Bem aventurado - Mateus - Conversa 02
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Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

Transcrição do áudio da segunda conversa do estudo 'Bem aventurado'

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

A caridade

Estamos estudando o Novo Testamento, ou seja, o novo acordo de Deus com os espíritos encarnados feito através de Cristo, o intermediário desse acordo. Ele contém uma série de orientações que, se seguidas, fazem o ser encarnado ganhar a bem aventurança, a felicidade que os santos sentem. .

Estamos vendo primariamente o Evangelho de Mateus. Vamos continuar agora.

“Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros. Se vocês agirem assim, não receberão nenhuma recompensa do Pai de vocês, que está no céu.

Quando você der alguma coisa a uma pessoa necessitada, não fique contando o que fez, como os hipócritas fazem nas sinagogas e nas ruas. Eles fazem isso para serem elogiados pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isso de tal modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo do que você fez. Isso deve ficar em segredo; e o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.” (Mt. 6, 1 a 5)

A caridade não é algo que se faz em público, ou seja, não é para fazer na frente dos outros, não se deve ficar falando que fez. Segundo o acordo, o ser não deve ficar se auto elogiando como se fosse melhor do que os outros porque está fazendo a caridade. Esse é o primeiro aspecto.

Quer ajudar alguém, ajude. Você e a pessoa ficam sabendo o que aconteceu, se for preciso que ela saiba, já que as vezes nem para ela precisa contar. Quanto aos demais, para que saber?

Isso é simples de se extrair do ensinamento. Mas, há outras lições sobre a caridade. Vamos vê-la.

Tem um aspecto muito interessante nesse texto para quem busca a felicidade: “eu digo para vocês que isto é verdade. Aquele que faz propaganda da caridade que dá já recebeu o que tinha que receber.” O que quem faz a propaganda já recebeu? Reconhecimento, glória, fama. O que não receberá? A bem aventurança.

Dessa pequena parte do texto trazido por Cristo Então podemos ter consciência de uma coisa muito importante: a bem-aventurança não pode ser recebida ao mesmo tempo que a glória material. Quem recebe a glória material não recebe a bem-aventurança. Se o fizesse, Deus estaria dando dois prêmios para quem praticou um ato só.

Aquele que faz a caridade material e recebe em vida o reconhecimento não é candidato a receber a bem-aventurança. Por isso, é preciso que aquele que assina esse pacto com Deus tenha a consciência disto e que não cobre, não exija nada materialmente, não só pela caridade material, mas também por qualquer ajuda ao próximo moral, sentimental.

Quem ajuda o próximo não pode esperar reconhecimento. ‘Olha como aquele é um bom médium... Ele trabalha muito bem, que maravilha!’ Quem espera essa retribuição não receberá a bem aventurança como recompensa pelo seu trabalho. O reconhecimento pode acontecer no mundo material como carma, mas não pode ser desejado, esperado ou querido.

Essa consciência some no meio do assunto caridade no Sermão do Monte, mas está presente e é importante colocarmos: aquele que faz propaganda, deseja o reconhecimento por ter prestado a caridade, já recebeu o que tinha para receber. Por isso, não receberá a bem-aventurança.

Outro detalhe importante sobre o tema. Quando se fala em caridade, não devemos nos esquecer de algo que vai ser falado mais a frente: não é dar o peixe, mas a vara e ensinar a pescar.

Caridade é muito mais do que dar, suprir simplesmente necessidades. Já estudamos isso em O Livro dos Espíritos: caridade é benevolência, indulgência e perdão com o próximo. Mas, isso vamos ver mais tarde dento do nosso acordo.

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A oração

“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.” (Mt. 6, 5 e 6)

O que é orar? O que é uma oração? É uma prática religiosa. Por isso, posso estender o que Cristo fala aqui não somente ao ato de orar, mas a toda prática religiosa de uma ser humanizado.

Como o assinante desse pacto com Deus deve realizar a sua prática religiosa? Sem a necessidade de ir à igreja, ao centro, ao terreiro ou ao templo. A prática religiosa é feita no íntimo de cada um.

Tem muitos que vão ao centro ou a qualquer outro lugar para realizar a sua prática religiosa, mas não a está realizando dentro de si. Que adianta ir? Participam da palestra, da gira ou seguem todos os rituais da missa e do culto, mas o seu mundo interno está em outra parte. De que adianta estar presente fisicamente ao acontecimento?

Esses já receberam o que tinham que receber. O que foi? O prazer de estar ali. A realização do ato desejado: estar ali. Eles não vão receber mais nada, como por exemplo a bem aventurança. Já aquele que pratica a sua religiosidade dentro do seu mundo interno, estando dentro do centro ou não, recebe o que é prometido por cumprir o acordo.

Participante: mas o que seria praticar essa religiosidade?

Sua fé.

A religiosidade tem doutrina e rito. Na religiosidade se pratica o rito. Por exemplo, meditação.

Meditar é um rito de uma religiosidade. A prática desse rito religioso deve ser feita no seu íntimo, não no seu mundo externo. Quem sabe disso, ao invés de se preocupar com posições do corpo que mostrem a meditação, ocupa-se com o pensar os seus pensamentos.

Todo o ritualismo religioso deve ser feito no interno e só ocupar-se com ele. Por isso pode ser feito em qualquer lugar e a qualquer momento, ao invés de se preocupar com o dia certo para ir para o centro ou igreja ou com a forma externa de fazer a meditação.

Participante: nós espiritualistas que seguimos seus ensinamentos, falando por mim, depois de estudar e praticá-los não consigo fazer praticamente mais nada de rituais.

Nenhum problema. Estou comentando porque tem gente que mesmo depois de ouvir ainda reza, faz oração, meditação, acende vela para Santo. Isso não tem problema, é ato. Pode acontecer ...

Para quem ainda pratica tais ações fica o conselho: tudo isso tem que ser vivido internamente não externamente. Quem faz preocupado com o externo faz para que outros vejam. Esses já receberam o que mereciam.

Participante: eu não faço nada.

Não tem problema, mas tem gente que faz.

Se o que estou falando não serve para você porque não pratica nenhum ritual religioso, ótimo, louvado seja Deus. Agora, não se esqueça que o ato de pensar nos ensinamentos, como você faz, é um ritual religioso. É um ato que está ligado a uma doutrina religiosa. Isso é um ritual

Participante: pode-se falar que a oração seria um sintonização, não importa o ato que seja praticado?

Pode. Se você usar ela para sintonizar.

Tem muita gente que usa a prece para outras coisas e não para se sintonizar. Por isso não se sintoniza durante a prece.

“Nas suas orações, não fiquem repetindo o que vocês já disseram, como fazem os pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas. Não sejam como eles, pois, antes de vocês pedirem, o Pai de vocês já sabe o que vocês precisam antes de pedirem.” (Mt. 6, 7 e 8)

Esse é outro detalhe desse item do acordo. A oração, como um ato religioso, não pode ser feita com nenhuma intencionalidade. Nenhuma.

‘Não peço nada, só rezo para ter mais saúde’, ‘não peço nada para mim, apenas quero ajudar meu vizinho que está com câncer’. Parecem coisas puras, boas, mas contém intencionalidade. Por isso não devem existir durante a prática da oração no seu íntimo.

Participante: porque não pode?

É como se você dissesse: ‘Deus eu quero que seja feito isso...’ Mesmo que aparentemente contenham boas intenções, mostra o não aceitamento dos desígnios de Deus.

Participante: mas eu pedindo, se Ele quiser fazer faz, se não, não faz ...

Ah, mas essa condicionalidade no pedido não está presente na oração. Esse é o problema.

Se ao pedir demonstrasse sua predisposição para aceitar os desígnios Dele, não haveria problema. Acontece que quando ora pedindo alguma coisa está sempre presente no seu íntimo a esperança que Ele faça o que você quer, o por que rezou.

Esse é o problema. Noventa e nove vírgula nove por cento das pessoas que pedem algo durante a oração esperam que Deus as ouça, ou seja, atenda o pedido. Se não conseguir sofre. É por isso que não pode pedir nada, mesmo que aparentemente seja algo do bem. Lembre-se: quem age com intenção não se entrega a Deus. Deus: vida, energia, o que quiser que Ele seja.

Quem espera receber algo, tem intenção, está se entregando a si mesmo. Digo isso porque como condiciona a felicidade, só será feliz se acontecer o que pediu. Nesse caso, não é felicidade, mas prazer, felicidade condicionada.

Participante: a respeito desse assunto, uma vez tive uma lição de uma moça japonesa que era caixa do banco. Estava chovendo e eu falei pra ela “que droga, não gosto de chuva”. Estava com um mal humor ...” Ela falou exatamente isso: tem que ser feliz com qualquer tempo, com sol, com chuva...

Até porque a comida não nasce no supermercado, é preciso chuva para ela crescer e você poder comer. Como diz as pessoas que plantam, quando chove o tempo está bom, pois garante que haverá o que colher.

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O Pai Nosso

Agora vamos ver a oração do Pai Nosso.

“Portanto, orem assim:” (Mt. 6, 9)

Vou fazer o adendo que fiz antes: oração não são palavras, são caminhos. As palavras da oração são um guia de como você deve viver. Viver em oração.

“Pai nosso,” (Mt. 6,9)

Quando vocês oram, têm a consciência de que Ele é o Pai de todos? Acho que não.

Pai dá as coisas só para um filho? Sim. Só que o Pai de muitos filhos deve contemplar a todos e não apenas a um, não é verdade?

Orando com a consciência de que Ele é o Pai de todo mundo deverá saber que haverá hora que irá receber, mas em outras Ele terá que não lhe dar para poder dar a outro filho. Por isso, terá a consciência de que deve esperar que durante a vida haja momentos onde não seja contemplado, pois o Pai estará dando para os outros, que também são filhos Dele.

Quem pratica essa oração deve viver sabendo que quando não ganhou o que queria é porque o Pai, que é de todos, deu para outro. Por isso deve exercitar a sua paciência e aguardar a sua vez. Vivendo assim, não há motivo para sofrer quando não se recebe o que quer.

É por causa do que estamos falando agora que disse em outra palestra: para um ganhar, outro tem que perder. Na hora que você perdeu, alguém ganhou. Fique feliz porque o Pai atendeu o seu irmão.

Mas, porque alguém ganhou e não você? Porque o Pai é de todos e tem que atender igualmente aos seus filhos.

“que estás no céu” (Mt. 6,9)

‘Fica por aí mesmo e não vem para cá encher meu saco ...’ Como uma criança ou adolescente humano, isso é o que dizem quando o seu Pai se intromete na vida de vocês e dá o que não querem.

 O céu aí é a Perfeição, o lugar perfeito. Ele é habitado por seres perfeitos. Então, quando ora o Pai Nosso na sua existência, vive a partir dele, reconhece que está se dirigindo a um ser que pratica a Perfeição e por isso tudo que Dele advém é Perfeito. Mais: reconhece que não está nesse lugar, ou seja, que não é perfeito.

É aquilo que já falamos: superioridade moral. Se não reconhece que Ele é moralmente superior a você, o que recebe, o que está acontecendo. Só que avalia as coisas pelas suas verdades. Julga a Deus e O condena por não fazer as coisas dentro do que você quer. Só que suas verdades são imperfeitas. Por isso, a sentença dada a Deus é injusta.

Participante: posso entender céu, não como um espaço físico, mas como um estado de espírito?

Céu, espaço físico, é esse buraco que veem quando olham para cima. Como esse livro que estamos vendo não é de geografia, mas um tratado espiritualista, precisa ser encarado como o lugar da Perfeição. Uma dimensão, um plano espiritual elevado ...

O nome não importa para o nosso estudo. O importante é saber que os habitantes do céu são perfeitos

Participante: não posso entender aqui que céu é algo interno, que está dentro de nós?

Não. Nesse caso é o reconhecimento da perfeição.

Não está se falando do reino do céu, do ponto máximo dá existência espiritual. Aqui apenas se quer dizer que é preciso reconhecer a superioridade moral do Pai.

“que todos reconheçam que o teu nome é santo.” (Mt. 6, 9)

Por ter essa superioridade moral é preciso, para ter a bem aventurança, que se reconheça que Ele tem em si a santidade:

O que é ser santo? Ser justo e amoroso. Santo é aquele que é perfeitamente justo e perfeitamente amoroso. Perfeito no amor, perfeito na justiça.

Participante: e quem pode se considerar santo?

Deus. Só Ele.

Participante: e estes santos criados pela Igreja Católica?

São santos, para a Igreja Católica.

Para a doutrina Católica, eles possuem a perfeição católica. Por isso são considerados santos. Viveram de acordo com a Doutrina Católica.

Os santos da Umbanda são perfeitos porque produzem dentro da Doutrina da Umbanda. Eles entendem a justiça e o amor a partir do preconizado por aquela doutrina. Então, são santos para aquela doutrina.

Participante: E quando se ora para um santo?

Você está orando para um Ser que é superior a você, mas ainda não chegou à Santidade Universal. Ainda não chegou ao Céu.

Antes que me pergunte, com certeza são superior porque eles não estão encarnados e você está.

Participante: mas, isso não o faz superior. Só porque não está encarnado...

Sim, porque não está nem neste orbe.

Participante: e esses trastes que a gente pega no caminho? Eles estão desencarnados e não são superiores ...

Não, esses não estão desencarnados: estão encarnados sem carne. Apesar de não terem carne, vivem como ser humano.

O desencarne não se dá quando você está na carne ou não. O desencarne se dá quando se liberta do egoísmo, que é a característica do ser humano.

Participante: a gente pode considerar os Mestres como santos?

Os Mestres não. Eles estão em outra classe. São os enviados a esse mundo (Cristo, Buda, Krishna, Espírito da Verdade) não. Os mentores ou os médiuns dos mestres (Jesus, Sidarta Gautama, etc.) pode considerar assim.

“Venha o teu Reino.” (Mt. 6, 10)

O que você está pedindo quando ora esse trecho do Pai Nosso? Que viva o que for produzido pela santidade de Deus. Que você viva o Amor e a Justiça de Deus.

Já falamos sobre isso em outra palestra quando abordamos a questão da fome e sede de fazer a vontade de Deus. A vontade de Deus é o que está acontecendo. Quem ora pedindo que venha o Reino da santidade precisa amar tudo o que é produzido pelo Amor e pela Justiça.

Não estou falando em pedir para que venha alguma coisa, mas reconhecer que tudo que lhe ocorre vem de lá para cá, é fruto do seu pedido de receber o Reino. Rezar o Pai Nosso é expressar a vontade de receber o que vem e, por isso, não se revoltar contra o que vem.

“Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu.” (Mt. 6, 10)

Ou seja, quer que o fruto da Santidade, o Seu Amor e a Sua Justiça, aconteçam na Terra como acontece lá. Será que já não é assim? Será que aqui as coisas não correm como lá?

Claro que sim. A necessidade desse pedido estar incluso no tratado com Deus é porque vocês acham que aqui é diferente. Acham, por exemplo, que um bandido atirar em alguém não é um ato de Amor e Justiça. Só que é.

É preciso que esse item esteja presente para lembrar a vocês que tudo é uma coisa só. Vocês não podem rezar o Pai Nosso e isolar a Terra do Céu. Tudo é uma coisa só e fruto da mesma Santidade.

A oração do Pai Nosso é uma aceitação de que tudo que acontece aqui é fruto da ação desse Santo. Mais: uma declaração que quer receber o que Ele tem para dar: venha a mim o seu Reino.

Participante: quando isolamos caímos naquela situação em que ficamos eternamente buscando...

Não. Quando se isolam fazem outra coisa: querem ser Deus, a Santidade. Querem determinar o que tem que acontecer e julgar tudo que ocorre.

Na verdade, vocês rezam assim: ‘Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso Reino, mas nessa vida seja feita aquilo que eu quero, aquilo que acho certo, o que acho justo... ‘

É essa forma de viver que mostra a hipocrisia humana. De nada adianta rezar; é preciso viver os termos da oração. Por isso disse que a oração não são palavras, mas um código de vivência do acontecimento humano.

“Dá-nos hoje o alimento que precisamos.” (Mt. 6, 11)

Natural e normal se pedir isso, não?

Qual o alimento que precisam? Só lembrando porque a memória é curta: ‘nem só de pão vive o homem,’.

O alimento necessário para a existência é tudo que vem do céu: a bem aventurança, a paz, a harmonia e a felicidade. Você pode não ter um grão de comida mas se estiver em paz, está harmonizado. Pode estar com o armário cheio de comida, mas se não tiver paz não está alimentado.

É por isso que comem muito quando ficam nervoso. Pela ausência de paz a comida nunca sacia. A ansiedade sempre traz a sensação de não se saciar.

Sim, Pai, nos dê o alimento que precisamos, mas reconhecemos que ele não é o pão físico, a comida. O alimento que precisamos é a paz de espírito, a harmonia e a felicidade eterna.

Participante: vou fazer uma pergunta que foi feita em relação a esse tema quando foi postado na Internet: O ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo que Deus diz. Ao usar o termo só, Cristo também inclui o pão material nas necessidades do humano?

Não é pão, alimento, mas as coisas materiais. O ser humanizado precisa das coisas que existem nesse mundo.

Quando estudamos isso falamos do pão como elementos materiais: o ter, o ser, o estar, o fazer. Nada nesse mundo é proibido. Não oriento a fugir das coisas desse mundo como o Diabo foge da cruz. Não é preciso fugir delas: o que não pode é alimentar-se delas.

O que é alimentar-se delas? Achar, por exemplo, que é ótimo ter uma família toda organizada, que você precisa ter uma família assim para poder ser feliz. Foi o que acabemos de dizer na questão caridade: quem vive assim já recebeu o que tinha para receber; a satisfação de ter uma família organizada ou o sofrimento de não ter. Você pode ter uma família organizada e ter a benevolência, mas isso só acontecerá quando a família organizada, que neste caso é o pão, não for aquilo que acha importante, que lhe alimenta.

Agora, me diga uma coisa: como deixar de alimentar-se de família organizada sem que pertença a uma? Está vendo, é preciso o material, pois ele é o instrumento para o cumprimento do acordo.

Você precisa se alimentar das coisas espirituais: da paz, harmonia e da felicidade. Mas, esse alimento só vai lhe trazer sustância, só vai lhe deixar satisfeito, se não exigir que junto com ele venha a coisa material. Se está tudo bem na sua vida, não tem dívida, pode ajudar todo mundo, tem a família organizada, tem casa própria, carro, que trabalho precisará fazer para honrar o acordo? Nenhum.

Participante: posso colocar em minhas palavras para ver se entendi? Hoje em dia tenho um bom salário, um carro novo... Já tenho isto tudo e ainda quero exigir ter paz com a família? É isso que é alimentar-se do pão?

Não. É precisar ter alguma coisa desse mundo para se sentir bem. Poderia ser o contrário, não ter nada disso, ter paz na família e exigir tudo isso para se sentir bem.

“Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam” (Mt. 6, 12)

Repararam uma coisa? Existe uma condicionalidade nesse texto. Sendo assim, como é que quer que Deus lhe perdoe se não perdoa ninguém?

“E não deixes que sejamos tentados, mas livra-nos do mal.” (Mt. 6, 13)

Que o Senhor não ponha a tentação na nossa vida. Mas, se puser, vou aceitar.

Que o Senhor me livre do mal, que é o egoísmo. Mas, se vier, vou aceitar.

Participante: “afasta de mim este cálice, mas se não for possível que eu beba até a última gota”

Exatamente.

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Perdão

“Porque, se perdoarem as pessoas que ofenderem vocês, o Pai de vocês, que está no céu, também perdoará vocês. Mas, se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês.” (Mt. 6, 14 e 15)

O amor ao próximo e a Deus. Como espera receber de Deus, se não faz por onde receber. Lembre-se: Deus dá a cada um segundo as suas obras. É preciso merecer pra receber.

Lembrando que este perdão é interno e se consiste em não ver nem erro no que aconteceu. Não está se falando em ir lá e não penalizar ninguém.

Participante: isso se aplica a vida da gente como se fosse uma árvore cheia de galhos e cada galho uma possibilidade já planejada de vida. Então, se internamente estivermos bem, em paz, iremos por um galho, um caminho. Nele pode ter uma dádiva de Deus esperando por nós. É isso?

Isso.

Participante2: e como pode ser uma dádiva de Deus. Dádiva de Deus não seria a bem-aventurança?

Não. Não se trata de uma dádiva de Deus no sentido material, receber o que se quer.

É o que sempre disse: o ato vai ser sempre aquele que foi acordado antes da encarnação. Só que colocando em prática o que foi pactuado aqui internamente você vai passando pelas situações de uma forma diferente, cada vez com menos dor.

Participante: posso entender que é uma via de mão dupla, ou seja, quando faço ao próximo, automaticamente estou recebendo também? Quando perdoo o próximo, automaticamente estou me livrando de uma relação que não é satisfatória para os dois. Estou rompendo aquilo porque o perdoei e ao mesmo tempo estou me perdoando?

Vamos falar mais fácil?

A via de mão dupla que você fala é uma estrada. Qual o nome dessa estrada que se refere? A estrada onde se perdoa um e é perdoado na volta? Carma, ação e reação.

Você planta e colhe, você faz, tem a reação. Se julga, vai receber julgamento. Mereceu recebe-lo.

Só que esse merecimento não se trata de castigo, de pena. É amor, é amoroso. O que recebe é uma nova possibilidade para perdoar e com isso merecer a bem aventurança. Além disso, é justo, pois você não perdoou antes.

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O jejum

“Quando vocês jejuarem, não façam uma cara triste como fazem os hipócritas, pois eles fazem isso para todos saberem que eles estão jejuando. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando jejuar, lave o rosto e penteie o cabelo para os outros não saberem que você está jejuando. E somente o seu Pai, que não pode ser visto, saberá que você está jejuando. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa”. (Mt. 6, 16 a 18)

O que era o jejum antigamente? Cristo está usando um rito israelita. O jejum existe em outras religiões, mas aqui se refere a um rito israelita.

Mas o que é um jejum? Jejuar é não comer, não se alimentar, não fazer uso daquilo.

Participante: por opção.

Não é só por opção. Jejuar é não comer.

Você pode jejuar por não ter o que comer ou por não querer comer. Jejuar é passar necessidade. É querer se alimentar e não fazer isso.

Diante disso, posso dizer que no texto é dito: quando estiver passando por necessidade, não faça cara feia. Não demonstre o seu sofrimento.

Sabe aquelas pessoas que dizem: “não estou nada bem, aconteceu isso e aquilo … (em tom de sofrimento).” Esses estão demonstrando todo seu jejum.

No texto Cristo dala em pentear cabelos, lavar o rosto, não tomar banho, jogar cinzas sobre a cabeça, porque essas atitudes faziam parte do ritual israelita Tudo isso era feito para demonstrar que o ser está em jejum. O mestre usa essa tradição para combinar que se quer a bem aventurança, quando você estiver passando por carências, não demonstre. Diz mais: aquele que demonstra, já recebeu dos outros o que tinha para receber. Recebeu o quê? O carinho, a atenção, etc. Esse não vai receber a felicidade.

Participante: mas, quando o jejum é provocado tem o sentido de haver um martírio e uma troca.

Sim.

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Riquezas no céu

“Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Pelo contrário, ajuntem riquezas no céu, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e roubá-las. Pois onde estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês.” (Mt. 6, 19 a 21)

O que é a sua riqueza? Esse é o primeiro ponto que precisamos parar e pensar. O que é riqueza para você? O que é importante. Riquezas são coisas importantes.

O importante é estar bem com sua mulher? É ter uma casa? É ser reconhecido como um bom profissional? É educar seus filhos? Sempre que a resposta a uma dessas questões for sim, aquilo é uma riqueza para você.

Não ajuntem riquezas na Terra, tesouros aqui, por que nesse mundo tudo se altera, tudo muda. Quando o seu tesouro mudar, ou seja, perder o brilho, deixar de ser o que é, sofrerá.

Por isso, para cumprir essa parte do acordo você tem que mudar suas riquezas, mudar o que é importante para você. Ao invés de se preocupar com as coisas desse mundo, deve dar importância às coisas do outro.

O que pertence ao outro mundo? Qual é a única coisa que o Espírito leva quando sai da carne? O amor.

Essa é a resposta para esse trecho do acordo. É preciso que você dê importância ao amar ao invés das coisas desse mundo. Dê mais importância ao amar do que ao ganhar, a ter prazer, a conquistar a fama ou receber elogios. Como esse amor nunca muda nem ninguém vai lhe roubar, nunca se deteriora e você será sempre rico, feliz.

É isto que está sendo dito aí. Tudo que é riqueza, coisa importante, ou bem dessa Terra um dia lhe será roubado ou se deteriorará. O amor que sentir não. Por isso, aquele que busca a bem aventurança acha importante apenas amar, se ocupa em acumular amor.

Participante: que amor é esse?

Amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quem se ocupa em acumular amor, se ocupa com duas coisas: em amar e ser amado. Mais nada é importante para ele.

Não estou falando do amor humano, mas do amor espiritual.

Participante: o que é amor espiritual?

O amor espiritual existe quando se respeita o direito do outro ser, estar e fazer o que quiser. Essa é, em qualquer situação de vida, para aquele que quer ser bem aventurado a coisa mais importante, aquilo a que se dedica integralmente. Ele só vive para isso; o resto é apêndice.

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A luz do corpo

“Os olhos são como uma luz para o corpo: quando os olhos de vocês são bons, todo o seu corpo fica cheio de luz. Porém, se os seus olhos forem maus, o seu corpo ficará cheio de escuridão. Assim, se a luz que está em você virar escuridão, como será terrível essa escuridão!” (Mt. 6, 22 e 23)

Os olhos são a luz do corpo. O que é luz? É a felicidade, o estado de paz. Você está iluminado quando tem aquela cara de bobo: ‘não faz mal se não passei na prova...’ Isso é ter luz, estar iluminado.

Os seus olhos são a fonte desta luz. O que Cristo quis dizer com isso? Que esta luz tem que vir de fora, tem que vir do que está acontecendo fora, tem que vir do que está fora.

Não adianta só racionalmente colocar luz, dizer que que está tudo bem, tudo em paz, quando o que está vendo não reflete isso. Nesse caso o ‘vendo’ já não diz respeito ao olho, mas ao raciocínio, a mente, a ideia, a percepção. Cristo fala em olho porque naquele tempo Freud não tinha nascido e ninguém sabia sobre mente e estas coisas. Por isso fala que o olho é a fonte de luz.

O importante é saber que não adianta só lutar racionalmente contra o sofrimento. Racionalizar que está em paz, mesmo não tendo passado na prova. É preciso vibrar de forma positiva internamente porque isso aconteceu. Para isso é preciso colocar no ato algo de luz, de bom, e não esperar ‘entrar’ alguma coisa escura (a sensação de perda, por exemplo, para dentro tentar clarear, criar uma justificativa racional de felicidade.

É como o mestre fala: se seu olho reflete negatividade, sofrimento, ou seja, se a percepção é negativa, você vai cair na escuridão. E que escuridão horrível.

Participante: no primeiro momento vem a negatividade, não?

Sim. No primeiro momento vem a sensação negativa. Aí é preciso trabalhar.

O que estou querendo mostrar é que esse trabalho não se caracteriza pela racionalização da coisa. De nada adianta, por exemplo, racionalizar, criar razões positivas, no caso de sua mãe morrer. O que precisa ser feito é chegar conclusão de que morrer é bom. Isso se faz antes do momento e não depois dele.

Participante: sim, mas em algum momento você tem que racionalizar...

Não estou falando em racionalizar naquele momento. Estou falando que no seu processo de meditação diuturno deve pensar sobre a morte e dizer para si mesmo: ‘morrer não é ruim... morrer não é ruim...’ Se não fizer isso, no momento em que se deparar com uma morte não conseguirá manter-se em paz.

Vocês recebem grande quantidade de informação a cada momento. Na hora que, humanamente falando, interessa, agem racionalmente para estancar o fluxo de sofrimento. Isso é humano, não espiritual. Aquele que busca a bem aventurança trabalha o tempo inteiro junto aos preconceitos. Fazendo isso, deixam os conceitos internos prontos para colocar luz nas coisas. Assim, naquela hora que a escuridão penetra, liga a chave.

É preciso entender a necessidade de começar a trabalhar a luz do mundo de uma forma ampla. É preciso agir o tempo inteiro, vinte e quatro horas por dia, para ir desentocando os conceitos que estão enraizados e que causam a escuridão ao invés de esperar o momento que um conceito se apresenta para tentar mudar alcançar a luz.

A felicidade é o resultado de um trabalho de vinte e quatro horas diárias. Trabalhando só no momento que a escuridão aparece, o que existe é apenas uma racionalização de que pode ser manter em paz. Isso não afasta o negativismo que está lhe escurecendo por dentro

Quem assina esse acordo precisa compreender que internamente tem que se mudar: reforma íntima. Mudar-se no sentido de alcançar a consciência de que, por exemplo, morrer não é ruim e que não passar numa prova não é o fim do mundo.

É isso que Cristo está querendo mostrar. Seus olhos tem que captar luz. Eles não podem captar escuridão. Se captarem, ela se implantará dentro de você, mesmo que produza internamente uma luz artificial. Essa luz não vai iluminar

Participante: eu compreendi que não é uma compreensão seletiva, onde em algumas situações você compreende. É uma compreensão profunda. Não é passar um remedinho, mas tirar o bicho que está lá dentro.

Sim, mas esse tirar o bicho tem que ser feito sempre, vendo ou não o bicho. É isto que estou querendo dizer.

Participante: pela força do hábito, pelo vício, mesmo que já tenha até obtido a compreensão geral do processo, na situação, a dor vem.

Se só nesse momento for criar uma racionalização para não sofrer, de nada adiantará. Mesmo que em um determinado momento, pela força de maya, ache que venceu, em algum momento a escuridão será fruto de algo tão íntimo, de alguma coisa muito valorizada individualmente, que irá cair.

No entanto, isso não aconteceu de graça. Só ocorreu porque não trabalhou o conceito referente àquilo que agora causou a escuridão.

Um detalhe. A Bíblia que estamos lendo é um pouco diferente do que vocês leram, não é? E olhe que não estou mudando uma palavra. E ainda estamos só no Sermão do Monte.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

Deus e as riquezas

“Um escravo não pode servir a dois donos ao mesmo tempo, pois vai rejeitar um e preferir o outro; ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e também servir ao dinheiro.” (Mt. 6, 24)

É tudo que estamos conversando...

Nessa passagem Cristo diz claramente que não se serve à vida humana e a Deus ao mesmo temo. Não pode se esperar que a vida onde haja bem aventurança, felicidade plena, seja vivida ao mesmo tempo com sucesso material.

Agora, repare: é servir, não receber. Trata-se de viver para e não ter. Ter pode, o que não pode é viver para, esperar ser, desejar ter. ...

Por isso, a questão não é abandonar o que tem, mas analisar as suas prioridades. Elas devem estar ligas nas coisas celestes e não nas materiais.

“Por isso eu digo a vocês: não se preocupem com a comida e com a bebida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para se vestir. Afinal, será que a vida não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais importante do que as roupas? Vejam os passarinhos que voam pelo céu: eles não semeiam, não colhem, nem guardam comida em depósitos. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os passarinhos? E nenhum de vocês pode encompridar a sua vida, por mais que se preocupe com isso.” (Mt. 6, 25 a 27)

Não se preocupem com a comida, com a bebida e nem com a roupa. O que são estas três coisas? Necessidades básicas.

Não se pode se preocupar com nada nessa vida, nem com as chamadas necessidades básicas. Tem espiritualista que me responde o seguinte: ‘se eu não trabalhar, não vou comer.’ Esse é aquele que diz que quer servir a Deus, mas ainda serve à materialidade em troca de necessidades básicas.

Nem as ditas necessidades básicas são necessárias para aquele que quer ter a felicidade. Não estou dizendo que não pode ter, mas sim que elas não podem ser alvo de preocupação, não podem objetivo de vida, não podem ser o alvo principal de busca na vida. É isto que está sendo dito aqui.

‘Deus dá, os passarinhos’. Isso é apenas uma figura para que o ensinamento fique bonitinho. O que o mestre quer transmitir é que quem assinar esse acordo deve saber que precisa servir a Deus. Mais: que quem serve a Deus não pode servir à matéria, nem em troca de suas necessidades básicas.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

A necessidade do básico

Isso é o importante nesse trecho, mas tem uma frase que quero comentar.

“... nenhum de vocês pode encompridar a sua vida...”

Lembro da pergunta 858a de O Livro dos Espíritos: ‘ninguém morre antes da hora. Ou seja, mais um mestre falando que a vida é predeterminada quanto ao seu tamanho. Esse é o primeiro comentário.

Segundo. Cristo falou que o ser humanizado não deve se preocupar com a necessidade básica. Disse, também, que ninguém pode encompridar a vida, ou seja, que ninguém morre de fome, por não ter roupa, por não beber água. Isso quer dizer que a causa mortis nunca será alguma carência material.

Pronto, aí está a resposta para aqueles que justificam o seu serviço à matéria por conta de uma necessidade básica (‘se não trabalhar, não como; se não comer, vou morrer’): não, você não vai conseguir encompridar a sua vida só porque come, por causa do ter comida.

Ora, se ninguém pode encompridar a vida e, por isso, o ser humanizado vai morrer na hora que tiver que morrer, isso quer dizer que comida nenhuma vai dar sustento para continuar vivo. Se comida nenhuma vai dar, que dizer que o ser nunca vai morrer de fome, mas sim porque chegou ao término o prazo estabelecido para aquela existência. Por isso, nem em nome de prolongar a vida é necessário se servir à matéria para poder ganhar comida.

Quis fazer esta ressalva, primeiro para dizer que ninguém morre antes da hora e segundo porque Cristo fez questão de dizer no seu ensinamento que nem em nome de permanecer vivo humanamente falando, o ser tem que se entregar à busca material.

Participante: ou seja, nem a presença e a ausência desses elementos encurtam ou prolongam a vida.

Perfeito.

Costumo dizer assim: o que precisam para estar vivo? Todos respondem que é o oxigênio. Mas, essa resposta está errada: nem disso precisam. Precisam apenas que haja programação de continuar vivo. Se não houver, nada sustentará a vida.

A coisa material não vai encurtar nem prolongar a vida. Vocês acham que precisam de determinadas coisas desse mundo, por isso usam. Lembro que quando disse que poderiam viver sem comer, disseram que eu era maluco. Pode. Pode, também, viver sem oxigênio. Há planetas onde se vive sem oxigênio.

Mas, não adianta segurar a respiração agora para ver se não morrem. Estou falando isso apenas para comentar o ensinamento de Cristo que diz que vocês não precisam nem do básico.

Você não precisa do básico, logo, não precisa de oxigênio. Agora se tentar ficar sem ele agora, vai morrer. Porquê? Porque ainda não cumpriu o acordo todo.

Participante: aliás, depois que morre os espíritos tem o hábito de continuar respirando mesmo não precisando...

Sim. Isso acontece até a hora que alguém diz a ele: ‘já cansou de respirar?’ Você já morreu, não precisa de oxigênio’

Participante: é um choque, não é?

Tem tanto choque na volta ao nosso mundo real ... Esse é o de menos. Há tanta coisa que muda quando você sai da carne, coisas que considera como necessidades básicas, que isso é o de menos.

Participante: mas é para isso que vocês deviam preparar a gente e não ficar falando baboseiras ...

Mas, todo o libertar-se das coisas necessário para poder chegar lá e não se chocar está contido nas baboseiras que falamos. É no seu mundo interno que o choque ocorre e não no exterior. Vocês foram acostumados a viver para fora, agora falamos: vire-se para dentro... É isso que fica difícil para vocês.

O problema do que irá ocorrer está no choque, mundo interno, e não na existência ou não de oxigênio.

Participante: a gente vive esta realidade como se fosse a única.

Porquê? Porque a inescrutável força de maya que dá a o sentido de real ao que está do lado de fora.

Participante: eu posso ver o maya, saber que é maya, ilusão, e não viver como real?

Você só vai saber, não viverá. Nunca vai deixar de ver uma mesa aqui, porque a ação de maya constrói a mesa

Participante: e como nos libertamos de maya?

Libertando-se ao mundo interno.

Enquanto estiver na carne, não vai se libertar de maya. No entanto, quando se libertar o seu mundo interno não precisará mais das coisas externas. Elas continuarão lá, mas estará liberto delas. Isso é o que importa e não ver algo diferente do que vê hoje.

Você quer mágica: ‘ah! Eu vi o fluido cósmico universal ali...’ Isto não vai viver para ver. Só depois que morrer que vai ver. Isso porque os seus órgãos de percepção através da força de Maya não conseguem perceber o fluído cósmico universal.

Participante: nesse caso, então, enquanto encarnados vivemos a felicidade com o poder de maya agindo. Só vamos conseguir nos libertar do poder de maya após o desencarne

Você pode se libertar do poder de maya, sem deixar de conviver com a mesa. Isso porque o poder de Maya não cria apenas a mesa, mas também as realidades sobre ela: é minha, é bonita, é isso ou aquilo. Disso pode deve ir se libertando para depois do desencarne perder também a percepção mesa

Participante: ou seja você está dando a parte teórica e quando desencarnado vamos ter a parte prática?

Perfeito. Só que essa parte teórica é importante, pois enquanto internamente para você esta for a sua mesa, vai desencarnar e continuar tendo a sua mesa.

Participante: posso falar, então, que nesse processo encarnatório o que se chama de iluminação, ou qualquer outro nome que se dê por aí, nada mais é do que uma preparação para que após a morte, essa expiação onde a gente desencarna e a eliminação do ego seja a mais curta possível e mais fácil?

Eu já disse isso quando estudamos Krishna.

O irmão de Arjuna, que era considerado santo, passou, depois do desencarne, cinco minutos no mundo dos Devas. Então, nós teremos que passar por lá e um pouco mais do que cinco minutos, não?

Participante: mundo dos devas é o que a gente chama no Espiritismo de Umbral, Colônias Espirituais. Todas realidades ilusórias ainda, porém menos densa do que este mundo material.

Perfeito.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

A transcrição dos ensinamentos

Participante: Mateus foi intuído para falar isso ou ele está escrevendo o que ouviu de Jesus?

Mateus viveu com Jesus, mas ele nunca escreveu esse evangelho. Na verdade ele foi ditado para alguém, que ditou para outro alguém. Depois de muito tempo, alguém escreveu.

É a mesma coisa dos escritos do Buda. Eles só foram feitos quinhentos anos depois que o Iluminado morreu. Durante esse tempo os ensinamentos foram sendo passados pela tradição oral.

É o mesmo caso de agora. Foi por tradição oral dos que seguiram Mateus que os ensinamentos foram sendo transmitidos. Quem escreveu de verdade nunca viveu com Jesus: apenas seguiu a tradição oral que começou com Mateus.

Participante: Mateus era um profeta que viva com Jesus?

Sim. Ele era um dos doze apóstolos.

Participante: por conta dessa forma de transmitir, a gente pode falar que houve desvios ou erros na Bíblia, não pode?

Houve desvios, não erros. Quem desviou? Deus. Então o desvio foi Perfeito ... Acabou.

Vocês já leram o livro Memórias Póstumas de Kardec? Nele, o Codificador conta que estava escrevendo O Livro dos Espíritos e ouvia batidas na parede. Um dia perguntou a um espírito o porquê dessas batidas. A resposta foi: ‘isso aconteceu porque você estava escrevendo o que não era para escrever ou o ensinamento estava errado; nós batemos para lhe avisar’.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

A vontade de Deus

“E por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem as flores do campo: elas não trabalham, nem fazem roupas para si mesmas. Mas eu afirmo a vocês que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas como essas flores. É Deus quem veste a erva do campo, que hoje dá flor e amanhã desaparece, queimada no forno. Então é claro que ele vestirá também vocês, que têm uma fé tão pequena! Portanto, não fiquem preocupados, perguntando: “Onde é que vamos arranjar comida?” ou “Onde é que vamos arranjar bebida?” ou “Onde é que vamos arranjar roupas?” Pois os pagãos é que estão sempre procurando essas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer, e ele lhes dará todas essas coisas. Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades”. (Mt. 6, 28 a 34)

Três detalhes.

Primeiro é tudo que já falamos. Segundo: os pagãos. Quem são os pagãos? Os que não assinaram esse acordo.

Tudo que estamos conversando não serve para o budista, o hindu. Serve apenas para quem assinou o acordo, ou seja, para quem é cristão. Para aqueles, existem outros acordos.

Terceiro. No final Cristo diz: ‘não se preocupe com o dia de amanhã, mas apenas com o de hoje’. Esse ponto é o importante dessa conversa. Vamos falar um pouco dele. Lembrando: vale para todas as coisas, inclusive para a questão das necessidades básicas, como acabamos de ver.

Viva o agora. Se não tem comida agora, viva o não ter comida. Não se preocupe em ter. Ocupe-se, mas não preocupe-se. Isso vale para as necessidades básicas e para qualquer outra.

Tudo que você tem a todo momento, como está dito aí, foi dado por Deus sabendo que você precisa de determinadas coisas. Por isso, seja o que for, o que tem nesse momento é o que precisa ter agora para servir como instrumento da sua fé.

Se não tem o arroz, não ter é o instrumento para o exercício da sua fé. Se não tem casa própria, a sua ausência desse bem é o instrumento para exercer a sua fé. Se não tem família constituída, viver só é o básico, o que precisa, para servir de instrumento para sua fé.

Lembrando: fé é a entrega com confiança a Deus. Essa entrega tem muito mais valor quando a carência é superada. Por isso, cada carência que você tem é criada por Deus com a justa medida que precisa para superá-la com a confiança no Pai. É o instrumento necessário que precisa para que promova o vivenciar servindo a Deus.

Quando se fala em ligar-se no hoje é isso que quero dizer: reconhecer a vontade de Deus. Saber que aquele momento é a vontade de Deus. Como dito na oração do Pai Nosso: Deus sabe o que você precisa.

Não tendo o alimento básico, para servir a Deus é preciso dizer: ‘a ausência de comida de hoje foi dada por Deus e é aquilo que preciso como instrumento para professar a minha fé, a minha entrega a Deus, ou seja, honrar o acordo que eu assinei’. Isto vale para tudo. Isso é o não se preocupar com o amanhã. É o passar fome sem estar com o cabelo desarrumado e com a cara suja, como já falamos quando do estudo do jejum.

Veja com as coisas fazem sentido. Quando se lê somente uma parte, o que está escrito perde o sentido, mas quando se lê tudo juntando as partes, faz. Isso acontece porque um texto está sempre um ligado ao outro.

Participante: você diz que esse trabalho é ecumênico, mas se atém muito mais à Bíblia do que a outros mestres

Primeiro, porque agora estamos estudando à Bíblia. Segundo, porque o país de vocês é cristão. Se estivesse na Índia priorizaria os vedas; se estivesse no Japão, os suttas de.

Só que tem um detalhe: estou dizendo a mesma coisa que diria se estivesse usando essas outras fontes. É preciso lembrar que o acordo é com Deus e não com o mestre. Ele é apenas o fiador do acordo.

Participante: os caminhos dos mestres aparentam ser diferentes, mas o destino é o mesmo?

Perfeitamente. O caminho é o mesmo, apesar de terem vividos atos diferentes.

Nós acabamos de ler todo esse texto. Nele vimos a questão do desapego. Isso é ensinamento de Krishna e Buda. Desapegar-se não é um ensinamento cristão.

O cristianismo não fala em desapego, mas o que estudamos aqui é totalmente desapego.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

O costume de julgar os outros

“Não julguem os outros para vocês não serem julgados por Deus. Porque Deus julgará vocês do mesmo modo que vocês julgarem os outros e usará com vocês a mesma medida que vocês usarem para medir os outros. Por que é que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave de madeira que está no seu próprio olho? Como é que você pode dizer ao seu irmão: “Me deixe tirar esse cisco do seu olho”, quando você está com uma trave no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão.” (Mt. 7, 1 a 6)

O que é tirar a trave que está no seu olho? Qual a trave que está no seu olho que não lhe faz ver bem as coisas? Os conceitos. Aquilo que você acredita sobre o outro.

Estamos falando de julgamento. Em relação a esse tema, precisamos estabelecer duas coisas. Primeiro: o que é um julgamento?

Julgar é formar um processo contra alguém. Formar um processo, não uma opinião.

Processo é a coletânea sobre o que o outro fez, como fez, para que fez, quando fez, no que vai dar aquilo. O somatório dessas informações gera um processo, que é o julgamento em si. Já a segunda parte dele é o apenar, dar a pena. Exemplo: ele está certo; ele está errado.

Portanto, nesse trecho não estamos falando somente da sentença, dizer que está certo ou errado, mas de toda uma formação, uma coleta de informação, que levou à sentença à pena. Tirar a trave não é só não condenar, mas acabar com todas as informações que você tem sobre alguma coisa.

Isso precisa ficar bem claro, porque vocês não conseguem enxergar essa amplitude no ensinamento. Por exemplo: querem perdoar, mas não fazem isso eliminando os motivos da condenação, mas apenas retirando a pena. Isso não adianta de nada, pois todo o processo continua aberto e vira preconceito.

A partir daquele momento, o outro será pichado de grosso, uma pessoa que não liga para nada, etc. Mesmo que não haja uma condenação por esse modo de ser, apenas havendo o preconceito, os dados coletados num processo de avaliação do outro, acabam com o amor. Sem amor, não há felicidade.

Por isso é preciso libertar-se desses conceitos, da parte da instrução do processo. É isso que está sendo dito nesse trecho. É preciso libertar-se de toda a condução do processo, pois ela está viciada, nas suas leis, na sua subordinação ao sistema humano de vida.

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A trave

Outro detalhe. Nesse trecho Cristo usa uma palavra interessante: hipócrita. O que é a hipocrisia? Falsidade, não fazer aquilo que professa.

Por isso, se ele diz que você é hipócrita por ter a trave no olho, o que está querendo dizer? Que você faz a mesma coisa que condena nos outros. Podem ser outros elementos, outra história, outros momentos, mas você age exatamente igual ao que condena no outro. Sempre.

É por isso que ele trata como trave o que há no seu olho e no do outro como cisco. Não afirma que o outro tem um olho limpo. Diz claramente que ele tem um cisco, mas no seu há uma trave. Porque fala assim se o que vocês dois fazem é igual?

Porque você chama de certo o que faz e de errado o que ele faz. A norma, código, regra que usa para julgar o outro, mas que também fere, é a trave que não deixa o seu olho enxergar direito. Ela lhe leva a achar que está certo e a condenar o outro

Participante: falar que perdoa da boca para fora é fácil. O ideal é que nem visse erros ao invés de perdoar. Quando perdoa está dizendo: ‘você está errado e eu estou certo, mas lhe perdoo’.

O ideal seria jogar todo esse processo no lixo, ou seja, libertar-se de todos os argumentos que tem. Fazendo isso, retira a trave do seu olho. Digo isso porque não tendo a trave não vai executar o processo, não vai acusar o outro de ter cisco.

Participante: e como faz para tirar? Ele não sai, gruda...

É preciso ir trabalhando junto à você, ao que sua mente criar como regra, norma, valores. Aí a liberdade vai sendo alcançada.

É isso que está sendo dito nesse capítulo do acordo pela bem aventurança: é preciso eliminar o processo de julgamento do outro. O que é acabar com o processo contra uma pessoa?

Vou dar um exemplo para podermos nos comunicar melhor: existe bêbado?

Participante: eu acho que sim...

Não. O que existe é gente que bebe. Todos que bebem são iguais, pouco importando a quantidade ingerida. A ideia de existir um bêbado é uma norma gerada para orientar um processo de tal forma que leve a uma determinada pena: ele não presta.

Extinguir o processo é, nesse caso, quando vier à mente a informação de que aquele é um bêbado que não presta, dizer a si mesmo: ‘não, aquele é uma pessoa que bebe. Se bebe muito ou pouco, não será isso que caracterizará se presta ou não’.

É esse o processo de se limpar: tirar a instrução do processo contra o outro que irá fazer existir um pena. Tirar a instrução é libertar-se dos valores do sistema humano de vida que, nesse caso, diz que beber determinada quantidade caracteriza a pecha de bêbado. Diz ainda que ser um bêbado mostra que a pessoa não presta.

Participante: beber muito é o que então?

É beber muito.

Participante: se ele gosta de bebida e não está errado em beber, alguma coisa tem por trás.

Jamais diga que alguém está errado. É no crer que algo ou alguém possa estar errado que está o problema, a trave.

Para você, é preciso sair de casa com batom, certo?

Participante: claro ...

Pois é, olha a descrição perfeita da trave e da hipocrisia.

Você faz a mesma coisa que o bêbado: usa um vício, uma dependência de alguma coisa como certo, mas acusa o outro de ser dependente de algo. Fundamentado em que o seu vício é certo e o dele é errado? A sociedade humana que diz que a mulher deve usar batom para ficar mais bonita. Ou seja, um vício socialmente aceito.

Tire a trave do seu olho. Reconheça que vocês dois possuem cisco, ou seja, têm vícios. Na hora que reconhecer que é viciada em usar batom, se não for hipócrita, pode deixar de criticar quem é viciado em outras coisas.

É essa instrução do processo que estou falando. É nela que precisa agir, na instrução do processo, e não na pena. A pena é uma decorrência da instrução do processo.

É isto que Cristo está ensinando. É preciso trabalhar na instrução do processo. Esse trabalho se consiste em lembrar que o processo é instruído de acordo com o sistema humano de vida, ou seja, o que humanamente é considerado um hábito positivo e o que não é. A partir disso dizer a si: ‘como posso acusa-lo de ser viciado em alguma coisa se também sou? Sendo, como posso eu julgar o outro? Primeiro vou tirar a trave do meu olho para depois poder ver o cisco dos outros’.

Tirando a trave do seu olho, o cisco do outro não mais incomodará.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

O livre arbítrio

Participante: se formos por esse caminho, o julgamento é um processo, não posso apenas constatar que a pessoa que bebe muito e chamá-la de bêbada sem carregar toda esta negatividade?

O que é um bêbado?

Participante: é um conceito

Certo, mas é um conceito carregado de negatividade, de coisa ruim, de coisa que não presta.

Vou fazer uma comparação relatando um fato real que aconteceu. Uma pessoa estava dirigindo e o ônibus bateu na traseira do seu carro. Eles foram para a delegacia. Lá o delegado perguntou: ‘quem bateu no outro?’ O motorista do ônibus falou: ‘não fui eu.’ Esse diálogo se prolongou sem que o motorista do ônibus, que bateu por trás do carro, assumisse a culpa. Então, o delegado perguntou: ‘o senhor encostou com o ônibus na traseira do carro dele?’ O motorista do ônibus respondeu: ‘Ah, sim, isto eu fiz.’

Veja, o motorista aceitou a ideia de ter encostado, mas não a de bater. Porquê? Porque bater é assumir uma culpa. O termo bater vem carregado de determinadas conclusões, nesse caso, culpa.

É esse bater que quando a mente criar você não pode assumir dentro do processo. Assumindo que um bateu no outro, será levado placidamente pela razão a aplicar uma sentença de culpado.

Usando esse pensamento ao nosso exemplo, beber muito, afirmo que é preciso tirar a qualificação de bêbado da história. Ela leva automaticamente a uma sentença de culpado.

Não, ele não é um bêbado: bebe muito. Beber muito todos fazem um dia ou outro. Por isso ele não pode ser julgado por beber muito.

Participante: e quando uma pessoa que bebe demais e está prejudicando a esposa e os filhos?

Vamos ver isso na última parte. Lá é perguntado: o que é o amor ao próximo?

Ele bebe, isso é fato. Apesar de aparentemente sua ação estar causando mal a outros, não se pode analisar o reflexo do que ele faz em outros.

Já estudamos que ninguém faz nada a outra pessoa. Se alguém se sente mal por conta da ação de alguém, foi ele que se sentiu mal e não o outro que causou. Você recebe o que o outro faz de um jeito ou de outro.

E porque muitos recebem como mal o que faz algumas pessoas que bebem muito? Porque aceitou a instrução do processo criado pela razão, como estamos falando aqui, de que aquilo que está sendo feito é mal.

É isso que é tirar a trave do seu olho. Não importa o que seja, na formação do processo deve se agir para tirar os conceitos que o sistema humano de vida coloca que levam a pena de bom ou mal, certo ou errado, bonito ou feio.

Participante: todo julgamento é baseado na humanidade?

Julgar é aplicar uma lei. Sem lei não há julgamento. Como diz Paulo: a lei cria o pecado. Se é a humanidade que cria as leis, sim, todo julgamento é baseado na humanidade.

Participante: lei só tem aqui? Nos mundos mais evoluídos não há lei e nem julgamentos?

Lei só há aqui onde existe a força coercitiva. Fora desse mundo, onde há a consciência amorosa, não é preciso haver lei, pois cada um dá ao outro o direito de ser, estar e fazer o que quiser. Vivendo assim, para que lei?

Até Deus não possui leis. Ele lhe dá o direito de ser, estar e fazer o que quiser. No mundo interno, no amor. Deixa você não amar. Se Ele não cria o que é obrigatório fazer, quem sou eu para dizer que alguém está errado por não seguir uma norma?

Estamos falando da pergunta 258 a de O Livro dos Espíritos:

“Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo? ... Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal.”

Lembrando apenas: ato do espírito, ou seja, sentir. Não está se falando em liberdade de agir externamente, mas apenas no íntimo.

 O Pai não pode deixar você fazer o que quiser e ficar por isso mesmo, pois quando age, mesmo internamente, sempre é contra o outro. Por isso é preciso que aquela ação tenha uma consequência.

Se alguém falar mal, quiser mal o seu filho, você deixaria passar impune? Ele também não. Mas, diferente do ser humano, ele não julga, acusa ou condena quem age contra o seu filho: dá uma nova oportunidade para que esse ser aprenda que apenas o amor deve existir nas relações.

Ele precisa dar a consequência, primeiro para que o ser entenda o mal que está causando ao outro. Segundo: para que se aprimore para viver no mundo celestial onde um dá sempre ao outro o direito de ser, estar e fazer.

Portanto, não é um castigo, uma pena decorrente de um processo, mas uma oportunidade de elevação, uma nova oportunidade de amar. Se escolhe raiva pelo que o outro faz, Deus lhe deixa fazer essa escolha. Não o julga, não o critica, não o acusa. Permite que tenha essa liberdade e dá a justa consequência do que foi escolhido.

Ele não muda o mundo interno do ser. Pode mudar os atos, mas não o seu mundo interno.

Participante: ou seja, é o livre arbítrio para você amar universalmente ou não e como consequência o carma.

Livre arbítrio sentimental. Amando de determinada forma, gera um carma. Lei da ação e reação: a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade e em sentido contrário.

Participante: considerando um espírito que está lá do outro lado, ele também não sente amor universal?

Se ainda não estiver na sua consciência primária, não.

Lembre-se que há um processo de evolução. Você não sai desse mundo puro. Você ainda está no primário da escola espiritual.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

Não dê pérolas aos porcos

“Não deem para os cachorros o que é sagrado, pois eles se virarão contra vocês e os atacarão; não joguem as suas pérolas para os porcos, pois eles as pisarão” (Mt. 7, 6)

Perfeito. O que quer dizer isso? Não deem suas pérolas, coisas de grande valor para o cachorro ou para o porco, ou seja, irracionais, como vocês chamam. Não deem suas coisas sagradas para aqueles que não saberão usá-las.

O que é sagrado, uma pérola, para você? Onde está sua riqueza? Na paz, na harmonia, na felicidade, no amor. Não deem isso para os irracionais. O que quer dizer isso? Não dependa de ninguém para ser feliz. Se jogar o que é sagrado para você, que diz estar buscando a Deus (a paz, harmonia e felicidade), estará jogando fora, pois eles não darão o mesmo valor a essas coisas quanto você, que assinou este contrato deveria dar.

É como se você desse uma nota de R$50,00 para um bebê. A primeira coisa que ela fará é rasgar ou colocar na boca. Fará isso porque não sabe o valor daquilo.

Portanto, sua felicidade tem que ser exclusivamente com você, tanto no gozá-la quanto no obtê-la. Esperando que o outro sinta a mesma felicidade que você ou que dê motivos para ela existir, não conseguirá ser feliz. Estará jogando fora a oportunidade de ser feliz.

Depender do outro para ser feliz. Foi isso que Cristo quis dizer nesse trecho. Ele falou a pessoas que pensam assim: ‘no dia que me tratarem com respeito vou me sentir bem’; ‘no dia que aquela pessoa me amar do jeito que a amo, vou me sentir bem’; “no dia que meu filho corresponder ao que espero que ele faça, vou me sentir bem’.

Isto é jogar pérolas aos porcos, porque para eles aquilo não é pérola mas bijuteria. Eles estão mais preocupados em ganhar, ter o prazer, ter a fama, receber elogio do que ser feliz verdadeiramente. Estas coisas, são pérolas para eles, são coisas sagradas.

Participante: quando eu tentei fazer isto com meus filhos, não ligar, depois veio o troco deles, aí liguei. O troco deles foi jogar na minha cara que antes eu viajava, ficava uma semana, quinze dias fora e eles ficavam sozinhos. Agora percebo nas entrelinhas que quando peço a atenção deles, jogam isso na minha cara.

Quando você pede a atenção ... Se sabe que não vão dar, não jogue sua pérola a eles: não peça a atenção. Melhor: peça, mas não espere que eles deem.

O problema é esperar que eles lhe deem atenção.

Participante: mas isso é complicado.

Sei que é complicado, mas precisa ser feito. É um trabalho que precisa ser feito, se não quer sofrer.

‘Ele é deste jeito, não quer mesmo, então vou continuar minha vida, me dedicar ao que é pérola, ao que é sagrado para mim. Quem quiser vem junto, quem não quiser, que fique aí no seu chiqueiro.’ Claro, tudo isso no sentido figurado.

É aquela história que a disse: dê a mão ao outro, tente ajudar. Se não quer vir, solte a mão e vá embora.

Você está dando o que lhe é mais sagrado. Está dando o seu tesouro que é a sua paz, em troca de uma atenção. Está esperando que lhe tratem como quer, para ter paz.

Eles não estão preocupados em estar em paz com você. Para eles isso é pérola, coisa importante. É bijuteria. A pérola para eles é o ganhar. Se ao invés de pedir atenção você proporcionar o ganhar algo, ficam em paz com você.

Essa passagem da Bíblia é só isso. É pequenininha, mas veja o quanto é importante para todo o acordo.

Participante: nesse trecho houve uma mudança. Antes Cristo falava em depender de objetos materiais e agora está falando em depender de pessoas.

Exatamente.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

A bondade de Deus

“Peçam e vocês receberão; procurem e vocês acharão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todos aqueles que pedem recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem bate. Por acaso algum de vocês, que é pai, será capaz de dar uma pedra ao seu filho, quando ele pede pão? Ou lhe dará uma cobra, quando ele pede um peixe? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai de vocês, que está no céu, dará coisas boas aos que lhe pedirem”! (Mt. 7, 7 a 11)

Participante: Este ‘bata e sereis atendido’, a maioria entende como ore e peça que será atendido.

Peça que receberá. Sim, isso é perfeito: aquele que busca a Deus vai receber. O problema é que vocês não sabem pedir.

Deus dará o que é bom para você e não o que não tem valor. Dará o que verdadeiramente alimenta o ser. Ter uma casa própria não é alimento para ninguém que tem como sagrado e como tesouro a busca espiritual, a busca da paz. Ter a oportunidade de encontrar essa paz e harmonia é o que realmente é bom para essa pessoa.

O problema é que vocês não pedem paz: pedem submissão do outro. O problema é que não pedem harmonia: pedem que todos se submetam ao que você quer.

O problema não é pedir a Deus. Podem pedir. O problema é o que pedem.

Quando oram pedindo coisas materiais mostram que o seu tesouro está nesta terra e não no reino do céu. Como é que pode receber o que é prêmio dele? Como diz Cristo: já ganharam o que mereciam.

Participante: eu não oro, mas se fosse orar, vou pedir o que para Ele?

Você diz que não ora, mas diz assim: ‘tomara que isso aconteça’. Pronto, orou, falou com Deus internamente pedindo para que ocorra o que quer. Oração não são palavras.

O problema é que estão sempre querendo, esperando e precisando de coisas materiais. Lembremos o que já falamos aqui: cada momento da sua vida é programado com tudo que você precisa para ele.

Já me perguntaram sobre o ‘bata que eu abrirei’ muitas vezes. Podem me perguntar quantas vezes quiser. O que sempre direi é que realmente é esse o trato com Deus: peça e receberá. No entanto, para receber é preciso pedir o que realmente é importante.

Prove que assinou o acordo. Peça o que é importante. Peça riqueza, a pérola, o sagrado espiritual e não as coisas materiais. Só que a coisa espiritual você não precisa pedir, pois como está no acordo, o Pai sempre dará a cada um aquilo que necessita. Sendo assim, não há nada a pedir.

Um detalhe. Se o Pai sempre dará o que for necessário, ao invés de ficar pedindo faça por onde merecer.

Participante: uma vez você falou que quando pedimos alguma coisa para Deus, existem os espíritos intermediários que um passa para o outro, para o outro até chegar ao Pai. Mas se Deus é Onisciente, Onipresente, Onipotente, não precisa de intermediários.

Ele não precisa mas pela lei da interdependência deixa esses intermediários agirem. Enquanto estão, agindo cada um está vivendo sua prova.

Ele não precisa, mas deixa que isto aconteça.

Participante: uma vez em uma palestra espírita onde se falava de oração, perguntei como a oração chegava até Deus. Todos riram de mim e não me responderam

Porque eles não sabem. Eles acreditam em espíritos, em falanges espirituais, em níveis espirituais mas não sabem como a coisa funciona.

Voltando ao nosso estudo, ficou clara a questão do ‘bata que eu abrirei’? É só isso. Não adianta bater na porta errada. Bater na porta pedindo coisas materiais. Deus não vai dar.

Participante: Deus até vai dar, se fizer parte do seu carma.

Daí ele não dará: estará cumprindo o que precisa fazer.

Dar, Ele pode dar paz, desde que peça isso. Só que para pedir paz, precisa se desarmar. Não adianta estar cheio de armas e pedir paz. Você está armado; vai lutar.

Participante: o acordo não passa a valer somente quando nos comprometemos com ele espontaneamente ou automaticamente fomos comprometidos a ele?

Sim quando se comprometeram com ele. Só que esse comprometimento não aconteceu aqui, depois de encarnado, mas antes de nascer. O espírito se comprometeu com ele, porque todo ser quer evoluir.

Participante: quando você pede uma coisa material, Deus dá a frustração de não ter, quando o ter não está no seu carma?

Não necessariamente. Ele só diz: ‘Eu não posso lhe dar a bem aventurança, pois está buscando bens em outro mundo’.

Participante: e a frustração, seria um resultado disso, não necessariamente dada por Ele?

Pode até ser. No Universo dois mais dois não é igual a quatro. Pode ser a frustração, pode ser o ódio por não ter, podem ser muitas coisas.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

O plantar e o colher

“Façam aos outros o que querem que eles façam a vocês; pois isso é o que querem dizer a Lei de Moisés e os ensinamentos dos Profetas.” (Mt. 7, 12)

Olha que coisa interessante. Acho que nunca entenderam desse jeito, apesar de estar claro.

A lei de Moisés quer dizer ‘faça aos outros o que quer que façam a você’. É exatamente o que conversamos quando falamos do novo sentido da lei que Cristo veio trazer. Se não quer ser morto, não mate, mas ame para não matar e nem morrer.

Este trecho é bem pequeno, mas de uma profundidade imensa, porque tira – e eu já cansei de falar isso em todos estes anos – o poder coercitivo que dão à lei de Moisés.

‘Lá está escrito não mate, então é proibido matar.” Não, não é isso. O sentido não é esse. Não se trata de algo coercitivo, mas de consciência: não mate por amor ao próximo.

Para vocês qualquer lei tem força de coerção. Por isso, elas transformam em pecado o que não é. Mas, a lei de Moisés, segundo Cristo não possui essa característica. O que ela quer dizer é o seguinte: não faça aos outros alguma coisa para não abrir espaço para que a lei funcione contra você.

Participante: quando você aplica a lei, se submete a ela também.

Não é disso que estamos falando. É da trave do seu olho, da sua hipocrisia. Você não vê, mas quando fala que o outro está errado está fazendo a mesma coisa. É a lei da causa e efeito.

É da lei do amor ao próximo que estamos falando. Se não ama, como quer receber amor de volta? Se não dá ao outro o direito de ser, estar e fazer qualquer coisa, como é que exige que todo mundo aceite o que quer? Se reclama do que o outro faz, como é que quer que ele não reclame do que você faz?

A lei não pode ser vivenciada com coerção aos outros: é isso que está escrito aí. A lei “não adultere”, por exemplo, não pode ser usada de forma coercitiva: não se pode faltar com a verdade. O real sentido dela é: não falte com a verdade com o outro para que ele não falte com a verdade com você.

Esse é o sentido da lei espiritual. Ela não é uma lei coercitiva, uma lei proibitiva, um instrumento para se julgar o outro. Ela deve ser um guia para você plantar e colher.

A lei de Moisés, usando isto como exemplo, é um guia prático de agronomia. É o estudo de como plantar. Só isso.

Participante: você falou outro dia que esse negócio de estar pagando nessa vida do que fez em outra anterior não é bem assim. Então, quando acontece alguma coisa aqui é o que?

É o reflexo da sua posição no mundo espiritual.

Vou dar um exemplo: você encarnou em outra encarnação para se libertar de cinquenta por cento de vaidade, mas só se libertou de dez por cento. Os quarenta continuaram existindo em você espírito depois do desencarne.

Essa sobra da vida anterior estará presente na atual. Não porque deixou de fazer na existência anterior, mas porque continuou em você espírito. Isso deixa bem claro que não é o reflexo da vida anterior, mas da sua posição atual como espírito.

A vida foi só uma etapa para você se melhorar. Se continuou não melhorado, precisa trabalhar isso na existência atual.

Participante: posso dizer que os cinquenta por cento são a prova? Passou dez e os outros quarenta viram expiação para próxima.

Não, não vira expiação. Esquece expiação. É matéria que você não foi aprovado.

Vamos dizer que em uma prova final de escola você teria que tirar nota oito, mas tirou seis. Por causa disso precisa fazer outra prova, que vocês chamavam de segunda época, para conseguir os pontos que faltavam.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

Os dois caminhos

“Entrem pela porta estreita porque a porta larga e o caminho fácil levam para o inferno, e há muitas pessoas que andam por esse caminho. A porta estreita e o caminho difícil levam para a vida, e poucas pessoas encontram esse caminho”. (Mt., 7, 13 e 14)

Qual é o caminho fácil que leva ao inferno? Será que o caminho difícil é o da carência, o não ter? Qual o caminho fácil; qual o estreito?

O caminho fácil é aquele que tem a aceitação da humanidade. ‘Como ela é uma pessoa boa, de coração! Até dá comida para os pobres!’. ‘Como ela é uma pessoa justa!’. Esse é o caminho fácil, aquele que agrada à humanidade, que se submete às regras societárias. Já o caminho estreito é aquele que não é aceito pela humanidade, que não satisfaz aos anseios humanos.

Levando em consideração o texto, digo: não procurem a aprovação da humanidade. Não se preocupem com aquilo que a sociedade acha certo para ser feito quando forem tomar decisões internas.

‘A mãe bateu tanto na filha que ela teve que ir para o hospital.’ Viver no caminho largo é ter pena da filha e criticar a mãe. Viver o caminho estreito é fazer o que for possível pela filha, sem ter dó dela ou acusar a mãe de qualquer coisa.

Não entrem pelo caminho largo, pois ele leva para o inferno. Leva ao sofrimento ou ao prazer. Leva para o reconhecimento, para a fama, para o elogio.

Quem caminha pela porta estreita não se subordina às regras do sistema humano de vida.

O caminho largo é aquele que é taxado pelo sistema humano como certo. É aquele que é considerado moralmente íntegro, moralmente bom. Aquele que é considerado sentimentalmente perfeito. É aquele do qual se diz: ‘esse é um bom ser humano. Um ser humano perfeito. Esse é humano!’

Fuja desse caminho. Não queira ser um ser humano bom. É isto que Cristo está dizendo aqui.

Sabe a mãe que cuida bem dos filhos, que não deixa faltar nada, que se sacrifica para isso? Esse sacrifício não tem o menor valor para o mundo espiritual, porque é um caminho largo, um caminho do reconhecimento social.

Participante: as religiões em geral, mostram o caminho largo.

Sim, mas no acordo está diferente, não?

Quer outro exemplo? Imagine uma pessoa que vai apresentar uma palestra. Mesmo que seu ensinamento seja profundo e amoroso, se estiver com a camisa amarrotada e rota, vão olhar torto. Porquê? Porque a regra societária diz que uma pessoa que vai se apresentar tem que estar bem vestido. Tem que estar pelo menos com a roupa passada, não furada.

O que importa não é pessoa que está levando o ensinamento, mas o próprio. Apesar disso, muitos deixam de ouvir o ensinamento porque estão preocupados com a roupa e a postura do palestrante.

Participante: apesar disso estar na letra fria, para mim esse ensinamento é um oásis no deserto. Eu não encontro o que acho aqui comumente em outros lugares. Passei pelo espiritismo e onde frequentei não ouvia ensinamentos dessa maneira.

Porque não encontra? Porque as religiões prometem a felicidade nesta vida. Todas estão presas a essa vida, apesar de estar escrito claramente: não se serve dois senhores ao mesmo tempo.

Quando a Igreja Católica faz um movimento para que os sem-terra tenham uma, está atacando a Bíblia. Por defender o bem estar humano, entra pela porta larga.

Mas, porque as religiões fazem isto? Porque estão erradas, porque são más? Não, é porque são um instrumento para um tipo de mundo. E por isso, como já falamos, vão acabar quando o mundo totalmente de prova e expiação tornar-se mundo de regeneração.

Participante: quem tem acesso a esse tipo de visão hoje? Nós, com certeza, somos privilegiados, porque comumente não se encontra essa visão.

Vocês não são privilegiados. Participar desse estudo é o carma de vocês. Lembra da máxima? A quem muito foi dado, mais será cobrado. A partir de agora, por conta da interpretação que recebeu, não pode mais alegar inocência.

Portanto, não é um privilégio, mas um peso. Agora, é um peso que vocês pediram para receber como missão, como trabalho de levar a outros. Fazer isso para ajudar os outros a se libertarem também.

Participante: se estamos passando por conhecer para ajudar o mundo, o que os extras terrestres vêm fazer aqui?

Ajudar a vocês a consertar o mundo. Vocês são os precursores.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

Os falsos profetas

“Cuidado com os falsos profetas! Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos selvagens. Vocês os conhecerão pelo que eles fazem. Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos. Assim, toda árvore boa dá frutas boas, e a árvore que não presta dá frutas ruins. A árvore boa não pode dar frutas ruins, e a árvore que não presta não pode dar frutas boas. Toda árvore que não dá frutas boas é cortada e jogada no fogo. Portanto, vocês conhecerão os falsos profetas pelas coisas que eles fazem. (Mt., 7, 15 a 20)

Os falsos profetas vêm fantasiados de cordeiro. O que é um cordeiro? Um bicho dócil, amável, bonitinho, que dá o leite, a lã ... É um animal que serve, plácido ...

Quem são os cordeiros que parecem bonitinhos mas que são lobos? Aqueles que lhes levam para o caminho largo, para a porta larga. Eles parecem bonitinhos, são aceitos pela sociedade, parecem seres maravilhosos, que estão a serviço do povo, mas estão levando vocês para a busca material. São lobos.

É, por exemplo, o Dalai Lama que fala frases bonitas, mas ainda quer que a China saia do Tibet.

Participante: você está invocado com essa história ...

Não estou invocado com a história, mas com a santidade que se dá a ele, só porque anda com túnica e faz propaganda dos ensinamentos de Buda.

Compreendam: é preciso superar a santidade concedida pelo sistema humano a alguns seres para poder saber para onde eles conduzem. Para isso é preciso estar atento, como diz no presente ensinamento, ao que sai da boca deles.

É isto que está sendo dito ali.

Não estou invocado. Sei que é a missão dele, sei que é o trabalho dele. Só estou usando o que ele falou para atacar o sistema humano de vida que o chama de santo, assim como trata centenas de outros como seres evoluídos, como o Osho, por exemplo.

Participante: ahh, o Osho! Não, Joaquim ...

Sim, o Osho que diz que a pobreza humana é culpa de Cristo e Krishna, porque disseram que você não pode ter as coisas. Isso é ser santo? Esses mestres nunca disseram isso. Aliás, estamos vendo aqui, nesse estudo. Eles não disseram que não poderia ter: disseram apenas “não viva para isso”.

Precisamos falar disso, porque são esses mitos de santidade que levam a aceitar uma ideia que conduz ao caminho largo.

É preciso analisar friamente para onde o sistema está querendo lhe levar. Esse é o grande ensinamento desse pedaço do acordo. Não aceite nada, nem Joaquim. Não aceite nenhuma santidade concedida pela humanidade para não caminhar pela porta larga. Eles são lobos em pele de cordeiro.

A pele de cordeiro, nesse caso, é a aura de santidade fundamentado no sistema humano de vida, nos valores de santo humanos. .

Participante: é como se diz na internet: se comeu e gostou, cospe que engorda.

Exatamente

Participante: falsos profetas são aqueles que falam do caminho estreito, mas oferecem o caminho largo.

Sim. Falam do caminho estreito, dos ensinamentos dos mestres, mas prometem o caminho largo. Usam os ensinamentos para prometer ter uma vida dentro do mundo humano que seja considerada como certa ou boa.

Quer um exemplo clássico disso? Aqueles que se tornam vegetarianos para poder ter mais paz, felicidade, ser mais elevado. Esse está entrando no caminho largo, pois o vegetarianismo é aceito como algo de bom para o sistema humano de vida e não pelo aspecto espiritual. Saiba de uma coisa: é muito mais fácil um carnívoro que não tem culpa por comer carne entrar no reino do céu do que um vegetariano orgulhoso de não comer carne entrar.

Participante: e quando a gente não quer mais a carne e não consegue sequer engolir, como é o meu caso e de outras pessoas que conheço?

Isto é um processo, é vida, carma...

Estou falando do mundo interno. Estou falando de bater no peito e vangloriar-se de ser melhor por ser vegetariano.

Não estou de comer carne ou vegetal, porque isso é ato.

Participante: isso é uma coisa recente em mim. Fico com pena dos bichinhos que tem que morrer e principalmente do jeito que são mortos. Então quando vou comer a carne me sinto mal. O que é isso?

Não é nada. É acontecimento da vida.

O que pode representar alguma coisa é, a partir da forma como está vivendo, dizer que quem mata para comer é um safado, não presta, não é elevado. É só isso.

Estou falando de mundo interno, por dentro. Quem prega o vegetarianismo como caminho para ser mais puro é um lobo em pele de cordeiro, pois está lhe levando para um caminho aceito pela humanidade como mais puro

Participante: faça o que quiser e não julgueis...

Exatamente. Faça o que quiser e não acuse o outro, não se culpe e não se vanglorie.

Participante: quando se pega esse caminho temos que nos vigiar muito. .

Vigiar não; tem que trabalhar você mesmo.

Olha o que vimos antes: não se trabalha apenas na hora. É preciso estar constantemente trabalhando em si a ideia de que ser vegetariano não é melhor que ser carnívoro.

Participante: fale mais sobre aqueles que oferecem o caminho estreito, mas entregam o largo. O fato de estar relacionado à religião.

O caminho oferecido pelas religiões não é estreito, mas sim largo.

Exemplo: a necessidade de se fazer jejum de comida para poder ser puro. Apesar da ausência de comida, esse caminho não é estreito, mas largo. Ele dá a ideia de ser mais difícil, estreito por causa da fome, mas não é. Quem propõe isso está oferecendo o caminho largo porque este ritual é aceito como caminho para a pureza, para ganhar alguma coisa nessa vida.

O caminho largo não tem a ver com o lado material. Tem a ver com a aceitação pelo sistema humano de vida e com o que ele oferece em troca.

Participante: eu tinha entendido errado. Entendi que o caminho largo é se expor, estar no mundo e ainda assim se conter e o estreito quando você se isola.

Por exemplo, uma mãe chorar porque o filho perdeu alguma coisa ou teve algum problema, é um caminho largo, apesar de conter tristeza. A humanidade acha certo a mãe chorar e dá àquele que age assim um ar de pureza, de santidade. Esse é um caminho largo, porque quem o percorre tem a aceitação humana.

O caminho que tem a aceitação humana é largo porque quem o caminha já recebe tudo que tem para receber: o reconhecimento da sociedade

Participante: vejamos o contrário, uma mãe que não chora ao ver o sofrimento do filho, como ela é vista? Uma mãe ruim, fria...

Viver assim é percorrer um caminho estreito, pois quem o vive é isolado pela comunidade. São poucos que querem passar por isso. É mais fácil fazer o que a sociedade diz que é certo.

Lembra quando jogaram os aviões lá nos prédios nos Estados Unidos? Você disse que nada aconteceu ali, que ninguém morreu. O que aconteceu? Todos lhe chamaram de fria.

Naquele momento você percorreu um caminho estreito, pois o largo ali seria agir como todos: chorar porque muita gente morreu. É largo porque é o que a sociedade exige que seja vivido para ser considerado como certo, como puro.

Lembre-se: o caminho largo é aquele que traz a aprovação da sociedade.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

Quem entra no Reino do céu

“Não é toda pessoa que me chama de “Senhor, Senhor” que entrará no Reino do Céu, mas somente quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu. Quando aquele dia chegar, muitas pessoas vão me dizer: “Senhor, Senhor, pelo poder do seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!” Então eu direi claramente a essas pessoas: “Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!” (Mt. 7, 21 a 23)

“Quem entra no reino do céu”. O que é o reino do céu?

Participante: a felicidade dos santos.

Quem alcança a felicidade dos santos? Quem chama Cristo de Senhor? Os que se entregam à religião? Não. Não importa se você é religioso ou não, Cristo vai recebe-lo e se tornar seu intermediário com o Pai se você fizer a vontade de Deus.

Qual a vontade de Deus?

Participante: amar ao próximo como a si mesmo.

Não. É viver em paz, harmonia e felicidade tudo que lhe acontece. A felicidade não vem por ser religioso, mas por entregar-se a Deus.

Não importa o quanto de trabalho tenha feito – expulsado demônios, falado em línguas estranhas, trabalho mediúnico – nada interessa. O que importa mesmo é como você vive a sua vida.

Isso, de uma vez por todas, é o que quero dizer: o que importa é como você vive a vida que Deus lhe dá. Não é o que faz, não é o que imagina que possa ser. O que vale, no fim, o que vai ser levado em consideração é como você viveu internamente.

Quando vocês veem na literatura a afirmação de que o espírito depois do desencarne vê a sua vida, acredite que ele não está prestando a atenção se foi mãe ou foi pai, se fez faculdade ou se não, se foi médico ou não. Ele não está nem aí se conseguiu sucesso material ou não. Ele está vendo como viveu internamente os acontecimentos. Como passou pelos momentos, onde estava seu coração naquele momento.

Quando disse que o espírito esquece essa vida, lembro que muita gente brigou comigo: ‘não se pode esquecer as coisas dessa vida. E o que aprendemos nela?’ Saiba de uma coisa: nada do que aprender aqui servirá para outras encarnações, a não a ser forma de vivenciar os acontecimentos.

A vida em si não traz nenhum ensinamento para o espírito, porque ela é totalmente composta de provas e não de aprendizados. O que vai ficar dela depois do desencarne é como internamente viveu as coisas desse mundo, como se relacionou com o que Deus lhe deu.

Participante: como eu respondi à prova.

Como respondeu à prova.

É só isso que vai valer; é só isso que fica para o espírito. Não fica se foi marido ou esposa, se teve três ou quatro filhos, se frequentou tal religião ou só dizia que era religioso, se trabalhou mediunicamente ou não. Nada disso vai ficar. Ele só vai se lembrar que ao viver agiu buscando a glória individual ou se buscou estar com Deus.

É isso que vocês precisam entender. O resto deixa acontecer. Não interessa. A vida é a vida. Por mais que puxem para um lado, a vida vai para outro. Por mais que arquitetem planos para que as coisas aconteçam de determinado jeito, chega na hora tudo acontece de uma forma completamente diferente.

O que importa é como você está internamente, porque isso é o que leva dessa vida. Se tem raiva de alguém, saia correndo e vá fazer as pazes, porque senão viverá com essa raiva no outro mundo. Lá ela lhe destruirá, pois a raiva é a lepra do espírito: corrói internamente.

Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

O que o acordo exige

Este acordo é o acordo da luz, da felicidade, da paz. Ele exige de você uma coisa: que supere a sua humanidade, tudo que é oriundo de coisas humanas.

A raiva, a cobiça, a busca pela vitória e a fama, a posse, paixão e desejo, são oriunda de coisas humanas. É preciso superar isso.

Não é ‘não ter’, mas superar. É como o Buda ensina: ‘todos os sentimentos e emoções existem dentro de você como uma semente. A cada momento escolhe que semente regar para ela florescer’. Nunca nutram a semente que está ligada as coisas humanas, pois o que plantar nessa terra continuará para a outra.

A vigilância necessária, como foi falado, é nesse ponto: ‘o que eu estou sentindo agora, vivendo agora, é fruto de alguma coisa humana? Então, desculpe, mas não quero. Meu tesouro não está aí. Não vou trocar essa bijuteria pelo tesouro eterno’.

Só isto, o resto é historinha para ego dormir. Desapego, posse, paixão, desejo, vontade de ganhar: tudo isto é só história. O fundamental é saber que onde está seu coração, lá você estará.

Se seu coração é guiado pelas coisas humanas, você estará aqui e ficará aqui, mesmo depois de sair daqui. Pense nisso.

Participante: nós estamos mergulhados na humanidade para superar a humanidade.

Tentação. As três tentações de Cristo. É só isto, o resto é só historinha para ego dormir.

Participante: repete as três tentações, por favor.

1ª - Nem só de pão vive o homem mas também da palavra de Deus.

2ª - Eu lhe darei tudo isso se você me servir.

3ª - Se jogue daqui que Deus vai lhe proteger. Não testar a Deus.