Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Estudo do capítulo IV do Bhagavad Gita

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículos 01 e 02

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Senhor da yoga - versículo 2
Senhor da yoga - versículo 2

O Bendito Senhor disse:

01 - EU ensinei esta Yoga imortal a Vivaswata (que é a Mente Divina ou o Sol Espiritual). Vivaswata a ensinou a Manu (o Pai da Raça) e Manu a Ikshvâku.

02 - Assim, esses reis antigos e sábios aprenderam esta Yoga de seus respectivos preceptores. Todavia, ó destruidor de teus inimigos, tendo passado um longo período de tempo, esta Yoga (do Entendimento) havia-se perdido.

Ou seja, o espiritualismo se perdeu. Se vocês pegarem o homem antigo, ele vivia para o espiritualismo, para a comunhão com Deus. Para entendermos isso vou falar um pouco de história.

Dizemos, por exemplo, que o farisaísmo (os fariseus citados por Cristo) é um partido de Israel. Hoje para vocês um partido é uma agremiação política, mas no tempo de Cristo não havia governantes políticos. Quem governava o povo eram os religiosos. A religião comandava porque a vida do ser humano era ditada para a busca espiritual. Hoje a vida do ser humano é ditada para o prazer material. Ou seja, as constituições do planeta estão se afastando dos ensinamentos religiosos, dos ensinamentos dos mestres. Elas buscam hoje a lógica material, aquela gera o lucro individual.

É isso que Krishna está dizendo: com o passar do tempo a busca do bem espiritual deixou de ser a motivação da vida do ser humano. Esta motivação hoje é apenas a realização material. Nenhuma mãe educa mais o filho priorizando o lado espiritual, a não ser que seja carola (de qualquer religião), mas o educa para se realizar materialmente. Na antiguidade o filho era dedicado a Deus. A primeira preocupação da mãe e do pai era ensinar o filho a viver para Deus. Hoje isso não existe mais.

É esse o sentido da vida que Krishna vem trazer de volta: o espiritualismo, o viver para a realização espiritual, a comunhão com o espírito. Aliás, esse é o motivo da encarnação. Vocês encarnaram para voltar a se comungar com o espírito. Para isso é preciso vencer a humanidade que lhe é imposta durante a infância. É isso que nós estamos falando há cinco anos e é isso que se torna cada vez mais forte a partir de agora em nossos estudos. Isso porque quem quiser continuar a viver materialmente, terá que viver em outro planeta, pois neste não haverá mais espaço para uma vida isolada de Deus. A humanidade retornará a sua origem e terá como o objetivo maior da existência a religação com o Pai.

Esta informação está estampada no livro bíblico do Apocalipse. Lá se afirma que Cristo vem a Terra, faz o que tem que fazer e quando acontece a sua ressurreição, o diabo fica preso por mil anos. Estudando a história universal você verá que o que valia nesse período ainda era a espiritualidade. Depois o diabo é solto por mil anos, que é o período que está acabando agora – do ano mil ao dois mil - onde a humanidade do ser espiritual cresceu. Depois disso o diabo é preso definitivamente, jogado no enxofre e não volta jamais.

Portanto, quem for diabólico, ou seja, humano, não vai mais conseguir viver aqui.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 3

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Senhor da yoga - versículo 3

03 - Essa mesma Yoga antiga, hoje te foi revelada novamente por Mim, por que tu és Meu devoto e Meu amigo. Este é o segredo mais alto.

Yoga não é balé, não é assumir determinadas posições... Yoga é o caminho da redenção, a mudança, a reforma íntima.

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Versículos 4 e 5

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Senhor da yoga - versículo 5

Arjuna perguntou:

04 - Mas Mestre, Tu nasceste muito depois de Vivaswata; como, pois, hei de crer que tu, no passado remoto, falaste desta Yoga a alguém?

O Bendito Senhor disse:

05 - Ó Arjuna, tanto tu como Eu já passamos por muitos nascimentos. EU (SER) os vislumbro todos; tu (ego), porém, não o conheces, ó Parantapa!

Foi o que acabamos de falar. Você, como ser universal, conhece todas as encarnações que teve, conhece todas as vidas que viveu. Sabe quando foi homem, mulher, quando morreu criança, velho, na luta ou na cama. Você sabe, mas quando está ligado a uma personalidade humana, ou seja, com sua inteligência guiada pela memória dessa vida, não consegue se lembrar das outras. Isso é um artifício que Deus criou chamado véu do esquecimento, que, aliás, Kardec comentou.

Quando acontece a comunhão com o espírito, nós acabamos acessando essas outras vidas mesmo na carne. Isso porque não há mais a ilusão, não há mais o ego, não há mais desejos e vontades. Muitas vezes me perguntam: 'o que eu fui na outra vida'? Eu não posso responder a este tipo de pergunta por que isso feriria o ego de agora e quem perguntou não acreditaria no que eu disse. Mesmo que acreditasse, conhecer o que aconteceu em outra vida poderia trazer conseqüências para essa. É preciso a comunhão como o espírito para o conhecimento das vidas passadas.

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Versículo 6

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Senhor da yoga - versículo 6

06 - Ainda que Eu (SER) nunca tenha nascido e seja de natureza imutável, e ainda que Eu seja Senhor de todos os seres, mesmo assim, quando domino a "Prakriti" (ou a psicofisicalidade, mente¬-matéria), renasço, valendo-me de meu próprio Maya (que é a inescrutável e indecifrável força divina que vela quando convém, e que o conhecimento comum não capta e o intelecto traduz sem¬pre mal, como aparências e ilusões, mas jura ser a verdade.)

Quando o ser universal domina o ego, ele renasce.

Sempre que se fala em renascer eu me lembro de Cristo: é preciso nascer de novo. Muitos interpretaram essa passagem como se o mestre estivesse falando da reencarnação. Nicodemos acreditava na reencarnação, por isso Cristo não precisava falar sobre a ela com ele. O que Nicodemos queria saber não era se havia ou não reencarnação, mas como ela acontecia, como cientificamente ela acontecia. Por isso é que o fariseu perguntou: 'como um homem velho pode entrar na barriga de sua mãe'? Era a técnica, o modo como a coisa acontecia, que ele queria saber, pois acreditar na reencarnação ele já acreditava.

Cristo respondeu a Nicodemos: renascer não é uma coisa física (voltar à barriga da mãe, mas sim renascer do espírito e da água. Renascer do espírito é passar a viver na comunhão que estamos falando. É mudar a forma de viver a vida, vivenciando os acontecimentos a partir das lógicas espiritualistas, ecumênicas e universalistas.

Esse é o renascimento e ele só acontece quando se está na carne. Quando se está fora dela isso não pode ser feito, pois já se tem a consciência de ser espírito. O renascimento, então, acontece com o controle da Mente.

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Versículo 7

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Senhor da yoga - versículo 7

07 - Ó Bhârata, toda vez que a Autêntica Religião declina e predo¬mina a irreligiosidade, EU TOMO CORPO!

Religião é religação com Deus. Religiosidade é a crença na ligação com Deus. Ou seja, cada vez que a religação falta, Deus se faz homem. Não que Ele próprio se faça homem, mas manda um enviado para divulgar a verdadeira religiosidade.

Participante: Deus pode encarnar no corpo de um homem?

Os hindus acham que Krishna é Deus, mas não é. Krishna é um espírito enviado de Deus.

Como ia dizendo, então, Deus se faz presente através dos mestres, dos enviados. Ele próprio não vem. Ou seja, da boca desses enviados saem as palavras de Deus para a religação ao próprio Senhor e não ao enviado.

O problema é que as religiões do planeta fazem a religação com o enviado – no hinduísmo é com Krishna, no catolicismo é com Cristo – mas, a religiosidade deve ser a crença em Deus e não no enviado. Esse último será sempre um enviado que representa Deus e não ele mesmo.

Portanto, essa história de Krishna ou Cristo são o próprio Deus não é verdade. São espíritos, individualidades diferentes do Pai.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 8

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Senhor da yoga - versículo 8

08 - Para a proteção dos justos e para a destruição dos malfeitores, e para o restabelecimento da virtude e eterna religião (ou "Dhar¬ma"). Eu renasço de tempo em tempo.

Quem é o justo? É o que faz sem intencionalidade. Quem são os malfeitores? Os que agem com intencionalidade do individualismo (eu gosto, eu quero).

Mas, deixe-me fazer uma pergunta para ver se vocês fazem um esforço de memória e conseguem se lembrar. Qual o mestre que seguiu uma determinada religião? Nenhum, não é mesmo? Todos os mestres vieram para afrontar o poder religioso estabelecidos. Jesus era judeu e era contra a religião dos judeus; Buda acabou com a distinção de castas que havia na Índia, que era imposta pela religião; o Espírito da Verdade foi contra o Cristianismo; Lutero foi contra a igreja católica. Sempre um mestre, um enviado de Deus, vem contra a religião.

Participante: Mas, Lutero acabou fundando uma religião.

Nem ele nem nenhum dos outros fundaram religião. Elas foram fundadas por outros com base em seus ensinamentos...

A partir disso, torno a perguntar: qual é a verdadeira religião dos mestres? Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. É isso que os enviados de Deus vêm proteger. Eles não vêm proteger os poderes religiosos estabelecidos, mas para estabelecer a verdadeira religação com Deus: amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo como a si mesmo. Foi isso que todos os mestres vieram fazer.

A partir dos seus ensinamentos foram fundadas as religiões, mas não se deve seguir a religião e sim o próprio mestre. Quem segue a religião segue o que outros disseram e concluíram a partir dos ensinamentos mestres. Mas, quando fazem isso, estão motivados pela humanidade que vivem e, por isso, alteram a intenção de quem trouxe o ensinamento. Deve-se se buscar diretamente o ensinamento do mestre porque ele, seja de quem for, é sempre o mesmo: amar a Deus acima de todas as coisas.

É isso que precisamos entender em qualquer revolução no mundo religioso. Qualquer revolução que venha para criar uma nova religião não é bem-vinda, mas qualquer uma que venha para religar a Deus é bem vinda. Na hora que você adorar Cristo não adora a Deus, ou diz que o mestre é o próprio Deus.

Portanto, os mestres vêm para combater os poderes estabelecidos, os poderes religiosos estabelecidos.

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Versículo 9

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Senhor da yoga - versículo 9

09 - Aquele que deste modo verdadeiramente compreende Meu Divino nascimento e forma de agir ("Jñana Yoga"), quando aban¬donar este corpo não voltará a nascer, senão que se reunirá Co¬migo, ó Arjuna!

Divino nascimento é a vinda de um mestre. Ou seja, Krishna diz que quem compreende a vinda de um mestre não vai renascer.

Todos os mestres ensinaram a amar a Deus acima de toda e qualquer compreensão que se tenha sobre os acontecimentos. Cristo dizia: 'foi meu Pai que quis assim'. Ou seja, ele vivia para Deus. Essa religação e aceitação, essa vivência ou comunhão com o espírito, com Deus, é a característica de todos os Mestres.

Quem compreende o meu nascimento, ou seja, a vinda do seu mestre e a sua forma de viver (que é viver para Deus) não vai nascer novamente, pois quebra o ciclo encarnatório quando alcança a comunhão com a parte espiritual. Ele não encarna novamente porque não se vê mais como ser humano.

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Versículo 10

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Senhor da yoga - versículo 10

10 - Livre dos laços, do temor e da cólera, estando absorvido em Mim e tomando refúgio em Mim, purificados pelo fogo da reta sabedoria, muitos alcançaram Minha Existência.

O que é se refugiar?

Participante: Se proteger.

Portanto, se você tem medo do seu dente cair, se refugie em Deus. Se Ele quiser que seu dente caia, ele cairá, mas mesmo que isso aconteça, o refúgio em Deus lhe dará a sensação de estar protegido...

O problema é que vocês se refugiam em vocês mesmos, ou seja, acham que podem se auto proteger. Como sabem que não têm controle sobre a vida para poder fazer acontecer o que desejam, nasce o medo. É o que ele fala Krishna: o temor. O temor, o medo, só existe pra quem não se refugia em Deus, pois este não se sente protegido.

Esse é o segredo que Krishna está ensinando: se refugiar em Deus. Sem se refugiar Nele, esse mundo será uma eterna incógnita. Quando o seu desejo age desejando alguma coisa, como você não tem a condição de saber se ele será atendido, nasce o temor, o medo. Quem se refugia em Deus, mesmo que deseje, não sente angústia, medo, temor, pois se sente seguro, mesmo que o desejo não se realize.

Portanto, o medo nasce de duas coisas. Primeiro: da existência do desejo. Segundo: do não refugiar-se em Deus. Se você tiver ainda desejo, mas se refugiar em Deus, não vai ter medo, não vai ter sofrimento.

Sendo assim, para começar a briga contra o ego, naqueles momentos em que não conseguir matar o desejo, busque refúgio em Deus: 'vai acontecer o que Deus quiser'. Isso traz segurança, porque sabe o Pai quer o melhor para você. Quem se refugia em Deus não busca saber o que vai acontecer, pois sabe que o que acontecer é o melhor para ele.

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Versículo 11

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Senhor da yoga - versículo 11

11 - Seja qual for a maneira como os homens me adoram, do mesmo modo EU (SER) satisfaço seus desejos. Ó Partha!, de qual¬quer forma os homens sempre seguem Meu Caminho.

O que quer dizer no texto seja qual for a maneira? Em qualquer rito, qualquer religião. Ou seja, qualquer que seja sua compreensão sobre Deus, Ele sempre estará pronto pra lhe ajudar. Deus não tem religião. A religião de Deus é Deus. É isso que quer dizer seja qual for a maneira no texto acima. Não importa onde esteja, você estará sempre seguindo o caminho a Deus.

Então, não importa se o dente caia ou não: sempre acontecerá o melhor pra você.

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Versículo 12

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Senhor da yoga - versículo 12
Senhor da yoga - versículo 12

12 - Aqueles que anelam o sucesso neste mundo adoram os devas (ou os espíritos da Natureza, e até mesmo os espíritos celestiais), porque no mundo humano o sucesso é rapidamente alcançado graças às ações intencionais.

O que é o sucesso neste mundo? É o prazer. Os seres humanos só se consideram vencedores quando têm o prazer, ou seja, quando seus desejos são satisfeitos.

Aqueles que buscam o prazer adoram os devas, os espíritos que estão ligados ao mundo humano especificamente. Por quê? Porque acreditam que estes seres podem lhe ajudar a ter o prazer. Por isso quem busca apenas ter prazer adora Cristo, Krishna; Buda, o anjo da guarda, o deus do trovão ou o da chuva.

É isso que Krishna está dizendo quando fala sobre quem busca o prazer. Ele diz que este ser humanizado se junta aos devas (seres humanizados sem carne) por acreditar que são eles os responsáveis por satisfazerem seus desejos. Agem assim porque não entendem que no Universo existe uma Causa Primária.

Um santo pode lhe dar emprego se você fizer prece, oração, promessa ou novena?

Participante: os santos não podem interceder por nós, levando a Deus nossos anseios?

Não. Os santos têm consciência de que Deus é Onisciente e Onipresente e não precisa que ninguém leve nada a Ele. Sabem que Deus dá a cada segundo as suas obras (merecimento) e não por pedidos movidos pelo desejo.

Todos os espíritos têm funções no Universo e Deus os usa para dar a cada um de acordo com o seu merecimento de cada um. É isso que os santos compreenderam...

Portanto, de nada adianta se anelar aos devas, mas sim a Deus.

Participante: Então não adianta reunião de desobsessão?

Tudo depende do nível de elevação de cada um. Você pode se livrar de uma desobsessão fazendo cocô no banheiro. Para isso precisa estar livre do prazer. Agora, se não estiver livre, precisa ir a um Centro Espírita. Neste caso, Deus lhe manda a um centro espírita e faz toda aquela palhaçada (teatralização da desobsessão) para você pensar que foi o centro espírita que lhe retirou o obsessor. Mas, isso de nada adianta: se não se livrar da busca do prazer terá que ir e voltar constantemente ao centro.

Sob o ponto de vista humano, o verdadeiro sucesso é alcançado quando a intenção é alcançada, pois só existe sucesso para o ser humanizado quando a intenção, o querer, é alcançado, o que gera o prazer. Mas, repare numa coisa: não querer alguma coisa já é querer. Se você não quiser alguma coisa e acontecer algo, também terá alcançado apenas um sucesso humano, pois aconteceu aquilo que você queria.

Então o que eu estou falando não é de querer ou não: é de estar neutro. Quando se está neutro, se consegue atingir a Deus; quando se está com intencionalidade, só acontece o sucesso material: aquilo que você queria ou não que acontecesse.

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Versículo 13

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Senhor da yoga - versículo 13
Senhor da yoga - versículo 13
Senhor da yoga - versículo 13

13 - As quatro castas foram criadas por Mim, segundo a aptidão (gunas) e ações (karma) dos homens. Ainda que Eu seja o autor disso, em realidade sabe que sou imutável e não-agente.

Sua aptidão depende do seu carma. Ou seja, a diferença social e intelectual dos seres humanos faz parte da programação de Deus para o teatro da vida de cada um.

Ninguém é rico: Deus faz ficar rico quem precisa deste cenário para a sua provação. Ele não faz alguém rico para dar o prazer. As riquezas, tanto materiais como intelectuais fazem parte do carma daquele ser e estão nele para que ele vença o que decorre de cada aptidão. Ninguém é médico. A aptidão para a medicina faz parte do carma do ser. Deus o fez médico para que ele vença as coisas que a profissão de médico traz, como o orgulho, a soberba, a vaidade.

Neste mundo as diferenças entre as classes sociais jamais acabarão, pois elas são criadas como instrumento de ação do espírito para sua reforma íntima. Portanto, enquanto houver espírito que precisar ser pária, vai existir o pária.

Participante: Então, nós não precisamos ajudar ninguém?

Pode até ajudar, se ajudar, mas sem sofrer. Para isso é preciso saber que ele vive aquela vida especificamente porque aquele é o carma do espírito.

A partir disso, precisamos gerar uma consciência: não adianta criticar o governo porque os problemas sociais jamais irão acabar. Salomão, Cristo e Paulo falam isso: você tem que atender ao governante porque cada um deles foi escolhido por Deus. Mas, isso não impossibilita a sua ação de ajudar alguém. Apenas acaba com a obrigação de ter que ajudar, com o padrão de certo que lhe faz julgar os outros. Por exemplo: se você vê uma pessoa em mau estado, se ajudar, ajudou, se não ajudar, não ajudou. O que devemos é agir sem intencionalidade, sem padrões de certo.

Participante: Aconteceu uma coisa interessante outro dia. Um homem bateu palmas na porta de minha casa pedindo ajuda. Ele disse ser pedreiro e que trabalhava numa obra ali perto e estava precisando de dinheiro pra consertar o pneu do carro. O valor era R$7,00. Eu entrei, peguei R$10,00 e quando voltei pra entregar os dez reais ele disse que eram dois pneus. Então voltei e peguei mais quatro reais e dei pra ele. Depois fiquei pensando: eu fiz aquilo tão sem perceber e tinha certeza que em outras circunstâncias eu não faria isso jamais. Eu acho que o cara precisava do dinheiro e eu fui instrumento para isso.

Vamos apenas consertar uma coisa. Imaginar que deu porque achava que ele precisava do dinheiro ainda é ter uma intencionalidade. A única Realidade do que você falou é que deu o dinheiro.

Sabe por que ele bateu na sua porta? Porque bateu. Sabe por que ele pediu dinheiro? Porque pediu. Sabe por que você deu o dinheiro? Porque deu. Mas, por que ele não bateu em outra porta? Porque não bateu. Por que todo mundo bate na sua porta? Não é porque o muro é baixo, nem porque a casa é bonita: bate porque bate. Liberte-se do porque das coisas. Se ficar se preocupando com os porquês vai continuar criando verdades com as quais passará a viver.

Mas, neste trecho tem algo que não comentamos. Krishna fala: 'Ainda que eu seja o autor disso, em realidade sabe que sou imutável e não agente'.

Deus é imutável, ou seja, é igual sempre. Sendo assim, qualquer que seja a aptidão do ser humanizado é o mesmo Deus que está criando. Por isso afirmo que não existe aptidão mais importante do que outra. Tanto faz ser médico ou bandido: tudo é Deus...

Deus é Criador, mas não agente das aptidões dos seres humanizados. Ou seja, quem determina a aptidão que um ser humanizado terá não é a vontade de Deus, mas a necessidade do espírito. Deus gera a aptidão, mas quem causou a necessidade da riqueza ou da pobreza é o espírito, através do seu carma.

Apenas mais um detalhe: isso vale pra tudo. Tudo o que você tem, todas as aptidões de sua vida existem porque você precisa como agente carmático.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 14

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Senhor da yoga - versículo 14

14 – Os atos (visto a eles não Me identificar) não Me mancham, (ou melhor, não se transformam em karma); tampouco desejo os frutos que tais atos possam Me dar. Aquele que assim Me percebe não está enlaçado pela ação e retribuição (karma).

 Os atos não me mancham, ou seja, os seus atos, sejam eles quais forem, não mancham Deus. Se você não der esmola, Deus não é safado porque não quis ajudar o outro; se matar, Deus não é um assassino, mesmo que tenha sido Ele quem gerou o ato. Os atos não existem: apenas o amor de Deus é Real.

Se você não der a esmola, não se trata de um ato mal. É o amor de Deus. Sei que para vocês é difícil compreender que o ato não certo possa ser fruto do amor, mas saiba que Ele sempre está dando a cada um segundo suas obras. Ou seja, está dando o que cada um precisa. Se você não deu esmola para uma determinada pessoa é porque carmaticamente ela não precisava da esmola.

Os atos não mancham a Deus porque tudo o que Ele gera é por amor. Sendo assim, tudo que você e todos os outros seres humanizados fazem é amor. Mesmo que aparentemente o Senhor esteja contrariando o desejo do próximo quando gera a ação, este está sendo amado.

É isso que vocês precisam entender quando eu disse lá atrás que recebem aquilo que precisa e merece. Ou seja: tudo que alguém faz para vocês é fruto de um amor. É o merecimento que tiveram. Mais que merecimento: é uma necessidade, pois se vocês ganhassem o que não ganharam, perderiam, espiritualmente falando.

Portanto, não há como manchar Deus pelos atos humanos. Só a lógica humana é que mancha Deus. Mas, neste caso, não é a Verdade: é o que cada um acha, a intencionalidade.

Mas Krishna fala mais. Ele diz: 'tampouco desejo os frutos que tais atos possam Me dar'.

Deus, ao gerar a Causa Primária que cria tudo no Universo, não tem intencionalidade individual e, por isso, não ganha nada com o que faz. Ele não cria determinada ação para se divertir às suas custas, por achar certa ou bonita tal ação. Ele faz aquela ação específica porque ela é o melhor para você.

Se Deus tem alguma intencionalidade é a de que você evolua. Por isso lhe dá exatamente o que é necessário para a sua provação.

É por isso que Krishna diz : 'nem tenho intencionalidade com essas coisas'. Deus não tem a menor intenção de que roubem ou não o seu carro, mas faz isso acontecer porque é o melhor para você. Mas, vocês não vêem assim. Baseiam-se nas suas verdades e posses e ofendem a Deus: 'roubaram meu carro, que droga, que coisa ruim'.

Você não vê, mas está xingando o próprio Deus, pois foi Ele que roubou, não o ladrão. Na verdade, o negativismo da ação só existe na sua cabeça, pois na Realidade do Universo foi um ato positivo. Portanto não digam assim: 'porque aconteceu isso comigo, o que eu fiz de errado'? Não importa o que o outro faça, ele é instrumento de Deus. Sendo instrumento do Pai, ele está lhe amando...

'Mas se ao vivenciar a ação o outro tem o sentimento de inveja', vocês poderiam me perguntar. O problema é dele: ele pode ter este sentimento naquele momento, mas a inveja dele só vai causar um ato que seja amoroso para você.

É por isso que Krishna falou anteriormente: não existe ato que seja perdido. Tudo o que se faz, mesmo que seja motivado pela inveja, é válido, porque é amor para quem está sendo invejado.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 15

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Senhor da yoga - versículo 15

15 – Sabendo disso, os antigos buscadores da Verdade cumpriram com seus deveres. Portanto, executa tu também a ação como os antigos fizeram nos tempos passados.

Isso, sem intencionalidade.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 16

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Senhor da yoga - versículo 16
Senhor da yoga - versículo 16

16 – Às vezes, até mesmo os próprios sábios ficam perplexos a respeito do que é a ação e o que é a inação. Dir-te-ei o que é a ação e entendendo-me te libertarás do Mal.

Porque 'até mesmo os próprios sábios ficam perplexos a respeito do que é a ação e o que é a inação'? Porque a diferença é muito sutil: toda ação é uma animação com intenção e a inação é uma ação sem intenção.

Participante: como fica a questão da ação se a gente não age?

Voltemos ao que você falou antes: bateram na sua porta?

Participante: sim

Se você tiver apenas a consciência de que bateram na sua porta, teve amor. Se descobrir que isso aconteceu porque a sua casa é bonita ou porque o muro é baixo, vivenciou um sentimento diferente do amor. Bater a porta é ação; bater porque, como, quando ou onde é uma intenção que você criou ao vivenciar o acontecimento. Toda vez que quiser descobrir porque algo aconteceu estará gerando uma intenção.

Diga-me, porque você foi lá dentro agora?

Participante: porque eu tive a intenção de fazer chá.

Não, não foi por isso. Você foi porque foi, mas pôs a intenção de que foi porque queria fazer chá. Na verdade, você não foi: Deus lhe levou.

Participante: E o pensamento de fazer o chá?

Foi-lhe dado por Deus justamente para você decidir se foi lá dentro por causa disso ou se tem a consciência de que foi porque Deus te levou.

É o que estamos falando neste momento: até o sábio fica perplexo. Mas, por que a perplexidade? Porque a intencionalidade é inconsciente e a ação de Deus não. Você diz que foi lá dentro porque teve uma determinada intenção. Tem certeza disso; tem certeza de que primeiro teve a intenção e depois foi. Nesse momento se esqueceu de Deus, porque você não poderia sair de onde estava sem que Deus fizesse isso acontecer.

Participante: Então qual deve ser o raciocínio?

Mediante a vontade de fazer chá diga: se fizer fiz, se não fizer, não fiz. Se for fui, se não for, não fui.

Participante: Qual a diferença entre intencionalidade e desejo?

Intenção é dizer 'eu estou com vontade de fumar'. Já o desejo age como um condicionamento à felicidade: 'eu preciso fumar para estar feliz'.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 17

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Senhor da yoga - versículo 17
Senhor da yoga - versículo 17

17 - A natureza da ação justa deve ser bem compreendida, bem como a natureza da ação injusta e o que é a verdadeira não-ação. A natureza do Karma (ou ação personificada e conseqüência) é em realidade muito difícil de compreender.

Qual a verdadeira natureza da ação justa? A ação não intencional, ou seja, é aquela que não lhe traz prazer nem acusações. ' Eu fiz'. 'Porque você fez'? 'Porque eu fiz'. 'Para que você fez'? 'Para fazer'. 'E no que vai dar o que fez'? 'Não sei, vai dar no que der'. Esta é uma ação vivenciada como ação justa. Na hora que disser que estava com vontade de fazer aconteceu uma ação injusta, pois tirou proveito individual daquela ação. O proveito individual tanto pode ser a auto-acusação quanto prazer.

A natureza da ação injusta é qualquer coisa que lhe traga prazer ou sofrimento.

A natureza do carma, também comentada por Krishna neste texto, significa a origem do seu débito. São as eternas perguntas que todos os que acreditam em carma se fazem: 'por que eu tinha que passar por isso'? 'O que eu fiz ontem para hoje merecer isso'? 'Na vida passada eu devo ter feito determinada coisa para receber isso hoje'. Vocês querem sempre saber a origem do carma de hoje: 'se eu soubesse o que fiz ontem compreenderia por que estou vivendo isso hoje'... Mas, neste caso, estariam vivendo uma intenção novamente: estariam vivenciando o carma com a intencionalidade de vencê-lo.

Vocês precisam vencer o carma sem a intenção de vencê-lo. Na verdade, vocês vão se elevando sem saber que estão se elevando. Para isso vocês devem confiar na justiça de Deus e não ficar perguntando onde estão as provas que condenam vocês.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 18

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Senhor da yoga - versículo 18

18 - Aquele que percebe a Inação (não-ação) na Ação e vê a Ação na Inação, esse é um Sábio entre os homens, é um yogue de verdade e pode cumprir com todas as ações.

Aquele que percebe Deus agindo através dele ou através do outro, vivencia a ausência de intenção na ação. Portanto, se você faz algo pra alguém e vê Deus na ação libertar-se-á da culpa ou prazer e somente louvará ao Senhor. Mas, se jura que foi você ou o outro que fez, diz que conhece qualquer um e sabe do que eles são capazes, não verá a ação de Deus e estará preso à intencionalidade.

Sendo assim, enquanto você não matar todos os registros que estão na sua memória sobre você mesmo e os outros, não vai ver Deus agindo através de qualquer um. E, enquanto não ver Deus agindo através de qualquer ser humano, inclusive você, não se sentirá amado. Enquanto não se sentir amado, não vai ser feliz.

Refugie-se em Deus, pois tudo é Ele quem faz. Seja quem for, todos são Deus.

Ver Deus agindo é alcançar a inação.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículos 19 e 20

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Senhor da yoga - versículo 20

19 – Aquele cujas ações não são motivadas pelos desejos e por um plano prévio, e cuja maneira de agir está sempre purificada pelo fogo do reto entendimento, os sábios chamam a esse de Ilu¬minado e verdadeiro conhecedor.

20 - Tendo abandonado o apego aos frutos da ação, sempre contente, sem depender de ninguém, ainda que cumpra ações, o Verdadeiro Conhecedor, em realidade, não faz nada (que possa resultar em laço).

Ainda que cumpra a ação, ou seja, mesmo na carne física fazendo atos contra os outros, o ser não tem nada que lhe prenda à matéria.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 21

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Senhor da yoga - versículo 21

21 - Livre dos desejos, com o ser corporificado sob controle e abandonando toda impressão de posse, mesmo que cumpra as ações do corpo, não fica contaminado por elas.

O ser corporificado sob controle é aquele que vive para Deus. Este, amando a Deus, qualquer coisa que pratique não lhe suja, não constitui pecado, ofensa a Deus. Mas, para isso, precisa estar livre dos desejos.

Quando você age sem desejos, sem paixão e intencionalidade, mas em comunhão com a espiritualidade, nenhum pecado é gerado, nenhuma negatividade acontece. Não importa que sentimento o ser humanizado use para vivenciar aquela ação, desde que ele não esteja apegado ao desejo, à paixão e a intenção, não gera carma negativo.

Cristo ensinou que Deus conhece a intenção de cada um e é por ela que o Senhor julga. Isso porque o ato é perfeito pela sua origem (Deus Causa Primária de todas as coisas). Sendo assim, nesse mundo, você precisa acabar com as paixões, os desejos e as intencionalidades ao invés de se preocupar com ações certas ou erradas. Quando viver sem intencionalidades entrará na Realidade Deus e sua Ação e jamais irá gerar carma negativo para você.

Usando o que já falamos, como posso ensinar isso numa frase só? Porque bateram na sua casa? Porque bateram... Não porque tinham que bater.

É isso que o Krishna está nos ensinando. Trata-se de viver um mundo onde a realidade é a Realidade e não a ilusão, como: 'bateu porque ele tinha que bater'; 'bateu porque Deus mandou'; 'bateu porque eu merecia e precisava'. Tudo isso ainda está agregando intencionalidades.

Na hora que você chega à realidade (bateu porque bateu; apanhei porque apanhei; recebi porque recebi; perdi porque perdi), nessa hora, não importa qual ação seja praticada, jamais irá perder a positividade da ação.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 22

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Senhor da yoga - versículo 22
Senhor da yoga - versículo 22

22 - Contente com o que surge sem fazer esforço, transcendendo os pares de opostos (prazer, dor, calor, frio, bem, mal etc.), livre de inveja, equânime diante do sucesso e do fracasso, o sábio, embora atue, não se liga.

O que surge sem fazer esforço: o que quer dizer isso? É viver sem planejamento, sem desejos, sem querer. Contente com o que surge: 'o que surgiu é isso, então é isso que vou fazer'. Se o verdadeiro sábio hoje tiver um limão, ele vai chupá-lo; agora, se amanhã tiver um morango, irá comer morango... O problema é que se hoje vocês têm um limão, o chupam pensando no morango de amanhã ou então não chupam o limão preferindo a fome para esperar o morango de amanhã.

Ser sábio é viver o que tem para viver hoje sem nenhuma preocupação com o futuro ou culpabilidade com o passado. Quando alcança a sabedoria, o ser humanizado se encontra acima do bem e do mal. Ele chega a um ponto onde não há emoções. Ele não se emociona, ou seja, não está em euforia positiva ou negativa. Ser sábio é alcançar a apatia com as coisas do mundo. Trata-se de viver de forma igual o sucesso (quando acontece o que você queria) e o fracasso (quando não acontece o que você queria). Esse está livre da inveja porque esta é a filha do desejo não atendido.

O sábio, embora aja não se liga às coisas: transita entre elas sem prender-se à elas. As pessoas se prendem às coisas vítimas do desejo. Para despossuir é preciso não desejar. Enquanto o ser humano não deixar de desejar, haverá a posse, a vontade de ter, a vontade de comandar o destino daquela coisa. O sábio é desapegado porque vive fora do conceito dualista. De nada adianta querer combater a posse sem combater a prisão às coisas materiais. Quando falo em coisa matérias não estou me referindo a objetos, mas ao prazer. Não adianta nada combater o prazer se não combater a humanidade, que são as regras, os conceitos pré-estabelecidos que ditam o certo e o errado.

Estamos chamando os ensinamentos de Krishna de caminhos e esta é uma colocação muito boa, pois o que ele ensina é um caminho que precisa ser caminhado. Não se trata de mágica. Jamais ocorrerá uma transformação mágica na sua vida. Os ensinamentos de Krishna também não se constituem numa ciência, uma medicina em que vocês tomam tantas seções de passe e vai estar tudo bem. Não é uma novena onde você faz noventa orações pra melhorar. Não, eles são um caminho onde se trabalha o tempo inteiro para alterar os objetivos de vida, para alterar o comportamento de vida, os valores da vida. Por isso Yoga é o caminho da libertação – o caminho do Reto Entendimento.

Apesar disso, o ser humano ainda continua procurando a verdadeira ligação através da mágica: 'hoje não estou bem, me dá um passe'. Muitos acreditam que depois de um passe ou de uma novena vão sair dali e arrumar um emprego. Tudo o que ele recebeu durante o passe já foi embora quando este ser humano se anelou espiritualidade com satisfação material. Isso acontece porque ele usou Deus e as coisas universais para benéfico próprio, individual. De que adianta ir a um centro quando se está perturbado, assistir uma palestra e tomar um passe? Mesmo que o ser humano saia de lá se sentindo bem, não luta para proteger o que ganhou lá dentro.

Digamos que neste dia esteja chovendo e alguém passa na rua e joga água neste ser. Ele vai buscar o perdão, o amor universal? Não, ele vai berrar e falar mal do agente do seu carma. Na verdade, tudo o que este ser humano recebeu no centro, ficou lá dentro...

É preciso estar atento a cada segundo, alterar a vida a cada segundo e não ficar esperando mágicas que mudem a vida.

Participante: mas como, se quem faz a mudança é Deus? Mudar o que?

Você tem que mudar o seu sentimento para poder merecer outra vida. Só que esse sentimento você não reconhece. Mas, pode reconhecer o pensamento. Portanto, tente mudar o seu pensamento.

Quando você vai ao centro está ligado nas coisas espirituais, por isso sai recarregado de sentimento positivo. Acontece que ao chegar à rua você dá vazão ao desejo, que é um sentir. Neste momento, todos aqueles bons sentimentos foram transformados em sentimentos individualistas. Por causa disso Deus terá que prover novos acontecimentos que sejam a colheita deste individualismo até você dizer: 'chega, eu não agüento mais, será que Deus não vai fazer o que eu quero'? Aí uma voz lhe diz internamente: quem disse que você precisa e merece o que quer?

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 23

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Senhor da yoga - versículo 23

23 - Qualquer traço de karma desaparece para aquele que está livre de ligamentos, que renunciou a tudo, cuja mente está bem assentada na sabedoria e que somente atua como se fosse um sacri¬fício (ou "Yajna").

O sacrifício a que o Sublime Senhor se refere é a intencionalidade.

Para aquele que sacrifica a Deus a intencionalidade dos acontecimentos da vida não há nenhum traço de carma. Não existe carma negativo ou positivo (acontecimentos bons ou maus). É por isso que em O Livro dos Espíritos Kardec fala que na verdade não existe sofrimento, mas o ser humano que tem desejos, que está preso à materialidade é que vê sofrimento nos acontecimentos.

O ser que se liberta do desejo não mais vê sofrimento nas coisas, não mais vê o lado penoso da prova.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 24

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Senhor da yoga - versículo 24
Senhor da yoga - versículo 24

24 - (Todavia, ó Arjuna sabe que) o colherão (usado para a oblação) é Brahman (ou o Absoluto), a oblação é Brahman, e o que cumpre com o ritual é Brahman e o fogo sagrado é Brahman. Aquele que conscientiza Brahman agindo, unicamente esse torna-¬se o próprio Brahman.

Agora leia de novo e substitua Brahman por Deus: o objeto usado na oblação é Deus, a própria oblação que é o sacrifício a Deus, é Deus; o que cumpre o ritual é Deus; e o fogo sagrado é Deus. Deus é tudo que existe, mas também é o que acontece.

Quem cria a ação das coisas é Deus. As coisas que acontecem é Deus; o acontecimento das coisas é Deus. O sentimento que se envolve nas coisas é Deus. Aquele que toma consciência de que Deus age, e só Ele age, atinge a perfeição, ou seja, passa a ser o próprio Deus.

Eu não estou aqui falando: Deus está falando. O que eu falo é Deus, o corpo que utilizo é Deus. Eu sou Deus.

Na hora que vocês compreenderem que ninguém faz nada e que qualquer coisa é nada, a não ser Deus, entrarão no Universo, encontrarão na Realidade. Que cor é esse sofá? O que está caindo lá fora? Porque algo faz barulho? O que é o vento? Tudo é Deus.

Na hora que você atinge esse patamar, na hora que vê Deus em tudo e sabe que tudo é Ele, passa a ser simplesmente um repetidor consciente de Dele. Hoje, você que está humanizado, é um repetidor de Deus inconsciente. Mas, nós espíritos temos consciência de que somos apenas antenas repetidoras do Pai. Sabemos que é o Senhor quem decide o que eu vou pensar, o que vou fazer, o que vou falar, o assunto que vai ser tratado, o pensamento que vou ter, as atitude que vou tomar. Sendo assim, quem está falando? Sou eu? Eu estou apenas materializando com voz e gestos o que Ele está dizendo. Esse é o patamar que atinge o sábio quando joga toda intencionalidade, paixão e desejo fora.

O ensinamento de que Deus é a Causa Primária vem antes de Cristo. Não estamos ensinando nada de novo. O único problema é que o ser humano não se liga a Deus, mas se liga a si mesmo: acha alguma coisa, tem certeza do que está acontecendo, sabe o que vai acontecer, tem certeza que o outro tinha aquela intenção. Ele não vê que tais pensamentos são apenas frutos de suas próprias intenções. Se este ser se ligasse a Deus, veria que é o Pai quem está agindo, está fazendo. Se para ele Deus estivesse acontecendo, nada mais estaria acontecendo. Não existiria a injustiça, o errado ou a imperfeição, porque sempre seria Deus agindo e se sempre é Ele agindo, então é Justiça, Sabedoria e Perfeição. Os seres humanos acham, por exemplo, injusto e errado alguém brigar com eles, mas aquele acontecimento foi justo e um ato amoroso, pois a sua fonte é a Causa Primária de todas as coisas.

Esta forma de viver que estou falando agora não é uma vida diferente da que vocês levam? Ela não traz mais felicidade que o padrão que estão vivendo agora? Por que, então não a vivem?

O problema está na religação: enquanto religarem-se ao material (o eu individual) não viverão esta nova vida, por mais que aparentemente estejam presos a ensinamentos de mestres. Por isso falamos lá atrás que a verdadeira religião está ameaçada. A verdadeira religação, a religação com Deus, não acontecerá enquanto o homem se ligar a si mesmo, às suas vontades, aos seus desejos e ao seu saber, não se importando com o resto do mundo, por mais que decore e tente seguir os ensinamentos dos mestres.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 25

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Senhor da yoga - versículo 25

25 - Assim que certos yogues há que oferecem sacrifícios aos devas, e outros há que oferecem seu próprio ser como oblação no fogo de Brahman.

Devas são os espíritos da natureza humana. Yogue é o que pratica o caminho da elevação.

Os religiosos humanos não fazem promessas ou rezam para santos para alcançar os seus desejos individualistas? Esses são um tipo de yogues: eles estão num caminho de busca da espiritualidade, pois são religiosos. Mas, para os verdadeiros Yogues, aqueles que entregam o seu ser para o fogo sagrado, esse queimar é missionário.

O fogo sagrado que Krishna se refere é o amor. Aqueles que sacrificam seus próprios desejos ao amor a Deus através do amor universal, ou seja, aceitam receber um tiro sem acusar, ser caluniado, escarnecido, crucificado sem revidar, estes alcançam a união com Deus.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 26

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Senhor da yoga - versículo 26

26 - Alguns oferecem a própria sensação auditiva ou mesmo outras sensações mais, na oblação do fogo de quem controla (e que é o Ser interior); outros ainda, no entanto, oferecem o som, e outros, por fim, oferecem os objetos sensibilizadores como oblação no fogo dos sentidos.

Alguns oferecem a própria sensação auditiva, ou seja, renunciam a querer compreender os acontecimentos e objetos da forma que a mente lhe propõe. Eles renunciam a compreensão de algumas palavras... Alguns yogues, ou seja, seres caminhando no sentido da elevação espiritual, renunciam a sua intencionalidade ao escutar palavras não se sentindo ofendido, caluniado, atacado.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 27

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Senhor da yoga - versículo 27

27 - Há os que oferecem todas as ações dos sentidos e as funções das forças vitais (ou "prânas") no fogo da Yoga do auto controle (ou união), encendido pela Sabedoria.

É através da sabedoria que estes vivem sem intencionalidade.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 28

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Senhor da yoga - versículo 28

28 - Alguns oferecem a riqueza como sacrifício; outros oferecem a austeridade e a Yoga, enquanto há os que consideram como "yajnas" (ou sacrifícios) o voto austero, o estudo das Escrituras e a sabedoria.

Austeros são aqueles que aceitam a viver uma vida em que poderiam ter mais, mas não têm para desta forma servir a Deus. E outros yogues meditam muito, vivem em meditação para servir a Deus e não para ganhar nada... Outros se entregam sem intencionalidade ao estudar os livros sagrados.

É isso que Krishna está dizendo aqui...

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 29

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Senhor da yoga - versículo 29

29 - Alguns há que praticam o "prânayâma" (ou o controle dos pranas ou forças vitais), oferecendo "prâna" (ou a exalação) no "apana" (ou na inalação) e "apana" no "prâna", depois de restringir a saída e a entrada dessas forças. Enquanto outros que regulam sua alimentação, oferecem as funções dos "prânas" nos "prânas" ou os sentidos. (Depois de dominar um dos cinco "prâ¬nas", o yogue passa a concebê-los como um fogo sagrado, e nes¬se oferece os quatro prânas restantes como oblação. O yogue per¬feito controla os cinco prânas ou o corpo psicofísico, que é o que chamamos corpo e alma humana.)

O yogue perfeito é o que controla tudo. Por isso existem diversos caminhos, diversas yogas ou ações espirituais de entrega a Deus, mas elas somente serão completas quando o yogue dominar tudo.

Portanto, não adianta você fazer, por exemplo, a caridade doando a austeridade a Deus ('deixo de comprar pra mim pra comprar para o pobre') sem que tenha dominado também a mente. É válido praticar a caridade? É yoga? Sim, é um caminho para a elevação, mas ainda não é o caminho completo. Ele só estará completo quando houver o domínio de todos os sentidos, inclusive a mente.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículos 30 e 31

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Senhor da yoga - versículos 30 e 31
Senhor da yoga - versículos 30 e 31

30 e 31 - Todos eles conhecem o "yajna" que consome seus pecados; e eles, absorvendo o néctar, o resto da oblação, alcançam o Eterno Brahmán. (Qualquer ação cumprida inegoisticamente ou cumprida como uma oferta a Deus purifica a mente do homem e o liberta.) Aquele que não cumpre com "yajna", este mesmo mundo não lhe pertence e muito menos o outro; ó tu, o melhor dos Kurus!, compreende isso.

Absorvendo o néctar, o resto da oblação. Já explicamos aqui o que é se alimentar do resto da ação: é aquele que recebe o que vem da ação sem esperar mais nada. Este ser participa da ação sem intencionalidade. Se ganhar ótimo, se perder, ótimo. Qualquer ação feita sem egoísmo, ou seja, sem individualismo ou intencionalidade purifica o Espírito. Qualquer ação...

Portanto, não existem determinadas ações que lhe purifica ou outras que lhe mancha: qualquer ação pode purificar. O que vai decidir se a ação lhe purifica ou mancha, na verdade, é a sua intencionalidade, ou seja, e o controle sobre o sentido e o controle sobre a mente.

Este mesmo mundo não lhe pertence significa que os acontecimentos não satisfazem. O mundo não lhe pertence, ou seja, o yogue tem a consciência que as coisas não vão acontecer do jeito que quer.

Destes ensinamentos podemos tirar uma grande compreensão: quem age com intencionalidade perde neste mundo e no próximo. Perde neste mundo porque não vai ficar satisfeito e nem vai entrar no próximo, porque ainda não descobriu como encontrar a verdadeira felicidade. Compreenda que não adianta querer lutar para que a sua intencionalidade ocorra, para que as coisas aconteçam do jeito que você quer, porque isso não vai lhe trazer resultado positivo. Agora, se abrir mão da intencionalidade, se viver a vida de uma forma equânime, se controlar a sua mente para não desejar mais nada, vai ganhar esse mundo e o próximo.

Na verdade abrir mão da intencionalidade é não esperar resultado algum, ou seja, tanto faz acontecer ou não. Ter desejos, você sempre os terá, pois sua mente funciona dentro de um padrão chamado humano. O problema é desejar o desejo...

Portanto, precisamos compreender que a luta, o controle da mente, não coisa é para a próxima vida: é para essa vida. Não existe outra forma de se viver feliz se não for abrindo mão da intencionalidade. Enquanto você não abrir mão, não estará vivendo, mas sobrevivendo, contando o tempo para a morte, pois viver é estar feliz. Quando não se está feliz, se está morto.

Sendo assim, não adianta correr atrás da satisfação desse mundo. Por mais que corra atrás da satisfação desse mundo jamais ela acontecerá.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 32

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Senhor da yoga - versículo 32

32 - É dessa maneira que os Vedas prescrevem diversos "yajnas" (ou sacrifícios, oblações, rituais etc.). Sabe que todos eles se cumprem graças à ação (impessoal). Entendendo isso corre¬tamente, te libertarás.

De qual maneira os vedas prescrevem o sacrifício? Sacrificar a intencionalidade, fazer por fazer...

O que são os Vedas? São os livros sagrados que contém os ensinamentos dos hindus. Mas, como estamos falando de ecumenismo, levamos a interpretação do que disse Krishna para todos os livros ditos sagrados pelas religiões. É assim que os ensinamentos de todos os livros sagrados prescrevem o sacrifício: acabar com a intencionalidade. Vocês lembram no Evangelho de Tomé quando os apóstolos perguntam para Jesus sobre o que fazer: dar esmola, ajudar o próximo, fazer jejum? Jesus responde para não fazer nada disso com intencionalidade...

“Seus discípulos perguntaram-lhe e disseram: Queres que jejuemos? Como deveremos rezar, e deveremos dar esmolas? E que dieta deveremos seguir? Jesus disse: Não mintais, não façais aquilo que odiais, pois todas as coisas são manifestadas ante a verdade. Nada há de oculto que não venha a ser desvelado, e nada há de coberto que permaneça sem ser descoberto”.

Na própria Bíblia há um exemplo mais claro do que esse da verdadeira yajña. Quando Cristo ensina o Pai Nosso diz: quando jejuarem não façam como os fariseus que mostram a todo mundo o que estão fazendo; pelo contrário, lavem a sua cara e penteiem seu cabelo, para não mostrar isso. Ele afirma que mostra o seu jejum em público (estou com fome porque estou fazendo jejum a Deus) na verdade está querendo mostrar o que faz: isso é intencionalidade. O jejum para ser sem intencionalidade é aquele onde não há fome. Se há é porque há intencionalidade.

Portanto, não adianta fazer os sacrifícios que os livros religiosos ensinam enquanto houver intencionalidade na vivência do ato, pois de nada vai valer. Se os espíritas, por exemplo, lêem que fora da caridade não tem salvação e correm para fazê-la, não adianta nada no sentido do aproximar-se de Deus, pois esta caridade é vivida com intencionalidade.

Não adianta fazer o que o livro prescreve enquanto este ato for feito buscando a glória individual, mesmo que seja a satisfação de fazer: 'estou muito feliz hoje porque consegui dar comida pra duzentas crianças'. As duzentas crianças comeram, mas você não recebeu nada por isso.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículos 33 e 34

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Senhor da yoga - versículo 34

33 - Ó Parantapa! (Arjuna), o sacrifício ("yajna") da sabedoria é muito superior ao sacrifício executado com simples objetos. Ó Partha!, o inteiro domínio da ação acaba na sabedoria.

34 - Aprende tal sabedoria pela reverência, pela investigação impessoal e por serviços humildes. Os sábios que realizaram (ou vivenciaram) a Verdade te ensinarão a sabedoria suprema.

Cristo disse: “sinto uma grande aflição nessa hora, mas o que devo falar, Pai afasta de mim esse cálice? Mas se eu vim aqui pra fazer isso. Pai glorifica o seu nome em mim.” Por esta frase podemos dizer que ele ainda sentia a aflição, mas pedia ao Pai para glorificar o Seu nome nele. Ou seja, ele sacrificava a sua aflição em nome de Deus.

Aquele que se colocar no caminho da busca a Deus, certamente terá mentores e guias para lhe ajudar. É isso que Krishna diz quando afirma que os sábios que realizaram a Verdade lhes ensinarão. Mas, aquele que não estiver buscando, este não será auxiliado. Não como castigo, mas por falta de afinidade... Imagine pegar uma pessoa que só pensa na vida de uma forma humana, ou seja, vive para se satisfazer e levá-la a para uma academia de sábios: ele não conseguirá ficar lá. Portanto, é preciso estar buscando pra receber. O estar buscando é estar sempre se concentrando para descobrir a sua intencionalidade.

 Participante: O que quer dizer investigação pessoal?

 Lembra do exemplo do homem batendo à sua porta? Sabendo que ele bateu, você começa a questionar: porque ele bateu aqui; para que ele queria dinheiro; por que escolheu essa casa se ela é a menor? Isso é uma investigação pessoal...

Partindo da sua personalidade, do que acha, do que vê, de suas verdades, tenta investigar as intenções da outra pessoa...

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículos 35 e 36

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Senhor da yoga - versículos 35 e 36
Senhor da yoga - versículos 35 e 36

35 e 36 - Vivenciando tal Sabedoria, ó Pândava!, não cairás novamente na ignorante ilusão, e a todos verás em teu próprio SER e em Mim também. Ainda que fosses o pior dos pecadores, cruzarias o mar dos pecados na balsa desse único conhecimento.

 Ainda que fosses o pior dos pecadores, cruzarias o mar dos pecados na balsa desse único conhecimento.

Contra o que você está lutando nesse caminho, nessa Yoga que está praticando? Contra os vícios, contra o que acha dos outros, contra o que compreende do que os outros falam, contra a soberba... Repare: quantos milhares de pecados, erros, você imagina que têm e luta contra eles. Mas não é essa a sua batalha: é só lutar contra a intencionalidade...

É só lutar contra a intencionalidade e não lutar contra o vício, pois você não vai vencer o vício já que a intencionalidade vai lhe dar vício a vida inteira. Alguns lutam contra a vaidade, mas não adianta participar desta luta, pois enquanto houver intencionalidade vai haver vaidade. Por mais que você seja totalmente individualista, se quiser lutar contra cada individualismo isoladamente não vai conseguir vitória. É preciso lutar somente contra a intencionalidade.

O ego, a fonte da intencionalidade, é um general escondido atrás das linhas das tropas. Ele manda, por exemplo, a vontade de usar brinco e batom. Quando se começa a querer viver uma vida ligada a Deus, os ser humanizado quer combater esses desejos. O general (ego) diz então: está bem, eu perco neste ponto... Só que ele coloca outros exércitos (desejos) no lugar e você, achando que ganhou alguma coisa, imagina que avançou...

Lembre-se: o ego vai tentar vocês de diversas formas. Por isso, o que precisa ser combatido não é o que ele apresenta, mas sim ele mesmo. É preciso jogar bombas por cima das tropas para atingir o quartel general onde está escondido o ego.

Portanto, não adianta se preocupar em parar de usar batom, mas sim em acabar com a vontade de usá-lo. Enquanto houver vontade de usar, há intenção, enquanto houver intenção, não há felicidade. É preciso acabar com a intencionalidade e não pegar os batons e jogar fora. Se fizer isso vai acabar passando manteiga nos lábios e imaginará que é batom.

É isso que Krishna está dizendo: não adianta perder tempo querendo abrir guerra contra todos os exércitos, pois o general tem tropas suficientes para manter você na guerra contra os exércitos durante toda a encarnação. Persistindo nestas batalhas, quando acabar a encarnação ele será o vencedor.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 37

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Senhor da yoga - versículo 37

37 - Assim como o fogo reduz a cinzas o combustível, ó Arju¬na, da mesma maneira o fogo da sabedoria reduz a cinzas as ações intencionais (ou o karma).

 Qual é fogo da sabedoria? A constatação que existe um Deus que é a Causa Primária de todas as coisas e Tudo que existe. Quando você perder para Deus tudo que imagina que é, que tem e faz, o que vai lhe restar? Deus. Neste momento, então, não vai mais querer, mas sim se conectar amorosamente com Deus... Aí não terá mais desejos e viverá apenas uma relação amorosa com Deus.

Saber que Deus é Tudo é o fogo da sabedoria que destrói toda intencionalidade. É preciso entrar nesse fogo e se queimar. Deixá-lo arder dentro de você. Aliás, é por isso que no Evangelho de Tomé, Cristo disse assim: “eu vim pra colocar fogo no mundo e vou ficar até que ele queime tudo”. Jesus era um yogue.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 38

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Senhor da yoga - versículo 38

38 - Nada neste mundo purifica tanto como a reta sabedoria. Aquele que está se aperfeiçoando pela Yoga, no devido tempo, a encontra por si mesmo e dentro de si mesmo.

 “Nada neste mundo purifica tanto como a reta sabedoria”... O que é esse nada a que se refere Krishna? A oração, o trabalho mediúnico, rezar o terço, tomar passe... Nenhum destes trabalhos espirituais lhe purifica. Nada que não seja a reforma íntima, a mudança dos seus valores, o fim da intencionalidade pode lhe purificar. Nenhuma ação como ir à missa todo domingo pode lhe ajudar; se você não alcançar o reto entendimento, não adianta ser palestrante do centro espírita; de nada adianta doar todas as suas coisas e viver na pobreza.

Outro detalhe: ninguém vai alcançar o fim da intencionalidade por você. Só você, com o seu trabalho, pode anular o seu ego. A força para isso já está dentro de você e se fundamenta na informação de que o espírito é puro por natureza. Se ela é verdadeira, isso quer dizer que toda pureza já está em você, mas ela está impedida de brilhar por causa da presença da sujeira do ego.

Sendo assim, de nada adianta ir para a escola aprender o reto entendimento. Isso só vai fazer você adquirir mais eu acho, mais sujeiras. O que precisa é dentro de você mesmo buscar tudo o que já tem. Para isso precisa apenas se libertar de tudo o que acha que sabe...

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 39

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Senhor da yoga - versículo 39

39 - O homem de "srad-dha" (ou de fé firme), dedicado e auto¬controlado, alcança ou vivenda tal Sabedoria. Tendo obtido a sabedoria, imediatamente reconquista a paz suprema.

 A fé é instrumento da elevação espiritual, mas ela por si só não basta. Isso porque sempre existe uma intenção – nesse planeta não existe alguém que tenha fé inabalável, a intenção estará sempre presente no ser humanizado. Por isso é preciso o controle absoluto de si mesmo.

Um dos exemplos do que estou dizendo veio através de Jesus Cristo. Ele tinha a intenção de escapar dos sofrimentos que viriam, mas exerceu o controle sobre esse desejo dizendo: “mas se não for possível que seja feita a sua vontade”. Esta citação é um grande exemplo para aquele que deseja lutar contra a intencionalidade: “Pai afasta de mim este cálice, mas se não for possível que seja feita a sua vontade”. Ou seja, ele desejaria não passar por aquela situação, mas controla a intenção em nome da entrega com confiança que faz a Deus.

Uma forma de expressar o que estou dizendo dentro do cotidiano da vida humana é observar um ser humanizado que participa de um grupo e tem opiniões diversas da maioria. Por ser um membro do grupo, quando este fecha questão a respeito de um determinado assunto, o ser humanizado discordante precisaria calar em si a sua própria intencionalidade. Mas não é isso que acontece.: ele mantém-se firme no seu pensamento e até torce para que a decisão do grupo dê errado para que ele possa dizer: ‘eu não disse’...

Só um detalhe: repare que não falei em mudar de idéia. O ser discordante pode continuar pensando da mesma forma, mas precisa controlar sua intencionalidade porque pertence ao grupo e este decidiu outra coisa. Este ser humanizado deve controlar sua intencionalidade por pertencer a ele. Já no caso do espírito, ele controla a sua intencionalidade, pois sabe que pertence ao Universo e este decidiu outra coisa.

O homem de fé firme, apesar de ter fome, fica feliz sem comida porque sabe que o Universo decidiu que agora é a sua hora de ficar sem ela. O homem que controla suas intenções e tem fé reconquista a paz suprema, pois como não tem intencionalidades individualistas, não tem mais como julgar o próximo e o mundo. Ele se une ao Universo vivendo aquilo que este determinou para ele naquele momento.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 40

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Senhor da yoga - versículo 40
Senhor da yoga - versículo 40
Senhor da yoga - versículo 40

40 - O ignorante que carece de fé (em si mesmo e em Deus) e está com a mente cheia de dúvidas, esse vai à ruína. Para quem duvida (gratuitamente) não existe nem este mundo, nem outro, nem qualquer felicidade possível.

 Para quem duvida de Deus, da ação do Universo independente da intenção humana e da Ação Amorosa de Deus não existe felicidade em lugar algum.

Como disse Cristo, as raposas têm suas tocas e os pássaros têm seus ninhos para descansar, mas o homem não tem onde encostar a sua cabeça. O ser humanizado não tem descanso porque o espírito trabalha vinte e quatro horas por dia para a sua elevação espiritual. Portanto, quem duvida da Ação de Deus, quem duvida da sua identidade espiritual, quem duvida que esse é um mundo de provas e expiação e não um mundo de prazer, não tem onde descansar, já que está a todo momento sendo testado, seja pelo sofrimento ou prazer. Já aquele que crê na sua identidade espiritual, em Deus e na Sua Ação Amorosa, este repousa em verdes campos, pois, não importa o que está acontecendo, está sempre vivendo a felicidade que Deus tem prometido aos Seus filhos.

Por isso, se alguém chega perto de você e diz que tudo que ele faz dá errado, pode ter certeza de uma coisa: tudo está dando certo. Isso porque o que dá errado para o ser humanizado é uma Ação Amorosa de Deus, é uma questão da provação que o ser universal veio fazer na carne.

Já estudamos Cristo, os apóstolos, Lao Tse, Alcorão e não muda nada do ensinamento. Porque será que é assim? Porque a essência deles é sempre a mesma. Cristo falou dessa essência quando disse: “conheça a verdade e a verdade vos libertará”...

Qual a verdade de todos os ensinamentos dos mestres? Deus... Mas, o Deus que é verdade não é aquela figura que vocês têm na cabeça: um ser preso ao Universo que assiste o que se passa em sua casa. Este não é o Deus verdadeiro. O Deus Real é ativo, Onipresente, Onipotente, Onisciente, Inteligência Suprema, Justiça Perfeita, Amor Sublime, Causa Primária de todas as coisas. Este é o Deus ensinado pelos mestres e que estamos comentando há muitos anos...

Faço isso porque só quando você conhecer Deus de verdade vai se salvar. A salvação acontece para aqueles que convivem com o Deus Real porque por este ser podemos abrir mão de nossa intencionalidade e jogar-se em Seus braços. Será que você se sentiria confortável em entregar sua intencionalidade ao acaso, à sorte ou ao azar? Claro que não... Estes elementos não são inteligentes, amorosos ou justos. Somente Deus o é... Por isso, a Ele podemos nos entregar de corpo e alma...

O ensinamento que estamos trazendo e que se consiste na verdadeira religião, religação a Deus, consiste-se em entregar a sua intencionalidade ao Pai. Estamos falando em viver a partir da intenção de Deus, ou seja, a partir da vontade de Dele us e não mais da nossa. Isso só é possível quando se conhece um Deus do jeito que estamos ensinando.

Quando se convive com um Deus pró-ativo, justo e amoroso sabemos que Sua intencionalidade não tem nenhum mínimo aspecto individualista e, por isso, nela não reside qualquer ambição pessoal, de lucro individual. Por isso podemos nos entregar a Ele, anulando a nossa intenção individual para penetrar na intenção universal.

Como entregar-se a alguém se não temos confiança naquilo que este ser quer? Como podemos entregar nossas intenções, que são o leme de nossa vida, e os desejos, que são o combustível dela, a quem não é justo, amoroso ou tenha a capacidade suprema única de dirigir os acontecimentos do mundo para que cada um receba segundo as suas obras? É justamente por não terem essa resposta que as pessoas que não acreditam em Deus como Causa Primária de todas as coisas não entregam o comando de sua existência a Ele.

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 41

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Senhor da yoga - versículo 41

41 - Ó Dhananjaya!, aquele que graças à Yoga renunciou aos frutos das ações, cuja dúvida foi destruída graças à sabedoria, e é dono de si mesmo, as ações não mais o ligam.

 Aquele que renuncia aos frutos da ação continua praticando-a, mas ela não o liga a mais a nada. A sua participação não está mais ligada ao desejo, à vontade, ao certo ou errado, ao bonito ou feio. Ela é simplesmente uma ação...

Este também não tem mais dúvidas sobre o que está acontecendo, porque a ação não tem mais nenhum significado do que o simples agir...

Senhor da yoga - Cap. 4 - Caminho do conhecimento

Versículo 42

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Senhor da yoga - versículo 42

42 - Por isso, com a espada da sabedoria, destrói esta dúvida sobre o SER, nascida da ignorância, a qual tomou conta do teu coração. Refugia-te na Yoga e levanta-te, ó Bhârata!

 A espada da sabedoria destrói a ignorância...

O que pode matar a intenção? A sabedoria material não pode ser, pois enquanto você souber distinguir uma cor da outra sempre haverá uma que gosta e outra que não. Sendo assim, o que pode matar a intenção é a ignorância... Somente ignorando as nuances das cores se acaba com a intenção de ter uma e a de não ter outra...

 É isso que eu queria mostrar. O que nós consideramos como ignorância é sabedoria, pois ela é instrumento para o fim das intencionalidades. O sábio na busca da entrega a Deus é aquele que nada sabe e o ignorante é aquele que sabe tudo. Por isso Cristo disse: “louvado seja Deus que ocultou dos sábios o que mostra aos simples” Deus não pode mostrar nada àquele que acha que sabe justamente porque ele acha que sabe.

Portanto, para viver a yoga do conhecimento é preciso matar todo o saber. Este é o caminho para o conhecimento, pois enquanto houver saber ele será utilizado contra você já que irá gerar uma intenção.

O saber do ser humanizado é como um código de leis. A partir do momento ele sabe algo gera uma intencionalidade dualista: o que quer que aconteça e o que não quer, o que gosta e o que não gosta, o que é limpo e o que é sujo, o que é bonito e o que é feio... O saber cria parâmetros para as coisas do mundo e quem vive com parâmetros é um ignorante porque estes são fundamentados apenas em verdades relativas, verdades planetárias, e não universais. Portanto, quem busca acabar com sua intencionalidade para ligar-se a Deus precisa usar a ignorância sobre as coisas do mundo e matar o seu saber.

Afinal, o que é o querer saber, conhecer a verdade? É como diz Salomão: “tudo é correr atrás do vento”... Você corre atrás da verdade, mas jamais vai possuí-la, pois neste mundo ela se altera constantemente.