Reforma íntima - Textos - volume 06

Reforma íntima - Textos - volume 06

Coletânea de textos sobre reforma íntima

Reforma íntima - Textos - volume 06

Felicidade

“As citações deste artigo foram extraídas do Livro Sábias Palavras do Dalai Lama.”

O ser humano imagina que a felicidade seja alguma coisa externa a si mesmo. Ele entende que ela é provocada por fatores externos e necessita destes fatores para que se sinta feliz.

“Se colocamos dentro do ponto de vista materialista, certos trunfos são essenciais para desenvolver a alegria e a felicidade cotidianas. Uma vida feliz, no sentido materialista, exige boa saúde, certa folga financeira, conforto material, amigos, um companheiro ou uma companheira”.

Entretanto esta é uma visão exclusivamente materialista. Este sentimento não se trata de uma felicidade, mas sim de um prazer pessoal, gerado pela sensação do cumprimento dos conceitos individuais de cada um.

“Não devemos confundir felicidade com prazer”.

A verdadeira felicidade é aquela que é confundida com a paz de espírito, ou seja, aquele estado onde o espírito encontra-se em paz consigo mesmo e com todas as coisas que o cerca.

“A verdadeira Felicidade não depende de nenhum ser, de nenhum objeto exterior. Só depende de nós”.

Para isto é preciso que o espírito aja sobre os acontecimentos da vida e não fique esperando que eles se sucedam da forma que imagina que lhe proporcionar ser feliz. A felicidade deve ser conquistada e não conseguida. O espírito necessita construir a sua felicidade.

“É nosso comportamento cotidiano que constrói a Felicidade e induz a um sentimento de satisfação ou frustração. O estado de espírito está na origem de nossa atitude. A motivação o determina, ela é a chave do nosso comportamento”.

Portanto, a felicidade depende da motivação ou seja, do motivo que o espírito der para o que está acontecendo. Este “motivo” é determinado pelo sentimento que o ser escolha para reagir ao acontecimento que está se sucedendo e não determinado pelo próprio acontecimento.

“Chegar a uma felicidade autêntica supõe transformar nossa maneira de pensar e o olhar que lançamos sobre o mundo e todos os seres”.

Um mesmo fato pode ser sentido de formas diferentes: podemos encontrar nele motivos para sofrer ou para nos alegrar. O importante é sabermos que esta escolha não depende do fato em si, mas apenas de nós mesmos. Do motivo que escolho para o acontecimento.

“É possível alcançar a felicidade, exercendo o nosso espírito”.

O primeiro passo para alterar a motivação que aplicamos nas coisas é desmaterializar o mundo em que vivemos, espiritualizando-o.

O mundo material é essencialmente injusto, pois é composto pelos binômios bom ou mal, feio ou bonito, certo ou errado. Essa imagem, gerada a partir de atos comandados por quem não possui a visão completa do Universo, leva o espírito a escolher sofrimentos para reagir aos acontecimentos.

Para que o ser possa entrar no gozo da verdadeira felicidade, precisa entender que não existe um mundo material isolado do mundo espiritual. Essa visão coloca Deus no papel de Juiz do Universo, submetendo-se ao querer do ser humano.

Este é um mundo espiritual: aquele que se submete ao Criador do Universo. Se Deus possui a Justiça Perfeita esse é, portanto, um mundo perfeito. A partir desta visão, o espírito pode, então, destruir a motivação injustiça, errada, feia ou má, pois essas coisas não pertencem à essência de Deus.

“A Felicidade autêntica e duradoura depende de causas e condições criadas por nós. Atos virtuosos são como sementes que fertilizam nosso espírito. Os efeitos dessas impressões que deixamos favorecem a sobrevinda de acontecimentos felizes”.

Enquanto o espírito não desmaterializar as coisas, aplicando nelas a essência divina, sente necessidade da reação negativa a quem lhe impôs sofrimento. Esta reação do espírito lhe gera mais situações de sofrimento (Lei da Ação e Reação).

Este ciclo acontecerá enquanto o espírito reagir desta forma. Somente quando ele alterar a sua reação sobrevirão os atos que contentaram seus conceitos. Reagindo com felicidade a todos os acontecimentos, o espírito criará um ciclo de felicidade para si mesmo.

“Se tivermos aprendido a disciplinar nosso espírito a ficar satisfeito com o que possuímos, a viver em paz com os outros e com nós mesmos, seremos felizes, mesmo se perdermos nossas riquezas e nossas condições de vida se degradarem. Pois aqueles que nos cercam vão nos sustentar e nos ajudar, já que teremos sido bons e generosos com eles”.

Reforma íntima - Textos - volume 06

Fundamento dos ensinamentos de Cristo

Sempre que se fala em codificar uma idéia é necessário compreender que há a necessidade de um elemento que sirva para realizar esta codificação. Este mesmo elemento terá que ser usado no momento da decodificação, pois sem isso a mensagem pode ficar confusa e não será compreendida perfeitamente.

Na segunda guerra mundial, por exemplo, os membros do serviço secreto dos países codificavam suas mensagens usando um determinado texto. Para cada letra da mensagem eles usavam números que correspondesse à linha e a determinada letra daquela linha. Com isso, cada conjunto de números representava uma letra e a soma de todos os conjuntos a mensagem.

Este texto era distribuído para todos aqueles que fossem receber a mensagem codificada. De posse dele o receptor da mensagem ia lendo cada grupo de números e transformando-o numa letra. Juntando depois todas as letras obtidas através da decodificação tinham, então, a mensagem na íntegra de forma a proporcionar uma clara compreensão sobre o seu conteúdo.

A mesma coisa se deu com a mensagem de Cristo. Quando ele diz que fala aos cristãos através de comparações está dizendo que as mensagens estão cifradas e com isso diz que há a necessidade de se possuir o código que servirá como chave para a decodificação. Mas, que código será este que cristo usou? Para conhecê-lo, temos que entender a mensagem de Cristo...

O mestre disse que ele era o portador da Boa Nova, ou seja, da idéia de que havia uma forma de existir onde se vive a felicidade pura e eterna. Ele, como nós, não estamos falando da felicidade oriunda do contentamento ou satisfação de desejos, mas de um estado de espírito onde a paz e a harmonia reinem sempre. Este forma de viver ele chamou de reino do céu.

Muitos cristãos acreditam que o reino do céu é um lugar no Universo para onde vão aqueles que cumprem os ditames do mestre. Esta mesma idéia está presente nas doutrinas mais recentes, como a espírita, por exemplo, na figura das cidades espirituais. Mas o reino do céu não é um lugar específico, pois segundo o Espírito da Verdade não existem lugares circunspectos no Universo, mas apenas o próprio.

Aliás, o próprio Cristo falou isso segundo o seu irmão Tomé:

“003. Jesus disse: Se aqueles que vos guiam vos disserem: vê, o Reino está no céu, então os pássaros vos precederão. Se vos disserem: ele está no mar, então os peixes vos precederão. Mas o reino está dentro de vós e está fora de vós. Se vos reconhecerdes, então sereis reconhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas se vos não reconhecerdes, então estareis na pobreza, sereis a pobreza.” (Evangelho Apócrifo de Tomé)

 A idéia central dos ensinamentos de Cristo, portanto, são de que existe uma forma interna de viver que leva o ser humanizado a manter um estado de espírito fundamentado na paz e harmonia com o mundo. Para alcançar isso, que caminho Cristo ensinou? Vamos ver isso...

Todo caminho para se alcançar qualquer coisa é trilhado através de uma doutrina, ou seja, um código de normas que precisam ser praticadas. Estas normas, são sempre fundamentadas em uma postura fundamental e obrigatória para aquele que pretende balizar-se por elas. Esta postura no caso dos ensinamentos de Cristo é amar...

Cristo veio ensinar a boa nova, mas para alcançá-la ele disse que haviam dois mandamentos que precisam ser seguidos com todos os esforços (mente, corpo, alma e espírito): o amar a Deus acima de todas as coisas e o amar ao próximo como a si mesmo. Os mandamentos que levam a vivencia do reino do céu são dois, mas o fundamento é um só: amar...

Amar é a chave para decodificar os ensinamentos de Cristo. Tudo o que ele ensinou foi para mostrar os seres humanizados como amar para poderem alcançar com a vivência deste amor o reino do céu.

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O tema da provação

Vamos tratar agora do período de provações do espírito após o seu aprendizado na erraticidade. Estas informações são importantes porque somos todos espíritos vivendo este processo.

Para começar vejamos quais são os assuntos cujo conhecimento será examinado durante a encarnação.

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de suas provas por que há passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”. (O Livro dos Espíritos)

Todo ser universal possui o direito de livre optar pelo que vivenciará. O livre arbítrio é concedido por Deus. “Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem” (O Livro dos Espíritos, pergunta 258 a).

Ora, se as questões da provação que o espírito vivencia são fruto de uma escolha deste, isso quer dizer que elas não são criadas por Deus e nem podem sofrer interferência de qualquer outro ser, pois se isso acontecesse o livre arbítrio do espírito teria sido anulado. Será que alguém, inclusive o próprio Senhor, pode interferir naquilo que Ele concede? Acho que não... Sendo assim, todo processo de provação é fruto exclusivo da livre opção do espírito e por isso este não pode culpar ninguém por suas possíveis falhas.

“267. Pode o Espírito proceder à escolha de suas provas enquanto encarnado? O desejo que então alimenta pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo isso da intenção que o anime”. (O Livro dos Espíritos)

A escolha do que vai ser examinado durante uma encarnação é feita exclusivamente antes da encarnação, pois, depois de encarnado, o espírito está sujeito a novas intenções e com isso suas escolhas não representariam realmente o seu ensejo de elevar-se espiritualmente.

Portanto, tudo o que será examinado durante uma encarnação foi escolhido pelo ser universal antes da encarnação. Mas, o que o move nesta escolha?

“Ele escolhe, de acordo com a natureza das suas faltas, as que o levem à expiação destas e progredir mais depressa”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 264)

O que move o espírito a pedir determinado tema para ser provado é a sua própria posição no mundo espiritual, ou seja, aquilo que lhe falta conquistar espiritualmente falando.

Digamos que um espírito saia de uma encarnação e reconheça que não conseguiu aplicar bem nela os conhecimentos sobre a humildade. Ciente disso ele irá ‘estudar’ sobre este tema conversando com os Espíritos superiores e observando outros seres universais na prática deste tema e com isso verá como aplicar este fundamento da vida espiritual.

Realizado o estudo e sentindo-se apto a prestar novo exame sobre este aspecto, o espírito, então, pede nova encarnação. Quando faz isso declara expressamente que quer testar os seus conhecimentos sobre humildade.

É assim que acontece o processo de elevação espiritual: o espírito recém saído de uma encarnação reconhece suas falhas neste exame, prepara-se para nova provação do tema que não conseguiu ser aprovado através da conversa com Espíritos superiores e da observação da vivência dele por outros espíritos e aí se oferece para novamente ser examinado sobre aquele assunto.

Apenas um detalhe. Ao falarmos da escolha do espírito, falamos apenas de um gênero, mas isso não quer dizer que o espírito encarne para examinar apenas um aspecto do mundo espiritual. Durante uma encarnação, vários são os gêneros de provas pedidos pelo ser universal que são examinados.

Sendo assim, o espírito numa mesma encarnação, por exemplo, pode realizar exames sobre humildade, amor ao próximo, desapego, etc.

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Os papéis dos seres humanos nas provações dos espíritos

Tudo que acontece a um ser, portanto, é o cabeçalho da prova do espírito. Acontece que em todos os acontecimentos o ser humano pode assumir dois papéis: o de agente da ação ou receptor dela. Estes são os papéis que o ser humano exerce durante a provação do espírito.

“Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo...” (O Livro dos Espíritos – pergunta 132 – Objetivos da encarnação)

Quem recebe uma ação durante um acontecimento da vida está em provação, mas quem a executa também está. Seja para quem sofre uma ação, seja para quem a executa, o que está acontecendo é o cabeçalho de uma provação.

“É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 132)

Agindo num acontecimento frente a outra pessoa, o espírito humanizado está fazendo a sua parte na obra da criação. Ou seja, está escrevendo o cabeçalho da prova de um irmão espiritual. Mas, ao fazer isso, ele próprio está em provação: está tendo uma oportunidade de submeter-se ao acontecimento ou durante ele defender seus interesses.

Ora, se a provação do espírito é formada por uma continuidade de acontecimentos (destino) predeterminados a partir dos gêneros de provas pedidos pelo ser antes da encarnação, será que cada um pode agir durante a existência carnal contra outra pessoa a partir de escolhas realizadas no momento da ação? Acho que não...

Quando fala da missão dos espíritos (assumir o papel de agente da situação que servirá como cabeçalho para a prova de outro ser) o Espírito da Verdade afirma que o que ele faz quando está encarnado está vinculado à obra geral (a criação do que o outro pediu para provar) que é executada a partir das ordens de Deus (O Livro dos Espíritos, pergunta 132). Sendo assim, a ação de qualquer se humano precisa espelhar o que o outro pediu para provar e foi gerada originalmente em Deus.

Esta é a vida, ou seja, a provação dos espíritos: cada um age sob as ordens de Deus agindo frente a outro ser encarnado criando um acontecimento que sirva como cabeçalho à prova que está fundamentada nos gêneros de provação que cada um deles pediu antes da encarnação. Por isto chamo a vida humana de ‘Divina comédia humana’. Chamo-a assim porque ela nada mais é do que a representação de atores (os seres humanizados) de um texto criado pelo Autor (Deus).

Ela é divina porque é a obra geral, é uma comédia, porque aqueles que a compreende se divertem com os que estão nela e por conta do véu do esquecimento, pensam que estão vivendo as situações que estão interpretando.

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Espírito na carne

O ser humano aprendeu, durante os séculos, que todos aqueles que compreendessem as coisas de difícil explicação eram sábios e por isso deviam ser seguidos. Este conceito levou diversos encarnados a super valorizar os ensinamentos trazidos pelo plano espiritual conseguindo, assim, poder sobre outros que passavam a admirá-los.

Para firmar ainda mais este poder, os seres humanos apequenavam a massa da população levando-a a procurar a perfeição dentro do cumprimento das leis de Deus. Esta forma de proceder colocou o espírito muito afastado do objetivo imposto e levou muitos a exageros ou desânimos. Esta cobrança, porém, esbarra em um ensinamento presente em todas as religiões: Deus é a Perfeição.

Somente Deus possui a perfeição em todos os seus atos e, portanto, nenhum outro espírito pode possuir esta característica. Somente este conceito ameniza a busca, facilitando aos espíritos alcançar os objetivos para sua evolução.

Mas, existem ainda outros aspectos que devem ser observados. O Universo não anda em saltos, explicou Kardec ao planeta. Existem degraus de evolução aos quais os espíritos estão submetidos e que precisam ser galgados um a um para a busca da evolução espiritual.

O mundo de provas e expiações, no qual ainda vive a maioria dos espíritos na carne sobre o planeta, está muito afastado da perfeição que lhes é exigida. Este é um mundo de conhecer e ainda não é um mundo de interiorizar onde se age com posse definitiva das energias boas.

Durante todo o processo de provas e expiações a busca do espírito na carne deve ser reconhecer as energias boas e tentar priorizar o seu uso em detrimento das energias negativas. Neste processo muitas vezes o espírito reconhecerá as energias positivas e conseguirá buscá-las no Universo, mas muitas vezes não agirá desta forma e tropeçará.

Entretanto este tombo não poderá ser considerado algo terrível (pecado), muitas vezes sem perdão. Deverá ser compreendido como falha compreensível para aquele que ainda não conhece toda a verdade e por isso está estudando.

O que deve balizar a vida do espírito na carne é a busca do acerto e não a visão exclusiva dos seus erros. Aquele que buscar acertar constantemente estará executando o seu trabalho no mundo de provas e expiações. Esta busca se dá na matéria densa e por isso foi afiançado a Kardec que o espírito evolui quando está na carne e não fora dela.

Isso acontece porque existem as tentações (energias negativas) e a escolha a ser feita. Quando fora da carne o espírito não possui essas tentações e por isso fica mais fácil agir como Deus quer. Assim, para o mundo espiritual a vida na carne é concebida como uma guerra: a energia positiva contra a negativa. Aqueles que se expõem nesta guerra são considerados pelo plano espiritual como heróis.

Esta é a real visão e o real objetivo da vida espiritual na carne. Assim, não existe por parte do plano espiritual acusação contra nenhum irmão na carne, mas o carinho e a valorização de todos os irmãos que estão na frente da batalha.

Desta forma, o EEU busca resgatar essa real visão espiritual, informando a todos os irmãos na carne que eles são valorizados pelo mundo espiritual e por isso devem procurar a sua melhora paulatinamente, sem cobranças excessivas de resultados, mas uma busca constante.

“A vida é uma caminhada por uma estrada cheia de buracos, com a única certeza: que vamos cair. No tombo devemos nos levantar, sacudir a poeira e continuar a caminhada com uma única certeza: vamos cair novamente”. (Velho JOAQUIM)

“Quando você cair, você precisa levantar rápido do chão. Levantar. A maior falha é você entender que caiu e não procurar se levantar imediatamente”. MARIA, mãe de Jesus - Livro: As Mensagens de Maria para o Mundo

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Espiritualizando os ensinamentos

Os ensinamentos que Cristo trouxe para guiar os espiritualistas na vivência do algo mais que acreditam haver em si estão contidos basicamente no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, ou seja, aquilo que os apóstolos escreveram e afirmaram ser palavras do mestre nazareno. Vamos ver estes textos buscando encontrar neles as diretrizes para a reforma que cada ser deve fazer no seu íntimo para aproveitar a oportunidade da encarnação e alcançar a elevação espiritual. No entanto, antes de começarmos a conversar sobre este tema é importante dar uma passada em linhas gerais como será este trabalho.

Estudar qualquer coisa é decifrar o que está escrito. Isso porque as palavras são representações gráficas de uma idéia. Sempre que alguém escreve alguma coisa representa por palavras uma idéia que possui. Esta idéia é o que foi codificado através das palavras e somente a decodificação a partir dela pode levar a uma perfeita compreensão do sentido de um texto.

Isso é válido para qualquer texto que se lê, mas principalmente para os textos dos apóstolos que trazem as palavras de Cristo. Isso porque suas palavras foram codificadas através de parábolas.

“Jesus usava comparações para dizer tudo isso ao povo. Ele não dizia nada a eles sem ser por meio de comparações”. (Mateus, 13, 34)

Ler um texto como estudo para balizar alguma coisa não se resume simplesmente a ler palavras, mas alcançar uma compreensão. Todos que lêem algum texto alcançam uma compreensão, mas para que aquele texto sirva como elemento para mostrar na realidade os elementos necessários para uma reforma do íntimo de cada um, é preciso que a compreensão alcançada esteja de acordo com a idéia de quem o escreveu, neste caso o Cristo. Se não estiver, a compreensão adquirida se constituirá numa falácia que levará a uma não verdade, que pode comprometer o trabalho da reforma íntima do espiritualista.

“A vocês mostro os segredos do Reino do céu, mas a eles, não. Porque quem tem receberá mais, para que tenha ainda mais. Mas, quem não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que eu uso comparações para falar com eles. Porque eles olham e não enxergam; escutam e não ouvem nem entendem”. (Mateus, capítulo 13, 11 a 13)

Marcos afirma em seu evangelho que Cristo falava ao povo por comparações, mas quando reunido com seus discípulos em particular explicava tudo (Marcos, 4, 34). Porque ele fazia isso: porque os apóstolos comungavam do mesmo ideal de Cristo: a Boa Nova. Como comungavam do mesmo ideal, eles podiam ter uma compreensão fundamentada na mesma idéia que o mestre e com isso dispunham de verdades e realidades concernentes com aquelas que o rabi comungava. Mas, será que hoje os espiritualistas comungam do mesmo ideal de Cristo?

O mestre ensinou:

“O reino do céu é como um comprador de pérolas de valor. Quando encontra uma que é mesmo de valor, vai, vende tudo o que tem e compra a pérola”. (Mateus, 13, 45 a 46)

Será que esta é a mesma postura dos espiritualistas? Será que eles vendem tudo o que tem para dedicarem-se exclusivamente à busca do reio do céu? Como tudo o que tem não estou me referindo apenas a objetos materiais, mas a todas as posses sentimentais (o que se gosta, ama) e morais (o que se sabe). Será que os espiritualistas comungam da idéia de libertar-se das posses morais, sentimentais e materiais em troca de alcançar o reino do céu? Acho que não...

Na verdade, como Cristo ensinou os espiritualistas de hoje olham, mas não enxergam, ouvem, mas não entendem. Isso porque priorizam suas posses ao invés da busca do reino do céu. Por isso, não entendem o que Cristo disse.

Como os espiritualistas buscam o bem terreno, ou seja, a posse daquilo pelo que têm paixão e a realização dos seus desejos humanos, não comungam da mesma idéia de Cristo e com isso acabam vendo, mas não entendendo o que o mestre disse. Este é o motivo de nosso trabalho...

Quando falamos em estudar os ensinamentos de Cristo direcionados aos espiritualistas, estamos falando em apresentar os textos trazidos pelos apóstolos à luz da base do ideal cristão: o de vender tudo o que possui para poder alcançar o reino do céu. Sei que quando fizer entrarei em contraposição ao que as mentes humanas acreditam por causa do seu princípio de querer possuir, mas não posso agir diferente. Se o fizesse não estaria sendo fiel à idéia de Cristo e nem contribuindo para a formação de uma doutrina que realmente balizasse o processo de reforma íntima daqueles que dizem acreditar haver em si algo além da matéria.

Eis aí, então, a primeira diretriz de nossas conversas: dar aos ensinamentos de Cristo uma compreensão que esteja em acordo com a idéia dele.

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A Bíblia e a verdade

As verdades trazidas pela bíblia são temporárias e permanentes ao mesmo tempo.

A Bíblia nos conta que desde o início dos tempos Deus pede fidelidade e respeito aos seres encarnados. Isso é uma verdade permanente. Passaram todos os períodos entre o primeiro espírito que veio para a carne até os dias de hoje e a verdade da necessidade do respeito continuou.

No entanto, essas posturas foram pedidas através de determinadas palavras ou situações: isso é temporário. As palavras ou situações físicas alteram-se de acordo com os tempos, mas a essência do ensinamento divino jamais.

A lei de Deus, Seu amor e Seu poder, jamais se alterarão. Entretanto, as palavras com as quais estão escritas estas verdades não são eternas, não são verdades. A história que se formou para se colocar o conceito são mutáveis, pois são criadas de acordo com os hábitos e costumes do ser humano.

Assim sendo, as histórias narradas pela Bíblia não são verdades, mas os conceitos que elas trazem são. A palavra é mentirosa, mas o conceito que está na Bíblia não é mentiroso. As palavras que estão na Bíblia são palavras para um determinado tempo, que são verdades absolutas em determinado momento, mas perdem significado em outro.

O profeta falava do temor a Deus para um povo ignorante que era regido pelo medo. Um povo que ainda tinha medo de raio porque poderia matá-lo e acabar com todos os seus pertences. Tudo isso gerava o medo e o respeito se dava por meio dele.

Deus, entretanto, não pede temor a Ele, mas sim amor. Essa nova forma de se relacionar com o Pai é trazida pelas palavras de Jesus. No entanto, tanto no temor como no amor, a fidelidade e o respeito a Deus estão preservados.

Toda essência que a Bíblia ensina, permanece até hoje.

A essência dos ensinamentos divinos está sendo traduzida até os dias atuais. As palavras se alteram, mas a essência, o conteúdo, é o mesmo e será sempre. Se estudamos um provérbio que manda ser companheiro do seu irmão, não importa como esse provérbio esteja redigido: o companheirismo, que é verdade de Deus, deverá sempre estar presente.

Na Bíblia existem ensinamentos emitidos por frases que poderiam ser consideradas um provérbio. Possuem conteúdo que são verdades universais e eternas, porém as palavras que as compõem são verdades restritas para algum tempo.

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O espírito encarnado

Existe um conceito básico que deve todo espírito conhecer para poder viver neste novo mundo: o de que é um espírito vestindo uma carne.

Todas as religiões, como instrumentos auxiliares da reforma íntima dos espíritos sempre trouxeram informações neste sentido, mas o que estamos falando é algo muito mais imediato do que a visão que até agora foi repassada aos habitantes deste orbe.

A religião católica, a predominante no planeta, trata o espírito como alma imortal. Informa aos seguidores que eles são parte de Deus, mas não vivem no mundo Dele. Como filhos expatriados são remetidos a este planeta como obra única e aqui devem praticar o bem simplesmente para fugirem ao “inferno”.

Não existe dentro da concepção desta religião o sentido de evolução espiritual. O espírito tem que se redimir seguindo as leis de Deus e praticando os atos que Ele deseja apenas para escapar à punição. Vê-se claramente aí a continuação dos ensinamentos hebraicos do temor a Deus.

Escapando dos fogos eternos o espírito estará condenado ao parasitismo do sono eterno até a volta do Filho de Deus. Não consideram eles, a possibilidade da existência de um mundo espiritual para os seres comuns, mas apenas para aqueles poucos privilegiados como os “anjos” e os “santos”.

As igrejas adventistas, apesar de antagonistas às igrejas católicas, acreditam que o espírito irá viver após a morte na glória de Deus e com Ele desfrutar do paraíso. Entretanto, ainda não contemplaram a existência do mundo espiritual como uma forma de vida para o espírito.

Sem informar como seria esta vida insuflam seus seguidores na perseguição do bem para, assim, poderem contemplar as maravilhas prometidas para aqueles que cumprirem as leis de Deus.

Nos dois casos e também nas religiões Maometanas, a alma encontra-se com a carne para uma ligeira passagem praticamente sem sentido, pois se não há evolução e não pode haver compensação para faltas praticadas, a partir do momento que o indivíduo cometer o primeiro erro, pode continuar errando, pois não terá mais salvação.

Nos dois casos, o espírito encarnado não pensa nele como um espírito universal, mas sim como uma carne.

Nas religiões chamadas espíritas a verdade já é diferente. Existe o conhecimento de um mundo espiritual, existe a verdade da evolução, mas alguns fatos ainda afastam as pessoas do seu verdadeiro “eu”.

Na religião espírita fundada sobre os ensinamentos trazidos pelo Espírito da Verdade a Allan Kardec estes ensinamentos já estão presentes, mas o “eu espiritual” ainda não. Apesar de saberem que são espíritos, os espíritas ainda acreditam na “alma”, ou seja, um elemento diferente do ser universal que é criado com a encarnação.

Com isto continuam vivendo as suas existências pelos preceitos materiais e ainda estão apegados ao bem-estar da vida material. Acreditam que apenas participarão da vida espiritual depois que desencarnarem e, por isso, a busca do bem celeste não está presente em suas existências como princípio fundamental.

Já as religiões espíritas oriundas da África (umbanda, quimbanda, candomblé) foram criadas e até hoje continuam contendo o misticismo daquele povo mais perto da idade das cavernas do que da civilização para onde se dirigiam.

Por conceberem entidades vindas das águas e das matas e com superpoderes ganhos desde sua origem, as religiões africanas, apesar de ensinarem a existência espírita, não foram capazes de transmitir o processo evolucional que um espírito vive.

Nenhuma das religiões, as que citamos ou qualquer outra no planeta, foi capaz de destruir a auto imagem do espírito de ser a carne (ser humano), colocando em seu lugar a do filho de Deus, subordinado a Cristo, que se encontrava apenas em trabalho em um local diferente do seu.

As que mais se aproximaram desta realidade foram as religiões do mundo oriental. Os praticantes destas religiões muito avançaram no conhecimento do seu “eu” espiritual e se afastaram das coisas materiais.

Entretanto, alguns materialismos foram cometidos por elas. Seitas fecharam-se como ostras desligando a população destes conhecimentos; eleitos acharam-se onipotentes e guardaram para si segredos que deveriam repassar; espíritos acomodaram-se no processo evolucional postergando a ação, o que fez com que houvesse a reação em forma de retaliação contra seus povos.

Outro fator de erro muito grande das religiões desta área foi o fato de não comentarem a evolução gradativa que o espírito deve fazer. Queriam elas que o avanço fosse completo em uma só encarnação saindo o espírito do erro ao conhecimento pleno. Ledo engano.

Apesar disso, é desta região que deverá vir o maior conhecimento que o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL traz.

Reforma íntima - Textos - volume 06

Estar doente

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

O tema escolhido por vocês foi doença... Mas, para começar, a proposição do tema não está perfeita. Isso porque, na mente, não existe doença! A mente não reconhece doença, não cria doença. O que a mente cria é o 'estar doente'.

‘Estar doente’ é diferente de ‘ter doença’. A diferença é que ‘ter doença’ é alguma coisa física. Por exemplo: vocês podem ver o cancro cancerígeno numa radiografia, num exame. Já o ‘estar doente’ não acontece no corpo: acontece na mente, naquilo que vocês chamam 'cabeça'.

Então o tema não é ‘doença’, mas ‘estar doente’, pois, estamos estudando a mente. E, quando você está doente, quais são as armadilhas que a mente cria?

Primeiro: ter um mal estar, sentir-se mal por estar doente. Isso não é físico, é mental. Isso acontece com você aceita o 'estar doente' que a mente cria. Você só se sente mal, ou vive qualquer outra das armadilhas que a mente cria, quando aceita a informação de que está doente.

Mas, por que você aceita o 'estar doente'? Quando nos reunimos em um grupo espiritualista, espírita, universalista ou qualquer ‘ista’ desses, a primeira que se fala é que você não é o corpo: é algo além do corpo. Quando alguém começa a participar de um grupo espiritualista a primeira coisa que toma consciência é que não é o corpo, mas algo além dele. Se você não é o corpo, por que tem que estar doente quando a doença é do corpo?!

Por que tem que sentir-se doente quando a mente cria a sensação de 'estar doente' por ter uma doença no corpo? Em que isso vai adiantar?! Será que viver o ‘estar doente’ traz a cura?! Será que viver o ‘estar doente’ melhora a situação?! Claro que não! Pelo contrário, viver o ‘estar doente’ lhe afunda cada vez mais.

O que chamo de ‘sentir-se doente’, na verdade, é uma emoção que a mente está criando. Não é você que está se sentindo doente: é o você-mente que está criando a doença para o você-observador.

Então, quando a sua mente criar a ideia de estar doente, a primeira coisa que você-observador tem que fazer é buscar libertar-se da emoção de ‘sentir-se doente’! Não se deixar arrastar pela onda do mal-estar, do não sentir-se bem, da dor! Isso tudo não é você, pois está no corpo. É preciso que vocês entendam muito claramente isso. Vocês dizem que não são o corpo, mas se o corpo tem doença, vocês se sentem doentes! Tem alguma coisa errada aí, não?

Apesar de se dizer espiritualista, ou seja, acreditar que é algo mais do que o corpo, você não vive testa ideia. Pelo contrário, vive a ideia de que é o corpo, pois quando o corpo está doente, você se sente doente.

Esse é o primeiro aspecto quando se fala em ‘estar doente’: entender que o ‘estar doente’ é um pensamento-emoção, ou seja, é uma história carregada emotivamente que a mente cria. Entender que quem está com a doença é o corpo físico, não você. E entender que quem está sentindo-se doente é a mente e não você! Compreender que só vai se sentir doente se não lidar com a mente de uma forma madura.

Se você for como uma criança, quando mente lhe disser que está doente e precisa sofrer, você vai sofrer...

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Estar doente 2

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

Como vimos, para se alcançar a felicidade, quando a mente cria a ideia de estarmos doentes, não podemos compactuar com isso. Só que há outras coisas além do 'estar doente': preocupações, como com trabalho, com atividades, com compromissos...

'Você ficou doente logo hoje, no dia que tinha que fazer tal coisa'? Essa é outra armadilha que a mente cria.

Não existe nada a ser feito. Tudo que acontece é a vida que faz. Isso é importante de se ter consciência para não se deixar levar por este pensamento-emoção de frustração por estar doente e não poder fazer aquilo que tinha programado realizar, não poder honrar os compromissos que tinha assumido.

Vou dar um exemplo. Aquela pessoa está desempregada há algum tempo e por isso já está ficando desesperada. Já pensou se ela consegue uma entrevista e fica doente exatamente naquele dia? Olha todo cenário que a mente cria para que esta pessoa aceite a história que ela cria: 'Eu estou mal mesmo, acho que colocaram macumba em cima de mim... Não consigo uma entrevista e na hora que isso acontece vou ficar gripado, doente?'

Vocês estão muito preocupados em saber porque a mente é assim, de onde vem o que ela faz, mas isso não interessa. O que vocês precisam entender é a teia que a mente cria para lhes prender a ela.

Já reparam que quando vocês programam fazer algo que esperavam fazer há muito tempo aparecem diversas outras coisas que vocês também queriam fazer? Já perceberam que quando conseguem programar-se para realizar algo que queiram aparecem muitas complicações à sua frente? Isso tudo são teias que a mente cria e você não pode se deixar levar por isso se quer alcançar a verdadeira felicidade.

É preciso trabalhar a libertação dos desejos, a ideia de que você não age, de que não quer, de que não vai ficar chateado, pois tudo isso é criação da mente. Isso vocês já me ouviram dizer, mas vou falar de uma nova coisa para vocês trabalharem em si mesmos: precisam trabalhar a ideia de você ter uma vida humana para viver...

Vocês não têm uma vida humana, não vivem uma vida humana... Quem vive a vida humana é a mente...

A mente é você e é ela que vive a vida que você chama sua... A vida não é sua: é da mente. Não é você que está aqui, mas a mente; não é você que lê, mas a mente. Você é quem? Não sei... Está onde? Não sei.... Está fazendo o que? Não sei...

Você não dirige, mas sim a mente. Melhor: a mente é a ideia de estar dirigindo, pois não há um ato de dirigir. O que existe é uma ideia de estar dirigindo.

Você, além de não ver isso como uma ideia, acha que é você que está fazendo... Você não faz, não é, não está... Tudo isso são elucubrações mentais, criações da mente.

Nenhum de vocês está me ouvindo agora, mas sim a mente. Quem está na frente do computador é a mente. Quem o desligará é a mente. Ou melhor, ela vai criar a ideia dele estar desligado, já que ninguém desliga nada. Não há ações a serem feitas.

Eu vou falar uma palavra que já falei para não ser usada, mas que preciso usar agora. No trabalho 'Conhece-te a ti mesmo', quando fomos explicar o ego, a primeira coisa que falei foi o seguinte: para entender qualquer coisa e realizar qualquer coisa, você precisa assumir a dupla personalidade, você e o ego. No caso de agora, precisa assumir a dupla personalidade você e a mente..

Você precisa distinguir muito bem quem é você nesta história e quem é mente. Quem é mente nesta história: tudo aquilo que você diz que é você. Quem é você? Nada que possa saber. A única coisa que você pode saber é que não é o que a mente é...

Por isso falo em não compactuar com a mente. Mas, isso deve ser feito a nível geral, ou seja, tudo, e não pontualmente. Você não dirige, não anda, não faz sexo: tudo isso é a mente que faz. Apenas quando você não aceita que é a mente que está fazendo é que é você quem faz.

Como o espírito pode fazer sexo se ele não tem órgão sexual? Como você, o observador pode fazer sexo se ele é um ato físico e você não é corpo que veste?

Você não faz nada. Na verdade só tem uma coisa a fazer: observar a mente e compactuar ou não com ela. Quando você compactua é que ilusoriamente imaginará que é você que está fazendo o que ela faz...

Aproveitei este momento no tema 'estar doente' para falar disso, porque o 'estar doente' é isso. Atrás do sentir-se doente vem sempre uma série de cobranças da mente, mas, quem está doente é ela, quem não vai é ela, quem vai sentir-se frustrado por não ir é ela. Por que você tem sentir tudo isso se não é ela?

É a mesma história da doença: por que você tem que sentir-se doente se é a perna que está doente e você não é o corpo? É preciso que vocês separem bem claramente quem é você e quem não é.

Isso é um trabalho de vigilância. É um trabalho para ouvir o que a mente diz que você é. Ouvir o que a mente diz que você está fazendo, para poder responder: isso é mente, não sou eu. Não é ouvir para saber o que está fazendo, para saber o que está vivendo, mas para distinguir o que a mente está falando e assumir que tudo isso é ela...

Reforma íntima - Textos - volume 06

Estar doente 3

Retirado do estudo 'Em busca da felicidade'

Já conversamos sobre 'estar doente'. Disse que pode até haver uma doença física, mas que vocês não devem 'estar doente' mentalmente. Disse, ainda, que precisam se libertar do 'estar doente' para serem felizes.

Mas, apesar de ter dito isso, sei que não conseguirão realizar tal coisa. Vocês não conseguem se libertar do 'estar doente'. Por quê? Porque ainda sabem o que é ter saúde; ainda sabem o que é estar saudável; ainda sabem o que é algo que faz bem para a saúde. Não dá para se libertar do 'estar doente' sem se libertar do 'ter saúde'.

O grande problema de vocês para a realização daquilo que falamos é que ainda querem viver uma moeda de um lado só. Vocês só querem se libertar daquilo que acham ruim, que não querem, que acham errado, que não gostam...

É impossível se libertar do 'estar doente' se não se libertar do 'ter saúde'. É impossível se libertar do 'ter saúde' enquanto souber o que é saúde e o que dá saúde. Como se libertar do 'ter doença' se vocês ainda sabem o que é 'ter saúde'?

Aliás, sobre isso, quando falamos sobre a morte e vida, eu disse: se vocês se preocupassem tanto com a saúde mental quanto se preocupam com a física, poderiam fazer alguma coisa. Vocês estão presos à 'ter saúde', por isso ainda lutam para tê-la libertando-se do 'estar doente'. Isso é impossível. Quem vive uma moeda tem que viver os dois lados e não um só...

Na verdade vocês ainda estão presos a uma coisa, que até dizem que eu faço, mas que não existe: quebra de paradigmas... Isso não existe.

Quebrar paradigmas não existe. Vamos dar um exemplo: para quebrar o paradigma que diz que tal coisa é verdadeira, vocês adotam a postura daquilo não ser verdadeiro ou falso. Isso não é quebra de paradigmas, mas apenas troca deles: algo era verdadeiro e agora não é mais...

Para vocês não há como se quebrar paradigmas, pois, na verdade, sempre trocam um por outro. Não há como mudar de uma verdade para outra e dizer que está se fazendo alguma coisa... Não há como se libertar do não e viver apenas o sim: isso não é realização de nada no sentido da busca da felicidade...

Na busca da felicidade não há quebra de paradigmas, mas libertação deles: eles continuam existindo e você se liberta deles. Ou seja, eles continuam existindo, mas você se liberta da ação deles. Só que para ser feliz de verdade é preciso se libertar de todos eles e não transformar um lado em outro...

Portanto, para não 'estar doente' a primeira coisa que é preciso fazer é libertar-se do 'estar são', do 'ter saúde', das verdades que dizem que determinadas coisas lhes fazem 'ter saúde'... Se não se libertarem destas coisas, ficarão doente', pois quem sabe o que é saúde logicamente sabe o que é doença... E quem sabe o que é doença, fica doente...

Isso que estou falando serve para tudo o que já falamos. Vocês estão me ouvindo e dizendo que entenderam, mas como me foi dito na última conversa, 'se eu me libertar do 'estar doente' a dor para'? Tal pergunta, como outras, mostra que vocês ainda estão com intenção de não ter dor ao invés de querer se libertar da dor. Isso é impossível. O possível é ter a dor e não sofrer por ela. Ter a dor e o seu sofrimento e não sofrer por isso.

 Não dá para usar este ensinamento para retirar da vida o que vocês não querem passar e preservar o resto que querem viver. Como já disse, parafraseando Cristo, se você não perder sua vida não vai ganhá-la.

É preciso libertar-se de tudo, não transformar uma coisa em outra, não transformar a doença em saúde: isso não existe. Doença é doença, saúde é saúde.

O que vocês precisam não é transformar a vida, mas aprender a viver de uma forma única, com a felicidade, tudo o que têm nela. Se têm saúde vivam-na com felicidade; se têm doença, vivam-na com felicidade.

Mas, como viver a doença com felicidade se ainda sabem o que é ter saúde, como se tem e o que faz bem para ela? Essa é uma boa coisa para se pensar...

Reforma íntima - Textos - volume 06

Um negrinho

Vamos contar hoje a história de um negrinho que nasceu na senzala, mas para contá-la temos que retornar muito tempo atrás, quando Jesus Cristo esteve na Terra para ensinar o amor, a humildade e a compreensão.

Quando Jesus Cristo esteve na Terra os que olharam no olho dele acreditaram no que disse e tentaram, depois que ele foi para o seu augusto plano de vida, passar para os outros que vieram as suas lições. Falaram não só dos ensinamentos amorosos divulgados por Jesus, mas ensinaram também as “ciências ocultas” que ele trouxe para a Terra.

Ensinaram a manipular energias, a curar os doentes pela imposição das mãos, enfim, os princípios básicos das técnicas universais. Entretanto, estes que não viram o amor diretamente nos olhos de Jesus, usaram estes conhecimentos para dominar o povo conseguindo, assim, o poder.

Jesus Cristo quando esteve na Terra não formou uma igreja para falar ao povo. Fazia-o nas ruas, nas praças, onde o povo se encontrava. Nada pedia deles, só queria o amor entre as pessoas.

Os que vieram depois, de posse dos segredos ocultos, construíram uma igreja, uma seita, uma doutrina, para poder dominar o povo. Para melhor conseguir a submissão, formaram esta doutrina ao contrário do que Jesus pregou: enquanto este pregava o amor, aqueles formataram sua doutrina no medo.

A doutrina do medo trouxe o retrocesso para a Terra. Ela ficou preta, com o ódio e o medo dos encarnados gerando energias negativas para o Universo. Mas, não era toda a Terra que estava envolta em sentimentos negativos. Havia o Oriente e a África, onde se cultuava o amor e se disseminava livremente o conhecimento do mundo espiritual praticando-se a caridade.

Lá se sabia que o poder espiritual não pode se confundir com o poder material: A César o que é de César. O mandante material tem que tomar conta das coisas materiais e o espiritual das dele. Não pode o mandante espiritual se juntar ao poder material para governar acima de todos.

Esta junção dos poderes gerou muitos débitos àqueles que praticavam o crime espiritual de esquecer as doutrinas de Jesus e governarem pelo medo. O mestre se preocupou com este acumulo de débitos e, comandado pelo Pai, decidiu criar mais uma chance para aqueles governantes para que eles pudessem aprender as leis sagradas do Universo: humildade, caridade e amor.

Esta chance veio sob a forma da escravidão. Esta etapa da humanidade foi criada, não só para levar àqueles espíritos a chance de aprender pelo sofrimento e a dor o que eles mesmos criaram, bem como para aproximar as doutrinas ocidentais das coisas do espírito disseminadas pelos africanos e orientais.

Foi escolhido o povo africano pela pureza de suas vibrações e sua profunda utilização da força maior do Universo: a natureza. Quando aprisionados e trazidos para a América, os africanos encontraram um habitat muito parecido com o que haviam acabado de deixar e por isso não houve muita quebra de continuidade nos seus ritos. Seus deuses foram logo assemelhados aos da doutrina ocidental para poderem continuar a exercer a sua fé.

Voltando ao nosso negrinho que nasceu na senzala, ele não sabia tudo de ruim que já havia feito em outras encarnações. Ele que nasceu no nordeste do Brasil, onde havia a cana e nem sabia que, um dia, em outra encarnação, depois de matar muita gente nas arenas com os leões, no momento maior de sua loucura espiritual, chegou a tocar fogo na sua cidade para que ninguém mais a possuísse a não ser ele mesmo (Nero).

Depois do retorno á positividade do universo o negrinho, espírito com fortes tendências para líder, pediu e ganhou mais uma chance de voltar a Terra como encarnado para ajudar um povo a escapar das perseguições que era alvo. Com os ensinamentos adquiridos naquela e em outras encarnações, o negrinho veio e desta vez conseguiu cumprir sua missão de luz.

Zumbi, assim se chamou o negrinho, comandou seu povo. Não conseguiu acabar com a escravidão pois ainda haviam espíritos que precisavam da prova para evoluir moralmente, mas mostrou a eles que, mesmo em um espírito aprisionado pode surgir a liberdade de coração e o amor entre os seus semelhantes.

Hoje este negrinho está de volta ao orbe terrestre em mais uma encarnação como líder de uma nação.

Ele não está no Brasil, pois este negrinho está ligado aos avanços materiais dos povos da Terra e não nas coisas espirituais. O Brasil não é o país dos avanços materiais, mas é o líder mundial nas coisas espirituais, mas isso, é uma outra história.

Reforma íntima - Textos - volume 06

Espiritualismo Ecumênico Universal

Nós somos o Espiritualismo Ecumênico Universal e sempre foi dito que o fundamento de nossa visão sobre os elementos do mundo ou doutrina estava ligado a esse nome.

Como “espiritualista”, sempre foi dito que nossa doutrina, mais do que contemplar algo além da matéria, é totalmente dirigida a esse ‘algo mais’.

Nossa doutrina não é para seres humanos, pois para quem quer ser ‘humano’, esses ensinamentos nada valem: estão ‘errados’, são loucuras, etc. Isto porque nossos ensinamentos, por serem direcionados ao espírito, trazem como fruto da sua prática o bem celeste e não o material. O fruto da prática desta doutrina é a vida dentro da felicidade universal e não do prazer.

A designação “ecumênico” afirma que a nossa doutrina não se fundamenta apenas no ensinamento de um único mestre. Para nós, muitos são os enviados de Deus, trazendo o mesmo ensinamento, às vezes com palavras diferentes.

A denominação “universalista” fala do objetivo final de nossa doutrina: servir como instrumento para que o espírito funda-se ao Todo Universal.

É exatamente no aspecto universalista que a Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal adquire um caminho próprio. Para explicar melhor este caminho, vamos conhecer o que são os caminhos universalistas.

Para tanto, citamos um texto do Bhagavata Puranas onde Sri Krishna conversa com Uddhava a respeito da elevação espiritual:

22 – Se o ato intencional é cumprido de boa mente e não encontra obstáculos, graças aos frutos de tal ato, o homem (pensante) consegue ir às esferas celestiais. Ouve como isso acontece, ó Uddhava.

23 – O homem que oferece sacrifícios e adora somente os devas (seres celestiais ou também, às vezes, espíritos da natureza) certamente vai para o céu. Aí chegando, desfruta como um deva os frutos de seus atos, ou os prazeres celestiais assim adquiridos.

24 – No carro aéreo que (temporariamente) conquista por suas próprias boas ações, vestido com formosa veste e rodeado de ninfas, o homem desfruta o prazer celeste e é louvado pelos ‘gandharvas’ (ou querubins).

25 – Brincando com mulheres e com seu carro decorado com serpentes aladas, carro que o leva a qualquer lugar que deseje, sente-se feliz nos jardins dos devas e não se apercebe de sua futura queda (que é inevitável).

26 – E, assim, o homem goza no céu até esgotar o tempo dos méritos de suas boas ações. Então, ao esgotarem-se os frutos dos méritos, contra a sua vontade, regride ou cai, empurrado pelo tempo (pensado).

Através deste ensinamento, Sri Krishna mostra que aqueles que, praticando ações consideradas “boas”, mas sem o controle da intencionalidade, ao sair da carne, ou seja, ao retornar à sua consciência espiritual, vivem em mundos que são reflexos dessas ações sem controle da intencionalidade. São mundos até considerados por alguns como celestiais, mas que escondem um grande perigo. Esse perigo, ainda segundo Krishna, é a “queda”, ou seja, a necessidade de reencarnações para provas.

Desse ensinamento vem a primeira característica do universalismo da doutrina Espiritualista Ecumênica Universal: a luta contra a intencionalidade.

O universalismo que pregamos não pode ser alcançado através de atos ou atitudes, mas através do controle da intencionalidade expressa durante os acontecimentos da vida. Essa intencionalidade, conforme ensinado pelos mestres, são geradas a partir de três elementos (posses, paixões e desejos) que surgem em virtude da fundamentação egoística (querer para si) que é a base de personalidade temporária ao qual o ser se une durante aquilo que é conhecido como encarnação.

Por isso, o primeiro princípio básico do universalismo pregado pela Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal é a libertação pelo espírito das posses, paixões e desejos, com os quais ele vivencia os acontecimentos da vida. Com isso estará, então, definitivamente eliminada a intencionalidade.

A segunda característica do universalismo do Espiritualismo Ecumênico Universal também se refere ao caráter espiritualista da doutrina.

A partir dos ensinamentos dos mestres, o universalismo da Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal compreende que a forma e as propriedades dos elementos materiais não correspondem às características universais deste, ou seja, as características materiais são apenas criações temporárias e não realidades.

Mas, também pelos ensinamentos dos mestres, a Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal sabe que as características e propriedades reais dos elementos universais não podem ser concebidas pelo espírito que está apegado à ação das intencionalidades.

Por isso, a Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal prega o universalismo fundamentado na “não-existência”.

Como dito anteriormente, os elementos universais possuem propriedades e características, mesmo que estas não possam ser percebidas pelo espírito apegado à ação das intencionalidades. Portanto, a doutrina da “não-existência” pregada pelo Espiritualismo Ecumênico Universal não pode afirmar que elas não existam, mas sim que existem de uma maneira que não pode ser concebida pelo espírito preso à intencionalidade.

Resumindo, então, o caminho universalista da Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal prega a libertação das intencionalidades a partir da conscientização de que as características e propriedades dos elementos percebidos não são aquelas que o espírito percebe.

Para embasar todos os ensinamentos da doutrina e alcançar os seus objetivos, ou seja, a libertação da intencionalidade através da “não-existência”, a Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal abraça o ensinamento do Governador Geral da Terra (Cristo): “No paraíso existem cinco árvores, cuja sombra não se move nem no inverno nem no verão”.

As árvores são o conhecimento, o saber e, pelo fato de estarem no paraíso, compreende-se que é o saber necessário para cumprir os objetivos da encarnação. Como sombra entende-se a interpretação que é dada a esse saber e, pelo fato de jamais se mudarem (sombra), apesar do ângulo de visão (a posição do sol), entende-se que elas são eternas e universais.

Por isso a Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal chama a esses saberes de “Cinco Verdades do Universo”. São elas:

1 – Não existe o ser humano; eu sou um espírito.

2 – O mundo material tal como percebido, é uma ilusão, pois tudo é único no Universo.

3 – Não existe vida no sentido material (nascer, crescer, morrer); todas as vivências são oportunidades para o espírito libertar-se da sua intencionalidade.

4 – A libertação das intencionalidades leva o espírito a vivenciar o amor universal, por isso o objetivo da encarnação pode ser definido como a prática do ensinamento de Cristo: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

5 – As provações são criadas por Deus com justiça (dando a cada um somente aquilo que precisa) e com amor (como uma oportunidade de universalização).

Usando, então, estas cinco verdades universais e sem jamais esquecer dos objetivos finais (libertação da intencionalidade através da não-existência), a Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal relê os ensinamentos dos mestres, visando proporcionar o saber, mesmo que ilusório, para a realização da universalização.

Reforma íntima - Textos - volume 06

Culpado

CULPA – Ação negligente ou imprudente ou danosa a outrem. (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição)

Sempre que algo acontece que “prejudique” a um ser humano ele imagina que exista alguém que tenha “culpa” por aquilo ter ocorrido e, ao identificar tal agente, lhe impinge a denominação de “culpado”. Entretanto, a Doutrina Espiritualista Universal contempla que a Quinta Verdade Universal afirma que Deus é o “causador” de todas as coisas. Portanto, toda vez que um ser humano procurar um “culpado”, se progredir na sua análise, encontrará Deus.

Isto é o que acontece diariamente. Os seres humanos condenam outros, mas no fundo estão condenando a Deus pelos acontecimentos da sua vida. Quando acontece uma fatalidade, a primeira pergunta daquele que passa pela situação é: “Por que Deus?” Esta forma de proceder faz parte do instinto que todo espírito tem de que Deus é a “Causa Primária das coisas”.

Sempre que alguém pratica algum ato físico, este ato é comandado por Deus. Para que Deus ordene esta prática, é necessário que os sentimentos que o espírito nutra estejam coadunados com o ato. Desta forma, se alguém pratica um ato de agressão é porque ela possui como sua base de raciocínio o sentimento de agressão.

Entretanto, Deus não seria a Justiça Perfeita se comandasse ou deixasse este espírito praticar o ato contra quem não merecia ou precisava recebê-lo. A ação de Deus tem de ser perfeita, e por isso Ele coloca aquele que precisa e merece ser agressor frente aquele que precisa e merece ser agredido e comanda os atos que os dois praticarão. Cada um, na verdade, não pratica um ato, mas materializa um sentimento que possua e utilize constantemente.

Ele não age desta forma por punição ou maldade, mas dá a cada um o que é necessário para a sua evolução espiritual. A base para aplicação da Justiça Perfeita é o Amor Sublime, ou seja, objetivando com que o espírito evolua e possa viver a sua existência espiritual com mais felicidade.

Quando uma pessoa recebe um ato de outra que lhe contraria os desejos, é Deus utilizando-se desta outra pessoa para mostrar àquela o sofrimento que ela causa quando contraria os desejos dos outros. Se alguém lhe censura, é Deus agindo para mostrar-lhe o quanto transmite de sofrimento quando você censura outras pessoas.

Claro que aquela outra pessoa teve sentimentos que a tornou apta a ser a portadora da mensagem de Deus, mas ela não é culpada do ato. O ser humano prefere entender que o causador é o responsável pela causa a ter de se auto-analisar para ver a Justiça em ação. Se existe um “culpado”, este é Deus, pois foi quem causou o ato, não como punição ou castigo, mas como conselho para que aquele que o recebeu busque o Pai e promova a sua reforma. Enquanto o ser humano buscar apenas o culpado material dos acontecimentos, não encontrará o real culpado: Deus.

Portanto, a “culpa” de todos os acontecimentos da vida material é de Deus, mas não se trata de uma ação negligente, imprudente ou danosa a outrem. Uma atitude negligente seria um ato feito de forma “imperfeita”, “desleixada”. Deus não age desta forma. Todas as atitudes que Ele comanda tem uma finalidade específica e são Perfeitas na sua forma. Ele dá a cada um a justa medida do que merece. Portanto, se um espírito precisa e merece apenas receber gritos e censuras, Deus comandará apenas estes atos. Se o espírito necessitar de atos maiores (agressão física, por exemplo), Deus comandará que o ato lhe chegue desta forma.

Deus não é imprudente, pois Ele não expõe o espírito a situações que possam atrasar a sua evolução espiritual, ou seja, dá a cada um a “cruz” do tamanho e peso que pode carregar. Quando o Pai determina que um ato seja praticado contra um espírito é porque Ele conhece o íntimo (sentimentos) de cada um e sabe que ele reúne condições de recebê-lo com “amor”. Se o espírito não escolhe este sentimento para reagir ao acontecimento é porque utiliza o seu próprio livre arbítrio.

Todos os atos de Deus não são danosos, mas buscam trazer um ensinamento necessário a evolução de cada um. É preciso que o espírito deixe o joio crescer para que possa separá-lo do trigo, na hora da colheita. Buscar um culpado é ceifar aquilo que ele imagina que não presta para si, mas com isto estará correndo o risco de eliminar um alimento futuro.

Deus é a Causa Primária de todos os atos, mas os comanda porque possui a Inteligência Suprema do Universo, que tem como atributos a Justiça Perfeita e o Amor Sublime. No momento em que o espírito entender que Deus é a Causa Primária, poderá encontrar Seus atributos nas Suas ações, mas enquanto quiser ser o juiz do Universo, só encontrará culpados.

Reforma íntima - Textos - volume 06

Despertar

Até aqui temos falado muito na reforma íntima, na mudança interior de cada um que leva à elevação espiritual. O culminar deste processo pode ser chamado de despertar, renascer ou iluminação. O nome não importa, mas trata-se do momento onde o ser universal muda de “vida”: abandona a casca da vida material e vive, mesmo ainda dentro da matéria, a vida espiritual ou universal.

Afirmamos anteriormente que enquanto o ser quiser se elevar, não conseguirá tal intento. Quando a busca é direcionada pelo desejo individual o que se alcança é a realização de um “querer”, ou seja, uma individualização, pois enquanto o ser realiza apenas o que quer não consegue alcançar a universalidade, mas prende-se aos desejos individuais.

Para melhor transmitir este ensinamento também afirmamos: ninguém consegue a elevação espiritual, mas recebe de Deus a consciência da vida espiritual. A elevação espiritual não é o resultado de um “estudo profundo” (ciência), mas sim de um trabalho profícuo para Deus. Quando o ser universal encarnado ou não trabalha para Deus (O ama acima de todas as coisas) recebe do Pai essa consciência.

Se o pensamento é dado por Deus será Ele que dará o pensamento e a consciência de que aconteceu a elevação. Ela não pode ser oriunda de um raciocínio lógico, uma declaração individual de que o indivíduo conseguiu reformar-se.

A declaração da consciência do fim do processo de reforma íntima (despertar) não pode surgir de uma auto-análise das ações individuais, pois isto seria fruto de um julgamento individual. É preciso que Aquele que a tudo sabe e vê e possui a capacidade suprema de analisar as intenções dos atos espirituais decrete o resultado da busca, para que ela seja considerada realmente alcançada.

A análise individual, com valores presos ainda à dualidade, não alcança a visão “correta”, pois ainda prende-se a conceitos individuais. Quando um ser analisa os seus próprios atos dentro da sua própria lógica e declara para si mesmo que “chegou” ao reino do céu na verdade chegou ainda apenas à satisfação ou prazer. O resultado desta análise ainda é individualismo em ação.

A iluminação ou despertar, não é um raciocínio lógico, mas um sentimento. Ela ocorre quando o ser sente Deus dentro de si. É muito mais do que “eu acho” ou “eu sei” (padrões lógicos), mas um sentimento e este é Deus que dá a cada um de acordo com as suas obras e não o ser que “compreende” que chegou lá.

A diferença entre “achar” que chegou e realmente chegar é que a primeira é racional, fruto de um raciocínio, de uma análise, enquanto que a segunda derrama-se sobre o ser universal como uma “sensação”. Não há lógica, apenas sensação, sentimentos.

O ser que desperta não possui a consciência lógica deste despertar, mas “sente” alguma coisa diferente dentro de si mesmo. É alguma coisa incompreensível pela lógica humana, pois o ser aprisionado na auto-visão humana ainda não conhece esse sentimento do contato íntimo com a divindade.

Por isso é que a elevação espiritual não é conquistada, mas recebida. Ela chegará para cada um no momento que Deus der, não através de um raciocínio lógico, mas de um sentimento interno. Quando houver a consciência interna de algo que até então não era conhecido sentimentalmente, aconteceu o despertar.

Quando isto acontecer é a hora de manter o deslumbramento. Para isto o deslumbramento não pode ser compreendido logicamente, mas apenas sentido. Muitos seres que estão buscando a elevação já entraram em contato com este sentimento, mas tentaram compreende-lo e se perderam dentro de suas lógicas individuais.

O amor de Deus (o sentimento que confirma a elevação espiritual) não pode ser compreendido dentro da lógica racional, mas deve ser sentido pelo “coração”. Quando este momento chega, o ser deve entregar-se profundamente àquele “estado de espírito” e não tentar entende-lo logicamente.

A humanidade (seres em busca da elevação) não sabe o que é despertar, chegar a esta elevação. Todas as religiões ensinam que se deve fazer a reforma íntima, mas elas não explicam qual a atual posição do ser, o que é reformar-se e muito menos o que acontecerá quando conseguir realiza-la.

Por isto, todos estes fatores ficam à mercê da “imaginação” humana. Como ela é formada por “formas” conhecidas no planeta que se submetem às verdades de cada um, os seres imaginam ao seu bel prazer. O que se alcança no despertar, entretanto, é espiritual, bem como todo o processo de elevação. Por isto o espírito encarnado não consegue compreender o processo e a resultante dele. Quanto mais busca “entender” racionalmente a elevação espiritual, mais ele se aprofunda no materialismo.

Não há alteração na vida material com a elevação espiritual, mas apenas mudanças espirituais. O ser despertado permanecerá na “carne”, vivenciando todos os fatos atuais da sociedade, mas a sua forma de “senti-los” se alterará.

Uma pessoa, por exemplo, que não goste de cigarro, mesmo quando despertar para a vida eterna poderá continuar não gostando de cigarro. Não há “mágicas” neste processo. Ela continuará vivendo em um mundo onde há cigarros, onde se fuma, mas, diferentemente de hoje, não mais sofrerá porque outros fumam, perto ou longe dela.

Hoje, além de não gostar, existe o sofrimento porque algumas pessoas fumam. Deste sofrimento nasce a acusação de que são “suicidas” inconscientes, que ferem o meio ambiente e todas as outras acusações que são alvo os fumantes. Estas se extinguem com o despertar.

O ser desperto, que promoveu a sua reforma íntima, não acusa ninguém de nada. Utilizando-se apenas do amor universal de Deus que agora “mora” dentro dele e livre do seu “querer” e “gostar” individual, dá a cada um o direito de fazer aquilo que quer. Não por motivos lógicos, mas simplesmente por amar ao próximo como a si mesmo.

Eliminada a acusação, eliminado o dualismo (bem e mal, certo e errado), o ser pode conviver pacífica e harmoniosamente como o todo: este é um ser elevado. Ele não compreende logicamente porque alguns fumam e outros não, mas ama a todos indistintamente (fumantes ou não), sem acusações.

Essa é a manutenção de Deus dentro de cada um. O ser elevado continua não gostando, não querendo fumar, mas coloca o “amor” em prática e dá a cada um o direito de fumar, se assim desejar. Esta forma de proceder o exime apenas do sofrimento e não do achar em si mesmo. Pode, inclusive, leva-lo a alertar o próximo sobre os malefícios que ele crê que advirão do fumar, mas acabará com a obrigatoriedade de que o próximo acate seus argumentos.

Quando se entra em contato com o ensinamento dos mestres orientais (Krishna, Buda e Lao-Tzu) que ensinam a combater o conceito, o ser humano busca elimina-los pelo raciocínio. Luta para manter a sua “santidade” combatendo a sua aversão ao fumo, mas desta forma, apenas cria mais um conceito, uma verdade: a de que ele próprio está errado.

Esta forma de viver, mesmo que se consiga combater o desejo individual de que todos parem de fumar, não leva à elevação, mas trata-se apenas de um novo conceito formado. Viver sem conceito é não fumar porque não quer, mas dar o direito a cada um de fumar o quanto quiser.

A reforma íntima, portanto, não é lutar contra o “não gostar”, mas sim eliminar o sofrimento que é alcançado porque não se gosta de algo. Só assim o ensinamento máximo de Jesus Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo) será colocado em prática e, com isso, o despertar será alcançado.

Isto é alcançado através de um processo, de uma busca, que culmina no despertar, ou seja, na consciência que põe fim ao sofrimento pelos acontecimentos do mundo. O momento que isto ocorre, no entanto, não pode ser mensurado pelo ser humano, mas apenas o Pai, que acompanha de perto (onisciente e onipresente) o processo de cada um pode determinar o momento certo de cada um.

Aquele que declara estar perto ou longe do despertar, na verdade, ainda está muito perdido na sua busca. Aquele que busca a elevação espiritual não deve se importar com este fato, ou seja, buscar ver no horizonte o ponto de chegada, mas apenas caminhar, entregando-se a Deus e esperando que Ele, na Sua sublime compaixão que possui por Seus filhos, lhe dê a consciência amorosa.

Este momento chegará sem prévio aviso, sem sinais anteriores. Em um segundo o espírito nada sentirá e no próximo sentir-se-á banhado pelo “amor de Deus”. O despertar acontece em um segundo, sem avisos anteriores, sem preparação específica alguma e, muitas, vezes, sem um determinado motivo aparente que a justifique. Ele não ocorrerá por um motivo específico, mas será fruto de toda uma caminhada.

Verifiquemos o despertar daqueles que hoje são santificados e veremos se não é isto que ocorre.

Sidarta Guautama era um príncipe. Possuía dois castelos onde era isolado do mundo por seu pai para não ter conhecimento da realidade do mundo (sofrer) e assim viveu durante muitos anos. Um determinado dia uma consciência se abateu sobre ele ao ver um homem morto, um sofredor e um doente e a partir daí foi buscar respostas para a existência humana.

Não foi neste momento que ele despertou, mas foram precisos longos anos de busca para que um dia este despertar acontecesse sem se ser previamente anunciado. Ao buscar o ensinamento védico ele descobriu que o sacrifício e o isolamento das coisas materiais era o caminho e foi pratica-la, mas ainda não desperto.

Apenas em um dia, quando quase morto de fome por um jejum longo e insípido, que ouviu um pai conversando com seu filho. Ele dizia: “Quando você afinar as cordas de um instrumento, meu filho, não as deixe nem frouxa demais para que o som não saia fora de tom, nem as deixe muito apertadas, porque podem se romper”. Foi neste momento que Sidarta descobriu o “Caminho do Meio”.

Levantou-se, alimentou-se e meditou (entrou em contato com Deus) por mais quarenta dias e quarenta noites e recebeu do Pai toda a compreensão que o despertou. Todo este processo, como dissemos, levou longos anos e não aconteceu como mágica no primeiro instante que Sidarta decidiu buscar o despertar.

A mesma coisa aconteceu com todos aqueles que alcançaram a iluminação. Nunca houve mágica, mas um processo de busca que resultou em um determinado segundo no alcançar, no despertar. Alguns, já de posse da nova consciência, foram avaliar sua vida antes disso, como São Agostinho no seu livro “Confissões”, mas sem auto-acusações, apenas constatando que foi um caminho para a chegada ao clímax.

Todos os “santos”, até que receberam de Deus a consciência espiritual, tiveram uma vida não exemplar para os padrões que costuma se colocar para os pretendentes à elevação espiritual. Viveram como seres humanos, gozando os prazeres materiais, até que decidiram buscar outra vida. A partir daí nasceu uma caminhada que culmina em um momento específico quando houve o despertar.

Este ensinamento nos leva a refletir que para se realizar a elevação espiritual é preciso caminhar em direção a Deus, mas esperar o momento chegar sem desejos, inclusive o de alcança-lo. Este é o ensinamento máximo que pode levar o ser a reformar-se, a despertar, alcançar a iluminação ou a elevação espiritual, a bem-aventurança.

É preciso caminhar para chegar sem querer pegar atalhos que encurtem o caminho, que o momento fatalmente chegará, pois Deus não desampara ninguém. Todos que estiverem realmente buscando a Deus O encontrará. Agora, quem está buscando a sua própria satisfação, a realização dos seus desejos, só isto encontrará.

“Eu achei Deus. Olha que maravilhoso, estou me sentindo muito bem”. Esta é uma declaração de quem encontra a sua própria satisfação e não Deus, pois quem encontra o Pai não fala: apenas sente.

Como nos ensina Lao-Tzu, quem encontra Deus faz o “bem” naturalmente, sem consciência disto. A prática amorosa passa a fazer parte da “vida” do desperto de uma forma natural, ele se doa sem a consciência da doação. Ela não nasce de um desejo individual nem de uma “obrigação” religiosa para alcançar a iluminação.

Este é o estado do desperto, daquele que encontrou a Deus. Encontra-Lo é praticar a ação amorosa sem espera de recompensa alguma, inclusive o prazer: isto é ação sem intencionalidade. Esta é a vida daquele que alcançou a elevação espiritual, esta é a felicidade suprema que um ser pode achar. A felicidade de dar, de doar, de servir ao próximo.

Isto começa em um segundo e não aos poucos. A não espera de recompensas, sejam externas ou internas, pela prática do ato não vai sendo alcançada paulatinamente, mas acontece de um segundo para outro. Enquanto estiver no caminho, ainda esperará recompensas, nem que seja a própria elevação por parte de Deus.

Quando a intencionalidade é alcançada, nasce a luta para a manutenção deste estado de espírito. Não se trata ainda da vitória, mas da glória de Deus coroando uma caminhada. É preciso manter acesa aquela chama que agora passa a existir dentro de cada um.

O problema é que muita gente se entrega neste momento à indolência. Acredita que já chegou, que já descobriu o caminho e esquece-se de amar, ou seja, manter o amor de Deus dentro de si. Na verdade, este ser apodera-se de Deus, aprisionando-O somente para si.

Não existe caminho específico para Deus, pois o Pai é o próprio caminho para Ele. Aquele que pensar que descobriu o caminho para Deus, esquecendo-se de manter acesa a chama do amor dentro de si mesmo, encontrou apenas a si mesmo, a sua consciência material.