Reforma íntima - Textos - volume 02

Reforma íntima - Textos - volume 02

Coletânea de textos curtos oriundo de transcrições de falas de Joaquim de Aruanda

Reforma íntima - Textos - volume 02

Lei e amor

Para que o ser humano quer lei? A lei só existe para ele poder dizer que o próximo não a cumpriu. Para poder acusar os outros porque ele mesmo não segue, pois cria sempre um jeitinho para não cumpri-la. O que deve haver não é respeito às leis, mas sim a compaixão de não machucar o outro.

Para se alcançar o perfeito cumprimento da lei, deve-se compreender perfeitamente os códigos legais.

Toda lei material é baseada na lei de Moisés. Os fundamentos de todos os códigos legais premiam os dez mandamentos. Não matar, não roubar, não adulterar, não cobiçar: todas as leis materiais fundamentam-se nesses preceitos.

Apesar disso, os códigos das leis materiais continuam a ser desrespeitado constantemente. Não é porque existe o código que os atos não mais existem. Dessa forma, apenas a existência do código não consegue acabar com a ação negativa.

Agora, se ao invés de ter apenas uma lei o ser possuir a compaixão (consciência do sofrimento que pode causar a outrem), ele não mais praticará atos que firam o próximo. Dessa forma, para que haver uma lei afirmando que não se deve matar: ao amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo ele não mais matará os outros.

Só precisa existir uma lei: tenha amor. Se os seres encarnados amarem todas as outras leis se tornam desnecessárias.

Analisando-se a vida no planeta a partir do conhecimento da ação de Deus (Causa Primária de todas as coisas) chega-se à compreensão de que as leis materiais foram redigidas por Deus e não pelos homens. Mesmo nesse caso, a lei do homem (material) não deve ser respeitada pelo temor.

Deus intuiu os legisladores a fazerem as leis materiais, mas elas só foram necessárias porque o ser encarnado não sabe amar. Deus criou através de seres humanos essas leis, mas as subordinou à lei maior, a constituição universal: amar a Deus acima de todas as coisas.

As leis materiais só servem enquanto o espírito se ver como ser humano. Quando ele atingir a consciência de ser universal não mais necessitará desses códigos, pois compreenderá a lei maior.

As leis materiais foram intuídas por Deus em decorrência do individualismo dos seres encarnados. Serviram como balizamento para os desejos individuais desses seres. Quando essa busca de contentar os seus desejos extingue-se, acaba também a necessidade das leis materiais.

Ao universalizar-se o espírito penetra no todo universal e compreende e acata a lei suprema porque conhece o verdadeiro amor: alegria, compaixão e igualdade.

Portanto, o espírito que julga o próximo mesmo usando para isso os dez mandamentos infringem a lei suprema. O próprio Jesus quando argüido sobre o cumprimento das leis de Moisés afirmou: vocês não sabem o que quer dizer Deus quando afirma que quer que sejam bondosos e não que queimem incenso para me satisfazer. Ser bondoso (cumprir a lei de Moisés) é amar a Deus, a si e ao próximo.

Quando o ser aprender esse verdadeiro amor compreenderá o sentido da lei mosaica e, mesmo por esse código, deixará de julgar os seus semelhantes. Na hora que agir com esse sentimento o ser cumprirá toda a lei de Moisés e a dos homens sem obrigações (sofrimentos).

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Vaidade

O que é ter vaidade? É orgulhar-se da sua estampa... Uma pessoa vaidosa é aquela que se orgulha da sua estampa, se sente bem com ela.

A partir daí a primeira coisa que temos que deixar bem claro: vaidade não tem nada a ver com padrões de beleza. Vocês acham que apenas quem se arruma bem é vaidoso, mas aquele que tem orgulho de ser desarrumado é vaidoso. Ou seja, ele pode até ser desleixado, dentro dos padrões humanos, mas é vaidoso porque tem orgulho da sua estampa.

Este é o primeiro detalhe que temos que perceber quando a mente cria a idéia de estar vaidoso. Vaidade não depende de uma determinada roupa, limpeza ou de um determinado cheiro. Vaidade é uma formação mental, um pensamento, que reflete o orgulho da sua própria estampa.

Portanto, não adianta quebrar paradigmas andando de chinelo de dedo e calça e camisa rasgadas para mostrar que não é vaidoso, pois é. É orgulhoso da sua calça e camisa rasgada, do seu chinelo.

 Precisamos ter cuidado com este detalhe porque a mente cria padrões de certo e quando nos orgulhamos dos nossos certos, somos vaidosos. Para uns este padrão é a roupa limpa, nova, bem passada; para outros é a roupa arrebentada, rasgada, sem estar bem passada. Não importa o que seja, tudo é padrão. Tudo é o certo de ser usado.

Quando se fala em ter vaidade temos que ter muito cuidado porque só nos acostumamos julgar como vaidoso aquele que anda bem arrumado. Por isso aceitamos quando a mente nos diz que nós não somos vaidosos porque não andamos bem arrumados. Aí, quando a mente diz que é certo ser desarrumado e nós aceitamos isso, o que acontece? Tornamos-nos vaidosos e nem sabemos...

Este é o primeiro grande detalhe que temos que ter em mente: a vaidade independe do nosso estado, da nossa estampa, mas é algo que se prende ao nosso conjunto de certo.

Libertar-se da vaidade não é usar chinelo de dedo, mas sim não aceitar o padrão de certo que a mente cria. Não aceitar que a mente crie que você só pode sair de casa com a camisa bem passada ou furada. Não aceitar quando a mente diz que aquela é a roupa adequada para onde você vai. Aceitando isso se transformará em vaidoso: 'Eu estou vestido de acordo com o ambiente'...

Para realmente poder libertar-se da vaidade é preciso retirar a idéia de que vaidoso é quem se submete a um determinado padrão e entender que vaidoso é aquele que aceita o padrão certo que a mente cria.

Como libertar-se da vaidade? Não aceitando o padrão criado pela mente como certo, como obrigatório. 'Não mente, não tenho que estar de chinelo de dedo. Se andar com ele, tudo bem, mas se não andar, também tudo bem. Eu não vou entrar na sua que tenho que estar de chinelo de dedo ou que tenho que estar com sapato de couro'...

Seguir os padrões de certo lhe prende ao sofrimento ou ao prazer. Isso porque eles levam ao pensamento do eu gosto, eu me sinto bem, isso é que é o certo de ser feito. É preciso ter atenção a todo esse conjunto de pensamentos que diz que vocês gostam ou se sentem bem, quando isso é apenas uma criação da mente. Vocês não se sentem bem. Aliás, nem a mente se sente: ela lhes dá a idéia de estar se sentindo assim. Nem ela nem vocês vivem emoções...

Portanto, é preciso que no aqui e agora reconheçam a mente usando um padrão de certo, de gosto, de estar de acordo, para não aceitá-los como certo, bonito ou de acordo. Para isso digam para a mente: 'Eu estou assim, mas não sei se gosto ou está certo estar assim'...

Mas, há mais um detalhe no tema ter vaidade que precisamos abordar... Vamos a ele...

Na primeira análise que fizemos, descobrimos que o tema não é ter vaidade, mas estar vaidoso por estar seguindo o nosso padrão de certo, de bonito e do tem que ser assim. Para quem entra nessa, ou seja, aceita os padrões que a mente cria, sabe qual é o fim? Transformar-se em um julgador do próximo...

Quem aceita quando a mente diz que existe determinada roupa certa para se estar, vai aceitar quando ela julgar o outro. Vai achar o próximo errado, chulo, rebelde, que não presta...

Não tem como você sair do julgamento do próximo se ainda acreditar no padrão que a mente cria. Se você, por acreditar na mente, achar que existe uma roupa certa para se vestir, uma maquiagem certa para aquela ocasião, uma postura certa para se realizar determinada coisa, vai julgar todo mundo que não estiver dentro dele...

Aliás, não é só quem estiver fora dele que será julgado, mas quem estiver dentro também será julgado. Isso porque certo e errado são sentenças de um julgamento... São decisões tomadas depois de uma análise. Esta análise é um julgamento...

Sabe, vocês me falam muito nos ensinamentos de Cristo, dizem que devemos segui-los, mas ainda não entenderam que julgam todos o tempo inteiro. Isso porque qualquer opinião que se tenha sobre alguém ou alguma coisa é o veredicto de um julgamento.

Falam em cumprir o ensinamento de Cristo, mas ainda não entenderam que não há como escapar do julgamento sem eliminar os padrões de certo e errado, bonito e feio, limpo e sujo, arrumado e desarrumado... Enquanto vocês tiverem padrões para balizar a vida, irão julgar o próximo. O julgamento nesse caso, é decorrência natural da existência de um padrão...

Este tema foi muito importante para nós, não por ele mesmo, mas porque o sub-produto da vaidade é o julgar o próximo...

Quero aproveitar, ainda, para falar de um termo que usei aqui. Disse que a vaidade é o orgulho da estampa. Este termo (orgulho) não foi perfeitamente empregado. Na verdade o que o vaidoso tem é soberba...

A soberba existe quando você joga o seu orgulho sobre o outro, ou seja, se considera o certo, o melhor, o mais bem vestido, o que está fazendo determinada coisa como ela deve ser feita, aquele que realiza tudo...

O vaidoso é soberbo porque toda vaidade acaba num julgamento. Isso porque ele não se contenta em aceitar que está bem vestido, mas julga como os outros estão.

Portanto, a vaidade não é o orgulho da sua estampa, pois orgulho é outra coisa: é ter a sensação do dever cumprido. Já soberba é ter a sensação do dever cumprido e dizer que o outro não cumpriu o dele ou dizer que você fez melhor do que ele... Vaidade, então, é ter soberba...

Não existe vaidoso que não seja soberbo. Vaidoso humilde? Não existe... Andar de chinelo de dedo e blusa rasgada não é sinal de humildade não... Como já falei diversas vezes, tem muito pobre que come arroz com feijão e arrota caviar. Assim como tem muito rico que come caviar e arrota arroz e feijão...

Agora, tudo isso que estamos falando não é de você-observador: é criação da mente. O seu problema não é ser o que falei aqui, mas tornar-se tudo isso por compactuar com a mente.

Como já tinha dito, quando se apega às verdades da mente, não existe moeda só com um lado: toda ela tem dois lados. Se você aceita o padrão de certo, não poderá escapar do julgamento.

Agora, quando compactua com isso, se é cristão, você acabou de ferir aquilo que diz que acredita... Para os cristãos, lembro ainda de mais um ensinamento de Cristo: não julgue para não ser julgado. Nesta máxima é que aparece o segundo sub-produto da vaidade...

Você, o observador, vamos dizer assim, já começou a rolar o precipício quando sentiu-se vaidoso. Desceu mais um pouco quando julgou o outro. Mas, acaba de cair quando reclama que o outro está lhe julgando. Ou seja, você tem o direito de julgá-lo, mas ele não tem o direito de fazer a mesma coisa com você?

Veja como uma coisa vai levando a outra. Isso é um fluxo mental que não para. Se você aceita o padrão de certo, vai aceitar a vaidade. Aceitando-a, vai aceitar também a soberba. Esta aceitação lhe levará a aceitação do julgamento. Aceitando-o, a aceitação da crítica a quem lhe julgou é inexorável...

Nesta vida tudo se encadeia, tudo se liga a outra coisa. Não dá para querer deixar de criticar o outro sem julgá-lo. Não para deixar de julgar, sem ter a soberba que está certo. Não para deixá-la sem libertar-se dos padrões de certo e errado.

Eu sempre disse: vocês precisam começar a mergulhar fundo no mar mental. Na verdade, no trabalho de cada um, vocês ainda estão navegando nas ondas, sobre o mar. Querem acabar com a vaidade, mas isso não se faz sem destruir os padrões de certo e errado. Querem deixar de criticar, mas isso é impossível se ainda houver a soberba (eu estou certo)...

Ninguém esvazia uma piscina estando no meio dela. É preciso descer até o fundo dela para puxar a rolha. Neste caso, a rolha é os padrões: certo, bonito, limpo, arrumado, saúde, doença, correto... É aquelas coisas que a mente têm como reais, mas que são verdades relativas: só servem para você mesmo.

Se você não for a fundo, não tirará a rolha. Se não fizer isso, não há como esvaziar a piscina. E não há como retirá-la estando na superfície ou no meio da piscina...

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Felicidade e prazer

Esta nossa conversa marca o início da última fase do Espiritualismo Ecumênico Universal, em sua primeira fase: a transmissão dos ensinamentos.

Como crianças saídas da pré-escola, ao seu tempo, cada um chegou até aqui trazidos por Deus, para começar a aprender a ler as letras que Deus escreve na história do universo. Ensinar esse bê-a-bá da escrita de Deus foi uma missão honrosa para esse velho que está falando. Juntos descobrimos as verdades do universo. As verdades que nós hoje podemos compreender e saber e que nos pode levar a elevação espiritual.

Partindo da mudança da auto-visão, com a descoberta de que não existe o ser humano, mas sim um espírito que vive em uma carne e que pode entrar no gozo de todas as suas propriedades espirituais, alcançando a suprema graça de viver no mundo de Deus.

A partir dessa descoberta um mundo novo se abriu. Assim como a criança que antes só via desenhos no lugar de letras e agora consegue juntá-las para dar nome aos desenhos, nós fomos caminhando nessa seara da sabedoria de Deus.

Compreendemos a nossa encarnação, compreendemos os acontecimentos do dia a dia, a vida como se fala. Descobrimos que nós vivemos em um mundo de irreal, em uma fantasia que nós criamos para nós mesmos e que nos prendemos a essa fantasia como se fosse uma verdade, uma verdade absoluta. Só o que acreditamos pode ser o certo, o perfeito no universo.

Com a descoberta das primeiras letras, vimos que o universo tem uma verdade muito maior do que essa que nós sempre pensamos que fosse verdadeira. Vimos o conceito, aquilo que nós dissemos que é verdade e descobrimos que eles dependem dos nossos sentimentos.

Foi para mudar isso que fomos percorrer o caminho que o Buda percorreu, estudando as verdades e o Nobre Caminho Óctuplo que é capaz de nos levar a bem-aventurança, ou seja, a verdadeira felicidade que o Cristo nos ensinou.

Hoje, nessa conversa, gostaria de falar um pouco dessa bem-aventurança, dessa felicidade suprema, dessa felicidade irretocável. A verdadeira felicidade que provêm não da satisfação pessoal, mas que é alcançada simplesmente por viver no mundo de Deus.

Esse estado de espírito é algo que o ser humano não consegue sequer imaginar. Não consegue saber o que é viver nessa felicidade porque nunca procurou isso. A briga da vida sempre foi na busca das quatro âncoras que estudamos.

A vontade de ganhar sempre estando com a razão. Sempre fazer com que as coisas saiam da forma que o ser humano quer. Essa busca da fama, do elogio fácil, da satisfação sempre leva ao sofrimento.

O prazer é uma armadilha na vida do espírito na carne. Ele se torna dependente do prazer como o viciado do tóxico se torna depende desse, porque todo espírito sonha em ser feliz, mas confunde a felicidade com o prazer.

Essa felicidade que eu quero falar hoje independe de satisfação, de conceitos, de verdades. Ela existe por amor a Deus, pela fé, confiança e entrega total em um Pai que é o Senhor Supremo do universo.

Imagine, só para vocês terem uma idéia do que é essa felicidade, sua vida sem nenhuma dificuldade financeira, sem nenhuma dificuldade amorosa. Imagine uma vida vivida nos mínimos detalhes de acordo com o que você pensa. Imagine uma vida sem contrariedades. Imagine acordar de manhã com um sorriso e ser recebido por todos com um sorriso e um abraço. Essa é a vida do espírito.

Essa é a felicidade que nós estamos falando. Essa é a busca de todos, mas o caminho para conquistá-la é diferente do que vem sendo trilhado pelo ser humano.

Para se viver essa felicidade seria preciso que o universo inteiro se transformasse, se mudasse. Aquele que acorda de mau humor teria que acordar de bom humor, quem lhe cobra caro pelo material dos seus sonhos deveria cobrar barato ou quem lhe dá dinheiro deveria dar mais. Aquele que já não sente por você o que sente por ele deveria mudar: deveria voltar a sentir a mesma coisa.

Toda essa mudança no mundo teria que acontecer para que você entrasse nessa felicidade universal. Infelizmente isso nunca poderá acontecer. Nunca poderá acontecer porque existe uma coisa que impede que isso ocorra: o livre arbítrio.

Deus deu a cada um o livre-arbítrio de gostar, sentir e recompensar à sua vontade. Mudar o outro seria quebrar esse livre-arbítrio que Deus deu a cada um, ou melhor, querer ser filho único de Deus. Querer que os outros não tenha o direito que você quer ter: de gostar, fazer, querer e achar o que quiser.

Só por isso que o universo nunca poderá ceder aos seus caprichos ou as suas vontades. Por isso a felicidade não pode ser alcançada dessa forma. É preciso que compreendamos que o espírito é um grão de areia em uma praia. Igual a ele milhares de grãos estão na praia.

É Deus, o mar, que movimenta esses grãos pra onde Ele sabe que será mais útil. Concedendo a cada filho o livre arbítrio, sem tomar isso que deu a cada um, Deus vai administrando a vida para que os seres possam compreender que a felicidade nunca será alcançada pela suprema arrogância de querer ser o senhor do universo. Aquele que busca o prazer é como um grão de areia que quer dizer ao mar onde ele deve quebrar, para onde deve arrastá-lo.

Essa felicidade vem não da satisfação, mas vem utilidade. O espírito que abre mão dos seus conceitos, da sua sabedoria, dos seus desejos, começa a compreender a ação de Deus e pode se transformar em mais útil ao Pai do que simplesmente um grão contestador, que quer dizer ao Pai onde ficar.

Essa é uma felicidade onde tudo acontece da forma que queremos, mas não porque acontece da forma que queremos, mas, como não temos mais quer, tudo que acontece como nós queremos.

As duas situações não serão iguais na forma. Os acontecimentos poderão ser diferentes, mas o espírito não terá mais nada para poder julgar. A felicidade está na entrega total a Deus, no fim do julgamento, que é o grande problema do espírito.

Não existirá felicidade enquanto Deus não for o Senhor do universo para cada um. Enquanto se adorarem ídolos e não estamos falando de outros deuses ou mestres, mas adorar a si mesmo como ídolo, como aquele que sabe tudo a felicidade não poderá ser alcançada.

A hora do nosso trabalho se acaba, mas a hora do trabalho de cada um começa. Uma vida pela frente para se buscar essa felicidade universal.

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Perfeita compreensão sobre expiação

“Deus lhe impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros, missão. Mas para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação” (O Livro dos Espíritos – pergunta 132).

O Espírito da Verdade ensinou que o fundamento de uma encarnação é levar o ser a atingir à perfeição. O caminho para essa elevação se dá de duas formas: por missão ou expiação. Missões são trabalhos pedidos pelo ser para executar quando na carne; expiação é sofrer as conseqüências de algo que se causou anteriormente.

Para passar pelas conseqüências de atos cometidos anteriormente, o Espírito da Verdade afirma que é necessário sofrer as vicissitudes da existência corporal. O vocábulo vicissitude é definido no dicionário como “mudança ou variação das coisas que sucedem” (Mini Dicionário Aurélio). Portanto, a expiação consiste na mudança ou sucessões de acontecimento na vida de um ser.

Como expiar sem que os acontecimentos alterem-se constantemente? As variações dos acontecimentos são conseqüências de algo que o próprio ser fez anteriormente e não um ato praticado por outro para feri-lo, magoá-lo ou contrariá-lo. É Deus, Causa Primária de todas as coisas, que comanda essas variações, pois elas são o fundamento da existência.

O ser que imagina que vêm à matéria carnal para ter uma vida estável, ou seja, para passar apenas por situações que lhe são confortáveis, certas, justas, nega-se a expiar seus atos anteriores. Não cumprindo um dos fundamentos da encarnação, não alça a perfeição, objetivo primeiro da existência carnal do ser universal.

O errado é uma vicissitude, uma variação do certo do ser, que deve ser vivenciada pelo espírito para alcançar à perfeição. Da mesma forma o sujo, o feio, o desarrumado. Todas essas situações são comandadas por Deus, Causa Primária de todas as coisas, com o objetivo de fazer o ser chegar à perfeição.

No entanto, todas essas vicissitudes nascem das verdades individuais do ser. Nada pode ser considerado errado sem que comparado a outro que é definido como certo. Apenas quando houver um padrão que determine o certo, poderá o espírito qualificar o acontecimento como errado.

Assim, se um dos objetivos da encarnação é passar pelo errado sem apontar erros, é necessário que o espírito abandone os seus “padrões”. Enquanto eles estiverem presentes não haverá como se atingir à perfeição.

O espírito não vem à carne para atingir o gozo do seu querer, mas para amealhar bens no céu, ou seja, suportar as vicissitudes da existência material. Apegar-se aos conceitos (o que acha “certo”) como leis que cujo cumprimento é necessário para a felicidade, é negar a expiação.

Todas as situações de uma existência onde os desejos do ser não são contemplados são uma vicissitude para ser suplantada com o objetivo de atingir á perfeição. O desemprego, a falta de bens materiais, a ausência de saúde, são conseqüências de atos que o espírito praticou anteriormente.

Orar a Deus pedindo a suspensão da expiação é negar-se a passar pela vicissitude que pode levar à perfeição. O fundamento da existência do ser consiste-se exatamente nessa etapa da encarnação. Quando não há vicissitude, ou seja, não há variação do querer do ser, não existe caminho para a perfeição.

Passar por essas situações mantendo a fé (confiança e entrega absoluta a Deus) e a felicidade universal é o caminho que leva o ser à perfeição. Foi para passar por esses momentos que ele veio à matéria carnal e, por isso, o Amor Sublime de Deus não deixará de causar essas etapas na sua vida. Não fazê-lo poderia proporcionar ao espírito a chance de acusar a Deus de não lhe ter dado o que precisava.

Esse Amor se representa em fazer o que é preciso para que um ser evolua e não simplesmente dar a ele o que deseja. Deus gostaria de contentar o espírito lhe dando o que deseja, mas sabe que esse caminho não leva à elevação espiritual (perfeição). Como um pai material que utiliza todos os meios para que o filho compreenda a necessidade de fazer o que deve e não o que quer, Deus causa os acontecimentos que contrariam o ser (vicissitude), pois sabe que isso é importante para o seu futuro.

 Na verdade Deus é obrigado a agir dessa forma não por desejo próprio, mas porque o filho reluta em buscar a sua elevação. Todas as vicissitudes nascem de um momento onde o ser buscou a sua satisfação individual e não “amou a Deus acima de todas as coisas”. Se o espírito não encontrasse erros em situações anteriores, ou seja, abrisse mão dos seus desejos, jamais o Pai teria que agora gerar uma vicissitude.

É Justiça Perfeita que dá a cada um de acordo com as suas obras. Todas as situações que o espírito não consegue alcançar à felicidade são causadas por situações anteriores, onde preferiu buscar o prazer individual. Elas não nascem do desejo do Pai, mas da ação anterior de cada um.

A perfeita compreensão de Kardec sobre a expiação consiste-se na necessidade que o ser tem de passar pelas situações que contrariam os seus desejos durante a encarnação para chegar à perfeição. Não como pena, mas como a ação de um Pai que é Justiça Perfeita e Amor Sublime.

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Amor universal

Muito se fala sobre o amor e sobre amar entre os espíritos humanizados, mas eles mesmos admitem: é difícil definir este sentimento, quanto mais colocá-lo na prática. Isto porque existem diversos tipos de amor: carnal, filial, paternal, etc. Estes sentimentos, no entanto, têm finalidades específicas (relacionamentos entre cônjuge, descendentes, ascendentes) e, por isso, possuem atributos que os tornam diferentes entre si.

Para se buscar a compreensão Real do Amor, amplo e universal, aquele que não importa quem seja o alvo do sentimento terá sempre os mesmos atributos, temos, então, que buscar o ensinamento de quem o vivenciou. Este foi Cristo e, por isso, para entendermos o Amor Universal, precisamos compreender a forma de amar deste mestre.

Segundo João, o Evangelista, Cristo foi o ‘verbo’, ou seja, a ação. O mestre, cuja missão foi trazer a compreensão do Amor Universal, como amar, transformou a sua existência carnal na ação do verbo amar. Todos os acontecimentos daquela existência que participou devem, portanto, servir como base para se entender o Amor amplo e universal, que se aplica a toda humanidade.

Desta forma, é neste exemplo que devemos buscar as bases para a compreensão do Amor Universal. Por isso, nesta mensagem vamos falar sobre alguns acontecimentos da existência carnal do mestre.

Da narrativa daqueles que viveram com Cristo que tomamos conhecimento através dos evangelhos (canônicos e apócrifos), a primeira realidade que nos salta aos olhos é a felicidade com a qual o mestre participou dos atos daquela encarnação. Este, portanto, deve ser o primeiro ingrediente do Amor Universal.

No tempo em que as caminhadas eram feitas por caminhos duros, e cumpridas apenas com o esforço físico do ser humano, Cristo não descansou um segundo sequer na sua peregrinação. Apesar disso, em momento algum, temos notícia do mestre ter acusado sofrimento ou cansaço nos acontecimentos que participou, mesmo quando da crucificação.

Sei que muitos acreditam que este último momento da existência ‘Jesus Cristo’ foi de imenso sofrimento para o mestre, mas posso garantir que não. Senão, vejamos.

Apesar de todo poder demonstrado através da materialização de alimentos, da transformação do vinho em água, do caminhar sobre as águas, Cristo não se utilizou dele para fugir ao seu ‘destino’. Se estivesse realmente temeroso ou em agonia, como imaginam os seres humanizados, seria justo que abreviasse aqueles momentos ou tentasse escapar dele. Mas não foi isso que aconteceu.

Claro que aquele que caminha sobre as águas certamente saberia levitar e fugir dos algozes que o estavam levando a um destino trágico, mas Cristo não fez isso e entregou-se àquele momento daquela existência vivenciando a ‘glória de Deus’. Ou seja, Cristo foi feliz, mesmo quando estava caminhando para o cadafalso debaixo do escárnio e dos golpes dos romanos.

Depois de pendurado na cruz não teve um momento de angústia, de pesar. Ao contrário, preocupou-se em ajudar o bandido que se encontrava ao seu lado dando alento quanto ao seu destino e em pedir a Deus que perdoasse seus algozes, pois eles não sabiam o que estavam fazendo.

Esta pequena análise encerra, então, com a versão da paixão de Cristo como ela é compreendida hoje: um momento de extremo sofrimento. O quadro da crucificação não deve ser entendido como uma paixão de sofrimento, mas sim como um ato de Amor maior que o Mestre dedicou a seus irmãos, como um momento de realização de um espírito em benefício do próximo.

O mestre entregou-se a cruz em glória (estado de felicidade incondicional) porque sabia que o quadro de sua crucificação seria um símbolo a ser utilizado por muitos seres humanizados para alcançarem a reforma íntima. Isto porque a compreensão da entrega ao destino sem lamentações, mesmo que ele contenha momentos que possam ser considerados angustiantes, pode proporcionar ao ser humanizado a oportunidade do avanço espiritual.

Mas, o amor que Cristo exemplificou foi além. Toda existência carnal deste mestre foi marcada pela compaixão pelos sofrimentos alheios. Dentro dessa nossa busca da compreensão do Amor Universal, vamos, então, falar da compaixão exercida pelo mestre.

Ele não vivenciou a compaixão como compreendida pelos encarnados, ou seja, um “pesar que nos desperta a desgraça, a dor, de outrem” (Mini Dicionário Aurélio). Cristo tinha a plena consciência das situações constrangedoras pelas quais precisam passar os espíritos durante a busca da elevação espiritual na carne. Por isso, ao invés de transmitir mais sofrimento para eles, transmitia alegria, felicidade e otimismo no dia de amanhã, no depois do desencarne.

Em nenhum momento das narrativas evangélicas se encontra Cristo ao lado de outro ser humano lamentando-se da sorte deste. Ele sempre se achegava aos seres humanizados com uma palavra de alegria e confiança no futuro eterno daquele ser junto com Deus. Ou seja, sempre transmitiu àqueles que sofriam a felicidade de estar no caminho da elevação, ao invés de incentivar o sofrimento alheio com lamúrias.

Este é o segundo componente do amor universal: a compaixão. Amar, de uma forma ampla e universal, não significa incentivar o próximo a sofrer com suas próprias lamentações, mas dar a ele o que realmente precisa para acabar com o sofrimento: a felicidade eterna oriunda do amor do Pai.

Esta deve ser a forma amorosa de proceder do espírito encarnado, mesmo que os atos aparentemente não indiquem isto. Para isso o ser humanizado precisa ter em mente que esta felicidade muitas vezes não passa pela satisfação, pelo contentamento do querer de cada um.

Cristo sabia disso e por este motivo muitas vezes participou de acontecimentos que, aparentemente, não eram amorosos, que não levavam contentamento ao próximo. Mas, mesmo nestes, jamais perdeu a sua própria felicidade.

Quando, de chicote na mão, expulsou os mercadores do templo, o fez por compaixão, por Amor. O mestre não objetivava trazer sofrimento, ou seja, acabar com a fonte de captação de recursos para aqueles encarnados sobreviverem, mas sim para levá-los a procurar outra forma de buscar a subsistência sem que com isso quebrassem as leis religiosas.

Sua intenção foi que os mercadores participassem da felicidade universal, da glória de Deus, e ela só é alcançada quando, durante a encarnação, a busca a Deus é maior do que o desejo do subsistir materialmente. Com o seu ato, Cristo possibilitou que aqueles mercadores analisassem a sua forma de proceder e alterassem o seu local de trabalho, ganhando o seu dinheiro e ao mesmo tempo cumprindo aquilo que estava prescrito.

Apesar de não parecer, foi um ato de Amor, pois objetivou a felicidade espiritual daqueles seres humanos. Não importa a forma física do ato, mas a sua essência.

Muitas vezes a compaixão do Amor faz com que o ato não pareça caridoso, mas esta compreensão só é alcançada por aqueles que objetivam o lucro material (ter uma vida confortável) e não o espiritual. Para estes, amar seria deixar que aqueles seres humanos continuassem mercadejando dentro do templo.

Mas, Cristo compreendia diferente. Ele sabia que a compaixão do Amor Universal faz com que aquele que ama, muitas vezes não possa satisfazer os conceitos materiais de outro espírito, mas deve sempre premiar o amar a Deus acima de todas as coisas.

Por isso, também a compaixão não pode contentar os conceitos daquele que está mando, mas sim, vincular-se apenas na transmissão do próprio Amor. Admoestar outro ser humanizado porque se acha algo, se tem uma determinada opinião sobre um assunto, não é compaixão, mas autoritarismo.

 No entanto muitos não conseguem ver isso e continuam pelo mundo impondo sua opinião e dizem que agem desta forma por amor. E é contra este autoritarismo que nasce o terceiro ingrediente básico do Amor Universal: igualdade.

Amor com superioridade é dominação, com inferioridade é submissão. Para se amar outra pessoa é necessário que se tenha a plena convicção de que não somos mestre nem aluno do próximo, mas um irmão servindo de instrumento de Deus para ser o sal da humanidade.

Foi por causa desta forma de amar que Cristo nunca admoestou os professores da lei. Incitou todos a buscarem a Verdade, mas também deu a todos o direito de terem sua opinião própria, mesmo que não concordasse com ela. Isto pode ser constatado quando Pilatos e os professores do templo lhe perguntam se ele era o Rei dos judeus. sua resposta foi: o senhor é que está dizendo.

Além disso, Cristo não foi humilde, mas igualitário. Não tratava seus irmãos de jornada como maiores ou menores do que ele, com autoritarismo ou submissão, mas de igual para igual.

O gesto do lava-pés que praticou, e que por muitos é entendido como de humildade, não o foi. Esta crença provém do desconhecimento sobre o Amor que o mestre vivenciava. O Mestre praticou este ato porque, como citam as passagens evangélicas, em outras vezes ele também foi premiado com esta mesma atitude por parte de outros seres humanizados.

As narrativas dos evangelhos mostram que Cristo teve seus pés lavados e cabelos penteados com perfumes em outra ocasião. Portanto, foi por igualdade e não por humildade (subordinação) que ele lavou os pés de seus discípulos. Isto porque o não poderia o mestre abandonar a carne sem também praticar este ato, pois desta forma sairia como ‘superior’, como servido.

A igualdade do Amor Universal tem que conferir a cada um o direito de fazer o que quiser por se julgar certo. Para amar com igualdade, o ser humanizado não pode se proclamar juiz do mundo e colocar-se na posição de portador das verdades universais apontando falhas em todos. Cristo nunca afirmou ser Deus, mas seu Filho querido. E foi bem claro ao afirmar que não julgava ninguém, apesar de ter todo conhecimento do Universo para tanto.

Isto ficou bem claro no episódio que é conhecido como o julgamento da mulher adúltera. Quando os seres humanos levaram a mulher para que ele dissesse se deveriam aplicar-lhe ou não a pena, o mestre perguntou quem era superior àquela mulher para se tornar seu juiz. Apontados em sua Real posição, os espíritos encarnados não cumpriram com a sentença. Contudo, nem o próprio Cristo tampouco se sentiu superior a adultera para jogar a sua pedra.

Este é o Amor de Cristo pelos seus irmãos, o de Deus pelos seus filhos e deveria ser o de cada espírito pelo outro. O Amor Universal, amplo e irrestrito e que se fundamenta na felicidade oriunda de viver na glória de Deus; na Real compaixão, aquela que constata o sofrimento dos outros, mas que não compartilha dele; e na igualdade plena que transforma todos em um único.

Reforma íntima - Textos - volume 02

O que é Deus?

Quando se começa qualquer análise dos elementos do mundo em que vivemos a primeira preocupação é em definir o Ser Supremo. Esta análise, no entanto, esbarra logo em um primeiro obstáculo: o nome do Ser Supremo.

Muitos chamam o Ser Supremo de Deus, outros de Jeová, alguns de Alá e outros nomes diferentes. Esta confusão de palavras sempre interfere na espiritualidade dos seres encarnados que se imaginam certos em suas convicções e com isto acabam com o universalismo e o ecumenismo em suas existências.

Não importa porque nome você chame o Ser Supremo, pois este nome é apenas uma palavra. Deus é o somatório das letras “D”, “e”, “u”, e “s”: Nada mais do que isso.

O que pode definir o Ser Supremo não é a palavra que o identifica, mas sim o que ela representa para você. Afinal, palavra é apenas a “faculdade de expressar idéias por meio de sons articulados” (Mini Dicionário Aurélio). O que importa, portanto, é a idéia que você faz do Ser Supremo e não a palavra com a qual você O chama.

Por isso, quando procuramos definir o Ser Supremo não podemos nos ater na pergunta “quem é Deus”, ou seja, defini-lo como individualidade, mas sim quem é Deus, que idéia se faz Dele. Até porque “a inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus” (O Livro dos Espíritos – pergunta 11).

 Não vamos, então, discutir quem é o Ser Supremo, que por convenção chamaremos de Deus, mas sim o que é Deus, ou seja, que idéia se pode fazer Dele, o que é Ele, o que representa para a nossa existência.

A definição mais completa que existe no mundo carnal sobre “o que é Deus” foi passada pelo “Espírito da Verdade” a Allan Kardec e está em O Livro dos Espíritos: “Deus é a Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas”. Vamos, inicialmente, neste texto, entender o significado desta definição.

Na primeira frase da definição, Deus é considerado a “Inteligência Suprema”: o que podemos depreender desta afirmação? No mesmo Livro dos Espíritos, a mesma fonte (Espírito da Verdade) afirma na pergunta 23 que o espírito é “o princípio inteligente do Universo”. Podemos, então, depreender daí que espírito e inteligência são sinônimos, dentro da visão espiritual. Isso fica bem mais claro quando lemos com atenção a pergunta 24.

“O espírito é sinônimo de inteligência? A inteligência é um atributo essencial do espírito. Todavia, como ambos se confundem num princípio comum, para vós são a mesma coisa”.

Relendo a primeira frase da definição contida no Livro dos Espíritos para o que é Deus, podemos, então, compreender que “Deus é o Espírito Supremo”. Neste trabalho utilizaremos para definir espírito o termo ser, uma vez que o outro vocábulo possui diversos valores, definições, entendimentos, que nem sempre corresponde a visão universal do princípio inteligente.

Portanto, a primeira compreensão sobre o tema “o que é Deus” é de que Ele é o “Ser Universal Supremo”.

Deus é um ser, um espírito. Não é um conjunto de energias, uma força suprema ou o próprio universo, como muitos imaginam. Deus é um princípio inteligente, um ser.

Isto fica muito claro quando admitimos que nós mesmos somos seres ou espíritos. Na Bíblia Sagrada está afirmado: “façamos o homem (ser encarnado) a nossa própria imagem e semelhança”. Se formos seres universais e imagem e semelhança de Deus, isso quer dizer que Ele também o é.

Esta é a primeira visão sobre Deus, mas ela deve ser compreendida em toda a sua extensão. Deus é um Ser. No entanto Ele é Supremo, ou seja, um Ser que possui todas as suas propriedades elevadas ao expoente máximo e por isso vivencia as bases da Verdade Absoluta (espiritualismo, ecumenismo e universalismo) com absolutismo.

Por isso podemos afirmar que Deus é o espiritualismo elevado ao expoente máximo. Isto quer dizer que Deus não se afeta, em momento algum, com o materialismo. Não se preocupa com matérias, com coisas materiais, com a felicidade material, pois o Seu espiritualismo não deixa buscar materialismos.

Deus é o ecumenismo ao extremo, ou seja, é a ausência total de regras e normas. Além disso, é o Universalismo ao extremo. Apesar de ser uma individualidade jamais pensa em si como um, mas só raciocina como um Todo.

Isto é Deus. Um Ser que vive assim, que possui esta base para ver as coisas do Universo. Se não fosse, não poderia conhecer a Verdade Absoluta das coisas, pois estaria preso às dualidades do materialismo e do individualismo.

Exatamente por causa desta forma de ser a resposta do Espírito da Verdade à primeira pergunta do Livro dos Espíritos consagra: “Deus é a Causa Primária de todas as coisas”.

Quem encarna em si, sem nenhum defeito, o espiritualismo, o ecumenismo e o universalismo, tem que ser a Causa Primária de todas as coisas para que a Verdade Absoluta sempre esteja presente. Se houvesse outro causador que não possua estas mesmas propriedades elevadas ao extremo seria a vitória do relativo (individual) sobre o absoluto (universal).

Esta primeira análise já nos leva a compreender algo fundamental para a elevação espiritual: o Universo encontra-se no Absoluto, o que garante o equilíbrio eterno dele. Ou seja, o Universo jamais se desequilibra.

Apesar do ser ainda ver desequilíbrio nas coisas universais (certo e errado, bonito e feio, bom ou mau), se houvesse um desequilíbrio a Perfeição estaria quebrada. O universo seria injusto e maldoso, se a Perfeição se quebrasse.

Por isso é preciso que Aquele que não contemple o eu (individualismo que privilegia um em detrimento do todo) seja o Comandante de todas as coisas. Isto quer dizer Causa Primária, ou seja, comando de todos os acontecimentos universais (ação universal) seja, em forma, gênero, número ou grau.

Esta é a primeira visão sobre Deus: o “Ser Supremo que comanda todos os acontecimentos”. No entanto, podemos ir ainda mais longe em nossa análise sobre o Pai.

Por esta introspecção ao universal, esta integração perfeita ao todo, também pode se afirmar que Deus é o Universo, pois Ele se vê como o todo e não o eu. Com o universalismo levado ao extremo, o Pai não reconhece em si a individualidade, mas entende-se como uma peça que compõe o Todo.

Deus é um ser, mas também é o todo, tudo que existe, o próprio Universo. Esta duplicidade de visão do Ser Supremo (um ser individual e o próprio todo), no entanto, não possui palavras para designar e daí surge muitas desavenças sobre o que é Deus.

Apenas para facilitar a compreensão deixaremos para o vocábulo Deus a definição de Ser e diremos que tudo o que existe é Deus emanado. Utilizamos o termo emanado dentro da compreensão dele pelos encarnados: originado.

Tudo o que existe no Universo, portanto, é Deus, mas não o Ser supremo, mas emanado por Ele através da ação da Causa Primária de todas as coisas. Eu, você, as árvores, os animais, os planetas e estrelas somos Deus emanado porque somos frutos da Causa Primária de todas as coisas.

No entanto, o Universo não é composto apenas de seres e objetos. Ele é dinâmico e por isso se movimenta. As pessoas e objetos relacionam-se entre si através daquilo que chamamos “acontecimentos”.

Se Deus é a Causa Primária de todas as coisas, também o é dos acontecimentos. Estes, então, poderiam também ser considerados Deus emanado. No entanto, dar a uma coisa imaterial a mesma designação de material seria confundir muito o conhecimento humano.

Por isto, chamamos os acontecimentos de emanações de Deus. Tudo o que ocorre com os seres e os objetos em seus relacionamentos é emanado por Deus através da Causa Primária de todas as coisas.

Encontramos, portanto, nesta busca de conhecer o que é Deus três elementos: o Ser Supremo, o Deus emanado e as emanações de Deus. Portanto, podemos afirmar que Deus é um Ser que possui as propriedades elevadas ao expoente máximo e perfeitamente integradas ao Universo a tal ponto de neutralizar qualquer influência do eu (individualidade) e, por isto, ser o próprio Universo: os seres e matérias que existem e seus relacionamentos.

“12. Embora não possamos compreender a natureza íntima de Deus, podemos formar idéia de algumas de suas perfeições? De algumas sim. O homem as compreende melhor à proporção que se eleva acima da matéria”. (O Livro dos Espíritos)

Definido o que é Deus, o que Ele representa para o Universo, podemos, então, falar sobre a sua natureza íntima, de suas propriedades intrínsecas (Justiça e Amor). No entanto, uma coisa é preciso deixar bem claro de início: estas propriedades não são só do Ser Deus, mas de todos os princípios inteligentes do Universo.

Como vimos no texto do livro Gênesis da Bíblia Sagrada, todos os seres do Universo foram criados à imagem e semelhança de Deus. Sendo assim, por herança genética, todos têm que possuir a mesma natureza íntima.

Justiça e amor são características presentes em todos os espíritos, mas no Ser mais elevado, ganham distinções. Isto porque, como já dissemos, Deus é o Ser que possui todas as suas propriedades elevadas ao expoente máximo.

Entendemos justiça como “a virtude de dar a cada um aquilo que é seu” (Mini Dicionário Aurélio). Esta propriedade intrínseca de cada um guia a existência dos princípios inteligentes do Universo.

Como já falamos anteriormente, o princípio inteligente se confunde, para os seres humanos com a própria inteligência. Portanto, existir para um princípio inteligente não é executar atos materiais, mas a ação da sua inteligência. Esta ação é conhecida como raciocínio. Raciocinar, então, é viver para os princípios inteligentes.

Os raciocínios são análises das coisas (objetos, seres e acontecimentos) do Universo. Após este processo de análise o princípio inteligente chega a uma conclusão que é o “valor” que se aplica àquilo que foi analisado. A propriedade intrínseca “justiça” dos seres é um dos elementos que interferem neste valor que se dá às coisas.

Se todos somos princípios inteligentes precisamos da propriedade justiça para que o raciocínio existe, ou seja, para que estejamos “vivos”. Portanto, todos os seres possuem noção de justiça.

No entanto, em Deus esta propriedade ganha distinções, pois só Ele possui a Justiça Espiritualista, a Justiça Ecumênica e a Justiça Universalista e, portanto, pode alcançar a Verdade Absoluta das coisas (Justiça Absoluta ou Perfeita). Todos os outros seres, em diversos graus, ainda possuem nas suas noções de justiça elementos materialista e individualistas que os afastam da Verdade Absoluta como resultado do raciocínio.

A Justiça Espiritualista de Deus se consagra pela não valorização do bem material. Como falamos anteriormente, o bem material não é o objeto em si, mas a felicidade material: o prazer oriundo da satisfação de ver seus desejos atendidos com a posse daquilo que é desejado.

A Justiça Espiritualista de Deus não se embasa nos desejos humanos que o ser vivencia. Deus não dá o que cada um quer, mas aquilo que cada um merece.

O enfoque do Ser Supremo ao criar as emanações de Deus não é satisfazer o ser, mas priorizar sempre a felicidade mais pura, universal. A ação de Deus sobre as coisas materiais é sempre objetivando promover uma oportunidade para que o ser, exercendo seu livre arbítrio, possa alcançar a felicidade universal.

Os seres humanos se preocupam com as coisas materiais objetivando alcançar a felicidade carnal: beleza, estética, durabilidade, forma. Estas são visões individualistas, ou seja, baseada nos conceitos (verdades) individuais de cada um. Quando o ser humano “julga” as coisas dessa forma, busca, o prazer, ou seja, a sua satisfação individual.

Deus não se preocupa com estes aspectos: sua preocupação única é se a coisa material está servindo ao Universo como um todo.

O ser humano quando do seu processo raciocínio utiliza a justiça materialista e Deus a Justiça Espiritualista. Deus, quando raciocina não se preocupa em satisfazer verdades materiais, mas está sempre analisando qual o melhor caminho para a felicidade universal.

A Justiça Espiritualista de Deus é voltada para a existência eterna e para a felicidade eterna do ser. Como nos ensinou Cristo, ela é voltada para o bem no céu e não na Terra.

A Justiça de Deus não se concentra no bem estar material, mas só leva em consideração a felicidade espiritual do espírito. Será julgado o que cada um ser fizer contra a felicidade espiritual do outro. Tudo que for feito contra a felicidade material de um ser não será julgado por Deus.

Por exemplo: se uma pessoa dá um tapa na cara do outro sem raiva, ira, ou qualquer outro sentimento individualista, não será julgado por Deus. No entanto, mesmo que ações materiais não sejam executadas contra o próximo, o ser apenas não gostando de alguém já gerará uma avaliação divina.

Deus avaliará apenas o sentimento com que o ato for praticado e não o próprio ato em si. Deus só se preocupa com a ação espiritual e não a ação material. Esta forma de racionar, de se chegar a uma conclusão sobre um acontecimento, chama-se Justiça Espiritualista e é toda a base do ensinamento conhecido como Bhagavad Gita.

Lá, Krishna, Mestre enviado de Deus, conversa com Arjuna, um ser humano, antes de um combate mortal. O ser humano se recusa a entrar na peleja por causa das conseqüências. Do outro lado do campo de batalha estão parentes seus e ele não quer carregar com si a culpa de haver ferido mortalmente seus parentes.

Este é um julgamento material, pois premia o bem estar físico em detrimento ao bem estar espiritual (culpa, remorso). Por isto Krishna ensina desta forma a Arjuna.

Neste momento crítico, ó Arjuna, de onde te vem essa indigna fraqueza, não própria de um ariano, abjeta e contrária à vivência da vida celestial?

Não te comportes como um carente de virilidade, ó Partha, isso pára ti é indigno! Afasta de ti essa fraqueza de caráter, ó fulminador de inimigos!

Estiveste lamentando-te por aqueles que não o merecem. Todavia, pareces falar como um sábio. Só que os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.

Sabe, Arjuna, que nunca houve tempo em que Eu deixasse de existir, nem tu, nem esses reis e jamais deixaremos de existir no futuro.

Assim como o “ser encarnado” tem a sua infância, juventude e velhice, assim também tal ser ressurge como outro corpo. Os sábios nunca se confundem a respeito disso.

Ó filho de Kunti, as noções que tens a respeito do quente e do frio, do prazer e da dor, essas nascem do contato dos sentidos com os objetos; tudo isto tem origem e fim e em verdade são aparências transitórias. Suporta isso com equanimidade, ó Bhârata!

Ó tu, o melhor dos homens, somente aquele que não se aflige por tais modificações e é equânime tanto no prazer como na dor realiza a imortalidade.

O irreal jamais existe; o real nunca é inexistente. Os sábios percebem claramente esta Verdade”!

Compreende que Aquele que interpenetra tudo isto é imortal. Ninguém nem nada pode destruir esse princípio imutável!

Estes corpos, nos quais habita o eterno ser, imortal e incomensurável, têm fim; por conseguinte, luta, ó descendente de Bhârata!

Aquele que pensa que este ser mata e aquele que pensa que este ser é morto, os dois são ignorantes. O ser não mata nem morre.

Esse ser não nasce nem morre e tampouco desencarna; o ser não tem origem; é eterno, imutável, o primeiro de tudo e todos e não morre quando matam o corpo.

Ó filho de Prithâ! Como pode morrer ou causar morte de outro aquele que sabe vivenciadamente que este ser é indestrutível, eterno, sem nascimento e imutável?

Assim como costuma deixar suas roupas gastas e bota outras novas, assim o ser corporificado e humanizado abandona seu velho corpo e faz-se outros novos.

As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca.

A este ser não se lhe pode cortar nem queimar, nem molhar, nem secar; é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial.

Diz-se que este ser é não manifesto, que é impensável e imutável; se sabes e sentes que é assim, não te deves lamentar.

Todavia, ó tu de braços poderosos, se pensas que este ser a todo momento nasce e morre, mesmo assim não deverias afligir-te por isso.

Pois, para aquilo que nasce, a morte é certa e inevitável e para o que morre, o renascimento é coisa certa. Não te lamentes, portanto, pelo que é inevitável.

Todo a preocupação de um ser enviado por Deus não é pela provável carnificina que ocorrerá em breve, pois é inevitável (estava escrito – Maktub), mas sim para que Arjuna pratique o ato sem lamentações, aflições, ou qualquer outro sentimento de culpabilidade. Orienta ao seu irmão que cumpra com o seu dever para a humanidade.

Deus ao criar, como Causa Primária de todas as coisas, a batalha na qual participará Arjuna utilizou a Justiça Espiritualista que determinou que o “melhor” para a existência eterna daqueles que perecerão na batalha seja o desencarne. Ao ser que se transforma em instrumento da ação universal comanda pela Causa Primária, resta praticar o ato sem individualismo (sofrimento).

Para idealizar a ação material que resultará da Justiça Espiritualista, Deus observa a Justiça Ecumênica, ou seja, não existem regras ou normas que balizem as ações: tudo o que se faz em nome de Deus (amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo) é perfeito.

Não existem leis que digam o que pode ou não ser feito. Faça o que você fizer amando, estará perfeito. Isto porque, um ser universal não consegue aplicar universalmente a sua justiça. Ele não conhece todas as “verdades” envolvidas no assunto.

Desta forma julgará apenas com seus valores relativos. Apenas Deus, o Onisciente, pode saber a “Verdade Universal” sobre as coisas e comandar uma ação Perfeita.

Quando um ser julga (avalia) coisas está sempre aplicando a justiça individualista. O objetivo final desta avaliação é o prazer, a satisfação de ver suas verdades tornadas universais. O ser em evolução busca sempre se servir das coisas ao invés de servir ao todo.

Só Deus pode aplicar a Justiça Universalista, ou seja, aquela que premia o todo acima do individualismo. Deus quando avalia ações espirituais (sentimentos) não leva em consideração qualquer individualismo, nem o seu mesmo, se Ele o tivesse.

Deus não se preocupa com o ato de roubar dinheiro do próximo, por exemplo, mas se o ser roubar um segundo de tranqüilidade, felicidade, paz, de um espírito, Deus agirá para lhe dar de acordo com a sua obra.

Estas são as três características da propriedade Justiça de Deus, mas Ele ainda possui o Amor Sublime. Esta propriedade também é aplicada com os três fatores que garantem o expoente máximo a esta propriedade divina: espiritualismo, ecumenismo e universalismo. Deus é o Amor Espiritualista, Amor Ecumênico e Amor Universalista.

Amor Espiritualista: Deus lhe ama como espírito, como ser universal. Deus não ama o seu individualismo, a sua vontade de se satisfazer. Para Deus o materialismo não possui valor porque transitório e individual, ou seja, relativo.

Portanto, o amor de Deus sempre chegará ao ser para levá-lo para o universal, sempre com o sentido universal, nunca com o sentido individual: o você quer, o você gosta, será o que Deus tem que lhe dar. Isto não pode ocorrer porque Deus dá a cada um (acontecimentos e objetos) o que precisa e merece para se universalizar e não porque o ser quer ou goste.

Amor Ecumênico: um amor sem regras, sem normas, sem desejos. O Amor Ecumênico é só amor: puro, cristalino.

O amor de Deus por seus filhos não pretende agradar ou satisfazer o ser, mas objetiva sempre colocar instrumentos para que o espírito evolua e universalize-se, alcançando a perfeita integração ao todo, única condição para alcançar a felicidade universal.

Amor universal: Deus ama a todos, ao mesmo tempo, com a mesma intensidade. Deus não tem predileções por nenhum ser.

Tanto faz aqueles que já conseguiram se elevar ou não, que oram mais ou menos, que cumprem os mandamentos: nenhum fator cria privilégios especiais para Deus. Na hora que Deus afirmar que este é o meu filho especial, acabou com o equilíbrio do Universo.

Isto é Deus e esta é a forma como Ele age no Universo. Só a partir desta análise que fizemos pode se dar valor de real às demais características que os mestres afirmaram que Deus possui: Onipresente, Onisciente, Onipotente, Eterno, Imutável, sem forma, Único.

Todas estas características que se atribui a Deus são conseqüências de Suas verdades (Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas) aliada ao seu expoente máximo das características de evolução (espiritualismo, ecumenismo e universalismo). Sem esta visão, os ensinamentos não possuem lógica.

Simplesmente se definir Deus pela Onipotência, sem se admitir a Causa Primária, não tem lógica. Admitir-se Deus como Único sem entender-se a sua universalidade ao extremo ou entendê-Lo pela sua Onipresença sem ver o seu ecumenismo ao extremo, não possui lógica e isto leva ao materialismo, à busca do prazer.

É preciso ter estes três aspectos que são fundamentais para a existência de um ser em mente para começar a se compreender Deus e o Universo. Apenas no momento que se compreende Deus e Sua ação (a própria vida) baseado nos três aspectos da existência espiritual (espiritualismo, ecumenismo e universalismo), se entende a vida carnal: uma ilusão criada por Deus para que cada ser escolha um sentimento para reagir.

Sem a direção de Deus o próprio Universo não existiria. Se o Universo é a perfeita fusão de todos em um só, como isto poderia ocorrer se as partículas agem individualmente, buscam a satisfação individual, idolatram o individualismo, o que gostam, o que querem? Seria o caos, um mundo onde cada um estaria permanentemente em guerra com o próximo para se satisfazer individualmente.

Só a ação de Deus sobre o mundo (Causa Primária de Todas as coisas com Amor e Justiça Espiritualistas, Ecumênicas e Universalistas) explica a coesão do universo.

Estes são os aspectos para se conhecer Deus e sem isto não se chega a Deus. É por isto que todos os Mestres da humanidade ensinaram e viveram desta forma. Foi assim que Cristo vivenciou todos os atos daquela encarnação: espiritualista, ecumênico e universal.

Ele nos ensinou um Deus que possui estas três propriedades. Ao não atirar a pedra na prostituta ele foi ecumênico (sem regras, sem leis, sem normas). Adorou acima de tudo Deus, o Pai, que causou o adultério.

Isto é Deus: um Ser sem a menor individualidade que se vê como o próprio Universo.

Reforma íntima - Textos - volume 02

Ecumenismo

O segundo fator que compõe a base da reforma íntima é o ecumenismo. Em uma rápida visão podemos encontrar que o significado da palavra ecumenismo é a fusão das religiões existentes.

No entanto esta fusão nunca será alcançada no planeta. Para entender esta afirmação, apesar de já termos abordado superficialmente o tema, comecemos por compreender as religiões.

A palavra religião origina-se do termo religação com Deus, com o divino. Ou seja, uma religião é um caminho para a religação com Deus. O objetivo máximo de cada uma deveria ser auxiliar o ser encarnado a alcançar o Ser Supremo, mas infelizmente isto não é realidade.

Toda religião foi criada a partir do ensinamento de um mestre enviado por Deus. Estes, na verdade, não agiam como individualidades, mas representavam o Ser Eterno como se Ele fosse.

Na religião hindu, por exemplo, Krishna é considerado como a Suprema Personalidade de Deus. Para os seguidores desta religião existe o Deus impessoal e o pessoal, ou seja, Aquele que se confunde com o todo e aqueles que O representam dentro de uma matéria densa. Brahma é o Deus impessoal, aquele que não possui materialidade alguma e Krishna a encarnação desta Personalidade.

Este é o mesmo sentido da Suprema Trindade dos católicos: Deus, Cristo e o Espírito Santo. Todos fundidos em um só, mas como personalidades diferenciadas. Cristo é a Suprema Personalidade de Deus encarnada para os cristãos, assim como Krishna é para os hindus.

Este deveria ser o entendimento e ele poderia levar as religiões a auxiliar os espíritos a religarem-se ao Ser Supremo, mas, no entanto elas agem de forma diversa. Cultuam a personalidade encarnada de Deus (o mestre) por si só, gerando desta forma um ídolo.

Somente por este fato em si, o primeiro mandamento da lei de Moisés já foi ferido: “amarás apenas a Mim, o Deus Eterno e mais nenhum ídolo”. Alcançar Deus através do mestre é uma postura, mas canonizar-se o mestre como o próprio Deus, transferindo o poder do Senhor para o empregado gera ídolos que ferem as leis universais.

Por isto Cristo jamais afirmou que ele era a realização dos espíritos humanizados, mas um caminho para se chegar a Deus. Todos os mestres compreenderam esta verdade e a transmitiram, mas as religiões transformaram-nos em objetivos a serem alcançados.

Por isto falamos que a fusão das religiões como hoje pretendida por parte da humanidade é impossível. Enquanto o amor a Deus não for superior à idolatria aos mestres isto será impossível.

O ecumenismo que o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL prega é mais do que apenas a fusão das religiões, mas a religação direta com Deus. Ensinar os seres humanizados a amarem profundamente todos os mestres como irmãos em missão do Pai, mas também que todo louvor seja ao Senhor Eterno.

Apenas quando o ser religar-se diretamente ao Senhor, sem a idolatria aos mestres, compreenderá a reforma íntima que necessita promover durante a existência carnal.

Mas, qual será a base desta religação? Quais serão os ensinamentos que devem ser seguidos, uma vez que existem discordâncias profundas entre as religiões? Para alcançarmos as respostas a estas perguntas, precisamos compreender as religiões.

Elas são formadas por duas partes distintas: o rito e o conjunto doutrinário. Toda religião possui um ritual que as caracteriza. No catolicismo temos a missa e os sacramentos; nas igrejas evangélicas os cultos; no espiritismo as reuniões, passes e contato com os espíritos desencarnados.

Tudo isto dá uma caracterização individual às religiões, mas o que realmente as distingue é a doutrina, ou corpo de ensinamentos que o ser religioso precisa respeitar e cumprir para poder ser aceito como pertencente a esta ou aquela religião.

Os rituais servem para a religação propriamente dita. Cada uma possui o seu próprio ritual: a missa, o terço, a oração, a evocação, a meditação, etc. Em todos eles o ser eleva o seu pensamento (altera a freqüência vibracional) para ligar-se ao Ser Supremo.

Todos estes rituais conseguem, para aqueles que os praticam com fé, alcançar o seu objetivo. A religação pode ser feita tanto na santa missa quanto em uma gira de umbanda, porque todas as formas de oração foram criadas pelo Pai tendo em vista a diversidade de níveis de evolução dos espíritos encarnados.

Eles são obras de Deus criadas para auxiliar a miscigenação oriunda do grau de elevação de cada espírito que existe entre os encarnados. Por isto podemos afirmar que não é o rito em si o determinante para a religação com Deus, mas o fervor com que cada um se entrega a religação.

Por este motivo, não existe nada que deva ser alterado quando da alteração da base de vida do ser encarnado de religioso para ecumênico. O ser encarnado pode continuar freqüentando o rito com a qual consiga maior ligação com o Deus.

No entanto, para o ecumênico uma coisa muda: ele dará ao próximo o direito de religar-se através do que rito que mais lhe convir. Isto porque o ecumênico compreende que não existe rito errado ou mal: todos levam diretamente ao Pai.

Não importa se o ritual seguido é um louvor silencioso ou se este se expressa através de atabaques. Se para a religação é necessária a utilização de imagens, velas ou qualquer outro instrumento material ou não: todo rito leva a Deus e é utilizado por aqueles seres que necessitam destes instrumentos.

Esta compreensão cessa com o julgamento e a crítica tão combatidos por todos os mestres e, portanto, é uma Verdade Absoluta.

É por isto que o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL não possui ritos próprios. Para a realização de sua missão ele adota todos os rituais de todas as religiões atualmente existentes.

No entanto, o mesmo não ocorre no tocante às doutrinas das diversas religiões: o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL as rejeita, preferindo buscar as Verdades necessárias para a promoção da reforma íntima diretamente na fonte, ou seja, no ensinamento dos mestres. Isto porque as doutrinas religiosas são apenas interpretações humanizadas dos ensinamentos dos mestres.

O livro Novo Testamento da Bíblia Sagrada, por exemplo, serve de base para católicos, evangélicos de todas as correntes e para os espíritas que seguem também o Pentateuco de Kardec. No entanto, cada uma destas religiões possui um corpo doutrinário completamente diferenciado da outra. Todas são formadas com a mesma letra (ensinamento escrito), mas compreendem-na de forma diferenciada.

Qual deve ser seguida? Há nos ensinamentos dos mestres autorização para utilizar imagem? Existe a reencarnação? Será que não existe realmente a ressurreição? É proibida a comunicação com os mortos? Enfim, são tantos pontos diferentes retirados do mesmo texto que, adotar-se um conjunto doutrinário de uma religião é o fim do ecumenismo e buscar fundi-los é impossível, pois todos se imaginam certos.

É por isto que o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL busca compreender os ensinamentos de todos os mestres de uma forma independente. Ele não rejeita os livros sagrados das religiões, mas vai buscar estudá-los de forma independente do ensinamento religioso.

Sempre que se vai ler alguma coisa, gera-se uma interpretação sobre o texto. O mesmo texto (Novo Testamento, por exemplo) é lido por católicos, protestantes e espíritas, mas cada um possui uma interpretação diferente. É claro que, quando o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL o relê, uma nova interpretação também é gerada.

Isto ocorre porque a interpretação de textos é feita a partir de embasamentos: cada um utiliza uma base de leitura que dá o sentido à mesma. Os evangélicos possuem uma base (verdades) e os espíritas outra e, por isso, alcançam interpretação diferenciada. Mas, existirá uma base que seja Verdade Absoluta? Quem está mais certo: evangélicos ou católicos?

O fiel da balança, aquele que pode dizer o que é Verdadeiro, é o próprio ensinamento. Qualquer interpretação que fira o próprio ensinamento contido no livro sagrado estará fatalmente viciado.

Por exemplo: um corpo doutrinário cristão (católico, evangélico ou espírita) que se diga o certo, ao se auto denominar desta forma fere ao próprio ensinamento de Cristo. Como apontar certo ou errado sem julgar o próximo, atitude que foi condenada pelo próprio Cristo?

Os corpos doutrinários das religiões não estão certos ou errados, mas viciados no materialismo do ser humano. Eles buscam o bem na Terra e não no Céu.

Querem trazer para o ser humano a satisfação, o prazer material ao invés de levá-los pela “estrada mais estreita”. Isto não é um erro porque todos os caminhos levam a Deus, mas um caminho viciado pelo individualismo.

Quando questionado sobre a “lei” (conjunto doutrinário dos hebreus) Cristo afirmou que da não lei não se tira uma vírgula nem um ponto, ou seja, que ela não pode ser alterada. No entanto, ele quebrou diversas leis e, justamente por isto, dentro da lógica humana aplicada pelos professores da lei, foi crucificado.

Cristo alimentou-se em dias proibidos, deixou de penalizar os faltosos, etc. Suas atitudes feriram o clero da época que decidiu, então, que aquele subversivo merecia um castigo. Porém, quando indagado pelos fariseus porque quebrava a lei explicou que agia desta forma porque Deus espera que sejamos bondosos e não que queimemos incensos a Ele.

Se pensarmos por este aspecto, o mestre não estava quebrando a lei. Para provar isto ele perguntou aos fariseus: quem de vocês não salvaria um animal em perigo de morte mesmo que fosse sábado?

Salvar uma pessoa ou um animal é muito mais importante do que seguir burocraticamente um texto legal que proíba a ação física no dia santo, pois está amparado no amor ao próximo, que faz parte da constituição espiritual. Este amparo legal na constituição espiritual que Cristo buscou foi definido por ele mesmo como uma das suas missões: dar o real sentido da lei.

O real sentido dado por Cristo às leis doutrinárias das religiões é a interpretação perfeita (Verdade Absoluta) da constituição espiritual de Deus. Ela baseia-se no primeiro e segundo mandamento que o mestre veio trazer: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Cristo não só ensinou como vivenciou este amor, que é sublime. Todos os seus atos, mesmo os que aparentemente não possam assim ser compreendido, como secar a figueira e expulsar os mercadores do templo, foram amorosos. Isto porque o mestre nazareno, como espírito evoluído que é possui consciência amorosa.

Cristo não seguia a letra fria dos códigos de leis religiosos, mas seus atos jamais poderiam ser interpretados como mau, mesmo que as leis religiosas digam ao contrário, porque a fonte de todos eles era o Amor Universal.

Portanto, se ele é o caminho para Deus, este também deve ser o corpo doutrinário do ecumenismo: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Por isso o ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL troca todos os códigos penitenciários adotados pelas religiões pela constituição espiritual e a utiliza como base para o estudo dos livros sagrados. Desta forma ele pretende levar aos seres encarnados o real sentido das leis deixadas pelos mestres que vieram antes e depois de Cristo.

De posse da consciência amorosa que surge pela submissão à constituição espiritual (apenas amar), o ser humanizado pode então ser bondoso realmente ao invés de ficar queimando incensos em louvor a Deus. Vivenciando os acontecimentos do mundo com esta consciência, o espírito pode unir-se a Deus sem sofrimentos ou prazeres.

A lei não matarás, por exemplo, existe em todas as religiões e em todos os códigos penais dos diversos países do planeta, mas nem por isso o assassinato deixou de existir. De nada adianta apenas uma lei que proíba, mas apenas a consciência amorosa pode mudar a vida.

Enquanto a lei for apenas um código que deve ser cumprido por obediência cega, de nada valerá, nada coibirá. Isto porque o ser humanizado possui a tendência a querer fazer o que é proibido, que é muito mais gostoso. A rebeldia humana é parte integrante de todos os seres.

Somente a consciência amorosa leva a não prática dos atos. Se, ao invés de dispormos de códigos legislativos ensinarmos ao ser a consciência do amor, ele jamais cairá no pecado ou no erro.

Ao invés de ensinarmos que é proibido matar devemos ensinar ao ser a amar a Deus, a si e ao próximo. Quando isto for realidade, jamais ele matará alguém.

O ecumenismo pregado pelo ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL passa, portanto, pelo fim dos códigos legais, regras de sociedade, etiquetas e padrões morais para que possa ser alcançada a consciência amorosa. Com ela, deixa-se de praticar não porque é proibido, com medo das penas que resultarão, mas porque a consciência amorosa impede.

Com isto não estamos ensinando a anarquia, mas a subordinação total a Deus. Tudo que acontece origina-se no Senhor Supremo e esta é à base da consciência amorosa.

De posse dela o homem (espírito encarnado) passa a amar a Deus sobre todas as coisas e, por isso, ama ao próximo e a si mesmo.

Vivendo com a consciência amorosa não existem mais motivos para acusação a outrem, mas apenas constatações de ausência de amor. Esta ausência não pode ser suprida com ensinamento, mas com doação.

Quando o ser encarnado descobrir esta verdade poderá doar amor àqueles que, aparentemente, estão executando atos contrários à vontade de Deus ao invés de querer puni-los por tal ato, pretendendo, desta forma, ensiná-los.

A vivência da vida com a consciência amorosa também não quer dizer que haja o fim de determinadas situações para aqueles que não possuam o amor.

O assassino, por exemplo, não deixará de enfrentar as situações de um julgamento, de uma condenação e de um aprisionamento, pois elas são carmas, ou seja, a justa reação a sua ação.

No entanto, ele não será mais alvo da acusação, do escárnio e do preconceito com que a sociedade hoje trata os considerados bandidos. Receberá o assassino o amor dos seus iguais vivenciando os seus carmas.

O exemplo maior deste não julgamento oriundo de uma consciência amorosa foi dado por Cristo ao prometer ao bandido, companheiro de crucificação, que ainda naquele dia ele estaria com Deus no Reino do Céu e quando, mesmo instigado pelo populacho negou-se a atirar a primeira pedra na mulher pega em flagrante adultério.

Apesar destes exemplos, as doutrinas religiosas continuam baseando-se no certo e errado, punindo severamente àqueles que ferem os seus códigos doutrinários com o seu desamor. Isto porque se baseiam em leis doutrinárias e não em um conjunto de informações que possam levar o ser humanizado a alcançar a consciência amorosa.

Juntando agora as duas partes das religiões, podemos afirmar que o trabalho da reforma íntima é conseguido através da religação com Deus pelos ritos já existentes ou qualquer outro que venha a ser criado pelo Pai e pela formação da “consciência amorosa”.

Para isto é preciso o espiritualismo, pois enquanto o ser estiver preso às suas verdades esperando que elas ocorram para que seja feliz lutará para defendê-las através de códigos normativos que punam os faltosos, aqueles que lhe trazem a insatisfação.

Transmitir estas verdades e rever os ensinamentos dos mestres a partir da égide do espiritualismo é o trabalho de toda espiritualidade que assessora as encarnações no planeta Terra. O ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL é apenas um dos grupos destinados a executar este trabalho.

Reforma íntima - Textos - volume 02

Reencarnação

A reencarnação ou a pluralidade das existências corpóreas de um espírito não é coisa nova no conhecimento do planeta. Para a parte ocidental do planeta, ela foi relembrada por Allan Kardec em seu livro O Livro dos Espíritos. Nesta própria obra, porém, Kardec afirma que tal ensinamento foi tomado de Pitágoras (Capítulo V – Questão 222).

Apontou esta origem porque, no seu tempo, não havia muito contato do seu povo com o conhecimento do chamado oriente. Entre os habitantes desta parte do planeta, a reencarnação é milenar, suplantando em muito o conhecimento de Pitágoras. Para aqueles, a reencarnação é uma verdade existencial há milhares de anos e serviu como guia de vida há várias gerações de orientais. Hoje, com a globalização do planeta, muitos dos ensinamentos das gerações anteriores do oriente estão sofrendo mudanças.

Kardec recebeu a notícia da reencarnação do espírito como uma condição para aquele que não tenha alcançado a perfeição na vida corpórea anterior (pergunta 166 – O Livro dos Espíritos). Todos os espíritos devem evoluir na escala espiritual; para isto eles habitam temporariamente uma vestimenta carnal e passam uma existência corpórea. Quando, nesta existência, não alcançam a evolução necessária, tornam a vestir à mesma vestimenta e têm uma nova existência.

Para a espiritualidade que atendeu a Kardec, este processo atende a exigência da Justiça de Deus. Assim, expiando e se aprimorando em nova existência, os espíritos recebem a Justiça de Deus que sempre dá uma nova chance aos seus filhos (pergunta 167 – O Livro dos Espíritos).

Os antigos orientais tinham este mesmo entendimento: imaginavam que cada reencarnação servia para expiar faltas de vidas anteriores e servia como aprendizado para novas lições.

Entretanto, este conhecimento ao invés de facilitar a evolução espiritual dos orientais, acabou servindo como desculpas para atrasos: foi por causa destes conhecimentos que os orientais aceitaram posturas de kamikazes nas guerras que travaram; muitos haraquiris foram praticados pela certeza de que novas existências corporais viriam para que a evolução fosse alcançada. A consciência da existência da reencarnação passou a servir como motivação para a desistência da vida corpórea atual.

Os ocidentais que receberam e aceitaram as informações a respeito desta Providência Divina ainda não chegaram a tal ponto, mas também estão utilizando a reencarnação como uma necessidade. Afirmam que todos os espíritos têm de passar por este processo. Isto não é uma Verdade Universal.

O espírito não é obrigado a reencarnar. Ele só o faz quando não alcança a evolução necessária em uma existência. Caso isto tenha acontecido, o processo de reencarnação não é necessário.

Entendendo-se que a reencarnação serve como expiação, ou seja, pagamento de débitos que se acumulam em vidas anteriores, caso não haja mais débitos, não há necessidade de se encarnar, pois nada mais há a quitar. A reencarnação só acontece para aqueles que possuem débitos. Sabendo-se que a reencarnação foi criada por Deus para que o espírito alcance determinada evolução na escala espiritual, compreenderemos que quando esta evolução for alcançada, não haverá mais necessidade dela.

Assim sendo, a reencarnação só é obrigatória para aqueles que ainda devem ou possuem conhecimentos que necessitam obter. Por isto na pergunta 169 do mesmo livro, a espiritualidade afirmou que a quantidade de encarnações depende do passo com que o espírito caminhe na sua evolução.

 Acreditar na necessidade de uma nova existência está hoje, entre os ocidentais, gerando o mesmo comodismo que um dia gerou nos orientais. Muitas das expiações e dos aprendizados que o espírito deveria ter nesta encarnação estão sendo postergadas com a desculpa que existirá uma nova chance para efetuar este pagamento ou de aprender esta lição.

O importante não é acreditar ou não na reencarnação, pois não foi para este fim que o espírito veio à carne, mas sim aproveitar esta vida para fazer a sua reforma íntima. É necessário não ferir ou magoar os outros e aprender seus ensinamentos para que o espírito evolua. Não adianta reencarnar milhares de vezes se em nenhuma delas conquistar a evolução. Não é pela pluralidade de existências que o espírito alcança a evolução, mas sim por, em uma delas, praticar os atos necessários para se evoluir. Não é o conhecimento da reencarnação que pode libertar o espírito, mas sim o cumprimento da lei de Deus: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Portanto, não importa se você acredite ou não na reencarnação, esta é a chance que Deus lhe deu para você evoluir, seja ela a primeira ou a milionésima encarnação. O importante não é viver renascendo, mas aproveitar um dos renascimentos para elevar-se.

Jesus, ao responder a Nicodemos, não afirmou que existia a reencarnação. A pergunta ao Mestre foi como poderia um homem adulto voltar a barriga da sua mãe, ou seja, ganhar uma nova existência material. Jesus respondeu que o importante é nascer de novo, ou seja, mudar a você mesmo: desaprender o que já aprendeu e começar a praticar uma nova vida. Este ensinamento combina com os transmitidos pelo Buda Gautama: é preciso que o ser humano livre-se de seus conceitos, ou seja, sua forma de ver o mundo para alcançar a evolução.

O próprio Maomé, a quem não é creditado o ensinamento da reencarnação, trouxe um ensinamento do Anjo Gabriel onde afirma que aquele que não cumprir as leis de Deus será jogado no inferno (vida carnal), e ali permanecerá trocando de peles (reencarnando) até que arrependa-se de seus feitos.

Se todos os enviados de Deus falaram disso, isto é uma Verdade Universal, entretanto, não pode servir de desculpas para o adiamento do renascimento: não pode tornar-se objetivo de vida, mas uma porta aberta por Deus para aqueles que não conseguiram o renascimento nesta existência (pergunta 171 - 0 Livro dos Espíritos).

Para acabar com a ociosidade da busca da essência da encarnação foi que o plano espiritual criou o comunismo na China. Apesar de aparentemente este regime político ser contrário à espiritualização, acabou com o comodismo gerado pelo conhecimento das muitas vidas carnais deste povo tão importante para o destino do planeta: com a invasão ao Tibete, o regime comunista também acabou com o isolamento no qual este povo vivia, globalizando os conhecimentos espirituais que eles possuíam.

Foi o advento de fatos como estes e da Segunda Guerra Mundial que trouxe ao ocidente o conhecimento do oriente e vice-versa. São ações de Deus objetivando dar a todos os habitantes do planeta a mesma chance (Justiça). O que terá Ele que fazer agora para acabar com a ociosidade do ocidente?