Desgosto da vida - Suicídio
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Desgosto da vida - Suicídio

Estudo do capítulo homônimo de O Livro dos Espíritos. Perguntas 0943 a 0957

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 943

Donde nasce o desgosto da vida, que sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?

Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também da saciedade.

Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.

Então, alguns espíritos humanizados passam por uma depressão muito grande que os leva a imaginar que não gostam de estar vivos. Daí o suicídio.

É claro que tal atitude é fruto do ego. Na verdade quem está tendo essa conclusão é o ego e não o espírito. Você, espírito, pode aceitar a ideia ou não, mas quem começa o processo é o ego.

Sobre essa aceitação, o Espírito da Verdade afirma que há três fatores que levam o espírito a aceitar essa argumentação. Vamos ver cada uma delas.

Efeito da ociosidade

A vida carnal foi feita para o trabalho e não para o descanso. Quem fica ocioso, como vocês mesmo dizem, entrega a cabeça ao diabo. Portanto, precisamos trabalhar sempre.

Um detalhe: o trabalho que o Espírito da Verdade fala não é o material, a prática de atos materiais, ter um emprego, mas sim trabalhar durante os acontecimentos da vida para viver a resignação e a paciência. Quem aplica essas emoções nos acontecimentos do mundo ou vicissitudes da vida, faz com que a felicidade impere constantemente.

Aquele que faz isso, ou seja, que segundo Buda está sempre vigilante, com atenção plena ao que o ego cria sem submeter-se a essas ideias, não vivencia desgosto de vida. Já aqueles que levam a vida na flauta, no sentido espiritual, perdem vontade de viver.

Isso é muito justo, porque a vida não tem outro objetivo a não ser evoluir espiritualmente. Por isso, quem não trabalha para o único objetivo da vida, merece receber do seu ego o desgosto das coisas do mundo.

Efeito da falta de fé

Quem não confia em Deus, quem não se entrega a Ele, desilude-se com essa vida. Por quê? Cristo foi bem claro sobre isso: essa vida não foi feita para a felicidade humana, o prazer, mas deve servir como um trampolim para a felicidade da outra existência, ou bem aventurança.

  Por isso, a vida deve ser vivenciada com o objetivo de alcançar a felicidade que não é desse mundo. Só que sem entregar-se absolutamente a Deus, sem confiar Nele profundamente, é impossível se viver essa felicidade.

Quando falamos dessa forma, muitas vezes as pessoas dizem: ‘mas, quem é esse Deus?’ Respondo que é Ele o Pai. Aí as pessoas falam mais: ‘mas, não sei quem é Ele, não O conheço’. Respondo: ah! quer que Deus se comprove para você, não é? Quer que Ele desça e lhe diga ‘eu sou o Deus, Eu é que faço você’. Isso jamais acontecerá! Sabe por que? Porque eliminaria a fé em Deus e faria viver a fé no ego.

Portanto, com a falta de fé não há condição da vivência da felicidade espiritual. Sem essa felicidade, não há razão para estar vivo. Se essa vida serve única e exclusivamente para se alcançar a felicidade espiritual e o ser humanizado não a alcança, não há razão de estar vivo. Nesse momento, o ego vai criar o desgosto pela vida e o ser aceitará essa ideia.

Efeito da saciedade

O que é a saciedade? É o resultado da busca desenfreada por bens materiais. Quem vive buscando essa saciedade, um dia vai se desgostar da vida. Sabe por quê? Porque sempre irá querer mais e jamais conseguira ter tudo que quer.

Essa é uma coisa que o ser humano precisa urgentemente compreender: jamais conseguirá amealhar tudo que quer para si. Sempre faltará alguma coisa, sempre haverá um desejo não realizado. Por isso, quem vive com a esperança de um dia conseguir tudo que quer, acabará em algum momento se desgostando dessa vida.

O segredo do bem viver não é ter, mas amar tudo que tem. O segredo do bem viver é aprender a conviver com o que se tem, seja um grão de arroz ou um prato de comida especial, com equanimidade, com mesmo ânimo. Quem vive assim jamais sentirá desgostoso com a vida porque está harmonizado com o que tem. Quem não vive, vai ter desgosto da vida porque estará desarmonizado com as coisas da sua existência.

Portanto, começamos o capitulo de hoje onde vamos falar sobre suicídio, dizendo que o desgosto pela vida só surge para quem não trabalha espiritualmente. O desgosto da vida só surge para aqueles que querem possuir tudo desse mundo.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 944

Tem o homem o direito de dispor da sua vida?

Não; só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário importa numa transgressão desta lei.

O homem não tem o direito de dispor da sua vida. Só Deus tem o direito de dispor dela.

O que é suicídio? Não é um ato do homem dispondo da sua vida? Se isso não pode acontecer, segundo o Espírito da Verdade, quer dizer que não existe suicídio? Sim, não existe suicídio. Só que vocês ainda acham que há. Vamos entender o que estou dizendo.

Se alguém dá um tiro na cabeça, para vocês se matou, cometeu um suicídio. Mas, se aplicarmos o que o Espírito da Verdade falou (só Deus pode dispor da vida), não podemos dizer ele se matou, mas que o Pai dispôs da vida dele.

Repare na diferença entre o que estou falando e o que vocês vivem. Acham que o homem se mata, ou seja, dispõe da sua vida como quer, mas para quem crê no Espírito da Verdade isso é uma ilusão! O homem que atirou em si mesmo não dispôs de sua vida, mas Deus fez isso. Sendo assim, o Pai o matou e não ele tirou a sua vida.

Não há suicídio; o que há é Deus dispondo da vida de alguns. Aliás, esse mesmo raciocínio vale para o assassinato. O homem, em nenhuma situação, não pode dispor da vida porque só a Deus compete isso.

Começa, então aqui a questão do suicídio: ninguém se suicida, Deus é que dispõe da vida dos seres humanizados.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 944 a

Não é sempre voluntário o suicídio?

O louco que se mata não sabe o que faz.

O que será que quer dizer isso?

Acabamos de dizer que não há suicídio, que o ser humanizado não pode dispor de sua vida existência carnal. Por isso temos que temos que entender que não pode haver ninguém que se voluntarie para a morte. Ninguém pode se voluntariar para morrer, mas pode haver alguém que durante o ato de suicidar-se acredite que está dispondo da sua vida.

Essa crença é uma ilusão, é um maya. Só que existem seres que acreditam que estão se matando. Quem tem essa crença é um suicida voluntário. Aquele que quando Deus está dispondo da vida acredita que é ele que está dispondo, e um suicida voluntário sem ser.

A diferença está em acreditar, não fazer. Em como você se relaciona com o que o ego faz. Aliás, é sempre isso.

Portanto, não existe suicida; existe alguém que acredita que está se se suicidando enquanto Deus está dispondo da vida dele. Deu para ficar bem claro que não há suicídio?

Participante: mas, onde fica o livre arbítrio e a vontade daquele que se suicida?

Existe apenas antes da encarnação.

Leia a pergunta 258 de O Livro dos Espíritos:

“Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”.

Leia a pergunta 851:

“Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encanar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado”.

Leia a pergunta 853a:

“Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos? Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes seu Espírito também po sabe, por ter lhe sido revelado, quando escolheu tal ou qual existência.

Aí está. O espírito pediu um gênero de provas e a partir dele foi criada a situação de morte entendida como suicídio. Cumpre agora, depois de encarnado, viver o que escolheu trabalhando, como dissemos anteriormente, com paciência e resignação para alcançar a felicidade incondicional. No momento determinado o Pai disporá da vida canal dele. Isso é o que você chama de vida...

Participante: acredito que se levando em conta que o suicídio é prova para a família, amigos e não para quem se suicidou, acho que fica viável isso.

Não. É também para quem se suicida, pois quando o ser sai da carne acreditando no suicídio, que se matou, cria o tal vale do suicida e lá vai repensar como viveu. Só que nem todo suicida vai para esse vale.

Joana D’Arc era uma suicida, Paulo era um suicida, pois sabiam que teriam a morte no fim das suas jornadas. Isso quer dizer que eles foram para o vale dos suicidas? Claro que não. Não foram porque quando tiveram o seu fim estavam ligados com Deus e não estavam nem aí para o que estava acontecendo.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 945

O que se deve pensar do suicídio que tem como causa o desgosto da vida?

Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes teria sido tão pesada.

Portanto, com relação ao tema suicídio, a primeira compreensão passada pelo Espírito da Verdade é que só é recriminável aquele que se suicida voluntariamente, ou seja, aquele que imagina que está dispondo da sua vida porque imagina que não quer mais viver. Esse é responsável porque vivenciou esse carma de uma forma individualista.

Mas porque viveu de uma forma individualista? Porque não amou, porque não viveu a fé. O que torna o ser humanizado voluntário para o suicídio é o não viver a fé ou não viver o amor, não ter trabalhado no sentido espiritual. Se tivesse, não se suicidaria.

‘Opa, Joaquim você está dizendo que poderia não ter se suicidado’, alguém poderia me perguntar. Não, não é isso que estou dizendo. O que estou falando é que o espirito que trabalha a sua fé e o seu amor incondicional por tudo não veria destruição de vida no ato do suicídio.

Se ao escolher o gênero das suas provas o ser cria o destino de se suicidar, vai passar por esse momento com certeza. Só que se viver trabalhando para o seu futuro espiritual não irá considera-lo um suicídio. Saberá que está vivendo a morte física porque deus está dispondo da sua existência e não porque ele quis tirar a sua vida.

É isso que está sendo dito nessa resposta. Para bem compreendê-la temos que uni-la à pergunta anterior. Se fizermos isso, teremos essa conclusão que acabei de falar.

O ser humanizado tem o hábito de ler uma pergunta e esquecer-se das anteriores. O que eu estou fazendo é olhando todo O Livro dos Espíritos como uma coisa só. Se há uma informação anterior, a posterior tem que estar ligado a ela. Se não estiver pode gerar uma interpretação ilusória.

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Pergunta 946

E do suicídio cujo fim é fugir, aquele que o comete, às misérias e às decepções deste mundo?

Pobres Espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Aí, porém, daqueles que esperam a salvação do que sua impiedade, chamam acaso, ou fortuna! O acaso, ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorece-los por um momento, mas para lhes fazer sentir mais tarde, cruelmente, a vacuidade dessas palavras.

Pelo que vimos até agora, é considerado um suicida voluntario aquele que não sabe conviver com as situações da sua vida utilizando o amor e a fé. Aquele que sabe e vive com esses elementos, mesmo que pratique um ato de auto ferir-se, não é considerado um suicida voluntário e por isso não merece reprimenda.

Estamos frisando muito esse aspecto para que vocês compreendam como viver. O objetivo dessas conversas não é que vocês compreendam o suicídio, mas que entendam que a cada momento da vida, independente do que estiver acontecendo, podem ser um suicida.

É, tem isso também. Matar-se não é só enfiar uma bala na cabeça. Existem muitos momentos da vida onde vocês se suicidam. Quais momentos? Quando não vivem dentro da moral espiritual: o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Isso se chama suicídio moral. Já vamos falar.

Participante: por que às vezes nos sentimos tristes por não estarmos vivenciando a felicidade incondicional? Parece que a gente se mata aos poucos com essas tristezas.

Esse é o suicídio moral que vamos falar daqui a pouco.

Por que você se sente triste? Porque que quer. Porque acredita na razão do ego que afirma que deve ficar triste. É o ego que cria a tristeza. Você a aceita.

Portanto, você não fica triste, aceita a tristeza que o ego lhe dá.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 946 a

Os que hajam conduzido o desgraçado a esse ato de desespero sofrerão as consequências de tal proceder?

Oh! esses, aí deles! Responderão como por um assassínio.

É claro que fisicamente não se pode levar ninguém ao suicídio, pois como já definimos, esse acontecimento só ocorrerá se estiver previsto. Agora, pode se contribuir no sentido do outro acreditar nas mazelas do mundo.

Vou dar o exemplo. Sabe aquela pessoa que vocês chamam de negativa? Aquela que para ela tudo está mal, nada presta, que a vida é um horror? A pessoa que vivencia essas criações do ego como reais ajuda aos outros a também a acreditar nas criações dos seus egos.

Isso não quer dizer que o outro vai acabar no suicídio, mas se estiver programado e ele participar desse ato acreditando nas mazelas do mundo, se transformou num suicida voluntario. A ajuda para essa voluntariedade conta como carma.

Digo isso porque como Cristo ensinou, somos o sal da vida, temperamos a existência do próximo.

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Pergunta 947

Pode ser considerado suicida aquele que, a braços com a maior penúria, se deixa morrer de fome?

É um suicídio, mas os que lhe foram a causa, ou que teriam podido impedi-lo, são mais culpados do que ele, a quem a indulgência espera. Todavia, não penseis que seja totalmente absolvido, se lhe faltaram firmeza e perseverança e se não usou de toda a sua inteligência para sair do atoleiro. Aí dele, sobretudo, se o seu desespero nasce do orgulho. Quero dizer: se for quais homens em quem o orgulho anula os recursos da inteligência, que corariam de dever a existência ao trabalho de suas mãos e que preferem morrer de fome a renunciar ao que chamam sua posição social! Não haverá mil vezes mais grandeza e dignidade em lutar contra a adversidade, em afrontar a crítica de um mundo fútil e egoísta, que só tem boa vontade para aqueles a quem nada falta e que vos volta as costas assim precisais dele? Sacrificar a vida à consideração desse mundo é estultícia, portanto ele a isso nenhum apreço dá.

‘Sacrificar a vida à consideração desse mundo é estultícia’: belíssima frase.

Estultícia - qualidade ou particularidade de quem se comporta com estupidez, de maneira tola ou imbecil.

Para o espírito, vida não é uma existência carnal. Estar vivo para ele é estar ligado a Deus, vivenciando a graça de Deus. Pouco importa se está ligado a uma massa carnal ou não, o ser espiritual só se considera vivo se estiver ligado a Deus.

Negar a vida dentro desse sentido por conta de elementos materiais é um suicídio voluntario. Negar a sua santidade interior em troca de dinheiro, de posição social, de vaidades, de posses materiais, morais ou sentimentais, é um suicídio voluntario.

Veja bem. Vou dar um exemplo do que é negar a vida: tem gente que se diz católica, espirita, budista, mas não tem tempo para ir ao centro ou a igreja. Por quê? Porque tem que trabalhar, porque precisa se dedicar ao emprego para poder ter uma ascensão material.

Antes que vocês me entendam mal, não estou falando de igreja como espaço físico. O templo de cada um está dentro de si. Portanto, o que quero dizer é que tem gente que interiormente se nega a amar incondicionalmente porque tem que cuidar da família, está buscando uma posição social, quer ser mãe, ser pai. Esses são considerados suicidas voluntários. Tem gente que não busca a Deus para não ter que se submeter aos outros, para não ser manso. Esse é um suicida voluntario.

Quem está só preocupado com a posição nessa vida, quer ser reconhecido, famoso, amado materialmente, não busca a Deus. Com isso acaba não alimentando alguém de amor. Por isso, além do carma decorrente de estar trocando Deus por uma posição social, vai responder também por não ter realizado um trabalho de auxílio aos outros.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 948

É tão reprovável, como o que tem por causa o desespero, o suicídio daquele que procura escapar à vergonha de uma má ação?

O suicídio não apaga a falta. Ao contrário, em vez de uma, haverá duas. Quando se teve a coragem de praticar o mal, é preciso ter-se a de sofrer as consequências. Deus, que julga, pode, conforme a causa, abrandar os rigores de sua justiça.

O que diz aí? Se na encarnação Deus dispôs da sua vida através de um suicídio e nesse momento aceitou a verdade que estava fazendo aquilo para fugir a responsabilidade de algo que aconteceu, você é um suicida voluntario, participou da ação querendo participar. Se isso acontecer, mas você não acreditar na razão, não há suicídio. Só isso.

Repare numa coisa. Kardec está procurando um motivo para condenar qualquer suicídio, mas não consegue.

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Pergunta 949

Será desculpável o suicídio, quando tenha por fim obstar a que a vergonha caia sobre os filhos, ou sobre a família?

O que assim procede não faz bem. Mas, como pensa que o faz, Deus lhe leva isso em conta, pois que é uma expiação que ele se impõe a si mesmo. A intenção lhe atenua a falta; entretanto, nem por isso deixa de haver falta. Demais, eliminai da vossa sociedade os abusos e os preconceitos e deixará de haver desses suicídios.

Aquele que participa do ato do suicídio imaginando que está protegendo o outro, tem uma atenuante: a intenção de ajudar o próximo. No entanto, essa intenção por si só não tira a voluntariedade com o qual está participando daquele ato.

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Pergunta 950

Que pensar daquele que se mata, na esperança de chegar mais depressa a uma vida melhor?

Outra loucura! Que faça o bem e mais certo estará lá chegar, pois, matando-se retarda a sua entrada num mundo melhor e terá que pedir lhe seja permitido voltar, concluir a vida a que pôs termo sob o influxo de uma ideia falsa. Uma falta, seja qual for, jamais abre a ninguém o santuário dos eleitos.

O céu, o paraíso, o mundo espiritual, o nirvana, não é um local físico, mas um estado de espírito. Aquele que vive em comunhão com Deus e, portanto, liberto da ação do ego, está no paraíso, mesmo sem sair da carne.

Aqueles que participam da situação carmática que vocês chamam de suicídio acreditando quando o ego lhe que esse é o caminho mais curto para Deus, geram para si um carma: o de não encontrar Deus. Através desse carma, uma nova oportunidade se abrirá para que esses seres possam buscar Deus, encarnados ou não, dentro de si e não em algum lugar físico.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 951

Não é, às vezes, meritório o sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes?

Isso é sublime, conforme a intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Mas, Deus se opõe a todo sacrifício inútil e não pode ver de bom agrado, se tem o orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, não raro, quem o faz guarda oculto um pensamento, que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.

Expor-se ao perigo, que é o caso do sacrifício com a intenção de auxiliar a outro, é sublime, mas depende da intenção real. Tem muita gente que diz que está querendo ajudar os outros, mas não é bem isso. Antes de qualquer coisa está pensando em si. É o caso daqueles que fazem o bem ao próximo esperando receber algo em troca.

É isso que o Espírito da Verdade está dizendo Quem participa de ações que expõe perigos grandes para ajudar os outros, não deve acreditar que está realmente fazendo o bem. Ele precisa analisar sua própria intenção para participar daquela ação. Se estiver embutido algum objetivo individual, pode ter certeza que é um suicida voluntario.

É por isso que disse que Joana D’Arc, Paulo e outros não foram suicidas: eles não participaram dos acontecimentos das suas vidas pensando em si, em ganhar qualquer coisa nesse ou no outro mundo. Expuseram-se aos riscos apenas para conferir ao próximo uma oportunidade de aprender a amar incondicionalmente.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 952

Comete suicídio o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porem a que já não podiam resistir, por havê-los o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas?

É um suicídio moral. Não percebeis que, nesse caso o homem é duplamente culpado? Há nele então falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus.

Repare bem nessa questão. Kardec pergunta daqueles que participam de ações que vocês chamam de suicídios motivados por paixões mal resolvidas. O Espirito da Verdade afirma que tal procedimento é um suicídio moral.

A utilização desse nome (paixão moral) abre muito o espectro desse tema. Não estamos falando apenas de suicídio por um amor não resolvido, pelo abandono de um filho. É preciso compreender que apegar-se a qualquer paixão é danoso. Que morrer (sofrer) por causa desse apego, é suicídio moral.

Apegar-se a gostar de alguma coisa e sofrer quando não tiver o que gosta, é suicídio moral. Apegar-se a ideia que tem que mudar os outros e sofrer quando eles não se submetem, é suicídio moral. Apegar-se a paixão que possui a verdade da coisa e sofrer porque o outro a questiona, é suicídio moral.

Qualquer apego a paixão que você tenha, mesmo que não seja vivido com o ato físico de suicidar-se, é um suicídio moral ao longo da vida. Pela profundidade do tema, deixe-me esclarecer perfeitamente o que disse.

Não estou falando de atos. Não estou falando de razão. Falo da sua ação com relação ao que a mente cria. Se você der razão ao pensamento que espelha o apego às paixões, estará se suicidando.

Quando digo que é um suicida quem sofre porque acha o outro errado, não estou me referindo às razões geradas pela mente. Sei que quem criou isso foi o ego e você não pode mudar ou deixar de ter. O q eu falo é que apegar-se, acreditar nessa ideia é o problema. É aí que está o suicídio.

Aliás aquele que se apega ao ego é sempre um suicida. Isso porque quando alguém tem esse apego está desapegado Deus. Como ensinou Cristo, não se segue dois senhores ao mesmo tempo.

Então, é isso que o Espírito da Verdade está nos lembrando: um apego a uma paixão pode ser considerado um suicídio moral.

Deixa-me falar uma coisa: é um tema forte. Pode parecer que estou acusando alguém, mas não há dentro de mim essa intenção. Meu objetivo é simplesmente alertar e deixar que cada um exerça o seu livre arbítrio.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 952 a

Será mais ou menos culpado do que o que tira a si mesmo a vida por desespero?

É mais culpado, porque tem tempo de refletir sobre o seu suicídio. Naquele que o faz instantaneamente, há muitas vezes, uma espécie de desvairamento, que alguma coisa tem da loucura. O outro será muito mais punido, por isso que as penas são proporcionadas sempre à consciência que o culpado tem das faltas que comete.

Aqui é a mesma coisa que falei quando o ego cria o desespero. Só isso.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 953

Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível, será culpada se abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos, apressando voluntariamente sua morte?

É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a existência. E quem poderá estar certo de que, malgrado às aparências, esse termo tenha chegado; de que um socorro inesperado não venha no último momento?

Aplique se a esse caso tudo que falamos acima a respeito do suicida voluntario, àquele que acredita no ego quando ele cria as razões.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 953 a

Concebe-se que, nas circunstâncias ordinárias, o suicida seja condenável; mas, estamos figurando o caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é encurtada de alguns instantes.

É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.

Já debatemos isso no trabalho anterior: Conhece a ti mesmo. Quais, nesse caso, as consequências de tal ato?

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 953 b

Quais, nesse caso, as consequências de tal ato?

Uma expiação proporcionada, como sempre, à gravidade da falta, de acordo com as circunstâncias.

Uma expiação proporcional ao fato, ou seja, aquele que participa do suicídio voluntariamente, acreditando no ego, criou para si nas próximas vidas determinados acontecimentos que terão em intensidade a mesma que crença no ego de agora.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 954

Será condenável uma imprudência que compromete a vida sem necessidade?

Não há culpabilidade, em não havendo intenção, ou consciência perfeita da pratica do mal.

Veja que novamente o Espírito da Verdade deixa bem claro: não há culpa onde não há intenção. Portanto, aquele que expõe a sua vida sem a intenção de expô-la não pode ser culpado de nada.

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Pergunta 955

Podem ser consideradas suicidas e sofrem as consequências de um suicídio as mulheres que, em certos países, se queimam voluntariamente sobre os corpos dos maridos?

Obedecem a um preconceito e, muitas vezes, mais à força do que por vontade. Julgam cumprir um dever e esse não é o caráter do suicídio. Encontram desculpa na nulidade moral que as caracteriza, em a sua maioria, e na ignorância em que se acham. Esses usos bárbaros e estúpidos desaparecem com o advento da civilização.

Portanto, quando o espirito participa do ato com seus preconceitos, ou seja, com as ideias do ego, é considerado culpado. Participante sem elas, não.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 956

Alcançam o fim objetivado aqueles que, não podendo conformar-se com a perda de pessoas que lhes eram caras, se matam na esperança de ir juntar-se lhes?

Muito diverso do que esperam é o resultado que colhem. Em vez de reunirem ao que era objeto de suas afeições, dele se afastam por longo tempo, pois não é possível que Deus recompense um ato de covardia e o insulto que lhe fazem com o duvidarem da sua providencia. Pagarão esse instante de loucura com aflições maiores do que as que pensaram abreviar e não terão, para compensá-las, a satisfação que esperavam.

Já falamos disso quando conversamos sobre aqueles que querem se matar, que acreditam quando o ego está dizendo que está se matando para atingir mais rapidamente o paraíso.

Participante: como é considerado o haraquiri, traço cultural aceito até mesmo uma obrigação?

De acordo com a intencionalidade que aquele espírito participa.

Veja bem. Esse mundo não é um mundo de ação, ou seja, não é um mundo de atos. Por trás de cada ato, há uma intenção. Ela é ditada pelo ego, mas é assumida pelo espirito quando acredita na razão. Por isso passa a ser uma intenção do espírito.

Esse mundo de intenção pode ser vivido de duas formas. A primeira é a intencionalidade individualista. Ela existe quando a sua intenção é movida por uma paixão e um desejo interno. A segunda forma é a intencionalidade espiritualista. Ela existe quando você participa do mundo externo sem acreditar nas intenções que o ego gera. Portanto, sempre será por esses fatores que responderei sobre qualquer acontecimento, não importa o que você me perguntar.

Agora respondendo diretamente, direi que não sei. Aquele que participa desse ato ritualístico com a intenção individualista, vai ter um destino. Aquele que participa com a intenção universalista terá outro.

Participante: mas não podemos confundir? E se a intencionalidade for do subconsciente?

Jamais! Confundir, jamais!

Você sabe bem o que o seu ego está falando. Conhece o impulso externo e sabe muito bem quando se prende ou não à razão.

Desgosto da vida - Suicídio

Pergunta 957

Quais, em geral, com relação ao estado do Espírito, as consequências do suicídio?

Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar; é o desapontamento. Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstancias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam.

Pior no sentido material.

Não existe no universo, nesse ou em qualquer outro caso, penas pré-determinadas. A cada um segundo as suas obras. Então, o carma é individualizado. Agora, todos passarão por uma coisa incomum.

O que é que diz que todos passarão por uma coisa incomum?

Participante: o desapontamento.

O que é desapontamento? É quando se verifica que não realizou o que tinha que realizar.

Quando avalia seus esforços e trabalhos, você pode se contentar com o que fez ou se desapontar por não ter realizado tudo que poderia realizar. Esse último é o aspecto comum a todos que participam do suicídio acreditando no ego, ou seja, como voluntario. Mas, é também um ponto comum porque passam todos os espíritos quando avaliam sua encarnação.

Falamos de suicídio moral, ou seja, de apego às paixões humanas; essa é a maior causa de desapontamento de um espírito quando sai da carne. Quando volta a consciência espiritual toma consciência do quanto estava preparado para viver aquela vida e o quanto durante ela não se esforçou para vivenciá-la do modo que se preparou. Esse talvez seja o aspecto que mais precisamos nos conscientizar.

Veja bem. Se hoje você está vivendo determinada tribulação isso se deve ao gênero de prova que pedido antes da encarnação. Esse pedido foi feito porque você se sentia preparado para vivenciar essa determinada provação. Quando liberto do ego avalia a sua forma de relacionar-se com a personalidade temporária e vê o quanto se deixou enganar por ela. Nesse momento, a decepção ocorre.

Para que isso não aconteça, pare de dizer ‘eu não posso’, ‘eu não consigo’, ‘eu não sei fazer’. Voce está preparado para viver tudo que vive de uma maneira que seu estado de espírito de paz e felicidade interior e que, a sua harmonia com o acontecimento, jamais se perca. Não diga ‘eu não posso’; diga ‘vou tentar fazer’. A partir disso, lute, trabalhe para fazer. De nada adianta dizer ‘eu não sei’, porque sabe. Você está pronto para essa vida. Agora, se não fizer, não se desiluda quando sair da carne, pois Deus é Onisciente e, por isso, já sabia que não ia fazer.

Deus às vezes deixa que os seres escolham provas que sabem que não serão realizadas. Faz isso para que eles aprendam que não são tão fortes quanto creem.

Portanto, nessa ou em outra vida, jamais se desaponte com você. Esse é um tema profundo que está ligado ao amar-se, o amar a si mesmo.

Quem se desaponta consigo não se ama e, por isso, não consegue amar o outro. Para amar o próximo é preciso, antes de mais nada, amar a si mesmo. Amar a si é aceitar-se como é, sem precisar tirar ou colocar nada.

Então, se nesse mundo você representa, por exemplo, o papel de fomentador de briga, ame-se. Não queira mudar-se para se amar; se ame do jeito que é.

O contrário do amor a si mesmo é o desapontamento. Por isso, querer ser outra coisa, é uma paixão e, como já vimos, quem tem paixões comete um suicídio moral.

Na verdade, todo espirito passa pelo despontamento, nessa ou em outra vida. No entanto, todos podem não passar por isso. Como? Aprendendo a conviver consigo mesmo em paz, felicidade e harmonia. Esse é o recado mais forte que queria deixar hoje.

Desgosto da vida - Suicídio

Encerramento

Falar de suicídio pode ter sido um tema forte, porque parece que há muita culpa embutida no tema. Porém, não há culpa alguma na vivência desse acontecimento. O que existe são carmas. Há coisas espirituais que não podem gerar culpa, porque é fruto do livre arbítrio. Se o ser tem direito ao seu livre arbítrio, qualquer coisa oriunda dessa escolha pode ser considera errada por quem quer que seja. Aliás, nem por Deus, já que foi Ele mesmo que deu o livre arbítrio.

Se você se ama do jeito que é conseguirá realizar tudo que veio para fazer.

Participante; mas primeiro precisa se conhecer, não?

Você não se conhece? Não.

Não sabe, por mais que se estude, como reagirá quando alguém fizer determinada coisa. Num momento reage de um jeito, no outro de forma completamente diferente do resultado do estudo de si mesmo.

Além do mais, conhecer como é não é primordial. Basta apenas ver como está a cada momento e não ter a pretensão de ser diferente do que é. Então, não depende de se conhecer: depende de se aceitar.

Depende de amar a si mesmo incondicionalmente: só isso.

Participante; mas eu não gosto de agir como ajo. É uma parte de mim que queria que fosse diferente.

Ame não gostar de agir do jeito que age, porque não é você que não gosta, mas o seu ego que faz isso.

Ame a si mesmo. Ame, não gostando do que faz; ame, gostando do que faz. Ame a si em qualquer situação.

Volto a repetir: o contrário de amar-se é desapontar-se consigo. Isso é suicídio moral, pois só se desaponta consigo mesmo quem espera ou quer ser diferente do que é. Ou seja, tem uma paixão.