Reforma íntima - Textos - volume 05

Reforma íntima - Textos - volume 05

Coletânea de textos sobre a reforma íntima

Reforma íntima - Textos - volume 05

Uma vida de doação

Existem aqueles que dizem que já praticam a doação ajudando muitas pessoas, mas será que a quantidade de doação é suficiente para o que tem que provar e o que tem que pagar? Se apesar de toda a prática de doação que você está fazendo ainda acontecem sentimentos negativos na sua vida que lhe fazem tomar uma postura de sofrimento, está parecendo que não.

Aquele que auxilia o próximo, por exemplo, por cinco horas diárias, fazendo trabalho de doação voluntária e o faz com verdade, com vontade e ainda não conseguiu acabar com a quantidade de energias negativas dentro do seu espírito, é porque esse espaço de tempo é pouco. Faça dez então, porque cinco horas não está sendo suficiente.

Existe o hábito de se dizer que já se faz muito, mas só se olha o que se faz e não o que se deixa de fazer. Se uma pessoa está doando cinco horas do seu dia para apoiar alguém e dezenove horas para agredir, o que comanda as situações da vida: a doação de cinco horas ou as dezenove de agressão?

Desta forma o espírito vê o que ele faz, mas omite de si mesmo o resto do tempo. Acha que só aquele tempo que está dedicando vai pagar por todos os seus pecados. Além das penas e das provas que trouxe, está acumulando mais dezenove horas de novos débitos.

O que se deve ter é um padrão de pensamento (sentimentos) para o dia inteiro: esta deve ser à busca de um espírito na carne. Estar sempre à disposição da humanidade.

Os espíritos na carne de hoje dizem que não podem fazer isso porque têm que trabalhar para prover o seu sustento. Não falamos em não ter trabalho material, falamos que no trabalho deve estar se doando. Tratando todos com amizade, com cortesia, sendo honesto com todos, procurando estar sempre emanando energias positivas. Nada impede de fazer o seu trabalho sem inveja de quem trabalhe menos, sem alterar o estado emocional.

Existem no trabalho diversos problemas a serem enfrentados, todos sabemos, mas eles devem ser enfrentados com o sentido da doação e não com energias negativas. Se não houver problemas para serem enfrentados no dia a dia, deitem-se, pois o corpo vai cair e o espírito vai sair dele, ou seja, vai morrer.

Todos os espíritos estão na carne para enfrentar problemas, só para isso. E devem passar amando-os. Isto dá ao espírito alegria e felicidade, que se juntando a outras energias e posturas geram o amor universal.

Desta forma não adianta dizer que já se doa tanto tempo para o trabalho espiritual, já faz trabalho social, já tem muito tempo do seu dia de doação e não ver o que faz no resto do dia. Neste momento esquece tudo o que é de Deus e age negativamente.

Doar-se não é só socorrer alguém, praticar a caridade. Doar-se é estar sempre valorizando o irmão, o amigo que está junto e ter todos como amigos, sempre. Isto é doar-se.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Estar doente

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

Como vimos, para se alcançar a felicidade, quando a mente cria a idéia de estarmos doentes, não podemos compactuar com isso. Só que há outras coisas além do estar doente: preocupações, como com trabalho, com atividades, com compromissos...

'Você ficou doente logo hoje, no dia que tinha que fazer tal coisa'? Essa é outra armadilha que a mente cria.

Não existe nada a ser feito. Tudo que acontece é a vida que faz. Isso é importante de se ter consciência para não se deixar levar por este pensamento-emoção de frustração por estar doente e não poder fazer aquilo que tinha programado realizar, não poder honrar os compromissos que tinha assumido.

Vou dar um exemplo. Aquela pessoa está desempregada há algum tempo e por isso já está ficando desesperada. Já pensou se ela consegue uma entrevista e fica doente exatamente naquele dia? Olha todo cenário que a mente cria para que esta pessoa aceite a história que ela cria: 'Eu estou mal mesmo, acho que colocaram macumba em cima de mim... Não consigo uma entrevista e na hora que isso acontece vou ficar gripado, doente?'

Vocês estão muito preocupados em saber por que a mente é assim, de onde vem o que ela faz, mas isso não interessa. O que vocês precisam entender é a teia que a mente cria para lhes prender a ela.

Já reparam que quando vocês programam fazer algo que esperava fazer a muito tempo aparecem diversas outras coisas que vocês também queriam fazer? Já perceberam que quando conseguem programar-se para realizar algo que queiram aparecem muitas complicações à sua frente? Isso tudo são teias que a mente cria e você não pode se deixar levar por isso se quer alcançar a verdadeira felicidade.

É preciso trabalhar a libertação dos desejos, a idéia de que você não age, de que não quer, de que não vai ficar chateado, pois tudo isso é criação da mente. Isso vocês já me ouviram dizer, mas vou falar de uma nova coisa para trabalharem em si mesmos: precisam trabalhar a idéia de ter uma vida humana para viver...

Vocês não têm uma vida humana, não vivem uma vida humana... Quem vive a vida humana é a mente...

A mente é você e é ela que vive a vida que você chama sua... A vida não é sua: é da mente. Não é você que está aqui, mas a mente; não é você que lê, mas a mente. Você é quem? Não sei... Está onde? Não sei... Está fazendo o que? Não sei...

Você não dirige, mas sim a mente. Melhor: a mente é a idéia de estar dirigindo, pois não há um ato de dirigir. O que existe é uma idéia de estar dirigindo.

Você, além de não ver isso como uma idéia acha que é você que está fazendo... Você não faz, não é e não está... Tudo isso são elucubrações mentais, criações da mente.

Nenhum de vocês está me ouvindo agora, mas sim a mente. Quem está na frente do computador é a mente. Quem o desligará é a mente. Ou melhor, ela vai criar a idéia dele estar desligado, já que ninguém desliga nada. Não há ações a serem feitas.

Eu vou falar uma palavra que já falei para não ser usada, mas que preciso usar agora. No trabalho 'Conhece-te a ti mesmo', quando fomos explicar o ego, a primeira coisa que falei foi o seguinte: para entender qualquer coisa e realizar qualquer coisa, você precisa assumir a dupla personalidade: você e o ego. No caso de agora, precisa assumir a dupla personalidade você e a mente...

Você precisa distinguir muito bem quem é você nesta história e quem é mente. Quem é mente nesta história: tudo aquilo que você diz que é você. Quem é você? Nada que possa saber. A única coisa que pode saber é que não é o que a mente é...

Por isso falo em não compactuar com a mente. Mas, isso deve ser feito a nível geral, ou seja, tudo, e não pontualmente. Você não dirige, não anda, não faz sexo: tudo isso é a mente que faz. Apenas quando você não aceita que é a mente que está fazendo é que é você quem faz.

Como o espírito pode fazer sexo se ele não tem órgão sexual? Como você, o observador pode fazer sexo se ele é um ato físico e você não é corpo que veste?

Você não faz nada. Na verdade só tem uma coisa a fazer: observar a mente e compactuar ou não com ela. Quando você compactua é que ilusoriamente imaginará que é você que está fazendo o que ela faz...

Aproveitei este momento no tema estar doente para falar disso, porque o estar doente é isso. Atrás do sentir-se doente vem sempre uma série de cobranças da mente, mas, quem está doente é ela, quem não vai é ela, quem vai sentir-se frustrado por não ir é ela. Por que você tem sentir tudo isso se não é ela?

É a mesma história da doença: por que você tem que sentir-se doente se é a perna que está doente e você não é o corpo? É preciso que vocês separem bem claramente quem é você e quem não é.

Isso é um trabalho de vigilância. É um trabalho para ouvir o que a mente diz que você é. Ouvir o que a mente diz que você está fazendo, para poder responder: isso é mente, não sou eu. Não é ouvir para saber o que está fazendo, para saber o que está vivendo, mas para distinguir o que a mente está falando e assumir que tudo isso é ela...

Reforma íntima - Textos - volume 05

Mensagem de Joaquim

O Espiritualismo Ecumênico Universal tem um único objetivo básico: estudar a vida material, repassando os ensinamentos necessários para que o ser universal (espírito) encarnado possa promover a reforma íntima, transformando a vida material de uma existência isolada para uma etapa da vida espiritual. Esta postura leva à destruição dos valores materiais que prendem o espírito a este mundo, levando-o a aproveitar na plenitude a vida carnal como caminho para a evolução espiritual.

Hoje o ser universal vive a vida material como se ela fosse a sua existência completa. Todos os objetivos do espírito encarnado estão voltados para o sucesso material, com a intenção de gozar o prazer da satisfação e fugir da insatisfação. A vida carnal não é para isso.

Como ensinado pelos mestres universais, a vida humana foi criada para que o ser humano reconhecesse a si mesmo (identidade espiritual), Deus e o Universo em que vive. No entanto, ele dá pouco valor a este aprendizado e busca sempre compreender as coisas (objetos, pessoas e acontecimentos) materialmente, ou seja, a partir de verdades individualistas e vivenciando-as como se elas fossem eternas.

Exemplifiquemos: para que um espírito precisa aprender a dirigir automóveis? Quando se sai da carne, na vida espiritual, não existe carro a ser guiado, então, por que aprender a dirigir? Por que essa fixação, obsessão em aprender a dirigir um carro se na existência eterna (espiritual) não existe carro?

Este conhecimento, portanto, para a real existência espiritual é inócuo. Mesmo conhecendo esta verdade o espírito na carne possui a obsessão em adquirir este e outros tipos de conhecimento que de nada servirão para a sua existência eterna. Para que tamanho empenho em aprender coisas que servirão apenas para poucos anos?

Antes de continuarmos precisamos deixar bem clara este abordagem. Não estamos apregoando que o espírito encarnado não possa adquirir conhecimentos das coisas materiais, mas essa busca não deve se tornar uma obsessão, um objetivo de vida.

Para muitos seres humanos aprender a dirigir, que é apenas um exemplo dentre tantos, transforma-se em um objetivo de vida. Para outros, aprender matemática, ciência ou medicina é o objetivo de vida. Para que? Para usar quarenta, cinqüenta anos e depois ter que abandonar?

Voltamos a insistir: não é não obter conhecimentos materiais, mas não transformar essa busca em objetivo de vida. Não deve haver obsessão em querer as coisas materiais, em transformá-las em base para a existência. As coisas materiais devem ser apêndices da vida e não prioridades.

As coisas da vida material devem ser encaradas como complemento e não como prioridades. Conseguindo estudar e tirar a habilitação que ótimo, mas se não conseguir, isso não deve afetar sentimentalmente (provocar sofrimentos) a existência do espírito carnal. Conseguindo formar-se em um curso superior ou vivendo do trabalho humilde, o espírito deve sempre utilizar o período em que está encarnado para alcançar a sua evolução espiritual.

O ser não deve guiar a sua existência no sentido de tornar-se algo que possa ser gozado materialmente. A vida carnal é uma oportunidade de aprendizado espiritual: alcançar esta consciência deve ser a razão de estar na carne para o espírito.

O objetivo principal da existência carnal para o ser universal é elevar-se através da sua reforma íntima: todo o resto que acontecer numa existência carnal é apenas complemento disto.

O clímax espiritual em uma existência carnal é o ser universal se auto-reconhecer como espírito e saber viver espiritualmente, apesar da não lembrança da realidade universal. O objetivo profundo desta vida é compreender o Universo e integrar-se a ele e não individualizar a existência criando um mundo à parte para viver.

A vida material não foi feita para que o ser universal crie o indivíduo: eu sou. O ser humano, o indivíduo formado pelos objetivos materiais de vida extingue-se, acaba com a morte. Aquele que vivencia a vida com a consciência de que é um ser humano (vive das coisas materiais) neste momento sairá da carne, desta densidade de matéria, sem se auto-reconhecer, sem conhecer Deus e sem entender o Universo em que vive.

Estamos falando em mudar a vida sem mudar de vida: viver a vida material com objetivos espirituais. Este é o objetivo deste estudo: compreender os apêndices da vida de tal forma que eles deixem de ser objetivos de vida.

É preciso mudar a forma de viver, pois mesmo sem intenção, o objetivo material da vida vai sendo passado de geração em geração, ensinado aos mais novos a também viver materialmente. Exemplifiquemos novamente: a brincadeira mais comum de uma criança do sexo feminino é a boneca. A mãe, o pai, a família e a sociedade estimulam à menina brincar com este brinquedo.

“Vamos fazer papinha para a boneca”, “põe a neném para dormi”, “dá mamadeira que ela está chorando”. Brincando, a criança está aprendendo a ser mãe, preparando-se para o futuro. A maternidade está se transformando em objetivo de vida.

Não é a criança espontaneamente que cria a brincadeira, mas o ser mais velho que acha que a vida deve possuir objetivos materiais, que está formando conceitos que servirão de base para os raciocínios futuros de aquele ser humano.

Todos brincam de médico, professor, mas ninguém é lixeiro, nem na brincadeira. É dessa forma que a criança (ser universal encarnado) aprende que deve viver para alcançar a fama e a ascensão profissional para ser feliz.

Todos os objetivos da vida são traçados na criança pelos pais, família e sociedade. Assim, quando cresce, com esta base formada, o ser humano pauta a sua vida por esses valores transmitidos durante a infância. A menina vive para ser mãe e se no futuro não conseguir a maternidade sofrerá com esta frustração.

Mas, quem disse que todas as mulheres têm que ser mães? Quem determinou esta obrigatoriedade para que a vida valha pena? Ser mãe é um apêndice da vida e não regra ou objetivo básico de uma existência.

A vida carnal tem um objetivo que é único para todos os encarnados: todos os espíritos vêm à carne para provar a Deus que são capazes de abandonar o individualismo, integrando-se perfeitamente ao Universo.

O objetivo deste trabalho é justamente analisar os acontecimentos da vida carnal com o sentido de eliminar a visão individual deles.

Para isso é preciso mudar as prioridades da vida. Hoje a prioridade é a realização material: a mulher tem que ser mãe, o homem tem que ser marido, os dois tem que ter filho e criá-lo, dando-lhe instrução necessária para que ele consiga o sucesso material.

Esta é uma prioridade coletiva: não importa o país, continente ou raça. No entanto, quem disse que todos devem obrigatoriamente seguir esta evolução?

Este é o trabalho que o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL tem como missão transmitir aos seres encarnados, auxiliando-os, portanto, a alcançar o bem celeste através da reforma íntima.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Radicalismo

Alguém me falou em radicalismo na aplicação do espiritualismo. Como sempre acontece nos casos que alguém aplica determinados adjetivos, busco o dicionário para compreender a definição. No Dicionário Aurélio, encontrei a seguinte definição para radicalismo: "Doutrina ou comportamento dos que visam combater pela raiz as anomalias sociais implantando reformas absolutas".

Com isso descobri uma coisa: não há espiritualismo sem radicalismo. Isto porque o espiritualismo é a doutrina que visa combater pela raiz as anomalias sociais aplicando-se somente os aspectos espirituais, sem atender jamais aos apelos materialistas.

Sei que esta afirmação pode ter chocado muitas pessoas, mas isto se deve ao fato do radicalismo em nosso planeta ter sido usado com despotismo, ou seja, com tirania aos outros. Mas, o espiritualista, exatamente por ser radical em suas crenças, aplica-as apenas para si e não para os outros, preservando, assim, o direito de cada um ser e estar da forma que quiser. Desta forma, o espiritualista não é déspota, mas radicalmente universalista.

O espiritualista é radical com ele mesmo, ou seja, combate em si a visão de anomalias que ele vê e não o que os outros acham. Vive para implementar em si as reformas absolutas e não no outro; para que ele vivencie o bem e o mal universalmente falando e não dentro dos padrões individualistas do ser humanizado, dando a cada um o direito de achar o que quiser.

Aliás, o que seria das mensagens de Cristo sem o radicalismo na fé e submissão que as caracterizaram? Como teria Francisco de Assis deixado uma exemplificação tão grande se não fosse radical na sua luta contra as sociedades constituídas? O que seria de Chico Xavier se não fosse radical na sua luta para implantar o espiritismo no Brasil? Nada. Foi com o radicalismo pelo espiritualismo, aplicados às suas próprias vidas, sem críticas ao próximo, que eles deixaram ensinamentos e exemplos para que vivêssemos a nossa.

Sem o radicalismo pelo espiritualismo, os grandes mentores da humanidade nada teriam exemplificado. Teriam vivido como nós, que em determinados momentos somos espiritualistas, aplicamos o conhecimento trazido pelos amigos espirituais, mas em outros vivemos a plenitude do materialismo. Tudo isso movido pelo interesse individual, que o espiritualista é radicalmente contrário.

A quem vive desta forma Cristo chamou de professores da lei (os que conhecem, mas não praticam integralmente) e à forma de agir deles de hipocrisia.

Claro que o espírito mais próximo de Deus do nosso orbe não poderia estar ofendendo ou criticando aqueles que não eram radicais na aplicação do que sabiam. O termo hipocrisia não pode, então, ser entendido como um xingamento, uma ofensa, mas como também definido no dicionário: falsidade.

É falso aquele que não é radical, ou seja, aquele que não aplica o que recebe dos amigos espirituais a todos os acontecimentos da vida, mas só quando quer aplicar. É falso aquele que aplica as verdades espirituais apenas àquilo que gosta, quer, ou lhe interessa. Era isso que Cristo, o radical pela reforma íntima (viver a existência como atividade espiritual e não vida material), queria incitar os professores da lei a viver quando os qualifica como falsos.

Que adianta orarmos e adorarmos a Cristo sem, como ele, sermos também radicais na nossa existência pelo espiritual, por Deus e por Seu Amor? Que adianta mostramos o exemplo de São Francisco sem vivenciarmos o seu radicalismo? Que adianta lermos todas as obras deixadas por Francisco Cândido Xavier sem seguirmos o radicalismo que elas contêm? Nada. Devemos ser radicais no nosso trato com as coisas espirituais para podermos honrar os ensinamentos que nos foram deixados por aqueles que missionariamente nos antecederam.

Afinal de contas, o ser humanizado é por característica um radical: só resta saber à que se apegar radicalmente. Somos seres radicais porque defendemos nosso ponto de vista constantemente quando eles são ameaçados por palpites dos outros. No momento que o nosso saber é ameaçado pelo do próximo, como radicais que somos por nossas verdades, nos defendemos querendo provar ao outro que nós é que estamos certos e eles errados. Defender um ponto de vista, uma idéia, ou planejamento individual não é um radicalismo?

Então, o que estou querendo com este texto não é defender o despotismo, mas exortar à defesa do espiritualismo até as últimas conseqüências e não apenas naquilo que nos favorece ou apetece defender. Portanto, o problema não está em sermos ou não radicais, mas a que doutrina nós iremos radicalizar: o individualismo ou o universalismo?

Estou falando em ser radicalmente amoroso; em buscar radicalmente o seu eu interior sem vivenciar o eu exterior; em vivenciar a vida material radicalmente voltado para o sentido espiritual dela. Não estou querendo destruir nem impor nada, mas apenas sugerindo o redirecionamento do radicalismo para o espiritualismo ao invés de exercê-lo dentro do interesse individual.

Por isso afirmei e volto a repetir: o espiritualismo só pode ser vivenciado com radicalismo. Não com o despotismo de querer estar certo e achar que os outros estejam errados, mas com a consciência que não devemos transigir daquilo que nos foi ofertado pelos radicais por Deus em momento algum.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Reconhecendo os sentimentos

Viver para o ser universal é realizar escolhas sentimentais. Dos ensinamentos que já conversamos, chegamos à conclusão que este é o único ato que o ser universal pode realizar durante a existência carnal. Mas, será que conhecemos os sentimentos que nutrimos para poder realizar a escolha sentimental?

Exemplifiquemos: um casal afirma que se ama. São espíritos que imaginam que sentem um pelo outro um sentimento puro que chamam de amor, mas, será que realmente se amam?

Apesar de afirmarem que nutrem este sentimento, um vive reclamando do outro. “Se ele fosse menos bagunceiro”, “se ela não fosse tão certinha”, “se ele não fosse tão desleixado”. Apesar de afirmarem sentir amor, um está sempre tentando mudar o outro para aquilo que considera certo.

O amor não aceita críticas, até porque quem precisa que haja mudanças não ama o outro, mas a um ideal individual. Aquele que afirma amar ao próximo, mas acha que ele (ela) deveria mudar-se para satisfazê-la (o), ama o seu (sua) homem (mulher) ideal e não ao outro. Na verdade ama a si mesmo e não ao próximo.

O sentimento envolvido, portanto, não pode ser chamado de amor, mas sim de posse. Os dois vivem em constante conflito para mudar o outro (possuir) em busca do prazer, da satisfação individual. Isto não é amor (sentimento universalista), mas posse (sentimento individualista).

O amor verdadeiro releva tudo. Não importa o que o outro faça, aquele que realmente ama não vê erros, mas harmoniza-se perfeitamente com o próximo do jeito que ele é, sem exigir mudanças.

Por esse simples raciocínio, podemos compreender que o ser humano não conhece verdadeiramente os sentimentos que nutre. O perfeito entendimento sobre os sentimentos é fundamental para a reforma íntima, pois a reforma deles é o trabalho que o ser precisa realizar para se elevar. Esse é o assunto desta conversa. Não iremos, no entanto, abordar os sentimentos pelos valores conhecidos no planeta Terra (inveja, cobiça, raiva, amor, companheirismo), pois na verdade existe apenas um sentimento no Universo: o amor de Deus.

Quando acreditamos que Deus é a Causa Primária e atribuímos todos os acontecimentos à Sua Vontade, não podemos pensar em pluralismo. Um Ser Perfeito jamais cria coisas diversas, pois senão poderia cometer injustiças. Tudo o que Ele faz deve ser idêntico, até o mínimo detalhe, para que o equilíbrio universal exista. Sendo, portanto, Deus o único a criar, só pode existir um único sentimento universal.

Deus é o Amor Sublime, por isso, tudo que Ele comandar terá que ser amoroso. Não estamos falando do amor conhecido pelos seres humanos, mas de algo muito mais sublime que não existem palavras que possa descrever. Apenas para fim de comunicação nesta obra chamaremos o fruto da ação de Deus de amor universal.

O amor universal é o único sentimento que existe, mas este amor pode ser vivenciado de duas maneiras distintas: individual ou universal. Quando o ser humano o utiliza universalmente comunga com Deus, mas quando o utiliza com intenções individualistas faz surgir os sentimentos como conhecidos no planeta Terra.

O que é a inveja senão o amor de Deus utilizado com o desejo individual de ter? O companheirismo não é o amor de Deus utilizado para se relacionar com aquele de quem se gosta?

O livre arbítrio que o espírito possui quando vivencia os acontecimentos da vida não se trata de optar entre os diversos existentes, mas de escolher com que intencionalidade irá vivenciar o amor de Deus. Portanto, não vamos falar dos sentimentos em si, mas da intencionalidade com a qual se utiliza o amor divino.

A intenção individualista pode ser reconhecida pelos valores que o ser humano aplica às coisas (pessoas, objetos e acontecimentos). Quando diz que gosta de alguém está aplicando uma intenção individualista, mas quando afirma que não gosta, age da mesma forma. Os binômios certo/errado, bonito/feio e limpo/sujo nascem do direcionamento individualista do amor de Deus que o ser faz durante a sua existência.

Essa escolha tem como base as verdades individuais de cada um, ou seja, aquilo que o ser humano acha das coisas. Como já vimos estas verdades não são universais. Aquele que aplica esse tipo de escolha parte do princípio que conhece a verdade absoluta das coisas e é capaz de escolher entre o bem e o mau.

Dar valores às coisas é a base da utilização, com objetivos materialistas, do livre arbítrio que o ser universal tem durante a encarnação. Aliás, foi exatamente a opção por individualizar o amor de Deus que lançou o espírito no ciclo de reencarnações.

 “Você não vão morrer coisa nenhuma! Deus disse isso porque sabe que, quando vocês comerem a fruta dessa árvore, os seus olhos se abrirão e vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal”.

“A mulher viu que a árvore era bonita e que as suas frutas eram boas de se comer. E ela pensou como seria bom ter conhecimento.” (Gênesis – 3,4).

Adão e Eva são os espíritos criados por Deus e que habitam o mundo celeste de uma forma universal. Quando eles buscam saber o que está acontecendo (determinar valores para os acontecimentos) criam o individualismo e, por isso, precisam ser expulsos do paraíso e iniciar o ciclo de reencarnações (morte) até que abram mão deste poder.

É preciso que o ser humano (espírito que comeu a maçã) abra mão do poder de determinar valores (sentimentos) para as coisas para que encerre com o fim de nascimentos e mortes. É preciso que ele deixe de distinguir individualmente as coisas, utilizando o amor de Deus na sua essência mais sublime: o universalismo.

O ser que opta por utilizar o seu livre arbítrio sentimental de uma forma universal não cria binômio. Ele não sente nada de forma individual pelas coisas universais, mas apenas o amor de Deus. Para ele não existe o certo ou errado, bom ou mau, mas vê apenas a Perfeição em tudo.

Promover a reforma íntima não é mudar os sentimentos, mas universalizá-los. Não se trata de deixar de gostar do que gosta ou vice versa, mas amar a tudo e a todos incondicionalmente. O ser que quer alterar os seus sentimentos, sem alterar a intencionalidade, nada reformou.

O que é preciso identificar é a intencionalidade do sentimento e não o tipo deste. É preciso estar vigilante a cada segundo (orai e vigiai) para não cair na armadilha do eu sei que dirige o livre arbítrio do ser quando encarnado.

De nada adianta saber se está tendo raiva ou carinho, se estes dois sentimentos ainda forem nutridos por bases individualistas. É preciso ir além do que meramente identificar sentimentos, mas buscar integrar-se perfeitamente ao Universo, sentindo sem intencionalidade. Por isto Krishna ensina:

“Tudo o que acreditas conhecer através dos ouvidos, dos olhos, da consciência, da palavra e tudo o mais, dá-te conta de que é uma ficção do pensamento, simples fantasmagorias destinadas, portanto, a perecer”.

“O homem que não vigia seus pensamentos cai no erro de acreditar na multiplicidade das coisas. A crença na pluralidade conduz às egoísticas impressões de mérito e demérito. As diferenças que parecem existir nas ações, nas não-ações e nas ações ruins só dizem respeito ao homem que pensa no mérito e demérito”.

“Portanto, controlando teus pensamentos e os sentidos que eles contaminam, observa a este Universo como se estendesse em teu próprio íntimo e encara o teu ser como descansando em Mim, o Senhor Supremo da Yoga e da Mente”.

“Somente dois tipos de seres humanos, submersos na felicidade suprem, vivem livres da angústia e ansiedade: a criança que nada sabe e jamais atua intencionalmente e o homem que realizou o SER”. (Bhagavata Puranas).

Falamos antes que o amor de Deus não pode ser descrito em palavras humanas, mas apesar disto podemos ter uma noção da vida quando vivenciada sem intenções individualistas. O casal que citamos como exemplo no início deste item vivenciará o amor quando cada um reagir com apatia (sem elogios ou críticas) à atitude dos outros.

Viver o amor universal na sua plenitude é tornar-se apático às coisas do Universo: o ser que não reage aos acontecimentos com mérito ou demérito. Essa é a atitude daquele que vive plenamente a sua realização espiritual.

Muitos confundem a apatia com a omissão, mas não é disso que estamos falando. O ser omisso é aquele que se acomoda com a situação, não reage a elas com nenhum sentimento. Essa não é a postura do ser elevado.

Ele age a cada segundo, mas com universalismo e não individualismo. Sua ação não tem como base os seus valores individuais, mas a realidade universal: Deus e Sua ação. A apatia que estamos falando é colocar o Amor de Deus em tudo que acontece. Este ser não é omisso, porque age, amando a tudo e a todos com o amor universal.

Escolher entre sentir o amor universal ou individualizar os sentimentos é a opção do ser encarnado. Reconhecer os sentimentos é buscar compreender se eles são fruto de uma intenção individual ou se consagram a perfeita comunhão com o todo (a ação universal).

Quando o ser universal optar pelo Caminho do Meio entre gostar ou não gostar, ou seja, viver sem dar valor à situação, terá promovido a reforma íntima.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Conhecimento do mundo espiritual

Apesar de imaginar o contrário, vocês seres humanos nada podem conhecer sobre o chamado mundo espiritual. Já afirmei isso diversas vezes ao longo do nosso trabalho, mas isso realmente está claro? Tendo em vista que vocês continuam acreditando que podem conhecer elementos daquele mundo, acho que não... Por isso vamos voltar ao assunto.

 Será que eu precisava levar tanto tempo para provar a vocês o que está escrito em O Livro dos Espíritos? Sim, tudo o que disse está detalhado neste livro do Pentateuco espírita. Lá está escrito com todas as letras: o Espírito é nada para vocês que são humanos.

“23 a. Qual a natureza íntima do espírito? Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa”. (O Livro dos Espíritos)

Vocês dizem que acreditam neste livro, ou seja, para vocês esta informação é verdadeira. Sendo assim, porque me perguntam o que espírito faz no mundo espiritual, como age ou como é? Como podem compreender algo que pertença a uma coisa que é nada para vocês?

Matéria espiritual é outro assunto que ficou muito claro em O Livro dos Espíritos: ela não é energia, não é onda eletromagnética.

“27 a. Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais de fluido elétrico, fluído magnético, são modificações do fluido universal”. (O Livro dos Espíritos).

Apesar de esta informação estar bem clara, vocês continuam dizendo que o Universo é energia. Energia é aquilo que acende a lâmpada. A matéria universal não é isso... O elemento material universal é desconhecido de vocês, pois ele é o que compõe a energia e não a própria.

Deus? Sobre isso, além de ser muito claro sobre o conhecimento deste tema, O Livro dos Espíritos traz ainda uma informação muito importante. Lá é dito que falta ao ser humano um sentido para compreender Deus e fala ainda que estes seres não devem se perder na busca de compreendê-Lo. Se fizerem isso, irão entrar num labirinto donde não lograrão sair. Mais: enquanto estiverem neste labirinto deixarão de fazer o que têm que fazer.

“10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? Não, falta-lhe para isso um sentido”.

“14. Deus é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas? Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis”. (O Livro dos Espíritos).

Portanto, mais do que inútil, a busca de Deus, do Espírito e do mundo espiritual é danosa a vocês. É isso que o Espírito da Verdade está dizendo. Por quê? Porque esta busca não lhes deixa fazerem o que deveriam fazer. Sendo assim, vocês não devem insistir nisso, pois senão estariam causando a si mesmos um dano.

Portanto, idéias sobre Deus, Espírito, Universo e matéria universal são coisas que não devem ser buscadas. Insistindo nesta busca, além de não compreenderem o tema, vocês irão entrar num labirinto formado pelas milhares de perguntas que surgem quando estas coisas são investigadas. Presos nestas questões ficarão rodando como cachorro atrás do rabo e nada farão daquilo que precisam fazer: a evolução espiritual...

Mas, apesar de estas informações estarem bem claras para os espíritas, muitos ainda afirmam que já viram e falaram com espíritos, outros afirmam realizar viagens astrais, ou seja, passearem livremente no mundo espiritual. Desculpe a quem pensa assim, mas se conseguem falar com Espíritos, trabalhar com eles, vê-los e se sabem quem é Deus, estão desdizendo o Espírito da Verdade e o próprio trabalho que dizem se pautar.

Para afirmar que conhecem as coisas do mundo espiritual, estas pessoas afirmam que têm experiências paranormais, ou seja, que têm experiências que vão além dos sentidos físicos. Posso até concordar que isso é possível, mas daí dizer que se alcançou o plano espiritual elevado, que se penetrou no Universo além do orbe terrestre, isso é outra coisa.

Existe um mundo que vocês não conhecem. Ele é imaterial, mas está preso ao orbe terrestre. Ou seja, é um mundo terrestre, humano e não espiritual. Esse mundo se chama mundo dos devas. Este nome está designado assim para este mundo no Bhagavad Gita.

Ele é o mundo espiritual da Terra. Os que ali vivem são seres elementares da Terra. Em outras palavras: são os Espíritos sem corpo humano, mas que ainda estão humanizados. Por isso, mesmo tendo a essência espiritual – o que, aliás, o encarnado também possui – são seres humanos, moradores do orbe terrestre e não do Universo Universal.

Todos os Espíritos ao qual qualquer ser humanizado tenha se referido, falado, visto ou trabalhado, incluindo eu, são seres humanos sem carne e não Espíritos. Moram no mundo dos devas e não no mundo espiritual superior. Estão presos a um planeta, no caso a Terra, e não no Universo Universal.

É este mundo, que as outras doutrinas não falam, mas que Krishna cita como o mundo dos devas, aquele que o ser humanizado pode alcançar usando-se da razão. Isso porque neste mundo existe a presença da razão humana. Por isso ele não é um plano espiritual superior, mas uma simples extensão do orbe terrestre. Sendo assim, quem vai lá não sai daqui...

Muitos diriam: conhecer este mundo já é um avanço no sentido da elevação espiritual. Engano...

Sobre ele, o bendito senhor tem um recado muito forte: aquele que adora e busca os devas, quando sai da carne vai viver entre eles. Lá, o espírito desencarnado brinca e passeia na carruagem dourada deste mundo, vive alegre e feliz, mas para esses a queda é inevitável. Ou seja, para quem vive no mundo dos devas a reencarnação é normal, natural e necessária. E por quê? Porque não saiu do mundo humano... É agora apenas um ser humano sem corpo.

É um ser humano porque o que determina ser um humano não é o corpo, mas a mentalidade, o mental, as verdades, as idéias. Repare se esses Espíritos que vocês dizem conhecer não estão presos às idéias humanas, se não vivem humanamente, se não acham as idéias humanas certas.

É por isso que acreditar que apenas alcançar este mundo de nada resolve para aquele que realmente quer buscar a elevação: o ser que acredita nele como realidade vai para lá, mas tem que voltar a encarnar na Terra. Persistir na busca destes Espíritos ou do mundo deles é viver num eterno bate e volta: encarna e desencarna...

Só que como já vimos muitas vezes, por causa da transição do mundo provas e expiações para o de regeneração, não existe mais tempo de se voltar a este planeta. Sendo assim, aquele que hoje desencarnar terá o dia do seu juízo final, como ensinado por Cristo na sua pregação.

Todos os que hoje estão encarnados estão vivendo a sua última etapa de realização da elevação espiritual no mundo de provas e expiações. Assim que desencarnarem, passarão pela avaliação final de seu processo de evolução espiritual nesta etapa. Aquele que houver adquirido o grau necessário para continuar, permanecerá neste orbe e viverá, então, a etapa de regeneração. Os que não conseguirem terão que buscar abrigo em outro orbe planetário e lá voltar a vivenciar um novo período de provas e expiações.

É por isso que essa busca sobre a verdade dos elementos espirituais é inútil. É inútil se buscar a Deus, ao Espírito ou o Universo.

Reforma íntima - Textos - volume 05

É justo ser injusto

O que é fazer justiça? Trata-se de atender a preceitos que sejam considerados certos, corretos. Fazer justiça é dar razão a quem está certo...

A partir daí, podemos dizer que cometer uma injustiça é fazer o que está errado. Quem comete uma injustiça está agindo de forma errônea. Mas, será que está mesmo? Quais são os critérios que definem o que é justo e o que não é?

Muitos diriam que estes critérios são estabelecidos de forma comunitária para cada sociedade. Mas, será que realmente estes critérios estabelecem o que é justo? Para entender isso, vamos ficar na nossa própria sociedade.

Quem de nós nunca deu dinheiro a um guarda para que ele não multasse o carro, mesmo quando quebramos os critérios de nossa comunidade sobre velocidade, exigências para se dirigir ou para estacionar? Quem de nós se preocupa em atender a lei que manda conservar a calçada de nossas residências? Quem de nós não tenta aumentar os abatimentos legais, mesmo que de forma fictícia, no final do ano para poder receber mais devolução do imposto de renda?

Será que agir assim é ser justo? Claro que não, pois estamos ferindo o código comunitário que legisla sobre estas atividades. Mas, consideramos injusto agir assim? Novamente, claro que não...

Achamos justo gastarmos menos com a propina do que com a multa; achamos justo poupar o dinheiro para nosso lazer do que consertar a calçada para proteger o pedestre; achamos justo receber mais de devolução do imposto de renda porque, afinal, o governo é rico...

Mas, pior do que menosprezar os códigos de leis é legalizar a injustiça...

Sim, os seres humanos não só desprezam os códigos legais quando lhes convém, como ainda muitas vezes legalizam a injustiça para não dar margem nenhuma a serem condenados por estarem errados. Esta legalização se faz através dos parágrafos que são colocados abaixo do código legal permitindo fazer o que o artigo diz que não deve ser feito.

Um dos exemplos mais gritantes da legalização da injustiça é o artigo 157 do Código Penal Brasileiro. Ele é taxativo: “não matar”. Apesar de ele ser taxativo, logo abaixo existe diversos parágrafos que criam condições onde matar é permitido...

Sei que é um exemplo questionável por se tratar de defesa da vida, mas quantos artigos dos códigos penal e cível que legislam sobre coisas não tão fundamentais não possuem parágrafos que criam condições para que a lei seja quebrada?

Se tudo isso é real – e é – a justiça, então, não é determinada pelos códigos de leis que regem cada comunidade, mas sim pelos valores de cada um. Ou seja, são os conceitos ou valores que existem em cada ser humano que determina o que é justo para ele e estes conselhos não se prendem a outra coisa, inclusive o código comunitário, a não ser ao próprio achar individual de cada um...

 Com a percepção de tudo isso, nós deveríamos, se pudéssemos, mudar a idéia que temos hoje do que é fazer justiça. Se a justiça é determinada pelos conceitos individuais de cada um e não pelo código comunitário, posso dizer que fazer justiça é agir de acordo com o que aquele ser humano considera justo...

A partir daí, temos também que mudar a idéia sobre injustiça. O que é ser injusto, então? É a ação do próximo que não condiz com os critérios de justo de um ser humano...

Mas, será que aquela pessoa foi realmente injusta? Acho que não porque mesmo que ele tenha agido contrário ao critério de justo do outro, ele agiu dentro do seu critério de justo...

Vou dar um exemplo. A família de um amigo meu certa vez correu para escondê-lo porque ele, dirigindo bêbado de madrugada, tinha atropelado uma pessoa. Eles se prontificaram a ajudar a pessoa atropelada, mas desde que ela não apresentasse queixa...

Isso é injusto? Para eles não. Os conceitos ou verdades destas pessoas diziam que o que seria injusto é um rapaz novo, com um futuro promissor, tivesse a sua vida estragada por causa de um ato de irresponsabilidade da juventude...

Eles estavam errados quando fizeram isso? Claro que não... Para eles não havia nada errado nesta forma de proceder porque eles consideravam mais importante (justo) preservar o futuro do rapaz...

Diante de tudo isso, volto a perguntar: quando ocorre uma injustiça? Quando os nossos critérios de justos não são atendidos...

Isso quer dizer que aconteceu uma injustiça? Não, apenas que o outro seguiu os critérios de justiça dele...

Indo um pouco além, pergunto: diante de tudo isso, será que temos o direito de chamar alguém de injusto? Sim, temos... Por quê? Porque não conseguimos alterar os nossos conceitos...

Os conceitos humanos que criam os padrões de justiça e, por conseguinte, de injustiça estão tão enraizados e tão fundamentados por outros conceitos que eliminá-los seria uma tarefa inócua. Além do mais, tendo em vista a estrutura racional da mente humana, ao destruirmos um conceito certamente faríamos outro...

Então, temos que viver chamando de injusto o que é, pelo menos na idéia do outro, justo? Não... Mas, se não podemos deixar de ter conceitos, como fazer então? Apenas seguir o que foi ensinado...

Cristo disse: ame os outros como a si mesmo. Aplicar este preceito a este aspecto da vida humana é amar o critério de justiça do outro, como você ama o seu próprio...

Não, não estou falando em aceitar os critérios de justiça do outro ou em entendê-los ou ainda pior, compartilhar com ele seus critérios. O que estou falando é em dar ao próximo o direito de ter critérios de justiça diferentes do seu...

Não se trata de passar a achar o que ele acha sobre as coisas, mas em praticar a verdadeira caridade como ensina o Espírito da Verdade: dar ao outro o que deseja para si... Se você quer para si o direito de saber o que é justo, deve doar ao próximo o direito de também querer sabê-lo...

Pronto... Se você acha que consegue mudar a sua forma de pensar, ao invés de querer lutar contra os seus conceitos, que como já vimos não trará vitória alguma, aceite que o outro tenha o padrão dele de justiça que está sendo utilizado naquele momento e confrontado com o seu.

Com isso acabam todas as injustiças do mundo... Todas as injustiças transformar-se-ão em justiças, pois se tornarão um ato fundamentado no critério justo do outro.

Isso que falamos é certo, segundo os preceitos dos ensinamentos religiosos, pois cada um tem o direito de livre optar por acreditar como justo o que ele quiser...

Sendo assim, é justo ser injusto...

Reforma íntima - Textos - volume 05

Liberdade

“LIBERDADE – 1. Faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a sua própria determinação” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição).

 

O maior anseio do ser humano é alcançar a sua liberdade, ou seja, decidir ou agir segundo a sua própria determinação. Para isto, busca o crescimento material, ou seja, estuda e trabalha com a finalidade de poder ganhar à liberdade de conseguir tudo aquilo que a ignorância e a carência material não deixariam que ele alcançasse. Porém, quanto mais evolui cultural e economicamente, mais se torna escravo da sua nova condição.

O ser humano está sempre preso por normas, padrões e conceitos que regem a sua vida. Quanto mais dinheiro e conhecimento o ser humano adquire, sobe nas castas sociais e novas regras são impostas para que ele permaneça neste meio. Desta forma, ao invés de adquirir a tão sonhada liberdade, o homem vai cada vez mais enriquecendo a gaiola na qual se tranca.

Liberdade é decidir e agir segundo a sua própria determinação e não realizar algo porque regras e normas impõem aquela forma de ação. Criam-se regras de etiqueta, normas de sociedade, padrões de conduta, que o homem, para poder ser recebido naquele convívio social, acaba submetendo-se, extinguindo, assim, com a sua liberdade. O homem se acha livre, mas na verdade é um escravo das regras que ele mesmo cria para si.

“Não imponhais nenhuma regra, além daquela da qual eu fui testemunho. Não ajunteis leis às dadas por Aquele que vos deu a Tora a fim de não vos tornardes seus escravos”. Jesus Cristo (Evangelho de Maria – Miriam de Mágdala – pág 09)

Cristo já havia advertido aos seus discípulos que não deveriam ser criadas novas leis além daquelas que ele próprio foi o Testemunho. O Mestre banqueteou-se com mendigos e cobradores de impostos, caminhou com prostituas e gente de má fama e fez curas no sábado (o que era proibido pelas leis dos judeus). Em nenhum momento Cristo submeteu-se a outra lei do que amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Todas as outras leis criadas sem estes precedentes tornam o ser humano escravo delas próprias. Não se podem freqüentar lugares de má fama, diz a lei religiosa, mas Cristo foi à casa de um cobrador de impostos para jantar e disse: eu não vim para os sãos. Não se podem usar duas cores que não combinam, diz a lei do bom gosto, mas Cristo perguntou por que nos preocupamos com nossas vestimentas se é o Pai quem nos provê de roupas.

Para que o homem alcance a verdadeira liberdade é preciso que ele elimine todas as outras leis e apenas cumpra aquelas que Cristo deu testemunho. É preciso amar a Deus acima de todas as coisas, sejam elas quais forem e amar ao próximo como a si mesmo. Esta é a verdadeira liberdade.

Não estamos fazendo apologia da bagunça, da libertinagem, mas alertamos que a verdadeira liberdade só será alcançada quando o homem atingir a consciência de praticar atos que reflitam o amor universal. É preciso atingir a consciência de não se ferir os outros e não deixar de fazer apenas porque é proibido.

Quando alguém deixa de fazer algo apenas porque existe uma lei para que ele não faça, estará se ferindo através do desejo não realizado; se fizer, estará ferindo os outros. É esta equação de difícil solução que somente o amor pode acabar. Para que o homem pratique o ato sem sofrimento é necessário que tenha a consciência do sofrimento que pode causar a outro. Quando atingir esta consciência do seu papel na humanidade, o homem poderá praticar os atos sem sofrer e sem causar sofrimento.

O ser humano não é um solitário: sua vida é em coletividade. Para que esta vida processe-se da melhor forma para todos tem que haver a consciência de não ferir o próximo. Como diz o ditado popular, seu direito começa onde acaba o meu. É esta consciência que pode fazer o homem não sofrer nem se sentir preso quando não praticar aquilo que quer.

Não há lei que coíba atos. Veja bem: existe um artigo no código penal que proíbe que se mate alguém, mas nem por isso os assassinatos acabaram ou diminuíram. Eles só se extinguirão quando o homem compreender o sofrimento que estará trazendo ao próximo quando exterminar com a vida de outro ser humano.

Esta é a verdadeira liberdade: fazer o que quer, desde que o seu querer não fira os outros. Encontrar a felicidade em eliminar causas de sofrimentos a outros passa a ser o objetivo de vida daqueles que abolem as leis e buscam em Deus e Cristo o significado de sua vida. Este homem alcança a liberdade completa, pois pratica apenas o que ele quer.

Na definição do termo libertar, encontramos a definição livrar-se. A verdadeira liberdade só é conseguida quando o ser humano se livra das correntes que o prendem a comportamentos padrões e atinge a consciência da não prática de atos por causa do amor. É quando atinge a consciência de não praticar atos porque podem causar ferimentos.

Com esta consciência ele será livre para fazer o que quiser, pois seu objetivo maior na vida será amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Capacidade de fazer a reforma

Pergunta: Joaquim nos fala de São Francisco de Assis, de Jesus Cristo e nós, pobres espíritos, fomos educados num sistema totalmente longe da santificação. Isso não é areia demais para o nosso caminhão?

Você já leu a história de São Francisco? Ele também foi educado longe da santidade, talvez mais do que você, pois era rico, senhor de terras e nobre. Foi criado para seguir a tradição da família. Você já leu a história de Jesus? Ele também não nasceu santo.

O problema é que nós só conhecemos o santo depois que alcança a santidade. Por isso não entendemos que ele também teve que vencer suas batalhas para alcançar este estado de espírito.

Dessa forma, se Chico Xavier, Chico de Assis, Jesus, Joana D’Arc, Santa Clara, conseguiram vencer o mundo, como Cristo disse que venceu, você também pode. É tudo uma questão de decisão, ou seja, decidir o que quer para a sua vida.

Decidir com que base vai vivenciar a sua vida, mas principalmente abrir mão de outros caminhos. A partir do momento que você decidir buscar uma vida São Francisco, precisa abrir mão do prazer de ser contentado, senão não conseguirá. Esta afirmação pode ser comparada simbolicamente ao ato de São Francisco retirar as roupas caríssimas e colocar o saco de estopa.

No entanto, estou citando este ato de Francisco de Assis figuradamente: você não precisa abandonar sua casa, suas propriedades nem sua roupa. Agora, você deve abandonar todas as suas posses (ter verdade sobre as coisas) e realizar sua santidade.

Pergunta. Concordo, mas para isso é preciso uma ajuda de cima.

Essa ajuda acontece cada segundo na vida humanizada do espírito. A cada micro fração de tempo existe uma pergunta de Deus que lhe ajuda a viver assim: “e agora, você vai amar a quem, a você ou a Mim”?

Cada segundo da sua vida é uma dramatização onde está embutida esta pergunta de Deus. Quando gosta do que acontece e ama a você mais do que a Deus, tem prazer; quando não gosta e se ama acima de tudo, sofre; mas, se você ama a Deus acima de todas as coisas, vive sempre em paz: sem prazer ou dor.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Marionete

Quando os seres humanizados entram em contato com o ensinamento da pergunta hum de O Livro dos Espíritos (Deus é Causa Primária de todas as coisas) e descobrem que tudo acontece porque o Pai faz acontecer, naturalmente surge uma afirmação em sua mente: somos marionetes? Sim vocês são marionetes, mas é isso não precisa necessariamente lhe afastar destes ensinamentos. É preciso compreender alguns aspectos desta forma de viver para só então julgar se esta forma de viver é ruim. Vamos conversar sobre isso hoje...

Quando se entra em contato com as idéias espiritualistas, se descobre a maior notícia que todos os mestres trouxeram, mas que não foi levada à prática pelos professores da lei das religiões: Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Essa é uma notícia que não é nova, pois já existe nos ensinamentos de Cristo, Krishna e do Espírito da Verdade.

Apesar de já ter sido passada à humanidade há tanto tempo, esta notícia não está devidamente explicada. Falo isso porque algumas religiões utilizam este ensinamento, mas consideram Deus como causa primária de algumas coisas, mas de outras não.

Portanto, é necessário que nos aprofundemos nesta questão. Este aprofundamento se consiste em compreender que Deus é a Causa Primária de todos os acontecimentos do mundo humano.

Como acontecimento deste mundo, nós consideramos todas as movimentações das coisas que raciocinam ou não. Por isso, ao dizermos que Deus é Causa Primária, abrangeremos o pensamento do ser humano, a visão, a audição, o som, o sabor e o cheiro. Todas estas percepções que o ser humano tem são dadas por Deus. Aliás, toda criação do que é chamada de mente humana e toda ação é dirigida, comandada, começa a partir do faça-se de Deus. O Senhor diz faça-se e as coisas se fazem. Esta é uma coisa que precisamos compreender para poder se entender o universo, o que é fundamental para se aceitar que os seres humanos apenas executam o que Deus gera.

Fica aqui, portanto, de forma clara, a afirmação que os seres humanos são sim marionetes. Só que antes de parar de ouvir o que estou dizendo porque esta afirmação lhe traz uma contrariedade, deixe-me dizer uma coisa. Para poder se julgar se realmente ser marionete é bom ou mal, deixe-me explicar porque ele é marionete, de quem é um fantoche e quem escreve a história que este boneco encena. Tenho certeza que se você souber estas coisas compreenderá a necessidade de Deus ser Causa Primária e do ser humano ser apenas uma marionete.

Por que o ser humano precisa ser uma marionete? É muito simples. O ser humano habita um espaço chamado universo. Ele imagina que habita o planeta terra, mas como este está dentro do universo, ele habita o próprio universo.

O universo, segundo todos os mestres, foi feito por Deus. Segundo ainda todos os mestres, este universo é Deus. Falo isso porque Cristo nos ensinou que Deus é tudo e tudo é Deus.

Ainda observando-se o que se conhece sobre Deus que foi ensinado pelos mestres, nós encontraremos a informação de que Ele é a Perfeição. Deus é Perfeito. Juntando agora as informações que comentamos, (Deus é tudo e por isso o universo é Ele e que o Senhor é Perfeito) chegamos à conclusão que o universo está perfeito, está sempre perfeito.

A perfeição do universo não ocorre por conta de uma ação que gera equilíbrio. Se isso fosse real, o universo deveria em algum momento ter alcançado um desequilíbrio foi reequilibrado por uma ação de Deus. Isto não acontece no universo, porque ele possui um equilíbrio pleno, constante, eterno.

Mas, porque podemos afirmar que o universo está constantemente equilibrado? Porque como ensinou Jesus Cristo, Deus dá a cada um segundo as suas obras. Com esta ação o Senhor mantém o universo perfeitamente equilibrado, pois jamais haverá um desequilíbrio quando cada um recebe apenas aquilo que merece. Portanto, é ação de Deus que mantém o universo plenamente equilibrado.

Agora, imaginemos que o ser humano não fosse marionete, ou seja, agisse voluntariamente, por decisão própria, será que ele conseguiria dar a cada o que realmente é merecido. Acredito que não, pois a motivação do ser humano para agir é sempre individualista, ou seja, é sempre buscando o seu próprio benefício. Mesmo quando ele se dá ao próximo, só faz isso porque quer se dar. Portanto, na verdade ele está buscando a sua própria satisfação exclusivamente.

Se o ser humano dá ao outro de acordo com seus interesses individuais, isso quer dizer que ele não dá o que o outro merece, mas apenas o que é o melhor para si mesmo. Agindo assim, certamente o outro receberia o que não merece e com isso o equilíbrio pleno do universo seria quebrado.

Sendo assim, o ser humano precisa ser um fantoche porque se não fosse, o universo seria um caos. Seria cada um agindo em benefício próprio, agindo pela vontade individual fazendo aquilo que quer e com isso ferindo o direito do outro. Esse seria o caos se o ser humano fosse o comandante de suas ações. Sempre imperaria o individualismo e o universo seria uma guerra individualista e Deus teria que agir posteriormente à injustiça.

Se o ser humano fosse senhor de suas ações haveria sempre uma injustiça que depois seria corrigida por Deus, pois quando ele agisse contra o próximo dando diferente do que merece, estaria criando uma injustiça. E sendo Deus e o universo a Justiça perfeita isso afetaria ao próprio Senhor. É por isso que os ser humano não pode agir livremente...

Só este fato já nos levaria a compreender a necessidade de Deus ser a Causa Primária de tudo que acontece, mas comentamos que existem três coisas que são necessárias que se compreenda para poder aceitar este ensinamento. Vamos à segunda.

De quem o ser humano é um fantoche? De Deus. O ser humano é um fantoche de Deus. Mas quem é o Senhor? É a Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime. Sendo assim, o ser humano é um fantoche, um ser dirigido, mas não dirigido por qualquer um, mas sim por uma Inteligência Suprema.

O que isso deveria levar o homem a perceber? Que ele é dirigido pelo ser que possui a maior capacidade de analisar as intenções com que cada ação é realizada. As intenções com que cada ser vivencia o acontecimento não são dirigidas pelo Pai. Se Deus dá a cada um segundo as suas obras a partir de uma análise perfeita da intenção de cada o que acontece? Tudo que ocorre está sempre perfeito. Ou seja, por causa da direção do Senhor o ser humano torna-se, então, perfeito.

Se começarmos a compreender que o ser humano não pode agir sozinho, mas que não há problema algum nele ser um fantoche, porque é através dessa situação que ele alcança a perfeição, veremos que esta direção é necessária. Quando ele age movido pelo Pai, a sua movimentação não fere jamais o equilíbrio do universo. Isso porque Deus gera a ação antes que a injustiça seja cometida.

 Mas, não podemos nos esquecer que o Senhor não é apenas a Inteligência Suprema, mas também o Amor Sublime. Ele é um pai amoroso, um pai que ama seus filhos. Portanto, quando ele manipula o ser humano, não o faz como punição, não como um juiz que decreta uma penalidade a um infrator da lei, mas por amor. O que Deus causa é, além de uma ação perfeita, uma prova do amor sublime que Ele dedica ao seu filho.

O faça-se de Deus que faz as coisas acontecerem é o ato de um pai que ama o seu filho acima de tudo. É a ação de alguém que está preocupado com a existência eterna do filho. Ele sabe que hoje este filho é como uma criança que só pensa em gozar o momento presente, mas não se preocupa em preparar-se para o futuro. Quando Deus comanda primariamente um acontecimento ele visa preparar o filho para a maturidade espiritual, dando a ele a oportunidade de adquirir responsabilidade espiritual e assim alcançar o progresso no seu próprio mundo.

Isso é a causa primária que movimenta o ser humano. Ela é perfeita porque é ditada pela Inteligência Suprema, é justa porque é oriunda da justiça suprema e por isso dá a cada um segundo as suas obras, mas é amorosa porque é um ato de amor. Por isso, para aquele que se sente amado por Deus a cada momento de sua existência, a questão de ser ou não marionete some.

Apenas aqueles que não mantêm uma relação amorosa com Deus sentem-se mal quando se aprende que Deus é a Causa primária de todas as coisas. Isso porque este está aprisionado à intenção de ganhar sempre neste mundo. Quem ama a Deus e sente-se amado por Ele entrega-se aos braços do Pai e ao sentir este amor não precisa de mais nada.

Já vimos porque o ser humano precisa ser uma marionete e também quem o movimenta. Resta-nos agora saber quem escreve a história vivenciada pelo fantoche, quem escreve o enredo da peça. Quem faz isso são os próprios espíritos que vivem o papel de marionete.

O amor de Deus por seus filhos é tão sublime que deu a cada um o livre arbítrio, o direito de livre optar pelo que viverá durante a encarnação. Mas, dá este direito ao ser não preso ao mundo material, ou seja, sob a égide da razão humana, quando o individualismo do querer para si mesmo e da vontade de ganhar sempre está presente. Ele dá este livre arbítrio ao ser quando ele está fora da carne, quando de posse de toda consciência de ser universal que é. Neste momento, o Pai deixa o espírito escolher o que considera melhor para o seu futuro. Ao fazer esta escolha, o ser cria para is uma espécie de destino e Deus quando comanda os acontecimentos no mundo carnal através do seu faça-se apenas cumpre aquilo que o espírito pediu antes da encarnação.

O que o ser humano precisa compreender é que ele é igual a uma criança do mundo carnal. Os pais humanos deixam as crianças escolherem o que querem fazer? Claro que não, pois sabem que elas pensam apenas em se distrair, se divertir e não em preparar-se para o futuro que chegará. Mesmo na Terra o pai tem que dar o caminho ao filho, dirigir suas ações, para que ele possa chegar à vida madura preparado para alcançar o sucesso.

Só quando o filho chega à maturidade é que o pai o deixa agir livremente. Isso porque é só neste momento que ele tem a compreensão perfeita dos valores que são importantes para a sua existência. Chegando a esta fase da vida, o filho pode fazer suas escolhas individualmente.

Esta é a mesma coisa que acontece entre Deus e seus filhos. Quando crianças, ou seja, quando no início do processo evolucionário, como é o caso daqueles que encarnam na Terra, o Pai precisa orientá-los, guiá-los, para que se preparem corretamente para o futuro que os aguarda. Se Deus se esquivasse de fazer isso, não seria um Pai amoroso.

Portanto, aquele que se choca com o fato de ser marionete neste mundo é quem não entende as coisas do mundo espiritual. É aquele que não compreende que não é carne que veste ou a consciência que o dirige. É aquele que se considera um sábio, mas que não vê que ele não possui a consciência sobre as coisas do universo.

Aquele que se choca com esta informação é quem ainda acredita que foi concebido a partir de uma relação sexual. É aquele que acredita que nasceu de uma mãe humana num determinado dia e em um determinado local terrestre. È aquele que ainda acredita na morte, que acha que a vida vai se extinguir em determinado momento.

Por causa destas crenças, este só pensa no gozo da vida material. Ele não pensa no gozo da elevação espiritual, da felicidade universal. Como a direção que Deus exerce sobre os acontecimentos não possui a finalidade de dar apenas o gozo dos bens humanos a um ser encarnado, este se apavora com a idéia de ter sua existência controlada pelo Senhor.

No entanto, quando se raciocina a partir do espírito, ou seja, a partir da vida real, a espiritual, da real existência do espírito na sua totalidade, incluindo os pedaços na carne, mas não só estes, a lógica só nos pode levar à conclusão de que a melhor coisa que pode acontecer a um ser espiritual é tornar-se um fantoche quando encarnado. Isso porque o fantoche que age consciente da sua situação de teleguiado, não se chateia, não briga com os outros, não expõe opiniões individuais buscando lucro individual, respeita o próximo e o ama, pois não tem desejos que gerem contrariedades. Este ser troca todos os seus desejos, que sabe que só existem para criar uma satisfação material, pelo amor de Deus que recebe diariamente.

O ser que sabe que é universal, vivendo uma vida humana com a consciência de que é um fantoche, penetra no amor de Deus e por isso vive a felicidade eterna.

Com as graças de Deus.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Uma revolução

A reforma íntima é o processo de transformação da percepção sobre as coisas, ou seja, a eliminação dos conceitos (individualismo), percebendo-as de uma forma universalista (ação de Deus sobre todas as coisas).

  Se o mundo novo nasce individualmente através da reforma de cada um, isto deveria ser o objetivo da vida de cada ser encarnado. Infelizmente não é isso que acontece, mas exatamente o contrário.

Quando o ser humano nasce, é um ser sem conceitos, pois não possui certo e errado para as coisas, não atribui valores às pessoas, não desgosta de nada. Dizemos que ele é assim porque não conhece nada e, dentro deste raciocínio, sentimo-nos na responsabilidade de transmitir os conhecimentos que possuímos.

Realmente o bebê não se lembra de nada da técnica de viver em uma carne. Como espírito que é, precisa ser relembrado sobre as coisas materiais do planeta que ficaram esquecidas desde a última encarnação.

Precisa ser alimentado para lembrar-se do alimento, precisa ser limpo para lembrar-se do asseio. No entanto, além de relembrá-lo destas coisas, o ser humano vai mais além: ensina os seus próprios conceitos.

Além de alimentar o bebê, ensina que existe hora para isso. É a hora do almoço, da janta, do lanche. Para o ser humano, deve-se comer na hora que está determinado para comer. Mas qual a hora de cada refeição?

Os povos possuem hábitos e costumes diferenciados. Alguns fazem uma primeira refeição reforçada e apenas se alimentam levemente no horário do almoço. Outros nada comem pela manhã, mas se empanturram no horário do almoço. Quem está certo?

Nenhum dos dois. Comer em determinado horário é um conceito, pois a verdadeira hora de se alimentar é quando existe a fome. Mas, apesar desta verdade, além de relembrar ao espírito recém encarnado sobre o alimento, o ser humano transmite-lhe o conceito de que existe uma hora para comer.

Inicialmente o bebê reclama desta imposição que não é a sua verdade. A mãe tenta por todos os meios alimentar o filho, mas ele não come. A mãe desespera-se, leva o filho ao médico, briga e obriga-o a comer na hora que ela quer.

Depois de determinado tempo o novo ser compreende que não tem mais condições de debater-se com a mãe e acaba incorporando o conceito de ter que comer na hora marcada para isto. Começa a nascer mais um ser humano a partir dos conceitos que lhe são impostos.

Durante toda a primeira infância o ser recém encarnado passa por um processo de recebimento dos conceitos principalmente maternos e paternos que vão se incorporando à sua memória, levando-o a esquecer da sua simplicidade.

Antes ainda do fim da primeira infância o ser é conduzido à escola, onde encontra outros seres que possuem conceitos idênticos ou parecidos que o levam definitivamente a esquecer a sua simplicidade. O ser aprende que a causa primária de todas as coisas é o processo científico que ocorre nas coisas...

Este ser, agora humanizado, é distanciado do Universo e levado à individualidade do planeta. Aprende através de outros seres humanos que tudo tem uma razão material de ser e com isto encerra seu processo de humanização. O espírito que nasceu puro e simples, unido com a espiritualidade universal, agora é um ser conceituoso que acredita que a única verdade do Universo é aquilo que ele pode ver, ouvir ou pegar.

Quem transformou o ser universal em ser humano foram os mesmos homens que recorrem aos templos para buscar a sua felicidade. São os mesmos seres que estão procurando sua universalização que individualizam o ser universal.

Este é o antagonismo em que vive o planeta. Os seres humanos após algum tempo, cansados de tanto lutar contra os desígnios de Deus para impor o que acham certo, ou errado, procuram na religião um amparo para as suas dores. Mas, estes mesmos seres preocupam-se em humanizar as crianças.

Os familiares que passaram a vida desejando realizar-se profissionalmente e materialmente sem conseguir, esforçam-se agora para que o filho atinja o que eles não conseguiram. Não satisfeitos de terem sofrido com as suas próprias frustrações, criam conceitos nas crianças que acabam gerando frustração também para elas. Alunos que um dia questionaram nas escolas os ensinamentos que recebiam, sem obter nenhuma resposta, mas tendo que aceitar o que os mestres afirmavam, agora repetem para os seus alunos os mesmos conceitos que receberam.

Podemos comparar este processo com uma fábrica, cujo objetivo é fabricar seres humanos, usando como matéria-prima o ser universal.

A reforma íntima deve começar exatamente neste ponto. Para que fabricar seres humanos que um dia também irão procurar a sua reforma? Não seria melhor deixá-los como estão?

Será que uma mãe se contentaria em alimentar seu filho apenas quando ele está com fome e não na hora que ela quer? Será que um pai conseguiria deixar o seu filho ficar sem estudar se assim ele o desejasse?

Este trabalho faz parte da reforma íntima. Não adianta o ser apenas buscar a sua elevação, mas deve, também, respeitar o seu filho, não impingindo conceitos a ele. A reforma íntima não é um trabalho religioso, mas deve ser uma revolução que todos devem fazer em suas vidas.

É preciso que cada ser altere seu comportamento em todos os campos e não apenas na sua vida religiosa. Não se conseguirá viver com paz, harmonia e felicidade apenas orando nos templos, mas este estado de espírito só será alcançado por aqueles que modificarem realmente suas vidas. O trabalho que leva o ser a penetrar no novo mundo é a reforma de todos os momentos de sua vida.

O novo tempo surgirá para cada um, mas o período de implantação da alteração já se iniciou e, por isto, existem espíritos já encarnando que não aceitarão serem transformados pelos mais velhos. Se a humanidade imagina que a juventude atual é rebelde, ficará espantada ao ver a nova que está chegando que se colocará muito mais fortemente contra todos os poderes constituídos, a começar dos familiares...

A revolução do novo mundo será iniciada com a guerrilha contra a principal fonte de conceitos que transforma o ser: os pais. É por isso que Cristo ensina que virá para colocar pai contra filho e mãe contra filha. É por isto também que ele afirma: coitada da mulher que estiver grávida quando aquele dia chegar...

Estes mensageiros da nova ordem combaterão fortemente os conceitos dos mais velhos. Rebelar-se-ão contra horários, julgamentos, definições. Não serão, no entanto, rebeldes sem causa, mas encontrarão em Deus a explicação para todas as coisas do universo.

Estes guerrilheiros não colocarão o caos como podem pensar, mas sim a ordem universal. Isto não gerará conflitos, pois todos os conflitos são gerados por aqueles que querem impor a sua ordem sobre os outros. Será a guerrilha para alcançar a paz e o amor, tão procurados por caminhos tortos pelos seres humanos.

Portanto, é preciso que nos preparemos para o bombardeio aos nossos conceitos.

Entretanto, estes guerrilheiros não lutarão para impor uma nova ordem: eles apenas se defenderão do exército dos seres humanos, os conceituosos. Não criarão um novo código de conduta obrigando todos a seguir, mas resguardarão para si o direito de serem felizes. Não descumprirão a lei de Deus, mas mostrarão que ela só é seguida quando se atinge a consciência do amor e não pela obrigação de respeitar os códigos de normas existentes no planeta.

Esta será a revolução que marcará os próximos cem anos do planeta Terra. É o período de transição entre o mundo dos conceitos e o mundo do amor a Deus acima de todas as coisas.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Animais de estimação

O ser instintivo (animal) é aquele que comanda a forma animal não inteligente: o bicho. O espírito que comanda uma forma bicho possui inteligência, justiça e amor e a sua inteligência utiliza o processo instinto.

A inteligência deste espírito funciona percebendo as percepções, buscando na memória a ação que executar face àquela percepção. Ele ainda não possui a capacidade de analisar e tomar decisões entre a percepção e o que está armazenado na memória.

Quando um ser encarnado em matéria humana ensina um conceito ao espírito encarnado na forma bicho interfere na ação da inteligência do ser animal. Vestir roupa, dormir em cama, ficar de pé para ganhar alimento, responder de determinada forma a agressões: tudo isso são transferências de conceitos que interferem na função da encarnação do espírito.

Os conceitos são compreensões individuais que cada um tem de acontecimentos. Na verdade, é a prova que o ser vem executar na carne. Quando transfere a sua conclusão a outro ser que habite um animal está transferindo a esse uma prova que não faz parte de seu processo evolutivo. Além disso, não o está deixando vivenciar suas próprias provas.

Ensinar a um bicho que existe casa onde deve morar, trancando o portão ou a porta da gaiola para que esse não fuja, o ser humano interfere na formação do instinto do animal. Deus fez a maior moradia do universo: o próprio planeta. Os seres humanos (conceituosos) para se sentirem mais confortáveis e terem mais privacidade dividiram o planeta em residências individuais.

Quando o animal vive solto na natureza está formando o instinto de que todo planeta é sua casa. Quando o ser humano não deixa que isso aconteça está formando o conceito individualista de local de residência.

Na verdade é o ser humano que não satisfeito em querer saber o que os outros acham e pensam das coisas, também transfere os seus achar para àqueles que não podem nem se defender. Esses conceitos ferem o instinto do animal, atrapalhando uma encarnação.

O ser que comanda o bicho vem programado para viver de uma determinada forma, assim como o livro da vida do ser humano. Essa programação visa fazê-lo mais rapidamente interiorizar os instintos que lhe serão úteis em todas as futuras encarnações, inclusive como ser humano.

Quando o ser humano interfere na existência de um bicho presta um desserviço, pois atrapalham essa missão do ser. Age dessa forma para satisfazer-se. Troca a formação do instinto a partir das verdades universais para que seja formado pelas verdades relativas do ser.

Todo animal é um ser em prova de formação do instinto e se tem que deixar passá-lo por sua prova livremente, sem posses, sem querer achar o que ele está sentindo. Quando não age dessa forma o ser humano está atrasando uma encarnação na evolução daquele ser e, por ser o causador desse fato, terá que responder ao universo.

Não está se falando que o ser não pode ter bicho de estimação, pois a própria bíblia narra na criação do planeta a divisão dos animais domésticos e selvagens. Entretanto, esse animal não deve se transformar em propriedade do seu dono.

O ser humano precisa aprender a adotar a fauna toda, em seu habitat natural, como bicho de estimação. Ao invés de dar tudo para um, destruindo suas intuições, adotar uma postura de colaborar com os animais para que possam viver suas experiências. Essa forma de agir garantirá um futuro melhor para o próprio homem.

Com a melhor formação dos instintos do ser durante as existências materiais em formas animais, os futuros seres humanos serão seres mais universalizados. O que hoje o ser encarnado combate para que possa alcançar a sua elevação (conceitos, desejos e prazer sensual) são frutos de instintos mal formados.

Não se trata apenas de um avanço ecológico, mas um avanço de universalização do ser.

Somente a liberdade de cada um fazer as suas provas à sua época pode trazer a evolução. O ser humano cobra entre si essa liberdade, mas não a dá aos seres em processos evolutivos diferenciados. Cada um quer ser livre, mas o seu animal não pode: tem que ser aquilo que você quer.

Reforma íntima - Textos - volume 05

Encarnação

Para aqueles que acreditam na múltipla existência do espírito em matérias carnais diferentes (reencarnação), cada uma destas existências é chamada de encarnação. Com este conhecimento, podemos entender que cada encarnação seria uma vida ou existência material de um espírito.

Para o ser humano, a vida pode começar em momentos distintos: para alguns, ela existe desde a concepção; para outros ela se inicia com o nascimento do feto. Mesmo com estas diferenças, para todas as correntes a encarnação começa no momento em que existe o início da vida, pois ali se forma o ser humano, ou seja, o espírito que habita uma matéria carnal. Para conhecermos melhor uma encarnação, precisamos, então, conhecer o ser humano.

Um ser humano é formado por dois traços distintos: a personalidade e os traços físicos. Este conjunto de corpo físico mais uma personalidade recebem, então, um rótulo, que chamamos de nome. Para definirmos o senhor José da Silva nós descrevemos seus traços físicos e falamos de sua personalidade. Ele é um ser humano (pessoa) do sexo masculino, alto ou baixo, magro ou gordo, com determinada cor de cabelos e olhos. Além disso, utilizamos o seu temperamento também para descrevê-lo: paciente, calmo, bondoso ou não.

Este é o senhor José da Silva, ou seja, a encarnação de um espírito. Nesta vida ele praticará determinados atos e executará funções que formarão a sua história, ou seja, a história daquela encarnação. Com esta visão sobre um ser humano, podemos então dizer que cada encarnação é um eu que o espírito assume, para realizar as suas provas e missões além de cumprir as suas expiações, objetivando a evolução espiritual.

O espírito não é o senhor José da Silva: apenas se veste deste eu para realizar o avanço espiritual que necessita naquele momento. Um espírito não tem sexo, altura, espessura ou traços físicos: tudo isto é criado apenas para uma existência carnal. Sua personalidade é alterada para que aquela passagem na matéria carnal possa ser cumprida integralmente.

Apesar da existência de duas correntes para apontar o início da encarnação, existe apenas uma quando se trata de determinar o fim dela: a morte do corpo físico. Para todos aqueles que acreditam na multiplicidade de eu que um espírito vive, quando existe a falência dos órgãos físicos encerrou-se a encarnação.

Se entendermos a encarnação como um eu que o espírito assume, veremos que tanto o momento do seu início (em qualquer das duas correntes) como o do seu término, está equivocado. A encarnação não começa na concepção ou nascimento e nem se encerra com a falência dos órgãos físicos.

A literatura espírita aponta a existência da preparação da encarnação, ou seja, a formação da história que o espírito viverá durante a sua vida carnal. Esta etapa é chamada por muitos de formação do livro da vida, ou seja, o estabelecimento das provas, expiações e missões que o espírito irá realizar durante a encarnação.

Para que estes trabalhos tenham maior chance de êxito, o espírito que irá encarnar, juntamente com os espíritos superiores, estabelece os traços do corpo que irá ocupar. Neste momento são determinadas as características físicas que facilitarão as suas provas, expiações e missões. Além disso, a sua personalidade também será estabelecida neste momento, uma vez que ela é a parte preponderante para que os atos necessários à evolução sejam praticados.

Neste momento, nasceu a encarnação. Muito antes do espírito se unir a uma determinada matéria física, ele já é o eu no qual se tornará quando encarnar. Adéqua seu perispírito para assumir a forma que o corpo terá e altera os sentimentos que possui para formar a personalidade que irá ter. Antes da concepção, o espírito já vive o senhor José da Silva.

 Durante a sua existência carnal (José da Silva), o espírito buscará eliminar os sentimentos negativos que ele agregou para assumir aquele eu, simplificando-se para a utilização apenas do amor universal. Com esta simplificação, o espírito alcançará a essência da encarnação, ou seja, a de que ele é um espírito, filho de Deus e que o senhor José da Silva, é apenas um personagem criado por ele mesmo para promover a sua elevação.

Quando isto acontece, o espírito, mesmo estando ainda preso a um corpo físico, terá encerrado a sua encarnação. Passará a viver como um espírito que é eliminando todo o eu que havia assumido.

Entretanto, na maioria das vezes não é isto que ocorre. O espírito vivendo este eu solidifica este personagem e imagina-se como sendo o senhor José da Silva; para satisfazer os conceitos do eu, passa a cobiçar e possuir matérias, pessoas e verdades. Esquece da busca da simplificação e cada vez se torna mais complexo, criando verdades individuais que necessitam ser satisfeitas. Não entende a sua existência eterna e busca a satisfação momentânea.

Enquanto existir estas buscas, o espírito ainda estará naquela encarnação. Não importa se ele ainda está nesta carne ou não. O que irá determinar o fim da encarnação não é a saída da matéria física e sim o fim do eu. Enquanto houver eu, o espírito não conseguirá alcançar a sua Verdade.

Por isto a literatura espírita e mesmo a não espírita está repleta da informação da existência dos fantasmas. São espíritos que ainda cultuam o seu eu e, por isso, necessitam que seus conceitos e desejos sejam atendidos. Habitam a mesma casa de quando estavam na carne para que continuem a possuí-la, se prendem às pessoas queridas ou não para satisfazer os seus sentimentos, atacam aquelas que imaginam erradas. Tudo motivado pela existência de um eu que possui conceitos que precisam ser supridos.

A encarnação só se encerrará quando este eu, ou seja, o somatório dos conceitos que o espírito possua, acabem e ele passe a participar da coletividade espiritual. Enquanto um espírito imaginar-se como a rainha do Egito não conseguirá ser outra coisa na existência espiritual.