Unidade - Capítulo 1

Versículo 66

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 66. Não sou contaminado pelas paixões, tampouco sofro aflições corporais. Conhece-me como o eu ilimitado como o espaço.

O que é uma paixão? Por exemplo, você é apaixonado por seus animais?

Participante: Sim...

Então, o que é esta paixão que nutre por eles?

Participante: Não saberia explicar...

É um gostar... Estar apaixonado é gostar de alguma coisa...

A paixão, portanto, é um gostar... Mas, o que é um gostar? É uma verdade... “Eu gosto”, é uma paixão que, na verdade, é uma verdade, um conceito... Sendo assim, posso dizer que a paixão é a ação das suas verdades...

É isso que precisamos compreender: cada vez que vocês dizem que alguma coisa é algo, estão externando uma paixão. Externou um apego ao maya, uma paixão pelo próprio maya.

Acontece que quando você externa um gostar, cria um não gostar. É impossível gostar de alguma coisa sem desgostar de outra. Isso porque, você só sabe que gosta de alguma coisa porque não gosta de outra.

Este não gostar, o que é? Também é uma paixão... Gostar ou não gostar são paixões porque envolvem verdades: a de gostar e a de não gostar.

Com isso demonstramos alguma coisa que talvez vocês já tenham ouvido falar: o dualismo da paixão... Isso porque não existe a paixão positiva (o gostar) sem que exista também a paixão negativa (o não gostar).

A paixão dualiza o Universo que é Uno... É por isso que os mestres afirmam que a paixão é incompatível com a elevação espiritual... Ela cria a divisão na Unidade...

Vamos mais a frente no estudo deste trecho. Pergunto: o que seria uma aflição corporal que é citada por Dattatreya? Uma dor física, uma doença...

Vou fazer uma afirmação para depois explicá-la: o espírito elevado, o Uno com Deus, não sofre aflições corporais. Com isso quero dizer que este ser, mesmo encarnado não sente dor física? Não, não é isso que quero dizer...

O que quero dizer é que o espírito que é Uno com deus não se apega à dor: são duas coisas diferentes. Vamos explicar...

Você sentir uma dor é constatar que a sua cabeça está doendo... Você curtir, se apegar a dor é dizer: “meu Deus do céu, minha cabeça está doendo muito...” “Ai, como dói minha cabeça; coitado de mim...”

Prendendo-se a estes pensamentos e vivendo estas sensações criadas pelo ego, você está curtindo a dor. Mas, esta dor na realidade é criada pelo maya. O ego diz “você está com dor de cabeça, sinta-a” e você a sente. No momento seguinte ele diz que ela continua doendo e você continua sentindo-a...

Logo depois o ego diz que ela está aumentando... Conhece o processo que vocês chamam de indução, hipnose? Pois bem, você, o espírito, está hipnotizado pelo ego... O ego é o seu senhor, lhe diz o que fazer e você, como seu escravo, segue pela vida sentindo dores, quando lhe bastava apenas uma “pílula de Unidade com Deus” para se libertar deste sofrimento...

 Esta pílula é vibrar o seu coração dentro do seguinte parâmetro: está certo, ego, a dor está aí... Mas, eu não vou ficar curtindo ela...

Para ajudar a tomar esta pílula é que o mestre ensina: você é infinito... Consciente de que o espírito é infinito, você pode não prender-se a estas pequeninas coisas que lhe faz sofrer. Vocês sofrem porque estão presos às doenças e as dores e suas respectivas sensações que o ego cria: “ai meu Deus, hoje não posso fazer nada porque estou com dor no dedinho do pé...”

Mas, fazem isso para poder se imaginar agentes das coisas e com isso fazer acontecer o que querem para poder ter prazer... Muitos sentem dores para ver se chama a atenção do outro para assim receber um carinho...

Mas, Deus lhes dá a ilusão da sensação de dor para que vocês se libertem dela e assim possam entrar na Unidade. No entanto, vocês se aprisionam a ela porque no fundo não estão preocupados com a elevação espiritual, mas sim ansiosos para serem atendidos em seus desejos, ou seja, serem desfrutadores do mundo...

O que estou falando vai contra a ciência humana conhecida de vocês? Não... Tem gente que não tem pé e sente dor nele... Como o pé que não existe pode doer e lhe fazer sofrer a dor? Porque até nestes casos, mesmo você constando que não existe mais o órgão, você continua escravo do ego e por isso sente dor num pé que não mais existe...

Participante: A Bíblia, que alguns consideram sagrada, é sujeita a interpretação. Então, achar que a minha interpretação das palavras da Bíblia está correta seria uma forma de ilusão, maya?

Sim, acreditar em qualquer interpretação é iludir-se. Mas, a sua ilusão começa ao dizer que ela não é sagrada...

Já estudamos anteriormente que tudo que existe em Unidade com Deus é sagrado. A Bíblia, mesmo que na sua forma alterada pelos humanos, é sagrada, pois tudo está em essência em Unidade com Deus.

Mas, não é só ela que é sagrada: tudo é... Os excrementos também são... Mas, para que a Bíblia ou o coco seja sagrado, é preciso você entrar na Unidade, no primário, ou seja, unir-se a Deus.

Vamos mais além: vocês estão entendendo o que estou dizendo? Não, vocês estão recebendo conclusões do seu ego sobre os assuntos que estou abordando, ou seja, estão interpretando o que estou dizendo. Eu estou falando uma coisa e vocês estão, cada um, interpretando outra diferente...

Sendo assim, volto a repetir o que já disse: não se prenda a nada, nem ao que eu falo... Eu não estou aqui para criar verdades, mas sim para destruir toda verdade que você tiver, inclusive a compreensão que tem sobre o que eu falo...

Simplesmente não se apegue a nenhum fruto do contato entre o pensante e o pensado (você e alguma coisa) que surge através do raciocínio, pois qualquer coisa que surja dele será um maya, uma ilusão, inclusive do que estou falando...

Participante: Será que algum dia nós conseguiremos chegar próximo à verdade?

Sim, próximo sim, mas à verdade não, porque só Deus a tem...

Você pode aproximar-se dela sim, mas para isso é preciso você querer a verdade real. Para isso precisa abandonar suas visões das coisas.

Participante: Se nós encarnados estivermos com febre entramos em delírio e dizemos coisas sem nexo. Será que um desencarnado pode entender este estado?

Depende do desencarnado...

O que já promoveu sua elevação, que está buscando a Unidade com Deus, compreenderá que é você, o ser humano, que está criando a febre, que está criando a doença e que tudo que está dizendo é você que está fazendo acontecer. Agora, se ele ainda possui uma consciência material, se ainda acredita na febre como oriunda do corpo, verá o que você vê.

Participante: Refiro-me ao senhor... O senhor vê a febre ou entende o que está acontecendo?

 Quando vejo o apego que vocês têm às aflições corporais geradas pelo ego, eu sorrio...

Sei que isso parece caracterizar uma pessoa desalmada, mas não é assim. Posso ter esta atitude porque sei que você, o espírito, não está doente: está apenas vivendo a ilusão de estar...

Participante: Mas, nós não conseguimos controlar estas sensações...

Sim, não conseguem controlar de uma hora para outra, mas se você sistematicamente lutar contra o ego, pode conseguir. Agora, ficar inerte esperando que um raio caia na sua cabeça e de repente mude a sua forma de interagir contra a sensação, nada será alcançado...

A reforma íntima, a libertação das sensações geradas pelo ego, é um trabalho sistemático que para ser totalmente realizado pode levar milhares de encarnações. Mas, apesar disso, é necessário começar em um determinado momento e continuar praticando-o até conseguir a sua totalidade.

Deixe-me fazer uma pergunta: se eu quiser ir daqui (interior de São Paulo) até a capital deste estado ou se quiser ir daqui até Portugal, o que preciso fazer para realizar qualquer uma das duas viagens?

Precisa dar o primeiro passo... Depois precisa dar o segundo, o terceiro, o quarto e assim sucessivamente... Ou seja, não importa qual a distância que tenha que percorrer, é preciso que você caminhe para chegar...

Agora, como você quer chegar a um lugar sem sair de onde está?

Participante: Entendi o que o senhor disse, mas o termômetro diz ao contrário...

Participante2: Aproveito esta pergunta para fazer outra que tem relação. Um encarnado está com uma febre alta e delirando. Qual o primeiro passo para se libertar deste maya na prática?

Não deixando chegar ao ponto de delirar... Quando a doença começar, ao invés de entregar-se ao mal estar, corte os sintomas não dando valor ao sentir-se doente que o ego cria...

É da entrega ao sentir-se doente (buscar deitar-se, deixar de fazer coisas) que surge a febre, que é uma ilusão tanto quanto o termômetro que a mede. O termômetro não existe: é um fluído cósmico universal igual ao remédio que você percebe como termômetro. Você acha que ele existe, mas isso não é real, porque tudo é criado a partir do fluído cósmico universal.

Portanto, na prática, é agir no início da sensação do estar doente. Mas, se não agir neste momento, em qualquer outro instante onde já esteja vivendo o sentir-se doente, deve se conscientizar de que pode estancar aqui. Mas para isso é preciso se libertar das verdades que diz que precisa tomar o remédio, que está doente e que por isso é um pobre coitado...

Mas, como disse, é muito mais difícil fazer depois que a dor já foi vivida. Isso porque, quando quiser se libertar desta sensação estará vivendo uma intencionalidade de desfrutar do fim da dor que lhe incomoda, que dói...

O que pode lhe levar a conseguir o que estou falando não é uma reforma momentânea e temporária para satisfazer seus desejos. O que estou falando é de uma reforma radical da sua forma de viver: transformá-la contra o maya, para se libertar dele em qualquer situação, seja no momento da doença ou da saúde...

De nada adianta querer fazer isso apenas na hora que lhe agrada, na hora que lhe trará um desfrute. Se fizer isso, nada conseguirá, pois ainda estará cedendo um outro maya: a sensação de que está bem de saúde...

Então veja... Não há como dizer a cura é essa, pois ela é uma ação diuturna e não momentânea. Na verdade a cura dos males através da libertação dos mayas é como tomar um remédio homeopático: é preciso tomá-lo muito e durante bastante tempo para começar a ter uma ação... É preciso agir todos os momentos da vida para conseguir atingir este estágio: acredite nisso...

Saiba: milagre, ou seja, conseguir curas milagrosas no momento que lhe satisfaz, não existe... Eles são frutos de muito trabalho espiritual...

Aproveitando que estamos falando disso, deixe-me dizer uma coisa...

Já houve, durante nossas conversas, uma pessoa que disse que eu defendo muito os evangélicos. Mas, isso não é verdade: eu defendo a Unidade com Deus. Agora, se eles buscam esta Unidade e vocês têm vergonha em viver para Ele porque isso foge à sua razão e à sua sabedoria material, eu não tenho culpa.

Lembre-se do que Cristo ensinou: O Universo é dos simples, dos que buscam unir-se ao Pai e não dos sábios...

Participante: Manter um estado emocional sempre positivo e em paz na mesma hora que o corpo nos alerta da dor física seria uma forma eficaz de ajudar o corpo a se equilibrar novamente ou não há uma influência?

A sua frase está quase perfeita... Apenas retire dela a citação positiva com a qual você classifica o estado emocional que pode lhe ajudar a não sentir-se doente...

Positivo, para você, é o que gosta ou o que quer. Não é isso... Não é manter-se positivo, mas sim neutro. É a equanimidade, o caminho do meio que foi ensinado...

Então, não é manter-se positivo, mas sim neutro... No momento que o sentir-se doente começar a aparecer, ao invés de pensar em algo maravilhoso para fugir deste estado ou viver a dor, viva o caminho do meio, viva-o com equanimidade...

Sei que para vocês é difícil compreender o que estou dizendo, porque não sabem o que é equanimidade. Só para vocês compreenderem o que quero dizer, porque não é isso, diria que a equanimidade é quase como uma apatia. Quando vocês atingirem o estado apático com relação à doença (“estou doente, estou, o que posso fazer?”), vocês não curtirão a doença.

Portanto, não se trata de manter-se positivo, mas sim um estado de União com Deus que é o estado da equanimidade...