Vivência espiritualista
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Vivência espiritualista

Espiritualista é aquele que além de acreditar haver em si algo além da matéria, vive para este algo. Por causa desta crença, o espiritualista precisa vivenciar as coisas do mundo carnal de uma forma diferenciada. É sobre esta forma de vivenciar os acontecimentos deste mundo que Joaquim conversa nesta série de palestras.

OBS: Áudios nos capítulos

Vivência espiritualista

Introdução

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Inrodução

Vamos começar hoje uma série de conversas sobre a vivência espiritualista da vida, ou seja, vamos conversar sobre uma forma de se vivenciar os acontecimentos da vida humana. Por que é preciso ter este tipo de conversa? Vamos começar respondendo a esta questão, mas antes eu queria deixar uma coisa muito bem clara.

Apesar de estarmos falando sobre forma de viver, por favor, não imaginem que estou querendo criar normas, regras ou padrões de vivências dos acontecimentos humanos. Longe de mim estabelecer uma forma certa ou obrigatória de se viver qualquer coisa. Não é isso que pretendo com este trabalho.

O que pretendo é mostrar aos espiritualistas que existe uma forma de viver que leva a uma determinada consequência e outra que leva à outra consequência. Não estarei falando nunca em obrigação, obrigatório, mas pretendo lhe dizer que se vivenciar os acontecimentos deste mundo de uma forma, alcançará isso; vivenciando de outra forma alcançará aquilo.

A partir do momento que você ouvir o que tenho para dizer, então, é o seu livre arbítrio que indicará como vivenciar cada momento desta existência. Cada um terá e tem o direito de escolher aquilo que quer vivenciar. É por isso que ao fazer estas conversas não estou criando normas ou padrões, mas apenas indicando caminhos que levam a lugares diferentes.

Dito isso vamos, então, responder por que é preciso haver uma forma de viver espiritualista. Para responder esta questão temos que entender o que é ser espiritualista.

Espiritualista, segundo O Livro dos Espíritos, Introdução I, é aquele que acredita haver em si algo além da matéria. Só que todos os mestres ensinaram que nada adianta a submissão à letra fria dos ensinamentos. Para que eles possuam algum valor, é preciso que haja uma ação de acordo com aquilo que se acredita.

Por causa disso, posso dizer que ser espiritualista é muito mais do que acreditar que existe algo além da vida ou além de si mesmo, mas viver para este algo mais. É esta necessidade de se viver para este algo mais que é a primeira razão pela qual é necessário se compreender e imaginar que há um caminho espiritualista. Mas, não pensem que isso é exclusividade dos espiritualistas...

Existem caminhos para aqueles que são católicos, evangélicos, budistas ou espíritas. Cada doutrina possui um caminho que é indicado para os seus seguidores. Cada caminho destes é voltado para determinado seres humanos: aqueles que comungam com os ensinamentos de uma doutrina.

É por isso que afirmo que não vamos falar sobre certo ou errado. Não existe caminho certo ou errado: tudo o que existe são caminhos que atendem a necessidade de determinados seres humanos.

O ser humano católico, por exemplo, tem algumas crenças. São elas que devem compor o caminho que este ser deve seguir. O budista, o evangélico e o espírita a mesma coisa. O materialista também. Cada um tem seu caminho. Por isso é preciso conversar sobre o caminho ou a forma de viver os acontecimentos da vida humana específico para os espiritualistas.

Esta é a minha motivação ao fazer esta série de conversas. Estarei falando àqueles que acreditam haver em si algo além dele mesmo e que querem viver para este algo.

Mas, porque os caminhos são diferentes? Porque não existe um só caminho para todos os seres humanizados? Porque cada caminho leva a um determinado ponto. Vou explicar isso...

Para os cristãos há um objetivo a ser alcançado durante a vida: atingir o reino do céu. Para os budistas é alcançar o nirvana. Portanto, os caminhos que estamos falando partem do agora e levam o ser humanizado à atingir o objetivo que é traçado pela sua própria crença.

Sendo isso verdade, pergunto: qual o objetivo de um espiritualista? Isso é importante entendermos agora antes de começar a conversar. Para isso vamos ver a pergunta 115 de O Livro dos Espíritos...

“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de Si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade...”

Para o Espírito da Verdade, o ser renasce, revive, vive em diversas vidas, com o objetivo de atingir a perfeição. Reencarnações, que é uma crença do espiritualista, é um processo de vivência de várias vidas humanas onde o espírito busca atingir a perfeição.

Por causa desta afirmação, posso, então, dizer que atingir esta perfeição é o fim do caminho que o espiritualista deveria trilhar. Mas, o que é atingir a perfeição? Segundo a mesma pergunta, o espírito quando atinge esta perfeição aproxima-se de Deus.

Esta é a primeira conclusão que tiramos neste trabalho. O que vamos falar é de uma vivência de acontecimentos humanos que leve o ser a aproximar-se de Deus. Ela, por exemplo, é diferente do caminho do ser humano materialista, ou seja, aquele que acreditando ou não na existência de algo além da matéria, vive para a própria humanidade. Para o ser humano materialista a realização ou atingir o fim da caminhada é conseguir a vitória, ganhar, ter prazer, alcançar o reconhecimento e o elogio. Este é o reconhecimento material que mostra a este ser que ele conseguiu atingir o objetivo de sua existência.

Então, o ser humano materialista vive num caminho buscando realizações materiais e com isso aproximar-se de algo que é chamado de sucesso... Não estamos falando em sucesso como aparecer na televisão ou ser reconhecido na rua, mas conseguir realizar objetivos materiais.

Se este é o caminho do materialista, não pode ser o do espiritualista. Até porque, como já dissemos, o objetivo primário destes seres é alcançar a perfeição e isso se traduz em aproximar-se de Deus. Mas, há algo mais que o espiritualista busca... Na mesma pergunta que citamos, também é dito que ao se aproximar de Deus, ao atingir a perfeição, o espírito vive a felicidade plena.

Com estes conhecimentos, traçamos, então, o objetivo da caminhada do espiritualista. Ele não quer atingir o reino do céu, não quer atingir o nirvana ou a realização material: ele caminha, ou seja, vivencia os acontecimentos da vida buscando aproximar-se de Deus e viver a felicidade plena.

Um parêntese...

Felicidade plena não tem nada a ver com satisfação, conseguir realizações. A felicidade plena é algo que vocês pouco conhecem e que nós podemos traduzir como ter uma vivência em paz e harmonizado com o universo.

Então, este é o objetivo da vivência do espiritualista. Em cada acontecimento da vida que o ser humanizado espiritualista vivencia, ele o faz de uma forma que não se afaste de Deus e não deixe de viver a felicidade plena. Será sobre esta questão que iremos falar: vamos falar de diversos acontecimentos corriqueiros da vida do ser humanizado e abordar uma forma de viver estes acontecimentos, a vivência, sempre levando em consideração que para o espiritualista o objetivo final é aproximar-se de Deus e permanecer na felicidade plena.

Como já disse, ir por este caminho ou qualquer outro é opção. Por isso insisto que nosso trabalho não tem o objetivo de estabelecer regras, normas ou caminho obrigatório ou certo. Simplesmente o que vamos fazer é colocar uma placa dizendo: se for por este caminho, ao final da sua vivência, irá se aproximar de Deus e viverá a felicidade plena.

Poderíamos parar por aqui esta introdução, mas ainda falta estabelecermos duas coisas. A primeira: se vocês já repararam eu estou falando o tempo inteiro em vivência e não em viver. Qual a diferença entre estas coisas?

Viver é participar fisicamente do acontecimento. É ser um agente presente ao acontecimento. Por exemplo, viver é escolher entre a direita ou a esquerda, achar que aquilo está acontecendo com você, receber o que está acontecendo ou praticar alguma coisa. Vivenciar não tem nada a ver com matéria ou movimento. Tem a ver com forma interna de observar o que está se passando.

Sendo assim, posso dizer que a vivência do acontecimento não está em participar da ação, mas é gerada pela forma interna, mente e coração, que você se faz presente naquele momento. Vou dar um exemplo para ficar bem claro o que estou dizendo... Se uma pessoa profere uma calunia contra você, viver é ouvir a calúnia, vivenciar é sentir-se caluniado ou não.

Viver é físico, é participar com os órgãos do sentido humano. Vivenciar é interno: a mente e o coração participam. Por isso, se nós vamos falar de vivência, não vamos falar do que tem que ser feito, da forma como você fisicamente deve participar: se deve ou não usar alguma coisa, se deve ou não fazer algo, se deve pegar. Não falaremos de nada disso. Estaremos sempre analisando o mundo interno, a forma interna de estar presente naquele momento.

Quando falo isso explico também a razão de algo que já falamos: a necessidade de celebrar a vida. Só quando você está atento à sua forma de participar, a vivência, pode celebrar a vida, o que é fundamental para se estar perto de Deus e viver a felicidade plena.

Como já dissemos em outra oportunidade, vocês não celebram a vida, mas a morte. Isso porque celebram o viver, ou seja, a participação física na vida. Celebrar a vida só pode acontecer quando a vivência da vida é celebrada, porque é esta vivência que lhe leva a estar mais perto de Deus e na felicidade plena.

Este é o primeiro detalhe que faltava. O segundo trata-se de uma pergunta que precisa ser respondida...

O que vamos usar para compor este caminho, o caminho da vivência espiritualista? Claro, os ensinamentos dos mestres. São eles que ditam forma de vivenciar acontecimentos que criam o caminho para a aproximação de Deus. Vou dar um exemplo.

Quando Cristo diz que você não deve julgar, não está criando uma lei, uma obrigação, um conceito. Ele está lhe mostrando que vivenciar os acontecimentos sem o julgar o que está acontecendo lhe faz aproximar-se de Deus, viver em felicidade plena. Quando Krishna propõe o yajña, ele não fala como técnica, como lei ou obrigação. O que ele fala é que se viverem o yajña, ou seja, vivenciarem os acontecimentos sacrificando sua intencionalidade a Deus, vocês se aproximam do Pai e vivem a felicidade plena.

É desta forma que vamos usar os ensinamentos dos mestres. Não criando leis ou obrigações, até porque Paulo diz que a lei só existe para criar o pecado. Diz mais: Deus não aceita o homem pelo cumprimento da lei, mas sim pela fé, que é um dos assuntos que vamos conversar.

Então, não podemos estabelecer leis. Aliás, nem os mestres fizeram isso. Eles criaram corrimões para estes caminhos para vocês se ampararem. Criaram placas indicativas para vocês aprenderem a vivenciar os acontecimentos deste mundo procurando sempre aproximar-se de deus e viver a felicidade plena. Será isso, portanto, que vou fazer...

Vou me balizar pelos ensinamentos de todos os mestres, mas o farei isso seguindo o sentido que estabelecemos como objetivo da vivência do espiritualista: aproximar-se de Deus e viver em felicidade plena. O que vou fazer em cada acontecimento analisado é dizer: Cristo disse isso, se você vivenciar este determinado momento seguindo este ensinamento se aproxima de Deus; se não vivenciá-lo seguindo o que o mestre falou se afasta Dele.

Mas, dentre os ensinamentos dos mestres, quais são os mais importantes, aqueles que devemos nos ater mais proximamente?

Primeiro e segundo: amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Por isso sempre que indicar uma vivência, ela terá que estar subordinada a este mandamento de Cristo. Estes são os primeiros e mais importantes, pois como este mestre mesmo diz, são os dois únicos mandamentos que devem ser seguidos. Eles são a diretriz básica, principal, para aquele que quer ter uma caminhada espiritualista, ou seja, quer chegar ao final atingindo a perfeição e com isso estar mais próximo de Deus e viver a felicidade plena.

Outro ensinamento que estará sempre presente nas conversas que teremos é a máxima de Krishna: viver sem intencionalidade. Se você tem uma intencionalidade está amando a si acima do outro e de Deus. Portanto, a cada acontecimento da vida analisado preciso mostrar a presença da intencionalidade e dizer que se ela for vivenciada – intencionalidade é algo interno, portanto ela é vivenciada e não vivida – o ser atingirá outro objetivo e não o espiritualista.

Vamos usar, também, o ensinamento básico de Buda: desapegar-se das posses, paixões e desejos. Isso porque possuir, ou seja, querer criar determinados acontecimentos para que você tenha uma vivência prazerosa é amar a si mesmo acima de Deus e do próximo. Por isso precisamos vivenciar o despossuir, o não ter posse, o não apaixonar-se e o não desejar como instrumento dessa caminhada. E claro que também seguiremos os ensinamentos do Espírito da Verdade que nos foram trazidos através de O Livro dos Espíritos. Dentre eles, a própria questão da aproximação de Deus e a vivência da felicidade plena que já usamos para compreender os objetivos de uma vivência espiritualista.

Então, será isso que vamos fazer. Estaremos conversando sobre as diversas formas de vivenciar os acontecimentos do mundo humano usando os ensinamentos dos mestres para criar uma forma de viver que ao final da vivência lhe leve a estar mais próximo de Deus e vivendo a felicidade plena, amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, livre das suas intencionalidades, paixões, posses e desejos.

Vivência espiritualista

Vegetarianismo

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Vegetarianismo

Vamos, então, falar da primeira vivência que deste trabalho. Vamos falar sobre comer ou não carne animal, carne vermelha, ser vegetariano ou carnívoro...

Existe neste mundo um acontecimento: comer. Entre os seres humanos existem aqueles que vivem estes momentos comendo carne ou não.

Comer é um ato físico, é vida, por isso participar dele é viver. Por conta disso não vamos falar especificamente em comer carne ou não. Mas, ao passar por este acontecimento, o ser humano tem vivências, vive internamente algumas coisas. Será sobre esta vivência interna que vamos falar e não sobre o próprio ato, sobre ingerir carne ou não.

Só que antes de falar da vivência, deixem-me dizer uma coisa. Muitas pessoas devem estar estranhando a escolha deste determinado acontecimento da vida humana para começar estas conversas. Aparentemente, haveria acontecimentos muito mais importantes para se discutir a vivência do espiritualista do que o comer ou não carne. Mas, isso não é verdade. Essa vivência é muito importante porque vai nos dar a oportunidade de traçar mais um parâmetro para o a caminhada do espiritualista.

Digo isso porque no mundo material existe uma lenda – história que não tem nenhum significado de verdade, mas que é transmitida pelas gerações – que afirma que aqueles que não comem carne são mais puros espiritualmente, estão mais próximos de Deus, são pessoas mais elevadas. Isso é lenda. Porque isso é lenda? Vamos tentar entender esta questão e ao compreender porque isso é lenda vamos, então, colocar mais um corrimão para o espiritualista alcançar a vivência real que o aproxima de Deus.

Em O Livro dos Espíritos é dito que a caminhada do espírito desde a ignorância até a perfeição é realizada em fases, que comumente foram chamadas de mundo. Também é dito na literatura de Kardec que vocês que agora estão encarnados no planeta Terra são espíritos vivendo num mundo de provas e expiações.

O que isso quer dizer? O que quer dizer ser um espírito vivendo num mundo de provas e expiações? A resposta está no próprio O Livro dos Espíritos.

Vivenciar um mundo de provas e expiações é estar vivendo um período de provações morais. Provações internas, referentes à emotividade, às sensações, a sentimentos. Estar encarnado neste mundo não tem nada a ver com provas materiais. Ser um espírito num mundo de provas e expiações é estar vivenciando provações morais.

A partir disso faço a primeira pergunta: em que a carne do boi pode interferir na moral do espírito encarnado? Nada... O máximo que ela pode causar são problemas no estômago ou disenteria. Isso porque a carne só age na carne, na matéria e não na moral do espírito.

Isso precisa ficar bem claro e como disse vamos estabelecer um novo corrimão para este caminho. Aquele que quer alcançar uma vivência espiritualista, ou seja, aquele que quer aproximar-se de Deus nesta encarnação e viver a felicidade plena, se atenta à questão moral, ou mundo interno e não às coisas materiais. Mais: ele sabe que as coisas da matéria não interferem no espírito.

“30. A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva”.

“31. Donde se originam as diversas propriedades da matéria? São modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias”.

O Livro dos Espíritos

Como disse, esta questão está bem calar em O Livro dos Espíritos. Quando se fala de matéria neste livro, o Espírito da Verdade fala que a matéria humana é o resultado das diversas combinações da matéria universal. Sendo assim, a cadeira, o cimento, a tinta, o corpo humano e cada elemento do universo é a mesma coisa: é a transformação do mesmo elemento universal, que em O Livro dos Espíritos é chamado de fluído cósmico universal, que ocorre pela combinação deste elemento de forma diferente.

Mas, sobre este tema, O Livro dos Espíritos tem mais informações...

“22a. Que definição podeis dar da matéria? A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”. (Idem)

Quando se fala da relação do espírito com a matéria, o Espírito da Verdade nos ensina que ela é aquilo que envolve o espírito e que ele usa para agir sobre ela mesma. Ou seja, matéria é algo que envolve o espírito – algo que vocês chamam de perispírito – e que o espírito usa para agir sobre ela mesma.

Se isso é verdade, pergunto: como a matéria pode influenciar a moral do espírito? Se ele apenas usa a matéria, como ela, que não usa o espírito, pode influenciá-lo internamente?

Por isso o estudo desta vivência é muito importante. Ela nos estabelece mais um corrimão para caminharmos em direção a Deus: a vivência espiritualista não pode ser influenciada pela matéria.

Nesta afirmação, não estou falando nem só da matéria que você convive através dos órgãos do sentido. Falo também daquelas que vocês não têm percepções sensoriais, como a energia espiritual. Estou falando de energias negativas, inveja, olho grande, que são enviadas sobre vocês. Isto é matéria e por isso não pode influenciar o seu aspecto moral.

Ninguém bebe porque tem um obsessor que manda energia para ele beber. A matéria não pode influenciar a moral do espírito, por isso não pode criar vícios, que é algo que faz parte do mundo interno de cada um.

É por conta desta informação que começamos nosso estudo por esta vivência, apesar de saber que muitos estão achando estranho este fato. Aparentemente não seria um assunto tão importante, mas a lenda sobre a questão daquele que não come carne ser mais puro, estar mais perto de Deus, ter uma vida em felicidade plena, influencia a muitos e por isso precisamos desmistificá-la. Só o que aproxima o espírito de Deus, da vivência da felicidade plena é a elevação moral e ela não é afetada por matéria alguma, inclusive pelas matérias inebriantes: álcool, comida ou tóxico. Mas, isso é assunto para outro dia...

Portanto, o vegetariano não é melhor nem superior ao carnívoro. Desfeita a lenda, podemos, então, conversar mais um pouco sobre a vivência do acontecimento comer carne ou não.

Depois do que eu disse, pergunto: o espiritualista come ou não carne? Não sei... Isso vai do gosto de cada um. Se você gosta de comer carne, coma; se não gosta, não coma... Comer ou não fazer isso não caracteriza evolução alguma, pois como disse, a evolução é moral e não física. É no aspecto moral que devemos estar atento e não na parte física...

Por isso, pergunto: o que é amoral na caminhada para Deus? Cristo deixou bem claro isso: a moral é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Krishna também deixou bem claro: a moral é viver sem intencionalidade. Buda também: a moral é não se apegar à paixões, posses e desejos.

É nesses aspectos que formam a moral que os mestres ensinaram que o espiritualista se concentra na sua caminhada. Ele não se preocupa em comer ou não carne, mas sim em ao comê-la ou deixar de comê-la amar a Deus acima do que está acontecendo. O que é amar a Deus acima de comer carne ou não? É estar feliz por estar com Deus e não por comer a carne ou por não comê-la.

O espiritualista se preocupa em comendo carne ou não em amar o próximo como a si mesmo. O que é comer carne ou deixar de comê-la amando ao próximo como a si mesmo? É respeitar o direito de o outro comer ou não, gostar ou não.

É isso que é a vivência do espiritualista. É isso que é analisar os acontecimentos humanos à luz dos ensinamentos dos mestres.

Sabe, se Cristo ensinou que o primeiro e maior mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas, pouco importa se você come carne ou não: ame a Deus acima daquilo que você ou outra pessoa coma.

É preciso viver em paz e harmonia comendo ou não a carne. Para isso é preciso amar o outro, ou seja, respeitar o direito do próximo alimentar-se de carne ou não. Para respeitar este direito é preciso que o espiritualista retire do seu mundo mental estas lendas que podem criar a ideia de que a atividade material pode influenciar a moral do espírito.

A matéria afetar a moral do espírito é impossível: nós já provamos isso. E olhe que eu nem usei o ensinamento da Bíblia onde Deus ainda no Jardim do Éden coloca os animais à disposição do homem para servi-lo, ou seja, para servir de alimento a ele.

Essa é a vivência. Para chegar a ela, o espiritualista vai se libertando das suas posses. Qual a sua posse neste caso? Querer determinar o que cada um pode comer. Falo assim porque possuir não é ter, mas sim querer construir uma vida, um presente. O espiritualista quando abre mão da sua posse come o que quiser e deixa o outro em paz comendo o que quer.

Isso é abrir mão da posse. O espiritualista não tem posse e por causa disso não quer determinar o que o outro vai comer. Ele abre mão da sua paixão pela carne ou por não ingeri-la. Abre mão do desejo de ter ou não carne para comer. Ele vive o que está na sua frente. Isso é celebrar a vida.

Se você se declara carnívoro, mas hoje não tem carne na sua mesa, celebre o fato de não ter carne. Sendo vegetariano, mas tendo apenas carne hoje para se alimentar, celebre o fato de haver a carne, porque foi aquilo que a vida lhe colocou.

O espiritualista não está preocupado em mudar a vida, mas em vivenciar o acontecimento. Esta vivência é a interação interna do ser com os acontecimentos da vida.

Como disse no início da introdução, não estamos aqui para criar normas, obrigações ou conceitos. Ser espiritualista não é comer carne ou comê-la. Ser espiritualista é vivenciar a vida tendo como objetivo apenas estar próximo de Deus e viver em felicidade plena. Mais nada do que isso.

É por isso que esse assunto, apesar de aparentemente não ter tanta importância foi usado como primeiro objeto de nosso estudo. Se já havíamos colocado os ensinamentos dos mestres como corrimão para ajudar o espiritualista a caminhar, agora colocamos mais um pedaço deste apoio que será usado em muitas vivências que veremos daqui para frente.

Este pedaço afirma que as coisas do mundo material não podem influenciar a moral do espírito. Elas podem, sim, testar a moral do espírito. Para isso elas servem. Vegetarianismo ou carnívoro serve para testar o quanto o ser humanizado é capaz de vivenciar as diferenças do mundo apegando-se à busca espiritual ou não.

Esse será mais um elemento que será muito usado em novas conversas que teremos.

Vivência espiritualista

Segurança

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Segurança

O tema de hoje é quase uma febre entre os seres humanos. Nos dias de hoje os seres humanos vivem febrilmente a busca de uma coisa chamada segurança, sentir-se seguros. Existe a segurança alimentar, de saúde, a financeira, familiar. Enfim, em diversos aspectos o ser humano busca vivenciar acontecimentos com uma sensação de segurança.

Hoje é dito que não se devem comer comidas gordurosas, pois isso pode atacar a saúde. Por causa disso, sente-se seguro se não comer este tipo de alimento. Os carros são equipados com grandes aparatos de segurança: cinto, air bag e mais uma série de coisas. Quando possui estes equipamentos no seu veículo o ser humano se sente seguro. As casas são cercadas de alarmes, trancas e cercas elétricas que afirmam que protegem o ser que está dentro da casa para que ele sinta-se seguro.

Mas, será que realmente dá para se sentir seguro durante os acontecimentos da vida? Será que usar estes instrumentos realmente afasta o ser humano do perigo? Eu diria que não...

Uma pessoa vem no seu carro todo equipado com equipamentos de segurança. Está sozinho numa estrada – não tem ninguém na frente nem atrás – viajando dentro da velocidade indicada. De repente vem um carro pelo outro lado da estrada que perde a direção e acaba batendo de frente com este que está sentindo-se protegido porque está utilizando-se de todas as normas de segurança.

Será que estou contando história da carochinha? Estou falando de coisas que nunca aconteceram? Vocês sabem bem que não. Sabem que isso acontece frequentemente nessa vida. E aí, cadê a segurança? Cadê a proteção que os equipamentos lhe prometeram?

Outra pergunta. Tem um grupo de pessoas numa calçada. Pela rua vem um carro que perde a direção. Ele passa por todas as outras pessoas que estão na calçada sem atingi-las e vai acertar exatamente uma determinada pessoa. Porque ele escolheu aquela pessoa? Porque não acertou um antes ou um depois?

Estes são exemplos que mostram claramente que os equipamentos ou opções de segurança realmente não podem proteger a todos...

Mas, qual o custo para o espiritualista por sentir-se seguro? Quando se sentido seguro por usar os sistemas de segurança é a casa dele que é invadida, é ele que escolhido para ser atropelado, para sofrer o acidente, o que acontece com este ser humano? Sofrimento...

Ele sofre, tem raiva, fica magoado... Começa todo um processo que lhe leva a perder a sua paz, a harmonia e a felicidade. Ou seja, afasta-se de Deus.

Esse é o raciocínio que o espiritualista precisa ter ao vivenciar a as situações onde ele coloca ou possui equipamentos de segurança. Para que? Para não sentir-se seguro...

Sentindo-se seguro por conta destes equipamentos, o espiritualista estará percorrendo um caminho que não o levará a Deus, que não o aproximará do Pai. Por isso, o espiritualista precisa ao vivenciar a vida humana, mesmo que nos acontecimentos dela tenha equipamentos de segurança, não sentir-se seguro.

Quero só fazer um parêntese. Quando falo em não sentir-se seguro, não estou falando em sentir-se inseguro. O espiritualista não deve vivenciar os momentos da vida sentindo-se seguro ou inseguro. Para isso ele precisa saber que nesta vida existe um detalhe contra o qual os equipamentos de segurança não tem o menor valor, não podem agir contra. Que detalhe é esse? Fatalidade...

Eis aí mais um corrimão para o espiritualista se apoiar na vivência dos acontecimentos da vida humana. Ele pode colocar sistemas de segurança no seu carro, na sua casa, fazer uma segurança alimentar ou de saúde sem problema algum. O que ele não pode é sentir-se seguro e isso ele consegue sabendo que existe a fatalidade, um acontecimento que nenhum equipamento de segurança impedirá de acontecer.

“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito faz ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, institui para si uma espécie de destino que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado.”... (O Livro dos Espíritos)

Na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta claramente: a fatalidade existe, ou seja, existem acontecimentos que com certeza vão acontecer independente da vontade do ser humano? A resposta é sim, a fatalidade existe. Ou seja, o mentor dos espíritas afirma que vão haver acontecimentos que nada pode mudar.

Porque estas coisas não podem ser mudadas? Porque o sistema de segurança não pode proteger contra a fatalidade? Nessa mesma questão fica bem claro o motivo: porque o espírito ao escolher o seu gênero da prova antes de encarnar criou para si uma espécie de destino que não pode ser alterado depois de encarnado, como está no capítulo sobre a escolha das provas.

“267. Pode o Espírito proceder à escolha de suas provas enquanto encarnado? O desejo que então alimenta pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo isso da intenção que o anime.”... (idem)

A existência da fatalidade: este é o fundamento, o corrimão que o espiritualista precisa usar.

‘Vou instalar todos os equipamentos de segurança que instalar, mas não vou me sentir seguro, porque sei que existe a fatalidade e que ela é inexorável. Ela acontecerá e não tem jeito. Posso me prevenir de qualquer coisa, mas acontecerá o que tiver que acontecer para que o gênero de prova que pedi antes da encarnação ocorra’. Essa é a vivência espiritualista nos momentos onde ele está cercado por equipamentos de segurança. .

Espiritualista, aquele que vive para algo além da matéria, jamais aceita a segurança que a mente propõe, porque sabe que existe a fatalidade. Sabe que a fatalidade jamais vai deixar de acontecer. Portanto, ele caminha pela vida sem sentir-se seguro, mas sem sentir-se inseguro, pois sabe que tudo pode acontecer se estiver pré-programado. E se estiver pré-programado é porque ele pediu esse acontecimento.

Acredito que tenha ficado bem claro o assunto, mas quero dar mais uma pitadinha para vocês entenderem a importância do não vivenciar o sentir-se seguro.

Já disse que quem se sente seguro quando a fatalidade acontece sofre e com isso se afasta de Deus. Mas, tem outro detalhe que afasta o ser de Deus quando ele sente-se seguro.

Por sentir-se seguro, sempre que a fatalidade acontece o espiritualista acha que houve um erro de alguém. Foi o operário que construiu o carro errado, que não fez a cerca elétrica muito boa, foi o motorista do outro lado que não dirigiu bem. Ou seja, quando o espiritualista vive seguro e a fatalidade ocorre, há sempre um culpado para as coisas.

Ao viver a culpabilidade, o que ele faz? Deixa de amar o próximo como a si mesmo, deixa de amar a Deus acima de todas as coisas. Esse é outro aspecto desse tema muito importante.

Se você se deixa levar pela questão do sentir-se seguro e a fatalidade acontecer arrumará culpados e quando fizer isso se afastará de Deus. Esse é outro aspecto que mostra bem a importância deste tema. Mas, há um terceiro que quero abordar e que também serve como mais um corrimão para o espiritualista vivenciar a vida caminhando para Deus.

Eu disse que o espiritualista não deve sentir-se seguro. Disse, também, que não é por causa disso que deve sentir-se inseguro. Mas, como superar a insegurança? Usando um corrimão chamado fé. Apoiar-se na fé.

O que é fé? Entrega com confiança. Para o espiritualista que sabe que existe a fatalidade inexorável poder viver esta vida tendo uma vivência que o aproxima de Deus, ele precisa ter a entrega com confiança a este algo além da matéria que sabe existir. Para que o espiritualista que não vivencia o sentir-se seguro não sentir-se inseguro, é preciso saber que nada jamais acontecerá que não seja o melhor para este algo além, para este algo mais. É dessa fé que estamos falando.

Não importa quando a fatalidade se pronuncie, o espiritualista precisa saber que aquilo foi criado a partir do seu próprio pedido e este foi feito por ele quando liberto da mente humana porque considerava aquilo o mais importante para ele. É essa a entrega necessária para não viver a insegurança. É a entrega ao lado espiritual que o espiritualista, aquele que além de acreditar haver em si algo além da matéria vive para este algo mais, precisa fazer para viver sem insegurança. Ele não deve se deixar levar pela vivência a partir dos aspectos humanos, mas saber que o que está ocorrendo são fatalidades geradas para atender o seu próprio pedido quando liberto da mente humana e que ele foi feito porque sabia que aquilo era o melhor para ele.

Portanto, com este estudo colocamos mais dois corrimões para que o espiritualista se apoie na sua busca da aproximação de Deus. Já havíamos colocado outros quando falamos dos ensinamentos dos mestres e quando abordamos o tema ‘vegetarianismo’ – a matéria não pode influenciar a moral do espírito. Agora colocamos mais dois: o espiritualista vivencia os acontecimentos deste mundo com a certeza de que existe a fatalidade e que ela é oriunda do seu próprio desejo antes de encarnar; ele se entrega à vida, aos acontecimentos da vida, com a confiança de que tudo está programado a partir do seu próprio pedido antes da encarnação espírito e este foi feito porque ele sabia que eram necessários para que tenha, quando sair da carne, o avanço que espera.

Participante: até mesmo se um chá ou uma medicação vai fazer efeito ou não é pedido antes da encarnação?

O chá e a medicação fazer efeito ou não, não é pedido antes da encarnação. O que é pedido é gênero de provas.

Você pede um gênero de provas e Deus dramatiza os acontecimentos da vida para que o gênero de provação pedido esteja presente. Por exemplo: você quer se libertar do apego à ciência biológica humana. Você pede isso. Deus, então, cria uma falha de remédio ou uma doença que por conta da sua forma de viver não deveria ter. Com estes acontecimentos, o seu desapego da ciência médica está em jogo.

Portanto, a situação em si, o desenho da situação não é pedido pelo espírito. É uma fatalidade desenhada por Deus. Só que quando ele desenha esta ou aquela fatalidade para cada um o faz preso ao gênero de provas pedido pelo espírito.

Portanto, finalizando nossa conversa, afirmo que é isso que precisam estar atento: é necessário que o espiritualista jamais sentar-se seguro. Para não se sentir assim, ele precisa se lembrar da questão 851 de O Livro dos Espíritos onde se diz que a fatalidade existe. Também não deve sentir-se inseguro. Para isso precisa usar a fé, ou seja, a entrega com confiança a este algo além que ele não sabe quem é, como é, mas sabe que tudo que acontece nesta vida foi gerado a partir do pedido deste algo mais.

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Relações humanas

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Relações humanas

Hoje teremos a análise do terceiro acontecimento do estudo da vivência espiritualista. Com isso vamos colocar mais um corrimão para que aquele que acredita haver em si algo além da matéria e que vive para este algo mais possa se apoiar na sua caminhada em direção a aproximar-se de Deus que faz enquanto está vivenciando acontecimentos humanos.

Este corrimão será estabelecido a partir da compreensão de como se relacionar com outros seres humanos: relações sociais. Mas, antes, quero fazer uma observação...

Neste trabalho por enquanto estamos conversando de uma forma muito genérica, falando de acontecimentos genéricos e não específicos. Por isso, quando estiver falando agora de relações sociais, estarei falando de relacionamentos com familiares, com amigos, com colegas de escola, com a turma da rua, com inimigos. Estarei abordando os relacionamentos com quaisquer seres humanos. Mais tarde vamos falar dos relacionamentos específicos: familiares, com a parentela, com os inimigos, etc. Agora, no entanto, falaremos bem genericamente sobre o tema.

Para falar sobre os relacionamentos humanos, precisamos entender uma coisa. O que é o mundo que o ser humano vive? O que é a vida de vocês? Eu diria que ela é fundamentada em duas coisas: uma movimentação externa e uma interpretação interna que é dada à movimentação.

A movimentação é externa, mas a interpretação – que na verdade é o que determina o que você está vivendo – é interna. Vou usar um exemplo para explicar isso. Externamente surgiu uma movimentação de uma mão que encontra o seu rosto. Internamente este ato ou movimentação é chamado de agressão. A partir daí o ser humano vivencia uma agressão.

Por conta dessa observação posso, então, dizer que a sua vida é gerada pela sua mente. É ela que ao dar vivências – interpretações de movimentações – que cria os acontecimentos da sua vida. Faz isso quando aplica valores às movimentações externas.

Isso precisa ficar bem clara para que avancemos no assunto de hoje. Não há ninguém ou nada fora de você fazendo o que você acredita estar vivendo. É a sua mente que cria os acontecimentos atribuindo valores à movimentações.

O espiritualista sabe disso. Sabe que é a mente que cria o que é vivenciado. Por isso quando se relaciona com outra pessoa, diferente dos seres humanos que não vivem para este algo mais, não mantém a sua atenção voltada para o mundo exterior, mas para o seu mundo interior. Ao invés de ficar ouvindo as palavras que o outro está falando, ao invés de ficar observando os atos que os outros estão praticando, o espiritualista está sempre de olho no que a sua mente está criando para aquela movimentação.

Porque faz isso? Porque sabe que é esta criação da mente que não contempla os dois mandamentos ensinados por Cristo para que possa se aproximar de Deus. Sabe que as criações mentais são forjadas com intencionalidades e com posses.

Como o objetivo da vida de um espiritualista é aproximar-se de Deus, ao invés de ficar olhando o que o outro está fazendo ou ouvindo o que está dizendo, está sempre atento ao que a sua mente está falando. Ele analisa o que é falado pela sua mente para identificar no pensamento os argumentos que não lhe deixam amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Esse é mais um corrimão que estamos colocando para a caminhada do espiritualista. Ele não vivencia os acontecimentos de uma vida com atenção ao mundo exterior, mas sempre com atenção ao seu mundo interior para identificar a criação mental que o afasta de Deus. Afasta no sentido de que não promove o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Isso é fundamental para o espiritualista e por isso Buda mostrou este caminho quando falou do Nobre Caminho Óctuplo. Ele disse que o espiritualista precisa ter uma atenção plena correta ao seu mundo mental para buscar uma compreensão correta e com isso não vivenciar uma compreensão deturpada pela mente. É a partir disso que começamos a analisar a vivência do espiritualista quando está se relacionando com outros seres humanos.

Quando está conversando com alguém e esta pessoa, por exemplo, fala alguma coisa que ele não gosta, o ser humano reage àquilo; o espiritualista não. Ele reage ao não gostar criado pela mente e não contra a outra pessoa.

Quando um ser humano que não busca a Deus na sua caminhada conversa com uma pessoa que fala algo que tem certeza que está errado, ele sai correndo para corrigir o outro; o espiritualista não: observando o seu trabalho mental, pelo amor ao próximo justifica que o outro tem todo direito de acreditar no que quiser.

Durante a totalidade de nosso trabalho já falamos algo que chamamos de doação da razão. O espiritualista não entra em confronto com outros porque ele não tem necessidade de provar que é melhor, maior, gostosão. Ele está sempre voltado para dentro e por isso, ao invés de dizer que o que o outro falou está errado, por amor ao próximo doa a razão ao próximo. Não estou falando de amor humano, aquele amor bobo, mas o real, o verdadeiro.

Esse, portanto, é outro corrimão que o ser humano espiritualista precisa se apoiar para realmente percorrer um caminho que lhe aproxime de Deus: vivenciar os acontecimentos da vida sempre voltado para si mesmo, sempre atento àquilo que a sua mente está formando, para poder silenciar todos os argumentos que não lhe deixa amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: o senhor já falou diversas vezes que quem dá a compreensão é Deus. Como agora fala em ter uma compreensão correta?

A sua pergunta é fundamentada numa compreensão específica. Vou dar um exemplo: essa cor é preta. Isso é uma compreensão específica. Tê-la, não tem problema... A compreensão que estou falando é diferente.

O problema surge quando a sua mente diz que o outro está errado: ele diz que tal coisa é branca....Quando isso acontece e sua mente diz que a afirmação dele está errada, isso é uma compreensão. É essa compreensão que você precisa combater.

Não estou dizendo que você precisa mudar a compreensão sobre a cor que está vendo, porque isso você não pode fazer já que ela é dada por Deus, mas conversar consigo mesmo e ver que se insistir em provar que está certo você sofrerá. Com isso sairá do caminho que o aproxima de Deus.

Como resultado desta compreensão, você toma, então a decisão de abrir mão da sua razão e deixar que o próximo ache que isso é branco e você continue achando que é preto, sem ter que ensinar a ele que cor é essa.

Essa compreensão, que não é uma compreensão do mesmo tipo que você usou na sua pergunta, porque você não compreende nada, só afirma que você não aceita o que foi dado como compreendido pela mente, mas não altera nenhuma compreensão dada pelo Pai. Essa compreensão é você quem faz...

Participante: você quem?

Você que não é o ser humano que está vivendo agora, mas que também não sabe quem é...

Este é um novo ensinamento e como disse antes, tudo o que eu falar precisa estar embasado em algum ensinamento dos mestres, pois são eles que colocam as placas para a caminhada em direção a Deus. Onde encontrar suporte para o que acabei de dizer? Na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos que já citamos...

“... Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir.”...

O ensinamento do Espírito da Verdade através desta questão é claro: a fatalidade existe por causa do pedido do espírito. Mas, ele fala mais: com relação à moral, você é livre para optar pelo bem ou pelo mal. Neste caso, o bem é Deus e o mal tudo o que lhe afasta Dele.

Portanto, você é livre para optar pela compreensão que lhe afasta de Deus ou não. Optando por Deus, se libertará da compreensão que lhe afasta Dele. Optando pelo mal, ou seja, aceitando que sabe, que conhece a verdade, que precisa ensinar o certo aos outros, seguirá a compreensão que a mente está lhe dando. Com isso alcançará uma vivência que lhe afastará do Pai.

Completando, então, a sua resposta, afirmo que a compreensão que afirmo que o espiritualista precisa ter não se trata de uma nova compreensão sobre o assunto, mas sim de uma opção pelo bem ou mal.

‘Eu prefiro caminhar em paz e harmonia com aquela pessoa do que ensiná-la que isso é preto. Eu prefiro caminhar em paz e harmonia com aquela pessoa do que ensinar qual o caminho certo a tomar. Eu prefiro continuar em paz e harmonia com aquela pessoa do que desdizer o que ela está afirmando’.

Estas são as compreensões que o espiritualista usa para caminhar no sentido da aproximação de Deus. Isso não muda a compreensão que você tem sobre os matizes das cores ou sobre qualquer outro assunto. Para alcançar isso, no entanto, o espiritualista se apoia no corrimão da doação da razão...

Vivência espiritualista

Agressões verbais

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Agressões verbais

Como disse na conversa anterior, por enquanto só estamos estabelecendo corrimões, amparos para aquele que quer vivenciar uma caminhada espiritualista. Por isso temos falado de temas genéricos. Já colocamos quatro corrimões e por isso agora já está na hora de entrarmos um pouquinho nas particularidades.

Por este motivo, hoje vamos conversar de uma coisa mais específica. Esta conversa será importante, porque ela mostrará a prática de tudo aquilo que estamos falando nestas conversas.

O tema de hoje é agressão verbal.

Na última conversa falamos sobre relacionamentos humanos de uma forma genérica; hoje vamos falar especificamente de um destes relacionamentos: aqueles onde haja agressões verbais. Não vamos conversas sobre agressões físicas, mas apenas aquelas que são realizadas verbalmente.

Quando se fala em agressão verbal é preciso aprofundar-se um pouco na compreensão do tema, porque vocês acham que a existência de uma agressão verbal depende de uma intensidade determinada ou alguns tipos de palavras... Isso não é real. Qualquer frase proferida que contenha ideias que sejam contrárias àquelas de quem está ouvindo já é uma agressão.

Na verdade, uma pessoa se uma pessoa disser apenas ‘eu não concordo com isso’, isso já pode ser considerado como uma agressão... Uma pessoa dizer apenas que você é bobo, já é uma agressão. Para haver uma agressão não importa quais palavras sejam proferidas ou com que intensidade e volume elas saiam, basta apenas não estar de acordo com as ideias de quem está ouvindo-as. Por isso é que Cristo ensina: “e quem chamar seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno” (Mateus, 5,22).

Vamos, portanto, tratar hoje daquelas conversas onde existem contrariedades entre o que é falado e as ideias daquele que está ouvindo. Mas, antes disso precisamos entender o que é um ser humano.

O que é um ser humano? Uma personalidade. O que quer dizer isso? Um conjunto de verdades, conceitos e informações. O ser humano é um conjunto de crenças... Por exemplo: sou homem, moro na cidade de São Paulo, vivo em determinado bairro, trabalho em determinada empresa, faço isso ou faço aquilo, reajo com nervosismo ou com calma, sou orgulho, sou vaidoso, etc. Esse conjunto de informações forma uma personalidade humana. O conjunto destas coisas forma uma personalidade humana.

Segundo detalhe sobre o ser humano: não existem dois seres humanos iguais, .ou seja, não existem duas personalidades que possuam o mesmo conjunto de verdades em gênero, número e grau.

É por isso quando duas personalidades ou seres humanos se encontram, sempre há um choque. Um choque de verdades, de hábitos, de costumes, temperamentos, de crenças. Este choque é inevitável porque se trata de um encontro de duas personalidades antagônicas, do encontro de dois seres que possuem um seu conjunto de verdades individuais.

Terceiro detalhe que precisa ser entendido para compreendermos o relacionamento de dois seres: todo ser humano por característica é egoísta! Quando falo assim, eu não estou ofendendo ninguém. Não estou xingando nem brigando. Isso porque estou usando o termo egoísta como propriedade íntima de todo ser humano e não uma qualificação de determinados seres.

O que quer dizer ser egoísta? Pensar em si antes do outro, pensar a partir de si, de seu conjunto de verdades. Querer se sobrepor ao outro. Isso é ser egoísta. Ser egoísta é viver a partir de um eu, acreditando no eu e querendo que o eu tenha a palavra final da coisa.

Estou falando de processo mental. Ser egoísta é mentalmente acreditar apenas em si mesmo e querer que todos aceitem que o que o ser acredita está certo. Não estou falando de ações egoístas, pois o ato é prova e não vivência.

O processo mental de dois seres humanos quando estão frente a frente, conversando um com o outro, é realizado a partir das suas verdades, com a intenção de defendê-las e querendo que o outro compre estas verdades, ou seja, querendo que o outro desista da sua crença e acredite naquilo que o ser crê.

Pensando dessa forma, posso afirmar que quando você diz para uma pessoa que a laranja é um alimento gostoso todas as intencionalidades geradas pelo egoísmo estão presentes. Mas, e se o outro não gostar de laranja, como é que fica? Ele vai querer se defender, ou seja, vai querer defender o seu conjunto de verdades, pois também é um ser humano egoísta e quer que todos gostem do que ele gosta.

Quando ele fizer isso, estará lhe atacando? Eu diria que não. Ele estará se defendendo, pois foi você que o atacou quando disse uma coisa diferente do que ele pensa. Por isso ele dirá: ‘você está errado, laranja não é uma coisa gostosa, laranja não presta’...

Quando o outro reage desta maneira, você, por conta do seu egoísmo, se sentirá agredido e irá querer também se defender. Para isso citará motivos que, ao seu entender, provam que laranja é uma fruta boa. Neste momento começa uma discussão com agressões de ambas as partes, ou seja, cada um irá expor suas razões, que por serem contrárias às dos outros, consistem-se numa agressão.

Essa é a forma humana de viver. É assim que todo ser humano vive. Este relacionamento pode não chegar às vias de fato a brigar, mas vai haver ali uma série de ataques e contra-ataques, pois cada um vai lutar para que a sua verdade prevaleça sobre a do outro..

O espiritualista reconhece o que acabamos de narrar como descrição de uma conversa e por isso, quando o outro diz que a laranja não é um alimento bom, ele não sente isso como uma agressão verbal, mas sim uma defesa dele ao seu argumento. Por isso, ao invés de preocupar-se em defender-se, o espiritualista encerra a discussão. Já o ser humano materialista, aquele que não vive para aproximar-se de Deus, não compreende e por isso insiste em querer provar ao outro que está certo.

Eis aí, portanto, a compreensão que pode levar o espiritualista a viver uma existência onde não perca jamais a sua paz e a sua harmonia com o mundo e com isso aproximar-se de Deus: ninguém ataca ninguém; todos se defendem de você.

Você já viu alguém ficar contrariado se o que você diz é o que ele pensa? Claro que não! O próximo só se sente contrariado e só rebate o que você fala, quando o que é dito ataca o que ele acredita.

Portanto, quando falamos sobre agressões verbais temos que compreender que ninguém lhe ataca de volta, mas apenas se defende de você. Faz isso porque não quer que a sua verdade perca, já que é egoísta por natureza.

Essa é uma compreensão importante para o espiritualista vivenciar acontecimentos deste mundo sem afastar-se de Deus: saber que no mundo, tudo e todos são personalidades individuais egoístas e por isso quando acontece uma contrariedade, se defendem de você. Sabendo disso, o espiritualista pode não vivenciar as relações onde existem ideias diferentes sem sentir-se magoado, infeliz ou atacado pelo outro.

Quando o espiritualista ouve o que o outro fala e tem a atenção plena ao que sua mente produz – que é um corrimão para a vivência espiritualista que já colocamos – ao invés de corroborar com o próximo ataque, que é uma nova defesa que a sua mente está armando, diz a si mesmo: ‘para, mente, não tenho que atacá-lo. Ele é um ser humano que tem o direito de acreditar em outra coisa’.

Eis aí, então, uma vivência específica que o ser humano que não busca a Deus vive de uma forma e o ser humano que busca vive de outra. Esse segundo ser jamais aceita a ideia de ter sido agredido verbalmente, pois sabe que o outro apenas se defendeu dele. Com isso, o ser espiritualista pode manter-se em paz, em felicidade e em harmonia. Com isso estará amando a deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo...

Como disse no início dessa conversa, neste tema íamos fazer a aplicação dos corrimões que já estabelecemos para alcançar a vivência de um acontecimento específico. Apesar disso, estabelecemos com esta conversa mais um corrimão para que o espiritualista possa se apoiar na sua caminhada para aproximar-se de Deus: o mundo externo não lhe agride, mas apenas se defende de você.

Até agora já estabelecemos os seguintes corrimões: saber que a matéria não pode alterar a moral do espírito, saber que a fatalidade existe, utilizar-se da fé entregando-se à vida espiritual e viver com atenção plena em si mesmo e não no mundo externo. Hoje estabelecemos mais um: o mundo externo não lhe agride, mas está apenas se defendendo. Todos eles ainda serão usados muitas vezes e outros ainda serão estabelecidos nessa nossa conversa sobre a vivência do espiritualista.

Vivência espiritualista

Sofrimento

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Sofrimento

Estamos fazendo um estudo chamado ‘Vivência espiritualista’. Nele estamos observando alguns aspectos da vida humana e buscando dentro dos ensinamentos dos mestres como vivenciar esses acontecimentos sem perder a caminhada no sentido a Deus, a paz e a harmonia com os acontecimentos desta vida.

Essa paz e harmonia foram chamadas por nós de felicidade plena. Por causa disso, vocês acham que não ter esta paz plena é ser infeliz. Isso até é verdade, mas quando se fala de infelicidade, quando se fala de sofrimento, o ser humano não consegue compreender perfeitamente esta questão.

Por isso, hoje como vamos falar especificamente de momentos da existência humana onde haja sofrimentos, é necessário, antes de tudo, compreender o que é sofrimento. Portanto, para começar este assunto vamos primeiro falar do que é sofrimento.

Existem dois tipos de sofrimento. Não estou falando de tipos de coisas que causam sofrimento, mas tipo de sofrer. Há um sofrer humano e outro espiritual.

O que é um sofrer humano? É uma razão, um pensamento com ideias sofredoras. Por exemplo: uma pessoa fala alguma coisa e sua mente lhe diz que você está sendo agredido, por isso deve sofrer. Este é o sofrimento humano, um sofrimento que pertence à vida, à mente e não ao ser.

Numa conversa que acabamos de ter em São Paulo, uma pessoa disse que um parente dele estava sofrendo porque tinha perdido o filho e ele imaginou que este sofrimento fosse espiritual, mas não é. Trata-se de um sofrimento humano, pois é um sofrimento criado e proposto pela mente. É a mente que diz que precisa haver um sofrimento porque a pessoa perdeu um filho.

Já o sofrimento espiritual ocorre quando você aceita o sofrimento proposto pela mente. Por isso disse àquela pessoa naquela hora: ela não está sofrendo. Disse isso porque sei que ela não aceitou o sofrimento proposto pela mente, apesar de aparentemente a vida dela ser sofredora.

O que estamos falando está complexo? Acredito que sim e isso acontece porque tem que ser complexo. Para descomplicá-lo a primeira coisa que é preciso ser entendida é que é necessário separar você de você mesmo.

Existe um você que é o humano e outro que é alguma coisa que você não sabe o que é. Este último trata-se daquele que foi definido por uma pessoa em uma de nossas conversas como ‘aquele que vocês chamavam de espírito’.

No caso do exemplo que estou usando quem está sofrendo é o humano e o aquele que você não sabe quem é está em paz com Deus. Vou tentar explicar isso. Vou tentar explicar como o você que não sabe quem é pode não estar sofrendo quando o você humano sofre.

O que é você humano? É a própria vida. Não existe um elemento vivendo uma vida, mas sim uma vida se apresentando a este você que não sabe quem é.

Essa vida é composta de fatores externos, como a movimentação das coisas, as formas delas, as sensações e as percepções. A estas coisas se agregam as formações mentais e a memória. Estas fazem declarações expressas sobre o que está ocorrendo no mundo externo. Vou explicar...

Já usei este exemplo neste estudo: uma mão vem de encontro a um rosto. Isso é uma movimentação externa. Neste momento a mente forma um pensamento que diz que aquela pessoa foi agredida. Aceitando esta declaração, aquele momento transforma-se numa agressão. Na verdade não houve agressão; o momento só virou uma agressão porque a mente afirmou que era isso que estava acontecendo. Portanto, é a partir do que a mente diz que a vida daquele ser torna-se ser agredido.

Compreender esta questão é muito importante para o assunto de hoje porque ser agredido é uma coisa, uma mão movimentar-se em direção a um rosto é outra coisa. Além disso, é muito importante porque com este exemplo descobrimos o que é vida.

Estamos falando de vivenciar a vida e, portanto, é importante descobrir o que é vida. A vida é tudo que é percebido pelos órgãos do sentido e a valorização que é dada àquilo através de um pensamento.

Se hoje vamos falar dos momentos de sofrimento, podemos, então, dizer que ele é a vida que o ser tem para vivenciar, já que é o resultado de uma ideia e de percepções. Além disso, como é fruto de um processo mental, posso dizer que o sofrimento está na vida e não no ser que você não sabe quem é.

Porque posso fazer esta afirmação? Porque ele é o encontro de fatores externos que estão sendo captado pelos órgãos do sentido mais um pensamento que está aplicando valor ao que está sendo percebido. No momento que é a vida é sofrer, posso dizer, então, que é a mente que está dando um valor sofredor à uma percepção e não que o ser está realmente sofrendo.

Portanto, quando falamos de acontecimento humano, onde existe sofrimento, estamos falando de vida. Esse é o primeiro aspecto que precisamos levar em conta na conversa de hoje.

Como temos feito nas outras conversas, para falar da vivência deste acontecimento é preciso colocar corrimões para que o espiritualista possa se apoiar e com isso não vivenciar a própria vida, ou seja, as movimentações e, principalmente, aquilo que a mente está criando. Para colocar esses corrimões temos que entender a definição do que é vida para o mundo do algo mais que o espiritualista sabe haver além dele mesmo.

O espiritualista acredita haver em si algo além da carne que vai sobreviver ao acontecimento morte e que continuará existindo tendo vida. Mais: ele sabe que antes de ser o humano já tinha esta vida. Portanto, ele é alguém que acredita no mundo espiritual, onde tem etapas de existências que são vivenciadas no mundo humano e outras que são vivenciadas no espiritual.

A esse processo Kardec chama de reencarnação. Encarnar diversas vezes, vivenciar diversas vidas.

A partir desse conhecimento o espiritualista tira um corrimão para a sua existência: ele não está vivo, mas encarnado. É diferente uma coisa da outra.

Quando você acredita que está vivo, está preso a um conjunto de aspectos e verdades que dizem respeito a esta vida. Quando está encarnado está preso a outro conjunto de verdades e informações a respeito desta mesma vida, da humana. Por isso o espiritualista para continuar na sua caminhada no sentido de aproximar-se de Deus, não trata o que vivencia como vida, mas como encarnação. Só fazendo isso ele se prende ao conjunto de verdades e aspectos que dizem respeito à outra vida e não aos desta vida. Este é o primeiro corrimão e este é o amparo que sai desta conversa e que é fundamental para que um espiritualista possa usar esta vida para aproximar-se de Deus. A partir dele temos que ver outra coisa.

Dentro desse conjunto de aspectos e verdades do mundo espiritual que se aplica a esta vida, qual o objetivo de estar vivenciando a vida humana? Isso foi afirmado na pergunta 115 de O Livro dos Espíritos que já comentamos, mas que neste momento vamos acrescentar algo que está na resposta do Espírito da Verdade e que não comentamos anteriormente.

“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bonés e outros maus? Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta a que lhes foi assinalada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”.

Já havíamos abordado a questão de Deus dar uma oportunidade para o espírito ignorante retirar a sua ignorância mantendo a sua pureza, mas como vemos agora, na resposta é dito que uns conseguem mais facilmente e outros não. Por que isso ocorre? Porque segundo o Espírito da Verdade alguns vivem com ranger de dentes.

O que é ranger os dentes? É estar em desacordo com a vida. É ter raiva, ódio, chorar, não gostar, não querer. Quem vive assim está em desacordo com a vida. Lembro que vida é a qualificação que as formações mentais conferem às movimentações externas.

Começamos, então, a entender que o objetivo do ser que você não sabe quem é ao longo da sua jornada espiritual é vivenciar o que é gerado pela valorização que a mente dá ao que é percebido sem ranger de dentes: sem sofrer, sem chorar, sem se lamentar, sem ter raiva. Esse é o objetivo primário de uma existência e ele cria mais um corrimão para a jornada do espiritualista.

Apoiando-se neste ensinamento o espiritualista sabe que está tendo uma encarnação e que ao tê-la o seu objetivo é vivenciar os acontecimentos deste mundo sem ranger de dentes. Ele não está aqui para formar-se em médico, para aprender coisas ou formar família, mas sim para vivenciar acontecimentos e durante eles não ranger os dentes.

Esse processo para verificar se o ser range os dentes ou não também é chamado de provas. As provações que o ser se submete, e que como já vimos quanto estudamos a questão da fatalidade são acontecimentos fatalistas, precisam acontecer porque estão representando os gêneros da prova que o espírito pediu antes da encarnação.

A partir da descoberta de todas estas coisas, ainda falta um detalhe para entendermos bem as provas do espírito. Este detalhe está na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos.

“132: Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação, para outros missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação”.

Nesta questão é dito, entre outras informações que mais tarde iremos usar, pois o texto desta resposta do Espírito da Verdade é fundamental para a caminhada do espiritualista em direção à Deus, o seguinte: o ser viverá uma existência onde estará presente a vicissitude.

O termo vicissitude muitas vezes é mal compreendido. Para os espíritas, viver vicissitudes é passar por necessidades, por carências. Mas, não é isso que está no dicionário. Nele o termo vicissitude quer dizer alternância de situações, ou seja, vivenciar momentos onde dá tudo certo, outros onde tudo dá errado; vivenciar momentos onde há alegria e outros onde há sofrimentos; momentos onde se consegue o que quer e outros que não se consegue.

A vida ou a provação do espírito não é uníssona, mas uma onda que sobe e desce, que passa pelo alto e pelo baixo. Lembrando mais uma vez que vida é o valor que a mente está aplicando àquilo que é percebido.

Por causa deste entendimento, posso dizer que a sua mente não pode gostar de tudo, que ela, para que você tenha a sua prova, precisa gostar de algo e não gostar de outra coisa. Só que este não gostar ou sofrer não é você quem faz, mas a vida, a mente. Faz porque precisa fazer para que a fatalidade aconteça e com isso um gênero de provas que esteja de acordo com o que foi pedido antes da encarnação ocorra.

Esse é o novo corrimão que colocamos para o espiritualista se apoiar. Ele diz o seguinte: o sofrimento é inevitável. O sofrer mental, humano, é inevitável... Ele faz parte da vida, faz parte da provação, faz parte da teatralização de gênero de provas pedido pelo ser antes de encarnar.

Agora podemos falar dos momentos de sofrimento que acontecem na vida e que são inevitáveis. Como o espiritualista deve vivenciar estes momentos? Em paz e harmonia. O que é viver em paz e harmonia um sofrimento humano? É dizer: ‘estou sofrendo, estou, e daí’?

Este é o grande detalhe que a mente faz questão de esconder. Ao invés de lhe induzir a aceitar o sofrimento, ela lhe lança como realidade que se você alcançar a prática das vivências que estamos conversando não terá mais momentos humanos de sofrimento. Mas, eles são inevitáveis, pois se não existirem, o ser não tem a vicissitude e não a tendo a sua prova está capenga.

Muitos espiritualistas acham que conseguindo alcançar a paz e a harmonia em momentos da vida, poderá mudar acontecimentos e sua vida será um mar de rosas. Isso é impossível. O resultado esperado da vivência do espiritualista está na vivência da vicissitude e não na mudança de acontecimentos deste mundo. Para alcançar uma vivência que lhe aproxime de Deus, o espiritualista precisa ter sempre durante esta encarnação momentos que a mente declarará como bons e outros que ela afirmará que são ruins.

É por isso que começamos esta conversando falando que existem dois sofrimentos: aquele que é humano, gerado pela mente, e aquele que pertence àqueles que vocês chamavam de espírito. O sofrimento humano é inevitável, faz parte da provação de cada ser. Já o sofrimento do espírito acontece quando ele não está em paz e harmonia com o sofrimento humano. Quando ele se rebela com o sofrimento humano, quando não quer que aquele sofrer aconteça, quando quer evitar que um sofrer aconteça, quando quer acabar com o sofrimento. Quando vivencia os acontecimentos desse jeito, ele está rangendo os dentes contra a vida que naquele momento é um sofrimento criado pela mente.

Então, nesta conversa que estamos falando sobre o sofrer humano é preciso deixar bem claro: nada do que foi dito até hoje vai mudar a sua vida. Nada do que foi dito aqui poderá servir como uma vacina para que a sua vida não tenha mais sofrimento. Isso é impossível. Você precisa tê-los, eles fazem parte da sua prova.

O que você tem que aprender é a conviver com o sofrimento da vida, com o sofrimento criado pela vida e não transformar os momentos negativos em positivos. Isso você não pode fazer porque estes momentos são a sua prova e você não pode interferir nela depois de encarnado, como já dissemos aqui quando abordamos o texto da pergunta 267 de O Livro dos Espíritos.

Eis, portanto, aí mais um tema, mais um acontecimento da vida humana que aprendemos como espiritualista deve vivenciá-lo: o momento onde há sofrimento na existência humana. Neles aquele que quer aproximar-se de Deus não luta contra o sofrimento humano, mas se harmoniza com o sofrer. Isso ele faz não aceitando as razões criadas pela mente e não mudando o que a mente está criando.

Para isso, dentro de um processo racional, é importante se lembrar que você não é o ser humano, que não está vivo, mas encarnado, que isso acontece para viver acontecimentos sem ranger de dentes e é importante lembrar, ainda, que nestes acontecimentos haverão uns que serão taxados de bons e outros que serão chamados de ruins. Com isso você estará preparado para receber o momento ruim sem deixar se levar pelo sofrer que está sendo produzido pela mente. Como disse, hoje íamos colocar diversos pedaços do corrimão que servirão de apoio ao espiritualista para alcançar a Deus.

Aliás, o que pretendemos ao longo de todo este estudo é colocar diversos corrimões entre o espaço onde você está agora até que alcance a Deus. Eles deverão ser usados para que se apoie em vivências de acontecimentos da existência humana que o leve ao Pai e com isso aproveita a oportunidade de estar encarnado.

Vivência espiritualista

Religiosidade

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Religiosidade

O tema que vamos conversar hoje é religiosidade. Vamos falar dos momentos onde o ser humanizado convive com outros seres e esses estão abordando temas da sua religiosidade. Por exemplo: você ao conversar com uma pessoa fala algo e ela responde que isso não pode ser feito de acordo com o que é afirmado pela sua doutrina religiosa. Esta pessoa está expressando a sua religiosidade e a partir desta expressão vem o que vamos estudar hoje: como vivenciar esse acontecimento? Claro que antes de chegarmos especificamente à vivência do espiritualista para este momento, precisamos antes tratar de alguns aspectos para bem compreender o momento que estamos conversando e aí sim poder alcançar a vivência.

O que é uma religiosidade? É a vivência de determinados rituais e a submissão – crer como verdadeiras – determinadas informações doutrinárias. Isso é a religiosidade de um ser. O católico, por exemplo, é aquele que se submete aos rituais da Igreja Católica e se submete às informações doutrinárias que a Igreja de Roma ensina.

Tudo o que vamos falar aqui serve tanto para o momento em que alguém está praticando o ritual da sua religião como a quando ele expressa uma informação doutrinária dela. No entanto, vamos nos ater mais nesta conversa no momento onde é vivenciada a declaração de algumas pessoas à respeito do conteúdo doutrinário de uma religião.

Especificado o momento sobre o qual vamos conversar, temos ainda que entender o que é religião. Porque existem tantas religiões? Porque existem tantos ritos e corpos doutrinários diferentes no planeta?

Cristo ensinou isso: na casa do meu Pai há diversas moradas. Existem diversas formas de se entrar em contato com Deus. É por isso que existem as diversas religiões. Muitas são antagônicas à outras, mas isso não importa: todas levam ao mesmo caminho. Isso porque em essência todas estão ligadas ao amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Entendida a função das diversas religiões, permanece uma dúvida: porque é preciso haver diversas religiões? Vamos explicar isso...

A origem das múltiplas formas de se chegar a Deus foi explicada na conversa anterior: por causa da vicissitude presente na vida humana. Existem diversas religiões, diversos corpos doutrinários e ritualísticos, para que cada ser tem sua prova.

Quando digo isso é preciso entender que a religião católica não existe como a verdadeira igreja de Cristo, até porque ele não tinha igreja e disse bem claro: o templo de Deus está dentro de cada um. O espiritismo, a religião espírita, não é a religião dos espíritos, até porque a própria literatura espírita mostra que no mundo espiritual existem espíritos que se submetem a religiões diferentes. Todas elas são apenas elementos deste mundo e por isso são apenas instrumentos das provas dos seres encarnados.

Acreditar no corpo doutrinário de uma determinada religião ou em seus rituais é ter os elementos necessários para que aquele espírito faça a sua provação, para ele alcançar uma vivência que lhe leve a Deus. Isso é religiosidade.

Quando um evangélico fala algo que você não concorda, ou melhor, que a sua vida vive não concordando, ele está gerando uma vicissitude para você, uma prova. Ele não é um pobre coitado ignorante que precisa aprender coisas; é um espírito que está vivendo a sua provação.

Esse é o primeiro corrimão que tiramos desta conversa. Cada um tem suas verdades, seja sobre religiosidade ou qualquer coisa, e as têm porque aquele é o instrumento dele. Por isso, o que o outro acredita não deve ser objeto de uma tentativa de mudança.

Esse é o entendimento que o espiritualista tem. A partir do momento em que sabe que não existe vida, mas sim encarnação, que sabe que a encarnação é composta por momentos onde pode ranger dentes ou não e que eles acontecem sempre gerando vicissitudes, o espiritualista sabe que jamais haverá uma unicidade do que é acreditado. Com isso recebe a crença de cada um como sua prova. Esta é a compreensão que serve como corrimão que o espiritualista precisa ter para se apoiar na vivência dos acontecimentos da vida humana.

Ele precisa vivenciar os acontecimentos onde convive com pessoas que comungam de outras crenças e as verbalizam sem imaginar-se dono da verdade, dono da razão, aquele que sabe. Além disso, precisa também apoiar-se no corrimão do amor ao próximo, ou seja, respeitar o direito do outro pensar diferente...

Esse é um aspecto muito importante para aquele que busca aproximar-se de Deus durante a sua encarnação. Isso porque os seres humanizados vão entrando em contato com informações sobre a questão da elevação espiritual e a cada vez que isso acontece imaginam que descobriram os segredos das coisas deste mundo, descobriram a verdade absoluta das coisas. Ninguém detém a verdade absoluta de nada no Universo, só Deus.

Por se acharem certos, aqueles que não alcançam uma vivência espiritualista querem ensinar ao outro aquilo que sabem, querem mudar o outro. Primeiro que não conseguem, mas se conseguissem, estariam tirando a provação que o outro precisa. Isso não é colaborar para obra geral, que é outro objetivo da encarnação que está na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos.

Para aproximar-se de Deus, o espiritualista jamais deve vivenciar o momento onde alguém explana a sua religiosidade sentindo-se um guru, um mestre, aquele que sabe a verdade. Ele deve vivenciar este momento sabendo que aquilo é verdade apenas para quem acredita. Ele vivencia o momento sem querer interferir no que o outro acredita.

Mesmo que o outro não acredite no espírito como você acredita, não há nada a ser ensinado a esta pessoa: ela sabe o que precisa saber para fazer a sua provação. Este, mesmo não acreditando em nada do que estamos falando, mesmo não sabendo que está em provas, está vivendo uma oportunidade para aproximar-se de Deus e para isso é preciso estar em paz e harmonia coma sua vida, ou seja, vivendo em felicidade.

Vou contar uma história só para vocês entenderem o que estou dizendo. Ela está em um livro espírita.

Um grupo espírita em reunião conseguiu trazer para dentro de um centro um espírito que era pastor evangélico e que tinha muitos seguidores no mundo espiritual. Passaram diversas sessões conversando com este espírito incorporado num médium. A cada conversa eles ensinavam ao pastor espírito a verdade do espiritismo. Depois de diversas sessões o espírito do pastor disse que já havia compreendido tudo o que estava sendo ensinado e aceitado como verdade.

Os seres humanos que estavam conversando com ele ficaram muitos felizes e pediram, então, para que ele transmitisse a todos que os outros estas verdades. O pastor, então, disse que não ia fazer isso. Questionado pelos espíritas o porquê não faria isso, ele respondeu: porque eles estão felizes dentro da crença que têm. Disse mais: ‘aqueles que me seguem estão felizes com aquilo que sabem; para que eu vou levar estes argumentos a eles’?

Esta história resume bem a posição do espiritualista, do espírita, do budista, do católico e dos seguidores das diversas religiões: eles querem sempre trazer o outro para a sua verdade. Mas, para que fazer isso? O evangélico está feliz por ser evangélico. O espírita está feliz com o espiritismo que ele vive. Se você começar a trazer novas informações para o outro levará tormento a ele.

Mais: ao estar feliz com o que ele acredita e vive, está fazendo o que deveria ser feito – conviver com a sua vida em paz e harmonia. E você que acha que está ensinando a ele alguma coisa está fazendo o que precisa fazer para a sua evolução? Eu diria que não. Isso porque você não está em paz com a sua vida, que naquele momento é ouvir a verdade do outro.Você está em desacordo com o que ele acredita e por isso está em desacordo com a vida que está tendo naquele momento.

Esta, portanto, é a vivência para o espiritualista quando está em contato com outros seres que naquele momento estão usando de ritos ou informações doutrinárias a partir da sua religiosidade. Ele respeita o direito de cada uma acreditar no que quiser. Ele se harmoniza com o que é dito pelo outro. Não falei em acreditar no que o outro acredita, mas em harmonizar-se, ou seja, em dar ao outro o direito de acreditar no que quiser sem que se sinta obrigado a mudar a crença do outro.

Isso me leva a mais uma coisa que preciso falar. Depois de ouvir isso, certamente a pergunta que vocês me fariam seria: porque, então, você está fazendo estas conversas? Eu diria: porque tem gente que acredita no que eu acredito. É para estes que estou falando e não para todos.

Se para você o que estou falando não faz sentido, pare de ler ou ouvir agora, porque não é para você que estou falando. Mais: peço para não ouvir ou ler mais nada do que disse... Isso porque se você fizer isso, eu estarei vivenciando a presunção de que posso interferir em você e isso eu não quero jamais.

Aliás, algumas vezes já me ofereceram para falar para centenas de pessoas via meios de comunicação de massa. Eu não fui. Na verdade só posso ir onde as pessoas querem me ouvir. Por isso seria preciso perguntar a cada uma das centenas de pessoas que me ouviriam anonimamente se queriam me ouvir, já que não posso interferir no que cada um acredita.

Portanto, fica mais um recado. Se você está ouvindo ou lendo estas conversas, cuidado para não achar que aqui há um pote de ouro e querer levar isso para as outras pessoas. Isso não é uma atitude espiritualista. Agora, se alguém lhe pedir, sinta-se livre para transmitir o que está aprendendo, sempre atento a doar à razão quando quem está lhe ouvindo não concordar com o que diz.

Esta, então, é a vivência de um espiritualista para o momento quando as pessoas estão fazendo uso de sua religiosidade. Nesta conversa colocamos mais um corrimão na caminhada do espiritualista: ao invés de se arvorar em mestre, em senhor da verdade, o espiritualista vivencia o momento onde os outros estão vivendo sua religiosidade em paz e harmonia com a opinião do outro.

Vivência espiritualista

Ser preterido

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Ser preterido

Vamos falar de um tema hoje, conversar sobre como um espiritualista precisa vivenciar determinado acontecimento da vida e dar a base para ele se apoiar para alcançar para alcançar esta vivência, que não é uma coisa comum de acontecer na vida humana. Acho que este acontecimento não ocorre na vida de ninguém: ser preterido, ou seja, escolherem outra pessoa que não você.

Isso não acontece na vida de todos vocês, não é mesmo? Ninguém nunca perdeu um emprego que estava buscando, ou seja, alguém foi escolhido no seu lugar; ninguém nunca viveu um momento onde outro foi escolhido para ser promovido; ninguém nunca viveu na vida um momento onde outra pessoa deixa muito claro que gosta mais de um do que dele? Claro que sim...

Esse é um momento que existe na vida de todo ser humano, que todos passam por ele. Por que isso acontece com todos? Porque esse é um grande momento onde os mandamentos ensinados por Cristo precisam ser colocados na prática. Este momento é corriqueiro na existência de diversos seres humanizados porque testa o amor a Deus acima de tudo e o amor ao próximo como a si mesmo. Por isso vamos conversar sobre ele...

Porque você é preterido em alguns momentos? Porque isso faz parte da vida, acontece na existência dos seres.

O que é vida? Encarnação, uma oportunidade de provação, que acontece através da existência das vicissitudes, do espírito. Portanto, posso dizer que sempre que um ser humanizado é preterido está vivendo uma vicissitude, está vivendo um momento negativo da sua vicissitude, da sua prova.

O outro não foi promovido porque puxa o saco do chefe, a outra não foi escolhida porque dorme com o chefe, aquela pessoa não prefere outra porque ela é mais bonita. Isso é ilusão gerada pela mente. Na verdade isso acontece na vida de um ser humanizado porque é a sua prova.

Ser preterido é um momento de vicissitude negativa seu e você precisa como espiritualista, como aquele que acredita haver em si algo além da matéria e que vive para esse algo mais caminhando no sentido de aproximar-se de Deus, aprender a vivenciar esse momento em harmonia. Não vivenciá-lo em harmonia com a mente, com o sofrimento que ela propõe, mas aceitando a promoção do outro sem sofrer com isso. É essa forma de vivenciar os momentos onde você é preterido que lhe leva a aproveitar a oportunidade espiritual que está tendo.

Aliás, não sei se vocês já entenderam, mas agora que já falei da existência da vicissitude, podem entender claramente que cada momento onde a mente propõe o sofrimento existe uma grande oportunidade para aproximar-se de Deus. Aquele que vivencia o acontecimento sofredor unido a Deus amando o próximo como a si mesmo, aproximar-se-á Dele. Não o vivenciando desta forma, mas sim preso ao seu processo mental, não conseguirá aproximar-se do Pai. Esta opção é a que está na questão 851 de O Livro dos Espíritos, que já comentamos: escolher entre o bem e o mal.

No entanto, como dissemos antes, além de mostrar a vivência que leva o ser humanizado a aproveitar a oportunidade da elevação, temos que dar um apoio para que o espiritualista se sustente quando da prática do amor. Por isso pergunto: que corrimão o espiritualista pode usar para se apoiar mentalmente e aceitar que alguém menos capacitado seja promovido no seu lugar, que aquela pessoa que considerava seu amigo acabe preferindo outro? Um ensinamento de Cristo que, humanamente falando, é muito esquecido: os últimos na Terra serão o primeiro no Reino do Céu.

Esse é o corrimão que pode lhe ajudar a atingir esta vivência. O espiritualista, aquele que fundamenta a sua existência nos ensinamentos dos mestres, não luta por posição de destaque. Ele não luta pela glória, pela vitória.

Ao afirmar isso não estou dizendo que ele não possa ter. Pode. Neste caso seria uma vicissitude positiva na sua existência. O que estou afirmando é que aquele que pretende usar esta existência para aproximar-se de Deus não deve transformar a glória, a honra individual, como busca. Ele não deve buscar isso, mas a glória pode acontecer naturalmente.

A questão do buscar ou deixar a glória vir naturalmente foi ensinada claramente por Cristo. O mestre ensinou: se você for convidado para um jantar, sente-se no fundo, porque se sentar na frente pode ser que o dono da casa lhe mande para o fundo e isso seria uma desonra. Sentando-se no fundo e sendo chamado para sentar na frente, será honrado.

Esse é outro corrimão que pode sustentar racionalmente o espiritualista para que ele se harmonize com o momento onde seja preterido, onde ele não é o escolhido. Ele deve saber que está sentado no fundo, mas não foi chamado para frente e por isso não há desonra. Agora, se vive a busca de estar na frente, de alcançar o sucesso, de ser famoso, pode vivenciar a desonra ao ser preterido.

Parece, pelo tamanho da conversa que estamos tendo agora que esta vivência é fácil para o espiritualista, mas cuidado. Cuidado porque o pensamento humano possui características – não estou falando sobre determinados seres humanos, mas de todos. Como o pensamento é realizado por uma personalidade que é por natureza egoísta, a mente do ser humanizado sempre promove formações mentais a partir dele e a favor dele. Tudo o que é pensado é da forma que é para que o eu individual seja atendido.

As características fundamentais de um pensamento são quatro. Todo pensamento tem como objetivo alcançar uma vitória, nem que seja simbólica; alcançar um prazer, viver a satisfação de ter seus desejos atendidos; tornar-se famoso, ser reconhecido; e tem também como fundamento buscar ser elogiado.

Quando falamos isso, vocês imaginam que é fácil se libertar do pensamento. Acham que encontrarão facilmente a busca que ele faz pela vitória e com isso conseguirão libertar-se daquela ideia. Mas, não é tão simples. Por quê? Porque a mente, além de egoísta, é hipócrita por natureza, ou seja, ela justifica essas buscas com falsas verdades, com verdades ilusórias.

Por exemplo: o caso da pessoa que foi preterida pra a promoção. O pensamento dessa pessoa quando ela for preterida dirá que ele é o melhor, que sabe mais que o outro e por isso o que aconteceu é injusto. Isso é hipocrisia, é puxar a brasa para a sua sardinha. É só uma justificativa para incitá-lo a vivenciar esse momento preso às criações mentais que querem ganhar, ter o prazer, alcançar o reconhecimento e o elogio.

Se você colocar em prática o amor ao próximo – e a prática do amor ao próximo é o respeito ao outro – entenderá que só uma pessoa pode dizer quem é o melhor: aquele que escolheu quem será promovido. Não é você que tem que saber se é melhor que o outro, mas aquele que tem a responsabilidade de realizar a promoção. E, como ficou claro pelo que aconteceu, ele achou que o próximo era mais capaz, tanto que o promoveu e não a você.

Essa questão é importante: você precisa respeitar o que os outros pensam. Não respeitando o direito de cada um ter verdades diferentes de você, cairá nas tentações geradas pela mente quando ela, usando suas verdades individuais e querendo ganhar, lhe iludir dizendo que o outro está errado. Ele não está nunca errado, pois agiu de conformidade com a sua individualidade, com as suas verdades. Respeite esse direito que ele tem...

Por isso comecei dizendo que a questão que estamos tratando agora é uma grande prova do amor a Deus e ao próximo. Quando você, aceitando o que a mente afirma como se isso fosse uma verdade universal, está preocupado em ser o primeiro, acha-se o merecedor dessa distinção, sofre quando é preterido, não ama a Deus nem ao próximo. Isso porque quem reclama de ser preterido não ama nem quem foi escolhido nem quem realizou a escolha, já que não os respeitou.

Fica, então, o recado: muito cuidado com as armadilhas que estão no pensamento. Não aceite as justificativas criadas pela mente para dizer que você é que deveria ser o escolhido, que você deve ser o melhor, porque senão estará sendo hipócrita e quando isso acontece, não consegue caminhar no sentido de aproximar-se de Deus.

Vivência espiritualista

Inimigo

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Inimigo

Vamos conversar hoje sobre a convivência com o inimigo. Antes, no entanto, precisamos entender um pouco mais deste tema.

Inimigo não é só aquele que é classificado desta forma. Inimigo, na verdade, é todo aquele que é contrário a você em qualquer aspecto. Se você lava um prato de uma forma e outra pessoa de outra forma, os dois são inimigos. Se uma pessoa toma café com açúcar e outra com adoçante, elas são inimigas, pois inimigo é todo aquele que pensa diferente.

Como vivenciar o momento onde você e o outro são antagônicos em qualquer assunto e ao mesmo tempo conseguir colocar o amor universal que o aproxima de Deus? Será sobre isso que vamos falar...

Quando fala da convivência com o inimigo, Cristo é categórico: faça pelo seu inimigo mais do que ele espera de você. O mestre ensina que se o seu inimigo lhe pedir a túnica, você deve dar a capa; se ele pedir para carregar um tronco de árvore por dois quilômetros, que você deve carregar três troncos por quatro quilômetros. Ou seja, ele ensina que você deve fazer pelo seu inimigo algo que ele não espere que faça. Esta é a primeira orientação do mestre para os espiritualistas.

Segunda orientação dada também pelo próprio Cristo: é muito fácil abraçar o amigo; quero ver cumprimentar o inimigo. Repare que Cristo não fala em abraçar o inimigo, dar o mesmo tratamento que é dado ao amigo, àquele que pensa igual, mas não ignorá-lo, não virar as costas para ele, não desrespeitá-lo. O que o mestre ensina é que é preciso se ter respeito por aquele que pensa diferente.

São estes dois parâmetros, fazer pelo inimigo mais do que ele espera e respeitá-lo, que deve influenciar o espiritualista na vivência do relacionamento com uma pessoa que possui verdades antagônicas à sua. Como vivenciar o momento de antagonismo colocando estes parâmetros em prática? Vamos ver...

O que você pode fazer por uma pessoa que possui ideias antagônicas às suas e que ele não espera que faça? Concordar com ele...

Quando existe uma discussão entre dois seres sobre um assunto onde cada um tem uma ideia diferente sobre o tema, o ser humano materialista, aquele que não vivencia a vida buscando aproximar-se de Deus, quer sempre provar ao outro que está certo, provar ao outro que ele detém a verdade. Essa é a forma humana de vivenciar este relacionamento.

Já o espiritualista, quando a sua mente busca provar ao outro que está certo, ele não concorda com esta busca. Faz isso porque sabe que não precisa provar nada a ninguém. Com isso, tacitamente aceita o que o outro fala. Ao vivenciar este acontecimento desta forma, está fazendo para o outro algo que não é esperado e assim atendendo ao conselho de Cristo.

Mas, além de fazer algo não esperado, Cristo diz ainda que o espiritualista deve respeitar aqueles que pensam diferentes. O que quer dizer isso?

A vivência do acreditar no que o outro está falando é algo que a mente humana não realiza. Ela dificilmente deixa de acreditar no que acredita. O máximo que ela pode fazer é concordar com a ideia do outro para não ter briga.

Este tipo de pensamento não é fazer algo além daquilo que é esperado, mas apenas se libertar de um momento de infelicidade sem respeito ao outro. O que estou falando como caminho para seguir os dois ensinamentos de Cristo vai além: é concordar com o outro porque sabe que ele está certo e não apenas para evitar uma discussão.

Saiba de uma coisa: por mais dispares que sejam as ideias entre você e o outro, ele sempre está certo dentro do ponto de vista dele. Isso porque trata as suas ideias como verdadeiras, perfeitas, certas. Respeitar o outro é aceitar que ele tem o direito de tratar as suas ideias desta forma sem que você tenha a obrigação de mostrar que elas são erradas...

Antes de continuarmos, apenas uma ressalva: não estou dizendo que para alcançar uma vivência espiritualista você precise comungar com a ideia do outro, mas afirmo que deve vivenciar o momento dando a ele o direito de acreditar que para ele esta verdade é certa. Isso é amor ao próximo.

Amor ao próximo é uma coisa muito difícil, porque envolve a questão de direitos, que é algo que os humanos não entendem. Para os seres humanizados o direito do outro acaba onde começa o dele, ou seja, eles limitam os direitos do outro aos deles. Claro que vendo a coisa por este prisma, o outro nunca terá direitos, pois os seres humanizados, que são egoístas por natureza, vão estender ao máximo o direito deles.

Na verdade o respeito que estamos falando é algo diferente. Ele baseia-se na máxima que afirma que o direito de um ser humano começa quando o do outro acaba. Nesta visão, o que delimita os direitos é o do outro e não o do próprio ser humano. O que traça os limites do que é direito não é o direito individual daquele que está participando do momento, mas o do outro.

Dentro do direito do outro que precisa ser respeitado está crença individual de cada um. O outro tem o direito de acreditar, de tratar como verdadeiro, o que ele quiser. Tem o direito de achar certo qualquer coisa. Por isso, você que busca aproximar-se de Deus seguindo os ensinamentos dos mestres deve vivenciar o momento onde há diferença de ideias conferindo este direito ao próximo.

Aquele que estiver presente num momento da vida humana onde haja um debate, uma discussão, sem vivenciar internamente essa busca de respeitar o direito do outro crer no que quiser, estará afastando-se de Deus. Já aquele que vivenciar este momento dando ao próximo o que ele não espera receber, a concordância, e respeitando o direito dele acreditar no que quiser, estará praticando o amor universal e com isso aproveitará a encarnação para aproximar-se do Pai.

Agora, será que o que estou falando é verdade? Para verificar se alguma coisa é perfeita, no mundo de vocês existe algo chamado prova dos noves. Este método consiste em usar alguma outra coisa para testar o resultado que vocês chegaram para saber se ele é válido, é certo. Vamos tirar a prova dos nove do que eu falei?

O que posso usar para fazer a prova dos noves dessas minhas afirmações? Os ensinamentos dos outros mestres. Se todos eles são enviados de Deus, os ensinamentos deles devem sempre levar a um resultado comum.

Por isso pergunto: quando respeita o outro dando a ele o direito de acreditar no que quiser, você tem alguma intencionalidade? Não. Com isso alcança-se o ensinamento que Krishna ensinou como caminho aproximar-se de Deus e verifica-se que o resultado que chegamos é verdadeiro.

Para continuar testando o resultado que alcançamos pergunto novamente: quando você aceita como certo o que o outro fala, está tendo alguma posse, paixão ou desejo? Não. Então, o caminho traçado por Buda foi alcançado.

Acho que com as perguntas que fizemos ficou provado que este é o caminho vivencial para aquele que quer aproximar-se de Deus. Mas, existe ainda mais uma prova. Esta eu classifico como fundamental para a perfeita compreensão do tema, como um aspecto que prova de forma irrefutável o caminho que delimitei.

Estou falando da questão 887 de O Livro dos Espíritos:

“887. Jesus também disse: Amai mesmo os vossos inimigos. Ora, o amor aos inimigos não será contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provirá de uma falta de simpatia entre os Espíritos? Certo ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso o que Jesus entender de dizer. Amar o inimigo é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem...”

Quando o outro paga com o mal, ou seja, quando o outro retruca o que você fala dizendo que está errado e querendo ensinar o certo dele e você, ao invés de discutir o assunto cede dando ao próximo o direito de estar certo, está pagando o mal com o bem. Está pagando a intenção de estar com a verdade do outro (egoísmo) com o amor, com a paz e a harmonia com o momento presente.

Eis aí, portanto, a prova dos nove do que falamos. Eis aí, também, a vivência do espiritualista para o momento onde convive com alguém que pensa diferente dele, com o inimigo: faça por ele o que não é esperado e concorde com ele; tenha respeito, ou seja, tenha a consciência de que ele está certo porque acredita que suas verdades são verdadeiras. Vivenciando desta forma, você manterá sua paz e harmonia e estará se aproximando de Deus porque amou ao Pai acima do motivo da discussão e amou ao próximo como a si mesmo: o deixou acreditar no que quer, assim como você quer acreditar no que acha verdadeiro.

Portanto, um tema que parecia extremamente complicado de se compreender a vivência deste momento se transformou em algo tão simples. Basta apenas você reconhecer que o outro tem o direito de acreditar no que quiser e que você não precisa provar nada a ninguém.

Esta vivência, apesar de simples, no entanto, não é para todos. Para aqueles que, acreditando ou não existir algo além da matéria, queiram viver para o ser humano que são no momento, isso é quase impossível. Isso porque, movidos pelo egoísmo da mente, jamais desistirão de provar ao outro que estão certos. Já aqueles que vivem para o algo além que acreditam existir, alcançar esta vivência é algo simples de se fazer, pois eles não estão preocupados em alcançar a vitória sobre o outro, o prazer, a fama ou o elogio, mas sim em aproximar-se de Deus. Por isso, esses conseguem facilmente abrir mão da posição de certo.

Vivência espiritualista

Comunidades

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Comunidades

Vamos conversar sobre mais um tema da vida humana e mostrar àqueles que querem aproveitar esta encarnação e aproximarem-se de Deus como vivenciá-lo. Hoje nosso assunto vai ser a convivência humana a grosso modo.

Vamos conversar sobre o relacionamento de um ser encarnado com um grupo de seres. Vamos falar sobre a vida em coletividade. Com o que falaremos hoje, vocês vão entender a função do outro ou de um grupo de pessoas para a encarnação de vocês.

O ser humano não existe sozinho. A sua vida é feita em coletividade, em grupo. Este aspecto da existência humana vocês conhecem, mas há um detalhe que não percebem: a sociedade humana não é ampla nem única.

O ser humano imagina que exista uma única sociedade humana que abranja todos que habitam o planeta, mas isso não é real. A sociedade humana é restrita e múltipla, ou seja, o ser humanizado vivencia acontecimentos sempre em grupos restritos e faz parte de diversos grupos ao longo da caminhada encarnatória, ou como vocês chamam, ao longo de um dia. Não existe apenas uma sociedade humana, mas sim diversas comunidades com as quais o ser humanizado se relaciona ao longo de um dia.

Vou dar um exemplo para compreendermos melhor o que estou dizendo. Só que antes disso precisamos entender o que é uma comunidade. Comunidade são grupos de seres humanos que vivenciam acontecimentos em conjunto. O que une esses seres nesse grupo é um objetivo afim, uma afinidade.

Toda comunidade possui um objetivo afim. Essas comunidades são necessárias, pois, como veremos, dentro da lógica humana, o ser humanizado precisa deste grupo para alcançar esse objetivo que ele considera necessário para a sua existência.

Vamos aos exemplos para ficar mais claro o que estou dizendo. Pela manhã, o ser humano acorda, Quando isso ocorre ele convive com a comunidade família. Essa comunidade, que é formada pelos seres que habitam o mesmo teto, possui alguns objetivos em comum e o ser humanizado acha que precisa desta convivência para alcançar estes objetivos.

Mais tarde esse ser humano precisa chegar ao seu trabalho. Para atingir este objetivo participa de mais uma comunidade: a dos passageiros de determinado ônibus ou trem. Alcançado o objetivo deste grupo, o ser humano se desliga dele e começa a viver em outro: o dos colegas de trabalho. Ali vive com a comunidade colegas de trabalho buscando o mesmo objetivo que todos.

Quando acaba o expediente, a vida na comunidade trabalho, o ser humano se junta a outras. Pode ser a de estudantes de uma escola, frequentadores de um determinado curso ou ainda de amigos que se reúnem para momentos de lazer. Todas estas comunidades são grupos de seres humanos que se juntam para alcançar determinado fim.

É assim que o ser humanizado passa o dia. Ele vive numa comunidade por certo período de tempo e depois sai dela e ingressa na vivência em outro grupo até que também abandona esse e passa a viver em nova comunidade. Em cada uma delas possui um objetivo, que é o mesmo para todos os participantes. Desta forma, convive ao longo do dia com diversas comunidades que possuem junto com ele um objetivo em comum.

Essa é uma descrição de uma vida humana, ou melhor, de uma encarnação de um ser universal. Sendo assim, para o espiritualista em cada uma destas vivências há uma oportunidade de trabalho para aproximar-se de Deus. Por isso é importante que estudemos estes momentos e obtenhamos uma vivência que possa levar o espiritualista a alcançar o seu objetivo.

Como dissemos, os integrantes dos grupos possuem objetivos comuns. Acontece que nem sempre a convivência nessas comunidades é pacífica, prazerosa, positiva. Muitas vezes o ser humanizado convive em algumas comunidades por necessidade de atingir um objetivo tendo vicissitudes negativas, ou seja, não gostando da forma como essa comunidade se relaciona. Ele se relaciona com os outros por conta da busca do objetivo fim da comunidade, mas não consegue conviver pacificamente com os hábitos e costumes dos integrantes do grupo que são diferentes do dele.

Quando está convivendo com a comunidade do trabalho, por exemplo, o ser humanizado acredita que não pode deixar o emprego porque precisa do salário para sustentar a si e à sua família. Só que muitas vezes a vivência destes momentos é feita de uma forma sofredora, pois o ser humano não concorda com os hábitos e costumes dos integrantes daquele grupo. A mesma coisa acontece na escola. O ser humanizado acha que precisa acabar sua formação para ganhar mais dinheiro, mas sofre na vida com a comunidade da escola porque não concorda com a forma de agir dos demais integrantes deste grupo.

Enfim, o que estou falando é algo que acontece corriqueiramente na vida dos seres humanos. Eles sentem-se “obrigados” – coloco entre aspas este termo porque na verdade não são, mas imaginam que são – a conviver com os hábitos e costumes de integrantes de determinadas comunidade, mesmo não concordando com eles, por que imaginam que precisam obter aquilo que é o objetivo comum daquele grupo.

Com esta pequena análise nós encontramos a primeira conclusão do nosso tema de hoje: nem sempre a vida em coletividade reproduz uma vicissitude positiva. Muitas vezes isso acontece como algo negativo da encarnação de um ser.

Se parássemos nossa conversa por aqui, o espiritualista, baseado em tudo o que já falamos, compreenderia que é necessário abrir mão da preferência por determinados hábitos e costumes para que pudesse conviver em paz e harmonia com os demais membros das diversas comunidades e assim aproveitar a oportunidade deste acontecimento para aproximar-se de Deus. No entanto, quero aproveitar esse tema e lançar mais uma luz para a busca do espiritualista.

Quero colocar mais um corrimão, que é muito importante, para o espiritualista se apoiar no seu trabalho de caminhar no sentido de aproximar-se de Deus. Esse corrimão diz respeito à função do outro na encarnação do ser...

Começamos essa conversa dizendo que nenhum ser humano vive sozinho: todos estão sempre vivendo em comunidade. Sendo assim, os integrantes dessas comunidades são os responsáveis pelos acontecimentos que ocorrem na existência daquele ser. Se a vida é a encarnação, posso, então, dizer que os integrantes das comunidades vivenciadas pelo ser humanizado são os responsáveis pelas provações que ele vive.

O fato do outro ser o responsável direto das provações que um ser vive está muito bem descrita na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos.

“132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Já havíamos conversado sobre esta questão. Foi nela que encontramos a informação de que a existência humana precisa conter vicissitudes, alternância de situações, para que cada ser encarnado tenha as provações necessárias para viver a felicidade plena e aproximar-se de Deus. No entanto, existe um segundo objetivo para a encarnação sobre o qual ainda não havíamos falado. Vamos abordá-lo agora...

O primeiro detalhe a respeito deste segundo objetivo é que ele é apresentado da seguinte forma: tem mais um objetivo a encarnação... Ou seja, todo ser que encarna precisa viver as suas vicissitudes, mas também precisa fazer algo mais. Vamos entender que algo mais é esse que o Espírito da Verdade ensina...

Na descrição deste segundo objetivo da encarnação é dito o seguinte: o espírito toma um corpo de acordo com o mundo onde vai viver, para ali, sob as ordens de Deus, contribuir para a obra geral. Vamos entender esta questão...

Qual é a obra geral que existe no Universo? A obra de Deus... Mas, qual a obra de Deus? As provações dos espíritos...

Este é um ponto que vocês se complicam por não pensarem de cima para baixo, da realidade universal para a material. Por pensarem a partir da realidade material imaginam que a obra de Deus é o Universo, os planetas e estrelas que existem ou ainda a natureza que os cerca. Isso não é real...

A obra de Deus não tem nada a ver com as coisas materiais. Tudo o que existe e é percebido pela mente humana é apenas cenário do grande palco onde se desenrolam os processos de encarnação dos espíritos. Este processo é que é o essencial da obra de Deus e não os lugares onde ele acontece. Por isso, a obra de Deus que foi citada nesta questão é o sistema de evolução espiritual e não os planetas e estrelas do universo.

Se a obra geral é o sistema de evolução e se esse, segundo o primeiro objetivo traçado nesta pergunta, é viver vicissitudes, podemos compreender que um dos trabalhos dos espíritos quando encarnados é servir como gerador das vicissitudes dos outros. Como eles fazem isso? Agindo humanamente...

Sabe aquela pessoa que faz parte de uma comunidade que você participa, mas que possui hábitos e costumes com os quais não consegue conviver em paz? São espíritos que encarnaram para viver as vicissitudes deles, mas também para praticar estas ações na sua frente, pois só assim você terá as vicissitudes que precisa para realizar o seu trabalho durante esta encarnação...

Mas, elas podem fazer o que quiserem contra você? Elas podem agir de uma maneira que gere uma vicissitude que você não precisava ter? Basta olharmos atentamente a questão 132 que veremos que não. Ali está bem claro: cumprem missões daquele ponto de vista, a obra geral, e agem sob as ordens de Deus.

Agora nossa informação está completa. Sabe aquela pessoa que você convive numa comunidade, mas que age em desacordo com os seus hábitos e costumes? Ela foi colocada ao seu lado para agir gerando a exata vicissitude que você precisa e faz isso sob as ordens de Deus. Ela não pode lhe dar nada além do que você precisa, já que está sob as ordens de Deus, mas, pelo mesmo motivo, não pode deixar de lhe dar nada do que você pediu...

Se aquela pessoa com a qual não se harmoniza dentro dos acontecimentos de uma comunidade não fosse do jeito que é, você não teria as suas vicissitudes. Se ela não fizesse exatamente o que faz, você não teria a sua vicissitude, não teria sua provação.

Se assim fosse, você não teria a sua oportunidade de aproximar-se de Deus e com isso não existiria a obra geral, não existiria o sistema de encarnações criado por Deus para a evolução dos espíritos. Isso é o que o espiritualista compreende a respeito da vivência em comunidade quando ele não se coaduna com os hábitos e costumes de alguns dos participantes deste grupo.

Para o espiritualista não importa em que comunidade esteja vivendo, não importa qual seja a forma de agir do outro, ele sabe que este ser humanizado não é bom nem mal. Tem a certeza de que é apenas um instrumento de Deus e que age da maneira que age porque ele, o espiritualista, precisa ter aquela vicissitude para realizar a sua provação. É neste corrimão que o espiritualista se apoia para conseguir viver harmonizado e em paz com o momento onde os outros agem de forma diferente dos seus hábitos e costumes.

Ao invés de aceitar a crítica que a mente humana faz à forma que o outro se porta, ele se apoia neste corrimão que acabamos de colocar. Com isso consegue, então, viver em paz e harmonia com aqueles que dentro das comunidades que frequenta agem diferente dos seus padrões.

Quando o espiritualista se baseia no segundo objetivo da encarnação trazido pelo Espírito da Verdade pode, então, vivenciar os momentos onde seus hábitos e costumes são contrários aos de alguns membros da comunidade sem perder sua paz e sem se desarmonizar com o acontecimento. Já o ser humano comum, aquele que quer obter vitória, que quer ganhar a fama, acha que o outro precisa se mudar para que a vida na comunidade ocorra do jeito que ele acha certo, da forma que acha bom.

O problema é que não existem duas pessoas tenham os mesmos hábitos e costumes. Por isso o ser humano não espiritualista muitas vezes quer que toda comunidade se mude, que todos façam exatamente o que ele quer. Como isso é impossível, já que a ação de cada um é regulada por Deus para que a obra geral aconteça, vive em sofrimento o tempo inteiro na convivência com a comunidade que acha obrigatório frequentar... Agindo assim, o espírito encarnado perde a sua oportunidade de aproximar-se de Deus.

Eis aí, portanto, mais um corrimão para que o espiritualista se apoie na sua busca de aproximar-se de Deus. Aliás, eu diria mais que um corrimão, mas uma viga forte na qual deve se sustentar, já que todos os acontecimentos da vida humana são vivenciados em coletividade: todos os que se relacionam com o espiritualista agem de determinada forma porque, sob as ordens de Deus, estão gerando as vicissitudes que são necessárias para o aproveitamento da oportunidade de elevação. Baseando-se nisso, o espiritualista pode começar a abrir mão das posses, paixões, desejos e intencionalidades geradas pela mente.

Esta é a vivência que indico. No entanto, como tenho dito algumas vezes ao longo de nossas conversas, ela não é para qualquer um. O caminho que mostro serve apenas para aqueles que querem aproveitar esta encarnação. Quem acha que quer aproveitar a encarnação tem nesta conversa uma grande arma para aproximar-se de Deus. Já para aqueles que não estão preocupados com isso, que ainda imaginam que devem gerar um código de conduta e obrigar os outros a segui-lo, para esses o caminho que indiquei não presta. Por isso, peço que desconsiderem tudo o que viram aqui...

Vivência espiritualista

Governantes

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Governantes

É preciso ter muito cuidado ao ouvir o assunto que vamos tratar hoje porque vamos enfrentar algo que a mente humana considera muito importante, que ela considera fundamental para a vida. Por isso gostaria que lessem com muita atenção e por isso, também, vou começar nossa conversa repetindo um recado que já dei em outras conversas: estou falando a espiritualistas, àqueles que sabem que existe algo além da matéria e que querem viver para este algo. Se você não quer viver para este algo, o que vamos falar hoje é um assunto que não lhe diz respeito. Isso é fundamental para ter contato com esta conversa, pois quem não quer viver para este algo vai se chocar muito com o que vou dizer hoje.

Para o espiritualista não existe ser humano: existe ele, aquele que vocês antigamente chamavam de espírito. Para o espiritualista não existe vida humana, mas uma encarnação, uma sucessão de acontecimentos que são subordinados à vicissitude, ou seja, alternância de situações que servem como prova para que ele tenha a oportunidade de optar entre o bem e o mal e assim aproximar-se de Deus ou não.

Levando em consideração estas informações que já comentamos ao longo de outras conversas, descobrimos algo: não existe o mundo humano. Não existe a rua, a sua casa, o seu emprego, o seu país. Não existe nem existe o planeta. O que existe externamente à você é simplesmente um cenário onde acontecimentos se desenrolam. Para o espiritualista este cenário é criado pelo Senhor do Carma (Deus) através do seu faça-se usando da sua prerrogativa de gerador primário de tudo o que acontece.

Esta introdução para o tema de hoje é fundamental, pois vamos de falar de um assunto difícil, de uma unha encravada dos humanos. Vamos falar dos governantes, das pessoas que têm autoridade para governar.

Hoje no país de vocês e em outros e também durante toda a história, qualquer que seja o governante nenhum deles alcançou a unanimidade. Nunca na história houve um governante que tenha sido unanimemente declarado como um grande governante pela população de um lugar. Em qualquer tempo sempre existiram aqueles que são a favor e outros que são contra a qualquer um que esteja no governo, mesmo que os que estejam de um dos lados seja minoria.

A partir disso pergunto: o que leva um grupo de ser humano a ser a favor ou contra o governante? A resposta é muito simples: o ganhar. Todos aqueles que de alguma forma ganham com a ação de um governante são a favor dele; todos os que acham que perdem alguma coisa, são contra ele.

Observando isso chegamos à primeira conclusão deste tema: a avaliação de um governante é individual. O governante será bom ou mal para cada ser humano de acordo com o atendimento do egoísmo de cada um. Sendo ele atendido, o ser humano é a favor; não sendo, é contra o governante.

Este é um aspecto que o ser humano não leva em consideração. Ele não entende que o julgamento de um governante não tem nada a ver com a situação do país, com o que faz, mas é gerado apenas no interesse individual de cada um. Vou mostrar isso na prática...

Vocês lutam para ajudar os pobres coitados que não têm onde morar. Quando eles invadem um terreno e o governante manda expulsá-los, vocês consideram isso um absurdo e acham que o governante não agiu com justiça. Mas, eu pergunto: e se o terreno for seu, achará o mesmo absurdo? E se os sem tetos baterem à sua porta e quiserem dividir a sua casa com eles, vocês acharão o mesmo absurdo retirá-los? Claro que não. Ou seja, quando o governo age para defender o patrimônio de outra pessoa não presta, mas quando é você que pode perder, não acha a mesma coisa.

Outro exemplo. Vocês criticam os governantes corruptos, mas será que alguém está disposto a abrir mão de subornar um guarda para não pagar uma multa? Alguém está disposto a não sonegar impostos para que o governo tenha mais dinheiro e possa fazer o que você quer que ele faça? Acho que não, porque neste momento você sai perdendo...

Outro detalhe. O governo muitas vezes não pode fazer alguma coisa porque não tem dinheiro. Na verdade todo governo tem dinheiro, mas tem outros gastos. Um dos grandes gastos do governo é com a folha de pagamento daqueles que trabalham para ele. Você já viu algum sindicato pedir ao governo para mandar embora funcionários para que o governante tenha mais dinheiro para construir escola ou posto de saúde? Acho que não.

Essa é a prática. Quando o acontecimento é uma perda para os outros, vocês atacam o governante, mas se quem vai perder é você, neste caso o governante está certo em agir. Quando é para defender interesses seus, vale a pena agir contrário ao que cobra dos outros.

Quando falo do que não fazem, não estou criticando ninguém. Sei que cada um segue o roteiro que está pré-programado para a sua encarnação e por isso jamais alguém erra. O que estou querendo mostrar e deixar bem claro é que a mente é hipócrita, ou seja, utiliza-se de argumentos que são tratados como certo, para o bem comum, quando na verdade só está querendo obter vitórias e lucros individuais e não aceita de maneira nenhuma perder...

É isso que precisa ficar muito claro para o espiritualista. Se a sua mente possui razões para criticar o governo, por mais que sejam tornadas confiáveis estas razões, no fundo ela está usando de uma hipocrisia para poder gerar uma ideia egoísta com uma capa brilhante. Age assim para que você aceite a ideia e torne-se egoísta compactuando com o egoísmo que ela propõe.

Por isso, o espiritualista, aquele que sabe que não existe ser humano e nem mundo humano e que as histórias e o cenário deste mundo são apenas enredo que geram as vicissitudes necessárias para que ele tenha a sua prova, não se deixa levar por estas questões. Quando a mente lança argumentos hipócritas baseando-os na ideia com a preocupação com o bem comum, o espiritualista não compactua com a consciência que é gerada.

Não estou falando que o ser espiritualista não pode participar de manifestações, que não grite contra o governo. Isso é ato e pode acontecer desde que o enredo que gerará as vicissitudes da sua encarnação precise dele. O que estou dizendo é que esse ser não aceita quando a mente diz que o governo, seja qual for, faça o que fizer, é o responsável pela sua desgraça. Isso precisa ficar claro para entendermos o relacionamento do espiritualista com os governantes.

Vou falar outra coisa a respeito da hipocrisia da mente. Muitos religiosos, entre eles espiritualistas, esperam a volta do Cristo. Vivem esta espera porque acham que quando isso acontecer toda iniquidade acabará. Toda opressão dos governantes, todos os desfeitos e mal feitos se acabarão como um passe de mágica, pois quando voltar Cristo os enfrentará.

Desculpem, mas quem acredita nisso está perdendo o seu tempo. Se ele voltasse não faria isso. Faço esta afirmação não porque seja amigo íntimo de Cristo, mas porque a história prova que não.

Quando houve a encarnação Jesus Cristo o que o povo daquela época (os judeus) esperava é que ele fosse contra os romanos, que eram os governantes de então. Os judeus esperavam um messias, um homem que fosse libertá-los do jugo dos romanos assim como Moisés tinha os libertado da escravidão no Egito. Mas, Jesus cristo jamais mexeu uma palha contra o governo romano. Ao contrário...

Em sua missão, Jesus Cristo curou parente de senador, empregado de oficial romano. Além disso, deixou bem claro que não interferiria na questão da ação do governante de então quando afirmou que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus e mandou pagar o imposto dele em dia.

Ele nunca foi contra os opressores, aqueles que escravizavam e tiranizavam o povo daquela época. Por isso, se voltasse agora, não poderia ser contra quaisquer governantes que aja da mesma forma que os daquela época agiam... Esse é um detalhe que nós que estamos buscando aproveitar as oportunidades para nos aproximarmos de Deus precisamos levar em consideração quando a mente cria a ideia de atacar os governantes.

É por conta desta forma de ser de Jesus Cristo que Paulo afirma numa das suas cartas: todos devem respeitar os governantes porque eles foram escolhidos por Deus. O que o apóstolo que compreendeu os ensinamentos no mais alto céu quis dizer é que não se deve ir contra os governantes, pois eles são o agente carmático específico para gerar o que os espíritos que encarnam naquele país precisam para viver.

Estamos falando novamente de um assunto que abordamos na última conversa. Como nós vimos na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, há mais uma função que os espíritos exercem durante a sua encarnação: eles tomam um corpo de acordo com o mundo que vão viver e lá, sob as ordens de Deus, agem contribuindo para a obra geral. É isso que estou falando agora...

O seu governante, seja em que esfera for, não age da forma que age porque quer, porque é ganancioso, porque é maldoso, porque quer simplesmente ganhar: age do jeito que age para que o país, o estado ou a cidade, enfim aquilo que ele governa, tenha a vicissitude que precisa para a prova dos espíritos que estão naquela comunidade. Essa é a visão do espiritualista da função do governante, da sua forma de agir.

É a partir dessa visão que o espiritualista pode enfim libertar-se da formação mental que é gerada quando esse governante faz alguma coisa que aparentemente leva este ser a perder, a não ganhar. Usando este corrimão, apoiando-se nesta visão do mundo, que é uma visão passada a partir de um olhar de cima para baixo, da realidade espiritual para o acontecimento humano, que o espiritualista consegue, então, continuar sua caminhada no sentido de aproximar-se de Deus.

Como disse no início é uma visão chocante para o ser humano comum. Este ainda acha que a salvação do planeta depende dele ou de qualquer outro ser humano. Esta visão não é errada, pois a partir dela alguns acontecimentos vão surgindo e as provas vão sendo criadas. Para o espiritualista, no entanto, não é algo a ser compartilhado, pois ele não se preocupa em salvar o mundo, mas a si mesmo.

A questão de salvar o mundo ainda será abordada em outras conversas que teremos. Por enquanto fica apenas a orientação ao espiritualista de que ele não deve comungar com as críticas que a mente gera para os governantes, como não deve também, comungar aos elogios aos mesmos governantes, quando o que ele fazem está bom para ele.

Vivência espiritualista

Ecologia

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Ecologia

Na última conversa que tivemos falamos que o espiritualista sabe que não existe ser humano e o mundo humano. Dissemos, também, que para ele tudo é originado pelo Senhor dos carmas, ou seja, Deus, e é gerado com um propósito que também é chamado de obra geral. O propósito é criar as vicissitudes para que os espíritos encarnados tenham as suas provas. Disse também que aqueles que não vivem para o algo além da matéria que acreditam existir em si ainda imaginam que há coisas a seres salvas, que o mundo precisa da sua ação para que estas coisas sejam salvas.

Por isso hoje vamos conversar sobre uma dessas coisas que os seres humanos acreditam e imaginam que precisam ter determinadas ações para salvar o mundo. Vamos falar de ecologia, da convivência do espiritualista com o movimento ecológico da humanidade...

Como sempre, vamos começar conversando um pouco sobre a realidade desse movimento material. Faremos isso para entender como realmente ele acontece e assim desmascarar o egoísmo e a hipocrisia que estão presentes nos discursos mentais.

Ecologia é um movimento de proteção à natureza que o ser humano promove porque acha que ele é capaz de alterar as condições que o mundo se apresenta e gerar um novo ambiente onde haja melhores condições de vida. É um movimento que supostamente tem como finalidade proteger a humanidade como um todo. Só que, como venho dizendo, esse é um processo gerado pela mente humana, que é egoísta por natureza, vive a partir do eu e para o eu. Pela mente humana que possui como característica a vontade de ganhar, de ter o prazer, do reconhecimento e do elogio.

Sendo assim, sendo a ecologia algo gerado pela mente humana, esse altruísmo todo tem que ser analisado. Vamos analisá-lo. Para fazer isso vou relembrar uma passagem que ocorreu conosco quando fizemos um encontro em Pirenópolis, Goiás, dentro de um hotel que fica no meio de uma mata.

Neste encontro estiveram presentes diversos seres humanos que se dizem espiritualistas, mas que no mundo humano pertencem a comunidades diferentes, ou seja, comungavam com ideias afins diferentes. Para alguns que ali estavam existia na sua mente a suposta pretensão de preservar a natureza; para outros esta pretensão não existia. Alguns não tinham ideias afins com a comunidade egológica que estava presente neste encontro. Por isso, esses não se preocupavam com a questão ambiental.

O que aconteceu na vivência desta comunidade que se formou temporariamente naquele momento? Aqueles que tinham afinidade com a preservação ambiental se chocaram com algumas coisas que aqueles que não tinham essa afinidade faziam.

Por causa disso uma moça veio conversar comigo. Ela me disse que havia pessoas jogando a ponta do cigarro na mata e que aquilo não estava de acordo com a preservação do ambiente. Dizia ela que aquilo era uma falta grave porque afinal de contas aquele hotel tinha sido criado para incentivar e ensinar as pessoas a preservarem a natureza. Para comentar o assunto abordei dois aspectos com esta moça...

Primeiro: o cigarro é feito do que? O que compõe o cigarro? Será que há nele algum elemento que não exista na natureza? Ela me disse que havia os produtos químicos. Respondi que estes também vêm da natureza, são naturais. Sendo assim, na verdade quem estava jogando a ponta do cigarro no mato estava devolvendo a natureza o que pertencia a ela.

Isso é real, isso é verdadeiro. Só que para o ambientalista cigarro não pertence à natureza. É sujeira é lixo. Mas, porque ele tem esta visão apesar de tudo que compõe o cigarro vir da natureza? Porque ele não gosta de cigarros. Acha o cigarro feito e acha a planta bonita.

Começa por aí a questão da hipocrisia no discurso mental ecológico. As práticas ambientalistas que a mente trabalha estão sujeitas às interpretações individuais de cada um. O que o ecologista gosta é aceito pela sua ecologia; o que não gosta não é aceito.

Com esta compreensão começamos a desmistificar a questão da ecologia. Não existe um sistema ecológico universal, mas cada um tem o seu e ele é composto por aquilo que o ecologista quer que faça parte desse sistema. Cada um cria o seu padrão ecológico, o que é ecologicamente certo e exige que este padrão seja atendido para que ele ganhe. Este sistema, portanto, não tem nada a ver com proteção com meio ambiente, com proteção para gerações futuras, mas busca um lucro individual e imediato.

Segundo aspecto que abordei em resposta a essa moça. Ela me disse que o hotel tinha sido feito para divulgar, ensinar e ajudar na proteção do meio ambiente. No entanto, ele é uma construção que foi erguida dentro de uma mata. Minha pergunta: onde está a mata que foi arrancada para se construir este hotel? Ou seja, se matou a mata para construir o hotel para ensinar a preservar a mata. Isso pode?

Claro que guiada pela mente humana ela me deu milhares de desculpas para a existência daquela construção. No entanto reparem no detalhe: mais uma vez o que o ser humano quer fazer pode ser feito e a mente humana sempre terá argumentos para justificar aquilo que se quer. Se um ser humano quer ter um hotel e para isso precisa arrancar a vegetação, mesmo que ele seja ecologista, a mente criará motivos para que o hotel exista, pois assim este ser ganha.

É esse detalhe que estamos batendo nas últimas conversas. A mente é hipócrita e qualquer movimento humano que aparentemente é dedicado à maioria, é dedicado ao planeta como um todo, na verdade só é vivido por aquele que acha que aquilo é importante, por aquele que gosta. Por isso o que aparentemente se tratava de algo correto só existe para que o ser humano possa viver a realização daquilo como um lucro individual, como um ganho individual.

Deixem-me fazer uma pergunta: vocês já viram um ecologista que não tenha carro? Já viram ecologista que não tenha a sua casa para morar, seja própria ou alugada? Para se construir uma casa ou um carro é preciso se destruir a natureza para criar ruas para o carro andar, para conseguir espaços para construir a casa, para obter os materiais necessários para fazer uma coisa ou outra. Neste caso pode? Para que o ambientalista possa ter a sua casa pode se destruir uma montanha para retirar o cimento? Pode, também, criar problemas num rio para retirar a terra necessária para a construção?

Volto a dizer: não estou atacando a ninguém. O que estou querendo mostrar é que a mente humana não trabalha com motivos sublimes, não trabalha com motivações de atender a todos, mas está sempre condicionada ao que quer. Para esconder este condicionamento, ela cria verdades hipócritas e uma delas que o espiritualista distingue muito bem é a questão de salvar o planeta.

É preciso que vocês entendam uma coisa: não existem planetas. O que existe é algo chamado universo. Tudo que vocês chamam de planetas são apenas criações ilusórias, fantasmagóricas, maya, como Krishna chama, dentro do universo. Essas coisas existem para atender a obra geral, ou seja, para atender o processo de evolução dos espíritos. Sendo para atender uma encarnação é necessário que se compreenda que Deus é a Causa primária, pois Ele é o Senhor do carma.

Portanto, não existe planeta a ser salvo, porque cada um deles está e sempre estará de acordo com as vicissitudes necessárias para a provação do ser, de acordo com o carma daqueles que os habitam. O rio não está poluído porque as indústrias jogam lixo nele ou porque as pessoas jogam dentro dele sujeiras, mas sim porque aquela poluição é a vicissitude das comunidades espirituais que vivem perto dele. A ausência da mata não aconteceu porque o homem foi lá e cortou. Na verdade este ato, que é uma teatralização para gerar determinada vicissitude, foi gerado pelo Senhor dos carmas para que o cenário compusesse com perfeição a vicissitude que aqueles que encarnam na Terra precisam para a sua provação.

É isso que o espiritualista compreende quando ele ao saber que existe algo além da matéria vive para este algo mais. Aquele que sabendo que existe algo mais, mas não vive para este algo, ainda acha que há um planeta a ser salvo. O espiritualista sabendo que existe este algo mais e vivendo para ele sabe que tudo sempre está salvo, pois está sempre de acordo com o que o espírito precisa para poder ter a sua provação.

Como disse em outras oportunidades, não estou atacando ninguém nem fazendo qualquer tipo de apologia. Isso porque como espiritualista reconheço que tudo vai acontecer como tiver que ocorrer. Por isso sei que não há culpas ou culpados, que não há geradores de situações a não ser o próprio espírito por precisar destas vicissitudes. Portanto, não poderia atacar ou acusar ninguém nem defender nada. A única coisa que defendo por conhecer a realidade é que o espiritualista aproveite a oportunidade que está tendo.

Tem uma coisa que vocês espiritualistas e espíritas esquecem quando se fala de vida humana. Esquecem que vocês imploraram para ter a oportunidade de encarnar. Pediram veementemente para encarnar neste planeta onde estas condições ambientais existiriam. Fizeram este pedido não porque gostassem desta situação ou porque se voluntariaram para alterar esta situação, mas sim porque sabiam que aqui teriam determinadas formações que conteriam aquilo que os afasta de Deus.

Vista a partir da realidade espiritual, essa é a realidade: você pediu para nascer neste planeta e viver as condições ambientais que aqui existem e ao mesmo tempo ser instigados a ter ideias ecológicas porque sabia que esse individualismo o afasta de Deus. Quando se prende à condição humana de vida, quando se prende à necessidade de uma vida humana que só contenha situações positivas, está cedendo à tentação e por isso se afastando de Deus.

O espiritualista não se preocupa em reclamar do governo ou com movimentos tipo o ecológico. Pode até participar de tudo isso sem problema algum, mas o objetivo fundamental da sua existência não é composto por esses ideais. Por isso, como já conversamos, está sempre atento ao seu mundo interno para não deixar as criações mentais que aparecem com uma capa de ser algo muito bom ou importante dominar o seu estado de espírito, a sua razão ao estar vivendo aquele momento.

Eis aí, então, mais um momento da vida humana difícil de ser falado, já que a maioria dos seres humanos é formada por espiritualistas que apenas acreditam no mundo espiritual, mas não vivem para ele. Por este motivo ainda acham muito importante os aspectos da vida que temos conversando recentemente. No entanto, para aqueles que sabem que o reino deles não pertence a este mundo a sua preocupação não é salvar o mundo, mas sim em se salvar: aproveitar a encarnação.

Como temos deixado em todas as conversas sempre um corrimão para se apoiar, neste final rapidamente usei um, que destaco agora: para o espiritualista o reino dele não pertence a este mundo. Por isso ele não se ocupa nem preocupa com as coisas deste mundo.

Como Cristo ensinou, se o pretendente à elevação espiritual vê uma pérola de grande valor sai correndo e vende tudo o que tem só para comprar aquela pérola. Este é o valor do reino do céu para o espiritualista e agindo assim ele chega ao reino do céu.

Para se alcançar a Deus é preciso se libertar das questões relativas a este mundo ou ainda como Cristo ensinou: não amealhar bens na Terra, mas sim no céu. Por isso o espiritualista quando se fala em qualquer movimento de qualquer aspecto que esteja apenas aprisionado à questão humana, não torna isso uma coisa importante na sua vida. Ele está sempre voltado para Deus e continua em paz e harmonia com a vida. Vive sem acusar ninguém de nada e dando ao outro o direito de ser estar e fazer o que quiser. Esse aproveita a encarnação e aproxima-se de Deus.

Vivência espiritualista

Homicídio

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Homicídio

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