Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus
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Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

Segunda parte da palestra realizada em Florianópolis/SC

Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

O papel de Deus no universo

Estamos conversando sobre a aproximação de Deus porque o Espírito da Verdade afirmou que isto representa para o espírito que ele alcançou a perfeição no seu processo de elevação (O Livro dos Espíritos – pergunta 115) e também porque nos consideramos espiritualistas, ou seja, acreditamos haver algo além da matéria e vivemos para este algo. Sendo assim, esta busca para nós é considerada importante.

Para podermos realizar o trabalho que nos leve a alcançar esta aproximação, entendemos que os ensinamentos dos mestres enviados por Deus são como caminho que precisam ser percorridos por todos aqueles que pensam como nós. Por isso fomos estudar os ensinamentos de O Livro dos Espíritos, já que nesta reunião todos acreditam neles.

Na primeira parte falamos da razão humana, pois o Espírito da Verdade nos disse que ela não é um guia infalível para aquele que quer aproveitar a encarnação. Falamos dos elementos que, segundo o grupo de espíritos que ditou os ensinamentos de O Livro dos Espíritos, não deixa a razão com que os seres universais convivem quando se humanizam tornar-se num guia infalível – a má educação, a soberba e o orgulho. Agora vamos conversar sobre outro ensinamento e retirar dele as consciências necessárias para que façamos a reforma íntima e assim possamos entrar em comunhão com Deus.

“1. O que é Deus? Deus é a Inteligência Suprema; Causa Primária de todas as coisas”. (O Livro dos Espíritos).

Este é o texto da primeira pergunta de O Livro dos Espíritos. Como se trata de um ensinamento passado por um mestre, a prática do seu conteúdo torna-se um caminho para a evolução espiritual. Mas, antes de entrar nele, precisamos compreender perfeitamente a pergunta. Se não fizermos isso, podemos chegar a conclusões consciências erradas sobre este assunto.

Reparem que Kardec não pergunta ao Espírito da verdade quem é Deus, mas sim o que é Deus. Por isso a resposta não gera uma descrição do Senhor, mas explica o papel que Ele representa para os seres que habitam o Universo. O Codificador ao fazer a pergunta com este texto não quis saber como é Deus, mas sim o que Ele representa Universo. A resposta, portanto, não se trata de uma descrição do Senhor, mas da compreensão da Sua função no Universo.

Esse entendimento sobre a pergunta altera completamente o sentido da resposta para aquele que quer aproximar-se de Deus. Isso porque para o ser humanizado a aproximação que caracteriza a elevação espiritual é entendida pelos seres humanizados como física. Por causa disso, eles entendem a questão da reforma íntima como a procura do ser Deus, como uma caminhada para encontrar-se pessoalmente com o Pai. Mas isso, nem espíritos muito mais avançados do que nós conseguiu até hoje.

O que pode fazer o ser aproximar-se de Deus é a compreensão sobre o que Ele representa para o Universo. Conhecendo a função de Deus e aceitando os Seus desígnios, o ser humanizado pode aproximar-se do Pai mesmo que esteja a milhares de anos luz distante dele fisicamente.

Por isso será sobre esta ótica que iremos ver as duas informações que o Espírito da Verdade traz na primeira resposta de O Livro dos Espíritos.

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Ser inteligente

O que é possuir inteligência?

Participante: é ser um espírito...

Desculpe, mas tenho que discordar desta sua opinião. Em O Livro dos Espíritos realmente o ser universal é definido como ‘o princípio inteligente do Universo’ (pergunta 23). Isso certamente embasa a sua afirmação. Só que na pergunta 24 é dito que a inteligência ‘é um atributo essencial do espírito’. Ou seja, é dito que o espírito possui inteligência e não que é a própria. Desta forma, posso dizer que o espírito possui inteligência, mas que não é a própria.

Por isso volto a perguntar: o que é inteligência? É a capacidade de receber, processar (analisar) informações e tomar decisões. Este é o atributo que o espírito possui e que o distingue da matéria.

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Ser a inteligência suprema

Agora que compreendemos o que é ter uma inteligência, quando o Espírito da Verdade diz que Deus representa para o Universo a Inteligência Suprema o que podemos depreender desta informação? Que Ele possui a capacidade suprema de receber, processar informações e tomar decisões. Ele é a capacidade suprema de avaliar tudo o que acontece.

Por isso Cristo diz que só Deus é capaz de dar a cada um segundo as suas obras. Isso porque só Ele é capaz de avaliar perfeitamente a obra de cada ser e dar a ele o carma, a reação justa a uma ação.

Para vocês carma uma punição, algo como um castigo, mas isso não é real. Carma é o resultado da justa avaliação que Deus faz das ações de cada um. É a justa colheita ao que foi plantado. Não tem nada a ver com punição, pena ou castigo, mas de efeito perfeito gerado por uma determinada causa. Quem pratica uma ação objetivando aproximar-se de Deus, recebe um carma; quem pratica um ato sem esta intenção, recebe outro.

O carma é o motor do Universo. Nada acontece se não houver uma reação a ação. Sem efeito, nada existiria, pois o Universo seria estático. É o carma que cria o momento seguinte, que dá dinamismo às existências universais.

Por causa da importância do carma para o Universo é que Deus precisa ter a capacidade suprema de avaliação do que cada um faz. Sem isto, o Universo estaria entregue às injustiças, aos desmandos, pois nenhuma outra inteligência possui esta capacidade.

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Vivendo com a inteligência suprema

Levando em consideração que a informação do Espírito da Verdade sobre Deus é que Ele representa o papel de Supremo Avaliador das ações dos seres universais e a afirmação que a perfeição se caracteriza quando se entra em comunhão com Ele, o que precisamos compreender é que o trabalho da reforma íntima se consiste em alterar os valores que nela existem para que espelhe a ideia de que tudo o que é gerado é o perfeito carma dos seres que estão vivenciando aquele acontecimento. Aproxima-se de Deus quem ao receber consciências através da razão humana as considera como a justa aplicação da lei da causa e efeito.

Lembro-me de um caso na cidade do Rio de Janeiro que aconteceu com uma jovenzinha. Ela era tão inocente e pura que era a primeira vez que saia sozinha de casa. Apesar desta compreensão das razões humanas, foi baleada e morreu no meio da rua.

Para os seres humanizados, mesmo aqueles que se dizem espíritas ou espiritualistas e que, como já vimos, não deveriam se impressionar com a morte, ali aconteceu uma injustiça. No entanto, eles só viveram aquele acontecimento com esta razão porque estão afastados de Deus, porque não convivem com Ele como representando a Inteligência Suprema do Universo. Se vivessem, não poderiam acreditar nesta razão.

A razão humana, mesmo daqueles que acreditam no processo de sucessivas encarnações, quando avalia um acontecimento leva somente em consideração os acontecimentos desta vida. Mas, a estes foi ensinado que existem carmas que são originados em existências passadas. Sendo assim, o que o Supremo Avaliador julgou que fosse o justo acontecer naquele momento pode ter origem muito antes do nascimento atual.

Esta é a razão bem educada, aquela que leva em consideração os ensinamentos dos mestres espirituais. Sem que ela contemple a função de Supremo Avaliador que o Pai exerce no Universo, jamais conseguirá compreender a situação levando em consideração tudo aquilo que foi ensinado.

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Deus é a justiça

Em O Livro dos Espíritos. Kardec quando propõe para análise dos espíritos os valores que ele considera como a totalidade dos atributos de Deus, inclui a informação que o Senhor é justo e bom (pergunta 13). No entanto, o Espírito da Verdade responde da seguinte forma:

“Do vosso ponto de vista sim, porque credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas ideias e sensações não tem meios de exprimir. A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições...”

A questão do imaginar Deus como justo é uma das coisas que a inteligência humana acredita ter abrangido a totalidade da informação. No entanto, existem coisas que a razão humana restrita não consegue compreender.

Deus não é justo; Ele é a Justiça...

Ser justo é bem aplicar um código de leis, mas Deus, como está acima de qualquer outra coisa, não usa código de leis para avaliar ninguém. O que Ele usa é a sua própria avaliação. Por isso, o que avalia é a própria Justiça e não algo justo.

Lembra do que aconteceu com aquela jovenzinha que citei? Ali não houve uma ação justa, mas a própria Justiça em ação. É a perfeita avaliação de uma ação anterior daquele ser realizada pela Inteligência Suprema.

 Sendo assim, não existe tribunal superior que um ser possa recorrer para contestar a decisão de Deus. Isso porque o Supremo Avaliador das ações de cada ser universal julgou através da sua Suprema capacidade que aquele deveria ser o carma que ele merecia. Os seres humanos que contestam as avaliações da Inteligência Suprema, até parecem para as razões humanas sábios, com a razão, mas são como Jó, que em seu livro bíblico pergunta: ‘quem pode dizer a Deus que Ele está errado’? Todo ser humanizado se acha neste direito e por isso vive contestando as avaliações da Inteligência Suprema.

O ser universal, humanizado ou não, que acredita que possa acontecer algo que não seja a aplicação da própria Justiça pela Inteligência Suprema é aquele que se lamenta pelo ocorrido. Para estes Krishna tem um recado, que é o mesmo que o sublime senhor passou a Arjuna e está em o Bhagavad Gita: ‘quando se lamenta, você até parece um sábio, mas o verdadeiro sábio não lamenta nem pela morte nem pela vida (capítulo 2 – versículo 11)”.

Ver a ação que ocorre como resultado do Supremo Avaliador gerando a Justiça é a primeira providência de quem quer aproximar-se de Deus. Isso porque quem não possui uma razão que cria consciências a partir disso certamente vai se chocar com a aplicação da Justiça e com isso se afasta de Deus. Aquele que ainda acha que existe uma injustiça ocorrendo não pode comungar com Deus, pois é contrário àquilo que Ele determina como o perfeito carma que merece aquele ser.

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Não há premiações

Portanto, a convivência com Deus só será alcançada por aquele que tiver uma razão que afirme que todos os acontecimentos de uma existência são o fruto perfeito da avaliação da Justiça Perfeita. Não importa se o acontecimento foi apenas uma topada, se alguém destruiu uma propriedade sua, se se trata de um acontecimento drástico, bárbaro ou se foi um acontecimento prazeroso, como ganhar na loteria, tudo é o carma: o resultado que a Justiça aplicou depois da Avaliação Perfeita que fez de um acontecimento.

Reparem que não falei apenas de acontecimentos considerados como pesarosos, mas inclui também aqueles que vocês acham bons. Porque fiz isso? Porque a Justiça do ganhar alguma coisa não é uma premiação, mas uma provação.

Sempre que se fala de carma, os seres humanizados pensam apenas em situações pesarosas, mas isso não é real. O carma pode ser caracterizado por momentos onde aparecem acontecimentos que vocês consideram prazerosos. Isso não modifica o objetivo da existência do carma: todo acontecimento serve como instrumento de provação que leve o ser universal a alcançar a elevação espiritual.

Tudo o que acontece na existência de um ser humanizado é uma provação, uma oportunidade para a realização de um trabalho que leve à elevação espiritual. Tudo o que acontece na existência de um ser humanizado é um carma, ou seja, o resultado da avaliação da Inteligência Suprema de ações anteriores do ser. Sendo assim, todo acontecimento é um carma e serve como nova oportunidade para o trabalho de aproximação a Deus.

Por isso afirmo que não há premiações ou condenações no sistema de encarnações sucessivas que é usado no Universo para a elevação dos espíritos. Aliás, isso devia ficar bem claro para aqueles que conhecem O Livro dos Espíritos:

“253. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? Pode parecer-vos a vós; ao Espírito não. Logo que este se desliga da matéria cessa toda ilusão e outra passa a ser sua maneira de pensar”.

O espírito livre da razão humana não se preocupa com o sofrimento que possa ocorrer numa encarnação. Como afirma Kardec no comentário à resposta desta pergunta, “sob a influência das ideias carnais, o homem, na Terra só vê das provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos”.

Tudo o que existe são provações:

“814. Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder e a outros a miséria? Para experimentá-los de modos diferentes”. (O Livro dos Espíritos)

Todo carma, tudo aquilo que a Inteligência Suprema dá como resultado de sua avaliação, não é uma premiação ou uma punição, mas um instrumento de provação. Quem convive com o que recebe queixando-se da Providência ou quem se jubila do que recebe não está vivendo com a Justiça e por isso não consegue alcançar a comunhão com Deus.

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Amor sublime

Vimos que Kardec ao propor aos espíritos a totalidade dos atributos de Deus disse que Ele é justo, mas descobrimos que não: é a Justiça. Este é o mesmo pensamento que temos que ter para todos os atributos elencados no texto da pergunta 13, entre eles a afirmação de que Deus é amoroso. Ele não é amoroso; é o próprio Amor. Não um amor comum, mas um Amor Sublime. Vamos entender o que este atributo pode contribuir com a nossa busca da comunhão com o Pai.

Ser um Amor Sublime é muito mais do que o amar que vocês humanos conhecem. É ter algo puro, sincero, altruísta, que não se deixe levar por preferências ou desejos. O exemplo que posso dar para que vocês compreendam o que é ser o Amor Sublime, apesar de não ser a completa realidade de Deus, é o amor que sentem os pais por um filho.

Apesar de amá-los e querer que eles sempre estejam satisfeitos, os pais muitas vezes cerceiam a liberdade do filho para que ele possa evoluir. Isso acontece quando colocam seus filhos de castigo por não estudar. Os pais amam os filhos e com certeza não gostariam de agir assim com eles. No entanto, agem para que eles possam alcançar um benefício que não são capazes de mensurar naquele momento.

Como disse, esta não é uma comparação que possa levá-los à compreensão perfeita do assunto, mas sim algo que nos ajuda. O papel de Amor Sublime que Deus representa para os seres do Universo é muito mais do que isso, mas como não tenho palavras para descrevê-lo, acho que este exemplo dá uma ideia.

Quando, a partir da avaliação que faz da ação de cada ser Deus gera um carma, o que surge disso se transforma numa Justiça, ou seja, dá a cada um o justo. No entanto, sempre que Ele dá o resultado da avaliação, também está presente o seu Amor Sublime. Com isso, o carma, mais do que uma justa reação a uma ação, se transforma num ato amoroso.

Lembram do caso da jovenzinha que falei agora pouco? Pois é, o seu assassinato foi justo, porque foi, com certeza, a justa medida do que plantou o ser em outras encarnações, mas também foi um ato amoroso. Deus sabe que o espírito, assim como a criança, guiado pela razão infantil que convive durante a encarnação, não quer morrer cedo ou violentamente. Apesar de ter esta consciência, apesar de saber que tal atitude pode comprometer o seu processo de elevação, pois o ser pode apegar-se a criação racional que espelhe uma revolta contra aquele acontecimento, o faz vivenciar aquela situação, pois sabe que é exatamente daquilo que o espírito precisa para a sua evolução.

O Amor Sublime é aquele que vai além do afago e do carinho, é aquele que vai além do contentar: é aquele faz o que é preciso para despertar quem é amado para a realidade e assim fazê-lo progredir em sua existência. Levando-se em conta esta afirmação, posso afirmar que cada momento da existência de um ser deve ser compreendido como o resultado da aplicação da justiça, mas também um momento em que o ser é amado por alguém que o ama tão profundamente que é capaz de contrariá-lo, se isso for importante para o seu futuro.

Esta é a aplicação da consciência de que Deus é a Justiça Perfeita e o Amor Sublime por parte de uma razão bem educada. Já a má educada, aquela que imagina que os anseios humanos são prioridades para o espírito, gera como consciência a existência de uma maldade e de uma injustiça ocorrendo durante os acontecimentos da vida.

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Resumindo

Estão aí, portanto, os primeiros fatores que precisam ser levados em consideração por uma razão que sirva como guia infalível para o ser humanizado aproveitar a oportunidade da encarnação e promover a reforma íntima e com isso conviver com Deus e viver a felicidade que Ele tem prometido.

Para isso é preciso que as consciências que a razão forme determinem que tudo o que acontece é fruto de uma análise perfeita de momentos anteriores. É o carma que foi determinado pela própria Justiça, pois foi o resultado da análise do Supremo Avaliador do Universo. Mas, é o Amor, pois este momento se transforma numa nova oportunidade de elevação. Aproximar-se de Deus e conviver com ele é vivenciar os acontecimentos da existência carnal com esta razão.

Por isso, o espiritualista, ao invés de vivenciar a razão de que o outro colocou a coisa no lugar errado, deve crer que esta consciência é fruto de uma razão mal educada, que quer vencer e que defende seus próprios interesses, vive com a seguinte razão: ‘Deus causou que aquele objeto fosse colocado naquele lugar e agiu desta forma na minha frente porque este é o meu carma, é a perfeita consequência de outros momentos que vivenciei. Apesar de merecer este acontecimento, isto não ocorreu como uma punição, mas como fruto do Amor do Pai por mim, pois está me dando uma nova oportunidade de me redimir e amar a Ele acima de todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo’.

Participante: este é o exercício da fé?

Ainda não. Fé é sentimento, emoção. Este exercício é racional.

Fé é salto no escuro, por isso não tem nada de racional, de compreensível pela razão.

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Causar primariamente

O segundo papel que Deus exerce no Universo, segundo o Espírito da Verdade, é ser a Causa Primária de todas as coisas. O que quer dizer isso? Vamos entender...

Ser a Causa é ser a origem. Ser a Causa Primária é originar primeiramente o que está acontecendo. Ou seja, quando o Espírito da Verdade afirma que Deus é a Causa Primária quer dizer que tudo o que acontece origina-se Nele.

Está vendo esta letra? Ela não se originou do contato do dedo com o teclado, mas sim em Deus. Está vendo a chuva que está caindo lá fora? Ela não se originou da evaporação dos rios e lagos, mas foi causada por Deus. Tudo que acontece começa primariamente em Deus.

‘Mas, vocês me dirão, eu estou vendo o dedo pressionar as teclas que formam a letra’. Sim, sei que vocês estão vendo esta cena, mas pergunto: o que causou no dedo o movimento para pressionar a tecla? Outra vez vocês rebateriam: ‘foi o ser humanizado que digitou’. Eu novamente questionaria: quem causou no ser humanizado tocar aquela tecla?

Esta é a forma de se chegar a Deus nos acontecimentos da vida: questionando sempre qual seria a causa do que está acontecendo. Depurando cada vez mais a origem do acontecimento fatalmente se chegará a Deus e quando a Ele chegamos nada mais há para originar, já que o Senhor é o não criado.

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Acaso

“8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso? Outro absurdo. Que homem de bom senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada”. (O Livro dos Espíritos)

Para o ser humanizado, mesmo para aqueles que por se dizerem espíritas ou espiritualistas, a ideia de que tudo se origina em Deus não faz parte de suas razões. Eles preferem acreditar que a origem está nas pessoas ou na combinação fortuita das coisas. Isso é um absurdo...

Como pode um espírito conviver com Deus, ser Um com Ele, se atribui ao Universo uma ocorrência fortuita? Entre os elementos que Kardec usou como atributos de Deus na pergunta 13 está a Onipotência. Este atributo levaria Deus a ter a capacidade suprema de agir na organização dos acontecimentos do Universo. Será que dá para combinar este atributo com um acaso não inteligente que faça as coisas acontecerem? Claro que não!

Portanto, tudo se origina em Deus, mesmo aquilo que vocês acham que acontecem por motivos fortuitos.

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Todas as coisas são tudo

O ser humanizado tem problemas com a palavra todo ou tudo. Este termo abrange todas as coisas que existem dentro de um sistema, mas por causa de sua amplitude, ele dificilmente consegue aplicar este termo na sua totalidade. Acaba separando para formar este tudo apenas aquilo que ele quer que tenha a característica atribuída e deixa de fora algumas coisas que ele não quer abranger. Isso também se dá com o ensinamento do Espírito da Verdade.

Quando é dito que Deus é a Causa Primária de todas as coisas, o ser humanizado deve compreender que tudo o que acontece no Universo, um sistema, é originado primeiramente no Pai. No entanto, existem elementos que os seres humanizados não atribuem ao Senhor, ou seja, deixam de fora deste tudo.

Lembro uma vez que uma moça me relatou um fato interessante. Ela disse que estava se tendo uma discussão no seu trabalho para ver quem ia em determinado dia e quem folgaria. Uma pessoa tinha pedido o dia que ela queria, mas como estava tentando colocar em prática a razão que Deus é Causa Primária de todas as coisas, esta moça respondeu a quem estava mediando a conversa que se era assim que o Pai queria, tudo bem.

O que ela ouviu como resposta a esta afirmação é um exemplo clássico da forma como vivem os seres humanizados: ‘Deus não se mete nestes assuntos banais. Ele não tem tempo para isso’ ...

Ora, o Universo é o tudo que existe. Se Deus não tiver tempo para administrar as ações universais, terá para que? Além do mais, nada há de banal neste acontecimento. Por causa da escolha do dia de trabalhar, aquela moça teve que desmarcar uma viagem que ia fazer com sua família. Tanto ela como os familiares ficaram tristes, pois esperavam ansiosamente por aquele passeio. Além do mais, o dono do hotel para onde ela ia, bem como o comércio da cidade ficou sem receber o dinheiro, o que pode ter levado este homem a não pagar uma conta e mais uma empresa ficou descapitalizada.

Estão vendo onde chega um ato que aparentemente envolve apenas três pessoas? Buda chama isso de interdependência. Todas as coisas do Universo se interdependem, ou seja, qualquer acontecimento em qualquer canto do Universo, por mais remoto que seja, acaba sempre interferindo no todo.

Se cada um pudesse escolher o dia em que viajaria ou ia trabalhar, certamente alguém deixaria de receber o que merecia ou receberia a mais. Neste caso a Justiça estaria acabada, porque não foi dado a cada um exatamente aquilo que era merecido por suas ações anteriores.

É preciso que o Supremo Avaliador determine tudo o que vai acontecer, por mais banal que pareça, para que a Justiça e o Amor Sublime estejam sempre presentes no Universo.

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Propriedade dos elementos

Vou usar um exemplo banal para entendermos uma questão muito importante para quem quer conviver com Deus: uma dor de barriga.

Para os seres humanizados este acontecimento é causado pela ação da propriedade dos elementos que compõem o alimento que ele ingeriu naquele ou em outro dia. Mas, será que é isso mesmo?

“7. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas? Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária”. (O Livro dos Espíritos)

A pergunta que o Espírito da verdade faz, se levada para nosso exemplo, ficaria assim: ‘poder-se-ia achar nos elementos da comida estragada a causa da sua diarreia’? Aplicando a resposta também ao nosso exemplo, verificamos que foi perguntado a Kardec o que, então, estragou a comida? Será que foi a propriedade de algum elemento que estava nela? A última resposta traz a razão que o espiritualista deveria usar: é indispensável que haja uma causa primária. Além disso, deveria ainda se perguntar: porque foi você que recebeu aquela comida e não outro?

Veja: nada acontece por acaso. Em todos os momentos é preciso que haja a ação do Supremo Avaliador das ações anteriores para dar a cada um segundo suas obras. Só aceita placidamente que foi a propriedade de um elemento material a causa primária do que acontece aquele que não argui sempre qual será a causa do que aconteceu.

Portanto, a causa da sua dor de barriga foi Deus e não a comida estragada. A consciência de que foi a propriedade algum elemento da comida é apenas uma razão viciada pela má educação, soberba e egoísmo.

Má educação porque acredita que a matéria age livremente sem que haja uma causa para suas ações. Porque acredita que o vento derruba qualquer casa e não apenas aquela que tinha que ser derrubada. Mas, e se o resultado das obras de um ser humanizado não levá-lo a merecer que a casa caia, será que a Justiça não pode defendê-lo? Soberba e egoísmo, porque não quer assumir que é o verdadeiro causador da dor de barriga.

Sim, Deus é a Causa Primária, mas Ele a cria a partir da Justiça. Sendo assim, se você teve uma dor de barriga é porque mereceu receber este acontecimento. Como não gosta de ter dor de barriga, acha que este acontecimento seria uma punição e para não aceitar que errou um dia e agora mereceu viver isso, prefere colocar a culpa na propriedade algum elemento da comida.

Estamos conversando sobre viver com Deus, algo que vocês dizem que buscam o tempo inteiro, mas estamos provando que vivem só com a matéria. Vivem com a matéria porque são soberbos e egoístas e não querem assumir que merecem, por conta de ações nesta ou em outra vida, o que lhes está acontecendo. Vivem com a matéria porque suas razões foram mal educadas e por isso só acreditam no que a ciência afirma que é verdade.

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A cuasa primária e a ciência

“17. É dado ao homem conhecer o princípio das coisas? Não, Deus não permite ao homem tudo seja revelado neste mundo”. (O Livro dos Espíritos)

Segundo o Espírito da Verdade, Deus não permite que tudo seja revelado ao homem neste mundo. Se não sabe tudo, como pode ter certeza de alguma coisa? Será que as conclusões que a ciência chegou não estão falseadas por razões que imaginam conhecer todas as causas para poder ter certeza do efeito?

A ciência, portanto, não é composta por informações absolutas – informações que jamais mudaram e que são consideradas como verdadeiras por todos os seres do Universo. Isso, aliás, é de conhecimento de vocês. Quantas coisas você já não recebeu a informação da ciência que era boa para a sua saúde e depois foi avaliada como danosa? Esta relatividade dos conhecimentos científicos deveria levar vocês a não crerem piamente em tudo o que ela lhe diz agora, mas não é isso que acontece.

Não importa se a verdade de agora destrói outra anterior, o ser humanizado acredita no que a ciência fala. Porque isso? Porque as descobertas científicas são feitas pelo ser humano. Como a razão é má educada, pois premia as verdades humanas, ela aceita tudo o que os cientistas fala e assim leva glória aos seres humanizados.

No entanto, o que pode descobrir um ser humanizado que não lhe seja causado descobrir?

“19. Não pode o homem, pelas investigações científicas, penetrar alguns dos segredos da Natureza? A ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém não pode ultrapassar os limites que deus estabeleceu”. (O Livro dos Espíritos)

O homem só pode saber o que Deus mostra; isso está claro neste texto. Mas, existe outra informação que é importante para quem conviver com Deus: todo conhecimento científico é dado para o adiantamento em todos os campos. Para que vocês usam os conhecimentos científicos no sentido de avançar na aproximação de Deus?

Através dos conhecimentos que a ciência divulga, avançam no conhecimento do combate à doença, avançam no conhecimento sobre o prolongamento da vida, mas o que fazem com o conhecimento científico para o seu avanço na direção de comungar com Deus? Nada...

Isso porque usam este conhecimento com soberba e egoísmo: apenas para ganhar humanamente. Ao invés de usarem os conhecimentos científicos para aproximarem-se de Deus os usam como instrumento do seu afastamento do Senhor, pois a partir deles negam a existência de uma Causa Primária fundamentada na Justiça Perfeita e no Amor Sublime.

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Instrumentos da ação

Desta análise que fizemos da utilização dos conhecimentos científicos por parte da razão humanizada, nos fica clara uma característica que não deixa o ser humanizado entrar em comunhão com Deus: conceder a causa dos acontecimentos a um agente.

Quem causa os acontecimentos que vocês vivem são os objetos e demais seres humanizados com que convivem. É o seu filho, o seu marido ou qualquer outra pessoa que causa um acontecimento; é o carro que não pega ou a televisão que para de funcionar. O causador do seu incômodo foi o vizinho que colocou a música alta e a do seu bem estar foi o remédio, já que ele foi o agente da sua cura. Ou seja, para o ser humanizado há sempre um agente da ação e por causa disso, ele não consegue vivenciar a ação justa e amorosa da Causa Primária.

Só consegue conviver com Deus aquele que vive tudo originado primariamente no Senhor. Apenas esta consciência leva um ser humanizado a ver no acontecimento a ação amorosa da Justiça Perfeita que pode levar o ser a aproveitar a sua oportunidade de elevação e promover a reforma íntima.

A razão que estabeleça Deus como o único agente de tudo o que acontece é a que os espiritualistas e espíritas precisam usar. Por ser formada pelo ensinamento dos mestres, ela estabelece a Realidade e apenas quem vive no mundo Real pode conviver com Deus, pois Ele está apenas neste mundo. No mundo ilusório, o mundo criado pelas formações mentais da razão má educada, o ser humanizado convive apenas com outros seres humanos ou com elementos do mundo terrestre e por isso só comungam com estes elementos. A razão que não possui outro agente primário para a ação não é poluída pelos sistemas humanos de vida, pela soberba ou pelo egoísmo.

Para esta razão, portanto, não deveria existir para os seres humanizados outro agente dos acontecimentos do que o Senhor. No entanto, a soberba de vocês não consegue viver com esta realidade, pois senão o ser humanizado ficaria em segundo plano e com isso perderia. Por causa desta soberba é que, mesmo aqueles que ainda esporadicamente aceitam a ação como oriunda em Deus, para não ficarem em segundo plano, dizem que o Pai os utiliza como instrumento para a geração da ação. Mas, isso também é irreal.

Tudo que existe acontece a partir do faça-se de Deus. Para entendermos o que estou querendo dizer, podemos ler o livro Gênesis da Bíblia Sagrada no trecho que aborda a questão da formação do Universo, mas como o mesmo ensinamento está em O Livro dos Espíritos e como vocês são espíritas, vamos usar este texto:

“38. Como criou Deus o Universo? Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade. Nada caracteriza melhor esta vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênesis – Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita”.

Reparem no que diz o Espírito da Verdade: a luz foi feita. Ele não fala que Deus utiliza alguém para fazer e nem que o próprio Senhor age para fazer: a coisa se faz. Não há agentes para ação, mas apenas a ação.

Por isso, não foi o vizinho que aumentou o volume do rádio nem ele foi usado por Deus como instrumento desta ação. Não foi nem o próprio aparelho eletrônico que emitiu o som em alto volume: Deus disse faça-se o barulho e ele foi feito. O barulho foi feito sem para que isso ninguém ou nada precisasse agir. Eu diria até que se não houvesse um ser humano em casa ou se não houvesse o aparelho, se Deus dissesse faça-se, haveria som.

Agora, se o som alto não precisa de uma pessoa para ligar o aparelho e nem dele para existir, como você pode ouvi-lo? Para lhe responder eu pergunto: se tudo acontece pelo faça-se de Deus, quem disse que você ouviu algo?

Tudo é composto por todas as coisas que existem. Se o som surge do faça-se de Deus e não gerado pelo aparelho, a sua audição também não gerada por você, mas é um fruto do faça-se. O Pai diz faça-se a audição e você imagina que ouve.

Mais: se você não cria a audição, será que foi você que criou o incômodo que está sentindo? Claro que não. Ele também é um elemento que surgiu do faça-se do Senhor. Porque Deus fez estas coisas? Por causa da sua provação.

Ele diz faça-se o som e o som é feito. Diz faça-se a audição e você tem a ideia de estar ouvindo um som alto. Ele diz faça-se o incômodo e você acha que está incomodado e o agente desta emoção é vizinho que causou o som alto. Pronto, agora você tem uma prova, ou seja, tem uma oportunidade de optar entre permanecer em comunhão com Deus ou comungar com as ideias criadas pela razão má educada.

Tudo o que Deus diz faça-se tem como objetivo criar uma opção para ver como você vai optar. No exemplo que estamos usando Ele está perguntando se você vai se deixar levar pelo incômodo que surgiu do seu egoísmo, da sua vontade de não ouvir aquele som, ou se vai amar ao próximo como a si mesmo, e por isso conceder-lhe o direito de ouvir a música no volume que quiser, e a Deus acima do barulho e do incômodo que Ele lhe criou como provação?

Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

O ecumenismo

Estão começando a entender como todos os ensinamentos dos mestres se fundem para poder apontar o caminho para aquele que quer conviver com Deus? O ensinamento que vimos sobre a razão precisa daqueles que surgem quando analisamos a pergunta primeira de O Livro dos Espíritos para serem completos. Aqueles que estão no trecho que estamos analisando agora precisam do que vimos antes para poder gerarem um caminho que deve ser percorrido.

Por isso afirmo uma coisa: se lermos todos os ensinamentos de O Livro dos Espíritos apenas de forma superficial, de nada servirá esta leitura para gerar um guia infalível para o trabalho desta encarnação. É preciso ler todos os ensinamentos pausadamente e raciocinar sobre cada um sempre juntando uma informação com outra. É preciso, ainda, ler com o objetivo que este livro foi criado (nos aproximarmos de Deus) e não com a intenção do ser humanizado: gozar o prazer, o bem mundano.

Todos os ensinamentos de todos os mestres só transformam-se em guias infalíveis para quem quer comungar com Deus se forem usados juntos. A isso chamamos de ecumenismo. Eles precisam também que sejam lidos com o intuito de se alcançar a realidade espiritual. A isso chamamos de espiritualismo. Sem o espiritualismo e o ecumenismo qualquer ensinamento de um mestre é adulterado pela razão má educada para servir apenas à humanidade que o ser vivencia durante a encarnação.

Foi exatamente isso que Kardec disse na Introdução I de O Livro dos Espíritos:

“Como especialidade, O Livro dos Espíritos contém a doutrina espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta”.

O espiritismo é apenas uma das fases do espiritualismo. As outras são cristianismo, budismo, hinduísmo, etc. Somente quando se mistura todos os ensinamentos pode-se, realmente, bem educar a razão. Aquele que se prende apenas a uma das fases dos ensinamentos dos mestres, jamais consegue atingir a Deus.

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O fruto da convivência com Deus

A partir de tudo o que falamos, fica claro que aquele que alcança a convivência com Deus é quem possui uma razão que analisa os acontecimentos do mundo a partir dos ensinamentos dos mestres. É aquele que é guiado por uma razão que não quer obter vitórias nem defender seus interesses, porque vivencia todos os acontecimentos como originados por Deus com Justiça Perfeita e Amor Sublime. Só quem tem razões formadas a partir destas realidades consegue uma comunhão perfeita com o Pai.

Esta comunhão traz como fruto a paz e a harmonia com tudo e com todos. Este é o fruto de quem comunga com Deus: a felicidade que o Pai tem prometido aos seus filhos.

Quem vive com razões formadas a partir dos ensinamentos dos mestres vive em paz e harmonizado porque ao invés de conviver com a música, com o barulho, com a doença, convive com Deus. Conviver com Deus é isso: é conviver com as coisas como se fosse Deus, porque realmente são.

Quem convive com uma razão que distingue agente e acredita no certo e no errado jamais conseguirá ter paz e harmonia. Terá que estar eternamente vigilante para fazer com o que mundo esteja exatamente de acordo com os seus anseios. Estará sempre em desarmonia com as coisas, pois não existem duas pessoas que anseiem pela mesma coisa no mesmo gênero, número e grau.

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A realidade e o maya

O problema é que a mente de vocês ainda trabalha com a ideia da existência do Deus como um Ser, um espírito. Mais: que Deus é apenas este ser. É por esta ideia, que surgiu com Abraão, que os seres humanizados ocidentais dificilmente entram em contato com o Senhor. Eles querem aproximar-se deste Ser para chegar a Deus, mas isso não é preciso para se conviver com Ele. Vamos entender isso...

Deus é tudo e tudo é Deus. Esta é uma conclusão que se chega quando se entra na posse do ensinamento Deus é Causa Primária de todas as coisas. A partir do momento que entendemos que tudo é gerado primariamente por Ele, temos que entender que tudo é Ele mesmo.

Agora, é preciso viver coisas como Deus e não viver com as coisas dizendo que elas são Deus. Vou tentar explicar isso...

Uma pessoa um dia me disse que depois de ter entendido isso que ela poderia, então, conviver com o seu cachorro como Deus. Isso é impossível. Quem vive com um cachorro, dando o nome de Deus a ele não convive com o Senhor, mas ainda com um cachorro. Para se chegar à realidade é preciso acabar com o elemento e não apenas tratá-lo como sendo Deus.

O que seria tratar o cachorro como Deus? Seria deixar de ver naquela forma um animalzinho bonito, puro, etc. Estes adjetivos se aplicam a um cão e não a Deus. Para conviver com aquela forma dentro da sua Realidade, Deus, é preciso não aplicar adjetivo nenhum a ela, pois como Ensina o Espírito da Verdade, o ser humanizado não pode conhecer o Pai (pergunta 14). Se não pode conhecê-Lo, como adjetivá-Lo?

Além do mais, quem possui um cachorro sempre vai querer que ele faça as coisas como esta pessoa quer que sejam feitas. Ou seja, cria exigências para as ações do elemento material. Quem quer conviver com Deus não faz isso: aceita tudo que o outro causa sem colocar restrições ao que é feito. Por isso, se ainda há uma cobrança de que o cachorro não lata ou que faça as suas necessidades apenas num lugar, este ser não está convivendo com o Senhor, mas apenas chamando um cachorro de Deus.

Quem consegue conviver com o elemento material como se fosse Deus, não aplica adjetivos ou descrições a ele. Vive como se deve conviver com o Pai: não adjetivando o que Ele faz ou é nem impondo condições para a convivência. Quem age assim com os elementos do mundo material consegue viver com Deus e entra na Realidade do Universo, pois todos os elementos são Deus.

Para compreender o que é conviver dentro da Realidade, ou seja, conviver com os elementos mundanos como sendo o Pai, temos que decodificar a ideia sobre um momento a partir dos ensinamentos que vimos aqui. Se fizermos isso, chegaremos à Realidade das coisas. Para darmos um exemplo de como chegar a ela, vamos usar a frase ‘eu ouço som alto e incômodo que gostaria que parasse’ para descrever um momento que iremos colocar dentro da Realidade do Universo a partir dos ensinamentos que conversamos aqui.

Nós vimos que Deus é a Causa Primária de todas as coisas que existem. Sendo assim, tudo o que existe é o próprio Deus. Usando este conhecimento na frase que estamos analisando ela deve mudar. Ao invés de usarmos a ideia ‘eu ouço som alto e incômodo que gostaria que parasse’, devemos usar a seguinte ideia: ‘Deus ouve Deus alto e incômodo que Deus gostaria que parasse’.

Compreenderam o que fiz? Eu retirei da realidade humana você e o som porque as duas coisas são Deus. No lugar dela coloquei Deus. Só que ele não é só os objetos, mas também a ação que está acontecendo.

Como já tinha dito anteriormente, você não ouve, mas o Pai cria a ideia de uma audição. Sendo assim, o ato de ouvir no nosso exemplo também é Deus. Mas, como isso é uma ação, o que faz este elemento ser diferente das pessoas e objetos, e como a frase ficará muito repetitiva se usarmos novamente o vocábulo Deus no lugar do verbo ouvir, vamos criar uma palavra: deusar. Deusar é a ação que o humano confere a si mesmo, aos objetos ou a outras pessoas, mas que na Realidade é o próprio Deus, pois é algo que Ele causa.

A partir daí nossa frase fica, então, assim: ‘Deus deusa Deus alto e incômodo que Deus gostaria que parasse’. Acontece que como falamos, quando se trata de Deus não podemos usar adjetivos e nem impor condições para agir. Por isso precisamos retirar de nossa Realidade o adjetivo alto e incômodo e a condição de parar.

Retirando isso, o que sobra? ‘Deus deusa Deus’. Esta é a Realidade do Universo: Deus deusa Deus e o ser humanizado acredita que existe um ele, um objeto, outras pessoas, as condições e adjetivos que se aplica às coisas.

Reparem que são duas realidades diferentes: a universal (Deus deusa Deus) e a individual (‘eu ouço som alto e incômodo que gostaria que parasse’). A segunda é formada pela razão má educada, soberba e egoísta; a primeira é formada por uma razão que se atenta aos ensinamentos dos mestres.

A realidade individual, Krishna chama de maya. Maya quer dizer ilusão. A realidade criada pela razão má educada, soberba e egoísta é uma ilusão, algo que se vê onde há outra coisa – e por isso Krishna a chama também de miragem. O que está por trás desta miragem é a Realidade Universal.

Apenas quem vive na Realidade pode comungar com Deus, pois quem vive no maya está sempre conferindo ações a agentes que não o Senhor e com isso não vivencia o ensinamento sobre a Causa primária. Quem vive a ilusão não pode vivenciar a paz e a harmonia que surgem da convivência com Deus, pois é guiado pela mente má educada, soberba e egoísta que sempre irá querer obter uma vitória. Por conta disso, no dia que quiser ouvir um som alto dirá que isso é justo, mas no dia que não quiser irá criticar o som dos outros.

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Os deuses

A partir do que conhecemos sobre a Realidade e maya, podemos, então, conversar sobre a figura do Deus Único gerada a partir de Abraão que eu disse que não deixa os seres encarnados no mundo ocidental do planeta comungarem com o Pai.

No ocidente vocês convivem com a ideia de um Deus Único de quem o homem é a imagem e semelhança. Como vocês imaginam que a forma do corpo humano é vocês, e esta crença é tão forte que até os espíritos desencarnados, que já vimos não possuem forma, os descrevem aplicando esta ideia, criaram um Deus Ser, um Espírito Deus. Na verdade este Deus Ser, a entidade Deus, existe e tudo se origina Dele.

Este Deus Ser Krishna chama de Imanifesto. Este, como afirma a resposta do Espírito da Verdade na resposta à pergunta 14 de O Livro dos Espíritos, não pode ser conhecido pelo homem:

“Deus existe; disso não podes duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além”.

Aliás, Ele também não é conhecido da maioria dos espíritos que já ultrapassaram a barreira do egoísmo.

Este é o Deus Imanifesto, só que Ele se manifesta e quando faz isso cria outras figuras que são Ele próprio. A partir disso, posso dizer que para a maioria dos espíritos do Universo existem três deuses: o Deus Ser, o Imanifesto, a Sua manifestação e as manifestações Dele.

Tanto o Deus Manifesto como suas Manifestações são Ele, porque são emanações Dele e todos Eles precisam ser amados para que o ser alcance a elevação espiritual. Vamos entender melhor estes três deuses.

O Deus Ser, creio que não preciso falar. Ele é um espírito, mas não o que vocês chamam de espírito. Ele é um Ser, uma Entidade universal e não a forma e os atributos que vocês conferem à períspiritos e afirmam que é o próprio ser.

Tanto os Deuses Manifestos como as Manifestações são o maya que vocês vivem. A diferença entre eles está na sua essência. Chamamos de Deuses Manifestos as pessoas e objetos com os quais vocês convivem através da razão. Você, os outros seres humanos, a televisão, o carro, etc. Já as Manifestações Dele, para nós, são as ilusórias ações que as Manifestações parecem praticar: andar, correr, tocar, passear, etc.

Na verdade todos são a mesma coisa. Apenas separamos entre Deuses Manifestos e Manifestações Dele para ficar mais didático. Se definíssemos apenas como um, vocês acabariam chamando ou as formas ou as ações separadamente de Manifestações de Deus e o outro elemento acreditariam ser real.

Portanto, no Universo existem três deuses: o Ser, os Deuses Manifestos e as Manifestações Dele. Com este ensinamento fica mais fácil se conviver com Deus.

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Buscando Deus

A partir disso que falamos, como se convive com Deus? Convivendo com as os Deuses Manifestos e com as Manifestações Dele. Você está vendo esta letra? Ela é uma manifestação de Deus. Portanto, ame-a. Alguém a escreveu, não é mesmo? Quem foi? Um Deus Manifestado. Portanto, ame-o incondicionalmente.

Isso vale para todas as coisas. As pessoas que me conhecem sabem que gosto dos exemplos mais ínfimos para poder ficar bem claro o ensinamento. Sabe o que é o seu cocô? Um Deus Emanado. Ame-o ...

Para poder chegar à comunhão com Deus é preciso que você viva com tudo como uma emanação de Deus. Desde a coisa mais bela ou importante, até a mais chula e sem importância alguma, tudo é gerado pelo Senhor e, portanto, deve ser amado para que se viva numa comunhão perfeita com o Pai.

Para promover a reforma íntima é preciso que o ser humanizado conviva com o seu cocô e com o dos outros com a mesma sublimidade que convive com o Senhor quando vai ao centro, à igreja, a gira ou ao culto. Precisa conviver com este elemento com a mesma sublimidade que tem na hora da meditação ou da oração. Só que guiados pela razão que separa o importante e precioso do que é inútil e chulo para poder alcançar vitórias humanas, você acredita que as coisas sem importância e reles devem ser ignoradas. Mas, estas coisas são Deus.

Conviver com Deus, estar com Ele, é vê-Lo em todas as coisas que existem e ter uma postura única com todas as coisas. Viver com tudo como se fosse Deus, porque as coisas são Ele: são Manifestações Dele e Deuses Manifestos. Justamente por não verem desse jeito os elementos do mundo é que vocês ficam buscando Deus fora e não conseguem jamais encontrá-Lo.

Uma vez uma moça me disse que naquele dia estava muito perturbada porque tinha conversado com uns amigos japoneses e eles disseram que não procuravam o Pai. Ela achou aquilo muito triste porque se dizia uma buscadora de Deus e imaginava que tal procura fosse importante para todos. Eu, então, respondi: também não busco Deus...

Não, eu não busco Deus, nem preciso fazer isso. Por quê? Porque Ele está ao meu lado...

Eu vivo com Deus a todo o momento porque trato todas as manifestações Dele como Ele mesmo. Eu estou sempre em comunhão com Ele porque me comungo com todas as coisas. Isso para vocês é muito difícil de ser realizada, pois ainda imaginam que precisam encontrar o Pai. Porque acreditam que precisam de uma oração ou de uma postura e concentração específica para poder comungar com o Senhor. Eu não preciso de nada disso. Quando de um lado eu vejo um objeto encontro Deus, quando de outro lado vejo outro ser, estou com Ele e não com aquele espírito.

Tudo é Deus e Deus é tudo. O lixo que vocês acham que é nojento, a cachaça e o ato de beber que vocês abominam é Deus. Tudo isso que vocês desprezam é uma Manifestação de Deus e por não verem o Universo como uma emanação do Senhor ainda ficam procurando-O longe, lá no céu. Enquanto efetuarem esta busca, não conseguirão comungar com Ele.

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Julgando Deus

Porque o bêbado não presta? O que leva o ser humanizado que pratica a ação de ingerir bebida alcoólica a ser tratado por vocês como um ser desequilibrado? A sua razão má criada, soberba e egoísta. É ela que diz que o bêbado não presta e quem não faz isso é uma pessoa boa.

Em uma reunião onde estava conversando com seres humanizados uma pessoa estava bebendo o tempo inteiro. Acontece que ele perdeu um pouco a timidez e fez diversos comentários, alguns sem propósito com o assunto que estávamos conversando. As demais pessoas que estavam assistindo ficaram horrorizadas com isso e começaram a criticá-lo. Vendo isso, eu aproveitei para lhes ensinar algo importante.

Se formos pensar dentro da lógica da razão humana realmente aquele ser humanizado não deveria estar ingerindo bebida alcoólica naquele momento. Afinal, estávamos numa reunião espiritual e as convenções humanas dizem que nestes acontecimentos devemos manter certo resguardo. Explorando esta razão humana perguntei: quem autorizou que houvesse bebida aqui dentro?

Depois do espanto inicial com minha pergunta, que foi feita propositalmente em tom mais elevado, as pessoas começaram a procurar um culpado para a presença da bebida. De repente encontram um, aquele que tinha sido o organizador do encontro, e o acusaram. Claro que respondi que ele não era culpado e completei: o culpado por ter autorizado a ingestão de bebida aqui foi todo aquele que bebeu...

Todos que naquele dia ingeriram bebida alcoólica autorizaram a presença dela no encontro. Aqueles que não ingeriram, não autorizaram. Tomar a decisão de beber é algo individual. Beber ou não num recinto é uma decisão de foro íntimo de cada um. A partir daí pergunto: quem é você para julgá-lo porque ele decidiu beber? Quem lhe deu procuração para ser o mantenedor da ordem que você acredita que precisa haver? Quem lhe nomeou juiz do mundo para julgar? Mais: quem disse que você está certo e que não se deve beber?

O que os seres humanizados não veem porque a razão má educada, soberba e egoísta não deixa é que quando julgam o outro, estão julgando o próprio Deus, pois tudo é emanação Dele. Sim, o bêbado, aquele ser nojento e asqueroso que está sempre nos bares e que vive caindo nas sarjetas é Deus Emanado. Como querem conviver com o Pai se ainda se julgam no direito de qualificá-Lo ao sabor de suas verdades? Onde fica o seu amor pelo próximo e a Deus acima de tudo se para amar alguém você precisa que ele esteja de acordo com o que acha certo? Muito longe de você neste momento, não é verdade?

Mas, vocês dizem que criticam e acusam quem não segue suas normas de conduta de vida por amor. É por amar ao próximo que você quer que ele deixe de beber. Isso é uma hipocrisia que a razão humana cria para poder lhe dar a sensação de ser melhor do que o outro. Vejam o que diz o Espírito da Verdade sobre o amor ao próximo:

“Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem” (pergunta 887).

Claro que para ainda lhes manter preso a ela, a razão vai dizer que o bem para esta pessoa é não beber. Mas, será que isso é real? Já não ouviram o ensinamento de Cristo que diz que amar o próximo é fazer a ela o que gostaria que fizessem a você? Se você gostasse de beber, será que gostaria que alguém ficasse enchendo o seu saco para parar? Será que se saboreasse uma bebida alcoólica ia ficar feliz se alguém lhe importunasse constantemente para parar? Claro que não. Assim como está se sentindo incomodado agora que estou dizendo que devem parar de perturbar quem gosta de beber, se tivessem este vício, também não iam gostar que alguém ficasse o tempo inteiro em cima de vocês para parar de beber. Portanto, deem ao outro o direito que querem para vocês.

Na verdade o amor que a razão diz existir neste momento é uma atitude tirana e não sublime. Quem insiste em críticas para que o outro pare de beber ou de fazer qualquer coisa que esteja dentro de seus padrões é como um tirano que quer impor ao próximo aquilo que quer para si mesmo. Este, na verdade não ama, mão é mesmo? Pelo menos não ama com Cristo ensinou. Pode amar como a razão humana diz que é certo, mas neste caso, não é amor, mas uma sensação que se submete a um sistema humano de vida, que quer ganhar e que quer preservar sempre suas verdades. Por isto esta sensação não pode ser qualificada de amor ao próximo.

Lembro-me que certa vez estava orientando pessoas que iam montar um grupo de atendimento a viciados em tóxico. A primeira coisa que disse as desorientou: quando alguém chegar aqui e disser que é viciado deem os parabéns a ele.

As pessoas ficaram desorientadas porque a primeira atitude quando uma pessoa procura ajuda é transmitir para quem busca a ajuda a ideia de que realmente está errada e que precisa se consertar. Mas, quem disse que eles estão errados? Eles apenas são viciados e não errados. O erro está na sua razão que não aceita o que eles fazem.

Além do mais, como querem ajudar se logo de início se colocam no pedestal de certo, de bom, de puro e conferem aos outros o título de mau, de perdido? O Espírito da Verdade ensinou assim:

“A verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola; está tanto no ato, como na maneira porque é praticada”. (Pergunta 888a)

A bondade não deve estar apenas na ideia de ajudar, mas em todo atendimento. A benevolência precisa começar logo no primeiro contato. Por isso, quando alguém lhe procurar pedindo ajuda, ao invés de se colocar no papel de superior, o que conhece o certo e o errado das coisas deste mundo, seja bondoso e benevolente e o trate com respeito e simpatia, por ele e pelo que ele faz. Sem isso vocês vão sempre se deixar guiados pela razão mal educada e continuarão julgando o próprio Deus, já que estão julgando e criticando a manifestação Dele.

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O local da convivência com Deus

Se você não viver com Deus ao seu lado através das manifestações Dele neste momento, quando fará isso? Quando morrer, quando desencarnar? Ele está muito mais longe que você pode chegar quando sair desta carne.

Além do mais, para se viver no mundo de Deus não é preciso se deslocar para lugar algum. Cristo nos ensinou assim:

“003. Jesus disse: Se aqueles que vos guiam vos disserem: vê, o Reino está no céu, então os pássaros vos precederão. Se vos disserem: ele está no mar, então os peixes vos precederão. Mas o reino está dentro de vós e está fora de vós. Se vos reconhecerdes, então sereis reconhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas se vos não reconhecerdes, então estareis na pobreza, sereis a pobreza.” (Evangelho apócrifo de Tomé)

Se você, intimamente não viver no Reino do Céu, ou seja, junto a Ele, nunca chegará ao Pai. Todos procuram Deus para comungar com Ele externamente, mas o Senhor está no íntimo de cada um. Por isso, este é o local onde se deve comungar com o Pai.

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A interdependência

É, portanto, imprescindível para aquele que quer comungar com Deus fazer isso no seu interior, mas para os seres humanizados isso é impossível. Por quê? Porque no íntimo de cada um, ao invés do Pai, existe uma série de elementos distintos. No interior de cada ser, na razão humana, existem milhares de pessoas e objetos distintos e não uma única coisa. Por não viverem com a unicidade que caracteriza o próprio Deus, não comungam com Ele. Mas, como unir todos os elementos distintos que existe no seu íntimo numa coisa só? Usando a interdependência que Buda nos ensinou.

Este ensinamento do Iluminado quer dizer que todas as coisas que são compostas por todas as outras coisas que existem. Vou dar um exemplo para compreendermos perfeitamente o quero dizer.

Um monge budista ao falar para uma plateia começou a conversa da seguinte forma: ‘o sol cumprimenta vocês’. Quem ouviu ficou estupefato com esta saudação e por isso o monge explicou.

‘Hoje pela manhã eu tomei um copo de leite. O leite está em mim, faz parte mim, portanto, sou eu. Acontece que este leite veio da vaca e por isso a vaca também é parte de mim, sou eu. No entanto, para que esta vaca tivesse produzido o leite precisava ter ingerido capim. Isso faz com que o capim que estava na vaca que deu leite esteja em mim agora, seja eu. Só que para que este capim crescesse foram necessários os raios solares que provém do sol. Por toda esta cadeia, posso dizer que o sol está dentro de mim, me compõe, é eu’.

 Com certeza você já tomou leite, sendo assim, você é a vaca, o capim, os raios de sol e o próprio sol. Estas coisas são você e você é elas. Isto nos leva a entender que ninguém é único, é uno consigo mesmo. Todos são compostos das mínimas coisas que existem. Mais, todos são iguais, pois o raio de sol que é você é o mesmo que é o bêbado. Porque você presta e ele não?

Sem se chegar à conclusão que tudo e todos são o somatório de todas as coisas que existem e por isso são todos iguais, não há como se conviver com Deus. Mas, mesmo sabendo que vocês são o resultado de tudo o que existem, ainda continuam tratando tudo como se fosse único, independente do todo e eternamente o mesmo. Mas, nem vocês são os mesmos o tempo inteiro...

Agora a pouco paramos por um momento para vocês poderem descansar. Quem foi ao banheiro durante a parada e urinou já não é o mesmo que entrou aqui. Ele não é mais composto por tudo o que era antes de entrar aqui, pois alguma coisa que o compunha já não faz mais parte dele.

Sem entender que você é o resultado de tudo e que aquele que imagina ser se altera a cada momento, jamais irá santificar todas as coisas que existem. A sua razão mal educada, soberba e egoísta ainda continuará supervalorizando você, dizendo que é diferente dos outros e melhor do que eles. Com isso, julga a Deus e convive com o Pai ao sabor de suas ideias criadas para que você seja o ser superior do Universo.

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A convivência com Deus e a natureza

Se não entender que não existe nada Único, a não ser Deus, mas que tudo é composto por todas as emanações Dele, você não conseguirá santificar o xixi que fez agora pouco e dirá que ele irá poluir os rios. Mas, quem é o rio, quem é a poluição dele? Além de ser uma emanação de Deus, é você mesmo.

A poluição do rio está em você, aliás, saiu de você. Portanto, ela faz parte de você, lhe compõe e você a compõe. Repare: nem a você mesmo está amando quando agride a poluição que está nos rios. Como não vê as coisas da forma que estamos falando, agride apenas os que a sua razão dizem que poluem o rio e não a você.

Alguém aqui já viu a imagem de um rio poluído por uma espuma densa? Aquilo é o resultado da ação dos elementos químicos que são lançados no esgoto. Sejam os detritos ou os produtos de limpeza, os elementos corriqueiros da vida humana causam a poluição dos rios e não apenas aqueles despejados pelas indústrias.

Quem jogou aqueles elementos no rio? Foi só o seu vizinho? Claro que não; você também contribuiu, pois lança detritos no vaso sanitário e usa produtos para limpar sua casa, não é mesmo? Contribuindo para isso, posso dizer que você também é um poluidor da natureza. Porque, então criticar apenas os outros por poluírem o rio?

Este é um aspecto da chamada ecologia que os seres humanizados fazem questão de esquecer. Se todos convivem no mesmo planeta, se todos transformam oxigênio em gás carbônico, se todos possuem elementos feitos de ferro, de manganês e tem casas de cimento para morar, todos são poluidores da natureza. No entanto, os ecologistas afirmam que apenas os outros poluem com seus carros, mas ele não faz isso com o dele; que todos destroem a natureza para retirar minerais para poder possuir coisas, mas as coisas dele que são feitas do mesmo mineral não contribuem para isso.

Vocês estão todos no mesmo barco. O que um faz, todos fazem e o planeta de vocês é o resultado da ação de todos e não apenas daqueles que você critica. Isso porque tudo se interdepende, porque tudo é consequência da ação de todos.

O que estou dizendo com isso? Que vocês devem parar de urinar e defecar? Claro que não... Que vocês abandonem toda a sua existência moderna e voltem a viver em cavernas? Também não... Que vocês parem de respirar? É óbvio que não... O que estou dizendo é que precisam compreender a interdependência que causa todas as coisas que existem e com isso poder parar de julgar e criticar os outros. Aceitando que todos são iguais e que todos estão em tudo, você pode amar a Deus acima de todas as coisas em seu íntimo. Neste momento estará comungando com Ele.

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O mundo onde se vive

Estão vendo o mundo que estou desenhando para vocês? Um mundo onde não há poluição, que não discordâncias, que não há contratempos. Um mundo onde tudo é Perfeito pela sua Origem. Este é o mundo daqueles que convivem com Deus no seu íntimo e com isso comungam com Ele.

Já vocês, seres humanizados guiados pela razão má educada, soberba e egoísta, não conseguem viver assim. Vivem num mundo de medo, de ansiedade. Vivem com num mundo onde a poluição pode acabar com o planeta. Se esta for a emanação de Deus, você acha que um simples ser humanizado pode fazer com que isso não aconteça?

Participante: o problema é que a gente esquece o tempo inteiro que existe um Deus que é o Senhor de tudo...

Perfeito: vocês esquecem o tempo inteiro que existe um Deus que é o Senhor do planeta. Esquecem que este ser é Único, Onipresente, Onipotente e Onisciente, esquecem que Ele é a Inteligência Suprema e por isso possui Justiça Perfeita e que usa todos estes atributos para se emanar. Quando se esquecem disso, não vivem no mundo Dele, mas sim naquele criado pela razão mal educada, soberba e egoísta que gera uma realidade sempre objetivando alcançar uma vitória. Se não vivem no mundo de Deus, mas da razão, com quem convivem, então?

Apesar de ter dito que vocês não convivem com Deus, eu responderia à minha pergunta afirmando que convivem com um deus. O seu deus é aquele a quem você segue, aquele a cujas razões se entrega. Ou seja, convivem com a razão de vocês como se ela fosse o Deus, como se ela tivesse os atributos que elencamos acima.

Apesar de dizerem que acreditam num deus único, na verdade vocês possuem milhares de deuses e vivem no mundo deles. O seu vizinho, o motorista que lhe deu uma fechada, a sua emprega, o seu filho, o poluidor e o bêbado. Todos eles são seus deuses e vocês convivem no mundo deles em cada momento. O seu vizinho é o seu deus no momento que ele coloca a música alta; o motorista é o seu deus, a causa primária da sua fechada; sua emprega e seu filho são seus deuses quando eles agem; o poluidor e o bêbado são seu deus quando eles fazem o que você acha errado ser feito. Eles são a causa primária da vida que você leva, pois é da ação deles que surge a sua existência. É do que eles fazem que surge o que você vivencia a cada momento.

Vocês estão vivendo no mundo deles, pois vivem o que imaginam que eles os fazem viver. Se atribuíssem a causa primária de tudo isso a Deus, se vissem em todas as coisas a emanação Dele, conseguiriam, viver no mundo Pai onde a paz e harmonia existem sempre.

Para se comungar com Deus é necessário estar próximo Dele. Como podem conseguir viver em comunhão com o Pai se para vocês o deus é a razão que cria a ideia sobre os outros e se no mundo onde vivem Ele não está presente?

Só comunga com o Pai aquele que convive com as manifestações Dele ao invés de viver com os elementos do mundo como individualidades distintas. Para isso é preciso acabar com ideia do Deus personificado e viver com a existência dos três deuses ao mesmo tempo: o Ser, as Manifestações e os deuses Manifestados.

É preciso se acabar com um Ser que vive isolado no céu e passar a conviver com um ser que se manifesta e por conta disso, tudo que existe é a Manifestação Dele, é ele. Só assim consegue se conviver com o Pai, se comungar com Ele.

Este é o grande segredo da mudança da razão. Ela acontece quando você consegue conviver com Deus através das coisas que fazem parte do seu mundo. Neste momento é que é necessário o exercício da fé.

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Agora pouco respondi a uma pessoa que me perguntava se eu estava falando de fé, que o trabalho que estávamos conversando ainda não era o exercício da fé, mas sim um trabalho racional. Transformar a razão que cria consciências formadas por elementos isolados em manifestações de Deus é um trabalho racional e só depois dele é que, então, se exerce a fé.

Fé é entrega com confiança naquilo que se entrega. Fé é salto no escuro. Não existe uma descrição melhor de fé do que a história de um alpinista que estava fazendo uma escalada e, depois que escureceu, ele perdeu o equilíbrio e caiu no vazio seguro por uma corda. Por causa da escuridão ele não conseguia ver quantos metros estava do chão. Desesperado, pede ajuda a Deus. Então, ouve uma voz lhe dizendo: ‘larga a corda’. No dia seguinte ele foi encontrado morto balançando a menos de um metro do chão...

Largar a corda, as realidades humanas: esta é a fé que pode lhe ajudar a comungar com Deus em perfeita harmonia. No entanto, não é esta fé que a razão de vocês vive. Ela é mais parecida com a história de um homem ateu que se perdeu na floresta na África e depois de muito andar em círculos pediu ajuda a Deus. Logo depois apareceu um africano tribal que lhe indicou o caminho de volta ao hotel. Lá, conversando com seus amigos, estes lhe perguntaram se agora ele acreditava em Deus. O homem disse que não, pois ele havia chamado o Senhor, mas quem apareceu para lhe salvar foi um negrão...

A mente humana, aquela que vive afastada de Deus, jamais vai creditar os acontecimentos ao Pai. Ela, por exemplo, jamais vai se perguntar se o vizinho não terá motivos para colocar o som alto; jamais se perguntará se não houve um motivo para que o outro motorista fizesse a manobra que acabou dando uma fechada no seu carro. Ela não interpretará nada do que acontece como carma para poder compreender que tudo é fruto da Justiça Perfeita; ela não conseguirá dizer a você que aquele acontecimento é fruto do Amor Sublime, ou seja, que é uma oportunidade de elevação: a única coisa que fará será realizar pensamentos que possam conferir a sensação da vitória das suas verdades sobre a dos outros, dos seus direitos sobre o dos demais.

Por isso primeiro é preciso o trabalho racional para transformar tudo em Deus. Passando a viver com a razão de que tudo é manifestação de Deus, então, está na hora de entregar-se ao Pai, ou seja, da aceitação de tudo o que acontece.

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Fé raciocinada

Sei que vocês são espíritas e no espiritismo existe a máxima que a fé deve ser raciocinada, que a entrega deve ser feita de forma racional. Esta forma de proceder, no entanto, não leva ninguém a comungar com Deus. Na verdade, nesta máxima estão mal colocadas as palavras...

Fé raciocinada é usar uma razão mal educada, soberba e egoísta para avaliar a entrega a Deus. Ou seja, é algo que lhe leva a entregar-se a Deus apenas quando você ganha alguma coisa, quando suas verdades, posses, paixões e desejos são atendidos. É uma fé que é substanciada pela tentação que o ser precisa vencer e não pela motivação que realmente leva o espírito a comungar com Deus.

Na verdade, a fé, a entrega com confiança a Deus, não deve ser raciocinada, mas precisa que haja um conhecimento raciocinado. Não o conhecimento de uma razão que é guiada pelos valores e verdades humanas, mas pelos ensinamentos dos mestres.

Os conhecimentos que devem servir para se raciocinar a fé são estes que conversamos: Deus é a Inteligência Suprema; Causa Primária de todas as coisas. É a partir deste conhecimento que se raciocina a fé e não das ideias humanas que afirmam que um ser humanizado pode e detém a verdade das coisas. O raciocínio não deve ser feito a partir das ideias humanas que dizem os espíritos encarnados podem agir livremente contra os outros e a Justiça Perfeita não pode proteger ninguém de sofrer uma injustiça.

Ter fé com conhecimento raciocinado é depois que você compreende o que o mestre quis dizer em um determinado ensinamento, o usa para entregar-se ao Pai. Não se trata do crivo da razão humana, mas a utilização dos valores transmitidos pelos mestres para gerar um crivo para a entrega. Não é o ganho individual que é levado em consideração quando da entrega, mas sim o relacionamento com Deus.

A fé que pode acabar com o incômodo com o som alto do vizinho só existirá quando a altura do som e o ato de sentir-se incomodado for trocado por Deus. Neste momento você poderá entregar-se a altura do som sem se incomodar. Enquanto o vizinho puder agir livremente, a sua fé ou entrega estará sempre ligada na razão, pois ela lhe diz que é capaz de acabar com este incômodo quando você criticar ou acusar o vizinho.

Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

Mudar-se

Participante: nós que realmente acreditamos na ideia de usar a vida humana para promover a elevação espiritual muitas vezes sentimos uma ansiedade porque não conseguimos ver que realizamos isso. Será que isso tem a ver com a razão que o senhor está falando?

Eu vou lhe dizer uma coisa que acho que não disse ainda: Deus é tudo e tudo é Deus. Sei que já falei isso diversas vezes, mas não custa nada repetir, pois vocês, como eu também já tinha dito, dificilmente conseguem atingir a abrangência deste tudo que estou falando.

Tem uma música de vocês que diz assim: ‘a letra a contém Meu nome’. Ou seja, a letra a teria todo o nome de Deus. Isso não é real. Na verdade a letra a é Deus, já que por ser um elemento deste mundo, é uma emanação de Deus...

 A partir desta abrangência que estou dando ao ensinamento que estamos conversando, lhe pergunto: o que é esta ideia que vocês está tendo? É Deus Emanado... A partir desta compreensão lhe pergunto: onde está você que sente, onde está a angústia, a procura ou o não conseguir fazer alguma coisa? Sumiu... Tudo isso virou Deus Emanado...

Agora me responda: porque você tinha todas aquelas coisas (a angústia, a dúvida, a certeza de não ter realizado)? Porque não tinha Deus. Agora que achou o Pai e entrou em comunhão com Ele, perdeu todas as outras coisas.

Tudo isso que você citou, na verdade, sempre foi Deus. No entanto, como não O trouxe para junto de si quando recebeu aquela razão, não conseguiu viver com Ele e por isso viveu com todas aquelas coisas. Todo pensamento que você recebe, não importa o que ele está gerando, é apenas o Amor Sublime em ação, ou seja, uma oportunidade para ver se você opta por permanecer com o Pai ou se vai vivenciar as situações criadas pela formação mental.

Participante: o que estou dizendo é que fica muito difícil acabar com a angústia...

Repare bem no que você acabou de falar. Verifique se não está sendo guiada por uma razão humana. Você ainda acredita que pode ser a causa de alguma coisa em sua vida. Ainda acredita que pode modificar alguma coisa neste planeta, nem que seja você.

Quando afirma que deveria acabar com a angústia que sente sabe o que você está fazendo? Expulsando Deus de perto de você... Se Ele é a Causa Primária de tudo e se todas as coisas são emanações Dele, a sua angústia é Ele e por isso quando quer acabar com ela está expulsando-O de perto de você.

Eu não estou falando em mudar-se, não estou falando em viver racionalmente a sua relação com Deus: estou dizendo em conviver com Ele independente do que a sua razão cria. Se ela cria angústia, chateação, raiva ou bem estar, esteja em comunhão com Deus. Se a sua realidade é estar aqui ou em outro lugar, comungue com o Pai. Se a sua razão lhe diz que você quer ganhar, não queira deixar de fazer isso: ame a Deus...

O problema é que você acha que para entrar em comunhão com Deus precisa acabar com a angústia, precisa estar no lugar certo, precisa deixar de querer vencer. Isso não é verdade. Tudo isso são criações da razão, portanto são emanações de Deus.

O maior exemplo da comunhão com o Senhor está na seguinte frase de Jesus Cristo:

“Sinto agora uma grande aflição. O que é que vou dizer? Direi: Pai, livra-me desta hora de sofrimento? Não, pois foi para isso mesmo que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” (João, 12, 27 e 28)

Jesus Cristo, como ser humanizado, vivia guiado por uma razão humana. Sua mente, no entanto, por conta da missão que iria desempenhar continha algumas coisas que a de vocês não tem, como, por exemplo, o conhecimento do futuro. Esta frase é proferida por ele um pouco antes de ter sido preso e posteriormente crucificado, mas isso não era novidade para ele, pois já conhecia o seu fim.

Apesar de saber do futuro, a razão humana com a qual viva ainda criava uma aflição com o dia seguinte. No entanto, por não se deixar levar por ela Jesus Cristo não pede ao Pai que o libere da cruz nem que acabe com aquela aflição, mas que glorifique o Nome Dele. Isso não acabou com a aflição: ela o perseguiu até o momento do desencarne. Ela foi, no entanto, superada pela comunhão com o Pai.

Jesus Cristo não pediu para suspender a aflição com a proximidade de uma crucificação, mas você quer acabar com a aflição que sente por não fazer o trabalho da elevação espiritual. Por isso se deixa levar pela razão e exige alcançar a elevação espiritual.

A partir desta constatação, posso dizer que o que lhe move nesta busca não é verdadeiramente o aproximar-se do Pai, mas sim ganhar a elevação espiritual. Por isso é que vivencia a aflição que a razão humana lhe dá logo depois de afirmar que você não alcançou o que pretendia. Como aceitou tudo isso sem colocar Deus neste assunto, ainda acha que precisa mudar alguma coisa.

Conviver com Deus, portanto, é viver com todas as coisas que Ele lhe dá sem querer alterá-las, mas convivendo com elas com a fé que você diz ter no Pai: ‘eu ainda não consegui, Pai, e por isso a razão está angustiada. Me entrego a tudo isso confiante de que o Senhor me guia’.

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Intenção

Cristo nos ensina que Deus julga a intenção de cada ser. Ele não se liga na ação, mas na forma que você se relaciona com o que está lhe acontecendo.

Qual o seu relacionamento com a sua busca da elevação? Você age desmotivadamente ou ainda espera e objetiva algo nesta busca? Se olharmos a forma como você colocou a pergunta, fica bem claro que ainda quer realizar, tem a intenção de fazer. Para que você conseguisse qualquer coisa neste sentido, na verdade tinha que ter uma só intenção: a de comungar com Deus.

Viver a cada momento com o anseio de comungar com Deus, de estar com Ele, de conviver com o Senhor: esta é a intenção de quem realmente realiza alguma coisa nesta encarnação. Quem a cada momento deseja algo diferente, nem que seja em nome desta comunhão – como foi o caso da sua pergunta que queria acabar com a angústia para poder se relacionar com Deus – nada conseguirá.

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Resultados

Como acabei de dizer o que vale para a elevação espiritual é a intenção com que se participa dos acontecimentos e não o próprio ato. No entanto, como ficou claro no caso da sua pergunta onde aparentemente a sua intenção era evoluir e eu mostrei que era ganhá-la, a intenção vivida pela razão está sempre encoberta para que você não encontre facilmente a saída.

Sendo isso verdade, como então, reconhecer a real intenção que está na mente? Descobrindo se a proposição da razão ainda exige um resultado...

Tudo que a razão cria está sempre ligada à espera de um resultado. Quem começa uma caminhada espera chegar, quem começa a fazer alguma coisa espera acabar, quem respira espera viver. Tudo que a razão cria gera sempre a expectativa de que um resultado seja alcançado. Por que a razão age assim? Para poder gerar a sensação da vitória.

Como gerar uma sensação de vitória na caminhada sem a expectativa de chegar? Só havendo a expectativa de que a ação tenha um fim a razão pode gerar o prazer de ter conseguido o que se almejava ou o sofrimento de não ter, o que não difere muito, pois nos dois casos você deixou de comungar com Deus.

Aquele que convive com o Pai não espera resultados algum pelo que faz. Ele sabe que será Deus que deu a caminhada e será Ele que dará o resultado. Como os desígnios do Senhor são insondáveis pela razão humana, aquele que se entrega ao Pai com fé não anseia por nenhum resultado. Faz as coisas sem expectativas alguma.

Este entra em comunhão com Deus, pois não possui intenções. Já aquele que ainda espera que acontecimentos ocorram para que ele possa sentir esta convivência nada alcançada. Apenas vive uma ideia de estar comungando com o Pai que a razão cria.

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Não dá para fazer essa reforma íntima

Agora que vimos o que Deus representa para os seres universais e como devemos utilizar o papel que Ele representa no Universo para a realização do trabalho da reforma íntima, vamos conversar um pouco sobre o trabalho necessário para se aproveitar a encarnação. Estou à disposição de vocês para responder perguntas sobre este tema...

Participante: diante de tudo o que o senhor está falando, que é a primeira vez que ouço, o que penso é que este viver com Deus é impossível, pois Ele está muito longe de nós. Nós fomos criados com a informação que somos muito pequenos e que não podemos nos aproximar do Pai.

 Quando fala assim vejo que você é espírita e vivencia ideias do espiritismo, mas será que elas estão em consonância com que ensinaram tanto o Espírito da Verdade como Cristo, mestres nos quais se fundamentam esta doutrina? Eu acho que não.

Antes de continuarmos deixe-me dizer uma coisa: não estou atacando a doutrina espírita. Tudo o que vou falar é simples constatação e não acusações, pois se acredito na emanação de Deus, sei que o que prega e ela mesma é uma emanação Dele e por isso jamais iria dizer que ela está errada.

Na verdade, o espiritismo quando fala que Deus está muito longe de você e que por causa de sua pequenez não pode alcançá-Lo, não leva em conta um ensinamento de Cristo:

“Não pensem que eu vim acabar com a Lei de Moisés e os ensinamentos dos profetas. Não vim acabar com eles e sim dar o verdadeiro sentido deles”. (Mateus, 5, 17).

Há mais de dois mil anos Cristo trouxe um novo sentido para os ensinamentos do caminho para se aproximar de Deus. Que sentido é esse? O amor. Tudo que Cristo ensinou atenta aos mandamentos que ele ditou e que falam do amor. Portanto este é o novo sentido que veio trazer.

Se há um novo sentido, qual o anterior? O temor a Deus. Para compreender o que estou dizendo, observe todo o Velho Testamento. Os profetas sempre exortavam os seres humanizados a ligar-se ao Pai por medo do que poderia lhes acontecer.

Quando o espiritismo diz que você é muito pequeno e que Deus está muito longe ou explora o fato de pagar por dívidas de vidas passadas está mantendo-o preso ao temor a Deus. Ou seja, ele o incita a fazer o caminho da elevação espiritual para que ganhe alguma coisa. Por isso, não podemos dizer que ela está de acordo com os ensinamentos dos mestres que fundamentam a doutrina.

Agora, será que por isso ela está errada? Claro que não... A doutrina espírita pertence à razão humana e não a espiritual. No mundo dos espíritos não existem religiões, pois todos convivem com o Pai e não precisam de intermediários para isso.

Se ela pertence à razão humana é uma emanação de Deus. O que é tudo que o Senhor emana? As provações do espírito. Portanto, os ensinamentos desta doutrina são uma prova para o ser encarnado. Isso explica, também, a questão de você estar ligado ao espiritismo: esta doutrina espelha o gênero de provas que você pediu antes da encarnação (pergunta 258). Sendo assim, o fato de lhe passarem estas ideias aconteceu para que agora possa suplantá-las. Por isto Deus emanou a consciência de estar aqui e de ouvir o que ouviu.

É por causa disso que não aceito a justificativa que dizem que por ter recebido estas ideias diferentes antes, agora não pode agora fazer a aproximação de Deus como estamos conversando. Como se diz, Deus não dá a cruz mais pesada do que você possa carregar. Se até hoje Ele lhe deu aquelas informações como razão e agora lhe mostrou um caminho que as suplanta é porque sabe que a partir de agora você tem a capacidade de mudar de caminho.

 Para que você se inspire para a realização do trabalho de buscar a comunhão com Deus, deixe-me lhe lembrar uma frase do profeta Salomão:

“O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito será feito novamente, Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: veja, isso nunca aconteceu no mundo. Não. Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos” (Eclesiastes, 1, 9 e 10)

Não existe nenhuma novidade no que você está vivendo hoje. Muitos outros seres já viveram, bem antes de você ter nascido, o que está lhe acontecendo agora, ou seja, muitos foram expostos a ensinamentos e depois tiveram tudo aquilo que acreditavam questionados. Apenas para lhe dar um exemplo disso cito os primeiros cristãos. Eles foram criados à luz dos ensinamentos dos profetas, mas depois receberam de Paulo e de outros apóstolos os ensinamentos de Cristo.

Alguns que viveram isso conseguiram realizar o trabalho ensinado pela nova doutrina, outros não. Quem foram os que conseguiram? Aquele que tentaram fazer, mesmo fustigados por uma razão que dizia que era difícil conseguir. Por isso não aceito a ideia de que não dá para fazer.

Quanto à distância que Deus se encontra, deixe-me dizer uma coisa. Realmente Ele está muito longe de todos nós. Como já disse, espíritos muito mais elevados do que nós ainda não se aproximaram fisicamente Dele. Mas, será que esta distância cria inconvenientes para a comunhão com Ele? Acho que isso é problema apenas para aqueles que se deixam guiar pela razão humana.

A razão humana precisa estar perto fisicamente, ou seja, aquele de quem queremos nos aproximar precisa estar dentro das percepções do corpo físico para que haja uma comunhão. Mas, isso não é real: dois seres podem comungar mesmo não se percebendo.

Para compreender o que estou dizendo lhe pergunto: você está vendo os espíritos que estão ao seu lado?

Participante: não, eu não tenho clarividência...

Pois é, você não tem clarividência, ou seja, não consegue perceber de alguma forma a presença de espíritos sem carne. Por isso, acha que está só neste momento. No entanto, você é espírita e recebeu o ensinamento que os espíritos estão por toda parte. Por que não estariam ao seu lado agora? Por acredita que precisa da clarividência para vê-los e aí acreditar que eles estão aí...

Saiba, ao seu lado neste momento existem dezenas de espíritos, assim como de todos os que estão aqui. Você com certeza já leu o ensinamento de Cristo que afirma que não se acende uma lamparina para guardar no armário, mas que ela precisa ser colocada no ponto mais alto para servir a todos (Mateus, 5, 14 a 16). Sendo assim, aqui onde estamos falando de elevação espiritual, deve ter muitos aproveitando a oportunidade...

A sua certeza da existência dos espíritos, de que eles estão por toda parte e de que a cada vez que dois ou mais se juntam para falar em nome de Deus seres espirituais se aproximam, deveria lhe fazer saber que existem diversos espíritos sem carne aqui. Mas, me respondeu que não sabia disso. Por quê? Porque não os estava vendo, nem que seja pela clarividência...

 Agora, será que esta condição de não percebê-los pode ser um causador de dificuldade para comungar com eles? Acho que não. No próprio centro espírita que você frequenta, assim como em outros lugares, é comum encarnados entrarem em comunhão com os desencarnados mesmo sem os verem. Como isso é feito? Concentrando-se neles.

Os espíritas sabem que se o ser humanizado buscar se concentrar nos desencarnados poderá entrar em contato com eles. Sabem, também, que para isso não importa se conseguem perceber o desencarnado e nem a distância física que ele está. Quantas vezes vocês conseguem contato com seres que estão, dentro da ideia de distância de vocês, muito longe?

Eis aí, então, a sua resposta. Sim, Deus está muito longe de vocês. Sim, o ser humanizado é pequeno e por acreditar nisso está afastado do Pai. Mas, todos estes contratempos podem ser suplantados. Como? Concentrando-se Nele...

O que estamos fazendo aqui? Quando sugerimos para racionalmente você trocar todas as coisas que existem e acontecem por Deus, o que estamos fazendo? Estamos lhe indicando um caminho para concentrar-se no Senhor.

Vocês não conseguem entrar em comunhão com Deus porque não estão concentrados Nele. Na verdade, estão concentrados na razão humana. Por causa desta concentração vivem a ideia da existência de milhares de seres que são capazes de ser a causa do que acontecem e com isso se tornam dispersos com relação à Causa Primária. Quando trocamos todos os agentes e acontecimentos por Deus, usamos a própria concentração que já existe, só que a direcionamos a Deus. Com isso conseguimos a comunhão com Ele, pouco importando onde esteja ou se conseguimos percebê-lo;

Agora dá para fazer?

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A reforma íntima e os desencarnados

Participante: o senhor falou que existem diversos espíritos aqui agora?

Sim, os espíritos estão por toda parte e vocês estão sempre em contato com eles, apesar de não terem percepção disso. Leia o capítulo IX do Segundo Livro de O Livro dos Espíritos e verá como eles intervêm no mundo corporal. Garanto-lhe que acabará esta leitura impressionada com quanta coisa você acha que faz por vontade própria, mas que na verdade é apenas o resultado da indução de um ser desencarnado.

Os espíritos, segundo o Espírito da Verdade, estão sempre se relacionando com os encarnados para dirigi-los, seja induzindo-os a fazer o que precisa acontecer (pergunta 525a), dando a eles os pensamentos (pergunta 459) ou ainda realizando diversas ações. Mas, como ensina Kardec, os seres humanizados não conseguem perceber a interferência e a presença desses seres:

“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles”. (Pergunta 525a)

Então, vocês nunca estão sozinhos. Na verdade nunca estão isolados de outros espíritos. Na verdade, se isolam do mundo espiritual. Que lugar usam para se isolar do mundo espiritual? A razão humana.

Apenas quando a razão diz que há a presença de algo espiritual naquele momento vocês conseguem conviver com este mundo. Quando ela não fala nada, imaginam que o mundo espiritual não está presente. Aí vivem sob a tutela do sistema humano de vida. Portanto, é preciso abandonar o refúgio da razão humana para poder comungar com o mundo espiritual.

Mais uma vez provamos o que estamos dizendo: vocês não conseguem comungar com Deus porque estão vivendo em comunhão com a razão humana. Como esta comunhão não pode deixar de existir, o trabalho da reforma íntima se consiste em mudar os valores desta razão para que ela seja executada com o mundo espiritual e não com os anseios materiais.

Realizando esta mudança, mesmo não vendo os espíritos ao seu lado, você pode saber que eles estão aí e por isso nunca está só. Se isso é real, você não precisa mais viver a solidão que a razão cria quando não há a percepção de ninguém perto de você.

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Ensinamentos espíritas

Participante: continuo insistindo na questão da doutrina espírita. Ela é fundamentada numa literatura transmitida pelos próprios espíritos.

Toda literatura espírita ou de qualquer outra religião é transmitida por espíritos que ainda estão humanizados. São espíritos que apesar de não mais possuírem corpo ainda estão ligados a uma razão que é mal educada, que defende a soberba e o egoísmo.

Por causa disso, elas são erradas? Não. Fazem parte da prova, da obra necessária para criar a razão cujas ideias geram a provação do espírito encarnado.

Agora, quando falo que aqueles que ditam são espíritos ligados a uma razão humana, não creia que falo de todos. A grande maioria é usada por Deus por acreditarem nos valores que ditam, mas existem muitos seres que ditam estas informações já não acreditam mais nelas. Fazem isso como missão, como sua parte na obra geral.

A mesma coisa acontece com relação aos ensinamentos trazidos pessoalmente por espíritos, ou seja, por incorporação. Muitos espíritos desencarnados que transmitem ensinamentos por incorporação acreditam no que dizem, mas outros transmitem o ensinamento porque este é o papel que exercem para a realização da obra geral e não por acreditarem naquilo. Vou falar um pouco disso...

Um espírito para poder se comunicar com vocês precisa usar uma personalidade humana, um ego que possui uma razão humanizada. Se o espírito não se ligar a uma razão desse tipo não pode ser percebido, seja pela audição como pela visão, pelos encarnados. No meu caso, por exemplo, eu sou o espírito, mas para poder ser percebido por vocês assumo o personagem Joaquim, que é uma personalidade humana, apesar de não existir como matéria.

A personalidade humana Joaquim, no meu caso, possui uma razão. Não se trata de uma razão viciada pela má educação, soberba e egoísmo, mas ainda é humanizada. Minha razão é diferente da de vocês, mas isso por conta de minha missão, de minha parte na obra geral.

No caso dos espíritos que transmitem ensinamentos nas doutrinas espíritas (espiritismo, umbanda, etc.) as razões que eles usam estão em consonância com a doutrina à qual vão servir. Ou seja, um espírito que transmite ensinamentos para um grupo de encarnados espíritas está ligado a uma razão humana que contém verdades coincidentes com esta doutrina.

Isso não poderia ser diferente, pois se assim fosse, estas transmissões interfeririam na provação gerada pela doutrina que eles servem. Se a doutrina é a prova do espírito que está ligado a ela, quando um espírito falasse contra as ideias comumente comungadas pelos seguidores dela estaria interferindo na provação.

Isto é verdade. Agora, se o espírito que está transmitindo comunga ou não com estas informações, aí já é outra questão. Existem muitos seres que se ligam a personalidade humana para realizar a sua missão porque acreditam no que está sendo dito. Neste caso, a própria participação neste acontecimento também serve de prova para ele. No entanto, existem muitos que já não comungam com estas ideias e apenas representam o papel que lhes coube.

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A transmissão dos ensinamentos e a causa primária

Quando lhe falei agora sobre a transmissão dos ensinamentos por parte de espíritos, parece que eu esqueci a Causa Primária, não? Apesar de não a ter citado explicitamente, pode ter certeza que não a esqueci: ela está por trás de tudo o que disse. Vamos entender isso...

Quando um espírito se pronuncia no mundo de vocês é como uma retransmissora de sinal de um canal de televisão. As imagens dos programas que vocês veem aqui na televisão não são gerados na sua cidade, não é verdade? Elas vêm de outras, que são as geradoras das imagens. No entanto, vocês conseguem vê-las aqui. Por quê? Porque existem antenas e estações retransmissoras delas.

Veja: as imagens daqui não se iniciam aqui, mas em outros lugares. Para que elas cheguem aqui é preciso que elas sejam retransmitidas por outros. Isso, no entanto, não interfere no que é transmitido pela geradora, ou seja, não interfere no programa original. A mesma coisa que a estação originou projeta chega até vocês.

 Este é o mesmo processo das transmissões espirituais que chegam até vocês. Elas se originam primariamente em Deus que as transmite a espíritos de um determinado grau. Estes recebem a informação e a repassam a seres que estejam mais perto da humanidade do que eles. Neste efeito cascata a informação vai sendo repassada até que chegue a um ser que esteja ligado a uma razão humanizada. Neste momento, ela é transmitida a vocês.

Esta rede de transmissão é diferente da brincadeira do telefone sem fio de vocês, onde uma informação é passada de uma pessoa para outra e chega ao último completamente diferente da sua origem. Como estamos falando de seres que vivem o faça-se de Deus, a mensagem chega até vocês como deveria chegar. Mesmo que ela tenha sido mudada ao longo das transmissões, pode ter certeza que isso foi ditado pela Onipotência e aconteceu porque tinha que acontecer.

Mas, porque Deus utiliza este sistema para falar com os seres encarnados na Terra. Será que é pelo motivo que você citou antes (Ele está muito longe de nós e somos muito pequenos para estar em contato com Ele)? Não. Este sistema obedece à interdependência das coisas que já falamos.

Deus é universalista, ou seja, vive para todos. Ele não existe apenas para satisfazer um espírito ou um grupo deles. Tudo que o Senhor faz através do faça-se tem repercussão universal.

Existem diversos graus de elevação de espíritos ou como ensina o Espírito da Verdade, diversos grupos de espíritos que se juntam por afinidades. No entanto, seja qual for o grau de elevação de um ser jamais ele será perfeito. A Perfeição é só Deus, pois se algum outro espírito a atingisse, o Ser Deus já não seria Único. Além disso, sendo perfeito, este ser teria uma inteligência suprema e com isso poderia também causar coisa no Universo. Assim, não existiria apenas uma causa primária.

Todos os espíritos estão sempre em trabalho de aprimoramento espiritual. Cada grupo de espíritos afins desenvolve um trabalho de aprimoramento ligado a um determinado gênero de provação. Vocês, por exemplo, estão ligados a um grupo de espírito que tem por afinidade o trabalho para a libertação do egoísmo. Quando conseguirem isso, se desligarão deste grupo e se ligarão a outro, que terá um novo trabalho a ser realizado e o gênero desta provação constituirá a afinidade que os ligará.

Quais são os gêneros do trabalho de espíritos mais elevados, eu não sei lhes dizer. Aliás, mesmo se soubesse, como existem muitas coisas do Universo que a razão humana não consegue conhecer, não haveria palavras que pudesse descrevê-las. Por isso, nesta conversa vamos só ficar com a consciência de que todos os espíritos estão sempre realizando trabalhos de aprimoramento espiritual.

Como eles realizam este trabalho? Participando da cascata de transmissão da Causa Primária. Sempre que é transmitida uma informação que deve ser repassada, cada ser tem a oportunidade de realizar algum trabalho. Eu, por exemplo, quando estou ligado à personalidade Joaquim, realizo um trabalho para vocês, mas ao mesmo tempo estou vivendo uma oportunidade de trabalhar pela minha aproximação de Deus.

Esta é a ação da interdependência que gera os ensinamentos que vocês recebem dos espíritos. A finalidade não é ensinar nada, mas gerar provações para os espíritos. Se o retransmissor acredita no que está dizendo ou não, isso é a ação dele na oportunidade que está tendo para a sua ascensão.

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As religiões e a comunhão com Deus

Já que vocês estão me fazendo perguntas a respeito das doutrinas religiosas e o que apontamos com caminho para a busca da comunhão com Deus, deixem-me falar um pouco sobre o assunto.

As doutrinas religiosas ainda estão apegadas ao temor a Deus que existe no Velho Testamento. Para isso exploram a ideia de que o Senhor é um simples distribuidor de benesses que atendam aos anseios dos seres humanos quando estes seguem aquilo que a religião determina como certo. Isso é completamente irreal. Na verdade somos nós que temos que comungar com Deus e não Ele conosco e para isso não devemos esperar resultados positivos nesta vida. Somos nós que temos que mudarmo-nos para chegar a Ele e não esperar apenas que Ele nos sirva.

Todos os mestres foram unânimes neste aspecto. Todos eles falaram da necessidade da mudança em nós de alguma coisa para podermos estar com o Pai. No entanto, as religiões ainda colocam o Senhor do Universo com um ser que comunga com os nossos ideais, mas que espera que os seres humanizados cumpram as determinações religiosas para que isso aconteça.

Um dos aspectos que precisam ser mudados para se alterar a forma de convivência com o Pai é o da Justiça. Para usar o temor a Deus como caminho para a elevação espiritual, as religiões o transformaram num justiceiro, num elemento estático no Universo que, depois do desencarne faz justiça. Mas, neste caso Ele não está fazendo justiça, mas apenas aplicando penas. Fazer a justiça é não deixar acontecer a quem não merece o que não é merecido. Reparar o erro cometido é apenas apenar quem errou.

Por isso afirmo que nada pode existir sem que haja uma Causa Primária substanciada numa Justiça Perfeita. Quando ela existe, jamais uma injustiça ocorrerá. Sendo assim, Deus não precisará julgar ninguém. Aliás, na Bíblia Sagrada Cristo afirma que nem Deus nem ele julgam ninguém...

Deus não é um juiz, mas a própria Justiça. Ele não julga, dá a cada um segundo as suas obras. Agir desta forma é viver o princípio da causa e efeito e não efetuar julgamentos. Portanto, esta visão está de acordo com os ensinamentos do mestre nazareno.

Eu concordo com vocês que ela é diferente daquela que é passada pelas doutrinas religiosas. As religiões falam de um Deus autoritário e justiceiro. Esta visão não tem nada a ver com o que foi ensinado pelos mestres. Eles falaram num Deus amoroso. Tanto assim que Cristo O chama de Pai.

Volto a dizer: não estou acusando nenhuma doutrina. Tendo isso em mente, pergunto: porque as religiões criaram o Deus autoritário e justiceiro? Para criar o medo, para lhe manter preso à religião. Querem manter os seres humanizados presos a ela, porque mais do mostrar o caminho para Deus, elas estão preocupadas em manter seguidores.

Para manter os seres humanizados fiéis às suas doutrinas, as religiões criaram o Deus carrasco: aquele que julga e condena os que não seguem o certo que aquela religião determina. Os que não cumprem o que a Igreja Católica e a Evangélica dizem vão para o inferno, os que não seguem a doutrina espírita vão para o Umbral. O lugar não importa, o importante é imaginar um Senhor que foi chamado de Pai por conta do seu amor pelos filhos ao invés de alguém que é capaz de punir severamente.

Exatamente para aqueles que ainda colocam Deus como carrasco há um recado de Cristo na Bíblia Sagrada:

“Ai de vocês, professores da Lei e fariseus, hipócritas! Fecham a porta do Reino do Céu aos outros, mas vocês mesmos não entram nem deixam entrar os que estão querendo”.

“Ai de vocês, professores da Lei e fariseus, hipócritas! Atravessam os mares e viajam por todas as terras para procurarem converter uma pessoa à sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do inferno do que vocês mesmos”.

“Ai de vocês, guias de cegos, pois ensinam assim: se alguém jurar pelo Templo, não é obrigado a cumprir o juramento. Mas, se alguém jurar pelo ouro do Templo, então é obrigado a cumprir o que jurou. Tolos e cegos! Qual é mais importante: o ouro ou o templo que santifica o ouro? Vocês também ensinam isto: se alguém jurar pelo altar não é obrigado a cumprir o juramento. Mas, se jurar pela oferta que está no altar, então ficará obrigado a cumprir o que jurou. Cegos, qual é mais importante: a oferta ou o altar que santifica a oferta. Por isso quando jura pelo altar está jurando por ele e por todas as ofertas que estão em cima dele. Quando alguém jura pelo Templo, está jurando pelo Templo e por Deus que está ali. E, quando alguém jura pelo céu, está jurando pelo trono de Deus e pelo próprio deus, que está sentado nele”. (Mateus, 23, 13 a 22)

Deu para compreender o alerta de Cristo? Ele alerta aos professores da Lei, ou seja, aqueles que se acham capazes de orientar espíritos encarnados no cumprimento das atitudes necessárias para a comunhão com Deus que não devem criar culpas que fechem a porta do céu para elas e não devem levá-las a dar mais importância às coisas terrenas do que as espirituais. Infelizmente os professores da Lei de hoje, assim como os do tempo dos fariseus, ainda continuam agindo da mesma forma. As doutrinas religiosas ao invés de ensinar a amar a Deus acima de todas as coisas são compostas por ditames legislativos que criam o certo e o errado; ao invés de incitar os seus fiéis a buscarem o bem celeste, a felicidade incondicional, os incitam a buscar em Deus a satisfação de seus desejos mundanos.

Nós, como não somos nem pretendemos ser uma religião, como dissemos no início desta conversa, não estamos procurando seguidores. Por isso podemos divulgar uma doutrina que seja na realidade espiritualista, ou seja, que contenha uma série de ensinamentos que premiem os valores da existência eterna e não os da material. É por isso que o que falo entra em discordância com o que as doutrinas religiosas pregam, apesar de usarmos a mesma fonte de informações.

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A classificação da elevação dos espíritos

Participante: aproveitando que o senhor está falando das doutrinas religiosas, em O Livro dos Espíritos há uma classificação dos espíritos quanto ao seu grau de elevação que acho muito esquisita. No entanto, a doutrina espírita a segue.

Dentro de nossas conversas estudamos todas as perguntas de O Livro dos Espíritos. Comentei todas as respostas do Espírito da Verdade sem retirar uma só palavra do que ele falava, mas mostrando uma visão do diferente da alcançada pela doutrina espírita. Mesmo a questão 843, cuja resposta aparentemente está completamente oposta ao que nós pregamos, respondi sem alterar o que foi dito pelos espíritos que atenderam às perguntas de Kardec.

“843. Tem o homem o livre arbítrio de seus atos? Pois que tem a liberdade de pensar, igualmente a de obrar. Sem o livre arbítrio, o homem seria máquina”.

No entanto, a escala de espíritos fundamentada no seu grau de elevação como colocada por Kardec eu me recusei terminantemente a responder. Porque fiz isso? Porque ela não é dos espíritos, mas sim organizada por uma mente humana, uma mente fundamentada numa razão mal educada, soberba e egoísta. Vamos entender isso...

Repare no texto da pergunta 97 de O Livro dos Espíritos:

“97. As ordens ou graus de perfeição dos Espíritos são em número determinado? São ilimitadas em número, porque entre elas não há linhas de demarcação traçadas como barreiras, de sorte as divisões podem ser multiplicadas ou restringidas livremente. Todavia, elas podem reduzir-se a três principais. Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição máxima: os puros Espíritos. Formam a segunda os que chegaram ao meio da escala; o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos”.

A partir daí, Kardec cria toda uma escala para os espíritos e não o Espírito da Verdade. Os textos das perguntas 100 a 113 são produções de Kardec, uma personalidade humana ligada a uma razão que não é guia infalível para elevação. Foi ele que escreveu o texto destas questões e não os espíritos orientadores. Sendo assim, esta classificação é uma prova e não um caminho para elevação.

Este foi o primeiro motivo que me levou a recusar comentar estas questões, mas houve outro: a hierarquização...

Todos os mestres ensinaram que o Universo como um espaço composto por Unidade, ou seja, todos vivem em comunhão com Deus e com a coletividade. Sendo assim, não pode haver um espírito superior ao outro. Mesmo que houvesse superioridade, esta seria moral e quem a tem não se sente melhor do que os demais. Por isso não ia aceitar a superioridade. Da mesma forma, quando a superioridade é moral, não existe sentimento de inferioridade, mas de respeito, o que não coloca o outro acima. Por isso não aceito a hierarquização desta escala.

Para substituí-la, proponho uma alternativa. A escala que proponho tem os três grupos principais ensinados pelo Espírito da Verdade, mas não contém apenas poucas classes como afirmou Kardec. Esta, com certeza, é ilimitada no número de classes, pois como ensinam os espíritos, não há linhas de demarcação traçadas como barreiras...

 Para compreenderem a escala que proponho, os convido a desenhar no papel uma linha horizontal reta. No meio dela, um pouco acima, faça um ponto.

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Os espíritos comporão a linha horizontal; o ponto é Deus.

Agora observe o desenho. Esta escala acaba com a hierarquização e recoloca a Realidade Universal: todos os espíritos convivendo em Unidade, no mesmo grau. Isso porque todos somos, por força de nossa Origem, geneticamente iguais. Deus não faz um espírito melhor do que o outro, por isso, entre nós não há diferenças que levem alguns para cima ou para baixo.

Se existe alguma diferença entre nós, seres universais, ela está na comunhão com Deus. Uns comungam muito mais do que outros. Mesmo não falando de distância física, vou dizer que aqueles que estão em maior comunhão com o Pai estão mais perto Dele do que aqueles cuja comunhão não seja tão constante ou não exista. Este fato está representado na escala que proponho...

Estão mais perto de Deus, ou seja, comungam mais estreitamente com o Pai, aqueles que estão no centro da linha da escala que propus. Já os que estão mais perto dos extremos, são aqueles que estão mais afastados do Pai. Este afastamento, no entanto, não os faz pior do que os outros, pois todos estão na mesma linha. Esta escala não possui nenhuma linha de demarcação como barreira e pode haver aqui quantas ordens vocês quiserem.

Aí está uma escala que realmente atende os ensinamentos de todos os mestres quanto à igualdade dos seres e a diferença de seus graus de elevação moral que os fazem agrupar-se por afinidade no Universo. É por conta dela que não concordo com a escala apresentada em O Livro dos Espíritos.

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Os mestres da humanidade

Participante: seguidamente o senhor tem se referido aos mestres da humanidade ou avatares como nós chamamos. Pode elencá-los?

Há uma grande diferença entre os mestres da humanidade e aqueles que vocês chamam de avatares. Isso porque vocês dão este título a seres humanos, enquanto que os mestres são seres espirituais que não se humanizaram para passar os ensinamentos. Vou explicar melhor isso.

Vocês consideram Krishna, Buda, Jesus, Maomé e Alan Kardec como mestres, mas não o são. Eles são elementos humanos que serviram como médiuns, ou seja, retransmissores dos ensinamentos dos mestres que estavam espiritualizados neste momento. Mal comparando, pois não estamos tão comungados com Deus quanto aqueles, os avatares seriam o médium que estou usando neste momento e eu o mestre. Jesus foi o médium de Cristo, Maomé o do Anjo Gabriel e Kardec de um grupo de espíritos que denominados como Espírito da Verdade.

Sei que, especialmente no caso de Jesus, já que no dos outros já tiveram informações de que realmente a mensagem vinha do alto e não deles, vocês se surpreenderam com o que disse, mas é isso mesmo. Jesus foi o médium de um espírito que vocês chamam de Cristo.

Cristo não era o sobrenome de Jesus. Este termo significa ‘messias’. O sobrenome de Jesus, como de todos que vivam naquele tempo era formado por sua origem. O nome completo de Jesus era ‘filho de José’ e não Jesus Cristo.

Mas, quando Jesus passa a servir como médium de Jesus? A partir do batismo no rio Jordão por João Evangelista:

“Logo depois que foi batizado, Jesus saiu da água. Então, o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e pousando sobre ele. E do céu veio um voz que disse: este é o meu filho querido, que me dá muita alegria!” (Mateus, 3, 16 a 17)

Ainda hoje em algumas correntes espiritualistas se representa a incorporação como uma pomba que se junta ao corpo físico.

A partir deste momento, o ser humano, o personagem criado para que um espírito pudesse vivenciar uma encarnação, passou a ser o médium de um ser que comunga com Deus. Este ser não possui raça, sexo, cor nem nome, mas se codificou chamá-lo entre os humanos de Cristo.

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A complicação gerada pelos seres humanizados

Agora que já respondemos diversas perguntas sobre a questão da reforma íntima, vamos continuar na nossa busca de comungar com Deus?

Já falamos bastante sobre o relacionamento com o Pai através da vivência da Causa Primária que traz a Justiça Perfeita, mas nós pouco falamos com relação à vivência do Amor Sublime. Conviver com a Causa Primária gerada por uma fonte que representa o Amor Sublime é viver em uma comunhão amorosa. Disso nós pouco falamos, então, vamos abordar este tema agora...

A questão de se entrar em uma comunhão amorosa com Deus é simples: basta amá-Lo. Quando se ama ao Pai, este sentimento serve como base para a comunhão entre os dois. Neste momento, o mandamento exigido por Cristo para a elevação foi alcançado: amar a Deus. Portanto, aprender a amar a Deus é o caminho para se alcançar a perfeição.

Se a elevação espiritual se consiste apenas em amar a Deus, ela deveria ser uma coisa simples de ser feita, não? Realmente o é; o problema é que os seres humanizados guiados por uma razão má educada, soberba e egoísta complicam a história. Vamos entender isso...

Para compreender a complicação que a razão humana gera, vamos ver mais de perto a questão 115 de O Livro dos Espíritos:

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber”.

Paremos nesta parte para compreendermos perfeitamente a complicação gerada pelo ser humanizado para a caminhada no sentido de comungar com Deus. Depois seguiremos na nossa análise desta questão que leva o ser humanizado a complicar-se no momento que busca uma convivência amorosa com o Pai.

Segundo o Espírito da Verdade, todos os espíritos são criados simples e ignorantes, ou seja, sem saberes. Para vocês, quando é que ele deixa de ser ignorante, ou seja, quando passa saber algo? Quando ele transforma uma informação numa convicção, num saber.

Ter conhecimento e saber são coisas diferentes. O conhecimento é apenas uma informação; saber é transformar esta informação numa verdade. Por isso posso dizer que o saber é o fruto do conhecer, é aquilo que se origina no conhecimento.

O que disse Deus a respeito do fruto da árvore do conhecimento aos espíritos?

“Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore, pois no dia em que você a comer, certamente morrerá”. (Gênesis, 2, 16 e 17)

Quando digo que esta mesa é branca, isto é uma informação, é a árvore do conhecimento. Quando você come o fruto dela adquire um saber, ou seja, esta mesa só pode ser branca. A cor branca que se dá a mesa deixou de ser uma informação e virou uma verdade. Por ter adquirido esta característica será usada pela razão para propor soberba e egoísmo. Por causa disso é que Deus orienta os espíritos a não saber, ou seja, a não transformar as informações em saberes.

Vamos continuar a leitura da pergunta 115.

 “A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los...”

Repare no termo usado pelo Espírito da Verdade: esclarecer-se. Ele não fala em saber, em transformar informações em saberes, mas de obter uma informação que esclareça o assunto.

Esclarecer-se é receber informações que joguem luz sobre um determinado assunto. No caso da mesa, por exemplo, esclarecer-se é receber a informação que a pigmentação que é percebida recebe o nome de branco. Isso, no entanto, não pode virar um saber, uma convicção. Vou explicar isso melhor.

Se eu disser que esta mesa é azul, vocês certamente vão rir de mim. Dirão que sou daltônico ou maluco. Mas, será que sou mesmo? O que é a cor branca segundo a ciência humana? A soma de todas as cores. Portanto, a cor azul está nesta mesa, ela compõe a pigmentação que vocês chamam branca. A mesa, então, pode ser classificada de azul sem que por isso eu seja diferente de vocês.

Estando a cor azul ali, porque você não aceitou isso quando eu falei? Porque convive com a informação branca como verdade, como certa, ou seja, porque a transformou num saber. Quando aconteceu a diferença entre o que eu disse e o seu saber a sua mente egoísta teve que defender sua verdade e por ser também soberba, ou seja, quer obter vitórias sobre os outros, vai explorar este fato e fazê-lo lutar contra mim para provar que a pigmentação dela tem o nome de branca.

As missões que Deus dá aos espíritos são para esclarecê-los e não para alcançar saberes. O que seria esclarecer-se com relação ao exemplo que estamos usando? É chegar à seguinte consciência: ‘eu tenho a informação de que esta cor é branca, mas ela não é universal, pois tem gente que acha que ela é azul’. Com esta ideia você chegou ao esclarecimento máximo que o espírito pode alcançar: ninguém possui a Verdade Universal, Absoluta, sobre as coisas. Todos apenas possuem verdades relativas, informações que não são tomadas como verdadeiras por todo mundo e que se alterarão ao longo do tempo.

Mas, como são guiados pela razão mal educada, soberba e egoísta que precisa de verdades para poder dar vazão a estas suas características, transformam o que o Espírito da Verdade falou como uma necessidade de se adquirir novos saberes, de obter uma grande quantidade de informações e transformá-las em verdades. Esta é a complicação que o ser humanizado coloca para amar a Deus.

Hoje em dia o moderno espiritualismo, por conta desta questão de O Livro dos Espíritos, transformou-se numa busca incessante de saberes. Chegaram ao ponto de organizar uma faculdade de ciências espíritas, ou seja, um local inteiramente dedicado a descobrir o que o homem não tem condições de penetrar, como ensinou o Espírito da Verdade.

Só que quando agem assim, os espiritualistas e espíritas não veem que estão municiando a razão soberba e egoísta e que por causa da sua má educação ela vai usar isso para nutrir os vícios humanos que o espírito veio à carne para provar a si mesmo que abre mão.

“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas...” (pergunta 14)

A razão trata cada saber como um tesouro que ela conquista. Por causa disso o egoísmo, que é o vício mais radical (pergunta 913), age orientando-o a defender este saber do ataque dos saberes dos outros. Por isso o Espírito da Verdade orienta com relação ao combate ao egoísmo: “Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades” (pergunta 913).

A razão precisa de verdades para poder ser egoísta. Sem elas, não há tesouros para serem defendidos e com isso nada há a se defender. Por isso, não adquirir saberes, ou seja, não transformar informações em certeza é como matar a razão de sede ou inanição.

Quando você acredita (sabe) que existe um lugar certo para que um livro seja colocado, adquiriu um elemento que será explorado pelo egoísmo. Acontece que outras pessoas possuem outras verdades sobre o lugar onde o livro deve estar e, também atentas ao seu egoísmo, o muda de lugar. Quando isso acontece, o que ocorre? Você comete a injustiça de dizer que ela é errada, por mais que a ame vai tentar ensiná-la qual o lugar certo para ele estar e com isso não praticou a caridade que é dar ao próximo aquilo que quer para si: o direito de saber o lugar certo para o livro.

Isso faz aquele que está preso à razão mal educada, soberba e egoísta. Já aquele que busca a comunhão com Deus, aquele que possui valores compatíveis com os ensinamentos dos mestres, mesmo possuindo a informação de que o lugar do livro é ali, ama ao próximo como a si mesmo e por isso não o critica por tê-lo deixado em outro lugar. Com isso não julga e conseguiu retirar a trave do seu olho que estava vendo cisco no dos outros.

Quando você chega à conclusão que, mesmo tendo a informação de que existe um lugar para o livro estar, ele pode estar em outro porque a sua verdade não é absoluta, o que aconteceu? Esclareceu-se... Agora posso chegar à essência real do ensinamento do Espírito da verdade nesta questão 115.

Cada ser nasce sem saber. Deus dá a cada um uma missão, uma vivência de acontecimentos. Em cada uma delas o espírito recebe uma informação. Com que objetivo isso acontece? Para esclarecê-los que aquela é apenas uma informação temporária que não deve ser tratada como Verdade Absoluta. Com isso ele alcançou o esclarecimento sobre a Realidade do Universo.

Vocês acreditam que no Universo todos os espíritos comungam das mesmas verdades, que todos sabem a mesma coisa. Isso é ilusão. A multiplicidade de visão sobre determinado tema é imensa. Os seres universais possuem compreensões diferentes sobre o mesmo tema.

Apesar disso, vivemos em comunhão. Como? Respeitando o direito que o outro tem de acreditar naquilo que ele quer. Esta é a essência do amor ao próximo como a si mesmo que o Cristo ensinou.

Viram como não estão esclarecidos sobre a Realidade do Universo? Repararam como precisam deste esclarecimento para poder conviverem com os espíritos libertos da materialidade? Se chegassem agora no mundo que estes seres habitam certamente iam querer provar aos que aqui estão há muito tempo o que é certo e errado e ensiná-los sobre as coisas daqui.

Participante: agora fica bem claro o exemplo do vizinho com a música que o senhor está usando.

Sim, mas esta compreensão não vale só para isso. Este foi um exemplo que peguei aleatoriamente, mas esta máxima serve para todos os momentos de sua vida. Se alguém lhe contraria existe ali uma grande oportunidade para você se esclarecer no tocante ao relacionamento dos espíritos no Universo.

É por causa de tudo isso que Deus orientou os espíritos que não devem comer do fruto da árvore do conhecimento.

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A verdade que salva

Participante: como fica o ensinamento que diz que devemos conhecer a verdade para que ela nos liberte?

Esta máxima é perfeita, mas que Verdade pode lhe libertar? Só Deus sabe a Verdade...

Repare numa coisa. A classificação de verdadeira é dada a uma informação depois que ela é analisada, raciocinada. Como vocês chegaram à conclusão que a pigmentação desta mesa é branca? Quando analisaram mentalmente a percepção e a compararam com informações que já estão em suas memórias. Neste processo, que chamamos de raciocínio, vocês compararam a percepção que estavam recebendo com a informação que possuem sobre o nome das pigmentações. Deste processo nasceu a certeza de que esta mesa é branca.

Pois bem, quem é a Inteligência Suprema? Deus. O que significa ser esta Inteligência? Ter a capacidade absoluta de chegar a conclusões perfeitas. Portanto, só Ele é capaz de analisar e rotular perfeitamente esta pigmentação. Você possui a propriedade inteligência, mas ela é inferior à capacidade de transformar conhecimento em verdade do Pai, por isso, a Verdade Dele é mais verdadeira que a sua.

Esta Verdade pode lhe salvar: só Deus sabe. Quando você compara a sua capacidade de determinar que alguma informação é verdadeira com a do Pai, rapidamente abre mão da certeza que a razão má educada, soberba e egoísta cria.

Mas, como Deus expressa as suas Verdades? Através da Causa primária, de suas emanações. Tudo o que Deus causa é fruto da análise feita pela sua Inteligência Suprema e por isso é a Verdade do Universo.

Com isso chegamos ao ponto máximo de conhecimento que você pode ter e que lhe salvará: tudo está sempre Perfeito, pois está fundamentado na Verdade que a Inteligência Suprema criou a partir da sua perfeita análise dos acontecimentos. De posse desta razão, quando alguém chamar a mesa branca de azul você não vai questionar, porque sabe que aquela classificação é uma emanação de Deus e que por isso mesmo é uma Verdade. Pode ser uma informação que você não tenha ou mesmo que seja oposta à sua, mas que não deixa de ser verdadeira, pois foi emanada pela inteligência Suprema.

Levando-se em consideração a forma de compreender as coisas deste mundo que a razão humana possui (gerar verdades sempre), vocês, então, podem imaginar que no momento em que uma pessoa disser que esta mesa é azul devem alterar a informação que possuem. Isso não é real. O branco que você tem como informação também foi causado por Deus e, portanto, também é verdade. Por este motivo o trabalho de quem quer comungar com Deus não é alterar suas informações, mas respeitar todas as emanações Dele, todas as informações que existem. Apesar de elas parecerem antagônicas, não o são, porque a Inteligência Suprema só pode emanar Verdades...

 Eis, agora, aquilo que pode lhe salvar: viva com suas informações sem alterá-las, mas respeite o direito do outro possuir informações diferentes sem classificá-lo como errado ou querer ensinar o certo. Aliás, existe expressão maior do amor ao próximo do que esta?

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Obtendo o esclarecimento

O que fizemos agora? Passamos pelo crivo da razão orientando pelos ensinamentos dos mestres o que está na razão de alguns seres humanizados, inclusive de vocês que estão aqui hoje, pois se dizem espíritas. Este foi o trabalho orientado por Kardec e que vocês não fizeram: passar pelo crivo da razão as informações que recebem.

Sabe, apesar de dizerem-se buscadores de Deus, vocês não O buscam realmente. Afirmo isso porque não se dão ao trabalho de passar pelo crivo da razão a busca que fazem. Se fizessem isso, certamente teriam chegado à conclusão que chegamos aqui.

Na verdade, vocês exercem esta busca como vacas: deixam-se guiar por uma madrinha. As vacas quando são levadas ao pasto vão em bando. Numa é colocada um sino no pescoço e ela vai à frente e as outras simplesmente a seguem sem saber para onde estão indo. Na busca de Deus vocês procedem da mesma forma.

O que fizemos para chegar às conclusões que chegamos? Lemos O Livro dos Espíritos e a Bíblia. O que vocês fazem para caminhar em direção a Deus? Sentam-se em plateias para ouvir palestrantes falando. Não se dão ao trabalho sequer de pensar no que ele diz: o palestrante falou está certo. Mas, será que pode se confiar num palestrante humano? Claro que não.

Todo ser humano, sem exceção, é um personagem que foi criado para a provação ou missão de um espírito. Por isso, ele é uma razão mal educada, soberba e egoísta. Mal educada porque se atenta prioritariamente ao bem estar humano; soberba porque quer obter vitórias mostrando o quanto é culto ou humilde; egoísta porque, ao imaginar que possui uma verdade, quer ensiná-la aos outros. Por isso Cristo disse que não devemos chamar ninguém neste mundo de mestre.

Não estou dizendo que as razões dos palestrantes espíritas e espiritualistas estão erradas. O que acontece é que elas são a provação daquele ser e não as suas. O conjunto do que ele sabe está totalmente de acordo com as intenções da sua encarnação e não das suas. Por isso, para poder bem esclarecer-se, você precisa formar suas próprias conclusões. Como se faz isso? Lendo diretamente os livros sagrados...

Em uma conversa eu disse aos seres humanizados que me ouviam que se eles querem tanto ter verdades que construam as suas próprias ao invés de ficar adquirindo verdades dos outros. Isso acontece quando o ser vai diretamente à fonte.

Quando você lê um texto a sua mente gera uma interpretação. Ela é uma informação que está sendo causada primariamente pela Inteligência Suprema, ou seja, o perfeito instrumento para a sua elevação. Use-a no sentido de esclarecer-se, ou seja, no sentido de observar como existem milhares de opiniões sobre o mesmo assunto. Com esta consciência faça, então, o trabalho da reforma íntima: ‘todas as informações que existem são verdadeiras porque são emanações da Inteligência Suprema’. Só assim você conseguirá comungar amorosamente com Deus.

A leitura direta é imprescindível para este esclarecimento, pois pela idolatria que fazem do saber de quem está falando acabam não passando pelo crivo da razão formada pelos ensinamentos dos mestres o que ouvem e com isso vão aceitando como verdadeiras informações que são apenas instrumentos do trabalho de reforma íntima de outros seres.

Aliás, façam isso também com as informações que estão recebendo agora. Não acreditem no que estou dizendo simplesmente porque é um espírito incorporado que está falando. Eu não possuo a Verdade Absoluta das coisas, mas apenas informações geradas por uma razão um pouco diferente da de vocês.

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Sabedoria

Reparem numa coisa: usei diversas vezes o termo saberes, mas em momento algum usei sabedoria, que para vocês é o acúmulo de conhecimento. Por que fiz isso? Porque sabedoria é algo completamente diferente.

O acúmulo de informações, que a razão de vocês trata como verdade, é cultura e não sabedoria. Sabedoria é colocar em prática aquilo que se conhece.

Uma pessoa que possua todas as informações sobre como se escrever um livro é uma pessoa culta, mas somente aquela que usa este conhecimento e escreve um é que pode ser considerada sábia.

Sendo assim, sábio não é quem possui diversas informações sobre o mundo espiritual, aquele que conhece os ensinamentos dos mestres, mas sim aquele que mesmo que conheça menos consegue pôr em prática o que teve informação.

Portanto, não transformem as informações que vocês estão recebendo aqui apenas em cultura. Se assim fizerem estarão adquirindo saberes que a mente defenderá com unha e dentes das informações que outros possuem. Busquem levar para a prática o que estão ouvindo e com isso certamente se tornarão sábios.

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O reto caminho

O caminho, portanto, para se chegar a Deus vem com o esclarecimento e com prática daquilo que ficou esclarecido. Só que Krishna nos ensina que existe um reto caminho para fazer esta caminhada. Ora, se ele fala em um reto caminho, deve existir outro que não seja reto. Vamos ver os dois...

O caminho não reto chega a Deus, mas depois de muito caminhar. Ele é mais longo, mais penoso. Já o caminho reto, que o Bendito Senhor chama de Yoga, leva rápida e diretamente a Deus. Como o não reto é o oposto daquele ensinado por Krishna, vamos ver este segundo e com isso conheceremos os dois.

Antes, uma palavra sobre Yoga. No mundo atual, a Yoga foi transformada numa série de exercícios que facilitam a concentração e com isso ajudam a proporcionar ao ser humanizado um pouco de tranquilidade e equilíbrio. No entanto, não é isso que ensinou o Bendito Senhor. Ele realmente fala em algumas posturas como facilitadores da concentração, mas não liga a Yoga apenas nisso. Ele transmite uma série de princípios que precisam ser observados durante a meditação para servir de caminho para a elevação espiritual, nas estes não fazem parte da Yoga como vivenciada hoje no mundo ocidental.

Yoga quer dizer a ligação entre o humano e o celeste. O conjunto doutrinário que a compõe forma o caminho reto que liga o ser humanizado a Deus. Por isso conhecer este conjunto é importante neste momento em que estamos falando sobre a união com o Pai.

Os princípios da Yoga estão espalhados por todos os Vedas, os livros sagrados dos hindus, mas especialmente no Bhagavad Gita. Este texto, que faz parte do Mahabarata, um livro épico que esclarece os métodos de desenvolvimento espiritual ensinados por Sri Krishna, que é a figura central do hinduísmo, o Jesus Cristo deles.

O Bhagavad Gita narra a conversa de Krishna com um seu primo, Arjuna. Esta conversa acontece num campo de batalha antes que um conflito aconteça. Esta batalha será travada por Arjuna e seus irmãos contra os seus parentes mais próximos, cujo líder da família havia usurpado as terras da família de Arjuna. Preso às questões espirituais, Arjuna nega-se a combater seus parentes por questões materiais. Neste instante, Krishna o incita a guerrear e para isso utiliza a Yoga, a ciência da realização espiritual neste mundo.

No Bhagavad, assim como no Mahabarata, a Yoga é descrita a partir de três pontos fundamentais: o carma, o yajña e o bhakti. Sobre o carma já falamos bastante aqui: tudo que lhe acontece é justa reação a uma ação anterior sua. O bhakti é a forma perfeita de se adorar a Deus. Sobre ele também já falamos aqui, pois consiste-se em viver com o Pai como Causa Primária de Todas as coisas com Justiça Perfeita e Amor Sublime. Já o yajña significa oblação.

Pelo dicionário da língua portuguesa, oblação significa oferecimento de alguma coisa à divindade. Ou seja, o reto caminho é alcançado quando se vive com a consciência do carma, do bhakti, mas principalmente quando se vivencia estas coisas em oblação a Deus.

Voltamos, então, a um ponto que já conversamos hoje: o trabalho da elevação espiritual não deve ser realizado para você ganhar nada, mas como oferecimento a Deus, pelo amor a Deus e não a você mesmo. O reto caminho, portanto, é aquele em que você realiza o trabalho de libertação da razão mal educada, soberba e egoísta como oblação, por amor a Deus e não para que conquiste a elevação espiritual. Sendo assim, o caminho mais longo e penoso é aquele onde o trabalho de elevação espiritual é realizado pura e simplesmente para se ganhar alguma coisa individualmente.

Como eu disse antes, os dois levam ao Pai, mas o segundo é penoso e longo e requer muitas encarnações para ser conseguido; o primeiro é curto e direto e pode ser realizado numa só existência.

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Yajña

“09 - Neste mundo, as pessoas comuns se enlaçam por ações que diferem daquelas que são cumpridas por amor a yajña. De forma que, ó Kounteya, atua sem apego, somente por amor a yajña". (Bhagavad Gita, capítulo 3)

A Causa Primária, como também nós já conversamos aqui quando falamos que ninguém pode fazer nada de novo neste mundo, dá as mesmas ações a todos, mas mesmo duas cenas que sejam exatamente iguais podem ser diferentes. Isso porque toda ação é vivenciada internamente com uma intenção. Alguns vivenciam os acontecimentos presos à razão egoísta e soberba e com isso estão ligados a intenções individualistas, pessoais; outros conseguem viver o mesmo acontecimento ligados em Deus e com isso vivem a mesma ação de forma diferente. Vou tentar explicar melhor isso...

Digamos que dois seres humanizados tenham tido alguns pertences seus levados por outros. Aquele que vivencia este acontecimento ligado a uma razão mal educada, soberba e egoísta e que por causa disso é apegado aos seus bens materiais, vivenciará este momento como um roubo ou furto. Aquele que, promovendo a reforma íntima, viva este acontecimento ligado a uma razão que seja fundamentada pelos ensinamentos dos mestres, não viverá dessa forma. Ele sabe que Cristo ensinou o despossuir como caminho para a elevação e por isso não está apegado aos bens materiais. Por isso interpreta de forma diferente este acontecimento. Nos dois casos o acontecimento é o mesmo – ambos ficaram sem seus pertences – mas, pela vivência diferenciada a essência do acontecimento será diferente.

Estas são as duas possibilidades de vivência deste acontecimento que a razão os deixa alcançar, mas há mais uma terceira: a oblação. Entre os que vivenciam o acontecimento com uma razão formada pelos ensinamentos dos mestres há aqueles que fazem isso para poder não sofrer, ou seja, para ganhar o não sofrimento e a elevação espiritual. Mas, há ainda os que, colocando em prática os ensinamentos dos mestres, o fazem ainda como um ato fundamentado no amor a Deus e não apenas para poder ganhar alguma coisa. Esta é a diferença entre o reto caminho e o caminho mais longo.

Aquele que faz pensando em si, no seu bem estar, mesmo que seja em outra existência, tem uma paga pelo seu trabalho. No entanto, aquele que supera inclusive este individualismo, esta soberba, recebe mais e caminha mais rapidamente. Para isso Krishna ensina os seres humanizados como conviverem com os gunas.

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Gunas

Guna é um ensinamento do Bendito Senhor que diz respeito às qualidades do pensamento. Para este mestre, todos os pensamentos humanos são dotados de três qualidades básicas: rajas, tamas e sattva.

A qualidade rajas dá ao pensamento a ideia de gerar uma ação. Quando, por exemplo, você pensa que precisa fazer alguma coisa, este pensamento está imbuído da qualidade rajas. Sobre rajas, mais um detalhe: a ideia de não agir também é uma ação. Quando o pensamento lhe diz para não fazer nada, está lhe dando uma ação: o não fazer nada. Já quando o pensamento está fundamentado em tamas, a ideia é de omitir-se. Um pensamento fundamentado em tamas é aquele que não existe decisão do que fazer e por isso nada é feito.

Todas estas duas características são formadas por uma razão humana, já que como vimos a ação independe do ser humanizado, mas surge do faça-se da Causa Primária. Por isso Krishna fala a Arjuna:

“05 - Em realidade, ninguém fica inativo um instante sequer, porque os gunas ou as qualidades nascidas da prakiti (mente-ma¬téria ou natureza psicofísica) obrigam o homem a agir sem cessar”. (Bhagavad Gita, capítulo 3)

Por causa desta questão o Bendito Senhor orienta que o ser humanizado deve ter como qualidade de pensamento o sattva. A ação deste guna significa pensar com bondade. Quando um pensamento é formado com a qualidade sattva, ele, por exemplo, não acusa o vizinho de estar colocando a música alta, mas por amor ao irmão que mora na casa ao lado releva este fato.

Se observado com a razão humana esta forma de pensar, aparentemente teremos aqui um pensamento bondoso, mas Krishna fala mais a Arjuna a respeito deste controle dos pensamentos. Ele diz que depois que controlar a característica de agir (brigar com o vizinho) ou a de omitir-se (nada fazer) através da bondade, o ser humanizado deve novamente repensar este pensamento usando para isso a bondade a si mesmo. Ser bondoso consigo mesmo não é querer o bem material para si, não é querer ser admirado pelos outros, mas sim alcançar o expoente máximo que pode ser vivido nesta vida: amar a Deus sobre todas as coisas.

Eis aí, portanto, o resumo da Yoga, do reto caminho para se unir o material ao celeste. Chega a Deus aquele que consegue dominar os pensamentos gerados pela razão mal educada, soberba e egoísta aquele que consegue dominar a sua intenção de agir contra ou a favor de alguém ou de omitir-se durante os acontecimentos da vida por bondade. Mas, chega mais rapidamente aquele que troca a bondade pelo amor a Deus.

Lembro-me de uma pessoa que sempre me dizia: ‘é muito estranho esta coisa do relacionamento com Deus. O Senhor é algo que não sei o que é, que não conheço, que não compreendo, mas que amo profundamente’. Este é o ser humanizado que consegue comungar com Deus. É aquele que mesmo não conhecendo Deus, não compreendendo como e porque Ele age e ainda independente do que aconteça em sua existência perceptiva (carnal) O ama profundamente. Este O alcança e consegue comungar com o Pai, pois caminha no reto caminho.

Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

A paga de quem trilha o reto caminho

“11 e 12 - Com este yajña nutrireis aos devas e eles vos nutrirão a vós. Nutrin¬do-vos mutuamente, ambos alcançareis o bem supremo”. (Bhagavad Gita, capítulo 3)

Devas são os seres incorpóreos que vivem junto ao orbe terrestre. Aquele que pratica o yajña alimenta estes seres de amor e são alimentados por eles. Assim, nutrindo-se mutuamente, os dois evoluem. É desta afirmação de Krishna que podemos compreender o que recebe cada um dos tipos de seres humanizados.

Aqueles que vivem exclusivamente com a razão humana recebem apenas o soldo que esta tem para pagar: o prazer e o desprazer. Deixando-se guiar pela razão mal educada, soberba e egoísta na vivência dos acontecimentos, o único fruto que colherá será a satisfação de ver suas propriedades valorizadas pelos outros ou a insatisfação de vê-las atacadas pelos demais.

Aqueles que apenas dominam a razão pelo sattva já recebem pagamentos mais valorizados. Eles são reconhecidos como pessoas que amam o próximo, mas por conta da subordinação deste amor aos seus próprios interesses – querer amar o outro para conquistar a elevação espiritual – o que recebem ainda é uma prata não pura.

Agora, aqueles que controlam o sattva pelo próprio sattva recebem a água que acaba com toda sede: o amor de Deus...

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A vivência de quem pratica o o yajña

Há uma coisa que preciso alertá-los agora para que a razão humana com quem convivem não possa no futuro atrapalhar a sua caminhada: a forma como vivem aqueles que praticam a yajña.

Em outro livro védico (Bhagavata Puranas) Krishna fala que o verdadeiro sábio transita entre as coisas do mundo com cara de bobo sem se apegar a elas. Este é o resultado da aplicação do yajña na sua vida: você permanecerá entre as coisas deste mundo, ou seja, encarnado, mas por seu amor a Deus ser maior que o seu apego às coisas deste mundo, para os demais você será um bobo.

Não é assim que vocês tratam aqueles que não lutam pelas coisas deste mundo, que não buscam o bem material, que não querem vencer nesta vida? Pois bem, é o que acontecerá com vocês se colocarem em prática os ensinamentos que estamos conversando aqui.

Hoje, com a razão com que ainda vivem isto parecerá algo muito triste, mas quando o bem celeste lhes for mais importante do que o material, verão que isso não tem nenhuma importância. Aliás, se levarmos por este critério, podemos dizer que o maior bobo do mundo foi o próprio Jesus Cristo. Ele era o Rei dos Reis, nasceu com todo o poder espiritual, no entanto, entrou em Jerusalém em um burrico, nasceu numa manjedoura, andava de chinelo de dedo e morreu dependurado numa cruz entre ladrões. Apesar deste fim já ser conhecido e de sua ascendência superior, quando questionado por Pôncio Pilatos porque não era salvo por seu Pai disse: se fosse para eu ser salvo, meu Pai tinha enviado cinco legiões de anjos...

Este é um viso importante, pois a primeira vista a razão má educada, soberba e egoísta irá querer lhe impedir o avanço mostrando o quanto está perdendo com a prática do processo de reforma íntima. Lembro-me de um rapaz que frequentava nossas conversas virtuais que um dia me disse que a prática do que conversamos o estava afastando de sua turma de amigos, pois eles agora tinham interesses diversos.

Sim, isto pode acontecer. Mas, neste momento você não se sentirá sozinho, pois está em comunhão amorosa com Deus.

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Amar a Deus sobre todas as coisas

Já estamos acabando nossa conversa sobre a comunhão com Deus, mas falta um detalhe que vou falar agora.

Estamos aqui há mais de quatro horas conversando, mas disse uma única coisa até agora. O que foi? Só falei sobre o primeiro e maior mandamento ensinado por Cristo ao qual o ser encarnado deve entregar-se de corpo e alma: amar a Deus sobre todas as coisas. Foi só sobre o que falei.

Amar a Deus sobre todas as coisas é amar ao Pai acima de qualquer coisa deste mundo. Apesar de este mandamento ter sido dado por um mestre que vocês dizem que seguem, apesar dele ter dito que devem se entregar totalmente a este mandamento, vocês, mesmo dizendo que querem comungar com Deus, preferem colocar o livro no lugar certo do que amar a Deus. Preferem que o som alto acabe para sentirem-se confortável ao invés de entrar em comunhão amorosa com o Pai.

Com esta postura, vocês jogam fora o amor que o senhor tem por vocês em troca de uma vitória ou de uma comodidade para esta vida. Ainda dizem que querem comungar com o Pai, que quer buscar a elevação espiritual, que acredita que é um espírito e que nasceu para promover a reforma íntima. Já vimos que o resultado de quem trabalha pela aproximação de Deus é vivenciar a felicidade que Ele tem prometido, mas a trocam pela satisfação de ver um livro no lugar que imaginam certo, pelo fim do desconforto que um barulho alto pode causar. Joga isso fora porque alguém disse que você é feio, porque quer saber mais do que os outros, porque pode ter um prejuízo material se não lutar pelos seus direitos.

Sabe qual é o grande problema dos espiritualistas? Sabe por que até hoje, apesar de dizerem que estão procurando a elevação até hoje ainda não conseguiram a elevação espiritual? Porque não amaram a Deus sobre todas as coisas. Somente aquele que viver esse amor em todas as situações da sua existência carnal consegue comungar com o Pai.

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Sentir-se amado por Deus

Mas, como amar Aquele que lhe causa um incômodo, um prejuízo? Como amar Aquele que lhe afronta, que lhe dá medo? Para o ser humanizado é difícil amar a Deus porque ele não se sente amado pelo Pai.

Lembro que uma vez disse a uma pessoa que tinha uma vivência de mais de trinta e cinco anos dentro da seara espiritualista que ele precisava não só amar a deus, mas que também devia sentir-se amado pelo Pai. Ele me respondeu que apesar de tantos anos nesta lida nunca tinha pensado nestes termos. Sim, esta é uma das coisas que vocês esquecem: só se pode amar aquele que nos ama...

Reparem bem. Quando é que vocês amam a Deus? Quando Ele lhes dá um presente, lhes faz ganhar algo. Neste momento se aproximam do Pai. Por quê? Porque se sentiram amado por Ele.

Quando acontece o que vocês querem, fazem iguais aos cachorros: abanam o rabo e correm em direção a Deus. Agradecem, louvam ao Senhor por ter feito aquilo que desejavam. São como crianças que quando o pai as satisfaz derretem-se em carinhos e atenções, mas quando ele as contraria fazem beicinho e choram.

Não há como amar a Deus sobre todas as coisas sem sentir-se amado a cada momento pelo Pai. Para poder comungar com Deus é preciso alcançar sempre uma comunhão amorosa, uma relação onde Ele o ame e você sinta este amor.

Para isso é preciso sentir-se amado porque o livro está em um lugar diferente do que você acha certo, tem que sentir-se amado porque o vizinho colocou um som alto e isso lhe causou incômodo. Tem que sentir-se amado quando alguém lhe contrarie, ofende ou calunia. Tem que sentir-se amado pelo Pai quando o que você não queria acontece. Para isso é preciso vencer a razão que afirma que existe o certo e bom que tem que acontecer.

Sentir-se amado por Deus a cada momento de sua existência, não importando o que ele espelhe: este é o grande segredo do trabalho da elevação espiritual. Isto acontece quando se possui uma razão que considera que todos os acontecimentos de uma existência como emanações do Senhor causadas pela Justiça Suprema e pelo Amor Sublime. Só a análise dos acontecimentos da vida por esta razão pode lhe levar a compreender que sempre está sendo amado pelo Pai. Enquanto você estiver apegado a uma razão mal educada, soberba e egoísta viverá outras sensações nestes momentos.

No entanto, para viver desta forma tem que ser muito macho, tem que ser muito espiritualista, pois a maioria dos seres humanizados ainda se deixa levar pela razão humana e com isso abrem mão da vivência do Amor de Deus. Aliás, os humanos fizeram uma pesquisa e descobriram que os mais se revoltam quando adquirem uma doença terminal são aqueles que estão ligados a uma religião. Os ateus se revoltam menos quando isso acontece.

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A quem muito foi dado

Antes ainda de encerrar esta etapa de nossa conversa, quero apenas lembrar a todos duas questões importantes de O Livro dos Espíritos que dizem respeito à conversa que tivemos até aqui:

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curo da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”.

“258a. Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida como castigo? Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar porque decretou ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito...”

Ou seja, todos os acontecimentos de sua vida foram pedidos por você mesmo quando libertos da lógica criada pela razão humana. Pediu porque se julgou apto a enfrentar estas questões. Nada lhe foi dado por Deus como castigo ou penalização: tudo foi obra do seu livre arbítrio.

A partir do momento que fez esta opção assumiu um compromisso consigo mesmo e com o Pai de que olvidaria todos os esforços para aproveitar esta encarnação. Isso gerou em você uma responsabilidade.

Para lhe auxiliar nas provações que pediu Deus enviou seus mensageiros para relembrá-lo do caminho que precisava caminhar. São os mestres da humanidade e todos aqueles que ensinam o caminho indicado por eles.

Isso Deus pode fazer, mas realizar o seu caminho por você ele não pode. Como lhe concedeu a liberdade de optar é você que tem que decidir se opta pelo amor às coisas mundanas ou se vive o amor a Deus acima de todas as coisas. É por causa deste processo que André Luiz ensina: a quem muito foi dado, muito será cobrado.

Depois de tudo o que falamos aqui, vocês agora receberam a informação enviada por Deus do caminho para a elevação espiritual ensinada por todos os mestres da humanidade. O que vão fazer com tudo que receberam, isso não é problema meu. Com certeza alguns buscarão colocar em prática e outros não. Os que buscarão a prática do que ouviram conseguirão realizar o trabalho em níveis diferentes, ou seja, muitos vão ficar pelo caminho e alguns poderão até chegar a algum lugar.

Agora, pergunto: e para quem optar por não fazer ou mesmo para quem busque e não consiga há alguma penalização? Não. O Espírito da verdade foi claro: “Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito...”

Portanto, façam sua opção e busquem a sua prática sem medo: nada lhes acontecerá se não realizarem o trabalho que leva à comunhão com Deus nesta vida. A única coisa que não podem fazer a partir de agora é alegar ignorância com relação a que caminho devem tomar, pois estão esclarecidos...