Reforma íntima - Textos - volume 04

Reforma íntima - Textos - volume 04

Coletânea de textos referentes à reforma íntima

Reforma íntima - Textos - volume 04

Morte e vida

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

O que é uma vida? Vida é uma sucessão de acontecimentos. Pelo menos é assim que a mente encara a vida, o estar vivo. Ela acha que apenas por estar participando do mundo físico está vivo. Grande engano...

Tem muita gente que participa dos acontecimentos e está morto. Aliás, vocês mesmos dizem isso. No dia que estão cansados, nervosos, preocupados ou sofreram, muito dizem que estão mortos...

Estar vivo não é uma conseqüência de estar participando de acontecimentos. Exatamente por acreditar nisso é surge para o ser humanizado o medo da morte. Por acreditar que estar vivo é participar dos acontecimentos e saber que a morte é deixar de participar deles, vocês têm medo de morrer.

Isso não é real. Estar vivo é muito mais do que simplesmente respirar, participar de ações de acontecimentos. Estar vivo é ser feliz... É viver o estado de felicidade, não o prazer. Sempre que você está feliz de verdade, está vivo.

Então, vida não tem nada a ver com respiração. Vida é estar em paz consigo e com o mundo; é estar harmonizado consigo e com o mundo; é viver a verdadeira felicidade. Sempre que isso acontece você está vivo.

Sendo isso é verdade, pergunto: o que é morte? É não estar feliz, não estar em paz e harmonizado com o mundo que vive. O mundo que você vive é a vida e se não está harmonizado com ele, não vive. Então, só pode estar morto...

Hoje a luta de vocês é para continuar respirando, como se isso fosse sinal de alguma coisa muito boa. Desculpa, mas tem gente doida para morrer porque não agüenta mais estar vivo. Pessoas que chegaram aos setenta, oitenta, noventa anos deveriam fazer festa porque alcançaram uma grande idade, mas pelo contrário, não agüentam mais estar vivo.

Por que querem morrer? Porque nunca viveram de verdade... Respiraram durante algum tempo: só isso. Praticaram atos materiais, mas isso não quer dizer nada, porque qualquer bicho também faz isso. Qualquer bicho vive atos materiais. Se você se acha diferente do bicho tem que ter em mente mais do que simplesmente respirar ou comer…

Mas, a mente continua lhe dizendo que quem não respira mais está morto e quem continua respirando está vivo e você acha que isso é verdade. Por isso entrega-se à luta para apenas respirar e esquece-se de viver...

O medo da morte é exatamente esse: o medo de não estar presente nos acontecimento. É só por isso que vocês têm medo da morte. Aliás, foi exatamente por isso que o mundo dos devas foi criado: para vocês imaginarem que continuarão presentes nos acontecimentos... Quando se entra em contato com a existência do mundo dos devas, a mente fica quietinha, calminha...

Reparem: toda religião lhes promete uma vida melhor depois da vida. Para que? Para acalmar a mente. Para acalmar o medo, não do desconhecido, mas de estar ausente do mundo, dos acontecimentos. Querem acabar com a morte, mas de que adianta se você continua vivendo uma morte em vida?

Falar de morte é uma coisa interessante. O que é morte? Um acontecimento da vida. Quem morre precisa estar vivo. Se estiver morto, já tinha morrido antes... Portanto, para morrer é preciso estar vivo...

Mas, este não morreu quando parou de respirar: morreu muito tempo atrás. Morreu enquanto estava vivo. Morreu porque se desarmonizou com a vida. Como disse, quem se desarmoniza com a vida vai viver o que?

Falar de vida e morte é fácil e rápido. É preciso estar bem atento quando a mente lhe diz que vida é o simples ato de respirar, de participar de acontecimentos. Vida é algo muito maior que isso.

Quando um ser humano fala em Deus dar o dom da vida, fico calado. Isso porque se vocês não sabem nem o que é vida como querem discutir quem a deu?

Vocês discutem a geração de uma forma (o nascer humano) como se fosse este o ato inicial da vida. Nascer não é começar a viver, é apenas nascer. Não é esse o início da vida que Deus dá. A vida que Ele dá é outra e começa em um momento diferente do parto.

O dom da vida não é o simples ato de pensar, andar ou qualquer outra ação, mas algo que vocês não fazem nem idéia do que é porque estão sempre mortos, sempre em desarmonia com a vida.

Participante: então, na realidade, temos medo da vida e não da morte. É isso?

A mente tem medo da vida, não você... Quando identifica a mente como sendo você, passa a ter medo da vida...

Mas, porque o você-mente tem medo da vida? Porque quer sempre ganhar, ter o prazer... Você-mente tem medo da vida porque sabe que ela não vai lhe satisfazer, não vai puxar o seu saco, fazer só o que você quer.

Aliás, é por isso que você-mente se refugia na idéia da morte que as religiões lhe vende tendo o que o ser humano chama de fé. O você-mente diz que tem fé para que você-observador não precise mais lutar contra a vida-mente.

Participante: que mente safada essa, não?

O pior não é a mente ser assim: o pior é você, que diz que está buscando a verdadeira felicidade e sabe que para alcançá-la precisa libertar-se da mente, continuar aceitando o que ela fala...

Você é mais safado que ela...

Participante: onde entra a reforma íntima nesta relação morte e vida?

Na vida... Se você hoje vive a morte, reforme-se: viva a vida.

Ao viver a vida estará vivendo Deus, pois Ele é a Vida. É por isso que como já vimos, o Espírito da Verdade diz que ao atingir a perfeição, o ser espiritual vivencia a felicidade que Deus tem prometido aos seus filhos.

Deus lhe dá a vida para você viver feliz, em paz. Mas, querendo só ganhar, você-mente se refugia na morte para ver se assim consegue alguma coisa.

Reforma íntima - Textos - volume 04

Consciência

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

Anteriormente tinha dito: existe um observador, um observado e uma observação. Só isso existe no Universo de cada um. Disse ainda: o observador é você...

Quando disse isso, não estava mentindo, mas não estava dando a explicação completa. Isso porque a sua identidade, o você que imagina ser, é falso. Tanto que disse depois: o eu que você diz ser é a mente. Ela é o eu: o eu que ri, chora, namora, que come e dorme...

Portanto, quando disse que o observador é você, não estava mentindo. Mas, você não é aquele que imagina ser.

Isso é importante de se salientar porque vocês estão querendo ser vocês mesmos, o observador, mas não conseguem. Não conseguem ser o observador porque ainda acham que a identidade gerada pela mente é vocês.

Na verdade, para a execução do trabalho, é preciso entender que o observador não é você. Não é que você não seja o observador, mas ele não é o você que acredita ser. Aquilo que vocês estão chamando de observador ainda é apenas a identidade gerada pela mente...

Este é o primeiro ponto que gostaria de deixar bem claro para poder introduzir um novo elemento em nossas conversas. O você que imagina ser é o você-mente, pois o você-observador não é conhecido por você mesmo. Na continuação desta conversa será entendido porque foi importante esse preâmbulo...

Além do observador, como disse, existe um observado... Quando dei a definição sobre estes elementos disse que o observado é a mente. No entanto, lembre-se de outra coisa que falei: não existe uma mente como elemento, mas apenas pensamentos. Os pensamentos são a mente; não existe um elemento chamado mente que pensa...

A partir disso, pergunto: porque chamo de observado o pensamento? Porque é isto que o observador deve observar. O pensamento é aquilo que é observado pelo observador...

Agora, se vocês repararem nas suas perguntas, nas suas dúvidas, nas suas preocupações, verão que não estão observando o pensamento, mas a observação, ou seja, a criação do pensamento. Vocês estão observando os fatos externos, os posicionamentos externos. Não estão observando estes elementos como criações da mente, como frutos do pensamento, mas sim como realidades...

O observador não observa o mundo externo. Ele observa a mente, o pensamento e não a ação, o outro, o carro, a casa, a falta de emprego... A diferença entre uma coisa e outra é muito grande...

Quem observa a falta de emprego, observa a falta de emprego. Quem observa o pensamento criando a idéia da falta de emprego, observa o pensamento. Quem observa a falta de emprego, vai observar o porquê não tem emprego, onde está errando e por isso não o tem o que precisa melhorar para poder tê-lo. Quem observa a mente criando a idéia de não ter emprego vai analisar o pensamento e não a falta de emprego.

Quem entende que o observado pelo observador é o pensamento e não o que vocês chamam de vida, está sempre buscando ver o pensamento que cria a idéia e não a vida, os acontecimentos ou o reflexo deles... Há uma diferença muito grande entre observar um pensamento que cria a idéia de não ter emprego e observar a falta de emprego...

Isso porque quando se observa o pensamento, observa-se uma história sendo narrada. Quando se observa a vida, a falta de emprego neste caso, se observa a ação da história. Quem observa a ação da história a vivencia...

É difícil deixar de sentir a falta de um emprego enquanto se viver a vida. Enquanto o observador for o eu da história, a falta de emprego será algo tangível, assim como o ter emprego, estar empregado, também... Neste caso é inexorável que se vivencie as emoções que a mente cria junto com estas situações...

É porque vocês não estão observando o pensamento, mas sim o mundo que aceitam como real um elemento que o pensamento cria: a vida... Ou seja, o conjunto de ações, percepções, sensações e emoções...

Já me perguntaram muito sobre emoções, mas quem se emociona? A mente? Não... O observador? Não... Na verdade não existe uma emoção. Toda emoção que a mente cria é uma observação que o observado cria...

A mente não sente uma emoção: ela cria a idéia de haver uma... Se você está analisando a vida, está analisando uma emoção, ou seja, observando uma emoção. Quando o observador observa o observado, ele observa o pensamento que constrói a emoção e não ela própria... A emoção não existe, pois ela é uma criação do observado, uma observação...

Falei tudo isso para poder introduzir um elemento novo na nossa conversa. Ele é conhecido do mundo humano. Chama-se: consciência... Ter a consciência de alguma coisa...

O que é ter consciência de algo? É ter um pensamento que crie a existência daquilo... Tudo que você-observador tem consciência de existir é um pensamento que cria a idéia daquilo existir. Na verdade aquilo não existe... Vamos ver um exemplo para entender melhor...

Neste momento o você-mente está agora sentado ou deitado dentro de um cômodo na frente do computador me ouvindo falar. Isso para vocês é uma realidade e é isso que observam. Mas, nada disso é real: nem você, nem a sua posição, nem o cômodo, nem o computador e nem o que está ouvindo. Cada um destes elementos é um pensamento gerando uma consciência, ou seja, criando uma realidade...

O você é uma consciência da mente, um pensamento. Você só se reconhece como você porque há um pensamento que diz: 'Isso é você'... Se não houvesse, o observador nunca saberia nada sobre aquela imagem...

O corpo não existe. Na verdade o que existe é uma consciência criada pela mente, ou seja, a idéia de existir um corpo. O cômodo que você está não existe: o que existe é a idéia dele existir. Mas, como isso lhe chega como uma consciência e como você-observador não está atento ao pensamento que o cria, mas sim à própria consciência, ou seja, o que vocês chamam de vida, vivem o cômodo como algo real. Por isso passam a observar o cômodo e com isso não conseguem observar o pensamento. Neste momento, embarcam no fluxo das idéias e são levados a vivenciar tudo o que a mente continua criando...

Vocês já repararam na representação gráfica de uma gravação de som? O que ela contém? Linhas que sobem e descem... O que representa cada linha desta? Uma onda eletromagnética. Na verdade, a gravação de um som não é a gravação de uma palavra, mas sim de uma onda eletromagnética...

A partir disso pergunto: o que é voz? Uma onda eletromagnética... Então, você não ouve palavras, mas ondas eletromagnéticas... Pergunto, então: como cada onda eletromagnética se transforma em palavras, em coisas inteligíveis? Onde a onda se transforma em palavras? No pensamento...

Um pensamento capta uma onda que ele mesmo criou e a transforma em uma palavra. Depois vem outro pensamento que cria uma compreensão, diz o que representa aquela palavra. Ou seja, não há palavras: tudo é processo mental, é geração mental...

Sendo assim, você não está me ouvindo, mas tendo a consciência de ouvir algo. Você não está ouvindo, mas recebendo uma idéia de ouvir. Além disso, está recebendo da própria mente a idéia de ter determinada compreensão a partir daquela idéia...

Compreenderam? Não há mundo, não há vida para ser observada... O que existe é uma sucessão de consciências que a mente cria... Por isso anteriormente já tinha dito: quem vive a vida é a mente e não o observador...

O observador não vive vida porque não há vida para ele viver... Isso porque aquilo que vocês chamam de vida são consciências geradas pelo pensamento, ou seja, idéia de existir.

Isso é muito importante de se compreender. Como disse, esse trabalho é longo. Até aqui deixei vocês perguntarem do mundo à vontade, mas não vou mais fazer isso, pois não há mundo para se agir. Não se consegue ser feliz de verdade agindo no mundo, mas sim observando a mente.

Quando passo a observar a mente, o que é compreendido? Quando se observa o pensamento, o que é descoberto? Que nada está acontecendo... A única coisa que está acontecendo é um pensamento criando a idéia de estar acontecendo alguma coisa...

Será neste aspecto que iremos fala muito daqui para frente: não há nada acontecendo... Portanto, não adianta o observador querer observar acontecimentos. É preciso compreender que o que você chama de acontecimento é apenas uma consciência que a mente está gerando e o observador precisa observar o pensamento, ou seja, saber que aquilo é apenas uma consciência e não uma realidade...

Não sei se vocês se lembram, mas em Krishna estudamos o seguinte ensinamento: a faca não o fere, o fogo não o queima e a chuva não o molha. Porque isso acontece ao homem sábio? Porque ele sabe que não existe se molhar...

A água bate no corpo, ou seja, no observado e não no observador. Como o homem sábio sabe que o encontro da água com o corpo é apenas uma consciência gerada pela mente, ele não vive a próxima idéia, ou seja, o sentir-se molhado. Ele não se molha porque, além de saber que sentir-se molhado é uma consciência criada pela mente, sabe que ela é decorrência da consciência de haver um corpo, a água e do encontro das duas coisas...

Por isso, ao invés de viver o estar molhado, o homem sábio diz: a mente está molhada e não eu... Mas, isso só é possível porque a ação de molhar também foi interpretada como uma consciência e não como uma realidade, como acontecimento da vida. Se vivesse isso como real, fatalmente este homem se sentiria molhado...

Estar molhado é uma consciência gerada pela mente. Ela é vivida obrigatoriamente como real pelo observador quando ele acredita que existe um corpo, uma água e o contato entre eles...

Por isso o homem sábio não se preocupa em secar-se, em não sentir a água e nem em procurar um guarda-chuva. Ele preocupa-se sim em entender que tudo isso é apenas uma consciência gerada pela mente...

O homem sábio não se preocupa em observar o mundo externo porque ele sabe que este é apenas uma consciência gerada pela mente: a idéia de estar acontecendo aquilo. Quando tem essa compreensão, o homem sábio não se preocupa com o conteúdo do pensamento, mas em libertar-se da consciência gerada por ele...

Esta é a melhor forma de se libertar do prazer e da dor gerado pela mente e alcançar a verdadeira felicidade: saber que tudo o que é chamado de vida é apenas uma consciência gerada pela mente e não uma realidade... Enquanto não se entender que a vida é apenas um processo mental e não físico, estará se compactuando com a mente neste aspecto e libertar-se dos demais é quase impossível... Para estes o sofrimento e o prazer são inexoráveis.

Portanto, daqui para frente vamos bater muito neste aspecto: existe um observador, que não é você; este observador vive apenas pensamentos ou consciências que o pensamento cria; e é preciso entender que tudo é apenas consciência gerada pelo pensamento.

O observador, portanto, precisa compreender que tudo que existe são apenas consciências geradas pela mente e não coisas reais. A partir disso deve deixar de querer agir na consciência ou naquilo que vocês chamam de realidade...

Participante: seria deixar de ser um agente da vida e passar a ser um mediador dos conflitos gerados pela mente em forma de pensamento?

Deixar de ser o agente dos fatos da vida... Que vida, pergunto eu... Não, não é isso...

É deixar de achar que existe uma vida e um agente. Entender que a idéia de existir uma vida ou uma gente é apenas uma consciência...

Ser um mediador dos conflitos gerados pela mente...

Como você pode mediar alguma coisa, se para isso seria preciso que houvesse dois elementos em conflito? Não existem dois elementos: existe só o observador...

Na verdade, é só entender que tudo isso que você disse não é verdade, mas uma consciência...

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Que raiva

Toda vez que alguém pratica um ato que não gostamos, imaginamos que esta pessoa fez nascer em nós o sentimento da mágoa, do ferimento ou da raiva. Muitas vezes dizemos que estávamos com um bom astral e que determinada pessoa, ao praticar um ato, nos colocou para baixo. Entretanto, esta forma de ver o mundo é destruída pela própria observação dos acontecimentos diários.

Se o tal ato for praticado na frente de duas pessoas, uma pode começar a nutrir este sentimento, enquanto outra poderá encarar a situação numa boa. Caso a origem do sentimento estivesse em quem praticou o ato, todas as pessoas que tivessem contato com ele deveriam reagir com o mesmo sentimento. Como isto não ocorre, temos, então, que procurar a origem do sentimento em outro lugar.

O Buda Gautama nos ensinou que todos os sentimentos existem dentro de nós mesmos como sementes: possuímos o amor, mas também temos mágoa, raiva, inveja, ódio etc. Todos eles estão dentro de nós como sementes adormecidas no solo e quando algum acontecimento se sucede, nós regamos determinada semente, fazendo-a germinar. Nesta metáfora, o ensinamento fica claro: somos nós que escolhemos o sentimento que queremos para reagir aos acontecimentos da vida.

Por este motivo uma pessoa reage com raiva a um determinado acontecimento, enquanto outra escolhe outros sentimentos para reagir ao mesmo fato. São as diferentes formas de ver os acontecimentos, ou seja, a personalização do acontecido.

Este ensinamento já nos mostra que a reforma dos nossos sentimentos não depende da mudança dos hábitos e atitudes no planeta, mas tem que nascer de dentro para fora. É preciso que alteremos nossa forma de ver as coisas para que possamos alterar o mundo. Porém, ainda continuamos com inimigos, ou seja, aqueles que fazem as coisas erradas.

O Espiritualismo Ecumênico Universal vem trazer outra verdade para se juntar a esta: Deus é a Causa Primária de todas as coisas, agindo sempre com a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

Escolhemos determinado sentimento negativo porque aquilo ofende o nosso certo e errado, ou seja, nossos conceitos, nossas leis ou verdades individuais. O sentimento de raiva surge quando alguém pratica um ato que contraria esta nossa verdade estabelecida. Porém, aquela pessoa praticou determinado ato a mando de Deus e, portanto, este tem de ser perfeito. É a nossa visão que acusa de errado, injusto ou mal.

Vendo acima da materialidade (ato) e buscando a essência espiritual do acontecimento (ação de Deus) podemos, pela fé no Pai, renovar os sentimentos que utilizamos para encarar tal ato. Até que isto aconteça, no entanto, iremos reagir a ele com negatividade.

Esta negatividade fere aquele que pratica o ato. Por este motivo, Deus envia como seu emissário para praticar este ato aquele que mereça ou precise também desta negatividade como ensinamento, pois Ele já sabe, por conhecer nossas tendências, que temos grandes chances de reagir desta maneira.

Assim, a pessoa que praticou o ato também receberá o que precisa ou merece. Cumpre-se, portanto, o afirmado por Jesus: vocês são o sal para a humanidade. É através dos relacionamentos que praticaremos os atos dirigidos por Deus para que coloquemos o tempero (ensinamento) um na vida do outro.

A pessoa que pratica o ato é comandada por Deus para fazê-lo frente a quem tem verdades que serão feridas, mas esta pessoa necessita ser escolhida entre aquelas que precisam e merecem receber o sentimento negativo, se ele vier. Portanto, ninguém pratica por vontade própria nada que possa ferir outros: é Deus quem comanda os seus atos.

Com base nestes ensinamentos podemos, então, entender que nossa raiva é dirigida por Deus para quem precisa dela como ensinamento. Portanto, não sentimos raiva de uma pessoa, mas Deus sabe que temos a tendência de utilizar raiva e coloca a pessoa que merece recebê-la como alvo desta emissão de sentimentos.

Quando afirmamos que temos raiva de uma determinada pessoa, estamos faltando com a verdade. Na realidade estamos escolhendo raiva e Deus, que já sabe disso, canaliza, através do pensamento material, este sentimento contra quem precisa ou merece recebê-la. O objeto dos nossos sentimentos seja ele positivo ou negativo, sempre será escolhido por Deus de acordo com o merecimento de quem vai receber.

Agora podemos promover nossa reforma, pois não há inimigo para ser atacado ou acusado. A pessoa que nos causa ferimentos, na verdade não o está fazendo, mas foi escolhida por Deus para agir daquela forma dentro do merecimento de cada um. Se não precisamos mudar ninguém para aplacar a nossa raiva, basta mudarmos a nós mesmos, ou seja, escolhermos outro sentimento para reagir ao acontecimento.

A tarefa agora fica muito mais fácil. Antes tínhamos que mudar o procedimento de todos os habitantes do planeta para que não reagíssemos com determinado sentimento. Agora é necessário mudar apenas uma pessoa: nós mesmos.

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Interligação universal

(Ou “De como comprar um pão pode afetar a Plutão”)

Para demonstramos a interligação de todo Universo e poder deixar bem clara a necessidade de Deus interferir em todos os atos dos espíritos na carne, dando a decisão final de cada um deles por menor que seja, vamos contar a história de como o ato de comprar um pão em uma padaria pode ter reflexos em Plutão, planeta do sistema solar que chamamos Terra.

Quando um espírito na carne vai comprar pão, está entregando ao dono da padaria o dinheiro para o pagamento. Este dinheiro interferirá na vida do dono da padaria e de todos os seus dependentes, pois poderá servir para auxiliar ou atrasar as provas que estes espíritos tenham que fazer, bem como a de cada empregado e sua família...

Além de influenciar nas provas individuais destes seres, se pudessem comprar o pão onde quisessem, os seres humanizados poderiam afetar o equilíbrio da cidade onde moram. Se todos resolvessem comprar o pão em uma única padaria, outros seres na carne enfrentariam a falência, seus empregados, o desemprego, e seus fornecedores problemas monetários. Além disso, todos os outros comércios da cidade ficariam afetados com a concentração da riqueza de uma cidade apenas nas mãos de um só ser humano.

Por isto Deus precisa determinar quem vai comprar o pão e em qual padaria, quem poderá ser admitido ou demitido do seu emprego, quem precisa ganhar dinheiro ou não. Todo o equilíbrio da cidade depende do pão e onde ele será comprado...

Do dinheiro utilizado para comprar o pão, parte será destinada ao governo do país. Será distribuído entre o município, o estado e a federação. Se todos comprassem mais pão e menos feijão, a diferença do valor do imposto afetaria não só o município, mas todo o estado e até a nação.

Todos receberão parte do dinheiro que aquele espírito na carne gastou na padaria para comprar um pãozinho. Assim, todo o funcionamento da máquina estatal de um país depende também do número de pães que será consumido.

Além de tudo, Deus precisa determinar o que cada um deve comer para que os governos possam praticar a caridade pública. Contudo, se todos resolvessem comer mais pães que o normal, o consumo de trigo aumentaria e teria que haver mais plantio deste grão. Para se aumentar essa produção, mais matas teriam que ser devastadas.

O equilíbrio ecológico do planeta Terra também depende da quantidade do pão consumido por cada um e é por isso que Deus precisa dizer a cada um quantos pães deve comer por dia e quando comer...

Com o dinheiro arrecadado por impostos o governo faz o comércio externo. Desta forma, o dinheiro do pãozinho serve para que o país se relacione com os irmãos mais longínquos que dividem o planeta com ele.

O dinheiro do pão comprado aqui no Brasil pode ajudar a manter o emprego de alguém nascido no Japão e, conseqüentemente, estará influenciando também a família deste. Assim, até um desemprego mundial pode nascer pelo fato de muitas pessoas decidirem não comprar mais pão.

Para que todo o planeta tenha condições de vida dentro do previsto pelo Pai é que Ele precisa determinar onde e quantos pães cada um deve comprar.

O dinheiro recebido pelo pão comprado no Brasil poderá servir também para colaborar para que outro país desenvolva tecnologias que permitam a construção de naves espaciais capazes de chegar até Plutão!

Chegamos ao destino de nossa viagem: saímos da padaria do bairro de qualquer cidade do Brasil e chegamos ao planeta Plutão, com o dinheiro do pão.

Esta é a interação de todo o planeta: de um pão chegamos a Plutão. Se isso pode acontecer, se o equilíbrio de todo o Universo depende da compra de um pão, como entregar o comando deste ato a um espírito que se encontra insensível a todas estas repercussões universais pela sua visão estritamente material? Como deixar a decisão que afeta a todo Universo a um ser que está apenas preocupado em matar a sua própria fome?

Tudo o que se executa no Universo repercute como as ondas formadas na água quando uma pedra é jogada nela. Mesmo aqueles espíritos que se encontram fora da carne, em qualquer grau de evolução, não conseguem ainda ver até onde e como essas ondas afetarão o equilíbrio universal. Apenas Deus, Todo Poderoso, Onisciente e Onipresente tem a visão para comandar os “reflexos da onda”.

Este é o poder de Deus, esta é a responsabilidade do Pai.

Pense nisso!

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Inteligência emocional

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

No início deste ano, fizemos uma opção. Na mensagem do final do ano passado deixei bem claro seguinte: a partir de agora, não falamos mais de Deus, espírito e matéria. Isso porque estes são elementos que não pertencem ao dia a dia, a vida de vocês.

Não pertencem porque tudo que você sabe sobre eles não pode ser comprovado a você mesmo. São apenas idéias, suposições, o mundo das possibilidades, das probabilidades.

Disse mais: a partir de agora só falaremos de vida humana. Falaremos para seres humanos de vida humana.

Quando fiz esta opção, tive que restringir o que ia falar. Não poderia adotar técnicas no nosso trabalho que não fossem conhecidas por vocês. E foi isso que fizemos. No desenrolar deste estudo usamos apenas uma técnica humana, conhecida pelos seres humanos.

Neste estudo não estamos falando de nada do outro mundo ou de nenhuma novidade. Estamos falando de uma técnica aplicada pelos seres humanos. Nada novo, nada inventado, nada filosófico, mas algo muito conhecido de vocês.

Sabe qual o nome desta técnica? O que estamos usando chama-se inteligência emocional.

Inteligência emocional é um campo da psicologia. A ciência da inteligência emocional, quando usada, leva o ser humano a reconhecer suas emoções de momento e lhe ensina a lidar com elas.

Não é exatamente isso que temos feito o tempo todo? O que venho conversando com vocês o tempo inteiro é sempre no sentido de reconhecer a emoção que está sendo vivenciada, ou seja, que a sua mente está criando num momento e ensinando como interagir com ela, de tal forma que ela não lhe leve a viver o sofrimento ou o prazer.

É isso que estamos conversando desde o início deste trabalho: ensinando a vocês técnicas de inteligência emocional.

Sei que muitos estão achando estranho e diferente o que temos conversado, mas não estamos falando nada fora do que a própria humanidade já conhece. Por acharem estranhos, apesar de conhecida, dizem que a técnica que estamos usando é muito difícil de compreender. Mas, esta dificuldade só está na cabeça de vocês. E ela ocorre porque ainda estão ligados em coisas que não compreendem, ainda querem se valer de elementos que não pertencem à sua realidade.

Por exemplo. Em Brasília me disseram que falei, neste trabalho, que o espírito observa a mente. Eu nunca disse isso... As pessoas justificaram: 'Mas, o senhor não fala num observador que não sabemos quem é?'

Reparem na confusão: mesmo eu tendo dito que não falava mais de espírito, só porque parti a mente em duas (observador e observado), vocês definiram o observador como o espírito e o outro elemento como o ego. Mas, eu nunca falei isso neste trabalho... Sempre disse que existe o observador e o observado, e completei: 'Quem é o observador? Não é possível saber'... Foi exatamente assim que falei...

Sendo assim, mesmo que vocês imaginem que estou falando de outras coisas, nunca fiz isso. Falei de ser humano, de vida humana e para isso precisei usar uma técnica humana que é a inteligência emocional.

Vamos então, entender a questão da inteligência emocional...

Alguém se lembra qual a resposta que dava quando, ao longo de todo nosso trabalho, me perguntavam qual a diferença entre sentimento e sensação? Sempre que me fizeram esta pergunta eu disse: a sensação é o sentimento raciocinado. Para justificar isso dizia: você sabe que tem raiva como, por que, quando... Ou seja, há na emoção razões racionais para a existência dela.

Só que se a emoção é um sentimento raciocinado, como é que você reconhece a que está vivendo? Por um pensamento... É o pensamento que lhe diz que você está com raiva ou magoado com alguém ou, ainda, que está apreensivo com tal coisa.

Sendo assim, para vocês, não existe sentimento de forma alguma: só há pensamentos. Vocês não estão magoados, têm um pensamento que diz que estão; não estão feridos, há um pensamento que diz que estão.

Esse é o primeiro princípio da inteligência emocional: descobrir, reconhecer, o pensamento que lhe cria a emoção, ao invés de acreditar que está sentindo tal coisa. Você não está sentindo nada: quem está lhe dizendo o que está sentindo é a mente, o pensamento. O pensamento é raivoso, não é você que tem raiva; o pensamento é frustrante, é magoado e não você que está se sentindo assim.

Isso é um ponto interessante porque tem muita gente querendo mudar da raiva para felicidade. Isso não existe: você tem que ser feliz tendo raiva.

Aí me perguntam: mas como posso ser feliz tendo raiva? Sabendo que a raiva é só um pensamento. É algo da mente e não o que você está sentindo. Sabendo que a dor e o sofrimento é apenas um pensamento e não o que você está sentindo.

Ser feliz não é deixar de ter o pensamento que lhe diz o que você está sentindo, mas saber lidar com ele de uma forma feliz. Ou seja, é saber que aquela realidade é só um pensamento e não uma emoção.

Para ser feliz é preciso alcançar a inteligência emocional e ela se consiste exatamente nisso: aprender a lidar com os pensamentos que declaram que você está sentindo tal ou tal emoção. Querer mudar a emoção que está sendo sentida, isso o ser humanizado jamais conseguirá, pois para isso precisaria de um pensamento que a mudasse. Se você não tem este pensamento e nem sabe como construí-lo, não pode, portanto, criar uma nova emoção para viver...

Como ainda não entenderam este mecanismo, querem se mudar sentimentalmente. Mas, sempre disse que vocês não sentem nada... E agora provo: vocês não sentem nem emoções porque não existe uma emoção para ser sentida; o que existe é um pensamento-emoção...

É sobre isso que estamos falando o tempo inteiro: alcançar a inteligência emocional, ou seja, saber reconhecer o pensamento-emoção como apenas uma idéia gerada pela mente e não como um sentimento e saber lidar com esta idéia.

Sei que vocês se preocupam muito com a inteligência-saber, cultura. Querem entender tudo... Mas, não é dela que estamos falando... A inteligência cultural não ganha jogo, não lhe faz feliz. A inteligência que pode lhe fazer feliz é a emocional: o saber lidar com o pensamento-emoção.

Mas, como lidar com ele? É o que vamos ver agora...

Eu diria que vocês já lidam com o pensamento-emoção. Como? De uma forma infantil...

Sim, vocês lidam com o pensamento-emoção de uma forma infantil: o pensamento lhe diz sofre e vocês sofrem. Às vezes nem sabem por que estão sofrendo...

Se interrogarmos uma pessoa que está sofrendo, ela não vai nem saber por que está. Colocará diversas razões que podem ser facilmente destruídas e que não justificam o seu sofrer.

Essa é uma forma de lidar com o pensamento emoção: uma forma infantil.

Por exemplo: a mente diz que você tem que sofrer porque sua mãe não trouxe bala, você sofre... Não quer saber se está na hora do jantar e a bala vai tirar a fome ou se ela vai lhe dar cárie: sofre. Sofre, porque a mente, o pensamento-emoção lhe diz que deve sofrer. Esta é uma forma de viver inconseqüente, pois não há analise do pensamento-emoção: simplesmente se vive a partir dele.

Essa é uma característica do ser infantil: é aquele que não raciocina o pensamento-emoção. Ele simplesmente segue o que a mente está lhe dizendo para fazer. Mas, existe outra forma de se lidar com o pensamento-emoção: uma forma madura.

Como se lida com o pensamento-emoção maduramente? Expondo-o ao ridículo, à razão, à realidade. Vou dar um exemplo.

O pensamento-emoção diz que você foi humilhado num determinado momento. A criança vai chorar, sofrer, ter raiva, sentir-se mal. O ser humano adulto, ao invés disso, responde à mente: 'Está certo, fui, mas o que é que você quer que eu faça? Posso reagir agora e lutar para provar que não sou aquilo. Posso fazer isso e muito mais, mas se eu ficar me sentindo humilhado vai resolver alguma coisa'?

Essa é a inteligência emocional. O ser humano maduro é inteligente emocionalmente porque sabe conviver com a emoção. Ele não aceita a emoção quando a mente lhe diz que deve tê-la. Ele questiona: 'Para que vou sentir raiva, para que me sentir humilhado, para que sentir prazer? Isso vai resolver alguma coisa na minha vida? Não. Então não quero isso'...

O que não resolve não adianta...

Adianta você ficar chorando no canto porque uma pessoa morreu? Adianta chorar no canto porque veio uma onda gigante e matou diversas pessoas? Vai resolver alguma coisa chorar? O melhor não seria pensar assim: 'Depois eu choro, agora vou ajudar quem ficou vivo e enterrar quem morreu'.

Esse é o ser maduro: aquele que encara a realidade de frente e não com os pensamentos-emoções. É simples assim... Mas, para isso é preciso querer crescer, tornar-se maduro.

É sobre como amadurecer que já conversei diversas vezes. Acontece que quando tento acordar vocês, algumas pessoas reclamam dizendo que estou sendo duro, que não queria que eu chamasse tanto a atenção. Mas, não é assim que se faz com criança?

Com crianças tem que se falar de uma forma firme, pois elas muitas vezes não entendem o que você está falando. Para poder se ensinar às crianças alguma coisa temos que falar duro e seco. Com isso as despertamos do mundo de fantasias que vivem...

Para não se sentirem magoados ou feridos com a forma que falo, é preciso que entendam que devem despertar. Para isso é preciso se conscientizar que vocês não têm a menor inteligência emocional. Lidam com os pensamentos-emoções como crianças, aceitando qualquer coisa que a mente disser que têm que sentir ao invés de maduramente raciocinar o sofrimento, o pensamento-emoção.

Adianta sofrer porque roubaram o seu carro? Não vai trazê-lo de volta... Adianta reclamar do bandido que o levou dizendo que ele não presta ou ter raiva dele se isso não vai trazer o carro de volta? Ele já está roubado... O que você tem que pensar agora é em como arranjar outro ou tentar recuperar aquele, se possível...

Esse é o ser humano adulto: aquele que ao invés de se entregar à mente, para e raciocina. Aliás, raciocinar a vida é algo que vocês esqueceram.

É preciso que vocês raciocinem a vida, mas sobre isso há um detalhe importante que precisa ser levado em consideração. Falo em raciocinar a vida não para entendê-la, para querer saber por que ou como as coisas acontecem ou que futuro surgirá deste presente. Não é esse raciocínio que estou me referindo. Esse é um raciocínio cultural e estou falando de raciocínio emocional: aprender a raciocinar os pensamentos emoções que constituem a sua vida.

Quantas vezes eu já disse para as pessoas que reclamavam de alguém: 'você está aqui chateada, nervosa, preocupada, mas o outro de quem está reclamando está lá feliz da vida'. Para as mães que reclamavam que o filho não arrumava a cama, dizia: 'você está chateada porque o seu filho não arrumou a cama, mas ele, neste momento, está lá feliz namorando. Está chateada por quê? Quer a cama arrumada, vai lá e arruma'... Aí as mães me diziam: 'mas eu quero que ele arrume'... Isso não é uma criança que bate o pé quando a vida não lhe dá o que ela quer?

Então, é simples assim: é só amadurecer...

Idade não dá maturidade a ninguém: é preciso ser maduro para estar maduro. E ser maduro é enfrentar os pensamentos emoções que a mente cria de frente...

Será que compensa o sofrimento? Será que compensa a tristeza? Só quem sai perdendo é você mesmo... Como disse, muitas vezes o causador de tudo que lhe leva s sofrer está feliz da vida e você está chorando, sofrendo...

Todo trabalho que estamos fazendo é neste sentido: dar-lhe argumentos para que vocês saibam enfrentar a vida de uma forma madura e não como crianças. Saibam enfrentar os pensamentos-emoções como gente grande que dizem ser. Ou seja, de uma forma inteligente.

Quando falo que não existe filho, que a mãe tem que perder a idéia de ter tido um filho, eu não estou querendo acabar com o seu filho, porque isso nunca vai acabar. Mas, enquanto você for uma criança e achar que possui o outro, vai agir de uma forma infantil com o seu filho. Ou seja, exigirá que ele faça o que você quer, já que é a mãe...

Para que você seja feliz, pare de achar que ele tem que fazer o que você quer, pois é a mãe e manda nele...

Quando mostro a armadilha que a mente cria ao dizer que você é mãe ou pai, estou querendo lhe dar armas para saber enfrentar o pensamento-emoção. Quando o pensamento lhe cobrar algo do seu filho, não caia na dele. Quando amadurecer você deixará de esperar que ele lhe ouça. Livre disso, falará, mas não exigirá que ele ouça e com isso poderá libertar-se do sofrimento que vem sempre quando isso acontece.

Acho que com este termo (inteligência emocional) estou deixando a coisa bem clara. O que estamos conversando não tem nada a ver com espiritualismo, universalismo ou qualquer 'ismo' desses. É simplesmente o que a psicologia chama de saber lidar com as emoções, de inteligência emocional. É preciso alcançá-la, mas sem a maturidade, sem entender que não é mais uma criança que precisa que o mundo lhe satisfaça, não vai conseguir.

Como você vai conseguir rezar de uma forma madura se ainda espera que Deus lhe dê o que quer? Como pretende viver num mundo em felicidade se as guerras nunca acabaram e nunca acabarão? Se as injustiças nunca acabaram e nunca acabarão? Sonhar com o paraíso na Terra é utopia, é coisa de criança presa ainda aos livros infantis...

Saibam de uma coisa: o bem nunca vai vencer o mal. O bem jamais acabará com o mal, pois na hora que acabar o mal não existirá mais o bem... Saibam de uma coisa: as violências, os assaltos, nunca vão acabar; as desigualdades sociais também não. Então, não precisa sofrer por isso... Estas coisas sempre existiram e sempre existirão...

Esqueçam... Parem de brincar de Peter Pan...

Parem de brincar de paladinos da justiça lutando contra os piratas. Parem de se sonhar em voar com a fada Sininho. Parem de sonhar em viver num mundo onde todos só cantem e dancem. Isso não existe... Isso é coisa de gente infantil. E quem é infantil, não alcança a inteligência emocional...

Reforma íntima - Textos - volume 04

Experiência

Reforma íntima, mudança interior, é uma coisa que o ser normalmente só procura quando alcança uma idade carnal mais avançada. Enquanto está na infância ou na adolescência e mesmo no início da maturidade, ele se preocupa em conquistar o mundo material e não em reformar-se para o seu futuro espiritual.

Quando o ser humanizado vai atingindo a maturidade (idade da razão) a formação do conceito (dar valor às coisas) vai sendo trocada por uma nova visão dos acontecimentos. Os conceitos continuam existindo, mas o ser humanizado abandona a idéia de querer impor suas verdades aos outros.

Esta forma de agir não se trata de uma transformação, uma vitória espiritualmente falando, mas de uma desistência de querer comandar o destino, a vida, aceitando todas as coisas. Quando o ser deixa de querer impor seu desejo ao mundo, acontece a felicidade, é feliz.

Isto não é regra, mas acontece freqüentemente. O ser humano, com o avançar da idade, deixa de brigar com as coisas (impor seu desejo) e passa a aceitá-las como inevitáveis, fora do seu controle, alcançando a felicidade mais facilmente.

Entretanto, este novo proceder não acaba com os conceitos que foram formados durante as outras etapas da existência. O ser humano que deixa de querer determinar valores para os acontecimentos e pessoas não mais cria conceitos, mas permanece com todos aqueles que foram formados nas outras etapas da vida.

O acúmulo de conceitos é chamado pelos seres humanos de experiência. Os mais velhos possuem a experiência, ou seja, acham que sabem quais serão os resultados de uma determinada ação. Eles param de tentar colocar os conceitos em ação nas suas vidas, mas não abrem mão da convicção de que sabem mais do que os outros.

É por entender desta forma o seu conjunto de conceitos que os mais velhos se esforçam no sentido de transmiti-los para os mais jovens. Mesmo aqueles que estão procurando a sua reforma íntima não abrem mão de influenciar os mais jovens na sua procura material, repassando-lhes os seus conceitos. Assim, sem perceber, o ser humano está formando outros seres conceituosos.

Eliminar os seus próprios conceitos é apenas uma das etapas da evolução. Além de quebrá-los, o ser deve influenciar os mais jovens no mesmo sentido. Não deve transmiti-lhes os conceitos, mas ensiná-los que suas vidas foram vividas com tentativas dessa imposição.

A vida de uma pessoa madura que consegue desistir da briga contra os acontecimentos é entender que não adianta querer impor sua vontade, pois os acontecimentos sempre são determinados dentro da vontade de Deus.

Este é o ensinamento que deveria ser repassado. Esta deve ser a sabedoria que a experiência de vida deve ensinar aos outros. O fruto da experiência não é o conhecimento individual, mas a certeza de que este não existe.

Reforma íntima - Textos - volume 04

Relacionamentos humanos

A vida humana é exercida em coletividade, ou seja, os acontecimentos ocorrem sempre com relacionamentos entre seres. Mesmo quando esse acontecimento não traz um contato físico, como no caso do pensamento, existe um relacionamento entre seres ocorrendo. Daí a necessidade do elemento ser encarnado estar previsto no livro da vida.

As pessoas com quem o espírito se relaciona ocupam dois grupos: aqueles cujos relacionamentos são profundos (em tempo e intensidade) e aqueles que são passageiros ou superficiais. Os membros da família são relacionamentos profundos, mas pessoas com quem cruzamos na rua são elementos passageiros. Um amigo de infância é profundo, mas o colega do trabalho de pouco tempo é passageiro.

Todos os dois são instrumentos do carma (acontecimentos) previstos no livro da vida, mas apenas aqueles que se relacionam profundamente com o ser são previstos anteriormente. As pessoas que passam na vida do ser humano foram agentes temporários, ou seja, executaram a sua função e quando não mais o relacionamento foi útil, foram afastadas.

As pessoas que se relacionam temporariamente não vieram pré-destinadas no livro da vida, mas momentaneamente possuíam carmas aos quais era necessário o ser expor-se. Já aquelas que vivenciam um relacionamento profundo foram pré-escolhidas antes da encarnação. Essa é a única diferença entre as pessoas que vivenciam os dois tipos de relacionamento, porque a essência do relacionamento é sempre a mesma: fazer o ser vivenciar os seus carmas.

 Assim como os objetos, as pessoas também possuem função na vida encarnada do ser material. O ser humano, por estar subordinado à lei do carma, possui um padrão para ação. Assim, uma pessoa que sempre escolhe sentimentos de nervosismo para reagir às situações, terá seus atos comandados por Deus com essa essência.

Esse é o carma daquela pessoa, ou a reação a uma ação sentimental (escolha de um sentimento). No entanto, se ela pudesse agir independente do faça-se de Deus, poderia provocar desequilíbrio no universo e injustiças. Ela, pelo seu carma, poderia gritar, ofender ou agir negativamente contra quem não merecesse essa situação.

A Causa Primária que Deus exerce é nesse sentido: dar a cada um de acordo com as suas obras. Ele direciona a pessoa que possua um carma de nervosismo para agir frente à pessoa que mereça, também pela lei do carma, receber tais atitudes. Dessa forma, o equilíbrio universal e a justiça permanecem inalteráveis sempre.

É esta verdade absoluta que rege os relacionamentos entre os seres humanos, sejam eles temporários ou permanentes: quem age merece ser o agente, quem recebe, merece ser o recebedor da atitude. É com essa motivação que o ser escolhe os elementos seres que participarão da sua existência.

Enganam-se aqueles que acreditam em falsos sentimentalismos, em individualismos que são chamados de amor. Quando um ser vai escolher, por exemplo, quem será seus pais na próxima encarnação em momento algum se deixa levar pelo que quer, pelo sentimento individual que nutre a outro ser, mas busca sempre elementos que possuam carmas que ele precisa vivenciar.

Ninguém escolhe para pai ou para mãe um ser que idolatre ou ame individualmente, mas sim aquele que poderá realmente auxiliá-lo a vencer a vida. O objetivo da encarnação não é poético, sentimental nem muito menos para gozar o prazer da convivência, mas para trabalhar no sentido da evolução.

É por isso que normalmente aqueles que se unem em relacionamentos permanentes são opostos. A mulher organizada casa com um homem bagunceiro ou vice-versa, amigos possuem uma forma de vivenciar os acontecimentos diferentes um do outro. Isso foi escolhido antes da existência carnal.

Quando o ser encontra no companheiro (a) um oposto, está exercitando aquilo que veio colocar em prova. Se a mulher organizada casa-se com um homem bagunceiro, diversos fatores estão em jogo, mas um deles certamente é a paciência. Será preciso ao espírito encarnado desenvolver essa qualidade espiritual para poder manter o relacionamento.

Não adianta a mulher querer mudar o outro, pois jamais conseguirá. Ele possui o carma de agir dessa forma e está ao seu lado a pedido (livre arbítrio) para que ela possa desenvolver aquilo que veio fazer nesse planeta. Deus jamais poderia mudá-lo apenas para satisfazer a vontade da mulher, pois dessa forma ela estaria deixando de conquistar a evolução espiritual.

Da mesma forma, a esposa jamais deixará de querer organizar a casa. Não importa o quanto o marido a critique por essa forma de agir, ela permanecerá querendo tudo arrumado, pois isso é o carma dele.

Na verdade, nem um dos dois precisa se mudar, mas desenvolver o amor ao próximo como a si mesmo. Para que esse amor exista, como já falamos, é necessário que cada dê ao outro a liberdade de ser diferente. O que os dois precisam desenvolver essa forma de agir. A mulher não precisa se transformar em bagunceira, mas deve dar o ao homem o direito de ser; o homem não precisa se tornar em um esmero de organização, mas deve não reclamar dos excessos da mulher.

Esse é o ponto de equilíbrio, o caminho do meio, a neutralidade com as coisas da vida que estamos falando, a harmonia que nasce da perfeita integração ao universo (momento presente). O homem faz sua bagunça e não critica a mulher quando ela arruma e ela não deseja mais modificá-lo. Os dois convivem pacífica e harmoniosamente um com a forma de agir do outro.

É com essa motivação que cada ser escreve o seu livro da vida. Ele determina a essência das provas que vai fazer (que sentimentos desenvolver) e depois busca no universo como parceiros permanentes aqueles que possuam o carma de agir dentro de suas necessidades. Não há influências sentimentais, mas práticas; não há prazeres envolvidos, mas busca da elevação espiritual.

O romantismo humano é fútil. Nenhum espírito desperdiçaria a chance da evolução espiritual em troca de alguns meros anos ao lado de quem gosta apenas para sentir esse prazer. Quando fora da carne, consciente do ser que é, ele busca a evolução espiritual e é nesse sentido que monta o livro da vida que vai vivenciar durante a encarnação.

Define o papel que cada elemento da sua existência precisará executar e busca, no universo, aqueles que possam desempenhar essas funções. Além disso, ao escrever os caminhos alternativos, pede elementos (relacionamentos temporários) que possuam determinados carmas que o leve a vivenciar a busca da evolução espiritual.

Reforma íntima - Textos - volume 04

Amigo e inimigo

Todo ser humano que não se coaduna com as mesmas idéias de outro é tratado por aquele como um inimigo. São inimigos políticos, ideológicos, religiosos, que vivem se enfrentando no sentido de um alterar os conceitos do outro.

O inimigo é sempre aquele se interpõe às verdades estabelecidas pelo ser humano. Isto porque este sempre debate, argumenta e às vezes até ofende o outro com o objetivo de impor pontos de vista que aquele não acredita como ‘verdade’.

Se a esposa quer a casa arrumada e o marido não faz, ele se torna um inimigo. Se uma pessoa coloca uma verdade que o outro não acredita, vira um inimigo que precisa ser vencido, ou seja, seus argumentos precisam ser silenciados. Se alguém quer fazer alguma coisa e a outra pessoa não aceita aquilo como verdade, passa a ser tratado como um inimigo. Para que o outro possa ser um amigo é necessário que ele tenha o mesmo pensamento, ou seja, as mesmas verdades que o ser humano acredita.

Quando surge a figura do inimigo – aquele que contesta ou já contestou suas verdades - o ser humano perde logo a sua felicidade. Encontra mágoa, ressentimentos, raiva e até ódio por aquele outro que não quer compartilhar das mesmas idéias.

Justamente para não perder a felicidade, bem maior que todo ser humano preserva, é que ele sente compulsão em atacar antes de ser atacado. Este ataque não precisa ser necessariamente em atos ou palavras, mas acontece, muitas vezes através do pensamento que rotula o outro de errado.

Quando aquele ser humano já está rotulado como inimigo, não importa mais nada que diga: ele não mais será ouvido. Ou seja, nenhuma das suas idéias e mensagens sofrerá análises para se conhecer o conteúdo, mas, como diz o ditado popular, entrarão por um ouvido e sairão pelo outro. As idéias políticas, ideológicas ou religiosas não serão absorvidas pelo ser humano, pois aquele já é conhecido daquela pessoa.

Entretanto, Cristo disse que devíamos amar a todos e não apenas àqueles que satisfizessem nossos conceitos. Afirmou ainda: abraçar um amigo é fácil, quero ver cumprimentar um inimigo.

Todos os seres humanos são espíritos irmãos em evolução. Nenhum de nós é melhor do que o outro, nem sabe mais do que ele: somos apenas diferentes uns dos outros...

 O amigo é considerado especial apenas porque se coaduna com a idéia do outro ser humano e não por afinidade sentimental. Repare que se este amigo um dia ousar discordar, receberá o rótulo de traidor da amizade e essa se acabará...

O inimigo também não é um desafeto espiritual: ele surge do apego que o ser humano tem às suas verdades, vontades e desejos. Este apego confere ao ser humano um ilusório poder de imaginar que tem o direito de julgar o que é bom ou mal, certo ou errado.

Um ser humano recebe o rótulo de inimigo simplesmente porque tem valores diferentes do outro. Mas, quem disse que aquele ser humano é que está certo e não o que pensa diferente?

A finalidade da encarnação é alcançar a elevação espiritual e isto só ocorrerá quando o espírito abrir mão do poder de conhecer as verdades. Isto porque todas as verdades com as quais o ser humano convive são sempre individuais. Mas, como saber que estas verdades são individuais se elas não forem contestadas por outras, que também são imaginadas como únicas e perfeitas?

Portanto, a reforma íntima necessita desta exposição. É preciso que o espírito encarnado seja constantemente confrontado com as verdades dos outros para poder compreender que não existem dois seres que acreditem, em gênero, número e grau, na mesma verdade.

Aquele que busca realizar a reforma íntima através do isolamento de outros seres humanos não consegue saber que eliminou suas verdades, pois elas não são expostas a outras. Como imaginar que se aceita todas as cores se a única que se conhece é o branco? Somente quando o espírito conhecer e admirar todas as cores poderá dizer que não tem conceitos com relação às cores.

O inimigo, aquele que possui verdade diferente em qualquer assunto, é, portanto, um emissário de Deus... Não para combater as verdades dos outros ou ensinar algo novo, mas para mostrar que este espírito encarnado ainda possui ‘verdades’.

Quando o marido deixa a casa desarrumada, Deus está mostrando a esposa que ela ainda possui conceitos do que é arrumado ou desarrumado... Quando alguém fala algo diferente daquilo que o ser encarnado acredita, é Deus mostrando que existem mais mistérios entre o céu e a Terra do que a sua vã filosofia possa imaginar... Quando alguém quer fazer uma coisa diferente daquilo que o ser humano acha certa, é Deus dirigindo-o para mostrar que aquele homem ainda possui padrões...

Então, este ser humano que contraria o outro não é seu inimigo, mas sim o seu verdadeiro amigo. É amigo porque mostra ao ser humano o que nele precisa ser mudado, o que precisa ser reformado, para que o trabalho de despossuir – abrir mão do poder de saber distinguir o bem e o mal – possa ser realizado.

Ao expor os conceitos dos outros, o inimigo não está, no sentido universal, mesmo que individualmente imagine que sim, visando impor-se, mas sendo dirigido por Deus para mostrar àquele determinado ser humano o que e onde ele precisa mudar. Aquele que é considerado amigo,, ou seja, não expõe conceitos dos outros a eles mesmos, não auxilia na reforma íntima. Ao contrário, atrasa esta conquista, pois consolida o poder que o ser humano imagina que tem.

Como objetivo da vida carnal é promover a reforma íntima, podemos afirmar que o espírito veio à matéria carnal não para viver com os amigos, e sim buscar conviver com os seus inimigos, aprendendo aquilo que deve eliminar.

Visto sob este aspecto, o inimigo passa a ser o professor, o amigo do outro ser humano. Ele não vem para ensinar uma nova forma de proceder, mas sim para mostrar que o ser humano ainda está apegado a leis que determinam formas padrões de procedimentos e que precisa não mais possuí-las. A esposa não precisa se tornar desleixada, mas não pode acusar o marido de sê-lo. O ser humano não precisa ir pelo caminho que o outro segue, mas não pode julgá-lo por fazê-lo.

Para amar o inimigo é preciso alcançar a liberdade absoluta, aquela que não imponha a ninguém normas de proceder.

Reforma íntima - Textos - volume 04

Faço novas todas as coisas

A Bíblia Sagrada é um livro que traz os ensinamentos passados pelos enviados de Deus: os profetas, apóstolos e o próprio Mestre maior (Cristo). Porém, a narrativa destes ensinamentos é feita de uma forma cronológica, o que a transforma, além de transmissora de ensinamentos, em um livro histórico. Ela retrata a história de um grupamento de espíritos (judeus) até determinada época.

A vida deste povo está intimamente ligada com a evolução espiritual neste planeta, como transmissores da Verdade Universal do Deus Único. Desta forma, podemos dizer que a vida deste povo é a parte integrante da vida espiritual do planeta como um todo. Utilizando-se este conhecimento, podemos, então, afirmar que a Bíblia narra a história de determinada parte da história do próprio planeta como local de evolução espiritual.

Ela se encerra com um livro chamado Apocalipse, escrito por João, o Evangelista. Neste livro encontramos um resumo de todos os acontecimentos passados e futuros da história do planeta. O Apocalipse não trata apenas do futuro a partir do fim do trabalho dos apóstolos, mas narra a visão espiritual para os acontecimentos anteriores e posteriores a esse fato. Cada selo, trombeta e outras figuras utilizadas, narram determinados acontecimentos que a humanidade teria que passar dentro do planejamento divino para a evolução dos espíritos.

O capítulo 21 do Apocalipse (O novo céu e a nova Terra) reflete o momento atual da humanidade: a troca do sentido das encarnações. Neste novo mundo os espíritos não mais encarnarão para provas e expiações, mas virão viver presos à matéria carnal com a finalidade de se regenerar, ou seja, de alterar seus sentimentos. O novo mundo marcará o fim da utilização de sentimentos negativos e a paulatina transformação destes em amor universal.

Por isto este capítulo inicia com a afirmação de Jesus que o trono de Deus estará entre os seres humanos e que não haverá mais mortes, nem choro nem dor. “Deus enxugará dos olhos dos seres humanos todas as lágrimas”.

A primeira proclamação de Jesus para o novo tempo é: “Agora faço novas todas as coisas”. Esta é a primeira diretriz para a existência do mundo novo. É isto que buscamos compreender nesse trabalho.

Jesus não nos afirma que o novo tempo será composto por coisas novas, mas o trabalho deverá ser de transformar em novas as mesmas coisas existentes. Para se viver no novo mundo é necessário se alterar a compreensão das coisas existentes.

Aqueles que estão esperando alterações no planeta (incidentes climáticos que alterem o desenho do globo, extinção da raça humana ou alteração profunda no modo de proceder, grandes conflitos universais, invasão de seres de outros planetas) não conseguirão encontrar o mundo novo, pois estas coisas jamais acontecerão. O novo mundo não se instalará sobre o planeta com uma ruptura entre as coisas existentes e as novas: tudo continuará igual. Viver no mundo novo ou no mundo velho será determinado pela compreensão que cada um tenha sobre as coisas da vida no planeta.

Por isto no Apocalipse João narra que a Nova Jerusalém desce do céu e ocupa o mesmo lugar da velha Jerusalém. É uma visão das coisas do planeta baseada nos ensinamentos divinos e não mais nos sentimentos negativos que determinará a chegada do mundo novo.

Por este ensinamento podemos compreender que o mundo novo não chegará de uma só vez: ele será alcançado de uma forma individual. Por isto no Evangelho de Tomé, Jesus responde quando questionado sobre a chegada do novo mundo: “o que procuram já chegou e vocês não viram”. Não haverá um dia, hora ou minuto determinante da chegada do novo mundo, mas cada um, ao seu instante, promoverá a sua transformação e ingressará neste mundo.

Dentro da visão que se faz desta nova época, podemos afirmar que muitos espíritos já a vivenciaram. Chico Xavier, São Francisco de Assis, Santo Agostinho, Madre Tereza, Irmã Dulce e tantos outros espíritos que se livraram, em qualquer época, dos sentimentos negativos vivenciaram um novo mundo para si.

Viver dentro do novo mundo é colocar em prática os ensinamentos de Jesus. É aplicar o amor universal como única lente para se entender os acontecimentos da vida humana. Por isto, no Apocalipse, o Mestre afirma: “Eu sou o Alfa e Omega, o Princípio e o Fim”. Para aqueles que vivem no novo mundo, Jesus (a prática do amor universal) é o todo.

Para poder se atingir a esta elevação espiritual (prática do amor universal) é necessário que a procure. Como Jesus já havia avisado: “Bata que eu abrirei”. É necessária a procura da renovação íntima de cada um para que se alcance este novo mundo. Por isto João narra as seguintes palavras de Jesus no Apocalipse: “A quem tem sede darei água para beber, de graça, da fonte da água da vida”.

O objetivo deste trabalho é dar aos espíritos em processo de evolução na matéria carnal no período de transição do mundo velho para o novo a água para beber. Entretanto é necessário para que você beba desta fonte da água da vida a sede, ou seja, a busca pela sua reforma íntima.

Reforma íntima - Textos - volume 04

Carma e expiação

Falar de vida carnal sem falar de carma é quase impossível. Todas as religiões que consagram a vida eterna para o ser universal falam na existência deste evento da vida espiritual. No entanto, muitas vezes achamos que conhecemos o assunto, mas esse conhecimento é restrito apenas ao sentido material da palavra, que, na verdade, é uma verdade individual. O desconhecimento, ou conhecimento com o sentido relativo do tema, dificulta a compreensão da vida e faz com que o ser universal perca-se no materialismo. O carma é um exemplo disto.

No ocidente, o carma foi ensinado pelo espiritismo de Kardec. Este ensinamento ganhou a conotação de penalidade. Assim, o carma passou a ser compreendido como uma pena que se recebe por atos anteriores. Segundo esta visão, para passar pelo seu carma necessariamente é preciso passar por uma situação de sofrimento, de contrariedade. É esta verdade que se formou a partir do ensinamento de Kardec.

Deste conhecimento surgiu ainda o conceito de expiação. Passar pelo seu carma é expiar, pagar uma falta, sofrer uma condenação para pagar erros anteriores. Esta é a idéia que o mundo ocidental possui de carma.

No entanto, o ensinamento do carma é muito mais antigo que Kardec e do que o próprio Cristo. Ele provém do oriente e o próprio Lao Tzu já falava em carma dois mil anos antes de Cristo. Para aqueles povos, o carma possui uma conotação completamente diferente do conhecimento ocidental.

O que é um carma, qual o real sentido deste componente básico e fundamental da vida carnal? Carma é uma reação a uma ação. Tudo que seja reação a uma ação anterior é carma. Aliás, este mesmo entendimento é estampado no dicionário da língua portuguesa: “o conjunto das ações do homem e de suas conseqüências” (Mini Dicionário Aurélio – 3a Edição).

Carma é simplesmente uma reação. Quem hoje planta, amanhã colhe; quem hoje constrói, amanhã habita. Isto é um carma. No entanto, quem planta e não colhe também vivencia um carma, pois ele é reação ao modo de plantar. Quem planta de uma forma, colhe; quem planta de outra, não colhe. Qualquer dos dois resultados é carma da ação de plantar deste ou daquele modo.

O resultado da ação não se constitui propriamente em uma penalidade, mas simplesmente em uma reação justa. Não existe carma positivo (glória) ou negativo (punição). Estes valores dualistas, quem coloca é o próprio ser ao querer satisfazer o seu individualismo, os seus desejos.

O carma é simplesmente reação no justo valor e medida com que o ato é feito. Desta forma, se o ser perde a colheita, não há aí uma penalidade, mas apenas a justa reação à sua intenção na hora de plantar.

Perder a colheita não é uma pena, um castigo por não ter plantado direito, mas simplesmente porque uma ação leva a uma determina reação: carma. Podemos, então, afirmar que carma é simplesmente o resultado de uma ação, sem conotações positivas ou negativas.

Quando se fala, por exemplo, que uma pessoa nasceu com determinado carma, deve-se entender que ela veio com reações predeterminadas para ações anteriormente praticadas (vidas anteriores). Este entendimento, porém, no mundo ocidental, está ligado ao sofrimento, a uma pena.

Os seres ocidentais afirmam que nascer com determinado carma é ter que pagar ou passar por sofrimentos para expiar o que causou a outros. Isto, entretanto, não é verdade. Nascer com um carma predeterminado, e todos nascem com isto, não se trata de penalidade, mas simplesmente de reação a uma ação anterior. O carma é a Justiça Perfeita em ação.

Durante a vida (existência carnal), compreendendo que está recebendo de Deus apenas o resultado de suas vidas anteriores (Justiça), o ser pode vivenciar os seus carmas sem sentir-se infeliz. O carma, na verdade, não é bom nem mal, certo ou errado, bonito ou feio, mas é perfeito, porque é a justa medida da ação no plantio.

No entanto, a Justiça divina não é punitiva, mas tem como base o Amor Sublime. O objetivo do carma é sempre dar ao ser uma oportunidade de elevação espiritual, melhoria espiritual. Isto, porque como já vimos, Deus é Justiça Perfeita, mas é também o Amor Sublime.

O carma é administrado por Deus através da Sua ação como Causa Primária das coisas. Esta ação é o justo valor de retorno daquilo que cada um fez anteriormente, mas o objetivo primário de todo carma é auxiliar o espírito na sua elevação. Deus não penaliza seus filhos, mas está sempre buscando, através do carma, oferecer uma nova oportunidade para que o ser universal se depure e possa, assim, alcançar o universalismo. Esta é a intenção primária do carma.

Com este conhecimento fica bem mais clara a impossibilidade do carma ser uma punição, motivo de sofrimento, pois ele além de ser justo é amoroso.

Dentro da conotação espírita do termo carma, também houve uma inverídica compreensão para a expiação. Expiar é apenas vivenciar o carma, ou seja, passar pelas justas reações a ações anteriores. Foi só a partir do conceito de que carma é pena que a expiação tornou-se sofrimento.

Expiação não é sofrimento, mas simplesmente vivenciar um carma. Expiar é receber a justa medida daquilo que se plantou com a consciência de que o acontecimento é justo e amoroso. É viver as situações amando a Deus e sentindo-se amado por Ele. Por isso foi dito: “Todavia, para alcançarem essa perfeição, devem suportar todas as vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação” (O Livro dos Espíritos – pergunta 132).

A compreensão de que expiação é penalidade por atos anteriores surgiu da verdade relativa de que o ser necessita pagar débitos anteriores. No entanto, o ser não pode criar dívidas em momento algum, porque é incapaz de ferir os outros.

Como já afirmamos o Universo sempre está equilibrado. Ele não se desequilibra para se aprumar depois. Se um ser, por exemplo, nutre raiva, este ato espiritual é o equilíbrio do Universo. Mesmo que este sentimento seja individualista, contrário à natureza universalista, ele não pode desequilibrar o Universo, pois é real e tudo que é realidade é o Universo.

Tudo já está previsto por Deus antes do acontecimento, pois as opções que podem surgir da utilização do livre arbítrio são analisadas pela Inteligência Suprema. Através da Causa Primária o Pai está sempre comandando as interações para que o Universo mantenha-se perfeitamente equilibrado. Se não houvesse este equilíbrio poderia acontecer uma injustiça e, neste momento, o Pai não mais poderia governar o Universo. Deus, por suas capacidades elevadas ao expoente máximo, é incapaz de errar.

Desta forma, nenhum ser é capaz de gerar débitos, ou seja, ofender ou ferir outra pessoa. Todos os envolvidos no acontecimento estão vivendo os seus carmas individuais. Quem age está vivendo o seu carma, mas quem recebe também. Se alguém grita com você, é o carma dela gritar, mas o seu é receber o grito.

No entanto, aquele que recebe a ação possui o livre arbítrio de escolher um sentimento para reagir a ela. Quando este ser age desta forma cria o seu carma, ou seja, uma determinada reação para aquela ação. Esta nova ação (resultado do carma gerado pela ação anterior) não será punição ou reparação de danos, mas simplesmente uma nova oportunidade de elevação.

Exemplifiquemos: existe uma situação onde o ser tem que agir. Neste momento pode utilizar como base para vivenciar a ação o benefício próprio ou o bem coletivo (universalização). Escolhendo o benefício individual não gerou débito para com o outro ou com o Universo, mas apenas não conseguiu provar a Deus que é capaz de amar ao próximo como a si mesmo. Por este motivo terá que fazer a prova mais uma vez.

A expiação (carma) não é punição por ter agido de forma errada, mas trata-se de uma nova chance de chegar à perfeição, alcançar a elevação espiritual. A partir desta visão retira-se toda conotação de punição tanto do carma como da expiação e se participa do Universo dentro de sua realidade: o amor de Deus em ação.

Com esta visão, com esta compreensão sobre os mecanismos da existência espiritual, encarnado ou não, não existem mais motivos para sofrimento, angústia, depressão, aborrecimentos, etc., restando apenas a felicidade de participar de um Universo Perfeito, cujos acontecimentos são justos e amorosos.

O carma é o motor do universo, ou seja, tudo o que acontece no universo é carma, pois todos os acontecimentos são reações a ações anteriores. Portanto, não existe ação (acontecimento) no universo que não tenha sido provocada pela ação do carma (reação a uma ação anterior).

Toda ação do ser humano é simplesmente resultado de uma ação anterior ou como Jesus Cristo nos ensinou: receber de Deus conforme a sua obra. Esta obra não é o ato físico em si, mas representa a escolha sentimental que o ser faz em cada momento de sua existência.

Assim, não adianta o ser humano querer alterar o acontecimento atual, pois ao praticar anteriormente um determinado ato, plantou esta reação para si. É preciso alterar a forma de participar da ação atual para que se coloque em ação um carma diferente deste.

Como já vimos, os atos foram escritos anteriormente. Por isto, podemos afirmar que o carma é o caminho predeterminado pelo próprio espírito caso optasse por aquela escolha sentimental em um determinado momento. Sendo assim, o carma independe de uma vontade de Deus, mas é uma opção individual de cada ser antes do nascimento.

O ser, ao escolher um determinado sentimento durante um acontecimento gera um carma, ou seja, um caminho (acontecimento) predeterminado por ele mesmo. Quando faz esta opção, o ser, de posse de toda a consciência espiritual, busca o melhor para si mesmo face à eternidade em que viverá e não a satisfação pessoal. Como nos ensinou Allan Kardec:

Sob a influência das idéias, o homem na Terra só vê das provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causa os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto. Aquele que intenta ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não procura trilhar estrada florida. Conhece os perigos a que se arrisca, mas também sabe que o espera a glória, se lograr bom êxito.

A doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso da nossa maneira de apreciá-los. Divisam a meta, que bem diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo. Após cada existência, vêem o passo que deram e compreendem o que ainda lhes falta em pureza para atingirem aquela meta. Daí o se submeterem voluntariamente a todas as vicissitudes da existência corpórea, solicitando as que possam fazer a que alcancem mais presto. Não há, pois, motivo de espanto no fato de o espírito não preferir a existência mais suave. Não lhe é possível, no estado de imperfeição em que se encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la, é que trata de se melhorar. (O Livro dos Espíritos – Pergunta 256).

O carma, como fruto do livre arbítrio do ser antes da encarnação, como opção individual de cada um, não pode ser encarado como sofrimento. Ao contrário, ele é o caminho da busca da felicidade eterna (Bem-Aventurança) dentro da consciência espiritual de cada um. Apenas aquele que vive para si mesmo (individualismo), buscando o gozo do prazer material é que o encara como penalidade e à expiação como pagamento de débitos, penas.

Um espiritualista, um ecumênico universalista não pode acreditar em Deus como Amor Sublime sem entender o carma como uma justa e amorosa medida para lhe auxiliar. Se acreditar no carma como gerador de sofrimentos, como penalidade ou débitos, não terá jamais a consciência do Amor de Deus. Um Pai amoroso não penaliza o seu filho.

Deus ama: a única ação do Pai é o amor. Ele não pode penalizar. Todo ato amoroso visa auxiliar, apoiar, servir. Na verdade, quando o ser humano passa pelo seu carma como penalidade ele está sendo amado, mas pelo fundamento da sua vida (individualismo, prazer, satisfação individual) sente-se penalizado.

 Podemos comparar esta ação universal à ação individual de uma mãe. Quando ela coloca seu filho de castigo não tem como objetivo penalizá-lo, fazer com que ele passe por sofrimento. O seu objetivo é auxiliá-lo na sua evolução. É um ato de amor e não uma pena. O filho é que se sente penalizado, que escolhe sofrer quando é amado, que se sente punido.

Isto é básico para se entender vida (existência carnal), que será nosso próximo assunto.