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Comentários de Joaquim de Aruanda sobre as emoções humanas 

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A responsabilidade de ser espiritualista

Com certeza todos aqui acreditam em reencarnação. Por isto pergunto a vocês: qual a responsabilidade que assumem por acreditar em reencarnação? Olha que pergunta difícil de ser respondida... Vocês costumam estudar, buscar o conhecimento, mas nunca pararam para pensar que responsabilidade traz o que aprendem.

Tudo que é estudado traz uma responsabilidade: a de transformar o conhecimento em ação. Isto está implícito no ensinamento da espiritualidade que afirma que a quem muito foi dado, muito será cobrado. Ou seja, para quem recebe uma informação fica implícito que, com ela, recebe uma responsabilidade (pô-la em prática) e que, futuramente, não poderá alegar desconhecimento.

Aqueles que receberam a informação sobre a reencarnação do espírito já pararam para pensar que, quando saírem da carne (desencarnarem) e alguém vier lhes cobrar os objetivos da encarnação, não poderão alegar que não sabiam que aquilo que estavam vivendo era um período de provações? Ou seja, não poderão alegar que imaginavam estar vivendo apenas uma vida carnal.

Este é um aspecto que o ser humanizado precisa se atentar. É preciso compreender que a busca do conhecimento, quer espiritual ou material traz consigo uma responsabilidade. A maioria, no entanto, não presta atenção a isto e busca o conhecimento como tesouro cultural. Depois guarda a sete chaves a sua cultura, o seu saber, para não gastar. O que ele não vê é que enterrando no fundo do mar o tesouro vira pó, ferrugem e não serve para nada. Este é o destino de qualquer tesouro guardado.

Por isso começo a conversa de hoje perguntando: o que a informação da reencarnação trouxe para você como responsabilidade? Mais: o que você pode fazer com esta informação? Como agir com esta informação? O que esta informação pode fazer para a transformação da sua vida? Alguém se arriscaria a me responder? Acho que não, porque ninguém se preocupou com isto até agora. Buscaram sempre o conhecimento, mas nunca entenderam que ele deve ser o motor de uma mudança a partir da ação com base nele.

 Todos acham lindo estudar, por exemplo, O Evangelho Segundo o Espiritismo ou a Bíblia Sagrada; muitos gostam de buscar o conhecimento espiritual em livros que abordam profundamente o desconhecido; alguns querem conhecer os mistérios dos ensinamentos do oriente (Budismo, Hinduísmo, Yoga), mas ninguém nunca pensou que o preço a ser pago por estes conhecimentos é a reforma íntima, pois este é o objetivo de todos estes ensinamentos.

Portanto, pergunto, para começar esta conversa: o que a informação existe reencarnação, eu sou um espírito encarnado lhe trouxe no sentido de reformar o seu íntimo, ou seja, de mudar a sua forma de viver esta vida?

Será por este caminho que iremos executar nossa conversa de hoje: entender, a partir do conhecimento da encarnação, o que fazer para promover a reforma íntima. Ou seja, iremos falar qual deve ser a ação daquele que um dia recebeu o ensinamento das múltiplas vidas.

Então, vamos lá. O que quer dizer um espírito encarnado?

Participante: Viver provas, expiações e missões para que se eleve.

Está certo: este é o objetivo da encarnação, mas eu estou perguntando o que é o espírito encarnado.

Participante: É um espírito vivendo novamente.

Certo novamente. O ser humano de hoje é um espírito que já foi humanizado outras vezes. A partir deste conhecimento posso afirmar que o espírito encarnado é o ser universal que já viveu outras vidas materiais.

Isto é fundamental para o que vamos falar hoje: você já teve outras vidas. Concordam com isso?

Para você, então eu pergunto: cadê as outras pessoas que você foi? Veja, hoje está em um corpo de homem e, por isso, defende a sua masculinidade. No entanto, em outras encarnações com certeza já foi uma mulher. Daí eu pergunto: cadê essa mulher em você hoje? Cadê a feminilidade que, com certeza, um dia já teve?

Participante: Ficou na espiritualidade.

Não, na espiritualidade não existe sexo, pois todos os espíritos são iguais. Sendo assim lá não há feminilidade nem machismo.

Veja a importância de se raciocinar este aspecto, que é inerente àquele que aceita a reencarnação, para a elevação espiritual. Você um dia já foi feminino – e em outras encarnações poderá voltar a ser – mas hoje, nesta vida, está encarnado em forma de homem, ou seja, sem nada de feminino. Onde ficou a sua feminilidade? E, se na próxima encarnação vier em corpo feminino, onde ficará o machismo de hoje?

Participante: Está no inconsciente do espírito.

Não. Como disse no espiritual não há divisões a partir de sexos. O inconsciente do espírito está no espiritual, portanto, ele não pode ter noções de sexo.

Participante: Acho que quando acaba uma encarnação restam-nos apenas os ensinamentos.

Certíssimo. Depois que o espírito está liberto da ação material (influência da mente) nada mais de material persiste: apenas o espiritual sobrevive ao desencarne.

Portanto, o seu sentido da vida de ontem, no campo sexual, morreu junto com o fim da encarnação. Tudo que pertenceu às suas encarnações anteriores morreu, acabou.

Quando aqui falo em encarnação, não estou me referindo apenas à última vida, mas a todo processo de encarnações desde o início do planeta. Na sua roda de encarnações, você já pode ter sido, por exemplo, um agricultor. Pergunto: onde ficou o conhecimento de agricultura que já teve? Morreu. Você pode ter sido um guerreiro. Onde ficou o patriotismo do guerreiro? Morreu. Já pode ter sido um machão: onde ficou este sentimento? Morreu.

Esta é a primeira consciência que deveria animar quem acredita em reencarnação: as reencarnações anteriores morreram. Viver com a certeza de que já foi outras pessoas e que tudo que pertenceu a elas morreu, é uma responsabilidade que o espiritualista assume quando crê na reencarnação.

Participante: Acho que quando a gente aprende alguma coisa fica marcado no nosso espírito para sempre, não?

Tudo que um espírito aprende fica marcado no perispírito, mas lá não fica nada que seja material. Deixa eu explicar a minha posição.

Se o conhecimento material ficasse marcado no perispírito, a maioria das crianças não precisaria aprender a ler, não é mesmo? Todos nasceriam sabendo ler porque aprenderam isto em outras vidas. Ou pensamos assim, ou entendemos que todos sempre foram analfabetos, pois não há uma criança que nasça sabendo ler e escrever.

Portanto, tudo que é material some e apenas o que é espiritual fica. Tudo que é conhecimento do mundo material fica restrito ao mundo material e não acompanha o espírito pela eternidade. Acaba quando cessa a encarnação.

Aliás, seria um acúmulo desnecessário arquivar-se todo conhecimento material. Para que um espírito precisa carregar pela eternidade o conhecimento da decodificação da escrita se onde ele vive não há nada para ser lido?

Participante: Isto está certo, mas o senhor falou de posturas sentimentais e não de conhecimento material. O sentimento não é do espírito?

Apesar de nos exemplos que usei não estarem envolvidas coisas materiais, mas apenas sentimentos, estes são humanos, ou seja, só servem para a vida carnal e não para a espiritual. O machismo, a defesa da luta de classe, o patriotismo, são sensações materiais. Para que um espírito carregará pela eternidade a feminilidade se no seu habitat não existem diferenças sexuais?

Esta é a primeira coisa que eu quero que vocês reflitam hoje: morreu tudo. Seja o que for que você tenha sido, sejam quais forem as sensações voltadas para a vida carnal que tenha nutrido, tudo isto morreu. Você pode ter sido romano em uma encarnação, mas no fim dela o seu nacionalismo morre. Na próxima pode nascer judeu e odiar os romanos.

Participante: Mas, nossas expiações continuam existindo, não?

Nós chegaremos a este aspecto. Antes, porém, preciso formar uma primeira consciência para podermos chegar à expiação.

Então, esta é a primeira idéia que deveria se formar a partir do conhecimento da reencarnação: os outros “eus” que fui morreram. De posse dela o ser humanizado poderia, então, entender um aspecto fundamental para a elevação espiritual: este “eu” que sou hoje vai morrer também.

Esta é uma lógica que não pode ser esquecida, sob pena de se desperdiçar a oportunidade de elevação espiritual. No entanto, pouquíssimos vivem com esta realidade.

Anteriormente perguntei se acreditavam em reencarnação e todos disseram que sim. Apesar disso, continuam achando que são a encarnação atual (tudo aquilo que compõem o ser humanizado que vivem hoje) e não o espírito.

Você não é a encarnação (personalidade escolhida para esta vida – “eu” atual), mas o espírito eterno. Viver com esta verdade lhe levaria a vivenciar a vida carnal de uma forma bem diferente da existência que leva agora.

Você é o espírito reencarnado e não a reencarnação que está vivendo. No entanto, não vive com esta consciência. Se tivesse consciência de ser o espírito encarnado acreditaria nas coisas do espírito, mas, como acredita nas coisas da matéria eu afirmo que você é o ser humano.

Diria melhor: você é o espírito, mas está ser humano e aquilo que você está é o que é. Ou seja, a sua consciência (conjuntos de verdades que formam realidades) é que determina o que é hoje no momento.

Portanto, você o espírito vive uma encarnação imaginando que é o personagem que compôs para ela (ser humano), ao invés de vivenciá-la dentro da consciência espiritual. Esta é a primeira responsabilidade que surge do conhecimento da reencarnação: viver a vida carnal sabendo que é uma reencarnação de um espírito e que tudo que pertence a esta vida acabará. Mas, no que interfere na elevação espiritual a vivência fora desta Realidade?

Quando agir a partir do ensinamento da reencarnação, você entenderá que está defendendo algo que vai morrer de qualquer jeito e que, por isso, a luta é infecunda. Hoje você defende seu nome, sua raça, sua cor de pele, suas verdades, seu visual, mas para que? Tudo isso acabará.

“Não posso deixar o outro tirar vantagem de mim: aquele cargo tem que ser meu”. “É preciso defender a minha pátria”. “Preciso provar que estou certo...” Por que precisa agir assim? Tudo isso que você tanto se apega hoje acabará com certeza não importando os seus esforços.

Colocando em prática o ensinamento da reencarnação (tudo que vivo hoje pertence a uma existência que acabará), nada disso terá mais valor significativo e, então, poderá se ocupar do que é importante realmente nesta vida: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: Então, o conhecimento da reencarnação deve nos levar a buscar a morte da mente?

Não, a buscar a sua morte.

Participante: Pois é, a morte do “eu material”.

Insisto na colocação: na sua morte. Isto porque você é a encarnação, apesar de não sê-la, pois não vive com a consciência espiritual.

Por isso Cristo ensinou: eu não vim trazer a paz, mas a espada. O ensinamento do mestre não é para que você mude os outros e com isso consiga a sua paz, mas para que se mate e alcance a paz universal (incondicional) que só o espírito pode sentir.

Esta é a grande responsabilidade de todos aqueles que acreditam em reencarnação, pois, ao desencarnarem, serão questionados sob sua crença. Com a reposta de se dizerem espiritualistas virá então a confrontação: “como, então, você viveu esta última encarnação como se fosse uma vida humana”?

Veja bem. De que adianta gabar-se de ser melhor do que os outros (mais culto) porque conhece o mistério da encarnação se você ainda continua vivendo a vida como o ser humano que se imagina ser? Se o conhecimento não faz nascer uma ação diferenciada, ele é apenas como um tesouro enterrado no fundo do mar: não serve para nada.

A partir de tudo o que disse pergunto: por que vocês não vivem esta vida dentro do sentido espiritual, já que crêem na existência do mundo espiritual e na reencarnação ao invés de vivenciá-la pelos valores humanos?

Participante: Qual a diferença?

O sentido humano da vida você conhece: nascer, crescer, estudar, progredir socialmente, formar família, educar filhos, etc.: todas as realizações que compõem a vida humana. Já o sentido espiritual foi dado pelo Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos é o seguinte: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros, missão” (pergunta 132).

Vivendo a vida carnal com o sentido espiritual, em tudo que o ser humano vivencia aquele que sabe que é espírito coloca a compreensão de que a Realidade é que está existindo uma prova, que pode ter sido gerada por uma expiação ou por uma missão. Vive deste jeito por quê? Porque sabe que é um espírito encarnado e ser isto significa que está tendo uma oportunidade de realização de provas para expiações ou missões.

Veja quanta responsabilidade gera um conhecimento...

Você aprende que é um espírito e que existe reencarnação. Conhece que reencarnar é humanizar-se (vir ao mundo carnal). Mas, apesar de tudo isso, continua vivendo a mesma vida (dando os mesmos valores às coisas) que aqueles que não conhecem a reencarnação dão. Qual a vantagem imagina que terá sobre os demais na hora do juízo apenas por saber?

Você hoje, mesmo sabendo que tudo que está vivenciando são provas, vive as suas paixões humanas e escraviza-se aos desejos que a sua mente lhe dá. Sendo assim, por que acha que é melhor que os outros, que avançou mais no sentido da busca de Deus?

Esta é a consciência que todos aqueles que acreditam em reencarnação tem que tomar: não adianta nada, no sentido da elevação espiritual, acreditar em reencarnação sem agir diferente daqueles que não crêem. Você não receberá um milímetro a mais na avaliação da sua existência carnal apenas porque conheceu a informação da reencarnação do que aquele que não acreditou. Isto porque apenas acreditar, mas não viver esta existência com as referências espirituais não leva a lugar algum.

Lembro um ensinamento de Cristo a este respeito: se você só ama quem lhe ama (vive como os outros) que vantagem leva sobre os pagãos? Até eles vivem assim... Portanto, sejam perfeitos nos seus conhecimentos, como é Perfeito o Pai de vocês que está no céu (Mateus, 5, 43 a 48).

Para ser perfeito, como disse anteriormente, é preciso compreender que você está ser humano, mas não é. Viver com esta compreensão agindo no sentido do que é na Realidade é a diferença entre aquele que apenas sabe e os que geram uma ação a partir de seu conhecimento.

Participante: Fale um pouco mais sobre esta humanização do espírito, por favor.

Quer um exemplo? Qual o seu nome?

Participante: José.

Você não é o José: está José. Você acredita na reencarnação, trabalha com espíritos, no entanto não titubeou em me responder a esta pergunta.

Quem é o José? Um conjunto de sentimentos (personalidade), que vivencia uma determinada história criada a partir de um conjunto de verdades individualizadas. Tudo isto é ilusório e irreal porque é temporário, mas apesar de saber disso, você se apega ao José a tal ponto de anular a sua própria consciência.

A partir do momento que você se conscientizar disso, a sua vida mudará. Ao invés de valorizar as paixões e os desejos do José dirá: ele que se dane, eu não vou me prender a ele. Não vou me sujeitar ao que ele quer, não vou sofrer quando ele quiser ficar triste, não vou acreditar no que ele acredita, porque tudo do José é fantasia fantasmagórica, como Krishna chamou o maya.

Agora, para que isso se torne realidade na sua existência será preciso agir a partir do conhecimento da reencarnação e afirmar para si mesmo: eu sou eu; não quero ser o José. Isto porque se você se prender a ele jamais será você mesmo.

Esta é a ação de conhecer a reencarnação. É você compreender que, não importa o nome que tenha, naquilo que acredite, do que goste, tudo isso não é seu, mas da encarnação.

Veja bem. Para elevar-se espiritualmente você precisa declarar a si mesmo que as coisas que pertencem ao José são dele e não suas. Se não separar as coisas do personagem das suas, não sobrará tempo para fazer o que veio realizar, espiritualmente falando.

Responda-me, por favor, quem está aqui agora: você ou o José? É o José e não você o espírito. Isto porque todo o conjunto de verdades e sentimentos que estão presentes agora é do personagem e não seu (espírito).

Participante: Mas o espírito não está ligado ao José?

Sim, mas ele não está nesta sala neste momento: está no universo. O espírito pode estar ligado ao José, mas não vai daí que ele precise freqüentar os mesmos lugares que o José vai. Deixe-me explicar melhor isso.

Não importa que divisão você faça das coisas do Universo, tudo que o compõe é ele mesmo. Constelações, planetas, países, cidades, bairros, casas, cômodos, tudo é Universo porque está dentro dele. O espírito tem esta consciência do macro enquanto que o ser humanizado vive no micro. Por isso digo que o José está nesta sala (micro) enquanto que o espírito está no Universo (macro), apesar dos dois estarem no mesmo lugar ao mesmo tempo.

Quando falo de lugar onde se está, não estou falando de lugar físico, mas de consciência de estar. O José é aquele que está nesta sala porque vive com a consciência de estar neste lugar. Já o espírito entende que tudo que ocorre aqui neste momento tem repercussão universal e por isso está vivendo no Universo.

Esta questão de onde estar é um exemplo que pode lhe mostrar a diferença entre ser o espírito ou o José. E é a partir da consciência de que se é uma coisa, mas está outra, que se executa o trabalho da reforma íntima. Como? Usando a inteligência.

Reforma íntima é reformar a forma de pensar. Ao invés de se vivenciar as coisas do mundo a partir das idéias do José, usar para isto aquilo que os mestres e seres espirituais ensinaram sobre as coisas do outro mundo. Para isso, nas palavras de Buda, devemos usar o raciocínio para despoluir a mente e não nos atolarmos cada vez mais na ilusão materialista.

Sidarta Gautama tem um ensinamento que fala da poluição adventícia, ou seja, da poluição que vem com o advento, com o nascimento. A poluição que cita o mestre são os valores com o qual o ser humanizado interpreta as coisas do mundo. Esta visão polui o espírito. Por quê? Porque ele é completamente diferente da Realidade que o espírito vive quando no seu habitat: o mundo espiritual. Como disse o apóstolo Paulo, o que a natureza humana quer é contrária ao que a natureza espiritual quer.

Allan Kardec, um ser humanizado que acreditava na encarnação, compreendeu isso e afirmou:

“O viajante que atravessa vale assombrado por espesso nevoeiro não logra apanha com a vista a extensão da estrada por onde vai, nem os seus pontos extremos. Chegando, porém, ao cume da montanha, abrange com o olhar o quanto percorreu do caminho e quanto lhe resta dele a percorrer. Divisa-lhe o termo, vê os obstáculos que ainda terá que transpor e combina então os meios mais seguros de atingi-lo. O espírito encarnado é qual viajante no sopé da montanha. Desenleado dos liames terrenais, sua visão tudo domina, como aquele que subiu à crista da serrania. Para o viajor, no termo de sua jornada está o repouso após a fadiga; para o espírito está a felicidade suprema, após as tribulações e as provas”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 266).

O objetivo do espírito encarnado é um (ser feliz agora) e é nesse sentido que ele vivencia todos os acontecimentos da vida carnal. Já o do espírito liberto da ação da materialização é outro (viver a felicidade pura e eterna) e para isso não mede esforços, mesmo durante a vida carnal.

A poluição que Buda falou é essa: exigir a felicidade neste mundo. E ela nasce quando você entra na encarnação (advento) e aí acha que é ao invés de compreender que está vivendo um personagem.

José é um personagem para esta encarnação, não é você. É um personagem que você criou para esta vida para fazer provas que se originam de expiações ou missões. Por isso ele quer a felicidade agora e você ao ser bombardeado por esta vontade, não deve ceder a ela. Deve manter-se firme na busca da felicidade pura e eterna.

José é um personagem que criará na ilusão da materialidade as provas, expiações e missões. Criará uma lógica perceptiva para você espírito viver provas. É a partir desta verdade que aquele que acredita em encarnação deve compreender os acontecimentos do mundo.

Se alguém bater no seu carro, foi realmente isso que ou aconteceu uma prova, expiação ou missão que você precisa responder com a busca da felicidade pura e eterna? Se acredita no espírito e na encarnação teria que optar pela segunda, mas, apesar disso, continua reclamando se alguém bate no seu carro. Por que reclama? Pelo prejuízo que o personagem terá? Ele que pague. Quem terá que pagar é o personagem e não você. Deixe ele se virar.

Isso se chama elevação espiritual: a volta à consciência espiritual. Ela acontece quando você sabe que não é o personagem que está vivendo hoje, mas que tudo o que ele vivencia são as suas provas, expiações e missões.

Por exemplo: Você é casado?

Participante: Não.

Mas pretende?

Participante: Sim.

Mas, você é um espírito e como Cristo ensinou no mundo espiritual não há casamentos. Quem irá se casar então? O personagem. O espírito se une em relações espirituais com Deus e toda universalidade, mas ele não mantém relações individualistas de posse.

Sendo assim, mesmo que o seu personagem vivencie uma cerimônia casamento você não deve sentir-se casado.

Participante: Mas, eu amo minha namorada...

Não, isto é irreal. Quem está criando toda esta ilusão de amor e carinho é o personagem para ver se você se aprisiona a isso como realidade. Se isto acontecer, a mente, então, coloca em prática as verdades que geram a posse: é minha esposa, precisa me dar atenção, precisa cuidar de mim, não pode olhar para outro homem. Se isso acontecer, você estará cada vez mais se poluindo com estas verdades.

Como disse tudo foi criado como prova para você o espírito. O que realmente Deus quer sabe é se você colocará em prática nesta relação o amor universal, que é baseado na liberdade de cada ser o que quiser, ou se apaixona pelas verdades que estão na personalidade humana.

A posse surge das verdades que estão embutidas no personagem. O marido tem direitos e deveres para com a esposa e cobra o mesmo dela. Já o espírito é livre de fato e por isso não se cobra nem a ela.

Se dois espíritos se juntam, acontece apenas a união. No entanto, se dois personagens se juntam, todo o código de padrão da vida do personagem entra em ação. E aí acontecem as cobranças a partir deste padrão. O marido não quer limpar a casa porque diz que isso é obrigação da mulher, não a deixa trabalhar fora porque o sustento é obrigação do marido. Não podem ir ao futebol porque ela não quer ficar sozinha.

Eu estou pegando exemplos padrões de uma vida humanizada apenas para compreendermos o que ser o personagem leva o espírito a fazer: discriminação. Não há mais amor universal neste casal.

É preciso lutar contra o personagem em todos os momentos. Se não lutar contra ele nas verdades embutidas em um casamento, em outro momento ele o fará viver o medo porque à sua frente está um garoto negro de calças e blusas largas, que certamente é um ladrão. Ou seja, ele cria o preconceito que fere a lei universal do amor e você, que não consegue se distinguir dele, torna-se preconceituoso.

Para dar razão aos preconceitos o personagem cria o medo e todas as demais emoções humanas que acabam com a vivência da felicidade pura e eterna. É por isso que você que acredita em espírito e encarnação precisa separar o personagem do espírito.

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O despertar

Até aqui temos falado muito na reforma íntima, na mudança interior de cada um que leva à elevação espiritual. O culminar deste processo pode ser chamado de despertar, renascer ou iluminação. O nome não importa, mas trata-se do momento onde o ser universal muda de “vida”: abandona a casca da vida material e vive, mesmo ainda dentro da matéria, a vida espiritual ou universal.

Afirmamos anteriormente que enquanto o ser quiser se elevar, não conseguirá tal intento. Quando a busca é direcionada pelo desejo individual o que se alcança é a realização de um “querer”, ou seja, uma individualização, pois enquanto o ser realiza apenas o que quer não consegue alcançar a universalidade, mas prende-se aos desejos individuais.

Para melhor transmitir este ensinamento também afirmamos: ninguém consegue a elevação espiritual, mas recebe de Deus a consciência da vida espiritual. A elevação espiritual não é o resultado de um “estudo profundo” (ciência), mas sim de um trabalho profícuo para Deus. Quando o ser universal encarnado ou não trabalha para Deus (O ama acima de todas as coisas) recebe do Pai essa consciência.

Se o pensamento é dado por Deus será Ele que dará o pensamento e a consciência de que aconteceu a elevação. Ela não pode ser oriunda de um raciocínio lógico, uma declaração individual de que o indivíduo conseguiu reformar-se.

A declaração da consciência do fim do processo de reforma íntima (despertar) não pode surgir de uma auto-análise das ações individuais, pois isto seria fruto de um julgamento individual. É preciso que Aquele que a tudo sabe e vê e possui a capacidade suprema de analisar as intenções dos atos espirituais decrete o resultado da busca, para que ela seja considerada realmente alcançada.

A análise individual, com valores presos ainda à dualidade, não alcança a visão “correta”, pois ainda prende-se a conceitos individuais. Quando um ser analisa os seus próprios atos dentro da sua própria lógica e declara para si mesmo que “chegou” ao reino do céu na verdade chegou ainda apenas à satisfação ou prazer. O resultado desta análise ainda é individualismo em ação.

A iluminação ou despertar, não é um raciocínio lógico, mas um sentimento. Ela ocorre quando o ser sente Deus dentro de si. É muito mais do que “eu acho” ou “eu sei” (padrões lógicos), mas um sentimento e este é Deus que dá a cada um de acordo com as suas obras e não o ser que “compreende” que chegou lá.

A diferença entre “achar” que chegou e realmente chegar é que a primeira é racional, fruto de um raciocínio, de uma análise, enquanto que a segunda derrama-se sobre o ser universal como uma “sensação”. Não há lógica, apenas sensação, sentimentos.

O ser que desperta não possui a consciência lógica deste despertar, mas “sente” alguma coisa diferente dentro de si mesmo. É alguma coisa incompreensível pela lógica humana, pois o ser aprisionado na auto-visão humana ainda não conhece esse sentimento do contato íntimo com a divindade.

Por isso é que a elevação espiritual não é conquistada, mas recebida. Ela chegará para cada um no momento que Deus der, não através de um raciocínio lógico, mas de um sentimento interno. Quando houver a consciência interna de algo que até então não era conhecido sentimentalmente, aconteceu o despertar.

Quando isto acontecer é a hora de manter o deslumbramento. Para isto o deslumbramento não pode ser compreendido logicamente, mas apenas sentido. Muitos seres que estão buscando a elevação já entraram em contato com este sentimento, mas tentaram compreende-lo e se perderam dentro de suas lógicas individuais.

O amor de Deus (o sentimento que confirma a elevação espiritual) não pode ser compreendido dentro da lógica racional, mas deve ser sentido pelo “coração”. Quando este momento chega, o ser deve entregar-se profundamente àquele “estado de espírito” e não tentar entende-lo logicamente.

A humanidade (seres em busca da elevação) não sabe o que é despertar, chegar a esta elevação. Todas as religiões ensinam que se deve fazer a reforma íntima, mas elas não explicam qual a atual posição do ser, o que é reformar-se e muito menos o que acontecerá quando conseguir realiza-la.

Por isto, todos estes fatores ficam à mercê da “imaginação” humana. Como ela é formada por “formas” conhecidas no planeta que se submetem às verdades de cada um, os seres imaginam ao seu bel prazer. O que se alcança no despertar, entretanto, é espiritual, bem como todo o processo de elevação. Por isto o espírito encarnado não consegue compreender o processo e a resultante dele. Quanto mais busca “entender” racionalmente a elevação espiritual, mais ele se aprofunda no materialismo.

Não há alteração na vida material com a elevação espiritual, mas apenas mudanças espirituais. O ser despertado permanecerá na “carne”, vivenciando todos os fatos atuais da sociedade, mas a sua forma de “senti-los” se alterará.

Uma pessoa, por exemplo, que não goste de cigarro, mesmo quando despertar para a vida eterna poderá continuar não gostando de cigarro. Não há “mágicas” neste processo. Ela continuará vivendo em um mundo onde há cigarros, onde se fuma, mas, diferentemente de hoje, não mais sofrerá porque outros fumam, perto ou longe dela.

Hoje, além de não gostar, existe o sofrimento porque algumas pessoas fumam. Deste sofrimento nasce a acusação de que são “suicidas” inconscientes, que ferem o meio ambiente e todas as outras acusações que são alvo os fumantes. Estas se extinguem com o despertar.

O ser desperto, que promoveu a sua reforma íntima, não acusa ninguém de nada. Utilizando-se apenas do amor universal de Deus que agora “mora” dentro dele e livre do seu “querer” e “gostar” individual, dá a cada um o direito de fazer aquilo que quer. Não por motivos lógicos, mas simplesmente por amar ao próximo como a si mesmo.

Eliminada a acusação, eliminado o dualismo (bem e mal, certo e errado), o ser pode conviver pacífica e harmoniosamente como o todo: este é um ser elevado. Ele não compreende logicamente porque alguns fumam e outros não, mas ama a todos indistintamente (fumantes ou não), sem acusações.

Essa é a manutenção de Deus dentro de cada um. O ser elevado continua não gostando, não querendo fumar, mas coloca o “amor” em prática e dá a cada um o direito de fumar, se assim desejar. Esta forma de proceder o exime apenas do sofrimento e não do achar em si mesmo. Pode, inclusive, leva-lo a alertar o próximo sobre os malefícios que ele crê que advirão do fumar, mas acabará com a obrigatoriedade de que o próximo acate seus argumentos.

Quando se entra em contato com o ensinamento dos mestres orientais (Krishna, Buda e Lao-Tzu) que ensinam a combater o conceito, o ser humano busca elimina-los pelo raciocínio. Luta para manter a sua “santidade” combatendo a sua aversão ao fumo, mas desta forma, apenas cria mais um conceito, uma verdade: a de que ele próprio está errado.

Esta forma de viver, mesmo que se consiga combater o desejo individual de que todos parem de fumar, não leva à elevação, mas trata-se apenas de um novo conceito formado. Viver sem conceito é não fumar porque não quer, mas dar o direito a cada um de fumar o quanto quiser.

A reforma íntima, portanto, não é lutar contra o “não gostar”, mas sim eliminar o sofrimento que é alcançado porque não se gosta de algo. Só assim o ensinamento máximo de Jesus Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo) será colocado em prática e, com isso, o despertar será alcançado.

Isto é alcançado através de um processo, de uma busca, que culmina no despertar, ou seja, na consciência que põe fim ao sofrimento pelos acontecimentos do mundo. O momento que isto ocorre, no entanto, não pode ser mensurado pelo ser humano, mas apenas o Pai, que acompanha de perto (onisciente e onipresente) o processo de cada um pode determinar o momento certo de cada um.

Aquele que declara estar perto ou longe do despertar, na verdade, ainda está muito perdido na sua busca. Aquele que busca a elevação espiritual não deve se importar com este fato, ou seja, buscar ver no horizonte o ponto de chegada, mas apenas caminhar, entregando-se a Deus e esperando que Ele, na Sua sublime compaixão que possui por Seus filhos, lhe dê a consciência amorosa.

Este momento chegará sem prévio aviso, sem sinais anteriores. Em um segundo o espírito nada sentirá e no próximo sentir-se-á banhado pelo “amor de Deus”. O despertar acontece em um segundo, sem avisos anteriores, sem preparação específica alguma e, muitas, vezes, sem um determinado motivo aparente que a justifique. Ele não ocorrerá por um motivo específico, mas será fruto de toda uma caminhada.

Verifiquemos o despertar daqueles que hoje são santificados e veremos se não é isto que ocorre.

Sidarta Guautama era um príncipe. Possuía dois castelos onde era isolado do mundo por seu pai para não ter conhecimento da realidade do mundo (sofrer) e assim viveu durante muitos anos. Um determinado dia uma consciência se abateu sobre ele ao ver um homem morto, um sofredor e um doente e a partir daí foi buscar respostas para a existência humana.

Não foi neste momento que ele despertou, mas foram precisos longos anos de busca para que um dia este despertar acontecesse sem se ser previamente anunciado. Ao buscar o ensinamento védico ele descobriu que o sacrifício e o isolamento das coisas materiais era o caminho e foi pratica-la, mas ainda não desperto.

Apenas em um dia, quando quase morto de fome por um jejum longo e insípido, que ouviu um pai conversando com seu filho. Ele dizia: “Quando você afinar as cordas de um instrumento, meu filho, não as deixe nem frouxa demais para que o som não saia fora de tom, nem as deixe muito apertadas, porque podem se romper”. Foi neste momento que Sidarta descobriu o “Caminho do Meio”.

Levantou-se, alimentou-se e meditou (entrou em contato com Deus) por mais quarenta dias e quarenta noites e recebeu do Pai toda a compreensão que o despertou. Todo este processo, como dissemos, levou longos anos e não aconteceu como mágica no primeiro instante que Sidarta decidiu buscar o despertar.

A mesma coisa aconteceu com todos aqueles que alcançaram a iluminação. Nunca houve mágica, mas um processo de busca que resultou em um determinado segundo no alcançar, no despertar. Alguns, já de posse da nova consciência, foram avaliar sua vida antes disso, como São Agostinho no seu livro “Confissões”, mas sem auto-acusações, apenas constatando que foi um caminho para a chegada ao clímax.

Todos os “santos”, até que receberam de Deus a consciência espiritual, tiveram uma vida não exemplar para os padrões que costuma se colocar para os pretendentes à elevação espiritual. Viveram como seres humanos, gozando os prazeres materiais, até que decidiram buscar outra vida. A partir daí nasceu uma caminhada que culmina em um momento específico quando houve o despertar.

Este ensinamento nos leva a refletir que para se realizar a elevação espiritual é preciso caminhar em direção a Deus, mas esperar o momento chegar sem desejos, inclusive o de alcança-lo. Este é o ensinamento máximo que pode levar o ser a reformar-se, a despertar, alcançar a iluminação ou a elevação espiritual, a bem-aventurança.

É preciso caminhar para chegar sem querer pegar atalhos que encurtem o caminho, que o momento fatalmente chegará, pois Deus não desampara ninguém. Todos que estiverem realmente buscando a Deus O encontrará. Agora, quem está buscando a sua própria satisfação, a realização dos seus desejos, só isto encontrará.

“Eu achei Deus. Olha que maravilhoso, estou me sentindo muito bem”. Esta é uma declaração de quem encontra a sua própria satisfação e não Deus, pois quem encontra o Pai não fala: apenas sente.

Como nos ensina Lao-Tzu, quem encontra Deus faz o “bem” naturalmente, sem consciência disto. A prática amorosa passa a fazer parte da “vida” do desperto de uma forma natural, ele se doa sem a consciência da doação. Ela não nasce de um desejo individual nem de uma “obrigação” religiosa para alcançar a iluminação.

Este é o estado do desperto, daquele que encontrou a Deus. Encontra-Lo é praticar a ação amorosa sem espera de recompensa alguma, inclusive o prazer: isto é ação sem intencionalidade. Esta é a vida daquele que alcançou a elevação espiritual, esta é a felicidade suprema que um ser pode achar. A felicidade de dar, de doar, de servir ao próximo.

Isto começa em um segundo e não aos poucos. A não espera de recompensas, sejam externas ou internas, pela prática do ato não vai sendo alcançada paulatinamente, mas acontece de um segundo para outro. Enquanto estiver no caminho, ainda esperará recompensas, nem que seja a própria elevação por parte de Deus.

Quando a intencionalidade é alcançada, nasce a luta para a manutenção deste estado de espírito. Não se trata ainda da vitória, mas da glória de Deus coroando uma caminhada. É preciso manter acesa aquela chama que agora passa a existir dentro de cada um.

O problema é que muita gente se entrega neste momento à indolência. Acredita que já chegou, que já descobriu o caminho e esquece-se de amar, ou seja, manter o amor de Deus dentro de si. Na verdade, este ser apodera-se de Deus, aprisionando-O somente para si.

Não existe caminho específico para Deus, pois o Pai é o próprio caminho para Ele. Aquele que pensar que descobriu o caminho para Deus, esquecendo-se de manter acesa a chama do amor dentro de si mesmo, encontrou apenas a si mesmo, a sua consciência material.

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Renascimento

Cristo ensinou: em verdade vos digo, quem não nascer de novo não verá o reino do céu. Como reino do céu entendo uma consciência espiritual, uma vivência dentro da Realidade do Universo que por nós só pode ser entendida como algo diferente dos mayas que hoje vivemos e não por qualquer valor que possamos compreender.

 Baseado neste ensinamento muita gente busca o "nascer de novo" como o caminho para a elevação espiritual, mas, poucos conseguem. Por que? Por dois fatores.

 O primeiro é a busca da elevação através do processo reencarnatório. Alguns acreditam que a elevação espiritual se dá por sucessivas encarnações. Ledo engano. A reencarnação não é uma necessidade imperiosa para a elevação espiritual, mas um instrumento criado por Deus através do Seu Amor Sublime à disposição daqueles que não conseguem realizar a elevação espiritual em uma "vida".

 No ensinamento de Cristo ele não fala apenas em nascer de novo, mas em renascer do espírito. Ora, se creditamos a nossa elevação espiritual a um novo nascimento carnal não estaremos renascendo do espírito, mas do humano. Reencarnando constantemente jamais chegaremos ao reino do céu, pois a premissa básica do renascimento do espírito não existe.

 Para que renascêssemos do espírito seria necessário que estivéssemos humanos para então renascer espíritos. Isso só pode acontecer durante a encarnação e não com novos nascimentos materiais. Assim sendo, o renascimento tem que ser feito em "vida" e não com sucessivos nascimentos.

 O segundo aspecto referente a este conhecimento é básico: tudo que nasce, morre, para, só então, renascer. Este é o ciclo fundamental da vida. A folha da árvore nasce e morre e depois renasce como adubo.

 Aí está um dos motivos porque poucos conseguem: ninguém quer morrer primeiro para renascer depois. Preferem manter-se "vivos" (com os mesmos valores que vivem hoje ditados pela personalidade humana) do que arriscarem-se a atirarem-se no desconhecido, naquilo que não há referencial no ego.

 Devemos compreender que antes de renascermos do espírito será preciso que "morramos" como o que somos agora. Se o renascimento citado pelo Mestre é pelo espírito, dentro do ciclo de impermanência das coisas, a morte é a do humano que estamos agora.

 Aí está o ciclo chamado de elevação espiritual: o espírito que nasce como humano com a missão de renascer como ser universal, mas para isso precisa provocar a morte do ser humano.

 Não estou falando de "morte" como algo físico, mas como "eliminação de uma consciência". A consciência humana que hoje encobre a nossa consciência espiritual precisa ser "eliminada" para que o espírito que somos possa renascer. Por isto Cristo fala mais no seu ensinamento: renascer do espírito e da água.

 A água é o elemento purificador, aquele que elimina as "sujeiras". O processo de "morte" da consciência humana com a qual hoje vivemos é a purificação que elimina os conceitos enraizados que são as "sujeiras" com a qual o ser universal vive enquanto está humano. Aliás, bem a propósito Buda chama o fruto da ação humanística do espírito de "poluição adventícia".

 Portanto, como Cristo também propõe, cuidemos do nosso interior assim como cuidamos do exterior. Deixemos que a "água" (o amor e a fé em Deus) purifique nosso interior para que possamos renascer em espírito.

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Ninguém domina o mundo

Para começarmos o tema de hoje gostaria de fazer as seguintes perguntas: para que você vive? Qual a sua motivação para fazer as coisas? Por que você trabalha, namora, compra coisas, casa, tem filhos? Qual a motivação do ser humano ao praticar atos?

A resposta é buscar a felicidade. O ser humano trabalha para ganhar dinheiro, mas no fundo o motivo não é esse. Busca o dinheiro para poder passear, se divertir, comprar objetos de consumo, mas pratica todos esses atos buscando alcançar a felicidade. O ser humano namora para casar, mas realmente busca a felicidade através do casamento.

Dessa forma podemos afirmar que a vida do ser humano, o motivo básico de viver, o que ele coloca como base para tudo que faz é a felicidade. Ele está sempre buscando a felicidade desde o momento que nasce até o desencarne.

A partir dessa constatação podemos perguntar: se isso é a motivação da vida de toda humanidade, porque ninguém consegue alcança-la? Deixemos bem claro que a felicidade que estamos falando é um estado de espírito feliz pleno.

Os seres humanos confundem o prazer (momentos de satisfação) com a felicidade. Muitos afirmam que possuem a felicidade, mas esses não escapam dos momentos de sofrimento. Quando estes chegam, acabou a felicidade e se isso ocorreu, ela nunca existiu.

A felicidade que estamos falando não cessa: ela é permanente. Quando em algum momento um ser humano atinge um êxtase positivo que vem a cessar posteriormente, não pode se afirmar que houve uma felicidade, mas uma satisfação, um prazer.

Apesar de se contentar com os “momentos de felicidade”, não é isso que o ser humano busca durante a existência. O que procura realmente é a felicidade plena, é ser feliz vinte e quatro horas por dia. É essa a motivação da vida de qualquer ser encarnado.

Compreendido que ninguém alcança a felicidade que estamos falando e constatada a veracidade de que todos objetivam isso sem jamais alcançar, repito a pergunta: se o ser humano vive para alcançar a felicidade plena, porque não consegue?

Creio que esse deveria ser um assunto para debate intenso e constante entre os seres humanos por se tratar do objetivo da vida de todos. É um tema importante, pois desde o momento que nasce até a morte, todas as ações do ser humano são objetivando alcançar esse estado onde a infelicidade não penetre e mesmo assim não consegue ser feliz o tempo inteiro.

É isso que eu quero perguntar hoje, é isso que eu quero conversar hoje.

O ser humano não encontra a felicidade plena porque a procura no “lugar” onde ela não está. Ele busca a felicidade externamente a si, fora de si. Ele busca a felicidade no universo, no planeta, nas coisas, nos momentos. Precisa que o momento, o acontecimento, as pessoas, dêem felicidade a ele para ser feliz.

É por isso que não consegue acha-la. A felicidade não é uma coisa que venha de fora para dentro. Ela não é externa ao ser humano, mas é alguma coisa intrínseca, de dentro dele. Não consegue essa felicidade porque a busca fora dele.

Buscar fora de si é precisar mudar o universo, alterar as coisas (objetos, pessoas e acontecimentos) para que elas concordem com as suas verdades para que ele possa ser feliz. O ser humano passa pela vida buscando mudar o mundo para ser feliz. Lamento dizer, mas jamais será conseguida uma felicidade dessa forma.

Por que? Primeiro porque ninguém pode mudar o universo.

Para que você seja feliz de verdade é necessário que descubra, primeiramente, que está buscando a felicidade externamente, ou seja, precisando que as coisas se alterem para que seja feliz. A partir dessa constatação existe a necessidade da declaração de incompetência para mudar as coisas do universo.

Enquanto você não declarar a sua incompetência de mudar as coisas, continuará agindo externamente a você para buscar a felicidade. Como todo ser humano passará pela vida objetivando ser feliz, mas apenas conseguindo momentos de satisfação.

Acho que essa incompetência já deveria ter sido constatada pelos seres humanos há muito tempo, mas eles insistem em querer se sentir auto-suficiente. Há milhares de anos os seres humanos estão tentando mudar o mundo para ser feliz e não conseguem. Vivem no sofrimento, lamentando, sofrendo, com medo do sofrimento, mas não abrem mão da suposta competência de alterar os acontecimentos da vida.

Dessa forma, para ser feliz, a primeira providência é “cair na realidade”: “eu não posso alterar o que está acontecendo”; “jamais conseguirei alterar o que está acontecendo”. Esta declaração é o início do caminho para a conquista da felicidade plena.

Declarar-se incompetente é compreender que se está passando por um momento que não gosta (faz sofrer) e declarar para si mesmo: “eu não posso alterar o que está acontecendo”; “eu não posso deixar de passar pelo que eu estou passando”. A situação que provocou o sofrimento do ser humano é real, está acontecendo. Afirmar que poderia estar passando por outra situação é negar a realidade, o que está realmente se passando.

Não se pode alterar o objeto ou pessoa que está participando desse acontecimento. O ser humano não tem capacidade de alterar os outros. Muitos passam a vida inteira tentando transformar os outros sem nenhum resultado. Sofrem por toda a vida com os instrumentos dos acontecimentos que trazem sofrimento para depois ter que declarar que “pau que nasce torto, morre torto”.

A primeira declaração que pode levar o ser a permanecer feliz quando o sofrimento surgir é: o que está acontecendo é real e não posso altera-lo, muito menos quem está servindo de agente para ação. Essa declaração leva o ser humano a descobrir que ele não tem o pretenso poder de alterar as coisas para ser feliz.

Sei que, apesar dessas palavras virem de um ser desencarnado e de toda lógica que elas contêm face à constatação de que todos os seres humanos só possuem momentos de felicidade, muitos ainda dirão que são capazes de alterar as coisas do mundo. A esses eu pergunto: por que não conseguem a felicidade plena?

Se você leva sua vida integralmente buscando ser feliz alterando as coisas e imagina-se capaz de alterar os acontecimentos para que tudo esteja de acordo com o seu querer, por que não é feliz constantemente? Basta você exercer o seu poder alterando todas as coisas e permanecerá eternamente feliz, sem receber a visita da infelicidade.

Os seres humanos não gostam da idéia de que são impotentes frente ao universo. Imaginam que quem crê é comodista, preguiçoso, mas precisam chegar a essa constatação para ser feliz. Vejamos um exemplo. Um ser humano vai viajar e, cuidadoso, revê todos os itens de segurança do seu carro: isso lhe garantirá não acontecer acidentes na viagem?

Tomar todas as precauções para viajar é a ação que o ser humano pode executar; declarar que por isso estará livre de acidentes é querer dominar a viagem. Abrir mão do falso poder não é comodismo ou omissão, mas fazer a sua parte.

O ser humano deve fazer o que lhe compete (a manutenção do carro), mas daí esperar que não ocorram acidentes já não é mais competência dele. Nesse texto veremos qual a verdadeira ação do ser humano para ser feliz, pois ele precisa agir para ser feliz. A omissão não leva à felicidade; fazer apenas a ação que lhe compete pode.

Fazer a sua parte (a manutenção do carro), mas por isso imaginar que a viagem será feita sem problemas, traz sofrimento. Fazer a sua parte e não programar como deve ser a viagem, lhe trará felicidade, não importando se acontecer ou não acidente.

Esse é o primeiro detalhe para ser feliz: declarar sua incompetência para alterar as coisas. Primeiro porque as coisas estão perfeitas, aconteça o que acontecer. Segundo, porque você não pode ser o único beneficiário constante dos acontecimentos.

Quem lhe dá esse direito? Quem disse que todas as coisas do universo têm que mudar para o que você acha certo? Para você ser feliz mudando o mundo, alguém vai ser infeliz, pois não gosta das coisas da forma que você gosta, não quer da mesma forma que você.

Quem lhe dá o direito de sempre ser o beneficiário? Quem lhe afirmou que o seu padrão de “certo” tem que prevalecer sobre os outros? Por que as coisas têm sempre que acontecer de tal forma que lhe traga felicidade, pouco importando se trará infelicidade para o próximo?

É isso que o ser humano deveria estar debatendo, pois o resultado desse debate seria a realização de toda a busca de uma vida: a felicidade plena. É preciso concluir que o imaginário poder de alterar as coisas não existe, pois senão a felicidade plena já teria surgido. Se ela ainda não surgiu, é prova concreta que você não domina nada no mundo.

Raciocinando sobre a realidade, o ser humano constataria que o mundo lhe domina, ou seja, quando os acontecimentos ocorrem de acordo com os desejos dele a satisfação chega, mas quando não, sofre. A felicidade do homem prepotente depende do mundo, que faz as coisas acontecerem de tal forma, e não dele mesmo.

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O bem a ser buscado

Não amealhe bens na Terra, mas sim no céu”.

Quando ensinou desta forma, Cristo deixou um objetivo para a encarnação do espírito: amealhar bens celestes. Este, portanto, deve ser um dos fundamentos da “vida” de qualquer espírito humanizado. Mas, o que será o bem celeste?

Cristo o chamou de “bem-aventurança”; Sidarta Gautama (Buda) de “nirvana”; o anjo Gabriel o comparou a Maomé como o mesmo que se sente quando se encontram à disposição os prazeres mais procurados.

Nós preferimos chamá-lo de “felicidade universal”, mas o nome não importa. Rotular coisas materiais e acreditar nelas apenas quando o nome for igual é uma atividade intelectual e a vida espiritual não possui esta característica.

Como Cristo nos ensinou, o problema não é o que entra pela boca, mas sim o que sai do coração. Crer no bem celeste somente quando rotulado de determinado nome é intelectualizá-lo e o resultado de uma ação lógica humana é sempre “verdade relativa”.

O bem celeste é um sentimento, ou melhor, um estado onde o espírito sente determinados sentimentos (estado de espírito). Não importa o nome que se dê a este sentimento (amor, deslumbre, graça, etc.) ou a este estado de espírito: o importante é o que o ser sente neste momento.

Chamamos este estado de espírito de felicidade universal porque ele se assemelha muito ao que hoje é conhecido pelo ser humano como felicidade. Tanto assim que, mesmo inconscientemente, o ser quando está alegre afirma que está no céu, no paraíso ou “local” espiritual onde se vive feliz. No entanto, dissemos “assemelha” porque a felicidade hoje conhecida no planeta ainda é alguma coisa material.

Para que o ser humanizado possa sentir-se feliz é necessário que determinadas circunstâncias (o que ele gosta ou quer) sejam atendidas. Se isto não acontecer ocorre a infelicidade ou sofrimento.

Esta felicidade depende de fatores materiais (objetos, pessoas e acontecimentos) e por isso se caracteriza como felicidade material (bem terrestre) e não no bem celeste. À felicidade material damos também o nome de prazer ou satisfação.

A felicidade universal ocorre apenas por fatores espirituais e não por fatores materiais. É um estado de espírito onde o simples fato de estar “vivo” (no sentido espiritual – ter a chance de elevar-se) já é motivo suficiente para se ser feliz. Ela não depende de fatores materiais para ser alcançada, mas apenas de fatores espirituais.

Por isto podemos dizer que a felicidade humana (material) é condicional e o bem celeste (felicidade universal) é incondicional. Não importa o que acontecer na existência carnal, que valor ele der ao acontecimento (“bom” ou “mal”, “certo” ou “errado”), o ser universal que alcança o bem celeste permanece inalterado em seu estado de espírito.

Isto porque a felicidade universal é formada por três fatores: o amor a Deus, a harmonia com o todo e a paz.

Deus é a sublimação expoente do Amor; é o próprio Amor personificado. Por isto tudo o que Ele faz é amar. Não importa o que esteja “fazendo” (gerando através da Causa Primária) a sua atitude será sempre amorosa. Sentir-se amado por Deus, leva o espírito a alcançar o bem celeste, a felicidade universal.

Se Deus é por nós quem pode ser contra nós? Quando o ser universal sentir-se amado em todos os momentos pelo seu Pai, não necessitará mais buscar a satisfação individual: basta deleitar-se no Amor que vem de Deus.

Todas as situações de sua vida serão fruto do amor divino e não mais ataques ou acusações de outros seres humanos. Sem sentir-se atacado ou ferido, o ser humano pode preservar o seu estado de espírito feliz.

Sem ver no próximo um possível agressor, conseguirá então, harmonizar-se perfeitamente com todos. Esta harmonia gera a felicidade universal. Não existem mais motivos nem agentes de infelicidade, pois o espírito está com Deus em seu coração.

Aí ocorre a paz, ou seja, o desarmamento, a deposição das armas. Hoje o ser está sempre armado porque não sabe se o próximo está querendo feri-lo (acabar com a sua felicidade). Por isto relaciona-se se amando mais do que ao outro, o que causa o desequilíbrio que acaba com a harmonia.

Na prática, o bem celestial ensinado por todos os mestres é o próprio Amor de Deus. Alcançar este estado de espírito é o objetivo máximo da vida de todo ser humanizado e deve ser o resultado que a ser alcançado com a reforma íntima que todos deveriam aproveitar a encarnação para praticar.

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O bem a ser buscado

Não amealhe bens na Terra, mas sim no céu”.

Quando ensinou desta forma, Cristo deixou um objetivo para a encarnação do espírito: amealhar bens celestes. Este, portanto, deve ser um dos fundamentos da “vida” de qualquer espírito humanizado. Mas, o que será o bem celeste?

Cristo o chamou de “bem-aventurança”; Sidarta Gautama (Buda) de “nirvana”; o anjo Gabriel o comparou a Maomé como o mesmo que se sente quando se encontram à disposição os prazeres mais procurados.

Nós preferimos chamá-lo de “felicidade universal”, mas o nome não importa. Rotular coisas materiais e acreditar nelas apenas quando o nome for igual é uma atividade intelectual e a vida espiritual não possui esta característica.

Como Cristo nos ensinou, o problema não é o que entra pela boca, mas sim o que sai do coração. Crer no bem celeste somente quando rotulado de determinado nome é intelectualizá-lo e o resultado de uma ação lógica humana é sempre “verdade relativa”.

O bem celeste é um sentimento, ou melhor, um estado onde o espírito sente determinados sentimentos (estado de espírito). Não importa o nome que se dê a este sentimento (amor, deslumbre, graça, etc.) ou a este estado de espírito: o importante é o que o ser sente neste momento.

Chamamos este estado de espírito de felicidade universal porque ele se assemelha muito ao que hoje é conhecido pelo ser humano como felicidade. Tanto assim que, mesmo inconscientemente, o ser quando está alegre afirma que está no céu, no paraíso ou “local” espiritual onde se vive feliz. No entanto, dissemos “assemelha” porque a felicidade hoje conhecida no planeta ainda é alguma coisa material.

Para que o ser humanizado possa sentir-se feliz é necessário que determinadas circunstâncias (o que ele gosta ou quer) sejam atendidas. Se isto não acontecer ocorre a infelicidade ou sofrimento.

Esta felicidade depende de fatores materiais (objetos, pessoas e acontecimentos) e por isso se caracteriza como felicidade material (bem terrestre) e não no bem celeste. À felicidade material damos também o nome de prazer ou satisfação.

A felicidade universal ocorre apenas por fatores espirituais e não por fatores materiais. É um estado de espírito onde o simples fato de estar “vivo” (no sentido espiritual – ter a chance de elevar-se) já é motivo suficiente para se ser feliz. Ela não depende de fatores materiais para ser alcançada, mas apenas de fatores espirituais.

Por isto podemos dizer que a felicidade humana (material) é condicional e o bem celeste (felicidade universal) é incondicional. Não importa o que acontecer na existência carnal, que valor ele der ao acontecimento (“bom” ou “mal”, “certo” ou “errado”), o ser universal que alcança o bem celeste permanece inalterado em seu estado de espírito.

Isto porque a felicidade universal é formada por três fatores: o amor a Deus, a harmonia com o todo e a paz.

Deus é a sublimação expoente do Amor; é o próprio Amor personificado. Por isto tudo o que Ele faz é amar. Não importa o que esteja “fazendo” (gerando através da Causa Primária) a sua atitude será sempre amorosa. Sentir-se amado por Deus, leva o espírito a alcançar o bem celeste, a felicidade universal.

Se Deus é por nós quem pode ser contra nós? Quando o ser universal sentir-se amado em todos os momentos pelo seu Pai, não necessitará mais buscar a satisfação individual: basta deleitar-se no Amor que vem de Deus.

Todas as situações de sua vida serão fruto do amor divino e não mais ataques ou acusações de outros seres humanos. Sem sentir-se atacado ou ferido, o ser humano pode preservar o seu estado de espírito feliz.

Sem ver no próximo um possível agressor, conseguirá então, harmonizar-se perfeitamente com todos. Esta harmonia gera a felicidade universal. Não existem mais motivos nem agentes de infelicidade, pois o espírito está com Deus em seu coração.

Aí ocorre a paz, ou seja, o desarmamento, a deposição das armas. Hoje o ser está sempre armado porque não sabe se o próximo está querendo feri-lo (acabar com a sua felicidade). Por isto relaciona-se se amando mais do que ao outro, o que causa o desequilíbrio que acaba com a harmonia.

Na prática, o bem celestial ensinado por todos os mestres é o próprio Amor de Deus. Alcançar este estado de espírito é o objetivo máximo da vida de todo ser humanizado e deve ser o resultado que a ser alcançado com a reforma íntima que todos deveriam aproveitar a encarnação para praticar.

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Felicidade e prazer

Esta nossa conversa marca o início da última fase do Espiritualismo Ecumênico Universal, em sua primeira etapa: a transmissão dos ensinamentos.

Como crianças saídas da pré-escola, ao seu tempo, cada um chegou até aqui trazidos por Deus, para começar a aprender a ler as letras que Deus escreve na história do universo. Ensinar esse bê-á-bá da escrita de Deus foi uma missão honrosa para esse velho que está falando. Juntos descobrimos as verdades do universo. As verdades que nós hoje podemos compreender e saber e que nos pode levar a elevação espiritual.

Partindo da mudança da auto-visão, com a descoberta de que não existe o ser humano, mas sim um espírito que vive em uma carne e que pode entrar no gozo de todas as suas propriedades espirituais, alcançando a suprema graça de viver no mundo de Deus.

A partir dessa descoberta um mundo novo se abriu. Assim como a criança que antes só via desenhos no lugar de letras e agora consegue juntá-las para dar nome aos desenhos, nós fomos caminhando nessa seara da sabedoria de Deus.

Compreendemos a nossa encarnação, compreendemos os acontecimentos do dia a dia, a vida como se fala. Descobrimos que nós vivemos em um mundo de irreal, em uma fantasia que nós criamos para nós mesmos e que nos prendemos a essa fantasia como se fosse uma verdade, uma verdade absoluta. Só o que acreditamos pode ser o certo, o perfeito no universo.

Com a descoberta das primeiras letras, vimos que o universo tem uma verdade muito maior do que essa que nós sempre pensamos que fosse verdadeira. Vimos o conceito, aquilo que nós dissemos que é verdade e descobrimos que eles dependem dos nossos sentimentos.

Foi para mudar isso que fomos percorrer o caminho que o Buda percorreu, estudando as verdades e o Nobre Caminho Óctuplo que é capaz de nos levar a bem-aventurança, ou seja, a verdadeira felicidade que o Cristo nos ensinou.

Hoje, nessa conversa, gostaria de falar um pouco dessa bem-aventurança, dessa felicidade suprema, dessa felicidade irretocável. A verdadeira felicidade que provêm não da satisfação pessoal, mas que é alcançada simplesmente por viver no mundo de Deus.

Esse estado de espírito é algo que o ser humano não consegue sequer imaginar. Não consegue saber o que é viver nessa felicidade porque nunca procurou isso. A briga da vida sempre foi na busca das quatro âncoras que estudamos.

A vontade de ganhar sempre estando com a razão. Sempre fazer com que as coisas saiam da forma que o ser humano quer. Essa busca da fama, do elogio fácil, da satisfação sempre leva ao sofrimento.

O prazer é uma armadilha na vida do espírito na carne. Ele se torna dependente do prazer como o viciado do tóxico se torna depende desse, porque todo espírito sonha em ser feliz, mas confunde a felicidade com o prazer.

Essa felicidade que eu quero falar hoje independe de satisfação, de conceitos, de verdades. Ela existe por amor a Deus, pela fé, confiança e entrega total em um Pai que é o Senhor Supremo do universo.

Imagine, só para vocês terem uma idéia do que é essa felicidade, sua vida sem nenhuma dificuldade financeira, sem nenhuma dificuldade amorosa. Imagine uma vida vivida nos mínimos detalhes de acordo com o que você pensa. Imagine uma vida sem contrariedades. Imagine acordar de manhã com um sorriso e ser recebido por todos com um sorriso e um abraço. Essa é a vida do espírito.

Essa é a felicidade que nós estamos falando. Essa é a busca de todos, mas o caminho para conquista-la é diferente do que vem sendo trilhado pelo ser humano.

Para se viver essa felicidade seria preciso que o universo inteiro se transformasse, se mudasse. Aquele que acorda de mau humor teria que acordar de bom humor, quem lhe cobra caro pelo material dos seus sonhos deveria cobrar barato ou quem lhe dá dinheiro deveria dar mais. Aquele que já não sente por você o que sente por ele deveria mudar: deveria voltar a sentir a mesma coisa.

Toda essa mudança no mundo teria que acontecer para que você entrasse nessa felicidade universal. Infelizmente isso nunca poderá acontecer. Nunca poderá acontecer porque existe uma coisa que impede que isso ocorra: o livre arbítrio.

Deus deu a cada um o livre-arbítrio de gostar, sentir e recompensar à sua vontade. Mudar o outro seria quebrar esse livre-arbítrio que Deus deu a cada um, ou melhor, querer ser filho único de Deus. Querer que os outros não tenha o direito que você quer ter: de gostar, fazer, querer e achar o que quiser.

Só por isso que o universo nunca poderá ceder aos seus caprichos ou as suas vontades. Por isso a felicidade não pode ser alcançada dessa forma. É preciso que compreendamos que o espírito é um grão de areia em uma praia. Igual a ele milhares de grãos estão na praia.

É Deus, o mar, que movimenta esses grãos pra onde Ele sabe que será mais útil. Concedendo a cada filho o livre arbítrio, sem tomar isso que deu a cada um, Deus vai administrando a vida para que os seres possam compreender que a felicidade nunca será alcançada pela suprema arrogância de querer ser o senhor do universo. Aquele que busca o prazer é como um grão de areia que quer dizer ao mar onde ele deve quebrar, para onde deve arrasta-lo.

Essa felicidade vem não da satisfação, mas vem utilidade. O espírito que abre mão dos seus conceitos, da sua sabedoria, dos seus desejos, começa a compreender a ação de Deus e pode se transformar em mais útil ao Pai do que simplesmente um grão contestador, que quer dizer ao Pai onde ficar.

Essa é uma felicidade onde tudo acontece da forma que queremos, mas não porque acontece da forma que queremos, mas, como não temos mais quer, tudo que acontece como nós queremos.

As duas situações não serão iguais na forma. Os acontecimentos poderão ser diferentes, mas o espírito não terá mais nada para poder julgar. A felicidade está na entrega total a Deus, no fim do julgamento, que é o grande problema do espírito.

Não existirá felicidade enquanto Deus não for o Senhor do universo para cada um. Enquanto se adorarem ídolos e não estamos falando de outros deuses ou mestres, mas adorar a si mesmo como ídolo, como aquele que sabe tudo a felicidade não poderá ser alcançada.

A hora do nosso trabalho se acaba, mas a hora do trabalho de cada um começa. Uma vida pela frente para se buscar essa felicidade universal.

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Felicidade

Hoje vamos falar sobre felicidade. Este tema é muito importante, pois quem não o compreender não entenderá nada nos ensinamentos de todos os mestres.

Os seres humanizados ainda imaginam o mundo espiritual como uma “coisa material”. Os espíritas imaginam um “céu” onde existem cidades, ônibus que carregam os espíritos. Para os católicos e evangélicos existe um “céu” feito de nuvens e de sono eterno; para os budistas há o nirvana, um “céu” cercado pelas maravilhas do mundo.

Os mulçumanos ainda crêem que no “céu” há uma grande tenda onde ele encontrará muita riqueza, muita água e muitas virgens. Enfim, existe uma materialização que transforma o “céu” em um lugar específico com uma forma aprisionada aos conceitos materiais de “bom” ou “mal”.

Só que o “céu”, no sentido espiritual, não tem nada a ver de físico, não possui elementos materiais como na Terra. Cristo ensina no Evangelho de Tomé: o “reino do céu” não está acima de vocês, pois senão os pássaros já haveriam chegado nele, mas o “reino do céu” também não está abaixo da terra, porque se fosse assim, os peixes já haveriam chegado nele. E, complementa: o “reino do céu” está dentro de cada um.

Claro que não podemos compreender que Cristo falasse dentro do ser humano, pois senão o “céu” seria composto de estômago, coração ou intestino. O “reino do céu” está dentro de cada um, mas no espírito que comanda a massa carnal e não nela mesma.

Dessa forma, podemos compreender que o “reino do céu” existe dentro do espírito. Dentro desse a única coisa que existe são energias universais, o que é conhecido na Terra como sentimentos: amor, ódio, luxúria, cobiça e inveja. Estas coisas nada têm de matérias ou formas. Portanto, o “reino do céu” não pode ser imaginado através de elementos terrestres.

O “reino do céu”, na verdade é um estado de espírito, ou seja, é o sentimento que um espírito sente. Isso é o “reino do céu”, mas também é o “reino do inferno”, o umbral, o fogo do mulçumano. Partindo dessa análise (o “reino do céu” e do “inferno” são um estado de espírito) podemos afirmar que está nos “céu” aquele que nutre sentimentos positivos; estará no “reino do inferno” aquele que nutre sentimentos negativos.

Fiz toda essa análise para poder afirmar: estar no “reino do céu” é ser feliz, é alcançar a felicidade. Esse é o resultado do trabalho daquele que realiza a sua reforma íntima alcançando a sua elevação espiritual e que passa a viver com a consciência de “ser espírito”.

Por isso o tema felicidade é tão importante. Os espíritos buscam a reforma íntima sem saber qual o resultado desse trabalho, sem saber como você será ao alcançar essa santidade, ao se aproximar de Deus. Como saber que realizou o trabalho quando não conhecemos os parâmetros da chegada?

Alcançar a elevação espiritual, atingir um grau de santidade, se aproximar de Deus, o que você chama de elevação espiritual, nada mais é do que viver em um estado de espírito de felicidade. Essa é a definição de um ser evoluído. Esse será o resultado que será obtido por você quando promover a sua reforma íntima e alcançar a evolução espiritual.

No entanto, essa felicidade não é aquela que é conhecida sobre a Terra, durante a vida carnal do espírito vivendo para si (individualismo), vivendo para o mundo material. Cristo definiu essa felicidade como “bem-aventurança” ou a “felicidade que os santos sentem” (definição do dicionário Aurélio). Esta felicidade é diferente daquele estado de espírito que é rotulado com esse nome na Terra.

Ela nada tem a ver com conseguir comprar uma casa, ter um filho ou ser aprovado na escola. A “bem-aventurança” é a “felicidade incondicional”. É uma felicidade que não é sentida por quem conseguiu alguma coisa, mas é um estado de espírito que existe independente de qualquer acontecimento externo. Ela não surge por um motivo, mas é o estado normal do espírito elevado.

A felicidade que é conhecida na Terra é uma felicidade dependente, ou seja, ela só é alcançada quando acontece o que se quer que aconteça. Esta felicidade (dependente), espiritualmente falando não recebe este nome, mas é chamada pelos mestres de prazer, satisfação. Ela é originada na satisfação de ver o seu conceito individualista atendido e se transforma na exultação de ter ganhado a fama, ou seja, a confirmação de que se “sabe” mais do que os outros.

O prazer é uma felicidade gerada pelo ganhar alguma coisa, ou seja, depende de um fator externo para existir. Já a felicidade espiritual (incondicional) não tem nada que a faça acontecer: ela existe simplesmente e jamais deixa de existir.

A partir daí podemos afirmar que a felicidade espiritual vem de dentro para fora, independente de como o mundo está (os acontecimentos), mas o prazer vem de fora para dentro, ou seja, depende dos acontecimentos combinarem com o que cada um deseja e quer viver.

Este conhecimento é muito importante para a realização do objetivo da vida para um espírito (alcançar a evolução espiritual) e por isso estamos conversando sobre esse tema. Todos os religiosos buscam promover a sua reforma íntima, mas como executá-la se nem sabem o que é um espírito evoluído?

Para muitos um espírito evoluído é um mestre que vive sentado na posição de lótus, mas essa postura não quer dizer nada. Outros acreditam que é um santo da Igreja Católica com suas atitudes pias, mas isso não quer dizer nada.

Todo e qualquer ato externo é apenas estereotipo. O elevado espiritualmente é o elevado interno (sentimental) e não externo. Ele pode viver uma vida normal como qualquer outro ser humanizado, inclusive tendo atos que denotem “mau humor”, mas, mesmo nesses momentos, vivem uma felicidade interna, um equilíbrio interno.

Baseando-se no estereotipo os buscadores da elevação repetem atos, mas não trabalham a reformulação do seu íntimo e, dessa forma, nada conseguem. Por isso é muito importante a compreensão da felicidade espiritual ou universal. É ponto fundamental para quem busca a elevação espiritual.

Participante: A felicidade não é deste mundo, mas podemos senti-la por aqui, neste cantinho do universo?

Sim, a felicidade não é do mundo material, mas do mundo espiritual. Mas você é espírito e não um ser humano (material) e por isso pode ser feliz agora, mesmo estando na carne. Basta, para isso, viver a vida material de uma forma espiritual e aí poderá viver com a felicidade incondicional.

Pelo que vimos até agora, conhecer e penetrar neste estado de espírito é fundamental para todos aqueles que buscam elevar-se, ou seja, para todos que transformam a existência carnal em uma etapa da vida espiritual. Mas, como consegui-la? Onde achar um mapa que indique o caminho a ser percorrido para encontrá-la?

Participante: Valorizando as coisas espirituais?

Sim, esse é o caminho, mas como valorizar as coisas espirituais?

Em nossas palestras sempre buscamos compreender as coisas na prática. Nós precisamos parar de teorizar a elevação espiritual. Você está certo: valorizar as coisas espirituais é buscar a felicidade, mas na prática, o que é buscá-la, o que é alcançá-la? Como posso saber se um determinado tipo de procedimento sentimental vai me levar a isso?

É muito simples: é só ouvir o mestre Cristo. Ouvi-lo, principalmente na hora que ele reúne os seus apóstolos e dá o caminho que eles irão realizar, dá o resumo de todo ensinamento que ele veio trazer. Isso se chama Sermão do Monte, isso se chama Bem-Aventuranças.

Alcançar a evolução espiritual é seguir na risca o ensinamento que está contido na Bem-Aventurança. Por esse motivo, nesse trabalho que pretendemos analisar a felicidade como realização daquele que busca a elevação espiritual, é importante para nós conversarmos sobre as “Bem-Aventuranças” transcritas na Bíblia Sagrada, livro de Mateus, Capítulo 5. Analisando cada um dos ensinamentos do mestre poderemos entender o que é a felicidade espiritual e como alcançá-la.

“Felizes os que sabem que são espiritualmente pobres, pois o reino do céu é deles”. (versículo 03)

NOTA: Neste trabalho existe apenas uma curta análise das Bem-Aventuranças. Para maiores informações consultar o trabalho “Bem-Aventuranças” também ditado por Joaquim de Aruanda.

O mestre dá aqui o básico para a existência do estado de espírito feliz: ser espiritualmente pobre. Esta condição citada pelo Cristo (ser espiritualmente pobre) pode ser traduzida como “ter um único sentimento”.

A posse do espírito são os sentimentos que ele nutre. O estado de pobreza do espírito não se constata pela quantidade de sentimentos (ter pouca quantidade de sentimentos), mas por não tê-los em grande diversidade. Pobre de espírito é aquele que possui muito sentimento, mas em apenas uma qualidade: o amor.

Então, veja, você quer ser feliz? Ame. Só tenha o amor para reagir a qualquer coisa (acontecimento). Este é o caminho da felicidade incondicional. Escolhendo prazer, mágoa, raiva, você não poderá ser feliz, pois são sentimentos diferentes da felicidade.

Na prática, aconteça o que acontecer reaja com amor que estará alcançando o “reino do céu” ou seja, você estará entrando num estado de espírito onde apenas a felicidade incondicional existe e terá, assim, executado a sua elevação espiritual.

“Felizes os que choram, pois Deus os consolará” (versículo 04).

Felizes são aqueles que passam por situações de sofrimento (momentos nos quais os seus desejos não são atendidos) buscando consolo em Deus.

A felicidade incondicional depende de se passar por situações negativas, ou seja, de acontecer o que não se quer. Mas não basta só passar por esses momentos para se alcançar à evolução espiritual: é preciso vivenciá-los buscando o consolo em Deus.

“Hoje eu não gostaria de estar sem emprego, mas estou. Louvado seja Deus. O Pai sabe o que faz, se eu estou desempregado ele tem um plano para mim”.

O bem-aventurado não precisa mudar a situação e nem não quer deixar de vivenciar as suas situações negativas, mas também não se acomoda. Ele parte em busca de “momentos diferentes”, mas não sofre enquanto perdurar a “contrariedade”.

O feliz vivencia tudo o que acontece, esteja o acontecimento de acordo com os seus desejos ou não, buscando em Deus o consolo. Esse é o elevado espiritualmente. Esse é aquele que alcança o “reino do céu”.

“Felizes os humildes, pois receberão o que Deus tem prometido” (versículo 05).

A questão da humildade é muito complicada de se falar sem buscar a compreensão mais profunda, mas vamos tentar resumir aqui a visão sobre este tema. Para os seres humanizados a humildade é caracterizada pelo fato de não se ter nada em termos de posses materiais, mas isso não significa humildade, porque existe muita gente que não tem nada e é orgulhoso do pouco que tem.

A falta de humildade não é caracterizada pelo ter ou não, mas como se lida com aquilo que está sob nossa guarda. O soberbo é aquele que se acha dono das coisas e deseja outras coisas que não possui.

O humilde, ao contrário, é aquele que vive com humildade (sem se declarar dono) daquilo que ele tem e não deseja nada mais. O humilde é aquele que vive assim: “eu hoje só tenho arroz para comer; louvado seja Deus”. O soberbo só tem arroz para comer, mas come sentindo o gosto de caviar.

Humildade, portanto, não tem nada a ver com posse, mas com desejos. Por isso podemos afirmar: para você ser feliz é preciso matar os seus desejos. Aquele que vive sem desejar, ou seja, que ama tudo que tem e não quer mais nada alcança o “reino do céu”, entra na felicidade incondicional.

Participante: Humildade é olhar e estar com outros de uma forma igualitária. Não olhar de cima nem por baixo.

É mais que isso. É olhar as pessoas sem querer que a pessoa fosse diferente do que ela é. Sem desejar que ela se mude para que lhe traga felicidade. Sem desejar que agisse de uma forma diferente.

Não adianta apenas olhar de uma forma igualitária: é preciso aceitá-la como ela é. Aí está a humildade, uma vida sem desejos.

“Felizes os que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois Ele os deixará completamente satisfeitos” (versículo 06).

“Fome e sede de fazer” quer dizer a intenção com que se vive, com que se vivencia os atos da vida. O feliz é aquele que não tem intencionalidade alguma (vontade própria), mas vive a própria Realidade por ela mesma como ação de Deus, vontade do Pai.

Um homem está em algum lugar. Querendo esse ser humanizado viver a Realidade afirma: Deus me colocou aqui. A partir desta pré-disposição, ele concentra-se em estar naquele lugar ao invés de permanecer lá com a intenção de não estar, de ir para outro lugar.

Para se ser feliz, para alcançar a felicidade incondicional é preciso exterminar as intenções individuais (desejos diferentes da Realidade) e vivenciar a vida a partir da intenção de Deus (o que realmente está acontecendo).

“Felizes os que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia deles também” (versículo 07).

Misericórdia é compaixão. Ser feliz, portanto, é ter compaixão dos outros, mas precisamos entender um pouco sobre este estado de espírito.

Compaixão não é sofrer com os outros o sofrimento deles, pois assim ficaríamos perdidos no nosso próprio sentimento “não feliz”. É preciso amar (ser feliz) a situação que o outro está passando para se vivenciar a compaixão.

Até aqui vimos que aquele que alcança o “reino do céu” é o que age sem intencionalidades e com amor. Se mantivéssemos a compreensão atual sobre compaixão (sofrimento conjunto) estaríamos negando todos os outros ensinamentos, pois estaríamos demonstrando sofrimento e contrariedade com o que o próximo está passando.

Aquele que tem misericórdia é o que ama a situação dos outros, ou invés de ter pena, dó ou de ver no que ele está passando algo “errado” ou “ruim”. Misericórdia não tem nada a ver com pena. Esse é um sentimento sofredor e eu serei feliz apenas enquanto mantiver a minha felicidade, independente do que está acontecendo comigo ou com os outros.

Havendo uma pessoa que passa fome, por exemplo, eu vou ajudar essa pessoa praticando a caridade. No entanto, a última coisa que eu vou pensar em ter é piedade daquela pessoa, porque assim, eu e ela ficaríamos afundados no mar do sofrimento. Devo amar a pessoa, amar a situação, manter a minha felicidade, para que possa realmente auxiliá-la e manter o meu próprio equilíbrio.

Costumo dizer que a compaixão, como hoje entendida (pena, dó), é como uma pessoa que está comendo um prato de jiló mesmo não gostando desse alimento. Quando ela está acabando lhe dão mais jiló. Quem age assim, receberá a mesma coisa de Deus e a vida ficará mais “difícil” para ser vivida.

O estado de espírito de felicidade depende da sua reação ao momento, independente do que está acontecendo no momento.

“Felizes os que têm o coração puro, pois eles verão a Deus” (versículo 08).

Coração puro é aquele só tem o amor. Aquele que ama, vê Deus em todas as coisas, ou melhor, se sente amado por Deus, vê em tudo o amor de Deus.

Já muito foi ensinado nesse planeta sobre a necessidade de se amar a Deus, mas pouco se falou sobre a necessidade de se sentir amado pelo Pai. É quase impossível amar alguém que é um juiz, um carrasco, que impõe penalidades, como muitos acreditam que Deus age.

Por isso a importância de converter todos os acontecimentos em amor de Deus, abandonando, assim, a visão de “expiação” para os acontecimentos da vida, ou seja, pagamento de faltas cometidas anteriormente.

Mas, para compreender o mundo (acontecimentos) como um ato de amor divino é preciso ter o coração puro, ou seja, amar a tudo e a todos indistintamente. Se você não vê em tudo o que acontece o amor de Deus em ação, a emanação do Ser Supremo, jamais conseguirá a felicidade.

“Felizes os que trabalham pela paz entre pessoas, pois Deus os tratará como seus filhos” (versículo 09).

Esta é uma grande lição: trabalhar pela paz entre as pessoas. Infelizmente poucos agem desta forma. Recentemente tivemos uma guerra (invasão do Iraque pelos Estados Unidos) e as pessoas que se diziam buscadoras da paz faziam passeatas, discursos acusando e atacando o presidente que queria fazer a guerra. Faziam isso em nome da paz.

Entretanto, esse ataque e as acusações também são guerras. Eles estavam guerreando contra o presidente para que ele não fizesse a guerra. Não trabalhavam pela paz verdadeira, mas pela sua própria paz (não haver guerra). Para impor sua vontade utilizavam-se da guerra (acusações e agressões), ou seja, agiam da mesma forma do presidente que tanto criticavam.

Trabalhar pela paz é não julgar e não acusar ninguém, pois se tudo é emanação de Deus, a própria guerra é a paz do Pai. O trabalho da paz entre as pessoas deve ser executado de tal forma que elas vivenciem a paz de Deus e não o estereotipo de paz que cada um tem.

Por tudo que já estudamos até aqui, não importa se o presidente “quer” fazer a guerra: se conseguir será apenas um instrumento de Deus para Sua ação. O presidente não é “mal”, “ruim”, mas um ser universal, um filho de Deus e, por isso, precisa ser amado e não acusado.

Feliz será você quando trabalhar pela paz, ou seja, feliz será você quando parar de julgar e acusar a todos, querendo impor os seus padrões ao mundo, não importando o que está acontecendo.

Para se trabalhar para a paz de Deus entre as pessoas é preciso aprender o verdadeiro perdão que está no ensinamento de Cristo: Pai perdoa, ele não sabe o que faz. Alguém disse isso para o presidente que queria a guerra?

“Felizes os que sofrem perseguição por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do céu é deles” (versículo 09)

Feliz será você quando quiser amar os outros e eles lhe acusarem, lhe atacarem, lhe xingarem: este é o momento propício para você ser bem-aventurado.

Aqueles mestres que são colocados no topo, têm milhares de seguidores que estão sempre o adorando e pronto a lhe satisfazer e que retiram dessa idolatria a sua felicidade, não são elevados espiritualmente. Enquanto isso, outros que são acusados por terem uma palavra dura e que não recebem idolatrias, mas mantém a sua felicidade interna, a sua paz de espírito e segue na jornada, este está no “reino do céu”.

A felicidade depende de você ter “inimigos” (pessoas que lhe contrariam), mas também depende de você não guerrear contra eles. Não criticá-los, não julgá-los, mas amá-los. Cristo diz mais adiante no Sermão do Monte: é muito fácil abraçar um amigo eu quero ver você cumprimentar um inimigo.

A felicidade depende de você destruir os seus “inimigos”. Não estamos falando em destruir no sentido de “acabar com eles”, mas acabar com o valor “inimigo” que aplica ao outro ser. Afinal de contas, somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai, agindo da forma que agirmos.

“Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes, porque está guardada para vocês uma grande recompensa no céu. Pois foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (versículo 11).

Os seguidores do Cristo não são os cristãos, mas os amorosos. Cristo, como João decretou, era o “verbo”, a ação, o amor em ação. Aplicando-se este ensinamento à passagem acima, podemos compreender: feliz será você quando amando, for perseguido, acusado, caluniado, chamado de bobo ou idiota.

O momento que o “mundo” exige que você tenha uma retaliação contra quem lhe prejudicou, é aquele que você tem para ser feliz. Esse é o momento para alcançar a elevação espiritual.

A felicidade espiritual não deve ser procurada apenas quando acontece o que você quer ou espera: quando está passeando, quando a sua casa cercada por cercas elétricas e muros altos impendem o roubo. A felicidade espiritual precisa ser conquistada em todos os momentos.

Para isso é que existem os acontecimentos que nos contrariam. Eles são os momentos propícios para adquirirmos esta felicidade, pois, agindo desta forma, o ser humanizado terá “vencido o mundo”, ou seja, os seus desejos materiais. As bem-aventuranças são os caminhos da felicidade, mas ser feliz depende de colocá-las em prática nos momentos de contrariedade.

Quem buscar a Deus sem viver a situações de contrariedade reagindo sentimentalmente como hoje conversamos, jamais conseguirá viver a felicidade espiritual na verdadeira acepção da palavra. O máximo que poderá ser alcançado é o prazer de ver o que você quer acontecendo, mas que, pela impermanência das coisas, levará amanhã a um sofrimento.

O prazer de hoje é a garantia do sofrimento amanhã, pois se hoje o mundo combinou com os seus desejos, amanhã certamente não o fará. A busca pelo prazer, espiritualmente falando, não leva a nada, ou melhor, leva a submissão ao ego, ao individualismo, ao afastar-se de Deus.

Só agindo dentro das bem-aventuranças, colocando em prática todos os ensinamentos do Cristo você pode conseguir alcançar a verdadeira felicidade.

Elevação espiritual não é praticar a caridade, mas fazê-la com amor, buscando o consolo em Deus, com humildade, com fome e sede de fazer a vontade de Deus, com misericórdia, com o coração puro e trabalhando pela paz entre as pessoas sem esperar receber nada em troca. Isso é elevação espiritual.

Como disse, precisamos acabar com as teorias e entrar na prática, ou seja, não ficarmos presos ao “fora da caridade não há salvação”, mas atingirmos a compreensão que fora da caridade executada dentro das bem-aventuranças não há salvação.

Emoções 2

Medo da morte

Que os religiosos não espíritas tenham medo da morte, é até compreensível, pois deve ser extremamente tediosa uma existência onde não ajam ações, como aquelas que crêem que existirá depois do desencarne. Além do mais, a visão do sono profundo não deixa que este ser tenha a confirmação da existência da vida espiritual pós-morte.

Os espíritas, no entanto, que possuem o conhecimento sobre as atividades extras corpóreas e as comprovações da existência desta vida, possuírem o mesmo medo, é algo inadmissível. Apesar de todas as transmissões da espiritualidade descortinando o véu do esquecimento, os espíritas apegam-se à vida material.

Isto ocorre porque, tanto um quanto o outro ainda está preso à matéria carnal através de “elos”.

O Espiritualismo Ecumênico Universal ensinou as “Quatro Âncoras”, ou seja, quatro grupos de aspirações que os seres humanos possuem que dificultam a sua elevação espiritual. Estas “Quatro Âncoras”, no entanto, são presas por “Quatro Elos”, que fixam o ser na vida carnal. É destes dois conjuntos que provém o medo da morte.

Falemos um pouco sobre estes “elos”.

A morte do ser humano

Neste trabalho quando nos referimos à morte, não estamos abordando apenas o assunto “desencarne”, mas também o renascimento que Cristo ensinou a Nicodemus:

“Eu afirmo que ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito. A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do Espírito de Deus. Por isso não se admire de eu dizer que todos vocês precisam nascer de novo. O vento sopra onde quer e ouve-se o barulho que faz, mas não se sabe de onde vem nem para onde vai. O mesmo acontece com todos os que nascem do Espírito”. (Evangelho de João – capítulo 03 – versículo 05)

O medo da morte física (desencarne) advém da certeza que, ao morrer, nascerá um novo ser: o espírito ou alma, como queiram chamá-la. É desta certeza que advém o medo da morte que o ser humano sente.

O ser humano tem medo do processo de sua transformação em espírito, e, por isto, teme a morte. Ele teme a transformação porque tem medo da perda da sua identidade, ou seja, do seu “eu”.

Entretanto, Cristo nos afirma que este “eu” material deve ser eliminado ainda na própria existência corporal para que se entre no gozo da felicidade universal.

É preciso que o ser na carne “morra” (elimine o “eu” humano) para que renasça o espírito (a universalização dos conceitos) para alcançar o “Reino de Deus”. Este processo ficou conhecido como reforma íntima.

Eliminar o “eu” é deixar de utilizar as propriedades intrínsecas do ser – inteligência, amor e justiça – com objetivos individualistas. Quando isto acontecer, o ser não será mais o que é, ou seja, não terá a mesma consciência que possui hoje. Este é o temor dos seres humanos: deixarem de ser quem são.

A morte que estamos falando neste trabalho é exatamente o fim deste “eu” e isto não implica necessariamente em ter de sair da carne. É do temor da promoção da reforma íntima (fim do “eu”) que vamos falar.

Para se processar a reforma íntima é preciso quebrar os quatro elos que aprisionam as quatro âncoras ao ser humano.

Quatro Âncoras

São os seguintes os quatro grupos de situações (“Quatro Âncoras“) que dificultam a elevação espiritual:

Desejo de ganhar e medo de perder;

Desejo de se satisfazer e medo da insatisfação;

Desejo de ser elogiado e medo da crítica;

Desejo de obter a fama e medo da infâmia.

O ser humano é um ser universal que particulariza as suas propriedades intrínsecas: inteligência, justiça e amor. Esta particularização é representada neste ensinamento pelas quatro âncoras.

O ser humano que deseja sempre ganhar, satisfazer seus desejos, ser elogiado e obter a fama, utiliza no processo raciocínio conceitos que objetivem este fim. Determina os padrões de justiça de acordo com o seu objetivo e, desta forma, ama apenas a si mesmo.

As “Quatro Âncoras” levam o ser a não cumprir o segundo mandamento da “constituição universal” (amar ao próximo como a si mesmo), comprometendo a busca que ele vem realizar na carne: a evolução espiritual. É preciso que o ser livre-se destas amarras para poder navegar em direção ao porto da sabedoria, onde a utilização das propriedades é universal.

Libertando-se das âncoras

Para liberar-se das âncoras é preciso eliminar os quatro elos que as prendem ao ser. Sem quebrá-los é impossível livrar-se destas amarras.

A quebra, porém, não pode ser feita individualmente, pois as quatro âncoras estão aprisionadas nos “Quatro Elos”: todos os elos aprisionam todas as âncoras. Seria impossível se libertar de apenas uma âncora quebrando apenas um dos elos.

A reforma íntima, portanto, depende do ser quebrar os “Quatro Elos” para libertar-se das quatro âncoras de uma só vez, alcançando a universalização de suas propriedades e entrando no gozo da felicidade universal.

Os Quatro Elos

Baseado em um ensinamento budista (Suta Anguttara Nikaya IV.184 – Abhaya Sutta).

Quando o brâmane Janussoni pediu a Buda ensinamentos sobre o medo que sentem aqueles que estão face à morte (fim do “eu”), o Iluminado apontou os “Quatro Elos” que aprisionam as “Quatro Âncoras”. São eles:

A paixão pela posse moral (sensualidade);

A paixão pelas coisas materiais (corpo);

O individualismo (prática de coisas “más”);

A falta de fé (incompreensão dos ensinamentos).

Estes são os “Quatro Elos” que prendem o ser universal à visão ser humano, não permitindo a evolução espiritual. São eles que aprisionam o ser no desejo de ganhar, se satisfazer, ser elogiado e alcançar a fama.

Primeiro elo

O primeiro elo que prende as “Quatro Âncoras” que aprisionam o ser na visão ser humano é a paixão pela posse moral.

O ser individualista imagina que apenas o que ele compreende das coisas é que está “certo”, é “bom” e “belo”. Tudo o que os outros acham diferente dele está “errado”, é “mau” ou “feio”.

A posse moral se caracteriza pela detenção da “verdade”. A paixão por possuir a “verdade” sobre as coisas é que leva o ser a querer ganhar sempre, se satisfazer, ser elogiado e ficar famoso.

O prazer gerado pela satisfação do cumprimento dos seus desejos é tão forte que Buda comparou-o ao prazer sexual. É por este motivo que ele fala deste elo como uma paixão sensualista.

Quebrar este elo é abrir mão de possuir a “verdade” sobre as coisas. É preciso acreditar que todos os acontecimentos do universo estão perfeitos porque partem da Inteligência Suprema, observados os parâmetros de Justiça Perfeita e Sublimação do Amor.

Este elo foi simbolizado na Bíblia Sagrada na história de Adão e Eva. A mulher foi tentada a comer a “maçã” (adquirir um conhecimento) para alcançar o poder de determinar o que é “bom” ou “mau” no universo.

As religiões que utilizam a Bíblia como livro básico afirmam que é necessário acabar com o pecado original (o ato de Eva) para alcançar o reino do céu. Estão falando, portanto, da quebra do primeiro elo.

Assim sendo, a informação da quebra deste elo não é exclusividade do budismo, mas também é ensinamento de toda religião que utiliza a Bíblia.

Segundo elo

O segundo elo que prende as quatro correntes é a paixão pelas coisas materiais. Chamamos esta paixão de posse.

O prazer advindo da posse das coisas morais é que leva o espírito a ter medo de perdê-las, pois desta forma ficará insatisfeito, sentindo-se difamado. A perda é considerada uma crítica aos seus desejos.

Para acabar com estes sentimentos é que o espírito precisa despossuir todas as coisas materiais. Para que isto aconteça é necessária a compreensão de que o universo é a casa de Deus e que tudo que aqui existe pertence a Ele.

Se o universo foi criado por Deus para servir aos seres no seu processo de evolução, podemos afirmar que as coisas materiais são instrumentos para esta busca. Assim, enquanto o ser necessitar delas, o Pai as colocará à sua disposição, tornando-o “guardião” temporário delas.

Portanto, se as coisas são instrumentos da elevação do ser, fazem da parte da “prova” que ele tem que fazer quando está encarnado para alcançar a elevação espiritual.

Aprendemos na “Segunda Verdade Universal” da Doutrina Espiritualista Ecumênica que a prova é alterar a visão sobre as coisas, não vendo a forma, mas a essência.

É baseado nesta Verdade Universal que Buda utiliza no seu ensinamento “a paixão pelo corpo”. Quem está preso a este elo se apaixona pela forma das coisas e não pela sua essência. Esta paixão é que leva à posse.

Ao demonstrar que a vida carnal nada mais é do que uma etapa da vida espiritual, Kardec ensinou que o ser humano deve abrir mão das posses materiais para poder alcançar a elevação espiritual. O espiritismo, portanto, pede o fim do segundo elo.

Terceiro elo

Para Buda, o terceiro elo é a apreensão quanto ao resultado da provação que o ser faz durante a vida carnal.

Pela consciência que possui de ter buscado apenas a sua satisfação pessoal ao invés de universalizar os acontecimentos durante a existência carnal, o espírito sabe que causou ferimentos aos demais seres. Pelo estudo, compreende que precisa expiar suas faltas seja em nova encarnação ou no “umbral”.

Para fugir deste “destino” prende-se ainda mais à visão ser humano, imaginando que desta forma estará fora do alcance da ação justa de Deus, que só ocorrerá depois da “morte”.

A expiação de erros é chamada de “carma”, ou seja, um acontecimento traçado no sentido de expiar o “sofrimento” que “causou” ao outro ser. O carma causa medo, porque o ser sabe que ele se constituirá de um acontecimento que não satisfará os seus conceitos, ou seja, não levará a um prazer individual.

Fala-se muito em carma de vida passada, ou seja, expiações de situações de sofrimentos causadas em vidas anteriores, mas existe também o carma da vida atual. Este último, na maioria das vezes, é expiado nesta própria vida. Como no ditado popular, “aqui se faz, aqui se paga”.

Quarto elo

Este elo talvez seja o mais difícil de ser quebrado pelo ser, pois ele jamais será alcançado por comprovações materiais. Para alguns é mais fácil quebrar a posse moral; para outros, a espiritual ; muitos, ainda, conseguem perder o medo do carma, pois conseguem “enxergar” materialmente estes ensinamentos. O quarto elo, no entanto, jamais poderá trazer confirmações materiais, pois isto o tornaria mais forte e resistente.

A fé é um sentimento que foi descrito por Cristo no primeiro mandamento da constituição universal: “amar a Deus acima de todas as coisas”. A fé é expressa através do amor incondicional ao Pai e a resposta de Deus aos seus filhos é a felicidade universal alcançada.

Infelizmente não é esta a compreensão que os seres encarnados possuem da fé, pois eles a condicionam à satisfação dos seus desejos. Para amar a Deus (ser feliz), os seres humanos precisam de posses materiais, morais e de situações de não sofrimento. Não amam a Deus, mas a si mesmos.

 Para que o quarto elo seja quebrado, ou seja, para que o ser humano alcance a fé em Deus, é preciso que todos os outros três elos (posse moral e material e a não existência de situações de sofrimento) sejam mantidos.

Como já explicamos, as “Quatro Âncoras” não podem ser eliminadas isoladamente, pois estão presas pelos quatro elos. Somente com a ruptura total destes elos é que o ser se libertará das âncoras.

Ninguém deve amar outra pessoa tendo “motivos” para isso, pois o amor não pode ter condições. Quem ama o outro porque é “belo”, ama a beleza e não o ser; quem ama porque o outro é amigo, ama a amizade; quem ama pela cultura, ama a sabedoria.

Em qualquer caso que exista uma condição para o amor, não há este sentimento pelo outro ser, mas pela condição que ele representa.

Para quebrar o quarto elo o ser necessita não mais impor condições para o exercício do amor. A ruptura do quarto elo passa pelo fim da “fé raciocinada”, ou seja, pelo fim da análise do “prazer” que resultará do trabalho do ser.

 A quebra do quarto elo só será alcançada com a fé incondicional a Deus: entrega e confiança total no Pai.

Para isto é preciso a perfeita compreensão dos ensinamentos deixados por todos os mestres.

Nenhum deles criou condições para que se amasse a Deus, mas pediram que se tivesse uma fé incondicional no Pai. Todos os ensinamentos tiveram este objetivo, mas foram interpretados pelo ser humano de forma diferente, pois buscavam a satisfação pessoal.

Quebrando os elos

Para alcançar a elevação espiritual o ser precisa, então, quebrar os “Quatro Elos” para que se liberte das “Quatro Âncoras”.

Este é o trabalho que o ser terá que fazer algum dia, pois como ensinou Kardec, todos os seres um dia terão que evoluir, independente de sentirem medo ou não. Este processo de transformação foi que levou diversos seres à elevação em uma de suas encarnações.

É um processo inexorável que todo ser tem que passar. O medo de enfrentar o renascimento apenas retarda o momento, mas não pode eliminá-lo nunca, pois faz parte integrante da existência do ser, como a “morte física” faz parte da vida carnal.

Além do medo do desconhecido (em que se transformará depois do renascimento) o ser tem o conhecimento inconsciente de que os “Quatro Elos” não podem ser quebrados passo a passo, mas que precisam ser rompidos ao mesmo tempo, o que exige um grande esforço. Por isto, encarnação após encarnação, o ser tenta quebrar os elos, mas não consegue se desfazer deles todos ao mesmo tempo.

Todos os elos agem e são dependentes entre si. A posse moral nutre a posse material, pois o indivíduo “certo” quer determinar a forma das coisas morais. O fim destas duas âncoras depende exclusivamente do fim do carma, já que na maioria das vezes esta ação divina fere as posses do ser.

Como perder tudo isso sem perder o amor a Deus? Compreendendo Sua ação no universo, ou seja, tendo fé.

O ser que busca realmente quebrar os quatro elos precisa atacá-los todos de uma vez, abandonar o “poder” de determinar o valor das coisas, para poder abrir mão das posses materiais. Para isso precisa perder o medo do carma, amando a Deus mesmo que suas vontades não sejam satisfeitas.

Existem dois instrumentos para esta ação: espiritualismo e ecumenismo.

Para quebrar os quatro elos o ser precisa acabar com a divisão do universo em material e espiritual, pois esta divisão leva à busca da satisfação em um mundo (material), afastando para o outro (espiritual) a ação universal. Para colocar em prática esta visão, é preciso juntar os ensinamentos de todos os mestres em apenas um caminho para se amar a Deus.

Como fizemos questão de frisar, todos os enviados de Deus falaram dos quatro elos e trouxeram os ensinamentos necessários para que eles fossem quebrados. O ser humano é que separou estes ensinamentos, quando afirmou ou entendeu que a elevação espiritual só seria alcançada trabalhando-se em apenas alguns deles.

Mesmo a forma da ligação necessária com Deus para a quebra dos elos foi diversificada, pois já se entendeu que apenas a junção de todas elas facilitará esse trabalho.

Alguns afirmam que o trabalho da elevação será alcançado recitando os textos sagrados (islamismo), outros com a meditação (orientais) e outros ainda através da oração (cristãos). Na verdade, a elevação espiritual só será alcançada quando se viver a vida material em meditação, recitando para si mesmo os ensinamentos que os mestres deixaram, a cada segundo. Esta vida é uma vida em oração, ou seja, vivida de acordo com as palavras dos livros sagrados.

Tanto o espiritualismo como o ecumenismo leva o ser a universalizar suas propriedades intrínsecas, enquanto que o medo da morte surge do individualismo destas mesmas propriedades.

Emoções 2

A fé e o medo

Os apóstolos estavam num barco com Cristo. Durante a travessia veio um vento muito forte que criou grandes ondas que ameaçavam a estabilidade do barco. Os apóstolos ficaram com medo e pediram ajuda a Cristo. Depois de ordenar ao vento para parar, o mestre pergunta aos seus seguidores: ‘Porque vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?

A partir das palavras de Cristo, podemos entender que sua mensagem é: quem tem fé não tem medo... Pergunto: o que é fé? O que é a fé que Cristo ensina e que pode acabar com o medo? A entrega com confiança total em Deus...

Quem se entrega com fé a Deus, ou seja, com confiança total, de que precisa ter medo? Quem está ligado a Deus não tem medo de nada, porque tem o próprio Deus ao seu lado.

Qual o problema da onda que sacode o barco? Ele virar e os ocupantes morrerem? Mas, todo ser humano não vai morrer um dia? Qual o problema de morrer hoje ou amanhã? Além do mais, o que é mais importante: continuar vivo e afastado de Deus ou estar vivo ou morto em comunhão com Ele?

O ser humanizado tem medo porque está afastado de Deus. Por que imagina que Deus tem que estar ao serviço do interesse do ser (neste caso, permanecer vivo). Mas, como Cristo ensina, Deus tem um propósito para tudo.

O medo do ser humanizado não altera jamais o propósito de Deus. Se estiver nos propósitos Dele o barco afundar, em que o medo pode mudar este acontecimento?

Os propósitos de Deus não são jamais alterados pelo que o ser humanizado quer, pensa ou sente. Quantas vezes o ser humano pratica determinada atitudes sem medo algum de conseqüências e estas acabam sendo funestas? Não é o medo ou a ausência dele que determina o resultado de uma ação, mas os desígnios de Deus, que são insondáveis.

 Não se deve ter medo, pois ele denota apenas a falta de confiança em Deus. Se o destino depende apenas dos Seus desígnios, aquele que se entrega com confiança a Deus vive este desígnio em paz, mas aquele que assim não faz, o vivencia com medo.

Para não ter medo, o ser humanizado precisa caminhar na sua vida com a certeza que todos os seus passos estão contados por Deus, que fazem parte do plano maior que Ele tem para cada um. Caminhar com a consciência de que todos os seus caminhos estão delineados por Deus.

Quando o Pai delineia este caminho, o que O move é a chamada lei da causa e efeito. Ou seja, cada passo do ser humanizado na vida humana é construído como efeito de um passo anterior. Além disso, a construção deste caminho por Deus tem apenas um destino a ser alcançado: a evolução do ser universal, a evolução espiritual. É fundamentado nestas duas premissas que advém a confiança na entrega que faz existir a fé que acaba com o medo.

Sendo assim, quem tem fé não tem medo nem se preocupa com os acontecimentos, mas sim com a base sentimental com a qual vivencia os acontecimentos da vida. Vivenciando cada acontecimento com fé, o ser humanizado tem a certeza que o seu caminhar é justo (perfeito efeito gerado por uma causa) e que o levará à elevação espiritual.

Essa deve ser a preocupação do ser humanizado: neste momento estou vivenciando este acontecimento com entrega total confiante em Deus ou estou vivenciando-o com medo, com esperança de uma satisfação individual, com cobiça, etc.? Quando o ser humanizado se preocupa em vivenciar cada momento com fé sente-se ao lado de Deus e por isso não tem medo.

Aliás, na própria Bíblia está escrito: se Deus é a seu favor, quem pode ser contra? Se o ser humanizado sentir-se ao lado de Deus nada temerá. Mesmo que o barco sucumba nas ondas, o ser humanizado saberá que aquilo fez parte do caminho delineado por Deus para ele no sentido de levá-lo à elevação espiritual.

Mas, o ser humanizado continua rezando a Deus para salvá-lo, para livrá-lo daquilo que o Senhor programou para ele como o caminho para sua glória. Este é o ser que ao invés de entregar-se a Deus, O exila no céu e coloca-O a serviço de sua vontade individual ao invés de confiar nos Seus planos.

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Aventura humana

Alguém me disse que "Buda, Lao Tsé, Jesus, e outros, não viveram uma ficção não. A espiritualidade (ou outro nome qualquer que se dê) não se tratava de um conto de fadas para eles, algo para prestar reverencia a distancia não. Era algo que levaram para dentro de suas vidas mesmo".

 Isso me fez lembrar a seguinte frase: "eu sou a verdade, o caminho e a vida; ninguém chega a Deus a não ser através de mim". Apesar desta afirmação ser atribuída a Cristo ela bem poderia ter sido pronunciada por qualquer um dos mestres enviados por Deus para o auxílio aos espíritos encarnados. Isto porque os mestres representam o caminho para se chegar a Deus.

 Mas, o que será caminhar para Deus através de um mestre? Para a grande maioria é a idolatria e o culto frio aos seus ensinamentos: nada mais do que isso.

 Os templos e igrejas estão sempre cheios de seres humanizados que idolatram os mestres em cultos; seus ensinamentos são recitados com profundo respeito ou colocados em e-mails ilustrados por imagens bem desenhadas e músicas sugestivas. Mas será que só isso basta? Claro que não. Mais do que se cultuar a idolatria aos mestres, é preciso se transformar em um.

 Ao invés de se idolatrar o mestre é preciso aprender a viver a existência carnal como ele fez; ao invés de se declamar os ensinamentos ou transformá-los em obras de arte virtuais, é preciso colocá-los em prática na existência carnal, como os mestres colocaram, provocando a mudança da vivência da vida para poder se chegar a Deus.

 O aproveitamento da vida não está na cultura, mas na transformação que os ensinamentos podem causar na existência de cada um. É preciso que o ensinamento acabe com a paz fundamentada na realização dos desejos humanos e se transforme em uma espada que sirva para ferir mortalmente o padrão humano de viver ao qual o espírito está escravizado pelo ego ("Não vim para trazer a paz, mas a espada” - ensinamento de Cristo).

 De que adianta se dizer cristão, idolatrar Cristo, se na hora de nossa crucificação (passar por momentos de contrariedade, insatisfação) agimos como Pedro, que ao saber que o mestre iria terminar sua missão na cruz, convocou a todos para orar pedindo ao Senhor que afastasse aquele futuro?

 Que adianta nos dizermos budistas, se ainda nos apegamos aos prazeres da vida carnal criados pelos cinco agregados ao invés de compreendermos a primeira nobre verdade (tudo é sofrimento, mesmo a realização do que gostamos) e percorrermos o "Nobre Caminho Óctuplo" que leva ao desapego?

 De que adianta nos dizermos seguidores de Krishna se ainda perdemos a equanimidade adorando os "santos" que conseguiram colocar em prática os ensinamentos do mestre, ao invés de tratá-los como seres comuns?

 De que adianta apenas dar o pão se a verdadeira caridade está em dar ao próximo a liberdade de ser, estar e fazer o que quiser (respeitar os seus direitos), mesmo que isso fira nossos desejos, sem críticas, como ensina o Espírito da Verdade?

 De nada adianta tudo isso. Caminhando deste jeito vivemos uma vida de ilusão crente que realizamos algo, mas quando saímos da carne a desilusão é grande, pois não percorremos o caminho ensinado pelos mestres, mas, presos ao nosso ego, vivemos aquilo que nosso senhor queria.

 Acredito que o ensinamento máximo que podemos aprender para poder viver esta existência com resultados positivos para a eternidade espiritual que ainda temos pela frente, está resumida na seguinte frase: "não somos seres humanos vivendo aventuras espirituais, mas seres espirituais vivenciando uma aventura humana".

 Quando isto for realidade, com certeza viveremos a nossa vida como os mestres viveram as deles e aí, estaremos mais perto de Deus do que estamos.

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A coisa mais importante dessa vida

Ai de vocês, guias de cegos, que ensinam assim: se alguém jurar pelo templo não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se alguém jurar pelo ouro do templo é obrigado a cumprir o que jurou. Qual é mais importante: o ouro ou o templo que santifica o ouro? Também ensinam isso: se alguém jurar pelo altar não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se jurarem pela oferta que está no altar, então é obrigado a cumprir o que jurou. Cegos, qual é mais importante, a oferta ou o altar que santifica a oferta?

O que é mais importante: o ouro ou o templo que o santifica? O que é mais importante para você: a sua casa ou o Deus que a santifica? Esta é a pergunta que Cristo faz aos seus seguidores de então, mas que também continua fazendo aos de hoje... Responda...

Para os seres humanizados eu sei que é a casa. Eles se preocupam antes de qualquer coisa em ter uma casa, porque não imaginam como pode se viver sem tê-la. Se ele estiver sem casa vai sofrer, chorar, ranger os dentes. Mas, o que é mais importante: ter uma casa ou ter Deus, ter um carro ou ter Deus ao seu lado?

Santificar o ouro é dar a ele um valor espiritual, dar um valor santo às coisas do mundo. Não se trata de santificar o ouro, mas sim em dar a ele o seu valor universal.

Durante todo esse tempo estamos falando que não existe vida material, mas sim existência espiritual que se vivencia em diferentes planos. Se isso é verdade, é preciso que o ser humanizado santifique a vida material. Para isso, não estou dizendo que não se pode ter casa, mas sim ter uma casa no seu sentido espiritual.

Ter uma casa dentro deste sentido é não possuir a casa (‘ele é minha’), mas habitar um lugar que pertence a Deus. É saber que a casa está sob sua guarda por empréstimo feito por Deus e que Ele pode dispor dela da forma que quiser: jogá-la abaixo, sujar a parede, inundá-la, etc. Quem convive com a casa onde mora numa relação espiritualizada, mora nela, mas não se diz capaz de definir o seu destino, pois sabe que é apenas um locatário e não um proprietário.

Mas, os seres humanizados não vivem assim: se imaginam proprietários do imóvel. É por isso que quando aparece um defeito na casa ele diz que ela não presta. Quando está velha, diz que não serve para nada. Isso porque o ser humanizado vive a casa sem santificá-la. Ele não dá o valor espiritual a casa, mas a utiliza pelo ouro, pela matéria. Se ela estiver bonita, limpa e arrumada, os ser humanizado gosta dela, mas se isso não acontecer, não gosta mais dela.

É por não dar o valor espiritual à casa que Deus, o proprietário, despeja o ser humanizado. Como vive pelo ouro, este ser, então, xinga a Deus com o seu sofrimento. Mas, que culpa tem Deus disso? Ele teve que tirá-lo de lá porque ele não estava satisfeito com ela, não convivia harmonicamente com a casa no estado que estava.

O ser humanizado vive pelo ouro do templo e não pelo próprio templo. Se Deus lhe dá um carro ele já quer um modelo mais novo, com mais acessórios; se o Pai lhe dá uma roupa, o ser humanizado diz que ela está fora de moda e quer outra; se o Senhor lhe dá um salário, o ser humanizado reclama dizendo que é pouco e que quer mais. É isso que é viver o ouro do templo.

Aquele que busca a consciência crística age ao contrário, santifica o ouro do templo: se o carro está velho ou sem novas tecnologias, o ser humanizado vive com ele em paz; se a roupa está gasta ou puída, vive harmonizado com ela; se o salário é pouco, vive com felicidade o pouco que pode desfrutar. Quem vive assim esta usando o ouro de uma forma santa, ou seja, está amando tudo que tem no estado que está e contendo o que contêm.

O ser humanizado não aceita o que tem. Está sempre buscando mudar aquilo com o que convive para satisfazer os seus conceitos de bom, certo, moderno, melhor. Santificar o que tem é vivenciar em paz, harmonia e felicidade o que tem sem achar que merece mais ou melhor. Santificar o ouro é agradecer a Deus tudo o que tem.

Não se está falando aqui em não ter desejos de outras coisas. O desejo é inerente ao ser humanizado. Ele sempre irá querer além daquilo que tem. Isso é algo normal e aquele que vivencia a consciência crística também quer, mas vivencia o que tem santificando-o, ou seja, convivendo com o que tem neste momento de uma forma harmônica, enquanto quem não santifica o ouro sofre com o que tem.

Além de falar em santificar o ouro, Cristo nos diz ainda que aquele que tem a consciência crística santifica a oferta. O que quer dizer isso?

A oferta a Deus é a existência que o ser humanizado vivencia. A vida humana de um ser é uma oferta ao Senhor.

Aquele que santifica a sua oferta a Deus vive harmonizado com aquilo que tem. Aquele que santifica o altar ao invés da oferta vive sempre buscando ter mais do que tem.

Quem só tem um prato de comida simples para comer, mas louva a Deus por isso santifica a sua existência. Aquele que sofre porque só tem um prato para o dia inteiro e quer fazer todas as refeições santifica o altar e não a oferta.

Estes são os dois ensinamentos de Cristo neste trecho. Mas, a amplitude deste ensinamento pode ser maior se extrapolarmos as possessões individuais e analisarmos o ensinamento na vida societária.

O que é santificar o ouro e o altar no tocante a convivência com os outros? É aceitar tudo o que o outro faz sem críticas, sem julgamentos. Quem santifica o ouro e o altar vive harmonicamente com o próximo mesmo que ele não faça ou não diga aquilo que o ser humanizado espera dele.

É isso que Cristo está dizendo. Aquele que alcança a consciência crística santifica, ou seja, vive harmonicamente, tudo aquilo que possui e tudo aquilo que os outros fazem para ele.

Existe algo que já falamos aqui e que os seres humanizados esquecem: se alguém não fizer algo contra ele ou se sua existência estiver perfeita dentro dos seus padrões individuais, não existe elevação. Alcançar a consciência crística depende totalmente do que se vivencia, pois ela é o resultado da santificação que se faz destas coisas.

Sabe, o seu filho deixar um quarto bagunçado é lhe dar a oportunidade de elevação... Uma pessoa lhe contrariar, dizer que você não sabe nada, lhe ofender, morar numa casa que não se gosta, ter algo que se acha atrasado, é oportunidade de elevação.

Tudo o que ser humanizado tem e vivencia é uma ação que dá a oportunidade do ser humanizado santificar a sua existência. Pergunto: se o ser universal não passar por estas coisas, para que encarnou. Para se divertir? No Universo, o ser universal se diverte de outras formas.

O ser humanizado precisa compreender que tudo o que tem e vivencia é necessário para que ele se liberte dos conceitos com que vive. Alcançar esta consciência é santificar tudo o que tem e todos os atos que as pessoas praticam à sua frente. Isso é santificar o ouro. Quem não vive assim, simplesmente utiliza o ouro, ou seja, sobrevive, passa pela vida.

Sem compreender que cada pessoa com a qual o ser humanizado convive faz exatamente o que ele precisa para a sua elevação espiritual, ele não santifica o ouro e o altar, ou seja, a sua oportunidade de encarnação. Quem não age assim vive na hipocrisia. Vive na falsidade de que o que ele quer e acha correto é o certo para o Universo.

Quem alcança a consciência crística santificando o que tem e o que vivencia não se sente vítima nem tem algoz. Sabe que tudo e todos são instrumentos necessários ao seu trabalho durante a encarnação.

O ser humanizado precisa mudar a visão que tem sobre as coisas e as pessoas do mundo. Precisa acabar com a visão do ouro pelo ouro e começar a ver de uma forma santa o ouro e o altar. Para isso é preciso alcançar a compreensão da santidade do ouro.

Tudo o que existe e acontece é santo. Não importa se estamos falando de uma simples ofensa (‘você é bobo’) ou de um assassinato: tudo faz parte do plano divino para a elevação espiritual de um ser universal. Tudo o que existe e acontece para um ser é o melhor para ele, pois é a justa medida daquilo que precisa para o seu trabalho de alcançar a consciência crística. Nem mais nem menos...

Vida é oportunidade de elevação; é carma em ação: mais nada... Um homem não se apaixona por uma mulher e vive junto com ela. Se estes dois seres humanizados estão juntos é porque cada um é o carma do outro, ou seja, cada um possui os elementos necessários para que o outro possa fazer a sua elevação. Se isso não fosse realidade, jamais estes dois seres teriam se encontrados nem estariam juntos. Para que estariam juntos? Para se divertir? No sentido espiritual, isso seria uma perda de tempo e no Universo isso não acontece...

Será que Deus colocaria dois seres convivendo juntos para que eles pudessem gozar o prazer de estarem juntos? Isso, no sentido da existência eterna, seria uma perda de tempo... Sobre isso, deixe-me dizer uma coisa: Deus não perde tempo, até porque Ele não tem tempo para perder... O que Ele quer é resolver a questão da elevação de cada ser. Fazer isso é dar a cada o que merece e precisa para realizar o trabalho necessário para alcançar a consciência crística.

Participante: Não há algo que um ser possa gerar por sua vontade mesmo que não esteja programado para o trabalho da elevação espiritual?

Impossível... Existe um Senhor que é onipotente, onipresente e onisciente e que por isso comanda pessoalmente todo o programa do trabalho da elevação espiritual.

O ser humanizado pode ter a ilusão de achar que faz o que quer, mas isso não pode acontecer. Sendo isso possível, pelo objetivo que lhe move (viver o ouro pelo ouro) e que é diferente de quando não humanizado, o ser não realizaria o trabalho necessário para a evolução.

Sendo isso verdade, não existe nada errado. Tudo que acontece e o que o ser humanizado possui é sempre uma oportunidade para que ele possa conhecer os conceitos que possui sobre os elementos do mundo e libertar-se deles. Tudo está sempre perfeito segundo a intenção de Deus: que o ser universal possa prosseguir na sua caminhada eterna. Apesar disso afirmo que apenas Deus conhece realmente a necessidade de cada um.

O ser quando se conscientiza de que a sua jornada humana é escrita por Deus para a sua elevação quer saber porque está trilhando este ou aquele caminho, mas isso é impossível. O ser humanizado não pode perscrutar as ações de Deus: só pode santificá-las ou não.

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Cansaço

Não existe cansaço, ninguém fica cansado pelos motivos que o ser humano imagina. Entendamos esse assunto.

Mesmo os espiritualistas firmam que o espírito não se cansa, mas que o corpo físico se cansa por esforços físicos. No entanto, não é isso que mostra a realidade.

Existem pessoas que executam funções materiais (trabalho) onde o esforço do corpo é exigido. São os trabalhadores braçais. Agora, preste bem atenção a esses trabalhadores, às suas atividades.

Eles labutam duramente na sua jornada de trabalho, mas no horário de folga (almoço, após o expediente), ao invés de procurem repouso, buscam mais atividades físicas. Vão jogar “bola”, andar, enfim, realizar mais trabalhos físicos.

Se o cansaço é uma decorrência do esforço físico tão somente, não seria de se imaginar que esses trabalhadores aproveitassem todos os momentos de folga para não realizarem esforços?

Além disso, existem outras classes de trabalhadores, aqueles que trabalham mais com o raciocínio do que com o esforço físico, que ao terminar o seu expediente de trabalho, corre para casa para sentar-se frente a uma televisão porque está cansado demais para outra coisa.

Afinal, o cansaço nasce do esforço físico? Está comprovado que não.

O cansaço surge da “má” nutrição do espírito. É uma reação ao acúmulo de sentimentos negativos que um ser utiliza durante uma jornada diária, seja no trabalho material ou fora dele, seja pelo esforço físico ou por inércia.

O trabalho material cansa porque é uma obrigação e não um é realizado com sentimentos positivos. O esforço físico não tem nada a ver com o cansaço que se alcança com o trabalho. Mesmo quando o corpo é exigido nos horários de descanso, a felicidade com que se faz o que quer, não deixa que o cansaço surja.

Tudo que é feito com felicidade não cansa. Tudo que é feito por obrigação não precisa de esforço físico, pois cansa da mesma forma.

Repare em um passeio. Quando se sai de casa com toda a ansiedade de chegar, de desfrutar dos momentos que virão, não existe cansaço. Enquanto permanece no local se divertindo, não existe cansaço. É só verificar que chegou o momento de retornar o cansaço surge.

Não por causa das atividades desenvolvidas durante o dia, mas porque o ser começa a retornar às suas preocupações diárias. Ele começa a se “ligar” novamente nas obrigações que terá pela frente no próximo dia e esse sentimento gerará o estado de espírito cansado.

O cansaço normalmente leva ao sono, ou seja, à retirada do espírito do corpo físico para que possa, livremente, abastecer-se de sentimentos mais positivos. O sono, por si só, não é reparador, mas o que o espírito faz durante esse estágio da vida é que pode lhe descansar.

Se ele sair da carne para continuar vibrando dentro das energias negativas, o cansaço continuará e no outro dia acordará todo “doído” e acusará o colchão ou outras pessoas que não lhe deixaram descansar. Mas, preparando-se para o sono com a oração e a limpeza de suas formações mentais (pensamentos) acordará bem disposto, sem cansaço.

Não é o sono que descansa, mas a desintoxicação sentimental que o espírito fez durante esse estágio que alterou a sua “disposição”. Agora ele está com sentimentos mais puros, mais leves: alimentado sem toxinas.

Jamais a inércia trará o descanso. Quantas vezes você não disse que “ficar à toa cansa”? Apenas a realização de todos os atos com sentimentos positivos (amor), pode acabar com o cansaço do ser.

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Relacionando-se com a vida

Jesus disse: o Reino do céu é como o dono de uma plantação de uvas que saiu de manhã bem cedo para contratar trabalhadores para a sua plantação. Como era o costume, ele combinou com eles o salário de uma moeda de prata por dia e mandou que fossem trabalhar na sua plantação. Às nove horas, saiu outra vez, foi à praça do mercado e viu ali alguns homens que não estavam fazendo nada. Então disse: vão vocês também trabalhar na minha plantação de uvas e eu pagarei o que for justo. E eles foram. Ao meio dia e às três horas da tarde fez a mesma coisa com outros trabalhadores. Eram quase cinco horas da tarde quando o dono da plantação voltou à praça. Viu outros homens que ainda estavam alie perguntou: por que vocês estão o dia todo aqui sem fazer nada? É porque ninguém nos contratou, responderam eles. Então ele disse: vão vocês também trabalhar na minha plantação. No fim do dia, ele disse ao administrador: chame os trabalhadores e faça o pagamento, começando pelos que foram contratados por último e terminando pelos primeiros. Os homens que começaram a trabalhar às cinco horas da tarde receberam uma moeda de prata cada um. Então os que foram contratados primeiro pensaram que iam receber mais, porém eles também receberam uma moeda de prata cada um. Pegaram o dinheiro e começaram a resmungar contra o patrão, dizendo: Estes homens foram contratados por último e trabalharam somente uma hora, mas nós agüentamos o dia todo debaixo deste sol quente. No entanto, o pagamento deles foi igual ao nosso. Aí o dono disse a um deles: escute , amigo, eu não fui injusto com você. Você não concordou em trabalhar o dia todo por uma moeda de prata? Pegue o seu pagamento e vá embora. Pois eu quero dar a este homem, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com o próprio dinheiro? Ou você está com inveja somente porque fui bom com ele?

Cristo está afirmando que o reino do céu é como o dono da plantação de uva desta parábola. Vamos tentar entendê-la, então...

O reino do céu neste caso é o próprio Universo: tanto aquele que os seres humanizados chamam de espiritual como o de material. No Universo esta é a realidade: cada trabalhador da seara do Senhor é contratado por Deus para executar um trabalho e Ele paga a cada um aquilo que foi combinado. Esta é uma realidade universal da qual ninguém pode fugir: ninguém recebe mais do que outro, mas sim o justo, ou seja, aquilo que foi contratado antes da encarnação.

Os trabalhadores da parábola são como as pessoas mais velhas que acham que deveriam receber mais do que têm porque já estão encarnados há muito tempo. Mas, isso não é real. Deus não dá a cada ser olhando tempo de encarnação, mas sim o justo, aquilo que foi contratado entre o Pai e o ser antes da encarnação.

Esse é o fundamento da Causa Primária. Durante estes anos de estudo estamos falando em Deus Causa Primária e os seres humanizados que nos ouviram chegaram a imaginar que Deus dá a cada um segundo a Sua vontade, mas isso é irreal, é ilusão. Deus dá a cada um aquilo que foi contratado antes da encarnação.

Sabem de uma coisa? Deus não tem livre arbítrio. Ele não pode escolher o que dar a cada um. Precisa dar aquilo que foi acertado, não importando quanto tempo se está na roda de encarnação ou quanto tempo se está encarnado.

Para Deus, vale aquilo que foi contratado antes da encarnação e Ele dará exatamente isso, não importando quanto tempo ou trabalho o ser já fez. Esta idéia é muito importante para que possamos compreender uma coisa muito interessante.

Ora, se Deus dá a cada o que foi contratado antes da encarnação, de que adianta ao ser humanizado (o espírito encarnado) pedir alguma coisa a Deus?

Sabe, vocês não têm noção de como as pessoas se relacionam com Deus. Já trabalhei em um centro espírita e pude verificar que a maioria das pessoas que buscam a Deus só o faz para pedir algo a favor dela ou contra outra pessoa. São pessoas que se não recebem se desiludem e aí passam a desacreditar em Deus, na entidade, ou a casa, igreja, centro, dizendo que estes locais não prestam. Mas, apesar destas pessoas se dizerem cristãs, elas não leram a Bíblia. Afirmo isso porque aí está a informação de Cristo: o dono da plantação paga exatamente o que foi contratado antes do serviço.

Portanto, é muito importante se conhecer este ensinamento de Cristo para se ter a consciência que, depois de humanizado, de nada adianta pedir algo a Deus. Aliás, quando estudamos o Pai Nosso eu lembro que vimos o seguinte texto: ‘Não sejam como eles, pois o Pai já sabe o que vocês precisam, antes de pedirem’.

Os seres humanizados precisam começar a conviver com esta realidade. Por quê? Porque aquele que pede comprova que não tem fé, pois condiciona sua entrega à realização dos seus desejos. Este é o grande problema de pedir: quem pede espera receber e quem tem esta pretensão falta com o elemento fundamental da elevação espiritual que é a fé.

O ser humanizado que insiste em pedir não pode nem dizer que desconhecia o ensinamento, pois Cristo nesta parábola é bem claro. Quando o dono fala com os empregados revoltados, diz: você acha que tenho que agir do jeito que você quer, tenho que lhe dar de acordo com aquilo que você acha que merece? Não, Deus não tem que dar ao ser humanizado o que ele acha que merece, pois acordou com o ser antes da encarnação o pagamento pelo seu trabalho.

Mas, por que este ser acha que merece mais? Ele acha que deve receber mais porque acha que o outro trabalhador contratado por último está ganhando mais. A idéia de que o outro está ganhando mais é apenas na verdade do ser humanizado, pois ninguém recebe mais: todos ganham o que foi acertado individualmente.

Só isso já bastaria para a compreensão de que o ser humanizado não deve pedir nada além daquilo que recebe. Mas, Cristo é mais direto. Ele diz que o dono da plantação fala àquele que quer receber mais do que o combinado: você está com inveja... Sim, quem pede a Deus aquilo que não recebe da vida está com inveja do outro. Demonstra que queria ganhar mais do que o próximo: isso é inveja...

Portanto, através desta parábola de Cristo, podemos ver bem claramente a história que cada um recebe aquilo que foi acordado antes da encarnação.

Mas, nesta parábola ainda há mais. Vamos continuar lendo-a.

E Jesus terminou dizendo: Assim, aqueles que são os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros.

Nesta parábola há dois ensinamentos. O primeiro afirma que cada um recebe o pactuado e um segundo que nasce da revolta de sentir-se passado para trás. Na primeira parte falamos do pedir, nesta segunda vamos falar da imaginária justiça justa que cada ser humanizado acha que tem, mas que na verdade é uma expressão do egoísmo.

O que o ser humanizado acha justo não o é, pois esta justiça é calcada em cima dos seus desejos e paixões. Portanto, é um egoísmo.

No caso desta parábola, aqueles que foram contratados primeiro achavam que deveriam receber antes e que isso seria justo. Mas, como diz o dono da plantação: eu pago o valor pactuado na hora que acho que devo pagar e você não deve dizer quando fazer isso...

Aí Cristo conclui o ensinamento dizendo: aquele que acha que deve ser o primeiro será o último e aquele que está por último será o primeiro no reino do céu. Vamos entender isso...

Neste ensinamento Cristo não está falando da ordem de recebimento, mas do anseio de querer receber primeiro. Ele está dizendo: aqueles que querem receber primeiro serão os últimos no reino do céu e aqueles que não se preocupam em receber antes, esses receberão primeiro. Este é o ensinamento de Cristo e se ele é uma forma de amar, precisamos compreende isso perfeitamente.

O que é o anseio de querer ganhar, de querer receber antes dos outros? Egoísmo. O ser se humaniza justamente para se libertar do egoísmo. Todos encarnam para se libertar do egoísmo. Se isso é verdade, aquele que dá asas ao egoísmo é quem não aproveita a encarnação como instrumento da elevação espiritual.

É por isso que ele é o último no reino do céu. Como pode receber antes se não realizou a reforma íntima? Reforma íntima trata-se exatamente disso: o ser humanizado reformar o seu interior que é predominantemente egoísta.

Não estou falando de ser egoísta como mau ou coisa feia. Estou falando de uma característica de um ser humanizado. Todo espírito humanizado é por natureza egoísta, pois parte sempre do eu, dele mesmo. Tudo que ele trabalha mentalmente é fruto de desejos, de paixões e de posses que são expressões do egoísmo.

Repare no que você pensa. Veja se não há esta lógica no seu raciocínio, ou seja, tudo que você acredita está certo e tudo o que você quer merece receber. O que você pensa sempre espelha o que quer e não querer o que não quer. O que você pensa que acredita sempre está certo e o que os outros falam sempre está errado.

É isso que o ser humanizado precisa entender. Pouquíssimos aceitam aquilo que não querem sem expressar a sua dor por isso. Pouquíssimos aceitam libertar-se de querer ganhar para dar ao outro o direito de também receber.

Saiba de uma coisa: a vitória de um ser humanizado é a derrota de outro. Isso porque não existe dois seres que queiram a mesma coisa com a mesma intensidade (gênero número e grau) e no mesmo momento. Todo pensamento do ser humanizado fundamenta-se em querer o que quer, na hora que quer e com a intensidade que quer e com isso não dá ao próximo o direito de querer, de ter a sua vontade satisfeita.

É isso que Cristo está ensinando quando fala que o primeiro no reino da terra será o último no do céu. Ou seja, aquele que anseia em ganhar, em receber, em ter prazer, em ser reconhecido como uma pessoa certa, inteligente, bonita e aquele que luta para receber o elogio, será o último a receber no reino do céu. Isso acontece porque não trabalharam o seu egoísmo e dão asas a ele vivenciando a ansiedade que a personalidade humana cria.

Agora aquele que, apesar dos pensamentos desejarem, não ansiar por ganhar, ou seja, não revolta-se e não luta para exigir da vida que ela lhe pague mais e antes dos outros, esse será o que mais receberá no reino do céu. Isto porque esse fez a sua reforma íntima, alcançou a sua evolução espiritual e amou a Deus acima do seu desejo e amou o desejo do próximo tanto quanto amou o seu.

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Relacionando-se com a vida

Jesus disse: o Reino do céu é como o dono de uma plantação de uvas que saiu de manhã bem cedo para contratar trabalhadores para a sua plantação. Como era o costume, ele combinou com eles o salário de uma moeda de prata por dia e mandou que fossem trabalhar na sua plantação. Às nove horas, saiu outra vez, foi à praça do mercado e viu ali alguns homens que não estavam fazendo nada. Então disse: vão vocês também trabalhar na minha plantação de uvas e eu pagarei o que for justo. E eles foram. Ao meio dia e às três horas da tarde fez a mesma coisa com outros trabalhadores. Eram quase cinco horas da tarde quando o dono da plantação voltou à praça. Viu outros homens que ainda estavam alie perguntou: por que vocês estão o dia todo aqui sem fazer nada? É porque ninguém nos contratou, responderam eles. Então ele disse: vão vocês também trabalhar na minha plantação. No fim do dia, ele disse ao administrador: chame os trabalhadores e faça o pagamento, começando pelos que foram contratados por último e terminando pelos primeiros. Os homens que começaram a trabalhar às cinco horas da tarde receberam uma moeda de prata cada um. Então os que foram contratados primeiro pensaram que iam receber mais, porém eles também receberam uma moeda de prata cada um. Pegaram o dinheiro e começaram a resmungar contra o patrão, dizendo: Estes homens foram contratados por último e trabalharam somente uma hora, mas nós agüentamos o dia todo debaixo deste sol quente. No entanto, o pagamento deles foi igual ao nosso. Aí o dono disse a um deles: escute , amigo, eu não fui injusto com você. Você não concordou em trabalhar o dia todo por uma moeda de prata? Pegue o seu pagamento e vá embora. Pois eu quero dar a este homem, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com o próprio dinheiro? Ou você está com inveja somente porque fui bom com ele?

Cristo está afirmando que o reino do céu é como o dono da plantação de uva desta parábola. Vamos tentar entendê-la, então...

O reino do céu neste caso é o próprio Universo: tanto aquele que os seres humanizados chamam de espiritual como o de material. No Universo esta é a realidade: cada trabalhador da seara do Senhor é contratado por Deus para executar um trabalho e Ele paga a cada um aquilo que foi combinado. Esta é uma realidade universal da qual ninguém pode fugir: ninguém recebe mais do que outro, mas sim o justo, ou seja, aquilo que foi contratado antes da encarnação.

Os trabalhadores da parábola são como as pessoas mais velhas que acham que deveriam receber mais do que têm porque já estão encarnados há muito tempo. Mas, isso não é real. Deus não dá a cada ser olhando tempo de encarnação, mas sim o justo, aquilo que foi contratado entre o Pai e o ser antes da encarnação.

Esse é o fundamento da Causa Primária. Durante estes anos de estudo estamos falando em Deus Causa Primária e os seres humanizados que nos ouviram chegaram a imaginar que Deus dá a cada um segundo a Sua vontade, mas isso é irreal, é ilusão. Deus dá a cada um aquilo que foi contratado antes da encarnação.

Sabem de uma coisa? Deus não tem livre arbítrio. Ele não pode escolher o que dar a cada um. Precisa dar aquilo que foi acertado, não importando quanto tempo se está na roda de encarnação ou quanto tempo se está encarnado.

Para Deus, vale aquilo que foi contratado antes da encarnação e Ele dará exatamente isso, não importando quanto tempo ou trabalho o ser já fez. Esta idéia é muito importante para que possamos compreender uma coisa muito interessante.

Ora, se Deus dá a cada o que foi contratado antes da encarnação, de que adianta ao ser humanizado (o espírito encarnado) pedir alguma coisa a Deus?

Sabe, vocês não têm noção de como as pessoas se relacionam com Deus. Já trabalhei em um centro espírita e pude verificar que a maioria das pessoas que buscam a Deus só o faz para pedir algo a favor dela ou contra outra pessoa. São pessoas que se não recebem se desiludem e aí passam a desacreditar em Deus, na entidade, ou a casa, igreja, centro, dizendo que estes locais não prestam. Mas, apesar destas pessoas se dizerem cristãs, elas não leram a Bíblia. Afirmo isso porque aí está a informação de Cristo: o dono da plantação paga exatamente o que foi contratado antes do serviço.

Portanto, é muito importante se conhecer este ensinamento de Cristo para se ter a consciência que, depois de humanizado, de nada adianta pedir algo a Deus. Aliás, quando estudamos o Pai Nosso eu lembro que vimos o seguinte texto: ‘Não sejam como eles, pois o Pai já sabe o que vocês precisam, antes de pedirem’.

Os seres humanizados precisam começar a conviver com esta realidade. Por quê? Porque aquele que pede comprova que não tem fé, pois condiciona sua entrega à realização dos seus desejos. Este é o grande problema de pedir: quem pede espera receber e quem tem esta pretensão falta com o elemento fundamental da elevação espiritual que é a fé.

O ser humanizado que insiste em pedir não pode nem dizer que desconhecia o ensinamento, pois Cristo nesta parábola é bem claro. Quando o dono fala com os empregados revoltados, diz: você acha que tenho que agir do jeito que você quer, tenho que lhe dar de acordo com aquilo que você acha que merece? Não, Deus não tem que dar ao ser humanizado o que ele acha que merece, pois acordou com o ser antes da encarnação o pagamento pelo seu trabalho.

Mas, por que este ser acha que merece mais? Ele acha que deve receber mais porque acha que o outro trabalhador contratado por último está ganhando mais. A idéia de que o outro está ganhando mais é apenas na verdade do ser humanizado, pois ninguém recebe mais: todos ganham o que foi acertado individualmente.

Só isso já bastaria para a compreensão de que o ser humanizado não deve pedir nada além daquilo que recebe. Mas, Cristo é mais direto. Ele diz que o dono da plantação fala àquele que quer receber mais do que o combinado: você está com inveja... Sim, quem pede a Deus aquilo que não recebe da vida está com inveja do outro. Demonstra que queria ganhar mais do que o próximo: isso é inveja...

Portanto, através desta parábola de Cristo, podemos ver bem claramente a história que cada um recebe aquilo que foi acordado antes da encarnação.

Mas, nesta parábola ainda há mais. Vamos continuar lendo-a.

E Jesus terminou dizendo: Assim, aqueles que são os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros.

Nesta parábola há dois ensinamentos. O primeiro afirma que cada um recebe o pactuado e um segundo que nasce da revolta de sentir-se passado para trás. Na primeira parte falamos do pedir, nesta segunda vamos falar da imaginária justiça justa que cada ser humanizado acha que tem, mas que na verdade é uma expressão do egoísmo.

O que o ser humanizado acha justo não o é, pois esta justiça é calcada em cima dos seus desejos e paixões. Portanto, é um egoísmo.

No caso desta parábola, aqueles que foram contratados primeiro achavam que deveriam receber antes e que isso seria justo. Mas, como diz o dono da plantação: eu pago o valor pactuado na hora que acho que devo pagar e você não deve dizer quando fazer isso...

Aí Cristo conclui o ensinamento dizendo: aquele que acha que deve ser o primeiro será o último e aquele que está por último será o primeiro no reino do céu. Vamos entender isso...

Neste ensinamento Cristo não está falando da ordem de recebimento, mas do anseio de querer receber primeiro. Ele está dizendo: aqueles que querem receber primeiro serão os últimos no reino do céu e aqueles que não se preocupam em receber antes, esses receberão primeiro. Este é o ensinamento de Cristo e se ele é uma forma de amar, precisamos compreende isso perfeitamente.

O que é o anseio de querer ganhar, de querer receber antes dos outros? Egoísmo. O ser se humaniza justamente para se libertar do egoísmo. Todos encarnam para se libertar do egoísmo. Se isso é verdade, aquele que dá asas ao egoísmo é quem não aproveita a encarnação como instrumento da elevação espiritual.

É por isso que ele é o último no reino do céu. Como pode receber antes se não realizou a reforma íntima? Reforma íntima trata-se exatamente disso: o ser humanizado reformar o seu interior que é predominantemente egoísta.

Não estou falando de ser egoísta como mau ou coisa feia. Estou falando de uma característica de um ser humanizado. Todo espírito humanizado é por natureza egoísta, pois parte sempre do eu, dele mesmo. Tudo que ele trabalha mentalmente é fruto de desejos, de paixões e de posses que são expressões do egoísmo.

Repare no que você pensa. Veja se não há esta lógica no seu raciocínio, ou seja, tudo que você acredita está certo e tudo o que você quer merece receber. O que você pensa sempre espelha o que quer e não querer o que não quer. O que você pensa que acredita sempre está certo e o que os outros falam sempre está errado.

É isso que o ser humanizado precisa entender. Pouquíssimos aceitam aquilo que não querem sem expressar a sua dor por isso. Pouquíssimos aceitam libertar-se de querer ganhar para dar ao outro o direito de também receber.

Saiba de uma coisa: a vitória de um ser humanizado é a derrota de outro. Isso porque não existe dois seres que queiram a mesma coisa com a mesma intensidade (gênero número e grau) e no mesmo momento. Todo pensamento do ser humanizado fundamenta-se em querer o que quer, na hora que quer e com a intensidade que quer e com isso não dá ao próximo o direito de querer, de ter a sua vontade satisfeita.

É isso que Cristo está ensinando quando fala que o primeiro no reino da terra será o último no do céu. Ou seja, aquele que anseia em ganhar, em receber, em ter prazer, em ser reconhecido como uma pessoa certa, inteligente, bonita e aquele que luta para receber o elogio, será o último a receber no reino do céu. Isso acontece porque não trabalharam o seu egoísmo e dão asas a ele vivenciando a ansiedade que a personalidade humana cria.

Agora aquele que, apesar dos pensamentos desejarem, não ansiar por ganhar, ou seja, não revolta-se e não luta para exigir da vida que ela lhe pague mais e antes dos outros, esse será o que mais receberá no reino do céu. Isto porque esse fez a sua reforma íntima, alcançou a sua evolução espiritual e amou a Deus acima do seu desejo e amou o desejo do próximo tanto quanto amou o seu.

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É justo ser injusto

O que é “fazer justiça”? Trata-se de atender a preceitos que sejam considerados “certos”, “corretos”. Fazer justiça é dar razão a quem está “certo”...

A partir daí, podemos dizer que cometer uma injustiça é fazer o que está “errado”. Quem comete uma injustiça está agindo de forma errônea.

Mas, será que está mesmo? Quais são os critérios que definem o que é justo e o que não é?

Muitos diriam que estes critérios são estabelecidos de forma comunitária para cada sociedade. Mas, será que realmente estes critérios estabelecem o que é justo? Para entender isso, vamos ficar na nossa própria sociedade.

Quem de nós nunca deu dinheiro a um guarda para que ele não multasse o carro, mesmo quando quebramos os critérios de nossa comunidade sobre velocidade, exigências para se dirigir ou para estacionar? Quem de nós se preocupa em atender a lei que manda conservar a calçada de nossas residências? Quem de nós não tenta aumentar os abatimentos legais, mesmo que de forma fictícia, no final do ano para poder receber mais devolução do imposto de renda?

Será que agir assim é ser justo? Claro que não, pois estamos ferindo o código comunitário que legisla sobre estas atividades. Mas, consideramos injusto agir assim? Novamente, claro que não...

Achamos justos gastarmos menos com a propina do que com a multa; achamos justos poupar o dinheiro para nosso lazer do que consertar a calçada para proteger o pedestre; achamos justos receber mais de devolução do imposto de renda porque, afinal, “o governo é rico”...

Mas, pior do que menosprezar os códigos de leis é legalizar a injustiça...

É, nós seres humanos não só desprezamos os códigos legais quando nos convém, como ainda muitas vezes legalizamos a injustiça para não dar margem nenhuma a sermos condenados por estarmos “errados”. Esta legalização se faz através dos parágrafos que são colocados abaixo do código legal permitindo fazer o que o artigo diz que não deve ser feito.

Um dos exemplos mais gritantes da legalização da injustiça é o artigo 157 do Código Penal Brasileiro. Ele é taxativo: “não matar”. Apesar dele ser taxativo logo abaixo existem diversos parágrafos que criam condições onde matar é permitido...

Sei que é um exemplo questionável por se tratar de defesa da vida, mas quantos artigos dos códigos penal e cível que legislam sobre coisas não tão fundamentais não possuem parágrafos que criam condições para que a lei seja quebrada?

Se tudo isso é real – e é – a justiça, então, não é determinada pelos códigos de leis que regem cada comunidade, mas sim pelos valores de cada um. Ou seja, são os conceitos ou valores que existem em cada ser humano que determina o que é justo para ele e estes conselhos não se prendem a outra coisa, inclusive o código comunitário, a não ser ao próprio “achar” individual de cada um...

 Com a percepção de tudo isso, deveríamos, se pudéssemos, mudar a idéia que temos hoje do que é “fazer justiça”. Se a justiça é determinada pelos conceitos individuais de cada um e não pelo código comunitário, posso dizer que “fazer justiça” é agir de acordo com o que aquele ser humano considera justo...

A partir daí, temos também que mudar a idéia sobre injustiça. O que é ser injusto, então? É a ação do próximo que não condiz com os critérios de justo de um ser humano...

Mas, será que aquela pessoa foi realmente injusta? Acho que não porque mesmo que ele tenha agido contrário ao critério de justo do outro, ele agiu dentro do seu critério de justo...

Vou dar um exemplo. A família de um amigo meu certa vez correu para escondê-lo porque ele, dirigindo bêbado de madrugada, tinha atropelado uma pessoa. Eles se prontificaram a ajudar a pessoa atropelada, mas desde que ela não apresentasse queixa...

Isso é injusto? Para eles não. Os conceitos ou verdades destas pessoas diziam que o que seria injusto é um rapaz novo, com um futuro promissor, tivesse a sua vida “estragada” por causa de um ato de irresponsabilidade da juventude...

Eles estavam “errados” quando fizeram isso? Claro que não... Para eles não havia nada “errado” nesta forma de proceder porque eles consideravam mais importante (justo) preservar o futuro do rapaz...

Diante de tudo isso, volto a perguntar: quando ocorre uma injustiça? Quando os nossos critérios de justos não são atendidos...

Isso quer dizer que aconteceu uma injustiça? Não, apenas que o outro seguiu os critérios de justiça dele...

Indo um pouco além, pergunto: diante de tudo isso, será que temos o direito de chamar alguém de injusto? Sim, temos... Por quê? Porque não conseguimos alterar os nossos conceitos...

Os conceitos humanos que criam os padrões de justiça e, por conseguinte, de injustiça estão tão enraizados e tão fundamentados por outros conceitos que eliminá-los seria uma tarefa inócua. Além do mais, tendo em vista a estrutura racional da mente humana, ao destruirmos um conceito certamente faríamos outro...

Então, temos que viver chamando de injusto o que é, pelo menos na idéia do outro, justo? Não... Mas, se não podemos deixar de ter conceitos, como fazer então? Apenas seguir o que foi ensinado...

Cristo disse: ame os outros como a si mesmo. Aplicar este preceito a este aspecto da vida humana é amar o critério de justiça do outro, como você ama o seu próprio...

Não, não estou falando em aceitar os critérios de justiça do outro ou em entendê-los ou ainda pior, compartilhar com ele seus critérios. O que estou falando é em dar ao próximo o direito de ter critérios de justiça diferentes do seu...

Não se trata de passar a achar o que ele acha sobre as coisas, mas em praticar a verdadeira caridade como ensina o Espírito da Verdade: dar ao outro o que deseja para si... Se você quer para si o direito de saber o que é justo, deve doar ao próximo o direito de também querer sabê-lo...

Pronto... Se você acha que consegue mudar a sua forma de pensar, ao invés de querer lutar contra os seus conceitos, que como já vimos não trará vitória alguma, aceite que o outro tenha o padrão dele de justiça que está sendo utilizado naquele momento e confrontado com o seu.

Com isso acabam todas as injustiças do mundo... Todas as injustiças transformar-se-ão em justiças, pois se tornarão um ato fundamentado no critério justo do outro.

Isso que falamos é “certo”, segundo os preceitos dos ensinamentos religiosos, pois cada um tem o direito de livre optar por acreditar como justo o que ele quiser...

Sendo assim, é justo ser injusto...

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Carregando as cruzes diárias

Quem não carregar a sua cruz e não me seguir não pode ser meu discípulo.

Para se tornar um discípulo de Cristo, segundo os ensinamentos do mestre, é preciso amar a sua consciência espiritual acima de qualquer coisa deste mundo, como já vimos. Agora ele coloca outra condição: pegar a sua cruz e segui-lo. Esta é uma informação muito interessante que precisamos entender.

Será que Jesus Cristo foi crucificado pelos romanos? Para responder a esta pergunta vou buscar o auxílio do apóstolo Paulo. Ele diz assim: Cristo entregou-se à cruz. Sendo isso verdade, temos que compreender que Cristo não foi crucificado, mas entregou-se à cruz.

Esta visão é muito diferente da outra. A primeira hipótese, ser crucificado, nos leva a compreender que houve uma ação externa que criou o episódio da crucificação. Já na segunda, encontramos uma motivação interior: entregar-se à cruz. Esta é uma coisa que a humanidade precisa parar para pensar.

Se formos ler a Bíblia, vamos encontra em diversos momentos, inclusive antes do nascimento de Jesus, a informação – e se ela é por parte dele existe a confirmação – de que Jesus Cristo será crucificado. Ou seja, o futuro acontecimento da crucificação é uma realidade conhecida pelo mestre e prevista antes dele vir à carne. Portanto, aqueles que participaram do teatro da crucificação achavam que estavam fazendo alguma quando na realidade não estavam fazendo nada: apenas estava acontecendo o que já era previsto e aceito pelo próprio Jesus e designado por Deus.

Lendo o livro Apocalipse da Bíblia, encontramos a cerimônia da posse de Cristo como Governador Geral do planeta. Nesta passagem encontramos o seguinte texto:

Quem é digno de quebrar os selos e abrir o livro?...

Então um dos lideres me disse: não chore. Olhe! O Leão da tribo de Judá, o descendente do rei David, conseguiu a vitória e pode quebrar os sete selos e abrir o livro. ...

Os anjos cantavam: Tu és digno de pegar o livro e de quebrar os selos, pois foste morto na cruz e, por meio da tua morte, compraste para Deus pessoas de todas as tribos, línguas, nações e raças.

Nesta cerimônia, que aconteceu muito antes da primeira encarnação no planeta já está, então, prevista a vitória do Cordeiro (Cristo) sobre a morte na cruz. Isso prova, definitivamente, que a crucificação não foi uma atitude decretada por Pilatos e conduzida pelos soldados romanos, mas algo que já estava previsto muito antes da encarnação Jesus Cristo.

Cristo entregou-se à cruz: este é o conhecimento fundamental sobre a crucificação para quem busca a consciência crística. Quem busca vivenciar os acontecimentos do mundo como o mestre os vivenciou precisa estar consciente que ninguém julgou, crucificou ou matou Jesus Cristo, mas que o mestre entregou-se amorosamente a este processo.

Este mesmo Cristo que se entregou à cruz nos diz: se você não pegar a sua cruz... O que quer dizer isso? Se você não entregar-se à sua cruz e seguir Cristo, não poderá ser seu discípulo, ou seja, viver os acontecimentos do mundo com a mesma consciência que ele viveu.

É claro que nos dias de hoje não se fala mais em prender ninguém na cruz, mas todo ser humanizado vivencia momentos de crucificações. Estes momentos, figurativamente falando, são aqueles onde o ser humanizado vivencia o que não gosta, quando é passado para trás, quando é criticado, vilipendiado e agredido. Fazendo esta figura, podemos entender o ensinamento do mestre neste trecho dos evangelhos canônicos.

Cristo ao afirmar que para ser seu discípulo é preciso pegar a sua cruz e segui-lo, está criando uma condicionalidade para que o ser humanizado possa alcançar a consciência crística. Esta condicionalidade afirma que é preciso que o ser humanizado que alcançar a felicidade precisa entregar-se aos seus momentos de sofrimento e de contrariedade.

Aquele que quer fugir desses momentos, que quer que eles acabem, não tem condições de ser discípulo de Cristo. Aquele que reza a Deus pedindo que afaste a sua doença ou que termine com os momentos onde ele é agredido ou caluniado, não tem condições de se tornar um discípulo de Cristo. Aliás, nas próprias bem aventuranças Cristo diz:

Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes, porque está guardada para vocês uma grande recompensa no céu. Pois foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.

Reparem como Cristo fala nas bem aventuranças: quando, ou seja, no exato momento que...

Esta é uma grande verdade: sem as situações de desgosto o ser humanizado não tem condições de fazer a reforma íntima. Sem entregar-se – reparem que não estou falando em causar, mas entregar-se – e vivenciar até o último gole do cálice que o Pai lhe oferece, o ser humanizado não consegue chegar ao reino do céu.

É isso que Cristo mais uma vez está ensinando. Não adianta o ser humanizado querer fugir das suas cruzes diárias, não adianta dizer que os outros o crucifica; é necessário que o ser humanizado ser entregue às suas cruzes.

Mas, Cristo fala mais ainda. Ele diz que é preciso pegar a sua cruz e segui-lo, ou seja, vivenciar estes momentos num estado paz, felicidade e harmonia com o mundo e consigo mesmo. Para se conseguir a consciência crística não basta apenas passar pelas situações de sofrimento, mas é preciso vivenciá-las da mesma forma que o mestre as vivenciou. Como ele vivenciou a crucificação: Pai, louva o seu nome através de mim...

Portanto, este é o ensinamento completo: carregue a sua cruz, ou seja, não fuja dos seus momentos de sofrimentos, mas ao vivenciá-los faça louvando a Deus (em felicidade plena) e não sofrendo. Aliás, esta informação também está em O Livro dos Espíritos: alcança a perfeição aquele que vivencia a sua encarnação (vida humana) sem ranger de dentes...

Fiz toda a introdução neste assunto abordando a entrega de Cristo à cruz para que a humanidade pare de culpar os romanos ou o clero judeu, os ricos e poderosos da morte do mestre, pois ninguém crucificou Cristo. E falei do ensinamento para que vocês entendam que se não entregarem-se às suas cruzes diárias ao invés de ficar rezando a Deus pedindo que ele afaste de vocês esse cálice, não conseguirão atingir à elevação espiritual, entra no reino do céu ou qualquer nome que queiram dar.

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Liberdade

“LIBERDADE – 1. Faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a sua própria determinação” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição).

O maior anseio do ser humano é alcançar a sua liberdade, ou seja, decidir ou agir segundo a sua própria determinação. Para isto, busca o crescimento material, ou seja, estuda e trabalha com a finalidade de poder ganhar a liberdade de conseguir tudo aquilo que a ignorância e a carência material não deixariam que ele alcançasse. Porém, quanto mais evolui cultural e economicamente, mais se torna escravo da sua nova condição.

O ser humano está sempre preso por normas, padrões e conceitos que regem a sua vida. Quanto mais dinheiro e conhecimento o ser humano adquire, sobe nas “castas” sociais e novas “regras” são impostas para que ele permaneça neste meio. Desta forma, ao invés de adquirir a tão sonhada liberdade, o homem vai cada vez mais enriquecendo a gaiola na qual se tranca.

Liberdade é decidir e agir segundo a sua própria determinação e não realizar algo porque regras e normas impõem aquela forma de ação. Criam-se regras de etiqueta, normas de sociedade, padrões de conduta, que o homem, para poder ser recebido naquele convívio social, acaba submetendo-se, extinguindo, assim, com a sua liberdade. O homem se acha livre, mas na verdade é um escravo das regras que ele mesmo cria para si.

“Não imponhais nenhuma regra, além daquela da qual eu fui testemunho. Não ajunteis leis às dadas por Aquele que vos deu a Tora a fim de não vos tornardes seus escravos”. Jesus Cristo (Evangelho de Maria – Miriam de Mágdala – página 09)

Cristo já havia advertido aos seus discípulos que não deveriam ser criadas novas leis além daquelas que ele próprio foi o Testemunho. O Mestre banqueteou-se com mendigos e cobradores de impostos, caminhou com prostituas e gente de má fama e fez curas no sábado (o que era proibido pelas leis dos judeus). Em nenhum momento Cristo submeteu-se a outra lei do que amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Todas as outras leis criadas sem estes precedentes tornam o ser humano escravo delas próprias. Não se pode freqüentar lugares de má fama, diz a lei religiosa, mas Cristo foi à casa de um cobrador de impostos para jantar e disse: eu não vim para os sãos. Não se pode usar duas cores que não “combinam”, diz a lei do bom gosto, mas Cristo perguntou porque nos preocupamos com nossas vestimentas se é o Pai quem nos provê de roupas.

Para que o homem alcance a verdadeira liberdade é preciso que ele elimine todas as outras leis e apenas cumpra aquelas que Cristo deu testemunho. É preciso amar a Deus acima de todas as coisas, sejam elas quais forem e amar ao próximo como a si mesmo. Esta é a verdadeira liberdade.

Não estamos fazendo apologia da bagunça, da libertinagem, mas alertamos que a verdadeira liberdade só será alcançada quando o homem atingir a consciência de praticar atos que reflitam o amor universal. É preciso atingir a consciência de não se ferir os outros e não deixar de fazer apenas porque é proibido.

Quando alguém deixa de fazer algo apenas porque existe uma lei para que ele não faça, estará se ferindo através do desejo não realizado; se fizer, estará ferindo os outros. É esta equação de difícil solução que somente o amor pode acabar. Para que o homem pratique o ato sem sofrimento é necessário que tenha a consciência do sofrimento que pode causar a outro. Quando atingir esta consciência do seu papel na humanidade, o homem poderá praticar os atos sem sofrer e sem causar sofrimento.

O ser humano não é um solitário: sua vida é em coletividade. Para que esta vida processe-se da melhor forma para todos tem que haver a consciência de não ferir o próximo. Como diz o ditado popular, “seu direito começa onde acaba o meu”. É esta consciência que pode fazer o homem não sofrer nem se sentir preso quando não praticar aquilo que quer.

Não há lei que coíba atos. Veja bem: existe um artigo no código penal que proíbe que se mate alguém, mas nem por isso os assassinatos acabaram ou diminuíram. Eles só se extinguirão quando o homem compreender o sofrimento que estará trazendo ao próximo quando exterminar com a vida de outro ser humano.

Esta é a verdadeira liberdade: fazer o que quer, desde que o seu querer não fira os outros. Encontrar a felicidade em eliminar causas de sofrimentos a outros passa a ser o objetivo de vida daqueles que abolem as leis e buscam em Deus e Cristo o significado de sua vida. Este homem alcança a liberdade completa, pois pratica apenas o que ele quer.

Na definição do termo “libertar”, encontramos a definição “livrar-se”. A verdadeira liberdade só é conseguida quando o ser humano se livra das correntes que o prendem a comportamentos padrões e atinge a consciência da não prática de atos por causa do amor. É quando atinge a consciência de não praticar atos porque podem causar ferimentos.

Com esta consciência ele será livre para fazer o que quiser, pois seu objetivo maior na vida será amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

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Ter fé para ser feliz

Baseado no estudo da Epístola de Tiago

“Meus irmãos sintam-se felizes quando passarem por todo tipo de aflições” (1,2)

O primeiro ensinamento de Tiago é que o cristão deve estar sempre feliz, não importando qual seja a situação que está vivenciando. Por mais que ele não goste do que está acontecendo, deve se sentir feliz. A esse estado de espírito chamamos de felicidade incondicional, ou felicidade universal.

Vivenciar a felicidade universal é para Tiago, como é para Cristo, a primeira providência que um cristão deve tomar. Quando alguém se declara cristão deve, antes de qualquer atitude (oração, caridade ou qualquer outro rito religioso), manter-se em um estado de felicidade incondicional, não depender dos acontecimentos para ter prazer.

Só nesta primeira frase da epístola de Tiago podemos deixar bem claro: ser cristão, praticar os ensinamentos de Cristo é, acima de qualquer coisa, ser feliz. Quem cultiva os ensinamentos do mestre nazareno pela dor não segue os ensinamentos deixados pelo próprio mestre, pois busca na dor o que Cristo alcançou na felicidade.

É necessário, para ser um bom cristão, vivenciar Cristo com felicidade. Amando-se o Mestre de uma forma sofredora, a famosa “paixão de Cristo”, vendo sofrimento na sua crucificação, não se está seguindo o ensinamento do próprio mestre, que morreu na cruz para nos salvar.

A crucificação é o exemplo maior que Cristo nos deixou. Ele passou pelas situações de sofrimento, sem merecimento negativo, para nos mostrar que todos têm que passar pelas suas situações de sofrimento durante a encarnação.

Todos serão crucificados enquanto encarnados, todos serão humilhados, xingados, atacados. Mas, Cristo nos mostrou com a sua ressurreição que é isso mesmo que nos “salva”, ou seja, que nos leva a alcançar a elevação espiritual.

Sendo assim podemos afirmar, parodiando uma das bem-aventuranças, que o ser humanizado só se elevará quando for perseguido e caluniado, ou seja, quando passar pelas situações que espelham essa essência sem sofrimento.

A “salvação” para o ser encarnado é passar pelas suas situações de sofrimento, pelo seu “martírio” como Cristo passou: glorificando a Deus acima de todas as coisas.

Já no começo da análise da sabedoria de Tiago nos deparamos com um ensinamento profundo: sem felicidade incondicional não existe cristianismo. Sem felicidade não se pode falar em nome de Cristo, porque são duas coisas que não se combinam: sofrimento e Cristo.

Dessa forma, saibam que toda vez que se sofre, nega-se a Cristo.

“Pois vocês sabem que, quando a sua fé vence essas provações” (1,3)

Para podermos nos dizermos cristãos devemos, como vimos, nos manter felizes nos momentos de sofrimentos, ou provações que Deus nos dá durante a encarnação. É para nos ensinar a viver dessa forma que Tiago afirma que a fé vence todas as provações.

Mas, o que é fé? Entrega e confiança total no objeto dela. A fé em Deus é a entrega e confiança total no Pai Supremo, no Senhor do Universo.

Quando você tem fé, entrega-se a Deus e abre mão de ser, existir, fazer, mandar, criticar. Abre mão de julgar as coisas do mundo porque entrega esse julgamento nas mãos de Deus. Esta entrega não é feita com medo, com receio, mas com confiança total.

Confiança total no quê? Nos atributos intrínsecos de Deus que são elevados ao expoente máximo: Justiça Perfeita e Amor Sublime. São nestas duas características do Pai Supremo que se baseia a confiança total para a entrega.

A confiança na Justiça Perfeita, ou seja, a confiança de que não sucederá nenhum acontecimento conosco que não seja merecido.

A fé deve ser sentida com a confiança em um Pai que jamais “castigará” o seu filho sem que este mereça. A confiança naquele Ser Supremo que tem a capacidade perfeita de avaliar todas as coisas que estão acontecendo.

No entanto, esta confiança deve ser fundamentada além da Justiça principalmente, no Amor.

Confiar no amor de Deus: esta é postura mais difícil para um ser humanizado assumir. O espírito encarnado não confia no amor de Deus, não se sente amado pelo Pai, quando as coisas acontecem diferentemente do seu desejo.

Ele só sente o Amor de Deus quando o acontecimento lhe satisfaz, quando as suas esperanças são concretizadas. Mas, esta forma de proceder não espelha uma entrega a Deus, mas a si mesmo. Nesse caso a fé não é no Senhor do Universo, mas a si.

Para vencer o sofrimento, para ser um cristão, é preciso que o ser encarnado a cada segundo da sua vida, não importa o que está acontecendo, se senta amado por Deus. Se você não se sentir amado pelo Pai a cada segundo, não importando o que você “acha” da situação que está ocorrendo, jamais conseguirá ser feliz incondicionalmente.

Esta é a confiança que Tiago fala. A confiança que Deus nos ama, que sabe o que é melhor para nós e que tudo que nos acontece é fruto deste Amor.

Só vivendo a vida carnal com a realidade sendo criada a partir da fé, se acha a felicidade. Somente dessa forma se encontra a alegria incondicional.

A felicidade não deve surgir pelo acontecimento, mas deve ser sentida pela convicção de estar sendo amado por Deus a cada segundo através do acontecimento. Mas, como se vivenciar essa felicidade vendo tanta “maldade” no mundo, tanta coisa “ruim” acontecendo?

Trocando a “maldade” e a “ruindade” pela Justiça de Deus. As coisas “más” e “ruins” são aquelas que acontecem quando quem as recebe imagina-se não merecedor daquela situação.

Quando o que está sucedendo é avaliado como uma reação a uma ação anterior recebe-se a situação como uma expiação, o resultado de uma justiça, não como uma punição.

Deus é a Justiça Suprema, ou seja, dá a cada um o justo de acordo com as suas obras. Podemos, então, concluir que Deus é o justiceiro do universo: que ele “machuca” quem um dia “machucou” o próximo?

Não. Deus não é justiceiro: é a Justiça. A diferença está na aplicação da “pena”. O justiceiro é aquele que julga pela “lei de Talião”: “olho por olho, dente por dente”. Você feriu uma pessoa, terá que ser ferido: tem que “pagar” pelo que fez.

O justiceiro pune a ação. No entanto, Deus não pune ninguém. Ele é a Justiça: dá o que cada um merece, não como punição, mas como expiação.

Vamos exemplificar. Um ser encarnado lança “raiva” no universo, ou seja, pratica um ato espiritual. Por este ato que desarmonizou o todo universal (sentimento negativo) o ser precisará anular esse sentimento.

A desarmoniza surge porque no universo não existe nada negativo. Nada que provenha do Pai Supremo pode ser negativo. O ser humano é que transforma o positivismo universal em negativismo.

Negativar o positivo é individualizar o universalismo de Deus. Deus nos ama de uma forma universal, mas o ser humanizado busca, utilizando este amor, realizar as suas “vontades”: isto é negativar um sentimento.

Quando esta ação individualista é executada, o ser negativa o que veio positivo de Deus. Para neutralizar esta polaridade gerada pelo individualismo do ser humanizado é preciso que ele utilize, em nova ocasião, o sentimento enviado por Deus de forma universal, sem buscar a satisfação individual.

A Justiça de Deus, então, é comandar um novo acontecimento, uma nova situação. Ela não objetivará “castigar” o ser humanizado pela “raiva” que sentiu, mas para lhe dar uma chance de lançar “amor” no universo. Dessa forma, o espírito encarnado poderá tornar a equilibrar o que ele mesmo desequilibrou.

A Justiça de Deus é baseada no Amor: uma nova chance de evolução através da expiação. Se alguém hoje está passando por uma situação de ser ferido fisicamente é porque ele precisa receber aquilo. Nesse momento terá a oportunidade de escolher o “amor” para reagir à situação. Dessa forma, neutralizará um sentimento que um dia sentiu e desequilibrou o universo.

Não é “maldade” de Deus, ou castigo divino: trata-se de uma nova oportunidade que o Pai dá ao filho pródigo, como nos ensinou Cristo. Esta é a aplicação da Justiça de Deus.

Quando vemos apenas o momento atual, a situação que está ocorrendo conosco ou com os outros, sem que se aplique a impermanência das coisas, encontra-se a “maldade”, o “castigo”, a “ira divina”.

Ninguém sabe o que aquele que hoje está “sofrendo”, ontem já foi o “agressor”. Deus não pode simplesmente “passar a mão pela cabeça” de quem ontem agrediu sem ser injusto com o todo espiritual que foi desequilibrado por ele. É preciso que o próprio ser universal reponha o que ele negativou.

Então, quem hoje está passando por uma situação de sofrimento é porque, em alguma época (nesta ou em outras vidas) cometeu alguma “atrocidade” contra o universo individualizando o que era universal. Como o ser humanizado não consegue enxergar as suas ações individualistas imagina-se não merecedor da reparação e, por isso, acusa de injusto os acontecimentos atuais.

Devemos, no entanto, deixar uma coisa bem clara: não estamos falando de ato, mas de sentimento. O ato do ser humano não desequilibra o universo, mas a negativação (individualização) do universalismo (base da ação de Deus) é que provoca a desarmonia. A ação reparadora do ser não deve se exprimir através de atos, mas de sentimentos.

É observando a personalidade (conjunto de sentimentos) de um ser que Deus determina as ações que ele passará para poder expiar a desarmonia que causou. Os atos que servirão como oportunidade para reparação podem não ser os mesmos de quando a desarmonia foi gerada, mas o objetivo do sentimento negativo a ser vencido será sempre o mesmo: a busca do prazer individual, da satisfação de suas vontades.

Se a desarmonia inicial gerou, por exemplo, um ferimento físico em outro não quer dizer que agora ele sofrerá ferimentos corporais. Isto porque existem pessoas que preservam o corpo físico, mas outras que não agem desta forma. Estas pessoas, no entanto, dão valor (individualismo) a outras coisas e será através delas que a ação para expiação agirá.

Vamos exemplificar. Se para quem precisa passar pela situação de expiação a ganância (preservação do patrimônio material) é importante, o ato que possibilitará ao ser humano escolher um sentimento positivo para neutralizar o individualismo utilizado anteriormente “atacará” seus bens.

Para o ganancioso um ladrão roubar seus bens ou sua empresa ir a falência é a mesma “dor” que sente o vaidoso quando vê seu corpo ferido. Em todos os casos Deus não está “atacando” as coisas materiais, mas a importância (individualismo) que elas têm para o ser.

Desta forma, a Justiça de Deus não se baseia em atos semelhantes (“olho por olho”), mas comanda acontecimentos que se espelhem o mesmo direcionamento dos sentimentos (individualismos). O objetivo da ação divina é provocar a mesma situação sentimental para que o espírito tenha a oportunidade de mudar os seus sentimentos.

Isto é a “vida” no planeta Terra: a cada segundo Deus cria uma nova situação baseada em um sentimento anterior do ser, para que o espírito encarnado possa mudá-lo, ou seja, alterar o direcionamento (polaridade) do sentimento: ao invés de amar a si mesmo, buscar a sua satisfação, amar a Deus sobre todas as coisas, universalizar-se.

Tudo isso Deus nos dá não como castigo, mas como uma nova chance de evolução. Você amar a situação quando acontece tudo de “bom” na sua vida não tem vantagem nenhuma. Isso não é amor, é egoísmo. Não é amor a Deus, mas idolatria a si mesmo.

Para o ser humano quando tudo está “bem” acontece a desarmonia universal, espiritualmente falando. Para que o espírito encarnado possa se sentir feliz hoje, sem a fé, é preciso que só aconteça o que ele quer, o que deseja, o que acha “bom”.

Muita gente afirma que gosta de ambiente alegre, mas não entende que a sua alegria é o sofrimento para o próximo. Para que um ser humano esteja feliz é preciso que ele mande nos acontecimentos, ou seja, que lhe satisfaça. Apenas quando o próximo lhe obedece, faz o que ele quer, aí surge a satisfação.

Isso é alegria, é ser amoroso?

Hoje o ser humano só consegue a felicidade quando se transforma em senhor de “escravos”, ou seja, quando consegue subjugar todas as “vontades” alheias para que os outros façam exatamente aquilo que ele quer.

A partir destes conhecimentos podemos, então, compreender a “lógica” da vida humana, do destino. A situação atual representa a Justiça de Deus em ação, não como castigo, mas como expiação. Ela é uma reação a um sentimento anterior e serve para que o ser humanizado, ao optar por amar a Deus sobre todas as coisas, neutralize a emissão de sentimentos anterior.

Por esta “lógica” a situação ferirá sempre o desejo individual, por isso, ao vencer o individualismo (os seus desejos) o ser adquire merecimento. Amar a situação, ser feliz incondicionalmente, dá valor à “vida material” espiritualmente falando.

Viver feliz incondicionalmente é ver uma faca entrando no seu corpo (ferimento) e afirmar: “louvado seja Deus por isso estar me acontecendo”. Está perdendo todas as suas posses materiais e agradecer a Deus por este acontecimento. Isto é dar o valor espiritual à “vida material”.

O valor espiritual surge porque, na hora que você foi contrariado amou a Deus acima da sua contrariedade. Esta forma de viver, entretanto, só nasce pela fé: confiança e entrega total ao Pai Supremo, ao Senhor do Universo.

Você só alcançará a felicidade que Deus tem prometido quando você tiver confiança em Deus. Quem confia na Justiça Suprema não encontra motivos para injustiças, “maldades” ou “feiúras” em um mundo que é governado pela Inteligência Suprema do Universo.

Não é ilógico se cultuar Deus como a Inteligência Suprema, o Ser mais bondoso do universo e depois acusar erros ou injustiças no Seu mundo? Que crença é essa? Que fé é essa onde apenas se acredita nela quando os desejos individuais são satisfeitos?

Para se ter a verdadeira fé é necessária a entrega e confiança em Deus. Não uma fé cega, dogmática, mas gerada pela confiança na Justiça Perfeita e no Amor Sublime que somente a Inteligência Suprema pode ter.

Com essa fé, o ser supera qualquer sofrimento em todas as situações da existência espiritual, ocorram elas em qualquer densidade de matéria. Com a fé em Deus alcança-se a felicidade e, com isso, extingue-se o sofrimento.

Portanto, o sofrimento não é inevitável, mas uma questão de opção individual do ser. Aquele que tiver fé em si mesmo, certamente sofrerá, pois o Senhor Supremo do Universo é Deus e não o homem.

“... ,ela produz perseverança.(1,3)

Tiago nos ensina ainda que a fé leva à perseverança, ou seja, persistência.

A fé em ação leva o ser universal a estar sempre percorrendo o mesmo caminho: o da felicidade espiritual. Sem a fé em Deus o ser humano permanecerá constantemente trocando de “caminhos” (objetivos de vida).

Na hora que o acontecimento for prazeroso ao ser humano afirmará: “louvado seja Deus”, “quem me deu isso foi o Pai”, “olha que maravilha que é Deus”. No entanto, na hora que o acontecimento contrariar os desejos individuais do ser humano, “xinga” a Deus e a todos os irmãos universais.

Só a fé que seja fundament6ada numa entrega com confiança total em Deus dá a perseverança no caminho espiritual, na busca de “amealhar bens no céu”, como nos ensinou Cristo. Só a fé serve como trilho certo para levar o espírito até a estação do “reino dos céus”.

Sem a fé o ser humano é como um automóvel: não tem trilho para percorrer. Ele se imagina livre e por isso percorre diversos caminhos diferentes. Com a fé o ser se transforma em um trem: caminha mais lento, devagar, mas chega.

A fé dá firmeza na sua caminhada. A perseverança que Tiago fala é no sentido de firmeza da sua caminhada em direção ao Pai. A caminhada sempre no trilho certo, na direção da estação do “reino de Deus”.

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Crítica

48. Ó Dhananjaya abraça essa forma de agir ou estabelece-te nessa yoga e renuncia ao apego. Sê indiferente ao sucesso e ao fracasso e assim comporta-te. Esta equanimidade é a própria Yoga.

O que é a própria yoga?

Participante: A equanimidade...

Que surge do que? Do desapego e da indiferença ao sucesso e ao fracasso... Ou seja, da não busca da fama individual...

O ser humanizado deixou de raciocinar e por isso convive com os seus conceitos como verdades puras, cristalinas. Mas, ao fazer isso, não entende que não está vivendo consigo mesmo, pois estes conceitos não são dele. Na verdade são conceitos que lhe são impostos, já que foram criados por sua mãe, seu pai, sua tia ou mulher, ou seja, foi a humanidade que os criou.

Quando o ser humanizado é pequeno a mãe o ensina a não andar descalço. De tanto ela repetir isto, ele toma como sua esta verdade e nunca mais anda descalço. Se andar, cria inconscientemente a culpa que pode se transformar em doença...

O ser humanizado trocou toda a arte de pensar, de escolher seu próprio caminho, pela busca da fama, ou seja, para mostrar ao mundo que ele conhece e segue as verdades do mundo... Este ser não anda calçado porque quer, mas para poder dizer que aprendeu a verdade que é aceita como certa pela humanidade...

É a isso que Krishna está se referindo neste trecho: a busca do elogio, da fama, do ser considerado humanamente certo. Por conseguinte, fala também do medo da crítica, ou seja, do medo de ser repreendido por não estar agindo corretamente.

Dentro do nosso exemplo, se o ser humanizado gosta ou não de andar descalço isso não tem importância, porque ele anda sempre calçado para provar que conhece as verdades do Universo e por medo de ser considerado alguém que destoa do mundo... Na verdade cada ser humanizado passou, por comodismo, por inação, não por maldade, a agir de acordo com as verdades que lhe foi dada, para buscar a fama...

Por isso Krishna falou anteriormente que o ser humanizado precisa voltar a raciocinar. A raciocinar espiritualmente (escolher sentimentos) e não deixar levar-se pelos gunas que dão características aos pensamentos...

O ser humanizado precisa voltar a discutir consigo mesmo. Será que ao criticar o próximo está amando-o? Será que se ao acusar o próximo está amando-o? Será que ao desejar uma coisa a ponto de sofrer se não consegue está amando mais a Deus do que a si mesmo?

Realizar estes questionamentos no seu mundo sentimental é o caminho da yoga, o caminho da elevação. Aqueles que entram neste caminho têm como prática voltar a raciocinar espiritualmente. Com isso o ser humanizado volta a realmente viver, pois hoje ele não vive: conta tempo, passa pela vida. Isso porque apenas repete conceitos sentimentais sem exercer o livre arbítrio, exercício esse que caracteriza o seu existir...

Salomão, o Sábio, dá um grande conselho neste sentido: será que você pode fazer alguma coisa que ninguém fez? Veja que tudo que um ser humanizado pode fazer, já foi feito por outro. Sendo assim, o ser não cria nada: apenas repete o que alguém já fez. É importante entender isso porque se a elevação é caracterizada por uma reforma íntima, é preciso reformar o nosso íntimo. Ninguém se reforma apenas repetindo o que todos fazem...

Se alguém bebe, o ser humanizado logo vibra na acusação chamando-o de alcoólatra... Acha que este conceito é ele que está criando, mas não vê que é apenas uma repetição do que o mundo, a sociedade, a humanidade acha. Será que se você vibrar dentro da sensação que acompanha a denominação de alguém como alcoólatra isso é sinal de amor? Ou amá-lo não seria dar a ele o direito de beber até morrer, se assim quisesse? Claro que sim, pois desta forma estaria utilizando o sentido de liberdade que está embutido no amor.

Para que você ame o outro deve conceder a ele a liberdade absoluta, ou seja, dar o direito dele fazer, estar e ser o que quiser. Esta forma de viver respeita o direito à individualidade que todos querem ter e que, por conseguinte, devem dar aos outros para amá-los segundo o Espírito da Verdade.

NOTA: Refere-se a uma pergunta de O Livro dos Espíritos onde o Espírito da Verdade afirma que a expressão máxima do amar é dar ao próximo o que deseja para si. Neste caso, se alguém quer ter o direito de não beber, deve dar ao outro o direito de fazê-lo.

O ser humanizado não tem nada a ver com a vida do outro, porque não a vive. Apesar disso, não consegue viver sem criticar a quem bebe, pois precisa mostrar que conhece as leis morais do planeta (beber não é certo) para poder assim, ser reconhecido como uma pessoa boa...

É isso que Krishna fala neste texto. Ele fala que, apesar da ação dos gunas que criará no pensamento o sentido de criticar o outro (ele é um bêbado, não presta), o verdadeiro yogue busca raciocinar do ponto de vista sentimental: eu amo essa pessoa?

Não estou falando de amor humano, daquele que tem condições para existir. Estou falando do amor universal, aquele que é incondicional. Quando o ser humanizado ama universalmente alguém, o acolhe em seu coração sem críticas, bêbado ou são...

O amor universal não tem dualismos: existe numa hora e não existe na outra. Por isso, não importa se a pessoa deixou de beber, está bebendo ou já está bêbado, ele existe...

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Tranquilidade

66. Para os intranqüilos, a sabedoria não surge, nem eles conseguem meditar. Para quem não medita, não pode haver paz. E como podem ser felizes os que não têm tranqüilidade interior?

Krishna é claro: quem vive na tranqüilidade medita...

Participante: Meditar em que sentido?

No sentido de repensar seus pensamentos...

Quem não medita sobre a sua vida age de acordo com os conceitos da humanidade que estão na sua memória. Ele não medita, ou seja, não raciocina... Ele não raciocina como vive: vai passando pela vida. Fica velho e não se preocupa com o que fez da sua vida... Justamente por não meditar sobre a vida é que o desejo surge e tem força para comandar o seu estado sentimental.

O desejo é, como já vimos, um condicionante à felicidade. Se o ser humanizado parasse para meditar sobre as coisas da vida não mais se entregaria o desejo ou intencionalidade.

O ser perturbado não raciocina sobre o perigo que é não meditar. Ele diz que quer ser feliz, mas por estar ligado às coisas do mundo tem pensamentos que expressam desejos de que outra pessoa faça ou aja de determinada forma. Vamos meditar sobre isso? Por que a pessoa tem que fazer o que eu quero? Por que sou eu que sei o que é certo e não ela? Por que ela, que é uma individualidade, tem perder a sua verdade para fazer do jeito que eu quero?

Esta meditação, ou seja, o raciocínio do raciocínio acaba com o desejo. Isto porque na hora que o ser humanizado começar a se perguntar vai ver que não é certo o que está fazendo, mas um ato de soberba. Quem medita sobre o desejo da pessoa fazer ou ser do jeito que ele quer, repara que está se colocando como Deus (quem sabe o certo e o errado), como dono da verdade, um deposta...

Quem raciocina o raciocínio pode matar o desejo de que aquela pessoa faça aquilo. Quando isso acontecer, o que ela fizer já não mais lhe incomodará, não lhe perturbará e aí poderá realmente haver a felicidade incondicional.

Então, a mente perturbada é aquela que não raciocina os seus próprios raciocínios, não medita. Ela não busca saber de verdade de onde tirou aquilo que diz que é verdade. A mente perturbada não vê a sua própria perturbação e acha que tudo que lhe perturba é normal, é o certo...

Este é o segredo: meditar...

Na hora que você medita, ou seja, raciocina o pensamento, alcança a tranqüilidade porque chega à conclusão que está querendo ser senhor de escravo. Está querendo mudar o mundo para aquilo que quer...

Por isso alcançar a tranqüilidade é impossível para a mente perturbada. Para aquele cuja mente, como foi dito antes, está presa aos objetos pensados, ou seja, externos a ela, é impossível ser feliz incondicionalmente. Para que isso acontecesse era preciso que este ser tivesse a mente voltada para dentro, para si mesmo, para as formações mentais que o ego cria.

É isso que Krishna está ensinando que, aliás, é a mesma coisa que Buda ensinou, como já vimos...

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Obrigações

17 - O homem que vive consagrado ao SER, que está satisfeito com o SER e está contente somente com o SER, esse já não tem mais deveres.

Ser significa espírito.

Para aquele que se consagra ao espírito todos os deveres, toda a obrigação se encerra, porque sabe que o espírito não tem obrigação.

Sim, o ser universal não é obrigado a fazer nada porque tem o livre arbítrio de fazer qualquer coisa. Sendo assim, é preciso se compreender que a vida não pode ser movida pela obrigação. Depois de compreendido isso, aquele que quer alcançar o reto caminho deve, então, dedicar-se a utilizar o livre-arbítrio para acabar com as obrigações. Isso se faz automatizando o controle do pensamento para que ele não se forme a partir de regras e normas pré-concebidas. Para automatizar o controle do pensamento, o ser que busca o reto caminho deve atingir a consciência amorosa.

Enquanto o espírito não alcança a consciência amorosa e participa das ações preso às obrigações de fazer ou não, ainda possui intencionalidades. Quando ele atinge a consciência amorosa, ou seja, participa da ação com o amor universal (felicidade, compaixão e igualdade) não mais terá intencionalidades.

Este ser jamais irá ferir alguém, porque o que pode ferir outro não é o que se pratica contra ele, mas a intenção que o agente da ação coloca no que pratica. Este ferimento existe porque a intencionalidade é presa ao individualismo e este pode ferir, mas a ação jamais.

Individualismo é sentimento usado como fruto do livre-arbítrio. Aquele que vive para o ser, que o consagra, que se realiza no próprio ser atinge a consciência amorosa e para este não existem mais obrigações a serem cumpridas.

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Vício sentimental

34 - O apego ou a aversão (pensados) dos sentidos baseiam-se na falsa impressão que tens em relação aos objetos conhecidos e pensados (sensibilidade deturpada). Que ninguém fique escravo do apego ou mesmo da aversão. Esses dois, mais a falsa impressão que tens dos objetos pensados, são inimigos terríveis.

O apego ou a aversão é o gostar e o não gostar. Além de achar o banco sujo porque tem poeira, você chama esta percepção de não gostar. Tem gente que está vendo poeira, sabe que é sujeira, mas não se importa. Portanto, além da interpretação de que poeira é sujeira, existe a sua intencionalidade pessoal que é o gostar ou não – é a paixão positiva (apego) ou paixão negativa (aversão).

Tornar-se escravo é depender disso para ser feliz (a escravidão é a dependência). Apesar de vocês não acharem isso, essa dependência é igual à que pessoas têm do tóxico: você começa a precisar daquilo. Quando se apega à idéia de que banco bom é o sem poeira, começa a precisar que esta condição seja satisfeita para ser feliz. Apegada a esta verdade e servindo ela como condicionamento para o seu prazer, que vocês chamam de felicidade, vai cada vez mais ver sujeira para poder limpar e, com isso, ter o prazer de ver sua verdade contentada.

Na verdade, a cada dia você vai tornando a sua percepção mais sensível. Se hoje um dedo de poeira é sujeira para você, amanhã apenas um micro pó também será considerado sujeira... Isso porque você precisa limpar o banco para ter prazer. Ou seja, o que antes não era sujo agora passa a ser, pois sem sujeira você não terá limpeza. O mesmo serve pra tudo pelo que os seres humanos brigam, quando brigar lhes traz prazer. Não é a mesma coisa com o toxicômano? Ele não necessita sempre de doses maiores para poder ser feliz?

A aversão e o apego são inimigos terríveis do ser, pois elas transformam o julgamento e a crítica que fazemos aos outros e às coisas em vícios que usamos pra alcançar o prazer. Com isso cada vez mais nos tornamos críticos e juízes, achando que estamos fazendo a melhor coisa do mundo...

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Prometendo melhorar-se

Arjuna perguntou:

36 – Oh, Krishna! (ou Varsneya, descendente dos Vrishni), que po¬der é esse que impele um homem a pecar, mesmo contra a sua própria vontade, como se obrigado por uma força?

O Bendito Senhor disse:

37 - É o desejo, é a ira, nascidos da qualidade rajásica (ou ativa) da "Prakriti" (mente-matéria ou psicofisicalidade). O desejo é como uma fome insaciável e a ira que se levanta quando ele se frustra é muito pecaminosa. Neste mundo considera isso como teu pior inimigo. (O desejo e a cólera são inseparáveis; a cólera se levanta quando um desejo é obstaculizado)

O que lhe impulsiona fazer pecados? Pecado é tudo o que você faz com sofrimento, tudo que faz contra Deus, quando não ama a Deus acima de todas as coisas, ou seja, tem intencionalidade. O que lhe impulsiona a agir com intencionalidade é a paixão, o desejo, a vontade. E o que é isso? É o individualismo, o egoísmo... Egoísmo: é isso que impulsiona vocês.

Os humanos são pecadores porque vivem para satisfazer seus desejos, suas vontades, suas intencionalidades próprias. Pergunto: alguém conscientemente faria alguma coisa que lhe prejudicasse?

Participante: Não, por minha vontade não. Busco seguir minhas vontades, e muitas vezes alcanço o prazer, mas logo em seguida vem o prejuízo...

Sim, tem que vir o prejuízo porque já teve o lucro: o prazer...

Mas, insisto: alguém faria conscientemente algo que lhe prejudicasse se isso não lhe trouxer algum lucro? Por exemplo: uma pessoa pergunta quem escreveu determinada coisa errada. Se sabe que foi você e sabe ainda que respondendo sim será prejudicado, se entregaria? É claro que não... Enquanto a pressão não for muito grande ninguém se entrega, não é mesmo? Por quê? Porque ninguém quer perder nada, de jeito algum.

A força que impera no ser humano e o faz pecar é a vontade de ganhar sempre. É a intencionalidade, o individualismo, o lucro individual, o prazer, a fama, o elogio. É isso que impulsiona os seres humanos a pecar. Muitos vão a centros, igrejas e templos e ouvem belas palavras sobre a vida dirigida para alcançar o bem celeste. Saem dali convictos de que o que foi ouvido é importante e prometem a si mesmo que a partir do dia seguinte vão colocar em prática o ensinamento... Mas, na primeira oportunidade onde eles possam perder alguma coisa, esquecem o que ouviram e agem egoisticamente.

Isso ocorre porque o sentimento de buscar o bem celeste é envolvido pela prakriti, pela lógica do raciocínio. Os gunas criam uma historia para justificar o seu individualismo e você acredita nela. Por exemplo, eles dizem: 'se aquela pessoa faz o que quer, então eu vou fazer o que quero também'; 'não posso aceitar que alguém passe por cima de mim (me contrarie), porque eu sei que estou certo'. As idéias que os gunas criam estão sempre voltadas para criar uma defesa do eu material, do ego. Por causa disso eles não lhe deixam ser apontado como errado. Mesmo que você tenha errado, os gunas inventam idéias alternativas que afirmem que você não é o errado.

Mas, se errou, qual é o problema de alguém saber que fez errado? O problema é que amanhã vão lhe criticar, você pode perder a sua fama (ser considerado o certo) e você vai sofrer com isso. Por isso parecem válidas e certas as idéias que justificam sua ação. Você prefere acreditar nelas porque elas não lhe levam a perder, ter desprazer, receber a infâmia nem a crítica. Elas mantêm para você mesmo a ver-se como bonzinho, maravilhoso e com isso não assume a culpa.

Saiba de uma coisa: o lhe impele a pecar o individualismo. Você quer ganhar sempre e o mundo que se dane. Enquanto houver o desejo, ou seja, a condição para ser feliz, você vai sofrerá. Deste sofrimento nascerá a frustração, a desilusão. Como o sofrimento, a frustração e a desilusão são ações contra Deus, enquanto houver padrões, desejos e vontades, você vai pecar .

Portanto, não adianta nada dizer que a partir de hoje não vai ter mais raiva, que não vai ser mais nervoso, que não vai mais ficar estressado. Vai ficar porque não cortou o mal pela raiz: o desejo. É do desejo que vem a ação silenciosa e implacável da necessidade de que os acontecimentos estejam dentro dos seus padrões de certo e bom. Permanecendo o desejo de nada adianta ter boa vontade, pois não chegará a lugar nenhum. O pecar, ou seja, o sofrer é conseqüência natural de se ter desejos...

O caminho para não mais pecar, então, é libertar-se dos desejos. Mas, o que é o desejo se não uma intencionalidade? Tudo que você faz porque quer é porque deseja o resultado; tudo que faz porque gosta é porque deseja o resultado. Sendo assim, é preciso eliminar o mal pela raiz: é preciso cortar os desejos. A partir do momento que não houver mais desejos, a felicidade estará sempre presente...

De nada adianta lutar contra o que o outro está fazendo. O que precisa é lutar contra o que você esperava que o outro fizesse. É isso que poderá levar você à consciência reta, à felicidade: parar de esperar que o mundo seja igualzinho ao que você quer.

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O fim do medo

09 - Aquele que deste modo verdadeiramente compreende Meu Divino nascimento e forma de agir ("Jñana Yoga"), quando aban¬donar este corpo não voltará a nascer, senão que se reunirá Co¬migo, ó Arjuna!

Divino nascimento é a vinda de um mestre. Ou seja, Krishna diz que quem compreende a vinda de um mestre não vai renascer.

Todos os mestres ensinaram a amar a Deus acima de toda e qualquer compreensão que se tenha sobre os acontecimentos. Cristo dizia: 'foi meu Pai que quis assim'. Ou seja, ele vivia para Deus. Essa religação e aceitação, essa vivência ou comunhão com o espírito, com Deus, é a característica de todos os Mestres.

Quem compreende o meu nascimento, ou seja, a vinda do seu mestre e a sua forma de viver (que é viver para Deus) não vai nascer novamente, pois quebra o ciclo encarnatório quando alcança a comunhão com a parte espiritual. Ele não encarna novamente porque não se vê mais como ser humano.

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Equanimidade

29. Aquele cujo coração está totalmente absorto pela prática da yoga, olhando para todas as partes com um ver sentir equânime, esse enxerga o ser em todos os seres e todos os seres no Ser.

Até aqui Krishna falou da razão. Disse que racionalmente o espírito encarnado precisa estar voltado para o ser. Agora ele fala das emoções, dos sentimentos. As emoções do ser humanizado também devem estar ligadas ao ser, ao Universo e a Deus.

O que denota um estado emocional voltado para o ser, equânime? É não ter ídolos, favoritos, sejam positivos ou negativos (o bom e o mal). O estado emocional equânime é aquele que não idolatra o filho porque é filho, que não idolatra o marido porque é o companheiro. É aquele que não desgosta de alguém porque fez determinada coisa para você. Este estado emocional é equânime porque convive com todos de uma forma única e não através da multiplicidade de emoções.

Quem possui este estado emocional enxerga o ser em todos os seres; já quem vivencia a vida sendo diferente no trato emocional com ídolos ou favoritos não vive o ser. Quem enxerga no parente ou amigo um ídolo ou favorito vivencia a materialidade, pois convive com a multiplicidade ao invés de viver com a unidade. Quem enxerga naquele que lhe contraria um inimigo, também.

Ver o ser em todos é viver com o espírito que habita cada um. Por conta desta vivência é que o ser humanizado tem que ser equânime, ou seja, tem que ter uma só emoção com todos.

Todos os espíritos são filhos de Deus. Por causa desta origem, que é Perfeita, todos são iguais. O Pai, que é o Amor Sublime e a Inteligência Suprema não pode criar um melhor do que o outro. Por isso, conviver com diferenças emocionais entre os seres é não viver a unidade que existe no Universo. Mais: é viver o egoísmo, pois esta diferença se cria a partir da defesa de interesses próprios.

O ser que vive o múltiplo estado emocional na convivência com seus irmãos espirituais o faz por conta de seu egoísmo. Diz que possui uma emoção maior e melhor por aquele que concorda com ele e desgosta daquele que não possui esta concordância. Sendo este egoísmo aquilo que ele precisa suplantar nesta encarnação, é, portanto, a vivência com a emoção única que o leva a aproveitar a encarnação.

Cristo ensinou que devemos amar a todos, mas o ser humanizado ama apenas aqueles que, por conta do seu egoísmo, mais defendem os seus interesses. Aqueles que são contrários ao que o ser humanizado quer não são amados. No entanto, sabe quem é aquela pessoa que você diz que não presta, que é um safado e pelo qual mantém uma vivência emocional diferenciada da que vive com quem gosta? O filho de Deus.

Esta pessoa é um espírito puro do Universo que você se julga no direito de criticar e acusar. Que acha que tem o direito de dizer que não presta e por isso conviver com ele com uma emoção diferenciada do outro. Esta é a realidade. Cada pessoa que você diz que não presta, que é um safado, é um filho de Deus, um ser puro criado à imagem e semelhança do Pai.

É para isso que Krishna está nos chamando a atenção. Enquanto você tiver favoritos e desprezados estará ofendendo a santidade, a pureza de um filho de Deus.

Este pensamento não vale apenas para pessoas que contrariam você em pequenos assuntos, mas para todo e qualquer ser humanizado que pratique ações neste mundo. Sabe quem é o assassino, o estuprador ou qualquer um que pratique atos que você considere abominável? Um espírito, o filho de Deus, um ser puro em essência. O alcoólatra é um ser puro, filho de Deus; da mesma forma o viciado em tóxico. E você se dá ao direito de criticar e acusar estes espíritos e de manter por eles emoções diferentes da que tem por pessoas que considera boas.

Quem vive com emoções diferenciadas com outros seres por conta da diferença do papel que cada um exerce durante a encarnação não vive o ser pelo ser. Ao contrário: vive o ser pela materialidade. Este, por mais que se esforce nos trabalhos religiosos, nada conseguirá em relação a elevação espiritual.