Senhor, Senhor
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Parte 1
Parte 2

Joaquim de Aruanda relembra aos seres humanizados presentes nessa conversa em Uberlândia sobre o ensinamento de Cristo que diz: 'nem todos que me chamarem Senhor, Senhor, eu falarei ao meu Pai por eles'. Mostra que é preciso seguir os ensinamentos deixados pelo mestre nazareno para que ele possa advogar nossa causa junto ao Pai. 

Senhor, Senhor

Ser cristão

(Palestra realizada em 28/06/2014 em Uberlândia-MG)

Alguém aqui já ouviu falar em um tal de Cristo? Alguém aqui reconhece Cristo como Mestre? Então, eu poderia dizer que vocês são cristãos, não?

Vocês seguem Cristo; é isso? Que bom. Agora, será que seguem mesmo? Vamos ver se sim?

O que é seguir Cristo? O que é ser cristão? Será que ser cristão é carregar uma cruzinha em uma corrente? Acho que não...

Então, o que é ser cristão? O que é aceitar Cristo como seu Mestre? Alguém saberia me dizer?

Participante: Eu diria que é viver segundo os ensinamentos de Cristo.

Viver segundo os ensinamentos de Cristo, sim. Mas, quando viver segundo os ensinamentos desse mestre? O dia inteiro. Isso é ser cristão: seguir os ensinamentos de Cristo o tempo todo.

Agora, o que é seguir Cristo? É viver como Ele ensinou a viver. Isso é seguir Cristo.

É assim que vivem? Acho que não... Vocês têm momentos de cristãos. Esses momentos são quando vão ao centro na quarta-feira ou a missa no domingo. Este é o horário que têm para Deus.

Vocês possuem um horário para seguir Cristo. E no resto do tempo, o que fazem? É sobre isso que quero conversar com vocês.

Aceitar Cristo como mestre é algo que lhe traz uma responsabilidade. Quem aceita Cristo como mestre, gera para si uma responsabilidade. Esta responsabilidade não é assumida com ninguém, mas com você mesmo.

Que responsabilidade é essa? A de colocar os ensinamentos em prática no dia a dia. Não adianta nada se dizer cristão e durante o dia nem lembrar que existe um Cristo. Ou melhor, não lembrar dos ensinamentos, pois de Cristo vocês não esquecem. Toda hora estão pedindo alguma coisa a ele: “me ajuda”, “me protege”, “me salva”.

Esquecem o que ele ensinou, mas não se esquecem de pedir. É por isso que tem uma passagem na Bíblia, que, aliás, é o tema da nossa conversa de hoje, onde Cristo diz assim: nem todos que chamarem senhor, senhor eu falarei por eles junto ao meu Pai.

Por aqueles que exclamam senhor, senhor apenas na hora de sua religiosidade Cristo não vai falar.

Esse falar por que está no ensinamento quer dizer que Cristo reconhece que esse foi aprovado, honrou a sua encarnação. Reconhece que esse fez o seu trabalho de elevação.

Realizar o trabalho de uma encarnação requer muito mais do que ter religiosidade. Precisa muito mais do que se dizer cristão, hindu, budista, ou religioso de qualquer outra religião. É preciso muito mais que isso para que se possa honrar os compromissos assumidos antes da encarnação.

É por isso que quero conversar com vocês hoje sobre este assunto. Quero falar em como viver de uma forma crística, ou seja, como aproveitar essa vida para se obter sucesso na encarnação.

Ficou clara essa questão? Alguém quer perguntar alguma coisa? Concordam com o tema? Então, vamos lá.

Senhor, Senhor

Você é um espírito

Qual é a primeira coisa que você precisa fazer para se dizer cristão? Saber que não é um ser humano que tem experiências espirituais, mas um espírito que tem experiências materiais, que está vivendo uma experiência material. Esse é o ponto de partida.

É preciso mudar a forma de se ver. O que é que adianta dizer que é espírita, que acredita em espírito, que sabe que existe encarnação e reencarnação se quando chega na hora H, no dia a dia, vive como qualquer outro ser humano que não acredita?

Todos os mestres foram unânimes em poucos pontos, mas tem um que eles foram: o apego à letra fria. “Ah, eu conheço a Bíblia de cor, os sutras de cor, o Bhagavad Gita”. E daí? O que é que adianta conhecer tudo isso, se não vive o que está escrito lá? Se aquilo para você é apenas um texto escrito bonito que usa para mostrar o quanto é sábio? Ou seja, para se promover junto aos outros.

Quem segue Cristo não busca promoção porque ele ensinou que o primeiro no reino da Terra será o último no Reino do céu. Sendo cristão, aceitando Cristo como Mestre, não posso quer ser primeiro nessa vida. Concordam? Por isso não devo me preocupar em apenas decorar os textos sagrados, mas compreendê-los e buscar coloca-los na prática.

Para isso, precisamos entender que somos espíritos, que estamos encarnados e que temos como guia para viver esta encarnação o ensinamento dos mestres. Na verdade, o que está na Bíblia, nos sutras, no Bhagavad Gita são, para aquele que sabe que é um espírito e que está vivendo uma encarnação que tem um objetivo, um guia de como se viver a vida humana.

Para podermos entender para onde os ensinamentos nos guiam, pergunto: qual é o objetivo da vida humana? Qual o objetivo da encarnação?

Participante: Reforma íntima.

Reforma íntima ... Boa resposta, mas será que você sabe do que está falando? Se reformar para que? Do que para o que?

Quando digo que a encarnação tem um sentido, todo mundo diz que esse é a promoção da reforma íntima. Isso todo mundo sabe, mas poucos sabem me responder onde está nem para onde vai quando se reformar. Por isso afirmo: de que adianta saber que tem de fazer reforma íntima?

O que reformar-se? É deixar de ser humano e viver como os mestres ensinaram, viver com base nos objetivos espirituais.

Esse é o motivo pelo qual está encarnado. Você nasceu para promover uma mudança. Que mudança? Da vivência fundamentada nas regras humanas, que você aprende durante determinado tempo de sua vida, para aquela que seja fundamentada naquilo que os mestres ensinaram.

Quem consegue promover esta mudança é aquele pelo qual Cristo vai falar; quem não consegue, por este o mestre não falará.

Senhor, Senhor

É preciso abandonar alguma coisa

Nenhuma pergunta? Estão aceitando tudo que estou dizendo? Que bom. Na hora que começar a pisar nos calos, aí vocês pulam.

Até agora falei apenas em se mudar. Ainda não falei no que precisa ser abandonado para você se mudar. Esse é o grande problema e é nesta hora que muitos abandonam a busca da reforma. Todo mundo quer evoluir, mas ninguém quer perder o que já tem. Mas, como evoluir sem abandonar alguma coisa? Como mudar-se sem abandonar alguma coisa?

Esse é o segundo aspecto que é preciso interiorizar. Você é um espírito, não um humano e nasceu para fazer a reforma íntima, por isso vai precisar abrir mão de alguma coisa que está apegado ou acredita hoje. Se não fizer isso, não muda.

Alguém aqui está disposto a abrir mão de alguma coisa que possua? Mas, é preciso para que haja mudança. O caminho para a reforma é o despossuir, o abrir mão de coisas.

Só que quando falo que têm que abrir mão, não estou falando que têm que pegar tudo que possuem e entregar ao bispo, ao pastor. Não é isso que estou dizendo.

Ter e possuir são coisas bem diferentes. Alguém sabe a diferença entre ter e possuir?

Participante: não ...

Quem tem carro aqui? Quem possui o seu carro? O que é possuir o carro?

Participante: o meu carro é emprestado.

O seu carro é emprestado, mas se alguém bater nele você vai ficar chateado, não é mesmo? Isso mostra que a sua frase não é bem verdadeira ...

Possuir é depender, é ter que ter. É ser dependente de alguma coisa. É querer comandar o destino daquilo que temos.

Você pode ter tudo o que você quiser e tiver. Isso não tem problema porque, como aquela pessoa falou, são coisas que estão emprestadas para você viver essa vida, para ter as provas dessa vida. Agora, quando se vive com dependência em ter alguma coisa, com a ideia de aquele objeto tem sempre que estar do jeito que você quer, acontece uma escravidão ao humano. Isso acontece porque você passa a depender do que tem.

Quando falo sobre possuir e uso exemplos de objetos, como foi o caso do carro agora pouco, vocês só se lembram da dependência de objetos. Só que a dependência do espírito que se acredita humano vai muito além. Ele depende de muitas coisas nessa vida das quais precisam se libertar para poder realizar a reforma.

Por exemplo: alguém aqui aceita ser desrespeitado? Não? Por que? Porque vocês dependem de ser respeitado. Por isso posso dizer que vocês possuem a necessidade do ser respeitado.

Esse respeito que quer que os outros tenham por você é um bem material, é uma coisa que só pertence à Terra. Digo isso porque está sendo defendida a honra humana. Isso é humano: o ser espiritual não se preocupa em defender a sua honra.

Por isso, é preciso abrir mão disso também para promover a reforma. Se lhe desrespeitarem o que você deve fazer? Segundo o seu Cristo, oferecer a outra face. Alguém aqui tem coragem?

Como falei, os ensinamentos dos mestres têm que ser um guia para se viver. Por isso, se alguém lhe desrespeita, ofereça a outra face.

Se alguém passa na sua frente no emprego, como é que você fica? Feliz? Claro que não. O que é esse sofrimento senão uma dependência da promoção?

“Ah, Joaquim, eu tenho uma família para sustentar. Tenho filhos. Eu preciso ganhar mais”. Na Bíblia está a resposta para esta questão: se Deus dá comida aos passarinhos, será que Ele vai deixar faltar para você?

Alguém é capaz de pensar assim: viver sem se preocupar no que vai comer amanhã? Só que se não pensar desta forma, Cristo não vai falar por você.

Essa questão precisa ser muito debatida e muito bem conversada. Normalmente, escondem estas afirmações de vocês, não é verdade?

Não amealhe bens na Terra: isso está lá no Novo Testamento. Só que o cristão vive o dia inteiro preocupado em amealhar o bem material. Não estou falando apenas de objetos, mas preocupado com a saúde financeira, com a saúde física, com um lugar para morar, com o que vai comer e vestir. Aí ele lembra que tem o terreiro, o centro espírita às quartas e a missa aos domingos e diz: eu preciso ir lá porque sou cristão. Não é assim que vocês vivem?

Senhor, Senhor

Inebriados com o mundo

O que estamos conversando aqui torna-se mais importante a cada dia que passa. Por que? Vocês sabem me dizer por que a cada dia se torna mais importante a investigação da forma de viver dos seres encarnados que se dizem cristãos?

Participante: cada dia você está mais perto da morte.

Também. Cada dia você está mais perto da morte e a cada minuto da vida é perguntado se está preparado para morrer.

Na verdade as pessoas não sabem que vão morrer. Todo mundo sabe que os outros vão morrer, mas acham que elas próprias nunca vão morrer. Passam a vida toda vivendo como se fossem eterno.

Quando estes pegam uma doença a primeira coisa que fazem é buscar a Cristo para pedir a cura. Mas, será que ele falará a Deus por esse? Pelo que estamos conversando, acho que não. Ele não pode falar porque sabe que aquele que se reconhece como um espírito não precisa se preocupar em morrer. Por isso, jamais iria pedir uma cura.

Como disse, este é um dos motivos, mas há outro que confere importância para esta averiguação. Alguém já ouviu falar em uma data chamada 21 de dezembro de 2012? Lembram dela? Vocês morreram de medo que o mundo ia acabar. Aí, quando descobriram que isso não aconteceu, ficaram tranquilos.

Depois alguém disse que naquele dia uma nova era estava nascendo e vocês deram graças a Deus por isso. Pois bem, a nova era nasceu: o que fizeram por causa disso? O que mudou na vida de vocês desde o dia 21 de dezembro de 2012 até hoje? Nada.

Pois é, a nova era chegou. Nós não estamos mais no mundo de provas e expiação; estamos no mundo de regeneração, no mundo de se mudar, se regenerar. Sabiam disso?

É por esse motivo que agora, é preciso se preocupar com detalhes pequenos da vida de vocês como por exemplo o motivo pelo qual estão encarnados. Essa preocupação se torna maior quando nos lembramos que vocês se comprometeram, antes de encarnar, a fazer esse trabalho durante a vida.

Ninguém toma um chute na bunda e cai na Terra. Vocês pediram para estar aqui, ou melhor, imploraram por essa oportunidade dizendo: “Deus, estou pronto. Eu estou preparado. Pode me mandar que vou fazer”. Aí, chega aqui, não faz nada.

Como Cristo fala no Evangelho de Tomé: ‘eu fui ao mundo, mas todos estavam embriagados’. Vocês vivem embriagados com a materialidade. Vivem embriagados por serem mãe ou pai, por serem profissionais, doutores, por ter uma casa, um carro e comida para comer.

É verdade, Cristo estava com a razão: vocês estão inebriados com as coisas do mundo, achando que o que se encontra neste plano são as coisas mais bonitas do universo. Me desculpa se alguém aqui é doutor, mas essa é a grande a realidade: universalmente falando as coisas da Terra não possuem valor algum.

Me digam uma coisa: o que é um médico pode curar?

Participante: matéria.

Sim, um médico cura matéria, corpo. Agora, espírito tem corpo físico igual ao do humano? Não. Então, o que adianta para a existência eterna universal os conhecimentos médicos?

Não estou fazendo apologia que ninguém pode estudar essa ciência. Só estou dizendo que aqueles que se orgulham, que se acham melhores porque são doutores nessa vida, serão os últimos na outra. Isso porque o objetivo dessa vida não pode ser este. O objetivo é, sendo ou não, fazer a reforma íntima.

É essa questão do inebriado que Cristo falou: todos estão inebriados pela busca de conquistas humanas na vida e se esquecem dos motivos espirituais pelos quais estão encarnados. Eu diria que vocês vivem com as cabeças nas nuvens por conta das conquistas materiais e se esquecem das conquistas espirituais que vieram para alcançar nesta vida.

É preciso se preocupar com isso, pois todos vocês vão morrer, mesmo achando que não vão. Um dia irão. Quando chegarem do outro lado, como é que vai ser?

Senhor, Senhor

Mundo de regeneração

Participante: o mundo mudou, não é?

Sim, hoje em dia a encarnação é para regenerar-se.

Participante: o que é a regeneração?

Qual é a diferença entre provação e regeneração?

Mundo de provas: você precisava apenas provar que quer se aproximar de Deus. Vamos dizer assim: quando acontece algo ruim na sua vida, vai a uma igreja e reza. Ao fazer isso, provava que estava querendo buscar a Deus. Agindo assim já prova para a espiritualidade e você mesmo que tem Deus como seu Pastor e quer se aproximar dele.

Regenerar-se significa mudar-se, ou seja, quando isso é exigido de alguém é necessário que se transforme, que se mude de alguma coisa para outra. No caso da elevação espiritual, essa mudança se consiste em deixar de viver como um ser humano que tem um espírito e passar a viver como um espírito que tem um humano. Deixar de ser um humano e viver como um espírito que está ligado a uma humanidade. Ou seja, regenerar-se é priorizar o seu lado espiritual, mesmo que em detrimento do humano. Essa é a mudança que é preciso ser feita nesse tempo que estamos vivendo e é isso que vai trazer o Céu para Terra.

Sei que quando se fala em nova era, ficam esperando que o mundo se mude para que vocês vivam dentro do ensinamento dos mestres. Só que isso é uma ilusão.

Me desculpe aquele que ainda está esperando que o mundo se mude, mas garanto que isso não acontecerá enquanto cada um não mudar-se internamente. No momento em que individualmente os seres encarnados se mudam, o mundo muda para eles.

Nestes novos tempos, então, é você que tem que se mudar. Essa mudança consiste priorizar o bem espiritual em detrimento do material. Não estou falando em não ter as coisas, em abandonar família, emprego e ir para o meio do mato e viver isolado. Não é isso que eu estou falando. O que precisa ser feito é se tendo ou não tendo, não depender da coisa material. Esse é o caminho,

Esse é o mundo de regeneração que começou em 21 de dezembro de 2012. Ficou clara a necessidade de se fazer alguma coisa?

Senhor, Senhor

O amor ao próximo

Participante: Quando a gente começar a ter um nível de consciência e começa a fazer atos de caridade por amor a Deus, e não com intuito de comprar alguma coisa, ou sei lá, por amor, por consciência mesmo. A gente deixa de sofrer, o que a gente poderia sofrer por carma. Seria uma forma de evolução, ou assim, o que você tem que passar, você passa independente de seus atos?

Está certo, eu já vou lhe responder, mas antes deixe-me só fazer uma observação. Você falou assim: quando a gente se muda e começa a fazer a caridade. Posso depreender que para você fazer a caridade é algo bom, é algo certo?

Participante: eu creio que sim.

Você acredita que sim. Fazendo acreditando que sim, já não fez caridade para os outros. Faz porque acha certo fazer isso. Nesse caso, não está fazendo por ninguém, mas para si mesmo.

Sendo assim, evoluir não é fazer caridade ou isso ou aquilo. Não se trata de atos. Cristo foi bem claro: o importante não é o que sai da boca, mas o que sai do coração. Quando faz a caridade porque acha certo, está fazendo com o coração preso no egoísmo, está fazendo para ganhar. Nesse caso não fez por Deus, mas por você mesmo.

Portanto, não se preocupe com atos, mas sim com o coração. Preocupe-se em estar em paz e harmonia com todos, em estar amando a Deus sob todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Digo isso porque esses são os dois e únicos maiores mandamentos que você tem que seguir. Por esse motivo lhe digo: não importa o que faça; o importante é que em seu coração, por dentro, ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Agora posso começar a lhe responder. Saiba que quando ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo a sua vida não muda, seus atos não mudam. Por que? Porque sua vida já vem escrita desde antes do nascimento e outros seres dependem do que você irá fazer para poderem as suas provações.

Vou dar um exemplo: O Buda ensina uma coisa chamada interdependência – um depende do outro. Sendo assim, se um ser encarnado no seu ciclo de amizade precisa, por exemplo, de uma prova de ser criticado, você terá que criticá-lo. Essa é a única forma dele ter a sua prova. Você precisa tornar-se agente daquela ação para que ele tenha a prova dele, já que isso foi escolhido lá em cima, antes da encarnação.

É por isso que você não pode mudar os atos, porque tem outro espírito encarnado que precisa daquela ação sua. No entanto, quando muda o seu mundo interno, não importando o que pratica, vive liberto da sensação do prazer ou da dor. Agora, depois da mudança interna, aquilo que lhe causava sofrimento, não causa mais.

Respondendo, então, a questão do carma que abordou na sua pergunta, ele não muda com a prática de determinados atos, mas se altera quando se muda a questão do sofrer com o que se vive. Isso muda, porque você tem amor por dentro.

Participante: se eu tenho de fazer uma crítica a uma pessoa...

Vamos fazer melhor? Vamos parar de meias palavras e falar claramente?

Se você tem de dar um tapa em algum ser humanizado, dê. Isso só acontecerá se aquele ser tiver que viver a prova de recebe-lo e responder oferecendo a outra face como Cristo ensinou.

Participante: está certo, dou o tapa nele, mas como eu fico com relação ao carma?

Não sei, depende de como vive isso por dentro. Se vive com o estado de espírito “eu estou certo, ele merecia, ele não presta, ele é isso, ele é aquilo”, você não passou na sua provação espiritual. Agora, se ao praticar esse ato seu estado de espírito for “louvado seja Deus” – isso por dentro, no coração e não na razão –, aí passou.

A questão 132 de O Livro dos Espíritos é muito clara. Você encarna para viver suas provas e missões, mas tem mais um objetivo a encarnação. Esse é que o espírito ocupe um corpo de acordo com o mundo que vai morar para ali, sob as ordens de Deus, contribuir para a obra geral.

A obra geral é o processo encarnatório de todos. Por isso posso dizer que você encarna para contribuir com a encarnação dos outros. Como? Fazendo o que tem de fazer para que ele viva as suas provações.

Portanto, você tem duas coisas a realizar nessa vida: primeiro, a sua prova (verificar se vai viver a sua vida, não importa o que está fazendo, amando a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo ou se você vai se prender ao egoísmo criado pela mente – “isso é o certo, ele merecia, ele precisava” –; segundo, agirá para que aqueles com quem se relaciona tenham suas provas e assim possam também dar suas respostas.

Por isso, quem faz alguma coisa contra você, não é culpado, mas instrumento da sua prova e você também não o é, pois está sendo instrumento da prova dos outros.

Senhor, Senhor

Mercadejar com Deus

Participante: Quem ama o próximo tem condição de dar um tapa no próximo?

Deixe-me falar uma coisa. Você já ouviu falar na passagem onde Jesus pegou o chicote e deu no lombo dos mercadores no templo? Acha que nesse momento ele não amava ao próximo? Amava, mas assim mesmo sentou o chicote nos mercadores. Porque o amor é interno e o ato é externo.

Participante: Diversas passagens da Bíblia foram adulteradas....

Na pergunta 1 de O Livro dos Espíritos se diz que Deus é causa primária de todas as coisas. Sendo isso verdade, quem adulterou a Bíblia? Deus. O que Deus adultera fica adulterado ou é a verdade?

Desculpe, mas essa passagem é real. Ele realmente sentou o chicote nos mercadores só que não sentou e chorou depois pelo que fez. Disse: “Pai faça-me instrumento da tua vontade”.

O importante dessa passagem não está nas chicotadas, mas na lição que ela contém. Essa vocês não veem porque estão preocupados com o ato.

Vocês criticam os pastores que envolvem o pedido de dinheiro com os cultos a Deus. Sim, isso é fazer mercado com as coisas de Deus, mas quem faz troca de favores dentro dos locais sagrados, quem vai aos centros, as igrejas, pedir favores a Deus em troca de promessas ou de amor também não está fazendo mercado com Deus?

Vocês vão aos templos e centros pedir a Deus: “Me salva pelo amor de Deus. Eu juro que nunca mais faço isso”. Isso não é um negócio? Não se faz negócio na casa do meu pai. Essa lição vocês esquecem porque estão preocupados em criticar os outros e em atribuir valores a atos físicos.

O importante não é o ato, mas entender o ensinamento de Cristo. Aliás, esse aspecto do ensinamento do mestre fica mais forte se você ler o que ele quando da transmissão da oração ‘Pai Nosso’.

Ele diz assim: “quando você for rezar, não faça como os hipócritas que ficam pedindo coisas”. Pelo que eu saiba, vocês só sabem rezar para pedir alguma coisa em benefício próprio, não é mesmo?

Portanto, Cristo enfiou o chicote sim, mas continua enfiando até hoje. Por isso diz que não falará por todos que o chamarem de Senhor, Senhor ...

Mas, como reagir frente as adversidades da vida se não podemos rezar a Deus pedindo o fim delas? Fazendo o que Cristo ensinou da Santa Ceia, quando sabia que o a cruz estava perto: “sinto uma grande aflição, mas o que vou dizer? Pai, afasta de mim esse cálice? Mas, eu nasci para isso. Pai, glorifica seu nome através de mim”.

Essa passagem, então, é verdadeira. Ele sentou o chicote, mas agiu assim com a consciência de que estava seguindo as ordens de Deus. Mais: com a certeza de que estava ensinando alguma coisa. Infelizmente, vocês se preocuparam com o ato e esqueceram o ensinamento.

Senhor, Senhor

A vida humana a partir do prisma espiritual

Participante: então, a palavra é aceitação?

Não. Aceitação é “ele é uma droga, não presta, mas aceito ele porque não tem outro jeito. Eu preciso aceitar”. Não é disso que estou falando, mas sim de amar.

 Participante: sentir gratidão ao próximo?

Não! Não é gratidão nenhuma.

Aquela pessoa falou uma palavrinha interessante sobre os acontecimentos: eles são carmas. O que é carma? Lei de causa e efeito. Ou seja, tudo que você receber, você causou.

Por isso, não tem que agradecer nada a ninguém porque, se não tivesse merecido, não recebia.

Participante: Cristo chegou a tirar os mercadores. Então, quando ele decidiu tomar essa atitude, ele jogou...

Ele não decidiu: já estava programado na vida dele que aquilo aconteceria.

Imagine uma coisa. Haverá uma encarnação no planeta que servirá de modelo para todos as outras que vierem depois por milênios. Mesmo assim acha que os acontecimentos dela deverão depender só de decisões dos seres humanizados? Desculpe, mas o Deus de vocês é muito fraquinho. O meu Deus é o Senhor, é Supremo. Ele manda e desmanda. Ninguém O pega de calça curta.

Participante: Então, se eu der um tapa em alguém, tenho de defender que foi Deus quem me pediu...

Ele não te pediu. Deus não pede. Ele diz faça-se e a coisa se faz. Ninguém faz. É isso que está na Bíblia. É isso que está em O Livro dos Espíritos: Deus diz faça-se e a coisa se faz.

Sendo assim, não posso dizer que Ele usa você ou sua mão para bater no outro. Ele diz “aquele tem que apanhar” e com isso cria o bater e o apanhar.

Enquanto isso acontece no mundo invisível, você está pensando que foi decisão sua. Você está pensando que você bateu, quando o bater foi ciado por Deus.

Participante: não é isso. Eu estou querendo discutir a questão do julgamento.

Nós vamos chegar lá. Me dê só um tempo que vamos falar do amar a Deus e amar ao próximo e do julgamento, está certo? Vamos primeiro acabar esta conversa pois ela é fundamental para o que vamos conversar.

Participante: então, no caso, a gente não teria livre arbítrio. Se tudo acontece pela vontade de Deus ...

Quem teria o livre arbítrio que você está me perguntando?

Participante: Nós.

Nós, quem?

Participante: Os humanos

Não!

Veja, você sabe o que é o ser humano?

Participante: seria o espírito encarnado?

Não, o ser humano não é o espírito encarnado. Ele é o castigo do espírito.

O espírito está lá no paraíso e Deus diz assim: “não coma da fruta da árvore do conhecimento”. Aí, ele come. Deus vai e diz: “você vai para o mundo de nascer e morrer”. Ou seja, “você vai ter um humano”. Portanto, o humano é o castigo do espírito desobediente.

Acha que o castigo vai ter livre arbítrio? Quem tem livre arbítrio é o espírito, não o ser humano. Lembre-se, você não é um humano que tem um espírito, mas um espirito que tem um humano, que é o seu castigo por ter sido desobediente.

Participante: às vezes, eu penso e isso tá confuso.

É que você ainda acha que enquanto humano, é o espírito. Não é.

Participante: Só que, daí, eu já vejo que a gente é ... Vejo que já está tudo traçado e não tem a oportunidade de querer mudar.

Tem. Há coisas que podem ser mudadas nesta vida.

O espírito tem dois livres arbítrios. Com o primeiro escolhe antes da encarnação as suas provas. Ele diz assim antes da encarnação: “quero passar por isso, por isso, por aquilo, por aquilo”. Usando-o traça todo seu destino, o que você quer mudar agora. Em O Livro dos Espíritos esta questão está bem calar: o destino não pode ser mudado depois da encarnação.

Só que depois de encarnado o ser recebe um segundo livre arbítrio. Enquanto está vivendo o que pediu, ele tem a liberdade de optar entre o bem e o mal. Ou seja, ele é livre para amar a Deus sobre todas as coisas ou de agir de uma forma egoísta. É este segundo que pode mudar alguma coisa na sua vida.

Você não pode mudar ato, mas pode mudar a forma de viver os atos escolhendo entre o bem e o mal.

Participante: você falou em escolher entre o bem e o mal?

O bem e o mal é, nesse caso, é, vamos dizer assim, simbólico. O bem é Deus, estar com o Pai; o mal é a humanidade, é optar pela humanidade.

Não estou falando de mal no sentido que você conhece. A dúvida que fica na cabeça de vocês é porque não conhecem o bem, mas só o bom. Bom é aquilo que você decreta como sendo assim, é a parte do bem, do que vem de Deus que você que ser, gosta e quer fazer. Isso é bom, não é bem.

Participante: Isso que você falou de escolher entre o bem e o mal. Isso determina como vou me sentir diante do acontecimento?

Isso. Exatamente.

Participante: É o único livre arbítrio que temos?

Exatamente.

Participante: O livre arbítrio que a gente tem para escolher as provas é a outro?

Sim.

Participante: então, tá. Uma criança de cinco anos, brincando sem querer com a arma, mata um coleguinha. No caso, isso seria escolha de quem morreu? Com cinco anos não tem conhecimento para não brincar com a arma, mas, amadurecido, com trinta anos, não faria isso.

Só quero lhe fazer uma pergunta: quem é uma criança? Um ser puro e angelical? Não, um espírito velho. Não existe criança. O que existe são espíritos encarnados e reencarnados que vivem determinadas coisas. Dentro do seu exemplo, será que de posse de sua consciência espiritual velha a vítima não pediu para levar um tiro com cinco anos?

Para poderem ser aprovados por Cristo vocês precisam se desapegar das coisas humanas. Não existe criança, não existe espírito vivo encarnando a primeira vez. O que existe é espírito velho, encarnando há pelo menos sete mil anos, entrando e saindo da vida humana e fazendo besteiras em todas as vezes que veio à carne.

Por isso, nada acontece a uma criança, a um anjinho. Todas as situações do mundo humano são vividas por espíritos que possuem carmas, que já fizeram por onde merecer o que estão passando.

Por isso, você não precisa se chocar quando uma criança pegar uma arma e der um tiro no outro. Aquilo, com certeza – eu não gosto de falar em ajuste de contas, porque vocês vão achar que é um espírito com outro, quando não é – é o resultado da plantação de um ser na sua existência eterna. Ele está ajustando o que fez no passado a esse ou outro ser.

Quanto ao fato de não fazer depois de maduro, quem disse que ele não faria? Você está partindo de um pressuposto estranho, está falando como se conseguisse comandar a sua vida. Você vive só o que quer? Só acontece o que quer? Claro que não ...

Então, veja, ninguém comanda a vida. A vida acontece. Partir do pressuposto de que mais maduro ele não faria, é criar uma verdade que pode não ser. Um ser maduro também pode matar, inclusive crianças.

Participante: foi assim com Hitler?

Com todo ser humano.

Veja, o que disse: o problema é o que vai aqui dentro; o que se faz por fora não tem nada a ver. Lhe garanto que nas câmaras de gás morreu muito senhor de escravo de outras vidas, mesmo sob a forma de crianças.

Portanto, o ato não tem nada haver. Se tivesse de condenar alguém por alguma coisa, teríamos que condenar pelo que vai no seu mundo interior e não pelo que fez.

Participante: então, ele deveria fazer tudo aquilo amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e foda-se?

Se ele viveu assim ou não, ninguém é capaz de descobrir, mas lhe garanto que independente da forma como ele viveu, todos os seres que foram mortos por suas ordens pediram aquela situação para ter uma oportunidade de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: na verdade, ele estava causando uma prova.

Exato.

Senhor, Senhor

Amar o que Deus faz

Participante: nos processos encarnatórios, a nossa expectativa não seria da gente evoluir até ficarmos livres desse ciclo encarnatório num grau de evolução superior?

Sim. Deveria ser isso. Você deveria encarnar com a expectativa se aprimorar até um dia sair da roda de encarnação.

Participante: e no sentido oposto? Nesse processo de criação contínua, não haveria a possibilidade de criação de novos espíritos que entrariam nesse novo ciclo?

Sim, haveria.

Só que O Livro dos Espíritos é claro: o universo se forma por afinidade. Então, todos que estão encarnados em um mesmo cenário, no mesmo planeta, tem uma afinidade, ou seja, estão no mesmo nível. Por isso não seres novos. Esses ainda estão encarnado em outro mundo para depois chegar a esse.

Participante: mas é que aí, no caso, seria como novos espíritos.

Não. A criação não para.

Em um estudo que fizemos, Avadhut Gita, é dito o seguinte: Deus dá o desejo de evoluir. A partir disso comento o seguinte: você deveria querer evoluir para abrir espaço para outro venha a encarnar no seu mundo. Só que vocês não se motivam por isso. Querem evoluir como benefício próprio, para ganhar.

Viu a diferença? Vocês não fazem o trabalho como serviço ao próximo, mas para obter vitória individual.

Participante: caridade.

Exatamente.

Acho que agora podemos conversar sobre o amar a Deus. Você sabe o que é amar a Deus sob todas as coisas? Sabe o que é amar o próximo como a si mesmo?

Compreender essas questões é fundamental na reforma necessária para que Cristo fale por nós. Por isso, vamos conversar sobre estes pontos agora.

Para vocês, o que é amar a Deus sob todas as coisas?

Participante: Não julgar?

Que mais?

Participante: ser instrumento na mão de Deus.

Que mais?

Participante: amar a vida e contribuir para a harmonia dela.

Que vida que você fala? A humana?

Participante: Sim, mas vendo a vida tendo Deus como algo maior.

Sobre a questão de ver Deus como algo maior, deixa só falar uma coisa. Analisando o ensinamento amar a Deus sob todas as coisas sem paixão, veremos que ele é um ato de prepotência. Alguém exige que o você ame a ele acima de tudo. Isso não é prepotência? Só que o ensinamento não traz consigo essa conotação.

Deus não exige que você o ame para que ele seja glorificado. Ele mandou esse ensinamento porque sabe que esse amor é um caminho para a felicidade. Vamos entender esse caminho.

Participante: então, eu não posso ver Deus em todas as coisas?

Pode, você pode ver Deus em todas as coisas, mas para o humano isso é difícil. O humano não vive com Deus; vive com as coisas e diz que elas são Deus, o que é diferente.

Por exemplo, uma pessoa me disse: “se Deus é tudo, meu cachorro é Deus. Então, posso viver com ele como se fosse Deus“. Não. Você não pode viver com o seu cachorro, pois aí estaria vivendo com o animal. Você tem que viver com Deus como se ele fosse cachorro e não com o bicho como se fosse o Senhor.

Compreendeu? Por isso digo que para o ser humano é difícil viver com Deus.

Por isso continuo perguntando: o que é amar a Deus acima de todas as coisas?

Participante: é um entendimento que a pessoa tem que ter de que a vida que a pessoa tem foi criada por Deus, que Ele faz tudo o que ele vê.

Mas, veja, só ter a percepção de que é Deus que guia, de que é Ele que faz não adianta. É preciso amar o que o Pai faz.

Essa é a diferença. Muitos até vivem com a ideia de que Deus faz: “ah se eu não conseguir é porque Deus não quis, mas como eu queria”. Esses, no entanto, não amaram aquilo que Deus fez!

Participante: Está preso ao resultado.

Está preso ao resultado. Esse não ama.

Participante: Mas, na verdade, se você vive aquilo que está sendo proposto por Deus, não vai esperar um resultado específico.

Sim, deveria ser assim. Mas, vocês não amam a Deus sobre todas as coisas. Por isso ainda esperam que Deus faça aquilo que querem.

Não estou falando de você: estou dizendo todos vocês. No mundo humano noventa e nove vírgula nove por cento ainda busca o Pai esperando resultados positivos em suas vidas.

Quem espera resultado não entrega na mão de Deus. Por isso, quando o Pai não faz o que ele quer, sofre. Por exemplo: você quis vim aqui e conseguiu. Só que teve pessoas que quiseram vir e não conseguiram. Se não você não conseguisse chegar aqui, iria dizer: “que droga, eu não consegui ir lá”.

Neste caso, não amou o não estar aqui que Deus fez. Esta é a diferença no amar. Saber que Deus faz é uma coisa; amar o que Ele faz é outra.

Para poder realmente amar ao Senhor é preciso abrir mão de sua intencionalidade. Precisa abrir mão da sua vontade de ganhar, da sua vontade de satisfazer.

Senhor, Senhor

Amar é ser feliz

Participante: tem a ver com a aceitação. Na verdade, é uma aceitação e você chama de amar.

É um pouco mais. O problema é o amar, que vocês não sabem o que é amor.

Participante: amar, na verdade, é aceitar...

Não! Amar é mais que aceitar. Amar é estar feliz pelo que aconteceu: “Eu queria muito ir lá, Deus não me levou, que bom”.

Não existe amor sem felicidade. Amor sem felicidade é masoquismo, é gostar de sofrer. O amor a Deus acima de todas as coisas existe quanto você está feliz com o que Deus faz.

Participante: é preciso abandonar a ideia sobre você.

Você precisa abandonar você. Precisa abandonar o que quer, o que gosta, o que acha bom, o que acha certo, aquilo que acredita que seria injusto e se entregar nas mãos de Deus.

Participante: e ser feliz!

E ser feliz: “que bom que me assaltaram”.

Vocês estão rindo, mas quem é o assaltante? Aquele que fez o que Cristo mandou e você não tem coragem: dar tudo que é seu aos pobres.

Está lá no Novo Testamento. Cristo disse para o moço que queria segui-lo: você tem que cumprir toda lei. O moço disse que já cumpria e por isso o mestre completou: então volte e doe tudo que é seu aos pobres.

Vocês fazem isso? Não. Aí, Deus coloca um ladrão na sua casa para fazer o que não querem fazer. Neste momento reclamam de Deus.

Participante: seria o caso, então, de você fazer um fardo ser mais leve?

Mas veja, está tudo na Bíblia. Cristo ensinou: venha para mim que meu julgo é leve. Ou seja, ele não queria obrigações.

 Participante: então não deixa de ser um julgo também.

É um julgo porque é um caminho. Você precisa entrar naquele caminho, precisa seguir aquele caminho. Então, é um julgo só que um leve. Você não é obrigado a fazer.

Participante: no final, foi você que fez o caminho, não é Pai Joaquim?

É. No final, nunca tem caminho, porque você não caminha. A vida já é o caminhar.

Senhor, Senhor

Não se apegue aos desejos

Agora posso finalmente explicar realmente o que é amar a Deus sobre todas as coisas.

Coisas são tudo o que existe: pessoas, objetos e acontecimentos. Amar é ser feliz com o que lhe acontece. Portanto, amar a Deus acima de todas as coisas é viver com tudo o que acontece em estado de felicidade.

Só que isso, como também está na Bíblia, é muito difícil para vocês. Na verdade só são capazes de amar aqueles que lhes ama. Por isso, o caminho para amar a Deus é sentir-se amado por Ele. Aqui começa o problema.

Vocês não buscam sentir-se amado por Deus. Querem que Ele lhes ame, mas não se sentem amado por Ele, ao menos que faça o que querem. Sabe, aquele que diz “eu queria ir e não consegui, louvado seja Deus”, esse sentiu-se amado pelo Pai. Esse vive feliz com o que lhe acontece.

Participante: mesmo sem comida?

Louvado seja Deus! Não tem comida, que maravilha!

Participante: todo mundo aqui tem ideia disso. Compreende bem esse raciocínio. Mas, na hora que está no dia a dia...

Na hora que a necessidade humana fala mais alto, esquecem a necessidade espiritual. Por quê? Porque ainda acham que é são humanos que um dia vão virar um espírito. Esquece que já são o espírito.

Participante: quando você começa a raciocinar dessa forma, as pessoas falam que você está louco, que não está normal.

Eu costumava dizer antigamente o seguinte: para você poder fazer a reforma íntima, querer a evolução espiritual, tem que tomar Deus na veia três vezes por dia. Sabe? Ficar doidão por Deus. Se não fizer isso, não tem Deus.

Participante: Reforma íntima não existe, né?

Reforma íntima não existe. Reforma íntima é isso que estamos conversando: reformar o seu íntimo.

Qual é o seu íntimo hoje? Aquele que ama você mesmo acima de todas as coisas. Para você, só é certo o que acha certo, só é bom o que acha bom, só vale a pena aquilo que acha que vale a pena. Você ama a si acima de qualquer coisa.

Essa é a reforma. Reformar o íntimo é você mudar-se internamente. É você, ao invés de amar a si acima de todas as coisas, amar a Deus acima de todas as coisas. Como se consegue isso? Quando, querendo alguma coisa ela não acontece, fica feliz.

Participante: e se acontecer?

Fica feliz.

Participante: mas, aí, como a pessoa vai saber diferenciar? A constatação da contrariedade é evidente.

A felicidade que vocês conhecem é prazer.

Como você constata que conseguiu ser feliz de verdade? Quando não acontece o que você queria e não se contraria com o acontecido.

Quando você possui alguma dependência de realização, só alcança uma felicidade dependente. É uma felicidade motivada porque, para que, como, quando, onde. Quando tem uma felicidade que é oriunda de um acontecimento, isso não é felicidade. Isso é prazer.

Participante: seria viver equânime? Tipo uma linha, não é?

Viver equânime! É o ensinamento do Krishina. Já Buda diz: não se apegue aos desejos.

Buda não diz que você não pode ter desejos. Ele ensina que não pode apegar as suas paixões, posses e desejos.

Participante: a gente pode ter, então?

Você pode ter o que tiver. Agora, só não pode ter a sua felicidade como resultado de ter. Aí, é posse.

Essa felicidade não vem de Deus, mas das coisas materiais. Vem do ter.

Senhor, Senhor

Peso, sacrifício e justificativa

Participante: Joaquim, sabe uma coisa que eu entendi, é quando você fala o quanto estamos dispostos a abrir mão das coisas para ter toda essa percepção mesmo de vida. Aí, disso, fica tão pesado às vezes, tão difícil porque a gente coloca a questão do sacrifício, um peso. E eu tenho percebido na minha vida que quanto mais leve eu coloco isso, – é tão difícil te explicar porque essa é a minha experiência, não tem como falar muito – mas quando tudo fica mais difícil e consigo colocar leveza, eu fico toda vez mais eu e Deus.

Veja, você falou duas palavras interessantes: o peso e o sacrifício.

Participante: quando tiro o peso e sacrifício e coloco a leveza, sinto que não há necessidade de sofrer.

Deixa eu falar rapidinho sobre isso. Perder alguma coisa – sim, porque o que estamos conversando hoje é sobre perder. Para ficar bem claro.

Você tem que perder coisas que tem hoje para poder reformar-se. Quando falei que tem que abrir mão de algo, disse que precisa perder alguma coisa. Agora, quanto a viver isso como algo pesado ou como sacrifício, isso só acontece quando o que é perdido é considerado como importante.

Vou dar um exemplo. Falo muito da questão da maternidade. Na verdade não apenas eu, mas todos os mestres falam da questão da maternidade. Cristo foi bem claro: “eu vim para colocar pai contra filho, filha contra mãe”. Ele não veio para unir família nenhuma.

Quando falo sobre esse assunto seguindo o que os mestres ensinaram, as pessoas dizem: “mas, Joaquim, vou abrir mão de meu filho?” Olhe o despossuir sendo vivido com sacrifício. Porque essas vivem dessa forma? Porque para elas a maternidade é importante.

Será que a maternidade é importante para todos? Claro que não. Para alguns é mais fácil abrir mão desse elemento material. Portanto, o despossuir a maternidade só é sofredor para aquele que a acha importante, para aquele que acha que essa função humana é mais importante que sua espiritualidade, ou seja, para aquele que acha que é um humano que tem experiências espirituais.

Para esses, o despossuir da maternidade pesa mesmo. Isso porque dão importância ao fato de serem mães.

Portanto, dentro do processo de reforma íntima conseguir amar a Deus acima de todas as coisas, ou seja, ser feliz independente do acontecimento da vida, o peso das coisas acontecerá se você se deixar levar pelo valor de importante que a mente dá a alguns elementos da vida. Por isso, é preciso trabalhar esse valor, esse peso.

Por isso comecei falando nessa nossa conversa sobre a realidade: você não é um humano que tem um espírito, mas um espírito que tem um humano. Não começando a ver as coisas deste mundo a partir deste prisma, ou seja, não priorizando as coisas espirituais, você não consegue nada. Tudo será pesado, sacrificado e isso acabará com a sua felicidade, com o sentir-se amado por Deus. Aí, nada vai ser feito.

Participante: quando você dá vazão a seus impulsos, mesmo tendo esse entendimento, fere, agride os outros. Então, fico pensando na prova daquele espírito...

Sim, é a prova de quem recebe.

Participante: ...mas, como é que ele vai reagir? Quando faz a ação tem consciência, tem o entendimento que justifica o ato. Mas, será que apenas se justificar resolve?

Sim, o humano quando usa um ensinamento se justifica. Aliás, muitas vezes se justifica até colocando Deus como justificativa. Sobre isso deixe-me falar uma coisa.

A questão da evolução espiritual consiste em universalizar-se. Trata-se do ser um com todos. Atingir o que Cristo ensinou: “tudo está pronto, eu e Deus somos um”. É a partir disso que afirmo que a elevação espiritual consiste em unir-se com o todo.

Só que essa busca de universalizar-se tem um detalhe interessante: ela é a coisa mais individual que existe; você só pode fazer a sua. Por isso, precisa se dedicar exclusivamente à você mesmo para fazer a sua.

Se o outro se justifica, se não faz a reforma, problema é dele. Isso não anula a sua prova: amar o que ele está fazendo. Saiba que jamais alguém fará algo na sua frente que você não tenha pedido para receber. Portanto, se o outro se justificou, foi você que pediu para receber aquela ação.

Se ele fez, era para você e você pediu. Era a sua hora de fazer a prova. Se o outro não aproveitou a oportunidade dele, problema é dele.

Quando começamos esse trabalho, disse assim: você precisa ajudar os outros, por isso dê a mão a eles. Agora, se os outros ficarem lhe puxando para trás, largue a mão deles e vá embora. Faça isso, porque senão ficam os dois para trás.

Portanto, esqueça os outros e concentre-se apenas em si mesmo. Se o outro se não fizer, o problema é dele.

Participante: se você no coração está desligado da personalidade que está falando, passou na prova.

Isso, cuide de você mesmo. O problema dele é dele.

Sabe, tem muito missionário vivendo personalidades que fazem coisa erradas para ver se vocês vão julgar os outros com a trave que cobre o seu olho. São pessoas que vivem à margem do que é socialmente aceito por vocês para ver se no momento da ação deles, ou seja, da sua prova, vão julgar ou cuidarão apenas de si mesmos.

Um grande exemplo disso se chama Judas. O Papa o considerou recentemente um traidor que não deve ser perdoado. Só que a esse mesmo Judas Cristo disse o seguinte no fim da Santa Ceia: “vai lá, amigo, faça o que você tem que fazer”. O mestre o chamou de amigo, mas o Papa de traidor.

Senhor, Senhor

Falando sobre Deus e o amor

Participante: fala-se muito em Deus. Se diz que precisamos amá-Lo, mas eu não O vejo nem O percebo. Fale um pouco como Ele se manifesta na minha vida.

Como Deus se manifesta na sua vida? Sendo a sua própria vida.

Você fez esse ato agora? Não! Foi Deus que fez. Deus é o que se faz e o que ou quem faz. Nada disso é feito por você, que aliás também é Deus.

Portanto, o que é Deus? Tudo. Todas as pessoas, os objetos, os acontecimentos. Todas as coisas que existem. Por isso, para cumprir o mandamento é preciso amar a tudo.

Participante: então, não temos que pensar em nós mesmos.

Sim, deve pensar em você no sentido de estar vigilante quanto ao seu amor a Deus acima de tudo, mas não no sentido de ter que ganhar algo, em ser beneficiado.

Participante: tem diferença entre pensar em você naquele momento e ser egoísta.

O que é o pensar em si mesmo que estou dizendo? Pensar em amar a Deu sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O que estou dizendo é que deve pensar o tempo inteiro se você está amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quanto a pensar qualquer outra coisa sobre si mesmo, esqueça. Não é importante ...

Participante: como eu sou uma coisa, tenho que amar a mim acima de mim.

Sim, acima de você mesmo, ou seja, acima da busca da sua satisfação pessoal.

Participante: eu sou feito à imagem e semelhança de Deus. Não é isso?

Sim, você é a imagem e semelhança de Deus.

Participante: então, quando estou amando é Deus, o próximo é Deus. Tudo é Deus.

Sim, tudo é Deus.

Tudo é uma coisa só. Quem separou as coisas do universo foi a personalidade humana. Fez isso para contentar o seu individualismo, egoísmo, mas todas as coisas são um.

Vocês humanos acreditam em identidade. Não existe identidade. Existe Universo.

Gosto muito de ouvir assim da pessoa: “eu vou morrer e sair daqui e vou pra lá”. Vai para lá, onde? “Ah, lá no mundo espiritual”. Se você vai para o mundo espiritual aqui é o que? Mundo material? Matéria pensa? Matéria fala? Como, então, se dizer que este é o reino da matéria?

Só existe um lugar no Universo. Sabe onde é? O universo. Tudo é Universo e só ele existe.

Participante: é fluido cósmico universal?

Fluido cósmico é matéria. No Universo, existe a matéria, o espírito e, acima de tudo, Deus.

Participante: Eu queria perguntar sobre o propósito de tudo. Cada um tem um propósito ...

Não, cada um não tem um propósito. Independente de cada ser humanizado, todos têm só um propósito durante a vida: amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo. Esse é o único propósito de todos.

Participante: é que quando nós não temos clareza sobre as tarefas que temos que cumprir, não sabemos o caminho que temos que seguir de acordo com o que foi combinado.

Veja, falando com clareza do caminho que qualquer ser humanizado tem a seguir de acordo com o que foi combinado ele se consiste na vivência dos acontecimentos da vida com a certeza de que Deus é a causa primária de todas as coisas. Se tiver essa certeza, nunca sairá do caminho combinado.

Sabe, se Deus é a origem de tudo, se Ele é que causa, não importa o que você ou qualquer outro faça, será Deus fazendo. Nesse momento poderá amar a tudo e com isso jamais estará do caminho. Mesmo que ache que está fora do caminho, o próprio achar que está é o seu caminho.

Participante: Joaquim, e quando você tem todo esse conhecimento e acontece a prova, leva um tapa na cara mesmo sabendo tudo isso, e a vida, o lado humano, te faz perder. Aí, você lembra: “não, eu tenho que amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”. Como é isso na prática?

Lembrar-se que é preciso amar a Deus acima de todas as coisas.

A sua dúvida existe porque você está querendo atacar um pouco para frente. Só se destrói uma casa se batermos na fundação. Se você vier quebrando do telhado para baixo, vai demorar muito. É a mesma história do tijolinho que já falei: quando para de quebrar, constroem-se novos.

Você tem de atacar a fundação da sua vida. Qual é a fundação dela? A ideia de que você é um humano. Precisa destruir essa fundação e gerar uma nova: eu sou um espírito.

Qual é a importância disso que aconteceu para mim, o espírito? Alguém entrou na minha casa e roubou a minha televisão. Qual é a importância disso para o espírito? Alguém saberia me dizer? Só que para vocês tem. Porque? Porque sabem-se humanos.

Sabe o que estão jogando fora quando vocês xingam e acusam o bandido, quando vocês gritam contra ele?

Participante: oportunidade.

Que oportunidade nenhuma!

Sabe o que jogam fora? O amor de Deus! Deus lhes amou e vocês jogaram fora esse amor em troca de terem uma televisão.

Se você não mudarem em baixo – ou seja, eu sou um espírito, qual a importância disso que me aconteceu agora para minha existência eterna espiritual – não mudam nada.

É o que eu falei do peso, do sacrifício.

Participante: aí, entra a leveza, de você se ver como espírito. Isso não é importante. Tudo é ilusão, tudo é ilusão da matéria. Aí, você fica leve.

Senhor, Senhor

Cristo e as chicotadas

Participante: mas você coaduna tudo, experiência de vida e conhecimento de causa. Eu tenho percebido que a construção de uma verdade se dá em função de saberes. Desde que o senhor começou a falar, eu senti que foi certeiro. Você tem um discurso muito bonito de que não tem como fugir. Agora, quando chegou no ponto de bater pelo amor, foi como se tivesse arrebentado um pouco a simetria. Por isso queria que falasse um pouco mais sobre isso. Peço isso porque quando fala de Jesus, dá esse exemplo dele a coisa fica confusa. Para mim a maior grandeza de Jesus é a moral. Para mim a grandeza moral dele está acima de qualquer ato.

Deixe-me só dizer uma coisa pra você: Jesus é um assassino. Você não sabia disso?

Mais do que um assassino: ele foi mal. Sabia? Ele matou uma figueira que não estava dando fruto quando não deveria dar. Isso não é crueldade: matar uma coisa porque não estava fazendo o que não era para ser feito?

Deixe-me lhe explicar algo: não amealhe bens na terra. Se Cristo ensina isso, você acha que ele estaria preocupado com alguma coisa material? Será que ele estaria preocupado em fisicamente, ou seja, no mundo da Terra, ferir alguém?

Você me disse assim: “eu venho juntando verdades”. Só que as verdades que junta não são verdadeiras, mas apenas fruto das suas próprias ideias. São verdades que você acredita como verdadeiras e não realidades absolutas.

Quem de vocês já leu um livro que alguém escreveu? Será que já leram algum livro que alguém escreveu? Eu afirmo que não! Digo isso porque quando leem um livro fazem uma interpretação do que está escrito com suas próprias verdades. Por isso digo que não estão lendo aquele livro, mas escrevendo um outro.

Por isso, o que você sabe, moço, não são verdades absolutas, universais: tratam-se apenas de verdades que criou para si mesmo. São elas, que são elementos materiais, que está defendendo agora.

Participante: concordo. Da mesma forma posso dizer que você está defendendo as suas verdades.

Eu não estou defendendo verdades.

Na verdade, não defendi nenhuma verdade durante a nossa conversa. Apenas o que fiz foi dizer que a crença que vocês possuem, se analisarmos os textos sagrados mais profundamente, não são verdades.

Faz quinze anos que conversamos com seres humanizados. Em todo este tempo jamais disse uma verdade: apenas passei uma visão diferente daquela que vocês criaram para si mesmos. Por isso, quando acabo uma conversa normalmente digo assim: não acreditem em nada, nem em ninguém; nem em Deus, nem em mim. Não transformem o que falo em uma verdade, porque a minha função não é criar verdades, mas sim desestabilizar as suas crenças. Isso é necessário porque as suas verdades, sejam elas quais forem, jamais lhes guiaram em direção ao reino do céus.

Por que isso aconteceu? Porque as suas verdades, como são humanas, priorizam o bem material em detrimento do espiritual.

Participante: mas, para nós sermos capazes de desestabilizar verdades, temos que ter uma voz da verdade.

Não. Você só precisa saber que o que pensa que é verdadeiro não é.

Como humanizado, por causa das restrições da mente humana, jamais vocês conseguirão atingir a qualquer verdade absoluta. Por isso, a busca de qualquer verdade só os levará a crenças individuais, a verdades relativas.

Sendo assim, qualquer coisa que passe a tratar como verdadeira não será real. Por isso, o máximo que vocês fazem é trocar uma trocar uma verdade relativa por outra. Ao fazerem isso ainda estarão vivendo apenas verdades individuais e nada que seja realmente verdadeiro.

Trocam meia dúzia por seis.

Participante: eu gosto muito quando você diz que o que acontece aqui é uma conversa. Sendo uma, gostaria muito de falar sobre a moral de Jesus.

Fique à vontade. Eu só queria responder a parte da verdade pois senão deixarmos as coisas bem claro, tudo o que disser que é verdadeiro não é: é falso.

Então, pode falar.

Participante: falam de muitas coisas como grandeza de Jesus na Terra: milagres, sua morte e ressurreição, etc. No entanto, para mim, a verdadeira grandeza dele era a moral. Ele realmente tem dentro dele a grandeza moral. Dentro de tudo o que tem acontecido, vivido nessa transição da nova era, as coisas têm mudado cada vez mais para um pacifismo. E Jesus, na minha opinião, é um espírito que, ainda mais evoluído que Gandhi, mesmo com um chicote na mão.

Eu não falei de Jesus, mas sim de Cristo. Espiritualmente falando eles não são um. Os que vocês chamam de Jesus e Cristo são espíritos diferentes.

Mas, você tocou num assunto interessante: pacifismo. Por isso, pergunto: o que é fazer guerra?

Participante: manifestar a nossa ignorância.

Não. Fazer guerra é ir contra uma situação estabelecida.

Participante: é acreditar na minha verdade sobre todas as outras coisas.

Sim. Quem ama a sua verdade acima da dos outros arma uma guerra para poder impor as suas verdades, concorda?

A partir disso, pergunto: Gandhi aceitou pacificamente as verdades da Índia de então lutou contra elas? Acho que foi isso que ele fez, não? Por isso pergunto: como pode chamar alguém que se rebelou contra as verdades estabelecidas querendo impor as suas de pacifista?

Outro detalhe: você já leu a Bíblia? Esse mesmo pacifista que você está dizendo, esse ser de elevada moral, Jesus, disse para os apóstolos quando estes vieram perguntar quem iria sucede-lo depois que morresse: “vermes, até quando vou ter que aturar vocês?”.

Isso está na Bíblia. Alguém de elevada moral chama os seus discípulos de vermes?

Participante: uma coisa importante que pode nos ajudar a compreender a situação quando Jesus expulsou os comerciantes do templo é que depois disso ele vai passar quarenta dias e quarenta noites no deserto para refletir sobre aquilo. Isso está na Bíblia ou pelo menos eu entendi assim.

Não, essa passagem do deserto é antes.

Ele passa quarenta dias e quarenta noites no deserto no início da sua pregação dele, depois que é batizado. Depois disso sofre as três tentações do diabo.

Participante: não, depois ele vai novamente. Aqueles quarenta dias e quarenta noites depois do acontecido no templo era uma busca interior. Depois que tem aquela atitude impulsiva vai buscar paz interior no deserto.

Pelo que eu lembre, a Bíblia não tem isso.

Participante: Eu acho que tem. Por causa daquela atitude impulsiva, ele tem que buscar um novo ponto de reflexão. E o fazer isso lhe confere um poder para depois, no momento da crucificação, ele possa manter a sua serenidade. Ele terá que vivenciar aquilo tudo, as chicotadas e a cora de espinho, sem aceitar a provocação do próximo. Precisa passar por tudo e ficar quieto.

Está certo, é nisso que você acredita...

Na verdade, a única coisa que queria colocar para reforçar o tema que estamos conversando hoje é que não aceitando o fato de que Cristo chicoteou os vendilhões continuamos defendendo o mundo humano. Digo isso porque vocês dizem que acreditam em muitas partes da Bíblia, mas quando chega a uma situação que é contrário à crença que vocês tem sobre ser bondoso, aí a passagem não é verdadeira.

Por que não acreditam nela? Porque acreditam que um ser elevado não bate em outro. Para vocês quem apanha é um coitado. Acreditam ninguém deveria passar por isso. Por causa desta afirmação, que é material e não espiritual, já que Krishna incita Arjuna a guerrear, é que não mudam a opinião que tem sob as passagens. Com isso, ainda defendem o bem terrestre e por isso Cristo não falará por vocês.

O problema é que a mente humana trabalha dentro do sistema humano. Ela defende as coisas humanas e vocês, apesar do alerta do Espírito da Verdade (não confiem na sua razão), continuam apegados ao que a mente cria como se verdade fosse.

Falo muito sobre assassinos sem condená-los e quando faço isso vocês ficam indignados. Mas, pergunto: por que acham que o assassinato é um crime? Por que o pegar uma arma e atirar em um ser humano seria um crime contra a lei de Deus?

Participante: eu penso que a mente violenta levanta questões que tem um “Q” de crueldade. É uma coisa violenta mesmo, mas acho que a decisão sobre essas coisas não está nas mãos dos homens, mas nas de Deus.

Perfeito! Estando nas mãos de Deus, qual é a culpa do assassino?

Participante: e dar chicotada?

Qual é a culpa de chicotear, se o ato está nas mãos de Deus?

Senhor, Senhor

Defesa da materialidade

Na realidade, o que estou querendo mostrar com nossa conversa é que existem defesas da mente para os aspectos humanos, apesar dela afirmar que acredita na vida espiritual. Uma delas é essa: não se pode matar. Sabe o porquê a mente cria essa verdade? Para colocar a culpa no outro.

A mente cria a verdade de que não se pode matar o outro para defender a humanidade do ser. Imagina que com essa verdade pode eliminar a possibilidade de ser morta. Só que em O Livro dos Espíritos se diz assim: “ninguém morre antes da hora”.

Isso quer dizer, para você que afirmar que acredita nos ensinamentos espíritas que se alguém tomou um tiro em um determinado momento, aquela era a sua hora de morrer. Só que não para por aí. Neste mesmo livro se diz que Deus sabe a hora e a forma como cada um vai morrer. Portanto, o acontecido devia ocorrer, foi no momento que deveria ser e da forma que Deus já sabia que ia acontecer.

Participante: mas, isso não significa que aquele que portava a arma tinha que matar.

Como não? Se uma pessoa tem que morrer, algo ou alguém tem que matar. Se essa morte está prevista para ocorrer com um tiro, alguém tem que empunhar a arma, não?

A morte faz parte da encarnação, é uma das provações, principalmente com relação à forma como ocorre, desta vida. Por isso, se um tem que morrer de um jeito e ninguém o matar daquela forma, esse vai chegar lá em cima, colocará o dedo na cara de Deus e dirá: “eu não fiz a minha prova porque o Senhor não arrumou ninguém para me matar”.

Anteriormente você disse que estou defendendo verdades minhas. Eu concordo com você. Só que com isso não estou dizendo que você está errado, nem estou querendo lhe dar novas verdades. A minha única intenção com esta conversa é lhe mostrar como o seu pensamento está fundamentado na defesa do bem humano. Só isso.

Não estou querendo dizer que você está errado. Jamais diria isso. Estou querendo mostrar que há uma defesa do bem humano. Essa defesa é que é o problema muito comentado por Cristo em seus ensinamentos, principalmente no que estamos abordando hoje: nem todos que disserem senhor, senhor, eu falarei por eles. Aquele pelos quais Cristo não falará são aqueles que falam senhor, senhor, mas ainda defendem a humanidade que o ser vivencia na encarnação.

Deixe-me lhe dizer algo. Nas bem-aventuranças que constam do evangelho de Mateus, na última delas, é dito assim: você será bem-aventurado quando for caluniado e perseguido em Meu nome.

Repare neste ensinamento. Ele afirma que você precisa ser caluniado, perseguido, tomar chicotada ou um tiro em nome de Cristo sem reclamar. Somente quando fizer isso, será realmente feliz. Afirmo isso porque é condição para ser bem aventurado o ser caluniado e perseguido em nome de Cristo.

Participante: o mal precisa existir na Terra, mas ai daquele que praticá-lo

O mal precisa existir, mas ele na verdade não existe. O que existe é o bem que vocês chamam de mal e não a maldade em si.

Bem é tudo que vem de Deus. Bom é a parte do bem que humanamente falando vocês gostam e desejam. Mal é a parte deste bem que vocês não gostam ou não querem. Portanto, mal é o bem que vocês não gostam, aquele que fere o seu lado humano.

Por isso, sempre que encontra algum mal posso dizer que você está defendendo a sua humanidade> O que não repara é que quando age dessa forma, está atacando a sua espiritualidade

Participante: não estou defendendo o mal.

Não, não é você que o está defendendo: é o seu raciocínio. É o ser humano que está defendendo o lado humano.

Participante: o ser humano é o microcosmo. Isso eu sei.

Não! O ser humano é sua prova. O ser humano é um instrumento de sua prova.

Vocês falam na existência de sete corpos, mas na verdade isso não existe. Não são sete corpos; são sete mentes. Você é a mente primária, que está atrás de um monte de mentes. Uma dessas é a humana.

Participante: tem muitos anos que ouço o senhor e percebo as condicionalidades da mente. As pessoas ouvem você, mas se esquecem que é um espírito desencarnado. Acham que é um ser humano.

Pelo amor de Deus, não acredite em qualquer coisa que ouvir de mim porque eu sei alguma coisa. Não! Aqui está todo mundo no mesmo barco. Todos que estão aqui, estão na mesma atividade: buscando elevação espiritual.

A diferença entre mim e vocês é apenas uma: eu consigo ver a hipocrisia da mente humano que se diz espiritual, mas defende o material. Só que isso não é motivo de júbilo ou glória individual minha, mas somente porque não estou de posse de uma mente humana, mas sim de uma personalidade organizada para a realização de um trabalho espiritual.

Entendeu o que quero dizer? Não me idolatre. Eu aqui sou um bobo na corte. Fico falando enquanto outros verdadeiramente trabalham. Além do mais, quando falo, apenas leio o que alguém escreveu para ser dito.

Participante: é, é complicado ... Digo isso porque tudo que eu disser, o Pai Joaquim vai desfazer, pois é a sua obrigação. É a missão dele desfazer tudo.

Não é só obrigação ou missão do Pai Joaquim: é o trabalho de todos nós. Todos os seres do universo um dia se humanizam para se libertarem da humanidade.

Participante: então, precisa passar por isso para receber lá na frente?

Sim.

Saiba de uma coisa: do céu só cai chuva e avião. Mais nada é recebido do céu, ou seja, gratuitamente. Tudo que você tiver de ganhar nesta vida, tem que merecer. Lei de causa e efeito.

Por isso, você precisa se humanizar para, ao se desumanizar, merecer receber para outra vida.

Participante: pois é, mas se ele pensa na lei de causa e efeito, se faz para ganhar mais na frente, não vai. Não vai sair da lei do carma.

Carma é algo espiritual, não material. Por isso, um tapa não é um carma. O carma é viver alguma coisa quando se recebe um tapa.

O carma é o que surge internamente durante um acontecimento. Por isso, o lidar com ele depende de como você lida com isso que surge internamente.

Participante: não xingar o bandido ou bater.

Sim, mas internamente.

É acusar por dentro aquela menina que mandou matar os pais, com diversas qualificações, sendo que ela é um espírito missionário.

Participante: por isso o não julgue.

Cristo ensinou: não julgue. Mas, disse mais: quem não tiver pecado que atire a primeira pedra. Parece que ninguém tem, pois todos se apressam em atirar pedras nos outros, não?

Senhor, Senhor

Jesus e Cristo

Participante: Deus se manifesta de várias formas, segundo o que a gente necessita.

Não, Deus só se manifesta de uma forma: da forma que Ele se manifesta. É você que vê a manifestação Dele de diversas formas. É diferente.

Participante: o que eu entendo é que Deus se manifesta de diferentes formas para que eu possa entendê-Lo. Então a gente cria formas de entender Deus. E, em várias passagens da história humana existem várias manifestações de Deus, segundo a necessidade daqueles humanos. Já poderei dizer que Jesus naquela época foi uma manifestação de Deus segundo aquela época. Ghandi seria...

Não! Você está confundindo. Jesus é uma coisa, Cristo é outra coisa.

Jesus foi um ser humano como outro qualquer. Fazia coco, xixi e arrotava. Um ser humano comum. Em determinada época ele recebeu a missão de ser o médium de Cristo. Isso acontece quando é batizado no rio Jordão. A pomba desce e a voz de Deus é ouvida.

Vocês ficam discutindo a questão das chicotadas, só que a Bíblia é toda parábola. Tudo que está lá vale é pelo ensinamento e não pela ação.

Os acontecimentos que são narrados na Bíblia não representam a vida de ninguém. Na verdade, vocês estão querendo discutir uma vida que nunca existiu.

Agora, dentro do que acabou de dizer, deixe-me falar uma coisa para complicar ainda mais. Vocês acreditam que Deus se manifesta de diversas maneiras, mas na realidade Ele se manifesta só de uma. Vocês é que interpretam a manifestação Dele de diversas formas. Mais: algumas de suas manifestações vocês não atribuem como sendo Dele.

Você viu esse senhor?

Participante: vi.

Pois é, Deus está se manifestando ali. Você viu Deus? Não.

Participante: mas Joaquim, Jesus foi pai?

Jesus foi pai.

Agora acabou. Não vamos fazer fofoca da vida dos outros.

Participante: eu entendendo as questões que aquela pessoa está lhe fazendo. Para mim, ele e todos nós humanos, Cristo é um acervo da humanidade que deve ser preservado. Só que na realidade para Cristo um beijo ou chicotada é a mesma coisa.

Pode falar português claro aqui: é a mesma droga. Ele não está preocupado em praticar esta ou aquela ação.

Participante: ele não está nesse nível de acervo da humanidade que falei?

Não. Por que? Porque ele está voltado para o espiritual e não para o material.

Quando você se volta para o espiritual o material perde importância e por isso não há preocupação em satisfazer materialmente. Por isso, vocês que estão presos a essa satisfação não deveriam dar esta importância a ele. É por achar que ele está preocupado com as coisas materiais que se chocam quando se fala de algumas de suas ações.

Participante: mas, Pai Joaquim, o senhor falou agorinha mesmo que Jesus recebe a consciência crística.

Ele não recebe a consciência crística. Deixe-me falar outra coisa. A mente humana não tem a menor capacidade de entender algo que ela não saiba. Por isso, vocês que estão ligados a uma consciência humana não conseguem fazer a menor ideia do que é a sua própria consciência, que dirá uma crística.

Participante: eu usei mal as palavras.

Não, você falou de Jesus, do médium de Cristo. Você acha que o meu médium tem a minha consciência?

Participante: não.

Não. Sendo assim, por analogia não posso dizer que Jesus tenha a mesma consciência do que Cristo, apesar de ser o médium dele.

Participante: o senhor acabou de falou, que Jesus recebeu a missão de ser médium de Cristo depois do batismo. Num momento anterior, quando deu a chicotada, ele não era médium de Cristo?

Já! A chicotada é depois.

Outro detalhe: todo médium tem uma vida própria. Ele anda, passeia, come e bebe. Jesus também tinha. A mediunidade Cristo não dominou Jesus a tal ponto de acabar com o ser humano.

Participante: Pai Joaquim, sobre o que ele falou de Jesus ou Cristo, acredito que o senhor não quer ver da forma que nós vemos. Ele veio justamente para ser o exemplo para a humanidade. Ele traz entendimentos que estão além da nossa capacidade de compreensão.

Ele veio para lhe mostrar o caminho: “eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém chega a Deus a não ser através de mim”. Esse ensinamento quer dizer que parar chegar a Deus precisa se tornar num Cristo, precisa viver como um Cristo, ou seja, dar prioridade à busca espiritual. Ele veio para lhe trazer essa consciência.

Agora vou juntar o que falei com o que você disse. O problema é que vocês – vocês que eu digo são os seres humanos, porque vocês de agora nem eram vivos nessa época – transformaram os ensinamentos que foram criados originalmente para ganhar no reino do céu para ganhar no da terra. Vocês interpretaram os ensinamentos de Cristo para ganhar agora.

É por isso que para vocês Cristo é bonzinho de uma maneira humana. Vocês precisam de alguém bonzinho humano porque querem bondade humana.

Senhor, Senhor

A vida humana e o livre arbítrio

Participante: mediunidade a gente pode desenvolver ou acontece quando tem que acontecer?

No Universo não existem espíritos de primeira classe, nem de segunda. O que um tem, todos têm. Agora, usa o que precisa para aquela prova, para aquela missão.

Então, se precisar usar da mediunidade nessa vida, você vai usar. Se não precisar, jamais vai usar. Mas médiuns todos são.

Participante: há alguma previsão da espiritualidade para que não haja mais livre arbítrio?

Alguma previsão para que não haja mais livre arbítrio aqui na Terra?

Primeiro, para cassar o livre arbítrio, não ter mais, ele teria de existir agora. Como ele não existe, não há nada para ser cassado.

O ser humano não faz o que quer. Se vocês conseguissem fazer o que querem, todo mundo viveria uma vida maravilha. Só aconteceria o que querem, nunca ficariam doentes, nunca ficariam sem dinheiro, nunca ficariam sem a mulher que querem.

Você consegue viver assim? Não, nem você, nem nenhum ser humano. Tudo que lhe acontece é determinado: vida, acontecimentos. Por que? Porque você não tem uma vida. Quem tem uma vida é o humano.

O humano tem uma vida para viver. Você é um espírito, por isso tem provas para fazer.

Participante: Joaquim, você disse que a vida não é feita de escolhas, mas pode se alterar a vida.

Impossível se alterar a vida. Isso segundo O Livro dos Espíritos. Depois de encarnado ser não pode alterar a programação que fez antes de encarnar.

Participante: por que, então, o homem nega a Deus. Na existência dele?

O homem não nega a Deus na sua existência. Alguns negam, mas hoje em dia são muitos poucos. O homem, na verdade, prende Deus no céu para não atrapalhá-lo aqui.

“Deus, você fica aí em cima que aqui mando eu. Agora, quando eu não conseguir o que quero, abro uma porta, chamada igreja, centro, e digo o que quero que Você faça”.

O ser humano reza todo dia o Pai Nosso, diz que quer que venha o Vosso Reino, mas somente se esse coincidir com o que ele quer. Se não for, ele não aceita.

Na verdade, o homem não nega a Deus. O que ele faz é escraviza-Lo. Quer mantê-Lo preso numa senzala no céu e na hora que não consegue dominar os acontecimentos de sua existência, O solta e manda fazer o que ele quer.

Senhor, Senhor

Conhecer as coisas do outro mundo

Participante: você falou em ficar preso na consciência humana, mas ...

Só um detalhe: preso na consciência humana que está presa ao bem-estar humano. Sendo assim, o humano está preso é no bem-estar humano.

Participante: mas, nós também vemos dentro de O Livro dos Espíritos que, na hora que o espírito sai do corpo, não está limitado, mesmo preso ao corpo. Isso acontece de tal forma que, em linhas precisas, nas vibrações de consciência nós podemos sair de nossa personalidade humana para acessar ideias que estão além do corpo.

Sua visão é perfeita até quando fala em sair da carne. Posso sim dizer que o espírito está na carne, mas não está preso à carne. Quanto a sair dessa consciência e acessar a outra, isso é impossível, pois lhes falta algumas percepções e conhecimentos para isso. Vou lhe explicar o que estou dizendo.

Quantos espíritos tem aqui hoje? Para me responder certamente vai contar a quantidade de pessoas presentes. Mas será que são só esses? Será que aqui não há seres desencarnados?

Você tem consciência de quantos desencarnados estão aqui? Não! A mente humana não tem a capacidade de trazer a realidade espiritual para a consciência humana. Ela só sabe trabalhar com coisas humanas.

Portanto, sim você espírito é capaz de sair do corpo e sai. Só que quando volta a ele o que vem da consciência espiritual é interpretado pela mente humana dentro da realidade e dos conhecimentos que essa possui.

Eu diria que ao retornar é criada uma consciência humana a respeito do que viu quando estava lá.

Participante: concordo, mas eu não acho que ela não seja total.

Deixe-me lhe fazer uma pergunta? Você acredita em cidade espiritual? Umbral?

Participante: eu acredito enquanto frequência.

Então, você está contrário à realidade espiritual explicada por O Livro dos Espíritos. Segundo esse livro não há lugar determinado no Universo que reúne espíritos, mas seres que se juntam por afinidade.

É a afinidade de ideias que gera o que vocês chamam de lugares. Por isso, esqueça a questão de frequência. Frequência para vocês é rádio, televisão; você não sabe o que é frequência para o espírito.

É isso que estou querendo lhe mostrar. Como humano ainda tem a ideia de que existem cidades espirituais e umbral e por isso quando voltam ao corpo imaginam que estiveram nestes lugares, quando na verdade estavam em grupos que possuem determinadas afinidades. O que você faz no mundo espiritual acaba sendo interpretado pela mente humana no seu retorno à carne a partir de conhecimentos materiais. Por isso, se perde a originalidade do que aconteceu.

Mais uma vez repito: não estou dizendo verdades; estou só mostrando que as suas verdades não são as mesmas do Universo. Trata-se de uma visão humana.

Falei aqui de um aspecto, mas se você ler O Livro dos Espíritos com calma, verá que, quando fala das coisas de lá, o Espírito da Verdade diz assim: vou dar um exemplo, é como se fosse ... Ele também não descreve a realidade, mas faz comparações para que entender o que não tem capacidade de entender.

Tem uma pergunta que acho que resume tudo essa questão e, se vocês me permitirem, vou coloca-la agora. A pergunta de O Livro dos Espíritos é a seguinte: o homem é capaz de saber quem é Deus?

Participante: falta-lhe um sentido.

Exato.

Em O Livro dos Espíritos a resposta é essa, mas ela tem continuação. É ela que vocês fazem questão de esquecer: parem de montar sistemas para explicar o que não podem compreender.

O conselho desse livro é: parem de criar sobre as coisas espirituais. Devem fazer isso porque senão entrarão em um labirinto de onde não lograrão sair. É dito mais: mesmo que conseguissem respostas, isso não lhes ajudaria em nada. Pelo contrário, lhes faria se sentirem mais vaidosos, mais orgulhosos por saberem o que não sabem. Termina a resposta o Espírito da Verdade com a seguinte colocação: preocupem-se com as suas imperfeições.

Nessa resposta, encontramos um grande problema para aqueles que se aventuram a querer conhecer o mundo espiritual. A maioria está preocupada em explicar Deus, o universo, entender as coisas espirituais e não olha as suas imperfeições.

Qual imperfeição moveu a pessoa que defendeu a moral de Cristo no assunto das chicotadas? A defesa do bem material. Imperfeição é defender o pobrezinho do assassinado contra o assassino que apenas estava cumprindo um papel dentro da Divina Comédia Humana, dentro das provações que o outro pediu para si. Esse é o problema.

O problema é que você vê casas espíritas tentando explicar o inexplicável, mas que não abre os olhos do ser humanizado para a sua imperfeição: a busca do bem material. Por causa disso, numa palestra que fizemos dentro de uma faculdade espírita no Paraná, uma instituição de ensino espírita criada para explicar as coisas do mundo espiritual, que ela se ativesse a ensinar os encarnados a reconhecer as suas imperfeições frente aos ensinamentos de Cristo e mostrasse como combate-las.

Deixe-me fazer outra pergunta: vocês ainda acham que encarnar tem o objetivo de aprender alguma coisa, não tem?

Participante: sim, achamos.

É isso que foi ensinado para vocês que comungam da doutrina espírita, não é? Mas, não é isso que está em O Livro dos Espíritos. Lá se diz que o espírito estuda antes da encarnação, quando ainda no mundo espiritual.

Como ele faz isso? Observando aquele que está encarnado. Observa se o encarnado vive esta vida de acordo com o que foi ensinado pelo mestre. Ou seja, verifica se o ser humanizado ofereceu a outra face ou não. Conhecendo o ensinamento e vendo as consequências para aquele que não o segue, ele conscientiza-se da necessidade de oferecer quando for a sua vez de vir à carne.

Se isso é verdade, aqui não é lugar de aprender nada, mas sim de provar o que aprendeu antes. Aqui, é a prova final, é a sala da prova e não de aula.

Se a mente fosse realmente certinha, lógica, creio que vocês não aceitariam a ideia de que vêm aqui para aprender alguma coisa. Digo isso porque não é ilógico o espírito perder a sua própria consciência, vir para um mundo que não tem nada a ver com ele para aprender as coisas do outro mundo? Isso não é ilógico? Acho que sim... Apesar disso, vocês ainda perdem tempo estudando, lendo, se aperfeiçoando em cultura. Acham que viver assim é normal, certo, mas enquanto estão lutando para aprender, não estão fazendo o que vieram realizar: vencer as suas imperfeições.

O que estamos falando aqui hoje é disso. É da suas imperfeições. Se Cristo deu ou não com o chicote nas costas dos vendilhões, isso não interessa. O que importa para aquele que está buscando que Cristo fale por ele é compreender que defender o lombo do ser humano é uma imperfeição. Por que? Porque quando se faz isso está se priorizando o bem terrestre.

O bem terrestre é não apanhar. O bem celeste é apanhar amando a Deus acima de todas as coisas.

Participante: apanhar, sim; não bater.

Não sei. Se Deus me usar para instrumento de bater, louvado seja Ele Eu O amo acima de todas as coisas, inclusive do meu desejo de não bater nos outros.

Senhor, Senhor

A vida humana e o futuro do espírito

Participante: nesse sentido, quando o senhor fala da vontade divina no exemplo de dar um tiro, alguém precisa dar esse tiro. Está certo. A imagem que me vem à cabeça é que como se fôssemos um bando de crianças colocadas numa sala com tinta e a porta está fechada. A nossa natureza é de pegar a tinta e jogar no outro. Isso significa que Deus espera que nós joguemos aquilo no outro.

Você só está esquecendo de uma coisa. Vocês não são crianças com o livre arbítrio de jogar ou não. O ser humano é uma marionete.

O ser humano tem que promover a prova do espírito. Tem que... Se não fizer isso, para que o espírito encarnou? Só pra ir pra cama com mulher, para comer e fazer cocô, para dirigir carros? Será que o espírito tem todo o desgaste energético apenas para viver a vida humana pelos seus aspectos materiais?

 Desculpa, mas o sentido da vida, o motivo porque estar vivo, precisa ser mudado para aqueles que acreditam ser algo além da matéria. A vida é uma encarnação, não simplesmente uma vida humana. Os seus acontecimentos não são momentos de uma vida, mas provas do espírito. Isso é real e pouco importa se o que está acontecendo fere ou não as suas regras humanas de bondade ou justiça.

Sei que vocês não imaginam dessa forma. Acham que aqui o ser humanizado precisa só viver o que para ele é bom, mas isso é um engano. Em O Livro dos Espíritos Allan Kardec pergunta: se o espírito pede as suas provas e com isso cria o seu destino, não seria lógico que pedisse para viver somente coisas boas? Ou seja, colocando dentro do que estamos conversando, não seria lógico que o espírito não pedisse para matar ninguém? A resposta do Espírito da Verdade a esta questão é a seguinte: humanamente falando isso é verdade, mas para o espírito não. Ele sabe o porquê precisa encarnar, sabe o que precisa realizar durante a encarnação, por isso pede tudo que for melhor para isso e não para o seu bem estar. Pede dessa forma porque antevê o que ganhará na eternidade como resultado do passar nas provas de agora.

Participante: é muito interessante quando se percebe que o livre arbítrio é do espírito. Todo mundo tem dificuldade de aceitar que nós humanos não temos livre arbítrio, que a vida vem programada. Acha que isso ocorre por causa do orgulho do ser humano, da necessidade de ter poder, de ser o organizador.

O que você falou é uma história que já ouvi muitas vezes: o ser humano não aceita perder o libre arbítrio porque quer ser o realizador das coisas. Me desculpe, mas isso é falso. Não é por isso que não aceita perder o livre arbítrio.

Sabe por que o ser humanizado não aceita a informação de que não possui o livre arbítrio? Porque se o perder não vai poder culpar mais ninguém de nada. Com o fim da liberdade de agir, acaba qualquer culpado pelo que acontece. Se não tiver culpado, como o ser humano vai se dizer o certo?

Na verdade o ser humano não aceita perder o livre arbítrio porque quer sempre que ele seja considerado o certo. Para que isso aconteça, é preciso que o outro esteja errado.

Estamos falando do ensinamento ‘As quatro âncoras’. Tudo que a mente produz está fundamentado nas quatro âncoras: a busca de ganhar e o medo de perder; a busca do prazer e o medo do desprazer; a busca da fama e o medo da infâmia; a busca do elogio e o medo da crítica. Tudo o que a mente humana cria está fundamentado nessas quatro âncoras.

A mente humana é egoísta por natureza e, mais que egoísta, ela quer vencer o outro. Aconselho a ler o livro ‘O Espiritualista e a Mente’ que transcreve uma palestra em São Paulo. Lá falamos muito disso...

Participante: a mente não quer só vencer. Ela quer que o outro perca.

Claro! Porque só se vence se tiver derrotado algo ou alguém. Se não tiver um derrotado, ninguém venceu.

O prazer, a satisfação de ser considerado o certo ou ter seus desejos e verdades atendidos, é alimento para o ser humanizado. Nenhum ser humano vive sem isso. Não consegue viver sem ter prazer, sem ter derrotado o outro, sem provar que está certo.

Sempre que o acontecido se dá diferente do que o outro prognosticou, você olha e diz logo: “eu não disse que não ia dar certo?”. Isso é ser humano.

O ser humano precisa ganhar do outro, precisar derrotar o outro, porque tem que ser melhor em tudo.

Participante: no processo de regeneração como se vive?

O processo de regeneração trata-se de aceitar a vida como fruto do amor de Deus. Dizer, “se perdi, perdi” ao invés de ficar se lamentando ou criticando o outro pelo que aconteceu.

Diferente de hoje, não? Hoje se você fala alguma coisa e o outro contesta, logo dá a tréplica. Quer ter sempre a última palavra. Esse é aquele que prioriza bem material.

Senhor, Senhor

Tudo é mental

Me desculpe, mas a única conclusão que podemos chegar quando Cristo diz que não falará por todos os que clamam Senhor, Senhor, é de que tudo o que estamos falando vai pesar na hora da seu julgamento final. Por causa disso é que estou dando esse alerta a vocês.

Também por conta disso, falo uma coisa agora: aqueles que compreendem o que estou dizendo, não aceitem essas palavras como culpa. Ser do jeito que conversamos é uma característica do ser humano e não algo errado que ele faz. O ser humano é assim, precisa ser assim, pois se não for, você, o espírito, não tem a sua prova.

Participante: e depois vai chegar lá em cima e vão cobrar dele, não é?

Com relação a isso, o assunto é um pouco diferente do que imaginam. Lá em cima, como você diz ninguém cobra nada de ninguém. Se vive uma verdadeira democracia: cada um faz o que quer e todo mundo respeita o outro.

Lá em cima só tem uma pessoa que cobra. Você já leu nos livros espíritas a informação de que quando o espírito sai da carne vai para uma sala e assiste a sua vida? Pois é, isso acontece. Neste momento você dirá a si mesmo: “olha lá o que eu vivi. Naquele momento devia ter amado a Deus e não amei. Que besta que eu fui!”.

Só você se acusa lá em cima; ninguém mais!

Participante: eu passei por uma grande prova. No momento não sabia que era uma prova.

Você está passando por uma prova agora.

Participante: mas, o que me aconteceu tem a ver com a minha mediunidade. Todos nós somos médiuns, mas a dimensão se abriu para mim. Ouvi toda essa egrégora num coral de anjos tocando harpas, como se estivessem batendo palmas, mas era uma coisa tão sublime, que não tenho palavras pra descrever. Eu senti que tinha uma música que eu canto e que tinha toda uma torcida do meu lado.

Vou lhe responder sobre a música dos anjos. Direi: no mundo dos espíritos não tem música.

Participante: sabe o que eu ouvi na música? Vão ampliar a sua mediunidade.

É o que venho falando: tudo é uma interpretação de uma realidade. A música que pensa ter ouvido pode ser uma vibração, uma energia.

Se no universo não existe som, não há música. Agora, uma energia pode ser decodificada pela sua mente como uma música. Acreditando que ouviu a música, estará priorizando o bem material.

Quem chega lá em cima imaginando que existe música dos anjos, chega perguntado: “cadê a música?”. Como não encontra, quer voltar para cá para poder continuar a ouvi-la. Por isso é preciso se libertar aqui da paixão pela música.

Deixe-me lhe contar uma história. Um ser humanizado me fez essa pergunta durante uma palestra: “Joaquim, você diz que nós temos que se libertar do mundo material, mas eu acho o canto dos passarinhos bonitos, o pôr do sol maravilhoso, as flores...” Eu respondi a ele: é por isso que você está encarnando e desencarnando há sete mil anos. Toda vez que chega lá em cima e não encontra a natureza, você quer voltar. Por isso lhe digo: enquanto não se libertar dessa paixão, não para o bate e volta.

Está vendo quanta coisa o ser humanizado precisa se libertar para amar a Deus sobre todas as coisas? Tudo o que conversamos aqui são coisas materiais. Por isso precisa se libertar delas. Não é só preocupar em se libertar do carro, mas também da existência de uma música mais pura ou mais bonita.

Não existe música no mundo espiritual. Lá, não há som.

Participante: o senhor explica que a mente faz essa interferência.

Não. O que digo é que a mente cria o que acontece aqui. Nunca disse que ela gera qualquer interferência.

O puxar a brasa para o lado material, valorizar as coisas da Terra, faz parte da programação da mente. Sendo assim, ela não interferiu em nada. Aliás, nem existe uma mente, um ser mente que aja com o espírito.

Na verdade, o que vocês chamam de mente é uma ideia que está dentro da mente primária do espírito. Todas as ideias que você tem não são geradas por uma mente, mas formam a própria.

Quem já amou uma pessoa? Esse amor não está dentro de você; o que existe é a ideia de amar. Da mesma forma, tudo o que o ser humano vive está dentro da mente do espírito como uma ideia e não uma realidade.

Participante: a mente funciona como interferência.

Não. Em que sentido está falando? O Espírito da Verdade diz que o sabor das coisas e o fato de ser veneno ou remédio depende da predisposição da mente, mas isso não quer dizer que ela interfira em qualquer coisa deste mundo, pois essa predisposição tem a ver com prova e não realidade.

Participante: se você tem um prazer por aquilo, isso é uma coisa que liga o espírito à questão do material, certo? O prazer vai ser sentido através dos cinco sentidos.

Não. O prazer não é sentido pelos cinco sentidos. Tudo é um processo mental.

Participante: como você vai separar a mente do espírito?

Você não separa a mente do espírito. Você espírito só pode dizer “não sou eu que quero, não sou eu que gosto, não sou eu que acho bonito, não sou eu que gostei disso”. Mais nada do que isso.

O trabalho de elevação espiritual não é mudar a mente, mas sim deixar de viver o que ela cria, sabendo que aquilo é apenas a mente. Ou seja, o ser humano, não seu, espírito.

Participante: nessa conversa, você está passando a ideia de que a mente é uma grande vilã.

Não. A mente não é vilã. Pelo contrário, ela é a melhor amiga que você tem. Digo isso porque se não criar a prova, ela não lhe ajuda.

A mente não é uma vilã; ela é um diabo. A ideia de que por causa disso é uma vilã surge porque diabo para vocês é coisa má. Isso não é verdade: diabo é apenas o tentador. Ela lhe gera uma tentação para que você, depois de quarenta dias e quarenta noites no deserto, dentro do processo de humanização, possa responder como Cristo: “nem só de pão vive o homem”. O problema não é da mente, mas de vocês que só querem pão.

Portanto, a mente é uma amiga, mas não no sentido de lhe dar o melhor. Ela é sua amiga no sentido de lhe dar a tentação necessária para que você tenha a oportunidade de se libertar das coisas deste mundo.

Participante: como é o processo de libertação da mente?

Libertar-se.

Que cor é essa camisa? A minha mente fala que é verde, mas eu não sei. Isso é o processo de libertação da mente. Digo isso porque se você souber que é verde e eu disser que é azul, vai querer me provar que eu estou errado. Com isso não cumpriu os mandamentos transmitidos por Cristo.

Portanto, você precisa responder “não sei” a tudo que a sua mente criar. Ela sempre lhe dirá que as coisas são dessa ou daquela cor, mas, se são realmente, você não pode saber. Isso é a libertação.

Repare que agindo desse jeito, você não mudou nada; apenas se libertou! Se libertou do que? Do certo.

Aproveitando o quer acabei de falar, pergunto: por que você encarnou? Por que qualquer espírito encarna? Porque comeu o fruto da árvore proibida.

Historinha da Bíblia. O espírito está lá no mundo espiritual e Deus diz: “não coma o fruto dessa árvore, senão vai para o mundo do nascer e morrer”. Como está nesse mundo, posso dizer que você comeu esse fruto!

Que fruto proibido é esse? O fruto da árvore do conhecimento. Qual é o fruto da árvore do conhecimento? Uma informação sobre qualquer coisa. Que fruto essa informação pode trazer para vocês?

Participante: julgamento?

Julgamento. Saber: “eu sei”.

O conhecimento é uma informação. Quando você pega uma informação e diz “eu sei que ela é verdadeira, certa, real”, acabou de comer a árvore do conhecimento.

Baseado nessa história, pergunto: qual é a sua maior imperfeição? Querer saber.

Senhor, Senhor

Prova e expiação

Participante: a minha filha fica todo tempo “sei lá, sei lá, sei lá”. No vestibular, não vai marcar nada

Ela está mais elevada que você.

Não é à toa que no Evangelho de Tomé, Cristo diz que o homem carregado nos anos vai perguntar para uma criança como é o mundo espiritual e ela vai dizer.

Apesar desse ensinamento do mestre, vocês querem ensinar a seus filhos a viver. Ou seja, sabem que são um espírito, que nasceram para fazer a sua elevação espiritual, mas não se preocupam porque estão humanizando outro ser.

Participante: como eu passo por essa prova?

Amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Amar a Deus sobre todas as coisas é viver tudo o que acontece, todas as pessoas e todos os objetos com quem se relacionada mantendo a sua felicidade, estando em paz e em harmonia com você e com o mundo.

E, como é amar o próximo como a sai mesmo? Cristo ensinou isso: dar ao outro o que quer para si mesmo. Você quer estar certo? Deixe o outro estar também.

Só que como amam a si acima de tudo, não conseguem se harmonizar com o mundo e querem sempre provar que estão certos, que são os melhores ...

Participante: me incomodei com alguma coisa. Então, não amei porque estou incomodado.

Não é você que está incomodado, mas foi a mente quem lhe deu esse incomodo. A partir daí, você pode aceitar o incômodo ou não.

Quantas vezes alguém já fez coisas para você que faria algumas pessoas sentirem-se magoadas, mas você não se sentiu? Neste momento a sua mente lhe disse que deveria se sentir mal, mas você respondeu: “ah, coitado, deixa ele”.

Participante: nesse momento eu amei?

Sim, nesse momento amou, já que não viveu o sofrimento que o tentador lhe mandou viver.

Participante: esse é o caminho?

Sim, a essência de tudo é o amor. Dar ao outro o que quer para você.

É isso que sempre falo: é preciso respeitar o direito do outro. Amar o próximo como a si mesmo é respeitar o direito do outro ser, estar e fazer o que quiser, mesmo que o que faça possa provocar sofrimento em você.

Participante: me incomodando, não houve crescimento?

Se viver o incômodo que a sua mente criar, não houve crescimento. Você se uniu ao tentador.

Participante: se trabalhar para esquecer o incômodo?

Você não consegue esquecer, sua mente lhe lembra. Pode ficar tranquilo com relação a isso. Ela existe para isso, tem que gerar a sua prova. Por isso, não queira muda-la.

Deixe-me dizer uma coisa: o resultado da reforma íntima não é uma nova vida, mas sim uma nova forma de viver a vida que você tem. Libertar-se da mente não muda nada na sua vida. Apenas modifica a forma de viver a vida que você sempre teria.

Participante: não tem meio de retirar a potência da mente?

Não. Você só pode fazer isso morrendo.

Mesmo morrendo, ainda assim só conseguirá retirar a potência da mente se houver feito isso ainda em vida. Digo isso porque a morte não tem nada mágico, ela não muda o que é acreditado.

Você não vai pensar de um jeito diferente porque morreu. Todas as suas crenças que estão na sua mente hoje irão com você para o mundo espiritual. Portanto, crendo em vida o outro está errado, vai morrer e continuará acreditando que isso é real. Portanto, é preciso libertar-se das verdades que ela cria durante a vida carnal. Aliás, nem poderia ser diferente, porque a vida de agora é o seu campo de provas, não?

Se morrer do jeito que está hoje, vai continuar achando o outro errado e por isso não alcançará a elevação e nem poderá continuar no mundo espiritual. Por isso precisará reencarnar.

Só que ninguém pode viver uma vida nova com um ego velho. Sendo assim, terá que criar um novo. Para isso, de qualquer maneira, terá que se eliminar o velho. Portanto, fará isso no mundo espiritual. Só que neste caso, essa libertação não lhe trará nenhum benefício no tocante a aproximação de Deus. Trata-se simplesmente um apagar um ego para colocar outra consciência.

Participante: pegando aqui o exemplo. Ao invés de ter sofrido a prova, causei uma para o outro.

Quando você causa uma prova para o outro, está passando por uma prova.

Participante: vamos dizer que eu tenha dito “louvado seja Deus”, sentido e seguido em frente. Mas, o outro ficou com a dor e me achando errada por ter batido e ele ter apanhado.

Problema é do outro.

Participante: ele desencarnou, mas continua com o sentimento de que eu estava errada. Há uma continuidade de carmas de ligações e de encontros em outras vidas para resolver essa questão mesmo eu não tendo sentido?

Se não gerou aquele carma para você, não tem mais nada a vivenciar. É o que já disse outras vezes: os seres não têm nada a acertar entre si. Não há ninguém ferindo ou sendo ferido. O outro não foi ferido: ele apenas viveu uma ideia de ter sido ferido que foi criada pela mente. Você bateu, mas também não se feriu, pois não se culpou.

Sendo assim, você não fez nada e por isso nada tem que pagar, mas o outro fez: acreditou que que a ideia de ter sido ferido é real. Por isso precisa novamente passar por esta provação. Só que ele ao crer no que foi criado pela mente não feriu a você especificamente, mas ao universo como um todo. É com este todo que ele precisa viver esse carma, não necessariamente com você.

Em O Livro dos Espíritos essa questão é bem claramente explicada. Quando fala em obsessão o Espírito da Verdade ensina: Deus manda o obsessor para aquele que precisa e merece da obsessão como prova.

Se é o Pai que escolhe quem vai obsedar quem, será que um espírito pode fazer isso com quem quiser? Acho que não ...

Lembre-se: nada lhe acontece se você não merece ou precisa daquilo. Se não merecer, esquece, porque nunca passará por aquela situação.

Senhor, Senhor

Amar o outro do jeito que é

Participante: tenho uma irmã que acho que é quem mais amo nesse mundo. Amo-a mais que meu pai e minha mãe

Meus pêsames.

Participante: só que ela é a pessoa mais difícil de conviver. É uma pessoa extremamente complicada. Tem um propósito dela ser minha irmã?

Tem.

Um dos propósitos da existência dela é ser complicada para você. Com certeza é desse jeito para ver se você a ama mesmo sendo complicado conviver com ela.

Agora, quando falo em amá-la, não estou me referindo ao modo como ama hoje. Aliás, foi por isso que lhe dei os pêsames. O amor que leva à elevação espiritual é diferente desse que você conhece.

Vou lhe dizer uma coisa que talvez a choque: espírito não ama ninguém. Sabe porque isso acontece? Porque quem ama alguém, desama outro.

Quando me diz que ama a sua irmã de um jeito que é superior ao que sente por outras pessoas, você me prova que o seu amar ainda tem dois polos: o amor e o desamor ou menos amor. Sendo assim, para usar de suas crenças, posso lhe dizer que ainda não chegou no caminho do meio.

Espírito não ama ninguém; ele simplesmente ama. A única forma de amar a todos é amar sem individualismo. É impossível se amar a todos enquanto se ama um ou outro especificamente.

Portanto, falando a partir da questão da elevação espiritual, o seu problema nessa vida não está na sua irmã, mas sim na sua forma de amar. Você não ama indiscriminadamente nem mesmo a sua irmã, pois ainda quer que ela seja diferente do que é para que você possa amá-la totalmente.

Participante: esse é o ponto. Acho que já entendi que ela não vai me amar como eu quero que me ame. Mas, quando ela vai mudar?

Nunca.

Ela só mudará quando você não precisar mais que ela seja de um determinado jeito. Isso pode ser daqui a uma vida, cinco vidas, sete vidas. O tempo não importa.

Deixe-me lhe falar uma coisa. Se sentar um marido e depois a esposa para conversar comigo sobre o mesmo assunto, vou dizer a cada um que ele está errado. Se o marido reclamar da mulher vou dizer que ele está errado; se ela reclamar dele, vou dizer que ela está errada.

Não existe culpado de nada. O único culpado do que vive é você mesmo. Você precisa que o outro seja da forma que é para que tenha a sua prova. É você que precisa que os outros sejam do jeito que são para que possa provar que é capaz de amar acima do que quer para si, do que acha melhor.

Participante: a minha irmã é uma pessoa extremamente individualista e egoísta. Mas, ao mesmo tempo, ela é determinada. Esse extremo dela admiro. Só que sempre que encontro alguém que é individualista e egoísta isso me irrita profundamente.

Se você se irrita ao encontrar alguém que seja egoísta e individualista deve entender que nasceu para vencer a sua irritação com as pessoas que são individualistas. É simples assim.

Sabe porque você nasceu? Para viver tudo que vive, amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Tudo que vive foi o que você pediu. Fez isso porque sabia que tinha que vencer aquela sua falha no amar. Só que quando chega na encarnação culpa o outro.

Além do mais, não percebeu que ao se irritar com individualistas e egoístas, você o fez porque também é do mesmo jeito. Se não fosse egoísta, não ia querer que os outros deixassem de ser.

Participante: nesse contexto, o que é o perdão em todo a sua fala?

Perdão é uma palavra muito difícil de ser compreendida, pois perdoar para vocês é um ato de soberba. “Você errou, mas como eu sou o gostosão não vou lhe culpar”. Só que o Cristo não ensinou o perdão dessa forma.

Cristo disse: “Pai, perdoa que eles não sabem o que fazem”. Quem não sabe o que faz, faz errado? Claro que não. Só age errado quem sabe muito bem o que está fazendo. Portanto, perdoar é mais do que não punir, é não ver erro.

Agora me diga uma coisa: se para perdoar é preciso não ver erro em nada, sem vê-lo, o que precisará ser perdoado? Nada ...

Por isso disse que o perdão é um assunto muito difícil para vocês seres humanos entenderem. Mesmo que perdoem, vocês não conseguem chegar ao ponto de não ver erro no que está acontecendo. O que fazem é: “Você é culpada, agiu errado, mas eu como uma pessoa sublime que sou vou lhe perdoar”.

Encerrando, então, essa nossa primeira parte da conversa, pergunto: ficou claro o que é amar ao próximo como a si mesmo? É dar a ele o direito de ser, estar e fazer o que quiser, mesmo que isso possa lhe ferir.

Lembro que uma vez que disse isso, uma pessoa me perguntou: “e se o outro não me respeitar”. Respondi: respeite o direito dele de lhe desrespeitar.

Amar o próximo é isso: viver feliz com ele não importando como seja, faça ou esteja.

Senhor, Senhor

A prática do amor ao próximo

Ficou claro que vocês nasceram para amar a Deus acima todas as coisas e ao próximo como a si mesmo? Conseguiram se conscientizar disso? Compreenderam que não há mais nada a ser feito nessa?

Participante: sim ...

Muito bom. Agora, o que vão fazer com essa informação?

Participante: praticar.

O que é praticar o amor a Deus e ao próximo? Como é que se pratica? Pergunto isso porque se não colocar em prática, não adianta nada.

Participante: dever de casa?

É exercício de casa sim. Vocês vão ter que fazer o dever de casa se almejarem alguma coisa, no sentido espiritual, nessa vida.

Participante: colocar em prática em todas as relações do nosso convívio, é isso?

Não. A prática desse ensinamentos não envolve a sua relação com o próximo. Ela precisa ser realizada em uma única relação: você com você. Os outros não interessam nesse exercício da prática.

A prática do amar a Deus acima todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é feita de você com você. Não interessa o que faça para os outros. O que interessa é como convive com você mesmo.

Participante: sim, mas eu quis dizer que nós nos relacionamos, que temos várias relações, e nelas tenho que ter o pensamento que o senhor falou.

Por favor, me diga duas pessoas com as quais você tem relacionamento.

Participante: minha mãe, meu namorado ...

Você tem relação com seu namorado e com sua mãe. Me diga: quem é seu namorado?

Participante: se bobear, nem ele sabe.

Se fizer essa mesma pergunta a ele, com certeza vai descobrir que não o conhece. Digo isso porque irá receber uma descrição diferente da que você fez. Mais: perguntando para uma terceira pessoa, terá outra diferente. E assim sucessivamente: a cada pessoa que você pedir uma opinião sobre quem é o seu namorado, ouvirá uma resposta diferente.

A partir dessa constatação, pergunto: quem é ele? Será que é aquilo que ele acha sobre si mesmo ou o que os outros pensam dele? Essa é uma questão interessante de se pensar, não?

A resposta à pergunta que fiz é: ele é quem você achar que é. Ele não existe como algo pronto e acabado, único. Ele é aquele que cada um diz que é. Cada ser que o conhece tem um ele diferente dentro de si mesmo.

Sendo assim, posso dizer que você tem um ele dentro de si. Mais: é com esse ele que se relacionam e não com a personalidade que imagina existir externamente. Você não convive com ninguém que esteja fora. Todos com quem se relaciona estão dentro de você mesmo.

Por isso disse que a prática dos ensinamentos precisa ser alcançada apenas no relacionamento com você mesmo. Mesmo que imagine estar convivendo com alguém interno, é preciso que se concentre com o interno, com a ideia que faz do próximo.

Você não tem uma amiga, não namora com ninguém, não tem relacionamentos familiares: tudo isso existe dentro de você mesmo. Essa é uma coisa que quando falamos em prática do amor temos que ter muita consciência.

Certamente vocês já ouviram pessoas falarem que amam muito outro ser, mas que apesar disso colocam ressalvas à forma de ser do amado. Dizem que ele deveria se portar de outro jeito, que deveria agir diferente, que não deveria falar tanto palavrão, que deveria ser mais carinhoso, arrumado, organizado, etc. Quem tem essas ideias não ama aquele por quem diz que nutre o sentimento, mas sim outra pessoa, pois aquela não é dessa forma.

Estas críticas internas é que geram a personalidade do outro com o qual você convive. O seu namorado é bagunceiro, desarrumado, fala palavrão. Você o ama? Tem que amá-lo desse jeito e não querer construir alguém que seja diferente do que ele é.

Por isso, para realmente amar, é preciso que esteja atenta a essas descrições internas e silenciá-las. Só assim estará amando realmente a ele. Essa é a prática que estamos falando.

Amar o próximo é buscar a convivência com aqueles que existem dentro de si sem cobrar deles qualquer mudança. É estar atento ao que a sua mente cria sobre os outros e apesar destas opiniões, respeitar o direito do outro ser, estar e fazer o que quiser.

Só que vocês dizem que amam, mas fazem exatamente o contrário disso. Querem que todo mundo mude para o que querem que ele seja. Como já foi dito hoje, amo minha irmã, mas ela precisa ser diferente do que é. É assim que convivem com a mãe, o namorado, o vizinho. O mundo inteiro tem que se mudar.

Sobre a questão do relacionamento com os outros, defino muito o ser humano com uma história. Uma mulher que foi com o marido assistir um desfile de tropas. Na frente do casal um monte de saldado marchando. Aí a mulher diz: “marido, olha o nosso filho lá”. O marido pergunta: “qual”? A mãe humana diz “aquele que é o único que está com o passo certo”.

Essa é a forma como vocês, humanos, convivem com os outros: todos estão errados, só vocês estão certos.

A prática do amar a Deus acima todas as coisas e ao próximo como a si mesmo se dá vivenciando o seu contato consigo mesmo, com o outro que está dentro de você e não com quem está fora. Para realizar esse trabalho é preciso ter atenção plena em você mesmo. Sem isso não se alcança a compreensão correta sobre a realidade e se vive uma ilusão.

No definição que fiz do ser humano, como seria a prática do amor? Quando a mente desse a ideia de que o filho daquela mulher era o único de passo certo, ela precisaria compreender que não existe certo e errado, mas que todos têm o direito de andar do jeito que quiserem.

A prática da prática da prática é isso. Ao invés de você viver observando, xingando, analisando os outros, o que eles fazem, você precisa estar atento ao que a sua mente está criando. Ao observar essa a criação dizer a si mesmo: “o que a minha mente está criando não é verdade, não é realidade. Trata-se apenas de uma ideia que ela gerou”.

Trata-se de apenas retirar a força de real do que ela diz e não de mudar o que é pensado. De nada adianta dizer que a mente está errada no que pensa, pois com isso não a estará amando e Cristo disse que devemos agir assim com todos, inclusive com o ego.

Não existe certo ou errado: tudo é apenas uma criação da mente. Ou seja, é apenas o texto da sua prova.

Senhor, Senhor

Relacionando-se com filhos com amor

Participante: vamos criar o seguinte exemplo: um pai que vê o filho como assaltante. Vê que ele começa a assaltar, matar as pessoas, e sabe que o que faz é errado. Ele quer amar o filho, quer respeitar o direito dele fazer aquilo que está fazendo, mas não consegue viver assim. Como o senhor interpretaria a atitude que esse pai teria de ter para continuar amando, continuar convivendo com o filho. O que é que vai acontecer a ele?

Eu não falo de ato, porque eles acontecem. Fazem parte do teatrinho da vida e da encenação da prova de cada um. Por isso não dá para se dizer o que fazer ou deixar de fazer.

Sobre o agir fisicamente não posso dizer nada porque cada acontecimento está no livro da vida de ser encarnado. Por isso, não há um padrão a se seguir.

Apesar disso, insisto: interiormente esse pai tem que amar a Deus acima todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: sim, mas tendo que amar esse filho?

Não. O amor é incondicional. Por isso, nada tem que ser.

Se você for amar porque precisa fazer isso, já colocou uma condição e por isso afirmo que não está amando. Se há um condicionamento para a existência do amor, você não está amando.

Participante: sim, eu entendo. Me expressei mal. Ele ama o filho ...

Eu amo meu filho. Ele é um assaltante, e daí? O amo do mesmo modo.

Participante: sim, mas esse pai terá que conviver com essa situação? Terá que aceitar o que o filho faz?

Volto a dizer, você está falando de atos e eu não falo deles.

Há pai que pode aceitar o que o filho faz; tem outro que pode não aceitar. Tem pai que pode se rebelar, expulsar seu filho de casa; pode haver outro que tente conversar com ele mostrando a sua opinião sobre assaltar e o mantenha em casa para poder cuidar dele. Quando ocorrerá uma ou outra coisa? Dependendo da prova de cada espírito encarnado envolvimento nesse relacionamento.

Tudo o que se vivencia vai acontecer de acordo com as provas dos seres envolvidos. Por isso não posso lhe dizer o que cada vai fazer ou o que acontecerá externamente.

Agora, de uma coisa tenho certeza: não importa o que cada um faça, estará certo. Certo não, perfeito, pois aconteceu como foi programado por Deus para acontecer.

Falo isso com relação aos atos, porque sobre o mundo interno de cada um posso falar. Internamente tanto o pai quanto o filho precisam amar a Deus acima todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Aproveitando sua pergunta, quero lhe lembrar uma passagem do Novo Testamento. Avisaram a Cristo que sua mãe e irmãos estavam lá. Ele disse: “quem é a minha mãe, quem são os meus irmãos?”. Para responder a isso, você precisa ter na mente a resposta que o mestre Deu: todos são meus irmãos ...

Sendo assim, a sua preocupação do relacionamento entre pai e filho perde um pouco o sentido, fica presa apenas à questões humanas. Sentindo-se responsável pela vida do seu filho, você é ser humano, pois espírito não se sente responsável por ninguém.

Espírito não tem filho. Você tem filho? Melhor, deixe-me fazer essa pergunta a uma mulher. Você tem filho?

Participante: sim.

Acreditando nos ensinamentos trazidos pelos mestres e dizendo ter um filho, só posso chegar a uma conclusão: você traiu o seu marido.

Sim, se você acredita em Cristo e diz que tem um filho só posso deduzir que traiu o seu marido. Para compreender isso lhe pergunto: segundo o mestre, quem é o pai de todos? Deus. Ele é o pai do seu filho e não o seu marido ...

Não, você não tem filho, nem nenhum ser humano tem. Todos são filhos de Deus. Mais: todos têm vida independente e respondem somente ao Pai por suas ações espirituais.

Portanto, antes de se preocupar com o que o pai vai fazer para conviver com o filho assaltante, você precisa se preocupar em ajuda-lo a ter a consciência de que não tem filho. Precisa orientá-lo a se desligar da paternidade.

Quando ao mundo material, as ações, posso lhe dizer que um pai tem todo o direito de orientar o filho, mas não tem o direito de cobrar que esse filho faça o que ele quer. “Eu acho melhor você não fazer isso, porque se fizer isso pode ir pra cadeia”. Se falou isso, falou; agora se não falou, não falou.

Participante: E as consequências?

Ah, e as consequências ... Vocês só se preocupam em não perder, não é mesmo?

Saiba que nunca vai acontecer nada do que não esteja programado e se não estiver, não acontecerá. Por isso, tenha a consciência de que nenhum conselho ou falta dele mudará alguma coisa do livro da vida de um ser. Lhe garanto que se conselho mudasse alguém que está na vida do crime, como vocês dizem, não existiria penitenciária, pois toda mãe aconselha seus filhos.

Deixe-me lhe dizer uma coisa: respeitar o próximo é algo que vocês não fazem a mínima ideia do que seja. Digo isso porque não sabem se relacionar com os outros.

Sabe o que é se relacionar com os outros? É conviver. Sabe o que é conviver? É viver com. Vocês não vivem com ninguém; só vivem com aquilo que querem que os outros sejam. Por isso digo que vocês só vive com vocês mesmos. Essa questão de respeitar o próximo é muito difícil porque é preciso abrir mão de muita coisa para poder dar ao outro o direito de ser, estar e fazer o que quiser.

Quero lhe ajudar a compreender bem a questão que levantou com um ensinamento. O apóstolo Paulo ensina: a lei cria o pecado. A lei só existe para dizer que algo é errado. Enquanto não há uma lei que afirme que algo é errado, aquilo não era nem certo nem errado.

Portanto, esqueça todo o certo e errado: eles só existem porque alguém criou uma lei qualificando uma ação. Compreenda que a lei só serve para dizer que o outro está errado e que você está certo.

Participante: então, esses políticos estão todos certos?

Você está falando dos corruptos? Sim, estão, porque você também é corrupto e se acha certo quando ganha algo indevidamente.

Se um guarda for lhe aplicar uma multa, você vai dar dinheiro para ele ou aceitar a multa? Quando chega na época de fazer imposto de renda, você arranja um jeito de pagar menos? Não importa qual seja o assunto, se houver um jeito de levar vantagem, você vai usá-lo.

Cada povo tem o governo que merece. Por isso, o culpado não é o governo, mas vocês. Se não fossem corruptos, poderia ser que não tivessem governos que sejam. Por que não há corrupção em todos os povos? Porque o povo de determinados países não são corruptos.

Sabe quem é o corrupto de hoje? É aquele que viu o pai corromper ontem. Apesar de isso ser de fácil compreensão, vocês continuam achando lindo levar vantagem em cima dos outros.

Participante: você está dizendo que tudo isso aqui é uma peça escrita? Então, eu tenho um filho que, independente da educação que receber? Vai acontecer com ele o que estiver escrito?

É o contrário: seu filho depende muito da sua educação. Não para o bem dele, como pensam, mas para a geração de uma personalidade que sirva perfeitamente de prova para o espírito.

O que você chama de espírito é um ser que nasce na sua família porque você é de determinado jeito. Levando conceitos que você possui, vai formando consciência dele de tal forma que no futuro posso realizar o seu trabalho da reforma íntima.

Participante: estar aqui ouvindo todos os seus ensinamentos e colocando em prática com o meu filho, já estava escrito?

Perfeito. Esse é o seu carma e o dele.

Senhor, Senhor

Comunicação

Voltando ao tema principal de nossa conversa, ainda estamos respondendo aquela questão da reforma íntima, do que vieram para fazer nessa vida. Continuemos.

Reformar-se é mudar-se. Mudar-se, como? Deixar de ser quem é hoje. Como se fala no espiritismo, é morrer o homem velho para nascer o homem novo. O problema é que vocês não querem morrer, não querem deixar de ser quem vocês são. Querem reformar-se sem deixar de ser quem são.

Participante: isso já fazia parte dos planos de Deus?

Sim. Fazia parte dos planos do mundo de prova e expiação e vai mudar no mundo de regeneração.

Participante: esse, então, é o caminho? Se auto perceber, se auto ajudar, dentro de um conceito material.

Sim você é matéria. Você é mente, é matéria.

Participante: mas os conceitos não são meus, originalmente, são da humanidade.

Não são conceitos da humanidade. Isso é outra coisa que eu discuto.

Digo que os conceitos não são da humanidade porque existem coisas que lhe ensinaram que você não aceita, que não cumpre. Por isso não aceito quando se põe a culpa na humanidade. Os conceitos são seus, porque você pegou o quis pegar da humanidade.

Participante: mas não são originais.

Alguns até são, mas em outros você faz uma adaptação que lhe seja benéfica. “Olha, eu tenho que amar a todos, mas esse aqui está me devendo dinheiro. Então, não vou amá-lo”.

Com relação aos conceitos posso dizer que a humanidade possui um grande banco de dados de conceitos e você escolhe alguns e os adapta de tal forma que possa levar vantagem sobre os outros. Você, o humano.

Regenerar-se é deixar de ser quem é, é mudar-se, é não ser mais assim. Só que no plano espiritual isso só acontece quando você deixa de seguir a mente, de viver como real o que ela classifica dessa forma. Isso sem ter a menor consciência do que seja a realidade.

Participante: então, é um paradoxo. Como vou saber quando é a mente e quando sou eu?

Grande pergunta. Eu falei que tudo que lhe é consciente é guiado pela mente. Então, como é que você vai saber quando não é guiado pela mente?

Se tudo é criado pela mente, nada não é guiado por ela. Tudo é mental. Por isso é preciso não acreditar em nada.

Se conversar com as pessoas que estão aqui sobre o que eu disse até agora, vai ouvir coisas completamente diferentes do que entendeu. Na verdade, cada um criou uma palestra do Joaquim para si. Porque isso acontece?

Para explicar vou ter que usar de informações científicas humanas. Alguém ainda lembra das aulas de Física? Nela se dizia que um diálogo é construído por um emissor que emite ondas eletromagnéticas. Essas ondas são recebidas pelo receptor que as decodificada. Como ele faz isso? Usando os conceitos que estão dentro de sua mente.

Dessa forma, posso dizer que você não ouviu o que falei: decodificou o que ouviu. Fez isso usando verdades que são diferentes da minha. Por isso, criou uma ideia para o que eu tinha falado.

Tudo está dentro de você. Eu não estou falando nada. Você está ouvindo o que quer. Agora, pode ter certeza de que tudo o que a sua mente criar é com a intenção de lhe dar uma tentação, de lhe gerar uma prisão ao mundo material.

Tudo o que a mente humana cria está ligado às três tentações do Cristo que estão na Bíblia.

Participante: vamos dizer que eu leve uma topada e aí vem aquela dor. Na mesma hora, eu falo “eu sou um espírito” e, por incrível que pareça, não sinta dor.

Isso pode acontecer, mas se acontecer, cuidado: não acredite que venceu a dor. Pode ser que em outro dia a mente crie a dor e não consiga vencê-la. Digo isso porque quem sente dor não é você, mas a mente. Se não sentiu em um momento foi porque ela não gerou e não porque você tenha conseguido vencê-la.

Deixe-me dizer uma coisa: há uma diferença entre ter uma doença e estar doente. Ter uma doença é ter um câncer, por exemplo; estar doente é sentir-se como um canceroso.

Muitos podem ter o câncer e não serem doentes. São aqueles que dizem assim: “eu tenho um câncer e daí? Vou me entregar a isso? Não, vou continuar a minha vida enquanto a tiver.” Já o canceroso é aquele que pensa assim: “eu tenho um câncer. Ai meu Deus, que pobre coitado que eu sou. Eu vou morrer ...”. Esse além de ter a doença, é um doente.

Portanto, você pode dar uma topada e sofrer com a dor ou pode dá-la e dizer para si: “tá doendo, e daí?” Saber disso é mais importante do que se preocupar em não sentir a dor, pois dessa forma ela sempre será amenizada, independente do que a mente criar.

Participante: não pode deixar que passe do nível material, é isso? Que não afete em nível emocional, psicológico, espiritual.

Isso, perfeito. E é por isso o Krishina ensina no Bhagavad Gita: a faca não corta, o fogo não queima e a água não molha. Ele está falando do espírito.

Senhor, Senhor

Amor e casamento

Participante: como amar o próximo como a si mesmo? A gente não sabe amar se o outro não é aquela imagem que fazemos.

Não aceite a imagem que é feita na mente dos outros e os ame sendo quem são. Isso é amar o próximo.

Amar o outro não é consertá-lo, torna-lo melhor, mas sim aceita-lo como é. Melhor: amá-lo como é. Não gosto do tema aceitar porque ele transmite a seguinte ideia: “ele não presta, é uma droga, mas eu tenho que amar, por isso o aceito como é”. Isso não é amar. Amar é dizer: “louvado seja Deus pelo outro ser como é, que bom que ele é assim, que bom que grita, briga com todos”.

Participante: acho que hoje amo o meu marido como nunca amei. A vida inteira ele me ignorou, me proibiu, me prendeu para não trabalhar a espiritualidade.

Seu marido nunca lhe prendeu. A vida inteira você teve a opção de trocar de marido. Se não trocou, não foi ele que lhe prendeu; foi você que se deixou ser presa.

Nunca jogue culpa nos outros, ao menos na frente de Joaquim.

Participante: antes, as pessoas falavam “ah, você ainda tá nessa?”. Eu chorava, me cobrava. Hoje, já aceitei ele assim como é. Hoje eu quero isso pra mim. Então, eu amo muito mais o meu marido.

Então, você não está amando o seu marido: está amando a si. Como disse, você se escravizava. Essa escravidão foi vivida no sofrimento e agora está sendo vivida na ideia de estar amando.

Tem uma historinha sobre casamento que quero mostrar. Perguntaram a Jesus assim: uma mulher é casada com um homem. O homem morreu. Segundo a tradição dos Judeus, o irmão mais velho daquele homem casou com ela, ou seja, ela era a mulher de um homem e passou a ser de outro. Aí, esse segundo morreu. De acordo com a tradição, ela casa com outro irmão. Isso aconteceu sete vezes. Ela se casou com sete irmãos.

Depois de narrar esta história, um professor da lei perguntou pra Jesus: no céu, ela vai ser mulher de quem? O mestre respondei: vocês estão querendo me pegar, não é? No céu não existe casamento.

Pois é, o mestre que sempre lhe mandou buscar o bem celeste afirma que no céu não há casamento, mas vocês ainda dizem que o matrimônio é divino e é sagrado. O valor de sagrado do casamento é algo humano, não tem nada a ver com o mundo espiritual.

Tem uma coisa que eu adoro ouvir: “eu amo o meu marido”. Só que a quando este marido trai, o amor por ele acaba. Se acabou, nunca existiu, pois o amor universal não acaba nunca por nenhum motivo. Esse é um amor humano, pois continha uma condição: precisava haver fidelidade para que existisse.

Se é amor condicional, é humano e por isso não deve ser procurado por vocês. Além do mais, não é amor verdadeiro, mas uma posse que vocês chamam de amor.

Participante: Joaquim, eu casei com dezoito anos. Ontem mesmo, meu marido me falou “nós vamos ficar casados para o resto da vida”. Aí, eu falei “Deus me livre. Se está bom hoje, que bom que es; se amanhã estiver, a gente vai ser feliz também”. Pensar em viver o resto da vida é muito pesado.

Seu pensamento é sua ideia. Lhe aconselho a não se apegar a ele.

A sua questão é a mesma da pergunta sobre o que fazer com o meu filho que é ladrão. Não sei, pode ser que sim pode ser que não.

Deixe-me falar uma coisa. A vivência que vocês têm com determinadas coisas são problemáticas porque possuem o hábito de santificar coisas materiais. Saiba: nesse mundo não existe nada santo, nada puro.

Esse é o mundo de provas, por isso todas as coisas que existem são instrumentos de provas. O mundo puro é outro. Aqui, não há nada santo, não há nada sagrado. Tudo que existe neste mundo é humano, por isso, tudo precisa ser abandonado. Tudo!

Senhor, Senhor

Vivendo e amando

Participante: tudo no universo é energia?

Não sei lhe responder.

Surpreso? Energia para vocês é tudo que vem pelo fio. Será que se estivermos falando de energia universal estaremos falando da mesma coisa?

Você está tentando definir o espírito, as coisas espirituais, mas em O Livro dos Espíritos se diz que o espírito e as suas coisas para o ser humano são nada.

Como é que você quer saber o que é energia?

Participante: por que o espírito resolve encarnar-se ...

Ele não resolve encarnar; ele encarna. E daí?

Participante: quando começou isso?

Depois eu lhe dou o telefone de Deus e aí você pergunta por que começou ou por que a existência do espírito tem de ser assim.

Deixe-me lhe fazer uma pergunta: o que saber a resposta a essa questão vai resolver o seu problema de agora? Nada. Foi o que já falei citando o ensinamento do Espírito da Verdade: vamos conversar sobre as suas imperfeições?

Sabe, vocês ficam como um time de futebol que fica tocando a bola de um lado para o outro e não sai do lugar. É preciso chutar em gol para fazer o tento. Fazer o gol é coisa importante de um jogo de futebol, porque se não o fizer, de nada adianta. Por mais que jogue bonito, esse time vai perder o jogo.

Sendo assim, a minha resposta é: “não sei porque estou na roda de encarnações, mas sei que enquanto estou nela tenho que resolver alguma coisa. Por isso, vou me concentrar em resolver essas coisas”.

O que precisa fazer nessa vida para resolver o que precisa ser resolvido? Reconhecer as impurezas humanas. Portanto, concentre-se nisso.

Participante: existe alguma coisa correta?

Existe: tudo aquilo que você acha que é certo.

Buda tem uma grande definição para a situação do espírito humanizado. Ele diz: o ser está de costas para Deus vendo a Sua sombra, mas acha que essa sombra é Ele.

O casamento é sagrado, a paternidade, a amizade, a maternidade também. Quem vive desse jeito está dando a algo que é mundano o título espiritual. Com isso está vivendo de frente para a sombra de Deus achando que está frente a Ele.

Ah, ia me esquecendo: a caridade ... Vocês se esquecem que Cristo disse que não devemos dar o peixe, mas a vara e que o Espírito da Verdade afirmou que dar esmola é humilhar o outro. Continuam achando que dar comida aos pobres é o ato mais sublime do mundo. “Vou dar comida para os pobres, então vou ser bonzinho”. Quanto engano ...

Participante: tudo é equânime

Tudo é equânime, mas você não vive equanimemente tudo.

Participante: mas um dia eu vou, não é?

Vou o que? Ser equânime? Você já é. Mais, nunca deixou de ser. Você é equânime, mas vive como não sendo. Porque? Porque acreditou no que a mente lhe diz.

A mente não é equânime, ela vivencia milhares de emoções. Só que ela é soberana, pois você acha que é você e com isso vive o que é proposto por ela. Não dá para discutir com ela. O que fazer, então? Reconhecer o que é criado por ela e lhe afasta de Deus, lhe tira da equanimidade.

O que é criação da mente que lhe afasta de Deus, lhe tira da equanimidade? Tudo o que você acha, sabe, conhece, tem como certo e errado, bonito e feio, limpo e sujo. Todas as suas opiniões que existem de forma dual é o que acaba com a sua equanimidade, pois o Universo é uno. É a mente humana que separa, divide as coisas.

Já conversamos muito hoje sobre Cristo. Enquanto me cobravam que respeitasse a moral de Cristo eu disse que o portador daquele olhar cândido chama os outros de vermes. Esse mesmo porta voz da candura, segundo vocês, se vira para Pedro e diz assim: “cale a boca satanás, você está parecendo um ser humano”. É esse mesmo ser que segundo vocês precisa ser amoroso dentro dos padrões humanos com os outros que diz: “ai de vocês professores da lei, fariseus hipócritas”. Isso para mim é xingamento, não tem nada a ver com amor.

É essa questão da santidade que vocês precisam mudar. Não há nada nesse mundo santo. Enquanto achar que alguma coisa é santa, vai ficar preso ao orbe terrestre encarnado e desencarnado.

Participante: podemos dizer que no momento da morte cada um vai ter pensamentos diferentes. Então, realmente, a verdade ...

Esse pensamento que terá durante a morte é o que? A sua prova.

Participante: então, você aconselharia não pensar muito sobre isso?

Aconselho a não pensar em nada. Isso é o ideal.

Só que não é você quem pensa, mas sim a mente. Todo pensamento é gerado pelo ego, pela mente e não pelo espírito, por você.

Sendo assim, você não tem como deixar de pensar. O que pode fazer é não aceitar o pensamento que ela cria como se fosse verdade, como realidade.

Participante: observar o pensamento não como uma verdade.

Observar o pensamento, porém, não aceitar o que ele diz como se fosse uma verdade. Esse é o único caminho.

Participante: tem que simplesmente viver.

Aprender a viver a vida que Deus lhe dá. “Ah, eu queria fazer uma faculdade. Eu queria, se der, eu vou fazer. Se não der, eu não fiz”.

Participante: vou me inscrever numa faculdade. Eu entrei. Só que aí você já deseja outra coisa. É sofrimento atrás de sofrimento.

Até você ficar velho e ver que não adianta lutar contra a vida. A vida acontece. Compreender isso é a única forma de se viver em paz.

Participante: então, vai ficar todo mundo fazendo nada?

O ato acontece, as pessoas agem sem comandar a ação. Por isso, não poderão ficar sem fazer nada se isso não for comandado. Se for, essa pessoa nunca iria fazer alguma coisa.

Eu não estou falando no mundo externo, mas no íntimo. Internamente você tem que dizer: “eu quero fazer uma faculdade, vou estudar. Se estudar, estudei. Agora, enquanto estou estudando para ver se passo, vou ficar feliz com o que tenho hoje”.

Participante: o espírito vem se aperfeiçoar. Mas, porque tem que vir a primeira vez?

Eu já te disse, vou dar o telefone de Deus. Ligue para ele e pergunte quando começou, para que começou.

Como foi dito em O Livro dos Espíritos, pare de fazer sistemas porque mesmo descubra alguma coisa, isso não será verdade e não o ajudará em nada; só o tornará orgulhoso.

Participante: tudo muda, não é mesmo?

A verdade é que a verdade muda. Ela sempre muda.

Existe um sábio que isolou-se na floresta para descobrir todas as respostas às perguntas do mundo. Ficou dez anos isolado pensando em todas as perguntas e buscando respostas para elas. Quando descobriu todas as verdades voltou para sua aldeia. Lá foi aclamado: “seja bem-vindo o sábio que descobriu as respostas para as perguntas do mundo”.

Aquele estado de felicidade, no entanto não durou muito. No dia seguinte o sábio foi encontrado sentado no chão chorando. Algumas pessoas que passaram por ele perguntaram porque estava chorando. Porque ele estava tão triste se agora conhecia todas as respostas. O sábio então respondeu: “enquanto estava isolado, as perguntas mudaram. Agora não tenho respostas para nada”.

 Quem acredita que possui a resposta para alguma coisa não vê que a vida muda as perguntas. Achando que já sabe, fica preso a uma verdade e com isso jamais é capaz de viver a existência em plenitude.

Senhor, Senhor

O atendimento amoroso no novo mundo

Quero aproveitar esse momento e dizer algo importante, pois pelo que sei todos que aqui participam de algum tipo de trabalho de ajuda a outros seres humanos.

Como já disse, não há nada santo nesse mundo. Nada! Apesar disso, vocês trabalham coisas humanas como santas. Com isso acabam complicando o auxílio ao próximo.

Um trabalho de auxílio ao próximo sempre tem um dono. Quem é o dono do trabalho? Deus. O Pai é o dono de qualquer trabalho espiritual e por isso tudo que se faz nesse sentido tem que ser fundamentado no relacionamento com Ele.

Para se relacionar em plenitude com Deus, segundo Cristo, é preciso seguir a forma como esse mestre se relacionou, ou seja, seguindo os ensinamentos necessários para alcançar a bem aventurança. Entre esses ensinamentos existe um muito especial: “não amealhe bens na Terra, mas no céu”.

Quando ajudam as pessoas em seus trabalhos espirituais vocês priorizam a busca dos bens no céu ou na terra? Acho que o terrestre, não é? Digo isso porque estão concentrados em fazer os seres encarnados viverem uma vida melhor, ganhar coisas neste mundo, ao invés de incitá-los a aprender a viver o que tem em paz, harmonia e felicidade.

Essa é uma coisa que quando falamos que o mundo de Regeneração chegou, precisamos pensar. Nós que trabalhamos pra Deus auxiliando o próximo temos que parar de oferecer só pão. Cristo ensinou “não dê só o peixe, dê a vara e ensine a pescar”.

Quanto do trabalho de vocês é direcionado a dar a vara e ensinam a pescar? Acho que muito pouco. A grande maioria o que faz é dar o peixe. Por isso afirmo que é preciso repensar essa questão.

Esse aspecto é uma coisa que vamos começar a trabalhar muito fortemente. Mundo de regeneração chegou e o primeiro trabalho que precisa ser realizado pelos encarnados agora libertar-se do bem material. Por isso, aqueles que trabalham para Deus precisam se conscientizar que não devem dar só o peixe. Podem até oferece-lo para matar a fome ali na hora, mas deve estar comprometido em dar a vara e ensinar a pescar.

Para fazer isso é preciso estar sempre passando a ideia da necessidade de se libertar do bem material ao invés de uma mensagem que leve o ser humanizado a esperar que essa vida lhe faça feliz. É preciso se conscientizar da necessidade de se informar aos seres humanizados que é preciso amar a Deus acima de todas as coisas e que isso é alcançado quando se vive em felicidade, não importando o que aconteça na sua vida.

Durante o mundo de prova e expiação, vocês podiam passar a ideia de que tudo daria certo, mas isso já passou. Hoje é preciso ajudar os outros a se conscientizarem de que tudo está sempre perfeito, não importa como aconteça.

Para isso o trabalhador de qualquer segmento espiritualista precisa entender que o grande auxílio que pode se dar a um ser encarnado é ajuda-lo na promoção da sua reforma íntima. Não importa se o trabalhador faz cura, traz psicografias, incorpora uma entidade ou faz palestra: em qualquer atividade a prioridade a partir de agora deve ser a ajuda na promoção da reforma íntima e não oferecer a realização de suas vontades, sonhos e desejos. Para isso, o trabalhador precisa se conscientizar que a própria espiritualidade que ajuda nos trabalhos também está mudando.

No livro Apocalipse da Bíblia há uma citação aos centro e quarenta e quatro mil espíritos que ajudam o Cordeiro. Estamos falando daquele que foram designados a auxiliar Cristo na administração do planeta durante o mundo de provas e expiação. Esses trabalhadores espirituais serão substituídos agora que chegamos ao mundo de regeneração. Só que para que esses novos trabalhadores possam assumir a sua posição e começar a trabalhar, é preciso que vocês se afinem com eles, pois tudo no Universo acontece apenas por afinidade.

O fato é que estes novos trabalhadores terão que assumir e precisarão trabalhar com seres afins. Se não houverem afins encarnados, os atuais precisarão ser trocados. Por isso digo que para aqueles que hoje executam na carne trabalhos espirituais o momento é muito delicado. Não estou falando que é delicado pela possibilidade de não cumprimento da missão, pois esta foi criada por Deus e jamais deixará de ser realizada, mas no sentido de gerar novos carmas para si. Isso é algo que vocês precisam pensar.

Não é à toa que combinamos essa conversa nesse lugar onde a maioria que participa de nossas conversas aqui realiza trabalhos mediúnicos. Fizemos toda uma introdução falando da reforma íntima, da importância de realiza-la, para poder chegar a este momento onde enfatizamos que o auxílio ao próximo deve ser concentrado na busca da felicidade incondicional e não mais na busca de satisfações materiais.

A prática da caridade, da ajuda ao próximo com orientação, energização ou qualquer outra forma de atividade mediúnica podem ser feitas. Tudo pode ser feito para ajudar a alimentar o ser encarnado; o que não pode é deixar de dar a vara.

Lembre-se: se você mata a fome hoje, ela volta amanhã; ajudando o espírito encarnado a pescar o próprio peixe, ele vai passar fome amanhã.

Está na hora de revermos a forma de trabalhar. Até agora estava muito tranquilo, bastava dar o peixe, mas, agora, é preciso ensinar a pescar e dar a vara. Esse é um recado que estou trazendo a todos. Só que podem ter certeza de uma coisa: eu não vou ser o único a fazer isso. Daqui para frente o que vão ouvir muito de diversas fontes é: abra a mão das coisas materiais. Isso irá acontecer, porque agora é hora de se regenerar.

Essa informação peso para vocês? Acho que sim. Eu sei que ela é pesada. Por isso é que durante nossa conversa eu falei muito da ideia de santificar elementos existentes na matéria. Aqui não existem coisas santas. Por isso, não pense que o seu trabalho espiritual, seja ele qual for, possui alguma coisa de santo. Ele é apenas instrumento de Deus. Coloque-se na mão do Senhor e diga: “Senhor, fazei de mim instrumento de vossa vontade” e deixa a coisa correr.

Não faça seu trabalho por ele mesmo, mas sim com entrega a Deus e ao próximo. Ajude o próximo pelo amor de Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e não pela busca de conseguir o bem estar humano.

Senhor, Senhor

O amor e o novo mundo

Participante: você falou que temos que aprender a amar ao próximo, mas como, se o nosso amor é um material?

Pois é, como fazer isso? Acho que seguindo o exemplo de Cristo, não? Só que ele amou dando chicotada, mas você não quer dar chicotada. Prefere amar de outra forma.

Cristo ensinou: ame como Deus lhe ama. Sua vida é só um mar de rosas? Acho que não. Diante dessa constatação posso dizer que Deus lhe ama também dando o que você não quer. Portanto, para amar de uma forma não material, ame o que acha que não deveria ser feito, que acha que não deveria fazer.

O segredo para se amar o próximo como Deus nos ama é entender que você é um espírito e não um humano. Se entendendo dessa forma, as coisas desta mundo não farão mais sentido.

Já me disseram que crio muitas verdades. Isso não é real. Não crio verdades, apenas mostro que a sua verdade se submetida à uma lógica espiritual não tem fundamento. Faço isso para ajuda-lo a separar o joio do trigo. Mas, para que isso acontecesse, era preciso que você crescesse espiritualmente.

Hoje, já cresceu. De tanto ouvir os ensinamentos, é uma pessoa que já sabe o que é de Deus e o que é de César. Por isso, dê a César o que é de César e a Deus o que é Dele. Só que apesar de estar mais maduro, ainda quer dar a Deus o que é de César e a César o que é de Deus. Se você não colocar em sua cabeça que está humano, que tem um humano, mas que é um ser espiritual, nada do que eu falei vai fazer sentido.

Outro grande detalhe: aceitando o que conversamos hoje, não espere ajuda dos outros. Eles não estão aqui para lhe ajudar a ser espírito, porque ninguém quer ser. Por isso vão lhe cobrar que se humanize. Só assim eles podem justificar que eles continuem sendo.

Se decidir buscar o bem celeste, não espere que o mundo vá dizer “olha que maravilha ele está fazendo”. Como disse, vão lhe criticar, dizer que tem que ter o pé na terra, que precisa reagir e defender seus interesses humanos.

Participante: o senhor falou em dar a vara, ensinar a pescar, mas como é isso?

Estou falando que de quando vai buscar ajuda numa casa espírita, espiritualista, e lá lhe dizem: “nós vamos lhe ajudar a resolver o seu problema. Faça uma oração, acenda uma vela que vai dar tudo certo”. Aí, não dá certo e você põe a culpa no diabo.

“Ai, eu preciso tanto de ajuda, pois meu filho é um assaltante”. Ame o seu filho, dê a ele o direito de ser assaltante. Isso é dar a vara e ensinar a pescar porque o peixe a ser pescado é o amor a Deus. “Ah, eu estou precisando de dinheiro porque a minha mãe vai ser operada, me dê uma força”. Neste caso dar a vara e ensinar a pescar é dizer: “você conta com o dinheiro para salvar sua mãe, mas pode ser que ele não saia. Por isso precisa aprender a viver com a ideia que ela pode morrer”. Isso é dar a var e ensinar a pescar. Isso é ajudar as pessoas a se desligarem dos anseios materiais.

Participante: e por que alguns espíritos ainda não se utilizam dessa forma de trabalhar?

Porque ainda estamos em um período de transição de prova e expiação para regeneração. Por este motivo ainda existem as duas formas de agir.

Participante: a gente pode dizer que agora entrou na regeneração?

Desde 21 de dezembro de 2012.

Participante: já estamos em 2014 ...

Então, já estamos atrasados.

Participante: quando vai acabar o período de regeneração?

Daqui há sete mil anos. Ele é o próximo mundo, o próximo sentido de encarnação. Do mesmo modo que o mundo de provas e expiações durou sete mil anos, esse também vai durar sete mil anos.

Durante esse período você vai encarnar e desencarnar. Isso quer dizer que não há como resolver tudo nessa vida. Aliás, nem imagina o quanto ainda falta para fazer.

Diante de tudo isso, você precisa apenas entender que há muita coisa a ser feita e que não adianta se desesperar nessa vida para resolver tudo.

Participante: e o que o senhor acha de datas frequentemente ditas como entrada no novo mundo, 1957 e 2057. Seria a transição?

Na verdade Cristo disse que o dia vai chegar, mas quando isso acontecerá só Deus sabe. Se nem ele se arriscou a profetizar uma data, eu não vou me meter a besta de fazer qualquer profecia.

Será que vocês já não cansaram de profecias que não acontecem?

Participante: se o mundo de regeneração já chegou, por que só agora esse ensinamento?

O mundo de regeneração começou em 21 de dezembro de 2012. A sua primeira provação se consiste em libertar-se das coisas materiais. Mas, será que você precisava dessa informação para começar a viver dessa forma? Claro que não. Isso foi ensinado por Cristo há dois mil anos.

Será que você acha que Chico Xavier já não vivia em um mundo de regeneração, ou seja, já não priorizava a busca das coisas espirituais? Claro que sim. E ele nem precisou esperar chegar a 2012.

Na verdade, sabe quando vai nascer o mundo novo para você? Quando entrar nele. Essa mudança é individual, é cada um.

Participante: o trabalho é interno e o caminho é solitário?

Uma vez uma pessoa me disse assim: “Joaquim, você só diz que eu tenho que fazer, mas não me ajuda a fazer”. Eu respondi: “ninguém pode ajudar você, ninguém pode fazer por você. Só você pode fazer por si, mais ninguém. O máximo que eu posso é mostrar o caminho. Agora que mostrei, vá lá e caminhe”.

O caminho é individual, mas tem mais um detalhe: cada um o caminha do seu jeito. Não existe uma receita com todos os ingredientes e o modo de preparo que sirva universalmente. Por isso não aceito quando me perguntam se estão fazendo certo ou errado.

Não há regra: cada um caminhará do seu jeito. O importante é saber que precisa viver tudo o que lhe é apresentado pela mente sem se apegar àquilo que ela diz que está acontecendo. Apegando-se, pouco importa ao que seja, vai viver o prazer ou a dor. Isso é inexorável, pois a mente só sabe criar prazer e dor.

Senhor, Senhor

A fome e o vício

Participante: você falou em dar a vara e ensinar a pescar. E se não der o peixe, a pessoa não vai sentir fome material?

Não é de uma fome material que estava falando quando comentei este ensinamento de Cristo. Vou lhe dar um exemplo para que possa compreender o que quero dizer.

Digamos que uma pessoa tem problema com um vizinho porque ele coloca música alta. Aí, como trabalhador espiritual, você promete uma ajuda para ele se libertar da música daquele vizinho. Ou seja, diz que vai agir para que o vizinho não ponha mais música alta. Esse agir pode ser material ou espiritual.

Vamos dizer que de alguma forma você consegue que o vizinho caia na realidade e não ouça mais música alta. Você vai se glorificar porque acha que conseguiu ajudar o próximo, mas isso é uma ilusão, pois deu apenas o pão, a satisfação material. Essa ajuda não é real, porque ela é efêmera.

Digamos que amanhã essa pessoa tenha outro problema com alguém que o incomode de algum jeito. Ele não vai conseguir sair da contrariedade, ou seja, sofrerá. Mesmo que a pessoa incomodada ou você converse com esse novo contrário, pode ser que ele não aceite seus argumentos e continue agindo de forma diferente do que a pessoa quer.

O que vai acontecer com quem lhe procurou? Ele vai passar fome. Essa fome é em sentido figurado, quer dizer que você não está se alimentando da felicidade incondicional. A fome que estou falando é o viver o sofrimento.

Tem uma coisa que ainda não entenderam: vocês não têm problema nessa vida ... Sabiam? Na verdade, criam o problema.

Quando falou em não dar o peixe se referiu a forme material. Pergunto: não ter o que comer materialmente é problema? Sim. Para quem? Para quem quer comer. Quem não quer comer, se ficar sem alimento, não tem problema.

Aliás, as mulheres passam muito tempo sem comer, ou comendo pouco, para ficarem magras. Para elas, parar de comer é solução e não problema.

Portanto, ficar sem comer não é problema. É você é quem cria a ideia de que isso é um problema. Como criou essa ideia? Cedendo ao desejo de comer. Se, como Buda ensinou, libertar-se do apego ao desejo de comer, não teria problema algum.

Os seres humanos, então, não têm problemas: os criam quando desejam o que não têm.

Participante: é o que já foi falado hoje: a dor vem do desejo de não sentir dor.

Também. Tem pessoas que sofrem por querem. Essas não sofrem por acaso; criam desejos para sofrer.

Tem outra coisa importante que quero conversar. Alguém aqui quer sofrer? Não? Acho que sim. Sofrer é tão bom ... Quando isso acontece vem alguém e passa a mão na sua cabeça, faz carinho e mostra o quanto você é vítima: “Deus do céu, coitadinha dela”.

Isso é real, está no inconsciente coletivo do planeta. É por isso que vocês criam todo o sofrimento que vivem. Prendem-se aos desejos gerados pela mente para que alguém venha lhe bajular, Neste momento se sentirão vitoriosos, imaginarão que conseguiram vencer quem lhes feriu.

Para a mente, perder pode ser motivo de vitória. Vocês já perceberam que quando não estão envolvidos numa competição torcem sempre para aquele que não tem chances de ganhar. “Coitadinho dele; é um pobre coitado”.

É, vocês não têm problemas. Vocês criam todo o sofrimento que têm. Fazem isso para serem consolados, pois isso é tratado pela mente como uma vitória. E ainda por cima dizem que não querem sofrer.

Participante: é o vício de sofrer, o vício do álcool, o vício do computador. Por que é que a mente age assim?

O que é o vício?

Participante: o vício é supostamente aquilo que dá prazer para uma pessoa.

Não. Vício não é a busca do prazer. Quem é viciado, é dependente de alguma coisa para ter o prazer. Por isso, o vício é dependência. Concorda comigo?

Sendo assim, tem uns que são viciados em fumar, mas há outros que são viciados em não fumar. Sim, quem defende que não se fume é um viciado, pois depende que o outro fume para ele defender o não fumar. Assim ele tem o prazer de falar. Mesmo que o fumante pare, isso não vai satisfazer quem é tem esse vício, pois o que ele quer é contestar. Sendo assim, quando o outro parar ele certamente achará mais alguma coisa para criticar no comportamento da pessoa.

Isso nos leva a entender que como trabalhadores do novo tempo temos que tratar o vício de uma forma geral e não só do vício do álcool, do jogo, do cigarro, do tóxico. Não podemos apenas nos prender nesses viciados porque existem aqueles que têm o vício de achar que não se deve usar tóxico. Esses são doentes e precisam de nossa ajuda, porque são dependentes de orientar os outros para serem felizes. Se depende de que o outro não fume para ser feliz, você tem um problema tão sério quanto aquele que fuma.

Uma vez um espírito que conhecíamos na carne desencarnou. Um médium viu esse espírito liberto da matéria carnal e disse que parecia que ele estava com lepra, porque viu que as partes do perispírito que o envolvia estavam caindo aos pedaços. O médium disse: “era uma velhinha tão simpática, que gostava de todo mundo, que não brigava com ninguém. Como ficou assim?”.

Sim, externamente ela parecia ser doce, mas internamente não. Enquanto encarnada convivia com as críticas às pessoas que a sua mente gerava como se fossem certas, como se fossem reais. Ela acreditou que os outros sempre estavam errados. Por isso estava passando por aquilo depois do desencarne.

Criticar os outros, achar que eles estão errados é um vício que o espírito desenvolve quando acredita na mente. Este traz como consequência uma acidez que vai corroendo o perispírito.

O vício é como um ácido, vai corroendo o perispírito. Porque isso? Porque ele cria dependência para ser feliz. A origem da felicidade de todos os espíritos deveria ser Deus. Se você é viciado em alguma coisa, isso é o seu Deus.

Quando você é viciado em não fumar, o não fumar passa a ser o seu Deus: a origem da sua felicidade. Você simplesmente largou Deus para se viciar.

Agora voltamos a uma coisa que já falamos hoje: o santificar coisas humanas. Humanamente falando o não beber é algo sagrado. Quem não bebe é santo, é bom. Só que têm muitos que não bebem e são viciados em não beber. Eles criticam, julgam, acusam, ou seja, quebram os ensinamentos trazidos por Cristo. Será que existe alguma santidade em se fazer isso?

Quantas vezes já vieram me questionar por que eu fumo, porque faço uso de cigarro durante as nossas conversas. Sim eu faço, mas me diga: vocês acreditam que se não tivesse pito aqui eu não estaria fazendo a palestra? Claro que sim.

Uma coisa é fumar, outra coisa é ser viciado em cigarro. Você pode usar qualquer coisa desse mundo sem ser dependente dela. Não estou falando apenas de uso esporádico, mas mesmo aqueles que usam alguma coisa constantemente podem fazê-lo sem ser dependente dela.

Sendo assim, o problema não é o que se usa, mas a dependência daquilo para ser feliz. Por isso digo que se você quer conseguir a elevação espiritual nessa vida, se quer que Cristo fale por você junto a Deus, é preciso estar muito consciente de tudo que depende na vida, de tudo que precisa para se sentir feliz.

Não importa o que seja: tudo que você é dependente, ou seja, precisa que aconteça, acha certo que aconteça, acha bom que aconteça, é um vício. Não importa o que seja.

Por isso digo que o vício do álcool é o mesmo que tem quem acha que não se deve beber. Não tem diferença. Tudo isso é vício vivenciado dentro de uma teatralização diferente da sua prova.

Aliás, o Espírito da Verdade fala: o pior vício é o do egoísmo O que é o vício do egoísmo? É depender que suas verdades, suas vontades sejam aceitas pelos outros para ser feliz. Isso leva ao prazer. Por isso é o pior vício.

O vício do egoísmo, o vício de julgar o mundo a partir do que você sabe imaginando-se o único certo, é o pior que existe. Devemos ter muita consciência disso, pois a mente humana só funciona, gera pensamentos, com essa característica.

A mente humana é egoísta por natureza. Ela depende de ser aceita pelos outros para ter felicidade. Isso acontece com todos, não importa se é um ladrão ou um policial.

O policial acha que todos têm de ser honestos. O ladrão acha que todos têm de ser bandidos. Todos os dois estão errados, entre aspas, porque os dois exigem que os outros sejam aquilo que ele quer que seja.

Participante: mas eu posso expressar a ideia daquilo que eu acredito.

Expressar a ideia é ato. Sendo assim, não é você que expressa. É o humano.

O que você não pode é achar que a sua ideia é a certa.

Senhor, Senhor

Ser humano e ser espiritual

Participante: mas eu vivo em um mundo humano.

Ah! Estava esperando por isso desde o início de nossa conversa. Cada vez que eu falo de realidades fundamentadas em ensinamentos espirituais alguém sempre me diz: mas, eu sou humano, vivo em um mundo humano”.

Essa é a desculpa básica da mente, mas não existe mundo humano.

Participante: tá bom, eu vivo no universo. E nesse universo chamado Terra tenho que me expressar.

Não tem. Aliás, espírito não tem boca, como pode se expressar de alguma forma?

Quem se expressa não é você.

Participante: mas, enquanto eu estou vivendo uma experiência na matéria...

Ah! Você não está vivendo uma experiência na matéria. A matéria está na sua consciência espiritual. Eu estava esperando essa posição porque como disse antes, enquanto você não se conscientizar de que é um espírito, não vai fazer nada.

Sabe qual é o primeiro passo para elevação espiritual? É ser humanamente considerado um doente mental. Que doença mental terá? A dupla personalidade: eu e eu mesmo. Você, espírito, e você o humano que acha que é. A partir do assumir a dupla personalidade, você precisa identificar o que é seu, espírito, e o que é do humano.

O que é seu, do espírito, nesse mundo? Nada! Sendo assim, o que é do ser humano? Tudo que você tiver consciência que existe pertence ao ser humano. Tudo faz parte da sua prova, não é seu.

Por isso lhe digo que não é você que precisa falar, mas sim o ser humano. Por isso, deixe-o falar o que quiser. Você, o espírito, só diga ao humano: “não sei se isso é real”. Se ele disser que “enquanto estiver nesse mundo você precisa” responda: “quem está nesse mundo é você, eu não estou, por isso não preciso disso”! É disso que estamos falando aqui.

Quem acabou de me fazer a pergunta? O ser humano. Enquanto achar que você fez a pergunta, vai aceitar a ideia que a mente criará como resposta. Ela, então, criará a ideia de que a resposta está errada ou de que o outro foi grosseiro com você. Caindo nessa, se afastará de Deus, pois viverá a contrariedade.

Há uma coisa que já falei diversas vezes que precisa ficar bem clara: o ser humano é egoísta por natureza. Isso está certo? Não, o ser humano não é egoísta. Ele propõe o egoísmo. Você aceita se quiser ou não. Aceitando, o egoísta é você e não ele.

A sua mente pode dizer que esta pessoa está malvestida. Se disser, não sei, não haverá problema algum. Agora, quando aceita o que a mente lhe diz, imaginando que foi você quem pensou, se torna crítico dele e com isso prova o seu egoísmo, pois critica para mostrar o quanto é superior.

Participante: mas eu, espírito, estou passando por minha prova aqui nessa vida, nessa encarnação. Essa vida que eu tenho e que é a minha prova, eu tenho ideias, eu tenho...

Não, você não tem ideias, tem provas. A ideia é uma prova. É uma prova para que? Para ver se vai se apegar a ele imaginando-se certo ou se você vai amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: então, não vou falar com ninguém nunca.

Se falar, não é você quem falou, mas o ser humano. Esse não fala por vontade própria, mas Deus o faz falar para que você tenha a sua prova: a ideia sobre o que está sendo falado que a mente criará.

Portanto, o ser humano falará ou não. A mente criará ideias sobre o silêncio ou o que é falado. Se você achar que tudo que ela está criando está certo, aceitou que é um humano e vai ficar por aqui mesmo depois do desencarne.

Participante: o que eu ia falar ou não está escrito.

Sim, e o falar ou não também.

Saiba que você só vai conseguir falar para quem precisar e merecer receber o que vai ser dito. Se uma pessoa não merecer ou precisar ouvir, você vai querer falar algumas coisa, mas não conseguirá.

Portanto, haverá horas que irá querer falar alguma coisa, mas por diversos motivos não conseguirá. Isso é mais uma prova que você não pose falar o que quiser. Se pudesse, falaria quando quisesse e não falaria quando não quisesse.

Senhor, Senhor

Dando a vara e ensinando a pescar

Participante: fale um pouquinho do peixe e da vara de pescar, que ainda não entendi muito bem isso aí.

Dar o peixe é propor solucionar a vida dos outros. Dar a vara e ensinar a pescar é ajudar os outros a entender o seu problema e superá-lo.

Participante: então, é dizer que o problema é ele que tá criando, que sofre porque quer.

Eu vou dar um exemplo para ficar mais claro.

Participante: mas aí são as ideias

Na cidade de São Carlos tem um trabalho de Apometria. Uma pessoa que participava dele me disse o seguinte: “Joaquim, eu ajudei um espírito. Apareceu lá no trabalho um ser desencarnado que estava sofrendo muito porque não tinha perna. Nós mentalizamos e criamos uma perna para ele. Depois disso foi embora feliz”. Isso é dar o peixe.

Eu respondi: “só tem um detalhe, quando ele saiu do seu campo de visão perdeu a perna. Isso você não viu e por isso acha que fez uma grande obra. Acho que não foi bem isso, porque não o ajudou em nada. Ele continuará sofrendo. Por isso, quando outro ser se apresentar em sofrimento, além de ajudar mentalizando uma perna, diga: “eu vou fazer isso por você, mas é melhor aprender a viver sem perna, porque senão, pode ser que não consigamos fazê-la novamente e você sofrerá de novo”.

Como se ajuda uma pessoa a viver sem uma perna? Pergunte a ele: “você tem perna? Não. Está vivo? Sim. Então é sinal de que pode viver sem ela, senão estaria morto. Ela faz falta? Acredito que sim, mas de que adianta nada ficar desejando uma se não tem? Se esforce para fazer o possível com a perna que tem ao invés de viver chorando a que não tem”.

Mesmo que uma pessoa não tenha uma perna ela pode viver feliz e realizar-se, como mostram milhares de exemplos que vocês devem conhecer. Depende apenas de mudar-se intimamente. Agora, aqueles que reclamam por ter perdido uma, com certeza jamais serão felizes. Mesmo que por milagre recebesse um novo membro encontrariam outra coisa para viver em lástima. Isso é dar a vara.

Deu para diferenciar? É a mesma coisa quando uma pessoa lhe pedir qualquer ajuda. Se você apenas sair correndo querendo resolver o problema por ela, amanhã este ser cairá em lástima novamente. Por isso, é preciso ajudar a pessoa a não cair de novo nas armações da mente.

Participante: é se harmonizar?

É se harmonizar com a vida que tem, exatamente.

Participante: dar o peixe e a vara é o que os pais devem fazer com os filhos?

Sim.

“Meu filho, olha, não vá assaltar porque se você vai para a cadeia”. Isso posso falar quando souber das atividades do meu filho. Mas, ele não ouviu e foi roubar e foi preso. E agora? “Você tá preso, não adianta se revoltar, não adianta xingar o policial. Não adianta nada. Você fez, já está feito. Agora precisa arcar com as consequências”.

Dar a vara e ensinar a pescar é o que foi falado: ajudar as pessoas a se harmonizarem com a vida que tem. “Está certo, você não queria que a sua mãe tivesse câncer, mas ela tem, e daí? O que pode fazer? Pode contratar um médico? Contrate. Pode arrumar hospital? Arrume. Agora, de nada adianta você ficar implorando a Deus para que o câncer vá embora, que aconteça um milagre e a doença suma ou ficar apenas se lastimando pelos cantos”?

Participante: se a pessoa não quiser este tipo de ajuda o problema é dela, não?

Problema é dela.

Normalmente, no caso dos trabalhadores espirituais, a pessoa vai dizer assim “eu vou embora, vou para outro lugar, porque esse pessoal aqui é muito fraquinho”. Ela vai viver sonhando que alguém possa resolver o seu problema ao invés de trabalhar pela solução sem sofrer.

Lembrem-se que Cristo avisou: vocês, judeus, exigem milagres para acreditar. Não é assim que vivem até hoje? Estão sempre exigindo dos trabalhadores um milagre para poderem acreditar neles. Se não acontece o que você queria, não acredita mais naquele trabalhador.

Participante: Cristo falou que a gente faria o que ele fez, só que ele fez mais, no sentido espiritual? Como podemos caminhar para isso?

Claro que ´pode fazer. Ele não é um ser extra, superior. Ele só tem, vamos dizer assim, mais tempo de estrada.

Como chegar lá? Vivendo como ele viveu. Agora, se você priorizar as coisas materiais jamais chegará.

Senhor, Senhor

De frente para Deus

Participante: Joaquim, esse trabalho todo de compreensão dessa mudança, o objetivo mesmo é a gente não retornar mais para cá, ir para um mundo melhor...

O objetivo mesmo é você conseguir a sua evolução espiritual. Mas, o que é evolução espiritual? O problema está na resposta a essa questão ...

Lhe digo uma coisa: se você gosta de música, não faça um trabalho de elevação espiritual, pois quando chegar lá vai lamentar ter se esforçado por ela. Sabe porquê? No céu não tem música ... Se gosta da natureza, não lute pela evolução, pois no céu não existe natureza como vocês conhecem: plantas, animais, céu puro, etc.

Elevação espiritual é nada do que vocês pensam: é simplesmente aproximar-se de Deus.

Participante: mas, me aproximar-se de Deus é ...

Afastar-se da matéria. Só isso.

Participante: então, estamos aqui para testemunhar Deus?

Não.

Você está aqui porque enquanto espírito tinha consciência de que estava afastada de Deus, reconheceu o que lhe afastava do Senhor e implorou ao Pai que viesse à carne para vencer as tentações e assim aproximar-se Dele. Aí, chega aqui, você coloca Deus lá preso na igreja e vai lá rezar para Ele quando você não consegue fazer, para ganhar coisa aqui.

Participante: existem outros espíritos que fazem a mesma prova que a gente, mas não encarnam.

Não.

A prova só acontece encarnado. Isso nesse nível de vocês. Outro nível é outra coisa.

Participante: o espírito está sempre em elevação.

O espírito está sempre elevado.

É o que eu já disse hoje: ele está perto de Deus, mas de costas para o Pai. Na verdade, o processo de se aproximar Dele é virar de frente para Ele.

Participante: quando mais mundano eu fico ...

Mais de costas está para Ele.

A dualidade é sempre essa: Deus ou a matéria. Se você não está de frente para cá, está de frente para lá.

Participante: então, eu estou num retrocesso? Ou eu fico no lugar que eu estou antes de encarnar?

Não existe retrocesso. Isso O Livro dos Espíritos deixa claro. O máximo que vai acontecer é sair de carne no mesmo nível que entrou.

Por isso, quando há o desencarne, você não se liberta na mesma hora do ego. Tem um período para ir se limpando até voltar ao que era antes de entrar. Só que neste caso, a limpeza não conta para a elevação: serve apenas para retirar os miasmas da última encarnação.

Participante: você falou que a gente está aqui para se virar para Deus, mas se tudo está escrito o que a gente vai fazer, onde entra a minha opção?

A sua opção é se vai ficar de frente para Deus ou para a matéria. Ficando de frente para a matéria, você vai achar certo e errado, bom e mau, limpo e sujo nas coisas deste mundo. Virando-se de frente para Deus, verá que tudo provêm Dele e saberá que tudo é Perfeito. Por isso, estará feliz pouco importando o que está acontecendo.

Participante: então, ficar de frente para Deus é ...

Viver equanimemente, com uma única emoção: felicidade. Porque só o que emana de Deus é amor.

Participante: se eu adoro música...

Se você adora música, está de frente para matéria.

Eu dei o exemplo da música porque esse assunto saiu hoje, mas se você gosta de uma cervejinha, aconselho a não fazer elevação espiritual. No céu não existe cervejinha.

Participante: o que é que tem aqui que tem lá, Pai Joaquim?

Nada.

Participante: só o amor?

Nada.

Participante: nada?

Porque aqui não tem amor.

Nada deste mundo existe lá. Tudo que tem aqui é só daqui. Por isso que o espírito sai daqui sem nada. Nem o corpo leva.

Participante: mas aproveitando o exemplo da cerveja, e os obsessores que precisam de energia do alcoolismo? Quando eles se aproximam de uma pessoa que bebe, essa consciência não retorna à consciência de espírito para fazê-lo beber?

Não existe obsessor malvado e ser humano coitadinho. Tudo no universo é troca: um fica sugando o outro.

Só no centro espírita é que se tira o obsessor e diz ao ser humano: “ser humano, vai embora porque você é um pobre coitado. Nós vamos afastar esse malvado de você e aí tudo vai ficar bem” ...

Pior: nem existe obsessão, ou seja, um espírito obsedando outro. O que há é auto obsessão.

Participante: o espírito que partiu do corpo físico e ainda está nesse nível intermediário, ainda depende da energia do álcool, por exemplo, pode ainda encarnar com esse desejo?

Não.

Participante: primeiro tem que se limpar plenamente?

Não. Ele tem que se limpar no mínimo daquilo que adquiriu nessa vida. Só depois como começar tudo de novo.

Mas, volto a dizer: o problema não é a bebida, mas sim a dependência. Isso vale para tudo, inclusive para a dependência não beber.

Participante: todo o gostar humano é condicional?

Você gosta do que não gosta? Claro que não ... Só gosta do que gosta.

Então, sim, você é condicional.

Participante: você fala em se afastar da matéria. A pessoa diz que gosta de carro, mas não gosta de todo tipo de carro. Ela precisa se afastar de todos os carros ou só do que ela gosta?

Não é se afastar; é não depender de realizar o sonho de ter o que gosta para ser feliz.

“Eu gosto desse carro, nas o não tenho. E daí? Sou feliz com o que tenho ou sem nenhum”. Agora: “eu preciso ter, porque não sei viver sem. Como fazer para ir ao trabalho?”. Anda com as pernas que Deus lhe deu. Elas lhe levam para o trabalho do mesmo jeito que o carro.

Participante: o senhor está falando de carro, mas pode ser o sexo também. Não posso fazer sexo?

Sexo também. Você já fez sexo?

Participante: claro!

Eu diria que não, você nunca fez sexo. Digo isso porque para saber que fez isso você precisa usar as percepções para chegar ao êxtase sexual. Sendo assim, quem chegou ao êxtase foi a mente e não você. Quem fez sexo foi o órgão que você usou para isso e não você ... Para você fazer sexo, precisaria que não houvesse contato físico.

Sabe como o espírito faz sexo? Você daí, eu daqui, e juntos emanamos energia um para o outro. Com isso, chegamos ao mesmo êxtase, mas sem o contato físico. Esse êxtase é meu e seu e não das mentes envolvidas.

Agora, como acha que é um humano, acha que precisa do contato, acha que precisa de determinados atos para acontecer o êxtase.

Só que esse não é vivido por você, mas pela sua mente. Você só viveu a ilusão de ter alcançado o êxtase. Nesse caso está de costas para Deus, porque viveu o que a mente criou como algo real.

Participante: eu posso tomar cerveja, posso fumar cigarro, posso fazer sexo, mas não posso depender dessas coisas para ser feliz. É isso?

Exatamente.

Quantos querem e não conseguem fazer o que você falou? Se estiverem dependentes vão viver contrariedades e aí provam que estão de costas para Deus.

Participante: querer parar de fumar e não conseguir é vício?

Querer parar de fumar e não conseguir é prova. Depender de parar para ser feliz é vício.

Mas, me diga, por que quer parar de fumar?

Participante: porque faz mal.

Quem disse que faz mal?

Participante: a ciência da humanidade diz que faz mal.

Faz mal? Tem gente que fuma a não sei quantos anos e não morreu. Tem atletas que nunca fumaram e morrem jovem.

Fumar não faz mal. O que vai fazer muito mais mal à sua eternidade é o seu apego a querer deixar de fumar para não morrer.

Participante: aí a pessoa tenta, não consegue, tem o remorso. O que é o remorso?

O remorso é mais uma prova. “Você é uma besta, todo mundo para por que só você não parou?”. É a cobrança, o apego material, a doutrinação às leis materiais.

Se você for se basear na ciência humana, tudo o que acredita sobre o mundo dos espíritos não existe. Por exemplo. Em O Livro dos Espíritos se diz que todos os planetas são habitados, mas a ciência diz que não. Ela afirma que não pode existir vida em determinados planetas porque não há oxigênio. Como a ciência só conhece vida dependente de oxigênio, diz que em alguns não há. Mas, O Livro dos Espíritos diz que tem. E aí, você vai ficar com a ciência ou com as informações dos espíritos?

O conhecimento científico é o ser humano querendo ser Deus, pois quer saber tudo quando diariamente esse conhecimento é atacado por novas descobertas científicas. Para aquele que sabe as coisas, o Espírito da Verdade alerta: “pobre ser humano que um simples sopro de Deus acaba com ele”.

Já contei pra você a história da clonagem? Não. Vou contar ...

Os médicos conseguiram formar um ser humano. Felizes da vida se reuniram e chegaram a uma conclusão: “nós não vamos mais precisar de Deus, pois já conseguimos clonar um ser humano. Agora, alguém precisa ir lá e dizer a Ele que não precisamos Dele”. Um dos presentes assumiu para si essa responsabilidade.

Aí ele chegou perto de Deus e disse assim: “olha, nós no conselho de medicina, descobrimos como é que se clona um ser humano. Por isso resolvemos que não precisamos mais de Você. Está dispensado do seu trabalho”. Deus respondeu: “se não precisam mais, tudo bem. Agora, em nome do que já vivemos juntos, você faria uma coisa por mim? Vamos fazer uma disputa. Você faz pelos seus métodos um humano e eu faço outro pelos meus. Se você conseguir fazer um humano como eu faço, você vence. Eu, então, vou embora”.

O médico ficou todo feliz da vida porque a vitória era certa, já que eles haviam aprendido a clonar o ser humano. Foi até o seu laboratório, pegou uma célula embrionária e disse a Deus que estava pronto para a prova. Só que aí o Senhor respondeu: “não, com a minha célula não. Faça com a sua”.

Esse é o problema. A ciência pensa que já sabe tudo, mas o que ela não entende é que não cria nada: só usa o que Deus fez. Mais: ela acha que se manipular o que Deus fez sempre vai encontrar o mesmo resultado. Só que na maioria das vezes ela faz tudo igualzinho e não consegue o mesmo resultado. Quando isso acontece, diz que a falha não foi do conhecimento científico, mas sim de quem manipulou ou do fornecedor da matéria prima.

Deus? Para os cientistas o Pai está lá no céu preso e só aparecerá por aqui quando eles precisarem de algo que não conseguem ter o controle.

Participante: esse é o contexto da reprodução humana, in vitro. O médico faz direitinho, faz o embrião, implanta, só que não dá certo? Por que?

Na verdade, um experimento dá certo e outro não. O que aconteceu? Deus fez dar certo de uma vez e noutra não.

Saiba de uma coisa: uma verdade para ser absoluta tem que ser sempre verdadeira. Ela não pode falhar. Se falhar uma vez, não é mais verdade absoluta. É relativa. Pode ser, pode não ser. Como os experimentos científicos não acontecem cento por cento das vezes da forma que o humano quer, isso quer dizer que são verdades relativas.

Participante: a única verdade absoluta é Deus, todo o resto é relativa.

Isso é verdade absoluta para vocês, mas cada um tem uma ideia do que é Deus. Sendo assim, até isso é relativo ...

Senhor, Senhor

Conselhos para os que estão buscando

Entenderam a mensagem de hoje? A maioria do que aqui estão já tinham me ouvido falar da reforma íntima, pois venho falando disso há quinze anos, mas o que queria que levassem como mensagem hoje é o seguinte: comecem a ajudar os outros a pescar. Deem a vara e ensinem a pescar.

Não estou dizendo que não se pode dar o peixe. Para alimentar na hora da necessidade, pode. Mas, não se preocupem só em dar o que comer. Comecem a ajudar os outros a se libertarem da humanidade, porque se não, eles continuarão presos a ela.

Olhe, eu sei que aqui ninguém quer morrer, mas todos vocês vão. Todos um dia terão que retorna ao mundo espiritual e por isso precisam se preparar para este retorno. Isso se faz se libertando da dependência das coisas materiais.

Tem outra coisa que vocês nunca se tocaram, apesar da literatura espírita falar disso muito: nenhum espírito quer viver a vida humana, só aqueles que estão apegados às coisas desse mundo. O espírito quer encarnar para poder evoluir, não vir para cá. Veem porque precisam estar aqui para poder realizar suas provas e não porque gostam daqui.

Isso é uma coisa que vocês precisam se conscientizar: nenhum espírito torce para vir a esse mundo. Ele sabe que precisa, por isso vem por necessidade, não por prazer.

Tem uma coisa que eu não gosto de falar, mas está escrito aqui que deve ser dito agora, e por isso vou ter que falar. Há uma coisa que vai pesar muito na consciência de vocês quando saírem da carne: o que eu fiz da minha oportunidade? Troquei a chance de me aproximar de Deus para ser uma mãe exemplar, para ser um ser humano exemplar, pela minha honra, pela minha masculinidade, para dar força às minhas verdades, para defender a minha religião? Se constatar que perdeu uma oportunidade de virar-se de frente para Deus por causa dessas coisas é algo que pesa muito na consciência de um espírito depois de sair da carne.

Um último detalhe que quero deixar hoje. Não sei se vocês repararam, mas praticamente em todas as respostas que dei, fiz uma citação. Citei uma parte da Bíblia, dos sutras de Buda, dos ensinamentos de Krishna, ensinamentos do Espírito da Verdade. Fiz as citações para mostrar que as ideias que possuem não estão em acordo com os ensinamentos dos mestres. Mas, de onde surgiram essas ideias em vocês? De ensinamentos transmitidos por outros humanos.

Por isso neste final de conversa aproveito para lhes dar um conselho: parem de ouvir outro ser humano falando o que Cristo (Buda, Krishna, Espírito da Verdade) escreveu, o que falou. Ao invés de ficarem lendo livros escritos por seres humanos, vão ler a Bíblia. Parem de ouvir apenas palestrantes espíritas; vão ler O Livro dos Espíritos.

O que disser um ser humano falando algo a respeito do ensinamento de um mestre vai estar sempre impregnado com a busca material. Isso porque, como conversamos, quando alguém lê alguma coisa está fazendo uma interpretação do texto a partir de suas verdades. Como todo humano está preso às coisas materiais, a que ele fizer estará impregnada com essa intencionalidade.

Uma vez perguntei a um grupo de pessoas se já tinham lido a Bíblia. Eles me disseram que não porque ela é muito grande e não tinham tempo para isso. Antes que vocês me digam a mesma coisa, eu aviso: é bom arrumar. Se não arrumarem agora terão que voltar para encontrar tempo de reformar-se.

O que é preciso quando se fala de mundo espiritual é dedicação. Tempo não é quantidade, é qualidade. Uma mãe que não tem tempo para o filho, não é porque ela tem um trabalho fora, mas sim porque quando está em casa fica pensando no trabalho. Se a ela estivesse em casa apenas dez minutos por dia e naqueles minutos fosse completamente dedicada ao filho, esse tempo valeria como se fosse o dia inteiro.

Quando falo em ler a Bíblia, o Livro dos Espíritos, os sutras, não falo em decorar, em ler de cabo a rabo. Abra qualquer um ao caso. Leia um ensinamento, tente compreendê-lo tomando por base a necessidade de abandonar a materialidade e buscar a espiritualidade nessa vida. Depois, feche o livro e vá viver aquilo que leu.

Só a prática resolve. O apego à letra fria, saber, conhecer, não resolve nada. Não adianta me recitar a Bíblia do início ao fim, se você não ama o próximo como a si mesmo e a Deus acima de tudo esse seu conhecimento não tem valor algum.

Tirem um tempo para vocês praticarem. Parem de se empenhar em ler, em buscar ensinamento, inclusive ouvindo Joaquim. Eu já cansei de dizer que não quero gente me seguindo. Se você leu que o mestre falou que viver de tal forma é buscar a espiritualidade, vá e coloque na prática. Só depois volte para ler outra coisa. Isso é se dedicar a sua vida à elevação espiritual, é buscar a sua espiritualidade. Esse é o primeiro detalhe que queria falar nessa despedida.

Segundo: nós já estamos em um mundo de regeneração. Na Bíblia esse novo tempo é relatado no Apocalipse como a nova Jerusalém que desce do céu. Nesse capítulo se diz que nessa Nova Jerusalém não há mais religião, pois o trono de Deus está na Terra.

A partir disso, lhes dou outro conselho: comecem a não se preocupar com a sua religiosidade e sim com a sua espiritualidade. São coisas completamente diferentes.

Seguir uma religião é seguir uma verdade que alguém criou. Não foi o mestre que criou, mas sim um ser humano. Se olhar bem, qualquer religião defende o bem terrestre. Ela defende o ser feliz agora; promete o reino do céu na Terra. Isso nenhum mestre prometeu.

Participante: a religião é uma prova?

Sim, ser religioso é uma prova. Ela foi um instrumento necessário para o mundo de provas e expiações, mas agora é hora de regenerar. Por isso, devemos ir além da religião.

Comecem a se ocupar com a sua espiritualidade. Não estou dizendo para abandonar os cultos que frequentam, mas reveja dentro de si mesmo a quem é a sua fidelidade: a religião ou a Deus? Isso é algo importante de ser feito, pois como vimos hoje, há muitos que dizem “senhor, senhor” pelos quais Cristo não vai falar. Tem muito cristão que vai todo dia lá na reunião, na missa, no trabalho espiritual, ou seja, clama por Cristo, que o mestre não vai falar com ele.

Participante: o que é essa fidelidade que o senhor falou?

Ser fiel ao amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo ao invés de ser fiel aos preceitos e dogmas da sua religião. É isso o que você precisa fazer nessa vida, que você nasceu para fazer. Por isso, quando faz, mostra a sua fidelidade a Deus.

Só que eu diria mais: seja fiel a você mesmo. Falo isso porque encarnou sabia que essa realização era importante. Por isso, pela fidelidade a si mesmo, priorize essa prática.

Esses são os conselhos que eu diria úteis para aqueles que querem aproveitar a época que estamos vivendo.

Senhor, Senhor

A dor do espírito na morte

Participante: a cremação do corpo tem alguma influência?

Tem. Tem muitos ali que estão sentindo a dor da queimação.

O que é morte? É um momento da vida. Morte é somente um momento da vida. Assim como nesse momento você está me fazendo uma pergunta, morrer é viver um momento de vida. E todo momento de vida é criado pela mente e serve de provação ao espírito.

Por isso, digo que o momento de vida morte é algo completamente individual. Cada um morre de um jeito. E esse jeito que morre – estou falando mentalmente e não fisicamente – faz parte das provas do espírito.

Participante: o sofrimento do espírito também faz parte da prova?

O sofrimento do espírito não faz parte da prova. O sofrimento do espírito é a resposta da prova. A prova é ser queimado. Havendo um sofrimento por esse motivo, esse já é a resposta à prova.

Só quem passa pelo sofrimento nesse momento é aqueles que estão apegados à matéria.

Participante: mas, você pode estar queimado e nem estar perto.

Sim. Esses estão desapegado da matéria.

Há um ponto nesse assunto que não tocamos. Enquanto ser humano, quem é você. Você acha que você é o corpo: meu dedo, meu cabelo, a minha ... Você é o corpo.

Isso é um apego material. Apegar-se ao corpo.

“Ah, Joaquim, os espíritos falam que a gente tem que preservar o corpo”, me diriam. Está certo, alguns falam, mas eu pergunto: para que? Para ele acabar na hora da morte? Se ele vai acabar, para que preservá-lo?

Não estou dizendo que vocês não podem praticar ações que preservem o corpo. Só que se preservar, essa foi dada por Deus. Por isso, preserve sem se vangloriar de estar fazendo isso. Agora, se não preservar, essa foi a forma como Deus realizou a sua vida. Não sofra por isso. Portanto, basta apenas não estar apegado a ter que preservá-lo.

Então, essa questão do enterro ou cremação, a questão da dor que o espírito sofre e do que acontecerá com o corpo depois do desencarne é muito vivida por aqueles que estão apegados ao próprio corpo, porque aqueles que acham que ele é o corpo. Estou falando da mulher que acha imprescindível cuidar da mão, passar esmalte, creme para a pele ficar menos áspera. Coitadinha, dela, pois Deus não está se preocupando com a sua pele.

Portanto, o sofrer no momento do desencarne com o que acontece com o corpo é uma questão que envolve muito quem está apegado ao corpo físico, achando que ele é o corpo físico.

Participante: na verdade, alguns espiritualistas vivem o seu corpo como o templo do espírito?

Não, o Cristo disse. Cristo disse que o templo de Deus está em cada um. Aí, pela ideia de que eu sou o corpo, está dentro do corpo. Templo de Deus está dentro do espírito e não no corpo humano. O moço ali disse que o espírito está dentro do corpo. Não, ele não está dentro do corpo. O corpo está dentro dele porque o corpo não existe como matéria só. O que existe é a ideia de que existe um corpo. E essa ideia está na mente. É para vocês se desapegarem de tudo. Esse desapegar não é não ter. é não depender dele, é não se apegar a ele. Não precisar daquilo. Seja do corpo, seja do que for.

Senhor, Senhor

Despedida

Em resumo, elevação espiritual é só isso: aprender que você é algo a mais que esse ser humano e que esse algo a mais vive completamente diferente do que vive hoje. Frente a isso, você escolhe se vivo preso ás coisas de hoje ou não. Pelo menos foi isso o que cada um dos mestres ensinou. Cada um em sua língua, cada um no seu tempo, ensinou isso.

Participante: é sentir-se amado por Deus?

Isso é difícil, pois vocês estão viciados a só se sentirem amados por Deus quando o Pai faz o que vocês querem. Neste momento vão agradecer, mas em outros não se sentem gratos.

Um último detalhe. Vocês já viram palestrante de centro espírita quando acaba? Ele diz: “Senhor, visitai os asilos e ajudai os velhinhos. Senhor, visitai os orfanatos e ajudai as crianças. Senhor, visitai os hospitais e ajudai quem está com doença”. Quer dizer que quem tem saúde, quem está novo e que está em casa não precisa de Deus? Eles só clamam a Deus por alguém quando está acontecendo o que humanamente é classificado como ruim ...

Esses são aqueles que estão comprando o terreninho no céu. Eles dizem que querem ajudar os outros, se mostram muito pios, mas estão completamente contra os ensinamentos dos mestres, pois ainda estão apegados ao bem estar humano.

Eles acham que merecem que Cristo fale por eles a Deus, pois afinal de contas ajudaram os velhos, os doentes e as crianças abandonadas. Mas, como o mestre ensinou: nem todos que clamarem senhor, senhor, eu falarei por eles.

Sim, sentir-se amado por Deus é difícil, principalmente quando a vida não está de acordo com o que você queria. Aí, é quase impossível.