Síndromes da vida
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Síndromes da vida

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Parte 2

Neste estudo realizado em São Paulo com amigos, Joaquim de Aruanda fala sobre as síndromes da vida. Síndromes, segundo o amigo espiritual, são processos mentais que geram ilusões que são tratadas como realidades. Deixar-se levar por elas é cair no sofrimento. 

Síndromes da vida

Conselhos para aproveitar esse estudo

Nós hoje combinamos de conversar sobre o sofrer. Por isso vamos falar sobre isso agora.

No entanto, durante a nossa conversa de hoje, eu gostaria que vocês, muito mais do que prestassem a atenção em como resolver problemas que lhes levam ao sofrimento, como fazem sempre, prestassem atenção ao que vamos conversar sob o aspecto de como o problema é criado. Passo esta orientação porque é muito mais simples alcançarem a felicidade sabendo como o problema é criado do que terem uma adquirirem uma receita para solucionar cada problema.

Na verdade, vocês são meio burrinhos. Se a vida muda uma palavra do problema que estão acostumados a viver, já não conseguem resolvê-lo, apesar de já terem resolvido casos semelhantes anteriormente.

Por isso faço esta orientação: é muito mais importante conhecer como o problema e o sofrimento começam, de onde eles nascem e como eles são trazidos para a consciência de vocês do que formarem um guia de como se solucionar determinado problema. Se alcançarem a consciência sobre a formação dos problemas fica mais fácil resolvê-los. Se vocês aprendem a entrar fundo na origem do problema, podem mais facilmente resolvê-lo. Por isso queria que prestassem muita atenção na conversa de hoje sobre este aspecto.

Outro ponto importante: quando não entenderem qualquer coisa do que estamos falando, por favor, intervenham e peçam para explicarmos novamente aquele ponto. Faço esta orientação para que fique bem clara a origem do problema,

Este outro aspecto também é importante porque, como veremos, o problema começa muito distante de onde vocês imaginam que eles se iniciam. A origem dos problemas de suas vidas está muito longe de onde vocês imaginam que eles começam.

Ao longo de nossos trabalhos as pessoas me relataram muitos problemas, mas tudo o que sempre me falaram que era causa do sofrimento atual, na verdade tratava-se de mera conseqüência de outra coisa. A origem do problema que me era relatado estava em outro aspecto da vida e as pessoas não compreendiam isso.

Por isso a importância de se conhecer a verdadeira origem dos problemas ao invés de ficar se tentando adquirir uma fórmula para se libertar de um determinado problema. Se você aprende a libertar-se destas coisas, não viverá as conseqüências e por isso se tornará mais fácil libertar-se do sofrimento. Agora, querendo resolver problema por problema nada resolverão.

Síndromes da vida

Mergulhando na vida

Participante: pode explicar um pouco melhor? Em parte entendo o que o senhor está falando, mas quando no dia a dia presto atenção em mim mesmo, acabo vendo que já fiz o que não deveria fazer.

Agora a pouco você me disse algo que podemos usar para explicar melhor o que falei. Quando lhe perguntei como estava a sua vida, você me disse que imaginava que tudo ia bem até que em um determinado momento chutou o pau da barraca e não gostou de ter feito isso, ou seja, sofreu por conta deste acontecimento. Sofreu porque imaginou que a sua vida estava caminhando para frente, no sentido de estabilizar a felicidade, e acabou verificando que isso não era real.

Usando este exemplo, lhe pergunto: é o andar para trás que lhe causa sofrimento?

Participante: não. É o eu achar que já atingi um ponto na questão da melhoria íntima, o ponto de não me deixar levar por aquele sofrimento, e quando vejo ainda ajo da mesma forma que antes.

Isso é o que você acha que é a razão do sofrimento, mas não é verdade. O seu sofrimento por não ter reagido da forma que estabeleceu como certa não é a causa do seu sofrimento. Na verdade, isso já é conseqüência de alguma coisa.

Conseqüência do que? Conseqüência de algumas idéias suas... Para explicar o que estou falando, vou usar o exemplo que sempre uso: alguém lhe chamar de feio.

Se alguém lhe chama de feio e isso causa uma contrariedade, o que lhe desgostou não foi o que foi falado por outra pessoa, mas sim o fato de que você quer que os outros lhe chame de bonita. Ou seja, o sofrimento não nasceu pelo que você ouviu, mas sim por algo dentro que foi afetado e com isso houve uma reação sofrida ao que aconteceu.

Por isso sempre afirmo que o problema não está no fato de ser chamada de feia. O sofrimento oriundo do fato de alguém lhe chamar de feia já é resultado de alguma coisa. É sobre este algo mais que vamos conversar muito forte hoje. Faremos isso para que vocês possam cortar o mal pela raiz.

Se compreenderem o que vamos falar, pouco importa se alguém lhe chame de feia, de bonita ou de qualquer outro adjetivo, nada lhe afetará.

Participante: acho que o que nos faz sofrer é a ofensa.

Até concordo, mas onde nasce o sentir-se ofendido pelo que outra pessoa falou? Será que é nas palavras que ela usou?

Não, a ofensa não existe pelo fato de você ter sido qualificada de alguma forma. Na verdade, ela se inicia no seu anseio de ser chamada de bonita. Se não tivesse este desejo, não se ofenderia quando alguém lhe chama-se de feia.

É chegar a esta conclusão que estou chamando de mergulhar na vida. Mas, este pequeno mergulho que fizemos ainda está muito no raso. Precisamos nos aprofundar muito mais para poder estancar a fonte do sofrimento.

Por isso, lhe pergunto: porque você quer ser chamada de bonita?

Participante: acho que é porque ser tratada desta forma me traz uma sensação boa.

Isso. Sim, um dos motivos pelo qual alguém sofre quando é contrariado é o fato de o que foi dito não lhe trazer uma sensação boa. Por isso existe internamente uma expectativa de viver o que se acha que pode trazer felicidade. Quando isso não acontece, há uma reação interna de sofrimento.

Mas, tudo isso ainda está muito no raso. Por isso, oriento: não parem por aí Quero que vocês mergulhem no mar dos pensamentos e explorem o que há abaixo da formação mental que diz que você deve esperar que os outros não lhe contrarie. Abaixo do fato de querer ser chamada de bonita, sempre há algo mais que é usado para lhe causar sofrimento.

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A obrigação de fazer

Participante: eu sei. Já aprendi muito com tudo que ouvi do senhor. Já aprendi que devo respeitar um pouco mais os outros, por exemplo. Acontece que tem hora que ainda vôo no pescoço de algumas pessoas.

Voar no pescoço de alguém não é problema. O problema é aceitar que tem ou não que voar.

Participante: vocês mentores sempre falam isso para mim. Por isso eu queria ser calma e mansa, mas não consigo.

Você queria ser desta forma, mas não consegue ser. Para mergulharmos nesta questão lhe pergunto: porque você quer ser calma e mansa?

Participante: porque eu tenho este ideal.

É aí que você se engana. Não é você que tem este ideal e por achar que é você que o tem que surge o problema.

Sim, existe dentro de você um ideal, um rótulo, uma postura que é considerada como verdadeira. No entanto, quem a considera assim não é você. Na verdade, você apenas adotou estas idéias como sendo suas. É por isso digo que precisa descer mais ainda na análise da origem do seu problema. Será sobre esta questão que está mais profunda do que as suas conclusões que vamos falar hoje.

Participante: para mim isso será importante, porque sofro muito por conta disso. Muitas vezes sei que estou ferindo a pessoa com minhas palavras, mas não consigo parar. Dói muito saber que está se ferindo os outros e não conseguir parar de agir daquela forma.

Vou lhe dizer uma coisa. Nas últimas semanas uma pessoa já me pediu diversas vezes para sair deste grupo. Por quê? Ela me disse que quer fazer isso porque acha que não consegue colocar em prática aquilo que falo. A esta pessoa e a muitas outras que me dizem a mesma coisa eu pergunto: quem disse que se tem que colocar em prática o que eu falo?

Esta pessoa que me falou recentemente em querer sair afirmou que precisa fazer isso porque quando aparecem notícias ruins na vida dela – e foram algumas nas últimas semanas – apesar de tudo o que ouviu, ela sofre. Eu respondi: e dai?

Quem disse que você não pode sofrer quando recebe uma notícia ruim? Eu? Nunca falei isso. O que sempre afirmei foi que vocês não podem fazer é sofrer porque estão sofrendo, Nunca disse que não podem sofrer quando recebem determinadas notícias ou quando acontece alguma coisa que contraria vocês.

O problema é que vocês sempre que ouvem algum ensinamento criam um padrão que acham certo e quando ele é quebrado sofrem. Você, da mesma forma que aquela pessoa, me diz que não pode ferir os outros, mas quem disse que não pode? Eu? Nunca falei isso...

Como eu poderia dizer que você não pode ferir os outros se o Espírito da Verdade diz que o ser assume um corpo para sob as ordens de Deus realizar o que é necessário ao outro (pergunta 132 de O Livro dos Espíritos)? Se eu sigo este mestre, como posso dizer que você deve ter controle do que faz a quem convive?

Acreditando, como eu acredito, no que o Espírito da Verdade ensina, jamais poderia lhe ensinar a deixar de ferir alguém que Deus sabe que precisa do ferimento. O que posso lhe ensinar é que ao vivenciar este acontecimento não pode sofrer. Só isso.

Portanto, os meus ensinamentos não têm o objetivo de criar um padrão de ação. Mas, a questão ainda vai mais fundo: não tem o objetivo de criar nenhum padrão de reação.

Quando falo que você não deve sofrer por pular no pescoço de alguém que lhe contrarie, também não estou criando uma obrigação. O que estou fazendo é lhe mostrar um caminho. O que estou dizendo é que você pode libertar-se deste sofrimento. Jamais disse que você pode se libertar da prática da ação.

Agora, se você sofrer por causa disso, o que posso fazer? Nada. Jamais vou lhe dizer que você é culpada por sofrer. O que lhe digo é que o sofrimento é inevitável e se você quer mudar o seu padrão emocional precisa reagir ao sofrimento que surge na sua mente. Só isso.

É para que você mude o seu corriqueiro padrão emocional de sofrimento que ensino que precisa ter a consciência de que não pode fazer nada que o outro não mereça. Que deve conscientizar-se de que por conta dos objetivos da encarnação você pulou no pescoço dos outros. Deve ter a consciência de que se isso aconteceu era o que precisava ocorrer, porque Deus assim comandou.

É por isso que ensino que o seu sofrimento não nasce do fato de ter pulado no pescoço de alguém, mas sim porque tem um padrão do que é ser boa e por conta dele não pode agir de determinada forma. Só isso...

Mas, lhe pergunto: de onde vem este padrão? É sobre isso que vamos conversar. Isso porque na hora que você entender que não existe este padrão que quer seguir, pode parar de sofrer, mas enquanto isso viverá o mesmo padrão emocional de sempre.

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A preocupação dos seres espirituais

A preocupação dos seres espirituais – e a minha também – não é com o que vocês fazem, mas sim com o sofrimento que vocês vivem.

Eu sempre disse que a minha preocupação não está com o que vocês fazem, mas sim na capacidade que possuem de sofrer pelo que fazem. Isso porque o objetivo da vida é ser feliz...

Para mostrar a minha preocupação com vocês, vou contar um caso que ocorreu neste tempo que estamos em contato. Lembro de uma pessoa que me dizia que, por conta de uma desavença, ela acabava fazendo fofoca de algumas pessoas no seu ambiente de trabalho. A esta pessoa sempre respondi que não estava preocupado com o fato dela ter falado dos outros, mas sim com a capacidade de sofrer por conta deste ato.

Porque falava assim? Porque não condeno a fofoca que uma pessoa faz de outra? Porque sei que ninguém tem o controle da vida. Este é o primeiro aspecto que vocês precisam entender.

Para que possam entendê-lo, vou, então, começar a nossa conversa de hoje.

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Você e a vida

Para começar, entenda uma coisa: o sofrimento é da vida. É a vida que sofre e não vocês. Na verdade, vocês sofrem quando aceitam que estão vivendo a vida. Por isso, a primeira coisa que você precisa fazer para ser feliz é separar-se da vida.

Para poder separar-se dela o primeiro passo é conscientizar-se que existe uma vida que vive por ela mesma e existe você. O fim do sofrimento ocorrerá quando você separar as duas coisas.

Nesta semana que passou esteve em nossa casa um amigo. Conversando eu o relembrei que no estudo da busca da felicidade falei do observador que observa a observação. À época, e ainda hoje, vocês queriam saber quem era o observador que observa a observação. Muitos acharam que era o espírito, mas como deixei bem claro na época, este elemento não é ele.

Na verdade, eu posso separar você em três: a vida, você e o espírito. Existe uma vida que é vivida; existe um você que se comunica com a vida; e existe um espírito que vivencia tudo isso.

De você para o espírito não há como ter informações. Portanto, esqueça este relacionamento. O que você precisa se concentrar para não sofrer, e será o que vamos conversar hoje, é na relação de você, este que não sabe quem é, com a vida.

O que estou falando é daqueles momentos em que pensa sobre você mesmo. É somente nestes momentos que você pode agir para gerar a vivência dentro de um determinado padrão emocional.

Existem momentos, quando a ação está acontecendo, onde aparentemente é você que está agindo, mas isso não é realidade. Nestes momentos, na verdade, é a vida que está agindo e não você. Só há como se identificar naqueles momentos onde você conversa com os pensamentos que tem.

Sabe aqueles momentos onde conversa com você mesmo e avalia o que viveu? Neste momento existem dois elementos diferentes: você e a vida. É aqui que você conversa com a vida e pode libertar-se do padrão emocional que ela quer que viva. .

Vamos entender melhor o que estou dizendo. Para isso vou usar como exemplo o que você acabou de falar: eu acabo pulando no pescoço dos outros...

Quando isso ocorre, eu afirmo que a vida é a idéia de que você está pulando no pescoço de alguém. Não é você que pula no pescoço de ninguém. Você, na verdade, só aparecerá nesta história quando conversar com a mente sobre o que aconteceu.

É você que está falando quando a mente começa a justificar, por exemplo, que era certo fazer isso e existe a resposta: ‘eu não gosto de fazer isso, eu estou errada, eu não posso fazer isso’ Ou ainda: ‘fiz porque ele merecia, ele estava errado e eu precisava reagir’. Neste diálogo existe você e a vida, pois ela está lhe dando motivações para o que aconteceu e você está aceitando-as ou negando-as.

É na hora deste diálogo que você precisa estar atento para poder assumir o controle da vida. É no momento que você analisa a vida, seja na questão dos atos ou das motivações, que precisa se concentrar para assumir o controle da vida e não viver o sofrimento que ela criará.

Participante: se fizermos isso não deixamos de ser nós mesmos?

Não, você não deixa de ser você. Pelo contrário, quando fizer isso você será você e não a vida.

Participante: quando eu estou atenta a mim mesma acabo conseguindo não sofrer com o resultado do que faço. Mas, quando não estou atenta, eu sofro. Quando acho que estou atenta consigo pular no pescoço dos outros e não sofrer por ter feito isso. Quando não estou, fico apontando meus erros.

Vamos chegar lá. Por hora saiba apenas que existe você e a vida separadamente.

Para que você possa realizar a escolha de um padrão emocional para vivenciar o que aconteceu existe uma pergunta que precisa ser respondida: o que é a vida? Se você precisa separar-se da vida é preciso que saiba quem é ela e quem é você.

O que é a vida? Tudo que você tem consciência de existir. Tudo aquilo que você tem consciência de existir é a vida.

Sendo assim, quem é você? Algo que você não tem consciência de existir. Não tendo consciência do que é, isso quer dizer que você é algo que não sabe o que é.

Eis aí, portanto, a definição do que é os dois elementos que você precisa separar para poder exercer a opção por um padrão emocional: você e a vida. Tudo o que tiver consciência será a vida; aquilo que não sabe o que é, mas que interage com a vida é você.

A partir destas definições, nós podemos, então, separar a vida de você. No momento que alguém estava pulando no pescoço de outro, quem estava existindo? A vida. Você não estava presente ali, por isso não poderia estar praticando ação alguma.

Quem está sentada aqui? A vida e não você. Por isso nada do que acontecer aqui será executado por você.

Mas, o que você faz enquanto a vida vive ela mesma? Você está observando a vida. Você está em algum lugar observando o que está acontecendo na vida. Só quando este momento se encerrar e a vida se dirigir a você será possível reconhecer alguma ação sua.

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Viver ou vivenciar a vida

Quando falamos em viver, vocês acreditam que vivem a vida, mas isso é falso. Na verdade ninguém vive a vida, pois ela é vivida por ela mesma. O que você faz é vivenciar a vida. Vou explicar isso melhor.

Na verdade, é a primeira vez que estou separando viver a vida de vivenciar a vida. Sempre usei o termo viver e o vivenciar como sinônimos, mas hoje estou separando um do outro. Faço isso porque será preciso separar uma coisa da outra para compreender o que vamos falar.

Vivenciar a vida é ver um acontecimento acontecer. É saber que ele não tem um protagonista, mas sim a vida que o vive.

Viver a vida é imaginar que você está fazendo alguma coisa, que está participando do acontecimento. Quem vive a vida imagina que é ele que está vivendo os acontecimentos quando na verdade não existe ninguém vivendo nada. A própria vida é o que está acontecendo.

Mas, porque não existe ninguém vivendo a vida? Por causa dos objetivos da encarnação.

Como já estudamos seguidamente, quando o espírito escolhe para si determinado gênero de provação, gera uma espécie de destino (pergunta 851 de O Livro dos Espíritos):

“A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado”.

Ora, se há um destino previamente estipulado para que o espírito possa viver as provações que pediu antes de encarnar, isso quer dizer que a vida precisa existir seguindo um trilho. Se deixássemos por conta do ser humano isso poderia não acontecer, pois como também ensina o Espírito da Verdade, depois de encarnado é outra a motivação que governa o espírito. Com esta nova motivação o ser certamente não iria querer o que pediu para viver antes da encarnação.

A partir desta compreensão sobre o desenrolar dos acontecimentos de uma vida e da idéia que ela é uma provação para o espírito, como está na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, podemos presumir que quando a vida acaba de viver alguma coisa expõe uma provação que está vinculada ao gênero de provas pedido antes da encarnação. Ou seja, sempre que ela vive escreve o cabeçalho de uma questão da prova do espírito e ao final da ação faz a pergunta que será respondida pelo ser universal.

Depois do cabeçalho da questão, como em toda prova humana, a vida apresenta múltiplas opções como possíveis respostas para que você escolha uma delas. Ou seja, a vida vive, cria um acontecimento e depois lhe propõe algumas reações ao que aconteceu como forma de vivenciar o que foi vivido.

Veja bem a palavra que estou usando: ela lhe propõe alguma coisa. Ela não determina como você terá que viver, mas propõe formas de viver para que você escolha qual vai vivenciar.

Participante: nós podemos não aceitar o que a vida propõe?

Claro...

Quantas vezes você já não acordou de bem consigo mesmo, tranqüila e alguém faz algo que você não gosta. Neste momento lhe vêm à idéia de sofrer pelo que o outro fez, mas você não aceita este sofrimento. Diz para si mesma que está tão bem hoje que não compensa perder este estado de espírito por conta do que aconteceu.

Neste momento você reagiu não compactuando com o que a vida lhe propôs para sentir. Conviveu com o acontecimento que a vida viveu sem se deixar levar pela opção proposta por ela.

Participante: não foi a vida que viveu assim neste momento?

Não, ela lhe deu o acontecimento. Depois, lhe propôs sofrer pelo que aconteceu. Você, por estar se sentindo bem, decidiu não sofrer.

Participante: se fizermos isso vivenciamos o não sofrer. Mas, para isso é preciso estar ligado.

Sim, a necessidade de estar ligado para poder separar-se da vida é fundamental. Apesar de falar assim, repare que dei um exemplo onde você não está ligado nesta questão, mas mesmo assim fez. Ou seja, a opção pode acontecer mesmo que você não esteja ligado em si mesmo, mas isso ocorrerá esporadicamente. Se estiver ligado, pode fazer acontecer sempre.

Por isso insisto que a questão de estar ligado é necessária para a realização deste trabalho. Sem estar ligado a esta questão, normalmente você viverá o que a vida propõe. É preciso estar muito atento no momento em que a vida propõe uma reação a um acontecimento para que você possa não viver o que ela propõe.

Participante: o senhor está certo. Muitas vezes eu digo deixa para lá, mas em outras não consigo fazer isso...

Mas, o deixa para lá não tem que ocorrer no ato. Não se trata de reagir ou não fisicamente. Ele precisa acontecer com relação ao que a vida propõe que você sinta. O que precisa ser deixado de lado é o que ela propõe para sentir e não o que acontece.

Participante: o que o senhor quer dizer é que é possível nós termos um chilique daqueles fenomenais, rodar a baiana, ficar muito braba e atacar o outro e assim mesmo estar em paz?

Quem é que está tendo o chilique, rodando a baiana? A vida. Neste momento não há nada seu, não há nenhuma ação sua. Agora, depois que a vida rodar baiana, depois que tiver o chilique e brigar e gritar a vontade, ela vai lhe dizer: sofra, pois você sabe que não podia fazer isso e fez... Aí chegou a sua hora de agir. É neste momento que você precisa dizer a si mesmo que não foi você que fez a ação e que por isso, não precisa sofrer por conta do que aconteceu.

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Nenhuma das respostas anteriores

Participante: certo, mas estas explosões que eu tenho são emocionais.

Sim, elas são emocionais, mas qualquer emoção é irreal. Deixe-me explicar isso...

O universo é uno, único e estável. Isto nós vimos em nossos estudos dos ensinamentos dos mestres. A partir deste conhecimento, pergunto: num lugar onde tudo é uno pode existir raiva, angústia, nervoso, preocupação, felicidade, alegria, prazer? Não. Se tudo é uma coisa só, não pode existir esta variedade de coisas.

Sendo assim, todas as emoções que você convive durante a existência carnal não são universais e se não são, não pertence ao universo. Se não pertence ao universo, à realidade real, é vida, faz parte do elemento ilusório que o ser está vivenciando como encarnação, como provação.

É a vida que gera a idéia de você ter qualquer emoção prazerosa ou culposa pelo que fez. Não é você que está sentindo isso. Ela faz isso para lhe criar uma proposta de reação a um acontecimento. Ou seja, é uma das proposições de respostas para você escolher como vivenciar a sua provação.

O pular no pescoço ou o rodar a baiana é o cabeçalho da sua prova. Usando o conhecimento humano sobre provas, posso dizer que isto é a apresentação da questão. Por exemplo: ‘um trem sai da estação a tantos quilômetros por hora e leva tanto tempo para chegar a outra estação. Qual a distância entre as estações’.

Este trecho é o cabeçalho de uma questão de prova humana. No caso da provação que a vida gera corresponde ao acontecimento: ao ato de você pular no pescoço dos outros, de chutar o pau da barraca, etc.

Depois que ela cria isso, apresenta, então, as opções de respostas:

a. você deve sentir-se mal porque fez isso;

b. você deve sentir-se culpada pelo que fez;

c. você deve sentir prazer porque aquela pessoa não presta mesmo;

d. nenhuma das respostas anteriores

A quantidade de opções é variável. A vida pode propor diversas reações para um mesmo acontecimento. Mas, uma coisa é certa: sempre haverá a opção ‘nenhuma das respostas anteriores’. Afirmo isso porque é esta a opção que precisa ser marcada por aquele que não quer sofrer.

Marcando qualquer uma das opções anteriores, certamente você viverá a dor ou o prazer. Apenas esta resposta lhe faz conviver com o acontecimento em equanimidade.

Participante: dá para escolher não sofrer ou ele vem sozinho?

Dá para escolher o não sofrer o sofrimento. O sofrer, no entanto, precisa haver.

Na verdade o sofrimento precisa estar presente porque ele é uma das proposições que a vida lhe fará. Sempre a vida criará opções que contenham um sofrimento. Por isso afirmo que o sofrimento estará presente, mas ele não precisa ser vivido.

Apesar de a vida lhe propor sempre uma opção de sofrer, você pode evitar vivenciar este estado de espírito. Ou seja, você não precisa sofrer porque a vida está gerando sofrimento. Como isso só se consegue realizando uma escolha, respondo que, apesar da presença do sofrimento na vida, escolhendo não sofrer, você não sofrerá.

O optar por alguma coisa durante a vivência da vida sempre existe. Ele pode ser até inconsciente, como no caso do exemplo que dei de quando alguém lhe chateia e você não vive isso porque está bem, mas ele precisa existir.

Apesar de no exemplo que dei haver apenas uma reação inconsciente, digo que é preciso existir um trabalho consciente para que a reação ao que a vida propõe não seja de sofrimento. Na verdade, a reação inconsciente para não viver o sofrimento é algo mecânico. Este tipo de reação só acontece depois que você cria o hábito de reagir de tal forma. Portanto, é preciso exercitar a escolha para alcançar a mecanicidade na reação. Sem estar calejado neste processo fica difícil escapar das armadilhas que a vida cria, pois às vezes ela muda uma palavra ou uma situação no cabeçalho da questão e vocês se perdem.

Reagindo consciente ou inconsciente, o importante é vocês entenderem o mecanismo da vida, pois se não compreenderem continuarão vivendo sofrimento quando a vida lhes der esta proposição de reação ao que ela criou.

Estarem aqui não tem nada a ver com vocês, mas trata-se apenas da vida. O que estão ouvindo também não tem nada a ver com vocês, pois é vida. O que estão raciocinando a partir do que está sendo ouvido também não tem nada a ver com vocês, mas é apenas vida. Agora, enquanto a vida está aqui ouvindo e racionando o que é escutado, ela proporá a vocês uma forma de estar aqui e é esta forma que não devem aceitar, qualquer que seja esta propositura, pois a resposta que leva à felicidade é sempre nenhuma das respostas anteriores.

Participante: como é que você vai saber que respondeu desta forma?

Nós chegaremos lá na nossa conversa de hoje. Por hora O importante é saber que a única opção que não leva ao sofrimento é nenhuma das respostas anteriores. Por que isso? Porque qualquer outra opção será apegar-se ao que a vida cria e quem se apega a qualquer coisa desta vida está fora do universo e por isso está em sofrimento.

Por isso, vamos nos concentrar neste ponto.

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Realizando a opção

Pergunto: quando estão fazendo uma prova e não tem certeza da resposta certa, como é que fazem para escolher uma das opções propostas?

Participante: excluindo as respostas que não são certas.

Perfeito. Como fazem isso? Verificando se cada opção apresentada está certa ou não.

Por exemplo, no cabeçalho da questão está perguntado quanto é a soma de dois mais dois. Você, se não tem certeza da resposta, vai às opções apresentadas e verifica uma por uma para ver se alguma delas pode conter a resposta certa.

Neste processo de avaliação das possíveis respostas apresentadas, se uma das opções, por exemplo, contiver o valor cinco, vocês tentam saber se somando duas coisas com outras duas o resultado é cinco. Vendo que não, excluem a possibilidade desta opção ser a certa. Vão neste processo avaliando cada uma das opções apresentadas até que se apresente uma resposta certa ou se isso não acontecer marcam a opção nenhuma das respostas anteriores.

Este é o trabalho de quem quer ser feliz. Quem quer ser feliz verdadeiramente precisa excluir todas as emoções apresentadas pela vida que não representem esta felicidade para que possam realmente ser felizes. É por conta da importância deste trabalho para aquele que quer aproveitar a oportunidade da encarnação que conversaremos hoje sobre como excluir as opções de emoções que a mente propõe como reação a um determinado acontecimento.

Na prática, o que estou falando é que se a vida lhe disser que você deve se sentir culpada, você deve excluir esta resposta. Se ela disser que deve ter uma emoção prazerosa, também deve excluir esta opção.

Como se exclui uma opção apresentada pela vida? Contra-argumentando contra os valores que a vida apresenta para justificar a emoção proposta. Vou dar um exemplo para ficar claro o que estou dizendo.

Digamos que a vida crie um acontecimento que espelhe alguém falando rispidamente com você. Este é o cabeçalho da prova. Depois disso a vida lhe proporá uma forma de reagir a este acontecimento. Para que você vivencie o que ela propõe ela criará motivos.

Digamos que ela afirme que você deve sofrer porque aquela pessoa não tem o direito de falar desta forma. Esta é argumentação que ela usa para lhe prender à reação emocional que ela propõe. É a esta argumentação que você precisa contra-argumentar.

O que se usa para contra-argumentar com a vida? O que você quiser. Pode ser um ensinamento que já conversamos, pode ser um ensinamento da Bíblia, de O Livro dos Espíritos ou até uma lógica material. Isso não é importante. O que realmente importa é que tenha argumentos para que exclua todas as opções apresentadas pela vida, pois se não fizer isso, vivenciará uma das opções apresentadas e com isso virá o sofrimento ou o prazer.

O fato é que você precisa sempre chegar à opção nenhuma das respostas anteriores. Para isso é preciso excluir todas as outras possibilidades apresentadas.

Estão começando a compreender o que eu quero dizer?

Participante: dentro destas opções que a vida apresenta pode existir o julgamento do outro?

Quando você tem um processo racional que apresenta um julgamento de alguém isso é vida. Qualquer pensamento que se forme é vida. Além disso, sofrer porque está julgando, ter o prazer por fazer isso ou achar que descobriu uma verdade, também são proposições que a vida cria.

Esta é a ciência da felicidade. Trata-se de descobrir o que é vida e o que é você, descobrir o que a vida está propondo a você e eliminar as opções propostas pela vida para reagir ao acontecimento. Para isso se contra-argumenta com as motivações criadas pela vida justificando a emoção proposta.

A questão do conhecer os argumentos que a vida usa é importante. Não há como se estabelecer uma fórmula pré-formatada, pois os argumentos mudam de pessoa a pessoa, já que todos os seres humanos são diferentes na sua base de raciocínio, e podem, inclusive, mudar na sua própria vida em momentos semelhantes.

Como disse anteriormente, muitas vezes a vida muda apenas uma palavra da sua argumentação e vocês, por quererem usar fórmulas pré-formatadas sem uma análise específica daquele momento, acabam seguindo o que a vida lhes diz para viver. Por isso é preciso estar sempre atento às idéias que são geradas a cada momento para poder excluir as possibilidades que a vida apresenta até que se chegue à opção nenhuma das respostas anteriores,

Na verdade, esta opção corresponde à frase que nós mais falamos em todos estes anos de conversa: pode ser pode não ser. Somente esta postura frente ao que a vida propõe pode realmente lhe afastar do sofrimento. Por isso afirmo que é preciso chegar a esta consciência.

Já falamos muito sobre isso ao longo de nossas conversas e muitos tentam colocar a opção pode ser ou não em prática, mas poucos estão conseguindo. Por quê? Porque não estão analisando tudo o que a vida propõe. Em alguns momentos, aqueles que a vida argumenta que você queria que aquele acontecimento ocorresse, não conseguem chegar ao nada saber.

Isso não pode acontecer. É preciso reagir a qualquer proposição que a vida faça, pois quando não consegue excluir a opção apresentada através da contra-argumentação do que a vida apresenta, se comunga com algo que ela propõe. Por isso, não importa o que a vida apresente, é preciso sempre chegar ao pode ser ou pode não ser.

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Viver você mesmo

Falamos de viver a vida ou vivenciá-la, mas não falamos em simplesmente viver. Vamos falar um pouco sobre isso...

Vocês imaginam que viver é uma coisa simples: basta acompanhar os acontecimentos da vida. Mas, quem vive o que a vida cria vive a própria vida e não a si mesmo.

Agora a pouco me perguntaram sobre a existência do sofrimento. Sim, o sofrimento existe. Mas, pergunto: quem está sofrendo? A vida. É a vida que sofre e não você.

Apesar de afirmar isso, digo que você sofrerá porque marcou esta opção quando a vida lhe fez uma proposição. Este sofrimento não é seu, por isso não precisaria ser vivido. No entanto, você o vive porque optou pelo sofrimento que a vida criou.

Na verdade posso dizer que você não sofre, mas vive o sofrimento que a vida gera.

Participante: o que o senhor está dizendo é que a vida sofre e que se eu quiser posso não viver este sofrimento. É isso?

Perfeito.

Participante: quer dizer que se eu marcar nenhuma das respostas anteriores a vida continuará sofrendo e eu não?

Sim.

Mas, volto a insistir: esta opção só pode ser feita no momento em que você conversa com a vida. Enquanto não estiver conversando com a vida não há como se dissociar dela.

Na hora que está voando no pescoço ou rodando a baiana, certamente sentirá toda raiva que a vida criará. No entanto, neste momento quem está existindo não é você, mas a própria vida. Todo este acontecimento faz parte do cabeçalho da questão. Já na hora que saiu daquele momento e começou a conversar com você a respeito do que se passou, esta é a sua hora de agir.

Participante: então, quer dizer que a vida existe e nós precisamos nos distanciar dela? Isso quer dizer que existe este distanciamento constante?

Não.

Na verdade não posso lhe afirmar que não exista um ser que consiga o distanciamento constante da vida. Isso pode acontecer, já que não se pode afirmar que nada não exista. Respondi-lhe desta forma porque viver deste jeito ainda está longe de vocês.

Hoje vocês estão na etapa de começar a treinar para distanciar-se da vida. Por isso haverá momentos onde conseguirão marcar a opção nenhuma das respostas anteriores, mas haverá outros onde não conseguirão. É preciso deixar isso bem claro, pois senão a vida usará este argumento para lhes propor um sofrimento e vocês não conseguirão deixar de vivê-lo.

Se você não se compenetrar de que não conseguirá se distanciar da vida e viver você mesmo o tempo todo, quando não conseguir realizar este distanciamento, a vida lhe proporá sofrer por não ter feito e você viverá este sofrimento. Por isso estou deixando bem clara esta questão: há a possibilidade de se distanciar da vida o tempo inteiro, mas vocês não possuem ainda condições de viver assim.

Este é um ponto que precisam estar muito atentos para não viverem a vida. Guiados pelo processo racional humano esperam alcançar a plenitude de qualquer coisa. Isso é impossível. Com quase toda certeza não alcançarão a plenitude em nenhum aspecto durante esta encarnação.

Afirmo isso porque este não é um mundo de regeneração, mas sim de provas e expiações. No próximo mundo, ou seja, nas suas encarnações para regeneração, terão que conseguir finalmente alcançar a vivência na totalidade da vida sem sofrimento.

Agora, reparem que falei de objetivo a ser alcançado e não algo que será alcançado instantaneamente. Para alcançar a plenitude do distanciamento do que a vida propõe vocês ainda precisarão reencarnar por diversas vezes dentro do novo sentido da encarnação.

Participante: isso quer dizer que por mais que eu trabalhe ainda continuará havendo momentos onde sentirei sofrimento?

Na sua pergunta fica bem claro o problema para realizar o trabalho que estamos conversando.

Você me diz que sentirá sofrimento, mas no momento em que houver sofrimento na sua vida não será você que está sentindo. Quem estará sofrendo é a vida.

Só se você aceitar esta opção que a sua vida está gerando neste momento (você sofrer) jamais conseguirá se distanciar da vida no futuro. Se aceitar agora que sofrerá, viverá o que a vida propuser e não a você mesmo. Você tem que estar atenta a tudo o que a vida fala, pois ela sempre conversa com você, ou seja, está sempre propondo argumentos para no futuro justificar a sua opção pelo que ela criar.

O momento que você deve ter atenção é aquele onde a vida gera um pensamento sobre o que aconteceu ou projeta alguma coisa que poderá acontecer. Tem que estar atenta quando pensa que aconteceu determinada coisa, quando pensa que fez algo ou que alguém disse alguma coisa. Neste momento você precisa estar atenta, pois depois destes pensamentos virão às justificativas para as proposições de emoções por parte da vida.

Síndromes da vida

Louca vida

Participante: foi o que aconteceu esta semana comigo. Tive momentos de tristezas profundas e pensei até em ir a um psiquiatra para tomar remédios. No dia seguinte acordava bem, ia trabalhar. Houve momentos em que me senti no fundo do poço e que nunca mais ia me levantar e no dia seguinte estava tudo bem. Parecia uma louca.

Você falou uma palavra interessante: louca. Sim, a vida é louca. A vida não tem lógica. Vocês querem dar uma lógica à vida que ela não tem.

Alguém me disse que há uma pessoa nervosa hoje e eu respondi que o problema é de quem está vivendo o nervosismo. Esta pessoa insistiu: mas, desta vez ele tem motivos para isso. Não, estes motivos não são reais, mas apenas argumentação da vida para que ele viva o nervosismo ao invés de viver ele mesmo. O que estou querendo dizer é que este nervosismo não é dele, mas sim da vida dele.

Quanto tempo ele ficará nervoso? Pelo tempo que ficar. O tempo que alguma coisa acontecerá depende da criação da vida e não do que você decidiu ou que está vivendo.

A vida desta pessoa, por exemplo, pode ser hoje ficar nervoso e amanhã deixar de ficar. Para que isso aconteça nada precisará ser mudado nos acontecimentos da vida. Mesmo que os motivos que hoje justificam o viver o nervosismo continuem existindo, amanhã esta emoção pode não ser proposta pela vida. Como esta pessoa está vivendo o que a vida diz para viver e não ela mesma, o nervosismo acaba.

Falei numa proposição amanhã, mas com isso não quis necessariamente falar de outro dia. A mudança no que a vida propõe para que vocês vivam emocionalmente pode ser diferente no minuto seguinte, mesmo que nenhuma idéia ou realidade seja alterada. Isso porque a vida não tem lógica.

A vida não tem seqüência lógica. Se hoje você tem uma dor, se está se sentindo mal, isso não quer dizer que necessariamente estará da mesma forma no momento seguinte. Todas as causas aparentes que hoje justificam o sentir-se mal poderão continuar existindo no momento seguinte e você não se sentir mais mal.

A vida não tem lógica e este é o grande problema que leva vocês a se perderem. Vocês querem viver a vida e como ela não tem lógica, ficam perdidos. ‘Como pode ser isso? Até ontem eu não gostava daquela pessoa e hoje me vejo gostando? Eu nunca agi desta forma e agora estou agindo? Eu cansei de ouvir você Joaquim, mas não consigo colocar em prática’.

A vida não tem lógica. Se tivesse a lógica que vocês querem que ela tenha, ou seja, porque ouviram que não devem fazer uma coisa deixam de fazer, não precisariam realizar trabalho algum junto à vida. Mas, ela não tem lógica. Por isso vocês me ouvem constantemente e no momento que acontecem as ações nas suas vidas, elas não espelham a prática do que ouviram. Isso acontece desta forma porque não são vocês que geram as ações, mas sim a vida.

Participante: quando o senhor está falando da vida está se referindo às nossas provas?

A vida, a mente, a encarnação, a personalidade humana, o ego, as provações do espírito: tudo isso são apenas palavras para designar a mesma coisa. O que estou falando é daquilo que você tem consciência de existir.

Deu para entender?

Participante: o que me acontece é que muitas vezes o racional está ótimo, ou seja, racionalmente eu consigo entender tudo. No entanto, o emocional não acompanha este estado.

Ótimo. O que você precisa fazer neste momento?

Participante: ignorar o emocional?

Não. O que precisa fazer sempre é marcar nenhuma das respostas anteriores. Nem seguir um nem o outro. A única resposta que conduz à felicidade é nenhuma das respostas anteriores. Para chegar a isso, você precisa desqualificar o racional e emocional.

Você precisa excluir qualquer coisa que a sua vida crie, pois não importa o que ela lhe traga à consciência, você sempre estará entre a cruz e a espada. Se aceitar o que ela fala, estará vivendo a vida; se negar o que ela lhe propõe, também estará vivendo-a, pois a vida criará uma lógica a partir da negação que se transformará numa realidade à qual você estará presa. Portanto, apenas o não optar ou negar o que está sendo proposto não é saída para quem quer viver feliz. Apenas eximir-se de ter opinião sobre o que foi dito, ou seja, marcar nenhuma das respostas anteriores, não a leva a viver a vida.

. Mas, que resultado causará aos acontecimentos do dia a dia a sua não opção por alguma idéia que a vida lhe dê? Nada, pois a vida está vivendo ela e por isso continuará dentro do trilho pré-estabelecido para correr. A única diferença entre o que você vive agora e o não optar pelo que a vida propõe que estamos conversando é que você internamente passará por aquele momento sem viver a vida.

Quando chegamos neste ponto da conversa surge, então, outro aspecto que já conversamos e que precisamos nos atentar: não existe vida que ocorra ao longo de anos, semanas ou meses. A vida existe a cada momento. Por isso a cada momento é preciso estar atento ao que lhe vem ao consciente, seja racional ou emocional, para que você não compactue com aquela idéia.

Síndromes da vida

As vidas da vida

Participante: nós queremos controlar a vida, não é?

Sim, vocês querem controlar a vida, mas além de disso, querem ligar fatos e momentos anteriores, dando uma coordenação e seqüência que a vida não possui.

Quando vocês me dizem, por exemplo, que conseguem colocar em prática os ensinamentos em alguns momentos e não na plenitude da existência, estão pensando em uma vida longa, Estão pensando semanas, meses ou anos. Mas, estas coisas não existem: a vida dura um milésimo de segundo.

Participante: são várias vidas naquilo que chamamos de vida...

Sim, existem várias vidas numa só encarnação. Por causa disso, afirmo que você tem que lidar coma vida que aparece a cada momento à sua frente.

Qual é a vida de vocês agora? Estar aqui. Por causa disso, não têm que atentarem-se a mais nada a não ser com o momento que estão vivendo agora aqui.

Conseguindo resolver o seu relacionamento com a vida neste momento, isso é ótimo. Agora, se não conseguir resolver, quando sair daqui esqueça tudo o que aconteceu enquanto esteve aqui e concentre-se com o que a vida estiver criando naquele momento, para que possa resolver o seu relacionamento com ela lá.

Aqui você tem uma etapa da sua encarnação; no próximo momento terá outra. A luta para libertar-se da vida agora é uma; no próximo momento com certeza será outra. A luta para libertar-se do que a vida propõe sempre é diferente, pois a cada momento ela é outra e por isso as questões que ela apresenta são diferentes.

Participante: o que o senhor está falando tem muito a ver com o momento que estou vivendo. Ouço o senhor e depois quando não consigo colocar em prática o que ouvi e fico me culpando por isso.

Na verdade não é você que fica se culpando, mas a vida que fica propõe culpa e você aceita. No momento que isso ocorrer, você precisa excluir esta possibilidade ao invés de vivê-la. Esta é a grande ciência do viver: aprender a excluir as coisas que a vida propõe.

Volto a repetir algo que já disse, mas que é fundamental para quem quer fazer este trabalho: é preciso excluir tudo o que a vida propuser. Isso porque para se viver o que a vida propõe não é necessário uma aceitação tácita, ou seja, dizer que aceita. Na verdade o que você não excluir será vivido.

Participante: isso acontece muito rápido, não?

Sim, porque a vida é rápida.

Participante: se você titubear compra a culpa, o sofrimento... Aí estas coisas podem dominá-lo e você não terão fim. Terá raiva para sempre, tristeza para sempre, etc.

Exatamente.

Só que não é para sempre no sentido com vocês entendem, ou seja, durante a eternidade. O sofrimento ocorrerá enquanto a vida for o que ela propôs naquele momento. Quando ela não for mais o sofrimento que foi proposto, você nem lembrará que em um determinado momento teve raiva ou sofreu.

Este é outro detalhe deste trabalho. A vida trabalha sem um segmento lógico. Ela muda rapidamente de idéias e, por isso, você fica perdido no momento que ela faz as proposições achando que, por exemplo, se não gosta de uma determinada pessoa, não gostará o tempo inteiro.

Acontece que quem não gosta de alguém não é você, mas sim a vida. Como ela não tem lógica e nem segue um padrão pré-determinado, muda rapidamente de opinião e passa a gostar de quem não gostava. Se você não estiver atento a cada uma as vidas que vivencia, acabará sem conseguir libertar-se do padrão emocional que a vida propõe. .

Participante: assim como se nós respondermos a opção nenhuma das alternativas pode virar um padrão, da mesma forma se nós respondermos com a opção raiva sempre que a vida fizer esta proposta também virará um padrão. Presos ao padrão, nós acabamos optando sempre pela opção raiva. Não é isso?

Perfeito. A proposta de raiva ao longo as vidas que você tem vem num momento e, por terem optado por um padrão emocional constantemente, a aceitação deste padrão no momento atual é automática.

Mas, porque este automatismo acontece? Porque você por diversas vezes não desqualificou a proposta de raiva.

Participante: ela se torna a proposta mais aceitável, digamos assim...

Você já se convenceu de que deve sentir raiva e não tem jeito.

Síndromes da vida

Planejamentos da vida

Participante: a gente se baseia na cronologia da vida para aceitar o que ela nos propõe. Quando se convence que a vida é só o agora sai deste círculo vicioso.

Eu lembro que quando, no início deste trabalho, comecei a falar que não se deve assumir compromissos, duas pessoas me disseram que era impossível se viver sem gerá-los. Uma delas, inclusive, me disse: ‘mas, você assume compromissos. Você marca o dia em que irá fazer palestras com antecedência’. Eu respondi a esta pessoa: ‘entre o que eu faço e o que vocês fazem há uma diferença. Eu marco uma data para realizar alguma coisa, mas não sei se no dia vou realmente fazer o que me comprometi’.

Vocês, quando marcam uma data para fazer alguma coisa, assumem compromissos, ou seja, imaginam que tem a obrigação de fazer porque planejaram executar. Vivendo assim, quando não conseguem fazer o que se comprometeram, sofrem. Já eu, que programo, mas não assumo compromisso, se não for não sofro.

Mas, porque não me comprometo em realizar o que planejei? Alguns até poderão dizer que agir desta forma é leviandade e sentirem magoados com a minha forma de proceder, mas não é isso. Na verdade eu não me comprometo porque sei que quem está se comprometendo e quem vai realizar ou não é a vida e não eu. É por conta da consciência sobre quem gera a ação e da minha forma de conviver com os acontecimentos, que a minha vida pode fazer todo o planejamento do mundo sem que eu me sinta compromissado com o que ela programou. .

A vida faz o planejamento, mas se aceita o planejamento que ela faz, terá planejado. Tendo aceitado o planejamento que a vida lhe deu, no momento que ela gerar o não ir e propuser sofrimento, você sofrerá.

Participante: eu opto pelo sofrimento porque aceitei o planejamento que não é meu, mas da vida.

Perfeito.

Agora, se não aceitar o compromisso, ou seja, interiormente não tiver a certeza de que porque houve um planejamento obrigatoriamente acontecerá fazer, na hora que a vida for não realizar, não precisará optar pelo sofrimento proposto.

Portanto, como eu disse quando conversamos inicialmente sobre nosso encontro hoje aqui o que tinha para falar não levava mais do que meia hora. Agora preciso que vocês me dêem exemplos de sofrimentos para que possamos começar a conversar sobre os elementos que podem ser usados para gerar a exclusão das múltiplas proposições que a vida oferece.

Síndromes da vida

Excluir o que é prazeroso

Participante: antes de continuar, por favor, deixe-me fazer uma pergunta. O senhor sempre diz que o prazer é tão danoso quanto o sofrimento no tocante à elevação espiritual. Acho fácil excluir o que nos faz sofrer, mas como excluir aquilo que ainda achamos bom?

O que posso lhe dizer sobre isso é que neste momento não se preocupe em excluir o prazer que a vida oferece. Falo assim porque não irá conseguir. Você ainda está muito apegada às coisas desta vida para conseguir excluir o que é prazeroso.

Na verdade, o processo do desapego às coisas materiais é como desintoxicar-se do vício em drogas. Parar de uma vez para o viciado é um choque muito grande que pode causar diversas síndromes. A mesma coisa acontece com aqueles que querem libertar-se das coisas deste mundo. Por isso lhe digo para ir paulatinamente durante o processo de se libertar do que a vida propõe. Mesmo com o sofrimento, vá diminuindo aos poucos; não tente realizar tudo de uma vez.

É por conta desta observação que acabei de fazer que nós trataremos agora só de sofrimentos. Se vocês conseguirem nesta encarnação pelo menos se libertar de alguns sofrimentos que vivem já terão conseguido muita coisa.

Síndromes da vida

Culpa

Participante: Já que podemos propor sofrimentos, gostaria que o senhor falasse da culpa. Eu inconscientemente acho que ela é uma grande geradora de sofrimento para todos. Para mim posso dizer que sim. Minha vida propõe a culpa muitas vezes e do nada. Se eu fizer alguma coisa, me culpo; se não fizer, também. Eu sei que sou eu que aceito estas proposições que a vida me faz, mas me enche o saco ficar me sentindo culpada todo tempo..

Vamos, então, começar pela culpa oriunda de você ter feito alguma coisa errada. Porque você aceita a culpa que a vida lhe propõe quando acontece alguma coisa errada?

Participante: Eu acho que aceito a proposição de culpa porque aceitei o padrão de certo. Aceitei o padrão do que é ser bondoso, do que é ser amigo, do que é ser caridoso. Nós humanos temos padrões do que é ser legal, ser bom. Aí, quando chega um acontecimento, eu reajo xingando ou acusando o outro. Depois, vem toda a culpa e não consigo me afastar dela. Além disso, é difícil fugir da culpa porque a mente usa para gerar esta opção justamente a idéia de já ter lhe ouvido tanto tempo e por isso conhecer os caminhos para não mais sentir raiva dos outros. Mas, a gente acaba agindo contrariamente ao que aprende e desta forma fica difícil de fugir da culpa.

Como você acha que pode excluir esta culpa?

Participante: optando por nenhuma das respostas anteriores.

Sim, mas para chegar até esta opção você precisa excluir as proposições da vida. Dentro do que estamos conversando, é preciso que exclua a culpa. Como fazer isso?

Participante: não aceitando a regra de certo e errado.

Seu raciocínio está perfeito, mas torno a lhe perguntar: o que vai acontecer se você não aceitar a regra de certo e errado?

Participante: eu não vou escolher nada...

Calma, este trabalho não é tão simples assim...

Você ainda está muito longe de ter conseguido desqualificar a proposição da culpa. Por isso, neste momento, esqueça a escolha. Concentre-se apenas em desqualificar o que é proposto pela vida.

Neste momento não estamos ainda falando em escolha, mas em exclusão. Estamos buscando ainda excluir o que é proposto para só depois partir para optar pelo nenhuma das respostas anteriores.

Dentro do processo de libertação do padrão emocional que a vida propõe o primeiro passo é excluir as opções apresentadas. Dentro do tema que estamos conversando, como é possível excluir a culpa?

Você me disse que é não aceitando o certo e errado. Isso está perfeito, lindo, maravilhoso. Parece até a resposta de um sábio. Mas, se você não aceitar a regra do certo e errado, o que lhe acontecerá? É isso que você precisa alcançar para poder excluir a regra de certo e errado da sua vida.

Síndromes da vida

A origem da culpa

Como já disse em outras vezes, tudo nesta vida tem um custo. Quando você se liberta de alguma coisa, lhe é gerada uma nova condição. Que condição será gerada pela sua liberdade das regras societárias de certo e errado? Com certeza será colocada de lado pela sociedade...

Observe que o fato de libertar-se das regras societárias não é algo tão simples. Ele traz conseqüências, tem um custo.

Você não aceita as regras de certo e errado porque quer, porque concorda com o que a sociedade propõe. Na verdade esta aceitação é feita para que você viva sociedade, para que conviva com outros seres humanos. .

Se isso é verdade, para não viver a culpa que a vida oferece o que você precisa usar na exclusão desta opção, não é simplesmente libertar-se das regras de certo errado, mas sim a dependência da aceitação da necessidade de se viver em sociedade. Sem que você se liberte desta aceitação, jamais conseguirá se libertar das regras societárias e sem isso, jamais deixará de sentir culpa.

Uma arma que posso lhe oferecer para que se liberte desta dependência é perguntar a si mesmo: para você é mais importante feliz de verdade ou a aceitação dos outros?

Participante: claro que é a felicidade de verdade...

Calma, você está se iludindo. A questão não é tão simples assim. Se fosse, já teria conseguido se libertar destes padrões.

Se realmente para você fosse mais importante ser feliz, hoje você não conviveria dentro da sociedade aplicando códigos que consagram certos e errados e, por isso, não teria culpa. Se ainda aceita as culpas que a vida lhe propõe, isso quer dizer que está priorizando a aceitação ela sociedade em detrimento de sua felicidade.

Não depender da aprovação da sociedade: é aqui que começa a exclusão do que é proposto pela vida e não no querer libertar-se das regras de certo e errado. Só quando disser a si mesmo que se aceitar esta culpa estará se subordinando a lei do certo e errado poderá se libertar dela. Mas, para conseguir realmente realizar esta libertação, é preciso estar ciente que por conta disso poderá ser colocada à margem da sociedade.

É por conta deste custo que o trabalho da busca de se viver a felicidade traz que você, apesar de dizer prontamente que prefere a felicidade, não consegue realmente se libertar da culpa. É por isso, também, que este é o primeiro aspecto que precisa ser combatido para que não se ligue inconscientemente à opção sentir-se culpada.

O primeiro passo para aquele que não quer sentir-se culpado por nada é não viver a necessidade de ser bem vista pela outros que está presente na vida humana. Para isso, é preciso não aceitar quando a vida lhe diz que você não pode viver sozinha, que precisa ter amigos à sua volta, que precisa ser uma mãe, amiga, esposa ou filha perfeita. É aqui que começa o trabalho. Sem libertar-se dessas coisas, fatalmente aceitará a culpa.

Vou chamar as formas padrões de viver que a vida se utiliza de síndromes, para usar o mesmo termo que os psiquiatras usam para as doenças da mente. Achar que precisa ser considerada perfeita e cercada de amigos é uma síndrome da vida que chamamos de ‘síndrome da aceitação’.

A síndrome da aceitação, que está na vida e não em você, é um padrão de raciocínio onde é afirmado que você precisa ser um humano identificado com o que a humanidade vive. É uma linha de raciocínio da vida que afirma que você precisa ser aceita pela sociedade e por isso ela contempla a idéia de que você precisa seguir as normas e padrões que a sociedade gera para a convivência dos seres humanos.

Esta síndrome precisa ser trabalhada pro você, pois se não fizer isso, jamais conseguirá se desligar dos padrões de certo e errado da sociedade e com isso a vivência da culpabilidade gerada pela vida é inevitável. Isso porque em todas as opções de estado emocional que a vida cria há sempre uma regra de certo e errado que você precisa libertar-se para ser feliz.

Tenha uma coisa em mente: para não viver a culpa, de nada adianta apenas querer se acabar com a regra de certo e errado. Enquanto viver esta síndrome, ou seja, enquanto for dependente da aceitação dos outros, não conseguirá se libertar do que a vida lhe propõe para sentir. Enquanto necessitar e ansiar em ser aceita pela coletividade, com certeza sofrerá muito.

Síndromes da vida

Dependência

Quem cria as regras? A vida. Na verdade, ela não cria regras; ela é a regra. Quem cria a aceitação dos outros? A vida. Tudo é criado por ela e estas criações tem como finalidade lhe manter preso à culpa.

Participante: para poder se libertar desta síndrome, então, é preciso imaginar que a vida é só aquele segundo.

Sim, isso é preciso, mas não adianta apenas imaginar que a vida é aquele segundo, pois só isso não lhe levará a libertar-se da síndrome, já que naquele segundo você ainda está presa ao desejo de que o outro lhe ache bonita, bem arrumada, uma pessoa calma e evoluída. Vivendo estes anseios como necessidades, você ainda precisa ter pessoas ao seu lado que satisfaçam a sua vontade. Com isso, continuará presa à síndrome da aceitação.

Desta pequena análise, surge, então, um grande problema que precisa ser enfrentado por quem quer libertar-se da vivência das emoções propostas pela vida: a dependência dos outros. Você precisa cortar em si mesma esta dependência, pois ela é um vício.

Toda dependência é um vício e a dependência da aceitação pelos outros não é diferente. É por isso que você jamais será feliz de verdade enquanto tiver a dependência dos outros, pois quem cria o que o outro pensa de você é a vida, a sua vida, e não os outros.

Síndromes da vida

A vida é individual

Repare que pela primeira vez uso o termo sua vida. Sim, cada um tem uma vida separada dos outros. Apesar de aparentemente você e esta outra pessoa compartilharem, pelo menos neste momento, uma vida em comum, isso não é real. Neste momento, apesar de aparentemente estarem vivendo a mesma vida, eu afirmo que a sua vida é só sua e ela possui outra vida.

Na verdade a vida, mesmo quando ela é formada pela presença de outras pessoas, é individual, ou seja, é apenas daquele ser. Na verdade, cada vida cria isoladamente situações para um ser.

Não existe uma vida coletiva. Não existe uma vida que esteja criando situações para diversos seres ao mesmo tempo. O que há é uma vida para cada um e nela estão presentes os outros. Mais tarde vamos falar disso com calma, mas por enquanto saiba que a sua vida cria acontecimentos e opções de reações emocionais para você e a dela cria as mesmas coisas para ela.

Síndromes da vida

A sutileza da vida

Eis, aí, portanto, o início da sua jornada para não viver a emoção da culpa que a vida lhe apresenta. Para não viver esta proposição você precisa excluir em si a dependência que tem do que a sua vida criará para o pensamento do outro sobre você.

Eu lhe garanto que para vir aqui hoje, apesar de você me dizer que prefere a felicidade e que as conversas que temos tido para este fim são importantes, a sua vida, a partir do momento que sabia que haveria outras pessoas, criou um acontecimento onde escolhia uma roupa adequada para vir. Ela criou a idéia de abrir o armário e de escolher a melhor roupa para que você tivesse uma estampa que fosse aceita por aqueles que aqui estariam. E você aceitou tudo isso placidamente... Olhe a sua dependência!

O que é mais importante para você durante o acontecimento de estar presente à nossa conversa: o outro lhe achar bem vestida ou o que vem ouvir? Aliás, saiba que já aconteceu algumas vezes de pessoas não virem às nossas conversas porque não tinham roupa própria para isso.

Repare aonde chega a vida dentro da falta de lógica que já conversamos. Ela é tão ilógica que mesmo dando a idéia de que ouvir a conversa é importante, ainda se preocupa em escolher uma roupa adequada para estar aqui e se esta roupa não for encontrada, a vida cria o não vir. Ou seja, ela lhe diz que é importante vir, mas ao mesmo tempo lhe coloca outras prioridades que nada influenciam no que será vivido aqui. E você, presa à vida, imaginando que é você que está vivendo aquilo, vai seguindo placidamente o que ela propõe.

Apenas um detalhe. O que estou falando sobre a falta da lógica da vida não tem serventia apenas para o fato de vir aqui. Vale para qualquer outro acontecimento onde a vida dê determinada importância a alguma coisa e acabe abrindo mão dele por conta de uma questão que ela mesma na trata com tanta importância.

Participante: a ação da vida é sutil...

Sim, é isso mesmo. Por isso é que você deve estar sempre atento.

Síndromes da vida

A influência do inconsciente da vida

A ação da vida não é só sutil, mas inconsciente. Todo o raciocínio que a vida usa para lhe levar a optar por alguma coisa está no inconsciente, está abaixo da camada de pensamentos que você percebe.

Veja bem: até hoje você sempre escolheu roupa para ir a algum lugar. Sempre fez isso motivado por idéias que a vida cria. Como você não a vê coordenando as ações, fazendo você escolher uma roupa para ser aceita, por exemplo, não sabe que neste momento está aprisionada a uma questão gerada pela vida, ao invés de viver a você mesmo.

É por causa da ação da vida, que acontece abaixo da sua linha de consciência, que quando ela cria a idéia de escolher uma roupa, você nem pensa se esta ação é sua ou da vida. Mais: nem se dá conta do que esta ação pode lhe trazer no futuro.

Sim, tudo o que você faz agora gera alguma coisa para o futuro. A culpa por ofender alguém que você vive, por exemplo, está diretamente ligada ao fato de ter aceitado placidamente o acontecimento ‘escolher uma roupa’.

Quem aceita a culpa por ofender alguém está subordinado às regras de certo e errado da sua vida, como já falamos. Esta subordinação, no entanto, não acontece do nada: ela existe por conta da vivência da necessidade da aceitação dos outros. Esta aceitação, que não está explícita no momento que a culpa aparece, é a mesma que justifica a aceitação do fato de escolher uma roupa adequada para vir a uma palestra espiritualista. Ou seja, quando você aceitou parar em frente do armário criou uma condição que inevitavelmente lhe levará a culpa em outro momento.

Este é o primeiro detalhe da ação usando informações que estão no inconsciente que a via executa, mas há outro detalhe. A vida lhe diz que algumas ações são normais e importantes para você. Por isso, afirmo: você precisa excluir a normalidade que a vida dá aos acontecimentos e precisa, também, excluir a importância que ela dá a algumas ações.

Você não pode se deixar levar pela normalidade ou da importância que a vida dá a alguns detalhes. Isso porque para lhe propor alguma coisa, a vida se utiliza de uma série de fatores que já foram aceitos por você anteriormente e com isso aquilo se transforma numa verdade. Você não está consciente da utilização das verdades pré-formadas porque aceitou como normal ou importante alguma coisa que a sua vida criou anteriormente.

Compreende agora a importância de se sempre analisar a fundo a opção fornecida pela vida? A análise necessária para que você chegue até a opção nenhuma das respostas anteriores constitui-se na observação constante de todos os elementos que estão por trás de uma simples idéia proposta pela vida e deve ser feita em qualquer momento, por mais que o que esteja acontecendo pareça normal ou importante.

Na hora que você está olhando o seu guarda roupa e não está atenta ao que a vida está fazendo acontecer, gera para uma verdade e com isso no futuro não conseguirá se libertar do que a vida propuser. É por isso que você precisa viver o escolher roupa, que é da vida, como se aquilo não fosse um acontecimento normal e rotineiro. Precisa vivê-lo como um momento importante para a questão da sua busca da felicidade.

Como não vive desta forma, ou seja, não está sempre atenta ao que a vida cria, prende-se aos padrões de certo e errado. Desta forma, quando a vida lhe propuser sofrer a culpa por estar ofendendo alguém, não conseguirá deixar de viver esta emoção.

É por isso que na hora que a vida disser que é importante ir com determinada roupa porque ela é mais nova ou mais bonita você deve agir. Para isso é preciso estar atenta a si mesma e não ao que a vida cria naquele momento. Se ali você não cortar o que a vida lhe propõe, irá se apegar aos padrões humanos e com isso a culpa será inevitável. Se no momento que lhe parece trivial você não agir para se libertar do que a vida cria, não conseguirá deixar de se sentir culpada quando ofender alguém.

É no momento que a vida escolher a roupa para vir aqui que você deve agir. Esta escolha, no entanto, não se constitui em optar por outra roupa, mas afirmando que irá com qualquer roupa, porque para você o importante é estar aqui e não a aceitação dos que aqui estão.

Veja como da culpa já fomos mais longe. Isso porque toda culpa existe porque você vive a síndrome da dependência que a vida possui. Esta síndrome, aliás, não vale apenas para libertar-se da culpa, mas para diversos outros aspectos da vida. Isso porque muitas das causas dos seus sofrimentos têm origem na sua dependência do mundo humano.

Síndromes da vida

É a vida quem julga

Participante: Esta síndrome da aceitação pode ser de nós mesmos? Ou seja, eu preciso da minha própria aprovação? Eu, por exemplo, carrego a culpa de ser muito severa com minha filha. Exijo dela muito além do que na minha cabeça acho que devo exigir. Aí quando estouro com ela, ao me voltar para mim mesmo falo que não deveria ter agido daquela forma, que ela é uma criança e por isso eu não deveria ter exigido aquilo dela. Por isso acho que esta síndrome vai além da relação com o pai da minha filha, que também julga minha atitude. Eu, na minha concepção de mãe, acho que não deveria agir assim. Esta é a teoria. Mãe não age assim, se você age assim não é boa mãe. A partir desta crença quando converso comigo mesmo me condeno pela minha forma de reagir algumas vezes às atitudes de minha filha. Portanto, no meu ver, esta síndrome além de nos prender ao que os outros estão pensando, também tem a ver com uma auto-avaliação.

Perfeito. As pessoas nas quais você busca aprovação não estão no seu país, estado ou cidade. Você precisa sentir-se aceita por pessoas próximas: os seus amigos, os seus pais, os seus familiares...

Participante: eu sei que sou julgada por todos...

Falei daquele jeito justamente para ouvir o que você acabou de falar e com isso poder lhe passar mais um ensinamento.

Você não é julgada por ninguém: é a sua vida que cria a idéia de estar sendo julgada. É a sua vida que cria a idéia de que você está sendo julgada por seu marido, por sua mãe, pelos seus vizinhos. Quando a sua vida cria o acontecimento brigar com a sua filha, ela cria, também, a crítica que o seu marido faz a você. Com estas criações ela reforça a sua dependência da síndrome da aceitação.

Participante: quando eu me volto para mim fazendo um balanço do que aconteceu, fico me cobrando e procurando uma forma de não agir assim.

Isso não leva a lugar nenhum, já que quem cria a sua forma de agir é a vida e ela não se submete ao que você acha que deve fazer.

Na verdade, a única coisa que você pode fazer é não viver a emoção que a vida propõe. Mais nada. A ação será gerada pela vida e esta geração não está presa a nenhuma lógica, como já vimos. É por isso que quando a sua vida criar a idéia de descobrir uma forma como não agir de determinada forma, você deve eximir-se de entrar nesta discussão. Deixe a vida viver isso sozinha.

Quando no início de nossa conversa de hoje falei sobre controlar a vida, aquela pessoa ficou espantada com o que estava falando, pois até hoje sempre disse que a vida vive independente do controle do ser humano. Por isso, quando falo agora em controlar a vida, não estou me referindo em controlar o que acontece, mas sim em controlar o que a vida lhe propõe sentir.

Participante: esta questão de controlar o que acontece é interessante. Por mais que saiba que não devo fazer alguma coisa ou que tenho que agir de determinada forma, eu não consigo agir apenas dentro dos padrões que estabeleço.

Sim, isso é verdadeiro, mas não é você que não consegue: é a vida. É ela que diz que deveria agir de uma forma e também é ela que não age.

Porque a vida cria a idéia de se controlar, de que tem que mudar, de que deve agir de outra forma?

Participante: para nós acreditarmos nela.

Isso. Ela faz tudo isso para você assumir a culpa que ela propõe.

Olhe que vida mais estranha: ela cria a Idea de você ter que se controlar, cria idéia de que você está se controlando, mas também cria a idéia do descontrole apenas para que você aceite a culpa.

Participante: e nós nos relacionamos com todas estas proposições como se nós tivéssemos poder de controlar a vida.

Como se você tivesse o poder de administrar a vida. Administrar é uma palavra melhor do que controle para o que vocês querem fazer.

Administrar a vida é gerar acontecimentos na vida e isso vocês não têm capacidade de fazer. Se tivessem, com toda consciência de que têm de que algumas ações não devem ser feitas, não mais fariam. No entanto, acabam fazendo.

Com esta observação criamos um argumento para desqualificar a proposição de culpa que a vida cria. Quando ela disser que você deve sentir-se culpada por ter agido de forma diferente do que acha que deveria, use o seguinte argumento para desqualificar o que ela está dizendo: ‘está certo. Eu sei que não deveria agir desta forma, mas você criou a ação assim. Por que, então, vou sentir-me culpada’?

Participante: para isso preciso fazer uma análise consciente do que aconteceu.

Sim, mas para você só existe este momento para viver. O problema é que não vivem neste momento e querem viver em outros onde apenas a vida vive.

Síndromes da vida

Justificativas

Participante: mas, se fizermos isso, não parece que nós estamos apenas justificando o que fizemos?

Um grande detalhe neste aspecto: quem está dizendo que isso é apenas uma justificativa? A sua vida. Não é você que está afirmando que está justificando a ação, mas é a sua vida que está qualificando o seu trabalho de libertação desta forma. Ela faz isso para que você continue vivendo a culpa que ela cria.

Participante: é por isso que quando ela fala isso eu entro no processo da culpa.

Sim, você vivencia a culpa quando a vida lhe diz que você está apenas justificando o que aconteceu. Agora repare: esta é uma nova culpa. Não estamos mais falando da culpa por ter ofendido alguém, mas da culpa por ter justificado a ofensa. Ou seja, você viveu duas culpas por conta de apenas um acontecimento. Veja que grande vitória a vida obteve em cima de você.

Na verdade não foi a vida que ganhou duas vezes; o que houve foram duas vidas. Quando a vida lhe propôs culpa por ter ofendido alguém, ela era uma; quando você reagiu de acordo com o que conversamos, aconteceu outra vida e esta foi vivida com a criação da idéia de que você estava justificando a ação.

Como a idéia de ter apenas justificado a ação é uma nova vida, você precisa novamente trabalhar para libertar-se da proposição da culpa.

Participante: mas, eu não falo isso apenas de mim. Quando ouço as pessoas dizerem que agiram de uma determinada forma porque esta é a vida deles, eu os culpo.

Sim, a questão da culpa não é apenas no tocante ao que você faz, mas também no que os outros fazem.

Para ser feliz você precisa desqualificar a sua culpa, mas também precisa desqualificar a culpa dos outros. Para isso pode usar o mesmo argumento: não foi ele quem falou, mas a vida dele que foi assim

Participante: eu tento, mas difícil superar a idéia de que ele está apenas justificando-se...

Eu sei que é difícil. Aliás, muito difícil, mas esta dificuldade é gerada por um motivo que já conversamos.

Em que se fundamenta a idéia que a vida cria onde é afirmado que outra pessoa está apenas se justificando? Porque você acha que ele precisaria se justificar? Porque você viu como errado o que ele fez.

O problema de você se prender à conclusão que a vida tomou sobre o que a outra pessoa fez começa antes do momento onde a sua vida disse que ela está se justificando. Começa porque você aceitou a idéia de que ela está errada. Se tivesse agido naquele momento libertando-se do critério de certo e errado que a vida usou para julgar o que aconteceu, você não imaginaria que ele precisasse se justificar.

Para poder se libertar da verdade que a vida criou afirmando que aquela pessoa ou você está apenas se justificando, você precisaria dizer à sua vida que isso não pode estar acontecendo porque ninguém está errado. Por este motivo, ninguém precisa se justificar de nada. Não fazendo isso, viverá duplamente culpa.

A partir do momento que você já aceita que existe uma justificativa, implicitamente aceitou a idéia da existência de um erro. Na hora que há a aceitação da existência de um erro, o sofrimento é inevitável e pode ser duplo, como vimos.

Do que acabamos de conversar surge outro grande aspecto para a não vivência do sofrimento que a vida propõe. Você precisa analisar todo o seu processo mental e não apenas um aspecto específico. Se, por exemplo, você não analisar o que justifica a idéia de estar havendo uma justificativa, não conseguirá deixar de viver o que a vida propõe.

Dentro do que você vivencia (a idéia de que alguém está apenas se justificando), a postura emocional proposta pela vida só foi vivenciada porque antes você aceitou que o outro estava errado. Por isso já aconselhei às pessoas que meditassem profundamente sobre os pensamentos que recebe.

‘A vida está me dizendo que ele está se justificando, mas porque ela está usando esta idéia? Para que eu viva como verdadeira a culpa que ela está atribuindo a ele. Mas, porque ele teria culpa? Porque a vida disse que ele estava errado e eu não cortei este fluxo de pensamento’. Chegando a esta conclusão, você precisa se libertar da idéia de que ele cometeu um erro. Ou seja, dentro deste processo a justificação do que foi feito não tem nada a ver.

Síndromes da vida

O critério utilizado para a aceitação

Esta, portanto, é a primeira síndrome que estamos vendo: a síndrome da aceitação. É ela que gera os padrões de certo e errado que os seres humanos vivenciam e cria uma obrigação de segui-los. Para isso se utiliza de uma pretensa necessidade de ser aceito pela coletividade.

Esta é, em resumo, a síndrome da aceitação, mas, ainda quero falar mais um pouco sobre a questão da aceitação para vocês entendam bem a questão da forma como a vida se relaciona com os outros.

Ela lhe dá a idéia de que é necessário que os outros lhe aprove. Mas, em que base ela busca esta aprovação?

Participante: dentro das suas próprias verdades...

Isso. A vida lhe cria a idéia de que você precisa que os outros lhe aprovem, mas quer que eles usem nesta aprovação as suas verdades e não as dele.

Participante: que coisa louca...

Sim, como já disse a vida é louca. Querem um exemplo do que estou falando?

Participante: sim.

Diga-me uma coisa: a esposa se arruma para quem? Para o seu parceiro. Com que roupa que? A que ela gosta...

A mulher diz que se arruma para o marido, mas faz isso usando a roupa que ela gosta? E ele? Ele tem que achar que aquela roupa é bonita.

A mulher se veste dentro do gosto dela e o parceiro é obrigado a aceitar aquele gosto. Ou seja, ela exige que ele abra mão do seu próprio gosto e utilize o dela para aprovar o que ela está fazendo...

Ela se veste para ele, mas se ele não gostar da roupa que ela escolheu, a briga é certa. Ao invés de pedir desculpa por não ter se arrumado dentro do gosto dele, apesar de dizer que se arruma para ele, a mulher ainda o culpa por ser insensível, de não lhe dar apoio, por não ligar para ela.

Se a mulher dependesse mesmo da aprovação do marido, se quisesse mesmo se arrumar para ele, caso ele não gostasse da forma como ela está vestida, deveria pedir desculpas e perguntar a ele que roupa deveria colocar, não é mesmo?

Participante: é mesmo, quando o marido não gosta do que nós fazemos para ele, fazemos uma chantagem para que ele lhe aprove. Eu digo que fiz um bolo para você e ele não gostou.

Pois é, antes de fazer o bolo você perguntou se ele queria um bolo com aquele sabor?

Participante: Joaquim, eu estou estupefata. Nós ainda temos jeito?

Claro, pois isso não é você quem faz, mas sim a vida. O que você precisa fazer não é mudar a forma como a sua vida vive, mas sim mudar a forma como convive com o que ela cria.

O que você precisa não é agir de outra forma, mas compreender que não pode atribuir a ele culpa pela forma como ele reage. Apesar de dizer assim, afirmo também que não deve se culpar pela forma como a sua vida age.

Estou usando este exemplo, que é clássico no relacionamento entre duas pessoas, para vocês possam ter uma arma para desqualificar os argumentos que a vida cria para que optem por determinada postura emocional. Longe de mim a idéia de criticarem a forma como agem.

Quando mostro a forma como as mulheres agem – e os homens também – não estou fazendo isso para criticar ninguém. O que quero é apenas mostrar a vocês o que está por trás de uma ação corriqueira. Mostrando, estou lhes dando uma arma para que da próxima vez que as suas vidas cobrarem a vivência da culpa dele não viva isso.

Sei que apesar de terem me ouvido hoje falar isso, na hora que seu marido não gostar do que vocês estão vestindo, as suas vidas ainda dirão que ele não gosta mais de você e que por isso deve sentir-se mal com relação à ele. Neste momento, usem o argumento que lhes passei para que não vivam a culpa dele.

Participante: o senhor está falando isso para que deixemos de ser hipócrita...

Mais: deixar egoísta...

Os seres humanos são egoísta porque só querem vestir o que querem e ainda por cima exigem que os outros aprovem a sua escolha.

Participante: e a se a mulher vestir a roupa que o marido quer, mesmo contrariada.

Aí será uma nova vida, um novo momento com novas proposições para as quais precisamos conhecer novas síndromes para escapar do que a vida está propondo. Por isso, não se preocupe com isso agora.

O que estou querendo mostrar com este exemplo é que a sua dependência não é do outro, mas de depender da aceitação dele aos seus padrões de certo e errado. É isso que você precisa conscientizar-se agora.

Síndromes da vida

Dependência da vida

Você é capaz de fazer algo que ache errado conscientemente se não levar alguma vantagem? Tenho certeza que não. Se for levar uma vantagem aceita fazer algo errado, mas se não for, não aceita de forma alguma.

Mas, porque aceita fazer algo que considera errado? Para ser feliz. Quando a vida lhe diz que você levará alguma vantagem, você sacrifica inclusive o seu padrão de certo e errado. Faz isso para poder desfrutar de alguns momentos de felicidade tênue.

Aí está o problema. Na verdade sabe por que você sofre? Porque depende que a vida lhe faça feliz. Ou seja, você não é feliz porque precisa que a vida lhe dê felicidade. É a partir desta consciência que começa todo o trabalho para viver feliz. Se não se conscientizar que é dependente da vida para ser feliz, jamais o será.

Realmente você só será feliz de verdade no momento que se libertar da dependência da criação de uma felicidade por parte da vida. É a este ponto que chega a questão da dependência dos outros para viver em paz.

Você precisa se libertar da dependência da vida feliz, ou seja, da vida que esteja de acordo com os padrões que ela cria e que você aceita como certos, como desejosos. É a este ponto que precisa descer para desqualificar a culpa.

É preciso que se conscientize que só vive a culpa porque a vida não seguiu os padrões que ela mesma criou e que foram aceitos por você aceitou como sendo seus. A liberdade da culpa não se alcança justificando de qualquer forma o que foi feito, mas sim não aceitando os padrões gerados pela vida nem a necessidade de que eles sejam atendidos.

O que vocês não entendem é que quando aceitam placidamente tudo o que a vida propõe, estão pedindo a ela que vivam por vocês. Digo isso porque realizar a escolha do que viver é estar vivo.

Viver é saber conduzir a vida. Conduzir não no sentido de realizar determinados atos, mas no sentido de escolher que padrão emocional viver. Quem consegue administrar o padrão emocional está vivo; quem não consegue está morto. Isso porque neste caso quem vive é a vida e não você.

Quando se sente culpada por alguma ação executada pela vida, você está morta, pois a culpa é da vida e quando ela é vivida, quem está vivendo é a vida.

Participante: é isso que é escolher nenhuma das alternativas acima?

Na verdade, a opção nenhuma das alternativas anteriores surge por conta da desqualificação das outras reações propostas. Você não cria uma opção nenhuma das alternativas anteriores, mas apenas desqualifica as alternativas propostas. Quando acaba de desqualificar todas, como não tem mais o que optar, marca como resposta a opção nenhuma das alternativas anteriores.

Síndromes da vida

Dependência dos ensinamentos

Participante: na verdade eu tenho que estar em paz em qualquer situação.

Não, você não tem que estar em paz. Quando você coloca o ter que em qualquer frase, está criando uma verdade, uma obrigação. Como o realizar qualquer coisa é executado pela vida, você não pode se comprometer em ter que fazer nada...

Participante: só em pensar desta forma eu já estou criando uma alternativa para a felicidade. É isso?

Na verdade, não é você que está criando nada, mas sim a vida.

É ela que cria um ensinamento que afirma que você deve ficar em paz para alcançar a elevação espiritual. Quando ela fez isso, criou o certo. Se você aceitar este certo, ele se transformará numa verdade que ela usará para lhe propor uma determinada reação emocional diferente da verdadeira felicidade.

Não sei se vocês se lembram de um moço que nos ouvia e quando eu falava que não deveriam fazer determinada coisa ele sempre me respondia que não existia certo nem errado, pois eu mesmo já havia ensinado isso. Ele falou assim diversas vezes e não reparou que na verdade ele estava criando o certo. Um determinado dia eu respondi a uma intervenção dele afirmando que ele estava certo e eu errado. Ele não compreendeu o que eu quis dizer e saiu de lá achando que tinha me ensinado alguma coisa...

Porque ele agia daquela forma? Ou melhor, porque a vida dele agia daquela forma e ele se deixava levar pelo que a vida criava? Porque quando a vida dele criou o certo a partir do que eu ensinei – criou a idéia de que não se pode ter certo e errado – e usou isso para lhe propor uma determinada postura emocional, ele não se libertou da vida.

Saber que não existe nem certo nem errado não pode se transformar numa verdade, numa lei. Este ensinamento deve servir apenas como instrumento para desqualificar uma proposição emocional que a vida crie. A vida dele transformou este instrumento para desqualificar uma opção numa alternativa e ele nem viu isso acontecer e compactou com esta idéia.

Participante: é por isso que acreditar que tenho que ficar em paz em qualquer circunstância que vivo leva à culpa quando não fico?

Sim...

Vocês precisam prestar muita atenção à questão da utilização por parte da vida do que ouvem como ensinamentos. Um dia, uma pessoa perguntou a este médium como fazer alguma coisa que eu tinha dito e que ela não conseguia fazer. Ele respondeu da seguinte forma: ‘você já ouviu Joaquim até o fim? No final de tudo ele sempre diz que não se deve acreditar em nada nem em ninguém. Pois, é o que você está deixando de fazer é isso. Você não tem que fazer o que ele diz’.

A forma como a vida de vocês leva ao consciente um ensinamento ouvido é muito importante. Vocês não podem aceitar que ela trate estas informações como obrigações. Se fizerem isso, a vida explorará esta aceitação para propor determinada reação emocional e vocês, com certeza, não conseguirão excluir esta opção porque acreditam que são obrigados a fazer o que eu ensino.

Aliás, quando recentemente deixamos de fazer palestras, cheguei a comentar com algumas pessoas que esta era a hora que deveríamos ficar mais longe e deixar vocês se afundarem. Afundarem-se sabe no que? No que eu falei.

Eu sempre disse que não devem transformar o que falo numa verdade e vocês transformaram tudo o que falei em verdades. Com isso só trocaram meia dúzia por seis, ou seja, só trocaram de verdades, mas continuaram dependentes de algumas coisas para serem felizes.

Na verdade não foram vocês que transformaram os ensinamentos numa obrigação, mas sim a vida. Ela criou isso para gerar a ela mesma mais uma opção para fazê-los sofrer e vocês aceitaram o que ela criou.

Síndromes da vida

A vida não muda

A partir do que falei, pergunto: se vocês não podem ter verdades, quando a vida diz que o outro está errado o que devem fazer?

Participante: dizer para a vida que não sabe se ele está errado.

Isso. Deve responder dizendo assim: pode ser, pode não ser. Não defina nada: apenas exclua a possibilidade daquela alternativa estar certa.

Pode ser que ele esteja errado mesmo. Ao afirmar que ele não está, estará apenas criando mais uma verdade que não corresponde à realidade. Não se alcança a felicidade dizendo que você ou o outro não estão errados, pois pode ser que estejam, mas sim dizendo que não tem certeza de nada.

Na verdade, ao excluir a possibilidade da vida estar certa, você só não vai sentir a culpa. A idéia que você ou o outro estão errados ou certos continuará existindo no mundo mental da vida

Ouçam bem o que acabei de falar, porque este é o grande problema para aquele que quer se libertar da dependência da vida: no mundo mental você vai continuar tendo a mesma opinião sobre o que o outro fez. Isso não mudará com a sua intervenção na proposta emocional.

Participante: para você quem?

Para você.

Na verdade é a vida que está criando a idéia do outro estar certo ou errado. É ela que está dizendo que ele é errado e, ao fazer isso, a vida está certa. Ela está certa no sentido de que isso tinha que acontecer e não no sentido do que foi afirmado sobre o que aconteceu.

O que estou querendo mostrar? Vocês imaginam que ao excluir a possibilidade dele estar errado, no mundo mental não vão achar que ele está errado. Isso jamais pode acontecer, pois o mundo mental pertence a vida e vocês são incapazes de alterá-lo.

O que você faz dentro do processo de buscar a felicidade não é mudar o que vida faz e diz, mas apenas não comungar com aquilo que ela cria. Por isso, para a vida ele continuará errado. No mundo mental a idéia de que ele ou você estão errados por brigar com a sua filha, por exemplo, continua existindo, mesmo que você consiga não viver a culpa. Jamais, enquanto durar, o seu mundo mental vai pensar diferente.

É isso que estou querendo colocar. Como já foi dito aqui hoje, o trabalho junto à vida é sutil, pois não interfere no mundo mental, na própria vida. Libertar-se da vida não interfere nela...

Participante: e quanto ao emocional?

Não interfere no mental nem no emocional. Na sua vida, mesmo que você não viva o que ela cria, aquela outra pessoa continuará errada e haverá sofrimento.

Participante: isso é muito louco, mas deve ser bom fazer isso. Isso pode ser feito?

Sim, mas para isso é preciso estar ligado em si mesmo. Ligado não no momento que está conversando com alguém, mas quando está falando consigo mesmo.

O momento em que está com você é aquele onde a mente começa a lhe repassar declarações à respeito das coisas do mundo. Neste momento é preciso estar atento a si mesmo a para, ao invés de acreditar no que é dito, dizer sempre: não sei. Isso deve ser feito com a consciência que este não sei não muda o que a mente pensa das coisas.

É isso que quero deixar bem claro. A sua ação acontecerá depois que a vida gerar um pensamento à respeito do que houve e a sua reação a isso não retornará à vida alterando o que ela criou.

Participante: é que às vezes a vida nos engana.

Isso. É o que disse antes: ela muda uma palavra e vocês se perdem.

Síndromes da vida

Libertando-se da síndrome da aceitação

Esta, portanto, é a primeira síndrome. Na verdade ela não se caracteriza pela a dependência dos outros, mas pela dependência da sua vida. Para libertar-se dela, você precisa desqualificar o que a vida diz e isso se faz com o não sei. Esta libertação leva ao fim da vivência da culpa, mas também da glória. Deve-se, ainda, ter em mente que a liberdade não vai mudar a forma de a vida pensar.

Participante: este aspecto de não mudar a forma da vida pensar é a coisa mais dura de nós constatarmos.

Sim. É difícil aceitar que a vida não mudará porque vocês ainda acham que é ela. Por este motivo, acreditam que quando intervierem em alguma proposição da vida isso levará inexoravelmente a uma mudança interna. Não, isso não acontecerá.

Aliás, esta mudança pode até acontecer, pois é fato que muitas pessoas alteram sua forma de relacionarem-se com os acontecimentos da vida. Só que quando isso acontecer não foi por conta da ação de vocês, mas trata-se apenas da vida gerando uma verdade diferente para mantê-los apegados à ela.

Participante: esta questão do despertar é para mim, ao mesmo tempo, a coisa mais bonita, mas também a mais feia. Acho que é só falar que é o é, mas com consistência.

É só dizer não sei...

Esta é a primeira síndrome. Como disse, para cada sofrimento vamos achar uma síndrome que a vida possui.

O que é síndrome? Uma repetição de padrão. Não é o que estou falando sobre a síndrome da aceitação? Trata-se da repetição de um padrão de pensamento formado por atribuições de certo ou errado ao que acontece.

Você se apega a este padrão porque depende da sua aceitação para ser feliz. Na verdade, você não depende da aceitação do outro externo, mas do seu eu interno.

Portanto, concluindo, afirmo que você continuará brigando com sua filha e não poderá mudar isso até que a vida mude, se ela mudar. Aquela outra pessoa continuará pulando no pescoço dos outros e tem que aceitar este acontecimento na sua vida sem pesar. Já esta outra continuará rodando a baiana e terá que aceitar este fato.

Participante: ate a hora que não rodar mais...

Não existe, não pense nesta hipótese, pois isso não depende de você. Esqueça esta opção.

Na verdade, esta afirmação partiu da vida e não de você. É ela que está jogando uma esperança para ver se você mantém acesa a chama de que um dia acabará. Só que quando isso ocorrer será outra vida e você já terá perdido esta.

Participante: esta é a vida... Saímos da culpa para cair em outro problema.

Eu não diria que você não cairá em um novo problema, mas sim na mesma culpa, só que rotulada de forma diferente.

Porque você tornou a cair na proposta da culpa? Porque só se libertou da vida no aspecto físico, do ato em si. Como há outros atos que também levam à proposição da culpa, quando esta emoção for novamente apresentada como opção pela vida, você cairá.

Síndromes da vida

A vida e o espiritualista

Participante: os temas são vastos, não?

Sim. Como ensina Cristo, os passarinhos têm seus ninhos e as raposas têm as suas tocas, mas o homem não tem onde descansar a sua cabeça.

Participante: isso é uma verdade. Eu estou muito cansada de mim mesmo. Não tenho para onde correr...

De que eu você está cansada na verdade? Da vida...

Este é o primeiro sinal de ser um espiritualista: o cansaço com relação à forma como a vida vive. O espiritualista se cansa de estar ligado à uma vida que não traduz aquilo que ele considera importante.

Sabe por que isso? Porque no espiritualista existe todo um ideal que a vida não segue. É porque a vida não segue este ideal que você diz que não agüenta mais.

Sim, você está cansada. Está cansada de tanto ouvir Joaquim e a vida não seguir o que eu digo. Esta cansada de tanto saber como deve agir e chega na hora do acontecimento não consegue por em prática. Está cansada de tanto querer entregar-se à vida espiritual, mas se pega agindo da forma mais humana possível. Mas, tudo isso é vida e não você.

Não é você que não segue os ensinamentos, não é você que não os coloca em prática, não é você que não se entrega à vida espiritual. Quem deixa de fazer todas estas coisas é a vida. Portanto, o fazer ou deixar de fazer não depende de você.

É por conta do achar que deve fazer o que ouviu e não conseguir praticar que você se cansa da vida e não a quer mais. No entanto, sabe quando a vida acabará? Quando ela acabar.

É a mesma coisa. Todos vocês vão morrer, então porque ter medo da morte? Todos vocês vão ter que viver enquanto houver vida. Então, porque cansar-se dela...

Por isso, lhe dou um conselho: aproveite a vida que você tem, colocando ou não em prática o que ouve. Não tem jeito, vocês têm que vivê-la enquanto ela existir, ou seja, tem que receber a vida.

A vida é um dom de Deus, não é assim que vocês falam? Mas, acham que vivem e criam a vida. Mas, isso não é verdade. A vida é um dom que Deus dá a vocês.

Participante: por isso se chama presente?

Sim. Para alguns podem ser um presente de grego, mas para outros é um bom presente...

Síndromes da vida

É preciso racionalizar a vida

Vamos, então, falar de outro sofrimento.

Participante: eu tenho sofrido por conta de um cachorro que está aqui em casa. Ele é bonitinho, mas faz xixi e cocô pela casa toda...

Este é um sofrimento comum. Alguns pegam um animal para conviver com ele e depois se arrependem do que fazem. Vamos falar disso...

Quem colocou o cachorro dentro de casa?

Participante: meu marido...

Aqui já começa o seu engano. Não foi apenas ele quem colocou o cachorro aqui dentro, mas sim vocês dois. Afirmo isso porque a casa é dos dois. Se ele quis e você consentiu, você quis. Sendo assim quem colocou aqui dentro?

Participante: nós dois.

Agora estamos começando a avançar na análise da proposição da vida. Se você ficasse presa à idéia de que o responsável foi seu marido dificilmente conseguiria libertar-se deste sofrimento. Mais: sofreria mais. Isso porque viveria a idéia de um culpado...

Mas, vamos avançar mais. Responda-me, pro favor: antes de colocar o cachorro aqui dentro você sabia que este animal faz xixi e cocô ou não saiba disso?

Participante: sabia, mas não esperava que fosse tanto assim.

Sabendo disso, será que você imaginava que o cachorro fosse subir no vaso sanitário, fazer todas sãs suas necessidades lá dentro e depois se limpar e dar a descarga? Acho que você deve ter imaginado isso para agora está sofrendo por conta das necessidades que ele faz pela casa.

Participante: o que o senhor está falando eu já percebi, mesmo com relação ao meu trabalho. As coisas que eu quero chegam para mim, mas trazem conseqüências que eu não quero.

Este é um detalhe que deveria ter pensado antes de adotar o cão, mas como não pensou, o que importa agora é resolver o problema. Responda-me: está ruim com o animal dentro de casa?

Participante: sim

Estando, você tem duas opções: ou aprende a conviver com ele dentro de casa ou o manda embora. Tanto uma ação como outra pode resolver a origem do seu sofrimento. O que não resolve é viver a chateação pelo fato dele fazer suas necessidades pela casa, não é mesmo?

Participante: sim.

Chegamos ao ponto importante pra eliminar o sofrimento que você está vivendo: algo precisa ser feito. Apenas sofrer pelo que está acontecendo não resolve nada...

Como nós já conversamos hoje, a vida não tem lógica. Não é porque você quer alguma coisa que aceitará tudo o que advir do que quis. Ela gera idéia de que você quer muito uma coisa e quando a consegue, a vida lhe dá um incômodo a partir do que conseguiu. Realmente, ela não tem lógica...

Se você quer um cachorro, seria lógico, óbvio, que aceitasse tudo que adviesse dele. Ou seja, seria de se presumir que a presença do cachorro suplantasse todo incômodo que ele pudesse causar. Mas, A vida não faz isso.

É por causa desta forma de agir da vida que você precisa, ao lidar com ela, ser racional. Vamos racionalizar o que você está vivendo?

‘Eu queria um cachorro e a vida me deu. Agora estou me sentindo mal porque o cachorro faz as necessidades dentro de casa e minha casa está fedendo. A partir destas constatações tenho duas saídas: ou mando o cachorro embora ou agüento o mau cheiro’.

Esta é a racionalização que pode resolver seu problema. Na vida tudo precisa ser racionalizado no sentido da resolução do problema. Se você não racionaliza o que está vivendo, acaba simplesmente entregando-se ao sofrimento sem fazer nada de efetivo para viver em paz e feliz.

Síndromes da vida

Síndrome do todo poderoso

Feita a racionalização, resta uma pergunta: quem decidirá o que vai acontecer?

Participante: a vida ou eu?

A vida...

Agora a felicidade já está perto. Você racionalizou o seu problema, descobriu que atitude pode ser tomada e quem a tomará. O que deve fazer agora? Aguardar o que ela vai decidir sobre esta questão. Agindo desta forma, você não sofre.

Acontece que aqui nasce, também, o problema: você não consegue agir para estancar a fonte do seu sofrimento.

Racionalizando a vida, você descobre que a solução para o seu problema é simples e fácil. No entanto, como não é você que age, mas sim a vida, a ação que acaba com a fonte do seu sofrimento não acontece e por isso você sofre.

É preciso esperar placidamente que a vida aja eliminando a origem do sofrimento. No entanto, isso vocês não conseguem fazer, pois apegados às criações mentais, vivem a idéia de que podem agir alterando o que está acontecendo.

Esta idéia tem origem numa outra síndrome que a vida possui: a síndrome do todo poderoso...

Participante: isso combina comigo mesmo...

Não combina apenas com você, mas com todo ser humano. Todo ser humano, ou seja, toda vida humana existe racionalmente subordinada à síndrome de ser todo poderoso. O que quer dizer isso?

Participante: que se imagina capaz de fazer o que quer.

Que se imagina capaz de fazer qualquer coisa.

Não falo capaz em fazer o que quer porque racionalmente vocês sabem que não conseguem fazer tudo o que querem. Por isso a síndrome do todo poderoso não se caracteriza pela presunção de se fazer o que quer, mas sim por se achar capaz de fazer qualquer cosa.

Você não é capaz de realizar qualquer coisa.

Você acha que seria capaz de pegar o cachorro agora e colocá-lo do lado de fora de casa e deixá-lo ir embora. É tão simples: basta pegá-lo, abrir a porta, colocá-lo lá fora e depois fechar a porta. Você acha que é capaz de fazer isso.

Acontece que ao mesmo tempo em que a vida lhe dá a idéia de que você pode realizar esta ação, ela lhe traz à consciência uma série de fatores que transformam esta simples ação em algo complexo. Motivado nestes fatores, ela não gera esta ação. Por isso, você que se acha capaz de resolver o problema agora, sofre. Este sofrimento nada tem a ver com o cachorro aqui dentro, mas com a síndrome do todo poderoso, ou seja, com a idéia que a vida lhe dá de que você poderia resolver o problema e não resolve.

Dar-lhe a idéia de que você pode resolver os problemas e não resolvê-los: este é o fundamento da síndrome do todo poderoso que a vida usa para lhe fazer viver o sofrimento que ela propõe.

Síndromes da vida

O tempo da vida

Quem resolve todos os problemas, quem faz tudo acontecer é a vida. Mas, quando ela age? Quando agir. Este é outro aspecto importante que você precisa compreender para se libertar da síndrome do todo poderoso.

A vida age dentro do tempo dela e não no seu. Você acredita, por exemplo, que se não gostar da minha presença na sua casa pode, se quiser, me mandar embora agora e acabar esta conversa por aqui. Você acha que tem o poder de realizar esta ação, mas não tem. Nem você nem esta sua vida...

Em outro momento a vida que for vivida lá pode ter este poder, mas na que está vivendo agora ele não existe. Porque estou afirmando isso categoricamente? Porque eu estou aqui agora...

A vida pode agir fazendo algo acontecer algo diferente do que está acontecendo agora, mas isso não ocorrerá nesta vida e sim em outra. Nesta vida, que vocês chamam de momento porque acreditam numa única vida, você e eu estamos aqui agora e isso não pode ser alterado. Em outra vida que começará no próximo instante pode ser que ela faça acontecer diferente, mas, neste caso, quem fez, foi você? Não, foi a vida.

A síndrome do todo poderoso se vence constatando que você não consegue fazer o que quer, mas é ela que age. A vitória é obtida, ainda, sabendo-se que ela não tem um tempo para agir, mas que agirá no momento dela. Ou seja, se vence descobrindo que a vida gerará os acontecimentos quando ela quiser.

Síndromes da vida

A união das síndromes

Você não está sofrendo por causa do xixi ou do cocô do cachorro. Na verdade, está sofrendo por conta do mau cheiro que as necessidades do animal exalam.

Acontece que o cachorro, a casa, o xixi e o mau cheiro fazem parte da sua vida. Outras pessoas que estão aqui neste mesmo ambiente podem nem estar sentindo o cheiro que você sente, pois na vida deles não existe a presença deste odor.

É a sua vida que contém as coisas. A vida dos outros podem conter coisas diferentes, mesmo que aparentemente vocês estejam num mesmo ambiente. O mau cheiro que justifica o seu sofrer quem está sentindo é você, é a sua vida.

Vou contar um caso que ocorre diuturnamente que é até engraçado. Todo dia, mais ou menos na mesma hora, uma moça sente cheiro de gás na casa dela. Todo dia ela fala com o marido que está sentado ao seu lado comentando o cheiro que está sentindo. Ele nunca sentiu o mesmo cheiro que ela.

A partir disso pergunto: tem cheiro de gás na casa dela ou não?

Participante: para ela tem...

Isso... Para ela tem, ou melhor, a vida dela contém cheiro de gás. Mas, a vida dele não contém este cheiro.

A vida de cada um é independente dos outros. Por isso, as cosias que existem numa podem não existir em outras. Esta consciência pode lhe ajudar a vencer, também a síndrome da aceitação.

A vida utiliza uma ou mais síndromes para fazer com que você opte pelo sofrimento. No caso do sofrimento relatado por você agora, existe ainda a ação da síndrome da aceitação.

Liberta da idéia de que pode agir e cônscia de que a vida agirá no momento que agir e ainda tendo a consciência de que a fonte do sofrimento pode estar apenas na sua vida, você também se liberta da obrigação de agir que a síndrome da aceitação lhe trará.

Em outras palavras, o que quero dizer é que consciente de que a vida age, você pode não optar pelo sofrimento que ela lhe proporá pela falta de ação para resolver o problema e consciente de que a fonte do sofrimento pode não estar presente na vida dos outros, pode, também, libertar-se do sofrimento gerado pela ação da síndrome da aceitação.

Síndromes da vida

Incapacidade de agir

O conhecimento da síndrome do todo poderoso é muito importante, pois, inclusive, o outro sofrimento relatado hoje, a culpa, tem a participação desta síndrome: ‘eu podia ter feito diferente e não fiz’.

Não, você não podia ter feito nada diferente do que fez. Por quê? Porque aquela pessoa não podia ter deixado de ser brusca com a filha, porque você não podia deixar de rodar a baiana e a outra moça não podia ter deixado de pular no pescoço de alguém?

Participante: por causa das provas do espírito?

Não. Esta resposta está muito intelectualizada. Para se lidar com a mente tem que se agir de forma simples.

Porque você não podia deixar de trazer o cachorro para cá? Porque trouxe... Porque não podia deixar de sentir o cheiro? Porque sentiu... Se pudesse ter não trazido o cachorro ou se pudesse deixar de sentir o cheiro, teria agido diferente com certeza...

Participante: a fonte do sofrimento não é sentir o cheiro, mas incomodar-se com ele...

O incômodo já é uma resposta assinalada durante a vivência das proposições que a vida gerou. O incômodo é resposta; estou falando de causas...

A causa do incômodo que você vive está no fato de ter trazido o cachorro para dentro de casa. Para você, esta é a origem do seu sofrimento hoje. O fato de ele fazer necessidades pela casa e isso lhe perturbar já é decorrência dele estar aqui.

Para libertar-se desta culpa que a vida lhe dá, e que você aceita, o que é preciso ser feito é apenas se constatar o que a vida faz. É isso que é preciso ser feito para impedir que a síndrome que a vida usa para justificar um sofrimento lhe leve a sofrer.

Racionalizar o que está acontecendo, ou seja, dar valores aos acontecimentos, não leva ninguém a conseguir libertar-se do padrão emocional que a vida propõe. Apenas a constatação do que a vida criou um determinado acontecimento com a consciência que é ela que gera o que acontece e que você não pode governar os acontecimentos dela leva à libertação da proposição emocional.

O que estou falando aqui é em ser o protagonista de uma ação: tirar, por, cair, etc. Você não pode fazer nada disso, mas a vida lhe dá a idéia de que pode fazer. Por isso, para chegar à opção nenhuma das respostas anteriores, é preciso que você desqualifique a idéia de que pode fazer alguma coisa.

Como? Constando a realidade, o que está acontecendo. Para você desqualificar a idéia de que poderia não ter trazido o cachorro, por exemplo, precisa dizer a vida que já trouxe, que o cachorro está aqui e por isso jamais poderia ter deixado de trazê-lo. Se você não desqualificar a pretensa idéia de que poderia não ter trazido, aceitará o sofrimento que advém da presença do cachorro na sua vida.

É preciso que você viva com a consciência de que a sua vida foi trazer o anima e não com a idéia de que foi você que o trouxe. Esta consciência lhe ajudará a esperar o desfecho desta história, pois se o acontecimento trazer foi feito por ela, o sair daqui também será ela que fará. Com esta idéia, você pode esperar que a vida aja.

Agora, enquanto a vida não for sair você tem que aprender a conviver com a existência do cachorro dentro da sua casa. Como alcançar esta convivência? Colocando rolha no animal? O ensinado usar o vaso sanitário? Você pode fazer alguma destas coisas?

Participante: não...

Então, não tem jeito: é preciso aprender a conviver com o cachorro, suas necessidades e o mau cheiro que estão presentes na sua vida.

A única forma de você deixar de sofrer pelo motivo que me falou é aprender a não se chatear com o que está acontecendo. Para fazer isso você precisa saber que não pode alterar o que a vida é. Ou seja, que é incapaz de agir gerando acontecimentos...

Síndromes da vida

Libertando-se da síndrome do todo poderoso

Participante: o que o senhor está falando é interessante. Ultimamente eu tenho tentado alterar muitas coisas que acontecem e não consigo.

Exato. O problema de você achar que quer alterar a vida lhe leva a que?

Participante: a estar cansada da vida...

Não.

Participante: ao sofrimento...

Sim, mas que tipo de sofrimento? A incapacidade, o sentir-se incapaz.

O sofrimento por sentir-se incapaz de agir está ligado à culpa. Por conta desta ligação entre os sofrimentos, você sofre mais. Sofre porque se sente incapaz de agir, sofre por querer fazer e não conseguir e sofre a culpa por não ter agido e por estar se deixando levar pela síndrome da aceitação, ou seja, por não ser capaz de superar o incômodo que a sua vida cria.

Participante: tudo isso porque ela pegou o cachorro.

Não, ela não pegou o cachorro. A vida foi pegar.

Participante: mas, nós achamos que nós pegamos.

Isso.

Participante: então, a raiz desta aflição é achar que nós agimos gerando a vida.

Sim; esta é a síndrome do todo poderoso. Ela é uma forma padrão de ação da vida onde lhe é dito que você tem a capacidade de agir livremente, que pode fazer as ações acontecerem, que você comanda o que vai ocorrer na sua existência.

Participante: isso tudo o senhor já falou, com certeza. Se já ouvimos tudo isso, porque não sabemos que é a vida que age?

Porque não pararam para analisar o que é vida e o que é você. Vocês não pararam para separar o que é vida de vocês. Para se libertar da síndrome do todo poderoso é preciso separar a vida de você.

Não foi você que escolheu este cão. Não foi você quem o trouxe para a sua casa. Também não foi você quem quis tê-lo: tudo isso é vida. Por que o não separar a vida de você lhe leva ao sofrimento? Porque quando existe uma ação e você não faz o que quer ou o que decorre dela lhe causa incômodo, você não age na única hora que pode agir: na hora que conversa com a vida.

O que nós estamos conversando é importante para todo aquele que quer ser feliz nesta vida. Quando a vida lhe trouxer uma proposição mental cobrando que deveria ter agido de uma forma e aquilo não aconteceu ou quando ela lhe cobrar que o sofrimento de agora é resultado de uma ação sua anterior, é preciso separar a vida de você.

Você só conseguirá desqualificar a idéia de que é culpado pela contrariedade que vive quando separar vida de você. Isso porque só desta forma você pode aceitar a vida acontecer como uma peça de teatro. Enquanto não separar a vida de você, irá continuar querendo ser a vida.

Tem uma coisa que nós sempre falamos neste tempo todo, mas não entramos em um detalhe. Por conta disso, vocês não se atentam ao ter que separar a vida de vocês.

Eu disse que a vida é uma grande peça de teatro e que o espírito é o artista que interpreta um personagem. Lembram disso? Só que por confundirem-s com o espírito, vocês ainda se acham os e artistas que dão vida ao personagem. Ou seja, ainda acham que são capazes de viver a vida do personagem, de agir em nome do personagem.

Na verdade, nem o espírito e nem vocês são o artista. Isso porque a peã Divina Comédia Humana é um teatro de fantoches. Não há artistas interpretando papeis.

Na verdade, tanto você, o ser humano que se imagina ser, bem como o espírito está na platéia. Vocês estão assistindo a peça. Ter esta consciência pode lhe facilitar a fazer o trabalho que é preciso para não viver o sofrimento que a vida propõe.

Sentindo-se o artista, você ainda irá querer dar mais emoção ao seu personagem. Irá quere fugir do script para poder valorizar a sua participação na peça. Mas, isso não é possível, pois você está na platéia assistindo um teatro de fantoches. Fantoches que não pensam, não agem a não ser que haja uma movimentação externa que comande a ação.

Esta síndrome é uma das grandes raízes do sofrimento, pois vocês se julgam capazes de agir e por causa deste suposto poder aceitam o sofrimento de não ter feito ou pelo que imaginam ter feito. Por causa dele, ainda, sofrem imaginando que agiram de forma errada ou vivem a glória de ter agido certo.

Ela só é vencida separando vida de você. Entendo o que é ação gerada pela vida e declarando a sua total incapacidade de agir. Entendo o que acontece desta forma, você chega à conclusão: não tem jeito, esta é a vida que você tem que viver. Só isso pode lhe levar a não viver o sofrimento que a vida propõe.

Não tem jeito: o cachorro está aí. A sua vida é ele estar na sua casa. Além disso, a sua vida é ele fazer xixi por todo canto. Digo que esta é a sua vida porque tem muitos cachorros que não fazem isso. A vida sua vida é este xixi fazer fedor. A sua vida é este mau cheiro lhe incomodar. Esta é a sua vida neste momento e ela não pode ser mudada por uma ação sua.

Apesar desta inexorabilidade há uma coisa que pode ser mudada: não aceitar o incômodo que o mau cheiro causa. Isso você pode fazer, mas mudar qualquer outro fator da sua vida, você não pode.

Como se vive esta não aceitação? Dizendo para si mesmo: esta é a vida que eu tenho para mim e não posso mudá-la. Esta é a vida que lhe foi colocada para viver. Se você não consegue agir sobre ela, deixe-a ir embora e espere a próxima vida que virá.

Apesar de ter dito tudo isso, ainda lhe digo que se quiser, tente agir acabando o que a vida lhe diz que pode fazer para acabar com o incômodo. Isso não tem problema nenhum. O problema é depois se culpar por não ter agido conforme achava que queria agir.

Síndromes da vida

A vida mostra as coisas

Esta é a segunda síndrome: a do todo poderoso. Esta síndrome se caracteriza pela imaginação de que existe uma capacidade de agir, mesmo que seja em coisas pequenas.

Ao falarmos que você é incapaz de agir, não podemos nos apegar apenas à idéia de ações de vulto, mas a pequenos detalhes. Ver uma sujeira que está no chão, por exemplo, é uma ação que você não pode executar por moto próprio. É preciso que a vida lhe mostre. Se ela não fizer, jamais você perceberá alguma coisa...

Falo assim porque ver é uma ação. Você não vê a sujeira: a sua vida é ver. Vou contar um caso verídico que pode lhes ajudar a compreender o que estou dizendo.

Uma moça estava vendo televisão muito preocupada porque a sua gata não estava dentro de casa. Perguntou ao marido se ele sabia onde estava a gata e o que ela devia estar fazendo naquele momento. O marido dela lhe disse para não se preocupar com o gato, mas que prestasse atenção na televisão. Ela olhava para lá, mas não conseguia se desligar do problema.

Sabe onde estava o gato? Em cima da televisão. Quando a mulher conseguiu perceber a presença da gata sobre a televisão se admirou pelo fato dela estar olhando para o aparelho e não ter visto o animal que estava em cima dela o tempo todo.

Por causa desta ação, a vida desta pessoa gerou o pensamento que afirmava que ela era uma pessoa incapaz, já que não conseguia nem ver um gato, que não é filhote, que estava na sua frente. O pensamento lhe acusava dela, apesar de estar olhando para a televisão, não via o gato em cima. Por conta da suposição de que ela é capaz de perceber alguma coisa, não conseguiu deixar de viver este sofrimento.

É por isso que não compreender que você não vê, mas é a vida que mostra as coisas, lhe leva a viver o sofrimento.

Participante: eu passei por coisa pior. Fiquei preocupada com o meu filho, pois não sabia onde ele estava. Acontece que ele estava no meu colo. O meu coração disparou por conta do medo dele ter se desgarrado de mim e eu o estava segurando no colo e nem percebi...

A consciência da incapacidade de agir que ajuda a vencer a síndrome do todo poderoso deve alcançar os mínimos detalhes: você não pega, não vê, não ouve, não prova sabor nem cheiro. Você não faz nada. Tudo que lhe é consciente é a vida que faz e se ela não fizer você não vai conseguir fazer nunca.

Outro caso verídico. Uma moça um dia brigou com o seu marido porque ele pulou algo que estava no chão e não guardou o objeto no local certo. Ele respondeu que não tinha visto aquilo no chão. Ela se mostrou extremamente chocada com a resposta dele porque era óbvio que ele tinha visto, pois ela estava vendo aquilo.

Não, ele não podia ver se a vida dele não mostrasse. Como a vida de um é diferente da de outro, uma pode ter mostrado a presença do objeto no chão, enquanto que outra pode não ter mostrado a mesma coisa.

Participante: isso gera conflitos, não?

Sim, a vida vai gerando idéia de conflitos para algumas pessoas por conta da síndrome do todo poderoso. Estes conflitos só se vencem sabendo que você não tem capacidade de ver: a vida precisa lhe mostrar. Se ela não mostrar, nem você nem ninguém verá, pois os humanos não têm capacidade de agir.

Participante: nós achamos que poderia ter sido de outra forma.

Sim, vocês acham que poderiam ter agido de outra forma ou que poderiam ter deixado de fazer: esta é a prática da ação da síndrome do todo poderoso. Mas, a idéia de agir, para vocês, ainda envolve uma ação de vulto. Eu estou falando de detalhes da vida.

Quer ver uma brincadeira interessante para você compreender o que estou dizendo? Coloque cinco pessoas dentro deste ambiente e deixe-os à vontade. Depois de algum tempo peça que eles fechem os olhos e descrevam o ambiente.

Participante: cada um vai ver uma coisa...

Realmente, é isso que ocorre...

Como pode isso? Se todos que estão aqui têm uma inteligência e olhos para ver, porque cada ser vê uma coisa diferente do outro? Alguns acrescentam elementos que não estão no ambiente, outros retiram coisas que estão aqui, outros, ainda, dão destaques a coisas que as demais pessoas não perceberam. Como pode ser isso?

São esses argumentos que vocês têm que usar quando a vida lhes lançar alguma emoção relativa a ação, sua ou de outro. Quando ela disser que algo aconteceu ou não como fruto da ação de alguém.

Síndromes da vida

Amar o próximo

Participante: Cristo ensinou que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Só que dentro da teoria todos são diferentes.

O que quer dizer amar ao próximo como a si mesmo?

Participante: é amar aos outros como nos amamos. Se ele não viu o prato ali e chutou, nós não devemos criticá-lo porque poderíamos ter feito a mesma coisa.

Você acredita nisso? É esta crença que lhe leva a sentir-se culpado quando briga com quem chuta o prato. É por conta da idéia do ter que amar os outros que a vida usa quando lhe propõe o sofrer pela culpa de ter brigado com alguém que você sofre.

Voltamos ao sofrimento da culpa. Mas, isso é inexorável. Na verdade, todas as síndromes da vida estão interligadas.

Vamos falar o dia inteiro de diversas síndromes, mas ao fazer isso jamais estaremos nos dirigindo a apenas um sofrimento. Todas as síndromes estão presentes, consciente ou inconsciente, seja qual for o sofrimento que estejamos abordando. Isso porque está tudo interligado.

Quando abordamos o sofrimento da culpa, falamos da síndrome da aceitação. No entanto, quando vemos a síndrome do todo poderoso chegamos à conclusão que a culpa pode ser gerada pro esta síndrome, pois muitas vezes a culpa está fundamentada na pretensa capacidade de agir. Sendo assim, a síndrome do todo poderoso lhe leva, também, a viver a culpam e lhe leva a atribuir culpa a quem você acha que agiu de determinada forma.

Participante: então para amá-lo eu preciso dizer à minha vida que a vida dele não mostrou o prato...

Isso. Desqualificar é isso: é usar um argumento para não achar certo o argumento que a vida usa para que você vivencie o que ela propõe.

Não se ama o próximo agindo dentro de uma forma padrão de agir e nem se trata de não agir. Se a sua vida foi brigar com uma pessoa, isso não quer dizer que não a está amando. A única coisa que pode demonstrar o seu amor é não viver o sentimento sobre o outro que a vida propõe. Este é o verdadeiro amor ao próximo.

Na hora que falar com você mesmo, depois de ter brigado ou criticado alguém, mesmo que apenas no seu mundo mental e dizer que não aceita a culpa ou a glória pelo que aconteceu, neste momento estará amando.

Participante: isso é compreender perfeitamente o acontecimento?

Isso. Você não aceita a proposição emocional que a vida cria porque sabe que você algum dia também não viu determinada coisa.

Acho que a história que contei do gato em cima da televisão ilustra bem o que estou querendo falar. Tem gente que reclama quando outra pessoa não vê uma poeira no chão, mas se alguém é incapaz de ver um gato, como pode cobrar de alguém que veja um grão de poeira no chão?

Síndromes da vida

A síndrome do todo poderoso e os ensinamentos

Participante: eu tive algumas experiências na minha vida no tocante à síndrome do todo poderoso. Quase tudo que eu disse que não iria fazer um dia acabava fazendo.

Este é outro detalhe que ia tocar na síndrome do todo poderoso. Jamais diga nunca...

Nunca diga nunca, porque você não comanda a ação. E jamais diga sempre, pois você não comanda a ação. A vida acontece e ela não tem lógica. Não é porque um dia você fez de um jeito que sempre agirá da mesma forma.

Participante: nem lavar a louça que é um ato mecânico é feito por nós...

Nada. Nem limpar-se depois de usar o vaso sanitário.

Participante: aí vem o padrão da sociedade e nos cobra pela forma como agimos. Como ela acha que se comanda a ação, a sociedade quer padronizá-la. Quando a vida ocorre diferente nós somos cobrados.

Está começando a ver como tudo se interliga? É por isso que precisam estar sempre atento. Vocês conseguem libertarem-se de alguma coisa e a vida lhe joga outra que você não consegue libertar-se. Sabe por quê? Vou falar mais sobre isso...

Quero deixar bem claro como a vida age. Ela explora a síndrome do todo poderoso: você podia ter feito. Aí você diz: podia, mas não fiz, não aconteceu desta forma. O que ela jogará de volta?

Antes de me responderem, lembrem-se de que a mente é egoísta. Ela quer seu próprio lucro.

Ela dirá que você conseguiu colocar em prática o ensinamento. Dirá que você realizou o trabalho que tinha que realizar. Dirá que você escapou de uma armadilha que ela criou. O que acontece, então? Você acredita nisso...

Não acreditou numa coisa, mas acreditou em outra.

O que estou dizendo é que você não faz ação nenhuma e por isso não deve acreditar em nada do que a vida cria. A resposta é sempre nenhuma das respostas anteriores.

Nós estamos falando que a felicidade depende da forma como você se comunica com a vida no momento em que estão conversando. Esta conversa não se estanca num momento. Quando você reage de alguma forma, a vida continuará contra argumentando com outros aspectos, pois ela precisa sempre lhe propor o sofrimento.

Tendo vencido a vida em determinado momento, ela continuará explorando novos argumentos que justifique viver o sofrimento. Quando você consegue vencê-la usando argumentos oriundos de ensinamentos que recebeu, ela se utiliza justamente da síndrome do todo poderoso para continuar lhe tentando. Afirma que você conseguiu realizar o que precisava fazer e que conseguiu vencê-la. Neste momento é a hora que você precisa estar atento para dizer: ‘não sei se fiz’. Aceitando o fato que ela criou (você ter conseguido vencê-la), a vida criará o prazer e você, por achar que fez alguma coisa, não conseguirá a felicidade...

Participante: quer dizer que não podemos colocar como verdade ter realizado o trabalho da felicidade?

Sim, porque afirmar que você fez alguma coisa é apenas uma verdade. Neste caso, ou seja, quando houver uma declaração expressa de realização do trabalho de libertação da vida, quem realizou a ação foi ela mesma e não você.

Participante: é que você quer ter o mérito de ter realizado...

Isso. E esta conclusão nos leva a mais um conhecimento.

Porque você quer ter o mérito de ter realizado qualquer coisa? Já falamos anteriormente da fama e agora estamos falando do que? Do elogio...

Todas as síndromes ligam-se às quatro âncoras que já conversamos. Você só aceita a idéia de ter agido porque aceitou a idéia que a vida lhe deu de que tem que ser reconhecido. Por ter aceitado esta idéia, você vive o querer ser reconhecido como alguém que faz.

Faz o que? Aquilo que a sociedade diz que deve ser feito...

Participante: isso por conta da espera da aceitação do outro.

Exatamente.

Deixe-me dizer uma coisa. Sabe por que as pessoas não aceitam a déia de Deus ser a Causa Primária de todas as coisas? A idéia de que é Ele que gera tudo e que a vida só pode ser vivenciada e não construída? Porque aí o ser humano não será poderoso, não terá o poder de agir. Não tendo este poder que glória terá?

Participante: qual a graça de estar vivo se não se age, não é mesmo?

A graça da vida é dizer que teve acesso a um ensinamento e conseguiu colocá-lo em prática. A graça da vida é ter o poder de ter comprado um cachorro e por não ter gostado de tê-lo em casa ter o poder de mandá-lo embora. Ou seja, a glória está em ser um solucionador de problemas, um gerador de ações.

Está tudo sempre ligado. Todas as síndromes são interligadas com os elementos da provação do espírito que conversamos ao longo dos últimos anos, pois tanto as quatro âncoras como os demais temas que conversamos formam o fundamento da prova humana do espírito, da vida.

Participante: qual são mesmo as quatro âncoras?

Vontade de ganhar e medo de perder, vontade de ter o prazer e medo do desprazer, vontade de ser reconhecido, fama, e medo da infâmia, vontade de ser elogiado e medo da crítica.

Todas as síndromes, que também são instrumentos da provação do espírito, estão fundamentadas nestas quatro premissas. Elas são utilizadas pela vida para que você viva preso a estas quatro buscas materiais. Elas são usadas pela vida como instrumentos para que você ilusoriamente alcance o lado positivo da âncora. Para isso a vida explora o lado negativo da âncora: o medo de que ocorram coisas que não lhe deixe vivenciar o lado positivo.

Esta, então, é outra síndrome que vocês precisam estar atentos para não se deixar levar pelo sofrimento que a vida propõe. Para isso é preciso saber que apenas a vida age e que você não pode fazer nada com relação ao agir, não importa o que está acontecendo. Você só pode lidar com o que a vida lhe traz a partir do que ela está e não lidar no que a vida é.

Você não pode deixar de brigar com a sua filha, você não pode deixar de pular no pescoço e de rodar a baiana, porque tudo isso é vida. Agora você pode lidar com o que a vida lhe traz a partir disso...

Síndromes da vida

Fidelidade

Vamos falar de outra síndrome.

Participante: tive um sonho outro dia. Nele minha mulher estava grávida de outro homem. Isso me fez sofrer.

Participante: esta síndrome é a da traição?

Não. É a síndrome da princesa.

Participante: não entendi...

Esta síndrome que é fundamentada na crença que vocês vão crescer e um dia encontrarão um príncipe encantado e serão felizes para sempre. Este príncipe virá montado num cavalo branco, terá um reino muito grande onde se vive em paz e com justiça. Além disso, ele terá muitas posses para que vocês vivam eternamente em comunhão e sem carências.

Este é o padrão que a vida segue para os relacionamentos humanos. Por causa desta síndrome, que é criada pela vida e vivenciada por vocês, que nasce um conceito que gera grandes problemas: a fidelidade.

Qual o critério que vocês usam para dizer que existe fidelidade?

Participante: fazer o que eu quero...

Sim, este é o seu critério de fidelidade.

Você, como, aliás, todo ser humano, acha que para outra pessoa lhe seja fiel é preciso que ela seja do jeito que você quer e que faça aquilo que acha que ela deva fazer. Quem age assim, para vocês é fiel.

Só que tem um detalhe: este critério não se aplica apenas no relacionamento com o próximo, mas também no relacionamento com você mesmo. Para sentir-se fiel a si mesmo você acredita que precisa fazer aquilo que quer. Agindo de maneira diferente do que acredita seja o certo para agir, você acha que não foi fiel a si mesmo.

Por exemplo: você acabou de me dizer que sofreu porque voou no pescoço de alguém. A culpa que você vivenciou quando a vida criou este acontecimento tem a ver com a questão da infidelidade, pois quando você ilusoriamente protagonizou algo que imagina que não deveria ser feito, sentiu-se infiel a si mesmo e isso lhe ajudou a sofrer naquele momento.

Síndromes da vida

Possessão

Não existe nada mais que constate mais a posse sobre outra pessoa neste mundo do que exigir a fidelidade.

Possuir não é ter, mas querer ter o domínio do outro. É querer decidir o destino e a ação do outro do outro. Isso é ter uma posse.

É por conta desta definição do que é uma posse que a questão da fidelidade, que é tão defendida pela humanidade, é contrária à convivência em paz. Isso porque o que ela objetiva é lhe assegurar o direito de possuir o outro. Quando o próximo foge do seu controle, você declara que foi infiel.

Nossa análise desta síndrome inicia-se pela consciência de que viver exigindo fidelidade é viver uma possessão. Começa buscando a compreensão de que se você quer ter o direito de possuir o outro, ou seja, ter o controle sobre ele, o sofrimento será inevitável.

Porque o sofrimento é inevitável para aquele que exige fidelidade dos outros?

Participante: se nós não controlamos a nossa vida que dirá a do outro.

Na verdade o outro com quem se relaciona não possui uma vida para você a controle. Ele faz parte da sua vida.

Você falou uma coisa que se observada pelo ponto de vista humano pode parecer certa: os relacionamentos acontecerem em vidas separadas, ou seja, ser um acontecimento que esteja presente na sua e na vida dele. Já quando se entende a vida a partir dos valores espirituais, isso não é possível de existir.

Olhando a partir deste prisma descobrimos que existe a vida dele, onde há um você, e existe a sua vida, onde há um ele. Aquele com o qual você se relaciona é com o ele que está na sua vida e não com aquele que está na vida dele. Vou explicar isso melhor.

Você é casada?

Participante: sou.

Compreendendo esta relação humanamente, você me diria que você e seu marido são dois seres que estão vivendo uma vida comum. Se olharmos pelo prisma espiritual, pela idéia de que a vida humana é apenas uma provação para o espírito, isso não é real.

A sua vida é a sua prova. Ela contém todos os elementos necessários para a sua provação. Neste caso, o seu marido é um elemento da sua vida.

Já ele, é outro ser que possui outra vida que é escrita dentro de tudo o que ele pediu como gênero de provações e contém todos os elementos para que as provas ocorram. Ou seja, você, como instrumento da encarnação de um espírito é algo que está na vida dele e não a pessoa que imagina ser.

Deu para compreender? O que quero dizer é que a vida de cada um é individual e contém nela mesma todos os elementos necessários para que o espírito tenha a sua provação. Isso quer dizer que quando você imagina que está se relacionando com um ser externo, na verdade está convivendo com alguém que pertence apenas à sua vida.

É a partir desta compreensão que podemos entender melhor a impossibilidade de se conseguir a fidelidade dos outros. Como você não controla a sua vida, não pode controlar o próximo que está nela.

Compreendido isso, podemos então, alcançar a solução para desqualificar os argumentos que vida usa para propor um sofrimento através de um ato de infidelidade. Basta contra argumentar afirmando que se você não controla a sua vida, não pode exigir controle sobre aqueles que estão nela.

Antes de avançarmos na nossa análise desta síndrome, quero deixar algo bem claro. Não estou falando que você tem que agüentar a traição calada, que tem que se separar ou continuar junto. Não estou falando nada a respeito de ações, pois isso são acontecimentos e eles ocorrem por ação da vida e não sua. Estou apenas buscando argumentos para que vocês possam contrapor às idéias que a vida usa para lhes levar a viver o sofrimento oriundo de uma infidelidade.

Os seus atos e os de qualquer pessoa não podem ser comandados. Quantos homens já não disseram que não aceitariam uma infidelidade de suas esposas e quando isso acontece acabam continuando juntos? O contrário também é verdade. Quantos já não disseram que fariam de tudo para preservar a sua união e acabaram sendo infiéis?

Portanto, nesta conversa não estou falando do que fazer quando acontece uma infidelidade. O que estamos conversando é em como reagir a uma propositura da vida depois que se torna consciente a infidelidade.

Síndromes da vida

Libertando-se da síndrome da princesa

Diante do que falamos, posso dizer que o seu sofrimento não tem origem na traição dela. Origina-se onde? Na sua posse.

Por isso, para desqualificar o que é proposto para ser vivido pela vida quando ela gera um acontecimento que espelhe uma quebra de fidelidade, você não deve trabalhar junto ao que aconteceu, mas à sua posse. Isso porque no momento que você não possuir o próximo, a infidelidade da sua esposa não dói.

Lembre-se: o nosso problema aqui é não sofrer e não conseguir que os outros ajam dentro do padrão que queremos.

Sendo assim, para se libertar da síndrome da princesa você tem que controlar em si mesmo a sua possessão. Por isso pergunto: como trabalhar em você mesmo o fim da sua posse?

Participante: acho que o caminho é através do que o senhor falou. Devemos nos conscientizar de que a vida dele é dele e a dela é dela e que não temos o direito de querer comandar o que os outros fazem.

Sabendo que ele não é seu e você não é dele. Para acabar com a sua possessão, você precisa deixar de querer administrar a vida dos outros.

Síndromes da vida

Traição

Deixe-me fazer uma pergunta lógica para ilustrar bem o que estamos falando. Porque alguém vai procurar alguma coisa em outro lugar? Porque não tem onde ele está.

Hoje já dei um exemplo disso quando falamos em arrumar-se para o outro. Lembram-se? Eu perguntei para quem a mulher se arruma? Chegamos à conclusão que teoricamente ela diz que se arruma para o marido, mas quando faz isso pensa em satisfazer a ela mesma.

Diante deste fato, que é corriqueiro na vida de um casal, pergunto: onde está a comunhão, que caracteriza a vida a dois, na forma como vivem estes seres?

Participante: não tem.

Não havendo comunhão, em que se transforma um casamento? Briga. Um casamento onde não haja comunhão entre os elementos que compõem um casal se transforma numa eterna disputa onde cada um quer possuir o outro.

Para continuar a falar sobre a traição que marca a existência de uma infidelidade, preciso falar de acontecimentos da vida. Vou abandonar um pouco a forma como estávamos falando até aqui para podermos entender o que estou falando usando uma lógica humana.

Por favor, moça, me responda uma pergunta: você gosta do seu marido?

Participante: sim

Você gosta de estar com ele?

Participante: sim.

A partir destas duas respostas, lhe questiono novamente: logicamente como você deveria viver?

Reparem que estou falando usando a lógica humana e não a espiritual, aquela que diz que ninguém faz nada e que os acontecimentos ocorrem por ação da vida.

Usando a lógica humana, se você diz que gosta dele, diz que gosta de estar com ele, como deveria ser a sua ação? Fazer tudo para ele estar com você.

Participante: mas o senhor disse que não somos nós que fazemos nada...

Eu sei que disse isso e não mudo. Só o que estou fazendo agora é explicar a lógica ilógica da vida para que você possa desqualificar o sofrimento proposto pela vida. Para que possa desqualificar os motivos que a vida lhe apresenta para que você sofra. É para fazer isso que estou apelando à lógica humana para mostrar como a vida não a segue.

Se você compreender o que logicamente deveria fazer e comparar com os acontecimentos que a vida gera, poderá adquirir argumentos para contrapor-se às justificativas que a vida cria para que você sofra.

Participante: o senhor está falando que se a vida tivesse lógica, nós deveríamos, já que gostamos do outro, fazer tudo para preservar a relação. É isso?

Sim.

Apesar da lógica dizer que deveriam agir de forma a preservar a união, como é que vocês vivem? Cada um dos membros do casal faz tudo para que o outro se mude. Cada um faz de tudo para que o outro deixe de ser ele mesmo e viva como ele quer. Ou seja, apesar de dizer que gosta do outro e quer viver com ele, vocês não mantém o relacionamento atendendo aos anseios dele, mas exigem que ele se mude para que vocês estejam bem.

É desta diferença entre o que você deseja e o que ele é ou quer que surgem as desavenças. É neste momento, também, que ele começa a buscar em outro lugar o que não tem aqui.

Síndromes da vida

Companheirismo

O que ele não tem na relação com você e precisa buscar fora? Companheirismo.

Se os dois gostam de estar juntos, os dois deveriam fazer de tudo para que esse estar junto fosse bom para os dois. Ao invés disso, cada um fica puxando o outro para o seu lado criando desconforto para o outro.

Parta haver companheirismo é preciso que um se torne cúmplice dos anseios do outro. Só que vocês, que dizem que querem preservar a relação, querem que o outro se torne cúmplice dos seus anseios. Ao invés de cada um se entregar ao casamento, à vida em comunhão, fica querendo fazer que a vida a dois seja um espelho daquilo que ele quer.

Apesar de falar isso, volto a dizer: o seu casamento não pode ser diferente do que é ou foi. Isso porque os acontecimentos, a forma como cada um age dentro do matrimônio, é vida e por isso sei que não poderia ter sido diferente e nem será se a vida não for mudar-se. O que quero que entendam é a falta de lógica na forma como a vida vive o casamento. Se não entenderem isso, vocês continuarão aceitando a culpa que a vida gera para o outro e por isso não conseguirão desqualificar a proposição de sofrimento.

A culpa pela forma como cada um dos cônjuges vive não é sua nem dele: é da vida. Só que a vida não tem culpa, pois ela é do jeito que tem que ser.

Participante: o senhor trouxe uma contradição agora. Disse que a vida é como ela é, mas que o certo dela ser seria diferente. Isso não é contraditório?

Não disse que a forma de agir que citei é a certa. O que falei é que dentro da lógica humana esta deveria ser a forma de cada um agir. Falei isso para que você compreenda que o normal seria ser assim e que você não é deste jeito.

Esta compreensão não tem como objetivo fazer você se mudar ou querer que o outro se mude, mas apenas para que tenha argumentos para desqualificar o sofrimento que a vida lhe proporá fundamentado no que o outro faz.

Participante: parar as cobranças...

Nem isso. As cobranças continuarão existindo, se existirem, porque elas fazem parte da vida. O que estou lhes fornecendo é um instrumento, uma arma, para você desqualificar o sofrimento que a vida propõe. Isso porque na hora que você sofre o sofrimento proposto pela vida está se colocando na posição de certo e ela errado.

Como já falei anteriormente, você precisa desqualificar a postura que a vida usa para lhe fazer sofrer. Como se faz isso? Tirando o errado que ela cria, mas também tirando o seu certo que ela usa.

Portanto, estou apenas fazendo um raciocínio para lhe dar uma idéia de como desqualificar a proposta da vida. Não estou dizendo que tem que ser ou deixar de ser de alguma forma.

A vida, quando alguém faz algo diferente do que ela anseia, se coloca logo na posição de certa e coloca a outra pessoa na de errada. Esta é uma característica da possessão. Por conta dela, a vida lhe diz que você está certo e que o outro está errado. Por isso, para desqualificar a possessão é preciso que você use o argumento que não há ninguém certo e errado na questão.

Para poder usar este argumento para eliminar as opções propostas pela vida, é preciso que se conscientize que você não está certo, pois ao cobrar alguma coisa do outro também fez algo que não deveria ser feito. O que você fez que não deveria ter feito? Não dar ao outro o que ele queria.

Você está errado por ter agido assim? Não. Só deixou de fazer e por causa disso não pode cobrar nada do outro. Se não pode cobrar nada do outro, não precisa sofrer pelo que ele fez.

Participante: segundo os médicos, meu marido pode estar doente. Tenho me questionado se a minha preocupação com ele está ligada nele mesmo ou se está ligada ao trabalho ou ao sofrimento que vou ter com a doença dele. Como me livro disso?

Sabendo que você não terá trabalho ou sofrimento nenhum. Sabendo que a vida vai fazer toda a ação e não você. Com isso, ao invés de se preocupar agora com o que acontecerá você poderá esperar calmamente que o momento chegue para que aja desqualificando o que for proposto adiante pela vida.

O que você está falando está fundamentado em outra síndrome que mais tarde falaremos. É a síndrome da previsão de futuro. Vocês ficam preocupados com o que vai acontecer e não fazem nada com o que está acontecendo agora. Mas, ainda vamos falar dela. Por hora continuemos falando da síndrome da princesa.

Ficou claro o que disse? Casamento é comunhão e eu já disse isso: muito mais importante do que o amor, o que faz uma vida de casado feliz é companheirismo.

Participante: cumplicidade...

É mais do que cumplicidade. É colocar o outro na sua frente. O outro não como ele, mas o outro como casal.

Para que você possa colocar o bem do outro na frente do seu próprio, vou lhe fazer uma pergunta. O que é mais importante para você: conseguir fazer com que ele aja do jeito que você quer ou a vida em casal? Se a sua união, o estar ao lado dele, para você for mais importante do que ele ser do jeito que você quer, abrirá mão do que quer para que os dois sejam felizes juntos.

O grande problema da possessão é que você depende da submissão do outro para que seja feliz. Quando isso acontece, o outro não tem o que quer e por isso vai buscar fora o que não encontra aqui.

Deu para entender o que quis mostrar? É por isso que compreender a síndrome da princesa é importante: casamento nenhum é feliz, é preciso que se construa a felicidade dentro dele. Esta felicidade é construída se tendo atenção ao que o outro quer.

Mas, vamos extrapolar a questão casamento? A amizade, a vida familiar ou qualquer relação de dois seres humanos jamais é feliz pela ação da vida: é preciso que você construa felicidade na relação, que trabalhe pela felicidade durante a relação. Isso se faz desqualificando-se os motivos que a vida cria para o sofrimento e a culpa que ela atribui ao outro pela sua infelicidade.

Síndromes da vida

Harmonia

Sabe como se auxilia uma pessoa que reclama do seu cônjuge? Pergunte a ela: o que você faz por ele? O que você faz para manter a relação? Invariavelmente a resposta do ser humano conterá algo do tipo ‘eu faço o melhor para ela’.

Neste momento, pergunte de novo: será que o que você acha que é o melhor para ele é realmente o melhor ou será que busca sempre o que é melhor para você? Será que quando exige que ele faça alguma coisa não está pensando apenas no que quer?

Quando vocês perguntaram aos seus parceiros (as) o que eles queriam fazer em um determinado momento? Quantas vezes vocês perguntaram aos seus maridos como eles queriam se vestir? Quantas vezes vocês perguntaram a eles como queriam a casa arrumada? A casa é dos dois, mas tem que estar arrumada do jeito que você gosta, não? E se ele não gosta do jeito que você arruma a casa? Para vocês, isso é problema dele. A casa ficará arrumada do jeito que você quer porque acha que este é o certo

É isso que vocês não entendem. Para que qualquer relação entre dois seres humanos seja harmônica, o que é preciso?

Participante: união dos dois, aceitação do outro...

Não é isso... Repito a pergunta: o que é preciso?

Veja bem. Você e seu marido são duas pessoas diferentes. Possuem bilhões de gostos diferentes, de verdades diferentes, de anseios diferentes. Como, então, vocês podem conseguir harmonia? Como é que a água e o óleo podem se misturar?

Participantes: ...

Reparem bem. Vocês são casadas há tanto tempo e não conseguem me responder o que fazer para manter uma união. Como podem, então, esperar ser feliz nos seus relacionamentos?

Sabem como harmonizar duas coisas tão diferentes? Cedendo...

Só vai haver harmonia num casamento quando cada um ceder um pouco. Enquanto não houver cessão de alguma coisa por parte dos dois, o que haverá na relação é sempre choque. O que haverá é cada um querendo impor a sua vontade.

No estudo desta síndrome começamos falando de traição, de infidelidade, mas isso só acontece quando não há harmonia entre os que se relacionam. Como eu disse, a pessoa vai procurar fora o que não tem.

O que a pessoa vai procurar fora? Vocês dizem que o que leva alguém a infidelidade é a atração sexual, mas isso não é real. Ninguém é atraído para uma relação extraconjugal por conta de outro homem ou de outra mulher como vocês imaginam, mas o que busca fora da relação é a felicidade que não tem no casamento.

O que faz um ser buscar outra pessoa fora do seu relacionamento é a insatisfação de não ter no seu casamento o que ele quer para si.

Participante: a gente diz que quer o melhor para os outros da boca para fora, pois na verdade só quer o melhor para si mesmo. Nós queremos que o outro se mude para aquilo que achamos melhor.

Perfeito...

Síndromes da vida

Servindo o próximo

Para mostrar claramente o que estou dizendo vou lhes perguntar uma coisa. Vocês já deram presentes para os seus maridos?

Participantes: sim.

Para presenteá-los, o que vocês escolheram? O que você acha bonito ou o que ele acha? O que você acha que ele está precisando ou o que ele sabe que precisa? O que você acha que será útil a ele ou o que ele sente que terá utilidade? O que ele quer ou o que você quer que ele tenha?

Será que ele realmente achará bonito, necessário ou útil o que você deu? Será que ele está querendo o que você deu?

Participante: pelo menos ele diz que gosta dos presentes que dou a ele.

Será que ele realmente gosta ou está dizendo isso apenas para não gerar conflitos? Você pode me garantir que realmente ele gostou?

Viu quanta complexidade a sua forma de agir criou? Não seria mais fácil perguntar o que ele quer ganhar antes de comprar o presente? Tenho certeza que se você perguntasse e comprasse o que ele quer teria sempre a certeza que ele ficou feliz com o que recebeu...

Alguma vez você se preocupou com isso? Alguma vez você se preocupou em saber o que ele queria ganhar antes de comprar um presente? Tenho certeza que não... Aliás, mesmo quando ele pede para ganhar alguma coisa, vocês julgam se aquilo realmente é útil para ele. Se não for, não compram o que ele deseja...

Vocês não estão atentos à necessidade do outro. Não estou falando de mulher para homem, mas de qualquer relacionamento: dois amigos, familiares, etc. Em qualquer relacionamento de duas pessoas, ninguém está atento ao que o outro quer e espera naquele relacionamento.

Você compra uma blusa para o seu marido porque acha que ele está precisando ou porque você não gosta das que ele tem. Mas, será que ele gosta daquela blusa que você comprou? Será que não haveria algo que ele gostaria mais de ganhar do que a blusa?

Participante: para mim é fácil responder a isso. Tudo que dou meu marido não gosta mesmo...

E você reclama dele não gostar do que dá a ele, não é mesmo?

Que tal, então, ao invés de reclamar dele você antes de comprar perguntar o que ele quer ou o que gosta? Tenho certeza que se fizer isso ele sempre gostará do que receberá...

Volto a dizer uma coisa para não ser mal entendido. Não estou falando que vocês estão errados na forma como agem. O que estou fazendo é lhes dando armas para que possam desqualificar uma propositura emocional que a vida lhes dá. O que estou fazendo é lhe dar argumentos para desqualificar a dor de ter sido traído, dele não gostar do você dá, dele não agir do jeito eu você gosta...

Ou seja, ainda estou respondendo ao sofrimento que me foi relatado anteriormente: ter sido traído...

Síndromes da vida

Infidelidade

A infidelidade só existe em qualquer nível quando não há uma harmonia entre duas pessoas. Quando isso ocorre? Quando uma pessoa acha que tem que mandar no outro, quando um acha que tem que impor a sua vontade ao outro.

Vendo por este ângulo um acontecimento que espelhe uma infidelidade, pergunto: de quem é a culpa da infidelidade? De ninguém... A vida de cada uma age de acordo com a forma que tem que agir. Por isso, ninguém tem culpa pelo que acontece.

O que vocês precisam entender é algo que já falei anteriormente: toda relação entre dois seres humanos é uma disputa para levar vantagem obre o outro... Isso porque todo ser humano está sempre preocupado em usar o outro para ter prazer, para alcançar uma vitória.

Eu lembro uma palestra onde estava falando de respeito, de respeitar o próximo. Uma pessoa, que nunca tinha nos ouvido, me perguntou: ‘e quando o outro me desrespeitar, o que faço’? Eu respondi: respeite o direito do outro lhe desrespeitar.

Quando o seu marido brigar com você, respeite o direito dele fazer isso. Respeite o direito de ele gostar de uma coisa diferente de você. Isso é ceder. Mas, quando você retruca querendo ensinar o certo, não respeita o direito de ele gostar de uma coisa diferente e não cede em nada.

Participante: mas, quando vejo eu já retruquei.

Mas, isso é vida...

A vida pode até ser discutir com ele sobre alguma coisa, mas depois quando estiver conversando consigo mesmo, argumente com a vida: ‘você está querendo que eu o sinta culpa como culpado, mas o culpado foi você. A culpa é sua porque não se preocupou com o que ele gosta ou quer’...

Como disse, o que é preciso é que você tenha argumentos para desqualificar o sofrer que a vida está lhe propondo. Só que quando você desqualifica uma proposta de sofrimento a vida vem com outra. Quando conseguir desqualificar a culpa do outro, com certeza a sua vida lhe dirá que o culpado foi você. Aí você precisa agir novamente. Para não sofrer esta culpa diga a ela: ‘não sou culpada pois foi você quem criou tudo isso’.

Participante: uma vez o senhor disse que devemos dar ao outro o direito dele fazer o que quiser, até estuprar ou matar, se quiser. No início eu relutei contra esta idéia, mas na verdade é isso mesmo. Só que na prática isso dói.

Porque na prática acontecimentos deste tipo dói? Porque estes acontecimentos são contrários ao que a vida classifica como certo. Voltamos ao início da nossa conversa de hoje e com isso constatamos a presença de todas as síndromes que já vimos.

Como já disse, se você for a fundo em uma questão da vida encontrará a presença de todas as síndromes ao mesmo tempo.

Participante: é que depois da síndrome do todo poderoso vem sempre a culpa.

Sim, a síndrome do todo poderoso, a suposta capacidade de agir, está sempre presente, pois o ser humano sempre imagina que alguém ou ele mesmo agiu de determinada forma porque quis.

Uma coisa que não tinha dito quando falei da síndrome do todo poderoso: ela se aplica aos outros, ou seja, a vida explora a idéia de que o outro pode agir da forma que ele quiser.

Síndromes da vida

Segurança

Participante: no início eu e meu marido éramos assim do jeito que o senhor está falando.

Sim, no início todo casal vive o companheirismo, mas depois muda. Porque isso acontece?

Participante: porque acha que já conquistou o outro.

Isso.

O companheirismo acaba porque o ser humano acha que a vida é uma seqüência de momentos. Como já estão juntos há muitos momentos acham que não precisam mais conquistar o seu marido ou esposa. Só que a vida não é uma seqüência de momentos, mas apenas um. A vida é cada momento. Por isso é preciso exercer o compartilhar em cada um deles.

A vida é apenas um momento: isso é o que vocês precisam compreender. Não existe um casamento de oito, dez ou quarenta anos. A cada momento existe um casamento novo com o mesmo cônjuge; a cada momento existe uma amizade nova com o mesmo amigo. A cada momento existe uma relação nova com a mãe, pai ou filho. Por isso, a cada momento você tem que estar preocupado em fazer com que aquela relação seja boa para os dois.

Desta idéia chegamos a mais uma coisa que síndrome da princesa traz e, por favor, nunca vivam isso: segurança.

Participante: pois é, foi o que eu senti e me dei mal.

Na hora que você se sente seguro dentro de uma relação, a vida explora uma idéia: eu domei o outro.

É igual a cavalo. O cavalo xucro é arisco, mas quando você o doma imagina que pode fazer o que quiser que ele não reagirá. Imagina que ele o deixará montar sem nunca reagir. Aí você monta e o cavalo lhe joga no chão.

A síndrome da princesa tem este nome porque esta forma de pensar lhe dá a sensação de estabilidade: felizes para sempre. Só que este sempre dura um segundo. Por isso lhes digo: nunca se sintam seguros...

O que estou falando vale para qualquer coisa nesta vida. Não importa o quanto a vida lhe dê a idéia de que alcançou a estabilidade em qualquer aspecto, não viva isso, pois como acabamos de ver a vida não tem lógica. Por isso, qualquer estabilidade é ilusória.

Nada é estável, ou seja, acontecerá da mesma forma que aconteceu antes. Tudo é criado a cada momento com uma lógica completamente diferente do momento anterior. Por isso, o que hoje está em cima pode descer amanhã.

Síndromes da vida

Tentando entender a vida

Participante: o que o senhor está dizendo é fácil de constatar, mas, pergunto: porque a vida é assim?

Este é outro grande problema de vocês: quererem entender a vida.

A vida não se entende. Vocês vivem querendo saber por que a vida é do jeito que ela é, mas para esta questão não há resposta.

Por isso, quando a vida lhe fizer este questionamento, ao invés de tentar encontrar uma explicação para a forma como a vida é, responda apenas: ela é assim porque é. Se você quiser entender a vida não conseguirá.

Porque jamais você conseguirá entender como a vida é? Porque quem pode entender a vida é ela mesma...

Se vida é tudo aquilo que você tem consciência de existir e se todo entendimento sobre a vida é uma consciência que você tem, quem entende a vida é ela mesma. Como ela não tem lógica, não se manterá fiel em outro momento ao entendimento que ela criou em momentos anteriores.

Por isso lhe digo que o que você precisa para conseguir eliminar as opções emocionais que a vida lhe dá é constatar que ela é de do jeito que estamos falando, mesmo que não entenda porque ela é desse jeito. Ou será que alguma coisa que estou falando aqui não é a forma como a vida é?

Participante: a gente sabe que ela é assim...

Pois é... Você imagina que me deu uma resposta sábia, mas não se acha realmente isso, você já está entendendo a vida. Ou seja, está pronta para aceitar alguma proposição emocional que ela dará no futuro.

Achando que sabe como ela é, está atribuindo um valor a ela. No futuro esta crença será usada pela vida para justificar um sofrimento.

A única resposta que você pode ter para qualquer coisa é não sei. Se atribuir qualquer valor à vida, mesmo que seja o dela não ter lógica, estará criando uma lógica e com isso não conseguirá nada no sentido de se libertar do que ela lhe propuser. No momento que souber que ela não tem lógica, ela usará esta idéia como lógica. No momento que vida quebrar esta lógica você cairá no sofrimento.

Não se entende a vida: ela foi feita para ser vivida. Como já disse em outras conversas, o que Deus cria não se avalia nem se investiga.

A vida é uma criação de Deus, um dom de Deus e o que Ele faz não se avalia nem se investiga. Não se avalia porque você não tem critérios para poder avaliar e não se investiga porque você não tem competência para conhecer como Ele cria alguma coisa.

A síndrome da princesa é, junto com a síndrome do todo poderoso, uma das maiores fontes de sofrimento que vocês vivenciam. Apesar de o nome ser princesa, esta síndrome está presente também na existência dos seres do sexo masculino.

Existe uma síndrome do príncipe, mas esta é diferente. Depois iremos falar dela.

A síndrome da princesa é fonte de sofrimento porque ela explora a idéia de que vocês conseguiram uma estabilidade e que, por conta dela, serão felizes para sempre, independente da forma como vivam a relação. Por causa dela vocês imaginam que podem se entregar a si mesmo enquanto estão relacionando-se com outra pessoa.

Não, não podem. No momento que estão se relacionando com outros seres vocês precisam se desapegar de si mesmo, pois ninguém consegue conviver com outro em felicidade sem desapegar-se de si mesmo.

Para fazer isso é preciso que vocês tratem a vida como apenas um momento. É preciso, também, que a cada momento estejam atentos ao que a vida cria como padrões para que se libertem destas criações. Se não fizerem isso, continuarão repetindo os padrões e sofrerão. Isso porque a vida além de hipócrita e egoísta tem como objetivo ganhar, ter o prazer, alcançar a fama e ser elogiada. Ou não é isso que vocês buscam numa relação?

Síndromes da vida

Casamento

Tem uma coisa que já falei – e agora vou falar especificamente da relação casamento – mas vou repetir para que vocês compreendam a mudança do processo racional com relação ao casamento. Casamento é comunhão. É união entre marido e esposa vivendo em harmonia.

Isso está certo? É assim que vocês vivem?

Participante: não.

Como é que vocês vivem, então? No que virou um casamento hoje? Habitar o mesmo teto para não pagar motel.

Participante: que horror...

Sim, é um horror, mas esta é a lógica do casamento hoje em dia.

O lado importante do casamento hoje é o ato sexual. Este aspecto é o mais importante hoje para vocês. Tanto isso é verdade que o marido não apresenta mais a esposa, mas sim a sua mulher.

Acabou a cama, acabou o casamento, pois a única hora onde um se dedica ao outro é na hora da cama. Casamento é muito mais do que a cama. É vida a dois.

A vida sabendo que os seres a vivem e por isso são impulsionados por um poder mental de se satisfazer individualmente, explora a idéia de ter a sua vitória individual. Quando você vive o que a vida explora, não dá ao outro o direito dele ter a vitória e o prazer dele, e por isso neste casamento não há camaradagem, não há amizade, não há companheirismo. Neste momento o casamento deixou de existir e sobrou só a cama para ser compartilhada.

É isso que vocês precisam entender, não para mudar a forma de ser, mas para interagir com a sua vida. Interagir com a vida quando ela cobra que você tem que mudar o outro. Que você tem que lutar contra ele para mudá-lo, mesmo que ele lute contra as mudanças que você quer que ele faça.

Quando a sua vida for isso, converse com ela e pergunte: ‘ele não está agindo contra mim via, mas apenas querendo ter a sua vitória e você não está deixando isso acontecer. Mas, ele precisa ter alguma vitória para poder se satisfazer. Quando você vai deixá-lo ter alguma vantagem? Quando você deixará o outro desfrutar de alguma coisa que lhe traga prazer? Você só quer que ele desfrute do que você quer desfrutar. Assim, por conta da força mental que o dirige, ele acabará indo procurar o prazer e a vitória em outro lugar’.

O que estou falando, como já disse, não vale apenas para o casamento, mas para qualquer relação. Para que você preserve os seus relacionamentos, sejam a que níveis forem, é preciso que dê aos outros o direito de também levarem vantagem, de sentirem que ganharem alguma coisa.

Isso vale para tudo na vida. Quem não vive para servir, não serve para viver: esta é uma grande frase que vocês precisam se ater mais...

Síndromes da vida

Para amar é preciso doar-se

Acabaram de me dizer que se deve amar ao próximo a si mesmo. Eu pergunto: como se ama o próximo a não ser abrindo mão do que se quer em detrimento ao que o outro quer? Como se serve ao outro sem dar a ele o direito dele também ter algo que queira alcançar? Não importa se o que o outro quer é a coisa mais cara ou mais barata, se é isso ou aquilo: ele também tem direito.

Quer ver uma coisa? Quando alguma coisa está arrumada na sua casa?

Participante: quando eu acho que está arrumada.

Isso. Porque você nunca dá ao seu marido o direito dele ter o critério de arrumação dele atendido? Porque acha que ele tem que seguir sempre o seu?

Participar: é que se der a ele este direito as coisas ficarão fora de lugar.

Sim, ficarão fora do lugar que você acha que devem estar, mas estarão no lugar certo de acordo com o critério dele. Não importa onde esteja cada coisa, no lugar que ele colocar será o certo dentro do critério de arrumação dele.

Participante: eu já me vi nesta situação. A minha mãe é extremamente bagunceira. Na casa dela, ela arrumava os copos todos de uma forma desorganizada. .

Este desorganizado é o critério de organização dela.

Participante: pois é, eu quando ia lá arrumava tudo do meu jeito. Não me importava com o fato da casa ser dela. Eu, como sou super organizada e ela bagunceira, quando ia lá arrumava tudo. Quando me mudei para lá cheguei à conclusão que para ser feliz dividindo o teto com ela teria que aceitar o critério de organização dela. Por isso comecei a abrir mão.

Pois é, todos nós temos que aprender a abrir mão das coisas para poder viver em felicidade com os outros...

Participante: a partir disso, eu comecei a ensinar a minha filha, que é tão organizada quanto eu. Comecei a mostrar para ela que a avó é desse jeito, mas que tinha muitas outras coisas boas também...

Posso lhe interromper? Quero fazer isso apenas para lhe dar um conselho: pare por aqui que você está se complicando...

O que você ensinou a sua filha, e considera um gesto de grande louvor, é que a avó dela é errada neste aspecto. Com isso criou um argumento que no futuro a vida de sua filha usará para justificar um sofrimento.

Participante: eu não disse que ela era errada, mas apenas disse como ela é.

Na verdade você não especificou que ela é errada, mas isso está implícito quando diz que ele é o jeito que é. Quando falou assim, você ensinou à sua filha que a desorganização que a avó vive é errada.

Participante: eu não tinha percebido isso...

Pois foi o que você transmitiu à sua filha. Por isso, lhe dei o conselho: pare pó aí neste pensamento. Se não parar agora, a vida no futuro irá cobrar que a sua filha tem que lhe vangloriar pelo grande gesto que você fez em favor dela. No futuro, se a vida não criar isso, você aceitará o sofrimento que ela lhe propuser.

Síndromes da vida

O objetivo da vida

Apesar de ter lhe pedido para parar, há algo interessante no que você falou que gostaria de ressaltar. Para se manter um relacionamento feliz é preciso abrir mão das coisas.

A partir disso, lhes pergunto: para que você vocês vieram a este mundo?

Participante: para abrir mão...

Dele...

Participante: dele quem?

Do mundo, da vida...

Vocês vieram aqui para responder se preferem esta vida ou aquela que existe depois que esta se extinguir. É por isso que esta vida gera toda a sedução por este mundo. Agindo assim, ela lhe dá a tentação de viver as coisas deste mundo.

Para vocês tenho um ensinamento de Cristo: nem só de pão vive o homem, mas também da palavra de Deus. Em cima deste ensinamento lhes pergunto: vocês preferem a casa arrumada ao amor ao próximo? Você prefere que o outro vista a roupa que você quer ou o amor ao próximo? Você prefere ter as coisas que gosta ou o amor ou próximo?

Participante: diante de tudo o que o senhor disse já estou até me sentindo culpada...

Sim, a sua vida vai aproveitar este momento e lhe gerar um sofrimento. Isso porque ela está sempre querendo que você esteja presa às seduções matérias. Por isso lhe pergunto: você prefere estar certa ou amar a si mesma?

Por conta do objetivo da vida humana de cada ser é que reforcei o aspecto que você falou: abrir mão. Para se aproveitar esta vida no sentido espiritual é preciso apenas abrir mão de tudo.

Lembro-me de uma pessoa que me disse que o marido não a acompanhava à praia porque queria ir ao jogo de futebol. Eu disse para ela que se o amava deveria abrir mão de ir à praia e acompanhá-lo ao futebol. Com isso ela estria satisfazendo-o.

Disse mais: afirmei que se no outro final de semana acontecesse novamente este impasse, ela deveria abrir mão novamente. E afirmei ainda: se isso acontecer no outro final de semana, deve novamente abrir mão do seu desejo. Ela, então, me perguntou: quando eu vou à praia? Eu respondi: se você ainda faz esperando que algum dia ele lhe sirva, não conseguirá nada.

O abrir mão precisa ser executado sem que se gere esperança alguma de ter seus anseios atendidos no futuro para que a sua ação tenha valor.

Síndromes da vida

O universo não conspira a seu favor

Vamos, então, falar de uma nova síndrome que a vida se utiliza para mantê-los preso ao sofrimento. Ela se chama síndrome de filho de Deus. O que será que esta síndrome lhe leva a conscientizar-se? Achar que tudo vai dar certo, que existe uma força superior que agirá para que os acontecimentos ocorram dentro das suas expectativas.

Essa é uma das piores síndromes.

Participante: isso porque nós manipulamos Deus, porque o usamos para conseguir o que queremos...

Não, esta síndrome não tem nada a ver com Deus. A palavra deus está apenas no nome da síndrome, mas não tem nada a ver com Deus especificamente.

Essa síndrome é uma das maiores causas de sofrimento, porque vocês não se preparam para que o acontecimento possa dar errado.

Participante: dar errado não, dar diferente.

Estou usando o termo errado para ser fiel à concepção que vocês fazem dos momentos onde há contrariedades.

Vocês não se preparam para todas as possibilidades de acontecimentos que a vida pode gerar. Por isso, são pegos de surpresa quando acontece algo diferente do que sonharam ou planejaram. Neste momento a vida domina vocês e os faz viverem o que ela quer.

A síndrome de filho de Deus lhes leva ao sofrimento porque nunca estão preparados para não ter um final feliz.

Desculpe, mas isso é uma burrice sem nome, pois durante a vida na maioria das vezes não acontece o que você quer. Na maioria das vezes a vida não dá o que você quer. Por isso já deveriam estar, com a idade de vocês, calejados. Deveriam estar preparados para esta possibilidade. Mas, não estão...

Vocês ainda vivem a vida como um sonho. Vivem sonhando que algo além que é ultra-poderoso trabalhará em seu benefício. Não, na vida nada se recebe gratuitamente; tudo precisa ser conquistado. É preciso suor para conseguir alguma coisa.

Este é um aspecto muito importante, pois as decepções só existem porque você não se preparou para o sim e o não, o bom e o mal, o certo e o errado. Por isso afirmo: você tem que se preparar para viver.

Viver não é uma atividade infantil. Não se passa pela vida rindo ou brincando. Isso é impossível...

A vida é feita de vicissitudes. Ela é composta pela alternância entre o bom e o mal. No entanto, como os filhos de Deus ainda sonham que o bem sempre vencerá o mal, acabam se decepcionando quando suas esperanças não são atendidas.

Saibam de uma coisa: não existe bem que vença o mau. Aliás, não existe nem bem nem mal...

Portanto, para se viver é preciso, e por isso Paulo fala disso, ser maduro espiritualmente.

O maduro espiritualmente é aquele que é maduro na sua relação com a vida. É aquele que não vive como uma criança: exigindo que as coisas aconteçam de uma forma determinada, exigindo que as pessoas ajam de determinada forma, que a vida se faça dentro dos seus padrões de certo, que ela só crie acontecimentos que atendam os seus interesses. Quem age assim é uma criança.

Criança é aquela que de manhã pede que o pai que lhe traga bala quando voltar do trabalho e passa o dia inteiro esperando que isso aconteça. Se o pai esquece e não leva a bala, a criança chora, pragueja, faz mal criação.

Parar de esperar que o somente o bom lhe aconteça: este é um trabalho que precisam fazer em vocês para parar com o sonho de que na vida tudo dará certo. Isso jamais acontecerá.

Mas, digamos que aconteça. Como vocês reagem? Quando alguma coisa acontece suprindo as suas perspectivas, ao invés de ficarem felizes com o que aconteceu, abandonam aquela vitória e querem que a vida lhes dê mais coisas.

Na verdade quem exige coisas não são vocês, mas a própria vida. É ela que nunca se contenta com o que é alcançado e sempre exige mais. A vida nunca estará satisfeita com o que tem. Juntando esta forma de existir com a presunção de ser o preferido do universo, o escolhido que será iluminado por uma força superior, o sofrimento é inevitável.

Quem vivencia a síndrome de filho de Deus acha que o universo vai conspirar a seu favor. Estes, no entanto, se esquecem de um detalhe: para o universo conspirar a seu favor, ele não conspirará a favor do outro...

Participante: alguém sempre perderá...

Não, isso não é real. Não é apenas uma pessoa que perde para você ganhar.

Se o universo conspirasse apenas em favor de uma pessoa, todos os outros seres perderiam. Quando um ganha, não é apenas um que perde, mas todos os outros.

A primeira vez que falamos sobre isso as pessoas ficaram boquiabertas. Lembro que falei da seguinte forma: para você ganhar alguma coisa, todos precisam perder, pois não existem duas pessoas com o mesmo anseio. Por isso, se você ganhou, todos os outros perderam. Isso deixou as pessoas chocadas, pois nunca tinham pensado desta forma.

Sabendo disso, você ainda acha que o universo conspirará apenas a seu favor? Por que ele faria isso? Você é mais bonito que os outros? É mais certo que os demais?

Portanto, quando a mente começar a criar a idéia de que fará acontecer determinada coisa para satisfazer um desejo que ela criou, não embarque nesta idéia. Não se deixe levar pela esperança de que o que ela está prometendo vá acontecer.

Quando conversar com ela diga o seguinte: ‘eu não sei se vai acontecer o que você está dizendo. Construa os seus acontecimentos, mas não espere que eu acredite que o seu plano vá dar certo’. Conviva com a vida dessa forma, pois se acreditar no planejamento que a vida cria estará abrindo a porta para a entrada do sofrimento.

Portanto, é preciso você acorde para a realidade da vida. Aliás, não é à toa que Krishna e Buda chamam o ser que consegue libertar-se da vida de desperto e o processo de libertação de despertar. Aquele que consegue libertar-se do que a vida propõe que seja vivido é aquele que desperta do sonho de que tudo dará certo, de que tudo acontecerá de acordo com os anseios individuais.

Vocês vivem o sofrimento que a vida gera porque estão perdidos num eterno sonho de que é possível que todos os acontecimentos da sua existência sejam lindos, bonitos e maravilhosos. É por conta desta presunção que a vida que lhes faz aceitar a síndrome de filho de Deus. Não, nenhuma vida pode ser assim. O universo não conspirará para que ela seja do jeito que você quer. Por isso lhes oriento a estarem muito atento com relação a esta síndrome.

O que é uma síndrome? Uma repetição de padrão. É preciso que vocês estejam muito atentos a repetição do padrão mental que afirma de que tudo acabará bem, pois a cada momento a vida estará criando a esperança que a vida aconteça do jeito que você quer, que o final será feliz.

Já disse uma vez: quem vive sonhando paga um preço muito alto por viver assim; a sua própria felicidade. Isso porque este vive num sonho, em delírio e não a realidade.

Vocês realmente passam a vida num delírio constante: vou sair de casa, pegar o carro, chegar ao meu trabalho e fazer isso e aquilo. Quando voltar e chegar a casa, vou fazer determinadas coisas. Tudo isso é delírio, sonho de uma mente, pois as coisas podem não ocorrer desse jeito.

Pode ser que você saia de casa e seu caro não funcione. Pode ser que você consiga sair com o carro, mas que não chegue ao seu trabalho. Mesmo chegando, isso não quer dizer que realizará tudo o que planejou fazer naquele dia. Pode ser também que não consiga retornar à sua casa e mesmo que retorne, pode ser que não faça ali também o que planejava fazer.

Você não sabe como será a vida nos momentos futuros. Por mais que ela tenha mantido uma determinada constância no passado, ela pode ser diferente em um determinado futuro. Por isso viver como líquido e certo um determinado futuro pode ser considerado como um delírio.

Por isso, como tudo que diz respeito à vida, aconselho vocês a estarem muito atento no seu viver. Isso porque, além do risco de sofrer por não ter seus anseios atendidos, a síndrome do filho de Deus, a certeza de que a vida ocorrerá dentro do previsto, não se apresenta apenas através de situações positivas. Tudo o que é previsto e esperado faz parte desta síndrome.

Tem que pessoas que tem certeza que ao chegar a um determinado lugar uma pessoa agirá de uma determinada forma. Acreditando nisso, estas pessoas sofrerão não só quando isso ocorrer, mas também com a perspectiva que ocorra.

Síndromes da vida

Síndrome da cartomante

A síndrome de Deus cria realidades para o futuro, sejam positivas ou negativas. Por isso ela se junta a outra: a síndrome da cartomante. Esta síndrome se distingue pela previsão de futuro.

Você não pode saber o que acontecerá no futuro.

Aliás, vocês dizem que o futuro a Deus pertence, mas querem conhecê-lo antes que ele chegue, querem prever o que acontecerá. Através desta síndrome ou padrão de ação, a vida quer dizer o que acontecerá amanhã, o que ocorrerá daqui a cinco minutos.

A partir desta previsão de futuro que a vida faz, ela criará uma série de perspectivas para acontecer. Utilizando-se da síndrome de filho de Deus, a vida lhe fará acreditar que esta previsão não é apenas uma possibilidade, mas uma certeza que acontecerá.

Se o que foi previsto não ocorre, o que a vida faz? Propõe-lhe sofrimento e você não consegue escapar, pois está preso a estas duas formas de pensar da vida.

Síndromes da vida

Um culpado

Quando a vida faz uma previsão de futuro e usa a síndrome de Deus para afirmar que o que ela está prevendo acontecerá e você acredita no que ela diz, quando chegar o futuro e nele não acontecer o que ela previu, como vocês reagem?

Participante: decepcionamos-nos...

Não.

Participante: eu sinto assim...

Certo, sei que você acaba se decepcionando. No entanto, não é sobre isso que estou falando. O que estou perguntando é qual a primeira coisa que a vida faz quando os acontecimentos ocorrem dentro da forma como conversamos?

Participante: não sei...

Ela arruma um culpado pelo fato dos acontecimentos não terem ocorridos do jeito que ela previu.

A vida arruma um culpado e você aceita a culpa e o culpado. Por isso entra no processo de sofrimento e nem vê que é apenas a vida utilizando-se de suas síndromes para lhe propor sofrimento.

Síndromes da vida

Libertando-se destas síndromes

Participante: isso é sadismo. A vida é sádica...

Sim, ela é sádica, mas é assim que ela é. O que você pode fazer a partir desta constatação? Não vivê-la...

As síndromes de filho de Deus e da cartomante trabalham juntas, pois aquele que se considera o melhor, o bom, o filho de Deus acha que a vida conspirará a seu favor e por isso aceita todo prognóstico de futuro que a vida faz. Só que ela não faz a mínima questão de mostrar que está certa, de fazer acontecer o que ela projeta para o futuro.

Na verdade, a vida faz questão de não ser do jeito que prevê, pois a função dela não é satisfazê-los, mas testar o seu apego às coisas que ela cria. Como não vêem esta realidade, acabam vivendo o que ela diz para viver.

Este processo continua durante toda a sua existência humana e continua mesmo depois do desencarne. A vida não muda com ou sem carne, porque o processo mental é o mesmo. Ou seja, você continua sofrendo mesmo depois da morte até que um dia se cansa de tanto sofrer e pede a Deus que lhe ajude.

Participante: isso eu já percebi. A vida vai cada vez mais apertando-nos para ver se desistimos de segui-la.

Isso, ela vai lhe apertando mais.

A vida é igual a colocar um parafuso: cada dia dá uma volta a mais, um novo apertão no tocante ao sofrimento para ver se você desiste de esperar que ela crie a felicidade para que você seja feliz.

Quando você vai desistir? Quando desiste de achar que tudo acontecerá a seu favor? Quando se cansa de sofrer.

Participante: isso aconteceu comigo. Eu achei que porque estava participando deste trabalho a vida me protegeria. Conversei com você sobre isso e você disse que não. Isso me deixou em pânico.

Não foi você quem entrou em pânico, mas sim a sua vida.

Participante: certo, mas eu voltei a ter os mesmos medos que tinha antes de começar a participar deste trabalho.

Quem teve medo? A vida...

Veja bem. Tudo o que você está me dizendo não pertence a você, mas são proposituras que a vida está lhe fazendo. Por isso, ao invés de viver estas coisas, diga a ela: ‘você está com medo, vida? Fique. Eu não vou viê-lo. Vou esperar ver o que acontece ao invés de viver o medo’.

O medo pode ser vencido. Lembro que uma vez estava conversando com uma pessoa e ela me falou que tinha medo de viajar de carro, medo de acidente. Para ajudá-la a vencer este medo eu lhe ensinei uma coisa.

Vocês não contabilizam o lado positivo só o negativo. Você mora numa casa cinqüenta anos. Durante este tempo nunca entrou um ladrão. Na hora que isso acontecer, vão dizer que a casa é insegura. Ou seja, vocês jogam fora cinqüenta anos de proteção que a casa lhes deu porque em um momento esta proteção não aconteceu.

É isso que vocês precisam ver para poder apagar a sensação do mau. Primeiro não se sentir filho de Deus, super protegido e começar a realçar para vocês os momentos bons. No entanto, fazem questão de esquecer os momentos bons e somente realçar os negativos.

Uma vez uma pessoa me perguntou como trazer a felicidade para a sua vida. Eu lhe disse para lembrar-se de um momento bom da vida dela.

No dia que você casou estava feliz?

Participante: sim

No momento em que houver sofrimento na sua relação com seu marido lembre-se do dia do seu casamento. Lembre-se de como estava feliz naquele momento. Com isso o sofrimento de agora poderá ser substituído por esta felicidade.

Acontece que vocês são cegos a estes momentos. Só vivem o sofrimento o sofrimento de agora...

Tem uma história que fala de um homem que saiu à rua e começou a chamar Deus dizendo que queria falar com Ele. Neste momento pousou uma borboleta e seu ombro e o homem a expulsou. Continuou andando e pedindo a Deus para falar com Ele. Apareceu uma flor e o homem a pisou.

Deus é tudo, mas o homem não O procura em todas as coisas. Quer que Ele apareça dentro da estampa que imagina ser Ele. Por isso nunca O encontra.

Aqui estamos falando da mesma coisa. Vocês querem a felicidade e ela está em tudo, mas não conseguem achá-la porque impõem condições para que sejam felizes.

Vocês não trabalham para ter a felicidade, mas querem que a vida lhes dê. Isso é impossível. É preciso trabalhar pela felicidade e este trabalho se consiste em cultivá-la.

Tenho certeza que a dona desta casa molha constantemente aquela planta que está ali. Cuida dela adubando-a quando é preciso. No entanto, não cuida da sua felicidade. Com isso o sofrimento entra na sua vida. Isso só acontece porque não adubou e regou a felicidade.

Adubar a felicidade durante a vida é passar pelo momento de sofrimento lembrando-se da felicidade já teve em outro momento. Esta lembrança lhes manterá felizes, lhes dará força para superar o sofrimento. Apesar disso, quando vocês vêem um sofrimento parecem cavalo: põem antolhos e só vivem ele.

Esta moça se separou do marido recentemente. No momento da separação ela só sofria o sofrimento. Só que ela teve uma vida de casada onde houve momentos bons. Destes momentos ela nem se lembrava quando ocorreu a separação. Melhor, elas às vezes até se lembrava deles, mas quando isso acontecia, usava a lembrança para sofrer mais no presente. Ela não usava estes momentos como uma alavanca para ser feliz, mas como motivo para sofrer, pois os vivia com o lamento de não tê-los mais.

Por isso afirmo que você só consegue sair do sofrimento quando se cansa de sofrer. Vocês precisam se cansar do sofrimento para poder parar de sofrer.

Acontece que quando se cansam de sofrer, os motivos que levaram a vivência do sofrimento não mudaram, ou seja, a vida continua mostrando sofrimento. A única coisa que aconteceu é que vocês chegaram a um ponto em que se cansaram de tanto sofrer e por isso deixam o sofrimento para lá.

Sendo isso verdade, pergunto: para que esperar cansar se pode cortar o sofrimento antes? Porque sofrer durante tanto tempo para depois cortá-lo?

Participante: quando tudo estava acontecendo eu lhe escutava. Sabia que tinha que acontecer tudo o que estava acontecendo, mas não conseguia estancar o sofrimento.

Você sabia que estava acontecendo o que tinha que acontecer, mas não se adaptava ao que estava acontecendo. Por quê?

Participante: porque eu estava apegada àquele momento.

Não, não é isso...

Porque apesar de saber que estava acontecendo o que tinha que acontecer ainda estava sofrendo? Porque estava contrariada com o que estava acontecendo.

Muitas pessoas já me disseram que não aceitam a idéia de que Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Não entanto, estas mesmas pessoas atribuem a Deus a causa das coisas. Por exemplo, uma pessoa que me falava que não acreditava neste ensinamento ao mesmo tempo me dizia que se revoltava com Deus por Ele fazer as pessoas sofrerem.

Ora, se para esta pessoa é Deus que faz as pessoas sofrerem, isso quer dizer que ela já aceitou a idéia de que Deus é Causa Primária de todas as coisas. Se esta pessoa realmente não acreditasse neste ensinamento ela não se revoltaria contra Deus pelo sofrimento dos outros. Ela já aceitou a idéia de que tudo é originado em Deus. Para ela, na verdade, resta apenas entender o porquê acontecem coisas que são tratadas como negativas, como mal.

Participante: o que o senhor está dizendo é que eu, por exemplo, quando estava me separando já sabia que tudo tinha que acontece com aconteceu, mas não aceitava que aquilo deveria acontecer. É isso?

Sim, você viveu o sofrimento proposto pela sua vida naquele momento porque mesmo sabendo que tudo o que estava acontecendo tinha que acontecer, não aceitava o que estava ocorrendo. Ou seja, não conseguiu manter a sua felicidade naquele momento porque estava trabalhando no aspecto errado.

Participante: quando tudo aconteceu me vinha à cabeça o seu ensinamento de que fui eu que pedi tudo o que estava acontecendo. Isso me dava uma raiva...

Sei disso, mas foi você realmente quem pediu.

Participante: e me perguntava como podia ter pedido para passar por aquela situação...

Tem uma pessoa que fala de outra forma. Ela diz que trocaram o seu livro da vida na maternidade. Quando acontece alguma coisa que a contraria, esta pessoa diz que ela está vivendo o livro da vida de outra pessoa e não o que foi formado a partir dos seus pedidos...

Participante: se formos ver a minha vida, nunca tive motivos para reclamar dela. Nunca passei fome ou houve acontecimentos drásticos. Apesar disso, reclamo da vida.

Por que isso? Porque não valoriza a quantidade de vezes onde não houve motivos para reclamar.

Participante: esta é a síndrome da ingratidão?

Não ainda estamos falando do filho de Deus. Falando da idéia de estar protegido dos acontecimentos maus.

Tem uma história que conta que um homem foi ouvir Maomé pela primeira vez. Quando o criador do islamismo acabou de recitar os versos que tinha recebido, este homem lhe disse que gostara muito de estar ali e que voltaria todo dia. Maomé lhe disse para não fazer isso. O homem perguntou: por quê? A resposta que ele ouviu foi a seguinte: ‘você vai se acostumar com o que eu digo e não dará mais valor ao que está ouvindo’...

O sol nasce todo dia. Ele esquenta e clareia a sua vida diariamente, mas vocês não se lembram de cumprimentá-lo quando acordam. É a mesma coisa com relação à felicidade. Vocês não conseguem suplantar os momentos maus da sua vida porque não valorizam os momentos bons.

Vou falar dentro da lógica humana agora para poder lhes transmitir o real valor do presente. Há uma coisa ainda não vislumbraram: a cada vez que respiram a hora da morte se aproxima mais.

Saibam disso? Sabiam que cada segundo que passa é um a menos e por isso estão mais próximo da morte? Por terem medo de morrer, deveriam viver intensamente cada segundo, mas não é assim que vivem...

Vocês não ligam para um segundo de suas existências. Vocês largam o segundo que têm, o abandonam em detrimento de um futuro. Com isso agem como se estivessem correndo para a morte.

Dêem o valor a cada segundo da vida de vocês. Valorizem, pois ele é um bem extremamente preciso. Tanto no sentido material, no sentido de estar vivo, como no espiritual, aproveitar a oportunidade da encarnação, cada segundo de uma existência é um bem precioso, pois eles representam uma nova oportunidade para alcançarem a evolução espiritual.

Apesar deste alto valor de cada segundo da existência, vocês não o valorizam. Vivem trabalham com a vida como se ela fosse grande, como dispusessem de muito tempo para viver. Por isso não vivem e nem valorizam cada experiência, cada momento.

É por este motivo que vocês vivem o mau como mau, como um ataque, como uma afronta pessoal. Só vence a síndrome de ser o preferido do universo aquele que valoriza cada momento de sua vida, esteja este momento de acordo ou não como os anseios individuais. Isso vocês não fazem...

Na verdade, só depois que ficam velhos é que vocês aprendem a valorizar tudo o que tiveram na vida. Se isso é verdade, porque não esperar chegar este momento da vida para fazer isso?

Por isso aconselho: não esperem que tudo acabe bem, não esperem que aconteça sempre um final feliz; vivam cada momento valorizando-o como se ele fosse o último. Entreguem-se totalmente àquele momento, pois quem sofre em um momento está recusando a oportunidade de estar vivo que a vida oferece. Por isso, mesmo que o momento não esteja de acordo com os seus anseios, viva-o intensamente. Não queira fugir do presente jamais.

Esta é a única forma de você superar tanto a síndrome de filho de Deus como a de cartomante. Neste aspecto, a previsão do futuro é pior do que a de filho de Deus, pois enquanto você está no futuro não está no presente. Aliás, não está nem vivendo este momento.

Houve uma pessoa que esteve no nosso meio durante muito tempo. Ela sempre reclamava por ter sido preterida no momento de uma promoção no seu trabalho. Repare no sofrimento dela e verão que ele foi gerado pelas duas síndromes que estamos falando agora: a síndrome de que tudo daria certo, de que ela seria promovida, e da previsão do futuro, já que já estava planejando como gastar o dinheiro que receberia a mais. Com isso não valorizou o dinheiro e nem o emprego de agora, pois no momento em que muita gente estava desempregada estava pessoa estava reclamando do emprego que tinha.

Síndromes da vida

Valorizar o momento ou apegar-se?

Participante: na questão que o senhor levantou existe uma linha muito tênue. Uma coisa é você valorizar o emprego que se tem, outra é ter apego a ele. Falo isso com relação à questão das âncoras, do medo de perder e a vontade de ganhar. É uma linha muito tênue entre as duas coisas e se não estamos atentos à vida escorregamos. Eu entendo que o valorizar o presente é uma coisa boa, mas temos que ter cuidado para que com esta valorização não nos apeguemos às coisas este mundo. Lembro-me que uma vez o senhor falou que uma pessoa teria que reencarnar porque achava lindo o passarinho. Neste apreciar o passarinho pode haver um apego ou uma valorização do momento. É isso que não entendo...

Qual a diferença entre apego e desapego? O que distingue uma coisa da outra está ligado à dependência. Apego é dependência. Para que?

Participante: para ser feliz.

Sim, apego é dependência de alguma coisa para ser feliz. Desapego, então, é não depender daquilo para ser feliz.

Na questão do emprego, o que é ter um apego?

Participante: depender de ter um emprego para ser feliz.

Sim, ser dependente de ter um emprego para ser feliz é um apego.

Quem está apegado a alguma coisa não consegue curtir aquele momento. Ele não consegue curtir o emprego dele porque está apegado a ter um emprego para ser feliz.

Já o desapegado é aquele que tendo ou não emprego está feliz. Este, tendo ou não um emprego, gostando ou não dele, vive feliz. O emprego não é a fonte da felicidade da vida dele.

Participante: aliás, nada deve ser a fonte da felicidade para nossa vida, não é mesmo?

Sim.

Participante: nós deveríamos ser felizes por natureza.

Sim, vocês deveriam ser felizes por natureza. Por quê? Porque já são.

Todo ser é feliz por natureza, mas não consegue viver a felicidade que tem porque se torna dependente da vida fazê-lo feliz. Porque se torna dependente da vida criar felicidade.

O ser humano se torna dependente do marido, do filho, da mãe, da propriedade, do emprego, do caro, da comida para ser feliz. Torna-se depende de que a vida lhe dê estas coisas para que esteja feliz.

Exatamente por conta desta dependência é que ele não consegue ser feliz. Melhor, não consegue viver a felicidade que está na sua natureza íntima.

É por isso que disse que a opção deve ser sempre ela opção nenhuma das respostas anteriores. Isso porque quando você não aceita a dependência de que alguma coisa aconteça de determinada forma a felicidade vem de dentro.

Saiba de uma coisa: jamais você criará felicidade.

Participante: qual a diferença entre a aceitação da vida e a vivência da felicidade?

Nenhuma, apenas nome.

Quando você viver a aceitação pelo que ocorre na sua vida estará vivendo a felicidade. Mas isso não quer dizer que deve se apegar a ter que aceitar sempre as coisas que lhe acontece para ser feliz. Porque falo assim?

Participante: não sei...

Eu afirmo que se você se tornar dependente da aceitação para ser feliz nunca será realmente. Apesar disso, afirmo que a aceitação pode lhe levar à felicidade. O que estou querendo dizer?

Participante: não sei...

Preste atenção às palavras que falei. Qual a palavra que existe numa frase que não existe na outra? Dependência...

Sim, a dependência a qualquer coisa lhe afasta da felicidade. Mas, a dependência está ligada a outra síndrome que vamos falar: a síndrome do vício...

Síndromes da vida

Síndrome do vício

Segundo o Espírito da Verdade, o vício é a fonte de todo mau, ou seja, de todo sofrimento. Exatamente por causa disso fizemos três palestras só para falar do vício.

Sabe por que o vício é a fonte do sofrimento? Porque ele origina uma dependência. Depender do que quer que seja lhe leva ao sofrimento, não lhe deixa viver a felicidade.

Vocês são viciados em tudo, inclusive em viver. São também dependentes da existência do sofrimento. Tanto isso é verdade que quando tudo está bem dizem que estão com medo, pois esta felicidade com certeza vai acabar. Ou seja, para viverem a felicidade precisam que haja o sofrimento.

Participante: quando a esmola é demais o santo desconfia.

Sim. Parece inacreditável, mas vocês dependem até do sofrimento para serem felizes.

Portanto, vício é outra síndrome que a vida trabalha.

O que é síndrome mesmo? Repetição de padrão de comportamento. A partir disso, então, posso dizer que a vida trabalha repetitivamente a idéia de você estar dependente de alguma coisa para ser feliz.

Observe o que estou falando. Veja como o seu padrão racional, a sua vida, está sempre trabalhando numa dependência. Você nunca é livre para nada.

Uso muito um exemplo quando falo de dependência porque através dele fica fácil se observar a ação da dependência. Uma pessoa estava deprimida e sofria porque a filha tinha fugido de casa. Esta moça às vezes acordava pela manhã se sentindo bem, mas ao se lembrar que a filha tinha ido embora, ela voltava à depressão. Agia assim porque no seu mundo mental era inconcebível ficar bem sem a filha está por perto.

Esta pessoa vivia na dependência da presença da filha. Por isso ela não aceitava a idéia de que poderia estar bem sem a presença da filha. Para que esta pessoa optasse pelo sofrimento, a vida dela sempre criava um padrão mental onde se perguntava como uma pessoa poderia ficar bem se a filha querida não estava mais morando com ela.

A vida explora a dependência nas idéias que ela lhe cria. ‘Como não vou sentir frio se lá fora não tem sol? Como vou estar em paz se há uma guerra em algum lugar? Como não vou sentir-me humilhado se alguém me disse que eu não estava certo’?

A vida sempre explora uma dependência para que você imagine que só pode ser feliz se ela for suprida. Com isso, vai lhe dando razões para que você opte pela infelicidade...

Na verdade, vocês falam mal de quem gosta de álcool, tóxico ou cigarro, mas todos vocês são dependentes de muitas coisas. Por isso, esqueçam a crítica aos outros e busquem se libertar das dependências que a sua vida cria.

Participante: somos nós que somos dependentes ou é a nossa vida?

Vocês são dependentes, não a vida. Vocês são dependentes porque dependem do que a vida cria para poder viverem felizes. A vida cria e explora a dependência, mas quem se torna dependente são vocês.

É a mesma coisa que já falamos sobre o egoísmo. A vida explora o egoísmo, mas quem se torna egoísta são vocês quando aceitam o que a vida propõe.

A vida não é egoísta, do mesmo jeito não é ela que é dependente. Ela gera a idéia de ser dependente assim como cria a idéia de querer preferencialmente, mas isso não quer dizer que ela seja dependente ou egoísta. É você que se torna dependente e egoísta quando aceita o que ela dita.

Para se libertar da síndrome do vicio e poder, então, chegar a opção nenhuma das respostas anteriores que já falamos, é preciso aceitar a vida como ela é e não depender do que é criado por ela para ser feliz.

Digo-lhes uma coisa: se dependerem da vida para conseguir alguma coisa, vocês estão mal de vida. Isso porque, como já vimos na síndrome do filho de Deus, a vida não existe para lhes satisfazer.

Vocês não são os preferidos do universo. Apesar de isso ser uma realidade, a vida continua propondo a dependência que sejam satisfeitas algumas questões para que sejam felizes. Na verdade ela age como se vocês fossem os preferidos do universo, pois lhes garante que basta desejar para conseguir. Ela garante que se vocês pedirem com muita vontade vão ganhar sempre.

Acontece que quem cria a possível vitória é a vida. Como o que ela quer é que você viva o sofrimento, ela não cria a sua vitória. Como você é dependente da vitória, acaba sofrendo.

Já viram alguém fazer exame de aprovação para algum lugar imaginando que não vai passar? Mesmo que exista apenas uma chance em cinco mil de ser ele o aprovado, o ser humano acha que será o privilegiado. Por isso coloca a sua felicidade dependente do entrar.

Participante: quando nós somos crianças vivemos apenas no presente. Por isso o bebê e a criança possuem uma alegria de viver. Este ser conseguiu fazer o que o senhor está ensinando?

Na verdade, o ser nesta idade ainda não está em provas. Está na fase da montagem das provas.

Participante: é por isso que ela é assim. Mas, a gente que já está adulto pode ser dessa forma?

Sim.

Participante: quando você aceita a vida como ela é fica em paz?

Sim, mas esta paz acontecerá apenas no seu mundo interno e não no externo.

Participante: para o mundo parecerá que esta pessoa está sofrendo, já que o seu externo aparenta fracasso.

Sim.

Com essa sua pergunta, você me leva a outra síndrome, a outro comportamento padrão que a mente usa: a síndrome do sábio.

Síndromes da vida

Síndrome do sábio

Participante: o senhor está falando da idéia que nós temos que já sabemos tudo e por isso não precisamos fazer mais nada? Só devemos ensinar o que sabemos aos outros...

A idéia de que não é preciso fazer nada, na verdade não existe para o ser humano, Isso acontece porque ele vivencia a síndrome do todo poderoso, a idéia de que é capaz de fazer qualquer coisa.

O problema da vivência desta síndrome não está vinculado à idéia de achar que deve ensinar aos outros, mas sim achar que apenas você sabe e que todos os outros são ignorantes.

Ninguém sabe onde guardar este rolo de papel: só você. Ninguém sabe qual a hora certa de comer: só você.

Participante: síndrome de mãe...

Sim, a mãe se acha sábia. Mas, porque isso acontece?

Participante: porque achamos que sabemos tudo?

Não. Porque acha que os filhos não sabem nada.

A síndrome de sábio não se cura libertando-se da idéia de saber as coisas, mas sim eliminando a hipótese dos outros não saberem. Todos sabem, ou melhor, todos têm o seu saber.

Este homem sabe o que ele quer; aquela moça sabe o que ela quer; eu sei o que eu quero saber. A síndrome de sábio se cura sabendo que todos são sábios dentro da sua sabedoria. Se cura tratando o outro como sábio.

Diga-me uma coisa: se você acha uma coisa sobre uma doença e um médico acha outra, você discutirá com o doutor? Com certeza não... Ouvirá quieto o que ele está dizendo. Porque isso acontece dessa forma? Porque você acha que naquele assunto ele sabe mais do que você.

Ora se o médico é um especialista na medicina e por isso você não discute quando ele fala deste assunto, porque você quer discutir com o outro sobre o assunto no qual ele é especialista: a vida dele? É por isso que afirmo que você só se cura da síndrome do sábio quando se conscientiza de que todos são sábios com relação à vida deles.

Participante: a vida de cada um é a especialidade dele.

Exato. Todos são especialistas nas suas próprias vidas. Você é especialista na sua. É aí que surge o problema da síndrome do sábio: vocês querem ser sábios na vida dos outros, querem saber o que é melhor para eles.

Participante: quando se é mãe, então, esta síndrome aparece fortemente.

Sim, o exemplo do papel de mãe, daquela que se imagina com a responsabilidade de educar um filho é um exemplo clássico para a síndrome do sábio. Toda mãe se considera uma sábia, aquela que sabe o que é melhor para a vida do filho, que sabe qual educação ele deve ter. Por imaginar que o filho não tem educação para poder saber o que é melhor para ele mesmo, a mãe acha que deve interferir na vida do filho ensinando-o.

Acontece que ele tem educação. Toda criança possui a educação referente à sua idade, ao seu tempo de vida. Por isso a mãe deveria dar a ele o direito de administrar a sua própria vida.

Todos têm sabedoria naquilo que são formados: nas suas vidas. Tem uma frase que uso muito, e que é usada pelos evangélicos, que resume tudo o que acabei de dizer: Deus deu a vida a cada um para que cuide da sua. Só que o que você faz é tomar conta da vida do outros. Da sua mesmo você não toma.

Participante: aconselhar os outros é mais fácil...

Sim, porque se der errado quem sofrerá as conseqüências é ele e não você. Quem será considerado não sábio é ele e não você...

Participante: então, posso dizer que vivemos fugindo de nós mesmos.É isso?

Não, não existe uma fuga de si mesmo. Ninguém foge de si mesmo. Na verdade esta forma de agir visa conseguir um domínio sobre os outros, mas esta já é outra síndrome.

Síndromes da vida

Dominar para ter fama

A vida quer sempre dominar tudo e todos. Todo mundo racional da vida é construído de tal forma que lhe dê a sensação de cominar o outro. Porque isso acontece desta forma?

Participante: para ter o prazer e o controle.

Para que você quer ter o prazer e controlar as demais pessoas? Para ser considerado o melhor.

Participante: essa síndrome, então, se liga à do sábio?

Sim. Todas as síndromes na verdade se interligam, pois elas são instrumentos de apenas uma coisa: do seu egoísmo...

Vocês querem dominar os outros para que possam ser considerados os bons, os certos, os bonitos. Precisam dominá-los, pois sabem que eles não lhes darão estas condições por livre e espontânea vontade.

Por isso, imaginam que precisam dominá-los, domá-los. Acham que assim conseguirão arrancar das pessoas o reconhecimento e o elogio. É por isso que vocês se consideram os sábios e os outros burros.

Síndromes da vida

Tudo existe apenas na vida de cada um

Para se libertarem desta síndrome, vocês precisam entender que não existe vida compartilhada.

Participante: cada um tem a sua...

Sim, cada um tem a sua vida.

Não sei se vocês se recordam quando conversamos num estudo que foi chamado de ‘Senhor da Mente’. Durante nossas conversas naquele momento, eu disse que tudo só existe dentro da sua mente. Quando falei assim as pessoas me questionaram que isso era impossível, pois elas se relacionavam com outras pessoas que estão no mundo exterior.

Lembro que respondi a estes questionamentos dizendo que ninguém convive com uma pessoa que está no mundo exterior. Quando você imagina que está interagindo com alguém que esteja fora de você mesmo, o que está acontecendo realmente é a mente criando um diálogo ou uma interação com um elemento que também é criado por ela e só existe dentro dela.

Não existe uma pessoa externa com a qual vocês se comunicam... Cada um tem uma vida e tudo o que existe nela está dentro do ser humano.

Na verdade, cada ser humano é a peça do tetro de fantoches. Ele não é um dos bonecos de uma peça onde existam outros personagens, mas a própria peça. Os personagens desta peça estão no palco onde ela é apresentada, que é a mente de cada ser humano.

Quando comparamos a vida de um ser humano com uma peça de fantoches, vocês imaginam que quando os bonecos se comunicam, isso existe no mundo exterior. Ou seja, acreditam que vocês são um personagem que interagem com outros no palco planeta Terra, mas isso é irreal. Toda movimentação e comunicação existem apenas dentro de você.

Participante: portanto, é apenas no meu mundo mental que existem os fantoches meu marido, meus filhos, meu chefe...

Sim, todas as pessoas com quem você se relaciona existem apenas dentro do seu mundo mental.

A partir disso, pergunto quem move os fantoches que fazem parte da sua vida? A sua vida. Esta concepção é importante para aquele que pretende separar-se da vida para poder libertar-se da ação das síndromes.

Diga-me: seu marido já brigou com você?

Participante: sim...

Nunca... Nuca o seu marido brigou com você. Quem criou um fantoche seu marido e o fez gerou a idéia de vocês estarem brigando foi a sua vida. Sendo assim, o marido que você imagina existir, aquele ser que está fora de você sentado naquela cadeira neste momento, nunca brigou com você...

Participante: foi o personagem dele.

Nem isso...

Não foi o personagem dele que brigou com você. Quem criou a idéia de haver um marido e a de estar havendo uma briga foi a sua vida. Portanto, tudo só existiu dentro dela mesmo e, por isso, não tem nada a ver com outro ser. Não tem nada a ver com ele...

Participante: agora a pouco nós estávamos conversando sobre isso. Às vezes você fala uma coisa para ofender e não consegue. Outras vezes você fala com todo carinho e acaba ofendendo. Ou seja, o que vale não é o que sai da boca, mas o que a vida do outro cria para ele...

Perfeito. Todo mundo só vive o que a vida dele mesmo cria e não o que o personagem de outro ser está fazendo.

Participante: às vezes falamos alguma coisa e se observamos bem veremos que cada um ouve algo completamente diferente do que falamos. Parece uma piada.

Sim, parece uma piada.

Na verdade, ninguém consegue compreender o que você diz por que não está falando nada para esta pessoa. O seu falar é a sua vida e, portanto, faz parte da sua prova. Já a vida dele cria a idéia de ouvir, se criar, já que muitas vezes você fala e ele nem ouve som algum, e o que será ouvido faz parte da prova dele.

Participante: é por isso que às vezes você fala uma coisa e a pessoa compreende outra completamente diferente?

Sim, mas vocês ainda não entenderam o mais importante do que estou tentando passar...

Participante: eu não estou falando para outros...

Isso, você não está falando para ninguém.

Participante: você está interagindo com a vida...

Não, ainda não é isso.

Quando ocorrer do seu mundo mental dizer que está falando algo, o que está acontecendo na realidade é a sua vida se apresentando à você. Não foi você que falou, mas a sua vida foi falar e o que ela diz está ligado à forma como ela deve ser para que você tenha suas provas.

O que você faz não tem nada a ver com outro ser, mas serve apenas como geração de prova para você mesmo. Isso porque se ouve o que imagina estar falando concordando com o que ela disse aquilo será usado no futuro contra você.

Acreditando no que no que a vida fala, a informação se transformará numa verdade e no futuro ela será usada como armadilha para que você vivencie o padrão emocional que a vida lhe oferecer.

Síndromes da vida

Coletivo humano

Participante: vamos supor que a humanidade conseguisse realizar este processo, ou seja, isolar-se da vida. Nós nos isolaríamos da coletividade?

Não, pelo contrário. Neste momento é que se integrariam à coletividade...

Participante: quer dizer que hoje nós fingimos que estamos integrados ao coletivo...

Sim. Mas par compreender o que estou dizendo, precisamos entender o que é a coletividade que você está falando...

Você me perguntou que se cada um conseguisse viver assim acabaria a coletividade. Eu estou dizendo que é o contrário: você viverá no coletivo. Para entender isso eu pergunto: qual é o seu coletivo hoje?

O que é coletivo?

Participante: todos juntos.

Diante de sua resposta tenho que concluir que a coletividade a que se refere são todos os que existem na sua vida. Certo?

O que é esta coletividade? Trata-se de um grupo de seres? Não, é apenas a sua vida. Se tudo que pertence à sua realidade existe apenas dentro de sua vida, isso quer dizer que a coletividade à qual se refere está concentrada em apenas uma coisa: a sua vida...

Na verdade, o que você está chamando de viver em coletividade é viver com você mesma, com os elementos que estão na sua vida. Esta é a vida em coletividade que vocês podem alcançar, já que não se vive com ele ou com ela nem com ninguém.

Não sei se vocês se lembram, mas eu fiz uma série de conversas onde falava do universo universal para os seres humanos. Àquela época disse uma coisa que vocês se espantaram: no universo uno, único e estável, como pode haver espíritos? Como pode haver diversos espíritos se tudo é Um? Não é interessante isso? Se existissem múltiplos espíritos seria o fim da unidade.

Para responder a esta questão à época eu expliquei que existem diversos espíritos, mas todos vivem a mesma coisa mentalmente. Por isso eles vivem como um. Esta mesma compreensão vale para o que você está me perguntando agora.

A comunidade é você, é sua vida. Por isso, você não precisa aprender a conviver com o seu marido, com a sua vizinha ou com a sua mãe, mas apenas coma a sua vida. Basta aprendera conviver com a sua vida, pois ela contém a coletividade com a qual você quer se relacionar.

Participante: mas, não me achando a vida. É isso?

Não achando que você é a vida. Aprender a conviver com a coletividade que é você só.

É no seu mundo mental, dentro que você mesmo que se resolvem todos os problemas da vida. É apenas ali que se eliminam todas as fontes de sofrimento e de prazer da vida. Não há nada a ser resolvido externamente com outras pessoas.

Sem compreender isso, você não consegue fazer nada no tocante à felicidade. Isso porque ainda irá querer mudar o marido, endireitar a filha, etc.

É dentro de você mesmo, no seu mundo mental que se precisam mudar as compreensões para poder existir em felicidade. Sendo dentro que é dito que o emprego que se possui não é bom, é lá que é preciso mudar a forma de ver o emprego.

Não estou falando em mudança no sentido de criar mentalmente a idéia de que o emprego é bom, já que atribuir valores às coisas é de competência única da vida. O que estou dizendo é que você deve não viver o mal que é atribuído ao emprego.

Tudo se resolve dentro de si mesmo, nada fora. Você não tem nada para fazer no mundo externo, mas precisa organizar tudo internamente de tal forma que o seu mundo mental não gere o sofrimento. Para poder arrumar tudo que está dentro, você precisa saber que todas as idéias geradas pela vida é que cria o que imagina estar acontecendo no mundo exterior.

O que ela usa para fazer esta criação? As síndromes que estamos conversando...

Ela cria um marido e cria também as falas dele em desacordo com suas verdades para que você aceite a síndrome do sábio, para que aceite que tem que dizer o que é certo. Com isso você está aceitando o modo de pensar dela que leva você a sofrer...

Participante: isso não só com relação a esta síndrome, mas com todas as que vimos.

Sim, ela se utiliza de elementos que cria e que você aceita como reais para que aceite o sofrimento que ela lhe dará. Se a vida tem a síndrome de princesa, por exemplo, ela cria um marido e uma infidelidade que ela dirá que foi cometida por ele.

É ela quem cria um marido infiel. A infidelidade não é de um ser que está fora de você.

Para que ela faz isso? Para que possa usar contra você a síndrome da princesa e assim aceite o sofrimento que ela lhe dará.

Diante de tudo isso, eu pergunto àquela moça: como é mesmo que você já tinha classificado a vida?

Participante: de sádica...

Sim, a vida é sádica, mas não é má. Ela não faz nada disso por maldade, mas porque essa é a sua função no universo, a sua razão de existir.

Para que serve a vida? Para testar o seu apego às coisas do mundo material...

Participante: se aprendermos isso nós poderemos ir embora deste mundo?

Não, porque qualquer coisa que aprenda só existe culturalmente. Aliás, nem isso: quem aprende não é você, mas sim a vida. Digo isso porque todas as palavras e idéias que estamos falando hoje quem está aprendendo é a vida e não vocês.

Síndromes da vida

Paladino da justiça

Tem mais uma síndrome interessante que quero abordar antes de encerrarmos.

Até agora estamos falando de sofrimento sentido por você. Mas, e o sofrimento que a vida cria e atribui a outros? Como fica a sua interação com o sofrimento de uma criancinha de cinco anos que é estuprada? E o do bichinho coitado que alguém atirou uma pedra? Como não viver este sofrimento?

É quase impossível deixar de vivê-los, não? Isso porque imaginam que estes elementos são uns coitadinhos indefesos, mas será que são mesmos?

Participante: que síndrome é essa?

Síndrome do super herói: o defensor dos fracos e oprimidos...

Participante: nesta idéia também existe a ação da síndrome do todo poderoso, não?

Sim, existe a sua presunção de agir. No entanto, neste caso estamos falando de agir em benefício do outro. Por isso essa síndrome se liga à idéia de vocês serem paladinos da justiça, ou seja, precisam mostrar os padrões de justo aos outros...

Participante: ecologicamente correto...

Sim, ecologicamente correto.

Síndromes da vida

O padrão de justiça depende do desejo de cada um

Você falou em ecologicamente correto e isso me lembrou algo que precisamos conversar para o bom entendimento da síndrome do super herói: o padrão de justiça depende do desejo de cada um.

Não sei se vocês se lembram da festa de Nossa Senhora que realizamos no fim do ano retrasado. Ela aconteceu num hotel que ficava dentro de uma área de preservação ambiental. Este hotel, segundo os donos, havia sido criado com a finalidade de durante a hospedagem ensinar as pessoas a conviver com a natureza.

Por este motivo, uma pessoa veio reclamar que algumas pessoas do nosso grupo estavam jogando a ponta do cigarro no mato. Segundo esta pessoa, isso era agir contra a natureza, era não auxiliar na preservação, o que feria a finalidade do hotel e à própria natureza que nos rodeava.

Para responder a esta pessoa eu levantei dois aspectos. O primeiro diz respeito à questão da coisa ser natural ou não. O cigarro pertence à natureza, já que todos os elementos que existem dentro dele tiveram origem na própria natureza. Sendo assim, quando a ponta era jogada junto à mata, na verdade era natureza sendo devolvida a ela mesma e não um objeto estranho que estragava o que existia ali.

Isso por si só deveria resolver a questão, mas ainda levantei outro aspecto que está ligado à questão da síndrome do super herói. Na verdade todos querem promover a justiça, mas desde que o que seja promovido não fira os seus interesses individuais. Vou explicar melhor o que estou querendo dizer.

O segundo aspecto que levantei para responder à questão levantada que afirmava que as pontas dos cigarros estavam poluindo a mata diz respeito à própria existência do hotel. Perguntei à pessoa que acusava os fumantes de poluidores onde estava a mata que existia no ponto onde hoje é erguida a construção do hotel. Ela me disse que havia sido derrubada para se construir uma hospedaria que servisse de abrigo para aqueles que quisessem conviver com a natureza.

Ou seja, a natureza foi derrubada para que as pessoas aprendessem a preservar a natureza... Isso não é meio sem sentido? É, mas para eles não, pois queriam construir o hotel e para que isso acontecesse qualquer regra de preservação poderia ser burlada.

Derrubar árvores para construir uma casa que hospede alguém enquanto ele aprende a preservar árvores não é uma coisa sem sentido? Pois é, mas os ecologistas acham que não. Para eles é normal se agir assim...

Por que eles agem assim? Porque querem construir o hotel. Quando este desejo existe, a vida cria uma série de novos padrões que justifiquem a ação, mesmo que fira aquilo que ela diz ser justo. E depois ela reclama de quem joga algo que pertence a natureza nela.

É isso que vocês precisam aprender para contra argumentar com a vida para poder se libertar da síndrome de super herói: justiça não existe e por isso nunca existe ninguém injustiçado. O critério de justo depende do que cada um acha que é justo e mesmo isso pode mudar de acordo com a intencionalidade da vida a cada momento.

Por isso, quando você aceita a injustiça que a vida cria para alguém que está dentro dela mesma, a vida lhe faz achar-se um super herói, um paladino da justiça que precisa reparar a injustiça que aconteceu. Só que neste momento você não está sendo nenhum herói, mas apenas cedendo à busca da fama, do elogio e do prazer.

Síndromes da vida

Comoção

Participante: sim porque perante a sociedade se você não sofre com estas injustiças é difamado.

Lembro-me que quando os aviões derrubaram as torres gêmeas nos Estados Unidos, no trabalho de uma pessoa de nosso grupo todos estavam chorando e ela não. Por causa disso as pessoas a chamaram de fria.

Sim, o mundo, que está dentro de você mesmo, lhe cobra que viva a mesma emoção que a vida cria para todos os personagens presentes num momento. Ela cria esta comoção generalizada para lhe manter presa a ela mesma.

Não sei se vocês se lembram de um acontecimento com um trem na Espanha onde um grupo terrorista colocou uma bomba que explodiu matando muita gente. Recordo que na conversa seguinte que tive com nosso grupo comentei que muitos seres humanos que praticavam a saída do corpo físico (viagem astral) se prontificaram em ir espiritualmente ao local do acidente para ajudar. No entanto, quando chegaram lá, ao invés de ajudar aos seres que estavam desencarnando, estes humanos, guiados pelo mundo mental de suas vidas, sentaram nos trilhos e começaram a chorar.

Repare bem: estou falando de pessoas que se dizem evoluída no tocante à espiritualidade. Mesmo elas, ao invés de amar a todos, sofreram com a dor de alguns e acusaram outros como geradores de uma injustiça.

Será que estes seres ajudaram alguém? Achando que não, porque imaginam que não conseguiram? Porque estavam presos à síndrome do super herói. Estavam presos à idéia de que existem coitadinhos e injustiçados que precisam de um paladino para justiça para impor a ordem.

Lembro, ainda, quando houve o tsunami nas Filipinas. Na conversa onde abordamos este acontecimento também disse: não morreu ninguém ali, porque, então, vocês estão sofrendo tanto?

No chão daquelas praias existia apenas carne, ou seja, aquele local estava igual a um açougue. Será que vocês choram quando entram num açougue? Claro que não. Por que, então, choraram quando vêem corpos humanos espalhados no chão?

As pessoas só sofreram neste e em outros acontecimentos onde houve um genocídio porque imaginam que ali existiu uma injustiça. Ou seja, guiados pela síndrome do super herói, viam ao invés de carne, seres que eram pobres coitados.

Guiados pelas suas vidas, que se utilizava desta síndrome, imaginavam que aquilo não era para acontecer. Mas, quem disse que não era para acontecer? Tanto era que aconteceu...

As pessoas se lamentavam dizendo que os que morreram naquelas praias ainda tinham muita vida para viver. Quem disse? Tendo, quem tirou a vida que eles ainda tinham? A onda? Se a vida é um dom de Deus será que a onda mais poderosa que o Pai? Deve ser, pois para estas pessoas ela é capaz de desfazer o que Deus deu.

Diante destes exemplo, dá para começar a compreender que não se pode julgar os acontecimentos do mundo?

Participante: o que o senhor está falando diz respeito ao sábio falando, não?

Sim, tudo o que foi compreendido pela vida dos seres humanos envolvidos nos episódios que citei é o sábio falando, pois estas compreensões são tratadas como verdade e as ter confere ao ser humano a posição de sábio. Como eu já disse outras vezes hoje, todas as síndromes estão interligadas sempre...

É por isso que lhes disse: não acredite em nada que a vida criar. Tudo que a vida cria como consciência está formatada a partir das síndromes, da forma repetitiva de pensar.

Participante: mas, é automático. Vou dar um exemplo bobo. Vou atravessar uma rua e vejo um carro passando no sinal vermelho, ultrapassando a faixa que estava com o sinal verde para os pedestres. Todo mundo que está ali olha e acusa aquele motorista.

Isto já está ligado à outra síndrome: a síndrome do juiz...

Síndromes da vida

Síndrome de juiz

Não importa o que a mente crie, o que ela está fazendo é sempre julgar alguma coisa. Para entendermos melhor esta questão, pergunto: o que é julgar?

Participante: dizer que as pessoas estão certas ou erradas.

Não, isso é apenar.

Participante: dar um valor a alguma coisa.

Não. Para existir um julgamento não é necessário se alcançar valor algum. Na verdade quando se chega a um valor, este já é uma pena e não um julgamento.

Julgar é atribuir um juízo a alguma coisa. É ter alguma conclusão com respeito a alguma coisa. Para entendermos melhor o que estou afirmando, vamos nos reportar a um julgamento humano.

Como se processa um julgamento humano? Primeiro alguém apresenta uma acusação, ou seja, expõe a idéia de que alguém fez alguma coisa. Em seguida, outra pessoa apresenta uma defesa, ou seja, tenta provar que o acusado não fez o que lhe é imputado. Depois que as duas opiniões são apresentadas o juiz analisa o que cada um disse e chega uma decisão sobre o que aconteceu, ou seja, forma um juízo. Na formação deste juízo, que é o julgamento em si, ele determina o que aconteceu.

É só depois disso que se chega à pena. Mas, para se chegar a ela é preciso que se forme um juízo sobre alguma coisa.

Síndromes da vida

O juízo e a pena

Participante: por exemplo. Formar um juízo é ter a ciência de que o motorista avançou o sinal vermelho ao atravessar a esquina no momento que deveria ser para os pedestres atravessarem. Apenas é dizer que isso é errado. É isso?

Não. Isso porque quando você fala em avançar o sinal vermelho já está apenando.

Participante: apenas é achar que ele avançou ou achar errado fazer isso?

Achar que ele avançou...

Para poder explicar melhor, pergunto: qual a diferença entre um carro passar numa esquina onde há uma luz vermelha acesa ou avançar um sinal?

Participante: nenhuma...

Tem sim. Tem muita diferença.

Ouça de novo o que falei para ver se você consegue entender o que estou dizendo. Qual a diferença entre um carro passar numa esquina que está com uma luz vermelha e dizer que este mesmo carro avançou um sinal?

Participante: é a maneira como você enxerga o acontecimento...

O que é avançar um sinal?

Participante: é passar num sinal vermelho...

Não.

Participante: cometer uma infração?

Não. É andar quando não deveria ter andado, ou seja, é ter feito algo errado. Isso é formação de juízo ou pena?

Para que você forme um juízo sobre o que aconteceu não pode haver idéias sobre certo ou errado. No exemplo que você usou, a formação do juízo deve se consistir apenas em saber se quando ele atravessou a esquina o sinal estava vermelho ou não. Mais nada...

Quando você acrescenta ao juízo a idéia de que aquele condutor avançou um sinal vermelho está, inconscientemente, afirmando que ele andou quando não deveria ter andado. Ou seja, está juntando uma pena, pois está acrescentando uma declaração de que aquele proceder era certo ou errado ao que aconteceu.

Quando se diz que o motorista passou numa esquina no momento em que o sinal estava vermelho, se faz apenas um juízo e não se apena. Agora, quando você usa o termo avançar na descrição do que aconteceu, já está gerando uma pena e esta não é real, pois este critério pertence só à você.

O que você pode fazer para se libertar da síndrome de juiz, daquele que apena, é, quando a vida lhe disser que o motorista avançou o sinal, contra argumentar com ela: ‘eu sei que ele passou quando a luz estava vermelha, mas se isso quer dizer avançar, ou seja, alguma coisa errada, eu não sei’.

A diferença entre formar um juízo e dar uma penalidade se caracteriza por se ir além do próprio fato na descrição do que aconteceu. A idéia de avançar o sinal está além do próprio fato. Está ligada à idéia dele ter passado e não dever ter feito isso.

Compreenderam a diferença entre as duas coisas?

É por conta da existência desta síndrome que sempre disse que vocês não devem viver, mas apenas constatar os acontecimentos da vida. Constatar a vida é constatar o que está acontecendo. É saber, por exemplo, que você está sentada. Já apenar, é saber que você está mal sentada, que a sua oposição pode lhe dar dor na coluna, etc.

Síndromes da vida

Libertando-se da síndrome de juiz

Para vencer a síndrome de juiz, portanto, é preciso retirar do pensamento aquilo que está vinculado a uma pena. Se fizer isso, você pode responder às proposições da vida com a opção nenhuma das questões anteriores. Se não fizer, sempre responderá de acordo com o que a vida afirma que está acontecendo e com isso sofrerá.

Prendendo-se à idéia que a vida cria, você achará que aquele motorista horrível, pois ele avançou o sinal. Verá naquela ação uma injustiça para com quem estava atravessando a rua. Com isso, a síndrome do super herói agirá.

Mesmo que o fato não tenha causado vítimas, a sua vida vai explorar a idéia de que poderia ter havido uma injustiça, pois alguém poderia ter sido afetado pelo erro cometido por aquele motorista. Por estar ligado à síndrome do todo poderoso você se achará obrigado a fazer alguma coisa com relação àquele fato, nem que seja apenas emocionalmente. Com tudo isso agindo, você fatalmente não escapará do sofrimento...

Esta é a única forma de você se livrar da síndrome de juiz: é retirar do que está sendo percebido tudo que qualifica de alguma forma o que está sendo percebido.

Participante: retirar o certo e errado

Não estou falando em explicitamente dizer se está certo ou errado. Há coisas que a vida cria no mundo mental onde ela não usa de forma explícita a qualificação de certo ou errado. Isso muitas vezes está subtendido atrás de termos comuns...

O exemplo que estamos usando é um destes momentos. Por trás da informação que diz que o motorista avançou o sinal existe uma informação de que algo errado foi feito.

Ninguém se restringe a dizer que o motorista apenas passou quando o sinal estava vermelho, mas que ele avançou o sinal. Quando fala assim, mesmo que isso não esteja aparente, foi criada a caracterização de que aconteceu um erro.

Síndromes da vida

Síndrome do príncipe

Vamos, então, encerrar nossa conversa de hoje?

Participante: o senhor tinha dito que ia falar da síndrome do príncipe. Pode ser agora?

Sim.

A Síndrome do príncipe é muito parecida com a da princesa. Ela se apresenta através da idéia de que o futuro será de riqueza, de muitas posses e felicidade. Só que na princesa a vida fala com respeito à vida sentimental; na do príncipe ela aborda o sucesso material.

Todo mundo acha que vai conseguir o auge na sua profissão, no seu casamento, na sua conquista de bens materiais. Todos acham que poderão alcançar este sucesso, só que existe um detalhe: se todo mundo fosse rico, se todos fossem sábios, o ‘expert’ em uma determinada coisa, quem iria trabalhar para você?

Não, nem todos podem conseguir chegar ao topo. Alguns precisam não alcançar esta posição para que sirvam aos que conseguem.

Uma pessoa uma vez me disse que viu um filme que contava que no futuro todas as pessoas seriam produzidas e não geradas naturalmente. Neste processo de produção das pessoas, cada ser gerado seria moldado de forma que se suprisse o que a humanidade necessitasse em aptidões.

Por exemplo: num dia de produção, por se imaginar que futuramente a humanidade ia precisar de médicos, alguns seres que seriam produzidos teriam aptidão para a medicina. No mesmo dia ou em outros, se a previsão era da falta de lixeiros, as pessoas produzidas só teriam aptidão para exercer esta função.

Em resposta a esta pessoa, estranhei a surpresa desta pessoa com esta idéia, pois hoje em dia isso já é assim. Vocês podem não saber, mas, na verdade, cada ser que nasce tem uma vida para viver e como ela já está determinada, todos nascem com uma aptidão.

Por isso, de nada adianta a síndrome do todo poderoso, pois você não vai mudar o que a vida está programada para ser. Algumas vidas serão vividas como príncipes, mas outras só serão vivenciadas na função de vassalos.

Quando se defrontam com este fato, que está ensinado pelo Espírito da Verdade, algumas pessoas me perguntam se não podem mudar, se não podem ser mais do que são hoje. Elas alegam que se estudarem e trabalharem com afinco poderão deixar de ser vassalos. Para estas pessoas eu respondo: tentem.

Todos têm o direito de tentar mudar a sua posição na sociedade. O que não podem é sofrer por serem o que são ou se não conseguirem sair da condição que estão hoje. O meu conselho é que se vocês são impelidos pela síndrome do príncipe, tentem mudar a vida. Se isso acontecer, bom, mas se não acontecer, permaneçam em paz.

Esta é a síndrome do príncipe e a vitória sobre ela.

Participante: o senhor está falando de sucesso material, não é?

Sim, só falo de sucesso material porque na vida humana não existe nada espiritual.

Apesar da vida humana ser uma atividade espiritual, no mundo mental dela não existe nada que seja essencialmente espiritual. O que existe são apenas interpretações humanas dos elementos do universo, o que não condiz com a realidade espiritual.

Esta é a síndrome do príncipe e para libertar-se dela é preciso se aprender a viver o que se tem para viver naquele momento.

Síndromes da vida

Ler nas entrelinhas

Participante: precisamos fazer um manual de tudo o que o senhor disse...

Não façam isso. Vão lendo o que estou falando aos poucos. Vão devagar. Não tenham pressa em querer saber todas as síndromes da vida, pois isso é quase impossível.

Na verdade o que fizemos aqui foi a mesma coisa que os psicólogo fazem durante o seu curso de formação. Estudar psicologia é estudar a forma repetitiva de comportamento dos seres humanos, ou seja, as síndromes. O que fizemos hoje nestas cinco horas de conversa foi a mesma coisa. Vimos como a vida usa repetitivamente alguns argumentos para gerar a consciência do que está ocorrendo.

Portanto, agora, leiam com calma tudo o que foi conversado e aos poucos vão buscando libertar-se daquilo que as suas vidas crie para vocês. Mas, tem um detalhe, que é o último que vamos falar, ao qual vocês precisam estar atento.

No mundo de vocês há um ditado que afirma que se deve ler nas entrelinhas para poder descobrir o que embasa o que está escrito. Façam isso com o que a vida apresentar de consciência sobre o momento a vocês.

Ler o que está escrito todos sabem, ouvir o que é dito em voz alta pela vida é fácil, mas entre uma linha e outra, por trás de cada idéia que é gerada pela vida, há sempre algo importante para aquele que quer ser feliz. Isso porque é este algo que impulsiona e fortalece a idéia que está aparente nos raciocínios. Por isso, ler estas entrelinhas é fundamental para quem quer libertar-se da ação das síndromes da vida.

Se você nas suas conversas com a vida está querendo vencê-la, tem que ir além do que a vida declara. Precisa buscar o que está por trás das consciências que ela gera. Por não se ater a estas informações é que vocês não conseguem superar as proposições de sofrimento feitas pela vida.

É preciso ir mais fundo no que o mundo metal declara, pois tudo que é dito através do pensamento é a vida que está falando. Como ela não tem compromisso com a verdade ou com a realidade, muitas vezes se utiliza de informações para mantê-lo preso ao sofrimento. Por trás da idéia que se torna consciente, a vida se utiliza de justificativas para que você continue preso em alguma das suas síndromes.

Por exemplo. Quando você ouve uma pessoa dizer que trabalha a trinta anos num lugar e ao haver uma vaga para promoção foi escolhida uma pessoa que não tem nem um ano de casa, isso choca. A primeira idéia ao ouvir isso é dizer: coitado dele, que injustiça.

Acontece que esta idéia de que trabalhar trinta anos em um lugar está ligada à síndrome do todo poderoso. Através dela, a vida desta pessoa está dizendo que só ele sabe como fazer o serviço. Mas, será que só ele sabe mesmo? A vida provou que não quando deu a promoção para outro.

É isso eu vocês precisam estar atentos e não deixar se levar pelo que a vida fala. Para isso é preciso conhecer o que criou em você aquele pensamento.

A cada momento a vida lhe declara centenas de coisas. Você não deve acreditar em nada do que ela fala, pois tudo o que ela diz só tem um objetivo: manter-lhe preso às quatro âncoras. Para isso ela usa as síndromes que conversamos hoje.

Síndromes da vida

Experiência

Participante: e ela atuará onde nós somos mais frágeis, não é mesmo?

Onde você é mais frágil?

Participante: tenho mais tendência a estar apegado à síndrome do príncipe, da princesa, do todo poderoso, etc.

Não.

Onde você é mais frágil? Onde você já aceitou o que a vida disse antes. No assunto onde deixou a vida transformar em verdade uma idéia que ela gerou. Vou dar um exemplo para ficar mais claro o que estou falando.

Durante nossa conversa aquela pessoa me disse que precisava educar a sua filha porque tinha experiência de vida. Acontece que toda experiência que você imagina ter é, na verdade, um momento onde caiu, onde compactou com o que a vida declarou. Por conta da sua aceitação do que criou ela transformou em verdade o que foi declarado naquele momento. É o acúmulo de verdades formadas ao longo de uma existência que a vida chama de experiência.

A experiência que você imagina ter nada mais é do que a soma de momentos onde você aceitou como verdade o que a vida criou. Ou seja, as experiências das quais vocês tanto se orgulham não serve em nada no vivenciar a vida sem sofrimento. Pelo contrário: atrapalha. Por acreditarem que são experientes, que sabem, acabam vivendo as síndromes e com isso não conseguem fazer a opção nenhuma das respostas anteriores.

Por isso afirmo: o conjunto de informações do qual você se orgulha e chama de experiência é o que precisa vencer.

É a experiência que lhe faz considerar-se sábio, todo poderoso, uma cartomante, etc. É justificada nela que a pessoa sofre quando alguém que está a menos tempo no serviço, mas é promovido na sua frente.

Participante: por conta da experiência achamos que devemos ensinar aos outros o que fazer. Achamos que se nós já quebramos a cara com determinado proceder, devemos ensiná-los a não irem pelo mesmo caminho...

Exatamente. Esta é a síndrome do sábio e do todo poderoso reunida.

Síndromes da vida

Duvide de tudo

É isso que precisam entender: é preciso duvidar de tudo o que a mente cria. Não aceitem nada que venha da vida.

No Bhagavata Puranas há uma frase muito interessante que diz respeito ao que estamos falando. Nela Krishna afirma que o verdadeiro sábio não tem outro lugar para guardar a sua comida senão a sua própria barriga.

Passando esta informação para o tema que estamos conversando, afirmo que o verdadeiro sábio não guarda nada do que viveu na sua memória. Para fazerem isso, lhes aconselho a não acreditar em nada que imaginam já ter vivido. Não guardem lembranças na mente.

Quando a sua mente, por exemplo, declarar que você pode agir de determinada forma com confiança porque sempre agiu daquela forma e nunca deu errado, desconfie desta afirmação. Pode ser que agora dê, mas pode ser que não dê...

Se você aceitar o que a vida está falando, terá caído na síndrome da previsão de futuro. Com isso saberá o que irá acontecer. Se não coincidir da ação de agora ter o mesmo fim de outras do mesmo tipo que já realizou, o sofrimento será inevitável.

Além do mais, aceitando o que a vida fala sobre o fim de determinado acontecimento, você estará caindo na síndrome do filho de Deus, pois imaginará que tudo acontecerá para lhe proteger.

Participante: cairemos também na idéia de que podemos realizar aquilo.

Sim, na síndrome do todo poderoso.

Por isso não aceite nada que vier ao seu mundo mental. Desconfie de todas as idéias que lhe são passadas pela vida. Não estou dizendo para desconfiar no sentido de negar o que está sendo dito, mas sim buscando a concepção que pode ser ou não ser, que você não tem certeza se é.

Aquele que sabe tudo é quem não sabe nada. Isso porque tudo que souber será usado contra você mesmo para criar o desequilíbrio e propor o sofrimento. Acreditando no que é dito, com certeza cairá.

Apenas mais um detalhe: estou falando em nada saber e não saber nada. Quem nada sabe ainda sabe de alguma coisa: do nada. Estou falando em não saber. Aquele que sabe tudo é aquele que não sabe.

Portanto, na hora que estiver conversando com a sua mente vá por este caminho: não acredite em nada que ela está dizendo. Ouça tudo o que lhe vier ao consciente, mas não acredite em nada...