Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa
PDF

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Conversa na sala do Paltalk do EEU onde Joaquim de Aruanda alertou às pessoas que o ensinamento deve ser utilizado para afastar o sofrimento e não como uma verdade que precisa ser ensinada aos outros.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Perguntas diversas

Participante: desde pequeno sinto que sou diferente dos outros. Já fui a psicólogos, psiquiatras e várias religiões e li livros, tomei remédios, escutei família, amigos. Já tentei encontrar a felicidade em mim mesmo, mas sempre sinto um mal estar interior.

Havia um programa de televisão antigo que resumia isso no seu título: essa é a sua vida ...

A sua vida é assim? Então, é isso que tem para viver. O que quer fazer: melhorá-la, mudar-se? Tente, mas se não conseguir, é isso que tem para viver. Por isso, aprenda a viver com essas coisas.

Se acha isso ruim, tente se mudar. Se não consegue, é sinal de que é impossível. Nesse caso, precisa aprender a conviver com isso sem sofrer.

Participante: independente do que o ser humano seja ou faça, o que importa é o sentimento que manifesta. É o sentimento do ser humano que chega ao espírito?

Não, o que chega ao espírito é a ideia (razão) e as sensações humanas, que não são sentimentos. Emoção é um sentimento racional, racionalizado. É isso que chega ao espírito.

Não importa o que o ser humano faça, o que fizer é o que precisava chegar ao espírito. Não há nada que o ser humano possa fazer como bom para o espírito. Tudo que fizer é a perfeição, é aquilo pelo qual o espírito precisa passar.

 Participante: o pensamento é atributo do espírito ou do ego?

Já fizemos um trabalho anteriormente chamado ‘Tudo no nada’ onde falamos que é preciso se levar o tudo que é conhecido para o nada. Ou seja, levar a sua ideia humana, que é o tudo, para o nada absoluto, que é o mundo dos espíritos, onde nada é o que existe na Terra.

Quando fala em pensamento, posso dizer que ele é aquilo que você acha que é. Ou seja, é algo humano. Apesar disso, posso dizer que o espírito pensa, mas o pensar do ser não é um pensamento humano.

O pensamento humano é composto por ideias, sensações e imagens. O pensamento espiritual não tem nada a ver com isso. Mesmo assim afirmo que o espírito pensa, já que é uma inteligência. Toda inteligência pensa. Só que o pensar espiritual não tem nada a ver com o material.

‘Mas, o que é o pensar do espírito’, você pode me perguntar. Ora, se como humano não sabe o que é espírito, como saber o que é o pensar dele? Você não pode saber. O que pode conhecer é que o espírito pensa, mas o que é o pensar do ser, não tem condições de saber.

Participante: e quanto aos pensamentos que insistem em retornar?

Louvado seja Deus.

Reconheça que ele também é só um pensamento e o deixe ir embora. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Participante: como o ego pode se harmonizar com o espírito no seu processo de evolução?

O ego jamais se harmonizará com o espírito, pois ele é o diabo, o tentador.

A função do ego é tentar o espírito. Ele está aqui para propor aquilo que o ser precisa dizer que não quer para si.

O ego está aqui para ser ganancioso. Para que? Para que o espírito tenha a oportunidade de dizer que não quer ser ganancioso. Para isso deve não compactuar com a ganância. O ego está aqui para dizer que sabe. Para que? Para que o espírito abra mão do saber.

Procure na Bíblia as três tentações que Cristo sofre no deserto e entenderá a base de ação do ego humano. Ele está sempre dando ao espírito aquelas três coisas que estão nas tentações de Cristo na Bíblia.

Portanto, o ego jamais se harmonizará com o espírito. Na verdade, o ser precisa se libertar do ego.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

A vida humana é um reflexo da espiritual

Participante: a vida humana é um reflexo. Ela reflete a escolha sentimental do espírito. Pode comentar esta afirmação?

Posso.

A vida humana é um reflexo da escolha sentimental do espírito, ou seja, ela é a prova do espírito. O ser espiritual que está cheio de ganância terá a sua vida humana sentimental pautada por essa emoção. Isso acontece porque esse ser achou por bem, antes da encarnação, lutar contra a ganância.

O sistema que acabei de descrever é verdade, mas nem todo elemento ganancioso vive uma prova de ganância, assim como nem toda prova de ganância se realiza através da presença de uma emoção gananciosa. No universo dois mais dois dificilmente dá quatro.

Por isso não podemos estabelecer que um ser humano ganancioso seja a provação de um espírito em prova de ganância. Isso não é real. Aquela encarnação, por exemplo, pode ser missionária e não de provação. Nesse caso a ganância que é vivida não é instrumento de provação.

Aliás, a sua pergunta está muito dentro do que vamos conversar hoje: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Quando começarmos, vamos entender melhor a minha resposta de agora, mas por enquanto digo que, em resumo, em ideia, o que falou é real.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Libertar dos pecados

Participante: você disse uma vez que não existe certo nem errado. Sendo assim, porque Jesus morreu na cruz? Para nos lavar dos nosso pecados?

Participante: me permite um comentário? Coincidentemente estava lendo um texto da Seicho No E. Nele se perguntava porque Jesus morreu na cruz, se não existe certo nem errado. A resposta da revista foi que tudo fazia parte da peça teatral que é a vida humana. Quis fazer este comentário porque para mim, particularmente, encontrar essas informações em outros locais é importante. Juntando um pedacinho daqui e outro dali, vou formando, é claro, uma verdade minha, que tenho a consciência de que não é a verdade total, mas já é um caminho. Só mais um detalhe. Eles acrescentam na revista que se isso não tivesse acontecido, não existiria o cristianismo. Então, foi necessário esse acontecimento na peça humana para que nascesse o cristianismo, que é outra peça teatral.

O que você comentou é perfeito: ele morreu na cruz porque era isso que tinha que acontecer. Como já disse antes, se Jesus Cristo tivesse morrido velho na cama, o cristianismo não existiria. Pelo menos é isso que a lógica humana diz.

No entanto, veja: ele morreu na cruz para cumprir um carma. Não um carma de culpa, mas de missão. Ou seja, para que a história da peça humana fosse assim.

Agora quanto ao fato dele limpar os seus pecados, também já comentei. Cristo não limpou pecado de ninguém. Se tivesse feito isso, teria dado uma carta em branco para você receber algo de graça.

Na verdade a crucificação de Cristo não limpa os seus pecados, mas a sua limpa. Quando você é crucificado, ou seja, como o próprio Cristo diz, ‘quando for perseguido em meu nome’, será feliz de verdade.

Quando vocês forem perseguidos, criticados, ofendidos, estarão tendo uma grande chance de reagir amorosamente a uma situação negativa. Com isso podem merecer chegar ao Reino dos céus. Quando vocês se deixarem crucificar, como Cristo deixou, sem acusarem os que crucificam, terão também se redimido dos seus pecados.

Enfim, Cristo não morreu na cruz para libertar ninguém dos seus pecados. A ideia de ser crucificado sem se rebelar contra é o caminho que leva a Deus. Aliás, como ele, o mestre nazareno, também ensina: ‘eu sou o caminho, a verdade a luz’

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Verdade?

Participante: há um garoto russo que afirma ter vivido em Marte. Pode comentar isso?

Você quer saber se existe alguém que tenha a consciência de ser um extraterrestre vestindo uma carne? Digo que sim, existe. Aliás, não é apenas um, mas diversos.

Quer saber se esse garoto que cita é uma dessas pessoas? Não sei. Pode ser que seja, pode ser que não seja.

Sabe qual é o grande barato da vida? A fé, aquilo no que você acredita.

Não adianta receber comprovações específicas à respeito de um caso. É preciso que você, ser humano, a cada caso exercite a sua fé, a sua confiança e entrega àquilo que está recebendo como informação.

Posso dizer que existem elementos extraterrestres vivendo na carne. Posso dizer que existem elementos extraterrestres vestindo carne com consciência de sua origem. Alguns divulgam essa informação, outros não. Tudo isso existe, é possível. Agora, caso a caso se eu opinar se é verídico ou não, estarei tirando de você um momento de exercício da fé.

Não dá para decidir por você no que acreditar. É preciso acreditar no que acreditar por decisão própria.

Vocês não acreditam que têm o livre arbítrio? Eu digo que não têm, mas vocês acreditam que sim. Pois bem, se acreditam ter, exerça-o: escolha acreditar ou não...

Participante: todas as perguntas que tenho em minha mente esperam respostas de alguém que tenha mais conhecimento, como o senhor, com relação a mim, para me ajudar a balizar e balancear o meu conhecimento e a minha fé, como um pai ajuda seu filho.

Desculpe, mas se um pai ensinasse um filho, não haveria filhos desgarrados. Se um pai ensinasse um filho, não haveria filhos alcoólatras. Pai não ensina filho algum. Aliás, ninguém ensina nada a ninguém: cada um aprende o que quer aprender.

Não posso responder às perguntas da sua mente. O máximo que posso fazer é dar armas para que você as responda. O que posso é transmitir um ensinamento. A partir dele você tem que buscar respostas às suas perguntas. Até porque, se eu respondesse suas perguntas, poderia ser que você ainda duvidasse do que disse.

Sei que por cortesia diria que não duvidaria, mas não acredite nisso. Tem muitos que vêm aqui há anos, mas ainda estão buscando respostas em outros lugares. Não digo que fazem isso para ver se eu estou certo, mas para achar alguém que lhe diga o que fazer.

Só que o ser humano não conseguirá achar ninguém que lhe diga o que fazer nunca, a não ser que ele concorde em fazer o que é indicado. Se não concordar, por mais reconhecida que seja sua fonte, o ser não fará nem acreditará naquilo.

Saiba de uma coisa: vocês só fazem ou acreditam no que querem. Se não acreditarem, jamais farão ou acreditarão naquilo.

Então, se aceitar uma ideia, você consegue acreditar numa coisa; se não aceitar, não acreditará. Posso me gastar de falar, mas se você não aceitar, nada terá.

Portanto, não tente esperar de mim respostas específicas. Tente gerar o seu entendimento sobre o que digo para que possa responder as questões a si mesmo.

Participante: o pensar do espírito é o meio pelo qual o ser opta pelo amor individualista ou universalista?

Não sei. Se não sei o que é o pensar do espírito, como posso dizer o que este pensar pensa?

Humanamente falando essa afirmação, que eu também já usei, está certa, mas o que são as verdades humanas? Verdades relativas. Portanto, a concepção que você trouxe à luz trata-se de uma verdade relativa e não absoluta.

Não queira saber, tenha ideia. Na verdade diga a si mesmo que já ouviu falar que pode ser isso, mas não tenha certeza de nada.

Compreendeu a diferença? É sobre isso que quero falar hoje: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Uma coisa é o que falo, outra coisa é o que você entende, o que compreende.

É impossível compreender o que digo. A sua compreensão trata-se apenas de uma interpretação do que eu disse.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

O que deve ser feito

Participante: visto que todas emoções humanas são fundamentadas no egoísmo, devemos renunciar a elas ou fazem parte do carma?

Para lhe responder, preciso definir o que é renunciar.

Será que renunciar é não ter? Não, você não pode deixar de ter estas emoções. O que pode é compreender que elas são fundamentadas no egoísmo e que não podem ser de outro jeito.

Por isso digo que o que pode fazer é tentar não viver as emoções fundamentadas no egoísmo. Mas, se não conseguir, não se perturbe por causa disso. Perturbando-se, estará mostrando o seu egoísmo, pois sofrerá por não ter feito o que queria.

Saiba de uma coisa: não dá para se trocar as verdades do ego. O que pode ser feito é se libertar, ou seja, estar egoísta sem ser egoísta.

Como se faz isso? Se o ego egoísta diz que precisa desejar o que é do próximo, responda a ele: ‘eu não vou desejar; mas se você quiser, deseje’.

Participante: na verdade, quando você diz para o ego que ele que deseje, ainda é o ego falando. Como algumas pessoas não tiveram contato anterior com este ensinamento, pergunto: está valendo ego dizer a ego que ele faça? Isso leva a algum lugar?

Se fizer, fez, se não fizer, não fez.

Leva a algum lugar? Se levar, leva; se não levar, não leva.

É isso que quero falar hoje: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Sabe, não adianta usar o que eu falei para não fazer algo, quando não se vive com o que falei o tempo inteiro.

Na verdade vocês usam o que eu ensinei de vez em quando. Usam apenas na hora que querem.

Participante: eu não uso, porque não posso mandar no ego. Quem usa é ele ...

Sim, mas isso é uma verdade para você? Vive com isso o tempo inteiro ou usa apenas quando convém?

É isso que você precisa se conscientizar.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

O espírito espiriteia

Bom, já falei duas vezes que quero conversar sobre um tema hoje (‘uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa’) e ainda não começamos nossa conversa. Vamos começar agora.

Quantas vezes vocês já não me perguntaram sobre o que é o espírito ou como ele age em determinadas situações? Quanta literatura existe a respeito desse assuntos? Apesar da farta literatura sobre o tema e de muitas vezes eu mesmo ter respondido a essa questão, posso dizer que as informações que vocês dispõem não correspondem a uma verdade absoluta. Digo isso porque como ensina o Espírito da Verdade, o espírito para o ser humano é um nada.

“Para vós, ele nada é, por não ser papável”. (pergunta 23a de O Livro dos Espíritos)

Ora, se o espírito é um nada para o ser humano e você é um, como pode saber alguma coisa a respeito dele? Não sabendo de nada, como pode, então, imaginar que é capaz de compreender o que ele faz?

Apesar disso vocês acham que conhecem o que é ser um espírito e imaginam que são capazes de compreender como ele age. Mais: vivem buscando sempre compreender mais sobre esses temas, como provam as perguntas que me fazem.

Só que o espírito é uma incógnita para qualquer um que esteja ligado à uma consciência humana. É algo que pertence ao mundo espiritual, está no céu, não vive na Terra. Isso é a única coisa que podem saber, porque tentar compreendê-lo com as realidades que a mente possui, é impossível.

O que o espírito faz? O máximo que posso afirmar para vocês humanos, sem medo de errar, é que ele ‘espiriteia’. Vive no universo espiritando e você, enquanto humanizado, enquanto ligado a uma mente humana, não consegue ter acesso a nenhuma informação sobre ele ou sobre o que é espiritar.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

A utilidade de um ensinamento espiritual

Sendo tudo isso verdade, para que ficar buscando informações sobre esse assunto? Para que viver essa busca? Ela não vai levar a viver melhor de forma alguma.

É como ensina o Espírito da Verdade:

“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograreis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto ... “ (pergunta 14 de O Livro dos Espíritos).

A única coisa que pode lhe fazer viver melhor essa vida é compreender como ser feliz incondicionalmente. Para isso, a única coisa que precisa conhecer é a vida que tem.

Sei que muitos, a partir do ensinamento que trago, onde é afirmado que todos os pensamentos são dados por Deus, poderiam me dizer que é o Senhor quem faz pensar nesses assuntos. Desculpa, mas o ensinamento usado dessa forma vira apenas desculpa que é usada quando interessa, quando ganhar por usar. Isso porque não vivem integralmente com essa realidade. Vivem vinte e três horas e cinquenta e oito minutos como se fossem os próprios que gerassem os pensamentos e apenas dois minutos usam o ensinamento e dizem para si mesmo que estão fazendo alguma coisa.

Todas as informações que tenho passado a respeito do mundo espiritual, não devem se estabelecer como verdade absoluta, mas apenas como instrumento para ajudar durante a encarnação.

Sabe no que ajuda saber que é um ego? A não ter culpa. Sabe no que ajuda saber que os outros são egos e que é Deus que os faz agir? Não culpar os outros.

Os ensinamentos só servem para isso. Não adianta querer usá-los em outros momentos. Não adianta querer construir verdades absolutas ou realidades reais a partir deles.

O que precisa é usar os ensinamentos que recebe de uma forma relativa. Não se trata de dar valor absoluto a informação de que Deus é que faz os outros ou você agirem. Para vocês essa afirmação não é absoluta, pois não sabem o que é Deus, o que é agir ou o que é fazer agir.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Usar, não saber

Isso é que estou querendo e vamos conversar muito.

Precisamos rever todos os ensinamentos, sob a ótica do ser humano e não do espírito. Vamos conversar o que você pode fazer com ele, já que acredita que pode fazer alguma coisa, nessa vida. Isso é muito mais prático e proveitoso do que ficarmos afirmando que Deus é a Causa Primária, pois você não sabe o que é Deus, causa ou o fato de ser primária.

O problema é que usar os ensinamentos dentro da sua finalidade, vocês não usam. A prática da busca da felicidade, que é uma atividade onde se usa os ensinamentos, acabou ficando esquecida. Ela foi soterrada pela curiosidade de saber o que os outros não sabem. Pior: quando respondo alguma questão, ficam achando que estão sabendo, quando não há nada a ser sabido.

Não importa se Deus é Causa Primária ou não, mas sim não julgar. Foi isso que Cristo disse. Esse ensinamento pode ajudar a não julgar. Por isso o transmitimos e não para que transformá-lo em um sábio.

Não mostramos esse ensinamento para que se torne um sábio, ou seja, imagina que conhece Deus, que saiba como Ele cria ou deixa de criar, como é. Saber isso, mesmo que fosse possível ser alcançado o conhecimento absoluto do assunto, não lhe levaria a lugar algum. Na verdade, só acumularia conhecimentos vãos. Acumularia um grupo de verdades relativas, que vocês transformam em absoluta, e por isso esquecem de não julgar, de amar, etc.

Acabei de falar outra coisa que vai fazer aqueles que buscam se tornarem sábios contestarem: vocês devem amar. Os sábios questionarão: ‘como posso amar se o senhor já disse que nós não sabemos amar’? Isso é uma mentira.

Eu posso dizer que não sabe amar, mas você acha que sabe, imagina que sabe. Por isso, se agir dentro do seu achar, estará amando. Ou seja, vocês sabem. Por isso disse que é mentira a crença de que não sabem amar?

Para mar não é preciso saber como é o amor universal, o que ele é: isso não lhe interessa. O que interessa é amar e não conhecer o amor. É isso que quero conversar durante um tempo.

Vamos esquecer essa história de buscar compreender o ensinamento que fala que Deus é quem cria todas as realidades. Vamos apenas guardar a informação e usá-la como instrumento para não julgar os outros ou a nós mesmos, mesmo que não saibamos como isso funciona na realidade. Vamos deixar de transformar nossas conversas em debates acadêmicos que pretendem gerar provas irrefutáveis de que as coisas existem ou que pretenda descobrir o sistema de funcionamento das coisas espirituais.

A maioria que está aqui é novo. Mas, os mais antigos devem se lembrar quando falava que não gostava de conversar sobre ciência espiritual. Que preferia falar sobre doutrina, sobre como colocar em prática o ensinamento.

Claro que tudo o que estou dizendo agora está condicionado ao ensinamento de Deus como Causa Primária. Portanto, se depois de nossa conversa você puser em prática, pôs, se não puser, não pôs.

Esse é o tema de hoje: ‘Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa’. O que falo é o que falo, mas o que você vivencia é outra coisa. É sobre a sua vivência que quero conversar e não sobre o que falo.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Agindo para ser feliz

Participante: eu, espírito, é que vou querer tirar a unha encrava ou é o ego que vai querer e se mexer teatralmente para tirar a unha?

Vamos começar o trabalho que estou programando para hoje por essa resposta. Que bom que foi você que me fez a pergunta. Por nos conhecermos há bastante tempo, temos liberdade para conversar sem que haja ofensas.

O que lhe interessa saber se é o espírito ou o ego que vai querer tirar a unha encravada? Nada ... Na hora que a unha doer, com certeza agirá para acabar com a dor ao invés de ficar analisando espiritualmente essa situação.

Por isso, ao invés de se preocupar em saber se é o ego ou o espírito que vai desencravar a unha, preocupe-se em manter-se feliz, com a unha encravada ou não. É isso que estou falando.

Vocês perdem tempo querendo descobrir o sexo dos anjos, descobrir uma informação que não tem relevância alguma para o que realmente precisam fazer e, com isso, deixam de fazer o que vieram para realizar.

Participante: eu não culpo certo alguém, mas continuo sentindo algo incômodo pela ação dessa pessoa. Esse incômodo é uma cilada do ego? Só isso ou tem mais coisas?

Você diz que não culpa ninguém, mas sente que algo de alguém incomoda. Não reparou, mas tendo essa consciência já viveu com uma culpa. Já criou uma culpa. Se algo lhe incomoda e para você é praticado por alguém, essa pessoa é a culpada pelo seu incômodo.

Por causa do que está sentindo é preciso trabalhar o incômodo. Como? Fazendo ele deixar de incomodar? Não: aprendendo a ser feliz mesmo incomodado.

A primeira coisa que temos que conversar nesse caso é qual o seu objetivo na vida humana, em termos humanos. Ainda falaremos sobre isso.

Participante: eu não estou sofrendo.

Essa será uma coisa que precisaremos conversar. O que é sofrer?

Se está incomodado com algo, já está sofrendo. Não precisa haver choro para existir um sofrimento. Tudo aquilo que não é felicidade é sofrimento. Por isso, se está cansado de alguma coisa, existe um sofrimento. Isso é sofrer.

Participante: está escrito, faça a sua parte que vos ajudarei.

Estando escrito isso, busque fazer a sua parte. Agora, se não fizer, já que Deus é Causa Primária de tudo, não sofra se não fizer.

É isso. Fazer a sua parte dentro do mundo condicional, dentro do mundo de verdades relativas, não é fazer determinadas coisas, mas estar sempre ligado a Deus não importa o que faça.

Portanto, faça a sua parte: ligue-se a Deus e deixe o mundo viver o mundo. Isso você ser humano acha que pode fazer, já que ainda acha que é capaz de fazer alguma coisa.

Faça isso. Não importa se faz a sua parte nos atos que os outros dizem que deveria fazer: faça sempre a sua parte enquanto está fazendo os atos que os outros dizem que deveria fazer ou não, ligando-se a Deus.

Participante: tenho a sensação de que tudo que tinha fazer e passar aqui na Terra já aconteceu. Já vivi de tudo e passei por variadas contrariedades. Porque continuo aqui nesse plano, embora sinta que tudo já acabou? Já fui religioso, ateu, ecumênico, o rebelde e o exemplo. Já fui bom, já fui mal, já fui tudo ...

Porque você tem a sensação de que já passou por tudo, mas isso não é real. Com certeza ainda falta alguma coisa para passar.

Você acha que passou por tudo, ou seja, pegou algo relativo e transformou em absoluto. O que você acha virou verdade absoluta.

De que religião você foi? Tenho certeza que há algumas que ainda não foi. Já foi rebelde? Mas, até onde fui a sua rebeldia? Pode haver outras que ainda não tenha feito.

Volto a repetir: você só acha que já fez tudo. Por isso, diga a si mesmo: ‘se eu ainda não morri é sinal de que ainda não fiz tudo. Vamos esperar para ver o que acontece’.

Participante: fui católico, budista, Hare Krishna ...

Está vendo, você ainda não foi mulçumano!

Saiba de uma coisa: ninguém jamais será tudo que pode ser nesse mundo e continuar vivo.

Participante: então, se o que posso fazer é viver o aqui e agora, tanto faz de que modo?

Perfeito. Sabe porquê? Porque é o aqui e agora que vai lhe dar o modo de viver.

Você só pode viver o aqui e agora. Como viver é ele que determina a forma. O que posso dizer é que tem que viver o presente com tudo que ele tem e não esperar presentes do jeito que você quer para viver.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Auxiliar o próximo

Participante: consigo entender bem as suas palavras, mas tenho a percepção que o número de pessoas alheias à espiritualidade ou a universalidade é gigantesca. Devemos tentar despertar as pessoas para a transição planetária?

Não vou desfazer de você. Acho que deve ajudar os outros a despertarem. Só que pergunto: como pode fazer isso? Como pode despertar os outros? Despertando você. Compreender isso é a grande diferença entre ajudar o próximo e se servir dele para se ajudar.

Tem muita gente que decora ensinamentos e assume a postura de mestre e a partir de qualquer coisa que o outro faça ou fala diz: ‘você está errado, eu sei a verdade’. Só que não se ajuda ninguém ensinando alguma coisa, porque nenhum encarnado tem uma resposta absoluta para dar os outros. Mesmo que tivesse, isso não garantiria que o outro acreditasse.

Por isso, é preciso deixar que os outros cheguem às suas própria respostas. Para isso é preciso que não haja um mestre. As respostas que cada um chega são obtidas através da observação dos outros.

Por isso, digo: se quer ajudar alguém, faça por você. Aliás, elevação espiritual, em termos humanos, é uma atitude individualista. Só quando estiver buscando para si poderá ajudar alguém, pois assim estará exemplificando ao invés de ensinando.

Essa é a grande diferença. Quer ajudar alguém? Exemplifique o ensinamento que quer passar para aquela pessoa e a deixe ela captar o cainho para a felicidade.

Participante: então o ditado correto seria: quando o aluno está pronto o mestre desaparece?

Mais do que o mestre desaparece: quando o aluno está pronto, o próprio ensinamento desaparece.

Já disse por diversas vezes que vocês precisam ter atenção plena para reconhecer que a sua mente está em contrariedade com o agora porque desejaria ter um presente diferente. Isso é um ensinamento. Na hora que estiverem prontos, ou seja, na hora que interiorizarem o que ouvirão, nem se lembrarão do ensinamento. Nesse momento fará automaticamente, ou seja, sem se lembrar que há um ensinamento para ser posto em prática.

Então, sim, na hora que o aluno está pronto, o mestre e o ensinamento somem.

Participante: desde o nosso nascimento somos bombardeados por informações diversas que vão formando nossas opiniões. Um dia deparamos com nossas semelhanças e somos atraídos por elas. Estamos todos aqui ouvindo pai Joaquim porque nos identificamos com suas palavras. Dessa forma, poderíamos transmitir algumas informações para as pessoas com as quais nos identificamos, para que elas, se quiserem tenham contato com estas novas informações e modifiquem seus caminhos.

Deixe só lhe dizer uma coisa: você pode fazer isso. O que não pode é esperar que com isso esteja ajudando essa pessoa.

Pode dizer ao outro que existe alguma coisa que esteja lhe fazendo bem e perguntar se ele quer ouvir. Agora, não pode esperar que o que lhe faz bem, faça para ele.

Não espere que ele aceite o que lhe faz bem como um bem, pois isso pode não acontecer. Alguns podem aceitar o que você tem para dizer, mas muitos não aceitarão.

É isso que quis dizer. O melhor que pode fazer é conseguir colocar algum ensinamento em prática e quando alguém perguntar porque está do jeito que está, diga: foi por causa disso aqui que ouvi.

O problema de querer ensinar é querer ajudar. Foi o que já disse: ajude sem querer ensinar, sem querer ajudar. Se quiser ajudar, irá querer que eles aceitem, que gostem, do que você está trazendo. Isso pode não acontecer ...

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

O prazer não é ser errado

Já que não há novas perguntas, vamos conversar um pouco mais ...

Qual o objetivo da vida humana para o ser humano? Vocês poderiam falar muitas coisas, mas tudo se resume em um único: buscar a felicidade, estar feliz.

Antes que os doutores de plantão falem que felicidade não é prazer, lembro que para vocês é. Para vocês o prazer é felicidade. Por isso, não podemos aqui filosofar que não se deve ter prazer, se ainda há esse desejo dentro de cada um.

Na verdade, mesmo os que me ouvem não buscam a felicidade incondicional. Buscam ser feliz, o que é bem diferente. Muitas vezes o ser feliz precisa passar pelo prazer. Portanto, antes de questionar o que estou falando, viva os momentos de prazer sem culpa por estar tendo o prazer.

Ter prazer pode ser felicidade incondicional desde que isso não dê prazer nem culpa. Olha que coisa linda: você pode ter prazer, sem ter o prazer de ter prazer. Vou dar um exemplo.

Você quer algo e consegue ter. Nesse momento vem uma sensação boa, que se chama prazer. Sentir isso não tem problema. Você pode ter essa sensação boa. O que não deve é entrar em estado de êxtase porque conseguiu o que queria.

‘Graças a Deus, que bom que eu consegui o que queria, que coisa maravilhosa que acontece. Sou privilegiado porque consigo o que quero’. É essa vibração em estado de êxtase que afasta da felicidade incondicional e não a sensação boa.

Aquele que apenas constata que conseguiu o que queria e vive uma emoção serena, não vive o prazer. Vive a constatação da realidade.

‘Eu queria tomar café e ele está aqui para eu tomar, que bom’. Este é o prazer vivido sem prazer. O prazer vivido com prazer seria dizer que é maravilhoso ter café à sua disposição, agradecer a Deus e dizer que Ele ouviu e atendeu o seu desejo. Isso é o prazer puro.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Afaste-se do que não o faz feliz

Voltando ao que estávamos conversando, o objetivo da vida humana é a felicidade e é ela que deve ser procurada a cada segundo da vida. Mas, os sábios vão me perguntar: ‘e o espírito como fica nessa questão’? Dane-se o espírito. Você não sabe quem ele é, como é, o que faz. Por isso, ele que se dane.

O máximo que você pode realizar preocupando-se com o seu lado espiritual é entender como procurar a felicidade. Portanto, procure-a da maneira que puder. Se encontrar, encontrou; se não encontrar, não encontrou. Por estar buscando a felicidade, mantenha-se feliz da mesma forma.

Mas, como se procura uma felicidade?

Participante: não sei. Para mim quando ela vem, vem. Não sei se existe uma maneira para procura-la.

Existe sim. Aliás, é uma maneira muito simples: se procura a felicidade afastando-se de tudo que não é felicidade.

É simples assim. Se você procura a felicidade e vem a tristeza, diga para si mesmo: ‘não é isso que estou procurando. Vou para outro lugar, fazer de outro jeito, pensar de outra forma’.

A partir do momento que se conscientiza que é um humano, que vive humanamente, que acredita que pode agir e que quer ser feliz, a primeira coisa que tem que fazer é buscar ser feliz. Para alcança-la deve compreender que o caminho passa por afastar a infelicidade. Vou dar um exemplo para podermos entender o que quero dizer.

Você está doente. Como pode ser feliz nesse momento? Pelo que falei, afastando a infelicidade que surge cada vez que está doente. Como se faz isso?

Estando doente, vá ao médico, compre os remédios que ele indicar e siga o tratamento proposto. Tudo isso pode ser feito e leva à felicidade. O que pode trazer a infelicidade? Apegar-se ao fato de estar doente e lamentar-se por isso. Tendo esse apego não conseguirá nunca alcançar a felicidade.

Você está doente? Está. O que pode fazer? Tentar a cura, que acabará com o sofrimento e levará à felicidade. Faça isso. Isso é buscar a felicidade.

Já ficar se lamentando, chorar, sofrer ou revoltar-se porque está doente são atitudes que não leva à felicidade. Por isso não devem ser opções de vivência.

Buscar a felicidade não é dar risadas quando estiver doente. É ter a consciência do que é sofrer naquele momento e buscar agir de uma forma que não viver isso.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Sofrer não resolve nada

Volto a repetir: esqueçam o espírito e todas as coisas referentes à elevação espiritual. Pensem em vocês mesmos. Pensem no que podem fazer para ser feliz.

Isso a grande maioria que está aqui acha que pode fazer. Portanto, faça, se fizer. Se não fizer, não se culpe, pois sabe que se entrar no processo da culpa estará aceitando um sofrimento.

Essa é prática da prática da prática que sempre me perguntaram. A prática dos ensinamentos que estamos transmitindo é essa: se você quer ser feliz, seja. Para fazer isso, utilize de todos os meios ao seu dispor para não ser infeliz.

Como não ser infeliz? Reagindo contra a infelicidade ao invés de se deixar levar por ela.

‘Eu queria agora estar em tal lugar, mas não estou. Estou aqui. Se puder sair agora eu vou, se não puder, não vou. De nada adianta ficar chorando porque estou aqui e não consigo ir onde quero se não posso ir, se não tenho como ir, o que fazer para ir. Por isso, vou ficar aqui. No primeiro momento que puder ir, vou’. Esse é um desenvolvimento mental que leva a felicidade.

O desespero de não ter ido resolve alguma coisa? Ele o fará ir? Tenho certeza que não. Se não conseguir sair de onde está não haverá desespero que comoverá a vida para que ela o coloque onde deseja estar.

Me digam: o choro ou a revolta contra o agora leva a algum lugar? Faz viver algo diferente do que estão vivendo naquele momento? Não, só leva a mais choro. Não resolve de nada.

Para serem felizes o que precisam é resolver o seu problema do aqui e agora. Essa resolução passa pela aceitação da incapacidade de modificar o seu momento presente. Tendo essa consciência como princípio para a vivência de cada momento da existência você consegue fugir do sofrimento que existe no aqui e agora.

Se foge do sofrimento do aqui e agora buscando saídas físicas para ele. Quando não se encontra saída, a fuga só acontece quando se constata que não há o que fazer a não ser aceitar o momento na íntegra. Só se liberta do sofrimento aquele que vê a inutilidade do sofrer na vivência do aqui e agora.

O sofrimento não serve para nada, não resolve nenhuma situação da sua vida. A única coisa que ele pode trazer é a compaixão dos outros, mas essa emoção é falsa.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Responsabilidade

Participante: por favor, fale algo sobre responsabilidade.

O que é responsabilidade? É o que você tem sobre o que faz. O que faz? Reage emocionalmente ao que está acontecendo. Eis aí a sua responsabilidade: a emoção que escolhe para viver a cada momento.

Não é sua responsabilidade quando causa ferimento a alguém por causa da sua ação. Mas, é sua responsabilidade aceitar querer ferir alguém, viver a intenção de fazer.

A sua responsabilidade se consiste em como reage àquilo que a mente cria. Vivendo o querer machucar que a mente cria, compactuando com a razão, torna-se responsável por isso.

Ninguém pega uma arma e dá tiros sem algum motivo. Existe sempre uma intenção, um motivo por trás do ato. Vivenciar esse motivo é a responsabilidade do ser humanizado nessa vida. Compactuando com ele, se torna responsável pelo sofrimento do outro. Só pelo que é feito, a prática do ato, não há responsabilidade alguma.

Acabei de falar que cada um pode fugir do sofrimento. Sendo assim, se a outra pessoa sofreu com um acontecimento, a responsabilidade não é sua, mas sim dela. Foi ela que aceitou compactuar com o sofrimento que a mente criou.

Então, é essa responsabilidade que você tem neste mundo: compactuar ou não com o que a sua mente cria. Quanto ao resto, cada um é responsável pelo sofrimento que vive.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Causar sofrimento a si ou a outros

Participante: diz que devemos nos livrar do sofrimento. Mas, se isso causar sofrimento à outras pessoas? Como fica?

Eu acho impossível que o seu libertar-se do sofrimento cause sofrimento a outras pessoas.

Isso é um aspecto importante dessa vida que precisam compreender: ninguém é responsável pelo que o outro sente. Porquê? Porque se estou falando que pode se libertar do sofrimento que cria para si, o outro também pode fazer isso.

Por causa dessa possibilidade que ele tem, se sofre, não é porque você fez alguma coisa, mas porque pactuou com aquele sofrimento. Foi ele que escolheu sofrer, não você que o fez.

Só que quando falo que cada um é capaz de se libertar do seu sofrimento, não estou falando de libertar da causa do seu sofrimento. Vou dar um exemplo para que possa entender melhor.

Se você sofre com o casamento que tem, não estou falando em se separar. Estou falando em lutar contra o sofrimento durante o casamento.

Se o casamento lhe faz sofrer, se puder se separar, separe. Agora, se sofre e não consegue romper a relação por qualquer motivo, precisa lutar com esse sofrimento. Se não fizer isso, continuará casado e sofrendo.

Para poder estancar esse sofrimento, a primeira providência é dizer a si mesmo: ‘nesse momento tenho duas opções: ou continuo nesse casamento sofrendo ou vou continuar esse mesmo casamento não sofrendo. Sou eu que decido o que viverei’. Depois, escolha o que quer para você.

Muitos vão dizer que o que estou falando é hipocrisia, mas pergunto: adianta ficar reclamando do casamento que tem? Adiantaria se terminasse a relação, mas se não consegue pôr fim, adianta ficar reclamando?

Adianta reclamar da vida que tem se não consegue ter outra? Adianta reclamar do seu chefe se é àquele que precisa se subordinar para ter o emprego?

É uma opção sua a forma como viverá o aqui e agora que compõe sua vida. Não estou falando em atos, mas do mundo interno. Você só deixará de sofrer quando lutar consigo mesmo, com o que a sua mente cria, para não sofrer com o aqui e agora que está disponível neste momento.

Sei que pode até acontecer que por ação sua ou de alguém o acontecimento mude e com isso o seu sofrimento estanque. Mas, e se ele não mudar, vai continuar sofrendo até quando?

Por isso insisto: tente mudar, mas se não conseguir, aprenda a ser feliz com o que tem.

Agora, se mudar foi você quem fez a mudança? Não. Acreditando que tudo acontece do jeito que tem que acontecer, você sabe que não houve mudança alguma. Se mudou, isso é o que estava planejado acontecer e por isso já estava escrito que aconteceria.

Veja o mundo desse jeito que você também não sofrerá com as aparentes mudanças ou falta delas.

Participante: o que fazer quando o sofrimento de um indivíduo causa sofrimento a outras pessoas sem que aquele quisesse isso?

Impossível. É o que acabei de dizer: você não pode causar mal a ninguém se quem recebe não aceitar o momento como mal.

Vou dar um exemplo. Se houver dez pessoas numa roda e você falar alguma coisa, umas vão gostar, outras não. Algumas vão achar bonito, outros feio. Determinadas pessoas vão dizer que é certo, outras errado. Se isso é real, pergunto: o que você falou é gostoso, bonito e certo ou cada um classificou para si o que estava ouvindo?

Ponha isso na cabeça: você não pode levar sofrimento a ninguém, pois cada um opta pelo seu sofrer. Quando puser, pare de acusar o outro como agente do seu sofrimento, pois não é: foi você quem escolheu sofrer.

Participante: o que fazer quando meu comportamento causa transtorno a outros? Quando nos damos conta já agimos.

É a mesma coisa. Se o seu comportamento foi identificado pelo outro como algo errado ou mal, ele identificou dessa forma e não você que fez. Por isso lhe digo: deixe o outro sofrer; ele gosta disso ...

Deixe-me dizer algo: tem muita gente que gosta de sofrer. Gosta, tem prazer em sofrer. Busca sofrimento; quando não tem, inventa. Então, deixe-o sofrer. Seja instrumento para isso, enquanto for.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Ofensa

Participante: a ofensa não é uma manifestação do ego?

O sentir-se ofendido é uma manifestação do egoísmo do ego. Digo isso porque ninguém pode ofender ninguém. Vou contar uma história sobre isso.

Um professor no Japão ensinava lutas marciais a muitos alunos. Um dia apareceu um que resolveu que ia tomar o lugar do mestre. Para isso o chamou para um desafio. Apesar da diferença de idade, o mestre aceitou.

Os alunos do mestre ficaram muito preocupados porque o outro era jovem e o mestre velho, o outro era forte e o mestre já não era tão forte. Por causa desses motivos, tinham certeza que o desafiante ia ganhar e o mestre ficaria desonrado. Por causa da desonra teria que deixar de ensiná-los.

No dia da luta o jovem estava certo da sua vitória. Para a derrota ficar pior, ao invés de atacar o mestre logo, começou a insultá-lo. Insultou inclusive os antepassados do mestre, o que no Japão é um crime capital.

Sabe o que o mestre fazia? Nada. Não reagia a nenhum insulto. Ficava parado ouvindo tudo e não tinha nenhuma reação. Os alunos começaram a sentir vergonha do mestre: como ele que está sendo tão ofendido não reage? Temiam mais pelo mestre, pois depois de tantos insultos sem reação não poderia mais treiná-los.

O jovem aluno ofendeu o mestre o dia inteiro. Quando não aguentou mais ofender sem obter nenhuma reação, virou as costas e foi embora. Nesse momento os alunos chegaram perto do mestre e disseram que sua honra estava tão comprometida que ele tinha que se matar. O mestre, então, disse: ‘eu não fui ofendido, pois não recebi nenhuma das ofensas que ele proferiu. Como não reagi às ofensas, não as recebi’.

Dito isso, deu o grande o ensinamento: ‘se alguém vem com um presente e você não o recebe, o que quem está dando faz’? Os alunos disseram: ‘tem que leva-lo de volta’. O mestre disse: ‘pois é, ele levou de volta tudo o que gritou para mim, porque eu não recebi o que disse. Por isso não se pode dizer que eu tenha sido ofendido’.

Compreendeu? Ninguém pode ofender ninguém. Se alguém sente-se ofendido é porque o seu egoísmo queria ser elogiado.

Quando alguém lhe ofende dizendo que está errado, se aceitar a ofensa é porque queria ser chamado de certo. Se aceitar a ofensa porque alguém fala mal de você, é porque queria que falassem bem.

Precisa libertar-se da ideia de que os outros devem falar bem de você, porque aí não se sentirá ofendido. Com isso garanto que ninguém jamais lhe ofenderá.

Participante: muito bom. Hoje você disse tudo.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

O que a ajuda a ser feliz

Participante: nessa busca de viver o aqui e agora com felicidade a meditação ajuda?

O que lhe ajuda a viver o aqui e agora com felicidade? Estar atento às formações mentais para detectar as criações que não geram felicidade. Estar atento para descobrir porque sofre. Isso lhe ajuda. Agora, se conseguirá isso pela meditação ou não depende de cada um, é caso a caso.

Se para você a meditação ajuda, faça. Nesse caso respondo que ela ajuda. Se para outros não ajuda, digo: não faça meditação porque ela não ajuda.

Se responder genericamente sim à sua questão, aqueles que não conseguem fazer meditação vão sofrer, pois vão achar que são incapazes de realizar alguma coisa. Por isso, se respondo dessa forma, ao invés de estar ajudando a todos, estaria piorando as coisas para alguns.

É o que já falei: não tenho respostas para nada. A resposta para suas perguntas é você que tem que conseguir. O que posso dizer é que precisa fazer de tudo para viver o aqui e agora com felicidade. Para isso, faça o que puder e deixe os outros fazerem o que puderem.

Participante: bem, mas existem pessoas que já se deram conta há muito tempo que são a causa do próprio sofrimento, mas, não conseguem parar de ser.

Existem pessoas que se deram conta de que são a causa do próprio sofrimento, mas mesmo assim continuam sofrendo? Acho que não. Na realidade, acho que ainda não se deram conta disso. Digo isso porque você pode sofrer sem sofrer. Sendo assim, eles podem sofrer sem viver em sofrimento.

Volto a repetir: vocês não sabem o que é sofrer. Estão achando que sofrer é chorar, xingar, mas não é nada disso. Um simples incômodo já é um sofrer, pois sofrimento é tudo aquilo que não é felicidade.

Participante: que lição o senhor acha que posso tirar dessa situação presente onde estou tentando lhe ouvir mas não consigo?

Esperar até o momento que conseguir ouvir.

Paciência é um dos atributos da felicidade. Esperar que o momento de agora faça o que você quer sem que sofra quando não faz.