Unidade - Capítulo 1

Versículo 72

Reproduzir todos os áudiosDownload
Faixa 1
Faixa 2

 72. O asceta batizado pelo sentimento de unidade vive feliz neste mundo de vacuidade; caminha sozinho, abandonando todo o orgulho, porque se realiza em seu próprio eu.

O verdadeiro ser elevado vive na vacuidade ou no vácuo ou na ausência de coisas. Ele não se prende a nada, por isso caminha sozinho.

Aliás, tem uma história que diz que uma pessoa viajou da Europa até a Índia para conversar com um mestre. Quando chegou lá viu a casa toda vazia, sem nenhum móvel e o mestre sentado no chão. O homem então perguntou ao mestre: cadê suas coisas? O mestre respondeu: cadê as suas? O homem disse: eu não sou daqui... O mestre disse: eu também não...

O mestre não se apega às coisas porque ele é espiritualista, porque vive para o mundo espiritual. Por isso caminha só...

Mas este só não é ausente de pessoas. Ele caminha sozinho mesmo que tenha outras pessoas em volta dele. Sozinho, sem apegos, sem estar apegado a ninguém... Um mestre pode até ter coisas materiais ou pessoas à sua volta, mas ele não se apega a nada: continua caminhando sozinho mesmo que esteja arrastando muitas coisas...

Portanto, o problema não é ter ou não ter, mas sim a forma como se lida com as coisas. Se você caminha arrastando as coisas como se elas fizessem parte de você, ainda está preso ao mundo terrestre. Agora, se você caminha provido de instrumentos, mas sem possuí-los, estará realizando a elevação espiritual.

Este é o primeiro ensinamento de Dattatreya neste trecho. Mas, ele vai mais longe: ele diz que o verdadeiro sábio não é soberbo... Sei que no texto está dito orgulho, mas chamamos o sentimento de ufanismo de soberba.

Por que isso? Porque ele se realiza nele mesmo... Vamos entender isso.

A pessoa que tem orgulho ou vaidade não se realiza por si mesmo, mas sim pelas posses que têm. Uma pessoa vaidosa do seu corpo, por exemplo, não se realiza por ela mesma, mas sim pela beleza do seu corpo. Uma pessoa soberba da sua cultura não se realiza por ela mesma, mas pelo seu saber...

O sábio não se realiza por nada deste mundo, mas sim pelo “eu divino” dele, que, aliás, já é tudo. Quem conhece o “eu divino” conhece a verdadeira beleza; quem compreende a Unidade com deus alcança a verdadeira sabedoria. Mas, aqueles que se prendem as coisas e tem vaidade e soberba delas e se realiza por elas, não consegue atingir mais nada, pois já atingiu o auge dele: aquilo que queria atingir.

Então, é preciso nos libertar deste sentimento com relação às coisas materiais, a tudo que existe, para poder vivenciar o “eu divino” que cada um de nós somos. Se nós não nos desapegarmos deste saber, ter ou ser alguma coisa, não conseguiremos nos valorizar por nós mesmos, pela nossa essência espiritual, pela nossa pureza, ventura que já temos e somos.

Participante: Dizem que a felicidade bate só uma vez: não acredito nisso. Acho que nós buscamos ou não constantemente.

 Na verdade a felicidade bate só uma vez, mas isso acontece a cada segundo... A cada segundo de sua existência você tem a oportunidade de ser feliz ou não.

Apesar disso lhe digo: não busque a felicidade, mas a encontre dentro de você. Você só será feliz quando for feliz, quando puser para fora a felicidade que já está em você.

Colocando a sua felicidade dependente de coisas externas, ou seja, aquele acontecimento é a fonte de sua felicidade, pode ter certeza que um dia se decepcionará, pois o externo não lhe serve...

Não lhe serve no sentido de satisfazer as suas vontades e desejos humanos, mas ao espírito dando a ele as provas que precisa...

Então, sim, a felicidade se encontra uma vez a cada segundo, mas você precisa declarar-se feliz com o que está acontecendo ao invés de querer que o mundo mude para a sua felicidade...