Unidade - Capítulo 1

Versículo 7

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 7. Eu sou imorredouro, puro, infinito e uma morada de conhecimento. Não conheço prazer ou dor, ou alguém a quem eles afetem, ou como.

Vamos entender este ensinamento que é profundo e contraria em muito aquilo que você imagina que seja a caminhada de um ser que procura Deus. As primeiras citações de Dattatreya são claras: o eu celestial é imorredouro, puro e infinito. Aliás, já falamos nisto neste trabalho. Vamos nos prender, então, no ensinamento de que o espírito é a morada do conhecimento.

O espírito gerado por Deus quando atinge o nível de evolução em que se encontram todos os que estão juntos ao orbe terrestre estão prontos e completos. Para chegar a este nível de evolução eles já ultrapassaram outros onde adquiriram todo conhecimento das coisas universais. Portanto, eles conhecem tudo das coisas universais.

 Apesar disto ser uma realidade, os espíritos não conseguem acessar (lembrar) deste conhecimento universal porque estão presos no maya, nas suas ilusões que acreditam serem verdades.

 Quando começamos este trabalho nos perguntaram porque escolhemos como receptores um grupo que não se distinguia por profundos conhecimentos em nenhum dos campos religiosos. O grupo nos questionou porque não fomos passar estes conhecimentos através de expoentes religiosos ou de profundos estudiosos, ou seja, pessoas que já sabiam.

Nossa resposta foi: exatamente por isto, por eles já saberem. Os expoentes religiosos e os profundos estudiosos já possuem um saber sedimentado que impediria que nós ensinássemos coisas novas a eles.

Para que você aprenda algo novo é preciso, antes de qualquer coisa, não saber das coisas. Se você já possui uma verdade, mesmo que ela seja uma ilusão ou um maya que vivencie como realidade, em que vai acreditar? No que já acredita, óbvio.

Para poder aprender alguma coisa nova é preciso antes desacreditar da velha, ou seja, libertar-se daquilo que já sabe e ao qual dá valor de verdade absoluta, única realidade. É preciso estar livre de uma verdade para poder ouvir outra sem questionar ou duvidar do que está ouvindo.

Sem esta atitude, você não consegue captar o que lhe é transmitido e far-se-á presente afirmando: eu já tenho a verdade, não tenho nada a aprender, nada a ouvir. Aliás, esta é a postura da maioria dos seres humanizados. Buscam o ensinamento pela curiosidade de ouvir o que está sendo falado, mas nunca para aprender, porque eles já sabem. No máximo querem confirmação daquilo que já sabem.

Este é o ensinamento de Dattatreya: declare que nada sabe, para poder aprender outras coisas. Libertando-se dos seus mayas que você acredita que são reais poderá atingir o verdadeiro conhecimento, que já é seu, pois você já se fez presente em outros mundos de evolução onde adquiriu todo conhecimento das coisas universais.

Este conhecimento perfeito sobre as coisas universais está adormecido dentro de você naquilo que chamamos de “consciência espiritual”. Ele não pode ser alcançado pelo ser humanizado porque a “consciência material” ou ego não permite.

NOTA: Entender o termo “consciência” como memória. O ser humanizado possui a “memória material” e a “memória espiritual”.

Seguindo a linha do raciocínio anteriormente desenvolvido (quem sabe não consegue aprender), o ser humanizado que se deixa guiar pelo seu ego, acreditando nos mayas que ali estão arquivados, não consegue penetrar na consciência espiritual e de lá retirar as verdades que já conhece. Este processo é conhecido entre os espíritas como “véu do esquecimento”.

Portanto, o verdadeiro conhecimento para os seres que buscam a Unidade com Deus é nada saber. Aquele que almeja a elevação espiritual precisa lutar para libertar-se de suas verdades, pois enquanto souber estará preso ao ego que insufla o individualismo.

Esta é a mesma conclusão que chegou Salomão, famoso profeta hebreu, no livro “Eclesiastes” da Bíblia Sagrada: “Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo e digo: tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Ninguém pode endireitar o que é torto nem fazer contas quando faltam os números. E pensei assim: eu me tornei um grande homem, muito mais sábio do que todos os que governaram Jerusalém antes de mim. Eu realmente sei o que é a sabedoria e o conhecimento. Assim, procurei descobrir o que é o conhecimento e a sabedoria, o que é a tolice e a falta de juízo. Mas descobri que isso é o mesmo que correr atrás do vento. Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e quanto mais sabe, mais sofre” – Eclesiastes – Capítulo 1 – Versículo 14-18.

Este é o primeiro ensinamento deste versículo de Dattatreya: você já tem em sua consciência espiritual tudo o que precisa para viver no universo. Abandone suas ilusões e conseguirá alcançar este conhecimento real.

Portanto, a reforma íntima não é caracterizada pela obtenção de novos conhecimentos, mas sim pela destruição do aprisionamento às verdades guardadas no ego que impedem a utilização das outras.

Segundo ensinamento deste versículo: aquele que vive a Unidade com Deus não conhece prazer nem dor. Aparentemente este ensinamento é muito claro, pois aquele que alcança a elevação espiritual não tem estes sentimentos.

O fim do aprisionamento às verdades leva ao não condicionamento da felicidade. Quando não há verdades e desejos não há nada para ser contentado ou atacado e por isto o prazer e a dor se extinguem, dando lugar à felicidade incondicional.

Mas Dattatreya vai mais além: o ser universalizado também não conhece ninguém que sofra do prazer ou da dor. Aí está um conhecimento muito profundo que precisamos entender, pois fere frontalmente aquilo que os seres humanizados chamam de “compaixão”.

Quando alguém age contrariamente ao que você deseja, seu ego lhe leva à conclusão que esta pessoa não teve compaixão (piedade), ou seja, não se preocupou com o sofrimento que poderia lhe causar.

Agora, analise comigo: piedade do que, do seu prazer? Aquele que você afirma que o contraria não teve dó do seu prazer, mas não de você mesmo. Ele agiu contrariamente aos seus interesses ilusórios criados pelo ego através das suas verdades, mas não contra você, o espírito universal.

Quando o mestre ensina que o ser unido com Deus não reconhece ninguém que tenha prazer ou dor, é porque está unido com o ‘eu celeste’ que existe dentro do ser humano e não ligado às paixões humanas que este nutre. Está afirmando que aquele que alcança a elevação espiritual não reconhece verdade nenhuma que precise ser acatada nos mayas dos outros. Por isto não se preocupa em satisfazê-las.

Aquele que vivencia a sua realidade universal não se sente obrigado a atender o desejo humano do outro, mas esforça-se para servi-lo amando-o de uma forma universal.

Este amor universal está longe de buscar satisfazer as vontades humanas do ser, mas ama, como Cristo ensinou, como o Pai ama a seus filhos. O objetivo do amor divino é sempre proporcionar oportunidades para que o ser se eleve espiritualmente, ou seja, que abandone o seu individualismo e vivencie o universalismo. Este também é o sentido do amor daquele que conseguiu viver na sua essência celeste.

Sempre que participa de uma ação (acontecimento), aquele que se libertou dos condicionamentos da felicidade, vive este amor sublime, sem se importar se nas atitudes que pratica se reflete uma compaixão pelas paixões humanas do próximo. Ele sabe que Deus o dirige e o utiliza como instrumento para proporcionar ao próximo uma oportunidade de libertar-se de suas verdades e por isto não sofre se por acaso suas atitudes forem contrárias a elas.

Você pode ir contra o desejo do próximo com amor. Quando age sem julgar ou criticar a si ou ao próximo e quando não se vangloria do que praticou, ou seja, quando participa dos acontecimentos com outra intencionalidade que não servir a Deus, você, apesar de ter agido contrário às paixões do próximo, o fez com amor universal. Quando, no entanto, a sua intenção for atacar as verdades do próximo, ou seja, agir com a intenção de provar que está certo, agiu sem amor.

NOTA - Agir sacrificando a sua intencionalidade individual a Deus é um ensinamento de Krishna a Arjuna no Bhagavad Gita.

O ser que age sem intenções não objetiva nada: “eu fiz isto, mas não sei porque fiz”. Esta é a diferença entre aquele que causa com amor o que o outro não gostou e aquele que faz para atender a seus desejos: o objetivo com que se vive, a declaração expressa de saber o que está acontecendo e o porquê das coisas.

O que separa as duas formas de viver (com ou sem intencionalidade) é uma linha muito tênue que o ego explorará para que você se critique e sofra, dando a ele o alimento que precisa: sua dor ou seu prazer. No entanto, nem com isto você deve se preocupar.

A intenção não é colocada no momento que se pratica o ato porque neste você age instintivamente (faz o que Deus comanda), mas sim depois. Quando acontece o raciocínio sobre o que está acontecendo, durante ou depois do fato, é que o ego vai tentar lhe pressionar para colocar uma intenção de glória ou de auto-acusação.

Rejeite as duas opções. Não se acuse de ter sido o instrumento da situação que o próximo não queria vivenciar e nem se glorifique por isto. Aja de forma equânime independente do que está acontecendo e terá realizado o trabalho sem intenções.

Portanto, não se preocupe em tentar compreender se agiu “certo” ou “errado”, com intenção ou sem ela, mas lute contra esta análise declarando expressamente que não sabe afirmar com certeza isto.

 Agora o que você precisa ter é a consciência de que não deve se apegar ás preocupações materiais dos outros, atender aos seus desejos humanos. Mesmo que o que esteja acontecendo com a sua participação sirva de instrumento para ferir as paixões ou desejos do próximo, você não deve preocupar-se em satisfazê-las, mas sim em eliminar a sua intenção.

Você não pode se preocupar se aquele que está recebendo a sua ação está se sentindo “mal” com a situação. Como espírito elevado você não deve se preocupar se a situação está “ofendendo” ao outro ou não, porque senão estará servindo ao ego daquele ser e não a ele mesmo.

Pergunta: Mas preocupar-se com a felicidade do próximo não é amá-lo?

Não. Se você se preocupa em atender os seus requisitos de felicidade não o está amando, mas satisfazendo-o.

O verdadeiro amor ao próximo se exprime quando você age sem intencionalidade, sem fazer qualquer coisa por vontade própria, sem levar vantagem individual alguma. Para isto você não pode “ganhar” o sofrimento ou o prazer, ou seja, não deve se desarmonizar de Deus com o que está acontecendo.

Vivencie o ato unido a Deus, ou seja, vivencie o que está acontecendo sem querer agir materialmente. Se no decorrer do ato aquilo que o próximo não está gostando se alterar é porque se alterou, mas se isto não acontecer, não se perturbe. Não se preocupe em agir de determinada forma, mas em amar, em permanecer ligado a Deus, ou seja, ao que está acontecendo com amor.

Se você se preocupar em mudar o acontecimento para satisfazer o próximo não estará unido a Deus e por isto não pode servir ao próximo, mas estará ligado ao ego do outro que o domina a ponto dele imaginar que é ele mesmo. Você estará servindo a uma verdade individual e o máximo que conseguirá levar àquele é uma satisfação.

Como disse este ensinamento é muito profundo e completamente contrário a tudo aquilo que o ego criou e que você vivencia como serviço ao próximo. Por isto, vamos dar um exemplo buscando na prática a compreensão do ensinamento.

Você tem um cachorro em casa e chega uma visita que não gosta de cachorro. A convivência com este animal perturba aquele ser humanizado. Apesar disso você não deve preocupar-se o tempo inteiro durante a visita em “tirar” o cachorro que cisma em ficar em volta daquele que está na sua casa.

Veja que falei em não se preocupar e não em não tirar o cachorro de perto. Também não falei para atiçar o cachorro para que ele fique perto daquele que não gosta. O que disse foi que você deve viver o que está acontecendo sem se preocupar se aquilo está servindo de constrangimento ao próximo.

Os atos acontecem independente da sua vontade ou de qualquer outro ser universal. São acontecimentos gerados por Deus obedecendo aos carmas que todos os seres possuem. Portanto, se Deus tirou o cachorro, este era o carma daquele ser, mas se o animal voltou, esta era a única realidade que poderia acontecer.

NOTA - Conclusões que compõem o ensinamento Deus Causa Primária de todas as coisas que foi trazido por todos os mestres ao afirmar que apenas a vontade de Deus se realiza e do ensinamento trazido pelo Espírito da Verdade na pergunta 258 de “O Livro dos Espíritos” quando afirma que o livre arbítrio do espírito se consiste na escolha antes da encarnação das provas que vivenciará.

O ser universalizado conhece esta realidade e não vivencia o poder de agir livremente no mundo de Deus que o ego lhe assegura que tem para separá-lo do Pai. Por isto, ele não vive os acontecimentos, mas apenas os assiste. Sua preocupação não está em fazer, mas como reage a eles. Como Krishna ensina: o verdadeiro sábio repousa em Mim e assiste a sua vida.

Portanto, se o cachorro saiu de perto daquele que não gosta do animal é porque Deus o tirou, mesmo que você imagine-se como criador da ação. No entanto, se não saiu, não foi também porque você não o tirou, mas porque o Pai o colocou ali e você nada pode fazer com relação a isto.

Não fique preocupado com o que está acontecendo, pois isto independe da sua vontade, mas sim com o comando do Senhor Supremo do Universo que nunca deixará de proporcionar aos seres humanizados uma oportunidade para se libertarem de suas verdades individualizadas. Preocupe-se em manter a sua equanimidade, pois a prova também é para você.

Se você ficar preocupado com a perturbação que o cachorro causar ao próximo não conseguirá manter-se equânime, pois estará pendendo para um lado: o desejo de não deixar que o outro se perturbe. Sua aparente caridade, na verdade é uma busca de satisfação individual, pois ela é gerada pelo aprisionamento a um desejo seu oriundo de uma paixão: satisfazer o próximo.

Se você age intencionalmente (quer satisfazer o próximo) não amou no sentido universal, mas no sentido possessivo: amou-o para se satisfazer. Amar universalmente é amar sempre, não importando o que está acontecendo. Para se amar verdadeiramente ninguém pode levar vantagem alguma, nem você nem o próximo.

É isto que Dattatreya nos ensina quando fala que o ser elevado não conhece prazer ou dor ou quem possa ter esta busca. Ele afirma que o ser que consegue a comunhão perfeita com Deus não se liga ao que a humanidade do próximo está criando como verdades, mas está atento em amar incondicionalmente ao espírito para auxiliá-lo a passar por tudo o que precisa passar, mesmo que ele goste, aplique verdades, crie mayas ou não.

Não gostar de cachorro ou de qualquer outra coisa neste mundo é um maya porque é resultado de uma verdade individual. Quando você quer tirar o cachorro porque aquele não gosta, além de também ser um desejo criado por um maya (eu tenho que tirá-lo de cima de quem não gosta) estará servindo ao maya ou a ele?

Da Unidade com Deus que surge com o fim das verdades individuais nasce um mundo onde você está plenamente integrado ao acontecimento. Acabam-se os quereres, a vontade de alterar a realidade, o desejo de se satisfazer ou não.

Quem vive em perfeita harmonia com o seu eu celestial não cria suposições: ‘aconteceu, aconteceu, o que eu posso fazer?’ Ele não se imagina potente para interferir na realidade nem se preocupa imaginando que o que está se passando poderia ou não ser alterado. ‘Estou recebendo a visita e o cachorro vem para perturbá-la, o que eu posso fazer?’

O ser liberto do aprisionamento às suas verdades não se preocupa com os acontecimentos nem se culpa porque o cachorro perturbou a visita. Ele sabe que se esta foi a ação que ocorreu, tinha que ser assim. Agora, se a sua visita se sentiu ofendida com isto é porque ela possui mayas ou ilusões às quais se apega e por isso sofreu.

Pergunta: Vamos supor que esta pessoa que o senhor está falando (a visita) não tenha ainda a compreensão de que tudo é maya, é ilusão. Eu não tenho que ter compaixão por ela e me preocupar em não expô-la ao sofrimento?

Não, a humanização do ser não pode servir como desculpa para você imaginar que pode fazer o que quer, servi-la do modo que acha que deveria ser. Lembre-se que não estou falando em colocar o cachorro em cima, mas de viver o que acontecer com equanimidade.

Você precisa ter compaixão pelo espírito e somente a sua equanimidade ao vivenciar os acontecimentos pode auxiliá-la a libertar-se das suas verdades. Para isto, caso pressinta a sua revolta com a situação, relembrá-la de que todos somos espíritos e que o universo é um só. O cachorro, portanto, faz parte do universo e como Cristo ensinou: devemos amar a todos.

Veja, não é dizer: ‘olha, você merece que o cachorro a perturbe por que tem um carma’. Isto seria querer justificar o que está acontecendo. Para ensiná-la é importante mostrá-la que neste momento não está cumprindo o ensinamento básico da existência: amar.

Mostrando isto ao próximo você terá compaixão com o espírito, pois Cristo nos ensinou que a isto cada espírito deve se entregar com toda força de seu ser. Mas se você quiser proteger as verdades do outro demonstrará compaixão pelas ilusões dela que não a deixa amar indistintamente.

Nós temos que servir ao espírito e não ao ser humano. Temos que servir ao espírito no sentido de auxiliá-lo a amar a todos e a tudo indistintamente e não ao amor individualista, motivado por vontades individuais, que o ser humanizado possui: amo porque, amo para que, amo desde que.

 Para isto é preciso auxiliá-lo a compreender que este amor que ele sente não é universal, mas apenas uma satisfação de desejos individuais, um prazer.

Esta é a motivação de Deus quando cria as situações. Ele está sempre buscando mostrar ao ser humanizado que ele ama intencionalmente e não incondicionalmente. Se você tem um cachorro e Deus traz pessoas que possuem o maya de não gostar deste animal é justamente para isto: para você poder servi-los na sua luta contra o maya.

Não será, portanto, preocupando-se em tirar o cachorro, mas constatando que Deus colocou o animal naquele lugar e o fez agir daquela determinada forma, que poderá auxiliar o outro verdadeiramente. Somente quando você desprender-se aos seus padrões de serviço ao próximo (não deixá-lo passar por situações que não gosta) poderá servir conscientemente de instrumento ao Pai.

Falamos muito nesta explicação sobre um determinado instrumento de Deus, mas o cachorro é apenas um exemplo: tudo que existe materialmente falando é instrumento de Deus para ajudar o espírito a libertar-se de suas verdades.

Aplique o mesmo raciocínio a qualquer coisa do universo porque para tudo que você puder imaginar haverá sempre os que “gostam” e os que “não gostam” dela. Deus, conhecedor destes mayas, sempre coloca em contato aqueles que têm diferença de opinião para que os dois possam ver que aquilo que crêem não é universal, mas apenas uma achar individual.

Coloque no lugar de cachorro uma determinada comida, o fumo, etc. O cachorro é só um exemplo para nós entendermos o que é maya e o que não é.

O ensinamento em si, porém, é muito mais profundo do que se servir ao próximo libertando-o da ação de qualquer instrumento divino que gere contrariedade: eu não conheço alguém que tenha prazer ou dor.

Você não pode se apegar às suas verdades, mas também não pode se subordinar às do próximo se quiser alcançar a comunhão com o celeste. Foi o que o Cristo fez quando expulsou do templo aqueles que comercializavam na casa do Pai.

Ele não se ateve à compaixões humanas (“coitados estavam apenas trabalhando para ganhar o seu dinheiro e agora não tem mais como sustentar suas famílias”) mas preocupou-se com os espíritos que estavam servindo a si mesmo e não a Deus. Ele não estava apegado ao ser humanizado, mas ao espírito.

Não se preocupou com o ato de expulsar gente simples que estava ganhando o seu sustento, mesmo que esta ação tenha envolvido a chibata, o que aparentemente poderia denotar uma agressão. Cristo preocupava-se em agir sentimentalmente e não com as ações que praticava.

Como o mestre afirmava, tinha a convicção que fazia apenas a vontade do Pai. Por isto participou daquela ação sem apegar-se aos atos, mas amando cada espírito irmão que ali estava vivenciando seu mundo de ilusões. Sua preocupação era em ajudar o espírito a alcançar a verdade e, para isso, não se preocupou com as poluições do ser humanizado.

Pergunta: Todos os espíritos sofrem a influência de maya?

Sim, todos. Maya é tudo aquilo que você acredita. Portanto, todos os espíritos sofrem a influência de maya, por que possuem alguma crença individual.

Pergunta: Espíritos desencarnados também sofrem a influência de maya?

Sim, encarnados e desencarnados e em todos os níveis de elevação espiritual. O único que não tem maya é Deus. Ele conhece a Verdade a Realidade do Universo.

Todos os outros espíritos “conhecem” as coisas dentro do seu grau de evolução e por isso ainda tem algumas ilusões. Entretanto, quanto mais vão evoluindo (aproximando-se de Deus) não se prendem mais a estas compreensões como verdades.

Por isto o ensinamento que estamos trazendo não afirma que se deve acabar com o maya. Ele existe no universo inteiro e continuará a existir por toda a eternidade, porque o próprio universo é um maya, ou seja, uma compreensão que se tem sobre a Realidade.

O que precisa ser alcançado é não se aprisionar ao maya, ou seja, não transformar uma ilusão em verdade, uma não realidade em real.

Você está vê uma parede que é uma maya. Isto é impossível de se mudar: você sempre perceberá esta forma e dará a ela o rótulo de “parede”. Agora, apegar-se a este elemento como “parede” trará como obrigação vivenciar aquilo que se acredita que a parede faz.

Os seres humanizados imaginam que a parede seja um limitador de espaço, que não é possível ser transposta, etc. Estes conceitos são criados e rotulados como verdadeiros por causa do apego ao maya.

Como disse, você não poderá deixar de ter mayas, ou seja, de ver “parede” onde há uma “parede”, porque a inteligência tem o raciocínio que forma mayas. No entanto, as verdades inerentes a esta conclusão alteram-se de acordo com o aprisionamento que se tem a elas.

Aquele que reconhece uma “parede” mas não se apega às verdades que surgem deste conceito, consegue viver aquilo que os apegados não conseguem. Um espírito desencarnado pode ultrapassar a parede porque não se apega à verdade que ela é intransponível, mas outro que, mesmo sem matéria densa, ainda esteja apegado a esta verdade não conseguirá fazê-lo.

Todos os dois (apegados ou não) sabem que aquilo é uma parede, mas só um consegue viver toda a Realidade da parede: aquele que se libertou das verdades unificando-se com Deus, a Verdade Absoluta do Universo. Portanto, todos têm mayas, mas o grau de elevação espiritual é denota o não aprisionamento a eles como verdade.

Quanto mais elevado um espírito menos ele se aprisiona aos mayas. Pela inação destas verdades elas vão diminuindo aos poucos, mas não deixam de existir, porque só Deus não possui mayas.