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Comentários de Joaquim sobre as emoções dos seres humanos 

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Os esconderijos dos espiritualistas

Espiritualistas são aqueles que acreditam ser algo mais do que a personalidade humana que está vivendo no momento. Este algo mais é chamado de espírito.

Espiritualista é aquele que acredita ser um espírito. Por causa disso, acredita também que tem uma existência eterna e que esta temporada na massa humana é apenas uma etapa da sua existência.

Espiritualista é aquele que acredita ser um espírito que tem uma existência eterna e que esta temporada na massa humana é apenas uma etapa dela. Por isso acredita que esta etapa tem apenas a finalidade de auxiliá-lo no processo de evolução espiritual, ou seja, um instrumento para aproximá-lo de Deus.

Espiritualista é aquele que acredita ser um espírito, que tem uma existência eterna, que esta temporada na massa humana é apenas uma etapa dela e que ela tem a finalidade de auxiliá-lo no processo de evolução espiritual. Por isso sabe que neste momento sua atividade fundamental é realizar a reforma íntima.

Apesar de dizermos tudo isso sobre os espiritualistas e apesar deles saberem de tudo isso, vivem fugindo da realização deste processo. Para isso escondem-se atrás de atividades que eles afirmam aproximá-los de Deus. .

Escondem-se deste processo atrás da religiosidade, ou seja, acham que realizar a reforma íntima é apenas participar dos cultos das religiões. Acham que apenas freqüentar o centro espírita as terças, o terreiro as quarta, o grupo de estudos as sextas feiras ou a igreja no domingo já é o suficiente para aproximá-los de Deus... Esquecem que Cristo ensinou que o templo de Deus está dentro de cada um e não visitam o seu íntimo para reformar-se. Por não visitá-lo e reformá-lo permanecem longe do Pai.

Escondem-se deste processo através da oração, ou seja, acham que apenas rezar palavras decoradas sem se envolver sentimentalmente com ela já é o suficiente para aproximá-los de Deus... Ledo engano: Cristo nos ensinou que o que importa é o sai do coração e não da boca. Como não visitam seu interior seguem orando com palavras sempre com a intenção de obter do Pai aquilo que não conseguem por si mesmos. Com isso, ficam afastados de Deus.

Escondem-se deste processo através do estudo do Universo espiritual achando que apenas conhecer as coisas do lado de lá já é o suficiente para aproximá-los de Deus. Esquecem que Cristo ensinou que Deus só se revela aos simples e não aos sábios. Por não visitarem seu íntimo não vêem que com esta forma de agir apenas se tornam sábios e não pobres de espírito. Por isso ficam afastados de Deus.

Escondem-se deste processo assumindo a posição de mestres, professores, guias ou gurus achando que com isso ajudam os outros a se aproximarem de Deus e, por conta desta ação, também se aproximam... Enganam-se: Cristo ensinou que não devemos chamar ninguém de mestre neste mundo porque temos um no céu. Esquecem também dos ensinamentos de Cristo onde ele chama aqueles que querem impor suas verdades sobre os outros de professores da lei e hipócritas. Por não visitarem seu íntimo, amealham seus bens na Terra e com isso afastam-se do Pai.

Escondem-se deste processo executando trabalhos com a mediunidade que o Pai lhes deu, achando com isso aproximam-se de Deus. Esquecem que, como ensinou Cristo, aqueles que têm fé recebem sem a necessidade de um intermediário. Como não mergulham no seu interior continuam nutrindo a soberba dizendo-se grandes médiuns e com isso afastam-se do Pai.

Escondem-se deste processo praticando a caridade material. Dão comida, cobertor, remédios, cestas básicas e outras coisas e com isso acham que estão se aproximando de Deus. Engano: Cristo ensinou que devemos dar a vara e não o peixe. Como não visitam o seu interior não reparam que ao apenas satisfazer as necessidades humanas estão servindo à humanidade e não a Deus. Com isso, afastam-se do Pai.

Escondem-se deste processo buscando o místico (reiki, passes magnéticos, passes espirituais, desobsessão, etc.) achando que por estarem em contato com estas coisas estão mais perto de Deus. Esquecem que Cristo ensinou que devemos idolatrar apenas o Senhor Deus. Esquecem também que ele ensinou que Deus julga os espíritos humanizados não por suas ações, mas pelas suas intenções. Como não mergulham no templo do seu interior não conhecem suas intenções e com isso seguem distantes do Pai.

Escondem-se deste processo conferindo super valores a elementos deste mundo como o incenso, o copo com água e sal grosso, a vela, oferendas, etc. Tais elementos não podem os aproximar de Deus, mas os espiritualistas continuam se escondendo do processo de reforma íntima atrás deles. Como ensinou Cristo: si de vocês professores da lei, hipócritas, pois dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da erva doce e do cominho, mas deixam de obedecer aos ensinamentos mais importantes da Lei como a justiça, a bondade e a obediência a Deus. Como não visitam o seu íntimo, não conseguem ver que apenas estão buscando a felicidade material e não ao próprio Pai e, por isso, afastam-se Dele.

Escondem-se deste processo dividindo o mundo em dois: o material e o espiritual, a vida humana do processo espiritual. Escondem-se deste processo dedicando a Deus apenas uma parte do seu tempo e vivendo a outra, que é a maioria, apegado aos ideais da vida mundana. Ledo engano: Cristo nos ensinou que não se podem servir dois senhores ao mesmo tempo. Por servirem prioritariamente à humanidade afastam-se do Pai.

Apesar de mostrar todos estes esconderijos que o ser humanizado usa, não estou aqui para desqualificá-los. Tudo pode ser feito, tudo pode ser vivenciado. O que não pode é servir de esconderijo para a não execução da reforma íntima.

Sendo espiritualista, acreditando que é o espírito, que a vida humana é apenas uma etapa de sua existência eterna e que ela serve como um instrumento para aproximá-lo de Deus através da reforma íntima, o ser humanizado pode freqüentar os cultos, orar, estudar, assumir posição de guia, trabalhar com a mediunidade, fazer a caridade material, buscar o místico, conferir super valores a elementos deste mundo e viver a totalidade da vida, sempre fazendo a reforma íntima. Este é o ponto importante que hoje não é levado em consideração pelos espiritualistas...

A vida carnal na sua totalidade desde o nascimento até o desencarne é um processo de encarnação onde o ser universal coloca em provação tudo aquilo que aprendeu durante o seu período na erraticidade. Aqui, na doença ou na saúde, na felicidade ou na tristeza, o espírito precisa trabalhar para manter a sua felicidade e, com isso aproximar-se de Deus.

Portanto, conclamo a todos os espiritualistas a saírem de seus esconderijos e encararem o trabalho que se propuseram realizar durante esta encarnação. Os conclamo a deixarem de enterrar seu rosto na areia como fazem as avestruzes e enfrentarem a vida humana baseando-se na perspectiva espiritual que dizem acreditar.

Aquele que não age assim é como um covarde que durante os combates se esconde. Como disse, o problema não é como se vivencia a vida, mas o esconder-se atrás de atividades que em nada contribuem para a elevação espiritual. Fazendo isso, o ser humanizado está apenas descartando mais uma oportunidade para aproximar-se de Deus...

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A natureza espiritual e a humana

Se realizar a reforma íntima não é freqüentar cultos, orar, estudar, assumir posição de guia, trabalhar com a mediunidade, fazer a caridade material, buscar o místico, conferir super valores a elementos deste mundo, o que é então? Vamos ver isso...

O que eu quero dizer é isto: deixem que o Espírito de Deus dirija as suas vidas e não obedeçam aos desejos da natureza humana. Porque o que a nossa natureza humana deseja é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana deseja. Os dois são inimigos, e por isso vocês não podem fazer o que querem. Porém, se é o Espírito que guia vocês, então, não estão debaixo da Lei.

Gálatas, 5, 16 e 17.

Paulo nos afirma que o que a natureza humana quer é contra o que o espírito quer. Mas, não foi só Paulo que disse isso. Cristo também ensinou que não se devem amealhar bens na Terra, mas sim no céu e os demais mestres também ensinaram que a natureza humana é contrária à espiritual. .

Esta informação, portanto, é importante para o espiritualista, pois ela deixa claro o que precisa ser reformado: a natureza humana que o espírito vive durante a encarnação. Este é o trabalho que precisa ser realizado pelo ser durante a vivência dos acontecimentos do mundo humano. Por quê? Porque quem vive a existência carnal preso à natureza humana é movido pelas paixões determinadas por ela.

Sei que vocês acham que os anseios humanos são idênticos aos do espírito liberto da materialidade, mas isso não é real. Aquilo que o ser universal almeja quando encarnado nada tem a ver com aquilo que acreditava importante conseguir antes.

Em O Livro dos Espíritos Kardec pergunta se não seria natural que o espírito ao encarnar escolhesse para si apenas situações prazerosas. Em resposta o Espírito da Verdade diz o seguinte:

“Pode parecer-vos a vós; ao Espírito não. Logo que este ser se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”. (pergunta 266)

Os anseios do espírito liberto da carne são diferentes daqueles que estão apegados à natureza humana. Quando liberto, a sua única preocupação é ter todas as oportunidades para realizar a sua reforma íntima e aproximar-se de Deus. Quando vivendo de acordo com a natureza humana, este ser sonha em realizar seus desejos materiais, em conseguir conquistas humanas. É por conta desta diferença de ânimo que cessa logo que o espírito desencarna que Paulo e todos os mestres disseram que ela é contrária à natureza espiritual.

É exatamente por causa dessa divergência de desejos que a natureza humana torna-se contrária àquilo que o espírito quer. É por isso que eles precisam ser combatidos e combatê-los é o que caracteriza o trabalho da reforma íntima.

Sei que vocês por estarem humanizados devem estar achando que o que estou falando não é real, mas vejam esta afirmação do Espírito da Verdade na pergunta 267 de O Livro dos Espíritos:

“O desejo que então alimenta (encarnado) pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo isso da intenção que o anime. Dá-se, porém, que, como Espírito livre, quase sempre vê as coisas de modo diferente”.

Mas, por que o desejo do espírito quando humanizado se altera? Por causa das três bases da vida ou três comportamentos que norteiam a interatividade do ser encarnado nos relacionamentos com as pessoas, objetos e acontecimentos de sua existência.

A primeira base ou comportamento que norteia a vida e gera os desejos do ser humanizado é o materialismo. O espírito quando encarnado é sempre materialista por essência. Mesmo aqueles que buscam a Deus, na verdade ainda almejam o bem material. Já o espírito norteia a sua interatividade com base no espiritual.

Sei que muitos estão pensando que estou faltando com a verdade quando afirmo que até aqueles que buscam a Deus querem o materialismo, mas é isso mesmo. Por exemplo: vocês hoje abandonaram o prazer (se divertir, passear assistir televisão, namorar) para poderem comparecer aqui. Para vocês, esta é uma demonstração clara que são espiritualistas. Mas, antes de encerrar a questão, vamos compreender as intenções que trouxeram cada um até aqui.

Vocês vieram aqui como fruto de um desejo de estar, ou seja, decidiram que queriam estar aqui antes de vir? Então, estão buscando satisfazer este desejo e isto é materialismo. Se estivessem aqui sem antes terem decidido e planejado estar, então, estariam no espiritualismo.

O exemplo que usei é uma demonstração de materialismo, apesar do que muitos acham, pois, ser materialista não é apenas querer objetos materiais (dinheiro, bens materiais). Materialista é aquele que quer a felicidade material, o prazer, a satisfação de ver seus desejos realizados.

Esperar viver aquilo que se quer: isto é materialismo. Mesmo que o desejo seja voltado para as coisas divinas, quando existe o contentamento de ter realizado o que era desejado o ser humanizado vive a sua natureza humana e não a espiritual. Sonhar em realizar os desejos, não importa quais sejam, é viver a partir da natureza humana.

Ter o espiritualismo como base de vida é mais do que se voltar para as coisas divinas, mas caracteriza-se por alcançar a felicidade com as coisas divinas. Quem alcança esta felicidade vive na equanimidade (‘se for, é bom; se não for, também estará bem’) e não no prazer (‘que bom, consegui vir’) ou na depressão (‘eu queria tanto ter ido’).

Portanto, quem quer viver a sua natureza espiritual precisa reformar-se. Precisa deixar de sonhar conseguir realizar seus desejos para viver a felicidade e vivenciá-la sempre, mesmo que o sonha não seja alcançado.

O segundo aspecto da natureza humana é que ela age sempre guiada por regras e normas. Esta é uma forma de viver que não se coaduna com o Universo espiritual, pois os seres universais reconhecem o direito de livre arbitrar sobre suas ações que cada espírito tem. Como reconhecem este direito, não crêem em regras e normas que padronizem uma ação como certa e classifiquem outras como erradas.

Esta forma de viver aplica-se a todos os acontecimentos da existência de um espírito. Mesmo que o ser venha a ser prejudicado com o que o outro faz, por conta do reconhecimento do direito de livre optar pelo que quer do outro, o espírito nunca o acusa ou ataca.

Já aqueles que vivem apegados à natureza humana não vivem assim. Eles sempre subjugam os acontecimentos da vida a regras normativas que criam o certo e o errado a ser feito. Mesmo o trabalho de elevação espiritual é realizado a partir de codificações que criam obrigações que precisam ser cumpridas. Apesar de aparentemente para vocês humanos ser necessário se cumprir obrigações e sujeitar-se e normas, a evolução espiritual não necessita disso. Por isso Paulo também nos ensina:

“É claro que ninguém é aceito por Deus por meio da Lei, pois as Escrituras dizem: ‘viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus’. (Gálatas, 3, 11)

No mundo espiritual não existem padrões e regras porque não existe individualismo, ou seja, cada um experimenta a sua individualidade pelo seu caminho. Apenas uma coisa existe no Universo e ela é genérica: o Amor. Só o amor é comum a todos os espíritos e, por conseguinte o amar. Assim sendo os espíritos vivem pela consciência amorosa que possuem e não por padrões ditados por quem quer que seja, inclusive Deus.

Portanto, para se viver a natureza espiritual é preciso ligar-se sempre ao amor e não a regras de comportamento. Este é o segundo aspecto que precisa ser reformado por aquele que pretende aproveitar a oportunidade da encarnação que está tendo.

A terceira característica diferente entre as naturezas é que a humana é individualista enquanto que a espiritual é universalista. A natureza humana está sempre buscando o seu bem individual enquanto que a espiritual está sempre buscando viver para o próximo, para servir o próximo sem intencionalidade alguma.

A natureza espiritualista é completamente livre de paixões individualizadas e, portanto, sem desejos a serem satisfeitos. O único objetivo da natureza espiritual é servir incondicionalmente ao próximo. Já a natureza humana é apegada a paixões que geram vontades. Ela não consegue lidar com os elementos da existência carnal sem gerar uma paixão individual. Mesmo no tocante ao relacionamento com as coisas divinas, a natureza humana está sempre pensando em si primeiro.

Por exemplo, vocês vieram aqui para evoluírem, para adquirir conhecimento para a sua evolução ou para servir ao próximo? Claro que foi para si, para ganhar. É este egoísmo de querer para si, mesmo que seja a elevação espiritual, que caracteriza a natureza humana.

Aquele que vivesse na essência espiritual viria aqui sem planejar, sem desejar, mas porque Deus o trouxe. Estaria aqui participando desta conversa com a consciência amorosa, ou seja, emanando amor e não prestando atenção em regras e normas para sua evolução. Enquanto aqui permanecesse não esperaria receber nada, mas estaria sempre voltado a expandir o amor para servir ao próximo.

Estes são os três elementos que levaram Paulo e o Espírito da Verdade a nos dizer que o que a característica humana deseja é contrária ao que a característica espiritual quer. Esta constatação precisa ficar bem clara para aqueles que pretendem realizar a elevação espiritual, pois não adianta se buscar a vida espiritual na natureza humana, ou seja, com prazer, com regras e normas e com individualismo. É preciso buscá-la com a natureza espiritual: com o espiritualismo, que se traduz pela felicidade incondicional, que é fruto da consciência amorosa da ação, e pelo universalismo, se doar ao próximo.

Resumindo para deixar bem clara esta questão da busca da elevação espiritual: não se trata do que se faz, mas de como se faz, para que se faz. O ato, a ação, não é por si só atributo de elevação ou não. O que pode ser considerado como atributo de elevação espiritual é a base da ação: a intencionalidade com que se vivencia cada acontecimento da existência.

Por isso, não importa se você passa o dia inteiro rezando ajoelhado no milho ou se freqüenta regularmente um local de ligação com Deus; se não tiver como fundamentos da sua existência o espiritualismo, a consciência amorosa e o universalismo, nada foi realizado.

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Crucificar a natureza humana

Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a sua própria natureza humana, junto com todas as suas paixões e desejos. Que o Espírito que nos deu a vida, controle também a nossa vida.

Gálatas, 5, 24 e 25

O recado de Paulo é muito direto: crucifique a natureza humana. Crucifique as suas paixões, desejos, vontades, padrões de certos e errados, bonitos e feios, limpos e sujos. Isto é reforma íntima...

Crucifique tudo isto, mate tudo isto, porque enquanto estes padrões humanos estiverem ativos, sua existência será guiada pela natureza humana. Só quando se libertar de tudo isto poderá ser guiado conscientemente pelo Espírito que lhes deu a vida.

Deixe-me dizer algo importante: você é espírito antes, durante e depois da encarnação. Não há quebra de continuidade da existência espiritual porque o ser universal vive uma encarnação. O ser universal continua existindo durante a encarnação com todas suas realidades. Ele apenas está humanizado (ligado a outro tipo de consciência, que chamamos de ego), mas não deixou de ser um espírito.

Sendo assim, a vida humana é um dom divino, algo criado por Deus para servir ao espírito e não ao ser humanizado. Por isso, podemos afirmar que ela não é para ser aproveitada pelo ser humanizado (gozar os prazeres através da satisfação de seus desejos), mas sim pelo espírito. Isto acontece quando ele crucifica a sua natureza humana. Com esta crucificação ele se purifica e se esclarece. Mas para isto, é preciso que aceite submisso às provas que a vida contém para alcançar a meta que lhe foi assinada.

Sendo isso verdade, posso dizer que você só está vivo porque é espírito e está vivendo um momento de sua existência eterna que poderá levá-lo a alcançar progressivamente a perfeição. Para isso precisa conhecer a verdade. Como conhecê-la, se você como ser humanizado acha que já sabe tudo, que conhece tudo que é certo e errado?

Deixar o espírito que nos deu a vida assumir o controle dela é o resultado do trabalho da reforma íntima. Mas, para que isso aconteça é preciso que o ser crucifique a sua natureza humana. Sem esta ação, ela se sobreporá ao seu lado espiritual e a oportunidade da encarnação terá sido desperdiçada.

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Emoções e sentimentos

Se a reforma íntima, portanto, se constitui em crucificar a natureza humana com a qual o ser convive durante a encarnação, é preciso mergulhar no seu íntimo para conhecê-lo e reformá-lo. Neste mergulho encontraremos as emoções que surgem no dia a dia do ser encarnado. Elas pertencem à natureza humana e por isso, precisam ser conhecidas, quer quanto à sua origem quanto à sua natureza, para que possam ser reformadas. Será isso que vamos fazer nesta conversa...

Mas, antes de conhecê-las é preciso separar o joio do trigo, as emoções dos sentimentos...

Ao longo de nossas conversas sempre distingui a emoção do sentimento. Disse que sentimento é um elemento espiritual que é vivido pelo ser universal e que a emoção é um elemento material vivido pelo ser humanizado. Para distinguir uma coisa de outra disse que o sentimento não possui razões que justifique a sua existência enquanto que a emoção é gerada a partir de uma razão. Para entender melhor esta questão tomemos como exemplo o sentir raiva de alguém ou de alguma coisa.

Porque você sente raiva de alguém? Porque ele agiu de uma forma que você não gosta. Quando a sentiu? No momento em que percebeu o que o outro fez. Ou seja, isso que vocês chamam de sentimento, na verdade não o é: trata-se de um subproduto do pensamento. Esta raiva é criada racionalmente porque determinadas condições mentais foram alcançadas.

Esta é a diferença entre sentimento e emoção. O sentimento não possui sujeito que é destinado a recebê-lo, nem razões para existir; a emoção é direcionada a um alvo determinado e sustentada por informações racionais.

Participante: medo, por exemplo, é então emoção racionalizada?

Para que possa entender perfeitamente o assunto, lhe faço uma pergunta: qual o único sentimento que existe realmente no Universo? Amor... Como já disse antes, Deus é Único e Uno e, por isso, não pode produzir variedade de coisas...

No entanto, amor é apenas um nome terrestre que se utiliza para se falar do sentimento do universal. Quando me refiro a este sentimento não estou falando do amor que os humanos conhecem, que é emoção, pois é fundamentado em razões. Estou falando de algo que é incompreensível a vocês.

Amor é apenas um nome que se estabeleceu para identificar-se o sentimento universal. Isto porque o amor Real é aquele que Cristo ensinou e este não pode ser compreendido pela razão.

Portanto, se só o amor é real, qualquer outra coisa que vocês chamem de sentimento é racional, é emoção. Só aquilo que acalenta o coração sem razões que o explique é sentimento.

Participante: como podemos diferenciar sentimentos dos seres universais dos humanizados?

Os sentimentos dos seres humanizados começam sempre com um ‘eu’: eu gosto, eu sei, eu quero...

Já o sentimento do espírito universal, para vocês, é um nada. Isto porque o sentimento nutrido pelos seres libertos da humanização não possui identidades (querer, gostar, saber) e nem variações que podem ser compreendidas pelo ser humanizado. Ele é sempre único, uno e estável... O espírito universalizado não se exalta, não se contraria, não gosta, não quer...

Só para você compreender o que é o sentimento que o espírito nutre, usarei uma palavra de vocês para defini-lo: indiferença. O sentimento que o espírito no gozo de suas faculdades espirituais sente é a indiferença. Falo isso, porque aquele que não é indiferente às coisas ou vivem no êxtase do prazer ou na depressão da dor e o espírito é sempre equânime. É esta equanimidade que estou chamando de indiferença. O ser liberto da humanização não se exalta nem se deprime. Ele está no meio, percorre o caminho do meio. Ele não gosta nem desgosta, é apático, indiferente às coisas.

Então, seria isso. Este é o sentimento do espírito. Quando para você qualquer coisa não mexer com suas emoções, sentiu como espírito... Neste momento terá crucificado a sua natureza humana e promovido a reforma íntima emocional.

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Inteligência emocional

Se realizar a reforma íntima é crucificar a natureza espiritual, o espiritualista precisa fazer a mesma coisa com as suas emoções. Para isso ele precisa ser emocionalmente inteligente. Vamos falar sobre isso...

O termo inteligência e significa quem sabe escolher. Sendo assim, inteligência é a capacidade de selecionar ou escolher as melhores opções para si.

Qual a melhor opção emocional para o espiritualista? Aquela que lhe leve a viver a felicidade que Deus tem prometido aos seus filhos, ou seja, aquela que lhe mantenha em paz e harmonia consigo mesmo e com o mundo em que vive. Para compreendermos melhor esta questão, vamos falar um pouco sobre paz e harmonia.

Paz é o estado de não guerra. Quando é que alguém consegue estar em não guerra com o mundo que vive? Quando não se contraria com o que está acontecendo. Harmonia é a perfeita convivência com as coisas do mundo. Quando alguém se harmoniza com as coisas do seu mundo? Quando não vê defeitos ou erros nelas.

A partir desta pequena análise, posso, então, dizer que o inteligente emocionalmente é aquele que escolhe não viver as emoções que surgem a partir de razões que indiquem uma contrariedade ao que está acontecendo ou que qualifiquem o acontecimento como errado ou defeituoso. Quando o espiritualista consegue superar estas emoções ele promove a reforma íntima e por isso vivencia a felicidade que Deus tem prometido, que é, segundo o Espírito da Verdade, o sinal de que ele alcançou a perfeição desta encarnação.

Vou dar um exemplo para ficar mais claro o que estou dizendo. Digamos que ao ler estas palavras você não está concordando com o que estou dizendo. Desta não concordância poderá surgir em você diversas emoções: chateação, perda de tempo, etc. Ao invés de entregar-se a ela, porque você simplesmente não para de ler o que está escrito aqui? Se fizer isso, não viverá estas emoções.

Outro exemplo. Você passa na rua e vê uma criança com fome e suja. A primeira coisa que surge em sua mente é pena, aborrecimento, contrariedade pelo estado da criança. Em seguida vem a vontade de fazer justiça e com isso o pensamento de criticar o governo e os demais seres humanizados que não fazem nada por aquela criança. Se ao invés de viver todas estas emoções que surgem da contrariedade você auxiliar aquela criança dando-lhe o que comer e providenciando para que ela tenha melhores condições de vida, não estará fazendo mais bem a ela do que se entregando a estas emoções? Claro que sim. Estará, também, fazendo mais bem a você, porque estará agindo inteligentemente.

Diga-me uma coisa: o que a sua pena, a chateação e a raiva de quem não ajuda pode fazer por aquela criança? Nada... Estas emoções apenas servem para tirar a sua paz e tranqüilidade, ou seja, servem apenas para que você se afaste de Deus. Por isso, aquele que opta por fazer alguma coisa ao invés de se entregar às emoções que surgem da contrariedade é inteligente.

Este é o inteligente emocional. É aquele que ao invés de entregar-se à vivência da emoção que surge da contrariedade age, se possível, para consertar aquilo que o contraria. Mas, se ele encontra algo que não pode consertar, como por exemplo, a opinião de outro. Como agir inteligentemente neste momento? Observando a oração dos Alcoólicos Anônimos:

Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária

para aceitar as coisas que não podemos modificar,

coragem para modificar aquelas que podemos,

e Sabedoria para distinguir umas das outras.

Esta oração, que se chama ‘Oração da Serenidade’ é uma arma que o espiritualista tem para alcançar a inteligência emocional e com isso promover a sua reforma íntima. Que adianta você se contrariar com algo se não pode mudar. É preciso aceitá-lo como está. Esta é a inteligência do espiritualista.

O espiritualista é aquele que, por causa da sua busca, age quando pode, mas quando não pode, ao invés de se entregar às emoções da natureza humana, permanece sereno. É aquele que ao invés de aceitar as emoções propostas pela mente, permanece em estado de oração, ou seja, em ligação com Deus.

Como Cristo disse, é preciso orar e vigiar. O espiritualista que alcança a inteligência emocional é aquele que vigia sua mente. Desta vigilância, descobre os pensamentos que geram emoções que estão ligadas à contrariedade. Identificando estes pensamentos, o espiritualista verifica se pode acabar com aquilo que não concorda. Se puder altera o acontecimento; se não puder, mantém-se em relação amorosa com Deus.

No caso da criança suja e faminta, o espiritualista que pode ajuda; aquele que não pode diz: seja feita a vossa vontade, Senhor. Ele é inteligente, porque escolhe o que é melhor para ele: permanecer ligado a Deus e, por isso vivendo a felicidade que Ele tem prometido.

Participante: e a fé que Cristo também disse que devemos ter para sermos perfeitos?

Não podemos falar de nada sem antes conhecer sobre o que se está falando. O que é fé? É a emoção que nutre aquele que se entrega a alguma coisa ou pessoa com confiança.

Ora, se você quando não consegue mudar alguma coisa se entrega a Deus, o que está fazendo? Tendo fé...

Mais uma vez entra aqui a incompreensão de vocês sobre as coisas não materiais. Fé é apenas entregar-se com confiança a alguma coisa. É algo racional, não no sentido de se entender alguma questão para poder confiar, mas apenas em manter a sua serenidade quando não consegue extinguir a causa da contrariedade.

Portanto, estamos falando da fé que Cristo disse que os seres encarnados devem ter para poder alcançar a perfeição.

Participante: mas, como posso ser feliz sentindo raiva?

Realmente para o ser humanizado fazer isso é algo utópico, pois ele se identifica tanto com as consciências criadas pela mente que não consegue se imaginar vivendo outra coisa senão aquilo que a personalidade humana cria. Estes, no entanto, são aqueles que não são emocionalmente inteligentes. Eles se entregam sem luta a tudo o que a mente cria.

Já os que buscam a reforma íntima tornam-se emocionalmente inteligentes e por conta dela sabem que a emoção que imaginam estar sentindo é só uma razão criada através de um pensamento e que por isso é algo da mente e não o que ele está sentindo. Por conta da sua inteligência emocional, eles sabem que toda dor e sofrimento que vivem é apenas uma criação mental gerada por um pensamento e não o que eles estão sentindo. A partir desta consciência encontram, então, o verdadeiro caminho para a reforma íntima: mudar o seu relacionamento com o pensamento.

A reforma íntima que leva o ser a aproveitar a sua encarnação como instrumento de sua elevação não se consiste em mudar o conteúdo do pensamento. Até porque, comumente os pensamentos que se tornam conscientes são na maioria das vezes dado por seres que não estão encarnados. São idéias que surgem na mente aparentemente do nada. Por conta do apego que o ser encarnado tem à mente, não consegue distinguir o que é idéia dele e a que lhe é sugerida como provação. Desta forma, muitas vezes a simples troca de um conteúdo de um pensamento pode ser realizada pelos seres extracorpóreos e aquele que está encarnado pode pensar que ele realizou alguma coisa.

Reformar-se é mudar a forma de relacionar-se com os pensamentos que lhe são dados. É deixar de acreditar que é você quem está pensando. É deixar de crer que é você quem está vivendo aquela situação, que é você que gosta ou desgosta de tal coisa.

Sendo assim, posso afirmar que ser feliz não é deixar de ter o pensamento que lhe diz que você está sentindo determinada emoção, mas manter-se neutro seja ao júbilo ou ao sofrimento que está embutido nele. A felicidade que Deus tem prometido é, dentro da percepção humana, a vivência das emoções que a mente cria sem deixar-se levar por elas. É o estado de neutralidade que você alcança quando a mente lhe diz para sentir-se jubiloso ou pesaroso.

Mas, como lidar desta forma com o pensamento? Sabendo que a consciência que está recebendo da mente naquele momento é só um pensamento e não uma emoção que você está sentindo. Sabendo que o seu júbilo e o pesar são apenas idéias geradas pelas mentes e não realidades que não podem deixar de ser vividas.

Isto é a inteligência emocional aprender a lidar com os pensamentos que declaram que você está sentindo tal ou tal emoção mantendo-se neutro com relação ao que a mente propõe que você sinta. Quem se torna inteligente emocionalmente consegue alcançar esta neutralidade e com isso promove a sua reforma íntima; quem não consegue, segue nesta existência como subordinado da mente e vive a vicissitude do prazer e da dor.

Portanto, o ponto de partida para aquele que quer aproveitar esta encarnação para elevar-se é tornar-se emocionalmente inteligente. Para isso é preciso ter a consciência de que não existem emoções, mas sim um pensamento-emoção. A partir desta consciência, aquele que quer reformar-se, executa o trabalho de alterar a sua forma de relacionar-se com o pensamento-emoção.

Foi para ajudar neste trabalho que estamos conversando há muito tempo. Tudo o que conversei com vocês até hoje foi para lhes ajudar a ter uma inteligência emocional, ou seja, saber reconhecer o pensamento-emoção como apenas uma idéia gerada pela mente e não como um sentimento.

Durante nossas conversas sempre acabo trazendo informações sobre assuntos que aparentemente são idéias novas sobre as coisas do mundo. O ser humanizado que me ouve acha, então, que descobriu uma verdade universal, uma verdade irretocável. Eu nunca ensinei nada que não possa ser contestado por qualquer um, ou seja, eu nunca trouxe uma idéia que deva ser acreditada como absoluta.

Todas as informações que trouxe ao longo de nossas conversas nunca tiveram o objetivo de lhes ensinar nada. O que objetivei quando lhes dizia que determinada informação não era como vocês acreditavam é lhes ajudar a questionar o que estava nas suas mentes como verdades absolutas. Fiz isso para que vocês aprendessem a conviver com as informações mentais que possuem sem apegar-se a elas como verdadeiras.

Quando digo, por exemplo, que no Universo tal coisa é compreendida de forma diferente da que você entende, não estou criando um novo padrão para aquilo, mas sim lhe ajudando a libertar-se do valor de verdadeiro que dá à informação que tem. Infelizmente muitas vezes este objetivo não foi entendido e vocês tornaram verdades aquilo que foi dito. Com isso apenas mudaram o conteúdo das informações que dispõem ao invés de aprenderem a lidar com a mente.

Sei que vocês se preocupam muito com a inteligência-saber, cultura. Querem entender tudo... Mas, o saber não leva nenhum ser a conseguir a elevação espiritual. Aliás, Deus seria muito safado se mandasse o espírito para um mundo diferente do seu e com sua consciência primária encoberta pelo véu do esquecimento para aprender as coisas espirituais. Portanto, neste mundo, para o espírito, não há nada a ser sabido.

A inteligência cultural não ganha jogo, não pode ajudar o ser agora humanizado a ser feliz de jeito algum. Pelo contrário: a quantidade de saber pode contribuir para que ele não consiga viver a felicidade que Deus tem prometido. Só a inteligência emocional é que pode ajudar o ser encarnado a alcançar esta felicidade. Para isso ele precisa aprender a lidar com o pensamento-emoção.

Mas, como lidar com isso? É o que vamos ver agora...

Hoje vocês já lidam com o pensamento-emoção. Como aqui não existem crianças pequenas, posso afirmar que estão encarnados há algum tempo e por isso já lidam com o pensamento-emoção há algum tempo. Só que lidam como ele de uma forma infantil... O que quer dizer isso?

Lidar com o pensamento-emoção de uma forma infantil é seguir o que ele propõe: se ele diz que deve sofrer, você vivencia a depressão da dor; se diz que deve vivenciar o júbilo, entra logo no êxtase do prazer. Ou seja, você lida com o pensamento-emoção de uma forma infantil ao não questionar as consciências que a mente cria.

Chamo quem lida desta forma com as criações mentais de infantil porque assim como uma criança, ele não questiona nada do que lhe dizem. Se você disser alguma coisa a uma criança, mesmo que aquilo seja completamente impossível de existir ou acontecer, ela acredita. A mesma coisa acontece com aquele que não é emocionalmente inteligente, ou seja, que não raciocina as informações que a mente cria. Vou dar um exemplo para ficar claro o que estou dizendo.

Quantas vezes a sua mente já não atribuiu intencionalidade para a ação de outros? Através de pensamentos, a mente lhe afirma que aquela pessoa agiu de determinada forma objetivando conseguir algo, mesmo que esta intencionalidade não esteja transparente no que ele fez. Será que esta intencionalidade é real?

Será que alguém pode saber o que vai por dentro do outro? Será que alguém tem capacidade de conhecer o mundo interno de outra pessoa? Acho que não. Acho que pessoas que conseguem ler a mente dos outros ainda não existem, não é mesmo? Mas, mesmo assim, vocês acreditam no que a mente afirma que o outro está pensando ou pretendendo ao agir de determinada forma.

Isso não é ser infantil, não é relacionar-se com a mente de uma forma infantil? Se você fosse maduro questionaria o que a mente está dizendo ao invés de aceitar simplesmente. Se questionasse, veria que é impossível para ela saber o que vai ao íntimo do outro e com isso não acreditaria no que ela está dizendo. Não crendo naquilo que ela afirma, poderia, então, libertar-se da ação emocional que ela propõe. Eis aí a forma de manter-se sereno, mesmo quando a mente diz que você deve sentir raiva.

O ser que se relaciona infantilmente com o que a mente afirma é um inconseqüente espiritual, pois troca a vivência da felicidade que Deus tem prometido pela subserviência à mente. Vista desta forma a ação deste ser, posso dizer que a mente para ele é como o bezerro de ouro que Moisés encontrou o povo israelita adorando depois de subir ao monte Sinai.

Acreditar piamente no que a mente afirma sobre os outros é uma das formas infantis que vocês usam para relacionar-se com os pensamentos-emoções. Mas, existe outra relação que vocês nutrem com ela que também demonstra a infantilidade deste relacionamento: a esperança de alcançar o que ela promete.

Quem aqui nunca foi movido pela esperança de ganhar alguma coisa? Quem aqui nunca perdeu a sua serenidade por conta de uma promessa de ganhar algo? Acho que todos, não? E o que conseguiram na maioria das vezes em que se entregaram a este sonho? Decepção...

Os pensamentos gerados pela mente têm a característica de prometer ao ser humanizado que se ele agir de acordo com aquilo que ela propõe conseguirá atingir objetivos, ganhar determinadas coisas. No entanto, o que vemos são pessoas frustradas na maioria das vezes porque não conseguiram chegar ao ponto desejado. Será que vocês ainda não compreenderam que apenas seguirem o que a mente diz para fazerem não garante o sucesso? Quantas vezes já agiram fielmente aos seus pensamentos e não conseguiram alcançar o resultado esperado?

A vida vive a vida. Os acontecimentos precisam do seu trabalho para acontecer, mas não dependem só dele. Existem milhares de outros fatores que influenciam os acontecimentos da vida e que podem levar a um resultado diferente daquilo que vocês objetivam, por mais que operem com afinco seguindo as orientações da mente. Ou seja, a promessa de se conseguir atingir determinado objetivo que é feito pelo pensamento-razão depende de fatores que fogem ao seu controle e por isso são meras quimeras.

O maduro espiritualmente sabe disso e por isso, mesmo seguindo o que a mente planeja, não se entrega ao pensamento-emoção vivendo a esperança de conseguir. Ele faz tudo o que a mente lhe diz para fazer, mas não vivencia a esperança de atingir o resultado que ela oferece. Já os que se relacionam com os pensamentos-emoções de uma forma infantil acreditam sempre que vão encontrar o pote de ouro no fim do arco íris e por isso sofrem antes, durante e depois da busca. Sofrem antes com a preocupação se estão certos, durante com a ansiedade de chegar logo ao fim dele e quando chegam lá sofrem, pois na maioria das vezes não há pode de ouro algum a ser encontrado.

Eis aí as duas características do relacionamento infantil com a mente: crer e confiar nos pensamentos-razões que ela cria. Quem age desta forma, quando ela cria o pensamento-emoção da frustração e da desconfiança vivencia também as emoções que ela determina e por isso perde a sua serenidade. Mas, existe outra forma de se lidar com o pensamento-emoção: a forma madura.

Como se lida com o pensamento-emoção maduramente? É o que já falamos: agindo quando possível para acabar com a contrariedade e entregando-se a Deus quando isso não é possível. Vu dar um exemplo para podermos entender a interação do ser humanizado maduro com os pensamentos-emoções.

O pensamento-emoção diz que você foi humilhado num determinado momento. A criança vai chorar, sofrer, ter raiva, sentir-se mal. O ser humano adulto, ao invés disso, responde à mente: 'Está certo, fui, mas o que é que você quer que eu faça? Posso reagir buscando provar que não sou o que ele diz que sou. Posso isso e muito mais, mas me sentir humilhado vai resolver alguma coisa'?

Essa é a inteligência emocional. O ser humano maduro é inteligente emocionalmente porque sabe conviver com a emoção. Ele não aceita a emoção quando a mente lhe diz que deve tê-la. Ele questiona: 'Para que vou sentir raiva, para que vou me sentir humilhado, para que sentir prazer? Isso vai resolver alguma coisa na minha vida? Não, então não quero isso'...

O que não resolve não adianta... Adianta você ficar chorando no canto porque uma pessoa morreu? Adianta chorar no canto porque veio uma onda gigante e matou diversas pessoas? Vai resolver alguma coisa chorar? O melhor não seria pensar assim: 'Depois eu choro, agora vou ajudar quem ficou vivo e enterrar quem morreu'.

Esse é o ser maduro: aquele que encara a realidade de frente e não com os pensamentos-emoções. É simples assim... Mas, para isso preciso querer crescer. É sobre isso que já conversei diversas vezes...

Mas, quando tento acordar vocês, algumas pessoas reclamam dizendo que estou sendo duro, que não queria que eu chamasse tanto a atenção de vocês. Mas, não é assim que se faz com criança? Com crianças, você tem que brigar, pois elas muitas vezes não entendem o que está sendo ensinado. Às vezes, para poder se ensinar às crianças alguma coisa, temos que falar duro e seco. Com isso as despertamos do mundo de fantasias que vivem...

Para não se sentirem magoados ou feridos com a forma que falo, é preciso que entendam que devem despertar. Para isso é preciso se conscientizar que vocês não têm a menor inteligência emocional. Lidam com os pensamentos-emoções como crianças, aceitando qualquer coisa que a mente disser que têm que sentir ao invés de maduramente raciocinar o sofrimento, o pensamento-emoção.

Adianta sofrer porque roubaram o seu carro? Não vai trazê-lo de volta... Adianta reclamar do bandido que o levou dizendo que ele não presta, que é um safado, ter raiva dele, se isso não vai trazer o carro de volta? Ele já está roubado... O que você tem que pensar agora é em como arranjar outro ou tentar recuperar aquele, se possível...

Esse é o ser humano adulto: aquele que ao invés de se entregar à mente, para e raciocina. Aliás, raciocinar a vida é algo que vocês esqueceram. Falo em raciocinar a vida não para entendê-la, para querer saber o porquê das coisas, como elas acontecem ou que futuro surgirá deste presente. Não é esse raciocínio que estou me referindo. Esse é um raciocínio cultural; estou falando de emocional: aprender a raciocinar os pensamentos emoções que constituem a sua vida.

Quantas vezes eu já disse para as pessoas que reclamavam de alguém assim: 'você está aqui chateada, nervosa, preocupada, mas o outro de quem está reclamando está lá feliz da vida'. Para as mães que reclamavam que o filho não arrumava a cama, dizia: 'Você está chateada porque não arrumou a cama, mas, neste momento, ele está lá feliz namorando. Está chateada por quê? Quer a cama arrumada, vai lá e arruma'... Aí as mães me diziam: 'Mas eu quero que ele arrume'... Isso não é uma criança que bate o pé quando a vida não lhe dá o que ela quer?

Então, é simples assim: é só amadurecer... Idade não dá maturidade a ninguém: é preciso ser maduro para estar maduro. E, ser maduro, é enfrentar os pensamentos emoções que a mente cria de frente...

Será que compensa o sofrimento? Será que compensa a tristeza? Só quem sai perdendo é você mesmo... Como disse, muitas vezes o causador de tudo isso está feliz da vida e você está aí chorando, sofrendo...

Todo trabalho que estamos fazendo é neste sentido: dar-lhes argumentos para que você saibam enfrentar a vida de uma forma madura e não como crianças. Saibam enfrentar os pensamentos-emoções como gente grande que dizem ser. Ou seja, de uma forma inteligente.

Quando falo que não existe filho, que a mãe tem que perder a idéia de ter tido um filho, eu não estou querendo acabar com o seu filho, porque isso nunca vai acabar. Mas, enquanto você for uma criança e achar que possui o outro, vai agir de uma forma infantil com o filho. Ou seja, exigirá que ele faça o que você quer, já que é a mãe... Para que você seja feliz, pare de achar que ele tem que fazer o que você quer, pois é a mãe e manda nele...

Quando mostro a armadilha que a mente cria ao dizer que você é mãe ou pai, estou querendo lhe dar armas para saber enfrentar o pensamento-emoção. Quando o pensamento lhe cobrar algo do seu filho, não caia na dele. Quando amadurece, você deixa de esperar que ele lhe ouça. Livre disso, fala, mas não exige que ouça e com isso pode libertar-se do sofrimento que vem sempre quando isso acontece.

Acho que com este termo (inteligência emocional) estou deixando a coisa bem clara. O que estamos conversando não tem nada a ver com espiritualismo, universalismo ou qualquer 'ismo' desses. É simplesmente o que a psicologia chama de saber lidar com as emoções, de inteligência emocional. É preciso alcançá-la, mas sem a maturidade, sem entender que você não é mais uma criança que precisa que o mundo lhe satisfaça, não vai conseguir.

Como você vai conseguir rezar de uma forma madura se ainda espera que Deus lhe dê o que quer? Como pretende viver num mundo em felicidade se as guerras nunca acabaram e nunca acabarão? Se as injustiças nunca acabaram e nunca acabarão? Sonhar com o paraíso na Terra é utopia, é coisa de criança presa ainda aos livros infantis...

Saibam de uma coisa: o bem nunca vai vencer o mal completamente. O bem jamais acabará com o mal, pois na hora que acabar o mal não existe mais o bem... Saibam de uma coisa: as violências, os assaltos, nunca vão acabar; as desigualdades sociais também não. Então, não precisa sofrer por isso... Estas coisas sempre existiram e sempre existirão... Até porque, se acabassem, o Universo se desequilibraria. O mal é o equilíbrio do bem. Ele existe para que o bem possa existir.

Portanto, esqueçam... Parem de brincar de Peter Pan...

Parem de brincar de paladinos da justiça lutando contra os piratas. Parem de se sonhar em voar com a fada Sininho. Parem de sonhar em viver num mundo onde todos só cantem e dancem. Isso não existe... Isso é coisa de gente infantil. E quem é infantil, não alcança a inteligência emocional...

Participante: Para raciocinar a infantilidade dos pensamentos é preciso ter pensamentos maduros. O pensamento maduro só questiona e observa a infantilidade dos pensamentos?

Eu não disse que o pensamento é infantil. Infantil é você que aceita o pensamento e não ele mesmo.

Também não falei para você ter pensamentos maduros, mas para reagir ao pensamento-emoção de uma forma madura. É você que tem que ser maduro e não o pensamento...

O pensamento não é maduro ou infantil; ele é o que é. É a sua forma de lidar com ele que vai determinar a sua maturidade e não ele próprio.

Participante: Quando fazemos planos para a vida desejamos coisas. Como usar a inteligência emocional neste momento?

Sabendo que você faz planos para a vida desejando ter coisas, mas sabendo também que só desejar não adianta. Se quiser ter, tente ter, mas não viva a tentativa com a certeza que conseguirá, pois senão a viverá em agonia...

Maduro é aquele que quer ter um carro e junta dinheiro para isso. Mas, enquanto não tem, anda de ônibus sem reclamar... Infantil é aquele que fica rezando a Deus assim: 'Ah, meu Deus, eu preciso tanto de um carro. Por que eu não consigo comprar um carro? Eu estou desesperado... Não agüento mais este ônibus'...

Sentiu a diferença?

Participante: Me sinto sempre confuso diante das situações e relacionamentos. Acho que tenho dificuldades em perceber e identificar as minhas emoções. O que pode ser?

Dificuldade de perceber e identificar as suas emoções...

Sentindo-se confuso, observe a confusão que está, mas não a viva. Não queira deixar de sentir-se assim, pois senão se desequilibrará: não quer estar, mas está...

A única forma de fugir destas emoções é constatar que está confuso. De nada adianta querer não estar confuso, pois você está. Se quiser deixar de estar, vai viver todas as emoções criadas pelas mentes por conta disso...

Você deve se conscientizar de que está confuso e compreender que não pode estar de uma maneira diferente naquele momento, pois está assim. Se quiser não estar, vai sofrer porque está. Ficará amargurado, ansioso, preocupado ou contrariado porque está confuso. Quando você só vive o que tem para viver no momento (neste caso, a confusão), não precisa sofrer por causa disso...

Esse é o ser maduro. O ser que age com emoção de uma forma inteligente: não luta contra ela e nem a vive... Ele simplesmente reconhece a emoção e não aceita a proposição que o pensamento emoção traz.

Participante: Estou me sentindo frustrado. Como saio disso?

Frustrado com o quê? Você tem que ser claro para você mesmo. É preciso saber por que está se sentindo assim, que argumento a mente está usando para lhe propor frustração...

Participante: Por causa da minha situação atual de vida. Estou sem trabalho e fico em casa o dia inteiro sem fazer nada. Isso me deixa frustrado...

Você está com um pensamento-emoção de estar frustrado por não estar trabalhando. Mas, sentir-se frustrado vai resolver o seu problema? Vai lhe dar emprego? Vai fazer cair dinheiro do céu? Não... Então, conscientize-se de que está desempregado mesmo, que não tem jeito e que a única coisa que pode fazer é ficar à toa o dia inteiro...

Sei que você tem procurado emprego, mas esta é apenas uma ação física. O que lhe falta fazer é a silenciar a mente que diz que não pode ficar à toa o dia inteiro. Para isso, diga: 'Não tem jeito, mente... Estou buscando emprego e não consigo nada. Se você conseguir que eu seja aprovado em algum lugar, eu paro de ficar à toa'.

Para você acabar com o pensamento emoção precisa enfrentá-lo com a realidade. A realidade é que você não tem emprego e que obtê-lo não depende de você. Faça a sua parte e tenha a consciência que o resto não depende de você. É a história bíblica: bata que eu abrirei. Faça a sua parte, mas quem vai abrir a porta não é você.

Portanto, mande seu currículo para todos os lugares que souber que estão precisando de pessoas com sua experiência e diga à mente: 'a minha parte estou fazendo. Por isso não aceito a frustração que você está me dando. Eu estou correndo, procurando, me esforçando. Agora, não vou sair de casa todo dia só para sentar na esquina se não tenho nenhum lugar para ir... Fazer isso seria uma idiotice'...

Enfrente a vida com realidade, de uma forma madura. Criança é aquele que acha que perdeu um emprego hoje arruma outro logo depois. O ser maduro sabe que a única coisa que ele pode fazer é a sua parte. Por isso não aceita angústia, o sofrimento, a frustração por não ter emprego.

Sei que vocês devem estar estranhando, pois o que estou dizendo é para serem racionais... Sim, para ser feliz é preciso ser extremamente racional, pois quem é assim não vive as emoções que a mente cria. Quem racionaliza a vida não é um emotivo e quem é emotivo sofre ou tem prazer, pois estas são as duas únicas emoções que a mente sabe criar...

Alcançar a inteligência emocional é deixar de ser emotivo. É saber lidar com a realidade sem se deixar levar pela emoção.

Mas, como se combate a emoção? Enfrentando-a de frente... 'Eu não vou aceitar essa frustração que você está me dando porque não fui eu que causei tudo isso. Não estou aqui sentado esperando o emprego cair do céu. Estou buscando arrumar outro emprego, sair dessa, mas não consegui. E a frustração não vai resolver, não vai me fazer achar emprego nenhum... Enquanto estiver desempregado, vou viver o desemprego; na hora que achar um, aí sim vou viver o estar empregado'.

Participante: Estancar a emoção é o mesmo que desacreditar na mente?

Exatamente...

Repare, você estanca a emoção e não o pensamento. Quer dizer, vai continuar tendo pensamento de estar frustrado por não ter o emprego, como no caso anterior, mas não vai estar frustrado por ter este pensamento...

Estancar a emoção é exatamente isso: ter o pensamento-emoção sem ter a própria emoção. É ter o pensamento-emoção de estar com raiva sem ter raiva...

Emoções

Ser equânime

“6. Superando o carinho que tens pelos parentes e amigos e renunciando a tudo, anda pelo mundo com um perceber equânime e fixa a tua mente completamente em Mim” (Bhagavad Gita – Capítulo 2)

Conselho do espírito lúcido (Krishna) aos seres humanizados: supere o carinho que você tem pelos amigos e familiares. Vamos entender isto, mas antes de tudo me deixe falar algo. Quando se fala em amigos e parentes não pense apenas nas pessoas, mas também nas “coisas” que são suas “amigas”.

Participante: Os animais...

Tudo o que você gosta, que quer bem, que tenha carinho. Supere este sentimento que tem por determinadas coisas. Porque você tem que superar o carinho, por exemplo, pelo seu marido, se quiser alcançar a felicidade que Deus tem prometido? Porque ele não é seu marido.

Participante: É um vínculo irreal...

Sim, é um vínculo que vale apenas para esta vida.

Participante: Mas se este é o meu marido e não outro e eu gosto dele, eu tenho que estar com ele, não? Tudo que sinto e compreendendo a respeito dele é o que eu preciso e escolhi para vivenciar nesta encarnação com a finalidade de alcançar a elevação espiritual, não?

Perfeito. Você está ao lado dele: isto é fato e não pode ser mudado agora. Se amanhã abandoná-lo será um novo presente, uma nova Realidade. Portanto, superar o carinho que tem por ele não é abandoná-lo, mas, como Krishna mesmo orienta neste trecho, mas ter um perceber equânime com relação a ele.

O que quer dizer equânime? Igualdade de ânimos. Juntando as duas coisas, então, o que deve fazer para superar o carinho que tem por ele? Ser equânime no relacionamento com ele e com todo mundo.

Para seguir o ensinamento do mestre, você não deve amar o seu marido mais do que a outro homem. Tem que ter igualdade de ânimo, ou seja, relacionar-se com ele com o mesmo sentimento com o qual se relaciona com todos os demais seres humanos.

Você precisa aprender a ter o mesmo ânimo entre um bêbado caído no meio da rua e o seu marido, pai ou irmão. Isto é elevação espiritual: amar a todos igualmente. Foi isto que Cristo ensinou quando falou que você precisa abandonar pai e mãe e pegar a sua cruz para poder ser seu seguidor. Foi isto que ele quis dizer quando afirmou que veio para colocar filhos contra os pais, filhas contra as mães e as noras contra as sogras E concluiu: “E assim os piores inimigos de qualquer pessoa serão os seus próprios parentes”.

Sim, o pior inimigo de um espírito encarnado são os seus parentes e amigos, ou seja, aqueles por quem o ser humanizado tem uma animosidade diferente de outros.

Destruir o afeto privilegiado que se tem por pessoas, animais ou objetos em detrimento a outros é o caminhar equânime. Mas ele só será alcançado quando se superar o carinho adicional com o qual se trata um determinado espírito que se reconhece, por exemplo, como marido.

Ele não é seu marido, está marido. Ele também é um espírito e como tal pertence, assim como você, à família universal. Ele não é seu marido, mas seu irmão em Deus. Mas, o bêbado da esquina também é seu irmão em Deus e o assassino e o ladrão também. Todos os espíritos são seus irmãos em Deus.

Viver com esta consciência é o caminhar equânime que Krishna ensina: viva esta vida com tudo e com todos dentro da mesma igualdade de ânimos. E, se este comentário faz parte deste livro que objetiva a ensiná-la a controlar a sua mente (Bhagavata Puranas – O Senhor da Mente), podemos, então, começar a falar de prática ou de um dos trabalhos do senhor da mente é ser equânime.

O senhor da mente precisa controlar as verdades que a mente cria e que diferenciam as coisas e lhe dá ânimo diferente entre elas.

A mente vai lhe induzir afirmando que aquele homem é seu marido e por isso precisa gostar mais dele do que dos outros. Além disso, lhe dará a sensação de amor carnal por ele, o que o diferencia dos demais seres humanos, mas você precisa agir para não viver esta emoção.

Em outro momento, a mente vai dizer sobre outro homem que ele é um bêbado, um homem à toa e que por causa deste vício a mulher e os filhos desse homem estão passando fome. Também lhe dará a sensação de desgostar de tal pessoa, mas você precisa controlar esta sensação para não se sentir assim.

Este é o caminho para se viver a felicidade que Deus tem prometido.

Participante: Acredito que o caminho para se alcançar isso deve ser primeiro aprender a amar aqueles que estão mais próximos de nós para depois chegar àqueles que nos são estranhos.

É ao contrário. Você só vai amar os estranhos na hora que não viver o amor por aquele que está próximo. Você precisa aprender a não amar o próximo primeiro, para só depois poder amar o estranho.

Pode parecer estranho falar em não amar alguém, mas, quando digo isso, estou falando no amar emoção, ou seja, num pensamento-emoção amor e não o amor universal.

O que você tem pelos seus próximos não é amor universal, mas amor carnal, um pensamento emoção. Na verdade, a sensação com a qual se relaciona com seus parentes lhe é dada pela mente e não provém do espírito.

O pensamento-emoção amor é individualista (ama mais a um do que a outros), é possessivo (é meu) e é baseado na aplicação de uma justiça individualista (eu gosto). Ele não é universal (igual entre todos) e nem eterno, pois só dura esta encarnação. Na próxima, dependendo do papel vivenciado por você e este espírito, poderá odiar este mesmo irmão em Deus.

Por isto afirmo que você precisa deixar de amar a quem a mente diz que tem que amar para poder viver na plenitude o amor universal com todos.

Participante: Então, o caminho é começar a tentar não amar ele (meu marido), meus familiares...

Sim, o caminho para se viver a felicidade que Deus tem prometido para pela não vivência do pensamento-emoção amor que sente por alguns seres humanizados.

Participante: Então, não é deixar de amar, mas aprender a amar universalmente cada um.

O trabalho é libertar-se do amor privilegiado por alguns e não o aprendizado do amor universal.

Como estamos falando desde o início deste trabalho não há como se fazer, criar, aprender nada novo sem a interferência da mente. Trabalhando no sentido de construir uma nova base de relacionamentos, esta será ditada pela mente e por isso não será um amor universal. O único trabalho que executa aquele que quer viver a felicidade que Deus tem prometido é a libertação da verdade imposta pela mente e não a construção de algo que não exista nela.

Participante: Poderia chamar o pensamento-emoção de paixão?

Depende do tempo de casamento. Nos primeiros dois anos é paixão, depois vira posse.

Participante: Pensando bem o pensamento-emoção amor é mesmo uma coisa egoísta.

É porque, mesmo para aquele que diz amar o próximo, primeiro ama ele mesmo, o que ele quer; em segunda ou terceira opção ainda prevalece o seu desejo individual. Só lá pela centésima opção talvez este ser humanizado pense em abrir mão de um desejo individual para amar o do próximo.

Quando falo isso muitos dizem que estou exagerando: há pessoas que conseguem doar-se ao próximo. Mas, será que estão se doando mesmo? Vou dar um exemplo. Quando você deixa seu marido fazer o que ele quer porque quer agradá-lo, em quem está pensando? Claro que é em você, em fazer aquilo que quer: deixá-loele fazer o que quer. Não está fazendo por ele, não está fazendo para servi-lo, mas para atender a si mesma, para agradar o seu desejo de servir. Sempre que você raciocina e chega a uma conclusão e a coloca em prática, mesmo que esta seja servir o próximo, está servindo a si mesma, porque esta fazendo o que quer. Para poder servi-lo realmente seria preciso que não houvesse este querer individualizado que busca ser satisfeito antes de tudo. Seria preciso estar equânime com a situação, ou seja, sem desejo algum para poder realmente servir.

Então, este é um dos trabalhos daquele que quer ser emocionalmente inteligente: extinguir a predileção emocional que possui por determinados seres ou objetos. Aqui começa a caminhada para a elevação espiritual.

Quem busca aproximar-se de Deus precisa aprender a controlar as sensações não equânimes que a mente propõe. Elas não são suas verdades ou realidades, mas, apenas por ainda estar subjugado pela mente você acredita que sejam suas. Você acha que gosta mais de seu parente do que do bêbado, mas isto não é verdade: você é um espírito e como tal ama a todos igualmente. Mas, a sua mente lhe faz crer que gosta mais deste do que daquele e para tornar esta sensação real lhe dá milhares de razões racionais.

Chegamos, portanto, a mais um trabalho que deve executar aquele que quer ser emocionalmente inteligente: não sentir as emoções diferenciadas entre os espíritos encarnados que a mente cria. Para isso é preciso mergulhar profundamente no oceano do conhecimento sobre si mesmo ao invés de viver na superficialidade da crista da onda que contém o que a mente lhe dá.

Emoções

Responsabilidade pelos sentimentos

Participante: Se Deus é a causa primária de todas as coisas, porque somos responsáveis por aquilo que sentimos?

No Universo existem duas realidades: a Real e as realidades criadas pelas consciências as quais os espíritos estão ligados. Vou explicar isso melhor...

Hoje você é um espírito ligado a uma consciência rotulada com o nome José. Esta consciência José, que é uma mente, tem a capacidade de servir de instrumento a Deus para gerar realidades. Por exemplo: neste momento você acredita que a realidade da sua vida é estar lendo estas palavras. Isso é real para você, mas é real apenas para você, pois é uma criação da personalidade ou consciência ou mente José a qual está ligado. A esta realidade chamamos de relativa, pois ela só serve para você mesmo.

Acontece que no mesmo momento que você José imagina estar lendo estas palavras, você o espírito sem nome, cor, sexo, raça ou religião, está no Universo realizando coisas completamente diferentes do que a mente está dizendo que está fazendo agora. Portanto, por causa da atividade da consciência José, você tem a ilusão de estar onde está, mas na verdade está no Universo agindo espiritualmente.

Depois de lhe falar isso posso, então, lhe responder. Deus é a Causa Primária de todas as coisas com relação às realidades relativas. Todas as realidades relativas são criadas primeiramente por Deus. Ou seja, a idéia de estar em algum lugar e fazendo alguma coisa é Deus quem dá...

Já na Realidade Real, na realidade espiritual, você espírito goza daquilo que se chama de livre arbítrio. Em O Livro dos Espíritos está escrito assim: o espírito ao escolher para si tal prova gera para si uma espécie de destino; digo isso com relação às coisas materiais, pois com relação às provas materiais ele é livre para escolher entre o bem e o mau.

Sendo assim, no mundo Real você espírito está escolhendo amar universalmente ou individualmente. Este é o livre arbítrio do espírito e sua ação. Por isso afirmo: o espírito faz alguma coisa no mundo Real, no espiritual, mas no mundo ilusório, o mundo imaginário criado pela personalidade humana, não faz nada. Ele vivencia apenas as realidades criadas por Deus e por isso Ele é a Causa Primária de todas as coisas.

Agora, será que esse livre arbítrio do espírito, ou seja, o sentimental é completamente livre? Eu diria que sim; o espírito goza da liberdade de amar do jeito que ele quer e Deus não interfere nisso. Mas, não podemos nos esquecer que um dos atributos de Deus é ser Onisciente. Por isso posso dizer que no mundo Real você espírito é livre para escolher como amar, mas lhe garanto que Deus já tinha ciência do que você ia escolher...

Não estou dizendo que Ele escolherá por você, mas afirmando que Ele tinha prévia ciência da sua escolha. Se isso não fosse verdade, Ele não seria Onisciente.

Portanto, eis aí o que é, na íntegra, a Realidade do Universo. Deus é a Causa Primária da vivencia no mundo material. Já no mundo espiritual, você tem a liberdade de agir espiritualmente, ou seja, sentir, amar. Mas, Deus já sabe de antemão como você vai amar, o que vai fazer sentimentalmente.

É esta a Realidade do Universo e é isso que quer dizer Deus Causa Primária de todas as coisas. Esta é a Realidade Universal: espíritos vivendo iludidos achando que estão vivos na carne.

Emoções

Destruindo o egoísmo

“917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo”? (O Livro dos Espíritos)

Antes da resposta do Espírito da Verdade deixe-me fazer um pequeno comentário sobre o assunto. Prestem bem atenção ao que vamos falar agora porque se o egoísmo é a determinante do seu nível de elevação espiritual, a ascensão só acontecerá com vocês não mais subjugarem-se aos pensamentos egoístas. Portanto, o que falaremos agora é fundamental para aquele que pretende aproveitar esta encarnação.

Só quando compreendemos profundamente a questão do egoísmo poderemos realmente realizar o trabalho da reforma íntima. Sem esta ação moralizadora verdadeira o ser humanizado se ilude durante a sua existência carnal achando que está fazendo o certo e por isso continua vivendo o pensamento-emoção. Só depois do desencarne percebe a intenção egoísta que estava presente naquela vivência, mas aí já é tarde para alcançar a reforma íntima.

Costumo dizer que na luta contra a mente é preciso mirar no general e não nos soldados. O supremo comandante do ego é o egoísmo que cria vários soldados (vaidade, ganância, soberba) para combaterem o espírito. Este general, no entanto, está camuflado pelas próprias ilusões de certo e errado que a mente cria e por isso não é localizado.

O ser humanizado, então, luta contra os soldados, mas não ataca o comandante. O egoísmo permite que o ser faça isso e até que vença alguns de seus subordinados, para poder proteger-se no anonimato e continuar agindo nos subterrâneos da intenção dos seres sem ser percebido.

Portanto neste trecho iremos mirar no general da sua mente (nos seus padrões de certo e errado) e não ficar atirando em soldadinhos que são peões nesta batalha. Iremos tratar o cancro que causa a ferida e não tratar dos efeitos que ele provoca.

Como a resposta de Fénelon é grande e aborda diversos aspectos, a estudaremos em parte.

“De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pode libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

O egoísmo decorre da materialidade, nos ensina o amigo espiritual.

Já estudamos anteriormente o tema materialidade e definimos que ela não se consiste em estar ligado a uma massa carnal, mas acontece quando o ser universal encontra-se ligado a uma mente humana. Portanto, o egoísmo surge e é natural no espírito quando ele está ligado a uma personalidade humana.

Sendo assim, enquanto houver a ligação com a mente, a intenção que o ser humanizado terá será sempre fundamentada no egoísmo. Não importa a que ato esteja nos referindo, vivenciá-lo subordinado aos padrões ditados pela mente é ter a intenção baseada no egoísmo.

 Seja na aplicação das leis humanas, seja nos padrões organizacionais de uma sociedade, seja na orientação do próximo sobre o que é certo (educar), enquanto o ser universal estiver humanizado (submisso aos padrões ditados pela mente) o egoísmo ocorrerá. Não importa que você ache que esteja certo ou até que a grande maioria concorde com você, se aplicar o que acha que deveria estar acontecendo para julgar a atitude do próximo ocorreu um egoísmo e não uma justiça ou um amor.

Mas você não vê assim. Acredita que o acatamento às leis humanas deve ocorrer, que os padrões organizacionais de uma sociedade precisam ser respeitados, que você deve educar os outros para eles ajam de forma certa. Mas quem disse isso?

As leis humanas são temporárias e individualizadas; as organizações sociais são extremamente diferenciadas de acordo com cada povo; o que você acha certo já se modificou milhares de vezes durante essa existência. Ou seja, nada disso é universal; e tudo que não é universal é ilusório, individual.

As leis que você acha certa são ilusórias, as organizações sociais que você imagina que todos têm que se submeter são ilusões, tudo que você acredita como certo mudará quando libertar-se dos padrões impostos pela mente. Portanto, exigir o cumprimento destes padrões ao próximo é submeter-se à personalidade humana o que, naturalmente, nos leva ao egoísmo.

Enfim, ter um padrão, seja sobre que assunto for, de certo ou errado, bonito ou feio, gera automaticamente o egoísmo. É por isso que Buda chama os padrões de paixões. Você é verdadeiramente apaixonado pelos seus padrões de certo e errado e desta paixão surge, então, o desejo do cumprimento daquilo que você acha certo e o desejo da não existência daquilo que você acha errado. Ou seja, o egoísmo em ação.

“O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas” (O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

Dois aspectos a analisarmos neste trecho. Primeiro: o egoísmo acaba com a elevação moral.

Se o egoísmo é contrário à elevação espiritual e se ele é fundamentado no eu, o processo de reforma íntima se consiste em buscar o nós. A partir daí pergunto: o que é elevar-se moralmente?

Certamente não tem nada a ver com não fazer aborto, com não matar, ou seja, não está vinculada a padrões humanos. A elevação moral ocorre apenas quando o ser humanizado abandona o eu e vive o nós, não tendo importância que atos ele pratique.

O nós a que estamos nos referindo é aquele que é alcançado pela fusão perfeita de todos, ou seja, quando todos tiverem direitos iguais. Sendo assim, a elevação moral é alcançada quando cada um tiver o direito de ser, estar e fazer o que quiser e você não o julgue por isso.

Segundo aspecto destacado por Fénelon: o espiritismo lhe ensina a Realidade. Para podermos entender isso vamos ver que Realidade o Espiritismo nos ensina.

Em primeiro lugar o Espiritismo diz que você é um espírito encarnado, ligado a um ego, mas que não deixa de ser um espírito. Isso fica bem claro numa série de perguntas que já estudamos: O que era a alma antes de encarnar? Espírito. O que voltará a ser a alma depois de desencarna? Espírito. Estar alma, ou seja, encarnado, portanto, não acaba com nossa essência Real (espírito), mas apenas destaca uma condição especial temporária de vivência (estar ligado a uma personalidade humana).

Segunda Realidade que o Espiritismo ensina: há uma interação entre mundo espiritual e material a tal ponto que nada acontece neste mundo sem a interseção dos espíritos. Como esta Realidade trazida pelo Espiritismo nem sempre é aceita pela mente, vou citar textualmente o comentário de Kardec aos ensinamentos do Espírito da Verdade.

“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se escuta com o concurso deles.

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio” (pergunta 525 a).

Nas perguntas seguintes (526 à 528) esta Realidade fica muito mais clara quando o Espírito da Verdade mostra que os espíritos conduzirão o homem que deve sucumbir de tal forma para uma escada quebrada ou para debaixo da árvore onde o raio cairá, já que eles não podem alterar o curso dos elementos da natureza. Cita ainda que aquele que não deve morrer de uma bala perdida será inspirado para se desviar e não que desviem a bala para salvar o homem.

Esta é a Realidade que o Espiritismo ensina: os espíritos comandam as ações do ser humano ao invés de, como mágicos, agirem sobre os elementos da natureza.

Este conhecimento deveria lhe levar, nas palavras de Fénelon a acabar com a ficção alegórica que você vive e que chama de realidade, verdade. A sua realidade não tem nada de Real, pois não percebe toda movimentação dos amigos espirituais guiando seus passos, mas imagina que age por moto próprio. Krishna também ao comentar a realidade que o ser humanizado vive a define a como fantasias fantasmagóricas. Ou seja, os dois mestres têm a mesma compreensão sobre aquilo que você vive como real: uma ficção, uma fantasia.

Olhe agora para o computador à sua frente. Você está vendo um monitor que está projetando uma imagem? Esta percepção é uma ficção alegórica, uma fantasia fantasmagórica. O que está à sua frente na realidade é fluído cósmico universal.

Você está vendo um inimigo, aquele que você não gosta? Isto é uma ilusão, uma ficção alegórica, porque não há um ser humano à sua frente, mas um espírito encarnado. A sua compreensão de que ele está agindo contra você também é uma ficção porque ninguém pratica atos, mas cumpre a ação guiada pelos amigos espirituais a partir do mundo dos espíritos.

Então veja. Não é só o hinduísmo que fala, mas também o Espiritismo diz que você vive uma peça de teatro chamada Divina Comédia Humana, como realidade, mas que ela não passa de uma ficção alegórica, de fantasias fantasmagóricas.

“Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

Quando bem entendido e identificado o Espiritismo poderá surtir algum resultado na sua elevação espiritual. Antes, não.

Que adianta você dizer que compreende os ensinamentos de O Livro dos Espíritos, que adianta dizer que se identifica com os ensinamentos trazidos pelo Espírito da Verdade, se ainda chora em um enterro acreditando que seu ente querido acabou? Que adianta dizer que se identifica com estes ensinamentos se eles afirmam que os espíritos nos guiam e que ninguém morre antes da hora e que Deus sabe a forma como cada um vai desencarnar (pergunta 853 a) se você ainda acredita num assassinato? Não adianta estudar: é preciso compreender e se identificar com a Realidade criada pelo ensinamento. Mas, para criar esta Realidade é preciso se libertar do individualismo, porque senão será ele que criará uma interpretação individual de O Livro dos Espíritos. Neste caso você não mudou nada, não reformou nada, porque a base, a essência da intencionalidade continua o que você acha está certo e o que os outros acham que se dane.

Esta palavra parece forte, mas é preciso compreender que quando nos apegamos somente àquilo que acreditamos como certo e não damos aos outros o direito de pensar diferente em qualquer aspecto da vida, estamos demonstrando o nosso menosprezo pelo irmão.

Repare que, como Fénelon, falei em todos os aspectos da vida e não só naqueles que você quer alterar. Este é o aspecto que precisa ser atentado por quem quer atacar diretamente o general. Se o ser humanizado separar verdades que podem ser abandonadas e deixar outras que imagina que são sem importância para o mundo espiritual, nada estará realizando. A vitória precisa ser total.

Não existem atos da vida que não tenham relevância na elevação espiritual. Tudo é fundamental no trabalho da reforma íntima porque só existe um único mundo que é composto por tudo.

“O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

Exato: o seu sentimento egoísta precisa acabar quando surge a compreensão da existência única do espírito.

O desejo de a sua mãe permanecer viva, por exemplo, precisa acabar quando se compreende a real existência de um ser humano: a encarnação de um espírito. Quando você entende que ela é um espírito e que tem toda uma vida espiritual a ser vivida, precisa abandonar toda a sua vontade de que permaneça viva para satisfazer os seus caprichos.

Sem isso não adianta dizer que é espírita, não adianta orgulhar-se de seu conhecimento, não adianta ir ao centro toda semana. Sem esse despossuir o eu nada se faz, por mais que se desvende o invisível.

“Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

O que é reduzir às suas devidas proporções? É reduzir os fatos da vida à carne, à matéria, apenas.

No exemplo que dei anteriormente (a morte da mãe) reduzir este acontecimento à sua legítima proporção seria acreditar que um papel até então desempenhado por um espírito encerrou-se e não acreditar que a mãe morreu. É isso que é reduzir a importância: dar ao acontecimento o valor temporário que ele tem.

No entanto, mesmo para aqueles que conhecem os ensinamentos do Espírito da Verdade, a morte é tratada como se fosse o fim. Choram afirmando que nunca mais verão seus parentes e amigos, enquanto aprenderam que a existência do espírito é eterna. Quem age desta forma pode dizer-se espírita?

É preciso reduzir os acontecimentos do mundo à sua real importância. E o que vale um acontecimento do mundo? Nada. Cristo já nos ensinou: Deus julga a intenção de cada um. É isso que tem valor para o mundo espiritual: a intenção com que se participa dos acontecimentos.

Se você participa com a intenção de ganhar individualmente, não importa o que esteja fazendo, mesmo que seja um ato considerado pela humanidade como caridoso, você nada fez a respeito do mundo espiritual, ou a respeito da sua reforma: deixar de ser egoísta.

“O choque, que o homem experimenta, do egoísmo dos outros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

Que ensinamento maravilhoso. Vamos lê-lo juntos para tentar captar em toda profundidade o que Fénelon ensina.

O choque do egoísmo do outro lhe faz egoísta.

Ou seja, quando o outro faz o que quer baseado nos seus padrões de certo e errado, você se torna egoísta, ou seja, utiliza os seus padrões para julgar o outro e, assim, acaba achando que ele não deveria fazer o que está fazendo. Você se transforma em egoísta quando alguém lhe contraria porque premia os seus valores como certos e quer impô-los ao outro. Julga e critica quem defende o eu dele porque quer defender o seu eu.

Para acabar com este egoísmo existe um provérbio de Salomão que diz: se Deus é por mim, quem poderá ser contra. É isso que o ser humanizado se esquece e, por isso, tenta se defender do outro. A humanidade não vê Deus a seu favor. Vive com a realidade de que o outro está lhe massacrando, ferindo, atacando, mas isso é ilusão. Na verdade o outro está apenas exercendo o direito dele achar que está certo.

Mas, para que ele age assim na sua frente? Para que você se liberte do seu individualismo. Veja, se você não se conscientizar que não existe o certo, mas sim o que você quer que seja feito, ou seja, o seu certo, não evoluirá nunca. É para que você se conscientize de que existe um certo que precisa ser eliminado para acabar com o egoísmo é que Deus faz os outros fazerem diferente do que você espera e quer

Podemos, então, compreender que Deus faz o outro usar do individualismo dele na sua frente para que você tenha uma oportunidade de dizer: “meu Deus, eu sou egoísta porque quero que o outro utilize o meu certo e não o dele”. Este é o motor da vida, ou o carma em ação.

Conscientize-se de que você quer cobrar mudanças no outro, exigir padrões de ação neles, mas não quer que ninguém lhe cobre a mesma coisa, que ninguém lhe contrarie. Egoísmo, puro egoísmo.

Se Deus é por mim e está ao meu lado, o outro pode fazer o que quiser que não vou precisar exigir a justiça para mim, mas entenderei o recado do Pai e O louvarei amando a todos que são diferentes de mim, sem cobrar mudanças neles.

Foi isto que Fénelon ensinou e, por isso eu disse: que lindo ensinamento.

“Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem, o princípio da caridade e da fraternidade e cada um pensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensaram”. (O Livro dos Espírito – pergunta 917)

Portanto, aplique este ensinamento para qualquer situação que você viva, independente da suposta importância que conceda a eles. Assim, com certeza, ele servirá como base para a prática da caridade necessária ensinada pelos mestres. Ou seja, que ele sirva como guia a você quando é criticado, acusado, perseguido, xingado, ofendido, atacado, para auxiliá-lo a viver inteligentemente com suas emoções.

Deixe os outros falarem e acharem o que quiserem. Dê ao outro o direito de ser individualista, de viver a sua individualidade e você, abrindo mão de viver a sua, vivencia a felicidade que Deus tem prometido.

Nós ainda estamos na mesma pergunta: como vencer o egoísmo, mas repare que os ensinamentos extraídos desse texto não precisam de conhecimentos anteriores para ser compreendido. Portanto, se você quer se libertar do mal maior da humanidade (o egoísmo) não precisa perder tempo em estudos profundos, mas apenas ler este trecho de Fénelon e compreendê-lo em toda a sua profundidade.

“Todos experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contacto. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária, para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

É o que eu acabei de falar: abrir mão da sua personalidade em favor do outro.

Vamos criar um exemplo poder explicar melhor. Alguém lhe diz que você está fazendo a coisa errada, que você não sabe fazer aquilo. A sua personalidade, o seu eu material dirá que ele é que não sabe o que faz. O acusará, xingará e criticará. Esta é a reação de um ser humanizado. Mas você que quer se espiritualizar, que quer se elevar, que quer chegar mais perto de Deus e viver a felicidade que Ele tem prometido precisa abrir mão de tudo isso e deixar outro achar o que quiser, sem acusações ou críticas.

Isto porque no fundo de tudo, no resumo de tudo da vida, de nada influenciará o que o outro acha de você ou vice-versa, pois tudo é sempre entre você e Deus. Então, o que importa o que os outros acham? O que importa para a sua existência espiritual o que o outro, exercendo o seu individualismo, os seus padrões de certo e errado, acha de você, se na hora do seu julgamento (avaliação do resultado de sua encarnação) o que importará é o que Deus souber? Ele sabe o que ninguém sabe. Ele sabe que não há nada errado ou certo acontecendo, mas que um carma foi proposto e o espírito humanizado agiu com individualismo e com egoísmo.

Lembre-se do que Cristo ensinou: com o mesmo argumento que você usar para julgar será julgado. Ou seja, se você coloca o seu individualismo para julgar os outros ao invés de deixar tudo nas mãos de Deus, o seu individualismo será julgado.

“Principalmente para os que possuem essa virtude, é que o reino dos céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, será posto de lado e sofrerá pelo abandono, em que se há de ver, todo aquele que em si somente houver pensado”. ( O Livro dos Espíritos – pergunta 917)

Foi exatamente o que estudamos nesta resposta.

Emoções

Lamento

“11. Estiveste lamentando-te por aqueles que não o merecem. Todavia, pareces falar como um sábio. Só que os verdadeiros Sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos”. (Bhagavad Gita – Capítulo 2)

O Bhagavad Gita conta a conversa entre Sri Krishna e Arjuna no campo de batalha, onde este último iria confrontar-se com seus parentes pela disputa do trono que havia sido roubado dele por sua parentela.

Arjuna inicia o diálogo com o mestre (capítulo 1 e parte do 2) expondo a Krishna o porque não queria lutar contra seus parentes. Alegava que não seria justo derramar sangue por coisas materiais, que a vitória não traria nada de bom a não ser posses materiais. Ou seja, Arjuna se lamentava dizendo que seria infeliz se tivesse de lutar como Krishna o incitava a fazer.

Em resposta o mestre afirma: você esteve lamentando-se e quando o fez parecia um sábio, mas o verdadeiro sábio não lamenta nem pelo vivo nem pelos mortos. Para entendermos este ensinamento que o Bendito Senhor passa ao discípulo pergunto: o que é lamento, o que é lamentar-se pelos outros?

Participante: Primeiro é não concordar. E em não concordando dizer que aquilo não deveria acontecer.

Perfeito. Lamentar-se é uma queixa. Mas, além da queixa, o lamento traz consigo a sensação de sofrimento.

O lamento, portanto, é uma queixa que se faz de uma situação onde se tem a sensação de sofrimento. É uma declaração da constatação de uma injustiça que causou um ferimento. Lamentar-se é declarar que alguém é vítima porque foi ferido por uma injustiça.

Krishna afirma que quem age assim parece um sábio. Por que quem lamenta parece um sábio?

Participante: Porque quem lamenta denota um conhecimento do que é justo.

Este é o primeiro detalhe no lamento. Aquele que se lamenta é considerado por si e pelos outros como sábio, pois sabe o que aconteceu. Na verdade quem se lamenta apenas acha que sabe, mas iludido pela mente, tem a plena convicção de que sabe.

Se alguém afirma alguma coisa sobre outra pessoa, objeto ou acontecimento, o ser humanizado agirá com sua suposta sabedoria afirmando que tem certeza de que o que a mente lhe diz é verdadeiro, é real. É neste conhecimento, que é ilusório, mas que o ser humanizado imagina que é real, que se fundamenta o lamento.

Portanto, qualquer lamento nasce de uma sabedoria. O mundo inteiro lamentou o avião que bateu nas torres e as destruíram. Por que? Porque o mundo inteiro sabe que não se pode fazer aquilo, que é errado matar.

Este é o primeiro aspecto que leva ao lamento humano: a sabedoria cultural. Todo lamento surge de uma verdade humana, de uma cultura humana. Você não se lamenta pelo que não sabe; só se lamenta quando raciocina sobre um acontecimento e chega a uma conclusão e nela constata um sofrimento originado numa injustiça.

Por isso parece sábio quem se lamenta. Mas o mestre diz que o verdadeiro sábio não se lamenta. Vamos chegar neste aspecto, mas antes precisamos nos aprofundar mais na sabedoria que leva ao lamento.

Há uma outra sabedoria humana envolvida no lamento que precisamos compreender antes de entender o ensinamento do Bendito Senhor. Para compreendê-la, pergunto: se você passar frente a uma pessoa passando fome e não se lamentar o que dirá a sociedade sobre você?

Participante: Que eu sou frio, que não tenho sentimentos.

Ou seja, existe um padrão emocional que lhe é cobrado pela humanidade frente a determinados acontecimentos.

Portanto, além da sabedoria cultural (ter conhecimento das coisas) o ser humanizado também possui um saber emocional. Sábio emocionalmente é aquele que sofre quando a humanidade acha que deveria sofrer e que se alegra quando isto for cobrado pelos padrões humanos.

O lamento, então, além de ser fruto de uma sabedoria cultural também nasce de um saber sentimental. Ou seja, dos padrões sentimentais do planeta.

Compreenda que existem situações onde você, mesmo não querendo, é obrigado a sofrer para poder ser considerado como um ser humano. Aquele que sofre, que vê sofrimento nos acontecimentos onde a humanidade exige que assim o seja, é, então, considerado um sábio, porque ele sabe a cultura do planeta.

Agora, eu faço uma pergunta. Se você vê uma criança com fome na rua o que pode fazer para ajudá-la?

Participante: Abrigá-la, alimentá-la, dar carinho e proteção.

Tudo isso realmente ajuda a resolver o problema daquela criança. Mas, o seu sofrimento, em que pode ajudá-la? Em nada. Pelo contrário, piora.

Digo isso porque quando alguém está sofrendo e outro joga mais sofrimento sobre ele, a dor aumenta. E você sabe disso. Sabe que quando está sofrendo e alguém se lamenta ao seu lado a sua dor piora. Mas, não consegue deixar de agir assim com os outros.

Então veja. Esta sabedoria sentimental (sofrer quando os padrões exigem) é simplesmente um conceito do planeta, mas que não traz nenhuma melhora para o próximo.

Você tem que sofrer ao ver uma pessoa mutilada? Por que? Tem que cuidar dela, ajudá-la, encaminhá-la a um médico, mas não precisa sofrer.

Lembra-se da parábola do Bom Samaritano? O sacerdote e o levita se apiedaram do homem que tinha sido agredido, mas nada fizeram. O samaritano ao contrário, pôs mãos à obra e socorreu quem estava ferido e por isso foi considerado como exemplo por Cristo.

A piedade ou sofrimento com a dor dos outros não ajuda em nada a pessoa que está passando por uma vicissitude negativa em sua existência. Pelo contrário, atrapalha.

Quer um exemplo? Quando você está por baixo e chega uma pessoa e diz 'coitadinho, como é azarado, injustiçado, perseguido', você não piora? Agora, quando alguém lhe levanta a moral incitando-o a sair daquela situação chamando-o para passear, se divertir, esquecer a mágoa, não melhora?

É por isso que Krishna diz que o verdadeiro sábio não se lamenta por nada, nem pelo vivo nem pelo morto. Ele não sofre ao ver uma cena onde a sabedoria (cultural e emocional) do planeta diz que tem que sofrer. Pelo contrário, age. Como o bom samaritano da parábola ensinada por Cristo age buscando auxiliar, resolver o problema e não perde tempo sofrendo.

Mas, como deixar de sofrer onde se imagina que se tem que sofrer? Como agir em auxílio ao próximo sem sofrimento? Entendendo os desígnios de Deus.

O que é uma criança passando fome? Para vocês é um acontecimento, um fato.

Para o ser humanizado todos os fatos da vida são gerados no momento presente, ou seja, são vivenciados sem ligações a coisas do passado. Um acontecimento, um fato, para vocês algo que surge do nada ou do azar, da sorte, da casualidade, que são nada, pois não existem.

No entanto, tenha a certeza: não existe neste planeta acontecimento que não se vincule a fatos anteriores na existência do espírito. Nada que se sucede na vida do ser encarnado é um acontecimento sem vínculo anterior. Isto porque a vida é uma sucessão de carmas, ou reações a ações anteriores e não formada por acontecimentos ou fatos sem precedentes que levem a eles.

O que você esta passando hoje foi originado no que você mesmo causou antes, ou seja, é apenas a reação a uma ação anterior, o efeito perfeito gerado por uma causa. Buda ensina assim: quer saber quem foi você ontem? Veja quem é hoje. Quer saber quem será você amanhã? Veja o que faz hoje.

Portanto, aquela criança não está ali por uma ação externa. Ela não está ali por negligência do governo, por falta de caridade da sociedade, mas está ali por um carma do espírito. Aquilo é o que o ser universal precisa e merece passar.

Esta cultura, entretanto, não lhe leva a não ajudá-la, mas lhe leva a compreender a situação. Quando esta nova compreensão estiver presente na humanidade, ao invés de sofrer porque a criança está passando a fome, todos louvarão a Deus por estar dando ao espírito a oportunidade da elevação espiritual.

Mas não será por isso que a humanidade deixará de socorrer aquela criança . Cada um fará a sua parte ajudando-a, mas fará amorosamente, com felicidade por participar do amor de Deus e não participando de um acontecimento errado, de um ferimento, de uma mágoa, onde teria que sofrer.

 A humanidade ajudará o espírito encarnado na criança, mas terá a consciência que aquela fome foi escolhida pelo próprio ser universal antes do nascimento como raiz do seu “livro da vida”. Ao abandonar o padrão humano e vivenciar o espiritual, a humanidade terá consciência do que está ensinado em O Livro dos Espíritos: o espírito escolhe antes do nascimento a natureza da sua prova.

Por isso viverá o acontecimento com uma nova cultura, ou seja, o ser que anima aquela criança escolheu antes de nascer vencer algumas coisas e para que a vitória ocorresse, Deus escolheu a fome como instrumento da provação.

Atingido este padrão cultural, o lamento extingue-se, ou seja, o padrão emocional não será mais o do sofrimento, mas o da vivência da glória de Deus, da emanação do Senhor dando a quem precisa o que necessita. É isto que ensina Krishna quando afirma que o verdadeiro sábio não se lamenta nem pelos vivos nem pelos mortos.

Agora, volto a repetir, isso não pode lhe levar à inação, ou seja, passar por uma criança e apenas dizer que o espírito precisa e merece, pois se você está passando por ali, você também precisa e merece ver aquilo e é o seu carma ajudar aquela criança. Esta criança é um espírito que pode já ter lhe ajudado muitas vezes na eternidade e agora, pela graça divina, chegou a oportunidade de retribuir. Portanto, o acontecimento também é uma prova para você.

A única coisa que a consciência espiritualizada (aquela que compreende a “vida carnal” como instrumento da realização espiritual) lhe tira é a obrigação de sofrer, mais nada. O ser espiritualizado ajuda o próximo, leva a criança para casa, dá banho, comida, educação ou até a cria como sua filha, mas em momento algum sofre ou lamenta pela situação que o espírito encarnado está vivendo.

 Ele faz o que quiser ou puder fazer, mas não sofre, porque sabe que quando se lamenta com alguma coisa está acusando Deus de ter cometido um ferimento através de uma injustiça.

É por isso que Krishna diz que o verdadeiro sábio não se lamenta por nada, mas se regozija com o Pai em todas as situações. “Louvado seja Deus porque hoje eu não tenho comida para comer”... “louvado seja Deus que o ladrão entrou na minha casa e me roubou”.... “louvado seja Deus que o que eu tenho para viver hoje é isso”.

Nunca afirmei que o ser espiritualizado deve parar de trabalhar materialmente, de buscar comida ou até desistir de querer as coisas materiais, pois isso seria uma ilusão. O que sempre afirmei é que quando o ser se espiritualizar passará a compreender toda a vida a partir de Deus e, com isso, deixará de se lamentar pelas coisas da vida.

Aprenda que o seu lamento é a declaração expressa de que você não concorda com a situação que Deus fez com todo amor e carinho para que você pudesse evoluir.

Participante: Na teoria isso é muito bonito, mas na prática é muito difícil. Chega na hora nos deixamos levar pelo sofrimento e pelo lamento...

Por que você se deixa levar pelo lamento?

Participante: Não sei dizer. Estamos ouvindo estes ensinamentos há algum tempo, mas chega na hora...

Deixe-me criar um exemplo que lhe explique o que está passando. Crie um passarinho dez anos aprisionado numa gaiola e um belo dia abra a porta da gaiola e veja se ele voará. Com certeza não, pois os passarinhos que vivem a vida inteira no cativeiro nem sabem que estão presos, por isso não buscam a saída, mesma que ela esteja aberta.

É por isso que chega na hora não consegue por em prática: você nem sabe que está presa. Você nem sabe que é uma prisioneira.

Você é uma prisioneira da humanidade do planeta Terra, ou seja, prisioneira da sabedoria cultural e sentimental do planeta. Imagina que a cultura que vive é sua e que as emoções que vivencia nascem no seu interior, mas isso é ilusão.

Se a verdade do planeta lhe diz que não pode gostar de determinada coisa passa a não gostar imaginando que isto é “certo” para você, mas não entende que, na verdade, é uma escravidão a padrões pré-fabricados, que já existiam muito antes de você nascer e aos quais se subordinou. Eles não foram gerados por você, criados como fruto do seu entendimento, mas adquiridos por osmose, por se achar humano.

Participante: Acho que já estamos tendo consciência de que somos prisioneiros, mas é que o padrão está tão arraigado dentro de nós, que chega na hora não conseguimos estancar o fluxo da emoção. Hoje acho que já consigo sofrer menos, mas ainda não consigo parar de me lamentar.

Por isto este ensinamento. Se você hoje já consegue constatar que não deveria sofrer, o próximo passo é, então, parar de lamentar-se.

Emoções

Guerra e paz

“916. Longe de diminuir, o egoísmo cresce com a civilização, que, até, parece, o excita e mantém. Como poderá a causa destruir o efeito? Quanto maior é o mal, mais hediondo se torna. Era preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo. Os homens, quando se houverem despojado do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o amparo e não o opressor do fraco e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos praticarão a lei da justiça. Esse o reinado do bem que os Espíritos estão incumbidos de preparar”. (O Livro dos Espíritos)

Repare bem no início deste ensinamento do Espírito da Verdade para que possamos ter consciência da hipocrisia (dizer que está pensando no outro, mas está sempre pensando em si) com que o ser humanizado vive: “era preciso que o egoísmo produzisse muito mal para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo”.

Para falar dessa hipocrisia lhes pergunto: o que motivou as cruzadas, as chamadas guerras santas? Egoísmo. O que motivou os senhores de terra em criar e sustentar a escravidão? Egoísmo.

Os acontecimentos hediondos da história da humanidade sempre foram causados para atenderem a interesses individuais de determinados seres humanizados, ou seja, viciados no egoísmo destes. Mas, por que Deus permitiu que isso acontecesse? Segundo o Espírito da Verdade para que você e todos os outros espíritos encarnados compreendessem o que o egoísmo de cada um produz.

Mas, não foram apenas esses os acontecimentos hediondos que ocorreram na história da humanidade. Na verdade eu utilizei exemplos muito distantes no tempo da realidade. Por que fiz isso? Porque este livro é do final do século XIX, ou seja, os acontecimentos hediondos a que se referiu o Espírito da Verdade eram esses.

Depois da publicação deste livro, ou seja, depois da divulgação deste ensinamento, já tivemos outros acontecimentos hediondos. Aconteceu a primeira e a segunda guerra mundial, a bomba atômica e mais recentemente os atos terroristas que podem ser considerados como acontecimentos hediondos fundamentados no egoísmo de seres humanizados.

Estes acontecimentos recentes certamente não estavam na cabeça de Kardec quando ele fez a pergunta ao Espírito da Verdade. No entanto, se estivessem, o ensinamento seria o mesmo: ocorreram para que os seres humanizados compreendessem a que ponto pode levar a ação egoísta baseada nas suas vontades individuais.

Eu pergunto então: o que você, que já conhece este ensinamento, fez com relação a estes crimes hediondos? Agiu egoisticamente criticando aquele que foi egoísta. Mas você não acha que ao agir assim foi egoísta. Pelo contrário, imagina que está certo.

A humanidade precisa compreender que a crítica, mesmo que dirigida ao egoísta, é ação do egoísmo de quem critica. Nenhuma crítica pode ser considerada sadia porque ela é fundamentada numa verdade individualista, num padrão individual de verdade. Portanto, ação egoísta.

Como já estudamos fartamente, Deus cria os acontecimentos da Terra para que você compreenda a essência que causou tal ato e possa, assim, abrir mão da utilização de tal essência. Nenhuma guerra surge no planeta se não houver uma intenção egoísta, se não houver um desejo individual. Portanto, as guerras existem para que você aprenda onde o egoísmo pode levar e abra mão de seus desejos próprios, mesmo que eles sejam considerados certos. Mesmo que você deseje a paz, abra mão desse desejo para não criticar o próximo, pois se o fizer, estará agindo igualzinho a ele: fazendo guerra a quem quer guerrear.

O primeiro passo para poder abrir mão do egoísmo é abrir mão da crítica a quem age fora dos seus padrões individuais de certo. Ame a todos e a tudo acima de qualquer padrão que você tenha de certo ou errado. Aliás, Cristo ensinou: se você só cumprimenta quem lhe ama que vantagem tem? Até os pagãos fazem isso...

Faça a paz com quem quer a guerra, pois só assim expressará o verdadeiro amor. A crítica, por mais que embasada em boas intenções, jamais será um ato de amor, pois ela se fundamenta no eu, no que cada um sabe, o que cerceia o direito do outro achar diferente.

Mas, para que você possa fazer a paz com quem quer a guerra é preciso antes libertar-se do seu eu e da vontade de que este eu se sobreponha ao do próximo.

E não me venham dizer que é impossível deixar de criticar Hitler porque ele fez a guerra ou o presidente dos Estados Unidos porque autorizou o uso da bomba atômica, porque não são deles estas ações. Como o Espírito da Verdade acabou de nos dizer, o egoísmo precisa gerar um crime hediondo para ver se a humanidade cai na real e deixa de ser egoísta, de querer só para si, de querer levar vantagem em tudo na vida. Por isso, se não fossem estes seres humanos que você acusa teriam que ser outros, pois a guerra existiu e continuará existindo porque os seres humanizados ainda agem egoisticamente no seu dia a dia.

Nós estudamos anteriormente em O Livro dos Espíritos que a justiça consiste em respeitar o direito do outro (pergunta 875). Portanto, se você não quer que haja guerra precisa respeitar o direito do outro que quer fazer a guerra e não criticá-lo ou acusá-lo por isso. Mas não, você acredita que precisa atacar quem quer guerrear para poder defender a paz para que a justiça prevaleça. Na verdade você não está defendendo a paz nem a justiça, mas aquilo que você considera como paz e justo, ou seja, os seus padrões individuais de paz e justiça. Por isso falei inicialmente em descobrir a nossa hipocrisia.

Estou usando a guerra como um exemplo apenas para entendermos, mas leve isso para todas as coisas da vida. Você diz que quer viver bem com todos, mas para que isso aconteça realmente tem que aprender a viver bem com todos e não exigir que os outros se fundamentem em você para que possa existir a boa convivência. Ou seja, você acredita que os outros precisem agir como você agiria em determinada situação para que esteja em paz com ele. Para mim isto tem outro nome: opressão, totalitarismo.

Veja como é hipócrita a sua posição. Você diz que critica o próximo por amor, por querer o melhor para ele ou até para que a justiça aconteça, mas na verdade a sua real intenção é a total submissão do próximo ao seu padrão de certo para satisfazer o seu egoísmo.

Não, a crítica jamais será fundamentada no amor ou na justiça. Cada um tem o direito e a liberdade de agir e para que você o ame verdadeiramente precisa respeitar este direito. Mas, para poder conceder esta liberdade ao próximo, é preciso que cada um se liberte do seu egoísmo, do vício de olhar primeiramente para si: o que acha certo, bonito ou o que quer.

Aprenda: para o mundo espiritual não é o ato em si que vale, mas a intenção com que cada um participa dos atos da existência carnal. E a intenção com a qual os espíritos participam dos atos humanizados hoje devido ao seu patamar de elevação espiritual fundamenta-se no “eu”, pois busca atender àquilo que cada um acha que deveria acontecer.

Emoções

Fazer o que o coração manda

Participante: Devemos sempre fazer o que nosso coração pede? Por exemplo, se estamos em dúvida numa decisão devemos seguir nosso coração?

Não... Você não deve fazer o que o coração pede: você deve mantê-lo omisso ao que a razão pede. Deixa eu lhe explicar isso.

Quem pede para fazer alguma ou quem diz para não fazer não é o coração, mas a razão. Afirmo isso porque se você identifica racionalmente o que o coração está dizendo é porque existiu um raciocínio. Sendo assim, isto partiu da mente e não do espírito...

O que você deve fazer é omitir-se de coração (sentimento) com relação ao que a razão pede. A razão lhe diz “faça isso”... No coração você deve dizer: “se eu fizer fiz, se não fizer não fiz”. A razão diz: “você não devia ter feito aquilo”... No coração diga: “mas já foi feito...”

Você não pode deixar criar o que vai fazer, não pode fazer nada mais do que foi feito e não pode escolher o que faz. Na verdade você, espírito, está tendo a ilusão de estar escolhendo ou fazendo e está acreditando na mente que afirma que a escolha está acontecendo naquele momento.

Emoções

Vaidade e soberba

O que é ter vaidade? É orgulhar-se da sua estampa... Uma pessoa vaidosa é aquela que se orgulha da sua estampa, se sente bem com ela.

A partir daí a primeira coisa que temos que deixar bem claro: vaidade não tem nada a ver com padrões de beleza. Vocês acham que apenas quem se arruma bem é vaidoso, mas aquele que tem orgulho de ser desarrumado é vaidoso. Ou seja, ele pode até ser desleixado, dentro dos padrões humanos, mas é vaidoso porque tem orgulho da sua estampa.

Este é o primeiro detalhe que temos que perceber quando a mente cria a idéia de estar vaidoso. Vaidade não depende de uma determinada roupa, limpeza ou de um determinado cheiro. Vaidade é uma formação mental, um pensamento, que reflete o orgulho da sua própria estampa.

Portanto, não adianta quebrar paradigmas andando de chinelo de dedo e calça e camisa rasgada para mostrar que não é vaidoso, pois é. É orgulhoso da sua calça e camisa rasgada, do seu chinelo.

 Precisamos ter cuidado com este detalhe porque a mente cria padrões de certo e quando nos orgulhamos dos nossos certos, somos vaidosos. Para uns este padrão é a roupa limpa, nova, bem passada; para outros é a roupa arrebentada, rasgada, sem estar bem passada. Não importa o que seja tudo é padrão e achar que deve se usar o que este padrão diz é vaidade. Mas, há mais um detalhe no tema vaidade que precisamos abordar... Vamos a ele...

Na primeira análise que fizemos, descobrimos que o problema não é ter vaidade, mas estar vaidoso por estar seguindo o nosso padrão de certo, de bonito e do tem que ser assim. Para quem entra nessa, ou seja, aceita os padrões que a mente cria, sabe qual é o fim? Transformar-se em um julgador do próximo...

Quem aceita quando a mente diz que existe determinada roupa certa para se estar, vai aceitar quando ela julgar o outro. Vai achar o próximo errado, chulo, rebelde, que não presta... neste momento, o espiritualista perdeu a serenidade...

Não tem como você sair do julgamento do próximo se ainda acreditar no padrão que a mente cria. Se você, por acreditar na mente, achar que existe uma roupa certa para se vestir, uma maquiagem certa para aquela ocasião, uma postura certa para se realizar determinada coisa, vai julgar todo mundo que não estiver dentro dele e por conta disso perderá sua serenidade.

Aliás, não é só quem estiver fora do seu padrão que será julgado, mas quem estiver dentro também será. Isso porque certo e errado são sentenças de um julgamento... São decisões tomadas depois de uma análise. Esta análise é um julgamento...

Sabe, vocês me falam muito nos ensinamentos de Cristo, dizem que devemos segui-los, mas ainda não entenderam que julgam todos o tempo inteiro. Isso porque qualquer opinião que se tenha sobre alguém ou alguma coisa é o veredicto de um julgamento.

Falam em cumprir o ensinamento de Cristo, mas ainda não entenderam que não há como escapar do julgamento sem eliminar os padrões de certo e errado, bonito e feio, limpo e sujo, arrumado e desarrumado... Enquanto vocês tiverem padrões para balizar a vida, irão julgar o próximo. O julgamento nesse caso é decorrência natural da existência de um padrão...

Este tema foi muito importante para nós, não por ele mesmo, mas porque vimos o subproduto da vaidade: perder a serenidade por conta do julgamento d o próximo... Mas, antes de encerrar e aproveitando que estamos falando de emoções, quero aproveitar, ainda, para falar de um termo que usei aqui que tem a ver com as emoções criadas pela mente. Disse que a vaidade é o orgulho da estampa. Este termo (orgulho) não foi perfeitamente empregado. Na verdade o que o vaidoso tem é soberba...

A soberba existe quando você joga o seu orgulho sobre o outro, ou seja, se considera o certo, o melhor, o mais bem vestido, o que está fazendo determinada coisa como ela deve ser feita, aquele que realiza tudo... O vaidoso é soberbo porque toda vaidade acaba num julgamento. Isso porque ele não se contenta em aceitar que está bem vestido, mas julga como os outros estão.

Portanto, a vaidade não é o orgulho da sua estampa, pois orgulho é outra coisa: é ter a sensação do dever cumprido. Já soberba é ter a sensação do dever cumprido e dizer que o outro não cumpriu o dele ou dizer que você fez melhor do que ele... Vaidade, então, é ter soberba...

Não existe vaidoso que não seja soberbo. Vaidoso humilde? Não existe... Andar de chinelo de dedo e blusa rasgada não é sinal de humildade não... Como já falei diversas vezes, tem muito pobre que come arroz com feijão e arrota caviar. Assim como tem muito rico que come caviar e arrota arroz e feijão...

Veja como uma coisa vai levando a outra. Isso é um fluxo mental que não para. Se você aceita o padrão de certo, vai aceitar a vaidade. Aceitando-a, vai aceitar também a soberba. Esta aceitação lhe levará a aceitação do julgamento. Aceitando-o, a aceitação da crítica a quem lhe julgou é inexorável...

Nesta vida tudo se encadeia, tudo se liga a outra coisa. Não dá para querer deixar de criticar o outro sem julgá-lo. Não para deixar de julgar, sem ter a soberba que está certo. Não dá para deixá-la sem libertar-se dos padrões de certo e errado.

Eu sempre disse: vocês precisam começar a mergulhar fundo no mar mental. Na verdade, no trabalho de cada um, vocês ainda estão navegando nas ondas, sobre o mar. Querem acabar com a vaidade, mas isso não se faz sem destruir os padrões de certo e errado. Querem deixar de criticar, mas isso é impossível se ainda houver a soberba (eu estou certo)...

Ninguém esvazia uma piscina estando no meio dela. É preciso descer até o fundo dela para puxar a rolha. Neste caso, a rolha é os padrões: certo, bonito, limpo, arrumado, saúde, doença, correto... É aquelas coisas que a mente têm como reais, mas que são verdades relativas: só servem para você mesmo.

Se você não for a fundo, não tirará a rolha. Se não fizer isso, não há como esvaziar a piscina. E não há como retirá-la estando na superfície ou no meio da piscina...

Emoções

Agressividade

Maldade não existe. A agressividade é uma defesa violenta do individualismo.

Participante: Por parte da mente?

Na verdade não é da mente, porque é você que se individualiza quando acredita nas realidades criadas por ela. A mente é simplesmente a verdade; é você que por defendê-la se torna individualista.

Portanto, não é a personalidade humana que é individualista, mas você que acha que é ela e quer defendê-la dos outros. É você que parte do princípio que a mente está sempre certa enquanto que aquele que se liberta dela parte do princípio que não sabe nada, mesmo que a personalidade saiba. O ser universal parte sempre da idéia que não sabe nada, pois tem consciência que se acreditar em algo terá formado uma verdade relativa.

 Na verdade, o individualismo nasce quando o espírito se apega àquilo que está na mente da personalidade transitória como verdadeiro... Sendo isso verdade, posso dizer que a mente não é individualista: ela é o diabo. Ele propõe as verdades e você cede a esta tentação utilizando o seu individualismo.

Voltando, então, ao tema que estávamos falando, volto a afirmar que a agressividade é a defesa violenta das verdades da mente, ou seja, uma exacerbação do individualismo.

Para podermos bem compreender esta vida temos que desmistificar algumas idéias. Uma delas é a agressão. Saiba que ninguém agride ninguém; todos se defendem dos outros. Aquilo que vocês chamam de agressão nada mais é do que a defesa ao seu individual, ao seu eu material, à sua personalidade humana.

Para poder ver isso mais claramente pergunto: alguém agride quem concorda com ele? Não, toda agressão surge depois de uma discordância, ou seja, surge depois que uma verdade ou padrão de comportamento é contestado. Viu como é defesa?

Se isso é verdade para você, também é para os outros. Portanto, ninguém lhe ataca: está se defendendo de você... Na verdade foi você que a atacou antes contrariando alguma verdade ou padrão de comportamento dela. Sendo assim, quando alguém vier lhe atacar, não fique ofendido: deixe-o defender-se de você...

Mas, como aceitar ser agredido? Oferecendo a outra face... Para isso, não tente se defender: doe ao outro a razão: ‘Você acha que eu não presto? Então está certo, eu não presto...’

Participante: Só isso?

Não, tem que fazer tudo isso...

O que estou falando é muito mais complicado do que você imagina. Fácil é reagir dentro das normas do planeta, ou seja, você ataca todo mundo que lhe ataca. É fácil porque a humanidade irá lhe valorizar por ter se defendido. Agora, aquele que oferece a outra face, que perde sem luta, que não reage a uma agressão é chamado de bobo... Como o julgamento da humanidade é importante para você, é muito mais difícil doar a razão...

Participante: Realmente querer corrigir o outro não é certo...

Pior do que querer corrigir é achar que sabe a verdade para corrigir o próximo.

Perceba: ninguém corrige outra pessoa se não achar que está com a verdade e que o outro está errado. Portanto, quem quer corrigir o outro tem soberba, julgamento, acusação, crítica e outras coisas que são expressões do individualismo.

Enfim, se alguém lhe chama de errado, não queira provar que está certo. Se alguém, então disser que deve se mudar, responda: ‘deixa eu fazer errado...’

Emoções

Saúde e doença

O tema escolhido por vocês foi doença... Mas, para começar, a proposição do tema não está perfeita. Isso porque, na mente, não existe doença! A mente não reconhece doença, não cria doença. O que a mente cria é o estar doente.

Estar doente é diferente de ter doença. A diferença é que ter doença é alguma coisa física. Por exemplo: vocês podem ver o cancro cancerígeno numa radiografia, num exame. Já o estar doente não acontece no corpo: acontece na mente, naquilo que vocês chamam cabeça.

Então o tema não é doença, mas estar doente, pois, estamos estudando os pensamentos-emoções e eles são criados pela mente. Para os que querem viver a felicidade que Deus tem prometido, quais são as armadilhas que a mente cria quando vive o estar doente?

Primeiro: ter um mal estar, sentir-se mal por estar doente. Isso não é físico, é mental. Isso acontece com você aceita o estar doente que a mente cria. Você só se sente mal, ou vive qualquer outra das armadilhas que a mente cria, quando aceita a informação de que está doente.

Mas, por que você aceita o estar doente? Quando nos reunimos em um grupo espiritualista, espírita, universalista ou qualquer ‘ista’ desses, a primeira que se fala é que você não é o corpo: é algo além do corpo. Quando alguém começa a participar de um grupo espiritualista a primeira coisa que toma consciência é que não é o corpo, mas algo além dele. Se você não é o corpo, por que tem que estar doente quando a doença é do corpo?

Por que tem que sentir-se doente quando a mente cria a sensação de estar doente por ter uma doença no corpo? Em que isso vai adiantar?! Será que viver o estar doente traz a cura? Será que viver o estar doente melhora a situação? Claro que não! Pelo contrário, viver o estar doente lhe afunda cada vez mais.

O que chamo de sentir-se doente, na verdade, é uma emoção que a mente está criando. Não é você que está se sentindo doente: é a personalidade humana que está criando a doença para o você, o espírito.

Então, quando a sua mente criar a idéia de estar doente, a primeira coisa que tem que fazer é buscar libertar-se da emoção de sentir-se doente. Não se deixar arrastar pela onda do mal-estar, do não sentir-se bem, da dor. Isso tudo não é você, pois está no corpo.

É preciso que vocês entendam muito claramente isso. Vocês dizem que não são o corpo, mas se ele tem doença são vocês que se sentem doentes. Tem alguma coisa errada aí, não?

Apesar de se dizer espiritualista, ou seja, acreditar que é algo mais do que o corpo, você não vive esta idéia. Pelo contrário, vive a idéia de que é o corpo, pois quando o corpo está doente, você se sente doente.

Esse é o primeiro aspecto quando se fala em estar doente: entender que isto é um pensamento-emoção, ou seja, é uma história carregada emotivamente que a mente cria. Para isso precisa compreender que quem está com a doença é o corpo físico e não você. Deve também entender que quem está sentindo-se doente é a mente e não você. Mais: deve saber que só se sentirá doente se não lidar com a mente de uma forma madura.

Se você for como uma criança, quando mente lhe disser que está doente e precisa sofrer, você vai sofrer...

No entanto, neste aspecto há outros pensamentos-emoção além do estar doente: preocupações, como com trabalho, com atividades, com compromissos... 'Você ficou doente logo hoje, no dia que tinha que fazer tal coisa'? Essa é outra armadilha que a mente cria.

Não existe nada a ser feito. Tudo que acontece é a vida que faz. Isso é importante de se ter consciência para não se deixar levar por este pensamento-emoção de frustração por estar doente e não poder fazer aquilo que tinha programado realizar, não poder honrar os compromissos que tinha assumido.

Vou dar um exemplo. Aquela pessoa está desempregada há algum tempo e por isso já está ficando desesperada. Já pensou se ela consegue uma entrevista e fica doente exatamente naquele dia? Olha todo cenário que a mente cria para que esta pessoa aceite a o pensamento-emoção que ela cria: 'Eu estou mal mesmo, acho que colocaram macumba em cima de mim... Não consigo uma entrevista e na hora que isso acontece vou ficar gripado, doente?'

Vocês estão muito preocupados em saber por que a mente é assim, de onde vem o que ela faz, mas isso não interessa. O que vocês precisam entender é a teia que a mente cria para lhes prender aos pensamentos-emoção que ela gera.

Já reparam que quando vocês programam fazer algo que esperavam fazer a muito tempo aparecem diversas outras coisas que vocês também queriam fazer? Já perceberam que quando conseguem programar-se para realizar algo que queiram aparecem muitas complicações à sua frente? Isso tudo são teias que a mente cria para lhes fazer viver o sofrimento e você não pode se deixar levar por isso se quer alcançar a verdadeira felicidade.

É preciso trabalhar a libertação dos desejos, a idéia de que você não age, de que não quer, de que não vai ficar chateado, pois tudo isso é criação da mente. Isso vocês já me ouviram dizer, mas vou falar de uma nova coisa para vocês trabalharem em si mesmos: precisam trabalhar a idéia de você ter uma vida humana para viver...

Vocês não têm uma vida humana, não vivem uma vida humana... Quem vive a vida humana é a mente...

É a mente que vive a vida que você chama sua... A vida não é sua: é da mente. Não é você que está aqui, mas a mente; não é você que lê, mas a mente. Você é quem? O espírito que está ligado à mente.

Você não dirige, mas sim a mente. Melhor: a mente é a idéia de estar dirigindo, pois não há um ato de dirigir. O que existe é uma idéia de estar dirigindo.

Além de não ver isso como uma idéia, acha que é você que está fazendo... Você não faz, não é, não está... Tudo isso são elucubrações mentais, criações da mente.

Nenhum de vocês está me ouvindo agora, mas sim a mente. Quem está na frente do computador é a mente. Quem o desligará é a mente. Ou melhor, ela vai criar a idéia de estar sendo desligado, já que ninguém desliga nada. Não há ações a serem feitas.

Eu vou falar uma palavra que já falei para não ser usada, mas que preciso usar agora. No trabalho 'Conhece-te a ti mesmo', quando fomos explicar o ego, a primeira coisa que falei foi o seguinte: para entender qualquer coisa e realizar qualquer coisa, você precisa assumir a dupla personalidade, você e o ego. No caso de agora, precisa assumir a dupla personalidade você e a mente...

Você precisa distinguir muito bem quem é você nesta história e quem é mente. Quem é mente nesta história: tudo aquilo que você diz que é você. Quem é você? Nada que possa saber. A única coisa que você pode saber é que não é o que a mente é...

Por isso falo em não compactuar com a mente. Mas, isso deve ser feito a nível geral, ou seja, tudo, e não pontualmente. Você não dirige, não anda, não faz sexo: tudo isso é a mente que faz. Ou melhor: está dando a idéia de estar acontecendo. Para que ela cria estas idéias? Para justificar os pensamentos-emoções.

Como o espírito pode fazer sexo se ele não tem órgão sexual? Como você, o observador pode fazer sexo se ele é um ato físico e você não é corpo que veste? Sendo isso verdade, porque você que acredita ser o espírito vivencia as emoções criadas pela personalidade humana?

Você não faz nada. Na verdade só tem uma coisa a fazer: observar a mente e compactuar ou não com ela. Quando você compactua é que ilusoriamente imaginará que é você que está fazendo o que ela faz e neste caso vibrará dentro da característica da emoção criada por ela.

Aproveitei este momento no tema estar doente para falar disso, porque o este pensamento-emoção é isso. Atrás do sentir-se doente vem sempre uma série de cobranças da mente, mas, quem está doente é ela, quem não vai é ela, quem vai sentir-se frustrado por não ir é ela. Por que você tem sentir tudo isso se não é ela?

É a mesma história da doença: por que você tem que sentir-se doente se é a perna que está doente e você não é o corpo? É preciso que vocês separem bem claramente quem é você e quem não é.

Isso é um trabalho de vigilância. É um trabalho para ouvir o que a mente diz que você é. Ouvir o que a mente diz que você está fazendo, para poder responder: isso é mente, não sou eu. Não é ouvir para saber o que está fazendo, para saber o que está vivendo, mas para distinguir o que a mente está falando e assumir que tudo isso é ela...

Há ainda outro aspecto que posso abordar a partir da análise do pensamento-emoção estar doente. Disse que pode até haver uma doença física, mas que vocês não devem estar doentes emocionalmente. Disse, ainda, que precisam se libertar do pensamento-emoção de estar doente para serem felizes. Mas, apesar de ter dito isso, sei que não conseguirão realizar tal coisa. Vocês não conseguem se libertar do estar doente. Por quê? Porque ainda sabem o que é ter saúde; ainda sabem o que é estar saudável; ainda sabem o que é algo que faz bem para a saúde. Não dá para se libertar do pensamento-emoção estar doente sem se libertar do ter saúde.

O grande problema de vocês para a realização daquilo que falamos é que ainda querem viver uma moeda de um lado só. Vocês só querem se libertar daquilo que acham ruim, que não querem, que acham errado, que não gostam...

É impossível se libertar do estar doente se não se libertar do ter saúde. É impossível se libertar do ter saúde enquanto souber o que é saúde e o que dá saúde. Como se libertar do ter doença se vocês ainda sabem o que é ter saúde?

Aliás, sobre isso, quando falamos sobre a morte e vida, eu disse: se vocês se preocupassem tanto com a saúde mental quanto se preocupam com a física, poderiam fazer alguma coisa. Vocês estão presos à ter saúde, por isso ainda lutam para tê-la, mesmo querendo libertar-se do estar doente. Isso é impossível. Quem vive uma moeda tem que viver os dois lados e não um só...

Na verdade vocês ainda estão presos a uma coisa, que até dizem que eu faço, mas que não existe: quebra de paradigmas... Isso não existe.

Quebrar paradigmas não existe. Vamos dar um exemplo: para quebrar o paradigma que diz que tal coisa é verdadeira, vocês adotam a postura daquilo não ser verdadeiro ou falso. Isso não é quebra de paradigmas, mas apenas troca deles: algo era verdadeiro e agora não é mais...

Para vocês não há como se quebrar paradigmas, pois, na verdade, sempre trocam um por outro. Não há como mudar de uma verdade para outra e dizer que está se fazendo alguma coisa... Não há como se libertar do não e viver apenas o sim: isso não é realização de nada no sentido da busca da felicidade...

Na busca da felicidade não há quebra de paradigmas, mas libertação deles: eles continuam existindo e você se liberta deles. Ou seja, eles continuam existindo, mas você se liberta da ação do pensamento-emoção criado a partir deles.

Portanto, para não estar doente a primeira coisa que é preciso fazer é libertar-se dos pensamentos-emoções que surgem porque você está são, por ter saúde e daqueles que estão ligados à verdades que dizem que determinadas coisas lhes fazem ter saúde... Se não se libertarem destas coisas, ficarão doentes, pois quem sabe o que é saúde logicamente sabe o que é doença... E quem sabe o que é doença, fica doente...

Isso que estou falando serve para tudo o que já falamos. Vocês estão me ouvindo e dizendo que entenderam, mas como me foi dito na última conversa, se eu me libertar do estar doente a dor para'? Tal pergunta, como outras, mostra que vocês ainda estão com intenção de não ter dor ao invés de querer se libertar do pensamento-emoção que surge após a idéia de ter dor. Isso é impossível. O possível é ter a dor e não sofrer por ela. Ter a dor e o seu sofrimento e não sofrer por isso.

 Não dá para usar este ensinamento para retirar da vida o que vocês não querem passar e preservar o resto que querem viver. Como já disse, parafraseando Cristo, se você não perder sua vida não vai ganhá-la. É preciso libertar-se de tudo, não transformar uma coisa em outra, não transformar a doença em saúde: isso não existe. Doença é doença, saúde é saúde.

O que vocês precisam não é transformar a vida, mas aprender a viver de uma forma única, com a felicidade, tudo o que têm nela. Se tiverem saúde vivam-na com felicidade; se têm doença, vivam-na com felicidade. Mas, como viver a doença com felicidade se ainda sabem o que é ter saúde, como se tem e o que faz bem para ela? Essa é uma boa coisa para se pensar...

Emoções

Amigo e inimigo

Todo ser humano que não coaduna com as mesmas idéias de outro, é tratado por aquele como um inimigo. São inimigos políticos, ideológicos, religiosos, que vivem se enfrentando no sentido de alterar seus conceitos (o achar do outro).

O inimigo é sempre aquele se interpõe às verdades estabelecidas pelo ser humano. Isto porque este sempre debate, argumenta e às vezes até ofende o outro com o objetivo de impor pontos de vista que aquele não acredita como ‘verdade’.

Se a esposa quer a casa arrumada e o marido não faz, ele se torna um inimigo. Se uma pessoa coloca uma verdade que o outro não acredita, vira um inimigo que precisa ser vencido. Se alguém quer fazer alguma coisa e o outro não aceita aquilo como verdade, passa a ser tratado como um inimigo. Para que o outro possa ser um amigo é necessário que ele tenha o mesmo pensamento, ou seja, as mesmas verdades que o ser humano acredita.

Quando surge a figura do inimigo – aquele que contesta ou já contestou suas verdades - o ser humano perde logo a sua felicidade. Encontra mágoa, ressentimentos, raiva e até ódio por aquele outro que não quer compartilhar das mesmas idéias.

Justamente para não perder a felicidade, bem maior que todo ser humanizado deve preservar para alcançar a perfeição nesta encarnação, é que ele sente compulsão em atacar antes de ser atacado. Este ataque não precisa ser necessariamente em atos ou palavras, mas acontece, muitas vezes através do pensamento que rotula o outro de errado.

Quando aquele ser humano já está rotulado como inimigo, não importa mais nada que diga: ele não mais será ouvido, ou seja, nenhuma das suas idéias e mensagens sofrerão análises para se conhecer o conteúdo, mas, como diz o ditado popular, entrarão por um ouvido e sairão pelo outro. As idéias políticas, ideológicas ou religiosas não serão absorvidas pelo ser humanizado, pois aquele já é conhecido daquela pessoa.

Entretanto, Cristo disse que devíamos amar a todos e não apenas àqueles que satisfizessem nossos conceitos. Afirmou ainda: “Abraçar um amigo é fácil, quero ver cumprimentar um inimigo”.

Todos os seres humanizados são espíritos irmãos em evolução. Nenhum de nós é melhor do que o outro, nem sabe mais: somos apenas diferentes uns dos outros...

 O amigo é considerado especial apenas porque se coaduna com a idéia do outro ser humano e não por afinidade sentimental. Repare que se este amigo um dia ousar discordar, receberá o rótulo de traidor da amizade e essa se acabará...

O inimigo também não é um desafeto espiritual: ele surge do apego que o ser humanizado tem às suas verdades, vontades e desejos. Este apego confere a ele um ilusório poder de imaginar que tem o direito de julgar o que é bom ou mal, certo ou errado.

Um ser humanizado recebe o rótulo de inimigo simplesmente porque tem valores diferentes do outro. Mas, quem disse que aquele é que está certo e não o que pensa diferente?

A finalidade da encarnação é alcançar a elevação espiritual e isto só ocorrerá quando o espírito abrir mão do poder de conhecer as verdades. Isto porque todas as verdades com as quais o ser humanizado convive são sempre individuais. Mas, como saber que estas verdades são individuais se elas não forem contestadas por outras, que também são imaginadas como únicas, perfeitas?

Portanto, a reforma íntima necessita desta exposição. É preciso que o espírito encarnado seja constantemente confrontado com as verdades dos outros para poder compreender que não existem dois seres que acreditem, em gênero, número e grau, na mesma coisa.

Aquele que busca realizar a reforma íntima através do isolamento de outros seres humanos não consegue saber que eliminou suas verdades, pois elas não são expostas a outras. Como imaginar que se aceita todas as cores se a única que se conhece é o branco? Somente quando o espírito conhecer e admirar todas as cores poderá dizer que não tem conceitos com relação às cores.

O inimigo, aquele que possui verdade diferente em qualquer assunto, é, portanto, um emissário de Deus... Não para combater os conceitos dos outros ou ensinar algo novo, mas para mostrar a um espírito encarnado que ele ainda possui verdades.

Quando o marido deixa a casa desarrumada, Deus está mostrando a esposa que ela ainda possui conceitos do que é arrumado ou desarrumado... Quando alguém fala algo diferente daquilo que o ser encarnado acredita, é Deus mostrando que existem mais mistérios entre o céu e a Terra do que a sua vã filosofia possa imaginar... Quando alguém quer fazer uma coisa diferente daquilo que o ser humano acha certo, é Deus dirigindo-o para mostrar que aquele homem ainda possui padrões...

Então, este ser humano que contraria o outro não é seu inimigo, mas sim o seu verdadeiro amigo. É amigo porque mostra ao ser humanizado o que nele precisa ser mudado, o que precisa ser reformado, para que o trabalho de despossuir – abrir mão do poder de saber distinguir o bem e o mal – possa ser realizado.

Ao expor os conceitos dos outros, o inimigo não está, no sentido universal, mesmo que individualmente imagine que sim, visando impor-se, mas sendo dirigido por Deus para mostrar àquele outro o que e onde ele precisa mudar. Aquele que é considerado amigo, ou seja, não expõe conceitos dos outros a eles mesmos, não auxilia na reforma íntima. Ao contrário, atrasa esta conquista, pois consolida o poder que o ser humano imagina que tem.

Como objetivo da vida carnal é promover a reforma íntima, podemos afirmar que o espírito veio à matéria carnal não para viver com os amigos, e sim buscar conviver com os seus inimigos, aprendendo aquilo que deve eliminar.

Visto sob este aspecto, o inimigo passa a ser o professor, o amigo do outro. Ele não vem para ensinar uma nova forma de proceder, mas sim para mostrar que o ser humanizado ainda está apegado a leis que determinam formas padrões de procedimentos e que precisa não mais possuí-las. A esposa não precisa se tornar desleixada, mas não pode acusar o marido de sê-lo. O ser não precisa ir pelo caminho que o outro segue, mas não pode julgá-lo por fazê-lo.

Para amar o inimigo é preciso alcançar a liberdade absoluta, aquela que não imponha a ninguém normas de proceder.

Emoções

Subjugando a raiva

Este texto foi desenvolvido com a visão do EEU a partir do sutta de Buda Anguttara Nikaya V.161 - Aghatapativinaya Sutta

Existem cinco maneiras para subjugar a raiva, através das quais quando a raiva surge em um bhikkhu ele deveria destruí-la completamente. Quais cinco?

Ter raiva é sofrer. O ser humanizado que sente raiva de outro entra num processo de angústia e amargura que extermina a sua paz interior. Por isso, Buda, aquele que propõe o alcançar a paz interior como realização da elevação espiritual, nos ensina como vencer a raiva. Vamos analisar o seu discurso sobre o assunto, mas antes, precisamos falar um pouco sobre raiva.

A raiva é uma contrariedade forte, violenta. Toda vez que um ser humano se contraria fortemente com as palavras ou atitudes de outra pessoa sente raiva desta. Por isso, precisamos conversar um pouco sobre contrariedades para entendermos melhor o assunto.

O que é uma contrariedade? Toda vez que um ser humanizado age ou fala palavras que contrarie as verdades de outro, este se sente contrariado. Na verdade, não foi ele quem foi contrariado, mas as opiniões dele. Ser contrariado é estar exposto a opiniões e ações que não concordamos, ou seja, que para nós não se constituem em uma verdade ou realidade diferente daquela que cremos.

Existem muitas contrariedades que o ser humano não liga. São coisas de pequenas montas que acontecem no dia a dia e que ferem nossos conceitos. Mas, por não representarem aparentemente uma afronta grande, não ligamos para elas. É aí é que começa o equívoco do ser humano.

Qualquer contrariedade, por menor que seja – não guardar as coisas onde se acha certo que elas estejam, um pequeno atraso, uma palavra mal colocada – fica marcada na memória do ser. Não existe momento em que somos contrariados que a marca não fique guardada. Por isso, toda e qualquer contrariedade precisa ser trabalhada, precisa ser curada. Se não, o acúmulo delas pode levar à raiva.

A raiva surge, então, do acúmulo de contrariedades que vamos tendo no dia a dia com determinadas pessoas. A cada vez que não trabalhamos a contrariedade ela vai gerando marcas em nossa memória e, quando vemos, aquilo que era apenas uma contrariedade virou uma raiva. Mas, não para por aí.

A raiva pode transformar-se em ódio. A raiva surge do acúmulo de contrariedades, mas quando ela aparece, as contrariedades não cessam. Pelo contrário: tornamo-nos mais intransigentes com aquela pessoa e por isso vamos observando cada vez mais as contrariedades e plantando-as em nossa memória. É através deste processo que a raiva se transforma em ódio. Ou seja, o ódio, sensação que leva o ser humano a vivenciar um grande sofrimento, começa nas pequenas contrariedades do dia a dia.

Por isso, neste trabalho, quando analisarmos os ensinamentos de Buda não estaremos nos referindo diretamente à raiva, mas buscando usar o que ele ensina para vencer as pequenas contrariedades do dia a dia.

Quando surge a raiva em relação a uma pessoa, ele deve desenvolver a boa vontade para com aquela pessoa. Dessa forma, a raiva por aquela pessoa deve ser subjugada.

“Desenvolver a boa vontade para com aquela pessoa”: o que quer dizer isso? Vamos conversar sobre o tema.

As contrariedades surgem quando há um desacordo entre o que cada um dos envolvidos num relacionamento acha verdade ou certo. Ela existe porque a verdade ou o certo do outro contraria a sua verdade ou seu certo. Mas, o que é a nossa opinião que é certa ou verdadeira?

Cada ser humanizado é exposto diariamente a centenas de informações. Estas informações são analisadas pela mente a partir de conceitos pré-existentes na memória. Cada vez que uma informação se coaduna com o conceito que está na memória ela é considerada certa ou verdadeira. Mas, como se formam os conceitos pré-existentes na memória?

Somos o resultado do meio que vivemos. A cultura de cada povo, região, cidade, bairro ou mesmo núcleo familiar possui um grupamento específico de informações às quais dá o valor de verdade e certo. Acontece que estes grupamentos diferem entre si. Nos países ocidentais, por exemplo, a cultura afirma que só se pode ter uma esposa, nos árabes ela já é diferente: o homem pode ter mais mulheres. Entre os jovens, atitudes irresponsáveis são consideradas como atos perfeitos, entre os mais velhos isso já não acontece.

Quem está certo? Todos os dois... O certo e o errado não são absolutos, ou seja, não servem para todos e não permanecem por toda a existência sem mudanças. Na verdade, a avaliação de certo ou errado aos conselhos depende do momento da existência de cada um ou do grupo social onde se vive. Na verdade, ela é relativa, ou seja, depende de cada um.

Por isso cada um tem o direito de achar certo e verdadeiro aquilo que achar naquele momento. Não se pode criar um estatuto rígido que sirva para todos ao mesmo tempo. É fundamentado neste conhecimento sobre a relatividade da avaliação de certo e errado que Buda ensina que devemos ter boa vontade com todos.

Você tem o direito de ter o seu padrão de certo e verdadeiro, mas o outro também o tem. Querer impor ao outro o que aquilo é verdade para você só leva à contrariedade. Isso porque o outro não vive a sua vida, ou seja, não vivencia a existência dele com os mesmos valores que você.

Aliás, aproveitando que estamos falando com espiritualistas, exigir do próximo que ele tenha as mesmas avaliações que você é querer retirar dele o livre-arbítrio. Acreditamos que Deus deu a cada um o direito de livre optar por qualquer coisa. Exigimos para nós este direito, mas não o estendemos ao próximo. Escolher um padrão próprio de certo e verdadeiro é o exercício do livre-arbítrio que se foi dado por Deus a cada um não pode ser retirado por ninguém.

Este é o caminho da boa vontade que Buda ensina que leva ao fim da contrariedade e com isso evita a existência da raiva e do ódio: dar ao outro o direito de exercer o seu próprio livre-arbítrio.

Quando alguém faz ou pensa coisa diferente de você, ao invés de se contrariar, diga: ‘ele tem o direito de fazer ou pensar aquilo que achar melhor para ele’. Este é o exercício da boa vontade. Concedendo ao próximo este direito não existirá contrariedade, apesar de continuar existindo a não similitude entre o que você e o outro acham certo ou verdadeiro.

Desenvolver a boa vontade com o outro não é acreditar no que ele acredita ou fazer o que ele faz, mas apenas dar ao próximo o direito de ser diferente de você. Isso leva ao fim da contrariedade, da raiva e do ódio. Leva ao fim do seu sofrimento.

Quando surge a raiva em relação a uma pessoa, ele deve desenvolver a compaixão para com aquela pessoa. Dessa forma, a raiva por aquela pessoa deve ser subjugada.

Compaixão é algo muito diferente daquilo que nós humanos imaginamos que deva ser. Acreditamos que ter compaixão por uma pessoa é sofrer a tristeza que ela está sentindo. Isso não é realidade.

Quem sofre não consegue transmitir o que o outro mais precisa no momento de sofrimento: alegria! Quem está sofrendo precisa ser animado, fortalecido, para poder sair do estado de espírito que se encontra. Como animar alguém se o animador também está desanimado?

Costumamos dizer que sofrer é como alimentar-se de um alimento que não gostamos. Jiló, por exemplo. Quem está sofrendo está ingerindo uma porção de jiló e precisa de alguém que coloque em seu prato algo que o ajude a deglutir aquele alimento. Ao invés disso, quando vivemos o momento com a compaixão como entendida pelos seres humanizados, colocamos mais jiló em seu prato, ou seja aumentamos o sofrimento daquele que já está sofrendo.

Ter compaixão pode ser definido como ter a consciência do sofrimento que se pode causar a si ou ao outro. Quem sente verdadeiramente compaixão pelo próximo, ao invés de sofrer junto com ele, busca animá-lo com felicidade e alegria para não aumentar o seu sofrer. É esta compaixão que Buda ensina.

Quem sente contrariedade com a palavra ou ação do outro e tenta corrigi-lo aumenta o sofrer do próximo. Mesmo que a contrariedade não gere a briga ou discussão, apenas a tentativa de corrigi-lo já traz embutida em si uma acusação, uma crítica. Esta por si só já traz sofrimento a quem está sendo criticado.

Portanto, para vencer a contrariedade que acaba levando à raiva, tenha compaixão do outro: pense no sofrimento que irá causar ao próximo com sua crítica. Para isso, lembre-se: ele tem o direito de ter o seu certo e verdadeiro.

Mesmo que você saiba que o padrão de certo ou errado leve aquele ser humanizado mais tarde a sofrer, não o faça sofrer agora. Evite discordar do próximo para não fazê-lo sofrer...

Um dos instrumentos ensinados pelo Espiritualismo Ecumênico Universal para isso é a doação da razão. Sempre que discordamos de alguma coisa que alguém acredita buscamos debater o assunto para poder, ao fim, ficar com a razão. Mas, será que isso é importante?

Ter a razão significa vencer a discussão. Quem dá a última palavra acha sempre que conseguiu dobrar o próximo e impôs aquilo que acreditava. Mas, para que você quer vencer? Para poder gabar-se de estar certo? Qual o preço que paga por isso? Será que vale a pena expor-se a arquivar contrariedades que futuramente lhe levarão à raiva ou ao ódio? Quem vai sofrer no final das contas? Você mesmo...

Portanto, por compaixão, ou seja, por consciência do sofrimento que pode causar àquela pessoa agora e a você no futuro, doe a razão.

Quando surge a raiva em relação a uma pessoa, ele deve desenvolver a equanimidade para com aquela pessoa. Dessa forma, a raiva por aquela pessoa deve ser subjugada.

Equanimidade quer dizer igualdade de ânimo, ou seja, sentir apenas uma coisa por uma pessoa, não importa o que esteja se vivendo.

Buda ensina que devemos ter apenas um sentimento com relação às pessoas, pois isso acaba com a contrariedade e estanca a possibilidade de sofrermos mais tarde. Que sentimento é esse? Aquele que já nutrimos por aquela pessoa.

Os seres humanos afirmam que gostam, amam ou têm amizade por alguém, mas na verdade eles só nutrem estes sentimentos quando os outros atendem os anseios e expectativas deles. Se em determinado momento a outra pessoa, num mínimo detalhe, entra em contradição com aquilo que eles acreditam ou acham certo, todo este sentimento extingue-se.

Quem ama, o faz o tempo inteiro e não apenas nos momentos em que o próximo satisfaz seus conceitos. Quem gosta, gosta o tempo inteiro e não apenas quando o outro está de acordo com suas verdades. Quem tem amizade é sempre amigo do outro, mesmo quando este não possui tudo aquilo que nós queremos. Se a emoção não permanece, isso quer dizer, então, que ela não existe realmente.

Gostar, amar e ter amizade por uma pessoa não devem ser emoções que tenhamos por alguém apenas quando ela nos satisfaz. Quem vive desse jeito, além de não ter realmente estes sentimentos pelo outro, está expondo-se ao risco de em qualquer contrariedade decepcionar-se com o próximo e com isso buscar o seu próprio sofrimento.

Quando surge a raiva em relação a uma pessoa, ele não deve empenhar a sua mente ou dar atenção para aquela pessoa. Dessa forma, a raiva por aquela pessoa deve ser subjugada.

Grande conselho de Buda: não empenhar a sua mente ou dar atenção à pessoa que nos causa contrariedade.

Existe um ditado que diz: Deus deu uma vida para cada pessoa, para que cada um tome conta da sua. Ao invés disso, vivemos empenhando nossa mente para prestar atenção na vida dos outros. Isso causa sofrimento.

Todos somos diferentes. Não existem duas pessoas que acreditem ou dêem o valor de certo em mesmo gênero, número e grau a um mesmo conceito. Por isso, quando ficamos atentos aos outros, certamente vamos descobrir contrariedades entre o que ela acha, pensa e faz com o que achamos, pensamos e fazemos. Por isso, o melhor é cada um tomar conta apenas de si mesmo.

Cristo nos ensinou: Você repara o cisco nos olhos dos outros, mas não vê a trave que está no seu olho. Somos naturalmente juízes do mundo. Vivemos constantemente observando as ações e crenças dos outros e comparando-as com as nossas. Isso causa sofrimento...

Para não sofrer é preciso que nos mantenhamos constantemente focados em nós mesmos e demos aos outros a liberdade de ser, estar e fazer o que bem entender.

Quando surge a raiva em relação a uma pessoa, ele deve dirigir os seus pensamentos para o fato de que aquela pessoa é o produto do carma dela: ‘Esse venerável é o agente do seu carma, herdeiro do seu carma, nascido do seu carma, atado ao seu carma e dependente do seu carma. Qualquer carma que ele faça, para o bem ou para o mal, disso ele será o herdeiro. Dessa forma, a raiva por aquela pessoa deve ser subjugada.

Carma é algo que os seres humanos entendem muito pouco. Por nossa tendência a crer no pecado, no mal e nas suas conseqüências, achamos que o carma é o castigo que cada um recebe por suas ações negativas, mas isso não é verdade. Carma é a conseqüência natural de uma ação, seja ela uma condenação ou premiação.

O Universo é regido pela lei da causa e efeito, ou seja, a cada movimento nosso, geramos uma ação como efeito do que foi feito. Isso é o carma: o efeito de uma causa. O carma é o motor que movimenta o Universo. Sem ele, tudo seria estático, pois o que hoje foi gerado não teria uma reação e com isso o Universo permaneceria estático.

Quando Buda nos afirma que a outra pessoa – as suas crenças e conceitos – são o produto do carma dela, quer dizer que o que ela acredita é a reação ao que ela viveu em momento anterior. Se uma pessoa, por exemplo, tem medo de velocidade, pode ter certeza que isso é uma reação a um perigo ou acidente que esta já sofreu em um momento passado quando estava se deslocando em alta velocidade. Se você não tem este medo, é sinal de que nunca vivenciou uma ação desse tipo. Não ter o medo, portanto, é o seu carma, enquanto que o dela é tê-lo.

Vivenciando a vida a partir dessa verdade, podemos encarar as contrariedades de uma forma simples – diferença das vivências das pessoas – ao invés de imaginar que o outro está errado. Quem não entende que os conceitos de uma pessoa são o carma da sua vivência na vida, vive contrariado com o que ela acha certo ou acredita como verdade.

Para estes, Buda faz um alerta neste trecho: Qualquer ação que se faça, para o bem ou para o mal, disso você será o herdeiro. A lei do carma – a reação a uma ação – é inexorável. A certeza de que cada ação gera sempre uma reação nos transforma em herdeiro daquilo que fazemos.

Já nos ensinava Salomão: Quem semeia vento, colhe tempestade. Se você anda pelo mundo com sua mente atenta aos conceitos do outro, colherá contrariedade e com isso sofrerá. Não por castigo ou penalidade, mas como justa conseqüência da sua própria ação.

“Essas são as cinco maneiras para subjugar a raiva, através das quais quando a raiva surge em um bhikkhu, ele deveria destruí-la completamente.”

Desenvolvendo a boa vontade, a verdadeira compaixão e a equanimidade pelos outros, mantendo a sua atenção na sua própria vida, ao invés de cuidar das dos outros e compreendendo que a vida é uma sucessão de carmas, ou seja, de conseqüências de ações anteriores, evita-se as contrariedades e com isso extingue-se a possibilidade da raiva, do ódio e do sofrimento.

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A bondade e o egoísmo

Participante: Tem pessoas que são mais egoístas porque pensam apenas em si mesmas. Agora, existem pessoas que são mais altruístas porque pensam primariamente nos outros. Não é isso?

Sim, há pessoas que são mais egoístas porque pensam mais em si mesmo. Mas, quem são essas pessoas? Aquelas que acreditam que o certo é pensar mais nelas. Elas são egoístas não porque pensam mais nelas, mas sim porque estão presas aos seus certos. Egoísta é aquele que acha que apenas o seu certo é certo. Esta pessoa, portanto, é egoísta porque está vivendo o seu certo como se certo fosse.

Agora, existem pessoas que pensam mais nos outros. Mas, quem são as pessoas que pensam assim? Aquelas que acham certo pensar nos outros. Elas só pensam nos outros, porque acham certo viver assim.

Qual a diferença entre uma e outra? Tanto uma como a outra são egoístas, porque as duas estão presas ao que elas dizem que é verdade. Não importa o quanto pense no outro: o que importa é que cada uma dessas pessoas está apenas apegada ao que ela diz que é certo e quando isso acontece o egoísmo está presente.

Quem só acha certo o que acha certo, é egoísta.

A ausência do egoísmo não está em servir ao próximo, mas em ir além de si mesmo para servir. Quem acha certo, santo ou bondade servir ao próximo, está sendo egoísta porque está buscando satisfazer seus próprios conceitos, suas verdades. Ele é tão egoísta quanto aquele que não serve, porque está apenas servindo a si mesmo (às suas verdades) e não ao outro.

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Alcançando a paz

Participante: Como podemos mudar nossa sintonia para não sofrer?

Vou falar alguma coisa para você, mas na verdade não é isso. Na verdade tudo é oriundo de Deus e, portanto, para que mude sua sintonia seria necessário que Deus a mudasse. O que vou dizer é uma forma racional de alterar a sua sintonia que, se você conseguir por em prática, levará a alterar a vibração no sofrimento.

Na hora que o mundo estiver mau para você, pense no momento que o mundo estava bom. Este é o caminho. Por exemplo, na hora que seu filho estiver mais capeta, ao invés de prestar atenção nele agora, busque lembrar-se do seu nascimento... Recorde a felicidade que teve naquele dia. Lembre-se dele pequeno, quando não era capeta. Com isso você pode mudar o padrão vibracional, pois estará vivenciando o sentimento que sentiu naquele momento anterior. Esta alteração lhe faz mudar o sentimento atual.

Então, sempre que acontecer alguma coisa que lhe desagrade, mentalmente, saia daquele lugar e vá a outro onde teve bons sentimentos (ou sentimentos de paz). Com isso trará a paz e a felicidade para o presente e a reencontrará. Agora, de preferência busque sempre se lembrar de momentos vivenciados com a pessoa que está lhe atacando agora, pois, com isso, você começa a destruir as acusações que está fazendo neste momento.

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Auxílio aos carentes

Pergunta. E não podemos com o nosso amor ajudar aos carentes?

Ajudar quem está sendo ajudado? Digo isso porque o espírito humanizado que está passando por necessidades materiais está sendo ajudado por Deus para que execute o trabalho de sua encarnação: alcance a felicidade incondicional.

A carência é o auxílio de Deus. E se isso é verdade - e todos os mestres ensinaram que sim – você acha que sabe mais do que Deus que deu a carência a quem precisava dela? Este é o primeiro aspecto que queria abordar com respeito a sua pergunta.

Segundo aspecto. Se você, ou qualquer outro ser humanizado, pode ajudar indistintamente, porque continuam existindo tantos pobres, tantos carentes no planeta? Deixe-me dizer uma coisa. Se você somar todos os extremamente carentes do planeta, a quantidade que resultará não alcançará um quarto da população da Terra. Muito menos, nem um oitavo. Sendo assim, se apenas um em cada sete seres humanizados que não estão nesta situação ajudassem, acabaria completamente a carência no planeta. Porque isto não aconteceu? Será que não existe um entre cada sete habitantes do planeta que se predisponha a auxiliar o próximo? Claro que há, mas mesmo assim eles não conseguiram acabar com a extrema pobreza. Por quê? Porque isto não era para ser feito.

Portanto, se você conseguiu ajudar alguém, louvado seja Deus, pois aquele já estava na hora de ser ajudado. Agora, se você não consegue ajudar todos, não se lamente por quem não recebe o auxílio, nem critique os que não fazem, pois aqueles seres não tinham que receber a ajuda.

Agora repare que este não é apenas um procedimento para a vida carnal, mas é Realidade Universal. A literatura espírita registra o atendimento que os irmãos desencarnados prestam àqueles que, depois do desencarne, penam naquilo que vocês conhecem como umbral. Quando estes trabalhadores do Senhor saem em missão, eles não socorrem a todos que lá estão, mas apenas aqueles que merecem ser socorridos, apenas os que já conseguiram merecer o socorro. E os socorristas não sofrem porque não retiram todos do umbral, sofrem?

Quando cito esta Verdade Universal – a carência é o amor de Deus em ação e só acabará quando não for mais útil à elevação do espírito – os seres humanizados imaginam que estou dizendo que eles devem procurar a pobreza ou ser insensível com relação a este assunto, mas não é isso. O que quero ensinar é que você deve se preocupar em fazer o que pode, o que conseguir, mas não deve ficar se lamentando, chorando e chamando de coitadinho aquele que não recebeu e de mal aquele que não fez.

Não, se ninguém fez foi porque aquele ser humanizado que permanece na carência não tinha que receber. É bem diferente a minha colocação do seu entendimento. Não estou falando em não auxiliar, mas em ajudar quem você conseguir e não sofrer porque alguns não foram ajudados.

Participante: Então só podemos amar a Deus? Amai os outros como Eu lhe amei, ensinou Jesus...

Perfeito, mas como Deus lhe ama? Tendo pressa em lhe satisfazer? Fazendo com que os acontecimentos do mundo existam do jeito que você quer? Suprindo todas as suas carências? Ou lhe ama justamente dando a sua cruz para carregar? Se for assim, para seguir o ensinamento de Cristo (ame o próximo como Deus lhe ama) ajude ao outro a carregar a sua cruz...

Aliás, foi assim que Cristo amou, pois quando ele enfia o chicote no lombo dos vendedores do templo ou quando chama os apóstolos de vermes age contrariamente àquilo que vocês chamam de caridade. No entanto, tenha a certeza que, mesmo praticando tais atos, ele não os amou menos do que aqueles para quem trouxe a cura. O amor, que se expressa por afagos ou chibatadas, mas sem culpabilidade, é a verdadeira caridade.

Deixa eu lhe fazer uma pergunta para podermos entender bem a questão da missão de Cristo. Quantos dias, meses e anos demorou a jornada de pregação do mestre? Durante todo este tempo ele esteve sempre acompanhado de uma grande multidão, mas multiplicou os pães e os peixes apenas uma vez para poder alimentar o populacho. Por que o mestre não os multiplicou em outras oportunidades? Será que para eles, que caminhavam pelo deserto, que viviam andando entre cidades que eram na verdade esquinas das que vocês vivem hoje, nunca mais aconteceu tal fato? Será que nas outras ocasiões eles sempre conseguiram alimento suficiente para alimentar cinco mil bocas? Claro que não. Então porque fez apenas naquela determinada vez? Porque sabia que naquele momento tinha que fazer, mas em outros não. Nos momentos em que não fez, não se preocupou com a alimentação daqueles que o seguia.

Veja bem. Cristo multiplicou os pães apenas uma vez porque naquele momento tal atitude fazia parte de sua missão, mas não era o mote dela. O mestre veio para nos alimentar com a água que acaba com a sede definitivamente e com o maná celeste e não com alimentos materiais. Se sustentar materialmente os seres humanizados fosse a missão de Cristo, ele teria montado um restaurante ao invés de andar pelo deserto. Com isso poderia, durante o dia, alimentar os famintos e à noite ensinaria no mesmo ambiente.

Mas, ele não veio ao mundo carnal dar o alimento material aos necessitados, nem você, eu ou qualquer outro ser universal. Mas não é por isso que não deve fazê-lo. Quando possível faça, quando não, não lamente.

Participante: Cristo disse que desde que tivessem fé ele os satisfaria.

Em quem Cristo disse que devíamos ter fé? Em Deus. Será que quando você pede ao Pai que supra suas carências está tendo fé Nele? Se você pedir o que quer, o que lhe trará satisfação, sua fé (entrega) estará sendo exercida em você mesmo e não em Deus. Isto porque acredita apenas em você, nas suas verdades, e no que você sabe que precisa.

A fé em Deus é exercida quando se confia que o Pai sabe melhor do que você aquilo que precisa, como ensinou Cristo quando disse que essa deveria ser a forma (intenção) ao se rezar o Pai Nosso. Ele foi bem claro: quando orarem, não peçam nada, pois o Pai sabe melhor do que você o que precisa.

Portanto, a fé em Deus existe quando se quer para si a vontade de Deus, que aconteça aquilo que Ele sabe que é melhor para nós. Aliás, o que Ele quer é o que está acontecendo, senão, pela sua Onipotência, teria alterado o rumo dos acontecimentos.

Nunca se esqueça: ‘Bem aventurado aqueles que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus porque deles é o Reino do céu’.

A partir desta rápida análise posso, então, concordar com você: ore a Deus pedindo com fé (entrega e confiança absoluta nos seus desígnios), e, daí, receberá tudo. Mas, não o que espera, o que acha melhor, mas sim o que for realmente melhor para você no sentido do seu futuro espiritual. Aliás, como ensinou Cristo, ore assim: ‘seja feita a Vossa vontade assim na Terra como ela é feita no céu’. Peça isso e receberá. Agora, se você pedir o que você quer...

Veja, se durante a vida a conquista de bens materiais fosse feita como você falou (apenas pedindo) seria melhor parar de participar dos acontecimentos da vida e ir para uma igreja e ficar ajoelhado rezando o dia inteiro, não? Mas, aí, como alcançar o merecimento necessário para a evolução?

Portanto, viva, ou seja, participe dos acontecimentos da vida louvando sempre ao Pai porque a Sua vontade está acontecendo.

Participante: Mas eu não posso virar a cara quando vejo alguém que posso ajudar.

Mas, eu não disse que você deve virar a cara quando puder ajudar, mas que não deve sofrer quando não pode ajudar. Esta é a diferença.

Olha, deixe-me deixar bem claro o que estou falando. Você pode ajudar quem você conseguir ajudar. Apenas não deve ficar lamentando, sofrendo ou acusando os outros porque tem gente que não foi ajudada. É isso que ensino...

Eu não disse que você não pode ajudar alguém. Pelo contrário, falei que pode e deve ajudar. Agora, além disso, preste bem atenção em como quer ajudar, pois como Cristo também ensinou, ajudar não é dar o peixe, mas sim dar a vara e ensinar a pescar, lembra? Este auxílio é bem diferente do que simplesmente dar um prato de comida para quem tem fome, mas isso é uma outra história para outro dia.

No entanto, auxiliando do jeito que for lembre-se sempre que você pode fazer por qualquer um, mas só fará para quem tiver que receber e na hora pré-determinada para tanto.

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Consolo

Participante: Dar a atenção, por vezes, é mais importante do que dar o dinheiro...

Exato. Agora, dar a atenção, não é chorar com as pessoas. ‘Ah você está sofrendo, coitadinha’. Ou então, quando alguém estiver numa situação ruim, você concordar em ‘como é difícil a situação dele’. Dar a atenção é auxiliar o ser afundado no lamaçal do sofrimento a sair de lá e não empurrá-lo mais para o fundo...

É dizer: ‘Concordo, você está nesta situação, mas o que vamos fazer. Tem como resolvê-la agora? Não. Então, pare de chorar. Se lamentar resolvesse o seu problema eu sentava do seu lado e chorava também. Desta forma, vamos lá. Levanta, enxuga as lágrimas e vamos sair e esquecer o problema. Quem sabe saindo, você encontre a solução’.

Isso pode consolar; o chorar com ele não ajuda em nada. Digo isso porque foi esse o exemplo que os seres humanizados do planeta Terra receberam. Na Bíblia está claro: Cristo não sentou e chorou com as pessoas que estavam doentes. Ao invés disso afirmou: você acredita que eu posso lhe curar? Então vou lhe curar.

Ele agiu, não lamentou o destino dos outros. Agora, se nós apenas choramos com os doentes, coitados deles: já estão doentes e ainda terão que receber a sua tristeza para compartilhar com a doença.

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Nojo

Participante: Eu vejo a questão da elevação espiritual, a partir dos seus ensinamentos, da seguinte maneira: no dia em que eu conseguir conviver equilibradamente com um poodle e uma barata, eu terei o merecimento...

No dia que você for equânime lutando contra o conceito que diz que cachorro é bonito e barata é feio, poderá receber de Deus o fim dos valores bom e mal, certo e errado, bonito e feio e por isso conseguirá ser feliz...

 Participante: Espero que sua missão dure séculos para estar presente ao meu lado nas futuras encarnações, pois nesta não conseguirei este equilíbrio...

Sabe o quanto vai ser difícil? O quanto acreditar que será. O quanto você se apegar sentimentalmente a este pensamento que a mente lhe deu como uma provação...

Além do mais, fique feliz por ter medo de barata. Sabe por quê? O seu medo ajuda os espíritos que estão preparando-se para encarnar...

Como? Mostrando a eles o quanto sofre um espírito bobo que tem medo de barata...

 Participante: Não é medo, é nojo...

Não importa o rótulo do sentimento: medo, nojo ou qualquer outra coisa que sinta sobre o tema...

Participante: Mas como controlar este nojo?

Sabendo que não existe barata... Que não existe coisa podre, sujeira, micróbios. Que não existe tudo isso ao qual você aplica estes valores...

Participante: O senhor não pode me ajudar a não ter nojo de barata?

Nem eu nem ninguém...

Gostar ou não de alguma coisa, saber conviver universalmente ou egoisticamente é uma decisão de foro íntimo... É uma decisão interna do espírito. Ninguém pode mudar este apego às criações racionais da mente, só o próprio espírito. Nem mesmo Deus pode, pois é nesta opção que se concentra o livre arbítrio do espírito...

 Participante: Eu já decidi não ter mais nojo dela, mas continuo sentindo...

Na verdade esta opção foi falsa, foi falseada, pois se realmente você houvesse decidido que ia fazer, teria realizado...

Agora, não adianta querer deixar de ter nojo de barata, porque esta sensação voltada para este inseto é uma ilusão. Na verdade o que você tem é nojo e esta sensação aplica-se a alguns elementos. O que você precisa trabalhar é o fim do nojo e não apenas aquela sensação que é voltada especificamente à barata...

Só destruindo o nojo poderá eliminar a sensação que tem frente a uma barata. Sem que consiga libertar-se das sensações nojentas que a mente cria, será impossível deixar de senti-las frente à barata especificamente...

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Avareza

Participante: Se o avaro não pode mudar porque escolheu esta prova, não adianta tentar se mudar?

Não adianta você tentar mudar a sua natureza: isso é o que Krishna ensina.

Cada um age de acordo com a sua natureza. O que pode mudar é a sua forma de se relacionar com sua própria natureza. Você pode, ao invés de gozar a avareza ou sofrer por ser um avaro, dizer: “e daí... eu sou um avaro, essa é a minha natureza, é o meu jeito”.

Já deixamos bem claro: toda a realidade que vem a sua mente através do raciocínio é simplesmente um carma e não uma verdade. Sendo assim, a avareza que ela cria não é sua nem dela, mas a forma como Deus escolheu para você, espírito, vivenciar um gênero de provas.

Portanto, você não pode deixar de ser avarento, mas deixar de gozar o fruto da avareza, ou sofrer por ser avarento.

Participante: A avareza é prova ou provação? A prova não será o apego ao dinheiro?

Avareza é um gênero de provas. Ela é o fruto da posse por elementos materiais.

O dinheiro é um dos tipos de paixões que essa posse ocasiona. Mas, o avarento pode ter paixões por carros, casas, objetos de arte, jóias, etc., ou seja, ter outras paixões que se submetem a esta posse.

A avareza é uma forma sobre a qual a possessão sobre elementos materiais se expressa.

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Síndrome do pânico

Participante: Tenho muito medo de médicos e de exames médicos, sofri muito tempo com o transtorno do pânico e tomo remédio para controlar minha ansiedade. É possível me desfazer deste medo e começar a mudar?

Não! Você se desfazer não é possível. Agora, se Deus desfizer, estará desfeito. Mas, neste caso, foi Deus quem desfez e não você.

Mas, para que se preocupar em libertar-se deste medo? Estar com medo neste momento é a sua vida... Viva-a feliz... Ao invés de lutar contra o ter que tomar remédio ou ter que ir ao médico, viva a vida que tem para ser vivida...

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Depressão

Participante: A depressão é um carma ou um estado de espírito?

As duas coisas...

A depressão, a consciência de estar deprimido, é um carma. Agora, quando o espírito se deixa levar por esta sensação carmática e imagina-se também depressivo, criou um sentimento, um estado de espírito.

Estado de espírito é a base sentimental do ser universal. Ele pode estar de acordo com aquilo que a mente cria ou não. Mas, como já falei, mesmo que o espírito sinta-se deprimido, isso é uma ilusão. Como ensina Krishna, se a realidade criada pela mente e a prisão a ela são ilusões, o ser universal apenas está se iludindo ao vivenciar o que a personalidade que ele vive cria.

Além disso, a você ser humano, consciência humana, é impossível saber se o espírito está ilusoriamente deprimido. O estado de espírito é do espírito e tudo que é do ser universal não penetra na consciência humana...

Portanto, para você consciência humana, a depressão sempre será um carma...

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Vampirização

Participante: Por favor, fale um pouco de espíritos que vampirizam o perispírito de outro, como os ovóides citados na literatura espírita...

Na verdade nenhum espírito vampiriza o perispírito do outro. Vamos entender isso.

O espírito se alimenta de uma coisa chamada energia, que vocês chamam de emoções ou sentimentos. Os espíritos comem sentimentos assim como vocês comem comidas.

Então, estes espíritos que você chama de vampiros, não comem matéria, mas a energia, o sentimento, que está dentro do perispírito. Poderíamos compará-lo aquilo que vocês chamam de sangue suga, pois ele, como este elemento, não come o corpo, mas o sangue, que no espírito é a sua energia interna.

A existência de elementos espirituais com esta capacidade é Real, mas estes só se sentirão atraídos por aquele que possuir o alimento que eles gostam. Até aqui na Terra existem pessoas que não podem sair de casa de noite senão o mosquito ataca enquanto há pessoas que entram no meio da nuvem de mosquitos e não recebem uma picada. Por que isso? Porque eles não têm o que o mosquito quer.

Precisamos entender que os vampiros espirituais só irão vampirizar alguém que tenha o sangue que ele quer, ou seja, o sentimento que ele gosta de alimentar-se. Se um ser humanizado entrar em conexão com o padrão vibratório que o espírito vampiro gosta, com certeza será vampirizado, mas se sair da conexão, o ser universal irá embora reclamando do alimento que ingeriu e procurará outra pessoa que tenha o que ele gosta.

Sei que não é a intenção da sua pergunta, mas estou deixando bem claro isso, porque esta conversa ficará á disposição de outros: muito mais do que nós nos preocuparmos em saber como o vampiro age, temos que compreender porque ela acontece. Só assim poderemos escapar dela e aprender a amar ao vampiro, pois ele é um dos todos que Cristo disse que devemos amar.

Portanto, interessante a sua pergunta, mas não como uma oportunidade de adquirir conhecimentos científicos espirituais, mas sim como uma oportunidade de colocarmos esse aspecto: saber que sairmos daquela vibração não haverá vampiro que lhe vampirizará.

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Idolatria

Participante: Nosso irmão Bezerra de Menezes foi chamado para trabalhar em planos superiores, mas preferiu ficar entre nós, nos ajudando em nossas provações. O senhor poderia comentar isso?

O exemplo que você citou, não é um caso isolado. Existem muitos espíritos que poderiam, por ascensão moral, estarem trabalhando em outros planos – planos mentais e não lugares físicos – mas que optam por permanecerem juntos a orbes planetários para auxiliarem os irmãos.

Digo isso para que não caiamos na idolatria: o super puro Bezerra de Menezes. Não, isso não pode acontecer.

Primeiro porque Bezerra de Menezes não é um espírito. O ser humano vinculado a este nome foi uma encarnação, uma personalidade, vivida por um ser espiritual. O espírito, propriamente dito, não tem cor, sexo, raça ou religião... Além disso, nem podemos dizer que é um espírito de pureza irretocável. A atitude que você relatou só pode ser considerada louvável, ou seja, merece ser destacada, por quem não conhece a espiritualidade. Quem a conhece sabe que tal atitude é corriqueira entre os espíritos mais elevados. Aliás, entre os espíritos realmente puros, tal honraria não é bem vinda. O espírito quanto mais puro, mais concede a Deus a Causa Primária de todas as coisas e, por isso, não se vangloria do que faz, ou seja, do que se torne agente da vontade do Pai.

Apenas para encerrar, deixe-me dizer que quando falo de um espírito do jeito que falei (nem podemos dizer que é um espírito de pureza irretocável), não estou acusando ninguém: estou apenas colocando os pinos nos is como vocês dizem e faço isso para que vocês não vivam idolatrias que não servem para a elevação espiritual.

A questão do nível de cada ser no Universo depende de quem a dá. Para você o exemplo da vida Bezerra de Menezes confere um grau elevadíssimo ao espírito que a vivenciou, mas se o olhar partir de quem já superou a forma humana de vida, se verá que não é tão adiantado assim.

Trate a todos como iguais, porque como nos foi ensinado, devemos idolatrar apenas ao Senhor Deus.

Emoções

Inveja

Pergunta: Como limpar minha casa de invejas?

Vou lhe dar uma receita que vale para toda e qualquer pergunta desse tipo: ame.

Sabe como é que você limpa sua casa de inveja? Ame o invejoso. “Pai, perdoa, ele não sabe o que faz”: essa é a receita infalível. Se a sua casa tem inveja é porque você ainda merece recebê-la. Mas, se você ainda merece recebê-la é porque ainda critica os invejosos, ou seja, não ama.

Dessa forma a receita infalível para tudo dessa vida é ame: Ame ao próximo como a si mesmo, ame a Deus acima de todas as coisas e nada disso vai lhe atingir, pois o amor forma uma couraça em volta de você e nada lhe alcançará.

Assim, ao invés de saber quem emanou a inveja para poder criticá-lo ou acusá-lo, ame e diga: Senhor, perdoa, ele não sabe o que faz.

Emoções

Namastê

Participante: Alguns povos se cumprimentam assim: o Deus que está em mim saúda o Deus que está em você. Sinto neste cumprimento um estado de despossuir...

Você está falando do cumprimento hindu chamado de “namastê”...

Outro dia, inclusive, usei esta postura sentimental como sinônimo do amar ao próximo que Cristo ensinou. Amar ao próximo como a si mesmo é isso: o meu divino interior – retire a palavra Deus para não complicar – saúda o seu divino interior...

Agora, a saudação namastê é uma forma de agir interna e não externa. Ela precisa ser sentida e não apenas proferida por palavras. Você tem que estar internamente saudando o divino do outro e deixando as mentes brigarem, conversarem, pensarem. O problema é que vocês ocidentais querem realizar esta saudação dentro do nível racional. Isso é impossível...

A mente jamais trabalhará com uma divindade interior saudando outra. Ela trabalhará sempre com a idéia de um ser humano convivendo com as percepções e idéias armazenadas que criam outro ser humano...

Respondendo-lhe, então, sim, esta é uma base sentimental de um indivíduo elevado espiritual, mas que só existe dentro do mundo interno de cada um e não na mente...

Emoções

Desânimo

Participante: Ando tão desanimado...

Vamos falar das coisas que lhe causa desânimo. Mas, para falar disso, temos que falar de ânimo, pois o desânimo é não ter ânimo.

O que é ter ânimo por alguma coisa? Você só tem ânimo para fazer aquilo que está com vontade de fazer. Então, ânimo – e desânimo é ao contrário – é uma criação da mente. Ela justifica esse ânimo dizendo que você está com vontade de fazer alguma coisa.

Mas, para que ela cria isso? Para lhe prender ao prazer e a dor. Ela só cria ânimo ou desânimo por qualquer coisa para poder levá-lo a vivência do prazer ou a dor.

Portanto, sentir-se desanimado para alguma coisa é estar à beira do abismo no tocante à elevação espiritual, mas a mesma coisa acontece se você estiver animado para fazer algo. Sendo assim, o ânimo ou desânimo, que são emoções, pensamentos-emoções, nada mais são do que uma cilada para lhes prender na vivência do prazer e a dor.

Você precisa escapar disso. Como? Esvaziando o seu ânimo ou desânimo. Como se esvazia o ânimo ou desânimo? 'Eu estou com vontade de fazer... Sim, estou, mas se fizer fiz, se não fizer não fiz’... ‘Não estou com vontade de fazer... Não, não estou, mas se não fizer não fiz, se fizer, fiz'...

Mas, para poder fazer isso é preciso entender que é a mente que cria o ânimo e não você que está animado por alguma coisa...

A partir disso, vou aproveitar para dizer algo a vocês. Imaginem que vocês levem uma paulada na cabeça. Sabe o que vai acontecer? Não se lembrarão de mais nada, nem de quem são, ou seja, vocês não serão mais vocês...

Você não é você, mas sim o que a sua cabeça diz que você é, a sua mente diz que é. Sendo isso verdade, posso afirmar que não existe um você para estar animado ou desanimado com qualquer coisa. É tudo criação da mente.

Hoje, que as ciências estão mais evoluídas, nós podemos dizer o seguinte. Se eu desligar as suas conexões nervosas e ligá-las a um computador que conterá um programa que gere uma personalidade, você não será mais você, mas sim o que o programa disser que é. Pior: você nem vai saber que um dia já foi quem acha ser agora, se isso não estiver nessa nova personalidade. Aliás, nem saberá que aquilo tudo é um computador que está lhe dizendo para ser...

É preciso ter essa noção para não se deixar levar pelas emoções que a mente cria: estar animado ou desanimado, com vontade ou não de fazer alguma coisa. Se você achar que ainda é capaz de se animar ou desanimar, não vai conseguir sair desta cilada.

Mas, isso não vale só para desânimo: vale para qualquer emoção. Se quiserem falar sobre emocionar-se, eu digo que quem se emociona não é você, mas, sim a mente. Se falar em estar com raiva, eu digo que você não está com raiva, mas sim a mente. Se falar em ficar chocado com alguma coisa, saiba que é a mente que está assim...

Isso porque tudo que você é, é a mente que diz que é. Esse é o princípio básico para poder se ter uma verdadeira inteligência emocional: saber que as emoções não são criadas por você. Se não souber disso, o que vai acontecer é que vai achar que você é que está vivendo aquelas emoções, quando tudo isso nada mais é do que apenas criações da mente...

Participante: A teoria é boa, mas eu sou o computador... É praticamente impossível deixar de ser este computador, não é?

Repare: quem está falando isso não é você. Se você aceitar como verdade que é quase impossível se fazer isso, será quase impossível fazer isso...

Participante: Por que quando estamos animados, fazendo o que queremos, o tempo parece passar mais rápido. Quando de modo contrário, quando estamos fazendo o não estamos gostando, o tempo parece demorar?

São criações da mente... Como sofrimento é mais pesado para fugir, ela cria a sensação de estar se arrastando no tempo...

Emoções

Humildade

Participante: Devo entender que amar a Deus é ser humilde verdadeiramente?

Sim, mas o que é ser humilde para você? Este é o problema das palavras.

Amar a Deus sobre todas as coisas é ser humilde, mas o humilde não é aquele que não possui coisas materiais... É aquele que se declara incapaz de saber qualquer coisa. Ele é humilde frente a Deus, porque declara que apenas o Pai sabe.

Então, amar a Deus sobre todas as coisas é dar a Ele a consciência da Verdade e da Realidade do Universo. Para isso é preciso ser humilde: nada saber...

 Participante: Como diz o poeta: mas agora eu sei que aconteceu quem sabe menos das coisas, sabe muito mais do que eu. Isso é ser humilde?

Em parte sim, porque é declarar que todos sabem por querem saber e eu nada sei.

É ter a consciência de que se souber, terá que discutir com os outros para provar que está certo. Por isso prefere nada saber, para poder doar a razão a quem quer tê-la.

Emoções

Acusação

Deus é quem pode tudo. Mas, apesar disso, vocês acusam o presidente da república de não acabar com a fome, de não construir moradias para os sem teto, de não promover a reforma agrária... Será que o presidente da república tem mais potência do que Deus?

Será que o Deus Onipotente não pode dar um prato de comida para quem tem fome sem autorização do presidente? Será que o Deus Onipotente, Causa Primária de todas as coisas, não pode construir uma casa para quem não tem e tem que esperar o presidente fazer? Será que o Deus Onipotente não pode invadir as terras e dividi-las entre quem não têm apesar do presidente defender os latifúndios?

“Ah não, Deus não se mete nisso”... Esta é a resposta que normalmente os seres humanizados dão a estas perguntas... Como não se mete? Isso aqui é a casa Dele; o Universo é a casa de Deus... Isso aqui é Ele... Como Ele deixaria uma parte Dele agir sozinha e ainda por cima preservar a imutabilidade?

Portanto, não acuse ninguém de nada, pois tudo o que acontece surja do faça-se de Deus...