7ª Conversa - Diversos temas
PDF

7ª Conversa - Diversos temas

Reproduzir todos os áudiosDownload
7ª Conversa - Diversos temas

Como manter a paz e a tranquilidade frente aos acontecimentos da vida? Esse é o mote desse estudo de Joaquim de Aruanda.

Áudio e texto. 

7ª Conversa - Diversos temas

Loucura - O doente mental

Participante: sou casada com um bipolar e isso está destruindo a nossa família

Que grande tema. Já falamos sobre deficiência mental; agora vamos falar sobre convivência com a deficiência e a ideia de que o fato do outro ter essa situação pode destruir a vida.

Como já falamos quando abordamos a respeito da doença mental, essas ‘doenças’ nada mais são do que formas de viver a realidade. Cada deficiência mental é uma forma diferente de ver o mundo. No exemplo que é dado, o bipolar, é uma mente humana que nos faz viver realidades na euforia e em seguida na depressão.

O que é o esquizofrênico? Alguém que vive em outra realidade. As deficiências ou os problemas mentais nada mais são do que formas diferentes de ver uma realidade, de viver uma realidade.

Mas, se pararmos para pensar, não existem duas pessoas que vivam as realidades da mesma forma. Se dez pessoas verem uma cena, teremos a narrativa de dez realidades diferentes. Então, se compreendemos que o doente é quem vive numa realidade diferente, todos são, porque todos possuem uma forma de ver diferente as realidades.

Isto é importante para se lidar com aqueles aos quais são atribuídas deficiências ou doenças mentais. Aqueles que são classificados como doentes mentais. Saber que eles não são doentes, mas apenas consciências que possuem uma visão diferente das coisas.

Este é o caminho que o guerreiro da paz precisa trilhar. Porque quando o trilha, não há choque entre as realidades criadas pelas razões.

7ª Conversa - Diversos temas

Loucura - O certo das coisas

Hoje, uma pessoa nos diz que convive com o marido e que por causa da doença dele, está tendo problemas no casamento. Será?

Será que é a doença do marido que está trazendo problemas? Será que é a visão da realidade dele que gera problemas? Ou será que o fato dela não aceitar a visão dele? Será que não é o fato dela se achar sã e por isso imaginar-se certa na interpretação das coisas?

Repare na diferença das coisas. O ser humano gosta de jogar a culpa em todos. Gosta muito de dizer que todos estão errados e só ele está com o passo certo. Por causa disso acha que todos os problemas da sua vida surgem porque o outro agiu, viveu, pensou, de forma diferente.

É aí que surge o problema. Ele não está na forma que o outro faz ou age. O problema surge em você quando chama de errado o jeito do outro ser.

É isso que o guerreiro da paz compreende. Como já falamos no início, ninguém pode lhe roubar a paz: você só pode perdê-la para seus inimigos internos.

Você só perde sua paz para o seu saber qual é o certo e o que deve ser feito. Você não perde a paz porque o outro vive de outro jeito, mas sim porque sabe que o jeito do outro viver é errado.

Isso não é novidade nessas nossas conversa. Estou falando em relacionamentos entre pessoas que não são classificadas como doentes e que imagina que devam se mudar, que a perda da paz só acontece porque você quer saber o certo. Porque quer que elas se mudem. Imagine, então, no relacionamento com aqueles que são declaradamente doentes? Com aqueles que imagina que não podem se muda, porque são doentes.

O desapego ao seu ‘certo’, ao seu ‘saber’, pelo amor que tem a uma pessoa que sabe que não pode ser diferente, deveria ser maior ainda, não? O amor, atenção, cuidado, respeito por quem classifica como doente deveria ser o suficiente para acabar com os problemas que aparentemente surjam por causa desta relação.

7ª Conversa - Diversos temas

Loucura - Relacionando-se em paz

É isso que o guerreiro da paz compreende. Ele entende que não há ninguém doente, mas que cada um pensa diferente. Compreende que precisa, se quer ter a paz, vencer seus inimigos internos. Compreende que para essa vitória tem que abrir mão dos valores que a mente cria para a ação do outro. Esse é o trabalho para se ter paz

Trabalhar pela paz não é algo que deva ser realizado meditando. É um trabalho que você precisa fazer em si mesmo para se libertar dos valores que a mente aplica ao que os outros fazem ou são.

Lembrando do início de nossa conversa, é um trabalho de libertação do general, dos oficiais e dos soldados que insistem em lhe tirar a paz. É um trabalho que precisa se fazer sobre essas coisas para eliminar a raiz do sofrimento que está dentro de si e não no outro.

É este o reconhecimento primário que você precisa ter para esta ou qualquer outra convivência. Para qualquer outro momento onde haja um atrito entre você outra pessoa.

Aquele que quer paz acaba, em si, com aquilo que o leva a entrar em atrito com o outro. Não importa se ele é doente ou saudável. O guerreiro da paz deve estar sempre trabalhando em si.

Com relação àqueles que são classificados como doentes é que eu coloco este adendo. Se há um amor envolvido no relacionamento, se há uma amizade ou uma camaradagem ou qualquer coisa nesse sentido, a doação da razão, a luta contra o seu inimigo interno deveria ser mais acirrada para que o amor continue existindo.

Quem não luta para estar em paz com aquele que pensa diferente vai viver eternamente em guerra. Vai ser flechado por mágoas constantemente e jamais terá paz.

7ª Conversa - Diversos temas

Loucura - O amor supera tudo

Participante: percebi que essa intenção de consertar o mundo é egoísmo. É querer impor o seu certo, é hipocrisia. A única coisa que tenho feito é reparar nessas proposições da mente e tentar não me enredar nas historinhas e sonhos que ela apresenta. Às vezes é difícil apenas observar isso sem se envolver, causa uma certa aflição ...

Qual seria o sofrimento de quem convive com uma pessoa que possui uma doença dita mental? Por exemplo o caso do bipolar? Querer sair e não poder, poder conviver mais com as pessoas. Quem tem alguém com essa doença fica com medo do outro agir de uma forma estranha e as pessoas repararem. Por isso evita o contato com outras pessoas.

Pode ser ainda que por causa da doença o outro vira a cara para você em determinados momentos. Pode haver outros em que responde com mais aspereza, que não trata com carinho. Mas, querer que aconteça o que você quer não é egoísmo?

Ou seja, todos os contratempos que podem ser causados por uma pessoa com doença bipolar estão fundamentados no egoísmo. Em um querer individual, em uma busca de satisfação individual.

Agora, se está nessa relação se imagina que haja amor, não? Será que o seu amor por ele não suplanta essas decepções? Será que seu amor não é suficiente para entender que ele possui uma forma de ver diferente?

É isto que estou querendo levar a vocês. Quando nos relacionamos com alguém que pensa diferente, por motivo de doença ou não, precisamos ter muito cuidado em usar armas para vencer a condição de atrito.

Se você gosta de uma pessoa, para que vai discutir com ela para provar que alguma coisa está certa? Se convive com uma pessoa numa relação amorosa, para vai insistir que ela mude? É isso que estou querendo que vocês pensem.

Vocês falam e enchem a boca a respeito de amar: ‘eu amo tal pessoa’ ... Mas, que amor é esse que precisa que o seu individualismo seja satisfeito para que exista? Saiba que quando critica e diz que tem problemas por causa do que o outro faz, não está amando.

Esse é um ponto que precisam parar para pensar. É muito fácil dizer: ‘eu amo meu filho, eu amo meu marido, eu gosto de tal pessoa’. É muito simples dizer isso. Quero ver é se esse amor continua presente na hora que a pessoa, por qualquer motivo, lhe contraria.

Saiba que se houver contrariedade, não há amor. Se houver chateação, não há amor. O amor não aceita essas coisas. O amor é calmo, tem paciência.

É isto que precisam para parar de se iludir e dizer que amam alguém. Para existir amor tem que haver doação. Principalmente no que diferencia você do outro. A doação dessa diferença é que vai lhe dizer se você está amando ou não.

Quando ela aparecer, se conseguir suplantar, há amor. Se não consegue suplantar, não há amor algum.

Participante: minha intencionalidade é que não tenha mais nada de ruim nesta vida, ou seja, que no futuro não tenha mais do que reclamar. Como fica isso?

Você sempre vai ter do que reclamar. Se não quer reclamar de nada, vai reclamar de tudo.

Não tenha intencionalidade. Viva tudo o que vier sem julgar se é bom ou mal. Quando chegar cada momento, liberte-se de qualquer intencionalidade. Não tenha intencionalidade prévia, senão ela vai agir no momento e você sofrerá.

7ª Conversa - Diversos temas

Maledicências

Participante: como não perder a paz quando alguém fala mal de você?

A resposta é muito simples: não querendo que alguém fale bem. Não esperando que alguém fale bem de você.

Você não sofre pelo que o outro fala; sofre porque não queria que o outro falasse aquilo, porque queria que ele falasse coisa diferente. Porque acha que aquilo que o outro falou está errado ou é mentira. É isso que acaba com a sua paz, aquilo que é fruto dos seus inimigos internos, não o que o outro faz.

Por isso, é preciso superar o seu desejo de que o outro fale bem de você ou que pelo menos cale a boca. Só que se ele calar, você ainda vai reclamar, porque no fundo, no fundo, todo ser humano quer um elogio, quer o reconhecimento.

O guerreiro da paz, quando alguém fala mal dele, cria uma fofoca ou emite uma opinião que aparentemente não é verdadeira, não se preocupa em consertar ou desmentir o que o outro falou. Isso é algo que ele não se preocupa, pois sabe que tais atitudes são de guerra. Não uma guerra pela paz, mas para vencer, ganhar, para derrotar o outro.

Portanto, é muito simples lidar quando alguém fala mal de você: não queira que ele fale bem, aceite o que fala. Aceitando não como verdade, mas por saber que o outro tem o direito de falar ...

O outro tem o direito de pensar o que quiser. Tem até o direito de inventar coisas que você não fez. Sabe por quê? Porque ele é livre, tem o direito de ser, estar e fazer o que quiser.

É assim que trabalha o guerreiro da paz quando alguém fala mal dele.

7ª Conversa - Diversos temas

Acesso de raiva - A raiva e emoções menores

Participante: como não perder a paz até chegar ao ponto de ter acessos de raiva.

O que é acesso de raiva, o que é ter raiva?

A raiva é um estado de espírito que é alcançada por uma contrariedade muito grande. Quando alguém fala alguma coisa que lhe contraria, não de forma profunda, causa mágoa, frustração, incômodo. Já o acesso de raiva só vem quando a contrariedade é muito grande.

Participante: há alguma diferença entre a contrariedade pequena e a contrariedade grande? Se o trabalho para combater as contrariedades pequenas é lutar contra os seus inimigos internos, será que é esse mesmo trabalho para combater as contrariedades mais fortes?

 Sim, é, mas com um detalhe. Onde está o forte da contrariedade? Onde está o que transformou em acesso de raiva o que poderia ser apenas uma mágoa? O seu apego à raiz do sofrimento. No seu apego a determinados assuntos, determinadas verdades, determinadas questões.

Vou dar um exemplo. Se você é machista fortemente e alguém lhe chamar de ‘bicha’, terá raiva. Sendo masculino, mas não machista, pode sentir-se ofendido, magoado ou pode até brincar com aquela afirmação.

É essa a diferença. O apego que tem a alguma coisa é que faz que determinadas maledicências sejam respondidos com raiva e outros respondidas apenas com mágoa, frustração ...

O guerreiro da paz reconhece a diferença entre uma mágoa, uma frustração e uma raiva. Entende que a diferença está não só no combater o inimigo que serve como raiz da contrariedade, mas que também precisa ser feito um trabalho maior, que é o desapego daquilo que levou ao acesso de raiva. A libertação da importância que aquilo tem para ele. Falo assim porque o apego a uma coisa é dar importância muito grande a essa coisa.

7ª Conversa - Diversos temas

Acessos de raiva - Trancado a sete chaves

Já falamos sobre isso. Falamos sobre apegos a pessoas queridas. O apego existe quando se tem uma importância muito grande para alguma coisa. É essa importância que acaba lhe levando a ter um desgosto maior em alguns assuntos do que em outros.

Ter essa consciência faz o guerreiro da paz também compreender outra coisa: a busca da libertação daquele elemento é muito mais importante e primordial do que do outro. Quando se fala em desapego, vocês aceitam se desapegar de determinadas coisas. Trabalham para a realização desse desapego. Só que há outras que você tranca a sete chaves para que ninguém ponha a mão.

Esse é um ponto que o guerreiro da paz tem muito claro: por mais que lute para se desapegar de algumas coisas, ele sempre tem dentro de si coisas trancadas, guardadas a sete chaves e que protege muito. Este reconhecimento é muito importante para o trabalho da paz, pois as coisas protegidas são inimigos muito fortes. Por isso precisarão de um trabalho muito grande de libertação. São coisas, que, diferente do que imaginam, têm que ser tratadas prioritariamente e não deixadas para depois.

Como vocês, seres humanos, querem sempre vencer e de preferência sem muita batalha, fazem o trabalho de busca de libertação das coisas que dão menos importância. Agindo assim acham que estão ganhando. Só não veem que com isso estão empurrando a sujeira principal para debaixo do tapete. Estão nutrindo inimigos que vão agir e contra os quais não terão armas para lutar.

O guerreiro da paz sabe disso. Por isso, por mais que doa perder coisas, esses apegos são os primeiros inimigos que ele ataca.

São aquelas convicções profundas. Estou falando do que aprendeu na escola, com sua mãe, do que a sociedade diz que é sagrado e religioso. Da sua curiosidade.

‘Eu sou um ser humano, sou curioso por natureza’. Este é o grande inimigo que vai lhe fazer contrariar fortemente. Precisa ser atacado de início. Se esse inimigo for contrariado, muito mais do que perder a paz, vão ter acesso de raiva. Podem, até, entrar em depressão.

Portanto, diferente do que fazem na limpeza dos seus armários – só pegam aquilo que não querem mais para jogarem fora – o trabalho da libertação para viver em paz começa se jogando fora aquilo que você acha extremamente importante. Aquilo que acha que não pode viver sem, que é imprescindível. Aquilo que acha que possui bases sólidas, que tem argumentos profundos.

É por aí que o guerreiro da paz começa o seu trabalho para viver em paz.

7ª Conversa - Diversos temas

Impor limites a criança - Limitar, sem gerar conceitos

Vamos começar esse tema por um ponto: é preciso impor limites às crianças? Eu responderia que sim.

‘Ah, Joaquim você não fala em liberdade? Você não fala que é preciso dar liberdade ao outro de ser, estar e fazer o que quiser?’ Sim, eu digo isso, mas ao mesmo tempo digo que é necessário impor limites às crianças, porque essa é a função do pai e da mãe.

Um pai e uma mãe existem para que trabalhando junto à criança ou ao espírito encarnado enquanto criança, construir um mundo mental que mais tarde vai servir de provação, de libertação àquele. Sendo assim, a função do pai e da mãe é exatamente a de impor limites. É dizer: ‘olha, não vai por ali, porque aquele caminho é perigoso’, ‘não faça isso, porque se fizer terá aquele destino’, ‘não toque aqui, porque se tocar vai queimar a mão’.

Essa é a função do pai e da mãe. Ao agir assim, eles vão construindo um mundo mental no filho. Essas informações vão sendo absorvidas pela mente estabelecendo verdades que mais tarde vão servir de provas.

Então, sim, é preciso que pai e mãe imponham limites. Mas, a questão não para só em impor ou não limites. Há a questão da geração do certo e errado. Eu afirmo que os pais devem impor limites aos filhos, mas sem levar a criança à formação de conceitos certo ou errado sobre as coisas. Vamos entender isso ...

Quando é que você transmite ao seu filho o conceito de certo ou errado? Quando diz: ‘fazer isto é errado’, fazer assim é certo’. Isso não deve ser feito, pois gera um código que servirá futuramente para julgamento dos outros.

Portanto, se você não classificar o limite que está impondo como o certo ou o errado, estará impondo limites sem formar nos seus filhos os conceitos que mais tarde o fará quebrar os ensinamentos dos mestres.

Reparem nos exemplos que usei antes. Impus um limite (não vá por aí) e mostrei um novo caminho, tudo sem dizer que um caminho era o certo e o outro o errado. Criei limites para um filho sem classificar nada como certo ou errado, nem o próprio caminho. Quando disse que o caminho era perigoso, não disse que era errado: apenas mostrei uma probabilidade do final daquele caminho.

Se uma pessoa no mundo de hoje anda de madrugada na rua, está sujeita a acontecer determinadas coisas. Isso é uma probabilidade que pode ser abordada na limitação que os pais impõem. Não é ensinar ao filho que é errado ficar na rua à noite, mas que fazer isso pode leva-lo a determinadas consequências.

7ª Conversa - Diversos temas

Impor limites a criança - Orientar filhos

Isso é a orientação. Isto se chama orientar com liberdade.

Vocês confundem orientar com mandar. O pai e a mãe devem orientar os filhos, não mandar neles. Não serem os donos mas apenas orientadores. Esse é o primeiro detalhe nesse tema.

Segundo: devem evitar querer minimizar o estrago que pode acontecer ao longo da vida, querer facilitar as coisas para os filhos. Dourar a pílula ...

O filho precisa compreender que se puxar briga com alguém mais forte, vai apanhar. Se isso acontecer, ao invés de você sair correndo para defende-lo, deve orientá-lo: ‘viu, eu lhe disse, se puxar briga com um grandão, vai apanhar. Pois é, apanhou’.

O que os pais devem fazer com os filhos é a orientação mostrando o que pode acontecer e deixar a criança viver o resultado daquilo que faz ao invés de você sair correndo para defendê-la. Se fizer isso ela nunca vai aprender. E no futuro, quando você não estiver mais aqui para defende-la?

Você aprendeu caindo nos seus erros, mas não quer deixar os filhos errarem para aprenderem. Isso não os prepara para o futuro.

Portanto, orientar uma criança, impor limites, passa por orientar sem gerar conceitos de certo ou errado, sem exigir o cumprimento do que foi orientado e por deixar ela quebrar a cara, sem buscar defende-la das reações às suas ações.

Bem, falei muito, mas não falei do trabalho da paz. Como viver em paz com a função de orientador de filhos? Vamos ver.