Função espelho
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Função espelho

A partir do comentário de Santo Agostinho na pergunta 919a de O Livro dos Espíritos Joaquim de Aruanda comenta sobre alcançar o conhecimento sobre si mesmo. 

Função espelho

A base da conversa de hoje

Baseado em estudo de O Livro dos Espíritos

919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? Um sábio da antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo.

Este é um grande conselho que o Espírito da Verdade está dando. No entanto, a resposta à pergunta seguinte é mais abrangente. Trata-se de um valoroso texto de Santo Agostinho e, por isso vamos estudar este assunto nela e não aqui.

919 a. Conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo? ‘Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra; ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois a vós mesmo perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado’?

‘Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado’.

‘O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificareis, se pratica por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vosso semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho. A fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida’.

‘Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! Que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos’. (Santo Agostinho).

Participante: Este texto está consignado como de autoria de Santo Agostinho. No final ele afirma: com este objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos. Santo Agostinho é o Espírito da Verdade?

Não. Santo Agostinho faz parte daquilo que nós chamamos de ‘Academia de Ciências Espirituais’, ou seja, de um grupo de espíritos que dirigem a divulgação dos ensinamentos espirituais para o planeta Terra. Esta ‘academia’ é que é realmente o ‘Espírito da Verdade’.

Nunca dissemos que foi um espírito que ditou todas as respostas de O Livro dos Espíritos. Na realidade foi um grupo de espíritos que presidiu a transferência de ensinamentos.

Acontece que em algumas respostas houve identificação de um ou outro ser universal através da última personalidade que viveu encarnado. Mas, nas maiorias das respostas isso não foi preciso.

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Conhecer a si mesmo

Voltando, então, à nossa conversa, a primeira orientação do Espírito da Verdade (ver pergunta 919) é que, para elevar-se, o espírito encarnado deve conhecer a si mesmo. Tal ensinamento nos leva a entender que o primeiro grande detalhe para aquele que pretende aproximar-se de Deus é conhecer a si mesmo, se auto reconhecer.

Mas, depois, vem Santo Agostinho é afirma que esse autoconhecimento é quase impossível. Isto porque o ‘amor próprio’, que chamamos de individualismo ou egoísmo, faz o ser julgar-se de um modo diferente do que julga os outros. O amor próprio lhe faz ter compreensões diferenciadas entre a sua participação nos acontecimentos da vida e a dos outros.

Sendo assim, posso afirmar que o autoconhecimento (saber quem é você mesmo) que o Espírito da Verdade diz que é fundamental para a elevação espiritual, é um trabalho que deve ser realizado indo-se além daquilo que você acredita sobre si mesmo.

Para que esta busca seja realizada com sucesso é preciso, então, que o ser humanizado vá além daquilo que acha, sabe, conhece ou imagina como ‘certo’ e ‘errado’ em si mesmo. Foi com esta finalidade que Santo Agostinho abordou no texto acima o conhecimento que pode servir como ‘formula mágica’ para cada um se auto conhecer: a função espelho.

Ou seja, a informação que Deus coloca na sua frente espíritos afins (iguais, com o mesmo padrão de ação) para que você compreenda que possui ‘dois pesos e duas medidas’ para avaliar a mesma coisa.

Apesar deste ensinamento, que é raiz para quem quer aproximar-se de Deus e que já foi trazido há muito tempo, o ser humanizado não avalia sua participação nos acontecimentos do mundo com esta Realidade. Por isso continua julgando a participação dos demais espíritos encarnados nos acontecimentos.

 Conhecer-te a ti mesmo é fundamental, mas para isso é preciso conhecer profundamente a ‘função espelho’ que Santo Agostinho comenta. Isso porque quem não compreende este assunto não entende a lei do carma: a justa reação à sua ação. Vamos entende-la.

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A função espelho

A lei do carma que ‘move o mundo’ (faz os acontecimentos acontecerem) é posta em prática através da ‘função espelho’ que foi citada neste trecho de ‘O Livro dos Espíritos’. Vou falar do assunto na prática (usando como exemplo os acontecimentos do mundo) para ficar mais fácil a compreensão do assunto.

Se um espírito humanizado tem à sua frente durante um acontecimento alguém que quer ‘levar vantagem’ sobre ele, é Deus mostrando que ele quer levar vantagem sobre os outros. Tendo à sua frente alguém que é ríspido, é Deus mostrando-lhe que ele é ríspido com os outros. Esta é a ‘função espelho’; este é o carma; esta é a lei do carma em ação.

Esta é a ‘função espelho’: Deus colocando à sua frente espíritos, encarnados ou não, que praticaram determinados atos, de tal forma que eles sejam a Real imagem do que você é na Realidade, mesmo que não se entenda como tal.

Sabe de uma coisa, se para você o mundo é ‘uma droga’, tenha certeza, de que este mundo é o seu espelho. Ele sempre estará e será um reflexo do que você é no interior.

Tudo que você constata no mundo exterior (nas pessoas, objetos e acontecimentos) é o mesmo que existe no seu interior (no seu ego). Mas, em você, existem as desculpas, ou seja, os motivos para justificar seu comportamento e dizer que está ‘certo’, para que, desta forma, possa continuar julgando o outro dizendo que ele está ‘errado’ por ter agido como você agiu.

Mas, tudo isso não é Real. O que você acha de si mesmo ou dos outros são meras criações do ego que o Pai faz acontecer desta forma para que você tenha a oportunidade de provar a si mesmo que aprendeu o Universalismo durante os estudos na erraticidade.

Como já vimos anteriormente, o Espírito da Verdade afirma que ninguém tem nada a provar a Deus durante a encarnação, mas a si mesmo. Sendo assim, é justo que os acontecimentos da vida espelhem uma tentação, ou seja, induzam o ser humanizado a nutrir determinados sentimentos. Só assim ele pode provar a si mesmo que aprendeu que tal tipo de comportamento sentimental fere o Universalismo.

Portanto, a ‘função espelho’ nada mais é do que a criação virtual de uma condição sem a qual de nada adiantaria para o espírito encarnar. Ou seja, é Deus lhe amando para lhe proporcionar a oportunidade de provar a si mesmo que aprendeu determinados aspectos necessários para que possa alcançar a evolução espiritual..

Entender isso leva ao ‘conhece-te a si mesmo’, ou seja, leva o ser humanizado a compreender o que precisa trabalhar em si para prosseguir no caminho de aproximação do Pai.

Já disse em palestras anteriores. Se alguém chega à sua frente e diz que você é feio, é Deus lhe mostrando que quer ser bonito. Quando o ser humanizado compreende isso pode se reconhecer realmente: ‘sou um espírito encarnado que dá mais importância a ilusão da sensação de sentir-se belo do que ao amor entre irmão’. Aí pode lutar para libertar-se desta paixão e deste desejo gerado pelo ego.

Se alguém chega à sua frente e lhe toma alguma coisa que é sua (rouba), é Deus lhe mostrando que você é apegado às posses materiais que existem no ego. E quando compactua com a sensação de raiva e perda lançadas à sua consciência pelo ego junto com o ato de xingar e acusar aquele que roubou, está mostrando para você mesmo que não aprendeu na erraticidade o universalismo, pois continua achando muito mais importante a posse do objeto do que o bem estar espiritual, do que a convivência entre irmãos.

É isso que Santo Agostinho está mostrando e, com isso, está fazendo o ser humanizado entender a lei do carma. Fazendo o espírito encarnado compreender que aqueles que praticam a ação que ele, por imaginar que é a personalidade transitória que hoje guia o seu consciente, chama de ‘errados’ não estão praticando nada, o ser humanizado vivencia a ação carmática dentro do amor universal e, com isso alcança a elevação espiritual.

Entendo que, na Realidade, foi Deus quem colocou aqueles espíritos ali para agirem a partir de uma ‘função espelho’ e, com isso, auxiliarem na evolução deste ser dando uma oportunidade dele se libertar do seu individualismo que o leva a acreditar que apenas ele está ‘certo’, o espírito pode, então, provar a si mesmo o que aprendeu antes da encarnação no chamado ‘mundo espiritual’. Isto porque, compreendendo e vivenciando esta Realidade, o ser humanizado se liberta das paixões gerenciadas pelo ego. Com isso pode, então, provar a si mesmo que aprendeu na erraticidade a amar universalmente a todos.

Como eu disse a resposta de Santo Agostinho era longa, mas a síntese é a menor que existe: tudo que existe no Universo, sejam as pessoas, objetos ou acontecimentos, são instrumentos utilizados por Deus para que o ser humanizado possa ter a oportunidade de provar a si mesmo o quanto aprendeu na erraticidade.

E, quando você a compreende, o seu ‘mundo’ muda. Ao invés de ter na sua frente um ofensor, alguém que está lhe ofendendo, terá um irmão que, comandado por Deus, gerado pela Causa Primária de todas as coisas, estará criando um espelho para que você se auto reconheça e ‘trabalhe’ para libertar-se das paixões e desejos criados pelo ego que fazem com que você acredite na ‘culpa’ do outro.

Aí está. Este é o conhece-te a ti mesmo que o Espírito da Verdade afirmou que é o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal: ninguém pode se auto conhecer a não ser que esteja na frente do seu espelho.

Por isso é preciso se compreender que todos e tudo que estão à sua frente transformam-se em um espelho, um reflexo do seu interior, para que você possa praticar o amar universalmente que aprendeu na erraticidade. Vivendo a partir destas Verdades o espírito encarnado pode, então, deixar de achar-se certo e conferir ao próximo o direito de também querer e ser alguma coisa além daquilo que ele quer que o outro queira e seja.

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Conversando sobre a função espelho

Participante: Esta ‘função espelho’ que você citou é a mesma coisa da’ sombra’ de Jung?

Sim é basicamente a mesma coisa. No entanto, acho o termo ‘função espelho’ mais apropriado, pois ele pode ser traduzido por ‘um reflexo de você mesmo’.

Aplicando este termo ao ensinamento fica mais fácil compreender, por exemplo, que aquele que lhe ofende não faz isso, pois a ofensa que foi sentida não veio externamente, mas foi um reflexo de você mesmo, das suas paixões. Foram suas paixões que geraram a sensação de ofensa e não o que aconteceu externamente. Por isso eu acho a palavra espelho mais apropriada.

Se colocássemos o termo ‘sombra’, a ofensa estaria no exterior e não no interior. Usando o termo ‘espelho’ fica mais claro que ela está no interior apenas reflete-se no exterior.

De qualquer forma, utilizando o termo ‘sombra’ ou ‘espelho’, se hoje você está sofrendo, passando por situações que não gosta, não acuse o mundo. Comece a olhar para dentro de si mesmo e verifique que você gerou a motivação para que aquele acontecimento fosse daquela forma.

A partir desta compreensão, pode ser entendido, então, o que temos falado nestes sete anos de estudos: ninguém é culpado. Todos, os outros e você mesmo, quando se relacionam com as ‘coisas’ do mundo, exercem uma função no Universo como espelho daquele com quem está se interagindo. Por agora falamos dos outros agindo à sua frente, mas já vamos falar de quando você assume a função de espelho dos outros.

Participante: A ofensa, então, é devido ao fato de acharmos que somos algo. Se acharmos que nada somos não há ofensa, certo?

Não é ser algo: é ter algo. A ofensa, quando você aceita o impulso do ego que diz que foi ofendido, ocorre porque o que acontecimento (o que foi feito e/ou falado) foi contrário àquilo que você acredita ou deseja.

Desta forma, o problema não é ser, mas possuir, ter. Digo isso porque quem não tem verdades não fica ofendido. Sendo assim, afirmo que você não precisa deixar de ser, mas precisa deixar de ter.

Esta é uma diferença fundamental que precisa ser compreendida por aquele que pleiteiam aproveitar esta encarnação para provarem a si mesmo que aprenderam quando na erraticidade. Por isso, ao longo desse trabalho todo, sempre disse que reformar-se não é mudar o que o ego lhe diz, ou seja, as verdades, mas não acreditar nelas. A verdade vem, surge à mente, mas o buscador não acredita nela.

Com isso você deixa de ter, mas continua sendo, porque deixar de ser ninguém pode.

Participante: Gandhi, antes de desencarnar, havia dito a um repórter que não precisava perdoar ninguém porque nunca havia sido ofendido.

Exatamente isso que estou dizendo: quem não tem verdades não é ofendido. Só é ofendido quem acredita em alguma coisa. Se você não acreditar que é bonito não se ofenderá quando alguém disser que é feio. Se não acreditar que trabalha bem, não ficará ofendido quando alguém disser que trabalha mal.

Então, sim, você não precisa perdoar porque não foi ofendido. Mas, o comentário do próximo não ofende por quê? Porque tudo que os outros dizem não contraria mais nada, pois você não possui mais nada para ser contrariado.

Participante: E quando os espelhos são positivos (melhores do que nós) e não nos achamos merecedores de estar frente a esta pessoa?

Não entendi a sua pergunta...

Isso porque, se o ‘espelho’ está acima de você, no sentido positivo da elevação espiritual, ele não pode ser ‘espelho’, porque não refletiu você, ou seja, não lhe mostrou o seu interior. Por isso eu disse que não vi muito sentido na sua pergunta.

Mas, se por acaso você quis dizer que a pessoa que está à sua frente é melhor do que você, tal pensamento realmente reflete algo no seu interior: a avaliação de pequena, abaixo, pior que faz de si mesmo. Isto serve como ‘função espelho’ (auxiliar na sua caminhada), mas não a admiração que sente por outro.

Este reflexo (ver que se sente menor que alguém) deve servir sim, para auxiliá-la na elevação espiritual. Isso porque todos os espíritos, em suas naturezas íntimas, são iguais entre si, ou seja, não pode existir ninguém pequeno.

A partir desta análise existe uma ‘função espelho’, ou seja, um auto conhecimento que pode lhe levar a libertar-se de uma verdade ilusória criada pelo ego.

Isso faz parte do segundo aspecto da função espelho que iremos falar: quando você serve como espelho dos outros. No entanto, deixe-me antes tirar mais dúvidas que ainda existem.

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A busca do saber

Participante: Estou lendo o livro ‘A vida no Planeta Marte’ de Ramatis e tenho a impressão de apesar de ser um orbe mais evoluído lá ainda há muito ego e ‘verdades. É isso mesmo que acontece lá?

Sim. Eu já afirmei que só Deus não tem ego, ou seja, só Ele não tem verdades temporárias que levam o ser a viver uma personalidade diferente da sua. No entanto, as verdades existentes nos egos marcianos são menos individualistas do que as daqui (Terra).

Apesar disso, tenho um conselho a lhe dar: aprenda primeiro a viver na Terra e depois se preocupe com a vida de Marte. Sabe, o apego à busca de conhecimentos (curiosidade) que o ego lhe levou ao consciente como realidade, o leva à dispersão quanto ao que deve ser feito durante a encarnação.

Existe nos egos humanos atualmente a ilusão de estar havendo uma grande discussão sobre outros planetas, a vida nestes orbes, mas a Real compreensão sobre este assunto só vai ser conseguida pelos seres humanizados quando eles souberem viver a vida daqui espiritualmente falando. Isso porque em Marte vivencia-se uma outra provação, um outro sentido para a encarnação cuja compreensão não pode ser alcançada pelo ego terrestre.

Portanto, não ceda ao ego: concentre-se em aprender a viver a vida carnal de forma universal (liberto das ilusões que o ego cria) para só depois querer aprender a vida (o que se faz durante uma encarnação) em Marte.

Saiba que se esse desejo é mais uma ilusão de ego, também é mais uma prova para o ser humanizado. Se ele estiver concentrado neste ilusório interesse criado pelo ego não aprenderá a viver a vida carnal dentro dos padrões universais e, com isso, nunca aprenderá a usar a ‘função espelho’ para sua elevação. Enquanto o ser humanizado estiver preocupado com as vidas fora do planeta não estará vendo a ação espelho, ou seja, a ação do seu próximo aqui na Terra para lhe auxiliar a conhecer-se e poder, então, ‘resistir à atração do mal’.

Ficou claro isso? Não estou dando bronca, não estou acusando: trata-se de uma orientação que estou dando porque sei que você está procurando a reforma íntima.

Aliás, este ensinamento (abandonar a busca da cultura) é antigo em nosso trabalho. Por diversas vezes já falei aqui que é preciso se libertar do anseio de ler e estudar que o ego cria como paixão para alguns seres humanizados.

Quando ele assim age é movido por um gênero de prova pedido por você mesmo (espírito). Ou seja, o desejo de aprender racionalmente, de suprir a curiosidade com relação ao mundo material e/ou espiritual é também uma ‘função espelho’ para que você compreenda que está buscando para si mesmo, que quer ganhar cultura e com isso ter fama. Trata-se, portanto, de um sentimento que você buscou provar que aprendeu a libertar-se quando na erraticidade.

Participante: Mas, somos curiosos e é difícil não estudar estes temas...

Sim, mas veja, esta curiosidade, aliás é ditado de vocês, ‘mata o gato’. Isto porque ela lhe deixa ‘aéreo’ com relação à realidade ilusória que vive. Imaginando que conhece a vida em outros mundos, acha que também já sabe a daqui e, por isso, não presta atenção aos acontecimentos do mundo para ver o reflexo deles e descobrir, assim o seu interior.

Lembre-se: a curiosidade não é sua, você não está curioso... Na Realidade o que está acontecendo é o ego lhe criando uma verdade no consciente que serve como uma provação que você deve fazer a si mesmo. Ou seja, Deus lhe dá a curiosidade para ver se você supera este aspecto do ego.

Quem compreendeu a questão do egoísmo que já falamos já deveria ter entendido isso, pois, o que é a curiosidade? O desejo de conhecer o que não conhece. Isso se chama individualismo, querer para si. Portanto, um egoísmo que precisa ser eliminado de nossa existência.

Deixa eu relembrar algo que digo praticamente todo dia. O espírito na carne só tem uma coisa para fazer: viver. Ele não tem que aprender nem esquecer, mas apenas viver a vida.

Veja bem, se há alguma coisa a ser ‘entendida’ nesta vida, é a ‘função espelho’ que Santo Agostinho e outros ensinaram e sobre a qual estamos conversando aqui. Isso é fundamental para sua existência eterna como espírito e não a cultura material.

Através do entendimento deste elemento universal, você pode aprender que todas as pessoas com as quais você se relaciona, direta e indiretamente, agem de tal forma que, a participação delas naquele acontecimento, lhe leve a reconhecer a ‘linha de raciocínio’ que o seu ego atual utiliza. Eu falei todas e não algumas específicas.

Isso porque a função espelho é Real, ou seja, aplica-se a cada micro fração de sua existência. Caso alguém aqui não me conheça não sabe que eu gosto de exemplos bem fortes e pode ficar surpreso com o que vou dizer agora, mas isto é Real. Sabe aquela pessoa que ‘tira meleca do nariz’ no meio da rua? É um espelho para você ver a ação moralista do seu ego que lhe faz julgá-lo de porco.

Não existe distinção entre qualquer situação percebida, que teve a sua realidade construída pelo ego: em todas elas o criador de ilusões gera uma compreensão e para tanto utiliza uma verdade individualista que senão ‘calada’ (cessada a crença nela) forçosamente levará o espírito a vibrar dentro do egoísmo.

 É disso que eu estou falando. Sabe o acontecimento que teve lugar do outro lado do mundo hoje e que você leu no jornal ou ouviu no rádio e na televisão? É espelho para você., é fonte para que você aprenda a conhecer-se.

Por isso é que é fundamental para a elevação espiritual o perfeito conhecimento da ‘função espelho’ em seu mais amplo sentido. Viu como o debate amplia a minúcia do assunto o que nos leva a compreender mais profundamente o tema?

E, até agora, só estamos falando do outro se relacionando com você como seu ‘espelho’. Já iremos falar de você como reflexo dele. Aí verá como é ainda mais importante se compreender disso. Eu diria até, que sem viver com essa realidade é impossível se alcançar a bem-aventurança, a felicidade que os santos sentem.

Agora imagine se você tivesse estudando a vida de Marte neste momento... Será que aprenderia a não julgar quem ‘tira meleca do nariz’ como ensinou Cristo?

Participante: Partindo do que o senhor disse, o que posso compreender como não aprender?

Na Realidade o espírito não tem nada a aprender nesta vida. Todos os acontecimentos não devem gerar uma cultura, um aprendizado, mas servem como instrumentos para que o espírito comprove a si mesmo aquilo que aprendeu na erraticidade como já vimos anteriormente aqui em ‘O Livro dos Espíritos’.

No entanto, posso dizer que ‘não aprender’ é não aproveitar a encarnação para elevação, não colocar em prática os ensinamentos que ‘estudou’ antes da encarnação. A partir disso, posso ainda dizer, apenas fazendo um jogo de palavras, que aprender é conseguir por em prática o que já sabia.

Por isso afirmo que o ‘aprendizado’ possível de ser feito nesta vida não é decorar livros, aprender a vida de Marte, ter conhecimentos sobre energias, conhecer os seres ovóides ou coisas do gênero. Nada disso.

Só se pode dizer que um espírito ‘aprendeu’ alguma quando ele vive a vida material como espírito que é, ou seja, vibrando apenas o amor universal e entendendo o universalismo: o estar fundido ao Todo. Na Realidade não foi um aprendizado feito durante a vida carnal, mas como apenas depois que comprova a si mesmo o espírito pode dizer que aprendeu, podemos então utilizar este termo como algo a ser feito durante a vida carnal.

Quanto ao resto que ele pode ‘aprender’ (ter conhecimento) durante a encarnação, seja de ciência material ou espiritual, é ‘cultura inútil’ que vai acabar porque tudo que se ‘aprende’ na Terra é compreendido de uma forma material. Vou dar um exemplo.

Você estuda energia, fluído cósmico universal. Participa de trabalhos espirituais com a intenção de conhecer e aprender mais sobre a propagação deste elemento universal. Este aprendizado, porém, é criado a partir de ideias, de formas, de valores que só existem no planeta Terra.

Lembra-se de uma das perguntas que estudamos anteriormente aqui em ‘O Livro dos Espíritos’? (pergunta 27a) Ali o Espírito da Verdade responde a seguinte pergunta: “Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade”? Sua resposta: “O que chamais fluído elétrico, fluído magnético, são modificações do fluído universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente”.

Ou seja, o fluído cósmico universal não é o fluído elétrico ou magnético conhecido na Terra. Apesar disso, os seres humanizados continuam trabalhando energeticamente com o elemento espiritual simulando as mesmas propriedades que os elementos terrestres possuem e achando que estão ‘certos’ em suas crenças.

Por isso afirmo: o espírito não consegue aprender nenhuma Realidade Universal enquanto preso ao ego. O máximo que ele pode alcançar é uma interpretação material de algo espiritual. Mas, este conhecimento não será útil de forma alguma quando livre das ilusórias percepções geradas pelo ego.

Além disso, tudo aquilo que ele precisa saber com relação a este detalhe, já está presente em sua consciência espiritual. Ou seja, ele já conhece a Realidade. Por isso a ilusão hora criada de nada serve, ou melhor, serve assim: como distração para não realizar o verdadeiro objetivo da encarnação que é provar a si mesmo que aprendeu na erraticidade a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Você já aprendeu tudo o que tinha de aprender de ciência espiritual. Não na figura e formas conhecidas no mundo terrestre, mas na Realidade de todos os elementos espirituais.

Assim sendo, você transforma a sua existência numa busca desenfreada de aprendizado, cultura, mas, quando sai da carne (desliga-se do ego) tudo que foi agregado a ele se perde. Então, todo aprendizado, mesmo sobre as coisas espirituais, é perdido com o desencarne.

Agora todo ‘aprendizado’ no sentido de saber amar incondicionalmente, portar-se como espírito, é eternizado.

Função espelho

Eu, o espelho

Bom, conversada a primeira parte da ‘função espelho’, vamos passar à segunda: quando você e sua participação servem como oportunidade para a reflexão do próximo. Ou seja, quando você pratica algum ato frente a alguém.

Começo dizendo: saiba que você não pratica nada frente a ninguém. Tudo que você faz frente a alguém apenas espelha um ‘reflexo’ do íntimo (verdades do ego) desta pessoa. O seu ato é um ‘reflexo’ do interior dos outros seres humanizados, ou seja, espelha aquilo que está no íntimo dele para que ele também possa entender as verdades do seu ego e combatê-las.

Com este conhecimento acabamos com algo muito comum no planeta Terra e que é chamado de ‘culpabilidade’. Veja bem: se você não pode culpar o próximo porque o que ele pratica é apenas o reflexo de suas verdades, também não pode se culpar pelos atos que pratica, pois você é a ‘imagem refletida’ dele.

Este é um aspecto importante para quem quer aproveitar a vida carnal como instrumento de elevação espiritual: o outro não é culpado, mas você também não.

Isto porque não existem culpas. O que existe realmente é cada um praticando ações que sirvam como reflexo às verdades do outro e, por isso, agindo em prol e benefício do próximo.

E, ainda tem gente que diz que a vida carnal é injusta ou feia. Olha que mundo maravilhoso. Veja que Deus Perfeito, que coloca alguém que aparentemente lhe ofende como reflexo seu, mas que também lhe faz reagir com nervosismo, briga, grito ou de qualquer outra forma contra quem lhe ofendeu, para que sua atitude sirva à ele, dando-lhe a oportunidade de conhecer-se (conhecer as verdades do ego).

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A culpa

Não sei se está dando para compreender o que eu quero dizer. O que estou afirmando é que, na Realidade, em cada relacionamento entre dois seres humanizados, o que cada um pratica serve como espelho para o outro, ou seja, tudo está interligado, é interdependente, como ensinou Buda. O outro pratica o que você precisa e você reage sempre da forma que ele precisa. Por isso volto a afirmar: não há culpas.

Observe que no texto que estamos analisando, ao referir-se ao conhece a ti mesmo, Santo Agostinho não fala em reconhecer em si culpas, não ensina que precisamos avaliar possíveis ‘erros’ cometidos para outrem. Na verdade o que ele diz é que precisamos aprender a reconhecer se não faltamos a algum dever e se ninguém tem motivo para de nós se queixar.

Faltar ao dever seria não servir de espelho para o próximo levando-o, assim, a não se auto conhecer e, por isso, ter a condição de queixar-se, quando do retorno à pátria espiritual, de não ter recebido a ajuda necessária para a sua reforma íntima. É a isto que devemos estar atento e não àquilo que praticamos aos outros, ou seja, se o ato que fazemos está dentro de um padrão aprovado pela humanidade como ‘bom’.

Mas, como já aprendemos, Deus é a Causa Primária de todas as coisas, o Senhor Supremo dos carmas. Sendo assim, Ele é quem comanda a nossa participação dentro dos atos humanos. Por isso posso afirmar que alguém jamais deixará de receber a presença de um ‘espelho’ que lhe facilitará o autoconhecimento necessário para a reforma íntima. Portanto, posso afirmar, que ninguém deixará jamais de fazer a sua parte.

Partindo desta compreensão, pergunto, então, porque Santo Agostinho, que conhecia perfeitamente esta Verdade do Universo, nos aconselha a nos alisarmos sempre para ver se não faltamos com nosso dever? Porque, além daquilo que é realizado no ato físico, a participação de um ser humanizado em qualquer momento de sua existência deve ser vivenciada com o amor universal.

Servir ao próximo não pode se refletir apenas nos atos, pois estes ultrapassam a intencionalidade de um ser ao vivenciá-los já que são pré-escritos pelo Pai para servir de instrumento a quem os recebe, mas precisa ser comungado com o amor desapegado. Quando o ser humanizado cria uma situação como espelho do próximo, se ele vivencia tal atividade com uma motivação individualista (eu quero, eu gosto, eu acho), ele deixou de cumprir o seu ‘dever’, ou seja, deixou de amar universalmente, desapegadamente ao seu ego.

Viver desse jeito (com a compreensão de que sua ação é um espelho para o próximo, mas também não fundamentar-se em suas paixões individuais para julgar o que fez) é o cumprimento real do ‘dever’ de cada ser humanizado. Mas, infelizmente poucos conseguem viver assim. A grande maioria, além ser instrumento da criação do ato, naquele momento ama condicionalmente, ou seja, participa da ação movida por suas paixões individualistas e quando assim faz, surgem, então, a depressão da dor ou a exultação do prazer.

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O prazer

Já falamos do elemento ‘dor’ (culpa) do binômio resultante de quem participa como ‘espelho’ de seu irmão durante os acontecimentos da vida carnal. Falemos agora do seu oposto: a exultação do prazer.

Se você pratica alguma atitude, mesmo aquelas que pelos padrões humanizados (pela lógica que prioriza a felicidade terrestre à individual) é transformada em ‘errada’, mesmo que aparentemente o outro ‘sofra, você não deve sentir-se ‘culpado’ pelo que praticou, mas também, de forma nenhuma, deve achar que está ‘certo’ em praticar. Não estamos falando em ‘certo’ ou ‘errado’, mas em necessário, em imperioso que acontecesse.

Por isso a reação com prazer (“fiz mesmo, ele precisava, ele merecia, eu tinha que brigar mesmo, ele que se vire”) é um descumprimento do ‘dever’ do ser humanizado como instrumento de auxílio na Obra do Pai (o auto conhecimento do que reformar-se)

NOTA:

Pergunta 132 – “visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim da aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Isto porque nesta reação está demonstrada a ausência da real compaixão (consciência do sofrimento dos outros sem exultar-se ou sofrer por isso) que está presente quando o amor (sentimento como qual o ser humanizado reage a um acontecimento) não é universal, desapegado de individualismo, egoísta.

Como o espírito é instrumento de Deus, o prazer (encontrar satisfação no que faz) que ele sente torna-se um descumprimento do ‘dever’ dele como instrumento do Senhor. Para que este ser humanizado cumprisse à risca seu ‘dever’ seria necessário que ele tivesse a equanimidade (igualdade de ânimos) em tudo o que vivencia.

Sendo assim, aquele que cumpre realmente o seu ‘dever’ deveria imaginar da seguinte forma a sua participação nos acontecimentos: “tinha que acontecer desse jeito e eu tinha que ser o instrumento de Deus para tanto. Louvado seja o Pai”.

Então, aí está a função espelho no seu sentido mais amplo. Todos os acontecimentos que ocorrem no Universo e dos quais toma ciência, são imagens que refletem o seu interior e eles acontecem dessa forma para que você aprenda a se auto conhecer em profundidade. Mas, tudo que você faz frente ao próximo, também é um ‘serviço’ à comunidade espiritual, pois está representeando um ‘papel’ criado por Deus de tal forma que ele reflita o interior do próximo. E, como é Deus que cria a fala, a ação e a interpretação daquele papel, você não tem motivos para acusar-se ou vivenciar o acontecimento num estado de soberba (prazer), se auto elogiando por ter sido espelho do próximo.

Este é, em suma, o ensinamento que pode lhe ajudar a viver esta vida sem motivações individuais. Este é, na prática, o ensinamento que pode lhe levar a viver esta vida (carnal) com equanimidade, apatia pelos acontecimentos da vida. Por quê? Porque tudo que acontece (o que você faz e o que os outros fazem) não é a vida em si, mas sim Deus criando personagens e situações para que os espelhos se reflitam.

Função espelho

Reflexos da função espelho

Participante: Pode falar mais de viver a vida? Viver a vida é ir deixando de lado o ego?

‘Viver a vida’ é vivenciar a existência no seu sentido mais amplo, ao invés de viver os acontecimentos da vida.

Hoje você ‘vive’ a carência, a abstinência, a abastança. ‘Vive’ a família, o emprego, seus filhos... Agora a vida, você não vive.

Mas para entendermos melhor esse tema, precisamos compreender o que é a vida... Posso dizer que a ‘vida’ é o a graça de Deus para seus filhos e que ‘estar vivo’ é sentir a glória de estar encarnado para o trabalho da reforma íntima.

Sendo assim, quando digo que você deixa de viver a vida, digo que deixa de vivenciar a graça de Deus e a glória da busca da reforma íntima. Ao invés de vivenciar estes elementos que são universal e eterno você prefere vivenciar os acontecimentos da vida: suas carências, dúvidas, medos, etc. Enfim, você vivencia o que o ego lhe diz que está acontecendo e não a ‘vida’. Isto porque tanto a forma dos acontecimentos como o valor que lhes é dado são criações do ego, que ocorrem naquilo que chamamos de mundo interior.

Por isso posso dizer que você colocou muito bem: ‘viver a vida é ir deixando de viver o ego’. Portanto, vá deixando de viver as criações do ego e viva Deus e o fato de estar encarnado para a reforma íntima.

Participante: É por isso que não faz sentido discutir se uma raça é superior e outra inferior?

Aliás, nem existem raças, não é mesmo?

O que é raça? Uma série de verdades e conceitos que se tem a respeito de determinadas características de seres humanizados e que servem como prova para o espírito.

O preto não é uma raça... A pele preta que alguns seres humanizados ostentam em seu corpo físico, é uma caracterização da carne que serve como motivação lógica para a existência de algumas verdades ilusórias (conceitos) que justificaram racionalmente determinadas atitudes. Este conjunto (cor da pele e conceitos) é levado à consciência pelo ego dos seres humanizados para ver se eles se sentem ofendidos com o preconceito quando negros, ou para ver se acreditam no ilusório preconceito que o ego cria, quando de pele de outras pigmentações.

Função espelho

A função espelho e o assassinato

Participante: Levado ao extremo, este conceito justifica matar para não ser morto, a legítima defesa sem nenhuma emoção?

Primeiro: viver sem emoção é ser equânime, ou seja, conota uma reação universalista. Isto porque equanimidade acontece quando o ser humanizado tem uma só emoção, que eu chamo de apatia com as coisas da vida, mas que já foi chamada por outros por diversos nomes e representadas de diversas formas.

Portanto, a ‘vida santa’ é a vivência dos acontecimentos sem alteração de emoções (hoje com raiva; amanhã feliz) e não aquela que atende a padrões humanos de ‘bom’ e ‘mal’.

Segundo: matar quem, espírito? Espírito não morre... Matar quem, a carne? Carne não morre, se transforma... Só por essas duas simples constatação pode ficar bem claro que a sua surpresa com esta constatação é desprovida de Realidade. Para que você não se surpreenda mais se lembre: não há morte (término de alguma coisa), mas o que ocorre com um ser é o desencarne.

Sim, com este ensinamento (toda ação de um ser universal é dirigida por Deus de tal forma que sirva como uma oportunidade para que os envolvidos reconheçam as verdades individualistas que estão no seu interior, no seu ego) podemos entender que o desencarne pode acontecer através de instrumentos humanos de Deus, sem que por isso, haja culpados ou inocentes, vítimas e algozes, ou qualquer outra motivação do que a roda do carma girando.

. Mas, para não dizer que estamos falando de algo extremamente novo, voltamos a uma pergunta anteriormente estudada aqui em O Livro dos Espíritos (853a). Se fizermos isso veremos que ninguém desencarna antes da hora e que Deus sabe a forma como cada um vai desencarnar. Portanto, não sou e[o eu que afirmo, mas o Espírito da Verdade também ensina que quem desencarna através de um tiro, o fez na hora que tinha que acontecer e através de um motivo pré-conhecido de Deus.

Se isso é verdade, pergunto então: quem é o culpado? Só se for Deus, que já sabia que aquilo iria acontecer e não fez nada que pudesse evitar...

Se quisermos nos aprofundar mais no assunto, podemos estudar, também, o Bhagavad Gita. Este ‘cântico’, que possui o mais alto ensinamento de Krishna, trata-se da argumentação deste mestre a um discípulo (Arjuna) incitando-o a participar de uma guerra onde seria instrumento para o desencarne de outros seres humanizados que, além de tudo, eram seus parentes consanguíneos. E para isso o Bendito Senhor diz:

“Estiveste lamentando-te por aqueles que não o merecem. Todavia pareces falar como um sábio. Só que os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos”.

“Sabe, Arjuna, que nunca houve um tempo em que EU (SER) deixasse de existir, nem tu, nem esses reis e jamais deixaremos de existir no futuro”.

“Assim como o ser encarnado tem a sua infância, juventude e velhice, assim também tal ser ressurge como outro corpo. Os Sábios nunca se confundem a respeito disso”.

“Ó tu, o melhor dos homens, somente aquele que não se aflige por tais modificações e é equânime tanto no prazer como na dor realiza a Imortalidade”.

“O irreal jamais existe; o Real nunca é inexistente. Os Sábios percebem claramente esta Verdade”!

“Compreende que aquele que interpenetra tudo isto é imortal. Ninguém nem nada pode destruir esse Princípio Imutável”!

“Aquele que pensa que este SER mata e aquele que pensa que este SER é morto, os dois são ignorantes (porque pensam, raciocinam). O SER não mata nem morre”.

“Esse SER não nasce nem morre e tampouco reencarna; o SER não tem origem; é eterno, imutável, o primeiro de tudo e todos e não morre quando matam o corpo”.

“Ó filho de Pritha, como pode morrer ou causar morte de outro aquele que sabe vivenciadamente que esse SER é indestrutível, eterno, sem nascimento e imutável?”

  “Assim como alguém costuma deixar suas roupas gastas e bota outras novas, assim o SER corporificado e humanizado abandona seu velho corpo e faz-se outros novos”.

“As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca”.

“A este SER não se lhe pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem secar; é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial”.

(Bhagavad Gita – Capítulo II – Sankhya Yoga ou o caminho do discernimento – versículos 11 a 13 e de 15 a 24).

NOTA:

Quanto à afirmação de Krishna sobre o fato do espírito não reencarnar, tal afirmação foi objeto de análise durante o estudo do Bhagavad Gita.

Então, sim, tal ensinamento, levado ao extremo, lhe fará ver que não há morte, mas desencarne. Mas também lhe mostrará que cada um vai desencarnar na hora que tem apropriada para tanto e que tudo que acontecer durante o ato que espelhará tal situação servirá como uma oportunidade de auto análise a todos os espíritos envolvidos nele. Ensina, ainda que, por isso, todos os envolvidos no ato devem vivenciá-los sem emoções diferenciadas do ‘amor universal’ para poder cumprir seu dever com Deus e com a comunidade espiritual.

Aliás, saiba que ninguém se emociona (sofre ou se exulta) pelo morto, mas por si mesmo. Aquele que sofre por si (“ele foi embora e agora como eu vou ficar”) frente ao ato de uma ‘morte’ e aquele que se exulta neste momento (“não prestava, não valia nada, mereceu morrer”) agem motivados por paixões individuais: o que achavam dos outros, o quanto queriam que o outro estivesse ‘vivo’ ou ‘morto’. Por isso é que afirmo que, tanto uma como outra reação, foi motivada por um individualismo, por um egoísmo.

Ficou clara nossa posição? Pergunto isso porque a abordagem desse tema (assassinato) é um elemento básico em nossas conversas...

Veja, todo mundo acredita em espírito, mas continua achando que a morte é horrível e, por isso repele o assassinato como elemento ‘não errado’ do Universo. Isso é algo que continuo achando engraçado: apesar de sempre falar para espíritas ou espiritualistas, ou seja, espíritos humanizados que acreditam na existência eterna, é só dizer que não há culpados que alguém me pergunta sobre o assassinato.

São espíritas, espiritualista, acreditam no espírito, mas ainda dão um valor imenso à vida carnal e, por isso, não aceitam que a ‘morte’ seja provocada por Deus através de instrumentos. Mas, se a vida é um dom de Deus só quem pode retirá-lo é o próprio Senhor. Isso é lógico, até mesmo para a razão humana...

Sendo assim, ninguém pode quebrar o dom de Deus. Então, seja porque forma alguém morra, não houve morte, mas foi o dom de Deus quem se encerrou. Por isso tenho sempre que lhe dizer foi o Pai que retirou o dom dele e nunca que um assassinato criado pela livre vontade de um ser humanizado que aconteceu.

Função espelho

Tirar a vida de outrem

Participante: Assassinato, suicídio são temas de difícil compreensão. O ‘Evangelho Segundo o Espiritismo’, por exemplo, deixa a impressão que alguém pode tirar a vida de outrem antes do tempo.

Em que passagem? Digo isso porque em ‘O Livro dos Espíritos’, como vimos, o texto é bem claro: Deus sabe de antemão o modo como um ser humanizado vai desencarnar.

Texto em debate, retirado de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Alan Kardec, capítulo V – Bem-Aventurado os aflitos:

28. Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?

Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até a borda do fosso, para daí o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe seja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões?

Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.

O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alam, é inapto a compreender o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderes, mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro – S. Luís. (Paris, 1860).

Veja bem, São Luís não fala em qualquer momento no texto que alguém pode morrer antes da hora, como você dá a entender na sua pergunta. Para entendermos o que ele diz, vamos repetir a pergunta do “Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim”? Como resposta a esta pergunta temos, então, a seguinte resposta: não, não é lícito poupar-se alguns instantes de vida de um moribundo.

É isto que está sendo respondido e nesta resposta não há explicitamente nenhuma afirmação de que o fim pode ser abreviado. Por isso insisto: o fim jamais será abreviado. Ou seja, quando você ‘desligar a máquina’ não abreviou fim algum: o paciente morreu na hora que tinha que morrer.

No texto que você citou, São Luís não fala em momento algum que alguém ‘sai’ antes da hora da carne. O que ele fala é que você não deve ter a intenção de abreviar o fim. Além do mais há uma informação, que, aliás, existe em muitos outros textos do evangelho, mas que é esquecida constantemente: “Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até a borda do fosso, para daí o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias diversas das que tinha”

Por esta informação de São Luís podemos entender que Deus está comandando todo o processo do desencarne. Sendo assim, o fim também só acontecerá com um comando por Deus. E, creia, Deus não vai se submeter aos caprichos humanos, ou seja, provocar o desencarne porque o homem resolveu desligar a máquina.

Aliás, Ele não se submeterá à própria máquina ou ao corpo físico que, pela visão humana que não leva em conta a Causa Primária de todas as coisas, agiriam por moto próprio causando o desencarne.

O fim acontece na hora que ele chega e pelo modo ou método que Deus conhecia e comandou. Isso quer dizer que se você desligar a máquina de alguém que está em coma não abreviou o fim: Deus comandou-o porquê chegou a hora e aquele tinha sido o gênero escolhido para o desencarne. É isso que está sendo dito nas entrelinhas desse texto.

Agora, a sua intenção de abreviar o fim e a sua imaginação de ter conseguido realizar tal ato, é outra coisa. Se você também achar que ele iria viver mais tempo se a máquina estivesse ligada, é outra coisa. Tudo isso é apenas imaginação, ou seja, construções racionais do ego que nada tem a ver com a Realidade. Como Krishna lhe diria: uma fantasia fantasmagórica.

Portanto, é isso que está sendo dito no texto: ninguém pode abreviar o fim. Por isso afirmo que o fim jamais poderá ocorrer em um momento diferente daquele que aconteceu. E, afirmo ainda, que ele chega dentro do gênero que Deus e o próprio espírito conheciam antes da própria encarnação.

Mas, porque cheguei a esta conclusão e você não? Porque apliquei ao presente texto um ensinamento anterior que está em “O Livro dos Espíritos” ao invés de analisá-lo com os conceitos humanos presentes no ego.

É preciso que nos lembremos sempre que o Pentateuco de Kardec é uma obra só e que, por isso, não pode ser contraditória. Além do mais, dentro da obra, “O Livro dos Espíritos” é anterior ao Evangelho e, por isso, os ensinamentos ali contidos devem servir de base para a interpretação dos textos restantes.

Veja bem. Quem compreende que neste texto São Luís quis afirmar que alguém pode desencarnar antes da hora, não conhece “O Livro dos Espíritos”. Basta apenas uma rápida olhada nas perguntas 01, 07 e 09, para compreendermos o que estou dizendo.

Na resposta a pergunta 01, a informação é de que Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Ou seja, a origem de tudo. Ali não se fala que Ele causa primariamente algumas coisas e outras não. Sendo assim, Ele tem que ser o causador do desencarne.

Na resposta a pergunta 07, está afirmado que as propriedades dos elementos materiais não podem causar primariamente nada, pois senão, quem seria a causa destas propriedades? Sendo assim, a ação da máquina ou dos órgãos do corpo físico não podem ser o causador primário do desencarne, mas Deus é que faz isso aparentemente acontecer.

Já na resposta a pergunta 09, assim como no comentário de Kardec nesta mesma questão, encontramos que qualquer que seja a obra de uma inteligência existe sempre uma Inteligência Maior que comanda o funcionamento da menor. Sendo assim, o dedo que desliga a máquina não pode ter sido comandado por uma inteligência menor sem que a Inteligência Maior houvesse comandado anteriormente tal ação.

Agora leia de novo este texto e, com certeza, você verá que São Luís não afirma que o fim pode chegar antes da hora, mas que você deve resguardar-se da intenção de fazê-lo. Até porque essa intenção jamais chegará a termo.

Participante: Tem razão, é uma questão de interpretação...

Perfeito. Mas, para se interpretar algo não se pode fazê-lo a partir de nossos próprios conhecimentos (verdades) sem que corramos o risco de deturpar o que foi escrito.

Quando um ser humanizado interpreta um texto sagrado sem aliá-lo a conhecimentos anteriores, comete um crime, pois quer tornar-se o autor da obra, já que ‘escreve’ um livro diferente daquele que foi editado.

Função espelho

Vivendo a função espelho

Participante: Então, o viver a vida e não acreditar em nada nem ninguém, inclusive em nossa própria mente, implica-se em interiorizar-se ao máximo e calar a mente?

Implica-se em interiorizar-se ao máximo para conhecimento da verdade que gerou determinada compreensão para o acontecimento, mas não quer dizer que você conseguirá ‘calar a mente’.

Isto porque o ego funciona por comando de Deus. É o Pai que cria o funcionamento do ego e faz isso para que o mundo interior (a compreensão dos acontecimentos da vida) do ser humanizado seja criado e , assim, ele possa ter a oportunidade da sua provação.

Então, você não pode calar a mente. Quem poderia seria Deus, mas isso ele não fará porque senão estaria desperdiçando oportunidades de elevação para Seu filho. O que você precisa fazer é libertar-se da ação da mente.

Sendo assim, ninguém conseguirá, por exemplo, fazer a mente parar de dizer que, sob determinados aspectos, ele foi ofendido. O que poderá fazer sim, é se libertar desta ‘razão’ criada pelo ego. Parafraseando Krishna o “Sábio” compreende isso e interpenetra nesta Realidade e por isso não tenta ‘mudar’ ou ‘calar’ a mente, mas aprende a conviver com ela recebendo as conclusões que formam a realidade do que está sendo vivido através da razão, sem acreditar nela.

Portanto, o que estou dizendo é diferente do que você está falando. Não é silenciar, calar, ou seja, não mais raciocinar ou ter pensamentos, pois isso acontecerá até o momento do desencarne ou até além disso: na vida errante vivida com a mesma personalidade de hoje. O que estou afirmando que precisa ser feito é estar viver-se ‘acima’ do que o ego diz que é real.

Participante: Ignorar o ego...

Exato. É uma boa palavra o ignorar.

Participante: Quando um sem terra, revoltado por não ter terra, quebra os espaços públicos, está agindo por individualismo, sendo um instrumento cármico ou as duas coisas ao mesmo tempo?

Podem acontecer as duas coisas ao mesmo tempo ou não.

Quando ele age quebrando está sendo um instrumento cármico. Agora, se quando ele participação desta ação dando asas ao seu prazer (“tenho que quebrar mesmo, tenho que me desforrar daqueles que nada fazem por mim e só pensam em roubar”), aí está sendo individualista além de ser instrumento cármico.

Eu costumo dizer que age assim é um cafetão, um gigolô: aquele que tira proveito individual do trabalho dos outros. Quem tem prazer quando Deus faz determinado ato, é gigolô do Pai. Isto porque é Ele quem ‘trabalha’ e o ser humanizado se aproveita da Sua ação para ter prazer. Este ser humanizado é aquele que quer os frutos do trabalho de Deus para si.

Respondendo, então, a sua pergunta, pode haver as duas coisas. O ato em si não é individualista, mas cármico. No entanto, a reação que cada tem ao acontecimento, ou seja, com que sentimento vivencia o ato, é que determina se houve individualismo ou não.

Participante: Quer dizer que eu posso sair por aí ‘errando’?

Se você é espelho do outro jamais ‘errará’. Se a função espelho é comandada por Deus, pode ter certeza que a Inteligência Suprema jamais ‘errará’. .

Agora, enquanto a função espelho age de uma forma Perfeita, porque é fruto da Causa Primária de todas as coisas, o seu ego lhe diz que você ou o outro estão errados. Portanto, o valor ‘errado’ não está no que você faz, mas foi uma criação do seu ego.