Imperfeições do ser - Textos

O ser não elevado

Quando o ser não consegue harmonizar-se com os acontecimentos de sua existência carnal dizemos que ele viveu uma contrariedade. Por exemplo, quando alguém chama o ser humanizado de feio, isso o contraria. Esta contrariedade o leva a viver aquele momento fora da neutralidade, Ele penderá para o pesar. A falta de neutralidade neste momento caracteriza a sua desarmonia com aquele momento.

Mas, porque o ser que foi chamado de feio se contrariou? Porque ele impôs uma condição para aquele momento.

A contrariedade é uma resposta a uma condição que se impõe ao mundo. Quando o ser quer que algo aconteça e isso não ocorre, ele se contraria. No exemplo que usamos se contraria quando chamado de feio aquele ser que quer ser chamado de bonito. Se ele não impusesse esta condição para aquele momento, a fala do outro o classificando como feio não levaria a vivência do pesar.

Isso quer dizer que reforma íntima é moldar-se ao momento, ou seja, querer ser chamado de feio quando isso acontece? Não. Se houver um desejo de ser chamado de feio o que se vive é o êxtase do prazer. A condição que se impõe, seja ela qual for, não afeta a harmonização com o mundo, mas sim a existência de uma condição. Tanto faz o ser querer ser chamado de bonito ou feio, enquanto tiver uma condição viverá o êxtase do prazer quando ela for satisfeita e a depressão da dor quando não for.

Então, qual a saída? Não ter condições para se viver cada momento da existência...

Quem consegue superar o êxtase do prazer ou a depressão da dor e viver na neutralidade emocional é aquele que, independente do que está acontecendo, nada exige daquele momento. Por não ter expectativas nem impor condições ao que se sucederá, o ser vive o que quer que aconteça com neutralidade. Este alcançou a equanimidade que Krishna usa para definir aquele que vive a felicidade do espírito que alcançou a perfeição.

Para harmonizar-se com o mundo, portanto, é preciso que o ser humanizado vivencie cada momento da sua existência sem desejos, vontades, certezas e expectativas sobre o que está ocorrendo. Para isso é preciso que ele respeite o direito do próximo.

Todas as vontades, desejos, certezas e expectativas do ser humanizado existem a partir dos seus códigos próprios que definem o certo e o errado, o bonito e o feio, o bom e o mal, etc. São verdades que se transformam em leis que atribuem valores as coisas do Universo. Chamamos a estas verdades de conceitos.

Aquele que em nosso exemplo chamou o outro de feio agiu desta forma porque possui internamente conceitos que definem a estampa do outro desta forma. Aquele que esperava ser chamado de bonito tem esta esperança porque pelos seus próprios conceitos a sua estampa deve ser classificada desta forma. Cada um agindo a partir de seus conceitos estabeleceu uma verdade para aquele momento. Mas, se cada um estabeleceu um valor e eles eram antagônicos entre si, como podemos chamar o que foi dito por cada um de verdade? Vou explicar isso...