Expiação - Texto
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Expiação - Texto

Transcrição da conversa 'Expiação', realizada em 15/06/2005 na sala do Espiritualismo Ecumênico no Pal Talk 

Expiação - Texto

Definição de expiação

Hoje vamos começar a falar sobre expiação.

Segundo o entendimento da doutrina Espírita, expiação é liquidar débitos de vidas anteriores ou dessa mesma, mas preferencialmente dessa mesma. Expiar, pagar, passar por penalidades. Essa é a compreensão da doutrina Espírita sobre isso.

Agora, se isso é verdade, ou seja, se a expiação é o resultado justo e merecido de uma ação anterior, poderia dizer que ela é a lei do carma. É o efeito gerado por uma causa.

Então, para definirmos expiação, vamos dizer que ela é o efeito causado por uma determinada postura do espírito em momento anterior, nessa ou em outra vida. Essa é a definição de expiação: o efeito gerado por uma causa.

Mas, só defini-la ainda é algo que fez a expiação ficar longe de nossa realidade, do nosso dia a dia. Precisamos entender o que é a expiação na nossa vida, conhecer o que da nossa existência é a expiação.

Por isso vou falar um pouco do que é a expiação na sua vida. O que na sua existência pode ser considerado como o resultado, o efeito gerado por uma causa que você mesmo contraiu anteriormente.

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O verdadeiro sentido da expiação

Para reconhecermos o que é a expiação na sua vida, precisamos ouvir o que fala o Espírito da Verdade fala sobre isso. Vamos ver a pergunta 132 de O Livro dos Espíritos. Nessa questão Kardec pergunta: qual o objetivo de uma encarnação? Com essa pergunta ele quer saber porque um ser humano está vivo, porque o espírito encarnou.

132. Qual o objetivo da encarnação dos espíritos? Deus lhes impõe com o fim de fazê-los chegar a perfeição. Para uns é expiação, para outros é missão.

Então, porque você está vivo? Para chegar perto de Deus, alcançar a evolução espiritual, elevar-se espiritualmente através de provas. Algumas dessas são missões, outras expiações.

O que é uma coisa o que é outra? Missões são situações que o espírito vivencia que possuem o sentido de ajudar o próximo. Expiação é quando o momento que está sendo vivido é o resultado de alguma ação anterior daquele ser.

Portanto, na missão não há provas. Nesse momento o espírito está sendo instrumento da prova dos outros. Quando a situação de vida é uma expiação, há uma prova pessoal sendo realizada.

Tendo dito anteriormente que o objetivo dessa conversa é entender a expiação no dia a dia, a partir do que foi falado agora, podemos entender que expiação na vida humana são as provas do ser.

Todas as provações que acontecem durante a encarnação são efeitos gerados por uma causa anterior, ou seja, são justas, e servem como instrumento para a realização do trabalho que leva à elevação espiritual, ou seja, são amorosas. A expiação, então, é um ato justo e amoroso, um acontecimento onde Deus dá a cada filho uma oportunidade de aproximar-se Dele. Isso é a expiação na prática da vida.

Frente a isso descobrimos que a compreensão da doutrina Espírita sobre a expiação (pagamento de débitos) perde completamente o sentido. Expiação não é pagar nada, não é penalidade nenhuma: é objetivo da encarnação, é razão para se estar vivo.

Por isso digo àqueles que veem na expiação uma pena, um castigo, uma coisa sofrida, dolorida, digo que não entendem o amor de Deus. Não sabem que o amor do Pai é acima de tudo justo (só pode dar a cada um o seu justo merecimento) e que é o amor sublime, ou seja, não pune, mas jamais deixa um ser sem uma oportunidade de viver em harmonia com o Todo.

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Expiação é a mudança das coisas

Então, continuando o texto da pergunta de O Livro dos Espíritos:

Para uns é expiação, para outros missão. Mas, para alcançarem essa perfeição tem sofrer todas as vicissitudes da existência corporal. Nisso é que está a expiação.

Não nos interessa mais o resto da resposta dessa questão, porque estamos falando só de expiação. No trecho que vimos está clara a necessidade da expiação como instrumento de provas: para alcançarem essa perfeição tem sofrer todas as vicissitudes da existência corporal. Nisso é que está a expiação.

Sendo assim, o que é a expiação na sua vida? As vicissitudes da existência corporal. O que é uma vicissitude? Alternância de situações.

A partir disso podemos dizer que a expiação acontece toda vez que uma situação da existência humana se altera. Se hoje você tem dinheiro e amanhã não, houve uma alteração de situação, aconteceu uma expiação. Mas, se hoje não tem e amanhã tem, também ocorreu uma alternância de situação, ou seja, houve uma expiação.

Disso podemos depreender que a expiação não é só o sofrimento, a carência, o negativo, mas sim o fato das situações da existência se alternarem. É isso que explica e ensina o Espírito da Verdade: a expiação não é um castigo, mas uma prova e se caracteriza pela alteração de uma situação da sua existência.

Quando você está fazendo o que gosta e é obrigado a fazer o que não gosta, aconteceu uma expiação; mas quando está fazendo o que não gosta e começa a fazer o que gosta, também algo foi alternado. Aí aconteceu uma vicissitude e com ela uma expiação.

Ai está, na prática, o que é expiação: a alteração de situações que ocorrem na existência. Isso é expiação e vivenciar essas alterações leva a Deus. Por quê? Vamos ver de novo o início da resposta novamente.

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A necessidade de viver a expiação

Para uns é expiação, para outros missão, mas para alcançarem a perfeição ...

Aí está a resposta: para alcançar a perfeição é preciso que haja alterações no estado das coisas da vida.

Quando começamos a estudar a expiação a partir do ensinamento do Espírito da Verdade, a primeira coisa que grita a nossa frente é que a vida não pode ser retilínea. Você não pode ter só o que quer e nem apenas o que não quer; não pode fazer apenas o que gosta, nem só o que não quer. A vida precisa ter expiação, ou seja, precisa ter vicissitudes, alternância de situações.

Por isso afirmo que aqueles que vão a igreja pedir a Deus que os mantenha no emprego ou arranje um, que aqueles que vão ao centro espírita pedir a Deus a manutenção do seu matrimônio, aqueles que frequentam os templos pedindo prosperidade, estão fugindo das suas expiações. Com isso, mesmo inconsciente, deixam claro que não estão querendo vivenciar a oportunidade de aproximar-se de Deus.

Isso precisa ficar bem claro. Achamos que expiação é um castigo, uma penalidade pelo que fizemos antes. Por isso não queremos expiar. Mas, essa visão é errônea.

O prazer também é expiação. Fazer o que gosta também é expiação; passar por momentos que se considera felizes também é. Isso porque o momento feliz vem depois do triste e esse, depois, será sucedido por um novo momento triste. Essa alternância caracteriza as vicissitudes da vida.

Portanto, aquele que renega o momento de sofrimento, renega a sua expiação. Com isso não consegue realizar a provação necessária para aproximar-se de Deus.

Esse é o primeiro detalhe desse estudo.

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Nenhum espírito fora da carne está preocupado em evitar as vicissitudes

Descobrimos, então, uma coisa importante: aquilo que não gostamos é imprescindível acontecer para que se aproveite a encarnação para aproximar-se de Deus.

Essa é uma visão que poucos têm coragem de assumir. Como mentores de espíritos encarnados, a maioria dos seres prefere colocar Deus não à disposição da expiação, mas à disposição do fim dela. Preferem colocar o Pai a correr atrás do ser humanizado como um gênio pronto a cumprir todos os desejos dele.

Esse não é Deus. Por quê? Porque o Senhor cria, como Causa Primária de todas as coisas, as expiações necessárias para que o ser alcance a perfeição. Cria, como Senhor do carma as vicissitudes da vida para que ao vivenciá-las o espírito possa atingir a perfeição.

Deus, como um Pai zeloso, está sempre gerando a oportunidade dos filhos se elevarem e não preocupado em satisfazer os anseios materiais dos seres humanizados. Ele não é um Pai inconsequente.

Essa é a visão que os espíritos libertos da ação do ego têm sobre as situações da vida. Eles sabem que todas elas são apenas vicissitudes, fazem parte da elevação espiritual.

Por isso, nenhum deles se atreve a socorrer o ser humanizado que está vivendo a sua vicissitude. Socorrer no sentido de salvá-lo do ‘perigo’. Está sempre ocupado em ajudar o encarnado dando a ele força para que aproveite as vicissitudes previstas e vistas como necessárias para alcançar a elevação espiritual.

Deixando isso claro, vamos, então, começar a falar em como aproveitar a vicissitude para a elevação espiritual.

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Sem ranger de dentes

Vamos entender como se aproveita uma expiação.

Uma pergunta de O Livro dos Espíritos diz o seguinte:

115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar a perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nessa perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõem é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros só as suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.

Portanto, Deus dá provas a todos para que consigam evoluir adquirindo ciência e mantendo sua pureza. Alguns passam suas missões em paz, outros só com ranger de dentes, como Cristo diria.

Desse trecho podemos entender que aproveitar a oportunidade para alcançar a perfeição é viver sem ranger de dentes. O que é ranger de dentes? Sofrer.

Isso nos leva a compreender que Deus dá a expiação como objetivo para aquele que quer a elevação espiritual vivencie as vicissitudes da sua vida sem ranger de dentes, sem sofrimento. Sendo assim, no momento que sua vida muda de boa para má, está vivendo uma vicissitude que não deve ser afastada nem com ranger de dentes. Deve ser vivenciada com a convicção espiritual que é um instrumento para alcançar a verdadeira felicidade.

Essa é a forma de se vivenciar uma expiação. Quem passa por ela sofrendo, reclamando, rangendo dentes, não aproveitou a oportunidade de elevação. Isso é o queria deixar bem claro hoje. Fiz a introdução explicando o que é expiação apenas para termos um entendimento sobre o assunto.

Mas, como passar pela expiação sem sofrimento, sem ranger de dentes? Como viver a mutação de um momento prazeroso para outro não sem reclamar da vida? Como vivenciar a vicissitude sem se deixar levar pelo negativismo que está sendo observado, sem sofrer com a vida?

É isso que precisamos conversar, pois o ser humanizado não imagina que seja capaz de passar pelas situações onde haja a ideia de sofrer sem se deixar levar pelo sofrimento. Esse, na verdade, é o tema de hoje. Só que antes foi preciso falar um pouco sobre expiação.

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Você não é um ser humano vivendo uma vida humana

Vamos, então, falar um pouco de como se viver a expiação sem sofrimento.

A primeira coisa necessária para isso é a consciência de que você não é um ser humano, mas sim um espírito, um ser universal. A segunda é saber que aquilo que chama de vida não é isso, mas a encarnação de um espírito, que é você. Ou seja, precisa compreender que é um ser universal vivenciando uma encarnação formada por expiações, que são provas para você, o espírito.

O que estou afirmando como necessário agora parece uma redundância para quem se diz espírita ou até espiritualista, mas não é. A maioria dos seres encarnados, apesar da crença na existência eterna do espírito, não vive com a consciência de que é um ser universal.

A maioria se acha um ser humano e não vive com a consciência de que essa vida não é uma vida, mas uma encarnação. Por isso querem o bem material e para tê-lo não aceitam a situação negativa da vida: rangem seus dentes quando o sofrimento aparece.

Quem se acha humano não vê a presença da expiação, a vicissitude como a realidade da vida. Acredita que a vida foi feita para sempre satisfazer suas vontades.

É preciso estar consciente da sua realidade. O espírito que não está consciente disso acha que a vida será um mar de rosas, que sempre tem que ocorrer aquilo que ele acha bom. Ele não acredita que o bem que acontece agora sempre se transformará em algo que não gosta (vicissitude).

Isso é impossível. O espírito não encarna para viver uma vida que sempre atenderá seus desejos, mas sim para vivenciar vicissitudes, pois só assim pode chegar perto de Deus, ou seja, vivenciar a verdadeira felicidade.

É por isso que inexoravelmente a situação que o espírito está vivendo hoje vai se alterar amanhã. É isso que Buda chama de impermanência e o Espírito da Verdade de vicissitudes da vida.

Portanto, essa é a primeira forma de conviver com a vicissitude: compreender que ela existirá, que será impossível parar a roda das expiações, que mais dia menos dia a situação boa que hoje sendo vivenciada se alterará e com isso o mal acontecerá. Ao invés de lamentar isso, ter a consciência de que isso é necessário, fundamental para a vida humana, pois sem essa mudança você, o espírito, não se aproximará de Deus. Viverá rangendo dentes quando a situação alterar-se e terá que reencarnar para viver a mesma coisa.

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Porque não evoluímos fora da carne?

Participante: quando não estamos encarnados, porque não conseguimos evoluir?

Querer evoluir sem encarnar é a mesma coisa que querer fazer uma prova com o livro aberto e com um professor de plantão para tirar suas dúvidas. Impossível.

Quando o ser está desencarnado sabe tudo porque o livro está à sua frente, porque os mentores, professores, estão ao seu lado. Esse momento é o momento do estudo. Quando ele acaba é preciso fazer a prova sobre o que foi estudado.

Por isso, o espírito vem para carne, deixa o livro em casa, que é sua memória espiritual que fica encoberta pelo ‘véu do esquecimento’ e os professores ficam não visíveis. Nesse momento o ser universal tem a sua frente uma folha, as expiações, aquilo que é chamado de vida, e ali escreve as respostas às perguntas objetivando provar que aprendeu o que estudou fora da carne.

Participante: porque isso não acaba nunca? Você disse que esse ciclo nunca vai acabar. Será que nunca vamos aprender?

Tudo? Não. Só Deus sabe tudo. Só Deus conhece tudo. Ele é a perfeição.

Portanto, ao longo de toda existência, o espírito estará sempre tendo algo a aprender com o Pai dele. Agora, não se assuste com isso. Você não tem a mínima noção do que seja esse aprendizado ao longo da eternidade. Para você eternidade é algo muito longo, mas não é não.

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Tudo vai mudar

Qual o resultado de viver com a consciência da inexorabilidade da vicissitude? Com a certeza de que as coisas vão se alterar? Estar preparado para a alternância das situações. Ou seja, se hoje tem uma vida perfeita, dentro dos seus padrões, mas tem a consciência de que isso não durará para sempre, no momento que a vicissitude ocorrer estará preparado para viver uma vida diferente.

Esse é o grande diferencial daquele que vive como espírito ou como ser humano. Aquele que sabe ser algo mais do que o humano e vive para ele está sempre preparado para a ocorrência da vicissitude. Aquele que acha que é o ser humano nunca está preparado para isso.

O ser humano é sempre pego de surpresa. Por quê? Porque não acredita na vicissitude. Ele crê na permanência da situação, seja positiva ou negativa.

Quando se sabe que aquilo que está acontecendo agora é apenas transitório na encarnação, o ser se prepara para a transição sem se apegar ao momento de agora. Vive o momento de agora consciente de que durará apenas por certo período, mas um dia se transformará. Quando isso ocorrer, não será surpresa para ele, mas algo esperado, certo, previsto.

Veja o exemplo dos furacões que ocorreram agora pouco. Na primeira cidade ninguém previu que poderia haver alagamento, que a cidade não se alteraria de seca para molhada, apesar da clara possibilidade disso acontecer. O que aconteceu? Alto sofrimento. No segundo local onde houve furacão todos já estavam conscientes da vicissitude que poderia ser gerada. Por isso, se prepararam para a mudança. Com isso, não sofreram.

A mesma coisa acontece na sua vida. Se estiver preparado para o fim do prazer ou da dor, não se apegará ao que está vivendo no momento. Viverá o prazer no momento dele e a dor no momento dela. Não se apegará ao que está sendo vivido naquele momento por conta da certeza da alteração futura do sentido da vida.

Esse é o primeiro aspecto.

Você quer ser feliz incondicionalmente, ou seja, aproximar-se de Deus? Viva com a convicção que é um espírito e que está em uma encarnação onde a vicissitude ou alternância das situações da vida são inexoráveis, Irão acontecer mais dia menos. Vivendo com essa convicção esteja sempre preparado para as mudanças.

Por isso, prepare-se para o momento em que acontecerá o que não gosta, mas também se prepare para aquele onde acontecerá o que gosta. Isso é preciso para não se apegar ao sofrimento.

Esse é o primeiro detalhe a partir do conhecimento do que é expiação.

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É preciso estar consciente das mudanças

Essa preparação que estamos falando tem outro aspecto importante: o viver cada situação dentro dela mesma.

Sabe, aquele que não vive a vida como encarnação, ou seja, não entende a expiação, não atenta-se ao momento em que a vicissitude está se alternando, que o acontecimento está se alternando. Por isso, mesmo com a situação alterada, ainda quer vive-la dentro da perspectiva anterior.

Vou dar um exemplo para facilitar a compreensão do que estou querendo dizer. Vocês sabem que não falo de atos, mas para ficar claro o que estamos conversando, vou falar de um ato.

Existem pessoas que não têm onde caírem vivas, mas mesmo assim não economizam dinheiro. Pessoas que de repente perderam o emprego, mas mesmo assim saem gastando tudo que têm. Pessoas que não concebem que hoje não têm mais o que tinham, mas continuam vivendo como se tivessem.

Essas pessoas hoje precisariam viver de forma diferente porque uma nova situação se fez quando a vida alterou-se. Deviam, mas não vivem, porque não estão conscientes de que houve uma expiação.

Viver o momento consciente da sua nova posição: esse é um detalhe fundamental que o ser humanizado não consegue, a não ser quando entra na miséria absoluta. Ele não realiza as vicissitudes ou alternâncias das situações da sua vida. Por isso, muitas vezes já está no que vocês chamariam de vicissitude positiva, mas ainda sofre a dor que já foi embora, que já acabou. Às vezes está no momento da vicissitude negativa, mas quer mostrar e se sentir como se estivesse tudo bem na vida.

Esse é o segundo aspecto que precisamos nos atentar. A vicissitude vai ocorrer e se o ser humanizado não estiver consciente das alterações, vai ficar preso no passado ou no futuro. Com isso não viverá o seu momento necessário para a elevação espiritual.

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Destrua tudo que é humano

Participante: a minha dificuldade é vivenciar tudo isso que você ensina. Na prática parece que esquecemos tudo. Como fazer para vivenciar e ficarmos um pouco mais desapegado?

Não é difícil não. É mais fácil do que você imagina.

Lembra que falei da primeira condição para entender o que estamos falando? Não ser um humano e não viver uma vida material. Então, comece destruindo a si mesmo como ser humano. Vamos fazer isso?

Qual o seu nome?

Participante: Maria.

Destrua a Maria.

O que você é: homem ou mulher? Destrua essa concepção.

Quantos anos têm? Destrua essa crença.

Quem são seus pais? Destrua essa filiação.

Quem é seu marido ou seu filho? Destrua esse apego familiar.

Sabe porque você precisa fazer isso? Porque todas essas coisas são humanas e não espiritual.

Onde você mora? Sai de casa para trabalhar? Destrua essas crenças.

Destruí-las não é parar de trabalhar, mas acabar com a obrigação de ir trabalhar, destruir o trabalho como uma realidade, como algo bom. Libertar-se da ideia de que estar empregado é uma forma de ganhar dinheiro, de sustentar.

Esse é o caminho. Você não consegue viver o ensinamento na prática porque ainda é humana e todo aquele que vive como humano não consegue vivenciar a certeza da vicissitude. Ao invés disso, sonha com dias melhores, como uma vida calma, em ter bens e conforto na vida. Crê que poderá viver em paz com a vida o tempo inteiro, que não terá carências.

Se isso é verdade, o que precisa ser feito é deixar de sonhar com essas coisas. Sim, sonhar, porque elas não acontecerão sempre. Você não nasceu para viver em paz, mas sim vivenciar vicissitudes, expiações. Por isso, não pode sempre viver o que satisfaz.

Essa é a prática: destrua quem você é e a vida que tem. Sem fazer isso nem você nem nenhum outro ser humanizado consegue colocar em prática. Por isso levam uma vida com vicissitudes de estado de espírito: passam pelo prazer na hora que a vicissitude é positiva, passam pelo sofrer na hora que é negativa.

Mais uma coisinha interessante. A situação que se altera não é a espiritual, mas a material. Só a situação material é sujeita a expiações, a lei da expiação, não a espiritual. Ou seja, o que muda é a sua vida de ser humano e não a espiritual. Saiba disso e mantenha-se em paz quando a sua vida de humano viver vicissitudes.

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Faça o que quiser, só não deixe de ser feliz

Participante: pois é, comecei uma terapia hoje para conseguir levar uma vida que me agrade. Agora estou aqui e o senhor diz tudo isso.

Terapia psicológica?

Participante: sim.

Psicologia e a ciência da exaltação do eu humano; espiritologia é a ciência da destruição do eu. Uma coisa é antagônica a outra. Aquele que ser espírito na carne deve tratar-se pela espiritologia e não pela psicologia.

Por isso digo que você precisa definir o que quer ser. Querendo ser humana, ninguém vai julgá-la, ninguém pode criticá-la ou acusa-la. Só Deus poderia, mas Ele não critica nem julga nenhum ser. Ele simplesmente diz: ‘meu filho, louvado seja você, vou dar mais uma oportunidade de abrir mão do egoísmo’. .

Participante: a psicologia é a exaltação do eu?

Sim, exaltação do eu humano, que é o ego. Digo isso porque essa terapia leva a desejos e paixões por coisas humanas, o que é fruto da personalidade humana.

Participante: se terapia é exaltação do ego e a espiritologia é a destruição, acho que estou no meio. E aí, algum problema?

Livre arbítrio: só você decide o que quer para si.

Isso é livre arbítrio nessa vida: querer buscar a Deus ou não. Essa decisão é com você, ninguém pode toma-la no seu lugar. Por isso também ninguém pode acusa-la por ter tomado essa ou aquela opção. O livre arbítrio é dado por Deus e se Ele lhe deu esse direito, quem seria eu para falar alguma coisa?

Participante: mas, preciso ter um emprego e não consigo.

Porque precisa ter? Acha que será ele que vai lhe sustentar?

Para você que pensa assim respondo como Cristo ensinou: porque se preocupa com o que vai comer? Se o Pai dá comida aos passarinhos porque não vai cuidar de você? Porque se preocupar com o que vai vestir? Veja como são bela as roupas que Deus dá às flores. Veja, nesse ensinamento não está se falando em não comer, mas em se preocupar com isso.

Quem disse que para se sustentar você precisa ter emprego? Melhor: para que quer ganhar dinheiro? Para sair de uma vicissitude, para não passar por alguma necessidade? A vicissitude nunca se encerará na sua vida, pois como vimos ela é a alternância das situações. Por isso, quando o momento que vive hoje mudar para ter emprego, continuará havendo uma vicissitude, ou seja, amanhã de uma ou de outra forma não terá novas carências.

É disso que estamos falando. Procure emprego, se quiser, faça a terapia, se quiser, mas não acredite que qualquer coisa que fizer acabará com os seus problemas. Ele sempre voltará. Por isso, o que pode resolvê-lo é aprender a viver a alternância das situações sem deixar isso alterar a sua paz interior.

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A necessidade de desejar

Participante: com o emprego as pessoas me dão valor. Infelizmente a vida é assim. Sem emprego sou subestimada pelos meus sogros. Isso me angustia.

Deixe-me só falar uma coisa: o objetivo da vida é aprender a viver com Deus, para Deus e em Deus. Mais nada.

Saiba que a sua busca de ser aceita por outro ser humano afeta a vivência com Deus. O sofrimento com que vive e a crítica que está fazendo a outro ser humanizado fere a sua ligação com Deus. Achar que alguém não lhe valoriza e sofrer o acusando de qualquer coisa, acaba com seu amor ao próximo. Por isso fere a sua ligação com Deus.

Então, volto a repetir: sua busca nessa vida não é conseguir qualquer coisa para si individualmente. Por esse motivo se quer elevar-se espiritual não deve fazer nada objetivando calar a boca dos outros.

Sabe qual o nome real dessa sua ânsia de querer arrumar um emprego para calar a boca dos seus sogros? Sabe o que é realmente isso que está defendendo como algo certo de ser feitor? Vingança. Sua real motivação é vingar-se deles, do que eles falam. Na verdade, você não quer um emprego, mas está busca a fama, o ser aceito por todos, está buscando o elogio. Há alguma virtude em se vingar dos outros?

O emprego é importante para quem está nessa vida? Até posso dizer que sim, mas não deve ser fonte de sofrimento. Por isso ele deve ser importante se tiver. Agora, se não tiver, não deve ser.

Ser aceito pelos outros nessa vida, para aquele que busca a Deus não deve ser algo importante, porque quem realmente O encontra não precisa de mais nada nem ninguém. Para quem vive essa busca, a relação que importa nessa existência é com o Pai.

Sobre isso há um texto de Madre Tereza de Calcutá muito importante. Nele ela fala de muitas coisas e no fim do texto diz assim: no final, tudo é entre eu e Deus. Sim, ela está certa, pois no fim das contas é com Ele que cada ser terá que se acertar na eternidade, não com seus sogros.

Participante: mas, se não desejamos nada, não fazemos nada. Temos que querer para fazer, não é? Então, para viver nesse mundo temos que querer as coisas. Se não fizermos isso, como vamos querer trabalhar, acordar cedo, etc.?

Você não tem que querer para fazer: Deus é Causa Primária de todas as coisas. Por isso não é o seu querer que faz as coisas acontecerem, mas o Senhor.

A vida vive a vida. Não é você que a cria: ela é criada por Deus, é um dom de Deus. Os acontecimentos da vida são dons de Deus. Por isso, se a sua expiação lhe obrigar a trabalhar, trabalhará, gostando ou não. Obrigando a estudar, estudará, gostando ou não. O que você acha das coisas da vida não tem a menor influência sobre o que acontecerá.

Sabe o que o desejo faz, sabe qual a sua finalidade? Entrar em choque com a realidade. Já reparou que quem está trabalhando tem vontade é ficar em casa? Já quando esse ser está desempregado, a vontade é arrumar emprego.

Já reparou nisso? Quem está estudando gostaria de estar de férias para curtir a vida. Quem está de férias quer voltar para a escola porque está com saudades dos amigos.

Repare nisso: a sua vontade, o seu desejo, é sempre inimigo da sua vicissitude, do momento que está vivendo. Aliás, não poderia ser diferente, pois é algo vindo do ego, do tentador. Ele precisa lhe tentar: ‘olha a sua vicissitude está assim, mas o melhor para você é que estivesse assim. Por isso, sofra’.

Não há nada diferente. Pouco importa o que você queira, sempre será isso.

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Libertando-se do ego

Participante: como parar o ego? Como detectar essa ação dele? Acho impossível conseguir.

Como detectar? É fácil fazer isso. Você acabou de mostrar como. Quando disse preciso trabalhar estava realizando uma ação racional, do ego. Essa necessidade é a personalidade humana lhe tentando para que queira viver uma realidade diferente da vicissitude que tem no momento. Quando observar isso acontecendo, é hora de trabalhar para se libertar da necessidade de qualquer coisa.

Como pará-lo? Tendo a consciência que está vivendo uma vicissitude, ou seja, um elemento da sua encarnação e não um acontecimento da vida. Tendo essa consciência saiba que as coisas sempre vão se mudar. Por isso, compreenda que hoje pode não estar trabalhando, mas amanhã estará.

É isso. Como detectar? Fácil: sempre que houver uma necessidade, aquilo não é necessário, mas apenas uma tentação. Como parar com isso? Vivendo a realidade: isso é temporário, transitório. Por causa dessa transitoriedade da vida, se prepare quando tiver empregado para o futuro desemprego, ao invés de esperar ele chegar e aí só lamentar o que não pode fazer por causa do desemprego. Curta seu emprego atual, mas saiba que ele vai acabar um dia.

Um ponto importante: não estou falando em não procurar emprego. O que estou dizendo é que se quer conviver com Deus não deve querer estar empregado quando não está. É diferente.

Por isso, se está procurando emprego, procure, mas não faça isso com a esperança de achar. Procure apenas com a consciência de que essa é a vicissitude daquele momento da sua vida.

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É preciso ter fé para aproximar-se de Deus

Para completarmos nosso estudo de hoje faltou falar só de um elemento necessário para se viver em paz com a vicissitude. Além da conscientização de estar encarnado vivendo provações, para vivermos em paz é preciso ter fé: confiança e entrega absoluta a Deus.

Sem fé, ou seja, sem confiança e entrega a Ele ninguém consegue viver a sua vicissitude sem ranger de dentes. É por isso que o espírito da verdade fala que o objetivo da expiação é aproximar o espírito de Deus. Estamos afastados Dele, por isso precisamos fazer algo para nos aproximarmos. Isso só será realizado com o exercício da fé e a consciência de que é um espírito que não está vivo, mas vivenciando expiações. Só assim o ser poderá conseguir aproximar-se de Deus, da realidade universal.

Por isso, além da consciência de que tudo é gerado por Deus como uma oportunidade para a elevação espiritual, precisamos realizar a entrega ao Pai com a confiança plena de que tudo que Ele cria é para nos aproximarmos Dele.

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Não acabe com a divindade da expiação

Portanto, o que falamos aqui é a expiação. Aprender a conviver com ela da forma que comentamos aqui é o caminho para se sair da roda da expiação ou encarnações. Não há outra forma, nem outra verdade sobre esse assunto.

Sabe, chamar expiação de pagamento de débito é uma prova de que se está muito longe de tudo que é real, que pertence ao universo. Quem fala que expiação é um sofrimento necessário mostra que está muito por fora da realidade universal.

Expiação – agora vou usar uma palavra importante para falar dela – é algo santo, sagrado. Isso porque o resultado da vivência da expiação dentro da premissa que falamos, sem ranger de dentes, é a marca da evolução espiritual do ser. É sagrada porque a é obra de deus e tudo que vem do Pai é santo. Santo, santo, santo seja o seu nome.

Atribuir a expiação um papel meramente coadjuvante na vida, ou seja, dizer que ela existe apenas como uma forma de castigo é desmerecer essa santidade. Classificar como expiação apenas o momento em que está acontecendo aquilo que não se gosta, é acabar com a divindade que esse instrumento criado por Deus possui.

Por isso digo que precisamos aprender a conhecer um pouco mais do mundo espiritual. Precisamos aprender a nos espiritualizar para poder viver o divino como divino e o material como material.

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A atenção dos espíritos elevados

Participante: espíritos muito evoluídos, como Jesus e Maria, escutam quando falamos com eles nas orações?

Grande pergunta.

Em O Livro dos Espíritos há uma pergunta assim: ‘o espírito pode saber de tudo o que acontece’? A resposta do espírito da verdade é: ‘até pode, mas disso depende do grau de elevação do espírito, pois quanto mais eles se elevam, menos se preocupam em saber de tudo. Na verdade ocupam-se em saber só aquilo que for preciso saber, aquilo que esteja ligado ao serviço a Deus que está desempenhando naquele momento’.

Sendo assim, posso dizer que Cristo e Maria vão ouvir você, se o que disser for útil ao universo. Se ficar rezando para eles ou qualquer outro ser elevado pedindo para passar de ano, para arrumar emprego, com certeza não será ouvido.

Desculpe o que vou falar agora. Não me leve a mal, até porque você já sabe como eu sou. Digo que eles não vão perder tempo com orações com esse conteúdo porque sabem que o que tiver que acontecer fará parte de uma vicissitude. Sabem que tudo acontecerá de acordo com o plano de vida de cada um. Por isso, não vão perder tempo ouvindo de você o que não tem sentido para o espírito.

Se na sua oração estiver envolvido o amor ao próximo e a Deus acima de todas as coisas, um amor sem condicionalidades, sem pedidos, paixões ou desejos, eles ouvirão, pois faz parte da missão de Cristo e Maria com a humanidade.

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Acabando com a histeria humana

Antes de acabar, me deixem falar algo.

Já aconteceu em outros lugares e aqui hoje: o chocar-se com o que falo. O choque de hoje veio com a pessoa que tinha começado uma terapia e depois que ouviu nossa conversa ficou sem saber o que fazer. É a respeito disso que quero falar agora.

Chocar vocês que estão encarnados é a nossa missão, nosso trabalho. Preciso chocá-los com tudo o que digo. Não posso ficar contemporizando sem enfrentar profundamente o que vivem hoje.

Isso é natural ser feito. O que se faz com alguém histérico? Damos um beijinho na cabeça, falamos mansinho (quietinho, calminha), ou se damos um tapa na cara? É preciso dar um tapa na cara. Sem isso não há o aquietar-se para quem está histérico.

Esse é o nosso trabalho, a nossa missão: despertar espíritos que estão histéricos com a humanidade que estão vivendo. Para isso precisamos enfrenta-los e chocá-los.

Sendo assim, tenham a certeza que todas as palavras que proferi hoje e outros dias, apesar de aparentemente afrontar as suas crenças, têm como fundamento o amor que tenho por Deus e o objetivo de provocar um choque em cada um. Precisamos fazer isso para ajuda-los a despertar da histeria humana que vivem hoje e que os leva a ficar sentado chorando e sofrendo durante a vida, acusando os outros de serem do mal. Fazemos isso com o objetivo de lhes levar a viver a realidade e assim encerrar o ciclo expiatório.

Que a paz esteja com vocês.