Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Estudo do capítulo VII do Bhagavad Gita

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Introdução

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Introdução ao capítulo 7

Sem texto

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 1

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Senhor da yoga - versículo 1

01. Ó Partha... se praticas a yoga com a mente fixa em Mim, tomando refúgio em Mim, ouve como poderás conhecer-Me plenamente e sem qualquer dúvida.

O caminho do reto conhecimento começa quando você foca a mente em Deus e se refugia Nele. Focar a mente em Deus é compreender as coisas deste mundo da seguinte forma: tudo foi Deus que fez. Refugiar-se em Deus é atribuir a seguinte idéia ao futuro: só vai acontecer o que Deus quiser. Quando você alcançar este reto entendimento qualquer coisa que aconteça será o que pode lhe acontecer de melhor, já que sua confiança (fé) estará depositada em Deus.

Portanto, para aquele que possui o reto entendimento pouco importa o que acontece nesta vida. Por estar refugiado em Deus, este não sofre. Não importa o que aconteça, se a mente está focada em Deus, este só O verá agindo e por conta da confiança que tem no Pai, jamais sofrerá.

Agora, se a mente está dispersa pelo turbilhão das idéias, o ser humanizado ficará perdido buscando entender o que acontece. Como isso é impossível para quem não tem o reto entendimento, o ego criará falsas verdades, fantasias, para gerar uma compreensão que não é real. Neste momento, aquele que não está refugiado em Deus, mas no eu, no ego, sofrerá, pois sentirá sempre sua felicidade ameaçada pela vida. Por causa da incerteza sobre o futuro (se terá ou não suas vontades satisfeitas) sofrerá constantemente.

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Versículo 2

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Senhor da yoga - versículo 2

02. Sem reservas te falarei sobre este conhecimento e o método de sua realização; vivenciando-os, nada mais resta para conhecer aqui neste mundo.

Um grande recado do Krishna neste trecho: quem possui o reto entendimento penetra nos segredos mais profundos do Universo. Isso acontece sem que nenhum conhecimento tenha sido transferido...

Os seres humanizados vivem buscando informações sobre Universo. Seja através da ciência ou do estudo das coisas espirituais, estão sempre buscando conhecer a intimidade do Todo. Mas, alcançar isso através de conhecimentos é impossível. A mente humana não possui capacidade para tornar conscientes as informações sobre as coisas que existem além deste planeta. Falta-lhe sentido para poder percebê-las; faltam-lhe imagens para poder descrever o que poderia ser percebido. Por isso esta busca é vã.

Apesar disso, Krishna nos afirma que o ser mesmo humanizado pode penetrar neste desconhecido. Esta penetração, no entanto, não se dá por conceitos, por formas, por informações que possam ser compreendidas. Aquele que possui o reto entendimento e que, portanto, sabe que só Deus age, mesmo sem compreender esta informação perfeitamente, já sabe tudo o que pode ser sabido neste momento.

Mas, quando este conhecimento chega ao ser? Quando há a vivência do reto entendimento, ou seja, a prática do que se sabe. Penetra no segredo do Universo aquele que vivencia a consciência de que é Deus quem faz tudo e não apenas aquele que conhece esta informação. Sem a vivência do reto caminho, ninguém consegue conhecer tudo o que há para ser conhecido.

Portanto, por mais que um ser humanizado seja instruído na questão das coisas universais, por mais que ele conheça de cor e salteado os ensinamentos dos mestres, sem a vivência, sem a colocação na prática, sem o orai e vigiai a cada segundo para conhecer a intenção gerada pelo ego e libertar-se dela, este jamais chegará a conhecimento algum.

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Versículo 3

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Senhor da yoga - versículo 3
Senhor da yoga - versículo 3
Senhor da yoga - versículo 3

03. Entre milhares de seres humanos, apenas um busca a perfeição; entre os que tentam, possivelmente somente um alcança a perfeição e entre os perfeitos, talvez um só Me compreende perfeitamente.

Neste trecho do Bhagavad Gita há um grande ensinamento sobre o reto entendimento que precisamos nos aprofundar. Vamos vê-lo em detalhes...

Quando o Bendito Senhor fala dos seres humanizados que existem, claro, não está falando na sua totalidade, pois a sua conversa é com um buscador de Deus. Ele, portanto, está se referindo a existência de milhares de seres humanizados que se dizem buscadores de Deus. Quando fala deles afirma que apenas um realmente busca a perfeição. Quem são os que apesar de dizerem que estão buscando Deus não o fazem realmente? São aqueles que são católicos, mas que só vão à missa de domingo, aqueles que são espíritas, mas só freqüentam o centro na quarta-feira e não fazem mais nada por sua reforma. Enfim, Krishna está falando daqueles que apesar de se dizerem participantes de uma doutrina religiosa, apenas comparecem aos cultos, mas não praticam nenhum ensinamento dela.

Saiba que entre os que se dizem buscadores de Deus, na verdade só um O está procurando realmente. Os outros comparecem aos templos de sua religião para dar uma satisfação à sociedade ou para conquistar desejos e não para buscar ao Pai realmente. Estes, na verdade, não são movidos pelo anseio de procurar a elevação espiritual, mas freqüentam os cultos de uma religião por medo do que lhes acontecerá depois do desencarne.

Aquele que não busca o reto entendimento, ou seja, que não vive com a mente focada em Deus, freqüenta o culto da religião que professa apenas para ter uma desculpa quando desencarnar: ‘eu freqüentei tal centro’, ‘eu ia a igreja todo domingo me confessava e comungava’... Acha que desta forma pode enganar a espiritualidade e não receber aquilo que plantou. Ele não está preocupado com a questão do aproveitamento desta encarnação para a elevação espiritual, mas apenas buscando um salvo conduto para quando do seu retorna à pátria espiritual.

Apesar dos seres humanizados que agem desta forma ser muitos, existe ainda uma boa quantidade de pessoas que está preocupado com esta questão, mas mesmo entre estes, poucos chegarão. É a questão da frase de Cristo que certamente vocês já ouviram: muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.

Por que isso acontece? Porque mesmo de alguns que buscam poucos conseguem alcançar? Porque para se alcançar a elevação espiritual é preciso um desprendimento muito grande de si mesmo e poucos tem coragem de fazer isso. Para se alcançar o reto entendimento é preciso matar você mesmo, é preciso desprender-se de tudo que até hoje para você foi importante. É por isso que Cristo diz ao moço que sempre cumpriu todos os ditames doutrinários de sua religião: abandone a sua riqueza e venha comigo.

Quando ele fala isso não está se referindo apenas à riqueza material, à posse de objetos, mas também as emoções. Para se alcançar o reto entendimento é preciso libertar-se do que se gosta, do que se quer, do que se acha importante conquistar. Todas estas razões são elementos gerados pela personalidade humana e, portanto, incompatíveis de serem vividas por quem almeja estabelecer-se definitivamente no mundo universal.

É a partir deste aspecto que Krishna afirma a existência de alguns que são movidos pela busca a Deus, mas que dificilmente conseguirão o reto entendimento. Mesmo quem diz amar a Deus tem dificuldades para abandonar estas razões oriundas das paixões, posses e desejos gerados pela mente humana. Dizem amar a Deus, mas não o fazem acima de sua própria satisfação humana. Por isso não estão dispostos a abrir mão das suas vidas, no sentido de realizar-se materialmente, não estão dispostos a abrir mão do pretenso comando da vida.

Estes são os dois primeiros tipos que Krishna cita como aqueles que não conseguirão o reto entendimento: aquele que tenta ganhar um salvo conduto para depois do desencarne ou que se torna religioso como uma satisfação à sociedade e aquele que apesar de realmente tentar, não consegue libertar-se da realização material. No entanto, o Bendito Senhor ainda fala de um terceiro tipo: os perfeitos. Vamos falar deles...

Para podermos compreender quem são os perfeitos que Krishna cita que não conseguirão o reto entendimento precisamos observar o que fala sobre os que deste grupo conseguirão. Sobre estes ele diz: “Me compreenderão perfeitamente”. Isso quer dizer que os perfeitos que não alcançarão o reto entendimento possuem uma compreensão sobre Deus. Portanto, ele está se referindo agora a doutos religiosos...

Krishna está falando dos padres, dos médiuns, dos palestrantes de centros espíritas, dos dirigentes das diversas religiões. Na verdade, está falando dos professores da lei sobre os quais Cristo também falou: aqueles que conhecem, mas não praticam o que sabem.

Os seres humanizados que possuem um conhecimento profundo sobre os ensinamentos dos mestres possuem, também, um determinado entendimento. Este, no entanto, segundo o Bendito Senhor, não os leva a alcançar o reto entendimento. Por que isso? Porque este entendimento se firma no culto ao ego, aos anseios e desejos humanos, à busca da satisfação nesta vida. Não alcançam o reto entendimento também porque na prática do ensinamento do mestre ao invés de cultuarem a Deus, idolatram outros seres humanizados: os mensageiros de Deus.

Os doutos das religiões criam interpretações para os ensinamentos de tal forma que eles sirvam como instrumento do prazer mundano e como instrumento de idolatria aos mestres enviados por Deus. É por conta destas duas bases em que se fundamenta a compreensão dos doutos religiosos que Krishna afirma que eles não alcançarão o reto entendimento.

Se o reto entendimento é a compreensão de que apenas Deus age e quando o faz é por conta da Justiça Perfeita e do Amor Sublime, é preciso se cultuar a Ele para promover a reforma íntima. Se o reto entendimento leva em conta a existência de uma realidade única, a vida universal, é nela que se deve buscar a felicidade. Justamente por causa desta diferença entre o reto entendimento e a forma de proceder dos perfeitos é que apenas um deles conseguirá atingir a elevação espiritual, por mais que conheçam os textos dos ensinamentos.

Desta análise sobre o que Krishna falou tiramos uma grande lição: para chegarmos a Deus e promover a reforma íntima, de nada adianta ser professor da lei. De nada adianta freqüentar cultos, de nada adianta se conhecer o que deve ser feito: se não houver uma centralização mental no Pai, nada leva o ser humanizado a aproveitar a sua encarnação. Nada o fará renascer do espírito e da água a não ser a convivência amorosa com Deus a cada momento, aconteça o que acontecer na vida carnal.

Aquele que não se entrega ao processo de reforma íntima com a consciência de que tudo que lhe acontece é fruto do amor de Deus, ficará num dos três grupos de buscadores que Krishna enumerou. Somente aquele que por força da sua confiança no Pai (fé) entrega-se completamente a Ele e vivencia o Seu amor independente do acontecimento da vida será o escolhido e, como diz a Bíblia, sentar-se-á ao Seu lado direito. Para que essa confiança e entrega seja alcançada é preciso que o ser humanizado abra mão de si mesmo, de suas posses, paixões e desejos, que não tenha mais obrigações nesta vida, e que não queira transformar a sua compreensão sobre os ensinamentos em verdades.

Participante: ouvi uma moça evangélica que na sua corrente doutrinária se prega que a riqueza material, a posse de objetos neste mundo, e o status que se pode adquirir como Inal da benção de Deus. Ou seja, segundo esta corrente, Deus dá tudo para eles porque são bons. A partir daí também pregam que aquele que não consegue nada é porque são muito pecadores e não merecem a ajuda de Deus.

Eis aí um exemplo do porque muitos doutos não conseguem, apesar de conhecerem os ensinamentos.

Os dirigentes desta corrente evangélica certamente já leram na Bíblia que Cristo afirma que não se pode servir dois senhores ao mesmo tempo. Também já leram que ele afirma que se deve amealhar bens no céu e não na Terra. Onde estão presentes estas informações no que eles pregam?

Repare numa coisa. A questão de Deus dá a cada um segundo suas obras está completamente vinculada aos ensinamentos de Cristo, mas o que Ele dá foi desvirtuado por uma compreensão de um ser humanizado que está apegado à idéia de gozar da felicidade neste por mundo. É a questão da interpretação dos ensinamentos que comentamos e que não deixa o ser humanizado que acredita nela alcançar o reto entendimento.

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Versículo 4

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Senhor da yoga - versículo 4

04. A terra, a água, o fogo, o ar, o éter, a mente personificada, o intelecto e o egotismo constituem a minha prakriti em suas oito divisões.

Prakriti é a consciência do espírito encarnado. Ela é formada pela terra (mineral), água (mundo aquático), fogo, ar – que juntos constituem os quatro elementos básicos da Terra – e pelo éter, que é a parte espiritual. Além disso, a mente personificada (o ego, o espírito encarnado) é formada pelo intelecto (os conhecimentos ou a memórias dos acontecimentos humanos) e pelo egoísmo (a vontade de se satisfazer).

Esses são os elementos que compõem a materialidade, ou a humanização do espírito. São elementos materiais e não espirituais. Mesmo o éter que Krishna fala trata-se de uma espiritualidade baseada nos valores do mundo material e não na Realidade universal.

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Versículo 5

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Senhor da yoga - versículo 5

05. Esta é a minha prakriti inferior. Diferente dela, ó tu de braços poderosos, é a minha prakriti superior, vivencia-a porque ela é o ser interno que sustenta este Universo.

Prakriti superior é a consciência espiritual. Aquela que o ser possui quando liberto da consciência inferior.

A prakriti superior ou consciência espiritual é superior à humana.

Participante: a prakriti seria uma influência a consciência ou não?

Sim, ela influencia aquilo do qual você se conscientiza porque é formada pelos elementos que comentamos e estes pertencem apenas ao mundo terrestre. Quem se deixa guiar pela prakriti inferior está apegado ao mundo humano.

Participante: mas a inteligência não é o espírito?

Difícil conversar sobre isso, pois vocês não sabem o que é inteligência. Em O Livro dos Espíritos é dito que o ser é o princípio inteligente do Universo, o que nos leva a confundi-lo com a própria inteligência. No entanto, posteriormente o Espírito da Verdade afirma que a inteligência é uma propriedade que o espírito possui. Isso derruba aquela tese.

Saiba apenas que o espírito vivencia duas prakriti: a inferior e a superior. A primeira é formada por elementos materiais e a segunda por elementos universais. Aquele que alcança o reto entendimento conhece isso e por este motivo não vivencia as consciências que a prakriti inferior cria como reais.

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Versículo 6

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Senhor da yoga - versículo 6
Senhor da yoga - versículo 6

06. Sabe que todos os seres são gerados por essas duas prakriti. Eu sou a origem e também a dissolução do cosmo inteiro.

“Saiba que todos os seres são gerados por essas duas prakriti”, ou seja, todos os seres, humanos ou espirituais, vivem nessas duas prakriti. Eles são formados, gerados, passam a existir por conta das duas prakriti.

Participante: originados?

Originados no sentido de formados. É a existência de uma consciência que dá origem à idéia de se existir.

Participante: ser espiritual ou material? Qualquer um?

Sim, isso, qualquer um.

Agora, repare num detalhe. Claramente Krishna está falando neste trecho da prakriti. No entanto, na última frase ele diz: “Eu sou”... O que isso quer dizer? Que Deus é a própria prakriti, as consciências que geram a existência de uma individualidade...

Nada existe sem que Deus dê a idéia de existir. Nenhum ser, encarnado ou não, possui consciência de sua própria existência se o Pai não lhe conferir esta idéia. Isso é importante de se compreender para se alcançar o reto entendimento.

Um dos grandes entraves para a entrega com confiança à Deus durante os acontecimentos da vida é a questão do amor próprio, dos brios. Em nome destas coisas o ser humanizado imagina que precisa agir para se defender dos ataques do mundo ao seu íntimo. Mas, ataques a quem? A quem é apenas uma consciência gerada por Deus?

O amor a si mesmo como praticado nos moldes dos seres humanizados é algo que cai no vazio quando se entende que a consciência de ser, de existir é irreal: é apenas uma idéia de ser que Deus está criando. Não há nada sendo, mas apenas a idéia de ser alguma coisa. Por conta disso, volto a perguntar? Defender o que? Defender-se do que?

Mas, a informação sobre as prakriti não param por aí. O Bendito Senhor diz mais: ela é a origem de todas as coisas e também a dissolução delas.

Para os seres humanizados tudo que acontece tem uma origem ou um fim, um começa ou um término. No entanto, quando nos deparamos com a informação de que tudo o que existe apenas como uma consciência, como uma idéia de existir, a crença de algo começa ou acaba se transforma apenas numa idéia e não numa realidade.

Ter a consciência de ser, estar ou fazer é diferente do estar praticando ou sendo algo. Você não é gordo ou magro, mas tem a idéia de ser. Isso quer dizer que não é o volume da sua cintura que existe, mas que ele passa a existir porque você tem a consciência de ser gordo. É esta consciência que lhe faz perceber um volume grande na barriga e não ao contrário.

Entendido isso, posso, então, afirmar que nada existe: tudo é apenas uma idéia da existência das coisas. Olhe para sua frente. O que está vendo? Não importa o que seja aquilo não existe. Só passa a existir porque Deus lhe deu a idéia daquilo estar na sua frente agora. Se Ele não desse essa consciência, se não formasse essa prakriti, aquilo não estaria ali.

Este é o grande ensinamento de Krishna neste capítulo do Bhagavad Gita que pode nos ajudar a atingir ao reto conhecimento. Só juntando a idéia de que as coisas não são percebidas, mas formadas por consciências que são enviadas por Deus o ser humanizado pode praticar a reta vivência: Deus é tudo. Sem esta idéia o ser ainda continuará vivendo a existência de múltiplas coisas, entre elas ele mesmo, que se movimentam por moto próprio e em face do seu egoísmo nato, terá que defender seus interesses para ter seus desejos alcançados.

Portanto, se a origem de todas as coisas é a prakriti e não a realidade, a origem da terra, da água, do fogo, do éter, do intelecto e até do próprio egoísmo que você vivencia está em Deus. Ele também é a dissolução de tudo isso. Sendo assim, mantenha-se equânime, firme na relação amorosa com o Pai, quer seja na origem ou na dissolução das coisas que vivencia

Participante: qual é o trabalho da gente?

O trabalho do espírito enquanto recebe a prakriti de Deus é o que foi falado nos outros capítulos: sacrificar sua intenção ao Senhor. Não é não ter intenções, mas tendo-as sacrificá-las a Deus.

As intenções que sua mente gera são parte da prakriti, ou seja, algo gerado por Deus. Por causa disso, nunca deixará de tê-las. Mas, se é Ele que gera e dissolve as coisas, o Pai pode acabar com elas. Quando isso acontecerá? Quando você começar a participar dos acontecimentos desta vida em interligação com Ele, entregando-se a Ele, sacrificando sua intenção por conta desta relação amorosa.

Um grande exemplo disso é a frase de Cristo ao final da Santa Ceia: “Pai, afasta de mim este cálice.” Nesta frase está nítida a presença de uma intenção, mas na continuação dela encontra-se claramente também o sacrifício dela ao Pai: “se não for possível, que seja feita a Sua vontade.” Apesar de possuir a intenção de não viver determinado acontecimento, no caso a crucificação, Cristo sacrificou o seu querer ao Pai e manteve-se em paz e tranqüilo. Com isso harmonizou-se com o momento que viveria.

É esse eu o seu trabalho para alcançar o reto caminhar. É por conta dele que você, ser universal, ao longo das encarnações alcança a elevação espiritual.

Participante: mas, quando acabarão estas provações?

Quando Deus acabar. Quando Ele julgar que realmente você conseguiu libertar-se de suas intencionalidades egoístas, as provações acabarão. Ou seja, quando praticar tudo o que Krishna e outros mestres ensinaram conseguirá encontrar o reto caminho que o aproximará de Deus e neste momento todas as provações se acabam.

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Versículo 7

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Senhor da yoga - versículo 7

07. Ó Dhananjaya... além de Mim, nada existe de mais elevado. E tudo isto existe em Mim, como pérolas enfiadas num barbante.

Pouca coisa tem a se comentar neste trecho que não tenha sido falado antes. Quero apenas abordar a questão do Universo como Krishna o descreveu: tudo existe como pérolas enfiadas num barbante. Bela figura...

 Tudo o que existe no Universo são pérolas enfiadas num mesmo barbante, ou seja, são individualidades que formam uma nova individualidade, que chamamos de colar. Ele, no entanto, só existe quando há o barbante; se não houvesse, as pérolas ficariam espalhadas e não formariam um colar.

Nesta figura criada por Krishna o barbante é Deus. É ele que entrelaça tudo o que existe e faz surgir a realidade que você vivencia. Sem Ele, todas as coisas ficariam dispersas e nada faria sentido.

A partir desta figura, podemos compreender que qualquer lógica que seja alcançada precisa necessariamente conter a idéia de que Deus é que faz as coisas acontecerem. Se ela não estiver presente, não há lógica no que é pensado.

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Versículo 8

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Senhor da yoga - versículo 8

08. Ó filho de Kunti... Eu sou o sabor das águas, o esplendor do sol e da lua; sou a sagrada sílaba OM dos Vedas, sou a música do espaço e sou também o ser consciência do homem.

Deus é tudo. Isso Krishna fala às pessoas que adoram a natureza, a espiritualidade e as músicas. Com isso ele diz: sem colocar Deus atrás de tudo ou sem adorá-Lo através das coisas que gosta, não há como se alcançar a elevação espiritual. É isso que precisamos entender...

Não há o menor problema em achar lindo o pôr do sol, em gostar das informações que se recebe sobre o mundo espiritual ou em ouvir sons: o problema existe quando não se usa estas coisas para alcançar a Deus. Quem ama as coisas apenas por elas mesmo não se aproxima da Causa Primária delas.

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Versículos 9 e 10

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Senhor da yoga - versículo 9
Senhor da yoga - versículo 10

09. Sou a fragrância na terra, a luminosidade no fogo; sou a vida de todos os seres e sou a austeridade nos ascetas.

10. Percebe-Me, ó Partha, como a semente eterna de todos os seres; sou o reto entendimento dos inteligentes, a valentia dos valentes e o poder dos poderosos.

Até aqui Krishna falou que os objetos materiais são Deus, mas Ele não é só isso. É também tudo o que você acredita ser.

Achando-se valente, saiba que a sua valentia é Deus; achando-se triste, saiba que sua tristeza também é Deus. Sendo um sonhador, saiba que isso é Deus. Ou seja, aquilo que acha que é, que imagina que está sentindo é Deus, já que tudo o que acredita sobre si mesmo é apenas uma consciência que o Pai está lhe dando e não uma realidade.

Deus é a semente universal. Se tudo o que passa a existir precisa de uma semente para germinar e crescer, a consciência de existir ou ser algo, também é Deus. Nada acontece que você tenha consciência nesse mundo se a semente daquela idéia não tiver sido plantada por Deus. Pouco importa se estamos falando da sua blusa, do cachorro, da planta, do sol, da casa ou daquilo que pensa sobre si ou sobre os outros, tudo nasceu da semente Deus e por isso é Ele.

É por isso que apenas aqueles que suplantam a tudo, inclusive a si mesmos, e se religam completamente ao Pai, alcançam a felicidade. Qualquer coisa que considere independente de Deus, é uma ilusão, um maya.

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Versículo 11

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Senhor da yoga - versículo 11

11. Ó príncipe da raça Bhârata, Eu sou o a força isenta de desejos e ligaduras. Eu sou também o anelo de todos os seres que não se opõem aos deveres morais e espirituais.

Apesar de ser tudo o que existe, Deus é isento de desejos e não ligado aos anseios humanos. Isso quer dizer que os seus desejos não são uma semente de Deus? Claro que não. Ao dizermos que Ele é tudo, afirmamos também que é inclusive a sua consciência de desejar alguma coisa. Mas, isso não quer dizer que ele deseja o que lhe faz desejar.

O desejo que Deus dá a cada um é a provação que representa os gêneros de prova que cada ser escolhe antes de encarnar. Quando, por exemplo, Ele gera a consciência de desejar o que não se tem, isso não quer dizer que ele comungue deste anseio. O faz apenas para que o ser possa exercer o seu livre arbítrio e optar pelo reto caminho: tudo é Deus e por isso não apego a este desejo.

Além de dar o desejo, Deus também é a força que leva os seres a libertarem-se da busca dos prazeres mundanos. Já falamos sobre isso: Deus dá esta força àqueles que sinceramente O busca

Mas, além destas coisas, o Pai também é a prisão daqueles que não se entregam à universalidade. Não é justo que aqueles que não aproveitam uma oportunidade tenham uma provação maior? Então, é exatamente por isso que quem não segue o reto caminho vai aos poucos tendo a consciência de estar mais apegado às coisas materiais. É como diz o Espírito da Verdade: “Dando ao espírito a liberdade de escolher, Deus lhe dá a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem”.

Sendo Deus, então, o desligamento do mundo mundano ou a prisão a este, volto a repetir o que eu digo sempre: em cada segundo da sua vida há uma pergunta que Deus lhe faz. A cada momento Ele está lhe perguntando se você O amará mais do que tudo, inclusive você mesmo, ou se irá se apegar aos anseios gerados pela personalidade humana. Em cada segundo da sua vida é isso que está acontecendo enquanto você está tendo a consciência de que outras pessoas ou objetos estão agindo de determinada forma.

A partir desta consciência lhe digo mais: se a liberdade e a prisão são dadas por Deus, que culpa ou glória você tem de ter feito ou não o trabalho da busca do reto entendimento? Nenhuma... Portanto, mesmo quando a mente se glorificar de ter conseguido ou quando o crucificar por não ter, não deixe de se desapegar destas idéias para poder realmente conseguir fazer alguma coisa.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 12

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Senhor da yoga - versículo 12

12. E sabe também que os estados sattva, rajas e tamas de Mim provêm; porém, Eu não estou nesses estados, ainda que eles estejam em Mim.

Já falamos destes elementos. Eles são características que a mente implementa quando cria os pensamentos: a característica de praticar uma ação, a de omitir-se e a de ser bondoso. Apesar delas pertencerem à mente e, portanto, à prakriti inferior, elas também provém de Deus, mas Ele não se encontra nestes estados, ou seja, não possui a intenção de agir ou omitir-se nem se utiliza da bondade que vocês conhecem.

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Versículo 13

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Senhor da yoga - versículo 13

13. Por ser enganado por esses estados, compostos pelos três gunas (ou qualidades da prakriti), este mundo não Me percebe, nem sabe que estou além dos gunas e que sou imutável.

Quando você se depara com a presença destas características nos pensamentos que a mente cria, ou seja, a compreensão racional do momento de sua existência, ilude-se.. Se ilude com o que? Com a idéia de que é você que está querendo agir ou omitir-se, que é você que está querendo ser bondoso... Nenhuma destas idéias é nata de você, mas provém de Deus. Por isso acreditar que você está com vontade de fazer ou deixar de fazer é uma ilusão...

É por conta desta convicção que você consegue chegar ao reto caminho, ou seja, que consegue sacrificar suas intencionalidades a Deus. Somente quando o ser compreende que as consciências não são expressões dos desejos individuais, mas sim uma provação dada por Deus ao espírito, é que ele consegue caminhar no reto caminho.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 14

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Senhor da yoga - versículo 14

14. Em verdade, este meu divino maya, composto pelos gunas, é difícil de superar e transcender. Ó Arjuna, só os que se refugiam em Mim é que conseguem transcender maya.

Maya é a ilusão que o ser humano vivencia quando acredita que a consciência que recebe da mente expressa um desejo seu. Essa divina ilusão, pois provém de Deus, é difícil de ser superada.

Sim, é difícil superar a idéia de que existe uma parede naquele lugar. Como superar esta idéia se ela é percebida pelos órgãos sensoriais do corpo? É difícil superar a idéia de que se está fome quando a barriga ronca. Como superar tudo isso? Refugiando-se em Deus...

Aquele que se refugia em Deus constata que existe um ronco na barriga que está sendo percebido como fome, como vontade de alimentar-se, mas ao invés de se agoniar na busca da comida, ele tranquilamente espera a hora de alimentar-se. Dependendo dele a confecção da refeição, levanta-se e placidamente vai fazê-la; não dependendo, aguarda em paz e tranqüilidade que ela seja feita.

Saber que todas as posses, paixões e desejos são fruto de Deus como provação ao espírito e que a única resposta que deve ser dada naquele momento é o refúgio no Senhor, é alcançar o reto entendimento e caminhar pelo reto caminho que leva à elevação espiritual.

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Versículo 15

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Senhor da yoga - versículo 15

15. Desprovidos de discernimento, devido ao poder de maya e arrastados por tendências demoníacas, os enganadores, os perversos e os malfeitores não chegam a Mim.

Para Krishna os seres humanizados são desprovidos de discernimento, ou seja, não possuem a verdadeira compreensão das coisas, devido ao poder de maya, porque estão presos à ilusão criada pela mente como realidade, ao que acham, Eles são arrastados por tendências demoníacas, pela tendência de querer atender ao demônio que existe dentro dele, o ego, por isso tornam-se enganadores, perversos e malfeitores. Estes não chegam a Deus.

Bela imagem ele faz dos seres humanizados, não? Apesar de forte, ela é real: os seres humanizados não chegam a Deus porque preferem aproximar-se da natureza humana que vivenciam durante a encarnação.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 16

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Senhor da yoga - versículo 16
Senhor da yoga - versículo 16

16. Ó Arjuna, quatro classes de homens virtuosos Me adoram: os aflitos, os que buscam a prosperidade do mundo ou do próximo, os que buscam o entendimento e os sábios de verdade.

Novamente não podemos dizer que Krishna está falando com todos os seres humanizados. Como ele está falando com Arjuna sobre a elevação espiritual, temos que entender que as quatro classes que ele cita neste trecho se referem somente à buscadores de Deus. Entre os que estão buscando a elevação espiritual existem estas quatro classes que cita Krishna: aqueles que apesar de estarem buscando a Deus ainda estão aflitos, ainda buscam a prosperidade, os que buscam o entendimento e aqueles que realmente buscam a Deus desmotivadamente. Vamos conversar sobre eles...

Para começar, pergunto: o que é preciso para se alcançar Deus? Desligar-se do ego...

Cristo ensinou que ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Desta forma, para poder estar com Deus é preciso se desligar do senhor humano: a mente geradora de falsas realidades. Este é o trabalho que deve ser feito por aquele que quer alcançar Deus. No entanto, como já vimos anteriormente, muitos apenas dizem que estão buscando alcançar o Pai, mas não se desligam do ego. Este trabalho leva o ser a viver algumas características que estão relacionadas nas classes de seres humanizados que Krishna fala neste texto.

Os aflitos são aqueles que estão desesperados, aqueles que mesmo dizendo que buscam a Deus ainda se afligem com os problemas gerados pela mente. São aqueles que acreditam que são reais as situações problemáticas desta vida. Como eles não conseguem resolver estes problemas e, por isso, não vivem a felicidade pura e eterna que o Pai tem prometido, vivem em aflição.

Estes, na verdade, estão vivendo apenas para si mesmos, para aquilo que a mente humana produz. Eles só procuram a Deus no discurso e não no coração. Eles só se lembram de Deus quando isso satisfaz as suas necessidades humanas. O Pai para eles não é um porto seguro, pois se fosse não viveriam em aflição. Não procuram Deus por amor, através da busca de uma convivência amorosa, mas apenas para que Ele o liberte do sofrimento resolvendo seus problemas. Quando isso acontece, estes nem se lembram mais de Deus.

Existem ainda os que buscam a Deus não para conviver com Ele, mas para conseguir ganhar alguma coisa neste ou em outro mundo. A diferença desta classe para a que vimos anteriormente é que aqueles querem resolver problemas, estes querem ganhar alguma coisa.

Os elementos desta classe são os buscadores que vivem fazendo promessas que retribuirão quando ganharem alguma coisa, aqueles que praticam as obrigações das religiões com a intenção de conseguir ganhar pontos no céu. Enfim, são aqueles que não estão realmente interessados em conviver com Deus, mas usá-Lo para atingir os desejos mundanos que a mente cria. Eles ainda servem ao ego e não a Deus. O Senhor para estes não é um Pai que possa acarinhá-los, mas um intermediário super poderoso que pode realizar seus anseios.

O terceiro grupo são aqueles que buscam a Deus através da ciência, através do entendimento. Eles querem que Deus se prove para eles.

Nós já conversamos sobre esse grupo aqui há algum tempo. Os elementos que pertencem a ele são como o apóstolo Tomé: precisam ver para crer. São aqueles que precisam encontrar respaldo na sua cultura para poder acreditar. Precisam que o Universo espiritual comprove a sua existência para poder passar a acreditar nele.

Dizem que Cristo vai voltar à carne. Isto é afirmado pelos elementos deste grupo, por aqueles que precisam de comprovação material para crer. Eles esperam a volta do mestre para poder acreditar no caminho que ele ensinou. Para que Cristo voltaria aqui? Para ensinar alguma coisa? Mas, ele já ensinou tudo o que tinha para ensinar. Leia a Bíblia, está tudo lá...

Na verdade os elementos desta classe citada por Krishna não estão procurando Cristo dentro de si, mas externamente. Isso porque eles só acreditam naquilo que seus órgãos do sentido ou seu mundo mental possa captar. O trabalho da reforma íntima precisa sempre da existência da fé, da entrega com confiança a alguma coisa. Por isso esperam que Cristo volte, comprove que é ele mesmo e diga a eles pessoalmente o que têm que fazer.

Se você só se entrega com confiança depois de ter feito um julgamento racional, está confiando em quem: no objeto externo que é alvo da sua fé ou no seu ego? Por confiar apenas na sua personalidade humana é que os elementos deste grupo também dizem que buscam a Deus, mas servem apenas à humanidade que estão vivendo durante a encarnação.

Participante: a gente sempre acha que se acontecer um milagre é mais fácil acreditar.

É claro; é mais fácil presenciar um milagre para crer do que realizar um trabalho de reforma íntima. Aliás, Cristo fala isso na Bíblia. Ele diz que os judeus da época viviam pedindo milagres para poderem acreditar. Hoje, dois mil anos depois, os seres humanizados continuam iguais...

Saiba de uma coisa: não existe milagre que possa lhe salvar de algo. Tudo o que lhe acontece é um carma, é o resultado de uma vivência anterior que você teve. Portanto, se quer mudar alguma coisa amanhã, precisa se mudar hoje.

Este é o terceiro grupo citado por Krishna: aqueles que estão preocupados em compreender ensinamentos para que possam avaliar a realidade das coisas. A classe daqueles que estão preocupados em conhecer cientificamente o mundo espiritual, conhecer Deus cientificamente. Mas, há mais um grupo citado por Krishna: o dos sábios. Vamos vê-lo...

Os seres humanizados que estão na quarta classe que o Bendito senhor afirma existir são aqueles que verdadeiramente procuram Deus. Quem são eles? Pela simples constatação dos elementos que pertencem aos outros grupos temos a resposta: aqueles que não se afligem com as coisas deste mundo, que vivem sem buscar ganhar neste ou em outro mundo e aqueles que crêem independente do que conhecem. Quem consegue vivenciar isso, apesar da mente produzir pensamentos que gerem realidades humanas, são os que verdadeiramente estão buscando a Deus, pois estão trabalhando para libertarem-se do ego.

Esses são, portanto, os quatro grupos de buscadores de Deus que existem dentro da humanidade. Todos os seres humanizados que, através de uma doutrina religiosa qualquer, se dizem buscadores de Deus estão incluídos neles. Pena é que setenta por cento dos buscadores ainda se afligem, vinte por cento quer ganhar, nove por cento precisa ver para crer e apenas um por cento realmente luta para se libertar da sua humanidade...

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 17

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Senhor da yoga - versículo 17

17. Dentre esses, o sábio é o mais excelente e se sobressai, pois sua devoção se centraliza no um (ou em Mim). Sábio de verdade é aquele que constantemente se consagra ao um. Esse sábio Me ama profundamente e Eu o amo também.

É o que já falamos anteriormente: a verdadeira devoção é aquela que se centraliza na unidade com Deus, com a Unidade. Todos os que não estão centralizados nisso estão devotados ao ego, a si mesmos, a sua satisfação. Para quem não está centralizado na Unidade com Deus pouco importa o que está acontecendo, exigem que o acontecimento ocorra de acordo com suas posses, paixões e desejos. Por isso exigem que os demais seres atuem como eles querem. Já o sábio, por buscar a Unidade comunga com o que os outros querem ao invés de impor suas verdades. Por conta disso, não tem contrariedades e, por conseguinte, não sofre.

Quem vive buscando a Unidade com o Todo ama a Deus e se sente amado por Ele. Ao afirmar isso Krishna não está querendo dizer que Deus não ame os outros seres humanizados. Ele ama a todos igualmente, mas pelo fato dos outros não se sentirem amados pelo Pai, acham que Deus não lhes ama.

É por isso que vocês quando sentem aflições ou não conseguem ganhar o que querem colocam a culpa em Deus: ‘porque o Senhor foi deixar isso acontecer’, ‘Deus se esqueceu de mim’, etc. Na verdade, Ele é realmente culpado por você viver estas situações, pois foi Ele que as criou, mas quando agiu assim, demonstrou o Seu amor por vocês e não lhes aplicou uma penalidade.

Amor pode gerar aflição? A gente gera aflição, então a gente não se sente amado por Deus. É isso que eu acabei de dizer. A situação aflitiva foi criada...

Participante: toda situação que vivemos é merecida. É isso que o senhor está dizendo?

Sim, só que ela não é aplicada como pena, mas como fruto do Amor de Deus por seus filhos. Quando Ele lhes dá este tipo de situação é para que tenham uma nova oportunidade de buscar a Unidade ao invés de viverem para si mesmos e com isso alcançarem a elevação espiritual. É um ato de um Pai educando seu filho amorosamente e não punitivamente.

Este tipo de pensamento vale para todas as situações deste mundo, espelhem elas uma contrariedade ou uma carência. Toda carência e contrariedade que você tem é Deus lhe amando, mas não sente amor, não se sente amado naquele momento, porque acredita nas posses, paixões e desejos que o ego cria. Se não mais vivesse apegado à estas formações mentais, sentir-se-ia amado pelo Pai e com isso seria pleno, estaria repleto do amor de Deus.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 18

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Senhor da yoga - versículo 18

18. Nobres todos eles são; porém, considero ao sábio como Meu próprio ser, porque ele Me elegeu como a sua única meta e, com mente firme, refugiou-se em Mim.

“Nobres todos são’” ou seja, todos aqueles que estiverem buscando a Deus receberão recompensas. O entanto, aqueles que elegem Deus como meta de vida receberão muito mais. Não porque o Pai prefira esses, mas porque eles geraram o merecimento maior do que os outros.

Eis aí, portanto, o segredo para quem quer buscar a elevação espiritual: transformar a Unidade com todos como meta da vida. Por isso pergunto: você que se diz buscador de Deus o que elegeu como meta da sua vida? Ser doutor, comprar carro, comprar casa, ganhar muito dinheiro? Onde está Deus nisso, onde se encontra a busca do amor ao próximo como a si mesmo nestes seus objetivos de vida?

De nada adianta para aquele que quer encontrar Deus, que quer viver uma relação amorosa com o Pai ir a missa todo domingo ou ao centro toda semana: enquanto ele não entrar em Unidade com o Todo, nada alcançará. Quem age desse jeito é nobre, vai receber algo por isso, mas o que receberá ainda não é o suficiente para retirá-lo da roda das encarnações. Somente aquele que, praticando estas ações ou não, elege Deus como sentido da vida, se banhará no amor divino e neste momento estará livre do mundo de provas e expiações.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 19

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Senhor da yoga - versículo 19

19. Após muitos nascimentos, o homem de sabedoria encontra refúgio em Mim ao dar-se conta de que tudo isto está compenetrado por um só ser. Porém, a alma tão grande é muito difícil de se encontrar.

No livro O Sábio ou Eclesiastes da Bíblia há uma pergunta que gostaria que vocês me respondessem: será que alguém pode fazer alguma coisa nova que ninguém tenha feito ainda?

Participante: o que seria essa coisa, uma coisa material ou uma coisa sentimental?

Fazer algo, realizar alguma coisa. Será que vocês conseguem fazer algo que ninguém nunca tenha feito antes? Por exemplo, será que ninguém teve filho antes? A resposta a esta pergunta é muito importante, porque vocês colocam a expectativa em ser feliz dependente de diversos acontecimentos. Mas, se você não foi o único a ter filhos, será que todos que tiveram antes foram felizes por causa disso?

A resposta à pergunta de Salomão é coerente para que vocês entendam que não há nada de novo neste planeta. Tudo o que você vivencia já aconteceu um dia com alguém. Portanto, antes de submeter toda a sua expectativa de ser feliz a um acontecimento, investigue quem já passou por aquela situação e veja se por conta dela todos conseguiram a felicidade. Se nem todos conseguiram, isso quer dizer que vocês podem também não alcançá-la se conseguirem vivenciar a situação que desejam. Não podendo contar que o acontecimento esperado vá levá-los à felicidade e se realmente a querem como afirmam, o que devem fazer? Depositar suas expectativas em outra coisa. Krishna oferece uma opção: refugiar-se em Deus...

Neste trecho Krishna ao falar dos múltiplos nascimentos nos leva a pensar exatamente sobre isso. Quantas vezes já depositamos a esperança de sermos felizes quando alcançarmos algo que desejamos e quantas vezes nos frustramos com o resultado? Por que, então, não experimentar entregar-se a Deus para ver se dá certo?

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 20

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Senhor da yoga - versículo 20
Senhor da yoga - versículo 20
Senhor da yoga - versículo 20

20. Outros há que, carecendo de discernimento, devido aos mais diversos desejos e praticando cultos diferentes, adoram aos devas (ou aos seres celestiais), impelidos por sua própria natureza.

O que são os devas? São seres espirituais desencarnados ligados ao orbe terrestre. São seres humanizados que não estão encarnados numa massa corporal. Mas, também pode ser a figura que os seres humanizados fazem dos seres além do mundo humano. É a compreensão humana que gera um Cristo, um Buda, um Krishna, santos, anjos, mentores e protetores. Neste segundo caso, não estou falando de espíritos, mas da imagem que a humanidade faz de determinados espíritos e que rotula com estes nomes.

O que é chamado por vocês de Cristo é um espírito superior que vive liberto da influência da materialidade. Ele vive para, com e em Deus. Ele não se preocupa com os anseios dos seres humanizados que são fundamentados em posses, paixões e desejos mundanos. Ele se preocupa com a existência eterna do espírito e com tudo que for pertinente a ela. No entanto, não é desta forma que os homens entendem Cristo. Imaginam que ele se preocupa com as necessidades materiais dos seres, que se ocupam em providenciar que estes consigam aquilo que desejam. O primeiro é o espírito, o segundo é um deva.

Esta mesma forma de pensar é válida para todos os demais espíritos que são cultuados pelos seres humanizados. Eles existem em espírito e vivem para a espiritualidade, mas também existem no mundo humano como devas, como seres preocupados com a felicidade impura e fugaz que é o prazer que o ser humanizado sente quando seus desejos são realizados.

Àqueles que acreditam e cultuam os devas Krishna chama de seres sem discernimento. O que é de discernimento? É não compreender perfeitamente. Não compreender o quê? Não compreender como eles vivem, não compreender como eles pensam, não compreender qual é a preocupação deles. Aqueles que cultuam espíritos acreditando que eles se ocupam em auxiliar os seres humanizados a conseguirem alcançar seus desejos frutos de suas paixões e posses são carentes de discernimento, porque ainda acham que estas coisas têm alguma importância para quem está livre do anelo à mente.

É isso que Krishna está nos ensinando. Cultuar Cristo colocando-o na posição de servidor de suas vontades humanas é um sinal de ignorância, de carência de discernimento sobre o que é real e o que é ilusório.

Participante: na verdade, nós sempre pensamos que se Deus usa Jesus como instrumento, nós podíamos usá-lo instrumento pra chegar a Deus. Um intermediário.

Na verdade, se você pensava isso, maravilhoso. Mas, não é o que a grande maioria pensa. A grande maioria só quer saber de Cristo para conquistar coisas humanas e não para ajudá-los a chegar a Deus.

Participante: mas tem muita oração que fala que deve se pedir ao santo que seja um intermediário. Pedir que ele leve o pedido a Deus.

Isso está certo, mas veja: de nada adianta fazer esta oração com o coração voltado para o santo. De nada adianta se pedir a Santa Rita que ela seja intermediária junto a Deus para que Ele cuide de sua visão. Estando frente à imagem dela ou orando em sua intenção, seu coração deve estar ligado em Deus e não no santo.

O problema é que vocês quando oram estão conectados com o santo e não com Deus. Por isso seus pedidos são dirigidos diretamente a eles, como se eles fossem capazes de alterar a provação de um espírito encarnado. Vocês acham que rezar para Santo Antônio, por exemplo, pode mudar o destino de um ser humanizado e ele acabar encontrando um marido ou esposa. Acham que porque rezam para São Jorge estarão protegidos, porque pedem a São Pedro vão conseguir adquirir a casa própria. No momento que estão fazendo estas orações nem se lembram de Deus. Acham que estes conseguem realizar estes milagres por livre e espontânea vontade.

Participante: mas, veja bem, foi o próprio Deus que nos induziu a este erro, Isso porque muitas pessoas pedem aos santos e recebem. Por isso achamos que é o santo que faz.

Na verdade, sua lógica é falha. Isso porque Deus não pode ter induzido vocês ao erro porque não foi ele que criou os devas, ou seja, não foi ele que criou figuras mitológicas que estão ao serviço da humanidade que vivem. Isso é coisa do ego. Mas, mesmo que Ele tivesse criado, como já vimos, tudo o que Ele cria no mundo material serve como provação ao espírito, como uma pergunta onde o Pai questiona se o ser encarnado vai amá-Lo acima de todas as coisas ou ainda se submeterá às verdades do ego. Portanto, ao dar algo para alguém que pediu a um santo, Ele estava perguntando: ‘e agora, você vai acreditar que foi Santo Antônio que lhe arrumou marido ou Eu’?

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículos 21 a 23

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Senhor da yoga - versículos 21 a 23

21 e 22. Qualquer que seja a forma do deva ou santo que o devoto quer adorar com fé, Eu torno constante essa fé. Dotado com uma fé assim, o devoto adora o seu deva preferido, que lhe outorga dons. Porém, em realidade, sou Eu quem lhos dá.

23. Porém, os frutos adquiridos por esses homens de escassa compreensão são limitados e logo perecem. Os que adoram aos devas vão aos devas, porém os Meus devotos vêm a Mim.

Aí está a resposta a sua pergunta: tudo que é recebido a partir da adoração a um deva é limitado e logo perece.

Como você disse, algumas pessoas pedem aos santos e conseguem obter, mas o que conseguem receber é limitado, vale apenas para este mundo, e logo perece. Nenhum deva pode lhe dar algo que seja eterno e infinito. Isso só Deus pode...

Aqueles que cultuam estas figuras mitológicas criadas pela mente humana, quando saem da carne juntam-se aos outros espíritos humanizados sem carne naquilo que chamamos de mundo dos devas. Aliás, já vimos isso aqui. Já dissemos que no Universo os seres se juntam a partir de afinidades. Portanto, aqueles que cultuam aos devas presos à humanidade que estão vivendo, quando saem da carne se juntam a outros seres que vivem da mesma forma.

Participante: quer dizer que não podemos pedir nada?

Pedir o quê? O que você tem que pedir pra Deus?

Participante: por exemplo, o que o senhor ensinou: Pai me faça instrumento da Sua vontade.

Eu nunca disse para você pedir a Deus para que Ele o faça como instrumento de Sua vontade. Eu disse que você deve se colocar à disposição do Senhor para ser instrumento Dele. Não é pedir, mas oferecer-se.

O que você acha que precisa pedir a alguém que é seu Pai e por isso está preocupado com sua felicidade; a alguém que é Onipresente e Onisciente e que por isso sabe tudo o que você vive e precisa; a alguém que é Todo Poderoso e que por isso vence qualquer batalha; a alguém que é a própria Justiça e que por isso sempre dá a cada um segundo as suas obras? Acho que nada, não é mesmo. Quem possui todos estes atributos sabe melhor do que você mesmo o que precisa, como ensinou Cristo ao mostrar a oração do Pai Nosso.

Quem acha que precisa pedir alguma coisa está passando um atestado de incapacidade a Deus. Está menosprezando o Senhor.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 24

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Senhor da yoga - versículo 24

24. O ignorante, visto nunca perceber o Meu Eterno Estado Imutável e Supremo, considera-Me como um ser imanifesto que se manifesta.

Na Bíblia existem relatos de diversos seres humanos que falaram com Deus. Ainda hoje muitos afirmam que se comunicam com o Senhor. Este falar nos relatos, tanto os antigos como os atuais, é descrito que acontece através de sons. Ou seja, como se Deus usasse de palavras para se comunicar com alguns seres humanizados. Isso é possível? Não...

Somente o ignorante, ou seja, aquele que ignora a Realidade do Universo pode acreditar que Deus é a imagem e semelhança do ser humano. Não é isso que está na Bíblia. Lá é dito que nós, os espíritos, somos a imagem e semelhança Dele e não o contrário. Portanto, conferir a Deus o que é humano (corpo, ações, podres, etc.) é sinal de ignorância.

Deus não é um ser humano. O que Ele é? Não sei, mas posso lhe garantir que não é um ser humano. Não sendo, isso quer dizer que não tem boca. Como pode, então, falar? Somente os que ignoram a Realidade podem dizer que o Senhor se manifesta de uma forma humana.

Esta ignorância nasce, principalmente, na classe de buscadores de Deus que vimos anteriormente: aqueles que buscam a Deus através da ciência. Eles precisam gerar uma forma para o Senhor para poder estar em contato com Ele. Por desconhecerem outras formas, aplicam ao Pai a do ser humano.

Aquele que não é ignorante e que busca a Deus através da entrega a Ele, não precisa de formas para se entregar. Entrega-se ao nada, ao vazio. Este está chegando perto de Deus, mas aquele que ainda precisa de uma imagem para entregar-se é como São Tomé: tem que ver para crer.

Em face disso, podemos dizer, então, que o reto caminho que estamos estudando (o libertar-se do ego) precisa ser realizado sem uma pretensão de saber o que acontecerá quando não mais se for preso à personalidade humana. Muitos me perguntam como ficará suas vidas se conseguirem realizar seu trabalho de reforma íntima. Querem saber se ainda continuarão vivos, se permanecerão casados, se terão um trabalho para garantir seu sustento, se continuarão a comer e beber. O máximo que posso responder para estes é que acontecerá o que Deus quiser.

Quem procura executar o trabalho do libertar-se das verdades criadas pelo ego não se preocupa com o que vai acontecer depois. Ele dá um salto no escuro sem saber onde vai parar.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 25

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Senhor da yoga - versículo 25

25. E, posto que os véus da yogamaya Me encobrem e o especulador só conscientiza aparências sobrepostos, nem todos Me percebem adequadamente. Este mundo enganador não sabe que jamais nasci e que sou Imutável.

Toda descrição de Deus que um ser humanizado consiga ter é uma geração mental do ego. Ela não é real, mas uma ficção criada pela mente. Um maya...

Justamente por se apegar a esta ilusão é que este ser não consegue saltar no vazio. Ele usa a descrição criada pela mente como chão para se apoiar. Este não chega a Deus porque ainda está preso a uma verdade criada pela personalidade humana.

Isso é o que Krishna fala neste trecho, mas ele diz mais: “Esse mundo enganador não sabe que jamais nasci e Sou imutável”. Belo termo o Sublime Senhor utiliza para descrever o mundo dos encarnados: mundo enganador. O mundo humano engana a quem e como? Engana ao espírito dizendo que ele é um ser humano.

Participante: esse nosso estudo vai completa e diretamente contra tudo o que conhecemos até agora. Será uma luta ferrenha fazer as pessoas entenderem.

Não, não será uma luta ferrenha...

Participante: como não? Dizer que não se pode ter prazer, que não se pode desejar nem sonhar em conseguir algo, será muito difícil. Isso porque o que se vê hoje na humanidade são instrumentos reforçando que se deve ter prazer, deve sonhar conseguir o que quer, ter esperanças...

Na verdade, ninguém vai conseguir entender o que nós estamos ensinando nunca...

Você diz que terá que lutar para ensinar isso para as pessoas e que elas dificilmente compreenderão a necessidade de abrir mão de suas posses, paixões e desejos, mas está esquecendo um pequeno detalhe: Deus é Causa Primária de todas as coisas. Sendo assim, nem nós lutamos para ensinar nada, nem os outros têm dificuldades de entender: o que o Pai fizer acontecerá...

Mais um detalhe no que você disse: quem falou que o que hoje existe no planeta é errado? Sendo Deus que faz tudo, o incitar o ser humanizado a sonhar e buscar a realização de seus sonhos é feito por Ele. Sendo assim, quem conseguirá mudar isso? Lembre-se de que tudo sempre está perfeito do jeito que está. Tudo isso você se esqueceu na hora que formulou sua pergunta e por isso ela virou uma falácia.

Mas, tem algo na sua questão que realmente não é falso: o que ensinamos é contrário à forma como vivem os seres humanizados atualmente. É contrário aos objetivos atuais da humanidade. Mas veja, isso não é novidade...

Quando Cristo veio – sem querer nem de longe comparar nosso trabalho com o dos mestres – ele ficou de acordo com a forma como a humanidade vivia então? Quando o Espírito da Verdade ditou os ensinamentos do Pentateuco Espírita ele subordinou-se às crenças dos seres humanizados daquela época? Krishna, Buda ou qualquer emissário de Deus apoiou as pretensões humanas ou falou contrariamente aos hábitos e costumes do povo que viveu?

Já ouvimos aqui de Krishna que quando a verdadeira religião, ou seja, a forma de vida humana que serve de religação com Deus, se perde, o Pai sempre toma corpo. É por conta da nossa devoção ao Pai, de nosso respeito ao trabalho dos mestres e por conta do nosso caráter espiritualista que precisamos ser contrário aos anseios humanos de hoje.

Na verdade o que me intrigou realmente na sua pergunta não foram as palavras que nela estavam contidas, mas sim a sua estupefação face ao que dissemos, face à nossa não subordinação aos padrões humanos de vida. Falo isso porque há um ano e meio atrás lançamos a ‘Carta à Humanidade’. Nesse documento declaramos expressamente que o ser humano é o inimigo que precisa ser abatido Nos comprometemos a olvidar todos os esforços para acabar com a humanidade que o ser vivencia durante a encarnação e a arma que usamos para isso são estes estudos. Sendo assim, você se admirar com o que estamos falando me surpreendeu...

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 26

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Senhor da yoga - versículo 26

26. Ó Arjuna, Eu percebo o passado, o presente e o futuro de todos os seres, porém ninguém pode Me conhecer a Mim.

Deus percebe, tem consciência, tem ciência do presente, do passado e do futuro de todos os seres. Não há nada que você possa fazer que Deus não saiba e de antemão. Nem o mais rápido pensamento pode ser ocultado do Senhor e Ele o conhece antes mesmo que chegue a você.

Não vou comentar agora, mas este conhecimento do Pai sobre o futuro vai muito além desta encarnação também... Tudo o que você acha que pode ou vai fazer nesta e em outras encarnações já é conhecido de Deus hoje...

Como disse não vou entrar em detalhes com relação ao que acabei de afirmar, mas deste ensinamento quero tirar mais uma lição para nós. Se Deus sabe tudo o que corre no seu íntimo, é justo dizer que ele conhece as intenções geradas pelo ego e que você as vivencia como sua. Ou seja, Ele sabe o que lhe motiva realmente quando participa de um acontecimento.

Estou levantando este aspecto porque muitas vezes nos iludimos com relação às nossas intenções. Quem acha que é preciso se dar a quem necessita para fazer a elevação espiritual, por exemplo, imagina que tem a intenção de ajudar os outros, quando isso não é real. Sua intenção neste momento é ganhar a ascensão espiritual e não ajudar alguém. Deus sabe disso e será isso que Ele usará para lhe dar o carma.

Portanto, não adianta dizer que você não merece passar por determinadas coisas, pois tudo o que você recebe é um reflexo da sua real intenção que muitas vezes nem você conhece, mas o Pai sabe.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 27

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Senhor da yoga - versículo 27

27. Ó Bhârata, terror dos seus inimigos... todos os seres ao nascer e crescer ficam presos pela ilusão dos pares de opostos e que surgem do desejo e da aversão.

Vamos entender isso: Todos os seres, ao nascer, ficam presos pelos pares opostos.

Participante: presos, no caso, ficam ligados àquela consciência?

Aprisionados. Para todos aqueles que nascem é preciso que exista um bem e mal, um certo e errado, um bonito e feio, um limpo e sujo, um arrumado e desarrumado...

Participante: mas, isso a gente aprende, com os pais, com a sociedade, ou já vem na consciência?

Isso você aprende com os pais, desenvolve com eles, mas também já vem na memória.

Participante: quem for criado no meio do mato não vai ter esses conceitos, não é?

Não os terá... É por isso que o índio é considerado mais puro. Por isso mesmo pedi a uma pessoa que não deixasse mais chamar os índios de bárbaros. Bárbaro é quem os chama assim... Atrasados? Atrasado é quem tem ciência. O índio não é atrasado, ele vive naturalmente...

Participante: nós, os instruídos, ficamos preocupados se o a possui crase ou não, se determinada palavra se escreve com s ou com z... E ainda dizemos que buscamos a vida natural...

Isso mesmo... Vocês dizem que querem contato com a natureza, mas não conseguem se desvencilhar do mundo antinatural que vivem.

Participante: o índio anda pelado... Ele não sente frio.

Ele não tem vergonha, não tem pudor como vocês, porque não vive o dualismo do certo e errado como vocês.

Os seres ditos como evoluídos, os perfeitamente integrados à sociedade, se prende a esses pares. Como eles são ilusões, já que Deus é a única coisa que existe, vive iludido pensando que certo e por causa deles deixa de amar o próximo como a si mesmo...

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 28

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Senhor da yoga - versículo 28

28. Porém, aqueles homens de atos meritórios, cujos pecados se extinguiram e que estão livres dos pares de opostos, esses me adoram com firme resolução.

É voz comum dentre as religiões e doutrinas que para se chegar a Deus é preciso praticar atos meritórios. Só que Krishna ao detalhar a essência do ser elevado afirma: ele está livre dos pares de opostos Isso quer dizer que os atos que geram merecimentos positivos no sentido da elevação espiritual devem estar livres dos conceitos de bom e mal, de certo e do errado. Isso para vocês que estão humanizados é impossível de se compreender.

Para vocês só gera merecimento positivo o ato que for considerado como bom e certo. Mas, isso não é real. O que gera o merecimento, segundo Cristo é a intencionalidade de cada um e não os critérios humanos que avaliam as ações. Sendo a intencionalidade universalista (servir e amar o próximo) qualquer ato é gerador de um merecimento positivo; sendo ela egoísta, o merecimento será negativo.

Portanto, para se gerar um merecimento positivo é preciso estar livre dos pares de opostos. Sem esta liberdade não se alcança a apatia, a neutralidade necessária para se gerar um merecimento. Sendo assim, o que você precisa praticar atos com uma intencionalidade neutra e não boa ou má

Somente aqueles que libertos dos pares de opostos conseguem viver uma intencionalidade neutra conseguem adorar realmente ao Senhor. Enquanto para estes houver um bem ou mal, ele adora a si mesmo, à sua personalidade humana. Para estes, a causa primária das coisas é o ego.

Participante: interessante que quando a se está em casa, sozinha, é fácil você não fazer distinção entre o bem e mal, certo e errado, limpo e sujo. Aos poucos você vai se acostumando e vai convivendo. Agora, quando se trata do relacionamento ser humano para ser humano, isso se torna difícil.

Realmente é difícil, muito difícil. Por quê? De nada adianta apenas constatarmos nossa dificuldade, mas entender o porquê isso acontece. Por que é tão difícil se relacionar com os outros sem intencionalidade? Porque a relação entre duas pessoas, mesmo aqueles que afirmam se amar são duelos, disputas para ver quem domina o outro.

Sempre que dois humanos estão frente a frente a mente está querendo obter o outro para gerar uma vitória e com isso a sensação do prazer. Como vocês adoram esta sensação, cedem facilmente ao ego e vivem o que ele.

Sim, é difícil lidar com o outro em neutralidade porque você vive o desejo de ganhar gerado pelo ego como sendo sua vontade. Quando está sozinho sabe que não tem concorrente por perto, por isso não tem medo de perder. Neste momento relaxa e até aceita que outras pessoas tenham o direito de decidir como querem fazer as coisas. Mas, se aquela pessoa estiver por perto, é preciso brigar com ela para provar que você está certo e com isso viver o prazer oriundo da vitória sobre ela.

Agora, com isso estou dizendo que está errado ao querer ganhar? Não, já que não existem os pares de opostos, você não pode estar errado. Esta é apenas a forma humana de viver. Ela não é certa nem errada, mas apenas não conduz a Deus.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 29

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Senhor da yoga - versículo 29
Senhor da yoga - versículo 29

29. Aqueles que lutam para libertar-se da velhice e da morte se refugiam em Mim; eles conhecem a Brahman, compreendem tudo o que diz respeito ao ser individual e ao domínio do karma.

Repare atentamente nesse ensinamento. “Aqueles que lutam para libertar-se da velhice e da morte se refugiam em Mim.” Isso é verdade na humanidade de hoje?

Participante: não, claro que não.

A quem vocês se ligam para não parecerem velhos? À academia, à plástica, aos cremes, aos perfumes... Vocês se ligam a elementos deste mundo esperando com isso espantar a velhice, mas nada conseguem. Apenas ficam parecendo bonecos de cera...

Para podermos mudar esta forma de viver precisamos compreender que a velhice não está no corpo, mas é uma sensação com a qual se vivencia a aparência que se tem. Quando o ser humanizado se refugia em Deus esta sensação estanca e com isso acaba a velhice. As rugas continuarão a existir, mas elas não serão mais provas de decrepitude, mas sim de experiência.

Participante: passei cinqüenta e tantos anos aprendendo que tenho que ser bonita, que tenho que ser sensual, que tenho que chamar a atenção dos homens, que as pessoas têm que me elogiar.

Para que lhe ensinaram estas coisas?

Participante: sempre me ensinaram que tenho que bonita para os outros.

Sim, todo padrão de beleza imposto pela humanidade tem uma finalidade: impressionar os demais seres humanizados. Com isso você ganha o quê? Isso. O reconhecimento, o elogio... Ou seja, é coisa de ego, de personalidades humanas...

Sendo assim, repare numa coisa: não é você que quer, mas aquele que lhe domina é que deseja isso. Não se deixe levar por este desejo que não é seu... Ter ciência de que os desejos que a personalidade humana cria não são seus é importante, porque senão se submete a eles esperando encontrar algo satisfatório, mas nada do que alcança lhe nutre realmente. Quem vive para satisfazer o desejo de outros jamais encontra a plenitude...

A busca de encontrar o fim da velhice através de elementos materiais é realizada por diversos seres humanizados, inclusive por muitos que se dizem buscadores de Deus. Para estes o Sublime Senhor diz: “Eles conhecem a Brahman. Compreendem tudo o que diz respeito ao ser individual e ao domínio do carma”...

Aqueles que buscam a Deus têm conhecimento pleno da realidade desta vida, ou seja, sabem que ela nada mais é do uma etapa da vida espiritual, onde o ser se humaniza por determinados tempos para poder vencer a própria humanidade. Por isso, o engano é maior...

É até compreensível que quem não busca a Deus através do espiritualismo, ou seja, da crença da existência de algo além da matéria e que sobrevive a ela, busque libertar-se da sensação de velhice por estes meios, mas aquele que sabe tudo isso, para poder não se tornar um hipócrita, não poderia fazê-lo.

Senhor da Yoga - Cap. 7 - Caminho do reto conhecimento

Versículo 30

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Senhor da yoga - versículo 30
Senhor da yoga - versículo 30

30. Aqueles que Me percebem, ao mesmo tempo em que percebem tudo aquilo que se relaciona com os seres, com os devas e com os cultos, esses fixam a sua mente em Mim e inclusive mantêm esse conhecimento no momento do desenlace final.

Aqueles que percebem Deus, que vivem para Ele, percebem tudo o que falamos aqui: sabem que o único caminho reto é o da entrega ao Pai e que de nada adianta se apelar para os devas para conseguir a satisfação Estes, apesar de continuar recebendo percepções do ego, vivem a Realidade ao invés do maya...

Respondam-me: esta parede é uma estrutura sólida? Para vocês sim. Vocês convivem com essa estrutura como se ela fosse eternamente sólida. No entanto, ela pode ruir de uma hora para outra. Convivem como o seu carro como se o estado atual dele jamais se alterará. Só que de repente a parede cai e o carro quebra. Por causa da falsa idéia que fazem das coisas, quando surgem acontecimentos como esses não compreendem que foi a ação de Deus. Por isso precisam arrumar culpados.

Para poder se viver com Deus é preciso investigar a vida, conviver com a Realidade. Toda parede que hoje está em pé amanhã pode cair; todo carro que hoje está funcionando amanhã pode não estar. Estas são possibilidades que precisam fazer parte da consciência dos seres humanizados para que eles convivam com a Realidade. Se não fizerem, na hora que elas ocorrerem, terá que ser buscado um culpado...

Sabe o que precisa para alguma coisa quebrar?

Participante: cair no chão.

Tem objeto, mesmo entre os que se quebram com este evento, que cai no chão e não quebra. O que é necessário, então, para ele se quebrar?

Participante: quebrar...

Exato... Para que algum objeto se quebre é preciso que ele se quebre. Enquanto isso não ocorrer, qualquer que seja o evento que aconteça, ele não se quebrou... Se isso é verdade, o que quebrou ele? Foi quem agiu para que o evento ocorresse ou o próprio destino do objeto?

É isso que Krishna está chamando de investigar a vida: conhecer o real motivo porque uma coisa aconteceu. Tudo que acontece com alguém ou com um determinado objeto é o destino deste e, por isso, não há agente causador da situação, mas apenas o próprio Deus, a Causa Primária de todas as coisas. Apesar de isso ser a Realidade, os seres humanizados que se apegam ao ego acreditam quando a personalidade humana cria uma justificativa para o que é óbvio.

Vocês que estão presos à personalidade humana chamam esta forma de compreender a vida de comodismo ou de ignorância, mas eu chamo de amor a Deus. Quem vive a Causa Primária como o agente causador de qualquer coisa ama ao Pai acima de todas as coisas; quem precisa de motivações materiais que um determinado acontecimento ocorra, ama ao ego acima de Deus.

 isso que Krishna está nos incitando a fazer: analisar as coisas da vida e chegar a de que conclusão tudo acontece porque acontece e não porque alguém agiu errado ou porque o objeto não prestava. Mas pra isso, você precisa abrir mão da motivação que confere às pessoas ou objetos. Enquanto quiser aplicar uma motivação ao acontecimento, ou seja, querer saber por que aconteceu aquilo, ficará sempre preso às criações da mente.