Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Estudo do capítulo II do Bhagavad Gita

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 11

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Senhor da yoga - versículo 11

11. Estiveste lamentando-te por aqueles que não o merecem. Todavia, pareces falar como um sábio. Só que os verdadeiros Sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.

O Bhagavad Gita conta a conversa entre Sri Krishna e Arjuna no campo de batalha, onde este último iria confrontar-se com seus parentes pela disputa do trono que havia sido roubado dele por sua parentela.

Arjuna inicia o diálogo com o mestre (capítulo 1 e parte do 2) expondo a Krishna o porque não queria lutar contra seus parentes. Alegava que não seria justo derramar sangue de por coisas materiais, que a vitória não traria nada de bom a não ser posses materiais.

Ou seja, Arjuna se lamentava dizendo seria infeliz se tivesse de lutar como Krishna o incitava a fazer. Em resposta o mestre afirma: você esteve lamentando-se e quando o fez parecia um sábio, mas o verdadeiro sábio não lamenta nem pelo vivo nem pelos mortos.

Para entendermos este ensinamento que o Bendito Senhor passa ao discípulo pergunto: o que é lamento, o que é lamentar-se pelos outros?

Participante: Primeiro é não concordar. E em não concordando dizer que aquilo não deveria acontecer.

Perfeito. Lamentar-se é uma queixa. Mas, além da queixa, o lamento traz consigo a sensação de sofrimento.

O lamento, portanto, é uma queixa que se faz de uma situação onde se tem a sensação de sofrimento. É uma declaração da constatação de uma injustiça que causou um ferimento. Lamentar-se é declarar que alguém é vítima porque foi ferido por uma injustiça.

Krishna afirma que quem age assim parece um sábio. Por que quem lamenta parece um Sábio?

Participante: Porque quem lamenta denota um conhecimento do que é justo.

Este é o primeiro detalhe no lamento. Aquele que se lamenta é considerado por si e pelos outros como sábio porque sabe o que aconteceu. Na verdade quem se lamenta apenas acha que sabe, mas iludido pelo ego tem a plena convicção de que sabe.

Se alguém afirma alguma coisa sobre outra pessoa, objeto ou acontecimento, o ser humanizado agirá com sua suposta sabedoria afirmando que tem certeza de que o ego lhe diz é verdadeiro, é real. É neste conhecimento, que é ilusório, mas que o ser humanizado imagina que é real, que se fundamenta o lamento.

Portanto, qualquer lamento nasce de uma sabedoria. O mundo inteiro lamentou o avião que bateu nas torres e as destruíram. Por quê? Porque o mundo inteiro sabe que não se pode fazer aquilo, que é errado matar.

Este é o primeiro aspecto que leva ao lamento humano: a sabedoria cultural. Todo lamento surge de uma verdade humana, de uma cultura humana. Você não se lamenta pelo que não sabe. Você só se lamenta quando raciocina sobre um acontecimento e chega a uma conclusão e nela constata um sofrimento originado numa injustiça. Por isso parece sábio quem se lamenta, mas o mestre diz que o verdadeiro sábio não se lamenta. Vamos chegar neste aspecto, mas antes precisamos nos aprofundar mais na sabedoria que leva ao lamento.

Há outra sabedoria humana envolvida no lamento que precisamos compreender antes de entender o ensinamento do Bendito Senhor. Para compreendê-la, pergunto: se você passar frente a uma pessoa passando fome e não se lamentar o que dirá a sociedade sobre você?

Participante: Que eu sou frio, que não tenho sentimentos.

Ou seja, existe um padrão emocional que lhe é cobrado pela humanidade frente a determinados acontecimentos.

Portanto, além da sabedoria cultural (ter conhecimento das coisas) o ser humanizado também possui um saber emocional. Sábio emocionalmente é aquele que sofre quando a humanidade acha que deveria sofrer e que se alegra quando isto for cobrado pelos padrões humanos.

O lamento, então, além de ser fruto de uma sabedoria cultural também nasce de um saber sentimental. Ou seja, dos padrões sentimentais do planeta.

Compreenda que existem situações onde você, mesmo não querendo, é obrigado a sofrer para poder ser considerado como um ser humano. Aquele que sofre, que vê sofrimento nos acontecimentos onde a humanidade exige que assim o seja, é, então, considerado um sábio, porque ele sabe a cultura do planeta.

Agora, eu faço uma pergunta. Se você vê uma criança com fome na rua o que pode fazer para ajudá-la?

Participante: Abrigá-la, alimentá-la, dar carinho e proteção.

Tudo isso realmente ajuda a resolver o problema daquela criança. Mas o seu sofrimento, em que pode ajudar aquela criança? Nada. Pelo contrário, piora.

Digo isso porque quando alguém está sofrendo e outro joga mais sofrimento sobre ele, a dor aumenta. E você sabe disso. Sabe que quando está sofrendo e alguém se lamenta ao seu lado a sua dor piora, mas não consegue deixar de agir assim com os outros.

Então veja. Esta sabedoria sentimental (sofrer quando os padrões exigem) é simplesmente um conceito do planeta, mas que não traz nenhuma melhora para o próximo.

Você tem que sofrer ao ver uma pessoa mutilada? Por quê? Tem que cuidar dela, ajudá-la, encaminhá-la a um médico, mas não precisa sofrer.

Lembra-se da parábola do Bom Samaritano? O sacerdote e o levita se apiedaram do homem que tinha sido agredido, mas nada fizeram. O samaritano ao contrário, pôs mãos à obra e socorreu quem estava ferido e por isso foi considerado como exemplo por Cristo.

A piedade ou sofrimento com a dor dos outros não ajuda em nada a pessoa que está passando por uma vicissitude negativa em sua existência. Pelo contrário, atrapalha.

Quer um exemplo? Quando você está por baixo e chega uma pessoa e diz “coitadinho, como é azarado, injustiçado, perseguido...”, você não piora? Agora, quando alguém lhe levanta a moral incitando-o a sair daquela situação chamando-o para passear, se divertir, esquecer a mágoa, não melhora?

É por isso que Krishna diz que o verdadeiro sábio não se lamenta por nada, nem pelo vivo nem pelo morto, porque ele não sofre ao ver uma cena onde a sabedoria (cultural e emocional) do planeta diz que ele tem que sofrer. Pelo contrário ele age. Como o bom samaritano da parábola ensinada por Cristo age buscando auxiliar, resolver o problema e não perde tempo sofrendo.

Mas, como deixar de sofrer onde se imagina que se tem que sofrer? Como agir em auxílio ao próximo sem sofrimento? Entendendo os desígnios de Deus.

O que é uma criança passando fome? Para vocês é um acontecimento, um fato.

Para o ser humanizado todos os fatos da vida são gerados no momento presente, ou seja, são vivenciados sem ligações a coisas do passado. Um acontecimento, um fato, para vocês algo que surge do nada ou do azar, da sorte, da casualidade, que são nada, pois não existem.

No entanto, tenha a certeza: não existe neste planeta acontecimento que não se vincule a fatos anteriores na existência do espírito. Nada que se sucede na vida do ser encarnado é um acontecimento sem vínculo anterior. Isto porque a vida é uma sucessão de carmas, ou reações a ações anteriores e não formada por acontecimentos ou fatos sem precedentes que levem a eles.

O que você esta passando hoje foi originado no que você mesmo causou antes, ou seja, é apenas a reação a uma ação anterior, o efeito perfeito gerado por uma causa. Buda ensina assim: quer saber quem foi você ontem? Veja quem é hoje. Quer saber quem será você amanhã? Veja o que faz hoje.

Portanto, aquela criança não está ali por uma ação externa. Ela não está ali por negligência do governo, por falta de caridade da sociedade, mas por um carma do espírito. Aquilo é o que o ser universal precisa e merece passar.

Esta cultura, entretanto, não lhe leva a não ajudá-la, mas lhe leva a compreender a situação. Quando esta nova compreensão estiver presente na humanidade, ao invés de sofrer porque a criança está passando a fome, todos louvarão a Deus por estar dando ao espírito a oportunidade da elevação espiritual.

Mas, não será por isso que a humanidade deixará de socorrer aquela criança. Cada um fará a sua parte ajudando-a, mas fará amorosamente, com felicidade por participar do amor de Deus e não participando de um acontecimento errado, de um ferimento, de uma mágoa, onde teria que sofrer.

 A humanidade ajudará o espírito encarnado na criança, mas terá a consciência que aquela fome foi escolhida pelo próprio ser universal antes do nascimento como raiz do seu livro da vida. Ao abandonar o padrão humano e vivenciar o espiritual, a humanidade terá consciência do que está ensinado em O Livro dos Espíritos: o espírito escolhe antes do nascimento a natureza da sua prova.

Por isso viverá o acontecimento com uma nova cultura, ou seja, o ser que anima aquela criança escolheu antes de nascer vencer algumas coisas e para que a vitória ocorresse, Deus escolheu a fome como instrumento da provação.

Atingido este padrão cultural, o lamento extingue-se, ou seja, o padrão emocional não será mais o do sofrimento, mas o da vivência da glória de Deus, da emanação do Senhor dando a quem precisa o que necessita. É isto que ensina Krishna quando afirma que o verdadeiro sábio não se lamenta nem pelos vivos nem pelos mortos.

Agora, volto a repetir, isso não pode lhe levar à inação, ou seja, passar por uma criança e apenas dizer que o espírito precisa e merece, pois se você está passando por ali, você também precisa e merece ver aquilo e é o seu carma ajudar aquela criança. Esta criança é um espírito que pode já ter lhe ajudado muitas vezes na eternidade e agora, pela graça divina, chegou a oportunidade de retribuir. Portanto, o acontecimento também é uma prova para você.

A única coisa que a consciência espiritualizada (aquela que compreende a vida carnal como instrumento da realização espiritual) lhe tira é a obrigação de sofrer, mais nada. O ser espiritualizado ajuda o próximo, leva a criança para casa, dá banho, comida, educação ou até a cria como sua filha, mas em momento algum sofre ou lamenta pela situação que o espírito encarnado está vivendo.

Ele faz o que quiser ou puder fazer, mas não sofre, porque sabe que quando se lamenta com alguma coisa está acusando Deus de ter cometido um ferimento através de uma injustiça.

É por isso que Krishna diz que o verdadeiro sábio não se lamenta por nada, mas se regozija com o Pai em todas as situações. “Louvado seja Deus porque hoje eu não tenho comida para comer”... “louvado seja Deus que o ladrão entrou na minha casa e me roubou”... “louvado seja Deus que o que eu tenho para viver hoje é isso”.

Nunca afirmei que o ser espiritualizado deve parar de trabalhar materialmente, de buscar comida ou até desistir de querer as coisas materiais, pois isso seria uma ilusão. O que sempre afirmei é que quando o ser se espiritualizar passará a compreender toda a vida a partir de Deus e, com isso, deixará de se lamentar pelas coisas da vida.

Aprenda que o seu lamento é a declaração expressa de que você não concorda com a situação que Deus fez com todo amor e carinho para que você pudesse evoluir.

Participante: Na teoria isso é muito bonito, mas na prática é muito difícil. Chega na hora nos deixamos levar pelo sofrimento e pelo lamento...

Por que você se deixa levar pelo lamento?

Participante: Não sei dizer. Estamos ouvindo estes ensinamentos há algum tempo, mas chega na hora...

Deixe-me criar um exemplo que lhe explique o que está passando. Crie um passarinho dez anos aprisionado numa gaiola e um belo dia abra a porta da gaiola e veja se ele voará. Com certeza não, pois os passarinhos que vivem a vida inteira no cativeiro nem sabem que estão presos, por isso não buscam a saída, mesma que ela esteja aberta.

É por isso que chega na hora não consegue por em prática: você nem sabe que está presa. Você nem sabe que é uma prisioneira.

Você é uma prisioneira da humanidade do planeta Terra, ou seja, prisioneira da sabedoria cultural e sentimental do planeta. Imagina que a cultura que vive é sua e que as emoções que vivencia nascem no seu interior, mas isso é ilusão.

Se a verdade do planeta lhe diz que não pode gostar de determinada coisa passa a não gostar imaginando que isto é certo para você, mas não entende que, na verdade, é uma escravidão a padrões pré-fabricados, que já existiam muito antes de você nascer e aos quais se subordinou. Eles não foram gerados por você, criados como fruto do seu entendimento, mas adquiridos por osmose, por se achar humano.

Participante: Acho que já estamos tendo consciência de que somos prisioneiros, mas é que o padrão está tão arraigado dentro de nós, que chega na hora não conseguimos estancar o fluxo da emoção. Hoje acho que já consigo sofrer menos, mas ainda não consigo parar de me lamentar.

Por isto este ensinamento. Se você hoje já consegue constatar que não deveria sofrer, o próximo passo é, então, parar de lamentar-se.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 12

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Senhor da yoga - versículo 12
Senhor da yoga - versículo 12

12. Sabe, Arjuna, que nunca houve tempo em que eu (SER) deixasse de existir, nem tu, nem esses reis, e jamais deixaremos de existir no futuro.

O espírito é eterno. Este é o ensinamento que todo aquele que acredita no ser universal possui. O espírito é gerado por Deus e viverá por toda eternidade.

Vocês sabiam disso? Então, eu pergunto: porque vivem a encarnação com pressa em realizar alguma coisa? Se vocês acreditam no ser universal como eterno deveriam saber que possuem toda eternidade para alcançarem aquilo que desejam e, por isso, não deveriam ter pressa em realizar nada...

Participante: Concordo com o senhor que vivemos com pressa em realizar, mas algumas realizações que buscamos podem ser consideradas boas, como por exemplo a busca da elevação espiritual, não?

O que importa, como já vimos, é a intenção com que se vive e não o ato em si. A sua pressa em buscar a elevação espiritual não se fundamenta no desejo de interligar-se amorosamente com Deus, mas no medo da morte, medo do julgamento, medo do que sucederá se não realizar a elevação espiritual. Por isso, mesmo esta pressa não pode ser considerada válida.

Aliás, o espírito humanizado tem pressa em conquistar coisas durante a vida material, mesmo que ela não esteja ligada à sua Realidade espiritual, justamente por isso: por ter medo da morte. Quer conquistar elementos materiais porque acha que o tempo está passando. Acredita que precisa rapidamente conquistar os bens materiais porque a sua vida tem um limite.

O ser humanizado, mesmo aquele que acredita na existência eterna, quer conquistar rapidamente o bem material porque acredita na morte, ou seja, vive com a certeza de que sua vida chegará ao fim. Mas, a existência do espírito não acabará nunca, pois não há fim para a vida do ser universal.

Participante: Acho que neste caso entra aquilo que já estudamos: a busca do prazer. Temos pressa em realizar coisas para poder aproveitar o máximo possível essa ‘vida’ tendo todo prazer que puder.

Exatamente. A pressa em realizar-se materialmente é para gozar a coisa material, o prazer material, a felicidade material. Esta é a pressa do ser humanizado.

Mas, por que há esta inconsciente pressa?

 Participante: Por causa do medo da morte?

Não, isto é consciente. Todos buscam entrar no gozo de determinados prazeres o mais rapidamente possível porque imaginam que a vida se extinguirá. Não é disto que estou falando, mas, de uma motivação inconsciente que existe no ser universal para que ele tenha pressa em locupletar-se com o bem material. Para saber do que estou falando, volto a perguntar: por que, inconscientemente, o ser humanizado tem pressa de conquistar os desejos oriundos das paixões geradas pelo ego?

Porque sabe que isto é errado, é contrário à elevação espiritual. O ser universal sabe que desfrutar do bem material (a satisfação de ver seus desejos atendidos) não o leva a aproximar-se Deus, mas não quer abrir mão deste prazer. Por isso tem pressa em realizar-se como humano: ‘vamos gozar logo porque senão amanhã chega a morte (o fim da encarnação) e eu tenho que me contentar em ser feliz incondicionalmente’.

Sabe por que você está renascendo, ou seja, está preso à roda de encarnações? Para poder gozar o prazer, que é caracterizado pela satisfação de seus desejos, que são frutos das paixões que o ego cria e às quais você está aprisionado.

 O espírito, liberto da ação do ego, pede com consciência a elevação espiritual, mas, mesmo na erraticidade, no seu inconsciente, existe ainda o apego ao mundo material, o desejo do prazer. Mesmo liberto da ação do ego, o ser universal de posse da sua consciência espiritual está apegado à satisfação de seus desejos e, por isso, deseja renascer sempre. Enquanto o ser universal não eliminar este desejo, ele estará agindo no inconsciente. Isto ocorre quando o ser está encarnado (ligado a um ego) ou não, porque o espírito é sempre o mesmo. Por isso todos os mestres ensinaram que o caminho para se atingir a Deus passa pelo desapego às coisas materiais e a renuncia ao prazer.

Sabe por que vocês não aproveitam a encarnação para a realização da evolução espiritual? Porque o que querem mesmo nesta vida é gozar o prazer. Esta é a realidade da grande maioria dos seres encarnados, mesmo daqueles que dizem querer se elevar, mas que ainda aplicam valores (paixões) às coisas do mundo material. E, para conseguir a realização deste desejo que está no inconsciente de cada um, precisam estar encarnados.

Vocês se lembram dos momentos de sofrimento de suas vidas? Claro que não. Sempre se lembram dos momentos ‘bons’ da vida, ou seja, do prazer que amealharam. Mas, sabem que há muito mais a se aproveitar, no sentido da elevação espiritual, no momento da contrariedade do que o da satisfação? Sim, sabem, pois todos os mestres ensinaram que os momentos de contrariedade são como o fogo que, se bem trabalhado, forja o aço.

Repare que não estou falando em masoquismo, em querer sofrer, mas em aprender a lidar com as situações de contrariedade como uma oportunidade de libertar-se do desejo do prazer. Este, segundo os mestres, é o caminho para chegar a Deus e, por isso, o momento de contrariedade é tão importante para aquele que busca aproveitar a encarnação.

Mesmo assim, mesmo sujeitando-se a perder tão importante instrumento da elevação espiritual, preferem esquecer os momentos ruins das suas existências. A não ser quando o espírito tem prazer no sofrimento. Aí ele quer relembrar para poder sofrer a vontade e, com isso, alcançar o prazer.

A busca constante do prazer torna-se, então, uma obsessão para o espírito e, por isso, surge a pressa em viver suas paixões. Mal os seres encarnados entram na adolescência querem se tornar adultos. A primeira preocupação é em conseguir um emprego; quando isso ocorre quer se casar. Quando consegue esta realização, ou seja, o prazer de ter se casado não mais é considerado como satisfatório e logo cria outro desejo. Começa, então, a sonhar em ter um filho. Realizado este novo sonho surge logo a pressa em conseguir um emprego melhor para garantir o sustento do seu rebento. Neste novo emprego busca ascensão e principalmente estabilidade, pois já começa a sonhar com a aposentadoria para poder parar de trabalhar e começar a curtir os filhos e netos. Tudo vivido fora de tempo, tudo feito apressadamente.

E qual o preço desta pressa? Quanto você paga por esta pressa?

Participante: Não viver o momento presente...

Exato, deixar de viver. Digo isso porque você só tem um segundo para viver. O anterior não mais existe porque já passou e o próximo só se tornará realidade quando este acabar. Mesmo quando está vivendo o presente, você o vive atrelado ao passado ou ao futuro. Vivendo desta forma jamais consegue vivenciar o agora. Ou seja, você passa a encarnação inteira fugindo da vida: vivendo um passado e um futuro que não existem. E tudo isso por quê? Porque está obcecado em conquistar seus desejos, porque tem pressa de sentir o prazer antes que a encarnação acabe.

Você troca o presente, aquilo que existe, que é real, pelo futuro que não existe. Ou seja, deixa de vivenciar o que existe para viver o que não existe: este é o preço que paga por ter pressa em gozar o prazer.

Se agora é o seu momento de sair, passear, divertir-se, não se preocupe com emprego, problema de casa, carreira profissional. Tudo isso deve ser deixado para amanhã, para o momento em que for presente em sua existência. Quando o amanhã chegar viverá estas situações, não agora, mesmo que este amanhã seja apenas daqui à uma hora ou dez minutos. Hoje, agora, a sua vida se resume àquilo que você está participando e nada mais.

Estamos falando em viver um segundo de sua existência por vez, a cada segundo. Este é o ensinamento que surge quando se entende a eternidade do espírito. O espírito não tem pressa em viver. Ele não se preocupa em viver o futuro, mas em bem viver cada segundo. E o que é bem viver cada segundo que Cristo nos ensinou? Guardar bens no céu. Portanto, o espírito não se preocupa em alcançar rapidamente os acontecimentos da vida para poder buscar o prazer, mas curte cada segundo da sua existência amealhando bens celestes, ou seja, a felicidade incondicional, a felicidade sublime.

Você vive bem, no sentido espiritual, cada segundo da sua existência quando, a cada um deles, mantém o seu estado de espírito de felicidade incondicional, permanece em paz e harmonia e existe na graça de Deus. Aquele que consegue compreender e vivenciar isso, ou seja, liberta-se do desejo inconsciente da busca da satisfação através da realização de seus desejos, não tem pressa de que esse momento se encerre, pois tudo o que ele quer está presente neste segundo. Aquele que consegue atingir a consciência espiritual vive cada segundo em toda a sua intensidade. Apesar de ter toda eternidade, vive profundamente cada segundo.

Parece incongruência dizer que o espírito, que tem toda eternidade para existir, vive profundamente todo segundo. Parece até algo sem nexo. Quem tem toda a eternidade para existir não deveria prestar tanta atenção ao momento presente que é tão fugaz, mas, garanto que aquele que possui a consciência espiritual vive cada segundo como se fosse uma vida inteira, tal a profundidade que ele o vivencia.

E, exatamente por viver tão profundamente cada segundo, o tempo é sempre curto, tudo é sempre rápido, para aquele que vive com a consciência espiritual. Agora, para vocês que estão sempre em busca de viver o futuro, falar em eternidade é falar no amanhã que está perto. A demora de apenas alguns dias ou mesmo minutos para a realização daquilo que é desejado, já se constitui numa eternidade.

Isto porque o ser aprisionado à realização de seus desejos tem a ânsia de que o tempo corra, para que ele possa conseguir realizar o máximo possível de suas aspirações e, assim, ter mais prazer.

O ser liberto do vício do prazer não tem ânsia de chegar a lugar nenhum porque ele já é tudo que pode ser e já está onde quer estar: com e em Deus.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 13

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Senhor da yoga - versículo 13
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13. Assim como o ser encarnado tem a sua infância, juventude e velhice, assim também tal ser ressurge como outro corpo. Os sábios nunca se confundem a respeito disso.

O espírito reencarna diversas vezes e, cada vez que isso acontece, ocorre um aprendizado que se traduz em uma etapa da vida espiritual. Este é o ensinamento que os espíritas e os espiritualistas conhecem, mas dele podemos tirar outra lição que nem sempre é entendida.

O Espírito da Verdade ensinou através de Kardec: a natureza não anda em saltos. Levando-se este ensinamento para o tema desse texto (evolução em etapas) posso afirmar que você precisa compreender que terá que trilhar o seu caminho de evolução espiritual passo a passo. Ou seja, de nada adianta você estar aqui hoje e querer estar em outro lugar no momento seguinte. Para chegar lá será preciso percorrer um caminho, realizar e vivenciar diversas coisas.

A compreensão da necessidade da caminhada é de suma importância para os seres espirituais que pretendem buscar a elevação espiritual, pois, como vimos no texto anterior, eles têm pressa, querem tudo para ontem.

Os seres humanizados querem sentir toda a felicidade do mundo de uma vez só, mas não compreendem que ela precisa ser conquistada aos poucos. Não compreendem que para serem felizes na totalidade dos momentos de sua existência precisam ir conquistando tal estado de espírito passo a passo trilhando a sua caminhada, ou seja, vivendo a sua vida momento a momento com felicidade, independente do que esteja acontecendo.

Aquele que depende do acontecimento de amanhã para ser feliz, sempre acabará sofrendo. Isso porque aquilo com que se sonha para amanhã tem hora certa para acontecer e não ocorre quando o ser humanizado quer.

Vou explicar melhor. Cite uma nota de dinheiro que tenha valor para você.

Participante: Cinqüenta reais.

Se você pegar esta nota e colocar na mão de um bebê o que ele irá fazer?

Participante: Colocar na boca, rasgar, estragar...

Ou seja, não dará o valor que aquilo tem. Por isso, você não daria uma nota na mão do bebê, mesmo que ele chorasse e esperneasse para tê-la, não?

Portanto, aprenda: a hora de receber algo ocorre apenas quando quem vai receber souber dar valor ao que está recebendo e não apenas porque ele quer. Esta é uma verdade do Universo que se aplica ao mundo carnal, mas também ao espiritual.

Assim como você, Deus não dá uma nota de cinqüenta reais para um bebê porque ele não saberá valorizar o que está recebendo. Ou seja, o Pai não lhe dará aquilo que você quer enquanto não souber valorizar o que está recebendo. Não porque Deus seja ruim, não goste do seu filho ou porque queira vê-lo sofrer, mas não faz isso porque sabe que aquele espírito irá estragar o que estará recebendo, já que não sabe dar o real valor à Sua dádiva. Assim como o pai material que preserva a nota em seu poder para poder transformá-la em algo útil para o bebê (comprar fraldas, roupas, brinquedos) dando ao filho somente o que ele precisa no momento, Deus também age da mesma forma com os seres humanizados, os espíritos que são seus filhos.

Desta forma, o ser humanizado precisa compreender que na sua existência receberá de Deus tudo que precisa e que pode aproveitar no momento, mas nada será concedido que não tenha utilidade para o futuro desse filho. Ou seja, Ele dará sempre o que for útil para a sua existência (aproveitável no sentido da elevação espiritual) e não se sujeitará aos desejos ou caprichos do filho.

Compreendendo esta máxima universal, o ser humanizado deve, então, aproveitar cada dádiva do Pai e permanecer feliz com o que recebe, ao invés de resmungar ou chorar (ranger de dentes) por aquilo que não recebe. Vivendo desse jeito ele caminhará passo a passo, ou seja, se tornará apto para receber mais coisas.

NOTA: Este é o ensinamento que o Espírito da Verdade traz na resposta à pergunta 115 de O Livro dos Espíritos a respeito da Progressão dos Espíritos.

“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber. A cada um deu determinada missão com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinalada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”.

Tem muito ser humanizado que, por exemplo, vive numa situação angustiosa e culpa o desemprego pelo seu sofrimento. Acredita que, se conseguir empregar-se todo o seu sofrimento acabará. Por isso ora a Deus pedindo a Sua intercessão para que lhe consiga uma ocupação. Pois bem, ele consegue um emprego. O que acontece depois? Em dois ou três meses já está brigando com o patrão pedindo aumento salarial. Ou seja, para poder ganhar mais coloca em risco o próprio emprego recém conseguido.

Realmente este ser humanizado não estava pronto para receber a dádiva do trabalho, pois não valoriza o seu salário, mesmo que ele seja reduzido. Sua intenção não era realmente conseguir um emprego, uma fonte de sustento, mas a realização de um desejo, de uma vontade. E, quando o ser humanizado está preso aos desejos oriundos das paixões ditadas pelo ego, ele jamais se satisfaz com qualquer coisa que receba do Pai.

Isso se comprova facilmente pela simples constatação de que mal consegue realizar uma pretensão, ela não é mais suficiente para fazê-lo feliz. Sempre nova condicionalidade para ser feliz surgirá e este ser humanizado se deixará levar pelo novo desejo que o ego criará e se imaginará um grande sofredor e justificará tal sofrimento no salário que recebe.

Tem seres humanizados que querem acabar com a doença. Quando acamados rezam a Deus pedindo saúde. Mas, logo assim que a recebe do Pai, retiram os freios da sua vida entregando-se novamente às causas da doença.

Por isso Deus não pode dar àquele que não está pronto para receber. Se você está desempregado, tenha certeza de que apenas quando aprender a valorizar um emprego sem se entregar gananciosamente às paixões que o seu ego lhe induz, poderá receber; se está doente, saiba que apenas quando souber conter os ímpetos das paixões humanas que, muitas vezes, criam carmas relativos à saúde física, poderá ser curado.

Portanto, aprenda a confiar em Deus, ou seja, compreenda que o Pai não dá nada antes da hora, e trabalhe a si mesmo para libertar-se da sensação de sofrimento que o ego lhe dá. Vivendo felicidade incondicional oriunda da fé (confiança e entrega) em Deus, o ser humanizado compreenderá o real valor do que está recebendo (o desemprego, a doença) e, assim se tornará apto a receber mais.

Se o ser humanizado não compreender que o seu sofrimento é apenas fruto de um desejo não realizado (‘queria um emprego, não tenho e por isso sofro’) jamais poderá alcançar a universalidade, pois estará sempre preso a um individualismo: à vontade gerada pelo ego. Se Deus lhe realizasse esse desejo fortaleceria o seu individualismo e, conseguintemente, impediria a sua universalização (elevação espiritual).

Sendo assim, o ser humanizado precisa, para alcançar os objetivos da encarnação, entender que a vida é formada de etapas, momentos, condizentes com o seu grau de universalização. Aproveitando cada uma destas etapas como uma oportunidade de por em prática o amor universal, ele se tornará sempre apto a mais receber.

Mesmo que você não entenda a relação ser feliz incondicionalmente/elevação espiritual, lembre-se de um ditado popular dos seres humanizados: não há bem que sempre dure, nem mal que nuca acabe. Portanto, se hoje está passando por uma situação de sofrimento, não se desespere, pois ela acabará.

Mas, quando ela acabará, é a pergunta que os seres humanizados sempre fazem quando se toca nesse assunto. Ou seja, até onde vai durar o seu sofrimento? Eu respondo: enquanto você não estiver preparado para receber a situação boa. Se você estiver pronto para receber a situação que considera boa, ou seja, aprender a libertar-se do gozo do prazer quando houver coincidência entre o que quer e o que estiver acontecendo, o mal acaba. Mas, se não estiver preparado, ou seja, se ainda espera que o mundo satisfaça seus desejos (egoísmo, individualismo), o mal não poderá acabar, senão você não saberá lidar com o bem que está recebendo de Deus e começará de novo outro processo de sofrimento.

Participante: O que o senhor está dizendo tem muito a ver com o próximo versículo, não? (‘tudo tem origem e fim e, em verdade, são aparências transitórias’).

Tem, mas, quando nós abordarmos o próximo versículo falaremos de novos aspectos da vida carnal e não da realização dos desejos. Mas, podemos aproveitar agora e usarmos o texto final dele (suporta isso com equanimidade) e continuarmos falando da felicidade incondicional.

A felicidade que citei anteriormente (universal, incondicional) não se traduz em uma euforia ou numa risada de piada. Ela se caracteriza pelo estado de espírito de paz, de tranqüilidade. No entanto, a paz e a tranqüilidade que me refiro não são aquelas que os seres humanizados conhecem, pois estes estados de espíritos, na concepção humana, ainda estão ligados a realizações por parte deles. Ou seja, quando ocorre o que o ser humanizado quer, ele alcança a paz e a tranqüilidade.

A felicidade incondicional nasce da equanimidade, ou seja, da não alteração de ânimos. Para que isso aconteça é preciso que a paz e a tranqüilidade não sejam condicionadas a nenhuma realização.

Sendo assim, posso afirmar que a felicidade incondicional pode ser entendida por vocês como uma apatia. Quando o que está acontecendo não lhe afeta o ânimo, ou seja, quando tanto faz, como tanto fez, você não perde a sua paz e a sua tranqüilidade, ocorreu, então há felicidade incondicional.

A felicidade que falo que é a resultante do trabalho espiritual é essa: tanto faz como tanto fez o que está acontecendo o seu estado de espírito de paz e tranqüilidade não é abalado. Ou seja, se você vai onde gostaria de ir ou se não acontece o que quer e, por causa disso, não perde a sua paz e tranqüilidade, seja com a euforia ou com a dor, encontrou a felicidade espiritual. Agora, quando exultar com o que vivenciou (‘eu queria e fui’ ou ‘eu não queria ir e não fui’) não terá havido uma felicidade, mas um prazer, uma satisfação de ter tido um desejo individualista (vontade) atendido.

Esta felicidade não é universal porque o individualismo atendido caracteriza um egoísmo, um amar a si acima de todos. A felicidade surgida da apatia com os acontecimentos do mundo é universal, pois ela se traduz num estado de espírito destituído de individualismo, pois existe a harmonia com o todo, ou seja, com o que está acontecendo e há a paz (não acusação).

Esta felicidade também é conhecida por diversos nomes. Cristo a chamou de bem-aventurança, os apóstolos a chamaram de estado de graça e, mais recentemente, ela foi definida como estado zen. Ou seja, quando você vivencia qualquer acontecimento do mundo, independente do seu querer individual, como se estivesse relaxado, ouvindo uma música em um ambiente defumado... Isso é felicidade; o resto é prazer ou dor.

Mas para se alcançar este estado é preciso ter a confiança e a certeza de que o mal vai acabar. O mal não, a situação que você está passando e que o ego está interpretando como má, porque fere as paixões e os desejos gerados por ele. Quando esta confiança e certeza acontecem, você se torna apto a receber o benéfico de Deus. No entanto, esta recompensa esperada não mais será traduzida na esperança de ter um desejo atendido, mas sim na própria felicidade. Quem coloca a felicidade em tudo que ganha de Deus, se torna apto a receber mais felicidade do Pai.

Mas, o que irá lhe habilitar a receber mais felicidade?

Participante: Aceitar tudo que acontece?

Não. Você pode aceitar, mas estar em sofrimento. Ou como vocês chamam: resignadamente. O que poderá lhe tornar apto a viver em felicidade incondicional?

Participante: Paciência, esperança...

É preciso realmente ter paciência, esperança, mas sem fé nenhum desses atributos pode ser alcançado.

Agir com fé: só isso pode lhe tornar apto a ser feliz de verdade e, assim, conseguir a elevação espiritual. Ou, como Cristo ensinou:

“Por acaso algum de vocês, que é pai, será capaz de dar uma pedra ao filho que pedir pão? Ou lhe dará uma cobra quando ele pedir peixe? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai que está no céu dará coisas boas aos que pedirem (Mateus, 7, 9-11).

‘É, estou passando por este momento, mas Deus é meu Pai. Ele me ama tanto que e tem tanta atenção comigo que me trata como filho único. Se eu estou passando por essa situação agora é porque ele sabe que preciso disso para me tornar apto para outras coisas. Louvado seja o seu nome’.

NOTA: O presente ensinamento lembra uma história.

Conta-se que Cristo foi visitar um homem que vivia numa fazenda retirada de qualquer comunicação com o mundo exterior. Ao ir embora orientou àquele que homem que todo dia ele empurrasse uma grande pedra que estava fincada ao solo na frente de sua casa.

Depois de mais de vinte anos onde o homem diariamente fazia esse exercício, o diabo foi visitá-lo. Ao ver a sua atividade perguntou: porque empurra esta pedra?

O homem então contou da visita de Cristo e da orientação que o mestre lhe deu e falou com orgulho da quantidade de tempo em que vinha empurrando a pedra.

O diabo então lhe perguntou: E daí? Quanto ela andou nesse tempo? Nada. Todo seu esforço foi em vão. Não está vendo que você foi enganado. Esta pedra não se locomoverá nunca...

O homem então reparou que todo seu esforço tinha sido inútil. Vinte anos empurrando a pedra e ela não se mexera um só milímetro. Ficou, então, com raiva de Cristo, por achar que ele tinha lhe feito realizar um esforço inútil, sem proveito.

Tão logo o diabo foi embora Cristo veio visitar o homem. Recebendo o seu visitante o homem descarregou toda a sua frustração. Xingou, reclamou e protestou contra o seu esforço em vão.

Foi neste momento que o mestre pediu que ele se olhasse no espelho. O homem, que quando da primeira visita de Cristo era franzino, raquítico, com o exercício tinha se transformado em uma pessoa musculosa. Por causa disso, mesmo sem se dar conta, hoje conseguia trabalhar a terra com maior proveito e, por isso, tinha colheitas melhores.

Como diz o amigo espiritual Joaquim que nos ministrou esta palestra, os seres humanos têm um ditado que diz que Deus escreve certo por linhas tortas, mas ele está errado. Na verdade, Deus escreve certo por linhas certas: nós é que lemos torto.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versiculo 14

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Senhor da yoga - versículo 14
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14. Ó filho de Kunti, as noções que tens a respeito do quente e do frio, do prazer e da dor, essas nascem do contato dos sentidos com os objetos; tudo isso tem origem e fim e em verdade, são aparências transitórias. Suporta isso com equanimidade, ó Bhârata!

O que é o mundo para os seres humanos?

Participante: Aquilo que ele consegue perceber a através das suas percepções.

Sim, o mundo para o ser humano nada mais é do que aquilo que ele percebe através dos sentidos. Uma cadeira, para o ser humano, é o que ele vê, cheira, prova o sabor, houve ou sente pelo corpo.

Na verdade, uma cadeira não existe. O que existe é um conjunto de percepções que o ser humano chama de cadeira. Este conjunto é formado pela forma, pelas sensações, ou seja, pelo que se sente frente a cadeira, pelas percepções dos órgãos dos sentidos, pelas formações mentais, o raciocínio, e também pela consciência, ou seja, pelo que fica armazenado na memória.

É destas cinco coisas, que o Buda chama de cinco agregados, que o mundo se forma para o ser humano. Mas, o mundo não é isto...

Eu tenho feito muito este teste: pegue o seu braço. Quando digo isso, normalmente as pessoas põem a mão em cima do braço. Mas, colocar a mão em cima do braço não é pegar o braço, mas causar uma percepção.

Tente pegar o braço sem colocar a mão em cima dele... Consegue? Não... Então, braço não é braço, mas apenas a percepção de haver um braço... O braço não existe: o que existe é percepção de um braço.

Deixe-me dar um exemplo melhor. Já repararam que a pessoa surda também é muda? Ela não é muda porque não sabe falar, mas sim porque não conhece o som, porque nunca percebeu um som...

O som que você ouve é uma percepção e não uma realidade. O som que você ouve não é real: ele é alguma coisa que você percebe através dos cinco agregados. Se esta pessoa jamais ouvir o som, jamais pronunciará palavras...

Se uma pessoa for cega e não tiver sensações pelo corpo (tato), jamais saberá o que é um corpo. Esta pessoa não acreditará que ela tenha um braço porque nunca o percebeu... Você só sabe que tem braços porque os percebe...

Ficou bem claro que o mundo não existe, mas que eles são apenas percepções que você tem? A partir do momento que compreender isso, pode, então, trabalhar as suas percepções. Enquanto achar que um braço é um braço, não poderá mudar as idéias sobre ele; mas, quando compreender que um braço não existe, mas que se trata apenas de uma percepção que você espírito está tendo, poderá alterar as idéias sobre aquilo.

Krishna nos ensina neste trecho: as percepções que você tem sobre as coisas são passageiras. Hoje você tem uma percepção sobre alguma coisa, mas amanhã poderá de ou outra. Isto porque a percepção é dada por Deus. É Ele lhe diz o que perceber através dos órgãos dos sentidos.

Nós cantamos um ponto nas giras de umbanda que diz assim: filho de Umbanda quando está no Reino que o vento venta e que a chuva molha, não tem querer. O vento ventar não existe, é só uma percepção... Por isso se fala no mundo onde o vento venta, ou seja, onde existe a percepção disso acontecer.

 O molhar da água também é uma percepção... Isto porque se você não tiver sensação pelo corpo jamais sentirá sensação de molhado.

Mas, porque é importante se conhecer isso? A resposta está na segunda parte do ensinamento de Krishna: viva de forma equânime com as suas percepções... Vou falar sobre isso...

Destruir as percepções não é deixar de tê-las. Você, enquanto humanizado, não poderá, por exemplo, deixar de sentir frio. O que você pode é, a partir do momento que entender que o frio é apenas uma percepção, vivenciá-lo com equanimidade. Conseguindo isso, passará pelo frio que está sentindo, sem morrer de frio; passará pelo calor, sem morrer de calor. Passará pelo calor sem desejar o frio e vice-versa.

O problema das percepções, com relação à elevação espiritual, não está em tê-las, mas sim na vivência sentimental das incontáveis sensações a respeito delas que o ego cria para lhe incitar constantemente na busca desenfreada do prazer.

Tem hora que se molhar é muito bom, mas em outros momentos é ruim, diz o ego. Quando está calor você quer água, mas porque quer molhar-se neste momento? Para ter o prazer de se refrescar. Mas o que é se refrescar? Uma percepção... A sensação de se refrescar é uma percepção e não uma realidade... Então, o ego cria o calor para induzi-lo a comprometer-se sentimentalmente com a busca do refresco e poder ter o prazer. Portanto, precisar viver a percepção da água sobre o corpo para sentir-se refrescado é viver a matéria. O espírito não precisa se molhar, mas o ego cria a idéia dele estar se molhando para ter poder liberar a sensação de frescor e a de prazer.

Na hora que você aprender a controlar a vivência das suas percepções, mesmo que o calor suja, por estar ligado no espírito, não precisará da água para sentir refrescado.

Participante: O corpo é um elemento do carma, por isso precisamos conservá-lo. Se eu pegar a minha mão e colocá-la sobre o fogo, ela irá se queimar. Se eu não ligar para esta sensação, estarei destruindo o corpo que eu preciso para ter carma. Como então desprezar as sensações?

Você não preserva corpo algum... Onde está Deus neste seu raciocínio?

Participante: Mas se eu puser o dedo no fogo...

Você não coloca dedo algum... Se o dedo for colocado, foi Deus quem fez isto. Ao fazer isso, está gerando o seu carma...

Sendo assim, você não pode preservar ou destruir corpo algum. Isto não depende de você. Praticar esta ação não depende das suas percepções, porque você pode ter todas elas e só se dar conta de que está queimando o dedo quando ele já estiver queimado.

Esta primeira questão, mas há outros tópicos a se falar...

Será que colocar a mão sobre o fogo queima? Desculpe, mas tem hindu que anda sobre o fogo com os pés descalços e não se queima. Não estou falando em não sentir dor, mas, em não queimar e não fazer bolhas. A ciência não consegue explicar este fenômeno. Sabe por quê? Porque a ferida e as bolhas não são feitas pelo fogo, mas surge do espírito.

Então veja: você tem que preservar este corpo, mas precisa compreender que a melhor preservação começa quando vencer o carma e não por cuidar dele. Como Cristo ensinou, nós viemos aqui para vencer o mundo e se o mundo são as suas percepções, você vem aqui para vencê-las e não para entregar-se a elas.

Só que esta vitória nem você nem nenhum outro espírito encarnado conseguirá por si mesmo: Deus dará... Os seres humanos não conseguem nada...

Será Deus que lhe dará a vitória sobre as percepções. Mas, quando será isso?

Participante: Quando tiver o merecimento disso...

Certo, mas quando você terá este merecimento? Quando fizer o que Krishna ensina aqui: enquanto tiver percepções, trate-as com equanimidade...

Deus lhe dará percepção de frio, mas você não deve vivê-lo morrendo de frio. Viver assim não é ser equânime, não é alcançar o caminho do meio, não é estar equilibrado. Vivenciar este tipo de situação com esta sensação, não é harmonia nem paz, mas entrega a percepção. Desta forma, a você, compete sentir o frio que Deus cria, mas, manter-se ao mesmo tempo equânime. Se conseguir vestir um casaco, viva uma sensação, mas se não conseguir vestir, mantenha a mesma sensação. Este é o trabalho que o espírito pode fazer: sentimento. A partir da busca de não viver o frio e o calor, Deus dá então a paz e a harmonia com a percepção.

Portanto, não queira não sentir frio e nem sofra ao sentir frio. Não queira não sentir o calor, mas também não se entregue a sensação de quente vibrando com o calor.

Quando você realizar sua parte, Deus fará a Dele. Não é assim que está na bíblia: faça a sua parte que eu lhe ajudarei? Qual é a sua parte? Não se entregar às sensações geradas a partir de percepções pelo ego. Quando fizer isso, Deus fará parte Dele.

Desta forma posso dizer que a luta do espírito que busca a elevação espiritual é pela e equanimidade.

Participante: A partir do que tenho ouvido do senhor, tenho tentado praticar. Por exemplo: às vezes tenho uma dor de cabeça e procuro não ligar para ela. Quando consigo, ela acaba a sumindo. O engraçado é que consigo fazer isso com a dor, que aparentemente é uma coisa difícil de ser superada, mas, quando vejo fios de cabelo branco, não consigo deixar para lá...

Você está falando de dois trabalhos completamente diferentes. Um é o trabalho junto à percepção, o outro nas sensações. O que lhe perturba não é o branco do cabelo, mas sim a vaidade. Ou seja, a perturbação não surge do ver o cabelo branco, mas do orgulho próprio ferido. Neste caso, não se trata de ficar a equânime com a percepção do cabelo branco, mas sim com a sensação da vaidade.

Participante: É isso que estou falando. A dor, que é uma coisa que aparentemente mais difícil de lidar, não judia tanto quanto a vaidade...

A dor não é pior coisa, porque ela é resultante da vaidade. O mais difícil para o espírito encarnado não é vencer a percepção, mas sim uma sensação.

A sensação é tão importante que a própria percepção nasce dela. Quem tem sensação de vaidade, vive percepções que falam de feiúra, de defeitos, mesmo quando outros têm, na mesma cena, a sensação de beleza...

Voltando à questão das percepções, falei muito do frio, mas este ensinamento vale para todas elas. Por exemplo: não existe mau cheiro. O que existe é a percepção de um odor que vem acompanhada do adjetivo mal e da sensação de não gostar...

O cheiro não existe: é uma percepção que Deus lhe dá e ao mesmo tempo lhe propõe a idéia de que ele é mau. Isto para que você espírito opte pela equanimidade, demonstrando assim o seu amor a Deus acima de todas as coisas...

Mas, quando você vencer a percepção e a sensação de mal, o que acontecerá? Será que irão acabar todos os cheiros? Claro que não... O que irá terminar é a sensação de mau.

Participante: Então, não tenho que fazer força para nada. Estou vendo o rato morto e não preciso me preocupar em me sentir bem, pois isto só acontecerá quando Deus fizer. É isso...

Não, você não precisa se preocupar em ficar bem frente ao cheiro ou à figura de um rato morto, mais sim não sofrer por causa disso. Pense assim: eu estou aqui, estou sentido esse cheiro, meu ego está dizendo que ele é mal, mas eu não posso me sentir mal por causa disso. Ou seja, a única coisa que você não pode fazer, como já falamos, é ficar se lamentando porque está ali naquele momento frente aquele cheiro.

Não se esqueça que estamos estudando uma conversa de Krishna com Arjuna e que o mestre já havia dito que quem lamenta parece sábio, mas que o verdadeiro sábio não se lamenta por nada.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 15

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Senhor da yoga - versículo 15

15. Ó tu, o melhor dos homens, somente aquele que não se aflige por tais modificações e é equânime tanto no prazer como na dor, realiza a Imortalidade.

Foi o que acabei de dizer agora: aquele que não se aflige em nenhuma situação. Quando você não se afligir nem com frio nem com o calor, torna-se equânime e mantém-se em paz e harmonia com o mundo em que vive.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 16

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Senhor da yoga - versículo 16
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Senhor da yoga - versículo 16
Senhor da yoga - versículo 16

16. O irreal jamais existe; o Real nunca é inexistente. Os sábios percebem claramente esta Verdade!

O que é irreal? O que é uma coisa irreal? O que não é real. Isto quer dizer que o irreal não existe, pois ele não é real...

Mas, o que é real no Universo? Deus e Sua ação... Isto é a única coisa que existe no Universo. Todo o resto é irreal...

Calor não é calor: é a ação de Deus... Espírito não é espírito: é a ação de Deus...

É isso que vocês precisam compreender: o que é irreal jamais existe e a única coisa que é real neste Universo – e deixe-me dizer que não existe outro antes que vocês me perguntem sobre isto – é Deus e Sua ação. Tudo aquilo onde você não encontrar Deus e Sua ação é irreal e nunca existiu.

Nunca existiu, mesmo que você acredite ao contrário, porque o irreal não existe. Só Deus e Sua ação é a realidade... Por que isso? Porque o resto das coisas não existe? É preciso compreender esta máxima para poder viver com Deus e Sua ação...

Participante: Porque só Deus tem condições de gerar qualquer coisa no Universo...

Mas, porque só Deus tem condições de gerar qualquer coisa no Universo? Pergunto isso porque quando você me responde desta forma está dando um poder a alguém pelo próprio poder. Isso não existe no Universo. O poder, universalmente falando, é conferido a alguém por elevação moral e não por Ele ser poderoso...

Volto a perguntar: porque só Deus e Sua ação é realidade? Vou lhes responder...

Pegue diversas gotas de água e as olhe que no microscópio. Você irá perceber que os a átomos destas gotas estão em perfeitas combinação: H2O. Qualquer que seja a água que observe, irá encontrar a mesma coisa.

Além disso, irá ver que os átomos de qualquer gota estão dispostos de maneira igual. Se por um acaso um deles não estiver na mesma posição, o que você terá não será mais água. Poderá ser qualquer outra coisa, mas não mais água...

É preciso compreender isso: qualquer desarmonia ou desorganização nos elementos que compõem um todo altera o produto final. Sendo isso verdade, posso dizer, então, que quando houver qualquer desarmonia no Universo, ou seja, quando qualquer dos seus componentes faltar ou sobrar ou estiver em posição errada, isso mudaria o Universo que conhecemos e com isto acabaria com ele.

O Universo é perfeito: é o equilíbrio perfeito, a harmonia perfeita. Na hora que isso for quebrado, o Universo acaba. Poderá ser qualquer outra coisa, menos Universo.

Por isso Deus e Sua ação é a única realidade. É a ação de Deus que faz o equilíbrio do Universo de uma forma perfeita e só Ele pode obter este produto final, pois é a Inteligência Suprema. Se Deus não agir e em seu lugar qualquer outro elemento universal agisse, ria desequilibrar o Universo e aí não seria mais Universo.

Deus e Sua Ação é a única coisa real no Universo, porque Ele, através dela, é o único capaz de manter o Universo em perfeito equilíbrio eternamente. Sendo Deus a Inteligência Suprema, ele é o único com capacidade perfeita de análise da realidade para dar, através da Sua ação, a cada um segundo as suas obras, ou seja, manter a justiça sempre presente.

Se você deixar um átomo da água livre, seus componentes irão se embaralhar e com isso não será mais água. Se deixar o Universo na mão de alguém que não possa manter a Justiça Perfeita, ele acabará...

Participante: Li uma reportagem em que falava exatamente disso. Se deixarmos um átomo de hidrogênio, por exemplo, livre, ele pode causar uma explosão destruidora.

Sabe do que você está falando? Da bomba de hidrogênio... A bomba de hidrogênio existe a partir do desequilíbrio de um átomo de hidrogênio em um todo...

Por isso lhe repito: se Deus não for a única ação, o Universo pode explodir, porque qualquer desequilíbrio acaba com ele. A simples ação de dizer para alguém que ele é bobo, se não executada dentro do princípio de Justiça Perfeita, acabaria com o Universo. Foi isso que Cristo quis dizer quando afirmou que se você apenas chamar outra pessoa de boba, terá que apresentar ao tribunal.

Até isto, que aparentemente parece um comentário sem maiores implicações, se feito por livre vontade de alguém que não possua a capacidade perfeita de análise da realidade, ou seja, que possa dar a alguém que não merece esta qualificação, destruiria o Universo.

Participante: O equilíbrio ao qual o senhor se refere vem depois?

Depois do que? Depois do desequilíbrio? Depois do desequilíbrio só poderá vir o nada, porque, ao desequilibrar, o Universo acabou...

Participante: Eu não consigo entender isso... Eu não consiga imaginar esta ação...

Porque você como ser humano, não consegue ver nada além da suas percepções. Não consegue ter a idéia do todo onde Deus age.

Participante: Então, Deus tenta eternamente manter o equilíbrio?

Não, Deus não procura manter: mantém. Vocês tentam manter-se equilibrado, mas Deus, que sabe o que faz, sempre o mantém.

Participante: Era isso que eu queria saber. Ele reequilibra o Universo?

Não, ele não reequilibra porque o Universo não se desequilibra. Para que o equilíbrio esteja sempre presente, Deus age antes.

Não se esqueça que Ele tudo sabe, por isso, age antes para que o desequilíbrio não aconteça. Ele sabe qual será a próxima reação do espírito e já comanda uma ação que mantenha o equilíbrio frente a esta reação.

Você, quando vê uma coisa que considera errada, acredita que ali há um desequilíbrio. No entanto, este algo está na verdade equilibrando o Universo. Deus, que comandou esta ação sabia que a opção do espírito poderia criar um desequilíbrio e agiu antes para que isto não acontecesse...

Perceba que estamos falando em equilíbrio e não em certo. Se todas as coisas fossem certas ou amorosas, não haveria equilíbrio. Para que o equilíbrio exista, o aparente amor e desamor precisam existir em quantidades iguais.

Deus, que sabe a reação de cada espírito aos acontecimentos da vida antes dela acontecer, cria o futuro para que jamais o Universalismo e o individualismo existam em proporções desiguais.

Participante: Mas o Universo tem uma tendência a se desequilibrar em algum momento, não?

A tendência para o desequilíbrio é algo que você imagina que exista. Não se esqueça que se Deus soubesse de algo que pudesse gerar uma tendência a desequilibrar o Universo, Ele agiria antes, evitando assim o suposto desequilíbrio.

O desequilíbrio nunca ocorre e nem é iminente, porque Deus retroage, ou seja, age antes da ação do espírito para que o equilíbrio jamais se perca. Quando Ele age já sabe a reação de todos os espíritos do Universo àquela ação e, por isso, é capaz de agir de tal forma que o produto final jamais se altere.

É por isso que só Deus e Sua ação é a realidade, pois só Ele pode manter coeso e equilibrado o Universo... Se entregássemos a causa primária na mão de outro espírito – e repare que não estou falando apenas nas nossas, mas na mão de Cristo, por exemplo – acabaria com o Universo num micronésio de segundo. Na mão de Cristo, governador-geral deste planeta, a causa primária explodiria o Universo.

Por quê? Porque ele não é a Inteligência Suprema. Ele não possui a capacidade suprema de dar a cada um segundo a sua obra.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 17

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Senhor da yoga - versículo 17
Senhor da yoga - versículo 17
Senhor da yoga - versículo 17

17. Compreende que aquele que interpenetra tudo isso é imortal. Ninguém, nem nada podem destruir esse Princípio Imutável!

Aquele que interpenetra tudo isso... Interpenetra o que? O real. Que interpenetra o que? A ação de Deus. Aquele que interpenetra tudo isso, ou seja, ao invés de estar ouvindo palavras está vendo a ação de Deus, se torna imortal, porque entra na realidade...

O que é a realidade? É a ação de Deus... Sem a ação de Deus o Universo não existiria, seria estático. Deus é o supremo comandante dos carmas e por isso movimenta o Universo a partir da Sua ação.

Todas as coisas possuem movimentação a partir da ação de Deus. Nada se movimenta por vontade própria, mas apenas reagindo a uma ação Dele. Então, a movimentação de qualquer coisa é a ação de Deus...

Onde quer que você esteja fazendo o que estiver fazendo, na hora que interpenetrar no acontecimento como sendo apenas a ação de Deus, estará frente a Ele. Isto porque qualquer ação representa Deus.

O ser Deus está estático no Universo, mas apesar disso, Ele gera a movimentação, o pulsar do universo através da Sua ação. Sendo assim, como Cristo falou no evangelho de Tomé, não é preciso ir aos céus para encontrá-Lo, pois Deus está em você, porque você é Deus... Na verdade não há um deus dentro de você, mas sim a ação de Dele.

Quando se convive com esta verdade, se está frente a Deus, porque se está frente à ação Dele, não importando onde quer que se esteja, o que esteja se fazendo...

Este ensinamento é muito importante para os religiosos que idolatram o Deus. É um ensinamento importante para que eles que buscam um Deus ser, um Deus material, físico, seja de que matéria for, para idolatrar. Isto porque esta idolatria poderia causar um desequilíbrio no Universo. Quando alguém se sente inferior ou superior a outro, mesmo que seja ao ser Deus, acaba com a igualdade universal. Se Deus não agisse antes, como já vimos, para equilibrar o Universo, este se desequilibraria e com isso deixaria de ser o que é...

A harmonia daquele que alcança elevação espiritual não deve ser com o Deus, mas sim com a Sua ação, que é a realidade que você vive.

Repare na aquela pessoa ali; ela se levantou? Não, porque ela nunca esteve sentada...

O corpo estava numa posição e agora está em outra, mas isso quer dizer que ela se levantou? Não, houve uma ação de Deus que vocês chamam de levantar. Quando você diz “eu levantei”, não interpenetrou na ação de Deus, porque a realidade foi a ação Dele e a ilusão foi acreditar que você levantou...

Como responder, então, se alguém lhe perguntar se você levantou? Sua resposta: “não sei”... Se perguntarem novamente “o que aconteceu”, responda: Deus agiu... Alguém muito insistente lhe perguntaria outra vez: mas como Deus agiu? Sua resposta: não sei... Quando agir assim, você terá interpenetrado no Universo...

Interpenetrar na ação de Deus, no universo, é não reconhecer a existência de mais nada a não ser a ação de Dele... Ter a plena consciência de que só Ele age...

Interpenetra no Universo aquele que sabe que só Deus age e por isso, não acredita no raciocínio que descreve uma ação e dá um agente a ela. Aquele que sabe que a interpretação da matéria é uma, mas que a realidade é outra...

A interpretação que o humano faz da ação de Deus nunca é correta. Isto porque no exemplo que usamos vocês dizem que houve um levantar, mas se a ação de Deus é sempre amar, Deus não levantou, amou. Este sentir-se amado ao invés de sentado é a interpenetração no Universo, porque é a realidade, a ação de Deus... Como esta ação é sempre amar, quem se sente amado entra na realidade...

Então, não existe sentar, andar, levantar, tomar banho: existe o amor de Deus agindo. É o humano que não interpenetra na realidade do Universo que diz, quando está debaixo do chuveiro, que está tomando banho... Mas, na realidade do Universo, não é isso que está acontecendo: é Deus amando o espírito...

Portanto, a ação individualizada (eu faço) não existe, porque a única coisa que é real é Deus e sua ação. E Deus não levanta, não senta, não anda, não toma banho: ama. Por isso afirmo que quando você diz que está fazendo alguma coisa, está sendo individualista.

Esta é a realidade que pode lhe levar a imortalidade. Isto porque enquanto achar que toma banho irá precisar de um banheiro, de um chuveiro e de água, coisas que fora da matéria densa, não existem. Quando sair da carne, o desejo, a vontade, de banhar-se permanecerão, mas não haverá como fazer isso. Como será que você viverá então?

Quem quer unir-se a Deus, compreende que tem a percepção de ter um corpo, que este corpo está banhando-se, mas que tudo isso é apenas uma percepção porque, na verdade, sabe que o que está acontecendo é Deus agindo. Este se une ao Pai porque compreende a verdade do Universo. Com isso, está liberto das percepções, apesar de continuar a tê-las...

Este é o conhecimento mais profundo que um ser pode ter no Mundo de Provas e Expiações: tudo é ação de Deus. Nada existe, tudo é uma ilusão, ou melhor, tudo é uma percepção que Deus dá sobre o seu amar, que é Ele mesmo...

Apesar de falar assim, saiba que este ser que convive com você através das suas percepções, não é o ser Deus, mas o próprio Universo, o amor de Deus.

Compreenda isso... Compreenda que não existe sapato, mas uma sensação de estar calçado. Na verdade o sapato não é sapato, mas o amor de Deus. Compreendendo isso, outras percepções podem acabar como, por exemplo, o mau cheiro. O amor de Deus não fede, não dá chulé...

O amor de Deus é a única realidade do Universo e é também a forma de comunicação entre os seres inteligentes universais. Deus se comunica conosco através do amor e é por este mesmo modo que nós nos comunicamos com Ele. Ele enviando amor puro, universal que nós desvirtuamos aplicando o individualismo sobre ele.

Esta é a realidade do Universo. Qualquer outra visão sobre a vida é prisão à matéria. Lembre-se que por este caminho não se chega a Deus, porque o Senhor não tem nada de material. Ele é imaterial como ensinaram todos os mestres...

Por isso Krishna ensina: passe pelas sua vida, ou seja, pelo amor que Deus lhe dá, sem individualizá-las através de percepções.

As percepções são formadas através da lógica material, mas a ação que as origina é espiritual, porque é o amor de Deus. Tudo que você percebe é o amor de Deus que o ego codifica como percepção, sensação, forma, formação mental e memória... Tudo é amor de Deus, mas como este amor não é entendido pelo ego, ele o decodifica para uma lógica que possa entender.

Então, Deus lhe ama, manda amor para você e o ego o decodifica através dos cinco agregados...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 18

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18. Estes corpos, nos quais habita o Eterno Ser, imortal e incomensurável, têm fim; por conseguinte, luta, ó descendente de Bhârata!

Se lembrem que Arjuna não queria entrar nesta guerra, não queria lutar, porque imaginava que ao ferir o corpo dos seus parentes, ia matá-los. Mas, acontece que de qualquer forma este corpo terá fim. Sendo assim, qual o problema do corpo acabar hoje ou amanhã? Um dia ele vai acabar, mas qual será o dia que ele acabará?

Participante: no dia que acontecer a morte.

Você está completamente fora do Universo... Onde está Deus na sua frase? Onde está a ação Deus nela?

Participante: A morte ocorrerá na hora que Deus precisar que ela ocorra...

Deus não precisa de nada... A hora da morte ocorrerá quando o equilíbrio universal precisar e você merecer que isto aconteça.

Mas, quando será percebida por você a hora da sua morte? Quando o amor de Deus for decodificado pelo seu ego desta forma. Se tudo é Deus e sua ação e se esta é sempre decodificada pelo ego de uma determinada forma, tudo o que acontece é o amor de Deus decodificado daquela forma.

Para que exista um corte num corpo é preciso a ação Dele. Mas, o que é esta ação? O que pode matar e desintegrar um corpo? O amor de Deus...

Sendo assim, jamais um corpo acabará sem que Deus crie esta ação e Ele jamais a criará fora do seu carma. Isto porque Ele é o Sublime Administrador dos carmas.

Tudo é carma e tudo é o amor de Deus em ação, porque o amor de Deus em ação se chama carma... Carma é o amor de Deus, porque a ação Dele é a única coisa que existe no Universo.

Mas, para que serve este ensinamento para nós? Como se vivenciar este ensinamento na prática, no dia a dia da vida? De que serve saber que o corpo não morre, mas que há uma modificação de aparência? Compreender que Deus está lhe amando e você está sofrendo.

Quando se conhece a Verdade do Universo (Deus age constantemente amando os espíritos e os egos decodificam esta ação sob diversas formas) deve-se ter a consciência que Deus lhe amou naquele momento enquanto o seu ego lhe diz que foi acusado, vilipendiado, abandonado, morto, etc.

Participante: Então, o problema é sempre o sofrer?

Sim, o problema é sempre o sofrer...

Veja o que diz Krishna no item 11 deste estudo: “Estiveste lamentando-te por aqueles que não o merecem. Todavia, pareces falar como um sábio. Só que os verdadeiros Sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos”. Quando você está lamentando-se pela ação que vivenciou, parece uma pessoa sabia, mas não é. Se você morreu, isto não foi um ato de maldade, mas sim o amor de Deus que foi percebido pelo seu ego desta forma.

É isso que venho dizendo há muito tempo para vocês: não se importem com nada do que façam... Isto porque vocês não fazem nada: são instrumentos do amor de Deus, o sal da terra. Sendo assim, qualquer ato que pratiquem, é o amor de Deus em ação. Já o seu sofrimento ao participar de qualquer ação, é uma visão individualista do amor de Deus.

Participante: Se é assim, quando matei um rato hoje o envenenamento terrível que ele sofreu fez parte do carma dele?

‘Envenenamento terrível’ é uma percepção que você está tendo sobre o amor de Deus e não uma realidade... Além do mais, você tem a percepção disso ter acontecido, não sabe se o rato tem igual...

Saiba que mesmo que você tenha uma percepção sobre as coisas, isso não quer dizer que todos os outros seres, principalmente os de classe diferente da sua, também as tenha. Lembre-se que, apesar do estômago ser o mesmo em todo os seres humanos, existem coisas que você come e passa mal e outras pessoas não passam. Isto porque a dor é uma percepção dada por Deus e não uma realidade do corpo físico.

Apesar de afirmar que o rato pode não ter sentido nada que você imagina que sentiu, posso garantir que se ele passou por tudo isso, foi Deus quem criou isso, foi a ação Dele. Portanto, foi amor em ação. Agora, a individualização, ou seja, sentir que o rato sofreu, é que lhe tira da interpenetração no Universo...

A interpenetração no Universo acontece quando você tem a consciência de que não matou rato algum: Deus amou.

É isso que vocês precisam compreender. Se Deus é o Supremo Administrador dos carmas, você não pode fazer nada que um rato não mereça. Não se esqueça que as sensações de uma existência, não importam de que forma, sempre servem para futuras encarnações. Então, ao morrer por um ‘envenenamento terrível’, o espírito que habitava o rato teve uma lição que levará para eternidade.

A vida na matéria é uma escola, um gerador de informações para a vida eterna. Ela não é castigo, não é punição. Não é carma punitivo...

Como é que você pode saber qual a sensação e a percepção de tomar um choque elétrico?

Participante: Tomando choque...

Então tomar choque é bom ou mal? Não é bom nem mal: é aprendizado. Será bom se você passar a gostar de toma choque; será mal se não gostar. Mas, de qualquer jeito, você só poderá saber o que sentirá pelo ato de tomar um choque quando o tomar.

Ao tomá-lo aprende alguma coisa... Se me basear pela lógica humana, posso dizer que você aprende a não por mais à mão ali...

Por isso afirmo que qualquer das situações que espírito passe, seja no mundo racional ou não, não é punição, mas sim aprendizado. Nada em qualquer existência é punição, mas exercício de escola, aprendizado. Sendo assim, é um ato amoroso, pois proporciona uma oportunidade de aprendizado...

Está vendo o que faz não interpenetrar na realidade do Universo? Você passa a chamar o amor de Deus de punição...

Interpenetrar na realidade não é mudar atos, atitudes, mas sentir-se constantemente amado pelo Pai.

Tem muitas pessoas que se culpam por suas ações durante a existência carnal. Algumas já vieram até conversar comigo sobre isso. Eu nunca as acusei de nada. Sempre disse que não me importava com o que elas faziam, mas demonstrei preocupação com a capacidade de sofrer que elas tinham ao vivenciar o errado que viam nelas ou nos outros durante as ações. Isto porque eu sei que elas nada fazem de errado.

Tudo o que elas fazem é o amor de Deus em ação; são elas servindo de instrumento a Deus. O problema não está no que fazem, mas no que elas sentem enquanto servem de instrumentos ao Senhor, ou seja, a forma como retribuem o amor de Deus...

Sendo assim, se você brigar com alguém, não sofra por que brigou. Tenha a consciência de que se brigou era porque tinha que brigar e acabe com os pensamentos sobre aquele acontecimento naquele momento. Não fique racionalizando posteriormente; não fique preocupado com os acontecimentos futuros que poderão advir dele; não fique se acusando por ter participado daquela ação como um suposto agente dela.

Interpenetrar o Universo é viver a realidade. Esta é dinâmica, ou seja, se altera constantemente... Se você discutiu com uma pessoa num determinado momento, este já acabou. O momento presente é outro... A pessoa com quem você discutiu já não está nem mais presente à sua frente... Então, para que ficar racionalizando e se lembrando do que aconteceu?

Esta é uma fonte de sofrimentos... Não há necessidade de ficar vivenciando aquele acontecimento por outros momentos. Isto porque ao recriar o momento, você também recria o sofrimento...

A angústia, a revolta ou a culpa de agora, são criações atuais do que já tinha acontecido. Não se tratam de sofrimentos ligados ao passado, mas sim criados agora... Na hora que você discutir com uma pessoa, quando acabar este momento não mais o vivencie, ou seja, não aceite mais as criações do ego a respeito dele...

Mas, para chegar a viver a vida desse jeito, é preciso trabalho. Este não é um tipo de acontecimento que ocorre de uma hora para outra. Portanto, caminhe devagar. Não há pressa...

O importante é entender que a luta daqueles que querem se unir a Deus não é no sentido de lutar contra sua forma de agir, porque ela faz parte do Universo. Você não deve lutar contra a sua forma de agir, pois ela não é sua: é a forma do amor de Deus agir através de você. Ou seja, é um papel que você desempenha para que o Universo esteja sempre equilibrado. Ao invés de lutar contra isso, louve a Deus por você ser do jeito que é, pois se isso não acontecesse, o Universo estaria desequilibrado. Sabia que você, não importa como seja, é o ponto de equilíbrio do Universo?

Aquela imagem do santo puro que não faz mal a ninguém é ilusão... Leia a vida carnal dos santos que entenderá o que quero dizer...

Mesmo depois de conseguir a santidade, São Francisco de Assis brigava com os homens para proteger os animais, ou seja, quebrava o próprio ensinamento. Gandhi, o pacifista, lutava, mesmo que sem armas, contra o domínio do império britânico. Isso não quer dizer que eles estavam errados, mas sim que esta forma de agir era a função deles naquelas vidas. Santa Agostinho, em seu livro “Confissões” fala claramente disso: na hora que agi era instrumento de Deus...

Sentir-se instrumento do amor de Deus é alcançar a consciência universal; é a interligação com o Universo...

Vamos esquecer padrões... ‘Ah, o ser universal não mata’: este é um padrão que o ser humano criou e não uma verdade universal. Nós estamos estudando um livro dito sagrado onde Arjuna não quer matar, mas o mestre insiste que ele deve fazer isso. E diz mais: se você não for matar, não conseguirá sua elevação.

Através dos ensinamentos, Krishna está deixando bem claro a Arjuna que ele precisa servir o próximo e que, no caso dele, o serviço é matar seus parentes. Mas, para orientá-lo a ter sucesso na elevação espiritual ao praticar este serviço, o mestre lhe diz que deve matar sem raiva, culpa ou prazer.

Mais tarde neste estudo iremos entender que Krishna diz a Arjuna que o está incitando a matar por um dever devocional. O que é um dever devocional? É a prática de ações com subordinação a Deus. Deus lhe faz dizer a outras pessoas o que elas têm que ouvir. Você, se quiser aproximar-se Dele, precisa se subordinar a esta determinação e amá-Lo por ter lhe feito um instrumento para aquela determinada ação, ao invés de querer ser outra pessoa, fazer outra coisa...

Na hora que a sua consciência lhe disser que a sua ação, não importa qual seja, é o amor de Deus escoando através de você, alcançará o serviço devocional...

Cada um na sua função, vivendo o seu papel dentro da peça divina comédia humana, agindo tendo a consciência de que é o amor de Deus escoando através dele, sem achar nada sobre o acontecimento: este é o mundo onde Deus é o Senhor...Já falamos isso diversas vezes com outras palavras, mas acho que usar este termo que Krishna usa (serviço devocional) deixou mais claro o que queria dizer.

Querer viver um padrão de santidade para se considerar santo é um serviço devocional a você mesmo. Isto porque está se entregando ao seu patrão de santidade.

 Quem disse que um ser elevado espiritualmente não briga com ninguém? Cristo só brigou com todo mundo... Só que quando ele brigava não tinha raiva e dos outros, não sofria porque tinha brigado nem teve o prazer de brigar ou de sentir-se o certo. Ele fazia como serviço devocional a Deus porque tinha consciência que não era ele quem falava, mas que Deus agia através dele.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 19 e 20

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Senhor da yoga - versículo 20
Senhor da yoga - versículo 20

19. Aquele que pensa que este ser mata e aquele que pensa que este ser é morto, os dois são ignorantes porque pensam, raciocinam. O ser não mata nem morre.

20. Esse ser não nasce nem morre e tampouco reencarna; o ser não tem origem; é eterno, imutável, o primeiro de tudo e todos e não morre quando matam o corpo.

Neste trecho temos um novo ensinamento de Krishna: o ser não reencarna. Vamos falar sobre isso...

Na verdade o ser não reencarna neste caso é usado no sentido de não ter uma carne nova. A encarnação do ser deve ser vista como o assumir uma nova identidade e não um novo corpo. Não é a carne que marca um período da vida do espírito, mas sim a identidade. Atribuir a reencarnação e existência de uma nova carne é dizer que a vida existe por causa da carne. Isso não é verdade. Tem gente que sai da carne e não perde a sua última consciência humana. Ele é o humano, está vivo como humano que foi, mas não tem carne.

Então, quando Krishna fala que o espírito não reencarna, o faz neste sentido: o ser humano não existe por causa da carne, mas sim por causa da individualidade (identidade) criada para aquela etapa da vida espiritual.

Ligar a idéia de encarnação a uma matéria carnal é subordinar a vida carnal à carne. É por causa da crença de que a encarnação é marcada pela existência da carne que se diz que a encarnação acaba com a morte, com o desligamento do espírito com o corpo físico. Mas, isto também não é verdade...

A vida não acaba com a morte, mas sim com o fim da identidade. Só quando o espírito deixar de ter a identidade que teve na sua última existência carnal ele terá desencarnado...

Por isso não deveríamos dizer que há reencarnações, mas ‘reidentificações’...

As diversas encarnações são identidades diferentes das quais fazem parte o corpo. Ele é apenas uma parte da identidade. O corpo físico, as sensações e a história formam uma encarnação, ou seja, uma identificação que o espírito vivencia a durante a sua jornada terrestre.

Se subordinarmos a existência da vida material apenas aos que estão com carne, não poderíamos acreditar em fantasmas, porque ao morrer, aquela identidade estaria acabada. Mas não é isso que acontece: na verdade acaba a carne e o espírito continua na mesma encarnação, pois ainda acredita ser a mesma identidade.

Mas Krishna ainda fala mais neste capítulo. Ele diz: o ser é o primeiro de tudo de todos.

Para entender isso pergunto: o que é o Universo? É o campo de desenvolvimento dos espíritos... Então, o Universo existe para nos servir.

Portanto, nós somos os primeiros. O universo não serve às coisas materiais, mas tudo que existe e todos que existem estão aí para nos servir e para nós servirmos a eles...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 21 a 24

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Senhor da yoga - versículo 24
Senhor da yoga - versículo 24
Senhor da yoga - versículo 24

21. Ó filho de Prithâ, como pode morrer ou causar a morte de outro aquele que sabe vivenciadamente que este ser é indestrutível e abandona seu velho corpo e faz-se outros novos.

22. Assim como alguém costuma deixar suas roupas gastas e bota outras novas, assim o ser corporificado e humanizado abandona seu velho corpo e se faz outros novos.

23. As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca.

24. A este ser não se lhe pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem secar; é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial.

Temos que compreender que nada pode afetar ao ser, a não se que ele se afete. Nada pode lhe cortar, queimar, entristecer, preocupar, a não ser a preocupação, o corte, a queimadura ou o sofrimento que você mesmo crie para você.

Este é o ensinamento que Krishna traz: nada pode lhe atingir... Apesar disso, se eu pegar uma faca agora, corto o seu corpo físico, não é mesmo?

Participante: Sim...

Apesar desta sua resposta continuo insistindo no que Krishna falou: nada pode lhe atingir, nem mesmo nas coisas físicas... Vamos entender isso...

Mostre-me o seu braço... Este é o seu braço? Não, este não é o seu braço. Isto porque esta forma não é a menor partícula que compõe o que você chama de braço. Dentro desta forma que você está me mostrando e chamando de braço, há carne, osso, veia, sangue, músculos e terminais nervosos. Estes elementos são o braço...

O que você olha e vê, não é o seu braço, porque aquilo que chama de braço é um somatório de coisas. Todo seu corpo é um somatório das coisas que listamos, mas estas ainda são formadas por outras: as células...

Sendo assim o seu braço não é isso que você me mostrou, mas cada uma das células que compõem esta forma... A partir daqui podemos ir mais longe no ensinamento de Krishna. Se eu abrir um buraco no seu braço estarei cortando a célula dele? Não, estarei seccionando, separando elementos do braço, mas não o estarei cortando.

Eu não posso cortar o seu braço porque não posso cortar uma célula que compõe qualquer dos seus elementos... Eu posso separar moléculas, não cortá-las.

Então, não é só o espírito que não é cortado, mas o corpo também não...

Participante: Acho que o seu raciocínio não condiz com a realidade nossa...

Está certo: não condiz com a sua realidade... Por quê? Porque vocês não vão além do que vêem... Você está vendo um braço, mas dentro dele tem coisas. Este é o tema que quero abordar a partir deste ensinamento de Krishna...

Este não é um mundo real, mas sim um mundo de percepções. Na verdade, o braço não existe: ele é uma percepção que você tem ao olhar para um determinado grupo de células. Esta realidade serve tanto para o mundo espiritual como para o material, porque, na verdade, este membro é um conjunto de células que chama de braço.

Agora, se você tivesse uma visão mais aprofundada, se pudesse ver mais microscopicamente, chamaria outras coisas de braço e não o que chama hoje. Isso porque não veria esta forma, mas sim a carne, os músculos, as veias e o sangue correndo, da mesma forma que vê estes elementos no microscópio...

Participante: Apesar disso, ele não deixa de ser um braço...

Quando você não mais se prender a forma e compreender que ela é formada por outras coisas, terá que dar um novo nome a estas coisas, pois braço é o conjunto que percebem hoje e não o que está dentro...

Então, é a percepção, o seu olho que cria o braço... Na verdade ele é um conjunto de células que você chama de braço. Outro conjunto chama de perna. Para você, são dois elementos diferentes, mas se observamos o interior, veremos que eles são iguais. A perna e o braço são formados pelos mesmos elementos (células). Por que você distingue um do outro? Porque só consegue ver a perna e o braço pela sua forma compacta e não pelo que eles realmente são: as células...

Se você não visse o braço e a perna pelas suas formas compactas, diria que é tudo igual... Veria que na realidade os dois conjuntos são formados pelo mesmo elemento e, portanto, são iguais.

Disso nos sai a certeza de que a realidade do mundo, do Universo, é muito além do que as percepções que vocês têm. Por isso afirmo: tudo que o ser humanizado conhece é apenas uma percepção e não a realidade...

Além do que vocês vêem, sentem, provam o sabor, do que cheiram ou ouvem, existe muito mais coisa. Ou melhor: existem coisas que compõem o que vocês vêem e vocês não vêem estas coisas...

Participante: Uma forma de se desligar do macro seria a meditação?

Uma forma de se desligar do mundo das percepções é compreender que tudo é percepção...

Na hora que compreenderem que um braço é apenas uma percepção e não uma realidade, estarão buscando algo mais do que percebem. Mas, enquanto acreditarem que o que vêem é realidade, conviverão com a percepção como se ela fosse real...

Participante: Tenho tentado me desligar das percepções, mas não tenho conseguido. Tem como viver sem elas freqüentemente?

Não estou falando em viver sem percepções, mas estar acima dela. Deixe-me dar um exemplo...

Os orientais falam muito da terceira visão. Mas, o que é a terceira visão? Uma visão além da percepção do olho. Perceba que eles não falam em trocar uma visão por outra, mas em alcançar algo que veja além do olho humano. Sendo assim, quando você alcançar esta visão, que é dita como espiritual, continuará tendo as percepções que hoje tem pelo olho. O que acontecerá é que terá a consciência de que a sua visão de hoje é apenas uma percepção. Com esta consciência poderá, então, buscar através da meditação ou de qualquer outro trabalho de elevação espiritual superar o mundo perceptivo. Neste momento poderá receber de Deus a terceira visão, ou a compreensão de que existe algo que você não percebe, mas que está compondo o que vê...

Participante: Um desligamento das percepções?

Não um desligamento delas, mas a percepção além do sentido da carne...

Participante: A meditação pode ser um exercício para isso?

Na verdade não há um exercício para se receber esta consciência: ela será recebida de Deus... Pela busca espiritual, pelo trabalho da reforma íntima, você poderá merecer receber...

Participante: Então não é negar a percepção, mas negar que ela é a realidade...

Sim. Negar que a percepção é real. Gosto de laranja estragada, por exemplo. Não existe isso: existe um gosto que você chama de laranja estragada.

É preciso estar além do mundo perceptivo... Para isso é preciso ter a consciência de que não existe um gosto de laranja estragada, mas uma criação perceptiva que o ego chama desta forma. A partir desta consciência, você poderá ficar além do gosto criado pelo ego e poderá, então, receber de Deus o sabor universal.

Então, quando Krishna diz que o ser humanizado não pode ser cortado, é porque o ser humano se corta, se molha ou se queima.... Ou seja, tem a percepção de que isso acontece, mas na realidade isso não ocorre. Á partir deste ensinamento, aqueles que buscam entrar em unidade com Deus precisam compreender que este é um mundo de percepções. Além disso, precisam saber que um mundo perceptivo não é um mundo real, mas um mundo individual...

Este mundo, por ser perceptivo, é apenas o que você percebe e compreende restritamente. Por causa das suas restrições você acredita que a água molha, mas isso não é real, porque o sentir-se molhado é apenas uma percepção que está tendo.

O espírito precisa se desligar deste mundo perceptivo porque se ficar preso à percepção como realidade, viverá preso à reencarnação, ao processo reencarnatório ou de reidentificação. Isto porque as percepções estão presas às sensações de prazer e dor...

É por isso que Buda diz: você não pode ter paixão pelas suas percepções. Não adianta se apaixonar por uma percepção porque isso só lhe prende ao mundo do nasce e morre. Esta prisão acontece porque no Universo não existem estas percepções...

Quando falo em paixão, falo de positiva ou negativa: querer ou não querer.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 25

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Senhor da yoga - versículo 25

25. Diz-se que este ser é não manifesto, que é impensável e imutável; se sabes e sentes que assim é, não deves te lamentar.

Este ser é impensável... O que quer dizer isso? O que quer dizer Krishna quando fala que o ser universal é impensável? Que o conhecimento sobre o ser universal jamais será alcançado pela lógica humana, ou seja, pelos conhecimentos da Terra.

O máximo que você humano pode fazer sobre este ser é uma figura, uma imagem, que não é a realidade. Isto porque o pensamento contém elementos do planeta e não do Universo.

Veja... Para analisar alguma coisa, você se utiliza de conhecimentos que já estão presentes na memória. Quando humanizado, estes conhecimentos pertencem exclusivamente à realidade material e esta não pode definir o espiritual.

Além disso, mesmo a realidade material não é uníssona: ela depende de regiões do planeta ou ainda de grau de instrução do ser humanizado. Se fossemos falar, por exemplo, do corpo humano como falamos agora a pouco para pessoas analfabetas elas não compreenderiam, porque não sabem nem o que é uma célula.

Outro fator que não deixa o ser humanizado entrar na realidade é que a compreensão das coisas é diferente dependendo de cada povo. Por exemplo: se um brasileiro for falar sobre saudade com um habitante de qualquer outro país, não conseguira se explicar, porque este termo não existe em outras línguas...

Então, o pensamento não possui elementos que possam descrever o ser. Se você tentar compreender – e por isso digo sempre para não compreenderem o que falo – os ensinamentos através do seu conhecimento material, da sua lógica, das coisas do planeta, não conseguirá.

Este ser é impensável, no sentido de que os seres humanizados não conseguem descrevê-lo ou compreendê-lo através dos elementos do planeta. Para poder compreendê-lo é preciso ir além das coisas da matéria.

Mas, para se falar isso, é preciso deixar bem claro o que é matéria e o que não é, porque vocês também não sabem o que não é material. Vocês acreditam que material é tudo que vocês podem pegar ou ver. Mas, agora a pouco disse que a percepção é algo material e vocês não podem pegá-la ou vê-la. Material é tudo que compõe o mundo da matéria, ou seja, tudo o que você compreende através da razão. Sendo assim, você não pode, enquanto humanizado, jamais conhecer o ser universal, pois só o que lhes passa pela razão existe...

O ser universal só poderá ser entendido quando tudo que for material estiver anulado... Ou seja, quando toda a sua razão humana estiver anulada – anulada no sentido de não ser vivenciada como realidade. Este é um conhecimento profundo e essencial para quem busca unir-se a Deus, ao Universo. Veja por exemplo o caso de Cristo...

Para vocês ele é um elemento material, ou seja, um corpo com dois braços e duas pernas... Mas, será que ele é assim? Garanto que enquanto vocês viverem com um Cristo homem não conseguirão entender os ensinamentos dele...

Outro exemplo? Deus... Tem gente que faz a imagem de Deus como um homem velho, barbudo, possuidor de um corpo... Lembro-me que numa palestra disse a uma pessoa que acreditava num Deus com forma humana se ela emprestava a tesourinha para Deus cortar as unhas Dele...

Falei assim, porque vocês fazem Deus sob uma forma humana, como um ser humano, mas isso não é real... Deus não é isso nem é nada do que você possa compreender, porque o mundo espiritual é impensável para o ser humanizado.

Não adianta buscar querer saber quem é Deus (se é uma energia, isso ou aquilo), porque Ele não é nada do que você possa compreender. Tudo que imaginar que é um ser (Deus, Cristo ou qualquer outro) será apenas seu pensamento, porque o espírito é impensável.

Isso quer dizer que a elevação espiritual é uma entrega a Deus, Cristo ou qualquer outro, sem raciocínio, sem compreensão. Enquanto você estiver compreendendo a quem se entrega, não estará se entregando à espiritualidade, mas sim ao seu pensamento. Àquilo que você criou no seu pensamento...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 26 e 27

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Senhor da yoga - versículo 27
Senhor da yoga - versículo 27

26. Todavia, ó tu de braços poderosos! Se pensas que este ser a todo momento nasce e morre, mesmo assim não deverias afligir-te por isso.

27. Pois, para aquilo que nasce, a morte é certa e inevitável, e para o que morre, o renascimento é coisa certo. Não te lamentes, portanto, pelo que é inevitável.

Estes dois textos nos levam novamente ao assunto morte.

Outro dia falamos deste tema a partir da visão espiritual (o ser não morre). Mas, vamos supor que existisse morte, vamos imaginar que existisse morte como os humanos querem que exista...

Por que evitá-la? Um dia todos morrerão inevitavelmente... Um dia todos deixarão de ser esta identidade que estão vivendo hoje... Um dia todos sairão da carne, morrerão... Isso é inevitável.

A partir desta constatação da inevitabilidade da morte, eu faço três perguntas; para que se preocupar com isso? Por que viver com medo da morte? Por que buscar atrasá-la?

Antes de continuar deixe-me deixar bem claro que não estou falando em suicídio em massa. Não estou falando em adiantar a morte, mas em não querer atrasá-la...

De que adianta viver preocupado em atrasar a morte se, como já vimos em outros ensinamentos, você morrerá na hora que tiver que morrer.

 “Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos? Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas”. (o Livro dos Espíritos, pergunta 853a)

Então, não adianta lutar para botar a morte para depois, porque você morrerá na hora que tiver que morrer. Não existe como adiar esta hora...

Além do mais, morrerá do jeito que Deus já sabia que você ia morrer... Não adianta querer alterar isso...

 “Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes o espírito também o sabe, por lhe ter sido revelado, quando escolheu tal ou qual existência”. (idem)

A partir destes ensinamentos, pergunto novamente: para que esta busca desesperada de fugir de uma coisa que tem data, hora e forma marcada? Para que o culto ao corpo se ele no melhor estado que esteja – vamos fingir que você possa melhorar o estado dele – no dia pré-acertado vai parar?

Volto a dizer: não estou dizendo para se entregar à morte, mas perguntando para que a preocupação com ela...

Imortalidade vocês sabem que não existe, não é mesmo? Então, por que esta busca e preocupação em estar saudável? Esta é uma pergunta que eu gostaria que vocês respondessem, pois é esta busca que lhes faz sofrer. É o desespero e a angústia de querer a cada dia atrasar mais a morte que lhes faz sofrer...

Esta busca lhe cria um estado permanente de tensão... “Hoje tenho que fazer a minha caminhada; tenho que tomar meus remédios”... Por que isso? Será que se não caminhar hoje irá morrer amanhã do coração? Não irá, a não ser que o amanhã seja o dia pré-determinado para o coração parar. Mas, se for, de que adiantou caminhar hoje? Será que a sua caminhada pode mudar o que Deus, o Onisciente, já sabia?

É isso que Krishna está ensinando a Arjuna...

Volto a repetir: não estou dizendo que é para viver a vida buscando a morte, mas sim vivê-la livre da morte. É muito diferente...

Uma coisa é você agir naturalmente, outra é agir obcecadamente em um sentido. A vida vivida em perseguição do estender a vida, além de ser sofrida, é – vou usar a palavra que Krishna usa – uma atitude idiota. Por quê? Porque a sua obsessão não acrescentará um segundo a sua vida...

Por isso Krishna incita Arjuna a ir lá e cumprir o seu dever devocional.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 28

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Senhor da yoga - versículo 28

28. Ó Bhârata, os seres passíveis de se conhecer no início são imanifestos; no meio, se manifestam; e, no fim, voltam a ser imanifestos. Então, porque te afliges por isso?

Qual o ser passível de conhecer? O ser humano... O ser espiritual nós já dissemos que vocês não podem conhecer...

O ser humano, aquele que é passível de se conhecer pela razão, no início é imanifesto, pois é um espírito. No meio torna-se manifesto, porque é percebido pelo corpo que utiliza. No fim, torna-se novamente imanifesto, porque se liberta do corpo em que viveu...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 29

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Senhor da yoga - versículo 29
Senhor da yoga - versículo 29

29. O ser, alguns o consideram como algo maravilhoso; outros falam dele maravilhados; outros mais, ouvem falar dele com assombro e existem ainda aqueles que, mesmo que ouçam falar dele, o desconhecem.

Para podermos compreender bem o ensinamento de Krishna neste trecho, vamos ver cada uma das suas falas. A primeira: alguns consideram o ser como algo maravilhoso. O que quer dizer isso? Alguns acham o ser, o espírito como algo maravilhoso e por isso vivem com a intenção de vivenciar o ser, o atma, o mundo espiritual, pois acham maravilhoso este tipo de vida.

Segunda frase de Krishna: outros falam dele maravilhados... Quem são estes? São aqueles que conhecem o mundo espiritual, o acha muito bom, mas não deixam de viver a vida carnal pelos valores materiais...

Terceira frase: outros mais ouvem falar dele com assombro... Alguns,quando descobrem a existência do mundo espiritual, se assombram com o que descobrem. Na verdade esses não estão buscando nada, a não ser satisfazer a sua curiosidade. No entanto, este é o princípio da caminhada.

Assombrar-se com as coisas espirituais é o início do caminho de todos aqueles que buscam a Deus. É a partir do caminho do assombro que o ser humanizado poderá, posteriormente, se maravilhar ou falar dele maravilhado. O assombro do ser humanizado é o início do caminho. É quando ele descobre a existência do Universo além da percepção. A partir do momento que descobre a existência do Universo extra perceptivo pode buscar a maravilha ou falar maravilhado do que descobriu.

Quarta frase de Krishna: existem aqueles que, mesmo que ouçam falar dele, o desconhecem... Nesta frase o mestre fala que existem aqueles que possuem apenas o conhecimento material sobre o atma, porque ouvem falar dele, mas o desconhece.

 Portanto, neste trecho completo, Krishna nos fala das formas de contato que o ser humanizado pode ter com o mundo espiritual. Aqueles que ouviram falar do mundo espiritual mas o desconhece, aqueles que, por buscar conhecê-lo, se assombram com as coisas do mundo espiritual e que depois deste primeiro contato podem maravilhar-se com este novo mundo ou apenas falar dele maravilhado. Estes últimos falarão dele, mas não o conhecerão... Estes são aqueles que se prendem a uma imagem humana do mundo espiritual.

Como já dissemos não se pode imaginar o mundo espiritual pelos valores materiais. Mas, existem muitos que se relacionam com o atma deste jeito. São aqueles que querem descobrir os segredos científicos do mundo espiritual, querem aprender técnicas ditas espirituais.

Só que este conhecimento do atma é irreal, não é real. Qualquer coisa que o ser humanizado possa compreender pela razão a respeito do mundo espiritual não é real, pois ele é impensável. Estes são os últimos sobre os quais Krishna fala: aqueles que têm muita cultura sobre o atma, mas que só possuem cultura material sobre ele.

Mas, como já disse, isto é caminho. Este ser, depois de se deslumbrar com o mundo espiritual, começa a falar dele deslumbrado. Este falar, no entanto, ainda não é a realização, pois o ser humanizado que imagina conhecer o atma pela razão ainda está preso ao prazer e dor.

Este ser fala maravilhado do mundo espiritual, fala da maravilha que é o universalismo, mas ainda busca ganhar sempre durante a vida carnal, ainda busca satisfazer seus desejos e vontades. Só depois que ele entra na última etapa, quando se entrega à maravilha que é o mundo espiritual e desliga-se tanto do conhecimento quanto da busca da realização dos desejos é que o alcança a unidade com Deus.

Estas são as etapas de evolução de um ser humanizado. É isto que Krishna está ensinando a Arjuna neste trecho. Todos os seres humanizados no planeta Terra estão distribuídos nestas quatro faixas. Todos podem nascer e morrer (reencarnar) na mesma faixa constantemente. A reforma íntima consiste-se justamente em mudar de posição dentro destas faixas: passar do assombro para a busca cultural; ultrapassá-la quando começar a falar maravilhado; e, por fim, entregar-se totalmente à maravilha...

É preciso você descobrir onde está nesta escala, para poder buscar alcançar a próxima fase. Se ainda está na fase cultural, a próxima será falar maravilhado e não viver na maravilha. Isso é inexorável, pois, ninguém pula de faixa. Já dissemos isso: a natureza não anda em saltos...

Apesar de não poder ultrapassar nenhuma fase, é importante que saiba que existe todo este caminho a ser percorrido. Isto porque, quem entra numa faixa imagina que já alcançou tudo o que poderia alcançar... Aquele que se assombra, quando descobre o conhecimento racional sobre o atma diz que nada mais há para ser conhecido; quando começa a falar maravilhado vê que ainda faltava alguma coisa, mas acha que agora conquistou tudo o que havia para ser conquistado...

É isso que Krishna está ensinando a Arjuna e ao mesmo tempo perguntando a ele: que tipo de devoto é você? Que tipo de ser em evolução é você?

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 30 e 31

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Senhor da yoga - versículo 31
Senhor da yoga - versículo 31

30. Ó Bhârata, este ser que mora em todos os corpos é sempre indestrutível; portanto, não deverias afligir-te por nenhuma criatura.

31. Ainda que tivéssemos que encarar a tua existência desde o ponto de vista do dever moral que te rege, não deverias vacilar, pois não há nada mais elevado para um guerreiro do que uma guerra justa.

Vamos tentar entender este ensinamento de Krishna. Existem duas formas de se fazer coisas: a forma justa e a individualista, egoísta... Vamos explicar...

A forma justa é aquele que não traz conforto nem satisfação. É aquela que você exerce sem buscar auferir lucros pessoais. Esta é a forma justa de se participar de uma ação. Já a forma individualista é exatamente ao contrário: quando participa das coisas com paixão, positiva ou negativa. Quando você coloca paixão no que faz...

Então, o problema não é o que se faz, mas sim a intenção com que se vivenciam os acontecimentos.

Quando se fala em fazer alguma coisa, para vocês existem duas espécies de atos: os que podem ser feitos e os que não podem. Ao invés de separarem as ações pela intencionalidade, as separam por regras e normas que ditam o que pode e o que não pode ser feito.

Mas, Krishna, o sublime Senhor diz a Arjuna: não se aflija com a obrigação, mas se preocupe com a intencionalidade. Preocupe-se se a ação é justa. Preocupe-se em não levar vantagens individuais.

O ser humanizado não está acostumado a este tipo de separação das ações. Como vocês seguem normas, criam obrigações: a de fazer o que a norma diz que deve ser feito e a de não fazer o que norma diz que não deve ser feito. Seguir estas obrigações, no entanto, cria uma intencionalidade que acaba com a justiça de qualquer ação que participem...

É por isso que Cristo ensina que não é necessário nem praticar o ato: se houver o desejo, já aconteceu o pecado. Isto porque já houve uma intenção.

Sendo assim, não matar uma pessoa porque é proibido matar, é prender-se a uma intenção: não querer matar porque acha que não deve matar... Isto é individualismo, é egoísmo, gera um tipo de carma... Agora, se você mata e não sabe por que fez aquilo e nem se o outro ou você merecia passar por aquilo, está gerando um carma diferenciado – não quero falar em positivo ou negativo, por isso digo carma diferenciado.

É por isso que Krishna está incitando Arjuna a participar da batalha, mas que o faça sem intenção alguma... Ele faz isso porque sabe que o serviço devocional, o cumprimento da lei de Deus é vivenciado com intenções ou não. Quando um ser age preso a intencionalidades, recebe um tipo de carma; quando age liberto delas, recebe outro. Mas, a lei sempre se cumprirá...

É o caso, por exemplo, daqueles que precisam morrer assassinados nesta encarnação por causa de um planejamento carmático. Para que isto aconteça é necessário que haja alguém que cumpra este papel na peça. Este agente da lei só receberá um carma desmerecedor se vivenciar esta situação preso a intencionalidades geradas pelo ego...

Participante: Krishna fala em ser justo ao guerrear...

Você está pensando na justiça a partir do que? Da sua justiça?

Participante: Não, na justiça ensinada por Krishna...

Mas será que você pode ter Krishna sempre ao seu lado para lhe dizer quando é justo guerrear? Claro que não... Então, vamos entender a justiça de Krishna...

Ele diz assim: você é um guerreiro e a sua função neste mundo é guerrear... Para você entender a justiça de Krishna, precisa compreender que cada um tem um papel na divina comédia humana que precisa exercer.

Vou dar um exemplo: um advogado. Os profissionais que atuam na defesa dos direitos dos seres humanizados acham que deveriam vencer todas as causas em que atuam. No entanto, tem muitas vezes que eles não conseguem lograr êxito no desempenho de sua função.

Participante: Depende do infringir a lei ou não...

Errado. Têm muitos que não infringiram a lei que os advogados não conseguem tirar da cadeia, mas têm outros que com certeza a infringiram que nenhum advogado consegue prender...

Por que isso? Porque o papel do ser humanizado advogado é advogar e não prender ou soltar, o que faz parte da lei maior, do planejamento carmático da existência daquele outro ser. Portanto, cumpra o seu papel sem intencionalidade, ou seja, advogue sem esperar soltar ou prender ninguém... Faça o melhor de si, mas não espere resultados, ou seja, não tenha intencionalidades...

Se o advogado se prendesse às leis espirituais como conhecidas no planeta, ou seja, pela falsa benevolência, ele teria que ter a intenção de soltar quem ele acha inocente. Mas, agindo assim, apesar de o aspecto humano dizer que este é uma pessoa boa, ele teria sido injusto, porque colocou uma intencionalidade na ação, quando é um mero instrumento de uma história pré-escrita.

É isso que Krishna está dizendo a Arjuna: se você é guerreiro, lute, mas o faça sem intencionalidade de matar ou poupar alguém, para que a sua luta seja justa.

Lutar é a função de um guerreiro, por isso todos que vivenciam este papel precisam guerrear. Não querer participar das ações que são inerentes ao seu papel em nome de qualquer coisa, mesmo aquelas que humanamente são consideradas sublimes, é juntar vivenciar a situação com seu interesse pessoal.

Por isso Krishna ensina: não se prenda a palavras, não se prenda a leis, mas alcance a consciência de fazer sem intencionalidade. Isso se chama consciência amorosa...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 32 a 40

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Senhor da yoga - versículo 40

32. Ó filho de Prithâ... em realidade, afortunados são os guerreiros, aos quais se lhes apresenta, sem que a busquem, como uma porta que se abre para o céu, uma guerra justa como essa.

33. Mas se tu não tomares parte nesta guerra justa, faltando com teu dever e honra, cometerás o pecado.

34. Além do mais, as pessoas sempre falarão mal de ti e para um indivíduo de reputação, a desonra é pior que a própria morte.

35. Todos estes grandes guerreiros em seus respectivos carros pensarão que te retirastes da batalha por medo. E aqueles mesmos que antes te tinham honrado com respeito e admiração depois com desdém te tratarão.

36. Teus inimigos falarão coisas indizíveis ou muito desagradáveis contra ti; rir-se-ão do teu valor e coragem. Para um guerreiro, pode haver algo mais doloroso do que isso?

37. Se morreres na batalha, ganharás o céu; se alcanças a vitória, desfrutarás a terra. Por isso, ó filho de Kunti, levanta-te decidido a lutar.

38. Considerando iguais o prazer e a dor, a vitória e a derrota, o lucro e a perda, aceita luta. Desse modo, o pecado não te manchará.

39. Já te ensinei a necessária atitude que manterás no que diz respeito ao entendimento do ser. Escuta agora, ó filho de Prithâ, o que te direi a respeito do caminho da ação (ou Yoga), graças a cujo entendimento libertar-te-ás da maléfica ação personificada ou intencional e respectiva conseqüência.

40. Neste sendeiro da ação (ou Yoga), nenhum esforço se perde, por mais incompleto que seja, nem se produzem resultados maus ou menos contraditórios. Até mesmo uma prática mínima desta Yoga libera o homem de um grande perigo e temor.

Até aqui vimos os aspectos iniciais da conversa de Krishna com Arjuna. Agora começaremos a estudar o trabalho da elevação espiritual chamado de caminho da yoga ou o sendeiro da ação, que é a mesma coisa...

Para começar o bendito Senhor nos diz que: nenhum esforço se perde, por mais incompleto que seja; não se produzem resultados mais ou menos contraditórios; e, finalmente, que a prática mínima deste caminho libera o homem do perigo e temor. Vamos ver isso...

Nenhum esforço se perde... O que quer dizer isso? Todos os atos que são feitos, mesmo aqueles considerados maus, são válidos para a elevação espiritual...

Não estou falando apenas de atos físicos. Mesmo quando você escolhe um sentimento individualista (egoísta) para vivenciar os atos da vida, esta forma de proceder é válida para a elevação espiritual. Por quê? Porque é a vida do espírito...

Na existência do espírito nada se perde: tudo vira lição. Quando o ser universal humanizado opta por um sentimento egoísta para vivenciar uma situação da vida material, é mais um ensinamento que aprende e com isso uma nova oportunidade de elevação se apresentará. Portanto, quando optar em determinadas situações por sentimentos individualistas, não se desespere, pois isto é válido para a sua elevação espiritual. Claro, melhor seria se optasse pela universalização, pois avançaria mais. Mas, saiba que mesmo quando opta pelo egoísmo, algo foi feito no sentido da sua aproximação de Deus...

Portanto, aí está o primeiro conhecimento necessário da prática do caminho da yoga: nunca se lastime por nada...

Jamais se arrependa do que fez ou deixou de fazer. Jamais qualifique o que fez de bom ou mau, porque aquilo é útil à sua elevação espiritual. Jamais se contrarie com o que aconteceu ou que deixou de acontecer. Ou seja, não se lastime por nada, porque tudo que você faz vale alguma coisa para a sua elevação espiritual. A forma de reagir a determinados acontecimentos faz parte da sua caminhada, do seu aprendizado. Se você perde tempo parado no passado se lastimando, ou seja, culpando a si ou a outro pelo que aconteceu, parou no tempo.

Na vida do espírito, como já dissemos, não existe passado ou futuro: a única coisa que existe para ele viver é o presente. Só que ele tem que viver o presente olhando para frente. Olhando para o que ainda pode acontecer e não para o que passou. O ser humanizado deve vivenciar a sua existência carnal sem se amarrar as coisas que passaram e ficar lamentando-se delas. Vivendo assim, o ser se prende o passado e com isso não vive o presente e nem terá futuro, já que o futuro é construído no presente.

Este é o primeiro grande ensinamento; este é o primeiro grande aviso: não se lastime por nada. Tudo vale alguma coisa e quando você fica lá atrás se lastimando, perdeu uma nova oportunidade de realizar algumas coisas.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 41

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Senhor da yoga - versículo 41

41. Neste caminho, ó descendente de Kuru, existe uma única determinação que se dirige somente a um objetivo. No entanto, tu sabes muito bem que os propósitos das mentes irresolutas são inúmeros e desencontrados.

Segundo aspecto da yoga ou do caminho da libertação: ele é totalmente dirigido à realização do ser...

O que quer dizer isso? Ele não é dirigido para que você tenha alguma coisa, ganhe ou participe de algo, mas toda vida onde se busca a elevação espiritual tem uma única preocupação: se auto-realizar no ser.

O que é esta auto-realização no ser? É alcançar a paz interior, a harmonia com o Universo e a felicidade incondicional. Esta é a estrada da libertação ou da elevação espiritual. O ser humanizado yogue é aquele que vive para a sua auto-realização nestes três aspectos.

O ser que caminha por esta estrada se preocupa sempre em estar harmonizado com o Universo, por isso não vive procurando motivos para discordâncias. Quando estes motivos por acaso surgem em sua mente, ele os mata. Ele mata estas idéias porque o objetivo dele não é difamar o próximo ou ser superior a ele (estar certo), mas sim harmonizar-se com o outro.

O yogue não faz guerra contra ninguém, não aponta erro dos outros, não julga nem critica porque está sempre objetivando a paz, está sempre preocupado em viver em paz. Por isso, ao invés de lutar contra o outro para provar que está certo, ele luta contra si mesmo: briga consigo para calar a crítica que surge através do ego...

O ser humanizado yogue não vê motivos de sofrimento, porque não tem nada para perder, fazer ou ser. A única coisa que ele objetiva nesta vida é alcançar a verdadeira felicidade, aquela que não depende de realização alguma. Por isso luta contra os desejos para que a felicidade dele não seja condicionada a alguma coisa.

Este é o verdadeiro yogue. Ele pode ser chamado assim porque tem a mente em paz. Já aquele que possui a mente perturbada por milhares de objetivos nada consegue com relação à elevação espiritual, pois não tem como objetivo a harmonia, a paz e a felicidade verdadeira...

O ser humanizado que não caminha pelo caminho da elevação espiritual no trabalho tem um objetivo, em casa, na rua ou na escola outros. Ou seja, ele tem diversos objetivos e acaba se perdendo nesta montanha de vontades e desejos.

Quando vai para casa esquece o objetivo que tinha no trabalho e passa a se dedicar a outro. Sai de casa e seus objetivos mudam... Ao viver assim esquece que cada vez que altera o objetivo, a razão de estar vivendo, deixa de se realizar, de sentir-se pleno...

É por isso que os ser humanizado jamais se realiza durante a sua existência. A existência desta multiplicidade de objetivos a serem alcançados para poder levar o ser ao gozo da plenitude da felicidade cria a necessidade de que ele fosse um super-homem: alguém capaz de realizar tudo...

É por isso que os ser humanizado sofre, não consegue harmonizar-se com o mundo e não vive em paz: por colocar estas realizações na dependência de alcançar seus múltiplos objetivos individualistas. Para ser feliz ele teria que inverter o processo, ou seja, ao invés de colocar estes elementos (paz, felicidade e harmonia) como dependentes de vontades, os transformar em objetivos de vida...

 Sendo assim, posso dizer que reforma íntima é colocar a paz, a harmonia com o mundo e a felicidade incondicional como objetivo de vida.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 42 a 44

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Senhor da yoga - versículo 42
Senhor da yoga - versículo 42

42, 43 e 44. Ó Partha, os tolos, cuja mente está cheia de desejos e que consideram a vida celestial (ou paraísos relativos e pensados) como a sua meta mais alta, os quais estão submissos aos panegíricos védicos (no ocidente, submissos à letra morta dos versículos bíblicos) e que consideram isso algo muito superior, esses ignorantes, ó Arjuna, falam com os costumeiros termos floridos a respeito das diversas classes de cultos védicos, cultos esses que originam os nascimentos, as ações e seus resultados, como meios para o prazer e a dor. Aqueles que se ligam a esses néscios e se deixam levar por toda essa fraseologia enfeitada, jamais lograrão a determinação única, que conduz o homem à absorção espiritual.

Vamos entender isso, porque apesar de parecer muito complicado, já que contêm algumas palavras difíceis, este texto é importante para quem quer realizar-se no ser.

Na verdade o que Krishna diz é o seguinte: alguns ensinam o reino do céu através da letra fria. Antes de buscar o entendimento, uma observação: ligo aqui o ensinamento de Krishna ao reino do céu (ensinamento bíblico) porque, apesar do texto falar em livros védicos, os “Vedas” são os livros sagrados hindus, assim como a Bíblia o é dos cristãos. Portanto, em essência eles são a mesma coisa: o instrumento usado por religiosos para buscarem a elevação espiritual. Sendo assim, o alerta serve para elementos de qualquer religião: não procure a elevação espiritual preso apenas à fraseologia enfeitada de um livro sagrado, porque quem assim age jamais logra alcançá-la. Vamos compreender isso...

Os católicos, por exemplo, pela prisão à letra fria, acreditam que, depois do desencarne, dormirão até o dia do juízo final. Por isso, para eles, o ideal é morrerem, ou seja, dormirem depois do desencarne. Os espíritas são levados a acreditar na existência das cidades espirituais. Por causa deste apego à letra fria, ao saírem da carne, buscam uma cidade espiritual. Os mulçumanos acreditam que Alá fez no reino do céu uma grande tenda onde haverá um harém cheio de virgens para eles. Os budistas sonham com o Nirvana, ou seja, com um jardim muito bonito, com lindas plantas, borboletas... Por isso estes religiosos sonham com a chegada a estes lugares. Mas, Krishna está nos ensinando que não devemos nos apegar a estas coisas. Por quê? Porque estas coisas foram apenas figuras criadas através de determinadas palavras que os mestres usaram para simbolizar a felicidade plena...

Aqueles que buscam a felicidade a partir da satisfação, ou seja, precisam de determinadas coisas para ser feliz, na verdade não alcançam lugar algum, porque só alcançaram a realização dos seus desejos. Como o que surge quando isso acontece é o prazer, estes terão que reencarnar para realizar o trabalho da reforma íntima, pois ainda estão presos aos desejos e paixões humanizados.

É isso que Krishna está nos ensinando. O caminho da yoga, da libertação, é o caminho do fim do desejo de tudo. É chegar ao mais alto poder de harmonização com o Universo, ou seja, ser feliz incondicionalmente. É isso que pode e lhe levará à elevação espiritual.

É por isso que ele fala que quem se liga a esses néscios (ignorante, incapaz – Mini Dicionário Aurélio) se prende à vida carnal, mesmo depois de desencarnado. Ele está preso à roda de encarnações e por isso terá que novamente voltar à condição de humanizado. O verdadeiro buscador de Deus precisa ouvir as palavras, mas também ir além do sentido humano delas. Compreender, por exemplo, que o mestre não podia dizer que o céu era uma tenda no meio do deserto cheio de virgens, porque se fizesse isso, estaria decretando que mulher não entra no reino do céu, a não ser para servir os homens. Na verdade, o texto sagrado dos mulçumanos prendeu-se a elementos daquela época, onde a mulher não era levada em consideração. Por isso o texto foi escrito para chamar a atenção de homens e não de mulheres...

É isso que estou querendo dizer. Na verdade o que Krishna nos ensina é que temos que buscar a felicidade incondicional. Esta felicidade que o mestre fala está acima de qualquer figura que possa ter sido criada pelos textos sagrados de cada religião. Ela está no interior de cada um, no coração... Por isso, para alcançá-la, é preciso se desligar de toda e qualquer imagem (paixão) e dos desejos e vontades que surgem através da mente.

Para eliminar as idéias que temos sobre o que é viver no reino do céu, pergunto: o que é o reino do céu? É um estado de espírito onde, esteja você onde estiver, tendo quem quer que seja ao seu lado, viva em perfeita harmonia com o Universo e em felicidade. Isto é o reino do céu... Não importa se você está na carne ou não: na hora que estiver vivendo assim estará no reino do céu...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 45

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Senhor da yoga - versículo 45
Senhor da yoga - versículo 45

45. Nossos Vedas tratam dos três gunas, que são Sattva, Rajas e Tamas. Ó Arjuna, liberta-te desses três gunas relativos, liberta-te dos pares de opostos e, sempre equilibrado, ficarás livre dos pensamentos de aquisição e posse, estabelecendo-te no ser (ou Atma).

NOTA: Sattva – qualidade da bondade; Rajas - qualidade da atividade e da paixão; Tamas – qualidade da inércia e do obscurantismo.

Antes de qualquer coisa vamos entender o que é guna: propriedades do pensamento... Gunas são direcionamentos que estão embutidos nos pensamentos humanos.

O primeiro guna que Krishna cita é o sattva. Este é o guna da bondade, ou seja, da sua forma de pensar as coisas com bondade. O que você acha que é bondade é formado pela ação do guna sattva presente no seu ego e não uma verdade por si mesmo.

Apesar deste guna parecer algo bom, porque humanamente se acha que pensar com bondade é bom, Krishna nos diz que o buscador de Deus precisa se libertar deste padrão. Isto porque, se você estiver preso (acreditar como real) nos padrões de bondade que existem na sua razão, automaticamente também acreditará nos padrões de maldade que existirão por causa do dualismo.

O Bendito Senhor ensina isso porque sabe que a prisão aos pensamentos formados pelo guna sattva prende o ser universal ao prazer, ou seja, condiciona a felicidade. Isso porque nasce o desejo de vivenciar o que é considerado bondoso e o desejo de não vivenciar o que não é assim considerado. Deste desejo de vivenciar o que se quer nasce o condicionamento à felicidade e, com isso, a desarmonia com o Universo.

Vou dar um exemplo: a mãe espera que o filho faça determinadas coisas (estude, trabalhe, cresça materialmente). Esta forma de pensar é considerada como bondosa pela humanidade. Por acreditar nisso, o ser que se humaniza como mãe vivencia esta criação da razão como real e certa. Mas, quando o filho, por seu próprio carma, não age assim, ela sofre... Esta desarmonia com o Universo (aquilo que ela vive) não lhe deixa alcançar a elevação espiritual...

Na verdade este ser não se elevou por culpa do filho – porque ele a fez sofrer – mas, por sua própria culpa. Deixou de unir-se a Deus (entrar no gozo da felicidade plena) não por culpa do filho, mas por sua própria, pois colocou a realização dos seus desejos como condicionamento à felicidade.

Segundo guna que Krishna cita: rajas. Esta é a propriedade da mente humana que insere nos pensamentos o gostar de alguém, do que deve ser feito, do que precisa ser realizado...

Esta é a qualidade do pensamento que cria as paixões. É a partir destas paixões, positivas (gostar, fazer) e negativas (não gostar, não fazer), que nascem os desejos que condicionam a felicidade...

Terceiro guna: tamas. Este é o guna que confere ao pensamento direcionamentos no sentido de omitir-se, de esperar as coisas realizarem por si só.

Um destes três direcionamentos está sempre presente em cada formação mental criada pelo ego. São eles que servem de base para a criação dos pensamentos. É por existirem estes três direcionamentos que nascem as suas paixões e delas surgem, então, os desejos que condicionam a felicidade, ou seja, lhe afasta da realização no ser...

Mas, estes direcionamentos jamais poderão deixar de existir... Enquanto você estiver preso a um ego humanizado estará sujeito as formações mentais e elas sempre estarão fundamentadas em um destes três gunas. Por isso Krishna diz: seja equânime, ou seja, trate com igualdade os três impulsos que a formação mental usar para decretar o que você tem que fazer ou deixar de realizar. Sendo assim, se ela lhe diz que você deve agir, não se prenda a isso como realidade; se ela disser que deve omitir-se, não acredite sentimentalmente nisso; se ela lhe disser que tal coisa é certa moralmente de ser feita, não creia nisso...

Na hora que o ser humanizado buscar a yoga, ou seja, o caminho da libertação, terá obrigatoriamente que abrir mão dos seus gunas. Se não abrir mão destes padrões que compõem o pensamento não conseguirá jamais a equanimidade necessária para que evolua.

Participante: É tão simples assim... Basta abrir mão destes impulsos?

Sim, a elevação espiritual é simples...

Mas, não pense que este ensinamento é primazia dos hindus. Cristo ensinou a mesma coisa: se o seu olho lhe faz pecar, arranque-o porque é melhor entrar no reino do céu sem um olho do que ir para o inferno com os dois. Ao ouvir isso os discípulos perguntaram ao mestre: o senhor está dizendo que somos pecadores? Cristo respondeu: se dizem que podem ver, são...

Na verdade este ensinamento cristão é a mesma coisa que acabamos de ver com palavras diferentes. Isso porque tudo que você percebe através da visão leva à formação de um pensamento onde estão presentes as características dos gunas.

 Portanto, se abrir mão de tratar o que vê como real estará eliminando a ação do guna...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 46

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Senhor da yoga - versículo 46

46. Para um autêntico brâmane, vivenciador da Verdade, todos os livros sagrados ou Vedas são de pouca valia. Tais livros assemelham-se a um pequeno tanque de água que perde a sua utilidade quando, como numa inundação a água (ou vivência) se espalha por todas as partes.

Este é um ponto que já tinha comentado diversas vezes. Já havíamos falado dele quando estudamos os ensinamentos de Buda.

Lá dissemos que o ensinamento é como um barco que lhe leva do porto da ignorância ao da sabedoria. Só que quando se chega o destino é preciso desembarcar (esquecer o ensinamento). O problema é que tem muita gente que acha o barco bonito (imagina que o ensinamento é muito profundo) e fica navegando eternamente dentro do barco. Com isso não realiza nada...

Na verdade, todos os ensinamentos não valem de nada: eles são apenas culturas. O que é preciso alcançar é a sabedoria, ou seja, a cultura na prática. Enquanto você tiver cultura apenas, este saber lhe parecerá um oásis: sentir-se-á realizado por ter alcançado uma verdade, uma coisa importante que deve saber e ensinar aos outros. Mas, isso não leva a lugar algum: o que precisa é praticar o que aprendeu...

Quando transfere a cultura para a sabedoria, transfere para a vivência, tudo o que soube torna-se automático em você. Na verdade, se inunda com o saber e aí não mais consegue ver um oásis, mas faz parte dele. Enquanto apenas sabe, não consegue distinguir a água da terra...

O ser que alcança a sabedoria, ou seja, consegue a realização do que sabe, não mais se prende ao ensinamento, porque passa a ser o próprio... É isso que Krishna está ensinando... Aliás, a mesma coisa que estudamos em Buda, Cristo, em O Livro dos Espíritos, ou seja, um ensinamento universal.

 Por isso compreenda: cultura é uma coisa, uma tina com água; sabedoria é aprender a viver dentro da água...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 47

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Senhor da yoga - versículo 47
Senhor da yoga - versículo 47

47. Ó Arjuna, como ser manifesto e pensante somente tens direito à ação, nunca aos frutos do que crês fazer. Portanto, que tua ação jamais seja motivada pelos frutos. De outro lado, não te apegues à inação.

Vocês não podem criar nada que vai acontecer, pois tudo já está escrito e é realizado pelo faça-se (emanação) de Deus... Vocês só têm, portanto, o direito de agir agora dentro do que está pré-escrito...

Por isso quando agirem agora, não junte a esta ação nenhuma vontade (intenção) de que ela resulte em determinada coisa. Isto é perda de tempo, porque o futuro, ou seja, o que decorrerá da ação de agora, já está escrito. Você não vai criar o futuro agora...

Não falo apenas da ação física, mas também da sentimental... Não participe das ações esperando sentimentalmente receber alguma coisa... Jamais participe dos acontecimentos da vida com o sentimento de espera de receber alguma coisa ou com medo do que possa vir a acontecer. Ao contrário, participe do mundo de hoje, o agora, apenas de uma maneira perfeita e clara: amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta é a única coisa que você pode fazer (amar ou não a Deus, amar ao próximo ou a si mesmo) e isso não altera os acontecimentos futuros, os seus carmas futuros...

Portanto, não se preocupe com o futuro: ele acontecerá dentro do seu plano carmático. Ao contrário, concentre-se em saber se está amando o próximo ou não. Preocupe-se em ver se está amando a Deus acima de todas as coisas ou não... Esqueça todo o resto, porque você não tem comando sobre as coisas que sucederão este momento...

Esta é uma coisa que você, ser universal humanizado, pode realizar: amar. Só que quando tem notícia de que o futuro está pré-escrito, faz exatamente ao contrário: imagina que deve cair na inação...

O que é inação? Não agir, não fazer nada, inércia... Quando um mestre fala nisso, o ser humanizado, que está preso à ilusória capacidade de agir acredita que ele está falando em não agir fisicamente. Mas, acontece que como o futuro está pré-escrito a ação acontecerá inexoravelmente e no sentido que tiver que acontecer...

Krishna, como nós já vimos neste estudo até aqui, sabia disso. Por que, então, ele orienta Arjuna a não se apegar à inação? Porque ele está falando da inação espiritual, do não agir espiritualmente...

O ser universal humanizado pode agir sentimentalmente. Como disse anteriormente, ele pode escolher entre amar a Deus e ao próximo ou amar a si mesmo. É sobre esta ação que Krishna está orientando aos buscadores de Deus que não se entreguem à inação: não deixem de estar sempre fazendo uma opção sentimental...

Ação é escolha sentimental através do livre arbítrio; a inação, ou inatividade espiritual, neste caso é não escolher a cada segundo entre amar a Deus ou amar a si. Agindo dentro desta inação, o ser humanizado entrega-se constantemente ao que o ego diz que é verdade...

Como já salientei em outras oportunidades, o ser humanizado deixou de racionar sentimentalmente. Ele sabe através dos ensinamentos dos mestres que deve amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas não se preocupa em realizar isto. Por isso se deixa levar pelas sensações que o ego cria. A personalidade humana cria, por exemplo, a idéia de que determinas pessoas são fofoqueiras. Cria, também, a sensação que não se deve gostar delas por este motivo. Neste momento o ser universal pode agir amando a Deus e ao próximo e, com isso, libertar-se desta sensação. Mas, ele não faz isso: entrega-se à inação, ou seja, não realiza a opção e segue placidamente o que o ego diz que tem que sentir...

Chegou à inação... O ser humanizado não age mais... Se a única coisa que ele pode agir é sentimentalmente, quando usa a sensação que o ego cria, não mais usou o seu livre arbítrio, não mais agiu...

Se alguém um dia lhe der uma pisada, nunca mais você será seu amigo, pois o ego criará sempre a sensação de desconfiança para este ser e você, que não realiza a única ação que pode, a vivencia... Isto é parar de raciocinar sentimentalmente... Isto é inatividade, inação...

O espírito, a coisa mais magnífica do Universo, nasceu para ação: para exercer o livre arbítrio... Quando se humaniza, se entrega às sensações criadas pelo ego, joga fora o grande dom que Deus lhe deu: a capacidade de optar pelo amor, ou seja, amar...

Nosso trabalho, que também é a yoga, o caminho da libertação, é ensinar aos seres humanizados a exercer o livre arbítrio novamente. É isso que Krishna fala no início deste texto quando diz que todos os livros védicos, ou seja, todo conhecimento trazido por ordem de Deus é no sentido voltar a utilizar o livre arbítrio. De mostrar a importância de optar entre vivenciar os acontecimentos do Universo amando ou se deixar ser guiado pelos gunas do ego...

Todos os mestres ensinaram isso. Cristo foi um mestre na arte de raciocinar espiritualmente, de optar pela entrega a Deus e ao próximo acima de si mesmo. Por isso, todos os que querem unir-se a Deus precisam retornar a esta atividade (exercer uma opção através do livre arbítrio sentimental) ao invés de entregar-se à inação, ou seja, viver a vida seguindo placidamente o que os gunas criam...

Falo em libertar-se da inação do raciocínio espiritual, porque do exercício do raciocínio material os seres humanizados não abrem mão. Apesar de todos os mestres ensinarem que Deus é a Causa primária de todas as coisas, os seres humanizados não abrem mão de dizer que são eles que escolhem se uma pessoa é bonita ou feia. Não abrem mão de realizar esta ação, mas por outro lado, não dão à mínima ao livre arbítrio espiritual...

Utilizar-se do livre arbítrio do ser universal é o grande bem que o espírito perdeu quando deixou de viver para Deus e entregou-se ao mundo material como independente do Universo... Por isso Cristo e todos os mestres vieram ensinar isso...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 48

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Senhor da yoga - versículo 48
Senhor da yoga - versículo 48
Senhor da yoga - versículo 48

48. Ó Dhananjaya abraça essa forma de agir ou estabelece-te nessa yoga e renuncia ao apego. Sê indiferente ao sucesso e ao fracasso e assim comporta-te. Esta equanimidade é a própria Yoga.

O que é a própria yoga?

Participante: A equanimidade...

Que surge do que? Do desapego e da indiferença ao sucesso e ao fracasso... Ou seja, da não busca da fama individual...

O ser humanizado deixou de raciocinar e por isso convive com os seus conceitos como verdades puras, cristalinas. Mas, ao fazer isso, não entende que não está vivendo consigo mesmo, pois estes conceitos não são dele. Na verdade são conceitos que lhe são impostos, já que foram criados por sua mãe, seu pai, sua tia ou mulher, ou seja, foi a humanidade que os criou.

Quando o ser humanizado é pequeno a mãe o ensina a não andar descalço. De tanto ela repetir isto, ele toma como sua esta verdade e nunca mais anda descalço. Se andar, cria inconscientemente a culpa que pode se transformar em doença...

O ser humanizado trocou toda a arte de pensar, de escolher seu próprio caminho, pela busca da fama, ou seja, para mostrar ao mundo que ele conhece e segue as verdades do mundo... Este ser não anda calçado porque quer, mas para poder dizer que aprendeu a verdade que é aceita como certa pela humanidade...

É a isso que Krishna está se referindo neste trecho: a busca do elogio, da fama, do ser considerado humanamente certo. Por conseguinte, fala também do medo da crítica, ou seja, do medo de ser repreendido por não estar agindo corretamente.

Dentro do nosso exemplo, se o ser humanizado gosta ou não de andar descalço isso não tem importância, porque ele anda sempre calçado para provar que conhece as verdades do Universo e por medo de ser considerado alguém que destoa do mundo... Na verdade cada ser humanizado passou, por comodismo, por inação, não por maldade, a agir de acordo com as verdades que lhe foi dada, para buscar a fama...

Por isso Krishna falou anteriormente que o ser humanizado precisa voltar a raciocinar. A raciocinar espiritualmente (escolher sentimentos) e não deixar levar-se pelos gunas que dão características aos pensamentos...

O ser humanizado precisa voltar a discutir consigo mesmo. Será que ao criticar o próximo está amando-o? Será que se ao acusar o próximo está amando-o? Será que ao desejar uma coisa a ponto de sofrer se não consegue está amando mais a Deus do que a si mesmo?

Realizar estes questionamentos no seu mundo sentimental é o caminho da yoga, o caminho da elevação. Aqueles que entram neste caminho têm como prática voltar a raciocinar espiritualmente. Com isso o ser humanizado volta a realmente viver, pois hoje ele não vive: conta tempo, passa pela vida. Isso porque apenas repete conceitos sentimentais sem exercer o livre arbítrio, exercício esse que caracteriza o seu existir...

Salomão, o Sábio, dá um grande conselho neste sentido: será que você pode fazer alguma coisa que ninguém fez? Veja que tudo que um ser humanizado pode fazer, já foi feito por outro. Sendo assim, o ser não cria nada: apenas repete o que alguém já fez. É importante entender isso porque se a elevação é caracterizada por uma reforma íntima, é preciso reformar o nosso íntimo. Ninguém se reforma apenas repetindo o que todos fazem...

Se alguém bebe, o ser humanizado logo vibra na acusação chamando-o de alcoólatra... Acha que este conceito é ele que está criando, mas não vê que é apenas uma repetição do que o mundo, a sociedade, a humanidade acha. Será que se você vibrar dentro da sensação que acompanha a denominação de alguém como alcoólatra isso é sinal de amor? Ou amá-lo não seria dar a ele o direito de beber até morrer, se assim quisesse? Claro que sim, pois desta forma estaria utilizando o sentido de liberdade que está embutido no amor.

Para que você ame o outro deve conceder a ele a liberdade absoluta, ou seja, dar o direito dele fazer, estar e ser o que quiser. Esta forma de viver respeita o direito à individualidade que todos querem ter e que, por conseguinte, devem dar aos outros para amá-los segundo o Espírito da Verdade.

NOTA: Refere-se a uma pergunta de O Livro dos Espíritos onde o Espírito da Verdade afirma que a expressão máxima do amar é dar ao próximo o que deseja para si. Neste caso, se alguém quer ter o direito de não beber, deve dar ao outro o direito de fazê-lo.

O ser humanizado não tem nada a ver com a vida do outro, porque não a vive. Apesar disso, não consegue viver sem criticar a quem bebe, pois precisa mostrar que conhece as leis morais do planeta (beber não é certo) para poder assim, ser reconhecido como uma pessoa boa...

É isso que Krishna fala neste texto. Ele fala que, apesar da ação dos gunas que criará no pensamento o sentido de criticar o outro (ele é um bêbado, não presta), o verdadeiro yogue busca raciocinar do ponto de vista sentimental: eu amo essa pessoa?

Não estou falando de amor humano, daquele que tem condições para existir. Estou falando do amor universal, aquele que é incondicional. Quando o ser humanizado ama universalmente alguém, o acolhe em seu coração sem críticas, bêbado ou são...

O amor universal não tem dualismos: existe numa hora e não existe na outra. Por isso, não importa se a pessoa deixou de beber, está bebendo ou já está bêbado, ele existe...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 49

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Senhor da yoga - versículo 49

49. Ó Arjuna, qualquer obra que se cumpre movida pelo desejo é bastante inferior à que se cumpre com a mente não perturbada pelos resultados almejados. Portanto, refugia-te na Yoga do reto entendimento. Infelizes são aqueles que sempre se movem em busca de um resultado.

Por que a obra cumprida com desejo é inferior à outra?

Participante: Porque o ser imagina que é capaz de fazer alguma coisa, mas tudo já está escrito...

Sim, mas há outro motivo. Quem cumpre uma obra motivado pelo desejo encontra o quê como resultado?

Participante: O que ele esperava acontecer ou o que não esperava...

Certo... Agora, se ele encontra o que não esperava sofre, mas se encontrar o que esperava, ele terá felicidade. Como, então, Krishna fala que todos que se movem em busca de um resultado são infelizes? Porque esta felicidade que é encontrada por quem se move a partir de desejos é falsa?

Participante: Porque é uma felicidade baseada num desejo...

Sim, felicidade com tempo marcado...

A felicidade alcançada quando a realidade e o desejo são iguais é falsa porque é momentânea, relativa... Pela característica impermanente que a vida humana possui certamente a situação que hoje satisfaz os desejos irá mudar. Quando isso acontecer o ser humanizado sofrerá...

Por isso Krishna diz que não importa se você alcança o que quer ou não, é um infeliz... Ele fala assim porque sabe que, mesmo alcançando o que desejava, esta conquista será tão fugaz, tão rápida, que logo depois você sofrerá...

Por isso ele aconselha: refugia-se na yoga, no caminho reto. O que é refugiar-se? Proteger-se. Krishna, então, lhe aconselha a buscar amparo na yoga, porque o caminho reto lhe ampara, lhe protege. Do quê? Do sofrer...

Proteger contra o sofrimento: este é o objetivo do ensinamento de Buda, Krishna e de Cristo. Tudo o que os mestres ensinaram tem como objetivo proteger o ser humanizado da vida. Ou melhor, protegê-lo dos sofrimentos da vida.

Aquele que se refugia, que busca amparo na yoga, no caminho reto, jamais sofrerá, pois este caminho não conduz a uma intencionalidade. Por isso não lhe expõe ao prazer e a dor...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 50

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Senhor da yoga - versículo 50

50. Quando alguém vivencia esta tranqüilidade mental, ainda que nesta mesma vida, liberta-se das noções do bem e do mal. Por conseguinte, consagra-te a esta Yoga. Karma Yoga significa habilidade na ação e ausência de propósitos pessoais.

Krishna fala algo interessante neste texto: a yoga ou caminho reto tranqüiliza a mente... O que é tranqüilizar a mente?

Primeiro: acabar com as dúvidas... O caminho reto, o caminho onde não há intencionalidade acaba com qualquer dúvida que o ser humanizado tiver sobre qualquer coisa. Ele não terá mais pensamentos investigativos sobre se é ou não é, se gosta ou não, se quer ou não.

Isso, por si só, já tira um peso imenso do ombro de vocês, pois passam o dia inteiro investigando as coisas. Investigam os acontecimentos do mundo para proteger suas verdades, seus conceitos, seu prazer. Agir assim traz uma perturbação mental, pois por mais que investiguem, não conseguem compreender perfeitamente o que está acontecendo. Não conseguem chegar a uma conclusão final sobre qualquer assunto. Por isso têm sempre que investigar mais...

Mesmo assim, tem horas que o ego diz que chegou a uma conclusão sobre o tema, mas aí vem a impermanência e transforma tudo... A partir desta ação da impermanência são obrigados a investigar novamente o assunto...

A segunda coisa que acaba com a ausência de intencionalidade é o medo. A yoga, o reto caminho, acaba com o medo, porque o ser humanizado não tem mais expectativas, desejos. Por isso não tem mais medo. O medo é o segundo grande peso que vocês carregam o dia inteiro: o medo de ser ferido, o medo de ser contrariado...

A dúvida que leva ao investigar constante e o medo do sofrimento são os elementos que transformam o viver em algo pesado, difícil, cansativo... A yoga traz a paz para a mente porque ela acaba com estes tipos de pensamentos.

Na hora que você vive a vida sem querer saber se quer ou não, se gosta ou não, ou seja, sem intencionalidade, a sua mente e os seus pensamentos ficam em paz: sem dúvidas e sem temores.

Participante: É possível alcançar isso?

Sim... Basta sempre perguntar a você mesmo: eu estou participando desta ação querendo ou esperando alguma coisa?

Participante: O problema é que sempre quero alguma coisa...

É contra isso que tem que lutar. Tem que lutar contra o seu querer e não entregar-se a ele, pois ele não é seu. O desejo, como nós já vimos no estudo dos ensinamentos de Buda, nasce como poluição adventícia, ou seja, como elemento material que serve como instrumento carmático para a sua reforma íntima...

Viver por viver e não viver para alguma coisa: esta é a realização do yogue... Mas, para isso é preciso voltar a raciocinar a vida e não simplesmente entregar-se às sensações criadas pelos gunas do ego...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 51

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Senhor da yoga - versículo 51

51. O sábio dotado de entendimento está mentalmente tranqüilo, por isso se afasta dos frutos de suas ações; liberta-se dos laços que o pensamento forja a respeito do nascimento, crescimento e morte e vivencia um estado que está mais além de qualquer mal ou dano.

O grande pedaço deste trecho é: o sábio dotado de entendimento liberta-se dos laços que o pensamento forja a respeito do nascimento, crescimento e morte. Tudo o que pensou até hoje que é vida, deve ser alvo de uma libertação. Isso porque tudo o que pensou foi condicionado ao seu querer.

Em determinada época, viver para o ser humanizado é apenas brincar. Depois se transforma em realizar-se nos estudos para poder ter futuramente uma profissão e ganhar dinheiro. Mais tarde passa a ser vivenciar o casamento e a educação dos filhos. Liberte-se de tudo isso. Não coloque objetivos nas diversas etapas da vida, porque não nasceu para realizá-los.

Você não nasceu para realizar objetivos materiais, mas para realizar sua reforma íntima e alcançar a elevação espiritual. Para isso, é preciso que você se liberte destes desejos.

Na verdade, você quando encarnou tinha um único objetivo: ter estes desejos e provar a si mesmo que é capaz de libertar-se da ação deles... O ser humaniza-se justamente para provar a si mesmo que é capaz de libertar-se da prisão aos conceitos materiais que o ego cria ao longo daquilo que vocês chamam de vida carnal. Só que como diz o Espírito da Verdade, depois de encarnado sua forma de ver as coisas muda e por isso passa a desejar o que a mente cria como desejo.

Esta é o grande trecho deste texto. Com relação a acalmar a mente já havíamos conversado. Mas, esta informação foi novamente inserida porque não foi dito anteriormente que para se acalmar a mente é preciso haver a libertação destes objetivos padrões que se alteram ao longo da existência humana. É preciso se libertar das obrigações humanas que a sociedade cobra de cada um para poder ser considerado como um ser humano certo, bom...

Cristo ensinou assim: eu venci o mundo. Vencer o mundo é exatamente isso: vencer os padrões do mundo... Libertar-se dos padrões, das obrigações de ser, estar e fazer. É alcançar a mais pura liberdade: a liberdade ser você mesmo e não apenas um repetidor de padrões...

É isso que é o caminho da yoga. O resultado para quem trilha o caminho reto é a liberdade dos padrões e obrigações mundanos. Este não é mais atingido pelos elogios e críticas do mundo...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 52

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Senhor da yoga - versículo 52

52. Quando a tua compreensão superar o valor dos conceitos ilusórios e do espelhismo que eles provocam, ficarás indiferente tanto em relação ao que já ouviste (memória) como ao que terá que ouvir (imaginação).

Da compreensão dos ensinamentos deste trecho surge uma palavra que temos usado muito: apatia, indiferença...

Aquele que alcança a elevação espiritual se torna apático, indiferente ao mundo. Ele não dá valor às coisas deste mundo porque ele sabe que, como Krishna diz, todas as coisas deste mundo são maya, ou seja, ilusão...

O yogue completo sabe disso. Sabe que tudo que ele acha e todos os desejos que têm são criados pela ilusão de estar, ser e fazer. Isso é que estamos ensinando...

A mesma ilusão que Krishna chama de maya, por nós é definida com outras palavras: o mundo é irreal, não existe. Nada do que você vivencia existe. Quando sair desta encarnação tudo isso ficará para você, espírito, num passado remoto, perdido... É só começar uma nova encarnação que tudo isso ficará perdido no tempo...

Vocês já tiveram notícias de espíritos que voltaram a reencarnar junto com os mesmos familiares de encarnações anteriores. Quando isto aconteceu estes seres não tinham a mínima consciência de já haver vivido junto com aqueles. Não possuíam a mínima consciência do sentimento familiar que em uma encarnação viveram tão intensamente como realidade...

O espírito que reencarna não tem a mínima noção do que fez em outras vidas. Mesmo que tenha notícias de coisas que foram realizadas em uma determinada encarnação que tenha vivenciado – refiro-me àqueles que viveram encarnações cujas histórias pertencem ao passado histórico do planeta – não sabe que foi ele quem fez... Isto porque tudo é ilusão...

Ter, ser, querer, fazer, o que disseram, o que você fez, o que deixou de fazer: tudo isso acaba com a morte. Por isso é ilusão... Somente Deus e o Universo são reais...

O ser precisa a partir desta consciência da ilusão do mundo ser apático ele. Só quando ele é indiferente ao mundo consegue ser atento ao Universo, à realidade espiritual...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 53

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Senhor da yoga - versículo 53

53. Quando se aclarar o teu entendimento perplexo, por causa das mais diferentes opiniões vigentes e te estabeleceres n samadhi (ou na absorção espiritual, na vivência do Absoluto), somente então vivenciará a Yoga Suprema.

Foi o que acabei de falar: é preciso calar a mente perplexa para poder se concentrar em Deus...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 54

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Senhor da yoga - versículo 54

Arjuna perguntou:

54. Ó Krishna quais são as características de um homem dotado de firme entendimento e reta compreensão e estabelecido no samadhi? Aquele que obteve a consciência de Deus, como caminha, como se senta, como fala um homem assim de conhecimento tão firme?

Arjuna quer saber como o yogue senta, fala, caminha... Ele quer saber se aquele que tem a reta compreensão age de forma diferente do ser humanizado que ainda está preso aos seus desejos...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 55 a 63

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Senhor da yoga - versículos 55 a 63

O bendito Senhor disse:

55. Ó Partha... quando o homem está satisfeito no ser, pelo próprio ser em si e despojou-se por completo de todos os anseios da mente, então diz-se que tam homem possui uma sólida sabedoria.

56. Aquele que fica imperturbável na adversidade e tampouco anela a felicidade, aquele que não tem apego, nem medo, nem ira, esse é um muni (sábio que se mantém silencioso) de firme sabedoria.

57. Aquele que se mantém desapegado em todas as situações, que não se regozija com o bem estar nem se desespera diante do mal, esse é dotado de firme sabedoria.

58. E quando afasta completamente sua sensorialidade dos respectivos objetos (pensados), tal como a tartaruga esconde os membros de seu corpo na carapaça, então seu entendimento se consolida.

59. Os objetos se desprendem daquele que os deixa de anelar; todavia, o desejo de gozo ainda persiste no íntimo do homem desatento. Portanto, aquele que realiza ou vivencia o Ser Supremo, até desse desejo se liberta.

60. Ó filho de Kunti... os sentidos contaminados tornam-se turbulentos e arrastam para um mau caminho a mente de um homem preso ao senso comum; quanto mais a mente daquele que luta para se aperfeiçoar!

61. O homem de firme sabedoria, meditando em Mim, controla a turbulência de seus pensamentos. Sem dúvida, o entendimento daquele que controlou seus sentidos não vacila nunca.

62. Pensando a respeito dos supostos objetos sensíveis, o homem fica ligado a eles; dessa ligação nasce o desejo e do desejo frustrado nasce a cólera.

63. Da cólera nasce a ilusão; com a ilusão ou obnubilação, perde-se a lucidez. A perda da lucidez conduz a capacidade de discernir à ruína e, com a ruína desta faculdade, o homem perece como escravo do ego.

Até aqui Krishna explicou que quando o ser humanizado pensa sobre alguma coisa nasce o desejo. Ele prende o ser à necessidade do alcançar o que deseja. Quando isto não é realizado, nasce a cólera, a raiva, que são sofrimentos.

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 64

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Senhor da yoga - versículo 64

64. Mas aquele que dominou a si mesmo, auto conhecendo-se e com isso alcançou a tranqüilidade interior, esse se move imperturbado entre os objetos, graças a um sentir incontaminado, livre de todo anelo.

Aqui começa a resposta de Krishna à Arjuna...

No item cinqüenta e quatro Arjuna pergunta: como anda, senta, se porta fisicamente o homem elevado? Krishna responde aqui: de uma forma não perturbada...

A única diferença entre um ser elevado ou não elevado é mental. O ser não elevado anda entre as coisas de uma forma perturbada: será que aquilo está no lugar, será que vai acontecer determinada coisa? Será que é certo fazer isso? Aquele cuja mente funciona com este tipo de pensamento é o homem perturbado.

Já o homem não perturbado transita entre as coisas sem ver nada. Não sem olhar, mas sem perturbação: se está deste jeito, está certo; se está desta forma, está bom... Ele não se perturba com nada. Nada lhe perturba.

Desta conclusão podemos, então, chegar à resposta de Krishna à pergunta sobre a diferença do andar ou sentar entre o homem sábio e o não sábio? Nenhuma. O sábio não tem diferença no andar, mas na atenção entre as coisas pelas quais anda. É na atenção que se dá às coisas deste mundo que está a diferença entre aquele que tem a sabedoria de verdade e o que apenas se considera elevado (possui cultura).

Esta é a modificação que acontece com quem transforma cultura em sabedoria: ele não muda a vida, mas muda de vida... O ser elevado continua vivenciando todas as suas situações, mas não mais as vivencia de uma forma perturbada, mas sim na reta tranqüilidade. Ele está sempre tranqüilo com tudo que está acontecendo. Ele se senta igual a outro, mas quando faz isso não se preocupa se o chão está seco ou molhado, sujo ou limpo, enquanto o ser perturbado se preocupa com isso, busca limpar o lugar antes de sentar, etc.

É essa perturbação que é a diferença entre o ser elevado e o humano. Por isso estamos dizendo há muito tempo: viver não é um ato material, mas mental ou sentimental...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 65 e 66

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Senhor da yoga - versículo 65
Senhor da yoga - versículo 66

65. Graças à paz interior, terminam todas as misérias da existência aparente e a mente, pacificada, prontamente se estabelece na Reta Sabedoria.

66. Para os intranqüilos, a sabedoria não surge, nem eles conseguem meditar. Para quem não medita, não pode haver paz. E como podem ser felizes os que não têm tranqüilidade interior?

Krishna é claro: quem vive na tranqüilidade medita...

Participante: Meditar em que sentido?

No sentido de repensar seus pensamentos...

Quem não medita sobre a sua vida age de acordo com os conceitos da humanidade que estão na sua memória. Ele não medita, ou seja, não raciocina... Ele não raciocina como vive: vai passando pela vida. Fica velho e não se preocupa com o que fez da sua vida... Justamente por não meditar sobre a vida é que o desejo surge e tem força para comandar o seu estado sentimental.

O desejo é, como já vimos, um condicionante à felicidade. Se o ser humanizado parasse para meditar sobre as coisas da vida não mais se entregaria o desejo ou intencionalidade.

O ser perturbado não raciocina sobre o perigo que é não meditar. Ele diz que quer ser feliz, mas por estar ligado às coisas do mundo tem pensamentos que expressam desejos de que outra pessoa faça ou aja de determinada forma. Vamos meditar sobre isso? Por que a pessoa tem que fazer o que eu quero? Por que sou eu que sei o que é certo e não ela? Por que ela, que é uma individualidade, tem perder a sua verdade para fazer do jeito que eu quero?

Esta meditação, ou seja, o raciocínio do raciocínio acaba com o desejo. Isto porque na hora que o ser humanizado começar a se perguntar vai ver que não é certo o que está fazendo, mas um ato de soberba. Quem medita sobre o desejo da pessoa fazer ou ser do jeito que ele quer, repara que está se colocando como Deus (quem sabe o certo e o errado), como dono da verdade, um deposta...

Quem raciocina o raciocínio pode matar o desejo de que aquela pessoa faça aquilo. Quando isso acontecer, o que ela fizer já não mais lhe incomodará, não lhe perturbará e aí poderá realmente haver a felicidade incondicional.

Então, a mente perturbada é aquela que não raciocina os seus próprios raciocínios, não medita. Ela não busca saber de verdade de onde tirou aquilo que diz que é verdade. A mente perturbada não vê a sua própria perturbação e acha que tudo que lhe perturba é normal, é o certo...

Este é o segredo: meditar...

Na hora que você medita, ou seja, raciocina o pensamento, alcança a tranqüilidade porque chega à conclusão que está querendo ser senhor de escravo. Está querendo mudar o mundo para aquilo que quer...

Por isso alcançar a tranqüilidade é impossível para a mente perturbada. Para aquele cuja mente, como foi dito antes, está presa aos objetos pensados, ou seja, externos a ela, é impossível ser feliz incondicionalmente. Para que isso acontecesse era preciso que este ser tivesse a mente voltada para dentro, para si mesmo, para as formações mentais que o ego cria.

É isso que Krishna está ensinando que, aliás, é a mesma coisa que Buda ensinou, como já vimos...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 67

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Senhor da yoga - versículo 67
Senhor da yoga - versículo 67

67. A mente, identificando-se aos sentidos (pensantes, pensados), sempre errantes e desordenados, perde o reto entendimento e a consciência indevidamente personificada passa a ser arrastada de lá para cá como um barco sobre a água é empurrado pelo vento.

Sentidos pensantes: o que você vê... Sentidos pensados: o que você acha que é...

Já falamos sobre isso, mas nunca é demais repetir...

Participante: O que é consciência personificada?

O espírito encarnado que acha que é o ser humano. O espírito quando vira pessoa...

Está consciência está presa entre o que vê e o que acha que do que vê, ou seja, sentido pensante e pensado.

O que é aquilo ali?

Participante: Uma cadeira...

Você me responde deste jeito porque está presa entre a forma que percebe e os conhecimentos que estão na sua memória que dão este nome àquele objeto. A cadeira lá fora é o objeto pensante; a que existe na sua mente é o objeto pensado...

Participante: Krishna fala que este pensamento é sempre errante e desordenado...

Sim, este pensamento está sempre errante e desordenado. Isto porque ele está sem ordem, sem valores certos...

Uma cadeira é uma cadeira. Ela não é uma cadeira branca, bonita, desconfortável, limpa, daquela forma determinada. É isso que é um objeto errante e desordenado: o que é fruto da aplicação de diversos valores e formas...

Participante: Ele fala também que pensando desse jeito a consciência errante passa a ser arrastada de lá para cá como empurrada pelo vento...

Sim... A cadeira uma hora está suja, outra está limpa; num minuto é bonita, noutro é feio; uma hora presta, na outra não. Esta multiplicidade de pensamentos a respeito de um mesmo objeto que se imagina existir é que garante a perturbação da mente...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 68

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Senhor da yoga - versículo 68

68. Por isso, ó tu de braços poderosos, aquele cujos sentidos estão bem controlados diante dos objetos, esse alcançou um conhecimento firme.

Sentido bem controlado... O que é isso?

Participante: Controlar o que sente, o que vê, o que ouve, o que apalpa...

Exatamente: o controle das sensações e das percepções criadas pelo ego. Mas, o que é controlar estas coisas? É controlar as idéias que se formam na mente. Uma cadeira é uma cadeira, não uma cadeira branca, que você gosta ou não, que está limpa ou suja...

Controlar é por ordem. Você deve por ordem na sua casa... Se o seu ego diz que a cadeira é bonita ou feia, você deve não aceitar esta verdade. Deve ter a consciência de que é apenas uma verdade do seu ego, algo relativo e não absoluto.

O que você pensa não é verdade, não é realidade: é apenas uma verdade relativa eu serve ao espírito de provação...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 69

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Senhor da yoga - versículo 69

69. Sabe, ó Arjuna, que aquilo que os seres comuns chamam noite é dia para o homem de reto entendimento e auto controle. E o dia dos homens comuns é noite para o vivenciador do ser. (O homem vulgar ignora o conhecimento supremo, o qual só é alcançado pelo homem de autocontrole. A consciência do homem comum, intranqüila por descuido e condicionada pelo mundo, é uma falsa consciência, uma consciência contaminada. O Sábio está totalmente livre dessa espécie de “estar-consciente”).

O que é noite? Uma etapa onde você não percebe nada. Escuridão...

Sabe, tudo aquilo que você chama de escuro, negativo, que tem medo, que teme o futuro, para o homem de reto entendimento é dia, ou seja, claridade, luz. É exatamente onde é noite para você que está a solução para o ser de reto entendimento. Tudo onde o ser perturbado vê problemas, o ser de reto entendimento vê solução. Isto porque ele sabe que exatamente nestes momentos está uma grande provação que pode, se suplantada, lhe aproximar de Deus...

Mas Krishna diz mais: E o dia dos homens comuns é noite para o vivenciador do ser. Tudo que você diz que é claro, óbvio, lógico, reto e líquido, tem certeza absoluta, para o ser é uma incógnita...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículo 70

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Senhor da yoga - versículo 70

70. Assim como o oceano permanece calmo e inalterado quando as águas dos rios deságuam nele, da mesma maneira o sábio que se dominou a si mesmo fica indiferente quando os desejos nele se levantam. Somente um muni em perfeito silêncio mental alcança a paz e não aquele que anela os objetos do desejo.

Tem uma palavra importante neste trecho: silêncio mental. Isto porque os religiosos afirmam que o verdadeiro yogue não deve falar, abrir a boca. Mas, não é esse o ensinamento de Krishna...

O ensinamento de Krishna é sobre o silêncio mental, ou seja, o silêncio sobre ficar raciocinando o que você e o outro falam, sobre o que você vê. É este o silêncio que o yogue alcança: o silêncio interno... O silêncio externo (não falar) o yogue sabe que não pode alcançar se não for a missão dele neste planeta.

É por isso que digo há muito tempo: eu não me preocupo com o que vocês dizem, falam, ou fazem... Eu sei que a forma como agem é a missão de vocês, os seus trabalhos para a obra geral. Mas, ao realizar suas missões, devem calar a voz da consciência. A voz do raciocínio que quer saber se estão certos, se o outro é ou não alguma coisa. Calem isso, porque é isso que lhes fazem sofrer...

Participante: Se tivesse um botãozinho para apertar e desligar...

Se não tem, lute contra. Quando o pensamento vier, diga: cala a boca... De tanto você repetir isso um dia o ego cala... Agora, se entregar o raciocínio ficará perturbado...

Este é o ensinamento de Krishna: o silêncio mental ou dos pensamentos. Não raciocinar as coisas do mundo; não querer dar valor às coisas do mundo.

Sei que às vezes vocês me acham estranho porque, em muitos momentos que se culpam por terem sido egoístas, terem feito fofocas, nunca os critiquei. Nunca me expressei sobre estas situações porque sei que cada um estava cumprindo a sua parte na obra global. Por isso sempre deixei bem claro que sou contra a vocês se acusarem por ter feito qualquer coisa... Isto porque, isto é sinal de uma mente perturbada...

Senhor da Yoga - Cap. 2 - Caminho do discernimento

Versículos 71 e 72

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Senhor da yoga - versículos 72

71. Alcança a paz que, abandonando todos os desejos, atua sem atrações nem anelos e está livre de qualquer noção de “eu e meu”.

72. Ó Partha... este é o estado de realização de Brahman, alcançado o qual, não sobram mais ilusões. Ainda que o indivíduo alcançasse esse estado no momento de morrer, o homem vivenciaria Brahman Nirvana, o que equivale a identificar-se com o Absoluto.

Repare neste pequeno texto: Ainda que o indivíduo alcançasse esse estado no momento de morrer, o homem vivenciaria Brahman Nirvana. Ou seja, ainda que o homem alcance este estado apenas na hora de morrer, ele alcançaria Deus...

Se na hora de morrer, no último minuto, você conseguir libertar-se da ação dos desejos, encontrará Deus...

Participante: Quem vai se lembrar disso na hora de morrer?

Poucos se lembrariam, mas o ensinamento vai mais além do que do último minuto. Por ele podemos entender que Krishna está ensinando que não se precisa viver uma vida inteira dentro do reto entendimento. Não há idade máxima para se por em prática, não há falta de tempo para se realizar: não importa quanto tempo de sua existência consiga colocar em prática os ensinamentos, ele será o suficiente...

É o que Cristo disse: um segundo de vida vivenciado com fé, mesmo que seja do tamanho de um grão de mostarda, apaga a multidão dos pecados. Ainda que no último segundo o ser humanizado consiga se converter, valeu o esforço da vida inteira. Ela sai da carne com a plena consciência espiritual...

Este ensinamento é importante para vocês pararem de se culparem ou de dizerem que não têm jeito, que nada conseguirão... Esta perfeição que querem, este proceder constante dentro de um padrão determinado por Krishna, nada mais é do que um conceito...

Participante: Mas, aí fica igual ao barco que foi falado anteriormente: vai e vem...

Não, porque quando você não realiza não retroage... Por isso, posso dizer que algumas vezes vocês vão e em outras ficam parados. Quando aceitam a crítica que o ego cria é que acabam, ilusoriamente, voltando... Mas, quando não a aceita, continua avançando...

A crítica e o elogio são o vai e vem da mente perturbada, mas a não realização por parte do espírito não o traz de volta a lugar algum...