Preparando-se para viver - texto

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Transcrição da palestra Preparando-se para viver

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O existir anormal

Participante: porque a pressa para esta reunião?

Vamos falar disso mais tarde... Antes precisamos avançar um pouco na nossa conversa. Vamos fazer isso?

Qual o nome de nossa conversa de hoje? Preparando-se para viver. Por que este nome? Porque vocês precisam se preparar para viver, se todos aqui já estão cansados de viver? Aqui não existe nenhuma criança que ainda irá aprender a viver, não é mesmo?

Vocês já estão nessa vida há algum tempo, porque, então, ainda precisam se preparar para viver?

Participante: porque iremos viver outra vida depois da morte.

Se esse fosse o motivo, não precisaria se preparar para viver essa vida, mas sim a outra.

Hoje não vamos falar da vida que existe depois dessa, mas apenas da que estão vivendo agora. Iremos lhes preparar para viver essa vida porque para a outra, eu diria que já estão preparados. Podem até não se lembrarem de como se vive na outra existência, mas com certeza afirmo que já estão preparados para ela.

Participante: precisamos nos preparar para viver esta vida porque temos que aprender a viver agora em paz e com amor ao próximo.

Deixe-me dizer algo: amar o próximo para vocês é algo utópico.

Vocês são incapazes de amar o próximo, a não ser aquele que acham que devem amar. Acontece que neste caso não estarão amando o próximo dentro da ideia que você usou, mas apenas quem querem amar.

Porque precisam se preparar para viver? Porque a vivência que possuem dessa vida é anormal.

Esta é uma coisa que precisam compreender: vocês não vivem normalmente a vida, se olharmos o sentido universal para a vivência de uma existência. Podem até viver de uma forma normal se levarmos em conta a ideia de como existir que há neste planeta. Só que a vivência da vida como entendida pela humanidade é uma anormalidade quando levamos em conta a forma de existir de outros recantos do universo. Na verdade, só aqui se vive do jeito que vocês vivem.

Esse é o ponto de partida para o que vamos conversar hoje. Vocês precisam saber que a sua forma de existir, ou seja, a vivência que fazem dos acontecimentos de suas vidas é uma anormalidade, se levarem em consideração a forma como vivem outros povos do universo.

Porque isso acontece? O que é anormal na vivência dos seres que habitam o planeta Terra? O que é anormal na forma como vivem a vida?

Participante: porque vivemos com objetivos materiais?

Não. A anormalidade na vida se consiste no fato de sofrerem.

Participante: é difícil viver aqui sem sofrer...

Sei disso. Realmente deve ser difícil, porque até hoje vivem sofrendo.

Agora, porque vivem assim?

Participante: porque não existe outra opção...

Isso é um grande engano seu. Sim, há outra opção. Aliás, para qualquer coisa que exista num mundo dual sempre há outra opção que pode ser usada.

A opção existe. Na verdade, a diferença entre a forma como vivem e a vivência dos demais habitantes do universo está na opção que se faz durante a vida. Por isso afirmo que tudo depende da forma como optam em viver.

A anormalidade que falo se consiste justamente no fato de optarem por sofrer. Na existência dos outros seres dos universos essa opção também existe, mas não é escolhida. Só na existência nesse planeta há a opção pelo sofrimento e por isso digo que esta forma de viver é uma anormalidade no universo.

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O sofrimento

Agora, por favor, quando estou falando em sofrimento, não estou me referindo a sofrer a dor de perder uma mãe ou qualquer outro ente querido. Não é só isso. Não estou me referindo às dores que consideram grandes, mas a todo o momento onde o ser humanizado vive uma contrariedade. Criticando essa pessoa porque ele está com uma camisa sem mangas, por exemplo, você já está sofrendo.

O sofrimento que só existe aqui se caracteriza quando há uma contrariedade. Tudo que lhe traz faz sentir-se contrariado é um sofrimento. Sofrer é viver uma contrariedade e isso é anormal no universo. Fora desse planeta, os seres não vivem contrariedades.

A partir dessa informação posso começar a responder àquela pessoa que me perguntou por que a pressa em realizar essa conversa. Nos dias de hoje, o parafuso que causa a contrariedade está sendo cada dia mais apertado.

Desde o final do ano passado que estou dizendo isso e a partir de agora a coisa vai piorar. Diria que o sistema humano de vida está esgotado, não tem mais como existir. Aliás, o próprio papa outro dia falou que nem o capitalismo nem o comunismo são alternativas para a vida humana, pois os dois se baseiam no mesmo princípio.

É preciso começar a criar uma nova forma de viver, pois esta já ficou provada que dá não dá certo. Vocês vão entender o porquê disso mais à frente na nossa conversa.

Viver contrariedades: este é o grande problema da forma humana de existir e por causa dela é que digo que vocês vivem uma vida anormal. Ficou claro isso?

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O momento contrário e o sentir-se contrariado

Participante: a partir do que o senhor disse, preciso lhe perguntar como viver essa vida sem sofrimento? Digo isso porque sofrer é uma condição normal nossa, nascemos para isso. Portanto, como não viver em contrariedade?

A resposta é simples: preparando-se para viver.

O problema é que vocês não se preparam para viver. Durante as suas existências, vão a uma escola, a uma faculdade e outros cursos para se preparem para o lado material da vida, ou seja, se formarem, conseguirem uma boa carreira e com isso ganharem mais dinheiro. No entanto, não frequentam uma escola que lhes prepare para vida no sentido emocional.

Nesse mundo não existe um curso que lhes ensine a viver emocionalmente os momentos da vida. Não existe um curso que lhes ensine a viver sem contrariedades. Por isso passam pelos acontecimentos vivenciando-os dessa forma, já que todas as existências possuem acontecimentos que são encarados com contrariedades.

Toda vida humana tem contrariedades: nisso eu concordo com você. Agora, ao criar estes acontecimentos, será que a vida torna obrigatório que você se sinta contrariado? Eu diria que não ... No meu modo de ver, a vida pode criar momentos que serão contrários aos seus interesses, mas nem por isso precisará sentir-se contrariado.

O que fazer para não viver a contrariedade? Estar preparado para viver estas situações.

Participante: no meu caso, ultimamente estou acostumada a sofrer. Estou acostumada a passar por situações negativas. É tão normal me acontecerem coisas ruins. Quando acontece algo bom é surpresa. Por isso, já estou desesperançada. Isso é se preparar para viver?

Não, isso não é preparar-se para viver, mas apenas viver.

Passar por muitas situações onde as coisas dão errado até o ponto de tornar-se apático com o sofrimento não é se preparar para viver, mas uma forma de sofrer. Preparar-se para viver é estar apto a vivenciar diversos momentos onde as coisas não estão de acordo com os seus anseios (contrariedade) e não sentir-se contrariado.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra. Uma coisa é querer que essa toalha fosse verde, por exemplo, mas ela ser branca. Isso é um acontecimento da vida que é contrário ao que desejava, uma contrariedade. Outra coisa é sentir-se contrariada porque a toalha não é da cor que gosta.

Você pode viver o momento em que os acontecimentos do mundo são contrários ao seu desejo sem deixar que a contrariedade seja o seu padrão emocional naquele momento. Como? Não optando pela contrariedade...

Você só se sente contrariada porque a toalha não está da cor que quer porque opta em viver emocionalmente desta forma. Faz isso porque não está preparada para viver o estar com a toalha na cor diferente do seu anseio. Se estivesse preparada para isso, não importa qual seja a cor dela ou a que queria não se sentiria contrariada.

Compreendeu a diferença entre as coisas? Nós vamos andar na nossa conversa e aí você entenderá melhor o que estou dizendo...

Participante: tenho dificuldade de entender quando é o ego que está falando sobre a toalha e quando sou eu mesmo.

Sempre será o ego que lhe dirá qualquer coisa, pois tudo o que lhe é consciente é ele que fala. Você só fala algo quando concorda com o que é dito pelo ego.

Participante: então, a diferença é muito sutil?

Sim, é muito sutil. Na hora que o ego disser que a toalha é feia, você tem que dizer a ele que não sabe se realmente é para poder ter alguma voz que seja mesmo sua. Se não disser, estará aceitando tacitamente o que o ego lhe diz.

Apesar de ter lhe respondido, digo que não é por esse caminho que quero conversar agora. Quero falar a partir da sua conversa com aquilo que lhe vêm à mente. Esqueça neste momento questões sobre ego, espírito e você.

Vamos adiantar a conversa e você compreenderá melhor o que estou falando.

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Contrariedades

Participante: eu não acho tão difícil viver. Para que se contrariar com as coisas que existem?

Eu lhe garanto que não existe vida onde não haja contrariedade. Esta forma de viver de vocês é artificial, não existe, e por isso precisa acabar. O normal seria não se contrariar, mesmo que a vida fosse contrária ao que quer.

Estou querendo realçar bem a diferença entre vivenciar uma contrariedade e sentir-se contrariado. São duas coisas completamente diferentes. Uma é a vida propor lhe mostrar alguma coisa que é diferente do que você esperava; outra é sentir-se contrariado pelo que a vida criou.

Participante: continuo não vendo motivos para viver contrariedades...

Eu sei que não há motivos para se viver contrariado. No entanto, é assim que vocês vivem o dia inteiro.

Na verdade, os seres humanos contrariam-se porque qualquer besteira. Se um copo estiver fora do lugar que ele ache certo, acabou a paz. Vivem desta forma porque imaginam que precisam sentir-se contrariados.

Se você estiver dirigindo um carro e ao passar uma marcha ela não entrar, se sente contrariado. Querendo colocar uma roupa, se ela não estiver lavada, se sente contrariado. Por quaisquer dois tostões se contrariam logo. Esta é a forma que vocês vivem...

Participante: se a roupa não está lavada, vai lá e lava.

Este seria o normal de se viver esse acontecimento, mas não é assim que vocês vivem.

Ao invés de lavarem a roupa, a primeira coisa que dizem quando constatam que está suja é: ‘droga, a roupa não está lavada’. Com isso caíram no sofrimento.

Participante: para viver dessa forma é preciso um preparo?

Isso: para se viver desta forma é preciso estar preparado para viver. É por causa dessa necessidade é que iremos ter a conversa de hoje. Iremos falar em como se preparar para viver as situações onde a vida é contrária ao que quer de tal forma que vivencie os acontecimentos sem contrariedades.

Só tem um detalhe: o que é preciso fazer para viver sem contrariedade é algo muito simples e fácil. Aliás, eu diria que vocês conhecem todos os procedimentos que vou falar para não viverem a contrariedade. Conhecem não só da minha boca, mas conheceram estes procedimentos a partir da própria vida. Ou seja, já sabem o que devem fazer. O problema é que chega na hora que acontece a contrariedade, por não estarem preparados, não conseguem libertar-se do estado emocional de contrariedade.

Por causa desse conhecimento que já têm sobre o que é preciso para não se deixar levar pela contrariedade, hoje vamos muito mais do que ensinar: vamos relembrar características já conhecidas sobre como viver para que se atentem e se preocupem em colocar em prática aquilo que já sabem. Com isso, verão que na hora que acontecer uma contrariedade e conseguirem praticar aquilo que sabem, noventa e nove por cento das suas contrariedades acabam num instante.

Na verdade, as situações contrárias continuarão existindo, mas vocês não mais viverão esses momentos contrariados. Com isso estarão se incluindo na normalidade do universo, pois não mais sofrerão.

Ficou claro isso?

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Acusação e culpa

Outro detalhe antes de começarmos: em determinados momentos, tenho certeza, a conversa de hoje ficará pesada. Falo que ficará pesada no sentido de aparentemente estar agressiva contra vocês.

Por que isso acontecerá? Porque o que vamos falar desafiará a forma como vivem. Claro que isso tem que acontecer, pois não posso mudar a vivência sem desafiar a forma como vivem hoje. Por esse motivo eu quero desde já colocar duas questões.

Primeira: hoje estamos comemorando os quatorzes anos desse trabalho. Em todos esses anos, nunca chamei a atenção de ninguém, ou na palavra de vocês, nunca briguei com ninguém. Não seria hoje que começaria a fazer isso.

Não vou brigar, mas também não posso concordar com maneira que vivem. Se concordar com ela, não mudarão a forma de viver.

Como acabaram de me falar, já estão acostumados a viver sofrendo. Caso concorde com a forma de viver atual, continuarão sofrendo sempre. Por causa disso, preciso sim bater de frente com a maneira como vivem. Só que ao fazer isso não estou acusando-os de nada. Não estou criticando ninguém, mas apenas sacudindo-os para ver se acordam do sonho que vivem.

Verão que em determinados momentos quando mostrar uma forma de não sofrer com o que a vida cria, haverá pessoas que dirão que se viverem da forma que ensino a vida ficará chata, sem graça. Isso porque não estão vivendo, mas brincando de viver.

Sempre disse que vocês têm que brincar com a vida e não brincar de viver. Viver é uma coisa muito séria, muito importante e precisam ser, como o apóstolo Paulo ensina, maduro nos seus relacionamentos com a vida.

Portanto, desde já deixo bem claro que de nada adianta ficarmos aqui apenas de brincadeira dizendo que a forma que vou propor para que vivam transforme a vida em uma coisa chata. O importante é que não sofram, pois quando não sofrem, estão vivendo de uma forma normal dentro do universo.

Eis aí, então, o primeiro detalhe importante para esta conversa: não se sintam atacados com o que eu vou dizer. Existe, ainda, um segundo detalhe que é importante: não se sintam culpados pela forma como agiram até hoje. Se não tinham a informação de como viver sem sentirem-se contrariados, não há culpas. Não havendo culpa, não há culpados.

Portanto, por mais positivo que eu seja na minha forma de falar, por favor, não se sintam atacados e nem se sintam culpados por terem vivido até hoje sofrendo. Ouçam tudo que ouvirem aqui de forma a ganharem algo, ao invés de sentirem-se acusados ou culpados.

Mas, o que ganharão se colocarem em prática o que falaremos aqui? Uma vida em paz, harmonia e tranquilidade. Ganhar uma existência humana que esteja dentro do padrão de normalidade da existência em outros lugares do universo.

Hoje estou lembrando estes detalhes, apesar de sempre bater de frente com a forma como vivem e nunca ter dado estes conselhos, por causa da pressa que começamos conversando. Hoje terei que ser mais positivo que nunca.

Não há mais tempo de brincar...

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O começo da preparação

Vamos, então, começar.

Como é que alguém se prepara para viver? Será que é vivendo, estudando ou aprendendo alguma coisa? Não, nada disso é preciso. A única coisa necessária para se preparar para viver é observar.

Observar o que? A própria vida. Não se prepara para a vida estudando, aprendendo ou vivendo, mas observando a vida. Vamos, então, começar a observar a vida ...

O que é uma contrariedade? Algo que é contra a sua vontade. Mas, será que a existência de algo que seja contrário à sua vontade é feito para lhe atacar?

Participante: não.

Se não é feito para lhe atacar, é feito por quê? Porque a vida fez, porque alguém fez de determinada forma.

O que está acontecendo pode surgir por diversos motivos e não apenas como algo feito para lhe atacar de alguma forma. Esta e a primeira observação que fazemos dos acontecimentos da vida.

É isso que você precisa fazer para começar a se preparar para viver: observar a realidade da vida, ao invés de viver um mundo fantasioso, um mundo apegado a apenas uma possibilidade ... Falo assim porque o mundo mental do ser humano cria a vida com possibilidades que não são reais.

Garanto que o mundo mental de vocês deverá dizer que alguém colocou essa toalha branca, enquanto você queria que ela fosse verde, só para lhe afrontar. Diria que quem colocou essa toalha na cor diferente do que você desejava, fez isso porque não gosta de você. Diria ainda que a atitude dessa pessoa teve a finalidade de lhe atacar, de lhe causar contrariedade deliberadamente.

Jamais a mente humana busca harmonizar o acontecimento diferente do que se quer com você. Ela sempre cria atritos entre você e a vida. Porque ela age criando esses atritos?

Um detalhe. Quando falo desta forma, não pensem que estou falando de pessimistas. Até a mente dos otimistas vivem assim.

Porque a mente vive criando atritos entre você e a vida?

Participante: porque somos pretensiosos?

Não. Por conta das provações que o espírito precisa vivenciar durante a encarnação.

A vida humana é o teste do espírito, é uma encarnação, é a prova do ser universal. É por este motivo que ela existe com a função de gerar atritos entre você e os acontecimentos que cria.

É por isso que quando algo acontece contrário ao que quer, ela expande a ideia de existir uma contrariedade. Mais: aproveita para acusar aquele que agiu de forma contrária ao seu desejo. Diz que agiu propositalmente para lhe ferir, porque não gosta de você, porque não liga para o que você quer. Ela expande a contrariedade criando um inimigo para que aceite essa intencionalidade do outro e se contrarie mais.

Portanto, para poder viver sem sofrimento você tem que observar a vida, mas precisa fazer isso com uma condição: liberto do que a vida está falando. Este é o primeiro detalhe para aquele que quer se preparar para a vida: ir além do que a vida está falando.

Por exemplo: digamos que tem um amigo de muitos anos em quem confia. De repente, um dia, ele faz uma cosia que lhe contraria. Neste momento, o que a mente começa a falar? ‘Ele não serve para ser meu amigo, não gosta de mim. O que foi que fiz para agora ele ficar assim? O que está acontecendo, meu Deus’?

É esta expansão que estou falando que a mente faz. Ela expande a ideia inicial de ter havido um acontecimento contrário ao seu desejo atribuindo valores não só a quem foi o agente do acontecimento bem como reforçando a contrariedade. Essa expansão faz com que a contrariedade, que começa como se fosse uma pequena bola de neve descendo um morro, chegue ao fim de uma forma gigantesca.

Aquele que se prepara para viver detém a avalanche. Aquele que não se prepara acaba soterrado por ela e com isso acaba com a sua paz, harmonia e felicidade.

Participante: porque ao invés de nos contrariamos com os outro não nos perguntamos o que fizemos para ele agir dessa forma?

Porque não estão preparados para viver. Só por isso.

Se estivessem preparados para viver, ao invés de dar créditos para tudo o que a mente cria, vocês não se preocupariam em querer saber porque aquilo está acontecendo e com isso não se deixariam dirigir pelas verdades que a mente cria.

Ter consciência dos valores que a vida dá ao que está acontecendo: é isso que estou chamando em observar a vida. Aquele que se prepara é quem ouve o que a vida diz, mas não aceita o que é dito. Ele vai além do que a vida está dizendo.

Participante: eu vivo assim ...

Se você vive, ótimo. Noventa e nove por cento das pessoas não vivem.

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Atirar-se na vida

Participante: mas, nós não estamos aprendendo com o senhor a viver deste jeito há quatorze anos?

Sim e por isso já deveriam viver como está falando. Mas, mais do que estarem aprendendo comigo, todos já sabem disso pela própria experiência de vida. Quantas vezes você já não perdeu uma amigo por conta de uma contrariedade que ele criou para depois ver que na verdade a culpa foi toda sua?

Portanto, se levasse em conta a prática da vida que já viveu, deveria viver de forma diferente que faz hoje, mas não consegue isso. Por quê? Porque não se prepara para viver esses momentos. Ao invés disso, se atira na vida.

O que é se atirar na vida? É viver o que a vida diz para viver. Atirar-se na vida é, quando ela acusar outro de ter escolhido de propósito uma toalha de cor que você não gosta, viver essa acusação.

Chamo isso de atirar-se na vida porque quem está dizendo essas coisas a respeito do outro é a vida e não você. Você só passa a falar alguma coisa, a expressar alguma opinião, quando aceita sem a menor restrição o que a vida cria para ser vivido.

Preparar-se para a vida é estar preparado para ir além do que ela diz a respeito do que está acontecendo. É conversar com ela quando existe a criação de ideias sobre os acontecimentos. É ter argumentos para não deixar o que ela está criando lhe levar como uma onda que vem e lhe arrasta para o mar alto. Isso é preparar-se para a vida.

Eu vou usar nestas conversas muito exemplos de todos vocês. A grande maioria já teve conversas individuais comigo e relatou acontecimentos de suas vidas e por isso os conheço todos. Mas, mesmo daqueles que não tiveram essas conversas eu conheço os problemas de suas vidas. Por isso vou usar exemplos de suas vidas.

Como estamos num grupo, me sentirei livre para usar acontecimentos passados para ilustrar o que estou falando. Claro que não vou acusar ninguém de nada, mas acho que essa forma de proceder vai facilitar a compreensão.

Por casa disso, pergunto a este moço: não foi isso que aconteceu com você? A sua vida veio e criou uma série de ideias sobre o que estava acontecendo e você se deixou levar de roldão. Quando viu já estava em mar aberto sem boia.

Não foi assim mesmo que as coisas aconteceram?

Participante: foi...

É isso que acontece com vocês o tempo inteiro. Estão tranquilos em algum lugar e de repente vem um pensamento e todo o mundo que estavam vivendo até aquele momento desmorona. A tranquilidade que estava sendo vivida some e quando veem estão no olho de um furacão. Não é assim que a vida acontece?

Isso acontece com todo mundo. Por que isso ocorre? Porque não estão preparados para questionar o que a vida cria.

Ao invés de conversarem com a mente e com isso evitarem serem levados a mar aberto sem boia, simplesmente se soltam e deixam que a onda gerada pela vida lhes leve. Não veem que por deixarem isso acontecer, acabam perdendo a paz e a tranquilidade que estavam vivendo.

Agir questionando os valores que a vida atribui a um acontecimento é estar apto para viver, é estar preparado para viver. Quem não está preparado, a vida leva e quando acorda e quer voltar para a praia não consegue. Terá que esperar a próxima onda lhe levar, ou seja, ficará ao sabor da vida: se ela lhe leva para a praia, vai; se ela lhe arranca de lá, você vai.

Acho que vocês, que se dizem humanos, seres racionais, deveriam ser um pouquinho mais inteligentes do que isso, não? Concordam comigo?

É sobre isso que conversaremos hoje: como interagir com a vida para não deixar o mundo mental lhe levar para mar aberto. Como interagir com a vida para que mesmo que ela crie contrariedades, você não viva contrariado.

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Você não é a sua mente

Dá para fazer isso? Dá, é claro, lógico e óbvio, mas primeiro precisam entender uma coisa: você não é a sua mente...

Não é você quem pensa, não é você quem raciocina. Tudo que lhe é consciente vem externo a você.

Saber que tem condições de interagir com essas consciências que surgem externamente é o passo inicial para se viver em paz. Quem não se separa da criação mental jamais irá contra o que é pensado e com isso estará sempre ao sabor do mundo mental.

É preciso separar bem você do pensamento.

Participante: às vezes ocorre de um pensamento de ir contra o outro. É isso que devemos fazer?

Não, não existe um pensamento que vá contra outro.

Quando um pensamento contém uma informação e depois surge outro que afirma algo ao contrário, isso não quer dizer que você está agindo. O que está ocorrendo é que a mente está criando pensamentos com sentido diferentes.

A sua ação com relação ao que é pensado existe apenas quando você provoca uma ideia. Por exemplo. A mente lhe diz que não gostou da toalha. Nesse momento a sua interferência só existirá quando se perguntar por que não gostou. Isso você pode e precisa fazer.

Agora, se ao invés de questionar o que foi criado pela mente, esperar um pensamento tentar saber a origem do outro, isso só acontecerá se a vida quiser lhe levar mais para o fundo. Isso acontece quando existe o que vocês chamam de dúvida.

A dúvida existe quando a vida cria dois pensamentos com ideias contrárias. Ela não faz isso para lhe ajudar a não sofrer, mas para lhe levar para mais longe da praia.

Participante: de onde vem o pensamento?

Vou lhe responder de uma determinada forma, mas com isso não estou sendo grosseiro: isso não interessa ...

A origem do pensamento não lhe interessa porque não tem como interferir nela. A única coisa que pode é, depois que ele se apresenta, conversar com a mente. Interferir na origem para mudar o pensamento, isso não pode. Portanto, saber de onde vem o pensamento seria um detalhe que não interessaria.

Lembre-se que o seu objetivo nessa vida não é ser sábio, mas ter sabedoria. Ter sabedoria é não se deixar levar pela vida; ser sábio é conhecer a origem e a forma das coisas.

Compreendeu?

Ficou claro isso? Ficou claro o que vamos fazer hoje? Ficou claro porque tinha que avisar antes que ia contra vocês? Preciso ir contra a forma como vivem até hoje porque estão acostumados a se deixar levar pelo que a vida criam, pois acham que são vocês que criam.

Acham que não gostaram de alguma coisa, mas isso é irreal. Na verdade é a vida que está lhe dizendo que não deve gostar e você aceita o não gostar que é proposto.

Participante: ela fala o não gostei, mas também o gostei ...

Sim, mas se você hoje começar a se libertar do não gostar já estará fazendo alguma coisa pela sua existência.

Portanto, nesse momento, se esqueça do gostei, pois senão irá arrumar trabalho demais e acabará não fazendo nenhum deles. É por isso que vamos falar só do não gosto.

Ter prazer, ficar satisfeito com o que acontece, ainda vai lá mas sofrer é algo completamente antinatural.

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Todos somos diferentes

Então, vamos começar o trabalho. Ao longo do dia de hoje vamos falar sobre diversos argumentos para que não se deixe levar pelo que a lhe vida propõe para viver. Agora vamos falar do primeiro.

Para falarmos dele, pergunto: o que é um ser humano? Um indivíduo ...

Todo ser humano é um indivíduo, mas o que quer dizer ser um indivíduo? É ser uma individualidade. Indivíduo é aquele que possui uma individualidade.

O que é uma individualidade? É um conjunto de características que é próprio somente de um indivíduo. Todo ser humano é diferente do outro porque cada um é uma individualidade, possui um conjunto de características que é diferente do outro.

Concordam com isso? Se a resposta for sim, pergunto: o que isso nos leva a compreender?

Participante: que cada um é um...

Participante: que todos têm diferenças...

Sim, todos os seres humanos possuem diferenças entre si.

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Gostar

A partir da constatação que os seres humanos possuem diferenças entre si, eu peço: digam-me uma diferença, por favor?

Participante: gostar ...

Sim, gostar é algo que é diferente entre os seres humanos. Cada um gosta de uma coisa diferente.

Vocês concordam com isso?

Participante: sim.

Então, porque não dizem isso para sua mente quando ela acusa os outros só porque eles não gostam do que vocês gostam? Porque acreditam que têm que se sentir contrariados quando as suas mentes mostram o gostar diferente que o outro possui?

Sabendo que todos possuem características diferentes, porque ao invés de se atirarem nesse mar de contrariedades, não param e dizem à sua mente que o outro é uma individualidade diferente e por isso tem um gostar diferente do seu? Porque não fazem isso ao invés de sentirem-se contrariados por conta das ideias geradas pela sua razão?

Porque vocês, que se intitulam seres racionais e dizem que não querem sofrer e sabem que as pessoas são diferentes entre si, não se libertam do que é afirmado pelo seu mundo mental? Porque não foram preparados para viver o momento onde os gostares diferentes se encontram. Porque não se preparam para viver este tipo de acontecimento.

A grande verdade é que vocês, mesmo acreditando que devem e possuindo argumentos para isso, não lutam contra a vida. Aceitam placidamente o que ela diz, apesar de possuírem os argumentos para lutarem contra as contrariedades que a mente cria.

Por isso, ao invés de reagirem às críticas feitas porque uma pessoa gosta de algo diferente, se deixam levar pelo que ela cria. Ao invés de dizerem que aquela pessoa não é mal caráter, safado ou apenas bobo por gostar de algo diferente, aceitam esses rótulos que a vida coloca neles e com isso vivem contrariados.

Para se libertarem dessa contrariedade a única coisa que precisariam fazer é reagir à ideia que diz que o outro está errado ou não presta. Para isso, basta se lembrarem que o outro é apenas uma individualidade que possui um conjunto de critérios diferentes e por isso tem todo direito de gostar de coisas diferentes do que você gosta.

Participante: se vivêssemos assim, não poderíamos morar três ou quatro pessoas sob o mesmo teto.

Claro que poderiam.

Se você respeitasse a individualidade do outro viveria feliz com ele. Agora, se não respeitar, viverá no mesmo lugar e do mesmo modo, mas em guerra.

Quem escolhe como viverá com o outro será você, mas a convivência continuará existindo até que a vida acabe com ela. Somente quando isso acontecer, não mais conviverá com ele. No entanto, enquanto a sua vida for conviver com aquela pessoa, continuará vivendo.

Participante: respeitar, inclusive quando o conjunto de características dele levá-lo a desrespeitar você ...

Sim, inclusive quando ele não respeita o seu gosto, já que estamos falando de gostar.

Se ele quer viver contrariedades com relação ao seu gostar, isso é problema dele. Você não quer viver assim, portanto, tem que dar o direito dele gostar diferente. Se não der, irá se contrariar com a contrariedade dele.

Posso lhe garantir uma coisa: você quer deixar de sentir-se contrariado, pois não está satisfeito com a vida que tem. Afirmo isso porque, se estivesse, não estaria aqui hoje. Para alcançar o que quer, tem que agir para não se sentir contrariado.

Essa ação, no entanto, não é sobre o outro, sobre o gosto dele obrigando-o a gostar do que você gosta, mas sim sobre si mesmo. Isso porque é da ideia de que o outro tem que gostar do que você gosta é que surge a contrariedade. A ideia de que o outro precisa mudar-se é a força da onda que lhe carrega para o mar alto dentro da figura que usei agora pouco.

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Maioria

Participante: eu me sinto contrariado porque, como a maioria, eu gosto de uma coisa e alguns não gostam ...

Por favor, não fale em maioria, pois para você, ela sempre acredita no que você acredita.

Mesmo que só você e outra pessoa creiam em algo, essa opinião será a voz da maioria para você. Por causa disso, vai sempre dizer que o que os outros acreditam está errado, mesmo que eles somem um número maior.

Para justificar a necessidade de que o outro mude o seu gostar, a vida cria diversos argumentos. Um deles é a ideia da existência de algo chamado maioria...

A mente justifica a necessidade da mudança do outro para o que ele quer alegando que a maioria dos seres humanos gostam de tal coisa. Se a maioria gosta do amarelo, porque o outro tem que ser diferente? Mais: como gosto igual à maioria, estou certo, por isso tenho a obrigação de fazer o outro gostar do que todos gostam.

A humanidade que se dane, o que a maioria gosta que se dane. Você é você e precisa fazer de tudo para que seja feliz. Se fizer apenas o que a maioria gosta, nunca saberá o que realmente é ser feliz.

Você deve se preocupar apenas com a sua felicidade. Deve se ocupar em conquista-la. Por isso, saiba que ela só será conquistada quando você não mais aceitar a culpa que se dá àqueles que possuem características diferentes.

É isso que precisam fazer durante a vida, ao invés de deixar a humanidade lhe guiar. Ao invés de se escudar atrás de ideias como a da existência de um gosto da maioria, libertem-se da obrigação de segui-la. Apegando-se a ela, a crítica ao outro ocupará seu mundo mental e isso irá lhes tirar da praia e lhes levará para mar alto sem boia.

Ao invés de se deixarem levar, parem e não compactuem com o que está sendo dito. Diga a si mesmo que se o próximo gosta de uma coisa diferente, isso não quer dizer que ele é uma besta nem nenhum ser maldoso que quer lhe atacar. Diga a si mesmo que isso acontece porque ele é uma individualidade que possui um conjunto de características diferente de você. Isso é saber viver.

Só que para viver assim é preciso que estejam preparados para a vida ao invés de simplesmente se entregarem à ela. Sei que é mais fácil dizer que o outro não presta, pois se não fizerem isso, terão que enfrentar a humanidade, a suposta maioria. Só que se não a enfrentarem, continuarão vivendo de uma forma anormal, se comparada à outros povos do universo. Vivendo de uma forma anormal, como esperam integrar-se ao todo?

Quando o ser humanizado não se esmera na busca de silenciar o critério de errado que a mente atribui àqueles que pensam diferente, leva a vida na leviandade.

Viver apenas a partir daquilo que a mente lhe diz para viver é ser leviano. É leviandade. Esta forma de viver transforma vocês em seres infantis, imaturos.

Participante: e quando numa equipe de trabalho você tem a posição de chefia e acaba contrariando a sua equipe com as determinações que passa?

Ainda chegaremos a este aspecto. Espere um pouco, por favor.

Tem um ditado que diz que manda quem pode e obedece quem tem cabeça. Por enquanto esta é a minha resposta. Depois falaremos mais.

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Ação e organização

Compreenderam o que disse?

O que mais existe de diferença entre duas individualidades? Já vimos o gostar, o que mais há de diferença entre duas individualidades?

Participante: o agir...

Sim, cada um age de um jeito diferente do outro porque todos são um conjunto de princípios diferentes. O que a vida faz quando outro age diferente de você? Diz que ele fez de propósito para lhe atacar.

‘Eu tenho certeza que você fez de propósito para me atacar’. ‘Eu tenho certeza que não guardou essa roupa porque não presta atenção em nada, porque não liga para nada, por quer me atacar’. Isso não é verdade. Ele agiu de uma forma diferente da sua porque é diferente de você. Foi só por isso. Mais: como vocês disseram, ele tem direito de ser diferente.

Participante: dentro de um relacionamento de um casal, temos que ter um padrão para que haja organização na casa.

A que organização você está se referindo: à sua ou a do outro?

Participante: estou dizendo que tem que haver uma colaboração.

Não, não é obrigatório que um colabore para que o outro tenha o seu critério de organização atendido. Faça o que você quiser e deixe-o fazer o que ele quiser.

Participante: mas, assim, a gente faz a nossa parte e acaba fazendo também a do outro. Assim a gente se sobrecarrega já que o outro não faz.

Não, você não se sobrecarrega porque o outro não faz a parte dele. Isso não é real. Repare que a sua mente está criando justificativas para o seu trabalho que não são reais.

Sabe porque você se sobrecarrega? Porque quer que a coisa seja feita de um determinado jeito. Não tem nada a ver com o fato dele fazer ou não, mas sim com o de querer que aconteça de uma determinada forma. Se não quisesse que fosse feito desse jeito, o que o outro fizesse estaria bom e você não precisaria fazer novamente. Sendo assim, se sobrecarrega por conta do seu desejo e não porque o outro não ajuda.

Mas, porque quer que seja feito daquela forma? Porque quer ser aceito pelos outros. Imagina que se não organizar a sua casa os outros vão criticá-la. Por isso vive um determinado padrão de organização. Por causa dele e imaginando que ele é universal, que todos possuem apenas um padrão, exige que a sua forma de limpar e organizar aconteça.

Ora, se a limpeza e o padrão do que é limpo é apenas fruto do seu desejo, da sua convicção individual, faça, ao invés de exigir que o outro siga o que você quer. Além do mais, não critique o próximo por não fazer do jeito que você quer, pois ele não tem nada a ver com o seu sobrecarrego.

O seu sofrimento é fruto de querer que seja feito do jeito que quer e exigir que o outro faça como você acredita. Sabe qual é o nome disso? Escravidão...

Preparando-se para viver - texto

Colaboração

Participante: é difícil entender isso...

Sim, é difícil entender, porque não está disposta a abrir mão de nada...

Participante: mas, num casal não tem que haver uma colaboração?

Não tem que ter nada. Sabe porquê? Porque não tem... Não é por nada, mas simplesmente porque não tem. E sabe porque não tem? Porque nunca teve e nunca terá...

O problema é que você aceita a ideia que a mente está lhe dando que deve haver essa colaboração. Por aceitá-la, a razão lhe joga contrariedade e você não consegue reagir contra esse sofrimento.

Eu falei de escravidão, mas o problema aqui não é nem de escravidão, pois quando cobra de alguém da sua casa que se submetam ao seu critério de arrumação, não está sendo senhor de escravo, mas sim capitão do mato. Capitão do mato era aquele que tomava conta de um escravo. Ele não era o dono, mas tomava conta deles para o senhor.

No seu caso, o senhor do escravo é a sua vida, pois ela manda que arrume sua casa de um jeito e você se obriga a viver esse padrão de arrumação. Quando cobra dos outros que arrume do jeito que a sua vida quer, torna-se capitão do mato: um escravo que se acha senhor.

Na verdade não é você que quer que as coisas aconteçam de uma determinada forma, mas sim a vida que criou isso. Foi ela que criou os parâmetros de arrumado e desarrumado para que você se torne vítima da contrariedade...

Participante: mas, ainda acho que deve haver um mínimo de organização, não?

Defenda-se vida... Defenda-se criando pelo menos um mínimo...

Não, não há mínimo que obrigatoriamente tenha que ser realizado. Se você fala em amar ao próximo, não há mínimo a ser exigido dele. Se fala em boa convivência, não há mínimo a ser exigido de ninguém. Isso porque na hora que exige de uma individualidade que se submeta ao que outra quer, acaba o conviver.

Conviver é viver com e você não quer viver com ninguém: quer que todos vivam com você. Não aceita o que eles são, gostam ou fazem, mas quer determinar como cada um deve agir.

Você quer cooperação para que: para alcançar aquilo que quer? E o que ele quer, quando será feito?

Cooperação com o que: com aquilo que você deseja? Porque ele precisa cooperar com os seus desejos e não com os dele? Será que o seu é a coisa mais importante do universo e o querer dos outros não possuem valor algum?

Participante: mas, dentro da vida de um casal deve haver uma casa limpa.

Eu não discordo de você: deve haver uma casa limpa. Só que lhe pergunto: o que é estar limpo? Será que é o que você diz que está limpo ou o que o outro usa como critério de limpeza?

Participante: mas noventa e nove por cento das pessoas têm o seu critério e quer vê-lo atendido.

Sim, noventa e nove por cento agem dessa forma. Por isso todos eles sofrem. Você quer continuar sofrendo? Continue exigindo que os outros atendam o seu critério de limpeza. Quer ser feliz? Abra mão de impor o que quer aos outros. Se precisa de um determinado grau de limpeza, limpe você mesmo e não reclame dos outros.

Sabe porque tem um determinado padrão de limpeza? Para que os outros não ajam dentro deste critério e com isso aceite o sofrimento proposto pela mente. Só para isso.

Vou lhe dizer uma coisa que talvez nunca tenha percebido. Você se mata de arrumar a casa, mas na hora que chega uma visita, encontra uma sujeira.

Participante: não me preocupo com o que os outros falam, mas acho que deve haver uma colaboração.

Claro, você acha isso e a partir do momento que acha o outro não tem mais direito a achar nada... O outro não tem mais direitos, porque você acha. Se acha alguma coisa, o outro tem que calar a boca e seguir o seu achar.

Participante: não pode haver acordo entre as partes?

Não existe acordo entre dois seres humanos diferentes. Um pode, porque não quer sofrer, engolir o que o outro quer. Agora, conseguir viver de acordo com os valores do outro, isso não acontece.

Participante: mas, não há quem não queira ter uma casa limpa.

Sim e é por isso que todos continuam sofrendo. Todos querem uma casa limpa, mas como cada um quer um grau de limpeza diferente e não abrem mão de suas posses, paixões e desejos, vivem em sofrimento ...

Participante: as mulheres são mais organizadas que os homens. Se uma mulher vivesse com outra, a vida ficaria mais fácil.

Também acho. Por isso lhe aconselho: arrume uma mulher para viver com você...

Estou falando sem nenhuma ofensa. O que estou querendo fazer é resolver o problema da sua vida. Se a sua vida está um inferno porque convive com um homem, que naturalmente é mais desorganizado, segundo suas próprias palavras, arrume uma mulher para conviver.

Preparando-se para viver - texto

A vida existe para que você seja feliz

Estão começando a compreender quando disse que vocês não estão preparados para viver? Não estar preparado para viver é achar que o outro tem que gostar do que você gosta, que tem que agir do jeito que quer que ele aja.

Quem vive assim são pessoas que não estão preparadas para viver, pois todos são individualidades, ou seja, possuem um conjunto de critérios diferentes, mas não dão ao outro o direito de serem, estarem ou fazerem o que querem. Por conta do despreparo, os seres humanizados sofrem, pois esperam que todos ajam de acordo com aquilo que acham certo.

Mais: se pensarmos a nível universal, quem vive dessa forma não merece nem estar vivo, pois a vida é um dom de Deus. Sendo assim, deveríamos todos viver em uníssono com o Pai. No entanto, para quem não está preparado para viver, Deus é um sacana. Ele lhe dá a vida, mas põe ao seu lado alguém que não faz o que você quer...

Sabe, você ganhou um presente de Deus, mas ele tornou-se um presente de grego. Digo isso porque Ele lhe deu uma vida, mas não colocou nela alguém que se submeta aos seus desejos.

Será que quem vive a vida com essa impressão merece o dom que recebeu? Vamos ver isso.

Qual o objetivo da vida que Deus dá a cada um? Ser feliz. A vida foi criada para que os seres encarnados vivam felizes. Infelizmente, essa é a única coisa que não fazem enquanto estão vivos. Saem pelo mundo cobrando tudo de todos, exigindo dos outros e da vida que sejam de determinada forma. .

Deixe-me dizer uma coisa. Como falei anteriormente, vão haver momentos onde a conversa ficará pesada. Por isso, não se sintam culpados nem que estou lhes agredindo com o que vou falar agora.

Na verdade, sabe o que fazem da vida? Sabe o que fazem com o dom que Deus lhes deu? Um instrumento de tortura para vocês e para os outros.

Já pensou ouvir todo dia cinco, seis, ou até sete vezes a cobrança do porque não arrumou a casa do jeito que o outro quer? Não acha que isso é uma tortura? Já pensou ouvir todo dia que não arrumou as coisas como os outros querem e que por isso você não presta?

Participante: o que lhe leva a dizer que a vida foi criada para que nós fossemos felizes?

O simples fato dela ser um dom de Deus. Por causa do Criador, não poderia ser do jeito que é.

Quem criou a vida do jeito que vocês vivem não foi o Pai, mas aqueles que colocaram Deus como salvador da pátria. Fizeram isso para que dependessem de alguma coisa para serem felizes.

Eles criaram todo um sistema competitivo sabendo que ninguém ganha sempre. Desta forma, passa a existir a contrariedade e com isso Deus passa a ser o salvador da pátria, o super-herói que existe apenas para lhe defender. Quando a vida lhes dá a submissão aos seus desejos, se apegam nos intermediários entre o Senhor e vocês.

Participante: então, Ele que arrume logo para acabar com isso.

Ele que se mude, não é mesmo? Não é você que tem que se mudar, não é?

Participante: basta a gente ir lá e fazer o que quer, ao invés de cobrar que os outros façam...

Perfeito: se quer de um jeito, vá lá e faça você mesmo.

Faça o que quiser fazer, mas não aceite a contrariedade pelo que os outros fazem. Não aceite a culpa por haver diferenças entre você e os outros.

Preparando-se para viver - texto

Trabalho árduo

Participante: isso é um trabalho árduo...

Sim, é: é difícil vencer a si mesmo...

Repare numa coisa. Essa pessoa está lutando comigo há quase quinze minutos para provar que existe a necessidade de se ter o mínimo de organização. Se fosse para libertar-se da existência desse mínimo, com certeza iria levar quinze anos ...

Sim, vencer a si mesmo, abrir mão do que acredita, é um trabalho árduo. Não pense que por simplesmente estarem me ouvindo hoje vão conseguir vencer suas paixões e possessões. Vou lhes dizer mais uma coisa: vocês vão sair daqui cobrando mais dos outros do que entraram ...

Porque isso acontecerá? Porque ainda não se conscientizaram que não existe o mínimo de limpeza a ser feito, mas apenas um critério individual que chamam de mínimo. O valor mínimo aplicado a alguma coisa é individual e por isso não pode ser imposto a mais ninguém, mesmo que seja um cônjuge ou um filho.

Portanto, é um sim um trabalho árduo de você contra você. Ele é difícil de ser feito. Por que?

Participante: porque não estamos preparados...

Não. Porque não estão dispostos a abrir mão de nada. Vocês querem ganhar até em disputa de cuspe à distância. Fazem campeonatos até para ver quem faz xixi mais longe...

Preparando-se para viver - texto

O mundo de hoje é uma guerrilha

Esse é um detalhe que precisam compreender e um dos motivos pelos quais estávamos com pressa dessa conversa. O mundo humano está cada vez mais exigindo que se sobreponha ao outro.

Participante: competitivo...

Não vou nem falar em competição, porque acho que não existe competição.

Competição existe quando há uma disputa leal. Hoje isso não existe. Por isso afirmo que o que há é guerra para domínio dos outros. Pior: guerra de guerrilha e não um conflito declarado.

Porque falo assim? Hoje os seres humanizados dizem que amam seus irmãos, mas se esses fizerem algo que seja minimamente fora do que esperam, o amor acaba e a crítica nasce. Por maior que seja a amizade, quando o amigo faz algo que não é desejado, todo o sentimento vai embora e surge a desconfiança, a raiva, o desagrado.

Não posso chamar essa forma de agir de guerra declarada, mas de guerrilha. Num combate consciente, os oponentes conhecem as forças do inimigo. Como um ser humanizado nunca sabe o que o outro espera ou exige em determinados momentos, chamo de guerra de guerrilha, pois os embates são feitas sorrateiramente.

Participante: digamos que eu seja feliz ouvindo uma música e ela seja ouvindo outro tipo. Mesmo que viva desse jeito, imagino que o que surgirá será uma desordem, um caos e não uma harmonização.

Você falou uma frase que eu ouço há quatorze anos: a vida se transformará num caos. Desculpe, o que você chama de caos no universo é a ordem.

O caos é a forma que vocês vivem. O caos é a vida organizada por vocês. Esse é o caos. Sabe porquê? Porque quando exigem do outro alguma coisa, o que representam na histórica luta desse mundo? O mal.

Quando exige dele alguma coisa da vida, você é o mal. Por que? Porque está sendo egoísta, está exigindo que o que quer.

A existência de um mau transforma a convivência num caos, ou seja, numa guerra entre quereres. Isso acontece, mesmo que o que queira seja aceito pela média da humanidade ou pelas regras da sociedade. O que existe quando um quer se sobrepor ao outro é uma guerra entre duas individualidades.

Portanto, você precisa entender que cada vez que vem com uma ordem, uma ordenação, uma organização, você é o mal e aquele que é contrário ao seu padrão de organização é o bem. Ou seja, a eterna luta do bem contra o mal.

Preparando-se para viver - texto

Amor e respeito

Porque não pode existir uma padronização nesse mundo? Porque seria necessário que todos possuíssem um conjunto de características único, ou seja, fossem iguais.

Participante: mesmo que houvesse uma padronização, ainda assim não vejo como resultará disso uma situação confortável.

Isso porque você está fazendo uma confusão. Se começar a abrir mão do que quer o mundo não mudará. As situações que acontecem hoje continuarão existindo.

Por exemplo, as pessoas da casa daquela moça continuariam a deixar a roupa fora do lugar. O que mudaria é que não haveria mais guerra por causa disso. Não haveria mais a guerra dela com as pessoas da casa para obriga-las a agirem como ela quer.

Como disse, essa não é uma guerra declarada, pois todos desta casa estão aos beijos dizendo que amam, mas sim de guerrilha, de minar por baixo. ‘Eu lhe amo, mas brigo porque não faz o que eu quero’. Viver dessa forma é a mesma coisa que dar doses pequenas de veneno diariamente para matar lentamente.

Se a vida existe para que o ser seja feliz, ao agir dessa forma, você está levando a infelicidade para a vida dos outros. Já pensou nisso? Já pensou que quando cobra de alguém que faça alguma coisa está levando infelicidade para a vida daquela pessoa? E ainda diz que é muito bom de coração e que faz isso pelo bem deles...

As mães dizem que amam os filhos e por isso os trazem na rédea curta. Exigem que façam o que ela quer, mas dizem que amam os filhos. Qual o nome disso? Hipocrisia...

Este é o primeiro detalhe que é preciso aprender para se preparar para a vida: existe um pensamento que não é seu, que é criado pela mente, que não respeita a diferença entre os seres. Não dá ao outro o direito de ser diferente de você.

Esse moço foi na nossa casa três vezes com um problema de relacionamento. Acho que se naqueles momentos tivesse dito como estou falando agora teria resolvido os seus problemas, não? Você teria se compenetrado que todos os problemas que viveu nasceram porque nunca deu a quem se relacionava o direito de ser diferente.

A partir desse não dar esse direito, começam a acontecer outras coisas, como por exemplo o ciúme. Vocês sabem o que é ciúme? Posse...

Posse para que? Para fazer o outro agir da forma que você quer. Só sente ciúme aquele que não respeita a diferença entre os dois.

Surge, também outra questão: infidelidade... ‘Se deixar ele fazer o que quer, com certeza vai me trair’. E daí? Na verdade, depois que lavou está novo... Qual o problema de haver uma traição? A posse, o sentir-se dono do outro.

Desculpe, ninguém lhe deu a posse sobre os outros. Contrato de casamento não é transferência de autoridade sobre os outros. Amar alguém não o torna dono do outro. Você não passa a ser dono porque casou com ele...

Vejam quantas coisas surgem apenas porque não respeitam a diferença entre vocês. Vejam quantos problemas surgem porque não dialogam com a mente quando ela aponta erros na diferença entre vocês.

O problema está aí. O problema não é um ser diferente do outro, mas porque ele é tratado pela mente como errado. Quando você aceita que o ser diferente é errado, a vida lhe leva para mar alto, lhe arrasta e nem vê isso acontecer. Assim, vai seguindo e quando se dá conta, fica se perguntando o que aconteceu para lhe levar àquela situação.

Os casais se amam, mas se deixam levar pela contrariedade que a mente cria. Com isso aos poucos vão surgindo contrariedades que se acumulam e quando se vê, a vida de casal não existe mais. Neste momento ficam se perguntando o que aconteceu, o que fez com que aquele amor acabasse.

‘Nós nos queríamos tanto e de repente cada um vai para o seu lado. Porque’? Porque não aguentam mais serem atacados pelo outro...

Isso é o que precisam compreender. A união de dois seres não suporta tanta exigência. A vida a dois, quando há cobranças de ambas as partes, não dá certo. Se você aceita as contrariedades que a vida cria, pode ter certeza que um dia se afastará do que lhe contraria.

Preparando-se para viver - texto

Dominador

Sabe de uma coisa? Contrariedade é como câncer. Nasce uma pequena célula cancerosa; depois se reproduz. Quando se vê, o organismo todo já está canceroso.

O simples não guardar a toalha no lugar certo depois do banho, que parece nada, transforma-se numa mágoa. O fato de um não ter guardado a toalha no lugar certo e do outro reclamar, vai criando máculas na relação do casal. Amanhã acontece outra coisa onde cada um exige que o seu anseio seja atendido e se cria uma nova marca negativa na relação. A cada momento onde um se contraria com o outro, marcas vão sendo criadas. Quando prestarem atenção ao relacionamento, um já não aguenta mais olhar para a cara do outro.

Por favor, como sempre, se estiver falando besteira, me mostrem o que estou falando diferente do que acontece diuturnamente nas casas deste planeta.

Não é isso que é a vida? Não é assim que as coisas acontecem? Vocês não vão ficando aos poucos de saco cheio de tanta cobrança, de tanto querer que se atenda os desejos do outro mesmo contra o que você quer?

Por isso é preciso que esteja atento e se prepare para a vida. Para isso diga para si mesmo: ‘nesse mundo todos são diferentes uns dos outros. Por isso tenho que estar preparado quando não acontecer o que quero para não deixar que a minha mente me leve de roldão e diga que essa diferença é um erro, que ele existe para me atacar, que existe como uma forma de ataque para que eu sofra’. Fazendo isso, terá um relacionamento muito bom, será feliz no relacionamento...

É isso que vocês não entendem. Por conta de uma casa arrumada, por conta de acontecer o que querem, o que jogam fora é a felicidade. Abrem mão da felicidade em troca do mínimo de organização, do mínimo de cooperação.

Quanto valor dão à felicidade? Qual o valor real que dão ao estar em paz, harmonia, tranquilos? Acho que nenhum, pois por qualquer coisa jogam fora a paz, a tranquilidade e harmonia. Por que? Porque o ser humano joga tudo fora por qualquer coisa?

Participante: por quer ter razão...

Não.

Participante: porque é mais cômodo.

Não, agir do modo que agem não é mais cômodo. Pelo contrário. Seria mais cômodo dar a cada um o direito de fazer o que quer.

Participante: pela ignorância?

Não. Por que o ser humano é dominador por natureza.

Você não se contenta em conviver com outra pessoa: acha que tem que dominá-la. Quer esmagar nela o desejo e a vontade, porque são diferentes dos que possui.

O outro tem que fazer o que você quer, tem que ser do jeito que você gosta, se arrumar com a roupa que você quer, limpar a casa do jeito que você quer. Diante de tantas obrigações, se não dominá-lo, domá-lo, não conseguirá saciar tantos desejos. É por isso que quer sempre dominar os outros ...

Participante: como é que se pode mudar o que é natural?

Sabendo que isso é antinatural. Que nasceu com isso para deixar de ser assim. Você precisa compreender que não ama ninguém, porque precisa dominar os outros para que as suas vontades sobreponham-se às deles.

Tem pessoas que não conseguem ser dominadas e por isso você não consegue conviver com elas. Quando diz para alguém que deve agir de determinada forma e ela lhe contrapõe, você sai de perto e não quer mais saber dela. Porquê? Para não correr o risco de ser dominado.

Participante: como é que se lida com alguém que quer nos dominar?

Enquanto estiver do lado da pessoa que quer lhe dominar avalie o quanto é importante estar em paz, feliz e harmonizado com o mundo. Se der a isso uma importância maior do que ter a sua vontade satisfeita, engolirá o que o outro faz e com isso não viverá agressão.

Você quer ser feliz ou ter razão? Quer ser feliz ou quer a sua razão prevaleça sobre o outro? Você escolhe o que quer viver. Agora, se não aguentar mais o contato com aquela pessoa e se a sua vida for afastar-se dela, afaste-se.

Participante: engolir sapo é amargo...

Para quem? Para quem acha mais importante não engoli-los do que ser feliz. Quem acha mais importante ser feliz do que engolir sapo, engole a todos e ainda por cima sorri.

Preparando-se para viver - texto

Consciência do seu estado de espírito

Participante: o que acontece comigo? Durmo bem e acordo completamente contrariada...

O que acontece quando dorme? Nada de diferente de estar acordada. O seu mundo mental continua funcionando como se estivesse acordada. Por isso existem as mesmas coisas que acontecem quando está acordada.

Se acorda contrariada, é sinal que enquanto dormia, no seu mundo mental, vivenciou contrariedade. Quando acordar vivencia a contrariedade que acontece enquanto você está dormindo. Só isso.

Participante: mas, qual o remédio para isso?

Ouçam bem que isso é importante.

Esta moça falou sobre algo que é muito importante para vocês: estado de espírito. Há momentos onde estão com estado de espírito de macaco. Nestes dias, se lhes chamarem de bonita, já chutam as pessoas.

O que fazer nestes momentos? Tem consciência do seu estado de espírito; tem consciência de que levará tudo para o lado negativo? Então, afaste-se das outras pessoas. Fique quietinha num canto até que o seu estado de espírito se mude.

Tenha a certeza que a vida explorará seu estado de espírito para gerar mais contrariedades. Assim, sofrerá mais, se não se cuidar. Controle-se porque tem a certeza de que não está no seu normal. Mais um detalhe: tenha a certeza de que neste estado ficará difícil se controlar. Por isso, antes de arrumar uma bomba nuclear para a sua vida, afaste-se de todos. Fique afastada dos outros e peça para eles lhe deixarem em paz até que consiga mudar seu estado de espírito e voltar ao normal.

Quando mudar seu estado de espírito terá mais condições de não deixar a vida lhe levar para mar aberto. Aí pode voltar ao convívio com outros seres humanos.

O que estou falando agora tanto faz se o seu estado de espírito atual começou dormindo ou acordada. Se no meio dia ver que caiu neste estado de espírito, tente se esquivar do contato com outras pessoas.

Na hora que sentir que está fora do seu estado normal, não importa onde esteja ou quando seja, afaste-se. Vá para o seu canto e fique ali sozinha até que esteja em condições de enfrentar o seu mundo normal. Se não fizer isso, a vida pode explorar estes momentos e gerar contrariedades que deixarão marcas profundas.

Participante: esta mudança de estado de espírito não deixa de ser uma prova para mim?

Não deixa de ser ... Isso porque a prova é a vicissitude, a mudança do estado de espírito.

Não é o estado de espírito em si que é a sua prova, mas a alternância entre eles.

Participante: em que momento devo reagir? É na hora que estou reagindo ao que outra pessoa faz ou na hora da reflexão sobre como agi?

É na hora da reflexão que deve agir. Na hora que está acontecendo alguma coisa, que vocês está vivendo algum acontecimento, não consegue agir junto à sua mente, pois não tem condições de separar-se da vida.

Agora, de tanto refletir pode ser que mude. A repetição pode lhe levar a agir automaticamente de uma forma. Apesar de falar assim, repare que disse que pode acontecer: não quer dizer que obrigatoriamente vá ocorrer...

O que precisa entender é que só pode agir na vida na hora que conversa com ela. Na hora que está brigando com outra pessoa não está conversando com ela: neste momento apenas a vida fala.

Preparando-se para viver - texto

Respeito a dor do outro

Tem mais um detalhe sobre o aspecto das diferenças que queria falar. O que estou comentando não vale só para o lado positivo da vida (gostar, querer, fazer, preferir), mas também para o lado negativo: não gostar, não querer, etc.

Cada ser é diferente um do outro nas suas dores, nas suas angustias e nos seus medos. Vocês sabiam disso?

Participante: sabia...

Então, porque riem do medo dos outros, do medo que os outros sentem? ‘Ah isso é besteira, você é um bobo por ter medo de uma baratinha, um inseto tão pequeno e que não faz mal nenhum’.

Participante: não dá para deixar de ter medo de batata ...

Não estou falando do medo da barata, mas sim daqueles que menosprezam os medos que os outros têm. Estou falando do outro caçoar de você porque tem medo de barata e de você caçoar dos medos que os outros têm... Tem gente que ri dos outros porque eles têm medo de cachorro.

Vocês têm o hábito de menosprezar as coisas negativas que os outros vivem. Por exemplo, as angústias que cada um tem. ‘Ah, isso é besteira. Você está se angustiando só por causa desta coisinha à toa’.

Sim, aquela pessoa está se angustiando por isso que não lhe faz sentir-se da mesma forma, mas tem todo direito de se sentir assim pelo que quiser, pois ela é uma personalidade diferente de você. Não vendo essa diferença, acha que aquela angústia é por motivo bobo e por isso você diz que ela deveria não sentir-se daquela forma. Só que você se angustia por coisas que ela não se angustia. Neste momento ela também menospreza o que você está vivendo. Você gosta quando isso acontece? Se não, porque, então, faz a mesma coisa com os outros?

É preciso que vocês entendam que a vida é completamente individual e que ninguém é capaz de avaliar o que está acontecendo na do outro. Só que não vivem assim: ficam medindo dor. ‘

‘Você está chorando por causa de uma dorzinha num pé. Nunca teve um filho para ver realmente o que é dor’. Vocês competem até para ver quem sente a dor maior. Isso é menosprezar a dor do outro Pior: ainda diz que ama ele...

Sabe eu acho lindo quando vamos falar sobre espiritualidade e quando pergunto alguma coisa recebo como resposta que devem amar os outros. Vocês estão muito longe de saber o que é amar o próximo. Muito longe mesmo... Não sabem nem o que é respeitar, o que dirá amar.

Vocês não sabem respeitar uma dor que o outro tenha: quer logo provar que já teve uma dor maior. Fazem isso para competir, para vencer. As quatro âncoras estarão sempre presentes: vencer, ter o prazer, fama e elogio estarão sempre presentes como fundamentos em tudo que falamos, pois elas correspondem ao ideal da vida de vocês. Querem sempre vencer o outro, nem que seja em ter uma dor maior.

Participante: qual a diferença entre respeitar e amar?

Amar é muito mais do que respeitar. O respeito é um dos ingredientes do amor.

Participante: se alguém tem medo de barata, não devemos ajudá-lo a não sentir esta dor? Para isso não devemos menosprezar aquele sentimento? Acho que se não fizermos isso estaremos alimentando o medo dos outros.

O que alimenta o medo dos outros não é você, mas o que ele sente. É a vida do outro que alimenta o medo nele. Aliás, propõe sentimento e o nutre.

Segundo detalhe: se é a vida dele que faz tudo o que ele vive, nem você nem ele tem condições de deixar de ter qualquer coisa. Isso porque é a vida que cria. Sendo assim, ele jamais deixará de ter. Pode não viver o que a vida cria, mas deixar de ter não pode.

Participante: mas, não existem tratamentos médicos para que as pessoas deixem de ter determinados medos?

Quando a pessoa vai a um médico fazer um tratamento para deixar de ter medos, só existirá um resultado positivo para esse tratamento se a deixar for ter. Não foi o médico ou o tratamento que fez isso acontecer.

Sendo assim, da mesma forma que você não pode acabar, não pode alimentar.

Participante: o tratamento condiciona a pessoa a não viver mais o medo.

Sim, mas este condicionamento que o médico faz só dá resultado se a pessoa se deixar condicionar. Não deixando, médico nenhum conseguirá fazer isso.

Mas, o importante, nesta conversa, não é o ato, mas a forma como você se relaciona com o ato. Pouco importa as palavras que dirá a quem está vivendo o medo não tem problema. O problema é menosprezar a dor dele. Isso é que torna a vida neste planeta antinatural. No universo os seres ajudam os outros a vencerem seus medos, mas para isso não menosprezam o que cada um sente.

Portanto, o problema está no menosprezar, ou seja, está no fato de dizer que a sua dor é muito maior ou que a dor dele não tem sentido... Porque? Porque com isso está desrespeitando-o, desrespeitando a diferença entre vocês.

Portanto, você pode falar o que quiser, mas achar que aquela pessoa é muito besta porque tem medo de uma baratinha tão pequenininha, lhe levará a sentir-se contrariado.

Participante: quando eu convivo num lugar onde tem muita barata, morro de medo. Como me relacionar com isso?

Ainda vamos chegar lá. Ainda falaremos sobre os relacionamentos com as coisas desse mundo. Por enquanto estou querendo apenas falar no respeito às diferenças que existem entre vocês. No não deixar as diferenças servirem como causas de contrariedades nas suas vidas.

Como se faz isso? Quando se conversa com a vida e não aceita o menosprezo que ela gera à dor dos outros.

Não dá para se mensurar a dor, a angústia, o medo dos outros. Só que sabendo disso, vocês ainda dizem que o que eles sentem é besteira, pois não sentem a mesma coisa.

Participante: quando vejo uma pessoa sentindo medo, eu digo para ela que já passei por coisas que causam muito mais. Acho que dessa forma estou ajudando aquela pessoa.

Você gosta quando você está aterrorizada e diz que ele é besteira? Gosta disso? Não, mas é o que faz pelos outros. Ainda diz que ama o próximo ...

Vocês riem dos sentimentos sofredores dos outros ...

Participante: mas,

Vai vida, continua defendendo o seu ponto de vista.

Uma das formas de saber se está ajudando o outro é se colocar no lugar daquele com quem está falando. Se alguém age mostrando para você que o que o aterroriza é besteira, como viverá isso?

A resposta mais comum de vocês é: pimenta nos olhos dos outros é refresco ...

Quando quer mostrar aos outros que a dor que eles sentem não é tão forte assim, está menosprezando a dor deles. Você menospreza alguma coisa que sente ou acha que suas dores são as mais profundas do mundo? Sente-se ofendida quando alguém ridiculariza a sua dor, mas quer diminuir a dos outros.

Participante: a gente quer ajudar ...

Quer nada: quer dominar. Quer mudar o outro porque não está sentindo a mesma coisa. Mas, quando é você que sente a dor, não aceita a interferência externa: quer ser respeitado. Melhor: gostaria que os outros sentissem a sua dor também.

Um dos ensinamentos máximos de Cristo é dar aos outros o que quer para você. Vocês cumprem isso? Dão ao próximo o que exigem deles?

Respeitar a dor dos outros é fundamental para se viver essa vida de uma forma normal, pois não fazendo isso, se vive em contrariedade. ‘Ele é um frouxo, não aguenta nem uma febrinha. Ele sofre logo por causa desse pequeno detalhe que é tão besta’. Só que na hora que tem suas dores, quer que as pessoas lhe respeite, que valorizem o que estão passando.

Por causa da falta de respeito, sofre quando desrespeita os outros e quando eles desrespeitam você.

Participante: minha esposa tem tanto medo de barata que quando ela vê uma parece que está de frente a um rinoceronte e não uma simples baratinha.

Ela vê um monstro e não uma barata? Ótimo. Não menospreze o medo dela. Não diga a ela que trata-se só de uma baratinha, porque na hora que cria os seus rinocerontes onde existem apenas mosquitos, você exige que ela respeite o seu medo.

Preparando-se para viver - texto

Ajudar os outros na sua dor

Agora pouco cortei uma pessoa que estava contrapondo ao que estava dizendo. Fiz isso não porque ela estava falando besteira, mas porque a vida começa a gerar explicações, justificativas para o que acontece.

A pessoa estava me dizendo que o que queria fazer era apenas ajudar os outros. Isso é uma mentira. O ser humanizado quer dominar sempre. Falo isso porque ninguém simplesmente ajuda o outro, já que só presta auxílio a quem quer na hora que quer. Digo isso porque na hora que o ser ver alguém passando por uma dor e não estiver disposto a ajudar, ele vira as costas e vai embora.

Participante: como posso, então, ajudar os outros no momento de suas dores?

Primeiro: respeitando o mal que ele está passando. Não querendo menosprezar o que ele está sentindo.

Segundo: ajuda-lo a vencer o mal que está vivendo. Só um detalhe: isso só pode ser feito depois que não estiver mais vivendo o mal.

Lembre-se do que já disse: no momento que a pessoa está passando por uma situação de sofrimento ela não consegue sair daquele estado de espírito. É preciso que este momento acabe para que posteriormente possa se analisar o sofrimento e com isso eliminar as causas dele.

Antes de questionar o que acabei de falar, pense nas suas próprias experiências. Se você está sofrendo e vem alguém que menospreza o seu estado de espírito ou quer lhe ensinar o que precisa fazer para deixar de sofrer, como reage? Com mais sofrimento, não?

Pois é, você não aceita escutar quando os outros veem lhe ajudar, mas quer que eles escutem quando você quer ajuda-los. Isso para mim tem outro nome: egoísmo ...

Tem mais um detalhe dentro da ajuda ao próximo: você tem todo o direito de ajudar, mas o outro tem o direito de não seguir o que você acha que ele precisa fazer. Digo isso porque para o ser humanizado se ele der um conselho ao próximo e esse não segui-lo, coitado dele ...

Participante: que direito nós temos?

O direito de dar o direito ao outro de ser diferente.

Aprenda a viver dando ao outro o direito de querer coisas diferentes, de ser diferente, de fazer algo que você não faria.

Participante: a maior parte dos pensamentos, apesar de dizerem que querem ajudar o próximo, não possuem realmente essa intenção.

Isso. O que eles querem, na verdade, é criar os instrumentos para dominar os outros. Querem criar uma forma de submeter o outro ao que você quer, fazê-lo igual a você. Isso é uma afronta direta à diferença entre vocês.

Participante: posso ter pensamentos mais universais?

Não. Você pode libertar-se dos pensamentos que lhe veem à cabeça, dizer que não acredita neles. Agora, criar pensamentos, isso não pode.

Quando ele disser que o próximo está sofrendo por uma dor inexpressiva, pode combate-lo dizendo que a dor pode ser vagabunda, mas para quem está sentindo é importante. Isso pode fazer, mas deixar de achar a dor dele de pouco valor, isso não pode.

Preparando-se para viver - texto

Bisbilhotando a vida dos outros

No tocante ao respeito ás diferenças, tem mais uma coisa que a mente faz e que claramente leva ao sofrimento: dizer que sabe o que o outro está pensando, o que o outro está sentindo, o que ele está querendo. Enfim, dizer o que vai por dentro do outro.

Como é que uma pessoa pode saber o que outra pensa? Será que alguém já é capaz de ler mentes? Claro que não, mas apesar disso acreditam que sabem no que os outros estão pensando. Sabem o que o marido ou esposa está pensando, no que os pais pensam, no que os amigos e inimigos pensam.

Quando aquela moça falou que os filhos não ajudam na arrumação da casa, com certeza a mente de vocês gerou uma série de ideias, que são tratadas como verídicas, sobre o porque eles não fazem isso. Alguns acharam que eles não ajudam porque são preguiçosos, outro porque são esnobes, etc. Pouco importa o que acham: o importante é compreender que imaginam que sabem o que vai por dentro do outro sem ter a menor capacidade para isso.

Vocês não têm a mínima condição de saber o que vai por dentro do outro. Sabem por que? Porque o que vai por dentro do outro é resultado de ações embasadas em verdades completamente diferentes da sua. O que cada um acha sobre qualquer coisa é resultado da ação da individualidade. Como cada uma é diferente da outra, o resultado é sempre diferente. Sendo assim, não há como você ter a mínima ideia de como cada um participa de um acontecimento.

Ter essa consciência é se preparar para a vida. Preparado, quando a mente lhe disser que tem certeza de que aquela pessoa está agindo com tal objetivo ou que acredita nisso ou naquilo, diga a ela: ‘eu não ac redito nisso, porque sei que não sou adivinho’. Se não fizer isso, certamente cairá na contrariedade.

Digo isso porque a mente sempre parte da ideia de saber o que o outro está pensando, o que está querendo. Como não está preparado para a vida, para lutar contra esses pensamentos, cai. Sofre porque imagina que sabe, mesmo sabendo que não sabe.

O que estou falando parece conhecido? Sim, com certeza já ouviram tudo o que estamos conversando.

Como disse antes, tudo que estamos conversando vocês já ouviram e não é apenas de mim, mas da própria vida. O problema é que não colocam em prática. Apesar de já terem ouvido de diversas fontes que não devem entregar-se ao pensamento que afirma conhecer o íntimo do outro, quando o que é dito pela razão é que o outro agiu propositalmente para lhe ferir, não luta contra a razão. Se deixa levar.

Qual a máxima de Cristo no tocante à elevação espiritual? Orai e vigiai. Essa vigilância ensinada pelo mestre é a si mesmo, mas vocês vigam é os outros o tempo inteiro. São como crianças olhando pelo buraco da fechadura para bisbilhotar a intimidade dos outros.

Preparando-se para viver - texto

Ajudando os outros

Participante: o que o senhor disse sobre não falar com os outros quando estão em crise me causou desconforto. Se eu tenho uma amiga sofrendo porque tem um problema com o marido (traição), acredito que preciso ajuda-la. Como posso falar com ela?

Não vou lhe citar palavras, pois elas são atos e acontecem. O que estou fazendo aqui é mostrando como deve internamente encarar uma situação desse tipo.

Quando alguém lhe dá um conselho, como se sente, verdadeiramente?

Participante: depende do conselho.

Depende do que? Se é o que quer ouvir ou não.

Portanto, se eu fosse ser humano e alguém me disser que está com um problema com o marido, a primeira coisa que perguntaria seria: ‘o que você quer fazer’? Só ouvindo-a posso dar um conselho que não vai aumentar a dor dela com a contrariedade.

Participante: e se a pessoa disser que não sabe o que vai fazer da vida?

E ela lhe der essa resposta, diga: ‘a primeira coisa que você precisa saber é o que vai fazer da vida’.

Repare numa coisa: se é traição, existem diversas formas de abordagem na vivência desse tema. Tem pessoas que conseguem superar, há outras que não. Como você não pode decidir a vida do outro, é ela quem tem que saber o que pretende fazer da vida e não você.

Imagine que oriente a sua amiga a perdoar dessa vez e dar uma nova oportunidade para o marido. Vai que amanhã ele a traia novamente, quem será a culpada por esse novo sofrimento será você. Se a sua amiga tivesse se separado da primeira vez não sofreria agora. Mas, como você disse para ela perdoar, está sofrendo.

Imagine, agora, que seu conselho é para que ela abandone o marido por causa da traição de hoje. Se amanhã, quando a sua amiga sentir dor por estar sozinha, novamente será você a culpada pelo sofrimento dela.

Portanto, diga a ela o seguinte: ‘para preservar nossa amizade, primeiro decida o que quer fazer da sua vida. Depois que decidir, conte comigo, pois lhe ajudo a passar pelo resultado daquilo que decidiu’.

Vocês se apressam a meter o bedelho na vida dos outros, mas acreditam num ditado: se conselho fosse bom, não se dava; vendia-se. Não querem que ninguém se meta nas suas vidas, mas sentem-se obrigados a interferir na dos outros. Isso é hipocrisia e não amor!

Outra coisa que precisa levar em consideração: você jamais pode aconselhar uma pessoa sendo fiel ao que ela quer ou acredita. Porque? Porque você é uma individualidade e ela outra. Cada uma encara as coisas desse mundo de um jeito completamente diferente. Por isso, quando aconselhá-la estará presa à sua visão que não é a dela.

Tem um ditado que diz assim: macaco velho não mete a mão em cumbuca. Conhece a origem desse ditado? Vou explicar.

A cumbuca é um coco. Dentro dele há sementes que o macaco pega para comer. Só que quando enfia mão, ela está vazia e por isso aberta. Quando pega as sementes, a fecha e com isso a mão não passa mais no buraco do coco. Como é um animal irracional, não larga a semente. Acaba morrendo de fome segurando as sementes.

É por isso que macaco velho não mete a mão na cumbuca. Ao invés disso, joga o coco no chão e as sementes caem e aí ele come.

É baseado nisso que lhe digo: não se meta a resolver a vida de ninguém. Se fizer isso gerará contrariedades futuras para você e para ela. Na verdade, você não dá conta de resolver os problemas da sua vida, vai querer resolver a dos outros?

Lhe respondendo agora, afirmo que deve deixar a sua amiga tomar a decisão dela. Não estou falando em abandoná-la. Esteja por perto para ser um ombro para ela chorar as mágoas e desabafar, mas não diga sim ou não de jeito algum.

Essa é a forma que você pode ajudar. Deixe sua amiga viver a vida dela, tomar as decisões que precisa. Se não fizer isso, irá querer ser o Deus da vida dela e no final sobrará para você.

Um último detalhe: sua amiga não quer ajuda, nem você quando pede. Quando o ser humanizado pede ajuda a alguém externa é para que essa pessoa assuma a responsabilidade pelo que acontecerá. Se der errado, o ser tem a quem culpar que não seja a si mesmo.

Preparando-se para viver - texto

Direito de se expressar

Participante: esse lavou está novo mexeu comigo ...

Porque mexeu?

Participante: por causa da traição ...

E a traição, mexeu com o que? Porque não aceitam a traição? Porque lhes causa desonra. Não aceitam ser traídos porque não aceitam que outros lhes desonre.

Só sente-se mexido com a possibilidade da traição ser algo normal aquele que imagina que a sua honra dependa do órgão sexual do outro. Aquele que é liberto desse órgão aceita naturalmente que seu companheiro(a) tenha relações com outra pessoa.

Frente a essa realidade, observem como vocês são tão pequenos. São tão ínfimos que a honra de vocês depende do órgão sexual do outro. Acordem, estão presos num mundo onde os valores das coisas estão invertidos.

Vocês são crianças: ‘ela brincou com o meu brinquedo’. Cresçam ...

Por favor, me responda: alguém pode lhe ofender?

Participante: não.

Ninguém pode lhe ofender: só você pode gerar ofensa a si mesmo quando alguém lhe faz determinadas coisas. Quando isso acontece? Quando não gosta do que o outro faz. Por isso, a ofensa não foi gerada pelo que o outro falou, mas por você não gostar do que foi dito ou feito.

Na hora que compreender isso e levar a vida à sério, se prepara para libertar-se do não gostar gerado pela mente. Ainda falaremos disso também, porque faz parte da conversa de hoje.

Dentro desse preparo existe uma consciência que é importante: porque as pessoas falam o que você não quer ouvir? Porque elas têm boca. Quem tem boca fala o que quer; quem não tem, não fala nada.

Mas, porque ela possui o direito de falar o que quer? Porque é uma personalidade diferente de você. Por causa disso tem o direito de pensar diferente e de expressar o que pensa. Na hora que respeitar esse direito no outro, o que ouvir nunca mais lhe ofenderá.

Da mesma forma, o ato de uma pessoa com a qual se relaciona ir para a cama com outro, é a liberdade de expressão dela. O corpo dela é dela e por isso possui a liberdade de compartilhá-lo com quem quiser.

Na hora que se libertar da posse sobre o outro e dar a ele o direito de se expressar como quiser, nunca mais se sentirá ofendido. Sabe o que acontecerá nesse momento? Não perderá mais coisas que são importante para si em nome de manter a sua vaidade, masculinidade, honra. Coisas, aliás, que só são avaliadas por você mesmo.

Preparando-se para viver - texto

Tudo pode acontecer

Deixem-me fazer uma pergunta de forma geral: alguém aqui se acha imune a uma traição?

Participantes: não ...

Então, porque se chocam quando ela acontece? Se sabem que podem ser traídos a qualquer momento, porque sofrem quando a traição acontece? Porque não vivem a vida...

Os seres humanizados vivem uma coisa que eu chamo de ‘síndrome da princesa’: a ideia de que encontrarão um príncipe encantado que virá montado num cavalo branco e que o levará para o castelo encantado onde viverá uma vida de sonhos, rico e feliz para sempre. Quem vive assim não está vivendo essa vida, não está vivo: está dormindo vivendo um sonho.

Participante: é que achamos que nada acontecerá conosco, só com os outros ...

Isso.

Vocês acham que nada de mal lhes acontecerá. A essa forma de viver do ser humanizado eu chamo de ‘síndrome do filho de Deus’. É aquele que acha que é o preferido do universo, que Deus sempre o protegerá e tudo dará certo na sua vida.

Eu já encarnei algumas vezes, vocês sabem. Quando encarnado e com aproximadamente quatro anos também acreditava tanto numa quanto noutra síndrome. Depois dessa idade não mais ...

Falo assim porque só uma criança muito pequena, que não possui nenhum conhecimento sobre a realidade da vida pode acreditar que tudo em sua existência dará certo. Que sempre acontecerá o que quer. Aliás, acho que nem uma criança de quatro anos continua acreditando nisso. Ela já sabe que muitos dias o papai e a mamãe não compram o brinquedo que ela quer ...

Portanto, sabem que podem ser traídos a qualquer momento, mas sofrem quando acontece. Porque? Porque não se preparam a existência do que não gostam na vida. Vivem a vida inteira se preparando apenas para que as coisas aconteçam como quer.

Justamente por não estarem preparados, ou seja, por não viverem com a consciência de que existe a hipótese de tudo dar errado e que há uma grande possibilidade das coisas existirem assim, caem em contrariedade quando a vida vem.

Participante: nós temos que ser otimistas ...

Eu concordo, mas há alguma divergência entre o que acredito como ser otimista e o que vocês acreditam. Para vocês ser otimista é esperar o bom; para mim é fazer tudo o que acontece como bom, independente do que eu gosto ou quero.

Otimista é quando você ganha um pote de cocô de cavalo e quando alguém lhe pergunta sobre o seu presente diz: ‘ganhei um cavalo, cadê ele’? Esse é o otimista para mim.

Otimista não é aquele que espera ganhar o que quer, mas o que transforma o que recebe em bom.

Esse, portanto, é outro grande despreparo de vocês para a vida: achar que tudo sempre vai dar certo. Não se preparam para viver os desgostos e por isso sofrem quando eles aparecem.

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Aceitar que o outro ganhe

Encerramos a conversa anterior falando que durante a vida vocês não se preparam para que aconteça o que não querem. Por que isso acontece? Porque não se preparam para que aconteça na vida aquilo que não querem?

Porque uma das características do ser humanizado é querer ganhar sempre. Vivendo esperando obter vitórias.

Participante: mas, quem é que quer perder?

Perfeito: quem é que quer perder? Ninguém quer perder, isso é real, mas, o a hipótese de perder é real também. Por isso, mesmo não querendo perder, o ser humanizado que se prepara para a vida trata essa possibilidade como uma realidade possível.

Ele sabe que a possibilidade de perder tem uma grande chance de acontecer. Por isso, quando a hipótese da perda acontece, não sofre, não se contraria. Diferente disso, aquele que sonha ganhar sempre, se contraria com a derrota.

Portanto, estar preparado para a vida não é entrar numa empreitada para perder, mas participar dela sabendo que pode acontecer de tudo dar certo ou não. Ele não vive para perder, mas sabe que essa possibilidade existe.

Participante: é igual a morte. Todos sabem que vão morrer, mas ninguém se prepara para esse momento.

Isso. Todos vivem a vida como se fossem eternos. Isso é outra coisa que vamos conversar mais à frente.

É a partir da conclusão que chegamos que quero destacar uma coisa para que entendam como a maneira de viver humana é antinatural. Vocês só olham a vida a partir do eu. Nunca olham o que o seu eu faz ao outro.

Me falaram algo muito interessante: quem é que quer perder? Ninguém. Concordam comigo? Só que quando o ser perde, o que acontece? Alguém ganha ...

Usando isso nesta questão que foi levantada (ninguém quer perder), posso dizer que vocês não querem que ninguém ganhe nunca. Vivem assim e ainda dizem que amam os outros.

Participante: por isso que eu digo que a vida é uma luta.

Sim, ela é. Se o ser humanizado não quer perder nunca, luta o tempo inteiro contra os outros para que ele ganhe do outro.

Participante: eu quero que os dois ganhem.

Mentira. Não pode querer isso porque sabe que para um ganhar o outro automaticamente tem que perder.

Se os dois querem a mesma coisa (ganhar) e se eles são diferentes e por isso querem coisas diferentes, num momento é impossível que os dois ganhem. Para que os dois ganhassem, seria necessário que fossem iguais, que quisessem a mesma coisa. Como isso é impossível, já que todos são personalidades diferentes entre si, um tem que ganhar e o outro perder.

Como você jamais aceita que o outro possa ganhar, tem que lutar sempre para que a vitória fique consigo. Como alguém pode ser feliz vivendo com essa motivação?

Durante a vida, cada ser humanizado acha que só ele tem direito a vitória, só ele pode ser considerado o certo, só o que ele quer tem que acontecer. Acham que essa forma de viver é amorosa?

O ser humano vive o tempo inteiro exigindo a sua própria vitória e não dá espaço para que o outro tenha nenhum momento de vitória. Ele jamais abre mão do que quer, do que gosta, do que acha certo para que o outro possa viver aquilo que quer. Ainda diz que ama a todos. Como pode haver uma vida em comunhão, com entrosamento, se todos vivem dessa forma?

Ninguém aceita que o outro se satisfaça porque sabe que isso, para ele, será uma derrota. Essa é a verdade da vida, a verdade dos relacionamentos humanos. A maioria vive querer impor aos outros a sua vontade, o seu querer, para que obtenha a vitória sempre.

Se a vida feliz é aquela que é vivida em harmonia entre os seres, pouco importando os papéis da vida, como pode haver felicidade quando não se dá ao outro o direito de vencer? Como podem ser felizes se nos seus relacionamentos sempre que o outro pensa ou quer coisa diferente logo surge a crítica, a pichação de que ele está errado?

Quando os outros conseguem expor suas verdade, porque os criticam? Para que obtenham pelo menos a vitória moral. Se não conseguem que eles se mudem, dizendo que estão errados vocês imaginam obter uma vitória moral sobre eles: ‘eu sei o que é certo, ele não’.

Um grande detalhe: não estou criticando ninguém. Na verdade quem vive assim não são vocês, mas a personalidade humana, a vida humana. É a vida que vive sob esse preceito.

Por isso, quando estou falando agora não estou lhes criticando, mas alertando. A vida vive assim: tenham essa consciência e não se deixem levar pelas razões criadas pela sua mente. Tendo essa consciência, podem, então, libertarem-se da vida.

Preparar-se para viver a vida humana não é mudar a forma como a mente vive, mas a forma de conviver com o que a razão cria. Mudar a forma de conviver é quando a sua mente disser que o seu vizinho está errado porque colocou música alta, você não aceitar essa crítica. Dizer à razão humana: ‘ele tem o direito de ouvir no volume que quiser. Não posso me sentir contrariado porque na hora que quero também aumento o volume’.

Participante: a nossa liberdade acaba quando começa a do outro.

Na verdade a sua liberdade só começa quando acaba a do outro. Para aquele que quer ser feliz, a liberdade do outro vai até onde ele quiser e só depois disso começa a sua própria.

É isso que precisam compreender: estar preparado para a vida é saber que todo relacionamento é feito por personalidades diferentes que são movidas pelo anseio de ganhar e que os dois tem direito à vitória. Não é só você que tem direito a ela.

Preparando-se para viver - texto

Ferir o próximo

Participante: eu tenho o direito de ferir outra pessoa?

Não. Você não tem o direito de ferir ninguém, nem o poder para isso.

Participante: falo da integridade física ...

Nem a integridade física, nem a moral. Como ferir a integridade física de alguém que não é físico?

Tudo que é físico é vida, e não você. Vocês mesmos dizem que não são o corpo, como agora quer imaginar que pode ferir fisicamente o outro? Como ferir a integridade física de alguém que não é corpo?

Portanto, se estiver batendo em alguém, não estará batendo nele, mas no corpo dele. Se o outro achar que é o corpo e sentir-se ferido pela agressão, ele que criou o ferimento e não você.

Participante: se ele morrer, então ...

Se você se diz espiritualista e ecumênico, aconselho a leitura do Bhagavad Gita. Nele, Krishna diz a Arjuna: se você é um guerreiro e está numa guerra, deve fazer o que tem que fazer, ou seja, lutar, ferir e matar o seu oponente.

Participante: sei que o senhor está evitando falar de coisas espirituais, mas se levarmos em conta esse aspecto, poderíamos dizer que ferir o outro é viver o carma dele.

Sim, isso é verdadeiro. Só que hoje dentro dessa conversa especificamente eu prefiro não entrar com esse argumento. Prefiro dizer que a vida foi ferir e ser ferido. Posso dizer isso porque vida e carma são a mesma coisa.

Participante: não posso matar alguém porque, dentro do sistema humano, se fizer isso serei punida e porque não será justo o que fiz.

Para poder se falar isso dentro do aspecto humano, eu apenas trocaria da sua pergunta a palavra justo pela legal. Você não deve fazer isso porque pode ser punida e não será legal.

Justiça é uma coisa, legalidade é outra. Nem toda lei é justa, mas é legal.

Respondendo, agora, se sabe que não é legal e não quer fazer, não faça. Faça o que achar que deve fazer, mas lembre-se sempre que não é você fazendo, mas a sua vida acontecendo.

Agora, vocês estão incomodados com a questão de matar alguém, mas quantas vezes acordaram felizes e alegres e logo depois vieram pessoas que falaram palavras que não gostou e entristeceu, minguou, morreu?

Participante: esse matou o outro tanto quanto quem atirou ou enfiou a faca.

Perfeito.

Na verdade, quando chega perto de alguém e diz que ele não resta, que não saber fazer nada, que está sempre errado, está matando-o. Se a vida só existe no presente, sempre que o usa para acusar o outro com a intenção de obter uma vitória, está matando-o.

Isso você faz todo dia, todo momento, mas agora está preocupado em não agredir alguém fisicamente. O que adianta essa sua preocupação, se não repara que está sempre agredindo o outro com a língua para que se considere o certo, para que o submeta àquilo que quer.

Em diz que faz isso por amor. ‘Eu chamo a atenção dele porque o amo’. Como já foi dito hoje: tem que fazer pelo menos o mínimo do que eu quero.

Vocês estão sempre preocupados com o matar, com o tirar a vida, mas se esquecem das suas próprias crenças. Se vocês acreditam que a vida é um dom de Deus, como podem crer que alguém seja capaz de acabar com ela ao seu bel prazer? Ou será que vocês acham que alguém é mais forte do que o Pai para tirar algo que ele deu?

A agressão física realmente é algo danoso, que machuca, mas tenham a certeza de que a moral é muito pior. Por isso, lembre-se sempre que a agressão moral não está apenas em desacatar alguém, mas como Cristo diz: se você apenas chamar seu irmão de bobo, corre o risco de ir para o inferno. Apenas chamar de bobo, já é ferir moralmente alguém.

Mas, o pior não é isso. O que quero é que se compenetrem é que por mais que achem o outro bobo, ele não é: isso é apenas a sua opinião sobre ele. Ele não é bobo: é você que acredita que seja. Só quando compreenderem que a sua opinião não é real, mas que é usada pela mente como tal para poder gerar uma vitória individual, poderão tentar libertarem-se do que é criado pela personalidade humana.

Preparando-se para viver - texto

Direito de agir

Sabe porque você chama alguém de bobo? Para poder ser o melhor, ter a fama, receber elogio. É isso que quero que se compenetrem agora.

As palavras que vocês usam tão facilmente – como o mínimo de limpeza, o certo a ser feito, a combinação de cores perfeita – não tem nada a ver com a própria situação humana, mas apenas com a vitória de um ser sobre o outro. Aquele que critica o próximo por estar usando roupas com combinações estranhas, não está querendo ajudar ninguém: quer apenas mostrar o quanto ele é expert no assunto e o outro um bobo.

Os seres humanos, na verdade, não estão nem aí para a limpeza da casa. Digo isso porque na hora que querem, na hora que lhes traz algum benefício, não arrumam. Na hora que eles se acham cansados, abrem mão de ter que fazer isso, mas na hora que quer limpo, todos têm que trabalhar. O que o outro quer, o que ele está sentindo, o que está pensando, isso não importa. O que importa é que querem limpo e precisam obter a vitória.

Participante: até onde o ser humano tem a liberdade para interferir na vida do outro? Por causa desse aspecto, a vida humana sempre gerará um conflito inevitavelmente.

Não gerará inevitavelmente. A relação entre dois seres humanizados só gerará o que cada um deles deixar gerar. Se você for agredido, até fisicamente, e for preparado para a vida, ou seja, sabe que ser agredido faz parte e que o outro quando agride apenas está exercendo a sua personalidade, jamais se sentirá agredido, mesmo que tenha apanhado fisicamente.

Participante: quer dizer que se a minha personalidade for agredir o outro, dar tapa na cara dele, isso está perfeito?

A nível universal, sim.

Para compreender o que quero dizer, me responda: até onde tem o direito de agir sobre o outro? Essa é a pergunta que quero que respondam. Vamos dizer que você e outra pessoa tenham uma desavença. Até onde tem o direito de reagir: gritar, brigar ou até agredir fisicamente? Até onde for a vida.

Não existe nada errado. Tudo que acontece está programado para acontecer. Por isso, aconteça o que acontecer, é o que deveria ocorrer. Por isso, digo que o seu direito vai até a ação que fizer.

Na verdade, ninguém pode ultrapassar o seu direito. Se chegar ao ponto de enfiar a mão na cara de alguém, como acabou de dizer, é porque esse era o seu direito. Esse direito é fruto da programação da encarnação sua e dele.

Na verdade, ninguém nunca conseguirá extrapolar o que está previsto para acontecer. Como essa previsão é o que acontece, nem mais nem menos, isso quer dizer que o que fizer é o direito que tem de ação. Isso vale para você e para todos os outros.

Participante: então, isso é passível de acontecer ...

Não, isso não é passível de acontecer: isso é o que acontece. A vida de vocês é uma encenação de provações que foram combinadas entre vocês e os demais antes da encarnação.

Participante: mas as pessoas que eu agredir não terão essa compreensão.

Não, não terão. Para que? Para que elas tenham a oportunidade de vencer a ideia da existência de um culpado de agressão ou não. Por isso é uma provação.

Participante: e o perdão?

Perdão não existe para vocês. Não sabem o que é perdoar.

Perdão para vocês é dizer-se muito bonzinho e por isso não castigará o outro pelo que fez. Só que isso nada tem a ver com perdão, mas trata-se de um ato de vitória individual.

Perdão é o que Cristo ensinou: Pai, perdoa porque eles não sabem o que fazem. Se não sabem o que fazem, não estão agindo errado. Por isso posso dizer que perdoar é nem ver erro. Quem não vê erro no que os outros fazem, que motivo teria para perdoar?

Como só buscam o perdão quando veem algo errado, não posso dizer que são capazes de perdoar.

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Convivendo com o ego

Participante: o carma gerado a partir de um ato ...

Desculpe lhe interromper, mas não existe carma gerado por um ato. O carma é gerado a partir da vivência interna dos acontecimentos.

No exemplo que acabou de ser dado, enfiar a mão na cara de outro, essa ação não gera carma. Agora, o ato interno de submissão à mente que diz que é justo, certo praticar essa ação porque aquela pessoa não presta, é uma safada, gera carma, pois não houve amor.

Participante: o que eu quero saber é sobre a consequência que aquele momento irá gerar.

O ato não irá gerar consequência nenhuma. Toda consequência desse momento será fruto da vivência interna. Acreditando no que a mente fala sobre aquele momento, o ser gera para si um carma, que é consequência do crer como real aquilo que a mente cria e não da ação que gerou.

O equívoco nesse momento não está no que foi feito, mas na vivência interna do momento. Isso gera o carma. Ele acontecerá através de uma nova ação onde o ser terá oportunidade de se redimir da vivência anterior.

Com relação a esse novo ato, deixe-me dizer uma coisa: ele não tem nada a ver com o que a cultura espírito coloca. Se você tirou o braço de uma pessoa num acontecimento, necessariamente não precisa perder um braço ou uma mão. Isso não existe. Essa combinação material na geração do carma não existe, pois se tudo acontece no mundo mental, o carma precisa ser gerado lá e não externamente.

Se o ato acontece na mente, o carma tem que existir no mesmo lugar. Por isso, a consequência de uma vivência não estaria vinculada a um determinado ato, mas a você ter uma criação mental, razão e emoção, que lhe proporcione uma nova oportunidade de se mudar.

O carma existe no mundo mental para ver como você convive com o que a mente cria.

Participante: se tudo acontece na mente, a minha dúvida torna-se mais importante ainda. Eu nunca sei quando sou eu ou a mente vivendo.

A mente é aquilo que lhe vem à consciência; você existe nas conversas que tem com as consciências que surgem.

Participante: eu não sei quando sou eu que estou conversando com o ego ou quando é ele que está fazendo isso.

Por favor, me responda: qual a cor da camisa dessa pessoa que está ao seu lado?

Participante: preto.

Quem me respondeu isso? O ego. O que você pode fazer agora? Pode achar que a informação que lhe veio a consciência está certa ou não. Se achar que está certa, terá se tornado o ego, pois aceitou o que ele fala como real.

Qual o seu nome?

Participante: João.

João é o nome do seu ego e não o seu.

A partir disso posso dizer que o João pensou que a camisa daquela pessoa é preta. Agora, você, tem que dizer ao João: ‘eu não sei se é’ ...

Participante: então, toda consciência que tiver é gerada pelo ego?

Exato. No entanto, torno a dizer: esqueçam essa questão, não se preocupem com ela, porque na prática é quase impossível você conseguir se separar da personalidade humana. O que pode fazer é na hora que a consciência é formada por pensamentos que criticam e acusam os outros, aja contra isso.

Agora, saber de onde vem o pensamento ou quem está falando através dele, é perda de tempo. Sei que vocês precisam sempre rotular as coisas, mas aconselho a esquecerem isso. Ao invés de ficar tentando rotular as coisas, simplesmente ajam contra tudo aquilo que pode lhe fazer sofrer.

A partir do que conversamos hoje, você sabe que não ajuda ninguém, mas que busca sempre a sua vitória. Frente a essa informação, ao invés de ficar buscando rótulos ou comprovações, apenas aja: pare de se deixar levar pela ideia de que é boazinha e está fazendo as coisas pelo amor ao próximo.

Pare de achar que age sem segundas intenções, porque se continuar achando isso continuará cobrando que o outro faça o que você orientou. Aí, quando ele não seguir, pois é diferente de você, certamente se contrariará.

O importante hoje não é saber quem é o ego ou quem é você, mas conscientizar-se de que é preciso estar preparado para vida e isso se faz quando existe a consciência de que não prega prego sem estopa. Não faz nada de coração aberto. Todas as ações que praticam tem sempre uma intencionalidade egoísta: conquistar uma vitória sobre o outro.

Vocês gostam disso? Acham que esse modo de viver é bom? Então, lutem contra isso. Parem de acreditar que são amorosos, que são as melhores pessoas do mundo e só querem o bem dos outros. Que são as pessoas mais sábias do mundo e por isso sempre sabem o que é o certo.

Vocês vivem o tempo inteiro cobrando-se um do outro. Isso acontece com todos. Acontece com aquele casal e com aquele outro. Por isso não estou falando com ninguém especificamente, mas com todos vocês. Podem imaginar que estou falando com alguém diretamente, mas isso é irreal. Possuem essa consciência apenas porque acham que a vida de um é diferente do outro. Não é: todos vivem iguais.

O tempo inteiro um ser humanizado está cobrando alguma coisa de alguém para poder se sentir o rei, a majestade, o vitorioso. Volto a dizer: não estou acusando ninguém de nada. Como disse no início, estou tentando chacoalhar, acordá-los.

Foi como falamos agora pouco quando abordamos a questão da infidelidade. Vocês não a aceitam porque consideram que ser vítima de uma infidelidade é uma derrota pessoal. Não há nenhum outro motivo pelo qual não aceitem.

Participante: eu até consigo visualizar que estou querendo vencer, mas fazer isso é cansativo, porque a intencionalidade está presente toda hora. Sendo assim, pergunto: qual a atitude para poder lutar contra todas as intencionalidades que temos?

A forma mais fácil é tendo a consciência de que essa consciência não está presente em alguns pensamentos, mas em todos.

Tudo que o ser humanizado faz, ato, traz consigo uma razão que tem como intenção derrotar o próximo. Sabe o que é tudo? Todas as coisas. Portanto, não há momento onde a razão humana não queira levar alguma vantagem. Mesmo que o assunto seja ir ao banheiro, o ser humano que não está indo quer dizer que é melhor do que o outro: ‘já vai ao banheiro de novo’?

Se você tiver essa consciência fica mais fácil, pois não precisa perder tempo ou gastar esforço para analisar o que é gerado pela mente. Não é preciso: tudo tem a intenção de ganhar de alguém. A partir do momento que conseguir essa consciência e se chocar com o seu egoísmo, não aceitará as contrariedades que surgirem naquele momento.

Tendo essa consciência, quando chamar a atenção do seu filho porque ele não arrumou o quarto, automaticamente irá parar e dizer: ‘opa, eu estou falando desse jeito não por causa do quarto, mas para ganhar’. Fazendo isso, a boca pode inclusive continuar cobrando a arrumação, mas se ela não acontecer, você não irá se contrariar. Agora, se ainda continuar achando que é uma pessoa santa, boa, que sabe o que é arrumado e desarrumado, o que ele fizer, seja até arrumar do jeito dele, lhe causará contrariedade.

O que não pode fazer é se colocar na posição de certo, porque na hora que isso acontecer fatalmente, pouco importando o que o outro faça, dará a ele a posição de errado. Digo isso porque se não der a ele essa posição não conseguirá uma vitória. Como a sua intenção é ter uma vitória, sofrerá.

Portanto, o trabalho que pode fazer é ter a consciência de que todas as coisas geradas pela sua mente não possuem santidade ou perfeição, mas são instrumentos para poder combater com os outros e obter uma vitória. Saber que nada do que é pensado está certo, mas tratam-se apenas de instrumentos que a personalidade humana usa para ganhar do outro, para obter uma vitória pessoa.

Quando falo que são egoístas, estou querendo dizer que querem tirar de todas as situações um lucro individual. Essa é a forma que vive um egoísta. Por isso quando reclama do outro, mostra o quanto sabe e com isso obtém uma vitória. ‘Viu como eu sei o certo de arrumar’.

Preparando-se para viver - texto

Viver o que é ensinado

Participante: não sei se poderíamos chegar a esse ponto ...

Eu garanto que cem por cento do tempo não conseguirão vencer a contrariedade. Afinal de contas, vocês estão num mundo de provas e expiações e por isso precisam provar que querem mudar.

Na verdade ainda não estão na hora da mudança. Estão no momento onde precisam provar que querem mudar. Por isso, jamais conseguirão realizar o que falo em cento por cento do tempo de suas vidas.

Portanto, este é o momento onde você precisa desenvolver a atenção para que consiga superar as contrariedades no máximo de tempo que puder.

Participante: será que o planeta está energeticamente preparado para o tipo de vida que o senhor propõe?

Antes de responder precisamos nos atentar a um detalhe: o que é um planeta? É terra, fogo, ar e água? Não. Tudo isso só existe externamente a você e portanto não é real.

O que é na realidade um planeta? Uma condensação energética. São seres que vivem dentro de uma camada energética vivendo uma realidade externa que é ilusória: a água, o fogo, o ar e a terra. Tudo irreal, pois o que existe é uma camada energética onde os espíritos habitam.

Essa camada energética a qual estão presos foi formada por quem? Por vocês mesmos. Cada vez que um ser aceita uma proposição da mente acusando o seu irmão, está negativando uma energia dessa camada. Não posso falar de criar, pois não existem energias. Existe apenas uma: o amor de Deus.

Portanto, quando o ser pega o amor do Pai e o usa atacando o seu irmão, negativa o que é positivo. Essa negatividade de energias é que vai condensando e gerando o que chamam de planeta.

Não sei se já leram nossa conversa sobre o natal. Lá eu disse que se você olhar espiritualmente a partir do cosmo, não verá um planeta, mas sim uma grande formação de nuvens. Isso é a interpretação humana para falar do mundo energético que vocês vivem. As nuvens que cercam o planeta são uma forma de ver a negatividade do amor de Deus que vocês geram.

Sendo assim, o planeta Terra é uma grande condensação de energias negativadas, mas existem milhares de furos nesta camada energética. Por esses furos entra a energia não negativada, a pura. Essa pode ser negativada ou não.

Expliquei tudo isso para poder lhe dar a minha resposta. Será que estão vivendo num mundo preparado energeticamente para viver com felicidade plena? Não. Apesar disso, será que há possibilidade de se viver dessa forma, energeticamente falando? Sim.

Sabe, vocês hoje estão extremamente preocupados com a ecologia do planeta. Extremamente preocupados com a poluição física no planeta, mas não estão nem um pouco preocupados com a poluição energética que causam quando aceitam as críticas geradas pela mente a quem polui fisicamente.

Aceitam a crítica, o rótulo de errado que a mente confere àquele que coloca o lixo dentro do rio. Com isso estão poluindo energeticamente o planeta.

Participante: porque isso é negativo?

Porque é um humano querendo ditar ao outro o que ele deve fazer. É um humano sentindo-se superior ao outro por causa da prática ou não de uma ação. Isso chama-se egoísmo e quando ele existe, se polui energeticamente o planeta.

Resumindo, então. O que falamos pode ser vivido? Pode. Será vivido integralmente? Nunca. Tudo o que falamos pode ser vivenciado e quando isso acontecer, o único resultado diferente que você poderá ter é a sua felicidade. Acho que é isso que ainda não entenderam.

Preparando-se para viver - texto

Ser feliz ou ter vitórias: escolha

Ninguém está aqui falando em alcançar uma santidade ou sequer em elevação espiritual. O que estou falando é de algo que vocês reclamam o dia inteiro: do sofrimento.

Todo o tempo dizem que a vida de vocês estão um inferno, mas porque isso acontece? Porque vocês aceitaram o inferno que a mente criou.

Deixe-me dizer algo: vocês aceitam a ideia de alguma coisa é um problema. Sabem porquê? Se não tiverem um problema o que acontecerá? Não poderão reclamar. De quem? Do outro. Portanto, se não tiver um problema não terá um culpado e se isso não existir, você não será o certo, o bom, o perfeito, o maravilhoso.

Na realidade vocês transformam as suas vidas em um inferno para que possam obter vitórias. Querem que existam problemas para terem a quem acusar e com isso se sentirem melhor do que os outros. Apesar de não aceitarem essa realidade, não conseguem viver sem problemas porque estão presos à necessidade de vencer sempre, nem que seja em cuspe à distância.

Havia uma pessoa que tinha um chefe que pedia que ele escrevesse os textos das comunicações. Depois de escrito o empregado levava a ele que lia atentamente. Se todo o escrito estivesse certo, se não houvesse nada a ser mudado, o chefe fazia um ponto com a caneta no papel e mandava fazer tudo novamente.

É dessa forma que vocês vivem. Mesmo que alguém faça tudo certo, o seu certo, é preciso que você pronuncie a aprovação. Fazem isso para ficarem com a vitória final: a aprovação.

É a esse nível que chegam com relação à exploração do próximo diante da necessidade de vencer. Quem disse que ele para estar certo precisa do seu vaticínio?

Sabem, a vida universal não tem problemas. A forma como vivem é uma anormalidade, pois contém problemas. Vivem essa anormalidade para poderem assumir a posição de vítima ou de juiz dos outros para poderem ter vitórias.

É isso que precisam compreender. É isso que precisam se atentar na hora que a mulher acusa o marido de alguma coisa, que o filho acusa os pais de algo, na hora que um amigo fala do outro. Os outros não fizeram o que vocês reclamam deles. Mesmo que tivessem, não poderiam ser considerados culpados por terem feito. A culpa de qualquer coisa está dentro do ser humanizado que julga o outro, pois com isso mostra que não dá a ele o direito de ser, estar e fazer o que quiser, ou seja, não o ama.

A culpa se origina na intencionalidade de vencer, de agir assim para obter uma vitória individual. A culpa está por causa da vivência egoísta do acontecimento da vida. Pior: ainda dizem que agem assim por amor. Que hipocrisia!

Se eu amo uma pessoa, o que quero? O bem dela, o melhor. Se o melhor para a minha esposa for dormir com o outro, eu não vou deixar? Só que para vocês, apesar de dizerem que amam o próximo, isso ela não pode fazer.

Que amor é esse que só existe sob condições? É um amor que quer ser amado, quer ganhar alguma coisa.

Portanto, o que estamos falando não é de mudar a sua forma de viver, mas apenas abrir mão de dizer que o outro está errado. ‘Mas, o sistema da vida é esse’, vocês me diriam. Sim, isso é real, mas todos que vivem por esse sistema sofrem. Quer sofrer? Continue vivendo desse jeito.

‘Mas, se eu fizer o que o senhor fala, o que os outros vão falar de mim’? Isso é o que mais ouço ...

Olha a preocupação com a vitória. Abre mão de ser feliz para poder ser aceito, ser elogiado pelos outros.

Participante: entendo o que o senhor está dizendo, mas estou cansada da minha vida. É o tempo inteiro lutando ... Estou querendo ir embora.

Para a maioria das pessoas que me ouviram, aceitaram os ensinamentos e agora estão buscando a prática, está acontecendo o momento de sentir-se casado com a luta constante. Portanto, não é exclusividade sua.

Sabe a hora que irá sair dessa vida? A hora que for a sua; nem um minuto antes, nem um depois. Por isso lhe digo que é necessário aguentar o que tem hoje. De nada adianta enjoar do trabalho.

Este é um grande problema. O espiritualista começa a enjoar com o trabalho a ser realizado com a busca da elevação e por isso acha que morrer seria a melhor coisa que poderia lhe acontecer. Isso é só mais uma ilusão da mente que pretende lhe dizer que se segui-la ficará melhor do que está hoje. Só que não fica, pois se alguém pudesse tirar a sua vida por estar cansado de viver, não teria feito nada no sentido de libertar-se. Ainda estaria preso a uma condicionalidade material e por isso não viveria a felicidade incondicional.

Portanto, tire isso da cabeça e diga a si mesmo: é isso que tenho para hoje. Por isso vou viver o que me é apresentado. Diga isso para si e deixe a vida correr até chegar o momento de sair daqui.

Participante: é que quando colocamos em prática o ensinamento a vida fica meio sem graça. Parece que nada mais faz sentido ...

Sim, isso acontece. Aliás, a maioria das pessoas em cujos ouvidos nossa mensagem ressoou, já chegou a esse ponto. Mas, isso não quer dizer que a vida deles será encurtada.

Preparando-se para viver - texto

Perder

Participante: você falou uma coisa que formou em mim uma imagem e eu gostaria de compartilhar. No início da conversa você disse que o sistema humano está falido. Na minha figura pareceu que todos nós somos uns doentes mentais. Nossa doença é justamente a criação que a mente faz durante a vida.

Você me disse uma coisa interessante: a humanidade está doente mentalmente. Isso é perfeito.

Qual a doença dela? É a própria humanidade, o sistema humano de vida. Por isso comecei dizendo que a vida que vivem é anormal. Ela é uma doença. A forma humana de viver a vida é uma doença. Por isso, vocês estão cheios de problemas mentais.

Já repararam como a quantidade de problemas mentais têm aumentado nos últimos cinquenta ou sessenta anos? Porque será? Será que é porque a vida antigamente era muito mais simples de ser vivida do que a de hoje?

Eu diria que o fim de quem vive preso ao sistema humano de vida é tornar-se um doente mental. Isso acontece porque a vida humana, dentro dos próprios padrões humanos, não se sustenta a longo prazo se vivida da forma como vivem.

A ideia de ter que vencer sempre, já parece danosa se olharmos apenas um momento da vida. Imagina, então, um ser vivendo com uma força mental impulsionando para ganhar de todos os outros em todos os momentos durante quarenta ou cinquenta anos. Os que são psicólogos podem avaliar muito melhor do que os leigos, mas é muito claro o que essa forma de existir pode fazer a qualquer ser.

Imagine conviver com uma mente que está o tempo inteiro impulsionando para vencer, mas que vive na maioria das vezes derrotas ... É desse processo que surgem frustrações, traumas, estresse, nervosismo, preocupação, etc. Aí os psicólogos enchem os bolsos de dinheiro, mas o paciente continua sofrendo, pois não alterou a forma de vivenciar a vida humana.

Tudo isso acontece assim, porque? Porque vocês estão presos à mente humana. Ela diz que deve lutar para vencer, que possui a capacidade de mudar os outros e a vida, que é preciso provar que está certo, que vai vencer na vida, etc. Vivem quarenta, cinquenta anos dessa forma lutando contra a vida e apenas recolhem algumas migalhas como retorno dessa batalha.

Volto a repetir mão do que quero deixar bem forte. Não é abrir mão da sua vitória, mas sim de derrotar o outro. É isso que preciso que fique bem forte e marcado em vocês: não abrem mão de derrotar os outros. Ainda por ciam dizem que são pacifistas.

Lutam para proteger um animal. Dizem que agir assim cria para a pessoa o rótulo de boa. Agora, pergunto: o que é lutar para proteger uma animal? É lutar para derrotar outro ser humano.

Participante: não entendi ...

Proteger o animal dos outros é lutar contra eles, pois são personalidades diferentes de você que gostam e acham certo ferir os animais. É querer domar os outros: querem botar um cabresto em quem pensa diferente e ser quem segura as rédeas da vida do outro.

Se a sua mente gosta de formar imagens, faça essa quando uma pessoa não colocar para secar a toalha quando saiu do banho. Imagine-se colocando um cabresto nela, montando e segurando a rédea da vida dela. Imagine-a corcovear para lhe tirar de cima, ou seja, reclamar do que você falou.

É, o mundo é feito de ação e reação. Se quer domar os outros, tenha a certeza de que eles também querem montar em você. Por isso, quando reagem, reclama deles. Será que só você tem o direito de colocar cabresto nos outros?

Porque não aceita que em alguns momentos seja você a colocar o cabresto e em outras seja ele? Porque não abre mão de nada? Me respondam, porque?

Lutam o tempo inteiro contra tudo e todos para impor a vontade de vocês. Não abrem mão em momento algum de suas vitórias. Porque isso acontece?

Porque além de querem ganhar, têm medo de perder. Só que perder, faz parte da vida. Mesmo que lute para se impor, existem momentos onde o outro acaba se impondo.

Portanto, quem se prepara para a vida, além de querer ganhar, necessariamente haverá momentos onde o outro ganhará. Quando souber disso, o que acontece? Na hora que a vitória for dele, não haverá contrariedades.

É o que já falamos: a gente nunca imagina que vai acontecer conosco. Qualquer coisa pode acontecer com qualquer um: ninguém está imune à perda. Saiba disso porque a vida é feita de altos e baixos, de vitórias e derrotas. Esteja preparado para perder. Para isso é preciso saber que todos os relacionamentos entre dois seres humanos é marcado por uma luta pela vitória.

É isso que é se preparar para a vida. É saber que se entra nessa luta apenas pensando em vencer, acabará se contrariando, já que haverá momentos onde a vida não respeitará o seu desejo.

Preparar-se para a vida é só isso. É sair do sonho louco e imaginário que conseguem viver relações de amor ou amizade com os outros. Mentira: vivem sempre uma disputa. Só que numa disputa tanto um como o outro podem perder. Quem determinará quem irá perder? A vida ...

Pronto, acabou. A partir desse momento, se o outro ganhar, deve dizer a si mesmo: ‘é, ele ganhou. Vou esperar outra guerra, outra disputa’. Quando isso for seu modo de viver, a toalha fica no mesmo lugar ou você continua retirando, mas não sofre mais.

É só isso. Nada mais do que isso. Estar preparado para a vida é saber que cada um é diferente do outro, tem a sua individualidade que lhe gera vontade, desejos e verdades diferentes da sua. Saber que em cada relação há duas individualidades ou conjunto de princípios diferentes que quer obter vitória sobre o outro. Saber que será a vida que irá determinar quando cada um vencerá.

Se pensar assim, qual motivo terá para ser infeliz? Se souberem de mais algum, podem me dizer. Eu não conheço.

Participante: viver assim não seria mais fácil?

Claro que seria, mas você não está nem aí para viver mais facilmente, pois preserva a intencionalidade de vencer o outro, para impor a sua vontade a ele.

Em tempo: quando falei de machucar o animal, não defendi que isso deve ser feito. Na verdade, aquele que se sente no direito de maltratar o animal, quando o faz, ainda está lutando pela sua vitória. O que quis dizer é que se você quer proteger o animal, faça, mas não critique nem ataque quem pensa diferente. Mesmo sendo um ato egoísta, uma busca da vitória, ninguém lhe nomeou juiz do mundo, não é verdade?

Preparando-se para viver - texto

Viver preso ao sistema humano

Deixe-me dizer uma coisa: o que estou falando é um sistema espiritualista de vida. Só ele pode lhe garantir o fim do sofrimento. O sistema humano jamais conseguirá.

Não importa se estamos falando de capitalismo ou socialismo, não existe sistema que possa lhe trazer felicidade plena e real. Será que existe algum sistema humano que faça o homem sentir-se pleno mesmo quando traído? Claro que não.

O sistema espiritual de vida faz as pessoas viverem felizes o que o sistema humano as faz viver em sofrimento, apesar de não mudar em nada a vida.

Me digam uma coisa: como vive um homem traído? Da mesma forma que aquele que tem a sua honra intacta: respirando. Os dois continuam a viver os acontecimentos que a vida apresenta. A única diferença é que um vivencia isso em sofrimento e o outro em sofrimento.

Estão começando a entender a importância de se preparar para a vida? Mais: estão começando a aprender a simplicidade de se preparar para a vida.

Acabei de resumir em duas frases o que é se preparar para a vida: é deixar o sonho de que existe um certo e errado, saber que cada um age de acordo com a sua própria natureza, que quando a sua personalidade entra em contato com outra quer que a sua natureza se sobreponha a do outro. Que usar o próximo para ter o prazer.

Isso no meu tempo de encarnado tinha outro nome. Quem usa o próximo para ter prazer? Quem usa mulheres para poder ter dinheiro? O cafetão. Quem vive preso ao sistema humano de vida é um cafetão dos outros.

É assim que vivem: exploram os outros. Como disse no início, não é para se sentir culpado, mas compreender. Para que? Para que possa parar de acreditar que existe um mínimo de organização que precisa ser feita.

Preparando-se para viver - texto

Submissão ao mundo

Participante: a humanidade sempre quer possuir o outro. A posse é uma característica humana, só que ultimamente o tipo de vida humana está sendo pior.

Sim. Qual o pior que está acontecendo ultimamente e que a humanidade está aceitando? Vamos raciocinar juntos ...

Você me disse algo interessante: a humanidade sempre quis possuir o outro. O que é possuir o outro? Dominar, querer gerenciar a vida do outro. Isso é posse. Possuir não é ter, mas querer dominar o outro.

Me disse, ainda, que nos dias de hoje essa característica está mais acentuada. Como isso se acentuou mais, eu pergunto. A minha pergunta é direta: o que está sendo usado nos dias de hoje para aumentar a possibilidade para possuir o outro? Regras de certo e errado.

Hoje em dia há muito mais regras de certo e errado do que havia há cinquenta anos atrás. Isso quer dizer que cada dia mais o ser humanizado está tendo argumentos para obter uma vitória sobre o outro.

Constatou isso, chegou à consciência de que isso é real? Liberte-se das regras. Pare de achar que existe um ecologicamente certo, uma forma de comer certa, alguém que se veste, bebe, dirige ou mora certo.

Hoje em dia há regras para tudo, inclusive para fazer as necessidades fisiológicas. Até para fazer cocô estão inventando regras que querem impor aos outros para que eles sigam o certo de defecar.

Tudo que a vida cria que afirma ser certo nada mais é do que um instrumento que ela cria para lhe levar a querer dirigir a vida dos outros. Esse é um dos motivos que me levaram a ter urgência nessa conversa, pois essa forma de ser da humanidade vai aumentar mais.

A vida humana irá criar mais regras. Esse fato leva vocês a uma vivência que não estão conseguindo perceber. Vou falar disso um pouco.

Como a vida age para que vocês aceitem as regras que ela cria? Dá mais conhecimento, informação e diz que é preciso aceita-las. Para que aceitem, a vida explora o medo.

Como é que a vida fala? ‘Se você não agir dentro dos padrões ecológicos, a água vai acabar no planeta e todos morrerão de sede’. Como você tem medo de perder, rapidinho assume como obrigação sua viver as regras e ainda por cima quer exigir que os outros também vivam.

‘Se você comer fritura irá ingerir colesterol, que vai entupir suas veias e você morrerá’. Engraçado: a ciência diz que se você não fizer exercício físico irá morrer. Baseando-me nisso, posso dizer que os atletas que morreram durante as competições nunca fizeram exercícios, não é mesmo?

Reparem nisso. A vida lhes controla pelo medo do futuro. O que é esse medo? Falta de fé ... A vida lhes controla porque não têm fé em Deus.

Vocês acreditam que o plástico pode acabar com a natureza que Deus cria. Acreditam que um tipo de comida pode acabar com a vida que Deus gerou. E ainda por cima se dizem espiritualistas ... Se tivessem a fé do tamanho de um grão de mostarda ...

Esse é o problema de hoje. Nos dias atuais a possessão está sendo aumentada através da criação de centenas de novas regras. Elas são aceitas como verdadeiras e obrigatórias pelos seres humanizados porque o sistema de vida humano explora a falta de fé em Deus, o achar que a matéria vive por ela mesmo.

Participante: o que o senhor está falando é real. Já está insustentável viver com tanta cobrança.

Se tem essa consciência, não viva o que a vida quer que viva. Não aceite a acusação que é feita pelos outros.

Por favor, quem aqui tornou-se cumplice das ideias das passeatas que foram feitas contra o governo? Muitos, não? Mas, todos vocês que estão aqui já me ouviram comentar a informação do apostolo Paulo onde é dito que não se deve criticar os governantes porque eles são escolhidos por Deus.

Me digam uma coisa. Quem dos que estavam na passeata teriam isenção moral para ali estar, ou seja, nunca agiram causando prejuízo ao governo para obter um lucro individual? ‘Que atire a primeira pedra aquele que não tem telhado de vidro’.

Além disso, o que não se vê é que para protestar contra algo fazemos exatamente o que estamos condenando. Quem faz passeata contra a violência policial está fazendo violência contra a polícia.

Portanto, se para você está insustentável viver diante de tantas regras, liberte-se das regras que o mundo cria. Faça isso ao invés de se lutar para impor as mesmas regras a todos, pois garanto que isso que é impossível: ninguém irá mudar o mundo.

Sabe como você pode mudar o mundo? Mudando a si mesmo. Só quando você se mudar, o seu mundo mudará, e nesse momento poderá ser feliz. Não existe mundo feliz, mas pessoas que vivem num mundo feliz. Pessoas que vivem num mundo que elas fazem feliz. Assim como cada um constrói o inferno da vida que vivem, podem construir uma existência feliz. Só que não querem isso, porque o que realmente querem é vencer o mundo para serem felizes.

Isso é falta de compreensão da vida. Quem realmente sabe que a vida humana só existe internamente, sabe que por isso o único lugar que pode agir é dentro de si mesmo, mudando a si. Por isso insisto num ponto: pare de se submeter a qualquer regra que defina um mundo certo para se viver.

Deixe-me dizer algo. No Egito, há sete mil anos atrás havia corrupção, havia pessoas ganhando dinheiro à custas dos outros. E nestes sete mil anos que nos separam do Egito, em nenhum lugar do mundo alguém deixou de ganhar alguma coisa à custas dos outros. Será que ainda imaginam que hoje podem mudar isso?

Diante disso, dou o conselho: pare de tentar mudar os outros e mude a si mesmo. Pare de querer ganhar em cima dos outros.

Você acusa o presidente e os deputados de tirarem dos outros, mas tira a paz do outro para poder impor o que acha que é certo ser feito e assim ganhar uma vitória. Saiba que fazer corrupção não é só ganhar dinheiro: qualquer vantagem individual que se ganhe é uma corrupção.

Participante: às vezes essa vitória é pior do que ganhar o dinheiro do outro ...

Não é às vezes: é sempre. Digo isso porque a vitória moral que você pode ter sobre os outros é muito mais doida para eles do que a material. Causa um estrago muito maior do que a material. Ou não sabe o quanto sofre quando alguém lhe acusa por seguir o que acha certo ao invés de se submeter aos padrões dos outros?

Vocês gostam de ser acusados pelos outros? Claro que não. Mas, acusam os outros quando eles não agem seguindo os seus padrões. Por isso Cristo ensinou que o amor ao próximo e dar a ele o que quer para si. Se quer ter a liberdade de ser, estar e fazer o que quiser, para amar o outro precisa dar a ele a mesma liberdade.

Preparando-se para viver - texto

Desilusão com a vida

Isso é se preparar para a vida. É passar essa existência dentro dessa perspectiva. E quando viver assim, sabe o que acontecerá? Continuarão a ocorrer as mesmas coisas que sempre aconteceram, mas você não terá mais contrariedade. Quando isso acontecer, será feliz.

Quantas pessoas já não me falaram que estão desiludidas com esse mundo, que estão cansadas de viver. Isso é muito comum naqueles que querem mudar os outros. Para não sentir isso, precisa mudar a si mesmo.

Muitas pessoas já me disseram que querem sair de uma cidade e ir para outra porque não aguentam mais as suas vidas. Isso é infantilidade. Quem imagina que se fizer isso acabará com o sofrimento é infantil, pois como o problema é interno, com a mudança ele irá junto.

Não adianta nem morrer, pois se o problema está dentro de você, ele lhe acompanhará na vida depois da vida. Portanto, de que adianta sair dessa vida agora se ainda não conseguiu vencer os problemas? Tudo que hoje lhe causa mal estar, levará para a próxima.

Sabe o que aconteceria com vocês se saíssem dessa vida agora? Continuariam sofrendo. Por isso teriam que voltar ao mundo humano, encarnar, para poderem se libertar do que os faz sofrer. Não acham que é melhor aproveitar que já estão aqui e resolverem logo essa questão?

Preparando-se para viver - texto

Simplicidade da vida

Participante: porque eu não alcanço como resposta o que o senhor quer? Porque faz várias perguntas e ninguém consegue usar o termo que quer? Isso acontece porque o senhor é menos condicionado ou tem mais informações para por em prática tudo o que fala?

Nem uma coisa nem outra.

Vocês não alcançam o que eu falo porque não vivem a vida de uma forma simples. Porque não a encaram de uma vida simples. Para vocês a vida é um bicho de sete cabeças.

Na verdade a vida é simples. Só que não conseguem alcançar a simplicidade dela. Porquê? Porque querem a fama. Como pode se encontrar a fama em algo simples, se para vocês o mais sábio é aquele que conhece as coisas complicadas? Imaginam que só o que é orquestrado, elaborado, totalmente criado a partir de uma série imensa de conhecimentos lhes faz famoso. Por isso, ao invés de lutarem para serem simples, lutam para ser sábios.

Estou falando isso com relação à vida e não à cultura. Vocês não aceitam a vida simplesmente. Tem uma pergunta que faço constantemente àqueles que me ouvem e tenho certeza que se fizer de novo vocês não vão conseguir responder: porque posso dizer que estão aqui? Porque estão...

Essa é a simplicidade da vida. Por mais que você queira elencar motivos para estar aqui, a grande realidade é que sei que está porque está. É essa simplicidade da vida que não conseguem alcançar. Porquê? Porque acham que é preciso demonstrar cultura para poderem ser considerados sábios. Por isso, ao invés de conviverem simplesmente com a vida, criam tratados sobre viver. Criam equações e sistemas para vida, enquanto ela é muito simples.

Sabe o que é a vida? É o que ela é, no momento que está sendo, sem se colocar nada que se ache sobre o que está ocorrendo. Nesse momento, por exemplo, eu posso saber que a sua vida é estar em pé com a mão no queixo. Agora posso dizer que é olhar para baixo. Posso dizer isso porque vi você olhar. Agora, porque olhou, para que, o que espera desse olhar, eu não posso dizer.

É esse o problema. Vocês não tratam a vida de forma simples. A mente cria uma série de informações e quem está preparado para a vida sabe que elas não podem ser conhecidas por ele, porque pertencem ao mundo e não ao ser.

Por isso, o máximo que posso saber agora é que você está sentando com a mão no queixo. Isso posso saber porque os olhos estão vendo. Se quiser afirmar mais alguma coisa, estarei entrando num mundo fantasioso e se entrar nele, sofrerei contrariedades.

É por isso que não conseguem responder o que pergunto: porque querem elaborar teorias sobre a vida.

Participante: a ideia que passa na minha cabeça sobre o que o senhor acabou de falar é que somos hipnotizados e não conhecemos o hipnotizador.

Não é isso. Vocês não são hipnotizados externamente; se auto hipnotizam.

Ninguém lhe obriga a acreditar na mente: acredita porque quer. Por isso só podemos dizer que seja uma auto hipnose. Quando isso acontece? Quando você cede àquilo que a mente diz que está acontecendo.

Qual a saída dessa forma de viver? Não acreditar no que a mente diz.

Nesse momento você está com a mão na cabeça, certo? Isso é fato. Se a sua mente criar alguma coisa além disso, não acredite. Como, porque, para que ou qualquer outra coisa que ela acrescente ao fato, não acredite. Se acreditar, terá sido arrastado pela onda e será levado para alto mar e correrá o risco de morrer, sofrer.

Preparando-se para viver - texto

A vida não tem agentes

Participante: a vida me ataca, então?

Não, ela lhe tenta. A vida é o seu tentador, por isso, se ela se abrir para você, não terá mais tentação e com isso não haverá elevação espiritual.

É por isso que a vida não se abre, não lhe mostra a realidade: você é que precisa mergulhar nela. É a í que vem o grande problema do ser humanizado: ao invés de mergulhar nela, se deixa levar pela crista das ondas da vida. Porquê? Essa é a grande pergunta: porque o ser humano se deixa levar pela crista da vida? Porque acha que você é a vida ... Acha que você está vivendo e não uma vida sendo vivida.

Por favor, me responda: quem escolheu essa blusa que está vestindo hoje? Acha que foi você, mas foi a vida. Este é outro detalhe importante para se prepara para viver.

Vocês acham que a vida possui agentes, alguém que faz, mas isso é ilusão. A ação da vida é feita pela própria vida e a ação dela se consiste em tudo que acontece, inclusive o próprio pensamento.

Quem lhe deu essa roupa?

Participante: foi minha filha ...

Não, foi a vida. Agora, quem foi que lhe disse que foi a sua filha que lhe deu? A própria vida. Quanto a você, aceitou placidamente tudo que a vida disse acreditando que possui uma filha, que pariu, que teve uma relação sexual para ter uma filha, que ela escolheu essa roupa, que ela comprou e lhe deu. Nada disso foi feito por você ou por sua filha: tudo aconteceu porque a vida fez.

Por isso, quando estudamos o conhecimento sobre si mesmo disse uma coisa: é preciso chegar à dupla personalidade. Enquanto não viver na dualidade, você e a vida, não alcançará a perfeita compreensão para viver feliz.

Você não pode agir dentro da vida, só pode agir no seu relacionamento com a vida. Esse relacionamento consiste em se libertar da ideia de que é mãe, de que tem filha. Quando chegar a esse ponto pode ser que você não mais acredite que sua filha comprou uma blusa para você.

É preciso se separar da vida para poder se preparar para a vida. Se não se separar da vida quando ela gerar uma contrariedade, você sofrerá.

Participante: o senhor falou muito em eu. Pergunto: eu quem?

Lá vem a sua vida querendo gerar conhecimento para poder ganhar a fama. Por isso não vou responder a essa questão.

Mais um detalhe. Acabei de dizer que é preciso se separar da vida para poder distinguir-se dela. Se não fizer isso, quando ela for contrariedade, você sofrerá. Nessa frase tem algo que vocês não prestaram atenção que já falei: só quem sofre são vocês; a vida não sofre. A vida é tão sacana que ela cria a contrariedade, propõe sofrer por ter sido contrariado, mas ela mesmo não sofre.

Viram até onde se chega por não se separar da vida? Vocês sofrem e ela não. Na hora que você se sente contrariado, ofendido, caluniado, com medo de alguma coisa, ela está em paz. Só você sofreu e fez isso porque achou que é ela.

Participante: posso dizer que a vida é tudo o que me vier ao consciente?

Essas mesmas palavras que está dizendo foi como comecei o estudo sobre as síndromes da vida: ela é tudo o que lhe vem ao consciente. Na hora que acreditar em qualquer coisa que lhe venha ao consciente passará a viver o que a vida disser para viver.

Lá também pela primeira vez separei o viver do vivenciar a vida. Sei que essas duas palavras parecem sinônimos, mas não são. Viver a vida é vivenciar o que ela lhe diz para viver; vivenciá-la e ver o que é proposto e não viver isso.

Ficou claro agora porque não conseguem entender porque não alcançam o que eu digo? Porque querem criar teoremas sobre viver e sobre quem é vocês, como vieram me perguntar agora pouco. Esqueçam isso. Enquanto estiverem preocupados com essas coisas não conseguirão ser felizes.

Como se libertar disso? Tenha a consciência de que tudo que lhe é consciente é a vida e você é tudo aquilo que não lhe é consciente.