personalidade humana que diz que ter duas esposas é errado e o que vivencia um ego onde se diz que deve ter duas não sentir-se obrigado a isso, então a elevação espiritual será alcançada. Isso porque os dois libertaram-se da ação das coisas do mundo material.

Este ser será elevado porque conseguiu alcançar a verdadeira liberdade: ele é livre dos padrões humanos que determinam o certo e o errado.

 Paulo, como nós já vimos anteriormente, falou da lei e disse a mesma coisa que dissemos. Mas, com quem Paulo aprendeu? Ele aprendeu no mais alto céu com Cristo.

O mestre nazareno falou muito de lei. Ele disse: eu não vim tirar um ponto ou uma vírgula da lei, mas sim dar o seu real sentido. Este real sentido é o amar.

Para amar, ele falou mais sobre a lei: ela é a trave que está nos seus olhos e que o faz enxergar o cisco que está nos olhos dos outros. O cisco são os erros dos outros, mas eles são pequenos quando comparados ao seu erro (a trave): apontar o erro dos outros.

A subordinação aos parâmetros legais não deixa a personalidade humana usar uma característica do universal amor que vimos: a igualdade. Isso porque a lei padroniza o certo, enquanto o amor o diversifica. Diversificando o certo ama-se o próximo do jeito que ele é.

Quando existe a subordinação aos padrões legais não se ama igualitariamente. Se uma personalidade humana segue os padrões de certo criados pela lei, com certeza irá amar primeiro os que cumprem estes padrões para só depois amar o outro.

Por isso fixar-se ao certo impede que haja o amor universal: ele castra a liberdade, a igualdade e a felicidade sua e dos outros.

Além do mais, quando se fala em cumprimento de uma lei (determinar que alguém é errado) jamais poderemos também nos esquecer do ensinamento de Cristo. O mestre, ao ser testado pelos fariseus que queriam que ele julgasse uma mulher pega em flagrante delito, disse: que atire a primeira pedra aquele que não tem pecado.

Desta parte todos se lembram, mas muitos se esquecem da continuação deste ensinamento. Quando ninguém acusou a mulher, o próprio Cristo disse: quem sou eu para julgá-la. Ora, se o próprio Cristo não se sentiu confortável para julgar os outros, quem somos nós para fazê-lo?

Portanto, o espírito não deve acreditar na sensação que o ego cria de que a lei é importante, de que ela é necessária para se determinar o certo e o errado. Não crendo nisso, poderá libertar-se das ideias de culpado e errado que a personalidade humana gerará para si ou para os outros, alcançando, assim, a elevação espiritual, ou seja, o amor incondicional.

Encarnação - Textos

Leis individuais

Agora, eu não estou falando só em leis da sociedade não, mas nas chamadas leis individuais. Ou seja, estou falando nos padrões de certo de cada personalidade humana.

Por exemplo: Qual a cor da sua calça?

Participante: Verde...

Tendo alguém daltônico aqui, será que ele veria a mesma cor? Se ele não vê a mesma coisa que você, ele está errado? Sim, para você estaria, porque o seu código interno de leis diz que esta cor chama-se verde. Com isso o amor incondicional estaria acabado.

Portanto, para amar o próximo o espírito precisa libertar-se da lei que determina que exista uma cor certa para esta calça.

Vamos a outro exemplo. Pense numa coisa que você goste. Será que todos gostam disso? Claro que não. Para você eles estão errados, pois aquilo é gostoso, não é mesmo? Mas, quem disse que o outro é obrigado a gostar do que você gosta?

Estou usando exemplos bem simples apenas para compreenderem, mas ampliem este conceito para as coisas mais complexas do mundo e verão quantos momentos de sofrimento poderiam ter sido evitados, se isso fosse possível, apenas libertando-se da lei interna que diz o que é certo ou errado.

Encarnação - Textos

Consciência amorosa

Portanto, o ecumenismo como não subordinação a código de leis é instrumento necessário para a elevação espiritual porque só ele pode levar o ser a viver em felicidade incondicional.

Enquanto houver subordinação a código de leis a felicidade não será condicional, mas ocorrerá apenas quando os ditames dele forem contemplados. Ou seja, será condicionada a que o outro cumpra o que você acha certo.

Para poder alcançar esta felicidade, a personalidade humana terá que se transformar num juiz, ou seja, terá que estar sempre atenta para verificar se o outro está cumprindo a lei ou não. Este estado de tensão acaba com a sua própria felicidade.

Sim, a personalidade humana que vive apegada a código de leis se coloca no direito de ser juiz, de julgar a humanidade. Ela acredita que tem o direito de julgar o próximo porque conhece a lei, porque sabe o que é certo.

Vocês já ouviram falar disso? Já ouviram falar de alguém que conhece a lei e que por causa disso se imagina com direito de julgar os outros? Cristo falou destas personalidades e as chamou de professores da lei. ‘Ai de vocês, professores das leis, fariseus e hipócritas que ensinam os outros, mas não praticam’.

Sim, os professores da lei (aqueles que sabem o que é certo e querem impô-lo aos outros), sejam elas da lei coletiva ou da individual, não praticam o amor, apesar de disserem que ensinam a amar. Isso porque quando se apegam a um código de leis, padronizam o que é amar e querem obrigar os outros a amar do jeito que eles acham certo. Mas, quem disse que eles sabem o certo?

Só o ecumenismo, a liberdade do certo e do errado pode levar o espírito a uma coisa que chamamos de consciência amorosa. Sendo a liberdade uma parte integrante do amor universal, consciência amorosa ou a consciência que ama é aquela que concede ao próximo o direito de ser quem quiser, de ter a liberdade de agir do jeito que quiser agir sem que esta consciência se veja obrigada a julgá-lo por isso.

Portanto, o ecumenismo é outro instrumento da elevação espiritual. Aliás, um instrumento importantíssimo, pois como aqui descrevemos, leva ao fim dos julgamentos, tema no qual Cristo muito falou quando trouxe os ensinamentos para a elevação espiritual.

Encarnação - Textos

A necessidade de leis

Mas, tem outro aspecto que quero abordar neste momento a respeito do tema ecumenismo: ele deve ser aplicado a todos os quesitos legais e não apenas a alguns. Ou seja, você não deve escolher que lei tem que cumprir ou não.

O espírito precisa se libertar da ação do ego de forma total e não apenas de algumas partes deles. Por isso, é preciso libertar-se da coerção de todos os ditames legais e não de apenas alguns...

A partir disso, pergunto: dá para viver sem leis? Vamos imaginar que de hoje para amanhã acabem todas as leis: você acha que a vida na sociedade poderia ser vivida sem lei?

Todos aqui responderam não. Uma pessoa ainda disse: seria uma desordem.

Devo, então, entender que a existência de leis é fundamental para a vida humana. Certo?

Participante: nesse planeta, nessa fase que ele se encontra acho que sim.

Está certo.

Agora me digam: para que uma lei é feita? Pelo que eu sei é para proteger o direito dos outros, certo? A lei é criada para que ela proteja o direito de cada cidadão, ou seja, para que não aconteça nada errado.

A partir dessa ideia, pergunto: alguém é capaz de me dizer algum erro que alguma lei conseguiu extinguir?

Reparem bem: se a lei protege o direito das personalidades humanas evitando que aconteça o errado, isso quer dizer que não existem mais assassinatos e nem roubos, pois há leis que coíbem isso. Certo?

Participante: o argumento que já ouvi é que sem as leis estaria pior.

Ah, isso é um achômetro: alguém acha que estaria pior, mas não tem a menor certeza de nada.

A consciência do que acabei de dizer (que a lei não cumpre seus objetivos) é importante para aquele que pretende promover sua elevação espiritual. Isso porque o ego diz ao espírito que a existência de leis é necessária para que se preserve o seu direito, mas, mesmo existindo leis, ele não é preservado. Então, para que lei?

A personalidade humana através do seu mundo das ideias afirma que a existência de leis é necessária, porque sem ela as coisas poderiam ficar piores. No entanto, ela não tem a mínima ideia do que está falando, já que não conhece na prática o que é viver num mundo sem leis.

Sabe como seria uma existência sem leis? A mesma que é hoje, quando existem as leis.

Ora, se a lei não extingue nada, se não coíbe nada, como pode alterar alguma coisa? Toda vida das personalidades humanas é legislada; cada passo que se dá nesse mundo é legislado. Para cada atividade humana existe uma legislação.

Apesar deste enxame de códigos que dizem o que é certo, o comportamento humano jamais se alterou ao longo dos séculos. Os mesmos crimes legislados como errados há dois continuam sendo praticados até hoje.

Por isso volto a repetir: as leis não servem para nada. E, se elas não servem de nada, a vida continuaria igual sem ela.

Participante: o fim das leis acabaria só com as obrigações.

Isso. O fim da lei acabaria com a obrigação e com a cobrança da mudança do próximo.

Antes disse que as leis não servem para nada, mas não falei a verdade. A lei serve sim: para poder julgar e acusar o outro. Ou seja, a lei é um instrumento carmático que cria uma situação de não amor que serve de provação para o espírito que está realizando a sua grande aventura.

Sem acabar com o apego às leis o espírito jamais vai amar, pois jamais aceitará que o outro seja do jeito que ele quer ser. Isso porque, como já disse, a lei é um parâmetro para medir e julgar o que os outros fazem.

Vou dizer mais ainda: quando o espírito liberta-se do valor que a personalidade humana dá às leis, automaticamente surge a consciência amorosa ou a consciência que ama. Somente quando esta consciência for alcançada, o espiritualismo (a libertação dos elementos do mundo material como reais) acontecerá.

Quando o espírito se conscientizar de que as leis, sejam elas judiciárias, morais ou pessoais não servem para nada e, por isso, libertar-se da obrigação de seguir seus preceitos, poderá, então, ser realizado o que a lei não conseguiu fazer: unir todos em pé de igualdade.

Falei em leis morais e vocês devem estar achando estranho, pois estas são as mais defendidas em qualquer trabalho religioso. Mas, será que a lei moral foi capaz de extinguir o ato imoral? Se não foi, para que continuar existindo?

Participante: tendo como base outros estudos que fizemos e que afirmam que nada poderia ser diferente do que foi até então, eu acredito que isso que você está falando agora nós devemos começar a treinar daqui para frente. Seria isso?

Porque tudo foi do jeito que foi?

Participante: porque foi escrito assim.

Mas, porque foi escrito assim?

Participante: porque Deus sabia já do nosso comportamento.

Ah, do seu comportamento.

Se tudo foi do jeito que foi é porque o seu comportamento era de uma determinada forma. Por isso, não se pode dizer que tudo teria que ser do jeito que foi. Na verdade, foi do jeito que foi porque vocês, espíritos, tiveram determinado comportamento. Carma.

Ou seja, o mundo está do jeito que está porque vocês, espíritos, são do jeito que são. Agora, façam com que vocês se mudem para que o mundo seja diferente.

Participante: foi isso que eu disse; não poderia até então ter sido diferente.

Não, não poderia.

Eu não estou criticando o passado. O que estou mostrando é a característica do ser humano.

Além disso, estou mostrando ao espírito: é aqui que você está (está apegado ao ego que diz que isso é certo) e precisa vir para cá (viver sem apego a estas ilusões criadas pela personalidade humana).

Segunda coisa que estou dizendo ao espírito: não pegue a lei que a personalidade humana vivencia e jogue no lixo.

Foi isso que eu disse? Eu mandei jogar as leis no lixo? Não. O que falei é que o espírito deve ir lutando contra o ego para aos poucos se libertar dele. O que disse não foi para acabar com as leis, mas para libertar-se da obrigação de segui-las.

Lembre-se do que já disse: não adianta querer renascer sem antes morrer. Esta morte não acontece de súbito: é preciso que o ser vá se libertando aos poucos.

Tal pensamento vale para tudo que já falei aqui, inclusive a questão da necessidade de se alimentar. Não dá para o espírito que está vivendo a sua aventura encarnatória (ligado ao ego) imaginar que pode, de uma hora para outra, não mais sentir a fome que o ego cria. O que o ser precisa fazer é paulatinamente ir se libertando desta sensação para que aos poucos surja nele uma consciência amorosa. Aí sim, ele pode mudar sua ação e não mais dar o valor de real àquilo quer a personalidade humana cria.

Encarnação - Textos

Individualismo

Então, essa é a ferramenta ecumenismo. Ela, em conjunto com o espiritualismo, é um elemento necessário à reforma íntima.

Através do espiritualismo o ser se liberta das formas e das propriedades delas; pelo ecumenismo se liberta da lei ou da obrigação de ter que se agir dentro de um determinado padrão.

Ficou claro isso?

NOTA: Esta pergunta foi dirigida a uma pessoa do sexo feminino que estava presente junto com seu esposo.

Participante: sim.

Então, seu marido pode arrumar outra mulher.

Participante: não, isso não.

Ah, mesmo tendo entendido que não deve apegar-se a certos e errados, para você isso não pode acontecer, não é mesmo? Por quê? Porque você, como todo ser humano é individualista.

O individualismo, assim como o materialismo e o apego à código de leis que determinam o certo, é outra característica da personalidade que o espírito precisa reconhecer e libertar-se da sua ação.

A personalidade humana diz que os ensinamentos valem, são perfeitos e bons, mas só aceita a sua aplicação nos outros. Mesmo acreditando que deve libertar-se das leis humanas o ego, quando a aplicação de tal ensinamento afeta a sua própria existência, não o aceita.

O trabalho da reforma intima começa na modificação da sua própria existência e não da vida da coletividade. O espírito precisa libertar-se de todas as leis que a personalidade humana cria para a vida carnal, mesmo que com isso este ser humano aparentemente perca alguma coisa.

De nada adianta lutar apenas para colocar em prática este ensinamento quando se referir à vida dos outros e manter estes mesmos valores quando eles afetam a existência da personalidade humana que está criando a sua aventura encarnatória. Se isso acontecer, ele nada executou no tocante à evolução espiritual.

Por isso, se não existe mais o certo e o errado para você, porque não deixar seu marido ter outra?

Claro que isso que estou falando é apenas para exemplificar o que estou falando. É óbvio que a compreensão da necessidade de se dar a liberdade ao outro não vai levar você a buscar outro nem a ele a buscar outra.

O que estou querendo dizer é que você, o espírito, precisa estar consciente de que todos têm o direito de ser e fazer o que quiserem. Se não houver esta consciência disso e acontecer de um dia ele fizer algo que você não concorde possa, então, não acreditar na crítica que a personalidade humana vai criar.

Encarnação - Textos

A vida não muda

Na verdade, o fim das leis não traz necessariamente à bagunça. Isso é uma coisa que nós temos que deixar bem claro.

A bagunça acontecerá se tiver que acontecer, tanto importa se espírito reagir de uma ou de outra forma às leis humanas. A ação do espírito junto ao ego não muda os acontecimentos materiais, pois eles são determinados antes da encarnação conforme os gêneros de provações pedidos pelo ser universal.

Sendo assim, posso dizer que a reforma intima não altera a vida, mas sim a forma como o espírito vivencia o que a personalidade humana vive.

Participante: trata-se de uma mudança de atitude?

Não, uma mudança da forma como o espírito participa das vivências da personalidade humana. Uma mudança não de atos, mas do estado que o espírito participa daquela vivência.

Participante: não adianta eliminar as leis e continuar fazendo o que se faz

Adianta sim.

Pode deixar tudo mundo continuar a fazer o que faz, pois se você não vivencia mais o que vivenciava antes, os outros não vão mais fazer o que faziam. Ficou difícil de entender? Vou dar um exemplo para facilitar a compreensão.

O acontecimento carnal diz que a personalidade humana que o espírito está ligado vai andando na rua quando alguém mete a mão no seu bolso, tirando de lá o dinheiro. O que é isso para o ser humano? Um roubo.

Dentro do processo de reforma íntima, o espírito aprende que tal ação na verdade é apenas uma representação de sua provação. Com isso o espírito não mais acredita quando o ego diz que tal acontecimento é um roubo, mas o entenderá como sua provação.

Repare: o ato continua o mesmo (alguém meter a mão no bolso da personalidade humana e tirar o dinheiro), mas o espírito não vivencia mais um roubo e sim uma provação.

Depois o ser passa a compreender que a sua provação é, na verdade o fruto do amor de Deus por ele. Neste momento ele ultrapassa a ideia de tal acontecimento ser uma prova, mas sim a materialização do amor do Pai pelo seu filho.

Ou seja, o mesmo acontecimento foi primeiro compreendido como roubo, depois como provação e, posteriormente, como amor de Deus em ação.

Por isso disse que para quem não vivencia mais o que vivenciava antes, os outros não vão mais fazer o que faziam.

Participante: o espírito deixa de julgar o ladrão?

Mais do que isso: para o espírito que se liberta do que a personalidade humana diz que está acontecendo não há mais ladrão. Não há mais ladrão porque não há mais roubo.

Dentro da escala que colocamos no exemplo, aquele que participa do acontecimento enfiando a mão no bolso tirando o dinheiro inicialmente se transforma num instrumento da provação e depois do amor de Deus, um mensageiro do Senhor.

Compreende o que estou querendo dizer? Os acontecimentos da vida não mudam, mas sim os valores com o qual se participa destes acontecimentos.

Isso é reforma intima.

Encarnação - Textos

Universalismo

Voltemos ao assunto que estava conversando com a moça que está aqui com seu marido: a libertação do certo é aceito quando se trata da vida do outro, mas não quando se trata da vida de cada um.

O que a personalidade humana quer preservar ao não aplicar este ensinamento na sua própria existência?

Participante: preservar o eu?

Isso: preservar o seu eu.

A personalidade humana que aqui está com o seu marido não gostaria que ele arrumasse outra mulher. Para preservar este desejo, que compõe o seu eu é que ela não se liberta do preceito que o marido tem que ser fiel à esposa.

Essa é uma das características da personalidade humana que precisa ser vencida pelo espírito: o eu. Mas, como se vence o eu? Vivendo o nós.

Quando nos conscientizamos disso, chegamos, então, ao terceiro instrumento da reforma intima: o universalismo.

Vivenciar o eu, ou seja, priorizar os desejos individuais é ser individualista. Vivenciar o nós, ou seja, dar ao próximo o direito de ser, estar e fazer o que quiser sem que o eu se sinta ferido é ser universalista. É ser universal.

Falando mais praticamente, vivenciar o universalismo dentro do processo de reforma íntima é vencer a verdade de cada um que protege sempre o eu e vivenciar a verdade do próximo sem críticas ou restrições. Ou seja, entregar-se ao próximo.

Essa é uma coisa dificílima para aqueles que estão apegados a egos. Isso porque o espírito que se apega à personalidade humana acredita que os valores que esta personalidade cria são certos. Ele jamais vai aceitar e participar da verdade do outro como se sua fosse.

Eu vou dar um exemplo disso: um dia eu estava fazendo uma palestra falando sobre servir ao próximo. Disse que servir ao próximo é fazer o que o outro quer por querer fazer o que o outro quer. Isso é servir ao próximo.

Uma pessoa então me disse: ‘vou dar um exemplo para ver se entendi bem. Sou casada e meu marido quer ir ao futebol todo domingo. Para servi-lo devo ir com ele’? Respondi a ela dizendo: ‘se quiser servir ao próximo sim, deve ir com ele. Se ele quiser que você vá, você que quer servi-lo deve acompanhá-lo’.

Ai esta personalidade humana de uma forma bem individualista, que é a característica do ego, me disse: ‘mas, quando vou fazer o que eu quero’? Nesta simples pergunta se encaixa toda a dificuldade da reforma íntima.

Dizer que a reforma íntima passa pelo serviço ao próximo não é nenhuma novidade, pois os mestres ensinaram isso. Por que, então, a personalidade humana que diz que quer se elevar não faz? Porque ela não serve ao próximo, mas apenas faz concessões esperando receber algo em troca? Quando age assim não está vivenciando o nós, nas ainda está presa ao eu.

O serviço ao próximo, ou seja, a vivência do nós precisa ser feito com uma perfeita integração com o próximo que começa pelo abandono do eu. Ou seja, o pensamento que deveria ser realizado por aquele que diz que quer reformar-se é o de ir ao futebol sem esperar nada em troca. Ir como um serviço ao próximo, como uma devoção ao nós e não para que o eu ganhe futuramente algo.

Esse é o verdadeiro universalismo: conviver com o próximo sem estar apegado em si mesmo. Se a personalidade humana que citei aqui conseguisse colocar isso em prática iria ao futebol com o seu marido para servi-lo e com isso estaria eliminando a cobrança dele retribuir esta ação.

Encarnação - Textos

Serviço ao próximo

Participante: universalismo, então, é o fazer sem esperar nada em troca?

Mais do que sem esperar nada em troca: sem querer outra coisa, sem ter outra verdade, sem ter outra realidade, sem ter mais nada e viver cada momento independente um do outro. Isso é universalismo.

Participante: é comum num casal os dois estarem com necessidades diferentes um do outro. Em um momento um pode estar querendo ir para um lugar e outro para outro.

Ele disse que é comum as pessoas terem necessidades diferentes e está certo. Mas, eu pergunto: o que é a sua necessidade? O que é a necessidade que um espírito vivencia durante a sua aventura encarnatória? É aquilo que a personalidade humana cria para ele como provação.

Então, aquilo não é necessário, mas apenas mais um acontecimento do qual o espírito precisa se desprender. Acreditando que aquilo é realmente necessário o espírito não realiza o trabalho que veio fazer, não chega a bom termo na sua grande aventura.

Portanto, é comum cada personalidade humana querer algo diferente do seu parceiro, mas isso só acontece para que o espírito possa ter a oportunidade de fazer a sua reforma íntima.

Participante: mas, se eu estiver aceitando o que o outro quer estarei me subordinando a o ego do outro?

Não estou dizendo para você se prender a outro ego; estou falando em servi-lo sem se escravizar ao que o ego do próximo quer. Aceitar o que ele me diz como realidade atual, mas sem se prender aquilo. Ou seja, se ele quer que eu vá, eu vou; amanhã ele não quer que eu vá, então, eu não vou.

Se o espírito se prende ao que o ego do outro quer em um determinado momento como algo certo criará uma lei: ele quer que eu vá, então, tenho sempre que ir com ele. Não é isso que estou falando.

Amanhã pode ser que ele não queira que você vá. Se aceitou o tem que ir sempre como uma regra, ou seja, se prendeu ao servir como ter que ir com ele sempre, cobrará porque não está lhe chamando desta vez.

Servir ao próximo é vivenciar o que ele quer a cada momento sem apego à condições. Ir com ele quando ele quer que você vá; não ir quando ele não quiser que vá. Isso sem fazer a menor diferença entre ir ou ficar.

A necessidade daquele que vivencia o universalismo é fazer o que o outro quer e não estabelecer parâmetros do que é servir. Se durante o serviço a ação carnal mostrar a sua personalidade humana indo ou não, isso não tem problema.

Universalismo não se traduz numa ação específica (fazer a ação que corresponde a vontade do outro), mas sim em algo interno: a disposição de servir o próximo. Posteriormente vamos falar sobre este assunto, mas por hora saiba que se o universalismo independe da personalidade humana participar ou não da ação do outro.

Saiba que se a personalidade humana participar da ação que o outro deseja com uma razão que mostre contrariedade ou obrigatoriedade (‘tenho que ir novamente, que saco’, ‘tenho que ir porque eu quero realizar a elevação espiritual’) a ação de ir não pode ser considerada universalista. O que denota uma ação universalista é aquela onde a razão humana não se considera contrariada ou obrigada a fazer o que o próximo quer, seja participando da ação que ele deseja praticar ou não.

Esse é o instrumento universalista da reforma intima. Ele está presente quando o espírito se liberta do eu – dos desejos e vontade individuais da personalidade humana – e se entrega perfeitamente à vontade e desejo do próximo pela simples vontade e desejo de servir ao próximo.

Quando para o espírito não importa as vontades criadas pela personalidade humana, mas sim o desejo de servir ao próximo, neste momento ele está utilizando-se do universalismo e está realizando a sua reforma íntima.

Encarnação - Textos

Usando os instrumentos da reforma íntima

Então, como vimos até aqui, universalismo é a integração com o próximo, ou seja, a não contraposição ao que o outro acha ou quer. Isso vivenciado pelo espírito mesmo quando a personalidade humana possui razões contrárias ao universalismo, ou seja, individualistas. Essa é a vivência de uma encarnação que pode levar o ser a aproximar-se de Deus.

Levar a encarnação a bom termo, ou seja, aproximar-se de Deus é:

ser espiritualista, ou seja, não se prender às formas e realidade materiais construídas pelo ego.

ser ecumênico, ou seja, não se prender às leis desse mundo criadas pela personalidade humana.

e entregar-se aos acontecimentos do mundo com perfeição, ou seja, sem deixar os desejos e paixões do eu provador alterarem o seu padrão vibracional...

Quando isso acontece, o espírito aproximou-se de Deus. Por quê? Porque com isso ele destrói toda a realidade que o ego cria.

Ao destruir as formas, os códigos de lei que criam o certo e o errado e as paixões e desejos que a personalidade humana cria, o espírito poderá viver num estado de paz, já que não vai ter mais armas para guerrear, de harmonia, porque não vai ter mais nada para que lhe contrariar e de felicidade, pois não terá mais nada que lhe faça aceitar a sensação de estar chateado.

Quando os três instrumentos que falamos hoje forem utilizados pelo espírito tudo que acontecer estará perfeito, mesmo que a personalidade humana diga ao contrário. Eu disse perfeito, ou seja, mais do que certo. Saiba que enquanto houver o certo para o ser, este não escapará da sensação de prazer que a personalidade humana criará.

Olhe que vida maravilhosa é essa que estou descrevendo. O espírito observa a criação da parte técnica do ego que cria a imagem de um estupro e não sofre com isso.

Sim, o estupro para o ser liberto da materialidade, dos padrões de certo e universalizado não é mal. Ele é mal para quem? Para a carne? Mas, carne não existe: é criação racional da personalidade humana através da sua parte técnica.

‘Mas, o espírito está sentido dor’, diriam os que ainda querem separar certos e errados. A estes eu repondo: a dor não é do espírito, mas sim uma sensação criada pelo ego.

Se o espírito está sentindo esta dor é porque não realizou a contento a sua reforma íntima, ou seja, ainda está apegado ao ego. Se este ser universal entender que está encarnado, ou seja, que está vivendo uma grande aventura probatória ao invés de uma vida carnal não mais vivenciará esta dor.

Lembrem-se do que eu disse: enquanto houver qualquer coisa que seja certa ou errada para o espírito, mesmo que este padrão seja coletivamente aceito, ele não tem harmonia com o mundo. Ele ainda acreditará quando a personalidade humana disser que são erradas e que não podem acontecer.

O ser que não se harmoniza com o mundo através da libertação dos padrões de certo e errado não tem felicidade incondicional, pois vai viver a sensação de sofrimento que a personalidade humana criará quando o errado estiver acontecendo. Também não terá paz, pois os conceitos da razão humana servirão como instrumentos para que este ser crie a guerra (ir contra) os que não seguem os padrões que ele acredita.

Guerra: não foi isso que as personalidades fizeram contra aqueles que promoveram a guerra no Iraque? Eles fizeram guerra para ter paz, para pedir a paz. Ou seja, guerra para parar a guerra.

Sim, guerrear não é apenas portar uma arma e dispará-la contra os outros. Criticar o governo que faz guerra é abrir guerra contra este governo.

Será que isso é certo? Como é que alguém pode dizer que quer paz se não dá o exemplo? Realmente a lógica humana muitas vezes pode até ser considerada engraçada.

Deixe-me fazer um comentário.

Vocês acompanharam pela televisão a preparação para a guerra do Iraque. Viram também os povos irem para as igrejas, templos ou centros rezarem para não ter guerra. Apesar deste esforço de milhares de seres humanos aconteceu a guerra? Vocês viram que sim.

A partir disso eu deveria dizer: que Deus vagabundo, hein. Que Pai é este que não atende um apelo justo e certo de seus filhos? Repare: Deus deve ser muito fraco, pois o mundo inteiro rezou pedindo a Sua interseção para que não acontecesse guerra e Ele não pode fazer nada.

Sim, esta é a conclusão lógica a que se chega se ficarmos presos à questão do certo e errado e do mundo acontecendo sem um Regente. Agora, vamos ver o mesmo acontecimento a partir da visão que estamos criando aqui, ou seja, que a vida encarnada é apenas a grande aventura encarnatória do espírito.

Onde está o ato de guerrear na encarnação? Na parte técnica do ego. Ou seja, tudo o que você viu a respeito de guerrear não existiu fora da razão humana, mas foi sim uma criação interna do ego.

Além do mais, será que aquelas percepções são uma guerra? Ou seja, será que a bomba que você viu cair é um guerrear? Não, guerra foi um valor que a personalidade humana criou para aquela percepção que ela também criou.

Sim, você, personalidade humana, viu uma bomba caindo, mas isso não quer dizer que aquilo representa uma guerra. Na verdade a consciência de que aquilo é uma guerra é formada por uma verdade que está no ego e não pela realidade.

A partir de tudo o que vimos até aqui, na realidade o que é que está acontecendo? Uma encenação gerada pela percepção humana, quer seja na forma, na compreensão e nas sensações que tem por finalidade construir a provação que acontece para o espírito durante a sua grande aventura encarnatória.

Sendo assim, a existência de uma guerra é realidade sua, personalidade humana, e não de Deus. Para Ele o que está acontecendo é apenas a provação do espírito que é necessária para que este se aproxime Dele.

Veja bem o que falei: para Deus o que está acontecendo é apenas a provação do espírito. Eu não posso nem dizer que para Deus a guerra representa a provação do espírito, pois para o Senhor a guerra não existe. Aquilo que a personalidade humana chama de guerra. Deus chama de provas.

Pronto: agora existe um Senhor Onipotente, Onipresente e Onisciente. Um Senhor que sabia tudo que estava acontecendo na realidade e estava presente fazendo acontecer o que era preciso acontecer acima da vontade e desejo de qualquer um.

Este é o Deus descrito pelos mestres e não aquele que as personalidades humanas acreditam existir e rogaram para que não houvesse a guerra.

Encarnação - Textos

Despedida

Como disse, Deus sabia o que estava acontecendo na realidade. Mas você, quer seja espírito ou personalidade humana, sabia? Se não sabia, será que poderia saber? Será sobre isso que conversaremos na próxima palestra.

Hoje falamos dos instrumentos necessários para destruição por parte do espírito da realidade criada pela personalidade humana. Na próxima conversa iremos falar sobre a realidade real do Universo.

Encarnação - Textos

O assunto de hoje

Estamos estudando a encarnação, a grande aventura do espírito. Já falamos diversas coisas sobre ela e na última conversa abordamos a questão dos três instrumentos que são usados para a promoção da reforma íntima, ou seja, dos três instrumentos para a caminhada pela elevação espiritual. Estes instrumentos são o ecumenismo, o espiritualismo e o universalismo.

Ainda na última conversa disse o seguinte: esses instrumentos precisam ser utilizados pelo espírito para libertar-se da ação do ego.

Hoje, como prometido, vamos falar sobre a realidade que serve de prova para que o ser utilize os três instrumentos. Falaremos como o ego cria realidades para o espírito, como a personalidade humana é programada para criar determinadas realidades para espíritos específicos.

Hoje, portanto, vamos falar sobre aquilo que você, personalidade humana, acredita que é real. Vamos falar da ação do ego que cria uma realidade de vida. Vamos falar como isso é construído e como é vivido.

Encarnação - Textos

A ilusão do existir

Como já conversamos, o ego é composto por duas partes: uma que chamamos de técnica, que é aquela que cria a forma das coisas, e outra que chamamos sentimental ou de sensações, que é a que confere as emoções, sentimentos ou sensações que o ser humano vivencia. São estes dois sistemas que criam a realidade vivenciada durante a aventura do espírito.

Vamos conhecer como elas funcionam. Comecemos pela parte técnica do ego.

A parte técnica tem duas divisões, ou seja, as formas com as quais a personalidade humana convive diariamente são divididas em dois grandes grupos. O primeiro grupo vou chamar de formas planetárias.

O que são formas planetárias? A forma que faz parte de um modo global no planeta. Elas são percebidas de forma idêntica por todos os egos.

As formas planetárias, então, são as coisas do planeta. Um exemplo? Parede.

Parede é parede no planeta inteiro, ou seja, todas as personalidades humanas conhecem este elemento do planeta.

Além destas formas, o ego cria outras que chamaremos de formas individuais.

Formas individuais são formas, ou seja, coisas do planeta, que são percebidas especificamente por uma personalidade humana ou por um grupo de seres humanos, mas não são percebidas de forma genérica por todos. Elas são desenhadas individualmente por cada ego. Vou dar um exemplo para ficar mais fácil entender isso.

Como disse parede é uma forma planetária, pois ela é igual em tudo quanto é lugar do universo. Agora, o corpo da parede é sempre individualizado, ou seja, cada ego desenha um corpo para o elemento parede.

Sei que este exemplo não deixa vocês entenderem bem o que quero dizer, por isso vou dar outro. Olhos e mãos são formas planetárias, pois todos reconhecem este desenho. Mas, o seus olhos e as suas mãos trata-se de uma individualização da forma planetária.

O desenho dos seus olhos e das suas mãos são individuais, ou seja, pertencem só a você. Foi você, o ego humanizado que, a partir da forma planetária olho e mão, criou a forma dos seus olhos e das suas mãos.

Não sei se deu para ficar bem claro. Os egos criam formas genéricas que são aparentemente semelhantes para todos os habitantes do planeta, mas criam, também, a forma individual de cada coisa. Esta é desenhada pelo ego particularizando a forma planetária.

Além destas duas formas, que são fixas, estáticas, existe ainda uma outra parte do ego que vou chamar de formas de ação.

Forma de ação é a percepção da ação que a personalidade humana tem durante a vida carnal.

Essas três criações do ego geram, então, a realidade que o ser humanizado convive diuturnamente.

Vou dar um exemplo juntando as três formas que comentamos para facilitar a compreensão do assunto. Digamos que um ser humano imagine que ele está em um carro que está andando.

O carro, não importando a marca ou o desenho, é uma forma planetária, pois é reconhecido por todas as personalidades humanas. O seu corpo (o você que está andando de carro) é uma forma individual, pois trata-se de uma particularização da forma planetário corpo humano. Já a percepção do carro estar se locomovendo é criação da terceira parte do ego que falei: a forma de ação.

Após criar estas três formas, como um desenhista desenha os personagens de um desenho animado, o ego as utiliza para gerar uma realidade: um ser humano que está andando de carro.

Deu para ficar mais ou menos claro? Nesta realidade, que é comum na vida das personalidades humanas, existe uma forma universal, que é o carro – é universal porque carro é carro em qualquer parte do planeta – o seu corpo, que foi desenhado de modo particular a partir de uma forma universal e a ideia da locomoção em velocidade.

Ficou claro isso? Eu sei que parece complicado, porque estamos pegando um instante da vida de um ser humano e decompondo-o em diversas ações. Mas, isso é necessário para se compreender a aventura do espírito. É preciso se decompor cada instante da existência humana em diversas etapas para que possamos começar a lutar contra a realidade que se vivencia.

A personalidade humana acredita que está andando de carro, mas o espírito não pode crer nisso, pois ele não anda de carro. Isto porque carro não existe: trata-se apenas de uma forma gerada a partir do fluido cósmico universal. Além do mais, o corpo, que a personalidade humana diz ser ele, também não existe, pois a matéria carnal nada mais do que uma forma que o ego cria a partir do fluido cósmico universal.

Se não existe carro nem corpo, como pode então existir locomoção? Para que alguma coisa se movimente é preciso que ela pelo menos seja real. Se o corpo não existe, pelo menos como você o percebe, ele não pode movimentar-se.

Portanto, fica, no início desta conversa, a informação de que a parte técnica do ego possui três divisões: as formas planetárias, as individuais e as de ação. Será sobre este tema que iremos conversar hoje.

Encarnação - Textos

As formas universais

Vamos começar, então, a conhecer a ilusão da ação que vocês vivem diariamente. Iniciemos esta compreensão pela parte técnica do ego que chamamos de formas planetárias.

Este programa – vamos chamar assim os geradores das formas do ego – que codifica o fluido cósmico universal nas formas globais do planeta é imposto ao espírito. Ou seja, o espírito não tem como escolher as formas que serão criadas pelo programa da parte técnica do ego. Assim sendo, jamais o ego, por escolha do espírito, poderá ver parede onde outros veem mesa.

Portanto, deve ficar bem claro que ninguém jamais vai, por mais elevado que seja, por mais liberto do ego que seja, alterar a visão sobre as coisas do planeta, o sabor das coisas ou qualquer outro fruto das percepções humanas.

Não é porque o espírito tenha se elevado que a tangerina vai ser mais doce. Esse sabor é universal: ele não é particular. Não é porque o espírito tenha se elevado que a laranja vai mudar de cor. Ela é universal e todos vão percebê-la da mesma forma.

Estou falando isso precisa porque tem muita gente achando que quando se elevar espiritualmente as coisas do mundo vão mudar para ele. Não, elas não podem se alterar no tocante à forma, pois o espírito nessa etapa não tem condições de influenciar nas formas planetárias ou na codificação de formas criadas, através do ego, pelos espíritos que governam o planeta.

Eis, então, o primeiro detalhe sobre a realidade vivenciada por um ser humano: as formas que pertencem ao programa planetário do ego são universais para os seres de um planeta, ou seja, em qualquer lugar deste planeta causarão a mesma percepção. Isto porque elas são criadas, através do ego, pelos mentores ou administradores do planeta de acordo com o grau de elevação dos espíritos que agora encarnam no planeta Terra.

Encarnação - Textos

As formas individuais

Segundo programa gerador de formas do ego: as formas individuais.

As particularidades que são geradas pelo ego têm a sua codificação definida por Deus. Mas, se Deus dá a cada um segundo as suas obras, podemos dizer que elas são criadas dentro das necessidades de provação do espírito. Ou seja, as formas particulares geradas pela personalidade humana à qual o espírito se junta para a sua grande aventura são criadas atendendo-se às necessidades daquele ser.

Isso quer dizer que o corpo de uma personalidade humana, por exemplo, é codificado anteriormente nos mínimos detalhes, atendendo às necessidades de provação de um espírito. Por isso afirmo que quaisquer detalhes que envolvam uma forma individual foram desenhados atendendo aos gêneros de provas que o espírito pede antes da encarnação.

Portanto, o corpo de um ser humano é gerado pelo ego com características que atendem à provação do espírito. Mas, há mais um detalhe que precisamos aprender: a programação do corpo que estamos falando não se prende apenas ao original (aquele do nascimento), mas sim a toda a sua evolução, desde o nascituro até a velhice. Todas as mudanças que o corpo experimenta, sejam naturais ou criadas por algum acontecimento específico, são programadas antes da encarnação e geradas na hora certa pelo ego.

Portanto, os gêneros de provação escolhidos pelo espírito a cada etapa de sua grande aventura (vida humana) é que vão dizer como será o seu corpo no nascimento e todas as alterações que ele terá até a velhice.

Estas alterações dizem respeito à aparência (estética), bem como com relação à manutenção das partes do corpo. Pernas, braços, órgãos internos: tudo que a personalidade humana tirar ou perder foi programado por Deus de acordo com o gênero de provas escolhido pelo próprio espírito.

Outro detalhe: da mesma forma que no caso das coisas planetárias a elevação espiritual ocorrida durante a encarnação não influencia as formas do corpo ou de qualquer outra forma individual.

Portanto, o corpo – e todas as formas particulares da personalidade humana – é criado por Deus com a intenção de ser um instrumento útil para o espírito na hora da sua provação. Essa programação não pode ser alterada durante a vigência da encarnação.

Por quê? Porque o espírito, quando de posse de sua consciência espiritual possui um objetivo. Esse se altera quando o ser se liga ao ego. Movido por esse novo objetivo, se o ser promover mudanças em sua forma física que não estivesse prevista antes da encarnação, isso poderia afetar a grande aventura do espírito.

Por isso posso afirmar que o espírito não pode mudar as formas individuais da sua personalidade humana. Por quê? Porque antes de ligar-se a esta personalidade ele pediu para vivenciar determinas provações e Deus achou que aquela forma era o instrumento perfeito para tanto, era o instrumento útil para aquela aventura.

Saibam de uma coisa: se houver alguma mudança no corpo físico que aparentemente não tenha sido prevista, como, por exemplo, uma plástica ou enxertos, a ideia de que isso não foi previsto é ilusória. Mesmo que pareça que a mudança foi fruto de uma decisão depois de encarnado, na verdade essa foi tomada antes da encarnação.

Portanto, já vimos duas das três partes que compõem a realidade que a personalidade humana. As formas planetárias ou comuns, que são criadas pelos mentores do planeta e não podem ser alteradas, e as formas individuais que são pré-programadas por Deus de acordo com a necessidade de cada espírito durante a sua provação encarnatória. Vamos ver a terceira, mas antes tem um detalhe que preciso falar.

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Alterações do mundo

Preciso falar um detalhe importante para que não pairem dúvidas.

Disse que as coisas planetárias não podem ser alteradas, mas alguém pode me dizer: ‘o homem derruba uma montanha e com isso altera toda uma paisagem. Isso não alterou uma forma planetária’?

Não, a forma planetária é a forma de um morro e não um morro específico.

Aliás, se fossemos mais fundo na questão, nada aconteceu. Não houve morro algum que tenha sido alterado. Na verdade, a ideia da alteração foi gerada por um ego.

Para que tal fato acontecesse na realidade real, o monte precisaria antes existir. Mas, ele não existe: é apenas fluído cósmico universal. Como pode algo que não existe deixar de existir?

Portanto, o ato que estamos usando como exemplo, desmontar uma montanha alterando uma paisagem, não é uma alteração, mas uma presunção de ação.

Qual a diferença? Vivência se consiste na ideia que a personalidade humana cria de achar que a montanha será perpetuamente montanha. Quando isso acontece, ela acha que viverá eternamente com aquela realidade. Mas, isso não é real: a montanha permanecerá ali apenas enquanto isso for útil à grande aventura do espírito

Quando ela deixar de existir naquele lugar não houve alteração no programa, ou seja, o ser humano não mudou nada o que estava previsto. O que aconteceu foi uma sequência natural da programação.

Isso é uma coisa que precisa ficar bem clara. Não existe rio poluído, ou seja, nenhum rio alterou o seu estado de limpo para poluído: a poluição do rio já estava prevista e aconteceria inevitavelmente. Se já estava prevista, faz parte da programação da encarnações e, portanto, não houve alteração de programação, mas sim continuação da mesma programação. Na verdade há uma programação que dizia que até um dia aquele rio seria limpo e que a partir de determinada época ele se poluiria. Quando isso aconteceu não foi, portanto, a programação que se alterou, mas trata-se de etapas com formas diferenciadas da mesma programação.

Aliás, não sei porque estão surpresos com o que estou falando agora. A programação de alterações nas partes genéricas e particulares do mundo humano faz parte do ensinamento budista que fala da impermanência das coisas. A impermanência de todas as coisas está projetada e programada na parte técnica do ego.

O ciclo das coisas terrestres são programados e as mudanças que possam ocorrer nelas não se consiste em alterações daquilo que foi projetado para acontecer. Quis fazer essa ressalva para que isso ficasse muito claro.

Agora, este mesmo pensamento serve para as formas particulares. Se uma personalidade humana perde, por exemplo, uma perna, ou seja, o desenho do seu corpo passa a não contar mais como uma perna, isso não quer dizer que algo aconteceu errado durante a vivência da encarnação, mas que a alteração já tinha sido projetada por Deus antes da encarnação. Isso porque essa alteração é um instrumento de provação para o espírito.

Sendo assim, não posso dizer que aqueles que destruíram uma montanha, poluíram um rio ou causaram a perda de um membro do corpo humano são culpados de alguma coisa. Eles são apenas instrumentos para a criação da ilusão que os espíritos aventureiros precisam para suas provações.

Participante: dentro do tema que estamos conversando hoje, podemos dizer que o planeta terra está evoluindo?

Sim, o planeta Terra está evoluindo e irá evoluir mais. O novo mundo irá surgir e com ele muitas das formas planetárias e individuais serão alteradas. Só não posso dizer que a evolução seja o que você espera.

Por exemplo, você espera que a evolução traga rios mais limpos, menos emissões de gases que causam alteração no tempo. Isso não é real. A evolução, se este for o desígnio de Deus para as provações dos espíritos, pode ser marcada pela poluição de mais rios ou pelo aumento da emissão de gases.

Eu trato a questão de evolução como mudanças que levem às provações necessárias para os espíritos; você trata a mesma questão como algo bom para a os anseios humanos. Por isso lhe digo que o planeta está evoluindo, mas pode ser que você não veja do mesmo jeito.

Participante: dentro das programações que o senhor citou, podemos dizer que a segunda guerra mundial estava programada e ela aconteceu para a evolução do planeta?

A segunda, primeira e todas as sem números também. Não só a guerra de exércitos, mas a guerra urbana (os assaltos, os sequestros). Tudo é programado para a evolução do planeta.

É sobre isso que vamos falar agora.

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A percepção de agir

Até agora falamos em desenhos de formas e não em ação. Falamos em desenhos de formas planetárias e de formas individuais. Agora vamos falar de ação, que é o terceiro elemento gerado pela parte técnica do ego: as percepções de ações.

No exemplo que dei anteriormente (uma pessoa andando de carro) existiam três etapas de criação do ego. Existia o desenho de um carro, que é uma forma planetária, o desenho do corpo humano, que é a forma planetária individualizada e a parte da ação: o movimento, a percepção de andar. Esta percepção é outra ilusão que o ego cria.

O racional da personalidade humana cria a ilusão que um fluido cósmico universal parece um carro; cria a ilusão que o mesmo fluido cósmico universal parece um corpo; e cria, ainda, a ilusão da ação, a ilusão do movimento que não existe.

Aplicando este mesmo princípio à pergunta sobre guerra que me foi feita agora a pouco, posso dizer que o ego cria as partes planetárias (armas, balas, metralhadoras, tanques). Cria, ainda a figura de corpos feridos e machucados.

Além disso, o ego também cria a ilusão de ser ferido. Sendo assim, não existe nem a guerra e nem os corpos feridos ou mortos, pois tudo é apenas fluido cósmico universal que serve como base para a personalidade humana desenhar formas e ações.

Sendo assim, que ação foi praticada? Quem atirou, quem morreu? É sobre isso que vamos falar agora.

Veja uma coisa: se a realidade da personalidade humana fosse criada apenas por formas estáticas, não haveria a provação do espírito. Para que a prova aconteça, ou seja, para que um sentimento seja colocado pelo ego ao espírito, é preciso haver animação que justifique a vivência daquela emoção.

Além do mais, como diz o Espírito da Verdade, um corpo – que para nós não é o corpo físico, mas o mental, a personalidade – pode existir sem um espírito, mas ele jamais será animado. No entanto, a movimentação dos corpos não pode ser atribuída ao espírito, pois ele não se movimenta dentro do sentido movimentar-se que vocês conhecem. Ela também não pode ser atribuída à carne, porque esta nem existe como tal.

Por isso, essa movimentação das formas só pode ser gerada pelo ego. A animação dos acontecimentos da vida não são geradas pelas formas nem pelo espírito, mas pela parte racional (ego) da personalidade humana.

O espírito não se movimenta no sentido de mexer membros ou de locomover-se. O ser liberto da ação do ego está integrado ao Universo, mas isso não quer dizer que ele se locomova pelo Universo, mas sim que ele é o Universo.

Para o espírito fora da aventura encarnatória não há locomoção e nem ações como conhecidas pelos humano. O espírito não age como vocês compreendem a ação.

Já disse em outras oportunidades: a única ação do espírito é o pulsar. Espírito não anda, não senta, não voa: a única atividade de um ser é um pulsar sentimental. Ele recebe e emana sentimento, amor.

A atividade do espírito é como a do coração de vocês que pulsa sangue. A diferença é que para realizar a pulsação, ele não se contrai ou expande como o coração de vocês.

Por tudo isso é que volto a afirmar: a percepção de ação é sugerida como realidade pela personalidade humana ao espírito.

Agora repare no que falei: a percepção de ação. Não estou falando em ações concretas, mas em perceber que está acontecendo alguma, pois a ação como elemento concreto é ilusão.

Para que a ação fosse concreta era preciso que antes os elementos que dela participam fossem reais. No entanto, como vimos, eles são meras criações do ego também. Sendo assim, como pode algo que não existe realizar ações? Por isso afirmo que o espírito recebe uma percepção de ação gerada pelo ego e não a visão de um fato concreto.

Mais um detalhe sobre a percepção de ação: elas fazem parte da provação do espírito. Sendo assim, têm que ser individualizadas, ou seja, tem que ser geradas por Deus através do ego individualmente e de acordo com o gênero de provações pedido pelo ser antes da encarnação.

Vou dar um exemplo para facilitar a compreensão do assunto. Fiquemos com o mesmo exemplo que dei (uma pessoa andando de carro): a velocidade que é percebida por cada personalidade humana.

A velocidade de um carro não é medida por um velocímetro, mas pela percepção da ação. Isso acontece porque espíritos possuem provas diferenciadas.

Por exemplo: se um espírito vem combater o medo, a personalidade humana criará uma percepção diferenciada da velocidade daquele que não vem combater medo. Ou seja, cada espírito ligado a um determinado ego terá uma percepção de velocidade diferenciada, mesmo que os dois estejam no mesmo carro.

É por isso que alguns dizem que o carro está correndo muito e eles dizem que não. Isto acontece assim porque a percepção da ação é diferenciada de acordo com cada ego.

Ela não é universal: é codificada antes da encarnação de acordo com a provação de cada um. Deus padroniza a percepção da ação para cada espírito de acordo com a sua necessidade de provação, ou seja, com aquilo que ele terá que vivenciar como provação.

Outro exemplo? Há personalidades humanas que não passam perto de um cachorro, pois simplesmente ao avistá-los já percebe a ação do cachorro querendo atacá-lo. Apesar disso, existem outras personalidade humanas que não tem nenhum medo de cachorro, por mais que aparente ser brabo e, por isso, não têm a percepção do ataque eminente.

Eu não estou falando ainda de medo; medo é sensação. Estou falando de percepção.

Pergunte a quem tem medo de cachorro se ele quando vê o animal não percebe que está pronto para atacar? Na verdade, o cachorro nem está aí para aquela pessoa, mas o seu mental (ego) criou aquela percepção como real.

Só que o ego não criou isso à toa. Criou porque o espírito pediu para realizar determinada provação. Por isso Deus colocou no ego essa programação. Ela vai gerar uma sensação – e aí falamos no medo – da qual o espírito precisa se libertar.

Deu para compreender?

Estas são, portanto, as três coisas criadas pela parte técnica do ego e que formam a realidade da existência humana: uma forma planetária, uma forma individualizada e a relação destas formas através de percepções de ações.

Encarnação - Textos

A percepção de ação pode ser alterada

Participante: essa terceira parte, a perceptiva, pode ser alterada no decorrer da vida?

Boa pergunta, eu ia falar disso.

Sim, ela será ela poderá ser alterada. Como? Vamos ver isso.

Como disse, ela vai gerar uma sensação que tem por fim criar uma provação. Acontece que quando o espírito não mais se prender a estas sensações geradas pelo ego, não mais precisará desta provação. Sendo assim, estas sensações poderão não mais existir para aquele ser e, com isso, as percepções têm seu sentido alterado.

Não estou falando que o ego não mais criará a percepção, mas o espírito, por estar liberto da ação do ego, não mais perceberá a criação do ego como uma possibilidade de um ataque iminente.

Em face disso, chegamos a uma conclusão: a percepção da ação é a única coisa criada pela parte técnica que pode ser alterada depois da encarnação.

Aquele que está ligado a uma personalidade humana que tem medo da velocidade, por exemplo, tem a sensação do medo justificado pela percepção de alta velocidade. Quando este espírito supera o medo, ou seja, não mais vibra nesta frequência, a percepção de velocidade pode ser alterada. Ou seja, a personalidade humana não vai mais achar que o carro está correndo muito.

A normalidade daquela velocidade que antes era considerada alta é uma resposta ao trabalho do espírito para libertar-se das sensações criadas pelo ego.

Encarnação - Textos

Você e o ego

Participante: acho que está ficando um pouco confuso. Você disse que sensação é sentimento, mas para nós a sensação é a do paladar, do olfato, do tato.

Isso não sensação, mas sim percepção.

Participante: você muda a maneira que nós entendemos as palavras, acaba ficando difícil para a gente.

Desculpa, mas se alguém mudou não foi eu: foi Buda. Para este mestre, no conjunto dos Cinco Agregados existem tanto as percepções como as sensações. Sendo assim, podemos afirmar que percepção é aquilo que é percebido pelos órgãos de sentidos do corpo e sensações são emoções, sentimentos que o ego lhe manda.

O problema é que a língua de vocês, apesar de ser uma das mais ricas, tem poucas palavras. São muitas as coisas que estamos falando aqui para as quais não existem palavras específicas entre os vocábulos da língua de vocês e em nenhuma outra do planeta. Isto porque são coisas até agora desconhecidas.

Veja bem: o que fizemos foi colocar a realidade de vocês numa mesa de operação e a dissecamos. Apesar da conclusão estar logicamente correta, vocês não conseguem imaginar corretamente a realidade que dissemos, pois estas coisas fazem parte da criação do ego através da parte material que vocês não percebem.

Ego é você, ser humano. Ego é a psique humana, aquilo que a psicologia estuda. O mundo mental que você não vê acontecer.

Estas partes materiais criadas pelo ego, aliadas às sensações, também geradas pela personalidade humana, é que vão criar a realidade: aquilo que você vive como real. A sua realidade, portanto, sempre é formada por uma parte planetária, uma individual, uma percepção de ação e uma sensação, ou seja, uma emoção que se justifica quando imaginamos que a realidade é real.

Ao afirmarmos isso, estamos dissecando a tal da psique que os psicólogos estudam e que, para nós, se chama ego, é seu ‘eu material’, o ser humano. Mas, apesar desta personalidade humana parecer real, ela nada mais é do que uma personalidade transitória que está servindo de provação a um espírito que está vivendo a sua grande aventura.

Sei que a compreensão de que você não é a personalidade humana que veste é difícil. Mesmo os que acreditam em espíritos não conseguem se imaginar como um ser universal, mas acreditam-se como um homem. Por isso dizem assim: o meu espírito.

Não existe o seu espírito: você é o espírito. Não você o ser humano, não as ideias e conceitos que tem hoje, mas você é um ser universal que não tem consciência de ser o que é, pois o ego lhe diz que você é o eu material, o ser humano. Mas, essa personalidade humana não é você: você está vivendo anexado a ela, preso a esse ego sem ter consciência de você mesmo para poder viver a sua grande aventura, a encarnação.

É por isso que fica complicado se falar dessas coisas.

Encarnação - Textos

Personalidade

Continuemos nosso estudo.

Existem, como vimos, a parte técnica do ego que se subdivide em três. Além desta parte técnica, existe a emocional ou de sensações. Vamos falar um pouco dela.

 Chamaremos esta propriedade do ego de personalidade.

Personalidade, então, para nós, é a parte do ego que cria as sensações ou emoções que em conjunto com a criação da parte técnica (percepção) vai formar uma realidade.

Para começar a falar dela digo: a personalidade é criada pelo espírito antes da encarnação. Ela é um dos instrumentos da provação do ser universal, ou seja, participa da construção de realidades das quais ele precisa se libertar.

Vou dar um exemplo: uma personalidade humana vivenciada por um espírito tem como característica a ansiedade. Ou seja, um ser universal recebe do ego a sensação de ansiedade diante de determinadas percepções.

Isso quer dizer que o espírito que está vivendo sua aventura encarnatória através daquela personalidade humana está realizando uma provação para provar a si mesmo que é capaz de se libertar dessa sensação. Recebe a tentação de usar a ansiedade para ver se consegue superá-la.

Como já dissemos, o ego é o tentador. Sempre que sugere uma realidade como prova tem como objetivo gerar uma oportunidade para o ser universal provar que já se libertou de algo. Por isso ele cria os mayas, as ilusões. Ser ansioso, ou seja, viver uma personalidade que denote ansiedade, é, portanto, uma oportunidade de realizar esta provação.

Mas, esta verdade não vale apenas para as sensações consideradas negativas pelos valores humanos. Ela é universal, ou seja, abrange tudo que a personalidade humana cria. Se uma personalidade humana é, por exemplo, amorosa, isso não é bom ou certo: trata-se de algo que o espírito precisa provar que já superou.

Sei que vocês estão estranhando o que acabei de dizer. Afinal, imaginam que o resultado de uma elevação espiritual deveria ser tornar-se amoroso, não? Mas, acontece que o amoroso humano nada tem a ver com a amorosidade universal. Isso porque vocês, personalidades humanas, não sabem o que é o amor na sua concepção universal.

Por isso, vamos trocar o exemplo. Digamos que a personalidade humana que está servindo de aventura para um espírito seja dedicada aos outros de acordo com os padrões de bondade do mundo material. Isso não é certo nem bom: isso é uma personalidade emanada pelo ego da qual o espírito precisa se libertar.

Reparem que eu disse libertar-se. Na verdade não é deixar de ser, mas se libertar disso. O que o espírito precisa fazer é não acreditar que é obrigado a ser da forma padronizada pelo ego como boa para se elevar.

Isso é desse jeito porque os conceitos de bom e certo são criações do ego, ou seja, são instrumentos da provação do espírito. Não existem padrões de bom e certo: quem está dizendo que o espírito tem que prestar socorro a alguém é o ego. Ele não faz isso porque é certo, mas sim para que o espírito lute para se libertar da obrigatoriedade de ter que agir dentro desses padrões.

Ele também não propõe esta ou aquela sensação para que o espírito a modifique. Como já disse, a vitória sobre o ego não se consiste em alterá-lo, ou seja, deixar de ser ansioso para ser calmo, mas quando o ser não for nem ansioso nem calmo: ser simplesmente ele, o espírito.

Para isso o espírito precisa não participar das sensações que a personalidade humana cria vivendo apenas o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor universal ao próximo.

Encarnação - Textos

A realidade do espírito

Vimos, então, dois elementos do ego: o criador das percepções, que se divide em três partes, e o criador das emoções que a razão humana vivencia. Agora podemos entender bem cada momento da existência de um ser humano. Para falar mais deles, vamos continuar no nosso exemplo: um ser humano andando de carro.

O que é um ser humano andando de carro? É um espírito que na sua realidade está integrado ao universo, mas que vivencia esta realidade ilusória porque está ligado a uma mente humana que cria as percepções e sensações deste momento. Esta ilusão para o espírito é real porque este ser acredita que a personalidade humana é ele.

O que a mente humana diz que está acontecendo, na verdade, não está. Ela cria todos estes elementos e eles chegam à mente do espírito por causa do elo que os liga, que nós chamamos de encarnação. Na verdade, o espírito recebe em sua mente primária a figura de um carro, de um eu material, que classifica como sendo ele, a percepção de uma determinada velocidade e a sensação do medo.

Essa é a visão daqueles que veem os bastidores da vida humana. É como os espíritos libertos do ego humano veem a vida.

Espíritos fora da carne, como vocês chamam aqueles que estão libertos de personalidades humanas, não veem o acontecimento em si. O que eles veem é um espírito vivendo no Universo sendo bombardeado na sua consciência primária por estas criações do ego.

Eles não veem um ser humano dentro de um carro andando em alta velocidade e com medo, mas sim um ser universal sendo bombardeado na sua inteligência espiritual por esses fatores que criam a realidade ilusória onde ele está dentro de um carro se locomovendo em alta velocidade e sentindo medo por causa disso.

Agora deu para ficar claro?

Isso é o mundo em que vocês vivem: vocês, os espíritos, estão parados em frente a uma tela assistindo o que o ego diz que está acontecendo. Na verdade, você, o espírito, está no Universo assistindo as cenas da vida humana.

Você, o espírito, não nasceu, não vive no planeta Terra, não mora em tal cidade, não pertence a nenhuma família e nem está presente no ambiente onde está acontecendo determinada ação. Tudo isso está sendo criado pela personalidade humana seguindo a programação feita antes da encarnação e está sendo levado à mente primária do espírito com a intenção que ele não se submeta a isso como realidade e continue vivenciando a sua existência universal.

Por isso Cristo, aquele que simbolicamente alcançou durante a encarnação a elevação espiritual, disse: eu venci o mundo. Vencer o mundo é isso: superar as realidades ilusórias humanas e permanecer ligado à realidade universal.

Participante: Dentro dessa visão, nós devemos ouvir a razão ou a emoção?

Nenhuma e nem outra.

Tanto a sua razão como a emoção são criações do ego. O que você, o espírito, precisa é se libertar da razão e da emoção e viver apenas o amor a Deus e ao próximo.

O amor ao qual estou me referindo é o universal, o que não tem nenhuma correlação com a emoção humana que leva o mesmo nome. É aquele que se traduz em um estado de paz, tranquilidade, harmonia e felicidade incondicional.

É assim que você, o espírito, deve se sentir. Isso é o que precisa vivenciar...

Não importa o que o seu ego está lhe dizendo que esteja acontecendo, é assim que você, o espírito, deve viver. Se a personalidade humana está lhe bombardeando com a ideia de que está num carro se locomovendo em alta velocidade e por isso lhe diz que deve ter medo, não tenha: permaneça em paz, em harmonia e em felicidade universal. Se ela está lhe bombardeando com imagens de uma festa linda e maravilhosa e diz que você adora estar ali e por isso lhe dá sensação de prazer, não perca a sua harmonia, a sua paz e sua felicidade incondicional.

Encarnação - Textos

A realidade humana é virtual

O que falamos aqui é a realidade do Universo e, portanto, a realidade real do mundo que vocês, personalidades humanas, vivem. Usando termos de humanos de hoje, diria que a vida que as personalidades humanas vivem é uma realidade virtual. Falo assim porque a realidade real se consiste de um espírito parado (sem movimentação) que recebe toda a ideia de movimento e das sensações que vivencia a partir de um elemento externo a ele.

Esta realidade virtual criada pelo ego foi classificada por Buda como poluição adventícia. Ou seja, algo que altera a pureza do espírito após o advento ou o nascimento na carne.

A personalidade humana altera a pureza do espírito porque muda a realidade que ele vive. Cria formas e elementos onde existe apenas o fluido cósmico universal que não têm forma; cria sensações onde só existe amor universal.

A realidade gerada pela personalidade humana é virtual porque nada que diz existir, existe na realidade. São utopias, são elementos virtuais.

Além do mais, toda realidade criada pela personalidade humana não está acontecendo naquele momento. Você acredita que está lendo estas palavras neste momento porque quis lê-las agora, mas isso não é real. Na verdade, esta leitura aconteceu antes: quando o espírito pediu para vivenciar uma determinada provação e Deus gerou a ideia do ato de lê-las.

Tudo que acontece numa existência carnal é pré-programado de acordo com o pedido do espírito. Isso deve-se ao fato de não existir vida, mas sim uma encarnação ou uma aventura espiritual. Por isso, tudo que acontece tem que estar ligado à necessidade espiritual daquele ser.

Deus programa todas as ações que o ego vai transmitir ao espírito, ou seja, programa pergunta por pergunta a prova que o ser vai fazer. Depois disso o espírito se liga a esta consciência, ou seja, encobre a sua consciência espiritual, que percebe a verdadeira realidade, com aquilo que vocês chamam de véu do esquecimento e passa a ter apenas o ego como guia.

Apesar disso, o espírito não está irremediavelmente submisso ao ego. A personalidade humana é o guia do consciente, mas, no inconsciente, o ser pode utilizar a sua consciência primária para escolher se vai pulsar a sensação que o ego está lhe dando ou se vai pulsar amor universal.

Não sei se eu me fiz entender direito, mas é isso que acontece. Se não consegui explicar completamente, peço que me desculpem. Como já havia dito, traduzir esta realidade em palavras é muito difícil. Faltam muitas palavras para falar de muitas coisas que vocês nem sabem que existe.

Participante: Sinto que para poder superar isso parece que temos que exercitar uma entrega imensa. Deveríamos, para poder superar a realidade, viver assistindo o que está acontecendo. É isso: viver assistindo a vida?

Você usou dois ensinamentos de mestres.

Primeiro: entrega. Cristo falou disso, da entrega a Deus: Pai, me entrego em seus braços.

Sim é isso: a entrega a Deus é fundamental. Quando falarmos especificamente nos ensinamentos dos mestres, vamos falar da fé. Fé é entrega a Deus e sem ela você, o espírito, não conseguirá chegar a bom termo na sua aventura encarnatória.

Segundo ensinamento que citou: assista a sua vida. É Krishna que ensina isso no Bhagavad Gita: repousa em mim e assista a sua vida. Sim, é isso que você, o espírito, precisa fazer.

Essa realidade virtual criada pelo ego é como se fosse um filme onde os acontecimentos acontecem sem a sua participação ou determinação para que aconteça. Você, o espírito, não está participando daquele acontecimento, mas sim simplesmente pulsando energias, enquanto toda a ação está sendo criada virtualmente a partir de um programa programado anteriormente.

Portanto, assista às imagens criadas por esse programa, como assiste à televisão no mundo de hoje. A televisão é uma realidade virtual que você assiste sem participar diretamente das realidades que ela. A vida também deve ser vivenciada desta forma: apenas assistida.

Esse seria o ideal, mas, como no caso da televisão, não é o que acontece. Da mesma forma que o ser humano assiste televisão envolvendo-se emocionalmente com os programas, a maioria dos espíritos que estão vivendo a sua grande aventura se envolve emocionalmente com o ego.

Encarnação - Textos

Tomada de decisões

Participante: O senhor poderia ser mais claro? O ser humano que toma decisões baseadas nas emoções está errado?

O ser humano não toma decisão baseado na emoção e nem na lógica. Na verdade, a personalidade humana não toma decisões.

Tomar uma decisão através da razão é uma ação e como todas as ações humanas, esta está programada anteriormente. Na verdade ninguém está tomando uma decisão frente a qualquer situação: o que o ser humano tem é a ilusão de estar decidindo algo.

Já você, o espírito, nem está vivendo aquela situação, que dizer se imaginar protagonista de alguma coisa. A única coisa que você, o espírito, pode protagonizar neste momento é se prender a ação proposta como se fosse acontecimento de agora, ou seja, achar que tomou a decisão, ou dizer: foi o meu ego que tomou esta decisão.

Apesar de falar assim, você, o espírito, pode fazer mais. Vamos ver que mais você, o espírito, pode fazer.

Além de criar a ideia de que alguma coisa está sendo decidida naquele momento, o ego vai ainda gerar a ideia que esta decisão será sucedida por determinado acontecimento. Neste momento, você, o espírito, deve também duvidar desta afirmação, pois o que irá acontecer não seguirá uma lógica humana, mas sim a uma programação feita anteriormente.

Vou dar um exemplo: uma pessoa lhe convida para ir a casa dela e você responde que vai. Não foi a pessoa que lhe convidou e nem você, o espírito, que respondeu. Tudo isso foi articulado por egos para servir de provação a espíritos.

Você, o espírito, é exposto no consciente a este diálogo e imagina que, porque se comprometeu, irá com certeza. Acontece que mesmo você humano sabe muito bem que decidir ir não é garantia de que irá. Poderá ir ou não.

Você, ser humano, sabe muito bem que a questão de ir ou não independe da sua decisão, pois muitas vezes se programa para ir a algum lugar e acaba não indo por diversos motivos. Quantas vezes isso não aconteceu na existência de vocês?

Se isso é verdade mesmo para a lógica humana, que imagina que pode criar situações apenas pela sua vontade própria, que dirá para o espírito, que sabe que está apenas vivendo um teatro onde os acontecimentos fazem parte da sua grande aventura? Sendo assim, o que você, o espírito, precisa fazer é dizer para si mesmo: ‘a personalidade humana está afirmando que vai, mas isso não quer dizer que irá com certeza. Se no desenrolar desse filme ela for, foi; agora, se não for, não foi. Não há nada de errado nisso’.

Respondendo-lhe diretamente agora, afirmo que a primeira coisa que precisa é fugir da ideia de achar que decidiu alguma coisa. Você, o espírito, só pode decidir permanecer em paz, amor e felicidade universal ou não, indo ou não indo. Não possui a capacidade de decidir ir ou ficar em lugar nenhum.

É por isso que Cristo diz: não jure por nada que seja do céu ou da terra. Este ensinamento, que está na Bíblia, no Sermão do Monte, quer dizer exatamente isso: não assuma responsabilidade por nada, não dê nada como certo de acontecer.

Se o ego garantir que vai a algum lugar, não se comprometa com esta ideia, pois o resultado dessa ação, tanto faz indo ou não, pode acabar com a sua paz, a sua harmonia e a sua felicidade.

Encarnação - Textos

São os espíritos que comandam as ações

Hoje, então, falamos sobre a construção da realidade que a personalidade humana vivencia. Falamos das três criações perceptivas, da criação emocional e do por que delas serem criadas individualmente de determinadas formas. Faltou apenas um detalhe para esgotarmos o assunto: a criação da realidade na vida social, ou seja, a dois. Vamos falar disso.

Nas ações que a personalidade humana vivencia sempre participam outros seres humanos. Mesmo quando uma personalidade humana está sozinha pensando em alguém, esse alguém está participando daquela ação naquele momento.

Com relação às atividades humanas, dissemos que elas acontecem porque Deus as programou desta forma, que esta foi a forma escolhida por Deus porque atende ao gênero de provas pedido por aquele ser universal. Mas e o outro, será que ele entrou de gaiato na sua história? Será que ele participa da sua ação por acaso?

Não. No Universo não existem acasos.

Se aquela determinada personalidade humana está participando de uma ação como instrumento da aventura encarnatória de um espírito é porque o ser ligado a ela precisa viver aquela situação. É porque aquela ação também representa o gênero de provações pedido por ela.

Sendo assim, nem um nem outro ser humano podem mudar ou deixar de vivenciar o que está acontecendo. Vamos dar um exemplo e como sempre vamos nos utilizar de algo que vocês, personalidades humanas, acham que acontecem por decisão individual de cada um nesta vida: o casamento.

Casar é uma ação de relacionamento durante a existência de duas personalidades humanas, ou seja, um instrumento da aventura encarnatória de dois espíritos. Sendo isso, esta ação não pode ser vivenciada ao acaso ou estar sujeita a decisões que não contenham exatamente os ingredientes necessários à provação dos espíritos.

Imaginem se dois espíritos se programam para vivenciar determinadas provas e são impedidos disso por dois egos que se apaixonam pelas pessoas que não gerarão o que eles precisam para a sua grande aventura? Que Universo é esse? Uma bagunça.

O de cima tem prioridade no de baixo, já disse Cristo. A vida humana precisa ser totalmente útil à existência eterna do espírito para poder ter alguma serventia no Universo.

Por isso é preciso que a sua personalidade humana seja levada a conhecer exatamente aquela que estava pré-determinada para ser seu cônjuge. Mais: precisa ser criada, por ambos os egos, a sensação de um estar apaixonado pelo outro, que um precisa do outro, que devem viver juntos.

A paixão humana é uma sensação criada pela personalidade humana. Ela é um dos elementos necessários para gerarem a provação dos seres. Deus, que tudo sabe, conhece a necessidade de cada um e por isso programa a ação de um ego para que em determinado momento haja uma coisa chamada casamento ou união dos egos para a criação de uma vida (ação) em comum, que servirá de provação para os dois espíritos.

Sendo assim, a personalidade humana cria, a partir de ações dos espíritos trabalhadores do Universo, ilusórias atividades humanas que correspondem ao que precisa ser feito, no lugar que precisa acontecer, de tal forma que a provação do espírito que está vivendo a sua grande aventura sempre aconteça. Este ensinamento está em O Livro dos Espíritos, subcapítulo “Intervenção dos espíritos sobre o mundo carnal”:

“Imaginamos injustamente que a ação dos Espíritos não deve se manifestar senão por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem ajudar por meio de milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Não é assim; eis porque sua intervenção nos parece oculta e o que se faz com o seu concurso nos parece muito natural. Assim, por exemplo, eles provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão se reencontrar por acaso; eles inspirarão a alguém o pensamento de passar por tal lugar; eles chamarão sua atenção sobre tal ponto, se isso deve causar o resultado que querem obter; de tal sorte que o homem, não crendo seguir senão seu próprio impulso, conserva sempre o seu livre arbítrio”.

Comentário de Kardec à pergunta 525 a de O Livro dos Espíritos...

NOTA: As perguntas subsequentes deste subcapítulo de O Livro dos Espíritos (526 à 528) comentam algumas situações de vida humana e deixam bem claro a mesma posição: tudo acontece direcionado pelos espíritos trabalhadores seguindo o que precisa ser realizado...

São os espíritos trabalhadores do Universo, seguindo o comando de Deus, que conduzem o fantoche (o ser humano) no seu caminho dentro da vida virtual. São eles que dirigem o ego na criação dos cenários que irão aparecer durante a existência carnal e nas pessoas que irão compartilhá-lo com você.

No texto que citamos, Kardec fala exatamente com essas palavras: o espírito é guiado. Mas, além disso, nas outras perguntas deste subcapítulo o Espírito da Verdade também é absolutamente claro neste sentido. Ele diz: se o ser humano tem que viver a ação morrer subindo uma escada, nenhum espírito vai quebra-la, mas sim conduzir a personalidade humana para uma quebrada, ou seja, criar a situação dela estar subindo em uma escada originalmente quebrada. Ou seja, o que é ensinado em O Livro dos Espíritos é o seguinte: o ser humano vai viver o que for necessário para o elemento universal (espírito) prosseguir em sua jornada eterna.

Junte-se a isso a ideia do ego como personalidade humana, como mente humana, e termos então a real noção do que estamos dizendo: tudo o que o ego cria é uma realidade virtual que serve como gênero de provas para um espírito.

Encarnação - Textos

A realidade da vida

Com esta informação fechamos toda parte da aventura do espírito chamada realidade da vida. As realidades da vida, seja nas percepções ou emoções, são geradas pelo ego de acordo com uma programação. Nisso se inclui não só o que a sua personalidade humana está fazendo para outras, mas também o que outras fazem para você, sejam estas atitudes consideras boas e certas ou más e erradas.

Todos os relacionamentos entre seres humanos são criados pelas personalidades humanas induzidos pelo mundo espiritual liberto da carne por ordem de Deus que conhece a programação de cada espírito do universo. Deus comanda os espíritos desencarnados para que eles manipulem, dentro da programação dos egos, os encontros e desencontros. Fazem isso para que a ação possa servir como provação para os espíritos envolvidos.

Isso é a realidade da vida carnal. Isso é a grande aventura do espírito. Este é o mundo virtual que o espírito vive quando encarnado.

Anteriormente comparamos a grande aventura encarnatória como subir um pico. Agora deixamos claro que esta jornada é virtual. Encarnar para o espírito é como para um humano jogar vídeo game: viver realidades virtuais imaginando que são reais.

Essa é a grande aventura do espírito. Esse é o empreendimento que o ser universal tem que fazer se quiser alcançar a sua elevação espiritual, já que ele só se eleva passando por provas.

Encarnação - Textos

Romantismo

Participante: O senhor quer acabar com o romantismo do casamento? Os sentimentos que nutrem nossos casamentos foram para o espaço. Viraram apenas uma união de egos e mais nada.

Desculpa, mas eu não acabei com nada.

Na verdade, o que você imagina que existe é que não é real. O romantismo do casamento é uma sensação que está ligada a um gênero de provas que você, o espírito, pediu para vivenciar.

O casamento foi para o espaço? Mas nunca houve casamento. Nunca houve essa união com as verdades que vocês querem dar a ela. Todas as realidades dessa relação são criações do ego e, portanto, fazem parte da programação da sua aventura encarnatória.

O casamento, como entendido pelas verdades humanas nunca existiu. O que sempre existiu na realidade real? As provas dos espíritos.

Então, não acabei com nada. O casamento sempre foi uma união de egos para provações de espíritos. Mais nada do que isso. Vou dar um exemplo para você entender melhor o acontecimento casamento da grande aventura dos espíritos.

Uma mulher que gosta das coisas bem arrumadas normalmente casa com um homem bagunceiro. Durante o casamento, apesar de achar que ama seu marido, muitas vezes ela se pergunta: ‘como fui me apaixonar por você, que é tão diferente de mim’. Buscando resposta para esta questão pela lógica humana não encontraremos, mas se olharmos pela lógica espiritual poderemos ver como a situação é perfeita.

Uma mulher que gosta das coisas arrumadas é um espírito vivendo um ego construído com estas verdades. Elas dizem que as coisas devem estar em determinados lugares para que o ego possa criar a sensação de prazer. Já o homem bagunceiro é um espírito vivendo um ego que cria determinadas ações: deixar as coisas em lugares diferentes daqueles que as verdades da mulher dizem que devem estar. Este ego possui verdades que dizem que não há um lugar específico e certo para se deixar as coisas.

Ora, se a mulher é um espírito vivendo um ego que afirma que há lugares certos para as coisas, estas verdades são provas para aquele espírito, ou seja, são elementos que geram as emoções dos quais aquele ser pediu para provar que já se libertou. Como poderia este realizar esta prova sem um ego que lhe atice a sua ideia de arrumação? Ou seja, essa personalidade humana é casada com aquela determinada pessoa porque ela possui verdades e ações que causam bagunça. Juntam-se justamente para ver se aquele espírito se prende aos seus padrões ou se mantém a paz, a harmonia e a felicidade.

Isso é o casamento. Isso é o que vocês chamam de casamento.

 Saibam de uma coisa: espírito não casa com outro. Não existe casamento no mundo espiritual. Na Bíblia Cristo ensina isso.

Lá está escrito que os fariseus perguntam ao mestre: ‘uma mulher casa com um homem. Seguindo as leis judaicas, quando este homem morre, ela casa com um dos seus irmãos. Acontece que este irmão também morre e ela casa com outro. E assim acontece sucessivamente até que ela tenha vivido em matrimônio com os seis irmãos do seu marido original. Quando ela chegar ao céu vai ser mulher de quem’? Cristo responde: ‘de ninguém, porque no céu não há casamentos’.

Ora, se Cristo diz que no céu o espírito não é esposa de ninguém porque não há casamento, quem sou eu para dizer que um ser universal está casado com alguém? Se no universal, no espiritual, no real, não há casamento, na realidade humana também não pode haver. O que há é a ideia de estar casado e não o casamento. O que há, na realidade, é a união de dois egos cujo relacionamento é necessário para a libertação de cada um deles do seu próprio ego.

Se você se prender a romantismos diante de qualquer atividade humana, realmente fica difícil alcançar a elevação espiritual. Isso porque o romantismo humano é fundamentado em verdades deste planeta e não universais. Aliás, no Universo não existe romantismo, pois não há tempo para individualismos como romantismos ou pena de alguém: tudo é amor universal.

Participante: Eu não diria isso. Diria que se Deus criou o romantismo, ele faz parte da nossa prova.

Isso: o romantismo faz parte da sua prova. Sendo assim, ele existe para que você, o espírito, libertar-se dele e não se entregue a ele.

Aliás, esta sua afirmação é mais uma prova que não existe romantismo no Universo. Isso porque os que lá se encontram não mais encarnam, o que quer dizer que ele já foi vencido e com isso deixou de existir.

Encarnação - Textos

Doenças

Participante: As doenças vividas durante a vida carnal são escolhidas antes da encarnação pelo próprio espírito?

A doença é uma ação e acontece num corpo físico. Portanto, não é do espírito, mas sim da personalidade humana.

Sendo do ser humano, é instrumento de prova do espírito. Portanto, deve ser programada antes da encarnação.

Sim, todas as doenças que a personalidade humana vivenciar dentro da realidade virtual é uma forma, uma ação e uma sensação criada pelo ego. Elas foram programadas antes da encarnação, assim como as suas possíveis curas.

Encarnação - Textos

Não gostar de hospital

Participante: Ultimamente tenho passado mais tempo no hospital do que em casa porque o meu pai está doente. Acontece que eu detesto hospital. Isso está acontecendo para que eu vença esse detestar?

Você ouviu a palestra completa hoje? Se ouviu deve ter descoberto uma coisa: você não está no hospital.

Você, espírito, está no Universo pulsando e o seu ego, a sua personalidade humana, está dizendo que está vivendo uma realidade virtual que é chamada de chamada de hospital. Além do mais, não está indo lá porque seu pai esteja doente ou porque alguém precise de você. Na verdade, a sua personalidade humana está criando esta realidade como uma provação.

Além destas ações, para que sua prova acontecesse, era preciso que a personalidade humana criasse alguma emoção. Para você, a sua personalidade diz que ela tem que ser vivenciada com contrariedade. Afirma que isso deve acontecer porque você não gosta de hospital. Já para outros seres que possuam provas diferentes, a personalidade humana deles diz que aquela realidade deve ser vivenciada com prazer porque eles gostam de hospital.

Pronto: está pronta a provação atual dos seres. Agora você, o espírito, que está vivendo uma realidade virtual dentro de uma determinada sensação também gerada pela personalidade humana pode se escravizar a tudo isso ou vivenciar estas ações ligado ao amor universal.

Isso é uma resposta genérica. Agora, falando claramente a você, digo que é claro que é a sua prova. Aliás, sua pergunta serviu como um grande exemplo para tudo que falamos hoje.

Ela ilustra bem tudo o que conversamos hoje, inclusive a vivência de dois egos numa mesma situação. Seu pai teve que ir para o hospital porque esta ação foi programada como prova para ele e você tem que ir lá, mesmo não gostando de hospital, porque isso é a sua prova. Para viver esse momento com ele, você nasceu como filho dele.

Eu diria assim: havia uma provação que você, espírito, precisava realizar e Deus aproveitou a realidade virtual de outro espírito para que você fizesse a sua prova.

Isso se chama interdependência das coisas. Todos dependem uns dos outros para que a ação do seu ambiente virtual sirva como provação.

Encarnação - Textos

Prioridade para encarnar

Participante: Dentro da programação espiritual existe prioridade para a reencarnação de alguns espíritos, como, por exemplo, os menos evoluídos? Existe, ainda, tempo pré-programado de uma para outra?

Existem prioridades? Não sei.

Respondo-lhe assim porque quem comanda as reencarnações é Deus. Já que ninguém conhece Deus, não saberia lhe dizer se Ele tem alguma prioridade para determinados espíritos.

No entanto, posso lhe dizer uma coisa: cada espírito encarna na hora que Deus determina que encarne. Aliás, para encarnar o espírito precisa que Deus crie a sua programação e como a encarnação é, em resumo, a própria programação, cada um só encarna quando Deus comanda isso.

Não existe como nascer antes ou na hora que quiser, porque o ato de nascer – que é a ação que você chama de encarnar – já faz parte da programação. Aliás, a encarnação não começa no nascimento, mas na programação da vida. A encarnação tem início quando o espírito escolhe os gêneros de provas que quer realizar.

Sobre o tempo de uma encarnação para outra, o que posso lhe dizer é que Deus só dá a ordem para que cada ser escolha os gêneros de suas provações quando Ele o considera apto e pronto para a aventura.

Sendo assim, posso dizer que não há tempo pré-fixado. Aliás, esta tinha que ser minha resposta sobre o assunto, pois, como já falei, no Universo não há tempo.

Encarnação - Textos

Problemas conjugais

Participante: A união de duas pessoas, que inicialmente se amavam, com o dia a dia pode trazer certas rotinas que façam uma das pessoas ficar desanimada com as coisas do casal. Problemas na casa com o marido ou com outras pessoas podem levar um dos cônjuges a não mais vivenciar aquele amor inicial. Como voltar aquele amor inicial que já não será mais o mesmo depois dos problemas da união? Será que perdoar seria uma forma para retomar o amor?

Sua pergunta está muito boa.

Você diz: duas pessoas se casam porque imaginam que se amam. Sim, você está certo: apenas imaginam que se amam. Isso porque o amor entre seres humanos é uma sensação dada pelo ego.

Duas pessoas que se casam não têm amor verdadeiro um pelo outro. Este amor não é um sentimento, mas uma sensação criada pelo ego para justificar no consciente aquela união.

Sendo assim, se você, o espírito, acredita que está apaixonado por alguém, é um escravo do ego. Isso porque essa paixão é criada pela personalidade humana como prova, para ver se vai entrar na exaltação do prazer ou se vai manter-se equânime durante os acontecimentos da vida.

Esse é o primeiro detalhe da sua pergunta. Segundo detalhe: com o correr dos anos a paixão passa. Na verdade, ela não passa: o ego para de criá-la.

Na verdade a personalidade humana não para de criar essa ilusão: ele começa a gerar outras. Que outras sensações são essas? Aquelas que você precisa naquele momento da ação casamento.

Quando falei da união entre duas personalidades humanas dei um exemplo: marido bagunceiro, mulher arrumada. As sensações causadas pela diferença entre estes cônjuges não são geradas no início da relação. Neste momento, o ego que sugere apenas a paixão, a emoção da paixão.

Ao longo do casamento a personalidade humana para de enviar a sensação da paixão e começa a enviar a sensação de contrariedade para o que o outro está fazendo. Neste momento vocês dizem que o amor acabou, mas isso não é real. O amor não acabou porque na verdade nunca existiu. Na verdade ele sempre foi apenas uma sensação criada pelo ego que agora não mais a cria.

Apesar disso ser real, a personalidade humana não vive com esta realidade. Por exemplo: na sua pergunta cita causas para o fim do amor. Afirma que são os problemas na casa com o marido ou com outras pessoas que acabam com o amor. Isso não é real. Saiba que, na realidade, ninguém pode causar problemas para os outros.

Ninguém pode, por exemplo, lhe caluniar. Não existem calúnias porque tudo que alguém disser sobre outra pessoa, mesmo que seja lisonjeiro, não é real. Trata-se apenas de verdades criadas pelo ego como ilusão de ação para gerar um momento que servirá como provação a um espírito. Não importa se a pessoa viu o que diz que você fez, porque o que ela percebeu é apenas criação da parte técnica do ego, como vimos hoje.

Saiba de uma coisa: para o espírito liberto da ação do ego não existe certeza absoluta de nada. Isso porque qualquer certeza absoluta que tiver não é real, mas apenas uma criação do ego. É apenas a razão humana que está dizendo que aquilo aconteceu, mas nada aconteceu.

Portanto, não há calúnias, mas sim provas. Há um ego que está criando verdades para que um espírito possa vivenciar suas provas. Mas, se não há caluniador, será que existe pessoa sendo caluniada? Não, existem personalidades humanas que dizem ter ouvido verdades que são contrárias às suas.

Na verdade você, o espírito, não está sendo caluniado: o que existe é um ego lançando a sensação de ter sido caluniado, de ter sido atacado, de ter sido ferido. Além disso, existe você, o espírito, embarcando nesta sensação criada pela personalidade humana, aceitando isso como se fosse real. Mas, assim como tudo que o ego cria, a sensação de estar sendo caluniado é algo virtual. Faz parte do filme, da peça que está sendo encenada à sua frente, espírito.

Terceiro detalhe da sua pergunta: perdão.

Vocês, seres humanos, egos, não conhecem o perdão. Por isso posso afirmar que nenhuma personalidade humana é capaz de perdoar qualquer coisa.

Continuemos no exemplo da calúnia para podermos entender melhor o que estou dizendo. Para vocês, perdoar uma calúnia é não reagir contra aquele que lhe caluniou. Mas, perdão não é isso.

‘Pai, perdoa porque eles não sabem o que fazem’. Esta frase dá bem a noção do que é perdoar: não ver nada errado no que está sendo feito.

Quem não sabe o que está fazendo, imagina que está fazendo certo. Os soldados que crucificaram Cristo achavam justo e certo fazer o que eles fazendo. O mestre sabia disso e por isso disse: eles não sabem o que fazem. Ou seja, declarou expressamente que se eles não se achavam errados, não seria ele que ia afirmar tal coisa.

Mas, você, ser humano, quer perdoar constatando o erro. Quer perdoar o caluniador, mas não compreende que se para você ele é um caluniador, é sinal de que há a ideia de que ele lhe caluniou. Se existe esta ideia, já se sentiu caluniado e a partir daí não há mais perdão possível.

Perdoar é muito mais do que não penalizar: é não acusar. Perdoar é nem se sentir ferido. Se você já se sentiu caluniado ou ferido, não há como perdoar.

Na verdade, você, o espírito, não precisa perdoar o próximo, mas sim não se sentir caluniado. Precisa não vibrar a sensação de ser caluniado quando o ego lhe propuser isso.

Vou lhe contar uma história que mistura calúnia e pessoas que trazem problema para uma relação. É a história de uma esposa e a relação desta com a sua sogra.

A história afirma que uma mulher casada foi procurar um mestre para fazer um veneno que matasse a sogra, pois ela a detestava. A sogra lhe caluniava, queria comandá-la dentro de casa, pisava nela.

O mestre preparou uma poção e disse para a moça: ‘para que este remédio tenha efeito, você mesmo tem que dá-lo diariamente à sua sogra. Se deixar de dá-lo ou se outra pessoa o fizer, ele não vai fazer efeito’. Mas, o mestre disse mais: ‘além disso, precisa se tornar amiga da sua sogra. Continuando inimiga declarada, quando ela morrer vão desconfiar de você e lhe acusarão’.

A mulher seguiu perfeitamente o que o mestre disse. Todo dia botava o remédio na comida da sogra e tornou-se, mesmo de uma forma falsa, grande amiga da sogra.

Acontece que o tempo passou e nada da sogra morrer. Um dia, depois de passado muito tempo, a mulher voltou ao mestre e disse: ‘por favor, me dê o antídoto para o remédio que eu estou dando a minha sogra’. O mestre quis saber o porquê daquela atitude e a mulher respondeu: ‘fazendo o que o senhor me mandou fazer conheci mais intimamente minha sogra e muitos dos preconceitos que tinha contra ela acabaram. Fingindo ser sua amiga, descobri como ela é uma pessoa carente e precisa de mim. Hoje quero ajudá-la a superar isso, mas se ela morrer, eu não vou poder fazer isso’.

O mestre então disse: ‘você não precisa de antídoto nenhum, porque nunca lhe dei um veneno. O que lhe dei era um remédio para fortalecer a saúde da sua sogra’.

Agora posso responder a sua pergunta: se você acredita que é capaz de fazer alguma coisa para salvar seu casamento, desacredite em todos os seus preconceitos que estão agindo causando o fim do seu amor. Compreenda que o que aparentemente está sendo feito não é contra você, mas que são na realidade provas para você, o espírito.

Compreenda, ainda, que os supostos agentes destas ações não são pessoas que agem por maldade ou por que querem lhe fazer o mal, mas que são instrumentos da sua prova. Mais: compreenda que eles também estão vivendo as provações deles e por isso podemos afirmar que são seres carentes que precisam urgentemente do seu amor.

Quando compreender tudo isso poderá viver em paz com as pessoas que supostamente estão desgastando o seu amor, mantendo, assim, a sua união.

Tenha a certeza de que se não precisasse passar por estas situações, elas não estariam acontecendo. Estando, é porque realmente são provas necessárias para o seu desenvolvimento dentro de sua existência eterna.

Agora, se fizer tudo isso e assim mesmo a sua relação chegar ao fim, saiba que mais uma etapa de sua existência foi concluída, ou seja, o período de provações junto àquele instrumento está encerrado. Não se lamente por isso porque, afinal, você não estava convivendo com o seu marido por paixão, mas por necessidade de provas.

Encarnação - Textos

Encerramento

Hoje, então, cumprimos mais uma etapa do nosso trabalho.

Nós estamos falando sobre a encarnação. Anteriormente explicamos que ela é uma grande aventura, a maior aventura do espírito. Hoje mostramos como é construída a realidade ilusória que compõe esta aventura.

A partir disso descobrimos que se você, espírito, possui muitas posses (é rico) precisa vencer as sensações que a riqueza traz; se nada possui (é pobre), precisa vencer as sensações que a pobreza traz; se pertence à classe média, precisa vencer as sensações que tal vivencia causa. Sendo homem, deve se libertar das sensações que a masculinidade traz; sendo mulher, precisa se libertar da feminilidade que esta forma traz.

Isso é a encarnação. Esta é a grande aventura probatória do espírito.

Para mostrar como se cria a realidade ilusória que a personalidade humana vivencia, dissemos que existem as percepções que são formadas por três partes distintas: as universais, as individuais e a ilusão da ação de um em conjunto com a outra. Falamos ainda que às percepções juntam-se as sensações, que constituem a personalidade emocional do ser humano.

Por último dissemos que nada disso acontece ao acaso. Afirmamos que tanto as percepções como as sensações são geradas por Deus através dos espíritos trabalhadores do Universo de acordo com o gênero de provas pedido por cada ser antes da encarnação e que, por isso, correspondem exatamente ao grau de elevação espiritual de cada ser.

Na próxima conversa vamos falar exatamente destas escolhas e, consequentemente, do grau de elevação espiritual de cada ser.

Por que um espírito escolhe casar com outro? Por que um espírito escolhe formar um ego com ações onde ele seja um mendigo? Por que um espírito escolhe construir uma vida nababesca? Será sobre isso que vamos falar amanhã na próxima conversa.

A realidade virtual com o qual vocês, espíritos, vivem o dia inteiro está construída. Agora vamos entender por que você, espírito, vivencia essa determinada realidade virtual. Por que será que não vivencia outra realidade virtual?

Eu sei que tem muita gente que se pergunta: por que não nasci em outro país; por que não nasci rico; por que não nasci pobre; por que não nasci branco; por que nasci preto?

É sobre isso que vamos falar no próximo encontro: por que você nasceu do jeito que é, ou seja, porque que Deus construiu essa realidade virtual para você ou invés de construir outra.

Para terminar o dia de hoje, gostaria de fazer um comentário.

Não sei se vocês perceberam, mas sempre que proponho alguma ação dou uma única resposta: amem. Amem a Deus, confiem no Pai, saibam que se Deus é a seu favor ninguém pode ser contra. Portanto, amem mesmo aqueles que vocês consideram contrários.

Mas, mais do que amar a eles, amem o que eles fazem, mesmo que o ego lhes diga que aquilo é contra você. Isso porque eles, seja quem forem, são instrumentos da sua prova.

Sem uma pessoa que não lhes contrariasse, vocês não teriam vicissitudes. Se fossem cercados de pessoas que apenas dissessem amém a tudo que querem e que só lhes passasse a mão na cabeça, não teriam provações. Por isso, não conseguiriam a elevação espiritual.

Então, amem quem lhes passa a mão na cabeça e ame quem lhes desagrada. Para fazer isso digam a si mesmo: ‘louvado seja Deus por você ser instrumento da minha provação. Louvado seja Deus por você estar criando minha vida, participando da minha realidade virtual que cria a minha prova para que eu possa exercitar o amor universal libertando-me da ação do ego’.